Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

1 
 
 
Geografia Urbana 
 
 
2 
 
 
 
 
3 
 
 
 
1. Produção e consumo no Espaço Urbano 
2. A Urbanização Brasileira 
3. O Processo de Urbanização 
4. Papel do Estado 
5. Cidade e sustentabilidade 
6. A População e sua historicidade 
7. Surgimento das cidades: Os primeiros assentamentos 
urbanos 
8. Gestão Urbana e Regional 
9. Acessibilidade e Mobilidade 
10. Mobilidade Urbana 
11. Evolução Urbana e Energia 
12. As teorias populacionais Marxista e Reformista 
 
3 
 
 
4 
1. PRODUÇÃO E CONSUMO NO ESPAÇO URBANO 
Introdução 
 Nos dias de hoje, o desenvolvimento e ocupação das áreas urbanas estão 
intrinsecamente ligados aos ciclos econômicos e à expansão das relações capitalistas 
impulsionadas pela globalização. Essa dinâmica de produção e consumo desses 
espaços também acarretou em uma mudança na percepção das periferias pela capital. 
Ademais, a expansão urbana e a criação de novos ambientes têm gerado uma série de 
consequências ambientais que questionam profundamente o processo de urbanização 
contemporâneo. 
Neste capítulo, exploraremos os elementos que contribuíram para a configuração e 
utilização do espaço urbano, assim como os impactos resultantes desse processo nas 
regiões periféricas e no meio ambiente das cidades. 
1.1 O fenômeno da produção e do consumo nas áreas urbanas 
O fenômeno da produção e do consumo nas áreas urbanas está intimamente ligado ao 
movimento de capitais que se desenrola ao longo do tempo, ou seja, às práticas e 
atividades econômicas e sociais relacionadas ao atual sistema capitalista que ocorrem 
nos centros urbanos. 
Ao analisarmos a história e a evolução do processo de urbanização no Brasil, 
percebemos que este é continua sendo um fenômeno fortemente influenciado pela 
circulação de capitais no ambiente urbano. Além disso, é necessário que os diversos 
grupos sociais de alguma forma tenham acesso a essas capitais, não bastando apenas 
a sua circulação no espaço urbano. 
1.2 A Produção do Espaço Urbano 
A abertura de capital por parte de muitas empresas a partir dos anos 2000 gerou um 
aumento significativo do interesse financeiro na produção do espaço urbano. Essas 
ações tiveram importantes impactos na configuração e estruturação das cidades. 
O espaço urbano é moldado por uma série de ações que acompanham a reprodução 
da força de trabalho, que vai desde a aquisição de imóveis até a utilização de bens de 
consumo duráveis e não duráveis, assim como serviços como saúde e educação. Assim, 
a produção do espaço só se concretiza quando este é consumido, pois somente dessa 
forma ocorre a circulação dos capitais necessários para impulsionar todo o processo de 
urbanização atual. 
A produção do espaço urbano impulsiona, simultaneamente, o consumo e a geração de 
capital. 
A utilização do solo urbano, assim como a modernização das estruturas já existentes, 
representa uma forma de mobilização e investimento de capital. A demais, há o processo 
de renovação das estruturas de acordo com novos interesses imobiliários e 
especulativos, como a criação das áreas de negócios nas grandes metrópoles. 
 
 
5 
As transformações que ocorreram e que afetaram a relação do capital com a 
urbanização alteraram profundamente a produção do espaço urbano. A par disso, as 
iniciativas promovidas pelo Estado brasileiro em decorrência da expansão do 
capitalismo e da abertura econômica tornaram a produção do espaço uma atividade 
ainda mais voltada ao mercado. As mudanças instituídas pelo Estado visavam 
estabelecer normas que regulassem a circulação de capitais e seu investimento na 
urbanização, tornando-a uma atividade mais lucrativa. 
A partir do momento em que todas as condições favoráveis ao capital estavam 
garantidas, tornou-se crucial incentivar o consumo do espaço urbano por diversos 
grupos sociais e atividades econômicas 
1.3 O consumo do Espaço Urbano 
Com a entrada de novos participantes financeiros na produção do espaço urbano, houve 
não apenas mudanças na composição e estrutura das cidades, mas também a 
necessidade de modificar o padrão de consumo do espaço urbano. Para sustentar e 
alimentar a produção contínua do espaço urbano, era imperativo que ele fosse 
consumido de maneira incessante, mantendo assim o ciclo de produção e consumo em 
constante movimento. Isso demandou uma significativa reformulação na estrutura do 
crédito capitalista, com um aumento expressivo do crédito pessoal. 
 A partir dos anos 2000, com a estabilidade econômica no Brasil, impulsionada por 
intervenções do Estado, houve um notável aumento no crédito imobiliário. 
Simultaneamente, também cresceu a emissão de uma variedade de instrumentos 
financeiros cujos retornos estavam vinculados à produção e ao consumo do ambiente 
urbano construído. Esse cenário gerou uma ampla expansão da atividade imobiliária em 
todo o país, resultando em um aumento significativo de lançamentos imobiliários e uma 
maior diversidade de empreendimentos. 
 No entanto, é fundamental destacar que a aceleração do consumo do espaço urbano 
ocorreu quando o crédito habitacional se tornou acessível para as classes média e 
baixa, que anteriormente tinham acesso limitado a esses recursos. A disponibilidade de 
crédito para essas classes estimulou um crescimento exponencial da urbanização, 
especialmente nas periferias das cidades. Em muitas localidades do Brasil, as 
construções tradicionais das áreas periféricas deram lugar a empreendimentos 
imobiliários de baixo custo, como conjuntos habitacionais e casas populares. 
 Ademais, é importante ressaltar que o processo de concessão de crédito para as 
classes menos favorecidas foi impulsionado pela necessidade das grandes 
incorporadoras de aumentarem seus lucros. Essas empresas buscavam expandir seu 
mercado consumidor e, para que uma 
parcela significativa da sociedade pudesse adquirir o espaço urbano, tornou-se 
essencial adotar incentivos financeiros. 
Nesse contexto, algumas mudanças foram necessárias para que os produtos urbanos 
fossem consumidos, incluindo a atuação das empresas em áreas distantes dos centros 
urbanos. As regiões periféricas assumiram um papel de destaque no atual processo de 
urbanização, o que modificou a percepção do capital em relação a essas áreas. 
 
 
6 
1.4 A periferia urbana 
O processo de urbanização no Brasil tem suas raízes no modelo econômico iniciado 
durante o período colonial, quando os primeiros centros de comércio para a exportação 
de recursos do O Brasil e a Colômbia começaram a atrair residentes. Esse processo 
ganhou força a partir dos anos 1930, com o início da industrialização brasileira, que 
também atraiu uma significativa migração populacional para as áreas centrais. Dessa 
forma, a configuração espacial ao longo das últimas décadas reflete as diferentes fases 
do desenvolvimento econômico. 
O desenvolvimento econômico transformou o espaço urbano e as áreas centrais em 
fragmentos, cada um apresentando valor relativo, determinado pela sua proximidade 
com o centro e com infraestrutura de transporte. Isso resultou na valorização dessas 
áreas e no aumento da especulação imobiliária, excluindo parte da população do 
processo de integração social e econômica. 
Entre os anos 1945 e 1980, o Brasil testemunhou um intenso processo de urbanização 
impulsionado por uma economia em crescimento. Isso gerou um grande deslocamento 
populacional, causando mudanças significativas na estrutura demográfica das cidades. 
A expansão urbana criou muitos empregos, com uma divisão social do trabalho 
complexa, integrando uma grande parcela da população à dinâmica urbana. 
Durante esse período, houve uma oferta abundante de empregos nas áreas urbanas, 
transformando muitos residentes em trabalhadores assalariados e permitindo sua 
integração à sociedade urbana já estabelecida. A proliferação de oportunidades de 
emprego atraiu grandes contingentes populacionais para as áreas centrais, 
impulsionandonas periferias urbanas, sem considerar os sistemas naturais, o crescimento 
populacional e a modernização das cidades. As cidades cresceram, mas sem 
planejamento adequado para atender às demandas populacionais, incluindo áreas 
verdes, recursos naturais e infraestrutura adequada. 
Além disso, muitas estruturas existentes, principalmente nas áreas centrais, caíram em 
desuso devido aos interesses do capital e da especulação imobiliária, que mudaram as 
áreas de interesse conforme a dinâmica econômica, política e social. Esses espaços 
urbanos ociosos e degradados frequentemente se associam à pobreza, criminalidade e 
 
 
30 
baixa densidade populacional, tornando-se dispendiosos, abandonados e sem função 
no contexto urbano atual. 
O aumento da demanda por recursos naturais, infraestrutura e produtos de consumo 
exerce uma pressão significativa sobre os recursos naturais limitados e as estruturas 
urbanas existentes. Como resultado, as cidades enfrentam desafios que, a longo prazo, 
podem torná-las insustentáveis. 
5.1.2 A Sustentabilidade do Meio Ambiente Urbano 
O crescimento das cidades sem um planejamento urbano e ambiental adequado tem 
contribuindo para uma série de problemas enfrentados por esses centros urbanos ao 
longo do tempo. A elevada densidade populacional e a demanda por infraestrutura 
resultaram na concentração de áreas construídas, negligenciando espaços vazios e 
levando a problemas como má pavimentação, aumento do tráfego de veículos, 
expansão industrial e poluição em suas diversas formas (ar, água, solo, visual, sonora, 
entre outras). Essas interferências alteraram o clima local, especialmente em relação a 
temperatura do ar e à concentração de poluentes, diminuindo a qualidade ambiental. 
5.1.3 Uso e Ocupação do Solo 
O uso e ocupação do solo urbano podem ser abordados sob duas perspectivas: a 
ocupação de áreas de risco geológico e a forma como o capital se apropria do espaço 
urbano. Nas áreas de risco, as intervenções para construção de edificações alteram o 
equilíbrio natural das encostas, aumentando o risco de deslizamentos e erosões, além 
de dificultar a instalação de infraestrutura adequada. Quanto à apropriação pelo capital, 
a lógica de expansão das cidades segue os interesses econômicos e políticos, 
resultando em construções que atendem a demandas específicas. No entanto, essas 
estruturas podem se tornar obsoletas com o tempo, contribuindo para a especulação 
imobiliária e deixando espaços vazios que não suprem a demanda habitacional. 
5.1.4 Impacto na Qualidade Ambiental 
Esses problemas contribuem para a degradação da qualidade ambiental nas áreas 
urbanas, afetando diretamente a sustentabilidade urbana e a qualidade de vida da 
população. A sustentabilidade urbana busca garantir condições desejáveis, como 
equidade, proteção do ambiente natural, uso racional de recursos, diversidade 
econômica e bem-estar coletivo. 
Embora o processo de urbanização seja muitas vezes responsabilizado pela 
degradação ambiental, ele também pode ser parte da solução, desde que sejam 
adotadas medidas sustentáveis a curto, médio e longo prazos. 
5.1.5 Papel do Governo e do Setor Privado 
A sustentabilidade urbana não depende apenas da mudança de comportamento da 
população, mas também de políticas públicas adotadas em nível federal, estadual e 
municipal, tanto pelo setor público quanto pelo privado. No entanto, as políticas 
governamentais muitas vezes não são suficientes para evitar a degradação do ambiente 
 
 
31 
urbano, especialmente quando há falta de investimento em áreas degradadas ou 
quando o poder público cede espaço para interesses privados, contribuindo para a 
privatização do ambiente urbano. 
5.1.6 Privatização dos Espaços Urbanos 
A influência do capital sobre o espaço urbano remonta aos primórdios das cidades, 
quando as atividades econômicas moldaram seu desenvolvimento. A privatização dos 
espaços urbanos refere-se ao domínio da cidade pelos interesses do capital, 
determinando os rumos do desenvolvimento urbano. 
Desde o estabelecimento dos núcleos urbanos, as atividades econômicas influenciaram 
os rumos das cidades. As áreas centrais, inicialmente desenvolvidas pelo poder público 
com infraestrutura básica, tornaram-se alvos de investimentos do capital privado. Esses 
investimentos visavam atender a grupos sociais mais capitalizados, resultando em uma 
segmentação e segregação do espaço urbano. 
Com a expansão da globalização, ocorreram mudanças significativas no cenário 
urbano. As áreas centrais, antes voltadas para a indústria, foram substituídas por 
estruturas de serviços altamente especializados, aumentando a polarização entre ricos 
e pobres e acentuando a divisão entre centro e periferia. 
Os interesses do capital têm impulsionado a privatização dos espaços urbanos para 
atender às demandas da economia globalizada. Isso se reflete em investimentos 
massivos em infraestrutura, especialmente imobiliária e de telecomunicações, nas áreas 
de negócios e serviços. Enquanto isso, outras áreas da cidade enfrentam decadência 
devido à falta de interesse e investimento. 
A privatização também é observada nas áreas residenciais, onde a ausência de políticas 
públicas relacionadas aos bairros incentiva parte da população a adquirir propriedades 
em loteamentos e condomínios fechados. Embora isso garanta certos padrões de 
qualidade de vida para alguns, pode privar outros do acesso a espaços públicos e 
elementos naturais, como praias e parques, que foram “privatizados” na criação desses 
espaços. 
5.1.7 Renovação Urbana e Privatização do Espaço Público 
A renovação urbana, que atribui novas funções a infraestruturas existentes, como 
antigas áreas comerciais e industriais, bem como patrimônios históricos e culturais, é 
um processo intimamente ligado à privatização do espaço urbano. Esse fenômeno pode 
ser examinado sob duas perspectivas: a recuperação dos espaços públicos pela 
iniciativa privada e a privatização desses espaços em favor exclusivo da capital. 
A recuperação de espaços públicos mais antigos, como áreas centrais e locais de valor 
histórico e cultural, é crucial para preservar a memória coletiva. No entanto, as diretrizes 
e políticas governamentais para a preservação muitas vezes são limitadas pelos 
recursos disponíveis. A renovação urbana e vista por muitos como uma forma de 
valorizar e preservar áreas antigas, possibilitando o acesso público a esses espaços. 
Por outro lado, a privatização dos espaços públicos é comum em projetos de 
recuperação de áreas desativadas e patrimônios históricos, visando à exploração 
 
 
32 
econômica. Essas ações, embora contribuam para a preservação de edifícios históricos, 
frequentemente negligenciam as práticas culturais e o senso de comunidade das 
populações locais mais pobres, transformando esses espaços em locais de consumo 
cultural acessíveis apenas a alguns segmentos da sociedade. 
A privatização do espaço público é uma questão complexa e conflituosa. Embora seja 
importante preservar áreas antigas das cidades, outras questões surgem, como a 
segmentação e segregação social dos espaços revitalizados. Além disso, as políticas 
urbanas muitas vezes favorecem o capital privado, oferecendo infraestrutura para o 
desenvolvimento urbano que apenas alguns grupos sociais podem usufruir. 
Apesar dos desafios relacionados ao meio ambiente urbano e à privatização do espaço 
público, as cidades continuam a crescer como centros de desenvolvimento. No entanto, 
para garantir a sustentabilidade para as gerações futuras, é essencial abordar os 
problemas ambientais urbanos e desenvolver políticas em prol das cidades inteligentes, 
que promovam a eficiência e equidade no uso dos recursos urbanos. 
5.2 Transformação para Cidades Inteligentes 
O aumento da população urbana impõe uma pressão significativa sobre os recursos 
naturais e urbanos. Diante das projeções de que até 2050, 70% da populaçãomundial 
estará nas cidades, e crucial repensar o modelo urbano para garantir sua 
sustentabilidade e responder às demandas da sociedade, promovendo uma melhor 
qualidade de vida para todos. 
Os primeiros núcleos urbanos surgiram em torno de atividades econômicas específicas, 
que demandam proximidade de insumos. Com o avanço tecnológico, essa necessidade 
diminuiu, levando as indústrias para áreas periféricas em busca de redução de custos. 
As áreas centrais, então, passaram a abrigar serviços, mas muitas entraram em declínio 
devido à falta de adaptação às demandas da era digital. 
Nesse novo contexto, os negócios baseados em informações tornaram-se mais 
independentes em relação a proximidade de insumos e mão de obra, priorizando 
eficiência nos fluxos de mercadorias, pessoas e informações. As cidades inteligentes 
surgem como locais onde as operações urbanas críticas são monitoradas e integradas, 
visando à continuidade das atividades essenciais e a promoção de uma visão de futuro 
que combina diversos aspectos sociais, econômicos, ambientais e de qualidade de vida. 
Utilizando a tecnologia, as cidades inteligentes enfrentam os desafios do planejamento 
urbano e da circulação urbana, buscando soluções inovadoras para garantir o 
funcionamento eficiente diante da rápida urbanização e da falta de planejamento. 
Para garantir uma operação urbana inclusiva e sustentável, as cidades devem ser 
repensadas de maneira abrangente e inovadora. É essencial desenvolver soluções que 
atendam às diversas demandas da sociedade, utilizando tecnologias de informação e 
comunicação para promover uma dinâmica urbana completa e eficiente. 
 
 
 
 
 
33 
6. A POPULAÇÃO E SUA HISTORICIDADE 
Introdução 
As projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam para um aumento 
significativo da população mundial nos próximos 80 anos, com uma estimativa média de 
11 bilhões de habitantes. No entanto, é importante ressaltar que o crescimento 
demográfico global não é linear e está sujeito a oscilações influenciadas por diversos 
fatores socioeconômicos, culturais e ambientais em diferentes regiões do mundo. 
Analisando historicamente e geograficamente, essas variações são interpretadas como 
fases do crescimento populacional, levando em conta as condições sociais, produtivas, 
políticas, econômicas e culturais de cada momento histórico. 
Neste capítulo, exploraremos as diferentes fases e motivações do crescimento 
populacional ao longo do tempo, estabelecendo conexões teóricas e empíricas entre a 
geografia populacional e a geografia econômica. 
6.1 Fases do crescimento populacional 
Desde a segunda metade do século XX, a população global experimentou um 
crescimento exponencial, atingindo os atuais 7,7 bilhões de habitantes. No entanto, esse 
padrão não foi sempre constante, uma vez que o crescimento populacional passou por 
diversas fases ao longo do tempo, influenciadas por fatores produtivos, sociais e 
econômicos relacionados à saúde, alimentação, condições sanitárias e outros 
elementos que afetam a qualidade de vida e a expectativa de vida de uma população. 
É crucial ressaltar que as dinâmicas demográficas variam consideravelmente em escala 
global, diferindo de acordo com o contexto nacional ou regional. Por exemplo, as fases 
de crescimento demográfico em países desenvolvidos não são necessariamente as 
mesmas observadas em países com economias emergentes, como os da América 
Latina, África e algumas regiões da Ásia. 
Nesta seção, examinaremos as fases do crescimento populacional em uma perspectiva 
histórica, fazendo distinções entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Para 
começar, no contexto europeu, observamos uma influência significativa da Revolução 
Industrial e da subsequente urbanização no processo de crescimento populacional. 
A primeira fase do crescimento populacional e caracterizada pela Revolução Industrial 
na Europa, ocorrida nos séculos XVIII e XIX, que contribuiu para uma intensificação da 
urbanização. O crescimento urbano não se limitou apenas à expansão física das 
cidades, mas também ao aumento da população, impulsionado tanto pela elevação da 
taxa de natalidade quanto pela migração. A industrialização desempenhou um papel 
crucial nesse sentido, uma vez que, nos séculos XVIII e XIX, a produção industrial 
frequentemente envolvia toda a família como mão de obra, incluindo mulheres e 
crianças (a partir de certa idade). Esse arranjo incentivava o aumento do tamanho das 
famílias, uma vez que mais crianças significavam mais mão de obra disponível, 
resultando em maior entrada de renda para o sustento familiar. 
Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a população mundial experimentou um crescimento 
exponencial, alcançando os atuais 7,7 bilhões de habitantes. No entanto, esse aumento 
 
 
34 
populacional não ocorreu de maneira uniforme ao longo do tempo, passando por 
diferentes fases influenciadas por aspectos sociais, econômicos e de saúde, como 
acesso à alimentação, condições sanitárias e expectativa de vida. 
6.1.1 Primeira Fase: Revolução Industrial na Europa 
Durante os séculos XVIII e XIX, a Revolução Industrial na Europa desempenhou um 
papel fundamental no crescimento populacional. A urbanização intensificou-se à medida 
que a população rural migrou para as cidades em busca de emprego e melhores 
condições de vida. O aumento na produção industrial, que frequentemente envolvia o 
trabalho de toda a família, incentivou o crescimento das famílias, já que mais crianças 
significavam mais mãos para o trabalho e, consequentemente, mais renda familiar. 
Nos países latino-americanos, africanos e asiáticos, essa fase de crescimento 
populacional não coincidiu temporalmente com a Europa, ocorrendo mais tarde, 
principalmente devido ao avanço da medicina a partir do século XX. O desenvolvimento 
da medicina contribuiu para aumentar a expectativa de vida e reduzir as taxas de 
mortalidade, resultando em um rápido crescimento populacional nessas regiões. 
6.1.2 Segunda Fase: Redução das Taxas de Natalidade e Mortalidade 
No final do século XIX e início do século XX, a Europa passou por uma segunda fase 
de crescimento populacional. Nesse período, houve uma redução nas taxas de 
natalidade e mortalidade devido a transformações socioeconômicas, como a 
implementação de direitos trabalhistas e inovações tecnológicas que reduziram a 
necessidade de mão de obra humana. 
Além disso, a abolição do trabalho infantil e a entrada das mulheres no mercado de 
trabalho impactaram diretamente a taxa de fecundidade e natalidade. 
Essas mudanças foram acompanhadas pelo desenvolvimento urbano e melhorias nas 
condições sanitárias, resultando em uma melhor qualidade de vida e aumento da 
expectativa de vida da população. 
6.1.3 Terceira Fase: Estabilização e Redução Demográfica 
A terceira fase do crescimento populacional na Europa foi caracterizada por uma 
estabilização e posterior redução demográfica. Isso ocorreu devido à diminuição da taxa 
de fecundidade, redução da mortalidade e aumento da expectativa de vida. 
Nos países subdesenvolvidos, como Brasil, Índia e México, a segunda e terceira fases 
do crescimento populacional também foram marcadas pela redução das taxas de 
natalidade e mortalidade. Isso se deveu a fatores sociais, como acesso a métodos 
contraceptivos, avanços nos direitos reprodutivos das mulheres, desenvolvimento 
urbano, melhorias nas condições sanitárias, acesso à educação e saúde, e crescimento 
econômico, que contribuíram para a melhoria da qualidade de vida. 
No entanto, é crucial reconhecer que não estamos lidando com realidades uniformes, 
mesmo diferentes, sejam ricos ou pobres, compartilhem situações socioeconômicas 
semelhantes. Em nações como Angola, Moçambique e Etiópia, por exemplo, as taxas 
 
