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A mediação de conflitos no cenário escolar propõe transmitir ao leitor, por meio da experiência com a prática de mediação, maneiras de intervir em situações conflitivas nas ações educativas. Destinado aos jovens e aos educadores, as análises deste livro convidam a todos, conhecerem a media- ção de conflito, seus princípios, objetivos e modelos de realização. A utilização dessa prática nas relações escolares permite um movimento transformador, responsabilizador, cooperativo e participativo, ao ZOÉ RIOS propor a resolução de A mediação de conflito está comprometida com a formação de valores e é orientada na educação em direitos humanos, em prol de uma cultura pacificadora. MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO CENÁRIO ESCOLAR 3141 www.editorarhj.com.brque precisamos conhecer, pesqui- e investigar, além dos conteúdos ciplinares, para enriquecer dia a na escola? Como contribuir com profissionais da educação e jovens ucandos, para que possam compre- der as novas exigências do mundo constante transformação? Buscan- responder a essas indagações, a itora lança novas publicações m questões inovadoras e instigantes. sta linha editorial de temas atuais, a apresenta assuntos de relevância contemporaneidade, estimulando e jovens a desvendarem que se apoiam na construção novos entendimentos, nos diversos mpos de editora acredita que, ao publi- esses livros, esteja despertando nos tores desejo de buscarem, sempre, A DE CONFLITOS vas informações e de compartilha- m os anseios e inquietudes que as novações sociais e tecnológicas vêm NO CENÁRIO ESCOLAR igindo para exercício da cidada- Equipe EditorialZOÉ RIOS A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO CENÁRIO ESCOLAR Belo Horizonte 2012Copyright 2012 by Rios Rafael Borges de Andrade Assessoria editorial: Mário Assistente editorial: Marilene Capa, projeto gráfico e Mário Silva Mirella Spinelli Marilene Lazzarotti Revisão: Mônica Santos, Libério e Soares Impressão: TCS Soluções Cráficas e Editora A mediação de no cenário escolar Zoé Rios: Mirella ilustradora. - Belo Horizonte: 116p. 1. Educação - mediação de Spinelli. CDD: 370 CDU: 370.1 Bibliotecária responsável: Maria Aparecida Costa Duarte CR8/6-1047 ISBN: 978-85-7153-314-1 edição a reprodução total ou parcial desta obra sem consentimento por escrito da editora. Todos os direitos reservados à: RH) Livros Ltda. Rua 415 - Prado Belo Horizonte - MG - CEP: 30411-180 Fax 3332-5823 www.editorarhj.com.br Ao Rafael, Impresso no Brasil por todos os sonhos compartilhados e vividos. Printed in Brazil9 MEDIAÇÃO: UMA AÇÃO EDUCATIVA 15 Articulações sobre a mediação na escola 17 Diante do conflito: uma aposta na mediação 20 mediação de conflitos: referências mundo e no Brasil 29 Mediação de conflito no Brasil 36 COMPREENDENDO A MEDIAÇÃO DE CONFLITO 43 e considerações da mediação de conflitos 45 Principios da mediação 57 Concepções da dinâmica da mediação 60 da mediação 61 Campos de aplicação da mediação 63 Tipos de conflitos encaminhados para mediação 64 decorrente das diferenças 65 de acordo 65 Vantagens da mediação 67 mediador - Função 68 AMEDIAÇÃO DE CONFLITO NO CENÁRIO ESCOLAR 73 sobre a mediação no projeto pedagógico 75 Considerações sobre a violência na escola 80 sobre a mediação violência 82 Considerações sobre a prática da mediação na escola 84 Modelos de mediação 95 finais 103 IAN 109INTRODUÇÃOsobre a prática de medição reúne discussões que refle- no trabalho como mediadora e pesquisadora. O da obra tem como objetivo, auxiliar a comunidade escolar intervenções que vêm sendo adotadas em situações de aferecendo bases metodológicas e conceituais sobre a me- responder aos anseios de uma sociedade que vive gran- que clama por ações educativas que fomentem de paz. preliminarmente: é possível a escola de construção de conhecimentos, habilidades e valo- de solucionar os conflitos? Quais os recursos que desse questionamento, deparamos com a possibilidade de sobre os paradigmas de resolução de conflito. A verifica- valor das práticas que vêm sendo implantadas - como a de disciplinadores, guardas municipais nos ambientes es- elaboração de regras de exclusão e seleção para controlar a de perfis dos alunos; além dos recursos arquitetônicos - nos estudos, como sendo ineficientes para a realiza- objetivos educacionais em seu sentido amplo. a essas questões, trataremos sobre a mediação no dividindo com os leitores nossos conhecimentos habilidades e capacidades para a prática dessa inter- os elementos que perpassam esse procedimen- objetivo, princípio e a dinâmica de desenvol- dessa Discutimos as peculiaridades dessa proposta, A mediação de no cere compromisso da educação, perante a resolução de conflito, de áveis que norteiam uma proposta pacificadora. Um recorte descri- buscar a efetivação das garantias tivo e conceitual foi realizado a fim de apontar orientações e com- preensões sobre conflito na escola, mostrar porque estes acabam É interessante entender que a proposta da mediação de conflito provocando situações de A adequação da mediação no na escola é especial, por se tratar de uma prática que poderá ser uti- ambiente escolar exige dos responsáveis em educação, entendi- lizada por jovens, que tanto se empolgam com atividades que lhes mento de como transformar confilitos em espaço de vivências har- permitem serem protagonistas. O convite para o conhecimento da mônicas e solidárias. mediação tem intuito de disseminar conhecimentos sobre essa prática e de incentivar a criação de espaços de mediação na escola. No capítulo II, pontuamos sobre os conceitos, princípios, obje- tivos e conhecimentos da prática da mediação de conflito. O leitor Os jovens demandam a existência de espaços que os levem a se- terá, nesta parte do livro, a oportunidade de conhecer os detalhes rem considerados como atores de sua própria história. Possuem in- conceituais que definem a mediação e os fundamentos que susten- teresse em desenvolver habilidades para explicitar seus saberes sobre tam a sua aplicação em situações de as suas vivências, sentimentos e desejos. Precisam de momentos para a reflexão quanto aos direitos e deveres e, sobretudo, de es- Não nos resta dúvida de que esforço em ser claro, objetivo e, paços de interação, para dialogarem sobre as diferenças, respeito, ao mesmo tempo, abrangente garantiu uma aproximação de todos dentre outros. As situações de resolução de conflitos pacificadoras os interessados nessa prática. A intenção é subsidiar saberes neces- são interessantes para o trabalho nessa perspectiva. sários para implemento de um projeto que aposta na mediação de conflito. Observa-se que, na escola, a mediação tem espaço para tornar-se uma prática, culturalmente, aceita. A partir da educação, podemos No capítulo III, desenvolvemos discussões sobre a mediação no disseminar a cultura mediatória, e desenvolver crenças, atitudes e projeto político-pedagógico, tecendo considerações sobre a media- valores em favor da justiça social. Ao conhecer a mediação, será ção e a violência escolar. Os aspectos específicos que implicam a compreendido que as iniciativas que essa prática na esco- adoção da prática da mediação no cenário escolar perpassaram as la, apostam nas sementes, que os objetivos da mediação têm como discussões desse capítulo com intuito de facilitar a sua aplicação. alvo. Estes poderão dar frutos valiosos que fortale- As estratégias e os recursos que contribuem para sucesso da me- cimento do pleno desenvolvimento da personalidade humana e o diação foram cuidadosamente apresentados, apontando orientações senso de dignidade. para os futuros espaços de mediação. Acreditando que o conhecimento do processo mediatório favo- Esperamos que as reflexões e discussões deste livro possam con- rece a sua utilização, ao mesmo tempo em que contribui para re- tribuir com a qualidade das relações na comunidade escolar. Acre- pensar intervenções nos que estão sendo empregadas em ditamos que, ao apontar a mediação de conflito como intervenção nossas escolas, organizamos o tema deste livro em três capítulos. transformadora no espaço escolar, poderemos contribuir para a No Capítulo discutimos a relação das concepções e perspec- conscientização da importância de realizar projetos que contem- tivas da mediação de conflito com a Educação, os problemas que plem práticas participativas na resolução de conflito, possibilitan- afrontam a boa convivência no espaço escolar, e, sobretudo, as vari- assim, uma constante reflexão sobre que cada pessoa pode para construir relações mais positivas. 13 A mediação de no escolardevido ao potencial interdisciplinar dessa prática, os conhecimentos sobre a mediação sensibilizam rlocução entre as propostas dos temas transversais e 5 da cultura de paz em consonância com os investi- ropósitos presentes no Plano Nacional de Educação Assim, este livro pode ser um instrumento a criação de espaços de mediação de conflito no CAPÍTULO - MEDIAÇÃO: UMA AÇÃO EDUCATIVAARTICULAÇÕES SOBRE A MEDIAÇÃO NA ESCOLA As recorrentes situações de violência escolar constitui um fenô- meno que suscita reflexões sobre estratégias de intervenção adequa- das para tais Estes fatos prejudicam a qualidade das ações educativas e a realização do compromisso atribuído à educa- de desenvolver valores para a manutenção da ordem social. A utilização de abordagens criativas e interativas auxilia na prevenção na transformação da postura de todos os envolvidos, frente aos atos destrutivos. Com vistas a promover mudanças e a superação das questões de violência, apresentaremos análises de aspectos da mediação de conflito, de suas características, objetivos e princípios. A mediação 17 A mediação de cerário escolarconstitui-se uma para gerir a autocomposição entre os pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para exercício envolvidos em controvérsias, levando-os a responsabilizarem-se da cidadania e sua qualificação para O trabalho." (BRASIL, 1996). pelos direitos e deveres, por meio do diálogo. Essa prática leva os Assim, ato de educar, em sentido amplo, incorpora os princi- envolvidos em um conflito a participarem ativamente na busca por pios da igualdade, da diversidade, da universalidade nos ideais de mudanças de comportamento e por relações saudáveis. solidariedade. Negligenciar esses preceitos, nas resoluções de con- Nos estudos podemos identificar que as peculiaridades flitos presentes na escola, tende a violar essas em todas dessa forma de resolução de conflito atentam para a restauração as das relações de convivência e também para garantia dos Direitos No entanto, processo educacional acha-se comprometido com Humanos. A análise crítica sobre os conflitos no cotidiano da escola a construção de conhecimentos, como também com a formação do exige a elaboração de projetos de intervenção, ajustados aos pro- educando. É necessário que as práticas educativas, ao resolverem pósitos da educação que ressaltam compromisso da comunidade impasses e disputas de interesses, apontem ações preventivas, for- educativa com a formação do cidadão consciente de seus direitos mativas e transformativas. Devem oferecer condições para desen- e deveres. A repressão à violência demanda a formação de agentes volvimento das potencialidades do senso de dignidade, do respeito disseminadores da cultura de paz, promotores e protetores dos di- à diversidade e a criação de uma cultura direcionada para a realiza- reitos e da ção dos objetivos previstos no âmbito educacional. A proposta da mediação, que é uma prática pacífica de resolu- Os compromissos atribuídos à educação, portanto, exigem de to- ção de conflito, participativa e cooperativa, complementa as ações dos da escola aticudes e posturas ajustadas a suas obrigações. Para dos currículos educacionais que investem na educação como um mudar essa realidade de violência, e contribuir para avanço do instrumento indispensável à realização e efetivação dos ideais de- que é proposto, tornam-se necessários projetos de resolução de con- mocráticos e dos direitos Burguet afirma que a "(...) flito que estejam em consonância com as intenções pretendidas. educação das e valores pode ser uma ferramenta, mas não A proposta de projeto que atende a esses interesses elege a prática se aprendem atitudes e valores de repente ou eles da mediação de conflito. Esse procedimento coloca os próprios ato- são transmitidos por impregnação, por modelo, por contágio." res para resolverem seus conflitos, desenvolvendo suas habilidades (BURGUERT, 2005, p.42). de comunicação, socialização e cooperação. Potencializa o diálogo Nessa perspectiva, as exigências nas soluções de no es- na falta de entendimento ou quando há oposição entre dois sujei- paço de convivência escolar, necessitam ser orientadas para desen- volvimento de atitudes de paz. Devem visar, ainda, à concretização Observa-se que os diversos conflitos que deturpam bom anda- dos direitos sem distinções de raça, nacionalidade, etnia, mento das atividades pedagógicas têm exigido a aplicação de medi- classe social, opção sexual e opção política, fortalecendo das que criem condições favoráveis para se chegar ao consenso. As respeito e a cooperação mútua. estratégias de como os recursos do am- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação estabelece que educar biente da escola, a inserção de agentes de segurança, ou a disciplina é fomentar uma prática educativa que, "inspirada nos princípios e coativa e repressiva, são para modificar as ações que promo- liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade vem conflito e a violência. 19 A mediação de no escolarOs fatos oriundos de conflitos, que às vezes geram a violência, são Quando não se estabelece um diálogo positivo e a comunicação causados por posições intransigentes do sujeito diante da situação é deficitária na resolução do conflito, encontramos a resistência dos de desentendimento e, quando resolvidos por imposição, produ- sujeitos em aceitar a do outro e dificuldades para compre- zem ações reativas. A prática da mediação de conflito, por meio do ender um ponto de vista contrário à suas ideias e/ou pensamentos. diálogo, leva à desconstrução das atitudes rígidas, à realização das Buscam a defesa de si mesmos, a vontade e desvalorizam reais intenções dos envolvidos e à pacificação da situação outras formas de entendimento optando por manter posições de competição e afirmação. DIANTE DO CONFLITO: UMA APOSTA NA MEDIAÇÃO Nessas situações, na busca de solução, diante da dificuldade en- Com referência aos dados dos relatos de conflitos no âmbito es- contrada para manter diálogo, desconsidera-se a cooperação e a colar, discutiremos dois aspectos: O primeiro trata de questões ob- responsabilização, e valoriza-se a dicotomia ganhador perdedor jetivas, que causam conflito entre os alunos; entre os pais e profes- e as atitudes de individualismo e de imediatismo. Fica evidente que, sores; professores e coordenadores; professores e alunos; entre os quando a comunicação é negativa, ou seja, não flui para uma com- alunos e a coordenação e entre a comunidade escolar e a escola. São preensão mútua de ambas as partes, as atitudes refletem na dificul- normalmente relativas a procedimentos avaliativos, exi- dade de conviver e aceitar gências de uniformes e material escolar, perdas e danos sofridos pelo Como exemplo dessa intolerância, temos as situações descritas aluno, administrativas da gestão, problemas de disciplina nos comportamentos de bullying, que são rejeições no campo da e de cumprimento de tarefas, propostas de atividades extramuros e representação, atos contínuos, como a violência psicológica e física, comemorações festivas, comportamentos de transgressão ou delitos de forma direta ou indireta. São manifestações de negação e depre- entre alunos, além de outras razões explícitas nas relações escolares. ciação do outro, em que os direitos são aviltados. Esses fatores, que acontecem com certa frequência, resolvem-se Chalita (2008), ao abordar sobre bullying, distingue a violên- geralmente por meio de medidas objetivas, baseadas em normas e cia verbal e física como forma direta e a violência simbólica como autoritarismo. Normalmente, a ordem é reestabelecida, mas re- forma indireta. Como exemplo da forma direta, temos os xinga- conhecimento das intenções, danos e direitos não são trabalhados. mentos, tapas, apelidos ofensivos, chutes, as resistências A falta de reflexão sobre esses aspectos não leva à implicação e res- quanto à disciplina, até mesmo atos, como de estragar objetos de ponsabilização dos sujeitos envolvidos na situação, e fato ocorre outra pessoa ou chantagear, que são situações que acontecem sem novamente. Sendo assim, a solução na superfície do fato não pro- que a vítima tenha feito algo para provoca-las. Esse mesmo autor porciona a transformação de atitudes. evidencia que a forma indireta tende a isolar a pessoa com intrigas, Nesse universo, segundo aspecto explica a segunda categoria fofocas, difamações e injúrias cruéis, entre muitos outros comporta- de conflitos que advêm da precariedade ou da inexistência de uma mentos que atingem psicologicamente a vítima que sofre comunicação positiva. Essa dificuldade constitui fator agravante, Esse tipo de atitude é muito comum nas escolas. No ambiente tanto para acirrar a ocorrência de conflitos objetivos, como para escolar, agrupam-se pessoas com interesses, culturas, personalida- investigar provocações e desrespeito perante desacordos provocados des, classes sociais, crenças, etnias, e outras várias particularidades. pela diferença entre os sujeitos no espaço de convivência. Essas variedades de características acabam por fomentar divergên- 21 A mediação de nocias, como também atitudes desrespeitosas por intransigências com e acirra a cultura destrutiva na convivência escolar. O bullying é O diferente. uma violência sutil, em que autor do ato manifesta atitudes mas- aumento dos casos de violência na escola foi apon- caradas de depreciação do termo abrange tado por Chrispino e Chrispino (2011), como consequência da (...) todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repeti- massificação do espaço escolar nos últimos tempos. A escola acaba das, que acantecem sem qualquer motivo aparente, realizadas por acolher um maior número de pessoas com perfis diversificados, por um ou mais alunos contra gerando angústia e até com demandas divergentes. A massificação da educação, que mesmo dor, sendo realizadas dentro de uma relação assimétri- ca de poder. 