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UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
LICENCIATURA EM HISTÓRIA
HISTÓRIA INDígENA
MARIA HILDA BAqUEIRO PARAISO
Salvador
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©2010 Cedido à Editora da Universidade do Estado da Bahia – EDUNEB para esta edição.
Proibida a reprodução total ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em 
Língua Portuguesa ou qualquer outro idioma.
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
FICHA TÉCNICA 
EDITORA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – EDUNEB
DIRETORA
Maria Nadja Nunes Bittencourt
ASSESSORA EDITORIAL
Carla Cristiani Honorato de Souza
REVISÃO E PREPARAÇÃO DE ARqUIVO
Carla Cristiani Honorato de Souza 
Maíta Nogueira de Andrade
Naiara Rios Sena
DIAgRAMAÇÃO
Sidney Santos Silva
O conteúdo deste Material Didático é de inteira responsabilidade do(s)/da(s) autores (as), por cuja criação assume(m) ampla e total 
responsabilidade quanto a titularidade, originalidade do conteúdo intelectual produzido, uso de citações de obras consultadas, referências, 
imagens e outros elementos que façam parte desta publicação. 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).
Catalogação na Fonte
BIBLIOTECA DA COORDENAÇÃO UAB/UNEB
Editora da Universidade do Estado da Bahia – EDUNEB 
Rua Silveira Martins, nº 2.555 – Cabula 
CEP: 41.195-001 – (71) 3117-3458 
editora@listas.uneb.br 
www.uneb.br
 PARAÍSO, Maria Hilda. 
P222 História indígena: licenciatura em história. / Maria Hilda Paraíso. Salvador: UNEB/ UAB, 2011.
 
 86p. 
 
 
 
 1. Brasil 2. História 3.Índio I. Maria Hilda Paraíso II. Título. III. Universidade Aberta do
 Brasil. IV. UNEB 
 
 
 CDD: 980.41
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APRESIDENTE DA REPÚBLICA
Dilma Roussef
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad
SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
PRESIDENTE DA CAPES
Jorge guimarães 
DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA CAPES
João Teatini
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
GOVERNADOR
Jacques Wagner
VICE- GOVERNADOR
Otto Roberto Mendonça de Alencar
SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO
Osvaldo Barreto Filho
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
REITOR
Lourisvaldo Valentim da Silva
VICE-REITORA
Adriana dos Santos Marmori Lima
PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
José Bites de Carvalho
COORDENADOR UAB/UNEB
Silvar Ferreira Ribeiro
COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTO
Daniel de Cerqueira góes
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Caro (a) cursista,
Estamos começando uma nova etapa de trabalho e para auxiliá-lo no desenvolvimento da sua aprendizagem es-
truturamos este material didático que atenderá ao Curso de Licenciatura na modalidade de Educação a Distância 
(EaD).
O componente curricular que agora lhe apresentamos foi preparado por profissionais habilitados, especialistas da 
área, pesquisadores, docentes que tiveram a preocupação em alinhar o conhecimento teórico e prático de maneira 
contextualizada, fazendo uso de uma linguagem motivacional, capaz de aprofundar o conhecimento prévio dos 
envolvidos com a disciplina em questão. Cabe salientar, porém, que esse não deve ser o único material a ser uti-
lizado na disciplina, além dele, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), as atividades propostas pelo Professor 
Formador e pelo Tutor, as atividades complementares, os horários destinados aos estudos individuais, tudo isso 
somado compõe os estudos relacionados a EaD.
É importante também que vocês estejam sempre atentos às caixas de diálogos e ícones específicos que aparecem 
durante todo o texto apresentando informações complementares ao conteúdo. A ideia é mediar junto ao leitor, uma 
forma de dialogar questões para o aprofundamento dos assuntos, a fim de que o mesmo se torne interlocutor ativo 
desse material. 
São objetivos dos ícones em destaque:
Você sabia? – convida o leitor a conhecer outros aspectos daquele tema/conteúdo. São curiosidades ou 
informações relevantes que podem ser associadas à discussão proposta.
Saiba mais – apresenta notas, textos para aprofundamento de assuntos diversos e desenvolvimento 
da argumentação, conceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliam a compreender melhor o 
conteúdo abordado.
Indicação de leituras – neste campo, você encontrará sugestões de livros, sites, vídeos. A partir deles, 
você poderá aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas teóricas ou outros ol-
hares e interpretações sobre determinado tema.
Sugestões de atividades – consiste num conjunto de atividades para você realizar autonomamente em 
seu processo de auto-estudo. Estas atividades podem [ou não] ser aproveitadas pelo professor formador 
como instrumentos de avaliação, mas o objetivo principal é o de provocá-lo, desafiá-lo em seu processo 
de auto-aprendizagem.
Sua postura será essencial para o aproveitamento completo desta disciplina. Contamos com seu empenho e entu-
siasmo para juntos desenvolvermos uma prática pedagógica significativa. 
SETOR DE MATERIAL DIDÁTICO
UNEB/EaD
?? VOCÊ SABIA?
??? ??? SAIBA MAIS
INDICAÇÃO DE LEITURA
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
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Apresentação da Disciplina
A disciplina História Indígena tem como objetivo, conforme sua ementa, fazer compreender, nas múltiplas di-
mensões das experiências dos índios como sujeitos históricos, a constituição de diferentes relações de tempo e 
espaço. 
Os textos que compõem este módulo estão organizados em ordem cronológica, para que o processo histórico 
possa ser mais bem compreendido. Sugerimos, portanto, que sua leitura e as orientações obedeçam à ordem de 
inserção dos textos. 
O objetivo deste curso é o de estabelecer um diálogo com vocês sobre o assunto, responder as perguntas que 
todos temos e abrir novas perspectivas para compreender a realidade indígena.
O módulo está organizado em 8 capítulos. No capítulo I, veremos que é possível se fazer História Indígena, quando 
ela foi aceita pela academia, como podemos trabalhar a temática e as dificuldades a serem enfrentadas.
No capítulo II, o tema é o que é ser índio. No capítulo III, de onde são originários e como o foram; e, no capítulo 
IV, como são diversos entre si. Dessa forma, daremos uma visibilidade mais acurada a esses personagens históri-
cos.
No capítulo V, trataremos do índio colonial, isto é, analisaremos as várias formas de interação estabelecidas entre 
índios, missionários, colonos e autoridades metropolitanas. Veremos os principais pontos de conflito e negocia-
ção, a escravidão indígena e a relevância do seu trabalho, inclusive, na defesa da colônia. Destacaremos algumas 
das principais revoltas que desencadearam, pois, diferentemente do que estamos acostumados a ler, os indígenas 
estabeleceram formas de resistência e impuseram negociações, obrigando o governo colonial a fazer concessões 
e dar garantias aos grupos revoltados. Aprenderemos a dinâmica dessas relações, conhecendo como e por que 
a metrópole deliberou, nos meados do século XVIII, abolir a escravidão indígena e transformar seus aldeamentos 
em vilas.
No capítulo VI, iniciamos nosso estudo pelo início do XIX, quando a guerra justa a alguns grupos indígenas é 
retomada e a escravidão indígena volta 50 anos depois de ter sido proibida. Esta foi a forma encontrada para 
conquistar novos espaços produtivos e abrir outros caminhos de circulação. É o período conhecido pela política 
de interiorização da conquista e de acirramento das relações entre índios e não índios e dos preconceitos contra 
aqueles povos. Pensados como substitutos dos escravos de origem africana, os indígenas passaramassunto até 1808, quando aportou no 
Rio de Janeiro, já então capital da colônia. A presença 
da corte exigiu que fossem adotadas várias medidas, 
buscando garantir o abastecimento dos súditos ali ins-
talados. O aumento da população da cidade e os novos 
hábitos de consumo dos portugueses recém- chegados 
exigiam medidas urgentes.
Era preciso interiorizar a conquista e a exploração 
de novas terras e abrir caminhos que permitissem o 
escoamento dos produtos locais para a capital. Um dos 
obstáculos a serem superados era a dominação dos ín-
dios que viviam nas áreas a serem tomadas. Assim, nos 
anos de 1808 e 1811, foram decretadas guerras justas 
aos índios que ali viviam e que receberam denomina-
ções genéricas: Botocudos, na Bahia, Minas Gerais, 
Espírito Santo e em São Paulo e Paraná; Canoeiros, em 
Goiás e Mato Grosso e Muras, na Amazônia.
Figura 16 – Foto de quadro Rua Direita. Rio de Janeiro século XIX. 
Fonte: MEDDI, Jjeocazeocaz lee
Disponível em 
Acesso em 25.jan.2011.
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Figura 17 – Foto de pintura de índios Botocudos
Fonte: WIED. NEUWIED, M. Viagem ao Brasil. São Paulo: Edusp; 
Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1989.
Disponível em 
Acesso em 25.jan.2011.
Figura 18 – Foto d e gravura de índio Mura da Amazônia.
Fonte: RODRIgUES,Vanessa
Disponível em .
Acesso em 25.jan.2011.
Figura 19 – Foto de gravura índio Mura inalando o paricá.
Fonte: POZELLA, Eduardo
Disponível em 
Acesso em 25.jan.2011.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Veja como a volta da política de combate aos índios, no Século 
XIX, era considerada essencial para a conquista das fronteiras de 
ocupação, lendo:
LOPES, Marta Maria. OS GRUPOS INDÍGENAS NA FRONTEIRA 
OESTE DE MATO GROSSO E SUAS RELAÇÕES COM OS MILITARES 
NO SÉCULO XIX, 2005. Disponível em: Acesso em: 25. Jan.2011. 
Os moradores que se dispusessem a participar 
da guerra recebiam inúmeras vantagens econômi-
cas: sesmarias nas terras conquistadas, o direito 
de escravizar os índios por 10 ou 20 anos, perdão 
de dívidas fiscais e até de crimes que por ventura, 
tivessem cometido. Para viabilizar essa empreitada 
e apoiar a ação dos colonos, foram criados quartéis 
e destacamentos militares e colônias de degredados, 
todos localizados em pontos estratégicos: ao longo 
de rios que poderiam vir a ser usados como vias de 
comunicação, em áreas de terras sabidamente férteis 
e ricas em madeiras e onde houvesse grande concen-
tração de indígenas.
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Essa política administrativa de cunho militar provo-
cou graves desarranjos na vida dos povos nativos que 
viviam nessas áreas. Caçados, uns buscaram se inte-
riorizar nas matas, na tentativa de se proteger. Alguns 
outros grupos optaram por aceitar os aldeamentos 
impostos e por se aliarem aos colonos na guerra contra 
os demais, na tentativa de evitar que fossem também 
escravizados.
?? VOCÊ SABIA?
Boa parte das tropas de combate aos chamados índios inimigos 
era formada por indígenas aldeados, que eram obrigados a 
participar da guerra. 
Dos grupos que se recusavam a aldear-se e compor 
as tropas, alguns decidiram pelo enfrentamento, consi-
derando que a vida como trabalhadores nas fazendas ou 
nos quartéis e destacamentos não era atrativa devido 
aos maus tratos e ao excesso de trabalho. Outra tática 
era a da fuga dos aldeamentos após três anos, período 
em que se extinguiam as benesses – terem roças plan-
tadas por terceiros, receberem brindes e atendimento e 
não serem usados como trabalhadores -, e circularem 
pelas áreas onde havia colonos recém instalados, 
apresentando-se como índios saídos das matas, pas-
sando a usufruir mais três anos de benefícios. 
Figura 20 – Foto de índio Avá Canoeiro do Centro-Oeste.
Fonte: TORAL, André
Disponível em 
Acesso em 25.jan.2011.
?? VOCÊ SABIA?
Os combates nas guerras aos índios eram extremamente violentos. 
As aldeias eram cercadas durante a noite e as casas eram 
queimadas perto do amanhecer. Nesse meio tempo, os atacantes 
cortavam as cordas dos arcos e quebravam as flechas. Quando 
os moradores fugiam das chamas, eram presos ou mortos a tiros. 
Muitas vezes só aprisionavam crianças e mulheres, sendo os 
demais mortos. 
Os prisioneiros eram tratados de forma diferenciada. 
Os homens sobreviventes eram vendidos ou entregues 
aos interessados em trabalhadores, pois essas eram re-
giões que, por estarem em fase inicial de desbravamen-
to, seus conquistadores não dispunham de capital para 
adquirir escravos de origem africana. Posteriormente, 
a prática, ante as atitudes de rebeldia dos homens 
aprisionados ainda crianças, a ordem era de matá-los 
no momento de combate. Apenas eram aprisionadas as 
mulheres que, além de serem trabalhadoras, também se 
tornavam amasias dos militares e dos colonos, queixa 
constante dos índios, mesmo daqueles que viviam 
aldeados e sob a suposta proteção da lei. 
Também as crianças eram aprisionadas, doadas e 
vendidas. O comércio de crianças indígenas foi relatado 
por viajantes, missionários, autoridades governamen-
tais e pelos próprios colonos que se mostravam satis-
feitos com a docilidade e obediência desses meninos 
e meninas, alguns colocados na lida desde os cinco 
anos de idade. 
Esse comércio de pequenos escravos, além do 
seu caráter econômico, também era visto como uma 
tática para promover a desunião entre os vários povos. 
A fome, as promessas de benesses e a tentativa de 
preservar as crianças do seu grupo transformavam 
alguns grupos indígenas em pombeiros, responsáveis 
por roubar crianças das tribos não aliadas e entregá-las 
às autoridades civis e militares, que as repassavam aos 
seus aliados políticos e aos colonos interessados.
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Pombeiros eram índios (na América) e negros (na África) 
encarregados de trazer dos sertões pessoas para serem vendidas 
como escravos aos interessados. No caso dos índios, eles, para 
atender as exigências legais, diziam que haviam aprisionado 
os indígenas e os estariam levando para morrerem em rituais 
antropofágicos. Assim, o interessado, ao pagar pelo prisioneiro, 
estaria comprando sua liberdade e vida, o que lhe garantia o 
direito de mantê-los como escravos.
 
Dois outros destinos podiam ser dados aos pri-
sioneiros: serem levados para estudo nos Gabinetes 
Naturalistas na Europa, principalmente na Alemanha, 
ou para o Corte Imperial, onde supostamente deveriam 
freqüentar escolas, atuarem na Marinha e em outras 
atividades urbanas.
INDICAÇÃO DE LEITURA
A presença de índios na cidade do Rio de Janeiro só pode ser 
explicada pela vontade do Governo Imperial de inserir os índios 
nas atividades pior remuneradas. Veja como, neste texto: 
LEMOS, César de Miranda e. FONTES PARA UM DEBATE: OS 
ÍNDIOS NA URBANIDADE CARIOCA NO INÍCIO DO OITOCENTOS. 
2007. Disponível em: . Acesso em: 25/01/2011. 
Outro comércio comum naquele período era a de 
índios adultos, crianças e de esqueletos, particular-
mente crânios, para a Europa. No início do século XIX, 
fortaleciam-se as pesquisas sobre evolução humana na 
Alemanha. Lá estavam localizadas as principais institui-
ções de pesquisa, conhecidas como Gabinetes Natura-
listas, ligados ou não a Faculdades de Medicina. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Se você quer entender como os Botocudos foram considerados 
ancestraisdo homem, leia este texto: Valério, Marcus. EVOLUÇÃO. 
DE ONDE VIEMOS? A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR. 2004. 
Disponível em: . 
Acesso em: 14. fev.2010.
Os Botocudos, naquele momento, eram considerados 
como o possível elo perdido no processo de evolução 
entre macacos e humanos. O interesse nos crânios e 
esqueletos era grande e sua venda e envio eram regula-
res. Os vivos também eram estudados e avaliados física 
e mentalmente e, quando chegavam novos seres, os 
anteriores eram vendidos aos apresentadores de feiras 
ambulantes para serem exibidos junto com “mulheres 
barbadas” e outros elementos considerados exóticos. 
Ao morrerem, eram vendidos para museus de cera ou 
para os Gabinetes Naturalistas. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Os estudos sobre evolução humana buscavam espaço nos museus, 
para explicar à população o processo de transformação pela qual 
passara a humanidade. Para tanto, leia MARANDINO, Marta. 
MUSEUS DE CIÊNCIAS, COLEÇÕES E EDUCAÇÃO: RELAÇÕES 
NECESSÁRIAS. Em Museologia e Patrimônio. V.2. nº 2. Jul/dez 
2009. Disponível em: e em . 
Acesso em: 14. Fev. 2010.
Esse quadro de manteve após a Independência, 
embora se tornassem freqüentes os questionamentos 
ao modelo adotado que, segundo alguns autores, não 
traziam maiores benefícios. Segundo pensadores 
políticos, como José Bonifácio de Andrada e Silva, 
era preciso repensar a política indigenista e criar me-
canismos de atração e qualificação desses potenciais 
trabalhadores. 
No entanto, o projeto de Bonifácio foi apresentado 
às Cortes de Lisboa e à Comissão encarregada de ela-
borar a Constituição de 1824, não tendo sido aprovada 
em nenhuma instância. Mantinha-se a guerra justa nas 
fronteiras e a política pombalina para os índios aldeados 
no período colonial.
REgISTRE SUA IDEIA
Para você, a política indigenista, no período joanino 
,representou avanços ou retrocessos dos direitos indí-
genas com relação à política pombalina?
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Faça uma análise de como as ideias evolucionistas agravaram o 
preconceito relativo aos índios, no século XIX, e compare com as 
notícias atuais de jornais sobre a luta dos índios para reaverem as 
terras que lhes foram doadas. 
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AS POLíTICAS INDIgENISTAS, A CONSTITUIÇÃO 
IMPERIAL E OS íNDIOS NO NOVO PAíS.
A proposta apresentada por José Bonifácio, apesar 
do seu caráter autoritário, como por exemplo, o de 
determinar que as crianças indígenas deveriam ser 
desmamadas aos 6 meses e que os aldeamentos 
seriam feitos longe de rios e em terrenos áridos, para 
que os índios não se tornassem preguiçosos, apre-
sentava avanços que foram considerados inaceitáveis 
pelos constituintes. Além de propor a suspensão da 
guerra justa, sugeria o reconhecimento do direito dos 
índios à propriedade das terras que ocupavam e, como 
decorrência, que a exploração desses lotes de terras 
se fizesse através da compra e pagamento aos pro-
prietários. Essa proposição não poderia ter sido aceita 
naquele momento, assim como não o é até hoje.
A Constituinte de 1823, ao discutir a quais seg-
mentos sociais seriam concedido o status de cidadão, 
considerou que, embora fosse reconhecida a naciona-
lidade dos povos indígenas, não se poderia considerá-
los cidadãos. Os argumentos usados para lhes negar 
essa condição estão expressos com clareza na fala do 
Deputado França:
São habitantes do Brasil, os neles nascidos, cidadãos brasil-
eiros. Agora pergunto eu, um Tapuia é habitante do Brasil? É. 
Um Tapuia é livre? É, logo, é cidadão brasileiro? Não, posto 
que, aliás, se possa chamar brasileiro, pois os índios no seu 
estado selvagem não são, nem se podem considerar como 
parte da grande família brasileira; e são, todavia, livres, nas-
cidos no Brasil e nele habitantes. Nós, é verdade, que temos 
lei que lhes outorgue os direitos de cidadão, logo que eles 
abracem os nossos costumes e a civilização, antes disso, 
porém, estão fora da nossa sociedade.” 1
 
?? VOCÊ SABIA?
Para que os índios fossem aceitos como cidadãos, eles deveriam 
abrir mão da condição de índio e se comportar como os demais 
brasileiros.
1 FRANÇA, ...... Declarações na Reunião da Assembléia 
Nacional Constituinte de 23/09/1823 In Anais da Assembléia 
Nacional Constituinte de 1823; Arquivo Nacional, . Secção 
SPO T.05. p. 211-4.
Começava-se, então, a desenhar a perspectiva 
de uma nova política para as populações indígenas: 
a possibilidade de promover sua integração ao todo 
nacional. Porém, para tanto, eles deveriam abdicar 
de seus costumes, de sua língua e de sua identidade, 
para serem aceitos plenamente como cidadãos. Este 
era um novo desafio proposto ao Estado, que teria que 
criar instituições capazes de promover essa transfor-
mação, a qual o Primeiro Reinado não se preocupou 
em viabilizar. 
Também para os povos indígenas aldeados desde 
o período colonial e vivendo nas vilas criadas pelo 
Diretório Pombalino, esse desafio se fazia presente. 
Embora o Diretório tivesse previsto que a administração 
das vilas seria entregue aos indígenas, tal não havia 
ocorrido, alegando-se que os mesmos não possuíam 
conhecimento para assumir essa responsabilidade. 
 Ficava claro, a partir da Constituição de 1824, que 
eles deveriam se comportar como os novos brasileiros 
para terem seus direitos reconhecidos. Isto significava 
abdicar de sua maneira de ser ou ocultar e camuflar 
suas identidades e expressões culturais peculiares. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Os romances são grandes formadores de opinião, principalmente 
o eram, quando não havia rádio, televisão e nem jornais circulantes 
diários. Veja como o romance O Guarani, de José de Alencar, foi 
importante para criar uma visão romântica dos índios. Para tanto, 
leia 
MOREIRA, Vânia Maria Louzada OS ÍNDIOS E O IMPÉRIO: HISTÓRIA, 
DIREITOS SOCIAIS E AGENCIAMENTO INDÍGENA. 2009. Disponível 
em: . 
Acesso em: 21.jan.2011 e em ALENCAR, José. O GUARANI. Veja o 
resumo editado por Orfeu Spam Apostilas. 2006. Disponível em: 
. 
Acesso em: 25. Jan.2011. 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Identifique, após a leitura do romance O Guarani, a imagem ideal 
de índio pensada pelas autoridades e intelectuais do início do 
século XX.
Para os povos não aldeados, o Império manteve a 
política da guerra justa com todas as suas implicações, 
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pois a conquista de terras, o uso do trabalho indíge-
na e a necessidade de interiorização da colonização 
mantinham-se como essenciais e eram reivindicados 
pelos conquistadores das áreas de fronteiras.
INDICAÇÃO DE LEITURA
A política imperial foi complexa e teve muitas faces. Porém, 
manteve a mesma postura agressiva para com os índios que 
se opusessem à expansão do domínio brasileiro. Para tanto, 
leia: FERREIRA,,Andrey Cordeiro CONQUISTA COLONIAL, 
RESISTÊNCIA INDÍGENA E FORMAÇÃO DO ESTADO-NAÇÃO : OS 
ÍNDIOS GUAICURÚ E GUANÁ NO MATO GROSSO DO SÉCULO XIX. 
2008. Disponível em: . Acesso em: 14. Fev. 2011.
Para os aldeados, outros problemas se apresenta-
vam. Os administradores das vilas indígenas passaram 
a usar a Constituição de 1824 contra os indígenas. 
Afirmavam que os moradores dessas localidades já 
falavam a língua portuguesa, vestiam-se como os 
colonos, eram cristãos e sabiam ler. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
A postura das elites imperiais era a de não reconhecer os direitos 
indígenas e nem a capacidade desses povos de manterem suas 
identidades. O texto abaixo vai lhe ajudar a compreender essa 
realidade: LOPES, Fátima Martins; OFICIAIS DAS ORDENANÇAS 
DE ÍNDIOS: NOVOS INTERLOCUTORESNAS VILAS DA CAPITANIA 
DO RIO GRANDE, 2009. Disponível em:
 
Acesso em: 25.jan. 2011. 
Logo, poderiam ser considerados como cidadãos 
brasileiros e, consequentemente, não deveriam ter 
mais as regalias dos índios em fase de adaptação à 
nova realidade nacional, isto é: era preciso extinguir 
os aldeamentos e vender as terras aos interessados. 
