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1 FISIOTERAPIA INTENSIVA EM NEOPEDIATRIA E HOME CARE 1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 2. MÉTODOS ............................................................................................................ 7 3. RESULTADOS ..................................................................................................... 9 4. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 9 4.1 Programa UTI Pediátrica ............................................................................................... 18 4.2 Tratamento Domiciliar .................................................................................................... 23 4.3 Rede de Suporte Tecnológico Domiciliar à Criança Dependente de Tecnologia Egressa de um Hospital de Saúde Pública ........................................................................ 25 4.4 A Necessidade de Suporte Tecnológico Material é Reconhecida Como uma Categoria per se ......................................................................................................................... 27 4.5 O Atendimento Domiciliar à Criança Dependente de Tecnologia .................... 27 4.6 A Assistência Domiciliar Traz, Junto às Incontestáveis Vantagens, Muitas Questões a Resolver ................................................................................................................. 28 4.7 A Tecnologia Redefine o Espaço no Lar e o Significado dos Papéis de Pais e Mães 29 4.8 A Criança Dependente de Tecnologia e o Atendimento Domiciliar Pediátrico do IFF ............................................................................................................................................. 31 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 1. INTRODUÇÃO Os anos 2000 do século XXI marcam o alvorecer de um debate importante para o cuidado à saúde de crianças e adolescentes, cuja existência pode ser qualificada como especial ou complexa, desafiando as expectativas de uma não sobrevivência frente às dependências tecnológicas. Citamos ainda o reconhecimento pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2003, da mudança no cenário epidemiológico, com a relevância da atenção às condições crônicas como reorientadora dos desenhos de atenção e gestão de redes. Essa definição da OMS incorpora e reúne o que há em comum entre situações de saúde tão diversas, colocando na agenda internacional uma indução para a reorganização do sistema de saúde com foco menos no modo de transmissão das doenças e mais no seu curso e duração para os sujeitos e impacto para o sistema. A definição de condição crônica engloba tanto as doenças crônicas quanto as doenças infecciosas, como a tuberculose e a AIDS, e as mais variadas deficiências. Isso porque têm características em comum, como temporalidade e continuidade do cuidado, controle de sintomas e longitudinalidade da atenção, interrupção e incorporação de rotinas de vida. No entanto, há que ponderar que quando reunimos condições de saúde distintas, e sobre as quais incidem símbolos de discriminação social, corremos o risco de desconhecer que o processo saúde-doença-cuidado é mediado por trocas sociais, por jogos de afirmação, lutas por reconhecimento. Nesse caso, os movimentos associativos de pessoas que vivem com HIV/AIDS e o movimento social das pessoas com deficiências - somente para citar duas experiências no campo das identidades ligadas ao viver com doenças e ou deficiências de curso crônico - são exemplares na afirmação dos direitos e lutas contra a discriminação. Por esse motivo, ser reconhecido como “pessoa com condição crônica de saúde” pode diluir as especificidades que muitas vezes são reorientadoras de práticas, políticas e ações afirmativas. Esse ponto toca diretamente o presente artigo e diz respeito à necessidade de buscar definições e conceitos que contribuam para um diálogo mais efetivo com as características, demandas e necessidades de um contingente de crianças que podem ser reconhecidas como crônicas, mas que acima de tudo se diferenciam por graus de complexidade no uso dos serviços de saúde, no aporte tecnológico que garante suas 4 funções vitais em espaços hospitalares ou domiciliares, e que nascem e vivem boa parte de sua infância dentro de enfermarias ou unidades de tratamento intensivo de hospitais pediátricos. Ao propormos recomendações e destacarmos linhas de cuidado, precisamos acionar a revisão de definições, em um esforço de reconhecer que definições estão associadas às práticas, orientam formações profissionais, induzem políticas. Um antecedente desse esforço de identificar e definir melhor essas crianças e suas demandas está reunido em torno do conceito de crianças com necessidades especiais de saúde (CRIANES). Essa definição reconhece que essas crianças são especiais relacionando as suas necessidades ao uso da tecnologia, ao cuidado multidisciplinar e ao uso recorrente e intenso dos serviços de saúde. Ela se apresenta como um marco teórico no campo de pesquisas em enfermagem, com destaque para a demanda de cuidados especiais de saúde no domicilio, que são de natureza contínua e complexa. Essa noção de complexidade é incorporada para qualificar e diferenciar uma condição crônica das doenças crônicas mais prevalentes. Daí, lê-se a condição crônica complexa (CCC) em pediatria como destacando e especificando na própria definição a presença da limitação de função física e/ou mental, a dependência medicamentosa, dietética, tecnológica, a necessidade de terapia de reabilitação física, de linguagem, deglutição e de cuidados multiprofissionais. Da definição de CCC faz parte a referência à duração da condição crônica complexa de ao menos 12 meses, que compromete diferentes sistemas orgânicos, ou severamente ao menos um sistema, requerendo cuidado pediátrico especializado e algum período de hospitalização em um centro de cuidado terciário. Os sistemas orgânicos são identificados por categorias diagnósticas padronizadas pela Classificação Internacional de Doenças (CID): doenças do aparelho neuromuscular; cardiovascular; respiratório; renal; gastrointestinal; hematológico ou imunológico; metabólico; outros defeitos genéticos ou congênitos; neoplasias. Optamos, assim, por assumir que crianças e adolescentes com CCC são mais do que marcadas pela cronicidade; são resultado de um nascimento, crescimento e desenvolvimento qualificado pela complexidadetratamento: tomadas suficientes e rede elétrica para alimentar os aparelhos eletroeletrônicos, rede de água que possibilite assepsia de material e telefone, fundamental em uma assistência baseada na comunicação entre as partes. Tais elementos são indispensáveis ao desempenho das tarefas assistenciais e podem significar a linha de corte ou admissão. Assim, a clientela assistida (mesmo no sistema de saúde pública e gratuita) carece de um mínimo de condições geográfico/socioeconômicas que permitam estabelecer uma estrutura básica que garanta o funcionamento de equipamentos e a própria assistência. O equipamento pode ter origens diversas, em diferentes acordos de empréstimo, doação, cessão, aluguel, etc. Pode ser do próprio hospital, de apoios como REFAZER (ONG beneficente ligada ao IFF), Secretarias Municipal ou Estadual de Saúde, ou empresas prestadoras de serviço (White Martins, Air Liquide) a mando destas. 33 Estes determinam que as prestadoras de serviço entreguem suprimentos, façam manutenção, reposição, etc. Cada criança tem seu cadastro na empresa, de forma que esse contato e posterior solução de problemas possam ser definidos por telefone. Esse serviço pode ser prejudicado se houver inadimplência do Estado frente às empresas fornecedoras ou prestadoras de serviços. Alguns insumos podem ser fornecidos pelo IFF, obtidos por médicos do hospital, pela ONG Refazer ou, quando possível, adquiridos pela família. Pedidos feitos em programas televisivos e radiofônicos de apelo popular também são um recurso ao qual algumas recorrem. Essa necessidade de caminhos alternativos para o acesso aos dispositivos aponta uma insuficiência da oferta oficial. Esse repasse de responsabilidade para a família gera uma forma individualizada de obtenção de recursos, que não conta com um suporte ou garantia por parte do sistema de saúde. O resultado pode ser tão desigual quanto os desfechos encontrados em diferentes esferas governamentais. Assim, a garantia de fornecimento regular, ou com interrupções previstas, pode exigir esforços em vários níveis e diferentes esferas administrativas. Orientados pelo PADI quanto ao protocolo burocrático, pais que têm suficiente esclarecimento e persistência conseguem alguns insumos e equipamentos a cargo do Estado. Devem ser procuradas as Procuradorias e Juizados da Criança e Adolescente do município em que a criança reside. Todas as crianças usam pelo menos um equipamento diariamente. Estes são ligados à terapia respiratória, administração de medicamentos, alimentação e outras formas de cuidado de base tecnológica. O cuidado técnico envolve uma gama de atividades tais como assistir a criança quando ela está usando equipamento, monitoramento por observação próxima e/ou uso de dispositivos secundários, manejo do equipamento, limpeza e preparação para o uso, prover suprimentos e gerenciar reservas, manter a interface entre o equipamento e o corpo (por exemplo, cuidado nos locais de entrada e saída, troca de sondas), acessar suporte técnico/médico de outros, seja do hospital, PADI ou da empresa terceirizada. 