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Mayanne Mendonça Intencionalidade: compreender a situação da violência contra a mulher, o feminicídio no Brasil e o papel da Atenção Básica no enfrentamento da violência contra a mulher. 1. Entenda os sinais físicos, sociais e psicológicas em casos de uma violência doméstica. Feminicídio: é o assassinato de uma mulher motivado pela discriminação de gênero, ou seja, pelo fato de ser mulher. O feminicídio ocorre em um contexto de opressão ou desigualdade de gênero e muitas vezes está relacionado à violência doméstica ou a práticas culturais que inferiorizam a mulher. Em alguns países, incluindo o Brasil, feminicídio é um crime tipificado na legislação, com penas mais severas do que outros tipos de homicídio. Femicídio: enquanto o termo feminicídio carrega uma conotação legal e social, o femicídio refere-se mais amplamente ao homicídio de mulheres sem necessariamente incluir a motivação de gênero. Em alguns contextos, o termo femicídio é usado de forma intercambiável com feminicídio, embora sua abrangência seja um pouco mais ampla e menos específica. Ele abrange qualquer homicídio de mulher, sem a obrigatoriedade de um motivo baseado na desigualdade de gênero. Violência doméstica: refere-se a qualquer forma de abuso (físico, psicológico, sexual, patrimonial ou moral) praticado dentro do ambiente doméstico, podendo ser entre familiares ou parceiros íntimos. Não é restrito ao gênero e pode afetar homens, mulheres, crianças e idosos. No entanto, a maioria dos casos de violência doméstica envolve mulheres como vítimas e parceiros íntimos ou familiares como agressores. Esse tipo de violência é caracterizado pela proximidade entre a vítima e o agressor, que geralmente compartilham o mesmo ambiente de convívio. Violência de gênero: engloba todas as formas de violência baseadas em desigualdades de gênero e pode ocorrer tanto no espaço público quanto privado. A violência de gênero é direcionada a uma pessoa em razão de seu gênero ou identidade de gênero e inclui violência psicológica, física, sexual e econômica. Ela pode ocorrer contra qualquer pessoa, mas, predominantemente, afeta mulheres e pessoas LGBTQIA+, devido à maior vulnerabilidade e preconceito estrutural enfrentado por esses grupos. Fonte: https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia- domestica/o-que-e-violencia-domestica.html Estudos têm mostrado que mulheres vítimas de abuso apresentam: • Muitos problemas de saúde física e mental; • Vários relacionamentos; • Maior chance de ter parceiros que as impeçam de trabalhar ou estudar. As manifestações clínicas da violência podem ser agudas ou crônicas, físicas, mentais ou sociais. Lesões físicas agudas (inflamações, contusões, hematomas em varias partes do corpo), em geral, são conseqüência de agressões causadas por uso de armas, socos, pontapés, tentativas de https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/o-que-e-violencia-domestica.html https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/o-que-e-violencia-domestica.html Mayanne Mendonça estrangulamento, queimaduras, sacudidelas. Em alguns casos, podem provocar fraturas dos ossos da face, costelas, mãos, bravos e pernas. Nas agressões sexuais, podem ser observadas lesões das mucosas oral, anal e vaginal. A gravidade das lesões depende do grau de penetração e do objeto utilizado na agressão. As lesões das mucosas envolvem inflamação, irritação, arranhões e edema, podendo ocorrer inclusive perfuração ou ruptura. Doenças sexualmente transmissíveis (DST/AIDS), infecções urinárias, vaginais e gravidez são conseqüências que podem se manifestar posteriormente. Semanas ou meses após a agressão, podem permanecer sintomas de dor no baixo ventre ou infecções, transtornos digestivos - como falta de apetite -, náuseas, vômitos, cólicas e dores de estômago, perda de peso, dores de cabeça e dores musculares generalizadas. Entre os sintomas psicossomáticos estão a insônia, os pesadelos, a falta de concentração e irritabilidade, caracterizando-se, nestes casos, a ocorrência de estresse pós-traumático. Os efeitos sobre a saúde podem ser prolongados e crônicos, podendo ser evitados mediante tratamento e apoio apropriado, tanto pela equipe de saúde como pela família e amigos. Alterações psicológicas podem ser decorrentes do trauma, entre eles o estado de choque que ocorre imediatamente à agressão, podendo durar várias horas ou dias. Outro sintoma freqüente é a crise de pânico, que pode repetir-se por longos períodos. Podem ainda surgir ansiedade, medo e confusão, fobias, insônia, pesadelos, auto- reprovação, sentimentos de inferioridade, fracasso, insegurança ou culpa, baixa auto-estima, comportamento auto-destrutivo - como uso de álcool e drogas -, depressão, tentativas de suicídio e sua consumação. As manifestações sociais podem incluir isolamento por medo que outros descubram o acontecido, medo de que se repita, mudanças freqüentes de emprego ou moradia. Diagnóstico Antes de medicá-las, os profissionais de saúde devem sempre procurar conhecer sua história de vida, pois o tratamento meramente sintomático manterá oculto o problema. A maioria das mulheres, se perguntadas abertamente, discutirá as situações de violência que vivenciam. Mesmo que num primeiro momento elas neguem por não estarem preparadas para lidar com o problema, o questionamento pelo profissional de saúde, de maneira cuidadosa, facilita o início de um diálogo e a possibilidade de um canal de ajuda. Observou-se num determinado serviço que, ao serem perguntadas sobre violência em sua casa, as mulheres diziam não, mas respondiam afirmativamente a perguntas do tipo: você já foi agredida em casa por alguém da família? Já sentiu ou sente medo de alguém? Esse tipo de abordagem mostra que a escolha das palavras é fator importante para reconhecer o problema da violência e falar dele abertamente. A visita domiciliar é de grande importância, pois permite a observação mais adequada para identificar, com mais segurança, a situação de violência. Abordagem terapêutica Orientar as pacientes sobre a natureza e o curso da violência doméstica, fornecendo informações sobre os recursos existentes na comunidade, grupos de auto-ajuda e como prevenir novos episódios. Mayanne Mendonça O acompanhamento psicológico, realizado por profissional da equipe de atenção primária ou de saúde mental, é útil para uma mudança nos padrões do relacionamento, em intervenções de longo prazo. Os profissionais devem identificar pacientes com alto risco de tornarem-se abusadores no futuro, os quais devem ser encaminhados a serviços de saúde mental para melhor lidar com situações de estresse e buscar alternativas não - violentas na resolução de conflitos. Doze passos da abordagem: 1. Desenvolver uma atitude que possibilite à mulher sentir-se acolhida e apoiada. 2. Ajudar a mulher a estabelecer um vínculo de confiança individual e institucional para avaliar o histórico de violência, riscos, motivação para romper a relação, limites e possibilidades pessoais, bem como seus recursos sociais e familiares. 3. Conversar com a mulher sobre as diferentes opções para lidar com o problema que ela está vivenciando, garantindo-lhe o direito de escolha, fortalecendo sua auto-estima e autonomia. 4. Estabelecer passos graduais, concretos e realistas, construindo um mapa dos recursos, alternativas e ações, com vistas a implementar a metodologia a seguir. 5. Apoiar a mulher que deseja fazer o registro policial do fato e informa-la sobre o significado do exame de corpo de delito, ressaltando a importância de tornar visível a situação de violência. 6. Sugerir encaminhamento aos órgãos competentes: Delegacia Policial, de preferência Delegacia de Proteção à Mulher e Instituto ou Departamento Médico-Legal. Orientar a mulher quanto ao seu direito e importânciade 2019) Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada; II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias; III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência; IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários; V - ouvir o agressor e as testemunhas; VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele; VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento); (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019) VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público. § 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter: I - qualificação da ofendida e do agressor; II - nome e idade dos dependentes; III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida. IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019) § 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida. § 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde. Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e planos de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, darão prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13894.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13894.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13880.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13836.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13836.htm#art1 Mayanne Mendonça especializadas para o atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher. § 3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos necessários à defesa da mulher em situação de violência doméstica e familiar e de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: (Redação dada pela Lei nº 14.188, de 2021) I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) § 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) § 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei. Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária. Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de dissolução de união estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) § 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à partilha de bens. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13827.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14188.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13827.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13827.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13827.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13827.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13827.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13894.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13894.htm#art1 Mayanne Mendonça § 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união estável, a ação terá preferência no juízo onde estiver. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado: I - do seu domicílio ou de sua residência; II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; III - do domicílio do agressor. Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. (Vide ADI 7267) Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violênciadoméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa. DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA Seção I Disposições Gerais Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas: I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência; II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso; II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente; (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019) III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis. IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019) Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. § 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado. § 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados. § 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13894.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13894.htm#art1 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6519419 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13894.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13880.htm#art1 Mayanne Mendonça ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. § 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição sumária a partir do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da apresentação de suas alegações escritas e poderão ser indeferidas no caso de avaliação pela autoridade de inexistência de risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023) § 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrência. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023) § 6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023) Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial. Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público. Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor . Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ; II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14550.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14550.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14550.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14550.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14550.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14550.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm Mayanne Mendonça VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020) VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de apoio. (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020) § 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público. § 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso. § 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial. § 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil). Seção III Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor; III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; IV - determinar a separação de corpos. V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição, independentemente da existência de vaga. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) VI – conceder à ofendidaauxílio-aluguel, com valor fixado em função de sua situação de vulnerabilidade social e econômica, por período não superior a 6 (seis) meses. (Incluído pela Lei nº 14.674, de 2023) Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras: I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L13984.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L13984.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L13984.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm#art6 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm#art6 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.bak2#art461%C2%A75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.bak2#art461%C2%A75 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13882.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14674.htm#art1 Mayanne Mendonça IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo. Do Crime de Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 14.994, de 2024) § 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) § 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) § 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) CAPÍTULO III DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da violência doméstica e familiar contra a mulher. Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário: I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e de segurança, entre outros; II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas; III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher. CAPÍTULO IV DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação de violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei. Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento específico e humanizado. TÍTULO V DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13641.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13641.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13641.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13641.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14994.htm#art7 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14994.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13641.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13641.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13641.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13641.htm#art2 Mayanne Mendonça Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e aos adolescentes. Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais aprofundada, o juiz poderá determinar a manifestação de profissional especializado, mediante a indicação da equipe de atendimento multidisciplinar. Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, poderá prever recursos para a criação e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias. TÍTULO VI DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente. Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas no caput. Algumas leis aqui nesse link https://unasus- quali.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1913380/mod_resource/content/4 5/conteudo/unidade_01.html#politicas Lei maria da penha aqui https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2006/lei/l11340.htm 6. Compreenda a rede intersetorial e o fluxo de encaminhamento em casos de violência Douglas - Como é organizada a Rede de Enfrentamento / Proteção da Mulher no Brasil. Quais serviços são ofertados? Quais as Políticas públicas de enfrentamento? Incluir intersetorialidade (além da Saúde, além de ONGs). Por onde a mulher pode procurar e receber apoio/informações. Rede de atenção às mulheres em situação de violência A Rede de Atenção às Mulheres em Situação de Violência Doméstica engloba os pontos de atenção, o fluxo de atendimento e os encaminhamentos que podem ser realizados quando necessário. Rede de atenção às mulheres em situação de violência https://unasus-quali.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1913380/mod_resource/content/45/conteudo/unidade_01.html#politicas https://unasus-quali.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1913380/mod_resource/content/45/conteudo/unidade_01.html#politicas https://unasus-quali.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1913380/mod_resource/content/45/conteudo/unidade_01.html#politicas https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm Mayanne Mendonça A violência doméstica tem uma complexidade que requer políticas e ações coordenadasintersetorialmente, com a participação do Estado e da sociedade civil. A equipe de saúde da atenção primária tem papel importante no reconhecimento das situações de violência doméstica, na atenção e no acionamento da rede. Como responsável pela população de sua área de abrangência, tem o compromisso de acompanhar o andamento das mulheres na rede de atenção, coordenando o cuidado. A rede de enfrentamento a violência é mais abrangente que a rede de atenção, envolvendo a sociedade como um todo, entidades governamentais, não governamentais, instituições de ensino, entre outras. O enfrentamento atua na promoção de ambientes saudáveis, prevenção da violência e também na atenção às pessoas que vivenciam este agravo. Exige ações que promovam a informação e a reflexão na comunidade e também medidas de atenção que garantam portas abertas nos serviços de saúde, assistência social, segurança e justiça, para o alcance da redução dos atos violentos. O atendimento da mulher em situação de violência doméstica em rede articulada amplia o acesso e minimiza a revitimização. Fluxo de atenção e encaminhamentos Os serviços articulados em rede de atenção devem promover facilidade e ampliação de acesso. O fluxo de atenção precisa ser construído pelos serviços que estão presentes na comunidade e fora dela, quando forem serviços essenciais para a atenção, como as referências na área de saúde, assistência social, segurança ou justiça. Sugere-se a elaboração de documento pactuando o fluxo e o acesso. Esta informação deverá ser divulgada para a comunidade nos meios de comunicação, nas Unidades Básicas de Saúde e em outros espaços de convívio local. O percurso na rede de atenção se constrói a partir da sequência de decisões da mulher em situação de violência, na busca pela solução de seus problemas, avaliando as opções a partir das informações recebidas. O início deste percurso ocorre pelo rompimento do silêncio da mulher em relação a situação de violência vivenciada. O ponto da rede em que este rompimento acontecer deverá ser o início do percurso da atenção e proteção. Este caminho deve respeitar a decisão da mulher. A intervenção do profissional que está acompanhando a situação deverá ocorrer de acordo com a avaliação de risco a que a mulher está exposta. Lembre-se que de acordo com a Portaria GM/MS nº 78 de 18 de janeiro de 2021, caberá a unidade de saúde comunicar à autoridade policial os casos de violência interpessoal contra a mulher no prazo de 24 horas, contados da data da constatação da violência. E a unidade de saúde que proceder a comunicação à autoridade policial dos casos de violência interpessoal contra a mulher deverá encaminhar à autoridade sanitária local a ficha de comunicação. Mayanne Mendonça Um documento norteador pode ser escrito pelos serviços que compõem a rede local e regional de atendimento e nele constar informações de quais os serviços compõem a rede, suas atribuições, telefones e os profissionais de referência. A identificação das necessidades e a pactuação de um plano de cuidados com a mulher em situação de violência doméstica é que vai demandar ou não o encaminhamento na rede. O profissional quando fizer um encaminhamento deverá: A rede poderá organizar um formulário de referência e contrarreferência para os encaminhamentos. Destaca-se o cuidado para com as questões éticas e de sigilo em todo o processo. Assim, as informações do formulário de referência e contrarreferência devem ser mínimas, mas suficientes para possibilitar a continuidade do processo de atenção e a não revitimização. Para que a rede funcione, os profissionais que atuam nos serviços precisam ter conhecimento da rede e se reconhecer nela. Então, além de documento que formalize a rede, os serviços e suas atribuições, é necessário que ocorram reuniões periódicas onde um representante de cada serviço informe o andamento das suas atribuições e da relação deste com os demais setores. O ponto de convergência da rede deve ser a atenção às mulheres em situação de violência doméstica. Normas e procedimentos podem e devem ser revistos, sempre que necessário, com a finalidade de ampliar o acesso e a qualidade da atenção às mulheres. PONTOS DE ATENÇÃO Mayanne Mendonça Caso a mulher esteja com lesões físicas ou tenha sido vítima de violência sexual, e o primeiro acesso não ocorreu em serviço de saúde, deverá ser encaminhada para um serviço que atenda urgência e emergência, onde as medidas necessárias sejam efetuadas. Caso você profissional da primária à saúde receber um caso de violência sexual, medidas precisam ser tomadas imediatamente. Em caso de estupro, a primeira medida a ser tomada é buscar um serviço de saúde, preferencialmente uma Unidade Hospitalar. É lá que a mulher em situação de violência sexual receberá os cuidados necessários, como o tratamento de lesões, prescrição de medicação para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e para prevenção da gravidez. Essa medicação é mais efetiva se for administrada em até 72 horas após o estupro, por isso procurar um serviço de saúde pode ser determinante para a saúde da mulher em situação de violência sexual. Além das medicações para prevenção de doenças, infecções e gravidez não desejada, a mulher vítima de estupro também tem direito a acompanhamento psicológico, cirurgia plástica reparadora (quando for o caso), e encaminhamento para outros serviços especializados. Nos casos de gravidez em decorrência de estupro, a mulher tem direito de realizar a interrupção da gravidez e não é obrigatório apresentar boletim de ocorrência para o atendimento na saúde. (Art. 128 do Código Penal - Decreto-Lei nº 2.848/ 1940 e Norma Técnica “Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual Contra Mulheres e Adolescentes”, Ministério da Saúde, 2012). Como atuar em rede para atenção a violência Os serviços devem realizar o acolhimento de mulheres em situação de violência doméstica e, a partir da escuta, realizar o atendimento. Cada serviço tem uma função diferenciada a desempenhar na rede de atenção. Na área da saúde, para a violência doméstica, consideram-se as equipes da atenção primária à saúde como ponto essencial da rede pela possibilidade de identificação das situações de violência e apoio à mulher na quebra do silêncio e na elaboração, junto a ela, de um plano de cuidados. Ressaltamos que a saúde não condiciona o atendimento ao boletim de ocorrência. A articulação pode ocorrer entre os profissionais que atuam na Equipe de Saúde da Família (ESF) e os demais profissionais das equipes entre eles os dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASF), que trabalhando de forma interdisciplinar podem utilizar estratégias de fortalecimento do cuidado ampliado às mulheres em risco ou situação de violência, por meio da estratégia do Projeto Terapêutico Singular (PTS). Este Projeto é um movimento de co-produção de problematização e de co- gestão do processo terapêutico de indivíduos ou coletivos em situação de vulnerabilidade, este tipo de Mayanne Mendonça abordagem pode ser aplicada nos casos de violência doméstica contra mulher. Muitas destas equipes têm profissionais psicólogos com importante contribuição a dar, não somente no apoio às mulheres, mas também no apoio à equipe para suportar a carga de sofrimento imposta pelo trabalho na atenção às pessoas em situação de violência. Outras possibilidades de articulação dentro do setor saúde, acontecem nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ou com serviços de atendimento de urgência/emergência. O CAPS é constituído por equipe multiprofissional, que atua sobre a ótica interdisciplinar, realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial,seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial. Os serviços de urgência e emergência podem ser referenciados nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) ou em hospitais. Entre as situações que demandam atendimento de urgência e emergência estão especialmente as violências físicas e sexuais. Alguns municípios têm também serviços especializados na área da saúde para a atenção a mulheres em situação de violência. Nestes serviços atuam profissionais médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, como parte da equipe de referência para elaboração de plano de cuidados e acompanhamento. Entre esses serviços, os hospitais tem a função de atender às mulheres em situação de violência e realizar interrupção da gestação nos casos previstos em lei, como o estupro, por exemplo. Para além da saúde, outros serviços de atendimento precisam fazer parte da rede, dentre eles os da assistência social, da segurança e da justiça. Mayanne Mendonça Estados e ONGs tem buscado novas tecnologias e estratégias para o cuidado às mulheres e desenvolvido ações para apoio a elas no momento da emergência, como por exemplo o desenvolvimento de aplicativos que podem ajudar esta mulher no momento da violência, acionando a rede de proteção. Por exemplo, o aplicativo implantado no estado do Piauí denominado Salve Maria para denúncias de violência doméstica pela população, de forma sigilosa, por via de mensagens. No Sistema de Justiça, toda mulher vítima de violência doméstica tem direito à assistência judiciária da Defensoria Pública, independentemente do nível de renda. Na