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Tema 4 - BIOMASSA versus BIOENERGIA

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AULA 4 
BIOENERGIA 
Prof. Marcos Baroncini Proença 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Biomassa versus bioenergia 
Anteriormente, fizemos um apanhado geral do que é a biomassa e a 
bioenergia. Na segunda, aprofundamos conhecimentos sobre a biomassa no 
mundo e no Brasil, explanando os principais tipos e como são usados para 
geração de energia. Discorremos, também, sobre os tipos de biocombustíveis e 
de bioenergia que podem ser produzidos pela biomassa. Mais uma vez, foi 
possível visualizar o potencial de protagonismo do Brasil, no cenário mundial, 
referente a bioenergia e bioeconomia. 
Nesta aula, iremos traçar um comparativo entre a biomassa disponível e os 
biocombustíveis e bioenergia gerados, buscando relacionar capacidade produtiva 
com produção real, a fim de que, posteriormente possamos ter subsídios para 
tratar da situação econômica e do potencial do Brasil, bem como da gestão da 
biomassa e biocombustíveis e bioenergia. 
TEMA 1 – APANHADO GERAL – BIOMASSA, BIOCOMBUSTÍVEIS E 
BIOENERGIA NO MUNDO E NO BRASIL 
Segundo relatório da World Bioenergy Association (WBA, 2018), embora a 
matriz energética mundial ainda dependa quase que na totalidade de 
combustíveis não renováveis, se verificou um aumento consistente, em torno de 
1% ao ano, da participação da energia proveniente da biomassa, chegando esta 
a representar quase 14% da energia consumida globalmente, conforme pode ser 
visto na Tabela 1 e o Gráfico 1. A África é o continente em que há a maior 
participação desse tipo de energia, chegando a representar 50% da energia que 
seus habitantes consomem. No lado oposto está a Europa, com pouco mais de 
10% de sua energia consumida sendo gerada pela biomassa. Em termos gerais, 
a energia proveniente da biomassa atingiu, em 2016, a quantidade de 55,6 EJ, 
constituindo 70% do total da energia renovável consumida globalmente, sendo, 
dessa energia, 1,05 EJ forma na forma de calor, 571 TWh de eletricidade e 3,43 
EJ de energia na forma de combustíveis líquidos e gasosos (WBA, 2018). 
 
 
 
 
3 
Tabela 1 – Produção global de energia, em EJ, por continentes 
 Total Carvão Petróleo Gás Natural Nuclear Renováveis Renováveis % 
África 34,8 4,53 8,29 4,83 0,16 17,0 48,8% 
América
 
141 16,9 55,2 40 10,6 17,8 12,7% 
Ásia 276 114 80,8 42,7 5,18 32,6 11,8% 
 Europa 119 18,5 37,4 37,9 12,5 12,5 10,5% 
Oceania 6,26 1,88 2,04 1,62 0,00 0,72 11,5% 
Mundo 576 156 184 127 28,5 80,6 13,6% 
Fonte: Adaptado de WBA, 2018, p. 9. 
Gráfico 1 – Participação, em percentuais, dos tipos de energia consumida no 
mundo 
 
Fonte: Adaptado de WBA, 2018, p. 9. 
 
É inegável que, em função da evolução tecnológica que hoje atinge áreas 
urbanas e rurais, incluindo o uso em larga escala de veículos automotivos, a 
energia elétrica se constitui na maior fonte de energia consumida e seu consumo 
só tende a crescer. Segundo a Bioenergy International (2019), plantas de geração 
de energia por meio da biomassa tiveram um acréscimo de 300 unidades em 
2018, sendo que hoje há 3,8 mil unidades dessas plantas no mundo, gerando 
cerca de 60 GW de eletricidade. Ainda segundo essa publicação, se espera até 
2027 a construção de mais 1,9 mil unidades, incrementando a produção da 
 