Inclusive aos novos cidadãos. Iniciava-se, então, o 
desmanche dos aldeamentos indígenas e a negação 
dos seus direitos às terras ancestrais que lhes haviam 
sido concedidas pela Coroa portuguesa sob a forma 
de sesmarias. 
O interesse dos colonos nas terras dos aldeamentos 
devia-se ao fato de as mesmas já terem sido trabalha-
das pelos indígenas e terem recebido investimentos da 
metrópole ou do Estado brasileiro. Significava economia 
de tempo e de recursos para promover a produção de 
mercadorias a serem inseridas no mercado nacional 
ou internacional.
Assim se iniciava mais um foco de tensão, que se 
estenderia até o fim do Segundo Império: a pressão 
dos colonos para que o Estado promovesse a extinção 
dos aldeamentos e lhes entregasse as terras para seu 
uso.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Que tal ler este texto para compreender melhor a situação dos 
povos indígenas ante a ameaça de perderem as terras de seus 
aldeamentos? DANTAS Mariana Albuquerque. DISPUTAS DE 
IDENTIDADE ÉTNICA NA EXTINÇÃO DO ALDEAMENTO DO IPANEMA 
- PERNAMBUCO: CAMINHOS POSSÍVEIS ENTRE ANTROPOLOGIA 
E HISTÓRIA. 2007. Disponível em: . Acesso em: 25. Jan. 2011.
As políticas indigenistas e o período 
regencial: a consolidação das novas 
tendências.
A crise política vivenciada no início da década de 
30 dos oitocentos terminou por resultar na abdicação 
de D. Pedro I e no seu retorno para Portugal. Durante 
toda essa década, o Brasil foi governado por sucessivos 
regentes e as tensões entre o governo central e as elites 
locais assumiram o caráter de sucessivas rebeliões 
contra as quais, para serem resolvidas, não foi usado 
apenas o poder militar. Longas negociações e muitas 
concessões foram feitas, levando a uma descentraliza-
ção do poder e ao empoderamento das elites locais.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Quer saber como era o Brasil no período em que era administrado 
por regentes? Este texto vai ajudá-lo: Sem autor, PERÍODO 
REGENCIAL (1831 - 1840), sem data. Disponível em: . Acesso em: 25. Jan. 
2011. 
No bojo das negociações estava a questão da polí-
tica indigenista. As primeiras medidas adotadas foram 
a proibição da guerra justa, a atribuição do status de 
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órfãos aos índios e a entrega de sua administração ao 
juiz de paz, autoridade nomeada pelas elites locais. 
Logo em seguida, o poder central deliberou pela 
entrega da formulação das políticas indigenistas às As-
sembléias Legislativas Provinciais, que as elaborariam 
de acordo com o que considerassem como adequado 
aos interesses das elites locais.
REgISTRE SUA IDEIA
qual era o interesse das elites locais em terem o 
controle da política indigenista?
A maioria das Assembléias aprofundou o projeto de 
conquista das terras indígenas. Propunham que novos 
aldeamentos temporários fossem criados nas fronteiras 
onde houvesse índios refratários ao contato. Esses 
novos espaços, segundo sugestão dos deputados, 
deveriam ser missionados por frades capuchinhos, 
considerados capazes de acelerar o processo de res-
socialização, preparar os aldeados para o trabalho e 
usá-los para criar a infraestrutura necessária à abertura 
e à fiscalização de caminhos e estradas.
Para os antigos aldeamentos, cujos moradores 
eram considerados como “misturados aos nacionais”, 
a política era a de extinção gradativa. Isto é, inicialmente 
entregaram a administração das vilas e terras dos alde-
amentos às Câmaras Municipais, depois retiraram os 
diretores de aldeias e, finalmente, propunham que fos-
sem extintos e as terras vendidas aos interessados.
Usaremos, como exemplo das muitas rebeliões 
indígenas decorrentes desse avanço dos nacionais so-
bre as terras dos aldeamentos tradicionais, as revoltas 
ocorridas em Pedra Branca e Caranguejo, hoje distritos 
do Município de Santa Teresinha.
Figura 21 – Foto de quadro dos índios Apiaká do rio Arinos aldeados 
em Mato grosso (1827) 
Fonte: SURITA, Teresa. História: a Expedição Langsdorff
Disponível em 
Acesso em 25.jan.2011.
Ali viviam índios Kiriri Sapuyá ou Sabujá e alguns 
Tupi que para ali foram deslocados, no fim do século 
XVII, para garantir a conquista, a implantação da agri-
cultura e da pecuária e viabilizar a circulação de tropas 
comerciais pelas margens do rio Paraguaçu. 
Figura 22 – Mapa da Bahia localizando o município de Santa Teres-
inha, ao qual pertence o Distrito de Pedra Branca.
Fonte: wikipedia
Disponível em 
Acesso em 24.jan.2011.
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No bojo da Guerra dos Bárbaros, em 1700, o rei de 
Portugal concedeu a esses índios uma sesmaria e os 
retirou da administração de particulares entregando-os 
à dos jesuítas. O aldeamento prosperou e se tornou o 
principal fornecedor de vinho de missa para a Diocese 
da Bahia, além de um centro de pecuária.
Com a saída dos missionários, após o Diretório 
Pombalino, em 1758, e a nomeação de um diretor leigo, 
aumentaram as dificuldades vividas pelos aldeados. 
Os arrendamentos se ampliaram, particularmente nas 
áreas dos atuais municípios de Castro Alves, Amargosa, 
São Miguel das Matas e Iaçu.
Figura 23 – Foto de Pintura rupestre – Morro do Chapéu – Bacia do 
Paraguaçu
Fonte: DALTRO, Rafael
Disponível em 
Acesso em 25.jan.2011.
Porém, é na década de 30, graças à atuação da 
Câmara Municipal, que a invasão de terras se acentuou, 
fazendo com que os índios desencadeassem sucessivas 
rebeliões em 1834, 1839, 1846-7 e 1853. A repressão 
ocorreu de forma dura, e a acusação, dentre outras, era 
a de que os índios eram contrários à independência e 
desejavam o retorno do domínio colonial. Na verdade, 
os Kiriri Sapuyá, com essas revoltas sucessivas, apenas 
conseguiram protelar a extinção do aldeamento. 
Alguns dos sobreviventes, após longa peregrinação, 
terminaram por se refugiar no Posto Indígena Caramuru-
Paraguaçu, na região dos municípios de Itajú do Colônia, 
Camacan e Pau-Brasil, onde, juntamente com outros 
grupos, continuam a lutar pelo direito à terra. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
A luta dos Kiriri foi longa e difícil. Quer saber mais sobre este 
assunto? Leia:
REGO, André de Almeida. CABILDA DE FACINOROSOS 
MORADORES. UMA REFLEXÃO SOBRE O LEVANTE DOS ÍNDIOS DA 
PEDRA BRANCA EM 1834. Dissertação de Mestrado em História 
Social. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. 
Disponível em: . 
Acesso em: 25. Jan.2011. 
Também se inicia, nesse período, a lenta retoma-
da do projeto de missionamento, o que, até então, 
era rejeitado de forma contundente, desde o período 
pombalino Ainda era uma atividade incipiente, pois 
apenas alguns capuchinhos italianos que viviam nas 
capitais das províncias foram deslocados para atender 
aldeamentos nas fronteiras. Porém, o sucesso obtido 
por alguns desses missionários fez com que os gover-
nos provinciais considerassem que esta era a grande 
e futura solução para resolver, de vez, a questão dos 
“índios bravios”.
?? VOCÊ SABIA?
Que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) foi criado 
para escrever a História do Brasil e pensar políticas a serem 
adotadas pelo governo?
É também no período regencial que se estabelece o 
projeto de pensar e escrever uma História do Brasil não 
mais vinculada à História de Portugal, mas querefor-
çasse ideias de sentimentos nativistas antigos e cons-
tituísse, também, uma forma de projetar o futuro. 
??? ??? SAIBA MAIS
A nova História do Brasil deveria ser formulada, de maneira 
a demonstrar a vocação dos brasileiros para a liberdade e a 
independência. Foi feito um concurso internacional, em 1843, para 
que os sócios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB 
escolhessem a melhor proposta. Quem ganhou o concurso foi um 
naturalista prussiano chamado Friedrich Von Martius, que visitara 
o Brasil entre 1815 e 1817. Segundo Martius, a narrativa deveria 
ter por base o estudo da contribuição das chamadas três raças 
formadoras e seu papel ativo no desenvolvimento da população 
como um todo. Segundo sua visão, o branco era visto como o 
grande civilizador; o índio, como passível de ser regenerado, e o 
negro, como o grande empecilho do progresso. 
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O Instituto era composto pela elite social e política 
do Império e alguns intelectuais e, além da escrita da 
História do Brasil, seus membros também deveriam 
debater e sugerir os caminhos a serem trilhados pela 
administração imperial. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
O Instituto Histórico e Geográfico do Brasil foi muito importante 
para a formulação da história do Brasil. Que tal saber mais sobre 
este assunto? Veja este texto: CAETANO, Dhiogo José O IHGB E 
A HISTÓRIA. 2010. Disponível em: . Acesso em: 25. Jan.2011.
Duas questões, dentre outras, apresentavam-se re-
levantes e terminaram por se entrelaçar: a necessidade 
de pensar em como substituir a mão-de-obra escrava 
de origem africana e o que fazer com a população 
indígena.
Ante o sucesso da atuação de alguns missionários e 
a influência das ideias iluministas predominantes entre 
os intelectuais do IHGB, a proposta apresentada por este 
segmento foi a de capacitar os indígenas para subs-
tituírem os escravos. E, lentamente, os capuchinhos 
italianos foram se firmando no imaginário intelectual 
e político como os mais capazes de viabilizar esse 
projeto. 
No entanto, a crise vivenciada no período regencial 
resultou na declaração da maioridade do Imperador D. 
Pedro II e na retomada de políticas voltadas para pro-
mover a centralização do poder. Era preciso reduzir o 
poder das elites provinciais, para garantir a manutenção 
do regime imperial, o que, então, era considerado como 
sinônimo da sobrevivência do jovem país. 
Várias reformas administrativas foram estabelecidas 
nesse sentido e, dentre elas, a política indigenista.
INDICAÇÃO DE LEITURA
A decisão de elevar D. Pedro II ao trono, quando ainda era um 
adolescente, deveu-se à necessidade política de manter o Brasil 
unido. Leia mais sobre este assunto em MAIORIDADE DE D. PEDRO 
II. Enciclopédia Viva. Disponível em Acesso 
em: 25. Jan. 2011.
O 2º império e a possível incorporação dos 
índios ao todo nacional.
A nova administração imperial herdou três categorias 
de índios como base para elaborar sua política indige-
nista: os “bravios”, os que estavam aldeados havia pou-
co tempo e aqueles que viviam em aldeamentos havia 
muitos anos. E foi em função dessas três categorias que 
foi pensada a administração dessas populações.
Para os que viviam em antigos aldeamentos, con-
solidava-se a política da lenta extinção. Os governos 
provinciais e as câmaras municipais continuavam a 
pressionar para que eles deixassem de existir e as terras 
fossem leiloadas. Entretanto, o governo central optou, 
inicialmente, por fazer um levantamento detalhado da 
situação dos vários aldeamentos em todas as provín-
cias, antes de adotar qualquer decisão.
Os aldeados havia pouco tempo, os que viviam em 
aldeamentos particulares e os chamados bravios foram 
tratados da mesma forma. Os novos aldeamentos fo-
ram definidos como temporários, o que significa que 
existiriam enquanto os índios não se tornassem “civi-
lizados”, e sua administração, acompanhando a ótica 
dos governos provinciais e até mesmo de particulares, 
ficou a cargo dos frades capuchinhos. Retomava-se, 
assim, o antigo projeto de missionamento, abandonado 
desde o período pombalino.
?? VOCÊ SABIA?
Que a quase totalidade dos capuchinhos encarregados de 
missionarem entre os índios eram italianos?
A presença e atuação de capuchinhos, como já se 
observou, precederam ao ano de 1845, quando lhes foi 
entregue, oficialmente, a responsabilidade de missionar 
entre os vários grupos indígenas no Brasil. Na verdade, 
já a partir do século XVII, há referências à presença de 
capuchinhos de origem francesa atuando nos sertões 
baianos. 
Porém, os vários conflitos com os grandes criadores 
de gado culminaram na expulsão da Ordem. O Hospício 
de Nossa Senhora da Piedade, fundado em Salvador, no 
ano de 1679, constituiu-se, em 1712, na sede da Pri-
meira Prefeitura da Ordem, quando passou da condição 
de ponto de transbordo dos frades italianos em suas 
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viagens entre a Itália e a África. Só a partir da década 
de 1830, esses missionários voltaram a atuar entre os 
indígenas no Brasil.
Uma das razões da escolha desta e não de outras 
Ordens deveu-se a sua forma de atuação, que pode 
ser caracterizada como eminentemente orientada para 
a ação prática e para a preparação de trabalhadores. 
Esses frades atuavam, tradicionalmente, entre as 
comunidades pobres da Europa, visando promover a 
transformação das pessoas através de sua inserção 
no mercado de trabalho, o que o Governo brasileiro 
esperava que acontecesse com os grupos indígenas. 
A vinda oficial, em número significativo, de capuchi-
nhos italianos, para se engajarem na política indigenista, 
decorreu de um longo processo de negociações entre 
o Governo brasileiro e a Santa Sé, iniciado em 1840 e 
concluído em 1845. Pela assinatura de vários decretos 
e após várias negociações, ficou estabelecido que 
o governo brasileiro arcaria com todas as despesas 
do traslado, o pagamento das côngruas dos frades e 
de todas as obras que fossem necessárias para sua 
atuação: construção de hospícios, igrejas, capelas e 
outras, definidas como extraordinárias e indispensáveis. 
Também cabia ao governo definir onde e entre quais 
grupos indígenas atuariam. Ao superior da Ordem foi 
preservado o direito de ser ouvido em casos de trans-
ferência dos missionários, quando fosse conveniente 
ao serviço, ao bem-estar dos índios e/ou dos frades e 
a autoridade sobre as técnicas de missionamento. 
Finalmente, o Decreto n.º 426 de 24/7/1845 instituía 
as formas de atuação desses missionários e recebeu o 
nome de Regulamento das Missões. 
Era o resultado de estudos elaborados pela adminis-
tração imperial e nele se definia o missionamento como 
um dever político, religioso, humanitário e essencial 
para a implantação do “progresso social’, o que só 
seria possível com o reconhecimento da liberdade inata 
dos índios e com a eliminação de todas as formas de 
desrespeito e as violências praticadas contra eles até 
então. A meta a ser alcançada era a de incluir os indí-
genas à sociedade nacional, retirá-los da vida errante, 
incutir-lhes o gosto pelo trabalho e pela propriedade e 
fazê-los conhecer as comodidades da vida social, o que 
os faria apreciar a proteção da sociedade. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Durante o 2º Império uma das preocupações centrais era a de 
transformar os indígenas em seres úteis ao país. Saiba mais sobre 
essa visão, lendo: MOREIRA, Vânia Maria Losada, OS ÍNDIOS E 
O IMPÉRIO: HISTÓRIA, DIREITOS SOCIAIS E AGENCIAMENTO 
INDÍGENA. 2009. Disponível em: Acesso em: 25. Jan. 2011.
As autoridades brasileiras recomendavam que os 
missionários deveriam, antes de iniciar seus trabalhos, 
ser informados acerca de questões que desconheciam, 
dos hábitos dos índios e da produçãodo país e de 
lugares para onde se deslocariam, para que melhor 
pudessem definir os meios a serem adotados. 
Segundo o Regulamento, a administração indígena 
ficava dividida em dois setores administrativos: o laico, 
sob a responsabilidade de um diretor, e o religioso, 
administrado pelos missionários, que se tornaram 
responsáveis por atrair, aldear, converter e educar os 
indígenas para o trabalho. 
Era a retomada da política indigenista pelo poder 
central, ainda que com o concurso dos governos pro-
vinciais, e do projeto voltado para solucionar os con-
flitos entre índios e colonos e entre a Igreja e o Estado, 
evitando-se, dessa forma, o retardamento da expansão 
nacional. Assim, buscava-se, primordialmente, a forma-
ção de um exército de mão- de- obra disponível para ser 
empregado pelo governo na implantação e ampliação da 
infraestrutura viária, considerada essencial à aceleração 
da expansão da sociedade nacional. 
Sua inspiração era o Diretório Pombalino, pois, como 
ele, o Regulamento estava voltado para promover a ade-
quação sociocultural dos grupos indígenas à sociedade 
nacional, usando a administração da vida cotidiana 
dos aldeamentos como grande vetor. Os modelos dos 
aldeamentos deveriam aproximar-se, cada vez mais, 
do padrão das povoações civilizadas européias: igrejas, 
oficinas, cadeias públicas, livre comércio entre índios 
e brancos, garantindo a estes o acesso e instalação 
nessas povoações. 
Portanto, fica claro que os aldeamentos, lócus da 
realização dos projetos assimilacionistas, faziam parte 
de um projeto maior, vistos como uma fase de transição 
para a assimilação total dos indígenas e a incorpora-
ção das terras dos aldeamentos às propriedades dos 
nacionais. 
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??? ??? SAIBA MAIS
Um projeto assimilacionista significa a tentativa de eliminar as 
diferenças entre dois ou mais grupos sociais, uniformizando-
os culturalmente, de modo a torná-los portadores da mesma 
cultura e perspectiva de vida. A realidade vivida por muitos povos, 
principalmente a partir do século XX, tem demonstrado que essa 
assimilação plena nunca aconteceu com um povo sequer. 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Levante nos noticiários (televisão e jornais) alguns países que 
estão enfrentando conflitos devido a terem sido compostos por 
povos de origens étnicas diferentes. 
Para tanto, os frades deveriam treinar os aldeados 
em artes mecânicas, de acordo com a aptidão de cada 
um, e em técnicas agrícolas, o que exigia a construção 
de oficinas nos aldeamentos. Nessa mesma linha de 
raciocínio, era considerado essencial promover casa-
mentos intra e interétnicos, como parte da estratégia 
assimilacionista implantada pelo Governo. Para tornar 
mais atrativo o aldeamento, as festas religiosas e civis 
deveriam ser pomposas. 
A estrutura administrativa definida pelo Regulamento 
das Missões era a seguinte:
Organograma 1 - Estrutura administrativa criada pela legislação de 
1845 para viabilizar o missionamento dos indígenas
Fonte: Elaboração Própria
Desde os primeiros momentos de funcionamento 
dessa estrutura, iniciaram-se os conflitos. Os atores 
sociais envolvidos eram os diretores de aldeamento, 
os missionários, os colonos e os índios. Como cabia 
ao diretor parcial definir a manutenção ou não dos 
aldeamentos e como seriam aplicados os recursos 
destinados ao empreendimento, por ser ele membro da 
comunidade nacional em que os índios se localizavam, 
suas decisões contrariavam os interesses dos aldeados 
e não havia consenso entre as decisões tomadas pelos 
diretores e pelos missionários. Estes também entravam 
em conflito com os colonos. A razão era a recusa dos 
moradores locais de entregarem seus trabalhadores 
para viverem nos aldeamentos. Diretores, colonos 
e missionários também viviam em conflitos com os 
índios, que buscavam encontrar o “mal menos pior”, 
quando optavam por um dos modelos que lhes era 
oferecido: aldeamentos particulares ou aldeamentos 
missionários. Fugas, deserções e rebeliões eram 
constantes, assim como a circulação entre as várias 
instâncias administrativas, na tentativa de obterem 
melhores condições de vida. 
Conseqüentemente, o Regulamento das Missões só 
pode ser compreendido a partir da identificação das pre-
ocupações centrais daquele período: o índio deveria ser 
transformado em alternativa viável para a substituição 
da mão-de-obra escrava africana e garantir a criação 
de infraestrutura que permitisse a futura instalação dos 
colonos europeus ou sua substituição nas áreas em que 
essas tentativas fracassassem. 
Para tanto, era essencial que todos os esforços dos 
administradores estivessem voltados para a desestrutu-
ração das sociedades indígenas e a implantação de um 
novo padrão social adequado aos desejos da sociedade 
dominante. Daí o leque de preocupações ir do ensino 
do português ao de ofícios e atividades econômicas 
consideradas essenciais ao desenvolvimento dos ser-
tões em desbravamento. O que se pretendia é que os 
índios abandonassem, em caráter definitivo, seu antigo 
sistema produtivo comunal, base de sua organização 
social, para se transformarem em produtores, ou me-
lhor, trabalhadores que criassem as precondições para 
a expansão e a incorporação de novas áreas ao circuito 
do comércio nacional. 
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O FRACASSO DO REgULAMENTO DAS 
MISSÕES
Inicialmente, apontaremos a questão da diferença 
entre o número de capuchinhos chegados ao Brasil e a 
quantidade de pedidos para sua nomeação. Os pedidos 
eram constantes e vinham de todas as províncias. No 
entanto, não havia como atender a todos, criando uma 
situação de desconforto para a Ordem e para o Gover-
no. Esse problema se agravava, devido ao abandono 
da missão por alguns missionários, fosse por doença, 
inadaptação, loucura, velhice, fosse por morte. Muitos, 
inclusive, optaram por retornar à Itália. 
Nos casos de vacância, um capuchinho terminava 
por ficar responsável por missionar em vários aldea-
mentos, sem que fosse considerada a distância entre 
os que já lhe eram atribuídos. Em alguns casos, ocorria 
simplesmente o abandono dos aldeados, gerando a 
insatisfação dos índios. Outra tentativa de solução foi 
a de concentrar índios de etnias diferentes num mesmo 
espaço, o que fez com que, na maioria das vezes, eles 
abandonassem o local e retornassem para os antigos 
aldeamentos, passando a exigir a nomeação de um 
novo missionário. 
Esse problema ainda se agravou mais, a partir do 
momento em que os diretores dos aldeamentos pas-
saram a renunciar ao cargo, que não era remunerado. 
Como muitas vezes não havia interessados em substi-
tuí-los, os capuchinhos começaram a acumular os dois 
cargos, sobrecarregando-se de atividades e reduzindo 
sua capacidade de atuar, particularmente quando já 
exerciam a administração de vários aldeamentos.
?? VOCÊ SABIA?
Para compreendermos as razões do fracasso da política do 
Regulamento das Missões, temos que considerar, além dos 
constantes conflitos de opiniões acerca da administração, os 
obstáculos enfrentados pelos responsáveis por aplicar os novos 
princípios da política imperial. Alguns desses obstáculos eram 
insuperáveis. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
O papel dos capuchinhos foi muito importante para a expansão 
das fronteiras agrícolas. Saiba como, lendo estes textos: 
PARAISO, Maria Hilda Baqueiro. MISSÕES E MISSIONAMENTOS 
CAPUCHINHOS NA BAHIA, MINAS GERAIS E ESPÍRITO SANTO 
(1845-1890). 2008. Disponível em: . Acesso em: 
14.fev.2011.
SOUZA, Telma Miriam Moreira de. ENTRE A CRUZ E O TRABALHO: 
EXPLORAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA INDÍGENA NO SUL DA BAHIA 
(1845–1875). 2007. Disponível em Acesso em: 14. Fev. 2011.
Outra tarefa que desviava os missionáriosde suas 
atividades era administrar os índios encarregados de 
construir obras de infraestrutura nas proximidades dos 
aldeamentos: abertura, fiscalização, conserto e policia-
mento de estradas, construção de pontes, derrubada 
das matas e transformação dos aldeamentos em ponto 
de apoio para os tropeiros que passaram a circular pelos 
novos caminhos. 