34 Nenhuma pesquisa feita em domicílio, na literatura estrangeira consultada, faz menção a um fator constantemente citado nas dissertações nacionais: as dificuldades relativas à higiene. A precariedade de saneamento básico e de serviços impõe um problema adicional, dificultando o manuseio, lavagens e a manutenção dos níveis de assepsia necessários ao local e uso de dispositivos/insumos. A clientela-alvo do IFF é de extrato social mais baixo, moradora da periferia, onde o abastecimento é deficiente. Três das mães entrevistadas não tinham saneamento básico ou fornecimento regular de água em casa. A questão dos custos com material está sempre presente no discurso. Uma das principais justificativas para a criação de sistemas de atendimento domiciliar é a de redução de custos com a desospitalização. Mas este custo é em parte repassado à família, que muitas vezes assume despesas com insumos: "O cuidado destas crianças no domicílio diminui os gastos com despesas hospitalares para os cofres públicos, mas oneram ou tornam insustentável o cuidado familiar com vistas à garantia de qualidade de vida para estas crianças"11. Wegener e Aday30 concluíram que a restrição financeira é o mais poderoso fator de estresse familiar para as famílias de CDTs. Os dispositivos e insumos são caros e de difícil obtenção, e aparelhos mais sofisticados podem ser excluídos do sistema de saúde pública: Aí eu dei entrada no Juizado, aí a Defensora fez o pedido através da Prefeitura. Mas o senhor César Maia recorreu [...] Recorreu do pedido. Ele fez, não sei porque, com todas as documentações, todas as coisas e provas que eu levei para a Defensora, mesmo assim ele recorreu. Mas ontem eu tive uma boa notícia [...] o Juiz deu ganho de causa pra gente. Então, já sei que ta com ganho de causa. Já é mais fácil, agora só falta algumas coisinhas lá, mas ainda deve demorar um pouquinho [...] já fiz antes o mesmo pedido pelo Estado e ela recebeu logo, só que ela resolveu (a Defensora) pedir pela Prefeitura, já que os aparelhos são todos do Estado, então resolveu dar entrada pela Prefeitura e a gente ganhou um não na cara [...] 35 Quando o rapaz da empresa que representa o fabricante do aparelho chegou para entregá-lo, ele disse que nunca tinha visto uma família pobre conseguir um daqueles. O ambiente doméstico é onde a criança e os cuidadores enfrentam o maior desafio: o imperativo de abarcar o processo, desenvolver um modo operatório gerido com relativa autonomia. Tal competência a ser criada tem que ser abrangente e eficiente em situações de rotina ou extraordinárias. A finalidade é bastante clara, a manutenção da vida, mas os procedimentos e mecanismos empregados são misteriosos e o sujeito não se beneficia de conhecimentos anteriores que permitam comparações e associações. Soma-se a esse contexto a baixa escolaridade e pouco contato com eletroeletrônicos mais sofisticados. É imposto ao cuidador um elemento misterioso e intrincado, diferente de tudo que ele já viu antes, do qual depende a vida da criança. E, de acordo com Dejours, "o medo aumenta com a ignorância. Quanto mais a relação homem-trabalho está calcada na ignorância, mais o trabalhador tem medo". Dada a inexperiência e falta de conhecimento prévio que facilite o entendimento, ocorrem eventos dramáticos onde o cuidador experimenta tensão, isolamento e sensação de desamparo: "E a primeira vez que eu passei sozinha (saiu a sonda de gastrostomia do lugar), eu falei ai meu Deus, me ajuda, é eu e o Senhor agora [...] aquela tremedeira, eu falei, agora fica calma". O equipamento, seu uso e manutenção representam um corpo estranho, cuja operacionalidade e entendimento pertencem ao especialista. O cuidador que se sai com sucesso de imprevistos e situações críticas é simbolicamente alçado a essa categoria, com o reconhecimento implícito de que tal grau de complexidade pertence à esfera do profissional de saúde: [...] aquilo soltou e entrou dentro da garganta dela, ficou lá dentro. Nem os médicos sabiam que aquela traqueo desencaixava do coisa (sic) que fica no pescoço. Aí eu olhei, o coisa dentro da garganta e o troço solto. Isso era três horas da manhã, minha filha lá morrendo engasgada, o que eu vou fazer? A sorte é que tirei tudo, troquei, fiz os procedimentos e só liguei no outro dia pro médico e disse olha, tive que fazer isso assim. Ele disse "você está de parabéns, tomou atitude de doutora [...] 36 Os episódios observados ilustram o que Dejours e Molinier apresentam sobre "trabalho como enigma": a necessidade de enfrentar o que não está dado pela organização prescrita do trabalho. O cuidador tem de suplantar o que não foi previsto, as insuficiências e as contradições das instruçõese dos sistemas técnicos. Existe uma confrontação entre a prescrição teórica e a prática onde as lacunas têm de ser preenchidas, às vezes a duras penas. Dejours enfatiza que, num trabalho que envolva riscos na relação homem- máquina, "a preparação técnica [...] é também uma preparação psicológica para o incidente, o imprevisto, o acidente. " Brument et al. ressaltam aspectos necessários à aquisição de conhecimento técnico: a formação deve proporcionar [...] meios de compreender o que se passa no funcionamento normal, mas também agir com conhecimento de causa nos períodos conturbados: incidentes, arranques ou paradas. Isso exige que o operador conheça mais do que os modos de utilização e procedimentos. O atendimento domiciliar pediátrico para crianças dependentes de tecnologia complexa e seu estudo têm expressão no panorama mundial. Porém, no Brasil, esse tipo de cuidado é incipiente e o PADI vem realizando um trabalho pioneiro. As circunstâncias em que esse cuidado ocorre são determinadas pelas condições socioeconômicas e geográficas do serviço público de saúde no Rio de Janeiro e merecem mais estudo. Segundo Popkin e Goulart apud Schramm et al.a modificação no perfil de saúde da população em que as doenças crônicas e suas complicações são prevalentes resulta em mudanças no padrão de utilização dos serviços de saúde e no aumento de gastos, considerando a necessidade de incorporação tecnológica para o tratamento das mesmas. Estes aspectos ocasionam importantes desafios e a necessidade de uma agenda para as políticas de saúde que possam dar conta das várias transições em curso. 37 A escalada tecnológica, o modelo hospitalocêntrico ainda vigente, a pouca valorização na educação médica e de outros profissionais em relação aos aspectos referentes à promoção e prevenção, a necessidade de novas instâncias de cuidados (além do hospitalar e do ambulatorial clássicos), as marcantes deficiências qualitativas e quantitativas da força de trabalho em saúde e o desenvolvimento de programas e políticas custo-efetivas são elementos a serem considerados no desenvolvimento dos futuros modelos tecno-assistenciais em saúde. Algumas conclusões se destacam: o atendimento domiciliar voltado para a criança dependente de tecnologia na saúde pública depende de alguns fatores essenciais, derivados tanto das suas especificidades terapêuticas quanto das que são geradas pelos seus equipamentos e dispositivos de apoio. Kirk reforça a importância de profissionais de saúde, tomadores de decisão políticos e sociais, grupos interessados, revendedores e redes comunitárias de suporte abordarem de forma adequada as necessidades das crianças e de suas famílias. As políticas sociais não deveriam ser desenvolvidas de forma a categorizar os dispositivos médicos (racionalismo tecnocrático) e calcular a eficiência econômica (racionalismo econômico). Elas devem adotar valores e éticas essenciais ao sustento da dignidade dos seres humanos (razão de valores). O Estatuto da Criança e do Adolescente garante "o direito à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência", frisando o papel das políticas públicas na garantia de tais direitos. Porém, não especifica instâncias responsáveis nem canais competentes. Schachter e Holland47enfatizam que "a transferência de responsabilidade pelo cuidado do paciente das instituições para os membros da família está produzindo uma gama de questões que demandam soluções sociais, éticas, psicológicas, econômicas e políticas." A Criança Dependente de Tecnologia e sua família enfrentam um desafio. Esta não é reconhecida como um grupo particular de pacientes, permanecendo à margem de conceituações, apesar de ser uma população numericamente expressiva. Além das dores físicas e psíquicas que ela e seus familiares enfrentam, depara-se com a dificuldade e a precariedade, em vários aspectos. 38 Para o desempenho das tarefas engajadas em tal cuidado, faz-se necessária a disponibilização de informação, serviços integrados e coordenados em níveis estratégicos e operacionais, treinamento estruturado, transparência de processos e atribuições de responsabilidade. A resposta ao enigma da tarefa reside nas estratégias de cooperação entre os agentes, engenhosidade e mobilização dos sujeitos implicados. No funcionamento em âmbito doméstico com suporte na Saúde Pública, esta ampla malha de cuidado domiciliar deve viabilizar articulações dinâmicas em diferentes níveis: administrativo/executivo, federal/municipal/estadual, público/privado, hospital/casa. Os elementos desta rede têm que cooperar/colaborar num grau mínimo que permita a formação de um verdadeiro sistema de cuidado. 