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PONTO DE PARTIDA
A crise da República Velha permitiu uma nova dinâmica no desenvolvimento econômico e social brasileiro, com todas as contradições inerentes. Dentro desse contexto, os rumos da educação brasileira se tornaram cada vez mais alvo de debates entre católicos e reformadores da educação, bem como as políticas educacionais adotadas no período. Diante de uma nova configuração política com a denominada Revolução de 1930, quais foram as mudanças ocorridas no plano político, econômico, social e educacional do primeiro governo Vargas? A velha estrutura coronelista foi realmente derrotada? E as polêmicas em torno dos debates educacionais entre católicos e reformadores, de que forma prosseguiram? São essas questões que vão nortear o desenvolvimento da nossa aula. Vamos pensar mais sobre elas?
VAMOS COMEÇAR!
A Política do Café com Leite, também conhecida como Política dos Governadores, foi um acordo político informal que dominou a cena política brasileira durante a República Velha (1889-1930). Essa estratégia visava manter o poder nas mãos das oligarquias cafeeiras de São Paulo e dos produtores de leite e de gado de Minas Gerais, alternando o controle da presidência da República entre representantes dos dois estados. A base da Política do Café com Leite era a negociação e o clientelismo entre as elites de São Paulo e Minas Gerais. Eles trocavam favores, como apoio político e financiamento de campanhas eleitorais, em troca de benefícios mútuos. As oligarquias manipulavam o sistema eleitoral para garantir a vitória de seus candidatos. Isso era feito através da fraude eleitoral, compra de votos e coerção dos eleitores.
Tal organização beneficiou as elites de São Paulo e Minas Gerais, mas prejudicou a maioria da população. O povo brasileiro não tinha voz na política e era submetido a condições precárias de vida. A concentração de poder nas mãos das oligarquias atrasou o desenvolvimento de outras regiões do país. O Nordeste, por exemplo, ficou à margem do progresso e ainda hoje enfrenta sérios problemas sociais e econômicos. A exclusão social e a falta de representatividade política geraram grande insatisfação popular. Essa insatisfação culminou com a Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha.
Em 1929, Washington Luís rompe a aliança com os mineiros e lançou a candidatura de Júlio Prestes, agravando ainda mais a crise política. É nesse conturbado contexto que explode a crise da Bolsa de Nova Iorque em 1929, arrastando o capitalismo para a sua maior crise e, consequentemente, afetando drasticamente a exportação do café brasileiro. Portanto, além da crise política e social, a crise econômica somou-se à explosiva conjuntura brasileira. As eleições de 1930, com as candidaturas de Júlio Prestes, Getúlio Vargas e Minervino de Oliveira (o primeiro operário candidato à presidência), marcaram as últimas movimentações políticas da República Velha, interrompida pelo impedimento da posse de Júlio Prestes pela ação militar da denominada Revolução de 1930, que empossou Getúlio Vargas em novembro de 1930 na presidência da República.
O PRIMEIRO GOVERNO VARGAS (1930 – 1945)
Em 1929, o mundo presenciou um dos eventos mais devastadores da história do capitalismo: a quebra da bolsa de Nova York. Esse colapso financeiro desencadeou uma crise de proporções épicas, varrendo economias de diversas nações e lançando-as em um abismo de recessão e instabilidade. O Brasil, na época um país agroexportador altamente dependente da venda de café, não escapou dessa catástrofe. O impacto no Brasil foi brutal. A queda vertiginosa do preço do café no mercado internacional representou um duro golpe para a economia nacional. A principal fonte de renda do país se esvaía, arrastando consigo o sustento de milhões de pessoas. A situação se agravou ainda mais devido à crise política e social que já assolava a nação.
O clima no Brasil era de profunda insatisfação. A população, empobrecida e marginalizada, clamava por mudanças. A frase atribuída ao então governador de Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrada, "façamos a revolução antes que o povo a faça", ecoava o receio das elites dominantes em relação à crescente agitação social. A crise do café impulsionou a diversificação da economia brasileira, abrindo caminho para o desenvolvimento de outros setores, como a indústria. Além disso, a crise política e social contribuiu para o fim da República Velha e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder em 1930, dando início a um novo capítulo na história do país.
Esse período, conhecido como Era Vargas, pode ser dividido em três fases distintas:
1. Governo Provisório (1930-1934): assumindo o poder após a Revolução de 1930, Vargas governou com poderes ditatoriais, centralizando o poder em suas mãos.
2. Governo Constitucional (1934-1937): em 1934, uma nova Constituição foi promulgada, estabelecendo um regime democrático com eleições diretas.
3. Estado Novo (1937-1945): em 1937, Vargas fechou o Congresso Nacional, anulou a Constituição e instaurou um regime ditatorial conhecido como Estado Novo. Esse período foi marcado por forte controle estatal da economia, da política e da sociedade.
O campo político que apoiou Vargas no início de seu governo, a Aliança Liberal, era composto por oligarquias afastadas do poder e outras que já faziam parte do poder (os mineiros e, em menor escala, os gaúchos), por setores militares que promoveram variadas quarteladas na década de 1920, por liberais, entre outros setores. Assim, o início do governo Vargas foi marcado pelo fechamento do Congresso Nacional e das Assembleias Estaduais e Municipais, pela cassação dos mandatos dos governadores e pela revogação da Constituição de 1891 e do governo por decretos-lei. A nova Constituição Federal, promulgada em 1934, diante da diversidade de interesses contraditórios, não agradou nenhum setor, mas permitiu a Vargas, eleito indiretamente, um governo de mais quatro anos, interrompido pelo Estado Novo. O político utilizou essa manobra para cancelar as eleições de 1938 e imprimir um governo autoritário até 1945, livre das amarras das contradições dos divergentes interesses que o levaram inicialmente ao poder.
Getúlio Vargas foi, sem dúvida, um dos líderes mais influentes da história brasileira. Seu governo, marcado por um nacionalismo vigoroso e por uma intervenção estatal inédita na economia, lançou as bases para a industrialização do país. As políticas industrializantes de Vargas tiveram um impacto significativo na economia brasileira. O país se tornou menos dependente de importações, gerou novos empregos e impulsionou o crescimento do PIB. Cidades industriais floresceram, e a classe operária se consolidou como um importante ator social.
Vargas reconheceu que o livre mercado não era suficiente para impulsionar a industrialização no Brasil. Por esse motivo, o Estado assumiu um papel fundamental nesse processo, investindo diretamente na criação de empresas públicas e na construção de infraestrutura básica, como usinas hidrelétricas, portos e estradas.
Empresas como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Vale do Rio Doce e a Petrobrás nasceram nesse período, tornando-se pilares da indústria brasileira.
Para proteger a indústria nacional da concorrência estrangeira, Vargas implementou uma série de medidas protecionistas, como tarifas alfandegárias e restrições à importação.
Apesar dos avanços na industrialização, o governo Vargas não promoveu uma reforma agrária significativa. A estrutura fundiária latifundiária do Brasil permaneceu intacta, com a terra e a riqueza concentradas nas mãos de uma minoria. A industrialização gerou novos empregos e oportunidades, mas também acentuou a disparidade entre ricos e pobres. A concentração de renda nas mãos dos latifundiários e dos industriais contrastava com a pobreza da maioria da população, especialmente no campo. A falta de uma reforma agrária limitou o mercado interno para os produtos industrializados. Os trabalhadores rurais, em sua maioria empobrecidos e sem acesso à terra, não tinham poder de compra para consumir os produtos da nova indústriaEssa estratégia visava conciliar as demandas da sociedade civil com a manutenção do controle militar sobre o poder. Em 1978, Ernesto Geisel revogou Ato Institucional nº 5 (AI-5), que restringia as liberdades individuais e políticas. A Lei de Anistia, promulgada em 1979, representou um passo tímido na direção da reconciliação nacional. No entanto, a repressão ainda era frequente, e a liberdade de expressão continuava severamente restringida.
A luta por direitos humanos e liberdades civis, brutalmente sufocada durante os anos do regime, ganhava força. Movimentos sociais, como o Movimento Operário, a Igreja Católica e os estudantes, desafiavam os militares com bravura e determinação. Na arena política, a oposição, silenciada pelo governo, se reorganizava. Novos partidos, como o PT (Partido dos Trabalhadores) e o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), surgiam como porta-vozes das aspirações populares. A luta por eleições diretas se tornava o símbolo da resistência, unindo diferentes correntes ideológicas em um anseio comum: o fim da ditadura e a restauração da democracia.
Em 1984, o movimento pelas Diretas Já atingiu seu ápice. Milhões de brasileiros tomaram as ruas, em manifestações pacíficas, exigindo o fim do regime militar e a realização de eleições diretas para presidente. Apesar da grandiosidade das mobilizações, o Congresso Nacional rejeitou a proposta de realizar eleições diretas para presidente. Em 1985, a eleição indireta de Tancredo Neves para presidente marcou o fim formal do regime militar e o início da Nova República. A morte de Tancredo, poucos dias após sua posse, levou à vice-presidência José Sarney, que deu início à árdua tarefa de reconstruir o país e consolidar a democracia.
Crise econômica
A década de 1980 no Brasil ficou conhecida como a "década perdida" por um motivo principal: a estagnação econômica e a queda do PIB per capita. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam que o PIB per capita em dólares despencou 4% entre 1980 e 1990, com a retração mais acentuada se concentrando na primeira metade da década. O fim do regime militar em 1985 deixou um legado de dívidas externas exorbitantes, alta inflação e um setor público inchado e ineficiente. Na segunda metade da década, tivemos uma sequência de planos econômicos visando combater a inflação, fruto da desorganização da economia e da disputa da renda nacional pelos setores economicamente mais poderosos, que se beneficiavam do aumento de preços ou da proteção dos rendimentos por meio do sistema de correção monetária.
A partir do Plano Cruzado, em 1986, o país mergulhou em um ciclo hiperinflacionário, no qual a moeda perdia seu valor a cada dia. A instabilidade econômica, a desconfiança na moeda e a especulação financeira alimentaram o problema, gerando empobrecimento da população e desorganização da economia. A inflação corroeu o poder de compra das famílias, especialmente das camadas mais pobres. Os salários perdiam valor rapidamente enquanto os preços dos produtos subiam vertiginosamente, gerando grande sofrimento social.
A crise econômica aprofundou as disparidades sociais: os mais ricos conseguiram proteger seus patrimônios, enquanto os mais pobres foram os mais afetados pela inflação e pelo desemprego. A redução do poder de compra do salário-mínimo e dos salários em geral concentrou ainda mais a renda nacional e permitiu que a produção nacional não consumida fosse exportada para pagamento de juros da dívida externa.
Segundo dados da Revista Conjuntura Econômica da Fundação Getúlio Vargas, citados por Gonçalves e Pomar (2000), nossa dívida em 1980 era de 65 bilhões de dólares. Entre 1981 e 1989 não recebemos novos recursos e pagamos 87,6 bilhões de dólares, só de juros. Mesmo assim nossa dívida ultrapassou 120 bilhões de dólares naquele ano. E a educação, como fica nesse contexto de recessão?
Siga em Frente...
