Prévia do material em texto
O PSICÓLOGO COMO MEDIADOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Novas Teorias e Práticas à Psicologia Escolar EMÍLIO FIGUEIRA www.emiliofigueira.com O PSICÓLOGO COMO MEDIADOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Novas Teorias e Práticas à Psicologia Escolar São Paulo - 2018 FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL © 2018– Emílio Carlos Figueira da Silva O PSICÓLOGO COMO MEDIADOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA – Emilio Figueira. – São Paulo : Figueira Digital/Agbook, 2018. 1. Psicologia. 2. Educação Inclusiva. 3. Inclusão. 4. Pessoas com Deficiência É PROIBIDA A REPRODUÇÃO Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, assim como traduzida, sem permissão, por escrito, do autor. Os infratores serão punidos pela Lei no. 9.610/98. SUMÁRIO A PSICOLOGIA ESCOLAR DIANTE DA EDUICAÇÃO INCLUSICA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E OS NOVOS DESAFIOS À PSICOLOGIA O QUE É EDUCAÇÃO INCLUSIVA A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA LEI BRASILEIRA DA INCLUSÃO: SAIBA O QUE MUDA NO ENSINO AS BASES PSICOLÓGICAS PARA A INCLUSÃO ESCOLAR ATENÇÃO ÀS HABILIDADES E OS EFEITOS POSITIVOS DA DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA O TRABALHO JUNTO À EQUIPE ESCOLAR TRABALHANDO A ANSIEDADE DOS PROFESSORES NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR CAMINHOS DA AFETIVIDADE E O HÁBITO DE PESQUISAR EDUCAÇÃO INCLUSIVA É TER PENSAMENTOS POSITIVOS E FOCADOS PROVISÃO DE OPORTUNIDADES EQUITATIVAS A TODOS OS ESTUDANTES A QUESTÃO DO BULLYING E OS ESPORTES ADAPTADOS UMA CONVERSA DE CONSULTÓRIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS TERAPIAS COMPLEMENTARES A PARCERIA ENTRE FAMÍLIA, ESCOLA E COMUNIDADE AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E OS NOVOS DESAFIOS AO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL A UNIVERSIDADE E A SOCIEDADE INCLUSIVA AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA ATUALIDADE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A PSICOLOGIA ESCOLAR DIANTE DA EDUICAÇÃO INCLUSICA A Psicologia é um campo de muitas possibilidades. E uma delas é atuar junto aos profissionais envolvidos em atividades educacionais (professores, diretores, coordenadores, educadores) oferecendo contribuições da Psicologia do Desenvolvimento, Aprendizagem, Ensino, Social, para melhorias nos processos de ensino e de aprendizagem. Além do processo ensino-aprendizagem e desenvolvimento humano particularmente, algumas das temáticas de atuação dentro da Psicologia Escolar são a escolarização em todos os seus níveis, inclusão de pessoas com deficiências, políticas públicas em educação, gestão psicoeducacional em instituições, avaliação psicológica, história da Psicologia Escolar, formação continuada de professores, entre outras. Hoje, muitos de nós psicólogos, membros de uma equipe escolar ou não, estamos sendo chamados para auxiliar professores com alunos inclusivos. Tenho recebido inúmeras mensagens de colegas perguntando-me: Qual o papel e as mediações que um psicólogo deve exercer neste processo de Educação Inclusiva? São várias possibilidades de mediações. Inclusive, as inseguranças dos professores, acredito como sempre que a raiz do problema é a falta de informações claras e objetivas. O caminho para sanar tais inseguranças será promovendo encontros e/ou treinamentos de formação e discussões em que sejam apresentadas as novas concepções sobre a inclusão, que falam, sobretudo, das possibilidades de aprendizagem. Assim elaborei O PSICÓLOGO COMO MEDIADOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA com estes tópicos de discussão: as pessoas com deficiências e os novos desafios à psicologia; o que é educação inclusiva e sua transição com a educação especial; a Lei Brasileira da Inclusão; as bases psicológicas para a inclusão escolar; habilidades e os efeitos positivos das deficiências; o trabalho junto à equipe escolar; a ansiedade dos professores no processo de inclusão escolar; caminhos da afetividade e o hábito de pesquisar; educação inclusiva é ter pensamentos positivos e focados; provisão de oportunidades equitativas a todos os estudantes; a questão do bullying e os esportes adaptado; a parceria entre família, escola e comunidade; os novos desafios ao ensino superior no Brasil; a universidade e a sociedade inclusiva; as dificuldades de aprendizagem na atualidade. Apresentando-me como autor, tenho mais de quarenta anos ligado ao mundo da inclusão. Por causa de uma asfixia durante o parto, adquiri paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Mas nunca me deixou abater por sua deficiência motora e vivo intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo e personal coach com formação em Programão Neurolinguística. Como escritor tenho uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de setenta títulos lançados. Ator e autor de teatro. Várias entrevistas na mídia e em jornais. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, sou professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Sei que algumas coisas que faço, produzo ou escrevo podem apresentar erros. Só que para mim o feito é melhor que o perfeito escondido em uma gaveta. Sempre estarei em busca de resultados e não de reconhecimentos acadêmicos ou eruditos. E com os meus passos dentro das minhas possibilidades, com meus erros e acertos, continuarei fazendo a minha parte para uma Escola e uma Sociedade inclusiva! No meu site pessoal há muito mais materiais gratuitos sobre Educação Inclusiva: www.emiliofigueira.com AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E OS NOVOS DESAFIOS À PSICOLOGIA Nas últimas décadas a sociedade brasileira viu crescer o conceito de inclusão das pessoas com deficiência. Ações ganharam forças em todos os segmentos e isto também trouxe questionamentos sobre o papel dos psicólogos diante do novo cenário.; Se antes a pergunta era “O que são pessoas com deficiência?”, hoje a pergunta precisa ser “Como nós psicólogos devemos atuar para ajudar as pessoas com deficiência a ter mais autoestima e uma vida plena?”. UMA PEQUENA REVISÃO HISTÓRICA Vários conhecimentos históricos e teóricos nos dão bases para isto. As relações da Psicologia com as deficiências têm marco inicial e histórico em Lev Semenovich Vygostsky (1896-1934), quando este pensador russo, em 1925, começou a organizar o Laboratório de Psicologia para Crianças Deficientes (transformado, em 1929, no Instituto de Estudos das Deficiências e, após sua morte, no Instituto Científico de Pesquisa sobre Deficiências da Academia de Ciências Pedagógicas). Vygotsky dirigiu, ao mesmo tempo, um departamento de educação de crianças com deficiências físicas e mentais, em Narcompros (Comitês Populares de Educação), bem como ministrou cursos na Academia Krupskaya de Educação Comunista, na Universidade Estadual de Moscou (posteriormente chamado de Instituto Pedagógico Estadual de Moscou) e no Instituto Pedagógico Hertzen, em Leningrado. Entre 1925 e 1934, Vygotsky reuniu em torno de si um grande grupo de jovens cientistas, que trabalhava nas áreas de Psicologia e no estudo das anormalidades físicas e mentais. Aqui no Brasil, o interesse da Psicologia pelas questões das pessoas com deficiência, também faz nascer a expressão “excepcional”, por uma necessidade de classificação. Essa história começa com a vinda da psicóloga russa Helena Antipoff para o Brasil na década de 30, a convite do governo mineiro para lecionar Psicologia Educacional na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Minas Gerais, juntamente com muitos outros professores estrangeiros, afim de trazerem para o Brasil novas técnicas e concepções pedagógicas e psicológicas que se desenvolviam nos centros mais adiantados do mundo. Esses ideais lhe inspiraram a criar duas instituições com a intenção de dar assistência às crianças: Antipoff, em novembro de 1932, com a colaboração de algumas antigas alunas da Escola de Aperfeiçoamento, fundou a primeira Sociedade Pestalozzi do País, com sede em Belo Horizonte e, anos mais tarde, a Fazenda do Rosário, em 1940, significando uma grande mudança na forma de lidar com as crianças marginalizadas.psicólogos devemos está preparados para receber esses professores para esses diálogos. Não se esquecer, porém, de que quem sabe como ensinar a criança é o professor. Há várias contribuições que nós, enquanto psicólogos, podemos dar à Educação Inclusiva. Muitos psicólogos estão trabalhando na formação pedagógica ou continuada de professores. E uma das primeiras tarefas quando falamos de Educação Inclusiva será levá-los à refletir que, ao contrário do que possa parecer, incluir o aluno com deficiência, não significa apenas colocá-lo em uma classe de uma escola de ensino regular e pronto! Será necessário todo o preparo dos professores e certas adaptações antes. Adaptações de grande porte (de responsabilidade exclusivas dos órgãos federais, estaduais e municipais) e de pequeno porte, cabendo aos professores especializarem para saber como transmitir ensinamentos para qualquer tipo de aluno. A QUESTÃO DO BULLYING E OS ESPORTES ADAPTADOS Vemos que a LDB sustenta que manter crianças com algum tipo de deficiência fora do ensino regular é considerado exclusão, e crime, passível de sanções e penalidades. O principal motivo das crianças irem para escola, é que vão encontrar um espaço democrático, onde poderão compartilhar o conhecimento e a experiência com o diferente. Muitas vezes os alunos com deficiência enfrentam na escola alguns obstáculos como olhares discriminatórios de outros alunos, pais e demais pessoas que fazem parte do cotidiano escolar. Hoje o bullying é um foco bem forte de preocupação dentro das escolas. Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. E reforçar a supervisão é uma forma de combater a prática. Enquanto psicólogos educacionais podemos conversar com os alunos, explicar que não podemos considerar alguém diferente ou "defeituoso" só por apresentar algum tipo de deficiência. Na verdade somos todos diferentes uns dos outros, isso compõe nossa característica particular e nos torna únicos. E se um ou vários coleguinhas apresentam deficiência, é uma ótima oportunidade de demonstrarmos nossa solidariedade, ajudando-o em suas dificuldades e nunca zombando ou tratando-o mal. Crianças que alegam dores ou qualquer motivo não ir à escola podem estar sendo vítimas de bullying. Ele ocorre sempre quando não há nenhuma fiscalização de adultos ou responsáveis. Portanto, outro fator importante: deve haver mais fiscalização e profissionais especializados para conduzir os alunos durante os intervalos e mesmo durante as aulas. E é bom saber, também, que a escola pode ser enquadrada no Código de Defesa do Consumidor, pois presta serviço aos consumidores e é responsável por todos os acontecimentos dentro de suas dependências - isso inclui bullying. Mas deve-se lembrar que, ocorrendo fora dos portões da escola, torna-se difícil enquadrá-la, já que foge do local interno. Importante também saber que tanto agressores quanto agredidos necessitam de muito diálogo e acompanhamento terapêutico para solucionar seus traumas e conflitos. OS ESPORTES ADAPTADOS Dentre outras atividades sociais possíveis à nossa atuação enquanto psicólogos junto às pessoas com deficiência dentro e fora das escolas, certamente uma das mais apaixonantes serão as atividades físicas, esportivas ou de lazer, tendo elas valores terapêuticos e evidenciado benefícios, tanto na esfera física quanto psíquica. O engajamento, seja com objetivo de movimentar-se, jogar ou praticar um esporte ou atividade física regular, já agrega pessoas com deficiência visual, auditiva, mental ou física, proporcionando dentre todos os benefícios esportivos, também uma forma de inclusão social. Esses atletas são mundialmente conhecidos, tendo a oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias à sua deficiência. Em termos físicos, permite-lhes ganhos de agilidade no manejo da cadeira de rodas, de equilíbrio dinâmico ou estático, de força muscular, de coordenação, coordenação motora, dissociação de cinturas, de resistência física; enfim, o favorecimento de sua readaptação ou adaptação física global, ativando a circulação, estimulando os músculos, evitando o acúmulo de gordura localizada através da queima da mesma no ciclo energético, equilibrando o eixo glandular do tálamo, hipotálamo, gônadas, suprarrenal, melhorando a habilidade para coordenar movimentos, estando mis rápido, ágil e flexível. Em termos psíquicos, permite-lhes ganhos variados, como a melhora da autoestima na inclusão social, redução da agressividade, dentre outros benefícios. No decorrer das últimas décadas, foram criadas ou adaptadas modalidades permitindo a participação em eventos competitivos de cada grupo. As modalidades esportivas são baseadas na classificação funcional (a CIF) e atualmente apresentam uma grande variedade de opções olímpicas: arco e flecha, atletismo, basquetebol, bocha, ciclismo, equitação, futebol, halterofilismo, iatismo, natação, rugby, tênis de campo, tênis de mesa, tiro, futebol de paralisados cerebrais, voleibol. Ao escolher uma modalidade esportiva a ser praticada, vários fatores precisam ser levados em conta; principalmente a realidade dos tipos e graus de deficiência dessas pessoas, podendo ser poliomielite, lesados medulares, lesados cerebrais, amputados, deficiências mentais ou sensoriais dentre outras; sua preferência esportiva, sua condição sócio-econômica, suas limitações e potencialidades, facilidade nos meios de locomoção e transporte, existência e disponibilidade de materiais e locais adequados, do estímulo e respaldo familiar, de profissionais preparados para atendê-los, sempre considerando e respeitando as limitações e potencialidades individuais do praticante, visando englobar tais objetivos: melhoria e desenvolvimento de autoestima, autovalorização e autoimagem; o estímulo à independência e autonomia; a socialização com outros grupos; a experiência com suas possibilidades, potencialidades e limitações; a vivência de situações de sucesso e superação de situações de frustração; a melhoria das condições organo-funcional (aparelhos circulatório, respiratório, digestivo, reprodutor e excretor); melhoria na força e resistência muscular global; ganho de velocidade; aprimoramento da coordenação motora global e ritmo; melhora no equilíbrio estático e dinâmico; a possibilidade de acesso à prática do esporte como lazer, reabilitação e competição; prevenção de deficiências secundárias; promover e encorajar o movimento; motivação para atividades futuras; manutenção e promoção da saúde e condição física desenvolvimento de habilidades motoras e funcionais para melhor realização das atividades de vida diária desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas. Uma das tarefas principais para nós psicólogos será promover a autoaceitação e confiança que permitirão à pessoa desenvolver habilidades e talentos que promovam a superação e compensam a sua deficiência, validando todas as tentativas. O esporte adaptado às pessoas com deficiência em eventos no Brasil e no mundo vem sendo ampliada. Também podendo ser considerado como processo de reabilitação, tais atividades físicas e esportivas, competitivas ou não devem ser orientadas e estimuladas, visando assim possibilitar os benefícios que estas atividades podem oferecer, visando uma melhor qualidade de vida. Tendo como função social e psíquica, jogos organizados sobre cadeira de rodas ficaram conhecidos após a Segunda Guerra Mundial, quando muitos dos soldados que combateram nas frentes de batalha, voltaram aos seus países com sequelas permanentes. Estabeleceu-se por meta proporcionar melhores condições de vida às pessoas com deficiências pós-guerra considerados heróis dignos de respeito da população por isto,bem como uma preocupação governamental. Surgiu uma situação emergencial de construção de centros de reabilitação e treinamento vocacional, em todo o mundo. Os programas desses diferentes centros perceberam que os esportes eram um importante auxiliar na reabilitação dos veteranos de guerra que adquiriram algum tipo de deficiência. UMA CONVERSA DE CONSULTÓRIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS TERAPIAS COMPLEMENTARES Neste capitulo vou reproduzir uma conversa que tive com uma mãe, até mesmo como uma forma de ilustrar os diálogos e orientações que podemos ter com famílias de alunos em fase de inclusão. Algum tempo atrás, recebi em meu consultório uma jovem senhora que chamarei aqui de Maria para preservar sua identidade. Após nos cumprimentarmos e sentarmos para uma conversa, ela, meio afoita em seu discurso, foi me contando sem que eu a interrompesse: - Meu nome é Maria, sou mãe do Pedro [também troco o nome] de sete anos que os médicos dizem ter aparentemente atraso no desenvolvimento psicomotor e na fala. Atualmente, ele estuda na escola da prefeitura de uma pequena cidade no interior de São Paulo. Está no segundo ano sem saber ler e escrever e não tem coordenação motora. Hoje, enfrento um grande problema, pois ele é uma criança agressiva, bate nos professores e em algumas crianças quando contrariado ou até mesmo sem motivos. A escola me cobra muito referente a levá-lo aos especialistas, mas não vejo cooperação nenhuma dos professores em tentar ter paciência, enfim, não tem especialidade nenhuma em educação especial que, pelo que sei, ajudaria muito! Fui forçada a levá-lo a um psiquiatra que o medicou contra minha vontade, pois acredito que hoje ele é agressivo porque na escola as professoras não souberam lidar com as dificuldades apresentadas. Cheguei a ouvir de professores que eles não podiam fazer nada, que eu teria que ajudá-lo em casa, pois havia