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PROJETO E CONSTRUÇÃO DE ESTRADAS E FERROVIAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer o papel das ferrovias no desenvolvimento do país. > Relacionar as normas técnicas para construção das ferrovias. > Expressar as características técnicas e operacionais para projeto e ope- ração de ferrovias. Introdução A gestão da área de transportes tem papel estratégico nas organizações e nas relações sociais, no sentido de diminuir as fronteiras e otimizar os fluxos de mercadorias e pessoas. Assim, fica evidente a importância de estudar o papel do transporte para o desenvolvimento do Brasil. Dentro da área de transporte, ressalta-se o estudo do modal ferroviário, que permite carregar grandes quan- tidades de carga ao longo da extensão territorial nacional. Neste capítulo, você vai estudar aspectos que envolvem o papel das ferrovias na evolução do desenvolvimento do país, compreendendo as normas técnicas empregadas para sua construção e as características técnicas e operacionais para projeto e operação de ferrovias. Transporte ferroviário no Brasil Mariane Wittmann e Hariane Marmitt A contribuição das ferrovias para o desenvolvimento do Brasil O papel do transporte é fundamental para promover o desenvolvimento econômico de uma região, ao otimizar o fluxo de bens e mercadorias, além de exercer ação social, no sentido de deslocamento das pessoas. Daí a rele- vância de compreendermos o processo histórico de evolução do transporte no desenvolvimento econômico do nosso país. No Brasil, o processo histórico de transporte remonta ao período colonial, em que que o anseio de exploração do território em busca de novos produtos a serem explorados e comercializados à corte portuguesa abriu caminhos de interiorização. Até então, a exploração de recursos minerais e de novas terras era feita com tração animal (IPEA, 2010). O fenômeno da interiorização explorou novas fontes de economia, como extração de borracha, ouro, pecuária, sementes, especiarias do sertão e produção de café, abrindo longos caminhos desde as fontes de extração e cultivo até o destino comercial. Assim, surgiu a necessidade de implantar um transporte capaz de movimentar grandes quantidades de mercadorias a distâncias mais longas. Com a Proclamação da República, surgiram investimentos na construção de novas rotas de transporte, confirmando a questão econômica agroexpor- tadora brasileira, em que o modal ferroviário era o único a transportar as commodities nacionais para os portos. Esses fatores geraram um processo de expansão dos modais de transporte no país, promovendo um melhor aproveitamento geográfico. Barat (2009) ressalta que as ferrovias representaram o meio de transporte mais importante no Brasil entre 1880 e 1930 na exportação de produtos pri- mários. Porém, sua decadência ocorreu no século XX, com a rápida ascensão da industrialização do país, que trouxe a opção de transporte de cargas industriais por rodovias, em função da incompatibilidade das malhas ferro- viárias existentes no país na época. Ainda segundo Barat (2009), o atrativo do transporte rodoviário se deve à rápida resposta aos desafios da nova configuração econômica de então, proporcionando o deslocamento ágil das fronteiras agrícolas, maiores diversidades de pontos de origem e destino e maior fracionamento das cargas devido à industrialização. Nessa mesma época, foram construídas ferrovias dispersas ao longo da extensão territorial do país, a fim de atender ao modelo econômico agroexpor- tador vigente e mutável. Sendo assim, a distribuição geográfica das ferrovias brasileiras acompanhou a distribuição no âmbito econômico, ligando centros Transporte ferroviário no Brasil2 urbanos importantes para a dinâmica das relações de transporte. Assim, há um motivo para a localização da malha ferroviária no centro-sul do Brasil (IPEA, 2010), o que pode ser verificado na Figura 1. Figura 1. Malha ferroviárias brasileira em 2019. Fonte: Brasil (2019, documento on-line). Ao analisar o modal ferroviário em um âmbito global, percebe-se que ele não atingiu seu ápice, no sentido de eficiência e utilização. Em comparação com outros países de grandes dimensões territoriais, nota-se que o Brasil não está utilizando todas as vantagens que o transporte ferroviário apresenta, principalmente com relação ao transporte de cargas (BELLINI; LUCAS, 2016). Conforme dados da Associação Nacional de Transporte Ferroviário (BRASIL, 2021), a Rússia possui uma participação do modal ferroviário muito alta se comparada com o transporte ferroviário brasileiro. O mesmo vale para os Estados Unidos, onde a maioria dos fluxos de carga ocorre por meio de fer- rovias (Figura 2). Verifica-se