Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

Livro Didático Digital
Direito de Família
Diretor Executivo 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial 
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico 
TIAGO DA ROCHA
Autoria 
RODRIGO GONÇALVES 
AUTORIA
Rodrigo Gonçalves 
Rodrigo Gonçalves Sou formado em Direito desde 2012, com 
experiência técnico-profissional na área de Direito Civil, principalmente na 
área de Direito de Família. Passei por alguns escritórios privados, porém, 
atualmente possuo meu próprio escritório, litigando em favor dos que 
me procuram. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha 
experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por 
isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de 
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta 
fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez 
que:
OBJETIVO:
para o início do 
desenvolvimento de 
uma nova compe-
tência;
DEFINIÇÃO:
houver necessidade 
de se apresentar um 
novo conceito;
NOTA:
quando forem 
necessários obser-
vações ou comple-
mentações para o 
seu conhecimento;
IMPORTANTE:
as observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você;
EXPLICANDO 
MELHOR: 
algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado;
VOCÊ SABIA?
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias;
SAIBA MAIS: 
textos, referências 
bibliográficas e links 
para aprofundamen-
to do seu conheci-
mento;
REFLITA:
se houver a neces-
sidade de chamar a 
atenção sobre algo 
a ser refletido ou dis-
cutido sobre;
ACESSE: 
se for preciso aces-
sar um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast;
RESUMINDO:
quando for preciso 
se fazer um resumo 
acumulativo das últi-
mas abordagens;
ATIVIDADES: 
quando alguma 
atividade de au-
toaprendizagem for 
aplicada;
TESTANDO:
quando o desen-
volvimento de uma 
competência for 
concluído e questões 
forem explicadas;
SUMÁRIO
Celebração Como Prova do Casamento ............................................ 10
As Provas do Casamento ..........................................................................20
A Eficácia do Casamento ..........................................................................30
Efeitos Sociais ................................................................................................................................... 30
Efeitos Pessoais ................................................................................................................................32
Efeitos Patrimoniais ........................................................................................................................37
Invalidade Jurídica do Casamento ......................................................39
Nubente que não Completou a Idade Mínima para Casar ............................... 41
Nubente em Idade Núbil sem Autorização para o Casamento .................... 41
O Casamento Poderá ser Anulável Também nos Casos em que o Nubente 
Esteja Incapaz de Consentir ou de Manifestar o seu ConSentimento .. 50
Quando Realizado pelo Mandatário, sem que ele ou o outro Contraente 
Soubesse da Revogação do Mandato, e não Sobrevindo Coabitação 
entre os Cônjuges ........................................................................................................................ 50
Incompetência da Autoridade Celebrante .................................................................. 51
7
UNIDADE
03
Direito de Família
8
INTRODUÇÃO
Nesta unidade, iremos visitar alguns assuntos já vistos, porém, 
agora que você, aluno, está um pouco mais maduro no direito de família, 
usaremos esses conceitos vistos para trazer novos, que irão preparar você 
para o desfecho de nossa disciplina. O tema de nossa unidade continuará 
sendo casamento, porém, aqui, veremos assuntos que estão mais 
intrínsecos à vida do casal ou da família. São assuntos que nos preparam 
para observar o casamento depois de sua celebração. A partir daqui, o 
operador do direito ganha mais amplitude para sua atuação, e cada vez 
mais vamos nos distanciando da parte administrativa do casamento, e 
ingressando mais e mais nas relações jurídicas e sociais do matrimônio. 
Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar neste 
universo!
Direito de Família
9
OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 03. Nosso objetivo é auxiliar 
você no desenvolvimento das seguintes competências jurídicas até o 
término desta etapa de estudos:
1. Identificar a celebração do casamento compreendendo-a como 
prova do casamento.
2. Distinguir os tipos de prova do casamento.
3. Avaliar questões sobre a eficácia do casamento.
4. Discernir sobre questões acerca da invalidade jurídica do 
casamento.
Com essas novas competências, você ficará pronto para chegar ao 
final de nossa disciplina. E então, preparado para uma viagem sem volta 
rumo ao conhecimento? Ao trabalho! 
Direito de Família
10
Celebração Como Prova do Casamento
OBJETIVO:
Ao término deste capítulo, você será capaz de entender qual 
o real objetivo da celebração do casamento, bem como a 
necessidade de seus formalismos. Isso será fundamental 
para o exercício de sua profissão. As pessoas que tentaram 
ingressar no mercado de trabalho sem a devida instrução 
aqui cedida tiveram problemas em compreender todo o 
conjunto legal acerca do matrimônio civil. E então, motivado 
para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante!.
Como temos dito por algumas vezes, em nossa matéria encontramos 
muitos elos que se conectam de tal forma, que é quase impossível falar 
de uma matéria sem tratar de outras. Costumamos falar, quando somos 
chamados a dar palestras ou ministrar aulas, que o direito de família 
muitas vezes parece um trem, em que a máquina puxa os vagões a ele 
conectados. Portanto, assim é a matéria sobre o casamento, seus atos 
estão conectados de ponta a ponta. 
Historicamente, sabemos que a celebração do casamento é um dos 
pontos altos de nossos estudos. Talvez pelo fato deste momento estar 
incrustado em nossos ideários, posto ser neste instante que o casamento 
se materializa de fato, ou quiçá por entendermos que um dia devemos 
nos unir com alguém. 
Muito embora saibamos que tenham pessoas que se opunham ao 
casamento, ou a união entre duas pessoas em prol de uma constituição 
familiar, também sabemos que muitos buscam a constituição familiar a 
partir das uniões matrimoniais.
Com a evolução do Estado, as celebrações das uniões, que eram 
feitas com informalidade, ou com apenas o crivo religioso, passaram a 
ganhar formalização para que viessem a ter sua eficácia estatal devida. 
Para preencher tal eficácia, a celebração passou a exigir um rito próprio, 
tornando-se complexa, porém, embasada nos costumes, na religião 
prevalecente e no Direito.
Direito de Família
11
Nesse sentido, o famoso civilista Beviláqua (1959) preleciona: 
A ficção da captura, quando ela já não mais uma realidade, 
é, sem dúvida, o mais antigo cerimonial dos casamentos. 
Os chineses, os romanos, os gregos e vários outros 
povos usaram-na, como é geralmente sabido. Depois vão 
aparecendo outras ideias mais complexas, simbolismos 
religiosos de purificação, indicações de natureza e fins 
de casamento. Entre essas cerimônias, é notável, por sua 
generalização, o banquete em comum, ou um simples 
bolo que os esposos têm de comer conjuntamente. Não 
foram somente os romanos e os helenos que usaram 
dele na celebração do casamento; muitos outros povos 
procediam do mesmo modo, como sejam os macedônios 
entre os antigos, e os iroqueses, em tempos recentes. Na 
Índia, a noiva prepara uma bebida especial para o seu 
casamento. Na ocasião da solenidade nupcial, senta-se 
ao colo do noivo, empunha uma taça, em que derramou 
porção do licor preparado por ela, bebe a metade e 
entrega o restante ao noivo, que, avidamente, o sorvepor vício de vontade, nos termos do art. 1.550, 
III do CC/02, em casos de coação e erro essencial quanto à 
pessoa do cônjuge (arts. 1.556 e 1.557 do CC/02). Pretende 
o autor imputar conduta desonrosa alegando que a ré 
sempre manteve relações com outros homens, desde a 
época do namoro bem como após as núpcias e, após o 
casamento, estaria envolvendo-se com outra pessoa que 
inclusive frequentava a casa do autor e era seu amigo. 
Com a evolução da sociedade, caracterizações como 
honra e boa fama devem ser interpretadas cum grano salis 
evitando-se, assim, práticas discriminatórias e atentatórias 
à dignidade da pessoa humana, em evidente contrariedade 
ao ordenamento jurídico. Não há motivo para anulação de 
casamento, mas sim para eventual pedido de separação 
judicial, nos termos da legislação em vigor. Desprovimento 
do Recurso (TJRJ — Ap 2007.001.49973 — 9.ª Câm. Cív. — 
Des. Roberto de Abreu e Silva — Julgamento em 18-12-
2007). 
Direito de Família
47
Ao nosso ver, agiu corretamente o tribunal, pois vejamos: um 
dos elementos essenciais do erro sobre a pessoa é exatamente o 
desconhecimento dos fatos anteriores ao casamento, e que, em um 
dado momento, posterior à celebração, foram descobertos. Além disso, 
deve se comprovar a omissão dolosa de quem deu causa. Pela dicção da 
ementa em tela, podemos entender que o marido conhecia as condutas 
extraconjugais de sua consorte desde antes do casamento. Desse modo, 
ação cabível aqui seria a separação judicial. 
Em outro plano, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em 
extrema observância do que dissemos acima, assim proferiu:
APELAÇÃO. ANULAÇÃO DE CASAMENTO. ERRO 
ESSENCIAL EM RELAÇÃO À PESSOA DO CÔNJUGE. 
OCORRÊNCIA. A existência de relacionamento sexual 
entre cônjuges é normal no casamento. É o esperado, 
o previsível. O sexo dentro do casamento faz parte dos 
usos e costumes tradicionais em nossa sociedade. Quem 
casa tem uma lícita, legítima e justa expectativa de que, 
após o casamento, manterá conjunção carnal com o 
cônjuge. Quando o outro cônjuge não tem e nunca teve 
intenção de manter conjunção carnal após o casamento, 
mas não informa e nem exterioriza essa intenção antes 
da celebração do matrimônio, ocorre uma desarrazoada 
frustração de uma legítima expectativa. O fato de que 
o cônjuge desconhecia completamente que, após o 
casamento, não obteria do outro cônjuge anuência para 
realização de conjunção carnal demonstra a ocorrência de 
erro essencial. E isso autoriza a anulação do casamento. 
DERAM PROVIMENTO. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (TJRS, AC 
n. 70016807315, 8.ª Câm. Cív. rel. Rui Portanova, julgado em 
23-11-2006).
Direito de Família
48
Como se vê, tudo irá depender de cada caso. 
VOCÊ SABIA?
Algumas situações, com o tempo, foram deixando de 
ser encaradas como erro sobre a pessoa. Uma delas era 
relacionada a das pessoas acometidas com esquizofrenia 
manifestada após o casamento, e que de alguma forma 
tornasse insuportável a vida conjugal. No caso dessa 
hipótese em específico, destacamos que, com o advento 
do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146, de 6 
de julho de 2015), essa possibilidade atualmente inexiste.
Da mesma forma, pereceu com o tempo a regra no CC de 1916 (art. 
219, IV). Em seu texto, era permitido ao marido requerer a anulação do 
casamento pela descoberta do defloramento (perda da virgindade) da sua 
esposa antes do ato.
