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KARL MARX Márcia Gardênia de Oliveiro Iania Quintaneiro 0 trabalhador é tanto mais pobre quanto mais produz, quanto mais cresce produção em potência e em volume. 0 trabalhador converte-se numo tanto mais barata quanto mais mercadorias produz. A desvalorização do mundo humano cresce no razão direta da valorização do mundo das coisas. 0 trabalho não apenas produz mercadorias, produz também 0 si mesmo e operário como mercadoria, e justamente proporção em que produz mercadorias em geral. Karl Marx Ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, Karl Marx "A vida e a obra de (1818-1883) integra seleto grupo dos clássicos do Karl Marx estão ligadas pensamento Suas formulações teóricas acerca à de seu amigo e cola- borador Friedrich da vida social, especialmente a análise que faz da sociedade Engels (1820-1895). capitalista, causaram tamanho impacto nos meios intelectuais Juntos escreveram A que, para alguns teóricos, grande parte da sociologia sagrada família, A ocidental tem sido uma tentativa constante de corroborar ideologia e ou de negar as questões por ele levantadas. Mas a relevância manifesto do Partido prática de sua obra não foi menor, servindo de inspiração Comunista, importantes referências na produ- àqueles envolvidos diretamente com a ação política. ção marxista, e assumi-ram compromissos po- Herdeiro do ideário iluminista, Marx acreditava que a líticos condizentes com absolu Razão era não só um instrumento de apreensão da realidade suas propostas. Após a morte de Marx, Engels mas, também, de construção de uma sociedade mais justa, estigm salvos tomou para si a tarefa capaz de possibilitar a realização de todo potencial de fora de organizar os manus- perfectibilidade existente nos indivíduos. Por outro lado, as critos deixados por aconte experiências do desenvolvimento tecnológico e das revolu- aquele, bem como in- infinito ções políticas, que tornaram O Setecentos uma época única, terpretá-los e divulgá- los. Optamos por não alimentaram sua crença no progresso em direção a um "reino fundar lhe dar aqui mesmo da liberdade". tratamento pelo fato de A obra de Marx é, a um só tempo, vasta e complexa. ontolo os principais funda- O texto a seguir não se propõe a acompanhar sua evolução, mentos teóricos que mas visa sintetizar os fundamentos conceituais e metodo- dão coerência ao sis- tema marxista de inter- lógicos da teoria social nela contida. Os temas aqui tratados, pretação terem sido bem como a forma escolhida para abordá-los, foram ditados construídos por Marx. por esse objetivo. 0 DIALÉTICA A moderna idéia de dialética origina-se no idealismo alemão dialétic e, sobretudo, no pensamento de Wilhelm F. Hegel (1770-1831). social O núcleo teórico dessa perspectiva, de difícil compreensão, foi pro representa um verdadeiro cisma face à tradição filosófica até então palavra dominante, a qual pressupunha a existência de um mundo povoado para b de substâncias imutáveis. Na esfera do pensamento lógico, essa visão essencialista se expressa nos princípios clássicos de identidade e Sob esse prisma, movimento passava a ser entendido como mera aparência ou como a consumação de um ciclo inexorável que em nada afetaria verdadeiro ser das coisas. É contra esse naturalismo seguro e estável, ancorado nas profundezas da consciência ocidental, que a dialética hegeliana se de levanta, afirmando a contradição, conflito, como a própria identidade: todo ser é substância da realidade, a qual se supera num processo incessante igual a ele mesmo de negação, conservação e síntese. Os fenômenos contêm em si (A=A). Princípio da um movimento intrínseco, um devir, uma tendência, uma não-contradição: uma coisa não pode ser e inquietação, são prenhes de negação de si, são "o movimento não ser ao mesmo dialético, esse caminho que produz a si mesmo", diz O filósofo tempo. alemão. E, na medida em que O idealismo estabelece uma identidadeque a absoluta entre Ser e eventos históricos, outrora dade estigmatizados pela marca da perecibilidade, podem agora ser justa, salvos do redemoinho do caos e recuperar a dignidade que lhes al de fora negada na velha concepção eleática. Para isto, finito lo, as acontecimento deverá ser apreendido a partir do seu oposto: volu- infinito. Mas, como toda oposição é necessariamente uma relação, nica, entende-se que entre termos antagônicos existe uma unidade reino fundamental, isto é: a definição de qualquer um deles só se toma possível desde seu contrário O qual, ao mesmo tempo, O constitui lexa. Num trecho muito citado, Hegel A opinião não concebe a diversidade dos sistemas filosóficos ados, como progressivo desenvolvimento da verdade, mas na diversidade vê apenas a contradição. botão desaparece no desabrochar da flor, e pode-se dizer que é refutado pela flor. Igualmente, a flor se explica por meio do fruto como um falso existir da planta, e fruto surge em lugar da flor como verdade da planta. Essas formas não apenas se distinguem mas se repelem como incompatíveis entre si. Mas a sua natureza fluida as ao mesmo tempo, momentos da unidade orgânica na qual não "Lembre-se a esse somente não entram em conflito, mas uma existe tão respeito a famosa necessariamente quanto a outra, e é essa igual necessidade que afirmação de Hegel: unicamente constitui a vida do "tudo que é real é racional, e tudo que Aplicada aos fenômenos historicamente produzidos, a ótica é racional é real". emão dialética cuida de apontar as contradições constitutivas da vida social que resultam na negação de uma determinada ordem. Marx foi profundamente influenciado por Hegel mas, segundo suas a captação do nsão, real não ocorre, como então palavras, ele colocou a dialética idealista ao revés, "de cabeça gostaria a postura para baixo": positivista, sem a ação essa estruturante do sujeito, idade Meu método dialético não apenas difere em sua base do mas exige um esforço hegeliano como, além disso, é totalmente inverso deste. Para conceitual orientado a a ser le um Hegel, movimento do pensamento, que ele encarna com o transcender a simples observação dos "fatos". nome de Idéia, é demiurgo da realidade, que não é mais Na verdade, para se ) nas do que a forma fenomênica da Para mim, ao contrário, chegar a conhecer um na se movimento do pensamento é reflexo do movimento real, fenômeno no que ele ópria transportado e transposto no cérebro do homem. a tem de singular é compreensão positiva das coisas existentes inclui, ao mesmo preciso constitui-lo conceitualmente em si tempo, o conhecimento de sua negação fatal, de sua destruição dentro de um sistema uma necessária, porque ao captar próprio movimento, do qual totalizante qual, no nento todas as formas acabadas são apenas uma configuração entanto, será sempre ósofo transitória, nada pode detê-la, porque em essência é crítica e transitório, isto é, idade passível de superação.O reconhecimento do movimento dialético não é, portanto, suficiente. Um fenômeno social deve ser sub- metido à crítica de modo que suas potencialidades possam ser reveladas e, assim, atualizadas numa forma mais evoluída. atravé Neste ponto, Marx se distanciava também de certo tipo de estabel materialismo, como O de Ludwig Feuerbach (1804-1872) que parta se limitava a captar mundo como objeto, sem entender que movim sensível era resultado da ação humana e que, por isso, era a passível de transformação por meio da atividade revolucionária Espírito ou Segundo Marx: "Os filósofos limitaram-se a interpretar mundo de distintos modos, cabe Através da crítica da sociedade capitalista, Marx identifica no proletariado Sujeito capaz de promover a inevitável superação dessa forma histórica de sociedade. No texto que se segue vemos um bom exemplo de interpretação Hoje em dia, tudo parece levar em seu seio sua própria contradição. Vemos que as máquinas, dotadas da propriedade maravilhosa de encurtar e fazer mais frutífero elabor trabalho humano, provocam a fome e esgotamento do trabalhador. As fontes de riqueza recém-descobertas que convertem-se, por arte de um estranho malefício, em fontes meios de privações. Os triunfos da arte parecem adquiridos ao Mas es preço de qualidades morais. O domínio do homem sobre a natureza é cada vez maior; mas, ao mesmo tempo, O homem se converte em escravo de outros homens ou de sua própria infâmia. Até a pura luz da ciência parece não poder brilhar mais que sobre fundo tenebroso da ignorância. Todos os nossos inventos e progressos parecem dotar de vida intelectual as forças produtivas materiais, enquanto reduzem a vida humana ao nível de uma força material bruta. Este antagonismo entre a moderna e a ciência, por um lado, e a miséria e a decadência, por outro; este antagonismo entre as forças produtivas e as relações sociais de nossa época é um fato palpável, abrumador e não nos enganamos a fenôme respeito da natureza desse espírito maligno que se manifesta evolug constantemente em todas as contradições que acabamos conceit de assinalar. Sabemos que, para fazer trabalhar bem as novas forças da sociedade, necessita-se unicamente que estas passem às mãos de homens novos, e que tais homens novos são osé, 0 MATERIALISMO HISTÓRICO sub- ossam Para Marx, a análise da vida social deve ser feita através de uma perspectiva que, além de procurar po de estabelecer as leis de mudança que regem os fenômenos, que parta do estudo dos fatos concretos, a fim de expor en que movimento do real em seu conjunto. Enquanto para Hegel era a história da humanidade nada mais é do que a história do onária Espírito, para Marx ponto de partida n-se a são os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições materiais de existência, quer se trate daquelas que encontrou já elaboradas quando do seu aparecimento, que quer das que ele próprio criou. (...) A primeira condição lética: de toda a história humana é, evidentemente, a existência de seres humanos própria das da O método de abordagem da vida social que ele rutífero elabora foi chamado posteriormente de materialismo De acordo com tal concepção, as relações materiais amento obertas que homens estabelecem, modo como produzem seus fontes meios de vida, formam a base de todas as suas relações. dos ao Mas esse modo de produção não corresponde à sobre mera reprodução da existência física dos indivíduos. Pelo npo, contrário, já constitui um modo determinado de atividade ou de de tais indivíduos, uma forma determinada de manifestar ce não a sua vida, um modo de vida determinado. A forma como da os indivíduos manifestam sua vida reflete muito exatamente arecem aquilo que são. O que são coincide, portanto com a sua teriais, produção, isto é, tanto com aquilo que produzem como a força com a forma como produzem. Aquilo que os indivíduos oderna são depende, portanto, das condições materiais de sua por as Conforme a perspectiva materialista e dialética, todo a fenômeno social ou cultural é efêmero, e a análise da evolução dos processos econômicos e de produção de bamos conceitos