Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

O PSICÓLOGO COMO MEDIADOR NA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Novas Teorias e Práticas à Psicologia Escolar
 
EMÍLIO FIGUEIRA
www.emiliofigueira.com
 
O PSICÓLOGO COMO MEDIADOR NA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Novas Teorias e Práticas à Psicologia Escolar
 
São Paulo - 2018
 
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL
 
© 2018– Emílio Carlos Figueira da Silva
O PSICÓLOGO COMO MEDIADOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA –
Emilio Figueira. – São Paulo : Figueira Digital/Agbook, 2018.
 
1. Psicologia. 2. Educação Inclusiva. 3. Inclusão. 4. Pessoas com Deficiência
 
É PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou
mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, assim como
traduzida, sem permissão, por escrito, do autor. Os infratores serão punidos
pela Lei no. 9.610/98.
 
SUMÁRIO
 
A PSICOLOGIA ESCOLAR DIANTE DA EDUICAÇÃO INCLUSICA
AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E OS NOVOS DESAFIOS À PSICOLOGIA
O QUE É EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
LEI BRASILEIRA DA INCLUSÃO: SAIBA O QUE MUDA NO ENSINO
AS BASES PSICOLÓGICAS PARA A INCLUSÃO ESCOLAR
ATENÇÃO ÀS HABILIDADES E OS EFEITOS POSITIVOS DA DEFICIÊNCIA NA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
O TRABALHO JUNTO À EQUIPE ESCOLAR
TRABALHANDO A ANSIEDADE DOS PROFESSORES NO PROCESSO DE
INCLUSÃO ESCOLAR
CAMINHOS DA AFETIVIDADE E O HÁBITO DE PESQUISAR
EDUCAÇÃO INCLUSIVA É TER PENSAMENTOS POSITIVOS E FOCADOS
PROVISÃO DE OPORTUNIDADES EQUITATIVAS A TODOS OS ESTUDANTES
A QUESTÃO DO BULLYING E OS ESPORTES ADAPTADOS
UMA CONVERSA DE CONSULTÓRIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS TERAPIAS
COMPLEMENTARES
A PARCERIA ENTRE FAMÍLIA, ESCOLA E COMUNIDADE
AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E OS NOVOS DESAFIOS AO ENSINO SUPERIOR
NO BRASIL
A UNIVERSIDADE E A SOCIEDADE INCLUSIVA
AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA ATUALIDADE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A PSICOLOGIA ESCOLAR DIANTE DA
EDUICAÇÃO INCLUSICA
 
A Psicologia é um campo de muitas possibilidades. E uma delas é
atuar junto aos profissionais envolvidos em atividades educacionais
(professores, diretores, coordenadores, educadores) oferecendo contribuições
da Psicologia do Desenvolvimento, Aprendizagem, Ensino, Social, para
melhorias nos processos de ensino e de aprendizagem.
Além do processo ensino-aprendizagem e desenvolvimento humano
particularmente, algumas das temáticas de atuação dentro da Psicologia
Escolar são a escolarização em todos os seus níveis, inclusão de pessoas
com deficiências, políticas públicas em educação, gestão psicoeducacional
em instituições, avaliação psicológica, história da Psicologia Escolar,
formação continuada de professores, entre outras.
Hoje, muitos de nós psicólogos, membros de uma equipe escolar ou
não, estamos sendo chamados para auxiliar professores com alunos
inclusivos. Tenho recebido inúmeras mensagens de colegas perguntando-me:
Qual o papel e as mediações que um psicólogo deve exercer neste
processo de Educação Inclusiva?
São várias possibilidades de mediações. Inclusive, as inseguranças
dos professores, acredito como sempre que a raiz do problema é a falta de
informações claras e objetivas. O caminho para sanar tais inseguranças será
promovendo encontros e/ou treinamentos de formação e discussões em que
sejam apresentadas as novas concepções sobre a inclusão, que falam,
sobretudo, das possibilidades de aprendizagem.
Assim elaborei O PSICÓLOGO COMO MEDIADOR NA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA com estes tópicos de discussão: as pessoas com
deficiências e os novos desafios à psicologia; o que é educação inclusiva e
sua transição com a educação especial; a Lei Brasileira da Inclusão; as bases
psicológicas para a inclusão escolar; habilidades e os efeitos positivos das
deficiências; o trabalho junto à equipe escolar; a ansiedade dos professores no
processo de inclusão escolar; caminhos da afetividade e o hábito de
pesquisar; educação inclusiva é ter pensamentos positivos e focados; provisão
de oportunidades equitativas a todos os estudantes; a questão do bullying e os
esportes adaptado; a parceria entre família, escola e comunidade; os novos
desafios ao ensino superior no Brasil; a universidade e a sociedade inclusiva;
as dificuldades de aprendizagem na atualidade.
Apresentando-me como autor, tenho mais de quarenta anos ligado ao
mundo da inclusão. Por causa de uma asfixia durante o parto, adquiri
paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Mas
nunca me deixou abater por sua deficiência motora e vivo intensamente
inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta
produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo e personal coach com
formação em Programão Neurolinguística.
Como escritor tenho uma variada obra em livros impressos e digitais,
passando de setenta títulos lançados. Ator e autor de teatro. Várias entrevistas
na mídia e em jornais. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, sou
professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que
envolvem a Educação Inclusiva.
Sei que algumas coisas que faço, produzo ou escrevo podem
apresentar erros. Só que para mim o feito é melhor que o perfeito escondido
em uma gaveta. Sempre estarei em busca de resultados e não de
reconhecimentos acadêmicos ou eruditos. E com os meus passos dentro das
minhas possibilidades, com meus erros e acertos, continuarei fazendo a
minha parte para uma Escola e uma Sociedade inclusiva!
No meu site pessoal há muito mais materiais gratuitos sobre Educação
Inclusiva: www.emiliofigueira.com
AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E OS
NOVOS DESAFIOS À PSICOLOGIA
Nas últimas décadas a sociedade brasileira viu crescer o conceito de
inclusão das pessoas com deficiência. Ações ganharam forças em todos os
segmentos e isto também trouxe questionamentos sobre o papel dos
psicólogos diante do novo cenário.; Se antes a pergunta era “O que são
pessoas com deficiência?”, hoje a pergunta precisa ser “Como nós
psicólogos devemos atuar para ajudar as pessoas com deficiência a ter
mais autoestima e uma vida plena?”.
 
UMA PEQUENA REVISÃO HISTÓRICA
Vários conhecimentos históricos e teóricos nos dão bases para isto. As
relações da Psicologia com as deficiências têm marco inicial e histórico em
Lev Semenovich Vygostsky (1896-1934), quando este pensador russo, em
1925, começou a organizar o Laboratório de Psicologia para Crianças
Deficientes (transformado, em 1929, no Instituto de Estudos das Deficiências
e, após sua morte, no Instituto Científico de Pesquisa sobre Deficiências da
Academia de Ciências Pedagógicas). Vygotsky dirigiu, ao mesmo tempo, um
departamento de educação de crianças com deficiências físicas e mentais, em
Narcompros (Comitês Populares de Educação), bem como ministrou cursos
na Academia Krupskaya de Educação Comunista, na Universidade Estadual
de Moscou (posteriormente chamado de Instituto Pedagógico Estadual de
Moscou) e no Instituto Pedagógico Hertzen, em Leningrado. Entre 1925 e
1934, Vygotsky reuniu em torno de si um grande grupo de jovens cientistas,
que trabalhava nas áreas de Psicologia e no estudo das anormalidades físicas
e mentais.
Aqui no Brasil, o interesse da Psicologia pelas questões das pessoas
com deficiência, também faz nascer a expressão “excepcional”, por uma
necessidade de classificação. Essa história começa com a vinda da psicóloga
russa Helena Antipoff para o Brasil na década de 30, a convite do governo
mineiro para lecionar Psicologia Educacional na Escola de Aperfeiçoamento
de Professores de Minas Gerais, juntamente com muitos outros professores
estrangeiros, afim de trazerem para o Brasil novas técnicas e concepções
pedagógicas e psicológicas que se desenvolviam nos centros mais adiantados
do mundo.
Esses ideais lhe inspiraram a criar duas instituições com a intenção de
dar assistência às crianças: Antipoff, em novembro de 1932, com a
colaboração de algumas antigas alunas da Escola de Aperfeiçoamento,
fundou a primeira Sociedade Pestalozzi do País, com sede em Belo Horizonte
e, anos mais tarde, a Fazenda do Rosário, em 1940, significando uma grande
mudança na forma de lidar com as crianças marginalizadas.psicólogos devemos está preparados para receber esses professores para esses
diálogos. Não se esquecer, porém, de que quem sabe como ensinar a criança
é o professor.
Há várias contribuições que nós, enquanto psicólogos, podemos dar à
Educação Inclusiva. Muitos psicólogos estão trabalhando na formação
pedagógica ou continuada de professores. E uma das primeiras tarefas
quando falamos de Educação Inclusiva será levá-los à refletir que, ao
contrário do que possa parecer, incluir o aluno com deficiência, não significa
apenas colocá-lo em uma classe de uma escola de ensino regular e pronto!
Será necessário todo o preparo dos professores e certas adaptações antes.
Adaptações de grande porte (de responsabilidade exclusivas dos órgãos
federais, estaduais e municipais) e de pequeno porte, cabendo aos professores
especializarem para saber como transmitir ensinamentos para qualquer tipo
de aluno.
 
 
A QUESTÃO DO BULLYING E OS
ESPORTES ADAPTADOS
 
Vemos que a LDB sustenta que manter crianças com algum tipo de
deficiência fora do ensino regular é considerado exclusão, e crime, passível
de sanções e penalidades. O principal motivo das crianças irem para escola, é
que vão encontrar um espaço democrático, onde poderão compartilhar o
conhecimento e a experiência com o diferente.
Muitas vezes os alunos com deficiência enfrentam na escola alguns
obstáculos como olhares discriminatórios de outros alunos, pais e demais
pessoas que fazem parte do cotidiano escolar.
Hoje o bullying é um foco bem forte de preocupação dentro das escolas.
Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais
ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou
mais colegas. O termo tem origem na palavra inglesa bully, que significa
valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido
como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato.
E reforçar a supervisão é uma forma de combater a prática. Enquanto
psicólogos educacionais podemos conversar com os alunos, explicar que não
podemos considerar alguém diferente ou "defeituoso" só por apresentar
algum tipo de deficiência. Na verdade somos todos diferentes uns dos outros,
isso compõe nossa característica particular e nos torna únicos. E se um ou
vários coleguinhas apresentam deficiência, é uma ótima oportunidade de
demonstrarmos nossa solidariedade, ajudando-o em suas dificuldades e nunca
zombando ou tratando-o mal.
Crianças que alegam dores ou qualquer motivo não ir à escola podem estar
sendo vítimas de bullying. Ele ocorre sempre quando não há nenhuma
fiscalização de adultos ou responsáveis. Portanto, outro fator importante:
deve haver mais fiscalização e profissionais especializados para conduzir os
alunos durante os intervalos e mesmo durante as aulas. E é bom saber,
também, que a escola pode ser enquadrada no Código de Defesa do
Consumidor, pois presta serviço aos consumidores e é responsável por todos
os acontecimentos dentro de suas dependências - isso inclui bullying. Mas
deve-se lembrar que, ocorrendo fora dos portões da escola, torna-se difícil
enquadrá-la, já que foge do local interno.
Importante também saber que tanto agressores quanto agredidos necessitam
de muito diálogo e acompanhamento terapêutico para solucionar seus
traumas e conflitos.
OS ESPORTES ADAPTADOS
 
Dentre outras atividades sociais possíveis à nossa atuação enquanto
psicólogos junto às pessoas com deficiência dentro e fora das escolas,
certamente uma das mais apaixonantes serão as atividades físicas, esportivas
ou de lazer, tendo elas valores terapêuticos e evidenciado benefícios, tanto na
esfera física quanto psíquica. O engajamento, seja com objetivo de
movimentar-se, jogar ou praticar um esporte ou atividade física regular, já
agrega pessoas com deficiência visual, auditiva, mental ou física,
proporcionando dentre todos os benefícios esportivos, também uma forma de
inclusão social. Esses atletas são mundialmente conhecidos, tendo a
oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as
enfermidades secundárias à sua deficiência.
 
 Em termos físicos, permite-lhes ganhos de agilidade no manejo da
cadeira de rodas, de equilíbrio dinâmico ou estático, de força
muscular, de coordenação, coordenação motora, dissociação de
cinturas, de resistência física; enfim, o favorecimento de sua
readaptação ou adaptação física global, ativando a circulação,
estimulando os músculos, evitando o acúmulo de gordura localizada
através da queima da mesma no ciclo energético, equilibrando o
eixo glandular do tálamo, hipotálamo, gônadas, suprarrenal,
melhorando a habilidade para coordenar movimentos, estando mis
rápido, ágil e flexível.
 
 Em termos psíquicos, permite-lhes ganhos variados, como a melhora
da autoestima na inclusão social, redução da agressividade, dentre
outros benefícios.
 
No decorrer das últimas décadas, foram criadas ou adaptadas
modalidades permitindo a participação em eventos competitivos de cada
grupo. As modalidades esportivas são baseadas na classificação funcional (a
CIF) e atualmente apresentam uma grande variedade de opções olímpicas:
arco e flecha, atletismo, basquetebol, bocha, ciclismo, equitação, futebol,
halterofilismo, iatismo, natação, rugby, tênis de campo, tênis de mesa, tiro,
futebol de paralisados cerebrais, voleibol.
Ao escolher uma modalidade esportiva a ser praticada, vários fatores
precisam ser levados em conta; principalmente a realidade dos tipos e graus
de deficiência dessas pessoas, podendo ser poliomielite, lesados medulares,
lesados cerebrais, amputados, deficiências mentais ou sensoriais dentre
outras; sua preferência esportiva, sua condição sócio-econômica, suas
limitações e potencialidades, facilidade nos meios de locomoção e transporte,
existência e disponibilidade de materiais e locais adequados, do estímulo e
respaldo familiar, de profissionais preparados para atendê-los, sempre
considerando e respeitando as limitações e potencialidades individuais do
praticante, visando englobar tais objetivos:
melhoria e desenvolvimento de autoestima, autovalorização e
autoimagem;
o estímulo à independência e autonomia;
a socialização com outros grupos;
a experiência com suas possibilidades, potencialidades e limitações;
a vivência de situações de sucesso e superação de situações de
frustração;
a melhoria das condições organo-funcional (aparelhos circulatório,
respiratório, digestivo, reprodutor e excretor);
melhoria na força e resistência muscular global;
ganho de velocidade;
aprimoramento da coordenação motora global e ritmo;
melhora no equilíbrio estático e dinâmico;
a possibilidade de acesso à prática do esporte como lazer,
reabilitação e competição;
prevenção de deficiências secundárias;
promover e encorajar o movimento;
motivação para atividades futuras;
manutenção e promoção da saúde e condição física
desenvolvimento de habilidades motoras e funcionais para melhor
realização das atividades de vida diária
desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas.
 
Uma das tarefas principais para nós psicólogos será promover a
autoaceitação e confiança que permitirão à pessoa desenvolver habilidades e
talentos que promovam a superação e compensam a sua deficiência,
validando todas as tentativas.
O esporte adaptado às pessoas com deficiência em eventos no Brasil e
no mundo vem sendo ampliada. Também podendo ser considerado como
processo de reabilitação, tais atividades físicas e esportivas, competitivas ou
não devem ser orientadas e estimuladas, visando assim possibilitar os
benefícios que estas atividades podem oferecer, visando uma melhor
qualidade de vida.
 
Tendo como função social e psíquica, jogos organizados sobre cadeira
de rodas ficaram conhecidos após a Segunda Guerra Mundial, quando muitos
dos soldados que combateram nas frentes de batalha, voltaram aos seus
países com sequelas permanentes. Estabeleceu-se por meta proporcionar
melhores condições de vida às pessoas com deficiências pós-guerra
considerados heróis dignos de respeito da população por isto,bem como uma
preocupação governamental. Surgiu uma situação emergencial de construção
de centros de reabilitação e treinamento vocacional, em todo o mundo. Os
programas desses diferentes centros perceberam que os esportes eram um
importante auxiliar na reabilitação dos veteranos de guerra que adquiriram
algum tipo de deficiência.
 
