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RODRIGO SALMAZO ATITUDES E PROCEDIMENTOS DE ALUNOS FRENTE À LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA PUC/SP São Paulo 2005 RODRIGO SALMAZO ATITUDES E PROCEDIMENTOS DE ALUNOS FRENTE À LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre Profissional em Ensino de Matemática, sob a orientação da Professora Doutora Célia Maria Carolino Pires. PUC/SP São Paulo 2005 Banca Examinadora ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura: _______________________________________ Local e Data: ______________ à meus pais, Edinei e Aparecida, à minha esposa, Julia. AGRADECIMENTOS Pretendo neste espaço, agradecer a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. De forma especial à Profª. Célia Maria Carolino Pires, pela dedicação, carinho e sabedoria com que orientou este trabalho. À profª. Sonia Igliori pelo carinho e respeito com que sempre nos atendeu. Às professoras doutoras Janete Bolite Frant e Elizabeth Adorno de Araújo pelas valiosas contribuições a este trabalho Ao todos os professores do curso de Mestrado Profissional que tornaram este sonho realidade. A todos os funcionários da PUC que fizeram parte desta caminhada, principalmente, a Vera, secretária do Mestrado Profissional. À Secretaria de Estado da Educação, por ter me concedido a bolsa de estudos, sem a qual a realização deste trabalho não teria sido possível. À profª. Maria José, da Diretoria de Ensino Sul 2, pela dedicação com os professores do programa Bolsa Mestrado. Ao meu amigo profº.Edson Roberto Ravásio pela enorme contribuição a este trabalho. A todos os alunos do curso de Mestrado Profissional. Aos diretores e professores dos colégios pesquisados. A toda a minha família pelo apoio e solidariedade À minha esposa Julia, que soube compreender e me apoiar nos momentos mais difíceis. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo estudar atitudes e procedimentos de alunos frente à leitura e interpretação de textos nas aulas de Matemática e a finalidade de contribuir para o debate e a reflexão de professores desta disciplina relativamente à competência leitora e escritora de seus alunos, de grande importância para suas aprendizagens escolares, mas também fundamentais para sua atuação nas relações sociais. Investiga como alunos de 5ª e 8ª séries do ensino fundamental de uma escola municipal e de 3ª série do ensino médio de uma escola estadual, ambas localizadas na cidade de São Paulo, reagem frente à leitura de textos nas aulas de Matemática e busca identificar atitudes e procedimentos presentes nessa situação. Nosso estudo revela que atividades que envolvem leitura, escrita e interpretação de textos na aula de Matemática estão ausentes nas aulas de Matemática e deixa evidente que nas atividades que envolvem leitura, escrita e interpretação de textos na aula de Matemática estabelece-se uma grande dependência dos alunos em relação ao professor. Revela ainda que grande parte dos alunos tem dificuldades com os textos, tanto na leitura, escrita e interpretação; e observou-se também grande dificuldade de concentração. As atividades que envolvem leitura, escrita e interpretação de textos na aula de Matemática se apresentam aos alunos como algo penoso e desestimulante, mas, em que pesem as dificuldades que encontram nas atividades que envolvem leitura, escrita e interpretação de textos na aula de Matemática, os alunos reconhecem sua importância. O estudo nos permite fazer recomendações no sentido de que deve haver um caminho de dupla mão entre leitura, escrita e interpretação de textos e a constituição de saberes matemáticos, nas aulas de Matemática e também que os estudos sobre uso e tipologia de textos deveriam ser objeto de investigação na área de educação matemática, buscando estimular o desenvolvimento de diferentes capacidades de linguagem e o uso de diferentes gêneros orais e escritos. Palavras-chaves: Educação Matemática; Leitura e Escrita de textos. ABSTRACT The present work has as objective to study attitudes and procedures of students front to the reading and interpretation of texts in the mathematics classes e the purpose to contribute for the discuss and reflection of teachers of this relatively disciplines to the reading ability and writer of their students, of great importance for their pertaining to school, but also basic learning’s for their performance in the social relations. It investigates as students of fifth and eighth grade of the basic education of a municipal school and third college students of a state school, both located in the city of Sao Paulo, react front to the reading of texts in the mathematics classes and search to identify to attitudes and procedures existing in this situation. Our study discloses that activities that involve reading, writing and interpretation of texts in the mathematics classes are outside in the mathematics classes and It leaves evident that in the activities that involve reading, writing and interpretation of texts in the mathematics classes a great dependence of the students in relation to the teacher is established. It still discloses that great part of the students have difficulties with the texts, as much in the reading, writing and interpretation and observed also great difficulty of concentration. The activities that involve reading, writing and interpretation of texts in the mathematics classes if show to the students as something laborious and desestimulante, but, where they weigh the difficulties that find in the activities that they involve reading, writing and interpretation of texts in the mathematics classes, the students recognize their importance. The study in it allows them to make recommendations in the direction of that it must have a way of double hand between reading, writing and interpretation of texts and the constitution to know mathematicians, in the mathematics classes and also that the studies on use and typology of texts would have to be object of inquiry in the area of mathematical education, searching to stimulate the development of different capacities of language and the use of different verbal sorts and writings. Keywords: Mathematical education Reading and Writing of texts. SUMÁRIO CAPÍTULO 1: APRESENTAÇÃO DO TRABALHO 1.1 Memórias de minha trajetória profissional e do interesse pelo tema deste trabalho _____________________________________________ 11 1.2 Relevância do tema __________________________________________ 13 1.2.1 Sobre a competência leitora____________________________ 13 1.2.2 Sobre Matemática e comunicação ______________________ 18 1.3 Questões de pesquisa e opções metodológicas ____________________ 23 CAPÍTULO 2: CONHECENDO ALGUMAS REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE O TEMA 2.1 Introdução _______________________________________________ 26 2.2 Matemática e Língua Materna _________________________________ 26 2.3 Considerações teóricas e práticas sobre o ensino da leitura _________ 29 2.3.1 Porque meu aluno não lê _____________________________ 34de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra/Suíça realizam investigações sobre a noção de gênero. Duas contribuições sobre as interações leitura-escrita (Reuter, 1994) demonstram que, a primeira, defendida por Vinson & Privat (1994), insiste sobre as interações entre o aprendiz e as propriedades culturais do texto num projeto de construção direta de uma pessoa livre, criativa e autônoma. A outra, proposta por Dolz (1994), considera que o desenvolvimento da autonomia do aprendiz é, em grande parte, conseqüência da mestria do funcionamento da linguagem em situações de comunicação. O objetivo primeiro, é o de instrumentalizar o aprendiz para que ele possa descobrir com seus colegas as determinações sociais das situações de comunicação, assim como o valor das unidades lingüísticas no quadro de seu uso efetivo. Nesta segunda opção estratégica, as intervenções sistemáticas do professor desempenham um papel central para a transformação das interações entre o aprendiz e o texto. Dolz e Schneuwly destacam que as práticas de linguagem são consideradas como aquisições acumuladas pelos grupos sociais no curso da 17 Tradução provisória de Roxane Helena Rodrigues Rojo, 1996. 42 História. Numa perspectiva interacionista, são, a uma só vez, o reflexo e o principal instrumento de interação social. É devido a estas mediações comunicativas, que se cristalizam na forma de gêneros, que as significações sociais são progressivamente reconstruídas. Disso decorre um princípio que funda o conjunto de nosso enfoque: O trabalho escolar, no domínio da produção de linguagem, faz-se sobre os gêneros, quer se queira ou não. Eles constituem o instrumento de mediação de toda estratégia de ensino e o material de trabalho necessário e inesgotável, para o ensino da textualidade. A análise de suas características fornece uma primeira base de modelização instrumental para organizar as atividades de ensino que estes objetos de aprendizagem requerem. Os autores discorrem sobre a conceituação de gênero, fazendo referência ao trabalho de Schneuwly (1994) em que ele desenvolve a idéia metafórica do gênero como mega-instrumento para agir em situações de linguagem. Uma das particularidades deste tipo de instrumento - como de outros, aliás - é que ele é constitutivo da situação: sem romance, por exemplo, não há leitura e escrita de romance; sem dúvida, esta é uma das particularidades do funcionamento da linguagem em geral (e, logo, um limite da metáfora instrumental...). A mestria de um gênero aparece, portanto, como co-constitutiva da mestria de situações de comunicação. Situando-se na perspectiva bakhtiniana, os autores consideram que todo gênero se define por três dimensões essenciais: 1) os conteúdos que são (que se tornam) dizíveis através dele; 2) a estrutura (comunicativa) particular dos textos pertencentes ao gênero; 3) as configurações específicas das unidades de linguagem - que são, sobretudo traços da posição enunciativa do enunciador - e os conjuntos particulares de seqüências textuais e de tipos discursivos que formam sua estrutura. Na escola, as estratégias de ensino supõem a busca de intervenções no meio escolar que favoreçam a mudança e a promoção dos alunos a uma melhor mestria dos gêneros e das situações de comunicação que lhes correspondem. 43 Trata-se, fundamentalmente, de se fornecer aos alunos os instrumentos necessários para se progredir. Para fazê-lo, as atividades comunicativas complexas que os alunos ainda não estão aptos a realizar de maneira autônoma serão, de certa maneira, decompostas, o que permitirá abordar um a um, separadamente, os componentes que colocam problemas para os alunos. As intervenções sociais, a ação recíproca dos membros do grupo e, em particular, as intervenções formalizadas nas instituições escolares são fundamentais para a organização das aprendizagens em geral e para o processo de apropriação de gêneros em particular. Para Dolz e Schneuwly, as estratégias privilegiadas são as seguintes: 1) adaptar a escolha de gêneros e situações de comunicação às capacidades de linguagem apresentadas pelos alunos; 2) antecipar as transformações possíveis e as etapas que poderiam ser transpostas; 3) simplificar a complexidade da tarefa, em função dos elementos que excedem as capacidades iniciais das crianças; 4) esclarecer com os alunos os objetivos limitados visados e o itinerário a percorrer para atingí-los; 5) dar tempo suficiente para permitir as aprendizagens; 6) ordenar as intervenções de maneira a permitir as transformações; 7) escolher os momentos de colaboração com os outros alunos para facilitar as transformações; 8) avaliar as transformações produzidas. Um aspecto muito interessante apontado por esses autores é o de que a escola cria, sua própria norma textual, aliás, pouco explícita: os gêneros escolares. Quanto à progressão, esta é definida por uma seqüência quase imutável de gêneros, baseada ou em considerações sobre a complexidade do objeto a ser descrito (descrição versus composição à vista de gravura; narração vs. dissertação), ou em considerações de inclusão (descrição e composição à vista de gravura estão contidos na narração). 44 Tendo-se definido a escrita como ato de representação perfeita do mundo, a progressão é concebida como a construção passo a passo, aditiva, desta capacidade única que é a “arte de escrever”, sempre idêntica a si própria, qualquer que seja sua finalidade, “coroamento” do esforço pedagógico no ensino de língua materna, como o dizem numerosos guias curriculares. Dolz e Schneuwly destacam ainda que, do ponto de vista teórico, um dos paradoxos dos gêneros, dentre outros, reside no fato de que eles são mais ou menos imediatamente referenciáveis e referenciados cotidianamente nas práticas de linguagem - de tal forma que podemos freqüentemente nomeá-los sem muita hesitação e na comunicação quotidiana sempre o fazemos -, mas nunca se prestam à definição sistemática e geral, sem dúvida por causa de seu caráter multiforme, maleável, “espontâneo”. Sua descrição se faz, portanto, sempre a posteriori, como explicitação da evidência quotidiana que permite seu reconhecimento e por meio de enfoques locais que não podem visar a descrição ou mesmo a explicação de regularidades mais gerais da linguagem. Disto decorre que eles não podem fornecer princípios para a construção de uma progressão e de um currículo, mas, apesar disso, devem constituir os ingredientes de base do trabalho escolar, pois, sem os gêneros, não há comunicação e, logo, não há trabalho sobre a comunicação. Dolz e Schneuwly (1996) avaliam que a própria diversidade dos gêneros e sua impossibilidade de sistematização impede, pois, de tomá-los como unidade de base para pensarmos uma progressão. Não há eixo de continuidade que permitiria pensar a construção de capacidades, senão aquele de dominar cada vez melhor um gênero, e outro, e outro e, através deles, a arte de escrever em geral - o que constitui precisamente a pedagogia do coroamento descrita anteriormente. Já que, visivelmente, as progressões não podem ser construídas no nível imediato da unidade “gênero”, é necessário, então, recorrermos a outras conceitualizações lingüísticas e psicológicas. Dolz e Schneuwly apresentam seu enfoque de agrupamentos de gêneros, destacando que ele responde a três critérios essenciais no que diz respeito à 45 construção de progressões, para a qual constituem um instrumento indispensável. É preciso que os agrupamentos: 1) correspondam às grandes finalidades sociais legadas ao ensino, respondendo às necessidades de linguagem em expressão escrita e oral, em domínios essenciais da comunicação em nossa sociedade (inclusive a escola)14 2) retomem, de modo flexível, certas distinções tipológicas que já figuramem numerosos manuais e guias curriculares; 3) sejam relativamente homogêneos quanto às capacidades de linguagem dominantes implicadas na mestria dos gêneros agrupados. Esses autores destacam cinco agrupamentos de gêneros e para cada agrupamento, os três critérios que servem para determinar a coerência mínima da proposta com as referências externas (Anexo I: Proposta de agrupamento de gêneros). A originalidade da estratégia não reside absolutamente nos agrupamentos propostos, que, ao contrário, são semelhantes a muitos outros, mas antes de tudo no fato de trabalharmos com os gêneros e na tentativa de definirmos as capacidades de linguagem globais em relação às tipologias existentes. Esse quadro foi importante para nossa reflexão sobre o tema que pesquisamos e fizemos uma adaptação. Assim, a partir do quadro apresentado por Dolz e Schneuwly consideramos a possibilidade de trazer diferentes tipos de gêneros para a aula de Matemática como, por exemplo: Domínios sociais de comunicação Aspectos Tipológicos Capacidades de Linguagem dominantes Exemplos de Gêneros Orais e Escritos que poderiam/deveriam fazer parte das aulas de Matemática Cultura literária ficcional Narrar Contos lendas narrativas de aventura narrativa de ficção científica narrativa de enigma 46 narrativa mítica adivinha paradoxos ... Domínios sociais de comunicação Aspectos Tipológicos Capacidades de Linguagem dominantes Exemplos de Gêneros Orais e Escritos Documentação e memorização das ações humanas Relatar relatos de experiência vivida testemunho ... notícia reportagem ... historiais relato histórico ensaio ou perfil biográfico biografia ... Discussão de problemas sociais controversos Argumentar texto de opinião diálogo argumentativo debate regrado ensaio resenhas críticas ... Transmissão e construção de saberes Expor texto expositivo entrevista de especialista texto explicativo tomada de notas resumos de textos expositivos e explicativos resenhas relatório científico relato de experiências (científicas) ... Instruções e prescrições Descrever Ações Instruções de uso instruções de montagem receita regulamento regras de jogo consignas diversas textos prescritivos ... Quadro 1-Proposta de agrupamento de gêneros. Dolz e Schneuwly (1996) 47 2.7 Algumas considerações sobre o capítulo Como vimos, a linguagem oral e escrita é apontada por diversos autores como uma forma de superar as dificuldades com o ensino, pois dela, depende muitas outras aprendizagens. A linguagem é fundamental para que o aluno possa desenvolver todas as suas potencialidades, também é, condição necessária para que o individuo exerça efetivamente a cidadania e amplie sua participação social. Ela revela indicações muito interessantes e importantes para o trabalho pedagógico em sala de aula, especificamente, na aula de matemática. A interação entre a linguagem natural e o desenvolvimento de um conceito matemático estão intimamente relacionados. É preciso reconhecer essa relação e tomá-la como ponto de partida para o trabalho pedagógico em sala de aula. Para tanto, é fundamental, não privilegiar apenas a linguagem escrita no desenvolvimento de um conceito, mas sim, utilizar outros tipos diferentes de linguagem, como a visual e a oral para superar as dificuldades com o ensino de matemática. Práticas colaborativas e comunicativas entre os sujeitos são fundamentais na compreensão de um texto. Por outro lado o texto também precisa ter sentido para o sujeito, e para isso, é preciso vincular ao máximo as realidades concretas na aprendizagem da leitura e escrita. As novas tendências de concepção de leitura apontam na direção da interação entre o texto e o leitor, e a vinculação ao contexto. E, é, essa interação que efetivará a compreensão de um texto. Ler e compreender um texto significa colocar em jogo todo o nosso sistema de valores, nossas crenças, nossos costumes, nossas atitudes, nossa ansiedade. Dessa forma devemos ter consciência, de que, toda a nova aprendizagem é influenciada pelos nossos conhecimentos prévios. Ser competente em leitura significa, sobretudo, possuir um repertório de estratégias e saber aplicá-las a cada situação. Compreender um texto significa estabelecer relações entre as diferentes idéias vinculadas ao texto, e na relação da informação do texto com os conhecimentos prévios do leitor. 48 Ler precisa ser uma atividade divertida, prazerosa e não imposta. E a escolha de um texto deve seguir alguns critérios como: a legibilidade, grau de dificuldade, a relevância e interesse, tanto, do aluno, quanto, dos objetivos educacionais da escola. O trabalho com diferentes tipos de gêneros textuais pode ser um facilitador do processo de comunicação e desenvolvimento da linguagem, além de propiciar a organização curricular em projetos. 49 CAPÍTULO 3: A PESQUISA DE CAMPO, AS ATITUDES DOS ALUNOS NO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES COM OS TEXTOS E SUAS IMPRESSÕES SOBRE O TRABALHO A impregnação mútua entre a Matemática e a língua materna caracterizada pelo paralelismo, pela complementaridade e pela imbricação entre ambas reveste- se de uma essencialidade tal que quaisquer ações que visem à superação das dificuldades com o ensino de Matemática devem partir dela ou não poderão aspirar a transformações radicais na situação vigente (Machado, 1993). Neste capítulo, apresentamos a preparação e desenvolvimento de nossa pesquisa de campo. Inicialmente, faremos algumas considerações sobre os textos que selecionamos para apresentar aos alunos e que foram escolhidos em função do tipo de linguagem e informação a que se propunham. Na seqüência relatamos as observações que fizemos durante o desenvolvimento das atividades realizadas com os alunos, sujeitos da pesquisa, buscando analisar suas atitudes frente aos textos e também analisando as respostas que os alunos deram a um questionário que formulamos, após a realização das atividades. 3.1 Os sujeitos da pesquisa Nossa pesquisa de campo foi realizada em escolas das redes públicas municipal e estadual, situadas no município de São Paulo. Envolveu um total de 99 alunos de diferentes etapas da escolaridade básica e, como podemos verificar na tabela abaixo, trata-se de alunos que estão com idade esperada para essas séries, ou seja, não há defasagem idade/série. 50 Sexo masculino Sexo feminino Média de idade Escola 5ª Série (EF) 16 19 11 anos Municipal 8ª. Série (EF) 15 17 14 anos Municipal 3ª. Série (EM) 12 20 17 anos Estadual Total 43 56 99 alunos O motivo da escolha destas escolas foi a abertura dada pelos diretores para a realização da pesquisa, e também o apoio de colegas professores nestas unidades escolares. As turmas foram escolhidas, por se tratarem de alunos que estão em diferentes níveis de escolaridade, ou seja, os alunos da 5ª série estão em fase inicial de estudos no ensino fundamental II; já os alunos da 8ªsérie estão em fase final de conclusão do ensino fundamental II; e os estudantes da 3ª série do ensino médio estão concluindo a etapa de escolarização básica. Ainda em se tratando da escolha das turmas, tínhamos o objetivo de verificar o comportamento destas em diferentes estágios de escolarização. Todas as turmas foram informadas sobre os objetivos das atividades que seriam realizadas e os alunos manifestaram sua disposição em participar. Um problema que enfrentamos na pesquisa de campo foi o de que o tempo que a escola nos ofereceu foi bastante restrito, e os alunos mostraram cansaço durante as atividades, até mesmo porque não estão habituados a trabalhar com textos nas aulas de matemática. 3.2 Os textos selecionados Para a realização deste trabalho selecionamos e aplicamos quatro tipos de textos diferentes: um texto de natureza jornalística,um texto com elementos históricos, uma bula de medicamento e um texto contendo enunciados de exercícios e situações problema. Todos os textos foram aplicados à 8ª série do 51 ensino fundamental e à 3ª série do ensino médio e foram exatamente idênticos. Optamos por esta escolha, para podermos também, comparar o desempenho destes dois níveis de escolaridade. A 5ª série também trabalhou os mesmos tipos de gêneros textuais citados acima, porém selecionamos textos adequados à esse nível de escolaridade. Somente o texto da bula de medicamento foi aplicado igualmente à todas as turmas. 3.2.1 Um texto de natureza jornalística O texto jornalístico apresentado aos alunos da 8ªsérie do ensino fundamental e do 3º ano de ensino médio (Anexo II), foi retirado do jornal Folha de São Paulo do dia 14 de maio do ano de 2005, sem nenhuma adaptação, ou seja, o texto estava na íntegra. O título do texto em questão é: Energia em SP bate recorde em abril. O que nos motivou a escolha deste texto, foi entre outros, a grande quantidade de elementos matemáticos presentes em sua redação, bem como sua linguagem e tema, que supomos ser de conhecimento de alunos nesta faixa de escolaridade. Utilizando a estratégia 2, proposta por Dolz e Schneuwly (antecipar as transformações possíveis e as etapas que poderiam ser transpostas), realizamos uma pré-análise deste texto. Nesta pré-análise fizemos suposições de que algumas dificuldades poderiam ocorrer não em relação ao tema tratado, mas talvez em relação ao tipo de linguagem utilizada na confecção do artigo. Uma outra questão levantada por nós seria em relação a pouca freqüência com que o aluno entra em contato com este tipo de material no seu dia-a-dia. Essas possíveis dificuldades ainda poderiam se alargar, se o aluno apresentasse algum tipo de dificuldade em relação à leitura. Partindo da estratégia 1 proposta por Dolz e Schneuwly ( adaptar a escolha de gêneros e situações de comunicação às capacidades de linguagem apresentadas pelos alunos), o texto e as questões apresentadas para a 5ª série 52 (ANEXO III) do ensino fundamental foram retirados do livro didático “Educação Matemática”, e se tratava de um artigo adaptado do jornal Folha de São Paulo do dia 02 de junho de 2000. O artigo em questão se tratava do tema: “O consumo de água na cidade de São Paulo”. Aqui a nossa motivação para a escolha deste material, pautou-se nas informações apresentadas pelo texto em questão, já que os alunos participantes do teste têm conhecimento de diversos dados presentes no texto, principalmente quanto a nomes de localidades, pois os mesmos residem nestas localidades. Realizando uma pré-análise deste material (estratégia 2 proposta por Dolz e Schneuwly) nossas suposições foram que os alunos encontrassem dificuldades em relação a quantidade de informações apresentadas pelo texto. Algumas palavras não costumeiras (racionamento, superfície) também poderiam ser um problema acarretando possíveis dificuldades em leitura e interpretação. Outra suposição feita por nós, seria em relação aspectos relacionados a sua reação diante do artigo. Também consideramos que as questões de entendimento poderiam provocar algumas dúvidas quanto ao tipo de resposta pedida. 