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Realismo
L0300 - (Unesp)
Tal movimento deriva quase todos os seus critérios de
probabilidade do empirismo das ciências naturais. Baseia
seu conceito de verdade psicológica no princípio de
causalidade, o desenvolvimento apropriado da trama na
eliminação do acaso e dos milagres, sua descrição do
ambiente na ideia de que todo e qualquer fenômeno
natural tem lugar numa interminável cadeia de condições
e mo�vos, sua u�lização de detalhes caracterís�cos no
método de observação cien�fica – que não despreza
circunstância alguma, por mais insignificante e trivial que
seja.
(Arnold Hauser. História social da arte e da literatura,
1994. Adaptado.)
 
O texto refere-se ao movimento
a) árcade. 
b) simbolista. 
c) realista. 
d) român�co. 
e) modernista. 
L0127 - (Professor Ferre�o)
Língua Portuguesa
 
Úl�ma flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro na�vo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
 
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
 
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
 
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
(Olavo Bilac)
 
O poeta Olavo Bilac foi um dos maiores representantes
da poesia parnasiana. O texto acima representa uma
forma fixa muito u�lizada pelos escritores parnasianos,
que é:
a) uma ode
b) uma elegia
c) um haicai
d) um soneto
e) uma trova
L0304 - (Unesp)
Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada
originalmente em 1902.
 
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo
pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável
modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,
tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas
– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por
saber de longa data que pela boca é que morrem os
peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –
não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode
um homem ter nascido num século de luzes e de
descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos
estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar
nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a
1@professorferretto @prof_ferretto
voz presa na garganta, quando encontra na rua, a
desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi – quando começaram de
aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida
de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres,
assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,
dando conta da diligência, disse que o delegado achou
dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no
topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares
que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E
acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,
tentando apagar as velas acesas que os si�antes7
empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique
român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o
repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,
que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
1esba�do: de tom pálido.
2a desoras: muito tarde.
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4folha: periódico diário, jornal.
5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7si�ante: policial.
 
Cons�tui exemplo de interação do cronista com o leitor o
trecho
a) “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de
toda a sua classe, andava acumulando novos pecados
sobre os pecados an�gos” (3º parágrafo). 
b) “As almas simples vão propagando o terror, e, sob a
capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão
rejubilando” (1º parágrafo). 
c) “Não vades agora crer que se tenham sumido, por
exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi”
(3º parágrafo). 
d) “as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea” (2º parágrafo). 
e) “O fantasma não falava – naturalmente por saber de
longa data que pela boca é que morrem os peixes e os
fantasmas” (2º parágrafo).
L0329 - (Unicamp)
No conto “O espelho”, de Machado de Assis, o esboço de
uma nova teoria sobre a dupla natureza da alma humana
é apresentado por Jacobina. A personagem narra a
situação em que se viu sozinha na casa da �a Marcolina.
 
“As horas ba�am de século a século no velho relógio da
sala, cuja pêndula, �c-tac, �c-tac, feria-me a alma interior
como um piparote con�nuo da eternidade.”
 
Considerando os indicadores da passagem do tempo na
citação, é correto afirmar que
a) o movimento oscilante do pêndulo do relógio expressa
a duplicidade da alma interior. 
b) o som do velho relógio da sala materializa
acus�camente a longevidade da alma interior. 
c) a sonoridade repe��va do pêndulo intensifica as
aflições da alma interior. 
d) o con�nuo ba�mento das horas sugere o vigor da
alma interior.
L0342 - (Unicamp)
No ano seguinte, o Ateneu revelou-se-me noutro
aspecto. Conhecera-o interessante, com as seduções do
que é novo, com as projeções obscuras de perspec�va,
desafiando curiosidade e receio; conhecera-o insípido e
banal como os mistérios resolvidos, caiado de tédio;
conhecia-o agora intolerável como um cárcere, murado
de desejos e privações.
(Raul Pompeia, O Ateneu. 7ª. ed. São Paulo: Á�ca, 1980,
p. 98.)
 
Com base no excerto que inicia o capítulo VIII do
romance de Raul Pompéia e no seu sub�tulo – crônica de
saudades –, é correto afirmar que a obra é
2@professorferretto @prof_ferretto
a) um relato, em primeira pessoa, de experiências
cole�vas e ín�mas, no qual o protagonista mostra
aspectos da realidade social, valorizando o sistema
escolar e prisional. 
b) um romance de formação, no qual o protagonista
revela condutas e intrigas no ambiente escolar, com
elogios à pedagogia corre�va e aos valores morais da
burguesia. 
c) uma narra�va memorialista de experiências vividas
num internato, na qual o protagonista revela aspectos
do sistema educacionalcom fidelidade os fatos históricos.
b) caracterizar a situação com profundidade dramá�ca.
c) explorar a sensibilidade dos personagens envolvidos.
d) assumir a perspec�va irônica e o es�lo narra�vo do
personagem.
e) recorrer a metáforas su�s e comparações de sen�do
filosófico.
L0353 - (Enem PPL)
A caolha
A caolha era uma mulher magra, alta, macilenta, peito
fundo, busto arqueado, braços compridos, delgados,
largos nos cotovelos, grossos nos pulsos; mãos grandes,
ossudas, estragadas pelo reuma�smo e pelo trabalho;
unhas grossas, chatas e cinzentas, cabelo crespo, de uma
cor indecisa entre o branco sujo e o louro grisalho, desse
cabelo cujo contato parece dever ser áspero e
espinhento; boca descaída, numa expressão de desprezo,
pescoço longo, engelhado, como o pescoço dos urubus;
dentes falhos e cariados. O seu aspecto infundia terror às
crianças e repulsão aos adultos; não tanto pela sua altura
e extraordinária magreza, mas porque a desgraçada �nha
um defeito horrível: haviam-lhe extraído o olho
esquerdo; a pálpebra descera mirrada, deixando,
contudo, junto ao lacrimal, uma �stula con�nuamente
porejante. Era essa pinta amarela sobre o fundo
denegrido da olheira, era essa des�lação incessante de
pus que a tomava repulsiva aos olhos de toda a gente.
ALMEIDA, J. L. In: COSTA, F. M. (org.). Os melhores contos
brasileiros de todos os tempos. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2009.
 
Que procedimento composicional o narrador u�liza para
caracterizar a aparência da personagem?
a) A descrição marcada por adje�vações deprecia�vas.
b) A alternância dos tempos e modos verbais da
narra�va.
c) A adoção de um ponto de vista centrado no medo das
crianças.
d) A obje�vidade da correlação entre imperfeições �sicas
e morais.
e) A especificação da deformidade responsável pela
feição assustadora.
L0355 - (Enem PPL)
O Bom-Crioulo
Com efeito, Bom-Crioulo não era somente um homem
robusto, uma dessas organizações privilegiadas que
trazem no corpo a sobranceira resistência do bronze e
que esmagam com o peso dos músculos. [...]
A chibata não lhe fazia mossa; �nha costas de ferro
para resis�r como um hércules ao pulso do guardião
Agos�nho. Já nem se lembrava do número das vezes que
apanhara de chibata... [...]
Entretanto, já iam cinquenta chibatadas! Ninguém lhe
ouvira um gemido, nem percebera uma contorção, um
gesto qualquer de dor. Viam-se unicamente naquele
costão negro as marcas do junco, umas sobre as outras,
entrecruzando-se como uma grande teia de aranha, roxas
e latejantes, cortando a pele em todos os sen�dos. [...]
Marinheiros e oficiais, num silêncio concentrado,
alongavam o olhar, cheios de interesse, a cada golpe.
– Cento e cinquenta!
Só então houve quem visse um ponto vermelho, uma
gota rubra deslizar no espinhaço negro do marinheiro e
logo este ponto vermelho se transformar numa fita de
sangue.
CAMINHA, A. O Bom-Crioulo. São Paulo: Mar�n CIaret,
2006.
 
A prosa naturalista incorpora concepções geradas pelo
cien�ficismo e pelo determinismo. No fragmento, a cena
de tortura a Bom-Crioulo reproduz essas concepções,
expressas pela,
a) exaltação da resistência inata para legi�mar a
exploração de uma etnia.
b) defesa do estoicismo individual como forma de
superação das adversidades.
c) concepção do ser humano como uma espécie
predadora e afeita à morbidez.
d) observação detalhada do corpo para a iden�ficação de
caracterís�cas de raça.
e) apologia à superioridade dos organismos saudáveis
para a sobrevivência da espécie.
18@professorferretto @prof_ferretto
L0364 - (Enem PPL)
– Não digo que seja uma mulher perdida, mas
recebeu uma educação muito livre, saracoteia sozinha
por toda a cidade e não tem podido, por conseguinte,
escapar à implacável maledicência dos fluminenses.
Demais, está habituada ao luxo, ao luxo da rua, que é o
mais caro; em casa arranjam-se ela e a �a sabe Deus
como. Não é mulher com quem a gente se case. Depois,
lembra-te que apenas começas e não tens ainda onde
cair morto. Enfim, és um homem: faze o que bem te
parecer.
Essas palavras, proferidas com uma franqueza por
tantos mo�vos autorizada, calaram no ânimo do
bacharel. In�mamente ele es�mava que o velho amigo
de seu pai o dissuadisse de requestar a moça, não pelas
consequências morais do casamento, mas pela obrigação,
que este lhe impunha, de sa�sfazer uma dívida de vinte
contos de réis, quando, apesar de todos os seus esforços,
não conseguira até então pôr de parte nem o terço
daquela quan�a.
AZEVEDO, A. A dívida. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 ago. 2017.
 
O texto, publicado no fim do século XIX, traz à tona
representações sociais da sociedade brasileira da época.
Em consonância com a esté�ca realista, traços da visão
crí�ca do narrador manifestam-se na
a) caracterização pejora�va do comportamento da
mulher solteira. 
b) concepção irônica acerca dos valores morais inerentes
à vida conjugal. 
c) contraposição entre a idealização do amor e as
imposições do trabalho. 
d) expressão caricatural do casamento pelo viés do
sen�mentalismo burguês. 
e) sobreposição da preocupação financeira em relação
ao sen�mento amoroso. 
L0368 - (Enem PPL)
A
Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
 
Delineiam-se além da serrania
Os vér�ces de chamas aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.
 
Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua.
 
A natureza apá�ca esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
CORRÊA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso
em: 13 ago. 2017.
 
