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Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII P4F1 - FOGO AMIGO 1- Descreva o mecanismo de tolerância imunológica e autoimunidade 1.1 Tolerância dos linfócitos T Central 1.2 Tolerância dos linfócitos T Periférica 1.3 Tolerância dos linfócitos B Central 1.4 Tolerância dos linfócitos B Periférica 1.4 Autoimunidade 2 - Explicar Hipotireoidismo e Hipertireoidismo, Diabetes Mellitus, Miastenia Graves e Febre Reumática, LES 2.1 Imunopatologia - doenças causadas por anticorpos - Hipotireoidismo (tireoidite de hashimoto) -> epid, etio, sintom, diag, diag diferen, trata. - Hipertireoidismo (Doença de Graves) -> epid, etio, sintom, diag, diag diferen, trata. - Miastenia Gravis -> epid, etiologia, sintomas, diagnostico, diag diferen, tratamento. - Febre Reumática.-> epid, etiologia, sintomas, diagnostico, diag diferen, tratamento. . 2.2 Imunopatologia - doenças causadas por linfócito T: - Diabetes Mellitus -> epid, etiologia, sintomas, diagnostico, diag diferen, tratamento. 3 Imunopatologia - doenças causadas por Imunocomplexos: LES 1) TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA É a capacidade de não responsividade aos antígenos próprios. Os antígenos podem ser: a) antígenos imunogênicos: linfócitos podem ser ativados para que proliferam e se diferenciam em células efetoras e células de memória - resposta imune produtiva b) antígenos tolerogênicos:antígenos que induzem a tolerância, de modo que os linfócitos serão inativados ou eliminados, resultando na tolerância. Normalmente, os microrganismos são imunogênicos, e os antígenos próprios são tolerogênicos. O mesmo antígeno pode ser administrado por vias diferentes, de maneira que induzam uma resposta imune ou a tolerância. -> Tolerância imunológica: pode ocorrer quando os linfócitos em desenvolvimento encontram esses antígenos nos órgãos linfoides geradores (centrais) - medula óssea e timo, um processo chamado de tolerância central, ou quando os linfócitos maduros encontram antígenos próprios nos órgãos linfoides secundários ou nos tecidos periféricos, chamado de tolerância periférica 1.1 TOLERÂNCIA CENTRAL DOS LINFÓCITOS T (órgãos linfoides primários) Durante sua maturação no timo, muitas células T imaturas que reconhecem antígenos com grande avidez morrem, e algumas das células sobreviventes da linhagem CD4 + se desenvolvem em Treg. Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII a) Morte celular/ seleção negativa/ deleção: É um processo de apoptose que ocorre quando, nos órgãos primários, um linfócito T imaturo interage com um antígeno próprio, por meio do MHC I (tcd8) e MHC II (tcd4). O processo de seleção negativa afeta células autorreativas T CD4 + e CD8 + , que reconhecem antígenos próprios apresentados pelas moléculas do MHC classe II e pelas moléculas do MHC classe I, respectivamente. Assim, as células morrem antes de poderem completar o processo de maturação, que é o principal mecanismo de tolerância central. b) TCD4 (Tregs): Algumas células T CD4 + autorreativas que encontram autoantígenos no timo não são deletadas; em vez disso, diferenciam-se em células Tregs específicas para esses antígenos. As células reguladoras deixam o timo e inibem as respostas contra auto antígenos na periferia Como há falhas naturais na tolerância central, é necessário a tolerância periférica para prevenir a ativação de linfócitos que podem reconhecer antígenos próprios. AIRE -> proteína do tecido periférico que também são encontradas em células epiteliais do timo, e tem o papel de se ligarem às células T imaturas que reconhecem os antígenos, levando essas a deleção no timo ou a se desenvolvem em Tregs Mutação em AIRE -> uma síndrome, onde antígenos teciduais não existem no timo em função da falta de uma AIRE funcional, de modo que as células T imaturas específicas para esses antígenos não são eliminadas. Pois, se não está no timo, não tem como ele desenvolver a tolerância central. Ou seja, esses antígenos não são exibidos no timo e as células T específicas para tais antígenos escapam da deleção, amadurecem e dirigem-se para a periferia, onde atacam os tecidos-alvo nos quais os antígenos são expressos de maneira independente de AIRE E o principal alvo desse ataque autoimune são os órgãos endócrinos, isso porque a AIRE facilita a expressão nas células epiteliais tímicas dos genes expressos em sua maioria nesses órgãos. Pacientes com mutações em AIRE produzem auto anticorpos neutralizantes contra sua própria IL-17. A deficiência resultante de IL-17 torna esses pacientes suscetíveis à candidíase mucocutânea, refletindo o papel essencial das citocinas Th17 na defesa contra esta infecção fúngica 1.2 TOLERÂNCIA PERIFÉRICA DA CÉLULA T (órgãos secundários) Os mecanismos de tolerância periférica são anergia (não responsividade funcional), supressão pelas Tregs e deleção (morte celular). Esses mecanismos podem ser responsáveis pela tolerância das células T a autoantígenos tecido-específicos, especialmente aqueles que não são abundantes no timo a) ANERGIA: A exposição de células T CD4 + maduras a um antígeno na ausência de coestimulação ou imunidade inata pode tornar as células incapazes de responder àquele Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII antígeno. De modo que, as células T autorreativas não morrem, mas tornam-se não responsivas a um antígeno. ● Mecanismos de Anergia da cel. T: - Bloqueio de sinalização da ligação com TCR em células anérgicas, de modo que o 1º sinal não irá acontecer. - Quando as células T reconhecem autoantígenos, estes estimulam os receptores de inibição de CD28, cuja função é finalizar as respostas das células T. (2º sinal) Regulação das Respostas das Células T por Receptores Inibidores - CTLA-4 : também conhecido como O antígeno-4 