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Capítulo VI Do Ultraje Público ao Pudor Ato obsceno Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa. Objetividade jurídica - O pudor público. Tipo objetivo Praticar: Efetuar, realizar. Elemento normativo Ato obsceno: É qualquer ato de cunho sexual que fere o sentimento médio de pudor. Obs.: Se o ato obsceno for realizado na presença de pessoa menor de 14 anos, o crime é do art. 218-A do CP. Locais que podem ocorrer: a) Lugar público: É aquele de livre acesso. Ex.: Ruas, praças, parques etc. b) Aberto ao público: É aquele onde o acesso a qualquer pessoa depende de determinadas condições. Ex.: Teatro; cinema; estádio de futebol; ginásio de esportes; balada etc. c) Exposto ao público: É um local privado, mas que pode ser visto por número indeterminado de pessoas que passem pelas proximidades. Cuidado: Se uma mulher está tomando sol no quintal e este tem muros baixos, o local é considerado exposto ao público e ela está praticando ato obsceno, mas se o local é privado (muros altos e bem vedados) onde o público só terá acesso mediante a devassa da intimidade, ou seja, uma luneta ou esforço para visualizar o ato obsceno, aí não é a mulher quem está incomodando, mas ela que está sendo incomodada e, nesse caso, o crime poderá ser o de importunação sexual (art. 215-A). - Relação sexual dentro de veículo é ato obsceno, mas se os vidros estão embaçados ou é espelhado, onde a pessoa precisa se aproximar e se esforçar para ver o interior, o crime pode ser outro, uma vez que aquela pessoa não deveria interferir na vida alheia. - Ato obsceno x Importunação sexual: No ato obsceno, a vítima é indeterminada (toda sociedade); na importunação, a vítima é determinada (contra alguém, com ou sem toque físico). Elemento subjetivo - Dolo. Não há previsão da forma culposa. Consumação - Com a prática do ato obsceno. Trata-se de crime formal. Tentativa Não admite. Ou realiza o ato e o crime está consumado ou não realiza e não há crime. TÍTULO VII DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO Bigamia Art. 235: Contrair alguém, sendo casado, novo casamento. Pena: reclusão, de 2 a 6 anos. Contrair: Assumir novo casamento, civil ou religioso com efeito civil - art. 226, § 2º, CF. Obs.: Casamento só no religioso não gera crime de bigamia. Pressuposto do crime: O tipo legal pune aquele que se casa novamente sem desfazer o primeiro casamento, ou seja, casa, pelo menos, em duplicidade. Veja: Mas pune também a poligamia, pois o tipo refere-se à pluralidade de casamentos sendo alguém casado. Habilitação (Arts. 1525 a 1542 CC). Celebração (Art. 1535 CC): Consentimento dos nubentes. Fim da sociedade conjugal: Art. 1571 CC: Falecimento do cônjuge, nulidade ou anulação, separação judicial e divórcio. § 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente (na verdade é extinto) o crime. - 1º Casamento nulo (Art. 1548 CC - Ex.: doente mental) ou anulável (Art. 1550 - Ex.: incapaz de consentir; sem idade mínima 16 anos). - É considerado vigente até que os vícios sejam declarados em ação competente. Sujeito Ativo - Homem ou mulher. Sujeito passivo - Estado e o cônjuge traído. § 1º: Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. - O não casado, se casar com alguém que sabe já ser casado, comete o crime de bigamia, mas a pena é mais branda. Pluralidade de união estável: Não há o crime. No DP não é admitida a analogia in malam partem. Bigamia entre pessoas do mesmo sexo: O STF, na ADPF (arguição descumprimento de preceito fundamental) 132 e na ADI (ação direta de inconstitucionalidade) 4277, com fundamento na CF e no Código Civil, reconheceu a possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo, logo, nessa condição, poderá haver bigamia. Testemunha: Se conhece o impedimento e, ainda assim, afirma falsamente sua inexistência, é considerada partícipe do crime, mas responde pela pena do §1º, uma vez que o não casado, diretamente envolvido, responde por esta pena e, não seria justo, o partícipe, que não tem envolvimento direto, ser punido mais severamente pela pena do caput. Veja: Sobre o tema, há corrente minoritária defendendo a impossibilidade da participação, sob a alegação que a testemunha não participa da execução do núcleo do tipo. Juntada de documento falso (art. 297 CP) ou declaração falsa (art. 299 CP): a) O crime fim (art. 235) absorve o crime meio (arts. 297 ou 299), levando este em consideração apenas para efeito de fixação da pena. b) Trata-se de bens jurídicos distintos e, portanto, aplica-se o concurso material de crimes, evitando, assim, que um dos bens jurídicos fique desprotegido. Elemento Subjetivo - Dolo. - Há o erro de tipo (art. 20) se o agente não estava ciente do impedimento. Ex.: Acha que houve sentença do divórcio, quando ocorreu apenas a separação. Exclui o dolo. - Há erro de proibição (sobre a ilicitude do fato) se acredita que a separação é suficiente. Se inevitável, isenta de pena; se evitável, diminui de 1/6 a 1/3. Consumação - Celebração do 2º casamento com o consentimento. Tentativa Divergências: a) Admite - Até a consumação os atos são preparatórios ou executivos; b) Não admite - Os atos são apenas preparatórios. CAPÍTULO II DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO Registro de nascimento inexistente Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente. Pena - reclusão, de 2 a 6 anos. Objeto jurídico - É o estado de filiação que deve ser preservado por ser medida protetora da família. Objeto material - É o registro civil realizado. Promover: Gerar, dar origem, ou seja, comparecer perante o Cartório do Registro Civil para dar causa à inscrição de nascimento que não aconteceu. Nascimento Inexistente: A mulher não deu a luz porque não estava grávida ou deu a luz mas o feto nasceu morto. Falsidade ideológica (art. 299): Não caracteriza, uma vez que o artigo 241 é especial em relação ao falso documental. Sujeito Ativo - Qualquer pessoa. - Admite-se coautoria (médico ou testemunhas que atestaram o nascimento que não aconteceu). Sujeito Passivo - Estado. Consumação - Efetiva inscrição. Tentativa - Possível. Parto suposto. Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil. Pena - reclusão, de dois a seis anos. Objeto jurídico - Protege o estado de filiação. Classificação - Tipo misto cumulativo e alternativo. - Praticando três condutas (dar, registrar, ocultar ou substituir), responderá por três delitos. Só nas condutas ocultar ou substituir que responderá por um só crime. Figuras Criminosas a) Dar parto alheio como próprio: - Atribuir a si a maternidade de uma criança alheia. - A conduta vai, consequentemente, vai provocar mudança na situação jurídica do indivíduo em relação à sua família. - O registro é dispensável, embora possa ser conduta naturalmente sequencial. b) Registrar como seu o filho de outrem: - Adoção à brasileira. c) Ocultar recém-nascido, suprimindo direito inerente ao estado civil: - Basta a não apresentação do recém-nascido para configurar a supressão de direito relativo ao estado de família. d) Substituir recém-nascido, alterando direito inerente ao estado civil: - Há troca dos recém-nascidos, alterando o estado de filiação e, assim, lhe suprimindo direitos. Sujeito ativo - Na 1ª figura, o crime é próprio (mulher) e pode haver concurso de pessoas (médico, familiares). Nas demais, o crime comum. Sujeito passivo - O Estado, em todas as figuras, e o recém-nascido nas duas últimas (“c” e “d”). Elemento Subjetivo - O dolo. Obs.: Exige finalidade específica nas figuras “c” e “d”, ou seja, ocultar ou substituir com o fim de suprimirou alterar direito inerente ao estado civil do neonato. Crime privilegiado ou perdão judicial Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. Reconhecida nobreza: Nem sempre há má intenção na conduta. - Não sendo o caso de perdão, v.g., por ter o agente péssimos antecedentes, resta ao Juiz aplicar o privilégio, que é a pena de 1 a 2 anos de detenção. CAPÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR Abandono material Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo. Pena - detenção, de 1 a 4 anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário-mínimo vigente no País. Finalidade: Tutelar a família no que diz respeito ao amparo material (alimentos, habitação, remédios, vestuários etc.) recíproco entre seus membros Art. 229 CF: Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. Art. 230 CF: A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. Elementos do tipo 1º) Deixar de prover a subsistência: É o não sustento para assegurar a vida e a saúde do: a) cônjuge (casado); b) filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho; c) ascendente inválido (incapaz de se sustentar) ou maior de 60 anos (antes era valetudinário-enfermo). Quais as maneiras de não atender à subsistência? - Não lhe proporcionando os recursos necessários: Deixar de fornecer auxílio ou; - Faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada: Deixar de remunerar. Elemento normativo - Sem justa causa. 