Essa questão se agravava com o fato de que, apesar 
de acumularem cargos e terem que percorrer grandes 
distâncias, suas côngruas, os recursos para desloca-
mentos e seus proventos não eram aumentados. Da 
mesma forma, as prometidas obras a serem realizadas 
nos aldeamentos não ocorriam. As reclamações eram 
constantes e as queixas de não poderem atender de 
forma adequada aos catecúmenos sempre estavam 
presentes nos ofícios enviados ao Diretor Geral dos 
Índios e ao Superior da Ordem. 
Um dos casos exemplares desse quadro foi a 
administração dos aldeamentos do rio Pardo. Ali, os 
capuchinhos missionaram nos aldeamentos da Barra 
do Catolé, Barra do Salgado (Itapé), Lagoa do Rio Pardo 
(foz do rio Jibóia), Santo Antônio da Cruz (Inhobim), São 
Pedro de Alcântara (Ferradas), do Cachimbo (Itambé), 
Catolé (Itapetinga) e Salto do Rio Pardo (Angelim). 
Durante sua atuação, os missionários, por várias 
razões, abandonaram ou foram transferidos, fazendo 
com que, na década de 60, todos os aldeamentos ficas-
sem sob a responsabilidade de Frei de Luís de Grava, 
que ainda acumulava os cargos de Diretor da Colônia 
Nacional, no rio Colônia, e de pároco em Santo Antônio 
do Cachimbo (Itambé).
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REgISTRE SUA IDEIA
Após ler sobre o assunto, avalie por que era difícil 
resolver os problemas enfrentados pelos missionários 
capuchinhos. 
Uma das soluções pensadas foi a de criar aldeamen-
tos centrais, para onde seriam levados missionários e 
índios transferidos dos vários espaços em que viviam. 
Esse projeto fracassou rapidamente, sendo que o que 
teve uma vida mais longa foi o de Nossa Senhora dos 
Anjos de Itambacuri (atual cidade de Teófilo Ottoni, em 
Minas Gerais), que conseguiu sobreviver a uma grande 
revolta indígena, mas não ao assédio dos nacionais e 
colonos estrangeiros da região do Mucuri, inclusive para 
se apropriarem da escola indígena que ali existia.
Outra dificuldade vivida pelos frades era o conflito 
constante com os colonos e as Câmaras Municipais. 
Ambos os segmentos estavam sempre insatisfeitos 
com a atuação dos missionários, que lhes reduziam as 
possibilidades de controlar o trabalho dos aldeados e 
se recusavam a transferir aldeamentos para os locais 
considerados mais adequados aos seus interesses.
Também o isolamento espacial vivido pelos ca-
puchinhos que atuavam em aldeamentos criava um 
conjunto de percalços: não podiam trocar experiências 
com outros missionários e nem encontravam apoio dos 
companheiros nos momentos de dificuldades e, muito 
menos, nas autoridades locais. Essa situação os levava, 
lentamente, a abandonarem a sua missão com os índios 
e se envolverem com os nacionais. 
Delineava-se, assim, a “morte anunciada” da política 
estabelecida pelo Regulamento das Missões. Duas 
novas propostas iriam acelerar esse processo: a pro-
mulgação da Lei de Terras, para regularizar a questão 
fundiária, e a crescente opção pela vinda de imigrantes 
estrangeiros.
Figura 24 – Foto de gravura de índios Botocudos – Mutum – Espírito 
Santo – Século XIX
Fonte: BISPO, A. A. Nomes da história intercultural em contextos 
euro-brasileiros. Therese von Bayern (1850-1925) - Teresa da Bavi-
era s/d
Disponível em >
Acesso em 25.jan.2011.
A LEI DE TERRAS, A OPÇÃO PELOS 
IMIgRANTES E O ABANDONO DOS íNDIOS
Para agilizar as medidas que viriam a ser tomadas 
com relação às terras indígenas, o governo imperial 
determinou aos Diretores Gerais das Províncias que 
fizessem o levantamento dos antigos aldeamentos, que 
deveriam ser extintos e ter suas terras leiloadas, para 
legalizar a ocupação daquelas que estavam em mãos 
de arrendatários. 
?? VOCÊ SABIA?
A partir de 1850, os índios deixaram de ser uma opção prioritária 
para a solução do problema de mão- de- obra no Brasil e passaram 
a ser vistos como um empecilho à modernização do país.
A partir de então, a opção deixa de ser a de preparar 
índios para o trabalho, e os recursos antes aplicados 
nesse projeto foram deslocados para promover a imi-
gração e criação de colônias estrangeiras, inviabilizando 
a continuidade do projeto missionário como havia sido 
pensado em 1845. 
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Os índios passam a ser vistos como incapazes de 
promover o desenvolvimento da agricultura, porque, 
segundo a visão dominante, ou viviam errantes pelas 
matas ou estacionados em aldeias humildes, manten-
do relações temporárias com os fazendeiros vizinhos. 
Esses povos também eram acusados de renegarem o 
trabalho sistemático e não compreenderem as respon-
sabilidades da vida social, não experimentando suas 
necessidades, o que era atribuído à sua natureza moral. 
Considerava-se que, apesar dos investimentos realiza-
dos pelo governo, os resultados eram muito parcos. A 
sugestão era a de engajar os índios no Exército, Armada 
ou Marinha, para atuarem na defesa do país.
 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Essa ideia de usar os índios como defensores das fronteiras 
brasileiras era muito forte nas regiões Norte e Centro-Oeste, áreas 
de ocupação nacional rarefeita. Aprofunde essa reflexão, lendo: 
LOPES, Marta Maria. OS GRUPOS INDÍGENAS NA FRONTEIRA 
OESTE DE MATO GROSSO E SUAS RELAÇÕES COM OS MILITARES 
NO SÉCULO XIX, 2007. Disponível em: . Acesso em: 26. Jan.2011. 
Na verdade, a crescente opção pelo imigrante es-
trangeiro estava associada a uma nova forma de pensar 
o país: a necessidade de modernizá-lo e branqueá-lo. 
Neste novo modelo, cada vez mais, o trabalhador indí-
gena foi sendo descartado, e os interesses das elites 
rurais se voltaram para a tomada das terras dos alde-
amentos pelas vias legais ou pela força. Era o reflexo 
do crescimento das atividades agrário-exportadoras 
como um todo, do fortalecimento do mercado consu-
midor interno, da aplicação de capitais em atividades 
produtivas e da expansão das relações de trabalho 
assalariadas. 
Relacione a promulgação da Lei de Terras de 1850 
e a extinção dos aldeamentos. 
Novas deliberações governamentais foram tomadas 
a partir da década de 50, sendo voltadas para a mo-
dernização do país e para atender às novas elites do 
Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente, onde se 
concentrava o nascente pólo cafeeiro. 
A Lei de Terras eliminava o sistema de sesmarias 
e determinava que, a partir de então, a propriedade 
das terras só poderia ser obtida através da compra, 
medição e registro e que todos os que quisessem ser 
proprietários e que não cumprissem esse ritual teriam 
suas terras consideradas como devolutas e colocadas 
à venda pelo governo. 
No caso dos aldeamentos indígenas, havia uma 
possibilidade de solução para o problema. A primeira 
era que os diretores gerais dos índios, indicados pelos 
presidentes das províncias, determinassem a medição, 
demarcação e registro das antigas sesmarias, conce-
didas no período colonial, pois era difícil, quando não 
impossível, encontrar os documentos comprobatórios 
da doação ou o registro de seus limites. Porém, nada 
foi feito nesse sentido e as terras indígenas passaram 
a ser vistas como devolutas.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Finalmente, foi criada a legislação que permitia às elites tomarem 
as terras indígenas. Saiba como isso foi possível, lendo: SILVA, 
Isabelle Braz Peixoto da O RELATÓRIO PROVINCIAL DE 1863 E A 
EXPROPRIAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS. 2007. Disponível em: 
. 
Acesso em 26. Jan.2011. 
Os aldeamentos criados mais recentemente tinham 
caráter temporário,por isso, não havia sido efetivada 
a doação das terras e, menos ainda, a demarcação e 
registro. Logo, eram devolutas, ocupadas temporaria-
mente, até os indígenas serem considerados “civili-
zados”, quando os aldeamentos seriam extintos e as 
terras leiloadas.
Para efetivar com mais rapidez essas medidas, a 
administração da política indigenista passou a ser res-
ponsabilidade do Ministério da Agricultura. Esse órgão, 
após consultar os governos provinciais sobre qual a 
situação de cada aldeamento existente nas diversas 
províncias, iniciou seus trabalhos de extinção e venda 
de alguns aldeamentos, os mais antigos, sobre os quais 
se informava que os indígenas estavam “misturados” 
aos nacionais.
Depois de serem declarados extintos, deveriam 
ser recolhidos os livros e papéis, coligi-los, prestar os 
devidos esclarecimentos e enviá-los ao Governo Impe-
rial. Os dados considerados mais importantes eram os 
relativos ao patrimônio, edifícios existentes e objetos 
de valor que pudessem ser arrecadados e devolvidos 
à Fazenda Pública para serem leiloados. 
Essa atitude do Governo Imperial refletia seu cres-
cente desinteresse, a partir da segunda metade da déca-
da de 70, em continuar a administrar a questão indígena. 
Como conseqüência, iniciou-se a lenta transferência de 
poder às Câmaras Municipais, para adotarem as me-
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didas que fossem de interesse das elites econômicas 
daqueles locais. Essa postura foi claramente expressa 
no Decreto n° 2672 de 1875, que autorizava a alienação 
de terras dos aldeamentos extintos e sua venda pelo 
preço de mercado aos foreiros ou a outros, como fosse 
mais vantajoso para a Fazenda Nacional. 
Os lotes reservados para doação aos descenden-
tes dos índios variavam de acordo com os interesses 
locais. Na Bahia, por exemplo, foram designados, em 
1875, trinta hectares para os chefes de família e treze 
para os solteiros. Como a despesa com esses procedi-
mentos era alta, os trabalhos foram interrompidos em 
1878, devido ao desinteresse do Governo Imperial no 
assunto e à falta de recursos até para o pagamento do 
engenheiro e dos trabalhadores. 
Com a desativação das Comissões de Discriminação 
dos Aldeamentos Extintos, o Governo Provincial assu-
miu o controle do processo de venda dos aldeamentos 
do norte da Bahia, sob a alegação de que ali não mais 
havia índios, apenas nacionais. 
REgISTRE SUA IDEIA
O qUE VOCÊ PENSA SOBRE ESSA AFIRMATIVA? 
A SUBSTITUIÇÃO DE íNDIOS POR IMIgRANTES ES-
TRANgEIROS PARA TRABALHAREM NA LAVOURA 
TEVE RESULTADOS POSITIVOS PARA O BRASIL.
Fortalecia-se a crença de que os índios eram um 
estorvo a ser eliminado para poder ocorrer o progresso 
sonhado. Além dessas considerações, estabelecia-se 
a visão de que esses povos compunham uma raça 
que tendia a desaparecer, sendo inútil realizarem-se 
investimentos. Deveriam ser deixados à própria sorte 
e esperar que o destino se cumprisse. O país deveria 
concentrar esforços e recursos na vinda de imigrantes 
europeus, única forma de garantir a melhoria da raça 
mestiça e da economia nacional. 
As províncias, liberadas pelo governo central, a partir 
da década de 70, criaram inúmeros municípios, inclu-
sive usando as terras dos antigos aldeamentos como 
base territorial. Da mesma forma, os investimentos 
na abertura de novas estradas carroçáveis e de ferro 
abriram novas fronteiras, sem respeitar as terras dos 
aldeados e nem os territórios de índios que ainda viviam 
nas matas. 
Iniciou-se, então, o processo sistemático de extinção 
dos aldeamentos: os primeiros foram os de Pedra Bran-
ca, Aricobé, na comarca de S. Francisco; São Miguel, 
em Camamu; Santa Cruz, em Porto Seguro; Peruípe em 
Caravelas; Cachimbo e Barra do Salgado, em Ilhéus, 
Bom Jesus da Glória e o de São Fidelis.
Outros, simplesmente, foram abandonados e tiveram 
suas terras vendidas pelas Câmaras Municipais, que 
sequer se preocuparam em cumprir a lei que determi-
nava que fossem reservados lotes para uso dos índios e 
seus descendentes. A eles restava apenas a inserção no 
mercado de trabalho ou a participação como pequenos 
produtores nas faixas de terra que conseguiam manter 
sob seu domínio. 
Esse abandono, lento e gradual, calcado nos ar-
gumentos de que os moradores dos aldeamentos 
estavam “confundidos com a população em geral” ou 
eram descendentes ou se faziam passar por índios, não 
significava, no entanto, que fossem considerados como 
nacionais. Era-lhes negado um conjunto de direitos: o 
de manter as terras, a condição de cidadão e qualquer 
forma de assistência.
Boa parte deles optou por migrar para as cidades e 
vilas ou se refugiaram nas matas, situação que não se 
alterou com a Proclamação da República.
CAPíTULO VII: AS PERPLEXIDADES DA 
REPÚBLICA 
Ao ser proclamada a República, a questão indíge-
na, de imediato, não era considerada relevante nem 
mereceu qualquer tipo de referência. Nem mesmo na 
Constituição de 1891, que apenas referendou a política 
estabelecida no fim do século anterior. 
A realidade indígena, diferentemente de até então, 
considerava apenas a existência dos índios ditos 
selvagens e que viviam nas matas. Todos os demais 
povos indígenas do Brasil, e que se reconheciam e eram 
reconhecidos como índios e viviam em aldeamentos 
seculares, foram, simplesmente, ignorados. Era como 
se, ao se extinguir a estrutura administrativa dos alde-
amentos, seus moradores também fossem extintos por 
decreto, deixassem de existir e de se pensarem como 
índios e de serem discriminados e espoliados de suas 
terras. A República simplesmente partiu do princípio 
de que essas pessoas haviam-se tornado brasileiros 
comuns, ignorando-lhes suas especificidades sócio-
culturais e sua consciência étnica particular. 
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A ?? VOCÊ SABIA?
O governo brasileiro unicamente se sentiu pressionado a promover 
uma política indigenista, quando os conflitos se ampliaram 
nas áreas de fronteira interna, onde havia expansão agrícola e 
pecuária.
A preocupação com os índios “selvagens” também 
só ocorreu alguns anos depois, no início do século 
XX. As razões resultaram da decisão de expansão das 
fronteiras agrícolas – café em São Paulo, borracha na 
Amazônia e cacau na Bahia - do sistema de comuni-
cações, particularmente as redes de telégrafo – Centro 
Oeste e Norte do país - e ferroviária – São Paulo, Espírito 
Santo, Minas Gerais e Bahia - e dos conflitos entre os 
índios Xokleng e Kainkang e colonos estrangeiros nos 
estados do Paraná e Santa Catarina. Esses índios eram 
vistos, a partir de então, como inimigos e entraves que 
precisavam ser eliminados ou controlados. A revolta dos 
indígenas, em 1893, que viviam em Itambacuri com os 
missionários capuchinhos, no norte de Minas Gerais, 
acirrou ainda mais os ânimos contra os índios.
INDICAÇÃO DE LEITURA
OS CONFLITOS ENTRE ÍNDIOS E CAPUCHINHOS FORAM SE 
TORNANDO CADA VEZ MAIS INTENSOS. LEIA MAIS SOBRE ISSO, 
ACESSANDO AS SEGUINTES INDICAÇÕES: SILVEIRA, Suely Itamar 
Santiago. OS BORUN DO WATU, s/d. Disponível em: . Acesso em: 26. Jan.2011.
WIIK, Flavio Braune. XOKLENG. 1999. Disponível em: . Acesso em: 26. 
Jan.2011.
MATTOS, Izabel Missagia de. DOMINGOS RAMOS PACÓ, 
PROFESSOR BILÍNGÜE E INTÉRPRETE DO ALDEAMENTO 
MISSIONÁRIO DO ITAMBACURI, MG. Disponível em Acesso em: 26. Jan. 
2011. 
Figura 25 – Foto de índios Krenak do Rio Doce em Minas gerais. 
1926. Fonte: SILVEIRA, Itamar Santiago. s/d
Disponível em 
Acesso em 26.jan.2011.
Figura 26 – Foto do Posto Indígena dos Kaingang no Paraná sob a 
administração do SPI. Fonte: MARqUES, Fernanda. Estado nutricio-
nal de crianças indígenas reflete condições desfavoráveis
Disponívelem: 
Acesso em 26.jan.2011.
Figura 27 – Foto da Aldeia Maxakali do Pradinho – Minas gerais
Fonte: FERREIRA, Mário.
Disponível em 
Acesso em 26.jan.2011.
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A discussão sobre a questão indígena se fazia entre 
aqueles que tentavam explicar as reações indígenas e 
os que defendiam sua eliminação em nome do progres-
so e modernização do país. Pelos jornais, o tom dos 
debates se tornou cada vez mais radical. Enquanto os 
positivistas acusavam a equivocada política indigenista 
aplicada até então como responsável pela reação dos 
índios, outros afirmavam que a natureza dos índios era 
selvagem e irredutível e não adiantava realizar qualquer 
tipo de investimento. E um terceiro grupo sugeria que 
os nativos fossem deslocados para as fronteiras mais 
distantes, onde não impedissem a expansão nacional.
REgISTRE SUA IDEIA
qual das três propostas você considera a mais 
adequada para resolver o problema indígena no 
Brasil.
Entre aqueles que defendiam a necessidade moral de 
o Estado estabelecer uma política indigenista estavam 
pessoas de grande relevo, como o Monsenhor Claro 
Monteiro e os intelectuais Teodoro Sampaio, Couto de 
Magalhães e João Mendes Júnior, dentre outros. Diver-
giam, apenas, quanto à continuidade do missionamento 
como forma de atuação do Estado junto aos índios. 
Essas pessoas fundaram a Sociedade de Etnografia 
e Civilização dos Índios. Em reunião realizada em São 
Paulo, em 1901, as críticas ao abandono dos índios 
variaram desde a falta de formação de coleções etno-
gráficas, a ausência de leis até os resultados negativos 
da não atuação junto aos povos das matas. A sociedade 
propunha-se a resolver a questão, conquistando novas 
terras e milhares de braços já adaptados ao clima para 
atuarem na pecuária e no extrativismo. 
??? ??? SAIBA MAIS
O capitalismo no Brasil, no início do século XX, calcava-se na ideia 
de expansão continuada da conquista e exploração de novas terras. 
Não havia grandes preocupações em usar tecnologia moderna 
para recuperar terras usadas. Por essa razão, eram constantes os 
conflitos com os índios, que se recusavam a entregar suas terras 
para os não índios ocuparem. 
O avanço do capitalismo no Brasil acirrou os deba-
tes entre aqueles que pensavam a questão indígena, 
obrigando o Estado a formular uma política para esses 
povos. As acusações contra a violência praticada contra 
eles e a falta de qualquer forma jurídica de proteção 
de suas vidas e bens ganhavam dimensões nacionais 
através da Revista do Instituto Histórico e Geográfico 
Brasileiro. Em contrapartida, os governos dos estados 
e as elites oligárquicas locais agiam de forma a sa-
tisfazer seus projetos, inclusive contratando mateiros 
para “limparem” os terrenos que queriam incorporar a 
suas propriedades. 
Uma polêmica de características mais dramáticas 
e bem conhecida foi estabelecida entre o Diretor do 
Museu Paulista, Herman von Hering, e a professora 
Leolinda Daltro. O primeiro, ao defender o direito dos 
colonos à vida, chegou a afirmar a necessidade de ser 
promovido o extermínio dos índios. Já a professora, 
uma imagem feminina ímpar para o início do século XX, 
após viajar por 4 anos por várias aldeias indígenas no 
Centro-Oeste do país, lamentava o estado de pobreza 
e subserviência em que viviam as tribos indígenas que 
visitara. Seu projeto era o de oferecer educação laica 
para promover a integração dos índios à sociedade 
nacional, garantindo-lhes condições de vida adequadas 
e respeito aos seus direitos.
Leolinda recebeu o apoio de pequena parcela da 
classe média paulista e o total silêncio do Estado. Nem 
mesmo quando compareceu, em 1906, acompanhada 
de índios Xerente, Guarani e Krahô, ao Congresso Pan 
Americano, realizado no Rio de Janeiro, conseguiu 
demover o governo federal a pensar no assunto. Em 
1908, Daltro foi a porta voz dos índios Guarani de São 
Paulo, ao denunciar o massacre que haviam enfrentado 
em Ourinhos, no sul daquele estado, e, graças a apoio 
recebido de simpatizantes, fundou a Associação de 
Proteção e Auxílio aos Silvícolas do Brasil. 
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INDICAÇÃO DE LEITURA
OS KRAHÔ FORMAM UM POVO MUITO INTERESSANTE. LEIA 
SOBRE ELES E SUAS LUTAS, ACESSANDO: MELATTI, Julio Cezar. 
KRAHÔ. 1989. Disponível em: . Acesso em: 26. Jan.2011. 
Outros intelectuais, como Horta Barbosa e Campos 
Novais vieram a público para dar seu apoio à causa 
defendida por Daltro e criticar a postura de von Hering 
e do governo. Como conseqüência dessas constantes 
críticas e dos conflitos que se ampliavam, o Estado 
brasileiro deliberou, finalmente, em 1910, criar uma 
política e um órgão oficial para tratar da questão. 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Pesquise na internet a trajetória de Leolinda Daltro e faça uma 
pequena biografia dessa ativista social.
O SPI E SUA TRAJETÓRIA
Assim, surgiu o Serviço de Proteção aos Índios e 
Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN) em 
1910. Sua primeira frente de atuação foi a implanta-
ção da Linha Telegráfica ligando o Rio de Janeiro aos 
estados do Centro Oeste. Ali já atuava um capitão do 
Exército, Cândido Mariano da Silva Rondon, descenden-
te de índios, conhecedor da região e de vários grupos 
indígenas e fiel seguidor dos princípios positivistas 
que orientavam o ordenamento do Estado Republicano 
recém-criado. 
Além dos lemas positivistas, como Ordem e Pro-
gresso, Rondon notabilizou-se por uma expressão que 
passou a ser o símbolo de sua atuação, dos órgãos in-
digenistas e dos defensores da causa indígena: “Morrer, 
se preciso for; matar nunca.”
INDICAÇÃO DE LEITURA
O POSITIVISMO FOI UMA FILOSOFIA MUITO IMPORTANTE PARA 
A FORMAÇÃO DO BRASIL REPUBLICANO. CONFIRME ESSA 
AFIRMATIVA LENDO ESTES TEXTOS: s/autor. AUGUSTE COMTE. 
2005. Disponível em: . 
Acesso em: 26. Jan.2011. 
Escola de Sargentos de Armas – Comunicação. MARECHAL 
CÂNDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, PATRONO DAS 
COMUNICAÇÕES. Disponível em: . Acesso em: 26. Jan.2011. 
QUAL A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO NO BRASIL?, 2007. 
Disponível em: . Acesso em: 26. Jan.2001
Figura 28 – Foto do Povo Krahô
Fonte: CARELLI, Vincent. Krahô
Disponível em 
Acesso em 26.jan.2011.
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Figura 29 – Foto do Capitão Cândido Mariano da Silva Rondon no 
início dos trabalhos no SPILTN.
Fonte: Assembléia Legislativa do Mato grosso. 
Disponível em 
Acesso em 26.jan.2011.
Rondon foi nomeado chefe da Comissão das Linhas 
Telegráficas de Mato Grosso e Amazonas e continuou 
sua atuação. Em 1910, quando foi criado o SPILTN, 
graças a sua experiência e conhecimento dessa área 
de fronteira, e por ter conseguido estabelecer relações 
pacíficas com os povos indígenas, foi escolhido para 
dirigir o órgão indigenista. 
Figura 30 – Foto do. do Marechal Rondon
Fonte: Escola de Sargentos de Armas – Comunicação. Marechal 
Cândido Mariano da Silva Rondon, Patrono das comunicações.