muitos alunos. Hoje, posso dizer que sou um pouco mais ajudada, ele tem uma professora de apoio e uma professora que quer ajudá-lo, que tem paciência com ele, tendo alguns métodos de aprendizagem para ele que são um pouco diferenciados. Ele sempre foi tratado com uma criança diferente, nunca tentaram introduzi-lo no meio das crianças normais. Hoje chego a crer que Pedro tem trauma da escola, pois todos os dias me pergunta se tem que retornar no dia seguinte. Eu, como mãe, nunca consigo saber o que acontece dentro da sala, mas, quando a coisa está difícil, eles caem em cima de mim para correr atrás de médicos como se eles fossem solucionar o problema dele na escola. Acho que a falta é de uma professora com educação especial. Penso assim: jogaram inclusão nas escolas sem saber se estavam preparadas para tal, sendo que o que vejo hoje é que elas não estão. Só quando a coisa está fora do limite é que eles se preocupam! Há professores de educação especial na Secretaria de Educação. Se eu preciso, eles orientam os professores. Como o senhor, Doutor, pode ver, sou uma mãe preocupada com o desenvolvimento do meu filho na escola e vou atrás de qualquer coisa se for melhor para meu filho! Exijo muito também. Desde que ele entrou na escola tem acompanhamento da Secretaria de Educação, a qual exige que eu o leve para fazer os procedimentos médicos, mas nunca vi o trabalho deles ajudar no desenvolvimento do meu pequeno, o fato só se agrava. Hoje, na escola, ele é agressivo! Bom, acho que desabafei demais... Confesso que esse primeiro discurso de Maria me deixou muito encabulado. O tempo todo ela acusou a escola e os professores pelo fracasso de seu filho, mas em nenhum momento ela falou sobre a real deficiência de Pedro, diagnóstico e tratamento feito. Pelo contrário, ela demonstrava até certa resistência com relação a isto. Resolvi, então, começar minha investigação por aí e disse: - Bem, Maria, ouvi seu relato e percebi vários pontos nele que me despertaram a atenção. Pensei em até fazer alguns comentários, mas não sei se essa é a sua vontade, mas, se você quiser, podemos conversar sobre o caso do seu filho e estudar melhores caminhos para orientá-lo. - Claro que pode fazer os comentários que quiser, pois quando vim até aqui foi para ver e para ter mais informações... Eu agradeceria muito! - Bem, Maria, mas antes de eu fazer meus apontamentos, quero fazer três perguntas a você: Seu filho faz ou já fez algum tipo de terapia? - O único tratamento que ele fez foi com fonoaudióloga e psicóloga por seis meses. - Ele já teve alguma experiência em Escolas Especiais? - Quando entrou na escola, foi mais pelo convívio com outras crianças e por acharem que isso ajudaria nas outras dificuldades, como fala e coordenação. Nunca foi mandado para uma escola especial, mesmo porque onde moro só há uma e, como ele não tem diagnóstico, é difícil. - Ele está numa escola regular por sua vontade de mãe ou pela política da inclusão escolar? - Por minha vontade também, pois me disseram que se eu o colocasse numa escola especial ele poderia regredir, e somente mais agora pela política da inclusão... Já era o momento de começar meus aconselhamentos: - Bem, Maria, farei algumas considerações sinceras. Eu posso compreender bem o universo do seu filho por ter a mesma deficiência que ele. O que sinto é que, infelizmente, vocês, escola e família, estão focando somente na parte intelectual do Pedro e não estão se atentando para outras reais necessidades que ele tem. Uma criança com problema de desenvolvimento psicomotor precisa ser assistida por fisioterapeuta e terapeuta ocupacional para se desenvolver ao máximo sua maneira global. - Doutor, e a questão de ele ser uma criança agressiva, bater nos professores e algumas crianças às vezes quando é contrariado ou às vezes sem motivo? - Então, isso também é reflexo da falta do desenvolvimento global. Ele tem noção que não é totalmente igual aos demais colegas e, por não ter sido preparado para chegar ao mais próximo de suas possibilidades e lidar com suas limitações, ao ver seus coleguinhas, isso se manifesta nele em forma de agressividade. - A escola me cobra muito referente a levá-lo em especialistas. – Viu como eles têm a mesma visão que a minha? - Mas não vejo cooperação nenhuma dos professores tentarem ter paciência, enfim, eles não têm especialidade nenhuma em educação especial que, pelo que sei, ajudaria muito! - No fundo, Maria, esses professores também estão perdidos, pois seu filho, se estimulado corretamente por outros profissionais de acordo com as reais necessidades, poderia estar muito melhor na escola, tanto no comportamento como na aprendizagem. - Fui forçada a levá-lo a um psiquiatra que o medicou contra minha vontade – às vezes Maria repetia os mesmos discursos. - Aqui, concordo com você, pois pelo pouco que sei o caso do seu filho não é para psiquiatra e sim para terapias de apoio que ele nunca teve e das quais necessita muito! - Na escola, ele sempre foi tratado como uma criança diferente, nunca tentaram introduzi-lo entre os colegas. Vejo em Pedro um trauma da escola, pois todos os dias ele me pergunta se tem que retornar no dia seguinte. - Então, aqui questiono: será que essa vontade de manter o Pedro numa escola dessa não está tendo um efeito retroativo? Em vez de ele gostar, dia a dia ele está tomando mais mágoa da escola... Assim, qual aprendizado esse menino pode ter? Maria ficou pensativa, sem uma resposta. Continuei com minhas observações: - Veja bem, Maria, de modo geral, acredito mesmo que seu filho não deva ir para uma Escola Especial. Ele tem toda a condição de ser educado numa escola normal, mas para que isso realmente ocorra, não basta só colocá-lo na escola e exigir dos professores, pois estes também são vítimas de uma política mal-entendida da Educação Inclusiva. Você, como mãe, precisa enxergar o Pedro como uma criança normal sim, mas ter ao mesmo tempo noção que ele é uma criança com necessidades especiais: necessidades de fisioterapia para o seu desenvolvimento psicomotor, necessidades de fonoaudiologia para sua fala, necessidades de terapia ocupacional para desenvolver suas autonomiaso quanto mais possíveis nas atividades diárias, necessidades de uma psicopedagoga para ser um reforço escolar na aprendizagem dele e necessidades de uma psicóloga realmente especializada em crianças com necessidades especiais para, principalmente, trabalhar a agressividade e a autoestima dele. Percebi que ela começou a ficar emocionada e continuei: - Minha sugestão, Maria, é que ele esteja meio período numa Escola Especial e meio período na escola da prefeitura. Isso não significa que o lugar dele seja a Escola Especial, mas que ela seja o apoio que o Pedro precisa, pois ali ele encontrará profissionais realmente preparados para lidar e superar as necessidades dele. Esse é o modelo que tem dado certo para muitas crianças, ou seja, um estudo de forma mista. E, ao longo do tempo, ele deslanchará na escola pública. Se você se atentar para isso, seu filho terá possibilidades enormes para vida dele. Pense bem. Quando eu era pequeno, minha mãe fez tudo isso por mim. E hoje sou um Doutor! Após essa conversa, Maria deixou meu consultório e voltou à sua cidade. Dias depois, ela me enviou este e-mail: Doutor, não sei nem como agradecer o senhor pela sugestão e aconselhamento dados a mim. Neste momento e com tudo isto, sei que direção tomar e digo mais: ainda neste ano retornarei às consultas dele de fono e retornarei a um psicólogo. Correrei atrás de uma terapia ocupacional, a qual ele não fazia ainda, pois meu plano de saúde não dava cobertura e, por isso, estou renovando com outro plano que me dê maior cobertura, pois pelo SUS sempre foi mais difícil tal acompanhamento! Vou me focar agora mais que nunca com estes tratamentos. Em relação à escola especial, não sei ainda se tem aqui na minha cidade, acredito que não, pois, quando ele entrou na escola, as crianças com deficiência estavam indo para uma escola convencional. Muito obrigada por tudo... A PARCERIA ENTRE FAMÍLIA, ESCOLA E COMUNIDADE Começo este capítulo reafirmando que é de fundamental importância que a família esteja engajada diretamente neste projeto de Escola Inclusiva. Não podemos esquecer inicialmente que o nascimento de uma criança com algum tipo de deficiência já traz várias reações e sentimentos à família e uma desorganização emocional, a qual só reencontrará o equilíbrio com a aceitação do fato. Quanto maior for essa aceitação maior será o envolvimento no processo terapêutico e educacional da criança. Papéis que pais e professores desempenham no desenvolvimento e educação da criança são próximos e complementares e podem proporcionar à criança melhores oportunidades no desenvolvimento de suas capacidades, seja qual for a sua limitação. Enquanto psicólogo, podemos propor ao mãe e/ou familiares, que uma das primeiras formas para realizar isto pode ser a de fazer a “lição de casa” com seu filho, fazendo uma revisão do que foi feito na sala de aula nesse dia e tendo atitudes como estas: Participar de reuniões da equipe escolar para planejar, adaptar o currículo e compartilhar sucessos. Ser incorporados pela escola como parceiros de planos da equipe, participando de todos os aspectos operacionais da escola. Estar nas atividades extracurriculares e terem acesso a treinamentos relevantes. A escola desenvolver informações sobre os serviços de apoio à família, pois nesta interação escola/família, a Inclusão Escolar obterá muito mais êxitos. Quero mostrar doze pontos do texto “The Kansas checklist for identifying characteristics of effective inclusive programs”. Sua primeira edição saiu em novembro de 1993, tendo uma reimpressão em dezembro do ano seguinte. Este documento foi escrito por um grupo de técnicos e pais das seguintes cidades do Kansas: Horton, Hiawatha, Eudora, Sublette, Hugoton e Lakin. O documento também foi compilado por Terry Rafalowski-Welch, Michelle Luksa e Julie Mohesky-Darby. Segundo o texto, ocorre envolvimento da família nas práticas inclusivas da escola quando: Existe, entre a escola e a família, um sistema de comunicação (telefonemas, cadernos etc.) com o qual ambas as partes concordam. Os pais participam nas reuniões da equipe escolar para planejar, adaptar o currículo e compartilhar sucessos. As famílias são reconhecidas pela escola como parceiras plenas junto à equipe escolar. As prioridades da família são utilizadas como uma base para o preenchimento do Plano Individualizado de Educação (PIE) do seu filho, base essa que será completada com partes do conteúdo curricular. Os pais recebem todas as informações relevantes (os direitos dos pais, práticas educativas atuais, planejamento centrado na pessoa, notícias da escola etc.). Os pais recebem ou têm acesso a treinamento relevante. Os pais são incluídos no treinamento com a equipe escolar. Os pais recebem informações sobre os serviços de apoio à família. Existem à disposição de membros das famílias serviços de apoio na própria escola (aconselhamento e grupos de apoio, informações sobre deficiências etc.). Os pais são estimulados a participarem em todos os aspectos operacionais da escola (voluntários para salas de aula, membros do conselho da escola, membros da Associação de Pais e Mestres, treinadores etc.). Existem recursos para as necessidades especiais da família (reuniões após o horário comercial, intérpretes da língua de sinais, materiais traduzidos etc.). A escola respeita a cultura e a etnicidade das famílias e reconhece o impacto desses aspectos sobre as práticas educativas. Todos esses pontos comprovam que a Escola Inclusiva envolve a participação da família e da comunidade, as quais podem contribuir para fortalecer e multiplicar as ações inclusivas. Isto prova mais uma vez que professores e diretores não podem promover a inclusão de uma criança com necessidades educacionais especiais sozinhos. Para esse sucesso, será de fundamental importância o envolvimento de todos! Como eu já disse no capítulo anterior e volto a frisar sobre a importância de se dar “atenção e valorização às pequenas conquistas de uma criança com deficiência”! Isto já será uma atitude positiva dos pais em relação à participação e às potencialidades dele e, também, à sua inclusão escolar e social. Além da parceria entre escola e família, ambas devem buscar parcerias com outros setores da sociedade, visando promover meios para que as pessoas com deficiência sejam inseridas nesses espaços e para que a própria comunidade se desfaça de resistências e preconceitos. Para isso, há opções como os centros de esportes, saúde, recreação e juventude. Todos sairiam ganhando com a geração de um espaço de trocas e cooperação. Fechando este capítulo, quero mostrar como forma ilustrativa este trecho do livro- cartilha “Educação Inclusiva: o que o professor tem a ver com isso?” (Rede Saci, São Paulo, 2005), o qual aborda o envolvendo da comunidade escolar: “É muito importante que a escola faça contatos com a sua comunidade. Muitas vezes, estes contatos ajudam a elevar a qualidade do atendimento escolar. No caso do atendimento às pessoas com deficiência, uma parceria feita com uma marcenaria, por exemplo, pode proporcionar um mobiliário mais adequado a estas necessidades. Por meio das Associações de Bairro pode- se melhorar a acessibilidade nas ruas daquela comunidade, para colocação de guias rebaixadas, por exemplo. Nas instituições especializadas no atendimento às pessoas com deficiência, pode-se conseguir: equipamentos como reglete, lupa, soroban (também chamado ábaco) para cegos e intérpretes de língua de sinais para surdos. Uma pessoa da comunidade que saiba linguagem de sinais (Libras) já é suficiente para que este conhecimento possa ser multiplicado e cada vez mais compartilhado com outras pessoas. A pessoa pode manter um diálogo constante com os postos de saúde, seja para encaminhar as crianças caso percebam algum sinal de deficiência, seja para trazer profissionais do posto para que possam falar para os alunos e seus pais sobre temas diversificados, tais como higiene bucal, exames de acuidade visual, importância de vacinação etc.” (pgs. 72- 73). AS PESSOASCOM DEFICIÊNCIA E OS NOVOS DESAFIOS AO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL As universidades e faculdades brasileiras estão vendo a presença cada vez maior de graduandos com algum tipo de deficiência em seus campi. Isto porque no Brasil, desde 2008, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, do MEC, promove a transformação dos atuais sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos. Tem como estratégias a garantia do acesso e a permanência dos estudantes com deficiência, por meio de ações que visem à eliminação de barreiras físicas, pedagógicas e na comunicação, assim como nos ambientes, tendo como foco a promoção da autonomia e a igualdade de direitos dos alunos com deficiência. No caso do ensino superior, essa política, consolidada por uma ampla legislação composta por leis, visa assegurar as pessoas com deficiência (PcD) o seu ingresso e as oportunidades de desenvolvimento pessoal, social e profissional, bem como não restringir sua participação em determinados ambientes e atividades em razão da deficiência. No último Censo do IBGE, em 2010, o Brasil tinha 45.606.048 PcD a, o que representava 23,9% da população. Em termos educacionais, entre as PcD com mais de 15 anos no país, 61,13% não tinha instrução ou tinha somente o ensino fundamental completo. Outros 14,15% tinha ensino fundamental completo ou médio incompleto, 17,67% tinha ensino médio completo ou superior completo e apenas 6,66% concluíram um curso superior. Um número que se elevou. Dados do Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que em um período de dez anos, entre 2004 e 2014, o acesso de pessoas com deficiência ao ensino superior, deu um salto no país. Fatores como criação de novas instituições e cursos e, ainda estímulo ao acesso por meio de iniciativas como o Programa Universidade para Todos (Prouni), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Programa de Financiamento Estudantil (Fies), o número de matriculados no ensino superior como um todo teve um grande incremento e o ingresso de PcD nestas instituições também cresceu. Esse crescimento traz novos desafios ao ensino superior. Segundo a Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência define em seu artigo 1º: “Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”. Se antes a pergunta era “O que são pessoas com deficiência?”, hoje a pergunta precisa ser: Como nós professores universitários e demais membros da academia devemos atuar para ajudar alunos com algum deficiência a ter mais autoestima e um desenvolvimento acadêmico satisfatório? Incluir os alunos com deficiência na universidade é uma forma de tornar a sociedade mais democrática, sendo papel de todos os cidadãos transformar as instituições de ensino em espaços legítimos de inclusão. No contexto universitário, a concepção de direitos iguais para todos, também recebe destaque nas políticas propostas pela UNESCO, na Conferência Mundial sobre a Educação Superior, realizada em Paris em outubro de 1998, apresentando como principais postulados ideias em contraposição a concepção atual de ensino superior: a) Acesso ao ensino. O acesso aos estudos superiores será igual para todos; b) Responsabilidade do Estado. O Estado conserva uma função essencial no financiamento do ensino superior. O financiamento público da educação superior reflete o apoio que a sociedade lhe presta e dever-se-ia continuar reforçando, sempre mais, a fim de garantir o desenvolvimento deste tipo de ensino, de aumentar a sua eficiência e manter a qualidade e pertinência; c) Apoio à pesquisa. Promover, gerar e difundir