UMA CONVERSA DE CONSULTÓRIO
SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS TERAPIAS
COMPLEMENTARES
 
Neste capitulo vou reproduzir uma conversa que tive com uma mãe, até mesmo
como uma forma de ilustrar os diálogos e orientações que podemos ter com famílias de
alunos em fase de inclusão.
Algum tempo atrás, recebi em meu consultório uma jovem senhora que chamarei
aqui de Maria para preservar sua identidade. Após nos cumprimentarmos e sentarmos para
uma conversa, ela, meio afoita em seu discurso, foi me contando sem que eu a
interrompesse: - Meu nome é Maria, sou mãe do Pedro [também troco o nome] de sete anos
que os médicos dizem ter aparentemente atraso no desenvolvimento psicomotor e na fala.
Atualmente, ele estuda na escola da prefeitura de uma pequena cidade no interior de São
Paulo. Está no segundo ano sem saber ler e escrever e não tem coordenação motora. Hoje,
enfrento um grande problema, pois ele é uma criança agressiva, bate nos professores e em
algumas crianças quando contrariado ou até mesmo sem motivos. A escola me cobra muito
referente a levá-lo aos especialistas, mas não vejo cooperação nenhuma dos professores em
tentar ter paciência, enfim, não tem especialidade nenhuma em educação especial que, pelo
que sei, ajudaria muito! Fui forçada a levá-lo a um psiquiatra que o medicou contra minha
vontade, pois acredito que hoje ele é agressivo porque na escola as professoras não
souberam lidar com as dificuldades apresentadas. Cheguei a ouvir de professores que eles
não podiam fazer nada, que eu teria que ajudá-lo em casa, pois havia muitos alunos. Hoje,
posso dizer que sou um pouco mais ajudada, ele tem uma professora de apoio e uma
professora que quer ajudá-lo, que tem paciência com ele, tendo alguns métodos de
aprendizagem para ele que são um pouco diferenciados. Ele sempre foi tratado com uma
criança diferente, nunca tentaram introduzi-lo no meio das crianças normais. Hoje chego a
crer que Pedro tem trauma da escola, pois todos os dias me pergunta se tem que retornar no
dia seguinte. Eu, como mãe, nunca consigo saber o que acontece dentro da sala, mas,
quando a coisa está difícil, eles caem em cima de mim para correr atrás de médicos como
se eles fossem solucionar o problema dele na escola. Acho que a falta é de uma professora
com educação especial. Penso assim: jogaram inclusão nas escolas sem saber se estavam
preparadas para tal, sendo que o que vejo hoje é que elas não estão. Só quando a coisa está
fora do limite é que eles se preocupam! Há professores de educação especial na Secretaria
de Educação. Se eu preciso, eles orientam os professores. Como o senhor, Doutor, pode
ver, sou uma mãe preocupada com o desenvolvimento do meu filho na escola e vou atrás
de qualquer coisa se for melhor para meu filho! Exijo muito também. Desde que ele entrou
na escola tem acompanhamento da Secretaria de Educação, a qual exige que eu o leve para
fazer os procedimentos médicos, mas nunca vi o trabalho deles ajudar no desenvolvimento
do meu pequeno, o fato só se agrava. Hoje, na escola, ele é agressivo! Bom, acho que
desabafei demais...
Confesso que esse primeiro discurso de Maria me deixou muito encabulado. O
tempo todo ela acusou a escola e os professores pelo fracasso de seu filho, mas em nenhum
momento ela falou sobre a real deficiência de Pedro, diagnóstico e tratamento feito. Pelo
contrário, ela demonstrava até certa resistência com relação a isto. Resolvi, então, começar
minha investigação por aí e disse: - Bem, Maria, ouvi seu relato e percebi vários pontos
nele que me despertaram a atenção. Pensei em até fazer alguns comentários, mas não sei se
essa é a sua vontade, mas, se você quiser, podemos conversar sobre o caso do seu filho e
estudar melhores caminhos para orientá-lo.
- Claro que pode fazer os comentários que quiser, pois quando vim até aqui foi para
ver e para ter mais informações... Eu agradeceria muito!
- Bem, Maria, mas antes de eu fazer meus apontamentos, quero fazer três perguntas
a você: Seu filho faz ou já fez algum tipo de terapia?
- O único tratamento que ele fez foi com fonoaudióloga e psicóloga por seis meses.
- Ele já teve alguma experiência em Escolas Especiais?
- Quando entrou na escola, foi mais pelo convívio com outras crianças e por
acharem que isso ajudaria nas outras dificuldades, como fala e coordenação. Nunca foi
mandado para uma escola especial, mesmo porque onde moro só há uma e, como ele não
tem diagnóstico, é difícil.
- Ele está numa escola regular por sua vontade de mãe ou pela política da inclusão
escolar?
- Por minha vontade também, pois me disseram que se eu o colocasse numa escola
especial ele poderia regredir, e somente mais agora pela política da inclusão...
Já era o momento de começar meus aconselhamentos:
- Bem, Maria, farei algumas considerações sinceras. Eu posso compreender bem o
universo do seu filho por ter a mesma deficiência que ele. O que sinto é que, infelizmente,
vocês, escola e família, estão focando somente na parte intelectual do Pedro e não estão se
atentando para outras reais necessidades que ele tem. Uma criança com problema de
desenvolvimento psicomotor precisa ser assistida por fisioterapeuta e terapeuta ocupacional
para se desenvolver ao máximo sua maneira global.
- Doutor, e a questão de ele ser uma criança agressiva, bater nos professores e
algumas crianças às vezes quando é contrariado ou às vezes sem motivo?
- Então, isso também é reflexo da falta do desenvolvimento global. Ele tem noção
que não é totalmente igual aos demais colegas e, por não ter sido preparado para chegar ao
mais próximo de suas possibilidades e lidar com suas limitações, ao ver seus coleguinhas,
isso se manifesta nele em forma de agressividade.
- A escola me cobra muito referente a levá-lo em especialistas.
– Viu como eles têm a mesma visão que a minha?
- Mas não vejo cooperação nenhuma dos professores tentarem ter paciência, enfim,
eles não têm especialidade nenhuma em educação especial que, pelo que sei, ajudaria
muito!
- No fundo, Maria, esses professores também estão perdidos, pois seu filho, se
estimulado corretamente por outros profissionais de acordo com as reais necessidades,
poderia estar muito melhor na escola, tanto no comportamento como na aprendizagem.
- Fui forçada a levá-lo a um psiquiatra que o medicou contra minha vontade – às
vezes Maria repetia os mesmos discursos.
- Aqui, concordo com você, pois pelo pouco que sei o caso do seu filho não é para
psiquiatra e sim para terapias de apoio que ele nunca teve e das quais necessita muito!
- Na escola, ele sempre foi tratado como uma criança diferente, nunca tentaram
introduzi-lo entre os colegas. Vejo em Pedro um trauma da escola, pois todos os dias ele
me pergunta se tem que retornar no dia seguinte.
- Então, aqui questiono: será que essa vontade de manter o Pedro numa escola dessa
não está tendo um efeito retroativo? Em vez de ele gostar, dia a dia ele está tomando mais
mágoa da escola... Assim, qual aprendizado esse menino pode ter?
Maria ficou pensativa, sem uma resposta. Continuei com minhas observações: -
Veja bem, Maria, de modo geral, acredito mesmo que seu filho não deva ir para uma
Escola Especial. Ele tem toda a condição de ser educado numa escola normal, mas para que
isso realmente ocorra, não basta só colocá-lo na escola e exigir dos professores, pois estes
também são vítimas de uma política mal-entendida da Educação Inclusiva. Você, como
mãe, precisa enxergar o Pedro como uma criança normal sim, mas ter ao mesmo tempo
noção que ele é uma criança com necessidades especiais: necessidades de fisioterapia para
o seu desenvolvimento psicomotor, necessidades de fonoaudiologia para sua fala,
necessidades de terapia ocupacional para desenvolver suas autonomiaso quanto mais
possíveis nas atividades diárias, necessidades de uma psicopedagoga para ser um reforço
escolar na aprendizagem dele e necessidades de uma psicóloga realmente especializada em
crianças com necessidades especiais para, principalmente, trabalhar a agressividade e a
autoestima dele.
Percebi que ela começou a ficar emocionada e continuei: - Minha sugestão, Maria, é
que ele esteja meio período numa Escola Especial e meio período na escola da prefeitura.
Isso não significa que o lugar dele seja a Escola Especial, mas que ela seja o apoio que o
Pedro precisa, pois ali ele encontrará profissionais realmente preparados para lidar e
superar as necessidades dele. Esse é o modelo que tem dado certo para muitas crianças, ou
seja, um estudo de forma mista. E, ao longo do tempo, ele deslanchará na escola pública.
Se você se atentar para isso, seu filho terá possibilidades enormes para vida dele. Pense
bem. Quando eu era pequeno, minha mãe fez tudo isso por mim. E hoje sou um Doutor!
Após essa conversa, Maria deixou meu consultório e voltou à sua cidade. Dias
depois, ela me enviou este e-mail: Doutor, não sei nem como agradecer o senhor pela
sugestão e aconselhamento dados a mim. Neste momento e com tudo isto, sei que direção
tomar e digo mais: ainda neste ano retornarei às consultas dele de fono e retornarei a um
psicólogo. Correrei atrás de uma terapia ocupacional, a qual ele não fazia ainda, pois meu
plano de saúde não dava cobertura e, por isso, estou renovando com outro plano que me
dê maior cobertura, pois pelo SUS sempre foi mais difícil tal acompanhamento! Vou me
focar agora mais que nunca com estes tratamentos. Em relação à escola especial, não sei
ainda se tem aqui na minha cidade, acredito que não, pois, quando ele entrou na escola, as
crianças com deficiência estavam indo para uma escola convencional. Muito obrigada por
tudo...
 
A PARCERIA ENTRE FAMÍLIA, ESCOLA
E COMUNIDADE
 
Começo este capítulo reafirmando que é de fundamental importância que a família
esteja engajada diretamente neste projeto de Escola Inclusiva. Não podemos esquecer
inicialmente que o nascimento de uma criança com algum tipo de deficiência já traz várias
reações e sentimentos à família e uma desorganização emocional, a qual só reencontrará o
equilíbrio com a aceitação do fato.
Quanto maior for essa aceitação maior será o envolvimento no processo terapêutico
e educacional da criança. Papéis que pais e professores desempenham no desenvolvimento
e educação da criança são próximos e complementares e podem proporcionar à criança
melhores oportunidades no desenvolvimento de suas capacidades, seja qual for a sua
limitação.
Enquanto psicólogo, podemos propor ao mãe e/ou familiares, que uma das
primeiras formas para realizar isto pode ser a de fazer a “lição de casa” com seu filho,
fazendo uma revisão do que foi feito na sala de aula nesse dia e tendo atitudes como estas:
Participar de reuniões da equipe escolar para planejar, adaptar
o currículo e compartilhar sucessos.
Ser incorporados pela escola como parceiros de planos da
equipe, participando de todos os aspectos operacionais da escola.
Estar nas atividades extracurriculares e terem acesso a
treinamentos relevantes.
A escola desenvolver informações sobre os serviços de apoio à
família, pois nesta interação escola/família, a Inclusão Escolar obterá
muito mais êxitos.
 
Quero mostrar doze pontos do texto “The Kansas checklist for identifying
characteristics of effective inclusive programs”. Sua primeira edição saiu em novembro de
1993, tendo uma reimpressão em dezembro do ano seguinte. Este documento foi escrito
por um grupo de técnicos e pais das seguintes cidades do Kansas: Horton, Hiawatha,
Eudora, Sublette, Hugoton e Lakin. O documento também foi compilado por Terry
Rafalowski-Welch, Michelle Luksa e Julie Mohesky-Darby. Segundo o texto, ocorre
envolvimento da família nas práticas inclusivas da escola quando:
Existe, entre a escola e a família, um sistema de comunicação
(telefonemas, cadernos etc.) com o qual ambas as partes concordam.
Os pais participam nas reuniões da equipe escolar para
planejar, adaptar o currículo e compartilhar sucessos.
As famílias são reconhecidas pela escola como parceiras plenas
junto à equipe escolar.
As prioridades da família são utilizadas como uma base para o
preenchimento do Plano Individualizado de Educação (PIE) do seu filho,
base essa que será completada com partes do conteúdo curricular.
Os pais recebem todas as informações relevantes (os direitos
dos pais, práticas educativas atuais, planejamento centrado na pessoa,
notícias da escola etc.).
Os pais recebem ou têm acesso a treinamento relevante.
Os pais são incluídos no treinamento com a equipe escolar.
Os pais recebem informações sobre os serviços de apoio à
família.
Existem à disposição de membros das famílias serviços de
apoio na própria escola (aconselhamento e grupos de apoio, informações
sobre deficiências etc.).
Os pais são estimulados a participarem em todos os aspectos
operacionais da escola (voluntários para salas de aula, membros do
conselho da escola, membros da Associação de Pais e Mestres,
treinadores etc.).
Existem recursos para as necessidades especiais da família
(reuniões após o horário comercial, intérpretes da língua de sinais,
materiais traduzidos etc.).
A escola respeita a cultura e a etnicidade das famílias e
reconhece o impacto desses aspectos sobre as práticas educativas.
Todos esses pontos comprovam que a Escola Inclusiva envolve a participação da
família e da comunidade, as quais podem contribuir para fortalecer e multiplicar as ações
inclusivas. Isto prova mais uma vez que professores e diretores não podem promover a
inclusão de uma criança com necessidades educacionais especiais sozinhos. Para esse
sucesso, será de fundamental importância o envolvimento de todos!
Como eu já disse no capítulo anterior e volto a frisar sobre a importância de se dar
“atenção e valorização às pequenas conquistas de uma criança com deficiência”! Isto já
será uma atitude positiva dos pais em relação à participação e às potencialidades dele e,
também, à sua inclusão escolar e social.
Além da parceria entre escola e família, ambas devem buscar parcerias com outros
setores da sociedade, visando promover meios para que as pessoas com deficiência sejam
inseridas nesses espaços e para que a própria comunidade se desfaça de resistências e
preconceitos. Para isso, há opções como os centros de esportes, saúde, recreação e
juventude. Todos sairiam ganhando com a geração de um espaço de trocas e cooperação.
Fechando este capítulo, quero mostrar como forma ilustrativa este trecho do livro-
cartilha “Educação Inclusiva: o que o professor tem a ver com isso?” (Rede Saci, São
Paulo, 2005), o qual aborda o envolvendo da comunidade escolar: “É muito importante que
a escola faça contatos com a sua comunidade. Muitas vezes, estes contatos ajudam a
elevar a qualidade do atendimento escolar. No caso do atendimento às pessoas com
deficiência, uma parceria feita com uma marcenaria, por exemplo, pode proporcionar um
mobiliário mais adequado a estas necessidades. Por meio das Associações de Bairro pode-
se melhorar a acessibilidade nas ruas daquela comunidade, para colocação de guias
rebaixadas, por exemplo. Nas instituições especializadas no atendimento às pessoas com
deficiência, pode-se conseguir: equipamentos como reglete, lupa, soroban (também
chamado ábaco) para cegos e intérpretes de língua de sinais para surdos. Uma pessoa da
comunidade que saiba linguagem de sinais (Libras) já é suficiente para que este
conhecimento possa ser multiplicado e cada vez mais compartilhado com outras pessoas.
A pessoa pode manter um diálogo constante com os postos de saúde, seja para encaminhar
as crianças caso percebam algum sinal de deficiência, seja para trazer profissionais do
posto para que possam falar para os alunos e seus pais sobre temas diversificados, tais
como higiene bucal, exames de acuidade visual, importância de vacinação etc.” (pgs. 72-
73).
 
AS PESSOASCOM DEFICIÊNCIA E OS
NOVOS DESAFIOS AO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL
 
As universidades e faculdades brasileiras estão vendo a presença cada
vez maior de graduandos com algum tipo de deficiência em seus campi. Isto
porque no Brasil, desde 2008, a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva, do MEC, promove a transformação dos
atuais sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos. Tem como
estratégias a garantia do acesso e a permanência dos estudantes com
deficiência, por meio de ações que visem à eliminação de barreiras físicas,
pedagógicas e na comunicação, assim como nos ambientes, tendo como foco
a promoção da autonomia e a igualdade de direitos dos alunos com
deficiência.
No caso do ensino superior, essa política, consolidada por uma ampla
legislação composta por leis, visa assegurar as pessoas com deficiência (PcD)
o seu ingresso e as oportunidades de desenvolvimento pessoal, social e
profissional, bem como não restringir sua participação em determinados
ambientes e atividades em razão da deficiência.
No último Censo do IBGE, em 2010, o Brasil tinha 45.606.048 PcD a,
o que representava 23,9% da população. Em termos educacionais, entre as
PcD com mais de 15 anos no país, 61,13% não tinha instrução ou tinha
somente o ensino fundamental completo. Outros 14,15% tinha ensino
fundamental completo ou médio incompleto, 17,67% tinha ensino médio
completo ou superior completo e apenas 6,66% concluíram um curso
superior.
Um número que se elevou. Dados do Censo da Educação Superior do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep), mostram que em um período de dez anos, entre 2004 e 2014, o acesso
de pessoas com deficiência ao ensino superior, deu um salto no país. Fatores
como criação de novas instituições e cursos e, ainda estímulo ao acesso por
meio de iniciativas como o Programa Universidade para Todos (Prouni), o
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Programa de Financiamento
Estudantil (Fies), o número de matriculados no ensino superior como um
todo teve um grande incremento e o ingresso de PcD nestas instituições
também cresceu.
Esse crescimento traz novos desafios ao ensino superior. Segundo a
Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência define em seu artigo 1º: “Pessoas com deficiência são aquelas
que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições
com as demais pessoas”.
Se antes a pergunta era “O que são pessoas com deficiência?”, hoje a
pergunta precisa ser: Como nós professores universitários e demais membros
da academia devemos atuar para ajudar alunos com algum deficiência a ter
mais autoestima e um desenvolvimento acadêmico satisfatório?
Incluir os alunos com deficiência na universidade é uma forma de
tornar a sociedade mais democrática, sendo papel de todos os cidadãos
transformar as instituições de ensino em espaços legítimos de inclusão.
No contexto universitário, a concepção de direitos iguais para todos,
também recebe destaque nas políticas propostas pela UNESCO, na
Conferência Mundial sobre a Educação Superior, realizada em Paris em
outubro de 1998, apresentando como principais postulados ideias em
contraposição a concepção atual de ensino superior: a) Acesso ao ensino. O
acesso aos estudos superiores será igual para todos; b) Responsabilidade do
Estado. O Estado conserva uma função essencial no financiamento do ensino
superior. O financiamento público da educação superior reflete o apoio que a
sociedade lhe presta e dever-se-ia continuar reforçando, sempre mais, a fim
de garantir o desenvolvimento deste tipo de ensino, de aumentar a sua
eficiência e manter a qualidade e pertinência; c) Apoio à pesquisa. Promover,
gerar e difundir conhecimento por meio da pesquisa. Fomentar e desenvolver
a pesquisa científica e tecnológica, ao mesmo tempo que a pesquisa no
campo das ciências sociais, das ciências humanas e das artes; d)
Responsabilidade social. A educação superior deve fazer prevalecer os
valores e os ideais de uma cultura de paz, formar cidadãos que participem
ativamente na sociedade. Para consolidar, num contexto de justiça dos
direitos humanos, o desenvolvimento sustentável, a democracia e a paz.
Só que, se tratando do ensino superior a inclusão é uma discussão
recente. Este novo refere-se ao desconhecido, e, este diferente, exige do
educador ações pautadas não só em políticas públicas como também numa
prática reflexiva. O educador universitário também precisa de capacitação,
preparação que garanta o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos
necessários a uma ação segura por parte desses profissionais.
No universo do ensino superior a prática docente frente a alunos com
deficiência necessita além de políticas públicas, de ações compartilhadas
capazes de orientar o educador na formação de sujeitos, valorizando a
diversidade em todos os espaços e fazendo valer o verdadeiro sentido da
inclusão enquanto processo que reconhece e respeita diferentes identidades e
que aproveita essas diferenças para beneficiar a todos.
A UNIVERSIDADE E A SOCIEDADE INCLUSIVA
Assim, cabe as instituições de ensino superior, instituir políticas de
inclusão e demover ações de exclusão, valorizando cada vez mais, ações
pautadas no respeito a diversidade, considerando o papel que as mesmas
assumem ao longo da história da sociedade.
Na inclusão, as iniciativas são da sociedade. E a academia tem muito
a colaborar nesse processo, onde a sociedade se adapta para poder incluir em
seu contexto as pessoas com deficiência. Mas, por outro lado, essas mesmas
pessoas precisam ser preparadas para assumir seus papéis na sociedade, o que
abre várias possibilidades de através do acesso irrestrito e de sua formação
também em nível superior.
Será uma forma de parceria entre a sociedade e a academia, visando
equacionar problemas, decidindo sobre soluções, efetuando equiparações de
oportunidades para todos. Estaremos, assim, realmente criando um ensino
superior inclusivo e com um relacionamento prático entre as universidades e
alunos com deficiência, na busca do ser humano por de trás da pessoa com
qualquer tipo de limitação: suas reais necessidades, interações sociais,
educacionais, relacionamentos familiares e afetivos, necessidades de
atividades profissionais e, sobretudo, suas verdadeiras potencialidades a
serem estimuladas de forma individual e coletiva.
AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
NA ATUALIDADE
 
