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ultimato BUSQUEM O SENHOR ENQUANTO É POSSÍVEL ACHÁ-LO COMO Vivem os que têM ESPERANÇA DESDE 1968 ISSN 1415-3165 9 771415 316000 Ano LVIII nº 412 Março/Abril 2025 UM NOVO NASCIMENTO PARA QUEM ANDAVA TRISTE TELO BORGES O FENÖMENO DAS BETS REPORTAGEM SEUS LIVROS FAVORITOS TAMBÉM EM E-BOOK Há mais de 20 anos a Editora Ultimato disponibiliza grande parte de seu catálogo também no formato digital. São e-books de obras de consagrados autores brasileiros e estrangeiros que contemplam uma variedade de temas. 05 Tmotc O MUNDO A IGREJA OHW TOTE STOTT HN STOTT ara (melbor) enfrentar o sofrimento PRÁTICAS DEVOCIONAIS LBEN MILNZ CESAR AN AJUSTE FINO DO UNIVERSO CONHEÇA NOSSOS TÍTULOS NO FORMATO E-BOOK John Stott - mais de 20 títulos Elben César - mais de 10 títulos Ricardo Barbosa - 4 títulos Paul Tournier - 3 títulos Série Ciência e Fé Cristã Série Filosofia e Fé Cristā Livros sobre arte, espiritualidade, teologia, missão, ética e outros temas FRANCIS A. SCHAEFFER Biblia PAUL TOURNIER CULPA & GRAÇA SAMENTOs ANSFORMADOS EMOÇÕES toda oAno todos JOHN STOTT DE SER BRA SILEIRO GERSON EXPIAÇÃO Calpa, perdaperddete JOHN STOTт BiblialedaoAnolodo www.ultimato.com.br 31 3611-8500 ultimato Você encontra nossos títulos nas melhores lojas do ramo. 3Março/Abril 2025 • ULTIMATO Coautores – além de servos e amigos A ideia de que somos coautores com Deus me persegue há algum tempo. Tenho colecionado ver- sículos que, acredito, reforçam a perspectiva. Na vida dos profetas isso parece evidente: eles falam o que Deus lhes transmite e em nome dele, embora cada um deles confira à mensagem transmitida traços de sua personalidade e de sua história. De forma semelhante acontece com os autores das Escrituras: cada um deles foi inspirado por Deus, mas todos imprimiram suas próprias marcas no texto. Uma obra feita em coautoria conta com a parti- cipação de mais de uma pessoa. Em alguns casos, os coautores podem ter igual participação, mas, com mais frequência, temos o autor principal e o coautor, um cocriador ou colaborador – alguém que contribui por meio de sua participação substancial, criativa e original. Esse é o caso aqui. A relação de coautoria com Deus é percebida não apenas na escrita, mas na vida de muitos per- sonagens bíblicos. Em particular, na biografia de Moisés, o personagem do Antigo Testamento com mais menções no Novo Testamento e com 894 cita- ções na Bíblia.1 Cito aqui apenas um verso: “Como um pastor, [tu, ó Senhor] dirigiste teu povo pelas mãos de Moisés e Arão” (Sl 77.20). Pensar numa relação de coautoria com Deus enriquece a nossa compreensão da relação de Deus com seus filhos por evidenciar facetas que não são claras em outras descrições dessa relação. Não há problema algum usar a expressão “ser- vos e servas” para expressar a relação com Deus; é assim que Maria responde ao aviso do anjo: “Eu sou serva de Deus, que aconteça comigo o que o senhor acabou de dizer” (Lc 1.38). Da mesma forma, é correto dizer que somos “instrumentos” de Deus. Deus se refere a Paulo desta forma: “Este é para mim instrumento escolhido para levar meu nome” (At 9.15). E, embora alguns não apreciem, também é correto dizer que somos “usados” por Deus, como no exemplo de Gideão: “Tu disseste que queres me usar... [Dá-me uma prova para] eu ficar certo de que tu realmente me usarás para libertar Israel” (Jz 6.36-40). Outra palavra para descrever a relação dos filhos com Deus é “amigos”: “Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido” (Jo 15.15). Definir a relação com Deus também como coau- toria nos ajuda a ver a riqueza do relacionamento com o primeiro autor – não apenas agimos como servos, fazendo o que o Senhor nos pede ou ordena, não apenas expressamos aquilo que ele quer trans- mitir por nosso intermédio. Como coautores, a partir do que somos, cooperamos criativamente com a elaboração da obra, que, finalizada, carrega traços da nossa contribuição.2 John Stott nos conta uma história que ilustra isso: [O jardineiro] estava mostrando ao pastor seu mag- nífico jardim, repleto de flores e botões. O pastor, admirado, desandou a louvar a Deus, até que o jardineiro, cansado por não ter recebido crédito algum, disse: “O senhor precisava ter visto esse jardim antes, quando Deus cuidava dele sozinho!”. Sua teologia estava inteiramente correta. Sem o trabalho do homem, o jardim teria se tornado um deserto.3 Longe de ser fonte de orgulho, é motivo de gra- tidão e de assombro o fato de que o próprio Deus nos concedeu a graça da coautoria. Devemos nos admirar de que ele tenha feito, e faça ainda hoje, maravilhas por meio de – e junto com – homens e mulheres falhos! Notas 1. O nome de Moisés aparece 894 vezes na Bíblia Sagrada – Edição Pastoral; na NVI, aparece 786 vezes. 2. Paulo usa a expressão “cooperadores” de Deus ou de Cristo algumas vezes em suas cartas aos Coríntios (1Co 3.9; 9.23; 2Co 6.1). 3. STTOT, John. A Bíblia Toda, o Ano Todo. Viçosa: Ultimato, 2021. p. 23. ABERTURA Klênia Fassoni, diretora da Editora Ultimato, é avó de quatro netos. Deus existe. E, já que ele existe, o que ele faria e o que não faria nessa ou naquela situação específica? Afinal, Deus deveria promover o bem-estar das pessoas? PPor que o mal existe? Seria o mundo injusto e Deus, justo? A Ética de Deus – Normas da ação divina e o problema do mal examina a ética própria de Deus e como ela difere da ética humana. EEscrito por Mark C. Murphy, A Ética de Deus é o décimo primeiro volume da série Filosofia e Fé Cristã, publicada em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência. DEUS É BOM PORQUE FAZ O BEM OU O BEM É BOM PORQUE É O QUE DEUS FAZ? 4 ULTIMATO • Março/Abril 2025 CARTA AO LEITOR Curiosamente encontramos, entre as 411 edições de Ultimato, duas que trouxeram a mesma ilustração na capa (em 1970 e em 1984) – um bonde com a inscrição “Cristo, a única esperança”. A edição de 1970 trazia este editorial ao lado da imagem: “Sílvio Lancellotti, editor-assistente, e Eda Maria Romio, repórter, ambos da revista Veja, percorreram tôda a imprensa internacional ‘para encontrar as normas básicas que comandarão a Terra nos próximos dez anos’. Chegaram à conclusão de que a palavra-chave de todas as previsões é sempre a esperança. ‘Esperança de que existe uma profunda mudança no pensamento e na ação dos homens que comandam’”. Cinquenta e cinco anos depois, o cenário parece ser muito dife- rente. Os jornalistas de hoje fariam bem em investigar a frequência da palavra “apocalipse” na mídia mundial. No dia 28 de janeiro, a organização Boletim do Conselho dos Cientistas Atômicos informou que o Relógio do Juízo Final foi adian- tado em um segundo; agora estamos a 89 segundos da “meia-noite” – uma metáfora para a extinção da humanidade. O adiantamento é justificado pelos crescentes riscos relacionados às alterações climá- ticas, ameaças nucleares, armas biológicas, pandemias, tecnologias como inteligência artificial e a outros fatores. Na edição de 1970, depois de citar os motivos que justificariam o otimismo, Ultimato concluiu: “Não é para se agarrar a qualquer caniço agitado pelo vento. Alguém que demonstrou possuir qualida- des inerentes e autoridade para sustentar o volume e o pêso de nossa esperança, através do tempo e espaço, é Cristo, a única esperança”. A matéria de capa desta edição quer novamente colocar Cristo no centro da nossa esperança e enfatizar que a esperança cristã é uma esperança engajada, qualquer que seja o cenário. Nas páginas 40 a 43 você encontra a Reportagem sobre a “pande- mia das bets”. Telo Borges, um dos irmãos da família musical Borges, nos conta como foi o seu encontro com Jesus (p. 46). Ricardo Barbosa nos adverte: “Não existe meia cruz ou meia renúncia” (p. 30). Boa leitura! Klênia Fassoni Cristo, a única esperança ISSN 1415-3165 Revista(1Co 15.20). Ele é as primícias, sinalizando o nosso fu- turo e abrindo o caminho para nós. Ora, sendo verdadeiro o testemunho dos apóstolos, fica claro que a esperança cristã não é um mero estado desejante, wishful thinking, fantasia de uma realidade paralela e metastática, mas uma relação cognitiva com o nosso futuro. Evidentemente, não se trata de uma re- lação do mesmo tipo que as relações com o que vemos com os olhos e tocamos com as mãos, mas uma relação do mesmo tipo que a nossa relação com as pessoas que importam para nós, e que impõe a fé na sua palavra, no seu gesto e no seu testemunho. Nós, cristãos, não esperamos apenas porque desejamos, mas também porque sabemos. Nota 1. N. T. Wright. The Ressurection of the Son of God. Artigo originalmente publicado na Gazeta do Povo. Adaptado e reproduzido com permissão. Guilherme de Carvalho é teólogo, mestre em ciências da religião e diretor de L’Abri Fellowship Brasil. Pastor da Igreja Esperança, em Belo Horizonte, e presidente da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC2), é também orga- nizador e autor de Cosmovisão Cristã e Transformação (Editora Ultimato, 2006). Nada mais pode trazer mudança Para esse mundo sem Deus Do que o evangelho da esperança Que exalta Jesus, o rei. Adhemar de Campos SABER QUE CRISTO RESSUSCITOU TIRA A DISCUSSÃO DO CAMPO DO OTIMISMO, DO PALPITE OU DA APOSTA 24 ULTIMATO • Março/Abril 2025 MATÉRIA DE CAPA Nada mais pode trazer mudança Para esse mundo sem Deus Do que o evangelho da esperança Que exalta Jesus, o rei. Adhemar de Campos Tu és o meu abrigo e o meu escudo; e na tua palavra coloquei minha esperança. (Sl 119.114) Esperança coletiva é uma coisa. Esperança par- ticular é outra. A esperança coletiva é muito bonita, mas a esperança particular é mais bo- nita ainda. A verdadeira esperança coletiva é o re- sultado da soma de várias esperanças particulares. Antes de falar “nossa esperança”, cada um precisa falar “minha esperança”. No Salmo 119, o salmista menciona a sua es- perança particular várias vezes. É uma esperança sólida. Ele sempre explica por que a sua esperança é de todo confiável: “Na tua palavra coloquei a mi- nha esperança” (v. 43, 74, 81, 114, 147). A nascente da esperança do salmista está na palavra de Deus: “Lembra-te da tua palavra ao teu servo, pela qual me deste esperança” (v. 49). Ele acredita em Deus e na palavra que sai da sua boca. O salmista foi se acostumando aos poucos com a palavra de Deus, foi assimilando o que es- tava escrito, foi introduzindo lenta e progressiva- mente a palavra de Deus no seu interior, até tomar posse dela por completo. De repente viu-se cheio de esperança. A esperança do salmista não é uma esperança para ficar no cabide. Não é uma esperança teóri- ca. Não é uma esperança ligada exclusivamente à escatologia. Antes, é uma esperança utilizável, saudá- vel, abençoadora e tranqui- lizadora. Por causa dela, o salmista sobrevive dia após dia. Por causa dela, ele en- frenta o perigo: “A minha vida está sempre em peri- go” (v. 109). Por causa dela, ele enfrenta o sofrimento: “Olha para o meu sofrimen- to e livra-me” (v. 153). O salmista sabe fazer uso da esperança: “Estou quase desfalecido, aguardan- do a tua salvação, mas na tua palavra coloquei a minha esperança” (v. 81). Elben César (1930-2016), fundador e diretor-redator de Ultimato. A ESPERANÇA DO SALMISTA NÃO É UMA ESPERANÇA PARA FICAR NO CABIDE. NÃO É UMA ESPERANÇA TEÓRICA Ad ob e St oc k 25Março/Abril 2025 • ULTIMATO ESPERANÇA TRANSBORDANTE Elben César ESPERANÇA ENGAJADA COM A VIDA Carlos “Cacau” Marques O cristianismo já foi acusado de sustentar uma visão alienante da história. Segundo os críti- cos que assim o fazem, falta ao cristianismo a utopia que move a humanidade às transforma- ções sociais. A esperança por um paraíso futuro conduziria o cristão à imobi- lidade resignada diante das injustiças do mundo. Devemos admitir que um discurso alienante com vistas ao celeste porvir não é um espantalho criado por inimigos da fé. Há, sim, uma dose de condescendên- cia com o sofrimento quando pastores e mestres cristãos romantizam a dor e a tragédia apon- tando, rapidamente, seus dedos para o alto. Isso torna-se ainda mais cruel quando direcionamos essas ideias àqueles que sofrem profundamente nesse mundo caído. Vítimas de guerra, pesso- as em situações de miséria, doentes terminais, refugiados condenados ao exílio forçado – para esses, uma mera proclamação das delícias celes- tes é quase uma sentença de morte. Sem perce- ber, podemos soar como quem diz “amaldiçoa seu Deus e morre”. Graças a Deus, não é esse o ensino bíblico so- bre a esperança cristã. Encontramos na própria Escritura um exemplo de esperança engajada com a vida. Enquanto estava preso, o apóstolo Paulo escreveu uma epístola aos crentes da cida- de de Filipos. Ali, ele integrou a esperança futura com a vida presente: Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor; contudo, é mais necessário, por causa de vocês, que eu per- maneça no corpo. Convencido disso, sei que vou permanecer e continuar com todos vocês, para o seu progresso e alegria na fé, a fim de que, pela minha presença, outra vez a exultação de vo- cês em Cristo Jesus transborde por minha causa (Fp 1.23-26). NA CAMINHADA ESPERANÇOSA, APONTAMOS A DIREÇÃO DA ESPERANÇA PARA AQUELES QUE NÃO VEEM RAZÃO PARA CAMINHAR MATÉRIA DE CAPA Ad ob e St oc k 26 ULTIMATO • Março/Abril 2025 O apóstolo tem convicção de que morrer é melhor do que continuar vivendo preso. Mas essa certeza não o faz abandonar a vida. Pelo contrá- rio, ele busca ainda mais a dedicação aos seus ir- mãos enquanto permanece vivo. Essa postura não vem de mera teimosia pes- soal em permanecer vivo. O que muda na fala do apóstolo é a própria dinâmica da esperança. Em vez de esperar a chegada de uma nova realidade, Paulo fala da expectativa de ele mesmo chegar a Cristo. No modo como o prisioneiro do Senhor vê a vida, cada dia é um passo na direção do encon- tro com o Salvador. A esperança cristã não é uma simples caracte- rística daquele que espera. Ela é a motivação da- quele que é esperado. É a razão da caminhada do que sabe ser aguardado por alguém que o ama. É a decisão do filho pródigo em voltar aos braços do seu amado pai. É a fé da ovelha que anda pelo caminho da justiça porque sabe que habitará na casa do Senhor eternamente. Dessa forma, cada dia de dor é um passo a mais na direção desse encontro. E, em cada um desses dias, andamos na direção de Cristo. É dessa forma que se vê em nós a glória daquele que nos espera. E, na caminhada esperançosa, apontamos a direção da esperança para aqueles que não veem razão para caminhar. Paulo não se contenta em viver mais um dia para si mesmo. Ele decide viver de modo que a “exultação de vocês em Cristo Jesus transborde por minha causa”. A vida movida pela esperança é também proclamadora da esperança. Se cre- mos que Cristo nos espera, devemos nos dedi- car a apontar essa esperança aos que vivem em desespero. Se cremos que o Amor nos aguarda, precisamos demonstrar o mesmo amor aos que se veem abandonados. Só assim, cumpriremos o mandamento que diz: “Estejam sempre prepara- dos para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês” (1Pe 3.15). Carlos “Cacau” Marques, casado com Natália, é pastor da Igreja Batista Vida Nova em Nova Odessa, SP, professor na Faculdade Teológica Batista de Campinas e integrante da equipe do Bibotalk. A esperança deve ser submetida ao calor e ao frio, de dia e à noite, sob o sol e a tempestade, para atingir a maturidade. Sem o ministério sofrido do vento, da tempestade e da noite, ela não pode criar raízes profundas nem crescer. Pode-se dizer que a esperança é a fé em plena atividade.Nasceu para vencer e cresceu para ser coroada. A esperança triunfa nos dias em que tudo nos leva ao desespero. Hugh Edward Alexander A fé cristã baseia-se na convicção de que Deus está presente e não se cala. José de Segovia Alegrem-se na esperança Sejam pacientes na tribulação E perseverem, perseverem Perseverem na oração Perseverem, perseverem Perseverem na oração Gerson Borges 27Março/Abril 2025 • ULTIMATO CHAMADA À ADORAÇÃO (1Pe 1.3) Aleluia! Cristo ressuscitou! Ele ressuscitou verdadeiramente. Aleluia! Louvado seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos deu nova vida e esperança. Ele ressuscitou Jesus dentre os mortos. Deus nos reivindicou como seus. Ele nos tirou das trevas. Ele nos fez luz para o mundo. Aleluia! Cristo ressuscitou! Ele ressuscitou verdadeiramente. Aleluia! CONFISSÃO Deus Redentor, confessamos que o pecado nos pesa e nos afasta de ti. Ele fere a criação, compromete nossa saúde, rompe nossos laços e obscurece nossa comu- nhão contigo. Perdão, Senhor! Mas tu não és vencido pelo mundo – em Cristo, ven- ceste o mundo! Tu renovas todas as coisas: os céus, a terra e cada pecador perdoado. Derrama sobre nós tua graça transformadora, purifica-nos e levanta-nos com Cristo para uma nova vida. Amém. PALAVRA DE PERDÃO Ouçam as boas-novas! Cristo Jesus ressuscitou dentre os mortos, o primeiro de muitos que voltarão à vida. Todo aquele que nele crê recebe, pelo seu nome, o per- dão dos pecados. Ele reinará até que o último inimigo, a morte, seja vencido. As dores do passado não mais serão lembradas. Alegrem-se