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DIVERSIDADE 
ÉTNICO-CULTURAL
ORIENTAÇÕES DE ESTUDO
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado 
e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica 
e atuação profissional, veja a seguir algumas 
recomendações básicas:
PROGRAMAÇÃO
Determine um horário 
fixo para estudar
Participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar 
a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores.
COMUNICAÇÃO
Mantenha contato com seus colegas 
e tutores para trocar ideias!
CONCENTRAÇÃO
Mantenha o foco! Evite se 
distrair com as redes sociais
EMPENHO
Seja original! 
Nunca plagie trabalhos
ORGANIZAÇÃO
Conserve seu material e local 
de estudos sempre organizados
SAÚDE FÍSICA E MENTAL
Não se esqueça de descansar, 
alimentar-se e hidratar-se
ABSORÇÃO
Aproveite as indicações de 
Material Complementar
SUMÁRIO
• Diversidade Cultural.............................................................................................................................................. 4
• Explicações para as Diferenças Étnico-Culturais .................................................................................................... 6
• Contracultura........................................................................................................................................................ 10
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Tratar da diversidade cultural e algumas teorias sobre o assunto;
• Explicar a visão etnocêntrica;
• Evidenciar as formas de contracultura.
Diversidade Étnico-cultural
Responsável pelo Conteúdo
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni
Revisão Textual Revisão Técnica
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Prof.ª Dr.ª Vivian Fiori
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Diversidade Étnico-cultural
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Diversidade Cultural
Registros históricos e artefatos possibilitaram aos arqueólogos encontrar evidências de que 
os diversos grupos humanos, em sua relação com a natureza e com o meio no qual viviam, cria-
ram e produziram modos de vida que os diferenciavam dos demais.
Em contraponto à dimensão biológica e racial, é importante ressaltar que a cultura diz res-
peito a uma construção humana, elaborada ao longo do tempo histórico da existência do ho-
mem, em suas diferentes condições do meio geográ� co no qual vivia. 
O processo de renovação cultural é, por instância, dialético, de forma que não se pode pen-
sar cultura dos povos – com seus hábitos, costumes, crenças, religiões, formas de alimentação 
etc. – sem trazer a sua relação com a sociedade de cada época, com o meio geográ� co e com as 
condições dos diversos grupos humanos. Nesse processo há sempre permanências, tradições na 
cultura, ao mesmo tempo em que também vai se renovando. 
A Antropologia é a Ciência que vem estudando essa dimensão cultural desde o século XIX, 
de forma mais pormenorizada, caracterizando-a da seguinte maneira:
• A cultura não pode ser confundida com caracteres genéticos e/ou biológicos, como algo 
que já nascemos; mas sim como aprendizado que adquirimos de diferentes formas ao 
longo de nossas vidas; 
• A cultura é uma dimensão humana, já que algumas espécies também vivem em sociedade 
– como formigas ou abelhas –, mas não produzem cultura como o ser humano; 
• O homem e demais animais adaptam-se ao meio no qual vivem, mas o homem, conforme 
sua cultura, adapta-se e transforma o meio, produzindo novas formas de vida – de mora-
dia, vestimenta, explicação do mundo, meios de produção – mediante técnicas;
• A cultura produzida pelos povos e sociedades de cada época cria certas padronizações, 
tabus, normas – caso das normas da língua, da religião, entre outras. Tais normas e pre-
ceitos das religiões, por exemplo, definem o comportamento de um indivíduo de deter-
minada religião, diferindo-o de outro. De modo similar, as normas de linguagem – de 
como falar e escrever – são também padronizadas. Há discursos hegemônicos, que ditam 
os valores do que deve ser o certo e errado, moldando partes das características de uma 
determinada cultura;
• Há interação da sociedade, economia, cultura, proporcionando transformação constante 
e integrada, de forma dialética, ou seja, com a permanência de contradições.
As formas de alimentação são exemplos de como os comportamentos sociais evoluíram à 
medida que a sociedade se tornava mais complexa. De homens e mulheres coletores, pescadores 
e caçadores, que tinham grande grau de dependência da natureza e cujas técnicas eram rudi-
mentares e locais, o ser humano passou a domesticar animais e plantas, de forma sistemática e 
em escala mais ampla, no que viria a ser chamado de agricultura e de pecuária. 
