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ENERGIAS RENOVÁVEIS AULA 5 Profª. Muriele Bester de Souza 2 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo à aula sobre energias renováveis. Nesta aula, daremos continuidade aos conhecimentos de diferentes fontes renováveis de energia. O tópico agora é Energia de Biomassa, também conhecida como Bioenergia ou Bioeletricidade. Vamos aprofundar-nos um pouco sobre os conceitos e tipos de biomassas, assim como combustão, gaseificação, biodigestão, limpeza dos gases e biodiesel. Já é conhecido que a conscientização sobre o impacto ambiental causado pelas queimas de combustíveis fósseis aumentou consideravelmente nos últimos anos, tendo resultado na busca pelo fornecimento de fontes alternativas de energia. Dentre elas, destaca-se a biomassa. Em 2020, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a demanda de combustíveis, de todas as fontes, sofreu impactos significativos devido à crise causada pela pandemia de COVID-19. De acordo com o órgão, houve “recordes históricos de produção de açúcar e biodiesel, atingindo 41,5 milhões de toneladas e 6,4 bilhões de litros, respectivamente. A produção de etanol foi de 32,6 bilhões de litros, sendo que o milho contribuiu com 2,4 bilhões. Os Créditos de Descarbonização (CBIO) começaram a ser comercializados em mercado organizado (B3). Os novos biocombustíveis como biogás, diesel verde, bioquerosene de aviação e o hidrogênio vem adquirindo cada vez mais importância” (EPE, 2021b). Devido à motivos como a carência hídrica existente em certas regiões, condições climatológicas e a redução da área por conta de concorrência com alguns cultivos como soja e milho, é esperado que ocorra redução da safra de 2021/2022 na moagem da cana-de-açúcar, dificultando a expansão desta fonte. TEMA 1 – CONCEITO DE BIOMASSA A energia provinda da biomassa é caracterizada como uma fonte termelétrica renovável, não fóssil e primária de energia cuja matéria orgânica origina-se de vegetais ou animais. Esta fonte é responsável por cerca de 9,1% da energia gerada no Brasil, conforme dados do Balanço Energético Nacional 2021. A biomassa é, dentre as fontes renováveis de energia, a que possui o maior potencial de crescimento no mundo. Ela é considerada uma das principais 3 alternativas para diversificar a matriz energética e ajudar a reduzir a dependência por combustíveis fósseis. 1.1 Princípio de funcionamento da bioenergia A bioenergia envolve o uso de materiais biológicos para fins energéticos. Vários materiais podem ser utilizados nesse processo, incluindo resíduos da agricultura e silvicultura, resíduos orgânicos sólidos e líquidos (incluindo resíduos sólidos urbanos e esgoto), popularmente conhecidos como biomassa. Muitos processos diferentes podem converter essas matérias-primas em calor, eletricidade e combustíveis para transporte (biocombustíveis). A biomassa contém energia armazenada sob a forma de energia química e pode ser classificada nas seguintes categorias: biomassa energética florestal, seus produtos e subprodutos ou resíduos; biomassa energética da agropecuária, as culturas agroenergéticas e os resíduos e subprodutos das atividades agrícolas, agroindustriais e da produção animal; e rejeitos urbanos. Por derivar de materiais de baixo valor, limpo e renovável é que a biomassa é considerada uma fonte alternativa de energia provinda de combustíveis fósseis. Esta fonte pode ser originada de matérias orgânicas como plantas: algas, árvores, cultivos etc. Segundo Silva et al. (2019), a fonte de biomassa é a energia solar que é armazenada nas ligações químicas dos componentes estruturais da matéria orgânica, quando estas ligações são quebradas haverá a liberação da energia química presente na biomassa. Menos de 1% da luz solar disponível é convertida em energia química pela fotossíntese. A figura a seguir apresenta a produção de energia através de biocombustíveis (production of energy form biofuels), conhecida como Energia da Biomassa (Biomass Energy). 