na obra que o Senhor rea- liza, pois vocês, povo de Deus, são sua alegria. Em Cris- to, vocês não apenas são perdoados, mas feitos nova criação. Aleluia! Demos graças a Deus! PROCLAMAÇÃO (Dn 7.14; Sl 24.8a; Ap 19.16) Cristo reina hoje e sempre! O seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído! Quem é o Rei da Glória? Jesus Cristo, o Rei dos reis e Senhor dos senhores! LEITURA DA PALAVRA • Colossenses 1.27 (Cristo em nós, esperança da glória) • Apocalipse 11.15 (O reino de Jesus) MEDITAÇÃO: JESUS, NOSSA ESPERANÇA VIVA • Contemple a vida de Jesus: Sua compaixão, seus ensinos, seus milagres • Reflita sobre sua morte sacrificial: O preço pago por nossos pecados • Celebre sua ressurreição: A vitória de Jesus sobre a morte • Reconheça seu reinado atual: Ele governa com justiça e amor • Alegre-se em sua promessa de retorno: A consumação do seu reino eterno RESPOSTA DE FÉ (Catecismo Nova Cidade, 1 e 52) Qual é nossa única esperança na vida e na morte? Que não somos de nós mesmos, mas pertencemos, de corpo e alma, na vida e na morte, a Deus e a nosso Sal- vador, Jesus Cristo. Que esperança tem a vida eterna para nós? Lembra-nos de que viveremos com Deus e teremos sa- tisfação nele para sempre no novo céu e na nova terra, onde estaremos para sempre libertos de todo pecado em uma nova criação renovada e restaurada. DEDICAÇÃO (1Co 15.58) Diante de tudo isso, prezados amigos, permaneçam firmes. Força! Nada de desânimo! Dediquem-se inteira- mente ao trabalho do Senhor, pois nada do que vocês fazem para ele será perda de tempo. ORAÇÃO Demos graças ao Senhor, nosso Deus. É justo e bom render-lhe graças e louvor. Nós te damos graças, ó Deus, pela esperança que te- mos em Jesus, que morreu, ressuscitou e reina sobre todas as coisas. Porque ele vive, aguardamos a vida eterna, certos de que nada poderá nos separar do teu amor, revelado em Cristo Jesus, nosso Senhor. Amém. BÊNÇÃO (Rm 15.13) Que o Deus da viva esperança os encha de alegria e paz, para que a vida de vocês se encha da energia vi- vificante do Espírito Santo e transborde de esperança! Amém. Daniel de Lima Vieira é analista judiciário, mestre em filo- sofia e graduando em teologia. É coordenador do minis- tério LECIONARIO.COM e editor da série de fascículos do “Lecionário Devocional”. PÁSCOA, MARCO DA ESPERANÇA – UMA LITURGIA Daniel de Lima Vieira 28 ULTIMATO • Março/Abril 2025 MATÉRIA DE CAPA 29Março/Abril 2025 • ULTIMATO 30 ULTIMATO • Março/Abril 2025 Ad ob e St oc k O CAMINHO DO CORAÇÃO RICARDO BARBOSA DE SOUSA Algumas vezes, tenho comentado sobre a dificul- dade que tenho com a pala- vra “equilíbrio”. Sei que muitos en- contram nela respostas, um tanto simplistas, para temas complexos da vida cristã. No esforço de evitar uma forma de radicalismo, muito criticado em nossos dias, busca- mos equilibrar, sem pender para um ou outro lado. Para muitos parece saudável. O problema é que não conseguimos manter o equilí- brio. Cedo ou tarde, inclinaremos para um lado, e esse lado não será o da espiritualidade. Posso citar como exemplo o ensino bíblico sobre dinhei- ro. Tanto Jesus, nos Evangelhos, como as cartas apostólicas nos admoestam sobre o perigo das riquezas. Jesus afirma que o di- nheiro é um poder denominado mamom, e nos adverte dizendo que é impossível servir a Deus e a mamom. Ele não fala que é neces- sário um equilíbrio entre os dois, mas afirma a impossibilidade de servir os dois ao mesmo tempo. Jesus advertiu os discípulos dizen- do que a fascinação pela riqueza sufoca a palavra, para que ela não dê frutos. Muitas parábolas mostram os peri- gos que o dinheiro representa. Con- tudo, o dinheiro é uma realidade na vida de todos nós. Outro exemplo é a necessidade de equilibrar as demandas secu- lares com as religiosas. O esforço para equilibrar essas duas reali- dades, além de criar um abismo entre elas, faz com que, no final, as demandas seculares acabem sufocando as demandas religiosas. O mesmo acontece quando busca- mos equilibrar o intelecto com a espiritualidade. O problema para todos esses temas complexos não é a falta de equilíbrio. Se fosse, ele seria a so- lução. O problema real é que o dinheiro, a carreira profissional, a vida social, a formação intelectual sempre tiveram um peso maior so- bre a fé e a espiritualidade. Quando falamos em equilibrar é porque sa- bemos que a ameaça sempre pende para o espiritual. Porém, se a res- posta não está no equilíbrio, onde a encontraremos? O chamado comum a todos nós é para sermos discípulos de Cristo. Usando uma expressão mais provocativa, somos chama- dos a imitar Jesus Cristo. Isso sig- nifica que precisamos estruturar tudo o que fazemos de forma a contribuir com esse chamado. O dinheiro, as demandas sociais e profissionais, os desafios intelec- tuais não deveriam representar nenhum risco ou abismo à espi- ritualidade cristã; ao contrário, deveriam ser integrados ao cha- mado de Cristo para sermos seus discípulos. A pergunta não é o que fazer para equilibrar, mas como todas essas coisas contribuirão para nos tornar mais semelhantes a Jesus Cristo, promover seu reino de justiça e a glória de Deus. O dinheiro e todas as deman- das sociais e intelectuais fazem parte da vida de todos nós. Não precisamos nos preocupar em equilibrá-los com a vida religiosa e espiritual. Precisamos apenas nos envolver de forma fiel e inten- cional com o chamado de Cristo, integrando todas as coisas, e segui-lo, imitando-o na forma como ele viveu e se relacionou com todas essas coisas. Existe, sim, uma radicalidade no chamado de Cristo. Por essa razão, o equilíbrio não é uma res- posta para as tensões da vida da fé e da espiritualidade. Jesus nos chama e requer tudo de nós – não existe equilíbrio no seu chamado. Tomar a nossa cruz para segui-lo, renunciar tudo o que temos, per- der a vida para depois ganhá-la são expressões que apontam para a mesma realidade. Não existe meia cruz ou meia renúncia. Tudo pre- cisa contribuir para o destino final: sermos conformados à imagem de Jesus Cristo. Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília, DF, e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autorde, entre outros, A Cruz e o Paradoxo da Autoestima, Quando a Alegria Não Vem pela Manhã, A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja, Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas e O Caminho do Coração. TUDO OU NADA Mamom versus Deus – Ninguém pode servir a dois senhoresMamom versus Deus – Ninguém pode servir a dois senhores bit.ly/412_caminho-coracaobit.ly/412_caminho-coracao MAIS NA INTERNET NÃO EXISTE MEIA CRUZ OU MEIA RENÚNCIA. TUDO PRECISA CONTRIBUIR PARA O DESTINO FINAL: SERMOS CONFORMADOS À IMAGEM DE JESUS CRISTO 32 ULTIMATO • Março/Abril 2025 Ad ob e St oc k Eu não quero Mickey Mouse!Eu não quero Mickey Mouse! bit.ly/412-familiabit.ly/412-familia MAIS NA INTERNET MENINAS (E MENINOS) SUPERPODEROSAS(OS) Outro dia, uma mãe me ligou solicitando uma consulta para o filho de 9 anos. A escola havia requisitado que ele fizesse um tratamento para Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). De- pois de ouvir a queixa dessa mãe, perguntei-lhe quando poderia vir junto com o marido e o filho para uma primeira consulta. Ela me respondeu: “Meu filho estuda em uma escola diferenciada da cida- de, com educação bilíngue e de período integral. Ele entra às sete da manhã e tem aulas até as qua- tro da tarde. Após as aulas, nas segundas, ele tem escolinha de fu- tebol das dezessete às dezenove horas; na terça e na quin- ta, depois da esco- la, ele vai para o reforço de Kumon; na quarta, ele tem aula de bateria e, na sexta, vai para o judô. Nos sábados o senhor atende à tarde? Porque pela ma- nhã ele tem aula de natação.” Confesso que fiquei cansado só de ouvir o relato da agenda su- perocupada dessa criança e pen- sei que havia um motivo bastante óbvio para esse “diagnóstico” de HIPER ativo! Então perguntei à mãe quando esse menino des- cansava. Ela me respondeu que todos os dias, após tomar banho e jantar, ele ficava uma hora jo- gando videogame e, nesse perí- odo, descansava. (Naturalmente os jogos que ele jogava eram de extrema ação e de lutas.) Por fim, ao ser questionada quando a criança tinha tempo de interação com os pais para atividades divertidas em família, ela respondeu que, em alguns domingos à tarde, quando o pai não estava cansado demais, eles saíam para passear... no shopping center! Fiquei pensando nos motivos que fizeram esse casal preencher a agenda do filho com tantas ativi- dades. No decorrer das conversas seguintes com a família, descobri que ambos os pais tinham vindo de famílias em que foram muito exigidos. Além disso, nelas, o si- nônimo de sucesso era entendido como ter uma atividade profis- sional que gerasse muita renda para desfrutar no “futuro” (na aposentadoria). Por isso, queriam equipar o filho para ser “bem-su- cedido” em uma sociedade muito competitiva. Também descobri que, infe- lizmente, os avós que impuseram esse padrão aos pais nunca con- seguiram desfrutar desse futu- ro. Um avô teve um infarto ful- minante com pouco mais de 50 anos (provavelmente pelo estilo de vida que levou) e a avó do ou- tro lado teve uma demência senil relativamente precoce. Antes de classificarmos uma criança com um diagnóstico (e, muitas vezes, acompanhado de uma medicação), é importante avaliarmos seu contexto, com os valores e estilo de vida que os pais tentam impor a ela. Muitas vezes, menos é mais. O legado de sucesso mais im- portante que os pais podem dei- xar para os filhos é de uma vida de fé comprometida e centrada nos valores do evangelho – eles desfrutarão desses valores por toda a eternidade! Como ensi- nam as Escrituras: “Eduque a criança no caminho em que deve andar, e até o fim da vida não se desviará dele” (Pv 22.6). Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e tera- peutas de casais e de família, e mem- bros da Igreja Luterana. São autores de Pais Santos, Filhos Nem Tanto. Acompanhe o blog: ultimato.com.br/ sites/casamentoefamilia/ FAMÍLIA CARLOS “CATITO” E DAGMAR GRZYBOWSKI A AGENDA DOS FILHOS “BEM- -SUCEDIDOS” 33Março/Abril 2025 • ULTIMATO Sou pernambucano, nascido em Garanhuns. Tenho 64 anos e sou casado com Mér- cia há 43. Temos um casal de filhos e três netos. Converti-me ao Senhor Jesus em 1976, quando compreen- di verdades libertadoras do evan- gelho: Cristo, sendo Deus, se fez homem, para que eu, homem, me tornasse filho de Deus – tudo pela graça. Isso me trouxe grande alívio. Não precisava mais fazer penitên- cias e promessas. Quando completei 50 anos, deparei-me com a realidade de que estava envelhecendo. Sabia que completar mais 50 seria uma hipótese pouco provável. A partir de então, com certa ansiedade, procurei me inteirar do assunto, prestando atenção em mim mesmo e em outras pessoas da mesma faixa etária. Deparei-me com o livro Fui Moço, Agora Sou Velho... E Daí?, de Kléos César (Editora Ultimato). Li-o vorazmente. Depois dediquei-o ao meu estimado pai, também Elias, que o rabiscou e fez várias anota- ções. Mais tarde utilizei esses trechos marcados para homenageá-lo numa cerimônia pública dedicada a ele. Um pouco mais tarde, caiu nas minhas mãos É Preciso Saber Envelhecer, de Paul Tournier (Editora Ultimato). Aprendi novas e preciosas lições sobre essa fase da vida, levando-me a aceitá-la com fundamentos na espiritualidade, no autocuidado, na aposentadoria e nova carreira. Nesse contexto, livros mais livros, destaco também A Arte de Envelhecer, escrito por S. B. Nuland (Editora Objetiva). O livro aborda o impacto do envelhecimento sobre nossos corpos e mentes, esforços e relacionamentos – um livro franco e inspirador sobre o último estágio da vida. Esse período foi enriquecedor. Naveguei em campo dilemático extenso que, talvez, também per- meie as mentes de outros irmãos em Cristo. São questões do tipo: quando parar de trabalhar; ter tempo para aproveitar a última fase da vida; ter tempo para se dedicar com mais intensidade à igreja; aproveitar a convivência com filhos e netos; reservar tempo para velhos amigos; voltar a estudar; viajar um pouco; e assim por diante. No final, constituiu-se num farto material para o processo terapêutico. Descobri que podia continuar a fazer muitas coisas. Então con- tinuei! Trabalho. Estudo teologia. Tornei-me educador financeiro. Sou consultor na área de finanças. Faço trabalhos voluntários e edu- cativos em escolas, cooperativas, associações, igrejas etc. Em minha comunidade de fé, sou professor da escola bíblica dominical, classe 60+. Em 2025, abordaremos 32 temas distintos na companhia de outros irmãos, cons- tituindo-se numa pastoral pioneira voltada para a pessoa idosa, cujo slogan é: “Se você tem mais de 60 anos, ou se pretende chegar lá, o seu lugar é aqui!”. Teremos a opor- tunidade de refletir sobre a pouca eficácia do discipulado da popula- ção idosa, sobre a possibilidade de maior envolvimento dos 60+ na obra missionária direcionada aos nossos filhos, netos, amigos, bem como a oportunidade de orientar, aprender e discipular cristãos mais jovens. E daqui pra frente? Continuaremos a depender inte- gralmente do Senhor, “porque nele vivemos, e nos movemos, e exis- timos, como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração” (At 17.28-30). Tenho muitos pro- jetos que depen- dem da vontade do Senhor. Nas pala- vras do salmista, citadas pelo pastor Kléos, “Fui moço e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl 37.25). Como li certa vez numa anota- ção, “a ideia é morrer jovem, o mais velho possível”, sempre à disposição do Senhor, servindo a Jesus Cristo, pelo poder do Espírito Santo. Amém. Elias Bispo, servo de Cristo, é con- sultor financeiro, membro da Igreja Presbiteriana da Madalena, em Recife, PE, e faz parte do Movimento Cristão 60+. RECONHECENDO-ME NA TERCEIRA IDADESESSENTA + ELIAS BISPO “A IDEIA É MORRER JOVEM, O MAIS VELHO POSSÍVEL” “Os velhos terão sonhos”“Os velhos terão sonhos” bit.ly/412-sessentabit.ly/412-sessenta MAIS NA INTERNET A rq ui vo p es so al Re vi ve E ur op e, C hr is tia n St ud en t M ov em en t 34 ULTIMATO • Março/Abril 2025 Ad ob e St oc k CAMINHOS DA MISSÃO MARISA MOODY E SARAH BREUEL Algumas vezes, tenho comentado sobre a dificul- dade que tenho com a pa- lavra “equilíbrio”. Sei que muitos encontram nela respostas, um tan- to simplistas, para temas comple- xos da vida cristã. No esforço de evitar uma forma de radicalismo, muito criticado em nossos dias, buscamos equilibrar, sem pender para um ou outro lado. Para mui- tos parece saudável. O problema é que não conseguimos manter o equilíbrio. Cedo ou tarde, incli- naremos para um lado, e esse lado não será o da espiritualidade. Sob neblina e frio, 2 mil parti- cipantes de 75 países se reuniram na Arena de Cracóvia, na Polônia, para buscarem um avivamento na Europa. A terceira edição da Conferên- cia Revive Europe foi realizada de 28 de dezembro de 2024 a 1º de janeiro de 2025 – um encontro de estudantes e jovens adultos fa- mintos por avivamento em todo o continente. Inspirados nas vidas de João Batista e Elias, e unidos sob o tema “Prepare o Caminho”, os partici- pantes mergulharam nas Escri- turas, por meio de seminários e pequenos grupos, para explorar como Deus chama seu povo a se preparar por meio de arrependi- mento, consagração e oração. Todas as noites, centenas de pessoas responderam aos apelos de arrependimento, consagração e perdão, ajoelhando-se em ren- dição a Jesus e experimentando profundos encontros pessoais com ele. Os temas das sessões principais foram o avivamento em nossos corações, em nossas universidades e na Europa. Nos dias 29 e 30 de dezem- bro, liderados pela Steiger Eu- ropa, mais de 450 participantes foram às ruas de Cracóvia para compartilhar o evangelho com ousadia. Numa das noites, Luke Greenwood pregou uma men- sagem evangelística intitulada “Imagine”.1 Como resultado, 83 pessoas que estavam nas ruas se juntaram aos participantes na arena e vários entregaram suas vidas a Cristo, refletindo o poder transformador de Deus durante a conferência. No dia 1º de janeiro, os parti- cipantes foram desafiados a assu- mir compromissos concretos para o ano novo, e houve mais de 800 compromissos registrados, como viver uma vida de consagração, orar e jejuar por avivamento, fazer missões transculturais de curto ou longo prazo e comprometer-se com o avivamento de sua geração. Fundado em 2019, o Revive Europe Movement existe para pre- parar o caminho para um mover de Deus entre estudantes e jovens adultos na Europa. A iniciativa re- presenta um quadro de esperança para o futuro da igreja na Euro- pa. É uma das muitas maneiras pelas quais Deus está agindo de forma especial em nosso conti- nente neste momento, levantan- do uma geração que afirma que a Europa não é pós-cristã, mas, sim, pré-avivamento. Louvado seja Deus pelo Espírito Santo que sopra onde, como e quando quer. Mesmo no mais intenso nevoeiro da Polônia. Mais informações em reviveeurope.org. Contato: marisa.moody@reviveeurope.org. Nota 1. Luke Greenwood na Revive 24. Vídeo disponível em www.youtube.com/watch?