3.2.2 Uma bula de medicamento O segundo texto apresentado a todas as séries pesquisadas era um recorte da bula de um medicamento (Anexo IV). Escolhemos este material devido a grande quantidade de informações técnicas, como formulação, dosagem, composição, entre outros. O mesmo texto foi utilizado para todas as séries pesquisadas e apenas foi dado um tempo maior para os alunos da quinta série seguindo a estratégia 5 proposta por Dolz e Scheuwly. Um dos fatores da utilização deste texto em todas as turmas pesquisadas foi ao tipo de competência relacionada ao texto, ou seja, as questões estavam direcionadas no sentido de localizar informações no texto, e a partir desse objetivo, supomos que este tipo de texto estaria ao alcance de qualquer um dos alunos sujeitos da pesquisa. 53 Utilizando a estratégia 2 supomos que alunos da 8ªsérie e da3ªsérie apresentassem dificuldades em relação a nomes técnicos, vocabulário, dificuldades na leitura, já esta atividade não é prática comum da maioria dos alunos, mas em contrapartida esperávamos que alunos destes níveis apresentassem através das questões, indícios de entendimento de partes principais deste tipo de texto. Dos alunos de 5ªsérie esperávamos uma interpretação da bula bem diferente dos alunos dos outros níveis, visto que ainda são alunos que se encontram em fase inicial de estudos no nível intermediário da escolarização básica. 3.2.3 Um texto com elementos históricos O texto com informações históricas apresentado à 5ªsérie do ensino fundamental (Anexo V) foi um material extraído do livro didático “Educação Matemática” de título: Representações Fracionárias dos Números Racionais e Seus Usos. Optamos, por este texto devido não ser extenso, além de se tratar de um conceito matemático teoricamente visto pelos alunos no ano anterior. Por meio da estratégia 2, realizamos uma pré-análise deste material que nos indicou que possíveis dificuldades poderiam aparecer em relação a algumas palavras, que talvez não fosse de conhecimento do aluno. Uma outra suposição seria quanto à dificuldade na interpretação de alguns trechos e na leitura do texto em geral, pois o mesmo continha em sua redação uma grande quantidade de palavras próprias da matemática. Deste texto foi retirada uma frase final no quarto parágrafo, onde o texto descrevia como o problema seria resolvido. Faz-se de extrema importância relatar que o texto tinha no seu início uma letra “A” de tamanho anormal, o que nos dava a impressão que o inicio do texto tinha apenas um parágrafo, mas que na verdade não é. Considerando que a segunda pergunta relacionada ao texto pedia uma solução para o problema dado no terceiro parágrafo, tivemos que interferir na atividade, esclarecendo com os alunos os objetivos limitados visados e o itinerário 54 a percorrer para atingí-los (estratégia 4), antes que começassem a ler o texto, indicando aos alunos que na verdade a questão estava se referindo ao parágrafo que começa com a palavra “Porém”. Neste texto esperávamos que os alunos interpretassem a leitura do quarto parágrafo do texto para que pudessem dar uma solução ao problema citado. O texto histórico proposto a alunos da 8ª série EF e 3ª série do EM (ANEXO VI), também foi retirado na integra de um livro didático denominado “Educação Matemática”, que se referia ao tema “Pitágoras e seu Famoso Teorema”. Escolhemos este material, por considerar que o texto não exigiria o conhecimento especifico do Teorema de Pitágoras para respondê-lo, além de considerarmos o texto sendo de fácil leitura. Supomos que os alunos talvez demonstrassem dificuldades em relação a nomes, palavras e alguns termos próprios da Matemática. 3.2.4 Textos de situações problema e enunciados de exercícios Para abordar este tipo de texto, os mais comuns nos livros de Matemática, organizamos uma lista contendo três enunciados de exercícios e três enunciados de situações problema. Apesar de este texto ter exigido do aluno alguns cálculos, focalizamos nossa análise no tipo de respostas apresentadas pelos alunos, e não apenas em respostas certas ou erradas. Para a 5ª série EF (ANEXOVII) e para a 8ª série EF e 3ª série EM (ANEXO VIII). Lembramos que nosso objetivo fixado para este texto, foi apenas de cunho interpretativo e de leitura das situações, e não ao nível de conhecimento matemático. 55 3.3 Os alunos e suas atitudes nas atividades com os textos 3.3.1. O grupo de 5ª. Série do Ensino Fundamental O grupo de alunos de 5ª série foi constituído de 16 meninos e 19 meninas na faixa etária de 11 anos, de uma escola municipal da cidade deSão Paulo. A classe foi informada sobre os objetivos das atividades que seriam realizadas e os alunos manifestaram sua disposição em participar. Primeiramente foi distribuído o texto jornalístico, onde todos receberam e começaram a leitura, alguns em voz um pouco alta. Após uma aula de 45 minutos foi distribuído o segundo texto, neste caso, a bula de medicamento, não houve manifestação de rejeição. Todavia, alguns alunos deixaram de terminar o primeiro texto para trabalhar no segundo, não se preocupando em começar a trabalhar o segundo no momento em que terminar o primeiro. Após o término do segundo texto foi dado um intervalo. Durante o intervalo dois alunos desistiram em permanecer na sala. Um deles pediu à direção para ir embora, alegando não estar passando bem, e o outro, simplesmente foi embora. Assim que voltamos do intervalo, foi distribuído o terceiro texto, e após uma aula de 45 minutos, a folha com três questões de situações problemas e três enunciados de exercícios. Quando foi distribuído o terceiro texto, neste caso o histórico, já transcorridas três aulas, os alunos começaram a dar sinais de cansaço e alguma manifestação de inquietação. As dificuldades que já eram perceptíveis a partir do segundo texto, ficaram muito evidentes com as situações problema e os enunciados de exercícios. Realmente as questões de situações problema e os enunciados de exercícios mostraram-se difíceis para os alunos. Alguns procuraram mecanismos de fuga como, por exemplo, pedir para ir ao banheiro e tomar água, logo após o intervalo, entre outros. 56 Já no final do trabalho, quando os alunos estavam respondendo a um questionário sobre os textos aplicados, muitos alunos iniciaram pequenas brincadeiras numa demonstração de inquietação. 3.3.2 O grupo de 8ª. Série do Ensino Fundamental O grupo de alunos de 8ª série foi constituído de 15 meninos e 17 meninas na faixa etária de 14 anos, de uma escola municipal de São Paulo. A recepção dos alunos ao teste foi tranqüila, visto que, um professor da turma já havia conversado com eles anteriormente. Iniciamos com o texto histórico, sobre o Teorema de Pitágoras. A primeira impressão é de que talvez o texto não tenha sido tão difícil, pois alguns alunos o responderam rapidamente. Entretanto, rapidez não quer dizer que esteja resolvido de forma correta; os próprios alunos ao terminar o primeiro texto tomavam a iniciativa de em ir ate a mesa do professor pedindo o segundo texto. O segundo texto a ser aplicado foi o da bula de medicamento. Nas escolas municipais de São Paulo uma aula tem a duração de 45 minutos, alguns alunos conseguiram resolver os dois primeiros textos num prazo inferior ao de uma aula. Terminado o segundo texto foi dado um intervalo. Após o intervalo foi solicitado a turma para que eles respondessem a um terceiro texto, agora o jornalístico, e que na seqüência teriam de responder cinco questões de avaliação de impressões. Na seqüência, três questões de enunciados de exercícios e três questões de situação problema e, ao final, o segundo questionário de perguntas. Neste momento houve um pouco de agitação, mas que logo se dissipou. Ao conseguirmos acalmar os ânimos demos seqüência ao teste. Alguns alunos apresentaram desconhecimento ao padrão de medida (mwh). Por outro lado, alguns alunos foram muito rápidos na resolução das questões. Um aluno chegou a dizer que as questões estavam muito fáceis, que deveríamos propor questões mais difíceis. É bom salientar que a fala deste aluno não expressa a opinião da turma. 57 A partir do momento em que a turma iniciou o primeiro questionário de avaliação de impressão, um grupo de alunos começou a se mostrar agitado, pois o cansaço já dava seus primeiros sinais. Com um pouco de dificuldade controlamos a algazarra e para contê-la distribuímos as questões de enunciados de exercícios e situações problema. Nesta parte do teste um pouco de conversa ocorreu na sala, alguns alunos insistiam em trocar informações com seus colegas. 3.3.3 O grupo de 3ª. Série do Ensino Médio O grupo de alunos do 3ºano foi constituído de 12 meninos e 20 meninas na faixa etária de 17 anos, de uma escola estadual da cidade de São Paulo. Em primeiro lugar conversou-se com a turma a respeito dos objetivos do teste. Esclarecemos que não podiam sentar-se em duplas, como normalmente acontece, bem como não podiam conversar entre si durante a realização do teste. Como é de costume, no inicio da atividade o volume da conversa estava alto, pois a turma é boa de conversa, mas foram bem receptivos uma vez que a grande maioria já foi aluno do professor pesquisador. O primeiro texto distribuído foi o jornalístico, que na avaliação do professor pesquisador é o que estava trazendo dados mais complicados. Para este texto foi estabelecido um prazo de trinta minutos, que se estendeu para quarenta minutos devido a nossa conversa inicial sobre os objetivos do trabalho. Durante a resolução do primeiro teste, observamos que alguns alunos, principalmente do sexo masculino, com um olhar muito preocupado, e que de vez em quando lançava esse olhar em direção ao professor observador e ao professor pesquisador, como se estivessem pedindo socorro. Um aluno fez uso constante de calculadora e de vez em quando conferia os cálculos de forma mais tradicional, isto é, fazendo cálculos a lápis. É interessante notar que a calculadora do aluno correu de mão em mão com a turma do “fundão”, principalmente entre as meninas. Uma aluna questionou se o trabalho teria retorno para o grupo classe, pois na avaliação dela seria interessante os alunos saberem dos erros e acertos. Respondemos que retornaríamos, tão logo fosse efetuada a tabulação dos dados. 58 Quando foi distribuído o segundo texto, 5 alunos mostraram resistência à continuidade da atividade, sendo que uma aluna chegou a afirmar que: “já é exigência demais”, e uma outra aluna alegou: “ não vou responder o segundo texto”. Talvez a resistência seja por conta da dificuldade, já que ouvimos em particular, de alguns alunos, que o teste estava muito difícil. É engraçado notar, que o líquido corretor correu a solta na sala de aula, e só depois um aluno, se preocupou em perguntar se podia usar corretivo no teste. Ainda em particular, um aluno indagou ao professor observador se o texto da bula de remédio seria ou não, mais fácil do que o jornalístico. É importante ressaltar que, as conversas ditas particulares foram realizadas no horário das atividades e nos corredores do colégio durante o intervalo. À medida que o tempo foi avançando e mais textos foram distribuídos, iniciou-se uma reclamação geral. Nessa reclamação, alguns alunos disseram que estávamos exigindo muito deles e que o teste na verdade não passava de uma prova de paciência. Entretanto alguns alunos, estavam de fato, concentrados em resolver as questões da melhor forma possível. Uma aluna chegou a indagar se o nome do remédio fazia parte ou não da composição do medicamento. Respondemos que não podíamos interferir nas suas conclusões, pois poderia afetar os resultados do teste. Quando foi distribuído o texto histórico sobre o Teorema de Pitágoras, um aluno disse apostar que se trataria do texto mais difícil. Em seguida perguntou se é verdade que a Matemática está presente em tudo. Como havia uma questão na avaliação de impressão que pedia justamente assuntos relacionados à matemática presentes nos textos, novamente foi dito ao aluno que a nossa interferência podia prejudicar o resultado do trabalho. Quando foram passadas na lousa as cinco questões de avaliação de impressões, ou seja, avaliação de como eles estavam encarando o teste, uma aluna se preocupou em perguntar depois do teste, se seriam dispensados da aula, o que outra acrescentou dizendo: “é mais que justo, depois de tanto esforço, a cabeça já estava doendo”. 59 Continuandoo trabalho da noite anterior, foram aplicadas três questões envolvendo enunciados de exercícios e três questões envolvendo situações problema. Lembramos que o trabalho com a 3ª série do EM foi realizado em duas noites, pois o tempo disponibilizado pela escola, foi maior. No momento em que o aplicador chegou na sala alguns alunos resmungaram frases do tipo: “mas de novo”, “vamos sair mais cedo”, “Ontem nossa cabeça ficou doendo”. Entretanto, não houve resistências sérias, uma vez que, o professor observador e o professor pesquisador acalmaram a classe dizendo que a segunda parte era bem mais tranqüila do que a primeira. Na primeira noite estavam presentes 30 alunos e na noite seguinte estavam presentes 32 alunos. Três alunos da noite anterior faltaram, e cinco que não estiveram na primeira noite, se fizeram presentes na segunda noite. Um aluno que apresenta grandes dificuldades não esteve presente na primeira noite, e na segunda noite ficou com o teste em uma mão e com a outra manipulava o aparelho celular. Ao caminharmos pela sala de aula ouvimos de aproximadamente 5 alunos, coisas do tipo:“não estou entendendo nada”. Vários alunos, em vários momentos pediam aos professores intervissem com explicações, mas em todos os momentos foi explicado que não podia haver esse tipo de interferência por parte dos professores para que o trabalho não corresse o risco de perder o objetivo. Na primeira noite do teste, observou-se que, o que mais assustou os alunos não foi o tamanho do teste, e sim, a quantidade de textos. Por este motivo fizemos à opção de colocar as questões de enunciados de exercícios numa mesma folha das situações problema. Todavia ambas foram numeradas de 1 a 3, o que gerou desconforto no momento das perguntas de avaliação do teste, ou seja, quando os alunos tiveram de responder dizendo sobre as impressões do teste. Neste momento ficaram com dúvidas em quais questões se referir. Foi então sugerido que eles considerassem as questões na ordem de 1 a 6 ou de 1 a 3 acrescentando-se as letras a, b e c, ficando assim desta forma(1 a , 2 a , 3 a, 1b, 2 b, 3 b). 60 3.4 As respostas dos alunos ao questionário Após a realização das atividades com os textos, apresentamos um questionário aos alunos (ANEXO VI) de todas as séries pesquisadas, com o objetivo de coletar informações sobre suas impressões sobre o trabalho e os textos com os quais tiveram contacto. Para o grupo de 5ª série decidimos realizar o questionário em apenas uma etapa, por serem alunos que necessitam de um tempo maior para ler e responder os textos e o questionário. Foram formuladas as seguintes questões: Questão 1 Em qual texto você encontrou maior dificuldade? Por quê? Questão 2 Qual texto você encontrou maior facilidade? Por quê? Questão 3 Para você é mais fácil resolver uma questão que envolve apenas números, ou uma questão, que envolve números dentro de um texto?Justifique. Questão 4 Você acha importante o trabalho com textos diversos na aula de Matemática? Justifique. Para o grupo de 8ª série e 3ª série do Ensino Médio, as questões foram divididas em duas etapas de perguntas: uma etapa referente aos três primeiros textos (bula, jornalístico e histórico) e outra etapa referente ao texto de enunciados de exercícios e situações problema. Pensamos em realizar este questionário em duas etapas de perguntas, por considerar que as informações desta segunda etapa de perguntas nos trariam dados mais específicos sobre os enunciados de exercícios e situações problema. Abaixo estão as questões formuladas para a primeira etapa: Questão 1 Em qual texto você encontrou maior dificuldade? Por quê? Questão 2 Diante das dificuldades encontradas, explicite os motivos dessa dificuldade? 61 Questão 3 Qual texto você encontrou maior facilidade?Por quê? Questão 4 Você acha importante o trabalho com textos diversos na aula de Matemática? Justifique. Questões formuladas para a segunda etapa: Questão 1 Em qual atividade você encontrou maior dificuldade? Por quê? Questão 2 Em qual atividade você encontrou maior facilidade? Por quê? Questão 3 Quais conceitos presentes nas atividades você relacionaria com a Matemática? Por quê? Questão 4 Para você é mais fácil resolver uma questão que envolve apenas números, ou uma questão, que envolve números dentro de um texto?Justifique. 3.4.1 As respostas do grupo de 5ª. Série do Ensino Fundamental Antes de apresentarmos as repostas dos alunos ao questionário, lembramos que, as respostas destacadas abaixo, estão transcritas da mesma forma como foram encontradas na folha de atividades, recolhidas junto ao aluno. Com relação à Questão 1: Em qual texto você encontrou maior dificuldade? Por quê? As respostas dos alunos ficaram bastante divididas, mas todos disseram ter encontrado algum tipo de dificuldade na leitura ou interpretação dos textos aplicados. 31,43% se referiram ao texto da bula como sendo o texto mais difícil; 28,57% se referiram ao texto dos problemas matemáticos; 22,86% dos alunos se referiram ao texto jornalístico e 17,14% disseram ter encontrado dificuldade no texto histórico. Destacamos algumas respostas a essa questão: 62 O texto da fração porque não trabalhamos esse ano só o ano passado O dos problemas por que eu não estava entendendo O do medicamento por que tinha coisa que eu não sabia o que era aquilo Por que o texto mais dificuldade O de Matemática por que eu não aprendi ainda O das contas foi um pouco por que eu não sabia direito O de Matemática por que tem coisa que não dá para entender O do remédio por que tem perguntas mais difíceis O texto que encontrei mais dificuldade foi para saber mais, mucosolvan, cloridrato de ambroxol O das águas por que as questões estavam difíceis No de Matemática por que eu não encontrei direito as respostas Eu encontrei o texto de Matemática mais dificuldade Do remédio por que era muito complicado O primeiro foi um pouco difícil e fácil algumas foi fácil muito fácil em tão vamos dizer mais ou menos O dos problemas porque eu não aprendi algumas contas Eu encontrei mais dificuldade no texto que tem remédio porque as questões só podiam ser resolvidas lendo mais e mais vezes. E se eu ficar lendo por muito tempo à mesma coisa eu vou me perder todinha Foi o do remédio, porque era muita coisa que tinha de ler O quarto texto: porque é difícil para descobrir O texto com mais dificuldade foi o primeiro texto porque tinha muita palavra e muito número e a gente gasta muita água No texto 1 na questão e por que tinha lido mais não estava encontrando a resposta. O último porque eu não gosto de Matemática O Egito antigo para mim foi muito difícil Com relação à Questão 2: Qual texto você encontrou maior facilidade? Por quê? Nesta questão 25,71% dos alunos indicaram que o texto jornalístico foi o mais fácil, enquanto, 22,86% disseram que o texto dos problemas matemáticos foi o mais fácil. Com relação ao texto histórico 17,14% dos alunos apontaram como o mais fácil. Selecionamos algumas respostas dos alunos a essa questão: O texto que eu encontrei a maior facilidade foi o das águas. Porque eu não sei mais que foi fácil foi O texto da fração? Eu gosto do símbolo egípcio O texto do remédio porque algumas respostas estava no texto 63 O texto que encontrei mais facilidade foi o da água porque eu já sabia um pouco O três porque só tinha duas pergunta O da água porque é um assunto que eu entendo Eu achei o texto da água? Porque tem explicação no texto Porque era o mais fácil Eu encontrei mais facilidade no texto: Representações fracionárias e seus usos. Porque ele está falando de números Nem um porque eu achei todos difíceis Da água. Porque não tinha coisa difícil de ler O de contas porque é mais fácil O do remédio porque não precisa pensar em algumas respostas Com relação à Questão 3: Para você é mais fácil resolver uma questãoque envolve apenas números, ou uma questão, que envolve números dentro de um texto? Justifique. Com relação a esta questão 54,28% disseram preferir resolver questões que envolvem apenas números e 37,14 % preferem resolver questões com números e textos; 3 alunos não responderam. Destacamos algumas respostas a essa questão: A prova mais fácil de resolver foi com apenas números Números dentro de um texto porque é mais fácil entender Sim? Porque? Porque os números são melhores que já identifica as questões Com números e texto porque eu entendo melhor Eu acho muito difícil Com numero porque eu tenho facilidade com números Porque e muitos problemas difíceis Porque é mais fácil responder com folha numerada e organizada Eu acho que é mais fácil resolver com menos números porque eu prefiro textos É mais ou menos complicado uma questão que envolva apenas números Para mim é mais fácil resolver uma questão dentro de um texto porque o texto explica mais Uma questão que tenha só números, porque numa questão pode surgir palavras difíceis Foi fácil sim porque eu já sabia de quase tudo Não porque eu não gosto de Matemática É mais fácil resolver só o que contém apenas Matemática, porque é bem mais fácil contar nos dedos do que ter que reler o texto 64 Com relação à Questão 4: Você acha importante o trabalho com textos diversos na aula de Matemática? Justifique. Nesta questão 65,71% disseram ser importante o trabalho com textos na aula de matemática e 31,43% disseram não. Apenas 1 aluno não respondeu. Selecionamos algumas respostas a essa questão: Eu acho que deve trabalhar sim Sim porque a maioria das Matemáticas tem texto e também para nos explicar a conta É importante foi muito legal Porque sim que é muito legal trabalhar leitura e Matemática ao mesmo tempo Sim, porque nos textos acontece coisas da vida real Não porque aula de Matemática se trabalha mais com contas do que com texto É bom mais tem que falar de números Sim porque pode facilitar o problema Acho porque assim eu deixo de ser burra Porque aula de Matemática não se tem texto Eu não acho porque na aula de Matemática a gente tem que aprender continha Eu achei porque a Matemática é importante para fazer na rua em casa ou em qualquer lugar Eu não gosto de trabalhar com texto na aula de Matemática Sim fica melhor Sim porque para resolver um problema usa sempre um texto Por que o texto de Matemática é importante 3.4.2 As respostas do grupo de 8ª. Série do Ensino Fundamental para a primeira etapa da avaliação de impressões Com relação à Questão 1: Em qual texto você encontrou maior dificuldade? Por quê? Nesta questão 37,5% dos alunos indicaram o texto da bula de medicamento como sendo o mais difícil; 28,12% indicaram o jornalístico; 21,87% o histórico e 12,5% dos alunos acharam todos fáceis. Destacamos algumas respostas a essa questão: 65 Do Pitágoras porque eu nunca ouvi falar em teorema Foi aquele que tinha que fala do medicamento Na primeira folha porque tinha umas palavras que eu nunca ouvi No da energia elétrica porque não entendia nada Foi no primeiro texto porque eu tenho dificuldade em Matemática O segundo porque eu estava com dificuldade para entender a pergunta O segundo porque as respostas estavam mais difícil de achar O do Pitágoras porque eu nunca estudei sobre ele Em nenhum todos fáceis No terceiro porque tinha que fazer uma conta de Matemática envolvendo muitos números O segundo texto porque era maior que os outros por isso as perguntas ficava mais difícil No texto da energia em São Paulo bate recorde Eu não encontrei nenhuma porque eu li O primeiro porque o texto falava sobre o passado era mais difícil O texto do Pitágoras, porque havia muitas