4 Figura 1 – Energia de Biomassa Crédito: Panacea Doll/Shutterestock. Simplificadamente, o princípio de operação (The principle of operation) da Bioenergia funciona da seguinte maneira: os materiais vegetais podem ser transformados em energia (Plant materials can be transrformed into energy). A produção de energia provém a partir de biocombustíveis sólidos, do biogás e biocombustíveis líquidos de várias fontes (Energy production from solid biofuels from biogas and liquid biofuels from various sources). Na figura 1, temos a representação de fontes de biocombustível gasoso (gaseous biofuel), biocombustível líquido (liquid biofuels) e biocombustíveis sólidos (solid biofuels). Depois, é realizado o processamento de matérias-primas biológicas da produção de energia (processing of biological raw materials from energy production) que é fornecia em forma de energia renovável (renewable Energy) para a cidade (for the city), para as pessoas (for man) e para os lares (for home). 5 1.2 Panorama Mundial e Nacional De acordo com dados do REN21 (Renewable Energy Policy Network for the 21st Century - think tank de políticas para energias renováveis) em 2021, a bioenergia fornece cerca de 90% das energias renováveis por calor no setor industrial, principalmente em indústrias onde a biomassa e os resíduos são produzidos localmente. A pandemia do COVID-19 reduziu temporariamente a demanda de energia industrial, fazendo com que o uso global de bioenergia na indústria sofresse uma queda em torno de 4% no ano de 2020. No final de 2020, 32 países tinham pelo menos uma política de aquecimento e resfriamento renovável para a indústria (todos oriundos de incentivos econômicos como subsídios, concessões, créditos fiscais ou esquemas de empréstimo). Os Estados Unidos e Brasil são os dois principais países produtores de biocombustíveis no mundo. Juntos, representam cerca de 80% da produção global (REN21, 2021). No Brasil, dados do Balanço Energético Nacional (BEN, 2021) mostraram que, em 2020, a produção total de eletricidade por meio da biomassa, representou 9,3% da matriz energética nacional, sendo a capacidade instalada da geração elétrica de 15.306 MW. A figura a seguir é uma ilustração que mostra a plantação e colheita de cana-de-açúcar no Brasil. Figura 2 – Colheita de Cana Créditos: Mailson Pignata/Shutterstock 6 1.3 Parque Gerador a Biomassa Um Parque Gerador a Biomassa é uma usina termelétrica (UTE) que utiliza a biomassa como fonte principal. A UTE é uma instalação industrial que gera energia elétrica, operando com um ou mais ciclos termodinâmicos, ou seja, o fluido de trabalho sofre uma série de processos de transformação físico- química, e finalmente, retorna para o seu estado inicial. A energia elétrica, através da conversão da energia química da biomassa, é realizada por uma máquina térmica, sendo que o processo de geração em combustão direta para a biomassa é igual ao processo com o carvão, se diferenciando pelos elementos químicos e os poderes caloríficos de cada tipo de combustível. Em 2016, o Brasil possuía 264 usinas a biomassa em operação, somando uma potência instalada de quase 12,5 GW e, em 2020, o número de usinas de biomassa passou para 297, aumentando a capacidade instalada para quase 13,5 MW, apresentando um avanço de 15%. Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE, as termelétricas a biomassa produziram 4.255 MW médios, representando 33% da oferta de energia produzida por todas as usinas térmicas no mês de maio de 2021. A principal matéria-prima destas usinas é o bagaço da cana-de-açúcar (CCEE, 2021). As fontes serão descritas no Tema 2 desta aula. A figura a seguir mostra um gráfico isométrico de uma usina de biomassa, onde podemos ver a plantação da matéria-prima e a UTE. Figura 3 – UTECréditos: craftsman/Shutterstock. 