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Química Analítica Icimone Braga de Oliveira , 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO À QUÍMICA ANALÍTICA ...................................................... 3 2 ANÁLISES QUÍMICAS QUALI E QUANTITATIVAS ..................................... 18 3 MÉTODOS ANALÍTICOS CLÁSSICOS ........................................................ 32 4 TITULOMETRIA ...................................................................................... 45 5 FUNDAMENTOS DE ANÁLISE INSTRUMENTAL ....................................... 60 6 MÉTODOS INSTRUMENTAIS DE ESPECTROSCOPIA E RESSONÂNCIA ...... 75 , 3 1 INTRODUÇÃO À QUÍMICA ANALÍTICA Apresentação A química analítica, além de fascinante, é uma parte muito importante do estudo das ciências químicas e que tem como objetivo geral estudar os princípios teóricos e práticos para determinação da composição e/ou quantificação química de uma amostra a ser analisada. Trata-se de uma ciência que permite caracterizar quimicamente os materiais presentes em qualquer amostra e está presente em várias áreas de pesquisa, dentre elas as Engenharias, o que justifica um estudo aprofundado desta disciplina para aplica-la em vários estudos. Como exemplo de aplicações pode-se citar:  Determinar e controlar a qualidade e/ou nível da poluição ambiental através da análise do ar, água e solos;  Reconhecer os fundamentos analíticos aplicados aos processos produtivos das indústrias químicas;  Se a matéria-prima está dentro das especificações técnicas necessárias, caracterizar a forma com que os elementos estão distribuídos na natureza (especiação química);  Determinar compostos presentes em plantas e o princípio ativo de fitoterápicos;  Verificar nível de poluição e grau de potabilidade de amostras de água;  Avaliar o grau de impacto de produtos e processos;  Controlar a qualidade de fármacos, medicamentos e insumos, biofármacos, cosméticos, saneantes e outros produtos relacionados a saúde. , 4 Com o desenvolvimento de novos métodos analíticos qualitativos e quantitativos, houve a necessidade de novos instrumentos de medida, então, uma das áreas da Química Analítica é a chamada Química Analítica Instrumental. Neste bloco trataremos das análises químicas: qualitativas e quantitativas; análise qualitativa por estudo de soluções; mecanismo de dissolução e solubilidade; fatores que afetam a solubilidade; unidades de concentração de soluções; técnicas experimentais de análise qualitativa; e análise qualitativa por identificação de íons. 1.1 Análises químicas qualitativas e quantitativas A análise química como é conhecida atualmente surgiu com experiências de Robert Boyle (1627-1691), que idealizou vários testes qualitativos precursores dos utilizados atualmente. A principal proposição da química analítica é mostrar que a composição de uma determinada substância pode ser obtida por meio de uma análise (SILVA, 2017). As análises químicas são aplicadas quando precisamos ter informações sobre a composição ou a quantidade de substancias presentes em uma amostra estudada, ou seja, o que está presente ou quanto está presente. Normalmente, não obrigatoriamente, uma análise complementa a outra de forma a responder estas questões. O que está presente se refere a uma análise chamada qualitativa e o quanto está presente a uma análise quantitativa. Então, vamos entender um pouco melhor cada uma destas classificações? a) Análise Qualitativa: Pergunte-se: O que? É a análise que identifica a presença de um ou mais componentes de uma amostra, portanto, informa a presença ou ausência de elementos, íons ou moléculas. Os resultados são expressos em palavras e símbolos. A química analítica qualitativa é utilizada em diversas situações como, por exemplo, para verificar presença de compostos inorgânicos e orgânicos em medicamentos; substancias presentes em água potável ou efluentes residenciais ou industriais; poluentes em ar atmosférico ou rios; sais minerais presentes na água consumida; componentes presentes em alimentos, dentre outras funções. , 5 Nesta análise você consegue conhecer, identificar e classificar os principais cátions e ânions sujeitos às técnicas qualitativas. Para isso, a abordagem sobre solubilização que veremos futuramente é importantíssima. Com as análises qualitativas é possível trabalhar, por exemplo, com custos, controle de qualidade ou impactos ambientais gerados. b) Análise Quantitativa: Pergunte-se: O quanto? É utilizada para determinar a quantidade de um componente na amostra. Envolve separação, identificação e determinação das quantidades ou teores dos componentes que constituem uma amostra, portanto, trata da quantificação dos analitos na amostra. É, muitas vezes, considerada a análise mais importante. Seus resultados são expressos em valores numéricos com indicação do que estes números representam. Por exemplo, em uma análise de um efluente sanitário identificou-se e quantificou-se: DBO (306,06 mg de O2/L), DQO (558,57 mg de O2/L), coliformes (2,76 x 106), nitrito (0,023 mg/L), fósforo total: (7,26 mg/L) e pH (7,22). A química quantitativa é primordial em uma série de avanços científicos. Está envolvida desde o controle de produção (deve-se adicionar quanto a mais de um metal ou carbono na fabricação de um aço?), passando por controle de qualidade de um produto final, seus impactos ambientais e até mesmo em exposição ocupacional. Desta forma, as indústrias cada vez investem nos processos de pesquisa, desenvolvimento e controle de qualidade baseando-se em análises quantitativas. No bloco 2 você entenderá detalhadamente como estas análises são realizadas a partir de um procedimento analítico. Por enquanto, vamos nos ater ao fato que, muitas vezes, precisamos identificar componentes presentes em misturas, sejam elas homogêneas ou heterogêneas ou em diferentes estados físicos. Quando as misturas são homogêneas também podemos chama-las de soluções, ou seja, há presença de solutos e solventes. Além disso, identificamos muitos componentes de uma amostra por meio de reações químicas em soluções aquosas. Vamos rever alguns conceitos e nos aprofundar em solubilidade no próximo item. , 6 1.2 Análise Qualitativa por Estudo de Soluções O estudo das soluções é algo primordial em escala industrial e laboratorial. Por meio de soluções, podemos analisar quais os procedimentos reacionais adequados, facilitando a leitura de análises, dentre outras características do estudo das soluções nos ramos da química. A análise qualitativa inorgânica se baseia, principalmente, na observação de reações químicas conduzidas em soluções aquosas. As soluções são misturas homogêneas de solutos e solventes e que podem ser encontradas em quaisquer fases (sólidas, liquidas ou gasosas). Independentemente do estado físico da solução, soluto é o componente presente em menor quantidade e o solvente está presente em maior quantidade na solução. Além do estado físico, as soluções também podem ser classificadas em moleculares ou iônicas; em não eletrolíticas ou eletrolíticas; e em grau de saturação do soluto (insaturada, saturada e supersaturada). Quando a solução conduz eletricidade é porque o soluto se dissociou ou ionizou em cátions e ânions (os eletrólitos). Se não houver produção de íons se chama solução não eletrolítica, isso ocorre em compostos moleculares dissolvidos em solventes (exceção são os ácidos). A água é um solvente universal usado no preparo de muitas soluções; raramente é usado outro solvente. Eletrólitos fortes são formados por substâncias que sofrem bastante ionização/dissociação, como ácidos e bases fortes e sais. Importante lembrar que todo composto iônico sofre dissociação e que alguns compostos moleculares, como os ácidos, podem se ionizar. A grande taxa de ionização/dissociaçãopermite prever a ordem de precipitação, ou seja, a solubilidade dos sais. As análises gravimétricas são técnicas simples e ainda muito utilizadas em laboratórios químicos. Baseiam-se na utilização de um reagente que provoque uma precipitação, isto é, a transformação de um determinado íon em substância sólida, insolúvel, chamada precipitado. Após processos adequados de tratamento deste precipitado, o mesmo é pesado e, então, analisa-se quantitativamente este analito. A gravimetria é amplamente utilizada para quantificar a presença de determinados componentes em amostras, detecção e remoção dos possíveis erros e controle de qualidade em industrias. REFERÊNCIAS FIORUCCI, A. R.; SOARES, M. H. F. B.; CAVALHEIRO, E. T. G. O conceito de solução tampão. Química Nova na Escola, N° 13, 2001. Disponível em: . Acesso em 31 julho 2020. FORTE, C. M. S., PACHECO, L. C. M.; QUEIROZ, Z. F. Química Analítica I. 2ª ed. Fortaleza: UECE, 2019. MARTINS, C. R.; SILVA, L. A.; ANDRADE, J. B. Sulfetos: Por que nem todos são insolúveis? Quim. Nova, Vol. 33, No. 10, 2010. Disponível em: . Acesso em 21 de julho 2020. MORAES, M. A. B.; AFONSO, J. C.; GOMES, L. M. B. Análise química de carbonatos de cálcio fabricados entre 1902 e 2002. RQI, 2015. Disponível em: . Acesso em 23 de jul. 2020. http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc13/v13a04.pdf https://www.scielo.br/pdf/qn/v33n10/44.pdf http://www.abq.org.br/rqi/2014/746/RQI-746-pagina27-Artigo-Tecnico.pdf , 44 SCHRODER, C. H. K. Química Analítica. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. SKOOG, D. A. Fundamentos de Química Analítica. São Paulo: Cengage Learning, 2014. VOGEL, A. Química Analítica Qualitativa. São Paulo: Mestre Jou, 1981. , 45 4 TITULOMETRIA Neste Bloco, vamos estudar outro método clássico muito importante e extremamente utilizado até hoje. A titulação se enquadra em um conjunto de técnicas analíticas também chamada de volumetria ou titrimetria. A partir do volume de um titulante pode-se calcular a concentração do analito. Em todos os métodos de titulometria são usadas vidrarias tais como buretas e erlenmeyers, conforme esquema apresentado na Figura 4.1. Fonte: AKIRA, I. 2007. Figura 4.1 - Esquema básico de titulação em que [ ] significa concentração da solução. Para se ter uma avaliação do método de titulação e seu progresso quali e quantitativo é plotada uma curva de titulação. Uma curva de titulação possui basicamente duas variáveis: o volume do titulante, como uma variável independente e o sinal da solução (por exemplo, pH para titulações ácidas/básica) como a variável dependente, que depende da composição das duas soluções. , 46 4.1 Métodos Titulométricos por Precipitação Na volumetria de precipitação ocorre a formação de um sal pouco solúvel, no término da titulação, em uma reação estequiométrica entre um titulante (solução com concentração e volume conhecidos) com um titulado (que conterá o analito a ser determinado, com concentração desconhecida). O término de qualquer titulação é identificado por alguma modificação física provocada pela própria solução (formação de um precipitado, por exemplo) ou pela adição de um reagente auxiliar, conhecido como indicador (que causará alteração de cor no titulado). O ponto em que isto ocorre é chamado de ponto de equivalência ou ponto de viragem. Por dados estequiométricos é possível chegar ao valor da concentração da solução onde há o analito a ser identificado ou quantificado. Com o auxílio da equação química balanceada da reação ocorrida e com base na proporção do número de mols dos reagentes, realizam-se os cálculos necessários. Para o caso especifico da volumetria por precipitação há alguns métodos utilizados para que a reação ocorra em um tempo curto e com formação de um composto insolúvel. Dentre estes, os mais importantes são os que empregam solução padrão de nitrato de prata (AgNO3). São chamados de métodos argentimétricos e são usados na determinação de haletos e de alguns íons metálicos. Existem três métodos diferentes para a determinação volumétrica de haletos com os íons prata: o método de Mohr (forma um composto solido colorido), o de Volhard (forma um complexo solúvel) e o de Fajans (onde há mudança de cor associada com a adsorção de um indicador sobre a superfície de um sólido). Para ilustrar este último ponto, os métodos de Mohr e Fajans, por exemplo, realizam a titulação direta do analito e diferem apenas no mecanismo de atuação dos indicadores, Tabela 4.1. , 47 Tabela 4.1 - Principais diferenças que ocorrem entre os métodos Mohr, Volhard e Fajans. Método Titulação Titulante Mecanismo de indicação pH Mohr Direta AgNO3 Precipitação 6,5 a 10,5 * Volhard Retorno KSCN complexaçãoapresentam ao serem adsorvidos sobre determinados precipitados, sofrendo uma mudança de cor. O indicador existe em solução na forma ionizada, geralmente como um ânion. Na titulação de cloretos com íons prata o precipitado de AgCl se forma em uma solução contendo um excesso de íons cloretos e, como consequência, conterá íons cloretos adsorvidos na primeira camada de adsorção, ficando assim com carga negativa (BACCAN, 1979). Um indicador de adsorção típico é a fluoresceína, utilizado para titulação, por exemplo, de íons cloretos com nitrato de prata. Na fase inicial da titulação de íon cloreto com nitrato de prata, o precipitado de AgCl se forma e, como consequência, conterá íons cloreto adsorvidos na primeira camada de adsorção, ficando assim com carga negativa (AgCl : Cl-). Estas partículas atrairão cátions que constituirão a segunda camada de adsorção, representada por AgCl : Cl- :: Na+. , 49 Além do ponto de equivalência, o primeiro excesso de Ag+ se adsorverá sobre o precipitado, formando a primeira camada de adsorção carregada positivamente. Deste modo o ânion do indicador será atraído e adsorvido, formando a contra-camada AgCl : Ag+ :: In-. Estas partículas carregadas atrairão cátions que constituirão a segunda camada de adsorção, representado por AgCl:Cl- :: Na+. A cor do indicador adsorvido sobre o precipitado é diferente daquela do indicador livre e é exatamente esta diferença que indicará o ponto final da titulação. Ocorrerá o aparecimento de uma coloração vermelha devido ao fluoresceínato de prata adsorvido na camada superficial da solução ao redor do sólido (BACCAN, 1979; SKOOG, 2014). 4.2 Métodos Titulométricos (Volumétricos) Por Neutralização A titulação por neutralização, comumente chamada de ácido-base, é um método analítico clássico de aspecto quantitativo baseado na reação entre os íons H+ (H3O+) e OH- presentes em compostos ácidos e básicos. É comum pensar que a reação entre quantidades equivalentes de um ácido e de uma base resultaria sempre em uma solução neutra. Entretanto, devido a hidrolise que acompanham as reações entre ácidos fortes e bases fracas ou ácidos fracos e bases fortes, nem sempre se tem uma solução completamente neutra. Uma hidrolise entre ácidos e bases fortes ocorre quando o cátion de um sal não interage com o ânion da água, e o ânion do sal não interage com o cátion da água. A hidrólise entre cátions e ânions de um sal e da água ocorre apenas quando o produto formado é um ácido fraco, uma base fraca ou ambos. Além disso, a detecção do ponto final na volumetria ácido-base pode se tornar difícil devido a efeitos tamponantes gerados no meio reagente, que podem prejudicar a ação dos indicadores. As titulações de neutralização são largamente utilizadas para se determinar a concentração de analitos constituídos de ácidos ou bases ou que podem ser convertidos nessas espécies por meio de tratamento adequado (SKOOG, 2014). Nesta titulação identifica-se o pH em quatro momentos durante o procedimento: , 50  No início antes de iniciar a titulação (a solução acida ou básica encontra-se no erlenmeyer);  Durante a titulação, mas antes de atingir o ponto de equivalência (em que o número de mols do titulante ainda é menor do que o número de mols do titulado);  No ponto de equivalência (quando o número de mols do titulante é igual ao número de mols do titulado);  Após o ponto de equivalência (há excesso de titulante, e esse excesso determinará o pH). 