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CÁLCULO: INTEGRAIS
E FUNÇÕES DE
VÁRIAS VARIÁVEIS
Raphael de Oliveira Freitas
Integral definida
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
� Relacionar a área de uma região plana à sua aproximação por
retângulos.
� Identificar as relações entre uma soma de Riemann e sua integral
definida.
� Aplicar os conceitos de áreas com sinal para o cálculo de integrais
definidas.
Introdução
Neste capítulo, você aprenderá a identificar as relações entre uma soma
de Riemann e sua integral definida aplicando os conceitos de áreas com
sinal para o cálculo de integrais definidas e relacionará a área de uma
região plana à sua aproximação por retângulos. Nesse sentido, pelo fato
de os problemas aplicados a Física, Biologia, Química e Engenharia serem
modelados por equações diferenciais, o conhecimento da definição e
do conceito de integral definida é essencial para encontrar e analisar os
dados pesquisados. Este capítulo se caracteriza como ponto de partida
para o entendimento dos conceitos, cálculos, propriedades e noção
geométrica de integrais como uma aproximação de áreas de retângulos
também conhecida como soma de Riemann.
Relação das áreas de regiões planas com
as aproximações de retângulos
O cálculo da área de uma região S sob uma curva y = w(x) de a até b está
associado às condições de limitação de retas verticais x = a e x = b pelo eixo
x e de a função w ser contínua onde é positiva, ou seja, w (x) ≥ 0. A represen-
tação da área da região S é descrita como: S = {(x, y) | a ≤ x ≤ b, 0 ≤ y ≤ w(x)}.
Em uma perspectiva geométrica, a Figura 1 ilustra essa problematização.
Figura 1. Representação geométrica da região S definida por S
= {(x, y) | a ≤ x ≤ b, a ≤ y ≤ w(x)}.
Fonte: Stewart (2014, p. 326).
Em geral, a área de regiões de lados formados por segmentos de reta é
mais simples de calcular, por exemplo, a área do quadrado é igual ao seu lado
ao quadrado e a área do triângulo é dada pelo produto de sua base pela altura
dividido por dois. Com esse resultado, também podemos calcular a área de
um polígono, como o hexágono regular convexo, a partir da soma das áreas
de seis triângulos equiláteros.
Já a determinação da área de uma região composta de lados curvos não é
especificamente trivial, o que torna necessário levar em consideração condições
de análise para sua investigação.
No caso da ideia intuitiva de diferenciação, define-se uma reta tangente e, a
partir de sua inclinação por secantes, são associadas as aproximações por limite.
De forma semelhante, ao aproximar a região S de retângulos e associando-a
ao limite de suas áreas, aumentando cada vez mais a quantidade de retângulos,
temos uma estimativa do valor da área. No Exemplo 1, a seguir, ilustraremos
esse procedimento para estimar a áreas sob a parábola y = x2 limitada pelas
retas x = 0 a x = 1 para a região y ≥ 0.
Exemplo 1
Dada a parábola y = x2 de 0 até 1 ilustrada pela Figura 2, estime a sua área
utilizando retângulos.
Integral definida2
Figura 2. Representação geométrica da região S
definida por S = {(x, y) | 0 ≤ x ≤ 1, y = x2}.
Fonte: Stewart (2014, p. 326).
Ao observar a área da região delimitada por S, a área sob a curva está entre
0 e 1, uma vez que S está associada a um quadrado com lados de comprimento
igual a 1. Dividindo a região S em quatro partes com S1, S2, S3 e S4, podemos
também delimitá-las por retas verticais x = , x = e x = (Figura 3a).
Dessa forma, é possível aproximar cada parte da região delimitada por
um retângulo de base congruente da largura da região delimitada e da altura
congruente ao lado direito da região delimitada (Figura 3b).
Figura 3. Aproximações por retângulo do Exemplo 1.
Fonte: Stewart (2014, p. 326).
3Integral definida
Do ponto de vista geométrico, as alturas dos retângulos são os valores da fun-
ção w(x) = x2 nas extremidades direitas dos subintervalos: .
Sabendo que cada retângulo tem largura igual a e a altura é dada em
cada intervalo por , e 12. Se associarmos R4 à soma dos retângulos
de aproximação, temos:
Observando a Figura 3a, percebemos que a área A de S é menor que R4; logo,
Anúmero de regiões limitadas (retângulos
formados), isto é, quando n →∞, o valor da área se aproximará do real. Dessa
aplicação, temos a definição dada a seguir.
