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TEORIA DA IMAGEM Rafaela Queiroz Ferreira CordeiroRevisão técnica: Deivison Campos Bacharel em Filosofia Mestre em Sociologia da Educação NAO AUTORIZADA DR DIREITOS DIREITO T314 Teoria da imagem / Rafaela Queiroz Ferreira Cordeiro... [et al.] ; [revisão técnica: Deivison Campos]. - Porto Alegre : SAGAH, 2018. 240 p. il. 22,5 cm ISBN 978-85-9502-320-8 1. Jornalismo. I. Cordeiro, Rafaela Queiroz Ferreira. CDU 070 Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB 10/2147Funções da imagem e descoberta do visual Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a imagem como linguagem e discurso. Elencar os elementos básicos que compõem a imagem. Identificar funções da imagem. Introdução Uma das características comunicacionais marcantes da sociedade atual é uso abundante de imagens. Ora, você vive na sociedade mediada pelo imperativo da imagem, na qual todos de alguma forma acabam por "se mostrar" por numerosos discursos visuais. Você precisa, assim, diante dessa profunda imersão no universo visual, compreender a imagem como linguagem e discurso dotado de heterogeneidade e valor próprio. Embora a leitura de uma imagem pareça ser à primeira vista fácil, é importante você saber que as imagens não somente informam e municam. Elas representam mundo e a relação das pessoas com a "realidade" de inúmeras formas. Desse modo, compreender alguns dos elementos básicos e das funções da imagem é fundamental para uma leitura crítica do visual. Neste texto, você vai reconhecer a imagem como linguagem e discurso. Também vai estudar os elementos básicos que compõem a imagem e identificar algumas das funções relacionadas a ela. A imagem como linguagem e discurso Você vive numa sociedade da imagem; ou, pelo menos, cada vez mais da ordem da imagem. Tudo e todos querem se mostrar, se expor, se apresentar em uma coletânea de discursos imagísticos. Isso ocorre muitas vezes porque198 Funções da imagem e descoberta do visual a imagem parece dizer e expressar tudo por "si só". Mas essa noção é um engano. A imagem, assim como a escrita, é composta por linguagens que apresentam especificidades e, por isso, têm valor próprio (LENCASTRE; CHAVES, 2007). Essas linguagens podem ser empregadas conjuntamente uma em direção à outra, como uma legenda que acompanha uma fotografia e frequentemente o são. Contudo, você deve compreender a imagem como uma linguagem específica. Ora, o que a imagem informa e comunica, isto é, representa se dá por meio de recursos visuais como cores, tons, ângulos, posições dos atores, deslocamentos de objetos, sombreados, margeação, etc. Esses recursos, por sua vez, nem sempre são empregados em outras formas de linguagem, como pela escrita cotidiana. Tais elementos poucas vezes são tão facilmente compreendidos, embora pareçam o ser. Assim, não é só porque a imagem "fala com a sua visão", chamando facilmente a sua atenção, que ela deve ser lida como um texto claro, pronto e que diz tudo "mostrar". Ler uma imagem exige uma análise da sua especificidade como linguagem e discurso, pois ela é, assim como o discurso verbal, parcial, textual e um corte no tempo e no espaço. Ela também não deve ser definida em oposição à linguagem verbal, uma vez que a distinção entre verbal e não verbal pouco ajuda a situar o uso interativo de ambas. A esse respeito, você deve saber ainda que a linguagem escrita, como a scriptovisual, pode fazer e faz, em abundância, no universo social das redes uso de muitos desses recursos. Ora, quantas vezes você se depara com manchetes jornalísticas na cor vermelha? Apesar de essa pergunta ser simples, a resposta a ela já dá pistas de que muito provavelmente a notícia ou a matéria referida faz parte do universo do crime. Ou, caso não faça, há uma analogia possível a se inferir pelo uso da cor. Tudo isso só comprova a necessidade de um aprendizado, um ensino que se volte para a imagem. Para aprender a ler o texto escrito, desde pequeno você é convidado a ser alfabetizado, isto é, a ler e a escrever de forma "consciente". É preciso, assim, instituir práticas de alfabetização que incluam a imagem, como as que foram sócio-historicamente inseridas quanto à necessidade e à importância de ler um discurso verbal. Portanto, é imperativo também saber ler a imagem como uma linguagem para entender como funciona e o que