deve partir do reconhecimento de que: as te que as formas econômicas sob as quais os homens produzem, omens consomem e trocam são transitórias e históricas. Ao adquirir novas forças produtivas, os homens mudam seu modo de produção, e com o modo de produção mudam as relações econômicas, que não eram mais que as relações necessáriasdaquele modo concreto de produção (...) as categorias econômicas não são mais que abstrações destas relações reais e que são verdades unicamente enquanto essas relações Marx compara raciocínio dos economistas de seu tempo ao dos teólogos, para os quais "toda religião estranha é pura invenção humana, enquanto a deles próprios é uma emanação de Deus". Ele discute a afirmação de que as relações de produção burguesa são "naturais", são relações que se encontram de acordo com as leis da natureza, elas são "independentes da influência do tempo". Com isto, aqueles economistas consideram-nas como "leis eternas que devem reger sempre a sociedade. De modo que até agora houve história, mas agora já não há". As instituições feudais eram históricas, ironiza, mas as burguesas seriam naturais e, portanto, Mas não apenas os processos ligados à produção são transitórios, como também as próprias idéias, concepções, gostos, crenças, categorias do conhecimento e ideologias os quais, gerados socialmente, dependem do modo como os homens se organizam para produzir. Mesmo pen- samento e a consciência são, em última instância, decorrência da relação homem/natureza, isto é, das relações materiais. e Por exemplo, a maneira de ver a natureza e as relações sociais que a fim imaginação grega inspira, e constitui, por isso mesmo, esp fundamento da mitologia grega, será compatível com as máquinas automáticas de fiar, as ferrovias, as locomotivas priv e telégrafo elétrico? Quem é Vulcano ao pé de Roberts & Cia., Júpiter em comparação com pára-raios e Hermes em comparação com Crédito Imobiliário? Toda a mitologia subjuga, governa as forças da natureza no domínio da imaginação e pela imaginação, dando-lhes forma: portanto, desaparece quando estas forças são dominadas realmente... A arte grega supõe a mitologia grega, isto é, a elaboração artística mas inconsciente da natureza e das próprias formas sociais pela imaginação popular. São esses os seus materiais... Jamais a mitologia egípcia teria podido proporcionar um terreno favorável à eclosão da arte 6 8egorias A E essas NATUREZA E NECESSIDADES: A HISTÓRIA e seu ranha uma Um primeiro pressuposto de toda existência humana e, ue as portanto, de toda história, a saber, [é] que os homens ações devem estar em condições de poder viver a fim de "fazer , elas a Mas, para viver, é necessário, antes de mais, isto, beber, comer, ter um teto onde se abrigar, vestir-se, etc. O S que primeiro fato histórico é, pois, a produção meios que agora permitem satisfazer essas necessidades, a produção da udais própria vida material; trata-se de um fato histórico; de uma turais condição fundamental de toda a história, que é necessário, tanto hoje como há milhares de anos, executar, dia a dia, O são hora a hora, a fim de manter os homens logias A premissa da análise marxista da sociedade é, como portanto, a existência de seres humanos que, por meio da pen- interação com a natureza e com outros indivíduos, buscam suprir suas carências e, nessa atividade, recriam a si próprios eriais. e reproduzem sua espécie num processo que é continua- mente transformado pela ação de sucessivas gerações. Todos os seres vivos devem refazer suas energias a que a fim de assegurar suas condições de existência e as de sua smo, espécie. Os animais, todavia, interagem com a natureza de com as forma inconsciente, não cumulativa, visando atender suas notivas privações imediatas. As condições naturais, às vezes, lhes perts & servem como limite, e seu consumo pode ser aniquilador. lermes 'oda a É certo que também animal produz. para si um no ninho, casas, como as abelhas, os castores, as formigas, lo-lhes etc. Mas produz unicamente que necessita imediatamente as são para si ou sua prole (...) produz unicamente por força de tologia uma necessidade física imediata, enquanto que homem nte da produz inclusive liv da necessidade física e só produz inação realmente liberado dela; animal se produz só a si mesmo, tologia enquanto homem reproduz a natureza produto rável à do animal pertence imediatamente a seu corpo físico, enquanto que homem enfrenta-se livremente com seu produto. animal produz unicamente segundo a necessidade e a medida da espécie a que pertence,enquanto homem sabe produzir segundo a medida de qualquer espécie e sabe sempre impor ao objeto a medida que é inerente; por isso homem cria também segundo as leis da geral", Mas os homens, ao produzir os meios para prover-se do des do que precisam, organizam-se socialmente, estabelecem relações sociais, através das quais intervêm conscientemente ele, se na natureza. Ao modificar a fauna e a flora, por exemplo, apesar eles visam dominar as condições naturais, procurando conhecer e aplicar suas leis, através de um plano. Isto não de um significa que sempre consigam fazê-lo adequadamente, ou social mesmo tendo em vista os interesses coletivos ou da espécie, podendo, a longo prazo, destruir O ambiente, O clima, os recursos naturais, etc. Ademais, O ato mesmo de produzir gera novas necessidades, O que significa que estas não são simples exigências naturais ou físicas, mas históricas, produtos da existência social. A fome é a fome, mas a fome que se satisfaz com carne cozida, comida com faca e garfo, não é a mesma fome que come a carne crua, servindo-se das mãos, das unhas, dos dentes. Por conseguinte, a produção determina não só objeto do consumo, mas também modo de consumo, e não só de forma objetiva, mas também subjetiva. Logo, a produção cria Os resultados da atividade e da experiência humanas que se objetivam são acumulados e transmitidos por meio da cultura. "A própria quantidade das supostas necessidades naturais, como modo de satisfazê-las é um produto histórico que depende em grande parte do grau de civilização alcançado". Na busca de controlar as A condições naturais, os homens criam novos objetos os de quais se incorporam ao ambiente natural, modificando-o, tal e passam às mãos das próximas gerações. Isto possibilita na que desenvolvimento social se dê a partir dos níveis no anteriormente alcançados. É por meio dessa ação que apreen homem humaniza a natureza e também a si mesmo. O necess processo de produção e reprodução da vida através do traball trabalho é, para Marx, a principal atividade humana, cooper aquela que constitui sua história social; é fundamento matéria do materialismo enquanto método de análise suas ha da vida econômica, social, política, intelectual. exprim naturai,da de FORÇAS PRODUTIVAS E RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO edida gundo Em sua análise, Marx nunca trata da "produção em geral", mas refere-se à "produção num estádio determinado er-se do desenvolvimento social (...) é a produção dos indivíduos ecem vivendo em sociedade". E "o que é a sociedade", afirma ele, senão "o produto da ação recíproca dos homens"? nplo, apesar de ser uma obra humana, os homens não a deter- ando minam de acordo com seus desejos particulares. A forma não de uma sociedade depende do estado de desenvolvimento social de suas forças produtivas e das relações sociais de produção que lhes são correspondentes, portanto é a, os desnecessário acrescentar duzir ) são que os homens não são livres árbitros de suas forças ricas, produtivas base de toda sua história pois toda força produtiva é uma força adquirida, produto de uma atividade anterior. Portanto, as forças produtivas são resultado da carne energia prática dos homens, mas essa mesma energia está fome determinada pelas condições em que os homens se unhas, encontram colocados, pelas forças produtivas já adquiridas, a não pela forma social anterior a eles, que eles não criaram e do de que é produto da geração anterior. O simples fato de que nbém cada geração posterior encontre forças produtivas adquiridas pela geração precedente, que lhe servem de matéria-prima para a nova produção, cria na história dos homens uma cria uma história da humanidade, meio que é tanto mais a história da humanidade porque as ostas las é forças produtivas dos homens e, por conseguinte, suas e do relações sociais adquiriram maior lar as As noções de forças produtivas e de relações sociais os de produção mostram que tais relações se interligam de do-o, tal forma que as mudanças em uma provocam alterações bilita na outra. A ação dos homens sobre a natureza é expressa no conceito de forças produtivas qual busca apreender modo como acueles obtêm os bens de que O necessitam por meio da da divisão técnica do is do trabalho, dos processos de produção, dos tipos de nana, cooperação, da qualidade dos seus instrumentos, das matérias-primas que conhecem ou de que dispõem, de suas habilidades e saberes. Esse conceito pretende, pois, exprimir O grau de domínio do homem sobre as condições naturais.No entanto, trabalho não é uma atividade isolada ao produzir, os homens entram em contato uns com os cooper: outros, e essa interação lhes confere, além da dimensão de natural enunciada na relação homem/natureza, uma objetiva dimensão social tipo de Por out no sentido de ação conjugada de vários indivíduos, não trabalho importa em que condições, de que maneira e com que seja, objetivo. Segue-se que um determinado modo de produção exempl ou estágio de desenvolvimento industrial se encontram ou ao permanentemente ligados a um modo de cooperação ou divisão a um estado social determinado, e que esse modo de produti cooperação é ele mesmo uma "força produtiva". 