Composição de formato fixo, o soneto tornou-se um
modelo par�cularmente ajustado à poesia parnasiana.
No poema de Raimundo Corrêa, remete(m) a essa
esté�ca
a) as metáforas inspiradas na visão da natureza. 
b) a ausência de emo�vidade pelo eu lírico. 
c) a retórica ornamental desvinculada da realidade. 
d) o uso da descrição como meio de expressividade. 
e) o vínculo a temas comuns à An�guidade Clássica. 
L0382 - (Enem PPL)
Quanto às mulheres de vida alegre, detestava-as;
�nha gasto muito dinheiro, precisava casar, mas casar
com uma menina ingênua e pobre, porque é nas classes
pobres que se encontra mais vergonha e menos
bandalheira. Ora, Maria do Carmo parecia-lhe uma
criatura simples, sem essa tendência fatal das mulheres
modernas para o adultério, uma menina que até chorava
na aula simplesmente por não ter respondido a uma
pergunta do professor! Uma rapariga assim era um caso
esporádico, uma verdadeira exceção no meio de uma
sociedade roída por quanto vício há no mundo. Ia
concluir o curso, e, quando voltasse ao Ceará, pensaria
seriamente no caso. A Maria do Carmo estava mesmo a
calhar: pobrezinha, mas inocente...
CAMINHA, A. A normalista. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 16 maio 2016.
 
Alinhado às concepções do Naturalismo, o fragmento do
romance de Adolfo Caminha, de 1893, iden�fica e
destaca nos personagens um(a)
a) compleição moral condicionada ao poder aquisi�vo.
b) temperamento inconstante incompa�vel com a vida
conjugal.
c) formação intelectual escassa relacionada a desvios de
conduta.
d) laço de dependência ao projeto de reeducação de
inspiração posi�vista.
e) sujeição a modelos representados por estra�ficações
sociais e de gênero.
L0390 - (Enem PPL)
19@professorferretto @prof_ferretto
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus
livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna.
O que não admira, nem provavelmente consternará, é se
este outro livro não �ver os cem leitores de Stendhal,
nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez?
Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na
qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne,
ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe me� algumas
rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado.
Escrevia-a com a pena da galhofa e a �nta da melancolia,e não é di�cil antever o que poderá sair desse conúbio.
Acresce que a gente grave achará no livro umas
aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola
não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado
da es�ma dos graves e do amor dos frívolos, que são as
duas colunas máximas da opinião.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Disponível
em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 ago. 2015.
 
No fragmento transcrito da dedicatória “Ao leitor”,
em Memórias póstumas de Brás Cubas, o autor serve-se
da figura do narrador-defunto para
a) desqualificar o gênero romance, forma literária à qual
Machado de Assis pouco se dedicou.
b) ressaltar a inverossimilhança dos fatos narrados,
confrontados com a realidade da burguesia carioca do
século XIX.
c) cri�car a sociedade burguesa brasileira da época,
valendo-se do uso da terceira pessoa e do ponto de
vista distanciado.
d) sobrepor a “�nta da melancolia” ao aspecto
humorís�co, de modo a valorizar o tom sóbrio e a
temá�ca realista �picos do romance burguês
brasileiro.
e) fazer intromissões na narra�va, introduzindo pausas
no relato durante as quais estabelece com o leitor um
diálogo de tom sarcás�co e provoca�vo.
L0394 - (Enem PPL)
O voluntário
Quem não sabe o efeito produzido à beira do rio pela
no�cia da declaração da guerra entre o Brasil e o
Paraguai? Nas classes mais favorecidas da fortuna, nas
cidades principalmente, o entusiasmo foi grande e
duradouro. Mas entre o povo miúdo o medo do
recrutamento para voluntário da Pátria foi tão intenso
que muitos tapuios se meteram pelas matas e pelas
cabeceiras dos rios, e ali viveram como animais bravios
sujeitos a toda a espécie de privações. [...] Coisa terrível
que era então o recrutamento! Esse meio violento de
preencher os quadros do exército era ao tempo da guerra
posto em prá�ca com barbaridade e �rania, indignas
dum povo que pretende foros de civilizado. Suplícios
tremendos eram infligidos aos que, fugindo a uma
obrigação não compreendida, ousavam preferir a paz do
trabalho e o sossego do lar à ventura de se deixarem
cortar em postas na defesa das estâncias rio-grandenses
e das aldeolas de Mato Grosso.
SOUZA, I. Contos amazônicos. Jundiaí: Cadernos do
Mundo Inteiro, 2018 (fragmento).
 
Para descrever o modo como indígenas e ribeirinhos
eram recrutados para lutarem como “voluntários da
Pátria”, o texto de Inglês de Souza
a) enfa�za a capacidade de resiliência dos tapuios.
b) põe em evidência a brutalidade do alistamento
compulsório.
c) rela�viza a prevalência da disputa bélica sobre a
natureza pacífica.
d) cri�ca a incompreensão da população acerca das
mo�vações do conflito.
L0443 - (Enem PPL)
O mulato
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramá�ca do
Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de
francês e tocava modinhas sen�mentais ao violão e ao
piano. Não era estúpida; �nha a intuição perfeita da
virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não ser
mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha;
bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha
de contralto que fazia gosto de ouvir.
Uma só palavra boiava à super�cie dos seus
pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia,
transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia
todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava
todas as outras ideias.
– Mulato!
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os
mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão
usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas
famílias a quem visitara; as re�cências dos que lhe
falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos
que, em sua presença, discu�am questões de raça e de
sangue.
AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Á�ca, 1996
(fragmento).
 
O texto de Aluísio Azevedo é representa�vo do
Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse
fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso
naturalista, pois
20@professorferretto @prof_ferretto
a) relaciona a posição social a padrões de
comportamento e à condição de raça.
b) apresenta os homens e as mulheres melhores do que
eram no século XIX.
c) mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de
saberes entre homens e mulheres.
d) ilustra os diferentes modos que um indivíduo �nha de
ascender socialmente.
e) cri�ca a educação oferecida às mulheres e os maus-
tratos dispensados aos negros.
L0403 - (Enem PPL)
– Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é...
filho de uma escrava. 
– Eu?
– O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é
a verdade... Raimundo tornou-se lívido. Manoel
prosseguiu, no fim de um silêncio:
– Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei
Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher
sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela
é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja
uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O
senhor porém não imagina o que é por cá a prevenção
contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um tal
casamento; além do que, para realizá-lo, teria que
quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a
neta senão a um branco de lei, português ou
descendente direto de portugueses.
AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008.
 
Influenciada pelo ideário cien�ficista do Naturalismo, a
obra destaca o modo como o mulato era visto pela
sociedade de fins do século XIX. Nesse trecho, Manoel
traduz uma concepção em que a 
a) miscigenação racial desqualificava o indivíduo.
b) condição econômica anulada os conflitos raciais.
c) discriminação racial era condenada pela sociedade.
d) escravidão negava o direito da negra à maternidade.
e) união entre mes�ços era um risco à hegemonia dos
brancos.
L0444 - (Unesp)
Leia o capítulo CXVII [118] do romance Quincas Borba,
de Machado de Assis.
 
A história do casamento de Maria Benedita é curta; e,
posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la. Fique desde
já admi�do que, se não fosse a epidemia das Alagoas,
talvez não chegasse a haver casamento; donde se conclui
que as catástrofes são úteis, e até necessárias. Sobejam
exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança,
e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma
choupana que ardia na estrada; a dona, — um triste
molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a poucos
passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar
um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher,
perguntou-lhe se a casa era dela.
— É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía
neste mundo.
— Dá-me então licença que acenda ali o meu
charuto?
O padre que me contou isto certamente emendou o
texto original; não é preciso estar embriagado para
acender um charuto nas misérias alheias. Bom padre
Chagas! — Chamava-se Chagas. — Padre mais que bom,
que assim me incu�ste por muitos anos essa ideia
consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o
mal dos outros; não contando o respeito que aquele
bêbado �nha ao princípio da propriedade, — a ponto de
não acender o charuto sem pedir licença à dona das
ruínas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas!
 
Para o narrador, no texto original do “contozinho”
relatado no capítulo, 
a) o homem não estava embriagado. 
b) a mulher não estava chorando. 
c) a mulher não era proprietária da choupana. 
d) a choupana não estava em chamas.
e) o homem não fumava charuto. 
L0445 - (Unesp)
Leia o capítulo CXVII [118] do romance Quincas Borba,
de Machado de Assis.
 
A história do casamento de Maria Benedita é curta; e,
posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la. Fique desde
já admi�do que, se não fosse a epidemia das Alagoas,
talvez não chegasse a haver casamento; donde se conclui
que as catástrofes são úteis, e até necessárias. Sobejam
exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança,
e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma
choupana que ardia na estrada; a dona, — um triste
molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a poucos
passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar
um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher,
perguntou-lhe se a casa era dela.
— É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía
neste mundo.
— Dá-me então licença que acendaali o meu
charuto?
O padre que me contou isto certamente emendou o
texto original; não é preciso estar embriagado para
acender um charuto nas misérias alheias. Bom padre
21@professorferretto @prof_ferretto
Chagas! — Chamava-se Chagas. — Padre mais que bom,
que assim me incu�ste por muitos anos essa ideia
consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o
mal dos outros; não contando o respeito que aquele
bêbado �nha ao princípio da propriedade, — a ponto de
não acender o charuto sem pedir licença à dona das
ruínas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas!
 
No capítulo, o es�lo adotado pelo narrador
caracteriza-se como
a) sen�mental e utópico. 
b) hiperbólico e dramá�co. 
c) digressivo e irônico. 
d) impessoal e obje�vo.
e) subje�vo e moralizante. 
L0446 - (Unesp)
No trecho “Sobejam exemplos; mas basta um
contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes dou em
duas linhas.” (1º parágrafo), a inclusão do leitor na
narra�va pode ser constatada pelo termo
a) “basta”. 
b) “ouvi”. 
c) “aqui”. 
d) “lhes”. 
e) “dou”.
L0447 - (Unesp)
“A história do casamento de Maria Benedita é curta;
e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la.” (1º
parágrafo). 
 
No contexto em que se insere, a oração sublinhada
expressa ideia de 
a) finalidade. 
b) consequência. 
c) condição. 
d) concessão. 
e) conclusão. 
L0474 - (Unesp)
Examine os gráficos.
As dinâmicas climá�cas representadas nos gráficos 1 e 2
correspondem, respec�vamente, aos espaços retratados
em
a) Capitães da Areia, de Jorge Amado, e O cor�ço, de
Aluísio Azevedo.
b) Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Capitães da Areia,
de Jorge Amado.
c) Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Grande sertão:
veredas, de Guimarães Rosa.
d) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis, e O cor�ço, de Aluísio Azevedo.
e) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis, e Vidas secas, de Graciliano Ramos.
L0479 - (Unesp)
Tal movimento dis�ngue-se pela atenuação do
sen�mentalismo e da melancolia, a ausência quase
completa de interesse polí�co no contexto da obra
(embora não na conduta) e (como os modelos franceses)
pelo cuidado da escrita, aspirando a uma expressão de
�po plás�co. O mito da pureza da língua, do cas�cismo
22@professorferretto @prof_ferretto
vernacular abonado pela autoridade dos autores
clássicos, empolgou toda essa fase da cultura brasileira e
foi um critério de excelência. É possível mesmo perguntar
se a visão luxuosa dos autores desse movimento não
representava para as classes dominantes uma espécie de
correla�vo da prosperidade material e, para o comum
dos leitores, uma miragem compensadora que dava
conforto.
 (Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010.
Adaptado.)
 