Prosseguindo sobre as questões que geram a anulação do 
casamento devido a algum vício de vontade, dispõe o art. 1.558, CC/2002:
Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, 
quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges 
houver sido captado mediante fundado temor de mal 
considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua 
ou de seus familiares. (BRASIL, 2002)
DEFINIÇÃO:
A doutrina tem entendido coação como sendo a ação 
que é capaz de viciar o consentimento mediante violência 
psicológica, que opera de tal forma, que influencia a vítima 
a realizar um ato contra sua vontade.
Direito de Família
49
Ela, a coação, pode ser manifestada de duas formas, a física ou a 
moral. Nas palavras de Gagliano, assim são explicadas:
A coação física (vis absoluta) é aquela que age diretamente 
sobre o corpo da vítima. A doutrina entende que esse tipo 
de coação neutraliza completamente a manifestação de 
vontade, tornando o negócio jurídico inexistente.
[...]
A coação moral (vis compulsiva), por sua vez, é aquela 
que incute na vítima um temor constante e capaz de 
perturbar seu espírito, fazendo com que ela manifeste seu 
consentimento de maneira viciada. (GAGLIANO, 2019, p. 
283)
Para entender melhor, vamos usar dois exemplos:
 • Coação física — Beto, nos altos de seus 18 anos completos, 
engravida sua namorada, Mona, de 16 anos. O pai da moça, 
extremamente enfurecido, agride fisicamente o jovem rapaz 
diariamente até forçá-lo a casar-se. Essa situação perdura até o 
dia do casamento. Aqui, como se vê, Beto não se casou de livre 
e espontânea vontade, e sim por causa das várias agressões 
sofridas.
 • Coação moral —Beto, é filho de Bruno, que é gerente de vendas 
de uma loja de automóveis cujo dono é o Sr. Francisco. Beto inicia 
um relacionamento com Mona, filha do Sr. Francisco, com 16 anos. 
Beto engravida Mona. Ao saber disso, o Sr. Francisco ameaça Beto, 
dizendo que, além de demitir seu pai da loja, irá matá-lo caso este 
não case com sua filha.
Ambos os casos estão enquadrados no CC sob a seguinte redação
Art. 151. A coação, para viciar a declaração de vontade, há 
de ser tal, que incuta ao paciente fundado temor de dano 
iminente e considerável à sua pessoa, à sua família ou aos 
seus bens. (BRASIL, 2002)
Direito de Família
50
O Casamento Poderá ser Anulável 
Também nos Casos em que o Nubente 
Esteja Incapaz de Consentir ou de 
Manifestar o seu ConSentimento 
Esta ocasião ocorre quando a pessoa está sob efeito de álcool ou 
entorpecentes a tal ponto que não pode transferir certeza a autoridade 
competente se é inteiramente a favor dos termos do casamento ou não.
Quando Realizado pelo Mandatário, sem 
que ele ou o outro Contraente Soubesse da 
Revogação do Mandato, e não Sobrevindo 
Coabitação entre os Cônjuges 
Na unidade anterior, estudamos um tipo de modalidade de 
casamento celebrada através de procuração. Pois bem, nos termos 
do art. 1.550, V, do CC, existe a previsão de anulação do casamento 
por procuração, caso o mandato público tenha sido revogado sem o 
conhecimento do então procurador ou do outro cônjuge, não sobrevindo 
coabitação entre os consortes. 
Para entender esta situação, vamos fazer valer os conhecimentos 
adquiridos nas unidades passadas. Otávio irá casar-se com Bruna, todavia, 
este está no exterior e não conseguirá chegar a tempo do seu casamento 
civil. Para não perder o casamento já aprazado, ele passa uma procuração 
pública especial para seu amigo, João. Ocorre que Otávio conhece em 
sua viagem Judy, e desiste de casar-se, revogando a procuração sem que 
João e aquela que seria sua esposa soubessem. Chega então o dia, João 
e Bruna comparecem ao ato, casam-se perante a autoridade competente. 
Porém, como Otávio não tem mais anseio pelo casamento, ele não irá 
mais residir (coabitar) com Bruna. Nesses casos, Bruna ou Otávio poderão 
pedir a anulação do feito. 
Direito de Família
51
Incompetência da Autoridade Celebrante 
Incompetência da autoridade celebrante também é causa de 
anulação do casamento. Aqui não há muito o que se falar, uma vez que 
em momentos anteriores já tratamos de temas correlatos. Em um plano 
geral do direito, podemos afirmar que se um ato não foi presidido pela 
autoridade competente, este portanto, nunca existiu.
Mas o aluno pode perguntar: e se o ato ocorreu por alguém 
delegado pela autoridade competente? Nesses casos, o ato mesmo 
assim manterá sua validade.
Aqui, caro aluno, a previsão legal está para nos casos em que uma 
pessoa que se faça passar pelaautoridade competente, presida o ato, 
então aqui será cabível a anulação. Embora saibamos que nos dias de 
hoje isso seja quase impossível, o CC não descartou a hipótese.
IMPORTANTE:
Sobre os prazos para requerimento de anulação, no CC de 
2002, os prazos prescricionais encontram-se prelecionados 
nos arts. 205 e 206, de maneira que todos os outros são 
decadenciais, ou seja, após exauridos os prazos, haverá a 
perda do direito potestativo.
Nos casos em que a pessoa esteve incapaz de consentir ou 
manifestar, de modo inequívoco o consentimento, o prazo será de 180 
dias contados a partir do casamento. 
Será de dois anos o prazo decadencial, se constatada incompetente 
a autoridade celebrante.
O prazo será de três anos para os casos relativos a erro sobre a 
pessoa, e de quatro anos se caso houve coação.
O art. 1.560, § 1º do mesmo Código, afirma que extingue-se, em 180 
dias, o direito de anular o casamento dos menores de 16 anos, contado 
o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do 
casamento, para seus representantes legais ou ascendentes.
Direito de Família
52
Na hipótese do casamento realizado pelo mandatário sem que ele ou 
o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo 
coabitação entre os cônjuges, o prazo para anulação do casamento é de 
180, a partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebração 
(art. 1.560, § 2º).
A anulação do casamento dos menores de 16 anos poderá ser 
requerida pelo próprio cônjuge menor; ou por seus representantes legais; 
por seus ascendentes (art. 1.552).
Vale a ressalva de que somente o cônjuge que incidiu em erro, ou 
sofreu coação, poderá demandar a anulação do casamento.
Curioso é saber que nos casos de mandato revogado, sob a previsão 
do art. 1.557 do CC/2002, caso haja a coabitação, e havendo ciência do 
vício, o ato será entendido como válido (art. 1.559 do CC/2002). Sobre esse 
aspecto, Gagliano (2019) pontua:
A coabitação, portanto, atua como fator validante do 
matrimônio anulável por erro essencial, salvo na hipótese 
de o erro decorrer da ignorância de moléstia perigosa 
e transmissível, de defeito físico irremediável que não 
caracterize deficiência ou de doença mental grave, 
anteriores ao casamento, já estudados neste capítulo. 
(GAGLIANO, 2019, p. 290)
RESUMINDO:
O CC coloca regras que podem gerar a anulação do 
casamento civil. Embora essas situações possam parecer 
atípicas, aqui ou acolá podem acontecer.
Direito de Família
53
REFERÊNCIAS
BARBOSA, C.L.C. Casamento. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
BEVILÁQUA, C. Direito de Família. Rio de Janeiro/São Paulo: Livraria 
Freitas Bastos S.A., 1959.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AR 3.022/SP. Relator. Min. 
Gilson Dipp, julgado em 28-6-2006, DJ 21-8-2006, p. 227, 3.ª Seção. 
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/. Acesso em 
07 de junho de 2002.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo Apelação: 
994093013170 SP, Relator: Francisco Loureiro, Data de Julgamento: 
11/03/2010, 4ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 25/03/2010. 
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/. Acesso em 
07 de junho de 2002.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Apelação: 
00025393620188160179 PR 0002539-36.2018.8.16.0179 Relator: 
Desembargador Ruy Muggiati, Data de Julgamento: 07/02/2019, 11ª 
Câmara Cível, Data de Publicação: 10/02/2019). Disponível em: https://
www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/. Acesso em 07 de junho de 2002.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. AC n. 
70015469091, 7.ª Câm. Cív. Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, julgado em 
13-9-2006). (Segredo de justiça)
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.AC: 
70079438321 RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Data 
de Julgamento: 20/03/2019, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: 
Diário da Justiça do dia 21/03/2019). Disponível em: https://www.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/. Acesso em 07 de junho de 2002.
DIAS, M.B. Manual de Direito das Famílias. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2005. 
Direito de Família
54
FERRARESI, E. Código das Famílias Comentado: de acordo com 
o Estatuto das Famílias (PLN n. 2.285/07). Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
GAGLIANO, P.S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de direito civil. 
São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
GONÇALVES, C.R. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. São 
Paulo: Saraiva, 2017. 
GONÇALVES, C.R. Direito civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2017.
MADALENO, R. Curso de Direito de Família. Rio de Janeiro: Forense, 
2016.
MONTEIRO, W.B. Curso de Direito Civil. V.II: Direito de Família. São 
Paulo: Saraiva, 1999.
PEREIRA, C.M.S. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: 
Forense, 2001.
RODRIGUES, S. Direito Civil. Direito de Família. V. 6. 28 Ed. São 
Paulo: Saraiva, 2004. 
SILVA, R.B.T. da. Novo Código Civil: tutela da dignidade da pessoa 
humana no casamento. Revista do Advogado, São Paulo, a. 22, n. 68, p. 
120-126, dez. 2002.
VENOSA, S.S. Direito Civil: Parte Geral. São Paulo: Atlas, 2001.
Direito de Família
	Celebração Como Prova do Casamento
	As Provas do Casamento
	A Eficácia do Casamento
	Efeitos Sociais
	Efeitos Pessoais
	Efeitos Patrimoniais
	Invalidade Jurídica do Casamento
	Nubente que não Completou a Idade Mínima para Casar
	Nubente em Idade Núbil sem Autorização para o Casamento
	O Casamento Poderá ser Anulável Também nos Casos em que o Nubente Esteja Incapaz de Consentir ou de Manifestar o seu ConSentimento 
	Quando Realizado pelo Mandatário, sem que ele ou o outro Contraente Soubesse da Revogação do Mandato, e não Sobrevindo Coabitação entre os Cônjuges 
	Incompetência da Autoridade Celebranteaté 
a última gota. É simples, mas é expressivo. (BEVILÁQUA 
1959, p. 45-6)
IMPORTANTE:
Portanto, na sociedade contemporânea, em termos 
de direito de família, o ritualismo acolchoa-se em uma 
enorme importância, dada a impreterível solenidade para a 
realização do matrimônio. 
