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Realismo L0300 - (Unesp) Tal movimento deriva quase todos os seus critérios de probabilidade do empirismo das ciências naturais. Baseia seu conceito de verdade psicológica no princípio de causalidade, o desenvolvimento apropriado da trama na eliminação do acaso e dos milagres, sua descrição do ambiente na ideia de que todo e qualquer fenômeno natural tem lugar numa interminável cadeia de condições e mo�vos, sua u�lização de detalhes caracterís�cos no método de observação cien�fica – que não despreza circunstância alguma, por mais insignificante e trivial que seja. (Arnold Hauser. História social da arte e da literatura, 1994. Adaptado.) O texto refere-se ao movimento a) árcade. b) simbolista. c) realista. d) român�co. e) modernista. L0127 - (Professor Ferre�o) Língua Portuguesa Úl�ma flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro na�vo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela… Amo-te assim, desconhecida e obscura, Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! (Olavo Bilac) O poeta Olavo Bilac foi um dos maiores representantes da poesia parnasiana. O texto acima representa uma forma fixa muito u�lizada pelos escritores parnasianos, que é: a) uma ode b) uma elegia c) um haicai d) um soneto e) uma trova L0304 - (Unesp) Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a 1@professorferretto @prof_ferretto voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si�antes7 empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) 1esba�do: de tom pálido. 2a desoras: muito tarde. 3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4folha: periódico diário, jornal. 5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. 6pardieiro: prédio velho ou arruinado. 7si�ante: policial. Cons�tui exemplo de interação do cronista com o leitor o trecho a) “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos” (3º parágrafo). b) “As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando” (1º parágrafo). c) “Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi” (3º parágrafo). d) “as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea” (2º parágrafo). e) “O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas” (2º parágrafo). L0329 - (Unicamp) No conto “O espelho”, de Machado de Assis, o esboço de uma nova teoria sobre a dupla natureza da alma humana é apresentado por Jacobina. A personagem narra a situação em que se viu sozinha na casa da �a Marcolina. “As horas ba�am de século a século no velho relógio da sala, cuja pêndula, �c-tac, �c-tac, feria-me a alma interior como um piparote con�nuo da eternidade.” Considerando os indicadores da passagem do tempo na citação, é correto afirmar que a) o movimento oscilante do pêndulo do relógio expressa a duplicidade da alma interior. b) o som do velho relógio da sala materializa acus�camente a longevidade da alma interior. c) a sonoridade repe��va do pêndulo intensifica as aflições da alma interior. d) o con�nuo ba�mento das horas sugere o vigor da alma interior. L0342 - (Unicamp) No ano seguinte, o Ateneu revelou-se-me noutro aspecto. Conhecera-o interessante, com as seduções do que é novo, com as projeções obscuras de perspec�va, desafiando curiosidade e receio; conhecera-o insípido e banal como os mistérios resolvidos, caiado de tédio; conhecia-o agora intolerável como um cárcere, murado de desejos e privações. (Raul Pompeia, O Ateneu. 7ª. ed. São Paulo: Á�ca, 1980, p. 98.) Com base no excerto que inicia o capítulo VIII do romance de Raul Pompéia e no seu sub�tulo – crônica de saudades –, é correto afirmar que a obra é 2@professorferretto @prof_ferretto a) um relato, em primeira pessoa, de experiências cole�vas e ín�mas, no qual o protagonista mostra aspectos da realidade social, valorizando o sistema escolar e prisional. b) um romance de formação, no qual o protagonista revela condutas e intrigas no ambiente escolar, com elogios à pedagogia corre�va e aos valores morais da burguesia. c) uma narra�va memorialista de experiências vividas num internato, na qual o protagonista revela aspectos do sistema educacionalcom fidelidade os fatos históricos. b) caracterizar a situação com profundidade dramá�ca. c) explorar a sensibilidade dos personagens envolvidos. d) assumir a perspec�va irônica e o es�lo narra�vo do personagem. e) recorrer a metáforas su�s e comparações de sen�do filosófico. L0353 - (Enem PPL) A caolha A caolha era uma mulher magra, alta, macilenta, peito fundo, busto arqueado, braços compridos, delgados, largos nos cotovelos, grossos nos pulsos; mãos grandes, ossudas, estragadas pelo reuma�smo e pelo trabalho; unhas grossas, chatas e cinzentas, cabelo crespo, de uma cor indecisa entre o branco sujo e o louro grisalho, desse cabelo cujo contato parece dever ser áspero e espinhento; boca descaída, numa expressão de desprezo, pescoço longo, engelhado, como o pescoço dos urubus; dentes falhos e cariados. O seu aspecto infundia terror às crianças e repulsão aos adultos; não tanto pela sua altura e extraordinária magreza, mas porque a desgraçada �nha um defeito horrível: haviam-lhe extraído o olho esquerdo; a pálpebra descera mirrada, deixando, contudo, junto ao lacrimal, uma �stula con�nuamente porejante. Era essa pinta amarela sobre o fundo denegrido da olheira, era essa des�lação incessante de pus que a tomava repulsiva aos olhos de toda a gente. ALMEIDA, J. L. In: COSTA, F. M. (org.). Os melhores contos brasileiros de todos os tempos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. Que procedimento composicional o narrador u�liza para caracterizar a aparência da personagem? a) A descrição marcada por adje�vações deprecia�vas. b) A alternância dos tempos e modos verbais da narra�va. c) A adoção de um ponto de vista centrado no medo das crianças. d) A obje�vidade da correlação entre imperfeições �sicas e morais. e) A especificação da deformidade responsável pela feição assustadora. L0355 - (Enem PPL) O Bom-Crioulo Com efeito, Bom-Crioulo não era somente um homem robusto, uma dessas organizações privilegiadas que trazem no corpo a sobranceira resistência do bronze e que esmagam com o peso dos músculos. [...] A chibata não lhe fazia mossa; �nha costas de ferro para resis�r como um hércules ao pulso do guardião Agos�nho. Já nem se lembrava do número das vezes que apanhara de chibata... [...] Entretanto, já iam cinquenta chibatadas! Ninguém lhe ouvira um gemido, nem percebera uma contorção, um gesto qualquer de dor. Viam-se unicamente naquele costão negro as marcas do junco, umas sobre as outras, entrecruzando-se como uma grande teia de aranha, roxas e latejantes, cortando a pele em todos os sen�dos. [...] Marinheiros e oficiais, num silêncio concentrado, alongavam o olhar, cheios de interesse, a cada golpe. – Cento e cinquenta! Só então houve quem visse um ponto vermelho, uma gota rubra deslizar no espinhaço negro do marinheiro e logo este ponto vermelho se transformar numa fita de sangue. CAMINHA, A. O Bom-Crioulo. São Paulo: Mar�n CIaret, 2006. A prosa naturalista incorpora concepções geradas pelo cien�ficismo e pelo determinismo. No fragmento, a cena de tortura a Bom-Crioulo reproduz essas concepções, expressas pela, a) exaltação da resistência inata para legi�mar a exploração de uma etnia. b) defesa do estoicismo individual como forma de superação das adversidades. c) concepção do ser humano como uma espécie predadora e afeita à morbidez. d) observação detalhada do corpo para a iden�ficação de caracterís�cas de raça. e) apologia à superioridade dos organismos saudáveis para a sobrevivência da espécie. 18@professorferretto @prof_ferretto L0364 - (Enem PPL) – Não digo que seja uma mulher perdida, mas recebeu uma educação muito livre, saracoteia sozinha por toda a cidade e não tem podido, por conseguinte, escapar à implacável maledicência dos fluminenses. Demais, está habituada ao luxo, ao luxo da rua, que é o mais caro; em casa arranjam-se ela e a �a sabe Deus como. Não é mulher com quem a gente se case. Depois, lembra-te que apenas começas e não tens ainda onde cair morto. Enfim, és um homem: faze o que bem te parecer. Essas palavras, proferidas com uma franqueza por tantos mo�vos autorizada, calaram no ânimo do bacharel. In�mamente ele es�mava que o velho amigo de seu pai o dissuadisse de requestar a moça, não pelas consequências morais do casamento, mas pela obrigação, que este lhe impunha, de sa�sfazer uma dívida de vinte contos de réis, quando, apesar de todos os seus esforços, não conseguira até então pôr de parte nem o terço daquela quan�a. AZEVEDO, A. A dívida. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 ago. 2017. O texto, publicado no fim do século XIX, traz à tona representações sociais da sociedade brasileira da época. Em consonância com a esté�ca realista, traços da visão crí�ca do narrador manifestam-se na a) caracterização pejora�va do comportamento da mulher solteira. b) concepção irônica acerca dos valores morais inerentes à vida conjugal. c) contraposição entre a idealização do amor e as imposições do trabalho. d) expressão caricatural do casamento pelo viés do sen�mentalismo burguês. e) sobreposição da preocupação financeira em relação ao sen�mento amoroso. L0368 - (Enem PPL) A Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados, Por céus de ouro e púrpura raiados, Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se além da serrania Os vér�ces de chamas aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia. Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe nódoa avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua. A natureza apá�ca esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula... Anoitece. CORRÊA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 13 ago. 2017. Composição de formato fixo, o soneto tornou-se um modelo par�cularmente ajustado à poesia parnasiana. No poema de Raimundo Corrêa, remete(m) a essa esté�ca a) as metáforas inspiradas na visão da natureza. b) a ausência de emo�vidade pelo eu lírico. c) a retórica ornamental desvinculada da realidade. d) o uso da descrição como meio de expressividade. e) o vínculo a temas comuns à An�guidade Clássica. L0382 - (Enem PPL) Quanto às mulheres de vida alegre, detestava-as; �nha gasto muito dinheiro, precisava casar, mas casar com uma menina ingênua e pobre, porque é nas classes pobres que se encontra mais vergonha e menos bandalheira. Ora, Maria do Carmo parecia-lhe uma criatura simples, sem essa tendência fatal das mulheres modernas para o adultério, uma menina que até chorava na aula simplesmente por não ter respondido a uma pergunta do professor! Uma rapariga assim era um caso esporádico, uma verdadeira exceção no meio de uma sociedade roída por quanto vício há no mundo. Ia concluir o curso, e, quando voltasse ao Ceará, pensaria seriamente no caso. A Maria do Carmo estava mesmo a calhar: pobrezinha, mas inocente... CAMINHA, A. A normalista. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 16 maio 2016. Alinhado às concepções do Naturalismo, o fragmento do romance de Adolfo Caminha, de 1893, iden�fica e destaca nos personagens um(a) a) compleição moral condicionada ao poder aquisi�vo. b) temperamento inconstante incompa�vel com a vida conjugal. c) formação intelectual escassa relacionada a desvios de conduta. d) laço de dependência ao projeto de reeducação de inspiração posi�vista. e) sujeição a modelos representados por estra�ficações sociais e de gênero. L0390 - (Enem PPL) 19@professorferretto @prof_ferretto Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro não �ver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe me� algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a �nta da melancolia,e não é di�cil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da es�ma dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião. ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 ago. 2015. No fragmento transcrito da dedicatória “Ao leitor”, em Memórias póstumas de Brás Cubas, o autor serve-se da figura do narrador-defunto para a) desqualificar o gênero romance, forma literária à qual Machado de Assis pouco se dedicou. b) ressaltar a inverossimilhança dos fatos narrados, confrontados com a realidade da burguesia carioca do século XIX. c) cri�car a sociedade burguesa brasileira da época, valendo-se do uso da terceira pessoa e do ponto de vista distanciado. d) sobrepor a “�nta da melancolia” ao aspecto humorís�co, de modo a valorizar o tom sóbrio e a temá�ca realista �picos do romance burguês brasileiro. e) fazer intromissões na narra�va, introduzindo pausas no relato durante as quais estabelece com o leitor um diálogo de tom sarcás�co e provoca�vo. L0394 - (Enem PPL) O voluntário Quem não sabe o efeito produzido à beira do rio pela no�cia da declaração da guerra entre o Brasil e o Paraguai? Nas classes mais favorecidas da fortuna, nas cidades principalmente, o entusiasmo foi grande e duradouro. Mas entre o povo miúdo o medo do recrutamento para voluntário da Pátria foi tão intenso que muitos tapuios se meteram pelas matas e pelas cabeceiras dos rios, e ali viveram como animais bravios sujeitos a toda a espécie de privações. [...] Coisa terrível que era então o recrutamento! Esse meio violento de preencher os quadros do exército era ao tempo da guerra posto em prá�ca com barbaridade e �rania, indignas dum povo que pretende foros de civilizado. Suplícios tremendos eram infligidos aos que, fugindo a uma obrigação não compreendida, ousavam preferir a paz do trabalho e o sossego do lar à ventura de se deixarem cortar em postas na defesa das estâncias rio-grandenses e das aldeolas de Mato Grosso. SOUZA, I. Contos amazônicos. Jundiaí: Cadernos do Mundo Inteiro, 2018 (fragmento). Para descrever o modo como indígenas e ribeirinhos eram recrutados para lutarem como “voluntários da Pátria”, o texto de Inglês de Souza a) enfa�za a capacidade de resiliência dos tapuios. b) põe em evidência a brutalidade do alistamento compulsório. c) rela�viza a prevalência da disputa bélica sobre a natureza pacífica. d) cri�ca a incompreensão da população acerca das mo�vações do conflito. L0443 - (Enem PPL) O mulato Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramá�ca do Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de francês e tocava modinhas sen�mentais ao violão e ao piano. Não era estúpida; �nha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir. Uma só palavra boiava à super�cie dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias. – Mulato! Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as re�cências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em sua presença, discu�am questões de raça e de sangue. AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Á�ca, 1996 (fragmento). O texto de Aluísio Azevedo é representa�vo do Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois 20@professorferretto @prof_ferretto a) relaciona a posição social a padrões de comportamento e à condição de raça. b) apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no século XIX. c) mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de saberes entre homens e mulheres. d) ilustra os diferentes modos que um indivíduo �nha de ascender socialmente. e) cri�ca a educação oferecida às mulheres e os maus- tratos dispensados aos negros. L0403 - (Enem PPL) – Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é... filho de uma escrava. – Eu? – O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a verdade... Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio: – Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portugueses. AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008. Influenciada pelo ideário cien�ficista do Naturalismo, a obra destaca o modo como o mulato era visto pela sociedade de fins do século XIX. Nesse trecho, Manoel traduz uma concepção em que a a) miscigenação racial desqualificava o indivíduo. b) condição econômica anulada os conflitos raciais. c) discriminação racial era condenada pela sociedade. d) escravidão negava o direito da negra à maternidade. e) união entre mes�ços era um risco à hegemonia dos brancos. L0444 - (Unesp) Leia o capítulo CXVII [118] do romance Quincas Borba, de Machado de Assis. A história do casamento de Maria Benedita é curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la. Fique desde já admi�do que, se não fosse a epidemia das Alagoas, talvez não chegasse a haver casamento; donde se conclui que as catástrofes são úteis, e até necessárias. Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, — um triste molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela. — É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía neste mundo. — Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto? O padre que me contou isto certamente emendou o texto original; não é preciso estar embriagado para acender um charuto nas misérias alheias. Bom padre Chagas! — Chamava-se Chagas. — Padre mais que bom, que assim me incu�ste por muitos anos essa ideia consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o mal dos outros; não contando o respeito que aquele bêbado �nha ao princípio da propriedade, — a ponto de não acender o charuto sem pedir licença à dona das ruínas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas! Para o narrador, no texto original do “contozinho” relatado no capítulo, a) o homem não estava embriagado. b) a mulher não estava chorando. c) a mulher não era proprietária da choupana. d) a choupana não estava em chamas. e) o homem não fumava charuto. L0445 - (Unesp) Leia o capítulo CXVII [118] do romance Quincas Borba, de Machado de Assis. A história do casamento de Maria Benedita é curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la. Fique desde já admi�do que, se não fosse a epidemia das Alagoas, talvez não chegasse a haver casamento; donde se conclui que as catástrofes são úteis, e até necessárias. Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, — um triste molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela. — É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía neste mundo. — Dá-me então licença que acendaali o meu charuto? O padre que me contou isto certamente emendou o texto original; não é preciso estar embriagado para acender um charuto nas misérias alheias. Bom padre 21@professorferretto @prof_ferretto Chagas! — Chamava-se Chagas. — Padre mais que bom, que assim me incu�ste por muitos anos essa ideia consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o mal dos outros; não contando o respeito que aquele bêbado �nha ao princípio da propriedade, — a ponto de não acender o charuto sem pedir licença à dona das ruínas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas! No capítulo, o es�lo adotado pelo narrador caracteriza-se como a) sen�mental e utópico. b) hiperbólico e dramá�co. c) digressivo e irônico. d) impessoal e obje�vo. e) subje�vo e moralizante. L0446 - (Unesp) No trecho “Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes dou em duas linhas.” (1º parágrafo), a inclusão do leitor na narra�va pode ser constatada pelo termo a) “basta”. b) “ouvi”. c) “aqui”. d) “lhes”. e) “dou”. L0447 - (Unesp) “A história do casamento de Maria Benedita é curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la.” (1º parágrafo). No contexto em que se insere, a oração sublinhada expressa ideia de a) finalidade. b) consequência. c) condição. d) concessão. e) conclusão. L0474 - (Unesp) Examine os gráficos. As dinâmicas climá�cas representadas nos gráficos 1 e 2 correspondem, respec�vamente, aos espaços retratados em a) Capitães da Areia, de Jorge Amado, e O cor�ço, de Aluísio Azevedo. b) Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Capitães