- v=d6IwFlFyVNk Marisa Moody é diretora de comu- nicação do Revive Europe e Sarah Breuel, brasileira, é fundadora e dire- tora executiva do movimento. PREPARE O CAMINHO CONFERÊNCIA DE AVIVAMENTO ACONTECE NA POLÔNIA NA VIRADA DE 2024 PARA 2025 Deus quer me usar? Histórias da Europa secularizada e alémDeus quer me usar? Histórias da Europa secularizada e além bit.ly/412-caminhos-missaobit.ly/412-caminhos-missao MAIS NA INTERNET REFLEXÃO ANE ALMA SIM, A BELEZA IMPORTA! A beleza é muito mais profunda do que imaginamos Calma, este texto não é sobre preenchimento la- bial, roupas da moda ou cirurgia plástica (mas até pode- ria ser). Existe uma frase muito famosa que diz: “A beleza está nos olhos de quem vê”, e, a cada dia, ela faz mais sentido para mim. Qual foi a última vez que você parou para olhar ao redor e percebê-la? Nós só sentimos falta do céu azul e de suas nuvens branquinhas quando o dia está nublado. A beleza é uma virtude, e ela é muito mais profunda do que imaginamos. Ela se manifesta de diversas formas, desde os de- talhes mais singelos até as coisas grandiosas. O nosso único “tra- balho” é estarmos dispostos a enxergá-la. Há a beleza inegável da criação, a natureza tão incrível e cheia de cores, texturas e cheiros. Mas também há beleza nos detalhes: em acordar todos os dias e ter fôlego para respirar; no choro de uma criança ao nascer ou até mesmo quando ela cai e rala o jo- elho; na mesa farta, mas também na louça suja na pia que, embora nos incomode, significa que o alimento não faltou. A beleza pode ser singular e única, mas dentro dela existe um universo de possibilidades. Em uma era de busca incessan- te pela juventude e perfeição, só percebe a beleza de uma pele não tão esticada quem já entendeu que os anos, dentro da brevidade desta vida, são implacáveis. Se vivermos emburrados, sem apre- ciar e aproveitar o tempo que te- mos, as rugas serão de rigidez, e não de um rosto que sorriu e se alegrou. Veja, não estou dizendo que a vida é sempre um mar de rosas. Mas, assim como o sol nasce e se põe, podemos ter a certeza de que nenhuma escuridão é eter- na. Um novo dia sempre surgirá, trazendo consigo a chance de en- xergar, mais uma vez, o que há de melhor. Para finalizar, deixo aqui uma dica de ouro que fará você economizar muito, seja na bus- ca pela beleza física ou interior: “O coração alegre aformoseia o rosto” (Pv 15.13). Agora você já sabe que nenhum produto de skincare será mais poderoso do que um coração alegre, grato e contente. Ane Alma, 27 anos, casada, cantora gospel, é uma carioca morando em São Paulo, SP. ASSIM COMO O SOL NASCE E SE PÕE, PODEMOS TER A CERTEZA DE QUE NENHUMA ESCURIDÃO É ETERNA Ad ob e St oc k 36 ULTIMATO • Março/Abril 2025 Por que a beleza importa para a teologia e para a vida?Por que a beleza importa para a teologia e para a vida? bit.ly/412-reflexaobit.ly/412-reflexao MAIS NA INTERNET Como a criança enfrenta o luto decorrente de uma perda que ela nem consegue explicar? Ja m es G ilb er t Ontem foi domingo e depois da costumeira refeição em família, gastei algumas ho- ras brincando com meu neto que está hoje com 1 ano e 8 meses. Fo- mos ver galinhas, cachorros, gato e borboletas… várias vezes seguidas. Brincamos na água, na cadeira do vovô, na salinha de brinquedos. Foi uma delícia. Quando cansei e me ausentei para o banho (ele tinha me molhado toda), ouvi, do chu- veiro, a vozinha insistente: “Vovó, vovó, vovó…”. Os vínculos que Deus projetou para que desenvolvêssemos em família são preciosos e as crianças nascem como uma capacidade de conexão quase inesgotável. Mas, o que acontece quando um vínculo é rompido pela morte? Como a criança enfrenta o luto decorrente de uma perda que ela nem conse- gue explicar? De acordo com a assistente social e tanatóloga Mel Erickson, as crianças precisam de atenção para processarem o luto de forma saudável. Luto não é prerrogativa da fase adulta – as crianças sofrem com suas perdas, muitas vezes de forma invisível e no silêncio. E, em condições desfavoráveis, explica- ções malévolas, sussurradas pelo Inimigo de nossas almas, podem encontrar morada noespírito da criança, gerando desconfiança, mágoa e até culpa pelo ocorrido. O trauma gerado por uma perda pode ter consequências que perdurarão até a fase adulta. A Rede Mãos Dadas, em parceria com a Geração Elo e a Lifewords/Projeto Calçada, lança em março a primeira testagem de um programa voltado para crianças enlutadas. O alvo é testar o material criado por Mel Erickson com oito grupos de crianças enlutadas iden- tificadas por nossos parceiros em oito cidades diferentes no Brasil. As crianças participarão de pequenos grupos facilitados por duas pessoas treinadas para con- duzir dinâmicas que as ajudarão a se fortalecerem para compreender e ressignificar suas perdas. Serão catorze encontros semanais, pro- gramados para ajudar a criança a desenvolver amizades com pessoas que compreendem a sua dor e que se dispõem a caminhar com ela pelo “vale da sombra da morte” de mãos dadas com o Bom Pastor! O historiador Lyle W. Dorsett, professor emérito da Wheaton College, em Illinois, Estados Unidos, no livro Serving God and Country: U.S. Military Chaplains in World War II, defende a tese de que as Forças Aliadas só foram vitoriosas durante a Segunda Guerra Mundial porque os capelães – destacados e enviados por suas respectivas igrejas e sinagogas para cada bata- lhão – foram fiéis no seu trabalho de levar esperança a locais onde só havia desespero. Essa é a essência da missão da igreja num mundo em conflito com Deus: semeamos a esperança da redenção, redenção essa que é garantida para nós por intermédio de Jesus Cristo, o Senhor da História. Toda criança afetada pela morte, dentro ou fora de nossas igrejas, precisa dessa esperança. Você pode participar se can- didatando para acompanhar um grupo de crianças e os seus facili- tadores em oração. A intercessão é essencial no processo. Entre em contato com a Rede Mãos Dadas (maosdadas.ong.br) para saber mais sobre esta ou outras formas de participação. Elsie B. C. Gilbert é jornalista e edi- tora do blog da Rede Mãos Dadas. SEMPRE COM VOCÊ UM ESPAÇO SEGURO PARA CRIANÇAS ENLUTADAS ESPECIAL ELSIE B. C. GILBERT Crianças também enfrentam o lutoCrianças também enfrentam o luto bit.ly/412-especial-lutobit.ly/412-especial-luto MAIS NA INTERNET 37 38 ULTIMATO • Março/Abril 2025 Como é natural, desde o início do cristianismo, a verdadeira identidade de Jesus desper- tou imenso interesse da parte dos seus seguidores, principalmente sua relação com Deus Pai. Quem era Je- sus realmente, no seu ser mais essen- cial? Todavia, a influência do pensa- mento grego e a própria linguagem bíblica resultaram em diferentes en- tendimentos sobre a pessoa do Re- dentor, com suas dimensões divina e humana. Os chamados docetistas, por exemplo, negavam a humanida- de do Filho de Deus, dizendo que sua encarnação foi apenas aparente, não real. Já os monarquianos, preocupa- dos com a unidade do Ser Supremo, acreditavam que Pai, Filho e Espírito Santo eram diferentes manifestações ou modos da mesma pessoa divina. Daí essa posição também ser deno- minada modalismo. Outros, conhe- cidos como adocionistas, entendiam que Jesus era um homem como os demais, que foi adotado por Deus e revestido de atributos especiais. No início do quarto século, surgiu uma nova posição. Ário, um presbítero ou sacerdote da igreja de Alexandria, no Egito, come- çou a ensinar que Jesus, embora muito superior aos seres humanos, era nitidamente inferior ao Pai. Apelando à terminologia bíblica que descrevia o Senhor Jesus como “unigênito” ou “primogênito”, ele passou a afirmar que o Filho foi literalmente gerado ou criado pelo Pai, antes da fundação do mundo. Essa proposta foi condenada pelo bispo de Alexandria, mas encontrou muitos simpatizantes. O resultado foi uma enorme controvérsia, que ameaçava a harmonia e unidade não só da igreja, mas do próprio império. Preocupado, o imperador Constantino, que, desde o início do seu reinado havia se identificado com a fé cristã, resolveu convocar uma grande assembleia de bis- pos para discutir a questão. Esse importante concílio eclesiástico, o primeiro de seu gênero, ocorreu na cidade de Niceia, a pequena distân- cia de Constantinopla, a magnífica capital construída pelo monarca. O ano foi 325, de maio a julho, há exatos 1.700 anos. A maior parte dos bispos par- ticipantes era procedente da parte oriental do Império Romano, de língua grega. Ário, não sendo bispo, e sim presbítero, não participou oficialmente do encontro, mas foi representado por alguns influentes partidários, em especial o bispo Eusébio de Nicomédia. Depois de muita discussão acalorada, na qual houve até mesmo a interferência pessoal do próprio imperador, foi aprovado o Credo de Niceia, um dos documentos mais importantes da história da igreja. Sua declaração mais decisiva é que Jesus Cristo, longe de ser uma criatura exaltada, é “consubstancial com o Pai” (em grego, homoousios to Patri), ou seja, possui a mesma substância ou natureza que o Pai, sendo, por- tanto, coigual e coeterno com o Pai. Estavam lançados os fundamentos teológicos da doutrina da Trindade. Foram muitos os argumentos utilizados em defesa dessa con- clusão, vários deles propostos pelo jovem diácono e teólogo Atanásio, que se tornaria destacado bispo de Alexandria por quase meio século (328-373). Se Jesus é uma criatura, como defendia Ário, a igreja é cul- pada do pecado de idolatria ao pres- tar culto a ele. Se o Filho não existia antes de ser criado pelo Pai, isso significa que o Pai nem sempre foi Pai: ele só se tornou tal após a cria- ção do Filho. Porém, o argumento mais importante foi que negar a divindade e a personalidade distinta de Jesus Cristo colocava em dúvida a própria salvação. Se o Redentor não fosse plenamente divino, ele não poderia realizar, de modo cabal e eficaz, a mediação e reconciliação entre Deus e os seres humanos. O Credo de Niceia manteve a lin- guagem bíblica de geração, mas a entendeu como distinta de criação CONCÍLIO DE NICEIA – 1.700 ANOS Por que um credo de 1.700 anos é tão importante? HISTÓRIA ALDERI SOUZA DE MATOS D om ín io p úb lic o Primeiro Concílio de Niceia, Giovanni Guerra e Cesare Nebbia 39Março/Abril 2025 • ULTIMATO (“gerado, não feito”). Em outras palavras, no que diz respeito ao Ser Divino, a linguagem de Pai e Filho não tem um sentido cronológico ou temporal, mas relacional e eterno. O Filho de Deus, como afirmaram teólogos do quarto século, é “eterna- mente gerado pelo Pai”. As conclusões de Niceia solidi- ficaram a posição do cristianismo ortodoxo, mas não puseram fim à controvérsia, que ainda perdurou por várias gerações. Apesar de con- denado formalmente, o arianismo teve longa sobrevida e importantes defensores. Por fim, vários fatores contribuíram para a consolidação da ortodoxia nicena, a começar do chamado Edito de Tessalônica, pro- mulgado pelo imperador Teodósio no ano 380, que tornou o cristia- nismo trinitário a religião oficial do Império Romano. No ano seguinte, o segundo concílio ecumênico, reu- nido em Constantinopla, reafirmou e expandiu o Credo de Niceia, acrescentando uma declaração mais detalhada sobre o Espírito Santo. Contribuíram para esses desdo- bramentos as brilhantes reflexões de vários teólogos de língua grega – o já referido Atanásio e os cha- mados “três capadócios”, Basílio de Cesareia, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa. Por dezessete séculos, as decla- rações do Concílio de Niceia sobre Jesus Cristo têm sido abraçadas pela grande maioria dos cristãos, sejam eles ortodoxos gregos, católicos ou protestantes. Apesar dos questiona- mentos de unitários e liberais, com sua tendência de negar ou subes- timar o caráter transcendente de Cristo, a crença na personalidade distinta e na plena divindade do Salvador tem sido uma das mais importantes convicções cristãs, com vastas implicações para toda a teologia,a começar pelas doutrinas da criação e da redenção. Mais do que isso, os que creem nessa ver- dade sublime e profunda entendem que ela está, acima de tudo, em total harmonia com o testemunho da Escritura. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.1, 14). Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e professor no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. É autor de Erasmo Braga, o Protestantismo e a Sociedade Brasileira; A Caminhada Cristã na História; Fundamentos da Teologia Histórica e Às Ciências Divinas e Humanas (150 anos do Instituto Pres- biteriano Mackenzie). Está morando por um ano nas proximidades da Filadélfia, nos Estados Unidos. De Niceia ao Vaticano II: breve panorama dos concílios ecumênicos bit.ly/412-historia MAIS NA INTERNET 40 ULTIMATO • Março/Abril 2025 ESPECIAL REPORTAGEM O FENÔMENO DAS BETS Ad ob e St oc k Um sonho: ter mais dinheiro para viver tranquilo, sem preocupações. Simples assim. Talvez essa seja uma das “boas” explica- ções dadas por pessoas envolvidas com jogos de apostas online. Mas o meio não justifica o fim – ganhar dinheiro de forma rápida e sem demasiado esforço. Porque, na dinâ- mica dos jogos de apostas, sempre há prevalência dos mais fortes sobre os mais fracos, e alguém sai perdendo – não só dinheiro. Não é nada simples. E o problema não é sonhar, mas a maneira como o sonho é cultivado. Hoje em dia, todos sonham – ou apostam – e, de forma mais ou menos consciente, colocam em risco muitas coisas que deveriam ser protegidas: bens pessoais, o bem comum, a interação fraterna, a liberdade, a doação generosa e, muitas vezes, a própria vida ou a de outros. As colaborações a seguir não dirão se é certo ou errado jogar. Nem falarão do que a Bíblia diz sobre apostar (você pode ler sobre isso no portal Ultimatoonline). Mas lembrarão como a igreja pode e deve ajudar a proteger as vítimas dos jogos por meio da educação, da prevenção e do apoio emocional, e denunciarão: “No Brasil, mais de 12 milhões de crianças e adolescentes, dentro de suas casas, escolas, igrejas, acessam jogos indevidos e prejudiciais a eles”. A ATRAÇÃO DAS APOSTAS: OS IMPACTOS SOCIAIS E O PAPEL DA IGREJA MARIA MARTA DIAS H. LISBOA, AGEU H. LISBOA E EDUARDO NUNES No Brasil, nos últimos dez anos, estamos observando cres- cente número de apostadores em plataformas de apostas online, as Bets. Elas ocupam espaços nas mídias e estádios, e são impulsionadas por influenciadores sorridentes que dizem “Ganhe”, “Fé na sorte”, e por aí vai. O fenômeno envolve milhões de pessoas no sonho de um possível ganho financeiro que possibilitaria, em tese, o fim de penúrias financeiras e a rea- lização de sonhos de consumo. Além das Bets, outros tipos de jogos e apostas são pos- síveis nas casas lotéricas e em pontos do popular jogo do bicho, enquanto abastados fazem turismo no exterior para jogar em cassinos. Como entender e lidar com essa ava- lanche publicitária? Que males podem surgir e o que a Igreja tem a dizer? Jogos que lidam com a sorte ou o azar são parte de inúmeras culturas há milênios e coexistem com jogos que exigem a racionalidade, como o xadrez, a dama e as dis- putas esportivas. Todos esses e outros jogos podem ser praticados numa dimensão puramente lúdica, um divertido passatempo com amigos, sem risco de perdas de bens e de dinheiro. A dimensão oposta envolve apostas de valores, na dependência de algo irracional, de natureza errática. O CRESCIMENTO DAS APOSTAS E SEUS DESAFIOS – DANOS PSÍQUICOS, ADOECIMENTO E DERROCADA FINANCEIRA São inúmeras as tragédias associadas a jogos de azar expostas na literatura, em filmes e na vida real. Há que se prevenir, então, de abusos. Como desperta fantasias e leva pessoas a sonhar com uma realidade imaginária que trará felicidade, o jogo de azar pode prender o jogador numa dinâmica neurótica. Este costuma enganar a si próprio, dizendo: “Desta vez, quem sabe?”, ou “Só mais um pouco”. E ameniza a consciência, racionalizando: “Se ganhar, farei muito bem aos pobres e até entregarei o dízimo na igreja”. Assim segue por um padrão persistente, insistente, de jogar, mesmo quando isso traz consequências negativas, o que caracteriza a dependência do jogo patológico segundo o Código Internacional de Doenças (C.I.D. 11 6C50.0). O Instituto Locomotiva aponta que 25 milhões de pes- soas passaram a apostar nos primeiros sete meses de 2024, fazendo com que as casas de apostas tivessem uma média de 3,5 milhões de usuários por mês, só no Brasil.1 Esse quadro sinaliza um risco crescente de dependência, com o jogo tomando uma proporção de vício, que afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas e de suas famílias. 