O texto refere-se ao movimento denominado
a) Roman�smo.
b) Barroco.
c) Parnasianismo.
d) Arcadismo.
e) Realismo.
L0519 - (Unesp)
Os parnasianos brasileiros se dis�nguem dos român�cos
pela atenuação da subje�vidade e do sen�mentalismo,
pela ausência quase completa de interesse polí�co no
contexto da obra e pelo cuidado da escrita, aspirando a
uma expressão de �po plás�co.
(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010.
Adaptado.)
 
A referida “atenuação da subje�vidade e do
sen�mentalismo” está bem exemplificada na seguinte
estrofe do poeta parnasiano Alberto de Oliveira (1859-
1937): 
a) Quando em
meu peito
rebentar-se a
fibra,
Que o
espírito
enlaça à dor
vivente,
Não derramem
por mim nem
uma lágrima
Em
pálpebra
demente.
 
b) Erguido em
negro
mármor
luzidio,
Portas
fechadas, num
mistério
enorme,
Numa terra
de reis, mudo
e sombrio,
Sono de
lendas um
palácio
dorme. 
c) Eu vi-a e
minha alma
antes de vê-la
Sonhara-a
linda como
agora a vi;
Nos puros
olhos e na
face bela,
Dos meus
sonhos a
virgem
conheci. 
d) Longe da
pátria, sob
um céu
diverso
Onde o sol
como aqui
tanto não
arde,
Chorei
saudades do
meu lar
querido
– Ave sem
ninho que
suspira à
tarde. – 
e) Eu morro qual
nas mãos da
cozinheira
O marreco
piando na
agonia…
Como o cisne
de outrora…
que gemendo
Entre os
hinos de
amor se
enternecia.
L0522 - (Unesp)
Desde já a ciência entra, portanto, no nosso domínio de
romancistas, nós que somos agora analistas do homem,
em sua ação individual e social. Con�nuamos, pelas
nossas observações e experiências, o trabalho do
fisiólogo que con�nuou o do �sico e o do químico.
Pra�camos, de certa forma, a Psicologia cien�fica, para
completar a Fisiologia cien�fica; e, para acabar a
evolução, temos tão somente que trazer para nossos
estudos sobre a natureza e o homem o instrumento
decisivo do método experimental. Em uma palavra,
devemos trabalhar com os caracteres, as paixões, os fatos
humanos e sociais, como o químico e o �sico trabalham
com os corpos brutos, como o fisiólogo trabalha com os
corpos vivos. O determinismo domina tudo. É a
inves�gação cien�fica, é o raciocínio experimental que
combate, uma por uma, as hipóteses dos idealistas, e
subs�tui os romances de pura imaginação pelos
romances de observação e de experimentação.
Émile Zola. O romance experimental, 1982. Adaptado.
 
Depreendem-se do comentário do escritor francês Zola
preceitos que orientam a corrente literária 
a) simbolista. 
b) árcade. 
c) naturalista. 
d) român�ca. 
e) barroca. 
L0568 - (Unicamp)
Na úl�ma crônica da série “Bons dias!”, de 29 de agosto
de 1889, série na qual um tema são as questões gerais
em torno do curandeirismo, o narrador enuncia:
 
“Hão de fazer-me esta jus�ça, ainda os meus mais
ferrenhos inimigos; é que não sou curandeiro, eu não
tenho parente curandeiro, não conheço curandeiro, e
nunca vi cara, fotografia ou relíquia, sequer, de
curandeiro. Quando adoeço, não é de espinhela caída*,
— coisa que podia aconselhar-me a curanderia; é sempre
de molés�as la�nas ou gregas. Estou na regra; pago
impostos, sou jurado, não me podem arguer a menor
quebra de dever público.”
(ASSIS, Machado de. Bons dias! Campinas: Editora da
UNICAMP, p. 295, 2008.)
 
*espinhela caída: designação popular para doenças
caracterizadas por dores pelo corpo (peito, costas e
pernas), além de cansaço �sico.
 
Na “profissão de fé”, feita pelo narrador da crônica no
parágrafo citado, percebe-se
23@professorferretto @prof_ferretto
a) a dis�nção do narrador como uma figura avessa ao
curandeirismo, por crença na ciência dos filósofos e
pensadores gregos e la�nos, o que marca o tom crí�co
da série.
b) a caracterização do narrador como uma figura
superior à população em geral, o que ecoa o tom
analí�co das crônicas dessa série.
c) a repe�ção exagerada da palavra “curandeiro” (e
“curanderia”) no trecho, como marca es�lís�ca da
simplicidade linguís�ca das crônicas dessa série.
d) a personificação gerada por “quando adoeço (...) é
sempre de molés�as la�nas ou gregas”, como marca
do es�lo empolado do narrador nessa série de
crônicas.
L0572 - (Unicamp)
“Ciclo
 
Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!
 
Dia. A flor, — o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A árvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!
 
Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hós�a da ideia em perfeição... Pensar!
 
Noite. Oh! saudade!...A dolorosa rama
Da árvore a aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar!”
(BILAC, Olavo. Tarde. 1.ed. Rio de Janeiro; São Paulo; Belo
Horizonte: Libraria Francisco Alves, p. 12-13, 1919.)
 
Tálamo: leito
Messe: colheita
 
No soneto “Ciclo”,
a) a reiteração de um mesmo �po de frase no final de
cada estrofe acentua o idealismo e a rememoração.
b) a metáfora da árvore faz uso de um vocabulário
botânico, que evoca o cien�ficismo da época.
c) as frases nominais do início das estrofes contradizem
os sen�dos de cada estrofe anterior.
d) o paralelismo estrutural entre as estrofes de “Ciclo”
evoca o desgaste dos recursos do poeta.
L0564 - (Unicamp)
No início da novela Casa Velha, de Machado de Assis,o
cônego da Capela Imperial, um personagem da história,
assumindo a voz narra�va dela, conta a seus
interlocutores:
 
“– Não desejo ao meu maior inimigo o que me aconteceu
no mês de abril de 1839.” 
(MACHADO DE ASSIS. Casa Velha. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1986, p. 11.)
 
De acordo com o texto, o acontecimento desagradável
que vi�mou o religioso faz com que ele possa ser
considerado, ao final da narra�va, como
a) um boêmio que se sente entediado na presença dos
convivas da Casa Velha: “Disseram-me que era amiga
da família, e se chamava Mafalda. (...) Creio que
disseram ainda outras coisas; mas não me
interessando nada, nem a conversação, nem a
hóspeda, (...) deixei-me estar comigo” (p. 29-30).
b) um an�escravista, obrigado a conviver, na mesma casa
grande, com senhores, agregados e escravos: “Lalau
(...) com as mãos no ombro do moleque, ora fitava os
olhos na carapinha deste, ouvindo somente as
palavras de Félix; ora erguia--os para o moço (...)” (p.
67).
c) um republicano que suporta um velho Coronel de
posições conservadoras: “Reverendíssimo, (...) os
farrapos invadiram Santa Catarina, entraram na
Laguna, e os legais fugiram. Eu, se fosse o governo,
mandava fuzilar a todos estes para escarmento...” (p.
89).
d) um ingênuo que se deixa iludir em suas relações
pessoais: “nem por sombras me acudiu que a
revelação de Dona Antônia podia não ser verdadeira
(...) Não adver� sequer na minha cumplicidade. Em
verdade, eu é que proferira as palavras que ela trazia
na mente (...)” (p. 89).
 
L0566 - (Unicamp)
Em 1921, Mário de Andrade, escrevendo a série de
ar�gos “Mestres do passado”, publicados no Jornal do
Comércio (edição de São Paulo), observou:
 
“Tarde [de Olavo Bilac] foi uma promessa de anos
seguidos. Tais são, tão salientes os ar��cios e tão
repe�dos que muito bem provam o esforço do poeta
decaído da poesia e a sua parca inspiração (...).” 
(ANDRADE, M. Mestres do passado – Olavo Bilac. In:
BRITO, M.S. História do modernismo brasileiro.
Antecedentes da Semana de Arte Moderna. 5.ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, p. 288-289, 1978.)
24@professorferretto @prof_ferretto
 
Relacione, ao poema a seguir, o trecho da crí�ca anterior,
assinalando a alterna�va que coincide com a ideia geral
de Mário sobre a obra de Bilac.
 
As estrelas
Olavo Bilac
 
Desenrola-se a sombra no regaço
Da morna tarde, no esmaiado anil;
Dorme, no ofego do calor febril,
A natureza, mole de cansaço.
 
Vagarosas estrelas! passo a passo,
O aprisco desertando, às mil e às mil,
Vindes do ignoto seio do redil
Num compacto rebanho, e encheis o espaço...
 
E, enquanto, lentas, sobre a paz terrena,
Vos tresmalhais tremulamente a flux,
– Uma divina música serena 
 
Desce rolando pela vossa luz:
Cuida-se ouvir, ovelhas de ouro: a avena
Do invisível pastor que vos conduz...
(BILAC, Olavo. Tarde. Rio de Janeiro: Livraria Francisco
Alves, p. 42-43, 1919.)
 
Esmaiado: esmaecido, pálido
Aprisco: curral
Redil: curral para o gado ovino ou caprino; rebanho de
ovelhas
Tresmalhar: Afastar-se, perder-se do rebanho
Flux: fluxo
Avena: flauta pastoril 
 
a) O crí�co lamenta o espaçamento da criação poé�ca de
Bilac, o que se expressa no poema pela imagem das
estrelas que se afastam umas das outras.
b) O crí�co elogia os salientes ar��cios da linguagem
poé�ca de Tarde, o que se pode perceber, por
exemplo, pela variedade de sinônimos para a palavra
“curral”.
c) O crí�co evoca, como resultado da pouca inspiração
ar�s�ca do poeta, a sobrecarga de inves�mento
formal (os hipérbatos ou inversões, por exemplo).
d) O crí�co associa a poesia de Bilac ao es�lo
decaden�sta, o que é reforçado pelas imagens de
esgotamento, como se vê nas palavras “morna”,
“esmaiado”, “ofego”, “mole”, “lentas”.
L0570 - (Unicamp)
Leia as duas citações a seguir, extraídas do início e do
final de O Ateneu:
 
“Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita,
dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje,
sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora
e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos
ultrajam. Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo
apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade
dos dias que correram como melhores. 
Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas
as datas. Feita a compensação dos desejos que variam,
das aspirações que se transformam, alentadas
perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base
fantás�ca de esperanças, a atualidade é uma (...)”.
 