7 A bioeletricidade é uma energia limpa e renovável, que se constitui da produção simultânea de energia térmica (vapor), mecânica e elétrica a partir do uso de um combustível de biomassa, geralmente algum tipo de resíduo industrial, como bagaço de cana-de-açúcar, casca de arroz, madeira, entre outros. Neste tipo de geração, pode-se alcançar um aproveitamento de até 80% de energia contida no combustível e que pode ser transformada em vapor, eletricidade e força motriz. TEMA 2 – TIPOS DE BIOMASSA Muitos são os tipos de biomassa possuem enorme potencial para o aproveitamento energético mundialmente, conforme comentado anteriormente. No Brasil, as principais fontes são listadas pelo Balanço Energético Nacional, anualmente. A figura a seguir relaciona a Energia da Biomassa (Biomass Power) às matérias-primas como: resíduos industriais (Industrial Residues), colheitas e resíduos florestais (Forestry Crops & Residues), resíduos animais (Animal Residues), esgoto (Sewage), resíduos sólidos municipais (Municipal Solid Waste) e colheitas e resíduos agrícolas (Agricultural Crops & Residues). Figura 4 – Matérias-Primas Créditos: apivelstudio/Shutterstock. 8 Tomalsquim (2016) diz que no Brasil, a bioeletricidade é obtida principalmente através da cogeração em unidades dos segmentos industriais sucroenergético e, em menor escala, de papel e celulose, tendo como fonte principal a lixívia. Carvão e lenha são as matérias-primas que movem a maior parte dos geradores termelétricos. Os geradores a partir de biomassa perdem em torno de 60% a 70% da energia total do combustível para o ambiente na forma de calor, fazendo com que a eficiência do gerador seja de, no máximo, 40%. A partir do desenvolvimento um sistema de cogeração, em que o calor produzido na geração de eletricidade é incorporado ao processo produtivo na forma de vapor, é possível ter economia do combustível para o processo de aquecimento e assim aumentar a eficiência energética do sistema em até 85%. O gráfico da figura a seguir mostra a oferta interna de energia elétrica por fonte em 2020, mostrando o percentual de biomassa, incluindo as principais matérias-primas, que são: lenha, bagaço de cana, lixívia, entre outras. Figura 5 – Oferta Interna de Energia Elétrica por Fonte, em 2020 Notas/notes: 1. Inclui gás de coqueria/ Includes coke oven gas 2. Inclui importação de eletricidade/ Include electricity imports 3. Inclui lenha, bagaço de cana, lixívia e outras recuperações/Includes firewood, sugarcane bagasse, black-liquor and other primary sources Fonte: EPE, 2021. Biomassa3/Biomass3 9% Eólica/Wind 9% Solar 2% Carvão e derivados1/Coal and coal products 3% Gás Natural/Natural Gas 8% Derivados de petróleo/Oil products 2% Nuclear/Nuclear 2% Hidráulica2/Hydro2 65% 9 A capacidade instalada de geração elétrica através da biomassa em 2020, por matéria-prima, pode ser verificada na tabela a seguir, em MW, somando um total de 15.306 MW. Tabela 1 – Capacidade de Geração por Biomassa, em 2020 Biomassa MW (em 2020) Bagaço 11.712 Biogás 206 Capim Elefante 32 Carvão Vegetal 38 Casca de Arroz 53 Gás de Alto Forno - Biomassa 128 Lixívia 2.541 Óleos Vegetais 4 Resíduos de madeira 592 Total 15.306 Fonte: Elaborado com base em EPE, 2021. A seguir, vamos discutir brevemente sobre as quatro principais fontes de biomassa que integraram a matriz energética brasileira em 2020: bagaço, biogás, lixívia e resíduos de madeira. 