Disponível em 
26.jan.2011.
Figura 31 – Foto da Comissão Rondon levantando os postes do telé-
grafo em Mato grosso
Fonte: VIETTA, Katya A atuação da Comissão Rondon e do SPI em 
terras sul-mato-grossenses.
Disponível em 
Acesso em 26.jan.2011.
Figura 32 – Mapa identificando a linha de telégrafo construída por 
Rondon 
Fonte: National geographic Brasil
Disponível eminteratividades/mapas/2009/mapa-marechal-rondon.shtml>
Acesso em 26.jan.2011.
INDICAÇÃO DE LEITURA
As primeiras ações do SPI ocorreram na região centro-oeste. Veja 
por que, lendo: VIETTA, Katya A ATUAÇÃO DA COMISSÃO RONDON 
E DO SPI EM TERRAS SUL-MATO-GROSSENSES. 2011. Disponível 
em: Acesso em: 26. Jan. 2011.
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??? ??? SAIBA MAIS
Os positivistas também eram evolucionistas e, por isso, viam os 
índios como seres que deviam ser levados a se modificar e se 
tornarem iguais aos civilizados.
Os fundamentos do SPILTN eram positivistas e, 
portanto, evolucionistas. Seus seguidores acreditavam 
no apostolado leigo que levaria os povos indígenas ao 
mais alto grau de evolução humana. Acreditavam, como 
bons evolucionistas, no princípio de que todos os povos 
tinham potencial para evoluir e, portanto, era viável 
adotar uma política indigenista voltada para promover 
a civilização dos índios. 
Daí porque o órgão previa a localização de trabalha-
dores nacionais dentro ou nas proximidades das áreas 
indígenas, para que estes atuassem como agentes 
transformadores sociais, aceleradores da evolução e 
introdutores das ideias capitalistas. Era também uma 
forma de, ao transferir trabalhadores rurais para as 
fronteiras desocupadas, reduzir a pressão social em 
áreas economicamente decadentes ou que sofriam 
o impacto de secas prolongadas, particularmente no 
Nordeste.
Figura 33 – Mapa localizando od Parque Indígena do Xingu
Fonte: Klima Naturali
Disponível em 
Acesso em 26.jan.2011.
Essa medida terminou por criar problemas insolúveis 
na disputa de terras, pois grande parte desses traba-
lhadores nacionais terminou por se tornar arrendatário 
das terras indígenas. O problema assumiu proporções 
mais graves, quando o SPI se enfraqueceu e seus fun-
cionários se envolveram com a corrupção. 
O resultado é que, em muitos casos, como os dos 
Pataxó Hãhãhãe da Bahia, os Krenak e Maxakali de 
Minas Gerais, todas as terras dos Postos Indígenas 
foram arrendadas aos nacionais, que criaram vários 
mecanismos para expulsar os índios e se recusaram a 
pagar as taxas de arrendamento, levando à falência o 
sistema administrativo local e do órgão, e ao abandono 
dos indígenas que ali viviam.
 A partir da década de 70, esses arrendatários pres-
sionaram os governos dos estados para distribuírem 
títulos de proprietários aos que ocupavam as terras dos 
antigos Postos Indígenas, gerando conflitos e processo 
jurídicos demorados. Os casos de Minas Gerais já foram 
resolvidos e os Krenak e Maxakali tiveram assegurada 
a reintegração da posse das terras demarcadas. Já o 
processo Pataxó Hãhãhãe se encontra no Supremo 
Tribunal Federal desde a década de 80 e ainda não foi 
concluído, apesar de a causa ser exatamente igual a 
dos índios de Minas Gerais.
REgISTRE SUA IDEIA
Como você vê a demora nos julgamentos dos pro-
cessos relativos às disputas das terras indígenas.
Outra crença que teve profundos reflexos nos pro-
blemas provocados pela forma de administrar a questão 
indígena também se relacionava diretamente com as 
ideias evolucionistas: a de que num sistema compe-
titivo, sobreviveriam os mais aptos. E, segundo essa 
forma de pensar, os índios não eram os mais aptos e 
não sobreviveriam física ou culturalmente ao avanço 
da civilização. Logo, as políticas estabelecidas tinham 
caráter transitório, o que se refletiu em duas decisões 
que geraram dificuldades para os povos indígenas: 
demarcações de pequenos lotes de terra e a recusa a 
vacinar os aldeados.
INDICAÇÃO DE LEITURA
As ideias evolucionistas de que sobreviveriam apenas os mais aptos 
tiveram forte impacto sobre a saúde e o índice de sobrevivência 
das populações indígenas. Saiba por que lendo: OLIVEIRA, Priscila 
Enrique de. VACINAÇÃO GRÁTIS CONTRA FEBRE AMARELA E 
TUBERCULOSE. EXTRAÇÃO DE DENTES GRÁTIS. CURATIVO E 
REMÉDIO GRÁTIS. TUDO POR CONTA DO GOVERNO!!! 2008. 
Disponível em: . Acesso em: 26. Jan.2011. 
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A grande maioria das terras foi demarcada medindo 
2 mil hectares, não sendo suficientes para acomodar 
uma população que, ao invés de desaparecer, se expan-
diu demograficamente e hoje não possui terra suficiente 
para se sustentar. Este problema também é de difícil 
solução, pois há fortes resistências do Judiciário aos 
pedidos de ampliação das pequenas áreas demarcadas 
pelo SPI.
Quanto à recusa de aplicação de vacinas, os efeitos 
foram bem mais impactantes. Muitos povos indígenas 
deixaram de existir, pois os índices de mortalidade 
foram elevados, reforçando a crença de que eles não 
eram aptos a sobreviver e que, assim, a história seguia 
o seu curso normal e previsível.
??? ??? SAIBA MAIS
Evoluir, para os positivistas do SPI, era transformar os índios em 
trabalhadores agrícolas ou mecânicos e em pequenos produtores 
capazes de se autossustentarem. Isso indica que a assistência 
que lhes era garantida seria temporária e duraria até eles serem 
capazes de se inserir no mercado de trabalho ou produzir para os 
mercados regionais e nacionais. 
A meta de transformar os indígenas e os Postos 
Indígenas em entidades autônomas e autossuficientes 
economicamente não foi atingida por várias razões: o 
arrendamento das terras pelos trabalhadores nacionais, 
a incapacidade de alguns desses postos produzirem 
em quantidade suficiente e produtos de interesse do 
mercado, conflitos e corrupção de funcionários. 
A política adotada pelo Governo Federal para tentar 
encontrar uma solução foi a de criar um mecanismo 
denominado Renda Indígena, que permitia a transferên-
cia de recursos de um posto produtivo para outros que 
não conseguiam se sustentar. Assim, os indígenas que 
viviam nas áreas mais produtivas terminaram por se 
desinteressar por produzir mais do que o necessário 
para sua subsistência, pois não viam retorno para seus 
esforços. 
Essas contradições se acentuaram à medida que 
ocorria a ocupação econômica das fronteiras pelos 
pequenos produtores, por latifundiários e grandes 
empresas nacionais e internacionais. O Estado vivia 
o dilema de optar entre as políticas preservacionistas 
para os povos indígenas e aquelas voltadas para incre-
mentar a conquista de novos espaços e riquezas que 
poderiam vir a representar um salto qualitativo na vida 
dos nacionais e na economia do país. 
?? VOCÊ SABIA?
O SPI não foi pensado para reconhecer a existência e nem os 
direitos dos povos indígenas que viviam em contato com os não 
índios há muitos anos.
Outra questão que provocou, e ainda provoca, sérios 
desgastes na política indigenista refere-se á omissão 
do SPI com relação aos antigos aldeados dos períodos 
colonial e imperial.
A extinção dos aldeamentos, no final do século XIX, 
partia do falso pressuposto de que esses índios haviam 
se diluído física e culturalmente na sociedade nacional. 
Essa concepção foi herdada do período imperial pela 
República. Tanto assim que a criação do SPI não levou 
em consideração essa população. O órgão foi pensado 
para resolver conflitos nas fronteiras, atrair, pacificar, 
aldear e educar. Não havia espaço para esses outros 
povos, porque, simplesmente, eles não eram mais con-
siderados como indígenas e, portanto, não mereciam 
qualquer assistência por parte do Estado.
O drama vivido por esses grupos – espoliação de 
suas terras e preconceito pelo fato de serem índios – 
não chegou aos ouvidos da nação até o fim da década 
de 40, quando os Fulin-ô de Pernambuco e os Kiriri da 
Bahia, com o apoio da Igreja Católica, se tornaram vi-
síveis e, afirmando suas peculiaridades sócio-culturais 
e históricas, passaram a pressionar o SPI para serem 
reconhecidos e reaverem seus direitos à terra e à as-
sistência. 
Alguns grupos, como os Tupinambá,de Olivença, 
na Bahia, chegaram a organizar alianças com partidos 
políticos, como o Partido Comunista Brasileiro, para 
tentar reaver as terras do seu aldeamento, ante a indi-
ferença do SPI.
INDICAÇÃO DE LEITURA
A participação de índios em projetos políticos mais amplos 
é importante para compreendermos suas possibilidades de 
articulação política. Veja este exemplo: PARAISO, Maria Hilda B. 
MARCELLINO JOSÉ ALVES: DE ÍNDIO A CABOCLO, DE “LAMPIÃO 
MIRIM” A COMUNISTA, UMA TRAJETÓRIA DE RESISTÊNCIA E 
LUTA NO SUL DA BAHIA. 2009. Disponível em: . Acesso em: 26. 
Jan. 2011. 
O mesmo caminho foi trilhado pelos Pataxó de Porto 
Seguro, em 1951, num episódio que ficou conhecido 
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como o Fogo de 51, devido a sua aldeia ter sido quei-
mada por policiais e moradores locais. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Outras experiências políticas que resultaram em sofrimento para 
povos indígenas estão narradas nos textos abaixo: HISTÓRIA 
DA NAÇÃO PATAXÓ. Disponível em: 
Acesso em: 26. Jan. 2011.
Em Pernambuco, os Xucuru tentaram essa solução, 
sendo também penalizados como os demais. 
Na Bahia, também os Pataxó Hãhãhãe se viram 
envolvidos em conflitos desse partido com o Estado 
Nacional, conflitos estes aproveitados pelos arrendatá-
rios do Posto Indígena e por fazendeiros vizinhos para 
obrigar a redução da área demarcada para os Postos 
Indígenas Caramuru- Paraguaçu. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
A área indígena do Caramuru-Paraguaçu é uma das mais 
conturbadas do sul da Bahia. Veja por que, lendo:** CARVALHO, 
Maria Rosário Pataxó Hã-Hã-Hãe. 1998. Disponível em: Acesso 
em: 26. Jan. 2011. 
Essas reivindicações vão se tornar mais constantes 
e eficientes, a partir da década de 70, quando surgem 
as organizações indígenas e ocorre o apoio à causa 
indígena pelas universidades, particularmente nos De-
partamentos de Antropologia, como veremos ao tratar 
da trajetória da Funai e dos movimentos indígenas.
??? ??? SAIBA MAIS
O SPI foi organizado de uma forma complexa e seguindo padrões 
administrativos claros. Havia uma Diretoria Geral e 2 subdiretorias, 
situadas na capital da República, 13 Inspetorias – Amazonas, 
Pará, Maranhão, Bahia, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa 
Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso e Acre 
– e várias povoações indígenas, depois conhecidas por Postos 
Indígenas, onde atuavam diretor, escrevente e um ajudante. A 
esse grupo foram adicionados, posteriormente, os cargos de 
professora e de enfermeira, geralmente ocupados pelas esposas 
dos chefes de posto. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Uma das áreas de atuação em que o SPI se notabilizou foi a de 
atrair grupos indígenas e forçá-los a serem administrados pelo 
governo federal. Vejas quais as estratégias usadas para convencer 
os índios a aceitarem as condições que lhes eram impostas, 
lendo este texto: ARRUDA, Lucybeth Camargo de. OS BRINDES 
E A ATRAÇÃO DE ÍNDIOS NO POSTO FRATERNIDADE NA RAIA DA 
FRONTEIRA OESTE PELO SPI*, 2005. Disponível em: . Acesso em: 26. 
Jan.2011. 
Em 1918 o SPI perdeu seu poder administrativo so-
bre a localização dos trabalhadores nacionais. Os dois 
segmentos atendidos passaram a ser responsabilidade 
de órgãos diferentes, o que terminou por interromper 
soluções negociadas e acirrar os ânimos e as contradi-
ções dentro do Estado, levando ao questionamento dos 
supostos prejuízos provocados pela política protecionis-
ta do SPI. Em 1928, o SPI assumiu a tutela orfanológica 
dos indígenas, sendo concedida a administração dos 
bens e riquezas existentes nos territórios indígenas aos 
diretores dos aldeamentos. 
Ainda que nem todos os grupos compreendessem 
os efeitos dessa decisão, aqueles com períodos mais 
longos de contato nacional buscaram demonstrar sua 
insatisfação com os poderes concedidos aos diretores, 
sendo comum adotarem várias formas de resistência 
e de acomodação às novas estruturas. Negociações e 
concessões eram constantes, o que terminava por gerar 
ajustes particulares a cada situação e às reivindicações 
dos aldeados.
Os índios passaram a ser classificados em quatro 
categorias: nômades, arranchados ou aldeados, índios 
que viviam em povoações indígenas e os misturados 
com a população nacional. Uma clara referência ao 
ideário evolucionista e ao projeto integracionista que 
ordenava as políticas do órgão e ao caráter paterna-
lista autoritário das relações estabelecidas nos postos 
indígenas, contra as quais os índios protestavam ou 
buscavam negociações.
 Os diretores, depois chefes de postos, imiscuíam-se 
nas atividades cotidianas dos administrados, fossem 
elas de caráter privado ou produtivo. Eram eles que 
definiam onde, quando e o quais atividades econômicas 
os índios podiam realizar. Da mesma forma, podiam 
conceder arrendamentos em áreas dentro das reservas, 
fossem as terras ocupadas ou não por famílias indígena 
ou, simplesmente, ignorar quando as posses dessas 
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famílias eram tomadas à força ou mesmo quando eram 
praticados atos de violência contra elas. 
Seu poder econômico e de repressão os tornava 
onipresentes e com poder para castigar ou premiar 
aqueles que acatassem ou não suas determinações. A 
aplicação de castigos físicos e a decretação de prisão 
dos que contestavam seus atos tornavam os chefes 
de posto pessoas impositivas e, muitas vezes, arro-
gantes e prepotentes que definiam, na prática, quem 
seria agraciado ou não com os recursos destinados à 
assistência da população aldeada. 
?? VOCÊ SABIA?
A partir de 1934, as constituições brasileiras reconheceram o 
direito dos povos indígenas às terras que ocupavam e haviam 
recebido por doação. 
A nova Constituição de 1934 reconheceu o direito 
dos indígenas às terras que ocupavam, criando uma 
nova zona de atrito com os estados federativos que 
possuíam as terras indígenas definidas como devolutas 
e que, até então, se mantinham como senhores dessas 
terras. Também consagrou o princípio integracionista 
de promover a incorporação dos indígenas ao todo 
nacional, devendo sua atuação se restringir ás áreas 
ocupadas pelos índios. 
Os núcleos administrativos do órgão passaram a 
ser, também, segundo a perspectiva evolucionista e a 
integracionista, postos de atração e vigilância; assistên-
cia, nacionalização e educação, sendo estes, em 1939, 
atrelados aos projetos de colonização. 
Para auxiliar e fiscalizar o SPI, foi criado o Conselho 
Nacional de Proteção aos Índios (CNPI). Com o passar 
dos anos, os dois órgãos entraram em rota de colisão. 
As discordâncias quanto à forma de atuar do SPI e 
as constantes acusações de corrupção e desrespeito 
aos direitos indígenas tornaram o CNPI num núcleo de 
contestação à política governamental ante as acusações 
de má administração dos bens indígenas, de omissão 
ante os crimes cometidos contra índios e de corrupção 
administrativa. 
Em 1936, o SPI passou a ter uma estrutura admi-
nistrativa que se manteve até 1967, quando foi extinto, 
e influenciou até a estruturação de sua sucessora - a 
Fundação Nacional do Índio (FUNAI).
Pela organização de 36, o SPI possuía uma admi-
nistração central no Rio de Janeiro com três diretorias 
: a seção de estudos, a de orientação e assistência, e 
a de administração ; nove inspetorias regionais, situ-
adas nas capitais dos estados, que coordenavam os 
postos indígenas nos aldeamentos, lócus dos projetos 
de “melhoria” dos índios.
INDICAÇÃO DE LEITURA
A administração do SPI buscou atender a todas as regiões do 
Brasil. Muitos problemas foram enfrentados nas décadas de 40 
e 50 do século passado. Quer saber mais sobre esta questão? 
Leia: MANFROI, Ninarosa Mozzato da Silva A QUESTÃO INDÍGENAa ser ad-
ministrados por missionários capuchinhos e, logo depois, abandonados à própria sorte, quando da opção pelos 
imigrantes europeus para trabalharem no Brasil. 
Em seguida, demonstraremos como a independência do Brasil não alterou a visão preconceituosa sobre os índios, 
particularmente por predominarem as teorias racistas como explicação para as diferenças sociais. Analisaremos, 
ainda, como a necessidade de substituição dos escravos de origem africana, após a proibição do tráfico negreiro, 
fez o governo brasileiro deliberar por criar centros de educação e preparação de trabalhadores nas aldeias indíge-
nas e entregar sua administração aos frades capuchinhos italianos. Porém, quando a elite política imperial deliberou 
substituir escravos por imigrantes estrangeiros, os índios foram abandonados à própria sorte e tiveram as terras 
dos seus aldeamentos vendidas em praça pública aos interessados.
No capítulo VII, veremos que a proclamação da República não implicou em alterações até 1910, quando, após 
muitas discussões, criou-se o Serviço de Proteção aos Índios que, após muitos fracassos e corrupção, e alguns 
sucessos, terminou sendo extinto e substituído pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). As contradições da 
política indigenista serão reveladas, assim como os efeitos provocados pela oscilação de orientações e posturas. 
Também veremos, nesse mesmo capítulo, as formas encontradas pelos indígenas para se organizarem e assim 
melhor poderem conquistar seus direitos. 
Finalmente, no capítulo VIII, vamos estudar quais as grandes questões que estão postas, hoje, para as populações 
indígenas, sua organização e lutas, além de analisar os principais questionamentos feitos pela sociedade nacional 
com relação às conquistas desses povos. 
Espero que, ao final do curso, tenhamos aprendido mais sobre os índios e que os possamos ver na sua real dimen-
são humana e histórica; que possamos (re) conhecê-los e compreender suas ações e reivindicações. 
 Desejo, ainda, que sejamos capazes de pensar questões como: qual o lugar dos índios na sociedade nacional? 
Os índios “misturados” são índios e têm os mesmos direitos dos demais? Após tantas demarcações de terras 
indígenas, há muita terra para pouco índio? 
Que também entendamos melhor como se formou a nossa sociedade e como se constituíram os fundamentos 
discriminatórios e hierarquizantes que caracterizam nossa nação. 
Desejo-lhes, então, bons estudos!
A Autora
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SUMÁRIO
CAPíTULO I: A HISTÓRIA DA HISTÓRIA INDígENA 13
CAPíTULO II: DEFININDO íNDIOS 13
CAPíTULO III: ORIgEM DAS POPULAÇÕES INDígENAS 15
CAPíTULO IV: ENTENDENDO AS DIVERSIDADES NO BRASIL 17
CAPíTULO V: O íNDIO COLONIAL 19
CONTATOS E CONVIVÊNCIAS INTERÉTNICAS 19
A ESCRAVIDÃO INDígENA 21
ALDEAR, MISSIONAR, ADMINISTRAR E CIVILIZAR 23
CAPíTULO VI: O SÉCULO XIX E AS POLíTICAS INDIgENISTAS 29
As políticas indigenistas e o período regencial: a consolidação das novas tendências. 34
O 2º império e a possível incorporação dos índios ao todo nacional. 37
O FRACASSO DO REgULAMENTO DAS MISSÕES 40
A LEI DE TERRAS, A OPÇÃO PELOS IMIgRANTES E O ABANDONO DOS íNDIOS 41
CAPíTULO VII: AS PERPLEXIDADES DA REPÚBLICA 43
O SPI E SUA TRAJETÓRIA 46
A FUNAI E AS NOVAS E VELHAS POSTURAS 53
CAPíTULO VIII: O LUgAR DO íNDIO E qUESTÕES ATUAIS. 55
gLOSSÁRIO 59
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 CAPíTULO I: A HISTÓRIA DA HISTÓ-
RIA INDígENA
 
Até a década de 70 do Século XX, os historiadores 
consideravam impossível e irrelevante realizar História 
Indígena, atribuindo essa reflexão aos antropólogos. 
Essa forma de pensar mantinha-se, apesar do estabe-
lecimento do diálogo entre a História e a Antropologia 
desde o início daquele século, quando foi criada a 
conhecida Escola dos Annales. 
??? ??? SAIBA MAIS
A Escola dos Annales surgiu na França, no início do século XX. 
Seus componentes editaram uma revista, chamada Les Annales, 
que terminou por dar o nome a um grupo de historiadores que a 
escreviam e propunham uma nova forma de fazer História. Eles 
buscaram o diálogo com as Ciências Sociais e introduziram novos 
objetos e métodos de análise. Principalmente, buscaram ter uma 
visão crítica dos documentos usados na pesquisa a partir de sua 
contextualização do autor e do momento em que o documento foi 
escrito. 
Para saber mais, acesse: ESCOLA DOS ANNALES. In Infopédia 
[Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. Disponível em: Acesso em: 20. 
jan.2011.
Apesar dessa nova postura que mudou as temáticas 
e os métodos dos historiadores, os índios continuaram 
a ser vistos, principalmente, após o fortalecimento 
do Estruturalismo, como povos sem história. Não 
haviam produzido documentos e não pensavam numa 
perspectiva temporal, como era compreendida pelos 
estudiosos ocidentais – continuando, portanto, a 
ser objeto da Etnologia, segundo afirmava o célebre 
historiador brasileiro Francisco Adolfo Varnhagen, em 
1850. Um dos exemplos mais claros dessa postura é 
a publicação, em 1997, da coletânea História da Vida 
Privada no Brasil, obra na qual são tratados os mais 
diversos temas, onde, porém, não há sequer um capítulo 
sobre os índios no país. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Este livro é muito interessante para você saber mais sobre o 
assunto: MELLO E SOUZA, Laura de. História da vida privada 
no Brasil – cotidiano e vida privada na América portuguesa. São 
Paulo. Companhia das Letras, 1997.
??? ??? SAIBA MAIS
A escola Estruturalista influenciou a História, destacando a 
necessidade de serem abandonados os fatos, em si, como 
objeto de análise, para usá-los para criar modelos de análise e 
compreender as estruturas profundas do pensamento humano, as 
regras que ordenariam o comportamento humano.
CAPíTULO II: DEFININDO íNDIOS
No início da colonização, a resposta era facilmente 
dada: índios eram todos aqueles que não eram europeus 
ou seus descendentes. Porém, com o passar do tempo 
e a chegada de povos de outras origens, como aqueles 
que vieram da África, a intensidade da miscigenação e 
a dinâmica cultural vivenciada pelos grupos indígenas 
e demais povos, esta resposta ficou cada vez mais 
difícil. 
??? ??? SAIBA MAIS
No Brasil atual, ante os constantes conflitos por terras 
envolvendo populações indígenas e a sua diversidade física 
e cultural, uma das perguntas que mais ouvimos é: afinal, 
o que é um índio?