“Aqui suspendo a crônica das saudades. Saudades
verdadeiramente? Puras recordações, saudades talvez, se
ponderarmos que o tempo é a ocasião passageira dos
fatos, mas sobretudo — o funeral para sempre das
horas.”
 
Com base nessas duas citações, é possível afirmar que,
ao fim da narra�va de Sérgio sobre sua vida no colégio, o
narrador
a) idealiza a felicidade experimentada na infância, suas
aspirações, seu ardor e suas esperanças.
b) considera que a felicidade passada não era maior que
a do presente, pois os tempos são iguais.
c) duvida da própria saudade, separando as lembranças
rela�vas ao passado daquele sen�mento associado a
elas.
d) denuncia a hipocrisia da saudade que sente, por saber
que a passagem do tempo é incerta.
L0603 - (Enem)
Cap. XLVIII / Terpsícore
Ao contrário do que ficou dito atrás, Flora não se
aborreceu na ilha. Conjeturei mal, emendo-me a tempo.
Podia aborrecer-se pelas razões que lá ficam, e ainda
outras que poupei ao leitor apressado; mas, em verdade,
passou bem a noite. A novidade da festa, a vizinhança do
mar, os navios perdidos na sombra, a cidade defronte
com os seus lampiões de gás, embaixo e em cima, na
praia e nos outeiros, eis aí aspectos novos que a
encantaram durante aquelas horas rápidas. 
Não lhe faltavam pares, nem conversação, nem
alegria alheia e própria. Toda ela compar�a da felicidade
dos outros. Via, ouvia, sorria, esquecia-se do resto para
se meter consigo. Também invejava a princesa imperial,
que viria a ser imperatriz um dia, com o absoluto poder
de despedir ministros e damas, visitas e requerentes, e
ficar só, no mais recôndito do paço, fartando-se de
25@professorferretto @prof_ferretto
contemplação ou de música. Era assim que Flora definia
o o�cio de governar. Tais ideias passavam e tornavam. De
uma vez alguém lhe disse, como para lhe dar força: “Toda
alma livre é imperatriz!”. 
ASSIS, M. Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1974
 
Convidada para o úl�mo baile do Império, na Ilha Fiscal,
localizada no Rio de Janeiro, Flora devaneia sobre
aspectos daquele contexto, no qual o narrador ironiza a 
a) promessa de esperança com o futuro regime.
b) alienação da elite em relação ao fim da monarquia.
c) perspec�va da contemplação distanciada da capital. 
d) animosidade entre população e membros da nobreza. 
e) fantasia de amor e de casamento da mulher burguesa.
L0606 - (Enem)
Até ali que sabia das misérias do mundo? Nada.
Aquela noite do Castelo, tão simples, tão monótona, fora
uma revelação! Era bem certo que a lágrima exis�a, que
irrompiam soluços de peitos oprimidos, que para alguém
os dias não �nham cor nem a noite �nha estrelas! Ela,
criada entre beijos, no aroma dos seus jardins, com as
vontades sa�sfeitas, o leito fofo, a mesa delicada, sen�ra
sempre no coração um desejo sem nome, um desejo ou
uma saudade absurda, a saudade do céu, como dizia o dr.
Gervásio, e que não era mais que a doida aspiração da
ar�sta incipiente, que germinava no seu peito fraco. E
aquela mesma mágoa parecia-lhe agora doce e
embaladora, comparando-se à outra, a Sancha, da sua
idade, negra, feia, suja, levada a pontapés, dormindo sem
lençóis em uma esteira, comendo em pé, apressada, os
restos parcos e frios de duas velhas, ves�da de algodões
rotos, curvada para um trabalho sem descanso nem
paga! Por quê? Que direito teriam uns a todas as
primícias e regalos da vida, se havia outros que nem por
uma nesga viam a felicidade? 
ALMEIDA, J. L. A falência. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 28 dez. 2023.
 
Nesse fragmento do romance de Júlia Lopes de Almeida,
escrito no cenário brasileiro pós-abolição,a narradora
exprime um olhar crí�co sobre a 
a) desvalorização da arte produzida por mulheres.
b) mudança das condições de moradia do povo negro.
c) ruptura do projeto polí�co de emancipação feminina.
d) exploração da força de trabalho da população negra.
e) disputa de poder entre brancos e negros no século
XIX.
L0608 - (Fuvest)
CAPÍTULO LXXI
O senão do livro
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me
canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir
alguns magros capítulos para esse mundo sempre é
tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é
enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração
cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior
defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de
envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração
direita e nutrida, o es�lo regular e fluente, e este livro e o
meu es�lo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram,
gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...
E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis
de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu
�vesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é
a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca
para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de
cair.
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3ª ed. revista e
ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
 
No contexto, a locução “Heis de cair”, na úl�ma linha do
texto, exprime:
a) resignação ante um fato presente.
b) suposição de que um fato pode vir a ocorrer.
c) certeza de que uma dada ação irá se realizar.
d) ação intermitente e duradoura.
e) desejo de que algo venha a acontecer.
L0609 - (Fuvest)
CAPÍTULO LXXI
O senão do livro
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me
canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir
alguns magros capítulos para esse mundo sempre é
tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é
enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração
cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior
defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de
envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração
direita e nutrida, o es�lo regular e fluente, e este livro e o
meu es�lo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram,
gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...
E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis
de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu
�vesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é
a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca
para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de
cair.
26@professorferretto @prof_ferretto
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3ª ed. revista e
ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
 
Um leitor que �vesse as mesmas inclinações que as
atribuídas, pelo narrador, ao leitor das Memórias
póstumas de Brás Cubas teria maior probabilidade de
impacientar-se, também, com a leitura da obra
a) Memórias de um sargento de milícias.
b) Viagens na minha terra.
c) O cor�ço.
d) A cidade e as serras.
e) Capitães da areia.
L0610 - (Fuvest)
CAPÍTULO LXXI
O senão do livro
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me
canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir
alguns magros capítulos para esse mundo sempre é
tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é
enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração
cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior
defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de
envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração
direita e nutrida, o es�lo regular e fluente, e este livro e o
meu es�lo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram,
gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...
E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis
de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu
�vesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é
a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca
para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de
cair.
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3ª ed. revista e
ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
 
Nas primeiras versões das Memórias póstumas de Brás
Cubas, constava, no final do capítulo LXXI, aqui
reproduzido, o seguinte trecho, posteriormente
suprimido pelo autor:
[... Heis de cair.] Turvo é o ar que respirais, amadas
folhas. O sol que vos alumia, com ser de toda a gente, é
um sol opaco e reles, de ........................ e ........................
.
 
As duas palavras que aparecem no final desse trecho, no
lugar dos espaços pon�lhados, podem servir para
qualificar, de modo figurado, a mescla de tonalidades
es�lís�cas que caracteriza o capítulo e o próprio livro.
Preenchem de modo mais adequado as lacunas as
palavras
a) ocaso e invernia.
b) Finados e ritual.
c) senzala e cabaré.
d) cemitério e carnaval.
e) eclipse e cerração.
27@professorferretto @prof_ferrettoda época, com crí�cas à
hipocrisia burguesa. 
d) um relato saudosista de experiências vividas no
internato, no qual o protagonista mostra o poder de
sedução e corrupção das amizades, com crí�cas à
falsidade da burguesia. 
L0118 - (Famerp)
Leia o trecho do romance O cor�ço, de Aluísio Azevedo,
para responder à questão a seguir.
 
Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um
ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e socada,
de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre
suas vizinhas.
Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a
quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela
dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio
de rezas e fei�çarias. Era extremamente feia, grossa,
triste, com olhos desvairados, dentes cortados à navalha,
formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos,
escorridos e ainda re�ntos apesar da idade. Chamavam-
lhe “Bruxa”.
Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda.
A primeira, mulata an�ga, muito séria e asseada em
exagero: a sua casa estava sempre úmida das
consecu�vas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor
punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando
a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e
descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha �nha
quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços
sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca.
Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava ainda a
sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre,
aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a
troco de pequenas concessões na medida e no peso das
compras que Florinda fazia diariamente à venda.
O cor�ço, 2007.
 
Uma relação correta entre o trecho apresentado e o
movimento literário em que O cor�ço está inserido é: 
a) a referência cuidadosa e delicada à sexualidade dos
personagens é parte de um esforço, �pico do
Realismo, para apresentar o ser humano em sua
totalidade sem sobrecarregar um de seus aspectos. 
b) a caracterização dos personagens como indivíduos
únicos e isolados da cole�vidade, deixando em
segundo plano suas relações sociais, é um traço �pico
do Naturalismo. 
c) a preferência dos personagens pela razão e seu
desprezo pela fé, em uma estratégia para valorizar a
ciência e a obje�vidade e desvalorizar a religião, são
caracterís�cas do Realismo. 
d) a valorização da vida perto da natureza, com
personagens que abrem mão dos métodos e dos
objetos frutos da tecnologia para se ligarem à
tranquilidade de uma vida sem máquinas, é uma
caracterís�ca do Naturalismo. 
e) a descrição das caracterís�cas vulgares dos
personagens e a frequente associação entre homens e
animais, que ajudam a estabelecer uma concepção
biológica do mundo, são caracterís�cas do
Naturalismo. 
L0285 - (Fuvest)
Leia os seguintes textos de Machado de Assis:
 
I.
Suave mari magno*
 
Lembra-me que, em certo dia,
Na rua, ao sol de verão,
Envenenado morria
Um pobre cão.
 
Arfava, espumava e ria,
De um riso espúrio e bufão,
Ventre e pernas sacudia
Na convulsão.
 
Nenhum, nenhum curioso
Passava, sem se deter,
Silencioso,
 
Junto ao cão que ia morrer,
Como se lhe desse gozo
Ver padecer.
Machado de Assis. Ocidentais.
 
* Expressão la�na, re�rada de Lucrécio (Da natureza das
coisas), a qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari
magno, turban�bus aequora ven�s/ E terra magnum
alterius spectare laborem. (“É agradável, enquanto no
mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da
terra os grandes esforços de um outro.”).
3@professorferretto @prof_ferretto
 
II.
Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e
que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo
na mão.
Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII.
 
III.
Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé do
leito o marido:
– Que foi? perguntou ele.
– Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei?
(...)
– Sonhei que estavam matando você.
Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele,
ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma
piedade gostosa, um sen�mento par�cular, ín�mo,
profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para
que o assassinassem aos olhos dela, e para que ela
gritasse angus�ada, convulsa, cheia de dor e de pavor.
Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI.
 