 
35 
de crescimento populacional são altas, atingindo respectivamente 3,3%, 2,9% e 2,4% 
no ano de 2017 (THE WORLD BANK, 2019). É interessante observar queessas taxas 
se assemelham às da primeira fase de crescimento populacional de países como Brasil 
(2,3% em 1960), Colômbia (3% em 1963) e Chile (2,94% em 1963). 
O rápido crescimento populacional em nações africanas pode ser atribuído a questões 
socioprodutivas e culturais, como as estruturas agrárias em que o trabalho familiar é 
fundamental e o casamento é uma maneira de expandir a área cultivada; a valorização 
de famílias com muitos filhos; a pratica ocasional da poligamia; e a escassa utilização 
de métodos contraceptivos pelas mulheres. 
Ao examinarmos o caso de Moçambique, Cardoso (2007) destaca uma relação entre 
casamentos precoces, nupcialidade e taxa de fecundidade que impacta toda a dinâmica 
populacional no país. A crescente idade do casamento, cada vez mais comum em 
contextos urbanos, e considerada um dos fatores que contribuem para a redução das 
taxas de fecundidade. No entanto, é crucial considerar que o continente africano é 
bastante diverso e sua dinâmica populacional merece uma análise cautelosa, levando 
em conta suas especificidades histórico-geográficas, em constante diálogo com as 
possíveis conexões em escala global. 
6.1.4 Motivações para o crescimento populacional ao longo da história 
Na seção anterior, exploramos as diferentes fases do crescimento populacional ao longo 
da história. Vimos que a industrialização, urbanização, avanços na produção de 
alimentos, melhorias nas condições sanitárias e avanços na medicina desempenharam 
papeis fundamentais no aumento populacional, tanto em países desenvolvidos quanto 
em desenvolvimento. 
Agora, vamos aprofundar esses fatores sociais que influenciaram a dinâmica 
populacional, além disso, há uma série de outros aspectos que merecem análise, como 
as peculiaridades socioculturais e econômicas de diferentes contextos, para uma 
compreensão mais completa dos aspectos demográficos. Destaca-se que o 
crescimento populacional é analisado por meio de indicadores como natalidade, 
fecundidade, mortalidade e migração, os quais estão diretamente ligados às motivações 
para o aumento populacional discutidas neste capítulo. 
Já nos familiarizamos com a importância da Revolução Industrial, que teve início no 
século XVIII na Europa, e como ela transformou a sociedade em escala global, 
impactando não apenas a economia, mas também aspectos demográficos e culturais. 
Em termos demográficos, a Revolução Industrial teve um papel crucial no aumento e 
subsequente declínio das taxas de natalidade, assim como na redução da mortalidade. 
O trabalho infantil, amplamente utilizado na produção industrial nos séculos XVIII e XIX, 
influenciou a estrutura familiar e contribuiu para o aumento do número de filhos em 
muitas famílias, especialmente no Reino Unido. Além disso, a industrialização resultou 
em uma maior oferta de alimentos, graças à modernização da agricultura e à introdução 
de novas tecnologias agrícolas e logísticas. Isso levou a uma redução na taxa de 
mortalidade, uma vez que mais alimentos estavam disponíveis para a população. 
A industrialização também impulsionou a urbanização, com o movimento migratório do 
campo para a cidade, conhecido como êxodo rural. Populações agrícolas, muitas vezes 
 
 
36 
deslocadas de suas terras, migraram para os centros urbanos em busca de 
oportunidades de trabalho e uma vida melhor, resultando no aumento da população 
urbana. 
Outras teorias sobre dinâmica populacional destacam que, apesar de inicialmente terem 
impulsionado o crescimento populacional, a industrialização e urbanização geralmente 
resultaram na redução da fecundidade. Esse fenômeno decorreu da disseminação e 
adoção do estilo de vida urbano-industrial, caracterizado pela racionalidade e 
individualidade, o que privilegiou a formação de famílias nucleares com poucos filhos 
em detrimento das famílias extensas. Esse período de queda na taxa de fecundidade e 
observado principalmente na segunda fase do contexto europeu, como discutido 
anteriormente. 
Além das questões socioeconômicas, os avanços na medicina no tratamento, controle 
e prevenção de doenças, juntamente com melhorias nas condições sanitárias, tanto a 
nível individual quanto coletivo, foram determinantes na redução da taxa de mortalidade 
durante os séculos XIX e XX, resultando em um aumento significativo da população. 
Os avanços médicos começaram a surgir a partir do século XIX, com a introdução de 
técnicas de assepsia e o desenvolvimento de anestésicos. No final do século XIX, houve 
progressos significativos na bacteriologia e imunologia, com o trabalho notável de 
cientistas como Pasteur. A pesquisa em quimioterapia, que teve início na década de 
1930, continuou progredindo até os dias atuais. 
No entanto, é importante destacar que esses fatores não atuam isoladamente na 
dinâmica populacional. Aspectos sociais, como os direitos trabalhistas durante o período 
de industrialização, também desempenharam um papel fundamental na redução das 
taxas de mortalidade na população europeia. A redução da jornada de trabalho, a 
implementação de férias remuneradas e seguro social para os trabalhadores, 
juntamente com avanços tecnológicos na produção, foram apontados como os 
principais responsáveis pelo declínio da mortalidade nos países desenvolvidos. 
Esses exemplos destacam que as taxas de mortalidade, natalidade, fecundidade e 
migração são sensíveis às condições sociais de uma população ao longo do tempo. 
Portanto, esses elementos da dinâmica populacional estão intrinsecamente ligados ao 
desenvolvimento socioeconômico de um país ou região e devem ser considerados de 
forma integrada nas análises, levando em conta aspectos como educação, moradia, 
renda e desenvolvimento social e humano. 
6.2 Relações entre Geografia Populacional e Geografia Econômica 
À luz das análises anteriores, que destacaram a interligação entre dinâmicas 
populacionais e os aspectos econômicos, produtivos e políticos da sociedade, torna-se 
evidente que não é viável abordar a geografia populacional de forma isolada das 
questões econômicas. O propósito desta disciplina é examinar a dinâmica populacional 
sob uma perspectiva espacial, levando em conta uma variedade de fatores, como 
sociedade, técnica, tecnologia, trabalho, sistema de produção, natureza, entre outros 
elementos socioespaciais. 
Nesse contexto, a geografia econômica desempenha um papel fundamental, buscando 
compreender como as relações econômicas – entre os fatores de produção (espaço, 
 
 
37 
trabalho e capital) e os agentes econômicos (produtores e consumidores) – se 
manifestam e se deslocam pelo espaço em diferentes escalas, moldando e 
transformando-o. 
A evolução da geografia refletiu a diversidade de perspectivas teóricas ao longo do 
tempo, incluindo abordagens regionais, quantitativas, críticas e pós-modernas. Da 
mesma forma, os estudos geográficos voltados para questões econômicas evoluíram 
com a disciplina. Na segunda metade do século XIX, a geografia econômica clássica 
empregava métodos descritivos para mapear as áreas e fluxos de produção e, em 
termos demográficos, preocupava-se em quantificar a distribuição da população no 
espaço. 
Entretanto, esses estudos populacionais na geografia frequentemente carecem de 
análise crítica e negligenciaram a dimensão humana e histórica do processo de 
distribuição populacional. Como resultado, falham em explicar a diversidade 
socioprodutiva do espaço e sua relação com os padrões de concentração e dispersão 
populacional. 
O paradigma clássico da geografia econômica também explorou as potencialidades 
econômicas dos recursos naturais e investiga como esses recursos influenciavam a 
densidade populacional em uma determinada área. No entanto, esses estudos não 
consideraram diversas variáveis – especialmente as históricas, técnicas, sociais e 
produtivas – que afetam os padrões de ocupação e uso da terra, incluindo as técnicas 
utilizadas pelas comunidades paraexplorar o potencial econômico de uma região. 
Mais tarde, sob a influência do paradigma da economia espacial, a geografia econômica 
concentrou-se na análise da localização das atividades econômicas, especialmente as 
industriais, considerando seu impacto no espaço em que vivemos. Na antiga União 
Soviética, durante a primeira e segunda metade do século XX, a geografia populacional 
foi considerada como um ramo da geografia econômica, investigando a interconexão 
entre processos econômicos e demográficos. O estudo da implantação de empresas e 
unidades de produção territoriais estava intimamente ligado à análise da distribuição da 
população no território nacional, sua composição e dinâmica. 
Foi na vertente mais crítica da geografia econômica que o diálogo com os estudos 
populacionais se intensificou, não apenas de maneira quantitativa, mas também 
qualitativa, considerando aspectos históricos, culturais, sociais e políticos. Nessa fase, 
as pesquisas abordaram a localização de atividades agrícolas e industriais, resultando 
na divisão dos espaços urbanos em funções produtivas e residenciais. Isso deu origem 
ao desenvolvimento de uma teoria das migrações humanas e contribuiu para a 
compreensão de situações em que as pessoas buscavam melhores rendimentos e 
também atividades de lazer. A geografia econômica passou a analisar escolhas 
residenciais, segregações urbanas e turismo. 
Essa disciplina, evidentemente, não permaneceu alheia às transformações sociais 
ocorridas no mundo na segunda metade do século XX – como a crise econômica, o 
aumento populacional, a urbanização e a globalização – e acompanhou as correntes 
teóricas das ciências sociais e humanidades para abordar as novas questões 
emergentes. Portanto, passou a incorporar diversas abordagens críticas – 
economicistas, marxistas, alternativas – para interpretar um novo momento 
 
 
38 
caracterizado pela mediação tecnológica e informacional das relações econômicas e 
espaciais. Isso fortaleceu as discussões sobre mobilidade – de informações, 
mercadorias, tecnologias e pessoas. 
O pensamento geográfico influenciado pelo marxismo enfatiza que as relações 
econômicas e de produção moldam profundamente o espaço. Autores como David 
Harvey (1980) e Neil Smith (1988) argumentam que o espaço geográfico e moldado pela 
produção de mercadorias e pelas relações socioprodutivas dentro do sistema 
capitalista, que gera e reproduz desigualdades sociais, econômicas e espaciais. 
Na perspectiva demográfica, a população é vista como uma força de trabalho, tanto 
produtora quanto consumidora de bens e serviços, contribuindo para a manutenção do 
sistema de produção capitalista e sua organização espacial. Por exemplo, a migração 
pode ser motivada por questões econômicas, como o desemprego e a falta de 
oportunidades, enquanto a mortalidade está diretamente ligada às condições 
socioeconômicas, afetando principalmente os grupos mais pobres. 
A geografia também oferece insights sobre fenômenos como o êxodo rural e a 
urbanização, resultado da modernização da agricultura e da industrialização. Esses 
processos influenciam o crescimento populacional nas cidades por meio de 
nascimentos e migração. Essa dinâmica é particularmente evidente em regiões 
consideradas subdesenvolvidas, onde a migração rural- urbana se tornou um fator 
crucial. 
É claro que a relação entre dinâmicas populacionais e econômicas e complexa e requer 
uma abordagem interdisciplinar. A geografia econômica, ao longo do tempo, adotou 
abordagens regionais, quantitativas e críticas para entender essa relação. Da mesma 
forma, a disciplina de geografia populacional, surgida no século XX, tem evoluído para 
incorporar novos enfoques teóricos e multidimensionais para compreender as dinâmicas 
populacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
7. SURGIMENTO DAS CIDADES: OS PRIMEIROS ASSENTAMENTOS URBANOS 
 Introdução 
Há cerca de 12 mil anos antes de Cristo, os primeiros assentamentos urbanos já 
estavam presentes, surgindo conforme a humanidade sentia a necessidade de 
estabelecer-se em áreas específicas para facilitar a prática da caça, pesca e agricultura. 
Neste capítulo, será explorado o contexto histórico em que esses primeiros 
assentamentos urbanos surgiram, quais eram suas características, onde estavam 
localizados e como se diferenciavam. 
7.1 Período histórico dos primeiros assentamentos urbanos 
Desde os primórdios da civilização, as cidades têm desempenhado funções e 
apresentado características que refletem a organização da população, a estrutura 
política e as atividades econômicas de cada sociedade. A cidade é uma criação humana 
que se desenvolve ao longo da história, moldada por determinações específicas de cada 
época. 
A formação de aglomerados urbanos é um fenômeno de grande importância geográfica, 
histórica e social. Nas fases iniciais da sociedade primitiva, não havia cidades, apenas 
aldeias rurais conhecidas como “proto cidades”, que não eram permanentes e mudavam 
de local conforme a necessidade. 
Os primeiros indícios de urbanização datam do período pré-histórico, iniciando por volta 
de 35 mil anos antes de Cristo e estendendo-se até aproximadamente 4.000 a.C. Esses 
assentamentos surgiram inicialmente no leste do Mediterrâneo e posteriormente se 
expandiram para a Europa Ocidental. 
Na ausência de registros escritos, os arqueólogos e historiadores dependem da 
interpretação de evidências materiais, como cerâmicas e utensílios domésticos, para 
reconstruir a história dos povos antigos. 
A urbanização das áreas remonta aos primórdios das civilizações, começando a se 
manifestar por volta de 15.000 a.C., quando grupos humanos se estabeleceram em 
locais propícios para a agricultura e a domesticação de animais. O cultivo agrícola, 
iniciado entre 12.000 e 10.000 a.C., impulsionou o crescimento desses assentamentos, 
que se tornaram permanentes. 
Por volta de 9.000 a 4.000 a.C., as unidades domésticas eram compostas por cabanas, 
algumas cercadas por plantações. Nesse período, surgiram os primeiros núcleos 
urbanos, caracterizados pela segmentação do espaço em residências, locais de culto, 
vias públicas e praças. A população aumentou significativamente, e houve uma maior 
especialização das atividades. 
A partir de 3.000 a.C., ocorreram importantes avanços tecnológicos, como a metalurgia, 
a roda, a navegação à vela, além do desenvolvimento da escrita e da matemática. 
Muitas dessas inovações foram impulsionadas pela concentração de pessoas em áreas 
urbanas. 
 
 
 
40 
Os primeiros assentamentos surgiram em áreas favoráveis, próximas a recursos 
hídricos, que propiciavam a produção agrícola e a fixação das comunidades em 
determinados locais, contribuindo para o seu desenvolvimento ao longo do tempo. 
7.1.1 Características dos primeiros assentamentos urbanos 
Os primeiros assentamentos urbanos surgiram a partir de pequenos núcleos familiares, 
onde um número suficiente de pessoas se unia para colaborar nas atividades de 
subsistência e defesa. Os registros mais antigos desses assentamentos, descobertos 
por historiadores, datam do período de 14.000 a.C. e foram encontrados no planalto 
central da Rússia, atualmente na Ucrânia. Essas moradias eram construídas com ossos 
de mamutes e troncos de pinheiro, revestidas com peles de animais e possuem uma 
estrutura em forma de cúpula, com uma fogueira no centro. 
A existência desses assentamentos urbanos dependia da disponibilidade de excedentes 
agrícolas, que permitiam que algumas pessoas desempenham funções especializadas 
não relacionadas diretamente à produção de alimentos, como sacerdotes, 
comerciantes, entre outros. 
Os assentamentos urbanos eram frequentemente centros comerciais ou militares, 
cercados por muros ou fossos, com edifícios importantes, como palácios ou templos, 
localizados em seu centro. Nas cidades maiores, as habitações eram construídas em 
forma de cone, usandotijolos de barro e estruturas de madeira. Um traço peculiar 
dessas civilizações era o hábito de enterrar os mortos no chão das cabanas. 
Geralmente, esses assentamentos não tinham ruas definidas e eram formados por um 
aglomerado denso de unidades habitacionais. Em algumas civilizações, as casas 
podiam ser acessadas pelo telhado, enquanto os espaços mais altos serviam para 
ventilação. As residências eram frequentemente decoradas com arte rupestre e 
estatuetas, refletindo a cultura e costumes da época. 
Com o passar do tempo, os assentamentos evoluíram para a construção de estruturas 
megalíticas compostas por grandes pedras, que muitas vezes serviam como túmulos 
coletivos e observatórios astronômicos. Essas construções representavam uma forma 
de demarcar o território de cada civilização e eram uma manifestação de reverência aos 
seus antepassados. As estruturas de pedra eram projetadas levando em consideração 
a posição do sol, de modo que nos primeiros dias do solstício de inverno, a luz solar 
penetrava nos vãos da construção e iluminava o espaço interno. 
As civilizações que construíram esses assentamentos iniciais não tinham acesso a 
ferramentas robustas para trabalhar com pedras, nem a veículos ou animais de carga 
para transportar esse material. No entanto, esses povos realizaram observações 
astronômicas importantes e organizaram uma força de trabalho capaz de movimentar 
pedras que chegavam a pesar cerca de cinco toneladas. Um exemplo notável dessas 
construções megalíticas e Stonehenge, localizado na planície de Salisbury, na 
Inglaterra. 
Alguns desses assentamentos, à medida que se desenvolviam, começaram a mostrar 
um planejamento mais elaborado em relação aos sistemas de drenagem, dando 
especial atenção ao controle da água. Nessas comunidades, as residências 
frequentemente possuem poucos e um sistema individualizado de drenagem. Além 
 
 
41 
disso, eram caracterizados pela presença de monumentos significativos, palácios ou 
templos religiosos no centro. De acordo com Trespach (2014), não havia uma estrutura 
de governo centralizada ou evidência clara de uma autoridade real. A modéstia, ordem 
e limpeza eram valores apreciados nesses locais. O comércio era organizado, como 
indicado por cerâmicas, ferramentas padronizadas e sistemas de pesos e medidas. A 
riqueza e importância da cidade eram evidentes em artefatos e nas próprias estruturas 
feitas de tijolos cozidos. 
Segundo Trigger (1993), esse padrão de urbanização, com uma área central marcada 
por uma edificação importante, e conhecido como uma paisagem aberta, já que essa 
região central não era cercada por muros. As residências ficavam mais afastadas 
desses espaços centrais, sugerindo que a organização do assentamento estava 
baseada em áreas públicas e privadas. 
Embora compartilhassem características semelhantes, foram apenas nas civilizações 
gregas, mais tarde, que as cidades passaram por uniformizações significativas. 
Como destacado por Carlos (2009), compreender o espaço urbano como produto da 
reprodução social significa considerar o homem tanto como indivíduo quanto como ser 
social em seu cotidiano, modo de vida, ações e pensamentos. Portanto, a cidade é vista 
como um produto histórico e social que está intrinsecamente relacionado à sociedade 
como um todo, seus elementos constituintes e sua história. Consequentemente, ela se 
transforma à medida que a sociedade se modifica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
8. GESTÃO URBANA E REGIONAL 
Introdução 
Neste capítulo, exploraremos o tema da gestão urbana tanto em nível municipal quanto 
regional, compreendendo os conceitos e distinções entre essas duas esferas de 
administração. 
Além disso, examinaremos exemplos de políticas urbanas que implementam as 
diretrizes relacionadas à gestão urbana e regional, observando as técnicas empregadas 
nesta análise. 
8.1 Regiões e suas Definições: Urbana, Metropolitana e Conurbada 
O Brasil, apesar de sua vasta extensão territorial, possui a maior parte de sua população 
concentrada em áreas urbanas, especialmente em regiões específicas, como São Paulo 
e Rio de Janeiro, que juntas abrigam quase 90% da população da região Sudeste do 
país. Para compreender melhor as características das cidades e suas particularidades 
relacionadas à gestão urbana e regional, é fundamental entender alguns conceitos 
fundamentais do urbanismo. 
Toda cidade possui áreas urbanas e rurais, que se diferenciam pela densidade 
populacional, uso do solo e infraestrutura. O termo “urbano” refere-se a tudo que é 
característico de uma cidade, como edificações, vias, transporte e uma predominância 
de áreas construídas em relação às áreas livres. 
Uma região urbana é uma parte do território ocupada por mais de uma cidade, 
diferenciando-, que é caracterizada por edificações contínuas e infraestrutura urbana 
que suporta a vida da população. A infraestrutura urbana engloba uma variedade de 
serviços públicos, como fornecimento de energia elétrica, água potável, saneamento 
básico, hospitais, escolas e vias. Enquanto a zona urbana se refere à parte urbana de 
um único município, a região urbana e composta por mais de um município. 
Uma zona urbana surge a partir de um pequeno núcleo populacional, que se expande 
ao longo do tempo, formando diferentes bairros e áreas construídas. No Brasil, as 
primeiras zonas urbanas surgiram em áreas próximas a portos, como Salvador, Rio de 
Janeiro e Recife. Por sua, dessa vez, uma região urbana é formada por várias zonas 
urbanas próximas. 
A conurbação ocorre quando duas ou mais cidades próximas expandem suas áreas a 
ponto de se encontram, formando um único espaço geográfico contínuo. Isso é 
evidenciado pela integração das malhas urbanas e pela interconexão econômica, social 
e estrutural. A conurbação é um fenômeno determinante para a formação de regiões 
metropolitanas, sendo comumente observada a partir de grandes cidades que se unem 
a áreas circundantes ou cidades-satélites. No Brasil, o processo de conurbação e mais 
recente, tendo ocorrido principalmente a partir das décadas de 1950 e 1970, 
especialmente em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, além de outras capitais e 
cidades importantes do país, como Belo Horizonte, Goiânia e Curitiba. 
As regiões metropolitanas surgem a partir da expansão de uma metrópole em direção 
a outras cidades próximas. O termo “metropolitana” refere-se a tudo que pertence à 
 