39 REFERÊNCIAS Hall DE. The care of children with medically complex chronic disease. J Pediatr 2011; 159:178-80. Organização Mundial da Saúde. Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação. Relatório mundial. Brasília: Organização Mundial da Saúde; 2003. Flores JC, Carrillo D, Karzulovic L, Cerda J, Araya G, Matus MS, et al. Niños y adolescentes connecesidadesespeciales de atenciónensalud: prevalenciahospitalaria y riesgosasociados. 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O aumento desses casos pode resultar em uma maior demanda por cuidados e hospitalização, uma vez que dados internacionais apontam que crianças com necessidades especiais de saúde passam 7 vezes mais tempo internadas (552 vs. 90 dias por 1.000; pa seleção dos especialistas, o processo de validação das recomendações foi dividido em três etapas. Na primeira, foi construído um documento síntese da pesquisa, enviado por meio eletrônico para leitura, juntamente com três artigos científicos sobre a temática 3,6,9. Cada uma das recomendações foi pontuada numa escala de 0 a 10, em que zero equivalia à exclusão e dez significava importância máxima. Abaixo de cada item o especialista poderia escrever sugestões de mudança ou fazer observações sobre o conteúdo ou redação. Finalizada a primeira etapa, a equipe da pesquisa consolidou os resultados obtidos por meio de instrumento online do tipo survey, verificando o consenso de opiniões de acordo com Souza et al. 22, valendo-se da análise de médias e desvio padrão, em que médias menores que sete e/ou desvios padrão maiores que dois são considerados dissensos. Nessa etapa, nenhuma recomendação foi excluída. Com base nessa análise e levando-se em consideração as sugestões/inclusões dos especialistas, a lista de recomendações foi reformulada pela equipe da pesquisa. A terceira etapa ocorreu presencialmente, nos dias 3 e 4 de agosto de 2015, no IFF, durante o Painel de Especialistas sobre Atenção às Crianças e Adolescentes com Condições Crônicas Complexas de Saúde. Nesse evento, a nova lista foi apresentada e cada especialista defendeu a nota e as sugestões/inclusões concedidas a cada recomendação. Ao final da conferência, a equipe da pesquisa realizou nova consolidação dos dados obedecendo aos mesmos parâmetros da primeira análise, de modo a reformular a lista de recomendações para uma nova rodada de pontuação pelos especialistas, desta vez presencialmente, embora ainda individual, encerrando o evento. 9 3. RESULTADOS O tratamento estatístico dos dados da última rodada demonstrou o consenso em relação à maior parte das recomendações, tendo sido excluída apenas uma delas. Assim, foram elencadas numa figura 13 recomendações validadas por especialistas. A análise posterior realizada no conjunto validado possibilitou a categorização dessa lista em três dimensões lógicas, consideradas pelos autores como categorias relevantes à análise de uma linha de cuidados sobre CCC, são elas: (1) complexidade do tema, média de permanência elevada e necessidade de redefinições; (2) complexidade de requalificação do ambiente e da equipe multiprofissional na hospitalização e desospitalização; (3) necessidade de advocacy e de visibilidade pública. 4. DISCUSSÃO Baseando-se nas três dimensões apresentadas, cabe um esforço de gerar não somente uma apresentação pública sobre as mesmas, mas uma síntese dialogada com a literatura. Assim, evocamos a perspectiva teórica dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia, cujas referências vão ao encontro da Teoria Ator-Rede e da Teoria dos Sistemas. A primeira, tem em Bruno Latour eAnnemarie Mol duas de suas referências para fundamentar as interações entre humanos e não humanos no âmbito das associações que conformam grupos e suas agências, bem como a interface entre tecnologias e as lógicas em saúde, que transitam com a escolha e o cuidado complexo. A segunda tem por base as discussões de Maturana& Varela sobre complexidade e dinâmica dos organismos vivos. O primeiro aspecto digno de nota diz respeito ao fato de que a complexidade não se restringe à dimensão da organização do sistema de saúde, mas se caracteriza como uma qualidade do estado de vida e saúde dos seres humanos, e na radicalidade se coloca como um diferencial, um qualificativo da surpresa que a vida desse grupo de crianças representa. A surpresa comparece na interface entre vida e tecnologia, inviabilidade prevista de início e surpresa por essas crianças superarem prognósticos negativos e se tornarem possíveis. Nessa direção, seus corpos desafiam a natureza e nos impulsionam, por exemplo, a assumir a complexidade como inerente à sua existência. 10 A presença da tecnologia, materializada nos equipamentos, máquinas, próteses e adaptações variadas, se coaduna com as necessidades de crianças cada vez menores expostas às imprevisibilidades e desafios do nascimento com corpos que necessitam de correções cirúrgicas frequentemente. Mendes, ao discutir redes de atenção à saúde e a relação entre sistemas integrados e fragmentados, problematiza o entendimento do que seja complexidade e as consequências desta definição para uma distorção e desvalorização das práticas qualificadas como não complexas. Reforça ainda que esse equívoco ao definir complexidade fazendo equivaler a atenção primária à saúde um caráter de “menor complexidade” do que a atenção nos níveis secundário e terciário, provoca uma banalização da atenção primária à saúde e uma sobrevalorização, seja material, seja simbólica, das práticas que exigem maior densidade tecnológica e que são exercitadas nos níveis secundário e terciário de atenção à saúde. Dialogando com essa crítica, e considerando que a condição de complexidade associada à condição crônica é um diferencial nas crianças e adolescentes aqui destacados, vale considerar como Mendes aponta a complexidade como algo inerente aos sujeitos e não algo de caráter organizacional. E aqui ressaltamos, não é um grupo de sujeitos qualquer: são crianças, marcadas por limites físicos, com funções comprometidas e que precisam de suportes tecnológicos, cujos corpos são ligados a máquinas que as tornam viáveis, que dependem de monitoramento da fragilidade física, possibilitando uma estabilidade sempre em alerta. A esses sujeitos liga-se a definição de sistemas complexos, ou de complexidade de saúde que os qualifica e caracteriza. Na primeira dimensão das recomendações, essa necessidade de definições que possam deixar claro de que crianças estamos falando, sintoniza com essa discussão de sistemas complexos e de uma construção de corpos infantis onde se concretizam híbridos entre corporeidade e tecnologia. Cabe destacar aqui que essas crianças desafiam padrões de desenvolvimento e reinventam outras formas de se fazer entender e de se relacionar com sondas, bombas de infusão, tubos de traqueostomias e gastrostomias. Cada tecnologia dessas se torna parte de seus corpos e passa a ser incorporada, gerando outros usos e funções. Funções de relação entre humanos e não humanos, conexões múltiplas que geram associações produtoras de vida. 11 Destacamos a necessidade de reconhecer que a complexidade é inerente à definição de condição crônica, e acompanha as crianças marcadas por estas condições onde quer que elas estejam. E no caso da pesquisa que conduzimos, as evidências da análise dos dados nos levam a reconhecer e reafirmar que os leitos de enfermarias de pediatria geral são hoje locais onde essas crianças podem estar hospitalizadas, com o uso de equipamentos e tecnologias que talvez até 20 anos atrás estivessem restritas às unidades de terapia intensiva. Uma característica marcante e um diferencial nessas definições talvez se concentre em dois enquadres: (1) complexidade e média de permanência elevada; (2) complexidade e requalificação do ambiente e da equipe multiprofissional na hospitalização e desospitalização. Dado o caráter crônico dessas condições e o avanço no cuidado, sobretudo pelo aporte crescente e progressivo da tecnologia nas intervenções terapêuticas, criou-se um grupo emergente de adolescentes e adultos com doenças que começaram na infância. A transição desse cuidado deve considerar não somente o estabelecimento de serviços capazes de lidar com as suas demandas e necessidades, mas com a criação de um novo perfil de profissional, com dupla formação pediatria- clínica de adultos, ou ainda com a inauguração de uma nova parceria consultiva do pediatra hospitalista com os clínicos que assumirão o cuidado de tais pacientes com doenças que iniciaram na infância. Aqui ampliamosas discussões anteriores apontadas pela literatura internacional, a fim de indicar a necessidade de que não se restrinja o cuidado a essas crianças como um cuidado estritamente pediátrico, no sentido da especialidade e intervenção médica. A urgência de uma equipe multidisciplinar - com fisioterapeutas, enfermeiros e técnicos de enfermagem, fonoaudiólogos, nutricionistas, pedagogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e psicólogos - é uma necessidade, com as devidas organizações destas equipes no cuidado. Há que se considerar que essas crianças no hospital encontram-se sob a responsabilidade das equipes de saúde e que a alta para casa, após longos períodos de internação, gera outros arranjos familiares com o apoio técnico, que nem sempre se dá de forma presencial. Do mesmo modo, há que se reconhecer que as equipes de saúde envolvidas no cuidado nem sempre estão preparadas para a complexidade do cuidado que essas crianças exigem 1. 