2010, p. (...) trouxe para dentro do universo escolar um conjunto de alu- nos, sendo certo que a escola atual da maneira como está Muitas vezes, a vítima sofre por transtornos psicológicos, com sendo organizada e da maneira como foram formados os pro- consequências severas MARTINS, 2010), como dificul- fessores só está preparada para lidar com alunos de formato padrão e perfil ideal. A massificação ampliou número de alu- dade e desinteresse na aprendizagem, depressão, fobia social, passi- nos e trouxe um aluno de perfil diferente daquele com qual a vidade, introspecção, baixa estima, síndrome do pânico, inseguran- escola estava preparada para E CHRISPINO, e dificuldade na sociabilidade. Essas consequências podem vir a p. 11). ocorrer em qualquer espaço de convivência, não restrita a determi- nada classe social, idade ou A massificação é um novo no Brasil, mas a consequência Os problemas de convivência escolar, indisciplina, violência e desse movimento em países desenvolvidos já se demonstra em vá- bullying muitas das vezes, reflexos dos comportamentos cul- turalmente valorizados no contexto social, enquanto a escola tam- bém produz comportamentos que repercutem nas relações sociais. Essa interação de mão dupla, entre a escola e a sociedade, acontece concomitantemente nos processos de desconstrução da violência utilizados na escola e nos moldes empregados pelos agentes sociais. Desse modo, essa interação demonstra-nos quanto é importante, à comunidade escolar repensar sua tarefa de impulsionar modelos pacíficos, ao agir ante conflito. A cultura da violência está evidente na como algo banali- rado e A escola fica paralisada diante dessas ocorrências busca soluções nos regulamentos disciplinares ou cm Essas medidas não formam cidadãos comprometidos com não produzem mudanças nos comportamentos e, consequen- rios estudos. Há indicativo de que a intolerância à diversidade, a ordem não é instaurada. quando não é bem resolvida, acaba em graves situações de bullying, 23 22 A deConforme Caballero (2000), citado por CHRISPINO e CHRIS- A compreensão dos diferentes conflitos ajuda-nos a entender os PINO, ressalta-se que tema da violência na escola tem repercussão elementos de uma disputa: os sujeitos em conflito, os dados que na sociedade, mas "(...) não é justo culpar a escola pelos problemas os conflitos, causas e consequências dos conflitos e os in- de violência escolar - da qual também é vítima mas podemos teresses dos envolvidos. Nos estudos de Moore (1998), os diferentes responsabilizar a instituição escolar pelas respostas que dá a esses tipos de conflito se classificam em: e CHRISPINO, 2011, p. 15). Conflitos Estruturais são causados por padrões destrutivos de Para modificar esse cenário, é necessário buscar contribuições comportamento ou controle, posse ou distribuição efetivas, fundamentadas cm valores essenciais à condição humana. desigual de recursos; poder e autoridades desiguais; fatores ge- Assim, podemos elencar alguns valores que nosso tra- físicos ou ambientais que impeçam a balho, ao tratarmos um conflito: pressões de tempo. favorecer O pensamento crítico frente às injúrias sociais, ati- Conflitos de Valor são causados por critérios diferentes para tudes violentas ou agressivas; avaliar ideias ou comportamentos; objetivos exclusivos intrin- secamente valiosos: modos de vida, ideologia ou religião dife- denunciar a injustiça desenvolver valores e atitudes para a convivência pacífica; Conflitos de Relacionamento são causados por emoção desenvolver a autoestima; forte; percepções equivocadas ou estereótipos; comunicação tolerar a diferença de cultura, de valores, de etnias: inadequada ou deficiente; comportamento negativo repetitivo. revalorizar as potencialidades do outro; Conflitos de Interesse são causados por - competição percebi- reconhecer os interesses, as necessidades, os valores e as da ou real sobre interesses fundamentais interesses quanto a procedimentos; interesses normas; favorecer pensamento empático e altruísta; Conflitos quanto aos dados são causados por falta de informa- ção; informação errada, pontos de vista diferentes sobre que é respeitar e estabelecer comunicação com as diferentes etnias, importante; interpretações diferentes dos dados; procedimentos com os diferentes níveis socioculturais; de avaliação (MOORE, 1998, p. 62.) respeitar meio; fortalecer as habilidades e vias de comunicação pacífica; Conhecer os tipos de conflito ajuda a mapear estratégias de in- preocupar-se em adquirir habilidades para a e ad- e a organizar modelos de prevenção dos As ministração do conflito (PALLAS, 2005, p. 119). intervenções e prevenções são, frequentemente, fundamentadas em estudos cuidadosos, e elaboradas a partir do tipo do conflito Todos esses valores constituem implementos para as atividades identificado. O trabalho de pesquisa de Redorta (2004), detalha que podem ser desenvolvidas no meio educacional. Os com cuidado os vários tipos de conflito, qualificando-os quanto às tos aplicados nessa perspectiva deverão perpassar todos os projetos, influências destes nos aspectos emocionais dos sujeitos. Entre eles inclusive os direcionados às propostas de resolução de conflito. destacamos: 4 25 Rios A mediação de no escolarde recursos escassos quando disputamos por algo que não existe suficientemente para todos; de poder contribui para sucesso dos resultados do trabalho feito, ajudando tamos de dirigir quando ou controlar dispu- porque algum de nós quer mandar, a resolver problema cm toda a sua dimensão. autoestima quando disputamos porque meu Segundo Moore (1998), os apresentam três diferentes orgulho pessoal se sente ferido; de valores quando dispu- níveis, que variam quanto ao grau, aos recursos utilizados para a tamos porque os meus valores ou crenças fundamentais estão solução, à amplitude e à interferência que a situação causou nas em jogo; de estrutura quando disputamos por um problema emoções e expressões comportamentais. Os níveis se diferenciam cuja solução requer longo prazo, esforços importantes de mui- tos, e meios que estão além da minha possibilidade pessoal; em latentes, emergentes e manifestos. de identidade quando disputamos porque problema afeta Os conflitos latentes não foram explicitados e, na sua plenitu- a minha maneira de ser que de norma quando de, os sujeitos não possuem uma conscientização da dimensão do disputamos porque valores ou crenças fundamentais conflito. de não serem evidentes, causam comportamentos estão em jogo; de expectativas quando disputamos desajustados e impedem uma boa convivência. não se cumpriu que um esperava de porque quando disputamos porque modificar as coisas produz uma ten- Os conflitos emergentes já foram evidenciados, a disputa já se são que não de informação quando disputamos por instaurou, as partes já reconhecem algumas mas ainda não algo que se disse ou não se disse ou que se entendeu de forma sofreram nenhuma intervenção. Se não incidir um processo de reso- de interesses quando disputamos porque meus in- lução, o conflito tende a crescer e a causar mais danos. teresses ou desejos são contrários aos do outro: de atribuição No conflito manifesto, os sujeitos já estão envolvidos em uma quando disputamos porque outro não assume a sua culpa disputa intensa e contínua, nos termos de um impasse. Este passa ou responsabilidade em determinada de relações ser objeto da intervenção na resolução, ao mesmo tempo em que pessoais quando disputamos porque habitualmente não nos todos os dados constitutivos dos conflitos devem ser trabalhados. entendemos como pessoas; de inibição quando disputamos porque claramente a solução do problema depende Conhecer as teorias e estudos que exploram o conflito norteia de legitimação quando disputamos porque outro não está trabalho da comunidade educativa ao enfrentar as situações se alguma maneira autorizado a atuar como ou tem feito que ela vivencia. O conflito no contexto escolar origina-se ou pretende p. 285). de vários tipos de manifestações de disputas e interesses. A escola Essa tipologia supõe estabelecer claramente os elementos representa um espaço de socialização, por excelência e um local pri- diferenciando as diversas possibilidades e as causas que a vilegiado de ressonância das dificuldades e das potencialidades que a originam. Há casos em que, devido à complexidade do conflito, que educando experimenta. não é possível e enquadrá-lo em um tipo de Nesse sentido, deve-se considerar que a escola "(...) é espaço São situações em que dois ou mais tipos se aglutinam e delimitam que a sociedade acredita ser ideal para reproduzir seus valores a questão Esses casos necessitam ser identificados como importantes para sua manutenção." (CHRISPINO; partir as intervenções devem buscar mudanças e atuar em cada e, a CHRISPINO, 2011, p. 11). Compreende-se que a escola, atu- ponto do conflito Separar as dimensões almente, contribui com a formação do cidadão, principalmente, diante do fato que tem em que a "(...) própria família, em 26 Rios 27 A mediação de no cenário escolarcrise e em transformação, passou a delegar funções educativas que, historicamente de sua própria responsabilidade." (CHRISPI- da comunicação positiva em prol da educação para a paz permite NO; CHRISPINO, 2011, p. 11). abandonar paradigma assistencialista e impositivo, centrado no Implica optar por uma intervenção transformativa e res- Diante dessa realidade, os diversos fatores detonadores de con- flito dentro da escola, tanto os provocados pelas ações de violência No entanto, observa-se que a comunidade tem buscado recur- que acometem toda a vida social, como os fundados nas dificulda- des encontradas pela escola, em suas ações precisam ser com a ajuda de outros intervenientes que, muitas vezes, pressu- poder e arbitrariedade. Apostar na mediação eleger tratados, adequadamente, para estabelecer-se a paz. A postura de vi- diálogo como instrumento nas decisões, a cooperação perante a timação e ações reativas de imposição da ordem, frente à violência, solução e uma boa gestão dos conflitos. impede a comunidade escolar de cumprir sua função no processo ensino/ aprendizagem de prevenir e de evitar a reincidência desses que se espera, em relação aos procedimentos de contenção da violência na escola, não é a ausência de conflito de interesse, mas in- É necessário desenvolver habilidades que permitam tratar os con- que têm como alvo a prevenção e a formação de valores flitos com astúcia, considerando os paradigmas transformativos, de que instiguem a paz. A implantação da mediação no cenário escolar provoca um redesenho nas relações e pode ser uma aposta de toda cooperação e responsabilização, de forma não violenta, não auto- comunidade educativa. Por essas razões, considera-se a aplicação das estratégias de mediação na resolução de no contexto escolar. No contexto histórico percebe-se a prática da mediação de confli- to várias partes do mundo, sendo desenvolvido nos mais diver- Nas escolas, a mediação deve ser utilizada em todos os âmbitos da setores. No Brasil, paulatinamente, está se conquistando espaço, vida escolar e com todos os setores da comunidade educativa. "O inclusive nas escolas, com resultados positivos e motivadores. projeto de implementação da mediação escolar exige, para que seja compatível com a aprendizagem dos seus jovens, uma intervenção organizacional ao nível dos conflitos existentes na escola." (MOR- EXPERIÊNCIAS EM MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: OLIVEIRA, 2009, p. 50). REFERÊNCIAS HISTÓRICAS NO MUNDO E NO BRASIL A vivência da mediação no âmbito escolar desempenha impor- Desde a antiguidade, os relatos históricos atestam a presença da tante papel para a instauração de sentimentos de autoconfiança e de da mediação de conflitos em diversos contextos, como meio Permite desenvolvimento da capacidade de relacio- de intervenção em disputas, nas negociações e nos desentendimen- namento interpessoal saudável e a capacidade para administrar as Segundo Moore, a prática da mediação teve início nas comuni- emoções e resolver os conflitos que, frequentemente, se apresentam dades judaicas e de mancira informal era nas mais variadas experiências de vida do ser [...] praticada por líderes religiosos e políticos. [...) As tradições A mediação como um procedimento transformativo de resolu- judaicas foram transportadas finamente para as comunidades ção de conflito fomenta a promoção dos Direitos Humanos e a emergentes. Em muitas sociedades pastoris tradi- realização dos interesses de todos os envolvidos. O estabelecimento cionais do Oriente Médio, os problemas eram frequentemente resolvidos através de uma reunião comunitária dos idosos, em 28 Zoé 29 A mediação ce no escolarque os participantes deliberavam e mediavam para campos de utilização de sua prática, que vem se consolidando nas resolver questões tribais ou intertribais críticas ou diversas sociedades atuais. O hinduísmo e o budismo, e as regiões que eles influen- A seguir, apresentamos exemplos que esquematizam, resumida- ciam, têm uma longa história de [...] A mediação tem sido amplamente praticada na China, no Japão e em várias mente, as instituições de mediação, áreas de aplicação e ano de outras sociedades asiáticas, onde a religião e a filosofia enfati- criação. Os dados foram retirados de conforme Moore zam fortemente consenso social a persuasão moral e a busca (2011, p. 36). do equilíbrio e da harmonia nas relações (MOORE, 1913 U.S Department of Labor atuar nos conflitos traba- 1998, p. 33). lhistas. 