 
43 
metrópole, indicando uma cidade desenvolvida. Dessa forma, uma região metropolitana 
pode ser entendida como um complexo político-espacial que envolve uma cidade central 
(a metrópole), exercendo influência econômica, social e política sobre as demais 
cidades ao seu redor. 
Nas regiões metropolitanas, observa-se um movimento de deslocamento da população 
dos municípios menores em direção à metrópole, devido à maior oferta de emprego e 
serviços. 
Esse movimento, no entanto, assume um sentido inverso quando se trata da busca por 
moradia, que se torna mais atrativa nas cidades menores da região. Tanto para 
indivíduos com menor poder aquisitivo quanto para aqueles com maior poder, há 
motivos distintos para essa escolha. 
Os de menor poder aquisitivo muitas vezes optam por se afastar dos grandes centros 
devido ao alto custo dos imóveis. Já os de maior poder tendem a buscar regiões mais 
distantes, como condomínios fechados, em busca de melhores condições de vida, 
trânsito e mobilidade. Esses padrões podem variar conforme a região e o contexto 
analisado, não podendo ser generalizados isoladamente para compreender os 
movimentos de uma região metropolitana. 
As cidades menores que fazem parte da região metropolitana, juntamente com a 
metrópole, são frequentemente denominadas cidades-dormitórios. Isso se deve ao fato 
de que grande parte de sua população trabalha na metrópole e retorna às cidades 
menores apenas ao final do dia. 
8.2 O Estatuto daMetrópole e o Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado 
Para garantir um planejamento eficiente e a ordenação do território em regiões urbanas, 
especialmente nas áreas metropolitanas, e essencial contar com instrumentos legais 
adequados. Em 2015, foi promulgada a Lei nº. 13.089, de 12 de janeiro de 2015, 
também conhecida como Estatuto das Metrópoles, que estabelece diretrizes 
fundamentais para o planejamento, gestão e execução de funções públicas de interesse 
comum em regiões metropolitanas e aglomerações urbanas instituídas pelos Estados. 
O Estatuto das Metrópoles foi criado com o objetivo de promover o desenvolvimento 
metropolitano, estabelecendo normas gerais sobre o plano de desenvolvimento urbano 
integrado e outros instrumentos de governança interfederativa. Segundo Santos (2018), 
este diploma normativo e inovador, pois fomenta ações integradas entre diferentes 
agentes, permitindo a implementação de um planejamento urbano que transcende os 
limites municipais. 
Considera-se o Estatuto da Metrópole uma complementação ao Estatuto da Cidade, 
que regula o direito urbanístico de forma geral. Enquanto o Estatuto da Cidade trata dos 
temas urbanísticos em âmbito municipal, o Estatuto das Metrópoles direciona-se a 
unidades territoriais de maior escala, reconhecendo os processos de metropolização 
das cidades brasileiras. 
O Estatuto da Metrópole estabelece princípios fundamentais, como a prevalência do 
interesse comum, o compartilhamento de responsabilidades, a autonomia dos entes 
federativos, a observância das peculiaridades de cada região, a priorização da gestão 
 
 
44 
democrática e o uso efetivo dos recursos. Além disso, prevê a integração com políticas 
setoriais, como habitação, saneamento básico e mobilidade, para garantir o 
desenvolvimento sustentável dessas áreas. 
Além disso, o Estatuto da Metrópole destaca diversos instrumentos que devem ser 
utilizados para promover o desenvolvimento urbano integrado nas regiões 
metropolitanas. São eles: 
• Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado; 
• Planos setoriais interfederativos; 
• Fundos públicos; 
• Operações urbanas consorciadas interfederativas; 
• Zonas para aplicação compartilhada dos instrumentos urbanísticos; 
• Consórcios públicos; 
• Convênios de cooperação; 
• Contratos de gestão; 
• Compensação por serviços ambientais ou outros serviços prestados pelo 
município à unidade territorial urbana; 
• Parcerias público-privadas interfederativas. 
O Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado e um dos instrumentos mais relevantes 
para as regiões metropolitanas e áreas com municípios muito próximos. Ele é um 
mecanismo de planejamento que contém diretrizes, ações e projetos para organizar o 
desenvolvimento urbano de forma integrada em uma região, considerando interesses 
comuns e políticas sustentáveis. 
De acordo com o Estatuto da Metrópole, as regiões metropolitanas e as aglomerações 
urbanas devem contar com um plano de desenvolvimento urbano integrado, aprovado 
por meio de lei estadual. Além disso, podem ser formulados planos setoriais 
interfederativos para políticas públicas direcionadas à região metropolitana ou à 
aglomeração urbana. A elaboração deste plano não isenta o município integrante da 
região metropolitana ou aglomeração urbana da formulação do respectivo plano diretor. 
Em regiões metropolitanas e aglomerações urbanas instituídas mediante lei 
complementar estadual, o município deve compatibilizar seu plano diretor com o plano 
de desenvolvimento urbano integrado da unidade territorial urbana. Este plano é 
elaborado de forma conjunta e cooperada por representantes do Estado, dos municípios 
integrantes da unidade regional e da sociedade civil organizada, sendo aprovado pela 
instância colegiada antes de seu encaminhamento à apreciação da Assembleia 
Legislativa. 
O Estatuto estipula que este Plano deve ser revisado pelo menos a cada 10 anos, 
levando em consideração todos os municípios que compõem cada unidade territorial 
urbana, tanto em suas áreas urbanas quanto rurais. Ele deve abranger diversas 
diretrizes, incluindo funções públicas de interesse comum, o macrozoneamento da 
unidade territorial e a delimitação de áreas, bem como diretrizes de articulação 
intersetorial dos municípios e relacionadas ao uso e ocupação do solo urbano. 
 
 
45 
Através do Estatuto e do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado, é possível 
perceber que esses instrumentos colaboram e facilitam o planejamento urbano das 
regiões metropolitanas. 
Eles demonstram a importância de uma gestão justa e equitativa para garantir que o 
crescimento urbano ocorra de maneira organizada e atenda às necessidades da 
população. É crucial entender que esses documentos, embora recentes, representam 
um passo significativo em direção ao desenvolvimento ordenado e sustentável. Eles 
marcam o início de uma conscientização e orientação para os gestores das cidades em 
busca de um futuro mais promissor. 
A gestão voltada para o planejamento urbano e regional e uma atividade que envolve 
intervenção, regulação e mediação para orientar melhorias nos espaços urbanos. 
Segundo definições, a gestão é um processo dinâmico que utiliza conceitos, princípios 
e instrumentos na elaboração e execução de políticas públicas visando satisfazer os 
indivíduos e alcançar o bem comum. 
Antes de tudo, é essencial uma análise aprofundada dos diversos aspectos do meio 
urbano, além de estudos, pesquisas e participação da população para aprimorar esse 
processo. A gestão e o planejamento urbano estão intrinsecamente ligados, pois um 
planejamento adequado facilita a gestão das áreas urbanas. 
A gestão urbana abrange uma variedade de serviços públicos e atividades, como 
circulação e transportes, abastecimento de água, energia, coleta de esgoto e lixo, 
controle do uso do solo, saúde, educação, segurança, entre outros. Para isso, é 
necessária uma estrutura administrativa adequada, recursos humanos, espaços físicos, 
equipamentos e materiais, bem como parcerias com o Estado e iniciativa privada. 
 O processo de gestão urbana envolve a constituição de comissões com profissionais 
de diferentes áreas, geralmente coordenadas por arquitetos e urbanistas, para a 
elaboração de políticas públicas voltadas ao urbanismo. Essas políticas baseiam-se em 
três fases principais: 
8.2.1 Levantamento (diagnóstico), prognóstico e elaboração de propostas 
O planejamento urbano é uma atividade que combina conhecimento e ação, começando 
com um levantamento da realidade urbana e regional. Em seguida, são estudadas 
alternativas de solução para os problemas identificados, escolhendo-se as mais viáveis 
e adequadas para a execução. 
 Para uma gestão urbana e regional eficaz, é crucial considerar as etapas do 
planejamento urbano, adaptando-as às realidades e expectativas locais. Isso inclui a 
fase de diagnóstico, que envolve a compreensão da realidade e dos problemas 
existentes, o prognóstico, que analisa as consequências futuras das ações ou falta 
delas, e a elaboração de propostas para melhorar o espaço estudado. 
O planejamento urbano facilita a gestão das cidades ao organizar as ações necessárias 
para qualificar as áreas urbanas. A gestão, por sua vez, deve ser eficiente para interligar 
as ações com os recursos disponíveis, priorizando e ordenando as intervenções 
necessárias. 
 
 
46 
As políticas de ação e as prioridades estabelecidas pelo governo que elabora as 
políticas determinam um paradigma de ação, definindo as características e 
direcionamentos das ações propostas. A análise da realidade e o envolvimento das 
partes interessadas desempenham um papel fundamental na definição desse 
paradigma de ação. 
Após o planejamento e implementação das ações, e crucial que a gestão seja 
continuamente avaliada para verificar se os resultados desejados estão sendo 
alcançados e se as necessidades de todos os setores da população estão sendo 
atendidas.Esse processo de análise demanda uma grande quantidade de informações 
e ferramentas para construir cenários que auxiliem na tomada de decisões. 
Para garantir uma gestão urbana eficaz, é fundamental realizar um controle preciso e 
entender as demandas e desafios por meio de várias técnicas. Isso inclui a realização 
de pesquisas de campo para ouvir os moradores, análise de dados de pesquisas 
realizadas por outros órgãos, estudos em andamento e o uso de metodologias 
participativas tanto na elaboração de ações quanto na análise da gestão. Além disso, é 
necessário compreender aspectos específicos de cada área, como histórico, 
configuração urbana, espaços ambientais e unidades de paisagem. 
Os debates participativos são uma maneira eficaz de analisar a gestão urbana, pois 
permitem que os gestores compreendam as demandas e realidades de cada área. Com 
base em pesquisas e consultas populares contínuas, juntamente com análises 
detalhadas por profissionais, é possível criar mapas temáticos que cruzam informações 
e resultam em uma síntese das condições, deficiências e potencialidades de cada local. 
Moreira, Cardeman e Tângari destacam a importância de reconhecer a complexidade 
do tema e priorizar questões de acordo com sua relevância no contexto urbano. 
Portanto, tanto o planejamento quanto a gestão devem ser realizados de forma 
contínua, com estudo e dedicação constantes. É essencial entender que a existência de 
uma gestão não elimina a necessidade de planejamento adicional e que o planejamento 
também deve ser avaliado e aprimorado por meio da análise da gestão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
9. ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE 
Introdução 
Neste capítulo, exploraremos os conceitos fundamentais de acessibilidade e mobilidade 
urbana. Analisaremos as normativas relacionadas à acessibilidade no ambiente urbano, 
destacando a importância desses temas e como estão interconectados. Além disso, 
examinaremos as normas e políticas urbanas que abordam essas questões, servindo 
como referência e base para a concepção de projetos nesta esfera crucial do 
planejamento urbano. 
9.1 Conceitos de acessibilidade e mobilidade 
Atualmente, vive nos centros urbanos implica em enfrentar rotinas agitadas, 
deslocamentos demorados, congestionamentos, insegurança e, frequentemente, 
espaços inadequados para atender à diversidade de usuários. Um dos principais 
desafios enfrentados pelas cidades, sejam elas grandes metrópoles e municípios 
menores, refere-se às questões de acessibilidade e mobilidade. Durante muitos anos, 
esses conceitos foram negligenciados, especialmente devido à falta de planejamento 
urbano adequado em diversas cidades brasileiras. 
A acessibilidade e a mobilidade são essenciais para garantir que todas as pessoas, 
independentemente de suas características físicas ou condições de mobilidade, possam 
se locomover com facilidade e segurança nos espaços urbanos. Isso inclui desde 
pessoas com deficiência física até idosos, gestantes e temporariamente incapacitados 
devido a acidentes ou condições de saúde. 
A acessibilidade, como definida pelo Dicionário Online, refere-se à propriedade de tornar 
algo acessível a todas as pessoas, permitindo que elas vejam, usem e compreendam 
esse algo. Ela visa à inclusão social e à viabilidade para pessoas com deficiência ou 
mobilidade reduzida, facilitando o acesso a ambientes, edificações, transporte, 
informação e comunicação. Por sua vez, a mobilidade refere-se à capacidade de se 
mover de um lugar para outro, seja a pé, de bicicleta, de carro ou utilizando transporte 
público. 
Nos últimos anos, a acessibilidade tornou-se um tema central nas discussões urbanas, 
resultando na implementação de leis e normas que regulamentam e promovem a 
adaptação dos espaços públicos e edificações para atender às necessidades de todas 
as pessoas. A Norma Técnica (NBR) 9050, por exemplo, define acessibilidade como a 
possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização com 
segurança e autonomia. 
Já a mobilidade urbana, conforme a Política Nacional da Mobilidade Urbana 
Sustentável, e um atributo associado às pessoas e aos bens, correspondendo às 
diferentes formas de deslocamento em meio urbano, considerando as atividades 
desenvolvidas e a disponibilidade de transporte. Ela engloba desde o deslocamento a 
pé até o uso de transportes coletivos ou individuais, buscando garantir que todos tenham 
opções viáveis e seguras de locomoção. 
 É essencial que tanto a acessibilidade quanto a mobilidade sejam planejadas e 
organizadas de forma a melhorar a qualidade de vida nas cidades. Isso envolve desde 
 
 
48 
a adequação de calçadas e vias até a oferta de transporte público eficiente e 
sustentável. O desenho universal, que visa atender às necessidades de todas as 
pessoas, independentemente de suas habilidades físicas, deve ser incorporado ao 
planejamento urbano e à concepção de espaços públicos e edificações. 
Em suma, a acessibilidade e a mobilidade são elementos-chave para promover cidades 
mais inclusivas, seguras e eficientes, onde todos tenham igualdade de acesso e 
oportunidades de deslocamento. Esses conceitos devem ser considerados em todas as 
etapas do planejamento urbano, desde a concepção de novos projetos até a adaptação 
de espaços já existentes, visando atender às necessidades e garantir a qualidade de 
vida de toda a população. 
9.1.1 Normativas sobre acessibilidade 
A discussão sobre acessibilidade no Brasil é um tema relativamente recente, ganhando 
destaque e importância há menos de duas décadas. A falta de acesso nos locais 
urbanos resulta em diversas dificuldades e acidentes, dificultando a vivência nas 
cidades e a exploração dos espaços públicos. Inicialmente, o termo acessibilidade foi 
direcionado principalmente para pessoas com deficiência física, sendo mencionado na 
Constituição Brasileira de 1988. 
A Constituição de 1988 tinha como objetivo garantir os direitos sociais e individuais das 
pessoas no Brasil, incluindo os das pessoas com deficiência. A partir dela, surgiram 
diversas leis e normas mais específicas visando a garantir a acessibilidade e inclusão, 
como a Lei de Cotas, publicada em 1991, que se concentra na inclusão de pessoas com 
deficiência no mercado de trabalho. 
No entanto, foi somente nos anos 2000 que foi criada a primeira lei totalmente voltada 
à acessibilidade. A Lei nº. 10.098, de 19 de dezembro de 2000, estabelece normas 
gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade de pessoas portadoras de 
deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Essa lei foi criada 
com o objetivo de quebrar barreiras no dia a dia, sejam elas urbanas, arquitetônicas, 
nos transportes ou na comunicação, assegurando a autonomia das pessoas com 
deficiência e oportunidades para todos. 
De acordo com a Lei nº. 10.098/2000, são consideradas barreiras quaisquer entraves, 
obstáculos, atitudes ou comportamentos que limitem ou impeçam a participação social 
das pessoas, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos a acessibilidade. 
Essas barreiras podem ser classificadas em: 
a) Barreiras urbanísticas: existentes nas vias e nos espaços públicos e privados 
abertos ao público ou de uso coletivo; 
b) Barreiras arquitetônicas: existentes nos edifícios públicos e privados; 
c) Barreiras nos transportes: existentes nos sistemas e meios de transportes; 
d) Barreiras nas comunicações e na informação: dificultam ou impossibilitam a 
expressão ou o recebimento de mensagens e informações por meio de sistemas 
de comunicação e tecnologia da informação. 
Essas normativas representam um importante avanço na garantia dos direitos e na 
promoção da inclusão das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, 
contribuindo para uma sociedade mais justa e acessível a todos. 
 
 
49 
Aqui estão algumas das normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)que se referem à acessibilidade: 
ABNT NBR 9050: 2020 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e 
equipamentos urbanos. 
ABNT NBR 16537: 2016 – Acessibilidade – Comunicação na prestação de serviços. 
ABNT NBR 15910: 2011 – Acessibilidade em veículos de características urbanas para 
o Transporte coletivo de passageiros – Requisitos. 
ABNT NBR 15250:2017 – Acessibilidade em comunicação na televisão. 
ABNT NBR 15250-1:2017 – Acessibilidade em comunicação na televisão – Parte 1: 
Requisitos gerais. 
ABNT NBR 15599:2015 – Acessibilidade – Sinalização tátil no piso – Diretrizes para 
elaboração de projetos e instalação. 
ABNT NBR 16537:2016 – Acessibilidade – Comunicação na prestação de serviços. 
ABNT NBR 15751:2018 – Acessibilidade em sistemas de comunicação presencial em 
tradução e interpretação de língua(s) de sinais. 
ABNT NBR 16537-2:2016 – Acessibilidade – Comunicação na prestação de servicos – 
Parte 2: Requisitos de acessibilidade na prestação de serviços de telefonia fixa. 
ABNT NBR 16537-3:2016 – Acessibilidade – Comunicação na prestação de serviços – 
Parte 3: Requisitos de acessibilidade na prestação de serviços de telefonia móvel. 
Essas são algumas das normas da ABNT que tratam de acessibilidade em diferentes 
contextos, abordando desde a acessibilidade em edificações e espaços urbanos até a 
comunicação e sinalização acessíveis. É importante consultar a versão mais recente de 
cada norma para garantir a conformidade com as exigências atualizadas. 
Após quatro anos, o Brasil testemunhou a implementação do Decreto nº. 5.296, datado 
de 2 de dezembro de 2004, que veio para fortalecer as disposições da Lei nº. 
10.098/2000, enfatizando a necessidade de considerar as pessoas com deficiência ou 
mobilidade reduzida em todos os atendimentos. Este decreto impulsionou a Associação 
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a desenvolver diversas normas com padrões de 
acessibilidade. Essas normativas foram revisadas, formuladas e aprimoradas para 
servir como referência na concepção de novos projetos e na adaptação de projetos já 
existentes. 
Um exemplo internacional semelhante ocorreu em outra cidade, como Paris, onde 
muitas edificações foram demolidas para ampliação das vias, sob o pretexto de melhorar 
a higiene e a salubridade do centro urbano. Além disso, diversas habitações precárias 
foram removidas, forçando os moradores a buscarem abrigo em praças e avenidas. 
Dentre as normas da ABNT, destaca-se a NBR 9050 como uma das mais importantes, 
fornecendo fundamentos para projetos acessíveis. A versão de 2020, que substitui a de 
2015, estabelece critérios e parâmetros técnicos para o projeto, construção, instalação 
e adaptação do meio urbano, rural e edificações as condições de acessibilidade. Para 
desenvolver esses parâmetros, foram consideradas diversas pesquisas e estudos, 
 
 
50 
abrangendo diferentes realidades e necessidades, como percepção do ambiente, 
mobilidade e uso de dispositivos assistivos. 
A norma apresenta uma gama de medidas referenciais abrangentes, incluindo espaços 
necessários para pessoas que usam bengalas, muletas, cadeiras de rodas, entre outros 
dispositivos. Também oferece exemplos de rotas acessíveis para espaços urbanos, bem 
como orientações sobre inclinações de rampas, suas proteções adequadas e os 
números permitidos para a inclusão de rampas em edificações antigas. 
Quanto ao espaço urbano, a norma fornece diretrizes sobre o tamanho das calçadas e 
áreas de manobra, dimensionamento de faixas livres, tipos de rampas para acesso, uso 
de faixas elevadas e rebaixamento de calçadas, além de orientações sobre o uso de 
pisos táteis. 
Além disso, é viável dimensionar estacionamentos e vagas especiais, levando em conta 
o conforto e segurança dos usuários. No que se refere ao mobiliário urbano, a norma 
estabelece dimensões de referência para pessoas em pé e sentadas, áreas de alcance 
e alturas variedades. Por exemplo, os bancos devem estar posicionados fora das áreas 
de circulação, permitindo a aproximação de pessoas em cadeira de rodas e com altura 
adequada para alcance manual. Conforme a norma, um módulo de referência é definido 
como a projeção de 0,80 m por 1,20 m no piso, ocupada por uma pessoa utilizando 
cadeira de rodas, motorizada ou não. 
No que tange à ornamentação paisagística e ao uso de vegetação em espaços públicos, 
a norma estabelece diretrizes claras. O plantio e a manutenção da vegetação devem 
garantir que elementos como ramos, raízes e proteções não interfiram nas rotas 
acessíveis e áreas de circulação. Além disso, a vegetação adjacente a essas áreas não 
deve apresentar características que possam causar ferimentos, prejudicar o pavimento 
ou ser tóxica. Para evitar invasão das faixas de passeio, são recomendadas grelhas de 
proteção niveladas em relação ao piso, com dimensões e espaçamentos adequados. 
As normas de acessibilidade, em especial a NBR 9050, são documentos cruciais que 
devem ser incorporados nos projetos para garantir que edificações e espaços públicos 
estejam adequados 
e seguros para todos os cidadãos. Elas abordam aspectos como parâmetros 
antropométricos para deslocamento, dimensionamentos de diferentes elementos 
arquitetônicos, além de fornecer informações sobre símbolos e sinalizações adequadas. 
Quando abordamos a mobilidade urbana, estamos nos referindo aos deslocamentos e 
meios de locomoção dentro das cidades. Com o crescimento populacional e o aumento 
dos problemas nos centros urbanos, essa questão tem se tornado cada vez mais 
relevante, especialmente devido aos congestionamentos no trânsito e à dificuldade de 
locomoção entre diferentes pontos. Segundo Pena (2019), um dos principais desafios 
relacionados à mobilidade urbana no Brasil e o crescente uso de transporte individual. 
Esse aumento pode ser atribuído a diversos fatores, incluindo a má qualidade do 
transporte público, o aumento da renda média da população, incentivos fiscais para a 
compra de veículos e o aumento da oferta de crédito ao consumidor. 
De acordo com o autor e os dados do Observatório de Metrópoles, entre os anos de 
2002 e 2012, enquanto a frota de veículos cresceu 138,6%, o crescimento populacional 
 