12 Destaca-se nesse ponto a importância de um efetivo modelo de regionalização de cuidados em saúde para essa população, a fim de evitar a impossibilidade do acesso a esses serviços. Nota-se também uma necessária associação e articulação entre os diferentes prestadores de serviços de atenção em saúde, incluindo aí o planejamento da transição para clínicas de cuidado em saúde, ações estas focadas em uma perspectiva de cuidado ampliado em saúde, inclusive com equipes multiprofissionais que possam participar diretamente desta transição de serviços. Um sistema de saúde que ainda está fragmentado e organizado por níveis de complexidade se mostra incoerente com o conceito de saúde preconizado pela atual política de atenção à saúde brasileira. Em 2013, foi instituída pela Portaria nº 252 do Ministério da Saúde, a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa rede de atenção à saúde consiste em arranjos organizativos, formados por ações em serviços de saúde, com diferentes configurações tecnológicas e missão assistencial, articulados de forma complementar e com base territorial, tendo diversos atributos com a articulação interfederativa entre os diferentes gestores da saúde, formação profissional e capacitação permanente. Quando assinalamos, ainda na segunda dimensão, a necessidade de ações que identifiquem as demandas por desospitalização e facilitem o diálogo nas transições para casa, não podemos deixar de problematizar a presença de dois pontos nevrálgicos: (1) quanto os serviços de base territorial estão preparados para atender essas crianças de forma contínua ou em situações de emergência. Incluindo os serviços de home care privados, que estão mais preparados para atender aos idosos acamados do que a esse grupo de crianças que ainda surpreende as formações profissionais dedicadas ao cuidado agudo; (2) o fato de ter uma criança crônica complexa em casa, após internações prolongadas, apesar de ser um desejo das famílias e um trabalho potente das equipes hospitalares, incrementa iniquidades de gênero com a sobrecarga feminina neste cuidado. A domiciliarização do cuidado de crianças crônicas complexas evoca as necessidades de investimento nas redes de apoio e no acesso a benefícios sociais que garantam outros suportes para o incremento de gastos de ordem material e afetiva. Nesse ponto, a terceira dimensão, que liga complexidade e ações advocacy, representa um papel estratégico se pensamos no lugar que estas ações ocupam na promoção da saúde e no reconhecimento de direitos, no diálogo organizado entre famílias, profissionais e legisladores formulando políticas sintonizadas com as 13 necessidades desse segmento, que possam dar visibilidade e reconhecimento às novas demandas por cuidado infantil. Existe uma preocupação legítima na transição do cuidado, por representar um momento crítico para a garantia da manutenção e da qualidade da assistência, sendo a comunicação um elemento-chave neste processo, resultando na proposição de um modelo para a sua implantação. Em muitas situações é o pediatra quem continua a prestar os cuidados para esse novo grupo, devido aos hiatos identificados no circuito demandas/serviços/profissionais especializados. Com relação à complexidade e à média de permanência hospitalar elevada, destacamos que na pesquisa em que se baseiam as recomendações o número de sistemas orgânicos afetados foi em média duas vezes maior entre os casos com CCC do que a média dos pacientes sem CCC. Tal dado indica que crianças com CCC possuem um risco aumentado para o desenvolvimento de condições crônicas físicas, comportamentais, do desenvolvimento ou emocionais e que requerem um maior uso de serviços de saúde que as crianças em geral, com o uso intensivo de internação, para cuidado complexo e internações superiores a 7 dias. Adicionado a isso, apresentamos algumas evidências: (a) a média de permanência geral em hospitais representa o tempo médio que o paciente fica internado; (b) a média de permanência hospitalar/Brasil/SUS/2014 em pediatria foi de 6,1 dias; (c) as médias de permanência acima de 7 dias indicam risco aumentado para infecção hospitalar em hospitais com emergência aberta, e nestes hospitais a média varia entre 3 e 5 dias; (d) o aumento dessa média é influenciado pela faixa etária elevada (idosos), severidade e número de comorbidades associadas; (e) a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) indica o monitoramento de pacientes com média de permanência superior a 8 dias, bem como o uso de hospitais de retaguarda e home care; (f) são consideradas no SUS internações de longa permanência aquelas superiores a 30 dias: psiquiatria, cuidados prolongados, pneumologia sanitária e reabilitação; e (g) Flores et al. consideram como muito prolongadas as internações maiores do que 20 dias. Após o exposto, consideramos a necessidade de redefinir o tempo de permanência esperado para crianças com condições crônicas complexas em enfermarias de pediatria geral. Deve-se incluir nessas faixas de aumento de média de permanência o grupo de crianças com CCC, para o qual a média de permanência esperada já é superior a 7 dias. 14 Também, é importante considerar a necessidade de diálogo com a Rede de Atenção Psicossocial para os aprendizados sobre a ação das Equipes de Desinstitucionalização, como mediadoras entre o ambiente de internação hospitalar para crianças com CCC com internações superiores a 30 dias e a Atenção Básica, proporcionando o cuidado pelas Equipes de Atenção Domiciliar. Um importante aspecto a ser destacado e estudado com relação à formação de redes de atenção e cuidado integral à saúde é a questão do “empoderamento” de profissionais envolvidos no processo, e como estes se sentem capacitados para o desempenho de sua atividade no âmbito domiciliar no contexto dos problemas crônicos. Compreende-se que o trabalho em rede, em que as ações de promoção de saúde ocorrem transversalmente dentro do sistema de saúde, poderia favorecer o desenvolvimento dos aspectos anteriormente citados, minimizando riscos de sobrecarga e estresse, além de favorecer a integração social e a qualidade de vida dessa população. Já no que diz respeito à complexidade e requalificação do ambiente e da equipe multiprofissional na hospitalização e desospitalização, na pesquisa a demanda foi maior por especialidades médicas e ações de promoção da saúde. Os procedimentos mais frequentes foram realização de exames e dependência tecnológica relacionada à respiração. As internações por CCC demandaram mais especialidade médica e de reabilitação, suporte clínico, ações de promoção da saúde e dependência tecnológica relacionada à alimentação do que as internações sem CCC. Por fim, cabe destacar que ao final da já referida pesquisa, das crianças que tiveram como desfecho a permanência da internação hospitalar,seis estavam aguardando decisões referidas às ações judiciais. Esse cenário de judicialização da saúde deve provocar discussões importantes, sem afirmações a favor ou contra, mas que problematizem limites e possíveis conquistas. É importante dizer ainda que essas crianças que saem da curva e estão situadas nos extremos das longas permanências, de mais de 12 meses, são aquelas que mais precisam ser consideradas na urgência das estratégias de promoção da saúde, considerando que mesmo hospitalizadas não interrompem seus processos de crescimento e desenvolvimento. Consonante com a definição anterior, afirmamos que o ecossistema das famílias das crianças e adolescentes com condições crônicas complexas evoca também uma complexidade digna de atenção. 