4.2.1 Ácido Forte Com Base Forte Ácidos fortes e bases fortes são espécies que se dissociam completamente para formar íons em solução, enquanto os ácidos e bases fracos ionizam apenas parcialmente sendo que a reação de ionização é reversível. Em soluções, o ácido forte é geralmente a única fonte de H+, como exemplo são HCl, HBr, HI, HNO3, HClO3, e H2SO4. Se a concentração em quantidade de matéria do ácido é menor do que 10-6 mol/L, a auto-ionização da água precisa ser considerada. O pH fornece a concentração no equilíbrio de H+. Usando Ka, a concentração de H+ para ácidos fracos e seu pH pode ser calculado. A maioria dos hidróxidos iônicos são bases fortes (por exemplo, NaOH, KOH, e Ca(OH)2) e devem ser solúveis. O pOH (e, consequentemente, o pH) de uma base forte é dado pela concentração em quantidade de matéria inicial da base. As bases fracas mais neutras contêm nitrogênio, caso das aminas que são compostos orgânicos. Na titulação ácido forte-base forte: o ponto de equivalência ocorre quando o pH = 7. No ponto de equilíbrio, o número de mols do H+ é igual a de OH-, então pode-se calcular concentrações por meio da auto ionização da água formada já que o sal na reação de neutralização não altera o pH. , 51 Como todo H+ e OH- é proveniente da água, no equilíbrio: [H30+] = [OH] [H30+] x [OH] = Kw [H30+] x [OH] = 10-14, portanto, [íon] 2 = 10-14 então: [H30+] = [OH] = 10-7 Como pH = log [H30+]  pH=7 Para calcular concentração usa-se a expressão: [ ]ácido X Vacido = [ ]base x Vbase, ou seja, número de mols do ácido é igual ao número de mols da base. No caso de Titulações ácido fraco-base fraca, o ponto estequiométrico é muito pouco claro e a identificação do ponto final torna-se difícil. Por esta razão, tais titulações não são estudadas e é comum usar ácidos ou bases fortes como titulantes. 4.2.2. Ácido Fraco Com Base Forte Como tem-se um ácido fraco a ionização não é completa. Na titulação de ácido fraco- base forte o ponto de equivalência ocorre quando o pH for maior que 7, já que predomina a concentração de hidroxilas. Suponha uma titulação usando um ácido fraco, como o ácido acético (CH3COOH) com uma base forte como hidróxido de sódio (NaOH). Ambas as soluções têm concentração 0,1 mol/L e foi utilizado 100mL de solução acida. A reação química produzirá o sal acetato de sódio (CH3COONa) e água. Para calcular o volume do titulante utilizado nesta reação usa-se a expressão já conhecida: [ ]ácido X Vacido = [ ]base x Vbase. Antes de iniciar a titulação tem-se que o volume de base é zero e a Ka= 1,80 x 10-5 ([H+] = [CH3COO-]) e, por meio dos cálculos de constante de acidez, identifica-se que o pH é 2,87. Durante a titulação ([H+] ¹ [CH3COO-]) os cálculos são baseados na Equação de Henderson-Hasselbalch, devido estar sendo formada uma solução tampão, e será verificado aumento do pH. , 52 Embora o pH mude repentinamente perto desse ponto, não o faz tão abruptamente quanto no caso das titulações ácido forte-base forte. No ponto de equivalência a quantidade de NaOH é exatamente a suficiente para consumir todo o ácido acético. A solução resultante contém apenas o ânion acetato e o cálculo determinará o pH de uma base fraca em meio aquoso. Neste ponto ela se hidrolisa e por isso e será usada a constante de hidrólise, Kh. O pH obtido será básico, ou seja, maior que 7. 4.2.3 Ácido Forte Com Base Fraca Na titulação ácido forte-base fraca, o ponto de equivalência ocorre quando o pH for menor que 7. Esta titulação é o inverso da que ocorre como ácido fraco com uma base forte. Considere a titulação de uma base fraca como a amônia (NH3) com uma ácido forte, HCl. Antes de adicionar o ácido, a solução contém apenas a base fraca em água e o pH se estabelece pelo Kb. A mudança lenta de pH durante o processo de titulação também nos indica que a solução age como um tampão. Parte do composto inicialmente presente no analito (uma base fraca) e o sal derivado dele constitui a solução tampão. Nesta região o pH é calculado pela equação de Henderson-Hasselbalch e, para esta situação, o pH será sempre menor que 7,0, pois a base é convertida em seu ácido conjugado e, após atingir o ponto de equivalência, o ácido forte em excesso é responsável pelo valor de pH. 4.3. Métodos Titulométricos (Volumétricos) Por Complexação A volumetria por complexação se baseia em reações químicasque produzirão complexos. Complexo ou íon complexo é um tipo de composto formado pela reação de um ligante químico com um íon metálico central em que este íon coordena os ligantes ao seu redor. As espécies ligantes devem ter pelo menos um par de elétrons desemparelhados disponível para formação de ligação. A equação genérica abaixo simboliza a formação de um complexo estável, onde M é o íon metálico (comporta-se como ácido de Lewis: receptores de pares de elétrons), L é o ligante (base de Lewis: doadores de pares de elétrons) e ML é o complexo. , 53 M(aq) + L(aq) à ML(aq) Como exemplo veja uma reação especifica de formação de complexo: Fonte: Elaborado pelo autor. Os ligantes que se ligam a íons podem ser monodentados ou bidentados. Os ligantes monodentados ou unidentados apresentam uma ligação por ligante. Exemplos são água, amônia, cianeto e íons haletos. Os ligantes multidentados ou quelantes apresentam duas ou mais ligações por ligante. Exemplos são etilenodiamino H2NCH2CH2NCH2, ATP (adenosina tripfosfato) e etilenodiaminotetracético (EDTA). O termo quelante vem do grego (“mordendo o íon”) e associa-se a pares de elétrons que formam ligações na formação do complexo. O EDTA é um ligante hexadentado e é o quelante mais usado em química analítica. Praticamente todos os elementos da tabela periódica podem ser analisados com EDTA, seja por titulação direta ou sequência de reações indiretas. O EDTA combina-se com íons metálicos na proporção de 1:1 não importando a carga do cátion, formando quelatos suficientemente estáveis para serem aplicados em titulações. O EDTA é um ácido fraco hexaprótico (H6Y+2) que, em soluções aquosas, se dissocia produzindo espécies aniônicas: Fonte: MATOS, 2012 Figura 4.2. Fórmula estrutural da molécula do EDTA. Cu 2+ + 4 NH3 [Cu(NH3)4] 2+ Ácido cátion central Base ligante Íon complexo , 54 Nas reações de complexação, as relações das espécies em equilíbrio são importantes. A curva de titulação na titulometria de complexação representa a variação da concentração do íon metálico livre durante a titulação com EDTA, por exemplo, e o ponto final é visualizado por meio de um indicador metalocrômico. Os indicadores mais utilizados para uma titulação direta são negro de eriocromo T ou Erio-T. O eriocromo-T forma quelatos estáveis de coloração vermelha, e na utilização do indicador erio-T há predomínio da cor azul. O estudo da formação de complexos apresenta aplicações importantes na química analítica porque permite testes específicos para identificação de cátions metálicos como cobre, níquel, ferro, cálcio e magnésio (estes dois últimos em análise de dureza de agua), dentre outras. 4.4 Métodos Titulométricos (Volumétricos) Por Óxido-Redução A volumetria por óxido-redução, ou oxi-redução, baseia-se em reações químicas que ocorrem por transferência de elétrons, portanto, a titulação baseia-se na reação de oxidação e redução entre analito e titulante. Em uma reação de oxidação-redução, os elétrons são transferidos de um reagente para outro. Um exemplo é a oxidação de íons ferro (II) por íons cério (IV). A reação é descrita pela equação Ce4+ + Fe2+  Ce3+ + Fe3+ Nessa reação, um elétron é transferido do Fe2+ para o Ce4+ para formar íons Ce3+ e Fe3+. Uma substância que tem uma grande afinidade por elétrons, como o Ce4+, é chamada agente oxidante ou oxidante. Um agente redutor, ou redutor, é uma espécie, tal como o Fe2+, que doa facilmente um elétron para outra espécie. Para descrever o comportamento representado pela Equação, diz que o Fe2+ é oxidado pelo Ce4+; de forma similar, Ce4+ é reduzido por Fe2+ (SKOOG, 2014). Desta forma, um agente oxidante pode ser titulado com um agente redutor apropriado e vice-versa. Na titulação, a reação deve ser quantitativa e, para isso, o padrão só deve reagir com o analito de interesse e vice-versa, deve ser rápida, já que o calor ou a presença de catalisador pode alterar a reação, e o analito deve estar em um único estado de oxidação. Para atender a esse último requisito, muitas vezes, é necessário o uso de reagentes oxidantes ou reagentes redutores auxiliares na etapa de preparo da amostra (SCHRÖDER, 2017). , 55 A maioria dos pontos finais em titulações de oxido-redução se baseia em variações bruscas da variação de potencial que ocorrem próximo ou no ponto de equivalência. As curvas são plotadas por potencial de eletrodo (E) x volume do titulante (V). As titulações por óxido-redução empregam agentes oxidantes como KMnO4, K2Cr2O7, KI, KBrO3 e I2. Enquanto os redutores são Na2S2O3, FeSO4, As2O3 e SnCl2. Dentre esses, os métodos volumétricos mais comuns são os que envolvem como reagentes titulantes as substancias permanganato de potássio (permanganometria) e iodo (iodometria). A permanganometria, faz uso de um poderoso agente oxidante permanganato de potássio, KMnO4. O próprio reagente da solução padrão, titulante, atua como indicador. As soluções de KMnO4 possuem coloração violeta intensa e, na maioria das titulações, o ponto final pode ser assimilado pela coloração rósea. O KMnO4 pode atuar em meio ácido, básico e neutro. A iodimetria emprega o iodo como agente oxidante em titulações diretas. O I2 é um oxidante moderado usado para oxidar substâncias fortemente redutoras. O método volumétrico iodimetria consiste em titular uma espécie fortemente redutora com uma solução padrão de iodo em iodeto de potássio ou tiossulfato de sódio. Segundo ANDRADE (2001), o iodo presente em uma solução aquosa de iodeto tem uma cor amarelo-castanha intensa, que é visível mesmo com grande diluição e esta volumetria é usada para determinação de halogênios, determinação de ozônio, determinação de cério (Ce4+), determinação de ferro (Fe3+), dentre outras. 4.5 Equilíbrio De oxi-redução Para compreender um pouco melhor a volumetria por oxi-redução, vamos aprofundar um pouco mais desse conceito. Dentre os mais diversos acontecimentos da sua vida, você sabia que a bateria do seu celular, o seu processo de respiração, a degradação dos alimentos, a combustão da gasolina do seu carro e o seu portão enferrujado têm algo em comum? Todos esses processos são compostos por reações de oxi-redução, que possuem um papel fundamental em nosso dia a dia. Mas, além disso, as reações de oxi-redução também podem ser empregadas no contexto das análises químicas, nas volumetrias de oxi-redução utilizadas na determinação de diversas substâncias de interesse industrial, ambiental e cotidiano (LEME, 2018). , 56 O estudo da extensão de reações de oxi-redução ou simplesmente equilíbrio “redox”, envolve o fenômeno de transferência de cargas. Como as reações de oxidação e redução sempre ocorrem aos pares (um oxida enquanto outro reduz e vice-versa), não se pode determinar o potencial (energia) envolvido em apenas uma das reações. Uma reação de óxido-redução pode ser conduzida de forma que a tendência de reação possa ser quantificada. Isso pode ser realizado em uma célula eletroquímica em que cada semirreação (oxidação e redução) ocorre de forma separada. O eletrodo no qual ocorre a redução e chamado de catodo e o eletrodo em que ocorre a oxidação e chamado de anodo. A diferença de potencial entre essas duas reações, chamada de ddp ou E, pode ser determinada em qualquer instante da reação. Pode-se escrever o potencial de uma célula como Ecélula = Eredução - Eoxidação. Assim, uma reação de oxi-redução envolve a reação de um redutor (Bred) com um oxidante (Aox). Importante ressaltar que redutor é o reagente que perde elétrons e então é oxidado. O oxidante ganha elétrons e então é reduzido. Redução: Aox + ne-  Ared Oxidação: Bred  Box + ne- Reação de oxi-redução: Aox + Bred  Ared + Box A constante de equilíbrio desta reação pode ser descrita como: 𝑲𝒆𝒒 = [𝑨𝒓𝒆𝒅] + [𝑩𝒐𝒙 ] [𝑨𝒐𝒙] + [𝑩𝒓𝒆𝒅] A diferença de potencial entre os eletrodos de uma célula mede a tendência da célula em realizar uma reação química, isto é, quanto mais positivo for o seu valor maior será a tendência da reação a se deslocar para a direita, em direção aos produtos. Nernst foi o primeiro pesquisador a estabelecer uma teoria para explicar o aparecimento da diferença de potencial nos eletrodos. A Equação de Nernst, é usada para calcular o potencial de eletrodo para atividades diferentes (ou concentrações diferentes) das condições padrões em que E = potencial padrão de um eletrodo, n = número de elétrons, Q = relação entre concentração de produtos por reagentes, R= 8,315 J.K- 1.mol-1, T=298Kelvin e F= 96485 C.mol-1. , 57 𝑬 = 𝑬𝟎 − 𝑹 . 𝑻 𝒏 . 𝑭 𝒍𝒏 [𝑨𝒓𝒆𝒅] + [𝑩𝒐𝒙 ] [𝑨𝒐𝒙] + [𝑩𝒓𝒆𝒅 ] Em uma reação como, por exemplo, Sn2+ + 2 Fe3+  2 Fe2+ + Sn4+ após cálculos de constantes de equilíbrio, verifica-se um valor extremamente elevado desta constante indicando que a reação ocorre quantitativamente como escrita, isto é, o Sn2+ reduz o Fe2+ para Fe3+. Todos os tipos de equilíbrio químico e qualquer variação no pH ou no equilíbrio de solubilidade (precipitação) ou na formação de complexos (complexação) afetam o potencial do eletrodo. As constantes de equilíbrio tais como Ka, Kb, Ks e Keq são disponíveis para o cálculo desse potencial de eletrodo. Saiba Mais Além dos conceitos abordados, você também poderá encontrar as teorias ácido-base e várias comparações entre elas no artigo da revista Química Nova na Escola, n. 9, maio 1999. Disponível em: Sobre Titulações Ácido Base você pode assistir o vídeo disponível em: Para Titulação Oxi-Redução você poder ver o vídeo: Sobre Como Usar Como Usar A Equação De Nernst, veja o vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=14A4BO79KpY https://www.youtube.com/watch?v=RyenoODA08I , 58 Conclusão Neste bloco foi discutido o método clássico amplamente utilizado em química analítica quantitativa que é a titulometria. A titulação é especialmente útil quando se tem que determinar a concentração de analitos em soluções por meio do volume de reagente gasto. A cada tipo de reação química corresponde um tipo de análise volumétrica com possibilidade de uso de indicadores que no ponto final da titulação algumas análises mostrarão variação de cor nas reações químicas ocorridas. Assim, as técnicas denominadas de neutralização baseiam-se em reações entre ácidos e bases; as de precipitação na formação de compostos insolúveis, as de oxidação-redução fundamentam-se na evolução de reações de mesmo nome; as de complexometria têm como base as reações de formação de compostos denominados de coordenação ou complexos. No último item foram abordadas as semirreações de processos redox para complementar a titulação de oxido-redução. O equilíbrio fundamenta a habilidade que uma substância tem de reagir como “doadora” ou “aceitadora” de elétrons. A equação de Nernst é usada para calcular o potencial de eletrodo para atividades diferentes das condições padrões das espécies redox. Todos os tipos de equilíbrio afetam o potencial do eletrodo. Os efeitos no potencial podem ser da solubilidade, quando as constantes de produto de solubilidade são usadas, do equilíbrio ácido-base, envolvendo, por exemplo, o H+, ou mesmo do equilíbrio de complexação, quando são usadas as constantes de estabilidade dos complexos formados. REFERÊNCIAS Akira, I. Titration Apparatus. Wikimedia commons, 2007. Disponível em: . Acesso em: 15 out. 2020. ANDRADE, J. C. Determinações Iodométricas. Chemkeys, S.D. Disponível em: Acesso em: 30 jul. 2020. http://chemkeys.com/br/2001/02/18/determinacoes-iodometricas/ , 59 BACCAN, N.; et al. Química Analítica Quantitativa Elementar. São Paulo: Edgard Blucher, 1979. CHAGAS, A. P. Teorias ácido-base do século XX. Química nova escola, 1999. Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2020. KHAN ACADEMY BRASIL. Como usar a equação Nernst: Eletroquímico e Reações Redox. Youtube, 2016. Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2020. LEME, A. B. P. Química Analítica. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. MATOS, M. A. C. Titulometria de Complexação. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2012. Disponível em . Acesso em: 30 de jul. 2020. SANTILLANA PORTUGAL. Atividade laboratorial: Titulação ácido-base. Youtube, 2016. Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2020. SCHRÖDER, C. H. K. Análise Instrumental Aplicada a Farmácia. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.D., 2017. SKOOG, D. A. Fundamentos de Química Analítica. São Paulo: Cengage Learning, 9. Ed. 2014. UNIVERSIDADE DA QUÍMICA. Tudo sobre titulação #6: Titulação de Oxi-Redução. Youtube, 2017. Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2020. VIEIRA, B. H. S.; Roberta B. P.; ROCHA, J. G.; et. al. Substituição do nitrobenzeno pelo óleo de soja como uma proposta para o ensino do método de Volhard em análise quantitativa. 