Daí vem a palavra agricultura, que era, de fato, uma expressão da cultura dos povos que, ao 
domesticarem plantas, em sua relação com a natureza, criaram as diversas culturas alimentares que 
distinguem um povo dos outros, mesmo hoje em dia. Quando mencionamos, por exemplo, culiná-
ria italiana, indiana, japonesa, mineira etc., estamos tratando dessa dimensão da cultura alimentar. 
Logo, a palavra cultura foi usada primeiramente com o termo agricultura – como prática do campo 
–, tais como cultura do trigo, do milho e assim usada no sentido dessa prática primordial. 
Posteriormente, passou a ser empregada como conceito que exprimia o modo de vida, em 
um primeiro momento dos camponeses – do homem que produzia e praticava agricultura – e 
depois em um sentido e conotação mais ampla, como a cultura dos homens e seus modos de 
vida, hábitos e costumes. 
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Diversidade Étnico-cultural
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As diversas tradições da cultura alimentar foram hibridizadas, misturadas, mescladas, com 
novas descobertas, que surgiam à medida que havia migrações dos povos. Igualmente pelo 
processo de colonização e outros movimentos da população ao longo da história, houve maior 
contato entre povos que tinham diferentes hábitos e produtos alimentares.
Foi o caso da batata e do tomate, por exemplo, que são oriundos do Continente americano e 
foram levados à Europa mediante o processo de colonização. Sua cultura foi tão bem absorvida 
pelos europeus, que é impossível hoje pensar na culinária italiana sem considerar o molho de 
tomate, ou na portuguesa sem o bacalhau com batatas.
E hoje, com uma cultura mais globalizada, vemos alguns hábitos alimentares tornarem-se 
hegemônicos, devido à estandardização – padronização – dos costumes, veiculados pela propa-
ganda, pela mídia em geral, pelas redes sociais e pela indústria de alimentos. 
A Revolução Técnico-Cientí� ca, empreendida a partir da segunda metade do século XX, 
com o avanço das ciências – Química, Biotecnologia –, das técnicas – sobretudo da Engenharia 
Genética –, promoveu transformações nas formas de se alimentar e também de produzir sinte-
ticamente, de maneira arti� cial e/ou por meio de hibridizações e da criação de novos alimentos. 
Portanto, não existe uma só cultura, mas uma diversidade de culturas pelo mundo, que vão 
sempre mudando ao longo do tempo, considerando as mediações da família, da sociedade de 
cada época, da natureza, da escola, entre outras interações, as quais acabam por alterar os mo-
dos de vida, as formas de existência e, assim, a própria cultura.
Logo, um indivíduo imerso em uma determinada cultura nunca tem total conhecimento da 
qual, tanto porque esta muda, quanto porque certos traços lhe escapam. Mesmo fazendo parte 
de um grupo com o qual nos identi� camos, não somos todos iguais em todos os aspectos dessa 
cultura, principalmente no mundo de hoje e aos que vivem nas grandes metrópoles, onde há 
multiplicidade de informações que nos chegam, diversidade de eventos que nos trazem diferen-
tes maneiras de pensar, de viver.
Do mesmo modo que a cultura não passa sempre por uma transformação total, por isso é 
dialética, há sempre um pouco do passado em tudo que fazemos, ao mesmo tempo em que tam-
bém vamos inovando. Vejamos um exemplo: as formas de nos expressar na língua portuguesa 
não são as mesmas desde o século XIX, pois isto foi sendomodi� cado; mas, ao mesmo tempo, 
não é uma linguagem inteiramente nova, por isso incorporamos novidades a nossa linguagem, 
mas também outras normas da língua permanecem. Ou seja, há sempre permanências e tradi-
ções na cultura, ao mesmo tempo em que esta é constantemente recriada. 
As bases materiais e técnicas vão também mudando e isso faz com que a cultura também se 
altere. O nosso modo de vida urbano, por exemplo, trouxe aos homens e mulheres novas formas 
de sobreviver, mas os que vivem na cidade perderam a cultura do campo, das formas de plantar, de 
modo que se você pergunta para uma criança que vive em meio urbano de onde vem uma fruta, é 
comum que responda: “Do supermercado”, que é a visão imediata da cultura que cada um possui. 
