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Paul	Mattick
CAPITALISMO	E	ECOLOGIA
DO	DECLÍNIO	DO	CAPITAL	AO	DECLÍNIO	DO	MUNDO
Edições	Enfrentamento
Goiânia,	2020
©	2020,	Edições	Enfrentamento
Capa:	Ediney	Vasco
Tradução:	Mateus	Alves
Revisão:	Marcus	Gomes
Diagramação:	Carlos	Henrique	Marques
Conselho	Editorial:
André	de	Melo	Santos/IFG
Cleito	Pereira/UFG
Jean	Isídio/UEG
Leonardo	Proto/FTA
Lisandro	Braga/UFPR
Maria	Angélica	Peixoto/IFG
Mateus	Orio/UEG
Nildo	Viana/UFG
Ricardo	Golovaty/IFG
Weder	David	de	Freitas/IFG
Ficha	Catalográfica
MATTICK,	Paul.
Capitalismo	e	Ecologia/Paul	Mattick.	Goiânia:	Edições	Enfrentamento,	2020.
88	p.
ISBN:	978-65-00-06302-8	(edição	digital).
1.	Ecologia	Humana.	2.	Sociologia	ambiental.	3.	População.	4.	Demografia.	5.
Estudos	da	População.
CDD	304.2
CDU	314.1
Índices	para	catálogo	sistemático:
1.	Ecologia.	2.	Capitalismo.	3.	População.
http://edicoesenfrentamento.net
edicoesenfrentamento@gmail.com
SUMÁRIO
CAPITALISMO	E	ECOLOGIA	SEGUNDO	PAUL	MATTICK
INTRODUÇÃO
DIALÉTICA	E	ECOLOGIA
CRESCIMENTO,	CAPITALISMO	E	COMUNISMO
CRISE	ECOLÓGICA	E	LUTA	DE	CLASSES
CAPITALISMO,	CRISE	ECOLÓGICA	E	CRISE	SOCIAL
O	CAMINHO	DA	ESPERANÇA
CAPITALISMO	E	ECOLOGIA
SEGUNDO	PAUL	MATTICK
Nildo	Viana
A	presente	obra	de	Paul	Mattick	aponta	para	uma	análise	crítica	da	relação	entre
capitalismo	e	ecologia	a	partir	de	uma	discussão	com	algumas	posições	em
relação	ao	problema	ambiental,	tal	como	colocada	no	início	dos	anos	1970.	O
ponto	de	partida	dessa	discussão	é	provocado,	indiretamente,	pela	publicação	do
Clube	de	Roma	sobre	os	“limites	do	crescimento”.	O	relatório	do	Clube	de
Roma	criou	um	estardalhaço	em	torno	da	questão	ambiental	e	seu	catastrofismo
gerou	um	impacto	em	alguns	setores	da	sociedade.	Esse	foi	o	caso	de	Wolfgang
Harich,	que,	na	antiga	Alemanha	Oriental	(que	vivia	sob	o	capitalismo	estatal	e
era	satelizada	pela	antiga	União	Soviética),	refletiu	sobre	a	questão	ecológica	a
partir	das	posições	do	Clube	de	Roma.	Mattick	realiza,	na	presente	obra,	uma
análise	crítica	desse	ideólogo	do	capitalismo	estatal	e,	nesse	contexto,	discute	a
relação	entre	capitalismo	e	ecologia.
Mattick	focaliza	sua	análise	na	proposta	de	Harich,	publicada	com	o	título	de
Comunismo	sem	Crescimento?	Babeuf	e	o	Clube	de	Roma¹.	A	sua	análise
discorre	sobre	as	reflexões	e	propostas	de	Harich,	adentrando	na	questão
ecológica	no	contexto	do	desenvolvimento	capitalista	e	tratando	de	questões
correlatas,	como	ecologia,	dialética,	luta	de	classes,	acumulação	capitalista,	entre
outros	temas.
Nesse	contexto,	Mattick	já	avança	em	alguns	elementos	de	crítica	da	ecologia
em	suas	tendências	conservadoras	e	reformistas,	bem	como	avança	em	algumas
discussões	interessantes	sobre	a	questão	ecológica	em	si.	No	fundo,	a	crítica	de
Mattick	a	Harich	é	uma	introdução	geral	a	uma	crítica	do	ecologismo
hegemônico	através	de	uma	crítica	à	concepção	de	crise	ecológica	e	sua	solução
por	parte	desse	autor.
O	nosso	objetivo	é	realizar	uma	apresentação	crítica	da	análise	de	Mattick,
destacando	tanto	os	elementos	que	são	uma	contribuição	para	a	discussão	da
questão	ecológica	numa	perspectiva	marxista,	quanto	os	elementos
problemáticos	de	sua	análise.	Esse	último	aspecto,	não	é	necessário	dizer,	não
invalida	ou	desqualifica	a	sua	abordagem	do	problema	ecológico,	muito	mais
avançada	do	que	milhares	de	páginas	escritas	por	ecologistas	de	variadas
tendências,	embora	ainda	introdutória	e	voltada	para	uma	reflexão	derivada	de
uma	publicação	específica.
Um	dos	elementos	que	se	destaca	na	abordagem	de	Mattick	a	respeito	da	questão
ecológica	é	a	questão	dos	seus	pressupostos	epistêmicos.	Sem	dúvida,	Mattick,
como	marxista	autêntico,	parte	da	perspectiva	do	proletariado,	logo,	da	crítica
revolucionária.	Nesse	sentido,	ele	compartilha	o	campo	axiomático	da	episteme
marxista,	o	que	lhe	garante	a	criticidade	e	a	ruptura	com	o	anistorismo	da
episteme	burguesa².	A	recusa	da	história	efetivada	pela	episteme	burguesa	é
criticada	pelo	marxismo	e	nisso	Mattick	é	coerente	na	presente	obra.	Outros
elementos	da	episteme	marxista	se	manifestam	nesse	pequeno	texto	de	Mattick.
Porém,	Mattick	também	revela	algumas	ambiguidades.	Esse	é	o	caso	no	que	se
refere	à	algumas	afirmações	e	termos	utilizados	por	ele,	que	entram	em
contradição	com	o	campo	analítico	e	o	campo	linguístico	da	episteme	marxista.
Sem	dúvida,	isso	é	parcial.	Porém,	é	indício	de	problemas	analíticos	e
terminológicos.	Essa	questão	se	manifesta	logo	no	início	do	texto.	Logo	ao
iniciar	o	texto,	Mattick	afirma	que	“o	caráter	histórico	da	natureza	decorre	da
segunda	lei	da	termodinâmica,	descoberta	há	mais	de	cem	anos	atrás	por	Carnot
e	Clausius”	(p.	35).	Mais	adiante	ele	afirma:	“a	Segunda	Lei	da	Termodinâmica
foi	descoberta	pela	físico-química,	e	não	pelo	método	dialético,	e	isso	é	o
suficiente	para	elucidar	a	ecologia	do	ponto	de	vista	biológico	e	social”	(p.	42).
Sem	dúvida,	esse	é	um	problema	que	poucos	perceberiam	e	cuja	importância
pode	parecer	desprezível.	A	não	percepção	do	problema	tem	sua	origem	na
distinção,	também	feita	por	Mattick,	entre	marxismo	e	ciências	naturais.	Ele	diz,
acertadamente,	que	“o	marxismo	não	é	uma	ciência	natural”	(p.	42).	Essa
constatação,	no	entanto,	pode	ser	problemática	quando	se	passa	dela	para	a
submissão	do	marxismo	às	ciências	naturais,	quando	se	trata	de	abordar	os
fenômenos	naturais.	Na	verdade,	as	ciências	naturais	não	são	neutras	e	nem	estão
acima	das	relações	sociais,	dos	valores,	etc.,	da	sociedade	burguesa.	Um	dos
elementos	fundamentais	das	ciências	naturais	é	que	elas	reproduzem	a	episteme
burguesa	(e,	por	conseguinte,	seus	paradigmas	hegemônicos,	a	cada	regime	de
acumulação,	embora	não	de	forma	generalizada,	pois	existem	exceções	e
paradigmas	concorrentes)³.
Isso	não	quer	dizer,	obviamente,	que	nada	que	foi	produzido	pelas	ciências
naturais	seja	verdadeiro⁴.	As	ideologias	possuem	“momentos	de	verdade”	e	as
ciências	naturais	possuem	mais	momentos	de	verdade	do	que	a	maioria	das
formas	de	consciência	existentes	na	sociedade	capitalista.	Porém,	isso	ocorre
dentro	de	um	limite.	As	ciências	naturais	trazem	em	si	as	marcas	da	episteme
burguesa	e	uma	de	suas	principais	características	é	o	reducionismo	(ao	lado	do
anistorismo	e	antinomismo).	Esse	é	o	caso	dos	cientistas	que	buscaram,	usando
um	frasco	e	determinados	gases,	observar	se	a	partir	de	química	simples	seria
possível	comprovar	que	a	hipótese	sobre	a	origem	da	vida	de	Oparin	e	Haldane	é
verdadeira,	o	que	ficou	conhecido	como	“Experimento	de	Urey	e	Miller”⁵.
O	reducionismo	se	revela	na	ideia	de	que	o	uso	de	determinados	componentes
em	um	frasco	de	vidro	poderia	reproduzir	a	riqueza	da	vida	real,	que	pode	conter
milhões	de	outros	elementos	e	que	não	foram	selecionados	por	pesquisadores	e
sim	num	processo	espontâneo	e	natural.	O	equívoco	está	em	pensar	que	num
frasco,	por	mais	elementos	que	se	coloque	nele,	seria	possível	reproduzir	o
conjunto	de	determinações	que	deram	origem	à	vida.	O	experimento	foi	criticado
posteriormente	por	causa	da	escolha	dos	elementos	(hidrogênio,	amônia,	metano,
etc.)	pelos	pesquisadores,	pois	excluíam	outros	elementos	(nitrogênio,	dióxido
de	carbono,	oxigênio)	que	mais	provavelmente	estariam	presentes	na	formação
da	vida	no	planeta	(e	que	destruiriam	as	moléculas	necessárias	para	tal) .	Claro
que	a	base	de	tal	experimento	é	uma	concepção	cuja	origem	social	e	histórica
precisaria	ser	rastreada,	tanto	na	análise	das	mutações	culturais,	e,	nesse	caso,	a
hegemonia	do	paradigma	reprodutivista⁷,	quanto	em	outros	processos	sociais	e
históricos,	além	da	história	das	ciências	naturais	e	seu	estágio	no	momento	em
que	o	experimento	ocorreu.
As	implicações	políticas	de	supostas	concepções	e	descobertas	científicas	podem
ser	analisadas	na	história	ou	na	própria	relação	entre	determinada	tese	científica
e	seus	usos	políticos	e	sociais.	A	questão	do	uso	político	de	supostas
“descobertas	científicas”	é	descartada	por	muitos,	pois,	segundo	argumentam,	o
uso	é	extracientífico.	Ora,	o	uso	extracientífico	revela	o	interesse	científico	e	este
expressa	interesses	mais	amplos.menos,	não	altera	o	fato	que	as	matérias-
primas	e	combustíveis	serão,	no	fim,	utilizados,	não	faz	muito	sentido	contrariar
expectativas	otimistas	com	expectativas	pessimistas.	Mas,	tal	como	as	coisas
estão,	é	esperado	que	para	o	futuro	previsível	da	política	econômica,	e,	portanto,
da	política,	não	serão	determinados	pelas	considerações	ecológicas,	mas	—
como	antes	—	pela	exigência	imanente	de	produção	de	lucro	do	capital.
O	limite	histórico	do	capital	é,	de	acordo	com	Marx,	o	próprio	capital.	O
desenvolvimento	das	forças	sociais	de	produção	pelo	caminho	da	acumulação	de
capital	não	exige	apenas	matérias-primas	não-renováveis	e	traz	com	ele	uma
superpopulação	relativa,	mas	também	leva	a	uma	tendência	declinante	da	taxa	de
lucro	em	relação	ao	crescimento	da	massa	de	capital.	Com	isto,	os	limites	da
expansão	capitalista	tornam-se	visíveis.	Mesmo	sem	os	limites	impostos	pela
natureza,	o	capital	deve	ter	fim.	Não	é,	portanto,	orientado	diretamente	à
natureza,	mas	à	taxa	de	lucro,	dependente	do	mais-valor,	ao	qual,	à	medida	que	o
capital	se	acumula,	determina	a	relação	entre	natureza	e	sociedade.	Embora	as
apreensões	“ecológicas”	do	Clube	de	Roma	possuam	basicamente	um
fundamento	prosaico,	como	foi	proeminente,	por	exemplo,	a	chamada	crise	do
petróleo	de	1973.	Nesta	crise	não	houve	uma	inesperada	falta	de	petróleo,	mas
um	aumento	dos	preços	politicamente	motivado,	acompanhando	a	inflação	geral
do	mundo,	que	mudou	a	relação	oferta-demanda	para	benefício	dos	produtores
de	petróleo.	Se	fosse	deixado	para	o	mercado,	apenas	um	considerável	declínio
na	demanda	poderia	afetar	o	preço	do	monopólio,	e	isso	só	ocorreria	com
dificuldade	e	ao	longo	do	tempo.	Mas,	o	aumento	da	produção	de	petróleo
concomitante	ao	aumento	dos	preços,	não	levará	somente,	de	acordo	com	o
segundo	relatório	do	Clube	de	Roma,	para	uma	mais	acelerada	escassez	do
suprimento	de	energia,	mas	para	uma	transferência	de	riqueza	e	poder
econômico	dos	países	industriais	para	os	estados	que	produzem	petróleo.	O	Irã	já
conseguiu	o	controle	minoritário	das	ações	da	empresa	alemã	Krupp.	Dentro	de
dez	anos,	os	estados	produtores	de	petróleo,	com	um	capital	acumulado	de	500
bilhões	de	dólares,	poderiam	tomar	grande	parte	do	capital	ocidental	em	suas
mãos,	abalando,	assim,	a	economia	mundial,	inclusive	dos	países
subdesenvolvidos,	para	o	nível	mais	profundo.	Sem	entrar	nessas	especulações
não	fundamentadas	e	mais	que	duvidosas,	pode-se	notar	que	os	desejos	do	Clube
de	Roma	para	uma	“solução	global	do	problema	energético”	parecem	derivar
mais	do	ponto	de	vista	econômico	do	que	ecológico.	Em	todo	caso,	não	é,	no
momento,	uma	real	falta	de	recursos	naturais	que	ameaçam	o	mundo,	mas	sim	a
guerra	competitiva	pelo	lucro	global	realizada	por	todos	os	meios	possíveis.
Como	o	movimento	do	mundo	é	determinado	pelo	lucro,	os	capitalistas	se
preocupam	com	o	problema	ecológico	apenas	na	medida	em	que	isso	afeta	o
lucro.	Os	capitalistas	não	têm	interesse	na	destruição	do	mundo;	se	salvar	o
mundo	tornar-se	lucrativo,	então	a	proteção	do	mundo	se	tornará	outro	negócio	–
ainda	mais	porque	a	destruição	ambiental	é	ela	mesma	um	instrumento	da
competição	para	compartilhar	o	lucro	total.	Este	problema	aparece	na	literatura
econômica	sob	o	título	de	“externalidade”,	a	distinção	entre	efeitos	privados	e	o
sintoma	social	concomitante	da	produção	capitalista.	Os	fenômenos	sociais	são
também	fenômenos	ecológicos,	como	quando	a	emissão	de	poluentes	de	todo
tipo,	que	entra	dentro	de	ciclos	naturais,	finalmente	destrói	a	necessária	balança
global	de	oxigênio.	Neste	sentido	a	destruição	do	meio	ambiente,	que	geralmente
é	considerada	mais	rápida	e	perigosa	do	que	o	uso	rápido	de	recursos	materiais,
está	entrelaçada	com	a	escassez	dos	recursos.	Tal	fenômeno	amplamente
conhecido,	que	pode	ser	atribuído	a	produção	de	lucro	e	à	redução	da	produção
de	lucro,	afeta	os	variados	capitais	diferentemente	e,	portanto,	eles	mesmos
fazem	esforços	para	limitar	a	destruição	no	interior	do	capitalismo.	Depende	da
massa	de	mais-valor	se	estas	tentativas	podem	ser	bem	sucedidas,	isto	é,	depende
do	aumento	da	exploração	dos	trabalhadores	ou	de	seus	“modestos	padrões	de
vida”.	Neste	ponto,	as	propostas	de	Harich	são	as	mesmas	medidas
recomendadas	pelo	capital,	assim	expressas	pelo	Clube	de	Roma.