 
4 
energia em 25 GW, com destaque para a Ásia, onde se estima que 50% dessa 
capacidade será instalada, em especial na China e na Índia. O Brasil, os Estados 
Unidos e o Canadá são apresentados como mercados promissores e a Europa 
como um mercado em declínio para investimento nesse tipo de geração renovável 
de energia (Bioenergy International, 2019). 
No Brasil (2018b), as projeções de produção de biomassa e potencial 
energético até 2050 ultrapassam os 530 Mtep, como mostra o Gráfico 2. 
Gráfico 2 – Potencial de geração de energia em função da biomassa, projetado 
até 2050 
 
Fonte: Brasil, 2018b, p. 95. 
TEMA 2 – RESÍDUOS AGRÍCOLAS E DA AGROINDÚSTRIA VERSUS ETANOL, 
BIODIESEL, BIOGÁS E ENERGIA ELÉTRICA 
Podemos afirmar que, por ser um país proeminentemente agrícola e 
pecuário, sendo esses setores em que o Brasil tem excelência, na área agrícola 
e agroindustrial destacamos o potencial do país de transformar a biomassa gerada 
em biocombustíveis de primeira e segunda geração, com destaque para o etanol, 
mas com consolidada produção, também, de energia elétrica e potencial 
participação do biogás. 
Não há como iniciar este tema que não seja pela agroindústria da cana-de-
açúcar. Além da obtenção direta do etanol de primeira geração, que ocupa 
importante posição estratégica na matriz energética nacional, diretamente da 
 
 
5 
cana, do seu bagaço residual se obtém o etanol de segunda geração e a biomassa 
para geração de energia elétrica e calor, sendo ele, em quase sua totalidade, 
utilizado pelas próprias usinas e seu excedente negociado com o Sistema 
Interligado Nacional (SIN). A vinhaça vem sendo usada para obtenção de biogás 
e biofertilizante. 
Segundo Nota Técnica PR 09-18 da Empresa de Pesquisa Energética 
(EPE) (Brasil, 2018c), a projeção da oferta de etanol considera uma série de 
premissas, tais como: melhorias no ciclo da cana, a expansão da capacidade 
produtiva das usinas e a otimização da produtividade agrícola em toneladas de 
cana por hectare (tc/ha), melhoria da qualidade da cana (ATR/tc) e avanços na 
tecnologia de produção do etanol de segunda geração. Segundo a mesma nota 
técnica (Brasil, 2018c), a produção do etanol com base no milho vem ganhando 
incentivos e passará a contribuir nessa produção. Ainda segundo a nota, há uma 
projeção, até 2050, de estarem instaladas e funcionando mais de 37 usinas de 
produção de etanol de primeira geração, além das já existentes, que, segundo a 
União dos Produtores de Bioenergia, somam 411, bem como da implementação 
de 80 unidades de produção de etanol de segunda geração. Por sua vez, a 
capacidade de moagem, projetada para ter um aumento de capacidade de até 
90%, permitirá o processamento, até 2050, de 1,03 mil megatoneladas de cana. 
A cogeração de energia elétrica e calor contribuirá significativamente para a 
sustentabilidade dessa produção (Brasil, 2018c). 
A Nota Técnica PR 04/18 da EPE abre mais esses dados (Brasil, 2018b). 
Segundo essa nota, a utilização do bagaço, da palha e da ponta para produção 
de etanol de segunda geração e também para produção de energia elétrica e 
calor, além do uso da vinhaça, junto com outros resíduos da usina, para produção 
do biogás, vêm surgindo como novas e boas oportunidades de negócios para o 
setor sucroalcooleiro. A produção de cana-de-açúcar chegará a pouco mais de 
1,002 bilhão de toneladas até 2050, sendo que cerca de 304 mil toneladas se 
transformarão em bagaço, cerca de 443 toneladas se converterão em caldo para 
etanol e 175 toneladas se tornarão ponta e palha, como pode ser visto no Gráfico 
2 (Brasil, 2018b). Isso irá gerar, até 2050, uma energia equivalente a pouco mais 
de 140 megatoneladas equivalentes de petróleo, conforme projeção apresentada 
no Gráfico 3. 
Com relação ao milho, o etanol é produzido com base no amido presente 
no grão, que primeiro será convertido em açúcar. Sua produção gera vinhaça rica 
 