representa. As pessoas levam anos para aprender a ler e a escrever, bem como para desenvolver uma leitura e uma escrita funcionalmente críticas. Com a imagem, isso não é diferente. Estudá- -la é dilatar o seu olhar sobre o mundo, sobre a análise da informação e da comunicação. Além disso, e não menos importante, é compreender que um discurso pode reunir vários sentidos.Funções da imagem e descoberta do visual 199 Saiba mais Cloutier (1975 apud LENCASTRE; CHAVES, 2007) propõe uso da expressão audios- criptovisual para evitar a comum confusão entre linguagem e media, e também a distinção entre linguagem escrita e linguagem audiovisual. Na sua perspectiva, há as linguagens de base tais como a auditiva e a visual, que são caracterizadas como naturais, e ainda a scripto. Esta última se relaciona ao mundo da "significação" e às suas associações, chamadas pelo teórico de sintéticas ou compostas, tais como a audiovisual, a scriptovisual e a audioscriptovisual. Tal como concebe (1975 apud CHAVES, 2007), a linguagem de áudio é percebida pelo ouvido. Ela é temporal, pois se desenvolve ao longo do tempo, e linear, uma vez que cada som é percebido em cadeia, associado a outro anterior. Quando é produzida, é escutada simultaneamente, embora possa ser conservada ao longo do tempo por meio da gravação. Já a linguagem scripto é percebida pela visão. Ela é caracterizada como híbrida e linear, pois, além de se desenvolver ao longo do tempo, som é representado pela grafia. Ademais, a escrita constitui um conjunto de símbolos arbitrários, os quais só têm sentido para os sujeitos que compartilham uma língua específica. A linguagem visual, como é sabido, destina-se a ser percebida também pela visão. Os objetos do mundo são representados espacialmente em três dimensões, desse modo ela é espacial e global. Seja por meio da representação do objeto (a imagem), seja por meio do próprio objeto, você percebe a partir de formas, luzes, cores, linhas, movimentos, perspectivas, etc. Quanto às linguagens tidas como compostas, Cloutier (1975 apud CHAVES, 2007) afirma que elas se originam da fusão de linguagens de base e dão origem a uma forma de comunicação nova. A partir do que expõe autor, é possível resumir essas linguagens da seguinte forma: (i) a audiovisual diz respeito à comunicação que é percebida pela visão e pela audição; (ii) a scriptovisual se refere aos modos de comunicação gráfica cuja palavra se funde com a imagem; e (iii) a audioscriptovisual se constitui como uma comunicação cujas diversas linguagens estão "aglutinadas". Neste último caso, destaca-se a própria atividade humana da comunicação, a qual se dá nas quatro dimensões básicas que abarcam O espaço-tempo (altura, largura, profundidade e tempo). A ideia é que você não encare essa identificação como um operador restritivo e fechado. Você pode ver essa mesma classificação como uma forma de ajudá-lo a pensar sobre a diversidade de linguagens humanas possíveis, e não como um arcabouço teórico fechado e predeterminado. A imagem como discurso, o discurso como imagem Além de observar a imagem como linguagem, dotada de um valor específico, você precisa compreendê-la como discurso. Bakhtin (2003), Bakhtin e Volochi- nov (2006) são teóricos russos que estudaram o funcionamento da linguagem.200 Funções da imagem e descoberta do visual As reflexões deles permitem entender a imagem, assim como o verbal, como um enunciado, um discurso, um texto. Dito de outro modo, tanto a linguagem visual como a linguagem verbal têm um papel fundamental na produção dos efeitos de sentido do que está sendo representado. Esse é um ponto de vista importante a ser considerado pelos estudos da imagem. Em Brait (2013), é possível encontrar uma excelente discussão sobre a contribuição dos estudos de Bakhtin e do dito "Círculo" para o desenvol- vimento de uma teoria geral da linguagem e do discurso. Nesse sentido, os estudiosos russos trabalham com os enunciados situados no contexto, anco- rados socialmente e em relações dialógicas. Os sentidos do discurso visual, os quais parecem estar postos na imagem, são construídos no momento em que esse discurso é lido/visto. Além disso, como a linguagem verbal e oral, esse discurso é social e carrega valores ideológicos, os quais variam conforme os participantes envolvidos e a situacionalidade comunicativa. Algumas das