do linfócito T citotóxico, é um membro da família de receptores CD28, que também se liga a B7 (cel. dend.). É um receptor, que quando ligado, tem a função de induzir a tolerância, gerando a não responsividade. O bloqueio de CTLA-4 resulta em doenças autoimunes, pois sem CTLA-4, haverá responsividade (ativação) a autoatingenos. Os polimorfismos do gene CTLA4 estão associados a diversas doenças autoimunes em humanos, incluindo diabetes tipo 1 e doença de Graves. Assim, CTLA-4 atua continuamente para manter as células T autorreativas sob controle. Como CTLA-4, inibe a ativação das cel. T? a) mecanismo celular intrínseco, uma vez ativadas, as células T responsivas começam a expressar CTLA-4 que ao se ligar em B7 (cel dend) “desliga” a ativação, da cel. T responsiva, finalizando assim a resposta. b) mecanismo celular extrínseca, as Tregs expressam altos níveis de CTLA-4, que se ligam com a B7 (cel. dend) e por sua vez nao irá exibir B7, para a celula T, evitando a sua ativação. Assim, o CTLA-4 (Tregs) compete com o CD28 (cel. T) e reduz a quantidade de B7 disponível nas APCs que iria se ligar e estimular CD28. OBS: O CTLA-4 tem uma afinidade 10 a 20 vezes maior por B7 do que CD28. - PD-1: é um receptor, também chamado de morte celular programada-1. O PD-1 reconhece o ligante, conhecidos como PD-L1. Ligação PD-1 (recep em células T ativadas pelo antígeno) com PD-L1 (ligante em APC’s, e células teciduais): O acoplamento de PD-1, recruta de fosfatases para a cauda citoplasmática de PD-1, que são enzimas neutralizam a sinalização da ligação de TCR, e do CD28 (1º e 2º sinal), resultando na inativação das células Tcd4. Camundongos deficientes de PD-1 desenvolvem doenças autoimunes que são tipicamente brandas e menos graves do que os camundongos deficientes de CTLA-4 Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII b) SUPRESSÃO PELAS TREG’S As Tregs constituem uma subpopulação de células T CD4 + cuja função é suprimir as respostas imunes e manter a autotolerância. A maioria dessas Tregs CD4 + possui receptor CD25 de IL-2, e receptor FoxP3 do fator de transcrição. O receptor FoxP3, é importante para o desenvolvimento e função da maioria das Tregs, uma vez que mutações no gene FOXP3 estão associadas à deficiência de Tregs. Geração e Mecanismo de ação das Tregs: As Tregs são geradas principalmente pelo reconhecimento de autoantígenos no timo e pelo reconhecimentode autoantígenos e antígenos estranhos em órgãos linfoides periféricos. Tregs naturais (timo): Tregs tímicos são específicos para autoantígenos. Tregs adaptativas ou induzidas (órgãos linfoides periféricos): o reconhecimento do antígeno na ausência de fortes respostas imune inatas favorece a geração de células reguladoras a partir de linfócitos T CD4 + naive. Podem ser induzidas a se desenvolverem. As células reguladoras periféricas podem ser específicas para autoantígenos ou antígenos estranhos. Citocinas das Tregs: TGF-β (fator de crescimento-β): É sintetizada por Tregs TCD4 e outros tipos celulares. Necessita para o desenvolvimento. O TGF-β estimula a expressão de FoxP3, o fator de transcrição necessário para o desenvolvimento e função das Tregs. - O TGF-β inibe a proliferação e as funções efetoras das células T, inibe ativação dos macrófagos e neutrófilos, atuando no controle das respostas imune e inflamatória - O TGF-β regula a diferenciação de Tregs: estimula o desenvolvimento de Tregs FoxP3 + periféricas. TGF-β, conjuntamente a IL-1 e IL-6 diferenciam em Th17. - O TGF-β estimula a troca de isótipo de IgM para IgA (imunidade de mucosas) nas células B. - O TGF-β promove o reparo tecidual após o término das reações imune e inflamatória locais, pois estimula a síntese de colágeno e a produção de enzimas modificadoras da matriz por macrófagos e fibroblastos, e pela promoção da angiogênese. Interleucina 2 (IL-2): sobrevivência e a competência funcional; A IL-2 produzida por células T convencionais, responsivas a autoantígenos ou antígenos estranhos, atua em Tregs que reconheceram o antígeno apresentado pelas APCs e promove a sobrevivência e função das Tregs, tornando-as capazes de controlar as respostas das células T convencionais. A IL-2 ativa o fator de transcrição STAT5, que aumenta a expressão de FoxP3, assim como outros genes envolvidos na função das Tregs. Interleucina 10 (IL-10): é um inibidor de macrófagos e células dendríticas ativados, estando envolvida no controle das reações imunes inatas e da imunidade mediada por células. É produzida por macrófagos e células dendríticas ativados, Tregs e células Th1 e Th2 Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII - A IL-10 inibe a produção de IL-12 por células dendríticas e macrófagos, de modo que haverá menos Th1 e consequentemente, menos IFN gama, o qual desempenha um papel importante nas reações imunológicas imunes inatas e adaptativa. - A IL-10 inibe a expressão de MHC classe II em células dendríticas e macrófagos. Assim, a IL-10 inibe a ativação de células T e limita as reações imunes mediadas por células Defeitos no desenvolvimento, função das Tregs ou resistência das células efetoras à supressão pelas Tregs podem contribuir para a patogênese de diversas doenças autoimunes e inflamatórias, tais como a enteropatia inflamatória, diabetes tipo 1 e esclerose múltipla, bem como nas doenças alérgicas. Isso ocorre pois a Treg é um mecanismo que irá gerar a não responsividade ao antígeno próprio (autotolerância), dessa forma, um defeito nela, pode gerar as doenças autoimunes. Outras funções: As Tregs da pele, músculo e órgãos como pulmão promovem reparo tecidual e a proliferação e diferenciação de células-tronco, ajudando assim a restaurar a integridade do tecido após o término das reações inflamatórias. As Tregs do tecido adiposo controlam o metabolismo