2017. Disponível em: . Acesso em 21 de julho 2020. https://www.youtube.com/watch?v=EaTH-B2fYp4 https://www.youtube.com/watch?v=EaTH-B2fYp4 https://www.ufjf.br/nupis/files/2011/04/aula-7-Volumetria-de-Complexa%C3%A7%C3%A3o-2012.2.pdf https://www.ufjf.br/nupis/files/2011/04/aula-7-Volumetria-de-Complexa%C3%A7%C3%A3o-2012.2.pdf https://www.youtube.com/watch?v=RyenoODA08I http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=6639%3e. , 60 5 FUNDAMENTOS DE ANÁLISE INSTRUMENTAL Os métodos instrumentais apresentam como característica principal a obtenção das informações por meio de instrumentos, diferentes aos utilizados nas análises clássicas. As técnicas instrumentais são usadas em várias áreas como na indústria, na medicina e em todas as outras ciências. 5.1 Métodos Instrumentais Eletroquímicos Potenciometria A potenciometria ou método de potenciométrico de análise química vem sendo usado há décadas para detectar o ponto final de titulações ou mais recentemente para identificação direta de um determinado constituinte em uma amostra por meio da medida de um potencial de um eletrodo de membrana (ou ion-seletivo), o qual é sensível ao íon em análise. Muitas empresas migram da técnica de titulação colorimétrica para a potenciométrica (ROSA, 2013). A célula galvânica é composta de 2 eletrodos e o monitoramento do potencial é feito por estes sensores. Um eletrodo consiste em uma fina membrana de vidro, sensível ao pH, fixada na forma de um bulbo na parte inferior de um tubo de vidro. Na parte interna, encontra-se o eletrodo indicador constituído por uma solução de HCl 0,1 mol.L-1 saturado com AgCl e um fio de prata. Enquanto que, na parte externa, encontra-se o eletrodo de referência constituído por uma solução saturada de AgCl e cloreto de potássio (KCl) com concentração constante e um fio de prata. Para calibração do eletrodo para medida de pH usa-se soluções tampão com valores de pH conhecidos, normalmente 4, 7 e 10. A Figura 5.1 ilustra uma análise potenciométrica com o eletrodo para medição de pH. , 61 Fonte: adaptado de SOUSA, 2018. Figura 5.1. Sistema padrão utilizado no método potenciométrico: (a) agitador magnético, (b) pHmetro, (c) eletrodo de vidro combinado de pH,(d) bureta e (e) béquer. Por vários anos, a potenciometria tem sido utilizada para a determinação do ponto final das titulações e consiste na medida do potencial entre dois eletrodos em função do volume de titulante adicionado. A vantagem, por mais demorado que seja o procedimento em alguns casos, é que essa técnica é mais exata do que empregando os indicadores visuais comumente utilizados, principalmente naquelas em que o ponto de viragem ocorre de forma muito rápida, além de possibilitar a análise de amostras coloridas. O ponto final é identificado quando ocorre uma variação brusca de potencial ou pH (BACCAN, 1979; SOUSA, 2018). A curva característica da titulação potenciométrica (Figura 5.2) consiste em lançar na ordenada (eixo y) os valores de potencial ou pH e na abscissa (eixo x) os valores do volume de titulante adicionado. Uma forma de minimizar o erro durante uma titulação potenciométrica é a adição do titulante em pequenos volumes, obtendo-se, assim, uma maior quantidade de pontos na curva. (c) (d) (e) , 62 Fonte: PEREIRA, 2011. Figura 5.2. Curva característica de titulação potenciométrica. A potenciometria é muito utilizada em análises de rotina, apresenta alta detectabilidade, facilidade de operação, menor consumo de titulante e de geração de resíduos. 5.2 Métodos Instrumentais Eletroquímicos- Coulometria E Eletrogravimetria A eletrogravimetria e a coulometria são métodos eletrolíticos quantitativos, ou seja, dependem de uma fonte externa de energia. Ocorre uma eletrólise por tempo suficiente para assegurar a oxidação ou redução completa do analito a um produto de composição conhecida (SCHRÖDER, 2017). O produto solido obtido de uma reação eletroquímica pode ser quantificado pela medição de massa. Os métodos eletrolíticos oferecem uma forma relativamente seletiva de separar espécies iônicas. Sua viabilidade e condições teóricas para alcançar uma separação podem ser obtidas a partir dos potenciais padrão de eletrodos das espécies de interesse. Assim, é possível encontrar as diferenças de potenciais padrão de eletrodos necessárias para determinar um íon sem a interferência de outro. A eletrólise completa, seja por eletrogravimetria ou coulometria, é amplamente utilizada para produzir coberturas metálicas, como o recobrimento de talheres com a prata, ou de joias com algum metal precioso. , 63 Na eletrogravimetria, o objetivo consiste em se determinar a quantidade de analito presente por meio da sua conversão eletrolítica a um produto que é pesado na forma de um depósito sobre um dos eletrodos. Desta forma, pesando-se novamente o eletrodo após a deposição e subtraindo-se a sua massa inicial obtém-se a massa de metal depositado (SKOOG, 2014). Não é necessária filtração e, desde que as condições experimentais sejam cuidadosamente controladas, evita-se frequentemente a co- deposição de dois metais. Embora, este procedimento tenha sido superado pelos métodos potenciométricos ainda é um método que tem muitas vantagens por utilizar equipamentos simples e de baixo custo e requerem pouca atenção do operador (VOGEL, 1992). Nesses procedimentos, o potencial aplicado à célula é mantido em um nível mais ou menos constante durante a eletrólise. A eletrodeposição é governada pela Lei de Ohm e pelas duas Leis de Faraday. Essas leis afirmam que a quantidade de substancias liberadas ou dissolvidas nos eletrodos de uma célula eletrolítica são diretamente proporcionais a quantidade de eletricidade que passa pela solução e que as quantidades de substancias liberadas ou dissolvidas por uma mesma quantidade de eletricidade são proporcionais as respectivas massas atômicas ou molares relativas divididas pelo número de elétrons envolvidos no processo eletródico (VOGEL, 1992), um resistor variável, um amperímetro, um voltímetro e um par de eletrodos de platina. Como regra, obtém-se depósitos de metais mais satisfatórios quando o metal for depositado de uma solução em que está presente como íon complexo e não como íon simples. Por exemplo, a prata é obtida de forma mais aderente, de uma solução que contenha o íon complexo [Ag(CN)2]-1 do que de uma solução de AgNO3. Na coulometria, o objetivo é quantificar o analito pela medida da quantidade de carga elétrica necessária para convertê-lo completamente a um dado produto (SCHRÖDER, 2017). Na análise coulométrica aplica-se a 1ª Lei de Faraday que enuncia que o avanço de uma reação num eletrodo é diretamente proporcional a quantidade de carga elétrica que passa pelo eletrodo, calculada por: , 64 𝒎 = 𝑸 𝒙 𝑴𝑴 𝒏 𝒙 𝑭 𝒔𝒂𝒃𝒆𝒏𝒅𝒐 − 𝒔𝒆 𝒒𝒖𝒆 𝑸 = 𝒊 𝒙 𝒕 i = corrente (A); t =tempo (s); F= 96487 (Coulombs); MM = massa molar da substância (g/mol); n = nº de elétrons. A titulação coulométrica apresenta similaridade com a titulação volumétrica. A fonte de corrente constante de grandeza conhecida tem a mesma função da solução padrão em um método volumétrico. O cronômetro digital e a chave correspondem à bureta e à sua torneira, respectivamente. A eletricidade passa através da célula por intervalos de tempo relativamente longos a partir do início de uma titulação coulométrica, mas os intervalos de tempo vão se tornando cada vez menores à medida que a equivalência química se aproxima. Note que essas etapas são análogas à operação de uma bureta em uma titulação convencional. As titulações coulométricas oferecem diversas vantagens significativas quando comparadas com os procedimentos volumétricos. A principal, dentre outras, é a eliminação de problemas associados com a preparação, padronização e armazenamento das soluções padrão. Essa vantagem é particularmente significativa com reagentes como cloro, bromo e íons titânio (III), que são bastante instáveis em soluções aquosas e que limitam seriamente sua utilização como reagentes volumétricos. Os métodos coulométricos também são vantajosos quando pequenas quantidades de amostra precisam ser tituladas porque diminutas quantidades de reagentes são geradas de maneira fácil e exata pela escolha apropriada da corrente. As medidas de corrente versus tempo requeridas nas titulações coulométricas são inerentemente tão ou mais exatas que as medidas de volume/molaridade de um método volumétrico convencional, particularmente quando pequenas quantidades de reagentes estão envolvidas. Quando a exatidão de uma titulação é limitada pela sensibilidade do ponto final, os dois métodos titulométricos apresentam exatidões comparáveis (SKOOG, 2014). , 65 5.3 Métodos Instrumentais De Separação – Cromatografia Liquida A cromatografia segue princípios de extração, é uma separação físico-química baseada na migração de componentes de uma mistura entre duas fases imiscíveis. A distribuição de soluto entre uma fase móvel e estacionária é que permite a separação. A fase estacionária é a fase fixa onde a substância que está sendo separada ou identificada fixa-se na superfície de outro material e é o revestimento interno de uma coluna cromatográfica. Em cromatografia a fase móvel (que se move através de uma coluna) pode ser um liquido ou um gás. As cromatografias chamadas de clássicas incluem a cromatografia em papel, a cromatografia em camada delgada e a cromatografia em coluna. A cromatografia em coluna é o mais antigo procedimento cromatográfico, fundamenta-se na polaridade das moléculas e muito utilizada para isolar princípios ativos de produtos naturais. O fluido que entra na coluna é chamado de eluente, o que emerge ao final da coluna é chamado de eluato. Esse processo de passagem de um liquido ou de um gás pelo interior da coluna cromatográfica é chamado de eluição (ROSA, 2013). A cromatografia em papel, por exemplo, onde a fase estacionaria pode ser um papel (celulose) e a fase móvel, álcool etílico ou água, é uma técnica simples, com boa capacidade deresolução e que permite separar e identificar compostos polares, ácidos orgânicos e íons metálicos. Na cromatografia em camada delgada a separação cromatográfica é regida pelo processo da adsorção e é de fácil execução, rapidez e baixo custo, apesar de ser difícil de reproduzir. Já a cromatografia liquida consiste em uma coluna de vidro, plástico ou metal com diâmetros variados que são preenchidos com adsorventes. Ela emprega pequenas colunas recheadas de materiais preparados e uma fase móvel (solvente) que é eluida sobre altas pressões. A cromatografia liquida de alta eficiência (CLAE) é uma técnica muito utilizada para separar e determinar espécies em uma grande quantidade de amostras com uma alta resolução, eficiência e sensibilidade. , 66 Entretanto, o equipamento e manutenção é de alto custo e necessita de analista com experiência na técnica. Dentre suas aplicações encontram-se a identificação de proteínas, aminoácidos, aditivos e corantes em alimentos, utilização na química forense, toxicologia, farmacologia, entre outras (ALMEIDA, 2013). A Figura 5.3 traz uma ilustração de um equipamento para a realização de uma cromatografia líquida de alto desempenho (HPLC) e é denominado de cromatógrafo líquido. Fonte: GRUBERT, 2018. Figura 5.3. Esquema de um sistema de cromatografia líquida por alto desempenho (HPLC) Para aquisição de dados em uma cromatografia utiliza-se sistemas de computação ou automação. Esses sistemas têm o intuito de aumentar a capacidade de utilização dos aparelhos, por meio de injeção de amostra, inserção de dados das amostras e métodos, aquisição e tratamento de dados. A aquisição e tratamento de dados irá definir a precisão de um pico gerado no cromatograma, além de permitir a determinação de tempos e intensidades (áreas e alturas dos picos), lembrando que, normalmente, os gráficos gerados apresentam uma relação de tempo e sinal do detector para os analitos como pode ser verificado na Figura 5.4. , 67 Fonte: GRUBERT, 2018. Figura 5.4. Espectro obtido em uma análise de Cromatografia 5.4 Métodos Instrumentais De Separação – Cromatografia Gasosa Na cromatografia gasosa (CG), anteriormente chamada de gás-líquido, a fase móvel é um gás. Na cromatografia gasosa, os componentes de uma amostra vaporizada são separados em consequência de sua partição entre uma fase móvel gasosa e uma fase estacionária líquida ou sólida contida dentro da coluna. Então, os analitos devem estar na fase gasosa para serem arrastados pela fase móvel. Por isso, a CG somente pode ser aplicada para compostos que sejam voláteis (constituintes com ponto de ebulição de até 300oC e massa molar menor de 500g/mol) e termicamente estáveis nas condições de trabalho (para que não se degradem com a alta temperatura) (ROSA, 2013). O grande diferencial em relação à CLAE é que, neste caso, a fase móvel é um gás inerte e a amostra deve estar na forma de vapor, para então ser carreada pelo gás. Os gases utilizados na CG são os N2, H2, ar sintético e He, todos com pureza acima de 99,995%. A CG é uma técnica relativamente simples, mas exige critérios na escolha das configurações e condições instrumentais, tais como injetor, coluna e detector, vazão de gás, temperatura, dentre outros. O esquema de um cromatógrafo a gás está ilustrado na Figura 5.5. , 68 A CG é uma técnica com alto poder de resolução, tornando possível a análise de dezenas de substâncias em pouco tempo de análise. Além disso, tem baixos limites de detecção (10-15 g dependendo do detector), utiliza volumes pequenos de amostra e é excelente como técnica quantitativa. Comparativamente à técnica CLAE, pode-se dizer que uma complementa a outra em função das diferentes aplicações. Seguramente, a principal desvantagem da técnica é a limitação para compostos voláteis (ou gases) e termicamente estáveis (SCHRÖDER, 2017). Fonte: GRUBERT, 2018. Figura 5.5. Esquema de um cromatógrafo gasoso Existem inúmeros detectores que podem ser utilizados em CG, variando de universal (condutividade térmica) até seletivo para algumas classes de compostos químicos. A CG também pode ser acoplada a espectrometria de massas, o que permite a identificação qualitativa de eluatos na cromatografia. O exemplo de um sinal analítico de um cromatograma é mostrado na Figura 5.6, em que diferentes espécies saem da coluna em tempos diferentes. , 69 Fonte: SOUSA, 2013. Figura 5.6. Cromatógrafo da análise de compostos orgânicos, realizada por cromatografia gasosa. 