reflexões elaboradas pelos teóricos, de grande importância para a cultura visual (BRAIT, 2013), se destacam. Uma delas é a do signo enquanto materialidade ideológica seja uma palavra, seja uma mímica, seja uma imagem, todas são ideológicas. Também há a reflexão sobre a relação existente entre signo e consciência não há como se pensar senão por meio de signos. Existe ainda o debate quanto às noções que unem o campo ético ao estético como a importante conceituação sobre a imagem exterior, o processo criativo, a atividade criadora, o autor/herói-personagem e o excedente de visão do autor entre muitos outros. Elementos da imagem Para ampliar a sua compreensão da imagem como linguagem, você deve identificar quais elementos visuais são importantes na construção dessa ima- gem. A esse respeito, é possível partir da discussão elaborada por Lencastre e Chaves (2007). Retomando Dondis (1999 apud LENCASTRE; CHAVES, 2007), esses dois estudiosos indicam o ponto, a linha, a forma, a direção, o tom, a cor, a textura, a escala, a dimensão e o movimento como alguns dos elementos essenciais para construir as formas visuais. Villafañe (1985 apud LENCASTRE; CHAVES, 2007) acrescenta a essa perspectiva mais outros elementos e os reúne em três grandes grupos, que são os (1) morfológicos, (2) dinâmicos e (3) escalares. primeiro e o segundo se caracterizam pela natureza qualitativa dos elementos; o terceiro, pela natureza quantitativa e relacional dos elementos.Funções da imagem e descoberta do visual 201 Elementos morfológicos Desse primeiro grupo fazem parte o ponto, a linha, o plano, a textura, a cor, a forma e o tom. Tais elementos apresentam a característica de espacialidade e, assim, compreendem a estrutura do espaço. ponto, por exemplo, é o ícone mais simples da comunicação visual, conforme explicam os autores supracitados. Ele pode ser representado de forma bem diversificada, desde um pequeno círculo a uma representação próxima do quadrado. Já a linha (Figura 1) se dá quando os pontos estão muito perto um do outro. Esta pode ser caracterizada também como um ponto em movimento. Uma vez que é formada por pontos, também pode ser representada em inúmeras formas, estilos e expressões - de nítida à sombreada. plano tem um aspecto especialmente espacial, como você talvez já tenha imaginado. Ele corresponde à superfície - com duas linhas horizontais e verticais - em que se organiza a representação da imagem. Figura 1. A partir do ponto, há numerosas possibilidades de se constituir uma linha. E, assim, você pode indagar: o que ela representa? Há aquela frenética, a que se assemelha a uma onda, a bem fina, a torneada e grossa, a tracejada, a pontilhada, a generosamente marcada, a sombreada e a quase imperceptível. Fonte: Vdant85/Shutterstock.com.202 Funções da imagem e descoberta do visual Há ainda a textura, que funciona como um substituto do tato. Ela se dá quando o traço sobre o plano se constitui em uma repetição ou progressão sistemática. Dependendo da forma em que o traço for elaborado no plano seja em tracejado, seja em pontilhado, por exemplo a textura é um elemento importante para indicar o relevo atribuído a certos objetos (atores) nas imagens. Já a cor é um elemento bem interessante. Ela se dá por meio de uma excitação das "[...] células fotorreceptoras da retina [...]" (LENCASTRE; CHAVES, 2007, p. 1.167), pois as cores não existem. Ou, ainda, não há cor nas coisas. Quando você vê as cores e as identifica, tal coloração diz respeito ao reflexo da luz que incidiu sobre o objeto. Desse modo, quando você vê um vestido vermelho, o que realmente observa é o reflexo de ondas vermelhas e a absorção de ondas de outras cores. Você pode também observar que o vestido da cor vermelha compreende uma coloração quente, a qual se opõe àquelas de propriedades frias - tais como o azul e o verde (LENCASTRE; CHAVES, 2007). Portanto, as cores são fundamentais na leitura de uma imagem, podendo ainda, a partir da mistura, da conjunção entre elas e da forma como são apre- sentadas numa peça imagística por trás, do lado, na diagonal, pela frente, etc. representar distintos sentidos. Além disso, em diversas culturas, as cores apresentam valores simbólicos. Isso é importante para a compreensão da imagem. Além da cor, há ainda dois elementos importantes: a forma e o tom. Você pode compreender a forma como articulada