15 dustria A cooperação pode se dar tanto em sociedades conseq desenvolvidas visando aumentar a produtividade do trabalho ou, no caso das sociedades de classes, a quantidade de trabalho explorado quanto "na origem da civilização exempl humana, entre os povos caçadores, na agricultura das religios. finance comunidades indígenas, As relações sociais de distinta: produção que são compostas pelas formas estabelecidas do pro de distribuição dos meios de produção e do produto, ou as relativa leis que regulam tal apropriação e pelo tipo de divisão social do trabalho expressam, em suma, como os homens produç se organizam socialmente para Mas corresp por isso na sua concepção mais banal, a distribuição apresenta-se como distribuição dos produtos, e assim como que afastada da produção e, a bem dizer, independente dela. Contudo, antes de ser distribuição de produtos, ela é: distribuição dos instrumentos de produção e, distribuição dos membros da sociedade pelos diferentes gêneros de produção, que é uma outra determinação Os instrumentos ou de uma relação anterior (subordinação dos indivícluos a relações saber útil para a de produção determinadas). A distribuição dos produtos é produção podem ser manifestamente resultado desta distribuição que, incluída no desigualmente próprio processo de produção, lhe determina a apropriados. Devido a condições socialmente Considerar a produção sem ter em conta esta distribuição, nela E estabelecidas, ou seja, incluída, é sem dúvicla uma abstração vazia de sentido, visto aos ins em sociedades onde que a distribuição dos produtos é implicada por esta distribuição, das existem classes sociais, que constitui, na origem, um fator da produção. Ricardo (...) O existe um acesso afirma, por essa mesma razão, que não é a produção, mas, sim, diferen diferenciado, segundo grupo social a que se a distribuição, que constitui o verdadeiro assunto da economia de poss pertence, ao produto e moderna. Daí absurdo, quando os economistas tratam a em sua aos meios para produção como se fosse uma verdade eterna, pondo de parte a substra produzi-lo. história no domínio daUma divisão técnica do trabalho, como forma de cooperação, pode ser estabelecida no interior do processo nsão de produção; nesse caso, ela se torna uma força produtiva, uma objetivando um aumento da produtividade, seja qual for O tipo de distribuição dos meios de produção e dos Por outro lado, a um nível mais amplo, a divisão social do 6, não trabalho expressa modos de segmentação da sociedade, ou n que seja, desigualdades sociais mais abrangentes como, por dução exemplo, a existência de setores dedicados exclusivamente ntram ou ao trabalho manual, ou ao intelectual. A primeira grande ou divisão social do trabalho deu-se quando O aumento na do de produtividade possibilitou a separação entre "o trabalho in- dustrial e comercial e O trabalho agrícola; e, como a separação entre a cidade e O campo e a ades oposição dos seus interesses". A partir daí, ocorreram e do gradativamente outras grandes segmentações como, por dade exemplo, entre os grupos que assumiram as ocupações religiosas, políticas, administrativas, de controle e repressão, das financeiras, etc. A cada uma dessas partes correspondem is de distintas tarefas, tanto quanto porções maiores ou menores cidas do produto social, já que elas ocupam posições desiguais ou as relativamente ao controle e propriedade dos meios de visão produção. Assim, a divisão social do trabalho mantém mens correspondência com a estrutura de classes da sociedade, por isso, como reconhece-se facilmente grau de desenvolvimento da atingido pelas forças produtivas de uma nação a partir do ntes de desenvolvimento atingido pela divisão do trabalho. (...) mentos Os vários estágios de desenvolvimento da divisão do e pelos trabalho representam outras tantas formas diferentes de propriedade; por outras palavras, cada novo estágio na elações divisão do trabalho determina igualmente as relações entre lutos é os indivíduos no que toca à matéria, aos instrumentos e no Nas palavras de Marx, aos produtos do "a divisão do trabalho, rutura. como totalidade de nela Em resumo, conceito de forças produtivas refere-se todos os gêneros ), visto aos instrumentos e habilidades que possibilitam O controle particulares de buição, das condições naturais, e seu desenvolvimento é cumulativo. ocupação produtiva, é do (...) aspecto de conjunto O conceito de relações sociais de produção implica em do trabalho social as, sim, diferentes formas de organização da produção e distribuição, encarado pelo ângulo onomia de posse e propriedade dos meios de produção, bem como material, considerado atam a em suas garantias legais, constituindo-se, dessa forma, no como trabalho criativo parte a substrato para a estruturação das classes sociais. de valores de uso".Marx insiste em mostrar que as relações sociais são produzidas pelos homens, do mesmo modo como são O linho ou a seda, estando vinculadas às forças produtivas. Quando estas são substituídas por outras novas, aqueles também "mudam modo de produção, a maneira de ganhar a vida, mudam as suas relações sociais". Concreta- mente, o moinho movido a braço nos dá a sociedade dos senhores feudais; moinho movido a vapor, a sociedade dos capitalistas industriais. Os homens, ao estabelecerem produ as relações sociais vinculadas ao desenvolvimento de sua produção material, criam também os princípios, as idéias como e as categorias conformes às suas relações sociais. Portanto, estas idéias, estas categorias, são pouco eternas quanto sinteti as relações às quais servem de materia INFRA-ESTRUTURA E SUPERESTRUTURA O conjunto das forças produtivas e das relações sociais de produção forma O que Marx chama de a de uma sociedade que, por sua vez, é a base sobre a qual se constituem as demais instituições sociais. Segundo a concepção materialista da história, na produção da vida so- cial os homens geram também outra espécie de produtos que não têm forma material e que vêm a ser as ideologias políticas, concepções religiosas, códigos morais e estéticos, sistemas legais, de ensino, de comunicação, conhecimento filosófico e representações coletivas, etc. - cujo conjunto é chamado de ou Em suma, são os homens que produzem as suas representações, as suas idéias, etc., mas os homens reais, atuantes, e tais como foram condicionados por um determinado desenvolvimento das suas forças produtivas e do modo de relações que lhes corresponde, incluindo até as formas mais amplas que estas possam tomar. A consciência nunca pode Ser mais que Ser consciente, e Ser dos homens é seu processo da vida real... Assim, a a religião, a metafísica e qualquer outra ideologia, tal como as formas de consciência que lhes correspondem, perdem imediata-S são mente toda aparência de autonomia. Não têm história, não são têm desenvolvimento; serão, antes, os homens que, tivas. desenvolvendo a sua produção material e as suas relações ueles materiais, transformam, com esta realidade que lhes é inhar própria, seu pensamento e os produtos deste creta- pensamento. Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a e dos A explicação das formas sociais - jurídicas, políticas, edade espirituais e de consciência encontra-se nas relações de cerem produção que constituem a base econômica e material da de sua sociedade. A superestrutura seria condicionada pelo modo idéias como os homens estão organizados no processo produtivo. rtanto, Ao delinear sua própria trajetória intelectual, Marx quanto sintetiza os conceitos-chave para a compreensão do materialismo O meu primeiro trabalho, que empreendi para esclarecer as dúvidas que me assaltavam, foi uma revisão crítica da Filosofia do Direito de Hegel. (...) Nas minhas pesquisas cheguei à conclusão de que as relações jurídicas assim ociais como as formas de Estado - não podem ser compreen- didas por si mesmas, nem pela dita evolução geral do qual espírito humano, inserindo-se, pelo contrário, nas do a condições materiais de existência de que Hegel (...) compreende conjunto pela designação de "sociedade dutos por seu lado, a anatomia da sociedade civil deve logias ser procurada na economia política. (...) A conclusão geral ticos, a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor dos meus estudos pode formular-se resumida- cujo mente assim: na produção social de sua existência, os tura. homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento es, as das forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações e tais de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, nado a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura modo jurídica e política e à qual correspondem determinadas ormas formas de consciência social. modo de produção da nunca vida material condiciona desenvolvimento da vida social, omens política e intelectual em geral. Não é a consciência dos ligião, homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, ormas inversamente, determina a sua consciência. Em certo de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da so-ciedade entram em contradição com as relações de produ- ção existentes, ou, que é a sua expressão jurídica, com publicação da as relações de propriedade no das quais tinham se época observou que movido até então. De formas de desenvolvimento das que fora dito por Marx forças produtivas, estas relações transformam-se no seu acerca da relevância da base material numa entrave. Surge, então, uma época de revolução social. A dada organização transformação da base econômica altera, mais ou menos social, só seria justo rapidamente, toda a imensa "no que se refere ao mundo moderno, Ao longo de sua obra, Marx elabora uma tipologia dominado pelos dos distintos modos de produção os quais caracterizam interesses materiais, etapas da história humana: O comunismo primitivo, O mas não para a Idade antigo, O feudal, O capitalista e O comunista. Identifica Média, na qual reinava catolicismo, nem ainda modo de produção asiático que compreende as para Atenas e Roma, sociedades orientais e as pré-colombianas da América nas quais reinava a do Sul. Debates posteriores encarregaram-se de mostrar política". Marx, que se que, com isso, Marx não pretendia dizer que O progresso utiliza de seu habitual social encaminhava-se linearmente e numa direção única: estilo irônico, replica: "Antes de tudo, é aquela trilhada pelas sociedades ocidentais. Em traços estranho que a certas amplos, os modos de produção "podem ser qualificados pessoas agrade supor como épocas progressivas da formação econômica da que alguém desconheça estas maneiras de falar, Com intuito de comentar e esclarecer alguns antiquadas e muito equívocos graves, que já se anunciavam na época em que comuns, sobre a Idade vivia, acerca da relação entre infra e Engels a interp Média e a escreveu, numa longa carta: enfatiza Está claro que nem a primeira podia viver do superes Segundo a concepção materialista da história, fator que catolicismo, nem a as ideo em última instância determina a história é a produção e a segunda da política. de cons Pelo contrário, as reprodução da vida real. Nem Marx nem eu nunca de condições econômicas afirmamos mais do que isto. Se alguém tergiversa dizendo de então explicam por que fator econômico é único determinante, converte determi que catolicismo, no aquela tese numa frase vazia, abstrata, absurda. A situação chamac primeiro caso, e a econômica é a base, mas os diversos fatores da superes- política, no segundo, trutura as formas políticas da luta de classes e seus representavam papel de impo principal. Por outro resultados, as Constituições que, uma vez ganha uma talistas, lado, ninguém ignora batalha, são redigidas pela classe vitoriosa, etc., as formas "revolu que até D. Quixote teve jurídicas, e mesmo os reflexos de todas estas lutas reais chama que se arrepender por no cérebro dos participantes, as teorias políticas, jurídicas, ter acreditado que a filosóficas, as idéias religiosas e seu desenvolvimento cavalaria errante era interve: compatível com todas ulterior até serem convertidas em sistemas dogmáticos Em mu as formas econômicas exercem igualmente a sua ação sobre curso das lutas da sociedade". históricas e, em muitos casos, determinam predominante- das