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Como a Literatura 
Sobreviveu e Resistiu 
à Ditadura Militar 
Brasileira?
A literatura brasileira durante o período da ditadura militar 
(1964-1985) enfrentou um dos sistemas de censura mais 
rigorosos da história do país. Em 1970, foi instituída a 
censura prévia, obrigando todas as publicações a 
passarem pelo crivo dos censores antes de chegarem ao 
público. Isso resultou no veto de mais de 500 livros apenas 
entre 1970 e 1979, incluindo obras importantes como "Feliz 
Ano Novo" de Rubem Fonseca (1975) e "Zero" de Ignácio 
de Loyola Brandão (1976).
Os autores desenvolveram estratégias sofisticadas para 
driblar a censura. Lygia Fagundes Telles, em "As Meninas" 
(1973), utilizou a técnica do fluxo de consciência e múltiplas 
vozes narrativas para retratar a violência do regime através 
das experiências de três jovens universitárias. João 
Antônio, em seus contos, mascarava a crítica social sob a 
aparência de histórias sobre marginais urbanos, como em 
"Malagueta, Perus e Bacanaço" (1963, reeditado em 1974).
A poesia marginal se desenvolveu como uma forma de 
resistência cultural, com publicações artesanais 
conhecidas como "geração mimeógrafo". O poeta Cacaso 
(Antônio Carlos de Brito) distribuía seus poemas em 
folhetos mimeografados, enquanto Ana Cristina César 
publicava em pequenas edições independentes. A Revista 
"Opinião" (1972-1977), embora constantemente censurada, 
tornou-se um importante veículo para a literatura de 
resistência.
O teatro enfrentou perseguição particularmente intensa. A 
peça "Calabar" (1973), de Chico Buarque e Ruy Guerra, foi 
censurada às vésperas da estreia, resultando em grande 
prejuízo financeiro. Plínio Marcos teve nove peças 
proibidas, incluindo "Navalha na Carne" (1967), que só 
pôde ser encenada após extensos cortes. O dramaturgo 
Augusto Boal foi preso e torturado em 1971, sendo forçado 
ao exílio.
O impacto dessa repressão cultural gerou obras que se 
tornaram marcos da literatura brasileira. "A Festa" (1976) de 
Ivan Ângelo retratou o clima de tensão política através de 
uma estrutura fragmentada que espelhava o caos social. 
"Quatro-Olhos" (1976) de Renato Pompeu abordou a 
paranoia e a perseguição política através da história de um 
escritor que perde seus manuscritos durante uma invasão 
policial. A obra "Em Câmera Lenta" (1977) de Renato 
Tapajós, escrita na prisão, foi a primeira a abordar 
diretamente a tortura, resultando na prisão do autor logo 
após sua publicação.

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