1947 United States Service e, No ocidente, nos séculos XVIII e XIX, a mediação marcou pre- Federal Mediation and Conciliation Service. sença como uma prática de intervenção no mundo dos negócios, interferindo nas disputas decorrentes do crescimento urbano, com 1960 Neighborhood Centers, (NJCS) A mediação como uma intervenção aplicada de modo formal nas disputas a participação de religiosos e, mais civis. Os mediadores nesse comunitárias, como serviços gratuitos ou de baixo custo, cres- contexto trabalhavam para esclarecer questões e problemas sociais, ceu muito. para intervir em interesses conflitantes e para transmitir informa- ções às partes. Nessa época, os mediadores eram treinados, infor- 1964 Civil Rights Act de âmbito federal criou Comunity Service (CRS) do Ministério da Justiça dos Estados Unidos para malmente, e exerciam tal função pela credibilidade que possuíam resolver disputas nas comunidades relativas a conflitos de dife- na comunidade. rença raça, con e/ou Essas agências prestavam Com O passar do tempo, a mediação tornou-se um procedimento serviços colaborando nas disputas por meio de negociações e delimitado por características específicas e teve seu campo de in- mediação. Lidavam com questões de não-segregação nas esco- tervenção ampliado. Passou a ser utilizada como forma de interven- las e em outras relações de espaços públicos. ção nos procedimentos extrajudiciais, ora como um meio alterna- Em 1980 O congresso norte-americano aprovou um Progra- tivo de resolução dos impasses, ora como forma pacífica de solução ma Nacional para a resolução de Este programa in- de contendas. Era sempre uma abordagem de cunho consensual crementou surgimento das conhecidas Alternative Dispute e participativa, capaz de proporcionar engajamento dos sujeitos Resolution (ADR), ou ainda, Métodos Alternativos de Solução como atores nas resoluções de seus conflitos. Essa abordagem bus- de Conflitos, considerados como formas básicas ou primárias desenvolvidas na esfera extrajudicial como justiça privada. As cava adaptar-se à realidade institucional e social dos envolvidos no A.D.Rs promoveram a divulgação da em questão, com o objetivo de apaziguar situações de dis- negociação e mediação. Neste cenário, a mediação é desenvol- córdias. A criação de um espaço para diálogo, com a presença de vida nas diversas um terceiro neutro, indicava a vivência de mediação. 1980 Os Neighborhood justice Centers foram institu- Essa delimitação leva à institucionalização da mediação. A ins- cionalizados e passaram a atuar como meio alternativo aos titucionalização da mediação nos Estados Unidos exemplifica os dicionais meios judiciários de resolução de disputas, por meio 10 A mediação de node um serviço de baixo custo de maneira informal e des humanas: (3) auxiliar as crianças a compartilharem senti- Outros programas comunitários não-lucrativos passaram a ofe- mentos e identificarem suas próprias qualidades; (4) auxiliar recer serviços básicos de resolução de conflitos e, geralmente desenvolvimento da autoconfiança sobre suas os mediadores eram membros da (5) auxiliar a pensar criativamente sobre os problemas e come- A partir desses programas, a mediação começa a ser praticada a prevenir e a buscar a solução de também nas escolas, em solução de conflitos e disputas entre CHRISPINO, 2011, p. alunos, professores e e entre os membros corpo ad- Os objetivos desse programa, dos anos 1970 consistiam em res- Na década de 1980 A criação do programa Nacional Associa- saltar, no procedimento de mediação, a finalidade de modificar pos- tion of Mediation in Education (NAME), estabelecia um inter- turas dos envolvidos em controvérsias no momento de buscar solu- câmbio entre os profissionais de mediação local e os programas ções. Há uma preocupação com a com as causas do da área Essa associação promoveu significativas conflito e com reconhecimento do outro, com suas peculiaridades mudanças nas resoluções de conflitos (...) aumento anseios. Assim, essa concepção prima pela prevenção, mudança de dos programas que treinam a juventude na mediação de dispu- atitude e pelo estabelecimento de uma boa convivência. tas entre colegas. 2011, p. 36). Já no início da década de 1980, na mesma perspectiva dos orga- Outros autores também relatam movimento da instituciona- nizadores de um movimento conhecido como "Educadores para lização da mediação, em que os dados apresentados demonstram Paz", professores e pais criaram a ESR Educators for Social Re- as formas de atendimento, objetivos e campo de aplicação da me- ponsability (Educadores para a Responsabilidade Social), que tinha Encontramos, em relato de Chrispino e Chrispino como atuar na educação por meio de um projeto de pre- que a mediação no âmbito escolar nos Estados Unidos, começou venção contra a guerra. A visão pacificadora da mediação é ponto a ser utilizada na década de 1970, antes do NAME e do NJCs, central desse movimento, que influenciou outros estados a adotar quando religiosos e ativistas perceberam a importância de ensi- ral procedimento. nar às crianças e jovens as técnicas de mediação escolar. Hoje exis- Ainda na década de 1980, inicia-se uma parceria entre os centros tem mais de trezentos programas destinados a esse fim nos EUA." de mediação comunitária e os sistemas escolares. A finalidade era (CHRISPINO, 2011, p. 67). Esses programas interferiam nos con- programas e recursos para as escolas oferecerem aos seus jovens Aitos que aconteciam em toda a comunidade escolar, e em algumas experiências na mediação, a fim de desenvolverem competências situações, o próprio aluno era mediador. para a resolução de conflitos. O programa CCRC da cidade de New York Children's Creative No ano de 1984, surge, nos Estados Unidos, NAME Natio- Response to Conflitct foi iniciado em 1972 e tinha como objetivos: Association for Mediation in Education (Associação Nacional de Mediação Essa associação surgiu em resposta ao grande (1) Desenvolver condições para que as crianças aprendessem apresentado pelos educadores e mediadores comunitários a usar uma comunicação mais (2) auxiliar as crianças prol da Obteve grande repercussão e influência nas a entenderem melhor a natureza sentimentos e e projetos em grande parte do país. 32 Zoé Rios A mediação de noEm 1985, em Nova York, os Educadores para a Responsabilida- [...] em parte a um reconhecimento mais dos direitos de Social e a Coordenação de Educação da Cidade instituíram o humanos da dignidade dos indivíduos, à expansão das aspira- RCCP Resolving Conflict Creative Program, que apresentava como ções pela participação democrática em todos os níveis sociais proposta desenvolvimento de um currículo voltado para a e à crença de que um indivíduo tem direito de par- lução de conflitos, que se iniciou discretamente, até alcançar um ticipar e de ter controle das decisões que afetam sua própria número significativo de abrangência no meio Os obje- vida, a um apoio ético aos acordos particulares e às tivos desse programa eram: cias, em algumas regiões, para maior tolerância à 2001, p. Apresentar alternativa não violenta para a solução de con- flitos; (2) ensinar habilidades que permitissem as crianças apli- Percebe-se, historicamente, a prática da mediação viabiliza as car alternativas não violentas na resolução de conflitos reais em transformações nas relações e exercício da autonomia, e SC preza suas vidas; (3) entre estudantes, incrementar entendimento da por sua dimensão cooperativa e não competitiva. Contudo, que própria cultura diferente da sua; (4) mostrar que as crianças e vem incentivando ainda mais a prática da mediação nos últimos jovens têm papel determinantes na criação de uma sociedade tempos é, além de seu cunho pacificador, mais p. a crescente insatisfação com processos autoritários de Tais objetivos ressaltam o cunho alternativo da mediação, re- tomada de decisão, acordos impostos que não se ajustam conhecimento e respeito pelo Nessa perspectiva, alvo quadamente aos interesses genuínos das partes, e aos custos da mediação nesse programa tinha, como foco, a parceria entre a cada vez maiores em dinheiro, recursos humanos, comunidade e a escola, visando incentivar a mediação como ação solidariedade interpessoal e comunitária de processos adver- educativa na construção de valores e na busca da harmonia em uma sariais, do tipo ganhador-perdedor de resolução de disputas. sociedade pluralizada. 2001, p. 34). Progressivamente, os programas de resolução de conflitos e de mediação no contexto escolar estendem-se por todo mundo e, Assim, diante da preferência das partes envolvidas em conflitos atualmente, existem experiências na Argentina, Nova participarem das soluções, e da mediação possibilitar França, Suíça, Bélgica, alcance dos objetivos de forma mais eficaz, a utilização desse pro- Alemanha, Espanha, dentre cedimento desenvolveu-se de forma rápida. Nesse cenário, a esco- la institui ações educativas para desenvolver cm scus educandos as Em algumas nações a mediação tornou-se uma prática institucio- habilidades que os motivem, a participarem da mediação e que os nalizada em diversos setores e reconhecida como uma profissão no capacitem como mediadores. âmbito comunitário, jurídico e escolar, dentre outros. A mediação Nos últimos anos, observa-se a mediação no âmbito passa a ser modalidade de intervenção em projetos de programas de escolar, familiar e também no âmbito da justiça prevenção e combate à criminalidade e à violência, nos setores de Segurança Pública do Estado e da sociedade civil ONGs. Contu- serva-se ainda nas disputas familiares, ligadas aos os quais do, esse crescimento deve-se estimulam consenso, que são mais adequados rápidos dos que os resultados impostos. 34 RiosNas relações de trabalho, um dado interessante chama atenção No âmbito do Direito de Família, significativos trabalhos são sobre a prática da mediação em defesa dos direitos, no final da dé- alizados, considerando que a mediação aplica-se, nesses casos, pelas cada de 1980 e início da década de 1990, em que ocorreu muitas arestas subjetivas que constituem os conflitos familiares. As um crescimento dos casos trabalhados em tan- resoluções de conflitos no âmbito familiar vêm sendo realizadas por to público, como privado, para mediar acusações relacionadas meio da mediação em instituições de serviços jurídicos e em aten- com discriminação racial, de gênero e de orientação dimentos de projetos sociais. sexual no local de e assédio sexual 1994 Encontramos a prática dos serviços de mediação de conflitos em e adaptação de pessoas portadoras de deficiências Universidades, nos Núcleos de Práticas Jurídicas, como propostas 1995), assim como em relação a queixas ou reclama- ções em ambientes não-sindicalizados 2012, p. 37). curriculares de cursos de graduação ou de projetos extencionistas; em projetos pilotos desenvolvidos pelos Tribunais de Justiça, com No âmbito da justiça criminal, recentemente, foi implantada a aplicação da mediação em Varas de Família e Juizados Especiais Criminais. prática da Mediação Restaurativa, que acontece entre agressor e a vítima. No diálogo, tratam sobre indenizações e danos, e a im- Além da prática da mediação no âmbito judiciário, observam- plicação e responsabilização pelo fato Em vários países se também a sua presença em programas de políticas públicas em do mundo, se desenvolvem programas de mediação restaurativa projetos de Esses projetos têm como objetivos a paci- para um tratamento das feridas, dos traumas e perdas causados pelo ficação social nos diversos contextos - instituições, comunidades e crime. Trata-se de um processo estritamente voluntário, que busca famílias. Nesses espaços, a mediação contribui como efetivação das alcançar um resultado restaurativo nos envolvidos em garantias dos direitos à vida e do direito à justiça em disputas de Nesse universo, no decorrer dos últimos anos, a mediação, ora a passos largos, ora com discrição, vem se instituindo em vários A criação de centros de mediação em serviços sociais está entre países. Nota-se a presença da mediação nos programas, projetos, as medidas pensadas, na atualidade, em alguns estados brasileiros. nas normas legais e em muitos movimentos institucionais e comu- Esses centros têm como objetivos, diminuir os índices de violência nitários que pretendem mudar a cultura arbitrária e autoritária ao aumentar a segurança, de modo a favorecer a boa convivência de resolver conflitos. pessoas com vínculos afetivos e relações continuadas. Esses centros que utilizam a mediação são práticas de projetos MEDIAÇÃO DE CONFLITO NO BRASIL desenvolvidos por ONGs e pelos órgãos governamentais. Encon- tramos a prática da mediação em projetos de políticas públicas, in- No Brasil, a mediação surgiu como uma forma extrajudicial de dicadas para serem aplicadas nos conflitos familiares, comunitários resolução de conflitos, com intento de facilitar o acesso aos ser- nos responsáveis pela Segurança Pública. A seguir, traze- viços do poder judiciário, diante da ineficiência desse sistema no mos exemplos segundo Spengler (2012), de projetos de mediação Brasil, O Ministério do Trabalho foi precursor na busca de possi- vários estados brasileiros: bilidades extrajurídicas para resolver os 6 Rios A mediação de noNo Rio de VivaRio e ISER, nos de Escola de Mediadores, desenvolvido duas escolas públicas Em Brasília, Projeto de Justiça Comunitária do Rio de Janeiro, em 2000, parceria com Instituto NOOS Em Fortaleza, no estado de Ceará, a efetiva presença da me- Viva Rio, Balcão de Direitos Mediare e a Secretaria Muni- diação nas Casas de Mediação cipal de Educação. Em Paulo, o projeto Pacificar da Secretaria Nacional de No Ceará, projeto de implementação da mediação esco- Segurança Pública de São Paulo (SENASP) por meio da Se- lar em parceria com o Instituto de Mediação e Arbitragem cretaria Nacional de Segurança Pública do Ceará IMAC. Esse projeto visa a formar mediadores Em Minas, Secretaria de Defesa Social de Minas (SDFS) e a para atuarem nas escolas, mediante a criação de um núcleo Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, por meio da de mediação. rintendência de Prevenção à Criminalidade (SPEC) através No Distrito Federal, realizou-se o projeto Escudar em Pazz dos Programas de Mediação de Conflito, com Projeto Me- Mediação de Conflitos no Contexto Escolar, um Projeto de diar, propondo a utilização da mediação em alguns casos que Extensão de Ação Contínua (Peac) da Universidade de Bra- chegam às delegacias regionais do Estado, sendo analisada a sob a coordenação do Núcleo de Estudos para a ocorrência e, indicados para essa intervenção, os episódios Paz e os Direitos Humanos (NEP). O projeto teve início em que apresentarem possibilidade de aplicação dessa modalida- 2009, com a formação de 30 mediadores no Centro de Edu- de de resolução de cacional (CED) Francisco, uma escola de ensino médio No cenário nacional, algumas instituições constituem fortes da cidade de São Sebastião/DF Atualmente, projeto am- pagadores da prática mediatória, sendo qualificadas em capacitar pro- pliou suas ações ao realizar uma parceria com projeto de mediadores para atuarem nos diversos Como exemplos, extensão da Universidade Católica de Brasília. temos Instituto CONIMA (Conselho Nacional de Instituições Os projetos de mediação em escolas, no Brasil têm se firmado de Mediação e Arbitragem), criado em 1997, e IMAB (Instituto como uma atividade formadora de cidadãos participantes, sendo de Mediação e Arbitragem), que organizou em setembro de 1998 realização possível Congresso Brasileiro de Mediação e Arbitragem. O Instituto Me- à medida que forem sendo criados espaços, oportunidades, diare, fundado em 1997, tendo como objetivos, a divulgação, a projetos e atividades, através dos quais alunos aprendam a pacitação, a consultoria e a prática da mediação e de outros instru- dialogar, a respeitar outro, a negociar soluções e conflitos, a mentos não destinados à administração de conviver com as diferenças, a trabalhar em grupo, a controlar Carlos No Brasil, a prática da mediação no ambiente escolar, vem sendo os impulsos agressivos, dentre outras habilidades Magno Soares Disponível implantada nos mesmos moldes dos projetos que tra- em: Sabe-se que a má administração das discórdias e dos conflitos balham com essa prática, visando O estabelecimento da convivência acirra a violência e crimes. A instrumentalização de aparatos de A seguir apresentamos exemplos desses projetos, segundo mediacao-escolar- Oliveira & Morgado (2009), em diversos Estados: contenção e o uso do poder do Estado, não é único mecanismo Acesso capaz de assegurar a ordem. Torna-se necessário desconstruir en- em: 17 2012. 