Claro, meu caro aluno, se você chegou até aqui, já sabe que o termo 
solenidade, para o Direito Civil, não quer dizer que haja um evento festivo, 
e sim um ato contratual com protocolos legais rígidos. Neste arcabouço, 
o casamento é, no Direito Civil pátrio, o ato mais solene.
Desde as sociedades mais primitivas, o casamento já era uma 
solenidade, um dia bastante esperado, em que os nubentes juram 
promessas de amor eterno, com a finalidade de constituir uma família, 
remetendo-lhe, portanto, forte zelo, em um arcabouço de solidariedade e 
respeito, perante amigos, conhecidos e familiares.
Direito de Família
12
Além disso, o casamento é um ato contratual que requer estrita 
observância das leis estatais, sob pena, nulidade, a depender da situação.
Já sabemos que casamento será celebrado no dia, hora e lugar 
previamente designados pela autoridade que houver de presidir o 
ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados 
com a certidão de habilitação, expedida pelo Cartório de Registro Civil 
responsável pela publicação dos proclamas (art. 1.533, CC/2002), devendo 
ser presidida de “portas abertas” (art. 1.534, CC/2002).
Esse rigor pelas portas abertas encontra repouso em raízes 
constitucionais e, por isso, carece de nossa atenção, pois essa 
obrigatoriedade não está prevista de forma aleatória.
Ela remonta a uma historicidade primitiva, pois a união de um 
casal era motivo de orgulho para uma comunidade, logo, não deveria 
ser maculado, e, caso assim o fosse, aquele que tivesse alguma causa 
impeditiva deveria mostrar somente no ato do casamento, pois ali teria 
testemunhas suficientes para demonstrar seu pleito impeditivo.
Ao transferirmos poderes aos estados modernos, estes, por sua vez, 
tiveram que entregar transparência em seus atos. Tais atos são refletidos 
nos cinco princípios de uma administração pública, que inclusive estão 
em nossa constituição. São eles: legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência. Tais princípios estão de alguma forma incrustados 
no direito de família, no entanto, para fins deste capítulo, nos deteremos 
apenas nos princípios da moralidade e da publicidade.
Um casamento estatal precisa manter em todos os seus 
procedimentos lisura, boa-fé, sinceridade e ética, e, para tal, todos aqueles 
atuantes na celebração matrimonial, quais sejam, os nubentes, o oficial 
de registro e a autoridade competente devem estar em conformidade 
plena dentro de suas atribuições, caso contrário, todos os atos podem 
ser eivados de vícios, inclusive insanáveis. É por isso que, por exemplo, os 
nubentes não podem estar impedidos para o ato, conforme já estudamos. 
Direito de Família
13
Portanto, para atender melhor à necessidade de moralidade nos 
processos administrativos, surge então a obrigatoriedade por publicidade 
dos atos públicos. Desde o início até o fim das formalidades do casamento, 
existe uma necessidade inerente de que sejam atos públicos, daí a 
importância das celebrações serem de portas abertas, para que, caso 
alguém queira opor alguma causa impeditiva, por exemplo, o Estado 
tome conhecimento e interrompa aquele processo até que o eventual 
vício seja sanado.
Agora acredito que o artigo art. 1.522 do CC tenha ficado claro, não 
é verdade? Pois relembre sua redação:
Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o 
momento da celebração do casamento, por qualquer 
pessoa capaz.
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver 
conhecimento da existência de algum impedimento, será 
obrigado a declará-lo. (BRASIL, 2002)
Portanto, sempre quando tenho a oportunidade de esclarecer, 
preconizo que os nubentes podem vetar a entrada de pessoas na eventual 
festa de casamento, porém, nunca na celebração deste propriamente dita, 
podendo o ato ter sua devida nulidade, conforme prevê o CC, in verbis:
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
[...]
V — for preterida alguma solenidade que a lei considere 
essencial para a sua validade. (BRASIL, 2002)
Caso a oposição sobre alguma causa impeditiva tenha sido apenas 
como uma forma de interromper indevidamente a cerimônia, aquele 
que deu causa poderá ser responsabilizado civilmente pelo ato, ou, 
dependendo da circunstância, até criminalmente, se por exemplo, houver 
uma falsa acusação de bigamia (art. 235 do Código Penal Brasileiro), ao 
que deu causa indevida pela imputação poderá ser perpetrada uma 
imputação do crime de calúnia.
Direito de Família
14
Algumas pessoas chegam até nós, muitas vezes por ignorância, 
querendo entender o porquê de tantas formalidades, eis portanto, que 
respondo expondo os argumentos acima. Essa formalidade do casamento 
visa coibir atos que atentem contra a moral pública e privada dos nubentes.
A importância de tais formalidades é tamanha, que para 
complementar nossas falas, trago as palavras de COLANI (2006), que nos 
coloca preciosa dicção:
Questiona-se o porquê de tal minúcia do legislador; 
contudo, queremos crer tratar-se de uma oportunidade 
de dimensionar o ato, valorando-o para o casal e 
pessoas presentes, além de consistir em uma fórmula de 
uniformizar o ato. (COLANI, 2006, p. 96)
Algumas vezes somos perguntados sobre alguns vícios de 
consentimento que podem existir no transcorrer da cerimônia, e por 
acreditar que o momento pertinente para tratar sobre isso seja neste 
capítulo, precisamos tecer alguns comentários.
Notemos que, em uma situação normal recebendo-se um ao outro 
como consortes, os nubentes contraem as obrigações legais perante o 
Estado e perante os ali presentes; desse modo, não é cabível de forma 
alguma vício de vontade. A declaração diante do juiz deve ser audível, não 
cabendo acenos de mão ou cabeça, por exemplo.
Nesse diapasão, já sabemos os termos do CC:
Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente 
suspensa se algum dos contraentes:
I — recusar a solene afirmação da sua vontade;
II — declarar que esta não é livre e espontânea;
III — manifestar-se arrependido.
Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos 
mencionados neste artigo, der causa à suspensão do ato, 
não será admitido a retratar-se no mesmo dia. (BRASIL, 
2002)
Direito de Família
15
VOCÊ SABIA?
Todavia, não tratamos do caso de um dos nubentes não 
dizer nada. E se na hora de responder se quer ou não casar, 
um dos nubentes ficar em silêncio?
Esta é uma questão jurídica interessante, porém, a doutrina e 
a jurisprudência têm declinado no sentido de que, uma vez que “o 
matrimônio exige declaração expressa de vontade, o silêncio não traduz 
aquiescência, impondo a suspensão do ato e, se for o caso, a sua ulterior 
repetição” (GAGLIANO, 2019, p. 209).
Caso não haja nenhum vício ou alguma oposição de causas 
impeditivas, por exemplo, dispõe o art. 1.536 do CC/2002, lavrar-se-á 
o assento no livro de registro. No assento, assinado pelo presidente do 
ato, pelos cônjuges, pelas testemunhas pelo e Oficial do Registro, serão 
exarados:
I — os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, 
profissão, domicílio e residência atual dos cônjuges;
II — os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de 
morte, domicílio e residência atual dos pais;
III — o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a 
data da dissolução do casamento anterior;
IV — a data da publicação dos proclamas e da celebração 
do casamento;
V — a relação dos documentos apresentados ao oficial do 
registro;
VI — o prenome, sobrenome, profissão, domicílio e 
residência atual das testemunhas;
VII — o regime do casamento, com a declaração da 
data e do cartório em cujas notas foi lavrada a escritura 
antenupcial, quando o regime não for o da comunhão 
parcial,ou o obrigatoriamente estabelecido. (BRASIL, 2002)
Direito de Família
16
Interessante é vermos na nossa atividade jurídica que, mesmo que 
não tenhamos faltas graves, como os impedimentos já estudados, aqui ou 
acolá vemos situações inusitadas, como a do julgado a seguir.
REGISTROS PÚBLICOS. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO 
MANDAMENTAL. RETIFICAÇÃO DE REGISTROS PÚBLICOS 
– PRETENSÃO DE SUPRESSÃO DE PATRONÍMICO FAMILIAR 
EM RAZÃO DE CASAMENTO – NEGATIVA DO OFICIAL 
DE REGISTRO CIVIL NO MOMENTO DA HABILITAÇÃO – 
INSURGÊNCIA EXCLUSIVAMENTE QUANTO A ASPECTO 
FORMAL – COMPETÊNCIA MATERIAL – JUÍZO DA VARA 
DE REGISTROS PÚBLICOS RECURSO CONHECIDO E 
DESPROVIDO.(ART. 67, § 5º, LEI Nº 6.015/73). (TJPR - 11ª 
C. Cível - 0002539-36.2018.8.16.0179 - Curitiba - Rel.: 
Desembargador Ruy Muggiati - J. 07.02.2019)
(TJ-PR - APL: 00025393620188160179 PR 0002539-
36.2018.8.16.0179 (Acórdão), Relator: Desembargador Ruy 
Muggiati, Data de Julgamento: 07/02/2019, 11ª Câmara 
Cível, Data de Publicação: 10/02/2019)
No julgado em tela, a nubente gostaria de ter o patronímico 
(sobrenome) de seu futuro marido, porém, por motivos alheios, o oficial 
de registro negou esse direito na ocasião da habilitação. O casal adentrou 
com o processo buscando a alteração do registro civil, na Vara de Família 
daquela comarca, mas o juiz não reconheceu o mérito e se averbou 
incompetente, posto em verdade o juízo competente ser o Juízo da Vara 
de Registros Públicos, motivo pelo qual o recurso de apelação não foi 
provido.
O que queremos dizer é que acidentes no procedimento do 
casamento, embora sejam desconhecidos pelo grande público, você, 
aluno, futuro operador do direito, irá, inevitavelmente, se deparar com 
algum.
Algumas questões sobre o tema também surgem, e acredito que 
tenhamos que precisam ser esclarecidas. A primeira é que, embora seja 
hoje mero tradicionalismo, o nubente do sexo masculino poderá ter para 
si o nome de sua consorte sem nenhum problema, pois ressalta-se:
Direito de Família
17
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente 
a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos 
da família.
§ 1. º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o 
sobrenome do outro. (BRASIL, 2002) 
Inclusive, a ordem pode ser alterada, podendo o homem ter o 
sobrenome da esposa ao final sem problema algum. GANGLIANO (2009), 
a propósito, pontua que: 
Em uma sociedade que se propõe a ser mais justa e 
igualitária, não há mais espaço para discriminações 
odiosas, calcadas em um machismo jurássico e 
anacrônico, violador do princípio maior da dignidade da 
pessoa humana. (GANGLIANO, 2009, p. 210)
Por fim, devemos lembrar que o casamento religioso deve se 
adequar às normas do casamento civil, conforme art. 74 da Lei de Registros 
Públicos, que admite a habilitação posterior ao casamento religioso em 
caráter excepcional, vejamos:
Art. 74. O casamento religioso, celebrado sem a prévia 
habilitação, perante o oficial de registro público, poderá 
ser registrado desde que apresentados pelos nubentes, 
com o requerimento de registro, a prova do ato religioso 
e os documentos exigidos pelo Código Civil, suprindo eles 
eventual falta de requisitos nos termos da celebração. 