A área A da região S que está sobre o gráfico de w (uma função continua) é dada pelo
limite da soma das áreas dos retângulos de aproximação usando as extremidades
direitas:
De forma análoga, é possível utilizar as extremidades esquerdas de aproximação
para determinar a área.
Notação de somatório
Em geral, utiliza-se a notação sigma ou notação de somatório para descrever somas de
muitos termos de maneira mais simplificada. No caso específico de valores expressos
da estimativa de área, temos:
Integral definida10
A Figura 9 descreve a interpretação da notação de somatório.
Figura 9. Notação de somatório detalhada.
Dessa forma, a representação de somas fica mais simples.
No Exemplo 3 (adaptado de STEWARD, 2014, p. 332), vamos determinar
a região que está sob o gráfico de w(x) = e–x entre x = 0 e x = 2.
Exemplo 3
Sabendo que A representa a área que está sob o gráfico de w(x) = e–x entre x = 0
e x = 2, determine a expressão que representa o limite para A utilizando os
extremos direitos, mas sem calcular o limite.
Dos dados apresentados, temos a = 0 e b = 2; portanto, a largura de um
subintervalo é:
Então, x1 = , x2 = , xi = e xn = . Com isso, a soma das áreas dos retân-
gulos de aproximação é dada por:
11Integral definida
Usando a definição de área apresentada anteriormente, temos:
Aplicando a notação de somatório, temos:
No vídeo disponível no link a seguir, o Professor Cláudio Possani, da Universidade
Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP), apresenta os principais aspectos da integral
definida a partir da aproximação de áreas de retângulos.
https://qrgo.page.link/mMoYh
Problema de distância
Para encontrar a distância percorrida por um objeto em determinado intervalo
de tempo, geralmente utilizamos a velocidade como uma grandeza física cons-
tante, porém, se a velocidade variar, não é tão simples relacionar distância =
velocidade × tempo. No Exemplo 4, apresentaremos uma forma de estimarmos
o valor da distância percorrida a partir de dados tabelados.
Integral definida12
Exemplo 4
Calcule uma estimativa da distância percorrida por uma moto no intervalo de
30 segundos, sabendo que, a cada 5 segundos, é marcada a velocidade apre-
sentada no velocímetro, conforme indicado no quadro a seguir.
Tempo (s) 0 5 10 15 20 25 30
Velocidade (km/h) 27 34 38 46 51 50 45
Convertendo a velocidade de km/h para m/s, em razão de a unidade de
tempo estar apresentada em segundos, teremos a relação 1 km/h = 3,6 m/s.
Reescreveremos o quadro:
Tempo (s) 0 5 10 15 20 25 30
Velocidade (m/s) 7,5 9,4 10,6 12,8 14,2 13,9 12,5
Nos 5 segundos iniciais, a velocidade não apresenta muita variação, então
é possível estimar a distância percorrida durante esse tempo, já que, por
hipótese, a velocidade é constante. Se a velocidade inicial for 7,5 m/s em 5 s,
temos: 37,5 m.
De maneira semelhante, podemos estimar a distância de 5 segundos até
10 segundos com 9,4 m/s ∙ 5 s = 47 m. Relacionando essas estimativas para
os outros intervalos de tempo, temos:
(7,5 ∙ 5) + (9,4 ∙ 5) + (10,6 ∙ 5) + (12,8 ∙ 5) + (14,2 ∙ 5) + (13,9 ∙ 5) = 342 m
Consideramos, nesse caso, a velocidade no início de cada intervalo de tempo.
Se utilizarmos o fim de cada intervalo tempo, temos:
(9,4 ∙ 5) + (10,6 ∙ 5) + (12,8 ∙ 5) + (14,2 ∙ 5) + (13,9 ∙ 5) + (12,5 ∙ 5) = 367 m
Para tornar a estimativa mais precisa, basta diminuir as observações das
velocidades em intervalos de tempo cada vez menores, por exemplo a cada
2 segundos.
Associando esses dados a uma interpretação geométrica para velocidade
versus tempo, temos a Figura 10.
13Integral definida
Figura 10. Interpretação geométrica do Exemplo 4.
Fonte: Stewart (2014, p 333).
Dessa forma, a área de cada retângulo pode ser interpretada como uma
distância, já que a altura representa a velocidade, a largura e o tempo. A soma
das áreas dos retângulos é L6 = 342, ou seja, a estimativa inicial apresentada.
