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<p>Vestibulares</p><p>Realismo</p><p>L0300 - (Unesp)</p><p>Tal movimento deriva quase todos os seus critérios de</p><p>probabilidade do empirismo das ciências naturais. Baseia</p><p>seu conceito de verdade psicológica no princípio de</p><p>causalidade, o desenvolvimento apropriado da trama na</p><p>eliminação do acaso e dos milagres, sua descrição do</p><p>ambiente na ideia de que todo e qualquer fenômeno</p><p>natural tem lugar numa interminável cadeia de condições</p><p>e mo�vos, sua u�lização de detalhes caracterís�cos no</p><p>método de observação cien�fica – que não despreza</p><p>circunstância alguma, por mais insignificante e trivial que</p><p>seja.</p><p>(Arnold Hauser. História social da arte e da literatura,</p><p>1994. Adaptado.)</p><p>O texto refere-se ao movimento</p><p>a) árcade.</p><p>b) simbolista.</p><p>c) realista.</p><p>d) român�co.</p><p>e) modernista.</p><p>L0127 - (Professor Ferre�o)</p><p>Língua Portuguesa</p><p>Úl�ma flor do Lácio, inculta e bela,</p><p>És, a um tempo, esplendor e sepultura:</p><p>Ouro na�vo, que na ganga impura</p><p>A bruta mina entre os cascalhos vela…</p><p>Amo-te assim, desconhecida e obscura,</p><p>Tuba de alto clangor, lira singela,</p><p>Que tens o trom e o silvo da procela</p><p>E o arrolo da saudade e da ternura!</p><p>Amo o teu viço agreste e o teu aroma</p><p>De virgens selvas e de oceano largo!</p><p>Amo-te, ó rude e doloroso idioma,</p><p>Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"</p><p>E em que Camões chorou, no exílio amargo,</p><p>O gênio sem ventura e o amor sem brilho!</p><p>(Olavo Bilac)</p><p>O poeta Olavo Bilac foi um dos maiores representantes</p><p>da poesia parnasiana. O texto acima representa uma</p><p>forma fixa muito u�lizada pelos escritores parnasianos,</p><p>que é:</p><p>a) uma ode</p><p>b) uma elegia</p><p>c) um haicai</p><p>d) um soneto</p><p>e) uma trova</p><p>L0304 - (Unesp)</p><p>Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada</p><p>originalmente em 1902.</p><p>Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já</p><p>tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo</p><p>sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre</p><p>para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já</p><p>se não adormecem as crianças com histórias de fadas e</p><p>de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de</p><p>cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os</p><p>tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco</p><p>dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é</p><p>ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom</p><p>termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão</p><p>propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse</p><p>temor, os pa�fes vão rejubilando.</p><p>O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.</p><p>Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo</p><p>pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável</p><p>modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,</p><p>tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas</p><p>– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em</p><p>consciência dizer se era duende macho ou duende</p><p>fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por</p><p>1@professorferretto @prof_ferretto</p><p>saber de longa data que pela boca é que morrem os</p><p>peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –</p><p>não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode</p><p>um homem ter nascido num século de luzes e de</p><p>descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos</p><p>estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar</p><p>nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a</p><p>voz presa na garganta, quando encontra na rua, a</p><p>desoras2, uma avantesma3...</p><p>Assim, um profundo mistério cercava a existência do</p><p>lobisomem de Catumbi – quando começaram de</p><p>aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já</p><p>pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora</p><p>crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as</p><p>consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados</p><p>do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado</p><p>alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai</p><p>de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela</p><p>falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram</p><p>outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela</p><p>outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,</p><p>finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,</p><p>para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,</p><p>andava acumulando novos pecados sobre os pecados</p><p>an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos</p><p>merecedores de exorcismos que de cadeia.</p><p>Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida</p><p>de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres,</p><p>assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,</p><p>dando conta da diligência, disse que o delegado achou</p><p>dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no</p><p>topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares</p><p>que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E</p><p>acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,</p><p>tentando apagar as velas acesas que os si�antes7</p><p>empunhavam”.</p><p>Esta nota de morcegos deve ser um chique</p><p>român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o</p><p>repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,</p><p>que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,</p><p>esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do</p><p>terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de</p><p>Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram</p><p>sem dúvida os frangões roubados aos quintais das</p><p>casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu</p><p>tempo passou.</p><p>(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)</p><p>1esba�do: de tom pálido.</p><p>2a desoras: muito tarde.</p><p>3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.</p><p>4folha: periódico diário, jornal.</p><p>5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.</p><p>6pardieiro: prédio velho ou arruinado.</p><p>7si�ante: policial.</p><p>Cons�tui exemplo de interação do cronista com o leitor o</p><p>trecho</p><p>a) “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de</p><p>toda a sua classe, andava acumulando novos pecados</p><p>sobre os pecados an�gos” (3º parágrafo).</p><p>b) “As almas simples vão propagando o terror, e, sob a</p><p>capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão</p><p>rejubilando” (1º parágrafo).</p><p>c) “Não vades agora crer que se tenham sumido, por</p><p>exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi”</p><p>(3º parágrafo).</p><p>d) “as primeiras pessoas que o viram não puderam em</p><p>consciência dizer se era duende macho ou duende</p><p>fêmea” (2º parágrafo).</p><p>e) “O fantasma não falava – naturalmente por saber de</p><p>longa data que pela boca é que morrem os peixes e os</p><p>fantasmas” (2º parágrafo).</p><p>L0329 - (Unicamp)</p><p>No conto “O espelho”, de Machado de Assis, o esboço de</p><p>uma nova teoria sobre a dupla natureza da alma humana</p><p>é apresentado por Jacobina. A personagem narra a</p><p>situação em que se viu sozinha na casa da �a Marcolina.</p><p>“As horas ba�am de século a século no velho relógio da</p><p>sala, cuja pêndula, �c-tac, �c-tac, feria-me a alma interior</p><p>como um piparote con�nuo da eternidade.”</p><p>Considerando os indicadores da passagem do tempo na</p><p>citação, é correto afirmar que</p><p>a) o movimento oscilante do pêndulo do relógio expressa</p><p>a duplicidade da alma interior.</p><p>b) o som do velho relógio da sala materializa</p><p>acus�camente a longevidade da alma interior.</p><p>c) a sonoridade repe��va do pêndulo intensifica as</p><p>aflições da alma interior.</p><p>d) o con�nuo ba�mento das horas sugere o vigor da</p><p>alma interior.</p><p>L0342 - (Unicamp)</p><p>No ano seguinte, o Ateneu revelou-se-me noutro</p><p>aspecto. Conhecera-o interessante, com as seduções do</p><p>que é novo, com as projeções obscuras de perspec�va,</p><p>desafiando curiosidade e receio; conhecera-o insípido e</p><p>banal como os mistérios resolvidos, caiado de tédio;</p><p>conhecia-o agora intolerável como um cárcere, murado</p><p>de desejos e privações.</p><p>2@professorferretto @prof_ferretto</p><p>(Raul Pompeia, O Ateneu. 7ª. ed. São Paulo: Á�ca, 1980,</p><p>p. 98.)</p><p>Com base no excerto que inicia o capítulo VIII do</p><p>romance de Raul Pompéia e no seu sub�tulo – crônica de</p><p>saudades –, é correto afirmar que a obra é</p><p>a) um relato, em primeira pessoa, de experiências</p><p>cole�vas e ín�mas, no qual o protagonista mostra</p><p>aspectos da realidade social, valorizando o sistema</p><p>escolar e prisional.</p><p>b) um romance de formação, no qual o protagonista</p><p>revela condutas e intrigas no ambiente escolar, com</p><p>elogios à pedagogia corre�va e aos valores morais da</p><p>burguesia.</p><p>c) uma narra�va memorialista de experiências vividas</p><p>num internato, na qual o protagonista revela aspectos</p><p>b) “ouvi”.</p><p>c) “aqui”.</p><p>d) “lhes”.</p><p>e) “dou”.</p><p>L0447 - (Unesp)</p><p>“A história do casamento de Maria Benedita é curta;</p><p>e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la.” (1º</p><p>parágrafo).</p><p>No contexto em que se insere, a oração sublinhada</p><p>expressa ideia de</p><p>a) finalidade.</p><p>b) consequência.</p><p>c) condição.</p><p>d) concessão.</p><p>e) conclusão.</p><p>L0452 - (Unesp)</p><p>Tal movimento deriva quase todos os seus critérios de</p><p>probabilidade do empirismo das ciências naturais. Baseia</p><p>seu conceito de verdade psicológica no princípio de</p><p>causalidade, o desenvolvimento apropriado da trama na</p><p>eliminação do acaso e dos milagres, sua descrição do</p><p>ambiente na ideia de que todo e qualquer fenômeno</p><p>natural tem lugar numa interminável cadeia de condições</p><p>e mo�vos, sua u�lização de detalhes caracterís�cos no</p><p>método de observação cien�fica – que não despreza</p><p>circunstância alguma, por mais insignificante e trivial que</p><p>seja.</p><p>(Arnold Hauser. História social da arte e da literatura,</p><p>1994. Adaptado.)</p><p>O texto refere-se ao movimento</p><p>a) árcade.</p><p>b) simbolista.</p><p>c) realista.</p><p>d) român�co.</p><p>e) modernista.</p><p>L0474 - (Unesp)</p><p>Examine os gráficos.</p><p>As dinâmicas climá�cas representadas nos gráficos 1 e 2</p><p>correspondem, respec�vamente, aos espaços retratados</p><p>em</p><p>a) Capitães da Areia, de Jorge Amado, e O cor�ço, de</p><p>Aluísio Azevedo.</p><p>b) Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Capitães da Areia,</p><p>de Jorge Amado.</p><p>c) Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Grande sertão:</p><p>veredas, de Guimarães Rosa.</p><p>d) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de</p><p>Assis, e O cor�ço, de Aluísio Azevedo.