[Renumerado do art. 75, pela Lei n. 6.216, de 1975.]
Parágrafo único. Processada a habilitação com a publicação 
dos editais e certificada a inexistência de impedimentos, 
o oficial fará o registro do casamento religioso, de acordo 
com a prova do ato e os dados constantes do processo, 
observado o disposto no artigo 70. (BRASIL, 1973)
Vale destacar ainda que nem a lei e nem a jurisprudência relaxam 
sobre essa regra, pois leia atentamente este recente julgado, em seguida 
faremos as devidas considerações.
REGISTRO CIVIL. SUPRIMENTO JUDICIAL. REGISTRO 
CIVIL DE NASCIMENTO NÃO LOCALIZADO. CABIMENTO. 
CASAMENTO CIVIL. CASAMENTO RELIGIOSO REALIZADO 
EM 1895. IMPOSSIBILIDADE DO SUPRIMENTO JUDICIAL. 
PEDIDOS QUE OBJETIVAM A OBTENÇÃO DE CIDADANIA 
Direito de Família
18
ITALIANA. 1. Diante da existência da certidão de casamento 
realizado no Registro Civil, cabível o deferimento do 
suprimento judicial do registro civil de nascimento do 
avô do recorrente. 2. Segundo o disposto no art. 226, 
§ 2º, da Constituição Federal e no art. 1.515 do Código 
Civil, é atribuído ao casamento religioso o efeito civil, 
desde que atendidas as exigências da lei para validade 
do casamento civil. 3. Considerando que o casamento 
civil no Brasil foi instituído através do Decreto nº 181, de 
1890, vedando qualquer outra forma de casamento, não 
há como reconhecer a possibilidade de suprimento do 
registro civil de casamento dos bisavós do recorrente, que 
foi realizado na forma religiosa em 1895. Recurso provido 
em parte. (Apelação Cível Nº 70079438321, Sétima Câmara 
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando 
de Vasconcellos Chaves, Julgado em 20/03/2019).
(TJ-RS - AC: 70079438321 RS, Relator: Sérgio Fernando de 
Vasconcellos Chaves, Data de Julgamento: 20/03/2019, 
Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça 
do dia 21/03/2019)
A matéria de que trata o presente julgado é complexa 
e, além do direito de família, teremos que buscar conceitos 
de Direito Constitucional, Direito Internacional Privado e 
de outras leis que já estudamos em outras oportunidades. 
Primeiro, devemos entender que no Direito Civil italiano, a nacionalidade é 
conferida por consanguinidade, já que, na linha de transmissão de sangue, 
a mulher italiana somente transmite a cidadania aos filhos nascidos após 
1º de janeiro de 1948. Ou seja, se uma mulher italiana der à luz a um 
bebê em solo brasileiro, este, por sua vez, terá nacionalidade italiana. 
Isso é o suficiente de Direito Internacional Privado de que precisaremos. 
O apelante, que chamaremos de AJD, é filho da italiana CMC, porém, esta 
não o registrou civilmente como seu filho. O documento que atesta que 
ela tem raízes no Brasil é o do casamento religioso, ocorrido em 29 de 
maio de 1895. O único documento que comprovaria a filiação de AJD é 
o registro do casamento civil, realizado em 28 de abril 1923, quando AJD 
casou-se no civil com BDF. 
Direito de Família
19
Nesta ação, AJD buscou fazer seu registro de nascimento tardio 
através de suprimento judicial. Como as provas colaboraram para 
que sua filiação seja reconhecida, a justiça entendeu que não haveria 
problema nenhum, concedendo a oportunidade de registro. Até aqui 
tudo bem, porém, essa ação tinha um pedido extra. Que nos coloca maior 
complexidade. 
Essa ação foi movida pelo intuito de VRD, filha de AJD, conseguir a 
nacionalidade italiana, uma vez que é descendente direta de italiana, e em 
Roma judicialmente haver esta possibilidade. Porém, a autoridade italiana 
requeria que a união conferida por CMC e seu companheiro deveria 
ter a chancela do estado brasileiro, ou seja, que o casamento religioso 
fosse reconhecido pelo estado brasileiro como legítimo. Então só haveria 
cabimento no pedido de VRD se houvesse um suprimento do processo 
de habilitação do casamento da mãe de AJD para que este, através de 
sentença judicial, tenha sua validade. 
Nesse ponto em específico, o julgado em comento não deferiu 
o pedido posto desde o Decreto nº 181, de 24 de janeiro de 1890, que 
prevê que o casamento religioso deveria ter chancela estatal, por meio 
de processo de habilitação, e como o casamento religioso em questão 
ocorreu em 1895, não se sabe ao certo se atendeu às exigências da lei 
tal como disposto no CC, não há como deferir o suprimento judicial para 
reconhecer o casamento religioso perante o registro civil. Resta, portanto, 
o pedido prejudicado.
RESUMINDO:
A celebração do casamento é um ato antigo, mas ao 
transferirmos poderes ao estado moderno democrático de 
direito, o casamento passou a ter demasiadas formalidades, 
com o fim de coibir atos públicos irregulares, principalmente 
movidospor condutas tidas como imorais.
Direito de Família
20
As Provas do Casamento
OBJETIVO:
Ao término deste capítulo, você será capaz de entender que 
provas identificam um casamento. Isso será fundamental 
para o exercício de sua profissão. As pessoas que tentaram 
ingressar no mercado de trabalho sem a devida instrução 
aqui cedida, distinguir o casamento civil de outras uniões, 
bem como sendo operador do direito, de auxiliar seus 
constituintes ou jurisdicionados no melhor deslinde de 
seus litígios. E então, motivado para desenvolver esta 
competência? Vamos lá. Avante!
Neste capítulo, trataremos sobre os meios de provas existentes em 
nosso ordenamento jurídico com efeito de prova do casamento. Aqui é 
onde o operador do direito ganha suas principais ferramentas de trabalho, 
com a finalidade de um melhor deslinde das lides, considerando-se a 
ocorrência de inúmeras situações processuais com que você, aluno, na 
sua atividade profissional, poderá se deparar. 
A primeira coisa, e mais óbvia de todas, é que a certidão de 
casamento é meio prioritário de prova, isso é constatado na dicção do 
CC. Vejamos:
Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela 
certidão do registro.
Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro 
civil, é admissível qualquer outra espécie de prova. 
(BRASIL, 2002)
Perceba pelo enredo do próprio artigo que a prioridade da certidão 
se sobrepõe a outra prova, que só será admitida com sua justificativa 
plausível para a sua ausência. 
Isso coloca a certidão de casamento em uma posição soberana 
sobre as outras provas. Isso, inclusive, demonstrando que, entre os meios 
de prova, a certidão é a prova formal diante de todas as outras.
Direito de Família
21
NOTA:
Quando o CC coloca os termos “justificada a falta ou perda”, 
em verdade, afigura-se a inteligível ausência do documento, 
em casos como, após fortes chuvas, é verificado que 
o houve a destruição do livro de registro, impedindo a 
extração de segunda via de certidão, por exemplo. 
Desse modo, não se entende, contudo, justificativas determinadas 
situações banais como perda ou esquecimento do documento, ou até 
mesmo hipóteses como subtração por terceiros, uma vez que sempre 
será possível a obtenção de uma segunda via.
Maria Helena Diniz, considerada uma das maiores civilistas de nossa 
era, assim preleciona sobre os nossos dizeres:
Se faltar, em virtude do fato de o oficial não ter lavrado 
o termo por desleixo ou má-fé, ou se se perder, pela 
destruição do próprio livro ou cartório, em razão de 
incêndio, guerra, revolução etc., admitem-se meios 
subsidiários de prova (passaporte — RT, 222:90; 
testemunhas do ato; certidão de proclamas; documentos 
públicos que mencionem o estado civil etc.), mediante 
justificação, requerida ao juiz competente. (DINIZ, 2005, p. 
120)
De toda sorte, é preciso ingressar com procedimento judicial cabível, 
para nova obtenção de nova prova do casamento. Dessa sentença, assim 
dispõe o nosso CC:
Art. 1.546. Quando a prova da celebração legal do 
casamento resultar de processo judicial, o registro da 
sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que 
toca aos cônjuges como no que respeita aos filhos, todos 
os efeitos civis desde a data do casamento. (BRASIL, 2002)
Ou seja, o efeito será ex tunc (retroativo). Ainda, sua eficácia terá 
força sobre os descendentes. 
Direito de Família
22
A força probatória da certidão de casamento é tamanha, que ela é 
prova sobre qualquer lide processual, como deixa claro o julgado a seguir:
Processual e previdenciário. Ação rescisória. Aposentadoria 
por idade. Rurícola. Certidão de casamento. Início razoável 
de prova material. Caracterização. Documento novo. 
Preexistente ao acórdão rescindendo. CPC, art. 485, 
VII. Solução pro misero. Adoção. Exigência. Período de 
carência. Desnecessidade.
I — Nos termos da assentada jurisprudência da Corte, 
considerando as condições desiguais vivenciadas pelo 
trabalhador rural, e adotando a solução pro misero, a 
prova, ainda que preexistente à propositura da ação 
originária deve ser considerada para efeito do art. 485, 
VII do Código de Processo Civil. Na hipótese dos autos, 
o documento novo acostado aos autos, consistente em 
Certidão de Casamento, constitui início razoável de prova 
suficiente da atividade rurícola da Autora.
II — Consoante jurisprudência do Superior Tribunal de 
Justiça, para fins de aposentadoria por idade, não é exigível 
do trabalhador rurícola, a comprovação de período de 
carência. Precedentes.
III — Ação rescisória procedente
(AR 3.022/SP, rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 28-6-2006, 
DJ 21-8-2006, p. 227, 3.ª Seção). 
EXPLICANDO MELHOR:
Na ocasião deste julgado, a requerente tinha como meio 
de prova a certidão de casamento, em que constava sua 
profissão, qual seja, de trabalhador rural. Devido a essa 
prova inequívoca, o tribunal concedeu a pensão por idade.
Ainda sobre a prova do casamento, é importante destacar que 
o art. 1.544 do CC dispõe que o casamento de brasileiro, celebrado no 
estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, 
deverá ser registrado em no máximo 180 (cento e oitenta) dias, a contar da 
volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo 
domicílio, ou, se caso na edilidade não possua, no 1º Cartório de Ofício da 
Capital do Estado em que passarem a residir.