Iniciando o nosso exercício, devemos destacar que 
a própria denominação “índio” é problemática e implica 
num conjunto de dados a serem considerados. Sabe-
mos que não existe uma etnia ou um povo chamado 
índio, indígena, nativo, silvícola ou algo similar. Essas 
denominações foram criadas pelos europeus, para 
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Vários critérios foram propostos e praticamente 
todos abandonados, por não se mostrarem adequados 
à realidade. O primeiro foi o racial, que partia das ideias 
equivocadas de que é possível aplicar esse conceito aos 
seres humanos e, consequentemente, o da existência 
de raças puras, o que pressupunha a inexistência da 
miscigenação e da igualdade física de todos esses 
povos que aqui habitavam. A primeira falha é a grande 
diversidade física entre os chamados indígenas. A 
segunda é não considerar que a miscigenação foi e é 
uma realidade concreta. 
??? ??? SAIBA MAIS
Nos Estados Unidos, esse critério ainda é usado. Quando uma 
pessoa tem uma bisavó indígena, ela é legalmente índio, mesmo 
que não o queira. O mesmo acontece com os negros. É uma 
forma bastante discriminatória de tratar as pessoas, pois não dá 
liberdade ao indivíduo de sequer optar pela raça de um dos sete 
bisavós, para se identificar. 
REgISTRE A SUA IDEIA
É possível ou não identificarNAS PÁGINAS DOS JORNAIS SOB A ÓTICA DO JURISTA ANTONIO 
SELISTRE DE CAMPOS - 1940 A 1950. 2007. Disponível em: 
 
Acesso em: 21. Jan. 2011 
Nessas atividades de atração, pode-se claramente 
perceber a ideologia do SPI:
I) sua preocupação em liberar áreas para a expansão 
da sociedade nacional, ao recolher os indígenas em 
espaços definidos e liberando o restante da área de 
circulação dos territórios tribais;
II) a prática autoritária de impor a essas populações 
o contato com a sociedade nacional, e seu confinamen-
to compulsório numa área definida pelo órgão e a admi-
nistração, de acordo com os interesses nacionais ;
III) a visão evolucionista, modernizadora e colonialis-
ta de ver no indígena um ser que deveria ser compelido 
a “melhorar”, isto é, a se tornar um nacional. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para conhecer mais sobre o PNXINGU, acesse este texto e leia: 
XINGU. 1998, Disponível em: . Acesso em: 26. Jan.2011. 
O objetivo era o de avaliar uma política de caráter 
menos evolucionista e integracionista, além de tentar 
demonstrar a seriedade das ações indigenistas do 
país no exterior. Para tanto, foi demarcada uma gran-
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de área - 2.642.003 hectares – de mata nativa com 
grande biodiversidade, regada pelos rios formadores 
do Xingu e onde viviam vários grupos indígenas ainda 
não aldeados.
O Parque surgiu com um caráter híbrido: o de pro-
teger o meio ambiente e as populações indígenas e 
sua diversidade social e cultural. Deveria vir a ser uma 
espécie de oásis no qual as populações indígenas teriam 
suas decisões respeitadas, no tocante às formas de 
relacionamento intertribal e com a sociedade nacional, 
assim como ao ritmo de transformações socioculturais 
que viriam a adotar. 
O Parque conseguiu manter essa política e ser 
preservado integralmente até a década de 80, quando 
ocorreram as primeiras invasões de pescadores e caça-
dores, fatos que se agravaram no final dos anos 90. 
A partir de então, as queimadas em fazendas pe-
cuárias, localizadas a nordeste do Parque, ameaçam 
atingi-lo e o avanço das madeireiras, instaladas a oeste, 
começaram a chegar perto dos limites físicos definidos 
pela demarcação. Ademais, a ocupação do entorno 
começou a poluir as nascentes dos rios que abastecem 
o Parque e que ficaram fora da área demarcada. 
Nesse processo, fortaleceu-se, entre os morado-
res do PIX, a percepção de que está a caminho um 
incômodo “abraço”: o Parque vem sendo cercado pela 
ocupação de seu entorno e já se evidencia como uma 
“ilha” de florestas em meio ao pasto e à monocultura, 
na região do Xingu. 
Essa realidade fez com os índios solicitassem a 
incorporação das terras dos Suyá e Wajá às do Parque, 
para tentar preservar seu relativo isolamento, o que 
ocorreu em 1998. No momento, lutam para anexar 
as terras dos Ikpeng e a mata sagrada dos Wajá que 
desejam transformar numa área de preservação am-
biental.
Em termos socioculturais, o projeto vem surtindo os 
efeitos desejados. A população do PIX tem conseguido 
manter o controle sobre as modificações em sua cultura 
e detém a capacidade de gerenciamento de seus des-
tinos, elementos desconhecidos pelos demais grupos 
aldeados pelo SPI.
Figura 34 – Foto dos índios do Posto Indígena Ibirama dos índios 
Xokleng de Santa Catarina.
Fonte: Wessel.
Disponível em 
Acesso em 26.jan.2011.
Figura 35 – Foto de casa xinguana construída no Museu do índio, Rio 
de Janeiro.
Fonte: Museu do índio
Disponível em .
Acesso em 26.jan.2011.
Apesar do sucesso dessa experiência, ela não se 
multiplicou. As crises institucionais e as acusações de 
corrupção e maus tratos aos índios acentuaram-se num 
momento crítico, em termos de relações internacionais 
para o país: o do golpe de 1964.
A necessidade de melhorar sua imagem no exte-
rior e de estabelecer um controle mais efetivo sobre 
as crises no campo, em 1967, o governo brasileiro 
extinguiu o SPI e estabeleceu uma nova política para 
os povos indígenas, ainda que mantendo os mesmos 
princípios e contradições vivenciadas nos tempos 
daquela instituição. 
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REgISTRE SUAS IDEIAS
Você acredita que a administração do SPI provocou 
problemas aos índios que perduram até os dias atu-
ais? Você acredita que é possível solucioná-los?
A FUNAI E AS NOVAS E VELHAS POSTURAS
O novo órgão herdou os problemas não soluciona-
dos pelo SPI e também aqueles que foram gerados por 
sua má administração: terras demarcadas de tamanho 
insuficiente e, na maioria das vezes, invadidas, princi-
palmente por ex-arrendatários; terras por demarcar; 
índios insatisfeitos com a falência administrativa e com 
o abandono em que viviam; vários grupos reivindicando 
seu reconhecimento; a demarcação das terras de seus 
antigos aldeamentos e a assistência a que tinham direi-
to, além de uma estrutura funcional defasada e muitos 
funcionários envolvidos em casos de corrupção. 
Outros problemas foram gerados pelo momento 
histórico vivido pelo país. A chamada “Revolução de 
64” procurou se firmar a partir de dois paradigmas: a 
repressão e o desenvolvimento. Ambos se refletiram 
na forma de administrar a questão indígena. 
A repressão, através do controle efetivo dos índios 
insatisfeitos, remetendo-os ao Presídio Krenak, em 
Minas Gerais, onde eram mantidos encarcerados e 
realizando trabalhos compulsórios.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Veja um bom exemplo de repressão aos índios no período da 
Ditadura no Brasil, lendo este texto: PARAISO Maria Hilda Baqueiro. 
KRENAK, 1998. Disponível em . Acesso em: 27. Jan. 2011. 
Também os funcionários que se insurgiam contra 
as medidas adotadas pelo órgão receberam variadas 
punições, inclusive a demissão sumária. Para garantir 
essas medidas, a presidência da FUNAI foi entregue, 
sucessivamente, a generais do Exército e a um delegado 
da Polícia Federal.
O projeto desenvolvimentista do governo recaiu na 
construção de grandes obras, geralmente em áreas 
indígenas, porque, como as terras eram da União, 
poder-se-ia economizar em pagamentos de indeniza-
ção. Assim, foram construídas em terras reservadas 
e demarcadas para os índios grandes represas e hi-
droelétricas, instaladas redes de alta tensão, abertas 
estradas, como a Belém-Brasília e a Transamazônica, 
concedidas autorizações para garimpo a empresas 
nacionais e internacionais e estabelecidos contratos 
de risco para pesquisa de petróleo. 
A Funai foi criada como um órgão gestor da totali-
dade da política indigenista: educação, saúde, desen-
volvimento, para demarcar, assegurar e proteger as 
terras por eles tradicionalmente ocupadas, estimular o 
desenvolvimento de estudos e levantamento da exis-
tência e localizção do grupos indígenas e promover a 
compreensão da questão indígena entre os nacionais. 
Também era seu dever defender as comunidades indí-
genas de qualquer ameaça que viessem a sofrer. Era 
um tutor na plenitude de seus poderes. 
No entanto, o órgão não conseguia cumprir seus 
deveres e o quadro de pressão e violentação constante 
dos direitos indígenas explica a construção de várias 
alianças entre índios e seus defensores e que teve 
reflexos na gestão da política indigenista.
 A primeira foi a estabelecida entre índios e vários 
indigenistas, isto é, trabalhadores da Funai que atuavam 
em campo, junto a esses povos. Apesar das punições 
e, em alguns casos, da demissão sumária, eles se po-
sicionaram ao lado dos indígenas, inclusive publicando 
informações e denúncias sobre o que ocorria nas áreas 
em que atuavam.
Em seguida, deu-se efetivo envolvimento dos an-
tropólogos na busca de melhorias para os problemas 
indígenas. Dessa relação, resultaram nãosó trabalhos 
acadêmicos nos quais eram mostradas as condições 
de vida dos índios, mas também denúnicas a nível 
nacional e internacional e criação de Organizações Não 
Governamentais que visavam ajudar na organização dos 
povos, busca de financiamentos internacionais para 
atender aos grupos que viviam em piores condições e 
assessoramento jurídico nas ações de defesa de seus 
direitos. 
Outra aliança importante resultou da criação do 
Conselho Indigenista Missionário (CIMI), órgão ligado à 
Igreja e que vem atuando nas áreas indígenas, apoiando 
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e assessorando os vários grupos na sua organização 
política. 
Porém, a mais relevante e, talvez, a mais importante, 
resultou da organização dos povos indígenas em asso-
ciações nacional e regionais (União Nacional Indígena 
e Associação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas 
Gerais e Espírito Santo, dentre muitas outras), o que 
lhes garantiu visibilidade, troca de experiências na luta 
por seus direitos e o estabelecimento de frentes de 
resistência ante as políticas emanadas do governo.
Ampliavam-se, assim, os interlocutores e agentes 
históricos na construção das lutas. Várias demarcações, 
reconquista e ampliação de terras, reconhecimento de 
povos indígenas e de seus direitos e indenizações por 
uso, pelo governo, dos territórios tradicionais desses 
grupos, para a construção de grandes obras foram 
conquistadas nesse período. 
Essas conquistas resultaram em aspectos positivos 
e negativos para a política indigenista. 
Por uma lado, os povos indígenas assumiram de 
forma mais efetiva o seu papel histórico e se fortale-
ceram nas suas lutas. Em contrapartida, o volume de 
reivindicações eram impossíveis de serem atendidas 
pela Funai, com recursos e pessoal cada vez mais 
restritos, pois os governos federal e estaduais viam no 
órgão indigenista uma instituição de poderes supremos 
que se opunha às políticas do Estado brasileiro. 
O resultado dessa contradição entre a ação dos ín-
dios e seus aliados e das elites econômicas nacionais, 
particularmente os ruralistas e mineradores, foi a de, 
lentamente esvaziar a Funai do seu poder: a educação 
passou a ser responsabilidade do MEC, a saúde é da 
FUNASA, a proteção dos direitos foi para o Ministério 
Público, restando à Funai a questão da identificação, 
demarcação e proteção das terras, sofrendo, porém, 
restrições e tendo que manter longas negociações 
envolvendo a Câmara de Conciliação e Arbitramento, 
órgão da Advocacia Geral da União, onde os vários 
órgãos da União buscam soluções cada vez que as 
decisões de um deles incide em decisões tomadas 
por outros.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Uma das questões mais graves, hoje, é o conflito de interesses 
entre índios e não índios em áreas de ocupação que se superpõem. 
Veja como o Estado brasileiro procura solucionar esses problemas, 
acessando este texto: 
WERLE, Vera Inês, LEITE, Sávia Maria Rodrigues Gonçalves, FANTIN, 
Adriana Aghinoni, LOULA, Fábio Conrado, TORRES Maurício Braga 
e BERTOLO, Patrícia Batista. Advocacia Geral da União. Câmara 
de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal. CARTILHA. 
Disponível em:
. Acesso em: 
27. Jan.2011. 
Por exemplo, quando há superposição entre área 
indígena a ser demarcada e área de reserva ambiental, 
o conflito é discutido e intermediado por essa Câmara. 
Quando não se chega a um consenso, o problema 
é levado à Câmara de Coordenação e Revisão do 
Ministério Público Federal e, não havendo solução, ao 
Supremo Tribunal Federal.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Quando os órgãos do Poder Executivo não conseguem encontrar 
solução para os conflitos, o problema passa a ser julgador pelo 
judiciário. Veja como, lendo: 6ª Câmara de Coordenação e Revisão. 
TERRAS INDÍGENAS. Disponível em: . 
Acesso em: 27. Jan.2011. 
Porém, uma das maiores conquistas dessas articu-
lações foi a participação de índios e seus aliados nos 
debates ocorridos quando da elaboração da Constitui-
ção de 1988. Na verdade, esses personagens já discu-
tiam, juntamente com grandes juristas e a sociedade 
civil, essa questão desde 1985 buscando encontrar as 
melhores formas de reformular as práticas políticas 
e garantir os direitos indígenas. O resultado dessa 
ação foi não só a denúncia pública dos desrespeitos 
e violências sofridas pelos povos indígenas, ao longo 
da história brasileira, como também o reconhecimento 
constitucional dos direitos dos povos indígenas.
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INDICAÇÃO DE LEITURA
A luta dos povos indígenas pelos seus direitos está apoiada 
pela Constituição de 1988. Veja como ocorreu essa conquista, 
lendo: MATSUURA, Lilian. DIREITO INDÍGENA NASCEU COM 
CONSTITUIÇÃO DE 1988, DIZ MINISTRO. 2008. Disponível em: 
. Acesso em: 27. Jan. 2011. 
Já naquele momento se expressavam duas correntes 
de oposição à conquista dos índios. Os militares se 
expressavam, usando o argumento pseudo nacionalista 
de que a concessão de terras aos índios significava a 
redução da soberania nacional e a perda de controle 
sobre as fronteiras :do país. É de estranhar que o 
Exército, ao qual o SPI pertenceu e foi o grande núcleo 
de formação de defensores da causa indígena, tenha 
usado historicamente os índios como defensores das 
fronteiras nacionais.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para saber por que a argumentação do Exército não tem 
fundamentação histórica, leia este texto: OLIVEIRA, João Pacheco 
de. OS ÍNDIOS AMEAÇAM A SEGURANÇA NACIONAL? Disponível 
em: . 
Acesso em: 27. Jan.2011. 
A outra frente é a chamada Bancada Ruralista, 
composta por grandes proprietários rurais, que se opõe 
sistematicamente a todas as propostas de demarcação 
de terras indígenas, alegando a importância do agrone-
gócio para a economia nacional e o atraso do avanço do 
capitalismo no campo, devido à preservação de áreas 
indígenas e ambiental. 
Outras questões também suscitaram debates: 
saúde, educação, mineração em terras demarcadas, 
manutenção ou não da tutela e sua relativização, parti-
cularmente no que se refere à capacidade de autogestão 
de suas atividades econômicas, de se auto representar 
na justiça, mesmo contra o tutor, a liberdade de ir e vir 
sem precisar de autorização do tutor e o direito de votar 
e ser votado, isto é, o reconhecimento de sua condição 
de cidadão. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
MATSUURA, Lilian. Direito indígena nasceu com Constituição de 
1988, diz ministro 2008. Disponível em: . 
Acesso em: 27. Jan.2011.
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Consulte a Constituição de 1988, veja quais os direitos que 
foram resguardados às populações indígenas e avalie se eles são 
suficientes para garantir o bem estar desses povos.
CAPíTULO VIII: O LUgAR DO íNDIO E 
qUESTÕES ATUAIS. 
 Num contexto em que o Estado-Nação é concebido 
como uma unidade territorial na qual sua população 
compartilha cultura e tradições comuns - proces-
so resultante de uma atuação violenta de conquista 
de espaço e de mecanismos de opressão, quanto à 
eliminação da diversidade étnica e dos direitos dos 
conquistados -, só é possível pensar o conjunto das 
relações interétnicas pela ótica da dominação, isto é, 
voltada para a destruição de todas e de quaisquer for-
mas de diversidade sociocultural, em nome da criação 
da unidade nacional. 
Na verdade, para o Estado, visto aqui como o gran-
de articulador, seja pela ação, seja pela omissão, do 
destino das populações indígenas, a questão do lugar 
a ser ocupado por essas populações sempre foi um 
problema de difícil solução. 
Embora as reconhecesse como os primitivospro-
prietários do país, o que implicava, como contrapartida, 
no reconhecimento do seu direito ao território que 
ocupavam, essa postura gerava a contrariedade dos 
interesses das elites econômicas e da população em 
geral. Para esses segmentos, era essencial ter garantido 
o seu direito a expandirem a conquista e a exploração 
de novos lotes de terra. Também o reconhecimento da 
autonomia dos povos indígenas representaria a negação 
da razão de ser do Estado – a unificação do território 
sob seu efetivo controle e a legitimação desse possuir.
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Outro aspecto contraditório nessa relação é que 
o Estado – Nação, ao pressupor o compartilhamento 
cultural e de tradições entre todos os ocupantes do 
território unificado e sob seu efetivo controle, tem que 
atuar no sentido de eliminar as diversidades étnicas e 
culturais. Isso implicaria a negação dos direitos dos 
indígenas a manterem suas culturas e a da imagem 
simbolicamente atribuída aos índios no século XIX, que 
ressalta o sentimento de liberdade e autonomia como 
sua grande contribuição para a formação do caráter 
nacional. 
Finalmente, um outro problema ou conflito, proposto 
ao Estado-Nação com relação aos povos indígenas, era 
e é o fato de que, para determinados segmentos nacio-
nais, ocupantes de áreas economicamente periféricas, 
a mão-de-obra dessa população era vital, devendo ser 
criados, portanto, mecanismos preservadores de sua 
existência. Já em áreas de economia mais capitalizada, 
o índio era encarado como um obstáculo que deveria 
ser eliminado em nome do progresso e da expansão 
econômica e da civilização.
Pelo que se constata, tanto o Estado português 
como o brasileiro buscaram a solução dessas contra-
dições, através da instituição de uma legislação flexível 
o suficiente para atender aos múltiplos interesses das 
elites nacionais ou adotando uma atitude de omissão e 
silêncio em relação às práticas desrespeitosas adota-
das por particulares na solução de questões indígenas 
localizadas. 
No entanto, essa flexibilidade nunca contemplou o 
reconhecimento do direito à propriedade das terras ocu-
padas pelos grupos indígenas, a sua autonomia política 
e à preservação de suas peculiaridades socioculturais, 
pois essa atitude seria a negação do projeto de afirmar 
os princípios básicos da constituição do Estado-Nação, 
isto é, a unicidade territorial e a homogeneização étnica 
do seu povo.
REgISTRE SUA IDEIA
É possível superar essas contradições vividas pelos 
governos de atender a tantos interesses diferentes?
Essa postura, por outro lado, também coloca as 
populações indígenas frente a questões de caráter 
contraditório. Em função de fragilidades decorrentes 
de sua organização politicosocial e do processo de 
dominação a que foram submetidos, não resta a essas 
populações outra alternativa de sobrevivência a não ser 
reelaborar sua organização sociocultural e inserir-se no 
Estado-Nação. Este passa, então, a ser, simultaneamen-
te, o símbolo da dominação e da espoliação a que são 
submetidos e a instância maior, capaz de lhes garantir 
ou negar a necessária proteção para preservar peque-
nas parcelas de seu território tradicional e sobreviver, 
pelo menos fisicamente. 
??? ??? SAIBA MAIS
Território tradicional é o espaço ocupado pelos indígenas antes 
de serem administrados pelo Estado. Esse território é formado, a 
partir de sua necessidade e capacidade de ocupação e exploração. 
Quando passam a ser administrados, esses limites construídos 
historicamente nunca são respeitados. São reduzidos para atender 
aos interesses econômicos dos não índios.
Entretanto, ao aceitar a inserção no Estado-Nação, 
as sociedades indígenas passam a ter novas contra-
dições a serem solucionadas. É importante considerar 
que o conceito de “índio” é uma categoria construída 
pela sociedade nacional, que a estabeleceu a partir de 
imagens formuladas nas relações vivenciadas e nos 
interesses e expectativas historicamente constitu-
ídos. 
Tal categoria – a de índio - caracteriza-se por seu 
caráter amplamente generalizante, ignorando as espe-
cificidades e peculiaridades étnicas dos vários povos, 
marcas de identidades Pataxó, Kamakã-Mongoió, 
Pojixá, Jiporok, Xerente, Xavante, Guarani, dentre 
outras –, elementos não valorizados pela sociedade 
nacional, ao estabelecer a sua postura para com essas 
sociedades.
O que essa realidade implica? Implica a necessidade 
de os povos indígenas, ao aceitarem sua inserção no 
Estado-Nação, posicionarem-se não como entidades 
individuais e personalizadas. Eles devem, cada vez 
mais, conformar sua identidade e organização social 
à categoria de “índio”, estabelecida de acordo com as 
imagens e expectativas definidas pelo Estado-Nação, 
para serem classificados como tal e, conseqüentemen-
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te, terem seus direitos, em princípio, resguardados e 
serem reconhecidos como agentes políticos com um 
espaço garantido no palco das lutas sociais em âmbito 
nacional.
Esse processo de diluição das identidades leva, 
portanto, à opção de aceitarem as profundas trans-
formações econômicas, sociais e políticas impostas 
pela sociedade dominante, o que - sem mencionar os 
graves e profundos desarranjos sociais -, implica na 
desestruturação social. Consequentemente, passam a 
ser classificados como “misturados com os civilizados”, 
como eram definidos no século XIX, termo substituído, 
nos dias de hoje, por “integrados ou caboclos”. Isto sig-
nifica a negação da sua identidade étnica diferenciada 
da dos nacionais e, portanto, dos direitos inerentes a 
sua condição de etnia diversa e do papel de protetor 
assumido pelo Estado. 
Agravando esse quadro, as comunidades indígenas 
apreendem, com sua realidade cotidiana e a trajetória 
histórica de seu povo, que a proteção oferecida pelo 
Estado tem um caráter mais teórico do que prático e 
que, como foi constatado ao longo de toda essa análise, 
pode ser interrompida a qualquer momento sob as mais 
variadas justificativas. Logo, sabem ser necessário à 
sua sobrevivência física buscar inserção no contexto 
regional do mercado produtivo. Para tanto, é necessá-
rio que abdiquem não só das formas diferenciais de 
sua organização social, como até neguem a própria 
identidade étnica. 
Todas essas contradições se refletem na desarti-
culação social interna desses povos, esfacelando-os e 
reduzindo, ainda mais, sua capacidade de resistência 
ante o poder avassalador da sociedade nacional. Os 
conflitos internos se acentuam ante novas e tantas 
perspectivas possíveis de enfrentamento, para as quais 
o seu universo de referências não tem resposta. Assim, 
havendo tantos posicionamentos possíveis ante a nova 
realidade, surgem facções ou, até mesmo, indivíduos 
com distintas propostas, desestabilizando a organi-
zação comunitária, a grande instância de articulação 
política do grupo. 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Analise as dificuldades vivenciadas pelos indígenas nesta realidade 
histórica contemporânea. 