Atualmente muito se fala em Dificuldades de Aprendizagem. E nós
psicólogos estamos cada vez mais sendo procurados por esse motivo. Por
isto, preparei e quis fechar o livro com este conteúdo estra.
Fazendo uma rápida revisão histórica, notaremos que por um tempo
excessivamente longo, crianças com dificuldade de aprendizagem foram
encaminhadas a médicos, cujo diagnóstico isolado e ansiosamente aguardado
pela família e pela escola iria confirmar ou negar a sua normalidade. Se algo
fora da normalidade era detectado, certamente a criança era encaminhada
para classes ou escolas especiais que ofereciam um ensino diferenciado.
Surgiam os estigmas sob elas que passavam a fazer parte de um
segmento social marginalizado, como seres incapazes de criar e produzir
conhecimento. Negavam-lhes as oportunidades de ampliação de suas
potencialidades. Ainda hoje qualquer desvio do padrão de comportamento,
principalmente na escola, a primeira hipótese de explicação ainda faz
referência a um possível problema mental, como se fossem sujeitos dotados
só de cabeça, sem corpo, emoção e sentimento, distante dos padrões de
competência, vítima de um julgamento equivocado e parcial.
Há poucas décadas, esse procedimento modificou-se embalado pelos
avanços das pesquisas neurológicas comprovando a plasticidade do cérebro
que, mesmo lesado, tem condições de reconstituir-se e garantir seu
funcionamento. E a Psicologia vem dando uma contribuição significativano
sentido de colaborar para que a criança seja também considerada como
dotada de sentimentos, que desde a vida intrauterina influenciam o seu
comportamento. O mesmo procedimento vem tendo a Pedagogia, repensando
a sua prática, investigando mais profundamente a relação ensino-
aprendizagem.
No geral, as equipes multidisciplinares compostas por médicos,
pedagogos, psicopedagogos, psicólogos, professores e demais profissionais
envolvidos, cada vez mais colocam-se a serviço dos casos de problemas de
aprendizagem, colaborando para que as crianças encaminhadas possam
desfrutar plenamente de sua cidadania.
Neste contexto, quais as principais contribuições que o profissional de
psicologia, usando os testes psicológicos, poderá dar na avaliação de crianças
com dificuldades de aprendizagem?
FREUD, PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
Sigmund Freud, criador do paradigma psicanalítico, nasceu em 1856
na cidade de Freibug. Formado em medicina, interessou-se por estudar
manifestações de desequilibro psicológico e foi no contato com seus
pacientes que elaborou sua teoria. Segundo seus estudos, nossa personalidade
é formada por três instâncias: id, ego e superego. O id contém os impulsos
inatos, composto por energias chamadas pulsões, determinadas
biologicamente, possuindo desejos e necessidades que não reconhecem as
normas sociais e culturais, por isso, o id não respeita convenções e busca a
satisfação do organismo. O ego significa eu, sendo o setor da personalidade
que procura manter contato com o ambiente, convivendo de acordo com as
regras sociais e busca o equilíbrio entre o id e o superego. O superego é um
depositário das normas e princípios morais do grupo social, que tenta impedir
- e na maioria das vezes consegue -, a manifestação dos desejos do id,
funcionando como protetor do ego, pois a maioria das energias originadas do
id nem chegam à consciência do ego. Assim, tudo aquilo que é reprimido
pelo superego aloja-se no inconsciente.
Nossas pulsões (energias) pressionam o superego para chegar ao nível
consciente de onde, segundo Freud, surgem os fenômenos psíquicos como os
sonhos, os altos falhos, a sublimação e as neuroses. O sonho é o resultado da
luta entre o id e o superego. A falta de clareza do sonho é exigência feita pelo
superego. Também há sublimação, que expressa o resultado das tensões entre
o id e o superego. Energias reprimidas transformam-se e são canalizadas para
somente um objetivo, possibilitando ao ego exercer uma atividade
socialmente aceita.
Segundo Freud, dentre as pulsões que compõem o id destacam-se as
energias de natureza sexual. É contra elas que se erguem as barreiras morais
que, internalizadas pelo indivíduo, formam o superego. A libido é uma
energia de natureza sexual, componente do id, presente no ser humano desde
o nascimento, e é ela que impulsiona a pessoa em busca da satisfação, do
prazer, seja ela uma criança ou um adulto. Quando nascemos, a região do
corpo que se encontra em maior evidência é a região bucal. Freud
acrescentou que a boca, uma vez ocupada pela libido, torna-se um órgão que
viabiliza prazer, caracteriza-se assim, a fase do desenvolvimento oral. Mais
tarde, a atividade escretória do ânus, assume relevância na vida da criança. A
libido, então, desloca-se para essa região, dando margem à fase de
desenvolvimento anal. Freud não esteve preocupado em estabelecer as idades
em que essas fases se dão. Cada pessoa é única e as suas vivências também
são únicas. O que determina uma fase é a fixação da libido numa certa região
do corpo, o que não quer dizer que a libido não possa estar em dois locais ao
mesmo tempo.
Um dos tópicos mais conhecidos da teoria freudiana é o que diz
respeito à vivência do Complexo de Édipo, fenômeno que ocorre numa das
fases do desenvolvimento psicossocial, a fase masturbatória. Segundo Freud,
essa fase também é conhecida como a fase fálica. A criança sente-se atraída
pelo órgão sexual masculino. No caso do menino, este percebe sua presença,
manipula-o e obtém satisfação libidinal por seu intermédio. Já a menina
ressente-se por não possuir algo que os meninos possuem. O menino tem
forte ligação afetiva com a mãe, fantasia retribuir o afeto que a mãe lhe
dedica fazendo uso do instrumento pelo qual ele próprio obtém prazer – o seu
pênis. Assim, o menino tem fantasias incestuosas com a mãe, entretanto,
encontra um obstáculo entre ele e a mãe: o pai. Forma-se o triângulo edipiano
e o menino sente “ódio” do seu pai. A menina percebendo em si mesma a
ausência do pênis desenvolve profundo sentimento de inferioridade. Atribui à
mãe a “culpa” por ela ter sido gerada assim.
Ao mesmo tempo em que o menino odeia, passa a temer o pai, a
sentir que este poderá castigá-lo. O castigo fantasiado pelo menino varia na
forma de castração. A angústia de castração soma-se à ambiguidade de
sentimentos vivenciada pelo menino, à difícil situação de odiar e amar a
mesma pessoa. A superação da situação edipiana vem com a intensificação
do amor, o que se dá na forma de identificação. Ao identificar-se com o pai, o
menino coloca em ação um mecanismo psicológico que oculta o ódio que
sente. A superação do Complexo de Édipo põe fim à fase fálica, mas todas
essas energias não desaparecem, mas sim são afastadas da consciência.
Tornam-se, portanto, inquilinas do inconsciente.
O professor passa a conviver com a criança quando ela está saindo da
fase edipiana. Desde o nascimento da criança, essa energia psíquica vinha
ocupando determinadas regiões do corpo – a boca, o ânus, os órgãos genitais,
mas agora esta não ocorre. Posteriormente concluiu que a libido está em
atividade sim, pois o nascimento de sublimação atua fortemente nessa fase. A
criança sente-se atraída por um certo brinquedo, uma matéria escolar etc. O
fenômeno da aprendizagem, portanto, segundo a Psicanálise, depende do
modo como se dá o aproveitamento da libido. Ao trabalhar os conteúdos
escolares, o professor pode ter a sublimação a seu favor e, é claro, a favor do
crescimento intelectual e social do aluno. A partir do início da puberdade,
porém, todo esse quadro sofre profunda alteração. A libido tem sua força
intensificada nas zonas genitais. Inicia-se assim, a fase genital de
desenvolvimento da libido.
Depois da adolescência, o indivíduo encontra um ponto de equilíbrio
entre seus desejos inconscientes e as exigências da realidade que agem sobre
seu ego. O professor psicanaliticamente orientado deve observar as atitudes
conscientes de seus alunos, como também as suas, estando sempre
interessado em ir além de ministrar uma boa aula, sendo um profissional que
tende a valorizar menos a manutenção do bom comportamento de seus
educandos e mais a livre expressão das crianças e jovens que estão sob seus
cuidados. Ao mostrar que os fenômenos da sala de aula são muito mais
humanos do que técnicos, o paradigma psicanalítico abre caminho diferente
para os professores, o caminho da vivência humanizadora na compreensão do
outro. Menos ênfase no método, mais preocupação com a pessoa. Os críticos
da transposição da Psicanálise para a educação escolar sugerem que adotar os
ensinamentos de Freud na escola significa abrir um caminho para a
irracionalidade, para práticas não científicas, para o abandono dos conteúdos
escolares.
Sob o prisma da Psicanálise, a pretensão da escola de contribuir para a
formação da personalidade da pessoa deve ser relativa, pois os alicerces do
caráter do indivíduo já se encontram firmados quando ele vai pela primeira
vez à escola. Todas as vivências orais, anais, masturbatórias, todo o conflito
edipiano que sustenta o superego, já se encontram definidos. Assim, o
professor não constrói a personalidade de seu aluno, mas ele pode agir de
modo a não agravar certas tendências do caráter do aluno. Uma das
contribuições da Psicanálise à educação consiste em elucidar a importância
do mestre como modelo.
COMPORTAMENTALISMO E EDUCAÇÃO:
PAVLOV, WATSON E SKINNER
A psicologia científica compreende o ser humano por intermédio da
introspecção e não conceitua aquilo que não é passível de ser objetivamenteapreendido, adotando como objeto de estudo tudo que pode ser descrito em
termos tão elementares que dispense a subjetividade, que se deu o nome de
Behaviorismo (ou em português, comportamentalismo). Nessa teoria, o
comportamento é uma resposta do organismo a algo que o impressiona a
partir do exterior, estímulos. Sua expressão visível é aquilo que pode ser
registrado e quantificado. No paradigma comportamentalista, o recurso é
mais simples para explicar e controlar a ação humana e, no contexto escolar,
pode-se compreender melhor o comportamento de professores e alunos.
Skinner criou o condicionamento operante, que se dá quando o
resultado obtido depende de uma atuação do organismo que altera o ambiente
físico. O comportamentalismo refere-se sempre a probabilidades e nunca a
certezas, um paradigma concebido por intermédio de recursos experimentais
que descrevem comportamentos em seus aspectos moleculares, isto é, traços
elementares que formam uma conduta.
Uma das críticas dirigidas aos comportamentalistas é que eles igualam
os homens e animais inferiores, desconsiderando as peculiaridades
psicológicas, históricas e culturais dos primeiros. Todavia, acredita-se que o
comportamento pode servir de inspiração ao trabalho do professor, sendo que
os organismos em geral e o ser humano em particular respondem de modo
semelhante a certos estímulos e circunstâncias ambientais.
Com isso, os comportamentalistas, especialmente os skinnerianos,
não consideram válido agredir fisicamente uma criança como procedimento
punitivo, inclusive porque eles podem instalar por imitação, novos
comportamentos indesejáveis. Recomendam que os professores, bem como
os pais e as mães, utilizam-se dos esquemas do comportamentalismo, mesmo
ser ter conhecimento formalizado desse paradigma.
Skinner propôs certos recursos para dar eficiência ao ensino, um
modo de organizar e transmitir conhecimentos que resultam em melhores
resultados, em menor tempo e com economia de esforço e de mão de obra,
consistindo em organizar as matérias escolares em unidades simples,
pequenos tópicos a ser ensinados passo a passo. Uma vez que o tecnicismo
não nega que a educação seja norteada por finalidades sociais e políticas,
cujas definições localizam-se no campo da filosofia, uma grande contribuição
dos comportamentalistas a essa tendência foi o fornecimento de conceitos e
métodos para converter a finalidade da educação e objetivos operacionais. Na
fábrica e na escola, o que se busca é a eficiência máxima, otimização do
tempo e dos recursos dependidos. Feito isso, o produto fabricado não é posto
no mercado antes de passar pelo controle de qualidade. Na escola, esse
procedimento corresponde à avaliação.
Segundo as conclusões de Skinner, devemos nos preocupar com a
construção de uma cultura que seja durável, o que só é possível por meio de
planejamento. Muitas sociedades já existiram, umas eficientes e outras não, e
o sucesso de algumas ocorreu ao acaso, nunca na elaboração prévia e racional
de suas metas. Na teoria de Skinner, essas técnicas podem servir ao controle
se colocadas a serviço dos oprimidos que, ao tomarem consciência de como
são controladas pelos políticos, pela propaganda e por todas as agências de
poder, essas pessoas podem tornar-se menos manipuláveis na busca plena de
suas cidadanias. E a educação tem uma grande contribuição nessa conquista.
PSICOLOGIA GENÉTICA E EDUCAÇÃO PARA
PIAGET
Jean Piaget era suíço, biólogo e interessou-se pela Filosofia,
particularmente a Epistemologia. O problema epistemológico que lhe seduziu
foi saber como se passa de um conhecimento menor para um conhecimento
maior. A resposta a esta pergunta fez com que ele estudasse as categorias de
conhecimento no decorrer da vida das pessoas. Para Piaget, genético não vem
da hereditariedade, mas da gênese até o estágio mais avançado, que foi o que
ele estudou. Um dos métodos utilizados por Piaget foi a entrevista livre, que
visava não medir a capacidade intelectual, mas como o indivíduo lida com o
mundo. Por isso o método piagetiano é de pesquisa e não um trabalho
pedagógico. Seu conceito considera que o conhecimento só é possível quando
o sujeito age sobre o objeto, por isso a afinidade do método de Piaget com a
educação escolar porque o aluno só aprende quando ele é despertado e
desafiado para aquilo que vai ser ensinado. O conhecimento tem início com o
desequilíbrio entre o sujeito e o objeto; o sujeito tenta trazê-lo para os
referenciais que já possui mesmo que sejam insuficientes ou o sela e ele
assimila.
O segundo processo é a acomodação, o sujeito modifica-se em função
do exercício de acomodação e, com isso, o sujeito alcança um estado de
equilíbrio, que não é constante, uma vez que surja uma nova situação
desafiadora. Para Piaget, todos nascem com potencialidades e habilidades
para se desenvolver, mas o meio pode ser um fator decisivo na maneira do
indivíduo realizar sua inclinação biológica. Ele definiu que o
desenvolvimento intelectual passa por quatro períodos, definidos pelas idades
cronológicas, que algumas vezes podem variar.
1. primeiro período: Sensório-Motor (0 a 24 meses)
2. segundo período: Pré-Operatório (2 a 7 anos)
3. terceiro período: Operatório-Concreto (7 a 12
anos)
4. quarto período: Operatório-Formal (12 a 16 anos)
É caracterizado pela imitação. O faz de conta, desenho, imagem
mental e o realismo visual. O conhecimento chega ao organismo através dos
órgãos do sentido e do parelho motor. A criança junta as partes, é
egocêntrica, cria explicações, dá vida a seres inanimados. Nesse período
ocorre um progresso sensível na linguagem oral, ou seja, a fala vai deixando
as representações particulares para usar as expressões socialmente
convencionadas. A criança elabora operações mentalmente, mas ainda tem
um caráter concreto, ou seja, precisam já ter feito parte da experiência dela,
não tem a necessidade dela ver o que está acontecendo, mas precisa já ter
visto. Caracterizado pela abstração e elaboração mental de hipóteses, por
isso, segundo Piaget, a crise da adolescência, o jovem visualiza o futuro mas
não tem meios para realizá-lo.
Conhecendo esses períodos, o professor tem condições de organizar
as atividades em sala de aula de acordo com a capacidade e o interesse de
seus alunos. Paralelo a esse período ocorre a sociabilidade da criança, que
primeiramente é egocêntrica e, no decorrer de seu desenvolvimento, vai se
tornando capaz de interagir com a realidade que a cerca. No período do
egocentrismo, a criança passa por dois estados: 1º ela é incapaz de apreender
regras e, como se tudo fosse dela, num jogo ela só brinca pela satisfação
pessoal; 2º ela enxerga as ordens dos mais velhos como leis e obrigações e,
ao participar de um jogo, ela aceita as regras sem questioná-las. Por isso fica
claro que para a criança deve haver limites, mas que estes devem ser
explicitados, pois só em torno dos 7 anos é que a criança consegue entender o
mundo das normas. Cabe ao professor criar na sala de aula um ambiente de
cooperação em que não haja um clima de coerção mas que ambos debatam
igualmente os assuntos.
 