Assim, a� rmamos que a cultura tem relação com o tempo histórico, produzido pelos grupos, 
povos e sociedade de cada época, como também tem relação com o espaço e meio geográ� co, 
porque é diferente e diversa nos distintos lugares do mundo. 
Desse modo, as transformações pelas quais determinada cultura passa se processam sempre 
em um movimento dialético – interno e externo –, a saber: 
• Interno, endógeno, dentro da mesma cultura, vai se alterando ao longo da história;
• Externo, exógeno, devido ao contato com outras culturas, de forma amigável ou por meio 
de guerras, saques, domínios etc. 
Ambos os modos são condições integradas e ocorrem em um processo contínuo. 
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Explicações para as Diferenças Étnico-Culturais
Ao tratar do tema das diferenças étnico-culturais, é fundamental conceituar etnia. Trata-se 
de um termo que deriva de ethos, palavra grega, e pode ser de� nido como um grupo biológico 
e culturalmente mais homogêneo, que tem o mesmo ethos, ou seja, costumes, religião, crenças, 
língua, hábitos, entre outras características comuns. Dito de outra forma, partilhando certos 
costumes, tradições, técnicas, comportamentos em comum. 
Tal termo não é sinônimo de raça, já que raça é relacionada exclusivamente ao sentido bioló-
gico, da cor da pele, dos traços físicos – do cabelo, do nariz, das formas físicas etc. –, sendo um 
componente do biótipo humano. 
Ao longo da história humana, o homem, em sua relação com o meio geográ� co, com a natu-
reza e com outros grupos humanos, foi elaborando formas de viver e de cultura.
Mediante o processo de colonização, neocolonização ou outros movimentos migratórios, 
os diversos grupos humanos foram colocados em maior contato entre si, levando a questiona-
mentos em relação às diferenças raciais, do biótipo – características físicas, cor da pele, formato 
do corpo, do cabelo etc. –, bem como aspectos étnico e socioculturais, tais como formas de 
organização social, crenças, religiões, técnicas usadas, relações familiares, formas de moradia, 
entre outros.
O surgimento de civilizações em algumas regiões do mundo – caso do Oriente Próximo 
(Egito Antigo, Mesopotâmia, Fenícia etc.) e dos vales � uviais na China e Índia – ocasionou o 
surgimento de maior separação entre diferentes tipos de trabalhadores – artesãos, agricultores, 
escribas, construtores. Essa evolução favoreceu o surgimento das primeiras cidades, nas quais 
ocorriam contatos entre diferentes grupos humanos, superando aquela condição na qual os 
povos viviam somente em aldeias. 
Mesmo entre os que permaneceram em aldeias, as guerras e os saques promoviam o conta-
to entre diferentes grupos humanos, o que levava sempre aos questionamentos em relação às 
diferenças étnico-culturais, bem como das origens dos seres humanos. Surgiam, assim, mitos 
e religiões. Em geral, os povos da Antiguidade buscavam nos mitos, nas crenças animistas, ou 
nas ideias � losó� cas as explicações para as diferenças raciais, étnico-culturais entre os homens. 
Você Sabia?
Que se entende por crenças animistas aquelas que acreditam na força espiritual de 
objetos, tais como pedras, plantas, animais etc., atribuindo-lhes poder espiritual, ou 
como amuletos?
Era comum os povos considerarem que estavam no centro do mundo, e a própria cartogra� a 
e seus mapas re� etiam tal concepção, no que se de� ne como visão etnocêntrica. 
Na China Antiga, por exemplo, os mapas eram produzidos colocando as dinastias chinesas 
no centro do mundo e os demais povos mais distantes eram de� nidos como selvagens. Já os es-
quimós, da mesma forma, colocavam-se no centro do mundo e se não conheciam outros povos, 
era porque estes não eram importantes, diziam. 