El Capital,, v.I, 94-95.) mente sua forma )produ- Somos nós mesmos que fazemos a história, mas, nós a a, com fazemos, em primeiro lugar, segundo premissas e se condições muito concretas. Entre elas, são as econômicas to das as que, em última instância, decidem. Mas também desem- no seu penham um papel, ainda que não seja decisivo, as A condições políticas e até as tradições que rondam como menos um duende nas cabeças dos homens... fato de que os discípulos destaquem mais que devido rizam aspecto econômico é coisa que, em parte, temos a culpa vo, Marx e eu mesmo. Frente aos adversários, que tifica sublinhar este princípio cardinal que era negado, e nem de as sempre dispúnhamos de tempo, espaço e ocasião para dar a devida importância aos demais fatores que intervêm ostrar no jogo das ações e reações. Infelizmente, ocorre com gresso frequência que se crê haver entendido totalmente e que se pode manusear sem dificuldades uma nova teoria pelo raços simples fato de se haver assimilado, e nem sempre cados exatamente, suas teses fundamentais. Desta crítica não ca da estão isentos muitos dos novos "marxistas" e assim se explicam muitas das coisas inexpressivas com que Iguns n que De toda maneira, a complexidade questão conduziu Engels a interpretações do marxismo. Certos intérpretes enfatizam determinismo da vicla econômica sobre as formas superestruturais. Eles excluem qualquer possibilidade de que que as ideologias, as ciências, a arte, as crenças religiosas, as formas ção e a de consciência coletiva, tanto de classes como de outros modos nunca de associação, sistemas jurídicos ou de governo, etc. tenham lizendo exercido sobre a história de um povo um papel, se não onverte determinante, pelo menos igual ao da São as ituação chamadas leituras economicistas do pensamento de Marx. Tais uperes- perspectivas foram, com utilizadas com a finalidade e seus de impor concepções políticas autoritárias, mesmo que anticapi- a uma talistas, algumas das quais se propuseram a promover uma formas "revolução" ao nível superestrutural de modo a adequá-lo às reais chamadas "necessidades da produção". Com isso, muitas rídicas, tradições culturais, valores, crenças e costumes sofreram imento intervenções por parte de interesses políticos organizados. icos Em muitos casos, manifestações artísticas como a poesia, a is lutas escultura, a pintura e teatro servem até hoje de testemunho inante- das exigências que lhes foram colocadas por vanguardas partidárias.sociais CLASSES 0 de uma renda C CLASSES E ESTRUTURA SOCIAL daria un distribu desigua Embora seja um dos temas principais do pensamento produçã de Marx, este não deixou uma teoria sistematizada sobre as que um classes sociais, a qual acabou por ser constituída a partir de sua dos elementos contidos em seus distintos trabalhos. A Sendo a produção "a atividade vital do trabalhador, a acima e manifestação de sua própria vida", é através dela que homem se humaniza. No processo de produção, os homens dos mei estabelecem entre si determinadas relações sociais, através das quais eles extraem da natureza O que necessitam. Desde maneira esse ponto de partida, Marx reflete sobre O significado e políti para indivíduo e a sociedade da apropriação por não- patrícios produtores (pessoas, empresas ou O Estado) de uma parcela do que é produzido socialmente. Daí originam-se os conceitos de apre de classe, exploração, opressão e alienação. econôm Enquanto as sociedades estiveram limitadas por uma capacidade produtiva exígua, a sobrevivência de seus a membros só era garantida por meio de uma luta constante classes para obter da natureza O indispensável. A organização SO- tam crité cial era simples e existia apenas uma divisão natural do de trabalho, segundo a idade e sexo. Mas "numa época em além que duas mãos não podem produzir mais do que que que, em uma boca consome, não existem bases que possibilitem que uns vivam do trabalho de outros, seja na esquema forma de escravo ou de qualquer outro modo de Marx de exploração. É surgimento de um excedente da produção temos q que permite a divisão social do trabalho, assim como a apropriação das condições de produção por parte de alguns superado membros da comunidade, os quais passam, então, a sociais estabelecer algum tipo de direito sobre produto ou sobre com os os próprios trabalhadores. Vê-se, portanto, que O apareci- talação mento das classes sociais vincula-se a circunstâncias organiza históricas bem específicas, quais sejam, aquelas em que a quase nu criação de um excedente possibilita a apropriação privada de das condições de produção. Dessa forma, materialismo gradualn histórico descarta a interpretação que atribui um caráter modo de natural, inexorável, a esse tipo particular de desigualdade. para um As classes são uma decorrência de determinadas relações XIX.sociais de produção; constituem-se, pois, ao nível da estrutura de uma sociedade. Marx afasta definitivamente a idéia segundo a qual as classes se definiriam a partir do nível de renda ou da origem de seus rendimentos: isto não só nos daria uma infinidade de situações como, também, tornaria a distribuição da riqueza produzida socialmente causa da desigualdade. A renda não é um fator independente da nento produção: é, antes, uma expressão da parcela do produto as que um grupo de indivíduos pode perceber, em decorrência partir de sua posição na estrutura de classes. A configuração básica de classes nos termos expostos dor, a acima expressa-se, de maneira simplificada, num modelo que dicotômico: de um lado, os proprietários ou possuidores mens dos meios de produção, de outro, os que não os possuem. través Historicamente, essa polaridade apresenta-se de diferentes Desde maneiras conforme as relações sociais, econômicas, jurídicas do e políticas de cada formação social. Daí os escravos e patrícios, servos e senhores feudais, trabalhadores livres e arcela Esse é, sem um esquema teórico incapaz ceitos de apreender a complexidade de uma realidade socio- econômica concreta. Analisando as classes no sistema uma capitalista, Marx já observava que, nem mesmo na Inglaterra, seus a sociedade mais desenvolvida da época, a divisão de stante classes aparecia em sua forma pura. As sociedades compor- tam critérios e modos de apropriação e de estabelecimento al do de privilégios que geram ou mantêm outras divisões e classes, em além das chamadas fundamentais, cujas relações são as que que, em definitivo, modelam a produção e a formação socio- que econômica. Pode-se avaliar a insuficiência analítica desse eja na esquema dicotômico, através do seguinte comentário de do de Marx de que, na Europa, "à parte dos males da época atual, dução temos que suportar uma larga série de males hereditários mo a provenientes da sobrevivência de modos de produção lguns superados, com as das relações políticas e ão, a sociais anacrônicas que engendra. Não só temos que sofrer sobre com os vivos mas, além disso, com os A ins- "Mesmo assim, a tendência do modo areci- talação de novas relações S de produção com sua capitalista de produção incias organização jurídica e política e, com elas, de novas classes, é separar cada vez que a quase nunca representa uma completa extinção dos modos mais trabalho e os de produção anteriores, cujas relações sociais às vezes só meios de produção, gradualmente vão desaparecendo. O desenvolvimento do concentrando estes aráter últimos e transforman- modo de produção capitalista tomou rumos imprevisíveis do-os em capital, e para um analista situado, como Marx, em meados do século em trabalho ações XIX. Sua organização econômica e política ancorou-se cada assalariado. 7 9vez mais firmemente em níveis internacionais e, no interior de cada sociedade, esses processos adquiriram feições muito singulares, referidas à diversidade de elementos que conformaram suas experiências históricas. Tudo isso teve como resultado que processo produtivo gerou novas sub- divisões no interior das classes sociais, dando-lhes, em alguns casos, grande extensão e importância, como ocorre com as chamadas "classes médias", setores tecnoburocráticos, etc. Em outros, consolidou a existência de antigas relações de produção, às vezes sob novas roupagens, tanto no campo como nas cidades. Em suma, formaram-se historicamente A estruturas econômicas e sociais complexas, conjugando uma relações entre as novas classes e frações de classe típicas aberta; das sociedades capitalistas tradicionais. revoluci Embora tal esquema dicotômico revele insuficiências, em sua importância reside no fato de que permite identificar a configuração básica das classes de cacla modo de produção, de proc aquelas que responderão pela dinâmica fundamental das classes. relações de uma dada sociedade, definindo inclusive as confron relações entre as demais classes. presente Em todas as formas de sociedade, é uma produção que car determinada e as relações por ela produzidas que existênc estabelecem todas as outras produções e as relações a formas que elas dão origem, a sua categoria e a sua importância. daí que É como uma iluminação geral que modifica as tonalidades ainda qu particulares de todas as a noção mudanç A crítica feita pelo marxismo à propriedade privada dos meios elementares de produção da vida humana dirige-se, dita "I portanto, aos seus resultados: a exploração de uma classe de mais por produtores não-possuidores por parte de uma classe de Pa proprietários, a limitação à e às potencialidades dos classes primeiros e a desumanização de que ambos são vítimas. Mas determir domínio dos possuidores dos meios de produção não se no que restringe à esfera produtiva. Marx e Engels enfatizam que a classe en classe que detém poder material numa dada sociedade é a defesa também a potência política e espiritual dominante. identidad para Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, pequeno entre outras coisas, uma consciência, e é em famílias disso que pensam; na medida em que dominam enquanto suficiente classe e determinam uma época histórica em toda sua uma extensão, é lógico que esses indivíduos dominem em todoserior os sentidos, que tenham, entre outras, uma posição nuito dominante como seres pensantes, como produtores de que idéias, que regulamentem a produção e a distribuição dos teve pensamentos de sua as suas são, portanto, sub- as idéias dominantes de sua guns m as etc. es de LUTAS DE CLASSES impo As classes sociais sempre se enfrentaram e "mantiveram ando uma luta constante, velada umas vezes e noutras franca e picas aberta; luta que terminou sempre com a transformação revolucionária de toda a sociedade ou pelo colapso das classes em Para Marx e Engels, a história das sociedades cuja a estrutura produtiva baseia-se na apropriação privada dos meios ução, de produção pode ser descrita como a história das de das classes. Essa expressão, antes de significar uma situação de ve as confronto explícito que de fato pode ocorrer em certas circunstâncias históricas procura enfatizar as contradições