5.5 Métodos Instrumentais De Separação – Eletroforese As separações por eletroforese são baseadas nas diferenças de velocidade segundo as quais as espécies com carga migram em um campo elétrico. Assim, a eletroforese é o movimento de partículas carregadas eletricamente em um meio líquido elétrico, sob a influência de um campo elétrico. Os principais tipos de eletroforese são: eletroforese em gel e eletroforese capilar. A eletroforese em gel se baseia somente na migração diferencial devido à relação massa/carga dos compostos, mas é uma técnica lenta e a necessidade de competência e habilidade do analista para realizá-la. Na eletroforese capilar, a solução contendo eletrólitos e moléculas neutras é movida através de um capilar oco (geralmente de sílica fundida) localizado entre os dois eletrodos e é impulsionado pelo fluxo eletrosmótico (Figura 5.7). Esse fluxo é causado pela carga que se forma na parede do capilar devido à interação do líquido do interior do capilar com os grupos silanóis ou espécies iônicas adsorvidas no capilar (SCHRÖDER, 2017). , 70 Desde o início da eletroforese capilar, na década de 1980, o avanço desta técnica analítica de separação é, no mínimo, considerável. Parte deste crescimento pode ser atribuída às elevadas eficiências alcançadas, curtos tempos de análise e baixa geração de resíduos para a análise de amostras de importância ambiental, industrial, clínica, biomédica, dentre outras. Outra grande vantagem é a simplicidade da instrumentação, o que possibilita, em um mesmo equipamento, a realização dos mais variados modos de análise empregando a aplicação de tensão. Com isso, um grande número de "subtécnicas" de eletromigração em capilares surgiu com o objetivo de analisar variados analitos em matrizes complexas (VAZ, 2015). A eletroforese em escala macro é aplicada a uma variedade de problemas envolvendo separações analíticas difíceis: ânions e cátions inorgânicos, aminoácidos, catecolaminas, drogas, vitaminas, carboidratos, peptídeos, proteínas, ácidos nucléicos, nucleotídeos, polinucleotídeos e inúmeras outras espécies. Por muitos anos, a eletroforese tem sido o método mais empregado para a separação de proteínas (enzimas, hormônios, anticorpos) e ácidos nucléicos (DNA, RNA), para os quais oferece uma resolução que não encontra paralelo (SKOOG, 2014). Fonte: SCHRÖDER, 2017. Figura 5.7. Esquema de uma Eletroforese Capilar e representação do fluxo eletrosmótico dentro do capilar , 71 A Figura 5.8 mostra a velocidade e resolução de separações eletroforéticas de ânions pequenos. Nesse caso, 30 ânions foram separados de forma completa em apenas três minutos. Dentre as vantagens desta técnica estão menor custo dos equipamentos, necessidade de menor quantidade de amostra, velocidade muito maior e melhor resolução. Fonte: SKOOG, 2014. Figura 5.8. Eletroferograma mostrando a separação de 30 ânions. Saiba Mais Para conhecer os Conceitos Básicos em Cromatografia Liquida (HPLC) veja o vídeo disponível em: Assista essa aula animada 3D de Cromatografia Gasosa que está disponível em: Veja o vídeo “Eletroforese: a técnica” que está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tf0Rkcq-l-0https://www.youtube.com/watch?v=Mgu8cZw04bk https://www.youtube.com/watch?v=dHclbruN0sk , 72 Conclusão Os métodos instrumentais são aqueles baseados, geralmente, nas propriedades físicas do composto de interesse. Podemos classificá-los em: espectrométricos, eletroanalíticos, termoanalíticos e cromatográficos. A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) é o tipo versátil e mais amplamente empregado de cromatografia por eluição. Essa técnica é utilizada pelos analistas para separar e determinar espécies em uma grande variedade de materiais orgânicos, inorgânicos e biológicos. Na cromatografia líquida, a fase móvel é um solvente líquido, o qual contém a amostra na forma de uma mistura de solutos. Dos diferentes processos cromatográficos, a cromatografia gasosa é uma das técnicas analíticas mais utilizadas. Além de possuir um alto poder de resolução, é muito atrativa devido à possibilidade de detecção em escala de nano e picogramas. Quando ambas as cromatografias podem ser aplicadas, a cromatografia gás-líquido oferece a vantagem da velocidade e simplicidade do equipamento. Por outro lado, a cromatografia líquida de alta eficiência pode ser aplicada a substâncias não-voláteis (incluindo os íons inorgânicos) e a materiais termicamente instáveis, enquanto a cromatografia gás-líquido não pode. Geralmente os dois métodos são complementares. Usada para determinar a composição de uma mistura de produtos químicos (amostra), a cromatografia gasosa utiliza uma variedade de gases para o seu funcionamento, de acordo com o analisador e o tipo de detector específico. O uso de gás especial e equipamentos ideais na realização da cromatografia gasosa melhoram sensivelmente a precisão dos resultados analíticos. A eletroforese capilar (EC) também é uma ferramenta importante para a solução de ampla variedade de problemas analíticos envolvendo separações. Uma vez que, em muitos tipos de eletroforese, os analitos separados se movem passando por um ponto comum, os detectores são similares no desenho e na função dos utilizados para a cromatografia liquida de alta eficiência. , 73 REFERÊNCIAS ALMEIDA, A.; et al. Métodos Cromatográficos: Química Farmacêutica Experimental II. Universidade Federal do Pará. 2013. Disponível em: . Acesso em 29 ago. 2020. BACCAN, N.; et al. Química Analítica Quantitativa Elementar. São Paulo: Edgard Blucher, 1979. BIOTIPS. Eletrofase – parte 2 – Técnica e Equipamentos. Youtube, 2019. Disponível em: . Acesso em: 30 ago. 2020. CENTRO DE SOLUÇÕES ANALÍTICAS. Conceitos Básicos em Cromatografia Liquida – HPLC. Youtube, 2019. 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A energia da luz é proporcional ao seu comprimento de onda () e à frequência () dessas ondas; onde quanto maior for seu comprimento de onda, menor será a energia e frequência. As intensidades de luz, em função dos diferentes comprimentos de onda ou frequências dão origem ao que chamamos de espectro da luz ou espectro eletromagnético. Ao incidirmos luz sobre uma amostra, parte dessa energia é absorvida e a outra é transmitida. É possível medir essa absorção de luz por determinados analitos presentes na amostra e relacioná-las a concentração destes, por meio da chamada Lei de Beer-Lambert: A = Ɛ.b.c Onde: A = absorbância (adimensional); Ɛ = absortividade molar (L mol-1 cm-1); b = caminho ótico (cm); c = concentração do analito na amostra (mol L-1) , 76 A fonte de luz dependerá da radiação que se deseja incidir e da técnica instrumental: se for luz visível usa-se lâmpada halógena de quartzo ou de tungstênio; para ultravioleta, lâmpada de arco deutério; para infravermelha a de laser; e para absorção, lâmpada de catodo oco. A luz atinge o monocromador (prisma, filtro ou rede de dispersão), que tem a propriedade de selecionar apenas um valor de comprimento de onda e a radiação torna-se monocromática. Normalmente escolhe o comprimento de onda no qual há maior sensibilidade, onde há o máximo de absorbância para se ler a amostra. A radiação monocromática então incide sobre a amostra e é absorvida por determinados constituintes desta (absorbância). Ela passa através da amostra, percorrendo o caminho ótico, b. A radiação não absorvida é transmitida (transmitância) e medida pelo detector, que tem a capacidade de converter a energia recebida em sinal elétrico. Esse sinal é transformado em um valor de absorbância, que pode ser lido na tela do equipamento. É importante destacar que a Lei de Beer-Lambert se aplica a soluções diluídas. A relação linear entre a concentração e a absorbância é afetada quando a amostra está muito concentrada, pois as moléculas de soluto estão muito próximas e sua absortividade molar (capacidade de absorver a radiação)é afetada por essa interação. Para medir a quantidade de fótons (a intensidade da luz) absorvidos de um feixe de luz após ele ter passado através de solução de amostra se usa um espectrofotômetro. Alguns componentes são comuns a todos os espectrofotômetros. Como mencionado, a luz, habitualmente fornecida por uma lâmpada, é fracionada pelo prisma ou rede de difração (monocromador) nos comprimentos de onda que a compõem (luzes monocromáticas). O comprimento de onda selecionado é dirigido para a solução contida em um recipiente transparente (cubeta). Parte da luz é absorvida e parte é transmitida. A redução da intensidade luminosa é medida pelo detector (célula fotelétrica) porque o sinal elétrico de saída do detector depende da intensidade da luz que incidiu sobre ele. O sinal elétrico amplificado e visualizado no galvanômetro em números é lido como uma absorbância e é proporcional à concentração da substância absorvente existente na cubeta. , 77 6.2 Espectroscopia de Absorção e Emissão Atômica ou Molecular As técnicas de espectrometria atômica são fundamentadas na interação entre a radiação e os átomos no estado livre. Por isso, o elemento a ser determinado deve ser, primeiramente, atomizado, ou seja, deve estar em um estado neutro e isolado. A partir disso, fenômenos podem ocorrer como o de absorção e de emissão atômica. Na espectroscopia de emissão atômica, os átomos do analito são excitados por uma energia externa na forma de calor ou energia elétrica e na de absorção atômica, uma fonte externa de radiação incide sobre o vapor do analito. Se a fonte de radiação externa for de frequência (comprimento de onda) apropriada, poderá ser absorvida pelos átomos do analito e promovê-los a estados excitados (SKOOG, 2014). O conjunto de radiações emitidas por uma espécie constitui o seu espectro de emissão. Para isso, fontes energéticas devem ser capazes de volatilizar a amostra e converter o analito de interesse em átomos ou íons monoatômicos isolados e, em seguida, suprir energia suficiente para promover a excitação eletrônica das espécies atômicas ou iônicas. A espectrofotometria de absorção atômica de chama é o método de análise mais utilizado para determinação de metais em amostras. O princípio é a absorção da radiação pelo analito, na forma atômica gasosa, obtida pela introdução da amostra, na forma de aerossol (nebulização), em uma chama de ar/acetileno (temperatura de 2200oC) ou acetileno-óxido nitroso (temperaturas de 3.000C). A absorção atômica é uma medida da população de átomos do elemento presente na chama e, portanto, da concentração do mesmo na amostra, segundo a Lei de Lambert-Beer. As moléculas sofrem três tipos diferentes de transições quantizadas quando excitadas pela radiação ultravioleta, visível e infravermelha. Para a radiação ultravioleta e visível, a excitação envolve a promoção de elétrons presentes em um orbital molecular ou atômico de baixa energia para um orbital de maior energia (SKOOG, 2014). A absorção molecular nas regiões do ultravioleta e visível consiste em bandas de absorção constituídas por linhas próximas entre si. , 78 Uma molécula real apresenta muitos níveis energéticos; assim, uma banda de absorção típica consiste em um número muito grande de linhas. Em uma solução, a espécie absorvente é circundada pelo solvente e a natureza da banda da absorção molecular se torna indistinta, pois as colisões tendem a desdobrar as energias dos estados quânticos, originando picos de absorção suavizados e contínuos. Na absorção atômica, o espectro é em forma de linhas finas devido aos níveis atômicos sem subníveis energéticos. Na absorção molecular, o espectro de absorção é caracterizado por bandas largas devido aos vários níveis e subníveis energéticos dos orbitais moleculares. As curvas de absorção caracterizam a presença de compostos identificando substancias, grupamentos químicos por meio de comprimentos de onda por absorbância. 6.3 Espectroscopia de Massa A espectrometria de massa é uma das mais importantes ferramentas analíticas disponíveis aos cientistas, já que é capaz de fornecer informação sobre a composição elementar de amostras; a estrutura molecular; a composição qualitativa e quantitativa de misturas complexas; a estrutura e a composição de superfícies sólidas; e as proporções isotópicas de átomos em amostras. É uma técnica para medir a massa e, portanto, a massa molar de uma molécula. É possível obter informações estruturais a partir da ionização e fragmentação das moléculas que são, depois, separadas em fase gasosa para obter um espectro segundo a razão massa/carga dos fragmentos. Como a maior parte dos fragmentos apresenta carga unitária, o espectro apresenta a massa dos fragmentos. Mais de vinte tipos de espectrômetros de massas comerciais estão disponíveis e todos possuem três partes básicas: uma fonte de ionização em que as moléculas da amostra ganham uma carga elétrica, um analisador de massas na qual os íons são separados pela relação massa-carga e um detector onde os íons separados são observados e contados (McMURRY, 2011). , 79 É importante ressaltar que o requisito básico para uma análise por espectrometria de massa é a formação de íons livres em fase gasosa. O alcance e a utilidade do método de espectrometria de massa são ditados pelo processo de ionização. A aparência do espectro de massa de uma espécie molecular é altamente dependente do método de ionização usado. Os agentes ionizantes empregados em espectrometria de massa podem ser distribuídos em duas categorias: as que requerem a amostra em fase gasosa e os agentes que provocam dessorção em amostras sólidas ou liquidas. A vantagem dos últimos é que são aplicáveis a amostras não voláteis e termicamente instáveis (PAVIA, 2010). O espectro de massa de um composto normalmente é apresentado como um gráfico de barras onde a abcissa mostra a razão massa-carga e no eixo das ordenadas, a intensidade ou abundancia relativa dos íons colidindo com o detector. O pico mais alto é chamado de pico base e tem intensidade atribuída de 100%. O pico com o maior valor de m/z, chamado de principal, representa o íon molecular, os outros são chamados de picos de fragmentação. O espectro indica a massa molar de uma molécula com composições isotópicas especificas o que reduz as possibilidades de formulas moleculares na identificação da amostra. No caso do espectro de pentano, um íon molecular está em m/z=72, além de outros fragmentos, onde o íon molecular geralmente não é o pico base (m/z=43). 6.4. Espectroscopia no Ultravioleta, Visível e Infravermelho Os métodos espectroscópicos são classificados de acordo com a região do espectro eletromagnético envolvida na medida. As regiões espectrais que têm sido empregadas incluem os raios Ɣ, os raios X, ultravioleta (UV), visível, infravermelha (IV), microondas e radiofrequência (RF). A radiação ultravioleta é a radiação de frequência mais alta do que a da luz violeta. Seu comprimento de onda é inferior a 400 nm (está compreendida entre aproximadamente 190 e 400 nm). A radiação visível é aquela que os nossos olhos enxergam, ou seja, corresponde a radiação eletromagnética com comprimentos de onda no intervalo de 400 a 800 nm e a radiação infravermelha é a radiação que conhecemos como calor, tem uma frequência mais baixa e um comprimento de onda maior do que a luz vermelha. Seu comprimento de onda é maior do que 800 nm (ALMEIDA, 2018). , 80 A espectrofotometria ultravioleta e visível (UV-Visível) é uma técnica analítica usada para determinar a presença de concentração de um analito, baseando-se em medidas de absorção/transmissão de radiação eletromagnética, nas regiões UV-Visível do espectro eletromagnético. Mede-se a quantidade de luz absorvida pela amostra e relaciona-se a mesma com a concentração do analito. Os espectrofotômetrosUV- Visível registram os dados de absorbância ou transmitância em função do comprimento de onda emitidos pelo elemento de interesse. Uma amostra é inserida no caminho ótico do aparelho e então é passada por ela uma luz UV e/ou visível em certo comprimento de onda. A transmitância da amostra é definida pela razão entre a intensidade da luz antes de passar pela amostra e após passar pela amostra. A partir desta informação, a absorbância de ambos é determinada para esse comprimento de onda ou como uma função de uma faixa de comprimento de onda gerando um registro chamado espectro de absorção. A capacidade ou não de absorção é diferente para cada espécie química dentro de um especifico comprimento de onda, sendo assim possível a identificação de um composto químico por meio de seu espectro de absorção (BACCAN,1979). Os máximos de absorção no espectro devem-se á presencia de cromóforos (átomos que absorvem radiação). A Figura 6.1 mostra um espectro UV-visível. Fonte: QUINTINO, 2017 Figura 6.1 Espectros de absorção no UV-Vis obtidos para hexano e para soluções diluídas de B100 de palma e de B100 de soja (diluídas 270 vezes com hexano). , 81 A espectroscopia na região do infravermelho envolve a interação da molécula com a radiação eletromagnética. Quando uma molécula é irradiada com energia infravermelha, certas frequências são absorvidas e correspondem as quantidades de energia necessárias para aumentar a amplitude das vibrações moleculares especificas como estiramentos e deformação angular das ligações. Nos compostos orgânicos, por exemplo, como cada grupo funcional tem uma combinação característica de ligações, cada grupo funcional tem um grupo característico de absorções no infravermelho. Observando-se quais frequências da radiação no infravermelho são absorvidas pela molécula e quais não são, é possível identificar grupos que uma molécula contem (McMURRY, 2011). A radiação no infravermelho atravessa a amostra a ser analisada, a radiação transmitida é comparada com aquela transmitida na ausência de amostra. O espectrômetro registra o resultado na forma de uma banda de absorção, figura 6.2. Fonte: LEITE, 2012. Figura 6.2 - Espectro na região do Infravermelho para o óleo Nujol. , 82 6.5 Ressonância Magnética Nuclear A Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) é uma técnica analítica moderna, poderosa e altamente versátil para análises qualitativas e quantitativas em diversos campos de pesquisa, como medicina, farmácia, análise de alimentos, agroquímicos, cosméticos, dentre outros. Este método de determinação estrutural é um dos mais utilizados pelos químicos orgânicos, por exemplo, para obtenção de informações nas análises de amostras. Em 1953, o primeiro espectrômetro de RMN de alta resolução foi projetado para estudos de estrutura química e, desde então, a técnica tem evoluído, e sido responsável por inúmeros desenvolvimentos da química orgânica, inorgânica e bioquímica. Dentre as principais aplicações da RMN, podemos citar a elucidação estrutural de moléculas orgânicas; a possibilidade de conhecer os componentes individuais presentes em fórmulas de produtos; a identificação de impurezas de elementos desconhecidos em amostras complexas; a quantificação dos componentes de uma