A analogia consiste em um recurso de expressão
comumente u�lizado para ilustrar um raciocínio por meio
da semelhança que se observa entre dois fatos ou ideias.
No texto II, a analogia construída a par�r da imagem do
chicote pretende sugerir que
a) o instrumento do cas�go nem sempre cai em mãos
justas. 
b) o apreço aos objetos independe do uso que se faz
deles. 
c) o cabo é metáfora de mérito, e a ponta, metáfora de
culpa. 
d) o mais fraco, por ser compassivo, é incapaz de
desfrutar do poder. 
e) o prazer verdadeiro se experimenta no lado dos
dominantes.
L0344 - (Unicamp)
As Ondas
Olavo Bilac
 
Entre as trêmulas mornas arden�as,
A noite no alto-mar anima as ondas.
Sobem das fundas úmidas Golcondas,
Pérolas vivas, as nereidas frias:
 
Entrelaçam-se, correm fugidias,
Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,
Vestem as formas alvas e redondas
De algas roxas e glaucas pedrarias.
 
Coxas de vago ônix, ventres polidos
De alabastro, quadris de argêntea espuma,
Seios de dúbia opala ardem na treva;
 
E bocas verdes, cheias de gemidos,
Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,
Soluçam beijos vãos que o vento leva...
 
Arden�a: s.f. fosforescência sobre as ondas do mar, à
noite.
Golconda: s. f. (fig.) mina de riquezas.
Nereida: s.f. cada uma das ninfas do mar, filhas de Nereu.
 
Em relação ao soneto de Olavo Bilac (no contexto de sua
época), é correto afirmar que a seleção lexical favorece a
a) descrição obje�va que o eu lírico faz da fantasia
amorosa recorrendo à riqueza mineral dos oceanos. 
b) representação esté�ca que o eu lírico faz do desejo
amoroso associado a fenômenos naturais. 
c) descrição cien�fica que o eu lírico faz do corpo
feminino recorrendo a fenômenos da natureza. 
d) representação natural que o eu lírico faz do jogo de
sensualidade associado à mitologia grega. 
L0126 - (Enem)
Mal secreto
 
Se a cólera que espuma, a dor que mora 
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, 
Tudo o que punge, tudo o que devora 
O coração, no rosto se estampasse; 
 
Se se pudesse, o espírito que chora, 
Ver através da máscara da face, 
Quanta gente, talvez, que inveja agora 
Nos causa, então piedade nos causasse! 
 
Quanta gente que ri, talvez, consigo 
Guarda um atroz, recôndito inimigo, 
Como invisível chaga cancerosa! 
 
Quanta gente que ri, talvez existe, 
Cuja ventura única consiste 
Em parecer aos outros venturosa!
(CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender
Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995.)
 
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e
racionalidade na condução temá�ca, o soneto de
Raimundo Correia reflete sobre a forma como as
emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na
concepção do eu lírico, esse julgamento revela que
4@professorferretto @prof_ferretto
a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o
indivíduo a agir de forma dissimulada.
b) o sofrimento ín�mo torna-se mais ameno quando
compar�lhado por um grupo social.
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças
neutraliza o sen�mento de inveja.
d) o ins�nto de solidariedade conduz o indivíduo a
apiedar-se do próximo.
e) a transfiguração da angús�a em alegria é um ar��cio
nocivo ao convívio social.
L0319 - (Unicamp)
Durante dois anos o cor�ço prosperou de dia para dia,
ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o
Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância
brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta
implacável que lhe crescia junto da casa (...).
À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu
azedume, quando ele, recolhendo-se fa�gado do serviço,
deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa
da sala de jantar e ouvia, a contragosto, o grosseiro
rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de
animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber
no rosto aquele bafo,quente e sensual, que o
embebedava com o seu fartum de bestas no coito.
(Aluísio de Azevedo, O cor�ço. 14. ed. São Paulo: Á�ca,
1983, p. 22.)
 
Levando em conta o excerto, bem como o texto integral
do romance, é correto afirmar que
a) o grosseiro rumor, a sexualidade desregrada e a
exalação forte que provinham do cor�ço decorriam,
segundo Miranda, do abandono daquela população
pelo governo. 
b) os termos “grosseiro rumor”, “animais”, “bestas no
coito”, que fazem referência aos moradores do cor�ço,
funcionam como metáforas da vida pulsante dos seus
habitantes. 
c) o nivelamento sociológico na obra O Cor�ço se dá não
somente entre os moradores da habitação cole�va e o
seu senhorio, mas também entre eles e o vizinho
Miranda. 
d) a presença portuguesa, exemplificada nas
personagens João Romão e Miranda, não é relevante
para o desenvolvimento da narra�va nem para a
compreensão do sen�do da obra. 
L0305 - (Unesp)
Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada
originalmente em 1902.
 
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo
pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável
modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,
tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas
– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por
saber de longa data que pela boca é que morrem os
peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –
não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode
um homem ter nascido num século de luzes e de
descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos
estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar
nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a
voz presa na garganta, quando encontra na rua, a
desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi – quando começaram de
aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida
de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres,
assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,
dando conta da diligência, disse que o delegado achou
dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no
topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares
que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E
acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,
5@professorferretto @prof_ferretto
tentando apagar as velas acesas que os si�antes7
empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique
român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o
repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,
que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
1esba�do: de tom pálido.
2a desoras: muito tarde.
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4folha: periódico diário, jornal.
5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7si�ante: policial.
 
Em “Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há
morcegos” (5º parágrafo), o termo sublinhado está
empregado na mesma acepção do termo sublinhado em
a) “ela correu um risco desnecessário”. 
b) “a no�cia corria por toda a cidade”. 
c) “a manhã corria especialmente tranquila”. 
d) “segundo corria, ela seria facilmente eleita”. 
e) “um arrepio correu-lhe pela espinha”. 
L0117 - (Acafe)
“Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se
voltavam para o exame e para a crí�ca da realidade, o
Parnasianismo representou na poesia um retorno ao
clássico, com todos os seus ingredientes: o princípio do
belo na arte, a busca do equilíbrio e da perfeição formal.
Os parnasianos acreditavam que o sen�do maior da arte
reside nela mesma, em sua perfeição, e não na sua
relação com o mundo exterior.”
CEREJA; MAGALHÃES, 1999, p. 334.
 
Sobre o Parnasianismo, assinale a alterna�va correta. 
a) Os maiores expoentes do Parnasianismo, na poesia e
na prosa, ocuparam-se da literatura indianista, na qual
exaltavam a dignidade do na�vo e a beleza superior da
paisagem tropical. 
b) Um exemplo de poesia parnasiana é a obra Suspiros
poé�cos e saudade, de Gonçalves de Magalhães, na
qual o poeta anuncia a revolução literária, libertando-
se dos modelos român�cos, considerados
ultrapassados. 
c) Os parnasianos consideravam que certos princípios
român�cos, como a simplicidade da linguagem,
valorização da paisagem nacional, emprego de sintaxe
e vocabulário mais brasileiros, sen�mentalismo, tudo
isso ocultava as verdadeiras qualidades da poesia. 
d) Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa
exemplificam a tendência de uma poesia pura,
indiferente às con�ngências históricas, com sá�ra à
mes�çagem e elogio à nobreza local. 
L0120 - (Enem)
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem
não souber que ele possuía um caráter ferozmente
honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos
que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço
que era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que
�nham razão; mas a avareza é apenas a exageração de
uma virtude, e as virtudes devem ser como os
orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era
muito seco de maneiras, �nha inimigos que chegavam a
acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste
par�cular era o de mandar com frequência escravos ao
calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas,
além de que ele só mandava os perversos e os fujões,
ocorre que, tendo longamente contrabandeado em
escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco
mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se
pode honestamente atribuir à índole original de um
homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova
de que o Cotrim �nha sen�mentos pios encontrava-se no
seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando
morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho
eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão
de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas,
o que não se coaduna muito com a reputação da avareza;
verdade é que o bene�cio não caíra no chão: a
irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe �rar o
retrato a óleo.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
 
Obra que inaugura o Realismo na literatura
brasileira, Memórias póstumasde Brás Cubas condensa
uma expressividade que caracterizaria o es�lo
machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu
6@professorferretto @prof_ferretto
cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas
refina a percepção irônica ao 
a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se
injus�çado na divisão da herança paterna. 
b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade,
com que Cotrim prendia e torturava os escravos. 
c) considerar os “sen�mentos pios” demonstrados pelo
personagem quando da perda da filha Sara. 
d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma
confraria e membro remido de várias irmandades. 
e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e
egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo. 
L0275 - (Fuvest)
E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et
Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a
mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, –
coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame,
quando quer amar. Se esta úl�ma reflexão é o mo�vo
secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois
muito indiscreta, e que eu não me quero senão com
dissimulados.
Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim
da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a
Atalaia chamou-lhe “o anjo da consolação”. 1E não se
pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse;
ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da
caridade, podia mor�ficar as novas amigas, e fazer-lhe
perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se
explica o ar�go que a mesma folha trouxe no número
seguinte, nomeando, par�cularizando e glorificando as
outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”.
Machado de Assis, Quincas Borba.
 
Considerando o contexto, o trecho “E não se pense que
este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse” (ref. 1)
pode ser reescrito, sem prejuízo de sen�do, da seguinte
maneira: E não se pense que este nome a alegrou,
a) apesar de lisonjeá-la. 
b) antes a lisonjeou. 
c) porque a lisonjeava. 
d) a fim de lisonjeá-la. 
e) tanto quanto a lisonjeava. 
L0125 - (Espcex)
Os parnasianos acreditavam que, apoiando-se nos
modelos clássicos, estariam combatendo os exageros de
emoção e fantasia do Roman�smo e, ao mesmo tempo,
garan�ndo o equilíbrio que almejavam. Propunham uma
poesia obje�va, de elevado nível vocabular, racionalista,
bem-acabada do ponto de vista formal e voltada para
temas universais. Esse racionalismo, que enfrentava os
“exageros de emoção” e fixava-se no formalismo, fica
bem claro na seguinte estrofe parnasiana de Olavo Bilac: 
a) E eu vos direi: “Amai para entendê-las!/Pois só quem
ama pode ter ouvido/Capaz de ouvir e de entender
estrelas.” 
b) Não me basta saber que sou amado,/Nem só desejo o
teu amor: desejo/Ter nos braços teu corpo
delicado,/Ter na boca a doçura de teu beijo. 
c) Pois sabei que é por isso que assim ando:/Que é dos
loucos somente e dos amantes/Na maior alegria andar
chorando. 
d) Mas que na forma se disfarce o emprego/Do esforço;
e a trama viva se construa/De tal modo, que a imagem
fique nua,/Rica, mas sóbria, como um templo grego. 
e) Esta melancolia sem remédio,/Saudade sem razão,
louca esperança/Ardendo em choros e findando em
tédio. 
L0306 - (Unesp)
Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada
originalmente em 1902.
 