2.1 Bagaço O bagaço representou a maior quantidade de geração elétrica por biomassa: foram 11.712 MW em 2020. A matéria-prima mais utilizada para a produção de bioenergia no Brasil é a cana-de-açúcar. Este material também é responsável pela fabricação do combustível renovável de menor impacto ambiental no país: o etanol. A cana-de-açúcar é uma gramínea com uma haste fibrosa espessa, que cresce até 6 metros de altura. A planta de cana é constituída por quatro partes principais, que são as raízes, talho (fruto agrícola), folhas e flores. O talho é constituído por um tecido esponjoso, muito rico em sumo açucarado, que pode ser extraído de diversas maneiras. O conteúdo calórico da cana-de-açúcar, 10 considerando todos os seus componentes (sacarose, fibras, água e outros) é de, aproximadamente, 1060 kcal/kg. A cana-de-açúcar se tornou a principal biomassa utilizada na geração de energia elétrica brasileira devido a sua abundância e quantidade significativa de bagaço após seu processo de moagem para a fabricação de açúcar e álcool. Parte da energia gerada por esta fonte é utilizada para o atendimento da própria unidade industrial geradora e o excedente, exportado para a rede de distribuição. A figura a seguir ilustra uma certa quantidade de bagaço após a retirada do suco da cana, por exemplo. Figura 6 – Bagaço Créditos: Image guy/Shutterstock. 2.2 Biogás Outra fonte barata e abundante de energia a partir da biomassa é o biogás. Ele pode ser obtido de resíduos agrícolas, ou mesmo de excrementos de animais e do ser humano. De acordo a Companhia Paranaense de Energia Elétrica – COPEL (2016), a formação do biogás acontece, basicamente, durante a decomposição da matéria viva por bactérias microscópicas. Durante este 11 processo, as bactérias retiram da biomassa parte das substâncias de que necessitam para continuarem vivas, e lançam na atmosfera gases e calor. O biogás pode ser utilizado no funcionamento de motores, geradores, entre outros equipamentos elétricos, podendo substituir, também, o gás liquefeito de petróleo (GLP) na cozinha. O biogás não concorre com a produção de alimentos e sua produção ocorre em biodigestores, principalmente na indústria agrícola. As substâncias que sobram, parecendo um tipo de lodo, podem ser utilizadas como fertilizantes ao serem diluídas em água. Existem três maneiras para usar a biomassa como fonte energética, e que serão discutidas no Tema 3 desta aula: a combustão direta, a gaseificação e biodigestão. Os rejeitos utilizados no processo de biogás são mostrados a seguir. 2.2.1 Rejeitos Industriais Sólidos e Líquidos Se enquadram nesta categoria os subprodutos das atividades agroindustriais e da produção animal: uma expressiva quantidade de subprodutos resultantes das atividades agroindustriais e da produção animal é tratada como resíduo, porém possui potencial energético importante, podendo ser feita a transformação termoquímica, com combustão direta, pirólise ou gaseificação, passando pelas transformações biológicas e físico-químicas, incluindo a digestão anaeróbica. São rejeitos de criadouros, abatedouros, destilarias, fábricas de laticínios, indústria de processamento de carnes, entre outros, onde eles podem ser utilizados na geração de biogás. 2.2.2 Rejeitos Urbanos Sólidos e Líquidos A biomassa contida em resíduos sólidos e líquidos urbanos têm origens diversas, e se encontra no lixo e no esgoto. O lixo urbano é uma mistura heterogênea de metais, plásticos, vidro, resíduos celulósicos e vegetais, e matéria orgânica. Com relação aos rejeitos sólidos urbanos, existem três formas de processamento desta biomassa, sendo a biodigestão anaeróbica a que apresenta mais vantagens, pois, além de um processo com maior rendimento energético, possui considerável capacidade de despoluição, permite valorizar um produto energético (biogás) e ainda obter um fertilizante, cuja disponibilidade contribui com a rápida amortização dos custos da tecnologia instalada. 