A educação na década de 1980
De acordo com Xavier, Ribeiro e Noronha (1994), as décadas de 1970 e 1980, no tocante à educação, poderiam ser descritas da seguinte maneira:
O Estado gradativamente de se descomprometeu de financiar a educação pública. Os recursos estavam comprometidos com o capital privado e, além disso, o Estado repassava verbas para as escolas particulares. Na educação, a iniciativa privada dominava a pré-escola, avançava no 2º grau e se tornaria majoritária no nível superior. (Xavier, Ribeiro e Noronha, 1994, p. 279)
Em 1982, a Lei no 7.044 desobrigou as escolas de praticar a profissionalização, deixando a opção da preparação para o trabalho a critério do estabelecimento de ensino e permitindo um retorno à formação mais geral. Além disso, o Parecer 342 do Conselho Federal de Educação, no mesmo ano, admitia o retorno da disciplina de Filosofia às salas de aula, embora optativa, não obrigatória. Mesmo com as mudanças ocorridas nos períodos anteriores, a educação, restrita a grupos privilegiados, tornou-se ainda mais elitizada com o grande aumento do valor das mensalidades, Segundo dados apresentados por Xavier, Ribeiro e Noronha (1994), em 1984, mais de 60% da população economicamente ativa tinha no máximo quatro anos de escolaridade. Ainda havia muita coisa a ser feita para a universalização do ensino (Gomes et al., 2007).
Os militares reduziram consideravelmente as verbas destinadas à educação, eliminando a vinculação de recursos mínimos para o setor. A Emenda Constitucional Nº 24, promulgada em 1983, representou um marco histórico na luta por um financiamento educacional mais justo e robusto no Brasil. Ao alterar o Art. 176 da Constituição Federal, a emenda estabeleceu a obrigatoriedade de que a União destinasse, no mínimo, 13% da receita resultante de impostos para a educação, enquanto estados e municípios deveriam aplicar 25% de seus recursos na área.
Apesar do avanço legislativo, a efetivação do princípio constitucional esbarrou em diversos desafios. O descumprimento da lei por parte do governo federal, como no ano seguinte à promulgação da emenda, quando o orçamento destinado à educação foi reduzido, evidenciou as dificuldades em garantir o financiamento adequado para o setor. A luta pela implementação da Emenda Constitucional Nº 24 gerou, pois, grande mobilização social. Sindicatos, movimentos sociais, estudantes e entidades civis se uniram para pressionar o governo a cumprir a lei e garantir o direito à educação de qualidade para todos.
Constituição Federal de 1988
Em 1986, foram eleitos os deputados para a Assembleia Nacional Constituinte. O debate sobre os rumos da educação nacional – e de todo o resto – contagiava toda a sociedade. O Brasil se reencontrava com a democracia e o debate político, truncado em 1964, era retomado com força, trazendo à tona novas e velhas questões: direitos fundamentais do cidadão, sistema de governo, direitos trabalhistas e previdenciários, monopólio estatal do petróleo, reforma agrária, direitos sociais incluindo a criação do SUS (Sistema Único de Saúde), modelo de previdência social, financiamento da educação, entre muitos outros.
Frente aos avanços aprovados na comissão de sistematização, um bloco conservador mais de direita (PDS, PFL, PL, PDC e parte do PMDB) consolidou-se em um espaço autointitulado “Centrão”. Note como parece que, ao longo da história do Brasil, nunca tivemos políticos de direita. Eles sempre se apresentavam, pelo menos até recentemente, como de centro. Esse bloco de centro-direita unificado conseguiu reverter grande parte dos avanços que se desenhavam. Mesmo assim, em razão da pressão popular, muitos direitos foram garantidos e a Constituição de 1988 foi chamada Cidadã, sendo, desde então, alvo dos grupos mais reacionários e poderosos, que sempre tentam reduzir esses direitos.
A Constituição Federal de 1988 representou um marco histórico para a educação brasileira, consagrando-a como um direito social fundamental e estabelecendo diversos princípios e diretrizes para sua organização e desenvolvimento. Ela foi elevada à categoria de direito social, reconhecida como essencial para o desenvolvimento da pessoae da sociedade. Isso significa que o Estado passou a ter o dever de garantir o acesso universal à educação de qualidade para todos os cidadãos, independentemente de classe social, raça, gênero, idade ou qualquer outra condição.
A Carta Magna estabeleceu a obrigatoriedade de investimento mínimo em educação por parte da União, estados e municípios, definindo percentuais da receita de impostos que devem ser destinados à área, que passaram de 13% para 18% dos impostos da União e mantiveram-se em 25% para estados e municípios, o maior percentual em toda a história do país. Essa medida visava garantir que os recursos públicos fossem direcionados de forma adequada para a educação, assegurando a oferta de ensino de qualidade para todos os cidadãos.
Um dos maiores debates, inclusive, foi sobre a destinação dessas verbas, já que as instituições privadas desejavam continuar recebendo os recursos – como acontecia antes. No final, a Constituição acabou permitindo que escolas comunitárias confessionais ou filantrópicas, sem fins lucrativos, pudessem receber verbas públicas, o que foi considerado um retrocesso por alunos, educadores e especialistas que defendiam que elas fossem destinadas apenas para escolas públicas.
As escolas públicas passaram a ter maior autonomia para definir seus projetos pedagógicos, currículos e métodos de ensino, respeitando as diretrizes nacionais e as necessidades da comunidade local. Essa autonomia visava promover uma educação mais contextualizada e relevante para os alunos, atendendo às suas necessidades específicas e contribuindo para o desenvolvimento integral do indivíduo.
A Carta Magna reconheceu, pois, a importância da valorização dos profissionais da educação para a qualidade do ensino, estabelecendo princípios como a carreira única para os professores públicos, com ingresso por concurso público e planos de carreira que garantam progressão salarial e profissional. A valorização dos professores visa estimular a formação de profissionais qualificados e comprometidos com a educação, contribuindo para a melhoria da qualidade do ensino em todo o país. Também previu a elaboração de um Plano Nacional de Educação de duração plurianual (Art. 214), que deve definir as diretrizes e metas para o desenvolvimento da educação em todo o país. O objetivo era nortear as políticas públicas de educação, garantindo a coerência e a efetividade das ações nesse campo em todo o território nacional.
O Artigo 205 da Constituição estabeleceu que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho" (Brasil, 1988). Entre seus princípios, o Artigo 206 destaca:
· A igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
· A liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.
· O pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino.
· A gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais.
· A valorização dos profissionais de ensino com plano de carreira, piso salarial e contratação por concursos.
· A gestão democrática do ensino público.
· Agarantia de padrão de qualidade.
O Artigo 207, por seu turno, determinou a autonomia universitária, o que foi importante visto as constantes intervenções e nomeações de diretores e reitores realizadas no período anterior. Além desses princípios, o Artigo 208 previa:
· O atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos.
· A determinação do ensino fundamental obrigatório e gratuito, devendo se estender progressivamente ao ensino médio, sendo a autoridade competente passível de punição, caso não ofereça as vagas necessárias.
· O atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.
É claro que a Constituição não tinha poder mágico para que, imediatamente após a sua promulgação, tudo fosse diferente, mas ao enumerar esses princípios – e as fontes de financiamento – apontava para onde deveria caminhar a educação nacional. Restava ainda muito a trilhar nos próximos anos.
Vamos Exercitar?
Nos anos 1980, sofremos diretamente as consequências do regime militar. Todo o crescimento acelerado e concentrador de renda do “milagre” gerou sua própria crise, agravada pelo aumento dos preços do petróleo importado e dos juros internacionais. O Brasil literalmente ‘quebrou’. Contudo, a sociedade se fortaleceu, criou entidades e organismos em sua defesa, exigiu a democratização e, assim, os militares deixaram o governo. Era hora de criar um novo país, o que exigia uma nova Constituição. Mas os reflexos da crise econômica foram implacáveis sobre a capacidade dos governos em garantir, na prática, que os clamores populares fossem atendidos.
Passamos toda a década brigando contra a dívida externa e a desorganização da economia, que se traduzia em taxas assombrosas de inflação. Mas as composições políticas que apoiavam os governos – primeiros os militares, até 1985, e depois a Nova República, até 1990 - eram incapazes de pensar um projeto político e econômico que efetivamente ampliasse os direitos inaugurados com a Constituição. Você acha que poderia ter sido diferente? O que poderia ter acontecido?
A sociedade exigia mais democracia, mais direitos, mais renda, enquanto o governo, apoiado pelos grandes grupos econômicos, resistia em conceder pequenos avanços concretos. Parece contraditório, e realmente era. Tratava-se da disputa pela renda nacional, além da incapacidade de se construir consensos – mesmo entre os grupos dominantes – que permitissem superar a crise. Nessa conjuntura, conseguimos, ao menos do ponto de vista legal, grandes avanços na Constituição. Fruto do crescimento da participação popular e dos trabalhadores, a Lei consagrou uma série de novos direitos civis e trabalhistas. Apontava para um país mais igual, mais tolerante e democrático, bem diferente dos anos anteriores. Um novo país estava nascendo.
Saiba mais
· Para saber mais sobre o debate e a posição dos partidos e parlamentares durante a elaboração da Constituição Federal de 1988, leia o livro Quem foi quem na Constituinte: nas questões de interesse dos trabalhadores. A leitura nos permite compreender as diferenças de concepção que iriam polarizar as disputas eleitorais nos anos seguintes, ou seja, até hoje.
· DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR. Quem foi quem na Constituinte: nas questões de interesse dos trabalhadores. São Paulo: Cortez/Oboré, 1988.
· A Constituição Federal de 1988 apresentou inúmeras mudanças na educação nacional. Acesse o link a seguir e leia o Capítulo III - DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO, Seção I DA EDUCAÇÃO, para compreender os princípios que norteiam nossa educação nos diferentes níveis de ensino.
· Ponto de Chegada
· Olá, estudante! Para desenvolver a competência desta Unidade, que é questionar os principais acontecimentos políticos e sociais que marcaram e alteraram as políticas e organização da educação brasileira historicamente, é necessário pensar em todos os fatores que estão interligados e influenciaram o processo de transformação social. De 1930 até 1988 o Brasil passou por diferentes governos, ditatoriais e democráticos que apresentaram distintas concepções de sociedade e consequentemente, de educação.
· Os governos de Vargas foram marcados por profundas contradições. De um lado, o presidente promoveu a industrialização do país, concedeu direitos trabalhistas e ampliou a participação do Estado na economia. De outro, implementou medidas autoritárias, reprimindo a oposição e centralizando o poder. Em seu mandato foram construídas a Usina de Paulo Afonso para a produção de energia, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para a produção de ferro e aço, a Vale do Rio Doce para a produção mineral e a Eletrobrás para a distribuição de energia, estradas, ferrovias e portos. Mais adiante, em 1953, a Petrobrásdeu o impulso final para essa dinâmica de construção da indústria de base nacional, o que possibilitou o desenvolvimento de outros setores industriais e da chamada substituição de importações, ou seja, parte daquilo que o Brasil importava passou a ser produzido em território nacional, alterando de forma considerável a sua estrutura produtiva.
· Nesse contexto, surgem novas concepções de educação e de como ela deveria ser ofertada à população. A Escola Nova surge como solução para a marginalidade, mantendo a crença no poder de equalização social pela escola. John Dewey (1859–1952), filósofo e educador estadunidense, foi um dos pioneiros dessa nova perspectiva pedagógica. Sua obra Democracia e Educação, escrita em 1916, resgatando elementos da pedagogia de Rousseau, advoga uma perspectiva democrática para a educação com base na crítica da transmissão do conhecimento pronto e acabado, defendendo o desenvolvimento crítico da relação entre ensino e prática.