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo
pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável
modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,
tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas
– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por
saber de longa data que pela boca é que morrem os
peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –
não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode
um homem ter nascido num século de luzes e de
descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos
estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar
nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a
7@professorferretto @prof_ferretto
voz presa na garganta, quando encontra na rua, a
desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi – quando começaram de
aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida
de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres,
assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,
dando conta da diligência, disse que o delegado achou
dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no
topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares
que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E
acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,
tentando apagar as velas acesas que os si�antes7
empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique
român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o
repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,
que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
1esba�do: de tom pálido.
2a desoras: muito tarde.
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4folha: periódico diário, jornal.
5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7si�ante: policial.
 
“Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século
de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do
liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e
não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar
disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na
rua, a desoras, uma avantesma...” (2º parágrafo)
 
Nesse trecho, o cronista acaba por desconstruir a
oposição entre
a) razão e século de luzes. 
b) razão e crendice. 
c) razão e descrença. 
d) Iluminismo e Liberalismo. 
e) Iluminismo e Revolução Francesa.
L0122 - (Unifesp)
Considere o trecho de O Cor�ço, de Aluísio Azevedo.
 
Uma aluvião de cenas, que ela [Pombinha] jamais tentara
explicar e que até ali jaziam esquecidas nos meandros do
seu passado, apresentavam-se agora ní�das e
transparentes. Compreendeu como era que certos velhos
respeitáveis, cuja fotografia Léonie lhe mostrou no dia
que passaram juntas, deixavam-se vilmente cavalgar pela
loureira, ca�vos e submissos, pagando a escravidãocom
a honra, os bens, e até com a própria vida, se a
pros�tuta, depois de os ter esgotado, fechava-lhes o
corpo. E con�nuou a sorrir, desvanecida na sua
superioridade sobre esse outro sexo, vaidoso e fanfarrão,
que se julgava senhor e que, no entanto, fora posto no
mundo simplesmente para servir ao feminino; escravo
ridículo que, para gozar um pouco, precisava �rar da sua
mesma ilusão a substância do seu gozo; ao passo que a
mulher, a senhora, a dona dele, ia tranquilamente
desfrutando o seu império, endeusada e querida,
prodigalizando mar�rios, que os miseráveis aceitavam
contritos, a beijar os pés que os deprimiam e as
implacáveis mãos que os estrangulavam.
— Ah! homens! homens! ... sussurrou ela de envolta com
um suspiro.
 
No texto, os pensamentos da personagem 
8@professorferretto @prof_ferretto
a) recuperam o princípio da prosa naturalista, que
condena os assuntos repulsivos e bes�ais, sem
amparo nas teorias cien�ficas, ligados ao homem que
põe em primeiro plano seus ins�ntos animalescos. 
b) elucidam o princípio do determinismo presente na
prosa naturalista, revelando os homens e as mulheres
conscientes dos seus ins�ntos em função do meio em
que vivem e, sobretudo, capazes de controlá-los. 
c) trazem uma crí�ca aos aspectos animalescos próprios
do homem, mas, por outro lado, revelam uma forma
de Pombinha submeter a muitos deles para obter
vantagens: eis aí um princípio do Realismo rechaçado
no Naturalismo. 
d) constroem uma visão de mundo e do homem
idealizada, o que, em certa medida, afronta o
referencial em que se baseia a prosa naturalista, que
define o homem como fruto do meio, marcado pelo
apelo dos seus sen�dos. 
e) consubstanciam a concepção naturalista de que o
homem é um animal, preso aos ins�ntos e, no que
dizem respeito à sexualidade, vê-se que Pombinha
considera a mulher superior ao homem, e esse
conhecimento é uma forma de se obterem
vantagens. 
L0335 - (Unicamp)
“– Reputação! Ora, mamãe, e é a senhora quem me fala
nisso!
Camila estacou, sem a�nar com a resposta,
compreendendo o alcance das palavras do filho.
A surpresa paralisou-lhe a língua; o sangue arrefeceu-se-
lhe nas veias; mas, de repente, a reação sacudiu-a e
então, num desa�no, ferida no coração, ela achou para o
Mário admoestações mais ásperas. Percebeu que a língua
mais dizia que a sua vontade; mas não poderia contê-la.
A dor a�rava-a para diante, contra aquele filho, até então
poupado.”
(Júlia Lopes de Almeida, A falência. Campinas: Editora da
Unicamp, 2018, p. 123.)
 
A passagem apresenta a reação de Camila às palavras de
seu filho. Assinale a alterna�va que explica corretamente
o comentário de Mário.
a) Mário contrapõe-se à censura materna com
sen�mento de compaixão. 
b) Mário rejeita as reservas maternas com censura
moral. 
c) Mário contrapõe-se à censura materna com desdém
pela família. 
d) Mário rejeita as reservas maternas com vergonha
pelas dívidas acumuladas.
L0255 - (Fuvest)
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os
dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas,
1mas um só ruído compacto que enchia todo o cor�ço.
Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se*
discussões e rezingas**; 2ouviam-se gargalhadas e
pragas; já se não falava, gritava-se. Sen�a-se naquela
fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas
rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta
e nutriente da vida, 3o prazer animal de exis�r, a
triunfante sa�sfação de respirar sobre a terra.
Da porta da venda que dava para o cor�ço iam e vinham
como formigas; fazendo compras.
Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a
Isaura, que se dispunha a começar a limpeza da casa.
– Nhá Dunga! 4gritou ela para baixo, a sacudir um pano
de mesa; se você tem cuscuz de milho hoje, 5bata na
porta, ouviu?
Aluísio Azevedo, O cor�ço.
* ensarilhar-se: emaranhar-se.
** rezinga: resmungo.
 
Uma caracterís�ca do Naturalismo presente no texto é:
a) forte apelo aos sen�dos. 
b) idealização do espaço. 
c) exaltação da natureza. 
d) realce de aspectos raciais. 
e) ênfase nas individualidades. 
L0121 - (Insper)
Texto I
(...) No lampejo de seus grandes olhos pardos brilhavam
irradiações da inteligência. (...) O princípio vital da mulher
abandonava seu foco natural, o coração, para concentrar-
se no cérebro, onde residem as faculdades especula�vas
do homem.
(...)
Era realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a
um tutor, a perspicácia com que essa moça de dezoito
anos apreciava as questões mais complicadas; o perfeito
conhecimento que mostrava dos negócios, a facilidade
com que fazia, muitas vezes de memória, qualquer
operação aritmé�ca por muito di�cil e intrincada que
fosse.
Não havia porém em Aurélia nem sombra do ridículo
pedan�smo de certas moças, que tendo colhido em
leituras superficiais algumas noções vagas, se metem a
tagarelar de tudo.
(ALENCAR, José de. Senhora. SP: Editora Á�ca, 1980.)
 
Texto II
9@professorferretto @prof_ferretto
Aquela pobre flor de cor�ço, escapando à estupidez do
meio em que desabotoou, �nha de ser fatalmente ví�ma
da própria inteligência. À míngua de educação, seu
espírito trabalhou à revelia, e atraiçoou-a, obrigando-a a
�rar da substância caprichosa da sua fantasia de moça
ignorante e viva a explicação de tudo que lhe não
ensinaram a ver e sen�r.
(...)
Pombinha, só com três meses de cama franca, fizera-se
tão perita no o�cio como a outra; a sua infeliz inteligência
nascida e criada no modesto lodo da estalagem, medrou
admiravelmente na lama forte dos vícios de largo fôlego;
fez maravilhas na arte; parecia adivinhar todos os
segredos daquela vida; seus lábios não tocavam em
ninguém sem �rar sangue; sabia beber, gota a gota, pela
boca do homem mais avarento, todo dinheiro que a
ví�ma pudesse dar de si.
(AZEVEDO, Aluísio. O cor�ço. SP: Editora Á�ca, 1997.) 
 
Considerando as descrições presentes nos fragmentos
transcritos, é correto afirmar que 
a) o texto I filia-se ao Roman�smo, uma vez que nele a
heroína é reflexo, em grande medida, das
circunstâncias do ambiente em que se criou. 
b) o texto I filia-se ao Roman�smo, já que nele a figura
feminina é descrita sob o prisma da idealização. 
c) o texto I filia-se ao Naturalismo, pois as habilidades da
personagem são naturais no meio em que vive. 
d) o texto II filia-se ao Realismo, já que a figura feminina
é descrita de forma fiel à realidade do período
histórico em que está inserida. 
e) o texto II filia-se ao Naturalismo, pois nele a
personagem cons�tui uma representação inequívoca
do perfil feminino �pico. 
L0123 - (Ucpel)
Texto 1
 
O Úl�mo Poema
Manuel Bandeira
Assim eu quereria o meu úl�mo poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos
intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que �vesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes
mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Disponível em:
.
Acesso em: 07 nov. 2016.
 
Texto 2
 
AMAR E SER AMADO
Castro Alves
Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por �, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sen�r em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sen�mento
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano,
Beijar teus lábios em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante, amado
Como um anjo feliz... que pensamento!?
Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2016.
 
 
Texto 3
 
Livre
Cruz e Sousa
 
Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.
 
Livre da humana, da terrestre bava
dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sen�dos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.
 
Livre! bem livre para andar mais puro,mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as jus�ças.
 
Livre! para sen�r a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.
Disponível em:
. Acesso em: 07 nov. 2016.
 
Sobre os textos é correto afirmar que: 
10@professorferretto @prof_ferretto
a) O texto 3 demonstra a temá�ca presente nas poesias
român�cas da segunda geração, ou seja, o desejo pela
liberdade. 
b) O texto 2 é um soneto que representa o valor métrico
atribuído ao parnasianismo. 
c) Os textos 1 e 3 demonstram a liberdade representada
ora na escrita e ora no tema, algo representa�vo para
o roman�smo. 
d) O texto 2 demonstra a preocupação do eu lírico com a
questão da efemeridade da vida e a busca pelo prazer,
algo representa�vo na primeira geração do
roman�smo. 
e) O texto 1 demonstra a liberdade de expressão e
criação poé�ca, sem preocupação com a linguagem,
caracterís�ca presente nas produções literárias do
modernismo. 
L0307 - (Unesp)
Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada
originalmente em 1902.
 
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo
pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável
modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,
tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas
– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por
saber de longa data que pela boca é que morrem os
peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –
não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode
um homem ter nascido num século de luzes e de
descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos
estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar
nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a
voz presa na garganta, quando encontra na rua, a
desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi – quando começaram de
aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida
de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres,
assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,
dando conta da diligência, disse que o delegado achou
dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no
topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares
que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E
acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,
tentando apagar as velas acesas que os si�antes7
empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique
român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o
repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,
que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
1esba�do: de tom pálido.
2a desoras: muito tarde.
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4folha: periódico diário, jornal.
5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7si�ante: policial.
 