que no Brasil a participação do modal ferroviário é desproporcional à sua grande dimensão territorial. Transporte ferroviário no Brasil 3 Figura 2. Comparativo internacional das matrizes de transporte de carga. Fonte: Brasil (2021, documento on-line). Nesse sentido, ressalta-se que foram vários os fatores que acabaram influenciando para que o modal ferroviário não se desenvolvesse no Brasil, incluindo: � falta de planejamento e organização frente ao complexo sistema de transporte; � poucos critérios técnicos e operacionais no projeto e execução da malha ferroviária; � gestão de políticas públicas deficiente, principalmente quando a maio- ria da malha ferroviária passou para a administração pública. Contudo, o aspecto mais importante foi a concorrência com outro modal de transporte: o rodoviário. Esse tipo de transporte ganhou destaque no país no início do século XX, o que sacramentou o declínio das ferrovias no Brasil. Com o tempo, surgiu a necessidade de estatização das companhias ferroviárias e de centralização do comando dessas ferrovias neoestatais em uma única empresa. Surgia assim, em 1957, a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), que unificou 42 ferrovias do país (BRASIL, 2009), e também a Ferrovia Paulista S/A (Fepasa), que incorporou as ferrovias do estado de São Paulo. Transporte ferroviário no Brasil4 A falta de investimentos públicos e privados na malha ferroviária exis- tente e a falta de manutenção das ferrovias levaram ao sucateamento da infraestrutura, aumentando as dívidas das operadoras e criando um cenário insustentável. Assim, em meados do século XX houve a privatização das ferrovias sob controle das estatais (IPEA, 2010) e cerca de 8 mil quilômetros de ferrovias foram desativados. De acordo com Novaes (2007, p. 247): Após a privatização das ferrovias no Brasil se tem observado uma melhoria cons- tante nos serviços de transporte ferroviário. Muito embora a rede ferroviária seja relativamente pequena quando se considera todo o território nacional, seu potencial junto aos grandes centros produtores e consumidores é grande, dependendo de melhorias de traçado e da via permanente, bem como do material rodante (vagões, locomotivas) e do aprimoramento das operações. Dentre as ferrovias então extintas, podemos destacar a estrada de ferro Bahia–São Francisco, a estrada de ferro Bahia–Minas e a estrada de ferro Petrolina–Teresina. A privatização deu origem ao processo de reestruturação do setor ferro- viário brasileiro, gerando direitos e obrigações das partes envolvidas no pro- cesso de concessão, definindo ainda o princípio da manutenção do equilíbrio econômico, financeiro e os direitos dos usuários. Porém, a desestatização não fez com que o modal de transporte ferroviário ganhasse notoriedade no país. Sendo assim, ele ainda carece de uma gestão de políticas públicas, no sentido de incentivar o desenvolvimento de novas possibilidades de deslocamento, assim como de manutenção dos modais de transporte que já estão construídos no país. No entanto, os custos operacionais variáveis do modal ferroviário é re- lativamente baixo. O desenvolvimento de motores a diesel reduziu o custo variável da tonelada- -quilômetro, e a eletrificação reduziu ainda mais os custos. Modificações de acordo trabalhistasreduziram as necessidades de recursos humanos, resultando em redução do custo variável (BOWERSOX et al., 2014, p. 205). Transporte ferroviário no Brasil 5 Ainda assim, de acordo com Ballou (2007), o transporte ferroviário tem custos fixos elevados, envolvendo investimento em ferrovias, locomotivas, vagões, terminais e pátios de manobra. Por isso, é indicado para grandes distâncias, produzindo efeitos na redução dos custos de escala, ou seja, nos custos unitários (como a relação tonelada por quilômetro) para cargas de grande volume. Segundo Barat (2009), as vantagens competitivas são maiores quando a ferrovia opera em corredores especializados, com trens unitários e carga homogêneas. As ferrovias representam o modal mais indicado para cargas a granel (grãos e minérios) e quantidades expressivas de contêineres, pois o Brasil possui grande extensão territorial e é um produtor agrícola e de minerais, sendo lógico o uso mais intensivo das ferrovias na movimentação de cargas. Juntamente com o contexto histórico, é importante ressaltar a atuação da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), que possui atribuições de concessão, fiscalização e regras de operação do transporte ferroviário no país (IPEA, 2010). Nesse âmbito, o Ministério de Infraestrutura possui função estratégica, mas a operação está, em sua maioria, concentrada em empresas privadas. Nesse cenário, uma importante legislação é o