· Influenciados pela perspectiva da Escola Nova, muitos teóricos brasileiros lançaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, documento fundamental para o debate educacional brasileiro quedefendeu uma educação pública, laica, gratuita, ativa, participativa e comprometida com as realidades sociais do país. Os reformadores sustentavam a necessidade da adoção de métodos científicos para a organização e administração da educação brasileira, de forma que a educação fosse promotora do desenvolvimento econômico e social do país, em conformidade com as mudanças em curso.
· Nesse sentido, ela substituiria uma educação tradicional, sendo “uma reação categórica, intencional e sistemática contra a velha estrutura do serviço educacional, artificial e verbalista, montada para uma concepção vencida” (Saviani, 2009, p. 244).A educação seria vista, então, como instrumento de equalização social na medida em que promoveria a integração entre os indivíduos, respeitando suas diferenças.
· Entre 1942 e 1946, por meio das Leis Orgânicas do Ensino, foi instituído o ensino supletivo, que colaborou para a redução do analfabetismo. Por pressão dos reformadores da educação, o governo incluiu a previsão de recursos orçamentários para a reforma educacional, a instituição do planejamento escolar e a organização da estrutura da carreira docente e dos salários; regulamentou os cursos de formação de professores; reestruturou os cursos secundários, que passaram a ter quatro anos de ginásio e três de colegial (científico e clássico); e criou dois tipos de ensino profissionalizante: o primeiro foi mantido pelo governo, com três ramos (industrial, comercial e agrícola), e o outro foi mantido pelas empresas a partir da criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em 1942. Do mesmo modo, em 1946, foi criado o Sistema Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).
· Com a saída de Vargas, em 1950, quem assumiu a presidência foi Juscelino Kubistchek. O governo de JK equilibrou-se nas ambiguidades entre o nacionalismo de Vargas e um desenvolvimentismo ancorado no capital privado estrangeiro, principalmente nas indústrias de bens duráveis (automóveis e eletrodomésticos), bens intermediários e bens de produção. Acelerou-se a construção da infraestrutura energética e de transportes, insumos e benefícios para a instalação de um parque industrial mais avançado. Seu Plano de Metas, “Cinquenta anos em cinco”, que atingiu e superou vários objetivos da industrialização brasileira, e a construção de Brasília foram as grandes marcas de sua gestão.
· Nas eleições seguintes, o vencedor foi Jânio Quadros para presidências, tendo João Goulart como vice. Jânio ficou apenas 7 meses no governo e renunciou, tendo Jango assumido a presidência. De imediato, os militares vetaram a posse do presidente. O Congresso Nacional rejeitou o veto e um impasse político foi instalado. Do Rio Grande do Sul, Lenoel Brizola defendeu a legalidade por vias militares. Para resolver a situação, a UDN e o PSD articularam a “solução de compromisso”: o parlamentarismo, com eleição indireta para presidente e aprovado pela Câmara dos Deputados, que Jango aceitou com a condição de um plebiscito ao final de seu governo para que o povo decidisse qual regime seria adotado.
· No período que compreende de 1950 a 1964, foi possível perceber alguns avanços modestos em relação à educação. Os reformadores conseguiram implantar algumas mudanças, como o estabelecimento da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a Campanha Nacional de Educação de Adultos (CNEA) para combater o analfabetismo. Como Jango tinha propostas políticas mais alinhadas à perspectiva popular, as chamadas reformas de base, a elite nacional se sentiu ameaçada e, amparada pelos militares, promoveu o Golpe Militar de 1964.
· Durante a Ditadura, os pressupostos e as influências do tecnicismo e do positivismo foram perceptíveis na educação. O positivismo acreditava na neutralidade e na objetividade do conhecimento, na técnica racional e na melhor forma de se produzir as coisas. Essa ideia é replicada na educação, tentando torná-la neutra, objetiva, despolitizada, como se fosse um treinamento baseado em objetivos específicos. O intuito é separar o pensar e o planejar do fazer e do aplicar. A teoria do capital humano, da década de 1960, também teve influência no modelo. Essa teoria vê a escola como uma empresa que produz conhecimento, algo que dá ‘valor’ ao ser humano, e não como direito do cidadão.
· A ênfase na formação técnica no ensino público limitava, portanto, as oportunidades de acesso ao ensino superior e a carreiras mais prestigiadas, concentrando essas oportunidades nas classes mais altas que frequentavam o ensino privado. Assim, a dualidade do sistema educacional permaneceu e contribuiu para a reprodução das desigualdades sociais, dificultando a mobilidade social e a ascensão das classes menos favorecidas.
· O movimento de redemocratização nos anos 80 teria, então, profundo impacto na educação, com a luta por maior autonomia das escolas, liberdade de expressão e democratização do acesso ao ensino superior. A Constituição Federal de 1988 representaria, nesse contexto, um marco histórico para a educação brasileira, consagrando-a como direito social fundamental e estabelecendo diversos princípios e diretrizes para sua organização e desenvolvimento. A União, os estados, o Distrito Federal e os municípios puderam passar a organizar seus sistemas educacionais de forma descentralizada e autônoma. O direito à educação básica passou a ser garantido e obrigatório, mediante sua oferta pelo poder público e sua gratuidade para todos os que a necessitarem.
· A educação, como vimos, foi palco de disputas entre diferentes projetos de sociedade, com embates entre concepções mais tradicionais e autoritárias e concepções mais progressistas e democráticas. Sua trajetória foi marcada por avanços e retrocessos, mas também por lutas e conquistas importantes. As experiências desse período deixaram um legado valioso para a construção de uma educação mais democrática, justa e de qualidade para todos os brasileiros.
Mesmo com a modernização em curso no país, na década de 30 havia um enorme índice de analfabetismo, uma população majoritariamente rural e estruturas sociais marcadas pela herança escravagista. A desigualdade racial era uma realidade marcante, com a população negra e indígena relegada a posições subalternas na sociedade. O acesso à educação, à saúde e ao emprego era precário para essa parcela da população. O preconceito e a discriminação racial eram comuns, tanto nas relações interpessoais quanto nas estruturas sociais. A população negra era frequentemente vítima de violência e exclusão.
Tendo isso em mente, vamos refletir sobre a educação e as relações étnico-raciais. Patrícia, professora da rede pública de ensino, encontra na sua escola situações de conflito sobre questões étnico-raciais envolvendo alunos, professores e Direção. Na reunião do conselho da escola, foi discutida a necessidade de uma formação mais aprofundada para que a Lei no 10.639/2003,que torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas brasileiras, seja um instrumento de combate ao racismo e de construção da igualdade étnico-racial.
Patrícia assume a responsabilidade pela organização de um roteiro de formação para os professores que inclui conteúdos sobre a formação sócio-histórica do Brasil, com ênfase no processo de escravização, na abolição da escravatura, suas consequências para a população negra a partir do período republicano e nas condições de acesso à educação que essa população encontrou.
Se você estivesse no lugar da professora, como organizaria os conteúdos para o debate sobre as condições de acesso à educação da população negra no período inicial do governo Vargas? Havia acesso à educação para todos? O dualismo escolar foi superado? Quais foram as iniciativas do movimento negro nesse período?
Como subsídio para a elaboração da sua resposta, utilize os seguintes documentos:
1. BRASIL. Lei no 10.639, de 9 de Janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 140, n. 8, p. 1, 10 jan. 2003.
2. QUINTO, A. C. et al. Há quase 20 anos, uma lei na educação tenta mudar o quadro do racismo no Brasil. Jornal da USP, São Paulo, nov. 2022.
· Como é possível perceber o confronto de ideias conservadoras e progressistas na sociedade atual?
· Por que na América espanhola foram permitidas as construções de universidades e no Brasil sob colonização portuguesa elas não foram construídas?
· Nossa educação ainda apresenta, atualmente, influências do modelo tecnicista?
Toda transição histórica é marcada por elementos da velha e da nova estrutura social. Se, no aspecto político, algumas transformações são mais abruptas, na dinâmica social e cultural, o processo é mais lento, marcado pela herança do passado que pesa sobre as futuras gerações. Não é possível compreender o processo sócio-histórico brasileiro sem a sua relação com a África, com o tráfico transatlântico, com a escravização africana e indígena, com o colonialismo e o mercantilismo europeu. A escravização colonial é uma marca profunda na história do país que a nossa elite sempre buscou apagar sem que o racismo e as desigualdades sociais fossem superados.
Com a abolição da escravatura, a população negra permaneceu onde estava, vivendo sob os resquícios das relações escravistas ou buscou sua sobrevivência em outros locais, encontrando a marginalização e o preconceito. Assim como no período anterior, formas de resistências foram organizadas.
Nesse período inicial do governo Vargas, a construção da Frente Negra Brasileira simbolizou uma iniciativa que se espalhava pelo país, a construção de associações autônomas do movimento negro.
Se a população negra estava marginalizada na sociedade, o mesmo acontecia com a população mais pobre desse país, também impedida de acesso àquilo que uma pequena parcela tinha como privilégio. O dualismo educacional não foi, pois, alterado mesmo com a ampliação do ensino público no país.
Figura | Transformações na educação brasileira: da Era Vargas à Constituição de 1988. Fonte: elaborada pela autora.
image1.pngnacional.
Assim, a Era Vargas foi marcada por um conflito complexo entre o Estado e o movimento operário. De um lado, o governo buscava controlar a classe trabalhadora e garantir a paz social para implementar seu projeto de industrialização. Do outro, os trabalhadores lutavam por melhores condições de trabalho, salários dignos e direitos trabalhistas. Nesse contexto, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), promulgada em 1943, representou um divisor de águas. A CLT concedeu diversos direitos aos trabalhadores, como jornada de trabalho diária de 8 horas, férias remuneradas, descanso semanal remunerado, licença-maternidade e direito à organização sindical.
Não podemos pensar no cenário nacional deslocado das influências internacionais. Assim, é importante compreender o que estava acontecendo no restante do mundo para entender a queda de Vargas em 1945. Ao longo dos anos, o governo implementou medidas autoritárias como a censura da imprensa, a perseguição de opositores políticos e a repressão a movimentos sociais. No plano internacional, a Segunda Guerra Mundial se delineou entre os anos de 1939 e 1945. No Brasil, após a guerra, o governo Vargas estava diante de um dilema: lutou contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) apoiando o discurso da defesa da democracia, ameaçada pelo nazifascismo, e governava inteiramente sob uma ditadura. Para aumentar ainda mais as contradições, nesse mesmo momento o apoio popular para Vargas crescia, surgindo até o Queremismo, movimento com forte apoio popular para sua permanência, enquanto variados setores políticos exigiam novas eleições. Foi nesse quadro que Getúlio Vargas foi deposto e as eleições de 1945 convocadas. O General Eurico Dutra, apoiado por Vargas, foi eleito.
SIGA EM FRENTE...
A EDUCAÇÃO NO PRIMEIRO GOVERNO DE VARGAS
No início do primeiro governo de Vargas, as políticas educacionais se destacaram por serem o centro de reformas inovadoras. Motivadas por um cenário em rápida transformação e marcado pela urbanização crescente, diversificação social e surgimento de novos setores econômicos e profissionais, essas reformas buscavam atender às novas demandas da sociedade brasileira. Um marco importante foi a criação do Ministério da Educação e da Saúde em 1930. Apesar de dividir suas responsabilidades com a área da saúde, essa iniciativa representou um passo decisivo para a institucionalização da educação como política pública de Estado. A criação do Ministério demonstrava a crescente relevância que a educação assumia para os novos governantes, reconhecendo seu papel crucial no desenvolvimento nacional.