41Março/Abril 2025 • ULTIMATO Um desafio a enfrentar é a cultura de entretenimento de massa, que vive de modismos e reproduz memes embalados em luzes, cores, sons e cerveja. Valem o bordão e a ostentação de influenciadores digitais que pro- movem anúncios de Bets, direcionando campanhas publi- citárias inclusive a públicos vulneráveis, como crianças e adolescentes. O apelo das apostas para este público, com a publicidade nas redes sociais adaptada para capturar a atenção e induzir ao vício, suscitou a reação de educa- dores, psicólogos e médicos, e intenso debate jurídico e legislativo. Para mitigar os impactos negativos das apostas, o governo federal regulamentou o setor com foco na prevenção do endividamento e do vício. A Portaria nº 1.231/2024, editada pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, estabelece regras que prio- rizam a proteção dos apostadores. Entre as medidas para evitar endividamento, destacam-se a proibição do uso de crédito, direto ou indireto, para apostas e a limitação das formas de pagamento a depósitos pré-pagos, como car- tões de débito e pix. A questão também foi tema de audiência pública rea- lizada em novembro de 2024, em razão da Ação Direta de Inconstitucionalidade em tramitação no Supremo Tribunal Federal (ADI 7721 MC/DF), sob relatoria do Ministro Luiz Fux, em que representantes da sociedade civil e dos três poderes discutiram diretrizes para o setor. Além disso, o Anexo X do Código de Autorregulamentação do CONAR estabelece rigorosas diretrizes para a publicidade responsável de apostas esportivas. Entre as principais regras que os anunciantes devem cumprir, destacam-se os avisos de desestímulo e advertência, como: • Restrição etária. Todos os anúncios devem conter uma frase que informe a restrição etária para a prática (por exemplo, “18+”); • Ações informativas e preventivas. Devem ser imple- mentadas ações informativas para conscientizar os apos- tadores e prevenir o transtorno do jogo patológico; • Proteção ao público infantojuvenil. Além de respeitar o princípio de proteção ao público jovem, o elenco dos anúncios deve ter, e aparentar ter, mais de 21 anos. O PAPEL DA IGREJA NA PROTEÇÃO SOCIAL A Igreja, uma das instituições sociais mais influentes e pre- sentes em todo o Brasil, tem um papel fundamental no apoio às famílias e na conscientização sobre os riscos do jogo. É bom lembrar que, historicamente, as igrejas pro- testantes sempre se opuseram aos jogos de azar devido a uma ética que incentiva o trabalho, a disciplina econô- mica, a frugalidade e a dependência de Deus. A Igreja pode pautar sua atuação em três frentes principais: educação, prevenção e apoio espiritual. 1. Educação e conscientização. A Igreja pode atuar como agente educativo, promovendo palestras, oficinas e campanhas de conscientização nas comunidades sobre os perigos das apostas. Isso envolve não apenas informar sobre o impacto negativo do vício em jogos, como também ensinar valorescristãos, responsabilidade financeira e autocontrole. Esse trabalho pode alcançar um público amplo, especialmente em áreas socialmente carentes, onde o acesso à educação financeira é mais limitado. 2. Prevenção e ações comunitárias. A Igreja pode cola- borar com as autoridades para desenvolver programas de prevenção ao vício em apostas. Isso inclui a promoção de alternativas de lazer saudáveis e de oportunidades de tra- balho e renda para jovens em situação de vulnerabilidade social, especialmente nas regiões onde as apostas estão se tornando mais populares. A prevenção deve também se estender à atuação junto às famílias, com apoio psi- cossocial para aqueles que já demonstram sinais de dependência. 3. Apoio emocional e espiritual. A Igreja possui uma ampla rede de apoio, seja por meio de grupos de ajuda, aconselhamento ou mesmo suporte espiritual. Nos momentos mais críticos de um vício, a Igreja pode oferecer o acolhimento necessário para que os indivíduos bus- quem tratamento adequado e se reabi- litem. Além disso, pode se envolver em ações que ajudem a reintegrar aqueles que saíram do ciclo vicioso, oferecendo suporte emocional e espiritual durante todo o processo de recuperação. Diante do crescimento das apostas no Brasil, impulsionado por plata- formas digitais e influenciadores, as autoridades brasileiras terão desafios significativos para fazer cumprir toda a regulamentação, a fim de com- bater o vício no jogo e fazer valer o direito de proteção de públicos vulneráveis, como crianças e adolescentes. A Igreja, com seu papel educativo e social, pode ser uma força crucial na prevenção e no apoio às vítimas desse vício. É fundamental que a Igreja, com o Estado e as demais entidades da sociedade civil, colabore na criação de um ambiente mais seguro, responsável e saudável para todos os brasileiros, especialmente os mais jovens, que são o futuro do país. Nota 1. Explosão das bets: crescimento, impacto, regulamentação. Meio e mensagem. Disponível em bit.ly/412-bets Maria Marta Dias Heringer Lisboa é advogada em São Paulo, SP. Ageu Heringer Lisboa é psicólogo em Campinas, SP, e autor de Sexo: Espiritualidade, Instinto e Cultura (Editora Ultimato). NOS PRIMEIROS SETE MESES DE 2024, AS CASAS DE APOSTAS TIVERAM UMA MÉDIA DE 3,5 MILHÕES DE USUÁRIOS POR MÊS, SÓ NO BRASIL Fr ee pi k 42 ULTIMATO • Março/Abril 2025 REPORTAGEM A EXPLOSÃO DAS BETS E A IMPLOSÃO DO CUIDADO EDUARDO NUNES A indústria das apostas foi turbinada exponencialmente nesse primeiro quarto do século 21 pela comunicação instantânea, possibilitada pelos computadores de mão (que chamamos de telefones por razões afetivas), con- trolados pelos algoritmos das redes “sociais”. Essa explosão conferiu ao hábito de ganhar com a predição do futuro dimensões econômicas e sociais impensá- veis há dez anos. O faturamento cresceu de 1,8 bilhão de dólares americanos, em 2010, para 572 bilhões de dólares americanos, em 2024. Mais de 4 bilhões de pes- soas jogam online pelo menos uma vez ao ano. Quatro fatores foram críticos para esse salto: a liberação (nos Estados Unidos, na Europa e em outros países); a pos- sibilidade de acompanhar esportes 24 horas por dia, sete dias por semana; o marketing agressivo asso- ciado a algo saudável (os esportes); e as estratégias de “rede social” que atraem, mantêm e expandem o uso. Isso criou um fenômeno que cruza fronteiras políticas, sociais e mesmo religiosas. O grupo majoritário (73%) são homens de 14 a 40 anos. Você leu certo: 14 anos. Assim, de todos os problemas e riscos econô- micos e sociais dessa “explosão bet”, o mais preocu- pante é o engajamento de crianças e adolescentes, já que a infância deve ser a prioridade absoluta de uma sociedade. Cassinos online fazem propaganda em sites infantis; a todo tempo, vemos anunciar “Bets – jogos esportivos” em partidas, camisas de times, nomes de estádios e, até mesmo, nomes de campeonatos. As empresas de apostas não se esforçam para evitar que crianças e adolescentes joguem. Em plataformas, há uma área de jogos de azar, sem envolver dinheiro, para treinar crianças para apostar. Um estudo do Unicef mostra que 78% dos jovens começaram a jogar a partir dos 12 anos e 22%, com 11 anos ou menos. Metade dos adolescentes jogou, pela primeira vez, com colegas (51%), enquanto um terço deles teve a companhia de algum parente (32%). Uma criança ou um adolescente não começa a jogar motivado por ganância; suas apostas são originadas, principalmente, por desejo de atenção, contato e relacionamento. Mas os jogos de azar fazem mal para crianças e ado- lescentes. No seu estágio de desenvolvimento cognitivo, em que a intensidade das experiências é maior, assim como a busca por recompensas e o medo de rejeição, os jogos de azar têm potencial destrutivo. Mesmo quando não vêm associados ao vício (que é próximo à depen- dência química causada por drogas), têm grande poten- cial de fortalecer crenças e mecanismos disfuncionais (violência, irresponsabilidade, egoísmo, manipulação do sagrado), assim como provocar ansiedade, depressão, tristeza, agressividade e até suicídio. Mesmo com todo esse potencial destrutivo, dos 61% das crianças e dos adolescentes brasileiros que jogam regularmente online, mais da metade o faz sem nenhuma supervisão nem interação com um adulto. Por isso, não é de surpreender que uma em cada duas 43Março/Abril 2025 • ULTIMATO dessas crianças terminará em um site ou aplicativo de jogos de azar, real ou simulado. No Brasil, isso representa mais de 12 milhões de crianças e adolescentes, dentro de suas casas, escolas e igrejas, acessando jogos indevidos e prejudiciais a eles. Como? Eu poderia responder usando análises eco- nômicas, sociológicas, políticas, teológicas e mesmo morais. Mas prefiro uma resposta simples (mesmo sabendo que é uma generalização): isso acontece porque não estamos prestando a devida atenção às crianças e aos adolescentes. E a Economia da Atenção explica. Economia é o estudo de como recursos escassos (comida, dinheiro etc.) são alocados. Em uma era de quantidades praticamente infinitas de informações ao alcance dos dedos, no senso estrito, não há Economia da Informação. Mas, se a informação não é escassa, a atenção é. Quando nossos recursos cognitivos (escuta, reflexão, observação, toque e assim por diante) são focados em algo, deixam de o ser em outros. E atenção se converte em muitas formas: amor, reconhecimento, troca, empatia, obediência e ajuda. Difícil de medir, a atenção tem uma relação direta com o tempo. O tempo para aplicar os recursos cognitivos é limitado, finito. Assim, ao escolhermos dar atenção a algo, optamos por ignorar outras coisas. Como uma moeda, trocamos atenção por algo que esperamos obter (conhecimento, satisfação, irritação etc.). Nossa atenção é moeda escassa e extremamente valiosa. Assim, as pesquisas mostram que a cada 60 minutos que a tecnologia libera de nosso tempo (evitando deslocamentos, filas, processos manuais demorados), ela nos faz consumir outros 93 minutos com outras demandas. Bem-vindo à Economia da Atenção. Nessa Economia, tanto quanto os adultos, as crianças também são cobiçados consumidores. É difícil avaliar o impacto total. Mas é necessário considerar não apenas os efeitos diretos da exposição às mídias sociais ou está- ticas (como streamings, portais, podcasts, videocasts), como também a exclusão de outras atividades (efeito substituição). As poucas pesquisas mostram que, em doze anos, o tempo de tela de crianças e adolescentes mais do que triplicou (de 2,7 para 8,1 horas por dia), enquanto o tempo de lazer “analógico” caiu pela metade. Doze milhões de crianças e adolescentes prestando atenção em jogos de azar online é uma surpresa apenas para os que estavam dispersos pelo scroll infinito do Instagram. À medida que continuamos a nos afogar em um excedente de “conteúdos” hackeando nossa atenção, talvez devêssemos nos concentrar em prestar atenção no quetemos prestado atenção (e ignorado). Crianças precisam de cuidado. Mais do que qual- quer recurso material, cuidado demanda atenção. E atenção é o que a Economia da Atenção quer que você dedique a seus produtos sociais e estáticos. E, como nossa atenção é escassa, quem perde esse tempo? Nós mesmos, pessoas, filhos, sobrinhos, netos. Assim, não surpreende que 53% de adolescentes já tenham perguntado ao Google como vencer uma depressão, mas apenas 21% tenham perguntado a uma pessoa (incluindo pais). Em dez anos, os atendimentos relacio- nados a transtornos de ansiedade no SUS aumentaram 1.575% entre crianças e 4.423% entre adolescentes. Redes sociais precisam de regulação! Temos de cobrar leis melhores e mais bem aplicadas. Precisamos exercer o poder de consumidor com as plataformas e os produtos que não protegem a infância. Contudo, mais do que isso, é preciso refletir no que você, eu, nossas igrejas, escolas e grupos devemos fazer para proteger a infância e adolescência, aumentando as condições para o desenvolvimento de vidas plenas. Precisamos de atenção, dedicação de tempo e cui- dado, além de modelos. Cuidar é também encarnar valores contrários aos que os jogos de azar online pro- movem. Nada de ações “tudo ou nada”, sucesso finan- ceiro como alvo da vida, ostentação como estética, competitividade como régua de relacionamento e ide- ologia da vitória e do vencedor. O mesmo caldo cultural que impulsiona as bets, as marcas hege- mônicas da nossa sociedade, impede crianças e adolescentes de terem uma vida plena, de seguirem seus propósitos de vida, de abençoarem a sociedade hoje e até que estejam idosos. Tudo isso é contra o evangelho, que se traduz em amar ao próximo. Além das demandas de regras e fisca- lização no âmbito público, o antídoto para uma epidemia que se alimenta da ambição e da solidão não será uma norma – será o cuidado amo- roso. Quando cuidamos, exemplificamos que o outro é mais importante. Cuidado contrapõe à solidão, não tem soma zero, não gera perdedores, mas multiplica ao dividir. Cuidado demanda atenção qualificada e faz bem também a quem cuida. O cuidado é a aposta certa. Fontes: Daniel Becker, Gambling Industry News, UNICEF, IMARC, LANCET, SUS. Eduardo Nunes é capixaba, defensor do coentro, graduado em ciências sociais (USP) e teologia (IPIB). É mestre e doutor em ciência política, doutor e livre- -docente em economia, mas foram seus filhos que lhe ensinaram tudo de importante na vida. Trabalha na World Vision (Visão Mundial) há 37 anos, na qual ocupa a Direção Sênior de Estratégia & Impacto para América Latina & Caribe. Participa e leciona no Programa “Inteligências & Complexidade”, pela Universidade de São Paulo (IEA) e Norwegian School of Economics (NHH), enquanto busca a receita perfeita de pão de queijo e ainda sonha em aprender a assobiar. NO BRASIL, MAIS DE 12 MILHÕES DE CRIANÇAS E DE ADOLESCENTES, DENTRO DE SUAS CASAS, ESCOLAS, IGREJAS, ACESSAM JOGOS INDEVIDOS E PREJUDICIAIS A ELES 40 anos de Som do Céu bit.ly/412-novos-acordes MAIS NA INTERNET 44 ULTIMATO • Março/Abril 2025 ARTE E CULTURA OUÇA O PODCAST DE “NOVOS ACORDES” NOVOS ACORDES CARLINHOS VEIGA Carlinhos Veiga é pastor, músico e jornalista. 40 ANOS DE SOM DO CÉU No início de 2016, Luciano Garruti e Gladir Cabral fo- ram desafiados a compor can- ções que tratassem do drama dos refugiados. Nasceu “Areia Branca”, a primeira das parce- rias da dupla. O álbum Confra- ria é produto desse encontro. Em algum momento, entenderam que precisavam registrar as novas can- ções na voz de amigos e amigas, em distintos esti- los e timbres. As gravações tiveram início em 2018. Por causa da pandemia, forçosamente pausaram o projeto. Somente no final de 2024 é que ele foi con- cluído. A produção musical é assinada pelo grupo CONFRARIA LUCIANO GARRUTI E GLADIR CABRAL música de qualidade e conteúdo relevante. Havia também a intenção de apresentar o evangelho e dar ao jovem a oportunidade de se tornar um seguidor de Je- sus. Com o surgimento do “mercado gospel”, o SDC foi “envelhecendo” e hoje enfrenta dificuldades para atrair a juventude das igrejas que canta outro tipo de música. NA: Imagino que alguns fatos marcaram o Som do Céu... MG: O mais marcante foi a conversão do conhecido músico Telo Borges (veja Um novo nascimento para quem andava triste na página 46). Outro fato importan- te e marcante foi o show no encerramento do Som do Céu em 1987 na praça do Papa, em Belo Horizonte, para 15 mil pessoas. NA: O que podemos esperar do futuro do evento? MG: Olhamos para frente com santas expectativas. Penso que essa celebração de 40 anos será o marco de um recomeço. Em abril de 2025 acontece mais uma edição do Som do Céu (SDC). Considerado o mais longevo evento de música cristã realizado no Brasil, neste ano terá uma edição especial. Celebra seus 40 anos. Várias gerações de músicos e artistas se apresentaram sob a icônica lona circense, em Macacos, MG. Muitas ideias ino- vadoras tiveram ali seu nascedouro, contribuindo para a qualidade e diversidade da arte no país. “No- vos acordes” entrevistou Marcelo Gualberto, diretor nacional da Mocidade Para Cristo do Brasil, produtor e fundador do SDC: Novos Acordes: Quando e como surgiu o SDC? Marcelo Gualberto: O primeiro aconteceu na Pás- coa de 1985. Durante anos, a missão Mocidade Para Cristo realizou um acampamento na Semana Santa chamado “Acampáscoa”. Por causa do impacto dos acampamentos “Louvor” em Goiânia na década de 1980, numa noite em casa me vieramo nome Som do Céu e a ideia de fazermos algo semelhante em substi- tuição ao “Acampáscoa”. NA: Qual foi a proposta inicial do evento? MG: Dar à juventude um espaço para ouvir e cantar instrumental Brazilian Rhythm Section, formado por Celso de Almeida, Felipe Silveira, Paulo Paulelli, Marcus Teixeira e Thadeu Lenza. Os arranjos trazem “uma pitada de jazz” e foram elaborados por Felipe Silveira e Marcus Teixeira. João Alexandre criou as linhas de flautas e vozes; também mixou o álbum. A masterização é de Luciano Vassão. Rodisley da Silva concebeu a arte gráfica do projeto. Ao todo são nove canções. Destaque para “Areia Branca”, na bela voz de Vanessa Pinheiro, “Alegria de Baião”, interpretada pelo fantástico Claudio Nucci (leia-se Boca Livre), e a linda “Pirilampos”, que abre o álbum, nas vozes de Andréia Oliveira e Trio Tris. Participaram também Alan Marino, Tiago Vianna, João Alexandre, entre outros. O álbum Confraria é obra de muito bom gos- to e de um refinamento incomum. Está disponível nas plataformas de música por streaming. VAMOS LER! ARTHUR HENRIQUE SOARES DOS SANTOS TEOLOGIA OU FILOSOFIA? OS DOIS! “Teologia Filosófica” é uma disciplina que investiga temas teológicos – como a existência e os atributos divinos, ou doutrinas religiosas como trindade, encarnação e expiação – utilizando ferramentas da filosofia. É uma área fascinante, que leva alguns dos melhores filósofos do mundo acadêmico con- temporâneo a refletirem profundamente acerca de crenças religiosas fundamentais. Desse modo, estamos falando de uma interseção entre a teologia e a filosofia. O Manual Oxford de Teologia Filosófica, organi- zado pelos reconhecidos filósofos Thomas P. Flint e Michael C. Rea, oferece justamente várias inves- tigações filosoficamente rigorosas sobre os mais variados temas da teologia, com foco especial na teologia cristã. Essa é, sem sombra de dúvidas, a mais importante publicação de teologia filosófica já feita em língua portuguesa. Deixe-me explicar o motivo dessa forte afir- mação. A Oxford University Press tem uma imensa coleção de manuais que visam introduzir o leitor aos principais debates de determinadas áreas. Existem manuais de ciências naturais, ciências sociais, filosofia,entre outros. E, nesse caso, temos aqui o manual voltado para a disciplina de teologia filosófica, com diferentes autores introduzindo o leitor aos principais debates acerca de vários temas teológicos essenciais. Além desse caráter introdu- tório, também é possível conhecer as propostas ori- ginais de cada autor para lidar com os problemas levantados. Aliás, cada autor desta coletânea é um grande especialista nos temas presentes na obra, de modo que o leitor encontra textos escritos por grandes autoridades dentro da teologia filosófica contemporânea. O livro possui 26 capítulos, organizados em cinco partes. A primeira parte, intitulada “Prolegômenos Teológicos”, apresenta assuntos introdutórios à teo- logia filosófica, como a Escritura, a Tradição e a Igreja, a relação entre ciência e religião e o lugar do mistério na teologia cristã. A segunda parte discute alguns atributos divinos, como simplicidade, assei- dade, onisciência, onipotência, onipresença, eterni- dade e perfeição moral. A terceira parte apresenta textos acerca da relação entre Deus e a criação, trazendo questões sobre a ação divina e a teoria da evolução, a provi- dência divina, a oração de petição, a moralidade e o problema do mal. A quarta parte discute doutrinas específicas da teologia cristã, como a Trindade, o pecado ori- ginal e a expiação, a encar- nação, a ressurreição do corpo, o céu e o inferno, bem como a Eucaristia. Por fim, a quinta parte possui alguns capítulos dedicados à teologia filosófica não-cristã, trazendo algumas intro- duções à teologia filosó- fica judaica, islâmica e confuciana, o que é muito útil para que conheçamos ao menos um pouco de outras religiões diferentes da nossa. Com esta organização do conteúdo e o peso acadêmico dos autores, este é um livro fundamental para qualquer pessoa que queira aprofundar seus estudos teológicos. Pastores, professores de escola bíblica dominical e mesmo o crente comum serão muito beneficiados pela leitura atenta, pois é um material que lida com questões fundamentais da crença cristã. Já para acadêmicos de teologia e de filosofia da religião, o Manual é leitura obrigatória. Como disse meu amigo Cleiton Balieiro na live de lançamento da obra, todo seminário teológico precisa do Manual Oxford de Teologia Filosófica. Arthur Henrique Soares dos Santos é graduado e mestrando em filosofia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). 45Março/Abril 2025 • ULTIMATO Versão ampliada de “Teologia ou filosofia? Os dois! – Manual Oxford de Teologia Filosófica” bit.ly/412-vamos-ler MAIS NA INTERNET ACONTECEU COMIGO MEU ENCONTRO COM JESUS UM NOVO NASCIMENTO PARA QUEM ANDAVA TRISTE Ro dr ig o D ai TELO BORGES Eu, Marcelo Wilson Fragoso Borges, o Telo Borges da tradicional família musical mineira dos “Borges”, andava triste. Minha vida nada mais me causava além de um grande té- dio e enfado. Estava cansado das minhas histórias, das drogas, das namoradas, do casamento – en- fim, de tudo! Eu, que já havia percorrido inúmeras trilhas dentro do espi- ritismo, catolicismo, daimismo e nada mais daquilo me fazia sen- tido. Foi nessa condição, separado da esposa e dos filhos, moran- do em um cômodo na casa dos meus pais, que recebi o convite para fazer um show em um even- to evangélico da Mocidade para Cristo (MPC) aqui, próximo de Belo Horizonte, MG. Relutei e coloquei um preço de cachê aci- ma daquele que habitualmente recebia. Mas, como tudo já esta- va preparado nos céus, quem era eu para resistir? Pois bem, acabei indo ao evento. Chegando lá, o que mais me chamou atenção foi o semblante das pessoas. Elas transmitiam paz e alegria, tudo isso sem ne- nhuma brasa de cigarro ou be- bida alcoólica. Fui cativado. Eu que, como disse, já andava bem cansado. Ao término do meu show, fui consultado sobre a possibilidade de alguns músicos e pastores fazerem uma oração no palco. Ecumeníssimo, claro, permiti. De madrugada, depois do show, cheguei a casa e fui natu- ralmente (a carne) tentar retor- nar para a minha velha vida, a rotina de drogas – o que, inexpli- cavelmente (até aquele momen- to), eu não queria mais. Queria, mas não queria! Um grande conflito se estabeleceu dentro de mim. No ápice dessa angústia, lembrei-me da oração que havia sido feita lá na MPC depois do show e resolvi recorrer a ela, só que, dessa vez, apenas eu. Fui inundado pela presen- ça de Deus. Quanto mais orava, mais eu chorava. Não percebia que ali, naquele quarto, sozinho, com aquela oração, eu estava nascendo de novo. Obviamen- te que não por nenhum mérito meu, mas por uma operação do Espírito Santo de Deus. Os dias seguintes foram tre- mendos, já que me senti impelido a ler a Bíblia e chorava muito a cada leitura e oração. Na verdade, todo esse processo me trazia uma série de dúvidas. A própria Bíblia, ao mesmo tempo que me emocionava e me revelava coisas celestiais, que eu nunca havia ex- perimentado, também era fonte de muitas dúvidas. Resolvi buscar ajuda com o pessoal da MPC e fui encami- nhado para pessoas experientes que tentariam me explicar todo aquele processo. Foi maravi- lhoso. Fui acolhido, abraçado e amado. Retomei o meu casamento e comecei a frequentar a Igreja Presbiteriana da Pampulha. Os primeiros cultos de que parti- cipei foram também de muito choro e revelações inexplicáveis, eternas. Desde essa época, abril de 2006, tenho servido na igreja do Senhor Jesus, tocando piano. Sou muito grato a Deus e a todos que ele, em sua soberania, usou na minha maravilhosa história. Glórias a Deus! Telo Borges é compositor, músico, cantor e multi-instrumentista. Foi vencedor do Grammy Latino com “Tristesse”, composição em parceria com Milton Nascimento. É irmão de Lô, Márcio e Marílton Borges. @telo_borges. 46 ULTIMATO • Março/Abril 2025 Minha confissão pública de fé foi feita num retiro de Minha confissão pública de fé foi feita num retiro de jovens católicosjovens católicos bit.ly/412-testemunhobit.ly/412-testemunho MAIS NA INTERNET QUANTO MAIS ORAVA, MAIS EU CHORAVA. NÃO PERCEBIA QUE ALI, NAQUELE QUARTO, SOZINHO, COM AQUELA ORAÇÃO, EU ESTAVA NASCENDO DE NOVO LANÇAMENTO PÓS GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA INTERCULTURAL 100% EAD Tutoria Especializada Corpo Docente Qualificado Formando pessoas para transformar o mundo. unievangelica.edu.brUltimato – Ano LVIII – N° 412 Março/Abril 2025 www.ultimato.com.br Publicação evangélica não denominacional destinada à evangelização e edificação, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação social, a oração com a ação, a conversão com santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula em meses ímpares Fundadores Elben M. Lenz César Djanira Momesso César Projeto gráfico: Rick Szuecs Diagramação: Ana Cláudia Nunes Impressão: Esdeva Tiragem: 8.000 exemplares Colunistas: Alderi Matos • Carlos “Catito” Grzybowski Carlinhos Veiga • Dagmar Fuchs Grzybowski • Gladir Cabral Marcos Bontempo • Paul Freston • Ricardo Barbosa de Sousa • Valdir Steuernagel Participam desta edição: Ageu Lisboa • Ane Alma • Ariane Gomes • Arthur Henrique Soares dos Santos • Carlos “Cacau” Marques • Cynthia Muniz Soares • Daniel de Lima Vieira • Davi Lago • Eduardo Nunes • Elias Bispo • Klênia Fassoni • Marisa Moody • Maria Marta Dias H. Lisboa Sarah Breuel • Telo Borges • Valdinei Ferreira William Lacy Lane Publicidade: anuncio@ultimato.com.br Assinaturas e edições anteriores: atendimento@ultimato.com.br Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte. Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação de Editores Cristãos (AsEC) Editora Ultimato Telefone: (31) 3611-8500 Caixa Postal 43 36570-970 — Viçosa, MG ADMINISTRAÇÃO/MARKETING: Klênia Fassoni Ana Cláudia Nunes EDITORIAL/PRODUÇÃO/ULTIMATO ONLINE: Marcos Bontempo • Ana Laura Morais • Ariane Gomes Bernadete Ribeiro • Larissa Fávero FINANÇAS/CIRCULAÇÃO: Emmanuel Bastos Cristina Pereira • Daniel César • Fábio Freitas Filipe Rodrigues VENDAS: Lúcia Viana • Érica Oliveira Romilda Oliveira • Vanilda Costa Jo ão W ill ia m G ar ris so m Deus existe. E, já que ele existe, o que ele faria e o que não faria nessa ou naquela situação específica? Afinal, Deus deveria promover o bem-estar das pessoas? PPor que o mal existe? Seria o mundo injusto e Deus, justo? A Ética de Deus – Normas da ação divina e o problema do mal examina a ética própria de Deus e como ela difere da ética humana. EEscrito por Mark C. Murphy, A Ética de Deus é o décimo primeiro volume da série Filosofia e Fé Cristã, publicada em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência. DEUS É BOM PORQUE FAZ O BEM OU O BEM É BOM PORQUE É O QUE DEUS FAZ? 6 ULTIMATO • Março/Abril 2025 PASTORAIS WILLIAM LACY LANE Onde buscar proteção? Um dos grandes anseios humanos é sentir-se protegido, amparado e confiante. Sabemos que bens materiais, sucesso profissional e financeiro, posição social e poder secular ou religioso são alguns meios que as pessoas buscam para se afirmarem e se senti- rem protegidas. É verdade também que todas essas formas de pro- teção são retratadas como passageiras e incapazes de satisfazer esse anseio humano. Apenas a segurança da presença pessoal e real de Deus em nossa vida supre essa carência, de modo que todas as demais coisas se tornam secundárias. Uma das histórias bíblicas que lançam luz sobre essa realidade de maneira pitoresca, e até irônica, é a da vida e do fim de Ló. Somos apresentados a Ló como o filho de Harã, irmão de Abraão, o qual morreu ainda em Ur dos caldeus (Gn 11.27-32). Ló foi adotado por seu tio e o acompanhou em suas peregrinações por Harã, Canaã, Egito e de volta a Canaã. Ficamos sabendo que não apenas Abraão, mas também o próprio Ló se enriqueceram muito. Tinham tanto gado que se tornou insustentável viverem juntos em harmonia. Abraão, então, propôs que Ló fosse habi- tar em outro lugar e lhe deu a preferência da escolha. Ló escolheu as campinas do Jordão, uma região muito fértil, “como o jardim do Senhor, como a terra do Egito” (Gn 13.10). Apesar do lugar vantajoso para quem possuía grande rebanho e gado, “Ló foi morar nas cidades da campina. E ia armando as suas tendas até Sodoma” (Gn 13.12). Logo o encontramos morando em Sodoma (Gn 14.12) e, quando a cidade esteve sob ataque, ele foi sequestrado pelos invasores. Mais tarde, quando Sodoma e Gomorra estavam para ser destruí- das por ordem de Deus (Gn 18.16-21), ali estavam Ló e sua família (Gn 19.1). Fico me perguntando: como um beduíno, dono de considerável patrimônio, que escolheu a melhor região para viver, foi parar numa cidade? Como teria ele se tornado tão vulnerável a ponto de ser raptado por uma coligação de reis que atacaram a cidade (Gn 14.1-17)? Depois, ao ter sido forçado a abandonar Sodoma antes de sua destruição e refugiando-se na pequena cidade de Zoar (Gn 19.19-20), como pôde terminar seus dias numa caverna com as duas filhas, que se aproveitaram do pai embriagado para terem relações com ele (Gn 19.30-35)? Que final trágico para um homem rico que havia escolhido o melhor lugar para morar! Sem a companhia do tio, parece-me que Ló prio- rizou preencher o anseio por segurança com o seu bem-estar e “proteção”. As campinas do Jordão, a cidade de Sodoma, a cidade de Zoar e a caverna no monte distante de Zoar foram os lugares que escolheu como refúgio. Pelo menos duas vezes, Ló admitiu o seu medo. Saindo de Sodoma, insistiu com o mensageiro do Senhor que o deixasse se refugiar em Zoar em vez de escapar para o monte. Depois, contudo, com medo de permanecer em Zoar, fugiu para as montanhas para habitar numa caverna. É verdade que essa história mostra repetidos livra- mentos de Deus na vida de Ló. O próprio Ló reconhe- ceu isso (Gn 19.19). Mas mostra também a realidade de alguém que não busca no Senhor a sua proteção e razão de vida. William Lacy Lane (Billy) é pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento. É também professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O Propósito Bíblico da Missão. Em busca de um lugar seguro bit.ly/412-pastorais MAIS NA INTERNET A Destruição de Sodoma e Gomorra, John Martin G al er ia d e A rt e La in g M ar ce lo B itt en co ur t | @ ho m em qu ev oa 7Março/Abril 2025 • ULTIMATO SUMÁRIO 14 CAPA SEÇÕES Com a matéria “Como vivem os que têm esperança”, Ultimato quer colocar Cristo no centro e enfatizar que a vida dos que têm esperança atrai outros para a Esperança. Quer lembrar que a comunidade dos que têm esperança deve ser uma ponte para aqueles que “passam por necessidades, cuja esperança para o futuro não é sustentada pela experiência de bênção no passado, que não conheceram cura, ou fé, ou prosperidade e que não têm esperança”. SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO LEITOR Para assinar ou adquirir exemplares anteriores, consultar dados de sua assinatura, comunicar alteração de endereço, tirar dúvidas sobre pagamento ou entrega, renovação e outros serviços. • 31 3611 8500 31 99437 0043 de segunda a sexta, das 8h às 18h • atendimento_sac@ultimato.com.br Editora Ultimato – Caixa postal 43 | CEP 36570-970, Viçosa, MG ABERTURA CARTA AO LEITOR PASTORAIS CARTAS MAIS DO QUE NOTÍCIAS ESPECIAL | Sempre com Você: Um espaço seguro para crianças enlutadas | Elsie B. C. Gilbert REPORTAGEM | O fenômeno das bets | Maria Marta Dias H. Lisboa, Ageu H. Lisboa e Eduardo Nunes ARTE E CULTURA FAMÍLIA Meninas (e meninos) superpoderosas(os) Carlos “Catito” e Dagmar Grzybowski 32 O CAMINHO DO CORAÇÃO Tudo ou nada Ricardo Barbosa 30 ACONTECEU COMIGO – MEU ENCONTRO COM JESUS Um novo nascimento para quem andava triste Telo Borges 46 REFLEXÃO Sim, a beleza importa! Ane Alma 36 /editora.ultimato Podcast Ultimato /editoraultimato @ultimato @editoraultimato Mais de 86 mil pessoas já “curtiram” a página da Editora Ultimato no Facebook. Junte-sea nós! Ouça devocionais diárias, playlists, histórias e mais! Siga-nos no Spotify. Inscreva-se em nosso canal e acompanhe as lives Ultimato. Quer saber o que a Editora Ultimato e seus blogueiros estão falando? Siga-nos no X. Acompanhe o dia a dia, os bastidores e as promoções da Editora Ultimato no Instagram. Mais de 83.800 pessoas já nos seguem. 