 
51 
foi de apenas 12,2%. Isso significa que já há cidades no Brasil com menos de dois 
habitantes para cada veículo. 
O aumento do número de veículos, especialmente de automóveis, impacta diretamente 
na operação e gestão do sistema viário, que muitas vezes e adaptado para privilegiar o 
uso do carro em detrimento de outros modos de transporte. Isso contribui para a 
desigualdade urbana, uma vez que o automóvel passa a ser o meio mais eficiente e 
rápido de locomoção, exacerbando os problemas ambientais nas áreas urbanas, como 
a poluição sonora e do ar, causada pelo aumento do tráfego de veículos individuais, 
principalmente automóveis e motocicletas. 
Para resolver o problema da mobilidade urbana nas cidades, diversas ideias têm sido 
propostas, incluindo o estímulo ao transporte coletivo e o incentivo ao uso de bicicletas, 
com a construção de ciclofaixas e ciclovias. Além disso, é crucial reduzir o tempo de 
deslocamento, que atualmente é excessivo devido aos congestionamentos. Uma das 
estratégias levantadas é a diversificação dos modais de transporte. 
Durante o século XX, o Brasil concentrou seus investimentos em rodovias, em 
detrimento de outros meios de transporte, como trens e metrôs. Agora, a proposta é 
investir mais em alternativas de transporte, o que pode aliviar o volume excessivo de 
veículos nas ruas das grandes cidades do país. 
A diversificação dos modais de transporte refere-se à utilização de diferentes tipos de 
transporte dentro das cidades e ao uso combinado de dois ou mais meios de locomoção 
para chegar a um destino. O objetivo é tornar as operações mais rápidas e eficientes, 
reduzindo o tempo de deslocamento e dando prioridade ao transporte coletivo. 
Diversificar os modos de transporte,como rodoviário, ferroviário, hidroviário, dutoviário 
e aeroviário, distribui melhor os fluxos de tráfego e facilita a mobilidade. 
A Política Nacional de Mobilidade Urbana, como uma das principais referências para a 
resolução e proposição de ações relacionadas à mobilidade urbana no Brasil, tem como 
objetivo contribuir para o acesso universal à cidade, promovendo o desenvolvimento 
urbano por meio do planejamento e da gestão democrática do Sistema Nacional de 
Mobilidade Urbana. 
A Política Nacional de Mobilidade Urbana estabelece diretrizes abrangentes que 
orientam as ações relacionadas ao transporte e à infraestrutura urbana. Essa política 
enfatiza princípios fundamentais, como a acessibilidade universal, o desenvolvimento 
sustentável das cidades, a eficiência, a equidade, a segurança e a priorização de 
projetos de transporte público coletivo que estruturam o território e promovem o 
desenvolvimento urbano integrado. 
Uma das determinações da Política Nacional de Mobilidade Urbana é a elaboração do 
Plano de Mobilidade Urbana em municípios com mais de 20.000 habitantes, integrado 
e compatível com os respectivos planos diretores. Isso visa garantir uma abordagem 
coordenada e abrangente para lidar com questões de mobilidade em áreas urbanas. 
Além disso, outra importante diretriz e a Política Nacional de Mobilidade Urbana 
Sustentável, que se baseia em eixos estratégicos como o desenvolvimento urbano e a 
sustentabilidade ambiental, a participação social e a universalização do acesso ao 
 
 
52 
transporte público, bem como o desenvolvimento institucional e a modernização 
regulatória do sistema de mobilidade urbana. 
Essas políticas têm como objetivo primordial respeitar os princípios universais, 
promovendo uma melhor circulação de pessoas, bens e mercadorias, enquanto 
valorizam as características distintivas do espaço urbano. Elas buscam criar um 
ambiente urbano novo e dinâmico, incentivando a integração intermodal como meio 
fundamental para melhorar a mobilidade nas cidades. 
A integração intermodal enfatiza o papel da caminhada e do uso de bicicletas como 
formas de integração entre os diferentes modos de transporte. Isso implica em garantir 
condições seguras e agradáveis para a prática desses meios de locomoção. Além disso, 
é importante fornecer mecanismos de informação sobre as opções de intermodalidade 
disponíveis, incluindo orientações sobre caminhos, acessos, custos e benefícios. Todos 
os modos de transporte, incluindo os automóveis, devem ser considerados na busca por 
uma integração eficaz, adaptando-se a cada tipo de viagem e suas necessidades 
específicas. 
As diretrizes para a implantação da integração intermodal, conforme estabelecidas pela 
Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável, incluem: 
• Desenvolvimento das cidades por meio da mobilidade urbana sustentável. 
• Universalização do acesso ao transporte público coletivo. 
• Priorização de pedestres, ciclistas, passageiros de transporte coletivo, pessoas 
com deficiência, portadoras de necessidades especiais e idosos no uso do 
espaço urbano de circulação. 
• Incentivo e apoio a sistemas estruturais, como metro-ferroviarios e rodoviários 
de transporte coletivo, em corredores exclusivos nas cidades médias e regiões 
metropolitanas, que contemplem mecanismos de integração intermodal e 
institucional. 
• Promoção e apoio à implementação de sistemas cicloviários seguros, com 
ênfase na integração à rede de transporte público. 
• Incentivo e disseminação de medidas de moderação de tráfego e de uso 
sustentável e racional do transporte motorizado individual. 
Promoção e apoio à elaboração de planos de transporte urbano integrado, 
compatível com o plano diretor ou nele inseridos, para cidades com mais de 
quinhentos mil habitantes. 
Por meio do entendimento sobre acessibilidade e mobilidade, aliado aos fundamentos 
das leis e políticas existentes, é possível compreender a importância desses temas e 
incorporá-los em diversos tipos de projeto. Ampliando os debates e aprimorando as 
regulamentações, é possível fomentar ações que tornem os espaços urbanos cada vez 
mais inclusivos e utilizados por todos os cidadãos. 
 
 
 
 
 
 
53 
10. MOBILIDADE URBANA 
Introdução 
O rápido e desordenado processo de urbanização vivenciado por muitas cidades 
brasileiras trouxe consigo desafios significativos relacionados aos deslocamentos 
diários, caracterizados por grandes distâncias a serem percorridas. Nesse contexto, a 
mobilidade urbana emerge como uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento 
tanto social quanto econômico. 
Neste capítulo, exploraremos o conceito de mobilidade urbana e as diversas 
contribuições dos diferentes modais de transporte ao longo da evolução do processo de 
urbanização. Além disso, discutiremos os fundamentos e princípios da gestão da 
mobilidade urbana, embasados pela Política Nacional de Mobilidade Urbana e pelo 
Plano de Mobilidade Urbana. Por fim, abordaremos a importância das bicicletas, 
ciclovias e ciclofaixas na busca por uma integração multimodal que promova não apenas 
um transporte mais eficiente, mas também uma mobilidade urbana mais sustentável. 
10.1 Mobilidade urbana e os diferentes modais 
A mobilidade urbana pode ser definida como a facilidade de deslocamento de pessoas 
e mercadorias dentro do espaço urbano, utilizando a infraestrutura viária disponível. 
Embora seja uma questão antiga, remontando aos primórdios dos veículos, a discussão 
sobre mobilidade urbana alcançou um caráter mais técnico e científico apenas no início 
do século XX, quando o surgimento dos veículos motorizados passou a conflitar com a 
circulação de pedestres nas vias públicas. 
A maneira como a mobilidade se manifesta está intrinsecamente ligada ao 
desenvolvimento socioeconômico das populações. Nas cidades brasileiras, é comum 
observar que as regiões periféricas, habitadas majoritariamente por pessoas de baixa 
renda, enfrentam desafios relacionados a grandes distâncias a serem percorridas 
diariamente, especialmente porque muitos empregos estão concentrados nos centros 
urbanos. Isso resulta em longos períodos de deslocamento, reduzindo a qualidade de 
vida dos trabalhadores. Dessa forma, a mobilidade urbana está diretamente relacionada 
à forma como a cidade é ocupada e utilizada, bem como ao acesso aos recursos 
disponíveis em cada região. 
A dispersão urbana torna a administração das cidades mais complexa, aumentando os 
custos e dificultando o atendimento às demandas de transporte, especialmente para as 
populações localizadas nas áreas mais distantes do centro urbano. Por conseguinte, 
quanto menos estruturado for o desenvolvimento urbano, menos eficiente, competitiva 
e móvel será a cidade. 
De acordo com dados da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) 
referentes a municípios com mais de 60.000 habitantes, cerca de 67 bilhões de viagens 
foram realizadas em 2018, o que equivale a aproximadamente 223 milhões de viagens 
por dia. A maioria dessas viagens e realizada a pé e de bicicleta, seguida pelo transporte 
motorizado individual por meio de automóveis e motocicletas. 
A evolução do conceito de mobilidade ao longo da história está intimamente ligada aos 
diferentes modais de transporte. Na década de 1930, predominava o transporte 
 
 
54 
ferroviário, que gradualmente deu lugar ao transporte rodoviário com a aprovação do 
Plano Nacional de Viação. Os bondes elétricos eram populares entre as décadas de 
1930 e 1940, mas foram substituídos pelos ônibus devido à expansão urbana acelerada. 
A partir da década de 1960, a indústria automobilística passou a influenciar 
significativamente a mobilidade urbana, incentivando o uso de automóveis por meio de 
medidas diretas e indiretas. 
Até a década de 1970, a participação do governo federal na mobilidade urbana era 
limitada, sendo predominantemente responsabilidade dos governos estaduais e 
municipais.No entanto, diante do rápido crescimento e da dispersão das cidades, houve 
a necessidade de intervenção federal para enfrentar os desafios do transporte urbano. 
Os anos 1980 foram marcados pela organização política do setor, com a criação de 
associações e a implementação dos primeiros sistemas de transporte urbanos. Na 
década de 1990, observou-se uma expansão significativa do uso de motocicletas, 
incentivada tanto pela indústria quanto pelo governo. 
Na próxima seção, discutiremos os fundamentos da gestão de mobilidade urbana, bem 
como as políticas e planos voltados para esse fim. 
10.1.1 Fundamentos da gestão da mobilidade urbana 
A legislação desempenha um papel fundamental na gestão da mobilidade urbana, e 
desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, havia uma busca por uma 
regulamentação de âmbito federal. Durante anos, foram adotadas medidas isoladas e 
dispersas para melhorar a mobilidade urbana. Somente com a promulgação da Lei nº 
12.587, de 2012, que instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), essas 
medidas começaram a ser sistematizadas. A elaboração dessa lei envolveu amplos 
debates na sociedade e no âmbito parlamentar, levando cerca de 17 anos até a 
finalização do texto. 
A Política Nacional de Mobilidade Urbana é considerada um instrumento das políticas 
de desenvolvimento urbano, com o objetivo de integrar os diferentes modos de 
transporte e implementar melhorias na acessibilidade e mobilidade nas cidades 
brasileiras. A existência da PNMU orienta as ações a serem realizadas, integrando-as 
com o desenvolvimento urbano em geral e relacionando-as a outras políticas setoriais, 
como habitação, saneamento básico e gestão do solo. 
Os objetivos da PNMU incluem a redução das desigualdades e a promoção da inclusão 
social, o acesso aos serviços básicos e equipamentos sociais, a melhoria das condições 
urbanas relacionadas à acessibilidade e mobilidade, o desenvolvimento sustentável 
com a mitigação dos impactos ambientais e socioeconômicos dos deslocamentos, e a 
consolidação da gestão democrática como garantia da melhoria contínua da mobilidade 
urbana. 
A PNMU também proporciona segurança jurídica para que os municípios possam 
implementar medidas que priorizem os modos de transporte não motorizados e coletivos 
em detrimento do transporte individual. Essas medidas devem estar alinhadas com os 
fundamentos da PNMU, que incluem a acessibilidade universal, o desenvolvimento 
sustentável das cidades nas dimensões socioeconômicas e ambientais, a equidade no 
acesso ao transporte público coletivo, a eficiência na prestação dos serviços de 
 
 
55 
transporte urbano, a gestão democrática e o controle social, a segurança nos 
deslocamentos, a justa distribuição dos benefícios e ônus, a equidade no uso do espaço 
público e a eficiência na circulação urbana. 
Para efetivar a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), utiliza-se um 
instrumento chamado Plano de Mobilidade Urbana (PMU). Este plano é uma ferramenta 
de planejamento que estabelece objetivos, ações e metas para resolver problemas 
relacionados à mobilidade urbana de um município. 
O PMU foi instituído pela mesma Lei nº 12.587 que criou a PNMU, com o intuito de 
auxiliar os municípios brasileiros no planejamento do crescimento urbano, priorizando o 
transporte coletivo e não motorizado em detrimento do uso de meios de transporte 
individuais. Nem todos os municípios são obrigados a elaborar esse documento, 
conforme estabelecido pela legislação: 
10.1.2 Municípios com mais de 20.000 habitantes. 
Municípios integrantes de regiões metropolitanas, regiões integradas de 
desenvolvimento Econômico e aglomerações urbanas com população total superior a 
1.000.000 de habitantes. 
Municípios integrantes de áreas de interesse turístico, incluindo cidades litorâneas 
afetadas por variações na mobilidade devido ao turismo. 
A participação social e fundamental na elaboração dos PMUs para garantir que atendam 
às necessidades da sociedade e tenham legitimidade política durante a implementação 
e continuidade. Isso pode ser feito por meio de audiências públicas, debates, divulgação 
de informações, discussões sobre o plano, recebimento de propostas, avaliação das 
versões preliminares, criação de órgãos de participação da sociedade civil, entre outros 
mecanismos participativos. 
O Plano de Mobilidade Urbana (PMU) deve abranger diversos aspectos, incluindo o 
transporte público coletivo, a circulação viária, a infraestrutura do sistema de mobilidade 
urbana, a acessibilidade para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, a 
integração entre diferentes modos de transporte, como público, privado e não 
motorizado, áreas de estacionamento público e privado, restrições de acesso e 
circulação em determinadas áreas e horários, os mecanismos de financiamento do 
transporte público, bem como a avaliação, revisão e atualização periódica do plano, com 
intervalos não superiores a 10 anos. 
Inicialmente, o prazo de entrega do Plano de Mobilidade Urbana (PMU) para os 
municípios contemplados até 12 de abril de 2020. No entanto, por meio da Lei nº 14000 
de 2020 (BRASIL, 2020), esse prazo foi estendido para permitir que as prefeituras 
elaborem os PMUs até 12 de abril de 2022, para cidades com mais de 250 mil 
habitantes, e até 12 de abril de 2023, para cidades com até 250 mil habitantes. Essa 
prorrogação é significativa, pois os municípios que não apresentarem o PMU dentro do 
prazo estipulado ficam impossibilitados de receber recursos federais para investimentos 
no setor. Portanto, a extensão do prazo permite que essas cidades voltem a ter acesso 
a esses recursos. 
 
 
56 
O processo de elaboração de um PMU deve ser dinâmico e flexível, permitindo revisões 
periódicas. Várias etapas devem ser seguidas pelos agentes da Administração Pública 
municipal. A seguir, destacam-se as principais características de cada etapa (SÃO 
PAULO, 2015): 
• Preparação: Esta etapa envolve a definição do processo de construção do PMU, 
mobilizando os recursos políticos, técnicos e financeiros necessários. Além 
disso, inclui uma análise preliminar dos problemas de mobilidade no município, 
estimativas de recursos necessários e a definição das responsabilidades dos 
envolvidos no processo. 
• Definição do escopo: Desta etapa, é essencial que a equipe conheça as 
expectativas para o futuro do município, definindo objetivos a serem alcançados 
e áreas de intervenção com base no pré-diagnóstico realizado. Também são 
estabelecidas metas mensuráveis a curto, médio e longo prazo. 
• Procedimentos gerenciais: Esta etapa inclui a elaboração do termo de referência, 
cooperação técnica e institucional para o início da elaboração do PMU, buscando 
parcerias e realizando negociações. 
• Elaboração: Nesta fase, são realizados o diagnóstico da situação atual da 
mobilidade no município, a avaliação de cenários e propostas de solução, a 
formulação do programa de ação do PMU e a definição de indicadores de 
desempenho para monitoramento. Por fim, ocorre a consolidação do plano com 
a produção final dos textos e elementos gráficos. 
• Aprovação: O PMU é discutido e avaliado antes de sua aprovação final, revisado 
pelos envolvidos por meio de uma audiência pública que apresentará as 
propostas para a comunidade. 
• Implementação: Nesta etapa, o PMU é efetivamente implementado de acordo 
com o plano de ação estipulado, priorizando as metas de curto prazo para 
garantir sua credibilidade junto à sociedade. 
• Avaliação e revisão: O PMU é revisado e atualizado periodicamente, 
considerando a dinâmica da mobilidade urbana e surgimento de novas 
possibilidades de melhorias ou problemas a serem solucionados. 
A integração multimodal pode trazer uma série de benefícios significativos, tais como a 
redução do tempo e do custo das viagens, a otimização do espaço viário e da estrutura 
espacial da cidade, a diminuição das interferências noa dinâmica urbana e dando origem a redes e fluxos entre as cidades. 
No entanto, apesar do crescimento do mercado de trabalho e da integração dessa 
parcela da população a cidade, o modelo econômico mostrava-se concentrador em 
termos de renda e população, além de excludente, já que o espaço urbano não oferecia 
as mesmas oportunidades para todos. 
As disparidades de renda entre a população trabalhadora e os detentores dos meios de 
produção eram enormes, resultando em uma estrutura social urbana fragmentada e 
complexa. 
Essa fragmentação social refletiu-se no espaço urbano, com a segregação dos espaços 
de acordo com a renda e a atividade econômica. As periferias urbanas tornaram-se, 
então, o espaço urbano designado e acessível ao consumo da classe trabalhadora 
urbana, devido à especulação imobiliária e aos interesses empresariais e políticos na 
gestão das áreas centrais. 
As áreas periféricas eram frequentemente caracterizadas por um planejamento urbano 
deficiente, com parcelamento do solo feito de forma desordenada e sem consideração 
adequada para futuras infraestruturas. Qualquer área era suscetível à ocupação e 
loteamento por incorporadoras ou ocupação irregular pela população. Assim, a 
ocupação indiscriminada de morros, encostas e margens de rios resultava na 
comercialização dessas áreas a preços acessíveis, permitindo que todos pudessem 
garantir o direito à moradia. 
 
 
7 
 A partir dos anos 1980, a economia brasileira enfrentou uma desaceleração, perdendo 
seu dinamismo. Uma das principais consequências foi a precarização dos empregos e 
a redução de postos de trabalho, resultando na diminuição da renda da população 
trabalhadora e na diminuição da circulação de capital nas áreas centrais. 
Como resultado, houve um movimento de migração populacional para áreas próximas 
aos centros urbanos e para as franjas das regiões metropolitanas, devido ao alto custo 
de vida. 
Esse movimento promoveu o crescimento das áreas periféricas em geral, devido à 
queda de renda de uma grande parte da população, e também estimulou o crescimento 
dos municípios ao redor do município central, agravando a formação das periferias 
metropolitanas. 
Com a crise resultante da desaceleração econômica e do processo de urbanização, os 
índices de pobreza aumentaram e se generalizaram nas periferias, evidenciando as 
profundas desigualdades sociais existentes no país. A partir dos anos 1990, a 
implementação de reformas para inserir o Brasil na globalização, através da adoção de 
políticas neoliberais, abriu o mercado brasileiro para investimentos e a instalação de 
atividades econômicas multinacionais. 
A nova ordem econômica resultante promoveu uma mudança no mercado de trabalho, 
já que a classe trabalhadora não estava preparada para ingressar nesse novo contexto, 
que demandava habilidades técnicas e níveis de escolaridade mais altos do que os 
exigidos para os serviços até a década de 1980. Como resultado, muitos trabalhadores 
perderam seus empregos, aumentando a parcela de trabalhadores informais e pobres 
nas periferias, acentuando ainda mais as desigualdades sociais. 
Com a abertura de capital, muitas empresas passaram a investir no setor imobiliário 
como uma forma adicional de obtenção de lucro. A produção do espaço urbano nas 
grandes cidades passou a integrar o sistema financeiro de acumulação, alterando a 
dinâmica e a velocidade dos processos envolvidos na valorização imobiliária. Com a 
crescente valorização dos espaços urbanos próximos às áreas centrais, a periferia 
urbana expandiu-se ainda mais. 
No entanto, as mudanças econômicas e políticas que ocorreram a partir dos anos 1980, 
juntamente com a expansão do capitalismo, desencadearam outras transformações 
significativas no cenário urbano. A necessidade de novas fontes de lucro e o aumento 
do consumo do espaço urbano desencadearam um processo de urbanização das 
periferias para atender às demandas do capital investidor. 
As periferias, que antes eram geralmente desconsideradas pelos investidores, 
tornaram-se, a partir dos anos 2000, áreas de grande interesse tanto para habitação 
quanto para especulação imobiliária. 
A facilitação do acesso ao crédito pessoal e aos subsídios governamentais, juntamente 
com a busca por novos mercados consumidores, impulsionou a produção imobiliária 
voltada para as classes média e baixa. Isso resultou em um aumento substancial na 
comercialização de unidades destinadas a essa faixa de renda. No entanto, é importante 
observar que, apesar do interesse das incorporadoras e das melhorias na infraestrutura 
 
 
8 
das periferias, essas áreas não foram totalmente integradas aos outros sistemas 
urbanos existentes, mantendo-se a segregação e segmentação do espaço urbano. 
A percepção das periferias urbanas como potenciais mercados consumidores têm 
influenciado a ocupação dos novos espaços urbanos nessas áreas. A construção de 
conjuntos habitacionais e casas populares agora e realizada com um parcelamento mais 
adequado do solo, com previsão de instalação de infraestruturas sob responsabilidade 
governamental. Além disso, essas obras têm alterado a aparência das periferias, que 
antes eram caracterizadas por habitações simples e muitas vezes precárias, sem 
nenhum acabamento externo, mas agora apresentam conjuntos prediais e casas 
organizadas esteticamente. 
Além de promover a aquisição de imóveis pelas classes de menor poder aquisitivo, as 
linhas de crédito também têm incentivado a reforma de muitas propriedades já 
existentes, tornando a periferia um lugar mais agradável e digno de se viver, apesar das 
desigualdades sociais impostas pelo sistema capitalista. 
1.5 As cidades e o ambiente 
 Cada cidade constitui um sistema complexo, envolvendo uma diversidade de indivíduos 
e grupos sociais com interesses diversos, além de interações com o meio ambiente. 
Dessa forma, as dinâmicas urbanas ocorrem entre os diferentes atores sociais e entre 
esses atores e o ambiente natural. 
Considerando que a cidade e um sistema, tanto a sociedade em geral quanto o meio 
ambiente pode ser visto como sistemas interconectados. A forma como esses sistemas 
interagem e crucial para diversos aspectos de seus comportamentos. 
Para que essa interação seja positiva, é necessário alcançar uma harmonia entre os 
sistemas. 
Isso implica na necessidade de sistemas integradores nas cidades, que estabeleçam 
regras e regulamentos, estruturas sociais e incentivos econômicos alinhados com 
objetivos comuns de preservação e integração da sociedade e da natureza na 
urbanização. 
As questões ambientais que enfrentamos desde o início da expansão urbana estão 
relacionadas à falta de planejamento adequado para o desenvolvimento das cidades, 
bem como para lidar com o crescimento populacional e as demandas emergentes da 
sociedade e da economia. O crescimento urbano está diretamente ligado a crescente 
demanda por recursos naturais. Esse aumento na demanda por infraestrutura, padrões 
de consumo e energia exerce uma considerável pressão sobre os recursos naturais 
finitos. Como resultado, as cidades enfrentam desafios que, a longo prazo, podem se 
tornar insustentáveis. 
1.6 Problemas ambientais urbanos 
Os problemas ambientais urbanos estão associados aos impactos causados ao 
ambiente devido à implantação e expansão das cidades ao longo do tempo. Em grande 
parte, esses problemas estão ligados a forma como ocorreu o processo de ocupação 
do território e o surgimento das primeiras cidades. Entre os principais desafios urbanos, 
 