amostra; o controle de qualidade de grandes quantidades de produtos químicos; a identificação de materiais; os estudos de temperatura e cinéticos em misturas de reação; e a determinação enantiômeros (SCHRÖDER, 2017). A espectroscopia de RMN está baseada na medida de absorção de radiação eletromagnética na região de radiofrequência (RF) entre 4 e 900 MHz. Ao contrário da absorção no UV, visível e Infravermelho, aqui são os núcleos dos átomos, ao invés dos elétrons externos, que estão envolvidos no processo de absorção (SCHRÖDER, 2017). Muitos tipos de núcleos atômicos se comportam como se estivessem girando em torno de um eixo. Como são carregados positivamente, esses núcleos em rotação agem como pequenas barras magnéticas e, portanto, interagem com um campo magnético externo. Na ausência de um campo magnético externo, os spins magnéticos do núcleo estão orientados aleatoriamente. Entretanto, quando uma amostra contendo núcleos é colocada entre os polos de um forte ímã, o núcleo adota orientações especificas, da mesma forma que uma agulha de bussola se orienta no campo magnético da Terra. , 83 Se os núcleos são irradiados com radiação eletromagnética de frequência apropriada, ocorre absorção de energia e o estado de menor energia arremessa o spin para o de maior energia, assim os núcleos ficam em ressonância com a radiação aplicada (McMURRY, 2011). Os espectros obtidos em RMN dependem do equipamento utilizado, do tipo de núcleo, do estado físico da amostra, dentre outros. A operação básica de um espectrômetro de RMN está apresentado na Figura 6.3. A mesma Figura ilustra um diagrama de como ocorre a obtenção do espectro final de RMN. Um detector sensível monitora a absorção de energia de radiofrequência e o sinal eletrônico é então amplificado e representado como um pico no gráfico registrado. Genericamente, podem ser espectros de linhas largas ou de alta resolução. No primeiro caso, a largura da banda que origina as linhas é grande o suficiente para ocultar a estrutura fina. Uma única ressonância está associada a cada espécie. Já os espectros de alta resolução permitem diferenciar frequências inferiores a 0,01 ppm. Tais espectros, geralmente, apresentam vários picos para cada isótopo, fornecem muito mais informações e são os mais utilizados hoje em dia (SCHRÖDER, 2017). Fonte: SCHRÖDER, 2017. Figura 6.3 - Diagrama do processo de aquisição de um espectro RMN. , 84 Saiba Mais Vídeos sugeridos para complementação do conteúdo: “Como funciona o espectrômetro de massa” que está disponível em: “Espectroscopia UV-Visível” que está disponível em: “Como funciona a ressonância magnética” que está disponível em: Conclusão A espectroscopia é uma importante parte da ciência que estuda o fenômeno relacionado à interação da matéria com a luz eletromagnética. A partir da espectrometria pode-se utilizar métodos analíticos para obter informações quali e quantitativas sobre a amostras a partir da medição da absorção ou emissão de luz pela matéria. A espectrometria é o método de análise óptico mais utilizado como técnica analítica nas investigações biológicas e físico-químicas. A espectrometria de massas fornece informações a respeito da formula molecular, a espectrometria na região do infravermelho informa os grupos funcionais presentes em uma molécula, enquanto a ressonância magnética complementa estas técnicas determinando a estrutura de uma molécula. REFERÊNCIAS ADORO QUÍMICA. Como funciona o espectrômetro de massa. Youtube, 2020. Disponível em: ALMEIDA, J. M. Espectrofotometria UV-Vis. Juiz de Fora, 2018. Disponível em: . Acesso em 30 ago. 2020. https://www.youtube.com/watch?v=fcgnxWhMrZA https://www.youtube.com/watch?v=GkrIchV8vG8 https://www.youtube.com/watch?v=bBpixeovj80 https://www.youtube.com/watch?v=fcgnxWhMrZA https://www.ufjf.br/baccan/files/2010/10/Aula-2-UV-Vis-1o-Sem-2018-parte-1.pdf , 85 BACCAN, N.; et al. Química Analítica Quantitativa Elementar. São Paulo: Edgard Blucher, 1979. LEITE, D. O.; PRADO, R. J. Espectroscopia no infravermelho: uma apresentação para o Ensino Médio. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 34, n. 2, 2504, 2012. McMURRY, J. Química Orgânica. São Paulo: Cengage Learning, 2011. PAVIA, D. L. et al. Introdução à Espectroscopia. CengageLearning, 2010. QUINTINO, M. S. M.; et al. Uso da espectrofotometria UV-VIS para diferenciar as colorações do biodiesel de palma e do corante marcador de óleo diesel. Quim. Nova, Vol. 40, n. 7, 818-823, 2017. SALES, C. H. Espectropia UV-VIS. Youtube, 2009. Disponível em: . Acesso em: 30 ago. 2020. SINGULARIZANDO. Como funciona a ressonância magnética. Youtube, 2019. Disponível em: . Acesso em: 30 ago. 2020. SCHRÖDER, C. H. K. Análise Instrumental Aplicada a Farmácia. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. SKOOG, D. A. Fundamentos de Química Analítica. São Paulo: Cengage Learning, 9. Ed. 2014. https://www.youtube.com/watch?v=GkrIchV8vG8 https://www.youtube.com/watch?v=bBpixeovj80leva à formação de vários íons e consequente a solução se torna eletrolítica, ou seja, tem capacidade de conduzir corrente elétrica. Já eletrólitos fracos são aqueles que apresentam baixa ionização ou dissociação, pouca produção de íons, caso de ácidos e bases fracos. , 7 Quanto ao grau de saturação, deve ser considerada temperatura e quantidade de soluto para 100mL de solvente. Uma solução é dita saturada quando se dissolve a quantidade máxima de soluto para aquela quantidade de solvente em uma temperatura padrão. Quantidade adicional de solutos em uma solução saturada, mantendo a temperatura, forma os chamados corpos de fundo. Se a solução estiver com bem menos soluto a solução é chamada insaturada e se for acima é chamada de supersaturada. As soluções supersaturadas são muito instáveis, portanto, qualquer perturbação precipitará todo soluto dissolvido a mais do que aquele apresentado em uma solução saturada. Mas afinal, como as soluções se formam? É simplesmente dissolver qualquer soluto em um solvente? Na verdade, o mecanismo de dissolução só ocorre quando as forças atrativas intermoleculares entre as partículas de soluto e solvente são suficientes para superar as forças atrativas no solvente puro e no soluto puro. Uma alta solubilidade será favorecida, então, quando as forças soluto-soluto (energia reticular) e solvente- solvente forem fracas e quando as forças soluto-solvente forem fortes. Este processo de dissolução, tal como todos processos físico-químicos depende de 2 fatores: a) ENERGIA: determina se o processo é endotérmico (ocorre com absorção de energia) ou exotérmico (ocorre com liberação de energia). A ruptura de ligações químicas nos processos de ionização/dissociação ocorre por absorção de energia, enquanto a formação de novas ligações ocorre por um processo exotérmico. b) ENTROPIA: o processo de dissolução sempre é acompanhado por um aumento da desordem o que irá favorecer a solubilidade de qualquer substância (mesmo sendo endotérmico). A Figura 1.1 Ilustra o processo de dissolução de um sólido iônico (ex.: NaCl) em H2O. Observe que a medida que um composto iônico se dissolve, os íons ficam rodeados de moléculas de água. , 8 Fonte: SCHMITZ, A.; 2016. Figura 1.1 – Solubilidade do NaCl em água Como já visto, a solubilidade ou coeficiente de solubilidade representa a quantidade máxima do soluto que pode ser dissolvida em dado solvente. É uma propriedade que depende de alguns fatores importantes como: Interação soluto-solvente, efeitos de pressão e efeitos de temperatura. Vamos ver cada um deles? a) Interação Soluto – Solvente: Quanto mais fortes forem as atrações intermoleculares entre as moléculas do soluto e solvente maior será a solubilidade. As moléculas de solutos polares tendem a se dissolver mais facilmente em solvente polares. Semelhante dissolve semelhante. Substâncias com forças atrativas intermoleculares similares tendem a ser solúveis entre si. Devido a isso, substâncias apolares são mais prováveis de serem solúveis em solventes apolares; sólidos iônicos e polares em solventes polares. Sólidos covalentes (como exemplos: diamante e quartzo) não são solúveis. b) Temperatura - A solubilidade da grande maioria dos solutos sólidos ou líquidos na água aumenta com o aumento da temperatura. No entanto, a solubilidade de gases em água diminui com o aumento de temperatura. Um exemplo é a diminuição da solubilidade de O2 em lagos devido a poluição térmica. , 9 c) Pressão - Solubilidades de sólidos e líquidos não são afetadas consideravelmente pela pressão e a solubilidade de um gás em qualquer solvente é aumentada à medida que a pressão sobre o solvente aumenta. 1.3 Unidades de Concentração de Soluções No estudo das soluções é necessário expressar a quantidade de soluto presente, então, existem diversas maneiras de se calcular concentração das soluções. O termo concentração estipula a relação existente entre a quantidade de soluto e a quantidade de solução. No nosso cotidiano vemos vários exemplos do uso da concentração:  O teor alcoólico de uma cerveja está entre 1,5 a 15%;  O teor alcoólico de um vinho tinto está entre 11 e 14%;  O teor de glicose no sangue está entre 75 e 110 mg/dL;  O soro fisiológico de 0,9%;  Cada litro de gasolina tem 27% de álcool anidro;  0,6 mols/L de magnésio está presente em uma amostra de água;  18 ppm de gás ozônio na atmosfera na região de Santo Amaro (zona sul da cidade de São Paulo). Vamos rever algumas unidades de concentração a seguir. Serão dadas algumas formulas, mas você também pode calcular por proporção (regra de três). a) Concentração comum (concentração em massa por volume): onde m = massa do soluto (em gramas) e V = volume da solução (em Litros). Exemplo: 136,8 g de Al2(SO4)3, foram dissolvidos em água suficiente para 800 mL de solução, portanto, a concentração é de 171 g/L. 𝐶 = 𝑚 𝑉 ( 𝑔 𝐿 ) , 10 b) Concentração em mols/L: é a quantidade de matéria de uma solução. É a concentração mais utilizada em laboratórios porque leva em consideração quem é o soluto. Onde n = número de mols do soluto (n= m/MM), m= massa do soluto (em gramas), MM = massa molar do soluto (em g/mol) e V = volume da solução (em Litros). Exemplo: 136,8 g de Al2(SO4)3, foram dissolvidos em água suficiente para 800 mL de solução, portanto, a concentração é de 0,5 mols/L. 𝑀 = 𝑛 𝑉 = 𝑚 𝑀𝑀 𝑥 𝑉 ( 𝑚𝑜𝑙𝑠 𝐿 ) c) Concentração em porcentagem (%) ou Título: onde m1 = massa do soluto e m = massa da solução ou V1 = volume do soluto e V = volume da solução. Exemplo: NaCl 0,9% = em 100mL há 0,9g de NaCl. % = 𝑚1 𝑚 𝑥 100 𝑜𝑢 % = 𝑉1 𝑉 𝑥 100 d) Concentração em partes por milhão (ppm), partes por bilhão (ppb) e partes por trilhão (ppt):  Ppm - Indica quantas unidades de um componente (soluto) estão presentes em 1.000.000 (106) de unidades da solução.  Ppb - Indica quantas unidades de um componente (soluto) estão presentes em 1.000.000.000 (109) de unidades da solução.  Ppt - Indica quantas unidades de um componente (soluto) estão presentes em 1.000.000.000.000 (1012) de unidades da solução. 1 𝑝𝑝𝑚 = 1 𝑝𝑎𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 106 𝑝𝑎𝑟𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑎 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 Exemplo: A concentração máxima permitida de As em água potável é de 0,010 ppm: 0,010 mg de As por 1 L de água. , 11 1.3.1. Diluição e Mistura de Soluções Muitas vezes já há nos laboratórios soluções preparadas com concentrações diferentes daquelas que precisamos para uma análise. Desta forma, a partir desta solução estoque, podemos preparar a concentração desejada por meio de diluição (adição de solvente), concentração (aumento de soluto) ou mistura de soluções de solutos iguais ou quando são solutos diferentes promover uma reação química. A diluição de soluções pode ser calculada por proporção ou utilizando a formula. O mesmo ocorre para solutos diferentes com mesmo solvente. [ ]𝒊𝒏𝒊𝒄𝒊𝒂𝒍 𝒙 𝑽𝒊𝒏𝒊𝒄𝒊𝒂𝒍 = [ ]𝒇𝒊𝒏𝒂𝒍 𝒙 𝑽𝒇𝒊𝒏𝒂𝒍 Para a mistura de soluções de solutos iguais sem reação química. [ ]𝒅𝒆𝒔𝒆𝒋𝒂𝒅𝒂 𝒙 𝑽𝒅𝒆𝒔𝒆𝒋𝒂𝒅𝒂 = [ ]𝒔𝒐𝒍𝒖çã𝒐 𝟏 𝒙 𝑽𝒔𝒐𝒍𝒖çã𝒐 𝟏 + [ ]𝒔𝒐𝒍𝒖çã𝒐 𝟐 𝒙 𝑽𝒔𝒐𝒍𝒖çã𝒐 𝟐 + ⋯. Onde [ ] = concentração da solução. Para a mistura de soluções de solutos diferentes com reação química: parte-se de todo cálculo estequiométrico até identificar o número de mols dos íons formados. 1.4 Técnicas experimentais de Análise Qualitativa Tanto na química qualitativa quanto quantitativa é importante entender alguns termos bastante comuns desta área: Analito: espécie química presente na amostra que se deseja identificar (qualitativa) ou determinar sua quantidade relativa ou concentração (quantitativa) em uma amostra. Amostra: parte representativa retirada de umtodo sobre o qual se deseja conhecer a composição química. A representatividade da amostra é fornecida pela similaridade de sua composição com aquela do todo que se deseja conhecer. A amostra é o conjunto das espécies químicas que compõem o material. Matriz: conjunto de constituintes da amostra que está sendo analisada. , 12 Interferente: qualquer espécie que causa erro na análise pelo aumento ou diminuição da quantidade que está sendo medida. Suponha que você está iniciando seus trabalhos em química analítica. Ao receber uma amostra, o que você identificaria inicialmente? Provavelmente suas propriedades físicas como cor ou estado físico. O estado físico é uma observação muito importante porque vai direcionar como esta amostra deverá ser tratada e quais métodos poderão ser utilizados para identificação quali e/ou quantitativa. Também é primordial levar em consideração o quanto tem de amostra e se ela poderá ser destruída durante a análise. A química analítica qualitativa pode ser dividida em análise qualitativa por via seca e análise qualitativa por via úmida. Nas análises por via seca são usados ensaios por chama que permitem a volatilização de certos metais que serão identificados pela transmissão de cores características que caracterizam o elemento químico. Nesta técnica emprega-se normalmente fios ou alças de Pt ou Ni-Cr limpos com HCl concentrado. O fio é colocado em contato com a amostra e levado ao bico de Bunsen. A cor da chama identificará o cátion presente na amostra como ilustrado na Tabela 1.1. Tabela 1.1 - Ensaio por chama AMOSTRA COR DO ELEMENTO QUÍMICO Sais de Potássio Violeta lilás Sais de Sódio Amarelo Sais de Cálcio Vermelho alaranjado Sais de Estrôncio Vermelho Sais de Chumbo Azul claro Sais de Bário Verde Sais de Cobre Azul esverdeado Fonte: Adaptado de BARBOSA, 2014. Nas análises por via úmida as reações ocorrem em soluções aquosas e serão identificadas com algumas evidencias clássicas tais como, alteração de coloração, desprendimento de gases, formação de precipitados, percepção de absorção ou liberação de calor (resfriamento ou aquecimento do frasco). , 13 No caso da análise qualitativa experimental técnicas podem ser empregadas dependendo da relação entre análise e tamanho da amostra (Tabela 1.2). Dentre elas a escala semimicro é a mais utilizada. Tabela 1.2 Tipo de análise em relação ao tamanho da amostra a ser analisada ANÁLISE TAMANHO DA AMOSTRA Macro Maior que 0,1 g Semimicro 0,01 a 0,1 g Micro 0,0001 a 0,01 g Ultramicro Menor que 0,0001 g Fonte: Elaborado pelo autor. Quando as amostras não são sólidas ou podem ser solubilizadas, é usada a técnica por via úmida. Para alcançar resultados satisfatórios, algumas etapas para o procedimento são adotadas como por exemplo: 1) Amostragem: é a primeira tarefa de uma análise qualitativa. A amostra deve ser representativa, ou seja, conter o máximo possível dos constituintes do material a ser analisado. Se for em solução, a mesma deve estar completamente misturada. 2) Pesagem da amostra: deve-se seguir critérios rigorosos na operação de uma balança analítica. 3) Dissolução da amostra: leva-se em consideração critérios de dissolução e estudos de testes qualitativos. Se a amostra for orgânica sabe-se que se dissolve bem em água, ácidos ou bases e se a amostra for inorgânica também se dissolve em água e em ácidos diluídos. 4) Precipitação: muitas vezes para analisar a amostra faz com que ela reaja com algum solvente para formar precipitados. Este sólido formado poderá ser separado por filtração ou centrifugação e posteriormente analisado. 5) Filtração: é a separação do precipitado com o objetivo de retirá-lo do sobrenadante da solução resultante após a reação química para analisa-lo. , 14 6) Lavagem dos precipitados: como a maior parte dos precipitados é produzida na presença de outras substâncias solúveis, os precipitados ainda podem conter uma quantidade da solução sobrenadante então, lava-se o precipitado para melhorar sua pureza. 