38 Zoé Rios 39 mediação no escolartendimento de que "a cultura brasileira transformou Estado em so. Os paradigmas que sustentam as proposta pai e mãe de Dele dependemos para tudo." (FIUZA, 1995, nos serviços de mediação vão ao encontro do p. 27). Em contramão a essa compreensão e aos limites do poder Universal dos Direitos Humanos. de do Estado, frente aos conflitos, estão sendo desenvolvidos projetos de prevenção à criminalidade e à violência, com a prática da mediação. O objetivo é promover mudanças paradigmáticas nas interven- ções e auxiliar no desenvolvimento da cultura da paz nos vários setores do espaço social. Nos preceitos constitucionais, a segurança pública e bem-estar social constituem dever do Estado, e também direito de todos os portanto [...] a ordem pública deve ser entendida como a plena confi- guração do Estado de direito, que tem por funda- mento, segundo artigo primeiro da Constituição Federativa do Brasil, a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo Nesta perspectiva, é necessário perceber a seguran- ça pública como exercício para a liberdade e não meramente como mecanismo de controle social. (LEITE, 2007, p. 10). Tais considerações nos levam a refletir sobre a criação de espaços de mediação na atualidade como uma nova proposta para prevenir a violência e intervir nos conflitos. Essa prática permite pleno exercício da liberdade e a efetivação dos direitos fundamentais. O grande universo em que a mediação no Brasil tem sido uti- lizada, apesar de ser uma prática pouco conhecida, deve-se à cres- cente adoção desta proposta em muitos campos, que demandam mudança na cultura de lide - competição para a cultura da paz cooperação. Os resultados e movimentos pró-mediação têm contribuído para a cultura que propõe mudança de mentalidade e retratando o alto grau de satisfação e aceitação por aqueles que recorrem a este recur-CAPÍTULO 2 - COMPREENDENDO A MEDIAÇÃO DE CONFLITOCONCEITOS E CONSIDERAÇÕES DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A mediação é uma prática de resolução de conflito, em que as partes envolvidas buscam uma solução do impasse vivido, com a presença de um terceiro, o mediador, qual apoia a manutenção do diálogo das mesmas durante a sessão. Nesse procedimento, a participação das partes para resolver conflito está condicionada à manifestação de interesse das mesmas, ponto norteador é a mudança na relação. A dimensão transformativa da mediação aporta-se na possibilida- de dessa intervenção propor a resolução do conflito de forma ami- givel e participativa. Tende a oferecer um espaço democrático em que ocorram dificuldades de estabelecer uma boa vivência de definir os termos de um acordo. Contudo, essa prática tem como objetivo, alcançar os interesses pessoas, transformando a posição inicial dos envolvidos que es- 45 A mediação de no escolartão em discórdia. A participação ativa das partes na mediação exigo entre as partes e não de transformação da posição dos envolvidos clareza dos procedimentos, dos princípios objetivos que embasam na discórdia. A atuação do mediador nesse conceito está imbuída e revestem a cena mediatória. O mediador precisa adotar uma pos- de poder de decisão que contraria entendimento de mediação neutra, qual, de acordo com entendimento dos fundamen- que estamos propondo. Na prática da mediação, O mediador tem dessa prática, venha garantir e conduzir processo, mediante a função de incentivar diálogo das partes nas intervenções, e, de uma postura compatível com as propostas dessa intervenção. esclarecer, quando solicitado, pontos norteadores do Para melhor compreendermos essas os princípios, os ou de temas que estão sendo tratados. objetivos e as possibilidades de aplicação da prática da mediação, Na mediação, é preciso ressaltar sempre o princípio de neutrali- estudaremos vários conceitos formalizados por mediadores na atu- dade do mediador, sendo que, é a partir dessa compreensão que as alidade, com base em suas vivências. O intuito é construir uma partes terão oportunidade de protagonizarem processo resolutivo definição sobre mediação como instrumento transformador e co- e de construírem uma posição responsável, implicada com o diálo- operativo. go. Uma nova postura diante do conflito é esperada, não é só apenas Em um primeiro momento, ressaltamos pontos críticos sobre soluções objetivas. Seguindo, temos outro conceito, que construtos de mediação, como suporte para uma análise ampla e aborda a mediação como consistente das perspectivas mediatórias. Muitos termos encontra- [...] uma prática exercida por uma ou mais pessoas não en- dos nos conceitos pesquisados serão recortados, quando estes insti- volvidas, que usando técnicas apropriadas, assistem as partes garem sobre os paradigmas em que acreditamos estar sustentada a na solução dos conflitos, identificando os pontos de controver- prática de mediação. Trabalhamos com o conceito descrito abaixo, sia, visando facilitar que os medianos tomem as decisões que em que Moore (1998) define a mediação como componham, da forma mais completa os respectivos (DANTAS, a interferência em uma negociação ou em um de uma terceira pessoa aceitável, tendo poder de decisão Esse conceito define a mediação de maneira global como uma do ou não autoritário, e que ajuda as partes envolvidas a che- voluntariamente, a um acordo, mutuamente, aceitáveis forma que tem uma técnica apropriada. O termo récnica deve ser em relação às questões em disputa. 1998, compreendido como prática, ou procedimento que tem o compro- misso também com as partes mediadas, e que não está delimitado Nesse conceito, questionamos algumas colocações que contradi- apenas por estratégias previamente organizadas e definidas. zem os objetivos da participação ativa das partes e a postura neutra Uma vez que as partes são protagonistas da decisão, todo pro- do mediador. O autor desse conceito apresenta O mediador com cesso das precisa atender às peculiaridades de cada Ao papel de realizar a interferência, ou seja, um terceiro interven- iniciar uma mediação, ninguém sabe a que solução chegará, uma tor atuante. Esse entendimento não garante a proposta que pre- vez que processo é único, dinâmico e conduzido pelas partes en- tendemos desenvolver sobre a prática mediatória, haja vista nesta volvidas. Sabemos da dificuldade que é compreender dinamismo compreensão, a mediação se restringe à experiência de negociação da mediação, mas este é O ponto central, pois esclarece a especifici- 46 47 A mediação de no escolardade da prática mediatória. Essa mesma problemática é apontada A relação do saber e poder, Foucault (2004) é colocado como nesta outra formulação de mediação de BRAGA NETO, (2002) biopoder, ou seja, poder sobre os modos de existência, e que estão que a define como sendo calcados nas disciplinas. A disciplina é definida como um conjunto múltiplo de técnicas, procedimentos métodos, presentes nas ins- [...] uma técnica não adversarial de resolução de por tituições, nos saberes e nos poderes, "[...] que permitem controle intermédio da qual duas ou mais pessoas (física, jurídicas, pú- blicas, etc.) recorrem a um especialista neutro, capacitado, que minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição cons- realiza reuniões conjuntas e/ou separadas, com O intuito de tante de suas forças e lhes uma relação de docilidade e de estimulá-las a obter uma solução consensual e satisfatória, sal- utilidade" (FOUCAULT, 1999, p. 118). vaguardando relacionamento entre elas. As contribuições sobre estatuto dominador do saber p. 93). CO que perpassa as práticas sociais de ensino, de saúde, no campo Nessa compreensão, a mediação se apresenta sustentada por uma jurídico e de nos mostram como saber dos técnica que disciplina todas as ações. A utilização de uma técnica especialistas se prende a um regime de enunciados internamente pode tornar a vivência mediatória como sendo um dispositivo de constitutivos de poder. Com isso, estabelece-se que quem sabe, é assujeitamento, de controle, impedindo assim, envolvimento e a quem deve possuir poder de decisão, fazendo com que as partes responsabilização das partes. envolvidas atendam e acatem ao que foi determinado. Entretanto essa situação descrita, não é a finalidade da mediação, sendo que Também observamos que mediador é apresentado como um primordial é protagonismo das partes durante todo procedi- especialista neutro, que detém conhecimento e Contudo mento mediatório. essa compreensão, apesar de estar correta, provoca um sobretudo quanto ao compromisso que sustenta a prática de media- Quanto ao saber, quando apostamos na mediação, conheci- ção, a qual faz valer saber das partes, respeitando os seus pontos mento e o entendimento das partes, e somente das partes, durante de vista e levando-as a modificarem suas posições quando sentem a mediação, pode elencar opções que apontam para a resolução das ser necessário. Enriquecendo as nossas investigações, sobre poder questões em pauta. Na resolução do conflito, não devem ser condi- e saber do mediador durante a mediação, recorremos aos estudos cionadas as intenções e os valores de outrem, tendo que ser buscado de (2004), que questiona a existência de um saber neutro; nos interesses dos envolvidos, os quais terão que, apenas quando todo saber se prende a um regime de enunciados inteira- necessário, respeitar normas instituídas ou preceitos legais ao esco- mente constitutivos de poder. as opções resolutivas. Para esse pesquisador, saber implica necessariamente poder, Avançando em nossas análises, encontramos nos dizeres do con- porque não há relação de poder sem a constituição de um campo de ceito a seguir, a possibilidade da mediação se tornar uma O saber, por exemplo, dita normas, formas de se comportar, de exercício de autonomia e liberdade, de fazer escolhas. As relações do saber dos especialistas com poder [...] a mediação apresenta-se muito mais como procedimento de estabelecer modos de viver submissos e imperativos, não leva a do que como uma estrutura. O Direito é uma estrutura, a lei é implicação e responsabilização, nem mesmo à transformação das uma O objetivo da mediação é conduzir a disputa à relações. 48 49 Rios A mediação de escolarcriação de uma estrutura própria mediante a construção de nor- O a seguir ressalta pontos significativos da prática da mas relevantes para as partes, e não apenas adequar a disputa mediação quanto aos objetivos de transformar a relação entre as uma estrutura legal preestabelecida (SERPA, 1999, p. partes em um movimento possível de acontecer na experiência me- diatória. A mediação é um processo A mediação na conceituação acima assinala para uma dimensão de não enquadramento a uma estrutura preestabelecida, e de uma [...] interpessoal de resolução de onde as partes que possibilidade desta de se apresentar como uma experiência singular, se buscam a intervenção de uma terceira pessoa (o se definindo em cada caso, na relação espaço temporal. Essa defini- ou aceitam a pessoa que lhes é imposta por outra ção nos permiti sustentar a mediação como sendo uma prática que instância, como O objetivo de negociar para chegar a outra po- sição que leve em conta os interesses dos autores envolvidos. produz novos modos de compreender a situação vivida, já que po- (PERRONE, 1997, p. 46). demos perceber uma da cena mediatória com a valorização do saber da vida, da singularidade e da unicidade de cada A formulação de Perrone (1997) ressalta O poder de transforma- cia. E ainda, pode-se vislumbrar durante a mediação, considerando da Mediação. Essa observação auxilia-nos a ampliar os objetivos a flexibilidade que a compõe, em sua possibilidade de criação, um da proposta mediatória que deve pretender não apenas negociar e novo modo de compreender a experiência conflitiva e de encontrar discutir as possíveis saídas para a resolução do conflito, mas também soluções pacíficas, que ampliam visões de mundo na dimensão do mudar a posição inicial das partes, redimensionando o olhar peran- respeito e da valorização dos Direitos te a experiência vivida, no sentido de melhor entender as pe- Quando ressaltamos valor do saber da vida, pretendemos enfa- las quais conflito aconteceu, como se iniciou e porque se tornou um dos pontos primordiais da mediação, que é focar na expe- cm algo destrutivo entre as partes. Os sujeitos, ao protagonizarem a das partes, trabalhar as que deflagraram conflito, e discussão durante uma sessão de mediação compreendem tanto as ao mesmo tempo, encontrar uma saída transformadora. Muitas das causas dos conflitos, como também as consequências das atitudes vezes, não compreendemos que justifica determinados embates que foram tomadas perante os impasses e desentendimento. ou posturas de discórdias, e até mesmo, as partes envolvidas em Ampliando entendimento sobre a participação ativa das partes, desconhecem os motivos que as levaram às disputas. observa-se no conceito a seguir, uma referência sobre a possibilida- Devido a tais dificuldades pertinentes nas situações de impasses, de de encontrar soluções para as desavenças durante a prática da é que a indicação da mediação se faz necessária. Na mediação, as mediação que atendam aos interesses dos envolvidos nos conflitos, partes trabalharão nos diálogos tantos os aspectos que promoveram descrevê-la como sendo "um processo orientado a conferir às os conflitos, como também os termos que para um apa- pessoas nele envolvidas a autoria de suas próprias decisões, convi- ziguamento da situação. Acredita-se, ao apostar na mediação, que dando-as a reflexão e ampliando alternativas." (ALMEIDA, 1996, as raízes do conflito devem ser O elemento de trabalho durante p.20). diálogo, e suporte para a mudança de postura nas atitudes dos en- A mediação requer dos sujeitos uma participação efetiva e a re- Os sujeitos se envolver com os dados que a sobre os seus compromissos, os seus direitos as suas obriga- história do conflito e, irão compreender a responsabilidade de cada perante a si e ao outro. Incentiva a ponderação sobre com- um dos envolvidos na questão. 