15 Dessa discussão faz parte a consideração sobre o acesso aos benefícios sociais. A maioria das famílias recebia benefício de prestação continuada, mas a proporção foi menor entre as mães com menos de 20 anos de idade. Chama atenção o fato de que a presença de acompanhante permanente foi mais frequente entre as famílias não contempladas com o benefício de prestação continuada (BPC) do que entre as famílias beneficiárias. A escolaridade materna e a chefia familiar paterna não estão associadas com a presença de acompanhante permanente. Uma parcela das crianças com CCC internadas em unidades de terapia intensiva e enfermaria de pediatria geral encontra-se dependente de ventilação mecânica e traqueostomizada. Considerando que as crianças com condições crônicas complexas acabam por permanecer por mais tempo hospitalizadas, com o uso de equipamentos portáteis para ventilação mecânica e de tecnologias respiratórias e alimentares, o espaço físico das enfermarias precisa ser requalificado, com vistas a contemplar as suas necessidades de suporte tecnológico, acolhimento dos pais e garantia da presença dos mesmos durante a hospitalização e a perspectiva de um cuidado pautado no gerenciamento das dependências. A evolução tecnológica dos aparelhos de ventilação mecânica para equipamentos portáteis sofisticados possibilita atualmente que a ventilação de pacientes com CCC seja conduzida fora das unidades de terapia intensiva, em outras unidades de internação, ou no próprio domicílio do paciente. Para isso, é fundamental que a equipe multiprofissional e a família estejam capacitadas e orientadas. Em relação à qualidade de vida, a possibilidade da saída da terapia intensiva com o aparelho portátil e, consequente, investimento no crescimento e desenvolvimento da criança e dos vínculos com suas famílias, são vistos como fatores vantajosos para esses pacientes. Considerando que esse uso de equipamentos não se restringe a espaços de terapia intensiva, o seu manejo demanda uma requalificação e atualização profissional com vistas a positivar o seu manejo. Da mesma forma, em função dos longos tempos de permanência hospitalar, essas enfermarias precisam contar com suportes de promoção de saúde que possibilitem o acesso à qualidade de vínculos característicos da infância. Vale ressaltar que as maiores taxas de internação por condições crônicas, de complexidade variável, acontecem exatamente nos primeiros mil dias das crianças, ou seja, na faixa etária até os quatro anos, considerados estratégicos para o crescimento e desenvolvimento de habilidades motoras, sociais, comunicacionais e 16 cognitivas. Considerando-se que além de serem as que mais se internam são também as que ficam mais tempo internadas, quais os possíveis comprometimentos às perspectivas de futuro dessas crianças? Como deveríamos pensar sobre inovações nos hospitais pediátricos para oferecer estímulos positivos às mesmas, caso essas internações não sejam totalmente preveníveis? (porque são necessárias em função da própria complexidade da criança e de sua clínica, já esperadas por causa da condição crônica e do processo de amadurecimento dos sistemas). Ou seja, em perspectiva, valem ações que considerem a importância da promoção de saúde em hospitais pediátricos. Citamos aqui as abordagens lúdicas que incorporam estratégias terapêuticas de elaboração dos agravos e limitações nas rotinas, emoções e mobilidade. E aquelas relacionadas ao apoio educacional, mediação de leitura, artes e música. Por fim, as preocupações com a ambiência e arquitetura hospitalar, considerando o direto das mães e/ou pais acompanharem seus filhos, tendo espaços para repouso e permanência. Nesse ponto vale destacar que não somente as mulheres podem ou devem acompanhar as crianças, mas também os homens. E essa presença não pode ser interpretada como destoando do espaço, deslocando uma suposta “natureza feminina do cuidado”. Se pelas características próprias do cuidado que essas crianças complexas demandam há uma permanência prolongada na internação, por vezes por anos, vale incluir na arquitetura do espaço as condições físicas e materiais para a garantia do direito ao acompanhante. Na perspectiva das bases de apoio, sinalizamos as ações do voluntariado organizado, que em articulação com as equipes multiprofissionais podem potencializar ações que requalifiquem o cotidiano e suas relações institucionais. Sem que isso signifique um esvaziamento das garantias que o Estado tem de oferecer para a vida e incorporação desses novos sujeitos, crianças com CCC, no mundo da vida comum. Consideramos importante referir que crianças e adolescentes com condições crônicas complexas podem estar mais sujeitas às vulnerabilidades, pela invisibilidade de sua presença em espaços de vida comum. Esse grupo de crianças e adolescentes encontra-se muitas vezes restrito ao ambiente hospitalar ou a espaços técnicos de reabilitação. 17 Essas crianças desafiam as expectativas, e se anteriormente não sobreviviam, hoje ultrapassam as fronteiras hospitalares e vivenciam processos longos de judicialização e desospitalização para a garantia do direito de viver em casa, quando estabilizadas as suas funções. Aqui, ao induzirmos recomendações para uma linha de cuidados para essas crianças e adolescentes com CCC, precisamos acionar a promoção de saúde pensando desde o ambiente hospitalar com ações que valorizem a infância e não descontinuem suas vidas - brincar, classes hospitalares, mediação de leitura - como uma trajetória comunitária pós-alta. Nesse caso, é preciso reconhecer a centralidade das redes familiares no cuidado porque nos referimos às crianças e não podemos ignorar as suas capacidades, seu protagonismo e a possibilidade de que possam elaborar o seu processo de adoecimento pari passu com a aquisição de habilidades. Dessa forma, pode ser possível a construção gradativa de um protagonismo na expressão do seu mal-estar, de seus desejos, de suas dúvidas e suas expressões criativas no manejo do cuidado apoiado pela família. Nesse caso, os profissionais devem estar atentos e sensíveis às oportunidades de um cuidado centrado na família, mas também ao que este cuidado pode gerar de sobrecarga para a mesma, que pode atingir os grupos sociais de maneira diferenciada, de acordo com a renda, escolaridade, raça/etnia. Por fim, mas não menos importante, abrir uma agenda para discutir ações de programação, planejamento, formação profissional e pesquisa nesse cenário de tantas complexidades significa reafirmar uma perspectiva de linha de cuidados, em que a interface intersetorial se coloque. E ainda a necessidade de especificar definições revendo normas e convenções quanto ao que se espera como sendo número e formação de profissionais para o cuidado com essas crianças e adolescentes, em que a complexidade do quadro de saúde as caracteriza. É preciso reconhecer que mesmo vivendo com condições crônicas complexas, elas são crianças que podem vir a crescer, chegar à adolescência, e que precisam ter seus direitos garantidos, no acesso aos mais variadosequipamentos sociais, não somente de saúde. O progresso da medicina como um todo, e da pediatria em particular, tem possibilitado a sobrevivência de cada vez mais crianças com prematuridade extrema, doenças neurológicas, trauma grave e anormalidades congênita. 18 Como consequência, o número de pacientes pediátricos dependentes de suporte ventilatório por longos e muitas vezes indeterminados períodos de tempo, aumentou de maneira relevante na maioria dos centros médicos de atendimento terciário a partir da década de 80. Crianças com insuficiência respiratória crônica (IRC) que necessitam como terapia oxigênio ou assistência ventilatória prolongada, fazem parte de uma população bastante heterogênea. As principais patologias pediátricas que levam à IRC podem ser divididas em três categorias: doenças que afetam o sistema nervoso central, condições que envolvem os músculos respiratórios torácicos e doenças pulmonares intrínsecas. Incluem-se nestas categorias a displasia bronco pulmonar, a mucoviscidose, as doenças neuromusculares, as desordens do controle respiratório resultantes de trauma de medula espinhal e síndrome de hipoventilação central, a apneia obstrutiva do sono, algumas doenças cardíacas e outras condições congênita. Crianças nestas situações são habitualmente submetidas a longas permanências hospitalares, freqüentemente em unidades de terapia intensiva, com risco de infecção e possibilidade de danos psicoemocionais. Na tentativa de se minimizar estes problemas, nos últimos 10 a 15 anos tem- se dado estímulo à continuação da terapia ventilatória no domicílio. Com o retorno ao convívio e restabelecimento da unidade familiar, tem sido observada melhora significativa do crescimento e desenvolvimento destas crianças. No Brasil não dispomos de programas institucionais bem estruturados de ventilação domiciliar para crianças. Visando avaliar a possibilidade de implementação de um sistema de suporte respiratório domiciliar em nossa região, no presente estudo descreve-se um programa alemão de assistência ventilatória a crianças no domicílio. 4.1 Programa UTI Pediátrica Após aprovação do projeto do estudo pelo Comitê de Ética e Pesquisa, foram estudadas as características do Programa da UTI-Pediátrica Dr. VonHaunerschesKinderklinik, Ludwig-Maximilians-Universität de Munique, Alemanha, no período compreendido entre abril de 1997 e junho de 1998. 