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM OU
DIFICULDADES DE ESCOLARES
Em nossos dias, as Dificuldades de Aprendizagens ocorrem
considerando as alterações e os distúrbios em qualquer aspecto - biológico,
psicológico e social - de certas crianças. Há boas tentativas de definir e
especificar o que, de fato, seria uma Dificuldade de Aprendizagem ou
Escolar. Mas ainda não existe uma definição consensual acerca dos critérios e
nem mesmo do termo. De modo acadêmico, costuma-se chamar esse quadro
de Dificuldades da Aprendizagem (DA), preferível a Dificuldades Escolares,
menos específico e não restrito, obrigatoriamente, ao aprendizado.
O DSM.IV também define muito mal a situação de DA, classificando-
o como "transtornos da aprendizagem que são diagnosticados quando os
resultados do indivíduo em testes padronizados e individualmente
administrados de leitura, matemática ou expressão escrita estão
substancialmente abaixo do esperado para sua idade, escolarizaçãoe nível de
inteligência".
Já o CID.10, no capítulo intitulado Transtorno do Desenvolvimento
das Habilidades Escolares, descreve DA como "transtornos nos quais as
modalidades habituais de aprendizado estão alteradas desde as primeiras
etapas do desenvolvimento. O comprometimento não é somente a
consequência da falta de oportunidade de aprendizagem ou de um retardo
mental, e ele não é devido a um traumatismo ou doença cerebrais".
DESAFIO PARA PSICOLOGIA
A temática em torno da DA vem cada vez mais ganhando espaço na
história da educação brasileira, marcada por uma crescente preocupação em
se tentar explicar o fracasso escolar, pautado pelos altos índices de repetência
e evasão ocorridos nos últimos anos. Conforme estipula a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, de 1996, espera-se que os estudantes ao final de
8 anos tenham completado o Ensino fundamental obrigatório e gratuito. Mas,
segundo dados do IBGE, a média brasileira tem sido de apenas 6,2 anos de
estudo. Estima-se que essa média aumente progressivamente com a idade,
mas segundo o IBGE, nem aos 24 anos de idade a maioria da população
chega a alcançar os 8 anos do ensino fundamental. Outros estudos apontam
que os estudantes que ingressaram na 1ª série do ensino fundamental, 60%
não chegam a terminar a 8ª série, 24% são excluídos ou abandonam a escola
nas primeiras séries, 97% repetem de ano escolar em alguma série do Ensino
básico e apenas 4,5% conseguem terminar a 8ª série sem nunca ter repetido
(CARNEIRO, MARTINELLI, SISTO, 2003). Atrás desses dados podem
estar possíveis causas para o fracasso escolar, ocorrendo nos bancos escolares
ou fora destes, levando as crianças e os adolescentes os deixarem.
Okano, Loureiro, Linharese e Marturano (2004) concordam que o
problema da DA vem crescendo, embora há muitos anos se reconheça a
relevância de tais problemas. Acentuam que para uns “os efeitos adversos do
fracasso escolar quando a criança não desenvolve sua capacidade produtiva
têm apontado para a existência de relação entre dificuldades de aprendizagem
e baixa autoestima, aceitação e popularidade perante os colegas”. Isso porque
nos anos iniciais de escolarização parecem ser cruciais, no que diz respeito ao
aprender a ler. O período da escolarização está associado ao desenvolvimento
de autoconceito mais positivo nos primeiros dois anos e meio de
escolarização formal. Fase também em que os efeitos negativos sobre o
autoconceito das crianças que experimentaram dificuldades iniciais na
aprendizagem da leitura. Ao mesmo tempo em que elas se autoavaliarem, a
escola também as avalia, tendendo a enfatizar as comparações sociais com
base no rendimento escolar. Esse processo de comparação social é de grande
importância na formação da autopercepção dos estudantes com dificuldades
de aprendizagem no que se refere à competência acadêmica. E o maior risco
das DA pode estar em gerar um "círculo vicioso do fracasso", despertando o
sentimento de inferioridade na criança. Ela estará suscetível ao insucesso, e
menos poderá obter aprovação a partir de seu desempenho.
O manejo das dificuldades de aprendizagem no ambiente escolar não
se constitui em tarefa fácil, e muitas vezes, a alternativa dada envolve a
colocação das crianças em programas especiais de ensino como o proposto
para as salas de reforço ou de recuperação paralela, destinadas a alunos com
dificuldades não superadas no cotidiano escolar. Os programas de reforço,
em nosso meio, a princípio se apresentam como uma proposta que visa
contribuir para o bom desenvolvimento escolar, contudo carecem de estudos
sistemáticos que demonstrem a sua eficácia no que diz respeito aos aspectos
psicológicos de crianças com dificuldade de aprendizagem (OKANO,
LOUREIRO, LINHARES e MARTURANO, 2004).
Em uma visão geral, não se deve tratar as DA como se fossem
problemas insolúveis, mas sim, como desafios que fazem parte do próprio
processo da Aprendizagem, a qual pode ser normal ou não-normal. Também
parece ser consensual a necessidade imperiosa de se identificar e prevenir o
mais precocemente possível as DA, de preferência ainda na pré-escola.
Segundo Ballone (2003), “é muito importante a avaliação global da criança
ou adolescente, considerando as diversas possibilidades de alterações que
resultam nas DA, para que o tratamento seja o mais específico e objetivo
possível”. Há autores que dividem as DA em Primárias e Secundárias, de
acordo com sua origem. Nas consideradas Primárias, a causa não pode ainda
ser atribuída à elementos psico-neurológicos bem estabelecidos ou
esclarecidos; englobam, principalmente, as chamadas disfunções cerebrais e,
dentro das dessas disfunções, teríamos os Transtorno da Leitura, Transtorno
da Matemática e Transtorno da Expressão Escrita, bem como os transtornos
da linguagem falada, os quais englobam o Transtorno da Linguagem
Expressiva e o Transtorno Misto da Linguagem Receptivo-Expressiva. Já nas
consideradas Secundárias, estão aquelas consequentes à alterações biológicas
específicas e bem estabelecidas e alterações comportamentais e emocionais
bem esclarecidas.
Em relação às alterações biológicas (neurológicas) teríamos as lesões
cerebrais, Paralisia Cerebral, Epilepsia e Deficiência Mental. Envolvem
também os sistemas sensoriais, através da Deficiência Auditiva, hipoacusia,
deficiência visual e ambliopia. Teríamos ainda, dentro das causas biológicas,
as situações de DA consequentes a outros problemas perceptivos que afetam
a discriminação, síntese, memória e relação espacial e visualização.
(BALLONE, 2003). Nos problemas de comportamento, um dos fatores mais
marcantes para desenvolvimento de DA são os quadros classificados como
Comportamento Disruptivo e, dentro deles, o Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade e o Transtorno Desafiador e Opositivo. Há também
os problemas emocionais que favorecem as DA, principalmente a Depressão
Infantil e a Ansiedade (de Separação) na Infância. A importância do
diagnóstico dos problemas emocionais que levam a criança a apresentar um
baixo rendimento escolar que, segundo Ballone (2003), justifica-se por:
1. - Dentre as principais razões para as DA, as
emocionais são, atualmente, uma daquelas com
melhor possibilidades de tratamento;
2. - Importantíssimo para fazer diagnóstico
diferencial com a Deficiência Mental, quadro
muito traumático para familiares e com mau
prognóstico;
3. - Proporcionar um desenvolvimento satisfatório o
mais rapidamente possível.
Muitas crianças estão sujeitas a desenvolver a maioria dos transtornos
emocionais encontrados nos adultos, mas ainda há muitos mitos do senso
comum envolvidos nisso. Acredita-se que criança não fica "nervosa", porque
não têm problemas, coisas assim, tipo, "criança nervosa" é falta de correção
enérgica. Crenças alimentadas pela falta de informação sobre psiquiatria
infantil é a responsável pela maioria das dificuldades de relacionamento,
escolares e sociais das crianças, bem como, responsável por inúmeras
seqüelas emocionais no futuro. Ballone (2003), acentua que “não é lícito
estabelecer uma regra geral e inflexível atribuindo a todos os casos de DA um
mesmo diagnóstico ou um enfoque generalizador”. A falta de provas clínicas
de que as causas para DA possam ser identificadas objetivamente, sendo que
as tentativas de se estabelecer diagnósticos para avaliar esses problemas
servem para encobrir outras incompetências pedagógicas.
Muitas vezes o diagnóstico pouco criterioso de "hiperatividade",
"fobia escolar", etc, serve como atenuante para alguma comodidade ou
incapacidade da escola para lidar com processos e métodos de aprendizagem.
Não é segredo que a maioria das escolas, notadamente públicas, está longe de
cumprir sua tarefa de instruir e educar, envolvidas que estão por ditames
políticos demagógicos, ou técnicos utilitaristas. Percebe-se, com certa
facilidade, que algo está muito errado e que, nem sempre, o erro é exatamente
das crianças. Por isso, cada caso deve ser avaliado particularmente, incluindo
na avaliação o entorno familiar e escolar. Se as DA estão presentesno
ambiente escolar e ausentes nos outros lugares, o problema deve estar no
ambiente de aprendizado e não em algum "distúrbio neurológico" misterioso
e não-detectável. Essa dificuldade, digamos, seletiva para o ambiente escolar,
é detectada quando a criança aprende bem em outros cursos (inglês,
música...), aprende manipular aparelhos eletro-eletrônicos com facilidade,
tem boa performance em atividades lúdicas, enfim, quando ela mostra fora da
escola que pode aprender como as demais. Quais seriam os critérios dos pais
ao decidirem por esta ou aquela escola? Excluindo-se a imensa maioria que
não pode escolher, aceitando a escola pública onde seu filho deve
obrigatoriamente estudar, alguns outros podem estar escolhendo a escola
motivados por razões sociais; porque querem seus filhos junto com os filhos
de outras proeminências sociais, porque é chique dizer onde eles estudam,
por alívio de consciência, já que podem sentir-se omissos em outras áreas,
pelo preço, enfim, nem sempre o critério é pedagógico (BALLONE, 2003).
Muitas vezes as DA são reações compreensíveis de crianças
neurologicamente normais, porém, obrigadas a adequar-se às condições
adversas das salas de aula. É comum para os psicólogos observarem na
clínica diária, muitas crianças sensíveis e emocionalmente retraídas quem
passam a apresentar DA depois de submetidas a alguma situação
constrangedora não percebida pelos demais. São situações corriqueiras,
agindo sobre uma criança afetivamente diferenciada, que nem sempre a
escola, incluindo a professora, orientadora, coordenadora e demais colegas de
classe, percebem. Crianças que apresentam dificuldades específicas no início
da escolarização, embora não tenham nenhum problema neuropsiquiátrico,
provavelmente são aquelas que precisarão de maior atenção. Necessitaram
desenvolver suas habilidades de apreensão daquilo que é ensinado. Portanto,
caberá ao psicólogo investigar e compreender particularmente as dificuldades
de cada criança.
Ballone (2003), aponta um perigo, dizendo que quando o problema é
da escola, uma exagerada restrição das atividades podem favorecer falsos
diagnósticos de Crianças Hiperativas, se as aulas carecem de atrativos
pedagógicos, podem surgir falsos diagnósticos de “Déficit de Atenção"; se a
criança é assediada, se apanha de grupos delinquentes, se é submetida à
situações vexatórias (para ela, especificamente), pode-se observar falsos
diagnósticos de Fobia Escolar e assim por diante.
Dois extremos podem comprometer a escola em relação às DA; ou a
escola superestima a questão, acreditando comodamente que a criança é um
problema, logo deve ter algum comprometimento neuropsiquiátrico quando,
de fato, o problema é de relacionamento ou de adequação difícil às normas da
escola ou, ao contrário, subestima um verdadeiro comprometimento
neuropsiquiátrico levando à DA, pensando tratar-se de algum problema
disciplinar, de método de ensino, de má vontade, etc. (BALLONE, 2003)
Stevanato, Loureiro, Linhares, e Marturano (2003), dizem que outro ponto
destacado em relação às crianças com dificuldades de aprendizagem que
apresentam associados também problemas de socialização é que elas têm
menos habilidades sociais que seus colegas sem dificuldades de
aprendizagem, e que estas persistem ao longo da vida escolar; experimentam
também dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento,
tendendo à dificuldades quanto às autopercepções, apresentando autoconceito
mais baixo e locus de controle predominantemente externo, atribuindo o
sucesso a fatores externos e o fracasso a fatores internos. Segundo os autores,
“ao analisar as crenças pessoais e as autopercepções relativas ao autoconceito
faz-se necessário considerar o seu complexo universo de influências e suas
relações com o comportamento, especialmente quando se trata de crianças
com dificuldades de aprendizagem”. Poderão aparecer problemas, ou sererm
adiados para mais tarde, na adolescência, quando o fracasso escolar
persistente traz o risco de desadaptação psicossocial associado à evasão. Esse
abandono da escola pode levar ao sub-emprego, à probabilidade aumentada
de afiliar-se a grupos marginalizados e a outras circunstâncias que restringem
o acesso a oportunidades favoráveis e aumentam a probabilidade de
desadaptação. Segundo Santos e Marturana (1999), “um estudo de
seguimento, realizado em nosso meio, indicou que uma em cada cinco
crianças referidas para atendimento psicológico em virtude de baixo
rendimento escolar apresentou problemas sérios de adaptação na
adolescência, como envolvimento com drogas, incidentes criminais e
conflitos intensos nos relacionamentos”.
A dificuldade de relacionamento é uma variável que aumenta a
vulnerabilidade do adolescente com problemas na aprendizagem, dada a
importância dos relacionamentos com os pares nessa fase do
desenvolvimento. Por outro lado, a família e as relações parentais também
afetam a vida dos adolescentes, pois os sentimentos de apego, nesta fase,
devem estar seguros para promover a competência social com os pares,
ajustamento emocional, autoestima e menor dependência do suporte externo.
A forma como os pais encaram a paternidade e as práticas educativas que
utilizam fazem parte deste processo, que sofre a influência de diversas
variáveis como características dos próprios pais, características dos filhos,
contexto social, expectativas de pais e filhos, história prévia dos pais
enquanto filhos, entre outras. A interação destes fatores leva a práticas
parentais que agem, direta ou indiretamente, nos comportamentos,
sentimentos e habilidades dos filhos (SANTOS e MARTURANO, 1999).
O USO DOS TESTES PSICOLÓGICOS
O uso dos testes psicológicos são instrumentos permitido apenas ao
psicólogo em sua prática profissional. Colaborado no processo de avaliação
psicológica - coleta e interpretação de dados -, o número de instrumentos não
é pequeno, sobretudo nos países do Primeiro Mundo, onde o
desenvolvimento da pesquisa científica já acumulou grandes conquistas. Em
contra partida, temos no Brasil, dificuldades ao desenvolvimento de
pesquisas com relação aos testes, suas legitimidades e o status do instrumento
padronizado. Ainda não há esse tipo de material sistematizado que ofereça ao
psicólogo informações pertinentes à construção, à aplicação e às qualidades
psicométricas dos instrumentos, embora existam iniciativas isolados nesse
sentido, segundo Noronha, Freitas, Sartori e Ottati, 2002). Essas autoras
destacam ainda que no Brasil, recentemente o CFP (Conselho Federal de
Psicologia, 2001) publicou a Resolução nº 25/2001, que define teste como
um método de avaliação privativo do psicólogo e regulamenta sua
elaboração, comercialização e uso. Ela determina que os manuais dos testes
contenham informações acerca da fundamentação teórica dos instrumentos da
aplicação, avaliação e interpretação e da literatura científica relacionada ao
instrumento, indicando os meios para a sua obtenção.
Pasquali (2001), explica que “os testes servem para fornecer
informações sobre os indivíduos, a partir das quais alguém deve tomar
alguma decisão com respeito a estes”(p. 33). Eles visam fornecer dados
confiáveis para alguma investigação. Basicamente, os testes psicológicos são
utilizados para cinco finalidades: 1) classificatório (psicotécnico) - Classificar
uma pessoa significa colocá-la dentro de categoria específicas ou, se houver
somente uma categoria, verificar se tal pessoa á apta para entrar nela. Pode-se
também usar os termos seleção ou triagem. Segundo Pasquili (2001)
“triagem, quando se quer fazer uma investigação mais rápida para localizar o
sujeito numa dada categoria, como por exemplo, decidir quais alunos
necessitam de um tratamento especial. Normalmente, após a triagem segue
um estudo mais aprofundado dos sujeitos que foram alotados na categoria em
questão” (p. 36). Classificação também, é tipicamente é requerida ou
aconselhada em certas profissões.
2) promoção do autodesenvlvimento - Testes psicológicos utilizados para
definir o problema mental de uma pessoa, objetivando orientaro
planejamento de um tratamento para o problema. Isso pode ocorrer em
clínicas psicológicas, em hospitais ou mesmo na escola, onde se procura
detectar problemas de saúde mental, de patologias, de distúrbios de
aprendizagem e similares. Por meio do psicodiagnóstico, caracteriza-se em
detalhes o problema da pessoa para planejar uma intervenção adequada e
eficaz, visando de remover ou contornar tal problema.
3) intervenção psicoterápica (psicodiagnóstico) e psicopedagógica -
Pasquali (2001) explica que “uma pessoa pode querer se submeter a testes
simplesmente para se conhecer melhor, para ver seus pontos fortes e fracos
em habilidades e personalidade. O objetivo de tais testagens é o desejo da
pessoa de fazer uso útil do autoconhecimento para melhorear seu modo de
ser. Algo mais técnico do que isto ocorre no que chamamos de orientação
profissional (p. 37).
4) avaliação de programas - Testes podem ser utilizados para avaliar
programas e instituições, visando verificar a qualidade de vida da
comunidade para um nível melhor, foi ou não alcançado, ou até que ponto ele
foi ou não alcançado, ou até que ponto ele o foi, e se não, por que razão isto
ocorreu. Segundo Pasquali (2001), “tais avaliações, muitas vezes se gastam
quantias enormes de recursos financeiros, humanos e materiais em programas
que resultam em nada ou que não compensam os esforços empregados” (p.
39).
5) pesquisa científica - Os testes psicológicos podem ser empregados
tanto nas áreas práticas, quanto utilizados na própria investigação em
Psicologia, pois a ciência em geral e a Psicologia em particular, trabalha com
verificação de hipóteses. Para se decidir sobre estas, maximamente útil se
dispor de dados válidos e preciso, e os testes permitem coletar dados de tal
natureza para, em seguida, serem apropriadamente analisados. Aqui aparece a
grande vantagem que testes psicométricos, por exemplo, tem sobre avaliações
de tipo impressionista, porque aqueles coletam dados em termos de medidas,
que podem ser mais objetivamente analisados e com maior precisão, o que
resulta numa verificação mais exata das hipóteses científicas. (PASQUALI,
2001, p, 40).
Há testes psicológicos para medir a capacidade mental geral,
divididos em três subcategorias básicas: testes de inteligência, aptidão e
aproveitamento:
Os testes de inteligência destinam-se a avaliar o
potencial intelectual, e não o aprendizado prévio
ou o conhecimento acumulado.
Os testes de aptidão são projetados para medir o
potencial do conhecimento, dividindo a capacidade
mental em diferentes componentes, avaliando
avaliando o talento para tipos específicos de
aprendizado, tipos específicos de capacidade
mental, tais como capacidade numérica, rapidez e
precisão em trabalho de escritório, raciocínio
mecânico e raciocínio espacial.
Os testes de aproveitamento têm um foco
específico, medindo o aprendizado prévio e não o
potencial. Podem afetar o domínio e o
conhecimento de uma pessoa sobre deferentes
temas, tais como leitura, inglês e história.
Os testes psicológicos são uma a medida padronizada de uma amostra
do comportamento de uma pessoa, instrumentos de mensuração utilizados
para medir as diferenças individuais entre as pessoas com relação a
capacidades, aptidões, interesses e aspectos de personalidade. Mas os
resultados não devem ser considerados como a palavra definitiva sobre a
personalidade. Caberá ao psicólogo, primeiramente questionar se, de fato, a
criança apresenta DA ou se seu rendimento não satisfaz as expectativas de
seu professor. Geralmente, um desenvolvimento não correto nem sempre
denuncia alguma patologia, podendo refletir dificuldades pessoais
eminentemente circunstanciais. Infelizmente, as famílias só é mobilizada a
procurar ajuda especializada para suas crianças quando fica evidente ou
ameaçado o rendimento escolar e a aprendizagem. Mas nem sempre
procuram o apoio correto, ou temem algum estigma cultural, qualquer coisa
parece servir, desde que não seja um profissional da psicologia.
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALLONE, GJ - Dificuldades de Aprendizagem - in. PsiqWeb, Internet,
disponível em
revisto em 2003
CARNEIRO, G.R. da S.; MARTINELLI, S. de C.; SISTO, F.F. Autoconceito
e dificuldades de aprendizagem na escrita. Psicol. Reflex. Crit. vol.16 no.3
Porto Alegre, 2003.
CUNHA, M.V. Psicologia da educação. Rio de Janeiro; DP&A, 2000.
ERTHAL, T.C. Manual de psicometria. Rio de Janeiro; Jorge Zahar, 1999.
FIGUEIRA, E. Psicologia e Inclusão – Atuações psicológicas em pessoas
com deficiência. Rio de Janeiro; Wak, 2015.
NORONHA, A.P.P; FREITAS, F.A.; SARTORI, F.A.; OTTATI, F.
Informações contidas nos manuais de testes de personalidade. Psicol. estud.
vol.7 no.1 Maringá Jan./Jun. 2002
OKANO, C.B.; LOUREIRO, S.R.; LINHARES, M.B.M.; MARTURANO,
E.M. Crianças com dificuldades escolares atendidas em programa de suporte
psicopedagógico na escola: avaliação do autoconceito. Psicol. Reflex. Crit.
vol.17 no.1 Porto Alegre 2004.
ONU. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde –
CIF. São Paulo; Edusp, 2003.
PASQUALI, L. Instrumentos psicológicos: manual prático de elaboração.
Brasília; LabPAN / IBAPP, 1999.
PASQUALI, L. Técnicas de Exame Psicológico – TEP. São Paulo; Casa do
Psicólogo / Conselho Federal de Psicologia, 2001.
SANTOS, L.C. dos. & MARTURANO, E.M. Crianças com dificuldade de
aprendizagem: um estudo de seguimento. Psicol. Reflex. Crit. vol.12 n.2
Porto Alegre 1999.
STEVANATO, I.S.; LOUREIRO, S.R.; LINHARES, M.B.M;
MARTURANO, E.M. Autoconceito de crianças com dificuldades de
aprendizagem e problemas de comportamento. Psicol. estud. vol.8 no.1
Maringá Jan./June 2003.
VYGOTSKY, L. Obras completas: fundamentos de defectologia. Cuba;
Havana, Pueblo e Educacion, 1989, v. 5.
	A PSICOLOGIA ESCOLAR DIANTE DA EDUICAÇÃO INCLUSICA
	AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E OS NOVOS DESAFIOS À PSICOLOGIA
	O QUE É EDUCAÇÃO INCLUSIVA
	A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
	LEI BRASILEIRA DA INCLUSÃO: SAIBA O QUE MUDA NO ENSINO
	AS BASES PSICOLÓGICAS PARA A INCLUSÃO ESCOLAR
	ATENÇÃO ÀS HABILIDADES E OS EFEITOS POSITIVOS DA DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
	O TRABALHO JUNTO À EQUIPE ESCOLAR
	TRABALHANDO A ANSIEDADE DOS PROFESSORES NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR
	CAMINHOS DA AFETIVIDADE E O HÁBITO DE PESQUISAR
	EDUCAÇÃO INCLUSIVA É TER PENSAMENTOS POSITIVOS E FOCADOS
	PROVISÃO DE OPORTUNIDADES EQUITATIVAS A TODOS OS ESTUDANTES
	A QUESTÃO DO BULLYING E OS ESPORTES ADAPTADOS
	UMA CONVERSA DE CONSULTÓRIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS TERAPIAS COMPLEMENTARES
	A PARCERIA ENTRE FAMÍLIA, ESCOLA E COMUNIDADE
	AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E OS NOVOS DESAFIOS AO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
	A UNIVERSIDADE E A SOCIEDADE INCLUSIVA
	AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA ATUALIDADE
	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASEra o
afastamento do modelo estritamente médico-pedagógico; o nascimento do
trabalho multiprofissional, formado por médicos, psicólogos, pedagogos e
assistentes sociais; novo modo de tratamento dado à categoria, então
instituída naquela época, os “excepcionais”, atendendo, ainda, crianças de
grupos escolares e seus pais, em um consultório médico-psico-pedagógico. E,
no Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico,
semanalmente havia reuniões com professores de grupos escolares que se
interessassem em discutir a educação de pessoas com deficiência.
A relação científica entre Psicologia e deficiência ganhou força com
as instalações dos cursos de graduação na área. Regulamentada como
profissão em 1962, através da Lei 4.119 de 27/08/62, no ano seguinte, 1963,
foi elaborado o primeiro currículo oficial do curso, fixado pelo Conselho
Federal de Educação. Neste, a Psicologia do Excepcional – absorvendo em
seu título a nomenclatura criada por Antipoff, tornou-se disciplina
obrigatória.
 