conhecimento por meio da pesquisa. Fomentar e desenvolver a pesquisa científica e tecnológica, ao mesmo tempo que a pesquisa no campo das ciências sociais, das ciências humanas e das artes; d) Responsabilidade social. A educação superior deve fazer prevalecer os valores e os ideais de uma cultura de paz, formar cidadãos que participem ativamente na sociedade. Para consolidar, num contexto de justiça dos direitos humanos, o desenvolvimento sustentável, a democracia e a paz. Só que, se tratando do ensino superior a inclusão é uma discussão recente. Este novo refere-se ao desconhecido, e, este diferente, exige do educador ações pautadas não só em políticas públicas como também numa prática reflexiva. O educador universitário também precisa de capacitação, preparação que garanta o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos necessários a uma ação segura por parte desses profissionais. No universo do ensino superior a prática docente frente a alunos com deficiência necessita além de políticas públicas, de ações compartilhadas capazes de orientar o educador na formação de sujeitos, valorizando a diversidade em todos os espaços e fazendo valer o verdadeiro sentido da inclusão enquanto processo que reconhece e respeita diferentes identidades e que aproveita essas diferenças para beneficiar a todos. A UNIVERSIDADE E A SOCIEDADE INCLUSIVA Assim, cabe as instituições de ensino superior, instituir políticas de inclusão e demover ações de exclusão, valorizando cada vez mais, ações pautadas no respeito a diversidade, considerando o papel que as mesmas assumem ao longo da história da sociedade. Na inclusão, as iniciativas são da sociedade. E a academia tem muito a colaborar nesse processo, onde a sociedade se adapta para poder incluir em seu contexto as pessoas com deficiência. Mas, por outro lado, essas mesmas pessoas precisam ser preparadas para assumir seus papéis na sociedade, o que abre várias possibilidades de através do acesso irrestrito e de sua formação também em nível superior. Será uma forma de parceria entre a sociedade e a academia, visando equacionar problemas, decidindo sobre soluções, efetuando equiparações de oportunidades para todos. Estaremos, assim, realmente criando um ensino superior inclusivo e com um relacionamento prático entre as universidades e alunos com deficiência, na busca do ser humano por de trás da pessoa com qualquer tipo de limitação: suas reais necessidades, interações sociais, educacionais, relacionamentos familiares e afetivos, necessidades de atividades profissionais e, sobretudo, suas verdadeiras potencialidades a serem estimuladas de forma individual e coletiva. AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA ATUALIDADE Atualmente muito se fala em Dificuldades de Aprendizagem. E nós psicólogos estamos cada vez mais sendo procurados por esse motivo. Por isto, preparei e quis fechar o livro com este conteúdo estra. Fazendo uma rápida revisão histórica, notaremos que por um tempo excessivamente longo, crianças com dificuldade de aprendizagem foram encaminhadas a médicos, cujo diagnóstico isolado e ansiosamente aguardado pela família e pela escola iria confirmar ou negar a sua normalidade. Se algo fora da normalidade era detectado, certamente a criança era encaminhada para classes ou escolas especiais que ofereciam um ensino diferenciado. Surgiam os estigmas sob elas que passavam a fazer parte de um segmento social marginalizado, como seres incapazes de criar e produzir conhecimento. Negavam-lhes as oportunidades de ampliação de suas potencialidades. Ainda hoje qualquer desvio do padrão de comportamento, principalmente na escola, a primeira hipótese de explicação ainda faz referência a um possível problema mental, como se fossem sujeitos dotados só de cabeça, sem corpo, emoção e sentimento, distante dos padrões de competência, vítima de um julgamento equivocado e parcial. Há poucas décadas, esse procedimento modificou-se embalado pelos avanços das pesquisas neurológicas comprovando a plasticidade do cérebro que, mesmo lesado, tem condições de reconstituir-se e garantir seu funcionamento. E a Psicologia vem dando uma contribuição significativano sentido de colaborar para que a criança seja também considerada como dotada de sentimentos, que desde a vida intrauterina influenciam o seu comportamento. O mesmo procedimento vem tendo a Pedagogia, repensando a sua prática, investigando mais profundamente a relação ensino- aprendizagem. No geral, as equipes multidisciplinares compostas por médicos, pedagogos, psicopedagogos, psicólogos, professores e demais profissionais envolvidos, cada vez mais colocam-se a serviço dos casos de problemas de aprendizagem, colaborando para que as crianças encaminhadas possam desfrutar plenamente de sua cidadania. Neste contexto, quais as principais contribuições que o profissional de psicologia, usando os testes psicológicos, poderá dar na avaliação de crianças com dificuldades de aprendizagem? FREUD, PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO Sigmund Freud, criador do paradigma psicanalítico, nasceu em 1856 na cidade de Freibug. Formado em medicina, interessou-se por estudar manifestações de desequilibro psicológico e foi no contato com seus pacientes que elaborou sua teoria. Segundo seus estudos, nossa personalidade é formada por três instâncias: id, ego e superego. O id contém os impulsos inatos, composto por energias chamadas pulsões, determinadas biologicamente, possuindo desejos e necessidades que não reconhecem as normas sociais e culturais, por isso, o id não respeita convenções e busca a satisfação do organismo. O ego significa eu, sendo o setor da personalidade que procura manter contato com o ambiente, convivendo de acordo com as regras sociais e busca o equilíbrio entre o id e o superego. O superego é um depositário das normas e princípios morais do grupo social, que tenta impedir - e na maioria das vezes consegue -, a manifestação dos desejos do id, funcionando como protetor do ego, pois a maioria das energias originadas do id nem chegam à consciência do ego. Assim, tudo aquilo que é reprimido pelo superego aloja-se no inconsciente. Nossas pulsões (energias) pressionam o superego para chegar ao nível consciente de onde, segundo Freud, surgem os fenômenos psíquicos como os sonhos, os altos falhos, a sublimação e as neuroses. O sonho é o resultado da luta entre o id e o superego. A falta de clareza do sonho é exigência feita pelo superego. Também há sublimação, que expressa o resultado das tensões entre o id e o superego. Energias reprimidas transformam-se e são canalizadas para somente um objetivo, possibilitando ao ego exercer uma atividade socialmente aceita. Segundo Freud, dentre as pulsões que compõem o id destacam-se as energias de natureza sexual. É contra elas que se erguem as barreiras morais que, internalizadas pelo indivíduo, formam o superego. A libido é uma energia de natureza sexual, componente do id, presente no ser humano desde o nascimento, e é ela que impulsiona a pessoa em busca da satisfação, do prazer, seja ela uma criança ou um adulto. Quando nascemos, a região do corpo que se encontra em maior evidência é a região bucal. Freud acrescentou que a boca, uma vez ocupada pela libido, torna-se um órgão que viabiliza prazer, caracteriza-se assim, a fase do desenvolvimento oral. Mais tarde, a atividade escretória do ânus, assume relevância na vida da criança. A libido, então, desloca-se para essa região, dando margem à fase de desenvolvimento anal. Freud não esteve preocupado em estabelecer as idades em que essas fases se dão. Cada pessoa é única e as suas vivências também são únicas. O que determina uma fase é a fixação da libido numa certa região do corpo, o que não quer dizer que a libido não possa estar em dois locais ao mesmo tempo. Um dos tópicos mais conhecidos da teoria freudiana é o que diz respeito à vivência do Complexo de Édipo, fenômeno que ocorre numa das fases do desenvolvimento psicossocial, a fase masturbatória. Segundo Freud, essa fase também é conhecida como a fase fálica. A criança sente-se atraída pelo órgão sexual masculino. No caso do menino, este percebe sua presença, manipula-o e obtém satisfação libidinal por seu intermédio. Já a menina ressente-se por não possuir algo que os meninos possuem. O menino tem forte ligação afetiva com a mãe, fantasia retribuir o afeto que a mãe lhe dedica fazendo uso do instrumento pelo qual ele próprio obtém prazer – o seu pênis. Assim, o menino tem fantasias incestuosas com a mãe, entretanto, encontra um obstáculo entre ele e a mãe: o pai. Forma-se o triângulo edipiano e o menino sente “ódio” do seu pai. A menina percebendo em si mesma a ausência do pênis desenvolve profundo sentimento de inferioridade. Atribui à mãe a “culpa” por ela ter sido gerada assim. Ao mesmo tempo em que o menino odeia, passa a temer o pai, a sentir que este poderá castigá-lo. O castigo fantasiado pelo menino varia na forma de castração. A angústia de castração soma-se à ambiguidade de sentimentos vivenciada pelo menino, à difícil situação de odiar e amar a mesma pessoa. A superação da situação edipiana vem com a intensificação do amor, o que se dá na forma de identificação. Ao identificar-se com o pai, o menino coloca em ação um mecanismo psicológico que oculta o ódio que sente. A superação do Complexo de Édipo põe fim à fase fálica, mas todas essas energias não desaparecem, mas sim são afastadas da consciência. Tornam-se, portanto, inquilinas do inconsciente. O professor passa a conviver com a criança quando ela está saindo da fase edipiana. Desde o nascimento da criança, essa energia psíquica vinha ocupando determinadas regiões do corpo – a boca, o ânus, os órgãos genitais, mas agora esta não ocorre. Posteriormente concluiu que a libido está em atividade sim, pois o nascimento de sublimação atua fortemente nessa fase. A criança sente-se atraída por um certo brinquedo, uma matéria escolar etc. O fenômeno da aprendizagem, portanto, segundo a Psicanálise, depende do modo como se dá o aproveitamento da libido. Ao trabalhar os conteúdos escolares, o professor pode ter a sublimação a seu favor e, é claro, a favor do crescimento intelectual e social do aluno. A partir do início da puberdade, porém, todo esse quadro sofre profunda alteração. A libido tem sua força intensificada nas zonas genitais. Inicia-se assim, a fase genital de desenvolvimento da libido. Depois da adolescência, o indivíduo encontra um ponto de equilíbrio entre seus desejos inconscientes e as exigências da realidade que agem sobre seu ego. O professor psicanaliticamente orientado deve observar as atitudes conscientes de seus alunos, como também as suas, estando sempre interessado em ir além de ministrar uma boa aula, sendo um profissional que tende a valorizar menos a manutenção do bom comportamento de seus educandos e mais a livre expressão das crianças e jovens que estão sob seus cuidados. Ao mostrar que os fenômenos da sala de aula são muito mais humanos do que técnicos, o paradigma psicanalítico abre caminho diferente para os professores, o caminho da vivência humanizadora na compreensão do outro. Menos ênfase no método, mais preocupação com a pessoa. Os críticos da transposição da Psicanálise para a educação escolar sugerem que adotar os ensinamentos de Freud na escola significa abrir um caminho para a irracionalidade, para práticas não científicas, para o abandono dos conteúdos escolares. Sob o prisma da Psicanálise, a pretensão da escola de contribuir para a formação da personalidade da pessoa deve ser relativa, pois os alicerces do caráter do indivíduo já se encontram firmados quando ele vai pela primeira vez à escola. Todas as vivências orais, anais, masturbatórias, todo o conflito edipiano que sustenta o superego, já se encontram definidos. Assim, o professor não constrói a personalidade de seu aluno, mas ele pode agir de modo a não agravar certas tendências do caráter do aluno. Uma das contribuições da Psicanálise à educação consiste em elucidar a importância do mestre como modelo. COMPORTAMENTALISMO E EDUCAÇÃO: PAVLOV, WATSON E SKINNER A psicologia científica compreende o ser humano por intermédio da introspecção e não conceitua aquilo que não é passível de ser objetivamenteapreendido, adotando como objeto de estudo tudo que pode ser descrito em termos tão elementares que dispense a subjetividade, que se deu o nome de Behaviorismo (ou em português, comportamentalismo). Nessa teoria, o comportamento é uma resposta do organismo a algo que o impressiona a partir do exterior, estímulos. Sua expressão visível é aquilo que pode ser registrado e quantificado. No paradigma comportamentalista, o recurso é mais simples para explicar e controlar a ação humana e, no contexto escolar, pode-se compreender melhor o comportamento de professores e alunos. Skinner criou o condicionamento operante, que se dá quando o resultado obtido depende de uma atuação do organismo que altera o ambiente físico. O comportamentalismo refere-se sempre a probabilidades e nunca a certezas, um paradigma concebido por intermédio de recursos experimentais que descrevem comportamentos em seus aspectos moleculares, isto é, traços elementares que formam uma conduta. Uma das críticas dirigidas aos comportamentalistas é que eles igualam os homens e animais inferiores, desconsiderando as peculiaridades psicológicas, históricas e culturais dos primeiros. Todavia, acredita-se que o comportamento pode servir de inspiração ao trabalho do professor, sendo que os organismos em geral e o ser humano em particular respondem de modo semelhante a certos estímulos e circunstâncias ambientais. Com isso, os comportamentalistas, especialmente os skinnerianos, não consideram válido agredir fisicamente uma criança como procedimento punitivo, inclusive porque eles podem instalar por imitação, novos comportamentos indesejáveis. Recomendam que os professores, bem como os pais e as mães, utilizam-se dos esquemas do comportamentalismo, mesmo ser ter conhecimento formalizado desse paradigma. Skinner propôs certos recursos para dar eficiência ao ensino, um modo de organizar e transmitir conhecimentos que resultam em melhores resultados, em menor tempo e com economia de esforço e de mão de obra, consistindo em organizar as matérias escolares em unidades simples, pequenos tópicos a ser ensinados passo a passo. Uma vez que o tecnicismo não nega que a educação seja norteada por finalidades sociais e políticas, cujas definições localizam-se no campo da filosofia, uma grande contribuição dos comportamentalistas a essa tendência foi o fornecimento de conceitos e métodos para converter a finalidade da educação e objetivos operacionais. Na fábrica e na escola, o que se busca é a eficiência máxima, otimização do tempo e dos recursos dependidos. Feito isso, o produto fabricado não é posto no mercado antes de passar pelo controle de qualidade. Na escola, esse procedimento corresponde à avaliação. Segundo as conclusões de Skinner, devemos nos preocupar com a construção de uma cultura que seja durável, o que só é possível por meio de planejamento. Muitas sociedades já existiram, umas eficientes e outras não, e o sucesso de algumas ocorreu ao acaso, nunca na elaboração prévia e racional de suas metas. Na teoria de Skinner, essas técnicas podem servir ao controle se colocadas a serviço dos oprimidos que, ao tomarem consciência de como são controladas pelos políticos, pela propaganda e por todas as agências de poder, essas pessoas podem tornar-se menos manipuláveis na busca plena de suas cidadanias. E a educação tem uma grande contribuição nessa conquista. PSICOLOGIA GENÉTICA E EDUCAÇÃO PARA PIAGET Jean Piaget era suíço, biólogo e interessou-se pela Filosofia, particularmente a Epistemologia. O problema epistemológico que lhe seduziu foi saber como se passa de um conhecimento menor para um conhecimento maior. A resposta a esta pergunta fez com que ele estudasse as categorias de conhecimento no decorrer da vida das pessoas. Para Piaget, genético não vem da hereditariedade, mas da gênese até o estágio mais avançado, que foi o que ele estudou. Um dos métodos utilizados por Piaget foi a entrevista livre, que visava não medir a capacidade intelectual, mas como o indivíduo lida com o mundo. Por isso o método piagetiano é de pesquisa e não um trabalho pedagógico. Seu conceito considera que o conhecimento só é possível quando o sujeito age sobre o objeto, por isso a afinidade do método de Piaget com a educação escolar porque o aluno só aprende quando ele é despertado e desafiado para aquilo que vai ser ensinado. O conhecimento tem início com o desequilíbrio entre o sujeito e o objeto; o sujeito tenta trazê-lo para os referenciais que já possui mesmo que sejam insuficientes ou o sela e ele assimila. O segundo processo é a acomodação, o sujeito modifica-se em função do exercício de acomodação e, com isso, o sujeito alcança um estado de equilíbrio, que não é constante, uma vez que surja uma nova situação desafiadora. Para Piaget, todos nascem com potencialidades e habilidades para se desenvolver, mas o meio pode ser um fator decisivo na maneira do indivíduo realizar sua inclinação biológica. Ele definiu que o desenvolvimento intelectual passa por quatro períodos, definidos pelas idades cronológicas, que algumas vezes podem variar. 