12 2.3 Lixívia A segunda maior biomassa geradora de energia elétrica no país foi a lixívia, com 2.541 MW. O licor negro, também conhecido como lixívia negra, é um resíduo líquido proveniente do digestor após o processo de cozimento da madeira. É uma mistura complexa que contém grande número de substâncias orgânicas dissolvidas da madeirajunto a seus componentes inorgânicos. Na indústria de produção de papel, a matéria-prima é a polpa da madeira que é obtida através de processos mecânicos e químicos na madeira bruta separando-a em lignina, celulose e hemicelulose (componentes da madeira). Os processos mecânicos trituram a madeira, separando assim apenas a hemicelulose, que é uma polpa de menor qualidade, de fibras curtas e de cor amarelada. O processo químico na indústria de papel mais difundido no Brasil é o Kraft, onde uma solução de hidróxido de sódio / sulfito de sódio, conhecido como licor branco, é adicionada para separar a celulose da matéria-prima lenhosa, etapa essa conhecida como digestão. Nesta operação, mais da metade da madeira se solubiliza, saindo junto com os produtos químicos na forma de uma lixívia escura, o licor negro. O licor negro é de particular interesse devido aos diversos impactos ambientais que pode causar no controle biológico, nas estações de tratamento de efluentes, de seu potencial impacto, em caso de derrames, na vida aquática e nas emissões no processo de combustão como TRS (Teor de Enxofre Reduzido) e poluentes atmosféricos. 2.4 Resíduos de Madeira (Lenha e Carvão Vegetal) Segundo Cardoso (2012), a lenha é definida como ramos, troncos, achas (tora de lenha, cavaca) de madeira tosca ou quaisquer pedaços de madeira que podem ser utilizados como combustível. Em relação a sua composição, a lenha possui de 41% a 49% de celulose, de 15% a 27% de hemicelulose e de 18% a 24% de lignina e seu poder calorífico inferior médio é de 3100 kcal/kg. A figura seguinte mostra grandes quantidades de lenha empilhadas. 13 Figura 7 – Lenha Créditos: OlegRi/Shutterstock. No Brasil, parte da lenha produzida é transformada em carvão vegetal. Esta transformação é realizada através dos processos de carbonização ou pelo processo de pirólise. Estudos técnicos demonstram que a geração de energia se utilizando cavacos de madeira, tem desempenho semelhante à geração utilizando do bagaço de cana, tanto relacionado ao nível tecnológico, este já consolidado, quanto ao comparado à escala de energia gerada por unidade termoelétrica. Este é um ponto relevante para o setor florestal. TEMA 3 – COMBUSTÃO, GASEIFICAÇÃO E BIODIGESTÃO Existem várias formas de realizar o aproveitamento da biomassa: combustão direta, de processos biológicos, chamado biodigestão e fermentação, e através de processos termoquímicos como a gaseificação, pirólise, liquefação e transesterificação. A Figura seguinte foi retirada do Atlas de Energia Elétrica do Brasil (2ª edição), publicado em 20 de outubro de 2016, e apresenta os principais processos de conversão da biomassa em energéticos. 14 Figura 8 – Processos Fonte: Atlas de Energia Elétrica do Brasil, 2016. Na tabela a seguir estão as principais técnicas de conversão da biomassa em energia, temperatura necessária (em ºC), pressão e produtos principais. Tabela 2 – Técnicas de Conversão em Biomassa Técnicas de conversão Temperatura (ºC) Pressão Produtos principais Combustão 800 - 1400 atmosférica - alta calor Pirólise 400 - 800 atmosférica - alta Líquidos, gases Gaseificação 650 - 110 atmosférica - alta CO, H2, CH4 Upgrade hidrotérmico 250 - 600 muito alta Líquidos, gases Fermentação (ou biodigestão) aeróbicapara cozimento (cooking), estação a biogás (biogás station), ou a cogeração (cogeneration), este último pode ser tanto para geração de calor (heat) como de eletricidade (electricity). A quantidade de biogás produzida depende, entre outros fatores, da tecnologia empregada na digestão e do substrato. A metanogênese é a etapa mais crítica e mais lenta da biodigestão, bastante influenciada pelas condições de operação, como temperatura, composição do substrato, taxa de alimentação, tempo de retenção, pH, concentração de amônia etc. O biogás obtido neste processo pode ser usado adequadamente em motores do ciclo Brayton, Otto ou Diesel. TEMA 4 – LIMPEZA DOS GASES No tema anterior, mais especificamente no tópico 3.2 desta aula, foi visto que o processo de gaseificação de biomassa é a conversão de combustíveis sólidos em gasoso, sendo que existem vários tipos de gaseificadores, podendo 18 ter leito fixo, leito fluidizado e leito de arraste. A figura apresenta o processo de “Geração de energia elétrica por sistema de gaseificação a biomassa” onde está mostrado que a etapa 3, após a colheita do material da biomassa, consiste na “Limpeza dos gases”, uma etapa muito importante para garantir a qualidade da bioeletricidade. Figura 10 – Esquema de Geração de Energia por Sistema de Gaseificação a Biomassa: Fonte: Cordeiro, 2018. 