UMA ÁREA SEM RUPTURAS
Várias décadas se passaram. E será que essas disciplinas
acompanharam a evolução das pessoas com deficiência. Quase que não!
Acredito que a primeira mudança precisa ser já em nossa formação
acadêmica. Muitas faculdades ainda mantêm o título pejorativo dessas
disciplinas de Psicologia do Excepcional. Com conteúdo quase que
puramente classificando e/ou conceituando o que é deficiência, essas grades
demonstram que a formação do psicólogo não apresenta avanço com relação
às pessoas com deficiência, estabelecendo rupturas em termos
epistemológicos.
Talvez o problema seja a não familiarização dos professores dessas
disciplinas com a temática por eles ministradas. Apenas se cumpre um curso
obrigatório, exigido pelo currículo mínimo para o funcionamento das
faculdades de Psicologia. Entre os alunos criou-se o hábito da obrigação de
passar por essas matérias como forma de também cumprir currículo, não
despertando neles o interesse pelo assunto. Não lhes é despertado o quanto,
em suas futuras atuações profissionais, poderão contribuir com a melhora de
qualidade da vida de pessoas com deficiência e outras pessoas (por exemplo,
familiares) a sua volta. Não lhes são apontadas todas as possibilidades de
trabalho junto à essa clientela.
É preciso criar mecanismos para estimular professores e alunos nessas
disciplinas. Se não avançarmos além das intenções classificatórias e
conceituais da deficiência, no que tange à formação do psicólogo, não
conseguiremos construir um espaço para a interdisciplinaridade. A
intervenção psicológica (formação técnica) ainda se concentra no diagnóstico
e na classificação. Falta-nos uma formação para uma ação processual, que
considere o próximo desenvolvimento dessas pessoas. Fazendo uma citação
livre, é como nos advertiu Lev Vygotsky, já nos anos 20 do século passado,
“todo o ser humano, independentemente do grau de sua deficiência,
aprende e se desenvolve”.
A Psicologia como ciência passou por diversas transformações. A
Psicologia do Excepcional, ao contrário, parece permanecer em uma
condição “fossilizada”, sem rupturas. Essa expressão de uma atividade
formativa reacionária está em conflito com as dimensões atuais, em que a
formação do psicólogo deve estar voltada para a realidade que se transforma
ininterruptamente.
CRIANÇAS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO
BRASIL
O Brasil está chegando a 47 milhões de pessoas com algum tipo de
deficiência. Essa quantidade passou a ter um peso significativo na sociedade.
Pessoas que nas últimas décadas, não contentes com o isolamento social,
resolveram “colocar a cara na rua”, visando conquistar o seu lugar no seio
social. Presentes hoje em todos os segmentos deixaram de ser os
“coitadinhos” para ser um público consumidor, produtivo, sabedor de onde
realmente quer chegar e exigente de bons serviços. Consequência disso é que
cada vez mais o contexto social está se vendo obrigado a promover e se
adaptar à política da inclusão social para recebê-las, embora isso nem sempre
ocorra. A proteção de pessoas com deficiências passou a só integrar as
normas constitucionais brasileiras muito recentemente na Constituição
Federal de 1988 – visto que temos cinco séculos de história.
Pela Convenção 159 da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
que assegura medidas de adaptação profissional e, no Brasil, o artigo 93 da
Lei nº. 8.213/91, que garante contratação percentual dessas pessoas em seus
quadros de funcionários. As escolas e universidades públicas estão tendo que
se reestruturar para que alunos com e sem deficiências dividam as mesmas
salas de aula, por determinação do artigo 208, parágrafo III, da Constituição,
que determina o atendimento educacional a essas pessoas. Mas, na prática,
ainda poucas escolas públicas de educação básica atendem à demanda.
As pessoas com deficiência estão cada vez mais presentes nos lugares
de lazer, consumindo cultura e outros produtos: em espaços urbanos as
barreiras arquitetônicas – por força de leis - estão começando a ser eliminadas
com a construção de rampas, telefones públicos, degraus e guias rebaixadas,
construções de elevadores e muito mais; os empresários, atentos às novas
tendências, estão criando serviços especializados a essas pessoas; até mesmo
os órgãos de comunicação estão abrindo cada vez mais espaço para essa
temática.
DOCUMENTO MUNDIAL – A CIF
Na busca de uma imagem cada vez mais normalizada, poucos sabem
da existência da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde - CIF, documento desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), com um novo enfoque positivo da deficiência. Descrevendo a
funcionalidade e a incapacidade relacionadas às condições de saúde, ressalta
o que uma pessoa “pode ou não pode fazer na sua vida diária”, tendo em vista
as funções dos órgãos ou sistemas e estruturas do corpo.
Foi estabelecido como definições para serem adotadas no contexto da
saúde:
Funções do corpo são as funções fisiológicas dos sistemas do corpo
(inclusive funções psicológicas).
Estruturas do corpo são as partes anatômicas do corpo como
órgãos, membros e seus componentes.
Deficiências são problemas nas funções ou nas estruturas do corpo
como um desvio significativo ou perda.
Atividade é a execução de uma tarefa ou ação por um indivíduo.
Participação é o envolvimento em situações de vidas diárias.
Limitações de atividade são dificuldades que indivíduo pode
encontrar na execução de atividades.
Restrições de participação são problemas que um indivíduo pode
enfrentar ao se envolver em situações de vida.
Fatores ambientais compõem o ambiente físico, social e de atitude
nos quais as pessoas vivem e conduzam sua vida.
E é importante que um psicólogo tenha este conhecimento.
Tendo o duplo propósito de utilização em várias disciplinas e em
diferentes setores, seus objetivos específicos, interligados entre si, requerem a
construção de um sistema relevante e útil, que possa aplicar-se em âmbitos
distintos: na política de saúde, na avaliação da qualidade da assistência e
avaliação das consequências em diferentes culturas. São os seguintes:
Apresentar uma base científica para a compreensão e o estudo da saúde e dos
estados com ela relacionados, bem como os resultados e suas determinantes;
estabelecer uma linguagem comum para descrever a saúde e os estados com
ela relacionados, para melhorar a comunicação entre os diferentes usuários,
tais como profissionais de saúde, investigadores, legisladores de políticas de
saúde e a população em geral, incluindo as pessoas com deficiência; permitir
a comparação dos dados entre países, entre as disciplinas de saúde, entre os
serviços e em diferentes momentos ao longo do tempo; proporcionar um
esquema de codificação sistematizado de forma a ser aplicado nos sistemas
de informação da saúde.
Dispondo de um amplo leque de aplicações, o surgimento da CIF foi
um marco de referência conceitual. É ainda um modelo de atendimento
multidisciplinar clínico, servindo para as várias equipes e os vários recursos
de que dispõem os serviços,tais como médico, psicólogo, terapeuta,
assistente social etc. Passa a ser uma perspectiva positiva, considerando as
atividades de alguém com deficiência que, mesmo com ela, pode
desempenhar, assim como sua participação social, sendo que a
funcionalidade e a incapacidade dos indivíduos são determinadas pelo
contexto ambiental onde as pessoas vivem. Trata-se da mudança de
paradigma, pautando um novo pensamento para quem trabalha com pessoas
com deficiência e a incapacidade, constituindo um instrumento importante
para avaliação das condições de vida e para a promoção de políticas de
inclusão social.
NOMENCLATURA CORRETA: PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA
Muitos ainda usam expressões como “pessoas portadoras de
deficiência”. Aqui no Brasil essa expressão não é mais utilizada, pois se
entende que a pessoa com deficiência não está portando nada. Neste artigo,
como em outros tantos trabalhos meus, usarei o termo mais aceitável em
Língua Portuguesa. Segundo os movimentos mundiais, incluindo o Brasil,
após amplos debates, o nome pelo qual essas pessoas desejam ser chamadas é
“pessoas com deficiência”, isso em todos os idiomas.
Esse termo foi adotado como sendo o correto pela Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde-CIF, que é da
Organização Mundial de Saúde de 2003, Anexo V da edição brasileira. Em
seguida, foi incorporado ao texto da Convenção Internacional para Proteção e
Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência, aprovada
pela Assembleia Geral da ONU, em 2005, e promulgada, posteriormente,
pela Lei Nacional de todos os Países-Membros. Desta forma, onde estiver
escrito “pessoas portadoras de deficiência” ou, até mesmo, “portadores de
deficiência”, singular ou plural, deverá ser entendido “pessoa(s) com
deficiência”.
 