da Areia, de Jorge Amado. c) Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. d) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e O cor�ço, de Aluísio Azevedo. e) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e Vidas secas, de Graciliano Ramos. L0479 - (Unesp) Tal movimento dis�ngue-se pela atenuação do sen�mentalismo e da melancolia, a ausência quase completa de interesse polí�co no contexto da obra (embora não na conduta) e (como os modelos franceses) pelo cuidado da escrita, aspirando a uma expressão de �po plás�co. O mito da pureza da língua, do cas�cismo 22@professorferretto @prof_ferretto vernacular abonado pela autoridade dos autores clássicos, empolgou toda essa fase da cultura brasileira e foi um critério de excelência. É possível mesmo perguntar se a visão luxuosa dos autores desse movimento não representava para as classes dominantes uma espécie de correla�vo da prosperidade material e, para o comum dos leitores, uma miragem compensadora que dava conforto. (Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.) O texto refere-se ao movimento denominado a) Roman�smo. b) Barroco. c) Parnasianismo. d) Arcadismo. e) Realismo. L0519 - (Unesp) Os parnasianos brasileiros se dis�nguem dos român�cos pela atenuação da subje�vidade e do sen�mentalismo, pela ausência quase completa de interesse polí�co no contexto da obra e pelo cuidado da escrita, aspirando a uma expressão de �po plás�co. (Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.) A referida “atenuação da subje�vidade e do sen�mentalismo” está bem exemplificada na seguinte estrofe do poeta parnasiano Alberto de Oliveira (1859- 1937): a) Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente. b) Erguido em negro mármor luzidio, Portas fechadas, num mistério enorme, Numa terra de reis, mudo e sombrio, Sono de lendas um palácio dorme. c) Eu vi-a e minha alma antes de vê-la Sonhara-a linda como agora a vi; Nos puros olhos e na face bela, Dos meus sonhos a virgem conheci. d) Longe da pátria, sob um céu diverso Onde o sol como aqui tanto não arde, Chorei saudades do meu lar querido – Ave sem ninho que suspira à tarde. – e) Eu morro qual nas mãos da cozinheira O marreco piando na agonia… Como o cisne de outrora… que gemendo Entre os hinos de amor se enternecia. L0522 - (Unesp) Desde já a ciência entra, portanto, no nosso domínio de romancistas, nós que somos agora analistas do homem, em sua ação individual e social. Con�nuamos, pelas nossas observações e experiências, o trabalho do fisiólogo que con�nuou o do �sico e o do químico. Pra�camos, de certa forma, a Psicologia cien�fica, para completar a Fisiologia cien�fica; e, para acabar a evolução, temos tão somente que trazer para nossos estudos sobre a natureza e o homem o instrumento decisivo do método experimental. Em uma palavra, devemos trabalhar com os caracteres, as paixões, os fatos humanos e sociais, como o químico e o �sico trabalham com os corpos brutos, como o fisiólogo trabalha com os corpos vivos. O determinismo domina tudo. É a inves�gação cien�fica, é o raciocínio experimental que combate, uma por uma, as hipóteses dos idealistas, e subs�tui os romances de pura imaginação pelos romances de observação e de experimentação. Émile Zola. O romance experimental, 1982. Adaptado. Depreendem-se do comentário do escritor francês Zola preceitos que orientam a corrente literária a) simbolista. b) árcade. c) naturalista. d) român�ca. e) barroca. L0568 - (Unicamp) Na úl�ma crônica da série “Bons dias!”, de 29 de agosto de 1889, série na qual um tema são as questões gerais em torno do curandeirismo, o narrador enuncia: “Hão de fazer-me esta jus�ça, ainda os meus mais ferrenhos inimigos; é que não sou curandeiro, eu não tenho parente curandeiro, não conheço curandeiro, e nunca vi cara, fotografia ou relíquia, sequer, de curandeiro. Quando adoeço, não é de espinhela caída*, — coisa que podia aconselhar-me a curanderia; é sempre de molés�as la�nas ou gregas. Estou na regra; pago impostos, sou jurado, não me podem arguer a menor quebra de dever público.” (ASSIS, Machado de. Bons dias! Campinas: Editora da UNICAMP, p. 295, 2008.) *espinhela caída: designação popular para doenças caracterizadas por dores pelo corpo (peito, costas e pernas), além de cansaço �sico. Na “profissão de fé”, feita pelo narrador da crônica no parágrafo citado, percebe-se 23@professorferretto @prof_ferretto a) a dis�nção do narrador como uma figura avessa ao curandeirismo, por crença na ciência dos filósofos e pensadores gregos e la�nos, o que marca o tom crí�co da série. b) a caracterização do narrador como uma figura superior à população em geral, o que ecoa o tom analí�co das crônicas dessa série. c) a repe�ção exagerada da palavra “curandeiro” (e “curanderia”) no trecho, como marca es�lís�ca da simplicidade linguís�ca das crônicas dessa série. d) a personificação gerada por “quando adoeço (...) é sempre de molés�as la�nas ou gregas”, como marca do es�lo empolado do narrador nessa série de crônicas. L0572 - (Unicamp) “Ciclo Manhã. Sangue em delírio, verde gomo, Promessa ardente, berço e liminar: A árvore pulsa, no primeiro assomo Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar! Dia. A flor, — o noivado e o beijo, como Em perfumes um tálamo e um altar: A árvore abre-se em riso, espera o pomo, E canta à voz dos pássaros... Amar! Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo; A árvore maternal levanta o fruto, A hós�a da ideia em perfeição... Pensar! Noite. Oh! saudade!...A dolorosa rama Da árvore a aflita pelo chão derrama As folhas, como lágrimas... Lembrar!” (BILAC, Olavo. Tarde. 1.ed. Rio de Janeiro; São Paulo; Belo Horizonte: Libraria Francisco Alves, p. 12-13, 1919.) Tálamo: leito Messe: colheita No soneto “Ciclo”, a) a reiteração de um mesmo �po de frase no final de cada estrofe acentua o idealismo e a rememoração. b) a metáfora da árvore faz uso de um vocabulário botânico, que evoca o cien�ficismo da época. c) as frases nominais do início das estrofes contradizem os sen�dos de cada estrofe anterior. d) o paralelismo estrutural entre as estrofes de “Ciclo” evoca o desgaste dos recursos do poeta. L0564 - (Unicamp) No início da novela Casa Velha, de Machado de Assis,o cônego da Capela Imperial, um personagem da história, assumindo a voz narra�va dela, conta a seus interlocutores: “– Não desejo ao meu maior inimigo o que me aconteceu no mês de abril de 1839.” (MACHADO DE ASSIS. Casa Velha. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986, p. 11.) De acordo com o texto, o acontecimento desagradável que vi�mou o religioso faz com que ele possa ser considerado, ao final da narra�va, como a) um boêmio que se sente entediado na presença dos convivas da Casa Velha: “Disseram-me que era amiga da família, e se chamava Mafalda. (...) Creio que disseram ainda outras coisas; mas não me interessando nada, nem a conversação, nem a hóspeda, (...) deixei-me estar comigo” (p. 29-30). b) um an�escravista, obrigado a conviver, na mesma casa grande, com senhores, agregados e escravos: “Lalau (...) com as mãos no ombro do moleque, ora fitava os olhos na carapinha deste, ouvindo somente as palavras de Félix; ora erguia--os para o moço (...)” (p. 67). c) um republicano que suporta um velho Coronel de posições conservadoras: “Reverendíssimo, (...) os farrapos invadiram Santa Catarina, entraram na Laguna, e os legais fugiram. Eu, se fosse o governo, mandava fuzilar a todos estes para escarmento...” (p. 89). d) um ingênuo que se deixa iludir em suas relações pessoais: “nem por sombras me acudiu que a revelação de Dona Antônia podia não ser verdadeira (...) Não adver� sequer na minha cumplicidade. Em verdade, eu é que proferira as palavras que ela trazia na mente (...)” (p. 89). L0566 - (Unicamp) Em 1921, Mário de Andrade, escrevendo a série de ar�gos “Mestres do passado”, publicados no Jornal do Comércio (edição de São Paulo), observou: “Tarde [de Olavo Bilac] foi uma promessa de anos seguidos. Tais são, tão salientes os ar��cios e tão repe�dos que muito bem provam o esforço do poeta decaído da poesia e a sua parca inspiração (...).” (ANDRADE, M. Mestres do passado – Olavo Bilac. In: BRITO, M.S. História do modernismo brasileiro. Antecedentes da Semana de Arte Moderna. 5.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 288-289, 1978.) 24@professorferretto @prof_ferretto Relacione, ao poema a seguir, o trecho da crí�ca anterior, assinalando a alterna�va que coincide com a ideia geral de Mário sobre a obra de Bilac. As estrelas Olavo Bilac Desenrola-se a sombra no regaço Da morna tarde, no esmaiado anil; Dorme, no ofego do calor febril, A natureza, mole de cansaço. Vagarosas estrelas! passo a passo, O aprisco desertando, às mil e às mil, Vindes do ignoto seio do redil Num compacto rebanho, e encheis o espaço... E, enquanto, lentas, sobre a paz terrena, Vos tresmalhais tremulamente a flux, – Uma divina música serena Desce rolando pela vossa luz: Cuida-se ouvir, ovelhas de ouro: a avena Do invisível pastor que vos conduz... (BILAC, Olavo. Tarde. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, p. 42-43, 1919.) Esmaiado: esmaecido, pálido Aprisco: curral Redil: curral para o gado ovino ou caprino; rebanho de ovelhas Tresmalhar: Afastar-se, perder-se do rebanho Flux: fluxo Avena: flauta pastoril a) O crí�co lamenta o espaçamento da criação poé�ca de Bilac, o que se expressa no poema pela imagem das estrelas que se afastam umas das outras. b) O crí�co elogia os salientes ar��cios da linguagem poé�ca de Tarde, o que se pode perceber, por exemplo, pela variedade de sinônimos para a palavra “curral”. c) O crí�co evoca, como resultado da pouca inspiração ar�s�ca do poeta, a sobrecarga de inves�mento formal (os hipérbatos ou inversões, por exemplo). d) O crí�co associa a poesia de Bilac ao es�lo decaden�sta, o que é reforçado pelas imagens de esgotamento, como se vê nas palavras “morna”, “esmaiado”, “ofego”, “mole”, “lentas”. L0570 - (Unicamp) Leia as duas citações a seguir, extraídas do início e do final de O Ateneu: “Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam. Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação dos desejos que variam, das aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base fantás�ca de esperanças, a atualidade é uma (...)”. “Aqui suspendo a crônica das saudades. Saudades verdadeiramente? Puras recordações, saudades talvez, se ponderarmos que o tempo é a ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo — o funeral para sempre das horas.” Com base nessas duas citações, é possível afirmar que, ao fim da narra�va de Sérgio sobre sua vida no colégio, o narrador a) idealiza a felicidade experimentada na infância, suas aspirações, seu ardor e suas esperanças. b) considera que a felicidade passada não era maior que a do presente, pois os tempos são iguais. c) duvida da própria saudade, separando as lembranças rela�vas ao passado daquele sen�mento associado a elas. d) denuncia a hipocrisia da saudade que sente, por saber que a passagem do tempo é incerta. L0603 - (Enem) Cap. XLVIII / Terpsícore Ao contrário do que ficou dito atrás, Flora não se aborreceu na ilha. Conjeturei mal, emendo-me a tempo. Podia aborrecer-se pelas razões que lá ficam, e ainda outras que poupei ao leitor apressado; mas, em verdade, passou bem a noite. A novidade da festa, a vizinhança do mar, os navios perdidos na sombra, a cidade defronte com os seus lampiões de gás, embaixo e em cima, na praia e nos outeiros, eis aí aspectos novos que a encantaram durante aquelas horas rápidas. Não lhe faltavam pares, nem conversação, nem alegria alheia e própria. Toda ela compar�a da felicidade dos outros. Via, ouvia, sorria, esquecia-se do resto para se meter consigo. Também invejava a princesa imperial, que viria a ser imperatriz um dia, com o absoluto poder de despedir ministros e damas, visitas e requerentes, e ficar só, no mais recôndito do paço, fartando-se de 25@professorferretto @prof_ferretto contemplação ou de música. Era assim que Flora definia o o�cio de governar. Tais ideias passavam e tornavam. De uma vez alguém lhe disse, como para lhe dar força: “Toda alma livre é imperatriz!”. ASSIS, M. Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1974 Convidada para o úl�mo baile do Império, na Ilha Fiscal, localizada no Rio de Janeiro, Flora devaneia sobre aspectos daquele contexto, no qual o narrador ironiza a a) promessa de esperança com o futuro regime. b) alienação da elite em relação ao fim da monarquia. c) perspec�va da contemplação distanciada da capital. d) animosidade entre população e membros da nobreza. e) fantasia de amor e de casamento da mulher burguesa. L0606 - (Enem) Até ali que sabia das misérias do mundo? Nada. Aquela noite do Castelo, tão simples, tão monótona, fora uma revelação! Era bem certo que a lágrima exis�a, que irrompiam soluços de peitos oprimidos, que para alguém os dias não �nham cor nem a noite �nha estrelas! Ela, criada entre beijos, no aroma dos seus jardins, com as vontades sa�sfeitas, o leito fofo, a mesa delicada, sen�ra sempre no coração um desejo sem nome, um desejo ou uma saudade absurda, a saudade do céu, como dizia o dr. Gervásio, e que não era mais que a doida aspiração da ar�sta incipiente, que germinava no seu peito fraco. E aquela mesma mágoa parecia-lhe agora doce e embaladora, comparando-se à outra, a Sancha, da sua idade, negra, feia, suja, levada a pontapés, dormindo sem lençóis em uma esteira, comendo em pé, apressada, os restos parcos e frios de duas velhas, ves�da de algodões rotos, curvada para um trabalho sem descanso nem paga! Por quê? Que direito teriam uns a todas as primícias e regalos da vida, se havia outros que nem por uma nesga viam a felicidade? ALMEIDA, J. L. A falência. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 28 dez. 2023. Nesse fragmento do romance de Júlia Lopes de Almeida, escrito no cenário brasileiro pós-abolição,a narradora exprime um olhar crí�co sobre a a) desvalorização da arte produzida por mulheres. b) mudança das condições de moradia do povo negro. c) ruptura do projeto polí�co de emancipação feminina. d) exploração da força de trabalho da população negra. e) disputa de poder entre brancos e negros no século XIX. L0608 - (Fuvest) CAPÍTULO LXXI O senão do livro Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o es�lo regular e fluente, e este livro e o meu es�lo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu �vesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair. CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995. No contexto, a locução “Heis de cair”, na úl�ma linha do texto, exprime: a) resignação ante um fato presente. b) suposição de que um fato pode vir a ocorrer. c) certeza de que uma dada ação irá se realizar. d) ação intermitente e duradoura. e) desejo de que algo venha a acontecer. L0609 - (Fuvest) CAPÍTULO LXXI O senão do livro Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o es�lo regular e fluente, e este livro e o meu es�lo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu �vesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair. 26@professorferretto @prof_ferretto CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995. Um leitor que �vesse as mesmas inclinações que as atribuídas, pelo narrador, ao leitor das Memórias póstumas de Brás Cubas teria maior probabilidade de impacientar-se, também, com a leitura da obra a) Memórias de um sargento de milícias. b) Viagens na minha terra. c) O cor�ço. d) A cidade e as serras. e) Capitães da areia. L0610 - (Fuvest) CAPÍTULO LXXI O senão do livro Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o es�lo regular e fluente, e este livro e o meu es�lo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu �vesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair. CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995. Nas primeiras versões das Memórias póstumas de Brás Cubas, constava, no final do capítulo LXXI, aqui reproduzido, o seguinte trecho, posteriormente suprimido pelo autor: [... Heis de cair.] Turvo é o ar que respirais, amadas folhas. O sol que vos alumia, com ser de toda a gente, é um sol opaco e reles, de ........................ e ........................ . As duas palavras que aparecem no final desse trecho, no lugar dos espaços pon�lhados, podem servir para qualificar, de modo figurado, a mescla de tonalidades es�lís�cas que caracteriza o capítulo e o próprio livro. Preenchem de modo mais adequado as lacunas as palavras a) ocaso e invernia. b) Finados e ritual. c) senzala e cabaré. d) cemitério e carnaval. e) eclipse e cerração. 27@professorferretto @prof_ferrettoda época, com crí�cas à hipocrisia burguesa. d) um relato saudosista de experiências vividas no internato, no qual o protagonista mostra o poder de sedução e corrupção das amizades, com crí�cas à falsidade da burguesia. L0118 - (Famerp) Leia o trecho do romance O cor�ço, de Aluísio Azevedo, para responder à questão a seguir. Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e socada, de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre suas vizinhas. Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e fei�çarias. Era extremamente feia, grossa, triste, com olhos desvairados, dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos, escorridos e ainda re�ntos apesar da idade. Chamavam- lhe “Bruxa”. Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda. A primeira, mulata an�ga, muito séria e asseada em exagero: a sua casa estava sempre úmida das consecu�vas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha �nha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a troco de pequenas concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia diariamente à venda. O cor�ço, 2007. Uma relação correta entre o trecho apresentado e o movimento literário em que O cor�ço está inserido é: a) a referência cuidadosa e delicada à sexualidade dos personagens é parte de um esforço, �pico do Realismo, para apresentar o ser humano em sua totalidade sem sobrecarregar um de seus aspectos. b) a caracterização dos personagens como indivíduos únicos e isolados da cole�vidade, deixando em segundo plano suas relações sociais, é um traço �pico do Naturalismo. c) a preferência dos personagens pela razão e seu desprezo pela fé, em uma estratégia para valorizar a ciência e a obje�vidade e desvalorizar a religião, são caracterís�cas do Realismo. d) a valorização da vida perto da natureza, com personagens que abrem mão dos métodos e dos objetos frutos da tecnologia para se ligarem à tranquilidade de uma vida sem máquinas, é uma caracterís�ca do Naturalismo. e) a descrição das caracterís�cas vulgares dos personagens e a frequente associação entre homens e animais, que ajudam a estabelecer uma concepção biológica do mundo, são caracterís�cas do Naturalismo. L0285 - (Fuvest) Leia os seguintes textos de Machado de Assis: I. Suave mari magno* Lembra-me que, em certo dia, Na rua, ao sol de verão, Envenenado morria Um pobre cão. Arfava, espumava e ria, De um riso espúrio e bufão, Ventre e pernas sacudia Na convulsão. Nenhum, nenhum curioso Passava, sem se deter, Silencioso, Junto ao cão que ia morrer, Como se lhe desse gozo Ver padecer. Machado de Assis. Ocidentais. * Expressão la�na, re�rada de Lucrécio (Da natureza das coisas), a qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari magno, turban�bus aequora ven�s/ E terra magnum alterius spectare laborem. (“É agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da terra os grandes esforços de um outro.”). 3@professorferretto @prof_ferretto II. Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão. Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII. III. Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé do leito o marido: – Que foi? perguntou ele. – Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei? (...) – Sonhei que estavam matando você. Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele, ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma piedade gostosa, um sen�mento par�cular, ín�mo, profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para que o assassinassem aos olhos dela, e para que ela gritasse angus�ada, convulsa, cheia de dor e de pavor. Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI. A analogia consiste em um recurso de expressão comumente u�lizado para ilustrar um raciocínio por meio da semelhança que se observa entre dois fatos ou ideias. No texto II, a analogia construída a par�r da imagem do chicote pretende sugerir que a) o instrumento do cas�go nem sempre cai em mãos justas. b) o apreço aos objetos independe do uso que se faz deles. c) o cabo é metáfora de mérito, e a ponta, metáfora de culpa. d) o mais fraco, por ser compassivo, é incapaz de desfrutar do poder. e) o prazer verdadeiro se experimenta no lado dos dominantes. L0344 - (Unicamp) As Ondas Olavo Bilac Entre as trêmulas mornas arden�as, A noite no alto-mar anima as ondas. Sobem das fundas úmidas Golcondas, Pérolas vivas, as nereidas frias: Entrelaçam-se, correm fugidias, Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas, Vestem as formas alvas e redondas De algas roxas e glaucas pedrarias. Coxas de vago ônix, ventres polidos De alabastro, quadris de argêntea espuma, Seios de dúbia opala ardem na treva; E bocas verdes, cheias de gemidos, Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma, Soluçam beijos vãos que o vento leva... Arden�a: s.f. fosforescência sobre as ondas do mar, à noite. Golconda: s. f. (fig.) mina de riquezas. Nereida: s.f. cada uma das ninfas do mar, filhas de Nereu. Em relação ao soneto de Olavo Bilac (no contexto de sua época), é correto afirmar que a seleção lexical favorece a a) descrição obje�va que o eu lírico faz da fantasia amorosa recorrendo à riqueza mineral dos oceanos. b) representação esté�ca que o eu lírico faz do desejo amoroso associado a fenômenos naturais. c) descrição cien�fica que o eu lírico faz do corpo feminino recorrendo a fenômenos da natureza. d) representação natural que o eu lírico faz do jogo de sensualidade associado à mitologia grega. L0126 - (Enem) Mal secreto Se a cólera que espuma, a dor que mora N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse, o espírito que chora, Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse! Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa! (CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995.) Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temá�ca, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que 4@professorferretto @prof_ferretto a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada. b) o sofrimento ín�mo torna-se mais ameno quando compar�lhado por um grupo social. c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sen�mento de inveja. d) o ins�nto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo. e) a transfiguração da angús�a em alegria é um ar��cio nocivo ao convívio social. L0319 - (Unicamp) Durante dois anos o cor�ço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa (...). À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fa�gado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo,quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito. (Aluísio de Azevedo, O cor�ço. 14. ed. São Paulo: Á�ca, 1983, p. 22.) Levando em conta o excerto, bem como o texto integral do romance, é correto afirmar que a) o grosseiro rumor, a sexualidade desregrada e a exalação forte que provinham do cor�ço decorriam, segundo Miranda, do abandono daquela população pelo governo. b) os termos “grosseiro rumor”, “animais”, “bestas no coito”, que fazem referência aos moradores do cor�ço, funcionam como metáforas da vida pulsante dos seus habitantes. c) o nivelamento sociológico na obra O Cor�ço se dá não somente entre os moradores da habitação cole�va e o seu senhorio, mas também entre eles e o vizinho Miranda. d) a presença portuguesa, exemplificada nas personagens João Romão e Miranda, não é relevante para o desenvolvimento da narra�va nem para a compreensão do sen�do da obra. L0305 - (Unesp) Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, 5@professorferretto @prof_ferretto tentando apagar as velas acesas que os si�antes7 empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) 1esba�do: de tom pálido. 2a desoras: muito tarde. 3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4folha: periódico diário, jornal. 5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. 6pardieiro: prédio velho ou arruinado. 7si�ante: policial. Em “Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos” (5º parágrafo), o termo sublinhado está empregado na mesma acepção do termo sublinhado em a) “ela correu um risco desnecessário”. b) “a no�cia corria por toda a cidade”. c) “a manhã corria especialmente tranquila”. d) “segundo corria, ela seria facilmente eleita”. e) “um arrepio correu-lhe pela espinha”. L0117 - (Acafe) “Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se voltavam para o exame e para a crí�ca da realidade, o Parnasianismo representou na poesia um retorno ao clássico, com todos os seus ingredientes: o princípio do belo na arte, a busca do equilíbrio e da perfeição formal. Os parnasianos acreditavam que o sen�do maior da arte reside nela mesma, em sua perfeição, e não na sua relação com o mundo exterior.” CEREJA; MAGALHÃES, 1999, p. 334. Sobre o Parnasianismo, assinale a alterna�va correta. a) Os maiores expoentes do Parnasianismo, na poesia e na prosa, ocuparam-se da literatura indianista, na qual exaltavam a dignidade do na�vo e a beleza superior da paisagem tropical. b) Um exemplo de poesia parnasiana é a obra Suspiros poé�cos e saudade, de Gonçalves de Magalhães, na qual o poeta anuncia a revolução literária, libertando- se dos modelos român�cos, considerados ultrapassados. c) Os parnasianos consideravam que certos princípios român�cos, como a simplicidade da linguagem, valorização da paisagem nacional, emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiros, sen�mentalismo, tudo isso ocultava as verdadeiras qualidades da poesia. d) Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa exemplificam a tendência de uma poesia pura, indiferente às con�ngências históricas, com sá�ra à mes�çagem e elogio à nobreza local. L0120 - (Enem) Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que �nham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, �nha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste par�cular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim �nha sen�mentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o bene�cio não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe �rar o retrato a óleo. ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias póstumasde Brás Cubas condensa uma expressividade que caracterizaria o es�lo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu 6@professorferretto @prof_ferretto cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injus�çado na divisão da herança paterna. b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade, com que Cotrim prendia e torturava os escravos. c) considerar os “sen�mentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara. d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades. e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo. L0275 - (Fuvest) E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, – coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando quer amar. Se esta úl�ma reflexão é o mo�vo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados. Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia chamou-lhe “o anjo da consolação”. 1E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mor�ficar as novas amigas, e fazer-lhe perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se explica o ar�go que a mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, par�cularizando e glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”. Machado de Assis, Quincas Borba. Considerando o contexto, o trecho “E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse” (ref. 1) pode ser reescrito, sem prejuízo de sen�do, da seguinte maneira: E não se pense que este nome a alegrou, a) apesar de lisonjeá-la. b) antes a lisonjeou. c) porque a lisonjeava. d) a fim de lisonjeá-la. e) tanto quanto a lisonjeava. L0125 - (Espcex) Os parnasianos acreditavam que, apoiando-se nos modelos clássicos, estariam combatendo os exageros de emoção e fantasia do Roman�smo e, ao mesmo tempo, garan�ndo o equilíbrio que almejavam. Propunham uma poesia obje�va, de elevado nível vocabular, racionalista, bem-acabada do ponto de vista formal e voltada para temas universais. Esse racionalismo, que enfrentava os “exageros de emoção” e fixava-se no formalismo, fica bem claro na seguinte estrofe parnasiana de Olavo Bilac: a) E eu vos direi: “Amai para entendê-las!/Pois só quem ama pode ter ouvido/Capaz de ouvir e de entender estrelas.” b) Não me basta saber que sou amado,/Nem só desejo o teu amor: desejo/Ter nos braços teu corpo delicado,/Ter na boca a doçura de teu beijo. c) Pois sabei que é por isso que assim ando:/Que é dos loucos somente e dos amantes/Na maior alegria andar chorando. d) Mas que na forma se disfarce o emprego/Do esforço; e a trama viva se construa/De tal modo, que a imagem fique nua,/Rica, mas sóbria, como um templo grego. e) Esta melancolia sem remédio,/Saudade sem razão, louca esperança/Ardendo em choros e findando em tédio. L0306 - (Unesp) Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a 7@professorferretto @prof_ferretto voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si�antes7 empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) 1esba�do: de tom pálido. 