2º) Deixar de socorrer: É abandonar e não dar os cuidados pessoais ou de assistência (recursos médicos) para com o portador de enfermidade grave: a) o ascendente (pai, mãe, avó etc.); b) o descendente (filho, neto, bisneto). Elemento normativo - Sem justa causa. Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. 3º) Frustrar: Enganar, iludir ou, Elidir (e não ilidir): Suprimir ou eliminar, Sendo solvente (pode, mas não quer), o pagamento de pensão alimentícia judicialmente fixada, acordada ou majorada. Ex.: Subterfúgios (abandono de emprego) ou recursos processuais protelatórios. Elemento Subjetivo - Dolo. Prisão Civil por Alimentos: Nada tem a ver com o ilícito do art. 244 CP, pois não tem caráter punitivo, mas coercitivo. Uma vez pago o débito civil não há descaracterização do ilícito penal que se consumou com o não pagamento da pensão. Abandono Intelectual Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. Art. 229 CF: Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. Objeto jurídico - Educação e instrução do menor. Objeto material - Instrução escolar do filho. Deixar de prover: Não providenciar. Instrução primária - É o período de alfabetização, ou seja, de conceitos básicos e fundamentais da formação educacional. Idade escolar - É o período de vida que abrange a pessoa dos 4 aos 14 anos de idade. - O art. 208, §1º, da CF dispõe que o acesso ao ensino obrigatório e gratuito constitui direito público subjetivo. - A LDB (Lei nº 9.394/96), em seu art. 4º, I, preceitua ser dever do Estado promover o ensino fundamental obrigatório e gratuito, dos 4 aos 17 anos de idade, organizada da seguinte forma: a) pré-escola, b) ensino fundamental e, c) ensino médio. - Já o art. 6º diz que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade. Elemento Normativo - Sem justa causa. Consumação - Quando deixa de ser matriculado ou, quando matriculado, não frequenta. - Instrução em casa: Fato atípico. Tentativa - Impossível. Crime omissivo puro. CAPÍTULO IV DOS CRIMES CONTRA O PODER FAMILIAR, TUTELA OU CURATELA Subtração de incapazes Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial. Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime. Objeto jurídico - A guarda de pessoa menor de 18 anos ou interditada. Tipo objetivo Subtrair: Retirar o menor ou interditado de quem exerce sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial. - Não importa se houve consentimento do menor ou do interditado. - Há o crime ainda que a ação tenha como intenção dar um futuro melhor ou afastá-lo da convivência da mãe que passou a viver em união estável com outro homem. - A retirada exige ânimo definitivo. - Se maior ou louco sem ser interditado não há este crime. - É crime subsidiário. Havendo sequestro ou qualquer outro crime mais grave, a subtração fica absorvida. Modos de execução - Fraude, violência, ameaça etc. Sujeito ativo - Qualquer pessoa, inclusive o pai, tutor do menor ou curador do interditado. § 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda. Sujeito passivo - Os titulares do direito, bem como o menor e o interdito subtraído. Consumação - No momento da subtração. É considerado crime permanente. Tentativa - Possível. § 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena. - Perdão judicial. Causa extintiva da punibilidade (art. 107, IX, CP). Ação penal - Pública incondicionada e de competência do JECrim. TÍTULO VIII DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA - Incolumidade pública: Visa evitar o perigo ou risco coletivo. O presente Título é subdividido em três Capítulos: 1. Dos crimes de perigo comum. 2. Dos crimes contra a segurança dos meios de comunicação e transporte e outros serviços. 3. Dos crimes contra a saúde pública. CAPÍTULO I DOS CRIMES DE PERIGO COMUM Classificação dos crimes conforme o resultado jurídico: a) De lesão ou de dano - É aquele que se consuma com a efetiva lesão ao bem jurídico. b) De perigo - É aquele que se consuma com a simples exposição do bem jurídico a uma situação de perigo. O perigo pode ser: a) Individual: Quando atinge pessoa determinada. b) Coletivo: Quando atinge número indeterminado de pessoas. Obs.: Os crimes deste Capítulo são de perigo coletivo; já os do Título I, Capítulo III, são de perigo individual. O perigo subdivide em: - Concreto ou real - O perigo figura como elementar do tipo, logo exige prova real, ou seja, alguém deve ter sido exposto a perigo. Exs.: Artigos 132 CP e 309 CTB. - Abstrato ou presumido - O perigo não figura como elementar do tipo, pois este se limita a descrever uma conduta presumidamente perigosa. Incêndio Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de 3 a 6 anos, e multa. Objeto jurídico - A tranquilidade na vida em sociedade, evitando que integridade física e bens das pessoas sejam expostos a risco. Elementos do tipo Causar incêndio: Provocar, intencionalmente, a combustão (queima) de algum material no qual as chamas se propaguem em proporções geradora de risco efetivo para númeroelevado e indeterminado de pessoas ou coisas. Crime de perigo comum: Se a conduta incendiária ocorreu em casa isolada no campo não havendo o risco coletivo, o crime será de dano qualificado (art. 163, §único, II, CP). Elemento subjetivo: Dolo, ou seja, a vontade de provocar o incêndio, devendo o agente estar ciente de que sua conduta irá expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outras pessoas. O crime pode ser praticado por: a) Ação - Movimento corpóreo, fazer alguma coisa. b) Omissão - Não fazer o que tinha o dever jurídico de evitar. Sujeito ativo - Qualquer pessoa, inclusive o proprietário do local incendiado. Trata-se de crime comum. Sujeito passivo - Estado e as pessoas ou bens expostos ao risco. Consumação - No momento em que o fogo se expande, assumindo proporções que tornem difícil sua extinção. Tentativa - É possível (crime plurissubsistente). Atenção: a) Se a intenção for matar ateando de fogo na casa ou no carro, o crime é de Homicídio qualificado (consumado ou tentado) pelo emprego de fogo em concurso formal com o crime de incêndio. b) O dano qualificado pelo uso de substância inflamável (art. 163, §único, II, pena de detenção de 6 meses a 3 anos) fica absorvido pelo crime de incêndio. O dano só se caracteriza quando o perigo gerado pela substância inflamável não é comum. Aumento de pena § 1º - As penas aumentam-se de um terço: I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio; 1. A vantagem visada deve ser de caráter patrimonial. Ex.: Provocar incêndio para destruir títulos de crédito relacionado a dívida do agente. Provocar incêndio para danificar estoque de concorrente para que sua empresa seja contratada para o fornecimento dos mesmos produtos etc. 2. O aumento vai incidir ainda que o agente não consiga obter a vantagem (o tipo exige apenas a finalidade de obter). 