O PSICÓLOGO E O DESAFIO DE INCLUIR
Creio que a primeira grande mudança precisa ser nos bancos
acadêmicos. Defendo para essas disciplinas o título Psicologia e Pessoas com
Deficiência. Não temos a necessidade de sustentar a existência de uma
subárea específica chamada Psicologia da Deficiência (ou em pior grau,
manter-se o título Psicologia do Excepcional). Que as disciplinas acadêmicas
que ministram essa temática deixem de ser meramente uma obrigação
curricular e teórica a cumprir na grade dos cursos de graduação em Psicologia
no Brasil. É necessário desenvolver uma nova mentalidade em estimular uma
linha de trabalho, no qual o papel do psicólogo seja intervir na busca da
superação das limitações.
Para os psicólogos já formados os desafios também são muitos.
Temos mais de 46 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no país.
Precisamos gerar psicólogos mais preparados para atendê-las em suas
necessidades específicas e, em muitos casos, psicólogos para serem o elo
dessa inclusão social, mediadores entre o real e o ideal. Considerando o
grande número de pessoas, hoje em qualquer lugar que um psicólogo for
atuar, deparará com esse público: se for para área organizacional, as empresas
devem ter uma cota mínima dessas pessoas contratadas; no setor educacional
está sendo discutido, implementado e garantido, por força da lei, a inclusão
escolar; no setor hospitalar, elas ficam doentes como as demais; na clínica,
mesmo se o psicólogo não atender diretamente essas pessoas, atenderá seus
parentes.
Na inclusão, as iniciativas são da sociedade. E a Psicologia tem muito
a colaborar nesse processo, onde a sociedade se adapta para poder incluir em
seu contexto as pessoas com deficiência. Mas, por outro lado, essas mesmas
pessoas precisam ser preparadas para assumir seus papéis na sociedade, o que
abre várias possibilidades de atuações psicológicas.
Será uma forma de parceria entre toda a sociedade, visando
equacionar problemas, decidindo sobre soluções, efetuando equiparações de
oportunidades para todos. Estaremos, assim, realmente criando no
relacionamento prático entre a Psicologia e pessoas com deficiência, na busca
do ser humano por de trás da pessoa com qualquer tipo de limitação: suas
reais necessidades, interações sociais, educacionais, relacionamentos
familiares e afetivos, necessidades de atividades profissionais e, sobretudo,
suas verdadeiras potencialidades a serem estimuladas de forma individual e
coletiva.
O QUE É EDUCAÇÃO INCLUSIVA
 
Talvez esta seja a primeira dúvida: O que é Educação Inclusiva?
Historicamente, pessoas com deficiência ficaram por muito tempo
escondidas do convívio social até que, algumas décadas atrás, nasceu o
conceito de integração social. Surgiram, por exemplo, entidades, clubes
sociais especiais, associações desportivas e centros de reabilitação dedicados
a elas. A intenção principal da integração social era preparar essas pessoas
para ingressarem e conviverem em sociedade como todos nós.
No ano de 1994, surgiu a “Declaração de Salamanca – Princípios,
Políticas e Práticas em Educação Especial”, proclamada na Conferência
Mundial de Educação Especial sobre Necessidades Educacionais Especiais.
Esse documento reafirmou o compromisso para com a “Educação para
Todos”, reconhecendo a necessidade de providenciar educação para pessoas
com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino.
Assim, um novo conceito ganhou forças: a inclusão escolar e social.
Antes, essas pessoas eram habilitadas ou reabilitadas para fazer todas as
coisas que as demais por meio da integração social e passavam a conviver
conosco em sociedade. Agora, na inclusão escolar e social, as iniciativas são
nossas. Somos nós que estamos nos preparando, criando caminhos e
permitindo que elas venham conviver conosco.
Por este motivo, cada vez mais vemos crianças e pessoas com
deficiência em nossas escolas, nos espaços de lazeres e em todos os lugares
da vida diária. Devemos estar preparados para essa convivência, aceitando as
diferenças e a individualidade de cada pessoa, uma vez que o conceito de
inclusão mantém este lema: Todas as pessoas têm o mesmo valor.
A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA A
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Desde meados do século XIX, acentuando-se mais na década de 1950,
houve em todo o país, uma preocupação em proporcionar um atendimento
especializado em várias ações para pessoas que apresentam limitações e
deficiências mais acentuadas. E a Educação Especial constitui numa dessas
ações, ocorrendo basicamente de duas maneiras: Via comum com raras
iniciativas, através dos mesmos recursos e serviços geralmente organizados
para todos. E a outra, via designada como Especial, mediante a utilização de
auxílios e serviços especiais que não estavam disponíveis nas situações
comuns de educação.
Durante muitas décadas de isolamento e nos primeiros anos de vida, a
criança com deficiência não tinha maiores problemas, vivendo em torno da
família, sendo assistida e recebendo toda a proteção do lar. Mas ao atingir a
idade escolar, iniciava-se o dilema: a procura de escolas especializadas com
vagas, ou mesmo uma de ensino regular que o aceitasse em seu quadro de
alunos. Dilema, porque, como em todos setores que envolvem a questão
deficiência, a Educação Especial também sempre enfrentou problemas.
Falta de verbas federais, estaduais e municipais, poucos centros
especializados, professores com formações precárias. Escolas despreparadas
para integrar esses alunos em salas comuns de aula. Crianças não
conseguindo ser orientadas, acabavam sendo isoladas em Classes Especiais,
encaradas com preconceitos e discriminações. Mesmo com boa intenção de
alguns órgãos responsáveis, estes, estavam de mãos atadas, devido à falta de
recursos e o desinteresse pelos poderes governamentais.
Problemas a parte, a Educação Especial sempre foi ministrada em
vários locais: em escolas residenciais, em hospitais, em casa, em internatos,
escolas especiais, classes especiais, em salas de recursos adequados,
pensionatos para alunos externos ou através de planos coorporativos. Porém,
sempre houveram dois principais recursos no Brasil: As Escolas e Classes
Especiais. Essa última mantida em escolas comuns (estaduais e municipais),
abrigando crianças classificadasnas categorias de suas deficiências. Em
alguns casos, essas Classes serviam/servem de auxílio, onde o aluno
frequenta meio período na classe comum e meio na Classe Especial.
A clientela na Educação Especial é diversificada, indo muitas vezes,
de encontro às necessidades e condições educacionais e condições individuais
de cada aluno, indicando se esse deve receber a Educação Especial, e não
apenas a presença de uma deficiência ou superdotação, tomadas estas como
condições individuais. São crianças que, mesmo com suas limitações, estão
sempre prontas para brincar, correr, jogar bola, gritar, rir, fazer travessuras e
se for preciso, até brigar. Por outro lado, também são crianças muito
carinhosas e às vezes carentes. Porém para desenvolver todas essas
qualidades e tudo que possuem de bom, precisam de um carinho e atenção
mais intensos: É aqui que entendia-se que entra o papel da Escola Especial.
Seu programa escolar era dirigido a crianças de 6 a 16 anos com
algum tipo de deficiência, que não “conseguiam acompanhar” o currículo das
escolas comuns, o que era um mito, pois eram vistos em primeiro plano, só
pelo que “eles não podiam ou conseguiam fazer”. Claro que, segundo
conceitos da época, necessitavam de uma metodologia adequada, como a
criança deficiência visual que usa o alfabeto em Braille: a auditiva aprende
através do alfabeto digital, onde cada movimento de mão corresponderá a
uma letra; a criança deficiência física poderá normalmente acompanhar o
currículo comum escolar e dependendo de sua gravidade, o uso de próteses
(braço-mecânico) pode facilitar seus movimentos; crianças com deficiências
motoras (paralisado cerebral) já contam com uma série de recursos que foram
caracterizando esse atendimento. E as crianças com deficiência intelectual
eram classificadas por grau, educáveis e as treináveis em alguma profissão ou
atividade de dia-a-dia.
Todas as escolas especializadas, ofereciam/oferecem um treinamento
pedagógico (alfabetização), como treinamento da fisioterapia,
fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicológico e profissionalmente para o
mercado de trabalho.
São inúmeras as atividades periódicas de uma instituição. Serviços
diretos ou indiretos, realizados pelos professores e todos aqueles que
trabalham na escola.
PROFISSIONAIS DA ÁREA
Com relação aos profissionais, há no mercado de Educação uma
carência de profissionais especializados nesta área. Isto constitui um grande
desafio aos educadores, seja em nível de sondagem de aptidões, iniciação
para o trabalho, aprendizagem profissional metódica, qualificação ou
habilitação profissional. A ação educacional tem sido, entre nós, de difícil
concretização.
A “mão-de-obra” especializada na Educação Especial sempre foi uma
grande dificuldade. Não há profissionais para tal e os que existem, são muitos
mal remunerados, devido à carência e problemas financeiros das entidades.
Para trabalhar nessa área, um profissional tem que estar muito bem
preparado. Muitas vezes a realidade de sua classe ou do aluno é bem
diferente daquilo que ele aprendeu em seu curso. O professor acaba por
adotar atitudes que refletem muito mais aspectos pessoais do que preparação
técnica. Muitas vezes um profissional tende a se fixar numa esfera emocional,
que o leva a assumir vários papéis (médico, enfermeiro, psicólogo, assistente
social, atendente e, é comum, o papel de mãe). Sofre também a falta de outros
profissionais mais especializados em sua volta para orientação, troca de
informações ou ideias.
Mas lidar com crianças com deficiência é algo que exige muita
dedicação e, sobretudo, amor. A arte de reabilitar - tanto pedagógico como
profissionalmente – é algo muito gratificante. Ao ver o aluno com alguma
limitação ou algo parecido, ser incluído socialmente, será a maior
recompensa a esses profissionais.
LEI BRASILEIRA DA INCLUSÃO: SAIBA
O QUE MUDA NO ENSINO
 
Após 15 anos de tramitação no Congresso Nacional, foi sancionada a
Lei Brasileira de Inclusão, um verdadeiro avanço na inclusão de pessoas com
deficiência na sociedade. O documento entra em vigor no dia 2 de janeiro de
2016 e prevê mudanças em diversas áreas, como trabalho e educação. A lei
foi relatada pela deputada Mara Gabrilli, na Câmara dos Deputados, e pelo
senador Romário, no Senado, e dá seis meses para instituições públicas e
privadas se adaptarem antes de entrar oficialmente em vigor.
A Lei Brasileira de Inclusão conseguiu reformular toda a legislação
brasileira, alterando leis que não atendiam ao novo paradigma da pessoa com
deficiência ou que simplesmente a excluíam de seu escopo. Com a ajuda da
sociedade conseguimos alterar, por exemplo, o Código Eleitoral, o Código de
Defesa do Consumidor, o Estatuto das Cidades, Código Civil, a CLT… Pense
que em todas essas leis a pessoa com deficiência, de alguma forma, não era
assistida – muitas vezes era até excluída. Além disso, não podemos deixar de
falar que a sanção da LBI é uma conquista não só das pessoas com
deficiência, mas da democracia.
 
FOCO NA ACESSIBILIDADE
 
Mara explica que um dos mais notáveis efeitos desta lei é que ela
muda a visão sobre o conceito de deficiência, deixando de ser um atributo à
pessoa e passando a ser o resultado da falta de acessibilidade que a sociedade
e o Estado oferecem. “u seja, a LBI mostra que a deficiência está no meio,
não nas pessoas.
Justamente por isso, muitas mudanças dizem respeito à
acessibilidade, como:
Cinemas e cursos de idiomas e informática deverão oferecer
materiais e recursos de acessibilidade, incluindo livros.
Os hotéis deverão ter 10% de dormitórios acessíveis, e um número
mínimo deve ser reservado à condomínios e moradias que permitem
uma vida independente para pessoas com deficiência.
Para usuários de cadeiras de rodas, os que usam próteses ou qualquer
tipo de material especial no cotidiano, o FGTS poderá ser sacado
para aquisição desses itens.
O Benefício de Prestação Continuada (BPC), um benefício da
Política de Assistência Social, que prevê o pagamento de um salário
mínimo para idosos acima de 65 anos e pessoas com deficiência,
passa por adaptações no critério para maior integração das 50
milhões de pessoas com deficiência no Brasil.
A criação de um novo benefício, o Auxílio Inclusão, que garante uma
renda extra para o cidadão com deficiência que entrar para o mercado
de trabalho.
 
A LBI E O ENSINO
 
Tal qual toda criança, as com deficiência têm direito a um ensino de
qualidade e que atenda às suas necessidades, tanto que o tema também foi
abordado na lei sancionada. Apesar de ser proibido por um decreto do ano
passado, casos surgiram de escolas que cobravam uma taxa extra dos pais
para o cuidado dos pequenos ao invés de investirem em profissionais
capacitados, colocando a inclusão dos filhos nas mãos dos familiares.
Agora, como uma forma de garantir a igualdade desses direitos, a LBI
conta, mais uma vez, com a proibição de cobranças extras de alunos com
deficiência, e esse veto se estende também aos planos de saúde.
A oferta de profissionais de apoio escolar, claro, também é defendida
no documento, uma vez que o objetivo é ter uma equipe totalmente preparada
para os cuidados da criança na escola, tirando dos pais uma preocupação a
mais, que deveria, desde o começo, ser do próprio Estado.
Até mesmo o currículo do ensino superior adaptações, agora sendo
obrigatória abordar disciplinas sobre o tema.
AS BASES PSICOLÓGICAS PARA A
INCLUSÃO ESCOLAR
Neste capítulo quero mostrar de forma geral, a obra daquele que
considero o maior pensador sobre Inclusão Social e Escolar: Lev
Semenovitch Vygotsky (1896-1934), cientista e psicólogo bielorrusso.
Pensador importante em sua área e época, foi pioneiro no conceito de que o
desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações
sociais e condições de vida. Veio a ser descoberto pelos meios acadêmicos
ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934, por
tuberculose, aos 37 anos.
Hoje fala-se e promove-se muito a chamada Educação Inclusiva, uma
proposta pedagógica surgida no ano de 1994, com a “Declaraçãode
Salamanca – Princípios, Políticas e Práticas em Educação Especial”,
proclamada na Conferência Mundial de Educação Especial sobre
Necessidades Educacionais Especiais, que afirma em seu segundo parágrafo:
“Toda criança tem direito fundamental à educação e deve ser dada a
oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem. (...)
Aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola
regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na
criança, capaz de satisfazer a tais necessidades. Escolas regulares que
possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de
combater atitudes discriminatórias, criando-se comunidades acolhedoras,
construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além
disso, tais escolas proveem uma educação efetiva à maioria das crianças para
que aprimorem a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo
o sistema educacional”.
Mais quais são as bases psicológicas que pautam a Educação
Inclusiva?
Quem lê “Obras Escolhidas, Volume V, Fundamentos de
Defectologia”. com textos escritos nas décadas 1920/1930 pelo psicólogo
bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934), onde Vygotsky, descobrirá vários
temas ligados à pessoas com deficiência. Notará que ele tenha foi o primeiro
pensador a abordar ideias e conceitos centrais para um projeto de inclusão
escolar. E isto fica bem claro no capítulo terceiro, “Acerca da psicologia e da
pedagogia das deficiências infantis”, opondo-se eloquentemente contra a
segregação escolar desses alunos.
Apoiando-se em sua teoria sócio-histórica e do desenvolvimento infantil e
humano em geral, Vygotsky defendia a sócio-gênese como a condição para
que a criança passe por transformações essenciais, conseguindo desenvolver
suas estruturas humanas fundamentais do pensamento e da linguagem na
qualidade das interações sociais em seu grupo (sociedade, família, escola,
etc.). E uma criança com algum tipo de deficiência sendo isolada no âmbito
familiar, escolar ou comunitário, na ótica vygotskiana, muito mais que apenas
um problema social ou ético, poderia causar-lhe prejuízos psicossociais
delicados na dinâmica sócio-gênica de seu desenvolvimento infantil sadio.
 