Não	é	impossível	que	—	com	uma	produção	suficiente	de	mais-valor	—	o
próprio	capital	poderia	ser	capaz	de	evitar	a	destruição	do	meio	ambiente,	em
seu	próprio	interesse,	enquanto	o	custo	é	pago	pela	população	operária.	E	como
a	acumulação	impõe	limites	ao	mais-valor,	a	destruição	do	meio	ambiente	em
andamento	pode	ser	rastreada	de	volta	aos	limites	do	modo	de	produção
capitalista.	Nos	deparamos	aqui	com	um	problema	social	e	não	ecológico.	Mas	o
que	dizer	acerca	do	problema	da	superpopulação?	Esse	é	um	problema	em	si,
que	não	desaparecerá	simplesmente	mesmo	com	uma	imaginável	gestão	racional
das	matérias-primas	e	com	o	fim	da	destruição	ambiental.	A	produção	dos	meios
de	subsistência	está	diminuindo	em	relação	ao	aumento	da	população.	A	terra
está	ficando	menos	fértil?	Ou	simplesmente	inadequada	para	suportar	o
crescimento	populacional?
Entre	diversos	estudos,	um	realizado	três	anos	atrás	para	o	Clube	de	Roma,	sob	a
liderança	do	H.	Linnemann,	mostrou	que	a	capacidade	global	de	produção	de
comida	cresceu	suficientemente	para	suportar	o	dobro	da	população³².
Atualmente,	a	diminuição	da	produção	agrícola	em	relação	à	população	em
crescimento	nada	tem	a	ver	com	os	limites	estabelecidos	pela	natureza,	mas	se
origina	em	relações	sociais	que	impedem	uma	extensão	da	produção.	Além
disso,	a	fome	existente	no	mundo	não	tem	nada	a	ver	com	a	produtividade	da
agricultura.	Mesmo	a	duplicação	da	produção	poderia	não	eliminá-la;	na
verdade,	isto	provavelmente	a	aumentaria	ainda	mais.	A	existência	de	alimentos
suficientes	não	é	o	bastante	para	garantir	a	satisfação	das	necessidades	de
consumo	humano.	As	mercadorias	existem	somente	para	a	demanda	efetiva	e,
para	quem	precisa	sem	a	capacidade	de	pagar,	a	superprodução	pode	ser	ainda
mais	perigosa	do	que	uma		safra	insuficiente	causada	pela	natureza.	As	safras
insuficientes	que	também	podem	levar	a	fome	não	têm,	obviamente,	nada	a	ver
com	a	natureza	incalculável,	mas	sim	com	a	negligência	social	de	medidas	que,
com	o	aumento	da	produção	agrícola	e	com	o	melhoramento	da	produtividade
agrícola,	poderiam	acumular	reservas	suficientes	para	compensar	catástrofes
naturais.
No	mundo	subdesenvolvido	e	amplamente	agrário,	como	por	exemplo	no	Sul
Asiático,	o	problema	não	é	uma	avareza	da	natureza,	mas	sim	as	instituições	e
relações	de	poder	de	um	sistema	de	classe	social	que	impedem	o	aumento	da
produção	e	da	produtividade.	Além	da	economia	de	subsistência	se	tornar	cada
vez	mais	insustentável,	a	propriedade	latifundiária,	o	sistema	de	arrendamento
agrícola,	o	capital	portador	de	juros³³,	a	economia	de	plantation³⁴,	e	o	estado
burocrático	parasitário,	é	que	impedem	qualquer	desenvolvimento	progressivo
mantendo	a	estrutura	social	existente.	Nos	estados	africanos,	a	especialização	na
produção	de	matérias-primas	industriais	criada	pelo	sistema	colonial	levou	a
uma	situação	da	qual	um	maior	desenvolvimento	é	hoje	também	subordinado	ao
ciclo	de	crise	capitalista	e	ao	empobrecimento	entrelaçado	com	isso.	Não	apenas
lá,	mas	também	nas	nações	do	América	do	Sul,	o	aumento	da	industrialização
vem	com	o	custo	da	produção	agrícola.	Países	que	eram	exportadores	de
alimentos,	agora	estão	se	tornando	importadores.	O	desenvolvimento	da	Rússia
dentro	do	mundo	competitivo	também	exigiu	uma	negligência	relativa	na
agricultura,	tornando	necessária	a	importação	de	comida	sempre	que	houver	uma
safra	ruim.	O	aumento	da	discrepância	entre	a	produção	industrial	e	agrícola	tem
menos	a	ver	com	o	crescimento	populacional	e	diminuição	da	fertilidade	do	solo
do	que	com	a	ênfase	exagerada	unilateral	da	expansão	industrial,	ou	da	expansão
do	capital,	demandada	pela	competição	capitalista.
Obviamente,	o	crescimento	populacional	aumentou	enormemente	.	Já	que	a
medicina	diminuiu	consideravelmente	a	mortalidade,e	o	número	de	nascimentos
permaneceu	o	mesmo,	surge	uma	“explosão	populacional”.	É	óbvio,	no	entanto,
que	a	população	não	pode	continuar	crescendo,	e	mais	cedo	ou	mais	tarde,	terá
que	se	estabilizar	em	relação	às	condições	ecológicas	dadas.	Mas,	a	partir	disso,
o	tamanho	atual	da	população	não	é	responsável	pela	pobreza	existente	no
mundo.	Um	nível	de	produção	adequada	para	as	necessidades	do	aumento
populacional	mostraria	provavelmente	que	é	muito	cedo	falar	de	uma
superpopulação	absoluta.	A	porcentagem	de	crescimento	da	produção	e	da
produtividade	da	agricultura	em	países	como	o	Estados	Unidos	e	Austrália
excede,	e	muito,	a	porcentagem	do	aumento	populacional.	Embora	os	mesmos
resultados	não	podem	ser	concretizados	em	todos	os	lugares,	mesmo	com	os
mesmos	métodos,	é	certamente	ainda	possível	o	aumento	significativo	da
produção	mundial	de	comida.
E	com	um	melhoramento	geral	das	condições	de	vida,	podemos	esperar	ver	uma
diminuição	consciente	do	crescimento	populacional.	Obviamente,	isto	pode
também	ser	realizado	através	do	uso	da	violência	do	estado,	o	método	escolhido
por	Harich.	Deste	modo,	na	Índia,	há	propostas	de	leis	que	obrigam	a
esterilização	forçada	em	famílias	depois	de	terem	seu	segundo	filho.	Deste
modo,	falta	apenas	um	pequeno	passo	para	a	extermínio	de	pessoas	que	estão	em
excesso.	Mas	há	também	outra	coisa:	enquanto	isso	é	ainda	um	privilégio	de
uma	minoria	da	população	mundial,	o	nível	do	controle	de	natalidade	já
realizado	pelos	países	desenvolvidos,	demonstram	a	possibilidade	de
planejamento	familiar,	que	ao	longo	do	tempo,	pode	não	somente	estabilizar	a
população,	mas	até	diminuí-la.
Os	alertas	de	Harich	e	do	Clube	de	Roma	seriam	completamente	sem	sentido,	se
eles	não	estivessem	acompanhados	pela	convicção	que	a	ameaçadora	catástrofe
ecológica	pode	ser	prevenida.	A	ideia	de	que	essa	é	uma	possibilidade	real	em	si,
significa	que	se	a	humanidade	ainda	possui	um	futuro	indefinido	depende	da
sociedade	e	não	da	natureza.	Para	Harich,	a	destruição	da	produção	capitalista	é
a	pressuposição	inevitável	para	este	futuro.	Apenas	por	este	caminho,	o
problema	ecológico	encontraria	uma	solução.	Mas	o	que	ele	tem	em	mente	não	é
uma	revolução	que	levaria	a	uma	sociedade	comunista,	o	único	tipo	de	sociedade
que	estaria	em	posição	para	resolver	o	problema	ecológico.	O	Clube	de	Roma
não	pode	nem	imaginar	a	pseudorrevolução	de	Harich,	mas	depende	de	sua	boa
vontade	e	dos	estadistas	esclarecidos	de	prontidão	a	tomar	as	medidas
necessárias	para	resolver	o	problema	ecológico.	Mas	não	podemos	esperar	que
essas	medidas	acabariam	com	este	problema	junto	com	a	estrutura	social	e	com
os	próprios	estadistas.	Mas	não	podemos	esperar	que	essas	medidas	acabariam
com	a	estrutura	social	e	com	os	próprios	estadistas.
O	CAMINHO	DA	ESPERANÇA
O	que,	então,	deve	ser	feito	nessa	situação	aparentemente	sem	esperança?
Em	geral,	nada,	desde	que	o	problema	seja	encarado	do	ponto	de	vista
ecológico.	Antes	de	tudo,	não	é	a	coisa	mais	óbvia	que	ameaça	a	existência
contínua	da	humanidade.
A	“crise	ecológica”	é,	em	grande	parte,	produto	de	uma	situação	de	crise
social,	e	a	catástrofe	iminente	que	surge	da	crise	social	está	chegando	mais
cedo	do	que	a	catástrofe	ecológica.
Atualmente,	a	grande	probabilidade	de	conflitos	envolvendo	guerra	atômica
torna	supérflua	a	preocupação	com	a	crise	ecológica.	Precisamos	nos
concentrar	em	processos	sociais	para	impedir	os	criminosos	atômicos	do
Oriente	e	do	Ocidente.	Se	os	trabalhadores	do	mundo	não	conseguirem	isso,
eles	também	não	estarão	em	posição	de	combater	a	ameaça	ecológica	ou
criar	a	sociedade	comunista	que	tornaria	possível	a	existência	futura	da
humanidade.
Notas
[←1]
HARICH,	Wolfgang.	¿Comunismo	sin	crecimiento?	Babeuf	y	el	Club	de	Roma.
Barcelona:	Editorial	Materiales,	1978.
[←2]
Sobre	a	episteme	burguesa	veja:	VIANA,	Nildo.	O	Modo	de	Pensar	Burguês.
Episteme	Burguesa	e	Episteme	Marxista.	Curitiba:	CRV,	2018.
[←3]
Sobre	as	mutações	da	episteme	burguesa	e	sucessão	de	paradigmas,	cf.	VIANA,
Nildo.	Hegemonia	Burguesa	e	Renovações	Hegemônicas.	Curitiba:	CRV,	2019.
[←4]
E	muito	menos	que	concordemos	com	as	ideologias	do	paradigma	subjetivista
que	são	irracionalistas	ou	adeptas	da	“construção	cultural”	da	ciência.	A
concepção	marxista	é	mais	complexa	e	mais	profunda,	além	de	não	cair	nas
antinomias	do	pensamento	burguês	(tal	como	a	entre	racionalismo	e
irracionalismo,	absolutismo	e	relativismo,	etc.).
[←5]
Experimento	realizado	em	1953,	por	Stanley	Miller	e	Harold	Urey,	na
Universidade	de	Chicago.	
[←6]
Cf.	DAMINELI,	Augusto;	DAMINELI,	Daniel	S.C.	Origens	da	Vida.	Estudos
Avançados,	vol.	21,	num.	59,	2007.
[←7]
O	paradigma	reprodutivista,	nessa	época,	apontava	para	uma	verdadeira	euforia
com	a	criação	de	“modelos”	e	não	é	difícil	imaginar	o	frasco	de	Miller	e	Urey
como	um	“modelo”	que	explicaria	a	origem	da	vida.	E	as	primeiras	críticas	a
esse	experimento	se	basearam	em	“modelos	matemáticos”,	o	que,	em	si	mesmo,
é	revelador	da	força	do	paradigma	hegemônico	nessa	época.	Sobre	o	paradigma
reprodutivista,	cf.	VIANA,	Nildo.	Hegemonia	Burguesa	e	Renovações
Hegemônicas.	Ob.	cit.
[←8]
A	ideia	de	lei,	com	seu	caráter	determinista,	é	questionável	não	apenas	nas
relações	sociais,	mas	também	no	“mundo	natural”.	Claro	que,	aqui,	não
compactuamos	com	o	atual	paradigma	hegemônico	e,	por	conseguinte,	não
defendemos	a	existência	de	um	“indeterminismo”.	O	que	colocamos	é	que	as
relações	estabelecidas,	tanto	nos	fenômenos	sociais	quanto	nos	fenômenos
naturais,	são	mais	complexas	e	a	ideia	de	lei	é	limitada	e	obstáculo	para	sua
compreensão.	Isso	não	abole	a	existência	de	determinações	e	de	uma
determinação	fundamental	que	constitui	o	fenômeno.	Essa	discussão
metodológica,	no	entanto,	não	pode	ser	realizada	aqui,	por	nos	desviar	muito	dos
nossos	objetivos.
[←9]
Sem	dúvida,	Rifkin	é	um	autor	sensacionalista	(e	ficou	conhecido	no	Brasil	com
sua	obra	O	Fim	dos	Empregos	e,	além	dessa,	escreveu	várias	obras	sobre	o
“fim”,	inclusive	do	capitalismo,	ou	seja,	é	um	gerador	de	best-sellers
pseudocientíficos),	mas	não	deixa	de	ser	expressão	do	que	pode	ocorrer	e	do	que
efetivamente	ocorre	com	a	simplificação	e	vulgarização	da	ciência,	bem	como
seus	efeitos	políticos	e	sociais.	Também	não	se	pode	esquecer	que	os	best-sellers
sensacionalistas	possuem	impacto	na	sociedade.
[←10]
A	questão	de	sua	maior	ou	menor	validade,	por	sua	vez,	requer	uma	análise	de
sua	correspondência	ou	não	em	relação	à	realidade	e	nos	contextos	nos	quais
“funciona”	e	nos	quais	“não	funciona”,	o	que	remete	para	outra	discussão,	que
não	é	a	que	realizamos	aqui.
[←11]
A	questão	da	dialética	da	natureza	é	polêmica.	A	obra	de	Engels,	A	Dialética	da
Natureza	(ENGELS,	Friedrich.	A	Dialética	da	Natureza.	4ª	edição,	Rio	de
Janeiro:	Paz	e	Terra,	1985.),	foi	saudada	como	obra	fundamental	pelo
pseudomarxismo	social-democrata	e,	principalmente,	bolchevista,	e	acaba
desembocando	no	“diamat”	(“materialismo	dialético”),	divulgado
fundamentalmente	por	Stálin	(STÁLIN,	Joseph.	Materialismo	Dialético	e
Materialismo	Histórico.	3ª	edição,	São	Paulo:	Global,	1982).	Antes	disso,	no
entanto,	a	ideia	de	uma	“dialética	da	natureza”	foi	refutada	por	Lukács	(cf.
LUKÁCS,	Georg.	História	e	Consciência	de	Classe.	2ª	edição,	Rio	de	Janeiro:
Elfos,	1989),	em	seu	período	revolucionário,	e	por	outros	marxistas.	A	ideia	de
uma	“dialética	da	natureza”	é	a	de	que	a	dialética	é	composta	por	leis	que	se
manifestam	como	leis	do	pensamento,	da	sociedade	e	da	natureza.	O	caráter
positivo-naturalista	dessa	concepção	é	visível	e	mostra,	mais	uma	vez,	a	força	do
paradigma	hegemônico	(nesse	caso,	do	positivismo	em	relação	a	Engels).