Direito de Família
23
Dessa forma, a doutrina tem entendido que trata-se de um prazo 
decadencial, e, havendo inobservância, pode ser gerada a perda do direito 
de extensão da eficácia, em território nacional, portanto, o matrimônio 
celebrado fora do país pode perder sua validade.
Sobre esta matéria, Ferraresi (2009) assim afirma:
O legislador não deixou à mercê dos nubentes a escolha 
do tempo apropriado para registrar o ato matrimonial no 
Brasil. Ao contrário, impôs-lhes o prazo de 180 (cento 
e oitenta) dias, contado da volta de um ou de ambos os 
cônjuges ao país. A palavra ‘volta’ deve ser entendida de 
maneira ampla, englobando a palavra ‘ingresso’, segundo 
entende Paulo Lôbo (2008, p. 97), não se limitando, 
portanto, apenas ao ‘retorno’ do cônjuge (brasileiro 
ou estrangeiro), mas, também, à ‘primeira entrada’ em 
território brasileiro. Inobservado o prazo, o casamento não 
produzirá efeitos no Brasil, ainda que no exterior mantenha 
sua eficácia. A propósito, Paulo Lôbo afirma que o prazo 
de 180 (cento e oitenta) dias é decadencial, ‘significando 
dizer que, se for ultrapassado, o casamento fora do Brasil 
não produzirá efeitos neste país. Em outras palavras, não 
serão considerados casados segundo as leis brasileiras’ 
(LÔBO, 2008, p. 97). De outro lado, Luiz Edson Fachin e 
Carlos Eduardo Pianovski Ruzyk indagam: ‘Qual seria, 
porém, a consequência do descumprimento deste prazo?’. 
Imediatamente respondem: ‘Embora a regra silencie, 
podem-se reputar os 180 dias como o período dentro no 
qual é possível oferecer eficácia, em território nacional, 
ao casamento realizado no exterior pelas autoridades 
consulares. A perda do prazo ensejará a necessidade de 
habilitação em território nacional para que seja possível 
realizar o registro no prazo de eficácia do certificado de 
habilitação (FACHIN; RUZYK, 2003, p. 141). Portanto, o 
descumprimento do prazo de cento e oitenta dias não 
implica inexistência ou invalidade do casamento celebrado 
no exterior, mas apenas condiciona a eficácia a uma nova 
habilitação (e não a uma nova celebração do casamento 
em território nacional). (FERRARESI, 2009, p. 82-83)
Observadas essas questões, o CC assevera que, na ausência 
de prova documental suficiente (leia-se certidão de casamento), será 
admitida o que chamamos de prova indireta do casamento, necessitando, 
assim, que os consortes comprovem a posse do estado de casadas.
Direito de Família
24
DEFINIÇÃO:
A posse do estado de casadas é uma situação fática em que 
o casal mantém “a nítidaaparência da existência e validade 
da relação matrimonial, atuando ambos os “possuidores” 
desse estado com animus de consortes” (GAGLIANO, 2019, 
p. 207)..
Imaginemos as seguintes hipóteses: 
1. Um casal, cujos consortes estão casados há mais de 25 anos, no 
incurso de constantes mudanças de residência, perderam muitos 
documentos, inclusive a certidão de casamento. Dessa união, 
constituíram patrimônio e advieram descendentes. Note que, 
mesmo sem a certidão de casamento, os cônjuges mantiveram a 
posse do estado de casados.
2. Dois companheiros, juntos por mais de 30 anos, também 
tiveram filhos e constituíram algum patrimônio. Nesse caso, os 
companheiros também detêm a posse do estado de casados.
Ou seja, para que se tenha posse do estado de casadas, as pessoas 
devem agir como tais, conforme os deveres prelecionados no CC, 
independentemente se houve formalização matrimonial ou não.
Apresentando com maestria, Gagliano (2019) explica a posse do 
estado de casado:
Como decorrência da cláusula geral de boa-fé e por 
imperativo de segurança jurídica, admite-se prova do 
casamento de pessoas que, tendo convivido na posse 
do estado de casadas e constituído prole, não possam 
mais manifestar vontade, por morte ou outra circunstância 
impeditiva. (GAGLIANO 2019, p. 217)
Nesse sentido, as provas que atestam a posse do estado de 
casados podem ser cartas ou correspondências, como bilhetes, e-mails 
ou mensagens enviadas por aplicativos. Não podemos esquecer que 
também são consideradas as provas informais visuais, como fotos, vídeos 
etc.
Direito de Família
25
No entanto, em nossa atividade advocatícia encontramos uma 
diversidade de outras provas que a doutrina de forma geral esquece 
de citar. Um bom operador do direito deve estar atento aos muitos 
documentos que circundam o casal, dentre eles a certidão de nascimento 
de eventuais filhos, caso o casal os tenha, pois nesse documento consta 
o nome dos pais, e, se assim lá se acosta, existem fortes indícios de 
comprovação de que estes mantiveram/mantêm estado de casados. 
Portanto, um bom operador do direito deve estar atento aos documentos 
que circundam a relação matrimonial.
Inclusive, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em alguns 
julgados, já se pronunciou nesse sentido, in verbis:
Apelação cível. Investigação de paternidade e 
maternidade. Inteligência do art. 1.614 do Código Civil 
(antigo art. 362 do CC/16). Decadência reconhecida. Na 
investigatória de paternidade e/ou maternidade em que o 
autor não possui pais registrais não há falar em prescrição 
ou decadência. Todavia, nos casos de prévia existência 
de uma relação jurídica de parentalidade certificada pelo 
registro de nascimento, incide o prazo decadencial de 
quatro anos. Esta restrição de direito se impõe em face 
do princípio de igualdade de direitos dos filhos, posto 
no § 6.º do art. 227 da CF, sejam eles havidos ou não da 
relação de casamento, pois, se entendermos que o filho 
extramatrimonial pode, a qualquer tempo, vindicar estado 
distinto daquele que resulta de seu assento de nascimento 
igualmente teremos que assegurar esta possibilidade 
aos filhos havidos na vigência do casamento o que — se 
pode antever — dá oportunidade à total insegurança no 
seio familiar. Na atualidade, se confrontadas a verdade 
que emana das informações registrais com a verdade 
biológica/consanguínea e a verdade social e afetiva, onde 
houve coincidência entre a verdade registral e a posse 
de estado de filho fica mantida a relação de parentesco 
já constituída, em detrimento da identidade genética. 
De ofício, reconheceram a decadência, extinguindo o 
processo com julgamento de mérito, por maioria. (Segredo 
de justiça) (TJRS, AC n. 70015469091, 7.ª Câm. Cív. rel. Luiz 
Felipe Brasil Santos, julgado em 13-9-2006).
Direito de Família
26
A doutrina tradicional normalmente aponta três elementos que 
caracterizam a posse do estado de casado, são eles nomen, tractatus 
e fama. De forma bem sintética, o famoso civilista Washington de Barros 
Monteiro nos explica:
O primeiro, consiste em trazer a mulher o nome do marido; 
o segundo, em se tratarem ambos como casados; e o 
terceiro, no reconhecimento geral, por parte da sociedade, 
da condição de cônjuges. (MONTEIRO, 1999, p. 78)
Evidentemente que o primeiro requisito foi relativizado ante as novas 
constituições familiares, porém, seu ideário continua sendo adequado 
para todos os casos de constituição familiar, pois vejamos:
Se José casou-se com João, e ostenta socialmente o sobrenome 
deste, obviamente José enquadra-se no elemento nomen.
Ademais, o elemento nomen está cravado no CC, como na previsão 
a seguir:
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem 
mutuamente a condição de consortes, companheiros e 
responsáveis pelos encargos da família.
§ 1.º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer 
ao seu o sobrenome do outro. (BRASIL, 2002)
O aluno pode perguntar “e se as provas se restarem insuficientes 
para atestarem a condição de estado de casado?” E responderei sem 
pestanejar, que restará a você, futuro operador do direito, complementar 
suas provas com testemunhas idôneas. Claro que isso irá depender de 
cada caso, porém, o CC preleciona que a dúvida entre as provas favoráveis 
e contrárias julgar-se-á pelo casamento, se os cônjuges, cujo casamento 
se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados 
(art. 1.547 do CC/2002).
Muitas pessoas chegam a nos perguntar se é juridicamente 
aceitável desdobrar a previsão da posse do estado de casados àqueles 
que se encontram em união estável.
Direito de Família
27
Para Gagliano (2019), isso não é possível:
O fato de a Constituição não estabelecer hierarquia ou 
prevalência entre as inesgotáveis formas de família não 
significa que identifiquemos institutos equiparáveis, mas 
não iguais.
Casamento não é igual a união estável, até porque, se 
assim o fosse, a própria Constituição Federal não regularia 
a sua conversão em matrimônio.
Em outras palavras, a equiparação de direitos, segundo 
uma hermenêutica apurada, não significa que apliquemos 
indistintamente regras do casamento à união estável e 
vice-versa.
Com isso, temos firme a ideia de que a previsão da 
posse do estado de casado não pode ser aplicada ao 
companheirismo por analogia ou interpretação ampliativa. 
(GAGLIANO, 2019, p. 2019)
Em que pese as palavras do famoso doutrinador a quem temos 
muito apreço, ousamos discordar, pois, muito embora os companheiros 
em uma união estável não gozem do elemento nomen, os outros 
elementos, quais sejam, tractatus e fama estão firmemente presentes. 
Vejamos, o art. 1.723 do CC: este disciplina que é reconhecida como 
entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada 
na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o 
objetivo de constituição de família. Percebe-se nitidamente os elementos 
tractatus e fama nesta redação. Ademais, praticamente as mesmas provas 
informais que possam comprovar um casamento formal podem ser 
usadas para comprovar uma união estável.
Claro que o fundamento para uma união estável e um casamento 
se dispersam em muitos momentos, o que verificaremos em momento 
oportuno, mas carece que neste momento façamos importantes ressalvas.
Comungam conosco o Tribunal de Justiça do Estado de São 
Paulo (TJ-SP), quando, enfrentando o julgamento da Apelação Cível de 
nº  994.09.301317-o, em 11 de março de 2010, afirmou à relatoria que, 
para que haja posse no estado de casados, deve haver consistente 
de relacionamento público, notório, duradouro, que configure um 
Direito de Família
28
núcleo familiar. Ainda, deve haver vida em comum, more uxório, não 
necessariamente sob o mesmo teto, mas com sinais claros e induvidosos 
de que aquele relacionamento é uma família, cercada de afeto e de uso 
comum do patrimônio.
Na ocasião, a mesma corte ainda proferiu:
Na lição deSimão Isaac Benjó, a união estável se aproxima 
de fato do casamento, de modo que «a companheira deve 
ter o trato, o nome e a fama de esposa» (União Estável e 
seus Efeitos Econômicos em face da Constituição Federal, 
in Revista Brasileira  de Direito Comparado, 1.991, v. II, os. 