</p><p>e) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de</p><p>Assis, e Vidas secas, de Graciliano Ramos.</p><p>L0479 - (Unesp)</p><p>Tal movimento dis�ngue-se pela atenuação do</p><p>sen�mentalismo e da melancolia, a ausência quase</p><p>completa de interesse polí�co no contexto da obra</p><p>(embora não na conduta) e (como os modelos franceses)</p><p>pelo cuidado da escrita, aspirando a uma expressão de</p><p>�po plás�co. O mito da pureza da língua, do cas�cismo</p><p>vernacular abonado pela autoridade dos autores</p><p>18@professorferretto @prof_ferretto</p><p>clássicos, empolgou toda essa fase da cultura brasileira e</p><p>foi um critério de excelência. É possível mesmo perguntar</p><p>se a visão luxuosa dos autores desse movimento não</p><p>representava para as classes dominantes uma espécie de</p><p>correla�vo da prosperidade material e, para o comum</p><p>dos leitores, uma miragem compensadora que dava</p><p>conforto.</p><p>(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010.</p><p>Adaptado.)</p><p>O texto refere-se ao movimento denominado</p><p>a) Roman�smo.</p><p>b) Barroco.</p><p>c) Parnasianismo.</p><p>d) Arcadismo.</p><p>e) Realismo.</p><p>L0519 - (Unesp)</p><p>Os parnasianos brasileiros se dis�nguem dos român�cos</p><p>pela atenuação da subje�vidade e do sen�mentalismo,</p><p>pela ausência quase completa de interesse polí�co no</p><p>contexto da obra e pelo cuidado da escrita, aspirando a</p><p>uma expressão de �po plás�co.</p><p>(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010.</p><p>Adaptado.)</p><p>A referida “atenuação da subje�vidade e do</p><p>sen�mentalismo” está bem exemplificada na seguinte</p><p>estrofe do poeta parnasiano Alberto de Oliveira (1859-</p><p>1937):</p><p>a) Quando em</p><p>meu peito</p><p>rebentar-se a</p><p>fibra,</p><p>Que o</p><p>espírito</p><p>enlaça à dor</p><p>vivente,</p><p>Não derramem</p><p>por mim nem</p><p>uma lágrima</p><p>Em</p><p>pálpebra</p><p>demente.</p><p>b) Erguido em</p><p>negro</p><p>mármor</p><p>luzidio,</p><p>Portas</p><p>fechadas, num</p><p>mistério</p><p>enorme,</p><p>Numa terra</p><p>de reis, mudo</p><p>e sombrio,</p><p>Sono de</p><p>lendas um</p><p>palácio</p><p>dorme.</p><p>c) Eu vi-a e</p><p>minha alma</p><p>antes de vê-la</p><p>Sonhara-a</p><p>linda como</p><p>agora a vi;</p><p>Nos puros</p><p>olhos e na</p><p>face bela,</p><p>Dos meus</p><p>sonhos a</p><p>virgem</p><p>conheci.</p><p>d) Longe da</p><p>pátria, sob</p><p>um céu</p><p>diverso</p><p>Onde o sol</p><p>como aqui</p><p>tanto não</p><p>arde,</p><p>Chorei</p><p>saudades do</p><p>meu lar</p><p>querido</p><p>– Ave sem</p><p>ninho que</p><p>suspira à</p><p>tarde. –</p><p>e) Eu morro qual</p><p>nas mãos da</p><p>cozinheira</p><p>O marreco</p><p>piando na</p><p>agonia…</p><p>Como o cisne</p><p>de outrora…</p><p>que gemendo</p><p>Entre os</p><p>hinos de</p><p>amor se</p><p>enternecia.</p><p>L0522 - (Unesp)</p><p>Desde já a ciência entra, portanto, no nosso domínio de</p><p>romancistas, nós que somos agora analistas do homem,</p><p>em sua ação individual e social. Con�nuamos, pelas</p><p>nossas observações e experiências, o trabalho do</p><p>fisiólogo que con�nuou o do �sico e o do químico.</p><p>Pra�camos, de certa forma, a Psicologia cien�fica, para</p><p>completar a Fisiologia cien�fica; e, para acabar a</p><p>evolução, temos tão somente que trazer para nossos</p><p>estudos sobre a natureza e o homem o instrumento</p><p>decisivo do método experimental. Em uma palavra,</p><p>devemos trabalhar com os caracteres, as paixões, os fatos</p><p>humanos e sociais, como o químico e o �sico trabalham</p><p>com os corpos brutos, como o fisiólogo trabalha com os</p><p>corpos vivos. O determinismo domina tudo. É a</p><p>inves�gação cien�fica, é o raciocínio experimental que</p><p>combate, uma por uma, as hipóteses dos idealistas, e</p><p>subs�tui os romances de pura imaginação pelos</p><p>romances de observação e de experimentação.</p><p>Émile Zola. O romance experimental, 1982. Adaptado.</p><p>Depreendem-se do comentário do escritor francês Zola</p><p>preceitos que orientam a corrente literária</p><p>a) simbolista.</p><p>b) árcade.</p><p>c) naturalista.</p><p>d) român�ca.</p><p>e) barroca.</p><p>19@professorferretto @prof_ferretto</p><p>do sistema educacional da época, com crí�cas à</p><p>hipocrisia burguesa.</p><p>d) um relato saudosista de experiências vividas no</p><p>internato, no qual o protagonista mostra o poder de</p><p>sedução e corrupção das amizades, com crí�cas à</p><p>falsidade da burguesia.</p><p>L0118 - (Famerp)</p><p>Leia o trecho do romance O cor�ço, de Aluísio Azevedo,</p><p>para responder à questão a seguir.</p><p>Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um</p><p>ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e socada,</p><p>de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre</p><p>suas vizinhas.</p><p>Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a</p><p>quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela</p><p>dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio</p><p>de rezas e fei�çarias. Era extremamente feia, grossa,</p><p>triste, com olhos desvairados, dentes cortados à navalha,</p><p>formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos,</p><p>escorridos e ainda re�ntos apesar da idade. Chamavam-</p><p>lhe “Bruxa”.</p><p>Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda.</p><p>A primeira, mulata an�ga, muito séria e asseada em</p><p>exagero: a sua casa estava sempre úmida das</p><p>consecu�vas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor</p><p>punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando</p><p>a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e</p><p>descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha �nha</p><p>quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços</p><p>sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca.</p><p>Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava ainda a</p><p>sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre,</p><p>aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a</p><p>troco de pequenas concessões na medida e no peso das</p><p>compras que Florinda fazia diariamente à venda.</p><p>O cor�ço, 2007.</p><p>Uma relação correta entre o trecho apresentado e o</p><p>movimento literário em que O cor�ço está inserido é:</p><p>a) a referência cuidadosa e delicada à sexualidade dos</p><p>personagens é parte de um esforço, �pico do</p><p>Realismo, para apresentar o ser humano em sua</p><p>totalidade sem sobrecarregar um de seus aspectos.</p><p>b) a caracterização dos personagens como indivíduos</p><p>únicos e isolados da cole�vidade, deixando em</p><p>segundo plano suas relações sociais, é um traço �pico</p><p>do Naturalismo.</p><p>c) a preferência dos personagens pela razão e seu</p><p>desprezo pela fé, em uma estratégia para valorizar a</p><p>ciência e a obje�vidade e desvalorizar a religião, são</p><p>caracterís�cas do Realismo.</p><p>d) a valorização da vida perto da natureza, com</p><p>personagens que abrem mão dos métodos e dos</p><p>objetos frutos da tecnologia para se ligarem à</p><p>tranquilidade de uma vida sem máquinas, é uma</p><p>caracterís�ca do Naturalismo.</p><p>e) a descrição das caracterís�cas vulgares dos</p><p>personagens e a frequente associação entre homens e</p><p>animais, que ajudam a estabelecer uma concepção</p><p>biológica do mundo, são caracterís�cas do</p><p>Naturalismo.</p><p>L0285 - (Fuvest)</p><p>Leia os seguintes textos de Machado de Assis:</p><p>I.</p><p>Suave mari magno*</p><p>Lembra-me que, em certo dia,</p><p>Na rua, ao sol de verão,</p><p>Envenenado morria</p><p>Um pobre cão.</p><p>Arfava, espumava e ria,</p><p>De um riso espúrio e bufão,</p><p>Ventre e pernas sacudia</p><p>Na convulsão.</p><p>Nenhum, nenhum curioso</p><p>Passava, sem se deter,</p><p>Silencioso,</p><p>Junto ao cão que ia morrer,</p><p>Como se lhe desse gozo</p><p>Ver padecer.</p><p>Machado de Assis. Ocidentais.</p><p>3@professorferretto @prof_ferretto</p><p>* Expressão la�na, re�rada de Lucrécio (Da natureza das</p><p>coisas), a qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari</p><p>magno, turban�bus aequora ven�s/ E terra magnum</p><p>alterius spectare laborem. (“É agradável, enquanto no</p><p>mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da</p><p>terra os grandes esforços de um outro.”).</p><p>II.</p><p>Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e</p><p>que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo</p><p>na mão.</p><p>Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII.</p><p>III.</p><p>Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé do</p><p>leito o marido:</p><p>– Que foi? perguntou ele.</p><p>– Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei?</p><p>(...)</p><p>– Sonhei que estavam matando você.</p><p>Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele,</p><p>ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma</p><p>piedade gostosa, um sen�mento par�cular, ín�mo,</p><p>profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para</p><p>que o assassinassem aos olhos dela, e para que ela</p><p>gritasse angus�ada, convulsa, cheia de dor e de pavor.</p><p>Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI.</p><p>A analogia consiste em um recurso de expressão</p><p>comumente u�lizado para ilustrar um raciocínio por meio</p><p>da semelhança que se observa entre dois fatos ou ideias.</p><p>No texto II, a analogia construída a par�r da imagem do</p><p>chicote pretende sugerir que</p><p>a) o instrumento do cas�go nem sempre cai em mãos</p><p>justas.</p><p>b) o apreço aos objetos independe do uso que se faz</p><p>deles.</p><p>c) o cabo é metáfora de mérito, e a ponta, metáfora de</p><p>culpa.</p><p>d) o mais fraco, por ser compassivo, é incapaz de</p><p>desfrutar do poder.</p><p>e) o prazer verdadeiro se experimenta no lado dos</p><p>dominantes.</p><p>L0344 - (Unicamp)</p><p>As Ondas</p><p>Olavo Bilac</p><p>Entre as trêmulas mornas arden�as,</p><p>A noite no alto-mar anima as ondas.</p><p>Sobem das fundas úmidas Golcondas,</p><p>Pérolas vivas, as nereidas frias:</p><p>Entrelaçam-se, correm fugidias,</p><p>Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,</p><p>Vestem as formas alvas e redondas</p><p>De algas roxas e glaucas pedrarias.</p><p>Coxas de vago ônix, ventres polidos</p><p>De alabastro, quadris de argêntea espuma,</p><p>Seios de dúbia opala ardem na treva;</p><p>E bocas verdes, cheias de gemidos,</p><p>Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,</p><p>Soluçam beijos vãos que o vento leva...</p><p>Arden�a: s.f. fosforescência sobre as ondas do mar, à</p><p>noite.</p><p>Golconda: s. f. (fig.) mina de riquezas.</p><p>Nereida: s.f. cada uma das ninfas do mar, filhas de Nereu.</p><p>Em relação ao soneto de Olavo Bilac (no contexto de sua</p><p>época), é correto afirmar que a seleção lexical favorece a</p><p>a) descrição obje�va que o eu lírico faz da fantasia</p><p>amorosa recorrendo à riqueza mineral dos oceanos.</p><p>b) representação esté�ca que o eu lírico faz do desejo</p><p>amoroso associado a fenômenos naturais.