 
6 
em proteínas que, após centrifugada, gera o farelo destinado à alimentação do 
gado, o óleo de milho, que é comercializado, e água suja, que pode ser usada 
como adubo líquido orgânico (Brasil, 2018b). A maior vantagem de se produzir 
etanol do milho é que este grão pode ser estocado, garantindo biomassa para se 
produzir o ano inteiro. Em 2050, segundo Brasil (2018b), se estima alcançar uma 
produção considerável de 4 bilhões de litros de etanol com base no milho, sendo 
necessários para isso 10 milhões de toneladas desse cereal. 
Gráfico 3 – Projeção do crescimento de produção da cana-de-açúcar até 2050 
 
Fonte: Brasil, 2018b, p. 83. 
Gráfico 4 – Projeção do crescimento da produção deenergia com base na 
indústria da cana-de-açúcar, até 2050 
 
 
7 
 
Fonte: Brasil, 2018b, p. 84. 
É sempre bom enfatizar que estamos analisando a produção do etanol 
como um todo, sem discriminar o etanol em anidro e hidratado, lembrando que o 
etanol anidro é usado como aditivo à nossa gasolina e também destinado às 
indústrias de perfume e fármacos e o etanol hidratado é usado diretamente no 
abastecimento de veículos a combustão, com motores a ciclo de Otto. Porém, é 
inegável que boa parte dessa expectativa de produção se deve ao crescimento 
no consumo de etanol hidratado. 
Segundo a Nota Técnica PR 09/18 da EPE (Brasil, 2018c), as empresas 
aéreas pretendem, a partir de 2020, promover um crescimento zero de carbono 
na indústria de aviação, sendo que, para atingir esse objetivo, entre outras 
medidas, elas devem utilizar combustíveis drop-in, obtidos por processos 
certificados na American Society for Testing and Materials (ASTM) e denominados 
bioquerosene de aviação (BioQAV) (Brasil, 2018c). Segundo o documento técnico 
intitulado Esquema de redução de emissões da Aviação Civil Internacional 
(Corsia/Icao): desafios e oportunidades para o Brasil, elaborado para o Instituto 
de Desenvolvimento da Amazônia (Idesam), aquela resolução, tomada na 39a 
Assembleia da Organização da Aviação Civil Internacional (Icao), foi denominada 
Carbon Offseting and Reduction Scheme for International Aviation (Corsia) e 
entrará em vigor entre 2021 e 2035 (Soares; Cenamo, 2018). Ainda no mesmo 
documento (Soares; Cenamo, 2018), há uma estimativa crescente do uso do 
BioQAV, como apresentado no Gráfico 5. Entre as rotas certificadas pela ASTM, 
há duas que usam a biomassa de resíduos agrícolas e três que usam diretamente 
produtos agrícolas ou da agroindústria para a produção daquele combustível, 
conforme apresentado no Quadro 1. 
 
 
8 
Gráfico 5 – Medidas Corsia/Icao para cumprimento das metas de redução de 
emissões de gás carbônico pela aviação internacional 
Fonte: Adaptado de Soares; Cenamo, 2018, p. 10. 
Quadro 1 – Rotas para a produção do BioQAV certificadas pela ASTM 
Nome da rota Matéria-prima Principal 
produto Mistura máxima Empresas 
produtoras 
HEFA-SPK gorduras, óleos 
e graxas Iso e N-parafinas 50% UOP, Neste e 
Syntroleum 
FT-SPK 
resíduos 
agrícolas e 
florestais, 
madeira e 
resíduos sólidos 
Iso e N-parafinas 50% Sasol, Shell e 
Syntroleum 
FT-SPK/A 
resíduos 
agrícolas e 
florestais, 
madeira e 
resíduos sólidos 
Iso, N-parafinas 
e aromáticos 50% Sasol, Shell e 
Syntroleum 
ATJ-SPK 
matérias-primas 
renováveis 
(cana-de-açúcar, 
milho ou 
resíduos 
florestais) 
Iso e N-parafinas 50% Gevo, Cobalt e 
Lanzatech 
SIP açúcares Parafinas 10% Amyris 
Fonte: Brasil, 2018c, p. 75. 
 