[←12]
Existe	uma	discussão	sobre	isso	e	distintas	concepções	a	esse	respeito.	O	terreno
de	desenvolvimento	ideológico	da	ideia	de	uma	“lógica	dialética”	é	o
pseudomarxismo	(como	exemplos,	é	possível	consultar,	entre	outros:	PRADO
JR.,	Caio.	Introdução	à	Lógica	Dialética.	São	Paulo:	Brasiliense,	1979;
KOPNIN,	P.	V.	A	Dialética	como	Lógica	e	Teoria	do	Conhecimento.	Rio	de
Janeiro:	Civilização	Brasileira,	1978).	Umaexceção	é	Henri	Lefebvre,	que,	no
entanto,	não	escapou	do	círculo	ideológico	em	que	adentrou	ao	iniciar	reflexão
sobre	isso	(LEFEBVRE,	Henri.	Lógica	Formal,	Lógica	Dialética.	2ª	edição,	Rio
de	Janeiro,	Civilização	Brasileira,	1979).
[←13]
Essa	afirmação	de	Korsch	é	fundamental	para	a	autonomia	do	marxismo	diante
da	episteme	burguesa	(KORSCH,	Karl.	Marxismo	e	Filosofia.	Goiânia:	Edições
Redelp,	2020)	e	foi	reconhecida	por	Mattick	nos	textos	em	que	aborda	a
concepção	deste	autor	(cf.	MATTICK,	Paul.	Karl	Korsch	e	o	Marxismo.
Goiânia:	Edições	Enfrentamento,	2020).
[←14]
E	foi,	no	ano	seguinte,	traduzido	no	Brasil:	MEADOWS,	Donella	H.;
MEADOWS,	Dennis	L.;	RANDERS,	Jorgen;	BEHRENS	III,	W.	W.	Limites	do
Crescimento:	Um	relatório	para	o	projeto	do	Clube	de	Roma	sobre	o	dilema	da
humanidade.	São	Paulo:	Perspectiva,	1973.
[←15]
ALFHANDÉRY;	Pierre;	BITOUN,	Pierre;	DUPONT,	Yves.	O	Equívoco
Ecológico.	Riscos	Políticos	da	Inconsequência.	São	Paulo:	Brasiliense,	1992,	p.
15-16.
[←16]
Esse	é	o	caso,	por	exemplo,	de	João	Bernardo.	Segundo	este,	o	“movimento
ecológico	é	hoje	o	inimigo	oculto”	(BERNARDO,	João.	O	Inimigo	Oculto.
Ensaio	sobre	a	Luta	de	Classes.	Manifesto	Antiecológico.	Porto:	Afrontamento,
1979).	Bernardo	reúne	influência	marxista	com	uma	forte	presença	de	episteme
burguesa	(através	do	paradigma	reprodutivista,	especialmente	a	ideologia
estruturalista)	e	assim	cai	em	anistorismo	e	numa	concepção	não-dialética	da
relação	entre	capitalismo	e	meio	ambiente,	o	que	lhe	permite	recusar	a	ecologia
em	geral.
[←17]
Os	adeptos	do	“crescimento	zero”,	chamados	de	“zeristas”,	tem	como	fonte	de
inspiração	Stuart	Mill	e	sua	ideia	de	“estado	estacionário”,	tal	como	se	vê	no
Clube	de	Roma	e	vão	desenvolver,	sob	várias	formas	(alguns	mais	extremistas,
outros	mais	moderados),	propostas	totalmente	irrealistas	no	âmbito	do	modo	de
produção	capitalista.
[←18]
Paul	Mattick,	assim	como	os	adeptos	da	corrente	denominada	“comunismo	de
conselhos”,	que	se	caracteriza	por	ser	antirreformista	e	antileninista,	caracteriza
a	União	Soviética	e	demais	países	chamados	de	“socialistas”	como	um
capitalismo	de	Estado.	Essa	concepção	emergiu	sob	várias	formas	no	decorrer	da
história,	surgindo	logo	após	a	tomada	do	poder	estatal	pelo	Partido	Bolchevique,
tanto	na	Rússia	quanto	em	outros	países.	Entre	os	primeiros	defensores	da	teoria
do	capitalismo	estatal	estão	militantes	e	intelectuais	como	Miasnikov	(Rússia),
Rodolfo	Mondolfo	(Itália),	Sylvia	Pankhurst	(Inglaterra),	os	comunistas	de
conselhos	na	Alemanha	e	Holanda	(Pannekoek,	Mattick,	Korsch,	Rühle,	entre
outros).	Posteriormente,	outras	concepções,	distintas	entre	si	e	em	relação	a	estas
já	apontadas,	como	Amadeo	Bordiga	e	os	bordiguistas,	trotskistas	esquerdistas,
maoístas	esquerdistas,	stalinistas,	passaram	a	defender	a	ideia	de	que	a	URSS	era
um	capitalismo	estatal.	Porém,	nesses	casos,	são	abordagens	geralmente
oportunistas	e	por	isso	identificam	épocas	diferentes	para	a	implantação	do
capitalismo	estatal,	pois	para	os	trotskistas	se	deu	fundamentalmente	a	partir	da
ascensão	de	Stálin	e	para	os	stalinistas,	após	sua	morte.	Estas	concepções,
fundadas	em	análises	individualistas,	estão	muito	distantes	do	marxismo	e,	por
conseguinte,	do	comunismo	de	conselhos.
[←19]
Essa	exposição	de	ideias	rotuladas	como	“ecofascistas”	pode	ser	vista	em:
LAGO,	Antônio;	PÁDUA,	José	Augusto.	O	que	é	Ecologia?	2ª	edição,	São
Paulo:	Brasiliense,	1985.
[←20]
Sobre	isso,	cf.:	VIANA,	Nildo.	Capitalismo	e	Destruição	Ambiental.	Ateliê
Geográfico,	10(3),	179-192,	2017.
[←21]
Aqui	é	necessário	distinguir	movimento	ecológico	e	ecologismo.	O	movimento
ecológico	é	um	movimento	social	e	o	ecologismo	é	uma	ramificação	do	mesmo,
o	conjunto	de	ideologias,	doutrinas,	representações	cotidianas,	que	emergem	a
partir	dele.	O	movimento	ecológico	não	é	homogêneo,	bem	como	nenhum	outro
movimento	social	(cf.	VIANA,	Nildo.	Os	Movimentos	Sociais.	Curitiba:
Prismas,	2016).	Também	é	preciso	deixar	claro	que	“ecologismo”	não	significa
todas	as	concepções	que	tratam	da	questão	ambiental	e	sim	as	que	são	ilusórias,
seja	em	sua	forma	mais	complexa,	como	ideologia,	seja	em	suas	formas	mais
simples	(doutrinas,	representações).
[←22]
DUMONT,	René.	A	Utopia	ou	a	Morte.	Rio	de	Janeiro:	Paz	e	Terra,	1975.
[←23]
HARICH,	Wolfgang.	Kommunismus	ohne	Wachtum?	Babeuf	und	der	“Club	of
Rome”.	Sechs	Interviews	mit	Freimut	Duve	und	Briefe	an	ihn.	Hamburg:
Reinbek,	1975	(NA	–	Nota	do	autor).
[←24]
A	Alemanha	Oriental	surgiu	após	a	derrota	nazista	e	a	separação	do	país,	após
libertação	do	nazismo	pela	Antiga	União	Soviética,	sendo	fundada	oficialmente
em	1949	e	sobreviveu	oficialmente	até	1990,	deixando	de	existir	após	a	“Queda
do	Muro	de	Berlim”,	com	a	reunificação	entre	Alemanha	Ocidental	e	Alemanha
Oriental.	Durante	esse	período	esteve	submetida	ao	regime	de	capitalismo
estatal,	enquanto	que	a	Alemanha	Ocidental	permaneceu	sendo	capitalismo
privado.	No	original	RDA	(República	Democrática	da	Alemanha).
[←25]
O	livro	Comunismo	sem	Crescimento,	de	Harich,	é	composto	por	entrevistas
desse	autor	realizadas	com	Freimut	Duve,	social-democrata	da	Alemanha
Ocidental,	bem	como	cartas.	É	por	isso	que	Mattick	faz	algumas	referências	a
Duve	no	decorrer	do	texto	(NE	–	Nota	do	Editor).
[←26]
MECW,	vol.	38,	p.	425	(NA).
[←27]
Mais-produto	é	um	termo	usado	por	Marx	para	expressar	a	exploração	via
criação	de	mais	produtos	pelos	produtores	e	que	são	apropriados	pelos
proprietários,	tal	como	ocorria	no	feudalismo,	por	exemplo.	No	capitalismo,	o
mais-produto	se	realiza	através	da	produção	de	mercadorias,	mas	não	é	o
produto	que	é	apropriado	pela	classe	capitalista	e	sim	o	mais-valor	embutido
nele,	através	da	venda	da	mercadoria	para	terceiros	(NE).
[←28]
Esse	deve	ter	sido	um	ato	de	desatenção	de	Mattick	ao	escrever,	pois	o	correto	é
acumulação	de	capital,	porquanto	o	mais-valor	não	se	torna	imediatamente
capital,	pois	parte	é	convertido	em	renda	(bens	de	consumo)	para	o	capitalista
(NE).
[←29]
Mattick	aqui	cede	ao	campo	linguístico	hegemônico	do	paradigma	reprodutivista
(o	que	se	vê	no	uso	dos	termos	“sociedade	industrial”	e	“sistema”),	o	que	era
comum	na	época.	Na	linguagem	marxista,	seria	“sociedade	capitalista”	(ou
“sociedade	burguesa”,	ou,	ainda	“sociedade	moderna”,	que	podem	ser
considerados	sinônimos)	em	ambos	os	casos	(NE).
[←30]
Mattick	usa	em	várias	passagens	“classes	dominantes”,	no	plural.	Isso,	em	certos
contextos,	é	equivocado,	enquanto	que	em	outros	não.	Quando	se	trata	de
história	das	sociedades	humanas,	nas	quais	se	sucederam	distintas	classes
dominantes	(classe	escravista,	classe	feudal,	classe	capitalista)	o	plural	está
correto.	Por	outro	lado,	mesmo	em	apenas	uma	sociedade,	como	a	capitalista,	em
certo	contexto	histórico,	é	correto	usar	no	plural	por	existir,	em	determinado
momento	de	sua	história,	mais	de	uma	classe	dominante,	como,	por	exemplo,	no
caso	do	capitalismo	subordinado	em	formação,	quando	a	classe	capitalista	e	a
classe	latifundiária	são	dominantes.	No	caso	de	Mattick,	ao	que	tudo	indica,	ele
usou	o	termo	no	plural	para	se	referir	às	distintas	formas	assumidas	pela	classe
capitalista:	burguesia	privada	e	burguesia	burocrática,	dominantes	no	capitalismo
privado	e	capitalismo	estatal,	respectivamente.	Em	alguns	momentos,	no
entanto,	talvez	por	desatenção,	ele	usa	o	plural	indevidamente	(NE).
[←31]
MEADOWS,	Donella.	et	al.	The	Limits	to	Growth,	1972;	MERSAROVIC,
Mihailo;	PESTEL,	Eduard.	Mankind	at	the	Turning	Point,	1975.
[←32]
Hans	Linnemann,	MOIRA	:	model	of	international	relations	in	agriculture	:
report	of	the	project	group	'Food	for	a	Doubling	World	Population'	(Amsterdam:
North-Holland,	1980).
[←33]
Trata-se	do	capital	bancário,	desenvolvimento	do	“capital	portador	de	juros”,
segundo	análise	de	Marx	em	O	Capital.
[←34]
A	economia	de	plantation	é	baseada	na	monocultura,	produzindo	grandes
quantidades	de	uma	mercadoria	agrícola	que	é	rentável	e	se	adapta	muito	bem	ao
solo	e	ao	clima	da	região	(açúcar,	café,	soja,	etc.).	Ela	começou	a	ser	usada	na
sociedade	brasileira	desde	a	épocado	modo	de	produção	escravista.
	Cover Page
	Capitalismo e Ecologia
	CAPITALISMO E ECOLOGIA SEGUNDO PAUL MATTICK
	INTRODUÇÃO
	DIALÉTICA E ECOLOGIA
	CRESCIMENTO, CAPITALISMO E COMUNISMO
	CRISE ECOLÓGICA E LUTA DE CLASSES
	CAPITALISMO, CRISE ECOLÓGICA E CRISE SOCIAL
	O CAMINHO DA ESPERANÇANo	fundo,	essa	reflexão	apenas	objetiva	apontar	um	problema	na	análise	de
Mattick,	que	é	a	aceitação	acrítica	da	ideia	de	entropia	e	sua	suposição	de	que
essa	descoberta	da	físico-química	é	“suficiente”	para	“elucidar	a	ecologia	do
ponto	de	vista	biológico	e	social”	ou,	ainda,	a	afirmação	reducionista	segundo	a
qual	“o	caráter	histórico	da	natureza	decorre	da	segunda	lei	da	termodinâmica”,
pois	aqui	a	historicidade	da	natureza	é	reduzida	a	uma	suposta	“lei	da	natureza”⁸.
Ora,	ela	não	é	suficiente	e	deve	ser	analisada	criticamente.	Porém,	isso	do	“ponto
de	vista	biológico”,	pois,	do	“ponto	de	vista	social”,	ela	é	mais	do	que
insuficiente.	A	entropia	pouco	contribui	para	a	compreensão	social	da	questão
ambiental	e	das	relações	entre	sociedade	e	meio	ambiente.	Além	disso,	basta	ver
que	a	ideia	de	entropia	pode	gerar	um	catastrofismo	como	o	de	Clube	de	Roma	e
propostas	como	as	de	Jeremy	Rifkin,	tal	como	a	de	reduzir	a	população	mundial
para	um	bilhão	de	pessoas,	numa	época	em	que	existiam	6	bilhões	de	seres
humanos .	Isso,	aliás,	é	bem	próximo	do	que	propõe	Harich,	criticado	por
Mattick.
A	segunda	lei	da	termodinâmica	e	a	entropia	precisam	ser	avaliadas	criticamente
e	contextualizadas	em	sua	época,	relações	sociais	concretas	e	ponto	de	partida
epistêmico	e	paradigmático¹ .	Não	nos	propomos	efetivar	isso	aqui,	mas	apenas
fazer	esse	alerta	e	colocar	que,	nesse	aspecto,	Mattick	se	afastou	da	crítica
revolucionária.	E	isso	se	revela	em	suas	observações	sobre	a	questão	da
dialética.
Mattick,	em	certas	passagens,	se	refere	à	“dialética	da	natureza”.	A	dialética	da
natureza,	que	foi	alvo	de	polêmica	entre	marxistas	e	pseudomarxistas¹¹,	aparece
sem	nenhuma	observação	crítica.	Aliás,	da	forma	como	aparece	a	expressão,	é
possível	até	pensar	que	Mattick	tem	certa	concordância	com	tal	concepção.
Mattick	usa	acriticamente	os	termos	“dialética	da	natureza”	e	“materialismo
dialético”.	Porém,	o	aspecto	mais	problemático	se	manifesta	em	sua	afirmação
segundo	a	qual:
Há	aspectos	da	natureza	que	podem	ser	compreendidos	com	a	lógica	formal	e
outras	que	exigem	o	uso	da	lógica	dialética.	As	descobertas	em	microfísica
impõem	uma	lógica	adequada	a	esse	objeto,	que	não	é	idêntico	à	lógica	formal
ou	à	lógica	dialética.	Mas	os	meios	para	compreender	a	natureza	e	a	relevância
das	suas	regularidades	para	os	seres	humanos	que	as	investigam,	não	fornecem
informações	sobre	a	“totalidade”	da	natureza	e	suas	leis	de	movimento,	que
estão	até	agora	–	e,	sem	dúvida,	estarão	permanentemente	–	fechadas	para	nós.
Mesmo	se	a	lógica	dialética	fosse	requerida	para	o	estudo	da	natureza,	nós	não
poderíamos	concluir	nada,	a	partir	disso,	sobre	a	dialética	da	natureza;	em
contraste,	a	dialética	da	sociedade	é	visível	em	seu	desenvolvimento	econômico
e	nas	lutas	de	classes.	Pode-se,	obviamente,	descrever	a	lei	da	entropia	como
“dialética”,	apenas	porque	ela	implica	em	permanentes	mudanças	qualitativas,
especialmente	se	rastrearmos	todos	os	processos	econômicos	e	biológicos	até	sua
base	física.	Mas	a	Segunda	Lei	da	Termodinâmica	foi	descoberta	pela	físico-
química,	e	não	pelo	método	dialético,	e	isso	é	o	suficiente	para	elucidar	a
ecologia	do	ponto	de	vista	biológico	e	social	(p.	42).