37 HISTÓRIA Concílio de Niceia – 1.700 anos Alderi Souza de Matos 38 CAMINHOS DA MISSÃO Prepare o caminho – Conferência de avivamento acontece na Polônia na virada de 2024 para 2025 Marisa Moody e Sarah Breuel 34 SESSENTA+ Reconhecendo-me na terceira idade Elias Bispo 33 8 ULTIMATO • Março/Abril 2025 CARTASCARTAS Obrigado, Ultimato, pela contribuição em trazer uma matéria com tudo o que aconteceu em Lausanne 4. Fui muito abençoado e despertado para conti- nuar a missão. Rafael Veloso, Belo Horizonte, MG Fiquei positivamente surpreso com o artigo Eu, apenas uma dona de casa?, de Elizabeth Ng Koo, na coluna “Sessenta +”. Suas palavras transbordam graça, sabedoria, humildade e a riqueza de uma vida marcada pela experiência. Reconhecer Jesus como Senhor é um processo que se desenrola ao longo de toda a vida. A consciência dessa verdade nos toca de forma gra- ciosa e transformadora, levando-nos a submeter nossos sonhos e planos pessoais à vontade divina. Marciel Diniz, Paranavaí, PR No artigo A tentativa de golpe e a reação evangélica, Paul Freston insiste em reafirmar e acentuar polarizações. Lamento muito as suas afirmações generalizadas e imprecisas. Coloca num mesmo saco tudo e todos. Décio R. Carvalho, Campinas, SP RESSONÂNCIA DUPLA Acabo de ler os artigos Raio x da inte- gridade, de Klênia Fassoni, e A res- sonância mais poderosa de todas, de Délnia Bastos. Assevero que essa edição de Ultimato tem sido bênção em minha vida. Como sou edificada com essa literatura pura, sadia e exce- lente. Há anos leio a revista. Mas ainda não havia enviado o meu comentário. Sou esposa de pastor e professora aposentada de português e litera- tura. Meu filho me presenteou com a assinatura. Graça Guimarães SALMO E LITERATURA Gostei bastante, tanto da elaboração do artigo quanto do salmo que trouxe paz ao meu coração. – Comentário ao artigo O dia em que fui mais feliz – uma abordagem literária do Salmo 84, de Délio Porto (Ultimato, novembro/dezembro de 2024). Adriano Alves A OBESIDADE E A IGREJA Lamento o artigo A epidemia da obe- sidade (Ultimato, novembro/dezembro de 2024). A autora reforçou estereó- tipos negativos, como pessoas obesas não são saudáveis, obesidade é incom- patível com fé cristã madura, a igreja precisa dar uma resposta ao peso excessivo das pessoas. Sou endocri- nologista há trinta anos – suposta- mente sei do que estou falando. Eduardo Mundim, Belo Horizonte, MG DESDE 1968, CONTEÚDO QUE TRANSFORMA! Parabéns por tanta coragem e demons- tração de fé da família abençoada do pastor Elben César, que lutou e con- tinua na batalha para que “Busquemos o Senhor enquanto podemos achá-lo”. Obrigado por tamanha dedicação e persistência. Que Deus continue aben- çoando e dando a todos da família Ultimato dedicação, amor e compro- misso com ele, como tem sido nestes 57 anos, e resistência para tantos outros 9Março/Abril 2025 • ULTIMATO anos que virão. Júlio César de A. Carvalho Ultimato é um ministério desafiador e ao mesmo tempo glorioso! Desafiador pois a igreja evangélica brasileira tem pouca profundidade em suas raízes teológicas. E glorioso porque pessoas, igrejas e líderes foram edificados e for- talecidos em meio às diversas ondas e correntes teológicas que assolaram e causaram grandes prejuízos à Igreja. Eu mesmo pude ter acesso a livros, artigos e reflexões teológicas que me fizeram amadurecer no meu ministério de evan- gelização e serviço. Jorge, Aracaju, SE Conheci Ultimato quando ainda era jornal por meio da minha mãe, Ruth Duarte, de Governador Valadares, MG. Ela gostava muito dessa publi- cação. Hoje sou assinante da revista e a estimo muito. Tamara Gladys de O. Porto, Lauro de Freitas, BA Desde minha infância, convivi com Ultimato. Um dos irmãos do reverendo Elben César era meu pastor, e meu pai, Edison Aguiar, colaborou com a divulgação da revista nas regiões onde ele fazia trabalhos com homens presbiterianos. Deus seja louvado por esta preciosa arma do evangelho. Edison Aguiar Parabéns, Ultimato! Sou grata a Deus pelo trabalho excelente de vocês! Fazem parte da minha história! Elis Amâncio, Santa Luzia, MG AÇÕES MINISTERIAIS ULTIMATO Gostaria de expressar a enorme bênção que Ultimato tem sido para o trabalho de capelania prisional que desenvol- vemos. Ela tem sido um suporte de valor inestimável em nossa missão. Quando os exemplares da revista che- garam a nós, foi um verdadeiro bál- samo. Os detentos têm grande sede de aprender e estudar as Escrituras, e Ultimato cumpre um papel essen- cial nesse processo. Continuaremos comprometidos em levar o evangelho, o amor e a esperança revelados em Cristo Jesus aos que mais necessitam. Clécio Cardoso, Taubaté, SP CARTA DA PRISÃO Agradeço a Deus o trabalho dos cape- lães ao me enviarem Ultimato. Tenho muita vontade de estudar teologia e, por meio da edição Para que Serve a Teologia? (julho/agosto de 2024), aprendi que teologia é muito mais do que apenas estudo da Bíblia. Isso me incen- tivou a aprofundar o conhecimento das Escrituras, de Deus e do relacionamento com ele e com a humanidade. J. S. L., Tremembé, SP PORTAL E REDES SOCIAIS Não apenas o livro Expiação é impres- sionante. A contribuição de Eleonore Stump para a teologia filosófica e para a filosofia cristã é monumental. A abor- dagem que ela faz de Tomás também é muito fina. Parabéns, Editora Ultimato. Uma baita contribuição! Jonas Madureira Conheço Elisa Arruda, autora do artigo Os velhos terão sonhos (“Por escrito”, 24/1/2025), há sete anos somente. Porém, admiro a força e o engajamento para viver, o aproveita- mento total das oportunidades que Deus lhe apresenta e tamanha sabe- doria. Ela tem sido um exemplo na minha vida e de tantos outros! Fiquei emocionada ao ler e ver quão pode- roso é o operar de Deus! Angélica 10 ULTIMATO • Março/Abril 2025 // NOTÍCIAS ARIANE GOMES toneladas de cascas de laranja – média descartada anualmente – correspondem ao peso de cerca de 80 mil baleias-azuis ou 2,5 mil sequoias gigantes. Cascas de laranja, como de outras frutas, podem resultar em ótimas receitas 15.100.000 em cada sessenta gestações é de gêmeos, trigêmeos ou até mesmo sêxtuplos. O número de gêmeos e trigêmeos nascidos atualmente é o maior visto na história 1 pessoas no mundo sofrem de fome e insegurança alimentar. O número é equivalente a uma em cada onze pessoas 733.400.000 de estudantes em 85 países tiveram os estudos interrompidos em 2024 em virtude de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, ciclones tropicais, tempestades, inundações e secas 242.000.000 anos foi o tempo de vida de Ágnes Keleti, a medalhista olímpica mais velha do mundo e a mulher olímpica judia mais condecorada. Ela morreu em 2 de janeiro de 2025, sete dias antes de completar 104 anos 103 + DO QUE NOTÍCIAS Instituído há vinte anos por uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, o Dia Internacional de Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto, celebrado em 27 de janeiro, teve uma marca especial em 2025: a data lembrou os oitenta anos da libertação de Auschwitz, onde mais de 1,1 milhão de pessoas foram assassinadas. Segundo dados do Relatório Demográfico Global sobre Sobreviventes Judeus do Holocausto, publicado em janeiro de 2024, ainda havia 245 mil pessoas entre os sobreviven- tes do Holocausto, sendo que quase metade (49%) vivia em Israel. Outros estavam na Europa Ocidental, Estados Unidos e em países da antiga União Soviética. No Brasil, viviam cerca de trezentas pessoas. O estudo também indi- cou que 96% dos sobreviventeseram crianças que resis- tiram a campos de concentração, guetos, fugas e vida na clandestinidade. Oitenta anos depois, as palavras de sobreviventes aler- tam para a tolerância e a vida: Que todas as pessoas de boa vontade sejam sensíveis a todas as formas de intolerância e ressentimento contra pessoas diferentes. Leon Weintraub, 99 anos Hoje, temos a obrigação não só de lembrar, mas de alertar e ensinar que o ódio só gera mais ódio; e a matança, mais matança. Tova Friedman, 86 anos 80 ANOS – MEMÓRIA E VIDA Em 21 de janeiro de 1525, após orar buscando a direção de Deus, um pequeno grupo de homens reunido em Zurique, Suíça, pressionado pelo Conselho da cidade para inter- romper seus encontros de estudo bíblico, decidiu que todos do grupo fossem batizados, começando pelo ex-pa- dre George Blaurock. O gesto em defesa do direito de cada pessoa escolher suas crenças deixou seus contem- porâneos insatisfeitos e desencadeou dura perseguição. O batismo de adultos foi apenas uma das questões que fez a comunidade levantar-se contra aqueles homens. Valorizar a natureza da igreja e a separação dela do estado, rejeitar a violência, recusar-se a ir à guerra, encarar um dis- cipulado radical foram outros pontos de divergência que colaboraram para o surgimento do movimento anabatista. Menno Simons (1496-1561), um ex-padre holandês, é uma figura de destaque na história dos anabatistas. Ele fez diversas viagens para visitar grupos espalhados pelo norte da Europa, incentivando os crentes perseguidos. Com o tempo, aqueles que pertenciam ao movimento ficaram conhecidos como menonitas. Para celebrar os 500 anos do movimento anabatista, a Conferência Mundial Menonita reunirá a igreja meno- nita em um encontro que acontece a cada quatro anos, desde 1925. Com o tema “A coragem de amar”, o evento acontecerá em Zurique, Suíça, em maio de 2025. COM O TEMA “A CORAGEM DE AMAR”, EVENTO CELEBRARÁ OS 500 ANOS DO ANABATISMO C N N D iv ul ga çã o Por que falar de Menno Simons? bit.ly/412-500-anos MAIS NA INTERNET Entrada do campo de concentração de Auschwitz 11Março/Abril 2025 • ULTIMATO FRASES O sentido da vida não se restringe a este mundo. Buscamos o que há de vir. E nossa missão aqui é ajudar a todos, em Cristo, a alcançarem a eternidade com Deus. Isso transforma a nossa existência aqui neste mundo. Erni Seibert Diretor executivo da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) Permita que o meu lugar seja entre os pobres de espírito, meu deleite sejam as fileiras dos mansos. Arthur Bennet (1915-1944) Escritor e pregador inglês O foco não deve ser tanto no meio que usamos, mas em como o usamos. Estamos consumindo pessoas ou buscando conexões? Esther Jiménez Psicóloga espanhola É fundamental que as pessoas façam trabalho voluntário depois de se aposentarem, que façam algo de bom para o semelhante. É isso que nos preenche, que dá vontade de continuar vivendo. Aliás, é por isso que a gente está aqui. Anna Fuhr Moradora de Porto Alegre, RS. Uma das vítimas da enchente do rio Caí em maio de 2024 É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. José Saramago (1922-2010) Escritor português ALGUNS DOS VISTOS � A Bíblia Toda, o Ano Todo John Stott � Gênesis para Maiores Antonio Carlos Fontes Cintra � Manual Oxford de Teologia Filosófica Thomas Flint, Michael Rea ALGUNS DOS LIDOS ARTIGOS LIVROS A UM CLIQUE Todo o conteúdo oferecido em “MAIS NA INTERNET” des- ta edição em bit.ly/ ult412-mais A C E S S E U L T I M A T O . C O M . B R E L E I A A S N OV I DA D ES D E U LT I M ATO TO D OS OS D I AS PARA LER O CONTEÚDO DESTA SEÇÃO, ACESSE: WWW.ULTIMATO.COM.BR/SITES/BLOGDAULTIMATO/ULT412 ULTIMATOONLINE NINGUÉM HÁ SEMELHANTE A TI, Ó SENHOR; TU ÉS GRANDE, E GRANDE É O PODER DO TEU NOME. Jeremias 10.6 � Bonhoeffer, O Filme – uma ideia boa, com alguns problemas… Carlos Caldas � Lista Mundial da Perseguição 2025 está no ar! Notícia � Janeiro Bran- co: a igreja e a saúde mental Samara M. de Andrade APOIE ULTIMATO. SUA GENEROSIDADE FAZ MISSÃO Com o seu apoio, Ultimato co- loca à disposição da igreja bra- sileira uma seleção preciosa de informações e ferramentas que celebram o conteúdo bíblico e a confiança do povo de Deus no único Senhor da história. São mais de 10 milhões de revistas distribuídas até aqui, e você faz parte dessa história. O MUNDO, A IGREJA E OS LEITORES MUDARAM. Nossa missão, no entanto, continua: Participamos da proclamação da boa nova que nunca fica velha, da esperança que nunca morre e de um Salvador que nunca muda. PARTICIPE do PROJETO SEMEN- TE 60 ANOS, rumo a 2028. Co- nheça e junte-se a nós no minis- tério da reconciliação. Para saber mais acesse: re- vistaultimato.com.br/contribua Ou aponte a câmera do seu celular para o QRCode: Ad ob e St oc k Entrada do campo de concentração de Auschwitz 12 ULTIMATO • Março/Abril 2025 + DO QUE NOTÍCIAS+ DO QUE NOTÍCIAS Mayflower foi um famoso navio que, em 1620, transportou pouco mais de cem passageiros – na sua maioria puritanos ingleses que procuravam liberdade religiosa – para a América do Norte, onde, posteriormente, se formaria os Estados Unidos. Recentemente, outro grupo de imigrantes, denominado Igreja Mayflower, também encerrou sua peregrinação nos Estados Unidos: 64 cristãos da igreja doméstica perseguida chinesa fugiram juntos numa viagem que durou três anos e incluiu passagens pela Coreia do Sul e Tailândia. Em entrevista ao site Plough1, Pan Yongguang, líder do grupo, falou de bênçãos e desafios da via- gem: “Fugir juntos como uma comunidade tornou as coisas mais fáceis, porque as pessoas que se amam e confiam umas nas outras podem se aju- dar e cuidar mutuamente. Mas também tornou as coisas mais difíceis, especialmente porque mais da metade de nós eram menores de idade. Oito crian- ças nasceram durante a fuga, e foi difícil cuidar de recém-nascidos sem seguro médico”. Nos Estados Unidos, o grupo se estabeleceu em Midland, no Texas, e tem cultivado o desejo de se tornar uma cidade de refúgio para outros chineses perseguidos por sua fé. Uma longa jornada. Nota 1. O site Plough (www.plough.com), da Plough Publishing House, editora cristã independente fundada em 1920, pu- blica diariamente conteúdos sobre fé, sociedade e vida espiritual. Há poucos meses, em um culto na aldeia Kâwrakurerê, em Brejo Comprido, TO, com a pre- sença de indígenas de várias aldeias Xerente, a igreja celebrou a entrega de mais uma porção tra- duzida das Escrituras para a língua Akwe-Xerente. A tradução do Novo e, agora, de trechos do Antigo Testamento para os Xerente é resultado do trabalho liderado pelo pastor batista Guenther Krieger, de 87 anos. Desde 1958, ele, sua esposa, Wanda Braidotti Krieger, e vários missionários se dedicam ao ministério de evangelização, ensino e tradução da Bíblia para esse povo. Um dos momentos marcantes do culto foi a entrega de um exemplar da Bíblia pelo pastor Guenther a Hermógenes, um dos anciãos mais velhos da aldeia Xerente e um dos primeiros con- vertidos. Outra participação especial foi a de Lázaro Rowakro, outro ancião Xerente que, com palavras simples e cheias de sabedoria, falou da importante colaboração do pastor Guenther para que a Palavra de Deus possa ser lida na língua que fala ao coração de seu povo: “Estou feliz de ver com meus próprios olhos aquilo que Deus disse na Bíblia: ‘O que o homem plantar, ele vai colher’.O pastor Guenther está colhendo o que plantou”. MAYFLOWER E OS PEREGRINOS DOS SÉCULOS 16 E 21 DE ANCIÃO PARA ANCIÃO @ c hi na m ay flo w er @ m is so es _n ac io na is // IGREJA EM AÇÃO ARIANE GOMES 60 anos de trabalho entre o povo indígena Xerente bit.ly/412-xerente MAIS NA INTERNET Chegada da Igreja Mayflower na Tailândia ˜ No portal Ultimatoonline você encontra artigos, canções, estudos bíblicos que complementam o assunto bit.ly/412-esperanca MAIS NA INTERNET M ar ce lo B itt en co ur t | @ ho m em qu ev oa 14 ULTIMATO • Março/Abril 2025 MATÉRIA DE CAPA Os tempos atuais têm sido referidos por muita gente como especialmente difíceis em virtude dos de- safios globais. Nos Estados Unidos, segundo Pew Research, em 2022, quatro em cada dez adultos acre- ditavam que estamos vivendo no fim dos tempos. Entre os cristãos, a taxa era de cinco em cada dez pessoas.1 Os desafios macros certamente são fonte de deses- perança, mas aspectos mais próximos de nós afetam ainda mais o nosso humor e a nossa esperança – os problemas cotidianos, a falta de condições básicas para viver, famílias desfeitas, doenças do corpo e da mente, relacionamentos complicados, cansaço, desa- mor, lutas pessoais que nunca acabam. Independentemente do cenário global ou das cir- cunstâncias pessoais, é preciso renovar nossa con- fiança em Deus como a única fonte de esperança. A bênção de Paulo aos romanos – “Que Deus, a fonte de esperança, os encha inteiramente de alegria e paz, em vista da fé que vocês depositam nele, de modo que vo- cês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15.13) – foi a primeira inspiração para esta matéria de capa. Nosso desejo é colocar Cristo no centro e enfatizar que a vida dos que têm esperança atrai outros para a Esperança. É lembrar que a comunidade dos que têm esperança deve ser uma ponte para aqueles que “pas- sam por necessidades, cuja esperança para o futuro não é sustentada pela experiência de bênção no passa- do, que não conheceram cura, ou fé, ou prosperidade e que não têm esperança”.2 Os que têm esperança são semelhantes à viúva po- bre que “em sua pobreza, nada guarda para si mesma e com essa ação confessa que toda a sua vida – seu presente e seu futuro – está nas mãos do Deus Todo- -poderoso” (p. 19). São também como aqueles que “em Jesus e com Jesus encontram um jeito de viver no qual as dores encontram acolhimento, a fé provê sus- tento para as diferentes situações e a esperança em Deus os leva a olhar para além de nós mesmos, para a eternidade” (p. 20). “Por meio da esperança”, eles “vencem o fatalismo e não ficam reféns do noticiário” (p. 16). Eles “vivem uma vida de ressurreição no ‘agora’, cientes de que nosso futuro, para além desta vida, não é incerto nem depen- de de algo que possamos conquistar neste mundo – ou seja, não está baseado em falsas esperanças” (p. 17). “O presente dos cristãos é enorme, vasto como o universo; o alfa-e-ômega o preenche e o alarga com o seu passado e o seu futuro, fazendo caber nele a eternidade!” (p. 24) – porque sabemos disso, temos esperança. Boa leitura! Notas 1. About four-in-ten U.S. adults believe humanity is ‘living in the end times’. Disponível em bit.ly/412-introducao-research. 