 
9 
Dentre nossas biomassas para produção do BioQAV, se destacam a cana-
de-açúcar, a soja, o babaçu, a macaúba e a palma. 
Da biomassa da agricultura também é produzido o biodiesel, sendo que, 
segundo Brasil (2018c), ele tem como sua principal matéria-prima as oleaginosas 
agrícolas, em especial o óleo de soja, sendo que, até 2050, terá como segunda 
matéria-prima o óleo de palma. A nota apresenta uma projeção pela qual, 
somando a produção do óleo de palma da Bahia e a da Amazônia Legal, haverá 
uma produção equivalente, a mais, de 19 Mtep, contra pouco mais de 34 Mtep de 
óleo de soja. Porém, a curva de crescimento do óleo de palma se apresenta mais 
ascendente do que a do óleo de soja, conforme apresentado no Gráfico 6. 
Gráfico 6 – Projeção da produtividade de biomassa e biodiesel até 2050 
 
Fonte: Brasil, 2018b, p. 87. 
Com relação à energia elétrica, embora a participação percentual da 
biomassa na sua geração total venha diminuindo com o crescimento da hidráulica, 
conforme o boletim Informações gerenciais da Agência Nacional de Energia 
Elétrica (Aneel) (Brasil, 2018a), a participação da biomassa agroindustrial na 
geração de energia em termoelétricas é crescente e hoje supera os outros 
combustíveis, conforme apresentado nas Figuras 1 e 2. 
 
 
10 
Figura 1 – Energia gerada e participação por fonte, até março de 2018 
 2016 2017 2018 2017 2017 2017 2017 2018 
Energia gerada 
em GWh 
Jan.-
Dez. 
Jan.-
Dez. 
Jan.-
Mar. 
Jan.-
Mar. 
Abr.-
Jun. 
Jul.-Set. Out.-
Dez. 
Jan.-
Mar. 
Despachada ao 
SIN 
536.567 547.360 139.903 145.377 132.425 131.174 138.384 139.903 
Fora do Sistema 
Interligado 
2.703 2.011 706 612 673 726 769 706 
Total de Geração 539.270 549.370 140.609 145.989 133.097 131.899 139.153 140.609 
Participação por 
fonte 
Renováveis 
82,8% 80,9% 86% 85,9% 82,5% 77,1% 77,6% 86% 
Disto: Hidráulica 75,7% 72% 80,1% 80,8% 74,6% 64,8% 67,3% 80,1% 
Biomassa 1,4% 1,6% 0,7% 0,7% 1,8% 2,5% 1,8% 0,7% 
Eólica/Fotovoltaica 5,7% 7,2% 5,2% 4,5% 6,2% 9,8% 8,6% 5,2% 
Não renováveis 17,2% 19,1% 14% 14,1% 17,5% 22,9% 22,4% 14% 
Disto: Gás natural 8,3% 9,9% 6,7% 6,7% 8,8% 12,4% 11,9% 6,7% 
Óleo 
diesel/Combustível 
1,5% 1,7% 1,1% 0,9% 0,9% 2,7% 2,3% 1,1% 
Carvão 2,9% 2,7% 2,3% 2,1% 2,6% 2,9% 3,3% 2,3% 
Nuclear 2,9% 2,9% 2,1% 2,7% 3,1% 2,8% 2,9% 2,1% 
Outras 1,6% 1,9% 1,8% 1,6% 2% 2% 2% 1,8% 
 