palavras desconhecidas O 2 e 3 porque tinha conta O terceiro texto falava de valores de consumo e eu não entendi nada Eu encontrei maior dificuldade no texto 2 porque a pergunta e era a mais difícil Foi no segundo texto porque tia a bula tinha que ler tudo isso Não nenhum texto é complicado é só prestar atenção Não encontrei dificuldade em nenhum texto Com relação à Questão 2: Diante das dificuldades encontradas, explicite os motivos dessa dificuldade? Nesta questão, a diversidade de respostas dadas pelos alunos foi muito grande; 15,62% dos alunos disseram não entender os textos ou as perguntas; 9,37% disseram não achar as respostas nos textos; 9,37% disseram que havia muitos números; 6,25% disseram que o nervosismo atrapalhou o desempenho no teste; Apenas um aluno disse não ter dificuldades. Selecionamos algumas respostas a essa questão: A minha dificuldade foi aquela do medicamento, também aquela relacionada ao consumo quanto SP consumo do durante o ano A dificuldade foi que eu nunca fiz essa lição entre a aula de Matemática Não entendia 66 Eu tenho dificuldade em falar números e escrever por isso demoro para entender as coisas A dificuldade foi algumas palavras difíceis De não saber muito sobre o assunto tipo o de Pitágoras Eu não consegui interpretar direito a terceira pergunta da terceira prova Eu não consegui achar algumas respostas Só o terceiro texto porque envolvia muitos números Os motivos são muito complicados, é fácil sim mais complicados Só de entender só sem nenhuma explicação Se podem medica os idosos de 65 anos Porque eu não gosto de perguntas de texto Eu não consigo explicar direito por isso eu tenho dificuldade em responder as perguntas Já ouvi falar em Pitágoras mais nunca resolvi estudar sobre isso A única dificuldade foi para encontrar s perguntas no texto A única dificuldade encontrada foi a compreensão de alguns textos Foi uma dificuldade assim em termos porque eu muitas coisas eu não entendi Por que tinha que olhar o texto várias vezes Um pouco de nervosismo Eu só tive dificuldades nas contas porque era muito numero Os números os lugares de que falava e os nomes de pessoas Foi porque eu tinha que ler tudo responder e achar no texto tudo isso Nervosismo Não tive dificuldade Com relação à Questão 3: Qual texto você encontrou maior facilidade? Por quê? Nesta questão 37,5% dos alunos indicaram o texto jornalístico como sendo o mais fácil; 25% disseram a bula e 25% disseram o texto histórico; 1 aluno deixou em branco; 1 disse não ter encontrado dificuldade. Destacamos algumas respostas a essa questão: Sobre o remédio porque eu o entendi melhor O segundo porque estava fácil de procurar O texto sobre energia porque as perguntas estavam claras e o texto dava para entender O primeiro do Pitágoras porque estava muito complicado de entender O penúltimo porque falava das metas de abril de 2004 e 2005 das bolsas de valores 67 Com certeza foi o ultimo deles porque estava na cara nem li o texto todo para achar O texto que eu tive mais acesso foi o da eletricidade o ultimo porque eu já sou bastante informada sobre o assunto então é mais fácil atualizar o assunto O texto da bula de remédio porque vem mais explicativo O da energia porque era mais fácil Eu não encontrei dificuldade em nenhum texto O primeiro era só ler o texto que você responde facilmente No texto grande, pois era grande demais para ser lido em tão pouco tempo Eu encontrei mais facilidade no primeiro, porque eu entendo um pouco do assunto falado O consumo do estado de São Paulo O texto mostra alguma coisa que a gente nem sabia Com relação à Questão 4: Você acha importante o trabalho com textos diversos na aula de Matemática? Justifique. A maioria dos alunos 84,37% disse achar importante o trabalho com textos na aula de Matemática, enquanto, 12,5% disseram não. Apenas 1 aluno deixou em branco. Selecionamos algumas respostas a essa questão: Sim eu acho que na aula de Matemática a gente tem que trabalhar texto e cálculos juntos Sim porque assim tem um desenvolvimento e criatividade da cada aluno como o modo que pensa Eu acho porque nas lições que o professor passa e diferente com essasperguntas Sim para podermos saber sempre mais Eu acho muito importante porque é bom que entendo mais Sim porque a aula fica mais divertida Sim porque tem que ler o texto para achar as respostas Sim, pois nos podemos estar aprendendo mais, não só contas Sim. Porque dá para interpretar melhor a questão Sim porque também podemos fazer contas de modos diferentes usando texto e noticias que acontece no nosso dia a dia Eu acho porque com o texto você encontra as respostas mais facilmente Acho porque fica mais fácil para nos alunos aprendermos Não só algumas vezes porque todo dia texto na aula de Matemática faca chato Sim porque é mais interessante 68 Sim, porque pode fazer mais leitura e aprender mais a escrever Sim porque desenvolve mais o nosso raciocínio Eu gostei achei legal se as aulas de Matemática fosse assim será mais legal e todos iriam se interessar Eu importante o trabalho com textos porque falar cosia imaginava Resposta em branco (1 aluno) Não porque se você quiser se desenvolver se desenvolva sozinho Sim porque percebe que pelo menos isso alguém se preocupa em que as outras pessoas pensam Sim além de a gente aprender a Matemática a gente desenvolve a leitura Sim porque os textos Matemática são muito bons Sim porque faz a gente aprender mais e não ficar com dificuldade na matéria e faz vc avaliarem nosso estudo Eu achei importante porque tratamos de vários assuntos Sim porque não estaríamos estudando apenas Matemática mais também interpretação de textos Sim porque assim a gente aprende mais a compreender os textos Sim ajuda facilita o aluno Eu acho importante porque eu aprendo a saber o que identifica mais com a Matemática Eu não acho Sim porque ajuda muito o desempenho 3.4.3 As respostas do grupo de 8ª. Série do Ensino Fundamental para a segunda etapa do questionário Com relação à Questão 1: Em qual atividade você encontrou maior dificuldade? Por quê? Essa questão provocou uma diversidade muito grande de respostas; 28,12% dos alunos disseram ter encontrado dificuldades na quinta questão; 25 % responderam a segunda questão. As outras respostas ficaram divididas entre as questões que restaram. Apenas dois alunos disseram ter encontrado dificuldade em todas as questões da lista de exercícios. Selecionamos e apresentamos algumas respostas a esta questão: Calcule a raiz Na questão da conta telefônica, porque é difícil fazer as contas Eu achei o primeiro porque falava alguma coisa fácil 69 A ultima porque eu não entendo nada Na distância entre paradas, porque eu não sei calcular distância não estou no 1ºcolegial para aprender física Por que eu não entendi Na raízes quadra eu não sou muito bom Na ultimo porque vai conta Nas duas ultimas.Porque eu não entendi Na segunda porque eu fiquei confuso Nas 2 e na 3 porque é de distancia e de gast Na terceira pergunta que era a soma dos números A penúltima nossa aquela eu não entendi nada Foi a penúltima porque como eu disse tenho dificuldade Eu encontrei a maior dificuldade na de conta Em todas porque eu não fiz A do nº de valores somar de energia em abril de 2005 porque eu tenho uma dificuldade enorme de matemática não entra na minha cabeça nem matemática nem ciências e Português + ou – Com relação à questão 2: Em qual atividade você encontrou maior facilidade? Por quê? Nesta questão 46,87% dos alunos disseram ser mais fácil a questão 1; 15,62% disseram ser a questão 5. Apenas 1 aluno deixou em branco.E nenhum aluno afirmou ter encontrado facilidade na questão 3. Encontramos outras respostas, das quais, algumas, citamos a seguir: Na das raízes quadradas As dos quatro irmãos foi mais fácil, porque eu fiz os bonecos simbolizando a altura de cada um Eu não achei nenhuma fácil porque não entendi as perguntas Na ultima porque isto eu já sei desde da 1ªsérie 70 Todas as atividade porque não entendia nada Foi na primeira porque era uma questão de compara qual era as iguais Na 4, 5 e 6 lição porque é de conta A ultima foi horrível porque foi o teste A ultima que foi o teste Na 1ª questão eu gosto desse tipo de problema Na 1ª era só ler com calma Nenhuma porque eu não entendi Foi na primeira Porque a sei lá; mas foi nela A primeira porque eu já tinha feito uma diferente só não sei se está certo Com relação à questão 3: Quais conceitos presentes nas atividades você relacionaria com a matemática? Por quê? Diversas respostas foram dadas; 43,75% disseram todos os conceitos. 12,5% disseram ser a questão 6; 2 aluno deixaram a questão em branco ou afirmaram que não sabiam responder. Selecionamos as respostas mais citadas: A ultima porque tinha que usar multiplicação Todas as questões são de matemática O entender de um numero de decimal Eu acho que é a ultima A conta do telefone envolve matemática Vários conceitos quem dera que fosse só um Nas quantidades de números O conceito da matemática é você entender Todos os conceitos da atividade Todas mais as mais era a de raízes e a primeira A s somas as multiplicações a soma 71 Não entendi Todas as perguntas se relacionam Tudo é relacionado a matemática o texto inteiro Eu relacionei o segundo texto porque falava mais de matemática Multiplicação a numeração quer dizer tudo relaciona a matemática Com relação à questão 4: Para você é mais fácil resolver uma questão que envolve apenas números, ou uma questão, que envolve números dentro de um texto?Justifique. Nesta questão 59,37% dos alunos disseram ser mais fácil resolver uma questão que envolve números e textos; 31,25% disseram ser mais fácil resolver uma questão onde aparecem apenas números. 2 alunos deixaram a questão em branco. Apenas 1 aluno afirmou preferir os dois tipos de situações. Selecionamos algumas respostas: Para mim é mais fácil resolver questões com números porque tenho mais facilidade Uma questão que envolve números dentro de um texto, porque eu gosto de mexer com números Que envolve números dentro de um texto porque fica mais fácil de resolver o problema A de um problema porque dá para entender pergunta que envolve números em texto, porque da para você saber do que o numero tem que fazer a conta É mais fácil o numero que envolve a questão porque eu estarei lendo e assim ficara mais fácil Só números é mais fácil de entender Dentro de um texto porque tenho mais visão do problema Uma questão que envolve números e questões Porque a gente tem que pensa e raciocina todos nós números e os textos 72 A questão que envolve apenas números porque ai não tem tanta dificuldade para fazer Uma questão que envolve números dentro de um texto pois é um pouco difícil e um pouco fácil mais é bom pra nos aprendermos mais Números dentro de um texto porque o texto te dá informações É mais fácil a que envolve números porque é só somar ou multiplicar os números que estão até prontos pra ser resolvidos e ver a respostas É mais fácil resolver 1 dentro de um texto porque a pessoa desenvolve mais e vai ter mais capacidade As com o texto, porque vem explicando melhor as questões 3.4.4 As respostas do grupo de 3ª. Série do Ensino Médio para a primeira etapa do questionário Com relação à questão 1: Qual texto você encontrou maior dificuldade? Por quê? Nesta questão 40% dos alunos disseram ter encontrado dificuldade no texto com elementos históricos; 30% disseram o texto da bula e 23,33% disseram o texto jornalístico. Apenas 6,66% se referiram a todos os textos. Nenhum aluno deixou a questão sem resposta. Selecionamos algumas respostas O segundo texto, porque não entendi a última questão A energia, porque quando se trata de consumo da população é complicado Todos eu encontrei dificuldade Porque tem muita matemática porcentagem e fala sobre muita energia 73 A parte que fala do remédio, porque tem muita informação que não é necessário O texto que falasobre remédio porque eu não entendo nada sobre medicações Pitágoras e seu famoso teorema Pitágoras e seu famoso teorema porque o texto não ficou claro para mim Pitágoras porque é um textos histórico e esses textos confundem muito a cabeça dos alunos No texto 2 porque havia muitos números Foi no de remédio Porque? Fala de remédio é mais difícil Pitágoras porque não sabia o que dizer O que fala sobre energia porque usa muita porcentagem que é uma coisa que não entendo muito A energia em SP bate recorde em abril. Porque eu não entendo muito a (mwk) e o aumento da porcentagem Pitágoras e seu famoso teorema porque esse texto é muito complicado Eu acho que foi a de consumo de energia que foi mais dificultante Pitágoras e seu famoso teorema porque tive dificuldades em entender o texto Mercado aberto, porque é muito complicada as porcentagem e as datas O texto do mucosolvam, porque é algo que é um pouco difícil de entender, porque a composição do remédio os nomes são um pouco estranho Pitágoras porque não entendi várias palavras Pitágoras porque nunca entendi mesmo sobre este assunto Mucosolvam, pois tem muita informação 74 Com relação à segunda questão: Diante das dificuldades encontradas, explicite os motivos dessa dificuldade? Novamente, encontramos uma diversidade muito grande de respostas; 16,66% dos estudantes disseram que a dificuldade ficou por conta do entendimento dos textos ou das questões; 13,33% disseram que, as dificuldades foram geradas em função da interpretação; 13,33% disseram que, os cálculos foram responsáveis pela dificuldade. Outros 13,33% disseram não ter dificuldades. 10% afirmaram que as dificuldades foram geradas pela falta de conhecimento. Apresentamos algumas respostas desses alunos: Assuntos chatos Foi paciência Coisas de energia Confusão com muita informação Interpretação Não compreendi os textos Não houve dificuldade é só prestar bastante atenção e entender o texto Muito calculo A duvida de saber o que dizer Sim na verdade encontrei dificuldades em todos os textos Talvez porque o texto usa um tipo de linguagem que não estou acostumada a utilizar Às vezes me perco nos números Para interpretar os textos Cansaço e falta de concentração Não consegui lembras das porcentagem e interpretar os texto direito O pouco conhecimento Não entender bem as perguntas Fazer contas Os textos confundem 75 Falta de não saber e preguiça Pouco tempo para analisar melhor o texto Não estamos acostumados com esse método de ensino, falta-nos experiência de interpretação Falta de informação e interpretação Com relação à questão 3: Qual texto você encontrou maior facilidade?Por quê? Com relação a esta questão 46,66% dos alunos disseram ter encontrado facilidade no texto da bula; 26,66% disseram o texto jornalístico; 13,33% disseram o texto histórico; 10% responderam nenhum; apenas 1 aluno deixou a questão sem resposta. Apresentamos algumas respostas: O da bula foi mais claro e simples porque nos temos acesso O do remédio porque é fácil se entender uma bula O do mucosolvan e o da energia porque é o assunto mais falado nos lugares Energia porque é uma coisa que faz parte da nossa vida Pitágoras e seu famoso teorema porque é mais conhecido e mais fácil de interpretar o texto Mucosolvan. Porque cada detalhe e prescrição foi bem colocada, facilitando na leitura e entendimento O do remédio porque tem uma explicação mais clara e tem a ajuda da bula ‘Mucosolvan porque as perguntas tinham uma linguagem mais fácil e objetiva Foi o da energia. Porque? Ele fala sobre a energia em São Paulo EU não achei nenhum fácil Foi o do Mucosolvan porque os remédios vivem no nosso dia a dia nos estamos sempre precisando deles O do medicamento pois não só ele mas como todos os outros medicamentos temos que ter cuidado e seguir a indicação do 76 medico da bula, pois podemos prejudicar nossa saúde, sem nem percebemos O teorema de Pitágoras, pra mim foi fácil pois os ângulos é uma matéria de que gosto muito e que facilmente me lembrei O texto que fala sobre medicamento maioria dos idosos Com relação à questão 4: Você acha importante o trabalho com textos diversos na aula de matemática? Justifique. Nesta questão a grande maioria dos alunos 96,66% afirmou que o texto é importante nas aulas de matemática. Nenhum aluno disse não. Apresentamos algumas respostas: Sim porque ninguém agüenta rotina Sim os textos versos Sim raramente se tem um trabalho como este ate que bom mexer com as coisas que se passa no mundo como energia significa racionamento e remédio significa saúde Do meu ponto de vista sim pois facilita o pensamento de pessoas que não gostam da matéria Sim , porque é importante saber um pouco de cada coisa Pra mim tanto faz, porque o que for melhor pra mim mais tarde, ta bom. Dede que eu tenho em mente o que eu aprendi, e desde que as explicações forem bastante o suficiente para não confundir a nossa memória e ficar cheio de pontos de !!e?? Sim, porque vai aumentar o nosso conhecimento, e do professor onde vai pode ver o nosso nível de dificuldade Acho importante porque aprendemos mais coisas Eu acho importante porque podemos usar nosso conhecimento da matéria Sim porque ajuda as pessoas a aprender mais fácil Sim, números envolvendo só contas enjoa tem que envolver textos pra descontrair e diversificar um pouco a rotina Sim porque aprendemos mais 77 Sai da rotina e se torna uma aula diferente Sim porque temos mais facilidade em aprender matemática Considero porque ajuda o aluno a ter mais conhecimento do assunto que esta sendo o tema do assunto Sim. Porque é importante mostrar como a matemática está infiltrada mesmo que de modo discreto em cada texto Sim, eu considero muito importante, porque isso ajuda muito no futuro mais próximo, em muitos sentidos Sim. Você aprende mais desde que haja uma explicação básica Sim eu acho, porque o aluno desenvolve mais a mente e acaba aprendendo um pouco mais Sim porque o texto ajuda porque faz nós refletir e entender a cada pergunta que respondemos Sim, porque assim esforçamos mais na matemática Acho porque aprimora mais o conhecimento de todos Sim, porque tiramos as duvidas, com esses trabalho temos a chance de aprender mais Sim, porque trocamos informações nos desenvolvendo em conjunto Eu considero muito importante, porque facilitaria a nossa interpretação e não nos colocaria nas dificuldades que tivemos hoje. Seria muito importante 3.4.5 As respostas do grupo de 3ª Série do Ensino Médio para a segunda etapa do questionário Com relação à questão 1: Em qual atividade você encontrou maior dificuldade?Por quê? Nesta questão 28,12% dos alunos disseram ter encontrado dificuldade na questão 5. 25% disseram na questão 2. O restante das respostas ficaram divididas entre as outras questões. 78 Apresentamos algumas respostas: Foi a “2b” a de raízes.Porque os números se confundem e me dá dificuldades Na atividade 5 porque eu não lembro quase nada sobre raiz e porque me confundi com a questão Eu fiquei em duvida na 2b pois o resultado não deu números inteiros A numero dois porque tinha que calcular muito A 2 porque tem muita dificuldade e não tem explicação Tive dificuldades na 2b não lembro como tirar a raiz de quadrada de um número Na 2 porque é difícil de resolver Todas. Porque fala das raízes quadradas e eu esqueci Quase todos porque eu não consigo entender o problema Maior dificuldade na questão 2 a porque não entendi Na 1 porque embora seja um raciocínio lógico, é difícil entender Encontrei dificuldade em todo o conteúdo do teste porque não estava em condições de responder Nem uma Na 2 b porque eu não lembro como resolve raiz quadrada dos números dados Na 6ª questão Encontrei dificuldades em todas porque faz algum tempoque o professor não relembra essa matéria Com relação à segunda questão: Em qual atividade você encontrou maior facilidade? Por quê? 34,37% dos alunos disseram a questão 1; 31,25% a questão 4. As outras respostas ficaram divididas entre as questões restantes. Apresentamos algumas respostas: 79 Foi a 1 b porque já trabalhamos com números elevados 1 a porque a pergunta estava bem esclarecida No exercício nº 1, porque a solução é muito obvia Na 1 b porque é fácil calcular o resultado de números elevados Mais facilidade Nos números elevados ao quadrado, porque sei mais sobre isto Questão 1 na atividade de raiz quadrada por que é algo que me recordo bem Maior dificuldade na questão 3 a porque não entendi A dos números que é elevado ao quadrado Nem um É mais fácil foi a nº 1 porque era só você ver a raiz quadrada 3 a, 1 b, 2 a , pelo texto é só você ler e responder Encontrei maior facilidade na primeira ( 1 a) pois só foi usado o raciocínio e não foi usado contas Eu encontrei maior facilidade na ultima questão de número 3 de multiplicação, pois tenho mais facilidade com multiplicação Na atividade nº1 e nº 4, porque eu estudei um pouco este tipo de raiz A 1 a que usa mais a nossa capacidade de interpretação Na questão 3 b pela facilidade da multiplicação 3 a porque já havia facilidade em fazer Com relação à terceira questão: Quais conceitos presentes nas atividades você relacionaria com a matemática? Por quê? Nesta questão 43,75% dos alunos disseram que todas as questões se referiam a conceitos matemáticos; 12,5% disseram calcular as raízes; 9,37% números e cálculos; 6,25% multiplicação; Outros 6,25% deixaram sem resposta e apenas 1 aluno disse “dinheiro, tempo, divisão e problema”. Apresentamos algumas respostas: 80 Todos os conceitos se relacionam com a matemática Todos porque os problemas são matemáticos Relacionaria o fato de ter que usar números cálculos para resolver-las Todos os conceitos estão diretamente ligados a matemática Calcula as raízes Números Tudo envolve a matemática calcular, perguntas, conta de + ou -, a raiz quadrada dos números afinal tudo que tem nesta folha envolve matemática Nas raízes quadradas Provavelmente 3 b-6ª questão relaciona a matemática Calcular a raiz quadrada Tudo é baseado em matemática Os conceitos dos cálculos, problemas , multiplicações e etc Reta, raiz, raiz quadrada, multiplicação e reais e Todos, divisão, multiplicação, soma Todos eles envolvem a matemática, principalmente os textos, onde temos que calcular Com relação à quarta questão: Para você é mais fácil resolver uma questão que envolve apenas números, ou uma questão, que envolve números dentro de um texto?Justifique. 