lipídico. As Tregs são também essenciais para a manutenção da tolerância fetal e prevenção da rejeição ao feto C) DELEÇÃO - morte por apoptose das células T Os linfócitos T, que reconhecem autoantígenos com alta afinidade ou que são repetidamente estimulados por antígenos, podem morrer por apoptose. Duas vias de Apoptose: 1) via intrínseca (mitocondrial) é regulada pela proteína Bcl-2 (Bax, Bak): Essa via de apoptose inicia-se quando essa proteína BH3-only é ativada, devido a: privação de fatores de crescimento, estímulos nocivos, dano ao DNA, ou sinalização mediada por receptor. Depois que a proteína BH3-only é ativada, ela se liga a duas proteínas efetoras pró-apoptóticas da família Bcl-2, chamadas Bax e Bak, que se inserem na membrana externa da mitocôndria, levando a um aumento da permeabilidade, extravasamento mitocondrial e do citocromo para o citosol. Quando o citocromo é extravasado para o citosol, o citocromo c se liga à proteína citosólica chamada APAF-1, que então se oligomeriza e ativa a pró-caspase-9, liberando a caspase-9 ativa. A caspase-9, por sua vez, cliva e consequentemente ativa caspases downstream que induzem a fragmentação do DNA e a morte apoptótica. 2) Via do receptor de morte (ou extrínseca): receptores de superfície celular TNF são ativados por seus ligantes de citocina TNF. Quando esses receptores são ativados, ativam também proteínas citoplasmáticas que se encaixam na pró-caspase-8, a qual sofre autoclivagem, produzindo a caspase-8 ativa. Essa caspase-8 ativa cliva outras caspases downstream, resultando em fragmentação do DNA e a morte apoptótica. Nas células T, a estimulação das células T ativa o receptor de morte Fas e seu ligante, Fas-L -> sendo que o FasL é expresso na superfície celular, ligando-se ao Fas de superfície na mesma célula ou em outras células T adjacentes. Isso ativa Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII uma cascata de caspases, que, por fim, causa a morte apoptótica das células. 1.3 TOLERÂNCIA CENTRAL DOS LINFÓCITOS B Quando linfócitos B imaturos interagem com antígenos próprios na medula óssea, as células B tanto podem ser destruídas (seleção negativa) quanto podem alterar a especificidade do seu receptor (edição de receptor) Células B não autoreativas: Algumas células B imaturas que reconhecem antígenos próprios na medula óssea expressam os genes RAG e expressam uma nova cadeia leve de Ig. Esta nova cadeia leve se associa à cadeia pesada de Ig previamente expressa para produzir um novo receptor antigênico que anteriormente era específico para antígenos próprios. Esse processo de mudança da especificidade do receptor, chamado de edição de receptor, reduz a probabilidade de que células B autorreativas potencialmente nocivas saiam da medula. Deleção: Se a edição falhar, as células B imaturas que reconhecem os antígenos próprios com alta afinidade e recebem os sinais de morte, morrendo por apoptose. Anérgica: Se os antígenos, como as proteínas solúveis, são reconhecidos na medula óssea com baixa afinidade, as células B sobrevivem, mas a expressão do receptor antigênico é reduzida, e as células tornam-se funcionalmente não responsivas (anérgicas). 1.4 TOLERÂNCIA PERIFÉRICA DOS LINFÓCITOS B Anergia: Linfócitos B maduros que encontram antígenos próprios nos tecidos linfoides periféricos ficam incapazes de responder novamente àquele antígeno próprio -> Se os linfócitos B reconhecem um antígeno e não recebem estímulo da célula T (porque as células T auxiliares estão ausentes ou são tolerantes), as células B tornam-se anérgicas em decorrência de um bloqueio na sinalização do receptor antigênico. Deleção: As células B que reconhecem os antígenos próprios na periferia também podem sofrer apoptose, ou os Regulação por receptores inibitórios na célula B -> onde sua ativação é suprimida por causa desses receptores, evitando assim a ativação. 1.5 AUTOIMUNIDADE É definida como uma resposta imune contra os antígenos próprios. A lesão tecidual nas doenças autoimunes pode ser Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII realizada por anticorpos contra os antígenos próprios ou pelas células T reativas com os antígenos próprios. Características Gerais das Doenças Autoimunes: - Sistêmicas (Lúpus) ou órgão Específicas (diabetes) - Possui vários mecanismos efetores - Tendem a ser crônicas, progressivas e de autoperpetuação Anormalidades imunológicas que levam a autoimunidade - Autotolerância defeituosa: eliminação ou regulação inadequadas das células T ou B, levando ao desequilíbrio entre ativação e controle de linfócitos, é a causa subjacente a todas as doenças autoimunes. A tolerância (não responsividade) a autoantígenos é mantida por meio de processosde seleção que impedem dos linfócitos específicos para autoantígenos e de mecanismos que inativam ou deletam linfócitos autorreativos. Assim, a perda da autotolerância pode ocorrer se os linfócitos autorreativos não forem deletados ou inativados. o Diminuição na deleção (seleção negativa) de células T ou B ou defeito na edição de receptor em células B durante a maturação dessas células nos órgãos linfoides geradores. o Diminuição nos números ou funções de linfócitos T reguladores -> pouco linf. Tregs, menor ação. o Apoptose defeituosa de linfócitos autorreativos maduros . o Função inadequada de receptores de inibição. - Exibição anormal de autoantígenos: expressão aumentada e a persistência de autoantígenos que são normalmente removidos. - Inflamação ou uma resposta imune inata inicial: leva a uma e linfócitos e para a geração de respostas imunes adaptativas. Bases Genéticas da Autoimunidade: - A maioria das doenças autoimunes é decorrente de heranças polimórficas genéticas que contribuem para a suscetibilidade à doença. Esses genes agem em conjunto com os