2. Oração para o ano novo. Disponível em bit.ly/412-introducao-oracao. COMO VIVEM OS QUE TÊM ESPERANÇA O cenário atual é de tensão e preocupação. De um lado, a desesperança ri cinicamente e diz: não há saída. De outro, a esperança sorri e convida aqueles que seguem Jesus a enfrentar os tempos di- fíceis de cabeça erguida. A mais recente promessa tecnológica da huma- nidade está sendo recebida com temores. É o que revela o Pew Research Center numa consulta feita a especialistas em Inteligência Artificial Generativa (IA) sobre o que eles esperam dela até o ano de 2035. Para 78% dos especialistas há mais motivos para preocupação do que para comemoração dos benefí- cios advindos da IA. Segundo eles, os motivos de preocupação com a IA vão de desemprego em massa, desinformação e manipulação até o risco de extinção dos humanos. Por isso, de acordo com os especialistas, a IA deve- ria ser tratada com a mesma cautela das pandemias e armas nucleares. Sob o ponto de vista do clima, oscilamos entre enchentes e incêndios em diferentes lugares do pla- neta. A geração Z tem levado aos terapeutas relatos sobre sintomas da ecoansiedade. Diante do cenário de agravamento da crise climática, muitos deles fa- lam abertamente que decidiram não ter filhos por medo do que aguarda o futuro do planeta. A crise climática produz catástrofes que ceifam vidas, encarece os alimentos e desloca populações que encontram países cada vez mais hostis ao aco- lhimento. As acomodações produzidas pelos acordos após a Segunda Guerra Mundial estão gradualmente cedendo lugar para novos conflitos geopolíticos. Movimentos reacionários exploram a desespe- rança das pessoas para vender uma volta ao passado. Futurismos pedem um pouco mais de paciência e investimentos financeiros até que a próxima geringonça tecnológica resolva todos os problemas humanos. O teólogo Tomás Halík, em seu belo livro Não Sem Esperança: O retorno da religião em tempos pós- -otimistas, lembra que, no cenário atual, é preciso desistir tanto do otimismo quanto do pessimismo para abraçar a esperança. Segundo ele, o otimista é um “falsário” e o pessimista, um “desertor”. A síntese perfeita da espe- rança para enfrentar tempos difíceis está nas palavras de Jesus: “Exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa reden- ção se aproxima” (Lc 21.28). A esperança que as comuni- dades cristãs são chamadas a cultivar e compartilhar é uma atitude – cabeças erguidas. Não se trata de um conceito ou um projeto político, mas de um estado de prontidão para o encontro com Cristo. Que encontro? Aquele sintetizado na fórmula do advento: “Cristo veio, Cristo vem e Cristo virá”. Quando confessamos “Cristo vem”, estamos dizen- do que o Cristo que veio e que virá continua vindo até nós todos os dias: “Porque tive fome, e me des- tes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestis- tes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me” (Mt 25.35-36). Eugene Peterson alerta-nos afirmando que toda vez que Cristo vem sob a face daqueles que sofrem e nós o recebemos, estamos mais e mais preparados para nos encontrarmos com ele na sua vinda final – a vinda que completará tudo o que entendemos por História. A ESPERANÇA QUE AS COMUNIDADES CRISTÃS SÃO CHAMADAS A CULTIVAR E COMPARTILHAR É UMA ATITUDE – CABEÇAS ERGUIDAS O CENÁRIO ATUAL É DE DESESPERANÇA? Valdinei Ferreira Ad ob e St oc k No portal Ultimatoonline você encontra artigos, canções, estudos bíblicos que complementam o assunto bit.ly/412-esperanca Valdinei Ferreira é doutor em sociologia pela USP, colu- nista da Folha de São Paulo e professor da Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente (Fatipi). 15Março/Abril 2025 • ULTIMATO COMO VIVEM OS QUE TÊM ESPERANÇA A ESPERANÇA CRISTÃ É A VITÓRIA SOBRE O FATALISMO Davi Lago Não faltam dificuldades à vida e, por consequente, não falta desânimo no mundo. Basta ler, ouvir e assistir ao noticiário, ou simplesmente olhar ao nosso redor, para constatar que há exércitos impres- sionantes de pessoas desesperadas. Na verdade, esse é o cenário desde a saída do Éden, ou seja, a condição humana é uma condição de aflição. Elifaz, represen- tante da sabedoria de Edom, chegou a esta conclusão, conforme o milenar livro deJó: “O homem nasce para as dificuldades tão certamente como as fagulhas voam para cima” (Jó 5.7). A esperança, por definição, direciona o ânimo hu- mano para o oposto do desespero. Em uma concepção clássica, a esperança pode ser compreendida como uma atitude composta, na qual uma pessoa deseja um determinado resultado futuro, junto com uma crença na possibilidade de concretização desse resultado. Há, portanto, um aspecto volitivo (desejo de um resultado), somado a um aspecto cogniti- vo (expectativa de um resulta- do baseado na razoabilidade). Entretanto, essa noção geral de esperança nunca foi mui- to popular na Antiguidade. Entre os filósofos gregos, por exemplo, a esperança (elpis) não foi objeto de nenhum exame sistemático, sendo tratada de modo reticente. Alguns consideravam a ati- tude esperançosa adequada para enfrentar os desafios da vida, enquanto outros a consideravam uma forma de escapismo. A deusa menor grega Elpis, que perso- nificava a esperança, nunca foi considerada importan- te. Embora os romanos tratassem melhor Spes (o ídolo equivalente a Elpis), ainda assim, não havia uma for- mulação filosófica robusta para a esperança enquanto virtude digna de atenção. De igual modo, na sabedoria oriental, noções similares ao que entendemos como es- perança também não ocuparam lugar de destaque. Nas crenças que entendem o mundo como uma realidade estática sem começo nem fim, não faz sentido ter es- perança, assim como naquelas crenças que entendem a vida como ciclos infinitos de reencarnação em univer- sos inumeráveis. Desse modo, a esperança é considerada uma virtude maior apenas a partir da fé cristã. Como afirmou o após- tolo Paulo aos efésios, antes da salvação em Cristo, eles es- tavam “sem esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2.12). Em Jesus Cristo, porém, encontramos esperança. Di- ferentemente dos outros mestres, ele não procurou a salvação, veio oferecê-la. Sua vida, morte e ressurreição atestam para seus seguidores que a esperança não é sub- jetiva, mas objetiva. Para os cristãos, a ressurreição de Cristo comprova que a reconciliação entre Deus e a hu- manidade é real. Assim, no Ressurreto, eles veem a nova humanidade emancipada do mal. Esperança, portanto, não é ilusão, nem imaginação, puro desejo ou mero ra- ciocínio. É, sobretudo, um dom divino, uma capacidade de viver o presente, à luz de um horizonte futuro, que se abre por uma prova do passado. Isso não significa que aqueles que estão em Cristo conheçam em detalhe o que os espera, ou que não fiquem tristes e aflitos diante dos desafios cotidianos. Significa que eles recebem gracio- samente uma força de reação, somada a uma profunda convicção de que a vida não acaba com o corpo crema- do ou enterrado dois metros abaixo do solo. A espe- rança cristã já vivencia algo da realidade esperada no momento atual, como se antecipasse o futuro dentro do presente. Jesus não é Deus de um futuro distante, ele é Emanuel, Deus conosco. Por meio da esperança, os cris- tãos vencem o fatalismo e não ficam reféns do noticiá- rio. Por isso está escrito: “[...] Nos refugiamos nele para tomar posse da esperança a nós proposta” (Hb 6.18). ESPERANÇA NÃO É ILUSÃO, IMAGINAÇÃO, PURO DESEJO OU MERO RACIOCÍNIO. É UM DOM DIVINO M ar ce lo B itt en co ur t | @ ho m em qu ev oa Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo (PUC-SP), capelão da Primeira Igreja Batista de São Paulo e membro do Conselho Coordenador da Aliança Cristã Evangélica Brasileira. 16 ULTIMATO • Março/Abril 2025 MATÉRIA DE CAPA A ESPERANÇA CRISTÃ É A VITÓRIA SOBRE O FATALISMO Davi Lago COMO VIVEM OS QUE TÊM ESPERANÇA? Cynthia Muniz Soares Ser cristão é ter esperança – e não poderia ser diferente, pois vivemos em um mundo onde os efei- tos do pecado são evidentes e onde a dor e o sofri- mento nos confrontam dia após dia. Sem esperança, a vida perderia seu sentido e propósito. Ela está no cerne da nossa vocação e aponta para o nosso futuro. Como está escrito em 1 Pedro: “Ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cris- to dentre os mortos” (1.3). A fé, a esperança e o amor (1Co 13.13) são o alicerce sobre o qual a vida cristã é edificada a cada dia. Sendo assim, o que significa, na prática, viver uma vida com esperança? A Bíblia está repleta de palavras de esperança. Ao olharmos para as Escrituras, vemos histórias de ho- mens e mulheres que, em meio às suas dores e dificul- dades, depositaram sua esperança em Deus. É impor- tante destacar que essa esperança pode estar voltada tanto para as necessidades imediatas da vida quanto para uma esperança escatológica, apontando para o fu- turo de redenção e manifestação do reino de Deus. Os Salmos são um dos lugares onde podemos perce- ber esse primeiro tipo de esperança. Um exemplo claro está no Salmo 62.5: “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha esperança”. Nijay Gupta, ao analisar a linguagem da esperança nos Salmos da Septuaginta (tradução judaica do Antigo Testamento hebraico para o grego), observou que os tradutores gregos frequentemente usaram elpis/elpizō (“esperança”/ “eu espero”) para traduzir o hebraico ba- takh (“confiança”), sugerindo uma conexão entre espe- rança e confiança.1 Essa correlação nos lembra que a vida cristã se de- senvolve a partir de um relacionamento com Deus, de modo que podemos conhecê-lo cada dia mais e, por- tanto, confiar nele, em seu poder, em seus propósitos, sua graça e amor. Miroslav Volf afirma: “O Deus que cria a partir do nada, o Deus que dá vida aos mortos justifica uma esperança que, de outra forma, seria in- justificável”.2 Sendo assim, aqueles que têm esperança são aqueles que conhecem a Deus e prosseguem em conhecê-lo. Ao voltarmos nossos olhos para o Novo Testamen- to, podemos ver a Páscoa como o evento definitivo e gerador de esperança. A crucificação de Jesus é o ponto alto da história de amor de Deus pela humanidade. Por meio da cruz, recebemos salvação, perdão e libertação; e, pela ressurreição de Cristo, temos a certeza da nossa própria ressurreição – temos vida eterna. Aqueles que têm esperança vivem uma vida de ressurreição no “agora”, cientes de que nosso futu- ro, para além desta vida, não é incerto nem depende de algo que possamos conquistar neste mundo – ou 17Março/Abril 2025 • ULTIMATO Ad ob e St oc k MATÉRIA DE CAPA seja, não está baseado em falsas esperanças. Nossa herança já está preparada e guardada em Deus. Isso nos concede alegria e paz, conforme a oração de Paulo: “Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15.13). Ademais, aqueles que têm esperança tam- bém compartilham essa mesma esperança com as outras pessoas, pois o mundo está af lito e ansioso por perdão. Como afirma N. T. Wri- ght: “A Páscoa diz: ‘Bem-vindo ao novo mundo de Deus’. Com isso, somos convidados a pro- var desse amor por nós mesmos e oferecê-lo ao mundo como a grande mensagem do jubileu, a mensagem de esperança, enfim”.3 Aqueles que têm esperança são aqueles que aprendem a des- cansar em Deus, mesmo diante das lutas diárias e do mal que os cerca. A cada dia, precisamos encarar nossas próprias falhas e aprender a confiar em Deus e receber o seu perdão, pois o sentimento constante de culpa mina a nossa esperança. Isso nos conduz, portanto, a uma vida de oração, me- ditação e contemplação, pois são as disciplinas espirituais que nos permitem enxergar o amor de Deus em meio ao caos presente no mundo e, muitas vezes, dentro de nós. A teóloga Juliana de Norwich, uma impor- tante referência de vida cristã e espiritualidade na tradição mística medieval, foi alguém que viveu em profunda intimidade com Deus.Em seu famoso escrito Revelações do Amor Divino, ela afirmou: “Há sofrimento, doença, guerra e fome, o pecado e as quedas dos homens e todas as suas falhas, mas tudo acabará bem, desde que se tenha confiança no amor divino e na intenção de Deus”.4 Isso não significa que somos conformados com os males e injustiças que estão ao nosso re- dor. Pelo contrário, aqueles que têm esperança se orientam a partir da ética do reino de Deus e, portanto, entendem seu papel e missão neste mundo. Agem como voz profética denuncian- do as injustiças e promovendo a paz e a recon- ciliação. Buscam viver uma vida de serviço e amor ao próximo, como o próprio Jesus nos ensinou, sendo portadores de uma mensagem de esperança que vai além de palavras, encarna- da em atos de justiça e misericórdia. No entanto, comunicar essa esperança em nossos dias não é algo tão simples. Para além daqueles que não fazem parte da igreja, muitas vezes desconfiados devido a escândalos e maus exemplos do meio cristão, ainda temos o desafio de reacender essa esperança entre os próprios membros da família da fé que, hoje, encontram- -se decepcionados e feridos. Em casos extremos, alguns sofreram abusos no lugar onde um dia buscaram esperança e, por isso, já não fazem mais parte da igreja. Aqueles que têm esperança precisam cultivar empatia e cuidado com os que se afastaram dela, tornando-se instrumentos de cura e restauração. Como diz o apóstolo Paulo: “A esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu” (Rm 5.5). É essa esperança, firmada no amor imutável e infalível de Deus, que precisamos co- municar a essas pessoas. Por fim, os que têm esperança demonstram sua fé no Deus revelado nas Escrituras por meio de uma vida de adoração e louvor. Que nossos cultos e comunidades de fé sejam expressões vibrantes dessa esperança, impactando as vidas daqueles ao nosso redor, atraindo-os ao amor do Cristo ressurreto. Vivemos tempos difíceis e há uma urgente necessidade de esperança. Nas palavras de Brueggemann: “Nossa sociedade espera, entre a negação e o desespero, por uma palavra repleta de verdade e esperança, uma pa- lavra de cura e renovo”.5 Que nós, o povo da es- perança, possamos levar essa palavra ao mundo. Notas 1. GUPTA, Nijay. O Novo Testamento em 15 palavras. Tho- mas Nelson Brasil, 2024. p. 143. 2. VOLF, Miroslav. Theologies of Hope. Yale Divinity School, out. 2020. Disponível em: https://reflections.yale.edu/arti- cle/seeking-light-notes-hope/theologies-hope. 3. WRIGHT, N. T. Surpreendido pelas Escrituras. Ultimato, 2015. p. 206. 4. NORWICH, Juliana de. Revelações do amor divino. Pau- lus, 2018. p. 10. 5. BRUEGGEMANN, Walter. Truth and Hope: Essays for a Perilous Age. Westminster John Knox Press, 2020. p. 132 (tradução livre). Cynthia Muniz Soares é bióloga, mestre em saúde pública, teóloga, especialista em teologia do Novo Testamento e pastora anglicana. Atualmente, é mes- tranda em estudos do Novo Testamento. “O DEUS QUE CRIA A PARTIR DO NADA, O DEUS QUE DÁ VIDA AOS MORTOS JUSTIFICA UMA ESPERANÇA QUE, DE OUTRA FORMA, SERIA INJUSTIFICÁVEL” 18 ULTIMATO • Março/Abril 2025 Ela não tinha nada para chamar a atenção. Vivia numa sociedade patriarcal, mas, talvez, já não tivesse um pai que a defendesse e zelasse por ela. Também não tinha um marido, era viúva desde não se sabe quando. Além das duas condições anterio- res, era pobre – necessitada e dependente. Possivelmente era mais uma na multidão. Invi- sível e sem virtudes que pudessem ser destacadas ou admiradas pelos que tinham nome, família e bens. Não devia ser a única viúva por ali, mas fazer parte deste grupo não tornava as coisas melhores para ela. O cenário de sua vida era bastante desfavorável. Mas, curiosamente, ela tem uma história que des- de a primeira vez que foi contada é sempre lembrada. Certo dia, em que Jerusalém estava agitada pela aproximação da Páscoa e em que se ouviam rumores da chegada de Jesus e de seus discípulos – e da grande movimentação que isso estava causando na cidade –, a mulher levantou-se cedo e se preparou para ir ao templo levar, como de costume, a sua oferta. Embora a história não revele, pelo gesto da viúva é possível notar que ela temia o Deus de Israel e assu- mira o compromisso de servi-lo fielmente indepen- dente das circunstâncias. Sua confiança no amor leal do Senhor e sua generosidade fizeram dela uma mu- lher notável: Jesus a viu e falou de sua ação com pa- lavras de elogio e, por meio de seu exemplo, ofereceu um importante ensinamento sobre fé e confiança que geram desprendimento genuíno (Lc 21.1-4). Não ter um nome reconhecido, ser mulher e pobre, não impedem aquela viúva de exercitar a sua confiança em Deus e de continuar encarando a sua rotina. Todas as ausências – de pessoas, defe- sa, recursos – poderiam ter feito com que ela ficasse prostrada, entregando-se sem qualquer expectativa. Mas não é isso que acontece. Ela se levanta, vai ao templo e entrega tudo o que tem. Em sua pobreza, nada guarda para si mesma e com essa ação con- fessa que toda a sua vida – seu presente e seu futuro – está nas mãos do Deus Todo-poderoso. Ela sabe que, além da ordenança clara do cuida- do devido aos órfãos, estrangeiros e viúvas – o que faz com que ela tenha esperança na comunidade – o próprio Deus a acompanha na jornada. Ele a ama e a protege no dia a dia tão marcado por desafios, en- corajando-a a cultivar uma esperança firme e vibrante. Certamente, houve outros gestos daquela viúva no dia em que foi vista por Jesus: trabalho, encontro com pessoas, oferecimento de ajuda ou recepção de uma doação, uma oração ou um momento de silêncio, cuidado de si e de outros. Mais um dia ordinário em que a con- fiança e a espera intercambiaram com a fé e o amor. Não era preciso esperar um futuro distante para dar espaço para a esperança se movimentar, impulsio- nando a adoração, surpreendendo e dando vigor. Quem sabe, enquanto caminhava para o templo ou quando oferecia as duas pequenas moedas, a vi- úva tenha se lembrado de uma das confissões que tem sido repetida de geração em geração pelo povo de Deus: Digo a mim mesmo: O Senhor é a minha porção; por isso, esperarei nele! O Senhor é bom para os que dependem dele, para os que o buscam. Portanto, é bom esperar em silêncio pela salvação do Senhor. (Lamentações 3.24-26). NÃO ERA PRECISO ESPERAR UM FUTURO DISTANTE PARA DAR ESPAÇO PARA A ESPERANÇA SE MOVIMENTAR UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA EM AÇÃO Ariane Gomes Ariane Gomes atua como coordenadora de produção de Ultimato e gestora de conteúdo do Portal Ultimato. 