O Ministério esteve inicialmente sob responsabilidade de Francisco Campos, educador e reformador da educação em Minas Gerais e adepto da Escola Nova. A Reforma Francisco Campos, de 1931, reestruturou o ensino secundário e superior, modernizando seus currículos e métodos de ensino. Essas reformas lançaram as bases para a expansão e democratização do ensino no Brasil. A criação de novas escolas, a ampliação do acesso à educação infantil e a profissionalização docente foram alguns dos resultados dessa política educacional ambiciosa. As reformas também visavam unificar o sistema educacional em todo o território nacional, estabelecendo diretrizes e normas comuns para o ensino em todo o país.
A Reforma Universitária de 1931, modificou as universidades brasileiras de uma maneira profunda e duradoura, trazendo modernização e adaptação às novas demandas sociais. Entre as principais alterações, podemos destacar:
· Estabeleceu a universidade como a unidade central do ensino superior, reunindo em um único campus as diversas escolas e faculdades.
· Criou a obrigatoriedade de pelo menos três institutos em cada universidade: Direito, Medicina e Engenharia.
· Permitiu a substituição de um dos institutos obrigatórios pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras, visando à formação de professores.
· Introduziu o regime universitário, com autonomia didática e administrativa para as universidades.
· Estimulou a pesquisa científica e a extensão universitária.
A Reforma incentivou a pesquisa científica e a extensão universitária, consolidando a universidade como um espaço de produção e disseminação do conhecimento, impulsionou a atualização dos currículos, a adoção de novas metodologias de ensino e a valorização da pesquisa científica. A Universidade de São Paulo (USP) foi a primeira instituição a se adequar às novas diretrizes, agregando em 1934 diversas faculdades e escolas autônomas sob sua administração. Essa iniciativa consolidou a USP como a principal referência do ensino superior no Brasil e inspirou a criação de outras universidades com estrutura similar em todo o país.
O ensino secundário também se modificou, passando a ter dois ciclos, um fundamental, com cinco anos, e outro complementar, que tinha como função principal a preparação para o ingresso no ensino superior. O modelo a ser seguido seria o do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro. Enquanto esses dois níveis se modificavam, a educação fundamental não obteve o mesmo investimento, o que colaborou para manter o dualismo escolar com uma desigualdade ainda muito grande.
O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA
O ano de 1932 foi marcado por intensos debates entre católicos e reformadores no cenário educacional brasileiro. Nesse contexto de embates ideológicos, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova surgiu como um marco histórico, defendendo uma reconstrução profunda e modernização do sistema educacional brasileiro. Inspirado nas ideias da Escola Nova, um movimento pedagógico internacional que defendia uma educação mais ativa, participativa e centrada no aluno, o Manifesto se tornou um documento fundamental para a luta por uma educação mais libertadora e engajada com as realidades sociais do Brasil.
No Brasil, o principal representante da Escola Nova foi Anísio Teixeira (1900-1971), advogado e educador, primeiro tradutor de John Dewey e um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Diferente da pedagogia tradicional, a Escola Nova não trata o marginalizado como o ignorante, como o que não adquiriu conhecimentos, mas sim como o rejeitado. Alguns teóricos do escolanovismo aproximaram-se da Pedagogia por meio de experiências com os “anormais”, crianças que possuíam variadas deficiências (Decroly e Montessori, por exemplo). Diante da patologização educacional, argumentavam que os homens são essencialmente diferentes, que cada indivíduo é único. Portanto, existem diferenças naturais no processo de aprendizagem de cada um que devem ser respeitadas, não sendo possível um processo educacional homogêneo (Saviani, 2009).
Para os reformadores, o principal problema da educação brasileira é que ela estava ancorada nos velhos métodos tradicionais, que deveriam ser substituídos por novos métodos amparados na ciência, na Biologia e na Psicologia, levando em consideração as diferentes aptidões naturais do indivíduo que o ensino tradicional desconsiderava. O Manifesto criticava o sistema educacional brasileiro da época, considerado elitista, ultrapassado e desconectado das realidades do país. Os autores defendiam uma educação mais democrática, acessível a todos os cidadãos e capaz de atender às suas necessidades e aspirações.
O Manifesto defendia a educação como um direito universal e inalienável de todos os cidadãos brasileiros, independentemente de sua classe social, gênero, raça ou religião, propunha a criação de uma escola pública, laica e gratuita, aberta a todos os segmentos da população, livre de qualquer doutrinação religiosa ou ideológica, e a coeducação entre meninos e meninas. O documento ainda reconhecia a importância da formação qualificada dos professores para o sucesso da reforma educacional e defendia a necessidade de investimento nessa área. Sustentava, por fim, uma maior articulação entre a escola e a comunidade, de forma que a educação estivesse conectada com as realidades sociais e contribuísse para o desenvolvimento local.
A REAÇÃO CONSERVADORA
A reação dos católicos foi dura. Ainda em 1932 elesretiraram-se da Associação Brasileira de Educação (ABE). Em seguida, em 1934, os católicos fundaram a Confederação Católica Brasileira, organização que reuniu educadores católicos por todo território nacional. A Igreja Católica, defensora de uma educação tradicional e permeada por valores religiosos, via com apreensão as reformas educacionais propostas pelo governo, que ameaçavam sua influência secular na formação da sociedade brasileira.
A laicização do ensino era um dos principais pontos de discórdia. A Igreja Católica argumentava que a educação moral e religiosa era fundamental para a formação do caráter dos indivíduos e que a separação entre Estado e Igreja na esfera educacional era prejudicial à fé e à sociedade. Os católicos também se opunham à gratuidade e à obrigatoriedade do ensino, defendendo o direito das famílias de escolherem a educação de seus filhos. Argumentavam que a intervenção do Estado na educação era indevida e que as famílias, especialmente as mais abastadas, deveriam ter autonomia para decidir como educar seus filhos.
Para a Igreja, as reformas educacionais de Vargas representavam uma ameaça à sua influência na sociedade. A laicização do ensino significava a diminuição do poder da Igreja na formação das novas gerações, enquanto a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino público poderiam levar à maior disseminação de ideias contrárias à doutrina católica. A visão de mundo católica na época era profundamente hierárquica e conservadora. A instituição defendia a superioridade moral e intelectual da elite e acreditava que o povo era incapaz de se autogovernar e precisava ser guiado pelas elites. As reformas de Vargas, com foco na democratização do acesso à educação e na valorização da autonomia individual, entravam, pois, em choque com essa visão.
É importante ressaltar que a posição da Igreja Católica não era monolítica. Havia correntes dentro da própria instituição que defendiam um diálogo mais amplo com o Estado e uma maior abertura às mudanças sociais. No entanto, a ala mais conservadora, que detinha o maior poder de decisão, era fortemente contrária às reformas de Vargas. A luta entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro pelas reformas educacionais teve, assim, um impacto significativo no desenvolvimento da sociedade brasileira. A resistência da Igreja retardou o processo de laicização do Estado e da modernização do sistema educacional, mas também contribuiu para o debate público sobre o papel da educação na sociedade e para a formação de uma consciência crítica entre os setores progressistas da sociedade.
A CONSTITUIÇÃO DE 1934
A Constituição federal de 1934 refletiu alguns dos embates entre os conservadores e os católicos da época. A legislação:
[...] mostrou-se inovadora quando, para além de ter anunciado o direito à educação, indicou um fundo financeiro para efetivá-lo, uma vez que “não basta a afirmação do direito. Requer-se o estabelecimento dos meios garantidores do direito público através dos fundos especiais e de índices orçamentários fixos destinados à educação”. (Rossinholi, 2008, p. 125)
Um percentual de recursos fixo foi determinado para a educação em todos os níveis da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. No entanto, os reformadores encontraram barreiras para as suas iniciativas, tanto pela dura reação dos católicos como pela posição conciliatória dos governantes, como ocorreu com Francisco Campos e Gustavo Capanema, sob a aprovação de Getúlio Vargas, que aceitou a retomada do ensino católico nas escolas públicas em troca do apoio político da Igreja Católica ao seu governo. Na Constituição de 1934, em relação ao financiamento público para a educação, foi aberta uma brecha para que o Estado, com o dinheiro público, também financiasse a educação privada, principalmente por meio de bolsas de estudos e de empréstimos subsidiados. Essa aliança de interesses fez com que a Igreja diminuísse suas críticas ao papel do Estado na educação, permitindo ao governo ampliar o ensino público no país.
EDUCAÇÃO E CULTURA NO ESTADO NOVO
Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), com a responsabilidade de:
[...] realizar a censura do teatro, do cinema, do rádio, da literatura, da imprensa, das atividades recreativas e esportivas. Deveria, também, promover e patrocinar manifestações cívicas, exposições para demonstrar as realizações do governo, produzir cartilhas para as crianças, documentários, jornais nacionais, de exibição obrigatória em todos os cinemas. (Capelato, 2003, p. 141)
Jornais, rádios e outros órgãos de imprensa foram criados ou incorporados ao DIP, ampliando a propaganda do governo para a construção de um novo Brasil. Os materiais produzidos pelo Estado Novo, carregados de símbolos patrióticos e de referências a Vargas, eram utilizados nas escolas com o objetivo de mostrar as diferenças entre o antes e o depois do novo regime. A cultura e a educação estavam a serviço da construção do projeto político em curso, não havendo espaço para descompromisso. Logo, o cinema, o teatro, a música, as artes plásticas, a arquitetura e a literatura receberam incentivos governamentais e foram valorizados durante o Estado Novo.
Ainda que a escolarização tenha sido bastante ampliada, segundo Aranha (2006), as dificuldades de implantação dessas reformas foram imensas: as propostas governamentais esbarravam na dura realidade brasileira. A quantidade de professores leigos, não formados, era alta, aumentando a partir de 1940. As escolas normais de formação de professores tornaram-se redutos da classe média e de profissão feminina. Os cursos secundários continuaram como espaços propedêuticos, ou seja, de preparação para o ensino universitário e mantendo o dualismo escolar. Além disso, o ensino profissionalizante instituído pela iniciativa privada era destino certo das classes trabalhadoras. O ensino fundamental foi negligenciado. Os reformadores, diante dessas contradições, tiveram, assim, de conciliar com os católicos, e suas perspectivas educacionais pressupunham uma democratização dos espaços democráticos, o que não ocorreu na ditadura do Estado Novo.
VAMOS EXERCITAR?
Retomemos as questões iniciais desta aula sobre a nova configuração política com a denominada Revolução de 1930. Quais foram e qual é a dimensão das mudanças no plano político, econômico, social e educacional do primeiro governo Vargas? De que maneira se deram as polêmicas em torno dos debates educacionais entre católicos e reformadores?
O conceito de “modernização conservadora” pode indicar um caminho interessante de análise. Com base nele, podemos compreender as mudanças e continuidades na dinâmica política, econômica, social e educacional. A velha oligarquia foi realmente derrotada? Qual é a relação entre a perda do poder político, que de fato ocorreu, e a perda do poder econômico que continuaram a ter?
