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INSERÇÃO ECONÔMICA INTERNACIONAL DO BRASIL AULA 5 Prof. Itamir Caciatori Junior 2 CONVERSA INICIAL Utilizando o ferramental dos conteúdos anteriores e acrescentando novos, esta abordagem pretende demonstrar as principais políticas econômicas que o Brasil adotou ao longo dos últimos tempos. Para isso, veremos os seguintes temas: (i) Renda, taxa de juros e taxa de câmbio; (ii) Modelo Mundell-Fleming; (iii); A nova Secured Overnight Financing Rate (SOFR); (iv) Políticas econômicas em regime de câmbio fixo e flutuante e; (v) Políticas econômicas e macroeconomia aberta no Brasil. CONTEXTUALIZANDO As questões que se colocam nesta abordagem dizem respeito à atuação das economias abertas, ou seja, inseridas em um contexto em que se tem a necessidade de analisar a taxa de câmbio e o balanço de pagamentos. Dessa forma, são necessários os seguintes esclarecimentos. Como os países tratam seus regimes cambiais atualmente? Qual é o grau de intervenção do Estado nesses regimes cambiais? Qual o papel das taxas de juros como fomentador da captação de capital externo? Qual é a política externa do BACEN como agente no mercado de câmbio brasileiro para regulação do modelo de flutuação suja? TEMA 1 – RENDA, TAXA DE JUROS E TAXA DE CÂMBIO Crédito: RomanR/Shutterstock. 3 Neste tópico, trataremos da função do câmbio como mecanismo de transmissão da política monetária e dos componentes da renda em uma economia aberta. 1.1 Câmbio como mecanismo de transmissão da política monetária A política monetária é responsável, dentre outros aspectos, pelo controle dos juros em uma economia. No Brasil, essa taxa de juros é a SELIC, definida pelo COPOM e tida como a taxa de juros básica da economia. Ela é responsável pela remuneração dos títulos do governo e influencia as taxas de juros das operações de crédito. Investidores estrangeiros são agentes que compram esses títulos remunerados pela taxa SELIC para obterem remuneração superior aos demais títulos disponibilizados por outros países. Quando a taxa de juros sobe, isso causa uma entrada de capitais (dólares) no Brasil. Essa entrada de dólares faz com que aumente a oferta dessa moeda estrangeira internamente, reduzindo sua cotação e valorizando o real. Isso faz com que a taxa de câmbio seja um dos elementos de transmissão da política monetária dentro de uma economia. A Figura 1 demonstra o câmbio atuando como mecanismo de transmissão da política monetária. Figura 1 – Impactos do aumento da taxa SELIC sobre o câmbio Fonte: Itamir Caciatori Junior, 2022. Incentivo às exportações (bens estrangeiros ficam mais baratos) Desincentivo às exportações (bens ficam mais caros no exterior) Valorização da moeda doméstica (Real) Entrada de recursos estrangeiros COPOM aumenta a taxa SELIC 4 Conforme definido pelo BACEN (2023), a inflação é afetada pela taxa de câmbio por meio de dois mecanismos. O primeiro fator é a redução dos preços de bens de consumo importados e de insumos utilizados na produção de bens. A demanda agregada é responsável pelo segundo efeito, ou seja, com o dólar mais barato, as exportações são desincentivadas e as importações são incentivadas. Dessa forma, a demanda por bens domésticos cai, reduzindo a pressão sobre o nível de preços. Já uma redução na taxa SELIC causa o efeito contrário, ou seja: menor entrada de recursos estrangeiros; desvalorização da moeda doméstica; incentivo às exportações e; desincentivo às importações. 