</p><p>c) descrição cien�fica que o eu lírico faz do corpo</p><p>feminino recorrendo a fenômenos da natureza.</p><p>d) representação natural que o eu lírico faz do jogo de</p><p>sensualidade associado à mitologia grega.</p><p>L0267 - (Fuvest)</p><p>I. Cinquenta anos! Não era preciso confessá-lo. Já se vai</p><p>sen�ndo que o meu es�lo não é tão lesto* como nos</p><p>primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o</p><p>oficial da marinha, que enfiou a capa e saiu, confesso que</p><p>fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou-me dançar</p><p>uma polca, embriagar-me das luzes, das flores, dos</p><p>cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho surdo e</p><p>ligeiro das conversas par�culares. E não me arrependo;</p><p>remocei. Mas, meia hora depois, quando me re�rei do</p><p>baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no</p><p>fundo do carro? Os meus cinquenta anos.</p><p>*ágil</p><p>II. Meu caro crí�co,</p><p>Algumas páginas atrás, dizendo eu que �nha cinquenta</p><p>anos, acrescentei: “Já se vai sen�ndo que o meu es�lo</p><p>não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches</p><p>esta frase incompreensível, sabendo-se o meu atual</p><p>estado; mas eu chamo a tua atenção para a su�leza</p><p>daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que</p><p>esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A</p><p>morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase</p><p>4@professorferretto @prof_ferretto</p><p>da narração da minha vida experimento a sensação</p><p>correspondente. Valha-me Deus! É preciso explicar tudo.</p><p>Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.</p><p>A passagem final do texto II – “Valha-me Deus! é preciso</p><p>explicar tudo.” – denota um elemento presente no es�lo</p><p>do romance, ou seja,</p><p>a) o realismo, visto no rigor explica�vo dos fatos.</p><p>b) a religiosidade, que se socorre do auxílio divino.</p><p>c) o humor, capaz de rela�vizar as ideias.</p><p>d) a metalinguagem, que imprime linearidade à</p><p>narração.</p><p>e) a ironia, própria do discurso posi�vo.</p><p>L0319 - (Unicamp)</p><p>Durante dois anos o cor�ço prosperou de dia para dia,</p><p>ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o</p><p>Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância</p><p>brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta</p><p>implacável que lhe crescia junto da casa (...).</p><p>À noite e aos domingos</p><p>ainda mais recrudescia o seu</p><p>azedume, quando ele, recolhendo-se fa�gado do serviço,</p><p>deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa</p><p>da sala de jantar e ouvia, a contragosto, o grosseiro</p><p>rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de</p><p>animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber</p><p>no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o</p><p>embebedava com o seu fartum de bestas no coito.</p><p>(Aluísio de Azevedo, O cor�ço. 14. ed. São Paulo: Á�ca,</p><p>1983, p. 22.)</p><p>Levando em conta o excerto, bem como o texto integral</p><p>do romance, é correto afirmar que</p><p>a) o grosseiro rumor, a sexualidade desregrada e a</p><p>exalação forte que provinham do cor�ço decorriam,</p><p>segundo Miranda, do abandono daquela população</p><p>pelo governo.</p><p>b) os termos “grosseiro rumor”, “animais”, “bestas no</p><p>coito”, que fazem referência aos moradores do cor�ço,</p><p>funcionam como metáforas da vida pulsante dos seus</p><p>habitantes.</p><p>c) o nivelamento sociológico na obra O Cor�ço se dá não</p><p>somente entre os moradores da habitação cole�va e o</p><p>seu senhorio, mas também entre eles e o vizinho</p><p>Miranda.</p><p>d) a presença portuguesa, exemplificada nas</p><p>personagens João Romão e Miranda, não é relevante</p><p>para o desenvolvimento da narra�va nem para a</p><p>compreensão do sen�do da obra.</p><p>L0305 - (Unesp)</p><p>Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada</p><p>originalmente em 1902.</p><p>Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já</p><p>tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo</p><p>sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre</p><p>para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já</p><p>se não adormecem as crianças com histórias de fadas e</p><p>de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de</p><p>cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os</p><p>tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco</p><p>dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é</p><p>ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom</p><p>termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão</p><p>propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse</p><p>temor, os pa�fes vão rejubilando.</p><p>O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.</p><p>Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo</p><p>pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável</p><p>modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,</p><p>tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas</p><p>– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em</p><p>consciência dizer se era duende macho ou duende</p><p>fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por</p><p>saber de longa data que pela boca é que morrem os</p><p>peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –</p><p>não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode</p><p>um homem ter nascido num século de luzes e de</p><p>descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos</p><p>estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar</p><p>nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a</p><p>voz presa na garganta, quando encontra na rua, a</p><p>desoras2, uma avantesma3...</p><p>Assim, um profundo mistério cercava a existência do</p><p>lobisomem de Catumbi – quando começaram de</p><p>aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já</p><p>pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora</p><p>crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as</p><p>consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados</p><p>do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado</p><p>alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai</p><p>de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela</p><p>falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram</p><p>outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela</p><p>outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,</p><p>finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,</p><p>para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,</p><p>andava acumulando novos pecados sobre os pecados</p><p>an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos</p><p>merecedores de exorcismos que de cadeia.</p><p>Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida</p><p>de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres,</p><p>assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,</p><p>dando conta da diligência, disse que o delegado achou</p><p>dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no</p><p>5@professorferretto @prof_ferretto</p><p>topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares</p><p>que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E</p><p>acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,</p><p>tentando apagar as velas acesas que os si�antes7</p><p>empunhavam”.</p><p>Esta nota de morcegos deve ser um chique</p><p>român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o</p><p>repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,</p><p>que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,</p><p>esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do</p><p>terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de</p><p>Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram</p><p>sem dúvida os frangões roubados aos quintais das</p><p>casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu</p><p>tempo passou.</p><p>(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)</p><p>1esba�do: de tom pálido.</p><p>2a desoras: muito tarde.</p><p>3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.</p><p>4folha: periódico diário, jornal.</p><p>5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.</p><p>6pardieiro: prédio velho ou arruinado.</p><p>7si�ante: policial.</p><p>Em “Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há</p><p>morcegos” (5º parágrafo), o termo sublinhado está</p><p>empregado na mesma acepção do termo sublinhado em</p><p>a) “ela correu um risco desnecessário”.</p><p>b) “a no�cia corria por toda a cidade”.</p><p>c) “a manhã corria especialmente tranquila”.</p><p>d) “segundo corria, ela seria facilmente eleita”.</p><p>e) “um arrepio correu-lhe pela espinha”.</p><p>L0117 - (Acafe)</p><p>“Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se</p><p>voltavam para o exame e para a crí�ca da realidade, o</p><p>Parnasianismo representou na poesia um retorno ao</p><p>clássico, com todos os seus ingredientes: o princípio do</p><p>belo na arte, a busca do equilíbrio e da perfeição formal.</p><p>Os parnasianos acreditavam que o sen�do maior da arte</p><p>reside nela mesma, em sua perfeição, e não na sua</p><p>relação com o mundo exterior.”</p><p>CEREJA; MAGALHÃES, 1999, p. 334.</p><p>Sobre o Parnasianismo, assinale a alterna�va correta.</p><p>a) Os maiores expoentes do Parnasianismo, na poesia e</p><p>na prosa, ocuparam-se da literatura indianista, na qual</p><p>exaltavam a dignidade do na�vo e a beleza superior da</p><p>paisagem tropical.</p><p>b) Um exemplo de poesia parnasiana é a obra Suspiros</p><p>poé�cos e saudade, de Gonçalves de Magalhães, na</p><p>qual o poeta anuncia a revolução literária, libertando-</p><p>se dos modelos român�cos, considerados</p><p>ultrapassados.</p><p>c) Os parnasianos consideravam que certos princípios</p><p>român�cos, como a simplicidade da linguagem,</p><p>valorização da paisagem nacional, emprego de sintaxe</p><p>e vocabulário mais brasileiros, sen�mentalismo, tudo</p><p>isso ocultava as verdadeiras qualidades da poesia.</p><p>d) Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa</p><p>exemplificam a tendência de uma poesia pura,</p><p>indiferente às con�ngências históricas, com sá�ra à</p><p>mes�çagem e elogio à nobreza local.</p><p>L0275 - (Fuvest)</p><p>E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et</p><p>Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a</p><p>mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, –</p><p>coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame,</p><p>quando quer amar. Se esta úl�ma reflexão é o mo�vo</p><p>secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois</p><p>muito indiscreta, e que eu não me quero senão com</p><p>dissimulados.</p><p>Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim</p><p>da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a</p><p>Atalaia chamou-lhe “o anjo da consolação”. 1E não se</p><p>pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse;</p><p>ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da</p><p>caridade, podia mor�ficar as novas amigas, e fazer-lhe</p><p>perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se</p><p>explica o ar�go que a mesma folha trouxe no número</p><p>seguinte, nomeando, par�cularizando e glorificando as</p><p>outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”.