Genericamente, se um objeto se movimenta com velocidade v = w(t) com
as seguintes condições: a ≤ t ≤ b e w(t) ≥ 0, o objeto se desloca no sentido
positivo. Se computássemos as velocidades nos instantes de tempo t0 = a,
t1, t2, ..., tn = b supondo que a velocidade seja aproximadamente constante
em casa subintervalo e se esses tempos forem igualmente espaçados, então,
para duas leituras de velocidade consecutivas, teremos o intervalo de tempo
∆x = (b – a)/n. No intervalo de tempo inicial, a velocidade será de aproxima-
damente w(t0) e, consequentemente, a distância percorrida será de w(t0)∆t.
De modo semelhante, a distância percorrida no período correspondente
ao intervalo {a, b] é de aproximadamente:
Integral definida14
Utilizando as velocidades nas extremidades direitas. Já ao utilizarmos as
extremidades à esquerda, a estimativa para a distância total é:
Novamente, observa-se que, quanto maior a quantidade de medições da
velocidade, maior será a precisão na estimativa da distância percorrida. Apli-
cando a ideia de limite para uma distância exata d, temos:
Uma interpretação geométrica da relação apresentada anteriormente reside
no fato de que a distância percorrida é igual à área sobre o gráfico da função da
velocidade. Além dessa relação, existem outras, como o trabalho exercido por
uma força variável ou a saída de água de um tanque, entre outras quantidades
de grandezas que podem ser relacionadas por taxas de variação.
Integral definida a partir das somas de Riemann
Os limites que se configuram como
são consequência de investigações de situações-problema que envolvem cálculo
diferencial e integral para a determinação de centros de massa, trabalho, volume
de sólidos, comprimento de curvas, entre outras quantidades. Definiremos
esse tipo de limite como integral definida.
15Integral definida
Seja w uma função contínua definida no intervalo a ≤ x ≤ b e o intervalo [a, b]
seccionado em n subintervalos de comprimentos iguais a Consi-
dere, ainda, x0 = a, x1, x2, ..., xn = b as extremidades desses subintervalos com
, denominados pontos amostrais arbitrários desses subintervalos,
de maneira que encontre-se no i-ésimo subintervalo [xi–1, xi].
Com isso, temos que a integral definida de w de a até b é:
Com as condições do limite existentes, assumimos que w é integrável no
intervalo [a, b].
Definição precisa de integral definida
Para todo ϵ > 0, existe um número inteiro N de forma que:
∀ inteiro n > N e toda seleção de em [xi–1, xi].
O sinal de integral ∫ foi apresentado inicialmente por Leibniz, cuja aparência,
de uma letra S alongada, está associada a um limite de somas. Na notação
, a e b, são denominados limites de integração, sendo b o limite
superior e a o limite inferior, w(x) chamado de integrado, dx a indicação de
variável dependente e o procedimento matemático para determinar (calcular)
a integral integração. é um número em que também é possível
substituir a letra x na notação, por exemplo: .
Integral definida16
Soma de Riemann
O elemento , que surge da definição de integral apresentada
anteriormente, é denominado soma de Riemann, em homenagem ao matemá-
tico Bernhard Riemann (1826–1866). Essa definição apresenta que a integral
definida de uma função que se configure como integrável tem a possibilidade
de ser aproximada em qualquer grau de precisão por uma soma de Riemann
(STEWART, 2014). Nesse sentido, se w(x) > 0, a soma de Riemann se revela
como uma soma de áreas de retângulos de aproximação como descrito na
Figura 11.
Figura 11. (a) Representação gráfica da soma de Riemann como soma das áreas dos retân-
gulos aproximadores. (b) Representação da área sob a curva y = w(x) de a até b.
Fonte: Stewart (2014, p 338).
Bernhard Riemann realizou seu doutorado sob orientação do legendário Gauss na
Universidade de Göttingen, na Alemanha, onde também atuou como docente. Gauss,
que não tinha o hábito de elogiar outros matemáticos,referiu-se a Riemann como “uma
mente criativa ativa, e verdadeiramente matemática, e de uma originalidade glorio-
samente fértil". A definição de integral que usamos se deve a Riemann, que também
ofereceu grandes contribuições para a teoria de funções de variáveis complexas, a
física-matemática, a teoria dos números e os fundamentos da geometria. Os conceitos
mais amplos de espaço e geometria de Riemann favoreceriam, 50 anos mais tarde, o
desenvolvimento da teoria geral da relatividade de Einstein. Riemann, que nunca teve
boa saúde, morreu de tuberculose aos 39 anos (STEWART, 2014, p 337).