1.2 Nível de renda em uma economia aberta Inicialmente, adotamos que as condições de equilíbrio em uma economia aberta são as mesmas que em uma economia fechada, dadas por: Produto = renda = despesa Porém, o setor externo também deve ser levado em consideração, observando que parte da renda será utilizada em importações, ou seja, em bens produzidos em outros países. Além disso, em uma economia aberta, os gastos não precisam ser mais iguais à renda ou produto porque, casos os agentes econômicos de um país gastem mais do que a renda gerada internamente, podem tomar emprestada a diferença de outros países que gastaram menos do que produziram. Assim, a economia internacional pensa em países deficitários e superavitários. A soma dos gastos de todos os países é igual à soma da renda, ou produto, gerada mundialmente. Assim, mundialmente, não é possível gastar mais do que se produz. Consideremos, então, a identidade macroeconômica de uma economia aberta: Y = C + I + G + (X -M) Y = PIB C = Consumo I = Investimento G = Gastos do Governo Em que (X – M) representam as exportações menos as importações, ou seja, a transferência líquida de recursos. Porém, considerando que os gastos dos residentes são iguais à absorção A, a equação fica da seguinte forma: Y - A = (X - M) 5 Que mostra que a diferença entre a renda (Y) e os gastos (A), é igual à transferência líquida de recursos. Adaptando a equação acima, vemos que: (S – I) = (X – M) O que significa que a poupança menos o investimento é igual as exportações menos as importações. Essa expressão pode ser interpretada da seguinte forma (Da Silva; Carvalho, 2017): se (S - I) > 0 e (X - M) > 0, o país poupa mais do que investe, ou gasta menos do que produz. Isso resulta num superávit e na possibilidade de o país enviar recursos para o resto do mundo; se (S - I)G = gastos do governo. Vamos lembrar alguns pontos essenciais sobre as curvas IS-LM (Froyen, 1999): Curva LM o É a curva que dá as combinações de valores de renda e taxa de juros que produzem o equilíbrio no mercado monetário; o Tem inclinação ascendente para a direita (é positivamente inclinada); o Será relativamente pouco (muito) inclinada se a elasticidade da demanda por moeda em relação aos juros for relativamente alta (baixa); o Terá deslocamento descendente (ascendente) para a direita (esquerda), com um aumento (decréscimo) na oferta de moeda; o Terá deslocamento ascendente (descendente) para a esquerda (direita) com um deslocamento da função demanda por moeda, que aumenta (diminui) a quantidade de moeda demandada a determinados níveis de renda e taxa de juros. Curva IS o Tem inclinação descendente e para a direita (é negativamente inclinada); o Será relativamente pouco (muito) inclinada se a elasticidade da demanda por investimento em relação aos juros for relativamente alta (baixa); o Irá se deslocar para a direita (esquerda) quando houver um aumento (uma queda) dos gastos do governo; o Irá se deslocar para a esquerda (direita) quando os impostos aumentarem (declinarem); o Um aumento (queda) nos dispêndios com investimentos autônomos deslocará a curva IS para a direita (esquerda). Dadas as principais características sobre o modelo IS-LM, vamos inserir o setor externo nesse contexto. Quando consideramos uma economia aberta, a curva LM não precisa ser alterada porque a variável que altera essa curva é o 8 estoque de moeda real, que é controlado pelo formulador de políticas nacional (Bacen). Conforme Froyen (1999) Na construção de uma curva IS para a economia aberta, devem ser mantidos constantes: os níveis de impostos e gastos governamentais, a renda externa e a taxa de câmbio. Isso deve ser mantido porque essas variáveis deslocam a curva. Fatores oriundo de choques expansionistas, como um aumento nos gastos do governo, cortes nos impostos, aumento na renda externa, ou elevação da taxa de câmbio, deslocam a curva para a direita. 