46,87% disseram preferir resolver questões apenas com números; 37,5% disseram com números e textos; 6,25% afirmaram depender da situação; Outros 6,25% disseram “tanto faz”. Apenas um aluno deixou a questão sem resposta. Apresentamos algumas respostas: Não, não é mais fácil, encontrei bastante dificuldade, tanto que não resolvi as questões Depende da situação 81 Com texto porque você pode ter uma visão melhor do exercício e tem mais explicação Apenas números.Porque não precisa pensar no texto só na conta que já vem montada Não porque na minha opinião fica mais difícil de entender É mais fácil resolver questões com números dentro do texto, porque tenho mais habilidade na interpretação do que na prática necessariamente Com certeza com apenas números, porque textos nos confundem É mais difícil resolver uma questão com números em um texto, pois fica tudo muito confuso misturar textos com números O texto, me descomplico mais rápido Eu acho melhor só números, porque é só você somar os números Porque completamente o texto esta quase dizendo tudo que significa a respostas Tanto faz, por que vou ter que responder e calcular do mesmo jeito È mais fácil uma questão com números dentro de um texto pois é bem mais para entender a questão e aprender melhor o que esta fazendo Apenas números. Porque os números sem texto é mais fácil Apenas números é mais fácil Dependendo da forma de resolver os dois tornam-se difíceis Questão que envolve apenas números, porque quando os números estão dentro do texto fica mais difícil saber se vai ser mais, vezes, etc Números dentro de um texto.Porque o texto explica o problema e fica mais fácil entender Porque o texto ajuda a esclarecer a conta proposta Ambas mas com uma boa explicação 82 É mais fácil resolver questões que envolve apenas números porque você presta atenção só nos numero, e com o texto vc primeiro entende o texto pra depois entender o numero 3.8 Algumas considerações sobre o capítulo Apresentamos até este momento, as respostas dos alunos ao questionário relativo a suas impressões sobre os textos e o trabalho realizado. Nosso intuito neste espaço é discutir as respostas dadas pelos alunos e realizar algumas comparações entre os grupos de alunos pesquisados. Discutiremos a importância da utilização dos textos, na aula de matemática, inicialmente, do ponto de vista do aluno, para isso, baseamos os nossos comentários no material colhido junto aos alunos. A importância do trabalho com textos na aula de matemática é citada pela maioria dos alunos, de todos os grupos, principalmente, por alunos da 8ª série EF e 3ª série EM, como sendo uma atividade de fundamental importância para o desenvolvimento da linguagem, para a melhoria da qualidade do ensino e para relacionar à Matemática, questões do cotidiano. Os alunos de 5ª série, apesar de se mostrarem favoráveis à realização do trabalho com textos, ficaram de certa forma, divididos em relação as suas opiniões, pois, alguns alunos, se mostraram contrário a realização deste tipo de trabalho, alegando que, em matemática, deve-se trabalhar apenas cálculos e não textos. É importante também, destacar que, o grupo de alunos da 3ª série EM os que mais efetuaram reclamações durante o teste, foi unânime, no sentido de apoiar este tipo de trabalho. Apesar da grande maioria dos alunos aprovarem o trabalho com textos nas aulas de matemática, os mesmos se mostram divididos quando questionados, se preferem resolver um problema apenas com números (cálculos) ou com números relacionados a algum tipo de texto (problema). Uma suposição para este fato pode 83 ser a dificuldade do aluno, no trato com questões que envolvem leitura e interpretação. Desta maneira, os alunos apóiam o trabalho com textos, mas não se sentem seguros em realizá-los. O texto da bula de medicamento, foi citado, pela maioria dos alunos da 5ª e 8ª series do ensino fundamental, como sendo um texto bastante difícil, fato este não verificado nas respostas dadas pelos alunos da 3ª EM que afirmaram ser, o texto com elementos históricos, mais difícil. De todos os alunos pesquisados apenas um aluno da 8ª série disse, não ter encontrado nenhum tipo de dificuldade. O texto jornalístico foi citado, pelos alunos ,como sendo o texto mais fácil para o grupo de 5ª e 8 série, sendo que a 3ª série EM série citou a bula como sendo o texto mais fácil. As questões deixadas sem respostas não foram em número significativo, já que todos os alunos procuraram responder a todas as questões. Uma questão aplicada aos alunos da 8ª série e a 3ª série apontou os motivos das dificuldades em relação aos textos, ambas as turmas relataram a falta de entendimento ou interpretação, como sendo um fator decisivo no seu desempenho. Ainda, em relação à dificuldade encontrada no trabalho, a maioria dos alunos de todos os grupos citaram vários outros fatores que determinaram essa dificuldade, como: o nervosismo; não encontrar respostas nos texto; falta de requisitos; perguntas difíceis; leitura; dificuldades em matemática; não gostar de matemática; ansiedade; linguagem; tempo,entre outros. Alguns alunos ainda apontaram que nunca haviam tido contato com este método de trabalho, e que por isso, a atividade se tornou bastante difícil. A ausência deste tipo de trabalho, a falta de entendimento ou interpretação, os entraves na leitura são citadas por alunos como um motivo que gerou dificuldades, e que, portanto, vem confirmar que a matemática e a língua Materna, não se articulam para uma ação conjunta. Com relação às atitudes e reações dos alunos diante do teste, verificamos que, a recepção dos alunos ao pesquisador foi bastante tranqüila, os alunos foram receptíveis, e não, manifestaram nenhum tipo de rejeição. Os alunos mostraram- 84 se favoráveis à realização do trabalho, contudo, no decorrer das atividades, verificamos um descontentamento quase que geral. Verificamos que, quando os alunos recebiam o segundo texto, mesmo sem ter terminado o primeiro, começavam a ler o segundo texto, e deixavam o primeiro de lado. Podemos supor que este fato pode ser devido a dificuldade de leitura do primeiro texto, ou não interessante para o aluno, pois, como diz Kleiman, a escolha de um tema deve levar em consideração não só os objetivos da escola, mas também as características, e o interesse do leitor. Esses alunos poderiam ainda, estar preocupados com um outro fator, determinado, segundo Giasson, pelo contexto físico (barulho, tempo disponível), o que poderia estar afetando a concentração na leitura do texto. Muitos alunos utilizaram mecanismos de fuga, como: pedir para ir ao banheiro e tomar água logo após o intervalo. Notamos em todas as turmas, durante a aplicação do teste, um olhar preocupado dos alunos. Para Gomes, as circunstâncias em que ocorre a leitura afeta o processo de compreensão. Uma reação bastante comum dos alunos, foram, às brincadeiras ao final do teste, principalmente, do grupo de alunos do ensino fundamental, já, os alunos do ensino médio efetuavam diversas reclamações, como: cansaço, dor de cabeça, etc. A troca de informações, também, foi uma prática utilizada pelos alunos de todos os grupos, apesar, de termos chamado à atenção dos alunos quanto esse fato. À prática comunicativa entre os sujeitos, se mostrou, como uma forma natural, de se ajudarem na resolução dos problemas. Os insistentes apelos dos alunos, para que os professores pesquisadores ajudassem na interpretação dos textos, também, foi uma atitude muito freqüente por parte dos alunos de todas as turmas. 85 CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS E RESPOSTAS DOS ALUNOS DOS DIFERENTES GRUPOS “Escrever em diversas situações da aula de Matemática favorece a compreensão de conceitos e procedimentos matemáticos ao mesmo tempo em que aproxima a aprendizagem da Matemática e a aprendizagem da Língua Materna”.(SMOLE & DINIZ, 2001). 4.1 Introdução Neste capítulo, focalizaremos os procedimentos utilizados pelos alunos no desenvolvimento das atividades com os textos, tomando por base, os registros realizados por eles nas folhas de exercícios. Para essa tarefa, agrupamos as respostas apresentadas pelos alunos nas diferentes propostas, não com a intenção de analisar desempenho, nem de identificar acertos e erros, mas buscando identificar os procedimentos utilizados, conhecimentos mobilizados, dificuldades e facilidades encontradas. 4.2 O grupo de alunos da 5ª. Série do Ensino Fundamental De modo geral, verificamos que os alunos da quinta série demonstraram ter diversos tipos de dificuldades. Muitas dessas dificuldades ficaram evidentes quando os alunos copiavam trechos dos textos para responder grande parte das questões, fato este, verificado no material recolhido junto aos alunos. Um outro ponto que dificultou esses alunos no trabalho com textos foi o tipo de linguagem dos textos utilizados, e das questões formuladas, visto que, muitos deixaram questões em branco, disseram não ter entendido ou mesmo responderam as questões de forma descontextualizada com a pergunta. Um outro fator que se faz importante citar é a escrita de alguns alunos, que tornaram 86 algumas respostas incompreensíveis. Estes últimos são em minoria, mas a dificuldade com a escrita é muito grande. Os textos apresentados para os alunos de 5ª série foram uma barreira de difícil transposição. Também um fato que chamou nossa atenção, foi os alunos terem utilizado conhecimentos adquiridos fora da escola para responder algumas questões. Embora tenhamos encontrado respostas bem interessantes e fortemente justificadas, o grupo de alunos pesquisado possui sérias limitações quanto à leitura, à escrita e interpretação de texto; o que evidencia que esta atividade talvez não seja muito explorada nas tarefas escolares, e também não é prática comum na atividade diária desses alunos. Na seqüência apresentamos, a título de ilustração, respostas à algumas questões formuladas nas atividades. 4.2.1 No texto com informações históricas Ao serem perguntados se concordavam com a idéia de que o conceito de fração surgiu a partir de uma necessidade do homem, 60% dos alunos afirmaram que sim. E justificaram da seguinte forma: “A figura representa um pão e dois homens”. “Porque o homem vive inventando coisas”. “Para evitar brigas”. “Porque a fração não queria brigas”. “Porque dividiu um pão e deu uma fração”. Nesta questão 11,43% dos alunos disseram não, justificando que a idéia de fração já tinha surgido antes do aparecimento do homem; 8,57% deixaram a questão sem resposta. A segunda questão se referia ao problema apresentado no seguinte parágrafo do texto: ”Porém, esses estivadores enfrentavam um problema: muitas vezes, o pedaço de corda que usavam como medida não cabia um exato número de vezes no trecho de terreno que estavam medindo. Para resolver esse problema, encontraram uma solução bem interessante”. Perguntamos aos alunos, 87 quais possíveis soluções eles dariam para o problema. As respostas ficaram bastante divididas, sendo que 14,28% dos alunos não responderam, e, apenas 5,71% citaram “dividir a corda em quatro”. Dois alunos apresentaram como solução cópia de um trecho do texto. Destacamos algumas respostas desses alunos: “Dividir a corda em quatro” “Medir em linha reta com um pedaso de pal” “Uma solução bem interessante” “Eu dividiria o pão em duas partes e dava um pedaço para cada” “Eu daria uma solução muito simples” “Levantarem um muro dividindo as terras” “Eu daria a solução que o terceiro parágrafo é bom” “Eu daria uma solução interessante e intensa” “Pegava um grande pedaço de metal e dentro dele fazia números” “Fazer um lilagre com aquele pão” 4.2.2 No texto retirado de um jornal. A primeira questão desse texto, exigia do aluno uma comparação entre a perda diária do sistema Guarapiranga com a produção diária de litros desse mesmo sistema. Do total de alunos 25,71% fizeram cópia de trechos do texto. Um aluno disse não saber como fazer e outros 11,43% deixaram a questão sem resposta. Selecionamos e destacamos algumas respostas dos alunos: “Outra sugestão” “Que as pessoas gastam muita água com descuido” “Eles tem que colaborar com as perda de água, não lavar o carro e não deixar a torneira ligada” “Se continuar assim não vai acabar a água da represa” “Eu acho que a perda não é muito grande” “Eu cheguei a conclusão que nos gastamos muita água e podemos chegar a seca” A segunda questão era: “Se cada morador da das zonas Sul e Sudeste da capital paulista economizasse 309 litros de água por dia, qual seria a economia de água por dia nessas regiões?” Ela seria suficiente para compensar a perda de água diária?”. Apenas 1 aluno afirmou que “a economia seria de 927 milhões de litros de água, sim seria suficiente”. Quatro alunos efetuaram uma cópia do texto. 88 Dois alunos deixaram em branco. 20% dos alunos responderam “sim” e abaixo citamos algumas dessas justificativas: “Sim2.4 Novas concepções sobre compreensão de leitura _________________ 35 2.5 A dimensão dos textos nos livros paradidático ____________________ 40 2.6 Gêneros e progressão em expressão oral e escrita _________________ 41 2.7 Algumas considerações sobre o capítulo ______________________ 47 CAPÍTULO 3: PESQUISA DE CAMPO, AS ATITUDES DOS ALUNOS NO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES COM OS TEXTOS E SUAS IMPRESSOES SOBRE O TRABALHO. 3.1 Os sujeitos da pesquisa _____________________________________ 49 3.2 Os textos selecionados _______________________________________ 50 3.2.1 Um texto de natureza jornalística ________________________51 3.2.2 Um texto de bula de medicamento ____________________52 3.2.3 Um texto com elementos históricos ___________ _________ 53 3.2.4 Um texto com enunciados de exercícios e situações problema ___________________________________ 54 3.3 Os alunos e suas atitudes nas atividades com os textos ___________ 55 3.3.1 O grupo de 5ª série do Ensino Fundamental ______________55 3.3.2 O grupo de 8ª série do Ensino Fundamental _______________56 3.3.3 O grupo de alunos da 3 série do Ensino Médio ___________ 57 3.4 As respostas dos alunos ao questionário ________________________ 60 3.4.1 As respostas do grupo de 5ª série do Ensino Fundamental __________________________________61 3.4.2 As respostas do grupo de 8ª série do Ensino Fundamental para a primeira etapa do questionário ______________________64 3.4.3 As respostas do grupo de 8ª série do Ensino Fundamental para a segunda etapa do questionário _____________________68 3.4.4 As respostas do grupo de 3ª série do Ensino Médio para a primeira etapa do questionário _______________________72 3.4.5 As respostas do grupo de 3ª série do Ensino Médio para a segunda etapa do questionário _____________________77 3.5 Algumas considerações sobre o capítulo________________________ 82 CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS E RESPOSTAS DOS ALUNOS DOS DIFERENTES GRUPOS 4.1 Introdução ________________________________________________85 4.2 O grupo de alunos da 5ª série do Ensino Fundamental ______________85 4.2.1 No texto com informações históricas _____________________86 4.2.2 No texto de natureza jornalística _______________________ 87 4.2.3 No texto da bula de medicamento _______________________88 4.2.4 No texto com enunciados de exercícios e situações problema _______________________________________91 4.3 O grupo de alunos da 8ª série do Ensino Fundamental_______________ 93 4.3.1 No texto com informações históricas ___________________ 93 4.3.2 No texto de natureza jornalística ______________________ 95 4.3.3 No texto da bula de medicamento _____________________ 97 4.3.4 No texto com enunciados de exercício e situações problema ______________________________________99 4.4 O grupo de alunos da 3 série do Ensino Médio ____________________ 102 4.4.1 No texto com informações histórica ____________________102 4.4.2 No texto de natureza jornalístico_______________________ 104 4.4.3 No texto da bula de medicamento ____________________ 105 4.4.4 No texto com enunciados de exercícios e situações problema __________________________________ 107 4.5 Algumas considerações sobre o capitulo ____________________ 109 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES __________________112 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________ 118 ANEXOS _____________________________________________________ 123 Anexo I-Proposta de agrupamento de gêneros Anexo II- Texto jornalístico- 8ªsérie EF e 3ª série EM Anexo III- Texto jornalístico- 5ª série EF Anexo IV-Texto da bula de medicamento Anexo V- Texto histórico- 5ª série EF Anexo VI-Texto histórico-8ª série EF e 3ª série EM Anexo VII-Texto de situações problema e enunciados de exercícios-5ª série EF Anexo VIII-Texto de situações problema e enunciados de exercícios-8ª série e 3ª série EM FIGURAS: Figura 1- Modelo contemporâneo de Compreensão na Leitura ___________36 Figura 2- Representação de 3 modelos de relação entre as variáveis : Leitor, Texto e Contexto _________________________________________38 TABELAS: Tabela 1-. Dolz e Schneuwly.Proposta de agrupamento de gêneros_________45 11 CAPÍTULO 1: APRESENTAÇÃO DO TRABALHO “A superação das dificuldades com o ensino passa pelo reconhecimento da essencialidade da impregnação mútua entre a língua Materna e a Matemática e, em conseqüência, da absoluta necessidade da utilização inicial de noções intuitivas, aproximadas, imprecisas, mas fecundas e significativa, descortinadas através do recurso à Língua”.MACHADO (1993). 1.1 Memórias de minha trajetória profissional e do interesse pelo tema deste trabalho. Após ter concluído o Curso de Licenciatura em Matemática no ano de 1995, meu objetivo foi trabalhar como professor. Como era residente na pequena cidade de Jales, interior do Estado de São Paulo, não tive muitas oportunidades de emprego. Sabendo que na cidade de São Paulo havia nesta época falta de professores formados, resolvi mudar-me para a capital. Chegando a São Paulo em 1997 tive a oportunidade de trabalhar como Professor de Matemática em uma escola estadual localizada na zona sul da cidade, onde permaneci por três anos. Em 1998 fui aprovado no concurso público para professor, realizado pela Secretaria de Estado da Educação e decidi voltar para minha cidade natal no final do ano de 1999. Voltando para o interior, fui morar e trabalhar em uma cidade vizinha à Jales, fiquei lá por apenas dois anos. Durante esse tempo fiz um curso de Especialização em Matemática e, após o término fiquei muito interessado em fazer o mestrado. Tive informações dos cursos de pós-graduação oferecidos pela PUC/SP e retornei a São Paulo no ano de 2002. No segundo semestre deste mesmo ano fui selecionado como aluno do curso de Mestrado Profissional em Ensino de Matemática. Quando comecei a cursar as disciplinas, ainda não tinha definido o tema que iria pesquisar. 12 No início de 2003, numa atividade de HTPC1, tive contacto com o livro “Ler e Escrever: Compromisso de todas as áreas”, que despertou meu interesse pela importância da palavra escrita e falada na aprendizagem e desenvolvimento de qualquer conceito, tanto na área das ciências humanas como na área das ciências exatas. Estimulado pela leitura desse livro, comecei a promover diversas leituras durante as minhas aulas de Matemática e percebi a grande dificuldade que a maioria dos alunos apresentavam na leitura e interpretação de textos. Até então, conhecia pouco sobre o tema, e, de certo modo, é bastante incomum, um professor de Matemática se interessar pela leitura e escrita, já que, geralmente, nas aulas de Matemática, o que se desenvolve rotineiramente são cálculos e mais cálculos, na maior parte das vezes, de forma descontextualizada. Nesse processo, uma série de questionamentos foi surgindo: Qual é o papel do professor de Matemática frente ao desenvolvimento de competências na leitura e escrita? Até que ponto a não competência na leitura e escrita prejudica a atividade Matemática? De que forma o professor de Matemática, pode colaborar durante as suas aulas, com o desenvolvimento de práticas pedagógicas que contribuam na apropriação da leitura e escrita, já que, estas atividades são essenciais para a apropriação significativa de conceitos matemáticos, bem como para o pleno desenvolvimento do aluno? A partir desses questionamentos e com base na hipótese de que uma das responsabilidades do professor de Matemática é promover a leituraque se as zonas sul e sudeste economizasse seria bom para eles” “200 litros de água” Outros dois alunos disseram que não e afirmaram que: “Porque ainda se gasta muito” Destacamos outras respostas: “Parar de lavar a rua, não tomar banho o dia todo, não demora para lavar louça” “Seria muita economia de água” “Eu acho que é de 602 litros de água e é suficiente para compensar a perda diária” A terceira questão pedia ao aluno que construísse uma tabela para os dias em que faltou água nos bairros dos grupos 1 e 2. Do total de 35 alunos, apenas 25,71% organizaram uma tabela. Dois alunos organizaram um tipo de calendário muito interessante, colocando os dias do mês; 17,14% deixaram a questão sem resposta. Um aluno efetuou cópia de trecho do texto para responder a questão. Destacamos algumas respostas: “3 dia sem água um com água” “400 do grupo 1 300 do grupo 2” 4.2.3 No texto da bula de medicamento. Quando questionados sobre o que acontece com o medicamento se o mantivermos a uma temperatura inferior a 15ºC e superior a 30º C ; 22,86% dos alunos disseram que o remédio poderia estragar, fazer mal ou perder a validade. Dois alunos efetuaram cópia de um trecho do texto; 20% deixaram a questão sem resposta. Selecionamos e destacamos algumas respostas dos alunos: 89 “Teríamos mais remédio no mundo” “Conserva o medicamento” “Estraga e pode fazer mal” “Vai ser pirigoso” “Conservar o medicamento ao abrigo da luz” “O xarope pediátrico deve ser mantido a temperatura de 25 °C” “Sim ele pode ficar nesta temperatura” “Não entra bactérias” A segunda questão se referia ao uso do medicamento por pessoas com idade acima de 65 anos. Apenas um aluno deixou a questão sem resposta, 31,43% dos alunos disseram sim e justificaram com frases do tipo: “Sim porque eles devem viver até 100 anos” “Pode. Porque não tem nenhuma restrição ou precauções” “Sim porque é para uso acima de 65 anos” “Podem porque são pessoas que precisam do remédio de graça porque não tem dinheiro” “Sim mais antes consulte um médico” Outros 28,57% disseram não e, justificaram: “ele não pode usar o texto não diz “não só se o médico liberar “não tem que informar o médico “não porque o medicamento da toce “Não porque ele pode subir a pressão” “Depende do medicamento que vai dar par eles” “Pode ate morrer” “Mucosolvan xarope ou gotas não contem açúcar podendo ser utilizado por diabéticos” “Não porque tem essa de idade” “Só pode tomar acima de 65 anos” Quando perguntados sobre qual é a principal substância que compõe o medicamento 31,43% afirmaram ser o Cloridrato de Ambroxol; 17,14% deixaram sem resposta e 8,57% afirmaram ser o Mucosolvan. Destacamos outras respostas: “Medicamento fruta leite ou água, xarope pediátrico frasco com 120 ml” “Não tomar medicamento com prazo de validade vencido” “Ele não descobre mais eu acho que é água” 90 “Nenhum” ”Hidroetilcelulose” “Sorbitol 70%” “Fluidificação” “O medicamento gotas o frasco contem 50 ml, e o xarope adulto cada 5 ml” A quarta questão exigia do aluno apenas a localização da informação sobre a posologia indicada para adultos e adolescente. Nesta questão 54,28% dos alunos disseram “100 gotas (4 ml), 3 vezes ao dia” , enquanto, 8,57% dos alunos deixaram a questão sem resposta e outros dois alunos copiaram trechos do texto. Transcrevemos algumas respostas dadas pelos alunos: “Ate o momento desconhecem-se manifestações” “Não contem açúcar” “ 4 ml” “De 1 a 2 inalações por dia” “50 ml” Quando questionados sobre quais assuntos presentes no texto da bula estavam relacionados a conceitos matemáticos. Uma diversidade muito grande de respostas diferentes foram dadas. Apenas uma aluna não respondeu a nenhuma das questões. Um outro aluno, assinalou no texto símbolos onde estariam as respostas das perguntas. Destacamos algumas respostas: “Nenhum” “Tem alguma coisa” “Eu acho que é bom” “Tem uma par de números um diferente do outro” 91 4.2.4 No texto com enunciados de exercícios e situações problema. Problema 1 875 e 347 são duas parcelas de uma adição de três parcelas em que o total é 3000. Qual é o valor da terceira parcela? Neste problema 14,28% dos alunos responderam de forma correta. Os demais alunos deram respostas variadas; 11,43% deixaram sem resposta. Selecionamos algumas respostas: “39145” “1222” “351” “4222” “1522” “875” “5018 reais” “9000” “A terceira parcela dos números 875 e 347 são unidades e do 3000 é a dezena” Problema 2 Pedrinho dividiu um certo numero de balas por 3 crianças, cabendo 5 balas a cada uma. Se ele dividir o dobro de balas para 6 crianças, quantas balas receberá cada uma? 20%dos alunos responderam corretamente . Apenas 1 aluno deixou a questão sem resposta. Diversas outras respostas foram dadas. Destacamos algumas: “30 balas” “1 bala” “14 balas” “9 balas” Problema 3 92 Quatro cidades A, B, C, D, foram construídas à beira de uma rodovia reta, conforme a ilustração abaixo: A B C D A distância entre a e C é de 50 km e a distancia entre B e D é de 45 km. Além disso, sabe-se que a distancia entre a primeira e a ultima é de 80 km. Qual é a distancia entre as cidades B e C? Um aluno respondeu corretamente. Encontramos um grande número de respostas diferentes. Dois alunos deixaram a questão sem resposta, e ainda, outros dois trataram a questão, como sendo de múltipla escolha. Selecionamos algumas respostas que merecem destaque: “A e B é um pouco longe do que C” Um aluno atribui palavras as letras A, B, C, D, chamando “A” de abacate, “B” de bebe, “C” de cenoura e “D” de dado. Problema 4 Usando uma multiplicação de dois fatores, escreva de três maneiras diferentes cada um dos números: a) 30 b) 60 14,28% dos alunos responderam corretamente; 14,28% deixaram em branco. Dois alunos fizeram adições (ex. 15+15, 10+20); 17,14% escreveram os números por extenso (trinta, sessenta, três, seis, três e zero, seis e zero, seiscentos) Problema 5 Qual é o produto de 345 por 67? 93 Apenas 5,71% alunos responderam corretamente; 20% deixaram a questão sem resposta. É importante destacar que 4 alunos chegaram a “montar” a multiplicação, mas erraram no resultado . Somente um aluno afirmou não ter entendido a questão. Transcrevemos uma resposta curiosa dada por um aluno: “Pode ser uma calça, um tênis ou material compreto” Problema 6 Elabore um problema que se resolva com uma subtração Neste problema 25,71% dos alunos escreveram um problema e até mostraram a resolução; 22,86% apenas montaram uma subtração, mas não elaboraram o problema; 25,71% deixaram a questão sem resposta. Um aluno apontou a questão 1, dizendo que poderia ser ela uma solução para a questão de número 6. Cinco alunos montaram adições. 4.3 O grupo de alunos da 8ª. Série do Ensino Fundamental 4.3.1 O texto com elementos históricos Na primeira questão foi proposta ao grupo de alunos a seguinte afirmação: “Podemos afirmar que hoje, nós conhecemos esse famoso teorema, porque Pitágoras divulgava tudo o que fazia. Você concorda ou discorda desta afirmação? Justifique”. Nesta questão 34,37% disseram não concordar com a afirmação e justificaram, dizendo algumas das frases abaixo: “Eu discordo porque essa afirmação não é verdadeira”, “Eu Discordo porque ninguém quer saber mais disso ninguém liga mais de Pitágoras” “Eu discordo porque acho que há varias não está preocupado com esse fato, e sim com dinheiro e valor”, “Não concordo porque eu não sabia desse Teorema de Pitágoras”. 