50 51 Rios A mediação de noportamento dos indivíduos e a importância de cada atitude para a de cada um. Durante trabalho realizado na mediação, os sua vida e para a vida do diálogos facilitam a percepção de cada uma das partes sobre ponto Não podemos deixar de ressaltar que, a pessoa em si, é tratada de vista do outro, conduzindo-as a uma cultura de compromisso e como sendo parte ativa no conflito, sendo valorizada e respeitada responsabilização sobre seu papel nas relações com próximo. em todas as suas dimensões, e colocada como parte fundamental Os elementos que estão para além do que foi evidenciado no para a solução desse conflito. conflito são também relevantes para potencializar poder transfor- Almeida (1996) ainda enfatiza a extensão da pratica de mediação mador da mediação. como "um processo não adverbial dirigido à desconstrução dos im- Assim, a experiência mediatória não se restringe a encontrar ape- passes que imobilizam a negociação, transformando um contexto nas soluções objetivas, pretende também ser uma intervenção na de convívio colaborativo." (ALMEIDA, 1996, p.20). origem do nos dados que construíram caso em questão. Observamos nesse conceito que a mediação oportuniza as par- Portanto "(...) essa prática objetiva ser uma experiência de criação tes a desconstruírem as relações conflituosas e a construírem con- e libertação pelo protagonismo das partes a partir de uma postura vivências pacíficas e Para a transformação da situação e crítica frente aos conflitos vivenciados" (ANDRADE, 2006, vivida, acredita-se que as opções de resolução devem ser analisadas p.31). cuidadosamente durante as não apenas vislumbrando saí- Tais considerações podem ser ainda mais enriquecidas ao anali- das cabíveis, mas também, trabalhando os direitos e deveres de cada sarmos a mediação como sendo um uma das partes e a relação desses direitos com os termos de solução [...] processo dinâmico que visa ao entendimento, buscando encontrados para o conflito. desarmar as partes envolvidas no conflito. mediador, terceiro Por conseguinte, durante O procedimento da mediação, almeja- neutro e imparcial, tem a atribuição de, as partes da po- -se que os envolvidos mudem de posturas e encontrem melhores sição em que se fazendo-as chegar a uma solução condições de convivência. O objetivo da mediação é muito lembra- A decisão é das partes, tão somente delas, pois O me- do por Almeida (1996), quando ressalta que a Mediação "facilita a diador não tem poder decisório nem influência diretamente negociação entre duas ou mais partes onde um acordo mutuamente na decisão das partes por meio de sugestões, opiniões ou con- selhos. (RODRIGUES 2007, p. aceitável pode sérum dos desfechos (ALMEIDA, 1996, p.20). Nesse conceito, termo "dinâmico" utilizado para caracterizar a Assim, como bem ressaltado no fragmento do conceito citado mediação é "neutro" como qualidade essencial do mediador, e são anteriormente, acordo não é único objetivo da mediação, sendo relevantes ao entendimento da prática da mediação que neste es- que esta não deve se restringir apenas à formulação de um acordo, pretendemos enfatizar. O dinamismo nos faz pensar no prin- mas também à modificação da postura e mudança de atitude de da flexibilidade que sustenta essa prática, no sentido em que cada uma das partes frente às que perpassam o conflito. processo se constrói seguindo os pontos salientados pelas partes. O fato das partes chegarem a um acordo somente, não garante Assim, tempo e as serão tratados conforme O interes- êxito da prática mediatória, pois é preciso que os envolvidos des- se das partes, podendo ser trabalhado com mais cuidado que as pertem para novas formas de lidar com as diferenças, e com as limi- partes atribuírem maior importância, ou as questões que tiverem 52 Rios A mediação de nomais dificuldade para resolverem. Os atributos neutralidade e im- nenhuma das partes, mas desconsidera a relação após a decisão e parcialidade, na postura do mediador, mencionados pelo autor, entendimento de ambas quanto ao impasse vivido. esclarecedores e pertinentes, e traçam com precisão a função deste, conciliador sugere e orienta sobre que deve ser melhor que deve restringir em potencializar os diálogos entre as partes, e diante do que foi apresentado na sessão conciliatória pelos partici- não intervir sugerindo soluções. pantes, escolhendo um ponto de encontro das expectativas, e, in- Algumas análises comparativas sobre as formas com que esses dica uma solução razoável a partir das circunstâncias alegadas pelos procedimentos são realizados nos diversos espaços podem nos es- envolvidos, interferindo ativamente em toda a conjuntura. clarecer quanto às peculiaridades que fundamentam a mediação e Já a não existe terceiro, e sim, somente as partes en- as características desta, que marcam a distinção entre os processos volvidas argumentam entre si sobre as possíveis resoluções diante de de negociação e conciliação. disputas de interesse. A condução da negociação pode ser realizada A diferenciação entre essas duas práticas podem nos ajudar a en- pelas próprias partes, ou por um representante, como nos casos de tender que, quando se mediar, não se pretende somente negociadores de instituições. Uma definição esclarecedora sobre a acerto de contas entre as partes e a formalização de um termo de negociação ressalta que: Na mediação, vislumbra-se a implicação e responsabiliza- [...] A negociação é um procedimento muito comum na vida do ção das partes pelo conflito e pelas parcelas de responsabilidade de ser As pessoas estão sempre negociando a qualquer cada uma delas quanto às dificuldades na solução do conflito. Não tempo e lugar. Uma criança negocia com outra um brinquedo devemos propor uma mediação apenas para as partes se conciliarem ou um um professor ajusta com coordenador a sala de e se acertarem, mas para que, descubram as razões do conflito, e vi- aula que irá ocupar; O cantor negocia tipo de show que apre- enfim, antes da negociação ser um fato jurídico, ela é sualizem as opções plausíveis e transformativas nos um acontecimento natural. 2004, p.36). tos que a solução pode lhes proporcionar. Observa-se, porém que tanto a conciliação como a negociação, pode ser confundida com mediação, por serem também práticas Como exemplo, destacamos também conceito que trabalha a de resolução de conflitos utilizadas na informalidade das relações diferença entre conciliação e mediação: instituições. No entanto, estas apresentam significativas diferenças A diferença fundamental entre a mediação e a conciliação e atendem a distintos objetivos. reside no conteúdo de cada instituto. Na conciliação objetivo Na conciliação, "a figura de um terceiro, funciona como um é acordo, seja, as partes mesmo adversárias devem chegar termediário entre os litigantes. objetivo da conciliação é en- a um acordo para evitar um processo judicial. Na mediação as tendimento entre as partes, independentemente da qualidade das partes não devem ser entendidas como adversárias e do é só consequência da real comunicação entre as partes. Na soluções (RODRIGUES, 2007, A conciliação não possui conciliação mediador sugere, interfere, aconselha. Na media objetivo de trabalhar as questões não manifestadas, ou seja, as ção mediador facilita a comunicação, sem induzir as partes tendidas aqui como latentes no conflito. Pauta-se apenas na busca ao acordo. 2004, p. 38). de uma solução que considera meio termo, ponto de das opções elencadas de resolução. Assim, tende a não sacrificar A mediação deTais concepções sobre a conciliação ressaltam pontos de distin- Considerando a importância da compreensão conceitual da me- ção entre os dois procedimentos, considerando a participação do diação, trataremos separadamente os princípios que sustentam a mediador e do conciliador e os objetivos de cada proposta. A par- prática da mediação, considerando a relação dessa prática com a ticipação do conciliador é ativa e permite a interferência na decisão garantia dos Direitos Humanos. das partes. Já a postura do mediador, restringe em potencializar diálogo das partes, permitindo-as que cheguem a um entendimen- PRINCÍPIOS DA MEDIAÇÃO to. Outra diferença significativa entre as duas refere-se ao objetivo da conciliação e os almejados pela A conciliação almeja a formalização do acordo, e não existe nesse procedimento a necessi- dade de preocupar em tratar as arestas que construíram Também se observa que os conciliadores não comprometidos com a preservação da relação afetiva entre as partes após a resolu- ção O conciliador busca a razoabilidade e não a cons- cientização dos aspectos construtivos do conflito na busca da boa fato da dos conflitos exigir, que mesmo após acerto dos impasses, ocorra a continuidade da convivência, torna a me- diação um procedimento criativo que resgata valores importantes na atualidade, como O diálogo, a compreensão, respeito mútuo, O processo da mediação sustenta-se em princípios que norteiam e a participação dos sujeitos nas Podemos concluir que os encaminhamentos dos casos, a participação das partes e a atua- processo de mediação deverá: ção do mediador. Assim, para compreendermos a prática da media- 1 favorecer e estimular O diálogo durante processo de media- devemos considerar os princípios de: ção; VOLUNTARIEDADE Este procedimento só pode ser realizado a 2 permitir a compreensão do conflito em toda a sua partir da manifestação de interesse das partes, ou mesmo, da aceita- 3 desconstruir posições de impasses para focar nos reais inte- ção das mesmas da indicação. Assim, as partes são livres ou não da resses; mediação, e mesmo após iniciado o processo, as partes podem pedir 4 - favorecer a mudança de postura frente às diferenças; para finalizar procedimento a qualquer momento, isto é, pode-se interromper todo processo mediatório. 5 - trabalhar as questões subjetivas e as objetivas durante os di- álogos; Para assegurar a livre manifestação pelas partes dos interesses, das opções e da situação vivida, esta prática 6 - construir a possibilidade da continuidade da relação após a prevê que seja garantida a confidencialidade de tudo que transcor- mediação. reu durante o procedimento. Com esse princípio, busca-se garantir que as levantadas e tratadas durante a prática de mediação 6 57 Rios A mediação de noCom isso, não se deve propor um ponto de chegada quando se pro- não poderão ser utilizadas em nenhuma outra futura mediação, mas construir, ao longo do processo, uma postura O mediador também deve atuar na mediação ciente desse princi- de implicação e responsabilização, tanto pelo conflito vivido, como pio, inclusive expressar as partes sobre esse seu conhecimento. pelas decisões tomadas. Não há, portanto, uma forma única prede- PARTICIPAÇÃO DE UM IMPARCIAL/NEUTRO E INDEPENDENTE Para terminada de processo de mediação. facilitar a compreensão da postura de apenas incentivar diálogo ORALIDADE As intervenções na mediação valorizam a oralida- entre as partes, agrupamos os termos Imparcialidade, Neutralidade de, ou seja, priorizam O diálogo entre as partes e a manifestação oral e Independência que indicam uma postura sem intervenção e não de seus interesses. diretiva do mediador durante as sessões de mediação. O mediador não pode se envolver com as de nenhuma das partes e AUTONOMIA DAS DECISÕES O acordo ou as decisões encontra- deve assegurar a todos que a sua presença no cenário do conflito, das são definidos pelas partes, a partir de seus interesses, por meio se restringe apenas em durante o diálogo. O mediador é do diálogo que é estimulado pelo mediador. poder de decisão é responsável por conduzir o processo de mediação, garantindo a das partes. existência de um diálogo justo. É aquele que facilita a comunicação DAS PARTES A mediação não satisfaz com a ela- sem interferir de maneira direta ou indutiva, mas que recai sobre boração de um acordo, sendo também indispensável reestabelecer seus ombros a responsabilidade de um clima harmonioso. relacionamento entre as partes. NÃO ADVERSARIEDADE Não se pretende encontrar ganhador e LEALDADE As partes envolvidas em uma mediação devem agir perdedor, ou certo e errado, em relação ao Propõe aos respeitando o que se propuseram, ou seja, realizarem a mediação. mediados, um trabalho em conjunto para a resolução do problema, COMPETÊNCIA DO MEDIADOR Não é exigido, para por meio do respeito mútuo, da comunicação assertiva e eficaz, e uma formação especifica, no entanto, mediador deve possuir qua- da implicação e compreensão sobre a visão do outro, sobretudo, da lificações necessárias e clareza de todos os princípios para ocupar aceitação das diferenças de percepção. Tais considerações levam-nos essa posição. a compreender que, na prática de mediação, não se disputa, pois COOPERAÇÃO a postura cooperativa frente à construção de re- a não adversariedade imprime, a esta prática, a concepção de um soluções permite na mediação, consenso e a quebra de posições meio de resolução de conflitos, não litigioso e baseado no consen- rígidas. Procura-se amenizar possíveis sentimentos de discórdias entre as RESPONSABILIZAÇÃO este princípio é compreendido como fun- pessoas envolvidas no conflito e manter relacionamento. damento da mediação, como uma meta a ser alcançada. Devido FLEXIBILIDADE E INFORMALIDADE DO PROCESSO - Tanto o núme- ao potencial transformador da mediação, exige dos envolvidos na de como a condução do procedimento, deverão consi- experiência mediatória, mudança de postura, implicação e partici- derar as necessidades das partes e a natureza do conflito. Não existe pação com responsabilidade. um modelo rígido a ser seguido, nem mesmo um certo a EMANCIPAÇÃO a participação ativa das partes permite movi- ser alcançado. Tudo dependerá da vontade das partes, que, pauta- mento comprometido com exercício da autonomia, ao contrário das, nos princípios da flexibilidade, podem no final, formalizar um de outras formas de resolução de conflito, que atuam na perspectiva acordo com termos que sejam estritamente interessantes a ambas. assistencialista. 58 Rios A mediação deTais princípios tornam a mediação um procedimento peculiar, experiência, são os princípios que sustentam e fundamentam a prá- com características próprias e delimitações compatíveis com os seus tica entendida como mediação. A violação de qualquer princípio propósitos. Afinal, apesar de as particularidades condizerem transforma a mediação em negociação ou conciliação, que possuem diferentes propósitos e atendem a outros objetivos. com uma prática criativa em sua constituição, não deixa de ser um procedimento que exige cuidados e conhecimentos ao ser realizado. ABORDAGEM Este entendimento é utilizado com precisão, uma Prosseguindo o estudo, elaboramos um quadro que esquematiza vez que a mediação é uma intervenção que prescinde de uma me- os elementos essenciais da mediação e sua estrutura de intervenção todologia de claro referencial teórico, não simplesmente, de uma nos conflitos. situação intuitiva. OBJETIVOS DA MEDIAÇÃO CONCEPÇÕES DA DA MEDIAÇÃO TRANSFORMAR A RELAÇÃO ENTRE AS PARTES estimular a reflexão PROCESSO Delimitado na peculiaridade de cada caso, respeitan- do os princípios da neutralidade do mediador, que não é inventor e a responsabilização dos envolvidos questionando as posturas apre- sentadas no conflito. e nem orientador; da flexibilidade no da resolução que se restringe aos interesses das partes; da não adversariedade, pois RESOLVER CONFLITO encontrar soluções satisfatórias para am- não ganhador e perdedor, e sim implicação e responsabilização bas as partes, que promova O entendimento dos atos e fatores que diante de toda a situação; e da confidencialidade que permite a ex- desencadearam conflito. Buscar não somente decisões posição clara e de todas as opções e interesses das partes. mas também uma transformação da postura diante das situações e relacio- PROCEDIMENTO Parte do pressuposto que possui um tercei- namentos. O recurso utilizado nas so- ro, mediador, que busca a neutralidade e uma postura apenas de facilitador do diálogo das partes. A essência da mediação como luções deve ser sempre diálogo, cons- procedimento está no protagonismo dos sujeitos partes, durante a trutivo e cooperativo entre as partes, e a participação do mediador limita-se a investigação das resoluções. ser um facilitador da comunicação. PRÁTICA Como vivência de todos os envolvidos, apresenta INTERVIR TANTO NOS ASPECTOS OBJE- como um exercício democrático e responsável, que propõe alcançar TIVOS COMO NOS SUBJETIVOS DO CON- a pacificação de de discórdias, restabelecer a convivência FLITO A intervenção na dinâmica da ou definir termos consensuais em impasses. mediação deve garantir trabalhar todos METODOLOGIA Todas as vezes que houver a intenção de mediar os aspectos do conflito, tanto os aspec- determinada situação, esta será analisada e compreendida na pró- tos objetivos, que são aqueles que fo- pria vivência mediatória, podendo a metodologia ser adaptada de ram manifestados explicitados como acordo com o campo de O método não é superior ou motivo do conflito, como também os definidor do tempo e das intervenções O que norteia a aspectos subjetivos, que são as causas e 60 Rios A mediaçãoconteúdos que ficam latentes, mas não são considerados como fator também estimula respeito à alteridade. Favorece o clima de desencadeador de todo conflito. Este objetivo ressalta que a me- peração e solidariedade entre os sujeitos. diação, é uma prática que visa fazer com que os medianos tomem PROMOVER PELO EXERCÍCIO DA AUTONOMIA A EMANCIPAÇÃO A ciência de todos os fatores que os facilitaram ou impossibilitaram a mediação substitui a aplicação coercitiva de uma sanção e leva as boa convivência. partes a exercerem a autonomia para decidir os rumos de suas PREVENIR FUTUROS CONFLITOS mudar de postura entender Ao estimular exercício da autonomia entre as pessoas, de forma todos os fatores que levaram à situação conflitiva é primordial na que clas próprias encontrem os melhores caminhos e soluções para mediação que visa ser uma prática preventiva. No diálogo, deve-se os seus conflitos, promovem diálogo e o desenvolvimento da cul- substituir a competição pela cooperação, e ressaltar a importância tura de consenso e de responsabilização. Com isso, de respeitar os direitos e deveres e responsabilidade de cada um pelo exercício da autonomia, a mediação torna-se um ins- perante a circunstância Essa dinâmica previne futuros trumento que atribui aos