Pensar numa solução para a questão que está co-
locada, tanto para o Estado-Nação quanto para as po-
pulações indígenas, implicaria repensar a forma como 
o Estado foi constituído no século XIX. Isto significa 
que essa instituição deveria abdicar do seu projeto de 
incorporar ou controlar a totalidade do território defi-
nido como nacional e de homogeneizar sua população 
em termos culturais, passando a aceitar o direito à 
autonomia política e cultural das nações indígenas. 
Projeto que parece muito distante da realidade concreta 
vivenciada no país.
Resta, portanto, aos povos indígenas realizarem uma 
opção dramática: aceitar a necessidade de reformular, 
constantemente, suas formas de viver e pensar, como 
forma de tentar sobreviver, manter-se no isolamento das 
matas, deliberar por opor resistência à realidade vivida 
ou enfrentar o governo brasileiro e seus cidadãos. 
Figura 36 – Mapa indicandoas terras indígenas demarcadas, por 
demarcar e por reconhecer 
Fonte: Limongi.
Disponível em .
Acesso em 27.jan.2011.
Apesar de mais de 500 anos de contato entre índios 
e não índios, algumas questões fundamentais não se 
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encontram claramente definidas, provocando tensões e 
dúvidas quanto às decisões que devem ser tomadas.
Uma das questões mais cadentes, herdada do 
período Imperial, é o reconhecimento da identidade 
e, consequentemente, dos direitos daqueles povos 
indígenas que não mais correspondem às imagens dos 
livros didáticos.
 Neste caso, identidade e direitos estão intimamente 
ligados, e reconhecer seus direitos implica em admitir 
sua prerrogativa de possuírem ou recuperarem terras 
que ocupam de forma tradicional e ininterrupta. Como, 
na verdade, essas terras, hoje, se encontram ocupadas 
por não índios, o confronto se estabelece e a alegação 
mútua de direitos termina por criar longos processos 
judiciais que geram insatisfações e prejuízos para os 
envolvidos.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Você sabe quantos processos de disputa por terras entre índios 
e não índios há na Bahia? Procure nos jornais e entenda por que 
esses conflitos acontecem, lendo: OLIVEIRA, João Pacheco. UMA 
ETNOLOGIA DOS “ÍNDIOS MISTURADOS”? SITUAÇÃO COLONIAL, 
TERRITORIALIZAÇÃO E FLUXOS CULTURAIS. Em MANA 4(1):47-
77, 1997. Disponível em: . 
Acesso em: 27. Jan.2011. 
Os estudos sobre esses povos “misturados ou mes-
tiçados” são recentes, em decorrência da invisibilidade 
e do preconceito alimentado pelas imagens tradicionais 
que remetem à fantasiosa existência de índios puros. Foi 
graças à já referida organização política desses povos 
e de suas alianças com não índios que eles terminaram 
por serem aceitos como indígenas e reconquistaram 
seus direitos. 
São povos que compartilham uma história comum 
de perdas, de reelaborações de suas organizações 
socioculturais, de uma vivência colonial e de transfe-
rências ou reduções territoriais, mas que, nem por isso, 
perderam seus sentimentos de pertencimento a uma 
comunidade que não é apenas nacional. 
A identidade de uma pessoa ou de um povo não 
pode ser definida pelas roupas e produtos que usam. 
Por acaso, deixamos de nos sentir brasileiros por 
usarmos jeans, produtos da Nestlé, perfumes fran-
ceses, sabonetes e produtos l’Oreal, computadores 
e televisores japoneses, carros importados, pneus 
Fyrestone, comprarmos gasolina em Postos Shell e 
bebermos Coca-cola?
Nosso sentimento de nacionalidade é menor por 
usarmos esses sinais externos?
Por que seria diferente com os índios? Ou eles, para 
serem índios, têm que abdicar desses produtos para 
que possamos identificá-los como índios? 
Sentimo-nos como membro de um grupo, porque 
partilhamos suas crenças, valores, esperanças e 
tristezas. É um sentimento que passa pela consciên-
cia de pertencermos a um grupo social ou nacional, 
independentemente do que vestimos, comemos ou 
compramos. 
Outra questão refere-se diretamente ao tamanho das 
terras que são demarcadas para os índios. E esse pro-
blema gera algumas questões que merecem reflexão.
A primeira delas a ser considerada é que nem o 
Estado português e nem o brasileiro reconheceram 
ou reconhecem o direito dos índios à propriedade da 
terra. Ou elas pertenciam ao rei, no período colonial, ou 
ao Imperador; depois às províncias e aos estados da 
federação e, hoje, à União. Os índios sempre possuíram 
e possuem simplesmente o direito de posse. Podem ser 
deslocados e suas terras usadas, sempre que o Estado 
considerar que isso é do interesse nacional.
O segundo aspecto a ser pensado é que as doações 
de sesmarias aos povos indígenas, durante o período 
colonial, e até hoje, nunca contemplavam o tamanho 
real do território por eles ocupado. Às vezes, sequer o 
local em que viviam é levado em conta, e os transferem 
para áreas consideradas como mais convenientes aos 
interesses da Nação. Também essas áreas doadas, 
com a concordância ou omissão dos governantes, 
terminaram por ser arrendadas ou apropriadas pelos 
não índios. Muitos deles foram obrigados a abandonar 
as terras doadas para buscar sustento fora delas.
O terceiro é que a decisão do governo imperial de 
extinguir os aldeamentos reduziu a capacidade de os 
indígenas fazerem frente ás decisões dos governos 
municipais de leiloarem suas terras. Outra decisão 
imperial – a dos aldeamentos passarem a ter caráter 
temporário e não serem demarcados – também repre-
sentou graves prejuízos a esses povos, obrigando-os 
a buscar outros espaços sem qualquer garantia para 
sobreviverem.
Outro aspecto também a ser considerado é o fato 
do tamanho reduzido das áreas demarcadas pelo SPI, 
como vimos acima, e o arrendamento das terras indíge-
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nas. O pressuposto de que os índios estariam extintos 
em poucos anos não se concretizou. Ao contrário, a 
população cresceu e as terras demarcadas não são 
suficientes para manter a população.
Finalmente, há que se considerar que as grandes 
demarcações para os povos que vivem em áreas de 
fronteira têm aspectos especiais. Além de procurarem 
respeitar o tamanho dos seus territórios tradicionais, 
essas áreas lhes garantem a possibilidade de se repro-
duzirem física e socialmente, ainda que atualizando suas 
formas peculiares de vida e organização econômica e 
social. 
Finalmente, é relevante considerar que a terra para 
os índios não tem o mesmo tipo de importância eco-
nômica que lhe atribuímos na nossa sociedade. Além 
de ser essencial para a sua sobrevivência física, ela 
tem grande relevância no que se refere à afirmação 
de sua identidade étnica e no tocante a suas crenças 
religiosas. Elas não são mercadoria, mas territórios de 
identidade.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para os índios, a terra é um elemento dos mais importantes, para 
que possam sobreviver como pessoas e como povo. Entenda isso 
melhor, lendo: OLIVEIRA, João Pacheco de. “MUITA TERRA PARA 
POUCO ÍNDIO? UMA INTRODUÇÃO (CRÍTICA) AO INDIGENISMO 
E À ATUALIZAÇÃO DO PRECONCEITO”, 2006. Disponível em: 
. 
Acesso em: 27. Jan. 2011.
REgISTRE SUA IDEIA
O que pensar sobre a questão da demarcação de 
terras indígenas no Brasil?
 
gLOSSÁRIO
 
Ameríndias: populações nativas da América.
Ancestralidade: referente aos antepassados. 
Antropólogos: cientistas sociais que estudam as formas 
de organização social e a cultura dos povos.
Apostolado Leigo: missão não religiosa de converter 
os infiéis ás crenças do Positivismo.
Apresadores de Escravos: pessoas que capturavam 
outras, para vendê-las como escravos.
Bula Papal: Documento emitido pelo Papa, determi-
nando comportamentos que deveriam ser adotados 
pelos católicos.
Capitanias Hereditárias: grandes lotes de terra con-
cedidos a pessoas ricas e influentes, para que admi-
nistrassem e realizassem a conquista e colonização 
em nome do rei.
Capuchinhos: frades de ordem religiosa que se se-
pararam da ordem franciscana por discordarem do 
enriquecimento e distanciamento dos preceitos de São 
Francisco. Adotaram o modelo de hábito de São Fran-
cisco, inclusive, com a cobertura da cabeça, chamada 
de capucho, de onde vem o nome da ordem.
Catecúmenos: pessoas recém-convertidas a uma 
religião e que ainda estão aprendendo os princípios da 
nova crença. 
Coleções Etnográficas: coleção de objetos de vários 
povos e que ficam expostas, para que pessoas de 
outros grupos possam conhecer aqueles que produzi-
ram esses objetos ou para que os próprios criadores 
possam demonstrar sua cultura. 
Companhia das índias Ocidentais: companhia mercan-
til organizada pelos povos que viviam nos Países Baixos 
(hoje Holanda), para explorar as riquezas e ocupar terras 
nas Américas.
Companhiade Jesus: organização religiosa criada por 
Inácio de Loyola na Espanha, para fazer frente ao avanço 
do protestantismo.
Côngruas: pagamento feito pelo Estado aos religiosos 
para exercerem suas atividades.
Cooptação: ato de negociar e atrair para si pessoa ou 
grupo que tem posições contrárias, em troca de con-
cessão de benefícios.
Corsários: pessoas que realizavam o corso, isto é, 
viviam de realizar ataques aos territórios de outros 
países que não os seus. 
Cortes de Lisboa: reunião de representantes de Portu-
gal e suas colônias para decidirem, em 1820, o retorno 
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de D. João VI a Portugal e escrever uma constituição 
que reduziria o poder do monarca e as relações a se-
rem estabelecidas com as colônias, após o retorno da 
capital do Império português para Lisboa..
Economia Mercantilista: princípio econômico base-
ado na crença de que a riqueza resultava das trocas 
comerciais. 
Estado do grão Pará: área dos atuais estados do nor-
te, a partir do Maranhão, que possuíam um governo 
distinto do restante da América portuguesa.
Etnia: um povo organizado a partir de suas peculiari-
dades socioculturais e portador da consciência de sua 
identidade própria.
Fóssil: restos de um ser vivo – vegetal ou animal – 
morto há muito tempo. 
gabinetes Naturalistas: núcleos de pesquisas organi-
zados por intelectuais interessados em compreender os 
fenômenos naturais. Eram muito comuns na Alemanha 
e noutros países da Europa, no século XIX.
glaciação: fenômeno climático, quando ocorre frio 
intenso, levando ao aumento das áreas cobertas por 
gelo.
Hibridez Cultural: uma cultura que resulta da mistura 
com outra cultura. Isso ocorre em processos de contato 
intenso entre povos diferentes num mesmo espaço, e a 
cultura que daí resulta é a síntese das duas culturas.
Hospícios: conventos.
Ideário: conjunto de ideias, crenças e visões do mun-
do.
Ideias Iluministas
índio Colonial: índios que viveram no período colonial 
e que tiveram que realizar adaptações nas suas formas 
de viver e se relacionar com outros grupos indígenas 
e com os colonos.
índios Antropófagos: índios que praticavam rituais reli-
giosos de morte e consumo da carne do prisioneiro.
Irredutível: usa-se esse termo para se referir àqueles 
grupos indígenas que não aceitavam ser aldeados e 
administrados por não índios e se recusavam a aprender 
os ensinamentos ditos civilizados. 
Juiz de Paz: juiz eleito por seus concidadãos, que era 
responsável pela administração da justiça e pela apli-
cação das leis na localidade em que vivia. 
Laico: tudo e todos que não estão na esfera religiosa.
Lócus: lugar.
Mateiros: pessoas conhecedoras dos matos e que 
viviam de combater índios e quilombolas.
Miscigenação: ato de mestiçar, cruzar, misturar.
Missões volantes: pregações religiosas realizadas pe-
los missionários que se deslocavam para as aldeias.
Monopólio: quando o Estado ou um particular é o único 
a poder realizar a comercialização de um determinado 
produto.
Patrimônio Imaterial: conhecimentos, crenças e valo-
res que, necessariamente, não precisam se expressar 
materialmente.
Periferia Econômica: zona produtiva que não participa 
das grandes rotas de comércio e que, portanto, geram 
poucos lucros para os que ali atuam.
Pesquisa Arqueológica: técnica de escavação de restos 
materiais e fósseis para análise, catalogação, datação 
e identificação de sua origem.
Pesquisa genética: estudo da carga genética dos seres 
vivos, que permite, através da identificação do DNA, 
conhecer suas vinculações com outros seres.
Poligamia: forma de organização familiar que prevê a 
possibilidade de casamento entre um homem e várias 
mulheres ou uma mulher e vários homens.
Políticas preservacionistas: práticas políticas voltadas 
para garantir a preservação de povos indígenas, meio 
ambiente e expressões culturais.
Principais: lideranças indígenas.
Produção de subsistência: agricultura voltada para a 
produção de alimentos.
Ressocialização: ato de reeducar uma pessoa, de forma 
a que ela abandone antigas formas de comportamento 
e adote as desejadas pelo educador. 
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Sentimentos de pertença: consciência de pertencer a 
determinado grupo social ou nacionalidade.
Sesmarias: lotes de terras concedidas a colonos nas 
áreas das capitanias. 
Silvícola: aqueles que vivem nas selvas.
Sistema produtivo comunal: sistema de produção 
em que os bens necessários são de propriedade da 
comunidade e não de indivíduos. 
REFERÊNCIAS
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Brasil – cotidiano e vida privada na América portuguesa. 
São Paulo. Companhia das Letras, 1997.
MAESTRI, MÁRIO. OS SENHORES DO LITORAL: 
CONQUISTA PORTUGUESA E AGONIA TUPINAMBÁ 
NO LITORAL BRASILEIRO (SÉCULO XVI) Porto Alegre, 
EDUFRS, 1994.
MONTEIRO, J. NEGROS DA TERRA. ÍNDIOS E BAN-
DEIRANTES NAS ORIGENS DE SÃO PAULO. S. Paulo. 
Companhia das Letras, 1995.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. METAMORFOSES 
INDÍGENAS: IDENTIDADE E CULTURA NAS ALDEAIS 
COLONIAIS DO RIO DE JANEIRO, Rio de Janeiro, Arquivo 
Nacional, 2003. 
POMPA, Cristina. RELIGIÃO COMO TRADUÇÃO: MIS-
SIONÁRIOS, TUPI E TAPUIA NO BRASIL COLONIAL. 
Bauru, SP: EDUSC/ANPOCS. 2003.
PERRONE-MOISÉS, Beatriz. ÍNDIOS LIVRES E ÍNDIOS 
ESCRAVOS: OS PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO INDI-
GENISTA NO PERÍODO COLONIAL. In: CUNHA, Maria 
Manuela C. da. (org.) História dos índios no Brasil. São 
Paulo: Companhia das Letras, Fapesp/ SMC, 1992. 
p.115-132 .
SCHWARTZ, S. B. SEGREDOS INTERNOS: ENGENHOS 
E ESCRAVOS NA SOCIEDADE COLONIAL, 1550-1835. 
São Paulo: Companhia das Letras; CNPq, 1988.
FRANÇA, Declarações na Reunião da Assembléia Na-
cional Constituinte de 23/09/1823 In Anais da Assem-
bléia Nacional Constituinte de 1823; Arquivo Nacional, 
Secção SPO T.05. p. 211-4.os índios por suas 
características físicas?
Pensou-se, então, em defini-los pelos aspectos cul-
turais peculiares. Também aqui, ignorava-se, não só a 
diversidade cultural desses povos, conhecidos desde o 
fim do Século XV, quando Colombo chegou ao continen-
te americano, como também a realidade da dinâmica e 
transformação cultural resultante da convivência entre 
índios de várias etnias em aldeamentos criados pelos 
colonizadores, com europeus e seus descendentes, 
com escravos de origem africana em quilombos, en-
genhos e vilas e povoados, e povos de origem asiática. 
Além do mais, o fato de os grupos indígenas viverem em 
situações diferenciadas de contato – tempo pacíficas ou 
não, opções de como se relacionar - tornam a adoção 
desse critério bastante problemática.
Nos Estados Unidos deliberaram por adotar o que 
chamam de critério legal, Isto é, para alguém ser 
considerado índio, deverá comprovar documentalmente 
possuir as exigências estabelecidas por lei. Como a lei 
muda com o tempo, esse critério criava uma situação 
confusa, pois, de acordo com a lei vigente no ano 
anterior, alguém era indígena, porém, com a lei do ano 
seguinte, não o era mais. 
definir os vários grupos humanos que encontraram 
nas Américas. 
Essa denominação genérica – outras vão surgir 
posteriormente – ignorava um aspecto fundamental: 
a diversidade entre as centenas ou milhares de etnias 
existentes na América. Assim, passaram a ser colo-
cados nas mesmas categorias povos tão diferentes 
quanto, por exemplo, os Astecas, os Maias e os Incas, 
com suas sociedades complexas e hierarquizadas, e os 
Tupinambá do Brasil, os Cheynne dos Estados Unidos, 
com organização social não hierarquizada. 
Se houve miscigenação, transformações sócio-cul-
turais e ampliação do número de povos que passaram 
a viver nas Américas, como então definir o que é ser 
índio no novo contexto?
Figura 1 – Foto do Cacique Raoni da tribo Kaiapó do Parque Nacional 
do Xingu, Mato grosso. Fonte: Agência Brasil. 
Disponível em 
Acesso em 20.jan.2011.
Figura 2 – Foto de Nelson Júnior de índios de várias tribos comemo-
rando em Brasília a vitória na ação de demarcação da Terra Indígena 
Serra do Sol. Disponível em 
Acesso: 20.jan.2011
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15UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
Outra tentativa foi feita, levando em conta o nível 
de desenvolvimento econômico. Segundo os for-
muladores desse critério, os indígenas estariam para 
sempre condenados a não atingirem o nível de desen-
volvimento dos não índios, o que tem sido desmentido 
pela realidade atual. Ignoraram o estado de pobreza das 
populações faveladas e camponesas em áreas rurais de 
muitos países americanos. Estas, muitas vezes, vivem 
em igual condição ao das populações indígenas ou até 
piores, por não contarem com políticas governamentais 
de apoio e não possuírem terras. 
REgISTRE A SUA IDEIA
Você pensa que esses critérios de identificação 
são adequados e justos?
O critério que tem sido adotado desde 1949 e acolhi-
do pela ONU é o da auto identificação étnica. Segundo 
ele, são índios todos aqueles indivíduos que, dada a 
sua ancestralidade e socialização, se consideram e são 
assim considerados pelo grupo com o qual convivem 
e pelos não índios. 
Valorizam-se, assim, os sentimentos de pertença 
de uma pessoa e como ela se posiciona no mundo 
em que vive e se reconhece que esse sentimento nada 
tem a ver com aspectos físicos e nem com qualquer 
possibilidade de serem povos sem história, isto é, sem 
dinâmica social. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Como esse assunto é muito interessante, sugiro este texto: 
MESQUITA, Caroline Rosa. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE 
ÉTNICA E AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS. 2010. Disponível em: 
. Acesso em: 17.fev.2010. 
CAPíTULO III: ORIgEM DAS POPULA-
ÇÕES INDígENAS
Até a década de 1980, a teoria vigente sobre a ori-
gem dos povos indígenas afirmava que a penetração 
de todos eles, na América, havia ocorrido pelo estreito 
de Bering, durante a última glaciação, provavelmente 
há 12 mil anos.
?? VOCÊ SABIA?
Os índios não são nativos da América. Foi preciso muita pesquisa 
genética, arqueológica, histórica e antropológica para se saber, 
com certeza, de onde eles vieram. 
Figura 3 – Mapa mostrando a localização do Estreito de Bering entre 
o Alaska e a Sibéria.
Fonte: ESTRELLA, Sylvia. Como Funcionam os índios.
Disponível em 
Acesso em 20.jan.2011.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para entender melhor esse assunto, leia Silva, Washington Luiz 
Alves da. GLACIAÇÕES, 2004. Disponível em . Acesso em 20. jan.2011. 
Segundo essa ótica, o mesmo povo de origem 
asiática teria atravessado o referido estreito, usando 
como pontos de apoio as Ilhas Aleutas, adentrando no 
território que hoje pertence aos Estados Unidos e daí 
se espalhando em todas as direções, até ocupar todo 
o território das três Américas.
Figura 4 – Mapa mostrando a localização das Ilhas Aleutas
Fonte: Mare Nostrum
Disponível em 
Acesso em 20.jan.2011
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A ?? VOCÊ SABIA?
Os achados arqueológicos, no Brasil, foram muito importantes 
para repensar a origem dos povos indígenas da América e 
revolucionaram os conhecimentos existentes até então. 
Algumas questões foram surgindo, ao longo do 
tempo, com a ampliação dos estudos antropológicos e 
arqueológicos. O primeiro aspecto a chamar a atenção 
era a grande diversidade física e sócio cultural entre os 
muitos povos aqui existentes. O tempo pensado para 
essa migração era muito curto para tantas diferencia-
ções. 
Entretanto, foram os achados arqueológicos que co-
locaram definitivamente em cheque a teoria da entrada 
única. No caso do Brasil, dois achados, ainda que haja 
muitos outros, têm sido destacados. O primeiro são 
os trabalhos da arqueóloga Niede Guidon, no sudoeste 
do Piauí.
Figura 5 – Foto de pintura rupestre na Serra da Capivara, Piauí
Fonte: Pablo de Sousa. Disponível em 
Acesso em 20.jan.2011.
Após longas pesquisas e envio de material para 
datação nos Estados Unidos e na França, apesar da 
sistemática oposição das universidades americanas aos 
novos dados, ficou comprovada a presença humana na 
região entre 14 e 48 mil anos. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Como este assunto é muito importante e pouco conhecido, 
leia o texto abaixo que terá muita informação interessante: 
GUIMARÃES, Henri. PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA, 
2008. Disponível em: . Acesso em: 24. jan. 2011
?? VOCÊ SABIA?
O fóssil mais antigo do Brasil foi encontrado em Lagoa Santa, 
no estado de Minas Gerais, e era de uma mulher com traços 
negroides. 
Outra descoberta que merece ser destacada é a 
de André Prous, na região de Lagoa Santa, em Minas 
Gerais, em 2001. O crânio encontrado e datado de 11 
mil e quinhentos anos, apresentava peculiaridades tais 
que o arqueólogo o enviou para o antropólogo físico 
Walter Neves. Este, após vários estudos, concluiu que 
a mulher a quem pertencera o crânio não tinha caracte-
rísticas ameríndias, mas negroides. Chamado de Luzia, 
esse fóssil apontou para a existência de populações 
não indígenas que aqui viviam simultaneamente com 
esses povos.
Figura 6 – Foto da reconstituição da face de Luzia, fóssil encontrado 
em Lagoa Santa, Minas gerais.
Fonte: Professor Daniel.
Disponível em 
Acesso em 20.jan.2011.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Veja como ocorreu essa descoberta em: SOARES FILHO,Ney 
DNA DO HOMEM DE LAGOA SANTA JÁ FOI EXTRAÍDO DOS OSSOS 
in HOJE EM DIA. 2001. Disponível em: . Acesso em: 24. Jan.2010.
Também em outros pontos da América, outras 
descobertas levavam á contestação frontal da teoria 
da entrada única por Bering. 
Os novos dados apontam para o fato de vários povos, 
em momentos distintos e usando rotas distintas, terem 
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adentrado na América. Aqui estabeleceram relações 
entre si e viveram experiências históricas particulares 
que resultaram nos diversos povos que habitaram e 
habitam o nosso continente, inclusive o Brasil. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para conhecer melhor este assunto, leia LUZIA. Em Revista VEJA, 
25 de Agosto de 1999, Disponível em: Acesso em: 21. jan.2011
Figura 7 – Mapa das rotas de entrada de povos na América como 
está estabelecido na atualidade.