2.2 O setor externo – a função BP Ainda segundo o autor, além das curvas IS e LM, o modelo Mundell- Flemming tem representada a curva BP, a curva de equilíbrio do balanço de pagamentos. Esta demonstra as combinações de taxa de juros/renda que resultam no equilíbrio do balanço de pagamentos para uma dada taxa de câmbio. O equilíbrio do balanço de pagamentos pode ser entendido como o fato de que a variação das reservas internacionais é zero. A equação da curva BP é escrita da seguinte maneira: 𝑋𝑋(𝑌𝑌𝑥𝑥,𝜃𝜃) − 𝑍𝑍(𝑌𝑌,𝜃𝜃) + 𝐹𝐹(𝑟𝑟, 𝑟𝑟𝑥𝑥)0 Os termos 𝑋𝑋(𝑌𝑌𝑥𝑥, 𝜃𝜃) 𝑒𝑒 𝑍𝑍(𝑌𝑌,𝜃𝜃) compreendem a balança comercial (exportações líquidas). O terceiro item (F) demonstra a entrada líquida de capitais autônomos. Essa entrada é dependente do diferencial da taxa de juros interna em relação à taxa de juros externa (𝑟𝑟 − 𝑟𝑟𝑥𝑥). Caso ocorra uma elevação da taxa de juros interna em relação à taxa de juros externa, ocorre um aumento na demanda por ativos financeiros domésticos (por exemplo, títulos) em lugar de ativos estrangeiros. Além disso, aumenta a entrada líquida de capitais no país. Efeito oposto ocorre com uma elevação da taxa de juros externa, pois admite-se que essa taxa de juros externa seja exógena. 9 Figura 2 – O modelo IS-LM-BP (Mundell-Flemming) Fonte: Itamir Caciatori Junior baseado em Froyen, 1999, p. 583. Conforme demonstrado na Figura 2 podemos concluir que: Uma vez que a curva BP tem inclinação positiva, aumentos no nível de renda fazem com que a demanda por importações também aumente. Porém, o mesmo não acontece com a demanda por exportações; A manutenção do equilíbrio do balanço de pagamentos depende do aumento da entrada de capitais. Esse ingresso de recursos irá ocorrer para taxas de juros mais altas; Os déficits no balanço de pagamentos são representados pelos pontos abaixo da curva BP; Os pontos de superávit no balanço de pagamentos ficam acima da curva BP. O autor afirma que dois fatores podem promover o deslocamento da curva BP: a taxa de câmbio (θ) e a demanda por exportações e importações. Aumentos em θ fazem com que a curva seja deslocada horizontalmente para a direita. Caso se mantenha a taxa de juros, determinante do fluxo de capitais, taxas de câmbio mais altas demandam níveis mais altos de renda para o equilíbrio do balanço de pagamentos. O motivo pelo qual isso ocorre é que taxas de câmbio mais elevadas incentivam as exportações e desestimulam as importações. Isso requer Y r Ta xa d e ju ro s Renda BP LM IS 10 um nível de renda mais alto para estimular a demanda por importações e, consequentemente, o equilíbrio do balanço de pagamentos. Caso ocorra um aumento causado por fatores externos na demanda por exportações (devido a um aumento de Yx) ou uma redução na demanda por importações, a curva BP será deslocada para a direita. Por exemplo, caso as exportações aumentem, um nível mais alto de renda (e consequentemente de importações) é demandado para o equilíbrio do balanço de pagamentos a uma dada taxa de juros. Nesse caso, a curva BP é deslocada para a direita. Na ocorrência de uma dada taxa de juros interna (r), reduções na taxa de juros externa geram aumento na entrada de capitais. Assim, o equilíbrio do balanço de pagamentos requer que as importações e, consequentemente, a renda, sejam mais altas. Assim, vimos que a principal questão que o modelo IS-LM-BP visa responder para uma economia aberta é a determinação da taxa de câmbio. TEMA 3 – A NOVA SECURED OVERNIGHT FINANCING RATE (SOFR) (SUBSTITUIÇÃO DA LIBOR) Assim como temos uma taxa referencial interna, a SELIC, o mercado internacional também tem as suas referências. Neste tópico, trataremos de duas dessas taxas, a LIBOR e a recém-criada SOFR. 3.1 A Taxa LIBOR - London Interbank Offered Rate Em determinadas ocasiões, os bancos precisam emprestar dinheiros uns dos outros. Quando isso ocorre, são geradas taxas médias de juros nessas operações. A LIBOR é uma dessas taxas médias, utilizada para determinar o percentual que os bancos cobram para emprestar uns dos outros. Essa taxa é a base para operações de empréstimos e títulos de renda variável ou flutuante, bem