 
Fonte: Adaptado de Brasil, 2018a, p. 6. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
Figura 2 – Participação das fontes de energia em termoelétricas 
Tipo Usinas termelétricas1 
Quantidade Potência instalada 
(kW)2 
% 
Biomassa 
Agroindustriais 
Bagaço de cana-de-
açúcar 401 11.180.735 26,9% 
Biogás-AGR 2 948 0% 
Capim-elefante 2 31.700 0,1% 
Casca de arroz 12 45.333 0,1% 
Biocombustíveis 
líquidos 
Etanol 1 320 0% 
Óleos vegetais 2 4.350 0% 
Floresta 
Carvão vegetal 8 43.197 0,1% 
Gás de alto forno - 
biomassa 10 114.265 0,3% 
 
Lenha 4 23.900 0,1% 
Licor negro 18 2.542.616 6,1% 
Resíduos florestais 55 425.197 1% 
Resíduos 
animais Biogás - RA 14 4.481 0% 
Resíduos 
sólidos urbanos 
Biogás - RU 19 128.851 0,3% 
Carvão - RU 1 2.700 0% 
Fóssil 
Carvão mineral 
Calor de processo - CM 2 28.400 0,1% 
Carvão mineral 14 3.323.740 8% 
Gás de alto forno - CM 10 375.330 0,9% 
Gás natural 
Calor de processo - GN 1 40.000 0,1% 
Gás natural 165 12.953.699 31,2% 
Outros fósseis Calor de processo - OF 1 147.300 0,4% 
Petróleo 
Gás de alto forno - PE 1 1.200 0% 
Gás de refinaria 6 315.560 0,8% 
Óleo combustível 78 4.055.967 9,8% 
Óleo diesel 2.157 4.720.995 11,4% 
Outros energéticos de 
petróleo 18 1.028.328 2,5% 
 Total 3.002 41.539.113 100% 
1 Usinas em operação com outorga regularizada. 
2 Sujeita à fiscalização da Aneel. 
 
 
Fonte: Adaptado de Brasil, 2018a, p. 5. 
 
 
 
12 
TEMA 3 – RESÍDUOS DA PECUÁRIA E DA AGROINDÚSTRIA VS. BIODIESEL E 
BIOGÁS 
Segundo a Nota Técnica PR 04/18 da EPE (Brasil, 2018b), em 2018, a 
produção de biomassa da pecuária confinada se aproximou de 250 milhões de 
toneladas de biomassa e gerou um potencial de produção de energia superior a 
10 milhões de tep, tomando como base a geração de biogás e sua conversão em 
energia elétrica e calor, conforme apresentado no Gráfico 7, cuja parametrização 
tomou como base a média de produção de dejetos de bovinos, suínos e aves 
apresentada no Quadro 2, pois ela representa quase a totalidade da produção da 
pecuária confinada do Brasil. 
Quadro 2 – Produção média diária de biomassa para produção de biogás 
Tipo de gado Valor Unidade 
Vaca leiteira 15 kg de esterco/dia.animal 
Suínos 2,5 kg de esterco/dia.animal 
Aves 0,1 kg de esterco/dia.animal 
Fonte: Brasil, 2018b, p. 90. 
Gráfico 7 – Projeção de biomassa e bioenergia potenciais, até 2050 
 
Fonte: Brasil, 2018b, p. 90. 
 