presentes numa estrutura classista, O antagonismo de interesses dução que caracteriza uma relação entre classes. Isto porque a S que existência das classes sustenta-se na exploração e em diversas ções a formas de opressão social, política, intelectual, religiosa, etc; tância. que a relação entre elas não pode ser outra senão conflitiva, idades ainda que apenas potencialmente. Para materialismo histórico, a noção de luta de classes relaciona-se diretamente à de denominação mudança social. É por meio da luta de classes que as principais classe em si, para si a dos transformações estruturais são impulsionadas, por isto ela é só chegou a ser ge-se, dita "motor da história". A classe explorada constitui-se no utilizada nos escritos se de mais potente agente da mudança. de juventude, mas a se de de que a Para fins analíticos, Marx distingue conceitualmente as dos produção da vida classes enquanto grupos de pessoas que compartilham material constitui Mas determinadas condições objetivas, ou seja, a mesma situação formas de consciência se no que se refere à propriedade dos meios de produção continuou a ser que a desenvolvida, assim ade é classe em si, dos grupos que se organizam politicamente para como a de que o a defesa consciente de seus interesses, que supõe uma proletariado seria a identidade construída do ponto de vista subjetivo classe única classe capaz de para Num texto muito conhecido, ele se refere aos liberar toda a issuem, pequenos proprietários camponeses da França, uma massa de humanidade da famílias pobres que, dado seu modo de produzir, são auto- situação de opressão e quanto de injustiça, que suficientes e vivem isoladas. Umas quantas famílias constituem da sua caracteriza as uma aldeia, umas quantas aldeias, um departamento, e n todos sociedades classistas.assim se forma a grande massa da nação francesa, pela simples soma de unidades do mesmo do mesmo desenve modo como as batatas de um saco formam um saco de de batatas. Na em que milhões de famílias vivem sob condições econômicas de existência que as distinguem por sua maneira de viver, seus interesses e sua cultura de outras classes e se a elas de modo hostil, aquelas formam uma classe. Dado que existe entre os pequenos proprietários camponeses uma articulação puramente lo- cal, e a identidade de interesses não engendra entre eles nenhuma comunidade, nenhuma união nacional e nenhu- ma organização política, não formam uma classe. São, portanto, incapazes de fazer valer seu interesse de classe em seu próprio nome (...) não podem representar-se, mas têm que ser representados. Seu representante tem que aparecer ao mesmo tempo como seu senhor, como uma autoridade acima como um poder ilimitado de governo que proteja das demais classes e que lhes envie desde alto a chuva e o As associações com objetivos políticos são resultado da de uma consciência de classe. Por isso é que a coalizão persegue sempre uma dupla acabar S com a concorrência entre os operários para poder fazer marxist uma concorrência geral aos capitalistas. Se a primeira caso finalidade da resistência se reduzia à defesa do salário, depois, à medida que os capitalistas se associam, movidos, preocu do des por sua vez, pela idéia de repressão, as a princípio isoladas, formam grupos, e a defesa das associações por parte dos trabalhadores frente ao capital, sempre unido, acaba sendo para eles mais necessário que a defesa do salário. (...) As condições econômicas transfor- mam primeiro a massa da população do país em trabalhadores. A dominação do capital criou para esta massa uma situação comum, interesses comuns. pois, esta massa já é uma classe com respeito ao capital, mas ainda não é uma classe para si. Na luta (...) esta massa sè une, se constitui como classe para Um exemplo desse papel revolucionário cumprido por uma classe social que representava possibilidades gigantescas de transformação nas forças produtivas e nas relações sociais daria, foi demonstrado pela burguesia durante as revoluções ocidentais no início da Idade Moderna. dada fpela A teoria sobre as classes não chegou a ser completamente nesmo desenvolvida, mas encontra-se disseminada em quase toda a obra ICO de de e um dos trechos em que está sintetizada é seguinte: m sob Pelo que me diz respeito, não me cabe mérito de ter ura de descoberto a existência classes na sociedade moderna, quelas nem a luta entre elas. Muito antes de mim, alguns histo- quenos riadores burgueses tinham exposto desenvolvimento nte lo- histórico desta luta de classes, e alguns economistas re eles burgueses, a sua anatomia. que acrescentei de novo foi 1) que a existência das classes está unida apenas São, a determinadas fases históricas do desenvolvimento da classe produção; 2) que a luta de classes conduz, necessariamente, e, mas à ditadura do proletariado; 3) que esta mesma ditadura m que não é mais que a transição para a abolição de todas as uma classes e para uma sociedade sem ido de S envie ultado que acabar Seguindo a tradição de pensamento iluminista, a teoria fazer marxista volta-se à explicação sobre O progresso. E, no rimeira caso de sua obra madura, Marx, mantendo a mesma preocupação temática, dedica-se a estudar a lei econômica ovidos, do desenvolvimento da sociedade moderna. a sa das Uma organização social nunca desaparece antes que se capital, desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz rio que de conter. nunca relações de produção novas e superiores transfor- se lhe substituem antes que as condições materiais de em existência dessas relações se produzam no próprio seio ra esta da velha sociedade. É por isso que a humanidade só capítulo de El Assim, levanta os problemas que é capaz de resolver e, assim, capital, intitulado "As capital, numa observação atenta, descobrir-se-á que próprio classes", contém duas massa problema só surgiu quando as condições materiais para páginas inacabadas. Nele, Marx refere-se às resolvê-lo já existiam ou estávam, pelo menos, em vias de três grandes classes da lo por sociedade moderna baseadas no sistema de Desta forma, para Marx, a evolução da sociedade se sociais produção capitalista: os daria, neste processo que combina esgotamento das proprietários de força possibilidades de expansão das forças produtivas de uma de trabalho, de capital dada formação social com a dissolução das estruturas e de terra. 8 3econômicas, sociais e políticas ligadas a ela, bem como a formas criação de uma nova estrutura com base em elementos já de presentes na formação recém-extinta. O progresso é, enfim, condiz resultado desse processo de ruptura. A busca das leis que essa explicam a evolução da sociedade em direção a novas formas O pont de organização social é que orienta a leitura que Marx faz interes do desenvolvimento das condições materiais em certas e eran formações As relações sociais de produção podem vir a se tornar, leis, a em determinados momentos da história das sociedades, um entrave ao progresso, abrindo assim uma época revolu- antago cionária, de eclosão dás contradições sociais já amadurecidas, de ser de ruptura de uma "harmonia" aparente. Quando, no período medieval, as corporações de ofício e as guildas passaram a obstaculizar pleno desenvolvimento das forças produtivas anunciadas pela burguesia nascente, as revoluções burguesas vieram representar processo de liberação daquelas forças que se mantinham estancadas por relações sociais inadequadas. A entre as forças produtivas e A as relações sociais de produção de uma dada sociedade é a analisa: condição material para que as classes como agentes organiz transformadores possam exercer seu papel revolucionário. O progresso das forças produtivas, os câmbios nas relações sociais de produção, na divisão social do trabalho e, como as feud nas instituições políticas, jurídicas, religiosas, etc. permitem compreender como se dá historica- de que a existi mente a mudança de uma forma de organização social a A anato outra, a passagem a um novo modo de produção. O Para iss fundamento desse processo de transição é a produção, sendo assumie as classes socialmente oprimidas os agentes que implementam tais transformações, contribuindo para a passagem de um tipo de sociedade a outro, mais avançado. A mudança social resulta da organização dos grupos explorados e da intensificação da luta política, desembocando, por fim, na conquista do poder. Para Marx, A "de todos os instrumentos de produção, a maior força lista. El produtiva é a própria classe é ela que faz humana evoluir mais rápida e eficientemente toda a sociedade, meio di liberando os elementos de progresso contidos no interior mercado das velhas e enrijecidas estruturas sociais. Quando, por de rock exemplo, uma classe consegue impor-se sobre outras classes se real debilitadas ou historicamente ultrapassadas, ela destrói as mercado não seno a formas econômicas, relações sociais, civis e jurídicas, visões já de mundo e regime político, outros novos, condizentes com seus interesses e seu domínio. Enquanto que essa classe ocupava, antes, uma posição subordinada desde O ponto de vista econômico, social e político, suas idéias e X faz interesses encontravam-se também numa situação dominada ertas e eram combatidas e reprimidas pelos grupos dominantes, organizados na forma de Estado, ideologias, ciência, rnar, leis, aparatos repressivos, modos de pensar, valores, etc. um Segundo Marx, somente quando "já não existam classes e volu- antagonismos de classes é que as evoluções sociais deixarão cidas, de ser revoluções ríodo am a orças A SOCIEDADE CAPITALISTA ciais Ao redigir O Capital, Marx explica sua decisão de vas e e é a analisar a sociedade capitalista por considerá-la a forma de entes organização mais desenvolvida e mais de já áário. existentes. Isso permitiria a compreensão de outras formações socioeconômicas anteriores e desaparecidas como as sociedades primitivas, as escravistas, as asiáticas e e, licas, as feudais - "sob cujas ruínas e elementos ela se edificou, de que certos vestígios ainda não apagados, que continuam cial a a existir nela, se enriqueceram de toda a sua significação. A anatomia do homem é a chave da anatomia do O. O endo Para isso, ele parte da análise da forma mercadoria que é assumida pelos produtos e pela própria força de trabalho. que a cado. upos A COMPRA E VENDA DE MERCADORIAS tica, Marx, A mercadoria é a forma elementar da riqueza capita- força lista. Ela tem a propriedade de satisfazer as necessidades e faz humanas, sejam as do estômago ou as da fantasia, seja como lade, meio de subsistência ou de produção. Assim, podem ser erior mercadorias: O as condições de saúde, show por de rock... Por ser útil, diz-se que tem um valor de uso que asses se realiza no consumo. Coisas úteis podem não ser ói as mercadorias, desde que não sejam produtos do trabalho e não se destinem à troca. A divisão do trabalho é condiçãonecessária para a produção de mercadorias, além de ser uma exigência do processo de aumento das necessidades, gerado pelo