O termo “modernização conservadora” foi cunhado originalmente por Barrington Moore Junior para estudar o processo de desenvolvimento capitalista na Alemanha e Japão, casos em que o capitalismo não se deu por uma revolução burguesa, como na Inglaterra, França, Estados Unidos, entre outros países. Tanto na Alemanha quanto no Japão, o desenvolvimento industrial capitalista ocorreu pelo pacto entre as antigas classes dominantes agrárias e as novas classes dominantes burguesas que surgiram sem que extratos populares participassem dessa ação. A modernização foi construída de forma conservadora, sem a ruptura e a participação popular que as revoluções burguesas produziram. No Brasil, com o governo Vargas, para muitos estudiosos, aconteceu o mesmo processo, sendo válido o uso do conceito de “modernização conservadora”.
O governo Vargas, ciente disso, não abandonou nem impôs uma derrota a esse setor, buscando combinar uma nova dinâmica de industrialização à manutenção de uma estrutura agrária arcaica, fundada no latifúndio e nas relações sociais coronelistas. A desigualdade social e a falta de oportunidades no campo geraram grande insatisfação popular, que se manifestou em movimentossociais e revoltas agrárias durante o governo.
A “modernização conservadora” também se expressou na educação? A disputa entre católicos e reformadores também pode se expressar por meio desse conceito? A defesa de uma educação tradicional, marcada por uma longa trajetória histórica no país, buscava conservar elementos sociais instituídos em sua cultura religiosa, enquanto os reformadores, influenciados pelas correntes pedagógicas modernas, buscavam alterar os métodos e a estrutura da educação.
Saiba mais
· As transformações na educação e das políticas educacionais precisam ser compreendidas dentro de um processo temporal, percebendo como a trajetória histórica influencia a nossa atualidade. Para compreender o caminho da Escola Nova, o texto a seguir reflete sobre as políticas educacionais atuais por meio da influência desses reformadores. Para tanto, faz um resgate histórico e contextualizado de importantes momentos dessa corrente pedagógica. LIMA, A. B. de. Manifesto dos pioneiros de 1932: leituras de seus 80 anos. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, v. 12, n. 47, p. 185–204, 2012. 
· O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, foi um marco significativo na educação brasileira.
Unidade 3 / Aula 2 O período Desenvolvimentista
Ponto de Partida
Com a ditadura do Estado Novo, Vargas e seus apoiadores conseguiram imprimir uma dinâmica acelerada para a industrialização do país por meio de uma centralização política maior no governo, gerando insatisfações de variados setores políticos. Após a Segunda Guerra Mundial, seu governo não teve mais sustentação política, mesmo com o apoio popular que possuía, o que acabou culminando em sua destituição.
Nos anos seguintes, foi possível perceber o avanço do período desenvolvimentista, ou seja, um momento de intensificação do projeto de industrialização do país, ocorrido nos governos de Vargas (1951- 1954), de Juscelino Kubitschek (1956-1961), de Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961-1964). Além do contexto geral desse período, é importante pensar sobre como se desenvolveu a educação nesse cenário, quais eram os projetos que estavam em disputa e quais foram as políticas educacionais adotadas.
Para responder a tais questões de uma maneira mais aprofundada, imagine que você foi convidado para preparar uma palestra na reunião pedagógica de sua escola sobre a educação popular no período desenvolvimentista de 1950 a 1964. Como você a organizará? Quais elementos levará em consideração?
VAMOS COMEÇAR!
O Estado Novo de Vargas não encontrou o apoio político necessário para manter o seu governo, ainda que sua popularidade aumentasse. Ao lutar ao lado dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, com um discurso de defesa da democracia diante da ameaça nazifascista, não havia como justificar um governo ditatorial em suas próprias terras. Além disso, setores contrários ao processo de desenvolvimento nacional sob o controle do Estado mostravam, cada vez mais, seus descontentamentos. O governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), ainda que apoiado por Vargas, foi considerado um governo conservador, não tendo a mesma dinâmica desenvolvimentista de seu antecessor nem dos governos posteriores.
É importante notar que os governos seguintes ao de Dutra apresentaram um contexto extremamente acirrado pelos distintos projetos de desenvolvimento do país.
De um lado, a velha estrutura de desenvolvimento econômico subordinado aos interesses externos; de outro, a possibilidade de um desenvolvimento econômico autônomo. É a partir desse confronto que devemos encontrar os caminhos para a compreensão da história recente do país e o papel da educação em nossa sociedade.
O DESENVOLVIMENTISMO
O período entre 1950 e 1964 foi marcado por um ritmo acelerado de industrialização. As cidades se expandiam rapidamente, atraindo migrantes do campo em busca de novas oportunidades. Essa urbanização desenfreada gerou diversos desafios sociais, como a precariedade das habitações e a falta de infraestrutura básica. Ao mesmo tempo, a intensificação da industrialização impulsionava o crescimento do movimento operário. Trabalhadores se organizavam em sindicatos e lutavam por seus direitos, reivindicando melhores condições de trabalho e salários mais justos. Essa mobilização popular era vista com apreensão pelas elites, que temiam a ascensão do comunismo.
O Partido Comunista Brasileiro (PCB) era o principal alvo da repressão. Para as camadas abastadas da sociedade, o PCB era visto como uma ameaça à ordem social e à própria nação. A narrativa dominante era a de que o comunismo corrompia a índole pacata do povo brasileiro, que precisava ser tutelado pelo Estado. Essa justificativa servia para legitimar o controle estatal sobre o movimento operário e a repressão de qualquer forma de dissidência. Apesar da repressão, os trabalhadores, organizados no movimento operário, conquistaram um espaço importante na cena política do país. As lutas por melhores condições de vida e trabalho se tornaram cada vez mais intensas, pressionando o governo a tomar medidas para atender às demandas da população.
Em um cenário internacional de Guerra Fria, o governo Dutra havia colocado o PCB na ilegalidade, com cassações de mandatos e intervenções nos sindicatos, então marcando o fim da política de união nacional do período anterior. O partido, então, radicalizou-se. Ao mesmo tempo, estava evidente que não era mais possível governar sem levar em conta os interesses dos trabalhadores.
Eleito pelo PTB, Vargas voltou ao poder nas eleições de 1950 e tentou diferenciar-se do ditador do Estado Novo. Indicou conservadores para o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC) e passou a defender uma política nacionalista, desenvolvimentista e distributivista. O PTB, que se fortaleceu com a estrutura sindical estatal, reforçava o carisma de Vargas, exaltava a CLT e defendia a soberania nacional, bem como a participação dos trabalhadores e colaboração com o Estado. A União Democrática Nacional (UDN), partido de oposição a Vargas, defendia uma política liberal conservadora, de abertura comercial aos países estrangeiros, com forte discurso moralizador, tendo disputado as eleições presidenciais de 1945, 1950 e 1955, perdendo nas três oportunidades. A UDN representava setores médios e a elite oposicionista a Vargas.
O segundo governo de Vargas (1951-1954), assim, foi marcado por um acentuado nacionalismo e pela busca por um desenvolvimento autônomo. Essa postura gerou reações adversas por parte dos defensores dos velhos interesses agrários e internacionais, que preferiam um modelo de desenvolvimento mais alinhado com o capital estrangeiro e com a manutenção da estrutura agrária tradicional. Vargas, em um contexto de tensões sociais e políticas, buscava equilibrar os interesses dos diversos grupos sociais. Ele defendia a modernização do país através da industrialização, mas sem romper completamente com a estrutura agrária tradicional.
Nesse contexto, a nomeação de João Goulart para o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC) foi um passo importante. Jango, conhecido por sua afinidade com os trabalhadores e por suas ideias progressistas, negociou e atendeu às reivindicações grevistas, suspendeu as intervenções federais em sindicatos e minimizou a repressão e a perseguição aos comunistas. Suas ações demonstravam o compromisso de Vargas com uma política nacionalista que incluísse a participação dos trabalhadores. Jango se tornava, assim, uma figura de grande popularidade entre os setores populares, o que o colocaria no centro da cena política brasileira nos anos seguintes.
Além da UDN, o capital estrangeiro, os capitalistas nacionais associados a esse capital, a velha oligarquia agrária, setores militares e a grande imprensa formavam o grupo de oposição ao governo. Diante do governo nacionalista, houve uma intensa reação e conspiração desses setores oposicionistas. A UDN, por exemplo, clamava pela intervenção militar. Nesse momento, Jango se demitiu e seguiu na defesa de um programa de reformas sociais. Os conspiradores se organizavam paradepor Vargas, que, sem apoio político de seus antigos aliados, resolveu o impasse de forma extrema: o suicídio.
A eleição de Juscelino Kubitschek (PSD), em 1955, ao lado de João Goulart (PTB) como vice-presidente, representou um marco na história brasileira. A vitória de JK, com Goulart obtendo mais votos que o próprio presidente, evidenciava a força do projeto desenvolvimentista e o anseio por mudanças sociais. No entanto, essa ascensão popular encontrou forte resistência por parte de setores golpistas. Desde o início do mandato, em 1956, tentativas de impedir a posse de JK e de desestabilizar o governo através de golpes militares se tornaram frequentes, desafiaram a democracia brasileira e revelaram a dificuldade de setores da elite brasileira em lidar com a ampliação dos direitos e da participação popular.
Apesar das tentativas de derrubá-lo, Juscelino Kubitschek conseguiu concluir seu mandato e deixar um legado marcante. Seu Plano de Metas impulsionou a industrialização, a construção de infraestrutura e a modernização do país. A construção de Brasília, nova capital do Brasil, é um dos símbolos desse período. A política econômica de JK foi resultante da interação de três campos: o campo internacional (importante, mas não condicionante), o Estado (arena de conflitos, financiador do desenvolvimento econômico público e privado) e os setores econômicos (que atuavam interna e externamente). Para financiar seu projeto, JK teve que lidar com altas taxas de inflação e com um imenso endividamento. A modernização conservadora continuava em curso.
Jânio Quadros, eleito em 1960 com uma plataforma de campanha definida por anticomunismo, nacionalismo e austeridade, assumiu a presidência em 31 de janeiro de 1961. Seu governo, no entanto, durou apenas sete meses, marcado por uma série de medidas impopulares e pela renúncia do presidente em 25 de agosto de 1961.Jânio Quadros logo após tomar posse implementou um rigoroso programa de austeridade, visando conter a inflação e o endividamento público.
As medidas, que incluíam congelamento de salários, corte de gastos públicos e reforma monetária, geraram grande descontentamento na população e em diversos setores da sociedade.
A renúncia de Jânio Quadros deu início a uma grave crise institucional no Brasil. O vice-presidente, João Goulart, que se encontrava em viagem oficial à China, foi impedido de assumir o cargo por alguns setores das Forças Armadas. Após um período de grande incerteza política, Jango finalmente tomou posse em 7 de setembro de 1961, com poderes limitados por um Ato Institucional. Toledo (1982, p. 7) afirma que “o governo João Goulart nasceu, conviveu e morreu sob o signo do golpe de Estado”. Durante todo o seu governo, Jango foi bombardeado pelos setores golpistas, pela crise econômica e pela tentativa de reformas estruturais, as reformas de base anunciadas em 1962.
Assim, o governo de Jango, que se estendeu de 1961 a 1964, foi um dos mais conturbados da história brasileira. Goulart se viu em um cenário de grande instabilidade política e social. Defendia um programa de reformas de base, que incluía medidas como a reforma agrária, a nacionalização de empresas e a ampliação dos direitos sociais. Essas propostas, consideradas ameaçadoras por setores da elite brasileira, geraram grande tensão no país. O clima de polarização política se intensificou durante o seu governo. De um lado, movimentos sociais e setores populares pressionavam por reformas mais profunda; do outro, grupos conservadores e militares se articulavam para impedir a implementação das reformas e manter o status quo.