Decreto nº 10.368, de 22 de maio de 2020, que atribui ao Ministério da Infraestrutura a competência, entre outras, de elaborar a política nacional de transporte ferroviário, com- preendendo responsabilidades de formulação, coordenação e supervisão das políticas nacionais. Sendo assim, cabe ao Ministério da Infraestrutura a função de coordenar e articular a formulação, aprovação e implementação da política de desenvolvimento do transporte ferroviário, cumprindo as atribuições da Política Nacional de Transportes estabelecida em 2018 (BRASIL, 2020). Normas técnicas para construção de ferrovias As normas técnicas estabelecem requisitos de desempenho, qualidade, métodos, operações e segurança para profissionais e empresas na área da construção civil. Nesse sentido, as normas da Associação Brasileira de Transporte ferroviário no Brasil6 Normas Técnicas (ABNT) surgiram com o objetivo de garantir a padronização de processos e técnicas, estabelecendo segurança operacional e jurídica. Seguindo essas normas, as empresas aumentam sua qualidade na presta- ção de serviços e melhoram sua imagem no mercado, evitando acidentes e situações perigosas no âmbito da construção. Segundo o Sindicato da Construção (SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONS- TRUÇÃO CIVIL NO ESTADO DE MINAS GERAIS, 2017, documento on-line): O cumprimento de normas técnicas tem caráter obrigatório, previsto em leis e instrumentos regulatórios, e proporciona isonomia técnica, sendo um referencial indispensável neste sentido. Cumpre também o papel de ser um dos pilares da segurança jurídica, devendo ser encarado pelas construtoras e profissionais como um referencial do estado da arte. Esta prática proporciona, ainda, ganhos de qualidade e desempenho dos componentes, elementos, sistemas e processos regulamentados pelas normas. No âmbito da construção de ferrovias, as normas técnicas também são essenciais para estabelecer requisitos de desempenho e qualidade no plane- jamento, organização e operação de construção. Assim, estudaremos algumas normas que são essências na elaboração de projetos para construção de ferrovias. Para começar o processo de elaboração de uma construção, é fundamen- tal a etapa de planejamento, verificando a viabilidade da execução de uma obra. Sendo assim, é preciso que ocorram estudos topográficos das obras de execução do contorno ferroviário, por meio de levantamento planialtimé- trico, referenciando o sistema de coordenadas existentes na obra. Para isso, devem ser utilizados os critérios estabelecidos na Norma Técnica Brasileira (NBR) 13133, que trata da execução de levantamento topográfico. Nessa NBR, é possível verificar condições exigíveis para o conhecimento geral do terreno, como relevo, limites, área, localização e posicionamento. Essas condições estabelecem informações destinadas a estudo preliminar de projeto, proje- tos básicos e projetos executivos, que darão subsídios importantes para a realização do traçado da ferrovia. Na concepção estrutural da obra, inclusive das fundações, é importante obedecer a normas e especificações previstas na NBR 12915, de 2020 (Via férrea — Gabarito ferroviário e entrevia — Especificações). Nessa NBR, é pos- sível verificar limites para o gabarito do material rodante e das instalações fixas ao longo da via férrea, independentemente da bitola, além dos valores mínimos de entrevia. Transporte ferroviário no Brasil 7 Além dessas duas NBRs, o Quadro 1 lista as principais normas da ABNT imprescindíveis para o projeto de construção de ferrovias. Quadro 1. Listagem das principais normas ABNT a serem seguidas na ela- boração de projetos Nº da NBR/ano Título da normativa/objetivos NBR 7641: 1980 Via permanente ferroviária: define termos empregados na via permanente ferroviária. NBR 5564: 2011 Via férrea — Lastro ferroviário — Requisitos e métodos de ensaio: estabelece os requisitos e métodos de ensaio para o lastro ferroviário de pedra britada. NBR 7914: 1990 Projeto de lastro para via férrea — Procedimento: fixa condições exigíveis para o projeto de lastro para superestrutura de via férrea. NBR 7511: 2013 Dormentes de madeira — Requisitos e métodos de ensaio: especifica os requisitos e métodos de ensaio para dormentes de madeira destinados à via férrea. NBR 6966: 1994 Dormente: tem por objetivo definir termos aplicáveis às madeiras utilizadas como dormentes. NBR 7590: 2012 Trilho Vignole — Requisitos: estabelece os requisitos para trilhos Vignole. NBR 11430: 1989 Trilho para via férrea — Inclinação — Padronização: padroniza a inclinação para a fiada de trilhos na via férrea. NBR 14165: 2015 Via férrea — Travessia por linhas e redes de energia elétrica — Requisitos: especifica os requisitos para