desenvolvimento das forças produtivas sociais. na exis O sistema capitalista é aquele no qual se aboliu da maneira mais completa possível a produção com vistas à criação vende de valores de uso imediato, para consumo do produtor: a a riqueza só existe agora como processo social que se das ou expressa no entrelaçamento da produção e da ção ca As trocas entre distintos tipos de mercadorias dão-se por meio de uma relação quantitativa que se modifica segundo lugar e a época e corresponde a proporções definidas socialmente. O valor da mercadoria é equivalente à quantidade do tempo de trabalho gasto na sua produção, O qual varia de uma sociedade a outra. No momento da troca faz-se a abstração da forma concreta (um prato feito ou um ramo de flores) e do seu valor de uso e então "só lhes resta uma qualidade: a de serem produtos do trabalho (...) uma inversão de força humana de trabalho, sem referência à forma particular em que foi Para se saber valor de uma mercadoria, mede-se a quantidade da "substância" que ela contém trabalho mas não se levam em conta as forças individuais e as inúmeras diferen- ças entre habilidades e capacidades e, sim, a força social média, O tempo de trabalho socialmente necessário, isto é, "todo trabalho executado com grau médio de habilidade e intensidade em condições normais relativas ao meio social dado". Em a mercadoria tem um valor de uso e um valor de troca, os quais são definidos através do caráter O social das necessidades, da ciência, do nível de cooperação de um no processo de trabalho, etc. quantia Uma condição prévia da troca que diz respeito ao conjunto manter do movimento é a seguinte: todos os agentes da troca O que é produzem nas condições da divisão do trabalho social. de acor Com efeito, as mercadorias a trocar umas pelas outras são mente simplesmente trabalho materializado em diferentes valores habilida de uso, portanto materializado de diversas formas são e à apenas o modo de existência materializado da divisão do que, CO trabalho ou a materialização de trabalhos quantitativamente suidores diferentes, correspondendo a sistemas de necessidades O capi trabalhoser A FORCA DE TRABALHO COMO MERCADORIA des, ciais. As relações de produção capitalistas implicam na existência do mercado, onde a força de trabalho é neira negociada por um certo valor. O trabalhador livre que iação vende a sua força de trabalho como uma mercadoria lutor: a qual, como veremos, tem características distintas se das outras mercadorias - é típico do modo de produ- ção capitalista. No entanto, io-se a força de trabalho não foi sempre uma mercadoria, ifica trabalho não foi sempre trabalho assalariado, isto ções é, trabalho livre. O escravo não vendia sua força de lente trabalho ao escravista, do mesmo modo que boi não vende seu trabalho ao lavrador. O escravo é o da vendido de uma vez para sempre, com sua força de feito trabalho, a seu amo. É uma mercadoria que pode ) "só passar das mãos de um dono às mãos de outro. Ele é uma mercadoria, mas sua força de trabalho não é sem uma mercadoria que lhe pertença. O servo da gleba Para só vende uma parte de sua força de Não é dade ele que obtém um salário do proprietário do solo, se pelo contrário, é proprietário do solo que recebe eren- dele um tributo. Mas trabalhador livre se vende a si mesmo e, ademais, vende-se em partes. Leiloa 8, to é, 10, 12, 15 horas de sua vida, dia após dia (...) ao de e proprietário de matérias-primas, instrumentos de social trabalho e meios de vida, isto é, ao e um O produtor vende sua força de trabalho pelo valor ração de um determinado salário. E como se determina essa quantia no mercado? Através do "valor dos meios de subsistência requeridos para produzir, desenvolver, injunto manter e perpetuar a força de trabalho", ou seja, tudo troca O que é necessário para que O trabalhador se reproduza social. de acordo com um nível de vida que varia historica- as mente entre épocas e regiões e de acordo com suas valores Isso também ele se reproduz são e à sua família enquanto categoria "trabalhador" para são do que, como disse Marx, "essa singular raça de pos- suidores dessa mercadoria se perpetue no idades O capital que compra essa mercadoria força de trabalho não é simplesmente uma soma de meios de produção. Esses, sim, é que foram transformados emcapital ao serem apropriados por uma parte dos membros da sociedade. O capital, assim como O trabalho assalariado, é uma relação social de produção, é uma forma historicamente determinada de distribuição das condições de produção resultante de um processo de expropriação e concentração da propriedade. surgime modo A sociedade capitalista baseia-se na ideologia da que igualdade, cujo parâmetro é mercado. Por um lado dal, a está trabalhador que oferece sua força de trabalho, de por outro, empregador que a adquire por um salário. técnicas A idéia de "equivalência" na troca é crucial para a muito estabilidade da sociedade capitalista. Os homens apare- a cem como iguais diante da lei, do Estado, no mercado, possibil etc., e assim eles se vêem a si mesmos. do con Mas, embora processo de venda da força de manute trabalho por um salário apareça como uma troca entre num en equivalentes, O valor que trabalhador pode produzir durante O período em que se emprega é superior àquele pelo qual vende suas capacidades seu salário. A força de trabalho é uma mercadoria peculiar: ela é a única capaz de produzir valor. Uma parte desse valor, apropriada sob a forma de trabalho excedente, é trabalho não-pago e passa a integrar O próprio capital. Transforma- se, assim, numa riqueza que se encontrará em oposição à classe dos trabalhadores. O que impede O trabalhador de perceber como se dá efetivamente todo esse processo é sua situação alienada. Em síntese, trabalho excedente é aquele que capital extrai gratuitamente durante processo social de produção aos produtores diretos ou trabalhadores (...) é trabalho forçado, ainda que possa parecer resultado de uma Os convenção contratual livremente aceita. Tal trabalho excedente traduz-se na mais-valia, que consiste em produto opunhar em capi número Marx distingue tempo de trabalho necessário que direito é aquele durante qual se dá a reprodução do trabalhador oficiais ( do período em que a atividade produtiva nao cria valor Além di para trabalhador tempo de trabalho excedente. No qualquei capitalismo, esse trabalho excedente assume a forma de transforr mais-valia. A taxa de mais-valia é a expressão "do grau de de exploração da força de trabalho pelo capital". livredos 0 PAPEL REVOLUCIONÁRIO DA BURGUESIA ção, de de Marx concentra boa parte de sua obra na análise do da surgimento, evolução e superação do capitalismo, e de que modo ele se originou da destruição da sociedade feudal da que antecede. Segundo ele, a organização produtiva feu- ado dal, a maneira como se estabelecia a propriedade dos meios lho, de produção urbana e rural, os processos de trabalho e técnicas já tinham se esgotado, e novas forças produtivas a muito mais poderosas vinham se Conquanto a proteção das guildas e corporações da Idade Média tivesse possibilitado a acumulação do capital, desenvolvimento do comércio marítimo e a fundação das colônias, a de manutenção das velhas estruturas feudais ntre num entrave à continuidade expansão. uzir uele Vimos pois que os meios de produção e de troca, sobre orça cuja base a burguesia se formou, foram criados na nica sociedade feudal. Ao alcançar um certo grau de lor, desenvolvimento, esses meios de produção e de troca, as alho condições em que a sociedade feudal produzia e trocava, ma- toda a organização feudal da agricultura e indústria, ição em uma palavra, as relações feudais de propriedade, ador deixaram de corresponder às forças produtivas já esso Freavam a produção em lugar de ente impulsioná-la.. Era preciso romper essas travas, e foram te rompidas. Em seu lugar estabeleceu-se a livre concor- rência, com uma constituição social e política adequada a ela e com a dominação econômica e política da classe balho uma Os regulamentos das corporações medievais oduto opunham forte resistência "à transformação do mestre em capitalista ao limitar, por meio de rigorosos editos, número máximo de oficiais e aprendizes que tinha que direito de empregar, e ao proibir-lhe a utilização de ador oficiais em qualquer outro ofício que não fosse valor Além disso, era permitido aos comerciantes comprar No qualquer tipo de mercadorias... menos trabalho! E, para a de transformar a força de trabalho em capital, possuidor grau de dinheiro precisava encontrar no mercado o trabalhador livredesde um duplo ponto de vista. Primeiro, trabalhador realiza tem que ser uma pessoa livre, que disponha a seu arbítrio de sua força de trabalho como de sua própria mercadoria; as pirá segundo, não deve ter outra mercadoria para vender Por góticas assim dizer, tem que estar livre de todo, por completo século desprovido das coisas necessárias para a realização de sua capacidade de produt cial?" A Deve ficar claro que não se tratava apenas de uma da mudança nos processos produtivos, mas também ao nível da organização política do Estado, das forças sociais em que este se sustentava e de outras instituições, tais como sistema jurídico e tributário, a moral, cultura e ideologia antes dominantes. A burguesia cumpriu, então, um papel Sua ação destruiu os modos de M dade organização do trabalho, as formas da propriedade no campo substitu e na debilitou as antigas classes dominantes como as velha a aristocracia feudal e clero; substituiu a legislação feu- cada ve dal; eliminou os impostos e obrigações feudais, as corpo- rações de ofício, sistema de vassalagem que impedia que grandes os servos se nos trabalhadores livres e mes- e pro todas as mo regime político nos casos em que sua e existência representava um obstáculo ao pleno desenvol- sacerdo vimento das potencialidades da produção capitalista. Essa assalaria dimensão revolucionária da ação burguesa não se esgota da exist com a extinção daquelas antigas formas; além disso, classistas se dá en a burguesia não pode existir senão sob a condição de lismo es revolucionar incessantemente os instrumentos de produção e, com isso, todas as relações sociais. (...) Uma revolução um proc contínua na produção, um abalo constante de todas as condições sociais, uma inquietude e um movimento constantes distinguem a época burguesa de todas as Rompem-se todas as relações sociais estan- cadas e com seu cortejo de crenças e de idéias veneradas durante séculos; as novas tornam-se velhas antes de terem se Segundo Marx e Engels, modo de produção capitalista estende-se a todas as nações, constrangidas a abraçar que a burguesia chama de "civilização". A pre- mência de encontrar novos mercados e matérias-primas e de gerar novas necessidades leva-a a estabelecer-se em Ao todas as partes. A burguesia "cria um mundo à sua imagem nidade al e semelhança". Ela "foi a primeira a provar que podeador realizar a atividade humana: criou maravilhas