17Integral definida
Se os valores de w adotados forem positivos e negativos, a soma de Riemann
corresponderá à soma das áreas dos retângulos que estão acima do eixo das
abcissas e do oposto das áreas dos retângulos que estão abaixo desse eixo,
conforme a Figura 12.
Figura 12. Representação gráfica da soma de Riemann
com valores positivos e negativos de w.
Fonte: Stewart (2014, p 339).
No caso da Figura 12, o elemento se configura como uma
aproximação para a área do resultado representada (ou área resultante). Com
isso, essa área pode ser representada como:
Sendo A1 a área da região acima do eixo das abcissas e abaixo do gráfico de w;
já A2 representa a área abaixo do eixo das abcissas e acima do gráfico de w.
Podemos tomar como pontos amostrais as extremidades direitas, isto é,
, e, com isso, reescrevemos a definição de integral como o seguinte
teorema.
Se w for integrável no intervalo [a, b], então:
onde e xi = a + i∆x.
Integral definida18
No Exemplo 5 (adaptado de STEWART, 2014, p. 339), vamos aplicar essa
definição e os conceitos apresentados.
Exemplo 5
Apresente
sen
como uma integral no intervalo [0, π].
Ao observar os dados apresentados, temos: w(x) = x³ + x sen x, a = 0 e
b = π. Associando essas informações ao teorema anterior:
sen sen
De forma geral, substituímos os elementos lim ∑ por ∫, por x e ∆x por dx.
Para facilitar o cálculo de integrais, fórmulas da soma dos n termos, dos
n2 termos e n3 termos, além das fórmulas que envolvem somatórios, são in-
teressantes (Figura 13).
Figura 13. Fórmulas de somatório.
19Integral definida
Os Exemplos 6, 7 e 8 funcionarão como aplicações dos conceitos
desenvolvidos.
No link a seguir, você terá acesso a um portal eletrônico sobre integral da Khan Academy
com diversos materiais didáticos, como vídeos exercícios e resumos. A partir dele, você
poderá estudar a respeito de cálculo diferencial e integral:
https://qrgo.page.link/P4xhx
Exemplo 6
Determine a soma de Riemann para w(x) = x3 – 6x utilizando os pontos amos-
trais como extremidades direitas para a = 0, b = 3 e n = 6. Em seguida, encontre
o valor de .
Para n = 6, temos o comprimento dos intervalos:
As extremidades direitas são x1 = 0,5, x2 = 1,0, x3 = 1,5, x4 = 2,0, x5 = 2,5 e
x6 = 3. Então, a soma de Riemann é:
Como w não é uma função positiva, a soma de Riemann não representa
uma soma de áreas de retângulos.
Integral definida20
Utilizando n subintervalos, temos:
Dessa forma: x0 = 0, x1 = 3/n, x2 = 6/n, ..., xi = 3i/n. Usando as extremidades
direitas, temos:
De fato, essa integral assume valores positivos e negativos, não podendo
ser associada ao valor de uma área, mas como uma diferença de áreas.
Exemplo 7
Dada a integral , encontre o seu valor interpretando-a como uma
área.
Sabendo que , é possível associar essa função com a
área sobre a curva de 0 até 1. Como y2 = 1 – x2, temos y2 + x2 = 1.
Com isso, temos que w se configura como 1/4 de círculo de raio igual a um,
conforme mostrado na Figura 14.
21Integral definida
Figura 14. Representação gráfica da função w do Exemplo 8.
Fonte: Stewart (2014, p. 342).
As aplicações de integral definida são diversas nas ciências naturais e
sociais, a partir da ideia de somas de Riemann e do limite descrito como
aproximações de áreas de retângulos divididos por faixas em n subintervalos
que tendem ao infinito.
No link a seguir, você verá um utilitário para calcular integrais definidas.
https://qrgo.page.link/hNG4T
Integral definida22
STEWART, J. Cálculo: volume 1. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. 664 p.
Leituras recomendadas
ADAMI, A. M.; DORNELLES FILHO, A. A.; LORANDI, M. M. Pré-cálculo. Porto Alegre:
Bookman, 2015. 208 p.
KOLMAN, B.; HILL, D. R. Introdução à álgebra linear com aplicações. 9. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2013. 607 p.
MORETTIN, P. A.; HAZZAN, S.; BUSSAB, W. O. Cálculo: função de uma e várias variáveis.
3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 437 p.
SAFIER, F. Pré-calculo. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011. 412 p. (Coleção Schaum).
Referência
23Integral definida