Entre 1963 e 1964, os conflitos sociais se intensificaram com as greves, a organização dos trabalhadores no campo, o descontentamento de setores militares de baixa patente e com as mobilizações populares pelas reformas. O cerco se fecha após Goulart regulamentar a Lei de Remessa de Lucros e anunciar as Reformas de Base (nacionalizações e reforma agrária). A direita temia que Jango, com as reformas, fosse imbatível nas eleições de 1965. Bilac Pinto, presidente da UDN e porta voz do General Castelo Branco, chegou a divulgar um documento afirmando que os comunistas tomariam o poder, que estaria em curso uma “guerra revolucionária”. O golpe militar foi assim imposto em 31 de março de 1964, sem que João Goulart tivesse resistido.
SIGA EM FRENTE...
LEIS ORGÂNICAS DO ENSINO
As Leis Orgânicas do Ensino, também conhecidas como Reforma Capanema, foram promulgadas em um período de grandes transformações sociais, econômicas e políticas no Brasil. O país saía da Era Vargas e se preparava para a democratização após o fim da Segunda Guerra Mundial. Esses decretos-lei representaram, pois, um marco na história da educação brasileira, modernizando e reformulando o sistema educacional nacional em diferentes níveis.
Dentre os objetivos das Leis Orgânicas de Ensino, podemos destacar a atualização dos currículos escolares e a profissionalização dos professores, a garantia do acesso à educação para todos os brasileiros, independentemente de classe social, raça ou gênero e a formação de mão de obra qualificada para atender às necessidades do setor industrial em expansão.
Entre os principais decretos, sublinhamos: o Decreto-Lei nº 4.048/1942 instituiu o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) para qualificar mão de obra para a indústria; o Decreto-Lei nº 4.244/1942 reformou o ensino secundário, dividindo-o em dois ciclos: ginasial e colegial. Os Decretos-Lei nº 8.621 e 8.622/1946 criaram o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) para qualificar mão de obra para o comércio. As leis centralizaram o poder no Ministério da Educação e Cultura, limitando a autonomia das escolas e dos estados, além de enfatizar a formação de mão de obra qualificada para o mercado de trabalho, em detrimento de uma educação mais humanística e crítica.
A EDUCAÇÃO NO PERÍODO DESENVOLVIMENTISTA
A educação nesse período deve ser compreendida na dinâmica modernizadora em curso. A Lei de Diretrizes e Bases, apresentada em 1948, tramitou até 1961, quando foi promulgada. Durante esse período, o debate entre os reformadores e católicos continuou. Os reformadores escolanovistas defenderam a descentralização do ensino, inscrita na LDB. Além disso, outro tema que provocou intenso debate foi o papel do Estado no financiamento da educação. A ala conservadora defendia a iniciativa privada na educação, alegando que era direito das famílias escolher sua própria educação e que o Estado deveria garantir iguais condições financeiras e técnicas tanto para a escola pública como para a escola privada.
De acordo com Aranha (2006), o que estava em curso nesse debate era a proposta republicana do ensino laico, responsabilidade do Estado. Ao favorecer as escolas privadas, em sua maioria católicas, a democratização da educação foi retardada. Os reformadores reagiram e impulsionaram a Campanha em Defesa da Escola Pública, culminando no Manifesto dos Educadores Mais uma Vez Convocados, em 1959. A ênfase do Manifesto era de que a verba pública deveria ser exclusiva da educação pública, não devendo financiar a educação privada. Aranha (2006) também afirma que a LDB, promulgada em 1961, estava ultrapassada pela dinâmica industrializante em curso e favoreceu o ensino privado na medida em que permitiu financiamento público para as instituições privadas.
Assim, na década de 1950 e início de 1960, o Brasil vivia um dilema educacional: grande parte da população em idade escolar não frequentava as aulas. Essa situação, além de comprometer o desenvolvimento individual e social, ampliava as desigualdades e perpetuava a exclusão de grupos marginalizados. Democratizar o ensino significava ampliar as oportunidades para os setores historicamente excluídos da educação, como trabalhadores, negros, indígenas e moradores do campo.
A disputa em torno da educação se entrelaçava com o debate sobre o modelo de desenvolvimento que o Brasil deveria seguir. De um lado, estavam os defensores de um desenvolvimento econômico autônomo, que viam na educaçãopública um instrumento essencial para a emancipação social e o progresso do país. Do outro lado, posicionavam-se os setores mais conservadores, que defendiam um desenvolvimento subordinado aos interesses externos e à manutenção da velha ordem social. Para esses grupos, a ampliação do acesso à educação representava uma ameaça à sua hegemonia e aos seus privilégios.
A UDN (União Democrática Nacional), principal partido de oposição ao governo na época, se aliou aos setores católicos na defesa de um modelo educacional tradicional. Essa aliança defendia um ensino religioso e moralizante, sob o controle da Igreja Católica, e se opunha às reformas que visavam modernizar o sistema educacional e democratizar o acesso à educação. Em contraposição aos conservadores, os setores progressistas e de esquerda se uniram aos reformadores da educação na luta por um sistema público de ensino laico, gratuito e de qualidade. Esses grupos defendiam uma educação crítica e emancipadora, que formasse cidadãos conscientes e engajados na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Retomando a LDB, que entrou em vigor em 1962 com a instalação do Conselho Federal de Educação, foi elaborado o Plano Nacional de Educação (PNE) sob a responsabilidade de Anísio Teixeira. O Plano elevou para 12% a obrigação mínima dos recursos federais para o ensino, criou fundos específicos para cada nível e determinou a preparação de um Plano de Educação para cada um dos níveis de educação e critérios para os salários dos professores. Com as barreiras encontradas na LDB para a democratização da educação, inúmeras iniciativas apareciam também no campo popular, as quais procuravam conscientizar o povo brasileiro com suas divergentes perspectivas, variando do marxismo ao catolicismo. A cultura e a educação popular seriam, então, os seus instrumentos. Nesse sentido, variadas experiências surgiram: teatro, artes plásticas, fotografia, literatura de cordel, cursos, exposições, publicações, música, exibição de filmes e documentários, alfabetização popular, entre outras.
O Movimento de Educação de Base (MEB), criado pelos católicos progressistas, financiado pelo governo federal, inicialmente voltado apenas para a alfabetização da população rural, foi se tornando cada vez mais politizado, transformando-se em um espaço de organização política dos setores populares, inclusive de sindicalização dos trabalhadores rurais. Se no período anterior a educação popular tinha apenas um caráter de política de alfabetização, com a politização social ela ganhou uma nova conotação. A educação popular ligava-se, enfim, ao nacionalismo.
PAULO FREIRE E A EDUCAÇÃO
Paulo Freire (1921-1997) foi um educador, filósofo e escritor brasileiro que se tornou uma das maiores referências para movimentos de educação popular no Brasil e no mundo. Graduado em Direito, mas com forte vocação para a educação, Freire se dedicou à alfabetização de adultos e ao desenvolvimento de uma pedagogia inovadora, baseada no diálogo, na problematização da realidade e na construção do conhecimento junto aos educandos. Apesar de ter se formado em Direito, Freire nunca exerceu a profissão.
Em 1960, Paulo Freire se juntou ao Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife. Essa experiência marcou profundamente a sua trajetória, pois possibilitou que vivenciasse de perto os desafios e as potencialidades da educação popular. No MCP, Freire desenvolveu sua inovadora metodologia de alfabetização, baseada no diálogo, na conscientização e na valorização da cultura popular. Essa metodologia, posteriormente conhecida como Pedagogia do Oprimido, propunha a educação como um instrumento de libertação, capaz de empoderar os indivíduos e transformar a sociedade.
Freire iniciou sua trajetória intelectual sob a influência da filosofia humanista, especialmente do existencialismo cristão. Essa fase o aproximou do nacional desenvolvimentismo em voga na época. O contato com os teóricos do Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), como Caio Prado Júnior e Nelson Werneck Sodré, representou um ponto de virada em seu pensamento. As ideias críticas desses autores o levaram a questionar o desenvolvimentismo e a buscar alternativas mais emancipadoras. Com a publicação de Pedagogia do Oprimido, em 1968, Paulo Freire se aproximou, assim, da filosofia dialética e do marxismo. No entanto, não se identificou completamente com nenhuma dessas correntes, mantendo uma postura crítica e autônoma.
Vale mencionar que o Golpe de 1964 obrigou Paulo Freire a se exilar do Brasil. Durante esse período, ele viveu em diversos países, como Chile, Estados Unidos e Suíça, onde continuou a desenvolver seu trabalho intelectual e político. Em 1980, com a abertura política, retornou ao Brasil e retomou suas atividades.
À medida que a sociedade se politizava e o movimento operário ganhava importância, o movimento estudantil também ampliava sua participação para além dos muros da escola. Os estudantes discutiam cada vez mais os rumos do país, organizando-se nos Centros Acadêmicos (CAs), nos Diretórios Centrais de Estudantes (DCEs) e nos partidos políticos. As duas principais organizações que estavam representadas no movimento estudantil eram o PCB e a Ação Popular, organização católica de esquerda fundada em 1962, e disputavam, ano a ano, a hegemonia da UNE.
Vamos Exercitar?
Ao retomarmos nossos questionamentos iniciais, primeiro precisamos compreender que a educação popular adquiriu conotações diferentes ao longo do tempo. Inicialmente, ela foi caracterizada muito mais como um processo de alfabetização da população marginalizada socialmente, que não tinha acesso à educação formal. À medida que a sociedade se politiza, como aconteceu nos anos do segundo governo de Vargas até o Golpe Militar, a educação popular acompanha a dinâmica social e adquire uma conotação política, representando uma educação alternativa, fora dos espaços institucionalizados.
Assim, para organizar a palestra sobre a educação popular, busque compreender o contexto do período desenvolvimentista de 1950 a 1964, marcado pela disputa de projetos de crescimento do país, levando em consideração os setores que defendiam uma perspectiva de desenvolvimento autônomo, que passava pela industrialização e pela ampliação do acesso à educação. Avalie também as duas formas de educação popular do período, aquela que foi produzida por experiências institucionais de governo municipais ou estaduais, e aquela produzida por organizações sociais que aliaram atividades culturais, formativas e educacionais. Foram caminhos diferenciados que demonstraram perspectivas teóricas distintas, mas que procuraram politizar e construir a autonomia popular em uma sociedade ainda marcada pela velha estrutura agrária, a qual se manteve, apesar do processo de industrialização pelo qual o Brasil passou.
Saiba mais
· Ao longo dos anos, os debates em torno da educação pública e da educação privada continuaram. Os reformadores da educação encabeçaram uma campanha pela defesa da escola pública a fim de proporcionar a democratização da educação, o que culminou no Manifesto do Educadores Mais uma Vez Convocados.
· Para compreender melhor o papel da educação popular na história do Brasil, leia o artigo indicado a seguir: Revisitando a história da educação popular no Brasil: em busca de um outro mundo possível.
Unidade 3 / Aula 3 A Educação em Tempos de Censura
Ponto de Partida
O Golpe Militar de 1964, que marcou o início da Ditadura Militar no Brasil, foi um evento complexo com diversas causas interligadas. A ascensão de João Goulart à presidência em 1961 representou uma ameaça para setores da elite brasileira, como latifundiários, industriais e grandes comerciantes. As reformas de base propostas pelo governante, que visavam ampliar os direitos sociais e reduzir as desigualdades, eram vistas como perigosas para os seus interesses.