como para os derivativos. Esse padrão foi estabelecido pela British Bankers’ Association (sediada em Londres) no ano de 1986 e decorre de pesquisas diárias com aproximadamente 20 grandes bancos que declaram as taxas necessárias para os bancos emprestarem uns dos outros sem colaterais (garantias). (Bloomberg, 2023). Porém, desde que surgiram evidências de manipulação na taxa entre credores europeus e dos EUA no ano de 2008, a LIBOR perdeu sua 11 credibilidade. Além disso, como menos bancos concedem empréstimos não garantidos, a LIBOR estava se tornando menos real e mais teórica. 3.2 A SOFR - Secured Overnight Financing Rate A SOFR é uma taxa referencial criada pelo Federal Reserve Bank de Nova York, em cooperação com o Escritório de Pesquisa Financeira do Departamento de Tesouro dos EUA. A criação da SOFR visa separar mais de US$ 350 trilhões em títulos atrelados à LIBOR. A SOFR reflete as transações que ocorrem com uma série de empresas, incluindo broker-dealers, fundos de money market, gestores de ativos, seguradoras e fundos de pensão. Outras duas diferenças em relação à LIBOR é que a SOFR possui garantias e é uma taxa overnight (com duração de um dia), ao contrário da LIBOR, que abrange empréstimos com prazos de um dia a um ano (Bloomberg, 2019). O volume de negociações também é diferente. Enquanto a LIBOR contava com uma estimativa de US$ 500 milhões em negócios para um período de três meses, em 2017 a SOFR superava o valor de US$ 700 bilhões/dia. Quanto à moeda, a LIBOR serve comoreferência para operações em libra, euro, iene e franco suíço. A SOFR será referência para contratos em dólar (Bloomberg, 2019). Tabela 1 – Comparativo entre a LIBOR e a SOFR Características LIBOR SOFR Formação da taxa Expectativas dos banqueiros Transações reais Garantias Operações sem garantias Operações garantidas Prazo De um dia a um ano Operações de um dia Volume de negociações US$ 500 milhões / três meses US$ 700 bilhões / dia Moedas Libra, euro, iene e franco suíço Dólar Fonte: Itamir Caciatori Junior, 2022. A implementação da SOFR foi gradual e realizada em seis etapas, com a criação de vários derivativos baseados nessa nova taxa. O término do uso da LIBOR, que estava previsto para o fim de 2021, foi estendido até junho de 2021, enquanto o uso da SOFR já está em andamento. 12 TEMA 4 – POLÍTICAS ECONÔMICAS EM REGIME DE CÂMBIO FIXO E FLUTUANTE Crédito: Helga King/Shutterstock. A diferença do comportamento da curva BP sob o regime de taxas de câmbio fixas e taxas de câmbio flutuantes é que, no primeiro caso (taxas fixas), a curva não se desloca em resposta a movimentos nos deslocamentos das curvas LM e IS, conforme veremos no tópico 4.2 4.1 Políticas Econômicas sob taxas de câmbio fixas Política Monetária Inicialmente, vamos considerar uma política monetária expansionista, com um aumento no estoque de moeda de M0 para M1, conforme demonstramos na Figura 3. Segundo Froyen (1999), a curva LM é deslocada para a direita quando ocorre um aumento no estoque de moeda. Além disso, o ponto de equilíbrio é deslocado de E0 para E1, e a taxa de juros sofre uma queda, de r0 para r1, também ocorrendo um aumento na renda de Y0 para Y1. 13 Figura 3 – Política monetária com taxas de câmbio fixas Fonte: Itamir Caciatori Junior baseado em Froyen, 1999. Uma observação a se fazer nesse ponto é que, como vimos anteriormente, pontos na parte inferior da curva BP representam déficit no balanço de pagamentos, enquanto os pontos da curva BP demonstram superávit. A movimentação do ponto de equilíbrio na curva BP para pontos abaixo da curva gera aumentos na renda e/ou reduções da taxa de juros. Isso gera um déficit no balanço de pagamentos. O deslocamento de E0 para E1, resultado do aumento no estoque de moeda, gera déficit no balanço de pagamentos. Com isso, o autor ressalta que