cidadãos, capacidades conflitos, pois enfatiza a conscientização sobre os diferentes pontos de se autorregerem e de participarem com autonomia crítica da de vista em relação ao conflito e ainda O reconhecimento das pró- sociedade, tanto no que se refere à ação quanto à capacidade prias dificuldades e limites, fortalecendo o compromisso ético de argumentativa. (GUSTIN, 2005, p.8). um para com outro e respeito às diferenças. IMPLICAR E RESPONSABILIZAR - a mediação estimula a compre- Nessa perspectiva, entende-se a mediação como um processo ensão de cada uma das partes para com os elementos constitutivos emancipatório, em que novos paradigmas da situação são constru- do conflito e o compromisso de cumprir a decisão encontrada por libertando as partes do desconhecimento sobre os reais ele- A mediação é transformadora, pois não foca apenas uma mentos que constituem conflito. A mediação, como exercício de solução objetiva do confronto apresentado, mas, principalmente, a autonomia, pode ser compreendida como uma prática que provoca implicação e responsabilização dos sujeitos quanto às posturas vi- transformação na postura do sujeito e, ainda, na concepção de reso- vidas na conjuntura da que podem ser pela dificuldade de lução de conflitos no contexto cultural. convivência ou de acerto e VALORIZAR AS PARTES permitir O protagonismo das partes in- CAMPOS DE APLICAÇÃO DA MEDIAÇÃO centivando a manifestação dos reais interesses e a compreensão am- A prática da mediação está sendo utilizada em vários campos: pla dos fatos. Nos contextos familiares disputas jurídicas ou conflitos MINIMIZAR os ANTAGONISMOS E AS SOLUÇÕES ARBITRÁRIAS de relacionamento; que temos de mais significativo para as partes, deve-se ao fato da Nos ambientes de trabalho em conflitos e disputas por in mediação valorizar saber dos envolvidos no diálogo e não do po- teresses diversos ou quando ocorrem intervenções der decisório e autoritário de outrem, que, muitas das vezes, estipu- lam decisões não compatíveis com que as partes acreditam como Nas instituições como escola, reli viável ou importante. É uma forma de resolução de contendas que giosas, sindicatos, hospitais, dentre outras dirimindo con 62 Zoé Riosflitos de relacionamento, impasses quanto aos regimentos, CONFLITO DECORRENTE DAS DIFERENÇAS normas e disciplinas; bullying desrespeito que impede as partes de estabelecerem Em comunidade em conflitos que decorrem por violação uma boa convivência; dos direitos, ou quebra de pacto social, na prevenção da vio- lência, ou mesmo, na preservação da ordem social. conflito entre pessoas de religião, times de futebol, idades ou posições diferentes; conflito decorrente de impasses ou contendas de relação ou TIPOS DE ENCAMINHADOS PARA MEDIAÇÃO desentendimento; desenvolvimento de programas e serviços de mediação de con- conflito entre colegas; pais filhos; instituições; flitos em diferentes instâncias realiza intervenção em diversos tipos de Os tipos de conflito determinam o foco da intervenção disputas jurídicas de direitos e deveres, e negociações relativas na situação que deverá ser focada no trabalho do mediador. a direitos e deveres disponíveis. Exemplo: Nas negociações e transações acertos de conta ou pendências; Não há restrição quanto aos tipos de situações indicadas para a mediação. Porém, é prudente que seja verificado a partir do início conflitos referentes à questões que impedem re- das nível do conflito, latente, emergente e De soluções de questões objetivas. Exemplo: Nas relações entre certa forma, nível que se encontra O conflito determina a dinâmica pais e filhos, cônjuges, professores e alunos. da mediação, sem interferir nos princípios e objetivos pretendidos. Nos exemplos relacionados acima, encontramos disputas de Apenas para exemplificar, relacionamos algumas situações de bito subjetivo, legal, relacional, e de negociações transacionais, em conflito, que podem apresentar na sua especificidade em níveis di- que as partes se disponibilizam para acertarem seus interesses e ou- virem os interesses da outra parte. Para tanto, para se chegar a uma dessas formalizações de acordo, é necessário garantir às partes que CONFLITO INTERPESSOAL E PESSOAL ocorre entre dois princípios da mediação sejam aplicados por todos, tanto duran- os: amigos, familiares, colegas, membros da família, como após as HIERÁRQUICO coloca em questão as relações de autoridade. In- disciplina, descumprimento de normas. O TERMO DE ACORDO CONFLITO INTRAGRUPO - O conflito que ocorre dentro de um pequeno grupo de pessoas. Estes conflitos podem envolver mem- Em algumas situações de conflito, bros de uma família ou equipe de trabalho, ou colegas de escola. não há a necessidade de redigir um ter- Resulta de diferenças mo com formalidade normativa que CONFLITO INTERGRUPO Conflito intergrupal corre entre os di- respeite um padrão já sistematizado. ferentes grupos. Nessas situações, um relatório de com- binados ou de metas a serem cumpridas atende os objetivos e permite O fecha- mento do processo. Acontece ainda, 64 65 Rios A mediação dedeterminadas em que fechamento se restringe a apenas VANTAGENS DA MEDIAÇÃO um aperto de mão, como de demonstração que ocorreu uma A prática de mediação apresenta aos seus participantes, algumas mudança de postura entre as partes. Quando for necessário for- vantagens, em detrimento a outras formas de resolução de conflito. malizar um termo ou um combinado, é preciso respeitar algumas condições necessárias ao sucesso da prática mediatória como as des- MAIOR RAPIDEZ PARA OBTER A SOLUÇÃO critas abaixo: Quando caso é para a mediação, antes de ser pro- satisfazer os interesses de ambas as partes, para que não haja posta uma ação judicial, quando é elaborado um acordo este poderá ganhador e perdedor; ter apenas uma sentença homologatória, que é um procedimento apresentar resoluções duradouras e possíveis para as duas par- mais rápido. Os casos que não possuem demanda jurídica, os con- flitos podem ser trabalhados mesmo antes de acirrar impasse, tes; ou seja, de chegar no nível do conflito emergente. conter apenas elementos objetivos, ou ações básicas de com- portamentos ou de garantias; AMENIZA O DESGASTE EMOCIONAL abarcar todas as resoluções buscadas. As questões pendentes deverão ser objeto de futuras mediações, ou mesmo, de ou- Na experiência da mediação, as partes terão oportunidade de ex- tros instrumentos de resolução de controvérsias; ternar as suas queixas e expor os seus pontos de vista. Podem ma- nifestar a posição que estão tendo no conflito e quais as opções que conter vocabulário comum entre as partes, para favorecer entendem como satisfatórias para a resolução da contenda. Com entendimento. isso, chegam a demonstrar os seus reais interesses e a compreen- salvaguardar os direitos das partes e não violar direitos con- derem os interesses do outro. Tendem a racionalizar os pontos de quistados pelo nosso ordenamento jurídico; desencontro, O que facilita o entendimento de todo fato e a mini- respeitar os interesses de cada uma das partes como bem a mização do mal-estar existente. ser resguardado; deixar claro aos combinados, os termos decididos quanto à PERMITE A PARTICIPAÇÃO DIRETA DAS PARTES E A COMPOSIÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA SOLUÇÃO. forma, prazo, data e modo do cumprimento da não participantes da mediação, como agente de algum ato O fato de a mediação favorecer a participação e a autocompo- de resolução; sição é uma característica muito valorizada, uma vez que as partes terão a oportunidade de atuarem como sujeitos ativos de suas pró- abordar somente as questões completamente resolvidas, sem prias pendências e dúvidas; restringir a elementos que não comprometam a reputação PROMOVE RESTABELECIMENTO DO RELACIONAMENTO A das partes, sendo que a descrição do acordo não é um re- PACIFICAÇÃO ENTRE SUJEITOS latório das discutidas, mas um termo das opções O trabalho nos aspectos subjetivos, durante a mediação, permite resolvidas. aos sujeitos entenderem seu papel no conflito, a responsabilizarem-se A mediação de nopela decisão que foi construída e manterem a convivência pacífica coordenar diálogo sem deixar polarizar em uma das partes) até tomarem futuras em comum, como nos casos de fazer intervenções utilizando de técnicas da lia, vizinhos ou colegas de escolas ou trabalho. enfatizar os aspectos do conflito na relação; organizar as opções de forma a ajudar na solução; PERMITE A DEFINIÇÃO DE UMA SATISFATÓRIA PARA AMBAS AS PARTES, ressaltar partes dos diálogos dos envolvidos que esclareçam os interesses sem demonstrar assertividade ou negatividade; sem a dicotomia, ganhador e perdedor. Na mediação a concepção competitiva é substituída pela cooperativa. orientar a busca de ajuda quando ocorrer dúvidas para fe chamento da solução; POSSIBILITA UMA MAIOR EFICÁCIA NO CUMPRIMENTO DOS elaborar o termo de acordo, quando necessário, usando lin- TERMOS DO guagem clara e objetiva. uma vez que mesmo foi construído pelas próprias partes. O fato das decisões terem sido construídas pelas partes leva a impli- Muitos pesquisadores destacam perfil do mediador como ca- cação e responsabilização com os termos acertados e, consequente- essenciais para exercer a função. As características do mente, tendem a cumpri-los com mais facilidade. perfil, no entanto, podem ser atribuídas à pessoa do mediador, ou mesmo, desenvolvidas a partir da experiência, ou por meio de trei- O MEDIADOR FUNÇÃO namentos. Ao exercer a sua função, mediador necessita de apresentar dis- Para atuar como mediador não há restrição legal. As instituições disseminadoras da mediação possuem cursos de preparação e for- ponibilidade e confiança para acatar os princípios que sustentam a mação que habilitam os mediadores para as diversas atuações. O dinâmica do procedimento. A empatia do mediador com os aspec- tos constitutivos da mediação permite alcance dos objetivos e a conhecimento sobre os fundamentos da mediação objetivo, prin- cípios permite aos mediadores conduzir diálogo entre partes e participação positiva dos envolvidos no processo. fazer intervenções pertinentes. bom desempenho do mediador no cumprimento de seu papel favorece sucesso dos resultados colabora com a atuação respon- Durante a mediação, mediador exercerá seu papel facilitando O diálogo entre as partes, buscando a neutralidade. O princípio da das partes. Dentre os papéis do mediador, Christopher Moore neutralidade não desimplica presidir as de ter uma escuta organiza uma lista que indica os seguintes direcionamentos: ativa e interferir pontualmente, respeitando os fundamentos que facilitador da que inicia ou facilita a melhor definem a mediação. comunicação, quando as partes já estiverem conversando. mediador tem a função de: que ajuda todas as partes a reconhecerem O di- conduzir processo facilitando o diálogo entre as partes; reito das outras de estarem envolvidas nas negociações. gerenciar as sessões organizando tempo disponível, as ses- O facilitador do processo, que propõe um procedimento e, em conjuntas e privativas; geral, preside formalmente a sessão de negociação. 68 69 Rios A mediação de noO treinador, que instrui os negociadores iniciantes, inexperien- dos objetivos da mediação pontuando aspectos norteadores, escla- tes ou despreparados no processo de barganha. recendo os reais interesses direcionando as que possibili- O ampliador de recurso, que proporciona assistência às partes um acordo duradouro. e as vincula a especialista e a recursos externos exemplo, É também de responsabilidade do mediador, encerramento da advogados, técnico, pessoas responsáveis pela sessão, quando perceber desinteresse dos mediandos em participar decisão ou bens adicionais à negociação) que podem -los a aumentar as opções da mediação. Isto acontece quando há demonstrações de posturas rígidas, agressivas e desrespeitosas. Já em outros casos, quando há O explorador do problema, que permite que as pessoas em dis- necessidade de informar as partes sobre algum dado, ou de orientar puta examinem problema a partir de várias perspectivas, e ou apoiar sobre questões psicológicas é de suma importância que ajuda nas definições das questões e dos interesses básicos e mediador, durante ou no término do procedimento, encaminhe as procura opções mutualmente partes ou uma delas para serviços de apoio, assistência ou orienta- O agente de realidade, que ajuda a elaboração de um acordo ções. razoável e viável e que questiona e desafia as partes que têm objetivos radicais e Todas essas análises referentes à compreensão da mediação con- tribuem para elaborar um projeto de mediação no cenário escolar. bode expiatório, que pode assumir certa responsabilidade As especificidades do cotidiano da escola e das relações que neste ou culpa por uma decisão impopular que as partes, apesar de tudo, estejam dispostas a Isto lhes permite manterem espaço são estabelecidas demandam cuidados e orientações bem de- sua integridade, e, quando for caso, obterem o apoio de seus limitadas ao propor a mediação. Buscaremos nas discussões a seguir demonstrar a pertinência da prática com os propósitos dos projetos líder, que toma a iniciativa de prosseguir as negociações atra- pedagógicos. de sugestões processuais ou p. 31). A análise desses papéis permite-nos observar que mediador as- segura equilíbrio nas negociações, em uma atitude de não julga- mento. Os papéis exercidos por ele exigem habilidade para uma escuta ativa, que colabora com a formulação de intervenções per- tinentes e com a percepção da equidade nas negociações. Dentre todas essas habilidades, há de ressaltar, a importância da aptidão do mediador para acreditar no potencial dos medianos em encontrar a solução. O manejo da dinâmica do processo também é do mediador. sem interferir na manifestação de vontade, explora a importância 70 71 Rios A mediação de conflitos noCAPÍTULO 3 - A MEDIAÇÃO DE CONFLITO NO CENÁRIO ESCOLARCONSIDERAÇÕES SOBRE A MEDIAÇÃO NO PROJETO PEDAGÓGICO Sala de Mediação As sobre a prática de mediação de conflito e a promo- ção da convivência pacífica na escola até então tratadas, ressaltam a adequação dessas discussões com os princípios educacionais que fundamentam O processo de ensino /aprendizagem. Delimitamos A mediação -até então, a dinâmica da prática mediatória, suas características, O projeto pedagógico é um guia que organiza formalmente princípios, os elementos que perpassam a media- que rege funcionamento da escola. Deve conter os conteúdos que ção de forma ampla, para não corrermos risco de sermos reducio- serão transmitidos, os meios a serem utilizados, os objetivos e todos nistas na transmissão dos aspectos pertinentes a prática. os dados que definem que se propõe e como propor as atividades No entanto, os esclarecimentos das particularidades do recurso no ambiente escolar, dentre outras especificações de identificação. mediatório tiveram como alvo, fomentar o interesse em implantar Deve estar relacionado com regimento interno, sendo um projetos de mediação, e apontar a adequação dessa prática como documento que também estabelece as propostas de resolução de estratégia transformadora nas propostas educativas em resoluções problemas disciplinares. Este é elaborado seguindo também os pre- de conflito. O cunho participativo que a mediação sugere a tor- ceitos previstos na Constituição, no Estatuto da Criança e do Ado- na interessante aos olhos dos jovens educandos. Estes demonstram lescente e nas características da comunidade educativa. disposição para aceitar propostas inovadoras, que contrapóem aos Pensando nas diretrizes do projeto pedagógico e no regimento es- de autoritarismo na escola. Já os professores que interessam colar, que determinam as ações educativas, entendemos como pru- pela mediação, procuram encontrar outras formas, frente a suspeita dente, considerando todos os entendimentos até aqui discutidos, dos recursos até então usados. colocar nestes termos a prática da mediação. ponto relevante des- Percebemos a coerência da prática de mediação de conflito em ta indicação prima pelo compromisso da escola de zelar "(...) para relação aos compromissos atribuídos à educação, e aos interesses de que haja harmonia nas relações cotidianas, evitando a discrimina- educandos e educadores em