O etnocentrismo não se resume à produção de desenhos e mapas a partir da visão de um 
povo, mas tem relação com a forma de pensar, na qual as pessoas ou grupos humanos interpre-
tam e leem o mundo a partir da própria ótica, da cultura, do modo de pensar e de vida – como 
se a própria cultura fosse o centro do mundo, a forma correta de agir, o modo de vida adequado. 
Conforme a� rma o pesquisador Everardo Rocha (1988, p. 18), no livro O que é etnocen-
trismo, sobre o conceito do termo: “Etnocentrismo é uma visão de um mundo onde o nosso 
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próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através 
dos nossos valores, nossos modelos, nossas de� nições do que é a existência”.
Desse modo, a visão etnocêntrica acaba por levar a extremos de xenofobia – aversão a es-
trangeiros –, intolerância social e étnico-cultural e especi� camente religiosa, por aqueles que 
reconhecem apenas sua cultura como legítima. 
O etnocentrismo pode levar à exacerbação de movimentos sociopolíticos que acabam se tornan-
do intolerantes, perseguindo outras etnias, religiões e/ou manifestações culturais, discriminando 
outros povos, podendo, inclusive, constituir-se em partidos políticos ou entidades que buscam 
valorar sua etnia e cultura em julgar a cultura do “outro”, em um movimento de negação das de-
mais culturas. 
Termos como cultura “atrasada”, “inferior”, foram usados ao longo da história para justi� car 
repressões, ataques, guerras ou, de forma subliminar, discriminações que aparentemente não 
são violentas, mas que escondem preconceitos com outros povos que não têm a mesma cultu-
ra do opressor. Pauta-se em um juízo de valor do que é certo e o que é errado, depreciando e 
mediado por impressões sobre a cultura alheia. Quando alguns europeus vieram colonizar a 
América, por exemplo, houve várias situações nas quais a visão etnocêntrica do grupo coloni-
zador predominou, de modo que quando os europeus colonizaram o Novo Mundo – Conti-
nente americano –, � zeram-no com a mesma concepção etnocêntrica, a qual � cou conhecida 
como eurocentrismo.
Os mapas elaborados a partir daí, já conhecidos como mapas mundi, devido ao maior co-
nhecimento do planeta Terra e do mundo, às grandes navegações, permitiu que se produzissem 
mapas em escala global. Todavia, a forma de projetar o Planeta foi o mapa que até hoje conhece-
mos, com a Europa ao centro, dando uma visão de maior importância ao Continente europeu. 
Como se vê no mapa de Mercator, um belga que elaborou o mapa mundi em 1578 e que re� ete 
tal visão eurocêntrica:
Figura 1 – Mapa mundi de Mercator (1578)
Fonte: Reprodução
#ParaTodosVerem. Mapa Mundi de Mercator de 1578. Gravura colorida que representa 
duas partes do globo terrestre com seus continentes como eram compreendidos na 
época que foi desenhado. O continente americano ainda muito tímido ao lado esquer-
do e, ao lado direito, a África, Europa e Oceania. Fim da descrição.
Os viajantes e relatos administrativos davam o tom dos discursos sobre o que era o Novo 
Mundo – América –, em geral, com preconceito em relação aos povos nativos ou oriundos de 
outras partes que não fosse a Europa. Todos eram vistos como selvagens, como povos atrasa-
dos, como se tivessem culturas que fossem superiores às demais. Daí expressões equivocadas 
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que eram – e ainda por muito tempo foram comuns –, tais como do indígena indolente e 
preguiçoso, do negro arredio, do turco avarento, entre tantas expressõespreconceituosas.
Com o advento da Ciência Moderna, que se produziu principalmente na Europa e se difun-
diu pelo mundo mediante os processos de colonização, neocolonialismo e expansão capitalista, 
o discurso em torno das diferenças étnico-culturais tomou caráter de Ciência, muitas vezes 
imbuído de signi� cativa discriminação.
A teoria do darwinismo social, comum no � nal do século XIX e meados do século XX, 
deu à natureza e ao meio um papel de destaque na existência dos grupos humanos. O principal 
representante dessa teoria foi Hebert Spencer (1820-1903).