 
9 
destacam-se a falta de saneamento básico, a ocupação de áreas de risco, o clima 
urbano, a poluição do ar, da água e do solo, bem como as alterações na paisagem. 
1.7 Sustentabilidade na cidade 
 Uma cidade sustentável é aquela que, de maneira deliberada, consegue suprir as 
necessidades de sua população e melhorar o bem-estar sem prejudicar o meio ambiente 
ou comprometer a qualidade detrânsito, a redução dos impactos 
ambientais e da quantidade de acidentes de trânsito, além de melhorar o conforto dos 
usuários (INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO, 
2021). Essa intermodalidade entre bicicletas e transporte público ocorre quando parte 
da viagem é realizada de bicicleta e outra parte utilizando o transporte coletivo, seja com 
a bicicleta sendo transportada nos ônibus ou metrôs, ou estacionada próximo aos 
terminais. Para viabilizar essa integração, os veículos de transporte coletivo podem ser 
adaptados para transportar bicicletas em seu interior ou externamente. 
As ciclovias e ciclofaixas desempenham um papel crucial na facilitação dessa integração 
multimodal. As ciclovias são vias exclusivas destinadas à circulação de bicicletas em 
áreas urbanas, separadas fisicamente das vias de tráfego comum. Elas oferecem maior 
segurança e conforto aos ciclistas, além de contribuir para a valorização dos espaços 
públicos. As ciclovias podem ser implantadas em diversas áreas, como faixas de 
domínio das vias convencionais, canteiros centrais, parques, margens de cursos d’água 
 
 
57 
e áreas naturais. Essas estruturas não só incentivam o uso de bicicletas, reduzindo 
indiretamente o sedentarismo e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, mas 
também auxiliam na economia de gastos com saúde pública. 
Existem dois tipos principais de ciclovias: as unidirecionais, que permitem o fluxo em 
apenas um sentido, e as bidirecionais, que possibilitam o fluxo em ambos os sentidos. 
Essas infraestruturas são essenciais para garantir a segurança e a eficiência dos 
deslocamentos de bicicleta, especialmente em áreas urbanas movimentadas. 
A integração multimodal entre bicicletas e transporte público é uma estratégia 
fundamental para melhorar a mobilidade urbana, trazendo uma série de benefícios, 
como a redução do tempo e do custo das viagens, a otimização do espaço viário e a 
diminuição dos impactos ambientais. Esse tipo de integração ocorre quando parte da 
viagem é realizada de bicicleta e outra parte utilizando o transporte coletivo, seja com a 
bicicleta sendo transportada nos ônibus ou metrôs, ou estacionada próximo aos 
terminais. 
As ciclovias e ciclofaixas desempenham um papel crucial nesse contexto, 
proporcionando vias exclusivas e seguras para a circulação de bicicletas. As ciclovias 
são estruturas separadas fisicamente das vias de tráfego comum, garantindo maior 
segurança e conforto aos ciclistas. Elas podem ser implantadas em diferentes locais, 
como faixas de domínio das vias convencionais, canteiros centrais, parques e margens 
de cursos d’água. 
Essas infraestruturas não apenas incentivam o uso de bicicletas, contribuindo para a 
redução do sedentarismo e para a melhoria da qualidade de vida, mas também 
promovem a valorização dos espaços públicos e a economia de gastos com saúde 
pública. Existem dois tipos principais de ciclovias: as unidirecionais, que permitem o 
fluxo em apenas um sentido, e as bidirecionais, que possibilitam o fluxo em ambos os 
sentidos. 
Em suma, as ciclovias e ciclofaixas são elementos essenciais para facilitar a integração 
multimodal entre bicicletas e transporte público, promovendo uma mobilidade mais 
sustentável e eficiente nas cidades. 
Embora as ciclovias sejam componentes essenciais do sistema cicloviário, em grandes 
cidades, onde o espaço disponível é limitado, nem sempre são a solução mais viável. É 
aí que entram as ciclofaixas, que representam uma alternativa importante. As ciclofaixas 
são parte da pista de rolamento destinada à circulação de bicicletas e delimitada por 
sinalização específica (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2016). 
A escolha pelo uso de ciclofaixas muitas vezes se dá pela maior mobilidade que 
oferecem. Embora as ciclovias garantam maior segurança aos ciclistas, elas podem 
carecer de conexão com vários pontos na cidade. Por compartilharem espaço com as 
pistas de rolamento, as ciclofaixas permitem acesso a mais pontos e requerem menos 
intervenções de infraestrutura. 
Além disso, sua implantação é mais rápida e envolve menos interferências nos 
cruzamentos, conferindo flexibilidade aos acessos (MIRANDA; CITADIN; ALVES, 2009). 
Uma ciclofaixa unidirecional geralmente é cerca de duas vezes mais barata do que uma 
 
 
58 
ciclovia, devido ao aproveitamento do pavimento existente e de outras estruturas, como 
a iluminação pública e a drenagem (MIRANDA, CITADIN, ALVES, 2009). 
Quando analisamos a malha cicloviária brasileira, São Paulo se destaca como a capital 
com a maior extensão de ciclovias e ciclofaixas, totalizando cerca de 681 km. O Plano 
de Metas 2021/2024 da Prefeitura de São Paulo prevê a implantação de mais 300 km 
(SÃO PAULO, 2021). 
Outras capitais com extensas malhas cicloviárias são Brasília e Rio de Janeiro, com 465 
km e 458 km, respectivamente. Por outro lado, capitais como Macapá, São Luís e Porto 
Velho possuem as menores malhas. Em termos proporcionais, Rio Branco se destaca 
com aproximadamente 13,38% de vias destinadas ao uso de bicicletas, seguida por 
Vitória, com 10,27%, e Rio de Janeiro, com 6,59%. Apesar dos avanços, as cidades 
brasileiras ainda estão atrás das cidades europeias em termos de infraestrutura 
cicloviária, evidenciando a necessidade de mais investimentos nessa área para 
promover uma mobilidade urbana eficiente e sustentável. 
Neste capítulo, você pôde explorar os conceitos de mobilidade urbana, a evolução dos 
diferentes modais de transporte ao longo do tempo e sua relação com as condições 
econômicas da população. Além disso, discutimos os fundamentos da gestão da 
mobilidade urbana por meio da Política Nacional de Mobilidade Urbana e dos planos de 
mobilidade urbana. Por fim, destacamos a importância das bicicletas, ciclovias e 
ciclofaixas para promover uma mobilidade mais ágil e sustentável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
59 
11. EVOLUÇÃO URBANA E ENERGIA 
Introdução 
Neste capítulo, exploraremos o desenvolvimento dos principais sistemas de geração de 
energia ao longo da história, desde os tempos antigos até os dias atuais. Analisaremos 
como a sociedade progrediu com o advento do consumo de energia e como isso moldou 
o desenvolvimento da vida urbana. Além disso, examinaremos formas alternativas de 
geração de energia elétrica, o tipo predominante de consumo energético global. Ao final, 
discutiremos como a evolução dos sistemas de geração de energia pode impactar a 
vida humana, tanto nas grandes cidades quanto em outras áreas, nas próximas 
décadas. 
11.1 Tipos de energia e o seu uso ao longo da história 
A história do desenvolvimento energético está intrinsecamente ligada à evolução da 
sociedade humana. Desde os primórdios, o homem buscou formas de otimizar suas 
atividades diárias. No período Paleolítico, quando ainda era nômade, a necessidade de 
energia para aquecer-se, alimentar-se e iluminar os períodos sem luz solar foi atendida 
principalmente através do fogo. 
À medida que o homem evoluiu, especialmente no período Neolítico, surgiram técnicas 
para armazenar a energia excedente. Isso foi essencial para o desenvolvimento da 
agricultura, domesticação de animais e sedentarização da sociedade. As primeiras 
civilizações antigas, por volta de 4000 a.C., começaram a explorar energia proveniente 
da água e do vento, o que impulsionou avanços significativos na agricultura e pecuária. 
Na Idade Média, o desenvolvimento de equipamentos mecânicos permitiu multiplicar a 
força extraída das fontes energéticas. O uso do vento para navegação pelos egípcios e 
a cultura dos moinhos na China e Pérsia marcaram esse período. Os moinhos chegaram 
a Europa no século XIII e foram adaptados para diversas indústrias, impulsionando a 
Revolução Industrial. 
O século XVII viu a invenção da máquina a vapor, revolucionando a indústria e os meios 
de transporte, como locomotivas. Isso tornou a Inglaterrao primeiro país industrializado 
do mundo. O carvão mineral fóssil substituiu a lenha como principal combustível até o 
século XX, quando o petróleo e seus derivados, impulsionados pela indústria 
automotiva, assumiram o protagonismo. 
No entanto, a extração e industrialização do petróleo apresentam desafios ambientais e 
sociais significativos, como contaminação, emissão de gases tóxicos e dependência de 
fontes não renováveis. Diante disso, a busca por formas alternativas e sustentáveis de 
energia se torna imperativa na sociedade contemporânea. 
A eletricidade foi descoberta no século XVI, mas sua utilização para consumo direto, 
como luz elétrica, só foi demonstrada por Thomas Edison em 1882, quando ele 
desenvolveu a geração de corrente contínua para acender uma lâmpada incandescente. 
Esse avanço possibilitou o uso da eletricidade nos centros urbanos, já que a corrente 
elétrica podia ser transmitida por longas distâncias. 
 
 
60 
 Até a década de 1970, devido à abundância de combustíveis fósseis e à 
competitividade das usinas hidrelétricas e termelétricas, poucos investimentos foram 
feitos em pesquisas por fontes de energia renováveis. Embora as usinas hidrelétricas 
sejam uma fonte renovável, sua construção causa significativo impacto ambiental, 
incluindo desmatamento e perturbação da fauna e flora devido à construção de 
represas. 
Por outro lado, as usinas termelétricas geralmente utilizam combustíveis fósseis, como 
carvão ou óleo, o que as torna não renováveis e contribui para a emissão de gases de 
efeito estufa e outros poluentes atmosféricos. Esses fatores ressaltam a importância de 
buscar alternativas mais sustentáveis e renováveis para a geração de energia. 
A energia nuclear, embora seja considerada limpa devido à baixa emissão de CO2 e 
outros gases de efeito estufa, enfrenta grande resistência devido aos impactos 
socioambientais ao longo de sua cadeia produtiva, como destacado por Farias e Sellitto 
(2011). Além disso, os graves desastres ocorridos em usinas nucleares, como os de 
Chernobyl e Fukushima, contribuíram para aumentar a rejeição pública a essa forma de 
energia. 
Atualmente, há um movimento significativo em prol de práticas de obtenção de energia 
renovável que sejam economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis. Por 
exemplo, a energia solar, captada por meio de células fotovoltaicas e armazenada em 
baterias, já é amplamente utilizada nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, a 
abundância de ventos favorece a expansão da energia eólica. Além disso, a biomassa, 
que utiliza fontes orgânicas para produzir combustíveis como biodiesel e etanol, estão 
ganhando espaço. 
No entanto, a transição para essas fontes de energia renovável tem sido lenta, 
especialmente nas cidades, onde a maioria dos meios de transporte ainda depende de 
derivados do petróleo. 
Para uma mudança significativa, seria necessário renovar completamente a frota de 
veículos, como apontam Farias e Sellitto (2011). 
A próxima etapa de estudo abordará a relação entre energia e o desenvolvimento e 
modernização dos centros urbanos. 
11.1.1 Energia e cidade 
A eletricidade desempenha um papel crucial no desenvolvimento das sociedades, 
impulsionando não apenas a industrialização, mas também provocando mudanças 
significativas na estrutura urbana por meio de sistemas de iluminação, transporte, 
eletrodomésticos e muito mais. O uso generalizado de energia elétrica foi fundamental 
para o processo de urbanização, permitindo que as atividades se estendessem para 
além dos limites impostos pelo ciclo natural do dia e da noite, como mencionado por 
Ferreira (2013). 
Vários fatores são essenciais para garantir que a energia gerada chegue aos 
consumidores. Um desses fatores e a infraestrutura de transmissão. Com o advento da 
eletricidade, tornou-se necessário planejar uma rede de linhas de transmissão dentro 
das cidades para fornecer energia a todas as residências e indústrias. Todos estão 
 
 
61 
familiarizados com os fios elétricos, que, para facilitar sua instalação, muitas vezes são 
visíveis ao ar livre, mas também podem ser instalados subterraneamente. Além disso, 
é necessário construir subestações em locais estratégicos da cidade, onde 
transformadores adaptam a voltagem recebida das usinas para níveis adequados ao 
consumo, como destacado por Farias e Sellitto. 
É plausível concluir que o investimento em energia está correlacionado ao 
desenvolvimento de um país, uma vez que o consumo de energia está intrinsecamente 
ligado à evolução da sociedade, incluindo processos como urbanização, transições 
demográficas e sistemas de governo. Como mencionado por Silva Filho (2003), há uma 
clara disparidade entre o consumo de energia dos países mais ricos e dos mais pobres, 
e o nível de consumo energético pode ser usado como uma medida da escala 
econômica de um país. 
O aumento da produção industrial impulsionou a necessidade de melhorias no 
transporte para escoar a produção, levando a construção de infraestruturas como 
estradas, ferrovias, aeroportos e rotas aquáticas, como destacado por Farias e Sellitto 
(2011). Isso contribuiu significativamente para o avanço da mobilidade urbana. 
Além disso, o aumento da produtividade industrial levou à criação de novos setores da 
indústria, não apenas para atender as necessidades básicas, mas também para 
melhorar a qualidade de vida por meio de lazer e entretenimento. Nos países mais 
industrializados, como Europa e Estados Unidos, esses processos ocorreram de 
maneira mais equilibrada, resultando em menos desigualdade social e proporcionando 
uma variedade de opções de moradia, trabalho e lazer para os habitantes das cidades. 
Entretanto, o aumento populacional, principalmente nas áreas urbanas, resultou em 
uma demanda crescente por energia. O uso excessivo de energia, muitas vezes 
proveniente de fontes não renováveis, resultam em desperdício e impactos ambientais 
negativos. Diante desse cenário, é fundamental repensar o consumo energético e 
buscar fontes alternativas e sustentáveis de energia, como sugerido por Roaf, Crichton 
e Nicol. Essa transição é crucial lidar com desafios atuais, como apagões frequentes, 
disputas por recursos energéticos e aumento do custo de vida. 
As fontes renováveis de energia desempenham um papel crucial na transição para um 
sistema energético mais sustentável e ambientalmente amigável. Atualmente, a 
captação e distribuição de energia dependem principalmente de fontes não renováveis, 
como o petróleo e as termelétricas, que têm impactos significativos no meio ambiente. 
As hidrelétricas, embora consideradas fontes limpas de energia, também podem causar 
danos ambientais significativos, como destacado por Farias e Sellitto (2011). Por isso, 
há uma crescente conscientização global sobre a necessidade de reduzir as emissões 
de gases do efeito estufa e promover o uso de fontes de energia renováveis. 
O Brasil, com seu vasto território e condições climáticas favoráveis, possui um grande 
potencial para a geração de energia eólica e solar. A energia eólica aproveita a energia 
cinética dos ventos para gerar eletricidade, e o país já começou a investir nessa fonte 
de energia, embora ainda esteja atrás de países desenvolvidos nessa área. 
As placas solares, compostas por células fotovoltaicas, convertem a luz solar em 
eletricidade e são outra fonte importante de energia renovável. Apesar dos custos 
 
 
62 
iniciais ainda serem elevados no Brasil, o país possui grande capacidade para a 
captação de energia solar e tem potencial para expandir significativamente seu uso, 
seguindo o exemplo de países como a Alemanha, que investiu em programas de 
incentivo para a produção de energia renovável. 
Em resumo, as fontes renováveis de energia, como a eólica e solar, desempenham um 
papel fundamental na redução da dependência de combustíveis fósseis e na mitigação 
dos impactos ambientais associados à geraçãode energia. Investir nessas fontes de 
energia é essencial para garantir um futuro sustentável e mais resiliente às mudanças 
climáticas. A adaptação e integração das tecnologias de energia renovável nas rotinas 
urbanas representam um desafio crucial para garantir um futuro sustentável. 
Atualmente, há uma busca global por conciliar os interesses comerciais da produção de 
energia com a preservação do meio ambiente, visando não prejudicar o consumo 
energético da população. Isso implica na substituição dos sistemas de captação 
tradicionais, não renováveis, por alternativas mais sustentáveis. 
No Brasil, o país possui um enorme potencial para energia renovável devido ao seu 
clima tropical e abundância de recursos naturais, como rios, ventos e luz solar. Embora 
mais de 90% da energia produzida no país provenha de fontes renováveis, a 
predominância ainda é das usinas hidrelétricas, representando quase 65% da produção 
total. Outras fontes, como energia eólica, biomassa, energia solar e nuclear, ainda têm 
participação limitada, mas estão em crescimento. 
Alguns estados brasileiros se destacam na produção de energia renovável, como Minas 
Gerais, Ceará e Rio Grande do Sul. Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, e um 
exemplo de cidade sustentável, com diversos programas de redução de emissões 
poluentes e investimentos em energia solar. O estádio Mineirão, por exemplo, possui 
uma usina de energia solar em sua cobertura, fornecendo toda a energia elétrica 
consumida no estádio e ainda gerando excedente para alimentar residências da região. 
Apesar do progresso, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para maximizar 
seu potencial de energia renovável. No entanto, o incentivo para produção está 
aumentando, tanto por parte dos órgãos públicos quanto da população consciente da 
importância da preservação ambiental. Com exemplos inspiradores de países 
desenvolvidos e um compromisso crescente com a sustentabilidade, o Brasil está no 
caminho certo para expandir significativamente o uso de energia limpa e renovável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63 
12. AS TEORIAS POPULACIONAIS MARXISTA E REFORMISTA 
Introdução 
Neste capítulo, exploraremos as teorias populacionais marxista e reformista, que 
emergiram no século XIX e tiveram impacto significativo nas discussões sobre a pobreza 
e o crescimento demográfico. A teoria marxista, desenvolvida por Karl Marx e Friedrich 
Engels, ofereceu uma análise profunda do sistema capitalista e suas implicações nas 
relações sociais. Por outro lado, a perspectiva reformista, que surgiu na primeira metade 
do século XX, propôs reformas socioeconômicas como solução para lidar com o 
crescimento populacional acelerado e melhorar a qualidade de vida. 
Para compreendermos essas teorias, e essencial contextualizá-las dentro do cenário 
social e histórico em que foram formuladas. Vamos explorar como essas abordagens 
surgiram em resposta às condições da época e como influenciaram o pensamento sobre 
a pobreza e a dinâmica populacional. Ao longo deste capítulo, examinaremos as 
contribuições de Marx, Engels e outros pensadores para o entendimento das questões 
demográficas sob a ótica marxista e reformista. 
12.1 Contexto histórico das teorias sobre população 
Assim como outros pensadores da época, Karl Marx também desenvolveu suas ideias 
teóricas em um momento de grandes mudanças nas relações econômicas, de produção 
e de trabalho na Inglaterra. Esse período foi caracterizado pela Revolução Industrial, 
que teve início no século XVIII e continuou ao longo dos séculos seguintes. 
 Durante a Revolução Industrial, houve uma transformação significativa na forma como 
a produção era organizada, com a introdução de novas tecnologias e o surgimento das 
fábricas. 
Isso resultou em mudanças profundas na sociedade, incluindo a migração em massa 
da população rural para as áreas urbanas em busca de emprego nas indústrias. 
Essas mudanças não acontecem repentinamente, mas sim ao longo de um processo 
gradual que teve início nos séculos XVI e XVII. A industrialização da Inglaterra e o 
crescimento do capitalismo como sistema econômico dominante foram 
desenvolvimentos complexos que moldaram o contexto no qual as teorias populacionais 
foram formuladas. 
 Durante esse período, uma série de eventos contribuiu para que a Inglaterra se 
tornasse líder no processo de industrialização na Europa. Primeiramente, a relação 
colonial estabelecida pela Inglaterra em vários territórios nos continentes americano, 
africano e asiático fortaleceu seu império ao longo de aproximadamente quatro séculos. 
Outro fator crucial foi a ascensão da classe burguesa, que impõe seus interesses 
políticos e econômicos, moldando uma nova estrutura socioeconômica e produtiva no 
país. Além disso, a expropriação das terras dos camponeses para criar pastagens para 
ovelhas, visando a produção de lá para a indústria têxtil, foi um marco desse período, 
exemplificando o que Marx chamou de acumulação originária, precursora do 
capitalismo. Como resultado, muitos camponeses migraram para as cidades em busca 
de trabalho, aumentando a população urbana. 
 
