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Resumo sobre Direito Civil Constitucional O Direito Civil Constitucional, uma metodologia que se consolidou no Brasil nas últimas décadas, busca reinterpretar o direito civil à luz dos princípios e valores consagrados na Constituição. Essa abordagem, que ganhou popularidade entre acadêmicos e juristas, é frequentemente mencionada em decisões judiciais e obras doutrinárias. No entanto, a sua difusão não ocorreu sem críticas, especialmente em relação à falta de rigor científico em sua aplicação. O presente trabalho é resultado de um esforço coletivo de pesquisadores da UERJ, que se reuniram para discutir e aprofundar os fundamentos dessa metodologia, visando não apenas celebrar sua aceitação, mas também esclarecer suas premissas e responder às críticas que lhe são dirigidas. Os coordenadores da obra, Anderson Schreiber e Carlos Nelson Konder, introduzem o conceito de Direito Civil Constitucional, destacando que ele não se limita a uma simples aplicação das normas constitucionais ao direito civil, mas envolve uma releitura contínua das normas civis à luz da Constituição. Essa metodologia é fundamentada em três pressupostos principais: a natureza normativa da Constituição, a unidade e complexidade do ordenamento jurídico, e a necessidade de uma nova teoria da interpretação que busque a aplicação prática dos valores constitucionais. O primeiro pressuposto enfatiza que a Constituição não é apenas um documento político, mas uma norma que deve ser aplicada diretamente nas relações privadas, desafiando a visão tradicional que a considera meramente programática. A história do Direito Civil Constitucional remonta ao pós-Segunda Guerra Mundial, quando muitos países europeus reformularam suas constituições para refletir valores humanistas e solidários. No Brasil, a Constituição de 1988, fruto de um processo de redemocratização, estabeleceu princípios fundamentais como a dignidade da pessoa humana e a função social da propriedade. No entanto, o Código Civil de 1916, que ainda estava em vigor, refletia uma ideologia individualista e patrimonialista, criando um conflito de valores que exigia uma urgente constitucionalização do direito civil. A resistência inicial dos civilistas à mudança foi superada ao longo do tempo, com a metodologia ganhando espaço no debate acadêmico e na jurisprudência, especialmente com a atuação do Superior Tribunal de Justiça. Fundamentos do Direito Civil Constitucional Os fundamentos do Direito Civil Constitucional, conforme delineados por Pietro Perlingieri, incluem a eficácia normativa da Constituição, a unidade e complexidade do ordenamento jurídico, e uma nova abordagem interpretativa. A eficácia normativa implica que as normas constitucionais devem ser aplicadas diretamente nas relações privadas, desafiando a visão tradicional que relegava a Constituição a um papel subsidiário. A unidade do ordenamento jurídico sugere que, apesar da diversidade de fontes e normas, todas devem ser interpretadas à luz dos valores constitucionais, evitando a fragmentação do direito em microssistemas autônomos. Por fim, a nova teoria da interpretação requer que os juristas interpretem o direito civil de forma a maximizar a realização dos valores constitucionais, transformando o papel do intérprete em um agente criativo que busca a justiça social e a dignidade humana. A obra também aborda a necessidade de despatrimonialização do direito civil, enfatizando que a atividade econômica deve ser subordinada à realização de valores sociais. A Constituição de 1988 estabelece que a propriedade deve atender à sua função social, o que implica uma mudança qualitativa na forma como os institutos jurídicos são compreendidos e aplicados. Essa abordagem não busca eliminar o conteúdo patrimonial do direito civil, mas sim reorientá-lo para que sirva a propósitos mais amplos, como a solidariedade social e a dignidade da pessoa humana. A dicotomia entre "ser" e "ter" é utilizada para ilustrar essa mudança, onde o ser humano e seus direitos existenciais devem prevalecer sobre os interesses patrimoniais. Por fim, a obra apresenta três desafios para o civilista contemporâneo: a necessidade de uma abordagem holística que considere o ordenamento jurídico como um todo, a aplicação rigorosa de normas abertas e princípios constitucionais, e a realização da vocação do direito civil como um instrumento de proteção dos direitos humanos. O civilista deve evitar tanto o legalismo restrito quanto o subjetivismo jurídico, buscando um equilíbrio que permita a aplicação dos valores constitucionais de forma técnica e fundamentada. A metodologia civil constitucional, portanto, não apenas propõe uma nova forma de interpretar o direito civil, mas também busca promover uma transformação social que assegure a dignidade e os direitos fundamentais de todos os indivíduos. Destaques O Direito Civil Constitucional busca reinterpretar o direito civil à luz da Constituição, promovendo uma releitura contínua das normas civis. Os fundamentos dessa metodologia incluem a eficácia normativa da Constituição, a unidade do ordenamento jurídico e uma nova teoria da interpretação. A despatrimonialização do direito civil é necessária para que a atividade econômica atenda a valores sociais, como a dignidade humana e a solidariedade. Três desafios para o civilista contemporâneo incluem a abordagem holística do ordenamento jurídico, a aplicação rigorosa de normas abertas e a proteção dos direitos humanos. A metodologia civil constitucional visa promover uma transformação social que assegure a dignidade e os direitos fundamentais de todos os indivíduos.