travessia de via férrea por linhas e redes de energia elétrica. NBR 14170: 1998 Trens — Sistemas de sonorização — Projeto: fixa as condições exigíveis para elaboração do projeto de sistema de sonorização para trens de passageiros. NBR 13823: 1997 Vagão ferroviário — Espelho — Dimensões: padroniza as dimensões básicas e o tipo de espelhos para vagão ferroviário. Fonte: Adaptado de Brasil (2017). Além das normas da ABNT, a elaboração de projetos de obras ferroviárias deve seguir as recomendações das Especificações Técnicas de Materiais e Transporte ferroviário no Brasil8 Serviços Ferroviários (ETM – ETS) e das Instruções de Serviços Ferroviários (ISFs) desenvolvidas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Trans- porte (DNIT). As ISFs são documentos normativos cujo objetivo é definir e especificar os serviços constantes nos projetos básicos e executivos de engenharia de infraestrutura ferroviária, bem como orientar sua elaboração e padronizar sua apresentação (BRASIL, 2015). Essas instruções indicam os procedimentos técnicos para elaboração de estudos de projetos ferroviários, compreendendo metodologias, materiais e equipamentos na construção das obras. O DNIT divide em dois assuntos essenciais as instruções e procedi- mentos para a elaboração de projetos ferroviários: empreendimentos ferroviários e patrimônios ferroviários (BRASIL, 2017). Técnicas e operações em projeto de ferrovias As características técnicas e operacionais do modal ferroviário primam pela capacidade de transportar grandes de volumes de mercadorias por longas distâncias. Segundo a ANTF (BRASIL, 2021), desde a privatização das ferro- vias em 1996, houve um aumento de 95% de movimentação de cargas até 2019. Pode-se afirmar que nesse período as ferrovias brasileiras ganharam eficiência em suas operações, resultandono crescimento da produção ferro- viária, que é calculada pela medida que indica a quantidade de toneladas de carga movimentada a cada quilômetro (tonelada por quilômetro útil —TKU). O minério de ferro e o carvão são os produtos mais relevantes transportados por esse modal, e pode-se dizer que sua produção vem apresentando índices de crescimento acima do Produto Interno Bruto (PIB ). A Figura 3 relaciona os materiais e suas quantidades transportadas por quilômetro unitário no ano de 2019, caracterizando a maior movimentação de cargas de minérios de ferro. Sendo assim, podemos dividir a produção do transporte ferroviário em minério de ferro e cargas gerais (CAGR), em que podemos ver o crescimento significativo no volume de cargas transportadas desde a privatização, com uma queda pontual em 2018–2019 provocada pela interrupção de produção de minério de ferro após o acidente ocorrido em Brumadinho (MG) em 2019. Transporte ferroviário no Brasil 9 Figura 3. Transporte ferroviário (em bilhões de TKU): (a) divisão percentual de produtos movimentados; (b) evolução das quantidades totais transportadas. Fonte: (a) Adaptada de Brasil ([200-?]); (b) Adaptado de Brasil (2021). a b Assim, o modal ferroviário é indicado para transporte de grandes car- gas, pois percorre grandes distâncias, sem a ocorrência de problemas de congestionamentos. Apresenta ainda maior segurança em relação ao modal rodoviário, com menor índice de acidentes e menor ocorrência de furtos e roubos. Também é possível verificar maior eficiência energética, com menor poluição do meio ambiente (BOWERSOX et al., 2014). Transporte ferroviário no Brasil10 Por outro lado, segundo Novaes (2007), o modal ferroviário também apre- senta algumas desvantagens, como elevado custo de implantação, desde o processo de planejamento e instalação dos trilhos até o processo de escolha da empresa operadora. Outras desvantagens incluem: horários fixos, pouca flexibilidade de rotas e tráfego limitado aos trilhos, que nem sempre chegam ao destino final, sendo preciso recorrer a outros modais de transporte. O Quadro 2 traz um comparativo das principais características operacionais dos principais modais de transporte, incluindo velocidade, disponibilidade, confiabilidade, capacidade e frequência. Ressalta-se que, quanto menor o valor, melhor o quesito analisado. Quadro 2. Comparação das características operacionais entre os modais de transporte Características operacionais Ferro- viário Rodo- viário Hidroviário Duto- viário Aéreo Velocidade 3 2 4 5 1 Disponibilidade 2 1 4 5 3 Confiabilidade 3 2 4 1 5 Capacidade 2 3 1 5 4 Frequência 4 2 5 1 3 Total 14 10 18 17 16 Fonte: Adaptado de Bowersox et al. (2014). Verifica-se que o modal ferroviário não apresenta valores de destaque que possam torná-lo atrativo em relação aos outros modais. Nas características relacionadas no quadro, sua capacidade de transportar