POSIÇÕES POSITIVAS
É necessário intensas e positivas trocas psicossocias que fortaleçam
esse desenvolvimento. E quanto mais for a segregação social - no círculo
básico, a família, primeiro grupo que pratica a exclusão, com atitudes de
rejeição ou super-proteção -, por meio da exclusão escolar ou da
incompreensão comunitária, maiores serão os prejuízos no desenvolvimento
intelectual, afetivo, social e moral dessa criança.
Desde a primeira fase de seus escritos, Vygotsky já se opunha contra
o envio sistemático das crianças com deficiência para as escolas especiais,
cujo projeto pedagógico teria uma orientação demasiadamente terapêutica e,
com efeito, o afastamento crescente da criança do ensino regular. Os maiores
prejuízos desses alunos estaria no plano social. Essas crianças segregadas
ficavam debilitadas das trocas interpsicológicas, fundamentais às condições
do desenvolvimento psíquico que derivam da qualidade das trocas sociais. E
alunos com deficiência incluído no ensino regular poderia significar ganho
para todas as partes envolvidas.
Uma das principais criticas feitas por ele às escolas especiais era por
suas rotinas enfadonhas, artificiais e nada interessantes. A falta de atividades
com sentidos de vida aos seus alunos, relacionadas a jogos, ao trabalho, ao
desejo e a vivencia de uma linguagem viva. Falta de estímulos para que
superassem suas limitações e dificuldades, formando uma concepção de
mundo, a aquisição de conhecimentos fundamentais para entenderem as
relações com a vida.
Vygotsky combateu sistematicamente uma proposta de formação de
grupos com igualdade nos perfis, que se homogeneizarem a partir
particularmente dos critérios de condição intelectual e de desempenho
acadêmico. Por meio da individualidade de cada criança, surgiriam as trocas
psicossociais, enriquecendo e contribuindo para o crescimento de cada um no
grupo.
Essa mesma visão da importância de educar essas crianças em escolas
comuns, Vygotsky teve com relação as que tinham deficiências intelectuais
que, segundo ele, nem todas as funções estavam prejudicadas ao mesmo
tempo. Mesmo que e as funções psicológicas superiores (percepção, atenção
memória) dessas crianças encontrassem uma barreira em seu
desenvolvimento, isso não ocorreria de forma mecânica, podendo encontrar
outras vias de compensações nas relações sociais. Em um processo de
compensação cada função mental tem influência de modo particular e
qualitativo, alimentado pelo contato social, construído culturalmente. Com
isso a criança poderia se alto estimular.
“A socialização da criança não só ativa e exercita suas funções
psicológicas, como é a fonte do surgimento de uma conduta determinada
historicamente. E a relação social é a fonte de desenvolvimento dessas
funções, particularmente na criança com deficiência mental” (VYGOTSKY,
1989, p. 109).
Se educadas no ensino especial, essas escolas tendiam a se acomodar,
adaptando-se às condições e graus de dificuldades desses alunos em
desenvolver pensamentos abstratos. Sua aprendizagem era fundamentada
apenas no caráter concreto e na visualização. E, para Vygotsky (1989), “a
tarefa da escola consiste em não adaptar-se à deficiência, mas sim em vencê-
la. A criança com deficiência intelectual necessita mais que a normal que a
escola desenvolva nela os processos mentais, pois, entregue à sua própria
sorte, ela não chega a dominá-los” (p. 119).
Dando uma olhada geral na teoria Sócio-Histórica de Vygotsky, fica
fácil entender esses pontos de vistas que ele também tinha em particular com
as crianças com algum tipo de deficiência. Defendia que a base do
desenvolvimento do indivíduo é resultado de um processo sócio-histórico.
Enfatizava o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento,
sendo questão central a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito
com o meio. Suas concepções sobre o processo de formação de conceitos
remetem às relações entre pensamento e linguagem. No processo cultural
ocorre a construção de significados pelos indivíduos, sendo papel da escola a
transmissão de conhecimento, que é e natureza diferente daqueles aprendidos
na vida cotidiana.
Para Vygotsky, o funcionamento do cérebro é uma base biológica e
suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento
humano. Essas concepções fundamentam sua ideia de que as funções
psicológicas superiores – pensamento, memória, percepção e atenção,
colocando o pensamento tem origem na motivação, interesse, necessidade,
impulso, afeto e emoção -, são construídas ao longo da história social do
homem, em sua relação com o mundo. Desse modo, as funções psicológicas
superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes,
mecanismos intencionais e dependem de processos de aprendizagem.
A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos, representa um
salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as
formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do
conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são
socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto, sociedades e
culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas.
Por meio da cultura, o indivíduo têm os sistemas simbólicos de
representação da realidade, onde ele estará em constante processo de
recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações. O
processo de internalização é fundamental para o desenvolvimento do
funcionamento psicológico humano. A internalização envolve uma atividade
externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna, é
interpessoal e se torna intrapessoal.
E toda criança – com ou sem deficiência – não deve ficar de fora ou ser
isolada desse processo de aprendizagem que interage com o
desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas de desenvolvimentoproximal que é a distância entre aquilo que a criança faz sozinha e o que ela é
capaz de fazer com a intervenção de um adulto; potencialidade para aprender,
que não é a mesma para todas as pessoas; ou seja, distância entre o nível de
desenvolvimento real e o potencial, nas quais as interações sociais são
centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e
desenvolvimento, inter-relacionados; assim, um conceito que se pretenda
trabalhar, como por exemplo, em matemática, requer sempre um grau de
experiência anterior para a criança.
Em uma visão geral do pensamento e escritos de Vygotsky, podemos
concluir que, culturalmente, sempre atribuímos uma série de qualidades
negativas à pessoa com deficiência, focando principalmente as dificuldades
de seus desempenhos. Pouco conhecermos das suas particularidades
positivas. Mas para Vygotsky (1989), “é impossível apoiar-se no que falta a
uma criança, naquilo que ela não é. Torna-se necessário ter uma ideia, ainda
que seja vaga, sobre o que ela possui, sobre o que ela é” (p. 102).
Enquanto profissionais de psicologia, educação ou áreas afins,
precisamos perder essa cultura de focar a deficiência em si mesma, no que
falta na pessoa e buscar outros entendimentos de como se apresenta seu
processo de desenvolvimento. Ter um conhecimento classificatório geral das
deficiências é importante, mas também precisamos formar profissionais que
consigam transpor além desse conhecimento teórico. Psicólogos e pedagogos
que estudem como essas pessoas interagem com o mundo; como organizam
seus sistemas de compensações, as trocas, as mediações que auxiliam na sua
aprendizagem; a participação ou exclusão da vida social; a internalização dos
papéis vividos; as concepções que se tem sobre si mesmo; a sua história de
vida. São propostas lançadas já há muitas décadas por Vygotsky.
 
ATENÇÃO ÀS HABILIDADES E OS
EFEITOS POSITIVOS DA DEFICIÊNCIA
NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Em “Obras Completas – Elementos da Defectologia”, Vygotsky
abordou de forma pioneira e sistemática assuntos relacionados à criança ou
pessoa com deficiência com grande significado, gerando ideias e um novo
modo de ver tais questões, descrevendo que essas pessoas têm dos tipos de
deficiências:
Deficiência primária – trata-se da deficiência propriamente dita –
impedimento, dono ou anormalidade de estrutura ou função do
corpo, restrição/perda de atividade, sequelas nas partes anatômicas
do corpo como órgãos, membros e seus componentes, incluindo a
parte mental e psicológica com um desvio significativo ou perda.
Deficiência secundária – são as consequências, dificuldades e
desvantagens geradas pela primária. Ou seja, tudo aquilo que uma
pessoa com deficiência não consegue realizar em função de sua
limitação. Uma situação de desvantagem às demais pessoas sem
deficiência, podendo o indivíduo encontrar limitações na execução
de atividades, restrições de participação ao se envolver em situações
de vida em ambiente físico, social e em atitude no qual as pessoas
vivem e conduzam sua vida.
A partir dessa divisão, Vygotsky passou a defender que profissionais
de saúde e educadores precisam focar suas atividades em ajudar a pessoa a
superar suas deficiências secundárias e não ficar focando nas deficiências
primárias.
De todo o pensamento vygotskyriano, talvez a síntese mais
interessante seja esta. Concentrando sua atenção nas habilidades que
poderiam formar a base para o desenvolvimento de suas capacidades
integrais e partindo dos pressupostos gerais que orientavam a sua concepção
do desenvolvimento de pessoas consideradas normais, Vygotsky focalizou o
desenvolvimento de criança com deficiência, destacando-lhes os aspectos
qualitativamente diversos, não apenas de suas diferenças orgânicas, mas
principalmente de suas relações sociais.
Por meio de uma análise de uma compreensão dialética do
desenvolvimento, na qual os aspectos tidos como normais e especiais se
interpenetram constituindo os sujeitos, afirmava que essas pessoas não são
menos desenvolvidas em determinados aspectos que as sem deficiência e sim,
desenvolvem-se de outra maneira. Suas forças eram muito mais importantes
do que suas faltas. Rejeitava as descrições simplesmente quantitativas, em
termos de traços psicológicos refletidos nos testes psicológicos, destacando
que estes instrumentos apenas indicavam uma visão incompleta ou
unidimensional sobre a criança. Preferia, então, confiar nas descrições
qualitativas da organização de seus comportamentos.
Ao nascer ou adquirir uma deficiência, a criança passa a ocupar uma
certa posição social especial, levando-a ter relações com o mundo de maneira
diferente das que envolvem as crianças ditas normais. Para Vygotsky, junto
com suas características biológicas (núcleo primário da deficiência), começa
a constituir-se um núcleo secundário, formado pelas relações sociais, onde as
interações serão responsáveis pelo desenvolvimento das funções
especificamente humanas, surgindo as transformações das funções
elementares (biológicas). A criança, ao interagir com um mundo mediado por
signos, transformará tais relações interpsicológicas em intrapsicológicas.
Portanto, a consciência e as funções superiores se originaram na relação com
os objetos e com as pessoas, nas condições objetivas com a vida.
Vygotsky afirmava que uma deficiência era, para o indivíduo, uma
constante estimulação para o desenvolvimento intelectual. Se um órgão,
devido a uma deficiência funcional o mortológica, não é capaz de enfrentar
uma tarefa, o sistema nervoso central e o aparato mental compensam a
deficiência pela criação de uma super estrutura psicológica que permite
superar o problema. Os conflitos surgem a partir do contato da deficiência
com o meio exterior e podem criar estímulos para sua superação. Assim, as
deficiências poderiam causar limitações e obstáculos para o desenvolvimento
da criança, mas também estimularia processos cognitivos comultativos.
São o que ele intitulou de efeitos positivos da deficiência, caminhos
isotrópicos, no curso do desenvolvimento que permitem atingir determinados
objetivos ou funções, é que marcam a singularidade do desenvolvimento da
pessoa com deficiência. Embora o desenvolvimento apresente algum desvio
fora da normalidade, seguindo caminhos especiais, para Vygotsky as leis que
regem o desenvolvimento cognitivo e psicológico dessa criança são as
mesmas que guiam o desenvolvimento das crianças ditas normais. O grau de
normalidade depende de sua adaptação social. Destacava em todo o seu
estudo a deficiência, não como obstáculo, mas como um desafio e processo
criativo é a luta do homem com tudo que o limita.
O TRABALHO JUNTO À EQUIPE
ESCOLAR
 
Em nosso trabalho junto aos professores devemos incentivá-los
sempre que for preciso, deve-se dividir dúvidas com a coordenação e com os
colegas quando receber uma criança em fase de inclusão. Jamais reduzir o
aluno à sua deficiência. Apesar de ter características peculiares, ele tem
possibilidade e carrega uma história e muitas expectativas que o tornam
único.
Sempre que possível, podemos conversar constantemente com outros
especialistas que tratam criança, pois eles podem ajudar a pensar em
estratégias para lidar com o aluno. E nós psicólogos devemos está preparados
para receber esses professores para esses diálogos. Não se esquecer, porém,
de que quem sabe como ensinar a criança é o professor.
No geral, É preciso que estratégias sejam traçadas, passando pelo
preparo de professores e alunos sem deficiência para receberem colegas com
deficiência. Que se desenvolvam políticas de Inclusão Escolar com o seguinte
planejamento: a) conhecendo o perfil dos alunos a serem incluídos;
b) suas reais necessidades;
c) o desenvolvimento de estudos, gerando conhecimento acerca das
práticas e procedimentos que melhor atenderão às suas
peculiaridades, necessidades e possibilidades; d) Desenvolver
projeto pedagógico consistente com todos os dados colhidos; e)
realizar um bom projeto pedagógico que valorize a cultura, a história
e as experiências de todos.
Esse projeto pedagógicoprecisará oferecer atendimento educacional
especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no mesmo
local. Por exemplo, uma criança cega, deverá assistir às aulas com os colegas
que enxergam e, no contraturno, receberá treino de mobilidade, locomoção,
uso da linguagem braile e de instrumentos como o soroban, para fazer contas.
Tudo isso ajuda na sua inclusão dentro e fora da escola.
Por outro lado, embora já fomos criticados por este ponto de vista, a criança,
o jovem com deficiência, também precisa ser preparada e acompanhada no
processo de Inclusão, por estar entrando, digamos, em um universo diferente
ao seu. E, estando preparada, ela poderá tanto se adaptar mais facilmente ao
meio, como estar “madura” para casos desde pequenas frustrações, quanto, ao
extremo, casos de rejeição e fracasso do processo inclusivo, gerando outros
problemas, principalmente em seu psicológico.
Muitas escolas públicas alegam não receber verbas governamentais e
apoio pedagógico para promoverem a Inclusão. Mas elas podem e devem
fazer parcerias com entidades de Educação Especial, disponíveis na maioria
das cidades, pois contará com um serviço especializado. E isto pode ser
muito positivo.
Posso dizer isto com conhecimento de causa. Passei os primeiros onze anos
da minha vida dentro de uma Escola de Educação Especial, numa época em
que o isolamento era ainda mais latente. Paralelo a educação, eu precisava de
terapias, treinamentos de atividades da vida diária, estimulações físicas,
motoras, fonoaudiólogas e psicológicas, dentre outras, sendo assistido por
profissionais especialistas em diversas áreas. E hoje digo que tudo foi válido,
pois quando fui transferido para uma escola regular, estava realmente
preparado para uma nova etapa. Talvez aqui posso levantar um outro
equivoco cometido pela política da Inclusão Escolar: ignorar os benefícios
também oferecidos pela Educação Especial!
 
 
TRABALHANDO A ANSIEDADE DOS
PROFESSORES NO PROCESSO DE
INCLUSÃO ESCOLAR
Hoje falamos muito de Inclusão Social ou Escolar, esse novo modelo
social que retirou todo aquele caráter médico que envolviam questões
referentes às pessoas com deficiência. Enquanto psicólogo, tenho notado nos
discursos de várias pessoas que falar em Inclusão Escolar também se esbarra
em questões culturais e/ou até mesmo um comodismo. São muito comuns
professores dizerem que não estão preparados para receberem alunos com
deficiência. Não há uma maldade nisto, mas sim certo estado de ansiedade e
em muitos, mesmo que seja de forma inconsciente, um mecanismo de defesa
contra algo desconhecido.
Para o a maioria dos professores, assim como para grande parte da
população, ainda há aqueles velhos conceitos e culturais referentes às pessoas
com deficiência, tais como associadas ao estado de doença, que não se
desenvolveram ou aprendem como as demais – mas ora, o desenvolvimento e
a aprendizagem humana é individual e ninguém tem um modelo a seguir,
conforme falarei mais abaixo.
De fato, nenhum professor estar preparado para trabalhar com a
Inclusão Escolar até momento que chegue à sua turma um aluno a ser
incluído. Ninguém em nenhuma situação estar preparado para resolver algo
que nunca vivenciou – o que muitas vezes exige conhecimento de
experiências anteriores. Será neste momento que veremos realmente quem é
o educador de verdade. O acomodado alegará não estar preparado – pois
rejeitar um aluno com essa alegação será muito mais fácil e rápido se livrar
da questão.
Mas o verdadeiro professor, consciente de seu compromisso e desafio
ético de educar a todos que pertencerem ao seu alunado, primeiro o receberá;
depois irá se informar, buscar o maior número possível de informações e
recursos para promover o desenvolvimento global daquele aluno. Aqui
poderá surgir outro tipo de ansiedade. A direção na expectativa de mostrar
resultados, o professor querendo rapidamente encontrar soluções de como
trabalhar com aquele aluno.
A moderação que enquanto psicólogo podemos ao professor, é que
primeiro receba o aluno e nos primeiros dias vão se conhecendo mutuamente,
pegando confiança e o jeito um do outro. Ao mesmo tempo em que for
buscando o maior número possível de informações sobre o aluno e formas de
trabalhar com ele, o professor descobrirá naturalmente no dia-a-dia suas
próprias técnicas e adaptações de atuação em cada caso.
Afinal, sendo a Educação um processo feito por etapas, por que diante
da Inclusão Escolar muitos procuram respostas rápidas? O reflexo da vida
moderna que nos cobram resultados e gerando nossas ansiedades não podem
entrar na sala de aula inclusiva. A ansiedade não fez matricula no inicio do
ano, portanto, ela não estar na lista de chamada!!!
Recapitulando um pouco o que já falei sobre as bases psicológicas da
Educação Inclusiva, digo desenvolvimento global é porque entendo a
Inclusão Escolar não só como o processo de transferir o conteúdo ao aluno,
mas também promover de forma natural a interação social entre todos, um
sistema de cooperação e convivência entre eles, noções de respeito entre as
diferenças e, dentre outros aspectos, o desenvolvimento psicomotor dessas
crianças. Isso porque quando elas vêem seus colegas sem deficiência
realizando certas tarefas, serão estimuladas a imitarem e se auto-estimularão,
se superarão em suas próprias deficiências. Estímulos que não teriam se
ficassem em instituições especializadas entre alunos com deficiências
semelhantes, como dizia Vygotsky.
Essas informações podemos repassar aos educadores, assim como a visão
vygotstyguirana que essas pessoas têm dos tipos de deficiências: a
Deficiência primária e a Deficiência secundária (vide o capítulo anterior,
cujo conteúdo poderá ser repassado aos professores).
A partir dessa divisão, Vygotsky passou a defender que profissionais
de saúde e educadores precisam focar suas atividades em ajudar a pessoa a
superar suas deficiências secundárias e não ficar focando nas deficiências
primárias. Concentrando atenção e estimulando as habilidades das pessoas
com deficiência, podemos formar a base para o desenvolvimento de suas
capacidades integrais.
O grau de normalidade depende de sua adaptação social. Vygotsky
destacava em todo o seu estudo a deficiência, não como obstáculo, mas como
um desafio e processo criativo que alimenta os processos de superações, é a
luta do homem com tudo que o limita.
Talvez, conhecendo a visão que Vygotsky descrevia sobre as crianças
com deficiência, os professores poderão diminuir suas ansiedades que nada
mais são que a falta de um conhecimento prévio.
CAMINHOS DA AFETIVIDADE E O
HÁBITO DE PESQUISAR
 