ou construída pela linha. É a linha que constitui a forma da imagem. Já o tom constitui a intensidade da luz que incide sobre o objeto, pois aquela não se dá de maneira uniforme e contínua ao longo do objeto em determinado espaço. Logo, as gradações de luz e de tom em um espaço, que podem ser várias, são informações que auxiliam você a diferenciar a composição visual de uma imagem (LENCAS- TRE; CHAVES, 2007). Elementos dinâmicos Nesse segundo grupo, você encontra os elementos relacionados à dinamici- dade da imagem. São eles: o movimento, a tensão, o ritmo e a direção (LEN- CASTRE; CHAVES, 2007). É interessante refletir sobre tal explanação pelo seguinte: se a imagem constitui um corte do "real", do que está se realizando em um momento e um espaço únicos, essa imagem será estruturalmente uma representação que foi "retirada" da dinamicidade e da organicidade da vida, não é mesmo? No entanto, a reflexão sobre esses elementos dinâmicos não parece ser tão simples assim. Afinal, uma imagem aparentemente fixa pode apresentar dinamicidade, por exemplo. Imagine uma foto de um casal retirada no dia do seu casamento. Em tal imagem, há apenas os dois a seFunções da imagem e descoberta do visual 203 beijarem no plano principal. O olhar de um em direção ao outro e a projeção da boca a ser tocada pelo outro podem representar o movimento de um parceiro indo de encontro ao outro para beijar, a direção em que o beijo se dará (mais para cima do queixo, mais para baixo do nariz, mais perto do canto do lábio inferior direito ou esquerdo, etc.), o ritmo do beijo (um beijo calmo, apressado, vagaroso, veloz, excitante, etc.) e a tensão entre o casal no momento desse encontro íntimo a ser registrado pelo São muitas as possibilidades de significar essa mesma imagem que aparenta ser "estática", mas é constitutivamente viva e dinâmica. Conforme Lencastre e Chaves (2007), o movimento constitui uma das formas de construir ilusão em uma imagem "fixa". Isso pode se dar quando tenta-se fotografar um objeto a certas velocidade e distância durante um período de tempo, como um carro numa estrada rodeado de outros veículos. Ao se fazer isso, foca-se no objeto principal (o carro) e os outros aparecem com um efeito de arraste (os veículos ao redor). Quanto à tensão, ela pode ser obtida por meio de proporções, orientações, oposição entre cores e ainda profundidade. Já o ritmo é naturalmente dinâmico, no sentido de sua própria estrutura e repetição de elementos. Por fim, há a direção, a qual pode ser horizontal, vertical, oblíqua, curva, etc. Seja qual for, cada uma tem um sentido muito importante para a interpretação de imagens. Por exemplo, as noções de direção horizontal e vertical estão relacionadas à estabilidade visual, em virtude da referência primária que o homem tem desses conceitos. A diagonal já apresenta um sentido contrário ao daquelas noções, isto é, de instabilidade, inconstância. E há ainda a direcionalidade curva, a qual diz respeito à "abrangência e repetição" dos objetos representados nas imagens (DONDIS, 1999 apud LENCASTRE; CHAVES, 2007). Elementos escalares Nesse terceiro grupo, você encontra os seguintes elementos: escala, proporção, formato e dimensão. Eles dizem respeito à caracterização quantitativa da representação da imagem. Embora nem sempre sejam valorizados, conforme explicam Lencastre e Chaves (2007), ao se fazer uma análise da comunicação visual observa-se também a sua natureza relacional: na escala, há uma relação entre a imagem e o real; na proporção, entre as partes com o todo da obra; no formato, entre a verticalidade e a horizontalidade; e na dimensão, entre o tamanho da imagem e a sua legibilidade. De maneira geral, a escala é uma noção que possibilita aumentar ou di- minuir o objeto sem modificar substancialmente as propriedades estruturais204 Funções da imagem e descoberta do visual do que está sendo representado na realidade. Como é o caso das plantas de uma casa ou de mapas, a escala é fundamental para se construir uma relação adequada e, para isso, tomam-se como referência sistemas de escalas específicas entre a imagem e a realidade alcançada. Já a proporção diz respeito a "[...] uma relação entre as partes de uma grandeza [...]" (LEN- CASTRE; CHAVES, 2007, p. 1.169). A importância desse conceito se dá em virtude também de outro que você já conheceu, que é