1.5 Análise Qualitativa por Identificação de Íons Como já vimos, a análise química qualitativa é de fundamental importância para identificar componentes de uma amostra desconhecida, como uma amostra mineral, por exemplo. Para identificar uma substancia, analisa-se um conjunto de reações químicas e quais os métodos de separação dos componentes para identificação dos cátions e ânions. Como vimos, essas reações ocorrem por análises chamadas via seca ou via úmida. A identificação de cátions pode ser obtida por meio de uma marcha analítica que consiste em um método de análise química qualitativa para o reconhecimento de íons por via úmida. Esta marcha se baseia em reações químicas que precipitam compostos insolúveis mediante a adição sucessiva de diversos reagentes. Os reagentes ácido clorídrico, ácido sulfídrico, sulfeto de amônio e o carbonato de amônio são os mais comumente utilizados para a identificação dos cátions em amostras. A separação de um cátion sempre ocorre com a precipitação. O sobrenadante na solução continua na margem analítica reagindo com outros reagentes e analisando novos precipitados e separação de íons. Os cátions encontram-se divididos em cinco grupos analíticos de acordo com suas similaridades. Estes grupos são demonstrados na Tabela 1.3. Tabela 1.3 - Classificação de grupos para análise de cátions. GRUPOS REAGENTES CATIONS COR PRECIPITADO EXEMPLO REAÇÕES I HCI diluído Chumbo (II), mercúrio (I) e prata (I) Brancos Ag+ + Cl-  AgCl↓ Hg2 2+ + 2 Cl-  HgCl2 ↓ Pb2+ + 2Cl-  PbCl2 ↓ (↓ = precipitação) , 15 II H2S Chumbo (II), mercúrio (I), cobre (II), bismuto (III), cádmio (II), arsênio (III), antimônio (III) e estanho (II). Coloridos ou pretos Cd2+ + H2S  CdS↓ (amarelo)+ 2H+ III NH4OH(NH4)2S Cobalto (II), níquel (II), ferro (III), cromo (III), alumínio (III), zinco (II) e manganês (II) Cátions Al3+ e Zn2+ são incolores. Os demais cátions são coloridos. Al3++ 3 NH4OH  Al(OH)3↓ + 3 NH4 + IV (NH4)2CO3 Formado pelos metais alcalinoterrosos que não precipitam com os reagentes dos grupos anteriores. São eles: cálcio (II), estrôncio (II) e bário (II). Brancos Sr2+ + (NH4)2CO3SrCO3↓ + 2NH4 + V Não existe um reagente que precipite conjuntamente todos os cátions deste grupo Magnésio (II), sódio (I), potássio (I), amônio (I) Formam compostos incolores, a menos que o ânion seja colorido. Normalmente este grupo é analisado por via seca. Fonte: Elaborado pelo autor , 16 Na determinação analítica de ânions os procedimentos não são tão sistemáticos como os descritos para os cátions. No caso dos ânions, não existem grupos reativos comuns ou propriedade comuns entre eles de modo que se possa aplicar um agrupamento facilitando o sistema de separação e identificação (BARBOSA, 2014). Entretanto, esta determinação encontra extensa aplicação em vários segmentos da indústria (química, farmacêutica, alimentícia, entre outros), bem como na caracterização de amostras biológicas e ambientais. Saiba Mais Uma boa referência para entender soluções eletrolíticas e não eletrolíticas e o processo de dissolução está apresentado em: Para estudar mais aprofundadamente a identificação de cátions e ânions nas amostras indico a leitura do livro Química Analítica Qualitativa I disponível na biblioteca virtual. Conclusão A Química Analítica é uma ciência que envolve métodos específicos para a determinação da composição da matéria de modo qualitativo ou quantitativo, sendo que um pode complementar o outro. É uma das áreas mais importantes da Química, principalmente para quem quer trabalhar em indústrias. O estudo das soluções é defundamental importância em vários setores da sociedade, portanto, é necessário compreender como identificar e quantificar substancias presentes nas mesmas. Desta forma, a compreensão de concentrações permite identificar a quantidade de matéria presente na amostra em solução. As reações químicas, muitas vezes, são necessárias para separação de analitos em amostras. Vimos que as reações analíticas podem ser por via seca ou via úmida. As reações por via seca podem ser preliminares para qualificar uma substancia, o que facilita a identificação e/ou quantificação de cátions e aníons posteriormente por via úmida. http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc32_3/08-PE-0709.pdf , 17 REFERÊNCIAS BARBOSA, G. P. Química Analítica: Uma Abordagem Qualitativa e Quantitativa. São Paulo: Editora Érica, 2014. LEMES, A. F. G.; SOUZA, K. A. F. D.; CARDOSO, A. A. Representações para o Processo de Dissolução em Livros Didáticos de Química. Química Nova Na Escola. Vol. 32, N° 3, agosto 2010. SCHMITZ, A. Schéma moléculaire de la dissolution du chlorure de sodium dans l'eau. 2016. SILVA, T. E. M.; DREKENER, R. L. Química Analítica Qualitativa I. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. , 18 2 ANÁLISES QUÍMICAS QUALI E QUANTITATIVAS A partir do momento que um analista identifica a natureza dos constituintes químicos de uma amostra, ele pode determinar a quantidade presente de cada constituinte. Neste bloco vamos nos voltar a análise quantitativa. Para isso, vamos entender como se processa uma análise química e posteriormente entender a análise estatística de resultados. 2.1 Etapas de um Procedimento Analítico Um procedimento analítico quantitativo ou protocolo envolve uma sequência de etapas. Inicia-se com qual é a informação que necessito na amostra seguido da escolha do melhor método para fazer essa análise. Segue-se com a etapa da amostragem e preparo da amostra, que leva a maior parte do tempo total de qualquer análise. A partir do método escolhido é importante verificar a necessidade de calibração e aferição de equipamentos anterior a análise propriamente dita, seja clássica ou instrumental. Avalia-se os resultados obtidos, faz repetidas vezes e toma-se a ação para atender o objetivo inicial. A seguir detalha-se algumas destas etapas (SKOOG, 2014): a) Obtenção da amostra: é o processo de selecionar uma amostra bruta representativa de um lote (ou sistema). Depende do tamanho e da natureza física da amostra. Quando o material é amplo e heterogêneo, grande esforço é requerido para se obter uma amostra representativa. Ex.: amostragem de solo para análises de fertilidade. b) Processo de amostragem: é o processo de coletar uma pequena massa de um material cuja composição represente exatamente o todo do material que está sendo amostrado. Pode ser necessário reduzir o tamanho das partículas, homogeneizar, secar, determinar peso ou volume. O processamento ou preparo da amostra também se refere à dissolução da mesma (caso necessário) e que pode usar solventes na diluição ou até mesmo processos de aquecimento, fusão, entre outros. O preparo da amostra é o que mais consome tempo em uma análise química. , 19 c) Eliminação de interferências: um plano deve ser traçado para se isolar os analitos das interferências antes que a medida final seja feita, portanto, filtração, extração com solventes, separação cromatográfica. Não há́ regras claras e rápidas para a eliminação de interferências; de fato, a resolução desse problema certamente pode ser o aspecto mais crítico de uma análise. d) Análise: consiste na medida da concentração do constituinte em análise em várias alíquotas. O objetivo das medidas replicadas (medidas repetidas) é avaliar a variabilidade (incerteza) na análise e se proteger contra um erro grosseiro na análise de uma simples alíquota. e) Calculo e Avaliação dos Resultado(s): cálculo do(s) resultado(s) analítico(s) e avaliação estatística dos dados. O cálculo das concentrações dos analitos a partir de dados experimentais é, em geral, relativamente fácil, particularmente com computadores. O analista deve prover alguma medida das incertezas associadas aos resultados quando se espera que os dados tenham algum significado. 2.2 Segurança Em Laboratórios De Análise Química Toda vez que se entra em um laboratório para realizar uma análise química, precisa-se estar preparado sabendo o que irá fazer, qual o propósito, qual equipamentos de proteção individual devem ser utilizados, pesquisar sobre o grau de toxicidade de reagentes, quais conceitos teóricos estão envolvidos nas possíveis técnicas a serem utilizadas, por exemplo. Todo laboratório é um local de trabalho e que, portanto, deve-se trabalhar com seriedade e atenção para evitar acidentes. A seguir, seguem algumas normas bastante comuns para sua segurança em qualquer laboratório de análises químicas:  A presença em um laboratório só é permitida com o EPI (Equipamento de Proteção Individual) próprio: avental (jaleco) de mangas e devidamente fechados. Outros EPI’s (luvas, óculos de proteção, máscara e outros), eventualmente necessários, também deverão ser utilizados conforme orientações. , 20  Não é permitida a prática de laboratório com trajes curtos como shorts, bermudas, ou saias curtas, também é vedado, o uso de sandálias, chinelos, bonés ou sapatos abertos, que coloquem em risco a sua segurança. É proibido usar braceletes, anéis, colares, correntes, entre outros que possam atrapalhar e causar acidentes. Não usar cabelo solto.  Caso o usuário tenha alguma ferida exposta, esta deve estar devidamente protegida.  Não é permitido beber, comer ou fumar dentro do Laboratório, em decorrência do alto risco de contaminação.  Os pertences pessoais devem ser guardados em local adequado e não nas bancadas de trabalho.  Consultar os dados de segurança existentes antes de utilizar reagentes químicos com os quais não esteja familiarizado e seguir os procedimentos apropriados ao manusear ou manipular agentes perigosos. Não cheire, toque ou prove qualquer reagente. Lembre-se que a contaminação ocorre por inalação e/ou ingestão e/ou absorção pela pele.  Leia com atenção o rótulo do frasco de reagente antes de usá-lo para certificar- se que é o frasco certo. Todo frasco contendo reagentes, amostras e soluções deve ser devidamente etiquetado (identificação do material e do responsável e data). Não contamine os reagentes, voltando o reagente não utilizado ao frasco original ou usando espátulas e pipetas sujas ou molhadas.  Nunca deixe o bico de Bunsen aceso quando não estiver usando. Não use substâncias inflamáveis próximo a chama.  Trabalhe com cuidado com substâncias tóxicas e corrosivas, como ácidos, álcalis e solventes. Todo material tóxico e/ou que exale vapor deve ser usado na capela.  Manter o local de trabalho limpo e organizado antes, durante e após o uso. Ao final dos experimentos, todo o material deve ser deixado no lugar em que foram encontrados de início devidamente limpos.  Usar os equipamentos do laboratório apenas para seu propósito designado. , 21  Em caso de acidente, com ou sem vítimas, manter a calma e não criar pânico! Parar imediatamente o trabalho, isolar a área atingida, comunicar os colegas e alertar o responsável. Corrigir o problema ou socorrer uma vítima só se tiver certeza do procedimento adequado. Sentindo-se mal, avisar o supervisor e colegas e sair imediatamente do Laboratório.  Durante a realização de uma análise se faz necessárias anotações de tudo que é observado, de valores de massa e volumetria, tempo de experimento, enfim das condições iniciais e finais do sistema, portanto um caderno organizado deve ser usado especialmente para o laboratório. Fique atento e siga normas especificas adotadas nos seus ambientes de estudose trabalho para evitar riscos. Os riscos representam possíveis danos ou efeitos adversos, ou seja, condições que podem ameaçar a saúde ou a integridade física, o meio ambiente ou a propriedade. Saiba que os riscos podem ser classificados como físico (que abrange umidade, temperatura, radiação, vibração, ruído, entre outros), químico (vapor, gás, poeira, substâncias químicas, entre outros) e biológico (fungos, bactérias, vírus, entre outros), situacional (abrange equipamentos, instalações, ferramentas, operações, materiais, entre outros), humano e comportamental (decorre de ação ou omissão humana). Desta forma, é importante que se saiba e busque as melhores condições de trabalho com o objetivo de redução de riscos. 2.3 Aparelhagem E Técnicas Básicas Vamos verificar quais são alguns dos equipamentos e procedimentos a serem adotados para pesagem, volumetria, aferição de equipamentos de vidraria e padronização de soluções utilizadas durante um protocolo experimental. 2.3.1 Medidas de Massa ou Pesagem Apesar de usarmos comumente a palavra pesagem para medidas de massa, é importante que você saiba que elas apresentam definições diferentes. Massa é o que nos interessa porque especifica a quantidade fixa de matéria, enquanto peso está relacionado a força gravitacional exercida sobre esta matéria. No procedimento laboratorial ou industrial usa-se balanças para medir massa de qualquer material. , 22 As balanças eletrônicas disponíveis atualmente são digitais e classificadas em seis categorias: precisão, semianalitica, analítica, semimicrobalança, microbalança e ultramicrobalança. Em diferentes laboratórios clínicos, industriais e de ensino, as balanças eletrônicas mais encontradas ainda hoje são as balanças analíticas, semianalíticas e de precisão, pois, além de dispensarem o uso de salas especiais para a pesagem, delas dependem basicamente todos os resultados analíticos (DIAS, 2016). Em relação a medidas de massas existem três tipos de pesagem: a pesagem direta (que é a pesagem conhecida, normalmente tara-se a balança e somente a massa da substancia interessa), a pesagem por adição (pesa-se inicialmente um recipiente vazio e depois adiciona a substancia a ser pesada) e a pesagem por diferença (substancias higroscópicas e voláteis apresentam variação em suas massas, então ela é armazenada em uma vidraria chamada pesa-filtro e ela vai sendo retirada para alcançar a massa necessária e, por último, pesa-se novamente o conjunto). Para fazer a pesagem, ou medir a massa, utilizando uma balança eletrônica deve-se, basicamente, dentre outras ações:  Colocar o material a ser pesado sempre no centro do prato de aço da balança;  Utilizar recipientes adequados, como pesa-filtros, béqueres e vidros de relógio;  Nunca tocar os recipientes diretamente com as mãos (use luvas ou tiras de papel);  Não tocar o prato da balança com espátulas durante a pesagem;  Fazer secagem do material a ser pesado antes da pesagem;  Manter as portas da balança fechadas, nunca pesar substâncias corrosivas, voláteis ou higroscópicas em frascos abertos e o material a ser pesado deve estar na temperatura ambiente. , 23 2.3.2 Medidas de Volume Todo material utilizado em laboratórios para análise quantitativa é normalmente fabricado dentro de normas específicas de aferição ou calibração. São encontrados três tipos de materiais volumétricos: (DIAS, 2016).  Aparelhos para medidas precisas de volumes líquidos, como buretas, pipetas e balões volumétricos;  Aparelhos para medidas aproximadas de volumes líquidos, como provetas e pipetas graduadas;  Aparelhos para medidas grosseiras de volumes líquidos, como béqueres e erlenmeyers. Um procedimento comum em laboratório é a transferência de líquidos de um frasco para outro, portanto, alguns cuidados precisam ser levados em consideração tais como:  Verifique se está seguro que é o reagente ou a solução que necessita (analise o rotulo);  Verifique a toxicidade e as normas de segurança para manusear este reagente, não coloque a tampa do frasco diretamente na bancada para não contaminar a superfície e a tampa;  Cuidado com pipetas ou outras vidrarias a serem inseridas no frasco para que não contamine a solução, para verter o liquido do frasco faça sempre pelo lado oposto do rotulo (caso escorra liquido não impossibilitará a identificação);  Use algum papel absorvente ao redor da boca do frasco ao vertê-lo, assim evitará escorrer liquido pelo frasco ou nas mãos, use bastão de vidro para transferência de líquidos, sempre use capela ao trabalhar com soluções voláteis. , 24 Em medidas de volume deve-se ficar sempre atento aos erros de paralaxe na observação do menisco (observe a graduação de volume) nas vidrarias. Erro de paralaxe é quando a leitura do volume é feita acima da linha perpendicular ao nível mais baixo da superfície côncava do liquido, resultando em um valor menor do que o valor correto, ou quando a leitura do volume é feita abaixo dessa linha perpendicular, resultando em um valor maior do que o valor correto. Para evitar esse erro é importante que sua linha de visão esteja posicionada no plano horizontal no nível da marcação do menisco. 2.3.2 Aferição e calibração de vidrarias Em todas as análises realizadas, é necessário ter alguns cuidados com os reagentes e soluções, bem como com a limpeza do material e com a aferição e calibração de vidrarias. Esse processo é de extrema importância para garantir a confiabilidade dos resultados alcançados por essas análises. Segundo a RBC (Rede Brasileira de Calibração), os procedimentos usados devem ser padronizados com o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), o que faz com seus procedimentos de aferição e calibração de vidrarias sejam semelhantes. A falta de calibração ou uma calibração ruim podem causar erros sistemáticos, caracterizados pela receptibilidade da falha em análises realizadas sob condições semelhantes. Por isso, existe a necessidade de localizar laboratórios referenciados e certificados que usem o método de aferição e calibração de vidrarias, assim é garantindo a qualidade no processo (ABNT, 2017). Se as vidrarias não forem compradas já certificadas, elas precisarão ser aferidas e validadas pelo laboratório que as usará. Uma vidraria pode ser aferida utilizando a densidade da água como padrão, levando em consideração a temperatura. Tendo a massa de água, obtida adequadamente em balanças calibradas, colocada em uma vidraria e a temperatura da água escoada na calibração, calcula-se o volume desta vidraria por meio da fórmula de densidade (d=m/V). Assim, adiciona-se uma massa de água em uma vidraria limpa e em equilíbrio térmico com a temperatura ambiente; sabendo-se a massa correta certifica-se o volume da vidraria. , 25 Um ponto importante discutido por SILVA (2011) é que para que a calibração seja bem-feita é preciso levar em conta a expansão volumétrica das soluções e das vidrarias com relação a variação da temperatura; desta forma, é preciso conhecer a temperatura do laboratório no momento em que as soluções são preparadas e também no momento em que são utilizadas. Os vidros fabricados a base de borossilicatos se expandem cerca de 0,0010% por grau Celsius, quer dizer, se a temperatura de um recipiente for aumentada em 10 graus, o seu volume irá aumentar cerca de 0,010% e, para todos os trabalhos, exceto os mais exatos, esta variação não é expressiva. A pipeta volumétrica é uma vidraria bastante utilizada porque apresenta boa precisão. É importante verificar sua aferição, considerando um erro relativo de 0,1% entre as calibrações, visto que ela não apresenta graduação, portanto para uma pipeta de 10mL o desvio máximo deve ser de 0,02mL. Caso o escoamento do liquido na pipeta estiver muito lento, tornando oexperimento demorado, pode aumentar o orifício com uma lixa. Entretanto, se for rápido é utilizada chama para fechar um pouco o orifício garantindo resultados mais reprodutíveis. 2.3.4 Padronização de soluções Em uma análise química volumétrica usa-se soluções padrão que são soluções com concentrações conhecidas (titulantes) e a partir dela, pode-se trabalhar na identificação de analitos do titulado (solução com concentração desconhecida), conforme Figura 2.1. Fonte: Elaborado pelo autor Figura 2.1 – Representação Básica de um Processo de Padronização de Soluções ou Volumetria Solução padrão [ ] conhecida Volume conhecido [ ] desconhecida Volume conhecido com algum indicador Titulante Titulado , 26 Existem titulantes preparados com padrão analítico primário e padrão analítico secundário. Os padrões primários são reagentes sólidos, com elevada massa molar e são de fácil obtenção, purificação (o teor de impurezas não deve exceder 0,04%), dessecação (preferivelmente a 110-120ºC) e conservação (manter a sua composição imutável durante o armazenamento). O reagente ainda deve ser inalterável ao ar durante a pesagem, portanto, não ser higroscópico, nem oxidável ao ar, nem afetado pelo dióxido de carbono. Os principais padrões primários são Na2CO3, NaCl, KSCN, Na2C2O4, K2Cr2O7, oxalato de sódio e ácido benzoico. Os padrões secundários são geralmente produzidos em laboratórios não certificados e, então, suas concentrações são definidas com o auxílio dos padrões primários. Os principais padrões secundários são AgNO3, NaOH, EDTA e KMnO4. 2.4. Erros e Tratamento de Dados Estatísticos Em uma análise química, ao escolher a técnica a ser utilizada, devemos levar em consideração que os resultados raramente têm dados exatos e podem ser influenciados por erros. Assim, é necessária atenção redobrada para que as respostas sejam confiáveis. Quais erros podem estar associados as análises realizadas? a) Erros grosseiros: são os causados pelo analista por imprudência ou por equipamentos devido más condições facilmente detectáveis. b) Erros sistemáticos: são os erros que afetam o resultado sempre na mesma direção, seja para mais, seja para menos, como por exemplo: balança descalibrada, alteração de indicador, padrão primário adulterado, vidraria erroneamente aferida, erros de paralaxe, entre outros. Com um pequeno esforço do analista, os erros sistemáticos podem ser evitados porque são falhas do experimento ou equipamento. c) Erros Aleatórios: são aqueles erros que resultam de variáveis que não possam ser controladas nas medidas; uma pequena variação no ângulo de leitura da bureta, uma gotinha que fica na pipeta, uma tonalidade diferente na viragem, o ruído eletrônico de um equipamento são exemplos de erros aleatórios. Este erro sempre irá afetar a precisão e exatidão dos resultados obtidos experimentalmente. , 27 Vale ressaltar que a precisão é uma medida da reprodutibilidade de um resultado, ou seja, repito n vezes um experimento e os resultados obtidos são próximos. Já a exatidão (ou acurácia) é uma medida de comparação com um padrão e o quanto o resultado experimental obtido está próximo a este valor e nela estão inseridos erros absolutos ou relativos. A estatística auxilia na estimativa de erros, extração do máximo de informações de dados da análise e interpretação destes dados, tornando-se valiosa de modo a compreender no grau de confiança dos resultados das análises químicas. Quaisquer resultados de uma análise química devem demonstrar e comprovar os intervalos de confiança obtidos na validação do método escolhido. SKOOG (2014) traz no seu livro Fundamentos de Química Analítica explicações bem detalhadas sobre as ferramentas estatísticas para tratamento de dados. De maneira resumida, algumas aplicações dos dados estatísticos incluem: a) Definir o intervalo numérico ao redor da média de um conjunto de réplicas de resultados analíticos na qual se espera que a média da população possa estar contida, com uma certa probabilidade. Esse intervalo (chamado intervalo de confiança (IC)) relaciona-se ao desvio padrão da média. b) Determinar o número de réplicas de medidas necessário para assegurar que uma média experimental esteja contida em uma certa faixa, com um dado nível de probabilidade. c) Estimar a probabilidade de uma média experimental e um valor verdadeiro ou duas médias experimentais serem diferentes; isto é, se a diferença é real ou simplesmente o resultado de um erro aleatório. Esse teste é particularmente importante para se detectar a presença de erros sistemáticos em um método e para determinar se duas amostras são provenientes da mesma fonte. d) Determinar, dentro de um dado nível de probabilidade, se a precisão de dois conjuntos de resultados é diferente. , 28 e) Comparar as médias de mais de duas amostras para determinar se as diferenças nas médias são reais ou resultado de erros aleatórios. Esse processo é conhecido como análise de variância. f) Decidir com uma certa probabilidade se um valor aparentemente crítico, contido em um conjunto de réplicas de medidas, é o resultado de um erro grosseiro que, portanto, pode ser rejeitado, ou se é parte legítima de uma população que precisa ser mantida no cálculo da média do conjunto de resultados. Testes estatísticos como T-student, F e Q são bastante utilizados na análise final de resultados. Vale a pena rever estes conceitos. 2.5 Métodos Analíticos Clássicos e Instrumentais Quando estudamos química analítica verifica-se que técnicas utilizando a análise de propriedades físicas e químicas, além de pesagem e volumetria vem sendo utilizadas há séculos. Estas técnicas são consideradas métodos analíticos clássicos. Somente a partir do século XX é que começaram a ser usados métodos eletroanalíticos e espectroscópicos, dando início aos métodos instrumentais e a chamada química analítica instrumental. A Figura 2.2 traz um resumo das principais técnicas aplicadas em cada um destes métodos analíticos. Fonte: SCHRÖDER, 2017. Figura 2.2. Classificação dos métodos clássicos e instrumentais , 29 Nos métodos clássicos encontram-se a Gravimetria e a Titrimetria (volumetria). Na gravimetria estuda-se a massa do analito presente na amostra enquanto que na titrimetria estuda-se o volume de solução que contem quantidade suficiente de reagente para reação com o analito a ser quantificado, portanto, os métodos gravimétricos baseiam-se em medidas de massa feitas com uma balança analítica, e os titrimétricos dependem das vidrarias aferidas para medições de volume e concentrações. Em relação aos métodos instrumentais, eles necessitam de equipamentos específicos para análise e são separados conforme apresentado na Figura 2.2. Basicamente, nestes métodos estuda-se propriedades elétricas e interação da radiação com a matéria. Ambos os métodos, clássicos e instrumentais, serão apresentados com mais detalhes nos nossos próximos Blocos de Estudos. Mas como uma indústria e seu analista seleciona o método analítico mais adequado para seu procedimento? Os fatores que influenciarão são basicamente: definição da natureza do problema analítico (quantidade de amostra, exatidão necessária, interferentes de outros constituintes, tempo para finalizar análise) e conhecer teoricamente as técnicas e saber suas vantagens e desvantagens para o procedimento de identificação e quantificação de um analito. A resposta obtida da amostra nem sempre é de fácil compreensão pelo analista, por isso, são necessários dispositivos que convertam essa informação “codificada” em uma informação “descodificada”. As formas como essa codificação ocorrem são chamadas de “Domínios de dados” e, independentemente de qual for, tem como objetivo final a obtenção de um resultado numérico que seja proporcional à característica físico- química deinteresse do analito (SCHRÖDER, 2017). A Tabela 2.1 demonstra as diferenças básicas entre os métodos clássicos e instrumentais. , 30 Tabela 2.1. Características (vantagens e desvantagens) entre métodos clássicos e instrumentais. Métodos clássicos Métodos instrumentais  Preferível para análises eventuais com número pequeno de amostras.  Relativamente baratos, com baixo custo unitário por determinação.  Menos sensíveis dos que os métodos instrumentais.  Frequentemente menos seletivos do que os métodos instrumentais.  Mais rápidos e aplicáveis em concentrações muito pequenas.  O equipamento requer recalibração constante.  Os equipamentos de medida podem ser acoplados a microcomputadores e com o auxílio de mecanismos apropriados o processo analítico pode ser completamente automatizado.  Muitos instrumentos têm custo elevado.  A obtenção de resultados acurados requer reagentes cuidadosamente pesados e o preparo de soluções padrões. - Ideais para a determinação rotineira de muitas amostras. Fonte: Elaborado pelo autor Saiba Mais Para saber mais sobre práticas de Laboratório em Química Analítica indico o livro “Química Analítica: Práticas de Laboratório” disponível na Biblioteca Virtual. Conclusão Neste bloco foram apresentadas as etapas de um procedimento analítico e a importância de cada uma delas para validar o método ou implantar um controle de qualidade. Foi discutida a segurança individual para uso de laboratórios, quais são os equipamentos básicos mais utilizados e necessidade de aferição/calibração dos mesmos. Vale ressaltar que os dados obtidos podem gerar estudos para desenvolvimento de novos produtos ou até mesmo ações imediatas de órgãos fiscais, caso os produtos avaliados não estejam atendendo as legislações especificas. Para chegar a estes valores após as operações analíticas, se faz necessário o tratamento estatístico dos dados obtidos de modo a ter confiabilidade nos resultados. , 31 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO/IEC 17025: 2017. Requisitos Gerais para Competência de Laboratórios de Ensaio e Calibração. Rio de Janeiro, 2017. DIAS, S. L. P. Química Analítica: Teoria e Pratica Essenciais. Porto Alegre: Bookman, 2016. ROSA, G.; GAUTO, M.; GONÇALVES, F. Química Analítica: Práticas de Laboratório. Porto Alegre: Bookman, 2013. SKOOG, D. A. Fundamentos de Química Analítica. São Paulo: Cengage Learning, 9. Ed. 2014. SCHRÖDER, C. H. K. Análise Instrumental Aplicada a Farmácia. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. SILVA, L. Aulas Práticas de Química Analítica. Juiz de Fora: UFJF, 2011. , 32 3 MÉTODOS ANALÍTICOS CLÁSSICOS Os métodos analíticos clássicos, como introduzidos no Bloco 2, são aqueles usam quantidades de massa ou volume e que muitas vezes se baseiam em reações químicas para identificação ou quantificação de analitos nas amostras. Vale relembrar que estes métodos são de baixo custo e fácil aquisição dos materiais e equipamentos, mas costumam ser utilizados para macroanálises. Neste Bloco vamos dar ênfase aos métodos gravimétricos (relacionados a massa) e volumétricos (ao volume). Como muitas das identificações ocorrem em soluções, vamos iniciar com a abordagem em equilíbrio químico e suas constantes, pH e soluções tampão e posteriormente será discutida a Gravimetria e Volumetria de Precipitação, dois métodos clássicos ainda bastante utilizados. 3.1 Equilíbrio Químico Em Soluções Aquosas Em um processo de reação química, seja em solução ou não, os reagentes são consumidos formando produtos e, após um intervalo de tempo, ambos atingirão um equilíbrio dinâmico. As condições para atingir este equilíbrio são compreendidas a partir da chamada Lei de Ação de Massas, conhecida como Lei de Guldberg-Waage. Esta Lei predomina que a velocidade com que uma reação acontece é diretamente proporcional ao produto das concentrações molares dos reagentes, quando estes estão elevados a expoentes, que são os seus respectivos coeficientes estequiométricos, representado pela equação genérica abaixo. aA + bB  cC + dD Como as velocidades das reações diretas entre A e B é proporcional, as suas concentrações molares, simbolizadas por [ ], temos a identificação de uma constante, k. v1 = k x [A] x [B] E, na velocidade inversa, produtos formando reagentes também pode ser expressa como: , 33 v2 = k x [C] x [D] Então, ao atingir o equilíbrio, as velocidades de decomposição e formação das substancias são iguais, portanto, teremos: 𝐤𝟏 𝐱 [𝐀]𝐗 [𝐁] = 𝐤𝟐 𝐗 [𝐂]𝐗 [𝐃] → [𝐂]𝐗 [𝐃] [𝐀]𝐗 [𝐁] = 𝐤𝟏 𝐤𝟐 = 𝐤 O K é a constante de equilíbrio da reação química. A partir do valor de K, pode-se ter uma ideia do rendimento de uma reação. Assim um valor elevado de k indica um alto rendimento, já que, quanto maior o valor de k, maior deverá ser o valor do numerador (produtos) em relação ao denominador (reagentes). Isso quer dizer que as concentrações dos produtos formados quando o estado de equilíbrio é atingido e superior à de reagentes. A constante de equilíbrio em termos de concentração (mol/L) é chamada de Kc e, em termos de pressão, é chamada de Kp. O Kc, por exemplo, é a relação estabelecida entre as concentrações molares de produtos e de reagentes presentes em uma reação elevadas aos seus respectivos expoentes: 𝑲𝒄 = [𝐂]𝒄 𝐗 [𝐃]𝒅 [𝐀]𝒂 𝐗 [𝐁]𝒃 No caso de reagentes ou produtos que estejam em estado solido ou líquidos puros (como água) na reação química, estes participantes são constantes em termos de concentração, portanto, não entrarão no cálculo da expressão de Kc ou Kp. A relação entre estas duas constantes pode ser obtida por meio da expressão abaixo onde R é a constante dos gases e ∆n = (a + b) – (c +d) 𝑲𝒄 = 𝑲𝒑 𝒙 (𝑹 𝒙 𝑻)∆𝒏 Como visto, uma reação entra em equilíbrio químico quando suas taxas de desenvolvimento das reações direta e inversa ocorrem com a mesma velocidade. Não havendo nenhuma alteração, o sistema em equilíbrio permanecerá indefinidamente assim. Entretanto, se um sistema sofrer qualquer tipo de perturbação, ele automaticamente deverá se reajustar de modo a diminuir os efeitos desta perturbação e atingir novamente o equilíbrio. Este é o Princípio de Le Chatelier. , 34 E quais são os fatores que podem alterar o estado de equilíbrio? São a concentração, a temperatura e a pressão. De modo resumido podemos entender esta perturbação da seguinte maneira: a) Concentração dos participantes da reação: se aumenta, o rendimento aumenta, portanto, mais produtos serão formados; deslocamento do equilibrio no sentido de quem consome. A redução da concentração de um componente irá favorecer a reação que forma esse componente. b) Pressão total: Aumento de pressão, significa contração do volume, reduz número de mols, portanto, o equilíbrio se desloca para a esquerda para equilibrar o número de mols. E vice-versa para redução de pressão. c) Temperatura: aumento de temperatura no sistema tende a deslocar o equilibrio no sentido endotérmico (que absorve calor) e redução de temperatura, no exotérmico (libera calor). 