59 e seguintes)
(TJ-SP - APL: 994093013170 SP, Relator: Francisco Loureiro, 
Data de Julgamento: 11/03/2010, 4ª Câmara de Direito 
Privado, Data de Publicação: 25/03/2010)
Esse entendimento é constante em outros tribunais. Frisamos 
aqui também o do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo 
(TJ-ES), quando, enfrentando a Apelação Cível de número AC 
24050115492 ES 024050115492, suscitou o já mencionado art.  1723  do 
CC/2002,  referendando que nele constam requisitos indispensáveis à 
comprovação da união estável quais sejam, intenção de constituir família 
e convivência pública contínua e duradoura, porém, devido à inexistência 
de provas no sentido da posse do estado de casado, o tribunal conheceu 
o recurso conhecido, mas negando-lhe provimento.
Isso nos leva a crer que exista condão sim, se elencadas as devidas 
provas, de reconhecer a posse do estado de casado com a finalidade de 
comprovar a união estável, porém, ressalvamos que, caso reste-se essa 
comprovada, jamais em juízo será considerada como casamento civil, pois, 
embora os institutos no plano fático sejam semelhantes, juridicamente 
são diferentes.
Veremos mais detalhadamente mais adiante, porém, podemos 
desde já antecipar alguns dizeres. 
É comum residir a dúvida entre as pessoas que não entendem a 
diferença entre união estável e casamento, até por causa do art. 226, § 3º 
da Constituição Federal, que reconhece a união estável como família, mas 
Direito de Família
29
não é porque o texto magno assim o reconhece, que exista uma segurança 
patrimonial plena. E é aqui que reside uma das maiores diferenças.
O casamento, por ter uma chancela estatal, tem sua eficácia plena, 
erga omnes, enquanto a união estável precisa a qualquer momento passar 
por algum crivo administrativo ou judicial.
Um casal que contraiu matrimônio no regime de comunhão 
parcial de bens, uma vez que não houve nenhuma irregularidade, 
quando entenderem que devem se separar, basta computarem os bens 
pretéritos ao casamento, os que advieram depois do casamento, e, 
assim, judicialmente cindi-los. Já um casal em união estável, o patrimônio, 
a rigor, encontra-se todo misturado, pois não houve um marco formal, 
como é o caso do casamento, então o casal, caso queira se separar, terá 
que reconhecer a união estável, para somente então dissolvê-la e tentar 
dividir de forma satisfatória os bens. É claro que por economia processual, 
o reconhecimento à dissolução e à partilha de bens pode ser feito em 
uma única ação, mas em nossa carreira, observamos que é muito mais 
custoso as dissoluções de uniões estáveis do que divórcios, exatamente 
por uma certa precariedade de documentos.
Ou seja, embora os dois tipos de uniões gozem da mesma posse 
do estado de casados, os casamentos possuem uma segurança jurídica 
muito mais robusta.
RESUMINDO:
As provas do casamento são elementos que atestam a 
veracidade do matrimônio. A maior prova é a certidão de 
casamento, porém, na falta justificada desta, outras provas 
informais podem ser obtidas a fim de que se produza a 
mesma finalidade probante da certidão. 
Direito de Família
30
A Eficácia do Casamento
OBJETIVO:
Ao término deste capítulo, você será capaz de entender 
uma gama de questões relevantes que determinam a 
eficácia jurídica do casamento. Isso será fundamental para 
o exercício de sua profissão. As pessoas que tentaram 
ingressar no mercado de trabalho sem a devida instrução 
aqui cedida tiveram muitos problemas na produção de 
peças processuais, assim como na atividade jurídica no 
direito de família. E então, motivado para desenvolver esta 
competência? Vamos lá. Avante!
Neste capítulo, você terá a oportunidade de fazer reflexões sobre 
temas relativos ao casamento que o tornam de fato eficaz. Embora exista 
um corpo legal que dita normas extremamente vastas que disciplinam 
sua eficácia, como você já deve ter observado, alguns poucos detalhes 
fazem a diferença ao operador do direito para determinar se uma união 
matrimonial é eficaz ou não. Esses detalhes são o que chamamos de 
consequências do casamento.
Essas consequências projetam nos cônjuges efeitos de diversas 
naturezas e que irão refletir em efeitos sociais, pessoais e patrimoniais.
Vejamos agora cada um deles.
Efeitos Sociais
Uma vez que um dos principais efeitos do matrimônio é a 
constituição de uma família, conforme redação do texto constitucional 
do art. 226, §§ 1º e 2º, a família, portanto, sai da esfera privada e ganha 
status público. Alguns autores entendem que essa tutela estatal, ou seja, 
esse cuidado por parte do estado, foi um forte avanço para as pessoas 
humanas envolvidas. 
Direito de Família
31
Por isso que em alguns textos da doutrina especializada iremos 
ler que a CF confere proteção à comunhão de vida, é por isso que o art. 
1.513 proíbe a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na 
comunhão de vida instituída pela família. E, por sua vez, quando tratamos 
desse dispositivo, vimos que ele realça o livre planejamento familiar, 
também afigurado no art. 226, § 7º.
Nessa comunhão de vida, seus coparticipantes lidam com alguns 
efeitos sociais, dentre eles:
a. A emancipação do cônjuge incapaz (art. 5º parágrafo único, II). 
Para entender melhor nosso dizeres, o aluno deve recordar das 
lições adquiridas sobre esse assunto na parte geral do CC e dos 
apontamentos que fizemos quando tratamos nesta disciplina. Ao 
dizer que a idade núbil é aos 16 anos, e que o menor autorizado 
pelos pais poderá casar-se, o CC disciplina a emancipação civil 
deste. O que queremos dizer é que o menor em idade núbil, se 
casando, ele automaticamente está emancipado para efeitos 
civis. E mais, essa emancipação é um ato de solidez tamanha, 
que mesmo com a dissolução do casamento, seja pela viuvez, 
separação ou pelo divórcio, o jovem continuará emancipado. Ou 
seja, uma vez emancipado, o jovem não retornará ao estado de 
incapacidade que anteriormente tinha.
b. O estabelecimento do vínculo de parentesco por afinidade entre 
os parentes dos cônjuges, em alguns casos, é permanente, como 
estudamos nos casos de impedimentos matrimoniais. Lembre-se, 
sogra é para sempre!
c. O estado de casado, como vimos, faz interferência direta de como 
a sociedade vê o casal. É a proteção jurídica mínima em relação 
a terceiros, pois, dessa forma, resguarda-se muitos direitos 
pertencentes aos entes familiares. Basta lembrar, por exemplo, que 
o bem de família é protegido perante o estado, já uma pessoa que 
se atende apenas como solteira, pode ter seus bens penhorados.
d. Em decorrência da presunção de casados, também haverá a 
presunção de paternidade dos filhos na constância do casamento. 
Chamamos aqui de relação jurídica filiatória, pois a mera presença 
de um menor junto a um casal já pressupõe-se a filiação deste.
Direito de Família
32
Efeitos Pessoais
a. Noções gerais
Com o desenvolvimento dos pressupostos da dignidade humana, 
podemos considerar qualquer atividade discriminatória abominável. 
Sabiamente, nosso CC traz:
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem 
mutuamente a condição de consortes, companheiros e 
responsáveis pelos encargos da família. (BRASIL, 2002)
Com isso, entendemos que deva existir um dever de cuidados para 
com o outro, de qualquer ordem, seja física, mental, psicológica, moral ou 
qualquer outra admitida em direito, não permitindo-se mais diferenciação 
entre mulher e homem, companheiro que trabalha e o que se preserva no 
lar, por exemplo.
b. Possibilidade acréscimo do sobrenome do cônjuge 
Como sabemos, o nome é um direito da personalidade, é através 
dele que atingimos o direito à identificação, um direito essencial, portanto.Nosso CC inovou em relação ao Código passado, prelecionando que 
qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome 
do outro (Art. 1.565, §1º).
Dessa monta, é importante destacarmos que é facultativa a 
mudança, e não obrigatória, como muitos pensam, e mais, o homem pode 
ter para si o sobrenome da mulher. Devemos recordar que essa alteração 
do nome se dá no ato de habilitação ao casamento. 
NOTA:
Todavia, tem-se entendido que, caso os nubentes não 
optarem no momento da habilitação, após o casamento, 
poderão pleitear judicialmente a alteração (leia-se 
retificação) de seu nome, para isso, que se faça em uma 
vara de registros públicos.
Direito de Família
33
Antecipando assuntos que serão vistos na nossa próxima unidade, 
uma vez alterado o nome em razão do casamento, caso sobrevenha 
alguma dissolução, a rigor, haverá a manutenção do nome adquirido pelo 
casamento, porém, caso o consorte queria retornar ao nome de solteiro, 
ele terá que fazer o pedido na ação de dissolução matrimonial cabível.
c. Fixação de domicílio conjugal
Eis aqui um dos grandes marcos que diferenciam o casamento de 
outras uniões, qual seja, o dever de coabitação. Enquanto na união estável 
não existe essa obrigatoriedade, no casamento é uma regra, para tal, é 
necessário que se atenda ao que o CC ensina:
Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos 
os cônjuges, mas um e outro podem ausentar-se do 
domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao 
exercício de sua profissão ou a interesses particulares 
relevantes. (BRASIL, 2002)
Ou seja, não existe uma necessidade plena de que os cônjuges 
residam no mesmo local, mas que mantenham de domicílio.
Lembre-se das lições da parte geral, caro aluno.
Domicílio representa a sede jurídica da pessoa, onde irá se presumir 
que ela esteja presente para efeitos de direito. Já a residência é um local 
onde se estabelece uma situação de fato. Embora na prática esses 
termos se confundam bastante, veja o exemplo: A família de João mora 
em Juazeiro do Norte, no estado do Ceará, mas mantém uma residência 
em Fortaleza, capital desse mesmo estado. João mantém seu domicílio 
em Juazeiro do Norte, pois é lá onde trabalha, guarda sua família, tem 
suas relações de amizade; já na residência de Fortaleza, ele e sua família 
costumam passar os dias de verão, ou as férias. Logo, João e sua família 
possuem duas residências, mas um único domicílio. Entendeu?
d. Os direitos e deveres recíprocos do casamento
Tratamos deste tema quando falamos da finalidade do casamento. 
São deveres que importam a ambos os cônjuges, quais sejam: fidelidade 
recíproca; vida em comum no domicílio conjugal; mútua assistência; 
sustento, guarda e educação dos filhos; respeito e consideração mútuos. 
(Art. 1.566 do CC/2002).