A década de 1960 foi, assim, marcada por intensa mobilização social no Brasil, com o crescimento de movimentos populares e sindicatos. Essa efervescência era vista com preocupação pelos setoresconservadores, que associavam a esquerda ao comunismo e à subversão da ordem social. O governo de Goulart era marcado por instabilidade política e falta de coesão entre seus aliados, e tal fragilidade o tornava mais vulnerável às pressões dos setores golpistas.
O contexto internacional da Guerra Fria também influenciou o golpe. Os Estados Unidos, principal potência do bloco ocidental, temiam a expansão do comunismo na América Latina e viam com desconfiança as reformas de Jango. O Brasil, sob o seu governo, mantinha relações com países socialistas, o que aumentava os receios americanos. Assim, os EUA pressionaram o Brasil a conter o avanço da esquerda, o que se manifestou de diversas formas, como no corte de ajuda financeira e apoio aos golpistas. Alguns setores da Igreja Católica brasileira também se posicionaram contra o governo Goulart, associando-o ao comunismo e à imoralidade. Essa postura deu legitimidade religiosa ao que se seguiria, o Golpe de 1964.
No entanto, que consequências essa ação traria para a educação nacional, para as universidades, para o ensino primário e secundário da época e como impactaria as próximas décadas? Quais foram as mudanças implantadas no ensino primário, secundário e na educação de jovens e adultos? E a universidade, sofreu alterações? Quais foram? Vamos pensar sobre essas questões e buscar algumas respostas.
VAMOS COMEÇAR!
Ao assumir o governo, os militares iniciaram as reformas visando implantar seu projeto que proporcionaria o chamado “milagre econômico”, período caracterizado por um crescimento vigoroso do Produto Interno Bruto (PIB), que é medido pelo valor total de bens e serviços produzidos no país. Esse impulso ocorreu durante parte do regime militar, entre as décadas de 1960 e 1980. Segundo dados oficiais, a taxa média anual de crescimento do PIB durante a década de 1970 foi de 8,8%, enquanto entre 1964 e 1980 esse índice ficou acima de 7,8% ao ano. O auge desse período se deu entre 1968 e 1973, quando a taxa média de crescimento superou os 11%.
Do ponto de vista econômico, o chamado milagre baseou-se, principalmente, na abertura da economia para investimentos privados nacionais e estrangeiros, favorecido pela suspensão do controle das remessas de lucro ao exterior; nos investimentos estatais, na ampliação do crédito ao consumidor; na concentração de renda que aumentou a margem de lucro e o retorno dos investimentos; nos empréstimos internacionais públicos e privados a juros flutuantes. Para se ter uma ideia do volume de empréstimos, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, a dívida externa brasileira saltou de US$ 8,3 bilhões em 1971 para US$ 74 bilhões em 1981 e US$ 105 bilhões em 1985, ou seja, quase treze vezes mais.
REPRESSÃO E DESIGUALDADE
É impensável que um modelo concentrador de renda seja imposto sem a aprovação popular e de maneira fácil. Para implementar tal projeto, o regime militar brasileiro lançou mão de um aparato repressivo brutal, violando direitos humanos e desfigurando a democracia. A fim de silenciar a oposição e consolidar seu poder, o regime promulgou uma série de Atos Institucionais (AIs), culminando no AI-5 de dezembro de 1968, que fechou o Congresso Nacional e outorgou amplos poderes ao presidente. Os opositores políticos foram perseguidos, sequestrados, exilados e torturados.
A violência serviu como instrumento de controle e intimidação. Diversos líderes políticos e sociais foram assassinados pelo regime, silenciando vozes críticas e instaurando um clima de medo na população. Desde a tomada do poder, o regime militar se dedicou a eliminar qualquer forma de oposição, seja por meio da censura à imprensa, da repressão a movimentos sociais ou da intervenção em sindicatos. O objetivo era silenciar dissidentes e criar um ambiente propício à implementação de um modelo econômico concentrador de renda, mesmo que isso significasse a violação da Constituição e dos direitos básicos da população.
Tratava-se da consolidação de um modelo muito diferente do que vinha sendo proposto antes com as reformas de base que previam aumento do acesso aos serviços públicos, distribuição de renda, crescimento sustentável e não baseado em empréstimos internacionais, em especial dos Estados Unidos. Aliado à falta de perspectivas no campo em virtude do início da mecanização pelo agronegócio, da ausência de reforma agrária e da concentração das terras, houve um vigoroso êxodo rural e migração para os grandes centros, em especial para a região sudeste. No final dos anos 60, a população urbana passaria a ser maior que a rural. A desigualdade social crescia ano após ano pois as transformações beneficiavam a classe que já era favorecida na sociedade brasileira.
A EDUCAÇÃO NO PERÍODO MILITAR
A repressão não se limitou à esfera política. Ela também se estendeu ao campo educacional com o objetivo de sufocar qualquer forma de dissidência e moldar as novas gerações de acordo com os princípios do regime autoritário. “Milhares foram presos através do país na ‘Operação Limpeza’, inclusive membros de organizações católicas como o Movimento de Educação de Base (MEB), a Juventude Universitária Católica (JUC) e outras" (Skidmore, 1988, p. 55). Entre os cassados e exilados estavam Celso Furtado e Paulo Freire.
Os grêmios secundaristas, polos de engajamento político e social dos estudantes, foram extintos pelo regime militar. Em seu lugar, surgiram os Centros Cívicos, sob a tutela do professor de Educação Moral e Cívica, figura escolhida a dedo pela diretoria da escola e simpática ao regime. Essa medida visava aniquilar a autonomia estudantil e impor um discurso único e alinhado aos valores do governo militar. A União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade que representava os estudantes universitários em todo o país, também não escapou da repressão.
Sua sede já havia sido incendiada durante o golpe, e logo após, a organização foi oficialmente banida. A repressão se estendeu às universidades, onde apenas os Diretórios Acadêmicos (DAs) e Centrais de Estudantes (CEs) eram permitidos, sob rigorosa vigilância do Estado. A extinção dos grêmios e o controle das entidades estudantis tinham um objetivo claro: impedir qualquer forma de pensamento livre e independente que pudesse se contrapor ao modelo autoritário imposto pelo regime militar. A repressão buscava moldar as mentes dos jovens, silenciando vozes críticas e perpetuando a doutrinação ideológica do regime.
Apesar da feroz repressão imposta pelo regime militar, a década de 1960 foi marcada por um intenso debate sobre os rumos do país. Desde os anos 1950, a sociedade brasileira clamava por democracia e por ter voz na construção do seu futuro. E os estudantes, como segmento engajado e crítico, estavam na vanguarda desse movimento. O mês de outubro de 1968, assim, se tornou um marco na história da resistência estudantil contra o regime militar. Duas datas se destacaram:
· Choque na Rua Maria Antônia: no dia 9 de outubro, um confronto entre estudantes da USP e da Mackenzie na Rua Maria Antônia, em São Paulo, deu início a uma série de manifestações que desafiaram a ordem imposta pelos militares. A violência policial contra os estudantes gerou ainda mais indignação e reforçou a necessidade de mudança.
· O Congresso de Ibiúna - Um ato de defesa da Democracia: em 12 de outubro, cerca de mil estudantes se reuniram clandestinamente no Congresso da UNE em Ibiúna, interior de São Paulo. O objetivo era discutir o futuro do país e traçar estratégias para a redemocratização. O evento foi descoberto pelos militares, o que resultou na prisão de todos os participantes. Ainda assim o Congresso de Ibiúna representou um importante ato de resistência e reafirmou o compromisso dos estudantes com a luta pela democracia.
Para além de intensificar a perseguição política e a censura, o AI-5 também teve um impacto significativo na educação, especialmente nas universidades. Visando aumentar ainda mais o controle sobre o ensino superior e silenciar as vozes dissidentes, o governo militar baixou o Decreto-Lei 477 em fevereiro de 1969. Essa medida autoritária,implementada sem a aprovação do Congresso Nacional, tinha como objetivo principal coibir qualquer tipo de debate político nas universidades. Estudantes, professores e funcionários das universidades eram proibidos de se manifestar politicamente dentro ou fora do ambiente acadêmico. A violação do decreto-lei era punida com medidas disciplinares, como suspensões, transferências e até mesmo expulsão da instituição.
O decreto-lei contribuiu para o controle ideológico nas universidades, impondo uma visão única e acrítica da realidade brasileira. Em setembro de 1969, o Decreto-Lei no 869 determinou a inclusão das disciplinas Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira nos currículos escolares. Essas disciplinas, consideradas acríticas e propagandísticas, tinham como objetivo doutrinar os estudantes e fortalecer a ideologia do regime militar. Nos cursos superiores, foi criada a disciplina Estudo de Problemas Brasileiros, que visava apresentar uma visão única e oficial da história e da realidade brasileira, reforçando a narrativa do regime militar.
Professores contrários ao regime foram presos, exilados ou aposentados compulsoriamente como, por exemplo, Florestan Fernandes. Anísio Teixeira, pioneiro dos anos 1930, e que hoje empresta o nome ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), foi deposto do cargo de reitor da UnB em 1964. Em 1971 foi encontrado morto no fosso de um elevador, sendo provavelmente mais uma das vítimas fatais da ditadura. Nesse mesmo ano, o Decreto no 68.908/71 acaba com os excedentes (alunos aprovados e que não conseguiam se matricular por falta de vagas nas universidades) e cria-se o vestibular classificatório.
O Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) foi criado em 1967 pelo governo militar brasileiro, substituindo o Plano Nacional de Alfabetização (PNA) do governo João Goulart, extinto em 1964. O PNA, idealizado por Paulo Freire, defendia uma educação libertadora e transformadora, baseada na realidade dos alunos e na conscientização crítica. Apesar de seus objetivos aparentemente louváveis, a tentativa de combater o analfabetismo no país, o Mobral era marcado por diversas críticas e contradições que o distanciavam da proposta original de Paulo Freire e o inseriam no contexto autoritário da época.
A ruptura com o modelo anterior representou a adesão a uma concepção tecnicista e funcionalista da educação. O Mobral se baseava em um método de ensino pré-fabricado, com cartilhas e materiais padronizados, que desconsiderava as particularidades dos alunos e seus contextos socioculturais. Essa abordagem era criticada por ser repetitiva, acrítica e alienante, distante da proposta original de Paulo Freire que defendia a alfabetização como um processo de conscientização e transformação social. O Mobral priorizava a alfabetização funcional, visando apenas a leitura e escrita básicas para o mercado de trabalho, em detrimento de uma formação mais ampla e crítica.
Siga em Frente...
A Lei nº 5.540 de 1968 – Ensino Superior
Aprovada em tempo recorde por um congresso intimidado e cúmplice dos militares, a Lei foi pouco discutida e inspirada na perspectiva norte-americana. Entre as mudanças podemos listar: a extinção das cátedras, criação dos departamentos, unificação do vestibular, unificação de faculdades em universidades, instituição do ciclo básico, definição de cursos de curta e longa duração além da instituição do programa de pós-graduação. Ademais, foram introduzidas as matrículas por disciplinas e o sistema de créditos, além da permissão a nomeação de diretores e reitores que não fossem professores.