1. primeiro período: Sensório-Motor (0 a 24 meses) 2. segundo período: Pré-Operatório (2 a 7 anos) 3. terceiro período: Operatório-Concreto (7 a 12 anos) 4. quarto período: Operatório-Formal (12 a 16 anos) É caracterizado pela imitação. O faz de conta, desenho, imagem mental e o realismo visual. O conhecimento chega ao organismo através dos órgãos do sentido e do parelho motor. A criança junta as partes, é egocêntrica, cria explicações, dá vida a seres inanimados. Nesse período ocorre um progresso sensível na linguagem oral, ou seja, a fala vai deixando as representações particulares para usar as expressões socialmente convencionadas. A criança elabora operações mentalmente, mas ainda tem um caráter concreto, ou seja, precisam já ter feito parte da experiência dela, não tem a necessidade dela ver o que está acontecendo, mas precisa já ter visto. Caracterizado pela abstração e elaboração mental de hipóteses, por isso, segundo Piaget, a crise da adolescência, o jovem visualiza o futuro mas não tem meios para realizá-lo. Conhecendo esses períodos, o professor tem condições de organizar as atividades em sala de aula de acordo com a capacidade e o interesse de seus alunos. Paralelo a esse período ocorre a sociabilidade da criança, que primeiramente é egocêntrica e, no decorrer de seu desenvolvimento, vai se tornando capaz de interagir com a realidade que a cerca. No período do egocentrismo, a criança passa por dois estados: 1º ela é incapaz de apreender regras e, como se tudo fosse dela, num jogo ela só brinca pela satisfação pessoal; 2º ela enxerga as ordens dos mais velhos como leis e obrigações e, ao participar de um jogo, ela aceita as regras sem questioná-las. Por isso fica claro que para a criança deve haver limites, mas que estes devem ser explicitados, pois só em torno dos 7 anos é que a criança consegue entender o mundo das normas. Cabe ao professor criar na sala de aula um ambiente de cooperação em que não haja um clima de coerção mas que ambos debatam igualmente os assuntos. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM OU DIFICULDADES DE ESCOLARES Em nossos dias, as Dificuldades de Aprendizagens ocorrem considerando as alterações e os distúrbios em qualquer aspecto - biológico, psicológico e social - de certas crianças. Há boas tentativas de definir e especificar o que, de fato, seria uma Dificuldade de Aprendizagem ou Escolar. Mas ainda não existe uma definição consensual acerca dos critérios e nem mesmo do termo. De modo acadêmico, costuma-se chamar esse quadro de Dificuldades da Aprendizagem (DA), preferível a Dificuldades Escolares, menos específico e não restrito, obrigatoriamente, ao aprendizado. O DSM.IV também define muito mal a situação de DA, classificando- o como "transtornos da aprendizagem que são diagnosticados quando os resultados do indivíduo em testes padronizados e individualmente administrados de leitura, matemática ou expressão escrita estão substancialmente abaixo do esperado para sua idade, escolarizaçãoe nível de inteligência". Já o CID.10, no capítulo intitulado Transtorno do Desenvolvimento das Habilidades Escolares, descreve DA como "transtornos nos quais as modalidades habituais de aprendizado estão alteradas desde as primeiras etapas do desenvolvimento. O comprometimento não é somente a consequência da falta de oportunidade de aprendizagem ou de um retardo mental, e ele não é devido a um traumatismo ou doença cerebrais". DESAFIO PARA PSICOLOGIA A temática em torno da DA vem cada vez mais ganhando espaço na história da educação brasileira, marcada por uma crescente preocupação em se tentar explicar o fracasso escolar, pautado pelos altos índices de repetência e evasão ocorridos nos últimos anos. Conforme estipula a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, espera-se que os estudantes ao final de 8 anos tenham completado o Ensino fundamental obrigatório e gratuito. Mas, segundo dados do IBGE, a média brasileira tem sido de apenas 6,2 anos de estudo. Estima-se que essa média aumente progressivamente com a idade, mas segundo o IBGE, nem aos 24 anos de idade a maioria da população chega a alcançar os 8 anos do ensino fundamental. Outros estudos apontam que os estudantes que ingressaram na 1ª série do ensino fundamental, 60% não chegam a terminar a 8ª série, 24% são excluídos ou abandonam a escola nas primeiras séries, 97% repetem de ano escolar em alguma série do Ensino básico e apenas 4,5% conseguem terminar a 8ª série sem nunca ter repetido (CARNEIRO, MARTINELLI, SISTO, 2003). Atrás desses dados podem estar possíveis causas para o fracasso escolar, ocorrendo nos bancos escolares ou fora destes, levando as crianças e os adolescentes os deixarem. Okano, Loureiro, Linharese e Marturano (2004) concordam que o problema da DA vem crescendo, embora há muitos anos se reconheça a relevância de tais problemas. Acentuam que para uns “os efeitos adversos do fracasso escolar quando a criança não desenvolve sua capacidade produtiva têm apontado para a existência de relação entre dificuldades de aprendizagem e baixa autoestima, aceitação e popularidade perante os colegas”. Isso porque nos anos iniciais de escolarização parecem ser cruciais, no que diz respeito ao aprender a ler. O período da escolarização está associado ao desenvolvimento de autoconceito mais positivo nos primeiros dois anos e meio de escolarização formal. Fase também em que os efeitos negativos sobre o autoconceito das crianças que experimentaram dificuldades iniciais na aprendizagem da leitura. Ao mesmo tempo em que elas se autoavaliarem, a escola também as avalia, tendendo a enfatizar as comparações sociais com base no rendimento escolar. Esse processo de comparação social é de grande importância na formação da autopercepção dos estudantes com dificuldades de aprendizagem no que se refere à competência acadêmica. E o maior risco das DA pode estar em gerar um "círculo vicioso do fracasso", despertando o sentimento de inferioridade na criança. Ela estará suscetível ao insucesso, e menos poderá obter aprovação a partir de seu desempenho. O manejo das dificuldades de aprendizagem no ambiente escolar não se constitui em tarefa fácil, e muitas vezes, a alternativa dada envolve a colocação das crianças em programas especiais de ensino como o proposto para as salas de reforço ou de recuperação paralela, destinadas a alunos com dificuldades não superadas no cotidiano escolar. Os programas de reforço, em nosso meio, a princípio se apresentam como uma proposta que visa contribuir para o bom desenvolvimento escolar, contudo carecem de estudos sistemáticos que demonstrem a sua eficácia no que diz respeito aos aspectos psicológicos de crianças com dificuldade de aprendizagem (OKANO, LOUREIRO, LINHARES e MARTURANO, 2004). Em uma visão geral, não se deve tratar as DA como se fossem problemas insolúveis, mas sim, como desafios que fazem parte do próprio processo da Aprendizagem, a qual pode ser normal ou não-normal. Também parece ser consensual a necessidade imperiosa de se identificar e prevenir o mais precocemente possível as DA, de preferência ainda na pré-escola. Segundo Ballone (2003), “é muito importante a avaliação global da criança ou adolescente, considerando as diversas possibilidades de alterações que resultam nas DA, para que o tratamento seja o mais específico e objetivo possível”. Há autores que dividem as DA em Primárias e Secundárias, de acordo com sua origem. Nas consideradas Primárias, a causa não pode ainda ser atribuída à elementos psico-neurológicos bem estabelecidos ou esclarecidos; englobam, principalmente, as chamadas disfunções cerebrais e, dentro das dessas disfunções, teríamos os Transtorno da Leitura, Transtorno da Matemática e Transtorno da Expressão Escrita, bem como os transtornos da linguagem falada, os quais englobam o Transtorno da Linguagem Expressiva e o Transtorno Misto da Linguagem Receptivo-Expressiva. Já nas consideradas Secundárias, estão aquelas consequentes à alterações biológicas específicas e bem estabelecidas e alterações comportamentais e emocionais bem esclarecidas. Em relação às alterações biológicas (neurológicas) teríamos as lesões cerebrais, Paralisia Cerebral, Epilepsia e Deficiência Mental. Envolvem também os sistemas sensoriais, através da Deficiência Auditiva, hipoacusia, deficiência visual e ambliopia. Teríamos ainda, dentro das causas biológicas, as situações de DA consequentes a outros problemas perceptivos que afetam a discriminação, síntese, memória e relação espacial e visualização. (BALLONE, 2003). Nos problemas de comportamento, um dos fatores mais marcantes para desenvolvimento de DA são os quadros classificados como Comportamento Disruptivo e, dentro deles, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e o Transtorno Desafiador e Opositivo. Há também os problemas emocionais que favorecem as DA, principalmente a Depressão Infantil e a Ansiedade (de Separação) na Infância. A importância do diagnóstico dos problemas emocionais que levam a criança a apresentar um baixo rendimento escolar que, segundo Ballone (2003), justifica-se por: 1. - Dentre as principais razões para as DA, as emocionais são, atualmente, uma daquelas com melhor possibilidades de tratamento; 2. - Importantíssimo para fazer diagnóstico diferencial com a Deficiência Mental, quadro muito traumático para familiares e com mau prognóstico; 3. - Proporcionar um desenvolvimento satisfatório o mais rapidamente possível. Muitas crianças estão sujeitas a desenvolver a maioria dos transtornos emocionais encontrados nos adultos, mas ainda há muitos mitos do senso comum envolvidos nisso. Acredita-se que criança não fica "nervosa", porque não têm problemas, coisas assim, tipo, "criança nervosa" é falta de correção enérgica. Crenças alimentadas pela falta de informação sobre psiquiatria infantil é a responsável pela maioria das dificuldades de relacionamento, escolares e sociais das crianças, bem como, responsável por inúmeras seqüelas emocionais no futuro. Ballone (2003), acentua que “não é lícito estabelecer uma regra geral e inflexível atribuindo a todos os casos de DA um mesmo diagnóstico ou um enfoque generalizador”. A falta de provas clínicas de que as causas para DA possam ser identificadas objetivamente, sendo que as tentativas de se estabelecer diagnósticos para avaliar esses problemas servem para encobrir outras incompetências pedagógicas. Muitas vezes o diagnóstico pouco criterioso de "hiperatividade", "fobia escolar", etc, serve como atenuante para alguma comodidade ou incapacidade da escola para lidar com processos e métodos de aprendizagem. Não é segredo que a maioria das escolas, notadamente públicas, está longe de cumprir sua tarefa de instruir e educar, envolvidas que estão por ditames políticos demagógicos, ou técnicos utilitaristas. Percebe-se, com certa facilidade, que algo está muito errado e que, nem sempre, o erro é exatamente das crianças. Por isso, cada caso deve ser avaliado particularmente, incluindo na avaliação o entorno familiar e escolar. Se as DA estão presentesno ambiente escolar e ausentes nos outros lugares, o problema deve estar no ambiente de aprendizado e não em algum "distúrbio neurológico" misterioso e não-detectável. Essa dificuldade, digamos, seletiva para o ambiente escolar, é detectada quando a criança aprende bem em outros cursos (inglês, música...), aprende manipular aparelhos eletro-eletrônicos com facilidade, tem boa performance em atividades lúdicas, enfim, quando ela mostra fora da escola que pode aprender como as demais. Quais seriam os critérios dos pais ao decidirem por esta ou aquela escola? Excluindo-se a imensa maioria que não pode escolher, aceitando a escola pública onde seu filho deve obrigatoriamente estudar, alguns outros podem estar escolhendo a escola motivados por razões sociais; porque querem seus filhos junto com os filhos de outras proeminências sociais, porque é chique dizer onde eles estudam, por alívio de consciência, já que podem sentir-se omissos em outras áreas, pelo preço, enfim, nem sempre o critério é pedagógico (BALLONE, 2003). Muitas vezes as DA são reações compreensíveis de crianças neurologicamente normais, porém, obrigadas a adequar-se às condições adversas das salas de aula. É comum para os psicólogos observarem na clínica diária, muitas crianças sensíveis e emocionalmente retraídas quem passam a apresentar DA depois de submetidas a alguma situação constrangedora não percebida pelos demais. São situações corriqueiras, agindo sobre uma criança afetivamente diferenciada, que nem sempre a escola, incluindo a professora, orientadora, coordenadora e demais colegas de classe, percebem. Crianças que apresentam dificuldades específicas no início da escolarização, embora não tenham nenhum problema neuropsiquiátrico, provavelmente são aquelas que precisarão de maior atenção. Necessitaram desenvolver suas habilidades de apreensão daquilo que é ensinado. Portanto, caberá ao psicólogo investigar e compreender particularmente as dificuldades de cada criança. Ballone (2003), aponta um perigo, dizendo que quando o problema é da escola, uma exagerada restrição das atividades podem favorecer falsos diagnósticos de Crianças Hiperativas, se as aulas carecem de atrativos pedagógicos, podem surgir falsos diagnósticos de “Déficit de Atenção"; se a criança é assediada, se apanha de grupos delinquentes, se é submetida à situações vexatórias (para ela, especificamente), pode-se observar falsos diagnósticos de Fobia Escolar e assim por diante. Dois extremos podem comprometer a escola em relação às DA; ou a escola superestima a questão, acreditando comodamente que a criança é um problema, logo deve ter algum comprometimento neuropsiquiátrico quando, de fato, o problema é de relacionamento ou de adequação difícil às normas da escola ou, ao contrário, subestima um verdadeiro comprometimento neuropsiquiátrico levando à DA, pensando tratar-se de algum problema disciplinar, de método de ensino, de má vontade, etc. (BALLONE, 2003) Stevanato, Loureiro, Linhares, e Marturano (2003), dizem que outro ponto destacado em relação às crianças com dificuldades de aprendizagem que apresentam associados também problemas de socialização é que elas têm menos habilidades sociais que seus colegas sem dificuldades de aprendizagem, e que estas persistem ao longo da vida escolar; experimentam também dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento, tendendo à dificuldades quanto às autopercepções, apresentando autoconceito mais baixo e locus de controle predominantemente externo, atribuindo o sucesso a fatores externos e o fracasso a fatores internos. Segundo os autores, “ao analisar as crenças pessoais e as autopercepções relativas ao autoconceito faz-se necessário considerar o seu complexo universo de influências e suas relações com o comportamento, especialmente quando se trata de crianças com dificuldades de aprendizagem”. Poderão aparecer problemas, ou sererm adiados para mais tarde, na adolescência, quando o fracasso escolar persistente traz o risco de desadaptação psicossocial associado à evasão. Esse abandono da escola pode levar ao sub-emprego, à probabilidade aumentada de afiliar-se a grupos marginalizados e a outras circunstâncias que restringem o acesso a oportunidades favoráveis e aumentam a probabilidade de desadaptação. Segundo Santos e Marturana (1999), “um estudo de seguimento, realizado em nosso meio, indicou que uma em cada cinco crianças referidas para atendimento psicológico em virtude de baixo rendimento escolar apresentou problemas sérios de adaptação na adolescência, como envolvimento com drogas, incidentes criminais e conflitos intensos nos relacionamentos”. A dificuldade de relacionamento é uma variável que aumenta a vulnerabilidade do adolescente com problemas na aprendizagem, dada a importância dos relacionamentos com os pares nessa fase do desenvolvimento. Por outro lado, a família e as relações parentais também afetam a vida dos adolescentes, pois os sentimentos de apego, nesta fase, devem estar seguros para promover a competência social com os pares, ajustamento emocional, autoestima e menor dependência do suporte externo. A forma como os pais encaram a paternidade e as práticas educativas que utilizam fazem parte deste processo, que sofre a influência de diversas variáveis como características dos próprios pais, características dos filhos, contexto social, expectativas de pais e filhos, história prévia dos pais enquanto filhos, entre outras. A interação destes fatores leva a práticas parentais que agem, direta ou indiretamente, nos comportamentos, sentimentos e habilidades dos filhos (SANTOS e MARTURANO, 1999). O USO DOS TESTES PSICOLÓGICOS O uso dos testes psicológicos são instrumentos permitido apenas ao psicólogo em sua prática profissional. Colaborado no processo de avaliação psicológica - coleta e interpretação de dados -, o número de instrumentos não é pequeno, sobretudo nos países do Primeiro Mundo, onde o desenvolvimento da pesquisa científica já acumulou grandes conquistas. Em contra partida, temos no Brasil, dificuldades ao desenvolvimento de pesquisas com relação aos testes, suas legitimidades e o status do instrumento padronizado. Ainda não há esse tipo de material sistematizado que ofereça ao psicólogo informações pertinentes à construção, à aplicação e às qualidades psicométricas dos instrumentos, embora existam iniciativas isolados nesse sentido, segundo Noronha, Freitas, Sartori e Ottati, 2002). Essas autoras destacam ainda que no Brasil, recentemente o CFP (Conselho Federal de Psicologia, 2001) publicou a Resolução nº 25/2001, que define teste como um método de avaliação privativo do psicólogo e regulamenta sua elaboração, comercialização e uso. Ela determina que os manuais dos testes contenham informações acerca da fundamentação teórica dos instrumentos da aplicação, avaliação e interpretação e da literatura científica relacionada ao instrumento, indicando os meios para a sua obtenção. Pasquali (2001), explica que “os testes servem para fornecer informações sobre os indivíduos, a partir das quais alguém deve tomar alguma decisão com respeito a estes”(p. 33). Eles visam fornecer dados confiáveis para alguma investigação. Basicamente, os testes psicológicos são utilizados para cinco finalidades: 1) classificatório (psicotécnico) - Classificar uma pessoa significa colocá-la dentro de categoria específicas ou, se houver somente uma categoria, verificar se tal pessoa á apta para entrar nela. Pode-se também usar os termos seleção ou triagem. Segundo Pasquili (2001) “triagem, quando se quer fazer uma investigação mais rápida para localizar o sujeito numa dada categoria, como por exemplo, decidir quais alunos necessitam de um tratamento especial. Normalmente, após a triagem segue um estudo mais aprofundado dos sujeitos que foram alotados na categoria em questão” (p. 36). Classificação também, é tipicamente é requerida ou aconselhada em certas profissões. 