3. Não importa se visava obter a vantagem para si ou para outra pessoa. 4. Sendo a intenção do agente é a obtenção de valor de seguro mediante incêndio, há divergências: a) O ESTELIONATO (art. 171, §2º, V - pena de reclusão de 1 a 5 anos) fica absorvido pelo crime de INCÊNDIO por ter este crime pena mais gravosa (pena de 3 a 6 anos de reclusão, aumentada de 1/3). b) O ESTELIONATO é crime especial (trata de fraude, por meio de incêndio, para obter valor de seguro) em relação ao INCÊNDIO, desde que do fato não decorra perigo comum. c) JURISPRUDÊNCIA: Haverá concurso de crimes entre os artigos 250, §1, I e 171, § 2º, V, se o agente, ao destruir coisa própria, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro, utilizar algum meio que cause incêndio, e, por conseguinte, perigo comum. No caso, o estelionato protege o bem jurídico individual (patrimônio da seguradora), ao passo que o art. 250 tutela o bem jurídico coletivo (incolumidade pública), de sorte que não há bis in idem. II - se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; - Casa habitada é aquela que funciona servindo de moradia a alguém, ainda que não tenha este fim específico. Ex.: Colaborador que, tendo sido despejado da sua casa, é autorizado pelo patrão a dormir na empresa. - Casa destinada a habitação é aquela que foi construída para esta finalidade, ainda que não esteja sendo habitada por qualquer pessoa no momento do incêndio. b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; - Edifício público é utilizado pelo Estado, ainda que este não seja o seu proprietário. - Edifício destinado a uso público é o que, embora de propriedade privada, permite o acesso do público em geral, de forma onerosa ou gratuita. Ex.: Cinemas, teatros, restaurantes, igrejas. - Edifícios destinados a obras de assistência social ou de cultura, como os hospitais e os museus etc. c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; - Trata-se de veículos destinados ao transporte de pessoas, incidindo a majorante ainda que não estejam ocupados por pessoas ou coisas. d) em estação ferroviária ou aeródromo; - Por expressa disposição legal, a causa de aumento não poderá incidir para os portos e estações rodoviárias. e) em estaleiro, fábrica ou oficina; - Estaleiro é o local destinado à construção naval. - Fábrica é estabelecimento industrial. - Oficina é onde se exerce ofício f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; Explosivo: Dinamite e pólvora, Combustível: Carvão, lenha e palha, Inflamável: Álcool e petróleo. g) em poço petrolífero ou galeria de mineração; - A justificativa do aumento reside na enorme dificuldade de controle e extinção do fogo, uma vez iniciado o incêndio. h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. - Deve-se atentar para o princípio da especialidade, pois a conduta de “provocar incêndio em mata ou floresta” é crime ambiental, previsto no art. 41 da Lei n. 9.605/98. Assim, a questão será resolvida a partir da exposição do bem jurídico tutelado a perigo comum: - Se o incêndio não ocasionar perigo à coletividade, o fato caracterizará crime ambiental, devendo incidir o art. 41 da lei especial. Atenção: As elementares (lavoura e pastagem) não estão previstas na Lei dos Crimes Ambientais, de forma que o incêndio nelas provocado, se ocasionar perigo coletivo, será enquadrado no art. 250, § 1º, II, h, do Código Penal. Importante: A conduta de “soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano”, é CRIME AMBIENTAL, previsto no art. 42 da Lei n. 9.605/98, punido com pena de detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Incêndio culposo § 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de 6 meses a 2 anos. - Trata-se, portanto, de infração de menor potencial ofensivo. - O agente comete o ilícito por faltar com o dever objetivo de cuidado. Ex.: 1. Passageiro que, durante o voo, vai até o banheiro e acende um cigarro. Vendo que será descoberto por ter fumado em local proibido, coloca o cigarro no cesto de papeis, deixando o local rapidamente. Atenção: As majorantes do § 1º somente são aplicadas ao incêndio doloso. Formas majoradas (art. 258): - O art. 258 do Código Penal prevê outras hipóteses de aumento de pena. a) Se o incêndio é doloso e dele resulta lesão corporal de natureza grave, a pena é aumentada de metade; se resulta morte, a pena é aplicada em dobro. b) Se o incêndio é culposo e dele resulta lesão corporal, a pena é aumentada de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo (detenção, de um a três anos), aumentada de 1/3. Ação penal: Pública incondicionada. - Na modalidade culposa, o crime de incêndio é infração penal de menor potencial ofensivo (Lei n. 9.099/95). Subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento Art. 257 - Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento; ou impedir ou dificultar serviço de tal natureza: Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa. Objeto jurídico - A incolumidade pública. Análise do núcleo do tipo: - Subtrair - Tirar o bem o local, apoderar-se dele. - Ocultar - Esconder, encobrir. - Inutilizar - Destruir, danificar, tornar imprestável. Objeto material - Aparelho, material ou qualquer outro meio destinado a serviço de combate: a) ao perigo; b) a socorro; c) a salvamento. Obs.: Os bens móveis devem ter finalidade específica ao combate de situações de perigo. Exs.: Bombas de incêndio, alarmes veiculares, extintores, salva-vidas, escadas de emergência, medicamentos, roupas de proteção ao fogo etc. Ocasião especial: - O delito só tem lugar se praticado durante a ocorrência de; a) incêndio; b) inundação; c) naufrágio ou; d) outro desastre ou calamidade. Segunda figura típica: Impedir - Embaraçar, colocar obstáculo. Dificultar- Tornar mais custoso. Tipo misto alternativo: A prática de uma ou mais conduta, no mesmo contexto fático, consome-se num único crime. Elemento subjetivo - Dolo de perigo, ou seja, vontade de gerar risco não tolerado. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. Sujeito passivo - Estado e as pessoas efetivamente expostas a risco. Consumação - Crime de perigo abstrato. Com a subtração, ocultação ou inutilização, ainda que não consiga impedir o socorro. - Na segunda modalidade, se consuma quando efetivamente dificulta ou impede o socorro. Tentativa - É possível. Causas de aumento de pena: Aplica-se o art. 258 CP. Ação penal - É pública incondicionada. CAPÍTULO II DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E TRANSPORTE E OUTROS SERVIÇOS Arremesso de projétil Art. 264 - Arremessar projétil contra veículo, em movimento, destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar: Pena - detenção, de 1 a 6 meses. Objeto jurídico - São as pessoas e não o meio que a transporta. Tipo objetivo Arremessar: Jogar, lançar, atirar. Projétil - Objeto sólido capaz de ferir ou causar dano. Obs.1: O arremesso pode ser realizado mediante uso de qualquer meio ou artefato, exceto arma de fogo, por haver tipo legal específico (art. 15 da Lei 10.826/03). Obs.2: O tipo legal exige que o veículo esteja em movimento por terra, água ou ar no momento do arremesso. Veja: A expressão MOVIMENTO não pode ter seu significado restringido. Obs.3: O veículo deve ser destinado a transporte público (coletivo). Ex.: ônibus, navio ou avião. Obs.4: O veículo de uso particular ou de transporte público que esteja parado não gera o crime, podendo ocorrer dano, lesão corporal etc. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Sujeito passivo - Coletividade. Elemento subjetivo - Dolo. Consumação - Crime de perigo abstrato. Basta o arremesso, ainda que não atinja o alvo. Para Delmanto, o crime é de perigo concreto. Tentativa - Divergência. a) Inadmissível, crime unissubsistente (ou arremessar ou não arremessa), b) Possível. Ex.: Movimentar o braço para lançar o projétil e ser detido por alguém. Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; se resulta morte, a pena é a do art. 121, § 3º, aumentada de um terço. - São qualificadoras exclusivamente preterdolosas, pois se o agente quiser provocar a morte, responderá por crime de homicídio doloso, que absorve o delito de arremesso de projétil. CAPÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA Epidemia Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: Pena - reclusão, de 10 a 15 anos. Objeto jurídico - Saúde pública. Tipo objetivo Causar: Provocar, gerar, fazer nascer. Epidemia: Incidência, num curto período, em determinado lugar, região ou país, de grande número de casos de determinada doença. - Doenças que acometem seres humanos. Se em animais é epizootia. Se em vegetais é epifitia. Meio de execução Propagar: Difundir, espalhar, disseminar, fazer multiplicar por qualquer meio (pela contaminação do ar, da água, transmissão direta etc.). Germe patogênico: É o agente nocivo produtor de epidemia. É o micro-organismo produtor da moléstia, ou seja, o vírus, bacilos ou protozoários capazes de produzir moléstias infecciosas. Ex.: Tifo, poliomielite, raiva, sarampo, varíola, difteria, meningite, Covid-19 etc. - Todas são capazes de se propagar com facilidade e rapidez na população. Crime doloso: Com intenção específica de provocar a disseminação dos germes. Consumação - No momento em que várias pessoas estão contaminadas. - É crime de perigo concreto. Obs.: Há doutrinadores (como Victor Gonçalves) entendendo tratar-se de crime de dano, uma vez que exige a efetiva transmissão da doença a grande número de pessoas. Tentativa - Possível quando o agente propaga os germes patogênicos, mas não provoca a epidemia que visava. Sujeito ativo - Qualquer pessoa; Sujeito passivo - Coletividade e as pessoas que foram contaminadas. Forma qualificada: § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro. - Reclusão, de 20 a 30 anos. - Art. 1º, VII, Lei nº 8.072/90 - Crime hediondo. Forma culposa § 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos. Ex.: Manipulação, sem o devido cuidado, de material contendo germe patogênico. Infração de medida sanitária preventiva Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa: Pena - detenção, de 1 mês a 1 ano, e multa. Objetividade jurídica - A preservação da saúde pública. Tipo objetivo Infringir: Desrespeitar, transgredir, violar. Determinação: Regra, norma. Impedir introdução ou propagação: Evitar entrar ou disseminar doença contagiosa. Tipo penal em branco - Exige complemento por lei ou ato administrativo. Consumação - É crime de perigo abstrato. Basta o descumprimento da determinação do Poder Público. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro. - O aumento pressupõe a inobservância do preceito no desempenho das atividades profissionais, e não na vida particular. Omissão de notificação de doença Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Objetividade jurídica - A saúde pública. Tipo objetivo - Deixar de denunciar: Não comunicar (crime omissivo próprio). Sujeito ativo - Médico (crime próprio). Sujeito passivo - Estado e coletividade. Norma penal em branco (duas vezes): - Autoridade: Federal, Estadual e Municipal. - Doenças: Lei nº 6.259/75, art. 7º, dá ao Ministério da Saúde competência para, através de portaria, com atualização periódica, elencar as doenças de notificação compulsória. Elemento subjetivo - Dolo. Obs.: Se o médico cometer um equívoco no diagnóstico, não há crime, ainda que esse erro derive de imperícia. Consumação - Quando o médico deixa de notificar (crime de perigo abstrato) Tentativa - Inadmissível. Forma qualificada Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes previstos neste Capítulo, salvo quanto ao definido no art. 267. Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço. Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo: Pena - reclusão, de 10 a 15 anos. Objetividade jurídica - A saúde pública. Elementos do tipo Envenenar: Adicionar substância venenosa de forma a transformar a composição da água ou da substância alimentar ou medicinal. - Veneno: É a substância química ou orgânica que, introduzida no organismo, tem o poder de causar a morte ou sérios distúrbios na saúde da vítima. Água potável: Adequada à preparação de alimentos e à ingestão. Uso comum: Destinada ao consumo da coletividade. Uso particular: Destinada ao consuma particular de pessoas indeterminadas. Ex.: hóspede de hotel, detentos de uma prisão, funcionários de uma empresa etc. Substância alimentícia: É aquela que, no estado sólido ou líquido, o ser humano utiliza para se alimentar. Substância medicinal: Usada para tratamento, prevenção ou cura de enfermidades. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. Consumação - Com o envenenamento. - Crime de perigo abstrato, mas é indispensável a prova pericial do envenenamento. Obs.: Não é crime hediondo. § 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a consumo outem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada. - Entregar a consumo a água ou substância envenenada por outrem: Fornecer, dar, distribuir, colocar à disposição de número indeterminado de pessoas. - Ter em depósito: Manter guardada, armazenar com a finalidade de posterior distribuição. Crime formal (o fim é a distribuição, ainda que ela não ocorra). Modalidade culposa § 2º - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos. Forma qualificada: Art. 258 por determinação do art. 285 CP. Medicamento em desacordo com receita médica Art. 280 - Fornecer substância medicinal em desacordo com receita médica: Pena - detenção, de 1 a 3 anos, ou multa. Objeto jurídico - A saúde pública Tipo objetivo Fornecer: Entregar, vender, doar, colocar à disposição de alguém, seja a título oneroso ou gratuito. Substância medicinal - É aquela destinada à cura, melhora, controle, prevenção ou tratamento de uma enfermidade. Desacordo: Contraria à prescrição médica. Diz respeito à espécie, quantidade ou qualidade da substância. Obs.1: Sendo o mesmo princípio ativo, o fato é atípico. Obs.2: A norma não alcança dentistas, psicólogos, enfermeiros etc. Obs.3: Se o farmacêutico entender que a receita está errada, pelo disposto no art. 254 do Regulamento do Departamento Nacional de Saúde, deverá consultar o médico e este poderá retificá-la ou declarar que assume o risco. Receita médica: É a prescrição, escrita ou elaborada e firmada por médico, que contém o nome do medicamento ou a indicação do preparo que deve ser adquirido pelo paciente. - Esta recomendação médica não pode ser alterada ou modificada pelo agente em situação de normalidade, mesmo se mais eficaz ou de melhor qualidade o medicamento. Sujeito ativo - Pessoa que fornece o medicamento. Pode ser qualquer pessoa. Sujeito passivo - Estado / pessoa a quem o remédio é fornecido. - Crime de perigo abstrato, mas precisa demonstrar que a substância está em desacordo. - Crime doloso. Não conseguindo ler por estar escrito com letra de difícil compreensão não há dolo pelo erro, mas responde culposamente. Consumação - Com a entrega do remédio em desacordo. Crime formal. Tentativa - Possível. Modalidade culposa Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de 2 meses a 1 ano. - Ocorre quando o agente se mostra descuidado na análise da receita, na preparação do medicamento ou na sua entrega, fornecendo medicamento em desacordo com o receitado. Causa de aumento de pena - Aplica-se o art. 285 c.c art. 258, ambos do CP. - Se, na forma culposa, resulta lesão corporal, a pena será aumentada em 1/2; se resulta morte, será aplicada a pena do homicídio culposo aumentada em 1/3. - Se, na forma dolosa, resulta lesão de natureza grave, a penas será aumentada em 1/2; se resulta morte, será aplicada em dobro. Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites: Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa. Objeto jurídico: A saúde pública. Justificativa da incriminação: O exercício de determinadas profissões exige conhecimento técnico e teórico bastante aprofundado. Por isso são fiscalizados pelo Poder Público. É o que ocorre com a Medicina, Odontologia e Farmácia, razão da existência do crime. Tipo objetivo. 1. Exercer: É praticar de forma constante e reiterada as atividades. Obs.: São regulamentadas por lei e só podem exercê-las quem está autorizado pelos Conselhos competentes. - Lei 3.268/57 = Conselho de medicina; - Lei 4.324/64 = Conselho de odontologia; - Lei 9.120/95 = Conselho de farmácia. - A falta de registro em órgão Estadual gera mera irregularidade quando está inscrito em outro Estado. 2. Exceder os seus limites: É exercer atos que extrapolam os limites profissionais. Exige habitualidade. - É o caso de dentista que passa a realizar cirurgias cardíacas; do farmacêutico que passa a receitar medicamentos; do médico que passa a manipular substâncias medicinais. - Crime de perigo abstrato. - Especialista: Não há crime, por falta de normas que restringem ou impõem limites às atividades profissionais. Sujeito ativo - Na primeira parte, trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo. - Na segunda parte, trata-se de crime próprio. Só o médico, dentista ou farmacêutico pode praticá-lo. Sujeito passivo - Estado e as pessoas que tenham sido atendidas pelo agente. Elemento subjetivo - Dolo. Consumação - Com a habitualidade, ou seja, com a reiteração de condutas privativas de médico, dentista ou farmacêutico ou pela repetição de atos que extrapolem os limites da profissão. Tentativa - Não é possível (crime habitual). Causa de aumento de pena: Art. 285 do CP. Charlatanismo Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa. Charlatão: É o golpista que ilude a boa-fé dos doentes, inculcando ou anunciando cura por meio secreto ou infalível, ciente de que a afirmação é falsa. Inculcar: É afirmar, recomendar. Anunciar: É avisar, informar, propalar a número indeterminado de pessoas a existência de um meio de cura por qualquer meio de comunicação. O método é: a) Secreto - Não revela a natureza nem o modo de atuação ou, b) Infalível - Eficácia absoluta. Exs.: HIV, câncer, Covid 19 etc. - Pode ser praticado pelo médico ou qualquer profissional da saúde. - Não é crime habitual, basta um ato. - Crime doloso - Sabe da ineficácia do meio de cura proposto e, ainda assim, afirma ser infalível. Obs.: Se acredita, sinceramente, na cura anunciada, o fato é atípico. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. Sujeito passivo - Estado e as pessoas atendidas pelo charlatão. Consumação - Com o anúncio ou inculcação da cura. - Crime de perigo abstrato. Tentativa - Possível quando o anúncio é feito por escrito. Causa de aumento de pena: Art. 285 CP. Distinções: a) Charlatanismo x exercício ilegal da medicina. Neste o agente acredita no tratamento recomendado; enquanto naquele o agente não crê na eficácia do meio de cura que anuncia. b) Charlatanismo x curandeirismo. Este é crime mais grave e pressupõe que o agente prescreva, ministre ou aplique medicamento; enquanto naquele basta anunciar ou inculcar. Curandeirismo Art. 284 - Exercer o curandeirismo: I - Prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; II - Usando gestos, palavras ou qualquer outro meio; III - Fazendo diagnósticos: Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa. Exercer: Realizar, praticar atividades de modo reiterado. - É curandeiro a pessoa sem conhecimentos técnicos e científicos que deixa isso claro às pessoas, mas que as faz acreditar que pode curar por meio de: a) Rezas; b) Ervas; c) Essências; d) Benzeduras; e) Raízes; f) Passes etc. Obs.: A liberdade de crença e de culto asseguradas no artigo 5º, VI, da CF não exclui o crime quando o líder religioso deixa de lado a pregação da fé e passa a atos concretos de tratamento de saúde de fiéis doentes por meio de benzeduras, tratamentos místicos, passes, ministração de óleos sem poder de cura etc. Veja Julgados: - STF: Qualquer princípio de crença a serviço da arte de curar é nocivo à saúde física e moral do povo e, portanto, constitui crime (RT 310/746). - TJ/RS: Quem prescreve uso de água fria, com a aposição de mãos e invocação de forças sobrenaturais, para a cura de doença, pratica o curandeirismo, que é crime contra a saúde pública (RT 204/345). II - Usando gestos, palavras ou qualquer meio análogo. Gestos: São os passes; Palavras: São as rezas, benzeduras; Qualquer outro meio: É fórmula genérica. Punição de quem exerce práticas inofensivas e fantasiosas, tais como magias, simpatiasetc. III - Fazendo diagnósticos - É afirmar a existência de uma doença com base nos sintomas apresentados pelo paciente; é emitir parecer acerca da existência de enfermidade, ato próprio de médico. - Crime de perigo abstrato e doloso. Sujeito ativo - Pode ser qualquer pessoa, desde que não dotada de conhecimentos técnicos de medicina. Sujeito passivo - A Coletividade e a pessoa submetida ao crivo do curandeiro. Consumação - Trata-se de crime habitual que somente se consuma com a reiteração de condutas. Tentativa - Inadmissível por tratar de crime habitual. Causas de aumento de pena: Art. 285 CP. TÍTULO IX DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA - PAZ PÚBLICA é a sensação de TRANQUILIDADE, de SEGURANÇA, de CONFIANÇA que a sociedade deve ter no seu convívio diário. Incitação ao crime Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena - detenção, de 3 a 6 meses, ou multa. Incitar: Estimular, instigar, provocar a prática de CRIME de qualquer natureza, previstos no CP ou em outras leis. Obs.: A incitação à CONTRAVENÇÃO PENAL não é crime. - Praticado por conduta COMISSIVA, mas também cabível a OMISSIVA IMPRÓPRIA (art. 13, §2º, CP), como p.ex., a do policial que presencia terceiro incitando a prática de crime e, por estar descontente com seus vencimentos, não age para evitar a conduta. Publicamente: Na presença de elevado número de pessoas. A prática de crime: Cometer determinada espécie de crime. Obs.: A simples OPINIÃO favorável à legalização de certas condutas NÃO CARACTERIZA O CRIME. Ex.: Porte de drogas, aborto, porte de armas etc. Meios usados: Qualquer meio. Ex.: Panfletos; cartazes; discursos; gritos em público; e-mails; sites na internet; em redes sociais (facebook, twitter, instagran); entrevista em rádio, revista, jornal ou televisão etc. - É crime manter site na internet dizendo que todo marido traído deve espancar ou matar a mulher; ou, quem, em entrevista, aconselha as pessoas a fazer ligação clandestina de água, luz, gás etc.; ou, quem, em praça pública, estimula as pessoas, diante da crise econômica, a saquear lojas etc. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Sujeito passivo - A coletividade. Consumação - Basta a incitação pública chegar ao conhecimento de número indeterminado de pessoas, ainda que estas não venham a aderir ao estímulo criminoso. - Trata-se de CRIME FORMAL e de PERIGO ABSTRATO. Obs.: Se ao menos uma das pessoas incitadas praticar o crime estimulado, o INCITADOR vai responder pelo artigo 286 em concurso material com o crime que instigou, por ser partícipe deste. Tentativa - Só é possível na forma escrita. Ex.: Extravio dos panfletos. Elemento subjetivo - Dolo. Não admite a forma culposa. O agente, para cometer o crime, precisa conhecer todos os elementos do tipo, caso contrário, poderá incidir em erro de tipo. Ex.: Médico estrangeiro, defensor do aborto, acreditando ser permitido o procedimento no Brasil, o estimula em praça pública. Ação penal - Pública incondicionada, de competência do JECrim. Apologia de crime ou criminoso Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime: Pena - detenção, de 3 a 6 meses, ou multa. Fazer: Realizar, manifestar. Apologia: Elogiar, enaltecer, exaltar, engrandecer, glorificar. Fato criminoso: É um ilícito que já ocorreu (passado). Autor de crime: É a pessoa do criminoso em razão do crime que praticou e não quanto a seus atributos morais ou intelectuais. Obs.: O presente crime difere do anterior exatamente por se referir a fato PRETÉRITO, enquanto a Incitação se refere a fato FUTURO. Publicamente: Na presença de número elevado de pessoas ou de modo que chegue ao seu conhecimento. Obs.: Conversas caseiras, em que alguém enaltece a figura de um perigoso traficante ou a sonegação de impostos da empresa familiar NÃO GERA O CRIME. Apologia de mais de um fato criminoso ou de mais de um autor de crime: Se no mesmo contexto fático, o crime é ÚNICO. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Sujeito ativo - A coletividade. Consumação - Com a exaltação feita em público, independentemente de qualquer outro resultado. - Trata-se de crime FORMAL e de perigo ABSTRATO. Tentativa - Possível só na forma ESCRITA. Ação penal - Pública incondicionada, de competência do JECrim. Associação Criminosa Art. 288. Associarem-se 3 ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos. Associar: Reunir, juntar, aglomerar. Requisitos - Quantidade de pessoas - Três ou mais. Inclui-se os menores com discernimento, os que já morreram, os que não foram identificados etc. Ex.: João da Silva e Paulo dos Santos se associaram com “Zoinho” e “Roxinho”. ... Obs.: Os menores sem discernimento não incluem no cômputo. Ex.: Dois agentes utilizam de uma criança com 5 anos de idade. Não haverá associação. - Estabilidade - Invariável, inalterável. - Permanência - Duradoura, constante. Não exige ser perpétua. - Finalidade - Praticar crimes de qualquer natureza. Ex.: Dois ou mais roubos ou, então, furtos, roubos, extorsões, homicídios etc. - Formação com três pessoas e uma delas abandona a associação, já há consumação. - A prática de delito pelo grupo, sem o conhecimento prévio de um de seus integrantes, não o responsabilizará pelo ilícito, evitando a responsabilidade objetiva. - A ASSOCIAÇÃO difere do CONCURSO de PESSOAS. Neste a união é momentânea para a prática de crime específico; enquanto na associação a reunião precisa ser estável e com o fim de reiteração delituosa. - Não cabe associação para a prática de contravenção penal. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. Crime comum e de concurso necessário. Sujeito passivo - A coletividade. Consumação - Quando ocorrer o acordo de vontade entre os integrantes no sentido de formar a associação, independentemente da prática de qualquer crime. - É crime autônomo. Ocorrendo os crimes que efetivamente queriam praticar, haverá CONCURSO MATERIAL. Tentativa - Inadmissível. Ou se unem e o crime está consumado ou há mero ato preparatório se ficar nas tratativas. Concurso de pessoas - Quando os delitos cometidos já possuem qualificadora ou causa de aumento de pena pelo envolvimento de pelo menos duas pessoas, HÁ DIVERGÊNCIA na doutrina e jurisprudência. Ex.: Três pessoas se unem de forma estável e praticam dois furtos ou furto e roubo. a) Para não incidir o bis in idem, respondem por Associação em concurso material com furto simples. b) Respondem pela associação e furtos qualificados, uma vez que a associação é um crime de perigo contra a coletividade pela mera formação do grupo em caráter estável; enquanto a qualificadora decorre da maior gravidade da conduta contra a vítima. Este é o entendimento do STJ e STF. Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. - Até a metade: E não em metade. Significa que o juiz pode escolher índice menor. Ex.: 1/6, 1/5, 1/4, 1/3 e 1/2. - Apesar de haver divergência, o STF já decidiu que basta um dos integrantes atuar armado e isso guardar relação com os fins criminosos do grupo para incidir o aumento. Obs.: A arma pode ser própria (serve para ataque ou defesa) ou imprópria (feita para outra finalidade, mas também pode ser usada para matar ou ferir). Figura qualificada - O art. 8º da Lei nº 8.072/90 dispõe que será de 3 a 6 anos de reclusão a pena prevista no art. 288 CP quando se tratar de união visando à prática de crimes HEDIONDOS, TORTURA ou TERRORISMO. Obs.: Apesar de haver divergências na doutrina quanto a aplicação, no mesmo contexto, da causa de aumento de pena do § único do art. 288 CP com a qualificadora do art. 8º da Lei nº 8.072/90, prevalece o entendimento que é perfeitamente cabível a majorante com a qualificadora, uma vez que o art. 8º remete, expressamente, ao art. 288 CP, não havendo bis in idem no caso mencionado. - O § único do art. 8º prevê a DELAÇÃO PREMIADA, com reduçãoda pena de um a dois terços, se qualquer dos integrantes da associação denunciar à autoridade (juiz, promotor, delegado) o “bando ou quadrilha”, possibilitando seu desmantelamento. Obs.: Para o benefício é obrigatório o desmantelamento e, apesar do tipo mencionar “bando ou quadrilha”, por ser benefício, aplica-se a associação após a alteração na atual redação. Obs.: No caso de concurso material entre o delito de associação e outros crimes praticados pelos integrantes, a redução só atingirá o crime do artigo 288 CP. Ação Penal: Pública incondicionada. Constituição de milícia privada Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código: Pena - reclusão, de 4 a 8 anos. Tipo Objetivo Constituir: Criar, fundar, formar. Organizar: Estruturar; colocar em ordem para as atividades; estabelecer bases para o funcionamento; ordenar de forma mais eficaz. Integrar: Compor; fazer parte da milícia; se unir a ela. Manter: Colaborar para que a milícia, já constituída, prossiga em suas atividades fornecendo material bélico, meio de comunicação, de transporte etc. Custear: Colaborar financeiramente; cobrir os custos com dinheiro. Tipo subjetivo - Dolo específico de praticar crimes previstos no CÓDIGO PENAL. Obs.: Se for crimes previstos em Leis Especiais, o crime será do art. 288 CP. Obs.: O tipo legal não estabelece a quantidade mínima de pessoas, mas, face a sua localização geográfica, o entendimento predominante é que a ele se aplica a quantidade prevista no art. 288 CP. Organização paramilitar ou milícia privada: Grupo armado de pessoas com o fim de prestar serviços de segurança em comunidades carentes aproveitando a omissão do Estado. Grupo ou esquadrão: Justiceiros ou matadores que aproveitam a ausência do Estado e, geralmente, atuam mediante pagamento da população eliminando supostos marginais. Obs.: O que diferencia este crime do anterior é a sua FORMA de ATUAÇÃO (grupo de pessoas agindo ostensivamente em determinado território prestando serviço de segurança mediante pagamento). Sujeito ativo - Qualquer pessoa (civil ou militar). Sujeito passivo - A coletividade (crime vago). Consumação - Com a constituição da milícia. Tentativa - Impossível. Trata-se de crime permanente. Ação penal - Pública incondicionada. TÍTULO X DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - Atualmente não há como se viver sem o uso de papel-moeda, cheques ou cartões, documentos pessoais e de veículo, CNH, contratos etc. - Se a falsificação desses papéis não fosse considerada crime de certa gravidade, ninguém acreditaria quando algum deles lhe fosse apresentado, prejudicando, assim, as relações sociais e jurídicas. FÉ PÚBLICA: É a crença na veracidade dos documentos, sinais e símbolos que são empregados nas relações em sociedade. - A violação da fé pública constitui crime de FALSO. REQUISITOS dos crimes de falso a) Imitação da verdade, que pode ser: - Mudança do verdadeiro. Ex.: Modificar o teor de um documento já existente. - Imitação da verdade. Ex.: Criar um documento falso imitando um verdadeiro. b) Dano potencial: Só ocorre quando o documento falsificado é capaz de iludir ou enganar número indeterminado de pessoas. c) Dolo: Todos os crimes contra a fé pública são DOLOSOS. - Não existe modalidade culposa no presente TÍTULO. MODALIDADES de falso a) Material: Refere-se à FORMA do documento. Está relacionado aos elementos externos que o compõe. b) Ideológico: Está relacionada ao CONTEÚDO do documento. c) Pessoal: É aquela consistente em se passar por outra pessoa quanto a suas QUALIDADES (nome, idade, estado civil, profissão etc.). PRINCÍPIO da INSIGNIFICÂNCIA - Devido à natureza do bem tutelado, as Cortes Superiores não admitem, em regra, a aplicação do princípio aos crimes contra a FÉ PÚBLICA. CAPÍTULO I DA MOEDA FALSA Moeda Falsa Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro: Pena - reclusão, de 3 a 12 anos, e multa. FALSIFICAR: Criar uma imitação da verdadeira. Moeda metálica: Objeto de metal que, por força de lei, representa dinheiro. Papel-moeda: É o meio de pagamento representado por uma cédula de papel ou outro material. Curso legal: Forçado, obrigado. Assim, a recusa em recebê-las impõe a contravenção do art. 43 do DL nº 3.688/41. Modos de falsificação a) Fabricação: Confecção da moeda ou cédula. É denominada CONTRAFAÇÃO. - A MOEDA é fabricada pela cunhagem. O PAPEL-MOEDA é fabricado pela impressão. b) Alteração: Modificação para maior o valor estampado na moeda ou no papel-moeda. Ex.: Colocar algarismo maior. - Falsificação grosseira: Súmula 73 do STJ - Se ficar demonstrado que a vítima poderia ter sido ENGANADA, o crime é de Estelionato, caso contrário, será CRIME IMPOSSÍVEL, por absoluta ineficácia do meio. Obs.: A falsificação de papel-moeda que já deixou de circular NÃO se amolda no tipo, podendo caracterizar ESTELIONATO. Elemento subjetivo - Dolo. Não se exige o fim de colocar o dinheiro em circulação. Obs.: Se a finalidade for demonstrar a capacidade artística de criar algo com as mesmas características NÃO É CRIME por estar ausente o dolo de falsificar. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. Crime comum. Sujeito passivo - O Estado. Consumação - Com o encerramento do processo de fabricação ou com o fim da alteração de um único exemplar, independentemente de qualquer outro resultado. Tentativa - Admissível. Figuras equiparadas § 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa. - Enquanto no CAPUT se pune o AUTOR da falsificação; no §1º pune-se outras pessoas que sabem (dolo direto) da falsidade e realizam uma das condutas descritas. - Importar (fazer entrar no país); - Exportar (fazer sair do país); - Adquirir (obter, receber); - Vender (alienar onerosamente); - Trocar (permutar); - Ceder (transferir a outrem); - Emprestar (entregar para ser devolvido); - Guardar (ter em depósito) e, - Introduzir na circulação (fazer a moeda passar de mão em mão). Consumação - No instante que realiza uma ou mais das condutas típicas. Tentativa - É possível, exceto na modalidade GUARDAR (crime permanente). Figura privilegiada § 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa. - Restituir: É fazer circular novamente. - Deve ter recebido de boa-fé (acredita ser verdadeira). - Antes de colocá-la em circulação novamente é preciso conhecer de sua falsidade. Consumação - Quando da entrega a outrem. Tentativa - É possível. Figuras qualificadas § 3º - É punido com reclusão, de 3 a 15 anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: - Art. 48, XIV, CF: Cabe ao Cong. Nac., com a sanção do PR, dispor sobre moeda, seus limites de emissão e montante da dívida mobiliária federal. - Compete ao Conselho Monetário Nacional, nos termos do art. 3º, II, da Lei nº 4.595/64, REGULAR o valor interno da moeda e, nos termos do art. 4º, I, AUTORIZAR as emissões de papel-moeda, segundo as diretrizes estabelecidas pelo Pres. Rep. - Compete ao Banco Central, conforme art. 10, I, da mesma lei, EMITIR moeda-metálica e papel-moeda, nas condições autorizadas pelo Conselho Monetário Nacional. - A FABRICAÇÃO compete à Casa da Moeda. Crime próprio: F.P, diretor, gerente ou fiscal de BANCO de EMISSÃO. Condutas: Fabricar, emitir ou autorizar a fabricação ou emissão. Inciso I - Fabricar, emitir ou autorizar a fabricação ou emissão de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; TÍTULO: É a proporção (conteúdo) que deve existir entre o metal fino e a liga metálica empregadosna confecção da moeda. - Para haverá violação ao inciso I é necessário que se produza MOEDA METÁLICA com título ou peso inferior ao padrão legal. Obs.: Se foi em quantidade SUPERIOR não há o crime por falta de previsão legal. Inciso II - Fabricar, emitir ou autorizar a fabricação ou emissão de papel-moeda em quantidade superior à autorizada - Compete ao BANCO CENTRAL emitir papel-moeda ou moeda-metálica, fabricada pela Casa da Moeda, nas condições e limites autorizados pelo Conselho Monetário Nacional, CONFIGURANDO-SE, assim, a violação ao referido inciso a sua fabricação ou emissão em QUANTIDADE SUPERIOR à autorizada. § 4º - Nas mesmas penas incorre quem DESVIA e FAZ CIRCULAR moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. - É dar à moeda destino que ela não tinha naquele momento, colocando-a em circulação antes da data autorizada. Ação penal - Pública incondicionada. Competência da Justiça Federal, ainda que se trate apenas de moeda estrangeira. Falsificação de documento público Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de 2 a 6 anos, e multa. Documento: É todo escrito por pessoa determinada, contendo exposição de fato ou de vontade, dotado de significação ou relevância jurídica e que, por si só, faz prova de seu conteúdo. Requisitos - Forma escrita: Em coisa móvel, transportável e transmissível. Ex.: papel, pergaminho etc. Obs.: Não é documento os escritos em quadro, fotografia, pichação, escritos em veículos etc. - Autoria: Identificável por assinatura, nome ou, quando a lei não faz exigência, pelo próprio conteúdo. - Relevância jurídica no conteúdo: Deve expressar uma manifestação de vontade ou a exposição de um fato relevante. Ex.: testamento, contrato de compra e venda, a qualificação de alguém, um depoimento etc. O papel assinado em branco ou uma receita de bolo, ainda que assinada, não é documento. - Valor probatório: Deve ter potencial de gerar consequências no jurídico, ou seja, quando apresentado a alguém, deve ter valor de fazer prova contra alguém. Esse valor probatório decorre de leis, decretos, resoluções etc. Ex.: O Código Civil confere valor probatório aos contratos; o CTB, à CNH, CRV, CRLV etc. Obs.: A FOTOCÓPIA não autenticada, nos termos do art. 232, §único, do CPP, não tem valor probatório e, por isso, não é documento. - Perpetuação: Durabilidade. Não precisa ser eterno, mas durável seu conteúdo. Obs.: O escrito a lápis não tem valor probatório em razão da facilidade em ser apagado ou alterado e, portanto, não constitui documento. Documento público: É aquele elaborado por funcionário público, no exercício de sua função, e de acordo com a legislação que lhe é pertinente. Espécies: a) Formal e substancialmente público: É aquele elaborado por funcionário público, com conteúdo e relevância jurídica de direito público, e os que, em geral, o funcionário redige e expede no interesse da administração pública (decorrem de atos do legislativo, executivo e judiciário). Ex.: Carteira de identidade; CNH; título de eleitor, depoimentos, sentenças etc. b) Formalmente público, mas substancialmente privado: É o elaborado por funcionário público, mas com conteúdo de interesse predominantemente privado. Ex.: Escritura pública de transferência de propriedade imóvel; declaração de vontade recebida de particular e redigida por funcionário público etc. Documento público por equiparação: São documentos particulares que, pela importância, são equiparados aos públicos e punidos de forma mais grave. - Emanados de entidade PARAESTATAL: Atuação paralela ao Estado. Ex.: Autarquias, empresas públicas, sociedade de economia