19 Neste período fizeram parte do Programa 26 crianças com diagnóstico de IRC. Deste total, 22 crianças já se encontravam em tratamento domiciliar e os 4 restantes tiveram sua inclusão durante o período de estudo. Foram avaliados todos os prontuários médicos para a obtenção de informações tais como diagnóstico etiológico da insuficiência respiratória, método ventilatório, período do dia sob ventilação, tempo decorrido entre o início da assistência ventilatória e a liberação para casa, indicação da ventilação domiciliar e tempo de ventilação domiciliar. Analisaram-se ainda as intercorrências já havidas até então e os resultados das avaliações de rotina. Como as crianças compareram regularmente ao hospital para as referidas avaliações, neste período foi feito contato pessoal com todas, bem como com suas respectivas famílias. De acordo com o protocolo elaborado pelo serviço, os objetivos da assistência ventilatória domiciliar podem ser enumerados como: dar suporte, prolongar a vida e melhorar a sua qualidade; reduzir a morbidade; melhorar as condições de crescimento e desenvolvimento da criança, bem como melhorar o aspecto psíquico do paciente junto à sua família e reduzir os custos financeiros. Como indicações de inclusão de crianças no programa, citam-se a impossibilidade de desmame da assistência ventilatória (problemas ventilatórios de causa central, displasias bronco pulmonares e doenças neuromusculares); a tentativa de reduzir o número de infecções respiratórias e alterações na função cardíaca nas doenças pulmonares obstrutivas e patologias neuromusculares; e ainda a necessidade de estimular o desenvolvimento pulmonar em crianças com miopatias congênitas. As contra-indicações para a continuação da assistência ventilatória no domicílio são a presença de uma condição física fisiologicamente instável (ex.: necessidade de FiO2 > 0,40); paciente e/ou família que optem pela continuação da terapia hospitalar; situação familiar que não tenha possibilidade de proporcionar segurança ao paciente (sem segurança contra fogo, riscos de interrupção no fornecimento de energia elétrica, ambiente com condições sanitárias insatisfatórias); ambiente inadequado (temperatura ambiental que traga desconforto ao paciente, qualidade do ar insatisfatória); falta de recursos financeiros; falta de recursos humanos (inabilidade dos membros da família e/ou impossibilidade de conseguir auxílio extra-familiar). 20 Uma vez selecionado o paciente para a continuação da assistência ventilatória no domicílio, considerando preenchimento dos objetivos, presença de indicações e ausência de qualquer contra-indicação, se inicia a organização da relação de recursos materiais e humanos necessários. Estes recursos são individualizados para cada paciente de acordo com a gravidade da insuficiência respiratória e a técnica ventilatória a ser indicada (invasiva ou não-invasiva; contínua ou intermitente). A relação de materiais necessários, incluindo ventilador, é encaminhada para o seguro-saúde da família, do Estado ou privado, que se encarrega de acionar as devidas firmas para o fornecimento. Para o paciente em uso de assistência ventilatória contínua ou que não tolere períodos superiores a 4 horas sem ser ventilado, são fornecidos 2 equipamentos de ventilação. Quanto a liberação para recursos humanos, esta só é feita mediante justificativa encaminhada pelo médico responsável, sendo que a seguradora se responsabiliza pelo pagamento de profissionais da área de enfermagem no máximo por 12 horas diárias, ficando sempre a família responsável pela assistência restante. Uma vez todos os materiais providenciados, inicia-se o treinamento junto ao paciente e ao familiar que ficará mais diretamente responsável pela assistência domiciliar. Habitualmente o tempo dispensado precisa ser maior para o paciente em uso de técnica invasiva, quando as orientações quanto aos cuidados com a traqueostomia, troca de cânula e aspiração de vias aéreas precisam ficar bem compreendidas e aprendidas. O paciente terá sua liberação para casa quando a equipe (medicina, enfermagem, fisioterapia e psicologia) julgar que já existe segurança e aptidão dele e de sua família para conduzir a terapia ventilatória e resolver pequenas intercorrências que, porventura, possam ocorrer. No momento da alta hospitalar, já fica determinada a frequência dos retornos para a realização das avaliações de rotina. Estes acontecem habitualmente a cada 3 meses durante o primeiro ano e após, semestralmente, conforme preconizado para o paciente da faixa etária pediátrica. As hospitalizações programadas ocorrem geralmente na UTI pediátrica, com permanência aproximada de 1 a 2 dias. 21 Nesta oportunidade, conforme as condições clínicas do paciente e necessidade para avaliação da eficácia do esquema ventilatório utilizado, são realizados os seguintes exames laboratoriais: análise de gases sangüíneos com a criança acordada; análise de saturação de O2 contínua durante o sono; análise da concentração de CO2 durante o sono; realização dos testes de função pulmonar; exame radiológico de tórax; eletrocardiograma; eco cardiograma e endoscopia do trato respiratório. Os exames são então analisados individualmente e comparativamente com os anteriores, para avaliação do caráter evolutivo da doença, da insuficiência respiratória e da técnica e parâmetros ventilatórios em uso. A anamneserealizada com o familiar acompanhante e/ou o próprio paciente é também analisada em conjunto com as avaliações laboratoriais. Itens importantes que são regularmente abordados nesta oportunidade são queixas como cefaléia, cansaço, indisposição, insônia, sono durante o dia, pesadelos, hiperatividade e distúrbios na capacidade de concentração, todos podendo estar relacionados com ventilação ineficiente. Paralelamente à avaliação específica da eficácia da assistência ventilatória em uso, são avaliados o estado nutricional e o desenvolvimento neuropsicomotor da criança por profissionais específicos. Visitas domiciliares são realizadas regularmente nos intervalos compreendidos entre as hospitalizações. As visitas de enfermagem e fisioterapia ocorrem semanalmente em períodos isentos de complicações, podendo ter sua frequência aumentada durante períodos de infecção ou outra situação patológica que gere instabilidade clínica. A visita médica é mensal e realizada pelo médico responsável pela área do domicílio do paciente. Este médico mantém permanentemente um intercâmbio de informações com a equipe responsável pelo Programa de assistência ventilatória domiciliar. O respirador utilizado para IPPV em todos os pacientes era controlado a volume (PLV 100 - Lifecare, Aspen, Color. USA). Para ventilação com pressão negativa utilizou-se o Pulmo-Wrap- LifecareInternational, Inc., Lafayette, Color. USA. 22 As máscaras faciais, assim como também o cuirass foram produzidos individualmente para cada criança, conforme molde e medidas específicos (LifecareEurope, GmbH, Seefeld, Germany). O início do “Heimbeatmungsprogramm” - Programa de assistência ventilatória domiciliar da UTI-Pediátrica do Dr. VonHaunerschesKinderklinik, Ludwig- MaximiliansUniversität, Munique, data de 1989. Tem como coordenadores o Prof. Dr. Thomas Nicolai e Dr. Karl Reiter, médicos responsáveis pela medicina intensiva pediátrica e pelo serviço de broncoscopia. O referido programa consta atualmente de 26 pacientes. Durante o período de avaliação duas crianças com diagnóstico de mucoviscidose morreram por complicações infecciosas e outras, também com mucoviscidose, puderam abandonar o programa após terem recebido transplante de pulmão. Quanto à caracterização da população incluída no Programa, a Tabela 1 apresenta a distribuição dos pacientes conforme a idade e o sexo. Onze crianças eram do sexo masculino e 15 do feminino. Quinze crianças (57,7%) tinham menos de 10 anos e 10 crianças (38,5%) tinham entre10 e 20 anos. Quatro crianças (15,5%) estão em ventilação domiciliar por período de tempo entre 7 a 9 anos, praticamente desde o início do programa. Quanto às patologias que levaram à IRC, 15 crianças (57,7%) apresentavam patologias neuromusculares com alteração da função dos músculos respiratórios, 8 pacientes (30,8%) tinham como diagnóstico problemas ventilatórios de causa central e 3 crianças (11,5%), doenças pulmonares obstrutivas. Dos 26 pacientes, 12 (46,2%) eram ventilados através de técnicas não- invasivas, sendo que 11 crianças através de máscara facial - com ventilação com pressão positiva intermitente (IPPV) e uma criança com pressão positiva contínua na via aérea (CPAP). A outra criança em uso de técnica não-invasiva era ventilada com pressão negativa através de cuirassventilation. As crianças ventiladas através de técnica invasiva recebiam a IPPV através de traqueostomia. Quanto ao período de ventilação necessário, 7 crianças (26,9%) eram ventiladas de modo contínuo, ou seja, durante as 24 horas do dia e 19 (73,1% das crianças) necessitavam apenas de ventilação intermitente. 23 As informações obtidas pelo seguro-saúde do Estado (AOK), pelo qual a maioria da população é segurada, são de que os gastos com um paciente sob assistência ventilatória domiciliar são relacionados basicamente à necessidade de 1 ou 2 ventiladores. Os custos mensais com o paciente que necessita de 1 ventilador, utilizando-se de fração inspirada de O2 de até 0,40 continuamente e com assistência de enfermagem durante 12 horas, são de aproximadamente R$30.000,00 (US$15, 700.00). Um paciente com as mesmas necessidades anteriores quanto ao O2 e assistência de enfermagem, mas com necessidade de 2 ventiladores tem custo mensal de aproximadamente R$44.000,00 (US$23, 100.00). Já o custo da criança hospitalizada na unidade de tratamento intensivo durante 30 dias, com necessidade de assistência ventilatória e O2 é de aproximadamente R$42.000,00 (US$22, 100.00). Estes dados sugerem que apenas o paciente em assistência ventilatória domiciliar contínua, e, portanto, com necessidade de 2 ventiladores, não traria redução dos custos em relação ao tratamento hospitalar. 