4.1 Histórico de Utilização do Gás de Biomassa A utilização do gás de biomassa surgiu em meados de 1881, sendo utilizado primariamente para o funcionamento de motores de combustão interna, e em torno de 1920, na Europa, sua utilização foi ampliada para o funcionamento de caminhões e tratores, onde era percebido que a falta de limpeza do gás comprometia a eficiência dos motores. A limpeza e remoção de componentes químicos prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana e a versatilidade do combustível gerado, como em motores de combustão interna e turbinas a gás, existentes nos combustíveis gerados através do processo de gaseificação são mais vantajosos em relação aos combustíveis sólidos. Nos motores de combustão interna (MCI) e nas turbinas a gás, a limpeza extensiva do gás deve ser obrigatória e rigorosa para garantir a qualidade de funcionamento do sistema. Um estudo realizado por Rodriguez (2007) relata o avanço da utilização e limpeza dos gases. • Em meados da década de 80, houve grande avanço e melhoria em relação à qualidade da limpeza do gás, principalmente para instalações de gaseificadores de biomassa de grande porte acoplados com grandes turbinas geradoras de potência. 19 • Já na década de 90, foram propostos diversos projetos de grande porte utilizando a gaseificação em turbinas. • Nos anos 2000, o interesse adicional no uso da gaseificação de biomassa como método para a produção de gás sínteses e hidrogênio se tornou expressivo. Os gases sínteses seriam usados para produzir combustíveis para o transporte ou na produção de produtos químicos e o interesse no hidrogênio derivado da biomassa é especificamente com a finalidade de produzir um combustível limpo para a operação de células de combustível. 4.1 Principais Poluentes no Gás de Biomassa Os principais componentes que devem ser eliminados do gás são: • material particulado; • componentes alcalinos; • alcatrão; e • enxofre. O material particulado (partículas) e o alcatrão presentes nos gases são mais impactantes tanto em quantidade quanto ao nível de eficiência que o gaseificador irá apresentar. Remover estas impurezas é necessário e importante para o bom funcionamento de MCIs, evitando, assim, problemas como travamentos e bloqueio dos equipamentos relacionados ao processo. 4.1 Classificação das Técnicas de Limpeza do Gás As técnicas de limpeza para o condicionamento do gás, de acordo com Macau (2017), podem ser classificadas em relação ao local onde os contaminantes são removidos, e em relação a temperatura em que ocorre a remoção destes contaminantes, sendo estas técnicas classificadas como: • Limpeza do Gás à Quente – referente a processos que ocorrem na faixa de temperatura de 400ºC a 1300ºC; • Limpeza do Gás à Frio – ocorre a temperaturas abaixo do ponto de ebulição da água; e 20 • Limpeza do Gás Morno – ocorre a temperaturas acima do ponto de ebulição da água e abaixo de aproximadamente 300ºC. Os sistemas de condicionamento do gás através de meios mecânicos podem ser classificados como seco, onde o alcatrão se encontra na forma de vapor e ocorrendo a temperaturas em torno de 200ºC a 500ºC, ou molhado, onde o alcatrão se encontra na forma de gotas, ocorrendo na faixa de 20ºC a 60º. TEMA 5 – BIODIESEL Um combustível produzido a partir da matéria orgânica, tais como produtos vegetais ou compostos de origem animal (biomassa), é chamado de biocombustível. Os biocombustíveis são biodegradáveis, causando menos impactos à natureza. De acordo com o Ministério de Minas e