fatores ambientais para causarem doenças. - Fatores Genéticos: herança de genes suscetíveis, geralmente ligados aos alelos particulares do MHC ->.podem contribuir para o desenvolvimento da autoimunidade, pois eles são necessários para apresentar os patógenos para as células T autorreativas, ou que são ineficientes na apresentação de antígenos próprios no timo, levando à seleção negativa defeituosa das células T. - A incidência de uma doença autoimune, é maior em indivíduos que herdaram um alelo do HLA (antígeno de leucócito humano) em particular do que na população Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII em geral, mas ter o alelo do HLA não é, por ele mesmo, a causa da doença. - Polimorfismos (variação) em outros tipos de genes, que não HLA, podem gerar doenças autoimunes, levanndo a falha de autotolerância ou ativação anormal dos linfócitos. Ex: artrite reumatoide, Lupus e DM 1: Os polimorfismos na codificação do gene PTPN22 (proteína tirosina fosfatase N22) podem regular anormalmente a seleção e ativação das células T e B. - Fatores Ambientais: (infecções -> lesão celular e tecidual e inflamação -> ativação de linfócitos autorreativos -> lesionam os tecidos e provocam a doença autoimune). - Indução de coestimuladores (infecção) -> Uma infecção gera uma resposta local da imunidade inata, levando ao aumento de coestimuladores e citocinas pelas APC. Essas APC quando ativadas estimulam as células T autorreativas que encontram antígenos próprios nos tecidos. Em outras palavras, a infecção pode “quebrar” a tolerância dos linfócitos T e promovem sua ativação em linfócitos autorreativos. - Mimetismo molecular: reações entre os antígenos microbianos e próprios, no qual ao se ter uma infecção pode-se produzir antígenos que são similares e que reagem com antígenos próprios. Ex: Febre Reumática -> anticorpos contra estreptococos fazem reações cruzadas com um antígeno do miocárdio e causam a doença cardíaca. 2 Explicar Hipotireoidismo e Hipertireoidismo, Diabetes Mellitus, Miastenia Graves e Febre Reumática, LES 2.1 IMUNOPATOLOGIA - DOENÇAS CAUSADAS POR ANTICORPOS Decorrentes da ligação de anticorpos a antígenos em determinadas células ou tecidos extracelulares ou, ainda, em consequência da formação de complexos antígeno-anticorpo na circulação com subsequente deposição nas paredes dos vasos. - Doenças órgão-específicas e não sistêmicas: pois afeta especificamente as células ou tecidos onde esses antígenos estão presentes Os anticorpos contra antígenos de tecidos produzem doença por três mecanismos principais: a) Opsonização e fagocitose: Os anticorpos opsonizam as células e podem ativar o complemento, cujos produtos também opsonizam células, levando à sua fagocitose por meio dos receptores Fc ou dos receptores para C3b nos fagócitos. b) Inflamação: Os anticorpos depositados nos tecidos ativam o complemento, liberando C5a e o C3a, que recrutam neutrófilos e macrófagos. Esses leucócitos expressam receptores para Fc e Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII receptores para complemento se ligam aos anticorpos e as proteínas. Assim, quando se ligam, são ativados e liberam enzimas lisossomais e espécies reativas de oxigênio que produzem a lesão tecidual. c) Funções celulares anormais: os anticorpos que se ligam a receptores celulares normais ou outras proteínas podem interferir com as funções desses receptores ou proteínas e causar doença sem inflamação ou dano tecidual. Na doença de Graves - Hipertireoidismo (esquerdo), autoanticorpos para o receptor do hormônio estimulador da tireoide (TSH) na glândula tireoide estimula a atividade dos receptores mesmo na ausência de TSH, causando liberação excessiva dos hormônios da tireoide. Na miastenia gravis (painel direito), autoanticorpos bloqueiam o receptor da acetilcolina em células musculares, de modo que há o bloqueio da ação da acetilcolina, levando à paralisia. A) HIPOTIREOIDISMO (tireoidite de hashimoto) Etiologia: Existem duas formas da doença: hipotireoidismo primário, caracterizado pela falência da própria glândula (patologia autoimune), e central, devido a doenças hipotalâmicas ou hipofisárias. Pode ser relacionada a fatores genéticos (80%) e ambientais (20%) como infecções virais e deficiência de vitamina D, iodo e selênio contribuem para o desenvolvimento da doença. Epidemiologia: A Tireoidite de Hashimoto acomete cerca de 1 a cada 1000 pessoas por ano, observou-se uma maior incidência no sexo feminino, e é mais predominante na faixa etária entre 30 e 50 anos. Imunopatologia: caracterizada pela produção de autoanticorpos, como anti-tireoglobulina (TG) e anti-tireoperoxidase (TPO), que danificam os tecidos da tireoide. Isto é, na TH, os autoanticorpos tireoidianos atuam contra os receptores de TSH, impedindo o funcionamento correto das células foliculares, responsáveis pela síntese de T3 e T4 Sintomatologia: A Tireoidite de Hashimoto se apresenta de diversas formas, existem formas que cursam com eutireoidismo e bócio (inicial), hipotireoidismo subclínico e bócio (inicial), tireoidite silenciosa ou hipotireoidismo clínico (avançada). Nos casos de hipotireoidismo subclínico, a maioria dos pacientes são assintomáticos, todavia, tal condição pode progredir para hipotireoidismo evidente, especialmente se anticorpos antitireoidianos estiverem presentes. Dessa forma, o hipotireoidismo clínico (avançado) tem sido associado a anormalidades cardiovasculares, metabólicas, reprodutivas, materno fetais, cognitivas adversas e neuromusculares, e ainda, menor qualidade de vida. A TH cursa inicialmente com um aumento gradual da largura da tireoide, manifestação conhecida como bócio difuso e com o desenvolvimento de hipotireoidismo.A sintomatologia do hipotireoidismo é inespecífica, especialmente em pacientes idosos que apresentam cada vez menos sinais e sintomas clássicos do que os pacientes mais jovens. Os mais comuns Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII incluem ganho de peso leve a moderado, fadiga, déficit de atenção, letargia, intolerância ao frio, constipação, rouquidão, xerodermia, depressão e irregularidades menstruais. Diagnóstico: A suspeita da Tireoidite de Hashimoto é feita inicialmente por meio da anamnese e do exame físico. Para confirmação, exames laboratoriais como dosagem dos autoanticorpos, o antitireoperoxidase (anti-TPO) e o antitireoglobulina (anti-TG) e de TSH, T4 livre. 