4.2 Tratamento Domiciliar O tratamento domiciliar é uma importante opção para crianças que necessitam terapias de suporte à vida por longos períodos de tempo. No Brasil não contamos ainda com programas semelhantes. Optou-se assim pela avaliação de um programa de assistência ventilatória domiciliar em crianças no exterior, procurando-se conhecê-lo ao máximo a fim de, se possível, adaptá-lo ao nosso país. A Universidade de Munique foi o local escolhido para o estudo. Além de possuir casuística expressiva em se tratando da faixa etária pediátrica, a Universidade proporcionou acesso a todas as informações e protocolos do programa, bem como ofereceu a possibilidade de contato direto com os pacientes e suas famílias, inclusive em visitas domiciliares. A Task Force on Technology-DependentChildren reconheceu que o mais importante aspecto de um cuidado domiciliar apropriado é o adequado gerenciamento da situação. 24 Este foi definido como um processo de cuidado coordenado, que promove efetiva e eficiente organização e utilização de recursos médicos, sociais e educacionais, para conseguir estimular o potencial máximo da criança no ambiente mais apropriado e menos restritivo possível. No estudo inglês, assim como no programa de assistência ventilatória domiciliar do Dr. VonHaunerschesKinderklinik, a maioria das crianças com insuficiência respiratória crônica apresentava doenças neuromusculares (55,9%), seguida pela síndrome de hipoventilação central congênita (14,0%). Semelhante também foi o período de ventilação durante as 24 horas do dia - 24% de modo contínuo e 76% necessitavam apenas ventilação intermitente. Houve diferenças, no entanto, quanto à técnica ventilatória utilizada - 46% das crianças por nós avaliadas eram ventiladas através de técnicas não-invasivas, enquanto na avaliação das crianças inglesas, 64,5% utilizavam este método. Quanto às indicações e contra-indicações para a inclusão dos pacientes no programa, pôde-se observar que são semelhantes à maioria dos demais protocolos de assistência ventilatória domiciliar em crianças. Para a adequada seleção do paciente deve-se ter em mente todas estas indicações e contra-indicações a fim de que, evidentemente, os objetivos possam ser atingidos. Os respiradores utilizados, bem como a seleção dos demais equipamentos, seguem o princípio de que estes devem ser portáteis, duráveis e simples de ser usados e manuseados. Deve-se ter em mente que não se deseja transferir a unidade de terapia intensiva para a casa. A importância conferida ao treinamento do paciente e da família é consenso na literatura. Algumas doenças permanecem estáveis durante o seu curso, enquanto outras evoluem para piora da insuficiência respiratória e maior necessidade de parâmetros ventilatórios. O protocolo analisado prevê avaliações de rotina. Essas avaliações clínicas e laboratoriais são imprescindíveis para a detecção de sinais de hipóxia alveolar e/ou hipoventilação e para o ajuste do padrão ventilatório. 25 Frente ao aparecimento de sinais de hipertensão pulmonar e cor pulmonale, aprimeira hipótese é sempre a de assistência ventilatória inadequada. Com relação aos gastos com o paciente tratado no domicílio, observam-se diferenças entre os diversos programas. Pode ser notado, no entanto, que a necessidade de prestação de serviços por profissionais de enfermagem e a necessidade de dois ventiladores são relatados como os principais responsáveis por tornar a redução de custos menos animadora. Alguns autores afirmam que a importância da humanização dos atendimentos dos pacientes dependentes de assistência ventilatória, bem como a alternativa da melhora da qualidade de vida junto à família são fatores suficientemente convincentes para que a comparação dos custos, intra- e extra-hospitalares, não seja jamais utilizada como argumento para a sua indicação ou contraindicação do tratamento domiciliar. As peculiaridades sociais de nossa população, assim como a precária organização do sistema de saúde conspiram contra a implementação de programas semelhantes de assistência respiratória domiciliar no Brasil. Talvez a adaptação da experiência alemã para hospitais secundários fosse o primeiro passo para levar a criança para mais perto dos seus familiares. Conforme os cuidados de terapia intensiva melhoram, fica mais premente a necessidade de implementação de programas pediátricos de suporte ventilatório domiciliar. A complexidade desses programas exige longa e cuidadosa programação, para que possam cumprir com sua função básica de minimizar o sofrimento das crianças cronicamente enfermas e suas famílias. Esse sistema altamente organizado faz com que o paciente e familiares sintam- se seguros e é responsável pelo êxito do programa de assistência ventilatória no domicílio. Existe a necessidade de um grande esforço organizacional antes que possamos instituir programas semelhantes no Brasil. 4.3 Rede de Suporte Tecnológico Domiciliar à Criança Dependente de Tecnologia Egressa de um Hospital de Saúde Pública O crescente desenvolvimento tecnológico em saúde nas últimas décadas vem aumentando a expectativa de vida e ampliando a sobrevida em muitos casos anteriormente condenados a óbito. 26 Tais mudanças no perfil demográfico refletem a chamada transição epidemiológica. O termo descreve a evolução nos padrões de morbidade e mortalidade ao longo da história. Segundo Omran1, conceitualmente a teoria da transição epidemiológica enfoca a complexa mudança nos padrões de saúde e doença e suas implicações demográficas, econômicas e sociais. O autor pondera que, durante tal transição, as mudanças mais profundas nos padrões de doença e saúde ocorrem entre crianças e jovens. A sobrevivência infantil é significativa e progressivamente aumentada em resposta à melhora dos padrões de qualidade de vida, avanços na nutrição e medidas de saneamento preventivas, e ainda mais acentuada à medida que modernos recursos de saúde pública tornam-se disponíveis. Ainda que todas as faixas etárias se beneficiem da mudança nos padrões de doença e do aumento da expectativa de vida, o declínio da mortalidade infantil é certamente o maior, especialmente no grupo de 1 a 4 anos. A incorporação de tecnologia nas áreas de terapia intensiva neonatal e pediátrica está possibilitando maior chance de sobrevivência dos recém-nascidos de alto risco, de crianças com malformações congênitas, traumas adquiridos e doenças anteriormente incompatíveis com a vida. Contudo, tais crianças frequentemente ficam condicionadas ao uso permanente de dispositivos que monitorem e auxiliem funções vitais. A Criança Dependente de Tecnologia (CDT) se caracteriza pela dependência de artefatos tecnológicos e/ou farmacológicos indispensáveis à sobrevivência. Tais artefatos podem auxiliar a nutrição e medicação, respiração ou outros. O Office of Technology Assessment do Congresso norte-americano, em memorando técnico (elaborado a pedido do Senado daquele país), estima que a população nos Estados Unidos de crianças dependentes de algum tipo de dispositivo chegue a 100.000 crianças por ano (dados de 1987). Destas, estima-se que entre 10.000 e 68.000 estejam recebendo atendimento domiciliar. Rehm e Bradley informam que, com base em um levantamento nacional feito em 2003, o Maternal Child Health Bureau reportou um índice de 12,8% de crianças atendendo aos critérios de sua definição de Criança com Necessidades Especiais de Cuidado em Saúde. Destas, 23% experimentaram limitações significativas em suas atividades decorrentes de suas condições crônicas. 27 Em 2001, Glendinning et al. calcularam haver até 6.000 crianças dependentes de tecnologia no Reino Unido. No Brasil, Cunha, em 1996, apropria-se do conceito de CDT, localiza fisicamente o tipo de dependência e busca situar esta clientela. Os estudos brasileiros disponíveis se atêm a cenários específicos, seja por faixa etária ou grupos localizados. Porém, os dados indicam que tal população, ainda que diluída sob outras classificações, é expressiva em números absolutos. 4.4 A Necessidade de Suporte Tecnológico Material é Reconhecida Como uma Categoria per se Há quem estabeleça uma definição para CDT que englobe as dimensões não- médicas do cuidado. A CanadianAssociationofPediatric Health Centers, ao buscar definir indicadores de saúde para a infância e juventude, decidiu ampliar a definição de CDT para Criança com Múltiplas Necessidades Complexas, de forma a abarcar e ressaltar não somente as demandas de saúde, mas também aquelas relativas a serviços e produtos. "Tomou-se a decisão de definir este grupo como 'crianças com múltiplas necessidades de cuidado/desenvolvimento, aquelas que requerem múltiplos serviços em múltiplos setores, e múltiplos lugares". Assim, atribui-se uma importância intrínseca às esferas operacionais da tecnologia. A necessidade de suporte tecnológico material é reconhecida como uma categoria per se. 4.5 O Atendimento Domiciliar à Criança Dependente de Tecnologia O uso de tecnologia em domicílio para oferecer cuidado a crianças doentes não é novo. No fim dos anos 50, havia (nos EUA) um grande número de sobreviventes de poliomielite necessitando suporte respiratório em casa. Desde então sofisticadas tecnologias [...] vêm sendo transferidas para o domicílio. Cada nova tecnologia traz o reconhecimento de novas necessidades para o treinamento de pacientes e famílias, e aumento da complexidade do cuidado de enfermagem. 