</p><p>Machado de Assis, Quincas Borba.</p><p>Considerando o contexto, o trecho “E não se pense que</p><p>este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse” (ref. 1)</p><p>pode ser reescrito, sem prejuízo de sen�do, da seguinte</p><p>maneira: E não se pense que este nome a alegrou,</p><p>a) apesar de lisonjeá-la.</p><p>b) antes</p><p>a lisonjeou.</p><p>c) porque a lisonjeava.</p><p>d) a fim de lisonjeá-la.</p><p>e) tanto quanto a lisonjeava.</p><p>L0125 - (Espcex)</p><p>6@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Os parnasianos acreditavam que, apoiando-se nos</p><p>modelos clássicos, estariam combatendo os exageros de</p><p>emoção e fantasia do Roman�smo e, ao mesmo tempo,</p><p>garan�ndo o equilíbrio que almejavam. Propunham uma</p><p>poesia obje�va, de elevado nível vocabular, racionalista,</p><p>bem-acabada do ponto de vista formal e voltada para</p><p>temas universais. Esse racionalismo, que enfrentava os</p><p>“exageros de emoção” e fixava-se no formalismo, fica</p><p>bem claro na seguinte estrofe parnasiana de Olavo Bilac:</p><p>a) E eu vos direi: “Amai para entendê-las!/Pois só quem</p><p>ama pode ter ouvido/Capaz de ouvir e de entender</p><p>estrelas.”</p><p>b) Não me basta saber que sou amado,/Nem só desejo o</p><p>teu amor: desejo/Ter nos braços teu corpo</p><p>delicado,/Ter na boca a doçura de teu beijo.</p><p>c) Pois sabei que é por isso que assim ando:/Que é dos</p><p>loucos somente e dos amantes/Na maior alegria andar</p><p>chorando.</p><p>d) Mas que na forma se disfarce o emprego/Do esforço;</p><p>e a trama viva se construa/De tal modo, que a imagem</p><p>fique nua,/Rica, mas sóbria, como um templo grego.</p><p>e) Esta melancolia sem remédio,/Saudade sem razão,</p><p>louca esperança/Ardendo em choros e findando em</p><p>tédio.</p><p>L0306 - (Unesp)</p><p>Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada</p><p>originalmente em 1902.</p><p>Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já</p><p>tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo</p><p>sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre</p><p>para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já</p><p>se não adormecem as crianças com histórias de fadas e</p><p>de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de</p><p>cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os</p><p>tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco</p><p>dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é</p><p>ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom</p><p>termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão</p><p>propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse</p><p>temor, os pa�fes vão rejubilando.</p><p>O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.</p><p>Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo</p><p>pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável</p><p>modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,</p><p>tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas</p><p>– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em</p><p>consciência dizer se era duende macho ou duende</p><p>fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por</p><p>saber de longa data que pela boca é que morrem os</p><p>peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –</p><p>não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode</p><p>um homem ter nascido num século de luzes e de</p><p>descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos</p><p>estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar</p><p>nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a</p><p>voz presa na garganta, quando encontra na rua, a</p><p>desoras2, uma avantesma3...</p><p>Assim, um profundo mistério cercava a existência do</p><p>lobisomem de Catumbi – quando começaram de</p><p>aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já</p><p>pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora</p><p>crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as</p><p>consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados</p><p>do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado</p><p>alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai</p><p>de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela</p><p>falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram</p><p>outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela</p><p>outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,</p><p>finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,</p><p>para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,</p><p>andava acumulando novos pecados sobre os pecados</p><p>an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos</p><p>merecedores de exorcismos que de cadeia.</p><p>Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida</p><p>de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres,</p><p>assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,</p><p>dando conta da diligência, disse que o delegado achou</p><p>dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no</p><p>topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares</p><p>que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E</p><p>acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,</p><p>tentando apagar as velas acesas que os si�antes7</p><p>empunhavam”.</p><p>Esta nota de morcegos deve ser um chique</p><p>român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o</p><p>repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,</p><p>que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,</p><p>esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do</p><p>terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de</p><p>Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram</p><p>sem dúvida os frangões roubados aos quintais das</p><p>casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu</p><p>tempo passou.</p><p>(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)</p><p>1esba�do: de tom pálido.</p><p>2a desoras: muito tarde.</p><p>3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.</p><p>4folha: periódico diário, jornal.</p><p>5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.</p><p>6pardieiro: prédio velho ou arruinado.</p><p>7si�ante: policial.</p><p>7@professorferretto @prof_ferretto</p><p>“Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século</p><p>de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do</p><p>liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e</p><p>não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar</p><p>disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na</p><p>rua, a desoras, uma avantesma...” (2º parágrafo)</p><p>Nesse trecho, o cronista acaba por desconstruir a</p><p>oposição entre</p><p>a) razão e século de luzes.</p><p>b) razão e crendice.</p><p>c) razão e descrença.</p><p>d) Iluminismo e Liberalismo.</p><p>e) Iluminismo e Revolução Francesa.</p><p>L0122 - (Unifesp)</p><p>Considere o trecho de O Cor�ço, de Aluísio Azevedo.</p><p>Uma aluvião de cenas, que ela [Pombinha] jamais tentara</p><p>explicar e que até ali jaziam esquecidas nos meandros do</p><p>seu passado, apresentavam-se agora ní�das e</p><p>transparentes. Compreendeu como era que certos velhos</p><p>respeitáveis, cuja fotografia Léonie lhe mostrou no dia</p><p>que passaram juntas, deixavam-se vilmente cavalgar pela</p><p>loureira, ca�vos e submissos, pagando a escravidão com</p><p>a honra, os bens, e até com a própria vida, se a</p><p>pros�tuta, depois de os ter esgotado, fechava-lhes o</p><p>corpo. E con�nuou a sorrir, desvanecida na sua</p><p>superioridade sobre esse outro sexo, vaidoso e fanfarrão,</p><p>que se julgava senhor e que, no entanto, fora posto no</p><p>mundo simplesmente para servir ao feminino; escravo</p><p>ridículo que, para gozar um pouco, precisava �rar da sua</p><p>mesma ilusão a substância do seu gozo; ao passo que a</p><p>mulher, a senhora, a dona dele, ia tranquilamente</p><p>desfrutando o seu império, endeusada e querida,</p><p>prodigalizando mar�rios, que os miseráveis aceitavam</p><p>contritos, a beijar os pés que os deprimiam e as</p><p>implacáveis mãos que os estrangulavam.</p><p>— Ah! homens! homens! ... sussurrou ela de envolta com</p><p>um suspiro.</p><p>No texto, os pensamentos da personagem</p><p>a) recuperam o princípio da prosa naturalista, que</p><p>condena os assuntos repulsivos e bes�ais, sem</p><p>amparo nas teorias cien�ficas, ligados ao homem que</p><p>põe em primeiro plano seus ins�ntos animalescos.</p><p>b) elucidam o princípio do determinismo presente na</p><p>prosa naturalista, revelando os homens e as mulheres</p><p>conscientes dos seus ins�ntos em função do meio em</p><p>que vivem e, sobretudo, capazes de controlá-los.</p><p>c) trazem uma crí�ca aos aspectos animalescos próprios</p><p>do homem, mas, por outro lado, revelam uma forma</p><p>de Pombinha submeter a muitos deles para obter</p><p>vantagens: eis aí um princípio do Realismo rechaçado</p><p>no Naturalismo.</p><p>d) constroem uma visão de mundo e do homem</p><p>idealizada, o que, em certa medida, afronta o</p><p>referencial em que se baseia a prosa naturalista, que</p><p>define o homem como fruto do meio, marcado pelo</p><p>apelo dos seus sen�dos.</p><p>e) consubstanciam a concepção naturalista de que o</p><p>homem é um animal, preso aos ins�ntos e, no que</p><p>dizem respeito à sexualidade, vê-se que Pombinha</p><p>considera a mulher superior ao homem, e esse</p><p>conhecimento é uma forma de se obterem</p><p>vantagens.</p><p>L0335 - (Unicamp)</p><p>“– Reputação! Ora, mamãe, e é a senhora</p><p>quem me fala</p><p>nisso!</p><p>Camila estacou, sem a�nar com a resposta,</p><p>compreendendo o alcance das palavras do filho.</p><p>A surpresa paralisou-lhe a língua; o sangue arrefeceu-se-</p><p>lhe nas veias; mas, de repente, a reação sacudiu-a e</p><p>então, num desa�no, ferida no coração, ela achou para o</p><p>Mário admoestações mais ásperas. Percebeu que a língua</p><p>mais dizia que a sua vontade; mas não poderia contê-la.</p><p>A dor a�rava-a para diante, contra aquele filho, até então</p><p>poupado.”</p><p>(Júlia Lopes de Almeida, A falência. Campinas: Editora da</p><p>Unicamp, 2018, p. 123.)</p><p>A passagem apresenta a reação de Camila às palavras de</p><p>seu filho. Assinale a alterna�va que explica corretamente</p><p>o comentário de Mário.</p><p>a) Mário contrapõe-se à censura materna com</p><p>sen�mento de compaixão.</p><p>b) Mário rejeita as reservas maternas com censura</p><p>moral.</p><p>c) Mário contrapõe-se à censura materna com desdém</p><p>pela família.</p><p>d) Mário rejeita as reservas maternas com vergonha</p><p>pelas dívidas acumuladas.</p><p>8@professorferretto @prof_ferretto</p><p>L0255 - (Fuvest)</p><p>O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os</p><p>dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas,</p><p>1mas um só ruído compacto que enchia todo o cor�ço.