 
64 
Durante o século XVIII, a exploração de matérias-primas como carvão e ferro foi crucial 
para fortalecer a matriz energética e impulsionar o desenvolvimento de maquinário. Isso 
levou a uma transição do trabalho manufaturado para o industrial no final do século XVIII 
e início do século XIX. Esse processo resultou na substituição de trabalhadores por 
máquinas, no uso generalizado de mão-de-obra infantil e feminina devido aos baixos 
custos, e na precarização das condições de trabalho. 
 Essas mudanças na dinâmica socioeconômica e produtiva da Inglaterra tiveram um 
grande impacto na demografia do país. O crescimento populacional significativo nas 
cidades, junto com o aumento da pobreza e da precarização das condições de vida dos 
trabalhadores industriais, gerou questionamentos por parte de diversos intelectuais, 
incluindo Thomas Malthus, William Godwin, Adam Smith e Karl Marx. 
 Marx, em particular, discordava da teoria malthusiana, argumentando que o 
crescimento populacional durante a Revolução Industrial não era apenas resultado do 
aumento da oferta de alimentos. Ele enfatizava o papel do ser humano como um ser 
social que molda sua história e seu ambiente. Para Marx, todo sistema econômico e 
social possui uma lei geral de população, que incorpora tanto aspectos da natureza 
humana quanto fatores sociais e históricos específicos de cada período. 
 Além disso, Marx também abordou o tema da pobreza de maneira distinta de Malthus. 
Na perspectiva marxista, o pobre não é apenas alguém privado dos meios de 
subsistência, mas aquele que não consegue obtê-los através do trabalho. Em outras 
palavras, a condição de necessidade do trabalhador decorre da dependência do 
trabalho para o capitalismo. 
No contexto analisado por Marx, a população excedente não era vista apenas em 
termos absolutos, mas em sua relação com o capital e o sistema de produção industrial 
do século XIX. 
A superpopulação não era simplesmente um processo de crescimento natural da 
população, mas sim entendida em relação funcional com o sistema produtivo capitalista, 
como uma reserva de mão-de-obra disponível para atender às necessidades do capital. 
 Para compreender melhor essa relação, é importante entender que a população 
também constitui a força de trabalho. No capitalismo, o objetivo da produção e acumular 
capital, o que é alcançado através do lucro. Para aumentar o lucro, é necessário reduzir 
os custos de produção e torná-la mais eficiente. Isso implica que, para se desenvolver, 
a produção industrial não pode absorver toda a população como força de trabalho 
assalariada. A produção industrial cada vez mais requer outros fatores de produção, 
como máquinas e tecnologias, para expandir a produção existente e inovar suas formas 
produtivas. 
 Assim, ocorrea substituição crescente de trabalhadores por máquinas, resultando na 
constituição de uma população desempregada, ou, como Marx denominou, um exército 
industrial de reserva. Na visão marxista, esse contingente populacional desempregado 
desempenha um papel importante na reprodução do capitalismo industrial, 
beneficiando-se do excesso de pessoas desempregadas para justificar salários 
reduzidos e longas horas de trabalho entre os trabalhadores empregados. Portanto, 
Marx fala de uma superpopulação relativa, que é simultaneamente resultado e condição 
para a acumulação capitalista. 
 
 
65 
 A maquinaria, como já foi mencionado, substitui o trabalhador adulto em certas etapas 
produtivas pelo trabalho feminino ou infantil, segundo Marx. Isso acarreta um rápido 
ingresso das gerações trabalhadoras no mercado, com casamentos precoces, por 
exemplo. Esse trabalhador adulto, diante da competição, seria compelido a aceitar 
formas de exploração de seu trabalho ainda mais prejudicial, com jornadas extensas ou 
intensas. Quanto mais longa a jornada de trabalho de um indivíduo, menos 
trabalhadores novos seriam empregados, o que encurtaria sua própria vida devido ao 
desgaste acelerado. 
Retomando as ideias de Marx sobre a superpopulação, o excedente populacional não 
seria resultado de uma força endógena absoluta, mas sim determinado pelo 
funcionamento do modo de produção capitalista. Marx defendia que em uma sociedade 
mais igualitária, como a socialista proposta por ele, onde não houvesse separação entre 
os trabalhadores e os meios de produção, e os recursos produzidos pela população 
fossem distribuídos de maneira justa relação entre o crescimento populacional e a 
produção de recursos seria mais equilibrada. Isso contrasta com a teoria malthusiana, 
que considera a miséria como um fenômeno natural e principal reguladora dessa relação 
entre população e meios de subsistência. 
 É interessante observar como a perspectiva marxista influenciou o desenvolvimento de 
novas teorias e estudos contemporâneos, incluindo os estudos populacionais. Em um 
contexto mais recente, na segunda metade do século XX, observamos um alto 
crescimento populacional, especialmente em países subdesenvolvidos. Esse aumento 
populacional e atribuído principalmente aos avanços da biomedicina, que reduziram a 
mortalidade, bem como ao processo de industrialização nas áreas urbanas e rurais. 
Esse processo resultou no êxodo rural, com pessoas migrando do campo para a cidade 
em busca de emprego e melhor qualidade de vida, embora nem sempre alcançado. 
Nesse cenário, surge a teoria reformista para abordar a dinâmica populacional. 
inspiradas pelas ideias marxistas, essa perspectiva sugere que reformas 
socioeconômicas são necessárias para estabilizar o crescimento populacional. Essas 
reformas, como acesso à educação e saúde de qualidade, bem como distribuição de 
renda, não só ajudariam a reduzir as taxas de fecundidade, natalidade e mortalidade, 
mas também contribuíram para o desenvolvimento econômico e social de países em 
desenvolvimento na América Latina, África e Ásia. 
12.1.1 A Contribuição do Pensamento Marxista à Geografia Populacional 
As reflexões teóricas de Marx durante o século XIX buscavam compreender as 
dinâmicas sociais e políticas moldadas pelo surgimento do modo de produção 
capitalista. Ele desenvolveu uma abordagem metodológica conhecida posteriormente 
como materialismo histórico, que considerava o contexto histórico e as relações 
materiais na sociedade para compreender a realidade social. 
 Essa abordagem teve um impacto significativo em diversas áreas do conhecimento, 
incluindo a Geografia. A perspectiva marxista na geografia, representada por teóricos 
como David Harvey, Henri Lefebvre, Milton Santos e Pierre George, emergiu na segunda 
metade do século XX com o intuito de investigar a natureza social do espaço. Esses 
estudiosos argumentam que as relações sociais, econômicas e produtivas 
 
 
66 
influenciavam profundamente o espaço geográfico, moldando a produção, circulação de 
mercadorias e reprodução das desigualdades socioeconômicas e espaciais. 
 Embora muitos estudos marxistas em geografia tenham priorizado a compreensão da 
produção e reprodução do capital sobre o espaço geográfico, temas demográficos foram 
relativamente negligenciados. No entanto, Pierre George destacou-se ao abordar o 
crescimento populacional e a superpopulação como aspectos cruciais para entender os 
processos contraditórios de desenvolvimento econômico e social. 
George e reconhecido como um dos pioneiros nos estudos populacionais em geografia 
com uma abordagem crítica. Em sua obra “Geografia da População”, ele descreveu não 
apenas a distribuição da população global, mas também as desigualdades 
socioeconômicas em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, bem como seu 
envolvimento na produção e consumo, considerando sua diferenciação 
socioeconômica. 
 Inspirado pelo conceito de superpopulação relativa de Marx, George criticou a ideia de 
“ótimo populacional” desenvolvida na Europa durante a primeira metade do século XX. 
Essa teoria buscava estabelecer um equilíbrio teórico entre a quantidade de habitantes 
e os recursos disponíveis para garantir a qualidade de vida de cada indivíduo. No 
entanto, George argumentou que a capacidade de consumo das pessoas variava de 
acordo com suas condições socioeconômicas, tornando impossível definir um padrão 
homogêneo para o grau de satisfação das necessidades das pessoas. 
Nesse contexto, George argumenta que uma definição prévia do padrão de vida da 
população e de um ótimo público, arbitrário e subjetivo. Ele sugere que a percepção de 
uma superpopulação surge durante crises do sistema econômico capitalista, onde o 
desemprego não é uma consequência direta da superpopulação, mas sim do próprio 
funcionamento do sistema econômico, que pode mobilizar a população para a 
acumulação de capital, ajustando a oferta e demanda de mão-de-obra. 
Segundo George, nos países subdesenvolvidos, a superpopulação está ligada ao 
desenvolvimento socioeconômico lento, onde a oferta de trabalho, bens e serviços é 
insuficiente para absorver toda a população economicamente ativa. No entanto, 
Damiani (1998) argumenta que comparações diretas entre padrões de desenvolvimento 
entre países ricos e pobres devem ser matizadas, especialmente ao determinar o ritmo 
e a forma de desenvolvimento, assim como os níveis de satisfação das necessidades e 
padrões de consumo. 
O capitalismo, de acordo com Damiani, gera necessidades que variam de acordo com 
o status e a condição socioeconômica das pessoas, desde a limitação das necessidades 
básicas até a manipulação das necessidades. Portanto, é essencial considerar as 
especificidades de cada país, especialmente aqueles com um grande exército de 
reserva, ao abordar questões demográficas. 
George enfatiza, em sua obra “Sociologia e Geografia”, a importância de integrar 
questões sociais e demográficas para uma compreensão crítica das dinâmicas 
populacionais. Assim, os estudos populacionais em geografia evoluíram para uma 
abordagem mais analítica e crítica, incorporando contribuições teóricas e metodológicas 
de áreas como sociologia, demografia e economia. Esse desenvolvimento permitiu uma 
análise mais aprofundada dos fenômenos sociais relacionados à população. 
 
 
67 
Entendemos que a teoria reformista, que se inspirou no marxismo do século XIX, busca 
compreender a relação entre população e pobreza. Marx atribuiu ao próprio sistema 
capitalista a responsabilidade pela precariedade vivida pelos trabalhadores. Para ele, a 
separação dos trabalhadores dos meios de produção foi uma das causas das 
desigualdades sociais, tornando-os dependentes da venda de sua força de trabalho 
para sobreviver, ficando subordinados às necessidades de mão-de-obra dos 
empregadores e a expansão do capital. 
Segundo a teoria marxista, a propriedade privadados meios de produção, aliada à 
exploração do capital, das matérias-primas e da força de trabalho humana, leva à 
acumulação de capital. 
Esse lucro, no entanto, não é distribuído igualmente entre os trabalhadores: estes 
recebem salários baixos, enquanto os capitalistas retêm os lucros. Isso resulta na 
concentração de renda entre os detentores dos meios de produção e na ampliação das 
desigualdades socioeconômicas entre burguesia e proletariado. Marx argumentava que 
eram necessárias mudanças estruturais no sistema social, econômico e produtivo para 
eliminar essas desigualdades sociais e de renda. 
Analisando essa reflexão à luz da contemporaneidade, observamos que o sistema 
capitalista passou por adaptações ao longo do tempo, ajustando-se ao contexto atual e 
desenvolvendo estratégias para sua perpetuação na sociedade. Algumas 
características fundamentais da sua lógica produtiva permanecem, como a propriedade 
privada dos meios de produção, o trabalho assalariado e a busca pela acumulação de 
capital como objetivo central. Essa lógica social e produtiva continua gerando efeitos na 
sociedade, como a concentração de renda em certos grupos em detrimento de outros. 
 Essa concentração de renda, segundo a teoria marxista, contribui para a precarização 
da vida dos trabalhadores, aumentando a desigualdade social e a pobreza. No 
entendimento de Marx no século XIX, essa dinâmica socioeconômica era responsável 
pela superpopulação relativa, como discutido anteriormente. Para a teoria reformista 
formulada na segunda metade do século XX, a pobreza, que busca ser eliminada por 
meio de reformas sociais e econômicas, também é responsável pelo crescimento 
populacional acelerado, especialmente nos países subdesenvolvidos. 
Portanto, para conter o crescimento populacional, são necessárias reformas que visem 
melhorar a qualidade de vida da população, como investimentos em educação, saúde, 
distribuição de renda e acesso igualitário a bens e serviços. Com melhores condições 
de vida e educação, as pessoas estarão mais propensas a tomar decisões conscientes 
em relação ao planejamento familiar. No entanto, surge a questão de até que ponto essa 
abordagem reformista é viável no contexto atual, uma vez que a manutenção de uma 
parcela significativa da população em situação de precariedade e com baixos salários é 
necessária para a reprodução do sistema capitalista. 
As análises demográficas realizadas por instituições como o Programa das Nações 
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) levam em consideração indicadores como 
renda, saúde e educação para avaliar a dinâmica populacional em diferentes países, 
utilizando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O índice de Gini é comumente 
utilizado para examinar a desigualdade de renda entre a população. No Brasil, por 
exemplo, entre 2016 e 2018, o índice de Gini variou de 0,537 a 0,545, indicando um 
 
 
68 
aumento na concentração de renda e, consequentemente, um aumento na 
desigualdade socioeconômica, prejudicando a qualidade de vida da maioria da 
população. 
Se analisarmos esse cenário sob a perspectiva da teoria populacional reformista, 
podemos antever o impacto dessa realidade socioeconômica no crescimento 
populacional do Brasil. Essa situação não passa despercebida por organizações 
multilaterais, como a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e 
o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que buscam desenvolver políticas 
de promoção do desenvolvimento econômico, social, humano e sustentável para os 
países em desenvolvimento, levando em consideração o efeito dessas políticas na 
dinâmica demográfica e no crescimento populacional. 
Essas entidades multilaterais, em colaboração com os governos nacionais, reconhecem 
que as questões populacionais são influenciadas por uma série de fatores sociais (como 
educação, saúde e violência), econômicos (renda, distribuição de renda, emprego, 
crescimento econômico) e políticos (incluindo programas sociais e de desenvolvimento). 
Isso significa que o tema não pode ser abordado isoladamente, restrito apenas à 
população em si. Por essa razão, sua compreensão não pode ser alcançada por meio 
de uma única disciplina, seja geografia, sociologia ou estatística. É necessário abordá-
lo por meio de políticas de desenvolvimento que considerem sua multidimensionalidade, 
como programas de educação acessível, políticas habitacionais, programas de 
transferência de renda, políticas de igualdade de gênero, acesso a informações sobre 
métodos contraceptivos e programas de saúde reprodutiva. 
Nesse contexto, ao considerarmos as teorias reformistas, entendemos que, embora a 
viabilidade de mudanças estruturais seja desafiadora no momento atual e que essa 
teoria possa não se materializar na dinâmica social de acordo com os preceitos 
marxistas, algumas de suas influências são observadas em políticas de 
desenvolvimento em nível nacional. 
Concluímos, portanto, que a teoria marxista desempenhou um papel crucial nos estudos 
populacionais, ao buscar entender a relação entre população e pobreza no século XIX, 
influenciando a teoria reformista que surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Um 
aspecto- chave dessa teoria é que a concentração de renda, a pobreza e a desigualdade 
socioeconômica são responsáveis pelo rápido crescimento populacional, em oposição 
ao que afirmava a teoria malthusiana. 
Embora a geografia da população não seja prioritária na corrente crítica da geografia, 
ela começou a questionar, a partir dos estudos do geógrafo francês Pierre George, o 
impacto do desenvolvimento econômico e social no crescimento populacional em países 
considerados subdesenvolvidos. No contexto atual, as teorias marxistas e reformistas 
demonstram certa influência nas políticas de desenvolvimento socioeconômico, 
especialmente nos países em desenvolvimento. 
 
 
 
69vida das gerações futuras. A ideia de sustentabilidade 
urbana pode ser entendida como um estado desejável das condições urbanas que se 
mantêm ao longo do tempo, caracterizado pela equidade, preservação do ambiente 
natural, uso racional de recursos não renováveis, diversidade econômica, participação 
ativa das comunidades, bem-estar individual e satisfação das necessidades humanas 
básicas. 
Além disso, a sustentabilidade urbana pode ser vista como a habilidade dinâmica de 
uma área urbana em atender adequadamente às necessidades presentes e futuras da 
população por meio de práticas de planejamento, desenvolvimento e gestão ambiental, 
econômica e social. 
Dentro desse contexto, a dimensão econômica busca otimizar o uso dos recursos 
humanos, energéticos e materiais, promovendo o desenvolvimento econômico de 
maneira social e ambientalmente responsável. 
Em uma abordagem de sustentabilidade urbana, é necessário ir além da simples 
mitigação de impactos ambientais; é crucial eliminar esses impactos negativos e reverter 
situações de insustentabilidade. Isso implica reconhecer limites, tanto sociais quanto 
naturais, e motivar a dimensão econômica a encontrar soluções inovadoras. 
A dimensão ambiental em uma área urbana visa preservar a funcionalidade dos 
sistemas naturais, controlar e minimizar os impactos sobre o meio ambiente e garantir 
a restauração e manutenção dos ciclos naturais. 
Tanto a sociedade quanto o meio ambiente estão em constante mudança, e essas 
mudanças frequentemente afetam profundamente a vida na Terra. Compreender a 
capacidade de adaptação do ambiente natural e adotar medidas de preservação são 
essenciais para desenvolver sistemas urbanos sustentáveis. 
Para que o meio ambiente possa coexistir harmoniosamente com as cidades, é 
necessário implementar diversas medidas relacionadas ao uso e à conservação dos 
recursos, garantindo sua disponibilidade equitativa para as gerações presentes e 
futuras. Isso inclui cuidados na seleção de matérias-primas, preservação da 
biodiversidade, adoção de energias renováveis, incentivo à reutilização e reciclagem, 
entre outras práticas. 
A dimensão social em uma área urbana busca melhorar e manter a qualidade de vida 
da população, garantindo que os avanços econômicos proporcionados pelo uso dos 
recursos naturais sejam equilibrados com as necessidades sociais. 
A sociedade é composta por seres humanos que valorizam não apenas seu próprio 
bem-estar, mas também o bem-estar coletivo. A sustentabilidade urbana, quando 
considera a dimensão social, reconhece a interdependência entre a sociedade e o meio 
 
 
10 
ambiente e busca garantir condições que promovam a prosperidade, saúde, segurança 
e igualdade para todos. 
Para alcançar a sustentabilidade urbana, é fundamental adotar uma abordagem 
integrada que considere as dimensões econômica, social e ambiental, juntamente com 
seus diversos aspectos. Isso requer uma compreensão profunda do sistema urbano 
como um todo, identificando oportunidades e ameaças para o desenvolvimento futuro 
das cidades e integrando essas questões nas políticas e práticas de gestão urbana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
2. A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA 
Introdução 
Desde os primeiros tempos da colonização do Brasil, uma série de eventos contribuiu 
para o surgimento das primeiras vilas e cidades, especialmente relacionados aos fluxos 
econômicos, que tiveram um papel significativo na dinâmica da urbanização. Ao longo 
da história do país, o crescimento e a diversificação da economia levaram a movimentos 
populacionais das áreas rurais para as urbanas, resultando em um aumento na 
concentração demográfica das cidades, eventualmente ultrapassando a população das 
áreas rurais. Este capítulo analisa o processo de urbanização no Brasil e toda a 
dinâmica envolvida na formação das configurações urbanas atuais. 
2.1 Evolução da População Urbana Brasileira 
Durante vários séculos, a maioria da população brasileira residia em áreas rurais, devido 
à dinâmica colonial e as capitanias hereditárias. As primeiras vilas formaram-se com o 
propósito de concentrar e enviar produtos agrícolas e minerais para as metrópoles. 
A partir do século XVII, com o aumento das relações comerciais, algumas vilas 
evoluíram para cidades e começaram a exercer influência regional, tornando-se pólos 
de atração populacional. A população urbana distribuía-se principalmente em 
aglomerados urbanos, especialmente nas cidades litorâneas e, predominantemente, na 
região Sudeste. 
Foi apenas durante a República Velha, entre o final do século XVIII e o início do século 
XIX, que esses sistemas regionais de cidades começaram a se integrar nacionalmente, 
dentro de um processo de integração comercial. 
Em 1920, o Brasil tinha uma população de cerca de 27 milhões, com 74 cidades 
maiores, com mais de 20 mil habitantes, totalizando 4.552.069 residentes, ou seja, 17% 
da população total. A partir dos anos 1930 e 1940, o processo de urbanização se 
intensificou, resultando em grandes transformações na sociedade e na economia do 
país. Não apenas o território foi modificado, mas também a sociedade brasileira, que se 
tornou cada vez mais urbana. 
O interior do país foi urbanizado rapidamente, impulsionado pelos investimentos de 
empresas locais em serviços como energia, telecomunicações e transporte, entre 
outros. Esses investimentos promoveram o surgimento de serviços e comércio, 
fortalecendo a urbanização e o setor terciário. 
A migração interna também aumentou significativamente devido à crise internacional, 
que afetou o comércio agrícola, forçando muitos habitantes rurais a se mudarem para 
áreas urbanas. Além disso, o processo de industrialização atraiu mais pessoas para as 
cidades. 
No entanto, até o final da Segunda Guerra Mundial, a economia da maioria das cidades 
e capitais brasileiras ainda dependia fortemente da agricultura. Essas cidades exerciam 
influência sobre as áreas circundantes e concentravam funções administrativas. 
À medida que as cidades se tornaram mais urbanizadas, melhorias nas condições de 
vida, aliadas a iniciativas de saneamento e saúde pública, reduziram as taxas de 
 
 
12 
mortalidade e aumentaram as taxas de crescimento populacional. A presença de 
trabalhadores assalariados nas fazendas de café também atraiu migrantes, nacionais e 
estrangeiros, e fortaleceu o mercado interno. 
No entanto, a crise de 1929 interrompeu esse período de crescimento econômico e 
urbano associado à produção de café. A queda nos preços dos produtos agrícolas 
brasileiros, juntamente com a dívida externa resultante, obrigou o país a focar no 
mercado interno e a buscar uma nova organização econômica, baseada na 
industrialização e substituição de importações. 
Essas mudanças resultaram em dois tipos de migração que coexistiram durante meio 
século a partir de 1930: a ocupação das fronteiras agrícolas (Paraná, Centro-Oeste e 
Amazônia) e a migração das áreas rurais para as áreas urbanas. A diminuição contínua 
da taxa de mortalidade e o aumento do crescimento populacional contribuíram 
significativamente para alimentar esses dois fluxos migratórios ao longo de várias 
décadas. 
O ápice do crescimento da população urbana ocorreu entre 1950 e 1980, especialmente 
entre 1950 e 1960. A partir de 1970, o crescimento populacional urbano ainda era 
considerável, embora não tão acelerado quanto nas décadas anteriores. Esse 
crescimento demográfico foi impulsionado pelo intenso fluxo migratório das áreas rurais 
para as áreas urbanas, juntamente com altas taxas de natalidade e baixas taxas de 
mortalidade. 
É relevante notar que o crescimento da população urbana a partir da década de 1950 
foi concentrado em áreas específicas do Brasil, enquanto nas demais regiões do país a 
população rural continuava crescendo. Entre 1960 e 1980, período de pico das 
migrações, estima-se que essasmigrações foram responsáveis por 53% do aumento 
da população urbana. Considerando o efeito indireto da migração, através da taxa de 
fecundidade dos migrantes rurais nas cidades, sua contribuição total para o crescimento 
populacional urbano chegou a 65%. 
Quando analisado do ponto de vista espacial e social, o crescimento da economia 
urbano-industrial até o final da década de 1970 foi marcado por intensidade e 
desequilíbrio. O desenvolvimento e urbanização estavam altamente concentrados no 
Rio de Janeiro e em São Paulo, o que resultou em desequilíbrios regionais significativos, 
inclusive entre áreas urbanas e rurais, devido à incapacidade de criar empregos em 
quantidade suficiente para atender à crescente demanda por trabalho nas cidades. 
Entre 1970 e 1980, houve um aumento significativo da população urbana em 
comparação com a década anterior. Nas décadas de 1980 e 1990, enquanto a 
população total cresceu 26%, a população urbana aumentou em cerca de 40%, 
indicando que o movimento populacional foi responsável pelo crescimento dos centros 
urbanos. 
No entanto, a partir da década de 1990, ocorreu uma interrupção no crescimento 
populacional e na sua concentração nos grandes centros urbanos. A taxa de 
crescimento urbano diminuiu de 4,2% ao ano na década de 1970 para 2,6% na década 
de 1980, especialmente nas regiões metropolitanas. Durante a década de 1970, as 
metrópoles contribuíram com 41% de todo o crescimento urbano nacional, mas na 
década de 1980 essa proporção caiu para 30%. O ciclo de rápida urbanização que durou 
 