defensoria, as mulheres podem acessar orientações sobre os direitos que lhes são assegurados (integridade, guarda de filhos, pensão alimentícia, acesso a programas sociais etc.) e as situações que podem levar à prisão do autor da violência, encaminhamento a atendimento psicossocial, entre outras atribuições. Ao Ministério Público cabe representar a sociedade na denúncia e busca de responsabilização cível e criminal do agressor, solicitar medidas protetivas em defesa da mulher, requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e de segurança, entre outros. Cabe a este serviço fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e adotar as medidas administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas. Ao Juiz cabe a expedição de medida protetiva à vítima de violência. Pode ser a determinação da prisão preventiva do agressor, bem como seu comparecimento obrigatório a programas de reeducação (INSTITUTO PATRICIA GALVÃO, 2018). O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Em cada município deverá ter pelo menos um Conselho Tutelar composto por cinco membros eleitos pela comunidade (BRASIL, 1990). Mayanne Mendonça Da mesma forma, a violência contra as mulheres com 60 ou mais anos deverá ser comunicada ao Conselho do Idoso ou ao Ministério Público. Para as demais mulheres, o atendimento deve ser realizado e a informação sobre os seus direitos previstos na legislação, em especial Lei Maria da Penha, deve ser dada pelos profissionais. Destacamos que não é necessário o BO para qualquer atendimento em saúde. É importante destacar que crime de lesão corporal, conforme Art. 129 do Código Penal Brasileiro, não é passível de retratação pela vítima, por ser um crime de ação penal incondicionada. Em outras palavras, se for lesão corporal não há como retirar o caso e nem extinguir a punibilidade, pois a vontade de justiça é do Estado e não precisa de representação da vítima. O encaminhamento para assistência social deve ocorrer quando a mulher estiver em situação de vulnerabilidade social. O serviço social é responsável por assegurar o acesso a casas-abrigo e serviços de proteção à vida; cadastramento da mulher em programas sociais de alimentação, educação, emprego e renda. Estes são os pontos da rede de atenção às mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica que você precisa identificar no seu local de atuação. Ao identificar, cabe saber quem são os profissionais de referência, contato e como atuam, sendo estas informações essenciais para a atuação e articulação em rede de atenção às mulheres em situação de violência doméstica. Fonte: https://unasus.ufsc.br/saudedamulher/files/2022/02/GUIA_Violencia Mulheres_V4-1.pdf Políticas públicas Em relação aos mecanismos institucionais de gênero, ocorreu um avanço importante em 2003 através da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM). Essa secretaria resgatou a atuação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) na década de 1980 e intensificou sua interlocução com os movimentos de mulheres. Por esta razão, a SPM foi reconhecida, por esses movimentos, como aliada na defesa de políticas públicas com perspectiva de gênero. A atuação dessa secretaria, em sintonia com os movimentos de mulheres e em interlocução com o Congresso Nacional, foi importante na aprovação e implementação da Lei Maria da Penha. No plano nacional a SPM foi, no período de 2003 a 2010, um importante mecanismo de defesa dos direitos das mulheres. No plano estadual, mesmo considerando a ampliação desses mecanismos – no final de 2010 existiam secretarias de políticas para as mulheres em 23 estados brasileiros –, grande parte deles estavam sem força capaz de impulsionar políticas locais mais significativas. Por outro lado, esses mecanismos locais, em articulação com movimentos de mulheres, foram de grande importância para a https://unasus.ufsc.br/saudedamulher/files/2022/02/GUIA_ViolenciaMulheres_V4-1.pdf https://unasus.ufsc.br/saudedamulher/files/2022/02/GUIA_ViolenciaMulheres_V4-1.pdf Mayanne Mendonça realização de conferências municipais e estaduais de mulheres. Em 2004, fruto desse processo, o MS elaborou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), que admite como um dos principais temas a promoção da atenção às mulheres e aos adolescentes em situação de violência. Essa política foi estruturada em dois documentos, o primeiro constando os princípios e diretrizes, e o segundo o Plano de Ação 2004-2007, que abarcou os objetivos específicos e propôs metas, estratégias, ações, recursos e indicadores para cada um dos objetivos (BRASIL, 2015). Um dos objetivos foi organizar as redes de atenção integral a mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual. Esse plano definiu algumas metas: a integração de serviços em redes locais, regionais e nacionais; a instituição de redes de atendimento envolvendo um conjunto de instituições; o aumento dos serviços de atenção à saúde da mulher em situação de violência; a ampliação do número de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams). Suas metas buscaram desenvolver políticas públicas amplas e articuladas, prioritariamente direcionadas às mulheres rurais, negras e indígenas em situação de violência, considerando a dupla ou tripla discriminação a que estão submetidas. O pacto estimula a articulação federativa por meio de convênios com estados e municípios, disponibilizando recursos financeiros para criação de serviços, compra de equipamentos, promoção de cursos de capacitação de agentes públicos, dentre outras ações. Como resultado dessa articulação federativa, observa-se no período de 2007 a 2010 um aumento significativo de serviços voltados à atenção às mulheres em situação de violência e a possibilidade de fortalecimento dos mecanismos locais de defesa dos direitos das mulheres. Esse pacto apresenta como eixos estruturantes: a proteção aos direi tos sexuais e reprodutivos e a feminilização da Aids;o fortaleciment o da rede de atendimento e implementação da Lei Maria da Penha; o combate à exploração sexual da mulher e da adolescente e ao tráf ico de mulheres; a promoção dos direitos humanos das mulheres. A legislação nacional e os tratados e as convenções internacionais ratificadas pelo Brasil apresentam avanços quanto à institucionalização de direitos, pautando-se nos princípios da universalidade e da igualdade. No entanto, tais avanços não se concretizam na vida de milhões de homens e mulheres, na medida em que se materializam por meio das políticas implementadas pelo Estado num contexto social marcado por contradições de classe, gênero e étnico-raciais (ROCHA, 2005). Tratar a violência como um ato isolado, sendo difícil enfrentá-la sem uma rede de apoio, sobretudo de políticas públicas, é contribuir para a manutenção de formas de sociabilidade violentas (ROCHA, 2005). A aprovação de medidas legislativas de prevenção e combate à violência de gênero constitui passos importantes. No entanto, essas medidas precisam ser concretizadas por meio de ações governamentais, no âmbito do Executivo e da atuação do Judiciário no contexto brasileiro. Além disso, é necessário estabelecer Mayanne Mendonça o grande desafio de torná-las conhecidas da população e de garantir- lhes o acesso à Justiça (ROCHA, 2005). Alguns pesquisadores demonstram a necessidade de lançar esse olhar às políticas destinadas a homens em situação de violência, pois no plano atual ainda são tratados exclusivamente como agressores. Podemos observar que todas as conferências, leis e políticas relacionadas à violência foram criadas com base na violência contra a mulher. Pouco se fala sobre a violência contra homens – estas, quando são abordadas, estão mais relacionadas à violência urbana e a homicídios (TRISTÃO et al, 2012). O homem pode ser vítima da violência doméstica, sendo incluído nos termos da Lei Maria da Penha. Contudo, as medidas de assistência e proteção limitam-se à mulher (CUNHA e PINTO, 2007). Beiras et al (2011) elaboraram uma comunicação acerca do mapeamento dos programas que elaboram políticas públicas na América Latina e em Portugal. Demonstraram que, principalmente na América Latina, ainda privilegiam o atendimento a mulheres vítimas de violência. São iniciativas de entidades não governamentais que desenvolvem programas para o atendimento ao homem. https://unasus- quali.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1913380/mod_resource/content/4 5/conteudo/unidade_01.html#politicas 7. Quais os principais desafios para o rompimento do ciclo da violência da mulher no Brasil Crenças e estigmas culturais A cultura patriarcal enraizada no Brasil perpetua ideias de submissão e controle sobre a mulher, o que pode levar a uma naturalização da violência. Isso gera vergonha e medo em muitas mulheres, impedindo que denunciem e busquem ajuda. Dependência econômica Muitas mulheres são financeiramente dependentes dos parceiros, o que dificulta a possibilidade de deixarem o agressor. Essa dependência não só as prende ao ciclo da violência, como também as desmotiva a buscar alternativas de renda e autonomia. Rede de apoio insuficiente Falta de apoio de familiares, amigos e comunidade também é um grande desafio. Muitas mulheres enfrentam a violência sozinhas, sem receber o suporte necessário para romper o ciclo, e até são incentivadas a "preservar a família" e "suportar" a situação. Acesso limitado a serviços especializados Ainda há escassez de serviços especializados, como delegacias da mulher, centros de acolhimento e abrigos. Em muitas cidades, especialmente em áreas rurais, os recursos são limitados, e os serviços estão concentrados nas capitais e grandes centros. Capacitação de profissionais Profissionais da saúde, da segurança pública e da assistência social nem sempre estão preparados para identificar e lidar com casos de violência de maneira adequada. O acolhimento inicial é crucial, e a falta de capacitação pode afastar a mulher de denunciar e buscar ajuda. Morosidade no sistema de justiça https://unasus-quali.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1913380/mod_resource/content/45/conteudo/unidade_01.html#politicas https://unasus-quali.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1913380/mod_resource/content/45/conteudo/unidade_01.html#politicas https://unasus-quali.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1913380/mod_resource/content/45/conteudo/unidade_01.html#politicas Mayanne Mendonça O processo judicial pode ser lento e ineficaz. Em muitos casos, as medidas protetivas não são aplicadas com a urgência necessária, e as penalidades podem não ser proporcionais à gravidade dos casos de violência, desmotivando a denúncia. Medo de represálias e revitimização Denunciar o agressor pode expor a mulher a mais ameaças e violência, e o próprio sistema judicial pode revitimizá-la durante o processo. Muitas mulheres acabam desistindo do processo por medo de represálias ou pela angústia de reviver a situação de violência. Educação e conscientização A educação sobre direitos das mulheres, igualdade de gênero e respeito nas relações ainda precisa de maior alcance. Campanhas de conscientização são fundamentais para quebrar estigmas, mas são insuficientes frente à magnitude do problema. Douglas - Compreenda o Ciclo da Violência (fases: aumento da tensão, ato de violência e arrependimento/comportamento carinhoso). Quais são os fatores que perpetuam o Ciclo da Violência (para que mulheres não consigam sair dele). Ciclo da violência Podemos considerar que as interações violentas de um casal estão vinculadas ao aumento de tensão nas relações de poder estabelecidas e que a relação de dominação/subordinação necessita ser confirmada. A situação de violência pode ser, então, uma tentativa de restaurar o poder perdido ou nunca alcançado, ou ainda a confirmação mútua da identidade (Mesterman, 1998)9 (Gregory, 1996)10. O ciclo da violência, descrito por L. Walker (1979)11, expressa como os diferentes fatores interagem num mesmo relacionamento de violência, através de sucessivas fases. Segundo Walker, nem todos os momentos são marcados pela agressão e entendê-lo é muito importante na sua prevenção e interrupção. O ciclo da violência tem três fases distintas, as quais variam, tanto em intensidade como no tempo, para o mesmo casal e entre diferentes casais e não aparecem, necessariamente, em todos os relacionamentos. Fase um: o aumento da tensão Ocorrem pequenos, mas freqüentes, incidentes de violência. É mais fácil a mulher negar a sua raiva, atribuindo cada incidente à uma situação externa. Tenta acreditar que Mayanne Mendonça tem algum controle sobre o comportamento do agressor. Esta aparente aceitação estimula-o a não controlar a si mesmo, as tentativas de humilhação psicológica tornam-se mais fortes e as ofensas verbais mais longas e hostis. A mulher não consegue restaurar o equilíbrio na relação, ficando cada vez menos capaz de se defender. O homem aumenta a opressão, o ciúme e a possessividade quando observa que ela está tentando afastar-se. Os atos da mulher estão sujeitos a interpretações equivocadas. Ele vigia todos os seus passos. Qualquer situação externa pode atrapalhar o equilíbrio e a tensão entre os dois torna-se intolerável. Fase dois: o incidente agudo da violência Esta fase é mais breve que a anterior e a seguinte, caracterizando-se pela incontrolável descarga de tensão acumulada na fase um e pela falta de previsibilidade e controle. O que marca a distinção entre as fases é a gravidade com a qual os incidentes da fase dois são vistos pelo casal. A raiva do homem é tão grande que o impede de controlar seu comportamento. Inicialmente, tenta dar uma "lição" à mulher, sem a intenção de causar-lhe dano, e termina quando crê que ela aprendeu a "lição". O motivo para dar início às agressões raramente é o comportamento da mulher,mas um acontecimento externo ou um estado