Nos últimos anos tenho viajado pelo país fazendo palestras,
ministrado cursos e recebido muitas mensagens referentes à Educação
Inclusiva. E algo que sempre me incomoda é o fato de alguns professores
quererem transferir suas responsabilidades, dizendo que muito pouco tem
sido feito, a respeito da inclusão por parte do Governo ou por parte dos
dirigentes educacionais.
Ainda há muito da cultura paternalista de esperar que tudo venha de
cima, já pronto tanto no sentido de leis como de investimentos e recursos, e
com a Educação Inclusiva não tem diferente.
Outro ponto que noto nesse comportamento e discursos de várias pessoas e
professores é que falar em Inclusão Escolar ainda se esbarra em questões
culturais e/ou até mesmo um comodismo para não sair da zona de conforto. É
comuns os professores dizer que não estão preparados para receberem alunos
com deficiência. Não há uma maldade nisto, mas sim certo estado de
ansiedade e em muitos, mesmo que seja de forma inconsciente, um
mecanismo de defesa contra algo desconhecido.
Vou repetir um pouco o que eu já disse atrás...
Para o a maioria dos professores, assim como para grande parte da
população, ainda há àqueles velhos conceitos e culturais referentes às pessoas
com deficiência, tais como associadas ao estado de doença, que não se
desenvolveram ou aprendem como as demais. Mas ora, o desenvolvimento e
a aprendizagem humana é individual e ninguém tem um modelo a seguir.De fato, nenhum professor estará preparado para trabalhar com a
Inclusão Escolar até momento que chegue à sua turma um aluno a ser
incluído. Uma situação que ele nunca vivenciou – o que muitas vezes exige
conhecimento de experiências anteriores.
Será neste momento que veremos realmente quem é o educador de
verdade. O acomodado alegará não estar preparado – pois rejeitar um aluno
com essa alegação será muito mais fácil e rápido se livrar da questão. Mas o
verdadeiro professor, consciente de seu compromisso e desafio ético de
educar a todos que pertencerem ao seu alunado, primeiro o receberá, o que já
será o início da inclusão pela afetividade.
Afetividade se constrói pela convivência. E o professor disposto a
isto, recebe o aluno em fase de inclusão com o mesmo carinho que recebe os
demais. E depois buscará formas de trabalhar com ele.
Afetividade também significa sair da zona de conforto em busca de
querer aprender cada vez mais dentro de sua profissão. O professor,
educador, pedagogo, enfim, deve ser um eterno estudioso. Ler muito, buscar
cursos de formação ou aperfeiçoamento. E isso é algo que nós psicólogos
precisamos reforçar em nosso trabalho dentro de uma Equipe Escolar.
Assim como qualquer outro profissional, antigamente se fazia quatro
aos de uma faculdade e, em cima desses quatro anos, construía-se toda uma
carreira até se aposentar. Mas hoje, com um mundo tão dinâmico e em
constantes transformações, precisamos estar sempre descobrindo e
aprendendo mais.
E com a Educação Inclusiva não teve ser diferente. Este é o principal
conceito que quero precisamos destacar aos docentes: O professor precisa
criar e manter o hábito de pesquisar!
Detalhando, quero reforçar o dito acima. Quando um professor
receber alunos inclusivos, primeiro o acolha em sua sala e comece a conviver
com eles, criando laços, descobrindo um ao outro, professor e aluno, o que já
será uma pesquisa de campo. Paralelamente, vá ler sobre as deficiências e
reais necessidades de cada aluno inclusivo, procurar orientações de práticas
pedagógicas para se trabalhar com eles e toda a turma.
Possibilidades são muitas. E as informações nunca estiveram tão
disponíveis como antes. E de graça. Além das publicações que devem ter na
biblioteca de sua escola, basta o professor entrar no Google e achará muito
material seguro, no Youtube há milhares de vídeos sobre Educação Inclusiva,
práticas pedagógicas inclusivas, casos específicos, por exemplo.
Sobre não mais transferir a missão que é do professor para o Governo ou aos
dirigentes da escola, defendo que o processo de inclusão escolar só terá
sucesso se for realizada de baixo para cima. Das bases e com o envolvimento
de todos, sendo que um dos caminhos mais certos para a Educação Inclusiva
é a afetividade. Importante o professor se despir de seus preconceitos e abrir
os braços e receber alunos a serem incluídos.
Conhecimento elimina a ansiedade, trazendo segurança. E professor seguro
ama o que faz alimentado por gestos de afetividade, atingindo resultados
imagináveis!
 
EDUCAÇÃO INCLUSIVA É TER
PENSAMENTOS POSITIVOS E FOCADOS
 
Este é o conteúdo da palestra que tenho apresentado aos professores em
minhas palestras. Vou reproduzi-lo aqui para que você também o use em suas
intervenções ou dinâmicas junto a Equipe Escolar.
Por que ainda há educadores que se colocam contra ou temem a
Educação Inclusiva?
Essa pode ser uma questão cultural, quanto psicológica. Toda
mudança precisa vir de dentro para fora. Aceitar mudanças, seja qual for o
obstáculo, é muito mais difícil para quem tem baixa autoestima, uma
característica das pessoas que se sentem inadequadas para enfrentar os
desafios.
E a Educação Inclusiva é um desafio!
E professores que a temem não conhecem ou não acreditam em seus
potenciais e capacidade de dar resposta às questões e desafios da profissão.
Eles podem ter uma estrutura emocional pouco sólida que origina o
pessimismo e a negatividade, o que se reflete em sua profissão.
Nossa realidade atual, infelizmente, têm gerado pessoas
desmotivadas, sem energias, esperando que alguma coisa a motivem. Mas ao
contrário, a motivações só podem vir de dentro para fora.
Quais os caminhos?
Vencer nossas cresças limitantes. Para se trabalhar com inclusão
escolar o professor precisa pensar positivo, sobre o que ele é capaz de
conquistar e não sobre suas dificuldades ou medos.
Ter bastante clareza sobre o que deseja para sua profissão. Ficar
especificando em detalhes tudo aquilo que ele não quer ou não é capaz leva
um tempo infinito, além de consumir energias emocionais, as quais o
professor poderia estar canalizando e focando na busca de resultados positivo
e saudável que trará crescimento e complementará a sua vida, carreira e
desenvolvimento de seus alunos.
Então o primeiro passo para avançarmos na inclusão será fortalecer a
autoconfiança de nossos professores?
Exatamente. Precisamos evitar ficar relembrando, revivendo
mentalmente nossos medos e inseguranças diante dos desafios da inclusão.
Essa autoprisão significa ficarmos focando o pensamento no problema e não
em soluções.
O pensamento negativo parece tão avassalador, assumindo nosso
raciocínio, deixando pouco espaço de manobra, o que nos impede de refletir
acerca das alternativas possíveis.
Quanto maior a informação melhor em termos de segurança pessoal?
Sim. Acredito que, para encarar o desafio da Educação Inclusiva,
precisamos entendê-la completamente, tendo plena consciência de onde vêm
nossos medos, o que causou, o que significa.
Sempre iremos nos surpreender se descobrimos o quanto será eficaz
parar de pensar sobre o problema e começar a pensar em opções e soluções
potenciais.
Este é o lugar onde a palavra mágica “em vez” entra em cena.
A expressão “em vez” nos leva a refletir sobre o que queremos como
alternativa para o problema que enfrentamos.
O autoquestionamento também ajuda?
Sim, nesses momentos devemos nos perguntar:
O que eu quero em vez de isso?
O que eu tenho que fazer para mudar?
Quais potenciais alternativas?
Como eu gostaria que ocorresse essa mudança?
Quais caminhos percorrer para realizar essa mudança em termos de
inclusão?
Onde eu quero chegar enquanto professor?
Quando chegamos a algumas dicas específicas e respostas concretas,
começamos a fazer questionamentos acerca de nós mesmos, surpreendemo-
nos com os resultados apurados.
Pensar positivamente pode não se ter ainda formado o futuro, mas
sempre é melhor pensar sobre o que pode dar certo do que sobre o que pode
dar errado. Nossa tendência é de alcançar aquilo que pensamos. Você é
dirigido para, e muitas vezes obtém, aquilo que você pensa.
Uma Educação Inclusiva realmente verdadeira deve ser o objetivo de
qualquer educador a partir de agora?
Deve ser a partir de agora e sempre. Em qualquer seguimento da vida
temos vários sonhos e desejos que queiramos alcançá-los. Mas tudo só
acontece se tivermos estipulado objetivos e traçado metas para fazê-lo. E na
Educação não é diferente.
Muitos confundem um com o outro e por isso é importante saber a
definição e a diferença de objetivos e metas.
Objetivo é o mesmo que alvo, o propósito de realizar algo. O objetivo
fornece a direção do que se deseja fazer ou alcançar, servindo como guia. É a
posição que se deseja ocupar no futuro, o sonho que se deseja realizar.
Meta é o objetivo de forma quantificada. Algo que desejamos, sendo
possível ser medido. É alguma coisa que temos em mente para o futuro, mas
que seja determinado. Uma meta deve estar relacionada com o tempo que é
almejado para atingir e o valor e/ou a energia que deseja gastar para chegar
lá.
Aqui podemos traduzir uma meta como nos tornarmos professores
cada vez melhores preparados para promover a Educação Inclusiva.
Isto envolve o esforço que pretendemos empregar para conseguir
alcançar: Objetivo: ser um professor capaz de promover a Educação
Inclusiva Meta: criar o habito de sempre buscar conhecimento,
aperfeiçoamento e crescimento profissional...
Após a definição, separei algumas dicas para auxiliar na hora deobter
um resultado. São elas: Foco: Focar significa evitar distrações, concentrando-
se naquilo que realmente almeja. Ou seja, ser um professor capaz de
promover a inclusão escolar de qualquer aluno.
Disciplina: Pessoas que têm essa característica, têm a chave do
sucesso, já que essa representa o esforço, a determinação e a vontade de
alcançar sonhos. É o atributo que lhe impulsiona a lutar por seu objetivo e
meta, perseverando em busca do desejado.
Dedicação: Esta é de suma importância, pois está ligada a qualidade
da atividade, ou seja, o fato de a pessoa se propor a fazer aquilo da melhor
forma possível, para assim alcançar a meta de ser um professor cada vez
melhor e preparado para qualquer situação.
Confiança: É muito importante também saber que você é capaz de
conseguir. Afaste o medo da derrota e as lembranças negativas do que não
deu certo em experiências anteriores. Busque sempre crescer tanto como
pessoa quanto profissional, pois o único responsável pela conquista é você,
mantendo-se confiante que tudo dará certo. Seja positivo, otimista e lute
pelos seus sonhos, objetivos e crescimento profissional.
Qualquer coisa e tudo é possível se tivemos em mente as atitudes
positivas que sustentam os nossos sucessos. Se suas atitudes não o sustentam,
você pode querer considerar a sua automudança.
Mudando nossas mentes e atitudes, realmente mudamos nossas vidas.
Grande parte das pessoas perdem muito ou todo o seu tempo focando o lado
negativo de suas vidas, em experiências que não deram certo, ficando presas
como em um espiral, a comportamentos repetitivos e respostas tediosas e
ineficazes.
Mas nos concentrando em nossos desejos, objetivos e metas,
resultados positivos podem ser alcançados naturalmente e sem o degaste
físico ou mental que temos com pensamentos limitantes ou negativos.
QUESTÕES CULTURAIS...
O conceito que um professor tem de um aluno com deficiência pode
determinar o modo de relação e trabalhos entre ambos.
O aluno inclusivo, antes de sua deficiência ou limitações, precisará
ser visto como uma pessoa que têm desejos, expectativas e dificuldades.
E o professor deve acreditar que é capaz de promover o crescimento
de qualquer aluno, devendo estabelecer metas e cumpri-las, tendo em vista o
objetivo geral que é o de tornar o educando cada vez mais independente e
possivelmente produtivo.
Na contramão, a escola têm seus paradigmas em classificar “alunos
regulares” e “alunos especiais”.
Quebrar tais paradigmas, destruindo uma imagem e conceito de
“aluno padrão”, nivelando todos por iguais sem rótulos já será uma mudança
cultural, um grande passo para tornar uma Escola Inclusiva.
Aliás, uma realmente escola para todos, sem substantivos que façam
dela um exemplo a ser seguido.
A Escola não é algo acabada, estática. Como todo segmento da
sociedade, tem que estar em constante transformação, revendo suas ações
pedagógicas, adaptando-se aos novos tempos para sempre somar e nunca
excluir.
UMA ESCOLA REALMENTE PLURAL !!!
A Escola precisa ser um espaço comum de cidadania, livre exercício
político e espaço público de manifestações das diferenças, incorporando
todos os valores sem promover hierarquias.
Para finalizar quero deixar esta mensagem...
“Incluir não tem segredo. Basta receber um aluno, seja ele quem for.
Acolher com amor, ter a sensibilidade de perceber e pesquisar o que ele
realmente precisa de apoio para se desenvolver em todos os sentidos. Um
bom professor precisa ser um suporte seguro que lança seus alunos rumo às
infinitas possibilidades”.
A Inclusão Escolar é o grande desafio pedagógico do Século XXI...
E este desafio está em nossas mãos.
 
 
PROVISÃO DE OPORTUNIDADES
EQUITATIVAS A TODOS OS
ESTUDANTES
 
Falando agora especificamente sobre Educação inclusiva e sua
provisão de oportunidades equitativas a todos os estudantes, incluindo
aqueles com deficiências severas, para que recebam serviços educacionais
eficazes, com os necessários serviços suplementares de auxílios e apoios, em
classes adequadas à idade em escolas da vizinhança, a fim de prepará-los para
uma vida produtiva como membros plenos da sociedade. A Lei de Diretrizes
e Bases da Educação -LDB dá abertura também à atuação do psicólogo
quando diz que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado,
na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação”.
Dentro de várias possibilidades, muitas vezes os psicólogos dentro do
processo de Inclusão precisarão interceder nos Transtornos Globais do
Desenvolvimento ditos na LDB. Os TGD são distúrbios nas interações
sociais recíprocas que costumam manifestar-se nos primeiros cinco anos de
vida. Caracterizam-se pelos padrões de comunicação estereotipados e
repetitivos, assim como pelo estreitamento nos interesses e nas atividades. A
“Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento” (CID-10),
define nove categorias que formas o conjunto F.84: Autismo infantil,
Autismo atípico, Síndrome de Rett, Outro transtorno desintegrativo da
infância, Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a
movimentos estereotipados, Síndrome de Asperger, Outros transtornos
globais do desenvolvimento, Transtornos globais não especificados do
desenvolvimento.
Com relação à interação social, crianças com TGD apresentam
dificuldades em iniciar e manter uma conversa. Algumas evitam o contato
visual e demonstram aversão ao toque do outro, mantendo-se isoladas.
Podem estabelecer contato por meio de comportamentos não-verbais e, ao
brincar, preferem ater-se a objetos no lugar de movimentar-se junto das
demais crianças. Ações repetitivas são bastante comuns.
Os TGD também causam variações na atenção, na concentração e,
eventualmente, na coordenação motora. Mudanças de humor sem causa
aparente e acessos de agressividade são comuns em alguns casos. As crianças
apresentam seus interesses de maneira diferenciada e podem fixar sua atenção
em uma só atividade, como observar determinados objetos, por exemplo.
Na comunicação verbal, essas crianças podem repetir as falas dos
outros - fenômeno conhecido como ecolalia - ou, ainda, comunicar-se por
meio de gestos ou com uma entonação mecânica, fazendo uso de jargões.
Estas são orientações que nós psicólogos poderemos passar aos professores
e/ou orientadores pedagógicos. Começando por evitar atitudes que agravam
os problemas emocionais desses alunos: forçar a criança a ficar no espaço
sem dialogar: ridicularizar seus sentimentos; usar chantagens e subornos;
ignorar o medo para ver se a criança esquece.
Na escola, mesmo com tempos diferentes de aprendizagem, esses
alunos devem ser incluídos em classes com os pares da mesma faixa etária.
Estabelecer rotinas em grupo e ajudar o aluno a incorporar regras de convívio
social são atitudes de extrema importância para garantir o desenvolvimento
na escola. Boa parte dessas crianças precisa de ajuda na aprendizagem da
autorregulação e estas são sugestões pedagógicas e serem trabalhadas na sala
de aula:
Fazer da organização da sala uma rotina diária, com recursos visuais
e auditivos;
Dividir as atividades em atividades menores;
Iniciar as aulas pelas atividades que requerem atenção, deixando para
o final aquelas que são mais agradáveis e estimulantes;
Utilizar música ao fundo, proporcionando um clima agradável,
harmonioso e tranquilo;
Adotar uma atitude positiva, com elogios e “recompensas” por
comportamentos adequados. Isto criará um equilíbrio em relação às
chamadas de atenção para os alunos com TDAH quando eles fazem
algo errado.
 
Em nosso trabalho junto aos professores devemos incentivá-los
sempre que for preciso, deve-se dividir dúvidas com a coordenação e com os
colegas quando receber uma criança com necessidades especiais. Jamais
reduzir o aluno à sua deficiência. Apesar de ter características peculiares, ele
tem possibilidade e carrega uma história e muitas expectativas que o tornam
único. Conversar constantemente com outros especialistas que tratam criança,
pois eles podem ajudar a pensar em estratégias para lidar com o aluno. E nós

Mais conteúdos dessa disciplina