Trata-se	de	afirmações	problemáticas.	Aqui	Mattick	se	afasta	da	episteme
marxista.	O	primeiro	ponto	está	na	ideia	de	existência	de	uma	“lógica
dialética”¹².	A	ideia	de	que	cada	objeto	requer	uma	lógica	específica	(formal,
dialética	ou	outra)	significa	cair	em	abstratificação.	Como	Mattick	não
desenvolve	muito	sua	reflexão	sobre	tal	questão,	fica	a	dúvida	se	ele	realmente
está	reproduzindo	uma	concepção	fetichista	de	lógica	ou	é	apenas	um	deslize
linguístico.
E	o	deslize	linguístico	ocorre	em	outros	momentos,	no	qual	ele	cede	à	linguagem
do	paradigma	hegemônico	durante	o	regime	de	acumulação	conjugado,	tal	como
se	vê	nos	usos	de	expressões	como	“sistema”	e	outros.
Porém,	esses	problemas	convivem	com	uma	concepção	dialética	em	vários
aspectos.	Como	leitor	de	Korsch,	ele	não	poderia	deixar	de	observar	que	o
marxismo	não	é	uma	ciência	natural	e	nem	sequer	é	uma	ciência	no	sentido
burguês	do	termo¹³.	Se	Mattick	tivesse	desenvolvido	essa	ideia,	poderia	ter
avançado	mais	na	discussão	sobre	ecologia,	dialética	e	ciências	naturais.
De	qualquer	forma,	o	método	dialético,	como	parte	da	episteme	marxista,	é
fundamental	para	a	análise	da	sociedade,	bem	como	para	a	análise	da	relação
entre	sociedade	e	meio	ambiente.	Ele	é	fundamental	também	para	elucidar	a
gênese	histórica	e	social	da	ecologia,	bem	como	seu	significado	ideológico,
político	e	epistêmico.	Podemos	até	predizer	que	numa	sociedade	autogerida,	o
método	dialético	será	a	base	da	análise	dos	fenômenos	naturais,	superando	os
limites	da	episteme	burguesa	e	das	relações	sociais	da	sociedade	capitalista.
Apesar	disso,	ele	não	deixa	de	ser	um	método,	no	sentido	de	um	recurso
heurístico,	e	não	uma	“lógica”,	um	“modelo”,	um	procedimento	que	possui
“leis”,	tal	como	se	vê	no	leninismo	e	semelhantes,	que	efetivaram	uma	reificação
da	dialética.
Porém,	em	que	pese	o	limite	da	reflexão	de	Mattick	nesse	aspecto,	o	restante	de
sua	análise	avança	bem	mais,	inclusive	tendo	em	vista	a	época	em	que	se
efetivou.	A	abordagem	de	Mattick	é	certeira	no	sentido	de	criticar	tanto	a
ideologia	do	crescimento	quanto	o	catastrofismo	de	Harich	e	seus	inspiradores.
A	ideologia	do	crescimento,	um	subproduto	ideológico	do	modo	de	produção
capitalista,	assume	algumas	formas	distintas,	mas,	no	geral,	aponta	para	uma
ideia	de	“crescimento	ilimitado”,	que,	quando	assume	“ares	ecológicos”,	se
apresenta	como	“sustentável”.	Mattick	concorda	com	os	limites	de	um
desenvolvimento	infinito	no	sentido	capitalista.
Porém,	isso	não	o	impede	de	criticar	o	catastrofismo	do	Clube	de	Roma	e	de
Harich.	Aliás,	não	seria	exagerado	dizer	que	o	Clube	de	Roma	foi	a	primeira
versão	sistematizada	do	catastrofismo	ecológico.	Em	1972,	ano	da	publicação
dos	relatórios	do	Clube	de	Roma¹⁴,	e	nos	anos	seguintes,	o	catastrofismo
ecológico	proliferou.
Ao	fim	deste	segundo	milênio,	a	expressão	mais	manifesta	da	ecologia	é	o	medo.
Não	um	medo	surdo,	apático	e	com	vergonha	de	si	mesmo,	mas	um	medo
ostensivo,	que	é	dito	e	escrito,	apregoado	e	filmado,	e	se	oferece	em	um
espetáculo	nas	dimensões	da	mundialização	da	comunicação.	O	medo	ecológico
é	um	grande	medo	planetário.	“A	Terra	ameaçada”,	“A	Terra	com	a	corda	no
pescoço”,	“A	Terra	em	perigo	de	morte”,	“A	Natureza	na	UTI”,	“Nós	só	temos
um	planeta”,	dizem	as	manchetes	dos	jornais,	as	capas	das	revistas,	os
programas	de	televisão,	construindo	a	ecologia-espetáculo	que,	incrédulos	ou
persuadidos,	habituamo-nos	agora	a	contemplar.	Os	fenômenos	da	moda,	o	gosto
sensacionalista	da	mídia	não	são,	no	entanto,	os	únicos	responsáveis.	O	grande
medo	ecológico	cresce	em	terra	fértil.	Ele	se	alimenta	da	incessante	descoberta
de	novos	estragos	do	progresso,	tanto	em	nossa	porta	quanto	do	outro	lado	do
mundo.	Cresce	com	o	inventário	científico,	constantemente	renovado,	com
atentados	graves,	e	mesmo	irremediáveis,	que	o	homem	causou	aos	três
elementos	naturais	–	a	água,	o	ar,	a	terra	–	que	possibilitaram	a	vida	e	talharam	a
existência	das	sociedades	humanas	ou	animais.	Ele	se	amplifica	com	ameaças
ainda	desconhecidas	que	pesam	sobre	nós,	poluições	invisíveis	a	nossa	volta,
riscos	tecnológicos	ocultos,	e	se	expande	em	inúmeros	cenários-catástrofes	e
profecias	de	apocalipse	dos	quais	somos	prevenidos	de	que	não	pertencem	hoje
exclusivamente	ao	terreno	da	ficção”¹⁵.
Isso	não	significa	que	Mattick	recuse	a	existência	do	problema	ecológico.	A
crítica	que	ele	efetiva	à	ideologia	do	crescimento,	e	sua	vinculação	ao
capitalismo,	bem	como	sua	afirmação	de	que	o	problema	ecológico	existe
(apesar	de,	segundo	ele,	não	possuir	“significado	prático”),	são	suficientes	para
distingui-lo	daqueles	que	negam	a	existência	dos	problemas	ambientais¹ .
Mattick	aponta	para	os	limites	da	concepção	de	Harich	e,	por	conseguinte,	do
Clube	de	Roma.	Harich	propõe,	como	se	vê	no	título	do	seu	livro,	um
“comunismo	sem	crescimento”	e,	ainda,	prega	um	retorno	a	Babeuf.Mattick
refuta	a	possibilidade	de	“crescimento	zero”¹⁷	no	interior	do	capitalismo	privado
e	questiona	também	sua	aplicabilidade	ao	capitalismo	de	estado	(“socialismo
real”)¹⁸.
Mattick	ironiza	Harich	e	seu	“retorno	a	Babeuf”:	por	qual	motivo	não	voltar	ao
“paraíso	perdido”?	A	ideia	de	retorno	ao	“comunismo	de	Babeuf”,	sob	a	forma
de	“crescimento	zero”,	é	um	retrocesso	que,	segundo	Mattick,	poderia	retroceder
até	uma	mitologia	mais	antiga,	a	cristã,	e	sua	ideia	do	paraíso	antes	do	pecado
original,	na	qual	havia	uma	perfeita	harmonia	entre	humanidade	e	natureza.	Mas,
além	da	ironia,	Mattick	ressalta	a	impossibilidade	de	tal	processo,	bem	como
suas	consequências:	quem	seria	os	prejudicados	com	tal	“comunismo	sem
crescimento”?	A	resposta	é	clara:	a	classe	operária.	A	estagnação	garantiria	a
reprodução	da	situação	superior	da	classe	dominante	e	a	situação	inferior	e
precária	do	proletariado,	que,	sob	pretexto	de	evitar	a	catástrofe	ecológica,
deveria	aceitar	as	péssimas	condições	de	vida	sob	o	capitalismo	estatal
estagnado.
Além	disso,	Mattick	percebe	o	caráter	estatizante	e	antimarxista	da	proposta	de
Harich.	Já	que	a	população,	e	os	operários	mais	especificamente,	não	estaria
preparada	para	o	crescimento	zero,	então	o	aparato	estatal	deve	assumir	a
responsabilidade	de	impor	a	nova	“ordem	econômica”.	Essa	proposta,	que
muitos	chamariam	de	“autoritária”	ou	mesmo	“ditatorial”,	acaba	sendo
semelhante	ao	que	se	denominou	ecofascismo.
Porém,	o	termo	ecofascismo	se	presta	a	confusões.	Existem	os	que	consideram
que	a	origem	do	ecofascismo	se	encontra	no	nazismo	ou	nos	Estados	Unidos	no
início	do	século,	com	Madison	Grant.	Porém,	outros	usam	o	termo	de	forma
extremamente	ampla.	Assim,	seria	necessário	uma	análise	mais	profunda	para
que	o	termo	ecofascismo	ganhe	o	estatuto	de	um	conceito.	Porém,	não	é	possível
aceitar	a	denominação	de	ecofascismo	para	a	defesa	de	coisas	como	“limitação
forçada	do	número	de	filhos”,	“racionamento	total	do	acesso	aos	bens	naturais”,
“a	racionalização	do	uso	dos	recursos	naturais	pelo	controle	disciplinar	total
sobre	o	corpo	social”¹ .
A	isso	podemos	chamar	ecototalitarismo.,	pois	se	trata	de	um	controle	estatal
totalitário	da	sociedade	visando	controlar	sua	relação	com	o	meio	ambiente	e
cuja	justificativa	ideológica	seria	a	preservação	ambiental	ou	controle	dos
recursos	naturais	para	garantir	a	reprodução	humana.	Não	se	trata	de	fascismo,
pois	este	é	algo	mais	específico	e	apenas	os	propagandistas	políticos	usam
generalizadamente	esse	termo	contra	todos	os	adversários	ou	como	sinônimo	de
qualquer	autocratismo.	Assim,	Harich	aponta	para	um	ecototalitarismo,	de
caráter	burocrático,	adaptado	para	justificar	o	capitalismo	estatal	e	servindo	para
garantir	uma	diminuição	do	padrão	de	renda	e	de	consumo	da	população	e	assim
aumentando	sua	“competitividade”	com	o	capitalismo	privado.
Mattick	contribui	também	ao	relacionar	a	crise	ecológica	e	a	luta	de	classes.	Ele
demonstra	que	as	medidas	ecológicas	propostas	pelo	Clube	de	Roma	e	por
Harich	apontam	para	beneficiar	a	classe	capitalista	e	prejudicar	a	classe	operária.
Quem	pagaria	pelo	“crescimento	zero”	seriam	os	operários	e	os	países	de
capitalismo	subordinado.	Desta	forma,	Mattick	mostra	os	vínculos	entre
propostas	ecológicas	–	e	as	ecototalitárias	de	Harich	–	e	o	capitalismo,	bem
como	os	interesses	de	classe	por	detrás	de	tais	propostas.	Num	caso,	no	do	Clube
de	Roma,	a	burguesia	privada	do	capitalismo	privado,	noutro	caso,	a	burguesia
burocrática	do	capitalismo	estatal.
Mattick	aponta	para	a	impossibilidade	de	um	equilíbrio	ecológico	absoluto	no
capitalismo,	bem	como	aponta	para	a	possibilidade,	que	se	concretizará	e	se
tornará	popular	nos	anos	posteriores:	o	capitalismo	pode	se	apropriar	do	discurso
e	das	práticas	ecológicas	para	lucrar.	E	isso	se	concretizou	praticamente	de
forma	bem	mais	intensa	do	que	na	época	e	do	que	se	poderia	imaginar	naquele
momento.	Um	conjunto	de	ideologias,	ideias,	práticas,	políticas	governamentais,
ações	de	empresas	capitalistas,	agora	se	tornam	“ecológicas”.	O	“capitalismo
verde”	emerge	e	Mattick	já	apontava	para	essa	possibilidade.
Porém,	isso	não	resolve	o	problema.	E	Mattick	reconhece	tal	fato.	No	entanto,
faltou	apontar	as	razões	para	a	impossibilidade	do	capitalismo	resolver	o
problema	da	destruição	ambiental.	Para	isso,	seria	necessário	explicar	o	processo
de	acumulação	de	capital	e	o	caráter	expansionista	e	universalizante	do	modo	de
produção	capitalista² .	E,	como	Mattick	se	destacou	como	um	dos	melhores
analistas	da	teoria	do	capitalismo	de	Marx,	bem	como	da	economia	política	e	de
processos	correlatos,	era	de	se	esperar	uma	demonstração	da	impossibilidade	de
uma	harmonia	entre	capitalismo	e	meio	ambiente	graças	à	acumulação	de
capital.	Ele,	no	entanto,	ficou	devendo	tal	demonstração.
Assim,	as	reflexões	de	Mattick	sobre	capitalismo	e	ecologia,	tendo	por	base	o
comentário	à	obra	de	Harich,	mostra	uma	importante	reflexão	sobre	a	questão
ambiental	e	seus	dilemas	na	sociedade	capitalista.	O	impacto	do	relatório	do
Clube	de	Roma	gerou	abordagens	catastrofistas,	ecototalitaristas,	entre	outras,
bem	como	gerou	a	crítica,	tal	como	a	expressa	por	Mattick.
O	tempo	passou	e	a	destruição	ambiental	avançou.	O	marxismo	desenvolveu
algumas	poucas	reflexões	sobre	a	questão	ecológica	de	lá	para	cá,	tal	como	essa
de	Mattick	e	mais	algumas	poucas.	O	marxismo	ambíguo,	autonomista,	pouco
contribuiu	com	tal	discussão.	O	pseudomarxismo	se	dividiu	em	diversas
concepções,	indo	desde	a	posição	ecototalitária	de	Harich	ao	“ecossocialismo”
contemporâneo,	influenciado	pelo	paradigma	subjetivista	e	marcado	pelo
ecletismo	e	reformismo.	A	classe	dominante,	financiadora	do	Clube	de	Roma,	se
divide	em	diversas	posições,	inclusive	opostas,	de	acordo	com	os	interesses	de
determinados	setores	do	capital.	Algumas	empresas	capitalistas	exploram	a
questão	ecológica	para	lucrar:	desde	o	“ecologicamente	correto”	para	conquistar
mercado	consumidor	até	a	produção	de	antipoluentes	e	“mercadorias
ecológicas”,	que	significa	mais	produção	e	mais	poluição,	até	a	criação	e
apropriação	capitalista	do	discurso	ecológico	de	acordo	com	seus	interesses.
Assim,	o	que	podemos	concluir	é	que,	apesar	de	escrito	nos	anos	1970,	o	texto
de	Paul	Mattick	continua	atual	e	bem	mais	avançado	do	que	o	que	se	produz
contemporaneamente	sobre	o	assunto.	O	que	explica	tal	atualidade?	A
perspectiva	do	autor	é	a	razão	dessa	atualidade,	pois	ao	entender	a	essência	do
problema,	a	abordagem	continua	atual	enquanto	o	problema	existir.	Por	mais
incompleta	que	seja	a	análise	de	Mattick,	em	parte	derivada	do	fato	de	ser	um
comentário	crítico	a	um	pensamento	ideológico	sobre	a	chamada	“crise
ecológica”,	ele	consegue	expressar	a	essência	da	questão	ecológica.
Isso	significa	que	a	leitura	desta	obra	é	um	bom	ponto	de	partida	para	uma
análise	crítica	da	ecologia,	bem	como	do	movimento	ecológico	e	todas	as
questões	relacionadas,	especialmente	para	aqueles	que	querem	ultrapassar	o
reino	das	aparências	ou	das	ideologias,	bem	como	os	fetichismos	e
representações	cotidianas	ilusórias	sobre	o	problema	do	meio	ambiente.