interno do homem. A mulher, ocasionalmente, provoca incidentes na fase dois. A antecipação do que possa ocorrer leva ao estresse psicológico: ela torna-se ansiosa, deprimida e queixa-se de sintomas psicossomáticos. Seus sentimentos, nessa fase, são de terror, raiva, ansiedade, sensação de que é inútil tentar escapar. Com freqüência, a opção é encontrar um lugar seguro para esconder-se. Fase três: o apaziguamento/Iua-de-mel O agressor sabe que o seu comportamento foi inadequado e demasiadamente agressivo, e tenta fazer as pazes. É um período de calma incomum. O agressor a trata carinhosamente, pede perdão e promete que os episódios de violência não mais ocorrerão. Ele acredita que não agredirá mais, crendo que poderá controlar a si mesmo, e pensa que a mulher aprendeu a "lição". A mulher agredida precisa acreditar que não sofrerá mais violência. O agressor reforça a crença de que realmente pode mudar. Há predominância da imagem idealizada da relação, de acordo com os modelos convencionais de gênero. O casal que vive em uma situação de violência torna-se um par simbiótico, tão dependente um do outro que, quando um tenta separar-se, o outro torna-se drasticamente afetado. Esta fase parece ser mais longa que a fase dois, porém mais curta que a fase um. Em diferentes combinações de casal para casal, estas fases resumem o que se chama de dinâmica da violência. Sua compreensão é muito importante para uma abordagem adequada, permitindo ao profissional não atuar vitimizando a mulher e culpabilizando o homem, mas compreendendo sua interação e interdependência na relação violenta. Caso: A história de Flávia Flávia é uma mulher de 26 anos, com dois filhos (8 e de 5 anos). Vive com João, seu companheiro há 9 anos. Procurou a unidade de saúde muito angustiada e abatida. Ao escutá-la, o profissional que a atendeu colheu sua história, da qual relatamos alguns dados relevantes. Na infância, Flavia presenciou situações de violência do pai contra a mãe, o qual apresentava problemas relacionados ao uso abusivo de álcool. Foi vítima de tentativa de abuso sexual por parte do pai. No entanto, sua mãe, negando-se a acreditar, não tomou nenhuma providência. Sem o apoio da mãe, fugiu de casa aos 9 anos, sendo recolhida pelo Juizado da Infância e da Juventude e encaminhada à Fundação para o Bem-Estar do Menor (FEBEM), onde permaneceu até os 14 anos. Após deixar a FEBEM, Flávia foi morar com uma irmã. Contudo, devido às precárias Mayanne Mendonça condições financeiras e de espaço na moradia, empregou-se como doméstica, aos 16 anos. Pouco tempo depois conheceu João, 21 anos, por quem se apaixonou e depositou expectativas de uma vida melhor. Foram morar juntos e ela, aos 18 anos, engravidou. Embora João bebesse eventualmente, no início a relação parecia boa. Flavia passou a fazer faxinas como opção de trabalho. Após o nascimento da criança, o companheiro começou a demonstrar ciúmes excessivos, controlava suas roupas e a impedia de ter amigas. Com o tempo, agravou-se o uso de bebidas alcoólicas e começaram as agressões físicas. Flávia manteve-se na relação, engravidando do segundo filho e acreditando que isto iria melhorar a situação. No entanto, as agressões continuaram e após o nascimento do segundo filho, João a proibiu de trabalhar. Quando bebia, agredia também as crianças. Flávia raramente saia de casa e, ao retornar, era acusada de ter se encontrado com outro homem. Algumas vezes, Flávia retirou-se, permanecendo na casa de amigos ou tias. Porém João a procurava, prometendo mudar, e ela o acompanhava por acreditar na possibilidade de mudança e também por não conseguir imaginar-se sozinha. Certo dia, João comprou um revolver e passou a ameaçá-la. Por ocasião do último episódio de violência física, amedrontada e sem o apoio dos amigos e parentes, que não mais acreditavam no seu desejo de mudança, Flávia fugiu de casa. Acompanhada dos dois filhos, foi procurar ajuda na unidade, local onde costumava obter atendimento de saúde para si e seus filhos. Abordagem: Flávia depositou confiança em Clarice, profissional que procurou. Clarice ouviu atentamente seu relato com atitude de acolhimento e apoio, reunindo as informações necessárias para uma avaliação do histórico dos pessoas envolvidas. Na infância, Flávia viveu numa família onde a violência estava presente, o que a leva, inconscientemente, a reproduzir esta situação na vida adulta e a ter dificuldades para romper o ciclo da violência em seu cotidiano. Clarice avaliou, junto com ela, o seu nível de motivação pare afastar-se definitivamente do companheiro ou se o seu desejo era obter auxílio para levá-lo a mudar de comportamento. Fez-se necessário investigar a história de João para avaliar se havia risco de vida para Flávia e seus filhos, e a forma de abordá-lo com segurança, alertando-se para o fato de que possuía uma arma. Verificou-se ainda a existência de familiares ou amigos que pudessem acolher a família oferecendo-lhe segurança, ou a necessidade de que a mesma fosse para o abrigo (instituição que já havia sido implantada na cidade). Foram levantados os recursos e alternativas disponíveis para aquele momento de crise, estabelecendo-se contato com a rede de apoio existente na comunidade e encaminhando-se Flávia aos seguintes órgãos: a) Delegacia da Mulher, a fim de denunciar o ocorrido (quando esta não existir, pode-se buscar outra delegacia); b) Departamento Médico-Legal, para realizar exame de corpo de delito (isto é fundamental, principalmente quando existir marcas da agressão); c) Conselho Tutelar, para denunciar a violência contra as crianças e verificar as providências necessárias. Flávia também teve avaliada sua disponibilidade para receber atendimento psicoterápico individual ou em grupo (quando o Posto de Saúde não dispor deste serviço, deve-se encaminhar a paciente a um serviço de referência). Ao chamar João para uma conversa, buscou-se estabelecer um vínculo de confiança e, assim, levá-lo a responsabilizar-se por seu comportamento e a compreender a importância de receber ajuda, encaminhando-o para tratamento em grupo. Neste caso, ele foi para o AA - "Alcoólicos Anônimos". Atenção Mayanne Mendonça Quando a mulher decide dar andamento ao processo de separação, deve ser encaminhada aos serviços jurídicos específicos (onde serão providenciadas a medida Cautelar de Afastamento, Busca e Apreensão e Separação Judicial). Nesta circunstância, é preciso estimulá-la e auxiliá-la na reorganização de sua vida, utilizando os recursos sociais disponíveis (creche, escola, emprego, moradia, bolsa-auxílio, cesta básica). No caso de continuidade da relação, deve-se sugerir tratamento de casal/família. Em ambos os casos, e imprescindível manter acompanhamento através de visitas domiciliares. É muito importante estabelecer junto à equipe um diagnóstico e, sempre que possível, através de acompanhamento (inclusive domiciliar), atualizar o prognóstico em equipe e mobilizar recursos de acordo com o momento vivido pelo grupo familiar. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf Douglas - Compreenda o papel da Atenção Básica frente a violência. A Atenção Básica (AB) desempenha um papel fundamental no enfrentamento da violência, seja ela doméstica, sexual, infantil, contra idosos, ou outros tipos de violência interpessoal. Como porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), a AB tem uma posição estratégica para identificar, acolher, tratar, notificar e encaminhar casos de violência. A seguir, são detalhadas as principais ações e responsabilidades da Atenção Básica frente a essa temática: 1. Identificação Precoce de Casos de Violência • Observação de sinais e sintomas: Profissionais devem estar atentos a sinais físicos (lesões, hematomas) e psicológicos (transtornos de ansiedade,depressão, medo, silêncio) que possam indicar violência. • Consulta ativa e escuta qualificada: Durante consultas e visitas domiciliares, os profissionais devem criar um ambiente de confiança, permitindo que o indivíduo se sinta seguro para relatar situações de violência. 2. Acolhimento Humanizado • A AB é responsável por proporcionar um acolhimento livre de julgamento, respeitando a autonomia do indivíduo. • Deve oferecer apoio emocional às vítimas, priorizando a escuta ativa e o entendimento das necessidades da pessoa. 3. Notificação de Casos de Violência • É obrigatória a notificação de casos suspeitos ou confirmados de violência interpessoal ou autoprovocada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). • A notificação não exige a comprovação do caso, apenas o levantamento de indícios, e é fundamental para subsidiar políticas públicas e ações intersetoriais. 4. Ações de Prevenção https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf Mayanne Mendonça • Educação em saúde: Realizar campanhas e ações comunitárias para conscientizar sobre violência e direitos humanos. • Promoção de redes de apoio: Trabalhar com escolas, conselhos tutelares, grupos comunitários e ONGs para criar uma rede de suporte social. • Incentivar o empoderamento de mulheres, idosos, crianças e outros grupos vulneráveis. 5. Encaminhamento e Articulação Intersetorial • Rede de proteção: A AB deve articular-se com outros serviços, como: o Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e CREAS o Conselhos tutelares o Delegacias Especializadas e Defensorias Públicas o Centros de Atendimento à Mulher (Casa da Mulher Brasileira, por exemplo). • Garantir que a vítima tenha acesso a serviços especializados, como atendimento psicológico, jurídico ou de proteção social. 6. Atendimento Integral e Longitudinal • A AB deve oferecer cuidado contínuo às vítimas de violência, incluindo: o Tratamento de condições físicas decorrentes da violência. o Apoio em saúde mental, com intervenções individuais ou familiares. o Acompanhamento regular para evitar a revitimização. 7. Capacitação Profissional • Capacitar as equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) para lidar com casos de violência, sensibilizando-os quanto às suas responsabilidades legais e éticas. 8. Redução de Fatores de Risco • Atuar em determinantes sociais da saúde (educação, moradia, emprego) que possam contribuir para situações de violência, por meio de ações intersetoriais e políticas públicas. Douglas - Quem faz e como é feita a “Notificação” de violência. Qual o papel da Vigilância contra violência. É obrigatório? Como é feita a notificação (todo processo)? Ir além da saúde (ex.: assistência social e outras). https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/denuncie-violencia-contra-a- mulher/violencia-contra-a-mulher https://www.cevs.rs.gov.br/informacoes-basicas https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/denuncie-violencia-contra-a-mulher/violencia-contra-a-mulher https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/denuncie-violencia-contra-a-mulher/violencia-contra-a-mulher https://www.cevs.rs.gov.br/informacoes-basicas Mayanne Mendonça https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/ficha_notificacao_violencia_do mestica.pdf Desde o início da pandemia do novo coronavírus, mulheres passaram a ficar 24 horas em casa, muitas vezes, com seus agressores. Tal fato elevou a preocupação com a violência doméstica e familiar contra a mulher. De olho nisso, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) reuniu tudo o que é preciso saber sobre o tema e as formas de auxiliar e denunciar nesses casos. Confira: O que é Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180? O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos. O serviço também tem a atribuição de orientar mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento. No Ligue 180, ainda é possível se informar sobre os direitos da mulher, a legislação vigente sobre o tema e a rede de atendimento e acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade. Além do telefone, em quais canais é possível realizar denúncias? Além do número de telefone 180, é possível realizar denúncias de violência contra a mulher pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), responsável pelo serviço. No site está disponível o atendimento por chat e com acessibilidade para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Também é possível receber atendimento pelo Telegram. Basta acessar o aplicativo, digitar na busca “DireitosHumanosBrasil” e mandar mensagem para a equipe da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180. Quais os horários de atendimento do Ligue 180? O Ligue 180 funciona diariamente durante 24h, incluindo sábados, domingos e feriados. O serviço manteve os atendimentos durante a pandemia da Covid-19. Em todas as plataformas, as denúncias são gratuitas, anônimas e recebem um número de protocolo para que o denunciante possa acompanhar o andamento. Só é possível buscar o serviço no Brasil? É possível fazer a ligação de qualquer lugar do Brasil e de mais de 50 países no exterior. Todas as violências passaram a fazer parte da Lista Nacional das Doenças e Agravos de Notificação Compulsória desde a publicação da Portaria nº 104 de 25 de Janeiro de 2011. Portanto, a notificação dos casos suspeitos e confirmados de violência é obrigatória/compulsória a todos os profissionais de saúde de instituições públicas ou privadas. Profissionais de outros setores, como educação, assistência social, saúde indígena, conselhos tutelares, centros especializados de atendimento à mulher, entre outros, também podem realizar a notificação. Notificação não é denuncia policial. Nos casos de violência contra crianças, adolescentes e idosos, nos quais o Conselho Tutelar e o Conselho do Idoso necessária e obrigatoriamente terão que ser acionados, respectivamente, alguns desdobramentos ou intervenções legais podem ocorrer. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/ficha_notificacao_violencia_domestica.