</p><p>Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se*</p><p>discussões e rezingas**; 2ouviam-se gargalhadas e</p><p>pragas; já se não falava, gritava-se. Sen�a-se naquela</p><p>fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas</p><p>rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta</p><p>e nutriente da vida, 3o prazer animal de exis�r, a</p><p>triunfante sa�sfação de respirar sobre a terra.</p><p>Da porta da venda que dava para o cor�ço iam e vinham</p><p>como formigas; fazendo compras.</p><p>Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a</p><p>Isaura, que se dispunha a começar a limpeza da casa.</p><p>– Nhá Dunga! 4gritou ela para baixo, a sacudir um pano</p><p>de mesa; se você tem cuscuz de milho hoje, 5bata na</p><p>porta, ouviu?</p><p>Aluísio Azevedo, O cor�ço.</p><p>* ensarilhar-se: emaranhar-se.</p><p>** rezinga: resmungo.</p><p>Uma caracterís�ca do Naturalismo presente no texto é:</p><p>a) forte apelo aos sen�dos.</p><p>b) idealização do espaço.</p><p>c) exaltação da natureza.</p><p>d) realce de aspectos raciais.</p><p>e) ênfase nas individualidades.</p><p>L0121 - (Insper)</p><p>Texto I</p><p>(...) No lampejo de seus grandes olhos pardos brilhavam</p><p>irradiações da inteligência. (...) O princípio vital da mulher</p><p>abandonava seu foco natural, o coração, para concentrar-</p><p>se no cérebro, onde residem as faculdades especula�vas</p><p>do homem.</p><p>(...)</p><p>Era realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a</p><p>um tutor, a perspicácia com que essa moça de dezoito</p><p>anos apreciava as questões mais complicadas; o perfeito</p><p>conhecimento que mostrava dos negócios, a facilidade</p><p>com que fazia, muitas vezes de memória, qualquer</p><p>operação aritmé�ca por muito di�cil e intrincada que</p><p>fosse.</p><p>Não havia porém em Aurélia nem sombra do ridículo</p><p>pedan�smo de certas moças, que tendo colhido em</p><p>leituras superficiais algumas noções vagas, se metem a</p><p>tagarelar de tudo.</p><p>(ALENCAR, José de. Senhora. SP: Editora Á�ca, 1980.)</p><p>Texto II</p><p>Aquela pobre flor de cor�ço, escapando à estupidez do</p><p>meio em que desabotoou, �nha de ser fatalmente ví�ma</p><p>da própria inteligência. À míngua de educação, seu</p><p>espírito trabalhou à revelia, e atraiçoou-a, obrigando-a a</p><p>�rar da substância caprichosa da sua fantasia de moça</p><p>ignorante e viva a explicação de tudo que lhe não</p><p>ensinaram a ver e sen�r.</p><p>(...)</p><p>Pombinha, só com três meses de cama franca, fizera-se</p><p>tão perita no o�cio como a outra; a sua infeliz inteligência</p><p>nascida e criada no modesto lodo da estalagem, medrou</p><p>admiravelmente na lama forte dos vícios de largo fôlego;</p><p>fez maravilhas na arte; parecia adivinhar todos os</p><p>segredos daquela vida; seus lábios não tocavam em</p><p>ninguém sem �rar sangue; sabia beber, gota a gota, pela</p><p>boca do homem mais avarento, todo dinheiro que a</p><p>ví�ma pudesse dar de si.</p><p>(AZEVEDO, Aluísio. O cor�ço. SP: Editora Á�ca, 1997.)</p><p>Considerando as descrições presentes nos fragmentos</p><p>transcritos, é correto afirmar que</p><p>a) o texto I filia-se ao Roman�smo, uma vez que nele a</p><p>heroína é reflexo, em grande medida, das</p><p>circunstâncias do ambiente em que se criou.</p><p>b) o texto I filia-se ao Roman�smo, já que nele a figura</p><p>feminina é descrita sob o prisma da idealização.</p><p>c) o texto I filia-se ao Naturalismo, pois as habilidades da</p><p>personagem são naturais no meio em que vive.</p><p>d) o texto II filia-se ao Realismo, já que a figura feminina</p><p>é descrita de forma fiel à realidade do período</p><p>histórico em que está inserida.</p><p>e) o texto II filia-se ao Naturalismo, pois nele a</p><p>personagem cons�tui uma representação inequívoca</p><p>do perfil feminino �pico.</p><p>L0124 - (Unicamp)</p><p>As Ondas</p><p>Entre as trêmulas mornas arden�as,</p><p>A noite no alto-mar anima as ondas.</p><p>Sobem das fundas úmidas Golcondas,</p><p>Pérolas vivas, as nereidas frias:</p><p>Entrelaçam-se, correm fugidias,</p><p>Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,</p><p>Vestem as formas alvas e redondas</p><p>De algas roxas e glaucas pedrarias.</p><p>Coxas de vago ônix, ventres polidos</p><p>De alabastro, quadris de argêntea espuma,</p><p>Seios de dúbia opala ardem na treva;</p><p>E bocas verdes, cheias de gemidos,</p><p>9@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,</p><p>Soluçam beijos vãos que o vento leva...</p><p>(Olavo Bilac, Tarde. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1919,</p><p>p.48)</p><p>Arden�a: s.f. fosforescência sobre as ondas do mar, à</p><p>noite.</p><p>Golconda: s. f. (fig.) mina de riquezas.</p><p>Nereida: s.f. cada uma das ninfas do mar, filhas de Nereu.</p><p>(Disponíveis em www.aulete.com.br/ Acessado em</p><p>30/07/2021.)</p><p>Em relação ao soneto de Olavo Bilac (no contexto de sua</p><p>época), é correto afirmar que a seleção lexical favorece a</p><p>a) descrição obje�va que o eu lírico faz da fantasia</p><p>amorosa recorrendo à riqueza mineral do oceanos.</p><p>b) representação esté�ca que o eu lírico faz do desejo</p><p>amoroso associado a fenômenos naturais.</p><p>c) descrição cien�fica que o eu lírico faz do corpo</p><p>feminino recorrendo a fenômenos da natureza.</p><p>d) representação natural que o eu lírico faz do jogo de</p><p>sensualidade associado à mitologia grega.</p><p>L0123 - (Ucpel)</p><p>Texto 1</p><p>O Úl�mo Poema</p><p>Manuel Bandeira</p><p>Assim eu quereria o meu úl�mo poema.</p><p>Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos</p><p>intencionais</p><p>Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas</p><p>Que �vesse a beleza das flores quase sem perfume</p><p>A pureza da chama em que se consomem os diamantes</p><p>mais límpidos</p><p>A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.</p><p>Disponível em:</p><p>.</p><p>Acesso em: 07 nov. 2016.</p><p>Texto 2</p><p>AMAR E SER AMADO</p><p>Castro Alves</p><p>Amar e ser amado! Com que anelo</p><p>Com quanto ardor este adorado sonho</p><p>Acalentei em meu delírio ardente</p><p>Por essas doces noites de desvelo!</p><p>Ser amado por �, o teu alento</p><p>A bafejar-me a abrasadora frente!</p><p>Em teus olhos mirar meu pensamento,</p><p>Sen�r em mim tu’alma, ter só vida</p><p>P’ra tão puro e celeste sen�mento</p><p>Ver nossas vidas quais dois mansos rios,</p><p>Juntos, juntos perderem-se no oceano,</p><p>Beijar teus lábios em delírio insano</p><p>Nossas almas unidas, nosso alento,</p><p>Confundido também, amante, amado</p><p>Como um anjo feliz... que pensamento!?</p><p>Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2016.</p><p>Texto 3</p><p>Livre</p><p>Cruz e Sousa</p><p>Livre! Ser livre da matéria escrava,</p><p>arrancar os grilhões que nos flagelam</p><p>e livre penetrar nos Dons que selam</p><p>a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.</p><p>Livre da humana, da terrestre bava</p><p>dos corações daninhos que regelam,</p><p>quando os nossos sen�dos se rebelam</p><p>contra a Infâmia bifronte que deprava.</p><p>Livre! bem livre para andar mais puro,</p><p>mais junto à Natureza e mais seguro</p><p>do seu Amor, de todas as jus�ças.</p><p>Livre! para sen�r a Natureza,</p><p>para gozar, na universal Grandeza,</p><p>Fecundas e arcangélicas preguiças.</p><p>Disponível em:</p><p>. Acesso em: 07 nov. 2016.</p><p>Sobre os textos é correto afirmar que:</p><p>a) O texto 3 demonstra a temá�ca presente nas poesias</p><p>român�cas da segunda geração, ou seja, o desejo pela</p><p>liberdade.</p><p>b) O texto 2 é um soneto que representa o valor métrico</p><p>atribuído ao parnasianismo.</p><p>c) Os textos 1 e 3 demonstram a</p><p>liberdade representada</p><p>ora na escrita e ora no tema, algo representa�vo para</p><p>o roman�smo.</p><p>d) O texto 2 demonstra a preocupação do eu lírico com a</p><p>questão da efemeridade da vida e a busca pelo prazer,</p><p>algo representa�vo na primeira geração do</p><p>roman�smo.</p><p>e) O texto 1 demonstra a liberdade de expressão e</p><p>criação poé�ca, sem preocupação com a linguagem,</p><p>caracterís�ca presente nas produções literárias do</p><p>modernismo.</p><p>10@professorferretto @prof_ferretto</p><p>L0307 - (Unesp)</p><p>Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada</p><p>originalmente em 1902.</p><p>Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já</p><p>tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo</p><p>sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre</p><p>para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já</p><p>se não adormecem as crianças com histórias de fadas e</p><p>de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de</p><p>cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os</p><p>tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco</p><p>dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é</p><p>ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom</p><p>termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão</p><p>propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse</p><p>temor, os pa�fes vão rejubilando.</p><p>O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.</p><p>Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo</p><p>pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável</p><p>modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,</p><p>tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas</p><p>– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em</p><p>consciência dizer se era duende macho ou duende</p><p>fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por</p><p>saber de longa data que pela boca é que morrem os</p><p>peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –</p><p>não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode</p><p>um homem ter nascido num século de luzes e de</p><p>descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos</p><p>estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar</p><p>nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a</p><p>voz presa na garganta, quando encontra na rua, a</p><p>desoras2, uma avantesma3...</p><p>Assim, um profundo mistério cercava a existência do</p><p>lobisomem de Catumbi – quando começaram de</p><p>aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já</p><p>pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora</p><p>crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as</p><p>consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados</p><p>do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado</p><p>alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai</p><p>de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela</p><p>falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram</p><p>outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela</p><p>outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,</p><p>finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,</p><p>para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,</p><p>andava acumulando novos pecados sobre os pecados</p><p>an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos</p><p>merecedores de exorcismos que de cadeia.