19Março/Abril 2025 • ULTIMATO jw .o rg VOCACIONADOS PARA A ESPERANÇA Valdir Steuernagel A expressão “não deixe a peteca cair” passou pelos lábios de minha mãe muitas vezes. Na maioria delas, a entonação era positiva. Era preciso insis- tir e afirmar a vida, e ela o fazia teimosamente, na for- ça que Jesus lhe dava. Nós, sua família, entendíamos bem a imagem, pois o jogo de peteca nos era comum e sabíamos a força que tinha essa expressão. As suas muitas dores, idas a diferentes médicos e várias inter- nações hospitalares eram evidência dos desafios que enfrentava e de sua insistente luta pela vida. Mas havia ocasiões em que ela dizia “a peteca está caindo” ou até “a peteca caiu”. Aí sabíamos que a si- tuação era difícil e delicada. As dores estavam intensas, a medicação não estava aju- dando e seria preciso uma nova internação. Seu corpo fraquejava, suas pernas já não a sustentavam, sua alma gemia e uma profunda an- gústia a invadia. Estava difí- cil, bem difícil não deixar a peteca cair. Estava penoso resistir e esperar por dias melhores. Ainda que, neste imenso Brasil, o jogo da peteca talvez não seja tão comum, a expressão “não deixar a peteca cair”, usadaaté no âmbito corporativo, não é difícil de entender. Até podemos nos identificar com ela, refletindo diferentes momentos de vida que marcam cada um de nós. Afinal, no jogo de peteca é preciso mantê-la no ar, pois, quando ela cai, perde-se um ponto. No final da vida de mamãe, a peteca, de fato, caiu. O câncer invadiu-lhe o cérebro e chegou o fim. Mas este era um fim que não era o fim, pois ela sabia quem era e para onde estava indo. E fez questão de deixar isso claro. Como calceira que foi, no decorrer de mui- tas décadas, ela estendia o pano sobre a mesa e o ta- lhava a fim de transformá-lo numa calça sob medida, como testemunhei inúmeras vezes. Da mesma forma, ela sabia que a sua vida estava sendo talhada para a vida e para a morte, para o encontro customizado com o seu Senhor. Em sintonia com Jó, ela podia dizer: “Quanto a mim, sei que meu Redentor vive” (Jó 19.25). Uso a metáfora da peteca para me referir a um jeito de viver e, ao falar de minha mãe, refiro-me a uma pessoa simples e que ama tudo o que diz res- peito a família, que foi a vida dela. Mas me refiro também a diferentes situações pelas quais passamos, ora por nós causadas, ora sobre nós impostas, com a pergunta de como lidamos a “peteca da vida”. Como a mantemos no ar? Qual a nossa força e de onde a extraímos? Ao trazer a minha mãe para esta conver- sa, vemos uma pessoa que não se deixava consumir pelas dores e, em meio a elas, sabia que era amada por Deus, vivia pela força de Deus e encontrava aconchego na família de Deus. Ela sabia que não carecia passar a vida lamentando suas dores, como uma peteca forçando a caída, mas podia chorá-las diante de Jesus e este a acolhia de um jeito que nin- guém mais podia fazer. Em Jesus e com Jesus encon- tramos um jeito de viver no qual as dores encontram acolhimento, a fé provê sustento para as diferentes situações e a esperança em Deus nos leva a olhar para além de nós mesmos, para a eternidade. Há outras situações que vão bem além do parti- cular, envolvendo família, comunidade, vizinhança e EM JESUS E COM JESUS ENCONTRAMOS UM JEITO DE VIVER NO QUAL A ESPERANÇA EM DEUS NOS LEVA A OLHAR PARA ALÉM DE NÓS MESMOS Ra w pi xe l MATÉRIA DE CAPAMATÉRIA DE CAPA 20 ULTIMATO • Março/Abril 2025 VOCACIONADOS PARA A ESPERANÇA Valdir Steuernagel ambiente de trabalho, para citar apenas alguns desses contextos maiores e dos quais também fazemos parte. Com a supremacia das redes sociais, o nosso mundo se ampliou tanto, que já não encontramos raízes; vi- vemos confundidos e confusos em meio a inúmeros pareceres e rompantes. Já não sabemos em quem acre- ditar e quanto do que nos chega é fruto de uma com- posição de algoritmos que vomitam um pouco mais do mesmo diante de nós, dando-nos exatamente o que queremos ouvir, o que nos enraivece para responder rápido e ríspido. Responder sem pensar e sem orar, alimentando um círculo no qual “manter a peteca no ar” gera raiva, cansaço, descrédito e uma enorme fal- ta de confiança no outro e na sociedade em que vive- mos e convivemos. Nestes nossos tempos convulsos e agressivos, está difícil não deixar a peteca cair. E, em resignação, muitas vezes vivemos na desesperança. A fé cristã nos ensina que em nenhum momento estamos sozinhos e que não há lugar nem tempo al- gum no qual Deus não se faça presente e não nos per- gunte, como fez ao cego Bartimeu: “O que você quer que eu lhe faça?” (Mc 10.51). A fé cristã ensina que, em Deus, encontramos um fundamento para a vida, que nos ensina a viver no presente, seja em meio a dores, na esperança pelo futuro – um futuro em Deus, que já marca o nosso presente com Deus. A fé cristã nos ensina, ainda, que somos vocacionados a viver a “ra- zão da esperança” que há em nós (1Pe 3.15) na arena pública e privada, a fim de sermos identificados como testemunhas do Jesus que nos ensinou a viver em cada um desses ambientes na perspectiva da prioridade e essencialidade do reino de Deus (Mt 6.33). Esta edição de Ultimato aponta para diferentes as- pectos da esperança em Cristo, que querem e podem orientar e reorientar a nossa vida. Eu também quis refletir sobre a esperança, mas acabei falando muito mais de uma mulher que se chamava Isolde, que foi a minha mãe. É que ela foi alguém que me ensinou a viver a esperança em meio às dores e como morrer na esperança do eterno. Acredito que o testemunho dela valeu para mim e pode valer para você, caro leitor. E assim termino, na oração de que “o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz por crerem nele, para que vocês transbordem na esperança e no poder do Espírito Santo” (Rm 15.13). Não deixem a peteca cair! Valdir Steuernagel é pastor luterano, membro da Comunidade do Redentor, em Curitiba, PR, e embaixador da Aliança Cristã Evangélica Brasileira e da Visão Mundial. @silva.steuernagel. Desde o Antigo Testamento, Jesus é a pessoa-chave, o grande esperado, a reluzente esperança. Elben César A igreja nunca poderá deixar de confessar e professar, à luz das Escrituras, o mistério que é o centro estruturante da nossa fé: Cristo ressuscitou! Sem que esta verdade seja proclamada e ensinada, crida, vivida e celebrada, não há cristianismo autêntico, não há evangelho poderoso, não há esperança que se imponha ao caos do mundo. Luiz Fernando dos Santos Quanto à esperança, o Senhor Jesus nos aguarda. A morte não é o nosso fim. É, na verdade, um fascinante recomeço. A fé nos enche de esperança de algo fantástico que confere significado à vida, à morte e à história: Cristo nos aguarda! Ronaldo Lidório Toda dor é por enquanto A tua alegria, daqui até o fim E eternamente A alegria verá meu rosto sem lágrimas Verá raiar o dia que Jesus Cristo irá voltar Nas alturas Com os seus anjos E as trombetas anunciando Marcos Almeida Porque ele vive, posso crer no amanhã Porque ele vive, temor não há Mas eu bem sei, eu sei, que a minha vida Está nas mãos do meu Jesus, que vivo está Vários autores 21Março/Abril 2025 • ULTIMATO ESPERANÇA MESCLADA COM TRISTEZA Klênia Fassoni Embora esperança e alegria muitas vezes andem juntas, a esperança cristã não é promessa de feli- cidade. A lista das pessoas que esperaram o cum- primento das promessas de Deus, feita pelo autor de Hebreus, é desanimadora nesse sentido (Hb 11). Na recomendação que Paulo dá aos romanos – “Alegrem-se na esperança, tenham paciência na tribulação e perseverem na oração” (Rm 12.12) – ele pressupõe sofrimento, lutas e tristeza. À medida que crescemos no conhecimento de Deus e de sua obra, vemos com mais clareza a distância que há entre o que Deus deseja e a reali- dade – as coisas que hoje cortam o coração de Deus devem cortar também o nosso coração. Nós nos entristecemos nas ocasiões em que Deus pode parecer au- sente: “Ele se escondeu do seu povo, mas eu confio nele e nele ponho a minha esperança” (Is 8.17). A nossa esperança é mesclada com tristeza, porque ela é do tipo “ainda que” [Hc 3.17-19; Sl 23.4]. Além disso, a condição inata da humanida- de caída é de precariedade, até que sejamos com- pletamente restaurados. As lutas sem trégua nos trazem cansaço e somos tentados a desistir da es- perança: “Os meus olhos estão cansados de tanto olhar, esperando que me salves e assim cumpras a tua promessa” (Sl 119.123). Amanda Opelt, em seu artigo Ainda que a figueira não floresça, no Ano Novo eu me alegra- rei no Senhor,1 sugere que abraçar a infelicidade depura a nossa esperança: Acredito que a infelicidade pode iluminar nossa vida, oferecendo-nos sabedoria e clareza sem igual. […] às vezes, é a maneira de Deus nos lembrar do que é bom e verdadeiro – de como as coisas deve- riam ser em nosso mundo. [...] A tristeza faz parte da condição humana. A inquietação é uma resposta apropriada, até mesmo justa, ao que está quebrado. [...] estamos vivendo após a Queda. A existência sempre pareceráuma frase incompleta, uma fome que nunca é totalmente satisfeita, até que Cristo volte em glória e inaugure a sua nova criação. [...] E mesmo que sua dor seja como uma pedra em seu sapato, ela é tão sagrada quanto qualquer mo- mento de felicidade que você possa viver. Ela pode até servir como um lamento pela condição caída do mundo. Nota 1. Ainda que a figueira não floresça, no Ano Novo eu me alegra- rei no Senhor. Disponível em bit.ly/412-capa-ainda-que. A INFELICIDADE PODE ILUMINAR NOSSA VIDA, OFERECENDO-NOS SABEDORIA E CLAREZA SEM IGUAL Ad ob e St oc k MATÉRIA DE CAPA Nossa esperança repousa no fato de que, desde agora, Cristo está assentado em seu trono fazendo novas todas as coisas. Ele é o alfa e o ômega, o princípio e o fim. As chaves da história estão em suas mãos e ele a conduz com sabedoria, graça e triunfo. Luiz Fernando dos Santos 22 ULTIMATO • Março/Abril 2025 TEMOS ESPERANÇA PORQUE SABEMOS Guilherme de Carvalho O tempo é próprio para assuntos pascais, começando pelo problema da relação entre esperança e felicida- de: o filósofo ateu André Comte-Sponville admite que, de fato, ateísmo é desespero, mas que isso não im- pede a felicidade. O que impede a felicidade é depender dos outros – especialmente um outro que “não existe”, ou seja, Deus. Dos valiosos insights de Comte-Sponville, penso que o melhor é sua percepção de que esperança e fe- licidade têm um tipo de relação interna. É tão forte a amarração, que o filósofo precisa cortar a corda, para que a sua felicidade não afunde com seu desespero. Quanto ao sucesso dessa operação, duvido; parece- -me mero paliativo. Sem Deus, não há esperança, e a fe- licidade que se obtém daí é um arremedo, em parte por- que dependerá de sermos menos realistas sobre o lado infernal da existência neste mundo, e em parte porque precisaremos nos desapegar do seu lado celestial. Porque sabemos Se Deus não existe, não há esperança; e assim, para o ateísta, o assunto estaria encerrado. Estaria em outro mundo, porque, neste, existe a Páscoa e sabemos que Cristo ressuscitou dos mortos. Nem todos sabem, con- cedo; mas muita gente sabe, quase meio mundo! Nós, cristãos, sabemos. Esse é um conhecimento coletivo, possuído pela igreja, que tinha desde o princípio a aguda consciência da inutilidade de sua piedade sem a ressurreição de Cristo: “Mas se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é inútil e tam- bém a vossa fé…” (1Co 15.13-20). André Comte-Sponville, nosso ateu honesto, é tam- bém admirador de Agostinho e de Paulo, autor do hino imortal sobre o amor na primeira Carta aos Coríntios. Mas Paulo, não menos honesto que Comte-Sponville, admitiu que, sem a ressurreição, a pregação e a fé seriam inúteis, os pecados seriam imperdoáveis, os mortos es- tariam perdidos e seríamos todos, enfim, miseráveis. Mas, sobretudo, ele mesmo e todas as outras testemu- nhas de Cristo seriam fraudes, falsificações. A fé não seria só erro; seria farsa. Mas Paulo não estava para tra- quinagens religiosas; selou o seu testemunho com a pró- pria vida e o próprio sangue, como o fizeram inúmeros mártires da primeira geração do cristianismo. Certamente é possível descer a discussões técni- cas sobre a confiabilidade histórica desse testemunho, como o especial esclarecimento sobre a factualidade e o significado da ressurreição de Cristo no trabalho magistral do biblista N. T. Wright sobre a evidência bíblica e histórica: [...] Eu concluo que o historiador, de qualquer persuasão, não tem opção a não ser afirmar tanto o túmulo vazio quanto os ‘encontros’ com Jesus como ‘eventos’ históricos em todos os sentidos que nós esboçamos no capítulo 1: eles tomaram lugar como eventos reais; eles foram eventos significantes; eles são, no sentido normal requerido pelos historiadores, eventos comprováveis; historiadores podem e devem escrever sobre eles. Nós não podemos explicar o cristianismo primitivo sem eles.1 Porém, acima de tudo, é preciso compreender a verdadeira fonte da fé da igreja na ressurreição: a visão do próprio Cristo ressurreto e o compromisso dessas testemunhas oculares. A cola que prega as páginas do evangelho na mente e no corpo dos cristãos é o sangue coagulado dessas testemunhas, forçando a igreja, pelos séculos dos séculos, ao dever intelectual e moral de crer. O conhecimento do fato da ressurreição, e do próprio Cristo ressurreto, é um saber factual, mas também re- lacional e comunitário. A igreja sabe, o Espírito Santo derramando em Pentecostes aviva a sua memória e a faz Fr ee pi k 23Março/Abril 2025 • ULTIMATO saber continuamente, e por isso também nós, cristãos protestantes, católicos e ortodoxos, igualmente sabemos. Sabemos como uma grande árvore, na qual os ra- mos mais novos e mesmo as folhinhas verdes recebem uma seiva rica, atravessando galhos que se unem a um largo tronco, apoiado em raízes que o observador ex- terno não consegue ver. Mas a árvore está aí; uma árvo- re de séculos, uma vida transmitida sem interrupção, um cântico que nunca cessou de ser cantado. Mais do que um palpite Naturalmente, o crer em Deus é um fenômeno mais comum, e algo mais amplo do que a afirmação da ressurreição de Cristo, mas a ressurreição modifica e consolida essa fé de tal modo que a natureza do deba- te com o ateísmo desesperado é totalmente alterada. Afinal, até mesmo a crença na existência de Deus não nos daria ainda qualquer segurança sobre o futuro, e seguiríamos dependentes do tipo de futuro que se- ríamos capazes de produzir agora. No entanto, saber que Cristo ressuscitou tira a discussão do campo do otimismo, do palpite ou da aposta. Em resultado, isso produz a experiência que, segundo Comte-Sponville, só pode ser produzida por um presentismo desespe- rado: a alegria. É verdade que a esperança tem de aguardar, e que sua herança ainda não pode ser possuída; e é verdade que o tempo presente é o tempo de muitas aflições, que provam a nossa fé. O ateísta para por aqui, mas essa é só metade da histó- ria: a ressurreição, que é um fato passado, não nos deu um palpite, mas um conhecimento sobre o nos- so futuro. Esse saber nos faz exultar de alegria hoje, como um gozo antecipatório, como diz Pedro: “Pois, sem tê-lo visto, vós o amais e, sem vê-lo agora, cren- do, exultais com alegria inexprimível e cheia de glória, alcançando o objetivo da vossa fé, a salvação da vossa alma” (1Pe 1.3-9). Eu me lembro de quando a enorme caixa de pre- sente foi posta sob a árvore de Natal com o meu nome. Eu não podia abri-la; teria de esperar mais de um mês! Mas, em minha alegre agonia, eu sabia que o presente era meu, e que desfrutá-lo seria uma questão de tempo. Qualquer criança que tenha pais de verdade sabe que a esperança não depende apenas do que podemos al- cançar por nós mesmos. A desesperança é uma dor de crianças solitárias. Pois, se Cristo ressuscitou, não estamos sozinhos; o nosso presente se enche com a memória passada desse milagre, e com a antecipação estonteante da nossa pró- pria ressurreição, até o ponto de transbordar de alegria. Comte-Sponville – e Agostinho, antes dele – está certo: o que temos agora é apenas o presente; mas o presente dos cristãos é enorme, vasto como o universo; o alfa-e- -ômega o preenche e o alarga com o seu passado e o seu futuro, fazendo caber nele a eternidade! Não nego que seja possível um tipo precário de felicidade no desespero; mas, como disse C. S. Lewis, é a felicidade de crianças ignorantes, brincando com castelos de lama no meio da sujeira e dispensando o convite de um feriado na praia. Essa alegria tem, assim, um caráter inteligente; re- sulta de um ato de julgamento racional, de uma cons- tatação a respeito do futuro e da confiabilidade de Deus: “Mas, na verdade, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele o primeiro entre os que faleceram”