vivenciarem esse procedimento. Essa ção de qualquer espécie, criando situações de aprendizagem em que pertinência nos leva a apostar no sucesso de seu desenvolvimen- a diversidade seja tema de conversa ou de trabalho." (CAMPBELL, to no âmbito escolar, entendendo que essa prática de resolução de p. 25, 2010). conflito propicia trabalhar capacidades e habilidades, que são pre- O projeto político pedagógico e regimento escolar obedecem a vistas nos temas transversais, presentes nos Parâmetros Curriculares princípios e objetivos norteadores. Observamos que esses objetivos Nacionais PCN de 1997. estão coerentes com a adoção da mediação de conflitos, e que esta Não nos resta dúvida de que avanço nas discussões contribuirá enriquece as propostas educativas. Listamos a seguir, objetivos que para tornar apto todos os interessados em utilizar a mediação, e de foram retirados de um estudo sobre projeto pedagógico apresen- fundamentar sua inserção no Projeto Político Pedagógico da escola. tado por Campbell (2010), os quais possibilitam uma articulação A medição pode ser um dispositivo dos planejamentos educacio- entre os planos de educação e a indicação da prática da mediação. nais, que venha garantir os efeitos essenciais para a educação como, Destacamos os que estão relacionados com os princípios filosóficos A escola deve ser um lugar onde os valores morais são pensa- dos, refletidos, e não meramente impostos ou frutos do hábito. Aprender a expressar seus desejos, sentimentos vontades e A escola deve ser um lugar onde os alunos desenvolvam a arte desagravos, agindo com progressiva Identificar do diálogo. p. 81, e enfrentar situações de conflito, utilizando seus recursos pes- soais, respeitando as outras crianças e os adultos e exigindo reciprocidade. Valorizar ações de cooperação e solidariedade Rios A mediação dedesenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração. Formação de Não temos neste estudo o de esgotar todos os aspectos atitudes e cultivo de valores éticos e Fortalecimento que norteiam as obrigações de um projeto pedagógico. Apenas sa- da tolerância reciproca que exige a vida social. Formação de lientamos alguns deles, que podem ajudar na compreensão sobre as um cidadão crítico e participativo. Compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de coerências da implantação da mediação nas atividades do cotidiano direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando no dia a escolar. dia atitudes de solidariedade, cooperação e às injusti- Essas nossas alegações são subsidiárias aos rumos que são apon- ças, respeitando outro e exigindo para si mesmo nos Parâmetros Curriculares Nacionais PCN de 1997. Este Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva deve estar presente em todas as intenções do processo de ensino/ nas diferentes situações sociais, utilizando diálogo como for- aprendizagem e ser um guia constante. Quanto à abrangência da ma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas. BELL, p. 27, 2010). prática da mediação em conformidade com os PCNs de 1997, po- demos dizer que essa é uma atividade interdisciplinar de construção Tais objetivos convocam-nos a repensar as práticas de resolução de valores, de revisão de atitudes dos comportamentos que foram de conflito que estão sendo vivenciadas no dia a dia da escola, com- aprendidos e de avaliação do que vem sendo desenvolvido no preendendo que todas as vivencias nesse entorno, colaboram para bito das intervenções de conflito em consonância com os princípios a concretização dos resultados esperados pelo projeto pedagógico. dos Direitos Para analisar atitudes frente a conflitos recorrentes na escola, ressal- viés interdisciplinar desse procedimento permite que a prática tamos que educar exige, dentre outras muitas ações, comprome- da mediação se faça presente no processo de ensino aprendizagem timento com a: como um tema transversal. Estes tópicos estão participação do educando como protagonista de seu processo (...) diretamente relacionados com exercício da cidadania, de aprendizagem; há questões urgentes que devem necessariamente ser tratadas criação de oportunidades que propiciem um contínuo cres- como a violência, a uso dos recursos naturais, os pre- cimento e desenvolvimento, e que torne independente e conceitos, que não tem sido contemplado por essas Esses autônomo; temas devem ser tratados na escola ocupando mesmo lugar de (BRASIL, p.25. 1997) reflexão sobre as desigualdades sociais, diferenças socioeco- nômicas, e as individualidades de cada um; Ao constatar o destaque proposto no Parâmetro Curricular Na- formação de agente de transformação e crescimento do edu- cional de 1997, referente aos temas que exprimem a noção de cida- cando como cidadão participativo e responsável; dania ativa, a conquista de direitos e O compromisso com os deveres formação de valores atitudes comprometidas com relações pelos confirmaram que as nossas discussões sobre a me- saudáveis no entorno social; diação estão em consonância com esse instrumento. Este demanda oferta de vivências e atividades na perspectiva interdiscipli- do trabalho na escola para incremento de valores e conhecimen- nar e reflexiva. tos que permitam desenvolvimento das capacidades e habilida- des para a plena participação social. Assim, tanto as orientações 78 Riosdo PCN, como os aspectos que constituem a mediação, tornam Inúmeras levam a violência relevante no âmbito educativo as ações alicerçadas no respeito e a para dentro do ambiente escolar. As di- garantia da dignidade do ser ferenças sociais, culturais, psicológicas, Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos PNE- diferenças de personalidades, competi- DH, instituído pela portaria 66 de 12 de maio de 2003, estipula ção e atitudes destrutivas e tantas ou- os objetivos e as linhas de ação que orientam e fomentam práticas tras. A violência contra a instituição educativas em todos os seus âmbitos, as quais têm como propósitos escolar, contra colegas e professores desenvolvimento da cultura de paz. Tais ideias incorporam a efe- de certo modo, dos adultos contra as tivação dos direitos e a promoção de ambientes saudáveis. crianças, também, estão relacionadas a não aceitação das diferenças em toda a Essas nos alertam quanto ao que tem sido obser- sua amplitude. vado no cenário escolar. Ações de violência deixam sérias marcas de sofrimento, danos físicos e psicológicos e destruições severas do O diferente é hostilizado, despreza- espaço destinado à convivência dos atores envolvidos com a Edu- do, humilhado. Quando a vítima rea- Ainda existe dificuldade de estipular soluções que apontam ge, é violentada. Sendo a diferença um resultados positivos. Em contra mão a tantos atos que nos assustam, elemento característico da sociedade acreditamos na mediação como uma intervenção transformadora e brasileira ao programar processos edu- preventiva a atos de violência, que surgem de conflitos não traba- cativos, certamente encontrará muitos lhados ou de conflitos contínuos que atravessam as desafios que extrapolam a dimensão das salas de aula ou a educação formal. Uma educação voltada à pacificação social deve estar atenta aos conflitos originados em uma sociedade multifacetada como a brasileira. CONSIDERAÇÕES SOBRE A VIOLÊNCIA NA ESCOLA Portanto, a escola é primeiro ambiente social que a criança ex- Falar de violência na escola é dar visibilidade a angústia e senti- perimenta, e, é momento em que se depara com diference. Nes- mentos de medo que vêm tomando conta do clima entre educan- se espaço de convivência ocorre enfrentamento com diferente dos e os professores. Estes, nunca sabem que pode acontecer no pelo respeito ou pela rejeição. A não aceitação das diferenças cria re- cotidiano escolar; e os pais também estão preocupados. Não é raro lações negativas para os propósitos educacionais. A educação ganha os jornais noticiarem situações de violência nas escolas. maior importância quando direcionada ao pleno desenvolvimento Muitas de nossas crianças adolescentes que passam por violên- humano e suas potencialidades. cias, são vítimas de bullying e ficam calados, não têm coragem de Tratar a violência na escola implica em um trabalho responsável e revelar por medo da retaliação do agressor. Essa violência entre CO- consciente com diferente, com a diversidade, com que provoca legas não é a única. A violência entre professores e alunos e contra a a inquietação e questionamentos. É preciso desenvolver a capacida- escola, em todos os sentidos e modos, também é crescente. de de diálogo, propor práticas que disseminem a cultura da paz e a 80 Rins A mediação de nosão desastrosa na constituição do bem estar do ambiente escolar, inclusão social, contribuindo para um novo projeto de sociedade, e demandam intervenções apropriadas no conflito ainda no nível no qual, bem de todos esteja realmente em vista. latente ou emergente. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MEDIAÇÃO X VIOLÊNCIA Também têm sido recorrentes as depredações realizadas por alu- nos, como destruição de janelas, objetos, pichação de muros, entre Levando em conta que conflito é inerente à condição humana outros atos de vandalismo. Essas atitudes dão visibilidade do alto e que a violência é inevitável, as intervenções precisam transformar grau de violência e repercutem em conflitos sociais, e a escola ne- as atitudes de que levam a situações de violência. Na es- cessita agir de forma preventiva. cola, os comportamentos conflituosos que chegam à violência estão Outra face da violência inclui as atitudes de intransigência da relacionados às brigas, xingamentos, roubos, preconceitos, racismo, escola como forma de garantir a disciplina e a ordem. São formas de assassinatos, indisciplinas, formação de gangues, depredação da es- aplicação de normas disciplinadoras e atitudes de desrespeito com cola, homofobia, drogas, abuso sexual, rejeições, intrigas e críticas as habilidades e capacidades do aluno. As propostas pedagógicas negativas. Essas variedades de modos de manifestação da violência não consideram aluno como agente participativo e as surgem muitas vezes de conflitos latentes, como, competições ou ações disciplinadoras acabam sendo uma forma de garantir a do- sentimentos de arrogância que não foram tratados. minação e os ideais que predominam a desvalorização dos direitos Muitos dos atos severos de violência poderiam ser evitados antes e da cidadania. de serem deflagrados, ou seja, quando estavam no nível de um con- Essas posturas de contenção são causadoras de comportamentos emergente, como nos casos de drogas, brigas, gangues e de rejeição que acabam em entre alunos e pro- bos. Essas condições de violência exigem um trabalho preventivo fessores. Outras manifestações de conflito que acabam em situações no âmbito da escola antes de serem tomadas as medidas de violência estão relacionadas a isolamentos de alunos, formação Nessa perspectiva observa-se que foi realizado, de grupos fechados, dificuldade de aprendizagem, atitudes de des- um trabalho intenso de exercício de mediação de respeito e ocorrências de roubos e estragos de objetos. Essas situ- tos dentro das O problema das gangues de ações demonstram a necessidade de que ocorra uma intervenção alunos de grupos diferentes é preocupante e a mediação tem e preventiva. sido uma forte Esta mediação é realizada pelos Não queremos dizer que depois de surgir ato violento não seja alunos incentivados a estudar sobre mediação de conflitos e resolver os problemas entre seus pares." (SALES, p. mais possível realizar uma intervenção, que pode também ser na mesma perspectiva, como a mediação. Tanto antes, como após É preciso entender que momento para intervenção ato violento vir a acontecer, a proposta da mediação atende como tiva exige também antecipar e evitar. medida pacificadora. Até mesmo os casos de bullying que não são expostos nas No entanto, procedimento de mediação difere na mas uma profunda comoção da sociedade, retratam Podem-se usar modelos mais apropriados em situações variadas, uma perniciosa forma de violência na escola, causando severas sem perder de vista os objetivos da mediação e sem desrespeitar os sequências físicas e psicológicas. Esses casos possuem uma dimen princípios. 83 82 A mediação de no escolarCONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DA MEDIAÇÃO que estará em jogo sempre será a escuta ativa, um do outro, a dispo- NA ESCOLA nibilidade para avançar da posição do conflito para a realização dos No cenário escolar, a inclusão da mediação tem dois focos: um reais interesses, "(...) a retomada da autodeterminação das pessoas como meio preventivo outro como instrumento com relação às próprias vidas." (NAZARETH, p.55, 2004). Nesses dois enfoques da mediação, haja vista os seus princípios, as Pelo que foi discutido até percebe-se que todos os conflitos intenções dessa prática ultrapassam o objetivo de um acordo entre que perpassam ambiente escolar podem ser tratados na mediação. as partes, sendo norte central do trabalho mediatório buscar "(...) Porém, é preciso ficar atento em como planejar, organizar, desen- modificar a relação entre elas, passando da relação de uma disputa volver e finalizá-la. Para esclarecer dúvidas relativas à essas para uma relação de colaboração, estabelecendo comunicação har- trataremos de cada uma separadamente. Não precisa enrijecer em mitigando os conflitos futuros." (SALES, p. 31, 2004). É algo pré-determinado, mas é necessário ter clareza do que é a práti- um momento de cogitar os diversos pontos de vistas possíveis, ca da mediação, e conhecer sua dinâmica para que possa alcançar que pode não fechar um acordo, mas interferirá na postura e for- resultado esperado. As orientações direcionadas à comunidade mas de compreender fato. Mesmo quando não for estabelecido escolar que planeja a adoção da mediação de conflito. acordo, a mediação trará mudanças. A mediação resolve os conflitos Dentre os muitos pontos relevantes a serem considerados e as e os previne ao mesmo tempo em que produz mudança de posturas. dúvidas mais comuns que surgem quando se planeja vivenciar a A dinâmica da sessão de mediação precisa ser cuidadosamente mediação, apresentamos algumas orientações que servem de supor- desenvolvida para que O diálogo seja positivo e produtivo, e aju- teórico e prático. de a "(...) minimizar as diferenças entre as partes, amenizando sentimento negativo e buscando a comunicação entre elas (...) O ENCAMINHAMENTO DOS CASOS DE CONFLITO diálogo pode ser facilitado quando se transforma a visão que se tem PARA A MEDIAÇÃO do (SALES, p. 28, 2004). Todos precisam conhecer A partir da percepção de um conflito latente, emergente ou ma- processo em si, e acreditar no procedimento como um momento de nifesto, um responsável da escola orientador ou professor pode se inteirar da situação, expondo seu ponto de vista e acolhendo O sugerir a vivência na mediação. O encaminhamento é feito em for- ponto de vista do outro. Se a partes entenderem que diálogo é um ma de convite para não ferir princípio da voluntariedade. Pode caminho para a melhoria das relações, a situação de violência pode também ser de uma das partes ou ainda, quando esta prá- ser prevenida ou tica já é conhecida, as partes podem se comprometer a comunicar A mediação pode criar laços novos nas relações e permitir rees- aos responsáveis e propor agendamento da sessão. Poucos casos tabelecer uma convivência saudável. É um momento em que os chegam para a mediação por meio de uma escolha espontânea das alunos têm oportunidade de se por no lugar do outro, buscando partes em decorrência da falta de conhecimento, ou mesmo devido compreender os seus sentimentos, posições, argumentos de ques- à cultura litigante presente no nosso meio. É difícil "(...) as pessoas tionar a própria Por meio da prática de mediação, pode-se em conflito, compreenderem a relação ganha-ganha do processo da resolver um conflito conhecendo suas causas e compreendendo sua Na cultura do povo brasileiro, contexto dos conflitos é formação e seu Em cada etapa da mediação, mediação deexpresso sempre com a ideia de ganhadores perdedores, vencedo- 5 - QUEM É CO-MEDIADOR? res vencidos." (SALES, p. 29, 2004). Em alguns modelos de mediação, além do mediador, pode com- por a mesa co-mediador. Este tem a função de equilibrar as forças, 2 ELEMENTOS DETERMINANTES NA MEDIAÇÃO apoiar mediador, caso seja necessário, e pontuar para mediador, A mediação acontecerá somente com a presença de pelo menos algumas questões no sentido de ajudá-lo a organizar a condução do duas partes em conflito do mediador em alguns modelos tem processo, mas deve-se evitar direcionar para as partes diretamente. co-mediador. No entanto, depois de iniciada a mediação, pode Ele será apresentado às partes, e seu papel também deve ser de- acontecer sessões privativas, com apenas uma das partes, consecuti- vidamente esclarecido a todos. É indicado que co-mediador seja vamente. Há também a possibilidade de termos um número maior um aluno, mesmo nos casos que mediador seja um professor de pessoas que representam os interesses contrários no conflito. ou coordenador. Essa função pode ser utilizada para treinar novos Exemplo: Três alunos que são autores de bullying e um aluno que mediadores. é a vítima. 