2) promoção do autodesenvlvimento - Testes psicológicos utilizados para definir o problema mental de uma pessoa, objetivando orientaro planejamento de um tratamento para o problema. Isso pode ocorrer em clínicas psicológicas, em hospitais ou mesmo na escola, onde se procura detectar problemas de saúde mental, de patologias, de distúrbios de aprendizagem e similares. Por meio do psicodiagnóstico, caracteriza-se em detalhes o problema da pessoa para planejar uma intervenção adequada e eficaz, visando de remover ou contornar tal problema. 3) intervenção psicoterápica (psicodiagnóstico) e psicopedagógica - Pasquali (2001) explica que “uma pessoa pode querer se submeter a testes simplesmente para se conhecer melhor, para ver seus pontos fortes e fracos em habilidades e personalidade. O objetivo de tais testagens é o desejo da pessoa de fazer uso útil do autoconhecimento para melhorear seu modo de ser. Algo mais técnico do que isto ocorre no que chamamos de orientação profissional (p. 37). 4) avaliação de programas - Testes podem ser utilizados para avaliar programas e instituições, visando verificar a qualidade de vida da comunidade para um nível melhor, foi ou não alcançado, ou até que ponto ele foi ou não alcançado, ou até que ponto ele o foi, e se não, por que razão isto ocorreu. Segundo Pasquali (2001), “tais avaliações, muitas vezes se gastam quantias enormes de recursos financeiros, humanos e materiais em programas que resultam em nada ou que não compensam os esforços empregados” (p. 39). 5) pesquisa científica - Os testes psicológicos podem ser empregados tanto nas áreas práticas, quanto utilizados na própria investigação em Psicologia, pois a ciência em geral e a Psicologia em particular, trabalha com verificação de hipóteses. Para se decidir sobre estas, maximamente útil se dispor de dados válidos e preciso, e os testes permitem coletar dados de tal natureza para, em seguida, serem apropriadamente analisados. Aqui aparece a grande vantagem que testes psicométricos, por exemplo, tem sobre avaliações de tipo impressionista, porque aqueles coletam dados em termos de medidas, que podem ser mais objetivamente analisados e com maior precisão, o que resulta numa verificação mais exata das hipóteses científicas. (PASQUALI, 2001, p, 40). Há testes psicológicos para medir a capacidade mental geral, divididos em três subcategorias básicas: testes de inteligência, aptidão e aproveitamento: Os testes de inteligência destinam-se a avaliar o potencial intelectual, e não o aprendizado prévio ou o conhecimento acumulado. Os testes de aptidão são projetados para medir o potencial do conhecimento, dividindo a capacidade mental em diferentes componentes, avaliando avaliando o talento para tipos específicos de aprendizado, tipos específicos de capacidade mental, tais como capacidade numérica, rapidez e precisão em trabalho de escritório, raciocínio mecânico e raciocínio espacial. Os testes de aproveitamento têm um foco específico, medindo o aprendizado prévio e não o potencial. Podem afetar o domínio e o conhecimento de uma pessoa sobre deferentes temas, tais como leitura, inglês e história. Os testes psicológicos são uma a medida padronizada de uma amostra do comportamento de uma pessoa, instrumentos de mensuração utilizados para medir as diferenças individuais entre as pessoas com relação a capacidades, aptidões, interesses e aspectos de personalidade. Mas os resultados não devem ser considerados como a palavra definitiva sobre a personalidade. Caberá ao psicólogo, primeiramente questionar se, de fato, a criança apresenta DA ou se seu rendimento não satisfaz as expectativas de seu professor. Geralmente, um desenvolvimento não correto nem sempre denuncia alguma patologia, podendo refletir dificuldades pessoais eminentemente circunstanciais. Infelizmente, as famílias só é mobilizada a procurar ajuda especializada para suas crianças quando fica evidente ou ameaçado o rendimento escolar e a aprendizagem. Mas nem sempre procuram o apoio correto, ou temem algum estigma cultural, qualquer coisa parece servir, desde que não seja um profissional da psicologia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALLONE, GJ - Dificuldades de Aprendizagem - in. PsiqWeb, Internet, disponível em revisto em 2003 CARNEIRO, G.R. da S.; MARTINELLI, S. de C.; SISTO, F.F. Autoconceito e dificuldades de aprendizagem na escrita. Psicol. Reflex. Crit. vol.16 no.3 Porto Alegre, 2003. CUNHA, M.V. Psicologia da educação. Rio de Janeiro; DP&A, 2000. ERTHAL, T.C. Manual de psicometria. Rio de Janeiro; Jorge Zahar, 1999. FIGUEIRA, E. Psicologia e Inclusão – Atuações psicológicas em pessoas com deficiência. Rio de Janeiro; Wak, 2015. NORONHA, A.P.P; FREITAS, F.A.; SARTORI, F.A.; OTTATI, F. Informações contidas nos manuais de testes de personalidade. Psicol. estud. vol.7 no.1 Maringá Jan./Jun. 2002 OKANO, C.B.; LOUREIRO, S.R.; LINHARES, M.B.M.; MARTURANO, E.M. Crianças com dificuldades escolares atendidas em programa de suporte psicopedagógico na escola: avaliação do autoconceito. Psicol. Reflex. Crit. vol.17 no.1 Porto Alegre 2004. ONU. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF. São Paulo; Edusp, 2003. PASQUALI, L. Instrumentos psicológicos: manual prático de elaboração. Brasília; LabPAN / IBAPP, 1999. PASQUALI, L. Técnicas de Exame Psicológico – TEP. São Paulo; Casa do Psicólogo / Conselho Federal de Psicologia, 2001. SANTOS, L.C. dos. & MARTURANO, E.M. Crianças com dificuldade de aprendizagem: um estudo de seguimento. Psicol. Reflex. Crit. vol.12 n.2 Porto Alegre 1999. STEVANATO, I.S.; LOUREIRO, S.R.; LINHARES, M.B.M; MARTURANO, E.M. Autoconceito de crianças com dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento. Psicol. estud. vol.8 no.1 Maringá Jan./June 2003. VYGOTSKY, L. Obras completas: fundamentos de defectologia. Cuba; Havana, Pueblo e Educacion, 1989, v. 5. A PSICOLOGIA ESCOLAR DIANTE DA EDUICAÇÃO INCLUSICA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E OS NOVOS DESAFIOS À PSICOLOGIA O QUE É EDUCAÇÃO INCLUSIVA A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA LEI BRASILEIRA DA INCLUSÃO: SAIBA O QUE MUDA NO ENSINO AS BASES PSICOLÓGICAS PARA A INCLUSÃO ESCOLAR ATENÇÃO ÀS HABILIDADES E OS EFEITOS POSITIVOS DA DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA O TRABALHO JUNTO À EQUIPE ESCOLAR TRABALHANDO A ANSIEDADE DOS PROFESSORES NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR CAMINHOS DA AFETIVIDADE E O HÁBITO DE PESQUISAR EDUCAÇÃO INCLUSIVA É TER PENSAMENTOS POSITIVOS E FOCADOS PROVISÃO DE OPORTUNIDADES EQUITATIVAS A TODOS OS ESTUDANTES A QUESTÃO DO BULLYING E OS ESPORTES ADAPTADOS UMA CONVERSA DE CONSULTÓRIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS TERAPIAS COMPLEMENTARES A PARCERIA ENTRE FAMÍLIA, ESCOLA E COMUNIDADE AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E OS NOVOS DESAFIOS AO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL A UNIVERSIDADE E A SOCIEDADE INCLUSIVA AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA ATUALIDADE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASEra o afastamento do modelo estritamente médico-pedagógico; o nascimento do trabalho multiprofissional, formado por médicos, psicólogos, pedagogos e assistentes sociais; novo modo de tratamento dado à categoria, então instituída naquela época, os “excepcionais”, atendendo, ainda, crianças de grupos escolares e seus pais, em um consultório médico-psico-pedagógico. E, no Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico, semanalmente havia reuniões com professores de grupos escolares que se interessassem em discutir a educação de pessoas com deficiência. A relação científica entre Psicologia e deficiência ganhou força com as instalações dos cursos de graduação na área. Regulamentada como profissão em 1962, através da Lei 4.119 de 27/08/62, no ano seguinte, 1963, foi elaborado o primeiro currículo oficial do curso, fixado pelo Conselho Federal de Educação. Neste, a Psicologia do Excepcional – absorvendo em seu título a nomenclatura criada por Antipoff, tornou-se disciplina obrigatória. UMA ÁREA SEM RUPTURAS Várias décadas se passaram. E será que essas disciplinas acompanharam a evolução das pessoas com deficiência. Quase que não! Acredito que a primeira mudança precisa ser já em nossa formação acadêmica. Muitas faculdades ainda mantêm o título pejorativo dessas disciplinas de Psicologia do Excepcional. Com conteúdo quase que puramente classificando e/ou conceituando o que é deficiência, essas grades demonstram que a formação do psicólogo não apresenta avanço com relação às pessoas com deficiência, estabelecendo rupturas em termos epistemológicos. Talvez o problema seja a não familiarização dos professores dessas disciplinas com a temática por eles ministradas. Apenas se cumpre um curso obrigatório, exigido pelo currículo mínimo para o funcionamento das faculdades de Psicologia. Entre os alunos criou-se o hábito da obrigação de passar por essas matérias como forma de também cumprir currículo, não despertando neles o interesse pelo assunto. Não lhes é despertado o quanto, em suas futuras atuações profissionais, poderão contribuir com a melhora de qualidade da vida de pessoas com deficiência e outras pessoas (por exemplo, familiares) a sua volta. Não lhes são apontadas todas as possibilidades de trabalho junto à essa clientela. É preciso criar mecanismos para estimular professores e alunos nessas disciplinas. Se não avançarmos além das intenções classificatórias e conceituais da deficiência, no que tange à formação do psicólogo, não conseguiremos construir um espaço para a interdisciplinaridade. A intervenção psicológica (formação técnica) ainda se concentra no diagnóstico e na classificação. Falta-nos uma formação para uma ação processual, que considere o próximo desenvolvimento dessas pessoas. Fazendo uma citação livre, é como nos advertiu Lev Vygotsky, já nos anos 20 do século passado, “todo o ser humano, independentemente do grau de sua deficiência, aprende e se desenvolve”. A Psicologia como ciência passou por diversas transformações. A Psicologia do Excepcional, ao contrário, parece permanecer em uma condição “fossilizada”, sem rupturas. Essa expressão de uma atividade formativa reacionária está em conflito com as dimensões atuais, em que a formação do psicólogo deve estar voltada para a realidade que se transforma ininterruptamente. CRIANÇAS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL O Brasil está chegando a 47 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Essa quantidade passou a ter um peso significativo na sociedade. Pessoas que nas últimas décadas, não contentes com o isolamento social, resolveram “colocar a cara na rua”, visando conquistar o seu lugar no seio social. Presentes hoje em todos os segmentos deixaram de ser os “coitadinhos” para ser um público consumidor, produtivo, sabedor de onde realmente quer chegar e exigente de bons serviços. Consequência disso é que cada vez mais o contexto social está se vendo obrigado a promover e se adaptar à política da inclusão social para recebê-las, embora isso nem sempre ocorra. A proteção de pessoas com deficiências passou a só integrar as normas constitucionais brasileiras muito recentemente na Constituição Federal de 1988 – visto que temos cinco séculos de história. Pela Convenção 159 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que assegura medidas de adaptação profissional e, no Brasil, o artigo 93 da Lei nº. 8.213/91, que garante contratação percentual dessas pessoas em seus quadros de funcionários. As escolas e universidades públicas estão tendo que se reestruturar para que alunos com e sem deficiências dividam as mesmas salas de aula, por determinação do artigo 208, parágrafo III, da Constituição, que determina o atendimento educacional a essas pessoas. Mas, na prática, ainda poucas escolas públicas de educação básica atendem à demanda. As pessoas com deficiência estão cada vez mais presentes nos lugares de lazer, consumindo cultura e outros produtos: em espaços urbanos as barreiras arquitetônicas – por força de leis - estão começando a ser eliminadas com a construção de rampas, telefones públicos, degraus e guias rebaixadas, construções de elevadores e muito mais; os empresários, atentos às novas tendências, estão criando serviços especializados a essas pessoas; até mesmo os órgãos de comunicação estão abrindo cada vez mais espaço para essa temática. DOCUMENTO MUNDIAL – A CIF Na busca de uma imagem cada vez mais normalizada, poucos sabem da existência da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF, documento desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com um novo enfoque positivo da deficiência. Descrevendo a funcionalidade e a incapacidade relacionadas às condições de saúde, ressalta o que uma pessoa “pode ou não pode fazer na sua vida diária”, tendo em vista as funções dos órgãos ou sistemas e estruturas do corpo. Foi estabelecido como definições para serem adotadas no contexto da saúde: Funções do corpo são as funções fisiológicas dos sistemas do corpo (inclusive funções psicológicas). Estruturas do corpo são as partes anatômicas do corpo como órgãos, membros e seus componentes. Deficiências são problemas nas funções ou nas estruturas do corpo como um desvio significativo ou perda. Atividade é a execução de uma tarefa ou ação por um indivíduo. Participação é o envolvimento em situações de vidas diárias. Limitações de atividade são dificuldades que indivíduo pode encontrar na execução de atividades. Restrições de participação são problemas que um indivíduo pode enfrentar ao se envolver em situações de vida. Fatores ambientais compõem o ambiente físico, social e de atitude nos quais as pessoas vivem e conduzam sua vida. E é importante que um psicólogo tenha este conhecimento. Tendo o duplo propósito de utilização em várias disciplinas e em diferentes setores, seus objetivos específicos, interligados entre si, requerem a construção de um sistema relevante e útil, que possa aplicar-se em âmbitos distintos: na política de saúde, na avaliação da qualidade da assistência e avaliação das consequências em diferentes culturas. São os seguintes: Apresentar uma base científica para a compreensão e o estudo da saúde e dos estados com ela relacionados, bem como os resultados e suas determinantes; estabelecer uma linguagem comum para descrever a saúde e os estados com ela relacionados, para melhorar a comunicação entre os diferentes usuários, tais como profissionais de saúde, investigadores, legisladores de políticas de saúde e a população em geral, incluindo as pessoas com deficiência; permitir a comparação dos dados entre países, entre as disciplinas de saúde, entre os serviços e em diferentes momentos ao longo do tempo; proporcionar um esquema de codificação sistematizado de forma a ser aplicado nos sistemas de informação da saúde. Dispondo de um amplo leque de aplicações, o surgimento da CIF foi um marco de referência conceitual. É ainda um modelo de atendimento multidisciplinar clínico, servindo para as várias equipes e os vários recursos de que dispõem os serviços,tais como médico, psicólogo, terapeuta, assistente social etc. Passa a ser uma perspectiva positiva, considerando as atividades de alguém com deficiência que, mesmo com ela, pode desempenhar, assim como sua participação social, sendo que a funcionalidade e a incapacidade dos indivíduos são determinadas pelo contexto ambiental onde as pessoas vivem. Trata-se da mudança de paradigma, pautando um novo pensamento para quem trabalha com pessoas com deficiência e a incapacidade, constituindo um instrumento importante para avaliação das condições de vida e para a promoção de políticas de inclusão social. NOMENCLATURA CORRETA: PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Muitos ainda usam expressões como “pessoas portadoras de deficiência”. Aqui no Brasil essa expressão não é mais utilizada, pois se entende que a pessoa com deficiência não está portando nada. Neste artigo, como em outros tantos trabalhos meus, usarei o termo mais aceitável em Língua Portuguesa. Segundo os movimentos mundiais, incluindo o Brasil, após amplos debates, o nome pelo qual essas pessoas desejam ser chamadas é “pessoas com deficiência”, isso em todos os idiomas. Esse termo foi adotado como sendo o correto pela Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde-CIF, que é da Organização Mundial de Saúde de 2003, Anexo V da edição brasileira. Em seguida, foi incorporado ao texto da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência, aprovada pela Assembleia Geral da ONU, em 2005, e promulgada, posteriormente, pela Lei Nacional de todos os Países-Membros. Desta forma, onde estiver escrito “pessoas portadoras de deficiência” ou, até mesmo, “portadores de deficiência”, singular ou plural, deverá ser entendido “pessoa(s) com deficiência”. O PSICÓLOGO E O DESAFIO DE INCLUIR Creio que a primeira grande mudança precisa ser nos bancos acadêmicos. Defendo para essas disciplinas o título Psicologia e