</p><p>Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida</p><p>de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres,</p><p>assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,</p><p>dando conta da diligência, disse que o delegado achou</p><p>dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no</p><p>topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares</p><p>que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E</p><p>acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,</p><p>tentando apagar as velas acesas que os si�antes7</p><p>empunhavam”.</p><p>Esta nota de morcegos deve ser um chique</p><p>român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o</p><p>repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,</p><p>que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,</p><p>esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do</p><p>terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de</p><p>Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram</p><p>sem dúvida os frangões roubados aos quintais das</p><p>casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu</p><p>tempo passou.</p><p>(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)</p><p>1esba�do: de tom pálido.</p><p>2a desoras: muito tarde.</p><p>3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.</p><p>4folha: periódico diário, jornal.</p><p>5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.</p><p>6pardieiro: prédio velho ou arruinado.</p><p>7si�ante: policial.</p><p>Em “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de</p><p>toda a sua classe, andava acumulando novos pecados</p><p>sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de</p><p>excessos menos merecedores de exorcismos que de</p><p>cadeia” (3º parágrafo), o trecho sublinhado cons�tui um</p><p>exemplo de</p><p>a) sinestesia.</p><p>b) paradoxo.</p><p>c) pleonasmo.</p><p>d) hipérbole.</p><p>e) eufemismo.</p><p>L0251 - (Fuvest)</p><p>Este úl�mo capítulo é todo de nega�vas. Não alcancei a</p><p>celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa,</p><p>não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas</p><p>faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão</p><p>com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de</p><p>dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba.</p><p>Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa</p><p>imaginará que não houve míngua nem sobra, e,</p><p>conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará</p><p>mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério,</p><p>achei me com um pequeno saldo, que é a derradeira</p><p>11@professorferretto @prof_ferretto</p><p>nega�va deste capítulo de nega�vas: – Não �ve filhos,</p><p>não transmi� a</p><p>nenhuma criatura o legado da nossa miséria.</p><p>Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.</p><p>Não sei por que até hoje todo o mundo diz que �nha</p><p>pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se</p><p>fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz.</p><p>Ser obrigada a ficar à toa é que seria cas�go para mim.</p><p>Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique</p><p>preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então</p><p>respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da</p><p>senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada</p><p>em casa”.</p><p>Helena Morley, Minha vida de menina.</p><p>São caracterís�cas dos narradores Brás Cubas e Helena,</p><p>respec�vamente,</p><p>a) malícia e ingenuidade.</p><p>b) solidariedade e egoísmo.</p><p>c) apa�a e determinação.</p><p>d) rebeldia e conformismo.</p><p>e) o�mismo e pessimismo.</p><p>L0116 - (Upe-ssa)</p><p>Texto 1</p><p>Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu</p><p>forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos,</p><p>eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como</p><p>ostentasse certa arrogância, não se dis�nguia bem se era</p><p>uma criança, com fumos de homem, se um homem com</p><p>ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e</p><p>audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na</p><p>mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso,</p><p>rijo, veloz, como o corcel das an�gas baladas, que o</p><p>roman�smo foi buscar ao castelo medieval, para dar com</p><p>ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a</p><p>tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o</p><p>realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por</p><p>compaixão, o transportou para os seus livros.</p><p>Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e</p><p>facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou</p><p>diante de mim a fronte pensa�va, ou levantou para mim</p><p>os olhos cobiçosos. De todas porém a que me ca�vou</p><p>logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto,</p><p>ao menos na intenção; na intenção é cas�ssimo. Mas vá</p><p>lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me ca�vou foi</p><p>uma dama espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como</p><p>lhe chamavam os rapazes do tempo. E �nham razão os</p><p>rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo</p><p>ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião</p><p>aceita é que nascera de um letrado de Madri, ví�ma da</p><p>invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado,</p><p>quando ela �nha apenas doze anos.</p><p>Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis</p><p>Texto 2</p><p>Durante dois anos, o cor�ço prosperou de dia para dia,</p><p>ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o</p><p>Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância</p><p>brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta</p><p>implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das</p><p>janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que</p><p>serpentes, minavam por toda a</p><p>parte, ameaçando</p><p>rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e</p><p>abalando tudo. Posto que lá na Rua do Hospício os seus</p><p>negócios não corressem mal, custava-lhe a sofrer a</p><p>escandalosa fortuna do vendeiro “aquele �po! um</p><p>miserável, um sujo, que não pusera nunca um paletó, e</p><p>que vivia de cama e mesa com uma negra!”</p><p>À noite e aos domingos, ainda mais recrudescia o seu</p><p>azedume, quando ele, recolhendo-se fa�gado do serviço,</p><p>deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa</p><p>da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro</p><p>rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de</p><p>animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber</p><p>no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o</p><p>embebedava com o seu fartum de bestas no coito.</p><p>E depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e</p><p>habituado às torpezas carnais da mulher, isento já dos</p><p>primi�vos sobressaltos que lhe faziam, a ele, ferver o</p><p>sangue e perder a tramontana, era ainda a prosperidade</p><p>do vizinho o que lhe obsedava o espírito, enegrecendo-</p><p>lhe a alma com um feio ressen�mento de despeito.</p><p>Tinha inveja do outro, daquele outro português que</p><p>fizera fortuna, sem precisar roer nenhum chifre; daquele</p><p>outro que, para ser mais rico três vezes do que ele, não</p><p>teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de</p><p>algum fazendeiro freguês da casa!</p><p>Mas então, ele Miranda, que se supunha a úl�ma</p><p>expressão da ladinagem e da esperteza; ele, que, logo</p><p>depois do seu casamento, respondendo para Portugal a</p><p>um ex-colega que o felicitava, dissera que o Brasil era</p><p>uma cavalgadura carregada de dinheiro, cujas rédeas um</p><p>homem fino empolgava facilmente; ele, que se �nha na</p><p>conta de invencível matreiro, não passava afinal de um</p><p>pedaço de asno comparado com o seu vizinho! Pensara</p><p>fazer-se senhor do Brasil e fizera-se escravo de uma</p><p>brasileira mal-educada e sem escrúpulos de virtude!</p><p>Imaginara-se talhado para grandes conquistas, e não</p><p>passava de uma ví�ma ridícula e sofredora!... Sim! no fim</p><p>de contas qual fora a sua África?... Enriquecera um</p><p>pouco, é verdade, mas como? a que preço? hipotecando-</p><p>se a um diabo, que lhe trouxera oitenta contos de réis,</p><p>mas incalculáveis milhões de desgostos e vergonhas!</p><p>Arranjara a vida, sim, mas teve de aturar eternamente</p><p>uma mulher que ele odiava! E do que afinal lhe</p><p>aproveitar tudo isso? Qual era afinal a sua grande</p><p>12@professorferretto @prof_ferretto</p><p>existência? Do inferno da casa para o purgatório do</p><p>trabalho e vice-versa! Invejável sorte, não havia dúvida!</p><p>O Cor�ço, de Aluízio de Azevedo</p><p>Considerando as caracterís�cas temá�cas e es�lís�cas</p><p>dos textos 1 e 2, analise as proposições a seguir.</p><p>I. O Texto 1 é um trecho de um importante romance de</p><p>Machado de Assis, o qual destaca episódios da vida do</p><p>próprio autor.</p><p>II. No Texto 1, é possível perceber costumes do co�diano</p><p>burguês numa cidade do século XIX, levando o leitor a</p><p>constatar, pela postura individual do protagonista, um</p><p>segmento social dosado de humor nas suas próprias</p><p>experiências.</p><p>III. No Texto 2, é apresentado o comportamento</p><p>decadente da sociedade burguesa da segunda metade do</p><p>século XIX, em que prevalece o interesse individual.</p><p>IV. As personagens de Aluísio Azevedo, em O Cor�ço, são</p><p>alicerçadas nas ideias de Taine, presas ao ambiente e à</p><p>hereditariedade, limitadas pelas questões sociais e pelo</p><p>meio onde vivem suas experiências.</p><p>Estão CORRETAS:</p><p>a) I, II, III e IV.</p><p>b) I, III e IV, apenas.</p><p>c) II e III, apenas.</p><p>d) II, III e IV, apenas.</p><p>e) II e IV, apenas.</p><p>L0303 - (Unesp)</p><p>Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada</p><p>originalmente em 1902.</p><p>Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já</p><p>tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo</p><p>sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre</p><p>para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já</p><p>se não adormecem as crianças com histórias de fadas e</p><p>de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de</p><p>cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os</p><p>tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco</p><p>dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é</p><p>ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom</p><p>termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão</p><p>propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse</p><p>temor, os pa�fes vão rejubilando.</p><p>O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.