maiores do que as pirâmides do Egito, os aquedutos romanos, as catedrais oria; góticas; conduziu expedições que empanaram mesmo as antigas Por invasões e as cruzadas". Enfim, perguntam-se os autores, "que século anterior teria suspeitado que semelhantes forças de produtivas estivessem adormecidas no seio do trabalho cial?" A burguesia foi, naquele momento, a mais expressão da modernidade e do processo de racionalização. uma nível em no O A TRANSITORIEDADE DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA ra e Mas a nova sociedade "que saju das ruínas da socie- S de clade feudal, não aboliu as contradições de classe. Unicamente mpo substituiu as velhas classes, as velhas condições de opressão, omo as velhas formas de luta por outras novas." Ela "divide-se feu- cada vez mais em dois vastos campos inimigos, em duas grandes classes que se enfrentam a burguesia que e A burguesia despojou de sua auréola mes- todas as profissões que até então eram tidas como veneráveis ) sua e dignas de piedoso respeito. Do do jurista, do nvol- sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores Essa Mantiveram-se, dessa forma, as condições sgota da existência da luta de classes. Sendo as sociedades classistas fundadas em uma contradição insolúvel - a que se dá entre suas classes fundamentais também O capita- de lismo estaria condenado a extinguir-se com a eclosão de dução um processo de revolução social. das as As relações burguesas de produção e troca, as relações mento burguesas de propriedade, toda essa sociedade burguesa das as moderna, que fez surgir tão potentes meios de produção estan- e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não é capaz S de de dominar as potências infernais que desencadeou com nam-se seus conjuros. (...) As armas de que a burguesia se serviu para derrubar feudalismo voltam-se hoje contra a própria lução burguesia. Porém a burguesia não forjou somente as armas das a que lhe darão a morte; produziu também os homens que pre- empunharão essas armas os operários modernos, os mas e se em Ao mesmo tempo que cresce essa "massa da huma- hagem nidade absolutamente despossuída" aumenta também sua pode concentração em grandes centros industriais, sua capacidade 9 1de organização e de luta e a consciência de sua situação social. É ao proletariado que Marx e Engels atribuem O pape! de agente transformador da sociedade De todas as classes que hoje enfrentam a burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente As camadas médias pequeno comerciante, pequeno industrial, artesão, camponês todas elas lutam contra a burguesia para salvar sua existência, enquanto camadas médias, da ruína. Não são, pois, revolucionárias, mas con- servadoras. Mas ainda, são reacionárias, já que pretendem voltar atrás a roda da História. São revolucionárias somente quando têm diante de si a perspectiva de sua passagem iminente ao proletariado. (...) O lumpenproletariado, esse produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade, pode, às vezes, ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária; todavia, em virtude de suas condições de está mais predisposto a vender-se à reação para servir às suas E Por meio de um processo revolucionário, procura- seu pe se eliminar as condições de apropriação e concentração apreen dos meios de produção existentes em mãos de uma classe uma e, a partir de então, fundar a sociedade sobre novas ba- refletin ses. Na medida em que desaparecessem as garantias da sociais propriedade privada dos meios de produção, mesmo materia aconteceria com a burguesia como classe e com O modo capitalista de produção. Instalar-se-ia, então, uma nova forma de organização social que, numa fase transitória, seria uma ditadura do proletariado mas, ao realizar todas as condições a que se tornar-se-ja uma sociedade comunista. A antiga sociedade civil será então substituída "por uma associação que exclua as classes e seu antago- nismo; já não existirá um poder político propriamente dito, pois O poder político é precisamente a expressão "Numa frase muito oficial do antagonismo de classe dentro da sociedade conhecida, Marx e Uma das premissas para a existência dessa cujos Engels "A sociedade seria grande desenvolvimento das forças biados, burguesia produz, produtivas, promovido pela produção capitalista "pois, sobretudo, seus coisas. próprios coveiros. Sua sem ele, apenas se generalizará a penúria e, com a dos ho queda e a vitória do pobreza, começará paralelamente a luta pelo indis- proletariado são pensável e cair-se-á fatalmente na imundície anterior..."50 que Mar igualmente inevitáveis". Em outras palavras, pela inc os fruto.ação não é possível libertar os homens enquanto eles não mo estiverem completamente aptos a fornecerem-se de comida e bebida, a satisfazerem as suas necessidades de alojamento e vestuário em qualidade e quantidade só perfeitas. A "libertação" é um fato histórico e não um fato intelectual, e é provocado por condições históricas, ueno pelo progresso da indústria, do comércio, da ontra con- ndem nente agem A ALIENAÇÃO E AS RELAÇÕES SOCIAIS DE esse aixas lo ao PRODUÇÃO NA SOCIEDADE CAPITALISTA em osto a Enquanto certas qualidades de um objeto, como cura- seu peso ou densidade, são naturais e, por isso, de apreensão imediata, trabalho humano acrescenta a ele ação asse uma qualidade "sobrenatural": seu valor. Marx está aqui ba- refletindo sobre a dificuldade de se perceber as relações S da sociais que parecem estar enfeitiçadas detrás da aparência material das mercadorias. Em qualquer estado social, produto do trabalho é nova valor de uso ou objeto de utilidade. Mas no desenvol- ória, vimento histórico da sociedade existe apenas uma época odas determinada que em geral transforma produto do trabalho em mercadoria. É aquela na qual trabalho uída invertido na produção de objetos úteis adota caráter ago- de uma qualidade inerente a estas coisas, isto é, de seu ente ssão Os trabalhos humanos tomam a forma de produtos essa cujos valores podem ser medidos, quando são intercam- "Fazendo uma orças biados, mas essa relação parece dar-se apenas entre analogia: na pois, Conquanto seja "uma relação social determinada "os produtos do m a dos homens entre si (...) adquire para eles a forma cérebro do homem têm dis- fantástica de uma relação de coisas entre si". Este é aspecto de seres que Marx chama de caráter fetichista da mercadoria, dado independentes, dotados de corpos particulares", pela incapacidade dos homens de perceber como como no caso dos os frutos de seu trabalho, pois deuses.que interessa na prática aos que intercambiam produtos é saber quanto obterão em troca deles, isto é, a proporção em que se intercambiam entre Quando esta proporção adquire certa estabilidade habItual, parece-lhes proveniente da natureza mesma dos produtos do trabalho. Parece existir nas coisas uma propriedade de intercambiar-se em proporções determinadas, como as substâncias químicas combinam-se em proporções Isso quer dizer que as relações sociais aparecem como se estivessem encantadas aos olhos dos homens sob a forma de valor, como se este fosse uma propriedade natural das Através da forma fixa em valor-dinheiro, obscurecem- se caráter social dos trabalhos privados e as relações sociais entre os produtores. É como se um véu nublasse a percepção da vida social materializada na forma dos objetos, dos produtos do trabalho e de seu valor. duplo caráter social dos trabalhos particulares reflete-se no cérebro dos produtores com a forma que lhes imprime comércio prático, intercâmbio dos produtos. Quando os produtores enfrentam e relacionam entre si os produtos de seu trabalho como valores, não é porque vêem neles no uma simples envoltura sob a qual se oculta um trabalho humano Muito pelo contrário. Ao considerar iguais no intercâmbio seus produtos diferentes, estabelecem que seus distintos trabalhos são iguais. E que na fazem-no sem saber. Em valor não traz sob a escrito na testa que é. Ao contrário, de cada produto do como trabalho faz um Somente com tempo não sa homem trata de decifrar seu sentido, de penetrar nos segredos da obra social para a qual contribui, e a seus a transformação dos objetos úteis em valores é um produto atos". da sociedade, da mesma maneira que a é aquela O trabalho produtivo acaba por tornar-se uma obrigação para proletário. Este, que nas sociedades capitalistas aos representa por excelência a categoria do não-possuidor dos sidades meios de produção, é compelido a vender sua atividade vital, a qual objetiv não é para ele mais do que um meio para poder existir. homem Ele trabalha para viver. O operário nem sequer considera só se trabalho como parte de sua vida; para ele é, antes, um sacrifício de sua vida. É uma mercadoria por ele transferida 94a um terceiro. Por isso produto de sua atividade não é orção tampouco O objetivo dessa O que trabalhador orção produz para si mesmo não é a seda que lece, nem ouro iente que extrai da mina, nem palácio que constrói. O que xistir produz para si mesmo é salário, e a secla, ouro e em palácio reduzem-se para ele a uma determinada quantidade nicas de meios de vida, talvez num casaco de algodão, umas moedas de cobre e um quarto num porão. E trabalhador que tece, fia, perfura, torneia, carrega, cava, quebra pedras, omo carrega, etc. durante doze horas por dia - são essas doze rma horas de tecer, fiar, tornear, construir, cavar e quebrar pedras das a manifestação de sua vida, de sua própria vida? Pelo Para ele a começa quando terminam essas atividades, à mesa de sua casa, no banco do bar, na cama. se a As doze horas de trabalho não têm para ele sentido algum etos, enquanto tecelagem, fiação, perfuração, etc., mas somente como meio para ganhar dinheiro que lhe permite sentar- se à mesa, ao banco no bar e deitar-se na cama. Se te-se bicho-da-seda fiasse para ganhar seu sustento como lagarta, rime seria o autêntico trabalhador ando lutos Dito de outra maneira, trabalhador não se reconhece neles no produto que criou, em condições que escapam de seu arbítrio e às vezes até à sua compreensão, nem vê no derar trabalho qualquer finalidade que não seja a de garantir sua ntes, A própria "força de produção multiplicada, is. E que nasce por obra da cooperação dos diferentes ) traz sob a ação da divisão do trabalho" aparece aos produtores do como um "poder alheio", sobre qual não têm controle, po não sabem de onde procede e sentem como se estivesse nos situado à margem deles, independente de sua vontade e de e a seus atos e que "até mesmo dirige esta vontade e estes duto atos". A força produtiva que está contida no trabalho coletivo é conduzida por uma parcela dos membros da aquela formada pela classe que controla a produção segundo ação os seus interesses. A direção impressa à produção é imposta istas aos produtores e desconsideram-se todas as suas neces- dos lade sidades de realização pessoal de bem-estar que não estejam diretamente ligadas à criação de riqueza. Em condições de alienação, trabalho faz com