Direito de Família
34
NOTA:
Interessante aqui fazer menção honrosa a um tema que 
aparentemente parece estar vencido, porém, ainda é 
constante nos lares. Dentre os deveres elencados no art. 
1566, um deles merece especial análise, o que também se 
pretende verificar de forma mais precisa: o débito conjugal, 
previsto no inciso II, como dever de coabitação. Muitos 
autores conceituam de forma superficial esse dever, apenas 
no sentido de comunhão de vida, de evitar o abandono do 
outro cônjuge, sem motivo justificado, contra a vontade 
do consorte. Segue esse entendimento Carlos Roberto 
Gonçalves (2017, p. 189), ao afirmar que “a vida em comum, 
no domicílio conjugal, ou dever de coabitação, obriga os 
cônjuges a viver sob o mesmo teto e a ter uma comunhão 
de vidas”.
Entretanto, algo importante não pode ser omitido no dever de 
coabitação: o débito conjugal. A coabitação do lar conjugal é pressuposto 
matrimonial que obriga os cônjuges a compartilharem suas vidas, aí 
incluída também a vida sexual, o que se entende por débito conjugal, 
que é entendido como o direito-dever dos cônjuges de cederem 
reciprocamente os seus corpos à mútua satisfação sexual, mas presente 
no CC de 1916, fruto de uma sociedade patriarcalista, foi mantido ainda 
no CC atual. Sendo assim, um dever matrimonial elencado no CC, o 
débito conjugal poderia legitimar a exigência do cumprimento por parte 
do outro cônjuge, o que poderia gerar, inclusive, situações de violência 
sexual, totalmente incompatíveis com nossa realidade social, bem como 
a legislação criminal.
Rolf Madaleno (2016) expressa que 
A unidade conjugal atende desse modo a uma das 
finalidades do casamento, consubstanciada na 
convivência, como modelagem inerente à entidade 
familiar. A coabitação dos cônjuges também envolve seu 
relacionamento sexual, como dever implícito do vínculo 
nupcial. (MADALENO, 2016, p. 180)
Direito de Família
35
DEFINIÇÃO:
O débito conjugal seria, portanto, o direito-dever dos 
cônjuges de realizarem entre si o ato sexual. A omissão da 
expressão “débito conjugal” por parte da doutrina civilista 
deve-se ao fato de que alguns autores o consideram como 
ínsito ao dever de coabitação.
Alguns casais, atualmente, por adotarem um estilo de vida 
incompatível com a coabitação, por vezes em virtude do trabalho, ou 
até mesmo por opção, prescindem desse dever conjugal e convivem 
de forma pacífica e duradoura, estabelecendo comunhão plena de vida 
mesmo em lares separados, especialmente com a inserção plena da 
mulher no mercado laboral. 
Como relembram Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald 
(2015), 
Em verdade, o termo coabitação não abrange – e não pode 
abranger – uma obrigação jurídica aos cônjuges de manter 
relacionamentos sexuais porque implicaria em violação 
à dignidade deles, bem assim como em uma interdição 
sobre a sua própria vida privada, valores tutelados 
constitucionalmente. O sentido jurídico da expressão vida 
em comum no domicílio conjugal é outro, mais restrito, não 
invadindo a esfera da privacidade da pessoa humana. Esta, 
sim, a interpretação que emerge de uma análise detida à 
luz dos valores garantistas afirmados constitucionalmente. 
(FARIAS; ROSENVALD, 2015, p. 248)
Desse modo, deve-se lembrar que o débito conjugal, hoje, não 
pode mais ser exigido como antes, até mesmo porque isso implicaria 
em violação a outros direitos, ainda mais considerando a situação de 
igualdade dos cônjuges após a relação conjugal.
O aluno pode questionar, e se houver descumprimento dos deveres 
conjugais? 
Direito de Família
36
O descumprimento dos deveres conjugais gera consequências 
jurídicas, sendo a primeira delas a possibilidade de rompimento da 
sociedade conjugal, por inviabilidade de continuação da vida comum, 
previsto no CC Brasileiro, em seu art. 1.572, caput, e art. 1.573. Entretanto, 
atualmente, para a ruptura da sociedade conjugal e o pedido de divórcio, 
diante de inúmeras mudanças na legislação, notadamente após a Emenda 
nº 66/2010, já não mais se exige que haja a comprovação de violação 
dos deveres conjugais, e sequer comprovação em decorrência de lapso 
temporal. Justifica-se tal fato, como relembra Rolf Madaleno (2016), ao 
mencionar que
Cada vez interessava menos ao Direito ocupar-se em 
longos embates jurídicos da pesquisa da culpa pela 
derrocada nupcial. A visão moderna do casamento, que 
prioriza a dignidade da pessoa, não podia mais permitir 
vazios conflitos internos de ponderação da dignidade 
conjugal, sugerindo que a pesquisa da culpa gerasse 
a responsabilidade social e jurídica pelo fim do amor. 
Importa, na atualidade, para um processo de divórcio 
ou de dissolução de uma união estável, tão somente 
o desejo de facilitar ao casal a finalização formal de seu 
relacionamento, sempre que pelo menos um deles, 
quando não o for pela iniciativa de ambos, aportar em juízo 
para denunciar o fim da sua comunhão plena de vida e 
da ausência definitiva de interesses comuns e esse foi o 
principal propósito da emenda Constitucional n.66, de 13 
de julho de 2010. (MADALENO, 2016, p. 175) 
De fato, percebe-se que o momento do divórcio já é bastantedelicado para as famílias: uma fase de adaptação, de estruturação, de 
frustrações, muitas vezes com mágoas e ressentimentos. Tudo isso 
reflete-se no desejo de expressar discussões inócuas acerca da atribuição 
de culpa ao término do relacionamento, e quem lida na área de direito 
de família compreende essa realidade e percebe que essa discussão 
não tem qualquer contribuição prática para a decretação do término da 
sociedade conjugal.
Direito de Família
37
Nesse contexto, importante falar sobre outra consequência jurídica 
quando há violação dos deveres conjugais: a possibilidade de indenizar. 
A transgressão aos deveres conjugais, com expressa previsão legal, gera 
ao cônjuge inocente a possibilidade de reparação. Assim manifesta-se 
Regina Beatriz Tavares da Silva (2002), quando diz que
A lei, ao estabelecer deveres aos cônjuges, obriga-os 
à prática de certos atos e à abstenção de outros. Uma 
vez violados esses deveres, com a ocorrência de danos, 
surge o direito do ofendido à reparação, em razão do 
preenchimento dos pressupostos da responsabilidade 
civil subjetiva – ação ilícita, dano e nexo causal – assim 
como ocorre diante da prática de ato ilícito em outras 
relações jurídicas, com fundamento na regra geral da 
responsabilidade civil. (SILVA, 2002, p. 120)
Alguns tribunais brasileiros já vêm decidindo favoravelmente 
nesse sentido, em casos de infidelidade conjugal, e da falta de respeito e 
consideração mútuos. Além da reparação civil, há ainda outros aspectos 
que podem influenciar no direito de família. O descumprimento do dever 
de guarda, sustento e educação dos filhos, por exemplo, enseja inúmeras 
ações de alimentos, abandono afetivo, guarda compartilhada, que são 
objeto de leis específicas no ordenamento civil brasileiro, e que podem 
ser consideradas decorrência da violação do dever conjugal. 
Efeitos Patrimoniais
É da natureza do matrimônio a aquisição bens em comum. Embora 
em nosso ideário quiséssemos conquistar um patrimônio vultoso, 
sabemos que a vida muitas vezes não permite tal ascensão. E isso é 
normal. Portanto, a aquisição de patrimônio não está diretamente ligada a 
bens de alto valor, mas sim de bens de diversificada natureza. 
VOCÊ SABIA?
Nesse sentido, em nossa carreira advocatícia, em situações 
de dissolução matrimoniais, já chegamos a partilhar apenas 
eletrodomésticos, proventos referentes a aluguéis, animais, 
como bovinos, equinos e tantas outras coisas inusitadas.
Direito de Família
38
Mas o cerne de nossos comentários neste tópico não estão para 
o que se pode partilhar, pois guardaremos isso para momento mais 
oportuno, quando tratarmos da dissolução matrimonial. Tecemos esses 
comentários somente para destacar que é típico das uniões a aquisição 
de patrimônio, e isso gera reflexos.
RESUMINDO:
Embora o casamento seja rodeado de normas que regem 
seu ato, algumas questões de ordem social, pessoal e 
patrimonial determinam a sua eficácia.
Direito de Família
39
Invalidade Jurídica do Casamento
OBJETIVO:
Ao término deste capítulo, você será capaz de entender 
uma gama de questões relevantes que determinam a 
invalidade jurídica de um casamento, ou seja, as causas 
que anulam o matrimônio. Isso será fundamental para 
o exercício de sua profissão. As pessoas que tentaram 
ingressar no mercado de trabalho sem a devida instrução 
aqui cedida tiveram muitos problemas na atuação como 
operadores do direito, no âmbito do direito familiar. E então, 
motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. 
Avante!.
Nas unidades anteriores, pudemos acompanhar as causas 
impeditivas do casamento que geram a nulidade deste. Agora, 
estudaremos as questões da validade do casamento que o tornam 
anulável. 
Tais questões encontram raízes legais no CC de 1916, quando lemos 
em seu art. 209 a seguinte redação: “É anulável o casamento contraído 
com infração de qualquer dos ns. IX a XII do art. 183”. Nesse intento, éramos 
remetidos a ler os seguintes termos:
Art. 183. Não podem casar (arts. 207 e 209):
(...)
IX — as pessoas por qualquer motivo coactas e as 
incapazes de consentir; [Redação dada pelo Decreto do 
Poder Legislativo n. 3.725, de 15-1-1919.]
X — o raptor com a raptada, enquanto esta não se ache 
fora do seu poder e em lugar seguro;
XI — os sujeitos ao pátrio poder, tutela ou curatela, enquanto 
não obtiverem, ou lhes não for suprido o consentimento do 
pai, tutor, ou curador (art. 212); [Redação dada pelo Decreto 
do Poder Legislativo n. 3.725, de 15-1-1919.]
Direito de Família
40
XII — as mulheres menores de 16 (dezesseis) anos e os 
homens menores de 18 (dezoito). (BRASIL, 2002)
Como podemos observar, alguns desses incisos caíram em desuso 
ante as inovações do novo CC. Para nós, a mais inusitada situação está 
no inciso X, que diz que o casamento poderá ser anulável quando “o 
raptor com a raptada, enquanto esta não se ache fora do seu poder e 
em lugar seguro”. Geralmente, este dispositivo se aplicava na seguinte 
situação: uma mulher casada era seduzida por um outro homem, que não 
o seu marido. E assim, sedutor e seduzida, extremamente apaixonados, 
resolvem fugir, pois, como o casamento em 1916 era algo extremamente 
indissolúvel, só restava esta última e única alternativa. Aqui a mulher era 
entendida com alguém que seria incapaz de entender seus desejos e 
seus anseios, portanto, era compreendida como raptada, e seu amante, o 
raptor. Nesse sentido, o raptor e a raptada eram impedidos de casarem-
se, mas, se caso conseguissem, o casamento poderia ser anulável. 