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/ficha_notificacao_violencia_domestica.pdf https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/denuncie-violencia-contra-a-mulher/violencia-contra-a-mulher#alem-do-telefone-em-quais-canais-e-possivel-realizar-denuncias https://www.gov.br/mdh/pt-br/apps https://ouvidoria.mdh.gov.br/ https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/julho/violencia-contra-a-mulher-pode-ser-denunciada-pelo-telegram https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/denuncie-violencia-contra-a-mulher/violencia-contra-a-mulher#quais-os-horarios-de-atendimento-da-central-de-atendimento-a-mulher-ligue-180 http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt0104_25_01_2011.html Mayanne Mendonça Para fins de notificação, deve-se notificar: Caso suspeito ou confirmado de violência doméstica/intrafamiliar, sexual, autoprovocada, tráfico de pessoas, trabalho escravo, trabalho infantil, tortura, intervenção legal e violências homofóbicas contra mulheres e homens em todas as idades. No caso de violência extrafamiliar/comunitária, somente serão objetos de notificação as violências contra crianças, adolescentes, mulheres, pessoas idosas, pessoas com deficiência, indígenas e população LGBT, independentemente do tipo e da natureza/forma de violência. Atenção: Não se notifica no SINAN-NET casos de violência extrafamiliar cujas vítimas sejam adultos (20 a 59 anos) do sexo masculino, como por exemplo, brigas entre gangues, brigas nos estádios de futebole outras. Essa modalidade de violência pode ser monitorada por meio de outros sistemas de informação e através do componente do VIVA Sentinela (inquérito). Os casos de violências que são notificáveis através do SINAN-NET, são feitas através da ficha de notificação da violência interpessoal e autoprovocada. Atenção: Se um evento violento envolver mais de uma vítima, para cada uma das vítimas deverá ser preenchida uma ficha de notificação individual. A periodicidade de notificação das situações de violência é semanal. Porém, tentativa de suicídio e violência sexual têm a obrigatoriedade de serem notificadas em até 24 horas do conhecimento do agravo, devido a necessidade de se tomarem medidas urgentes (encaminhamento para rede psicossocial e medidas de profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis e anticoncepção de emergência, respectivamente). Para ver a Portaria mais recente da Lista Nacional dos Agravos de Notificação e a periodicidade de notificação destes agravos clique aqui. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0204_17_02_2016.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0204_17_02_2016.html Mayanne Mendonça Mayanne Mendonça Douglas - Como a expressão de gênero se relaciona com as violências? A expressão de gênero está intimamente relacionada às diversas formas de violência, pois reflete como uma pessoa manifesta sua identidade de gênero através de comportamentos, vestimentas, linguagem corporal e outros aspectos visíveis. A sociedade, historicamente marcada por normas rígidas de gênero, muitas vezes discrimina ou agride pessoas cuja expressão de gênero não se alinha às expectativas sociais ou culturais. Essa relação entre expressão de gênero e violências pode ser compreendida de várias formas: 1. Violências Baseadas em Gênero Mayanne Mendonça • A violência de gênero ocorre quando indivíduos são agredidos, discriminados ou marginalizados devido à sua expressão de gênero, especialmente se esta contraria normas sociais. • Exemplos: o Mulheres femininas: Sofrem violência por causa de estereótipos que as colocam como inferiores ou frágeis. o Homens femininos ou mulheres masculinas: Podem sofrer discriminação ou ataques por desafiarem normas de gênero. 2. Violência Contra Pessoas Trans e Não Binárias • Pessoas cuja expressão de gênero não corresponde ao gênero designado no nascimento estão entre as mais vulneráveis à violência, incluindo: o Transfobia: Ofensas, agressões físicas e até homicídios motivados pelo ódio à expressão de gênero transgressora. o Exclusão social: Dificuldade de acesso a empregos, educação, saúde e outros direitos básicos devido à sua expressão de gênero. • No Brasil, há altos índices de violência contra pessoas trans, especialmente mulheres trans e travestis. 3. Violências Institucionais • Instituições podem reproduzir violências contra expressões de gênero não normativas por meio de: o Negação de atendimento adequado: Por exemplo, negar o uso do nome social em serviços de saúde ou educação. o Ambientes hostis: Escolas, empresas ou espaços públicos que não acolhem diversidade de expressões de gênero. 4. Microagressões • Mesmo em contextos não violentos fisicamente, pessoas com expressões de gênero fora do padrão podem ser alvo de microagressões, como: o Olhares de reprovação. o Comentários preconceituosos ou "piadas". o Invisibilização de suas identidades em políticas públicas. 5. Violência Doméstica e Familiar • A expressão de gênero pode ser motivo de violência dentro da própria família, especialmente em casos de: o Jovens LGBTQIA+ que são rejeitados ou expulsos de casa. Mayanne Mendonça o Controle sobre a aparência ou comportamento de mulheres e meninas para se adequarem a padrões tradicionais. 6. Interseccionalidade • A relação entre expressão de gênero e violências é agravada por outros fatores, como: o Raça/etnia: Mulheres negras ou indígenas com expressões de gênero consideradas não conformes enfrentam racismo e misoginia simultaneamente. o Classe social: Pessoas em situação de vulnerabilidade econômica têm menos acesso a proteção e recursos para se defender. 7. Impactos Psicológicos • A violência relacionada à expressão de gênero gera impactos profundos, como: o Transtornos mentais (ansiedade, depressão, síndrome de estresse pós-traumático). o Isolamento social e baixa autoestima. 8. O Papel da Educação e Sensibilização • Promover uma cultura de respeito às diferentes expressões de gênero é essencial para combater essas violências. • Educação inclusiva e campanhas de conscientização são ferramentas importantes para desconstruir preconceitos e reduzir agressões. Em resumo, a expressão de gênero é um dos principais gatilhos para violências de gênero porque desafia normas sociais profundamente enraizadas. A resposta a essas violências exige ações integradas, com ênfase na proteção de direitos, promoção da igualdade e criação de ambientes acolhedores para a diversidade. PDF com fluxograma que o Matheus usou https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolos_atencao_bas ica_saude_mulheres.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolos_atencao_basica_saude_mulheres.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolos_atencao_basica_saude_mulheres.pdfde guardar uma cópia do Boletim de Ocorrência. 7. Estimular a construção de vínculos com diversas fontes de assistência, acompanhamento e proteção, reforçando a sistemática de atuação de uma rede de apoio. 8. Caso necessário, encaminhar ao atendimento clínico na própria unidade ou para serviço de referência, conforme a gravidade e especificidade de danos e lesões. 9. Conforme a motivação da mulher para dar andamento ao processo de separação, encaminhá-la aos serviços jurídicos – Defensoria Pública, Fórum local ou ONGs de apoio jurídico. 10. Sugerir encaminhamento para atendimento de casal ou família, no caso da continuidade da relação, ou quando houver filhos e portanto a necessidade de preservar os vínculos parentais. 11. Sugerir encaminhamento para atendimento psicológico individual, de acordo com a avaliação do caso. 12. Manter visitas domiciliares periódicas, para fins de acompanhamento do caso. Medidas específicas nos casos de violência sexual Nas situações onde houve estupro faz-se necessária a adoção de medidas específicas nas primeiras 72 horas, como a profilaxia de doenças sexualmente transmissíveis, HIV-Aids e prevenção da gravidez indesejada. Anticoncepção de emergência (ACE) A possibilidade de ocorrer concepção em um único coito sem proteção, num dia qualquer do ciclo menstrual, é de 2 a 4%, sendo Mayanne Mendonça este risco aumentado no período fértil. Por isso, a Anticoncepção de Emergência (pílula do dia seguinte ou pós-coital) e medida essencial para a prevenção da gravidez pós-estupro e, conseqüentemente, do aborto. São indicados os métodos Yuzpe, que consiste na administração oral de pílulas combinadas (estrogênios e progestagênios), ou o uso de progestagênio puro (ver tabela a seguir). Para garantir a eficácia do método, a primeira dose da ACE deve ser iniciada até 72 horas após o coito desprotegido, e quanto mais cedo melhor. Ressalta-se que a ACE é também indicada em outras situações, como a falha de método anticoncepcional ou a ocorrência de uma relação sexual não planejada, mas não deve substituir a pílula de uso diário ou outro método de alta eficácia. As mulheres devem estar bem informadas sobre o uso da ACE, suas vantagens e limites para evitar a utilização inadequada. Gravidez pós-estupro Uma das conseqüências do estupro é a gravidez. Segundo muitas mulheres que passaram pelo problema, descobrir estar grávida após um estupro é uma situação que agride ainda mais a mulher. Ela sente- se impotente e, mais uma vez, se vê invadida pelo agressor. Seus direitos e sua liberdade foram violados. Nessa condição, se a mulher não deseja manter a gestação, a interrupção pode ser realizada por médico, sem que haja punição pela prática do aborto, pois é uma situação prevista no art 128 do Código Penal Brasileiro: Nesses casos, a interrupção da gravidez pode ser feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com o documento "Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes – Normas Técnicas", publicado pelo Ministério da Saúde em 1999. Considerando-se que esta é uma situação bastante delicada e que, em geral, a mulher ou a adolescente encontra-se muito fragilizada, recomenda-se que, ao ser encaminhada para uma unidade de referência ela receba o apoio e acompanhamento – durante todo o processo - de um integrante da equipe de saúde da família. Quimioprofilaxia das doenças sexualmente transmissíveis e HIV- AIDS A quimioprofilaxia das infecções não virais, de transmissão sexual, para vítimas de violência, deve visar os agentes infecciosos mais prevalentes e de repercussão clínica importante. Sendo assim, os procedimentos recomendados são: Mayanne Mendonça Exame clínico-ginecológico: ♦ Examinar a genitália externa e região anal, separar os lábios vaginais e visualizar o intróito vaginal. ♦ Introduzir o espéculo para examinar a vagina, suas paredes, fundo de saco e colo uterino. Inspecionar períneo e ânus. ♦ Colher material para a realização da bacterioscopia, quando houver suporte laboratorial. ♦ Havendo possibilidade de realização no local ou em referência, coletar material para cultura de gonococo e para a pesquisa de clamídia. ♦ Coleta imediata de sangue para sorologia para sífilis (VDRL) e HIV. Se disponível, testes rápidos poderão ser utilizados. Eles são necessários para avaliação da situação sorológica anterior ao episódio de violência. Os exames devem ser repetidos após 30 dias, para sífilis, e três a seis meses para HIV, depois do primeiro exame. Imunoprofilaxia para as hepatites de transmissão sexual Imunoprofilaxia para Hepatite B Imunoglobina – Após exposição ao vírus da hepatite B, a maior eficácia profilática é obtida com uso precoce da Gamablobulina Hiperimune (HBIG): 0,06 ml/kg de peso corporal, IM, dose única, dentro de 24 a 48 horas após a agressão sexual. Se a dose a ser utilizada ultrapassar 5 ml, dividir a aplicação em duas áreas diferentes. Não há benefício comprovado na utilização da HBIG uma semana após o incidente. Vacina – Se possível, aplicar, ao mesmo tempo, a vacina para hepatite B, administrando 1,0 ml par adultos (na região deltóide) e de 0,5 ml para crianças menores de 12 anos (na região do vasto lateral da coxa), via intramuscular, no esquema de 3 doses. A segunda e a terceira doses devem ser administradas respectivamente após um e seis meses depois da primeira. A gravidez e a lactação não são condições que contra-indiquem a vacinação anti-hepatite B. A duração da eficácia da vacina persiste por longos períodos, podendo ultrapassar 10 anos. Portanto, indivíduos vacinados que apresentem sorologia reativa não necessitam doses de reforço, devendo ser realizada somente pós-exposição, conforme o descrito acima. Imunoprofilaxia para Hepatite A Após exposição ao vírus da hepatite A (HAV), a forma mais efetiva de prevenção e a imunização. Essa imunização pode ser promovida também de duas formas: Imunoglobulina – o uso de imunoglobulina, por via intramuscular, na dose de 0,02 ml/ kg, administrada dentro das 2 semanas posteriormente à exposição. Sua eficácia é de 85% e a proteção tem uma duração de 3 a 6 meses. Vacina – a vacina para hepatite A, feita com vírus inativado, é segura, altamente imunogênica e tem uma eficácia de 94% quando administrada em duas doses. Mayanne Mendonça Quimioprofilaxia para infecção pelo HIV após violência sexual A prescrição da quimioprofilaxia pós-exposição sexual ao HIV nos casos de violência não pode ser feita como rotina e aplicada a todas as situações. Ela exige uma avaliação cuidadosa quanto ao grau de risco da agressão, o tempo decorrido até a chegada da pessoa agredida ao serviço de referência, aconselhamento adequado nas diferentes situações – onde se indica ou não a profilaxia, e para que haja adesão ao tratamento nos casos indicados. Considerando a necessidade de se estabelecer um consenso mínimo sobre as rotinas a serem implantadas nos serviços de saúde, especialmente naqueles que atendem vítimas de violência sexual, sejam homens, mulheres, adolescentes ou crianças, o Ministério da Saúde elaborou protocolo específico sobre o assunto. Sugerimos aos profissionais de saúde – especialmente de enfermagem e medicina – a consulta a este material, que está disponível no site: www.aids.gov.br Alguns centros de atendimento à mulher violentada estão do conduzindo estudos ou projetos piloto de uso de tal profilaxia, conduta esta que vem sendo estimulada pelo Ministério da Saúde, porém ainda não há dados conclusivos a respeito. Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf Fatores de risco na relação de casal para violência contra a mulher ♦ indicativos de violência em relacionamentos anteriores, de pelo menos um dos parceiros ♦ contexto e características do início da relação indicativosde violência, como por exemplo, desapego, objetivos perversos, como interesse econômico, entre outros ♦ dinâmica agressiva, isolamento e fechamento da relação (dificuldade em lidar com terceiros) ♦ elevado tempo de convivência em situação de violência e desgaste acumulado ♦ baixa capacidade de negociação do casal quanto aos aspectos conflitivos da relação (dificuldade de lidar com terceiros) ♦ curva ascendente de grau, intensidade e freqüência dos episódios de violência ♦ elevado nível de dependência econômica e/ou emocional dos parceiros ♦ baixa auto-estima e pouca autonomia dos parceiros ♦ sentimento de posse exagerado por parte dos parceiros (ciúmes exacerbados) ♦ alcoolismo e/ou drogadição de um dos membros do casal ou de ambos ♦ soropositividade da mulher, pelo HIV 2. Compreenda a epidemiologia das violências contra as mulheres no Brasil - dados da violência, idade que é mais evidente a violência, tipo, mortalidade, regiões, escolaridade, mulher cis, mulher trans (tentar entender como esses dados são produzidos) - Atlas violência Anualmente, o Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), lança um relatório atualizando os dados de violência no Brasil. O trabalho é feito em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Como nas anteriores, busca-se retratar a violência no Brasil, principalmente, a partir dos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. São informações sobre homicídios analisadas à luz da perspectiva de gênero, raça, faixa etária, entre outras. A novidade deste ano fica por conta de dados sobre a violência contra idosos. Fonte: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes Homicídios de mulheres http://www.aids.gov.br/ https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes Mayanne Mendonça Na última década (2012-2022), ao menos 48.289 mulheres foram assassinadas no Brasil. Somente em 2022, foram 3.806 vítimas, o que representa uma taxa de 3,5 casos para cada grupo de 100 mil mulheres. No entanto, é necessário chamar atenção nesta seção para a questão do aumento das Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI), assunto abordado no terceiro capítulo desta publicação. Apenas em 2022, 4.172 mortes violentas de mulheres foram classificadas como MCVI, número que supera a quantidade de homicídios classificados como tal no SIM. Com base na metodologia desenvolvida por Cerqueira e Lins (2024b), estimamos que o número de homicídios de mulheres em 2022 foi igual a 4.670, com uma taxa de 4,3 assassinatos para cada grupo de 100 mil, índice 22,8% superior ao calculado a partir dos casos registrados oficialmente. Voltando à análise dos registros oficiais, ainda que em 2022 o Brasil tenha atingido a menor taxa de homicídios de mulheres da década, enquanto a taxa geral (de homens e mulheres) caiu 3,6% entre 2021 e 2022, os homicídios de mulheres não apresentaram essa melhora nos índices. O que os dados indicam (Tabela 5.2) é que não houve variação da taxa entre 2021 e 2022, permanecendo no patamar de 3,5 mortes para cada 100 mil mulheres brasileiras. Enquanto no país a taxa de homicídios de mulheres entre 2021 e 2022 não sofreu variação, a análise subnacional revela um cenário mais heterogêneo. Treze das 27 Unidades da Federação reduziram suas taxas de homicídios femininos, sendo que a diminuição mais significativa ocorreu no estado do Tocantins (-24,5%), seguido pelo Distrito Federal (-24,1%) e Acre (-20,3%). Na direção oposta, 12 UFs registraram aumento nos homicídios de mulheres em 2022 em comparação com o ano anterior, sendo que as variações mais expressivas foram observadas nos estados de Roraima (52,9%), Mato Grosso (31,9%) e Paraná (20,6%). Em dois estados, Goiás e Santa Catarina, as taxas permaneceram estáveis, acompanhando a tendência nacional. Outro ponto de alerta é que apenas seis das 27 Unidades da Federação apresentaram taxas de homicídios femininos abaixo da taxa nacional em 2022: São Paulo (1,5), Distrito Federal (2,2), Minas Gerais (2,5), Santa Catarina (2,5), Rio de Janeiro (2,8) e Sergipe (2,9). Por outro lado, 20 estados superaram a taxa nacional de homicídios de mulheres, sendo que as três piores taxas foram observadas em Roraima (10,4), Rondônia (7,2) e Mato Grosso (6,2), conforme apontado no Gráfico 5.2. Os três estados também estão entre aqueles onde a violência letal contra mulheres mais cresceu em relação ao ano anterior, com aumentos de 52,9%, 20,0% e 31,9%, respectivamente. Chama atenção que esses três estados estejam localizados na área da Amazônia Legal, região que tem se destacado pelos elevados índices de homicídios nos últimos anos. De acordo com a 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FBSP, 2023b), as taxas Mayanne Mendonça de Mortes Violentas Intencionais na Amazônia Legal foram 54% superiores à média nacional. No mesmo sentido, os dados aqui apresentados apontam para a necessidade de se olhar mais especificamente para a violência contra as mulheres nessa região. Em um país de dimensões continentais como Brasil, compreender as nuances de violência de cada região e suas especificidades é crucial para orientar a formulação de políticas públicas mais eficazes. Para além das nuances regionais, é preciso também um olhar direcionado para as particularidades da violência contra a mulher enquanto fenômeno. Algumas delas serão debatidas nas próximas seções. Fonte: MS/SVS/CGIAE - Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM. Elaboração: Diest/Ipea e FBSP. Nota: O número de homicídios de mulheres na UF de residência foi obtido pela soma das seguintes CIDs 10: X85-Y09 e Y35 - Y36, ou seja, óbitos causados por agressão, intervenção legal e operações de guerra. Mayanne Mendonça Continuar: Tem tudo aqui https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/7868-atlas- violencia-2024-v11.pdf 3. Compreenda os tipos de violência contra a mulher Na Lei Maria da Penha, encontra-se a seguinte definição de violência contra a mulher: • “[...] configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral e patrimonial; • I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como espaço de convívio permanente de pessoas [...]; • II – no âmbito da família [...]; • III – em qualquer relação íntima de afeto [independente da orientação sexual” (BRASIL, 2006, art. 5). No Artigo 7º são apresentados os entendimentos a respeito das diferentes formas de violência contra a mulher (BRASIL, 2006), conforme se vê descrito a seguir. Violência física Qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher. • Tapas; • Empurrões; • Socos; • Mordidas; • Chutes; • Queimaduras; • Cortes; • Estrangulamento; • Lesões por armas ou objetos; • Obrigar a tomar medicamentos desnecessários ou inadequados; • Álcool, drogas ou outras substâncias, inclusive alimentos; • Amarrar; • Arrastar; • Arrancar a roupa; • Abandonar em lugares desconhecidos; https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/7868-atlas-violencia-2024-v11.pdf https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/7868-atlas-violencia-2024-v11.pdf Mayanne Mendonça • Danos à integridade corporal decorrentes de negligência (omissão de cuidados e proteção contra agravos evitáveis como situações de perigo, doenças, gravidez, alimentação, higiene, entre outros). Violência sexual Trata-se de qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força. • Carícias não desejadas; • Penetraçãooral, anal ou genital, com pênis ou objetos de forma forçada; • Exposição obrigatória à material pornográfico; • Exibicionismo e masturbação forçados; • Uso de linguagem erotizada, em situação inadequada; • Impedimento ao uso de qualquer método contraceptivo ou negação por parte do parceiro(a) em utilizar preservativo; • Ser forçado(a) a ter ou presenciar relações sexuais com outras pessoas, além do casal. Sexo forçado no casamento É a imposição de manter relações sexuais no casamento. Devido a normas e costumes predominantes, a mulher é constrangida a manter relações sexuais como parte de suas obrigações de esposa. A vergonha e o medo de ter sua intimidade devassada, a crença de que é seu dever de esposa satisfazer o parceiro, além do medo de não ser compreendida, reforçam esta situação. Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf Violência psicológica https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf Mayanne Mendonça É considerada qualquer conduta que: cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. • Insultos constantes; • Humilhação; • Desvalorização; • Chantagem; • Isolamento de amigos e familiares; • Ridicularização; • Rechaço; • Manipulação afetiva; • Exploração; • Negligência (atos de omissão a cuidados e proteção contra agravos evitáveis como situações de perigo, doenças, gravidez, alimentação, higiene, entre outros); • Ameaças; • Privação arbitrária da liberdade (impedimento de trabalhar, estudar, cuidar da aparência pessoal, gerenciar o próprio dinheiro, brincar, etc.); • Confinamento doméstico; • Críticas pelo desempenho sexual; • Omissão de carinho; • Negar atenção e supervisão. Violência patrimonial Entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. • Roubo; • Destruição de bens pessoais (roupas, objetos, documentos, animais de estimação e outros) ou de bens da sociedade conjugal (residência, móveis e utensílios domésticos, terras e outros); • Recusa de pagar a pensão alimentícia ou de participar nos gastos básicos para a sobrevivência do núcleo familiar; • Uso dos recursos econômicos de pessoa idosa, tutelada ou incapaz, destituindo-a de gerir seus próprios recursos e deixando- a sem provimentos e cuidados. Violência moral Mayanne Mendonça É considerada qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. • Acusar a mulher de traição; • Emitir juízos morais sobre a conduta; • Fazer críticas mentirosas; • Expor a vida íntima; • Rebaixar a mulher por meio de xingamentos que incidem sobre a sua índole; • Desvalorizar a vítima pelo seu modo de se vestir. Violência institucional É aquela exercida nos/pelos próprios serviços públicos, por ação ou omissão. Pode incluir desde a dimensão mais ampla da falta de acesso à má qualidade dos serviços. Abrange abusos cometidos em virtude das relações de poder desiguais entre usuários e profissionais dentro das instituições, até por uma noção mais restrita de dano físico intencional. • Peregrinação por diversos serviços até receber atendimento; • Falta de escuta e tempo para a clientela; • Frieza, rispidez, falta de atenção, negligência; • Maus-tratos dos profissionais para com os usuários, motivados por discriminação, abrangendo questões de raça, idade, opção sexual, gênero, deficiência física, doença mental; • Violação dos direitos reprodutivos (discriminação das mulheres em processo de abortamento, aceleração do parto para liberar leitos, preconceitos acerca dos papéis sexuais e em relação às mulheres soropositivas (HIV), quando estão grávidas ou desejam engravidar); • Desqualificação do saber prático, da experiência de vida, diante do saber científico. 4. Compreenda o protocolo utilizado em casos de violência e as especificidades para cada tipo de violência https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf pag 30 Com freqüência, os profissionais de saúde são os primeiros a serem informados sobre episódios de violência. O motivo da busca de atendimento é mascarado por outros problemas ou sintomas que não se configuram, isoladamente, em elementos para um diagnóstico. As pessoas submetidas à violência intrafamiliar, principalmente as mulheres e crianças, muitas vezes culpam-se de serem responsáveis pelos atos violentos, percepção que é reforçada pelas atitudes da sociedade. A carência de serviços ou respostas sociais adequadas e a intervenção apenas pontual constituem-se em obstáculo ou retardo na resolução do problema. A busca de novas formas de ação para https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf Mayanne Mendonça alcançar soluções compatíveis na atualidade é um dos propósitos da elaboração deste protocolo. Os instrumentos jurídicos, o sistema de proteção e o sistema punitivo não têm conseguido diminuir a incidência da violência ou amenizar os seus efeitos. Em uma cultura na qual a idéia de intervenção junto às famílias foi, durante milênios vista, como uma forma indevida de invasão de privacidade e a figura do paterfamiliae ocupou espaço de legislador da vida privada, este tipo de atuação não era reconhecida como legítima. Hoje, o status de pai/chefe de família deixou de ser natural e passou a ter que ser endossado, dentre outras formas, pela adequação do seu desempenho. Inclusive, através de mudanças legais, o pátrio poder passou a ser designado àquele que assume a responsabilidade parental, podendo ser exercido pelo pai ou mãe. As instituições que prestam serviços - jurídicos, policiais, de saúde, educação - ainda não contam, em sua maioria, com sistemas de diagnósticos e registros apropriados. Todos estes fatores, somados ao desconhecimento e temor da sociedade frente à dinâmica das relações intrafamiliares violentas, levam as pessoas (tanto vítimas quanto agentes sociais) a evitar olhar para ela. Entretanto, é preciso assinalar que, a cada dia que passa, esses aspectos vêm sendo superados, haja vista o número cada vez maior