 
13 
meio século estava sendo interrompido, e a redução do crescimento e da concentração 
populacional nas grandes cidades continuou na década de 1990. 
Vários fatores contribuíram para essa mudança no padrão de urbanização brasileiro, 
sendo os três principais: a diminuição da taxa de fecundidade, a crise econômica que 
afetou o país entre as décadas de 1980 e 1990, e a descentralização da atividade 
produtiva dos grandes centros urbanos. Esses fatores, juntamente com outros 
fenômenos, possibilitaram a reorganização da hierarquia urbana e a mudança nos 
centros de influência urbana. 
2.1.1 Urbanização e estruturação da rede urbana brasileira 
No início da colonização do território brasileiro, os colonizadores portugueses não 
tinham o objetivo de estabelecer uma sociedade urbana. Em vez disso, eles criaram 
alguns poucos núcleos urbanos no litoral brasileiro para fins defensivos e como pontos 
de partida para explorar o interior durante os diferentes ciclos extrativos e agrícolas que 
ocorreram ao longo dos séculos seguintes. Além disso, as classes sociais dominantes 
estavam ligadas a economia rural e não tinham afinidade com a vida urbana. Assim, 
durante o período colonial e a maior parte do período imperial, as cidades estabelecidas 
para fins defensivos e de entreposto não formavam uma rede urbana propriamente dita, 
tendo uma relação mais forte com a metrópole no exterior do que entre si, configurando 
pontos isolados no território. 
No entanto, os núcleos urbanos mantinham alguma forma de comunicação entre si, e 
uma incipiente rede urbana começou a se desenvolver no Brasil a partir do século XII. 
Até o final de 1720, o Brasil já tinha sessenta e três vilas e oito cidades, marcando o 
surgimento da primeira rede urbana no país. Isso fazia com que o país fosse comparado 
a um grande arquipélago durante muitos séculos. O território era composto por espaços 
que estabeleciam suas próprias relações, ditadas por suas conexões externas com 
outros subespaços. Cada um desses espaços tinha centros dinâmicos internos, mas 
suas relações entre si eram limitadas e não interdependentes. 
A formação da rede urbana a partir de 1720 e o processo de urbanização foram 
impulsionados pelo sistema social das colônias, que incluía: 
• Organização política-administrativa, envolvendo as capitanias hereditárias, o 
governo geral e a estrutura municipal. 
• Atividades econômicas, especialmente a agricultura de exportação e de 
subsistência. 
• Estrutura social, com suas diferentes classes sociais. 
• Atividades urbanas e os diversos indivíduos nelas envolvidos, como o comércio, 
os serviços, o funcionalismo público, a mineração, entre outros. 
Dessa forma, a urbanização ganhou impulso a partir do século XVIII, e as vilas e cidades 
assumiram maior importância quando as elites agrárias passaram a elegê-las como 
seus principais locais de residência. As classes agrárias só retornavam às fazendas 
para supervisionar a produção e resolver questões relacionadas à atividade agrícola. 
A urbanização brasileira atingiu seu estágio maduro durante o século XIX, à medida que 
as interações entre as cidades se ampliaram. Durante o período da República Velha 
 
 
14 
(1889-1930), com a expansão significativa da economia cafeeira e o surgimento do 
primeiro surto expressivo de industrialização, as relações comerciais entre as diferentes 
regiões do Brasil, anteriormente vistas como “arquipélagos regionais”, se intensificaram. 
Esses arquipélagos regionais estavam organizados em torno das atividades agrícolas e 
sustentam um sistema de cidades polarizadas, geralmente pelas capitais das 
Províncias, que mais tarde se tornaram Estados na era republicana. As capitais 
desempenhavam um papel central na prestação de serviços públicos, na mediação 
comercial e financeira das principais atividades econômicas regionais, bem como nos 
serviços relacionados à importação e exportação. 
Somente após a Segunda Guerra Mundial e que a integração do território brasileiro se 
tornou viável. Nesse momento, houve a interligação das ferrovias e a construção de 
rodovias, permitindo a conexão entre as diversas regiões do país e, especialmente, 
dessas regiões com o principal centro urbano, São Paulo. 
Essa infraestrutura foi construída com o objetivo de impulsionar os programas de 
substituição de importações e, consequentemente, promover o crescimento da 
urbanização através da ampliação das comunicações entre as redes urbanas. Assim, a 
implementação da malha ferroviária e viária contribuiu para a conexão de cidades e 
redes urbanas anteriormente isoladas, impulsionando o dinamismo e a expansão da 
urbanização. 
Na segunda metade do século XIX, São Paulo se tornou o polo dinâmico de uma grande 
parte do território nacional, que incluía o Rio de Janeiro e Minas Gerais, devido à 
produção de café. 
O desenvolvimento da infraestrutura, como melhorias nos meios de transporte e 
comunicação, incluindo ferrovias e portos, trouxe um impulso significativo para essa 
região do Brasil. 
A dinâmica proporcionada pela produção e comercialização do café e pela divisão do 
trabalho foi essencial para o desenvolvimento do processo de industrialização nessa 
região, conferindo uma vantagem considerável ao polo central, São Paulo. 
Em decorrência da cafeicultura e do processo de industrialização, os movimentos 
migratórios internos e internacionais aumentaram. Os imigrantes, especialmente os 
italianos, desempenharam um papel importante como mão-de-obra nas fazendas de 
café e contribuíram para o crescimento populacional das áreas urbanas durante o 
período da industrialização. 
Entre as décadas de 1970 e 1980, que representaram o auge do processo de 
concentração urbana, cerca da metade da população urbana já residia em 
aglomerações metropolitanas e em seus centros. No entanto, cidades com menos de 
20 mil habitantes ainda mantinham alguma relevância, concentrando cerca de um quarto 
da população urbana do país na década de 1970 e um quinto na década de 1980. 
Ao longo do tempo, no entanto, a participação relativa dessas cidades menores 
começou a diminuir em favor das cidades maiores. Por outro lado, a maioria da 
população nos aglomerados metropolitanos residia em cidades com mais de 100 mil 
habitantes. Em 2000, por exemplo, essas cidades concentram cerca de 92% da 
população total dos aglomerados metropolitanos.15 
Nesse contexto, podemos observar que o período entre os anos de 1930 e 1980 foi 
marcado por um crescimento urbano constante e pela concentração da população em 
cidades cada vez maiores. No entanto, após 1980, houve uma mudança nesse padrão, 
com uma diminuição mais significativa das taxas de crescimento da população urbana 
e uma maior participação das cidades com população entre 100 e 500 mil habitantes, 
que continuaram a crescer mais rapidamente do que as cidades com mais de 500 mil 
habitantes. 
A partir do final da década de 1980 e início da década de 1990, novos fenômenos 
começaram a ser observados nas cidades, como a aglomeração urbana e a formação 
de grandes metrópoles, bem como a descentralização da população em relação às 
grandes cidades e a busca por cidades menores. 
2.1.2 Urbanização contemporânea brasileira 
A urbanização contemporânea brasileira testemunhou uma transformação significativa 
à medida que a indústria perdia sua predominância na economia, dando lugar a um 
crescimento notável do setor de serviços. Enquanto a indústria ditava o ritmo, as 
aglomerações urbanas se desenvolviam em torno dos complexos industriais, resultando 
em cidades de grande porte que ocupavam posições proeminentes na hierarquia 
urbana. Essas cidades, conhecidas como cidade-polo, exerciam uma influência crucial 
sobre os núcleos urbanos vizinhos, tornando-os dependentes de suas decisões. 
Durante as décadas de 1980 e 1990, a indústria perdeu gradualmente sua força e 
influência na economia brasileira, enquanto o setor de serviços experimentava um 
crescimento significativo. 
A globalização também trouxe mudanças no perfil industrial, com a substituição das 
grandes fábricas por unidades de alta tecnologia. Esse novo cenário industrial 
demandava um espaço urbano diferente, tornando as grandes cidades menos atrativas 
devido aos altos custos operacionais e à menor necessidade de mão-de-obra. 
O espaço urbano e as cidades foram reestruturados para se adequar ao novo perfil 
industrial, bem como para a interação entre as indústrias de alta tecnologia, as 
atividades artesanais e o setor de serviços. As cidades médias, devido a custos mais 
baixos, tornaram-se destinos atrativos para as grandes indústrias, que buscavam 
reduzir os custos operacionais. 
Cidades como Cubatão, em São Paulo, localizadas nas proximidades dos grandes 
centros urbanos, emergiram como importantes polos industriais. Enquanto isso, as 
micro e pequenas empresas desempenharam um papel crucial na configuração espacial 
das cidades médias, agrupando-se para otimizar custos relacionados à distância. 
A diminuição das taxas de fecundidade também desempenhou um papel significativo na 
mudança do padrão de urbanização. Com a urbanização, famílias menores tornaram-
se mais comuns, visto que uma família numerosa na cidade resultava em maiores 
despesas e representava um obstáculo para a mobilidade social e econômica. 
Assim, uma série de fatores, incluindo mudanças na economia, demografia e no perfil 
industrial, contribuíram para a reconfiguração do padrão de urbanização no Brasil, 
 
 
16 
resultando em um novo cenário urbano e na ascensão das cidades médias como 
importantes agentes do desenvolvimento regional. 
A crise econômica que assolou o Brasil entre as décadas de 1980 e 1990, 
desencadeada pelo aumento dos juros internacionais provocado pelo choque do 
petróleo, resultou em uma significativa elevação da dívida externa do país. Essa crise 
também acarretou uma queda acentuada na produção industrial, desencadeando uma 
série de mudanças estruturais de grande magnitude. 
As consequências da crise incluíram o fim do regime militar e o retorno à democracia, o 
término do ciclo de industrialização por substituição de importações e a adoção de 
políticas neoliberais. Estas últimas contemplaram a privatização de várias empresas 
estatais, a abertura da economia e uma redução do intervencionismo estatal. Essas 
transformações tiveram um impacto significativo no processo de concentração urbana, 
contribuindo para um aumento do desemprego e da pobreza, especialmente nas 
grandes cidades. 
A crise econômica resultou em uma reversão temporária dos fluxos migratórios 
tradicionais, com um aumento do retorno às áreas de origem e até mesmo a primeira 
onda significativa de emigração para o exterior. Nesse contexto, as cidades não 
metropolitanas, ou seja, as cidades médias, emergiram como uma alternativa viável e 
uma nova oportunidade para os migrantes, registrando taxas de crescimento 
populacional mais elevadas do que as cidades metropolitanas. 
Antes mesmo da crise, já se observava um processo de descentralização da produção, 
especialmente na região de São Paulo, indicando um novo padrão de urbanização e 
crescimento das cidades. Além disso, iniciativas governamentais, como a Zona Franca 
de Manaus, visavam integrar as diferentes regiões do país por meio de incentivos fiscais 
e investimentos governamentais. Os empresários também aproveitaram essas 
iniciativas para descentralizar suas operações, explorar novos mercados e aumentar 
sua lucratividade, buscando fugir dos problemas enfrentados nas grandes metrópoles. 
No entanto, apesar da descentralização das atividades econômicas, as grandes 
metrópoles mantiveram sua relevância no cenário urbano nacional. Mesmo com duas 
décadas de crescimento econômico limitado, as metrópoles brasileiras continuaram a 
atrair um importante aumento populacional, especialmente em suas periferias, que 
cresceram a um ritmo acelerado, apesar da estagnação das cidades-polo. 
A partir da década de 1990, uma reconfiguração significativa da hierarquia urbana 
brasileira começou a tomar forma, com a reorganização e a redefinição dos papeis das 
cidades, juntamente com seu reposicionamento em termos de importância regional e 
nacional. Estas mudanças foram impulsionadas pelo surgimento de um novo padrão 
urbano, que alterou a dinâmica das relações entre as cidades e suas redes urbanas. 
As transformações ocorridas ao longo da década de 1990 deram origem a uma nova 
rede urbana, na qual as cidades assumiram diferentes níveis de importância dentro da 
hierarquia urbana, muitas vezes localizadas longe dos centros urbanos tradicionais, 
como no interior do país. As cidades médias, em particular, começaram a exercer uma 
influência significativa e a atrair novos residentes devido às suas funções e ao papel 
que desempenham na rede urbana em nível regional, nacional e até mesmo 
internacional. 
 
 
17 
O processo de metropolização no Brasil tem raízes no desenvolvimento industrial e no 
acúmulo de capital, que deram origem a nove regiões metropolitanas influentes na 
organização do território. Nesse contexto, as cidades médias desempenham um papel 
crucial em um nível hierárquico inferior, funcionando como polos regionais e facilitando 
a integração das escalas de produção e consumo. 
No entanto, o fenômeno contemporâneo da metropolização está gerando novas formas 
urbanas caracterizadas pela dispersão, mobilidade intensa e desconcentração 
territorial, abrangendo tanto áreas urbanas quanto rurais. Assim, as cidades médias 
surgem como um contraponto ao processo inicial das grandes cidades em direção à 
metropolização. Por definição, as cidades médias não estão inseridas em um contexto 
metropolitano definido, ocupando uma posição específica na hierarquia urbana e na 
estrutura territorial. No entanto, ao longo do tempo, ganharam relevância e indicaram o 
surgimento de um nível hierárquico intermediário. Portanto, as cidades médias 
brasileiras desempenham um papel significativo no funcionamento das redes urbanas, 
oferecendo uma gama de bens e serviços e facilitando os fluxos econômicos, ao mesmo 
tempo em que não enfrentam os mesmos desafios das grandes metrópoles. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
3. O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO 
Introdução 
Ao longo da história,as principais cidades do mundo passaram por transformações que 
moldaram o ambiente urbano atual. Compreender como o processo de urbanização 
moldou as grandes aglomerações sociais, econômicas e culturais requer a análise dos 
marcos históricos e das tendências que guiaram a evolução desses centros urbanos. 
Neste capítulo, exploraremos a origem e o desenvolvimento das principais cidades 
históricas, bem como as condições que possibilitaram sua consolidação. Além disso, 
discutiremos o impacto das Primeira e Segunda Revoluções Industriais nas cidades, 
abordando suas mudanças espaciais, sociais, políticas e econômicas. Por fim, 
examinaremos a urbanização contemporânea, influenciada pelas redes de transporte e 
telecomunicações, e impulsionada pela globalização. 
3.1 Condições históricas para a origem e o desenvolvimento das cidades 
O espaço urbano, caracterizado pela concentração de habitantes, construções e 
infraestruturas, assim como pelas atividades econômicas como comércio, serviços e 
indústria, define o que conhecemos como cidades. Registros históricos indicam a 
existência de cidades já entre 3.500 a.C. e 3.000 a.C. Antes disso, a maioria dos grupos 
humanos era nômade, movendo-se em busca de recursos alimentares e abrigo. 
A história humana revela um constante desenvolvimento de técnicas, uma busca 
contínua por aprimoramentos das condições materiais. A prática da agricultura e a 
domesticação de animais são exemplos de técnicas desenvolvidas, permitindo que as 
pessoas passassem a viver em comunidades sedentárias. Isso só se tornou viável 
quando a produção agrícola começou a gerar excedentes suficientes para sustentar 
uma parcela da população dedicada a outras atividades, como artesanato e comércio. 
O estabelecimento de comunidades sedentárias trouxe novas oportunidades, 
acompanhadas do domínio das técnicas mencionadas. Com o tempo, essas 
comunidades passaram a construir fortificações e limites para proteção. Influenciados 
por fatores históricos e geográficos específicos, cada assentamento foi se organizando 
e se especializando em diferentes atividades sociais e econômicas. 
3.1.1 Cidades na Antiguidade 
As primeiras cidades surgiram na região da Mesopotâmia, atualmente localizada no 
Iraque, por volta de 3.500 a.C., entre os rios Tigre e Eufrates. Essa região oferecia 
recursos vitais como água, solos férteis e planícies propícias para a agricultura, 
elementos cruciais para o estabelecimento de centros urbanos. 
Outras regiões, como os vales dos rios Nilo, no Egito, Indo, na Índia, e Huang-Ho (ou 
Rio Amarelo) e Yang-Tsé-Kiang (Rio Azul) na China, também apresentavam condições 
semelhantes, o que possibilitou o desenvolvimento de núcleos urbanos duradouros. 
Com o tempo, mesmo áreas sem vales férteis conseguiram criar cidades à medida que 
a produção agrícola se diversificava e aumentava, impulsionando o comércio urbano. 
 
 
 
19 
À medida que as atividades comerciais se expandiram, as cidades cresciam em 
importância política, econômica e populacional. Por exemplo, Atenas, na Grécia, chegou 
a ter mais de 200 mil habitantes entre 508 a.C. e 322 a.C., enquanto Roma, capital do 
Império Romano do O Ocidente superou 900 mil habitantes no século IV, no início da 
Era Cristã. 
Com o avanço das conquistas territoriais, novas cidades surgiram, formando as 
primeiras redes urbanas. O Império Romano, a partir de sua capital Roma, expandiu-se 
para o Oriente Médio, Norte da África e Europa Ocidental, estabelecendo numerosos 
centros populacionais. 
O declínio do Império Romano do Ocidente em 476 d.C. marcou o fim da Idade Antiga 
e o início da Idade Média, período durante o qual a urbanização entrou em declínio e a 
ruralização prevaleceu. Somente com o declínio do sistema feudal, por volta do século 
XV, as cidades recuperaram sua importância como centros de negócios e poder. 
3.1.2 Cidades no Feudalismo 
A Idade Média, entre os séculos V e XV, foi caracterizada pelo sistema feudal, no qual 
a economia, política e sociedade passaram por profundas transformações, com a Igreja 
Católica desempenhando um papel central. Os feudos, territórios controlados por 
senhores feudais, isolaram-se e tornaram-se autônomos, limitando o comércio entre 
regiões. 
As cidades da época eram geralmente pequenas, protegidas por muralhas que 
cercavam castelos e igrejas dentro dos feudos. No entanto, o renascimento do comércio 
e o surgimento de centros urbanos mais dinâmicos, principalmente na Itália, marcaram 
o início de uma nova fase de urbanização. 
Esse período de mudança, conhecido como Renascimento, iniciado no final do século 
XVIII e consolidado no século XV, foi caracterizado por reformas culturais, políticas e 
econômicas. O crescimento do poder econômico e político nas cidades atraiu mais 
pessoas para o ambiente urbano, devido à oferta de alimentos, serviços e oportunidades 
de trabalho, assim como melhores condições de vida em comparação com o campo. 
3.1.3 Cidades na Idade Moderna 
Para entender a formação das cidades modernas, é crucial considerar o surgimento do 
mercantilismo como o impulso que reativou o processo de urbanização global. Com o 
aumento do comércio entre diferentes regiões, as cidades recuperaram sua posição 
central, concentrando poder político e econômico. O desenvolvimento urbano 
ultrapassou os limites dos feudos e fortificações, expandindo-se ao redor de castelos e 
igrejas e se estendendo ao longo das diversas e movimentadas rotas comerciais. Neste 
período, as redes urbanas começaram a se formar, conectando cidades por meio de 
fluxos de capital, pessoas, mercadorias e informações, um processo que se consolidava 
e se intensificaram nos séculos seguintes. 
 