que O crescimento da riqueza objetiva se anteponha à humanização (da natureza e do idera homem), sirva crescentemente como meio de exploração e só se realize como meio de vida, por isso ele "não é a i, um erida satisfação de uma necessidade senão, somente, um meiopara satisfazer as necessidades fora do trabalho". Enquanto os homens têm que atender às suas necessidades por meio orga de uma organização da produção que está fora do controle pero coletivo, em outras palavras, enquanto aquela é uma produção alienada, pode-se dizer que eles não participam soci de maneira consciente nesse processo. são Uma característica notável da produção capitalista é que ela se sustenta graças ao constante aperfeiçoamento técnico e ao aumento incessante da produtividade. Condição essencial para isto é uma divisão do trabalho, que acaba por tornar cada hum tarefa individual um ato abstrato e aparentemente sem qualquer relação com produto final. Assim, a própria divisão capitalista cons do trabalho, a atribuição de tarefas ou mesmo de uma atividade pod profissional atendem aos interesses particulares dos grupos dominantes e só eventualmente aos dos produtores: seu próprio alien. prazer está subordinado à produção. "O que caracteriza a divisão do trabalho no seio da sociedade é que ela engendra as especialidades, as distintas profissões e com elas idiotismo do Na em que as decisões a respeito do quê, do quanto, de como, em que velocidade e por meio de quais munis métodos se produz escaparam quase inteiramente da razão do produtor direto, "retiram ao trabalho do proletário todo caráter substantivo e fazem com que perca todo atrativo para ele. O produtor converte-se num simples apêndice da máquina e só se exigem dele as operações mais simples, mais monótonas e de mais fácil aprendizagem" Sendo assim, ele é mais facilmente substituível por outro trabalhador "especializado" em atos abstratos e com precária capacidade de negociar melhores condições de vida e Desse modo, passo hoje em dia o do operário se reduz, mais ou menos, em aos meios de subsistência indispensáveis para viver e perpetuar sua Mas preço do trabalho, como de toda mercadoria, é igual ao custo de sua produção. rior" Portanto, quanto mais enfadonho é trabalho, mais baixam a os salários (...) em de Quanto menos trabalho exige habilidade e força, isto é, escritos quanto maior é o clesenvolvimento da indústria moderna, a prev maior é a proporção em que trabalho dos homens é emanci suplantado pelo das mulheres e crianças. As diferenças se foss de idade e sexo perdem toda significação social no que existên se refere à classe operária. Não há senão instrumentos de privado trabalho cujo custo varia segundo a idade e preendanto Os fundamentos da encontram-se na neio organização social da produção, e próprio poder social é trole percebido como uma força Essa situação só chegaria uma ao fim com a extinção da sociedade capitalista, a derradeira pam sociedade de classes. "As relações de produção burguesas são a última forma contraditória do processo de produção que Logo, "a condição da emancipação da classe ico e operária é a abolição de todas as classes". 61 ncial O propósito último da crítica é mostrar caminho da cada humanização, a fim de que os homens possam tomar a quer direção da produção, orientando-a segundo sua vontade alista consciente e suas necessidades e, não, de acordo com um dade poder "externo" que vem regendo a atividade que upos caracteriza a espécie. A extinção das diversas formas de alienação exige que "as condições de trabalho e da vida visão prática apresentem ao homem relações transparentes e a as racionais com seus semelhantes e com a natureza", 62 reclama, ismo então, uma sociedade onde conflito entre homem e natu- quê, reza e entre homem e homem se resolva: a sociedade co- quais munista. O do O e só has e 0 U M 0 mais ado" ociar O modo de produção capitalista já representou um passo evolutivo em relação ao feudalismo. Para Marx, a maneira como é extraído trabalho excedente e as condições enos, ver e em que isso se dá "são mais favoráveis para desen- volvimento das forças produtivas, das relações sociais de como produção e para a criação de uma estrutura nova e supe- aixam rior", permitindo chegar "uma etapa na qual desaparecerão termo "alienação" é a tradução mais a coerção e a monopolização, por uma fração da sociedade divulgada das três em detrimento da outra, do Mas os principais palavras sto é, escritos a respeito da sociedade comunista não se propõem empregadas por a prever como ela seria, mas colocar as possibilidades de Marx para expressar a ens é emancipação e liberação das capacidades criadoras humanas idéia de "tornar-se enças se fosse garantida a apropriação social das condições da estranho a si mesmo", "não reconhecer-se em que existência, extinguindo-se a contradição entre indivíduo suas obras", despren- de privado e ser coletivo. O texto a seguir só será com- der-se, distanciar-se, preendido em toda a sua amplitude se tomado como uma perder 97alegoria da sociedade comunista. Em caso contrário, aparecerá como uma proposta utópica e mesmo Com efeito, desde momento em que trabalho começa a ser repartido, cada indivíduo tem uma esfera de atividade exclusiva que lhe é imposta e da qual não pode sair, é caçador, pescador, pastor ou crítico e não pode deixar de ser se não quiser perder seus meios de Na sociedade comunista, porém, onde cada indivíduo pode aperfeiçoar-se no campo que lhe aprouver, não tendo por isso uma esfera de atividades exclusiva, é a sociedade que regula a produção geral e me possibilita fazer hoje uma coisa, outra, caçar de pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e isso a meu sem analis por isso me tornar exclusivamente caçador, ou Marx e Engels procuram chamar a atenção, por um lado, para caráter alienante da divisão social do trabalho num nas sociedades a apropriação privada das condições impos a inte de produção escraviza os homens a atividades que não disser possuem qualquer sentido para eles e, por outro, para as distin possibilidades apresentadas por um sistema social regulado de acordo com as necessidades humanas, voltado para as e a potencialidades criativas que os homens livres abrigam em seu E como huma a verdadeira riqueza intelectual do indivíduo depende a apenas da riqueza de suas relações reais, só desta forma temas se poderá libertar cada indivíduo dos seus diversos limites na ai nacionais e locais depois de entabular relações práticas persp com a produção do mundo inteiro (incluindo a produção intelectual) e de se encontrar em estado de poder beneficiar ambié da produção do mundo inteiro em todos os domínios e este (criação dos homens). A dependência universal... será ao ci transformada pela revolução comunista em controle e domínio consciente clesses poderes que, engendrados pela forma ação recíproca dos homens uns sobre outros, se lhes mate impuseram e os dominaram até agora, como se se tratasse de poderes absolutamente atuaç A sociedade comunista corresponderia a uma "reconstrução cre consciente da sociedade humana", pondo fim à "pré-história da humanidade" e uma nova social. tariadreino da liberdade só começa quando se deixa de rio, trabalhar por necessidade e condições impostas ica: exterior; por natureza, então, encontra-se depois cla esfera da produção material propriamente dita. O domínio da leça de necessidade natural se amplia com desenvolvimento porque aumentam as não não eios 0 N U des le ica A complexidade do objeto que O marxismo procura analisar - a gênese das sociedades humanas, suas estruturas or econômicas, sociais, políticas, ideológicas e os vínculos que mantêm entre si, suas contradições internas e O que as sociedades contemporâneas podem anunciar - resultou m num rico manancial tanto de idéias como de equívocos. É O impossível catalogar todos os trabalhos que se propuseram a interpretá-lo, a condensá-lo e a rastrear conceitos que se O disseminaram por toda a obra marxista, onde tomaram formas S distintas. O próprio pensamento marxiano evoluiu interna- mente, sendo aceita a entre a produção da juventude S e a da maturidade. Além disso, ainda que Marx fosse explicitamente contrário às subdivisões dentro das ciências humanas, posteriormente, distintas áreas do conhecimento - como a filosofia, a história, a economia, a antropologia, a e a sociologia apropriaram-se de certos temas e textos, visando aplicar método histórico materialista na análise de questões segundo a perspectiva particular de cada uma delas Movimentos políticos e sociais - tais como grupos feministas, ambientalistas, partidos, sindicatos, movimentos libertários e estéticos, vinculados ao teatro revolucionário e popular, ao cinema, às correntes psicanalíticas - encarregaram-se também de examinar as proposições marxianas. Da mesma forma, algumas correntes das ciências sociais retomaram materialismo na interpretação de temas presentes na sociedade tais como as da atuação direta do Estado sobre a economia ou a privada, crescimento dos grupos médios ligados ao setor de serviços, a redução do setor produtivo, acesso do prole- tariado aos bens da sociedade de consumo, a utilizaçãoeficiente dos recursos de comunicação de massas por grupos MARX que sustentam O status quo, as formas de organização la econômica, política e militar das grandes potências 19 imperialistas e dos setores onde se experimentam relações sociais livres de repressão. Estudam-se também as causas MARX da miséria, da violência, da injustiça social, as novas M instituições familiares e religiosas, aparecimento de Pa contradições sociais não-classistas, conflitos étnicos, a MARX desintegração política e social do proletariado no sentido El clássico e, finalmente, de que modo se pode contribuir na escolha dos caminhos mais compatíveis com os anseios de liberdade e de felicidade humana apontados desde a MARX ciedade grega antiga. M E1 MARX EN REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fu MARX de HEGEL, Georg W. Friedrich. A fenomenologia do 2. de 2d. Trad. Henrique Lima Vaz. São Paulo: Abril Cultural, de 1980 MANDEL, Ernest. Tratado de economía marxista. Trad. Francisco Díez. México: Era, 1969. MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Estampa, 1973. P. 211-241: Introdução à 1 crítica da economia política; P. 25-208: Crítica à 2 MAR economia política; P. 25-32: Posfácio palabra finale a la segunda edición alemana. 3 MAR MARX, Karl. El capital. Crítica de la economía política. Trad. Floreal Buenos Aires: Cartago, 1973. 3 V. 4 MARX, Karl. Manuscritos: economía y filosofia. Trad. 5 Francisco Rubio Llorente. Madrid: Alianza Editorial, 1974. 6 MAR MARX, Karl. Marx. 2.ed. Trad. José Arthur Giannotti. São 7 Paulo: Abril Cultural, 1978. P. 49-53: Teses contra 8 (Coleção Os Pensadores) la MARX, Karl, ENGELS, F. La ideologia alemana. Trad. 9 Conceição Jardim e Eduardo Nogueira. Lisboa: Presença e Martins Fontes, 1976. 2 V. 10 MAR 100

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