Energia – MME (2021), as fontes mais conhecidas no mundo são cana-de-açúcar (Sugar), milho (Starch), soja, semente de girassol, madeira e celulose (Cellulose). Essas fontes possibilitam a produção dos biocombustíveis como o álcool, etanol e o biodiesel. Devido às características físico-químicas semelhantes às do óleo diesel, o biodiesel pode ser utilizado em motores de veículos ou motores estacionários, ou seja, de combustão interna. Na figura a seguir, temos uma planta (Plant) de geração do etanol de biomassa (Biomass Ethanol) para postos de abastecimento a gás (Gas station), onde são apresentadas algumas das fontes descritas antes. 21 Figura 11 – Fontes de Etanol de Biomassa Créditos: metamorworks/Shutterstock. A BiodieselBr (2009) apresenta os biocombustíveis como fontes de energia que não contribuem para o acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera, conforme mostra a figura a seguir e o ciclo do biocombustível (Biofuel), onde pode-se observar a produção dos biocombustíveis a partir de fontes de biomassa, a utilização dos mesmos e os gases (CO2), gerados na queima dos biocombustíveis, sendo reabsorvidos durante pela nova safra, gerando equilíbrio entre a emissão e a absorção dos poluentes. Biocombustíveis como etanol e biodiesel, que contêm oxigênio em sua composição, quando adicionados aos combustíveis fósseis, ajudam a reduzir as emissões de monóxido de carbono (CO), gerando menos poluição atmosférica. 22 Figura 12 – Biocombustível Créditos: metamorworks/Shutterstock. A inserção do biodiesel na matriz energética brasileira ocorreu em 2005, com o objetivo de tornar o país cada vez mais autossuficiente energeticamente. Os benefícios desta fonte surgem tanto em questões ambientais, melhor desempenho ecológico em relação ao combustível fóssil, por exemplo, quanto em relação à viabilidade de produção através das diversas matérias-primas renováveis que existem. A produção progressiva do biodiesel no país brasileiro tem gerado grandes expectativas de desenvolvimento econômico. 5.1 Transesterificação O biodiesel é um combustível renovável obtido a partir de um processo químico denominado transesterificação (MME, 2021). A figura a 23 seguir mostra um processo de transesterificação do biodiesel (Trans- esterification of Biodiesel). Todo óleo de origem vegetal é composto de triglicerídeos (Triglyceride), uma molécula de glicerol ligada a três de ácido graxo, e ácidos graxos livres (AGL). O processo que se origina na reação de óleos vegetais com algum produto intermediário ativo resultado da reação entre um álcool (Alcohol) como metanol (Methanol) ou etanol, também conhecido como agente transesterificante, e um catalisador (Catalyst), ácido ou base (Acid/Alkaline), podendo ser um hidróxido de sódio ou de potássio. Essa reação resulta em dois produtos: o éster (Fatty acid ester) e a glicerina (Glycerol). Figura 12 – Trans-esterificaçãodo Biodiesel Créditos: BigBearCamera/Shutterstock. Os óleos vegetais que são compostos por ácidos graxos garantem melhor rendimento ao processo devido a melhor eficiência na interação entre o álcool e o catalisador, sendo o comércio do éster é feito apenas como biodiesel, após passar por processos de purificação para adequação à especificação da qualidade, sendo destinado principalmente à aplicação em motores de ignição por compressão (ciclo Diesel). 