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1 FP078 - INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO TRABALHO CONV. ORDINÁRIA TRABALHO DA DISCIPLINA - INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO FP 078 TÍTULO: DESAFIOS NO ENSINO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA ESCOLA TUTORA: MARIURKA MATURELL RUIZ CÓDIGO: FP078 CURSO: MESTRADO EM EDUCAÇÃO https://campus2.funiber.org/user/view.php?id=209593&course=3093 2 ÍNDICE 1 Introdução —------------------------------------------------------------------------- 3 2 Descrição do Problema—--------------------------------------------------------- 4 3 Desenho de intervenção—------------------------------------------------------- 6 4 Tabela do Princípio da diversificação------------------------------------------ 8 Referências —------------------------------------------------------------------------- 10 3 1 Introdução A educação desempenha um papel fundamental na construção de uma sociedade mais equitativa e diversa, especialmente quando se trata da valorização da cultura afro-brasileira e africana no ambiente escolar. No entanto, a implementação de práticas educativas que contemplem a interculturalidade ainda enfrenta resistências e desafios significativos. Este trabalho busca discutir as dificuldades encontradas na inserção da cultura africana nas escolas, considerando as barreiras históricas, sociais e institucionais que perpetuam uma visão eurocêntrica do conhecimento. A Lei nº 10.639/03 representa um marco na educação brasileira ao estabelecer a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. No entanto, sua aplicação ainda encontra resistência em muitas comunidades escolares, onde há preconceitos e desinformação sobre a cultura africana e suas manifestações. Esse fenômeno se manifesta através da rejeição de práticas culturais como a capoeira, o uso de instrumentos musicais de origem africana e o ensino sobre religiões de matriz africana, frequentemente associadas a estereótipos negativos. Este estudo tem como objetivo analisar essas resistências e propor estratégias para um ensino intercultural emancipatório, que valorize e respeite a diversidade. Através do modelo intercultural crítico, busca-se um debate que vá além da simples inclusão de conteúdos no currículo, mas que também questione relações de poder e desigualdades históricas que moldam a educação. O trabalho está estruturado em três partes principais. Primeiramente, descrevemos o problema e suas manifestações no contexto escolar. Em seguida, apresentamos um desenho de intervenção baseado em princípios da interculturalidade crítica, visando promover uma educação mais inclusiva e reflexiva. Por fim, discutimos o enfoque comunicativo e o princípio da diversificação como uma estratégia metodológica para enfrentar os desafios da educação intercultural nas escolas. Acreditamos que a construção de um ambiente educacional verdadeiramente intercultural exige um compromisso coletivo, envolvendo professores, alunos, famílias e toda a comunidade escolar. Apenas assim poderemos superar preconceitos e promover uma formação cidadã que respeite e celebre a diversidade cultural do Brasil. 4 2 Descrição do problema: O presente trabalho descreve como problema a experiência vivida no contexto escolar de uma comunidade onde percebe-se uma resistência por parte dos alunos e das famílias ao introduzir no currículo escolar as questões relacionadas às religiões de matrizes africanas, e demais elementos culturais relacionados ao tema. Percebe-se por parte da comunidade escolar onde a escola está inserida, que as manifestações da cultura são vistas como algo proibido e negativo, chegando a ocasionar falas desrespeitosas e incômodas quando se trata das religiões afro-brasileiras, assim como na manifestação de elementos presentes na própria cultura brasileira. A prática da capoeira, por exemplo, que contém elementos da cultura africana e que hoje é considerada patrimônio cultural do Brasil, pelo simples fato de ser realizada em roda e por conta dos instrumentos musicais que também são utilizados nos cultos e cerimônias das religiões africanas, é vista como um ritual comparado a umbanda, candomblé entre outras, que são elementos originários de África. Trazemos para o debate a Lei nº 10.639/03, que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas. De acordo com Gomes, “…a mudança estrutural proposta por essa legislação abre caminhos para a construção de uma educação anti-racista que acarreta uma ruptura epistemológica e curricular, na medida em que torna público e legítimo o “falar” sobre a questão afro-brasileira e africana.” (Gomes, 2012, p. 105). É preciso propor um diálogo intercultural que vai além do convencional: um diálogo emancipatório dentro da escola. Isso significa considerar a existência do “outro” e de suas diferenças culturais e geracionais. Nesse contexto, conflitos e divergências são elementos centrais