políticas monetárias expansionistas causam aumentos na renda. Esses aumentos estimulam as importações e fazem com que as taxas de juros caiam, o que gera a fuga de capitais. Com isso, tomando-se como base um ponto de equilíbrio, esse tipo de política monetária gera déficits no déficit no balanço de pagamentos e ocasiona conflitos potenciais entre metas de política internas e equilíbrio externo. Política Fiscal Um aumento nos gastos do governo gera um deslocamento da curva IS para a direita, de IS(G0) para IS(G1). Dessa forma, o ponto de equilíbrio na Figura 4 também se move, de E0 para E1, com aumento da renda de Y0 para Y1 e a taxa de juros subindo de r0 para r1. Nessa nova situação, o ponto de equilíbrio será 14 localizado acima da curva BP, ou seja, gerando um superávit no balanço de pagamentos. Isso ocorre porque a curva BP é menos inclinada do que a curva LM. Se a curva BP fosse mais inclinada do que a curva LM, uma política fiscal expansionista geraria um déficit no balanço de pagamentos. Figura 4 – Política fiscal com taxas de câmbio fixas Fonte: Itamir Caciatori Junior baseado em Froyen, 1999. Sobre a inclinação da curva BP, ela será mais inclinada quanto menos sensíveis os fluxos de capitais forem às taxas de juros. Ou seja, quanto maior o aumento da taxa de juros necessário para promover uma entrada de capitais no país, mais alta, ou mais inclinada, será a curva BP. Essa curva também será mais inclinada quanto maior for a propensão marginal a importar. Caso essa propensão seja mais alta, um dado aumento na renda irá produzir um aumento mais do que proporcional nas importações do que na renda. Nesse cenário, para alcançar um equilíbrio no balanço de pagamentos, é necessário um maior aumento na entrada de capital e, consequentemente, um maior aumento na taxa de juros. Uma política fiscal expansionista, como a representada na Figura 3 e na Figura 4 faz a renda aumentar, o que deteriora a balança comercial e faz a taxa de juros subir, resultando em uma melhora da conta de capitais autônomos. Porém, quanto mais inclinada for a curva BP, maior será o efeito desfavorável (sobre as importações e a balança comercial) e menor será o efeito favorável (sobre os fluxos de capitais autônomos). Portanto, quanto mais inclinada for a 15 curva BP, maior a probabilidade de uma ação de política fiscal expansionista levar a um déficit no balanço de pagamentos (Froyen, 1999). 4.2 Políticas econômicas sob taxas de câmbio flexíveis Política monetária E quando a taxa de câmbio se ajusta para igualar a oferta e demanda no mercado de moeda estrangeira, ou seja, quando não há intervenção do Bacen e a taxa de câmbio é completamente flexível? Vamos ver inicialmente a primeira ação de política monetária que analisamos anteriormente, um aumento na quantidade de moeda de M0 para M1. A Figura 5 demonstra os efeitos dessa política monetária expansionista no caso de taxas de câmbio flexíveis. Figura 5 – Política monetária com taxas de câmbio flexíveis Fonte: Itamir Caciatori Junior baseado em Froyen, 1999. Observe, passo a passo, o que ocorreu na Figura 5 (Froyen, 1999): 1. A curva LM é deslocada para a direita mediante aumentos no estoque de moeda. Isso faz com que o ponto de equilíbrio se mova de E0 para E1; 2. O ponto E1 está abaixo da curva BP, onde ocorre um déficit temporário no balanço de pagamentos; 16 3. Como estamos falando de taxas de câmbio flexíveis, a taxa de câmbio irá se depreciar, fazendo a curva BP se deslocar para a direita, de BP(θ0) para BP(θ1); 4. A curva IS irá se deslocar para a direita, de IS(θ0) para IS(θ1); 5. O ponto de equilíbrio final será em E2, com um nível de renda Y2, acima de Y1, que é o novo equilíbrio para uma taxa de câmbio flutuante. Observa-se que o aumento na renda como resultado da ação de política monetária expansionista é maior no caso de taxas flexíveis do que no caso de taxas fixas. No caso de taxas de câmbio fixas, a renda subiria apenas para Y1 na Figura 5. Dessa forma, a política monetária é um instrumento de estabilização mais potente sob um regime de taxas de câmbio flexíveis. Política Fiscal Vejamos, na Figura 6, os efeitos de um aumento nos gastos do governo de G0 para G1 para o caso de taxas de câmbio flexíveis. Figura 6 – Política fiscal com taxas de câmbio flexíveis Fonte: Itamir Caciatori Junior baseado em Froyen, 1999. 