2a desoras: muito tarde. 3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4folha: periódico diário, jornal. 5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. 6pardieiro: prédio velho ou arruinado. 7si�ante: policial. “Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras, uma avantesma...” (2º parágrafo) Nesse trecho, o cronista acaba por desconstruir a oposição entre a) razão e século de luzes. b) razão e crendice. c) razão e descrença. d) Iluminismo e Liberalismo. e) Iluminismo e Revolução Francesa. L0122 - (Unifesp) Considere o trecho de O Cor�ço, de Aluísio Azevedo. Uma aluvião de cenas, que ela [Pombinha] jamais tentara explicar e que até ali jaziam esquecidas nos meandros do seu passado, apresentavam-se agora ní�das e transparentes. Compreendeu como era que certos velhos respeitáveis, cuja fotografia Léonie lhe mostrou no dia que passaram juntas, deixavam-se vilmente cavalgar pela loureira, ca�vos e submissos, pagando a escravidãocom a honra, os bens, e até com a própria vida, se a pros�tuta, depois de os ter esgotado, fechava-lhes o corpo. E con�nuou a sorrir, desvanecida na sua superioridade sobre esse outro sexo, vaidoso e fanfarrão, que se julgava senhor e que, no entanto, fora posto no mundo simplesmente para servir ao feminino; escravo ridículo que, para gozar um pouco, precisava �rar da sua mesma ilusão a substância do seu gozo; ao passo que a mulher, a senhora, a dona dele, ia tranquilamente desfrutando o seu império, endeusada e querida, prodigalizando mar�rios, que os miseráveis aceitavam contritos, a beijar os pés que os deprimiam e as implacáveis mãos que os estrangulavam. — Ah! homens! homens! ... sussurrou ela de envolta com um suspiro. No texto, os pensamentos da personagem 8@professorferretto @prof_ferretto a) recuperam o princípio da prosa naturalista, que condena os assuntos repulsivos e bes�ais, sem amparo nas teorias cien�ficas, ligados ao homem que põe em primeiro plano seus ins�ntos animalescos. b) elucidam o princípio do determinismo presente na prosa naturalista, revelando os homens e as mulheres conscientes dos seus ins�ntos em função do meio em que vivem e, sobretudo, capazes de controlá-los. c) trazem uma crí�ca aos aspectos animalescos próprios do homem, mas, por outro lado, revelam uma forma de Pombinha submeter a muitos deles para obter vantagens: eis aí um princípio do Realismo rechaçado no Naturalismo. d) constroem uma visão de mundo e do homem idealizada, o que, em certa medida, afronta o referencial em que se baseia a prosa naturalista, que define o homem como fruto do meio, marcado pelo apelo dos seus sen�dos. e) consubstanciam a concepção naturalista de que o homem é um animal, preso aos ins�ntos e, no que dizem respeito à sexualidade, vê-se que Pombinha considera a mulher superior ao homem, e esse conhecimento é uma forma de se obterem vantagens. L0335 - (Unicamp) “– Reputação! Ora, mamãe, e é a senhora quem me fala nisso! Camila estacou, sem a�nar com a resposta, compreendendo o alcance das palavras do filho. A surpresa paralisou-lhe a língua; o sangue arrefeceu-se- lhe nas veias; mas, de repente, a reação sacudiu-a e então, num desa�no, ferida no coração, ela achou para o Mário admoestações mais ásperas. Percebeu que a língua mais dizia que a sua vontade; mas não poderia contê-la. A dor a�rava-a para diante, contra aquele filho, até então poupado.” (Júlia Lopes de Almeida, A falência. Campinas: Editora da Unicamp, 2018, p. 123.) A passagem apresenta a reação de Camila às palavras de seu filho. Assinale a alterna�va que explica corretamente o comentário de Mário. a) Mário contrapõe-se à censura materna com sen�mento de compaixão. b) Mário rejeita as reservas maternas com censura moral. c) Mário contrapõe-se à censura materna com desdém pela família. d) Mário rejeita as reservas maternas com vergonha pelas dívidas acumuladas. L0255 - (Fuvest) O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, 1mas um só ruído compacto que enchia todo o cor�ço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se* discussões e rezingas**; 2ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sen�a-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, 3o prazer animal de exis�r, a triunfante sa�sfação de respirar sobre a terra. Da porta da venda que dava para o cor�ço iam e vinham como formigas; fazendo compras. Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a Isaura, que se dispunha a começar a limpeza da casa. – Nhá Dunga! 4gritou ela para baixo, a sacudir um pano de mesa; se você tem cuscuz de milho hoje, 5bata na porta, ouviu? Aluísio Azevedo, O cor�ço. * ensarilhar-se: emaranhar-se. ** rezinga: resmungo. Uma caracterís�ca do Naturalismo presente no texto é: a) forte apelo aos sen�dos. b) idealização do espaço. c) exaltação da natureza. d) realce de aspectos raciais. e) ênfase nas individualidades. L0121 - (Insper) Texto I (...) No lampejo de seus grandes olhos pardos brilhavam irradiações da inteligência. (...) O princípio vital da mulher abandonava seu foco natural, o coração, para concentrar- se no cérebro, onde residem as faculdades especula�vas do homem. (...) Era realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a um tutor, a perspicácia com que essa moça de dezoito anos apreciava as questões mais complicadas; o perfeito conhecimento que mostrava dos negócios, a facilidade com que fazia, muitas vezes de memória, qualquer operação aritmé�ca por muito di�cil e intrincada que fosse. Não havia porém em Aurélia nem sombra do ridículo pedan�smo de certas moças, que tendo colhido em leituras superficiais algumas noções vagas, se metem a tagarelar de tudo. (ALENCAR, José de. Senhora. SP: Editora Á�ca, 1980.) Texto II 9@professorferretto @prof_ferretto Aquela pobre flor de cor�ço, escapando à estupidez do meio em que desabotoou, �nha de ser fatalmente ví�ma da própria inteligência. À míngua de educação, seu espírito trabalhou à revelia, e atraiçoou-a, obrigando-a a �rar da substância caprichosa da sua fantasia de moça ignorante e viva a explicação de tudo que lhe não ensinaram a ver e sen�r. (...) Pombinha, só com três meses de cama franca, fizera-se tão perita no o�cio como a outra; a sua infeliz inteligência nascida e criada no modesto lodo da estalagem, medrou admiravelmente na lama forte dos vícios de largo fôlego; fez maravilhas na arte; parecia adivinhar todos os segredos daquela vida; seus lábios não tocavam em ninguém sem �rar sangue; sabia beber, gota a gota, pela boca do homem mais avarento, todo dinheiro que a ví�ma pudesse dar de si. (AZEVEDO, Aluísio. O cor�ço. SP: Editora Á�ca, 1997.) Considerando as descrições presentes nos fragmentos transcritos, é correto afirmar que a) o texto I filia-se ao Roman�smo, uma vez que nele a heroína é reflexo, em grande medida, das circunstâncias do ambiente em que se criou. b) o texto I filia-se ao Roman�smo, já que nele a figura feminina é descrita sob o prisma da idealização. c) o texto I filia-se ao Naturalismo, pois as habilidades da personagem são naturais no meio em que vive. d) o texto II filia-se ao Realismo, já que a figura feminina é descrita de forma fiel à realidade do período histórico em que está inserida. e) o texto II filia-se ao Naturalismo, pois nele a personagem cons�tui uma representação inequívoca do perfil feminino �pico. L0123 - (Ucpel) Texto 1 O Úl�mo Poema Manuel Bandeira Assim eu quereria o meu úl�mo poema. Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que �vesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2016. Texto 2 AMAR E SER AMADO Castro Alves Amar e ser amado! Com que anelo Com quanto ardor este adorado sonho Acalentei em meu delírio ardente Por essas doces noites de desvelo! Ser amado por �, o teu alento A bafejar-me a abrasadora frente! Em teus olhos mirar meu pensamento, Sen�r em mim tu’alma, ter só vida P’ra tão puro e celeste sen�mento Ver nossas vidas quais dois mansos rios, Juntos, juntos perderem-se no oceano, Beijar teus lábios em delírio insano Nossas almas unidas, nosso alento, Confundido também, amante, amado Como um anjo feliz... que pensamento!? Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2016. Texto 3 Livre Cruz e Sousa Livre! Ser livre da matéria escrava, arrancar os grilhões que nos flagelam e livre penetrar nos Dons que selam a alma e lhe emprestam toda a etérea lava. Livre da humana, da terrestre bava dos corações daninhos que regelam, quando os nossos sen�dos se rebelam contra a Infâmia bifronte que deprava. Livre! bem livre para andar mais puro,mais junto à Natureza e mais seguro do seu Amor, de todas as jus�ças. Livre! para sen�r a Natureza, para gozar, na universal Grandeza, Fecundas e arcangélicas preguiças. Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2016. Sobre os textos é correto afirmar que: 10@professorferretto @prof_ferretto a) O texto 3 demonstra a temá�ca presente nas poesias român�cas da segunda geração, ou seja, o desejo pela liberdade. b) O texto 2 é um soneto que representa o valor métrico atribuído ao parnasianismo. c) Os textos 1 e 3 demonstram a liberdade representada ora na escrita e ora no tema, algo representa�vo para o roman�smo. d) O texto 2 demonstra a preocupação do eu lírico com a questão da efemeridade da vida e a busca pelo prazer, algo representa�vo na primeira geração do roman�smo. e) O texto 1 demonstra a liberdade de expressão e criação poé�ca, sem preocupação com a linguagem, caracterís�ca presente nas produções literárias do modernismo. L0307 - (Unesp) Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si�antes7 empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) 1esba�do: de tom pálido. 2a desoras: muito tarde. 