</p><p>Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo</p><p>pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável</p><p>modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,</p><p>tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas</p><p>– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em</p><p>consciência dizer se era duende macho ou duende</p><p>fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por</p><p>saber de longa data que pela boca é que morrem os</p><p>peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –</p><p>não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode</p><p>um homem ter nascido num século de luzes e de</p><p>descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos</p><p>estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar</p><p>nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a</p><p>voz presa na garganta, quando encontra na rua, a</p><p>desoras2, uma avantesma3...</p><p>Assim, um profundo mistério cercava a existência do</p><p>lobisomem de Catumbi – quando começaram de</p><p>aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já</p><p>pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora</p><p>crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as</p><p>consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados</p><p>do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado</p><p>alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai</p><p>de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela</p><p>falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram</p><p>outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela</p><p>outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,</p><p>finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,</p><p>para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,</p><p>andava acumulando novos pecados sobre os pecados</p><p>an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos</p><p>merecedores de exorcismos que de cadeia.</p><p>Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida</p><p>de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres,</p><p>assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,</p><p>dando conta da diligência, disse que o delegado achou</p><p>dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no</p><p>topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares</p><p>que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E</p><p>acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos,</p><p>tentando apagar as velas acesas que os si�antes7</p><p>empunhavam”.</p><p>Esta nota de morcegos deve ser um chique</p><p>român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o</p><p>repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,</p><p>que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,</p><p>esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do</p><p>terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de</p><p>Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram</p><p>sem dúvida os frangões roubados aos quintais das</p><p>casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu</p><p>tempo passou.</p><p>(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)</p><p>1esba�do: de tom pálido.</p><p>2a desoras: muito tarde.</p><p>3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.</p><p>4folha: periódico diário, jornal.</p><p>13@professorferretto @prof_ferretto</p><p>5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.</p><p>6pardieiro: prédio velho ou arruinado.</p><p>7si�ante: policial.</p><p>Em relação à reportagem sobre a diligência policial (4º e</p><p>5º parágrafos), o cronista destaca seu caráter</p><p>a) obje�vo.</p><p>b) enigmá�co.</p><p>c) enfadonho.</p><p>d) fantasioso.</p><p>e) macabro.</p><p>L0266 - (Fuvest)</p><p>. Cinquenta anos! Não era preciso confessá-lo. Já se vai</p><p>sen�ndo que o meu es�lo não é tão lesto* como nos</p><p>primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o</p><p>oficial da marinha, que enfiou a capa e saiu, confesso que</p><p>fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou-me dançar</p><p>uma polca, embriagar-me das luzes, das flores, dos</p><p>cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho surdo e</p><p>ligeiro das conversas par�culares. E não me arrependo;</p><p>remocei. Mas, meia hora depois, quando me re�rei do</p><p>baile, às quatro da manhã, o que é que fui</p><p>achar no</p><p>fundo do carro? Os meus cinquenta anos.</p><p>*ágil</p><p>II. Meu caro crí�co,</p><p>Algumas páginas atrás, dizendo eu que �nha cinquenta</p><p>anos, acrescentei: “Já se vai sen�ndo que o meu es�lo</p><p>não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches</p><p>esta frase incompreensível, sabendo-se o meu atual</p><p>estado; mas eu chamo a tua atenção para a su�leza</p><p>daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que</p><p>esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A</p><p>morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase</p><p>da narração da minha vida experimento a sensação</p><p>correspondente. Valha-me Deus! É preciso explicar tudo.</p><p>Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.</p><p>Entre os dois trechos do romance, nota-se o movimento</p><p>que vai da memória de vivências à revisão que o defunto</p><p>autor faz de um mesmo episódio. A citação, pertencente</p><p>a outro capítulo do mesmo livro, que melhor sinte�za</p><p>essa duplicidade narra�va, é:</p><p>a) “A conclusão, portanto, é que há duas forças capitais:</p><p>o amor, que mul�plica a espécie, e o nariz, que a</p><p>subordina ao indivíduo”.</p><p>b) “Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a</p><p>�nta da melancolia, e não é di�cil perceber o que</p><p>poderá sair desse conúbio”.</p><p>c) “Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa</p><p>contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo,</p><p>porque o maior defeito do livro és tu, leitor”.</p><p>d) “Viver não é a mesma cousa que morrer; assim o</p><p>afirmam todos os joalheiros desse mundo, gente</p><p>muito vista na gramá�ca”.</p><p>e) “Não havia ali a atmosfera somente da águia e do</p><p>beija-flor; havia também a da lesma e do sapo”.</p><p>L0341 - (Unicamp)</p><p>(...) eu sou um pobre relojoeiro que, cansado de ver que</p><p>os relógios deste mundo não marcam a mesma hora,</p><p>descri do o�cio. (...) Um exemplo. O Par�do Liberal,</p><p>segundo li, estava encasacado e pronto para sair, com o</p><p>relógio na mão, porque a hora pingava. Faltava-lhe só o</p><p>chapéu, que seria o chapéu Dantas, ou o chapéu Saraiva</p><p>(ambos da chapelaria Aristocrata); era só pô-lo na</p><p>cabeça, e sair. Nisto passa o carro do paço com outra</p><p>pessoa, e ele descobre que ou o seu relógio está</p><p>adiantado, ou o de Sua Alteza é que se atrasara. Quem os</p><p>porá de acordo?</p><p>(Machado de Assis, Bons dias. Introdução e notas John</p><p>Gledson. 3. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2008, p.</p><p>79.)</p><p>Com relação ao excerto da crônica de Machado de Assis,</p><p>publicada em 05 de abril de 1888 na Gazeta de No�cias,</p><p>é correto afirmar que a metáfora mecânica faz referência</p><p>à passagem do tempo, aludindo à expecta�va de</p><p>mudança de</p><p>a) regime a par�r de discordâncias polí�cas que levaram</p><p>à eleição do governo imperial.</p><p>b) século, marcada pela perspec�va da chegada do</p><p>meteorito de Bendegó na corte imperial.</p><p>c) mentalidade escravagista, com um pacto polí�co para</p><p>suspensão de costumes imperiais.</p><p>d) legislação, com a alternância entre par�dos para a</p><p>formação de um novo ministério do governo</p><p>imperial.</p><p>L0252 - (Fuvest)</p><p>Este úl�mo capítulo é todo de nega�vas. Não alcancei a</p><p>celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa,</p><p>não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas</p><p>faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão</p><p>14@professorferretto @prof_ferretto</p><p>com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de</p><p>dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba.</p><p>Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa</p><p>imaginará que não houve míngua nem sobra, e,</p><p>conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará</p><p>mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério,</p><p>achei me com um pequeno saldo, que é a derradeira</p><p>nega�va deste capítulo de nega�vas: – Não �ve filhos,</p><p>não transmi� a</p><p>nenhuma criatura o legado da nossa miséria.</p><p>Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.</p><p>Não sei por que até hoje todo o mundo diz que �nha</p><p>pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se</p><p>fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz.</p><p>Ser obrigada a ficar à toa é que seria cas�go para mim.</p><p>Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique</p><p>preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então</p><p>respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da</p><p>senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada</p><p>em casa”.</p><p>Helena Morley, Minha vida de menina.</p><p>Nos dois textos, obtém-se ênfase por meio do emprego</p><p>de um mesmo recurso expressivo, como se pode verificar</p><p>nos seguintes trechos:</p><p>a) “Este úl�mo capítulo é todo de nega�vas” / “Eu não</p><p>penso assim”.</p><p>b) “Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui</p><p>ministro, não fui califa, não conheci o casamento” /</p><p>“Não sei por que até hoje todo o mundo diz que �nha</p><p>pena dos escravos”.</p><p>c) “Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube me a boa</p><p>fortuna de não comprar o pão com o suor do meu</p><p>rosto” / “Ser obrigada a ficar à toa é que seria cas�go</p><p>para mim”.</p><p>d) “qualquer pessoa imaginará que não houve míngua</p><p>nem sobra” / “Mamãe às vezes diz que ela até deseja</p><p>que eu fique preguiçosa”.</p><p>e) “Não �ve filhos, não transmi� a nenhuma criatura o</p><p>legado da nossa miséria” / “Acho que se fosse</p><p>obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz”.</p><p>L0256 - (Fuvest)</p><p>O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os</p><p>dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas,</p><p>1mas um só ruído compacto que enchia todo o cor�ço.</p><p>Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se*</p><p>discussões e rezingas**; 2ouviam-se gargalhadas e</p><p>pragas; já se não falava, gritava-se. Sen�a-se naquela</p><p>fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas</p><p>rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta</p><p>e nutriente da vida, 3o prazer animal de exis�r, a</p><p>triunfante sa�sfação de respirar sobre a terra.</p><p>Da porta da venda que dava para o cor�ço iam e vinham</p><p>como formigas; fazendo compras.</p><p>Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a</p><p>Isaura, que se dispunha a começar a limpeza da casa.</p><p>– Nhá Dunga! 4gritou ela para baixo, a sacudir um pano</p><p>de mesa; se você tem cuscuz de milho hoje, 5bata na</p><p>porta, ouviu?</p><p>Aluísio Azevedo, O cor�ço.</p><p>* ensarilhar-se: emaranhar-se.</p><p>** rezinga: resmungo.</p><p>Cons�tui marca do registro informal da língua o trecho</p><p>a) “mas um só ruído compacto” (ref. 1).</p><p>b) “ouviam-se gargalhadas” (ref. 2).</p><p>c) “o prazer animal de exis�r” (ref. 3).</p><p>d) “gritou ela para baixo” (ref. 4).</p><p>e) “bata na porta” (ref. 5).</p><p>L0334 - (Unicamp)</p><p>No conto “O espelho”, de Machado de Assis, uma</p><p>personagem assume a palavra e narra uma história.