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Origem da Filosofia: Do Mito à Razão A passagem do conhecimento mítico ao conhecimento racional deu-se no começo do século VI a.C. na Grécia. Ocorreu primeiramente nas colônias gregas localizadas na Jônia, na costa da Anatólia. Esta revolução do conhecimento se reproduziu na Sicília e no sul da Itália e, depois, chegou a Atenas. Em Mileto de Éfeso, houve uma verdadeira transferência de conhecimentos astronômicos e matemáticos, que estimulou a investigação direta dos mistérios do Universo. Desde o começo da história, o desconhecimento das coisas deixa o ser humano desnorteado e, com isso, apodera-se dele o medo e a incerteza. A necessidade de superar essa incerteza levou o indivíduo a buscar algum domínio da natureza e, consequentemente, ter alguma tranquilidade. Isso quer dizer conhecer. O mito constitui a primeira tentativa da humanidade de interpretar os mistérios do Universo. Ele tem a forma de uma narrativa e se refere sempre a uma criação, conta a forma como alguma coisa começou a existir. Physis é a palavra-chave para a compreensão do início da filosofia, mais especificamente a filosofia pré-socrática. Geralmente, traduzida por Natureza, o que não espelha o seu verdadeiro sentido. Para os antigos filósofos, a physis refere-se a tudo o que se pode imaginar: os rios, as estradas, o planeta, o tempo, o ódio, o amor. Martin Heidegger assim se expressou: “À physis pertencem o céu e a terra, a pedra e a planta, o animal e o homem, o acontecer humano como obra do homem e dos deuses, e, sobretudo, pertencem à physis os próprios deuses”. O nascimento do pensamento racional está ligado ao aparecimento da pólis. Na polis grega, os pensadores dispensaram a influência de agentes e forças sobrenaturais, ficando apenas com a razão e a experiência. Em seus debates sobre a ordem necessária, as formas de governo e o modo de agir deram também origem à filosofia, que é antes de tudo o amor ao saber, e mais precisamente conhecer a verdade, não pela fantasia, pela narrativa, mas pelo uso da razão, no sentido de o ser humano construir o seu próprio destino. Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Xenófanes de Cólofon, Heráclito de Éfeso, Pitágoras de Samos, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia, Empédocles de Agrigento, Filolau de Cróton, Anaxágoras de Clazomena, Diógenes de Apolônia, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera são os representantes da filosofia pré-socrática. Nos seus fragmentos e nas suas poesias estão todo o conteúdo filosófico. Tales de Mileto, por exemplo, trouxe-nos a ideia de a água ser a substância primeira da matéria. Vasculhemos as ideias desses filósofos, pois elas nos retratarão com perfeição como o pensamento passou do mito à razão. Fonte de Consulta TEMÁTICA BARSA - FILOSOFIA. Rio de Janeiro, Barsa Planeta, 2005. Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/origem-da-filosofia Fichamento Texto 2 Aranha, M.L.A; Martins, M.H.P. Do mito à razão: o nascimento da Filosofia. In:_____. Filosofando.Introdução à Filosofia. 3ª ed. São Paulo, Moderna, 2003, pág. 79 a 84. Processo pelo qual se dá a passagem da consciência mítica para a consciência filosófica na civilização grega Periodização da história da Grécia Antiga: Civilização micênica (sécs. XX a XII a.C.): possui este nome pela importância da cidade deMicena e partem de lá Agamemnon, Aquiles e Ulisses para bloquear e conquistar Tróia; Tempos homéricos (sécs. XII a VIII a.C.): tempo deque teria vivido Homero; há a transição domundo rural para a formação de propriedades de terras dos nobres (aristocracia); aumento daescravidão; Período arcaico (sécs. VIII a VI a.C.): surgimento das cidades; grandes alterações sociais e políticas; desenvolve o comércio e a expansão da colonização grega; Período clássico (sécs. V e IV a.C.): Auge da civilização grega; desenvolve política, arte,literatura e filosofia; neste período vivem Sócrates, Platão e Aristóteles; Período helenístico (sécs. III e II a.C.): Há a decadência política; conquista dos romanos; Nacultura há influência das civilizações orientais. 