quantidade de volu- mes de cargas, por exemplo, é menor que a do modal hidroviário. Contudo, tampouco apresenta valores que possam caracterizá-lo como um mau modal em quaisquer das características. Pode-se dizer que o modal ferroviário apresenta sua maior desvantagem na flexibilização de rotas e horários, pela pouca quantidade de trilhos pelo país em comparação a nossa vasta extensão territorial, o que ainda exige grandes investimentos na construção de novas rotas, novas máquinas e altos custos de manutenção desses equipamentos. Cabe lembrar também que esse Transporte ferroviário no Brasil 11 modal não transporta suas cargas sozinho, pois necessita de uma integração intermodal para finalizar a movimentação de cargas. Por outro lado, suas vantagens são bastante atrativas e se destacam principalmente pela custo/benefício de transportar grandes quantidades de cargas por longas distâncias, com pequeno consumo relativo de combustível. Além do mais, é um transporte seguro e que causa menos impactos ambientais que os demais modais. Segundo Novaes (2007, p. 246): Por operar unidades (os trens) de maior capacidade de carga, o transporte ferroviário é basicamente mais eficiente em termos de consumo de combustível e de outros custos operacionais diretos. Mas, por outro lado, os custos fixos de uma ferrovia são altos: conservação da via permanente, operação dos terminais de carga e des- carga, operação das estações, alimentação de energia no caso de via eletrificada etc. Por essa razão, as vantagens comparativas da ferrovia em relação à rodovia começam a aparecer para distâncias de deslocamento maiores. Para pequenas distâncias, os custos fixos não conseguem ser diluídos, onerando os fretes em demasia e tornando essa modalidade não competitiva. Com relação às características técnicas para um projeto de ferrovias, é possível elencar alguns dados importantes. Cabe salientar que um projeto de infraestrutura ferroviária abrange a compatibilização de vários outros projetos e engloba a necessidade de estudos preliminares que forneçam elementos para elaboração do traçado da via, projeto geométrico, terraplenagem, drenagem, obras especiais, sinalização, colocação de trilhos, obras de pátio e estações, interligações, projetos orçamentários, ambientais e até mesmo desapropriações. Para iniciar um projeto desse tipo, é importante definir e analisar a região em questão para o desenvolvimento do traçado, sendo esse um segmento que representa o eixo da via a ser explorado para a construção. O estudo de traçado se divide em reconhecimento, exploração, projeto, locação e construção da infraestrutura e superestrutura (SANTOS, 2011). A fase de reconhecimento do traçado compreende o levantamento e análise de dados da região, incluindo obstáculos topográficos, geológicos e hidrológicos. A partir de então, é escolhido o local para o desenvolvimento do anteprojeto, etapa fundamental para a conclusão das demais. A fase de terraplanagem envolve o corte transversal de encostas e morros e aterros ao longo do eixo para compatibilização do greide do projeto. Nessa etapa, a movimentação de terra tem um custo bastante alto, se ele não for equilibrado entre cortes e aterros de seu traçado. O projeto de drenagem, por sua vez, é responsável pela conservação, uma vez que direciona o fluxo de água para fora do traçado. Transporte ferroviário no Brasil12 Outra etapa importante é a fiscalização, que cabe ao DNIT. Essa fiscalização compreende as atividades de controle de ensaios e uso de tecnologias de verificação das especificações de obras e serviços estabelecidas nas normas vigentes e nos requisitos contratuais, frente a padrões de desempenho das atividades. Por ser um país de grande extensão territorial, com uma vasta riqueza material a ser transportada, o Brasil pode claramente se beneficiar das vantagens econômicas do modal ferroviário, que além de tudo envolve um transporte menos agressivo ao meio ambiente, com menos riscos de acidentes e uma ótima opção de desafogamento das rodovias. Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. São Paulo: Atlas, 2007. BARAT, J. Transporte ferroviário de carga no Brasil. IPEA desafios do desenvolvimento, ano 7, n. 55, 17 nov. 2009. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/desafios/index. php?option=com_content&view=article&id=1066:catid=28&Itemid=23. Acesso em: 16 jun. 2021. BELLINI, L. P.; LUCAS, C. G. A importância da revitalização do transporte ferroviário de carga para o desenvolvimento da economia brasileira. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO - ENEGEP, 36., 2016, João Pessoa. Anais eletrônicos... João Pessoa: Abepro, 2016. 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