Em “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de
toda a sua classe, andava acumulando novos pecados
sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de
excessos menos merecedores de exorcismos que de
cadeia” (3º parágrafo), o trecho sublinhado cons�tui um
exemplo de
11@professorferretto @prof_ferretto
a) sinestesia. 
b) paradoxo. 
c) pleonasmo. 
d) hipérbole. 
e) eufemismo. 
L0251 - (Fuvest)
Este úl�mo capítulo é todo de nega�vas. Não alcancei a
celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa,
não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas
faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão
com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de
dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba.
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa
imaginará que não houve míngua nem sobra, e,
conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará
mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério,
achei me com um pequeno saldo, que é a derradeira
nega�va deste capítulo de nega�vas: – Não �ve filhos,
não transmi� a
nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
 
Não sei por que até hoje todo o mundo diz que �nha
pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se
fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz.
Ser obrigada a ficar à toa é que seria cas�go para mim.
Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique
preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então
respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da
senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada
em casa”.
Helena Morley, Minha vida de menina.
 
São caracterís�cas dos narradores Brás Cubas e Helena,
respec�vamente,
a) malícia e ingenuidade. 
b) solidariedade e egoísmo. 
c) apa�a e determinação. 
d) rebeldia e conformismo. 
e) o�mismo e pessimismo. 
L0116 - (Upe-ssa)
Texto 1
Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu
forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos,
eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como
ostentasse certa arrogância, não se dis�nguia bem se era
uma criança, com fumos de homem, se um homem com
ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e
audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na
mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso,
rijo, veloz, como o corcel das an�gas baladas, que o
roman�smo foi buscar ao castelo medieval, para dar com
ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a
tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o
realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por
compaixão, o transportou para os seus livros. 
Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e
facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou
diante de mim a fronte pensa�va, ou levantou para mim
os olhos cobiçosos. De todas porém a que me ca�vou
logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto,
ao menos na intenção; na intenção é cas�ssimo. Mas vá
lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me ca�vou foi
uma dama espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como
lhe chamavam os rapazes do tempo. E �nham razão os
rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo
ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opiniãoaceita é que nascera de um letrado de Madri, ví�ma da
invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado,
quando ela �nha apenas doze anos. 
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
 
Texto 2
Durante dois anos, o cor�ço prosperou de dia para dia,
ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o
Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância
brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta
implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das
janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que
serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando
rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e
abalando tudo. Posto que lá na Rua do Hospício os seus
negócios não corressem mal, custava-lhe a sofrer a
escandalosa fortuna do vendeiro “aquele �po! um
miserável, um sujo, que não pusera nunca um paletó, e
que vivia de cama e mesa com uma negra!” 
À noite e aos domingos, ainda mais recrudescia o seu
azedume, quando ele, recolhendo-se fa�gado do serviço,
deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa
da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro
rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de
animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber
no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o
embebedava com o seu fartum de bestas no coito. 
E depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e
habituado às torpezas carnais da mulher, isento já dos
primi�vos sobressaltos que lhe faziam, a ele, ferver o
sangue e perder a tramontana, era ainda a prosperidade
do vizinho o que lhe obsedava o espírito, enegrecendo-
lhe a alma com um feio ressen�mento de despeito. 
Tinha inveja do outro, daquele outro português que
fizera fortuna, sem precisar roer nenhum chifre; daquele
outro que, para ser mais rico três vezes do que ele, não
teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de
algum fazendeiro freguês da casa! 
12@professorferretto @prof_ferretto
Mas então, ele Miranda, que se supunha a úl�ma
expressão da ladinagem e da esperteza; ele, que, logo
depois do seu casamento, respondendo para Portugal a
um ex-colega que o felicitava, dissera que o Brasil era
uma cavalgadura carregada de dinheiro, cujas rédeas um
homem fino empolgava facilmente; ele, que se �nha na
conta de invencível matreiro, não passava afinal de um
pedaço de asno comparado com o seu vizinho! Pensara
fazer-se senhor do Brasil e fizera-se escravo de uma
brasileira mal-educada e sem escrúpulos de virtude!
Imaginara-se talhado para grandes conquistas, e não
passava de uma ví�ma ridícula e sofredora!... Sim! no fim
de contas qual fora a sua África?... Enriquecera um
pouco, é verdade, mas como? a que preço? hipotecando-
se a um diabo, que lhe trouxera oitenta contos de réis,
mas incalculáveis milhões de desgostos e vergonhas!
Arranjara a vida, sim, mas teve de aturar eternamente
uma mulher que ele odiava! E do que afinal lhe
aproveitar tudo isso? Qual era afinal a sua grande
existência? Do inferno da casa para o purgatório do
trabalho e vice-versa! Invejável sorte, não havia dúvida! 
O Cor�ço, de Aluízio de Azevedo
 
Considerando as caracterís�cas temá�cas e es�lís�cas
dos textos 1 e 2, analise as proposições a seguir.
 
I. O Texto 1 é um trecho de um importante romance de
Machado de Assis, o qual destaca episódios da vida do
próprio autor. 
II. No Texto 1, é possível perceber costumes do co�diano
burguês numa cidade do século XIX, levando o leitor a
constatar, pela postura individual do protagonista, um
segmento social dosado de humor nas suas próprias
experiências.
III. No Texto 2, é apresentado o comportamento
decadente da sociedade burguesa da segunda metade do
século XIX, em que prevalece o interesse individual. 
IV. As personagens de Aluísio Azevedo, em O Cor�ço, são
alicerçadas nas ideias de Taine, presas ao ambiente e à
hereditariedade, limitadas pelas questões sociais e pelo
meio onde vivem suas experiências. 
 
Estão CORRETAS: 
a) I, II, III e IV. 
b) I, III e IV, apenas. 
c) II e III, apenas. 
d) II, III e IV, apenas. 
e) II e IV, apenas. 
L0303 - (Unesp)
Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada
originalmente em 1902.
 
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo
pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável
modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,
tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas
– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por
saber de longa data que pela boca é que morrem os
peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –
não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode
um homem ter nascido num século de luzes e de
descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos
estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar
nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a
voz presa na garganta, quando encontra na rua, a
desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi – quando começaram de
aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida
de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres,
assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,
dando conta da diligência, disse que o delegado achou
dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no
topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares
que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E
acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,
13@professorferretto @prof_ferretto
tentando apagar as velas acesas que os si�antes7
empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique
român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o
repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,
que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
1esba�do: de tom pálido.
2a desoras: muito tarde.
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4folha: periódico diário, jornal.
5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7si�ante: policial.
 
Em relação à reportagem sobre a diligência policial (4º e
5º parágrafos), o cronista destaca seu caráter
a) obje�vo. 
b) enigmá�co. 
c) enfadonho. 
d) fantasioso. 
e) macabro.L0266 - (Fuvest)
. Cinquenta anos! Não era preciso confessá-lo. Já se vai
sen�ndo que o meu es�lo não é tão lesto* como nos
primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o
oficial da marinha, que enfiou a capa e saiu, confesso que
fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou-me dançar
uma polca, embriagar-me das luzes, das flores, dos
cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho surdo e
ligeiro das conversas par�culares. E não me arrependo;
remocei. Mas, meia hora depois, quando me re�rei do
baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no
fundo do carro? Os meus cinquenta anos.
*ágil
 
II. Meu caro crí�co,
Algumas páginas atrás, dizendo eu que �nha cinquenta
anos, acrescentei: “Já se vai sen�ndo que o meu es�lo
não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches
esta frase incompreensível, sabendo-se o meu atual
estado; mas eu chamo a tua atenção para a su�leza
daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que
esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A
morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase
da narração da minha vida experimento a sensação
correspondente. Valha-me Deus! É preciso explicar tudo.
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.
 
Entre os dois trechos do romance, nota-se o movimento
que vai da memória de vivências à revisão que o defunto
autor faz de um mesmo episódio. A citação, pertencente
a outro capítulo do mesmo livro, que melhor sinte�za
essa duplicidade narra�va, é:
a) “A conclusão, portanto, é que há duas forças capitais:
o amor, que mul�plica a espécie, e o nariz, que a
subordina ao indivíduo”. 
b) “Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a
�nta da melancolia, e não é di�cil perceber o que
poderá sair desse conúbio”. 
c) “Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa
contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo,
porque o maior defeito do livro és tu, leitor”. 
d) “Viver não é a mesma cousa que morrer; assim o
afirmam todos os joalheiros desse mundo, gente
muito vista na gramá�ca”. 
e) “Não havia ali a atmosfera somente da águia e do
beija-flor; havia também a da lesma e do sapo”. 
L0341 - (Unicamp)
(...) eu sou um pobre relojoeiro que, cansado de ver que
os relógios deste mundo não marcam a mesma hora,
descri do o�cio. (...) Um exemplo. O Par�do Liberal,
segundo li, estava encasacado e pronto para sair, com o
relógio na mão, porque a hora pingava. Faltava-lhe só o
chapéu, que seria o chapéu Dantas, ou o chapéu Saraiva
(ambos da chapelaria Aristocrata); era só pô-lo na
cabeça, e sair. Nisto passa o carro do paço com outra
pessoa, e ele descobre que ou o seu relógio está
adiantado, ou o de Sua Alteza é que se atrasara. Quem os
porá de acordo?
(Machado de Assis, Bons dias. Introdução e notas John
Gledson. 3. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2008, p.
79.)
 
Com relação ao excerto da crônica de Machado de Assis,
publicada em 05 de abril de 1888 na Gazeta de No�cias,
é correto afirmar que a metáfora mecânica faz referência
à passagem do tempo, aludindo à expecta�va de
mudança de
14@professorferretto @prof_ferretto
a) regime a par�r de discordâncias polí�cas que levaram
à eleição do governo imperial. 
b) século, marcada pela perspec�va da chegada do
meteorito de Bendegó na corte imperial. 
c) mentalidade escravagista, com um pacto polí�co para
suspensão de costumes imperiais. 
d) legislação, com a alternância entre par�dos para a
formação de um novo ministério do governo
imperial. 
L0252 - (Fuvest)
Este úl�mo capítulo é todo de nega�vas. Não alcancei a
celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa,
não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas
faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão
com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de
dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba.
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa
imaginará que não houve míngua nem sobra, e,
conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará
mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério,
achei me com um pequeno saldo, que é a derradeira
nega�va deste capítulo de nega�vas: – Não �ve filhos,
não transmi� a
nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
 
Não sei por que até hoje todo o mundo diz que �nha
pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se
fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz.
Ser obrigada a ficar à toa é que seria cas�go para mim.
Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique
preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então
respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da
senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada
em casa”.
Helena Morley, Minha vida de menina.
 