3.1.1. Equilíbrio Iônico Em Solução Aquosa A água é uma substância pura que se auto ioniza, ou seja, ela produz cátion hidrônio (H+) e ânion hidróxido (OH-). Entretanto, produz pequena quantidade de íons formada obedecendo o equilíbrio químico H2O « H+ + OH-. Assim, sempre que tivermos uma solução aquosa, teremos o equilíbrio iônico da água. A constante de ionização da água, representada por Kw, é dada pela expressão abaixo. Aqui, vale você relembrar seus estudos de acidez (pH) e basicidade (pOH) abordado em aulas de Química Geral. A água e substancias sólidas não entram nas formulas por serem constantes na equação. Kw = [H+] . [OH-] A dissociaçãoou ionização de outros compostos é um processo reversível, o qual pode ser aplicada a Lei de Guldberg Waage. O equilíbrio iônico estuda o comportamento dos íons em solução. A ionização de um ácido, HA ocorre, por exemplo, atendendo as seguintes condições de equilíbrio: HA  H+ + A- , 35 Portanto, sua constante de equilíbrio será: 𝐤 = [𝐇+] 𝐱 [𝐀− ] [𝐇𝐀] O expoente desta constante de equilíbrio de ionização, ou dissociação no caso de bases e sais) é denominado pK. No caso de ácidos, pKa e no caso das bases, pKb. 𝒑𝑲 = − 𝐥𝐨𝐠 𝑲 - As constantes Ka, Kb e os pKa e pKb são utilizados para quantificar a acidez e basicidade no equilíbrio atingido. A relação entre o Ka e a acidez é direta: quanto maior o Ka mais forte é o ácido. Já a relação entre acidez e pKa é inversa, quanto maior o pKa mais fraco é o ácido. No caso do Kb, quanto menor seu valor, mais fraca é a base; veja a Tabela 3.1 que traz alguns exemplos. Tabela 3.1. Constantes de dissociação, pK e pH (0,1 M) e de ácidos e bases. Ácido ou Base Temperatura pH K pKa ou pKb HCl 25 » 1 » 107 7 HI 25 » 1 » 3 x 109 - 9,48 H2SO4 20 » 1,5 » 4 x 10-1 0,4 NaOH 25 » 13 » 4 -0,60 Ca(OH)2 25 » 12 4 x 10-2 1,40 C6H5NH2 (anilina) 20 » 8 4 x 10-10 9,40 Fonte: adaptado de VOGEL, 1981. 3.2 Constante (Poduto) de Solubilidade A constante de solubilidade, mais comumente chamada de produto de solubilidade e representada pelo símbolo KPS ou KS, refere-se ao produto das concentrações de íons presentes em uma solução aquosa saturada de uma base ou de um sal pouco solúvel. Desta forma, quanto mais alto for o valor do KS mais solúvel será a substancia. , 36 Toda constante de equilíbrio KS varia com a temperatura. Para saber a solubilidade de um sal em diferentes temperaturas teremos de dispor dos valores de suas constantes Ks nessas mesmas temperaturas. É importante não confundir solubilidade (S) com o produto de solubilidade (KS), pois solubilidade é o quanto de soluto pode ser dissolvido em 100mL de água, por exemplo, enquanto que produto de solubilidade (KPS) é uma constante de equilíbrio que está diretamente relacionada com esta solubilidade. Vamos usar como exemplos os sais CaSO4 e BaSO4 para comparação: KS (BaSO4) = [ Ba2+] x [SO4 2-] = 1,1 x 10-10 KS (CaSO4) = [ Ca2+] x [SO4 2-] = 7,1 x 10-5 Verifique que os dois sais liberam quantidade idêntica de cátions e aníons na solução, assim, é possível definir quem é mais solúvel analisando diretamente os valores de Ks. Como o valor de KS do CaSO4 é maior, significa que ele é mais solúvel que o BaSO4. Vale ressaltar que quanto menor for o Ks menos solúvel será o precipitado, portanto, os íons comuns ao precipitado estarão em concentrações bem reduzidas na solução. Quando se aumenta a concentração de um dos íons envolvidos no equilíbrio entre uma solução saturada e um sólido, o equilíbrio se desloca, como previsto pelo princípio de Le Chatelier, de modo a reduzir a modificação imposta. O resultado é a diminuição da solubilidade do precipitado. O deslocamento do equilíbrio em sistemas desse tipo recebe o nome particular de efeito do íon comum. Caso a proporção entre os íons não seja a mesma dentro de cada solução, como no exemplo anterior, não é possível comparar os produtos de solubilidade para chegar aos mais solúvel. Assim, pode-se calcular a solubilidade de cada substância através do Ks e compará-las para verificar qual composto é mais solúvel. Veja um exemplo de cálculo de solubilidade a partir de um KS conhecido e sabendo que o KS é 4,0 x 10-11: CaF2 « Ca 2+ + 2 F1- KS = [Ca+2]. [2F-1]2 à KS = [S] . [2S]2 logo, KS = 4S3 à Síons » 2,1 X 10-4 mol. L-1 , 37 Outra aplicação do equilíbrio de solubilidade é a possibilidade de prever se ocorrerá a formação de precipitado e em que concentração começará a ocorrer a precipitação. Se uma mistura de íons está sendo analisada e queremos separar um tipo íon da mistura por precipitação, podemos utilizar a relação entre o quociente da reação (Qps) e a constante de equilíbrio (KS). A precipitação ocorre quando Qps é igual ou maior que o KS. Veja o exemplo dado pelos autores (FORTE et al, 2019). Haverá precipitação de PbI2 (Ks = 1,4 x 10-8), quando são misturados volumes iguais de soluções 0,2 mol L-1 de nitrato de chumbo (II) e iodeto de potássio? Pb(NO3)2(aq) + 2 KI(aq)  2 KNO3(aq) + PbI2(s)  Equação iônica simplificada (formação do precipitado): Pb2+(aq) + 2 I- (aq)  PbI2(s)  Inverso da equação iônica simplificada (dissociação do precipitado), no equilíbrio: PbI2(s) ⇔ Pb2+ (aq) + 2 I- (aq) ∴ Kps = [Pb2+] x [I-]2 (solido não entra na dissociação) Se Qps > Kps para a dissolução de PbI2(s), a reação tenderá a produzir o “reagente” PbI2, assim faz-se necessário determinar o valor de Qps. Para calcular Qps, devemos lembrar que, como são misturados volumes iguais de soluções, o volume final da mistura é duas vezes maior, assim, as concentrações das espécies na mistura são a metade dos valores iniciais, ou seja, 0,1 mol L-1 para Pb2+ (aq) e 0,1 mol L-1 para I- (aq). Então, podemos escrever a equação: Qps = [Pb2+] x [I-]2 = (0,1) x (0,1)2 ⇒ Qps = 1,0 x 10-3 Assim, como Qps (1,0 x 10-3) > Ks (1,4 x 10-8), pode-se afirmar que haverá a formação do precipitado. 3.3. Sistemas Tampão Ácidos e bases desempenham um papel importante em muitos sistemas químicos e biológicos. O corpo humano contém um sistema complexo de tampões no interior das células e nos fluidos corporais, como o sangue. O pH do sangue humano está dentro da faixa de 7,35 a 7,45, principalmente devido ao sistema tampão ácido carbônico/bicarbonato (SKOOG, 2014): , 38 CO2(g) + H2O(l)  H2CO3(aq) H2CO3(aq) + H2O(l)  H3O+(aq) + HCO3 - (aq) Um tampão é uma solução que praticamente não sofre variação de pH, quando adicionamos uma pequena quantidade de ácido ou base, mesmo que sejam fortes. As soluções-tampão são preparadas a partir de uma solução de um ácido fraco (que dissocia pouco), e um sal correspondente (que apresenta o mesmo ânion do ácido) ou solução de uma base fraca (que também dissocia pouco), e um sal correspondente (que apresenta o mesmo cátion da base). Então, quando um ácido fraco (ácido conjugado) exemplo HCN, é misturado com um sal (base conjugada), NaCN, ou quando uma base fraca (base conjugada), exemplo NH4OH, é misturada com um sal (ácido conjugado), NH4CN, teremos a formação de uma solução-tampão. Em uma solução tampão sempre haverá a presença de dois equilíbrios químicos que não terão grandes perturbações nem alterações no seu pH quando receberem eletrólitos que ionizam muito, como ácidos ou bases fortes. Há uma equação matemática para calcular o pH de uma solução tampão, a partir do pKa (a constante de dissociação do ácido) e de concentrações do equilíbrio ácido- base, do ácido ou base conjugada ou partir de pKb. É a chamada Equação de Henderson-Hasselbalch: 𝒑𝑯 = 𝒑𝑲𝒂 + 𝐥𝐨𝐠 ( [𝒔𝒂𝒍] [á𝒄𝒊𝒅𝒐] ) 𝒑𝑶𝑯 = 𝒑𝑲𝒃 + 𝐥𝐨𝐠 ( [𝒔𝒂𝒍] [𝒃𝒂𝒔𝒆] ) Vamos entender como é calculado o valor de pH ou pOH a partir de dados de uma solução tampão. Veja um exemplo: uma solução tampão preparada com ácido láctico (CH3CH(OH)COOH) e lactato de sódio (CH3CH(OH)COONa). Sabendo que a constante de ionização do ácido é 1,0x10-4 e que nesta solução há 0,12 mol/L de ácido láctico e 0,12 mol/L de lactato de sódio, qual o pH? https://pt.wikipedia.org/wiki/PH https://pt.wikipedia.org/wiki/Solu%C3%A7%C3%A3o_tamp%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/PKa https://pt.wikipedia.org/wiki/Constante_de_acidez , 39 Resolução: Nesse exemplo, temos uma solução-tampão formada por sal e ácido. Os dados fornecidos são: [sal] = 0,12 mol/L; [ácido] = 0,12 mol/L; Ka = 1.10-4 Por ser um tampão ácido, basta utilizar a expressão: 𝒑𝑯 = 𝒑𝑲𝒂 + 𝐥𝐨𝐠 ( [𝒔𝒂𝒍] [á𝒄𝒊𝒅𝒐] ) 𝒑𝑯 = − 𝐥𝐨𝐠 𝟏𝒙 𝟏𝟎−𝟒 +𝐥𝐨𝐠 ( [𝟎, 𝟏𝟐] [𝟎, 𝟏𝟐] ) 𝒑𝑯 = 𝟒 + 𝟎 → 𝒑𝑯 = 𝟒 3.4 Análise Gravimétrica Na análise gravimétrica determina-se a quantidade de um componente de uma amostra que pode ser obtida pela pesagem direta do constituinte de uma amostra quanto após uma transformação do elemento que gera um precipitado de interesse. É um procedimento fácil e muito utilizado na determinação de macroconstituintes de uma amostra de interesse e as determinações podem ser feitas com equipamentos baratos e simples. Entretanto, devido ao tempo necessário para execução pode ocasionar erros nos dados obtidos. Para evitar os erros grosseiros ou sistemáticos é muito importante que o analista tenha extremo cuidado ao realizar etapas de transferência, filtração, lavagem e secagem do componente. A separação do elemento pode ser efetuada de diversas maneiras e, dentre elas, as mais importantes são métodos de precipitação, de volatizarão, eletroanaliticos e de extração ou cromatográficos (VOGEL, 1992). Na gravimetria de volatilização, o analito e convertido em um gás de composição química conhecida e a massa medida desse gás serve como a medida da concentração do analito. Já na gravimetria eletroanalítica ou eletrogravimetria, o analito e separado pela deposição em um eletrodo por meio do uso de uma corrente elétrica. A massa do produto depositado fornece, então, uma medida da concentração do analito (SCHRÖDER, 2018). Na gravimetria de extração, o analito é separado de uma amostra por meio de destilação e posteriormente é pesado. Dentre os métodos gravimétricos o mais empregado é o de precipitação e, por isso, o detalharemos no próximo item. , 40 3.4.1. Gravimetria por Precipitação A gravimetria por precipitação se baseia na adição de um reagente precipitante na solução que contém o analito a ser analisado. Com a formação de um produto pouco solúvel ou insolúvel seguem-se etapas de tratamento deste precipitado, a saber: digestão, filtração, lavagem, secagem ou calcinação e, finalmente, a pesagem. Por meio deste procedimento vários íons podem ser determinados. Nem sempre o constituinte pesado tem a mesma forma química do precipitado. Isso ocorre porque, muitas vezes, o precipitado não se constitui uma forma adequada de pesagem, não possui uma composição química bem definida ou ainda não suporta o processo de aquecimento (SCHRÖDER, 2018). O tamanho das partículas que diferenciam tipos de precipitados, obtidos gravimetricamente, influenciará diretamente no processo de filtração. Os precipitados cristalinos, por exemplo, são facilmente filtráveis e por serem mais compactos e densos não se contaminam facilmente. Os fatores que influenciam no tamanho de um precipitado são a temperatura, a constante de solubilidade, a concentração de cada solução e a velocidade com que as soluções são misturadas ou que reagem. Após a filtração é importante, como já mencionado, seguir os procedimentos como a lavagem. Ela irá garantir remover outros constituintes solúveis que não nos interessam na análise quantitativa e que podem ser fontes de erros nos resultados estatísticos. Conforme SKOOG et al. (2014), uma vez terminada a filtração e lavagem do precipitado, este deverá ser recolhido ainda dentro do papel e levado ao aquecimento até que sua massa se torne constante. O aquecimento remove o solvente e espécies voláteis presentes. Alguns precipitados são calcinados para decompor o solido e formar um composto de composição conhecida. Após esse procedimento, deve-se aguardar o precipitado retornar a temperatura ambiente e, em seguida, o produto final é então medido em balança analítica. Por meio dessa sequência, vários íons podem ser determinados por gravimetria, pois podem ser precipitados com um reagente especifico e pesados após secagem. , 41 3.5 Cálculos na Análise Gravimétrica A análise gravimétrica envolve medidas de massa. Desta forma, deve ser considerada a mostra inicial da amostra (mi) utilizada para a análise e a massa final (mf) obtida do precipitado contendo o analito estudado. Assim, para calcular a massa, em porcentagem (% m/m), utilizamos um cálculo simples como demonstrado na equação abaixo: % (𝒎/𝒎) = 𝒎𝒇 𝒎𝒊 𝒙 𝟏𝟎𝟎 Entretanto, se a espécie desejada não for obtida diretamente, é necessário aplicar sobre a massa medida (mm) um fator gravimétrico (FG), que é um fator de conversão. O FG é calculado a partir da razão ente Massa Molar da substancia desejada (analito) pela Massa Molar da substancia medida (pesada), (FG = MMd/MMm). Por exemplo, se o analito que me interessa é Fe e a amostra pesada foi de Fe2O3, aplico o FG como 2MMFe/ MMFe2O3. Então o cálculo da % (m/m) fica: % (𝒎/𝒎) = (𝒎𝒎 𝒙 𝑭𝑮) 𝒎𝒊 𝒙 𝟏𝟎𝟎 O uso do FG é apenas uma das formas de cálculo dos métodos gravimétricos. O importante sempre é relacionar número de mols do produto final com o número de mols do produto desejado ou o número de mols do reagente utilizado, dependendo da situação (SCHRODER, 2018). Saiba Mais A seguir indicações de leitura para ampliar seus conhecimentos sobre este conteúdo: Artigos do Periódicos de Química: 1) “Sulfetos: Por que nem todos são insolúveis?” De Cláudia Rocha Martins em 2010. Disponível em . https://www.scielo.br/pdf/qn/v33n10/44.pdf , 42 2) “O conceito de solução tampão” de Antonio Rogério Fiorucci em 2001. Disponível em: . 3) A respeito de Gravimetria temos “Análise química de carbonatos de cálcio fabricados entre 1902 e 2002” De Márcia Alves Barreto de Moraes em 2015. Disponível em: . Conclusão O equilíbrio químico se baseia na compreensão de reações químicas reversíveis. A partir desta compreensão é possível planejar a obtenção de produtos e prever o melhor rendimento. Quanto valor for o valor das constantes seja ela Kc, Kp, Ka, Kb, Ki sabe-se que maior será o rendimento da reação. É importante considerar que, quando fatores externos como temperatura, concentração e pressão afetam um sistema em equilíbrio, ele se deslocará de modo a anular este fator externo e se ajustar a um novo equilíbrio. Este é o princípio de Le Chatelier. A preparação de solução tampão fundamenta-se nos conceitos de equilíbrio químico e princípio de Le Chatelier. Os sistemas tampão são importantes na medição de variações bruscas de pH e atualmente é aplicado nas mais diversas áreas do conhecimento. O controle adequado do pH pode ser essencial na determinação das extensões de reações de precipitação e de eletrodeposição de metais, na efetividade de separações químicas, nas sínteses químicas em geral e no controle de mecanismos de oxidação e reações eletrolíticas. A constante relacionada a solubilidade, Ks, é a constante de equilíbrio para a reação na qual um sólido se dissolve, dando origem a seus íons constituintes em solução e que possibilita a previsão de um sal ser solúvel ou não em diferentes meios reacionais. A determinação do Ks de um sal possibilita a previsão de sua solubilidade em sistemas como em água pura, sistemas com diferentes valores de pH e na presença de íons complexantes. Para a determinação do Ks, é necessário obter o sal com alto grau de pureza porque quaisquer íons contaminantes interferem no valor da constante de solubilidade. http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc13/v13a04.pdf http://www.abq.org.br/rqi/2014/746/RQI-746-pagina27-Artigo-Tecnico.pdf , 43 Para se medir esta constante de equilíbrio é importante fazer com que o sistema atinja o equilíbrio químico em uma temperatura constante e, posteriormente, analisar a solução resultante para determinar a concentração das espécies químicas presentes. A comparação direta dos valores de Kps de sais que apresentam a mesma estequiometria