Tal concepção a� rmava, em analogia a uma visão da teoria da evolução de Darwin, que 
haveria uma seleção natural entre as espécies e que isto tinha correspondência à sociedade. Par-
tindo desse princípio, alguns grupos humanos eram mais fortes do que outros, pois todos pas-
sariam por uma seleção natural, considerando, assim, que a sociedade também tinha evoluído 
dessa forma. Como comenta um pesquisador sobre o termo darwinismo social e depois o que 
se chamou de pós-darwinistas, temos que:
A obra de Darwin, A origem das espécies por meio da seleção natural, ou a 
conservação das raças favorecidas na luta pela vida, publicada em inglês em 
novembro de 1859, parecia fornecer caução científica aos partidários da supre-
macia da raça branca, tema que, depois do século XVII, jamais deixou de estar 
presente, sob diversas formas, na tradição literária europeia. Os pós-darwi-
nianos ficaram, portanto, encantados: iam justificar a conquista do que eles 
chamavam de “raças sujeitas”, ou “raças não evoluídas”, pela “raça superior”, 
invocando o processo inelutável da “seleção natural”, em que o forte domina o 
fraco na luta pela existência. (UZOIGWE, 2010)
Tais teorias do darwinismo social e determinismo acabaram justi� cando os processos de neo-
colonialismo ou imperialismo dos europeus e norte-americanos, dominando outros países e povos. 
Darwinismo social: baseada nas teorias de Charles Darwin – naturalista britânico, quem 
dizia que as espécies passavam por um processo de seleção natural, no qual os mais fortes so-
breviviam –, esta concepção naturalista de Darwin foi utilizada como padrão de interpretação 
da sociedade, por cientistas como Hebert Spencer, originando o darwinismo social. A partir 
desta teoria, a explicação era de que a sociedade evoluiria em etapas, igualmente às diversas 
espécies, tendo sociedades e grupos sociais que estariam mais aptos a vencer os obstáculos 
do meio e a evoluírem, enquanto outros seriam mais fracos. Desse modo, a sociedade tinha 
um cunho biológico, natural.
Outra teoria próxima ao darwinismo social e da mesma época foi a determinista, a qual de� -
nia que o meio, ou seja, a natureza, era fundamental nas características raciais e étnico-culturais 
dos diversos grupos. O homem, assim, era produto do meio em que vivia. 
Alguns chegavam a a� rmar que o caráter dos grupos humanos seria de� nido pelas condi-
ções do meio. A concepção de que a tropicalidade fazia com que as pessoas fossem mais indo-
lentes, tornando os povos desses lugares mais atrasados, sendo a pobreza uma condição que se 
explicava pelas condições do meio. 
Tais discursos, imbuídos do aparato cientí� co, ajudaram europeus e norte-americanos a ex-
pandirem seus limites políticos e geopolíticos na América do Norte e Central, bem como nos 
continentes africano e asiático, principalmente.
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Você Sabia?
Que, no começo do século XX, os Estados Unidos ocuparam alguns países da América 
Central, caso da Nicarágua, Cuba, entre outros, e os chamaram de protetorados norte-
-americanos, dizendo que buscavam protegê-los dos europeus?
Nos livros produzidos na época, muitos estudiosos diziam que os povos da América 
Central eram atrasados, preguiçosos e, por isso, a missão civilizatória norte-ameri-
cana era fundamental para trazer os povos desses lugares a uma melhor condição.
É claro que o meio, a natureza e fatores físico-naturais são condicionantes que podem ser consi-
derados na produção de alimentos, hábitos de alimentação e/ou de vestimentas, nas formas de vida, 
mas não são determinantes. Ou seja, as pessoas não são o que são, nem escolhem suas formas de 
vida apenas mediadas pelo clima, condições da natureza e do meio. No entanto, a existência do ser 
humano não é apenas biológica, natural, genética, mas também ocorre por meio do aprendizado 
que recebe ao longo de sua vida, na família, nas instituições sociais e religiosas, na escola, na rela-
ção com o meio geográ� co – não somente com a natureza. É por meio dessas relações que vamos 
adquirindo conhecimentos que nos dão identidade cultural – seja pela religião, crenças, formas 
de se alimentar, de se vestir, pelos códigos de moral, formas de agir, dos gestos, das expressões. 