A	leitura	de	Mattick,	por	conseguinte,	é	leitura	importante	também	para	se
posicionar	diante	da	questão	ambiental	e	das	lutas	sociais	travadas
contemporaneamente.	Uma	das	lições	principais	que	se	pode	extrair	da	presente
obra	é	a	inseparabilidade	entre	luta	ecológica	e	luta	operária,	entre	a	questão
ambiental	e	a	questão	da	sociedade	capitalista	como	um	todo	e	a	vida	do
proletariado,	bem	como	do	conjunto	da	população.	Pensar	a	solução	para	a
questão	ecológica	sem	refletir	sobre	as	questões	postas	por	Mattick	é	criar
pseudossoluções.	É	fundamental	superar	as	ideias	místicas,	reformistas,
totalitárias,	ingênuas,	sobre	a	questão	ambiental,	e	o	texto	de	Mattick	é	uma
contribuição	importante	nesse	sentido.
A	questão	ambiental	não	é	apenas	uma	“invenção	burguesa”	e	nem	é	o	“único”
ou	“principal”	problema	da	humanidade.	Ela	é	uma	questão	urgente	e
fundamental	para	o	destino	da	humanidade,	mas	esta	não	consegue	controlar	a
sua	história,	pois	a	acumulaçãode	capital,	e,	por	conseguinte,	a	classe
capitalista,	com	uma	consciência	limitada	(por	causa	de	suas	determinações,
indo	desde	seus	valores	e	interesses	até	chegar	ao	campo	analítico	da	episteme
burguesa),	é	quem	o	“controla”	parcialmente	e	cegamente.
Desta	forma,	somente	a	revolução	proletária	poderá	permitir	que	a	humanidade
possa	controlar	o	seu	destino	e	isso	significa	uma	relação	consciente	e	planejada
com	o	meio	ambiente.	E	esse	grave	problema	da	humanidade	não	pode	ser
resolvido	no	interior	da	sociedade	capitalista	e	por	isso,	mesmo	que	ganhe	cada
vez	mais	importância	e	a	própria	sobrevivência	da	humanidade	seja	colocada	em
risco	devido	à	destruição	ambiental,	não	será	o	mais	importante	da	humanidade.
Sem	resolver	o	problema	fundamental	e	basilar	das	relações	de	produção
capitalistas,	que	são	determinantes	na	relação	entre	humanidade	e	meio
ambiente,	é	impossível	resolver	o	problema	ecológico.
Se	nos	anos	1970,	período	de	transição	do	regime	de	acumulação	conjugado	para
o	regime	de	acumulação	integral,	marcado	pelas	lutas	radicalizadas	do	final	dos
anos	1960	e	pela	crise	do	paradigma	reprodutivista,	foi	um	momento	gerador	de
pensamento	crítico,	resgate	do	pensamento	revolucionário,	bem	como	as	versões
burguesas	de	interpretação	do	momento,	tal	como	o	catastrofismo	ecológico	(já
anunciando	o	totalitarismo	para	combater	a	luta	operária	e	de	outros	setores	da
sociedade	e	impedir	a	revolução),	os	anos	1980	apontaram	para	a	constituição	de
um	novo	regime	de	acumulação	e	a	renovação	hegemônica	que	lhe	foi
correspondente.	O	neoliberalismo,	o	pós-estruturalismo,	o	culturalismo,	o
multiculturalismo,	entre	diversas	outras	ideologias,	todas	correspondentes	ao
novo	paradigma	hegemônico,	o	subjetivista,	frearam	o	despertar	da	consciência
revolucionária	em	vastos	setores	da	sociedade.
A	consolidação	do	regime	de	acumulação	integral	e	o	reino	absoluto	do
subjetivismo	marcam	uma	época	e	as	rachaduras	que	emergiram	no	capitalismo
subordinado	e	a	partir	das	contradições	do	capitalismo	neoliberal,	geraram	um
resgate	tímido	–	e	marcado	por	ecletismo	–	do	pensamento	revolucionário,	mas
não	conseguiram	avançar	para	uma	real	ruptura.
O	autonomismo	e	o	anarquismo,	bem	como	ideias	similares	(resgatando
situacionismo	e	o	“conselhismo”)	não	escaparam,	na	maioria	das	vezes,	do
subjetivismo	e	do	ecletismo,	bem	como	não	conseguiram	superar	a	sua
ambiguidade.	As	poucas	exceções,	algumas	marcadas	por	um	dogmatismo
extremo	(que,	de	certa	forma,	era	uma	maneira	de	se	proteger	do	paradigma
hegemônico,	mesmo	que	sem	consciência	desse	processo),	se	encerraram	em	si
mesmas	e	não	avançaram	nem	no	plano	da	consciência	nem	no	da	ação	política.
Restou	apenas	o	marxismo	autogestionário,	que	não	só	resgata	o	marxismo
original	(Marx	e,	em	menor	grau	e	parcialmente,	Engels,	devido	suas
ambiguidades)	e	o	comunismo	de	conselhos,	bem	como	resgata	criticamente	o
marxismo	ambíguo	(Rosa	Luxemburgo,	autonomismo,	etc.),	como	atualiza	e
desenvolve	o	marxismo,	enfrentando	as	mais	variadas	questões,	inclusive	a
ecológica.
Por	conseguinte,	o	pensamento	de	Mattick	a	respeito	da	ecologia	deve	ser
resgatado,	aprofundado,	desenvolvido,	atualizado.	Os	elementos	básicos	da
análise	de	Mattick	são	fundamentais	para	se	pensar	o	problema	ecológico,	bem
como	os	limites	do	ecologismo²¹.	A	compreensão	da	questão	ecológica	remete
para	a	superação	do	ecologismo.	A	crítica	do	ecologismo,	contudo,	não	deve	ser
confundida	com	a	crítica	do	movimento	ecológico	em	geral	e	nem	todas	as
ideias	que	abordam	a	questão	ambiental.
Esse	processo,	no	entanto,	apesar	das	várias	contribuições	já	existentes,	algumas
mais	desenvolvidas,	outras	menos,	precisam	avançar	e	por	isso	a	contribuição	de
Mattick	abre	espaço	para	se	pensar	de	forma	radical	a	questão	ecológica	e	é	uma
das	obras	que	podem	ser	colocadas	entre	as	fundamentais	para	discutir	a
ecologia.	A	consciência	do	problema	ecológico	e	dos	limites	do	ecologismo	é	o
ponto	de	partida	para	uma	real	compreensão	do	problema	ambiental	e	para	a	se
pensar	uma	real	solução.	E,	se	René	Dumont,	ao	mostrar	sua	preocupação	com	a
questão	ambiental,	declarou	“utopia	ou	morte”²²,	hoje,	inspirados	no	texto	de
Paul	Mattick,	só	podemos	dizer:	autogestão	(abolição	do	capitalismo)	ou	morte
(destruição	capitalista	da	humanidade).
INTRODUÇÃO
O	caráter	histórico	da	natureza	decorre	da	segunda	lei	da	termodinâmica,
descoberta	há	mais	de	cem	anos	atrás	por	Carnot	e	Clausius,	e	esta	lei	diz	que	o
aumento	da	entropia	resulta	em	morte	por	calor.	A	nossa	vida	terrestre	depende
do	suprimento	contínuo	de	energia	da	radiação	solar,	que	diminui	e	aumenta	a
entropia,	no	entanto,	mais	lentamente.	O	período	envolvido	é	indefinido	do
ponto	de	vista	humano,	pois	é	muito	grande	para	ser	levado	em	consideração
prática.	Mesmo	assim,	a	lei	da	entropia	tem	uma	contínua	influência	direta	na
terra	e,	portanto,	no	destino	da	humanidade.	Tirando	o	sol,	a	riqueza	mineral	da
terra	fornece	a	satisfação	da	energia	que	os	seres	humanos	necessitam.	Sua
exploração,	no	entanto,	apressa	a	transformação	de	energia	“livre”	em	energia
“limite”,	isto	é,	energia	não	mais	disponível	para	uso	humano	e	degradação	em
direção	à	morte	por	calor.	Em	outras	palavras,	a	fonte	de	energia	disponível	pode
ser	utilizada	apenas	uma	vez.	Com	sua	escassez,	a	vida	humana	terminaria,	e	de
fato	muito	antes	do	resfriamento	do	sol,	já	que	todas	as	riquezas	naturais	da	terra
não	contêm	mais	energia	do	que	dois	dias	de	luz	solar.
Para	a	humanidade,	portanto,	a	Segunda	Lei	da	termodinâmica	se	resume	à
limitação	da	riqueza	natural.	Quanto	mais	lentamente	ela	é	extraída,	mais	a
humanidade	pode	viver;	quanto	mais	rápida	é	utilizada,	mais	cedo	nós
chegaremos	ao	nosso	fim.	Já	que	o	consumo	varia	com	o	tamanho	da	população,
o	momento	no	qual	o	mundo	colapsará	está	conectado	com	o	problema
populacional.	Para	atrasar	este	colapso,	o	crescimento	populacional	deve	ser
limitado	e	o	consumo	dos	recursos	naturais	diminuídos.	Este	problema	foi
levantado	em	relação	ao	mundo	capitalista	pelo	Clube	de	Roma,	e	o	Wolfgang
Harich	levantou	este	problema	em	relação	ao	comunismo,	que	tem	até	agora,	da
mesma	forma,	engajado	no	crescimento	econômico	sem	fim²³.
O	antigo	ditado	serve	para	Harich:	“O	gato	não	deixa	o	rato	em	paz”.	Os	seus
vários	anos	na	prisão	de	Walter	Ulbricht	não	foram	capazes	de	quebrar	seu
espírito	de	oposição.	Depois	de	17	de	junho	de	1953,	ele	se	volta	contra	o	rumo
Stalinista	na	Alemanha	Oriental²⁴,	pelo	interesse	da	própria	Alemanha	Oriental,
e	hoje	ele	se	volta	contra	a	ideologia	do	crescimento	que	reina	neste	país,	para
salvar	o	mundo	por	meio	do	comunismo.	Depois	de	1953,	a	Alemanha	Oriental
deveria	ter	se	aproximado	do	Ocidente	para	controlar	suas	contradições	internas;
hoje	o	problema	ecológico	surgido	no	Ocidente	deve	ser	enfrentado	pelo	Oriente
para	prevenir	a	destruição	do	mundo.	A	abolição	do	capitalismo	é,	para	Harich,
portanto,	não	somente	o	objetivo	de	políticas	comunistas,	mas	a	única	maneira
adequada	para	mudar	para	um	mundo	sem	crescimento,	da	qual	depende	a
sobrevivência	a	longo	prazo	da	humanidade.	Ele	expressou	seus	pontos	de	vista
em	entrevistas	com	Freimut	Duve²⁵,	na	esperança	que	eles	não	seriam
novamente	mal	compreendidos	na	Alemanha	Oriental.
DIALÉTICA	E	ECOLOGIA
Nem	Marx,	nem	os	economistas	clássicos	relacionaram	suas	teorias	com	a	lei	da
entropia.	Malthus,	no	entanto,	inaugurou	o	debate	do	problema	populacional	e
Ricardo	percebeu	a	tendência	do	declínio	dos	retornos	da	terra	como	um	limite
para	o	desenvolvimento	capitalista.	Neste	sentido,	eles	apologeticamente
retratam	as	contradições	especificamente	capitalistas	como	processos	naturais	e
inalteráveis.
Essas	teorias	foram	desenvolvidas	numa	época	em	que	a	agricultura	ainda
dominava	a	economia	e	o	desenvolvimento	industrial	estava	fazendo	sua
decolagem	inicial.
Apesar	da	produção	ser	determinada	pela	natureza	e	pelos	seres	humanos,	a
atenção	de	Marx	e	Engels	estava	direcionada	não	para	as	limitações	naturais,
mas	para	os	limites	do	modo	de	produção	capitalista,	já	que	o	mundo	–	visto
como	natureza	–	estavaainda	pouco	povoado,	e	a	“superpopulação”	da	qual
Malthus	escreveu	era	um	resultado	direto	do	capitalismo.	Sem	dúvida,	um
aumento	da	população	pressupõe	o	crescimento	da	produtividade	do	trabalho,	e
isto,	por	sua	vez,	pressupõe	mudanças	na	estrutura	social.	“Quanto	mais	eu	entro
no	assunto”,	Marx	escreve	para	Engels,	“mais	eu	fico	convencido	que	a	reforma
da	agricultura	e	consequentemente	a	propriedade	baseada	nela	é	o	alfa	e	ômega
da	revolta	vindoura.	Sem	isto,	o	padre	Malthus	se	mostrará	correto”² .
À	luz	do	predomínio	da	ideologia	do	crescimento	na	Alemanha	Oriental,	que
supostamente	levaria	o	desenvolvimento	das	forças	produtivas	para	além	do
alcançado	por	qualquer	um	até	agora,	Harich	tenta	legitimar	seu	interesse	na
ecologia	com	referências	a	Marx	e	Engels	e	na	dialética	materialista.	Citando	o
comunista	francês	Guy	Biolat,	ele	afirma	que	“o	desenvolvimento	da	ecologia
expressou	uma	nova	abordagem	profundamente	dialética	para	o	estudo	da
natureza”,	de	modo	que	a	preocupação	ecológica	é	“tão	ortodoxa	quanto	se
poderia	desejar”.	A	ecologia	se	preocupa	com	a	“ação	recíproca	entre	natureza	e
sociedade”,	que	só	pode	ser	compreendida	completamente	pelos	adeptos	da
“dialética	da	natureza”	e	pela	“teoria	Marxista	do	conhecimento	refinada	por
Lenin”.
Agora,	o	metabolismo	entre	a	humanidade	e	a	natureza,	que	também	pode	ser
entendida	como	uma	interação	mútua,	não	tem	nada	a	ver	com	a	dialética	da
natureza,	e	não	será	contestada	por	aqueles	que	acham	que	a	dialética	não	tem
validade.	Por	isso,	a	epistemologia	de	Lênin	também	não	é	exigida	para	discutir
a	ecologia	e	suas	ameaças,	já	que	sua	epistemologia,	como	Harich	deve
tristemente	reconhecer,	até	agora	contribuiu	pouco	com	o	estudo	dos	problemas
ecológicos.	De	qualquer	forma,	o	Clube	de	Roma	está	despreocupado	com	o
materialismo	dialético	.	Em	última	análise,	até	mesmo	para	Harich,	pouco
importa	se	o	problema	ecológico	já	está	incluído	na	dialética	da	natureza.	Por
isso	não	é	necessário	discutir	sua	linha	partidária	leninista	ortodoxa.	Seu
argumento	não	repousa	na	dialética	da	natureza,	mas	sim	nos	cálculos	do	Clube
de	Roma,	que	se	baseia	no	consumo	acelerado	dos	recursos	naturais	e	na
explosão	da	população	para	prever	um	declínio	da	humanidade	em	um	futuro
não	muito	distante.	
Há	aspectos	da	natureza	que	podem	ser	compreendidos	com	a	lógica	formal	e
outras	que	exigem	o	uso	da	lógica	dialética.		As	descobertas	em	microfísica
impõem	uma	lógica	adequada	a	esse	objeto,	que	não	é	idêntico	à	lógica	formal
ou	à	lógica	dialética	.	Mas	os	meios	para	compreender	a	natureza	e	a	relevância
das	suas	regularidades	para	os	seres	humanos	que	as	investigam,	não	fornecem
informações	sobre	a	“totalidade”	da	natureza	e	suas	leis	de	movimento,	que
estão	até	agora	–	e,	sem	dúvida,	estarão	permanentemente	–	fechadas	para	nós.