3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4folha: periódico diário, jornal. 5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. 6pardieiro: prédio velho ou arruinado. 7si�ante: policial. Em “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia” (3º parágrafo), o trecho sublinhado cons�tui um exemplo de 11@professorferretto @prof_ferretto a) sinestesia. b) paradoxo. c) pleonasmo. d) hipérbole. e) eufemismo. L0251 - (Fuvest) Este úl�mo capítulo é todo de nega�vas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei me com um pequeno saldo, que é a derradeira nega�va deste capítulo de nega�vas: – Não �ve filhos, não transmi� a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. Não sei por que até hoje todo o mundo diz que �nha pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz. Ser obrigada a ficar à toa é que seria cas�go para mim. Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada em casa”. Helena Morley, Minha vida de menina. São caracterís�cas dos narradores Brás Cubas e Helena, respec�vamente, a) malícia e ingenuidade. b) solidariedade e egoísmo. c) apa�a e determinação. d) rebeldia e conformismo. e) o�mismo e pessimismo. L0116 - (Upe-ssa) Texto 1 Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se dis�nguia bem se era uma criança, com fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das an�gas baladas, que o roman�smo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros. Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou diante de mim a fronte pensa�va, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me ca�vou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é cas�ssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me ca�vou foi uma dama espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam os rapazes do tempo. E �nham razão os rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opiniãoaceita é que nascera de um letrado de Madri, ví�ma da invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado, quando ela �nha apenas doze anos. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis Texto 2 Durante dois anos, o cor�ço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo. Posto que lá na Rua do Hospício os seus negócios não corressem mal, custava-lhe a sofrer a escandalosa fortuna do vendeiro “aquele �po! um miserável, um sujo, que não pusera nunca um paletó, e que vivia de cama e mesa com uma negra!” À noite e aos domingos, ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fa�gado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito. E depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e habituado às torpezas carnais da mulher, isento já dos primi�vos sobressaltos que lhe faziam, a ele, ferver o sangue e perder a tramontana, era ainda a prosperidade do vizinho o que lhe obsedava o espírito, enegrecendo- lhe a alma com um feio ressen�mento de despeito. Tinha inveja do outro, daquele outro português que fizera fortuna, sem precisar roer nenhum chifre; daquele outro que, para ser mais rico três vezes do que ele, não teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de algum fazendeiro freguês da casa! 12@professorferretto @prof_ferretto Mas então, ele Miranda, que se supunha a úl�ma expressão da ladinagem e da esperteza; ele, que, logo depois do seu casamento, respondendo para Portugal a um ex-colega que o felicitava, dissera que o Brasil era uma cavalgadura carregada de dinheiro, cujas rédeas um homem fino empolgava facilmente; ele, que se �nha na conta de invencível matreiro, não passava afinal de um pedaço de asno comparado com o seu vizinho! Pensara fazer-se senhor do Brasil e fizera-se escravo de uma brasileira mal-educada e sem escrúpulos de virtude! Imaginara-se talhado para grandes conquistas, e não passava de uma ví�ma ridícula e sofredora!... Sim! no fim de contas qual fora a sua África?... Enriquecera um pouco, é verdade, mas como? a que preço? hipotecando- se a um diabo, que lhe trouxera oitenta contos de réis, mas incalculáveis milhões de desgostos e vergonhas! Arranjara a vida, sim, mas teve de aturar eternamente uma mulher que ele odiava! E do que afinal lhe aproveitar tudo isso? Qual era afinal a sua grande existência? Do inferno da casa para o purgatório do trabalho e vice-versa! Invejável sorte, não havia dúvida! O Cor�ço, de Aluízio de Azevedo Considerando as caracterís�cas temá�cas e es�lís�cas dos textos 1 e 2, analise as proposições a seguir. I. O Texto 1 é um trecho de um importante romance de Machado de Assis, o qual destaca episódios da vida do próprio autor. II. No Texto 1, é possível perceber costumes do co�diano burguês numa cidade do século XIX, levando o leitor a constatar, pela postura individual do protagonista, um segmento social dosado de humor nas suas próprias experiências. III. No Texto 2, é apresentado o comportamento decadente da sociedade burguesa da segunda metade do século XIX, em que prevalece o interesse individual. IV. As personagens de Aluísio Azevedo, em O Cor�ço, são alicerçadas nas ideias de Taine, presas ao ambiente e à hereditariedade, limitadas pelas questões sociais e pelo meio onde vivem suas experiências. Estão CORRETAS: a) I, II, III e IV. b) I, III e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) II e IV, apenas. L0303 - (Unesp) Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, 13@professorferretto @prof_ferretto tentando apagar as velas acesas que os si�antes7 empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) 1esba�do: de tom pálido. 2a desoras: muito tarde. 3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4folha: periódico diário, jornal. 5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. 6pardieiro: prédio velho ou arruinado. 7si�ante: policial. Em relação à reportagem sobre a diligência policial (4º e 5º parágrafos), o cronista destaca seu caráter a) obje�vo. b) enigmá�co. c) enfadonho. d) fantasioso. e) macabro.L0266 - (Fuvest) . Cinquenta anos! Não era preciso confessá-lo. Já se vai sen�ndo que o meu es�lo não é tão lesto* como nos primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o oficial da marinha, que enfiou a capa e saiu, confesso que fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou-me dançar uma polca, embriagar-me das luzes, das flores, dos cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho surdo e ligeiro das conversas par�culares. E não me arrependo; remocei. Mas, meia hora depois, quando me re�rei do baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no fundo do carro? Os meus cinquenta anos. *ágil II. Meu caro crí�co, Algumas páginas atrás, dizendo eu que �nha cinquenta anos, acrescentei: “Já se vai sen�ndo que o meu es�lo não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches esta frase incompreensível, sabendo-se o meu atual estado; mas eu chamo a tua atenção para a su�leza daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da minha vida experimento a sensação correspondente. Valha-me Deus! É preciso explicar tudo. Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Entre os dois trechos do romance, nota-se o movimento que vai da memória de vivências à revisão que o defunto autor faz de um mesmo episódio. A citação, pertencente a outro capítulo do mesmo livro, que melhor sinte�za essa duplicidade narra�va, é: a) “A conclusão, portanto, é que há duas forças capitais: o amor, que mul�plica a espécie, e o nariz, que a subordina ao indivíduo”. b) “Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a �nta da melancolia, e não é di�cil perceber o que poderá sair desse conúbio”. c) “Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito do livro és tu, leitor”. d) “Viver não é a mesma cousa que morrer; assim o afirmam todos os joalheiros desse mundo, gente muito vista na gramá�ca”. e) “Não havia ali a atmosfera somente da águia e do beija-flor; havia também a da lesma e do sapo”. L0341 - (Unicamp) (...) eu sou um pobre relojoeiro que, cansado de ver que os relógios deste mundo não marcam a mesma hora, descri do o�cio. (...) Um exemplo. O Par�do Liberal, segundo li, estava encasacado e pronto para sair, com o relógio na mão, porque a hora pingava. Faltava-lhe só o chapéu, que seria o chapéu Dantas, ou o chapéu Saraiva (ambos da chapelaria Aristocrata); era só pô-lo na cabeça, e sair. Nisto passa o carro do paço com outra pessoa, e ele descobre que ou o seu relógio está adiantado, ou o de Sua Alteza é que se atrasara. Quem os porá de acordo? (Machado de Assis, Bons dias. Introdução e notas John Gledson. 3. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2008, p. 79.) Com relação ao excerto da crônica de Machado de Assis, publicada em 05 de abril de 1888 na Gazeta de No�cias, é correto afirmar que a metáfora mecânica faz referência à passagem do tempo, aludindo à expecta�va de mudança de 14@professorferretto @prof_ferretto a) regime a par�r de discordâncias polí�cas que levaram à eleição do governo imperial. b) século, marcada pela perspec�va da chegada do meteorito de Bendegó na corte imperial. c) mentalidade escravagista, com um pacto polí�co para suspensão de costumes imperiais. d) legislação, com a alternância entre par�dos para a formação de um novo ministério do governo imperial. L0252 - (Fuvest) Este úl�mo capítulo é todo de nega�vas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei me com um pequeno saldo, que é a derradeira nega�va deste capítulo de nega�vas: – Não �ve filhos, não transmi� a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. Não sei por que até hoje todo o mundo diz que �nha pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz. Ser obrigada a ficar à toa é que seria cas�go para mim. Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada em casa”. Helena Morley, Minha vida de menina. Nos dois textos, obtém-se ênfase por meio do emprego de um mesmo recurso expressivo, como se pode verificar nos seguintes trechos: a) “Este úl�mo capítulo é todo de nega�vas” / “Eu não penso assim”. b) “Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento” / “Não sei por que até hoje todo o mundo diz que �nha pena dos escravos”. c) “Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto” / “Ser obrigada a ficar à toa é que seria cas�go para mim”. d) “qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra” / “Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique preguiçosa”. e) “Não �ve filhos, não transmi� a nenhuma criatura o legado da nossa miséria” / “Acho que se fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz”. L0256 - (Fuvest) O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, 1mas um só ruído compacto que enchia todo o cor�ço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se* discussões e rezingas**; 2ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sen�a-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, 3o prazer animal de exis�r, a triunfante sa�sfação de respirar sobre a terra. Da porta da venda que dava para o cor�ço iam e vinham como formigas; fazendo compras. Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a Isaura, que se dispunha a começar a limpeza da casa. – Nhá Dunga! 4gritou ela para baixo, a sacudir um pano de mesa; se você tem cuscuz de milho hoje, 5bata na porta, ouviu? Aluísio Azevedo, O cor�ço. * ensarilhar-se: emaranhar-se. ** rezinga: resmungo. Cons�tui marca do registro informal da língua o trecho a) “mas um só ruído compacto” (ref. 1). b) “ouviam-se gargalhadas” (ref. 2). c) “o prazer animal de exis�r” (ref. 3). d) “gritou ela para baixo” (ref. 4). e) “bata na porta” (ref. 5). L0334 - (Unicamp) No conto “O espelho”, de Machado de Assis, uma personagem assume a palavra e narra uma história. 15@professorferretto @prof_ferretto Assinale a alterna�va que explicita sua interlocução com os cavalheiros presentes. (Machado de Assis, O espelho. Campinas: Editora da Unicamp, 2019.) a) “Lembra-me de alguns rapazes que se davam comigo, e passaram a olhar-me de revés, durante algum tempo.” b) “Ah! pérfidos! Mal podia eu suspeitar a intenção secreta dos malvados.” c) “Imaginai um homem que, pouco a pouco, emerge de um letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a ver.” d) “O espelho estava naturalmente muito velho; mas via- se-lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo.” L0128 - (Professor Ferre�o) “Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-me uma ideia no trapézio que eu �nha no cérebro. Uma vez pen durada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de vola�m, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.” (Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis) Sobre o texto mostrado, pode-se dizer que: a) o autor faz uma abordagem superficial da situação. b) o autor preocupa-secom os detalhes, por meio de minuciosa descrição. c) o autor dá relevância a outras circunstân cias, negligenciando o foco do assunto. d) o autor não mostra preocupação com o discer nimento do leitor, pois apenas sugere situações. e) contempla a si próprio, num ritual egocêntrico e narcisista. L0114 - (Espm) A zoomorfização na Literatura, a des peito de qualquer outra caracterís�ca es� lís�ca, sempre esteve presente, no entanto, aparece principalmente nas obras com ca - racterís�cas realistas que, em contraponto àquelas com aspectos mais român�cos, têm o intento de retratar as mazelas da socieda de como espelho. (...) Fez-se necessário uma Literatura condi zente com o real e, para tanto, a zoomorfiza ção de personagens foi u�lizada com maior ênfase. Paralelo ao Realismo, o Naturalismo é o momento em que mais se verifica este fenômeno. (Uesla Lima Soares, O Animal Humano: Os paradigmas da zoomorfização social e sua representação literária, Anais do Fes�val Literário de Paulo Afonso, 2017) [O zoomorfismo] ocorre quando “o que é próprio do homem se estende ao animal e permite, por simetria, que o que é próprio do animal se estenda ao homem.” (Antonio Cândido, De Cor�ço a Cor�ço, Novos Estu dos CEBRAP, 1991). Considere as seguintes afirmações: I. A zoomorfização se opôs frontalmente às idealizações român�cas, sendo uma carac terís�ca exclusiva do Naturalismo. II. Segundo Antonio Candido, não é possível haver dis�nção entre ser humano e animal, no sen�do de que um cede caracterís�ca ao outro e vice-versa. III. A definição de Antonio Candido sobre zoomorfismo é construída por meio de um processo chamado quiasmo. A respeito de tais afirmações, deve-se dizer que: a) somente I está correta. b) somente II está correta. c) somente III está correta. d) somente I e II estão corretas. e) somente I e III estão corretas. L0115 - (Fuvest) I. Cinquenta anos! Não era preciso confessá-lo. Já se vai sen�ndo que o meu es�lo não é tão lesto* como nos primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o oficial da marinha, que enfiou a capa e saiu, confesso que fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou-me dançar uma polca, embriagar-me das luzes, das flores, dos cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho surdo e ligeiro das conversas par�culares. E não me arrependo; remocei. Mas, meia hora depois, quando me re�rei do baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no fundo do carro? Os meus cinquenta anos. *ágil II. Meu caro crí�co, Algumas páginas atrás, dizendo eu que �nha cinquenta anos, acrescentei: “Já se vai sen�ndo que o meu es�lo não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches esta frase incompreensível, sabendo-se o meu atual estado; mas eu chamo a tua atenção para a su�leza daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase 16@professorferretto @prof_ferretto da narração da minha vida experimento a sensação correspondente. Valha-me Deus! É preciso explicar tudo. Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. A passagem final do texto II – “Valha-me Deus! é preciso explicar tudo.” – denota um elemento presente no es�lo do romance, ou seja, a) o realismo, visto no rigor explica�vo dos fatos. b) a religiosidade, que se socorre do auxílio divino. c) o humor, capaz de rela�vizar as ideias. d) a metalinguagem, que imprime linearidade à narração. e) a ironia, própria do discurso posi�vo. L0119 - (Fgvrj) Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. Ao configurar as Memórias póstumas de Brás Cubas como narra�va em primeira pessoa, conforme se verifica no trecho, Machado de Assis a) deu um passo decisivo em direção ao Realismo, adotando os procedimentos mais �picos dessa escola. b) visa a cri�car o subje�vismo român�co e os excessos sen�mentalistas em que este incorrera. c) deu a palavra ao proprietário escravista e ren�sta brasileiro do Oitocentos, para que ele próprio exibisse sua desfaçatez. d) parodia as Memórias de um sargento de milícias, retomando o registro narra�vo que as caracterizava. e) confere confiabilidade aos juízos do narrador, uma vez que este conhece os acontecimentos de que par�cipou. L0347 - (Enem PPL) Conseguindo, porém, escapar à vigilância dos interessados, e depois de cur�r uma noite, a mais escura de sua vida, numa espécie de jaula com grades de ferro, Amaro, que só temia regressar à “fazenda”, voltar ao seio da escravidão, estremeceu diante de um rio muito largo e muito calmo, onde havia barcos vogando em todos os sen�dos, à vela, outros deitando fumaça, e lá cima, beirando a água, um morro alto, em ponta, varando as nuvens, como ele nunca �nha visto... [...] todo o conjunto da paisagem comunicava-lhe uma sensação tão forte de liberdade e vida, que até lhe vinha vontade de chorar, mas chorar francamente, abertamente, na presença dos outros, como se es�vesse enlouquecendo... Aquele magnífico cenário gravara-se- lhe na re�na para toda a existência; nunca mais o havia de esquecer, oh! Nunca mais! Ele, o escravo, “o negro fugido”, sen�a-se verdadeiramente homem, igual aos outros homens, feliz de o ser, grande como a natureza, em toda a pujança viril da sua mocidade, e �nha pena, muita pena dos que ficavam na “fazenda” trabalhando, sem ganhar dinheiro, desde a madrugadinha té... sabe Deus! CAMINHA, A. Bom Crioulo. São Paulo: Mar�n Claret, 2008. A situação descrita no fragmento aproxima-o dos padrões esté�cos do Naturalismo em função da a) fragilidade emocional atribuída ao indivíduo oprimido. b) influência da paisagem sobre a capacidade de resiliência. c) impossibilidade de superação dos traumas da escravidão. d) correlação de causalidade entre força �sica e origem étnica. e) condição moral do indivíduo vinculada aos papéis de gênero. L0350 - (Enem PPL) Duas castas de considerações fez de si para consigo o cauto Conselheiro. Primeiramente foi saltar-lhe ao nariz a evidência de que ministro não visita empregado público, ainda que in extremis, mesmo a uma braça, ou duas, acima do chapéu do amanuense mais bisonho. Também não visita escritor enfermo por ser escritor, e por estar enfermo. Seriam trabalhos, ambos, a que não se daria um ministro, nem sempre ocupado das cousas, altas ou baixas, do Estado. O tempo ministerial não se vai perdulariamente, não se faz em farinhas. Os �tulares esquivam-se até a suspirar, que os suspiros implicam o desperdício de minutos se o suspiro é de minutos, além de permi�rem 17@professorferretto @prof_ferretto ilações perigosas sobre a estabilidade do ministro, quando não do próprio gabinete. A segunda ponderação remeteu-o à certeza de que terminantemente chegavam ao cabo seus dias; e de que as esperanças eram aéreas, atado agora à cama até que o encerrassem na urna, como um voto eleitoral frio. MARANHÃO, Haroldo. Memorial do fim: a morte de Machado de Assis. São Paulo: Marco Zero, 1991. O texto relata o momento em que, no leito de morte, Machado de Assis recebe a visita do Barão do Rio Branco, ministro de Estado. Criando a cena, o narrador obtém expressividade ao a) representar