En� m, a di� culdade de algumas pessoas ou povos em aceitar o “outro”, em aceitar a diferença 
cultural e racial levou a verdadeiros genocídios ao longo da história humana. 
Genocídio: é uma forma de extermínio parcial ou total de um povo, de sua cultura, conside-
rando-se os componentes étnico-culturais, tais como a religião, as crenças, os costumes, entre 
outros. Como define o dicionário:
A palavra genocídio é derivada do grego genos, que significa “raça”, “tribo” ou “nação” e do 
termo de raiz latina -cida, que significa “matar”. O termo foi criado por Raphael Lemkin, um 
judeu polaco, jurista e que foi conselheiro no Departamento de Guerra dos Estados Unidos du-
rante a Segunda Guerra Mundial. A tentativa de extermínio total do povo judeu pelos nazistas 
– Holocausto – foi um motivo forte que levou Lemkin a lutar por leis que punissem a prática 
de genocídio. A palavra passou a ser usada após 1944.
O racismo e o preconceito étnico-cultural dominaram o cenário durante o período entre 
guerras mundiais, com fenômenos conhecidos como Holocausto, no qual milhões de judeus 
foram mortos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), bem como com a Lei do Apar-
theid, na África do Sul, institucionalizada pelos bôeres ou africâneres – descendentes de holan-
deses – em 1948, que viveram na África do Sul, contra os negros e outros grupos que não eram 
brancos e descendentes de europeus. 
Apartheid foi institucionalizado na África do Sul como uma Lei étnica-racial, que segrega-
va negros, mestiços e asiáticos que moravam no País a viverem separados nas cidades, em 
áreas conhecidas como townships. Além destas áreas nas cidades, os povos negros nativos 
de diversas etnias deveriam viver em bantustões, territórios que foram declarados livres e 
independentes pelo governo sul-africano para tornar a África do Sul somente branca. Nesse 
regime, o negro não tinha direito a voto, nem poderia andar livremente pelas áreas declaradas 
brancas, exceto se tivesse um passe para isso. Tal regime racial e étnico durou de 1948 até 
1994, quando Nelson Mandela tornou-se presidente eleito.
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Rompendo com as teorias deterministas, evolucionistas e darwinistas sociais, Malinowski 
(1994-1942) deu ênfase ao relativismo e à pluralidade da cultura, mostrando que por meio da 
educação e da cultura os povos aprendem com os demais, seja na educação formal ou informal, 
com seus pares – na transmissão de sua cultura. 
Para isso, cada povo foi criando diferentes maneiras de elaborar sua cultura e de transmiti-la, 
assim como com o mundo cada vez mais global, muitas dessas formas de elaborar uma cultura, 
hábitos, normas e padrões culturais foram também se tornando mais universais, ou seja, conhe-
cidos por diversas culturas.
Devido aos acontecimentos ocorridos no período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), 
foi criado, em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU), que elaborou o documento co-
nhecido como Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assim diz o documento, em seus 
artigos 1º e 2º:
Art. 1º. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em di-
reitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outrosem espírito de fraternidade.
Art. 2º. Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades 
proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente 
de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, 
de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra 
situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto 
político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da 
pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou su-
jeito a alguma limitação de soberania. 
Fonte: https://bit.ly/3rY3iVp
A partir de normas e declarações como estas, podemos dizer que algumas referências para a 
questão social, política, racial e étnico-cultural tornaram-se universais. Não signi� ca que todos 
os países e povos compartilhem dos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
e o pratiquem plenamente, mas trata-se de uma ótica mais global sobre tais questões. 
Apesar de haver culturas que, ao longo da história, sobrepuseram-se a outras, há também 
contra racionalidades, como é o caso da contracultura. 
Contracultura
Alguns movimentos socioculturais são de oposição ao modo dominante de vida, ao modo 
hegemônico, que se contrapõem à cultura vigente em uma época, em um lugar ou de forma 
mais universal. 
As décadas de 1960 e 1970 corresponderam a um momento de muita ebulição social e cul-
tural. Fatos como a Guerra do Vietnã, na qual os Estados Unidos foram lutar, levaram ao surgi-
mento de movimentos paci� stas contra as armas nucleares e as guerras em si, assim como mo-
vimentos sociopolíticos de mulheres, estudantes e negros. Destes surgiram novas identidades 
socioculturais, na música, nas artes, no teatro, nas formas de se vestir, de se alimentar, de viver. 