28 4.6 A Assistência Domiciliar Traz, Junto às Incontestáveis Vantagens, Muitas Questões a Resolver Cria-se uma rede de atendimentos baseada na cooperação entre família- hospital-atendimento domiciliar, especializada e dependente de vários subsistemas. Emergem então as dificuldades inerentes ao cuidado com muitas necessidades complexas. As vantagens da assistência domiciliar são incontestáveis. O risco de infecções é menor; o ambiente doméstico oferece à criança aconchego familiar e estimulação social; o lar e a família propiciam um meio para desenvolver-se e participar de atividades cotidianas, e possibilita que aquelas que tenham um certo grau de autonomia possam freqüentar escola. Por outro lado, tal cuidado apresenta muitos desafios. Ainda que existam muitas semelhanças entre o cuidado de crianças dependentes de tecnologia e o de crianças cronicamente doentes ou incapacitadas, a assistência domiciliar e necessidades de enfermagem do primeiro grupo são indubitavelmente mais especializadas, complexas e intensivas. Kirk, em outro texto, observa: Ao cuidar de suas crianças em casa, os pais também assumiram responsabilidade pelo desempenho de procedimentos altamente técnicos que eram anteriormente executados apenas por profissionais qualificados. Os pais desempenham múltiplos papéis, incluindo a administração da doença, organização dos serviços e luta pelos direitos da criança, bemcomo os outros aspectos usuais do cuidado materno/paterno. Procedimentos clínicos regulares incluem a troca de tubos de traqueostomia, sucção de vias aéreas e administração de infusões intravenosas e alimentação. 29 4.7 A Tecnologia Redefine o Espaço no Lar e o Significado dos Papéis de Pais e Mães Bond enfatiza "a necessidade de treinamento intensivo para que para os pais desempenhem procedimentos complexos em domicílio, que antigamente só eram encontrados em unidades de terapia intensiva de hospitais". Murphy relata que, em alguns estudos longitudinais, na verificação dos fatores envolvidos no processo de familiarização com a tecnologia, esta geralmente ocorria nos primeiros seis a doze meses com CDT em casa. A vida das famílias freqüentemente gira em torno da tecnologia e suas rotinas: "Tudo gira em torno da traqueostomia, é terrível". Mãe de A O lar também tem seu contexto alterado. O espaço físico ocupado pelo equipamento é privilegiado, muitas vezes ocupando todo o cômodo em que se encontra. Foram observadas verdadeiras estações de cuidado dominando a área. Quartos, salas, banheiros e varandas contêm aspiradores, ventiladores, cilindros de oxigênio e bombas. Não raro são construídos cômodos especialmente para equipamentos. A tecnologia redefine o espaço no lar e o significado dos papéis de pais e mães. Ainda Kirk: O ambiente doméstico torna-se medicalizado pela presença do equipamento, pessoal de manutenção e visitas. São freqüentemente reportados sentimentos de ansiedade, estresse e extremo cansaço. Discussões ou atrasos no suprimento de insumos e equipamento para crianças em ventilação mecânica, traqueostomia, oxigenoterapia e nutrição enteral é muito mais comum do que para aqueles dependentes de diálise peritoneal, drogas intravenosas e nutrição parenteral, para as quais atribuir responsabilidades parece ser mais claro. Obter serviços de suporte doméstico apropriados vem sendo relatados como difíceis e problemas relacionados à fragmentação e baixa coordenação são repetidamente citados. O principal objetivo da família, segundo O'Brien, é alcançar alguma estabilidade e funcionalidade. "Infelizmente, uma mudança no equilíbrio é um elemento constante na vida familiar da CDT". Uma mãe descreveu sua rotina da seguinte forma: 30 [...]e você nunca pode realmente sentar e dizer 'OK, agora o trabalho foi todo feito. Podemos deixar assim e vai funcionar'. Não funciona desse jeito. Isso é diário, e tem sempre alguma coisa que aparece e você tem que ir resolver. Isso é muito frustrante e cansativo. A percepção é de que, independente do grau de planejamento e expectativa de controle, algum fator inesperado emerge derrubando planos: [...] e mesmo que nós tentemos construir alguma estabilidade para o futuro, nós ainda temos, sempre temos, a sensação de que tudo está mal alinhavado. É como viver num castelo de cartas, não demora muito a ruir. Você tem todos esses esquemas, esses sistemas confusos de organização e uma pessoa não vem, ou outra está atrasada [...] isso me impressiona muito, sabe, o quanto o sistema todo é frágil. Nós vamos levando a vida, e quando uma pequena peça falta, e então tudo cai por terra! Os pais destas crianças não têm modelos por onde basear suas ações, nem relacionar suas próprias experiências de infância, ou com construções sociais de família. Assim, para os pais de CDTs, a natureza de seu papel de pai/mãe é muito diferente das idéias cotidianas de contexto parental, sendo ampliada para incorporar atividades de assistência: uma mãe descreveu como se sentia enfermeira e não mãe, graças à intensidade de necessidades de cuidado: "Eu era uma enfermeira de tempo integral, não mãe. Eu não reconhecia ele como mãe – eu sou a enfermeira dele, sabe. A CDT torna-se, além de dependente de tecnologia, dependente da atenção terciária. Bond et al. ponderam que "o processo tradicional de cuidado deve ser modificado de forma a incluir elementos que capacitem, dêem poder e fortaleçam as famílias, bem como promover a aquisição das competências necessárias às finalidades desejadas". Alguns programas oficiais tentam avançar e organizar a transição no papel de sujeito/objeto do cuidado. O Departmentof Health inglês formulou o Programa Expert Patient, preconizando o "paciente especialista que entende a doença, tem confiança, habilidades, informação e conhecimento para desempenhar um papel central no gerenciamento da vida com doenças crônicas, minimizando seu impacto em sua vida". 31 Tal iniciativa está mais identificada com o paciente crônico idoso de menor complexidade, mas a idéia central de fortalecimento e capacitação aplica-se a outros grupos. Kirk reconhece o conceito e transporta-o para a família, pedindo apoio aos "pais especialistas". Foram entrevistadas, no hospital, três mães nas Enfermarias, na DIP e na Triagem, além das mães cuidadoras do PADI. Também foram ouvidos profissionais do PADI (enfermeira, fisioterapeuta e técnica em enfermagem). Foi consultado material de produção científica e documentos da própria equipe do PADI. Todos os sujeitos entrevistados foram informados quanto às finalidades da pesquisa e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto obteve aprovação prévia do Comitê de Ética do IFF. 4.8 A Criança Dependente de Tecnologia e o Atendimento Domiciliar Pediátrico do IFF O Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz é o único hospital no Rio de Janeiro a prestar assistência domiciliar às crianças dependentes de tecnologia. Este hospital tem um perfil característico de atendimento da clientela pediátrica e neonatal, como hospital de referência da rede pública do estado do Rio de Janeiro voltado ao atendimento de gestação de risco, malformações congênitas e síndromes raras, além das patologias que possam surgir. A CDT crônica oriunda do Instituto Fernandes Figueira pode se beneficiar desta modalidade especializada de cuidado oferecido pelo Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (PADI). Além das vantagens gerais do atendimento domiciliar (redução de custos, liberação de leitos, menor taxa de infecção hospitalar), somam-se outras. A criança é sempre atendida pelo mesmo grupo de pessoas, fortalecendo a parceria. O perfil multidisciplinar do PADI é formado pela união de várias categorias profissionais (médicos, enfermeira, fisioterapeutas, psicóloga e técnica em enfermagem, à época em que a pesquisa foi efetuada) e oferece condições de enfrentar situações mais complexas. 32 A atuação do PADI pode estender-se a instâncias aparentemente não relacionadas ao cuidado: um exemplo de intervenção participativa nas escolas diz respeito ao caso de uma criança onde a equipe adquiriu através do REFAZER um concentrador de oxigênio para adaptação desta ao ambiente escolar. Para efetivar este processo, a enfermagem, o serviço social, médico, psicóloga, foram até a escola desta criança na intenção de orientar e informar sobre o uso desta tecnologia e as especificidades do quadro clínico apresentado. Participaram deste encontro a diretora e a professora responsável pela turma da CDT. Assim, para que a criança pudesse frequentar aulas, fez-se necessário um trabalho de conscientização, esclarecimento e comprometimento da escola e suas autoridades, dentro e fora de sala de aula, a partir da ótica de diversas especialidades. Tal iniciativa reflete uma filosofia de cuidado que valoriza aspectos de bem- estar e qualidade de vida. O benefício proporcionado pelo cuidado centrado na família cria uma série de necessidades a serem satisfeitas. A própria admissão da criança ao atendimento domiciliar deve atender a uma série de pré-requisitos não médicos. Um dos critérios de inclusão é a existência de condições materiais mínimas, no domicílio, que dêem suporte ao