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Resenha do Artigo: Análise da Progressividade da Carga Tributária sobre a População Brasileira José Adrian Pintos-Payeras (2010) Introdução O artigo ”Análise da Progressividade da Carga Tributária sobre a População Brasileira”, de José Adrian Pintos-Payeras (2010), apresenta uma investigação detalhada sobre a distribuição da carga tributária no Brasil, com foco na regressividade dos tributos indiretos, em especial o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). O autor explora as diferenças regionais na aplicação desses tributos e seus impactos sobre as diferentes faixas de renda. 1. Introdução ao Tema Pintos-Payeras busca investigar como o sistema tributário brasileiro afeta as diversas classes sociais. A questão central do estudo é se o sistema tributário brasileiro é progressivo, regressivo ou proporcional. Para isso, ele utiliza dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003, que permite uma análise detalhada dos padrões de consumo das famı́lias brasileiras. O estudo foca na análise dos impostos indiretos (ICMS, PIS, Cofins e ISS), conhecidos por serem regressivos, ou seja, afetam mais as famı́lias de baixa renda. Ao contrário dos impostos diretos (como o Imposto de Renda e IPTU), que têm uma natureza mais progressiva, os tributos indiretos incidem sobre o consumo, sem considerar a capacidade contributiva dos cidadãos. 2. Metodologia A metodologia adotada envolve o cruzamento das aĺıquotas dos impostos indiretos com os dados de consumo das famı́lias, divididos por faixa de renda. O ICMS, que varia de estado para estado, representa um dos principais desafios para o estudo, pois as aĺıquotas e as isenções aplicadas a produtos essenciais, como alimentos, são diferentes em cada Unidade da Federação (UF). Para lidar com essa complexidade, o autor utiliza as médias das aĺıquotas estaduais e ajusta os dados da POF para refletir o impacto real da carga tributária. Essa metodologia permite identificar a proporção de impostos que incide sobre os diferentes grupos de renda, ajudando a esclarecer a natureza regressiva ou progressiva do sistema. 3. Revisão de Literatura O estudo de Pintos-Payeras revisa diversas análises anteriores sobre a distribuição da carga tributária no Brasil. O autor faz referência aos trabalhos de Langoni (1973), que focou principalmente na tributação direta, e de Eris et al. (1983), que introduziram a análise da regressividade dos impostos indiretos. Estudos mais recentes, como os de Rodrigues (1998) e Vianna, Magalhães e Tomich (2000), chegaram a conclusões contraditórias sobre a natureza do sistema tributário. Enquanto Rodrigues sugeriu que o sistema era progressivo, Vianna e colegas apontaram que os tributos indiretos geravam regressivi- dade significativa, impactando desproporcionalmente as famı́lias de baixa renda. 4. Resultados A pesquisa confirma que o sistema tributário brasileiro é amplamente regressivo. Os tributos indiretos, principalmente o ICMS, PIS e Cofins, têm um impacto muito maior sobre as famı́lias de baixa renda, 1 que gastam uma maior proporção de sua renda em bens de consumo. Como esses impostos são aplicados igualmente a todos os consumidores, independentemente de sua renda, as famı́lias mais pobres sofrem mais, pois têm menos renda dispońıvel. Os impostos diretos, como o Imposto de Renda e o IPTU, têm uma participação muito pequena na arrecadação total e não são capazes de equilibrar a carga tributária. O sistema tributário como um todo não consegue redistribuir renda de forma significativa, devido à predominância dos impostos indiretos. O estudo também revela diferenças regionais significativas. Estados mais pobres, como os do Norte e Nordeste, aplicam aĺıquotas semelhantes às de estados mais ricos, mas a renda per capita nas regiões mais pobres é muito menor. Isso aumenta o impacto regressivo do ICMS sobre as famı́lias dessas regiões, que já enfrentam maiores dificuldades econômicas. 5. Discussão O autor discute a necessidade de uma reforma tributária para mitigar a regressividade do sistema. Uma solução proposta é aumentar a participação dos impostos diretos, como o Imposto de Renda e o IPTU, que são mais progressivos. Além disso, o ICMS e outros impostos indiretos poderiam ser reformados para aplicar aĺıquotas mais baixas sobre produtos essenciais, como alimentos e medicamentos, enquanto bens de luxo poderiam ser mais pesadamente tributados. Essa diferenciação de aĺıquotas ajudaria a reduzir a carga sobre as famı́lias de baixa renda, tornando o sistema mais justo. O autor argumenta que a falta de progressividade no sistema tributário brasileiro contribui para a manutenção das desigualdades socioeconômicas. 6. Conclusões Pintos-Payeras conclui que o sistema tributário brasileiro, ao incidir desproporcionalmente sobre os pobres, agrava as desigualdades econômicas existentes. Os impostos indiretos, como o ICMS, são a principal causa dessa regressividade, enquanto a baixa participação dos impostos diretos não é suficiente para compensar essa distorção. Uma reforma tributária focada em aumentar a progressividade e redistribuir a carga tributária de forma mais justa poderia ser uma solução para melhorar a equidade no Brasil. A diferenciação das aĺıquotas dos impostos indiretos seria um passo importante para reduzir o peso sobre os mais pobres e criar um sistema mais justo e eficiente. Considerações Finais O estudo de José Adrian Pintos-Payeras oferece uma análise abrangente da regressividade do sistema tributário brasileiro, com foco nas implicações dos impostos indiretos sobre a desigualdade de renda. O autor apresenta argumentos sólidos para a necessidade de reformas, visando aumentar a progressividade e reduzir as desigualdades econômicas. O trabalho destaca a importância de repensar a estrutura tributária para tornar o sistema mais equitativo e socialmente justo. 2