Nos dois textos, obtém-se ênfase por meio do emprego
de um mesmo recurso expressivo, como se pode verificar
nos seguintes trechos:
a) “Este úl�mo capítulo é todo de nega�vas” / “Eu não
penso assim”. 
b) “Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui
ministro, não fui califa, não conheci o casamento” /
“Não sei por que até hoje todo o mundo diz que �nha
pena dos escravos”. 
c) “Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube me a boa
fortuna de não comprar o pão com o suor do meu
rosto” / “Ser obrigada a ficar à toa é que seria cas�go
para mim”. 
d) “qualquer pessoa imaginará que não houve míngua
nem sobra” / “Mamãe às vezes diz que ela até deseja
que eu fique preguiçosa”. 
e) “Não �ve filhos, não transmi� a nenhuma criatura o
legado da nossa miséria” / “Acho que se fosse
obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz”. 
L0256 - (Fuvest)
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os
dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas,
1mas um só ruído compacto que enchia todo o cor�ço.
Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se*
discussões e rezingas**; 2ouviam-se gargalhadas e
pragas; já se não falava, gritava-se. Sen�a-se naquela
fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas
rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta
e nutriente da vida, 3o prazer animal de exis�r, a
triunfante sa�sfação de respirar sobre a terra.
Da porta da venda que dava para o cor�ço iam e vinham
como formigas; fazendo compras.
Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a
Isaura, que se dispunha a começar a limpeza da casa.
– Nhá Dunga! 4gritou ela para baixo, a sacudir um pano
de mesa; se você tem cuscuz de milho hoje, 5bata na
porta, ouviu?
Aluísio Azevedo, O cor�ço.
* ensarilhar-se: emaranhar-se.
** rezinga: resmungo.
 
Cons�tui marca do registro informal da língua o trecho
a) “mas um só ruído compacto” (ref. 1). 
b) “ouviam-se gargalhadas” (ref. 2). 
c) “o prazer animal de exis�r” (ref. 3). 
d) “gritou ela para baixo” (ref. 4). 
e) “bata na porta” (ref. 5). 
L0334 - (Unicamp)
No conto “O espelho”, de Machado de Assis, uma
personagem assume a palavra e narra uma história.
15@professorferretto @prof_ferretto
Assinale a alterna�va que explicita sua interlocução com
os cavalheiros presentes.
 
(Machado de Assis, O espelho. Campinas: Editora da
Unicamp, 2019.) 
a) “Lembra-me de alguns rapazes que se davam comigo,
e passaram a olhar-me de revés, durante algum
tempo.” 
b) “Ah! pérfidos! Mal podia eu suspeitar a intenção
secreta dos malvados.” 
c) “Imaginai um homem que, pouco a pouco, emerge de
um letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a
ver.” 
d) “O espelho estava naturalmente muito velho; mas via-
se-lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo.”
L0128 - (Professor Ferre�o)
“Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na
chácara, pendurou-me uma ideia no trapézio que eu
�nha no cérebro. Uma vez pen durada, entrou a bracejar,
a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de vola�m,
que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la.
Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as
pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou
devoro-te.”
(Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis)
 
Sobre o texto mostrado, pode-se dizer que:
a) o autor faz uma abordagem superficial da situação.
b) o autor preocupa-secom os detalhes, por meio de
minuciosa descrição.
c) o autor dá relevância a outras circunstân cias,
negligenciando o foco do assunto.
d) o autor não mostra preocupação com o discer nimento
do leitor, pois apenas sugere situações.
e) contempla a si próprio, num ritual egocêntrico e
narcisista.
L0114 - (Espm)
A zoomorfização na Literatura, a des peito de qualquer
outra caracterís�ca es� lís�ca, sempre esteve presente,
no entanto, aparece principalmente nas obras com ca -
racterís�cas realistas que, em contraponto àquelas com
aspectos mais român�cos, têm o intento de retratar as
mazelas da socieda de como espelho. (...)
 
Fez-se necessário uma Literatura condi zente com o real e,
para tanto, a zoomorfiza ção de personagens foi u�lizada
com maior ênfase. Paralelo ao Realismo, o Naturalismo é
o momento em que mais se verifica este fenômeno. 
(Uesla Lima Soares, O Animal Humano: Os paradigmas da
zoomorfização social e sua representação literária, Anais
do Fes�val Literário de Paulo Afonso, 2017)
 
[O zoomorfismo] ocorre quando “o que é próprio do
homem se estende ao animal e permite, por simetria,
que o que é próprio do animal se estenda ao homem.” 
(Antonio Cândido, De Cor�ço a Cor�ço, Novos Estu dos
CEBRAP, 1991).
 
Considere as seguintes afirmações: 
 
I. A zoomorfização se opôs frontalmente às idealizações
român�cas, sendo uma carac terís�ca exclusiva do
Naturalismo. 
II. Segundo Antonio Candido, não é possível haver
dis�nção entre ser humano e animal, no sen�do de que
um cede caracterís�ca ao outro e vice-versa. 
III. A definição de Antonio Candido sobre zoomorfismo é
construída por meio de um processo chamado quiasmo. 
 
A respeito de tais afirmações, deve-se dizer que: 
a) somente I está correta. 
b) somente II está correta. 
c) somente III está correta. 
d) somente I e II estão corretas. 
e) somente I e III estão corretas. 
L0115 - (Fuvest)
I. Cinquenta anos! Não era preciso confessá-lo. Já se vai
sen�ndo que o meu es�lo não é tão lesto* como nos
primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o
oficial da marinha, que enfiou a capa e saiu, confesso que
fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou-me dançar
uma polca, embriagar-me das luzes, das flores, dos
cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho surdo e
ligeiro das conversas par�culares. E não me arrependo;
remocei. Mas, meia hora depois, quando me re�rei do
baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no
fundo do carro? Os meus cinquenta anos.
 
*ágil
 
II. Meu caro crí�co,
Algumas páginas atrás, dizendo eu que �nha cinquenta
anos, acrescentei: “Já se vai sen�ndo que o meu es�lo
não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches
esta frase incompreensível, sabendo-se o meu atual
estado; mas eu chamo a tua atenção para a su�leza
daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que
esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A
morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase
16@professorferretto @prof_ferretto
da narração da minha vida experimento a sensação
correspondente. Valha-me Deus! É preciso explicar tudo.
 
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.
 
A passagem final do texto II – “Valha-me Deus! é preciso
explicar tudo.” – denota um elemento presente no es�lo
do romance, ou seja, 
a) o realismo, visto no rigor explica�vo dos fatos. 
b) a religiosidade, que se socorre do auxílio divino. 
c) o humor, capaz de rela�vizar as ideias. 
d) a metalinguagem, que imprime linearidade à
narração. 
e) a ironia, própria do discurso posi�vo. 
L0119 - (Fgvrj)
Algum tempo hesitei se devia abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em
primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.
Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas
considerações me levaram a adotar diferente método: a
primeira é que eu não sou propriamente um autor
defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi
outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais
galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua
morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença
radical entre este livro e o Pentateuco.
 Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma
sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela
chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos,
rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos
contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
 
Ao configurar as Memórias póstumas de Brás
Cubas como narra�va em primeira pessoa, conforme se
verifica no trecho, Machado de Assis 
a) deu um passo decisivo em direção ao Realismo,
adotando os procedimentos mais �picos dessa
escola. 
b) visa a cri�car o subje�vismo român�co e os excessos
sen�mentalistas em que este incorrera. 
c) deu a palavra ao proprietário escravista e ren�sta
brasileiro do Oitocentos, para que ele próprio exibisse
sua desfaçatez. 
d) parodia as Memórias de um sargento de milícias,
retomando o registro narra�vo que as caracterizava. 
e) confere confiabilidade aos juízos do narrador, uma vez
que este conhece os acontecimentos de que
par�cipou. 
L0347 - (Enem PPL)
Conseguindo, porém, escapar à vigilância dos
interessados, e depois de cur�r uma noite, a mais escura
de sua vida, numa espécie de jaula com grades de ferro,
Amaro, que só temia regressar à “fazenda”, voltar ao seio
da escravidão, estremeceu diante de um rio muito largo e
muito calmo, onde havia barcos vogando em todos os
sen�dos, à vela, outros deitando fumaça, e lá cima,
beirando a água, um morro alto, em ponta, varando as
nuvens, como ele nunca �nha visto...
[...] todo o conjunto da paisagem comunicava-lhe uma
sensação tão forte de liberdade e vida, que até lhe vinha
vontade de chorar, mas chorar francamente,
abertamente, na presença dos outros, como se es�vesse
enlouquecendo... Aquele magnífico cenário gravara-se-
lhe na re�na para toda a existência; nunca mais o havia
de esquecer, oh! Nunca mais! Ele, o escravo, “o negro
fugido”, sen�a-se verdadeiramente homem, igual aos
outros homens, feliz de o ser, grande como a natureza,
em toda a pujança viril da sua mocidade, e �nha pena,
muita pena dos que ficavam na “fazenda” trabalhando,
sem ganhar dinheiro, desde a madrugadinha té... sabe
Deus!
CAMINHA, A. Bom Crioulo. São Paulo: Mar�n Claret,
2008.
 
A situação descrita no fragmento aproxima-o dos
padrões esté�cos do Naturalismo em função da
a) fragilidade emocional atribuída ao indivíduo oprimido.
b) influência da paisagem sobre a capacidade de
resiliência.
c) impossibilidade de superação dos traumas da
escravidão.
d) correlação de causalidade entre força �sica e origem
étnica.
e) condição moral do indivíduo vinculada aos papéis de
gênero.
L0350 - (Enem PPL)
Duas castas de considerações fez de si para consigo o
cauto Conselheiro. Primeiramente foi saltar-lhe ao nariz a
evidência de que ministro não visita empregado público,
ainda que in extremis, mesmo a uma braça, ou duas,
acima do chapéu do amanuense mais bisonho. Também
não visita escritor enfermo por ser escritor, e por estar
enfermo. Seriam trabalhos, ambos, a que não se daria
um ministro, nem sempre ocupado das cousas, altas ou
baixas, do Estado.
O tempo ministerial não se vai perdulariamente, não
se faz em farinhas. Os �tulares esquivam-se até a
suspirar, que os suspiros implicam o desperdício de
minutos se o suspiro é de minutos, além de permi�rem
17@professorferretto @prof_ferretto
ilações perigosas sobre a estabilidade do ministro,
quando não do próprio gabinete.
A segunda ponderação remeteu-o à certeza de que
terminantemente chegavam ao cabo seus dias; e de que
as esperanças eram aéreas, atado agora à cama até que o
encerrassem na urna, como um voto eleitoral frio.
MARANHÃO, Haroldo. Memorial do fim: a morte de
Machado de Assis. São Paulo: Marco Zero, 1991.
 
O texto relata o momento em que, no leito de morte,
Machado de Assis recebe a visita do Barão do Rio Branco,
ministro de Estado. Criando a cena, o narrador obtém
expressividade ao
a) representar

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