Mesmo	se	a	lógica	dialética	fosse	requerida	para	o	estudo	da	natureza,	nós	não
poderíamos	concluir	nada,	a	partir	disso,	sobre	a	dialética	da	natureza;	em
contraste,	a	dialética	da	sociedade	é	visível	em	seu	desenvolvimento	econômico
e	nas	lutas	de	classes.	Pode-se,	obviamente,	descrever	a	lei	da	entropia	como
“dialética”,	apenas	porque	ela	implica	em	permanentes	mudanças	qualitativas,
especialmente	se	rastrearmos	todos	os	processos	econômicos	e	biológicos	até	sua
base	física.	Mas	a	Segunda	Lei	da	Termodinâmica	foi	descoberta	pela	físico-
química,	e	não	pelo	método	dialético,	e	isso	é	o	suficiente	para	elucidar	a
ecologia	do	ponto	de	vista	biológico	e	social.
O	marxismo	não	é	uma	ciência	natural,	e,	de	fato,	não	é	uma	ciência	no	sentido
burguês	da	palavra,	mas	usa	métodos	científicos	para	descobrir	os	pressupostos	e
as	necessidades	para	a	transformação	social,	em	geral,	e	para	a	abolição	do
capitalismo,	em	particular,	visando	intervir	praticamente	nos	processos	sociais.
As	leis	da	natureza	não	podem	ser	mudadas;	elas	devem	ser	aceitas,	embora
aumentando	a	compreensão	sobre	elas,	as	transformamos	em	uma	força	de
produção	humana,	determinando	as	possibilidades	do	desenvolvimento	social.
Se	a	natureza	afeta	os	seres	humanos,	ela	pode,	portanto,	desenvolver-se	em	uma
direção,	ou	seja,	até	o	seu	fim.	Enquanto	o	mundo	existir,	os	problemas	da
humanidade	serão	determinados	por	este	mundo	e	devem	ser	resolvidos	no
interior	dele.	Mesmo	sendo	verdade	que	a	termodinâmica	é	somente	uma
característica	de	um	universo	em	expansão	e	o	processo	inverso	ocorreria	em	um
universo	em	contração	levando	a	uma	nova	produção	de	matéria	fora	da
radiação,	isto	não	teria	relevância	para	um	mundo	que	desapareceria,	junto	com
seus	habitantes,	enquanto	isso.
Também	é	óbvio	que	sem	o	princípio	da	entropia,	o	metabolismo	entre	a
humanidade	e	a	natureza	dependeria	da	fecundidade	da	terra	e	da	produtividade
de	matérias-primas.	Com	a	esgotamento	das	matérias-primas,	a	fonte	de	energia
entra	em	decadência	e	leva	junto	com	ela	a	possibilidade	de	intervenções
humanas	nos	processos	naturais.	O	mundo,	no	qual	Marx	e	Engels	viveram,
sabia,	no	entanto,	que	os	limites	da	natureza	não	limitavam	a	produção.	Nem
processos	físicos	ou	biológicos	explicam	as	desagradáveis	condições	sociais.	O
esgotamento	da	saúde	da	terra	e	uma	relativa	superpopulação	eram	os	resultados
diretos	da	produção	por	lucro	e	poderia	ser	desfeita	pela	eliminação	das	relações
de	produção	capitalistas.	Eles	não	poderiam	ainda	falar	sobre	uma	crise
ecológica,	particularmente	não	por	um	ponto	de	vista	Marxista.
CRESCIMENTO,	CAPITALISMO	E	COMUNISMO
As	coisas	estão	diferentes	hoje?	De	acordo	com	o	Clube	de	Roma	e	Harich,	nós
estamos	no	meio	de	uma	crise	ecológica,	o	que	obriga	o	Marxismo	a	se
aprofundar	mais	do	que	antes	nas	bases	naturais	da	sociedade	e	no	problema	da
população	levantada	por	Malthus.	Harich	acredita	que	os	cientistas	comunistas,
se	não	ainda	a	Alemanha	Oriental	que	estava	na	URSS,	“estão	começando	a
focar	com	grande	discernimento	na	crise	ecológica”.	Para	deixar	claro:	o
problema	pode	ser	resumido	em	três	ideias	–	sobrecarga	ambiental,	consumo	de
matérias-primas	e	superpopulação.	A	solução,	de	acordo	com	Harich,	reside	na
reversão	desses	processos.	Isso,	no	entanto,	implica	na	destruição	da	sociedade
capitalista	e	assim	na	transformação	revolucionária	em	um	nível	global.
De	acordo	com	Harich,	contudo,	nós	não	podemos	falar	hoje	em	revolução
comunista	como	essa	foi	imaginada,	libertando	as	forças	sociais	de	produção	dos
grilhões	das	relações	de	produção	capitalista	para	satisfazer	necessidades
crescentes,	mas	deve	seguir	a	ideia	de	Babeuf	de	retroceder	as	forças	produtivas
e	as	necessidades	humanas	em	direção	a	coletividade	devota	pré-industrial.	Marx
já	enfatizou	que	no	capitalismo,	as	forças	produtivas	tornaram-se	forças	de
destruição,	“é	exatamente	isso”,	diz	Harich,	“que	nós	estamos	experimentando
hoje”.	Mas	isto	é	má	interpretação	por	parte	de	Harich.	Mesmo	considerando	o
lado	destrutivo	do	desenvolvimento	capitalista,	Marx	viu	no	comunismo	o	único
caminho	possível	para	um	desenvolvimento	progressivo	das	forças	produtivas,
na	qual	a	superação	da	pobreza	humana	determinada	pelo	capitalismo,	no	geral,
depende.	Certamente,	este	crescimento	das	forças	sociais	de	produção	inclui	as
exigências	que	devem	não	mais	servir	cegamente	a	valorização	de	capital,	mas
sim	as	necessidades	humanas	racionais,	que	são	elas	mesmas	determinadas	pelo
caráter	tecnológico-científico	das	adicionais	forças	produtivas.
Agora	isto	pode	parecer	utópico,	não	somente	por	causa	do	caráter	longilíneo	do
capitalismo,	mas	também	por	causa	dos	limites	do	crescimento	econômico
impostos	pela	natureza,	que	foi	desconsiderado	por	Marx.	A	relativa
superpopulação	que	Marx	escreveu	sobre,	de	acordo	com	Harich,	tornou
superpopulação	absoluta,	que	não	pode	ser	superada	através	da	mudança	do
capitalismo	para	o	comunismo,	mas	somente	através	de	uma	sistemática	redução
por	meio	do	planejamento	populacional	–	e	não	somente	o	“Terceiro	Mundo”,
mas	em	uma	escala	global.	Deste	modo,	mesmo	o	comunismo	não	permite	o
desenvolvimento	da	indústria	moderna,	mas	necessita	de	um	planejamento
econômico	sem	crescimento	e	possivelmente	a	liquidaçãode	formas	de	produção
já	em	uso.
A	crise	ecológica	descoberta	pelo	Clube	de	Roma	e	outros	pode	ser	visto	como
uma	nova	tentativa	–	similares	aos	esforços	de	Malthus	e	Ricardo	–	de	explicar
as	dificuldades	sociais	como	resultado	de	condições	naturais,	já	que	para	eles	a
forma	de	sociedade		parece	ser	natural	e	imutável.	O	novo	elemento	é	que	hoje
há	concordância	do	lado	“Marxista”,	com	uma	consciência	boa	ou	má.	Claro,	a
posição	de	Harich	diverge	da	defendida	pelo	Clube	de	Roma,	pois	ele	permanece
ciente	de	que,	mesmo	com	uma	compreensão	completa	da	situação	de	crise,	o
mundo	capitalista	não	está	em	posição	de	tomar	medidas	para	preservar	a	vida
humana	em	um	futuro	distante,	mesmo	que	sob	a	forma	modesta.
O	Clube	de	Roma,	nota	Harich,	de	fato	fala	em	um	esperado	empobrecimento	e
destruição	do	mundo,	mas	“não	fala	que	os	ricos	devem	desaparecer	de	cena”.
Hoje	as	pessoas	estão	prontas	“para	racionar	gasolina”,	mas	não	estão	preparadas
“para	racionar	tudo”.	Mas	porque	tudo	não	deve	ser	racionado,	pois	sob	base
socialista,	se	pergunta	Harich:	“isto	já	não	seria	comunismo?”	Isto	não	seria
o	comunismo	de	Babeuf,	enquanto	resultado	da	distribuição	racional,	para	o	qual
o	movimento	operário	deve	agora,	tendo	atingido	um	nível	mais	alto,	retroceder
com	um	movimento	espiral	dialético	–	a	negação	da	negação	–	depois	que	as
“fontes”	da	riqueza	capitalista	fluem	por	quase	200	anos?
Mas	porque	empacar	em	Babeuf?	Por	que	não	retornar	para	a	ecologia	perfeita
do	Paraíso	antes	do	Pecado	Original?	Um	é	tão	impossível	quanto	o	outro,	para	o
lamento	de	Babeuf.	A	história	não	pode	ser	feita	para	retroceder,	nem	mesmo
pela	“negação	da	negação”.	Uma	distribuição	racionalizada	pressupõe	forças
produtivas	que	satisfaçam	as	necessidades	de	quatro	bilhões	de	pessoas,	e	com	o
contínuo	desenvolvimento	produtivo	à	fim	de	conter	a	lei	do	aumento	da
entropia,	isto	é,	para	suportar	a	entropia	negativa	do	mundo	dos	vivos	com	o
mínimo	de	gasto	de	energia	“livre”.
Mas,	além	disso,	o	racionamento	que	Harich	fala	não	é	estranho	ao	mundo
capitalista,	onde	pode	ser	encontrado,	aplicado	mais	ou	menos	minuciosamente,
em	tempo	de	guerra	(e	também	no	“comunismo	de	guerra”).	Além	disso,	o
capitalismo	é	baseado,	de	acordo	com	a	lei	do	mais-valor,	no	“racionamento”	das
condições	de	vida	do	proletariado,	algo	que	também	caracteriza	as	relações	de
produção	países	supostamente	“socialistas”,	embora	lá	o	mais-valor	possa
aparecer	diretamente	como	mais-produto²⁷.	De	fato,	a	existência	do	capital,
como	Harich	mesmo	explica,	reside	no	contínuo	“racionamento”	dos	produtores
para	satisfazer	as	crescentes	exigências	de	acumulação	de	mais-valor²⁸.	Quando
e	em	que	medida	for	necessário,	o	capital	irá	também	buscar	formas	políticas
para	pressionar	as	condições	dos	trabalhadores	para	um	nível	mais	modesto.	A
expansão	da	pobreza	em	nível	global	é	um	produto	da	produção	de	mais-valor,	o
resultado	do	“racionamento”	do	capitalismo	das	condições	de	vida	de	grandes
massas	de	pessoas,	e	pode,	assim,	não	ser	recomendada	como	solução	da	crise
ecológica.	Se	esta	fosse	a	solução,	o	capital	estaria	na	melhor	posição	para
concretizá-la.
Quando	Harich	fala	da	necessidade	de	reduzir	a	produção	e	consumo,	algumas
questões	surgem:	de	quem	ele	está	falando,	na	verdade?	Dos	trabalhadores,	de
quem	o	mais-valor	está	sendo	extraído?	Dos	desempregados,	que	dificilmente
conseguem	se	manterem	vivos?	Dos	milhares	de	milhões	nos	países
subdesenvolvidos,	que	sofrem	de	desnutrição	e	morrem	lentamente	(ou	às	vezes
rapidamente)	de	fome?	E	se	a	superpopulação	absoluta	e	o	acelerado	consumo
das	matérias-primas	são	as	causas	desses	sofrimentos,	então	uma	distribuição
justa	não	pode	mudar	isso	essencialmente.	Assim,	segundo	Harich,	devemos	pôr
um	fim	à	acumulação,	para	que	a	produção	social	com	base	na	reprodução
simples	e	com	crescimento	populacional	zero	possa	finalmente	igualar	o
consumo.
As	relações	capitalistas	de	produção	e	de	propriedade	excluem	a	possibilidade	da
reprodução	simples.	A	interrupção	do	desenvolvimento	industrial	demandada
pela	pressão	de	acumular	traz	crises	econômicas	e	a	miséria	da	depressão.	Do
ponto	de	vista	daqueles	que	veem	a	crise	ecológica	como	já	em	andamento,	isto
pode,	certamente,	ser	uma	situação	bem-vinda.	Mas	como	uma	situação	de	crise
sem	uma	contestação	revolucionária	do	sistema	capitalista	pode	somente
conduzir	para	uma	nova	fase	de	acumulação,	uma	realização	da	reprodução
simples	está	reservada	ao	comunismo.	Na	verdade,	na	concepção	de	Harich,	o
comunismo	também	não	é	realidade,	mas	suas	precondições	já	foram
estabelecidas	com	a	existência	dos	“países	socialistas”.	Depende	deles,	e	do
movimento	operário	dos	países	capitalistas,	se	a	sociedade	pode	preservar	sua
base	natural.	“A	derrubada	da	burguesia,	a	criação	da	ditadura	do	proletariado,	e
a	realização	do	comunismo	são”,	de	acordo	com	Harich,	“os	pressupostos	para	a
realização	social	das	demandas	do	Clube	de	Roma”.
Além	de	um	punhado	de	cientistas,	no	entanto,	nem	as	autoridades	dos	“países
socialistas”	nem	os	operários	do	mundo	capitalista	são	conscientes	dessa
importante	tarefa.	Como	Freimut	Duve	enfatiza,	“as	políticas	econômicas	de
todas	as	nações	–	sem	exceções	–	são	as	mesmas	e	isso	ocorreria	mesmo	se	os
estudos	do	Clube	de	Roma	nunca	tivessem	sido	realizados”.
Isto	vale	também	para	os	“países	socialistas”,	que	Harich	atribui	a	eles	a
possibilidade	de	uma	adaptação	mais	rápida	e	melhor	à	crise	ecológica,	pois	não
estão	sujeitos	à	uma	pressão	pela	reprodução	ampliada.	A	destruição	do	meio
ambiente,	em	todos	os	casos,	é	um	problema	para	a	sociedade	industrial	em
geral,	a	possibilidade	de	enfrentar	esse	problema	não	é	de	forma	alguma	neutra
em	relação	ao	sistema² .	Com	certeza,	infelizmente,	os	recursos	de	matérias-
primas	dos	países	“socialistas”	tornam	desnecessária	uma	revolução	comunista
anterior.	Mas	eles	irão,	mesmo	assim,	finalmente	lidar	com	a	crise	ecológica,	já
que	os	comunistas	“nunca	se	resignarão	à	ideia	de	que	a	humanidade	está
condenada	à	destruição”.
Enquanto	isso,	é	uma	questão	de	nadar	“contra	a	corrente”	e	manter	uma
imagem	do	futuro	para	os	olhos	do	mundo,	de	modo	a	indicar	o	caminho	para
escapar.	O	Clube	de	Roma	pode	apenas	alertar	e	fazer	propostas,	mas,	de	acordo
com	Harich,	não	muda	nada	na	“explosiva	força	revolucionária”	efetivada	pela
compreensão	ecológica.
As	conclusões	dessa	compreensão	só	podem	ser	desenvolvidas	pelo	movimento
operário	e	pelos	Estados	operários,	mas	exigem	a	revisão	das	ideias	comunistas
tradicionais.
As	vantagens	do	sistema	socialista	devem	ser	utilizadas	para	regular	e	planificar
a	produção	de	todos	os	bens	materiais,	fazendo	justiça	de	acordo	com	o	critério
ecológico....
Para	atingir	essa	finalidade,	diz	Harich,
os	partidos	de	esquerda	devem	agora	imediatamente	começar	a	explicar	para	a
classe	operária	as	razões	pelas	quais	interromperão	o	crescimento	econômico
assim	que	chegarem	ao	poder,	e	imporão	restrições	materiais	para	toda
população,	incluindo	os	operários.
Assim,	será	uma	revolução	não	para	melhorar,	mas	para	piorar	o	padrão	de	vida
dos	trabalhadores.