</p><p>Assinale a alterna�va que explicita sua interlocução com</p><p>os cavalheiros presentes.</p><p>(Machado de Assis, O espelho. Campinas: Editora da</p><p>Unicamp, 2019.)</p><p>a) “Lembra-me de alguns rapazes que se davam comigo,</p><p>e passaram a olhar-me de revés, durante algum</p><p>tempo.”</p><p>b) “Ah! pérfidos! Mal podia eu suspeitar a intenção</p><p>secreta dos malvados.”</p><p>c) “Imaginai um homem que, pouco a pouco, emerge de</p><p>um letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a</p><p>ver.”</p><p>d) “O espelho estava naturalmente muito velho; mas via-</p><p>se-lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo.”</p><p>L0128 - (Professor Ferre�o)</p><p>“Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na</p><p>chácara, pendurou-me uma ideia no trapézio que eu</p><p>�nha no cérebro. Uma vez pen durada, entrou a bracejar,</p><p>a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de vola�m,</p><p>que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la.</p><p>Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as</p><p>pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou</p><p>devoro-te.”</p><p>(Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis)</p><p>15@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Sobre o texto mostrado, pode-se dizer que:</p><p>a) o autor faz uma abordagem superficial da situação.</p><p>b) o autor preocupa-se com os detalhes, por meio de</p><p>minuciosa descrição.</p><p>c) o autor dá relevância a outras circunstân cias,</p><p>negligenciando o foco do assunto.</p><p>d) o autor não mostra preocupação com o discer nimento</p><p>do leitor, pois apenas sugere situações.</p><p>e) contempla a si próprio, num ritual egocêntrico e</p><p>narcisista.</p><p>L0114 - (Espm)</p><p>A zoomorfização na Literatura, a des peito de qualquer</p><p>outra caracterís�ca es� lís�ca, sempre esteve presente,</p><p>no entanto, aparece principalmente nas obras com ca -</p><p>racterís�cas realistas que, em contraponto àquelas com</p><p>aspectos</p><p>mais român�cos, têm o intento de retratar as</p><p>mazelas da socieda de como espelho. (...)</p><p>Fez-se necessário uma Literatura condi zente com o real e,</p><p>para tanto, a zoomorfiza ção de personagens foi u�lizada</p><p>com maior ênfase. Paralelo ao Realismo, o Naturalismo é</p><p>o momento em que mais se verifica este fenômeno.</p><p>(Uesla Lima Soares, O Animal Humano: Os paradigmas da</p><p>zoomorfização social e sua representação literária, Anais</p><p>do Fes�val Literário de Paulo Afonso, 2017)</p><p>[O zoomorfismo] ocorre quando “o que é próprio do</p><p>homem se estende ao animal e permite, por simetria,</p><p>que o que é próprio do animal se estenda ao homem.”</p><p>(Antonio Cândido, De Cor�ço a Cor�ço, Novos Estu dos</p><p>CEBRAP, 1991).</p><p>Considere as seguintes afirmações:</p><p>I. A zoomorfização se opôs frontalmente às idealizações</p><p>român�cas, sendo uma carac terís�ca exclusiva do</p><p>Naturalismo.</p><p>II. Segundo Antonio Candido, não é possível haver</p><p>dis�nção entre ser humano e animal, no sen�do de que</p><p>um cede caracterís�ca ao outro e vice-versa.</p><p>III. A definição de Antonio Candido sobre zoomorfismo é</p><p>construída por meio de um processo chamado quiasmo.</p><p>A respeito de tais afirmações, deve-se dizer que:</p><p>a) somente I está correta.</p><p>b) somente II está correta.</p><p>c) somente III está correta.</p><p>d) somente I e II estão corretas.</p><p>e) somente I e III estão corretas.</p><p>L0115 - (Fuvest)</p><p>I. Cinquenta anos! Não era preciso confessá-lo. Já se vai</p><p>sen�ndo que o meu es�lo não é tão lesto* como nos</p><p>primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o</p><p>oficial da marinha, que enfiou a capa e saiu, confesso que</p><p>fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou-me dançar</p><p>uma polca, embriagar-me das luzes, das flores, dos</p><p>cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho surdo e</p><p>ligeiro das conversas par�culares. E não me arrependo;</p><p>remocei. Mas, meia hora depois, quando me re�rei do</p><p>baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no</p><p>fundo do carro? Os meus cinquenta anos.</p><p>*ágil</p><p>II. Meu caro crí�co,</p><p>Algumas páginas atrás, dizendo eu que �nha cinquenta</p><p>anos, acrescentei: “Já se vai sen�ndo que o meu es�lo</p><p>não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches</p><p>esta frase incompreensível, sabendo-se o meu atual</p><p>estado; mas eu chamo a tua atenção para a su�leza</p><p>daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que</p><p>esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A</p><p>morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase</p><p>da narração da minha vida experimento a sensação</p><p>correspondente. Valha-me Deus! É preciso explicar tudo.</p><p>Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.</p><p>A passagem final do texto II – “Valha-me Deus! é preciso</p><p>explicar tudo.” – denota um elemento presente no es�lo</p><p>do romance, ou seja,</p><p>a) o realismo, visto no rigor explica�vo dos fatos.</p><p>b) a religiosidade, que se socorre do auxílio divino.</p><p>c) o humor, capaz de rela�vizar as ideias.</p><p>d) a metalinguagem, que imprime linearidade à</p><p>narração.</p><p>e) a ironia, própria do discurso posi�vo.</p><p>L0119 - (Fgvrj)</p><p>Algum tempo hesitei se devia abrir estas</p><p>memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em</p><p>primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.</p><p>Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas</p><p>considerações me levaram a adotar diferente método: a</p><p>primeira é que eu não sou propriamente um autor</p><p>defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi</p><p>outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais</p><p>galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua</p><p>morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença</p><p>radical entre este livro e o Pentateuco.</p><p>16@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma</p><p>sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela</p><p>chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos,</p><p>rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos</p><p>contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos.</p><p>Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.</p><p>Ao configurar as Memórias póstumas de Brás</p><p>Cubas como narra�va em primeira pessoa, conforme se</p><p>verifica no trecho, Machado de Assis</p><p>a) deu um passo decisivo em direção ao Realismo,</p><p>adotando os procedimentos mais �picos dessa</p><p>escola.</p><p>b) visa a cri�car o subje�vismo român�co e os excessos</p><p>sen�mentalistas em que este incorrera.</p><p>c) deu a palavra ao proprietário escravista e ren�sta</p><p>brasileiro do Oitocentos, para que ele próprio exibisse</p><p>sua desfaçatez.</p><p>d) parodia as Memórias de um sargento de milícias,</p><p>retomando o registro narra�vo que as caracterizava.</p><p>e) confere confiabilidade aos juízos do narrador, uma vez</p><p>que este conhece os acontecimentos de que</p><p>par�cipou.</p><p>L0444 - (Unesp)</p><p>Leia o capítulo CXVII [118] do romance Quincas Borba,</p><p>de Machado de Assis.</p><p>A história do casamento de Maria Benedita é curta; e,</p><p>posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la. Fique desde</p><p>já admi�do que, se não fosse a epidemia das Alagoas,</p><p>talvez não chegasse a haver casamento; donde se conclui</p><p>que as catástrofes são úteis, e até necessárias. Sobejam</p><p>exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança,</p><p>e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma</p><p>choupana que ardia na estrada; a dona, — um triste</p><p>molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a poucos</p><p>passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar</p><p>um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher,</p><p>perguntou-lhe se a casa era dela.</p><p>— É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía</p><p>neste mundo.</p><p>— Dá-me então licença que acenda ali o meu</p><p>charuto?</p><p>O padre que me contou isto certamente emendou o</p><p>texto original; não é preciso estar embriagado para</p><p>acender um charuto nas misérias alheias. Bom padre</p><p>Chagas! — Chamava-se Chagas. — Padre mais que bom,</p><p>que assim me incu�ste por muitos anos essa ideia</p><p>consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o</p><p>mal dos outros; não contando o respeito que aquele</p><p>bêbado �nha ao princípio da propriedade, — a ponto de</p><p>não acender o charuto sem pedir licença à dona das</p><p>ruínas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas!</p><p>Para o narrador, no texto original do “contozinho”</p><p>relatado no capítulo,</p><p>a) o homem não estava embriagado.</p><p>b) a mulher não estava chorando.</p><p>c) a mulher não era proprietária da choupana.</p><p>d) a choupana não estava em chamas.</p><p>e) o homem não fumava charuto.</p><p>L0445 - (Unesp)</p><p>Leia o capítulo CXVII [118] do romance Quincas Borba,</p><p>de Machado de Assis.</p><p>A história do casamento de Maria Benedita é curta; e,</p><p>posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la. Fique desde</p><p>já admi�do que, se não fosse a epidemia das Alagoas,</p><p>talvez não chegasse a haver casamento; donde se conclui</p><p>que as catástrofes são úteis, e até necessárias. Sobejam</p><p>exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança,</p><p>e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma</p><p>choupana que ardia na estrada; a dona, — um triste</p><p>molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a poucos</p><p>passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar</p><p>um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher,</p><p>perguntou-lhe se a casa era dela.</p><p>— É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía</p><p>neste mundo.</p><p>— Dá-me então licença que acenda ali o meu</p><p>charuto?</p><p>O padre que me contou isto certamente emendou o</p><p>texto original; não é preciso estar embriagado para</p><p>acender um charuto nas misérias alheias. Bom padre</p><p>Chagas! — Chamava-se Chagas. — Padre mais que bom,</p><p>que assim me incu�ste por muitos anos essa ideia</p><p>consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o</p><p>mal dos outros; não contando o respeito que aquele</p><p>bêbado �nha ao princípio da propriedade, — a ponto de</p><p>não acender o charuto sem pedir licença à dona das</p><p>ruínas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas!</p><p>No capítulo, o es�lo adotado pelo narrador</p><p>caracteriza-se como</p><p>a) sen�mental e utópico.</p><p>b) hiperbólico e dramá�co.</p><p>c) digressivo e irônico.</p><p>d) impessoal e obje�vo.</p><p>e) subje�vo e moralizante.</p><p>L0446 - (Unesp)</p><p>17@professorferretto @prof_ferretto</p><p>No trecho “Sobejam exemplos; mas basta um</p><p>contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes dou em</p><p>duas linhas.” (1º parágrafo), a inclusão do leitor na</p><p>narra�va pode ser constatada pelo termo</p><p>a) “basta”.</p>