Pode-se dizer que tais movimentos foram de contracultura, pois buscaram ir contra o mun-
do das guerras, da cultura imposta pela raça branca e do consumismo capitalista, en� m, da 
cultura dominante. 
Esse ideário da contracultura levou milhares de estudantes à luta por uma melhor educação 
e por outros motivos de melhor vida, fosse no Brasil, nos Estados Unidos, na França e em outros 
países. Assim como a formas de música e de um jeito de viver que se contrapunham ao modo de 
vida cheio de normas e regras advindas de uma sociedade hierárquica patriarcal, buscaram uma 
vida alternativa, como dizia a música de Raul Seixas: “Viva a sociedade alternativa”. 
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Figura 2 – Casal hippie
Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem. Casal hippie. Imagem colorida de um casal na beira de uma estra-
da. O homem está de pé, ele tem longos cabelos pretos, possui uma bandana na cabe-
ça e um colar no pescoço, veste camisa branca de mangas longas, calças jeans e tênis. 
A mulher está sentada numa mala de viagem, ao lado do homem, ela tem longos ca-
belos loiros e encaracolados, veste um vestido florido e sandálias. Fim da descrição.
Os hippies, o rock, os eventos de música nesse período ajudaram a exempli� car o que seria a 
contracultura: uma contraposição à cultura dominante, com um olhar crítico, questionador do 
modo de vida vigente, buscando interpretar o mundo sob outros vieses, outras formas de pen-
sar. Nas artes visuais, por exemplo, com a Pop Art, o psicodelismo, com o surrealismo e formas 
grá� cas que mexeram com o inconsciente e que foram contra a arte do consumismo.
Na visão homem-natureza, ou ambiental, buscou-se um modo de vida menos estressante, 
mais próximo à natureza, com menos agrotóxicos, menos poluentes visuais, sonoros e do ar. 
Contrapôs-se à sociedade de consumo, do capitalismo exacerbado, das tecnologias, tal qual 
a� rma um pesquisador sobre este assunto:
A contracultura pregou o seu “retorno à natureza”. Diante da alienação tra-
balhista e do pragmatismo cientificista, ergueu os valores da contemplação e 
da harmonia. Era como se os jovens do mundo ocidental, especialmente os 
hippies, estivessem redescobrindo o milagre diário da natureza. Celebrava-se, 
na verdade, o mito da pureza do ser humano em contato com o mundo natural. 
Um ambientalismo místico, em suma, integrando a novíssima fantasia utópica 
da juventude mundial. (RISÉRIO, 2005, p. 27)
Desse modo, diversos movimentos de contracultura buscaram uma vida alternativa, sobre-
tudo nas sociedades do mundo ocidental – Europa e América do Norte –, trazendo à tona a 
contestação – caso dos hippies, dos beatniks e dos punks, cujas formas de ser e estar eram con-
trapontos ao mundo ocidental capitalista. 
Finalizando esta Unidade, é importante observar que existem diferentes culturas pelo mun-
do e, ao longo da história, muitas tornaram-se etnocêntricas; bem como, além da cultura domi-
nante, hegemônica, existiram – e existem – movimentos de contracultura.
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Diversidade Étnico-cultural
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidadania
BIANCHETTI, L.; FREIRE, I. M. (Org.). Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidada-
nia. Campinas, SP: Papirus, 1998.
Antropologia Social e Cultural
CHICARINO, T. Antropologia Social e Cultural. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2014.
Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações sobre as mudanças na alimentação urbana
GARCIA, R. W. D. Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações sobre as mu-
danças na alimentação urbana. Rev. Nutrição, Campinas, SP, v. 16, n. 4, p. 483-492, out./dez. 2003. 
Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e identidade
PAULA, C. R. Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e identidade. Curitiba, PR: 
Intersaberes, 2013.
O que é contracultura?
PEREIRA, C. A. M. O que é contracultura? São Paulo: Nova Cultural; Brasiliense, 1986.
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Diversidade Étnico-cultural
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Referências
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Site Visitado
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