Pessoas com Deficiência. Não temos a necessidade de sustentar a existência de uma subárea específica chamada Psicologia da Deficiência (ou em pior grau, manter-se o título Psicologia do Excepcional). Que as disciplinas acadêmicas que ministram essa temática deixem de ser meramente uma obrigação curricular e teórica a cumprir na grade dos cursos de graduação em Psicologia no Brasil. É necessário desenvolver uma nova mentalidade em estimular uma linha de trabalho, no qual o papel do psicólogo seja intervir na busca da superação das limitações. Para os psicólogos já formados os desafios também são muitos. Temos mais de 46 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no país. Precisamos gerar psicólogos mais preparados para atendê-las em suas necessidades específicas e, em muitos casos, psicólogos para serem o elo dessa inclusão social, mediadores entre o real e o ideal. Considerando o grande número de pessoas, hoje em qualquer lugar que um psicólogo for atuar, deparará com esse público: se for para área organizacional, as empresas devem ter uma cota mínima dessas pessoas contratadas; no setor educacional está sendo discutido, implementado e garantido, por força da lei, a inclusão escolar; no setor hospitalar, elas ficam doentes como as demais; na clínica, mesmo se o psicólogo não atender diretamente essas pessoas, atenderá seus parentes. Na inclusão, as iniciativas são da sociedade. E a Psicologia tem muito a colaborar nesse processo, onde a sociedade se adapta para poder incluir em seu contexto as pessoas com deficiência. Mas, por outro lado, essas mesmas pessoas precisam ser preparadas para assumir seus papéis na sociedade, o que abre várias possibilidades de atuações psicológicas. Será uma forma de parceria entre toda a sociedade, visando equacionar problemas, decidindo sobre soluções, efetuando equiparações de oportunidades para todos. Estaremos, assim, realmente criando no relacionamento prático entre a Psicologia e pessoas com deficiência, na busca do ser humano por de trás da pessoa com qualquer tipo de limitação: suas reais necessidades, interações sociais, educacionais, relacionamentos familiares e afetivos, necessidades de atividades profissionais e, sobretudo, suas verdadeiras potencialidades a serem estimuladas de forma individual e coletiva. O QUE É EDUCAÇÃO INCLUSIVA Talvez esta seja a primeira dúvida: O que é Educação Inclusiva? Historicamente, pessoas com deficiência ficaram por muito tempo escondidas do convívio social até que, algumas décadas atrás, nasceu o conceito de integração social. Surgiram, por exemplo, entidades, clubes sociais especiais, associações desportivas e centros de reabilitação dedicados a elas. A intenção principal da integração social era preparar essas pessoas para ingressarem e conviverem em sociedade como todos nós. No ano de 1994, surgiu a “Declaração de Salamanca – Princípios, Políticas e Práticas em Educação Especial”, proclamada na Conferência Mundial de Educação Especial sobre Necessidades Educacionais Especiais. Esse documento reafirmou o compromisso para com a “Educação para Todos”, reconhecendo a necessidade de providenciar educação para pessoas com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino. Assim, um novo conceito ganhou forças: a inclusão escolar e social. Antes, essas pessoas eram habilitadas ou reabilitadas para fazer todas as coisas que as demais por meio da integração social e passavam a conviver conosco em sociedade. Agora, na inclusão escolar e social, as iniciativas são nossas. Somos nós que estamos nos preparando, criando caminhos e permitindo que elas venham conviver conosco. Por este motivo, cada vez mais vemos crianças e pessoas com deficiência em nossas escolas, nos espaços de lazeres e em todos os lugares da vida diária. Devemos estar preparados para essa convivência, aceitando as diferenças e a individualidade de cada pessoa, uma vez que o conceito de inclusão mantém este lema: Todas as pessoas têm o mesmo valor. A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA Desde meados do século XIX, acentuando-se mais na década de 1950, houve em todo o país, uma preocupação em proporcionar um atendimento especializado em várias ações para pessoas que apresentam limitações e deficiências mais acentuadas. E a Educação Especial constitui numa dessas ações, ocorrendo basicamente de duas maneiras: Via comum com raras iniciativas, através dos mesmos recursos e serviços geralmente organizados para todos. E a outra, via designada como Especial, mediante a utilização de auxílios e serviços especiais que não estavam disponíveis nas situações comuns de educação. Durante muitas décadas de isolamento e nos primeiros anos de vida, a criança com deficiência não tinha maiores problemas, vivendo em torno da família, sendo assistida e recebendo toda a proteção do lar. Mas ao atingir a idade escolar, iniciava-se o dilema: a procura de escolas especializadas com vagas, ou mesmo uma de ensino regular que o aceitasse em seu quadro de alunos. Dilema, porque, como em todos setores que envolvem a questão deficiência, a Educação Especial também sempre enfrentou problemas. Falta de verbas federais, estaduais e municipais, poucos centros especializados, professores com formações precárias. Escolas despreparadas para integrar esses alunos em salas comuns de aula. Crianças não conseguindo ser orientadas, acabavam sendo isoladas em Classes Especiais, encaradas com preconceitos e discriminações. Mesmo com boa intenção de alguns órgãos responsáveis, estes, estavam de mãos atadas, devido à falta de recursos e o desinteresse pelos poderes governamentais. Problemas a parte, a Educação Especial sempre foi ministrada em vários locais: em escolas residenciais, em hospitais, em casa, em internatos, escolas especiais, classes especiais, em salas de recursos adequados, pensionatos para alunos externos ou através de planos coorporativos. Porém, sempre houveram dois principais recursos no Brasil: As Escolas e Classes Especiais. Essa última mantida em escolas comuns (estaduais e municipais), abrigando crianças classificadasnas categorias de suas deficiências. Em alguns casos, essas Classes serviam/servem de auxílio, onde o aluno frequenta meio período na classe comum e meio na Classe Especial. A clientela na Educação Especial é diversificada, indo muitas vezes, de encontro às necessidades e condições educacionais e condições individuais de cada aluno, indicando se esse deve receber a Educação Especial, e não apenas a presença de uma deficiência ou superdotação, tomadas estas como condições individuais. São crianças que, mesmo com suas limitações, estão sempre prontas para brincar, correr, jogar bola, gritar, rir, fazer travessuras e se for preciso, até brigar. Por outro lado, também são crianças muito carinhosas e às vezes carentes. Porém para desenvolver todas essas qualidades e tudo que possuem de bom, precisam de um carinho e atenção mais intensos: É aqui que entendia-se que entra o papel da Escola Especial. Seu programa escolar era dirigido a crianças de 6 a 16 anos com algum tipo de deficiência, que não “conseguiam acompanhar” o currículo das escolas comuns, o que era um mito, pois eram vistos em primeiro plano, só pelo que “eles não podiam ou conseguiam fazer”. Claro que, segundo conceitos da época, necessitavam de uma metodologia adequada, como a criança deficiência visual que usa o alfabeto em Braille: a auditiva aprende através do alfabeto digital, onde cada movimento de mão corresponderá a uma letra; a criança deficiência física poderá normalmente acompanhar o currículo comum escolar e dependendo de sua gravidade, o uso de próteses (braço-mecânico) pode facilitar seus movimentos; crianças com deficiências motoras (paralisado cerebral) já contam com uma série de recursos que foram caracterizando esse atendimento. E as crianças com deficiência intelectual eram classificadas por grau, educáveis e as treináveis em alguma profissão ou atividade de dia-a-dia. Todas as escolas especializadas, ofereciam/oferecem um treinamento pedagógico (alfabetização), como treinamento da fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicológico e profissionalmente para o mercado de trabalho. São inúmeras as atividades periódicas de uma instituição. Serviços diretos ou indiretos, realizados pelos professores e todos aqueles que trabalham na escola. PROFISSIONAIS DA ÁREA Com relação aos profissionais, há no mercado de Educação uma carência de profissionais especializados nesta área. Isto constitui um grande desafio aos educadores, seja em nível de sondagem de aptidões, iniciação para o trabalho, aprendizagem profissional metódica, qualificação ou habilitação profissional. A ação educacional tem sido, entre nós, de difícil concretização. A “mão-de-obra” especializada na Educação Especial sempre foi uma grande dificuldade. Não há profissionais para tal e os que existem, são muitos mal remunerados, devido à carência e problemas financeiros das entidades. Para trabalhar nessa área, um profissional tem que estar muito bem preparado. Muitas vezes a realidade de sua classe ou do aluno é bem diferente daquilo que ele aprendeu em seu curso. O professor acaba por adotar atitudes que refletem muito mais aspectos pessoais do que preparação técnica. Muitas vezes um profissional tende a se fixar numa esfera emocional, que o leva a assumir vários papéis (médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, atendente e, é comum, o papel de mãe). Sofre também a falta de outros profissionais mais especializados em sua volta para orientação, troca de informações ou ideias. Mas lidar com crianças com deficiência é algo que exige muita dedicação e, sobretudo, amor. A arte de reabilitar - tanto pedagógico como profissionalmente – é algo muito gratificante. Ao ver o aluno com alguma limitação ou algo parecido, ser incluído socialmente, será a maior recompensa a esses profissionais. LEI BRASILEIRA DA INCLUSÃO: SAIBA O QUE MUDA NO ENSINO Após 15 anos de tramitação no Congresso Nacional, foi sancionada a Lei Brasileira de Inclusão, um verdadeiro avanço na inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. O documento entra em vigor no dia 2 de janeiro de 2016 e prevê mudanças em diversas áreas, como trabalho e educação. A lei foi relatada pela deputada Mara Gabrilli, na Câmara dos Deputados, e pelo senador Romário, no Senado, e dá seis meses para instituições públicas e privadas se adaptarem antes de entrar oficialmente em vigor. A Lei Brasileira de Inclusão conseguiu reformular toda a legislação brasileira, alterando leis que não atendiam ao novo paradigma da pessoa com deficiência ou que simplesmente a excluíam de seu escopo. Com a ajuda da sociedade conseguimos alterar, por exemplo, o Código Eleitoral, o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto das Cidades, Código Civil, a CLT… Pense que em todas essas leis a pessoa com deficiência, de alguma forma, não era assistida – muitas vezes era até excluída. Além disso, não podemos deixar de falar que a sanção da LBI é uma conquista não só das pessoas com deficiência, mas da democracia. FOCO NA ACESSIBILIDADE Mara explica que um dos mais notáveis efeitos desta lei é que ela muda a visão sobre o conceito de deficiência, deixando de ser um atributo à pessoa e passando a ser o resultado da falta de acessibilidade que a sociedade e o Estado oferecem. “u seja, a LBI mostra que a deficiência está no meio, não nas pessoas. Justamente por isso, muitas mudanças dizem respeito à acessibilidade, como: Cinemas e cursos de idiomas e informática deverão oferecer materiais e recursos de acessibilidade, incluindo livros. Os hotéis deverão ter 10% de dormitórios acessíveis, e um número mínimo deve ser reservado à condomínios e moradias que permitem uma vida independente para pessoas com deficiência. Para usuários de cadeiras de rodas, os que usam próteses ou qualquer tipo de material especial no cotidiano, o FGTS poderá ser sacado para aquisição desses itens. O Benefício de Prestação Continuada (BPC), um benefício da Política de Assistência Social, que prevê o pagamento de um salário mínimo para idosos acima de 65 anos e pessoas com deficiência, passa por adaptações no critério para maior integração das 50 milhões de pessoas com deficiência no Brasil. A criação de um novo benefício, o Auxílio Inclusão, que garante uma renda extra para o cidadão com deficiência que entrar para o mercado de trabalho. A LBI E O ENSINO Tal qual toda criança, as com deficiência têm direito a um ensino de qualidade e que atenda às suas necessidades, tanto que o tema também foi abordado na lei sancionada. Apesar de ser proibido por um decreto do ano passado, casos surgiram de escolas que cobravam uma taxa extra dos pais para o cuidado dos pequenos ao invés de investirem em profissionais capacitados, colocando a inclusão dos filhos nas mãos dos familiares. Agora, como uma forma de garantir a igualdade desses direitos, a LBI conta, mais uma vez, com a proibição de cobranças extras de alunos com deficiência, e esse veto se estende também aos planos de saúde. A oferta de profissionais de apoio escolar, claro, também é defendida no documento, uma vez que o objetivo é ter uma equipe totalmente preparada para os cuidados da criança na escola, tirando dos pais uma preocupação a mais, que deveria, desde o começo, ser do próprio Estado. Até mesmo o currículo do ensino superior adaptações, agora sendo obrigatória abordar disciplinas sobre o tema. AS BASES PSICOLÓGICAS PARA A INCLUSÃO ESCOLAR Neste capítulo quero mostrar de forma geral, a obra daquele que considero o maior pensador sobre Inclusão Social e Escolar: Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934), cientista e psicólogo bielorrusso. Pensador importante em sua área e época, foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Veio a ser descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934, por tuberculose, aos 37 anos. Hoje fala-se e promove-se muito a chamada Educação Inclusiva, uma proposta pedagógica surgida no ano de 1994, com a “Declaraçãode Salamanca – Princípios, Políticas e Práticas em Educação Especial”, proclamada na Conferência Mundial de Educação Especial sobre Necessidades Educacionais Especiais, que afirma em seu segundo parágrafo: “Toda criança tem direito fundamental à educação e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem. (...) Aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades. Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias, criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas proveem uma educação efetiva à maioria das crianças para que aprimorem a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional”. Mais quais são as bases psicológicas que pautam a Educação Inclusiva? Quem lê “Obras Escolhidas, Volume V, Fundamentos de Defectologia”. com textos escritos nas décadas 1920/1930 pelo psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934), onde Vygotsky, descobrirá vários temas ligados à pessoas com deficiência. Notará que ele tenha foi o primeiro pensador a abordar ideias e conceitos centrais para um projeto de inclusão escolar. E isto fica bem claro no capítulo terceiro, “Acerca da psicologia e da pedagogia das deficiências infantis”, opondo-se eloquentemente contra a segregação escolar desses alunos. Apoiando-se em sua teoria sócio-histórica e do desenvolvimento infantil e humano em geral, Vygotsky defendia a sócio-gênese como a condição para que a criança passe por transformações essenciais, conseguindo desenvolver suas estruturas humanas fundamentais do pensamento e da linguagem na qualidade das interações sociais em seu grupo (sociedade, família, escola, etc.). E uma criança com algum tipo de deficiência sendo isolada no âmbito familiar, escolar ou comunitário, na ótica vygotskiana, muito mais que apenas um problema social ou ético, poderia causar-lhe prejuízos psicossociais delicados na dinâmica sócio-gênica de seu desenvolvimento infantil sadio. POSIÇÕES POSITIVAS É necessário intensas e positivas trocas psicossocias que fortaleçam esse desenvolvimento. E quanto mais for a segregação social - no círculo básico, a família, primeiro grupo que pratica a exclusão, com atitudes de rejeição ou super-proteção -, por meio da exclusão escolar ou da incompreensão comunitária, maiores serão os prejuízos no desenvolvimento intelectual, afetivo, social e moral dessa criança. Desde a primeira fase de seus escritos, Vygotsky já se opunha contra o envio sistemático das crianças com deficiência para as escolas especiais, cujo projeto pedagógico teria uma orientação demasiadamente terapêutica e, com efeito, o afastamento crescente da criança do ensino regular. Os maiores prejuízos desses alunos estaria no plano social. Essas crianças segregadas ficavam debilitadas das trocas interpsicológicas, fundamentais às condições do desenvolvimento psíquico que derivam da qualidade das trocas sociais. E alunos com deficiência incluído no ensino regular poderia significar ganho para todas as partes envolvidas. Uma das principais criticas feitas por ele às escolas especiais era por suas rotinas enfadonhas, artificiais e nada interessantes. A falta de atividades com sentidos de vida aos seus alunos, relacionadas a jogos, ao trabalho, ao desejo e a vivencia de uma linguagem viva. Falta de estímulos para que superassem suas limitações e dificuldades, formando uma concepção de mundo, a aquisição de conhecimentos fundamentais para entenderem as relações com a vida. Vygotsky combateu sistematicamente uma proposta de formação de grupos com igualdade nos perfis, que se homogeneizarem a partir particularmente dos critérios de condição intelectual e de desempenho acadêmico. Por meio da individualidade de cada criança, surgiriam as trocas psicossociais, enriquecendo