Hoje, o CC, nos novos ares de sensatez contemporâneos, dispõe, 
em seu art. 1.550, que poderá ser anulável o casamento:
I — de quem não completou a idade mínima para casar;
II — do menor em idade núbil, quando não autorizado por 
seu representante legal;
III — por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV — do incapaz de consentir ou manifestar, de modo 
inequívoco, o consentimento;
V — realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro 
contraente soubesse da revogação do mandato, e não 
sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI — por incompetência da autoridade celebrante.
§ 1.º Equipara-se à revogação a invalidade do mandato 
judicialmente decretada.
§ 2.º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em 
idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua 
vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou 
curador”. (BRASIL, 2002)
Tais incisos serão frutos de nossos estudos agora.
Direito de Família
41
Nubente que não Completou a Idade 
Mínima para Casar
Tratamos deste tópico quando falamos de capacidade para casar. 
A lembrar, o analisamos quando tratamos do art. 1.517 do CC, que fala 
da capacidade núbil, com a ressalva já vista no art. 1.520, que ocorre aos 
16 anos completos, tanto para o homem quanto para a mulher, sendo 
então uma inovação, pois o CC de 1916 estabelecia a idade mínima 
para a mulher aos 16, e para o homem aos 18 anos. Conforme vimos no 
dispositivo acima, acreditamos que essa diferença etária no antigo Código 
considerava o amadurecimento masculino ser mais lento que o feminino.
Nubente em Idade Núbil sem Autorização 
para o Casamento
Também nas oportunidades de unidades passadas, tratamos que, 
caso o menor quisesse casar, teria que ter anuência expressa de seu pai, 
através de autorização, conforme teor do art. 1.518 do CC de 2002. Caso 
viesse a se casar, este ato poderia ser anulado. Como já tratamos disso, 
entendemos ser mais interessante abordarmos com maior profundidade 
nos outros incisos.
a. Vícios de vontade
NOTA:
Os vícios de vontade geralmente são estudados na parte 
geral do CC, porém, por ter um viés contratual, o casamento 
é entendido como negócio jurídico, e a vontade dos 
nubentes deve estar inteiramente livre e eivada de boa-fé.
Aqui, teremos a oportunidade de aplicar os estudos da parte geral 
no direito de família. 
Direito de Família
42
O primeiro vício que deveremos tratar temrelação com a omissão 
legal que gera outros vícios de consentimento. Sempre alertamos que os 
nubentes têm um dever entre si de prestarem informações verdadeiras 
entre a vida íntima de cada um, não cabendo determinadas omissões que 
futuramente possam comprometer o relacionamento familiar.
Automaticamente, isso irá nos remeter ao art. 1.550, III, e aos arts. 
1.556 e 1.558, todos do CC/2002, pois, pela leitura destes, é possível 
postular que será anulável o casamento quando houver erro essencial 
sobre a pessoa de um dos cônjuges ou coação.
IMPORTANTE:
Destacamos que, para que haja a concretização desse 
erro, o operador do direito deve detectar se houve uma 
séria omissão, no sentido de ser injustificada. Em outras 
palavras, precisamos ver se houve dolo para dar causa a 
essa invalidade.
Nesse rumo do conceito de dolo aplicado ao direito de família, 
Venosa (2001) assim assevera:
O dolo, como causa de anulação, colocaria sob 
instabilidade desnecessária o casamento, permitindo que 
defeitos sobrepujáveis na vida doméstica fossem trazidos 
à baila em um processo. (VENOSA, 2001 p. 128)
Nesse sentido, para que se reste comprovado dolo, é imperioso que 
um dos nubentes atue com o inequívoco propósito de enganar o outro.
Feitas essas observações sobre o dolo no que tange ao direito 
de família, devemos tratar sobre o erro essencial da pessoa de um dos 
cônjuges. O erro, nas palavras de Caio Mário Da Silva Pereira (2001), ocorre 
Quando o agente, por desconhecimento ou falso 
conhecimento das circunstâncias, age de um modo que 
não seria a sua vontade, se conhecesse a verdadeira 
situação, diz-se que procede com erro. (PEREIRA, 2001, p. 
326)
Direito de Família
43
Muito embora saibamos que a lei civil não estabelece distinções, 
o erro é, para Gagliano (2019, p. 271), “a falsa percepção da realidade, 
ao passo que a ignorância é um estado de espírito negativo, o total 
desconhecimento do declarante a respeito das circunstâncias do negócio”.
Geralmente, a doutrina de direito privado considera erro passível de 
anulabilidade do negócio jurídico quando ele for:
 • Essencial (substancial).
 • Escusável (perdoável).
Para entender melhor a diferença deles, precisamos nos redirecionar 
para um artigo do CC relativo à parte geral, in verbis:
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as 
declarações de vontade emanarem de erro substancial 
que poderia ser percebido por pessoa de diligência 
normal, em face das circunstâncias do negócio. (BRASIL, 
2002)
DEFINIÇÃO:
Assim, para que o erro seja considerado substancial, é 
necessária uma incisão sobre a essência do ato que se 
pratica, pois o erro substancial invalida o ato jurídico. Ele 
ocorre de formas não muito comuns para os dias atuais, 
mas aqui poderemos citar um exemplo plausível, baseado 
nas lições do CC, em seu art. 138.
Digamos que A é noiva de B. B tem um irmão gêmeo idêntico, C. 
C, ardente de paixões por A, captura seu irmão, aprisiona-o no dia do 
casamento, e, assim, celebra matrimônio com A. Veja, o ato tornou-se 
inválido, pois embora tivesse tudo ocorrido em conformidade, o anseio 
de A era casar com B e não com C.
Direito de Família
44
Um erro escusável no negócio jurídico é aquele que poderíamos 
esperar de homem médio que atue com grau normal de diligência. 
Imaginemos que A e B, empolgados com o casamento, não observam 
que na certidão de casamento que assinavam constava o regime de 
separação total de bens, quando estes haviam optado no processo de 
habilitação pelo regime de comunhão parcial de bens. Nitidamente houve 
uma falha do cartório de registro. Veja, embora consistisse um erro, este 
não invalida inteiramente o negócio jurídico.
Visto isso, passemos a identificar os tipos de erro sobre a pessoa.
Neste mesmo arcabouço jurídico, o CC elenca outras possibilidades 
de erro essencial sobre a pessoa:
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do 
outro cônjuge:
I — o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa 
fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior 
torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II — a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por 
sua natureza, torne insuportável a vida conjugal;
III — a ignorância, anterior ao casamento, de defeito 
físico irremediável que não caracterize deficiência ou de 
moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, 
capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua 
descendência. (BRASIL, 2002)
Quanto ao que se concerne ao erro essencial sobre identidade ou à 
qualidade essencial da pessoa, por incrível que pareça, em nossa carreira, 
observamos que isso é mais comum do que parece. Esse tipo de erro está 
cravado no CC no seguinte artigo:
Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da 
vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao 
consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro. 
(BRASIL, 2002)
Imagine que A está noiva de B, este, por sua vez, é bem é considerado 
pela sociedade como um grande e bem-sucedido executivo, que cresceu 
com o seu próprio suor. Ao casarem-se, A descobre que B vivia endividado 
e com grande quantidade de execuções fiscais, além disso, respondia por 
Direito de Família
45
diversos crimes de estelionato. A, por ser uma pessoa honesta e por ter 
escolhido B por ter a mesma fama, pode pedir a anulação do casamento, 
pois B fingiu ser uma pessoa que não era.
O segundo inciso faz menção a situações, como a seguinte: A é 
filha única de um casal bem-sucedido. Quando adolescente, seus pais 
morreram vítimas de um homicídio cujas investigações não se restaram 
frutíferas, sendo assim, nunca descobriu-se quem matou seus pais. Os 
empreendimentos de seus pais seguiram firmemente graças ao empenho 
de B, por quem A se apaixonou logo em seguida. B e A casaram-se. Só 
que ao ver algumas trocas de e-mails, A descobre que o mandante do 
homicídio de seus pais foi exatamente B. A, desnorteada com a descoberta, 
promove ação civil cabível para anular seu casamento. 
Para exemplificar o terceiro inciso, aceite, aluno, esta alegoria: 
A é noiva de B, e por serem religiosos, resolvem manter-se castos até 
o matrimônio. Resolvem casar na modalidade religiosa com efeito civil. 
Após a linda festa, ao saírem para lua de mel, A descobre que B tem uma 
disfunção erétil crônica e que, além disso, ele era estéril. B sabia desses 
problemas desde que conheceu A, omitindo essas informações todo o 
tempo. Aqui, portanto, houve um erro sobre a pessoa, e A poderia pedir a 
anulação do casamento.
IMPORTANTE:
É importante sempre destacarmos que aqui tratamos 
de um direito potestativo, ou seja, aquele que sofreu o 
dano poderá exercê-lo ou não. Sabemos que muitas 
vezes, mesmo sendo enganadas, as pessoas perdoam e 
conseguem conviver com seu cônjuge ou companheiro. 
Outras vezes, por questões de honra, a vida torna-se 
insuportável, fazendo com que a única forma de curar a 
ferida seja a dissolução conjugal.
Direito de Família
46
Sobre essas questões, a ilustríssima civilista Maria Helena Diniz 
traz outros motes que podem ensejar erros sobre a pessoa: “má vida 
ou prostituição da mulher anterior ao ato nupcial; vício de tóxicos; vida 
desregrada do cônjuge, chegando mesmo a manter relações sexuais 
com a própria mãe, etc.” (DINIZ, 2005, p. 268).
Carece ainda de nossa atenção afirmar que os tribunais muitas 
vezes tendem a flexibilizar os conceitos de honra. Para entender melhor 
isso, conclamamos as palavras de Washington De Barros Monteiro, que 
define honra da seguinte forma:
Honra é a dignidade da pessoa que vive honestamente, 
que pauta seu proceder pelos ditames da moral; é o 
conjunto dos atributos, morais e cívicos, que torna a 
pessoa apreciada pelos concidadãos. (MONTEIRO, 1999, 
p. 95-6)
Por outro lado, encontramos neste julgado os seguintes dizeres:
ANULAÇÃO DE CASAMENTO. ERRO ESSENCIAL. HONRA 
E BOA FAMA. NÃO CARACTERIZAÇÃO. É anulável o 
casamento

Mais conteúdos dessa disciplina