1. Homero e Hesíodo Os mitos gregos surgem quando ainda não havia escrita. Não era fácil conhecer os autores. Homero teria sido o provável autor dos poemas épicos IIíada E Odisseia. As epopeias foram obras importantes na vida dos gregos, pois, descreveram como era civilização micênica, sua cultura e concepção de vida (tempos homéricos). Hesíodo em sua obra Teogonia superou as epopeias com novas características como a valorização do trabalho e a justiça com suas regras, mas ainda reflete a crença dos mitos (períodoarcaico). 2.Uma nova ordem humana No período Arcaico surgem os primeiros filósofos. Há a passagem da mentalidade mítica para o pensamento crítico, racional e filosófico. A escrita, a moeda, a lei escrita e o nascimento da cidade são condições para o surgimento do filósofo. a) A escrita: A primeira escrita era reservada para os sacerdotes e reis; A escrita e a civilização micênica desaparecem no século XII a.C., na invasão dórica, e ressurgesomente no final do século XI ou VIII a.C.; A segunda assume caráter diferente, pois desliga de preocupações esotéricas, religiosa e ao poder; A escrita exige postura diferente da fala; Estimula o espírito crítico; Pode ser retomada posteriormente para confrontar ideias e ampliar críticas; Surge como uma possibilidade que tende a modificar a própria estrutura do pensamento. b) A moeda: Foi inventada na Lídia, aparece na Grécia por volta do séc. VII a.C.; Facilita os negócios e o comércio; Os produtos transformam-se em mercadorias; Estabelece a medida comum entre valores diferentes; É revolucionária, pois está diretamente ligada ao nascimento do pensamento racional crítico. c)A lei escrita e o cidadão da pólis: O nascimento da pólis (cidade-estado) por volta do sécs. VIII e VII, provoca grandes alteraçõessociais e humanas; A transformação da pólis se deve aos legisladores que sinalizam uma nova era utilizando aescrita para codificar a justiça; Dá-se o fim da hierarquia fundada no poder aristocrático das famílias e assentada nas formas desubmissão e domínio. Assim, o novo ideal de justiça é de que todo cidadão tem direito ao poder; A pólis se faz pela autonomia da palavra humana do conflito, da discussão. O que faz nascer a política. A ordem humana dá origem ao cidadão da polis; A democracia era exercida por apenas 10% dos considerados cidadãos. 3.Os primeiros filósofos A filosofia da Grécia centralizou na figura de Sócrates; Os primeiros filósofos foram classificados como pré-socráticos; Os primeiros pensadores centralizaram sua atenção às concepções de cosmologia, procurando a racionalidade constitutiva do Universo; Buscavam a arché, ou seja, explicar qual seria o elemento constitutivo de todas as coisas. 4.Mito e filosofia: Continuidade e Ruptura Já se observa a diferença entre pensamento mítico e filosofia, como exemplo a explicação do princípio do mundo, de Hesíodo, com a cosmogonia que é contraposta pelos pré-socráticos com acosmologia. É a ruptura entre mitos e logos (razão). Na passagem do mito à razão, há continuidade no uso comum de certas estruturas de explicação. 5. Conclusão Por existir aspectos de continuidade entre mito e filosofia, o pensamento filosófico é muito diferente do mito, por resultar uma ruptura quanto a atitude do saber recebido, como fica exposto no quadro: MITO FILOSOFIA É uma narrativa que não se questiona Problematiza, convida à discussão A inteligibilidade é dada A inteligência é procurada Aceita o sobrenatural Rejeita o sobrenatural Na nova abordagem do real, pode-se notar a vinculação entre filosofia e ciência. Os primeirosfilósofos também são intelectuais do saber científico. Somente no séc. XVII que a ciência separada filosofia.