 
 
 
20 
3.2 Urbanização na Revolução Industrial 
O crescimento e expansão das atividades comerciais estão intimamente ligados à 
Primeira e Segunda Revoluções Industriais. As cidades modernas começaram a abrigar 
indústrias que transformam matérias-primas em produtos destinados a mercados locais 
e internacionais, incluindo as colônias nas Américas e na África. 
3.2.1 A Primeira Revolução Industrial 
A Primeira Revolução Industrial, que ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1850, 
marcou um período significativo de crescimento urbano. É importante ressaltar que o 
urbanismo, que compreende as técnicas de organização das populações urbanas e 
suas condições de moradia, atingiu seu ápice a partir do século XX, durante o processo 
de industrialização em muitos países. 
Para acomodar as indústrias emergentes, seus trabalhadores e as infraestruturas 
necessárias, as cidades passaram por uma intensa transformação espacial. O êxodo 
rural, impulsionado pela demanda por mão-de-obra e pela busca por melhores 
condições de vida, resultou no aumento populacional urbano e no crescimento das 
áreas urbanas. Como resultado, houve uma expansão significativa das moradias 
urbanas para acomodar o influxo de migrantes rurais. 
Essa urbanização acelerada trouxe consigo mudanças no sistema de transporte e um 
aumento no comércio, mas também desafios sociais e de saúde, como poluição, falta 
de saneamento básico e habitações precárias. Além disso, durante a Primeira 
Revolução Industrial, houve uma intensificação do colonialismo, impulsionado pela 
necessidade de matérias-primas para a produção industrial. 
O Brasil, por exemplo, fornecia matérias-primas como algodão e café, enquanto outras 
colônias nas Américas e na África também eram exploradas por países industrializados. 
Essas matérias-primas eram usadas para produzir mercadorias nos países 
industrializados, criando uma divisão entre países industrializados e agrários baseada 
na exploração de recursos minerais e agrícolas. 
As indústrias eram estabelecidas próximas a fontes de energia, como rios e jazidas de 
carvão mineral, fundamentais para a operação de máquinas movidas a vapor. Esse 
processo levou ao surgimento de grandes cidades industriais e teve umimpacto 
significativo na paisagem, com aumento da poluição, desmatamento e retificação de rios 
para acomodar o crescimento urbano e industrial. 
3.2.2 A Segunda Revolução Industrial 
A Segunda Revolução Industrial, que ocorreu principalmente no século XIX, foi 
impulsionada pela necessidade de aumentar a produção industrial para atender à 
demanda crescente por mercadorias em escala global. Destacam-se nesse período a 
invenção do motor a explosão e o desenvolvimento da energia elétrica, que 
revolucionaram os setores de transporte e produção de energia. 
Essas inovações tecnológicas foram possibilitadas pelo avanço das ciências e tiveram 
um papel fundamental no crescimento industrial e no acúmulo de capital. O 
 
 
21 
desenvolvimento científico convergiu cada vez mais com os interesses capitalistas, 
impulsionando a produção e o enriquecimento das nações. 
As mudanças tecnológicas da Segunda Revolução Industrial tiveram amplos impactos 
na economia e na organização urbana. As cidades passaram por transformações 
significativas, adaptando-se ao surgimento de novas tecnologias, como o motor a 
explosão e a eletricidade. 
Isso permitiu um rearranjo na disposição física das cidades, que começaram a expandir-
se em direção aos locais acessíveis pelos novos meios de transporte, como automóveis, 
bondes e metrôs. 
Além disso, as inovações tecnológicas impulsionaram o desenvolvimento da indústria 
pesada, como metalurgia e siderurgia, bem como a produção de máquinas e 
equipamentos industriais. 
A indústria do petróleo também se expandiu com o uso generalizado de motores a 
explosão. O desenvolvimento da energia elétrica trouxe consigo a criação de motores 
elétricos e os primeiros eletrodomésticos, transformando tanto as residências quanto as 
fábricas. 
Essas mudanças foram acompanhadas por um grande aumento nos investimentos 
industriais, com empresas se associando para aumentar sua capacidade produtiva e 
competitiva. Os bancos e outras instituições financeiras também passaram a se envolver 
nas atividades industriais, dando origem ao capitalismo financeiro ou monopolista. 
Como resultado, ocorreu uma concentração de capital em um pequeno número de 
empresas, muitas vezes com bancos assumindo controle direto sobre essas empresas. 
Isso levou ao desaparecimento de muitas pequenas empresas e à divisão clara entre 
países desenvolvidos industrializados e países subdesenvolvidos com economia 
agrária, que forneciam principalmente matérias-primas. 
Essa divisão do sistema internacional destacava os países subdesenvolvidos como 
fornecedores de matérias-primas, enquanto os países industrializados dominavam o 
comércio e exerciam maior influência política. 
3.3 A urbanização contemporânea 
A urbanização contemporânea está profundamente entrelaçada com o desenvolvimento 
industrial e a ascensão do setor terciário da economia, que engloba o comércio e os 
serviços. 
Este contexto cria um circuito espacial produtivo que influencia todas as escalas 
geográficas. 
Enquanto no passado as indústrias se concentravam nas grandes metrópoles, 
atualmente elas migram para cidades médias ou até mesmo para países em 
desenvolvimento, em busca de mão-de-obra barata, incentivos fiscais e 
regulamentações ambientais menos rigorosas. 
Metrópoles como São Paulo e Nova York estão se transformando progressivamente em 
cidades focadas nos serviços, destacando-se no setor terciário. Embora as fábricas se 
 
 
22 
desloquem para outras regiões, os setores administrativo, financeiro e de pesquisa 
permanecem em seus locais originais, tornando essas cidades especializadas em 
serviços sofisticados. 
O crescimento e desenvolvimento da urbanização são evidentes quando consideramos 
que, em 1950, menos de 30% da população mundial vivia em áreas urbanas, enquanto 
hoje mais da metade da população reside em cidades. Essa tendência e ainda mais 
marcante em muitos países, incluindo o Brasil, onde oito em cada dez habitantes vivem 
em áreas urbanas. 
O avanço dos transportes e das telecomunicações, impulsionado pela globalização, 
teve um grande impacto na dinâmica das cidades. Essa interconexão criou redes 
comerciais, econômicas, políticas e sociais, influenciando as cidades em escalas 
regional e global. A globalização, caracterizada pela integração econômica e política 
internacional, impulsionou significativamente o desenvolvimento urbano, especialmente 
nas últimas décadas do século XX e início do século XXI. 
Nesse contexto, surgiram as megacidades e as cidades globais, que exercem influência 
econômica e política em várias regiões do mundo, especialmente nos setores financeiro, 
cultural e de serviços. No entanto, é importante notar que a maioria das cidades globais 
está localizada em países desenvolvidos, destacando a disparidade econômica entre 
diferentes regiões. 
Nos países desenvolvidos, a densa e interligada rede urbana é sustentada por uma alta 
densidade de urbanização, um sistema econômico dinâmico e uma infraestrutura de 
transporte e comunicação altamente sofisticada. Em contraste, nos países 
subdesenvolvidos, onde a industrialização e limitada e a densidade industrial e menor, 
a rede urbana tende a ser desarticulada e direcionada para áreas de exportação, como 
portos, resultando em uma conexão fragmentada entre cidades e regiões. 
Megalópoles, como aquelas encontradas na Europa ocidental, no sudeste do Japão e 
no nordeste dos Estados Unidos, representam a interconexão de várias metrópoles. Nos 
últimos anos, regiões em países subdesenvolvidos, como o sudeste do Brasil e áreas 
ao redor de Buenos Aires, na Argentina, também têm desenvolvido importantes redes 
urbanas. 
O advento da internet no início do século XXI possibilitou a criação de redes globais que 
conecta pessoas, empresas e instituições, reduzindo a dependência de cidades maiores 
para acesso a determinados bens e serviços. Isso levou a uma maior complexidade na 
rede urbana contemporânea, com cidades estabelecendo relações com base nos 
serviços que oferecem e demandam. 
Nos países desenvolvidos, a urbanização gradual foi impulsionada pelas Revoluções 
Industriais, resultando em uma especialização de áreas urbanas em residenciais, 
industriais e comerciais. 
Nos países subdesenvolvidos, a urbanização foi mais rápida e desigual, com um 
crescimento acelerado das cidades devido ao êxodo rural, levando à formação de áreas 
periféricas precárias e segregadas. 
A concentração industrial em torno de uma única cidade, conhecida como macrocefalia 
urbana, e comum nos países subdesenvolvidos, levando à ocupação desigual do 
 
 
23 
espaço urbano à criação de áreas “legais” e “ilegais”. Nas grandes cidades desses 
países, a hipertrofia do setor terciário resulta em empregos precários e sub-
remunerados, contribuindo para o surgimento de submoradias e condições de vida 
desafiadoras para os migrantes urbanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
4. PAPEL DO ESTADO 
Introdução 
A rápida expansão dos centros urbanos e os desafios decorrentes desse crescimento 
têm suscitado debates sobre os caminhos futuros a serem seguidos por diversos 
segmentos da sociedade. Apesar dos avanços na legislação e nas políticas urbanas, o 
Brasil ainda enfrenta inúmeras irregularidades devido a interesses econômicos, políticos 
e sociais, que impactam o funcionamento das cidades e a qualidade de vida da 
população em geral. 
Neste capítulo, iremos examinar a origem das políticas urbanas brasileiras, bem como 
a criação do Estatuto da Cidade e dos planos diretores. Além disso, exploramos a 
importância dessas diretrizes para o planejamento urbano, visando promover cidades 
mais sustentáveis, inclusivas e resilientes. Ao compreendermos o contexto histórico e 
as bases legais que norteiam o desenvolvimento urbano no Brasil, poderemos identificar 
desafios e oportunidades para a construção de cidadesmais equitativas e harmoniosas. 
4.1 Políticas urbanas brasileiras 
No Brasil, o surgimento dos primeiros centros urbanos está associado aos ciclos 
econômicos que atraiam pessoas, serviços e atividades secundárias. Mesmo após o 
declínio desses ciclos, as cidades continuaram a se desenvolver sem um planejamento 
adequado, resultando em crescimento desordenado e problemas urbanos persistentes. 
A partir da década de 1930, o processo de urbanização e expansão urbana se 
intensificou. No entanto, a falta de planejamento adequado levou a um crescimento 
caótico, especialmente no que diz respeito ao parcelamento do solo e à infraestrutura 
urbana. Essa falta de planejamento continua a afetar as cidades brasileiras, gerando 
diversos problemas não resolvidos que impactam a economia e a qualidade de vida da 
população. 
Os primeiros movimentos em direção à reforma urbana começaram na década de 1950, 
envolvendo a sociedade civil e a comunidade política na busca por soluções. Após a 
primeira Conferência Nacional pela Reforma Urbana em 1963, os debates foram 
interrompidos pelo golpe de Estado de 1964, sendo retomados apenas na década de 
1970. 
Nos anos 1970 e 1980, com o enfraquecimento do regime autoritário, os debates sobre 
a reforma urbana ressurgiram, levando à formação do Movimento Nacional pela 
Reforma Urbana (MNRU) em 1982. Inspirado pelos princípios constitucionais, o MNRU 
contribuiu para a elaboração do Estatuto da Cidade, promulgado em 2001. 
O Estatuto da Cidade e resultado das disposições constitucionais sobre a política urbana 
e tem como objetivo principal aplicar os princípios da função social da cidade e da 
propriedade urbana estabelecidos na Constituição Federal de 1988. Essa legislação 
busca orientar o planejamento urbano e promover cidades mais justas e sustentáveis. 
 
 
25 
4.1.1 O Estatuto da Cidade e sua Influência na Urbanização 
O espaço urbano que observamos hoje é resultado de transformações e ajustes feitos 
em um ambiente natural, moldado por influências e intervenções de diferentes grupos e 
interesses ao longo do tempo. Essas influências abrangem desde a natureza e o 
funcionamento dos sistemas naturais até as relações territoriais, econômicas, políticas 
e de gestão que desafiam constantemente os municípios. Diante desses desafios, é 
fundamental adotar uma nova abordagem em relação ao planejamento urbano, 
modernizando as metodologias existentes. 
Além disso, é crucial equilibrar os diversos interesses presentes no espaço urbano e 
garantir a participação da comunidade nas decisões que afetam a cidade. Por isso, a 
existência de uma legislação específica e abrangente para orientar o planejamento 
urbano se torna indispensável. 
A Lei número 10.257, conhecida como Estatuto da Cidade, promulgada em 10 de julho 
de 2001, foi um marco na legislação urbana brasileira. Esta lei foi concebida com o 
objetivo de direcionar o planejamento e a expansão urbana para um novo modelo de 
cidade, capaz de atender aos diversos interesses econômicos, políticos e sociais, ao 
mesmo tempo em que buscava resolver os problemas existentes nos centros urbanos. 
Uma das características mais importantes do Estatuto da Cidade é o reconhecimento 
da participação popular no processo de tomada de decisões municipais, elevando a 
comunidade de um papel de mero espectador para um dos protagonistas na definição 
do destino urbano. 
O Estatuto da Cidade tem como principal foco a política urbana, visando ordenar o 
desenvolvimento das funções sociais da cidade. Esse objetivo central se desdobra em 
quatro grupos específicos de diretrizes: promoção da gestão democrática das cidades, 
oferta de mecanismos para a regularização fundiária, combate à especulação imobiliária 
e garantia da sustentabilidade dos sistemas naturais, sociais e econômicos urbanos. 
Esses grupos direcionam as ações de planejamento e regulamentação do espaço 
urbano conforme estabelecido nos instrumentos previstos pelo Estatuto. 
Instrumentos do Estatuto da Cidade 
Para implementar as diretrizes gerais da política urbana, o Estatuto da Cidade se vale 
dos seguintes instrumentos: 
• Gestão Democrática: Atuação dos conselhos de política urbana e da iniciativa 
popular na proposição de leis, debates e consultas públicas para a aprovação e 
implementação dos planos diretores e leis orçamentárias. 
• Plano Diretor: Instrumento obrigatório para cidades com mais de 20 mil 
habitantes, com foco na orientação do desenvolvimento urbano e territorial. 
• Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios: Destinado a terrenos 
urbanos ociosos, com o intuito de combater a especulação imobiliária e 
incentivar o uso eficiente da terra. 
• IPTU Progressivo no Tempo: Aumento da alíquota do imposto para proprietários 
de terrenos ociosos como forma de estimular o aproveitamento adequado do 
solo urbano. 
 
 
26 
• Desapropriação com Pagamento em Títulos da Dívida Pública: Medida punitiva 
relacionada à ociosidade de imóveis urbanos, visando incentivar o uso adequado 
da propriedade. 
• Usucapião Especial de Imóvel Urbano: Instrumento para regularização fundiária 
de áreas ocupadas irregularmente. 
• Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia: Regularização da posse de 
imóveis públicos ocupados por população de baixa renda. 
• Direito de Superfície: Transferência do direito de construir sem transferência da 
propriedade do terreno. 
• Direito de Preempção: Preferência na aquisição de imóveis urbanos pelo poder 
público para preservar terras públicas. 
• Outorga Onerosa do Direito de Construir e de Alteração de Uso: Estabelecimento 
de limites de construção e cobrança pelo excedente. 
• Transferência do Direito de Construir: Transferência do direito de construir para 
entidades públicas ou privadas interessadas. 
• Operações Urbanas Consorciadas: Parcerias público-privadas para realização 
de intervenções urbanísticas. 
• Estudo de Impacto de Vizinhança: Exigência para concessão de licenças de 
construção visando avaliar o impacto de empreendimentos na qualidade de vida 
da população local. 
Quando aplicadas na prática, as diretrizes gerais da política urbana, assim como os 
instrumentos presentes no Estatuto da Cidade, influenciam diretamente o espaço 
urbano de diversas maneiras. Essas influências se refletem na garantia do direito a 
cidades sustentáveis, na participação popular nas decisões sobre o destino da cidade, 
na cooperação entre agentes públicos e privados, no planejamento do desenvolvimento 
urbano, na proteção do meio ambiente natural e do patrimônio cultural, na produção de 
bens e serviços dentro dos limites da sustentabilidade ambiental, na recuperação de 
investimentos públicos que resultaram em valorização imobiliária, entre outros aspectos. 
Esses benefícios, quando somados, contribuem significativamente para o bem-estar da 
população, o fortalecimento da economia e o aprimoramento da política urbana. 
Através dos instrumentos estabelecidos pelo Estatuto da Cidade, é perceptível que um 
dos principais objetivos e reestruturar a ordem urbana por meio de regras e princípios 
claros. O Estatuto incentiva o ordenamento e o desenvolvimento dos municípios por 
meio de mecanismos que visam organizar as parcelas de terrenos existentes e atender 
outras demandas relacionadas ao espaço urbano. 
Além disso, o Estatuto da Cidade contém dispositivos que visam combater a 
especulação imobiliária, incluindo advertências para proprietários de terrenos ociosos. 
Ele também representa um avanço na regularização de áreas densamente ocupadas, 
como loteamentos irregulares e favelas, promovendo a ordem pública e reduzindo 
problemas sociais. 
A falta de planejamento e a especulação imobiliária resultaram em um padrão de 
organização espacial baseado em relações monetárias. As disparidades visuais entre 
as cidades, com suas diferentes dimensões, perfis socioeconômicos e áreas, refletem 
as disparidades entre os habitantesdas áreas centrais e periféricas. Essa divisão é 
 
 
27 
frequentemente representada pela separação entre áreas legalizadas, com 
infraestrutura adequada, e áreas irregulares, carentes de infraestrutura. 
É importante destacar que o Estatuto da Cidade não viola o direito de propriedade 
privada, mas reconhece que a função social da propriedade urbana deve ser priorizada. 
Ele busca garantir que a propriedade urbana atenda às necessidades da sociedade em 
termos de qualidade de vida, justiça social e desenvolvimento econômico. O direito de 
propriedade urbana e estabelecido de acordo com as normas legais definidas pelo 
município, que determina as possibilidades de uso do solo urbano com base em 
interesses econômicos e sociais. 
Quanto à organização e funcionamento das cidades, o Plano Diretor e o instrumento 
que regulamenta e orienta essas ações, indicando onde e como os instrumentos do 
Estatuto da Cidades podem ser aplicadas em diferentes contextos urbanos. 
4.2 Plano Diretor urbano 
O Plano Diretor representa o principal mecanismo estabelecido pelo Estatuto da Cidade 
para organizar o espaço urbano. Sua finalidade é orientar e gerenciar a política urbana, 
promovendo a participação popular no processo de planejamento urbano. O Plano 
Diretor Municipal (PDM), em conjunto com outras ferramentas como o Planejamento 
Estratégico Municipal (PEM), desempenha um papel crucial no desenvolvimento das 
cidades. Ele deve ser elaborado levando em consideração as necessidades e 
demandas específicas de cada município, abrangendo toda a área municipal, tanto a 
urbana quanto a rural. 
4.2.1 Obrigatoriedade do Plano Diretor 
O Estatuto da Cidade, em seu artigo 41, estabelece uma série de requisitos para a 
implantação do Plano Diretor. Ele torna obrigatória a elaboração do plano diretor para: 
• Cidades com mais de 20 mil habitantes; 
• Cidades que fazem parte de áreas com interesse turístico especial; 
• Cidades inseridas em regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; 
• Cidades onde o poder público municipal pretenda utilizar os instrumentos 
previstos na Constituição Federal; 
• Cidades afetadas por empreendimentos ou atividades com grande impacto 
ambiental em escala regional ou nacional. 
Além dessas diretrizes, é importante ressaltar que, conforme a natureza do 
empreendimento, os custos financeiros e de pessoal técnico para a elaboração do Plano 
Diretor devem ser incluídos nas medidas de compensação a serem adotadas. Para 
cidades com mais de 500 mil habitantes, além do Plano Diretor, também é necessário 
desenvolver um plano de transporte urbano integrado, em conformidade com o plano 
existente ou em processo de elaboração. 
4.2.2 Participação Popular 
Um aspecto inovador tanto do Estatuto da Cidade quanto do Plano Diretor é a exigência 
de participação dos diversos setores da sociedade nos processos de decisão sobre o 
 
 
28 
ordenamento urbano. A participação popular é fundamental, pois diferentes grupos 
sociais têm percepções e necessidades diversas em relação ao espaço urbano. Ao 
incorporar as contribuições da população, os gestores municipais e os profissionais 
técnicos podem avaliar as demandas e buscar atendê-las, considerando aspectos 
técnicos, orçamentários e interesses públicos e privados. 
Cidades que não incorporam a participação e a opinião pública na elaboração de seus 
Planos Diretores correm o risco de idealizar modelos urbanos que não atendem 
plenamente as necessidades da sociedade. Os espaços urbanos são, antes de tudo, 
espaços sociais, e devem ser planejados e construídos levando em conta o bem-estar 
de toda a população. 
4.2.3 Implantação do Plano Diretor 
O Plano Diretor e um documento que resulta de análises do espaço urbano, envolvendo 
gestores municipais, corpo técnico e a população. Após sua elaboração, passa por 
apreciação e discussão na Câmara Municipal, sendo regulamentado por lei aprovada 
pelo legislativo municipal e promulgada pelo prefeito. É estabelecido que o Plano Diretor 
deve ser revisado no máximo a cada dez anos, conforme recomendações do Estatuto 
da Cidade. Para municípios que já possuíam planos diretores antes da aprovação do 
Estatuto, e exigida sua adequação aos novos instrumentos. No caso de planos diretores 
elaborados há mais de dez anos, devem ser revisados e adequados aos novos 
instrumentos do Estatuto das Cidades. 
O Estatuto da Cidade, junto com algumas unidades federativas, tem incentivado os 
municípios a implementarem os instrumentos da lei. Seu propósito é apoiar e orientar o 
planejamento urbano para torná-lo mais eficaz e abrangente. No entanto, a 
descentralização promovida pelo Estatuto transferiu as decisões sobre o planejamento 
urbano das esferas federal e estadual para as municipais. Esse processo reestruturou 
o papel do Estado, conferindo mais autonomia às instâncias municipais na gestão e 
planejamento urbano, o que resultou em ações mais efetivas por parte dos municípios 
na condução de suas necessidades e desejos para os próximos anos. 
Apesar dos esforços para organizar o crescimento urbano e atender às demandas da 
população, os problemas urbanos persistem, muitas vezes agravados pela segregação 
espacial e priorização de infraestrutura em determinadas áreas. O Estatuto da Cidade 
e o Plano Diretor, apesar de seus instrumentos, parecem distantes da realidade e 
necessidades das cidades. A implementação desses instrumentos muitas vezes 
beneficia grupos específicos em detrimento da coletividade, resultando em problemas 
urbanos cada vez mais graves e complexos, especialmente nas áreas periféricas das 
cidades. 
 
 
 
 
 
 
 
29 
5. CIDADE E SUSTENTABILIDADE 
Introdução 
O ambiente urbano é uma mistura de elementos naturais e construídos pelo homem. 
Com o crescimento acelerado das cidades, muitos desses elementos foram 
subestimados ou negligenciados. À medida que os desafios de sustentabilidade urbana 
se intensificam, busca-se atualmente soluções para tornar as cidades mais sustentáveis 
e proporcionar uma melhor qualidade de vida aos seus moradores. Neste capítulo, 
exploraremos a relação entre a expansão urbana e o ambiente, analisando as 
consequências da falta de planejamento no desenvolvimento das cidades. Além disso, 
examinaremos os fenômenos associados ao crescimento urbano e à privatização do 
espaço, e como isso se relaciona com o conceito de cidades inteligentes. 
5.1 Meio Ambiente Urbano 
Desde os primeiros assentamentos urbanos, o crescimento das cidades e o processo 
de urbanização têm sido contínuos, variando conforme os contextos econômicos, 
políticos, sociais e culturais de cada época. Esse crescimento urbano pode ser 
analisado sob várias perspectivas, mostrando um dinamismo do espaço, mas também 
representando uma preocupação para os profissionais envolvidos no planejamento 
urbano e ambiental. A expansão das cidades muitas vezes negligenciou os elementos 
naturais do ambiente, assim como as necessidades decorrentes do crescimento 
populacional e do funcionamento urbano, impactando o meio ambiente urbano. 
5.1.1 Urbanização e Meio Ambiente 
Os índices de urbanização aumentaram consideravelmente a partir do século XIX, 
impulsionados por atividades econômicas como a indústria e, mais tarde, os serviços. 
Essas atividades foram os principais motivos de migração de outras regiões e do campo 
para as cidades, resultando em um aumento da densidade populacional urbana e na 
necessidade de expansão do espaço urbano. O crescimento demográfico tem sido um 
dos principais impulsionadores da expansão urbana, determinando como e quando os 
espaços seriam ocupados. 
Além disso, é importante considerar a especulação imobiliária, os interesses 
empresariais e o sistema político, cujas motivações em relação ao crescimento e à 
produção do espaço estão ligadas ao capital. Esse crescimento populacional muitas 
vezes resultou em expansão geográfica desordenada e não planejada, especialmente

Mais conteúdos dessa disciplina