6 - APRESENTAÇÃO DO MEDIADOR Às PARTES 3 QUEM É O MEDIADOR? O mediador pode ser apresentado às O mediador pode ser um profissional qualificado que foi convi- partes de diferentes momentos: dado pela escola, ou uma pessoa da escola com características pró- em uma sessão denominada pré- prias de um mediador, que foi capacitado para exercer tal função. quando houver; A função de mediador não exige formalidade, apenas preparação e no início da primeira sessão, mo- pertinentes à função. Professores, alunos, coordena- mento em que será explicitada toda dores e agentes da comunidade podem ser treinados para serem me- a dinâmica do processo; diadores, ou apenas indicados. Quando indicado, devem ser orien- na carta convite, nome do media- tados quanto aos objetivos e princípios da prática. Deve-se priorizar dor deverá ser mencionado. aluno para ser mediador no ambiente escolar principalmente em conflitos relacionais. 4 A ESCOLHA DO MEDIADOR O mediador ao ser indicado pode aceitar ou não convite. Se mediador indicado tiver uma afinidade maior com uma das partes, deverá ser É interessante analisar caso e as relações antes de indicar. A indicação pode ser feita pelas partes ou por um coordenador, professor da escola, ou mesmo uma pessoa já institu- ída no cargo. A de7 - PARA A CAPACITAÇÃO DO ALUNO, PROFESSOR OU princípio da confidencialidade. No momento de listar as opções O AGENTE ESCOLAR PARA O PAPEL DE MEDIADOR registro pode ser feito, e esse material deve ser devidamente arqui- Estudo de um esquema sobre que é mediador; vado ou destruído. Estudo de um esquema dos objetivos e princípios da media- PARTES SOBRE DETERMINADO TEMA OU ção; ORIENTAÇÕES DE ENCAMINHAMENTO Conhecimento dos cinco estágios da sessão de mediação; Na mediação, mediador pode fazer algumas explicações desde Treinamento sobre as formas de finalização; que sejam endereçadas às duas partes. Caso contrário, é interessante Simulação de casos - dramatização. que indique ou procure uma orientação com outras pessoas no es- paço de tempo entre uma sessão e outra. Os encaminhamentos para 8 - QUANTAS SESSÕES POSSUI UMA MEDIAÇÃO profissionais especializados (psicólogo, advogado etc.) também po- Não há um número restritivo de sessões na mediação. Depende dem ser feitos e O acompanhamento pode acontecer paralelamente do conflito, das partes e do nível em que se encontra conflito. às sessões ou após termino do processo mediatório. Pode estar relacionado também ao tratamento que é dado pelo me- diador às levantadas. I3 MEDIANDOS MENORES DE 16 ANOS É prudente que os responsáveis conhecimento do que 9 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO PARA A MEDIAÇÃO está acontecendo. Não há impedimento se caso estiver restrito à A mediação desenvolve com mais tranquilidade quando todos fi- comportamentais que não sejam ilícitas ou exijam deci- cam organizados em forma de círculo e as partes posicionadas uma que os mesmos não têm competência legal para definirem. de frente para a outra. Na sala de mediação é interessante ter uma mesa redonda, poucos objetos expostos e que seja permitida a pri- 14 SESSÕES PRIVATIVAS vacidade para as partes. Em alguns casos, quando o mediador sentir que a realização de sessão privativa ajudará as partes a melhor colocar as suas intenções IO O TEMPO DAS SESSÕES NA MEDIAÇÃO e sentimentos, é combinada a realização de sessões privadas com As não devem durar mais que 1h10min. Para não ficar ambas as partes. Após a sessão privativa é importante que as con- difícil finalizar cada tempo deve ser estipulado na primeira juntas voltem a acontecer. sessão ou na pré-mediação. IS - QUE CONFLITOS PODEM SER MEDIADOS II - ANOTAÇÕES E RELATÓRIO DAS SESSÕES Na escola, todos os conflitos podem ser mediados. O que pode As não devem ser registradas ou gravadas. Caso haja ne- alterar é desenvolvimento da dinâmica, número de O cessidade ou interesse, é necessária a permissão expressa, pois fere O modelo de mediação utilizado e a forma de finalizar. Há casos em A mediação de noque concomitantemente à mediação são tomadas medidas cabíveis uma mesa redonda assentar duas partes e um mediador; por autoridades e ou especialistas. Nem sempre um procedimento cada parte recebe um fragmento de um caso para representar. vem impedir outro. A pessoa que representa mediador inicia a sessão e orienta todo 16 Foco CENTRAL DAS INTERVENÇÕES DE MEDIAÇÃO o procedimento. O enfoque principal das intervenções é produzir uma mudança 20 EXEMPLOS DE UM CASO DE MEDIAÇÃO PARA SIMULAÇÃO na postura dos mediandos frente à situação É Partes dois alunos rio que deixem de defender posições rígidas frente a um impasse, e descubram os interesses. Mediador - professor ou coordenador ou aluno. 17 QUE INFLUENCIAM NA DA MEDIAÇÃO RESUMO DO CASO PARA MEDIADOR A capacidade das partes resolverem seus Na sala do ano, durante uma mostra de Literatura, a profes- sora percebe que a aluna Carla, não fez cartaz conforme proposto A complexidade do conflito negociado; pela professora. poema feito para este trabalho recebido O nível que se encontra o conflito; um prémio de destaque, e deveria ser exposto no mural da escola em Habilidades de potencializar o diálogo do mediador; evidência. Carla era vista sempre sozinha na escola e faltava ultima- Habilidades das partes de negociar e de compreender pon- mente com muita frequência às aulas. Não havia prestado nenhuma to de vista do queixa e suas notas estavam sempre abaixo do esperado. Carla é uma menina bonita, tem a pele clara com muitas sardas PRÉ-MEDIAÇÃO e os cabelos encaracolados e avermelhados. É alta, magra e todos a Alguns modelos trabalham com a pré-mediação. Nessa sessão ao admiram na escola. O seu comportamento de isolamento social na mediador e ao co-mediador são explicados os elementos e todo escola, incomum para uma jovem de sua idade, foi questionado processo da mediação conceito, princípios, objeto de trabalho em pelo coordenador que percebeu neste caso, que ela poderia estar so- questão, duração das estimativas do número de sessões, ses- frendo bulliyng. Antes do caso ser indicado para a mediação, Carla e as autoras do comportamento de bulliyng receberam orientação privativas, possibilidade de suspensão da mediação, casos sobre O encaminhamento. em que haja necessidade de umas das partes ou ambas buscarem orientações de um especialista. Nesse momento é interessante res- RESUMO DO CASO PARA A PARTE I REPRESENTANDO CARLA saltar sobre a possibilidade do agendamento de novas sendo que a mediação não se esgota normalmente apenas uma sessão. Carla é uma menina bonita e muito vaidosa. É decidida, estudio- sa e poctisa de destaque na escola. Ela aceitou a participar da me- SIMULAÇÕES DE CASOS DE MEDIAÇÃO DRAMATIZAÇÃO diação após ser orientada pela coordenadora devido às recorrentes A simulação é um recurso para capacitar futuros mediadores: atitudes de agressão, xingamentos, ironias e apelidos depreciativos. Rios A mediação deEra comum ser chamada pelos colegas de cachinbos de ouro, ou técnicas que maximalizam as informações e minimizam a emoção. pintinha dourada, ao invés de a tratarem pelo seu nome. Não tem Os mediadores utilizam várias técnicas de comunicação, sendo que, conseguido se enturmar na sala e tem sentido desânimo para estu- estas garantem seu papel de facilitar o diálogo entre as partes e dar e cumprir as Quando se destaca nas tarefas escolares e contribuem para sucesso da prática mediatória. recebe dos professores, é hostilizada pelos colegas. Diante Exemplos de estratégias bascadas nos estudos de Christopher W. disso, se retrai e sente vergonha de tudo. Moore, que demonstram a função do mediador e certificam seu papel de facilitador do diálogo: RESUMO PARA AS PARTES 2 REPRESENTANDO AS ALUNAS LIA E ANA PARÁFRASE - mediador para se mostrar atento e compreensivo, A coordenação recebeu comunicado de que as duas colegas de repete conteúdo para a parte envolvida na questão, usando pala- turma, estão isolando, criticando e desrespeitando a aluna Carla. vra diferente, porém com mesmo significado. Os motivos das atitudes das adolescentes, não são conhecidos mediador, para fazer com que a parte escute nem mesmo as foram ainda O comportamento algo que foi dito por ela mesma, e que seja escutado novamente pela das duas colegas tem prejudicado e impedido Carla de ter uma con- vivência saudável na escola. outra parte, repete que foi dito usando as próprias palavras da parte. (Estratégia para enfatizar algo relevante.) É importante que a cena dedicatória aconteça em um ambiente ATIVA mediador interpreta algo que foi dito e depois privativo. A simulação deve ser realizada em uma mesa redonda e repassa para as partes as emoções que foram passadas. as partes sempre de frente umas para as outras O mediador e CO- respectivamente. SUMÁRIO - mediador resume a mensagem que foi dita, para certificar que foi entendido. 21 - RECURSOS PARA APOIAR AS INTERVENÇÕES DO MEDIADOR ORDENAÇÃO O mediador organiza os fatos relatados em uma ordem lógica. mediador conduz diálogo, preside a sessão respeitando os princípios que regem a mediação. Para facilitar, deverá seguir os es- AGRUPAMENTO mediador ajuda as partes a organizarem as tágios da mediação e utilizar como recurso as técnicas de comunica- ideias, separando-as e agrupando-as. ção que apoiam nas intervenções e ajudam a manter a continuidade mediador ajuda as partes, repetindo que foi da exposição das partes. dito e organizando com mais coerência. Não deve utilizar um vocabulário diferentes. 22 DE COMUNICAÇÃO UTILIZADAS NA MEDIAÇÃO SEPARAÇÃO OU FRACIONAMENTO - O mediador divide um relato PELO MEDIADOR ou a queixa cm partes menores. As estratégias de comunicação consistem em um recurso utiliza- GENERALIZAÇÃO mediador destaca termos que também abor- do por orientadores e facilitadores de dialogo. Essas estratégias cola- dam princípios gerais do que está sendo dito. boram com a organização, manutenção e também com a produção PERGUNTAS DE APROFUNDAMENTO - mediador faz perguntas de sentido quanto ao que é dito ao que está sendo ouvido. São que incentiva as partes a tratarem de outras questões pertinentes ao A mediação nocaso. Essa pergunta não pode trazer dado novo, mas algo que já esta em discussão. sugerem os recursos teóricos e práticos que perpassam a dinâmica da mediação. Quando falamos de modelos, não queremos que seja PERGUNTAS DE ESCLARECIMENTO - mediador faz perguntas entendido como sendo um padrão rígido, ou moldes a serem se- para esclarecer as partes sobre determinados guidos, mas como que problematizam questionam a Essas quando bem usadas, servem como ferramenta pratica de mediação, no intuito de apoiar os futuros mediadores no para ajudar as partes a estabelecerem uma comunicação positiva exercício de sua função. durante a mediação. MODELOS DE MEDIAÇÃO 22 ATITUDES DO MEDIADOR QUE IMPEDEM SUCESSO DA MEDIAÇÃO MODELO COM 5 ESTÁGIOS Gestos de afirmação ou negação. Podemos organizar a mediação cinco estágios: Intervir no diálogo atribuindo juízo de valor julgamento. é determinado pelas atividades preparativas e in- trodutoras; Tratar do sentimento das partes separadamente, pois deve focar nos conflitos relacionais. 2° consiste da apresentação, do diálogo sobre os dados Sugerir algo, mesmo que seja benéfico para ambas as partes. históricos do conflito e da definição da posição de cada uma das partes; Descuidar das diretrizes que foram firmadas no início da me- 3° ESTÁGIO - é feita a listagem das opções de solução e redefini- ção das Não intervir, interromper, ou suspender a sessão de media- ção em situações de descontrole entre as partes ou diante de 4° ESTÁGIO trabalha-se os interesses e negociações das opções. grave emoção. 5° - é organizado termo ou combinado das soluções ou compromissos definidos. 23 FINALIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO DA MEDIAÇÃO Ao organizar a definição dos cinco estágios, tomei como base a ex- A mediação pode ser finalizada com periência vivenciada como número de sessão de cada a formalização de um acordo, com um estágio depende de cada relatório dos compromissos assumidos ou até mesmo com um aperto de mão. DETALHAMENTOS DOS PASSOS A SEREM Contudo, para alcançar os nossos DESENVOLVIDOS EM CADA ESTÁGIO objetivos, acreditamos que seja indis- 10 PREPARATIVAS E INTRODUTORAS pensável, demarcar a apropriação da mediação de conflitos nas ações edu- Consiste em dois momentos: cacionais, por meio de modelos que 95 Rics A mediação no escolarmomento A indicação do mediador e agendamento da sessão O mediador não deve dizer: você concorda? Está certo que ele fa- Indicação do caso para ser trabalhado na mediação. lou? Estas são para ditas na mediação, pois fecham Escolha e contato com mediador. diálogo e criam clima de censura. Convite formal às partes data, local e nome do mediador. momento E Definição da posição de cada um em relação ao momento B esclarecimentos preliminares conflito Primeira sessão ou sessão pré-mediação Retomar motivo do conflito, fatos acontecidos e sucessões Apresentação das partes, do mediador e do co-mediador. de ações de cada uma das partes. Esclarecimento sobre a mediação princípios básicos, obje- tivos, número e tempo de sessão, normas de comportamento Se as partes conversarem, é interessante, não se deve interrompé-las, e interrupções ou cancelamento se for caso contrário, 0 mediador fará novas intervenções para seguir did- Estabelecer os combinados atitudinais necessários à media- logo. ção, exemplo, enquanto um fala o outro escuta. Exposição sobre atitudes esperadas e papel de todos envolvi- Esclarecimento das partes sobre a solução que desejam. dos na mediação. 30 ELABORAÇÃO DE UMA LISTA DE OPÇÕES PELAS PARTES ESTAGIO ESCLARECIMENTO DE CADA PARTE SOBRE Apresentação dos interesses em relação à posição. Interesses são SOBRE DADOS HISTÓRICOS DO CONFLITO E A DEFINIÇÃO as motivações, necessidades, preocupações, temores, desejos e aspi- DA POSIÇÃO DE CADA UMA DAS rações. Este estágio consiste em cinco momentos: As opções devem ser enumeradas sem julgamento ou avaliação. momento A Esclarecimento de cada uma das partes sobre É apenas um jeito de esclarecer as possíveis saídas para conflito entendimento que tem do conflito, objetivamente. e de descontruir a situação conflitante para chegar a um ponto de encontro. momento B Exposição por uma das partes sobre motivo do conflito. A posição do sujeito diz da vontade por ele manifestada, de suas exigências e de tudo que pretende fazer, conquistar ou obter na momento C Exposição da outra parte sobre seu entendimen busca por uma solução do conflito. relato da posição retrata to a respeito do fato. o endurecimento das partes para com conflito, impasse ou o momento D - Intervenções do mediador Desde quando? De desencontro de objetivos. É um momento importante, pois as in- que fato originou? que mudou com este fato? que cada parte tervenções do mediador devem ser para que cada uma das partes tem para falar sobre que mudou? Como era antes deste fato? O apresente suas justificativas e ações que esclareçam as razões de suas podia ter acontecido para evitar ou mudar O rumo dos fatos? posturas, e das possibilidades e impossibilidades de alcançarem que os mesmos pretendem. 97 Rios A mediação de conflitos no