no processo, com o compromisso de assumir o respeito e a valorização de novos projetos curriculares, educativos e sociais. O lugar de professor nos coloca como interlocutores de um modelo de educação intercultural que precisa ser crítico, para que possa abrir possibilidades de resolver as contradições por meio do diálogo, rompendo com a lógica dominante e buscando relações equitativas para contextos culturalmente diversos. Segundo FUNIBER, “O modelo crítico não se esgota nas relações interculturais, questiona as relações de poder historicamente constituídas que sustentam as desigualdades, inequidades e discriminações.” (FUNIBER, 2025 p.54). Nesse sentido, é preciso admitir que as relações culturais são muito complexas, e as sociedades ocidentais acostumaram-se a valorizar e seguir as regras 5 da cultura dos povos que as ditam, e que só faz aumentar o preconceito pelo desconhecido, trajado de errado para que não sejam conhecidos e seus povos permaneçam com as almas escravizadas pelo não reconhecimento das suas verdadeiras identidades culturais. É essencial considerar que muitas das atitudes dos alunos e de suas famílias no entorno da escola, onde identificamos o problema, estão profundamente ligadas ao caráter eurocêntrico e colonial presente na estruturação de pensamento cultural dos povos de descendência europeia, especialmente nas pequenas cidades do interior do país. Esse processo reforça o poder das classes dominantes e perpetua a hegemonia da cultura eurocêntrica. Como pesquisado por Santiago et al: Pensar esses questionamentos, quando há uma educação que racializa desde a pequeníssima infância, seja pela não valorização da diversidade cultural e dos aportes ancestrais que destoam dos elencados pelos europeus como corretos e verdadeiros, seja pela violência hierárquica que justifica a divisão social do trabalho e a estrutura de classe, não pode ser um questionamento somente de alguns grupos sociais. A educação das crianças é uma responsabilidade de toda a sociedade e sem esse movimento não poderemos ver a construção da democracia ou a igualdade de direito entre todos e todas. (Santiago, Souza & Faria, 2019, p.13) Torna-se fundamental que a escola considere o contexto em que está inserida e promova o debate descolonizador que contemple as diferenças para além da constatação da multiculturalidade, fortalecendo no seu Projeto Político Pedagógico e na formação continuada dos professores, o compromisso legal com a diversidade cultural e étnico-racial brasileira e a igualdade de direitos a todo cidadão e a toda cidadã. Nisso, consiste a importância da interculturalidade na escola, como enfatiza Ifadireo: Neste sentido, percebe-se a importância da Educação Intercultural ao procurar despertar a essência da identidade e do pertencimento do indivíduo com a sua coletividade, contribuindo para que este Ser Negroou Ser Índio abandone o estágio letárgico que o tornou vítima de tal estranheza como de “si mesmos”. Resume-se: a interculturalidade percebeu que a ausência da autoestima, afeta a subjetividade do Ser, impede o reconhecimento de si, e levava a refutação de sua original cultura e religião. (Ifadireo, 2021, p.10) 6 No Brasil, as discussões sobre a educação intercultural iniciaram como mecanismo de proteção e de contestação aos estranhamentos advindos com as teorias raciais e decoloniais. E com o surgimento do discurso de ódio na sociedade e o avanço do conservadorismo radical, refletiu no aumento das estatísticas criminais de racismo, xenofobia, misoginia, LGBTfobia e do racismo religioso no cenário político, social e educacional brasileiro. Nesse sentido, se faz necessário implementar nas escolas a metodologia e os critérios para o desenvolvimento da educação intercultural, na tentativa de frear esse aumento e valorizar as diferentes culturas e seus elementos sociais. 3 Desenho de intervenção: Para propor uma intervenção ao problema descrito no tópico anterior, está proposta irá focar no modelo intercultural crítico, que compreende as práticas interculturais como complexas, busca o caráter transformador e emancipatório das ações, propõe o enfrentamento a dominação social e cultural, promove o diálogo intercultural e está em permanente construção como projeto político, social, ético e epistêmico. Para tanto, elencamos três critérios de desenvolvimento intercultural que mais se aproximam com as necessidades do problema apresentado, de acordo com FUNIBER, 2025, p.67-69. ● A identificação e o reconhecimento das diferenças e da “alteridade”: Buscando o rompimento de estereótipos e preconceitos herdados, por meio deste critério será possibilitado o reconhecimento das potencialidades criativas que exercidas pela cultura africana, oferecendo um entendimento real das diferenças culturais, questionando as outras práticas culturais que são tidas como única referência. ● Conhecimento e prática de “outros”: Esse critério foca em mostrar que outras maneiras