o ritmo: uma vez que a proporcionalidade considera a composição, o arranjo e a organização entre seus elementos e o todo, essa noção auxilia na ordenação interna da representação, seja na estruturação ou na repetição (ou não) de informações visuais e aqui se encontra a sua correlação com o ritmo. Saiba mais Os gregos usavam uma escala bastante conhecida até os dias de hoje: a chamada seção áurea. A razão áurea ou razão de ouro é um número especial que foi encontrado dividindo-se a linha em duas partes. A parte mais longa dividida pela parte menor é também igual a todo comprimento dividido pela parte mais longa. Essa razão é comumente simbolizada pelo número phi após a vigésima primeira letra do alfabeto grego. Empregada no desenho de plantas e templos, a razão áurea ficou famosa por cons- truir a noção de simetria matemática do que se considerava belo. Conforme explica Hom (2013), em 1509 matemático italiano Luca Pacioli (1447-1517), colaborador de Leonardo Da Vinci (1452-1519), escreveu um livro em que se referia ao número como a "proporção divina". Tal proporção foi retomada e ilustrada por Da Vinci (1452-1519) na sua famosa ilustração chamada Homem de Além de Da Vinci, artistas famosos como Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (1475-1564), Raffaello Sanzio da Urbino (1483-1520), mais conhecido como Raphael, Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669), Georges-Pierre Seurat (1859-1891) e Salvador Dalí (1904-1989) fizeram uso dessa Fonte: Hom (2013), Lencastre e Chaves (2007). Sobre o formato, essa noção se refere à proporção entre os lados da imagem. Embora o formato possa ser redondo, triangular, oval, etc., muitas das imagens são compostas basicamente entre os lados vertical e horizontal, uma vez que esse é um dos formatos mais usados. Por fim, há a dimensão. Essa noção, também chamada de tamanho relativo, se relaciona à profundidade da imagem, uma vez que, quando os objetos são representados numa maior dimensão, estesFunções da imagem e descoberta do visual 205 estão necessariamente mais próximos do olho humano. Assim, no processo de constituição da imagem, a dimensão apresenta traços da profundidade, organiza os elementos que fazem parte da composição imagística e, ao organizá-los, confere maior peso a algumas informações visuais em detrimento de outras (LENCASTRE; CHAVES, 2007). Por fim, embora tais elementos supracitados apresentem maior importância plástica quando a imagem é também um ícone, todos são pontos de partida fundamentais para você elaborar uma compreensão crítica sobre a linguagem visual. Funções da imagem Quando você pensa em imagens, provavelmente vem à sua mente uma questão em especial, que diz respeito ao uso ou à utilidade da imagem. Ora, para que serve uma imagem? Conforme Aumont (2002), as funções da imagem têm sido as mesmas de todas as produções humanas realizadas ao longo da história. Essas funções envolvem estabelecer uma relação com o mundo. Há, no entanto, três modos principais de se trabalhar essa relação, que são: o (1) modo simbólico, o (2) modo epistêmico e o (3) modo estético. o modo simbólico Segundo explica Aumont (2002), no início as imagens apresentavam uma forte relação com a esfera do sagrado. Como símbolos religiosos, tais ícones - uma vez que boa parte das imagens se caracterizava dessa forma - tinham como efeito sugerir o divino ou aproximá-lo do indivíduo por meio de uma manifestação dessa mesma presença divina. As primeiras esculturas gregas, por exemplo, eram ídolos que foram produzidos e venerados como formas de manifestações das divindades. Assim como Zeus representou a máxima divin- dade grega masculina, Buda e Jesus Cristo também são exemplos de imagens iconográficas religiosas. Além delas, há algumas imagens que apresentam um simbolismo religioso - sem uma necessária relação de iconografia , tal como a cruz e a suástica hindu. Há, contudo, outras formas de manifestar a função simbólica para além do modo religioso: valores ideológicos como a liberdade, a democracia, o progresso, entre outros, são representados também por meio de símbolos imagísticos.206 Funções da imagem e descoberta do visual Fique atento A palavra iconografia tem origem na união de dois termos gregos que são eikon (imagem) e grafia (escrita), os quais significam de forma literal a escrita da imagem. De maneira geral, a