1º Presença de autoanticorpos tireoidianos 2º Dosagem do TSH para saber se os pacientes apresentam eutireoidismo, hipotireoidismo subclínico ou se já estão em fase avançada de hipotireoidismo clínico decorrente da TH. 3º Dosagem de T4 início (subclinico): T4 elevado e TSH baixo. fases avançada (clínico): T4 baixo e TSH alto. O T3 tem baixa acurácia para o diagnóstico de hipotireoidismo, já que a conversão aumentada de T4 para T3 mantém concentração sérica de T3 nos limites normais até o hipotireoidismo se tornar grave. 4º Confirmação: Punção aspirativa por agulha fina confirma o diagnóstico se evidenciarinfiltração de linfócitos na tireoide + ultrassonografia da tireoide pode evidenciar um nódulo hipoecoico e/ou um padrão tireoidiano não uniforme nos casos de TH Diagnóstico Diferencial: A TH, por ser uma patologia autoimune, pode aparecer associada à outras comorbidades auto imunes, como: doença de Addison, diabetes mellitus, hipogonadismo, hipoparatireoidismo e anemia perniciosa, sendo que essas combinações são descritas como a síndrome de insuficiência poliglandular. Ademais, vitiligo, urticária e alopecia também estão associados à tireoidite. Tratamento: reposição hormonal, com o objetivo de reduzir a sintomatologia da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A reposição hormonal é feita em monoterapia com o uso da forma sintética do hormônio T4, a Levotiroxina. Novidade: Estudos controlados randomizados indicam que a suplementação de selênio pode reduzir os níveis de anticorpos anti -TPO. B) HIPERTIREOIDISMO (DOENÇA DE GRAVES) - tireotoxicose Etiologia: Em 63% dos casos há a questão genética, de herdabilidade do gene da Doença de Graves, que se dá através de genes polimórficos de HLA e no gene HCP5. Outros genes comumente relacionados são CD40, CTLA-4, PTPN22, Tg e TSHR. Além disso, tabagismo, estresse, ingesta de iodo, infecções virais ou bacterianas, entre outros. Epidemiologia: mais comum em mulheres, com uma proporção de 7:1, entre 30 e 50 anos devido a influências hormonais que afetam a regulação imunológica. Tabagismo e alto consumo de iodo em pacientes com predisposição genética. Histórico de outras doenças autoimunes, como diabetes tipo 1 ou artrite reumatoide, têm maior probabilidade de desenvolver a DG. Imunopatologia: o sistema imunológico do paciente ataca erroneamente a própria glândula tireoide. Esse ataque é mediado principalmente por anticorpos conhecidos como TRAb, que mimetizam a ação do TSH, ligando-se aos receptores e ativando-os de Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII maneira contínua e desregulada, levando a superprodução de hormônios tireoidianos, causando hipertireoidismo . Sintomatologia: Aumento da taxa basal, que irá gerar: Aumento Lipólise-> perda de peso, mesmo com uma ingestão alimentar normal ou aumentada. Aumento termogênese-> resulta em aumento da temperatura corporal e intolerância ao calor, acompanhada de sudorese profunda. Efeito Cardiovasc -> taquicardia, palpitações e, em casos graves, arritmias cardíacas. Exoftalmia -> resulta da infiltração de linfócitos nos tecidos orbitários, músculos extraoculares, tecido adiposo e conjuntivo, provocando edema e expansão do tecido, resultando no deslocamento e aumento do volume do globo ocular. A partir disso, pode-se ter dor, sensação de areia nos olhos, fotofobia, visão dupla (diplopia) e compressão do nervo óptico, podendo levar à perda visual. Diagnóstico: Clínico (sintomas) + confirmação laboratorial 1º: Dosagem TSH - Provavelmente estará baixa, com níveis inferiores a 0,01 mU/L ou até mesmo indetectáveis - feedback negativo dos elevados níveis de hormônios tireoidianos. 2º Dosagem T3 e T4 - ambos elevados. 3º Dosagem de anticorpos anti TRAb + ultrassonografia e a cintilografia. No exame físico desses pacientes, observa-se a glândula tireoide com aumento difuso do tamanho, sendo possível auscultar sopros em alguns casos.. Diagnóstico Diferencial: outras patologias tireoidianas não autoimunes, como mutação do receptor de TSH, bócio nodular tóxico, adenoma hipofisário, intoxicação por amiodarona e por levotiroxina Tratamento: Metimazol ou Propiltiouracila, que inibe a síntese dos hormônios tireoidianos; Metimazol pode ser usado na gravidez. Efeitos colaterais incluem rash cutâneo, agranulocitose e hepatotoxicidade. - Pacientes resistentes ao medicamento -> iodo radioativo (I-131), ocorre a destruição seletiva do tecido tireoidiano hiperativo. por meio da emissão da radiação beta, resultando na destruição localizada do tecido hiperfuncionante. - Pacientes resistentes aos medicamentos e iodo radioativo ou com bócio volumoso, nódulos suspeitos ou malignos -> cirurgia de tireoidectomia total ou parcial. oftalmopatia tireoidiana -> uso de lubrificantes oculares (leve), ou corticosteroides orais ou intravenosos podem ser utilizados para reduzir a inflamação e o inchaço (grave) ou cirurgia para casos ainda mais graves C) MIASTENIA GRAVIS Etiologia: É desconhecida, mas é causada por anticorpos contra receptores de acetilcolina (anti-AChR) cerca de 85% e também o anticorpo contra uma enzima da membrana muscular, o anti- quinase específica do músculo (anti-MuSk) (7%). Epidemiologia: Prevalência de 100 a 200 casos por milhão de habitantes, havendo um discreto predomínio em mulheres. A idade de início é bimodal, sendo os picos de ocorrência em torno de 20-34 anos para mulheres e 70-75 anos para homem. Ainda, 70% dos Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII pacientes têm hiperplasia de timo e aproximadamente 10% têm timoma – com potencial para comportamento maligno –, sendo este mais comum em pacientes entre 50 e 70 anos de idade. Imunopatologia: Os anti-AChR induzem a internalização e a degradação do AChR pela reticulação dos receptores na região pós-sináptica. Além disso, realizam a ativação do complemento levando à destruição das estruturas da placa motora neuromuscular pelo complexo de ataque à membrana (MAC), e um aumento da distância intersináptica. Sintomatologia: inicial (leve) -> manifestações oculares, como ptose fatigável assimétrica com ou sem visão turva ou dupla. intermediária -> evolui para fraqueza muscular generalizada envolvendo os músculos facial e bulbar, pescoço e músculos axiais e os membros, sendo os membros superiores frequentemente mais severamente afetados do que os membros inferiores. Grave (crise miastênica) -> há disfagia neuromuscular evoluindo rapidamente para perda completa da função de deglutição e, muitas vezes, em associação com fraqueza muscular respiratória e insuficiência respiratória - é definida por episódio de rápida deterioração da força muscular suficiente para causar insuficiência respiratória com necessidade de ventilação mecânica. A fraqueza miastênica é geralmente simétrica e flutua durante o dia, geralmente sendo menos intensa pela manhã e piorando ao longo do dia, especialmente após o uso prolongado dos músculos afetados. Diagnóstico: clínico e baseia-se na história e nos achados físicos de fraqueza muscular flutuante e fatigável + dosagem sérica de anticorpos anti-AChR Ab e anti MuSK ( Os valores de referência podem variar entre laboratórios 17, mas para os exames com registro ativo no Brasil, valores inferiores a 0,25 nmol/L indicam negatividade; entre 0,25 e 0,40 nmol/L são inconclusivos; e superiores a 0,40 nmol/L indicam positividade) + eletromiografia (são realizados em pacientes com suspeita de distúrbios da junção neuromuscular para confirmar defeitos na transmissão neuromuscular e excluir outros distúrbios da unidade motora, como neuropatias, distúrbios do neurônio motor ou miopatias) Diagnóstico Diferencial: Doenças que causam fraqueza muscular sistêmica ou de nervos cranianos podem ser confundidas ou mimetizar MG. A MG pode ser confundida com esclerose lateral amiotrófica (ELA), lesões intracranianas com efeito de massa ou lesões de tronco encefálico que podem causar achados oculares de nervos cranianos, síndrome de Eaton-Lambert, oftalmoplegia externa progressiva (miopatia mitocondrial), distrofia óculo faríngea, entre outros. Tratamento: Tratamento sintomático -> inibidores da acetilcolinesterase (piridostigmina) aumentando a quantidade e a duração desse neurotransmissor na fenda sináptica e, consequentemente, melhorando a força muscular. A piridostigmina é indicada para o tratamento inicial da Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII doença e também pode ser utilizada no tratamento de manutenção. Para os pacientes que não respondem adequadamente a piridostigmina, a conduta é adicionar o corticosteroide (prednisona) para obter a remissão dos sintomas. Tratamento modificador da doença ou de manutenção das crises miastênicase dos casos refratários -> imunossupressores azatioprina, ciclosporina, ciclofosfamida são indicados de forma isolada ou em associação com prednisona para pacientes resistentes imunossupressores azatioprina, ciclosporina, ciclofosfamida são indicados de forma isolada ou em associação com prednisona para pacientes resistentes. Além disso, pode ser feita a timectomia em pacientes com timoma. E também pode-se utilizar plasmaférese ou imunoglobulina humana. D) FEBRE REUMÁTICA Etiologia: é a consequência da falta de tratamento ou uma má gestão após episódios de faringoamigdalite causada pelo Streptococcus β-hemolítico do Grupo A, por meio do mimetismo. Epidemiologia: A febre reumática é mais comum em crianças entre 5 e 15 anos. Fator socioeconômico e ambiental -> Baixa renda, superlotação e falta de acesso a serviços de saúde e exposição a infecções respiratórias frequentes e condições de vida insalubres. Imunopatologia: Quando a célula B reconhece o antígeno da Bactéria Streptococcus β-hemolítico, ele cria anticorpos para ela. No entanto, em sua composição essa bactéria se assemelha com os tecidos humanos. Assim, os anticorpos criados atacam diversas estruturas do corpo humano. Esse processo é chamado de cruzamento ou mimetismo celular. Por exemplo, a proteína M que é capaz de induzir o miocárdio e o tecido valvular a entrarem nessa reação inflamatória, facilitando a entrada de linfócitos T. Outro exemplo é a manifestação neurológica que surge pelos anticorpos que reagem de maneira cruzada com as membranas já citadas do estreptococo, atuando contra o citoplasma dos neurônios Sintomatologia: primeiro se tem a faringoamigdalite e depois a Poliartrite migratória afetando grandes articulações com início gradativo. gerais -> febre, cansaço e artralgia (dor nas articulações, de forma migratória, afetando uma articulação após outra). Manifestações Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII cardíacas -> Cardite: Inflamação do coração, que pode envolver as válvulas cardíacas (mitral e a aórtica), miocárdio (músculo cardíaco) e pericárdio. A progressão dos sintomas pode variar entre os indivíduos, mas a artrite e a cardite são as manifestações mais comuns e potencialmente graves. Manifestações Cutâneas -> eritema e nódulos nas