O sistema de matrículas por disciplinas e créditos, apesar de suas vantagens em termos de flexibilidade e aproveitamento dos recursos, também apresentou desvantagens relacionadas à fragmentação das turmas e à diminuição da interação entre os alunos. Além disso, a implementação do sistema se deu em um contexto de forte controle governamental sobre as universidades, que se manifestava na seleção, nomeação e até mesmo punição de professores e funcionários, o que limitava drasticamente a autonomia das instituições. A autonomia universitária é fundamental para o livre pensar, a livre pesquisa e para a construção coletiva do conhecimento. Sem essa autonomia, as universidades perdem sua capacidade de crítica e transformação social.
Além disso, apesar do aumento dos recursos públicos disponíveis, uma parte cada vez menor passou a ser investida na educação. A partir de 1967, segundo Hilsdorf (2003, p. 126), “deixou-se de prever dotações orçamentárias precisas para o sistema público de ensino, vinculação que voltou a ser estabelecida apenas em 1983”, fazendo com que em 1975 chegássemos a investir apenas 4,73% dos recursos federais em educação. Essa falta de recursos, que se traduzia também na falta de vagas, acabou permitindo a expansão do ensino privado também no nível superior. Entre 1970 e 1980 o número de instituições públicas aumentou de 184 para 200 (8,7%) e o de privadas quase dobrou, aumentando de 2.221 para 4.394 (97,8%), conforme Rigotto e Souza (2005).
A LEI Nº 5.692 DE 1971 – EDUCAÇÃO BÁSICA
A década de 1970 foi marcada pelo processo de industrialização no Brasil, o que demandava mão de obra qualificada para o setor industrial. A reforma visava atender a essa demanda, criando um currículo com foco na formação profissionalizante, propondo a diversificação do ensino, com a criação de diferentes habilitações profissionalizantes. Essa reforma visava preparar os jovens para o trabalho técnico e manual e preparar os alunos para o mercado de trabalho. A Lei no 5.692/71 reformou o ensino de primeiro e segundo graus no Brasil (atual ensino fundamental e médio), estabelecendo uma nova estrutura curricular e pedagógica para a Educação Básica.
Em um contexto de repressão política, a reforma também tinha como objetivo formar cidadãos dóceis e acríticos, obedientes à ordem vigente. As disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira eram obrigatórias e visavam incutir valores considerados adequados pelo regime militar. A reforma proibia o debate político nas escolas e impunha uma visão única e oficial da história e da realidade brasileira, alinhada à ideologia do regime militar. Além disso, centralizava o poder de decisão nas mãos do governo, reduzindo a autonomia das escolas e dos professores.
Diversas outras mudanças foram realizadas no período, como a redução do percentual mínimo da arrecadação federal a ser aplicada em educação, fazendo que o aumento do PIB do período do “milagre econômico” não se refletisse no necessário aumento das verbas para o ensino. A criação da escola única profissionalizante, unificando o segundo grau com ensino técnico, o que ofereceria um ‘ofício’ ao estudante ao final do ensino secundário, reduzindo assim a pressão pelo aumento do ensino superior. A extinção das disciplinas de Filosofia, unificação das disciplinas de História e Geografia em Estudos Sociais, no primeiro grau, o que caracterizava um ensino prático, ideologizado pelo regime e acrítico. A desativação da Escola Normal de formação de professores do primeiro grau e redução da idade legal mínima para o trabalho para 12 anos, o que incentivava a evasão escolar.
Tecnicismo
O salto econômico no país, impulsionado por um processo de industrialização acelerada, ocasionou a expansão e diversificação do parque industrial brasileiro. Essa rápida transformação demandou, por sua vez, a formação rápida e em larga escala de mão de obra qualificada para atender às novas funções e demandas criadas pela industrialização. Chamamos de educação tecnicista a adequação da educação às exigências ou necessidades da sociedade capitalista e industrial, a educação voltada ao trabalho, e não ao conhecimento amplo. No fundo, permanecemos na perspectiva dualista de ensino em que as elites têm acesso a uma formação ampla e geral, em contraste com a educação dos outros segmentos da população, voltada à produção imediata. O ensino tecnicista buscaformar as pessoas de forma segmentada, sem uma visão do todo, voltado às necessidades da produção, e não para um pensar sobre o mundo.
O período do "Milagre Econômico" brasileiro teve um impacto significativo na educação, especialmente na relação entre o ensino público e privado. O ensino público foi direcionado para a formação de mão de obra qualificada para atender às necessidades da indústria em expansão. A ênfase era na educação profissionalizante, com foco em cursos técnicos e práticos, em detrimento de uma formação mais ampla e humanística. Já o ensino privado, por sua vez, conseguiu manter, em certa medida, as características de uma educação mais tradicional, com um currículo mais abrangente e voltado para o preparo para o ensino superior.
Isso aprofundou a desigualdade entre os dois sistemas de ensino, de maneira que as famílias de classes mais altas buscavam no ensino privado uma educação que preparasse seus filhos para as universidades e para as melhores oportunidades no mercado de trabalho. A dualidade no ensino contribuiu para o aumento da desigualdade social, pois limitava as oportunidades de ascensão social das classes mais baixas. A precarização do ensino público gerou um ciclo de baixa qualidade educacional, perpetuando a exclusão social e dificultando o desenvolvimento do país. A perda de autonomia do ensino público o tornou mais vulnerável às interferências políticas e menos capaz de responder às necessidades reais dos alunos.
Há outros aspectos por trás da ideia de educação tecnicista que se referem ao método. Aqui ocorre, também, a separação entre a produção do saber e sua disseminação, entre o pensar e o fazer, no uso de métodos de reprodução do conhecimento e memorização, e não no estímulo para se pensar em soluções, como a Escola Nova havia proposto e que agora era completamente banida.
Vamos Exercitar?
Pode ser que você não tenha notado com tanta clareza a relação entre os motivos do golpe de 1964 e o modelo educacional imposto, não é mesmo? Muitas vezes, nós pensamos nos problemas de forma isolada, como se começassem e terminassem neles mesmos. Porém, fica mais fácil compreendê-los se tivermos uma visão do todo. O “milagre econômico” do período realmente fez a economia crescer, mas baseada no endividamento externo e na concentração de renda, delegando à geração seguinte o pagamento da fatura. O Golpe Militar foi motivado por interesses econômicos ligados ao empresariado, aos partidos conservadores como a UDN e aos Estados Unidos. Todos defendiam uma ruptura com o debate democrático e com as bandeiras sustentadas nas reformas de base. Logo, o modelo desses grupos só poderia ser diferente, e realmente era. Suas políticas acabaram com o debate democrático e definiram uma educação tecnicista, que pensava em como fazer, mas não no que fazer ou por que fazer.
Formaram pessoas sem liberdade e sem o senso crítico, capaz de combater o modelo e o regime por meio da eliminação ou redução das disciplinas da área de humanas, como História e Geografia, além da Filosofia, priorizando disciplinas técnicas voltadas à formação para o trabalho. Essa mudança teria repercussão por toda uma geração e, portanto, no futuro do país. As perseguições aos professores e intelectuais, como Anísio Teixeira e Paulo Freire, e a repressão ao movimento estudantil e aos sindicatos permitiram o cerceamento do livre pensar e da oposição ao regime, necessários para a concentração de renda e de poder perseguidos desde a década de 1950 por esses setores, agora vitoriosos. Esse modelo econômico, político e educacional gerou graves consequências, obrigando o país a percorrer duas décadas (1980-1990) até tentar novamente retomar o seu rumo.
Saiba mais
· Para saber mais sobre a repressão indiscriminada no período militar, conheça o projeto Brasil Nunca Mais, desenvolvido pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Arquidiocese de São Paulo nos anos 1980, sob a coordenação do Reverendo Jaime Wright, e pesquise mais sobre Dom Paulo Evaristo Arns.
· A influência norte-americana foi fundamental para o golpe que ocorreu no Brasil em 1964. Os EUA ofereciam ajuda técnica e financeira nos mais diversos setores da sociedade. E não só o apoio técnico e financeiro demonstrava o interesse norte-americano na região. Assista ao filme Pra Frente Brasil (1982), de Roberto Farias, para compreender a influência e o apoio da CIA no treinamento de tortura oferecido às forças da repressão brasileira. Procure perceber quais foram os interesses por trás de tal apoio. PRA FRENTE Brasil. Direção: Roberto Farias. Produção: Roberto Farias. Roteiro: Roberto Farias. Rio de Janeiro: R. F. Ltda./Embrafilme, 1982. 1 DVD (110 min).
Unidade 3 / Aula 4 Redemocratização
Ponto de Partida
Estudamos as mudanças que o regime militar realizou na economia, na política e na educação. Agora, estamos saindo dos anos 1970. O chamado “milagre econômico” se foi e em seu lugar chegou a fatura do endividamento irresponsável a juros flutuantes. O modelo concentrador de renda e dependente da economia mundial mostrou-se insustentável e, aliado à crise dos anos 1980 e 1990, criou uma geração de miseráveis, famintos e sem direitos.
Os anos de 1980 sofreram diretamente as consequências do regime militar. Se, por um lado, a economia cresceu e se modernizou nos anos 1970, por outro, a conta sobrou para as gerações futuras. Como estava a economia brasileira nesse período? Nos anos 1970 vivemos o “milagre econômico”, mas quais seriam os reflexos nos anos seguintes? Será que a crise econômica explica a deficiência das políticas públicas, em especial da educação nesse período?
Por falar em políticas públicas, o que estava acontecendo na política nacional? Experimentávamos a abertura política, o fortalecimento da sociedade civil, os debates para a elaboração da nova Constituição até a sua promulgação em 1988. O que mudou no Brasil? Quais transformações ocorreram na educação nacional?
Vamos Começar!
A crise do petróleo e o aumento dos juros internacionais na década de 1970 representaram um duro golpe para o "milagre brasileiro", um período de rápido crescimento econômico que o país vivenciou entre 1968 e 1973. Na esteira da crise, os Estados Unidos elevaram as taxas de juros para conter a inflação. Essa medida encareceu o crédito internacional, dificultando o acesso do Brasil a empréstimos e agravando a situação fiscal do país. A forte concentração de renda, a falta de investimentos em setores básicos, como infraestrutura e educação, e a fragilidade das instituições democráticas criavam um ambiente propício para a crise. A pressão popular aumentava pela saída dos militares do poder.
Entre 1980 e 1983, o PIB brasileiro encolheu 7%, evidenciando a gravidade da crise. Essa retração gerou um aumento expressivo do desemprego e da pobreza, impactando diretamente a qualidade de vida da população. A crise fiscal e a desvalorização da moeda nacional impulsionaram um ciclo hiperinflacionário, que chegou a registrar índices mensais superiores a 80%. Essa situação corroeu o poder de compra das famílias e dificultou o planejamento financeiro.
A crise aprofundou a desigualdade social no Brasil. Os grupos mais ricos conseguiram proteger seus rendimentos, enquanto os mais pobres foram os mais afetados pela inflação, pelo desemprego e pela perda do poder de compra. O período foi, portanto, marcado por instabilidade política e social, com diversas trocas de governo e movimentos sociais em busca de soluções para a crise. A fragilidade das instituições democráticas, ademais, dificultava a implementação de medidas eficazes para conter os efeitos negativos da crise.
Abertura política
O regime militar dava sinais de desgaste. A crise do petróleo e o aumento dos juros internacionais, heranças amargas da década anterior, haviam corroído a base do "milagre econômico", expondo as fragilidades de um modelo que privilegiava o crescimento em detrimento da justiça social. Em resposta à pressão popular, os militares iniciaram um processo gradual de abertura política, conhecido como "abertura lenta, gradual e segura".

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