Será	difícil	conseguir	muito	entusiasmo	revolucionário	para	este	projeto.	Esta	é	a
grande	preocupação	de	Harich.	Como	pessoa	amante	da	verdade,	ele	não	deseja
despertar	ilusões	e	sim	deixar	claro	para	os	trabalhadores	a	necessidade	das
novas	privações,	“Tão	popular	quanto	possível	e	tão	impopular	quanto	é
necessário	dado	o	julgamento	da	ciência”.	Em	todo	caso,	nós	devemos	colocar
um	fim	ao	pensamento	de	prosperidade	e	ao	fetichismo	do	crescimento,
Por	meio	da	reeducação,	mas	também,	quando	necessário,	por	rigorosa
repressão,	talvez	pelo	fechamento	de	ramos	inteiros	da	produção,	acompanhado
por	imposições	legais	de	forma	abrupta.	
É	claro	que,	pelo	menos	para	Harich,	isso	requer	“a	propriedade	social	dos	meios
de	produção,	administrada	pelo	estado	proletário,	é	uma	necessária
precondição”.	Mas	isso	não	é	suficiente.	O	estado	proletário	deve	também	ter	o
poder	de	controlar	o	consumo	individual	de	acordo	com	o	critério	imposto	pela
ecologia.
No	finito	sistema	da	biosfera”,continua	Harich,	“é	que	o	comunismo	deve	fazer
o	seu	caminho,	deve	transformar	a	sociedade	humana	em	um	estado	estacionário
homeostático	que,	nos	limites	da	continuação	da	dinâmica	do	capitalismo	ou
socialismo,	também	não	tem	lugar	para	liberdade	individual	sem	limite.
Qualquer	ideia	de	um	futuro	definhamento	do	Estado	é,	portanto,	ilusória.
Esta	“revisão”	do	“Marxismo-Leninismo	clássico”	é	direcionada,	obviamente,
somente	contra	a	ideologia	e	não	contra	a	realidade	dos	países	“socialistas”,	que
nunca	teve,	e	não	tem,	intenção	de	renunciar	a	“autoridade	estatal	e	leis
codificadas”	para	realizar	o	comunismo	no	sentido	do	marxismo	original.	Mas,
assim	como	o	estado	autoritário	foi,	segundo	Harich,	necessário	para	criar	a
“indústria	pesada,	fundamento	da	autodeterminação	nacional”,	com	“aspereza	e
brutalidade	sem	exemplos”,	hoje	ele	é	ainda	mais	necessário	para	desmantelar
este	fundamento.	Assim	como	Stalin	“governou	o	país”	com	o	objetivo	do
desenvolvimento	industrial,	o	estado	proletário	deve,	considerando	em	seus
cálculos	as	previsões	da	ciência,	utilizar	todos	os	meios	necessários	para	forçar	o
povo	a	viver	de	acordo	com	a	ecologia.	O	próprio	comunismo	de	Babeuf	não
pode	ser	deixado	aos	operários,	pois	somente	pode	ser	alcançado	através	do
inevitável	poder	estatal	exercido	pelos	partidos	Marxista-Leninistas.
Contra	isso,	Duve	contesta	que	não	se	pode	falar	de	comunismo	em	relação	as
ideias	autoritárias	de	Harich,	já	que	“a	administração	da	escassez	em	todo	caso
dará	aos	administradores	o	poder	real”.	A	perpetuação	do	estado	é	naturalmente
a	perpetuação	da	sociedade	de	classes,	e,	portanto,	das	relações	de	produção
exploradoras,	que	são,	ao	mesmo	tempo,	relações	de	propriedade.	Enquanto
propriedade	do	Estado,	os	meios	de	produção	despontam	no	futuro	como	meios
de	produção	separados	dos	operários.	Tanto	a	forma	quanto	o	que	é	produzido
está	subordinado	não	ao	controle	dos	operários,	mas	ao	das	instituições	estatais,
que	supostamente	representam	o	interesse	da	sociedade.	Mas	essa	sociedade
permanece	dividida:	de	um	lado,	um	grupo	de	pessoas	organizadas	através	do
estado,	que	controlam	os	meios	de	produção	e	a	distribuição	do	produto,	de
outro,	a	massa	da	população,	que	deve	seguir	suas	ordens.	Este	novo	tipo	de
sociedade	caracterizada	por	um	controle	estatal	dos	meios	de	produção	aparece
para	a	burguesia	como	socialismo	de	estado,	ou	simplesmente	socialismo,	mas	é
capitalista	em	sua	relação	com	os	trabalhadores,	expresso	convenientemente	no
conceito	de	capitalismo	de	estado,	embora	se	autoproclame	socialismo.
Uma	vez	estabelecida	esta	situação,	o	processo	de	reprodução	social	ocorre
como	reprodução	da	dominação	estatal,	e	a	riqueza	social	cresce	de	acordo	com
o	aumento	do	poder	estatal.	Além	da	luta	competitiva	internacional	entre	capitais
organizadas	nacionalmente,	que	será	ainda	mais	acentuada	graças	às	diferenças
entre	os	sistemas	capitalistas,	a	classe	privilegiada	que	é	constituída	nas	relações
sociais	do	capitalismo	de	estado	tem	seu	próprio	interesse	direto	no	aumento	do
mais-produto	à	sua	disposição	e,	por	conseguinte,	no	desenvolvimento	das	forças
produtivas	em	uma	base	capitalista	estatal.	Não	se	pode	ser	esperar	que	se
estabeleça,	espontaneamente,	limites	às	forças	produtivas,	e,	na	medida	em	que
for	forçado	nesta	direção,	não	se	aplicará	as	privações	resultantes	a	si	mesma,
mas	as	imporá	à	massa	impotente	da	população.	O	argumento	ecológico,
obviamente,	oferece	um	bom	álibi.
Isto	já	é	usado	por	Harich	para	defender	o	contínuo	atraso	dos	países
“socialistas”	em	comparação	com	as	nações	industriais	capitalistas.
Nós	devemos	transformar	o	declive	dos	padrões	de	vida	do	Ocidente-Oriente”,
ele	diz,	“que	até	o	presente	tem	limitado	o	progresso	da	revolução	proletária	nos
países	industriais	capitalistas,	em	uma	rampa	Oriente-Ocidente	de	cuidados
exemplares	do	meio	ambiente,	do	racionamento,	manuseio	econômico	e
moderado	de	matérias-primas,	e	uma	qualidade	da	vida	socialista
correspondentes.
Os	operários	do	Ocidente,	mesmo	depois	de	uma	revolução	bem-sucedida,
devem	tomar	o	mais	baixo	padrão	de	vida	do	Oriente	como	modelo	e
compreender	seu	dever	revolucionário	de	renúncia	de	poucos	confortos	que	o
capitalismo	ocasionalmente	oferece	a	eles.	O	que	a	experiência	dos	operários	da
Alemanha	Oriental	deve	deixar	claro	para	aqueles	do	Ocidente	é	que
as	características	da	Alemanha	Oriental,	assim	como	o	campo	socialista	em
geral,	que	nós	geralmente	observamos	como	desvantagens,	serão	vantagens	à
medida	que	nós	encaramos	os	novos	padrões	da	crise	ecológica.
Esta	inversão	dos	valores	até	então	existentes	pode,	contudo,	na	concepção	de
Harich,	não	ser	atingida	de	um	dia	para	a	noite.	O	comunismo	dos	iguais	de
Babeuf	pressupõe	uma	“primeira	fase	socialista”,	como	Marx	já	expressava,	e
como	existe	na	Alemanha	Oriental:	isto	é,	uma	distribuição	não	de	acordo	com	a
necessidade,	mas	de	acordo	com	o	trabalho	realizado.	Como	é	o	“estado
proletário”	que	julga	o	desempenho,	este	estado	torna-se	o	instrumento	de
desigualdade	e	não	tem	outro	conteúdo	além	dessa	desigualdade,	ou	dele
próprio.	Mas,	assim	como	a	classe	dominante	no	capitalismo	privado	está	pouco
disposta	a	abrir	mão	de	seus	privilégios,	a	nova	classe	dominante	que	efetiva	sua
dominação	através	do	“estado	proletário”	renunciará	aos	privilégios	associados	a
ele.	O	“estado	socialista”	é	tão	incapaz	de	responder	aos	avisos	do	Clube	de
Roma	à	la	Babeuf	quanto	o	capital;	ele	age,	ao	invés	disso,	às	custas	dos
operários,	como	sempre,	com	ou	sem	a	crise	ecológica.	Assim	como	a	classe
operária	não	está	disposta,	sob	as	condições	de	exploração	e	desigualdade
existentes	nos	países	capitalistas,	a	deixar	de	lado	suas	necessidades	para
preservar	o	meio	ambiente,	os	operários	dos	países	“socialistas”	não	estão
dispostos	a	renunciarem	uma	melhoria	em	seus	padrões	de	vida	no	interesse	das
“futuras	gerações”.	As	lutas	de	classes,	sempre	latente,	decidirá	o	curso	futuro
do	desenvolvimento	econômico.	Para	interromper	o	crescimento	econômico,	a
luta	de	classes	também	deve	ser	abolida,	ou,	para	usar	a	terminologia	de	Harich,
a	“ditadura	do	proletariado”	sob	a	liderança	dos	partidos	comunistas	deve	ser
criada	em	escala	global	para	atender	as	demandas	da	crise	ecológica,	mesmo	na
“primeira	fase”	do	comunismo.
CRISE	ECOLÓGICA	E	LUTA	DE	CLASSES
A	luta	de	classes	não	pode,	é	claro,	ser	abolida	por	meio	do	poder	estatal,	mas
apenas	continuada	de	forma	unilateral	por	um	longo	ou	curto	período,	ou	seja,
através	da	ditadura	fascista	ou	democrática	do	capital	ou	através	da	“ditadura	do
proletariado”	no	sentido	“Marxista-Leninista”.	Assim	como	a	crise	econômica
decorrente	das	relações	capitalistas	de	produção	intensifica	os	antagonismos	de
classe,	as	medidas	para	superar	a	crise	ecológica,	que	são	praticamente	as
mesmas	da	crise	econômica,	devem	aguçar	os	conflitos	de	classe.
A	ameaça	contínua	às	classes	dominantes³ ,	por	um	lado,	força-as	a	manter	seu
poder	por	meios	ditatoriais;	por	outro	lado,	elas	também	buscarão	atender	às
demandas	dos	operários,	na	medida	do	possível.	Para	o	capital	privado,	isso
pode	apenas	ser	uma	medida	que	levará	à	retomada	da	acumulação	de	capital	e
com	ela,	a	expansão	da	produção.	Para	manter	o	poder,	a	classe	dominante	dos
países	“socialistas”	deve	aumentar	a	produtividade	do	trabalho	e	expandir	a
produção,	comprometendo-se,	sem	olhar	para	trás,	com	as	consequências
ecológicas	de	um	maior	crescimento.	
Portanto,	os	alertas	do	Clube	de	Roma	não	são	ouvidos	em	nenhum	lugar,	e
particularmente	não	são	ouvidos	nos	países	“socialistas”,	onde	uma	nova
“burguesia”	surgiu	a	partir	das	bases	do	estado.	Harich	explica	isso	evocando	a
falta	de	compreensão	por	parte	das	autoridades	“comunistas”,	que	poderia	ser
remediada	com	discernimento	“científico”.	No	entanto,	o	problema	real	é	a
consciência	de	classe	da	nova	classe	dominante,	tão	forte	quanto	a	da	antiga
classe	dominante.	É	o	socialismo	falsificado	sob	a	forma	de	socialismo	de
estado,	o	único	tipo	de	“socialismo”	que	Harich	pode	imaginar,	que	o	permite
colocar	suas	esperanças	ecológicasna	dependência	da	ditadura	estatal	e	de	sua
perpetuação.
Se	a	salvação	do	mundo	depende	dos	já	existentes	e	dos	futuros	países
“socialistas”,	nós	podemos	abandonar	toda	esperança.	O	que	Harich	condena	no
capitalismo,	sua	incapacidade	de	interromper	o	crescimento	econômico,	é	uma
verdade	para	os	sistemas	de	capitalismo	de	estado	que	se	apresentam	como
“socialistas”.	Suas	demandas	ilusórias	por	“um	estado	estacionário	da
humanidade	no	interior	do	sistema	da	natureza”	exige	simultaneamente	a
superação	do	sistema	capitalista	e	do	capitalismo	de	estado	e	exigiria
movimentos	revolucionários	que	não	se	subordinariam	incondicionalmente	ao
“julgamento	da	ciência”	ou	do	estado,	mas,	sem	obediência	à	autoridade,	se
sentiriam	em	casa	no	mundo	de	maneira	correspondente	as	suas	próprias
necessidades.
Como	tal	movimento	não	existe,	nós	estamos	presos	na	crise	ecológica.	A
“ciência”	não	é	responsável	pela	aplicação	prática	ou	na	falha	da	aplicação	do
conhecimento	ganho	por	ela;	a	responsabilidade	é	dos	governos	e,	então,	das
classes	dominantes.	É	peculiar	que	Harich	critica	o	fetichismo	do	crescimento
em	nome	da	ciência,	já	que	esta	última	é	ela	mesma	apenas	um	aspecto	do
fetichismo	do	crescimento.	A	ciência	é	representada	por	pessoas,	que	não	são
somente	cientistas,	mas	também	membros	da	sociedade,	e	seus	interesses	sociais
particulares	que	determinam	os	campos	de	aplicação	da	ciência.	O
desenvolvimento	das	forças	produtivas	capitalistas	ou	—	o	que	resulta	da	mesma
coisa	—	a	geração	da	“crise	ecológica”,	foi	um	processo	possibilitado	pela
ciência,	e	é,	cada	vez	mais,	um	resultado	direto	da	ciência	e	sua	influência	sobre
a	tecnologia.	É	da	ciência,	destruidora	do	meio	ambiente,	que	Harich	espera	as
necessárias	instruções	para	a	reconstrução	de	um	equilíbrio	ecológico,	que	sua
realização	prática	definiria	limites	não	somente	para	o	crescimento	econômico,
mas	também	para	a	ciência.	Ele	fala,	é	claro,	da	ciência	sob	a	“ditadura	do
proletariado”,	mas	já	que	isso	é	somente	outro	nome	para	a	relação	capital-
trabalho	ainda	existente	na	forma	de	propriedade	estatal,	o	desenvolvimento	da
ciência	depende	de	um	maior	crescimento	das	forças	produtivas,	assim	como	os
interesses	socialmente	determinados	dos	cientistas	permanecem		amarrados	ao
progresso	do	capitalismo	de	estado.							
Isto	é	aparentemente	contrariado	pelo	reconhecimento	dado	ao	Clube	de	Roma
pelos	cientistas	russos,	bem	como	pela	atenção	geralmente	dada	as	descobertas
do	Clube,	creditadas	com	“forças	revolucionárias	explosivas”.	Parece	atordoante
que	estas	pesquisas	estavam	sendo	financiadas	por	instituições	capitalistas	e	por
empresas	comerciais,	como	a	Fundação	Volkswagen,	sem	falar	ainda	do
inesperado	liberalismo	com	que	os	estados	totalitários	têm	permitido	seus
acadêmicos	ao	direito	de	uma	futurologia	pessimista.		Vemos	aqui	a	ciência
como	tal,	independentemente	de	seu	ambiente	social,	abrindo	um	caminho	livre,
ou	as	suas	preocupações	atuais	são	também	preocupações	das	classes
dominantes?	Este	desenvolvimento	talvez	seja	parte	do	planejamento	exigido	a
longo	prazo,	ou	apenas	uma	reação	espontânea	a	escassez	das	matérias-primas	e
combustíveis	necessários,	politicamente	projetadas	na	estrutura	do	mecanismo
de	preço?	Ou	nós	estamos	lidando	aqui	com	não	mais	do	que	uma	rédea	dada
livremente	a	ciência,	na	qual	pode,	por	fim,	levar	apenas	para	projetos
extensivos	para	dar	aos	cientistas	trabalhos	e	renda?	Embora	o	problema
ecológico	realmente	exista,	as	pesquisas	sobre	este	problema	têm	praticamente
nenhum	significado	prático.	Na	medida	em	que	se	pode	atribuir	significado
prático	a	elas,	torna-se	contraditório:	embora	elas	sejam	capazes	de	explicar	a
terrível	situação	aos	operários	do	Oriente	e	do	Ocidente	e	interromper	sua	luta
por	melhores	condições	de	vida,	um	aumento	do	mais-valor	ou	mais-produto
ainda	exigiria	uma	progressiva	destruição	ecológica.