 
13 
É possível observar, no Gráfico 7, que a projeção de produção de biomassa 
da pecuária confinada deverá superar450 milhões de toneladas até 2050, com 
um potencial de geração de energia que superará os 18 milhões de tep. 
Com relação ao biodiesel, a pecuária é hoje a segunda maior fonte de 
biomassa para sua produção, respondendo, segundo Brasil (2018b), por 15% da 
oferta disponível – poderia fornecer 35%, se fosse usado todo o sebo disponível. 
A expectativa é de que, até 2050, sejam produzidos 2,2 milhões de toneladas de 
gordura proveniente da pecuária, com capacidade para geração de energia por 
biodiesel superior a 2,3 milhões de tep. 
TEMA 4 – RESÍDUOS URBANOS VS. BIOGÁS, ELETRICIDADE E CALOR 
A biomassa produzida de resíduos urbanos depende de uma série de 
fatores, dentre eles o nível econômico da região; sua localização, se mais para 
uma capital ou para o interior ou o litoral; a renda per capita da população e seus 
hábitos alimentares. Da biomassa gerada podem ser produzidos principalmente 
biogás e eletricidade, havendo também o caso dos óleos de cocção usados como 
uma boa matéria-prima para a produção do biodiesel. 
Segundo Brasil (2018b), tomando como base estudo feito a partir de 2014 
no Brasil e também a situação da Europa e como parâmetro principal a expectativa 
de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e da população e sua relação com a 
produção per capita de resíduos urbanos sólidos e líquidos, bem como sua 
composição, há uma expectativa de produção de cerca de 1,38 kg/dia, per capita, 
totalizando quase 114 milhões de toneladas de resíduos orgânicos até 2050, 
conforme apresentado na Tabela 2. Ainda segundo Brasil (2018b), cerca de 30% 
desse resíduo será orgânico, 33% papéis e 22% plásticos. Esses números geram 
uma expectativa de potencial de energia que pode ser gerada de quase 19 GJ por 
tonelada de resíduos sólidos urbanos até 2050, conforme apresentado na Tabela 
3. 
 
 
 
14 
Quadro 3 – Expectativa de geração de resíduos sólidos urbanos até 2050 
Ano Produção de 
RSU (1.000 t) 
Produção diária 
per capita 
(kg/hab./dia) 
% 
Orgânico Papéis Plásticos Vidros Metais Outros 
2013 73.300 0,99 56 20 13 3,3 2,2 5 
2014 74.579 1 56 20 13 3,4 2,2 5 
2015 75.855 1,01 55 20 14 3,4 2,3 5 
2020 82.188 1,06 52 22 15 3,7 2,4 5 
2025 88.380 1,11 49 24 16 3,9 2,6 5 
2030 94.347 1,16 46 25 17 4,2 2,8 5 
2035 100.019 1,21 42 27 18 4,5 3 5 
2040 105.264 1,26 39 29 19 4,8 3,2 5 
2045 109.933 1,32 34 31 21 5,2 3,5 5 
2050 113.940 1,38 30 33 22 5,6 3,7 5 
 Fonte: Adaptado de Brasil, 2018b, p. 91. 
Quadro 4 – Expectativa de potencial de energia a ser gerada em função dos 
resíduos sólidos urbanos, até 2050 
Ano Energia Primária 
GJ/t de RSU 
Energia Elétrica 
kWh/kg de RSU 
2013 13,14 0,26 
2014 13,26 0,26 
2015 13,39 0,26 
2020 14,07 0,28 
2025 14,77 0,29 
2030 15,51 0,31 
2035 16,29 0,32 
2040 17,11 0,34 
2045 17,97 0,35 
2050 18,87 0,37 
Fonte: Adaptado de Brasil, 2018b, p. 92. 
Com relação ao esgoto domiciliar, em um estudo que leva em consideração 
a projeção da taxa de atendimento da sua coleta, para uma taxa de atendimento 
 
 
15 
prevista de 100% do esgoto domiciliar até 2050, a expectativa de volume de 
esgoto coletado é de mais de 14,5 bilhões de m3, dos quais quase 3 milhões de 
m3 compostos exclusivamente de fração orgânica, conforme apresentado na 
Tabela 4, gerando uma expectativa de produção de energia próxima a 1 milhão 
de tep. 
Quadro 5 – Expectativa de aumento da biomassa de tratamento de esgoto 
doméstico, até 2050 
Ano Taxa de atendimento de 
esgoto domiciliar (%) 
Volume de esgoto 
coletado (mil m3) Fração orgânica (mil m3) 
2013 67% 8.429.995 1.686 
2014 68% 8.660.992 1.732 
2015 69% 8.894.137 1.779 
2020 75% 10.090.820 2.018 
2025 81% 11.332.290 2.266 
2030 88% 12.607.818 2.522 
2035 95% 13.907.504 2.782 
2040 100% 14.747.647 2.950 
2045 100% 14.769.384 2.954 
2050 100% 14.667.151 2.933 
 