e contribuindo para o crescimento de cada um no grupo. Essa mesma visão da importância de educar essas crianças em escolas comuns, Vygotsky teve com relação as que tinham deficiências intelectuais que, segundo ele, nem todas as funções estavam prejudicadas ao mesmo tempo. Mesmo que e as funções psicológicas superiores (percepção, atenção memória) dessas crianças encontrassem uma barreira em seu desenvolvimento, isso não ocorreria de forma mecânica, podendo encontrar outras vias de compensações nas relações sociais. Em um processo de compensação cada função mental tem influência de modo particular e qualitativo, alimentado pelo contato social, construído culturalmente. Com isso a criança poderia se alto estimular. “A socialização da criança não só ativa e exercita suas funções psicológicas, como é a fonte do surgimento de uma conduta determinada historicamente. E a relação social é a fonte de desenvolvimento dessas funções, particularmente na criança com deficiência mental” (VYGOTSKY, 1989, p. 109). Se educadas no ensino especial, essas escolas tendiam a se acomodar, adaptando-se às condições e graus de dificuldades desses alunos em desenvolver pensamentos abstratos. Sua aprendizagem era fundamentada apenas no caráter concreto e na visualização. E, para Vygotsky (1989), “a tarefa da escola consiste em não adaptar-se à deficiência, mas sim em vencê- la. A criança com deficiência intelectual necessita mais que a normal que a escola desenvolva nela os processos mentais, pois, entregue à sua própria sorte, ela não chega a dominá-los” (p. 119). Dando uma olhada geral na teoria Sócio-Histórica de Vygotsky, fica fácil entender esses pontos de vistas que ele também tinha em particular com as crianças com algum tipo de deficiência. Defendia que a base do desenvolvimento do indivíduo é resultado de um processo sócio-histórico. Enfatizava o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo questão central a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Suas concepções sobre o processo de formação de conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem. No processo cultural ocorre a construção de significados pelos indivíduos, sendo papel da escola a transmissão de conhecimento, que é e natureza diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana. Para Vygotsky, o funcionamento do cérebro é uma base biológica e suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano. Essas concepções fundamentam sua ideia de que as funções psicológicas superiores – pensamento, memória, percepção e atenção, colocando o pensamento tem origem na motivação, interesse, necessidade, impulso, afeto e emoção -, são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo. Desse modo, as funções psicológicas superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e dependem de processos de aprendizagem. A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas. Por meio da cultura, o indivíduo têm os sistemas simbólicos de representação da realidade, onde ele estará em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações. O processo de internalização é fundamental para o desenvolvimento do funcionamento psicológico humano. A internalização envolve uma atividade externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna, é interpessoal e se torna intrapessoal. E toda criança – com ou sem deficiência – não deve ficar de fora ou ser isolada desse processo de aprendizagem que interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas de desenvolvimentoproximal que é a distância entre aquilo que a criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com a intervenção de um adulto; potencialidade para aprender, que não é a mesma para todas as pessoas; ou seja, distância entre o nível de desenvolvimento real e o potencial, nas quais as interações sociais são centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimento, inter-relacionados; assim, um conceito que se pretenda trabalhar, como por exemplo, em matemática, requer sempre um grau de experiência anterior para a criança. Em uma visão geral do pensamento e escritos de Vygotsky, podemos concluir que, culturalmente, sempre atribuímos uma série de qualidades negativas à pessoa com deficiência, focando principalmente as dificuldades de seus desempenhos. Pouco conhecermos das suas particularidades positivas. Mas para Vygotsky (1989), “é impossível apoiar-se no que falta a uma criança, naquilo que ela não é. Torna-se necessário ter uma ideia, ainda que seja vaga, sobre o que ela possui, sobre o que ela é” (p. 102). Enquanto profissionais de psicologia, educação ou áreas afins, precisamos perder essa cultura de focar a deficiência em si mesma, no que falta na pessoa e buscar outros entendimentos de como se apresenta seu processo de desenvolvimento. Ter um conhecimento classificatório geral das deficiências é importante, mas também precisamos formar profissionais que consigam transpor além desse conhecimento teórico. Psicólogos e pedagogos que estudem como essas pessoas interagem com o mundo; como organizam seus sistemas de compensações, as trocas, as mediações que auxiliam na sua aprendizagem; a participação ou exclusão da vida social; a internalização dos papéis vividos; as concepções que se tem sobre si mesmo; a sua história de vida. São propostas lançadas já há muitas décadas por Vygotsky. ATENÇÃO ÀS HABILIDADES E OS EFEITOS POSITIVOS DA DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Em “Obras Completas – Elementos da Defectologia”, Vygotsky abordou de forma pioneira e sistemática assuntos relacionados à criança ou pessoa com deficiência com grande significado, gerando ideias e um novo modo de ver tais questões, descrevendo que essas pessoas têm dos tipos de deficiências: Deficiência primária – trata-se da deficiência propriamente dita – impedimento, dono ou anormalidade de estrutura ou função do corpo, restrição/perda de atividade, sequelas nas partes anatômicas do corpo como órgãos, membros e seus componentes, incluindo a parte mental e psicológica com um desvio significativo ou perda. Deficiência secundária – são as consequências, dificuldades e desvantagens geradas pela primária. Ou seja, tudo aquilo que uma pessoa com deficiência não consegue realizar em função de sua limitação. Uma situação de desvantagem às demais pessoas sem deficiência, podendo o indivíduo encontrar limitações na execução de atividades, restrições de participação ao se envolver em situações de vida em ambiente físico, social e em atitude no qual as pessoas vivem e conduzam sua vida. A partir dessa divisão, Vygotsky passou a defender que profissionais de saúde e educadores precisam focar suas atividades em ajudar a pessoa a superar suas deficiências secundárias e não ficar focando nas deficiências primárias. De todo o pensamento vygotskyriano, talvez a síntese mais interessante seja esta. Concentrando sua atenção nas habilidades que poderiam formar a base para o desenvolvimento de suas capacidades integrais e partindo dos pressupostos gerais que orientavam a sua concepção do desenvolvimento de pessoas consideradas normais, Vygotsky focalizou o desenvolvimento de criança com deficiência, destacando-lhes os aspectos qualitativamente diversos, não apenas de suas diferenças orgânicas, mas principalmente de suas relações sociais. Por meio de uma análise de uma compreensão dialética do desenvolvimento, na qual os aspectos tidos como normais e especiais se interpenetram constituindo os sujeitos, afirmava que essas pessoas não são menos desenvolvidas em determinados aspectos que as sem deficiência e sim, desenvolvem-se de outra maneira. Suas forças eram muito mais importantes do que suas faltas. Rejeitava as descrições simplesmente quantitativas, em termos de traços psicológicos refletidos nos testes psicológicos, destacando que estes instrumentos apenas indicavam uma visão incompleta ou unidimensional sobre a criança. Preferia, então, confiar nas descrições qualitativas da organização de seus comportamentos. Ao nascer ou adquirir uma deficiência, a criança passa a ocupar uma certa posição social especial, levando-a ter relações com o mundo de maneira diferente das que envolvem as crianças ditas normais. Para Vygotsky, junto com suas características biológicas (núcleo primário da deficiência), começa a constituir-se um núcleo secundário, formado pelas relações sociais, onde as interações serão responsáveis pelo desenvolvimento das funções especificamente humanas, surgindo as transformações das funções elementares (biológicas). A criança, ao interagir com um mundo mediado por signos, transformará tais relações interpsicológicas em intrapsicológicas. Portanto, a consciência e as funções superiores se originaram na relação com os objetos e com as pessoas, nas condições objetivas com a vida. Vygotsky afirmava que uma deficiência era, para o indivíduo, uma constante estimulação para o desenvolvimento intelectual. Se um órgão, devido a uma deficiência funcional o mortológica, não é capaz de enfrentar uma tarefa, o sistema nervoso central e o aparato mental compensam a deficiência pela criação de uma super estrutura psicológica que permite superar o problema. Os conflitos surgem a partir do contato da deficiência com o meio exterior e podem criar estímulos para sua superação. Assim, as deficiências poderiam causar limitações e obstáculos para o desenvolvimento da criança, mas também estimularia processos cognitivos comultativos. São o que ele intitulou de efeitos positivos da deficiência, caminhos isotrópicos, no curso do desenvolvimento que permitem atingir determinados objetivos ou funções, é que marcam a singularidade do desenvolvimento da pessoa com deficiência. Embora o desenvolvimento apresente algum desvio fora da normalidade, seguindo caminhos especiais, para Vygotsky as leis que regem o desenvolvimento cognitivo e psicológico dessa criança são as mesmas que guiam o desenvolvimento das crianças ditas normais. O grau de normalidade depende de sua adaptação social. Destacava em todo o seu estudo a deficiência, não como obstáculo, mas como um desafio e processo criativo é a luta do homem com tudo que o limita. O TRABALHO JUNTO À EQUIPE ESCOLAR Em nosso trabalho junto aos professores devemos incentivá-los sempre que for preciso, deve-se dividir dúvidas com a coordenação e com os colegas quando receber uma criança em fase de inclusão. Jamais reduzir o aluno à sua deficiência. Apesar de ter características peculiares, ele tem possibilidade e carrega uma história e muitas expectativas que o tornam único. Sempre que possível, podemos conversar constantemente com outros especialistas que tratam criança, pois eles podem ajudar a pensar em estratégias para lidar com o aluno. E nós psicólogos devemos está preparados para receber esses professores para esses diálogos. Não se esquecer, porém, de que quem sabe como ensinar a criança é o professor. No geral, É preciso que estratégias sejam traçadas, passando pelo preparo de professores e alunos sem deficiência para receberem colegas com deficiência. Que se desenvolvam políticas de Inclusão Escolar com o seguinte planejamento: a) conhecendo o perfil dos alunos a serem incluídos; b) suas reais necessidades; c) o desenvolvimento de estudos, gerando conhecimento acerca das práticas e procedimentos que melhor atenderão às suas peculiaridades, necessidades e possibilidades; d) Desenvolver projeto pedagógico consistente com todos os dados colhidos; e) realizar um bom projeto pedagógico que valorize a cultura, a história e as experiências de todos. Esse projeto pedagógicoprecisará oferecer atendimento educacional especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no mesmo local. Por exemplo, uma criança cega, deverá assistir às aulas com os colegas que enxergam e, no contraturno, receberá treino de mobilidade, locomoção, uso da linguagem braile e de instrumentos como o soroban, para fazer contas. Tudo isso ajuda na sua inclusão dentro e fora da escola. Por outro lado, embora já fomos criticados por este ponto de vista, a criança, o jovem com deficiência, também precisa ser preparada e acompanhada no processo de Inclusão, por estar entrando, digamos, em um universo diferente ao seu. E, estando preparada, ela poderá tanto se adaptar mais facilmente ao meio, como estar “madura” para casos desde pequenas frustrações, quanto, ao extremo, casos de rejeição e fracasso do processo inclusivo, gerando outros problemas, principalmente em seu psicológico. Muitas escolas públicas alegam não receber verbas governamentais e apoio pedagógico para promoverem a Inclusão. Mas elas podem e devem fazer parcerias com entidades de Educação Especial, disponíveis na maioria das cidades, pois contará com um serviço especializado. E isto pode ser muito positivo. Posso dizer isto com conhecimento de causa. Passei os primeiros onze anos da minha vida dentro de uma Escola de Educação Especial, numa época em que o isolamento era ainda mais latente. Paralelo a educação, eu precisava de terapias, treinamentos de atividades da vida diária, estimulações físicas, motoras, fonoaudiólogas e psicológicas, dentre outras, sendo assistido por profissionais especialistas em diversas áreas. E hoje digo que tudo foi válido, pois quando fui transferido para uma escola regular, estava realmente preparado para uma nova etapa. Talvez aqui posso levantar um outro equivoco cometido pela política da Inclusão Escolar: ignorar os benefícios também oferecidos pela Educação Especial! TRABALHANDO A ANSIEDADE DOS PROFESSORES NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR Hoje falamos muito de Inclusão Social ou Escolar, esse novo modelo social que retirou todo aquele caráter médico que envolviam questões referentes às pessoas com deficiência. Enquanto psicólogo, tenho notado nos discursos de várias pessoas que falar em Inclusão Escolar também se esbarra em questões culturais e/ou até mesmo um comodismo. São muito comuns professores dizerem que não estão preparados para receberem alunos com deficiência. Não há uma maldade nisto, mas sim certo estado de ansiedade e em muitos, mesmo que seja de forma inconsciente, um mecanismo de defesa contra algo desconhecido. Para o a maioria dos professores, assim como para grande parte da população, ainda há aqueles velhos conceitos e culturais referentes às pessoas com deficiência, tais como associadas ao estado de doença, que não se desenvolveram ou aprendem como as demais – mas ora, o desenvolvimento e a aprendizagem humana é individual e ninguém tem um modelo a seguir, conforme falarei mais abaixo. De fato, nenhum professor estar preparado para trabalhar com a Inclusão Escolar até momento que chegue à sua turma um aluno a ser incluído. Ninguém em nenhuma situação estar preparado para resolver algo que nunca vivenciou – o que muitas vezes exige conhecimento de experiências anteriores. Será neste momento que veremos realmente quem é o educador de verdade. O acomodado alegará não estar preparado – pois rejeitar um aluno com essa alegação será muito mais fácil e rápido se livrar da questão. Mas o verdadeiro professor, consciente de seu compromisso e desafio ético de educar a todos que pertencerem ao seu alunado, primeiro o receberá; depois irá se informar, buscar o maior número possível de informações e recursos para promover o desenvolvimento global daquele aluno. Aqui poderá surgir outro tipo de ansiedade. A direção na expectativa de mostrar resultados, o professor querendo rapidamente encontrar soluções de como trabalhar com aquele aluno. A moderação que enquanto psicólogo podemos ao professor, é que primeiro receba o aluno e nos primeiros dias vão se conhecendo mutuamente, pegando confiança e o jeito um do outro. Ao mesmo tempo em que for buscando o maior número possível de informações sobre o aluno e formas de trabalhar com ele, o professor descobrirá naturalmente no dia-a-dia suas próprias técnicas e adaptações de atuação em cada caso. Afinal, sendo a Educação um processo feito por etapas, por que diante da Inclusão Escolar muitos procuram respostas rápidas? O reflexo da vida moderna que nos cobram resultados e gerando nossas ansiedades não podem entrar na sala de aula inclusiva. A ansiedade não fez matricula no inicio do ano, portanto, ela não estar na lista de chamada!!! Recapitulando um pouco o que já falei sobre as bases psicológicas da Educação Inclusiva, digo desenvolvimento global é porque entendo a Inclusão Escolar não só como o processo de transferir o conteúdo ao aluno, mas também promover de forma natural a interação social entre todos, um sistema de cooperação e convivência entre eles, noções de respeito entre as diferenças e, dentre outros aspectos, o desenvolvimento psicomotor dessas crianças. Isso porque quando elas vêem seus colegas sem deficiência realizando certas tarefas, serão estimuladas a imitarem e se auto-estimularão, se superarão em suas próprias deficiências. Estímulos que não teriam se ficassem em instituições especializadas entre alunos com deficiências semelhantes, como dizia Vygotsky. Essas informações podemos repassar aos educadores, assim como a visão vygotstyguirana que essas pessoas têm dos tipos de deficiências: a Deficiência primária e a Deficiência secundária (vide o capítulo anterior, cujo conteúdo poderá ser repassado aos professores). A partir dessa divisão, Vygotsky passou a defender que profissionais de saúde e educadores precisam focar suas atividades em ajudar a pessoa a superar suas deficiências secundárias e não ficar focando nas deficiências primárias. Concentrando atenção e estimulando as habilidades das pessoas com deficiência, podemos formar a base para o desenvolvimento de suas capacidades integrais. O grau de normalidade depende de sua adaptação social. Vygotsky destacava em todo