existem de se conhecer, praticar, explicar o desconhecido, rompendo com a fronteira do medo do desconhecido. Esse critério se relaciona diretamente com o modelo crítico de interculturalidade, por propor um diálogo entre os conhecimentos estabelecidos pela “cultura ocidental” que se demonstra hegemônica no 7 campo das religiões, por exemplo, permitindo a coexistência de uma diversidade de concepções do mundo. ● A problemática de conflitos culturais, racismo e relações culturais negativas: Este critério busca desenvolver um entendimento crítico das sociedades e das causas dos conflitos, promovendo ações diante das desigualdades, a marginalizaçao, a discriminação e o racismo, que limitam o desenvolvimento da interculturalidade. Podemos observar que os três critérios estão relacionados e possuem objetivos próximos da realidade apresentada, podendo facilmente ser utilizados como balizadores do enfoque metodológico comunicativo. Conforme FUNIBER, 2025, p.70 …”as pessoas aprendem em e desde um contexto”. Nesse sentido, é impossível desconsiderar o ambiente em que se constroem as relações com as relações em si, havendo uma eterna confluência entre o que o aluno vai aprender na sua vida fora da escola, e o saber escolar. Um influencia o outro e é necessário considerar esse fator no planejamento metodológico para interculturalidade. Em relação ao critério metodológico, apontamos o enfoque comunicativo, conforme pesquisado em FUNIBER, 2025, p. 70, destacando-se a possibilidade de modificação dos tópicos e estereótipos, responsáveis pela configuração de representações sobre os outros, que muitas vezes limitam a capacidade de interagir com determinada cultura. Grupos formados de maneira heterogênea, podem cooperar entre si em tarefas que busquem a realização de pesquisas com base em evidências, para gerar um debate com a exposição de argumentos e significados. Destaca-se também a possibilidade de envolvimento das famílias na construção das suas identidades, valorizando-as sem discriminar as diferenças sociais e culturais. Enfim, construir uma estratégia metodológica pautada pela comunicação intercultural e na busca pelo rompimento de uma lógica cultural hegemônica, possibilitando a abertura para que o diferente se torne conhecido e respeitado no espaço escolar. Apoiados no princípio da diversificação, conforme o material da FUNIBER, 2025, p. 73, destacamos uma proposta de organização metodológica: 8 Organização da sala de aula e dos grupos: Construção de vínculos possibilitando trocas em trabalhos de pequenos grupos e interações em grande grupo com a promoção de debates. Técnicas e Modalidades de Trabalho: Buscar a motivação para desvendar o desconhecido e promover trabalhos variados que possam ser socializados com a comunidade escolar: Construção de textos, observações, pesquisas , interpretações e debates. Materiais de Apoio: Audiovisual, livros, escritas, orais e corporais. Atividades de aprendizado: Visitas a museus, feiras de ciências, publicações e relatos de experiências. Atividades de Avaliação: Será utilizada a avaliação formativa, considerando os contextos e as condições de aprendizagem dos alunos, por meio de registros descritivos e reflexivos feitos ao 9 longo do processo de ensino-aprendizagem e que sirvam também para replanejar a proposta do professor. A avaliação é um meio para atingir objetivos e não um fim, portanto, será feita de forma contínua, formativa, por meio da autoavaliação e coavaliação. 10 Referências: Carvalho I. B. de, e Castro, A. de C. (2017). Currículo, Racismo E O Ensino De Língua Portuguesa: As Relações Étnico-Raciais Na Educação E Na Sociedade. Educação & Sociedade, P.38-138. Https://Doi.Org/10.1590/Es0101- 73302017156888 Funiber (2025) Interculturalidade E Educação. P.1-64. Barcelona. Espanha. Gomes, N. L. (2012). Relações Étnico-Raciais, Educação E Descolonização Dos Currículos. Currículo Sem Fronteiras, 12 (1) P. 98-109, Jan/Abr 2012 Ifadireo, M. M. (2021). Desafios Da Educação Intercultural Para As Políticas Em Currículo: Uma Análise Da Xenofobia Motivada Pelo Racismo Religioso. Revista Espaço Do Currículo, 14(2) P.1-14, Https://Doi.Org/10.22478/Ufpb.1983- 1579.2021v14n2.44939 Oliveira L. F. De, e Candau, V. M. F. (2010). Pedagogia Decolonial E Educação Antirracista E Intercultural No Brasil. Educação Em Revista, 26(1). Https://Doi.Org/10.1590/S0102-46982010000100002 Santiago, F., Anacleto De Souza, M. L., & Goulart De Faria, A. L. (2019). Pedagogia Da Infância No Brasil E Na Itália: A Criança Em Contextos Interculturais Marcados Historicamente Pelo Racismo. Eccos – Revista Científica, 51. Https://Doi.Org/10.5585/Eccos.N51.13481 https://doi.org/10.1590/es0101-73302017156888 https://doi.org/10.1590/es0101-73302017156888 https://doi.org/10.22478/ufpb.1983-1579.2021v14n2.44939 https://doi.org/10.22478/ufpb.1983-1579.2021v14n2.44939 https://doi.org/10.1590/s0102-46982010000100002 https://doi.org/10.5585/eccos.n51.13481