24 O biodiesel não deve conter impurezas para ser utilizado, nem conter traços de glicerina, água, catalisador residual ou álcool excedente, sendo necessárias etapas de purificação para se tornar de alta pureza. Conforme disponível no MME (2021), a breve história do biodiesel é apresentada a seguir. • A mistura do éster ao diesel fóssil teve início no ano de 2004, em caráter experimental e, entre 2005 e 2007, no teor de 2%, a comercialização passou a ser voluntária. A obrigatoriedade veio no artigo 2º da Lei n. 11.097/2005, que introduziu o biodiesel na matriz energética brasileira. Em janeiro de 2008, entrou em vigor a mistura legalmente obrigatória de 2% (B2), em todo o território nacional. Com o amadurecimento do mercado brasileiro, esse percentual foi sucessivamente ampliado pelo CNPE até o atual percentual de 12,0%. Quanto à especificação do biodiesel no Brasil, tem-se: • aprimoramento constantemente ao longo dos anos; • contribuição para o alinhamento da sua qualidade às condições do mercado brasileiro e a sua harmonização com as normas internacionais; • maior segurança e previsibilidade aos agentes econômicos; e • comércio no país para ser misturado ao óleo diesel A estabelecido através da Resolução ANP n. 45, de 25 de agosto de 2014. FINALIZANDO Chegamos ao final da nossa aula, onde pudemos estudar assuntos pertinentes ao tema Energia da Biomassa. Vimos que as fontes de biomassa podem ser toda matéria orgânica de origem vegetal ou animal, e pode ser utilizada na geração de energia, denominada Bioenergia ou Bioeletricidade. A biomassa pode ser obtida por meio da decomposição de recursos renováveis, como plantas, rejeitos de criadouros, abatedouros, destilarias, fábricas de laticínios, indústria de processamento de carnes, lenha, carvão, resíduos agrícolas, restos de alimentos, rejeitos urbanos, e até lixo. As vantagens de se utilizar a biomassa são o seu baixo custo, baixa emissão de gases poluentes, por ser uma excelente alternativa de energia http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/Lei/L11097.htm https://atosoficiais.com.br/anp/resolucao-n-45-2014?origin=instituicao&q=45/2014 25 renovável e pelo fato de possuir várias fontes para a produção de energia, a partir de uma grande variedade de materiais. Estudamos sobre o processo de geração de energia a partir da biomassa e seu ciclo, e os conceitos de três das tecnologias de conversão da biomassa em energia, sendo elas a combustão, gaseificação e biodigestão. Pudemos compreender a importância de realizar corretamente a limpeza dos gases para a melhor eficiência dos sistemas e conhecemos os principais componentes que devem ser eliminados do gás. Por fim, estudamos sobre o biodiesel, sendo este um combustível renovável obtido a partir de um processo químico denominado transesterificação, e cuja utilização tem servido para o processo de otimização do cenário energético brasileiro. Os biocombustíveis originados a partir desta fonte ajudam a reduzir as emissões de monóxido de carbono (CO), gerando menos poluição atmosférica. Espero que tenha aproveitado e gostado desta aula e nos vemos na futuramente, momento em que falaremos sobre mais uma energia muito interessante: a Energia do Hidrogênio. Até lá! 26 REFERÊNCIAS ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. “Atlas de Energia Elétrica do Brasil – 2ª. edição”. 2016. BIODIESELBR. Sobre os biocombustíveis. 2009. Disponível em: . Acesso em 12 dez. 2021. CARDOSO, B. M. Uso da Biomassa como Alternativa Energética. Trabalho de Conclusão de Curso. Engenharia Elétrica. UFRJ/ Escola Politécnica. Rio de Janeiro. 2012. CCEE - CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Volume de energia gerado por usinas a biomassa cresce 15% desde 2016. 2021. Disponível em: . Acesso em 12 dez. 2021. COPEL – Companhia Paranaense de Energia. Biomassa, 2016. Disponível em: . Acesso em 12 dez. 2021 CORDEIRO, K. X. Análise da Viabilidade de Sistema de Gaseificação a Bagaço de Cana para Produção de Energia Elétrica em Estabelecimento Comercial. Monografia. Universidade de Brasília, 2018. ECYCLE. O que é biomassa? Conheça vantagens e desvantagens, 2014. Disponível em: . Acesso em 12 dez. 2021 EMBRAPA. Matérias-primas e produtos. AGEITEC: Agência Embrapa de Informação Tecnológica. 2021. Disponível em: . Acesso em 12 dez. 2021 27 EPE – EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (Brasil). Balanço Energético Nacional 2021: Ano Base 2020. Rio de Janeiro: EPE, 2021a. 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