iconografia diz respeito aos estudos de vários tipos de imagens, tais como estátuas, pinturas, gravuras, retratos, ilustrações, etc. Entretanto, até século XVI, a iconografia abrangia somente imagens relacionadas ao contexto religioso, tais como esculturas e pinturas de anjos, santos e Jesus Cristo. Inclusive, surgimento da própria expressão ícone veio da relação implícita entre a imagem e sagrado. No Brasil, a iconografia tem por objetivo analisar a construção do país antes do seu descobrimento. Afinal, os índios produziram pinturas e esculturas que são de importância fundamental para compreender os costumes, os hábitos e as tradições que influenciaram a constituição do País. Fonte: Significados (c2011-2018). o modo epistêmico A função epistêmica está relacionada ao conhecimento (o termo episteme também vem do grego). Essa função se dá uma vez que as imagens veiculam informações sobre os objetos, as pessoas, o mundo, as culturas, as relações sociais e históricas, etc. Essa função também foi atribuída desde cedo: as imagens ao longo da história representam as "realidades" e, ao fazer isso, nos informam, por meio de numerosas maneiras sempre parciais, a geografia de uma região (um mapa, por exemplo), o ponto turístico de uma cidade (um cartão postal, por exemplo), o número de uma conta bancária (um cartão do banco, por exemplo), o tipo de uma planta (um pôster botânico, por exemplo), uma espécie animal (uma cartilha da medicina veterinária, por exemplo), etc. Há muitos tipos de imagens e, desse modo, existem muitas maneiras de levar o conhecimento e construí-lo com as pessoas (AUMONT, 2002). Desde os manuscritos da Idade Média, essa função já estava relacionada às imagens. A partir das eras moderna e pós-moderna, tal modo passou a ser cada vez mais ampliado e desenvolvido. Isso ocorre principalmente com os gêneros paisagem e retrato fotográfico, conforme explica Aumont (2002). o modo estético Por último, mas não menos importante, a imagem tem a função de agradar ao público, de oferecer sensações específicas. Essa modalidade é tambémFunções da imagem e descoberta do visual 207 antiga. Apesar disso, se acredita que o sentimento estético do espectador diante da obra de arte tenha variado, isto é, tenha sido elaborado de forma diferente ao longo do tempo e da história. Atualmente, contudo, essa função parece ser preponderante e da contemplação da obra de arte (AUMONT, 2002). É comum as pessoas pensarem que a arte pertence ao domínio oposto ao da ciência e que, desse modo, a experiência estética não pode ser reduzida, expressa ou trazida pelo verbal. Isso leva a um movimento de exaltação da complexidade artística, como se houvesse uma tentativa de explicar que no estético existe uma necessidade de reafirmar e preservar o seu segredo, o seu mistério, o seu tom complexo (JOLY, 2007). Tal análise, assim, tenta inter- rogar o artista e o seu imaginário. É muito como consequência dessa via que se passou, historicamente, a valorizar o mundo artístico, a sua criatividade e o caráter genial do artista. Além disso, se passou a considerar o nome do sujeito por trás da obra de arte, o qual adquire um estatuto de importância na contemplação, na leitura e na análise de uma imagem. Dentro dessa abordagem, há uma discussão crucial que leva ao que você viu no início do capítulo: o debate sobre a necessidade de compreender a imagem como uma linguagem própria para melhor compreender o visual. hábito adquirido por meio da aprendizagem sobre o verbal, o visual e o verbovisual não aniquila ou rompe com o modo estético gerado pela arte, como alguns poderiam pensar. Segundo Joly (2007, p. 52), a prática pode, com o tempo, estimular e aumentar a fruição estética, aguçando os sentidos, os quais passam a ir além de uma leitura inicialmente espontânea. Além de proporcionar o acesso a mais informações sobre o universo do imagístico, a análise constitui um passo importante ao interagir com os numerosos tipos de obras visuais. Assim, auxilia na compreensão e também no prazer quando se estabelece contato com esses outros universos representados imagisticamente.208 Funções da imagem e descoberta do visual Saiba mais Uma das funções primordiais atribuídas à imagem é a pedagógica, conforme explica Joly (2007). Embora não seja discutida diretamente por Aumont (2002), essa função merece sua atenção. Além