articulações. Manifestações Neurológicas -> Coreia de Sydenham: Movimentos involuntários e descoordenados, que podem ocorrer semanas a meses após a infecção inicial Diagnóstico: Critério de Jones -> O diagnóstico será positivo para a Febre Reumática se: presença de dois critérios maiores ou de um critério maior e dois menores, se acompanhados da evidência de estreptococcia anterior. + Exames laboratoriais como PCR (aumento da proteína C reativa), Anticorpo-ASO (antistreptosilina O) e a cultura de orofaringe para identificar o estreptococo do grupo A. + Exames cardiovasculares como Ecocardiograma, que são capazes de avaliar evidências clínicas para classificar um grau de lesão valvar Diagnóstico Diferencial: mimetizam os sintomas da febre reumática, como: Artrite idiopática juvenil; Lúpus eritematoso sistêmico; Doenças infecciosas (ex.: endocardite, artrite séptica) Tratamento: 1º linha: injeção de dose única de Penicilina g benzantina (PGB), com dose para adultos de 1,2 MU e para crianças de 600.000 U, a cada 21 ou 28 dias. FR sem cardite -> uso por 5 anos ou até a idade de 21 anos. FR com cardite -> uso por 10 anos ou até a idade de 21 anos FR, cardite e mais doença cardíaca residual -> uso por 10 anos ou até a idade de 40 anos. 2.2 IMUNOPATOLOGIA - DOENÇAS CAUSADAS POR LINFÓCITO T: Os linfócitos T provocam lesão tecidual pela produção de citocinas que induzem inflamação ou pela destruição direta das células-alvo. a) Mediada por citocina: células Th1, ativa macrófagos; e o fator de necrose tumoral, Th17, libera IL17 que recrutam neutrófilos; Esses neutrófilos e macrófagos liberam o enzimas lisossomais e as espécies reativas de oxigênio, que geram a lesão tecidual. b) Mediada por Linf. T citotóxico: As respostas de CTLs à infecção viral podem levar à lesão tecidual em decorrência do killing de células infectadas, mesmo se o vírus por si só não induzir efeitos citopáticos. Os CTLs podem contribuir para a lesão tecidual em doenças autoimunes nas quais a destruição de determinadas células hospedeiras é um componente importante, como acontece no diabetes tipo 1, onde as Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII células β produtoras de insulina nas ilhotas pancreáticas são destruídas. a) DIABETES MELLITUS TIPO 1 Etiologia: DM1 é caracterizada por uma reação autoimune, na qual o sistema imunológico do corpo ataca erroneamente as células beta do pâncreas, combinação de fatores ambientais, como infecções virais, exposição a certos alimentos ou toxinas, e até mesmo o microbioma intestinal com fatores genéticos. Múltiplos genes estão associados ao diabetes tipo 1. Muita atenção tem sido direcionada ao papel dos genes do HLA. Entre 90 e 95% dos caucasianos com diabetes tipo 1 são portadores dos alelos HLA-DR3 ou DR4. Epidemiologia: embora a DM1 possa ocorrer em qualquer idade, ele é mais comum em crianças e jovens e a maioria dos diagnósticos ocorrem antes dos 30 anos de idade, com um pico na incidência durante a infância e a adolescência Ainda, cerca de 20% a 25% das pessoas com DM1 são diagnosticadas com outra doença autoimune, mais frequentemente doença tireoidiana ->. As crianças com DM1 apresentam maior risco de desenvolver doenças autoimunes associadas, principalmente a tireoidite de Hashimoto, cuja prevalência aumenta no período puberal. Imunofisiopatologia: Vários mecanismos podem contribuir para destruição das células β, incluindo: - inflamação mediada por células Th1 reativas aos antígenos das ilhotas (incluindo a insulina), - lise de células das ilhotas mediada por T CTL - Produção local de citocinas (TNF e IL-1) que danificam as células das ilhotas - autoanticorpos contra as células das ilhotas. - Infecções virais podem preceder o aparecimento do diabetes tipo 1, talvez por iniciarem a lesão celular, induzindo inflamação e expressão do coestimuladores, e desencadeando uma resposta autoimune. Sintomatologia:4 P’s: poliúria (eliminação excessiva de urina), polidipsia (sede excessiva) e polifagia (fome excessiva) + perda de peso inexplicada, fadiga extrema, visão turva e infecções recorrentes, especialmente do trato urinário e da pele. Estes sintomas podem surgir rapidamente, frequentemente em semanas. Diagnóstico: 1º Teste de glicose no sangue em jejum -> Se em duas ocasiões diferentes os níveis de glicose em jejum estiverem iguais ou acima de 126 mg/dL, isso indica a presença de diabetes. 2º Hemoglobina A1c (HbA1c) Glicada -> que avalia a média dos níveis de glicose no sangue ao longo de 2 a 3 meses. Um resultado igual ou superior a 6,5% é um sinal de DM1. 3º Detecção de anticorpos autoimunes, como os anti-ilhotas pancreáticas ou anti-insulina, é altamente indicativa dessa forma de diabetes. Diagnóstico Diferencial: Asma brônquica, principalmente em lactentes, Gastroenterites e Infecção do trato urinário. Tratamento: administração de insulina + controle da dieta (com pouco açucar e carboidrato) + atividade física regular (melhorar a sensibilidade à insulina). Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII 3 IMUNOPATOLOGIA - DOENÇAS CAUSADAS POR IMUNOCOMPLEXOS Os imunocomplexos antígeno-anticorpo são gerados durante as respostas imunes normais, mas somente causam doença quando são produzidos em quantidades excessivas, não são eficientemente removidos e se depositam nos tecidos. Tais complexos geralmente produzem lesão tecidual grave e de longa duração. São depositados nas paredes dos vasos e nos tecidos ativam os leucócitos e mastócitos que secretam citocinas e mediadores vasoativos. Esses mediadores podem ampliar a deposição dos imunocomplexos nas paredes dos vasos pelo aumento da permeabilidade vascular e do fluxo sanguíneo. A partir da deposição haverá a inflamação no interior das paredes dos vasos sanguíneos, resultando em ativação do complemento e ligação de receptoresFc presentes nos leucócitos aos anticorpos dos complexos depositados, levando a lesão tecidual. A) LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO Etiologia: Relaciona-se com a predisposição genética: Genética -> herança de determinados alelos do HLA (HLA-DR2 ou HLA- DR3) e PTPN22 Deficiências genéticas de proteínas da via clássica do complemento C1q, C2 ou C4. Polimorfismo no receptor Fc de inibição, FcγRIIB Células dendríticas plasmacitoides de pacientes com LES também produzem quantidades anormalmente altas de IFN-α fatores ambientais -> como radiação ultravioleta, tabagismo, estresse também foi associado a um aumento de 50% no risco de desenvolvimento de lúpus. Exposicção a sílica, mercúrio. Medicamentos -> procainamida e a hidralazina, enquanto agentes anti-TNF (como infliximabe, adalimumabe e etanercepte) estão associados à formação de anticorpos anti-DNA. Epidemiologia: O LES é uma condição autoimune global que afeta predominantemente mulheres em idade fértil, com idade entre 15 e 44 anos, a relação de incidência entre mulheres e homens pode chegar a 13:1. Presente em todas as etnias, é mais comum em grupos não caucasianos, sendo geralmente mais severa em indivíduos de ascendência africana e latino-americana. Imunofisiopatologia: 1º radiação UV induz a apoptose de células + genes de suscetibilidade. 2º remoção inadequada dos núcleos dessas células, resulta em grande carga de antígenos nucleares. -> levará ao estímulo para a produção de anticorpos anti-nucleares. Isso ocorre devido aos polimorfismos em diversos genes, gerando defeitos na edição do receptor ou na deleção de células B imaturas na medula óssea, ou ainda, na tolerância periférica. Devido a isso, haverá um defeito na capacidade de manter a autotolerância (não responsividade própria) em linfócitos B e T, motivo pelo qual os linfócitos autorreativos permanecem funcionais. Assim, os linfócitos B Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII auto reativos são estimulados a produzirem anticorpos contra auto antígenos nucleares. 3º cria-se complexos antígeno-anticorpo ligam-se a receptores Fc em células dendríticas e ao receptor antigênico de células B. 4º Esse complexo, será endocitado pela célula dendrítica plasmocitoide, que irá apresentar para a célula B. 5º Ao se ligarem estimulam as células B a produzirem mais autoanticorpos, além de ativar as células dendríticas plasmocitoides a produzirem IFN-α, que aumenta ainda mais a resposta imune e pode provocar mais apoptose. Sintomatologia: Os sintomas de lúpus podem ser vagos e inespecíficos, dificultando o diagnóstico precoce. Fadiga extrema: sintoma mais relatado, que pode ser incapacitante. Dores e inflamações articulares: mãos, punhos e joelhos, sem deformidades nas fases iniciais. Erupção cutânea em asa de borboleta: Vermelhidão no rosto, cobrindo as bochechas e o dorso do nariz. Agravada pela exposição ao sol. Sensibilidade ao sol (fotossensibilidade); Febre baixa e recorrente; Queda de cabelo (alopecia); Úlceras orais ou nasais; Fenômeno de Raynaud: Dedos que ficam pálidos ou azulados em resposta ao frio ou estresse; Edema: Inchaço nas pernas, tornozelos ou ao redor dos olhos, indicando possível problema renal. Dor no peito: Pode ser devido a pleurite (inflamação do revestimento dos pulmões) ou pericardite (inflamação do revestimento do coração). Diagnóstico: Em 2019, foram publicados critérios da European Legue Against Rheumatism/American College of Rheumatology (Eular/ACR), baseado em sete domínios clínicos e três laboratoriais. O paciente pode ser classificado como com LES se tiver pontuação ≥ 10. Ainda, é condição necessária a positividade de FAN ≥ 1:80. OBS: Um resultado do exame de fator antinuclear (FAN) igual ou superior a 1/80 é considerado positivo ou reagente. O FAN é um grupo de autoanticorpos, ou seja, anticorpos que atacam o próprio organismo, em vez de combater agentes perigosos Diagnóstico Diferencial: Artrite Reumatoide, Dermatomiosite, Polimiosite, Febre Reumática, HIV, Hepatite B, Hepatite C, Linfoma, Leucemia, Síndrome Antifosfolípide, Glomerulonefrite, Doença de Hashimoto, Hipertireoidismo e Fibromialgia. Tratamento: formas leves -> antimaláricos (hidroxicloroquina (HCQ), anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e corticosteroides de baixa dose. Mariana Brant Nobre - Medicina XXXVII OBS: Os antimaláricos reduzem a carga de antígenos nas células e impedem a ativação de interferons. A HCQ é bem tolerada e oferece benefícios significativos, como aumento da expectativa de vida, redução dos surtos da doença, melhora das manifestações cutâneas e musculoesqueléticas, além de diminuir o risco de trombose. Casos moderados a graves, com sintomas persistentes-> medicamentos de ampla imunossupressão, como metotrexato, azatioprina, ciclofosfamida, tacrolimus, ciclosporina, micofenolato mofetil e leflunomida. OBS: imunossupressores estão associados a alta toxicidade e aumento da morbidade. + dieta equilibrada, atividade física, controle vacinal, proteção solar e os medicamentos e acompanhamento multidisciplinar Novos tratamentos: - Belimumab (BEL): aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA). Melhora na fadiga e na qualidade de vida dos pacientes, além de uma melhor resposta renal em casos de nefrite lúpica. - Rituximab (RTX): é eficaz em pacientes com doenças hematológicas associadas ou casos refratários, apesar de algumas falhas em estudos. - Anifrolumab: importante para pacientes que não toleram terapias convencionais, beneficiando aqueles com formas moderadas a graves. - Voclosporina (VSC): aprovada em janeiro de 2021 pela FDA para o tratamento da nefrite lúpica ativa junto com agentes imunossupressores, mostrou redução da proteinúria e manutenção da função renal.