Ano Energia Primária GJ/t de RSU Energia Elétrica kWh/kg de RSU 
2013 13,14 0,26 
2014 13,26 0,26 
2015 13,39 0,26 
2020 14,07 0,28 
2025 14,77 0,29 
2030 15,51 0,31 
2035 16,29 0,32 
2040 17,11 0,34 
2045 17,97 0,35 
2050 18,87 0,37 
Fonte: Adaptado de Brasil, 2018b, p. 93. 
 
 
 
 
16 
TEMA 5 – MADEIRA E RESÍDUOS DA INDÚSTRIA MADEIREIRA VS. CARVÃO 
VEGETAL, ENERGIA ELÉTRICA E CALOR 
Com o desenvolvimento de tecnologias voltadas à energia sustentável, a 
madeira ganhou novo destaque no cenário energético e de combustíveis 
internacional, passando de uma simples fonte para produção de carvão vegetal 
para uma ampla fonte não só de geração de carvão mas também de pellets, de 
biogás e, com o advento das florestas energéticas, para geração de eletricidade 
e calor. 
Segundo Brasil (2018b), a produtividade média florestal no Brasil está entre 
35 m3 e 40 m3 de madeira por hectare. Com o melhoramento genético de espécies 
e de técnicas de produção, a expectativa é de chegar a quase 69 m3 por hectare, 
em 2050. Com isso, o potencial de geração de energia, como biogás, carvão, 
energia elétrica e calor, atingirá um valor próximo a 100 milhões de tep até 2050, 
com base em estudo realizado sobre a biomassa florestal a partir de 2014, que 
verificou que o potencial de geração de energia foi de 30 milhões de tep, ampliado 
para mais de 40 milhões de tep em 2018, conforme apresentado no Gráfico 8. 
Gráfico 8 – Expectativa de geração de energia com biomassa florestal até 2050 
Fonte: Brasil, 2018b, p. 80. 
Segundo Brasil (2018c), essa produtividade da biomassa está diretamente 
relacionada com os setores estratégicos demandantes, tais como fábricas de 
papel e celulose, siderurgia e indústria madeireira. Mas, há uma crescente 
 
 
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plantação de florestas energéticas, com função específica de serem usadas em 
usinas de produção de calor e energia elétrica. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BIOENERGY INTERNATIONAL. Biomass power continues global growth 
trajectory amid support policy changes. Estocolmo, 28 jan. 2019. Disponível 
em: . Acesso em: 23 maio 
2019. 
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Agência Nacional de Energia Elétrica. 
Informações gerenciais. Brasília, mar. 2018ª. Disponível em: 
. Acesso em: 23 maio 2019. 
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Empresa de Pesquisa Energética. Nota 
Técnica PR 04/18: potencial dos recursos energéticos no horizonte 2050. Rio de 
Janeiro, set. 2018b. 
_____. Nota Técnica PR 09/18: premissas e custos da oferta de 
biocombustíveis no horizonte de 2050. Rio de Janeiro, dez. 2018c. 
SOARES, P. G.; CENAMO, M. C. Esquema de redução de emissões da 
Aviação Civil Internacional (Corsia/Icao): desafios e oportunidades para o 
Brasil. São Paulo: Idesam, 2018. Disponível em: . Acesso em: 23 
maio 2019. 
WBA – World Bioenergy Association. WBA global bioenergy statistics 2018. 
Estocolmo, 2018. Disponível em: 
. Acesso em: 22 maio 2019. 
	INTRODUÇÃO
	Biomassa versus bioenergia

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