de se dar em uma escola ou universidade, isto é, num espaço institucionalizado, ela também pode ocorrer nos meios de comunicação que fazem uso da imagem. Nesses espaços, inclusive, um ensino voltado para a leitura da imagem é fundamental, uma vez que possibilita ferramentas de análise crítica ao que está sendo veiculado como imagem noticiada em termos de "factualidade" pelos media. A imagem, como linguagem específica, com valor próprio e dotada de heterogeneidade, não é a "realidade"; ela é um signo, uma representação valorativa e orientada desse mesmo real. Possibilitar a sua interpretação é, portanto, uma iniciativa ética e de liberdade intelectual. Exercícios 1. Qual das alternativas quantitativa da imagem. a seguir caracteriza b) Os elementos escalares, os quais corretamente a imagem? constituem movimento, a a) A imagem é uma linguagem tensão, ritmo e a direção, estão específica que se opõe à verbal. relacionados à caracterização b) A imagem é uma linguagem quantitativa da imagem. específica e clara, que c) Os elementos dinâmicos, diz e mostra tudo. os quais constituem c) A imagem é um discurso movimento, a tensão, ritmo verbovisual oposto à escrita. e a direção, estão relacionados d) A imagem é um discurso à espacialidade da imagem. que representa um sentido d) Os elementos morfológicos, e uma perspectiva. os quais constituem ponto, a e) A imagem é uma linguagem linha, plano, a textura, a cor, que apresenta especificidade a forma e tom, apresentam a e valor próprio. característica de espacialidade. 2. A respeito dos elementos básicos e) Os elementos escalares, os que constituem a imagem, marque a quais constituem a escala, alternativa correta. a proporção, formato e a a) Os elementos morfológicos, dimensão, estão relacionados os quais constituem ponto, à dinamicidade da imagem. a linha, plano, a textura, a 3. A respeito dos elementos cor, a forma e tom, estão morfológicos que constituem a relacionados à caracterização imagem, marque a alternativa correta.Funções da imagem e descoberta do visual 209 a) A escala, a proporção, horizontal, vertical, formato e a dimensão oblíquo, curvo, etc. constituem os elementos d) A direção, assim como a forma, morfológicos da imagem. tom e a cor, é um elemento b) O ponto, que é um elemento dinâmico básico da imagem. morfológico, constitui e) A tensão, que é um elemento ícone mais complexo da dinâmico, constitui uma comunicação visual. das formas de construir c) O plano, que é um elemento ilusão na imagem fixa. morfológico, corresponde à 5. A respeito dos modos ou superfície em que se organiza funções das imagens, marque a representação da imagem. a alternativa correta. d) A linha, que é um elemento a) O modo simbólico se dá em morfológico, se caracteriza imagens que apresentam como um ponto estático uma relação basicamente e sem movimento. religiosa com a divindade. e) A cor, que é um elemento b) O modo estético diz respeito morfológico, se caracteriza ao conhecimento que é por meio da união de informado e comunicado pelas diversos pontos. imagens para público. 4. A respeito dos elementos dinâmicos c) O modo epistêmico está que constituem a imagem, relacionado ao caráter de marque a alternativa correta. contemplação do público a) São elementos dinâmicos os diante da imagem. seguintes: ponto, a cor, a forma, d) O modo simbólico se dá em movimento, a direção e ritmo. imagens que representam b) O movimento, que é um uma relação ideológica com elemento dinâmico, se os objetos e mundo. dá também em imagens e) O modo epistêmico está fixas e estáticas. relacionado ao caráter c) O ritmo, que é um elemento sagrado das imagens que morfológico, pode ser representam as divindades.210 Funções da imagem e descoberta do visual Referências AUMONT, J. A imagem e seu espectador. In: AUMONT, J.A imagem. 7. ed. Campinas: Papirus, 2002. p. 78-81. BAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso [1952-1953]. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 261-306. BAKHTIN, M. M.; V. 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Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2017. DONDIS, D.A. Sintaxe da linguagem visual. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015.Encerra aqui 0 trecho do livro dispor esta Unidade de Aprendizagem. Na Bi da Instituição, você encontra a obrS a Conteúdo: SOLUÇÕES GaH INTEGRADAS