o seu estudo a deficiência, não como obstáculo, mas como um desafio e processo criativo que alimenta os processos de superações, é a luta do homem com tudo que o limita. Talvez, conhecendo a visão que Vygotsky descrevia sobre as crianças com deficiência, os professores poderão diminuir suas ansiedades que nada mais são que a falta de um conhecimento prévio. CAMINHOS DA AFETIVIDADE E O HÁBITO DE PESQUISAR Nos últimos anos tenho viajado pelo país fazendo palestras, ministrado cursos e recebido muitas mensagens referentes à Educação Inclusiva. E algo que sempre me incomoda é o fato de alguns professores quererem transferir suas responsabilidades, dizendo que muito pouco tem sido feito, a respeito da inclusão por parte do Governo ou por parte dos dirigentes educacionais. Ainda há muito da cultura paternalista de esperar que tudo venha de cima, já pronto tanto no sentido de leis como de investimentos e recursos, e com a Educação Inclusiva não tem diferente. Outro ponto que noto nesse comportamento e discursos de várias pessoas e professores é que falar em Inclusão Escolar ainda se esbarra em questões culturais e/ou até mesmo um comodismo para não sair da zona de conforto. É comuns os professores dizer que não estão preparados para receberem alunos com deficiência. Não há uma maldade nisto, mas sim certo estado de ansiedade e em muitos, mesmo que seja de forma inconsciente, um mecanismo de defesa contra algo desconhecido. Vou repetir um pouco o que eu já disse atrás... Para o a maioria dos professores, assim como para grande parte da população, ainda há àqueles velhos conceitos e culturais referentes às pessoas com deficiência, tais como associadas ao estado de doença, que não se desenvolveram ou aprendem como as demais. Mas ora, o desenvolvimento e a aprendizagem humana é individual e ninguém tem um modelo a seguir.De fato, nenhum professor estará preparado para trabalhar com a Inclusão Escolar até momento que chegue à sua turma um aluno a ser incluído. Uma situação que ele nunca vivenciou – o que muitas vezes exige conhecimento de experiências anteriores. Será neste momento que veremos realmente quem é o educador de verdade. O acomodado alegará não estar preparado – pois rejeitar um aluno com essa alegação será muito mais fácil e rápido se livrar da questão. Mas o verdadeiro professor, consciente de seu compromisso e desafio ético de educar a todos que pertencerem ao seu alunado, primeiro o receberá, o que já será o início da inclusão pela afetividade. Afetividade se constrói pela convivência. E o professor disposto a isto, recebe o aluno em fase de inclusão com o mesmo carinho que recebe os demais. E depois buscará formas de trabalhar com ele. Afetividade também significa sair da zona de conforto em busca de querer aprender cada vez mais dentro de sua profissão. O professor, educador, pedagogo, enfim, deve ser um eterno estudioso. Ler muito, buscar cursos de formação ou aperfeiçoamento. E isso é algo que nós psicólogos precisamos reforçar em nosso trabalho dentro de uma Equipe Escolar. Assim como qualquer outro profissional, antigamente se fazia quatro aos de uma faculdade e, em cima desses quatro anos, construía-se toda uma carreira até se aposentar. Mas hoje, com um mundo tão dinâmico e em constantes transformações, precisamos estar sempre descobrindo e aprendendo mais. E com a Educação Inclusiva não teve ser diferente. Este é o principal conceito que quero precisamos destacar aos docentes: O professor precisa criar e manter o hábito de pesquisar! Detalhando, quero reforçar o dito acima. Quando um professor receber alunos inclusivos, primeiro o acolha em sua sala e comece a conviver com eles, criando laços, descobrindo um ao outro, professor e aluno, o que já será uma pesquisa de campo. Paralelamente, vá ler sobre as deficiências e reais necessidades de cada aluno inclusivo, procurar orientações de práticas pedagógicas para se trabalhar com eles e toda a turma. Possibilidades são muitas. E as informações nunca estiveram tão disponíveis como antes. E de graça. Além das publicações que devem ter na biblioteca de sua escola, basta o professor entrar no Google e achará muito material seguro, no Youtube há milhares de vídeos sobre Educação Inclusiva, práticas pedagógicas inclusivas, casos específicos, por exemplo. Sobre não mais transferir a missão que é do professor para o Governo ou aos dirigentes da escola, defendo que o processo de inclusão escolar só terá sucesso se for realizada de baixo para cima. Das bases e com o envolvimento de todos, sendo que um dos caminhos mais certos para a Educação Inclusiva é a afetividade. Importante o professor se despir de seus preconceitos e abrir os braços e receber alunos a serem incluídos. Conhecimento elimina a ansiedade, trazendo segurança. E professor seguro ama o que faz alimentado por gestos de afetividade, atingindo resultados imagináveis! EDUCAÇÃO INCLUSIVA É TER PENSAMENTOS POSITIVOS E FOCADOS Este é o conteúdo da palestra que tenho apresentado aos professores em minhas palestras. Vou reproduzi-lo aqui para que você também o use em suas intervenções ou dinâmicas junto a Equipe Escolar. Por que ainda há educadores que se colocam contra ou temem a Educação Inclusiva? Essa pode ser uma questão cultural, quanto psicológica. Toda mudança precisa vir de dentro para fora. Aceitar mudanças, seja qual for o obstáculo, é muito mais difícil para quem tem baixa autoestima, uma característica das pessoas que se sentem inadequadas para enfrentar os desafios. E a Educação Inclusiva é um desafio! E professores que a temem não conhecem ou não acreditam em seus potenciais e capacidade de dar resposta às questões e desafios da profissão. Eles podem ter uma estrutura emocional pouco sólida que origina o pessimismo e a negatividade, o que se reflete em sua profissão. Nossa realidade atual, infelizmente, têm gerado pessoas desmotivadas, sem energias, esperando que alguma coisa a motivem. Mas ao contrário, a motivações só podem vir de dentro para fora. Quais os caminhos? Vencer nossas cresças limitantes. Para se trabalhar com inclusão escolar o professor precisa pensar positivo, sobre o que ele é capaz de conquistar e não sobre suas dificuldades ou medos. Ter bastante clareza sobre o que deseja para sua profissão. Ficar especificando em detalhes tudo aquilo que ele não quer ou não é capaz leva um tempo infinito, além de consumir energias emocionais, as quais o professor poderia estar canalizando e focando na busca de resultados positivo e saudável que trará crescimento e complementará a sua vida, carreira e desenvolvimento de seus alunos. Então o primeiro passo para avançarmos na inclusão será fortalecer a autoconfiança de nossos professores? Exatamente. Precisamos evitar ficar relembrando, revivendo mentalmente nossos medos e inseguranças diante dos desafios da inclusão. Essa autoprisão significa ficarmos focando o pensamento no problema e não em soluções. O pensamento negativo parece tão avassalador, assumindo nosso raciocínio, deixando pouco espaço de manobra, o que nos impede de refletir acerca das alternativas possíveis. Quanto maior a informação melhor em termos de segurança pessoal? Sim. Acredito que, para encarar o desafio da Educação Inclusiva, precisamos entendê-la completamente, tendo plena consciência de onde vêm nossos medos, o que causou, o que significa. Sempre iremos nos surpreender se descobrimos o quanto será eficaz parar de pensar sobre o problema e começar a pensar em opções e soluções potenciais. Este é o lugar onde a palavra mágica “em vez” entra em cena. A expressão “em vez” nos leva a refletir sobre o que queremos como alternativa para o problema que enfrentamos. O autoquestionamento também ajuda? Sim, nesses momentos devemos nos perguntar: O que eu quero em vez de isso? O que eu tenho que fazer para mudar? Quais potenciais alternativas? Como eu gostaria que ocorresse essa mudança? Quais caminhos percorrer para realizar essa mudança em termos de inclusão? Onde eu quero chegar enquanto professor? Quando chegamos a algumas dicas específicas e respostas concretas, começamos a fazer questionamentos acerca de nós mesmos, surpreendemo- nos com os resultados apurados. Pensar positivamente pode não se ter ainda formado o futuro, mas sempre é melhor pensar sobre o que pode dar certo do que sobre o que pode dar errado. Nossa tendência é de alcançar aquilo que pensamos. Você é dirigido para, e muitas vezes obtém, aquilo que você pensa. Uma Educação Inclusiva realmente verdadeira deve ser o objetivo de qualquer educador a partir de agora? Deve ser a partir de agora e sempre. Em qualquer seguimento da vida temos vários sonhos e desejos que queiramos alcançá-los. Mas tudo só acontece se tivermos estipulado objetivos e traçado metas para fazê-lo. E na Educação não é diferente. Muitos confundem um com o outro e por isso é importante saber a definição e a diferença de objetivos e metas. Objetivo é o mesmo que alvo, o propósito de realizar algo. O objetivo fornece a direção do que se deseja fazer ou alcançar, servindo como guia. É a posição que se deseja ocupar no futuro, o sonho que se deseja realizar. Meta é o objetivo de forma quantificada. Algo que desejamos, sendo possível ser medido. É alguma coisa que temos em mente para o futuro, mas que seja determinado. Uma meta deve estar relacionada com o tempo que é almejado para atingir e o valor e/ou a energia que deseja gastar para chegar lá. Aqui podemos traduzir uma meta como nos tornarmos professores cada vez melhores preparados para promover a Educação Inclusiva. Isto envolve o esforço que pretendemos empregar para conseguir alcançar: Objetivo: ser um professor capaz de promover a Educação Inclusiva Meta: criar o habito de sempre buscar conhecimento, aperfeiçoamento e crescimento profissional... Após a definição, separei algumas dicas para auxiliar na hora deobter um resultado. São elas: Foco: Focar significa evitar distrações, concentrando- se naquilo que realmente almeja. Ou seja, ser um professor capaz de promover a inclusão escolar de qualquer aluno. Disciplina: Pessoas que têm essa característica, têm a chave do sucesso, já que essa representa o esforço, a determinação e a vontade de alcançar sonhos. É o atributo que lhe impulsiona a lutar por seu objetivo e meta, perseverando em busca do desejado. Dedicação: Esta é de suma importância, pois está ligada a qualidade da atividade, ou seja, o fato de a pessoa se propor a fazer aquilo da melhor forma possível, para assim alcançar a meta de ser um professor cada vez melhor e preparado para qualquer situação. Confiança: É muito importante também saber que você é capaz de conseguir. Afaste o medo da derrota e as lembranças negativas do que não deu certo em experiências anteriores. Busque sempre crescer tanto como pessoa quanto profissional, pois o único responsável pela conquista é você, mantendo-se confiante que tudo dará certo. Seja positivo, otimista e lute pelos seus sonhos, objetivos e crescimento profissional. Qualquer coisa e tudo é possível se tivemos em mente as atitudes positivas que sustentam os nossos sucessos. Se suas atitudes não o sustentam, você pode querer considerar a sua automudança. Mudando nossas mentes e atitudes, realmente mudamos nossas vidas. Grande parte das pessoas perdem muito ou todo o seu tempo focando o lado negativo de suas vidas, em experiências que não deram certo, ficando presas como em um espiral, a comportamentos repetitivos e respostas tediosas e ineficazes. Mas nos concentrando em nossos desejos, objetivos e metas, resultados positivos podem ser alcançados naturalmente e sem o degaste físico ou mental que temos com pensamentos limitantes ou negativos. QUESTÕES CULTURAIS... O conceito que um professor tem de um aluno com deficiência pode determinar o modo de relação e trabalhos entre ambos. O aluno inclusivo, antes de sua deficiência ou limitações, precisará ser visto como uma pessoa que têm desejos, expectativas e dificuldades. E o professor deve acreditar que é capaz de promover o crescimento de qualquer aluno, devendo estabelecer metas e cumpri-las, tendo em vista o objetivo geral que é o de tornar o educando cada vez mais independente e possivelmente produtivo. Na contramão, a escola têm seus paradigmas em classificar “alunos regulares” e “alunos especiais”. Quebrar tais paradigmas, destruindo uma imagem e conceito de “aluno padrão”, nivelando todos por iguais sem rótulos já será uma mudança cultural, um grande passo para tornar uma Escola Inclusiva. Aliás, uma realmente escola para todos, sem substantivos que façam dela um exemplo a ser seguido. A Escola não é algo acabada, estática. Como todo segmento da sociedade, tem que estar em constante transformação, revendo suas ações pedagógicas, adaptando-se aos novos tempos para sempre somar e nunca excluir. UMA ESCOLA REALMENTE PLURAL !!! A Escola precisa ser um espaço comum de cidadania, livre exercício político e espaço público de manifestações das diferenças, incorporando todos os valores sem promover hierarquias. Para finalizar quero deixar esta mensagem... “Incluir não tem segredo. Basta receber um aluno, seja ele quem for. Acolher com amor, ter a sensibilidade de perceber e pesquisar o que ele realmente precisa de apoio para se desenvolver em todos os sentidos. Um bom professor precisa ser um suporte seguro que lança seus alunos rumo às infinitas possibilidades”. A Inclusão Escolar é o grande desafio pedagógico do Século XXI... E este desafio está em nossas mãos. PROVISÃO DE OPORTUNIDADES EQUITATIVAS A TODOS OS ESTUDANTES Falando agora especificamente sobre Educação inclusiva e sua provisão de oportunidades equitativas a todos os estudantes, incluindo aqueles com deficiências severas, para que recebam serviços educacionais eficazes, com os necessários serviços suplementares de auxílios e apoios, em classes adequadas à idade em escolas da vizinhança, a fim de prepará-los para uma vida produtiva como membros plenos da sociedade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação -LDB dá abertura também à atuação do psicólogo quando diz que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação”. Dentro de várias possibilidades, muitas vezes os psicólogos dentro do processo de Inclusão precisarão interceder nos Transtornos Globais do Desenvolvimento ditos na LDB. Os TGD são distúrbios nas interações sociais recíprocas que costumam manifestar-se nos primeiros cinco anos de vida. Caracterizam-se pelos padrões de comunicação estereotipados e repetitivos, assim como pelo estreitamento nos interesses e nas atividades. A “Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento” (CID-10), define nove categorias que formas o conjunto F.84: Autismo infantil, Autismo atípico, Síndrome de Rett, Outro transtorno desintegrativo da infância, Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados, Síndrome de Asperger, Outros transtornos globais do desenvolvimento, Transtornos globais não especificados do desenvolvimento. Com relação à interação social, crianças com TGD apresentam dificuldades em iniciar e manter uma conversa. Algumas evitam o contato visual e demonstram aversão ao toque do outro, mantendo-se isoladas. Podem estabelecer contato por meio de comportamentos não-verbais e, ao brincar, preferem ater-se a objetos no lugar de movimentar-se junto das demais crianças. Ações repetitivas são bastante comuns. Os TGD também causam variações na atenção, na concentração e, eventualmente, na coordenação motora. Mudanças de humor sem causa aparente e acessos de agressividade são comuns em alguns casos. As crianças apresentam seus interesses de maneira diferenciada e podem fixar sua atenção em uma só atividade, como observar determinados objetos, por exemplo. Na comunicação verbal, essas crianças podem repetir as falas dos outros - fenômeno conhecido como ecolalia - ou, ainda, comunicar-se por meio de gestos ou com uma entonação mecânica, fazendo uso de jargões. Estas são orientações que nós psicólogos poderemos passar aos professores e/ou orientadores pedagógicos. Começando por evitar atitudes que agravam os problemas emocionais desses alunos: forçar a criança a ficar no espaço sem dialogar: ridicularizar seus sentimentos; usar chantagens e subornos; ignorar o medo para ver se a criança esquece. Na escola, mesmo com tempos diferentes de aprendizagem, esses alunos devem ser incluídos em classes com os pares da mesma faixa etária. Estabelecer rotinas em grupo e ajudar o aluno a incorporar regras de convívio social são atitudes de extrema importância para garantir o desenvolvimento na escola. Boa parte dessas crianças precisa de ajuda na aprendizagem da autorregulação e estas são sugestões pedagógicas e serem trabalhadas na sala de aula: Fazer da organização da sala uma rotina diária, com recursos visuais e auditivos; Dividir as atividades em atividades menores; Iniciar as aulas pelas atividades que requerem atenção, deixando para o final aquelas que são mais agradáveis e estimulantes; Utilizar música ao fundo, proporcionando um clima agradável, harmonioso e tranquilo; Adotar uma atitude positiva, com elogios e “recompensas” por comportamentos adequados. Isto criará um equilíbrio em relação às chamadas de atenção para os alunos com TDAH quando eles fazem algo errado. Em nosso trabalho junto aos professores devemos incentivá-los sempre que for preciso, deve-se dividir dúvidas com a coordenação e com os colegas quando receber uma criança com necessidades especiais. Jamais reduzir o aluno à sua deficiência. Apesar de ter características peculiares, ele tem possibilidade e carrega uma história e muitas expectativas que o tornam único. Conversar constantemente com outros especialistas que tratam criança, pois eles podem ajudar a pensar em estratégias para lidar com o aluno. E nós