94 Outros 43,75% dos alunos disseram concordar com a afirmação da questão e justificaram com frases do tipo: “Sim porque ele queria subir na vida” “Sim, concordo pois para mim o famoso Teorema de Pitágoras refere-se a uma relação existente entre os lados de qualquertriangulo ou retângulo”, “Sim porque era escrito em segredo”. “Concordo porque Pitágoras divulgava tudo o que fazia”. “Sim porque ia ser relacionado entre os lados dos triangolos”. Dois alunos concordaram em partes e 1 aluno respondeu copiando do texto: “Pitágoras refere-se a uma relação existente entre os lados de qualquer triangulo e retângulo”. Quando questionados sobre a segunda questão; “Se Pitágoras não tivesse existido, nós conheceríamos o Teorema de Pitágoras? Por que?”. 50% dos alunos afirmaram que “não” e justificaram com as frases abaixo: “Não mais acho que a tecnologia deveria dar um jeito” “Não porque só ele teve esse Teorema para contar para os amigos mais perto”. “Não porque sem ele nos não teríamos esse desenvolvimentos” “Nós não teria conhecido” “Porque ele que comesou a medir as terras com cordas e pedaso de estacas ai deu o Teorema de Pitágoras” 25% disseram sim, e desses, sete justificaram com frases: “Sim porque a evidencias que outras culturas também conheciam” “Conheceríamos, porque isso poderia ser apenas uma teoria que virou uma lenda e que hoje nós confirmamos sua existência” A terceira questão pedia aos alunos que escrevessem assuntos (conceitos matemáticos) presentes neste texto. Encontramos nas respostas dos alunos uma diversidade muito grande de respostas. Todos os alunos encontraram de alguma maneira, elementos que para eles, significassem um determinado assunto 95 relacionado à matemática (triângulos, retângulos, teorema, Pitágoras, números, símbolos, distancias, filosofia e matemática, etc). Do universo de alunos participantes do teste apenas 1 deixou a questão sem resposta e 15,62% fizeram cópias de trechos do texto para solucionar o problema. Destacamos algumas respostas desses alunos: “O ângulo formado pela corda no quarto nó era reto” “O famoso teorema e mais outras coisas” “Quando fala que Pitágoras si dedica-se ao estudo da filosofia da matemática e da Astronomia” “O famoso teorema de Pintagola refere-se a relação existente entre os lados de qualquer triangulo retângulo” “Eu relacionei a matemática eu acho o que Pitágoras fazia era verdade” “As dos nós, antes de cristo, os triângulos, etc” 4.3.2 O texto retirado de um jornal Quando questionados sobre o consumo de energia elétrica (em mwh) durante o mês de abril do ano de 2004; 56,25% deram como resposta o número 8888 Mwh como sendo solução para a questão para esta questão, todavia, esse número corresponde ao mês de abril de 2005. Um aluno apresentou resposta copiando um trecho do texto “Até então, o recorde em SP havia sido registrado em outubro de 2004, com um consumo de 8689 mil mwh”; 12,5% deram como resposta o numero 8689 mil Mwh. Quatro alunos responderam 8888MWh um crescimento de 5%. Um aluno disse ser de 22% no mês de abril de 2005. Nenhum aluno deixou a questão em branco. Quanto a segunda questão: “Podemos afirmar que, o consumo de energia elétrica no mês de abril de 2005 foi cerca de 2,3% maior que abril de 2004? Justifique”. 96 Apenas 1 aluno respondeu de forma correta; 44,62% afirmaram que não mas não justificaram, ou deram, sua opinião pessoal sobre o problema; quatro dessas respostas estão transcritas abaixo: “Não porque o mês de abril de 2004 teve um crescimento de 5% . E 2005 o mês de abril teve 2,3%”. “Não, pois eu acho que nesse ano de 2005 gastamos mais do que no ano de 2004”. “As pessoas gastaram mais energia em 2005” “Porque é um ano em que as pessoas estão comprando mais materiais elétricos” Apenas um aluno deixou a questão sem resposta. 15,62% dos estudantes disseram sim e justificaram afirmando frases do tipo: “Porque o texto afirma isso” “Porque o de 2004 foi só 2,3%” “Sim em 8689 mwh em 2004 em 2005 8888 pode se ver que não é muito diferente, diferença de 0,202 mwh”. Um aluno disse não saber resolver a questão; 9,37% fizeram cópia de um trecho do texto para responder a questão, abaixo citamos o caso de um aluno que respondeu a questão por meio de cópia do texto: “Esse valor significa que o Estado continua a se expandir no mesmo ritmo do ano passado em 2004 o consumo de energia cresceu cerca de 5,5%”. Quanto a terceira questão: “Vamos considerar que o estado de São Paulo tivesse um consumo mensal fixo de 8888mwh durante o ano de 2005, dessa forma, qual seria o consumo anual registrado durante este mesmo ano?”. Nesta questão 6,25% responderam de forma correta; 6,25% deixaram a questão em branco; 9,37% efetuaram cópias de um trecho do texto onde julgavam ser correto, a seguir mostramos um exemplo deste fato: “O mês de abril registrou o maior consumo mensal de energia elétrica na historia de SP em 8888 mil mwh”; 18,75% efetuaram cálculos, e, encontraram diversos resultados. Apenas 1 aluno 97 disse não saber e outros dois 2 manifestaram opiniões pessoais as quais descrevemos abaixo: “Seria muito alto porque as pessoas usam muita energia”, “O consumo eu acho que não é o mesmo”. A quarta questão, exigia do aluno que citasse assuntos presentes neste texto, que estariam relacionados a conceitos matemáticos. As opiniões aqui ficaram bastante divididas. A metade dos alunos pesquisada afirmou ser os gastos, o consumo, e a medida (mwh); 31,25% responderam ser a porcentagem, dois alunos indicaram os números do texto, um aluno a unidade de tempo (minuto) e outro aluno citou os recursos. Ainda, nesta questão 12,5% dos estudantes fizeram cópia do texto; um aluno copiou todos os números do texto; outro aluno disse, não ter encontrado nenhum assunto referente à matemática. 4.3.3 O texto da bula de medicamento. Quando questionados sobre o quem acontece com o remédio se o mantivéssemos a uma temperatura inferior a 15°C e superior a 30°C. Nesta questão observamos que 21,87% dos estudantes afirmaram que o remédio poderia estragar, perder o prazo de validade, não iria durar o tempo previsto, etc. Apenas um aluno deixou a questão sem resposta; 9,37% efetuaram uma cópia de trechos do texto. Destacamos algumas respostas dos alunos: “Não acontece nada” “Pode causar armazenamento” “No texto não cita nenhuma conseqüência” “Perderia sua formula, e quem está com a garganta irritada não pode tomar nada com temperatura abaixo da temperatura ambiental” “Se for mais de 15ºc é febre se for menos é temperatura baixa” 98 Quanto a segunda questão: “Pacientes acima de 65 anos podem usar ou não o medicamento? Por quê?”. Nesta questão 28,12% disseram que não existem restrições ou precauções que impeçam ou não das pessoas desta idade usar o medicamento; 21,87% responderam apenas sim, e não deram nenhuma justificativa. 15,62% disseram não, e, em suas justificativas escreveram frases do tipo : “Porque corre o risco de morrer” “Pode causar doença” 15,62% dos alunos indicaram a consulta a um médico como de fundamental importância antes de tomar qualquer remédio. Destacamos outras respostas bastante interessantes: “Eles não sabem, mas eu conheço pessoas que tomam por indicação médica” “Hidroxietilcelulose e sorbitol a 70%” “Vacinar contra a gripe” Apenas um aluno disse não saber responder. A terceira questão se referia a principal substancia que compõe o medicamento Mucosolvan. Nas repostas 37,5% dos alunos disseram ser o Cloridrato de Ambroxol ou apenas Ambroxol. Apenas um aluno disse não saber responder. Destacamos algumas respostas dos alunos: “Gripe” “Quantidade que é pra dá nome do remédio” “Não contem açúcar” “Se não seguir o modo correto de usar causa irritação” “Varias substancias” “Acido” “Substancia de 15 a 30°C” “Sorbitol 70%” A quarta questão se referia a posologia indicada para adultos e adolescentes em relação ao uso oral do medicamento na quantidade dada em ml. 99 59,37% escreveram ser “100 gotas (4 ml) , 3 vezes ao dia” e apenas um aluno disse “não sei”. Destacamosalgumas respostas: “Usar ate os 15 anos” “Cloridrato de ambroxol 30 mg” “Adulto (10 ml)” “4 ml” “2 ml” A quinta questão pedia aos alunos que descrevessem conceitos matemáticos associados a esse texto. Uma diversidade muito grande de respostas foi encontrada. Os alunos relacionaram com a matemática os números encontrados no texto, nomes, medidas, temperatura, porcentagem, etc. Apenas um aluno deixou de responder a questão. Destacamos outras respostas: “Tudo” “O texto não se trata de matemática” “Perigoso ficar gripado” 4.3.4 O texto de enunciados de exercícios e situações problema. Lembramos que, nosso objetivo com este tipo de texto, foi apenas de verificar se os alunos entendem o enunciado do problema, portanto, verificamos não só a resposta correta, mais também as iniciativas corretas na busca de uma determinada solução para as situações apresentadas. Apenas uma aluna desta turma responde o primeiro exercício e escreve “não sei” nos demais exercícios. 100 Problema 1 Luiza, Maria, Antonia e Julio são irmãos. Dois deles tem a mesma altura. Sabe-se que: • Luiza é maior que Antonio • Maria é menor que Luiza • Antonio é maior do que Julio • Julio é maior do que Maria Qual deles tem a mesma altura? 37,5% dos alunos responderam corretamente o problema, afirmando ser da mesma altura o casal Antonio e Maria. Um aluno disse que nenhum deles era da mesma altura, um outro afirmou que Luiza e Maria têm quase a mesma altura. Apenas um aluno afirmou não ser possível responder ao problema: Destacamos algumas respostas: “Não é possível dizer porque o texto não mostra a altura” Problema 2 Geni é cliente de uma companhia telefônica que oferece o seguinte plano: • Tarifa mensal fixa de R$18,00 • Gratuidade em 10 horas de ligações por mês • R$ 0,03 por cada minuto que exceder às 10 horas Em janeiro, Geni usou seu telefona por 15 horas e 17 minutos, e em fevereiro por 9 horas e 55 minutos. Qual a despesa de Geni com telefone nesses dois meses? Nenhum aluno respondeu de forma correta essa questão; 12,5% deixaram a questão sem resposta ou disseram não saber. Encontramos uma variedade muito grande de respostas diferentes, abaixo destacamos as mais freqüentes: “62,03” “63,36 “86,00” 101 “10,26” “43 horas p este mês” “98” Problema 3 Uma linha de ônibus possui doze paradas numa mesma rua em linha reta. A distancia entre duas paradas consecutivas é sempre a mesma. Sabe-se que a distancia entre a terceira parada e a sexta paradas é 3300 metros. Qual é a distancia entre a primeira e a ultima parada? Esta outra questão se mostrou ser bastante difícil, apenas um aluno respondeu corretamente afirmando ser 12100 metros. Dois alunos deixaram a questão sem resposta e um disse não saber; 87,5% apresentou diversos valores. Destacamos algumas dessas respostas: “9900” “1100” “400” “1500” “39600” Problema 4 Indique os números que elevados ao quadrado resultem em: a) 9 b) 25 c) 81 40,62% responderam corretamente; dois alunos disseram não saber, e ,outros dois deixaram a questão sem resposta. É interessante destacar que três alunos pensaram ser a questão de múltipla escolha e marcaram com um “x” as letras a ou b ou c. 102 Problema 5 calcule as raízes quadradas dos números seguintes, com precisão até a primeira casa decimal: a) 50 b) 250 c) 500 Nesta questão apenas um aluno respondeu de forma correta; 28,12% deixaram a questão em branco; 12,5% disseram não saber e o mesmo aluno que assinalou a quarta questão como sendo de múltipla escolha voltou a fazê-lo. Problema 6 Usando uma multiplicação de dois fatores, escreva de três maneiras diferentes cada um dos números: a) 30 b) 60 12,5% dos alunos acertaram a questão; 25% deixaram a questão em branco; 15,62% disseram não saber; 28,12% fizeram somas e não multiplicações(15+15, 30+30, etc.). Dois alunos escreveram os números por extenso (Trinta, trinzena, trilores) e outros dois responderam (3%, 10% e 30%) e (0,3; 0,6). 4.4 O grupo de alunos da 3ª. Série do Ensino Médio 4.4.1 O texto com elementos históricos. Na primeira questão foi proposta ao grupo de alunos a seguinte afirmação: “Podemos afirmar que hoje, nós conhecemos esse famoso teorema, porque Pitágoras divulgava tudo o que fazia. Você concorda ou discorda desta afirmação? Justifique”. 103 Nesta questão as respostas ficaram bastante divididas; 56,25% discordam da questão, afirmando que: “Pitágoras não divulgava nenhum documento”. “Quem divulgou foi os seus discípulos”. Outros 43,75% concordaram com a afirmação da questão dizendo que: “Para mim ele divulgava” “Ele divulgava-comerciais” “Se nem eles sabiam se demonstraram” “Porque se tornou uma figura lendária” Quando questionados sobre a segunda questão; “Se Pitágoras não tivesse existido, nós conheceríamos o Teorema de Pitágoras? Por que?”. Metade dos alunos afirmaram que sim, citando, os chineses, hindus e outras culturas como responsáveis pelo trabalho com este Teorema. Apenas um desses alunos que disseram sim apenas um se colocou dizendo que: “conheceríamos sim, mas não com o mesmo nome”. Entre os 50% dos alunos que disseram “não” encontramos as seguintes justificativas: “Porque ele não poderia ter escrito nada que conheceríamos hoje” “Lógico que não” “Não porque é ele que inventa” “Como conhecer se o autor não existe” A terceira questão pedia aos alunos que escrevessem assuntos (conceitos matemáticos) presentes neste texto Encontramos novamente um amplo conjunto de respostas variadas, e descrevemos algumas: “Teorema e Pitágoras”, “Porcentagem”. “a.C.” 104 “Ano” “Século” “Nenhum” “Ângulos retos” “Quando ele faz o pentágono” “Os iguais entre as cordas” 4.4.2 O texto retirado de um jornal Quando questionados sobre o consumo de energia em mwh durante o mês de abril do ano de 2004. Do grupo de trinta alunos, a metade afirmou ser de 8888 mil mwh; 23,33% disseram ser 8689 mwh; Um aluno deixou a questão sem resposta. Tivemos uma resposta como cópia do texto. O restante dos alunos ficou dividido entre os valores: “8443,6” “8748” “8450” “5,6%”. Quanto a segunda questão: “Podemos afirmar que, o consumo de energia elétrica no mês de abril de 2005 foi cerca de 2,3% maior que abril de 2004? Justifique”. Nesta questão 20% dos estudantes disseram “não, foi de 5%”; um aluno deixou em branco e um aluno apresentou cópia de um trecho do texto para responder a questão.Outras respostas apresentadas pelos outros alunos: “2,5% 2001 e 2004” “Sim porque tivemos um aumento de 30% no consumo” “O consumo de um ano para o outro foi maior sim” Quanto a terceira questão: “Vamos considerar que o estado de São Paulo tivesse um consumo mensal fixo de 8888mwh durante o ano de 2005, dessa forma, qual seria o consumo anual registrado durante este mesmo ano?”. 105 28,12% dos alunos acertaram a questão afirmando ser 106656 mil mwh ao ano. Um aluno deixou sem resposta, e, ainda houve, uma variedade muito grande de respostas diferentes. Destacamos duas dessas respostas: “16000 seria bem mais porque as pessoas não tem controle de consumo” “2,3%” A quarta questão exigia do aluno que escrevesse assuntos presentes neste texto que estariam relacionados a conceitos matemáticos. Muitas respostas diversas. Apenas um aluno deixou em branco. Além de cópias do texto onde tem números.Destacamos algumas: “Porcentagem” “A diferença de % entre um ano e outro” “Gráficos” “Me relaciono com a parte que diz dinheiro, cálculos, mwh” 4.4.3 O texto da bula de medicamento. Quando questionados sobre o quem acontece com o remédio se o mantivéssemos a uma temperatura inferior a 15°C e superior a 30°C. 66,66% dos alunos disseram que o medicamento poderia estragar ou diminuir o prazo de validade. Apenas um aluno deixou aquestão em branco. Abaixo descrevemos algumas dessas respostas: “Xarope pediátrico” “Acima de 30° estaria passando da temperatura pois é útil a inalação” “Pode estragar” “Perde o efeito” “Ele não fará mal” “O remédio perde o efeito de cura que ele tem dentro” “O prazo de validade pode ser alterado” Quanto a segunda questão: “Pacientes acima de 65 anos podem usar ou não o medicamento? Por quê?”. 106 A maioria dos alunos (60%) disse não haver restrições ou precauções, este tipo de resposta estava colocado no próprio texto.Vamos descrever outros tipos de respostas dadas pelos alunos: “Pode aumentar as secreções das vias respiratórias”. “Sim depende do remédio que o paciente idoso vai tomar”. “Porque os senhores e as senhoras já estão com a saúde fraca”. “Não porque não tem uma forma de explicar como tomar”. A terceira questão se referia a principal substancia que compõe o medicamento Mucosolvan. 60% escreveram “Ambroxol ou Cloridrato de Ambroxol”; outros três deixaram sem resposta e o restante dos alunos deram outros tipos de respostas, das quais, citamos algumas : “A água” “Emiele e água deionizada” “Substância química que compõem o medicamento” “Não tem contra indicação” A quarta questão se referia a posologia indicada para adultos e adolescentes em relação ao uso oral do medicamento na quantidade dada em ml. Vinte alunos (66,66%) escreveram “100 gotas (4 ml), 3 vezes ao dia”. Os dez alunos restantes deram outros tipos de respostas, como: “50 gotas” “2 a 3 ml” “sorbitol a 70%” “300ml” A quinta questão pedia aos alunos que descrevessem conceitos matemáticos associados ao esse texto. Novamente neste tipo de pergunta encontramos uma variedade muito grande de respostas, e ainda 2 alunos copiaram números apresentados pelo texto. Destacamos algumas respostas: “A linguagem da bula” “Miligramas” “%” 107 “Quantidade” “Uso do medicamento, medidas formas de uso” 4.4.4 O texto de enunciados de exercícios e situações problema. Problema 1 Luiza, Maria, Antonia e Julio são irmãos. Dois deles tem a mesma altura. Sabe-se que: • Luiza é maior que Antonio • Maria é menor que Luiza • Antonio é maior do que Julio • Julio é maior do que Maria Qual deles tem a mesma altura? 53,12% responderam de forma correta assinalando Antonio e Maria; 31,25% afirmaram ser Luiza e Antonio; um aluno afirmou ser Luiza e Julio, outro aluno afirmou que Luiza é maior que Antonio. Um fato interessante verificar que nenhum aluno deixou esta questão sem resposta, talvez tenha sido uma questão interessante para os alunos: Problema 2 Geni é cliente de uma companhia telefônica que oferece o seguinte plano: • Tarifa mensal fixa de R$18,00 • Gratuidade em 10 horas de ligações por mês • R$ 0,03 por cada minuto que exceder às 10 horas Em janeiro, Geni usou seu telefona por 15 horas e 17 minutos, e em fevereiro por 9 horas e 55 minutos. Qual a despesa de Geni com telefone nesses dois meses? 12,5% responderam de forma correta; 25% deixaram a questão em branco, e, um aluno afirmou não saber resolver. Encontramos diversas respostas, e transcrevemos algumas: “750” 108 “9,51” “100% de despesa” “0,001” “36,00” “43,16” “1529” Problema 3 Uma linha de ônibus possui doze paradas numa mesma rua em linha reta. A distancia entre duas paradas consecutivas é sempre a mesma. Sabe-se que a distancia entre a terceira parada e a sexta paradas é 3300 metros. Qual é a distancia entre a primeira e a ultima parada? Apenas um aluno acertou a questão; 15,62% deixaram a questão sem resposta e um disse não saber. Novamente, foram encontradas muitas respostas diferentes, destacamos abaixo algumas dessas respostas: “3300” “6600” “39600” “3600” “132.0”0 “47,01” Problema 4 Indique os números que elevados ao quadrado resultem em: a) 9 b) 25 c) 81 37,5% dos alunos responderam de forma correta; 6,25% deixaram em branco; apenas um aluno afirmou “não sei”. Ainda sobre esta questão dois alunos a trataram como sendo de múltipla escolha e marcaram um “x” em uma das letras da questão. O restante dos alunos procurou elevar ao quadrado os números apresentados pelo problema. 109 Problema 5 Calcule as raízes quadradas dos números seguintes, com precisão até a primeira casa decimal: a) 50 b)250 c)500 Somente 21,87% acertaram; 25% deixaram a questão sem resposta, e um afirmou “não sei”. Um aluno chegou a usar a decomposição em fatores primos, para tentar solucionar o problema. Dois alunos elevaram os números ao quadrado; outros dois pegaram a metade dos números dados pelo problema e utilizaram como resposta, e ainda, um aluno tratou a questão como múltipla escolha. Problema 6 Usando uma multiplicação de dois fatores, escreva de três maneiras diferentes cada um dos números: c) 30 d) 60 53,12% acertaram a resposta; 18,75% deixaram de responder e um disse não saber fazer. Entre as respostas mais comuns encontramos alunos que adicionaram os números para encontrar a solução da questão, outros que apresentaram os números escritos no Sistema Romano de Numeração. “30>10” “(XXX, trinta, 30) e (CX, sessenta, 60)” “(0,3; 3,0; 0,3) e (0,6; 6,0; 0,6)” 4.5 Algumas considerações sobre o capítulo Nesse espaço, tecemos comentários sobre os procedimentos utilizados pelos alunos, na realização da tarefa. Lembramos que, a nossa intenção, não é, analisar respostas certas ou erradas, apenas procedimentos. 110 De maneira geral, todos os estudantes procuraram ao longo da realização da atividade, suprir-se de um conjunto de procedimentos, que naquele momento fosse adequado para cumprir às tarefas do teste. Verificamos que, alunos em diferentes níveis de escolaridade, utilizam procedimentos iguais, como: copiar trechos escritos, palavras ou números dos textos, para responder as questões; deixar a questão sem resposta; pedir freqüentemente a ajuda do professor para entender a questão; trocar informações com os colegas; expressar suas opiniões; respostas descontextualizadas dos textos ou das questões; afirmar que o texto não dá indicações da localização das respostas; respostas sem justificativas, apenas “sim” ou “não”. A cópia de trechos, palavras ou números do texto foi um procedimento bastante comum, entre os alunos de todas as turmas. Esse fato, talvez esteja relacionado à práticas pedagógicas que utilizam a resolução de exercícios artificiais como uma forma de aprendizagem de um conceito. A grande quantidade de questões deixadas em branco, também foi, um procedimento muito comum entre os alunos. Esse fato pode ser um indicador de que esses alunos podem, estar com sérias dificuldades, na leitura, escrita e interpretação de textos. Ao responder as questões, muitos alunos, utilizaram seus conhecimentos prévios sobre o assunto do texto, e, deram muitas opiniões pessoais. Este fato foi verificado em todas as turmas pesquisadas. Analisando as respostas dadas pelos alunos verificamos um melhor desempenho pouco melhor dos alunos da 3ª série do EM m relação as outras turmas, visto que já haviam dito anteriormente que se tratava de um texto onde eles tiveram maior facilidade, contudo a 5ª série e a 8ª série demonstraram um desempenho bastante semelhante no trabalho com este texto, também um alto índice de respostas em branco de todos os grupos nos chamou a atenção. Uma outra questão possível de comparação entre essas três turmas é a questão 1b da 8ª e 3ª série ou questão 4 da folha de enunciados de exercícios e situações problema da 5ª série. Verificamos neste caso, respostas muito semelhantes entre as três turmas. A 3ª EM teve um desempenho pouco melhor 111 que as demais, contudo o desempenho da 5ª série foi superior a 8ª série. Outro fato que nos chamou atenção foi a grande quantidade de respostas em branco dos alunos da 8ª série EF e 3ª série EM. Embasadosem fatos originados do texto “O Famoso Teorema de Pitágoras” os alunos responderam se concordam ou não coma a afirmação proposta pela questão 1 do texto histórico. Quase a metade dos alunos (43,75%) concordou com a afirmação da questão, a qual, afirmava que Pitágoras divulgava todo o conhecimento que produzia. Um aluno da 8ª série fez cópia de um trecho do texto para responder a questão. Ainda de acordo com as respostas dos alunos a esse texto, 50% dos estudantes da 8ª série afirmaram que se Pitágoras não tivesse existido, nós não conheceríamos o Teorema, enquanto que 50 % dos alunos da 3ª série afirmaram que nós conheceríamos o teorema devido ao trabalho de outras civilizações antigas. Em relação ao texto jornalístico os alunos da 8ª série e da 3ª série apresentaram respostas muito semelhantes, mais da metade dos alunos de ambas as séries procuraram responder a primeira questão utilizando algum dos números dados pelo texto. Ainda os alunos da 8ª série procuraram dar respostas pessoais a segunda questão deste texto. Alguns alunos de ambas as turmas procuraram coletar números do texto para relacionar a assuntos matemáticos. No texto de exercícios e situações problema a 3ª série EM apresentou um desempenho pouco melhor, em contra partida a quantidade de questões sem respostas foi muito grande. Faz-se importante destacar que tanto alunos da 8ª série, quanto, alunos da 3ª série do ensino médio, utilizaram um mesmo procedimento para solucionar a questão 4 e 5 do texto de enunciados de exercícios, ou seja, os alunos trataram a questão como sendo de múltipla escola. 