Fonte: Blog do Professor Daniel
Disponível em 
Acesso em 20.jan.2011.
?? VOCÊ SABIA?
Que há poucos trabalhos arqueológicos no Brasil e que muitas 
informações já se perderam e outras estão por se perder?
Antes de estudarmos a diversidade dos povos indí-
genas, é importante considerar alguns aspectos quase 
nunca sinalizados nos livros didáticos.
Devido à precariedade dos estudos arqueológicos, 
à destruição de grande quantidade de sítios, resultante 
da ação humana e á fragilidade de alguns equipamentos, 
feitos com fibras vegetais, madeiras e cerâmica, muitas 
informações sobre essas populações são irrecuperá-
veis. Assim sendo, há que se ter muito cuidado ao usar 
afirmativas sobre demografia pré colonial (os cálculos 
são arbitrários e nada confiáveis), relações interétnicas, 
nome dos povos e sua localização. Só a partir do fim 
do século XX, houve censos demográficos no país e 
as informações são parcialmente aceitáveis, porque 
só foram contados os índios que estavam em contato 
com os não índios. Os que viviam nas matas não foram 
incluídos nos dados produzidos.
??? ??? SAIBA MAIS
Os dados demográficos que se referem ao período que vai do 
século XVI ao XX se baseiam em cálculos feitos por não índios, 
que desconheciam a quase totalidade dos povos indígenas: 
quantos eram, que espaço ocupavam, quantos viviam em cada 
aldeia. Para fazer o cálculo, baseavam-se em dados aproximados 
das aldeias tupis do litoral, calculavam a distância entre essas 
aldeias, dividiam pelo tamanho do atual território nacional, para 
saber quantas aldeias existiriam, e multiplicavam esse número 
pelo dos supostos moradores das aldeias tupis. 
CAPíTULO IV: ENTENDENDO AS DI-
VERSIDADES NO BRASIL
O primeiro indicador usado pelos pesquisadores 
para identificar a identidade de um grupo é a língua 
que eles falam. Ela é um indicador confiável e inicial 
das características sócioculturais de um povo. Além do 
mais, através dos estudos de etnolinguística, é possível 
identificar as migrações dos falantes da língua estudada 
e as relações que mantiveram com outros povos.
??? ??? SAIBA MAIS
Etnolinguística é o estudo comparativo das línguas indígenas. As 
semelhanças entre as palavras de várias línguas indicam que elas 
têm uma língua antiga comum. Por exemplo, as chamadas línguas 
latinas, como o português, o francês, o italiano e o espanhol, 
indicam que elas derivam do latim. Então, se identificarmos os 
locais onde se falam as línguas latinas, podemos estabelecer a 
história do contato e da expansão dos povos que falavam latim e 
daqueles que falam línguas latinas. 
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INDICAÇÃO DE LEITURA
Você pode aprender mais sobre isso, lendo: Barreto, Evanice 
Ramos Lima ETNOLINGUÍSTICA: PRESSUPOSTOS E TAREFAS in 
Revista Virtual Portes, 2010, disponível em: acesso em: 21. Jan.2011.
Embora seja tradicional se afirmar que, no Brasil, só 
havia dois grupos falantes de línguas diferentes – os Tupi 
e os Tapuia -, esta não é a realidade. O grupo Tapuia, 
como um povo, nunca existiu. Assim eram chamados 
todos aqueles que não falavam tupi ou guarani. Sequer é 
possível saber quantos grupos não falavam o tupi, onde 
se localizavam e o que com eles aconteceu.
??? ??? SAIBA MAIS
Tapuia era como os vários grupos falantes da língua tupi 
chamavam aqueles que usavam outras línguas e que, portanto, 
não pertenciam a seu povo e eram vistos como inimigos. A palavra 
pode ser traduzida como aqueles que tinham a língua travada. 
O que se sabe é que, ainda hoje, no Brasil e em paí-
ses vizinhos, existem os seguintes troncos lingüísticos: 
o Tupi e o Macro Jê (ambos existentes na Bahia). Além 
dos troncos, há várias famílias lingüísticas: Aruaque, 
Arauá, Caribe, Ianomâni, Tucano, Catuquina, Pano, Txa-
pacura, Nambiquara, Guaicuru, Ticuna, Canoê, Aicaná, 
Cuazá, Aricapu, Irantxe/Minki e Trumai.
Para entender melhor essa diversidade de línguas 
faladas pelos nossos indígenas, leia : 
INDICAÇÃO DE LEITURA
FUNAI. ÍNDIOS. Disponível em: . Acesso em 22. jan.2011. 
Instituto Sócio Ambiental, TRONCOS E FAMÍLIAS. Disponível 
em: Acesso em: 21.jan.2011. 
Há povos que, devido ao longo tempo de contato, 
são falantes apenas do português. Outros, como os 
Fulni-ô, de Pernambuco, falam, além do português, uma 
língua que nenhum outro povo conhece. Provavelmente, 
os demais falantes devem estar extintos. Muitos são 
bilíngues, inclusive com o apoio do Governo brasileiro, 
que tem investido na formação de professores capazes 
de ensinar as duas línguas – a dos índios e o português 
– nas escolas das aldeias.
Essas línguas se distribuem de forma diferenciada 
pelas várias regiões do país e o número de falantes varia 
bastante. Hoje ainda são faladas 180 línguas diferentes 
no país, constituindo-se num patrimônio imaterial dos 
mais relevantes e que deverá ser considerado como 
Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Figura 8 – Mapa das línguas indígenas faladas no Brasil na atuali-
dade. Fonte: AMENDOLA, Marcio
Disponível em 
Acesso em 21.jan.2011.
A essa diversidade linguística corresponde a diver-
sidade social, econômica, política, religiosa e cultural, 
que se acentua, na medida em que esses grupos se 
dispersam e passam a viver experiências particulares 
que alteram o seu universo cultural e social. 
A essa diversidade, que precede o contato com os 
não índios, devemos acrescentar as decorrentes des-
sas novas relações e considerar o tempo da relação, 
seu caráter mais ou menos agressivo, as imposições, 
as novas experiências e, por fim, as opções feitas por 
cada grupo ante a situação vivenciada. Isto é, como 
reelaboram sua economia, organização social, cultura 
e seu universo de crenças. 
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CAPíTULO V: O íNDIO COLONIAL
CONTATOS E CONVIVÊNCIAS INTERÉTNICAS
Os historiadores tradicionais apresentam sempre 
duas visões acerca dos primeiros contatos: ou os 
índios se apresentavam espontaneamente aos euro-
peus, em atitude pacífica e aceitando submissamente 
as condições impostas pelos recém-chegados, ou 
agressivamente, dificultando ou impedindo a conquista 
e a colonização.
O encantamento com a beleza e a liberdade dos 
índios, mas, ao mesmo tempo, estranheza, os medos 
e a incompreensão da hierarquia ante a presença do 
comandante da esquadra: esta primeira visão foi ex-
pressa na carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao 
Rei de Portugal, em 1500. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para você conhecer essa visão, é interessante acessar esta 
indicação:CARTA AO REI D. MANUEL. 2008. Disponível em: 
 Acesso em: 21.jan.2011. 
A partir daí, vários autores escreveram sobre os ín-
dios do litoral brasileiro, predominantemente falantes da 
língua tupi e guarani. Esses autores elaboraram imagens 
positivas ou negativas sobre esses povos, calcadas 
em suas experiências e visão do mundo. Porém, as 
imagens negativas passaram a predominar, após o 
estabelecimento de conflitos entre índios e colonos 
em disputa por terras e em reação à escravização que 
lhes era imposta. Essa dualidade na forma de vê-los 
está expressa, com muita clareza, no Regimento do 
Governador Tomé de Souza, elaborado em 1548, através 
do qual foram definidas duas categorias de índios: os 
mansos, que deveriam ser livres, aldeados, protegidos 
e assalariados, e os bravos,que eram destinados à 
guerra e à escravidão.
INDICAÇÃO DE LEITURA
O Regimento do Governador Tomé de Souza é uma das leis mais 
importantes para você entender como a Coroa portuguesa pensava 
sua colônia americana. Veja isso neste texto: O REGIMENTO DE 
TOMÉ DE SOUZA. 2009. Disponível em: . Acesso em: 21. Jan. 2011.
Os conflitos entre índios e colonos se iniciaram, 
quando Portugal deixou de, simplesmente, explorar as 
riquezas naturais e decidiu implantar a colonização, 
para tanto doando sesmarias, deslocando população de 
Portugal e incentivando o plantio de cana-de-açúcar. 
A nova realidade gerou insatisfações. Algumas delas 
decorreram da ocupação das terras indígenas para a 
instalação da agricultura e pecuária; outras advieram 
do uso do trabalho escravo, que ainda não se buscava 
na África, e cujas necessidades não podiam ser supri-
das em Portugal. A escravização dos índios provocou 
profundos desarranjos no sistema econômico, social 
e político daquelas sociedades. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para entender melhor como a escravidão afetou a vida dos índios, 
acesse esta análise: BORGES, Jóina Freitas ENTRE O ESPANTO 
E O CONFLITO: AS REAÇÕES DOS NATIVOS À CHEGADA DOS 
PRIMEIROS EUROPEUS À COSTA LESTE-OESTE. 2009. Disponível 
em: 
Acesso em: 21. Jan. 2011. 
Destacaremos, inicialmente, a redução do seu 
acesso aos alimentos, fosse por não mais disporem 
de tempo para caçar, pescar, coletar ou plantar, fosse 
pela competição na disputa pelos alimentos com os 
colonizadores. A redução na produção de alimentos 
obtidos também se refletiu nas relações interétnicas. 
O estabelecimento de alianças entre índios e não índios 
– sistema de troca pelo qual os índios ofertavam alimen-
tos e trabalho em troca de produtos manufaturados e 
garantia de que não seriam escravizados – faliu, a partir 
do momento em que a produção indígena se tornava 
menor e mais inconstante, não mais sendo satisfatória 
para os europeus. A opção dos colonizadores foi, então, 
a de escravizar os índios, numa tentativa de regularizar 
o fluxo de mercadorias e trabalho.
Ainda no campo econômico, outros fatores desa-
gregadores foram importantes: a atribuição das tarefas 
agrícolas aos homens, sendo estas exercidas apenas 
por mulheres, assim como a substituição de uma eco-
nomia calcada nos princípios da troca e da solidariedade 
por outra de caráter mercantilista, regida por regras de 
mercado que desconheciam, e voltada para o lucro. 
No campo religioso, cujos valores também interfe-
riam na organização social, um dos grandes elementos 
complicadores foi a pressão exercida pelos colonos 
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para que os prisioneiros de guerra, destinados ao 
sacrifício ritual, fossem desviados e entregues como 
escravos para os interessados. Por ser uma sociedade 
hierarquizada, cujo prestígio e poder se fundamentava 
na captura e morte de prisioneiros, nas constantes 
guerras que os grupos mantinham entre si, a ruptura 
dessa prática não só lhes retirava as referências do 
ordenamento social, como também era vista como um 
desrespeito ao seu deus e ao cativo,que possuía direito 
a uma morte digna, única forma de atingir a Terra Sem 
Males, algo equivalente ao céu dos cristãos.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para entender melhor essa questão, aproveite esta dica de leitura: 
MAESTRI, MÁRIO. OS SENHORES DO LITORAL: CONQUISTA 
PORTUGUESA E AGONIA TUPINAMBÁ NO LITORAL BRASILEIRO 
(SÉCULO XVI) Porto Alegre, EDUFRS, 1994
REgISTRE A SUA IDEIA
De como você vê o drama vivido por esses índios 
e se havia outras formas possíveis de relacionamento 
entre eles e os colonos. 
Figura 9 – Foto de gravura de 
jesuítas catequizando índios
Fonte: Claudia *Literatura, Cultura e Artes*
Disponível em claudialiteraturaculturaeartes.blogspot
Acesso em 21.jan.2011.
Ante essa realidade tão complexa, as respostas 
dadas pelos índios foram bastante diversificadas. Para 
fazerem suas opções, usavam o repertório dos seus 
conhecimentos anteriores ao contato e os adquiridos a 
partir das novas experiências no mundo colonial. Pode-
mos elencar entre as várias formas de posicionamento 
adotadas a resistência, as fugas, os enfrentamentos, a 
construção de alianças com portugueses ou franceses 
e a tentativa de, através da aceitação do aldeamento 
compulsório, construir um espaço no mundo colonial, 
aprendendo a usar os espaços e instrumentos adminis-
trativos que lhes eram favoráveis. Era preciso repensar, 
adaptar, encontrar brechas, formular estratégias de 
inserção e preservação, fazendo surgir uma nova so-
ciedade indígena mais operante ante a nova realidade.
??? ??? SAIBA MAIS
O aldeamento compulsório resultava da imposição ou da decisão 
dos índios de aceitarem viver em áreas restritas, administradas e 
localizadas pelos colonizadores, de acordo com seus interesses: 
garantir mão-de-obra nas proximidades de suas propriedades 
e defesa dessas propriedades, povoações e vilas, em caso de 
ataque de outros europeus ou de índios não aliados.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Como essa questão é complexa, que tal aproveitar para ler 
essas referências: MONTEIRO, J. NEGROS DA TERRA. ÍNDIOS 
E BANDEIRANTES NAS ORIGENS DE SÃO PAULO. S. Paulo. 
Companhia das Letras, 1995; ALMEIDA, Maria Regina Celestino 
de. METAMORFOSES INDÍGENAS: IDENTIDADE E CULTURA NAS 
ALDEAIS COLONIAIS DO RIO DE JANEIRO, Rio de Janeiro, Arquivo 
Nacional, 2003. E POMPA, Cristina. RELIGIÃO COMO TRADUÇÃO: 
MISSIONÁRIOS, TUPI E TAPUIA NO BRASIL COLONIAL. Bauru, SP: 
EDUSC/ANPOCS. 2003. 
Em termos de ordenamento sociopolítico, há que 
destacar os efeitos negativos provocados pela mudança 
do eixo de poder, o que acentuava a dependência e a 
incapacidade de uma reação de maiores proporções e 
mais efetiva dos indígenas ante as imposições que lhes 
eram feitas. Nesse sentido, a morte e a destituição das 
lideranças indígenas ou sua cooptação acentuavam-
lhes o sentimento de abandono, ausência de proteção 
e de perspectivas ante a violência imposta. No entanto, 
algumas dessas sociedades encontraram formas de 
se ajustarem a essa nova realidade e, até mesmo, de 
criarem regras hereditárias de sucessão para os cargos 
de chefia. Criaram, à moda européia, uma casta de 
governantes indígenas ativa no seu diálogo, capaz de 
apresentar suas exigências e reivindicar seus direitos 
através do uso de mecanismos políticos próprios do 
mundo colonial. 
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INDICAÇÃO DE LEITURA
Conheça como os índios se tornaram hábeis negociadores, 
usando este texto: APOLINÁRIO, Juciene Ricarte AÇÕES POLÍTICAS 
MULTIFACETADAS DOS TARARIÚ NOS SERTÕES DAS CAPITANIAS 
NO NORTE ENTRE OS SÉCULOS XVI E XVII. 2009. Disponível em: 
 
Acesso em: 21. Jan. 2011. 
Independentemente de as relações de poder se 
expressar, através de mecanismos de violência explí-
cita ou da criação de alianças, suas bases estavam 
fincadas no projeto estatal de programar a conquista, 
acolonização e a integração. Ainda que forçada a um 
modelo estabelecido para conquistar e administrar, de 
acordo com seus interesses e os dos segmentos sociais 
tornados parceiros e executores daqueles projetos. E 
isso implicava a negação do direito à autonomia das 
populações nativas, gerando várias instâncias de an-
tagonismo, oposição e resistência, o que só fortalecia 
a adoção de medidas e os argumentos voltados para 
garantir a dominação e o controle sobre os revoltosos. 
Logo, temos que pensar que as relações coloniais eram 
constantemente atualizadas, a partir das interações 
estabelecidas entre os dois segmentos sociais, o que 
atribui peculiaridades aos vários momentos e conjun-
turas historicamente constituídos.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Quer saber como as relações entre índios e colonos estavam em 
constante mudança, leia Lopes Fátima Martins, OFICIAIS DAS 
ORDENANÇAS DE ÍNDIOS: NOVOS INTERLOCUTORES NAS VILAS 
DA CAPITANIA DO RIO GRANDE. 2009. Disponível em: Acesso em 
21. Jan.2011
A ESCRAVIDÃO INDígENA
Desde 1548 os índios haviam sido divididos em duas 
grandes categorias - os aliados e os inimigos – e cada 
uma delas tinha tratamento diferenciado: aldeamento 
ou guerra justa e escravidão.
Um dos mitos mais comuns na nossa história é a 
de que a escravidão indígena deixou de existir a partir 
de 1560, quando começaram a chegar os escravos de 
origem africana e que essa substituição deveu-se à 
inadequação dos índios ao trabalho e à escravidão.
Na verdade, a primeira notícia de indígenas es-
cravizados data de 1514, quando a Nau Bretoa levou, 
juntamente com toras de pau-brasil e papagaios, um 
lote de pessoas nativas para serem vendidas na Euro-
pa. A partir de então, essa prática se tornou comum e 
foi regulamentada, após 1532, quando da criação das 
capitanias hereditárias. Constava nas diversas cartas 
de doação o direito de os donatários enviarem, com 
isenção de pagamento de impostos, até 21 índios por 
ano, para comercializar na Europa. Os que excedessem 
essa cota seriam taxados pela Coroa. 
Com o Regimento de 1548 foi deliberado que to-
dos os grupos que se revoltassem ou dificultassem a 
expansão da colonização deveriam ser aprisionados e 
escravizados. Aqueles que optassem por conviver com 
os colonos e se aldear seriam entregues à adminis-
tração real, à particular ou à dos missionários, como 
veremos a seguir. 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Analise por que a Coroa portuguesa adotou essa 
política e a quem interessava que ela tratasse de 
forma diferente os índios. 
Essa política era uma tentativa da Coroa portuguesa 
de atender a duas necessidades essenciais, para ga-
rantir a colonização: garantir moradores e defensores 
para a colônia, com o estabelecimento de alianças com 
os aldeados e, simultaneamente, garantir trabalhadores 
aos colonos.
 É preciso recordar que Portugal era um país com 
baixa densidade demográfica; Possuía colônias na 
África e na Ásia, onde a presença de portugueses era 
fundamental para viabilizar a exploração econômica, 
e era preciso manter lusos na metrópole, não só para 
garantir o funcionamento da máquina administrativa, 
como também produzindo alimentos e realizando outras 
tarefas essenciais á metrópole e ao império português 
como um todo. 
Até 1560, foi a mão de obra indígena que tocou os 
campos agrícolas, os engenhos, a criação de gado, a 
produção de subsistência, o corte e transporte de ma-
22 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
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deiras e pedras, as construções e as demais atividades 
econômicas na América portuguesa, além da defesa da 
colônia dos ataques de corsários europeus e de outros 
índios que não aceitavam se aldear. 
Naquela década, ocorreram duas grandes epide-
mias - uma de varíola e outra de catapora -, as quais, 
segundo o padre José de Anchieta, mataram 2/3 de 
toda a população indígena que vivia no litoral. A razão 
de tantas mortes deveu-se à contaminação dos índios 
aldeados, porque os ameríndios não possuíam anticor-
pos para doenças infecto- contagiosas e nem sabiam 
como se tratar. Os aldeamentos se esvaziaram devido 
às mortes e às fugas, colocando em colapso o sistema 
produtivo colonial.
Para agravar a situação, foi decretada uma Bula 
Papal, em 1570, proibindo a escravidão indígena, o 
que obrigou Portugal a enrijecer as normas relativas 
à decretação de guerra e escravização dos nativos da 
América. 
Mais uma vez, foi a política imperial que determinou 
a solução: a vinda de escravos africanos. Essa forma 
de resolver o problema mostrava-se benéfica a vários 
segmentos. A Coroa, que cobrava impostos aos co-
merciantes de escravos, aos financiadores estrangeiros 
da produção de açúcar, que passavam a oferecer mais 
um item a ser financiado aos senhores de engenho, 
aos comerciantes possuidores de frotas de transporte 
que podiam navegar pelo Atlântico com três pontos 
para abastecimento de mercadorias – Europa, África 
e América. E, finalmente, os senhores de engenho 
sentiram-se mais seguros quanto ao abastecimento 
de escravos, já que não havia qualquer restrição legal, 
religiosa e moral para o uso dos africanos. 
A propaganda também estimulou esse comércio: os 
interessados no tráfico afirmavam que os africanos já 
não mais morriam de doenças infecto-contagiosas, se-
riam mais fortes, resistentes e acostumados ao trabalho 
e teriam menores chances de fugir, por desconhecerem 
a terra e temerem os “índios antropófagos.”
REgISTRE SUA IDEIA
Para que possa sistematizar melhor seu conheci-
mento, registre sua ideia sobre o assunto, analisando 
a importância da escravidão indígena e as razões pelas 
quais a História afirma que ela não continuou, porque os 
índios não se adaptaram às novas formas de trabalho 
e porque eram preguiçosos.
No entanto, ressalte-se que a escravidão indígena 
não se extinguiu no século XVI. O primeiro grande em-
pecilho era o preço do escravo africano, que chegava 
a ser dez vezes maior do que o praticado na aquisição 
dos índios. O segundo resultava de os empréstimos 
não serem acessíveis a todos os colonos. Agriculto-
res, mesmo plantando cana-de-açúcar, mas que não 
possuíam engenhos, os que se dedicavam à lavoura de 
subsistência e os demais segmentos produtivos não 
eram financiados pelos importadores europeus nem 
pelos grandes comerciantes de escravos. Para eles, 
o acesso possível a trabalhadores continuava a ser 
o escravo indígena e, por isso, continuaram a usá-lo, 
inclusive os senhores de engenho, até sua proibição 
em 1756. Foi no espaço dos engenhos que se estabe-
leceram casamentos mestiços entre índios e negros 
e as primeiras alianças que resultaram em quilombos 
partilhados pelos dois grupos escravizados.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Este é um tema novo e ainda pouco conhecido, porém você pode 
encontrar boas observações neste texto sugerido: PERRONE-
MOISÉS, Beatriz. ÍNDIOS LIVRES E ÍNDIOS ESCRAVOS: OS 
PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO INDIGENISTA NO PERÍODO 
COLONIAL. In: CUNHA, Maria Manuela C. da. (org.) História dos 
índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Fapesp/ SMC, 
1992. p.115-132 e em SCHWARTZ, S. B. SEGREDOS INTERNOS: 
ENGENHOS E ESCRAVOS NA SOCIEDADE COLONIAL, 1550-1835. 
São Paulo: Companhia das Letras; CNPq, 1988.
Figura 10 – Foto de gravura de índios trabalhando em fazendas
Fonte: Jean Baptiste Debret
Disponível em 
Acesso em 21.jan.2011.
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Outro espaço em que continuou a escravidão in-
dígena de forma intensa foi a periferia econômica da 
colônia, particularmente nas zonas de fronteira, onde os 
colonos não dispunham de capital para adquirir escra-
vos africanos, por ainda não terem acumulado capital 
suficiente para tal investimento. O aumento do valor 
de mercado e a ampliação da captura dos indígenas 
ocorreram durante a ocupação de São Paulo de Luan-
da, na África, pela Companhia dasÍndias Ocidentais, 
quando houve drástica redução da vinda de escravos 
africanos para o Brasil.
??? ??? SAIBA MAIS
Durante a invasão holandesa a Pernambuco, os membros da 
Companhia das Índias Ocidentais decidiram conquistar o principal 
porto de onde eram enviados escravos da África para o Brasil. 