1. O efeito inicial é o deslocamento da curva IS de IS(G0, θ0) para IS(G1, θ0) e a movimentação da economia de E0 para E1; 2. A taxa de juros sobe (de r0 para r1) e a renda aumenta (de Y0 para Y1); 17 3. Ocorre um superávit momentâneo no balanço de pagamentos e a taxa de câmbio deve cair (de θ0 para θ1) para equilibrar o mercado de moeda estrangeira; 4. Uma queda na taxa de câmbio deslocará a curva BP para a esquerda, de BP(θ0) para BP(θ1); 5. A curva IS também será deslocada para a esquerda, de IS(G1, θ0) para IS(G1, θ1), pois a apreciação da taxa de câmbio irá baixar o nível de exportações e estimular a demanda por importações; 6. O novo ponto de equilíbrio será em Y2, que está acima de Y0, mas abaixo de Y1, o nível que teria resultado no caso de taxas de câmbio fixas. Uma política fiscal expansionista, ao causar um déficit iminente no balanço de pagamentos sob um regime de taxas flexíveis, irá demandar uma subida da taxa de câmbio para restaurar o equilíbrio no mercado de moeda estrangeira. Dessa forma, a curva BP e a curva IS vão se deslocar para a direita e reforçaro efeito da expansão inicial do aumento nos gastos do governo. TEMA 5 – POLÍTICAS ECONÔMICAS E MACROECONOMIA ABERTA NO BRASIL Crédito: Anton Balazh/Shutterstock. 5.1 Política cambial no plano real A política cambial foi um dos alicerces do Plano Real, atuando como um mecanismo de âncora que auxiliou no combate à inflação. O regime adotado no início do plano (1994) foi o de “taxa de câmbio fixa com correções anuais”, uma 18 vez que era favorecido pela quantidade de reservas internacionais. Essas reservas eram compostas por capital volátil, o que se mostrou inviável em um contexto de globalização econômica e grande mobilidade de capital (Além, 2010). Buscando atrair capitais externos e manter o real valorizado entre 1994 e 1998, foram acionados mecanismos como elevação das taxas de juros internas e a criação de um amplo processo de privatização. Porém, essa estratégia, que pode ser dividida em três períodos, ocasionou um déficit em conta-corrente no balanço de pagamentos: 1. De julho/1994 até janeiro/1995, ocorreu acentuada valorização do câmbio e grande abertura da economia, expondo a produção nacional à competição estrangeira e contribuindo para o combate à inflação. Em vista de sucessivos déficits no balanço de pagamentos, foi necessária a atração de capitais externos para o seu financiamento; 2. Nesse período ocorreram desvalorizações cambiais graduais com a finalidade de recuperar os desequilíbrios nas contas externas, gerados pela sobrevalorização do câmbio. Porém, a situação ficou insustentável e, em janeiro de 1999, o governo adotou o regime de livre flutuação, com imediata e significativa desvalorização do real frente ao dólar; 3. Apenas a partir de 2001 a balança comercial voltou a registrar superávits crescentes, com redução na vulnerabilidade externa (Além, 2010). 5.2 Estudo de caso - política macroeconômica no Brasil entre 2001 e 2014 Entre 2001 e 2005, a política macroeconômica era caracterizada pelo “tripé macroeconômico”: política monetária com regime de metas de inflação guiada pela determinação da taxa SELIC; política cambial com um padrão de flutuação relativamente livre da taxa nominal da taxa de câmbio; e a política fiscal pautada pela geração de expressivos superávits primários como proporção do PIB. O objetivo dessas políticas econômicas eram a estabilidade da taxa de inflação, o equilíbrio do balanço de pagamentos e a estabilidade/redução da dívida pública como proporção do PIB (Oreiro; Paula, 2021). A Tabela 2 demonstra os objetivos, metas operacionais e instrumentos do tripé macroeconômico flexível, representado pelo período de 1999 a 2005. 