112 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES “Para que os alunos se tornem leitores competentes, é preciso que o programa escolar seja rico em conceitos de todo o tipo ( ...) Qualquer conhecimento adquirido por uma criança poderá eventualmente ajudá-la a compreender um texto. Um programa vazio de conceitos, que só se apóia em exercícios artificiais, pode bem vir a produzir leitores vazios que não compreenderão o que lêem. O que não sabem não constituirá uma desvantagem para eles. (WILSON E ANDERSON, 1986; citado por GIASSON, 2000) No início de nosso trabalho comentamos que partíamos da hipótese de que uma das responsabilidades do professor de Matemática é promover a leitura e a escrita, enquanto apropriação de um referencial simbólico que contribua para que o aluno compreenda o mundo a sua volta. A leitura de trabalhos como o de Rabelo (1996), que considera que o baixo desempenho de alunos do ensino fundamental em relação à resolução de problemas está diretamente relacionado à não construção de uma competência para a interpretação de textos matemáticos, também nos animava a investigar a questão. Assim, propusemo-nos a analisar atitudes e procedimentos de alunos frente à leitura e interpretação de textos nas aulas de Matemática, buscando respostas às seguintes questões: • Como os alunos reagem frente à leitura de textos nas aulas de Matemática? • Que atitudes manifestam? • Que procedimentos utilizam? Nos capítulos 3 e 4, buscamos ir interpretando os dados coletados e esboçamos algumas respostas às questões acima e que sintetizamos na seqüência: 113 (i) Atividades que envolvem leitura, escrita e interpretação de textos na aula de Matemática estão ausentes nas aulas de Matemática. Nosso estudo revelou um estranhamento dos alunos em relação à presença de atividades que envolvem leitura, escrita e interpretação de textos na aula de Matemática. Embora tenhamos trabalhado com um grupo de 99 alunos, o fato de estarem na 5ª e 8ª séries do ensino fundamental ou na 3ªsérie do ensino médio traz uma grande diversidade de experiências escolares, com professores diferentes, o que permite supor que essa situação é bastante comum. Isso nos remete a considerações como as de que estas atividades não existem nas aulas de Matemática ou mesmo nas aulas de outras disciplinas, ou quando existem, não levam em consideração diversos aspectos importantes. Em geral, ficam presas a procurar palavras no dicionário, a discutir regras gramaticais, a discutir apenas a idéia do autor sem permitir que o aluno explore diversas outras constatações suas e de seus colegas de classe. Assim, compreendemos de forma mais clara a afirmação de Machado, no sentido de que o ensino de Matemática e o da língua materna nunca se articularam para uma ação conjunta, nunca explicitaram, senão, relações triviais de interdependência, carecendo de uma relação mais próxima, mais fecunda nas funções que desempenham. (ii) Nas atividades que envolvem leitura, escrita e interpretação de textos na aula de Matemática, estabelece-se uma grande dependência dos alunos em relação ao professor. Nosso estudo revelou a grande dependência que o aluno tem do professor, seja este aluno do ensino fundamental ou do ensino médio, relativamente à leitura, escrita e interpretação de textos. Observamos a freqüência com que a resolução de uma atividade depende da intervenção demasiada do professor, na ajuda com a leitura ou buscando respostas do tipo “está certo ou errado”. Essa constatação ficou evidente nas perguntas e no comportamento da maioria dos alunos pesquisados durante a aplicação das atividades. Assim, retomando as leituras que fizemos sobre o assunto, concordamos com o fato de que um sério problema da 114 escola atual reside no fato de não garantir o uso eficaz da linguagem, condição para que os alunos possam dar continuidade e progredir nos estudos, como aponta Coelho (2002). Especificamente no que se refere à aprendizagem em Matemática, muitos dos problemas são relativos às dificuldades de leitura e interpretação de enunciados de exercícios e situações-problema, mas também a falta de autonomia que o aluno mostra em relação a essa atividade. Um dos fatores importantíssimos na nova concepção de compreensão da leitura se encontra no leitor, que deixa de assumir uma posição de passividade frente ao texto e começa a interagir com o mesmo, criando o sentido do texto, a partir da sua intenção de leitura. Reiteramos nossa concordância com Kleiman (2002), que é durante a interação com seus pares e com o professor que a atividade de interpretação se faz concretizar. (iii) As atividades que envolvem leitura, escrita e interpretação de textos na aula de Matemática são de grande dificuldade para os alunos, independentemente no nível de escolaridade em que se encontram. Em nosso estudo ficou bastante evidente que grande parte dos alunos tiveram dificuldades com os textos, tanto na leitura, como na escrita, quanto na interpretação e observou-se também grande dificuldade de concentração. Alguns alunos mostraram-se visivelmente nervosos durante as atividades. Em geral, os alunos do ensino médio demonstraram um nível pouco melhor de desempenho, mas mesmo assim, é notória a grande dificuldade que esses alunos apresentam ao efetuarem interpretações dos textos, e como as demais turmas pesquisadas, procuraram responder as questões propostas com trechos retirados dos textos. A esse respeito lembramos que na escola, geralmente as responsabilidades sobre o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita são atribuídas unicamente aos professores de Língua Portuguesa, o que evidentemente, não é suficiente. (iv) As atividades que envolvem leitura, escrita e interpretação de textos na aula de Matemática se apresentam aos alunos como algo penoso e desestimulante. 115 Como já comentamos nos capítulos precedentes, foi possível observar que a leitura e a interpretação de textos é tarefa penosa para os alunos e uma das explicações para isso está ligada ao fato de que ninguém gosta de fazer aquilo que é difícil demais ou que não faz sentido. Provavelmente, em sua experiência escolar, esses alunos sofreram as conseqüências de concepções de leitura tradicionais que consideravama compreensão da leitura a um conjunto de habilidades a ensinar (decodificar, identificar a idéia principal, etc). Atualmente, discute-se que num processo de compreensão da leitura não está em jogo apenas uma ou outra habilidade, mas sim, um conjunto de habilidades que se interagem e se modificam. Um outro fator importante é que a compreensão de uma leitura nunca deve estar desvinculada de seu contexto, o que talvez ainda não seja uma prática comum, especialmente nas aulas de Matemática. (v) Em que pesem as dificuldades que encontram nas atividades que envolvem leitura, escrita e interpretação de textos na aula de Matemática, os alunos reconhecem sua importância. Um aspecto interessante revelado no estudo é o de que os alunos manifestaram a necessidade desse tipo de trabalho na sala de aula. Lembramos a citação de Geraldi, afirmando que da experiência da leitura, o leitor sai modificado ou porque assume os pontos de vista com que compreende o mundo ou modifica tais pontos de vista em face do diálogo mantido através do texto com seu autor. Provavelmente, mesmo que de forma intuitiva, os alunos talvez sintam a falta de oportunidades que a escola lhes dá no sentido de compreender o mundo a sua volta, no processo de concordar e de discordar com as idéias apresentadas pelos autores a respeito de diferentes fatos, informações, valores, etc. (vi) Os textos a que os alunos estão habituados a encontrar nas aulas de matemática constituem uma categoria criada pela escola, com sua própria norma textual, aliás, pouco explícita: os gêneros escolares. Como vimos nos estudos sobre o tema, na opinião de alguns autores, o trabalho escolar, no domínio da produção de linguagem, faz-se sobre os gêneros, quer se 116 queira ou não. Na escola, as estratégias de ensino deveriam buscar intervenções que favoreçam a mudança e a promoção dos alunos a uma melhor mestria dos gêneros e das situações de comunicação que lhes correspondem. Trata-se, fundamentalmente, de se fornecer aos alunos os instrumentos necessários para progredirem. Nessa perspectiva os textos deveriam ser mais diversificados e estimulantes. Sabemos que, desde as séries iniciais os alunos percebem que os enunciados nas aulas de matemática não são essenciais e muitos resolvem problemas sem ler o enunciado na íntegra. (vii) Estudos sobre uso e tipologia de textos deveriam ser objeto de investigação na área de educação matemática, buscando estimular o desenvolvimento de diferentes capacidades de linguagem e o uso de diferentes gêneros orais e escritos. Nosso estudo nos permite propor que diferentes capacidades de linguagem deveriam ser estimuladas nas aulas de matemática, como narrar, relatar, argumentar, expor, descrever ações, formular questões. Para tanto, com base nos trabalhos de Dolz e Schneuwly seria fundamental que o professor de matemática contemplasse diferentes gêneros, orais e escritos, para fazer parte de suas aulas. A título de exemplo, destacaríamos: narrativas de ficção científica, narrativas de enigma, narrativas míticas, adivinhas, notícias, reportagens, biografias, textos de opinião, diálogos argumentativos, debates regrados, resenhas, tomada de notas, resumos de textos expositivos e explicativos, relato de experiências e investigações, regras de jogo, receitas etc. (viii) Deve haver um caminho de dupla mão entre leitura, escrita e interpretação de textos e a constituição de saberes matemáticos, nas aulas de Matemática. Geralmente estabelece-se uma dependência da leitura escrita e interpretação de textos para a constituição de saberes matemáticos. No entanto, não há igual preocupação com a relação inversa. Giasson (2000) afirma que quanto mais conhecimento os alunos tiverem, maiores serão suas possibilidades de sucesso na leitura. Ela exemplifica dizendo que alunos que tiveram experiências variadas 117 como visitas a museus, jardins zoológicos estão mais bem preparados para ler textos. Mas essas experiências por si não bastam; é indispensável que os alunos possam falar de suas experiências de modo a aumentarem a sua bagagem de conceitos e o seu vocabulário. Desse modo, consideramos que se nas aulas de matemática fizemos largo uso da resolução de problemas, de projetos de trabalho, de investigações matemáticas, de jogos, de seqüências de atividades interessantes, também seu desempenho na leitura, escrita e interpretação de textos será favorecido. 118 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAZI, Gisele A. do P. As dificuldades de aprendizagem na escrita e suas relações com traços de personalidades e emoções.Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. Campinas: SP, 2003. BIGODE, J. L. Matemática Hoje é feita assim, 6ªsérie. São Paulo: FTD, 2000. _____________CADERNO DINHEIRO. Folha de São Paulo. São Paulo: 14/05/2005, C4. _____________CADERNOS FOLHA EDUCAÇÃO. Programa Leitura de Jornal. 3ªed., 1998. CARNEIRO, G. R. da S. 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Campinas: SP, 2001. 123 ANEXOS Anexo I Quadro 1: Proposta de agrupamento de gêneros Domínios sociais de comunicação Aspectos Tipológicos Capacidades de Linguagem dominantes Exemplos de Gêneros Orais e Escritos Cultura literária ficcional Narrar Mimesis da ação através da criação da intriga no domínio do verossímil conto maravilhoso conto de fadas fábula lenda narrativa de aventura narrativa de ficção científica narrativa de enigma narrativa mítica sketch ou história engraçada biografia romanceada romance romance histórico novela fantástica conto paródia adivinha piada paradoxos. Domínios sociais de comunicação Aspectos Tipológicos Capacidades de Linguagem dominantes Exemplos de Gêneros Orais e Escritos Documentação e memorização das ações humanas Relatar Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo relatos de experiência vivida relatos de viagem diário íntimo testemunho anedota autobiografia curriculum vitae ... notícia reportagem crônica mundana crônica esportiva ... histórias 124 relato histórico ensaio ou perfil biográfico biografia ... Discussão de problemas sociais controversos Argumentar Sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição textos de opinião diálogo argumentativo carta de leitor carta de reclamação carta de solicitação deliberação informal debate regrado editorial discurso de defesa (advocacia) requerimento ensaio resenhas críticas ... Transmissão e construção de saberes Expor Apresentação textual de diferentes formas dos saberes texto expositivo conferência artigo enciclopédico entrevista de especialista texto explicativo tomada de notas resumos de textos expositivos e explicativos resenhas relatório cientifico relato de experiências (científicas) ... Instruções e prescrições Descrever Ações Regulação mútua de comportamentos instruções de uso instruções de montagem receita regulamento regras de jogo consignas diversas textos prescritivos ... 125 126 127 128 129 130 Anexo VII – texto de situações problema e enunciados de exercícios 5ª série EF 1. 875 e 347 são duas parcelas de uma adição de três parcelas em que o total é 3.000. Qual é o valor da terceira parcela? 2.Pedrinho dividiu um certo numero de balas por 3 crianças, cabendo 5 balas a cada uma. Se ele dividir o dobro de balas por 6 crianças, quantas balas receberá cada uma? 3.Quatro cidades A,B,C e D foram construídas à beira de uma rodovia reta, conforme a ilustração abaixo: A B C D A distancia entre A e C é de 50Km e a distancia entre B e D é de 45 Km. Além disso, sabe-se que a distancia entre a primeira e a última é de 80Km. Qual é a distancia entre as cidades B e C? 4.Usando uma multiplicação de dois fatores, escreva de três maneiras diferentes cada um dos números: a) 30 b) 60 5.Qual é o produto de 345 por 67? 6.Elabore um problema que se resolva com uma subtração. 131 Anexo VIII – texto de situações problema e enunciados de exercícios 8ª série EF e 3ª série EM 1. Luiza, Maria, Antonio e Julio são irmãos. Dois deles tem a mesma altura. Sabe- se que: • Luiza é maior que Antonio • Maria é menor que Luiza • Antonio é maior do que Julio • Julio é menor do que Maria Qual deles tem a mesma altura? 2. Geni é cliente de uma companhia telefônica que oferece o seguinte plano: • tarifa mensal fixa de R$ 18,00 • gratuidade em 10 horas de ligações por mês • R$ 0,03 por cada minuto que exceder às 10 horas Em janeiro, Geni usou seu telefone por 15 horas e 17 minutos, e em fevereiro por 9 horas e 55 minutos. Qual a despesa de Geni com o telefone nesses dois meses? 3. Uma linha de ônibus possui 12 paradas numa rua em linha reta. A distancia entre duas paradas consecutivas é sempre a mesma. Sabe-se que a distancia entre a terceira e a sexta parada é 3300 metros. Qual é a distancia entre a primeira e a ultima parada? 1. Indique os números que elevados ao quadrado resultem em: a)9 b) 25 c) 81 2.Calcule as raízes quadradas dos números seguintes, com precisão até a primeira casa decimal: a) 50 b) 250 c) 500 3.Usando uma multiplicação de dois fatores, escreva de três maneiras diferentes cada um dos números: a)30 b) 60 MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA Banca Examinadora AGRADECIMENTOS Palavras-chaves: Educação Matemática; Leitura e Escrita de textos. SUMÁRIO 3.1 Os sujeitos da pesquisa _____________________________________ 49 3.2 Os textos selecionados _______________________________________ 50 3.4 As respostas dos alunos ao questionário ________________________ 60 ANEXOS _____________________________________________________ 123 Anexo I-Proposta de agrupamento de gêneros Anexo II- Texto jornalístico- 8ªsérie EF e 3ª série EM Anexo III- Texto jornalístico- 5ª série EF Anexo IV-Texto da bula de medicamento Anexo V- Texto histórico- 5ª série EF Anexo VI-Texto histórico-8ª série EF e 3ª série EM Anexo VII-Texto de situações problema e enunciados de exercícios-5ª série EF Anexo VIII-Texto de situações problema e enunciados de exercícios-8ª série e 3ª série EM FIGURAS: Figura 1- Modelo contemporâneo de Compreensão na Leitura ___________36 Figura 2- Representação de 3 modelos de relação entre as variáveis : Leitor, Texto e Contexto _________________________________________38 TABELAS: CAPÍTULO 1: APRESENTAÇÃO DO TRABALHO Também nos Parâmetros Curriculares de Matemática para o Ensino Médio – PCNEM – ao indicarem os objetivos dessa etapa de ensino e ao se referirem ao desenvolvimento de habilidades e competências, organizam ter três categorias, entre as quais se destaca, mais uma vez, a importância da competência leitora e escritora. Vejamos os objetivos: Agora, vejamos a definição de habilidades e competências que se pretende que o aluno constitua: Representação e comunicação Contextualização sócio-cultural“O ser humano, a todo o momento, lida com as informações, receber ou buscar dados, elaborar, comunicar e compartilhar informações faz parte do nosso cotidiano e essas informações afetam a maioria das nossas atividades, pois pode haver informação sem aprendizagem, mas seguramente a maioria das aprendizagens inclui as informações (PFROMM NETTO, 1987)”. De acordo com Gomes (2002) “as informações são, na maioria das vezes são, na maioria das vezes, um entrelaçamento de símbolos gráficos, o qual exige do leitor uma grande capacidade de decifração e interpretação”. 2.3.1 Por que meu aluno não lê? Situação 2 Situação 3 CAPÍTULO 3: A PESQUISA DE CAMPO, Com relação à Questão 1: Em qual texto você encontrou maior dificuldade? Por quê? Com relação à Questão 1: Em qual texto você encontrou maior dificuldade? Por quê? Nesta questão 37,5% dos alunos indicaram o texto da bula de medicamento como sendo o mais difícil; 28,12% indicaram o jornalístico; 21,87% o histórico e 12,5% dos alunos acharam todos fáceis. Nesta questão 40% dos alunos disseram ter encontrado dificuldade no texto com elementos históricos; 30% disseram o texto da bula e 23,33% disseram o texto jornalístico. Apenas 6,66% se referiram a todos os textos. Nenhum aluno deixou a questão sem resposta. O texto que fala sobre remédio porque eu não entendo nada sobre medicações Falta de informação e interpretação O texto que fala sobre medicamento maioria dos idosos Nesta questão 28,12% dos alunos disseram ter encontrado dificuldade na questão 5. 25% disseram na questão 2. O restante das respostas ficaram divididas entre as outras questões. CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS E RESPOSTAS DOS ALUNOS DOS DIFERENTES GRUPOS “Não mais acho que a tecnologia deveria dar um jeito” “Sim porque a evidencias que outras culturas também conheciam” CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES Nosso estudo revelou a grande dependência que o aluno tem do professor, seja este aluno do ensino fundamental ou do ensino médio, relativamente à leitura, escrita e interpretação de textos. Observamos a freqüência com que a resolução de uma atividade depende da intervenção demasiada do professor, na ajuda com a leitura ou buscando respostas do tipo “está certo ou errado”. Essa constatação ficou evidente nas perguntas e no comportamento da maioria dos alunos pesquisados durante a aplicação das atividades. Assim, retomando as leituras que fizemos sobre o assunto, concordamos com o fato de que um sério problema da escola atual reside no fato de não garantir o uso eficaz da linguagem, condição para que os alunos possam dar continuidade e progredir nos estudos, como aponta Coelho (2002). Especificamente no que se refere à aprendizagem em Matemática, muitos dos problemas são relativos às dificuldades de leitura e interpretação de enunciados de exercícios e situações-problema, mas também a falta de autonomia que o aluno mostra em relação a essa atividade. Um dos fatores importantíssimos na nova concepção de compreensão da leitura se encontra no leitor, que deixa de assumir uma posição de passividade frente ao texto e começa a interagir com o mesmo, criando o sentido do texto, a partir da sua intenção de leitura. Reiteramos nossa concordância com Kleiman (2002), que é durante a interação com seus pares e com o professor que a atividade de interpretação se faz concretizar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASe a escrita, enquanto apropriação de um referencial simbólico que contribua para que o aluno compreenda o mundo a sua volta, fizemos a opção de estudar o assunto, buscando identificar e analisar as atitudes e procedimentos de alunos frente à leitura e interpretação de textos nas aulas de Matemática. Desse modo, neste trabalho, procuramos nos aproximar dos processos de leitura, escrita e compreensão de textos, com diferentes graus de dificuldade, durante as aulas de Matemática, bem como buscar elementos no sentido de favorecer a apropriação dessas habilidades. Nossa intenção é a de contribuir para 1 HTPC – sigla de Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo, usada na rede pública estadual de São Paulo. 13 o trabalho de professores de Matemática, que anseiam desenvolver de forma integral e significativa, os conceitos matemáticos e promover habilidades de leitura e escrita. Organizamos o trabalho em quatro capítulos. No Capítulo 1, apresentamos um panorama geral sobre o contexto em que nosso trabalho se situa, bem como justificamos a escolha do tema, apresentando resultados de avaliações do ensino público e discutindo os objetivos do ensino de Matemática para educação básica. Neste capitulo, também definimos as metas e procedimentos do nosso trabalho. No Capítulo 2 apresentamos as referências teóricas que fundamentam nossas reflexões, especialmente Machado (1993), Kleiman (2002), Giasson (2000) e Dolz & Schneuwly (1996). No Capítulo 3, descrevemos e comentamos os resultados de nossa pesquisa de campo e no Capítulo 4, apresentamos as considerações finais tecendo comentários sobre os principais resultados e fazendo algumas recomendações. 1.2 Relevância do tema 1.2.1 Sobre competência leitora e escritora A leitura e a escrita sempre ocuparam um papel essencial no desenvolvimento da sociedade, e as preocupações com estas atividades, sempre estiveram presentes em toda a história da humanidade. No entanto, hoje a leitura tem cada vez menos espaço no cotidiano das pessoas, até na escola, onde esta atividade seria comum, também não é praticada, e se pensarmos então na aula de Matemática, ela praticamente não existe. “O ensino de leitura é fundamental para dar solução a problemas relacionados ao pouco aproveitamento escolar. Ao fracasso na formação de leitores podemos atribuir o fracasso geral do aluno no 1º e 2º graus” (KLEIMAN, 2002). Para Coelho (2002) “um sério problema da escola atual reside no fato de não garantir o uso eficaz da linguagem, condição para que os alunos possam dar continuidade e progredir nos estudos”. Especificamente no que se refere à 14 aprendizagem em Matemática, muitos dos problemas são relativos às dificuldades de leitura e interpretação de enunciados de exercícios e situações-problema. De maneira geral as responsabilidades sobre o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita são atribuídas unicamente aos professores de Língua portuguesa. As dificuldades em leitura, escrita e interpretação de textos há muito tempo são apontadas pelos sistemas de avaliação do rendimento escolar, e não apenas em relação a alunos do ensino fundamental, mas também, do ensino médio. Avaliações realizadas por órgãos Federais, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), e Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), mostram que, em geral, a grande maioria dos alunos da escola pública tem alguma dificuldade com as práticas de leitura, escrita e compreensão. Segundo dados do SAEB (2003) em nível de Brasil a pontuação média atingida por alunos da quarta série do ensino fundamental aumentou de 165,1 pontos em 2001 para 169,4 pontos em 2003. A escala de desempenho do SAEB em leitura é descrita de 0 a 375 pontos, e, segunda esta escala, um patamar de mais de 200 pontos de proficiência pode ser considerado próximo ao adequado, pois nesse ponto os alunos consolidaram habilidades de leitura e caminham para um desenvolvimento que lhes possibilitarão seguir em seus estudos com bom aproveitamento. Nas oitavas séries o desempenho dos estudantes em leitura no ano de 2003 não foi muito significativo comparado com o ano de 2001. A média nacional passou de 235,2 em 2001 para 232 em 2003, nesse patamar, os alunos conseguem identificar a descrição de um lugar em textos publicitários e tema de texto poético de baixa complexidade. A média considerada satisfatória para este nível de escolaridade seria de 300 pontos, patamar este, onde o aluno teria consolidado habilidades que lhes permitiriam continuar os estudos no ensino médio, com aproveitamento satisfatório. Ainda segundo dados do SAEB (2003) os estudantes da 3ªsérie do ensino médio tiveram um desempenho em 2003 de 266,7 pontos, um pouco melhor que 2001 (262,3 pontos). Nesse patamar, os alunos interpretam textos publicitários 15 com auxilio gráfico, correlacionando-o com enunciados verbais e informações em gráficos sobre boletins meteorológicos divulgados em jornais. O indicador considerado mínimo para os concluintes do ensino médio é de 350 pontos, nesse patamar pode-se afirmar que o aluno consolidou habilidades de leitura de forma competente e condizente, tanto para a continuação dos estudos quanto para o ingresso qualificado no mercado de trabalho. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) analisa o desempenho dos estudantes da 3ª série do ensino médio no quesito redação considerando cinco competências básicas. De forma geral, segundo dados do ENEM (2003), a nota média de redação dos alunos das escolas públicas foi de 52,8 sendo que apenas 8,7% dos alunos tiveram desempenho de bom a excelente (70 a 100 pontos). Considerando a parte objetiva da prova a média dos alunos da escola pública foi de 44,8 sendo que apenas 6,9 % dos alunos tiveram um desempenho bom ou excelente. A análise do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) 2000, promovida pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) demonstrou as desvantagens dos brasileiros de quinze anos na competência de leitura e interpretação de textos. Na tentativa de reverter esse quadro, a Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo implantou em 2005 nas escolas da rede pública de ensino fundamental, aulas de reforço, destinadas a atividade de leitura, durante o horário regular, aumentando a carga horária dessas escolas. A escola cabe o papel de possibilitar ao aluno uma formação que lhe permita compreender de forma crítica as realidades sociais e nela agir, sabendo, para tanto, organizar sua ação. Para a atingir esse objetivo é preciso que esse aluno aproprie-se do conhecimento e de meios de produção e de divulgação desse conhecimento. As práticas de leitura e escrita não podem se esgotar apenas na educação básica, mas devem ser tema de discussão principalmente nos cursos de formação de professores, especialmente de professores de matemática, onde essa atividade não é muito desenvolvida com freqüência. 16 Para Machado (1993): “Entre a Matemática e a Língua Materna existe uma relação de impregnação mútua. Ao considerarem-se estes dois temas enquanto componentes curriculares tal impregnação se revela através de um paralelismo nas funções que desempenham, uma complementaridade nas metas que perseguem, uma imbricação nas questões básicas relativas ao ensino de ambas. É necessário reconhecer-se a essencialidade dessa impregnação e tê-la como fundamento para a proposição de ações que visem à superação das dificuldades com o ensino de Matemática”. O Instituto Paulo Montenegro de Pesquisas, vinculado ao Ibope, e a Organização não Governamental (ONG) “Ação Educativa” divulgaram uma pesquisa, mostrando que mesmo pessoas consideradas alfabetizadas tinham dificuldade para interpretar textos básicos (Folha de São Paulo 26/12/2001, C4). Para Gomes (2002), esse analfabetismofuncional mostra a face pública do fracasso social, presente na realidade da educação brasileira. “As escolas públicas estão repletas de alunos que não sabem ler e escrever” (Revista: Educação e Cidadania, 2004). A frase acima se retrata a um artigo publicado pela revista Isto É, em 10 de maio de 2000, que trouxe a seguinte frase: No dina vit do de Abinu d doni come kicna do no ba Basinu terã mlazsa. De acordo com a revista esta frase foi escrita por alunos do ensino fundamental de uma escola localizada na zona leste da cidade de São Paulo, em referência a um ditado proposto pela professora. Na verdade o que esses alunos queriam escrever era a seguinte frase: “No dia 22 de abril, comemoramos os 500 anos do nosso Brasil, que é uma terra maravilhosa”. Segundo Klüsener (2001) “a linguagem Matemática será contemplada à medida que o trabalho com a língua Materna for realizado de maneira adequada”. A preocupação com as competências na leitura e escrita é motivo de alerta por parte dos educadores em geral, pois, a essa capacidade pode-se atribuir o fato do bom desempenho ou do fracasso do aluno da escola básica. 17 Para Coelho (2002), existem dois obstáculos a serem enfrentados e superados na educação para que se atinjam níveis de qualidade. Um desses problemas é a alfabetização tida como um dos principais obstáculos no percurso escolar dos alunos. Um Outro obstáculo seria o fato de a escola não garantir o uso eficaz da linguagem, condição para que os alunos possam dar continuidade e progredir nos estudos. Para Souza2 (2001) citado por Gomes (2002, p.4) os resultados do ENEM são significativos para apontar a pobreza como um dos fatores de baixo desempenho acadêmico de milhares de crianças e jovens. O que faz do sistema educacional um reflexo direto da situação social brasileira. Esses resultados ainda mostram que o desempenho dos estudantes está diretamente associado a variáveis como, idade, renda, gênero e escolaridade dos pais. Ficando o baixo desempenho com alunos de baixa renda. Enquanto que os alunos de renda mais elevada normalmente têm pais escolarizados, e dessa forma, tem acesso aos bens culturais e a diversas outras experiências que contribuem para ampliar a visão de mundo, ao contrário das crianças de famílias de baixa renda, que muitas vezes não têm em casa um livro, uma revista ou jornal, e, portanto, dificilmente apresentarão os mesmos resultados de crianças e jovens provenientes de famílias onde há muitos leitores. “A sobrevivência na sociedade depende cada vez mais de conhecimento, pois diante da complexidade da organização social, a falta de recursos para obter e interpretar informações impede a participação efetiva e a tomada de decisões em relação aos problemas sociais. Impede, ainda, o acesso ao conhecimento mais elaborado e dificulta o acesso às posições de trabalho (PARAMETROS CURRICULARES NACIONAIS EF, 1997)”. É preciso assegurar a todo o indivíduo a plena cidadania, dando-lhe oportunidade para que desenvolva todas as suas potencialidades e seja um agente promotor de transformações sociais e cumpridor dos seus direitos e deveres. 2 SOUZA, P.R. Copo meio cheio ou meio vazio.Folha de São Paulo.SP: 11/12/2003, Tendências e Debates. 18 1.2.2 Sobre Matemática e Comunicação Ao longo das últimas décadas, no processo de reorientação dos currículos da Educação Básica, o papel da educação na chamada sociedade do conhecimento tem sido tema muito debatido. O conhecimento vem sendo considerado fator decisivo para vida em sociedade, cada vez mais impregnada de informações vindas de diferentes fontes. Discute-se que o desenvolvimento integral do ser humano é uma tarefa que cabe a escola e ao professor. E que a sala de aula deve ser um espaço em que os alunos possam ter liberdade para aprender, pensar, criar, respeitar as diferenças e desenvolver ao máximo suas potencialidades. A questão da liberdade é fundamental para o processo de aprendizagem. Para Paulo Freire “É preciso construir uma pedagogia de homens livres se queremos educar para a liberdade, coisa que só se dará se pudermos traduzir esta vontade em atos concretos, sem confundir liberdade com as concepções abstratas do liberalismo”. Nesse contexto tem-se discutido também o papel da Matemática no currículo de uma escola preocupada com a formação para a cidadania. Um discurso freqüente é o de que a Matemática desenvolvida em nossas escolas está distante do anseio das crianças e jovens que se sentem frustrados diante de uma disciplina que pouco contribui para o seu desenvolvimento. Segundo alguns autores, a Matemática é propulsora do conhecimento e a realização da cidadania tem a carência do saber, certamente, enquanto não resolvermos os grandes desafios pedagógicos com os quais nos defrontamos nesse campo, não estaremos criando condições para que se desenvolvam homens verdadeiramente livres, que determinam com justiça a sua história. Nesse contexto, a necessidade de romper com esta situação de passividade frente ao trabalho com a Matemática coloca-se como desafio ao professor. Nas propostas curriculares de caráter prescritivo, novas perspectivas são apresentadas para os currículos de Matemática. Pires (2000) resume as 19 propostas presentes nos Parâmetros Curriculares de Matemática para o Ensino Fundamental – PCNEF, da seguinte forma: Os PCNEF explicitam o papel da Matemática no ensino fundamental pela proposição de objetivos que evidenciam a importância de o aluno valorizá-la como instrumental para compreender o mundo à sua volta e de vê-la como área do conhecimento que estimula o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas; destacam a importância de o aluno desenvolver atitudes de segurança com relação à própria capacidade de construir conhecimentos matemáticos, de cultivar a auto-estima, de respeitar o trabalho dos colegas e de perseverar na busca de soluções; adotam como critérios para seleção dos conteúdos sua relevância social e sua contribuição para o desenvolvimento intelectual do aluno; apresentam um aspecto inovador ao destacar conteúdos não apenas na dimensão de conceitos, mas também na dimensão de procedimentos e de atitudes; destacam a importância de superar a organização linear dos conteúdos e a necessidade de explicitar as conexões entre eles, inspirando-se na metáfora de construção do conhecimento como "rede de significados"; incorporam, já no ensino fundamental, o estudo da probabilidade e da estatística e evidenciam a importância da geometria e das medidas para desenvolver as capacidades cognitivas fundamentais; indicam a Resolução de Problemas como ponto de partida da atividade Matemática e discutem caminhos para “fazer Matemática” na sala de aula, destacando a importância da História da Matemática, da Etnomatemática, da modelagem e das Tecnologias da Informação e da Comunicação; apontam a importância de estabelecer conexões entre os blocos de conteúdos, entre a Matemática e as outras áreas do conhecimento e suas relações com o cotidiano e com os temas sociais urgentes; tratam a avaliação, em suas dimensões processual e diagnóstica, como parte fundamental do processo ensino-aprendizagem por permitir detectar problemas, corrigir rumos, apreciar e estimular projetos bem sucedidos; não se limitam a apresentar rol de conteúdos, mas discutem algumas orientações didáticas, analisando obstáculos que podem surgir na aprendizagem 20 de alguns conteúdos e sugerindo alternativas que possam favorecer sua superação. Analisando os objetivos indicados pelos PCNEF identificamos a utilização de frases e palavras ligadas intimamente com o desenvolvimento de competências relacionadas à linguagem, tanto em sua forma escrita quanto oral. Vejamos: • Identificar os conhecimentosmatemáticos como meios para compreender e transformar o mundo a sua volta e perceber o caráter de jogo intelectual, característico da Matemática, como aspecto que estimula o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas; • Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos da realidade, estabelecendo inter-relações entre eles, utilizando o conhecimento matemático (aritmético, geométrico, métrico, algébrico, estatístico, combinatório, probabilístico); • Selecionar, organizar e produzir informações relevantes, para Interpretá-las e avaliá-las criticamente; • Resolver situações-problema, sabendo validar estratégias e resultados, desenvolvendo formas de raciocínio e processos, como intuição indução, dedução, analogia, estimativa, e utilizando conceitos e procedimentos matemáticos, bem como instrumentos tecnológicos disponíveis; • Comunicar-se matematicamente, ou seja, descrever, representar e apresentar resultados com precisão e argumentar sobre suas conjecturas, fazendo uso da linguagem oral e estabelecendo relações entre ela e diferentes representações Matemáticas; • Estabelecer conexões entre temas matemáticos de diferentes campos e entre esses temas e conhecimentos de outras áreas curriculares; • Sentir-se seguro da própria capacidade de construir conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a auto-estima e a perseverança na busca de soluções; • Interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando coletivamente na busca de soluções para problemas propostos, identificando aspectos consensuais ou não na discussão de um assunto, respeitando o modo de pensar dos colegas e aprendendo com eles. Também nos Parâmetros Curriculares de Matemática para o Ensino Médio – PCNEM – ao indicarem os objetivos dessa etapa de ensino e ao se referirem ao 21 desenvolvimento de habilidades e competências, organizam ter três categorias, entre as quais se destaca, mais uma vez, a importância da competência leitora e escritora. Vejamos os objetivos: • Compreender os conceitos, procedimentos e estratégias Matemáticas que permitam a ele desenvolver estudos posteriores e adquirir uma formação cientifica geral; • Aplicar seus conhecimentos matemáticos a situações diversas, utilizando-os na interpretação da ciência, na atividade tecnológica e nas atividades cotidianas; • Analisar e valorizar informações provenientes de diferentes fontes, utilizando ferramentas Matemáticas para formar uma opinião própria que lhe permita expressar-se criticamente sobre problemas da Matemática, das outras áreas do conhecimento e da atualidade; • Desenvolver as capacidades de raciocínio e resolução de problemas, de comunicação, bem como o espírito crítico e criativo; • Utilizar com confiança procedimentos de resolução de problemas para desenvolver a compreensão dos conceitos matemáticos; • Expressar-se oral, escrita e graficamente em situações Matemáticas e valorizar a precisão da linguagem e as demonstrações em Matemática; • Estabelecer conexões entre diferentes temas matemáticos e entre esses temas e o conhecimento de outras áreas do currículo; • Reconhecer representações equivalentes de um mesmo conceito, relacionando procedimentos associados às diferentes representações; • Promover a realização pessoal mediante o sentimento de segurança em relação às suas capacidades Matemáticas, o desenvolvimento de atitudes de autonomia e cooperação; Agora, vejamos a definição de habilidades e competências que se pretende que o aluno constitua: Representação e comunicação • Ler e interpretar textos de Matemática. • Ler, interpretar e utilizar representações Matemáticas (tabelas, gráficos, expressões etc). 22 • Transcrever mensagens Matemáticas da linguagem corrente para linguagem simbólica (equações, gráficos, diagramas, fórmulas, tabelas etc.) e vice-versa. • Exprimir-se com correção e clareza, tanto na língua materna, como na linguagem Matemática, usando a terminologia correta. • Produzir textos matemáticos adequados. • Utilizar adequadamente os recursos tecnológicos como instrumentos de produção e de comunicação. • Utilizar corretamente instrumentos de medição e de desenho. Investigação e compreensão • Identificar o problema (compreender enunciados, formular questões etc). • Procurar, selecionar e interpretar informações relativas ao problema. • Formular hipóteses e prever resultados. • Selecionar estratégias de resolução de problemas. • Interpretar e criticar resultados numa situação concreta. • Distinguir e utilizar raciocínios dedutivos e indutivos. • Fazer e validar conjecturas, experimentando, recorrendo a modelos, esboços, fatos conhecidos, relações e propriedades. • Discutir idéias e produzir argumentos convincentes. Contextualização sócio-cultural • Desenvolver a capacidade de utilizar a Matemática na interpretação e intervenção no real. • Aplicar conhecimentos e métodos matemáticos em situações reais, em especial em outras áreas do conhecimento. • Relacionar etapas da história da Matemática com a evolução da humanidade. • Utilizar adequadamente calculadoras e computador, reconhecendo suas limitações e potencialidades. Diante dessas expectativas, parece-nos que fica muito evidente que o desenvolvimento da capacidade leitora e escritora é um elemento fundamental para que o professor de Matemática da educação Básica, nos ensinos fundamental e médio, possa organizar seu trabalho de modo a que os alunos atinjam esses objetivos que envolvem a comunicação. 23 Raramente se faz uso da linguagem oral ou se buscam relações entre ela e as representações matemáticas. Os textos matemáticos são, geralmente, os grandes ausentes nas aulas dessa disciplina. Por isso, que os alunos sejam estimulados a ler e a escrever pequenos textos relatando suas conclusões ou justificando suas hipóteses. 1.3 Questões de pesquisa e opções metodológicas Tomando por base a relevância do tema, indicada no item anterior e considerando a capacidade de ler e escrever como de fundamental importância nas relações sociais, culturais e econômicas, o presente estudo pretende analisar atitudes e procedimentos de alunos frente à leitura e interpretação de textos nas aulas de Matemática. As questões que irão nortear a nossa pesquisa são as seguintes: • Como os alunos reagem frente à leitura de textos nas aulas de Matemática? • Que atitudes manifestam? • Que procedimentos utilizam? O desenvolvimento de nosso trabalho teve como fonte direta, o ambiente de sala de aula, envolvendo alunos de 5ª e 8ª séries do ensino fundamental de uma escola municipal e de 3ª série do ensino médio de uma escola estadual, ambas localizadas na zona sul da cidade de São Paulo, na região de Santo Amaro. As atividades foram desenvolvidas durante o horário regular das aulas, ou seja, buscamos estudar nossas questões de pesquisa em seu ambiente natural, sem recriá-las experimentalmente. Esse fato implica levar em conta esse contexto particular e que exerce influência sobre o fenômeno a ser estudado. Com o intuito de analisar as reações, atitudes e procedimentos relacionados à leitura, escrita e interpretação de textos, foi proposto aos alunos do ensino fundamental (5ª e 8ªséries) e do ensino médio (3º série do EM) que realizassem um trabalho de análise de textos com diferentes tipos de gêneros e respondessem às questões relacionadas aos textos. Os textos escolhidos foram: 24 um texto de natureza jornalística, um texto com elementos históricos, uma lista contendo três enunciados de exercícios e três situações-problema e uma bula de medicamento. A atividade em questão realizada nas duas escolas públicas contou com a participação de um total de 99 alunos, sendo 35 alunos da 5ªsérie, 32 alunos da 8ªsérie e 32 alunos de 3º ano do ensino médio. A atividade realizadasempre contou com a presença do professor pesquisador e de um professor observador, o qual tinha a função de coletar informações quanto à reação dos alunos diante de cada tipo de texto apresentado. O trabalho foi realizado no decorrer de cinco (5) aulas de cinqüenta minutos na escola estadual e cinco (5) aulas de quarenta e cinco minutos na escola municipal. Em cada aula, era solicitado ao aluno que trabalhasse com um texto diferente. Antes de iniciarmos a aplicação das atividades discutíamos com os alunos os objetivos do teste, bem como algumas orientações que julgamos importantes para o bom andamento do mesmo, como, não trocar informações com o colega, não pedir ajuda para o aplicador e para o observador quanto às questões do teste. Ao final da aplicação de todos os textos, uma avaliação de impressões3 foi solicitada aos alunos, por meio de um questionário elaborado com a finalidade de colher informações que nos indicassem suas reações e procedimentos diante dos textos, bem como colher informações sobre suas dificuldades, e também, possíveis falhas nos textos e questões. Por essas características, consideramos que nossa pesquisa pode ser nomeada como uma investigação de natureza qualitativa, levando em consideração algumas características básicas para uma investigação qualitativa, como: obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação de estudo; entender os fenômenos estudados seguindo a perspectiva dos participantes da situação estudada e, a partir daí, situar a interpretação dos fenômenos estudados. 3 Denominamos avaliação de impressões, o questionário aplicado ao final do teste. 25 Nossa investigação tem um forte cunho descritivo, incluindo a apresentação do desenvolvimento das atividades pelos alunos em que procuramos estar atentos ao maior número possível de elementos presentes na situação estudada, sabendo que aspectos triviais e aparentemente sem importância, poder estar carregados de significados que o ajudam a compreender o fenômeno em questão. Nossa investigação procurou privilegiar o estudo dos processos em relação aos produtos, na medida em que buscamos observar atitudes e procedimentos dos alunos nesse processo. Considerei importante que, para que se possa compreender melhor as percepções, os comportamentos e as interações entre as pessoas, deve se levar em conta o contexto onde essas relações ocorrem e suas múltiplas influências. Ou seja, é fundamental retratar a realidade de uma forma aprofundada e para isso, o investigador deve buscar revelar a multiplicidade de dimensões presentes na situação em estudo e tentar encontrar as relações entre elas. 26 CAPÍTULO 2: CONHECENDO ALGUMAS REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE O TEMA “A palavra escrita é patrimônio da cultura letrada, e todo professor é, em princípio representante dessa cultura. Daí que permanecer à espera do colega de Português resolver o problema, além de agravar a situação, consiste numa declaração de sua incompetência quanto à função de garantir a participação plena de seus alunos na sociedade letrada”. KLEIMAN (2002) 2.1 Introdução Neste capítulo, apresentaremos uma síntese sobre alguns trabalhos referentes à questão da leitura em sala de aula e sua importância para a aprendizagem em qualquer disciplina e, em particular, da Matemática. Destacaremos, entre outros, os estudos de Machado (1993), Kleiman (2002), Giasson (2000), Dalcin (2002) E Dolz & Schneuwly (1996). 2.2 Matemática e Língua Materna4 Para Machado, o ensino de Matemática e o da língua materna nunca se articularam para uma ação conjunta, nunca explicitaram senão relações triviais de interdependência, carecendo de uma relação mais próxima, mais fecunda nas funções que desempenham. Em toda atividade humana a linguagem representa um sistema simbólico que permite ao homem se comunicar com seus pares, expressar suas idéias, estabelecer relações e significados entre objetos, compreender instruções para que possa agir sobre elas, mas todas essas atividades requerem um conhecimento básico de sua língua materna, mesmo a Matemática, com seu 4 Titulo extraído do livro Matemática e Língua Materna: análise de uma impregnação mútua, MACHADO, N.J. 27 caráter de linguagem precisa e formal, necessita do conhecimento da língua Materna, mesmo que na forma oral, para desenvolver seus conceitos. É fato comum pretender-se que a linguagem Matemática represente para a Ciência uma linguagem precisa, livre de ambigüidades, e dessa forma uma complementação a língua Materna que muitas vezes é imprecisa. Desta maneira a linguagem Matemática viria a se constituir em uma superação da língua Materna. A impregnação mútua entre a Matemática e a língua materna caracterizada pelo paralelismo, pela complementaridade e pela imbricação entre ambas reveste- se de uma essencialidade tal que quaisquer ações que visem à superação das dificuldades com o ensino de Matemática deve partir dela ou não poderão aspirar a transformações radicais na situação vigente (Machado, 1993). Tal impregnação entre essas duas disciplinas faz com que a tarefa de cada uma seja irredutível à outra. Segundo Machado, o aprendizado da língua materna, tanto na sua forma oral quanto escrita, representa a construção de um sistema de representação da realidade, e, portanto, se traduzem em dois sistemas que se complementam, e por isso, a não aprendizagem da linguagem escrita traduz para o individuo a classificação de analfabeto. Dessa forma, a linguagem Matemática, como outras, através de seus códigos, constitui uma maneira de aprender o significado das coisas, Isto é, de ler e compreender o mundo. A Matemática não se traduz em apenas saber operar com símbolos, mas também está intimamente relacionada com a capacidade de interpretar, analisar, sintetizar, significar, conceber, transcender, extrapolar, projetar. Para Claret5 (1980) citado por Machado (1993, p. 96) a impregnação entre esses dois sistemas de representação da realidade tem sido um fato marcante nos tempos modernos, já que a utilização de termos técnicos ou não-técnicos tem se tornando cada vez mais presentes em diversos contextos. A impregnação entre a linguagem Matemática e a língua materna perfaz todos os passos da nossa vida estando presente em diversas situações da vida cotidiana. 