de denúncias realizadas, principalmente nas Delegacias de Proteção à Mulher e Conselhos Tutelares, especialmente nas grandes cidades brasileiras. É responsabilidade do profissional de saúde estar atento quanto à possibilidade de um membro da família estar praticando ou sendo vítima de violência, mesmo que não haja, à primeira vista, indicações para suspeitas. Através de observações, visitas domiciliares, perguntas indiretas ou diretas dirigidas a alguns membros da família, situações insuspeitas podem ser reveladas se houver um cuidado e uma escuta voltadas para estas questões. Mesmo que a família tente ocultar tais situações, a aproximação por parte do profissional poderá facilitar a abertura a um diálogo futuro, criando novos espaços de ajuda. Deve-se destacar que – salvo situações de risco iminente, ou quando a vítima não tem capacidade de tomar decisões – a equipe de saúde deve oferecer orientações e suporte para que a vítima possa compreender melhor o processo que está vivendo, analise as soluções possíveis para os seus problemas, tomando a decisão que lhe pareça mais adequada. Esse suporte deve incluir a rede de serviços especializados (das áreas de saúde, social, de segurança e justiça) e da comunidade (associações de moradores, grupos de mulheres, grupos religiosos). A equipe de saúde nem a vítima devem agir sozinhas, para evitar riscos ainda maiores. Os serviços devem estar equipados com instruções, telefones de emergência e recursos aos quais uma pessoa ou família possa recorrer, informações essas que devemestar ao alcance da população. No atendimento à situação de crise, é importante oferecer informações de referência, e inclusive assegurando-se de que os recursos foram acessados e forneceram as respostas necessárias. Numa equipe, os diferentes profissionais assumem papéis e procedem de acordo com seu conhecimento e vivência acumulados. A equipe deve criar mecanismos para compartilhar a experiência de cada um de seus membros, possibilitando a adoção de práticas comuns que garantam maior qualidade ao atendimento. Mayanne Mendonça Considerações éticas Durante todo o processo de atendimento das situações de violência intrafamiliar, a equipe de saúde necessita manter uma preocupação ética com a qualidade da intervenção e suas conseqüências. Nesse contexto, destacam-se alguns princípios: Sigilo e segurança Às vezes, o atendimento representa a primeira instância de divulgação de uma situação de violência e constitui a oportunidade do profissional de saúde diagnosticar os riscos. O compromisso da confidência e fundamental para conquistar a confiança do cliente. O manejo e as ações da equipe devem incluir mecanismos para proteger o segredo das informações. No caso de crianças e adolescentes, o profissional de saúde e, por lei, obrigado a notificar ao Conselho Tutelar quando da suspeita ou comprovação de um caso de violência. Esta notificação e uma medida importante para a proteção da criança ou adolescente. Em geral, o que se evidencia nestes casos e a necessidade de intervenção para resgatar o papel dos pais ou responsáveis, garantindo a segurança da criança ou adolescente. No caso de denúncia aos Conselhos Tutelares, e importante explicar para a família o seu papel, esclarecendo que o sigilo continuará a ser preservado. A intervenção não pode provocar maior dano Abordar situações de violência intrafamiliar significa entrar em um caminho complexo e delicado. O ato de expor detalhes muito pessoais e dolorosos a um estranho pode fragilizar ainda mais a vitima, provocando fortes reações negativas. O profissional deve estar consciente dos efeitos de sua intervenção e capacitado a desenvolver, acima de tudo, uma atitude compreensiva e não julgadora. Deve-se evitar que a pessoa agredida seja interrogada Mayanne Mendonça diversas vezes, por mais de um interlocutor, sobre o mesmo aspecto do problema. Respeitar o tempo, o ritmo e as decisões das pessoas Ao sofrer violência, cada pessoa lida com essa situação da maneira que acredita ser a melhor. Muitas vezes, o fato de solicitar auxílio não significa que ela esta em condições de coloca-lo em pratica, devido aos complexos efeitos da violência sobre sua saúde emocional. Não e papel do profissional acelerar este processo ou tentar influenciar as decisões de seus clientes, muito menos culpabilizá-los por permanecerem na relação de violência, mas sim confiar e investir na sua capacidade para enfrentar os obstáculos. Os profissionais devem estar conscientes do impacto da violência sobre si mesmos A violência intrafamiliar afeta a todos que, de alguma forma, se envolvem com ela, e os profissionais da saúde não sac, exceção. O contato com situações de sofrimento e risco, a insegurança e os questionamentos que desperta, bem como a impotência em obter soluções imediatas, exigem um tempo de autodedicação para proteção e alivio de tensões. Por este motivo, é preciso criar oportunidades sistemáticas de discussão, sensibilização e capacitação que proporcionem um respaldo à equipe para expor e trabalhar seus sentimentos e reações. Agora de outra fonte: Atenção à saúde das mulheres em situação de violência A atenção pelos profissionais da atenção primaria à saúde as mulheres em situação de violência doméstica, inclue acolhimento com escuta qualificada, vínculo, cuidado e encaminhamento resolutivo, além de apontar estratégias de cuidado. Acolher implica: “receberescutar-analisar-decidir” O acolhimento, como ato ou efeito de acolher, expressa em suas várias definições uma ação de aproximação, um “estar com” e um “estar perto de”, ou seja, uma atitude de inclusão. É importante garantir o acolhimento adequado às mulheres em situação de violência domestica, o que significa escutar, não culpabilizar e não acelerar ou influenciar nas suas decisões, mantendo atitude isenta de julgamentos, atentando para os aspectos socioculturais, históricos e econômicos, e respeitando suas crenças e sistemas de valores morais. É fundamental respeitar a autonomia, a individualidade e os direitos das mulheres. Deve-se resguardar sua identidade, tanto no espaço da instituição quanto no espaço público (por exemplo, junto à mídia, à comunidade etc.). Da mesma forma, deve-se respeitar a vontade expressa da mulher em não compartilhar sua história com familiares ou outras pessoas. Você poderá atender adolescentes vitimas de violência doméstica. Nestes atendimentos segundo as normas éticas de atendimento estes têm o direito de serem atendidos sozinhos, ou seja, o atendimento não deve ser negado quando a adolescente chega ao serviço de saúde desacompanhada e, quando acompanhada, deve ser ouvida em dois momentos, na presença dos responsáveis e sozinha (TAQUETTE, 2005; 2010). Mayanne Mendonça Sobre a necessidade de se considerar a opinião dos adolescentes em relação à conduta terapêutica e legal, destaca-se trecho da nota técnica 04/2017 do Ministério da Saúde: o direito à liberdade compreende o direito à expressão e à opinião, e o direito ao respeito que abrange a autonomia, valores, ideias e crenças, complementando os seus direitos fundamentais. Para as situações de violência, em 2017 foi publicada a Lei 13.431, regulamentada pelo decreto Nº 9.603, de 10 de dezembro de 2018 que estabelece a garantia de direitos de adolescentes vítimas ou testemunha de violência. Esta lei estabelece para as adolescentes a escuta especializada como o procedimento de escuta sobre situação de violência na rede de atenção e o depoimento especial como o procedimento de escuta do adolescente vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária como parte de um processo jurídico. Desta forma, a adolescente é protegida da vitimização pelos serviços, a fim de que a pessoa não precise repetir diversas vezes sobre a agressão sofrida ou presenciada, diminuindo o sofrimento causado e também a possibilidade de interferência no seu relato. Identificação das situações de violências Como profissional da atenção primária à saúde, você assume papel também como identificador de situações de violência. É atribuição dos profissionais prover atenção a tais situações, bem como acionar a rede intersetorial, tendo em vista os impactos da violência sobre a saúde física e mental. Você precisa estar atento às mulheres que procuram os serviços de saúde, relatando sofrimentos pouco específicos, doenças crônicas, agravos à saúde reprodutiva e sexual ou transtornos mentais. Estas condições e situações ocorrem em maior frequência nas mulheres que estão vivenciando situação de violência (D’OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2014). Um estudo transversal realizado nos serviços de atenção primária à saúde em São Paulo aponta para o uso maior de serviços de saúde por parte das mulheres que experimentam ou já experimentaram Mayanne Mendonça violência por seus parceiros íntimos e confirma que esse maior uso relaciona-se à gravidade maior da situação de violência, bem como à sua reiteração, em nosso caso avaliada pela alta repetição dos episódios. Pode-se afirmar, assim, com base nos resultados encontrados, que as mulheres que convivem com VPI repetitiva apresentam maior frequência de uso de serviços de saúde e de agravos à sua saúde, em especial problemas de saúde mental (SCHRAIBER et al. (2010). Segundo Silva (2003), esta “invisibilidade” da violência decorre do fato dealguns setores ainda se limitarem a cuidar dos sintomas das doenças e não contarem com instrumentos capazes de identificar o problema. Desta forma, as intervenções acabam por mostrar respostas insuficientes dos serviços para as necessidades das mulheres, pois, uma vez que a situação de violência não se extingue, as repercussões sobre o adoecimento físico ou mental ressurgem e voltam a pressionar os serviços (BORSOI, 2009). As mulheres também podem procurar atendimento por problemas decorrentes diretamente da violência física ou sexual, tais como traumas, fraturas, tentativas de suicídio, abortamentos, entre outros. Por outro lado, mulheres que não buscam os serviços de saúde, em especial para realização de exames preventivos ou adoção de métodos contraceptivos e planejamento familiar, podem estar em situação de violência e, inclusive, evitarem realizar atendimentos como forma de não expor sinais do que vivenciam. Assim, uma estratégia que pode ser adotada é o rastreio para violência como parte integrante dos atendimentos da equipe de saúde. Para a abordagem adequada das situações de violência, deve-se estar atento aos riscos que podem surgir com a revelação do caso. A confidencialidade deve ser mantida, salvo em casos de perigo iminente ou elevado. Acompanhe a seguir algumas perguntas que podem ser realizadas quando houver suspeita de que a mulher está sofrendo algum tipo de violência (DGS; ASGVCV, 2014). Perguntas com base em sintomas psicológicos: Gostaria de saber a sua opinião sobre esses sintomas que relatou (ansiedade, nervosismo, tristeza, apatia)... Desde quando você se sente assim? Qual o motivo? Têm a ver com alguma situação? Aconteceu ultimamente alguma situação na sua vida que possa deixar você preocupada? Tem algum problema com seu companheiro/sua companheira ou alguém da sua família? Você parece assustada. O que teme? Perguntas com base em antecedentes e características pessoais: Atenção às mulheres em situação de violência Mayanne Mendonça O enfoque na atenção primária se justifica por ser este um local privilegiado para o desenvolvimento de ações de prevenção, reflexão e orientação sobre o tema, pois tem uma grande cobertura e possibilita um contato mais estreito com as mulheres, podendo reconhecer e acolher o caso antes de incidentes mais graves. (BORSOI, 2009). Para que as mulheres em situação de violência reconheçam a Unidade Básica de Saúde como um dos pontos de atenção na rede de atendimento à situação de violência é importante que os profissionais que nela atuam tenham uma cultura de respeito, propiciando tempo e condições para realizar uma escuta com qualidade e estabelecer um diálogo com as mulheres. É preciso mostrar que você, profissional, está aberto e preocupado com a atenção às mulheres em situação de violência, preparando a UBS para que possa ajudar a informá-las desta disposição, colocando cartazes, banners, discutindo casos com a equipe, divulgando pelos meios de comunicação e por meio das visitas de agentes comunitários de saúde. A informação que precisa estar visível para a comunidade é de que a equipe da UBS entende que violência é um problema de saúde e que tem informações importantes para quem está vivenciando esta situação. Outra estratégia para que a temática da violência possa emergir a partir das mulheres da comunidade é criar espaços, grupos de atenção às dimensões psicossociais e quando o tema surgir poderá ser trabalhado a partir das expectativas e conhecimentos das mulheres. Destaca-se que não é papel dos profissionais de saúde fazer julgamentos sobre a situação vivenciada e as escolhas que a mulher fizer. Seu papel é oferecer as informações e os recursos existentes para o atendimento, valorizando o relato da mulher, respeitando a sua privacidade e a confidencialidade e, principalmente, o seu tempo. No atendimento da mulher em situação de violência doméstica você precisa elaborar em conjunto com a mulher um plano de cuidados a partir das decisões e escolhas da mulher para o enfrentamento da situação vivenciada. É de responsabilidade do profissional de saúde notificar os casos de violência que chegam aos serviços de saúde, sejam casos suspeitos ou confirmados. É por meio das notificações que a violência ganha visibilidade, permitindo a produção de informações epidemiológicas do problema, as quais poderão embasar a formulação de políticas para a prevenção de novos casos e o enfrentamento das violências (SALIBA et al., 2007). De acordo com a lei 10.778/2003, todas as pessoas físicas e entidades públicas