19 Tabela 2 – Descrição dos componentes do tripé macroeconômico “rígido” (1999- 2005) Tipo de política Objetivos Metas operacionais Instrumentos Política monetária Estabilidade da taxa de inflação a curto prazo Inflação baixa a longo prazo Metas declinantes de inflação Taxa de juros de curto prazo Política fiscal Dívida pública como proporção do PIB baixa e estável no médio e longo prazos Meta de superávit primário Redução do investimento público Política cambial Autonomia da política monetária Nenhuma Livre flutuação da taxa nominal de câmbio Fonte: Elaborado com base em: Oreiro; Paula, 2021, p. 6. No setor externo, no final de 2006 e no início de 2007, frente a uma forte valorização observada na taxa nominal e real de câmbio, o Banco Central passou a adotar uma política de compra em massa de reservas internacionais. A compra dessas reservas visava manter a valorização do dólar e preservar a competitividade da indústria brasileira nos mercados internacionais. Com o tempo, o “tripé macroeconômico” foi flexibilizado, objetivando estimular o crescimento econômico do lado da demanda agregada (maior investimento público, redução da taxa de juros). Antes dessa flexibilização, o crescimento era visto como gerado pelo lado da oferta. O aumento dessa demanda agregada doméstica causou um crescimento do PIB a partir de 2006, junto com uma forte valorização da taxa real de câmbio, com o retorno dos déficits em conta corrente a partir de 2007. Esses déficits foram gerados pela redução das exportações frente às importações, principalmente de manufaturados, bem como a redução no investimento. Como efeitos dessa política, o crescimento médio do PIB foi de 2,65% entre 1999-2005 (definido como período do “tripé rígido”), enquanto durante 1995-1998 esse indicador cresceu a uma taxa média de 3,06%. A taxa de investimento a preços constantes entre 1999-2005 foi de 14,76% e de investimento público como proporção do PIB foi de 2,7%, respectivamente. No período de 1995-1998, essas taxas foram de 16,76% e 3,62%, respectivamente. O período posterior, caracterizado como “tripé macroeconômico flexível”, teve como base os componentes demonstrados na Tabela 3. 20 Tabela 3 – Descrição dos componentes do “tripé flexibilizado” (2005-2008) Tipo de política Objetivos Metas operacionais Instrumentos Política monetária Estabilidade da taxa de inflação tanto no curto prazo como no longo prazo Metas constantes de inflação Taxa de juros de curto prazo Política fiscal Dívida pública como proporção do PIB estável no médio e longo prazo Aumento do investimento público Redução da meta de superávit primário Aumento da carga tributária Aumento das despesas primárias como proporção do PIB Estabilidade do superávit primário como proporção do PIB Política salarial Elevação do salário real Aumento da participação dos salários na renda Não definida Reajuste do salário-mínimo pela inflação de t-1 e pelo crescimento do PIB real de t-2 Política cambial Estabilidade da política monetária Estabilidade da taxa real de câmbio Nenhuma Compra de reservas internacionais em larga escala Fonte: (Baseado em Oreiro; Paula, 2021, p. 6) A política do “tripé flexibilizado” (2006-2008) foi superior ao período anterior. O PIB real cresceu a uma média de 5,07% a.a., contra uma média de 2,65% a.a. no período anterior. A elevação da taxa de investimento passou de 14,76% a.a. para 16,05% a.a. entre 2006-2008. No fim de 2008, após