5 CLARET, J. A idéia e a forma.Rio de Janeiro, Zahar, 1980. 28 De um modo geral, diariamente somos confrontados com situações em que a mescla entre a linguagem usual e a da Matemática se faz presente sem que, no entanto, não tomemos conhecimento ou não damos muita importância para tal fato. Alguns exemplos6 de tal fato percebem-se por meio de expressões do tipo: Chegar a um denominador comum Dar as coordenadas Aparar as arestas Sair pela tangente Ver de um outro ângulo O xis da questão O circulo intimo A esfera do poder Possibilidades infinitas Perdas incalculáveis Numa fração de segundos No meio do caminho Semelhança, equivalência, Estrutura, Função, Categoria etc. A relação entre a Matemática e a língua materna não se encerra nestes poucos exemplos, mas está presente de forma contínua em nossas atividades cotidianas. Vista como uma linguagem formal, seria certo supor que a Matemática não comporte como sistema simbólico à linguagem na forma oral. Tal fato encontra apoio em algumas considerações sobre as linguagens formais, que consideram a língua materna como imperfeita e sua gramática destituída de lógica. Estava formado aí o contexto, para que muitos filósofos como Leibniz, Descartes e outros estabelecessem a formulação de uma língua precisa, lógica e que permitisse não deixar duvidas, quanto às suas afirmações e resultados.Porém, hoje é cada vez mais aceito que as possíveis imprecisões da língua materna, não passam de características naturais das mesmas, que em parte é responsável pela enorme diversidade de expressões que as línguas naturais possibilitam. Contudo as línguas formais apresentam uma linguagem distante do empírico, consistindo em um sistema de representação muito limitado quanto à oralidade. 6 Exemplos extraídos do livro Matemática e Língua Materna. P. 97 29 Assim como destaca Miller 7 (1986) citado por Machado (1993, p. 106) “A língua com que sonhava Leibniz, sem equivocação nem anfibologia, a língua onde tudo o que se diz inteligível é dito a propósito, a língua de Del Arte Combinatória, é uma língua sem enunciador possível. É um discurso sem palavras”. Em decorrência disso seria difícil pensar em uma linguagem escrita sem a oralidade, ou no caso da Matemática à redução a um único tipo de linguagem, o que seria certamente um fato complicador e reducionista na aprendizagem Matemática. A Matemática não pode se reduzir somente à linguagem formal, pois se tornaria uma barreira de difícil transposição quanto a passagem do pensamento para a escrita. Dessa forma é importante tratar a linguagem Matemática como uma linguagem que transcende a linguagem formal, se aproximando da linguagem materna, principalmente por meio da oralidade. 2.3 Considerações teóricas e práticas sobre o ensino da leitura Para Kleiman (2002), “o ensino de leitura é fundamental para dar solução a problemas relacionados ao pouco aproveitamento escolar: ao fracasso na formação de leitores podemos atribuir o fracasso geral do aluno no 1º e 2º graus”. Para que atividade de leitura se torne eficaz, é preciso, segundo Kleiman, que o professor possa definir tarefas cada vez mais complexas aos alunos, porém passíveis de resolução; desde que ela tenha a orientação de um adulto ou de um colega mais proficiente. Aos poucos, o professor pode ir retirando os suportes e a criança redefine as tarefas para si própria, constituindo-se aí a aprendizagem de estratégias de leitura. A compreensão de uma leitura necessita de uma prática colaborativa e comunicativa, por isso, é imprescindível que exista comunicação entre os sujeitos envolvidos, durante o processo, pois é durante interação dos sujeitos que é criado o ambiente para que se efetive a compreensão do texto lido, portanto, não é na 7 MILLER, J.A. Matemas.Buenos Aires, Manantial, 1987. 30 leitura silenciosa ou em voz alta que se compreende. E ainda nessa prática, é preciso que o texto tenha significado para o sujeito. Kleiman (2002) considera a atividade de leitura como uma prática social que remete a outros textos e outras leituras, em que ao lermos um texto, colocamos em prática todo o nosso sistema de valores, crenças e atitudes que refletem o grupo social em que se deu a nossa sociabilização primária, isto é, o grupo social em que fomos criados. Bazi (2000) relacionou o desempenho na leitura e na escrita com os tipos de ansiedade. Ao observar seus resultados, pode-se concluir que crianças mais ansiosas têm um desempenho mais baixo na escrita e na leitura e que esses resultados são mais significativos quando comparadas às meninas em relação aos meninos, sendo estas no geral, mais ansiosas. Para Rocha 8 (1999) citado por Coelho (2002, p.2), em seu processo de aprender a ler e a escrever, a criança não deve apenas tornar-se alfabética ou ortográfica, já que o domínio do sistema alfabético-ortográfico de escrita é apenas o instrumento que lhe permitirá participar efetivamente das práticas sociais de escrita; ela deve também e talvez, sobretudo, aprender a produzir e a ler textos escritos com compreensão e capacidade de interpretação. “O ser humano, a todo o momento, lida com as informações, receber ou buscar dados, elaborar, comunicar e compartilhar informações faz parte do nosso cotidiano e essas informações afetam a maioria das nossas atividades, pois pode haver informação sem aprendizagem, mas seguramente a maioria das aprendizagens inclui as informações (PFROMM NETTO, 1987)”. De acordo com Gomes (2002) “as informações são, na maioria das vezes são, na maioria das vezes, um entrelaçamento de símbolos gráficos, o qual exige do leitor uma grande capacidade de decifração e interpretação”. 8 ROCHA, G. A. Apropriação das habilidades textuais pela criança.Campinas: Papirus, 1999. 31 À luz das teorias cognitivas, a partir das décadas de setenta e oitenta, o modelo de processamento de informação na memória dominou a pesquisa. Mesmo havendo divergências entre as diferentes tendências da Psicologia Cognitiva, a grande maioria dos teóricos cognitivistas explica o processo da aprendizagem como o resultado das tentativas dos sujeitos em compreenderem o mundo a sua volta. Com esse objetivo os indivíduos utilizam todos os instrumentos mentais disponíveis e esse processo de pensar sobre as diferentes situações é influenciado pelas suas expectativas, interesses, sentimentos e interações com os outros. Portanto, as novas aprendizagens são influenciadas pelos conhecimentos prévios do sujeito, os quais atuam como andaimes que apóiam a aprendizagem de novos conhecimentos. Os conhecimentos são diferentes quanto à natureza. Os conhecimentos declarativos permitem falar sobre objetos, pessoas, situações e são muito ligados à representação verbal ou a outras formas de notação. Ainda, um outro tipo de conhecimento é o processual, que deve ser demonstrado por ações; é o saber fazer. O terceiro tipo é o conhecimento condicional, que consiste em saber aplicar os dois tipos de conhecimento anteriormente mencionados; isso exige saber o quando e o porquê utilizar informações e procedimentos. Os diferentes tipos de conhecimento podem ser gerais ou se referirem a uma esfera específica - Matemática, Física, Biologia e outras. Uma vez aprendidos esses conhecimentos são armazenados, mas, para serem utilizados, precisam ser lembrados. A esse processo, a Psicologia Cognitiva denomina Processamento da Informação.(GOMES, 2002) Matos (2001) cita uma situação ainda mais grave no que se refere à leitura, a defasagem entre leitores e não-leitores reproduzem a divisão social entre o poder e a exclusão, entre as classes dominantes e os que são apenas executores. Neste confronto, a leitura aparece também como instrumento de conquista de poder, antes de ser meio de lazer ou evasão. Conforme Foucambert (1994), o acesso à leitura de novas camadas sociais implica que leitura e produção de texto se tornem ferramentas de pensamento de uma experiência social renovada; ela supõe a busca de novos pontos de vista sobre uma realidade mais ampla, que a 32 escrita ajuda a conceber e a mudar, a invenção simultânea e recíproca de novas relações, novos escritos e novos leitores. Leitura vista em sua concepção mais ampla, pode ser entendida como atribuição de sentidos, conforme Orlandi (1988). Para Quintanal Diáz 9 (1998) citado por Gomes (2002, p.41) “aprender a ler é aprender a utilizar a leitura para aprender e como fonte de prazer”. Para Gomes, entre os diferentes objetos de ensino de que se ocupa currículo escolar, entende-se que um lugar privilegiado cabe à leitura, porque dela dependem muitas outras aprendizagens. Geraldi 10 (1996) citado por Matos (2001, p.38) afirma que, da experiência da leitura, o leitor sai modificado ou porque assume os pontos de vista com que compreende o mundo ou modifica tais pontos de vista em face do diálogo mantido através do texto com seu autor. O leitor não interage diretamente com o texto (relação sujeito/objeto), mas com outro (s) sujeito (s) (leitor virtual, autor, etc); são relações entre homens, sociais e históricas, mediadaspor objetos (como o texto).(MATOS, 2001) Danyluk (1989) afirma que “... a linguagem é um meio de estabelecer relações humanas e um aspecto fundamental do modo de ser e de existir do ser humano que, por meio dela, expressa a linguagem do ser”. Portanto, ler, implica compreender o que se está sendo expresso pela linguagem e, desta forma, entrar em comunicação com o autor. A leitura da palavra, do símbolo, ou a leitura do mundo, realiza-se plenamente quando o significado das coisas que estão representadas emerge pelo ato da interpretação. Para Gomes (2002) a leitura, hoje, é vista não mais como um processo de pronunciar o texto, mas como uma atividade complexa que envolve raciocínio, ou seja, ler é compreender. A leitura é um processo interativo e construtivo, no qual entram em jogo as relações entre as diferentes partes do texto e os 9 QUINTANAL DÍAZ, J. Estratégias lectoras. Revista Portuguesa de Educação, 11(1), p.123- 134,1998. 10 GERALDI, J.W. Linguagem e Ensino: exercícios de militância e divulgação.Campinas, SP: Mercado das Letras-ALB, 1996. 33 conhecimentos prévios do leitor. O processo de compreensão envolve a coordenação de múltiplos fatores: as particularidades do texto, os objetivos visados pela leitura, as circunstâncias em que esta ocorre e as características pessoais do leitor. “Ter competência em leitura significa possuir um repertório de procedimentos estratégicos, saber gerenciar de forma adequada a sua utilização e aplicá-los de modo flexível, em cada situação” (SOLÉ & VAZ; 1998). Segundo Gomes, a compreensão de um texto consiste, fundamentalmente, em estabelecer relações entre as diferentes idéias aí veiculadas -processo de integração, e na ligação da informação do texto com os conhecimentos anteriores do leitor - processo de construção. Para que o leitor forme um modelo do texto é necessário que a informação seja integrada num todo coerente (foco explícito) o que, por sua vez, exige o estabelecimento de uma continuidade referencial. “A capacitação especificamente humana para a linguagem habilita as crianças a providenciarem instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superar a ação impulsiva, a planejar uma solução para um problema antes de sua execução e a controlar seu próprio comportamento. Signos e palavras constituem para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas. As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se então, a base de uma forma nova e superior de atividade nas crianças, distinguindo-as dos animais. (VIGOTSKY, 1998)”. Vaz (1998) citado por Gomes (2002 p.46): “Distingue entre estratégia de leitura e habilidade de leitura. As habilidades são rotinas aplicadas de forma mais automática, estão associadas a processos mais elementares de pensamento, são procedimentos aplicáveis segundo um padrão fixo a uma grande variedade de textos, envolvem exercícios repetitivos, não havendo lugar para o seu uso consciente e intencional. As estratégias, pelo contrário, implicam planos deliberados e sob controle do leitor; 34 exigem raciocínio e pensamento crítico; são flexíveis por definição, sendo adaptáveis aos diferentes tipos de texto e aos objetivos da leitura; pressupõem o recurso a metacognição e podem adotar procedimentos de regulação para recuperar a compreensão perdida”. Foucambert (1994) diz que: “ser leitor é saber o que se passa na cabeça do outro para compreender melhor o que se passa na nossa”. Dos anos 80 em diante, os documentos produzidos pelo setor de Educação da UNESCO enfatizam que: “o conceito atual de alfabetização esforça-se por introduzir a idéia de que a aprendizagem da leitura e da escrita deve vincular-se o máximo possível a realidades concretas – sejam de ordem cotidiana, técnicas, econômicas, políticas, culturais – dos alfabetizados” (PERROTA 1985, citado por SILVA & ESPÓSITO, 1990, p.66). 2.3.1 Por que meu aluno não lê? 11 Para KLEIMAN (2002), a leitura tem ocupado cada vez menos espaço no cotidiano das pessoas devido a fatores como: a pobreza no seu ambiente de letramento, o material escrito com o qual o aluno entra em contato - tanto na escola como fora dela - ou ainda, à própria formação precária de um grande número de professores que não são leitores, mas, no entanto, tem que ensinar a ler e a gostar de ler. A leitura passa a ser difícil quando não faz sentido, descortinada de significados ela se torna uma tarefa árdua para qualquer pessoa. Kleiman lembra que, para a maioria das pessoas a leitura não é aquela atividade prazerosa, no aconchego do lar, no canto preferido, que nos permite nos isolarmos, sonhar, esquecer, entrar em outros mundos e que tem associações com nossas primeiras estórias contadas por nossos pais ou avós. 11 Titulo extraído do livro: Oficina de Leitura (2002), KLEIMAN, A. 35 Ainda de acordo com kleiman, muitos professores são responsáveis por práticas pedagógicas que inibem ou até desestimulam o aluno a ler. As ações pedagógicas nesse sentido não levam em conta alguns critérios para a escolha do texto, como a, legibilidade, ou grau de dificuldade, a relevância e o interesse, tanto do aluno, quanto dos objetivos acadêmicos da escola. A escolha do tema é o fio que permite a percepção e a produção da linguagem e o desenvolvimento de um novo sistema simbólico, o da linguagem escrita. 2.4 Novas concepções sobre compreensão na leitura Segundo Giasson (2000), os modelos de compreensão de leitura mais atuais diferem dos modelos mais tradicionais principalmente em relação à integração de habilidades e a participação do leitor que deixa de ser passiva para uma interação texto-leitor. As concepções de leitura tradicionais consideravam a compreensão da leitura a um conjunto de habilidades a ensinar (decodificar, identificar a idéia principal, etc). Tal sistema de compreensão não se fortaleceu devido ao fato de não se conseguir elaborar uma lista única de habilidades, e ainda demonstrou-se que alunos fracos em leitura podem dominar certas habilidades isoladas até melhor do que alunos mais fortes em leitura. Portanto num processo de compreensão da leitura não está em jogo apenas uma ou outra habilidade, mas sim um conjunto de habilidades que se interagem e se modificam. Um outro fator importante é que a compreensão de uma leitura nunca deve estar desvinculada de seu contexto. Um dos fatores importantíssimos na nova concepção de compreensão da leitura se encontra no leitor, que deixa de assumir uma posição de passividade frente ao texto e começa a interagir com o mesmo, criando o sentido do texto, a partir da sua intenção de leitura. “Um efeito preocupante para os professores é que estes temem o fato de se acentuar o papel do leitor dê demasiada liberdade à 36 interpretação, e querem que os alunos compreendam aquilo que o autor escreveu” (CHASE & HYND 12, 1987, citado por GIASSON, 2000; p.19) De acordo com Orasanu & Penney 13 (1986) e Tardif 14 (1989), citados por Giasson (2000, p.19) “é preciso perceber que criar o sentido do texto não quer dizer que este possa significar seja o que for”. O que se passa é que o autor utiliza certas convenções e põe de lado as informações que supõe serem conhecidas pelo leitor. Se esta suposição não se verificar, a mensagem do autor será evidentemente mal compreendida (GIASSON, 2000). A interpretação de um texto depende dos conhecimentos e da intenção do leitor. O Modelo Contemporâneo de Compreensão na Leitura apresentado na seqüência representa a corrente mais defendida por vários pesquisadores da área da leitura. 1.Leitor-Estruturas e Processos 2.Texto-Intenção do autor, Forma e Conteúdo. 3.Contexto-Psicológico, social e físico. LeitorContexto Texto Figura 1- Modelo contemporâneo de compreensão na leitura 12 CHASE, N. & HIND, C. Reader Response: an alternative way to teach students to think about text. Journal of Reading, vol.30, nº6,p.530-542. 13 ORASANU, J. & PENNEY, M. Comprehension Theory and it Grew.New Jersey, 1986. 14 TARDIF, J. La comprensión en lecture peut et doit éter évaluée.Vie pedagogique, v.60, p. 27-29, 1989. 37 À variável leitor do modelo de compreensão compreende as estruturas do sujeito e os processos de leitura que ele utiliza (DENHIÈRE 15, 1985, citado por GIASSON, 2000; p. 21. As estruturas representam os conhecimentos e as atitudes do leitor, e os processos representam as habilidades que o leitor recorre durante a leitura. A variável texto se refere ao material a ler e pode ser considerada sob três aspectos principais: a intenção do autor, a estrutura do texto e o conteúdo. A intenção do autor determina, com efeito, a orientação dos outros dois elementos. A estrutura refere-se ao modo como o autor organizou as idéias no texto, enquanto que o conteúdo remete para os conceitos, conhecimentos e vocabulário que o autor decidiu transmitir. O contexto compreende elementos que não fazem parte do texto e que não dizem respeito diretamente às estruturas ou processos de leitura, mas que influenciam na compreensão do texto. Podemos distinguir três contextos: o psicológico (intenção de leitura, interesse pelo texto), o contexto social (as intervenções dos professores e dos colegas) e o contexto físico (o tempo disponível, o barulho) Segundo Giasson, a compreensão na leitura variará segundo o grau de relação entre os três variáveis: quanto mais o variável leitor, texto e contexto estiverem imbricados umas nas outras, melhor será a compreensão. 15 DENHIÉRE,G. La lecture et la psychologie cognitive:quelquespoints de repère. Communication présentée au colloque.Espaces de lecture.Paris, 1985 38 Situação 1 Situação 2 Situação 3 Leitor Contexto Texto Texto Leitor Contexto Leitor Texto Contexto Figura 2-Representação de 3 modelos de relação entre as variáveis, Leitor, Texto e Contexto. Situação 1 O texto utilizado corresponde ao nível de habilidade do leitor, mas o contexto não é pertinente. Pensemos num aluno que lê em voz alta na sala de aula um texto novo com a intenção de fazer uma bela leitura, o contexto de leitura oral diante de um grupo não favorece a compreensão de um texto mesmo que este esteja adequado ao leitor. Situação 2 Na segunda situação, o leitor é colocado num contexto favorável, mas o texto não é adequado as suas capacidades.Pode tratar-se de um leitor que lê silenciosamente um texto para o qual estabeleceu uma intenção de leitura pertinente, mas o texto, pela sua estrutura ou conteúdo, é demasiado difícil para ele. Situação 3 Na terceira situação, as variáveis não estão imbricadas umas nas outras. 39 O aluno lê um texto que não esta ao seu nível e, além disso, o contexto de leitura não é adequado. Aqui basta imaginarmos o aluno que foi constantemente posto em situação de insucesso na leitura desde o início da escolaridade. Este aluno enfrenta quase sempre textos que são demasiado difíceis para ele; também não aborda a leitura com uma intenção pertinente, porque não aprendeu procurar sentido na leitura. Percebe-se através deste modelo, que a interação entre leitor texto e contexto é que efetivará a compreensão de um texto. Também é importante considerar todo o conhecimento anterior do sujeito, que lhe fornecerá subsídios para a compreensão da leitura que realiza. “Para que os alunos se tornem leitores competentes, é preciso que o programa escolar seja rico em conceitos de todo o tipo: história, geografia, ciências, arte, literatura... Qualquer conhecimento adquirido por uma criança poderá eventualmente ajudá-la a compreender um texto. Um programa vazio de conceitos, que só se apóia em exercícios artificiais, pode bem vir a produzir leitores vazios que não compreenderão o que lêem. O que não sabem não constituirá uma desvantagem para eles. (WILSON E ANDERSON 16, 1986; citado por GIASSON, 2000; p.27) Assim, quanto mais conhecimento os alunos tiverem adquirido, maiores serão suas possibilidades de sucesso na leitura. As crianças que tiveram experiências variadas como visitas a museus, jardins zoológicos estão mais bem preparados para ler textos. Mas essas experiências por si não bastam; é indispensável que as crianças possam falar de suas experiências de modo a aumentarem a sua bagagem de conceitos e o seu vocabulário. Mais tarde, esses conhecimentos poderão ser utilizados para compreender texto (GIASSON, 2000). 16 WILSON, P. & ANDERSON, R. What they don’t know will hurt them: the role of prior knowledge in comprehension. New Jersey, p. 31-49, 1986. 40 2.5 A dimensão dos textos nos livros paradidáticos Nas últimas décadas surgiram no mercado livros denominados paradidáticos. Em seus estudos sobre esses livros, Dalcin (2002) afirma que, apesar de ser inegável a supremacia do texto escrito em uma abordagem do ensino de Matemática por meio de narrativas, isso não implica na necessidade de uma subordinação da simbologia Matemática a esse texto. Para Dalcin (2002), quanto maior for a articulação entre a simbologia Matemática, o texto escrito e as ilustrações melhor resulta a compreensão do que se esta lendo, porém é necessário coerência entre o que está sendo dito por meio do texto escrito e da simbologia Matemática e o que esta sendo representado nas imagens, e em muitos momentos, a simbologia Matemática vem como em auxilio, complementando diretamente o texto escrito, seja por meio da realização de algum calculo, da representação de alguma expressão, de uma representação geométrica, etc. Ou seja, através das várias representações utilizadas pela Matemática. A utilização de narrativas de ficção, tanto orais como escritas, para o ensino da Matemática pode se constituir em um recurso que favoreça a construção de significados para os conteúdos matemáticos na medida em que “der vida” a estes conteúdos, colocando-os num contexto, numa realidade mesmo que fantástica, valorizando elementos como a observação, intuição e capacidade de análise e síntese. Nesse contexto, o professor assume uma dupla função: a de “mediador” e a de “contador de histórias”. Dalcin conclui em seu trabalho que os paradidáticos de Matemática, embora façam parte de um mesmo gênero de livro, diferenciam-se entre si pelo tipo de abordagem do conteúdo e do modo como são articulados à simbologia Matemática, às imagens e ao texto escrito. Tal situação reflete a forte influência que a opção pela abordagem exerce nas decisões a respeito da articulação que será estabelecida entre a simbologia Matemática, o texto escrito e as imagens. O paradidático é um misto de interesse, pois, busca o desenvolvimento, o 41 conhecimento e ao mesmo tempo, a necessidade de adaptar-se ao mercado econômico. Segundo Dalcin (2002) o paradidático deve ser um recurso que poderá, não apenas auxiliar na aprendizagem da Matemática diretamente na sala de aula, mas como um importante meio pelo qual se torne possível à divulgação de pesquisas em Educação Matemática, relatos de experiências e o aperfeiçoamento docente. É considerado também um recurso que propicia uma aproximação entre a Matemática, outras áreas do conhecimento e as praticas de leitura. 2.6 Gêneros e progressão em expressão oral e escrita Dolz e Schneuwly 17, dois pesquisadores da Faculdade