ou privadas estão obrigadas a notificar casos suspeitos ou confirmados de violência. Desta forma, os profissionais de saúde em geral (médicos, cirurgiões- -dentistas, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, psicólogos etc.) e os estabelecimentos que prestarem atendimento às pessoas em situação de violência (unidades básicas de saúde, centros de saúde, clínicas, hospitais) tem o dever de realizar tais notificações. Mayanne Mendonça O Ministério da Saúde (MS) implantou em 2006 o sistema de notificação como um instrumento importante de proteção, não de denúncia e punição. A partir de 2006, o MS estruturou o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (ViVA) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, a notificação da violência está inserida no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), onde há uma ficha específica de notificação para a violência interpessoal e autoprovocada. O SINAN permite a emissão de relatórios com informações detalhadas dos casos de violência por local de residência da pessoa em situação de violência ou por local de notificação. A sistematização dos dados permite caracterizar os tipos e a natureza das violências cometidas, o perfil das pessoas em situação de violência e dos prováveis autores da agressão (BRASIL, 2010). No entanto, a existência da lei e dos sistemas de registro não determinam por si só que a notificação seja feita. É necessária a conscientização da sua importância, a quebra de ideias preconcebidas, a formação e o preparo, para que o profissional de saúde esteja apto a detectar e notificar as violências identificadas (GONÇALVES; FERREIRA, 2002). A notificação da violência faz parte do atendimento do profissional de saúde. A qualidade do atendimento recebido em instituições é muito importante: o encorajamento, a informação precisa e o não julgamento contribuem para que a violência sofrida não seja invisibilizada. As mulheres que estão em situação de violência buscam diversas formas de apoio e meios de transformar a situação. Para falar sobre a violência sofrida, vencem o medo, a falta de apoio, o sentimento de vergonha e o desprestígio em relação ao cumprimento de papel esperado pela mulher, esposa e mãe que muitas vezes bloqueiam internamente a decisão da denúncia. Lembre-se que trabalhar com mulheres em situação de violência é empoderá-las, a fim de que possam fazer escolhas a partir da realidade vivida. Assim, como profissional da saúde, você precisa conhecer quais as possibilidades de atenção às mulheres em Mayanne Mendonça situação de violência existentes no seu território e quais são alternativas para cada uma delas. Só assim poderá informar e ajudar cada mulher a escolher que decisão tomar. A escolha sobre qual decisão tomar deve ser da mulher e precisa ser realizada a partir da informação e das possibilidades que ela tiver. Por isso, assegure que a informação que você deu foi compreendida pela mulher e que ela está instrumentalizada para fazer a melhor escolha, no seu contexto. Veja a seguir, alguns pontos que devem ser observados, quando a situação de violência for confirmada (DGS; ASGVCV, 2014). Como profissional de saúde você precisa incentivar iniciativas de busca de soluções para osproblemas, estabelecendo vínculos com as mulheres em situação de violência doméstica. Para isso, é importante que você identifique como esta mulher está vivenciando a situação e qual o potencial de mudança. Atenção aos autores de violência Como profissional da atenção primária à saúde você tem mais um importante papel: mobilizar a comunidade para refletir sobre as relações no âmbito doméstico e as violências. Estas reflexões Mayanne Mendonça passam por desconstruir os estereótipos de gênero e a normalidade das relações desiguais entre homens e mulheres. Espaços de atendimento individuais e coletivos nas UBS precisam incluir estes temas. Incluir os homens nas atividades da equipe de saúde, como o pré-natal do parceiro, é um dos exemplos de ação com potencial para fortalecer relações saudáveis no âmbito doméstico. Outro espaço importante é a escola. Estudos têm demonstrado que as relações violentas estão presentes desde o namoro. Assim promover espaços de reflexão para os adolescentes sobre relações saudáveis é uma ação importante para a redução da violência doméstica. Desnaturalizar atos violentos promove relações mais saudáveis. Neste âmbito, reconhecer que a violência é relacional determina que ações de prevenção sejam realizadas com homens e mulheres. Estas ações podem ser desencadeadas com homens autores de violência conforme previsto na Lei Maria da Penha. Quando você atender uma mulher que está em situação de violência ela pode solicitar que você intervenha conversando com o parceiro autor de violência. Esta não é uma atitude recomendada. Não se sabe de que maneira esta ação pode impactar e oferecer riscos de ampliar a violência já sofrida. Lembre-se de que, se você usar a sua autoridade para ‘dar uma dura’ ou ‘ouvir o outro lado’, estará diminuindo a posição de sujeito da mulher ou colocando-se como o juiz do caso, o que você não é. Isto também visa sua própria segurança (D’OLIVEIRA et al, 2018). 5. Quais as principais leis para violência doméstica e quais as medidas legais para a sua proteção? Surgimento da lei maria da penha A Lei Maria da Penha recebeu esse nome em homenagem à biofarmacêutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes, que, após ter sofrido duas tentativas de homicídio por seu marido, lutou para a criação de uma lei que contribuísse para a diminuição da violência doméstica e familiar contra a mulher. Na primeira tentativa, Marco Antônio Heredia deu um tiro em Maria da Penha e ela ficou paraplégica. Na segunda vez, Marco Antônio tentou eletrocutá-la durante o banho. Em 1998, o Centro para a Justiça e o Direito Internacional e o Comitê Latino-americano do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher, juntamente com Maria da Penha Maia Fernandes, com o apoio de ONGs brasileiras, encaminharam petição, contra o Estado Brasileiro, à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da OEA, sob a alegação de que, passados 15 anos da agressão, ainda não havia uma decisão final de condenação pelos tribunais nacionais e o agressor ainda se encontrava em liberdade. No ano de 2001, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em seu Relatório nº 54/01, responsabilizou o Estado Brasileiro por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra mulheres. O órgão recomendou que fosse criada uma legislação adequada a esse tipo de violência. O Caso Maria da Penha, que recebeu o número 12.051, foi o primeiro caso de aplicação da Convenção de Belém do Pará. O agressor demorou a ser julgado e, quando condenado, ficou Mayanne Mendonça apenas dois anos na prisão, demonstrando o descaso com que era tratado este tipo de violência. Com a entrada da Lei nº 11.340/2006 pretendeu-se mudar essa situação, criando mecanismos mais rigorosos para se coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Em que situações a lei maria da penha é aplicada? (só a mulheres? Trans? Homens são aparados? Casais homoafetivos? A lei se relaciona com gênero ou com sexualidade https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/arquivos/ cartilha-homens-4.pdf LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006 Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo- lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. § 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput. Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015) https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/arquivos/cartilha-homens-4.pdf https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/arquivos/cartilha-homens-4.pdf http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.340-2006?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art226%C2%A78 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art226%C2%A78 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp150.htm#art27vii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp150.htm#art27vii Mayanne Mendonça I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido coma ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos. DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018) III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13772.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13772.htm#art2 Mayanne Mendonça DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes: I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação; II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências e à freqüência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas; III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1º , no inciso IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal ; IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher; V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres; VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher; VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia; VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia; IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso. Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada em caráter prioritário no Sistema Único de Saúde (SUS) e no Sistema Único de Segurança Pública (Susp), de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 (Lei Orgânica da Assistência http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art1iii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art1iii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art3iv http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art221iv http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art221iv Mayanne Mendonça Social), e em outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente, quando for o caso. (Redação dada pela Lei nº 14.887, de 2024) § 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal. § 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica: I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta; II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses. III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) § 3º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentosmédicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual. § 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica e dano moral ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total tratamento das vítimas em situação de violência doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os serviços. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência) § 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e disponibilizados para o monitoramento das vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas protetivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência) § 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes, nem configurar atenuante ou ensejar possibilidade de substituição da pena aplicada. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência) § 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem prioridade para matricular seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo de violência doméstica e familiar em curso. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) § 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependentes matriculados ou transferidos conforme o disposto no § 7º deste artigo, e o acesso às informações será reservado ao juiz, ao Ministério Público e aos órgãos competentes do poder público. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14887.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14887.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13894.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13894.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13871.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13871.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13871.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13871.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13871.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13871.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13871.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13871.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13882.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13882.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13882.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13882.htm#art2 Mayanne Mendonça DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis. Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência deferida. Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do sexo feminino - previamente capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) § 1º A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência doméstica e familiar, familiares e testemunhas terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles relacionadas; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) § 2º Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de que trata esta Lei, adotar-se- á, preferencialmente, o seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado em violência doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou policial; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degravação e a mídia integrar o inquérito. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências: I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário; II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal; III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13505.htm#art2 Mayanne Mendonça V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis. V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis, inclusive os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável. (Redação dada pela Lei nº 13.894,