mista e, fundações instituídas pelo Poder Público. - Título ao portador ou transmissível por endosso: É o cheque, nota promissória etc. - Ações das sociedades mercantis: Sociedades anônimas ou em comandita por ações. - Livros mercantis: Utilizados pelos comerciantes para registro dos atos de comércio. - Testamento particular: Aquele escrito pessoalmente pelo testador (hológrafo), previsto no artigo 1.876 do Código Civil. Condutas 1) Falsificar: Criar, fabricar, formar materialmente um documento falso como se fosse o verdadeiro. - Também é chamada de CONTRAFAÇÃO e pode ser: a) Total: Quando o documento é integralmente forjado. Ex.: Compra uma gráfica e elabora espelhos de CNH inserindo dados relevantes como conteúdo. b) Parcial: Quando uma parte do documento é verdadeira quanto a forma e outra é falsa. - A pessoa ADICIONA, ao verdadeiro, partes novas falsas. Cria uma ideia que passa a integrar o documento. Acrescenta um dado novo. Ex.: No espaço em branco entre o conteúdo e a assinatura o agente insere confissão de dívida; alguém subtrai um espelho de CNH em branco e o agente o preenche inserindo carimbos, assinaturas ou fotografias. Obs.: O documento NÃO PREEXISTE, quando fica pronto já nasce falso. Obs.: A SUPRESSÃO de parte do documento público, alterando o documento verdadeiro, gera o crime do art. 305 CP. 2) Alterar: Modificar um documento público verdadeiro dando-lhe novo conteúdo, inverídico. - A pessoa ALTERA a ideia preexistente; MODIFICA um dado já contido. Ex.: Alterar o número da matrícula do registro da escritura; trocar a foto do RG ou o número de registro do CPF; altera a categoria para a qual é habilitado em sua CNH etc. Obs.: O documento PREEXISTE e é VERÍDICO, cujos dizeres são modificados pelo agente. - Deve ser apto a enganar. - É indispensável perícia para a autenticidade - Art. 158 CPP - por meio de exame documentoscópico. § 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. § 3o - Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório; II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. § 4o - Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. - Os §§3º e 4º, tem como preocupação a PREVIDÊNCIA SOCIAL, no entanto, o legislador acabou inserindo na falsidade material condutas típicas da falsidade ideológica (art. 299 CP), tornando, assim, o art. 297 numa figura HIBRIDA. Falsificação de documento particular Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa. Falsificação de cartão Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, EQUIPRARA-SE a documento particular o cartão de crédito ou débito. Falsidade ideológica Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de 1 a 3 anos, e multa, se o documento é particular. - É o FALSO INTELECTUAL, IDEAL. - O documento é AUTÊNTICO e emanado da pessoa que nele figura como autor, sendo apenas seu conteúdo (declarações) falso. Condutas a) OMITIR declaração que devia constar do documento: O agente que elaborao documento deixa, dolosamente, de constar dado informação relevante. Ex.: Necessidade de uso de lentes corretivas na CNH. Uma cláusula contratual combinada entre as partes etc. b) INSERIR declaração falsa da que devia constar: O agente confecciona o documento inserindo informação inverídica. Ex.: Autoridade que elabora CNH declara que candidato foi aprovado quando, na verdade, foi reprovado no exame. c) INSERIR declaração diversa da que devia constar: O agente declara que a pessoa é habilitada na categoria E quando foi aprovada para a C; Obs.: A falsificação, nas três figuras, é IMEDIATA. d) FAZER INSERIR declaração falsa: O agente fornece informação falsa a outra pessoa responsável pela elaboração do documento, e esta, sem ter ciência da falsidade, o confecciona. Ex.: Declarar ao Tabelião que é solteiro quando é casado para prejudicar os direitos da esposa. e) FAZER INSERIR declaração diversa: O agente fornece informação verdadeira, mas DIFERENTE da real. Ex.: Vizinho informa o Oficial que o citando está em LINS quando apenas foi viajar. Obs.: A falsificação é MEDIATA. A lei não pune quem elabora o documento (está de boa-fé), mas quem faz inserir a declaração, falsa ou diversa. Objeto material - As condutas podem recair sobre documento público ou particular. Elemento subjetivo - Para existir a falsidade ideológica é preciso que o agente QUEIRA PREJUDICAR algum direito, CRIAR uma obrigação ou ALTERAR a verdade sobre fato juridicamente relevante. - Deve ser apta a enganar. Comprovação - Por ser o documento verdadeiro NÃO pode ser comprovado por perícia, cabendo ao Juiz fazer a avaliação no caso concreto. Folha de cheque ou qualquer outro documento assinado em branco: a) Se entregue em CONFIANÇA para preenchimento posterior = Art. 299CP; b) Se foi obtido de forma ILÍCITA (perdeu ou foi subtraída) = Art. 297 CP. Obs.: No primeiro caso o documento foi elaborado por quem tinha autorização para fazê-lo, sendo falso apenas seu conteúdo. No segundo caso, a assinatura e demais dados não foram autorizados e, portanto, falso material. Declaração particular: As Cortes Superiores já pacificaram entendimento que só haverá o crime quando, por si só, puder criar obrigação, prejudicar direito ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. - Sendo sujeita a EXAME OBRIGATÓRIO por parte de funcionário público NÃO GERA o crime. Ex.: Atestado de pobreza (art. 100, §único, CPC - pagamento de multa); atestado de residência; petição onde o advogado consta que o acusado é primário quando é reincidente etc. NÃO pratica o crime, uma vez que cabe a Autoridade conferir a veracidade da informação. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. - Sendo funcionário público e prevalecendo do cargo, a pena será aumentada de 1/6 (§único). Consumação - É CRIME FORMAL. Consuma quando o documento FICA PRONTO, ainda que não atinja sua finalidade. Tentativa - Só é possível nas formas COMISSIVAS. Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. Assentamento de registro civil: Nascimento, casamento, óbito, emancipação, interdição etc. Assento - Livro ou arquivo onde os atos são registrados no Cartório de Registro Civil, uma vez que é dali que todas as certidões serão extraídas posteriormente. Obs.: Se a falsidade recair sobre a INSCRIÇÃO de NASCIMENTO INEXISTENTE ou se de ADOÇÃO à BRASILEIRA, há crime específico (artigos 241 e 242 do CP), prevalecendo estes. Prazo prescricional: Da data em que o fato se tornou conhecido - Art. 111, IV, CP. Falso reconhecimento de firma ou letra Art. 300 - Reconhecer, como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que o não seja: Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa, se o documento é público; e de 1 a 3 anos, e multa, se o documento é particular. Reconhecer: É declarar como verdadeira a firma ou letra que não é, estando investido na FUNÇÃO PÚBLICA. - Crime DOLOSO. - Autêntico = A assinatura é aposta na presença do Tabelião. - Verdadeiro = Quando a assinatura é aposta longe do Tabelião, mas o próprio signatário apresenta o documento no Cartório. - Semelhante = É aquele feito por comparação. Firma: É a assinatura de alguém impressa num documento. Letra: É o manuscrito de uma pessoa. - É forma RARA. - Na prática é usada para reconhecer a autenticidade de testamentos lavrados de próprio punho pelo de cujus. Sujeito ativo - Crime PRÓPRIO. Tabelião, escrevente do tabelionato, oficial do cartório de registro civil ou outro servidor com atribuição. Obs.: O particular que colabora responde como PARTÍCIPE. Sujeito passivo - Estado e quem sofreu lesão. Consumação - Com o reconhecimento da firma ou letra, independentemente de qualquer consequência posterior. Tentativa - Possível. Obs.: Se um PARTICULAR, agindo sozinho, reconhece uma firma, falsificando a assinatura de um Tabelião, comete o crime de FASIFICAÇÃO de documento público ou particular. image9.png image8.png image1.png