CAPITALISMO,	CRISE	ECOLÓGICA	E	CRISE	SOCIAL
A	manutenção	de	um	equilíbrio	ecológico	absoluto	é	impossível.	Mas	hoje	a
prolongação	da	existência	humana	através	do	respeito	aos	limites	impostos	pela
natureza	é	uma	possibilidade,	mas	sua	realização	exigiria	o	fim	da
superexploração	capitalista	dos	recursos	naturais.	Os	limites	impostos	pela
natureza	ainda	não	é	o	mais	importante.	O	que	é	necessário,	hoje	e	amanhã,	é
acabar	com	a	miséria	humana	causada	pelas	relações	de	produção	capitalistas,
como	ponto	de	partida	para	uma	forma	de	sociedade	planejada	racionalmente	de
acordo	com	as	condições	naturais	—	baseada	não	em	mais	privações,	mas	em
um	melhor	padrão	de	vida	para	todos,	da	qual	depende	a	diminuição	do
crescimento	populacional	e	que	possibilitaria	o	desenvolvimento	adicional	das
forças	produtivas	da	sociedade.
A	destruição	progressiva	do	meio	ambiente	não	é	resultado	do	crescimento	das
forças	produtivas,	mas	sim	resultado	do	crescimento	das	forças	produtivas	sob	o
capitalismo.	Se	a	produção	capitalista	realmente	fosse	o	que	afirma	ser,	uma
produção	para	a	satisfação	das	necessidades	humanas,	o	desenvolvimento	das
forças	produtivas	teria	um	caráter	diferente	do	atual,	com	uma	tecnologia
diferente	e	diferentes	consequências	ecológicas.	Com	relação	a	isso,	a
reprodução	ampliada	com	uma	população	crescente	e	necessidades	crescentes
não	faz	diferença	em	princípio.	Mas	o	desenvolvimento	das	forças	produtivas
ocorre	com	base	nas	relações	de	produção	capitalistas	e	está,	portanto,	vinculado
a	produção	de	capital;	ela	pode	satisfazer	as	necessidades	humanas	apenas	na
medida	em	que	elas	coincidem	com	as	exigências	da	acumulação	de	capital.	Isto
exclui	qualquer	referência	direta	às	autênticas	necessidades	sociais,	e	aos	limites
naturais	da	produção	social.	Sob	as	condições	da	competição	capitalista,	que	não
são	abolidas	com	o	capital	monopolista,	e	que	os	sistemas	de	capitalismo	de
estado	são	subordinados	como	parte	do	sistema	global,	o	desenvolvimento	das
forças	produtivas	avança	cegamente,	especialmente	quando	esforços	são	feitos
para	trazer	a	produção	sob	controle	consciente	em	nível	nacional.	Este	processo
exige	um	enorme	desperdício	de	poder	do	trabalho	humano	e	de	recursos
naturais,	que	não	ocorreria	(pelo	menos	no	mesmo	grau)	em	outro	sistema	social.
Embora	não	haja	muito	sentido	nisso,	pode-se	calcular	até	que	ponto	a	expansão
da	produção	capitalista	é	determinada	pelas	exigências	da	existência	humana	e
até	que	ponto	pelo	caráter	específico	do	modo	de	produção	capitalista.	Em	outras
palavras:	Como	seria	a	produção	sem	todas	as	atividades	produtivas	e
improdutivas	exigidas	pelo	capitalismo?	Certamente	este	cálculo	mostraria	que
pelo	menos	metade	da	produção	capitalista	poderia	ser	dispensada	sem	afetar	as
condições	de	vida	das	pessoas.	Grande	parte	do	trabalho	hoje	é	improdutivo,
fazendo	“sentido”	somente	dentro	do	mercado	capitalista	e	nas	relações	de
propriedade.	O	trabalho	improdutivo	poderia	ser	transformado	em	trabalho
produtivo	—	“produtivo”	não	no	sentido	lucrativo,	mas	no	sentido	de	criação	de
valores	de	uso	—	enquanto	reduz	o	tempo	de	trabalho.	Tal	produção,	com	o
desaparecimento	do	princípio	do	lucro,	competição	e	da	desnecessária
“depreciação	moral”	dos	meios	de	produção,	traria	uma	economia	significante
das	matérias-primas	sem	diminuir	a	produção	para	atender	as	necessidades
humanas.
Tal	transformação	exige	uma	ordem	social	diferente	das	existentes.	Se
acompanharmos	os	cálculos	do	Clube	de	Roma,	pode	ser	que	—	dada	a
superpopulação,	a	limitada	capacidade	da	terra,	e	o	esgotamento	das	fontes	de
energia	—	a	oportunidade	de	concretizar	isso	pode	já	estar	perdida.	Uma	olhada
na	atual	produção	mundial	mostra	claramente	que	nós	não	podemos	falar	ainda
de	uma	verdadeira	falta	de	recursos	materiais.	Pelo	contrário,	e	apesar	da	curta	e
artificialmente	produzida	“crise	energética”,	o	mundo	está	sofrendo	da
“sobreprodução”,	de	uma	insuficiente	demanda	efetiva,	mesmo	nas	bases	de	uma
baixa	taxa	de	acumulação,	que	por	ela	mesma	impõe	limites	a	expansão	de
produção.	A	situação	de	crise	que	nós	estamos	experenciando	tem	causas	não
naturais,	mas	tem	como	base	as	exigências	da	valorização	de	capital.	Mesmode
acordo	com	o	Clube	de	Roma,	os	efeitos	da	crise	ecológica	serão	completamente
visíveis,	e	assumem	formas	catastróficas	somente	em	“duas	ou	três	gerações”,	e
apenas	se	nenhum	passo	for	tomado	para	combatê-los.
Nos	dois	relatórios	produzidos	para	o	Clube	de	Roma	que	Harich	cita³¹,	o	prazo
até	a	destruição	do	mundo	é,	possivelmente,	até	metade	do	próximo	século.
Neste	meio	tempo,	um	caminho	deve	ser	encontrado	para	mudar	do	crescimento
“indiferente”	para	um	crescimento	“orgânico”	da	economia	e	da	sociedade.	Este
caminho	está	para	ser	descoberto	graças	a	um	modelo	de	computador	que
extrapola	a	tendência	do	desenvolvimento	dos	dias	presentes	ao	futuro.
Reconhecidamente,	os	resultados	são	apenas	uma	probabilidade,	não	uma
certeza.	Enquanto	o	primeiro	relatório	sobre	os	“limites	do	crescimento”
preocupou	o	mundo	inteiro,	lidando	com	o	aumento	da	população	total	e	da
média	da	renda	per	capita	etc.,	o	segundo	relatório	enfatiza	que	este	tipo	de
análise	não	pode	levar	a	uma	solução	do	problema.	O	mundo	consiste	de	várias	e
diferentes	partes	que	devem	ser	tratadas	de	modos	particulares,	no	que	diz
respeito	às	necessidades	regionais.	Se	o	primeiro	relatório	alertou	que	o	sistema
mundial	colapsará	no	meio	do	próximo	século,	o	segundo	relatório	previra	não	o
colapso	do	mundo,	mas	sim	o	colapso	de	uma	ou	outra	de	suas	regiões	(que
significaria,	é	claro,	ipso	facto,	a	destruição	do	mundo	em	sua	totalidade).
Se	de	pouco	a	pouco	ou	tudo	de	uma	vez,	o	colapso	é	inevitável	de	acordo	com	a
lógica	do	computador;	o	resultado	disso	é	que	cabe	aos	“estadistas”	arregaçarem
a	manga.	Aqui	encontramos	a	mentalidade	dos	cientistas	especialistas	do	Clube
de	Roma,	por	exemplo,	M.	Mesarovic	e	E.	Pestel,	responsáveis	pelo	segundo
relatório.	Eles	se	referem	ao	longo	do	relatório	não	à	sociedade	capitalista,	mas	à
“sociedade”	(ou	simplesmente	a	“humanidade”)	ameaçada	pela	natureza.	Do
ponto	de	vista	deles,	a	crise	ecológica	tem	raízes	nas	atividades	que	“surgiram
das	melhores	intenções	das	pessoas”.	Não	ocorreu	para	eles	que	estas	intenções
envolvem	a	exploração	dos	operários;	pelo	contrário,	eles	estão	convencidos	que
“a	redução	do	trabalho	humano	através	da	exploração	dos	recursos	não-humanos
de	energia	é	um	projeto	com	o	qual	as	pessoas	devem	concordar”.	Eles	são
incapazes	de	compreender	que	é	exatamente	o	aumento	da	exploração	do
trabalho	que	torna	necessário	a	superexploração	dos	recursos	naturais.	Eles	não
compreendem	a	sociedade	em	que	eles	vivem	ou	eles	fingem	uma	falta	de
entendimento	para	não	serem	ofensivos.	Mas,	olhando	as	soluções	propostas,	é	a
primeira	destas	que	parece	correta.
Estas	propostas	representam	uma	série	de	formas	prudentes	de	comunicação,	tal
como	a	ênfase	da	necessidade	de	uma	solução	global	do	problema	ecológico;
uma	economia	mundial	mais	balanceada	através	da	abolição	simultânea	do
subdesenvolvimento	e	do	superdesenvolvimento	nas	respectivas	regiões;	uma
alocação	apropriada	de	matérias-primas	e	combustíveis	não	renováveis;	uma
efetiva	política	de	população;	mais	energia	solar	em	vez	de	reatores	nucleares;
aumento	da	ajuda	aos	países	pobres	pelos	países	ricos;	e	louváveis	medidas
similares.	Nenhuma	palavra	é	desperdiçada	sobre	como	este	programa	será	posto
em	prática.	Os	especialistas	estão	certos	apenas	que	a	solução	da	problématique
humaine	exige	o	trabalho	cooperativo	mais	estreito	em	uma	escala	mundial,	já
que	apenas	pode	haver	um	futuro	“quando	a	história,	não	mais	como	antes,	é
determinada	por	indivíduos	ou	classes	sociais,	mas	através	da	dedicação	dos
recursos	materiais	para	a	proteção	da	existência	humana”.	O	reconhecimento	da
realidade	capitalista	está	no	mesmo	nível	da	compreensão	de	Harich	do	mundo
“socialista”.	Em	ambos	os	casos,	observamos	somente	feitiços	pronunciados	ao
vento.
De	certa	forma,	os	autores	do	segundo	relatório	não	se	sentem	seguros.	Por	mais
“racional”	que	o	computador	seja,	as	pessoas	são	irracionais.	Apesar	do
computador	indicar	que	as	pessoas	podem	ser	ajudadas	não	através	de	conflitos,
mas	por	meio	da	cooperação,	a	análise	do	computador	necessariamente	trata
somente	os	limites	materiais	do	crescimento.	Mas	o	mundo	é	ameaçado	pelas
próprias	pessoas	com	base	em	problemas	sociais,	políticos,	e	organizacionais,
que,	em	última	análise,	brotam	da	“natureza	humana”.	Já	que	o	Clube	de	Roma	é
apartidário	em	relação	a	políticas,	os	problemas	não	podem	ser	discutidos
politicamente.	O	relatório	observa	que	o	caminho	mais	rápido	para	a	aniquilação
da	humanidade	seria,	certamente,	uma	guerra	atômica;	mas	esta	eventualidade,
como	o	enorme	desperdício	de	recursos	dispendiosos	através	de	armamentos	e
militarismo,	não	está	incluído	na	estrutura	dos	problemas	discutidos	pelo	Club
de	Roma,	já	que	o	mundo	está	exposto	ao	perigo	da	completa	destruição,	mesmo
sem	uma	guerra	atômica.
Um	dialético	como	Harich	não	pode	se	satisfazer	com	isto.	A	distinção	feita	pelo
Clube	de	Roma	entre	problemas	sociais	e	naturais	contradizem	a	“interação”
entre	humanidade	e	natureza.	Para	Harich,	a	ameaça	de	uma	guerra	atômica	e	a
crise	ecológica	estão	estreitamente	conectadas.	Na	verdade,	ele	não	nega	que	há
contradições	sociais	que	dirigem	em	direção	à	guerra,	mas
em	tempos	que	o	crescimento	econômico	se	depara	contra	limites	naturais
inquebráveis,	nós	devemos	também	reajustar	um	pouco	nossas	opiniões.	Sob	as
condições	da	crise	ecológica,	fatores	sociais	e	naturais	são	entrelaçados	de
maneiras	anteriormente	desconhecidas...	A	influência	da	sociedade	na	natureza
pode	criar	uma	situação	na	qual	pode	levar	a	sociedade	a	procurar	refúgio	em
uma	catástrofe.
Não	basta,	portanto,	esforçar-se	diretamente	para	prevenir	uma	guerra;	nós
devemos	tratar	a	crise	ecológica	como	uma	possível	causa	da	guerra	para	evitar	a
própria	guerra.
De	fato,	tivemos	duas	guerras	mundiais	e	muitos	conflitos	menores	antes	da
ameaça	à	ecologia	entrar	em	nossa	consciência.	Estas	guerras	aconteceram	não
porque	as	nações	lutaram	–	tal	como	cães	lutam	por	ossos	–	por	causa	do
declínio	de	suplementos	de	matérias-primas,	mas	porque	a	luta	competitiva
capitalista	pela	extração	do	mais-valor	da	população	operária	se	desenvolveu	em
um	plano	mundial.	A	luta	competitiva	existe	em	todas	as	circunstâncias,	com	ou
sem	escassez	de	matéria-prima,	e,	portanto,	nada	tem	a	ver	com	esta	última,	pois
surge	do	modo	de	produção	capitalista.	Mesmo	quando	a	escassez	de	matérias-
primas	e	consumo	de	bens	leva	a	guerra	em	vez	de	outra	solução,	isto	resulta	da
forma	da	sociedade	e	não	da	escassez	em	si.	Nesta	questão,	contudo,	Harich
novamente	se	aproxima	da	concepção	unilateral	do	Clube	de	Roma	do	problema
como	puramente	ecológico,	sem	referência	ao	real	mundo	capitalista.	Este
mundo	é	para	ele	também,	apesar	da	“intervenção	de	fatores	sociais	e	naturais”,
apenas	um	fator	subordinado:	é	a	crise	ecológica	que	pode	levar	a	guerra,	então
para	evitá-la	pressupõe	resolver	a	crise	ecológica.	Mas	a	guerra	pode	ocorrer
amanhã,	enquanto	a	crise	ecológica	não	é	esperada	até	na	metade	do	próximo
século.	Pode	até	ser	impedido	por	uma	guerra	atômica,	que	proveria	uma
pavorosa	demonstração	da	destruição	da	humanidade,	não	pela	natureza,	mas
pelo	capitalismo.
Mas,	há	uma	crise	ecológica?	Os	números	produzidos	pelo	modelo	do
computador	que	Harich	e	o	Clube	de	Roma	se	referem	estão	abertos	a	dúvidas
por	diferentes	pontos	de	vistas.	Como	a	quantidade	de	matérias-primas	e	a
energia	consumida	pelos	países	industriais	nos	últimos	50	anos	pode	apenas	ser
determinado	imprecisamente,	estamos	ainda	menos	certos	do	que	ainda	está
disponível.	Aqui	estamos	lidando	com	quantidades	desconhecidas,	como	pode	já
ser	vista	no	fato	que	estimativas	são	continuadamente	revisadas,	não	somente
por	causa	de	descobertas	de	novas	reservas,	mas	também	devido	aos
melhoramentos	nos	métodos	de	estimativa.	Para	dar	um	exemplo:	o	intocável
suprimento	de	carvão	nos	Estados	Unidos	eram	estimadas	em	1969	em	3,000
bilhões	de	toneladas;	em	1975	essa	quantidade	foi	aumentada	em	23	por	cento
devido	ao	melhoramento	dos	métodos	de	estimativa.	Já	que	tais	erros	de
estimativas,	quer	para	mais	ou	para

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