Buscavam, assim, inviabilizar a produção açucareira em toda a 
América portuguesa, impedindo a compra de escravos. Por isso, 
os índios voltaram a ser aprisionados em larga escala e seu preço, 
enquanto durou a ocupação de Luanda, aumentou bastante.
Porém, logo em seguida, houve outra desvalorização do escravo 
indígena, devido à grande quantidade de aprisionados e descidos 
para o Recôncavo durante as sucessivas rebeliões, entre o fim 
do século XVII e os meados do XVIII. Esses eventos ficaram 
conhecidos como Guerra dos Bárbaros e envolveram os grupos 
indígenas que viviam nos sertões entre a Bahia e o Ceará e 
entraram em conflito com os criadores de gado, como as famílias 
dos Ávila e Guedes de Brito. 
?? VOCÊ SABIA?
Que havia uma legislação especial definindo as razões pelas quais 
os índios podiam ser escravizados? 
Os índios podiam ser cativados, segundo as determinações legais 
que regiam a decretação da Guerra Justa e da escravização, nas 
seguintes situações:
 1 – em casos de “ataques” dos índios, quando a vida e os bens 
dos colonos estariam em perigo;
2 – quando impedissem a expansão da fé cristã ;
3 – através da compra de índios aprisionados por outros e que 
originalmente seriam destinados ao sacrifício ritual.
O que se sabe, através das cartas escritas pelos jesuítas, é que 
nem sempre os índios criavam situações que justificassem a 
decretação da guerra e a escravidão. Os colonos as criavam e, 
então, pediam autorização para promover o que chamavam de 
“resgates de prisioneiros” e guerra defensiva. 
Figura 11 – Foto do quadro Família guarani capturada por caçadores 
escravistas de índios..
Fonte: Jean Baptiste Debret
Disponível em 
Acesso em 21.jan.2011.
ALDEAR, MISSIONAR, ADMINISTRAR E 
CIVILIZAR
A Coroa portuguesa também organizou a vida dos 
chamados aliados. Para tanto, instituiu os aldeamentos, 
isto é, espaços administrados por lusos e destinados 
a adequar os índios às novas exigências da realidade 
colonial. 
Foram criados três tipos de aldeamentos quanto às 
formas de administração: aqueles em que atuavam os 
missionários, inicialmente apenas os jesuítas e depois 
outras ordens religiosas, os de responsabilidade dos 
particulares e os dirigidos por agentes administradores 
reais. 
??? ??? SAIBA MAIS
Os primeiros jesuítas chegaram à América portuguesa com Tomé 
de Souza, em 1549. Logo iniciaram seus trabalhos de catequização 
dos índios na Bahia e depois se espalharam por outras capitanias. 
Inicialmente faziam missões volantes, isto é, iam às aldeias dos 
índios para pregar. Depois do governo de Mem de Sá, foram 
fundados aldeamentos para que eles morassem com os indígenas 
e melhor pudessem fazer seu trabalho de conversão e de lhes 
impor novos hábitos.
Cada um dos três tipos de aldeamento apresentava peculiaridades, 
porém havia um eixo orientador comum a todos: preparar os índios 
para realizarem as novas atividades produtivas; desestruturar sua 
organização social; deslocá-los para os pontos mais adequados 
aos colonos – próximos a povoações e áreas produtivas – e usá-
los como trabalhadores remunerados.
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Também possuíam suas próprias regras de funcionamento e 
objetivos. Os aldeamentos del Rei visavam fornecer trabalhadores 
para as obras de interesse da metrópole: abertura de caminhos, 
construção de fortificações, de prédios administrativos, fornecer 
alimentos e garantir a defesa dos interesses da Coroa em 
momentos de ameaça interna ou externa. A preocupação central 
era a de treiná-los para exercerem essas atividades, o que fizeram 
com bastante competência, por exemplo, na expulsão dos 
holandeses da cidade do Salvador, em 1625.
Os particulares podiam ser formados de três maneiras: pela 
conquista, por descimentos ou por estarem vivendo num pedaço 
de terra que era dada como sesmaria a um colono que fizesse 
jus a essa mercê real, geralmente em virtude de ter conquistado 
e ocupado esse espaço. Nesse tipo de aldeamento, os índios 
trabalhavam nas terras dos sesmeiros, em atividades que lhes 
eram indicadas. Porém, sua principal função era a de defender 
a propriedade do seu administrador e garantir futura expansão 
da área ocupada, o que significava a inclusão de novas aldeias 
a serem administradas pelo sesmeiro. Os serviços desses índios 
flecheiros administrados foram essenciais para a formação das 
grandes propriedades do Recôncavo e dos sertões da Bahia, 
assim como em outros pontos da colônia. Essas tropas eram 
convocadas para participar de outros eventos militares a convite 
do governo-geral, de forma a fortalecer as tropas dos aldeamentos 
del Rei. 
??? ??? SAIBA MAIS
Descimento é o suposto ato voluntário de índios abandonarem o 
local de sua aldeia, de acompanharem o europeu e de instalarem 
um aldeamento nas terras daquele que promoveu o descimento. 
Figura 12 – Foto de quadro de índio flecheiro.
Fonte: Jean Baptiste Debret
Disponível em 
Acesso em 24.jan.2011.
?? VOCÊ SABIA?
Os maiores aldeamentos eram os administrados pelos 
missionários, o que desagradava os colonos, que queriam ter livre 
acesso à mão de obra dos indígenas. 
Já os administrados por missionários, além de cum-
prirem as mesmas tarefas atribuídas aos ocupantes dos 
outros tipos de aldeamentos, apresentavam um projeto 
mais amplo e considerado essencial pela Coroa: formar 
cristãos e súditos fiéis. Os missionários que ali atuavam 
deveriam erradicar os “maus costumes” dos indígenas: 
a poligamia, a nudez, o compartilhamento das casas 
sem divisórias, a prática da guerra e a antropofagia ritu-
al. Outro objetivo era o de transformar os aldeados em 
futuros pequenos produtores de subsistência capazes 
de garantir o abastecimento à sociedade luso-brasileira 
em expansão. 
Os missionários, para serem aceitos, inicialmente 
atuavam nas aldeias onde os indígenas viviam no 
momento do contato. Adotavam o discurso dos caraís 
e buscavam desacreditar esses sacerdotes indígenas 
e a religião dos moradores, promover casamentos e 
batizados e convertê-los ao cristianismo. 
??? ??? SAIBA MAIS
Caraís eram os sacerdotes- profetas que realizavam visitas 
regulares às aldeias, fazendo pregações e definindo quando 
seriam feitas as migrações em busca da Terra sem Males, que 
corresponde, aproximadamente, ao nosso conceito de paraíso 
celestial. 
Como não podiam exercer um controle mais efetivo 
sobre o comportamento dessas populações, passa-
ram a viver nos aldeamentos e a enviar as crianças 
(curumins) para seus colégios, na expectativa de que 
viessem, no futuro, a atuar como missionários. 
REgISTRE SUA IDEIA
A disputa de poder entre caraís e jesuítas teve 
grande dimensão nas relações coloniais. Avalie como 
o trabalho dos jesuítas desvalorizava os caraís e o 
que isso representou para os indígenas.
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Os trabalhos dos missionários sofreram vários 
percalços: a dificuldade de se fazerem compreender, a 
resistência dos indígenas em abandonarem suas prá-
ticas sociais e valores e, após as epidemias de 1560 e 
1563, terem sido responsabilizados pelas mortes. 
Também enfrentavam os constantes questio-
namentos dos colonos. Acusavam-nos de reterem 
grande quantidade de trabalhadores sob suas ordens 
trabalhando para enriquecer a Companhia de Jesus, de 
não pagarem impostos, além de receberem recursos 
da Coroa. 
Os conflitos se ampliaram e culminaram na expulsão 
dos jesuítas, na administração do Marques de Pombal, 
em 1756. 
Cabe destacar que a vivência nesses aldeamentos 
criou a situaçãoda convivência entre índios de várias 
etnias, entre eles e europeus e negros, dando origem 
às bases da miscigenação e da hibridez cultural. 
Os aldeamentos jesuíticos eram, na verdade, grandes 
laboratórios sociais, voltados para a realização de dois 
projetos que se superpunham: o da Coroa – criar súdi-
tos envolvidos com o sucesso do projeto de conquista 
e colonização da América portuguesa – e o da Igreja 
Católica – expandir sua fé pelo mundo e transformar 
os índios em bons súditos e cristãos. 
Para ambas as instituições, os índios deveriam se 
tornar produtores de artigos agrícolas, inseridos no 
mercado local e capazes de se auto sustentar e de su-
prir as necessidades dos colonos, como trabalhadores 
dóceis e súditos fiéis ao Rei e ao Papa. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
O trabalho desenvolvido pelos jesuítas foi fundamental para o 
avanço da conquista e da colonização. Você poderá entender 
melhor essa importância lendo POMPA, Cristina. O LUGAR DA 
UTOPIA: OS JESUÍTAS E A CATEQUESE INDÍGENA In Novos 
Estudos, CEBRAP, N.° 64, novembro 2002, pp. 83-95, NOVEMBRO. 
Disponível em: Acesso em: 
24. Jan.2011.
 SANTOS, Fabricio Lyrio. ALDEAMENTOS MISSIONÁRIOS E 
CATEQUESE INDÍGENA: NOVAS ABORDAGENS. 2008. Disponível 
em: . Acesso em: 24. Jan.2010.
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Pesquise se houve algum aldeamento administra-
do por missionários nas proximidades de onde você 
mora. 
AS REFORMAS POMBALINAS E O PROJETO DE CI-
VILIZAÇÃO
O século XVIII, em Portugal, foi de grandes mudan-
ças e conflitos. As ideias iluministas começaram a 
circular, as crises econômicas aconteceram, particu-
larmente no que se referia á balança comercial com a 
Inglaterra. Também era tempo de modernizar a estrutura 
administrativa do Império, separar a Igreja e o Estado e 
definir as fronteiras americanas com a Espanha. Este 
conjunto de questões marcou o reinado de D. José 
I e foi o grande palco de atuação do seu Ministro, o 
Marquês de Pombal. 
??? ??? SAIBA MAIS
Devido ao desconhecimento das terras que estavam no interior 
das possessões espanhola e portuguesa na América, os limites 
entre os domínios dos dois países não eram claros. Essa situação 
terminava por criar conflito entre colonos e entre apresadores 
de escravos indígenas, colonos portugueses e missionários 
espanhóis. Além disso, dificultava a formulação de políticas de 
expansão econômica das duas Coroas.
O Marquês via a questão indígena interagindo com três problemas 
que precisavam ser solucionados: o excesso de poder da Igreja, 
a necessidade de incorporar novos súditos produtivos e que 
pagassem impostos, e como definir, de forma favorável a Portugal, 
os limites de sua colônia na América. 
 Para atender a todos esses aspectos e seguindo a 
sugestão de seu irmão, Francisco Xavier de Mendonça 
Furtado, governador do Estado do Grão Pará, em 1751, 
promulgou, entre 1755 e 1758, um conjunto de leis que 
alteraram de forma radical a forma de os índios serem 
administrados e seus destinos.
As cartas de Mendonça Furtado atacavam violenta-
mente os jesuítas, acusando-os de tirania no trato com 
os índios, de exercerem monopólio no comércio das 
especiarias, de possuírem imensas riquezas, de não 
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terem transformado os índios em súditos fiéis da Coroa 
e de, por ser a Ordem de origem espanhola, beneficiar 
os interesses daquele país. Essas e outras denúncias 
fizeram com que o ministro passasse a considerar os 
inacianos como os grandes responsáveis pelos proble-
mas e dificuldades vividos por Portugal.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Que tal aprofundar um pouco mais essa questão, lendo : 
PIRES, Maria Idalina, RESISTÊNCIA INDÍGENA NOS SERTÕES 
NORDESTINOS NO PÓS-CONQUISTA TERRITORIAL, 2009. 
Disponível em: Acesso em: 24. Jan.2011. 
Figura 13 – Foto do quadro Negociantes contando índios.
Fonte: SPIX, J. B. von, MARTIUS, C. F. P.
Disponível em 
Acesso em 24.jan.2011.
A primeira medida adotada foi a de, através do Alvará 
de 07/06/1755, proibir a escravidão indígena no Grão 
Pará e de abolir o poder temporal dos religiosos nos 
aldeamentos, por considerar que sua forma de admi-
nistrar era contrária à boa ordem e à administração 
da justiça. A administração temporal passava a ser de 
responsabilidade dos Juízes Ordinários, Vereadores, 
Oficiais de Justiça e índios naturais das aldeias e seus 
distritos. As aldeias independentes das vilas seriam 
administradas pelos Principais e seus subalternos. 
A Lei de 06/06/1755 estendia as decisões às demais 
Capitanias.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para saber como era difícil para os índios ocuparem os cargos 
de vereadores em seus antigos aldeamentos, leia o seguinte 
texto: ROCHA Rafael Ale, OS ÍNDIOS NAS CÂMARAS DAS VILAS 
DO ESTADO DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO: UMA POLÍTICA DO 
ESTADO PORTUGUÊS. 2009. Disponível em: . Acesso em: 24.jan. 
2011. 
Ante a reação negativa dos jesuítas a essas deci-
sões, outras acusações lhes foram imputadas, o que 
culminou na decisão de expulsá-los, não só dos alde-
amentos indígenas, mas de todo o Império luso, e de 
confiscar seus bens em 1759. As medidas também atin-
giram outras ordens que missionavam entre os índios, 
embora seu afastamento tenha sido feito lentamente, 
ante a dificuldade de encontrar substitutos, párocos, 
para atuarem junto a essas populações.
Para finalizar as medidas administrativas relativas 
aos índios, em 1757 foi promulgado o Diretório que se 
deve observar nas Povoações dos Índios do Pará e do 
Maranhão, cuja matriz de pensamento era a de promo-
ver a integração dos índios à comunidade lusitana como 
súditos. Suas bases eram a de promover a civilização 
desses povos e de romper o isolamento em que viviam 
nos aldeamentos jesuíticos. 
Essa decisão, dentre outras razões, vinculava-se à 
questão da definição das fronteiras com a Espanha. O 
critério para defini-las foi o da efetiva ocupação, o que 
seria identificado a partir dos pontos limítrofes ocupa-
dos por falantes do espanhol e do português.
?? VOCÊ SABIA?
Em nome do progresso, da liberdade, da razão e da civilização, 
a organização social, política e cultural dos povos indígenas foi 
totalmente desrespeitada.
O que se constatou foi que os índios aldeados não 
falavam o português, mas suas línguas nativas ou a 
chamada “língua geral”, que era uma língua criada pe-
los jesuítas através da latinização do tupi. Era preciso 
impor-lhes a língua portuguesa e torná-los súditos 
defensores da Coroa lusitana e, para isso, era essencial 
ensinar-lhes hábitos “civilizados”.
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INDICAÇÃO DE LEITURA
Esse projeto de transformação dos índios poderá ser melhor 
compreendido se você ler: GARCIA, Elisa Fruhauf. A “CONQUISTA” 
DOS SETE POVOS DAS MISSÕES: DE “ATO HERÓICO” DOS LUSO-
BRASILEIROS A CAMPANHA NEGOCIADA COM OS ÍNDIOS. 2005. 
Disponível em: Acesso em: 24. Jan.2011.
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Assista ao filme A Missão, filme inglês de 1986, que mostra os 
efeitos dos acordos estabelecidos entre Portugal e Espanha sobre 
os índios que viviam na área denominada Sete Missões Guarani, 
na área conhecida como São Pedro e que hoje integra o território 
do Rio Grande do Sul. Acesse:que foram necessárias ou havia outras so-
luções que poderiam ser adotadas? 
Para atrair os indígenas à esfera da influência por-
tuguesa, os administradores metropolitanos conside-
ravam essencial eliminar todas as diferenças, inclusive 
legais, entre os vários segmentos que compunham a 
população colonial. Para atingir essa meta, além 
das medidas acima referidas, o conjunto de leis deter-
minava ainda que fossem garantidos aos índios a plena 
liberdade de comércio e uso dos bens indígenas pelos 
verdadeiros donos; elevação dos aldeamentos a vilas, 
estímulo aos casamentos interétnicos como forma de 
acelerar a integração e de aumentar as áreas cultivadas, 
o que também se refletiria no aumento do recolhimento 
dos impostos pelo governo. 
No mesmo sentido, foi determinada a extinção da 
propriedade coletiva da terra, substituindo-a pelo lotea-
mento particular e a entrega da administração temporal 
a diretores que só seriam remunerados com o trabalho 
indígena e a cobrança de uma taxa sobre o salário que 
recebessem dos colonos e sobre o que comerciali-
zassem. A presença desse administrador não índio 
era explicada pelo argumento de que este não estava 
capacitado a administrar seus bens e as vilas.
INDICAÇÃO DE LEITURA
A lei que garantia aos índios o direito de se autogovernarem não 
foi cumprida devido à visão negativa dos brancos sobre os índios. 
Veja por que razão, no texto : Teresinha Marcis, O EXERCÍCIO 
DO PODER EM UMA VILA INDÍGENA: OLIVENÇA-BA, 1824-1889. 
2005. Disponível em: . Acesso em: 24. jan.2011.
Figura 14 – Foto do quadro do Marquês de Pombal.
Fonte: TAVARES. Ruy Pombal e a Censura Iluminada.
Disponível em 
Acesso em 24.jan.2011.
 Os diretores deveriam também educar e civilizar 
os aldeados e lhes impor a língua e os costumes por-
tugueses. Para tanto, era considerado fundamental o 
incremento do número de moradores nas aldeias de 
índios forros, moradores que poderiam arrendar as 
terras dos indígenas. 
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??? ??? SAIBA MAIS
Índios forros eram os índios não escravos, isto é, aqueles que 
não eram escravos e viviam aldeados sob a administração de 
missionários. Após o Diretório Pombalino, todos os índios se 
tornaram livres, o que não significou que aqueles que viviam sob 
a administração de particulares tenham sido libertados de fato.
Dessa forma, o Diretório, em nome da necessidade 
de promover a civilização e de tornar os indígenas rapi-
damente produtores de culturas diversificadas, inseri-
dos nas redes de comércio interno e externo, pagadores 
de impostos e vassalos confiáveis, garantiu não só o 
livre acesso dos colonos à força de trabalho indígena, 
como também a suas terras. Portanto, o projeto de 
civilização vinculava-se diretamente à habilitação do 
trabalhador indígena, concebido a partir do modo de 
produção dominante da sociedade colonial. 
Os poderes atribuídos a um diretor, que não era re-
munerado, geraram problemas sérios para os indígenas. 
Por terem o direito de acertar os contratos de trabalho e 
reter 2/3 dos salários, tornaram-se administradores vo-
razes reduzindo o tempo que os índios podiam dedicar 
as suas roças. Como podiam retirar as terras daqueles 
que não cumpriam as metas de produção, terminavam 
por ampliar as áreas arrendadas aos colonos, diminuin-
do cada vez as possibilidades de os índios produzirem 
e obterem sua autonomia, como previra a lei. Além do 
mais, os contratos de trabalho permitiam ao diretor 
reforçar sua rede de alianças locais, ao privilegiar seus 
aliados nos contratos de trabalho, em detrimento dos 
interesses dos aldeados. 
Da mesma forma, era proibido aos índios se ausen-
tarem do aldeamento, pois isto implicaria em prejuízos. 
Argumentando que uma das formas de mantê-los satis-
feitos era fazer com que eles vivessem em povoações 
e vilas e povoados iguais aos dos demais súditos, os 
administradores descaracterizaram os aldeamentos 
com construção de prédios públicos - câmara e cadeia 
-, o que, aos poucos, desfez os laços de pertença a um 
espaço indígena e atraiu colonos para as novas vilas 
criadas a partir dos aldeamentos indígenas. 
??? ??? SAIBA MAIS
Foram elevadas a vilas as seguintes aldeias, hoje no estado da 
Bahia: Natuba (hoje Nova Soure); Nossa Senhora da Escada de 
Olivença (hoje Olivença); Maraú (que recebeu o nome de Barcelos 
e hoje voltou a se chamar Maraú); Serinhaém (que passou a se 
chamar Santarém e hoje, Ituberá); São João dos Tapes (hoje 
Trancoso); Patatiba (hoje Vila Verde); Cana Brava (denominada 
de Ribeira do Pombal e hoje Banzaê); Espírito Santo de Abrantes 
(Abrantes, distrito do município de Camaçari); Viçosa (hoje Nova 
Viçosa); Aldeia das Lages (Prado); Belmonte (Belmonte); Nossa 
Senhora de Nazaré de Pedra Branca (Pedra Branca, distrito de 
Santa Terezinha); São Bernardo de Alcobaça (Alcobaça); São José 
de Porto Alegre (Mucuri); Nossa Senhora da Conceição dos Índios 
Gren (Almada); Saco dos Morcegos (Mirandela/ Banzaê).
Insatisfeitos e empobrecidos ante a impossibilidade 
de produzirem o necessário para manter suas famí-
lias, muitos índios optaram pela fuga e deserção, o 
que era encarado como uma ameaça aos projetos de 
incremento demográfico, econômico e militar, além de 
contrariar o maior interesse dos diretores e moradores: 
o de disporem de um celeiro de mão-de-obra ao qual 
tinham fácil acesso. Razão pela qual eram severamente 
punidos, quando recapturados. 
Os conflitos com os colonos pelo não cumprimento 
dos termos de contratos de trabalho e arrendamento/
invasão dos territórios indígenas agravaram as relações 
interétnicas, o que culminou na emissão de uma Carta 
Régia, em 1798, pela Rainha D. Maria I, que voltou a 
permitir que particulares realizassem descimentos e 
criassem aldeamentos particulares, satisfazendo os 
interesses dos colonos e abrindo novas frentes de 
conflito que serão melhor compreendidas no próximo 
capítulo, quando tratarmos do século XIX.
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Figura 15 – Foto de quadro de D. Maria I – Rainha de Portugal
Fonte: Agência Brasil.
Disponível em 
Acesso em 24.jan.2011.
CAPíTULO VI: O SÉCULO XIX E AS PO-
LíTICAS INDIgENISTAS
O início do século XIX não apresentou grandes 
transformações na administração dos índios, o que não 
significa que as vidas desses atores sociais ficaram es-
tagnadas. Os que continuaram sob a administração dos 
diretores de aldeamentos, segundo as normas definidas 
pelo Diretório dos Índios promulgado no reinado de D. 
José I, viviam as agruras da exploração excessiva de 
seu trabalho. Sua reação a essa situação variava entre 
a fuga para o mato, a busca de contratos de trabalho 
sem a intermediação do diretor ou, quando contratados 
através daquelas autoridades, atuarem de forma que 
não fossem valorizados pelos contratantes. O resultado 
era o crescente esvaziamento dos aldeamentos e o 
arrendamento das terras a particulares.
Os dirigidos pelas determinações da Carta Régia 
de 1798 sofriam, igualmente, com a ação descuidada 
dos seus administradores, que os tratavam como se 
escravos fossem, sem lhes garantir os direitos legal-
mente determinados. Sua insatisfação se expressava 
em revoltas e fugas, gerando prejuízos àqueles que os 
aldearam.
As regiões de fronteira interna - particularmente no 
Oeste, na região de São Paulo e Paraná, na Amazônia 
e nas áreas de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo -, 
que, até então, haviam-se constituído em refúgio de 
grupos indígenas, após o decréscimo da produção 
de ouro e diamantes em Minas Gerais, tornavam-se 
áreas cobiçadas e vistas como solução para a crise 
econômica que afligia o Império português. 
Apesar das muitas correspondências enviadas ao 
Príncipe Regente D. João, este não tomou qualquer 
decisão sobre o

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