a crise, a produção industrial apresentou uma queda de 30%, o que levou a uma forte expansão fiscal, seguida por uma redução significativa da taxa de juros na economia brasileira. A expansão fiscal, expansão monetária e creditícia permitiram que a economia brasileira se recuperasse rapidamente da crise de 2008, demonstrando uma taxa de crescimento do PIB real de 7,53% em 2010. Isso permitiu ao governo a substituição do “tripé macroeconômico” por um “modelo novo-desenvolvimentista”, no qual crescimento é “puxado” pelas exportações, sustentado pelo investimento privado e público na expansão da capacidade produtiva e na infraestrutura básica (Oreiro; Paula, 2021). Contudo, Missio (2017), não eram passíveis de serem atingidos os objetivos determinados pelo governo pós 2008. Manutenção da estabilidade da taxa real de câmbio, aumento na participação dos salários na renda nacional, estabilidade da taxa de inflação de longo prazo, crescimento robusto do produto real e forte aumento da demanda agregada doméstica por intermédio de um crescimento acelerado nos gastos do governo eram alguns desses objetivos. 21 A incompatibilidade ocorre, por exemplo, com a expansão fiscal e o aumento da participação dos salários na renda, os quais são incompatíveis com os objetivos de estabilidade da taxa real de câmbio e da taxa de inflação. Isso levou autores, como Oreiro; Paula (2021) a definirem esse período como “desenvolvimento inconsistente”, uma vez que não gerou uma taxa real de câmbio competitiva e uma taxa de inflação baixa e estável. TROCANDO IDEIAS Colocaremos duas questões a serem discutidas sobre o conteúdo desta abordagem: 1) Qual é o graude comparação que você faz entre a política macroeconômica em um regime de economia aberta e fechada? 2) Por que não podemos apenas estudar, assim como existe na teoria, os modelos econômicos fechados, sem a curva do balanço de pagamentos? NA PRÁTICA Em janeiro de 1999, o Banco Central alterou o regime cambial de minidesvalorizações para um regime de flutuação cambial. Isso gerou uma tensão no mercado financeiro e um pânico da volta da inflação. O vídeo a seguir demonstra a opinião de especialistas que estavam relacionados à ocasião e dão seus testemunhos sobre o que ocorreu na época: . FINALIZANDO A abertura do Brasil para a economia mundial foi o tema desta abordagem. Dessa forma, demonstramos como a economia brasileira utilizou, em alguns momentos, políticas macroeconômicas para tratar de suas questões internas e externas. Além disso, foram apresentados o Modelo Mundell-Fleming e o Modelo IS-LM-BP com alterações na política monetária e fiscal, essenciais para se entender a macroeconomia aberta. https://www.youtube.com/watch?v=dKFzGk63Nxc 22 REFERÊNCIAS ALÉM, A. Macroeconomia: teoria e prática no Brasil. São Paulo: Elsevier, 2010. BLOOMBERG. A substituição da LIBOR na América dá seus primeiros passos. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2023. BLOOMBERG. Por que a extinção da LIBOR está tirando o sono do mundo financeiro. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2023. FROYEN, R. Macroeconomia. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. MISSIO, J. Macroeconomia do desenvolvimento: uma perspectiva keynesiana (Resenha da obra de Oreiro, J.). Economia e sociedade, v. 26, n. 3, 2017. OREIRO, J. PAULA, L. Macroeconomia da Estagnação Brasileira. São Paulo: Alta Books, 2021. DA SILVA, L.; CARVALHO, D. Economia Internacional. 5a ed. São Paulo: Saraiva, 2017. https://www.bloomberg.com.br/blog/porque-a-extincao-da-libor-esta-tirando-o-sono-do-mundo-financeiro/ https://www.bloomberg.com.br/blog/porque-a-extincao-da-libor-esta-tirando-o-sono-do-mundo-financeiro/ Conversa inicial Contextualizando TEMA 1 – RENDA, TAXA DE JUROS E TAXA DE CÂMBIO Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS