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a chamada Inflação Inercial que é decorrente dos reajustes de preços e salários, provocados pela indexação ou correção monetária, que ocorreu no Brasil entre o final dos anos 70, durante toda a década de 80 e no princípio dos aos 90. O processo inflacionário brasileiro nesse período foi bastante severo, com grande impacto sobre o desempenho econômico do país. Inúmeras políticas foram adotadas nesse período na tentativa de debelar essa inflação. 8.4. O processo inflacionário no Brasil As políticas econômicas brasileiras de combate à inflação variaram entre os períodos dependendo da natureza da fonte geradora da inflação. Podemos destacar os seguintes: I. Entre 1950 – 1960, a principal fonte de inflação era o déficit do Tesouro Nacional (TN) - o déficit do TN era elevado por causa de três fatores; i) gastos em infraestrutura para financiar o desenvolvimento econômico; ii) baixa produtivi- dade dos serviços do governo; e iii) impossibilidade do governo elevar a carga tributária. Dado este quadro o governo optou pela emissão de dinheiro, gerando a típi- ca inflação de demanda. 46 Introdução à Economia II. Entre 1964 – 1973, a inflação não foi debelada, mas perdeu forças. A política de combate caracterizou-se primeiro por um tratamento de choque, por meio de uma rígida política monetária, fiscal e salarial. Num segundo momento (67-73) foi utilizada uma política gradualista, com o combate a inflação por eta- pas planejadas. Dado este quadro, em 1973 o governo optou pela emissão de dinheiro, ge-ão de dinheiro, ge-ge- rando a típica inflação de demanda. III. Entre 1973 – 1994, além dos dois choques do petróleo (1973 e 1979), outros fatores também foram responsáveis pela aceleração do processo infla- cionário, tais como, sucessivos choques agrícolas, elevados gastos públicos com programas de substituição de importações e elevada dívida externa. E, devido ao alto grau de indexação de nossa economia nos defrontamos com a inflação inercial. Para combater o processo inflacionário brasileiro, muitos planos usaram o congelamento de preços (como o plano cruzado, plano Bresser, plano verão e plano Collor). IV. De 1994 até o período atual tivemos a implementação do plano real (que reconhecia que as causas da inflação brasileira estavam no desequilíbrio do setor público e nos mecanismos de indexação). Em sua primeira etapa, tentou-se equilibrar o orçamento público por meio da criação da IPMF e do fundo social de emergência. Já na segunda etapa, hou- ve a mudança da moeda, e a quase total desindexação. Após a reforma monetária inicial, a política de combate à infl ação concen-à infl ação concen- inflação concen- trou-se nas chamadas âncoras monetária e cambial, que permaneceram até ja- neiro de 1999, quando se estabeleceu o regime de câmbio flutuante e o estabe- lecimento de metas inflacionárias. Além do sucesso no combate da inflação, o plano real permitiu uma melhoria do padrão de vida dos trabalhadores de baixa renda, que eram os mais prejudicados com a inflação elevada. Custo do plano real, entrave às exportações brasileiras, déficit persistente da balança comercial e aumento da dependência na obtenção de recursos externos. Na Figura 29 pode-se observar o desenrolar do processo inflacionário brasileiro juntamente com os Presidentes da República que estiveram a frente do país nestes momentos. 47 Introdução à Economia Figura 29 – História da Inflação Brasileira Fonte: IBGE, 2012. A Figura 30 por sua vez demonstra as oscilações na taxa de inflação enfrentadas pelo Brasil em um período de 61 anos (1950 a 2010). Figura 30 – Evolução da Taxa de Inflação Brasileira (1950 – 2010) Fonte: VEJA, 2012. Na figura 30 é possível observar ainda dois picos inflacionários. O primeiro ocorrido no ao de 1989 onde a taxa de inflação acumulada para o mesmo ano foi de 1782,85%. O segundo e, maior pico observado até então, apresentou uma taxa de inflação acumulada de 2708,17% para o ano de 1993. A menor taxa de inflação nestes 51 anos foi verificada no ano de 2009. Neste ano a taxa foi de -1,44%, ou seja, houve uma desinflação da economia. 48 Introdução à Economia As relações econômicas vão muito além dos limites territoriais de um país, pois as economias estão interligadas por uma série de operações econômicas, financeiras e políticas, como importações, exportações, investimentos fora do país, etc. Nos últimos tempos, ficou famoso o termo globalização, que pode ser compreendido como a intensificação das relações econômicas internacionais do ponto de vista comercial, produtivo e financeiro. Por isso em nossa aula de hoje abordaremos o estudo do setor externo está dividido em dois blocos, Teorias de Comércio e Macroeconomia Aberta e se constitui do capítulo 15 do livro texto. 9.1. Fundamentos do comércio internacional Em relação ao primeiro bloco analisaremos os fundamentos do comércio internacional através da teoria das vantagens comparativas e das economias de escala. O princípio das vantagens comparativas é um princípio que sugere que cada país deve se especializar na mercadoria cuja produção é relativamente mais eficiente (ou que tenha um custo relativamente menor). Esta será, portanto, a mercadoria a ser exportada. Da mesma forma, o país importará os bens cuja produção implicar um custo relativamente maior (e que seja relativamente menos eficiente). O princípio da vantagem comparativa explica, portanto, a especialização dos países na produção de bens diferentes, a partir da qual se concretiza o processo de troca entre eles. Com o comércio internacional, é possível ambos os países obterem benefícios. Figura 31 – Quadro Demonstrativo das Vantagens Comparativas entre Inglaterra e Portugal No exemplo apresentado na Figura 31 apesar de Portugal apresentar vantagem absoluta na produção dos dois bens, ele possui uma maior vantagem relativa na produção de vinho. Portanto, a Inglaterra se especializa na produção de tecidos, exportando e importando vinho de Portugal, que por sua vez especializa-se na produção de vinhos. Conclui-se, portanto, que dada certa quantidade de recursos, um país poderá obter ganhos com o comércio internacional, produzindo os bens que gerarem comparativamente mais vantagens relativas, este resultado é válido mesmo se um dos países possuir vantagem absoluta em ambos os bens. 9 Capítulo SETOR EXTERNO 49 Introdução à Economia A teoria desenvolvida por Ricardo fornece uma explicação para os movimentos de mercadorias no comércio internacional, os países especializar- se-iam na produção dos bens em que possuem vantagens comparativas. Neste modelo, a fonte de vantagens comparativas está na produtividade do trabalho ou, em termos mais gerais, na tecnologia de produção. Através das trocas, a teoria das vantagens comparativas, apresenta como resultado a maior variedade dos produtos e menores preços para os consumidores, em ambos os países. Os países possuem moedas diferentes e, portanto deve-se conhecer a relação de trocas entre elas, para isso utilizamos o conceito de taxa de câmbio. Este conceito bem como seus detalhes e da política cambial serão apresentados no item a seguir. 9.2. Taxa de câmbio e política cambial 9.2.1. O Conceito de Taxa de Câmbio Taxa de câmbio é a medida de conversão da moeda nacional em moeda de outros países, pode, portanto, ser definida como o preço da moeda estrangeira (divisa) em termos da moeda nacional. A determinação da taxa de câmbio pode ocorrer por dois métodos, institucionalmente (taxas fixas) ou pelo funcionamento do mercado (taxas flutuantes ou flexíveis). A demanda por divisas decorre das importações e de todas as operações que resultam na saída de moeda estrangeira do país. Já a oferta é decorrente das exportações e das operações que dão entrada de moeda estrangeira no país. Tomando a relação entre real e dólar, define-se taxa de câmbio como a quantidade de reais necessária para a compra de um dólar, quanto a taxa de câmbio se eleva, dizemos que a moedanacional sofreu uma desvalorização, se ocorrer o contrário, dizemos que a moeda nacional sofreu uma valorização. A taxa de câmbio está intimamente ligada com os preços dos produtos exportados e importados e, consequentemente, com o resultado da balança comercial e do balanço de pagamentos de um país. Exemplo: uma desvalorização da moeda nacional estimula exportações, o que gerará maior oferta de divisas no país. Por outro lado, as importações diminuirão, pois o preço do produto importado tornou-se mais caro frente ao nacional, e, portanto se verificará uma queda na demanda por divisas. 9.2.2. Regimes Cambiais Chamamos de regime cambial, o modelo de taxa de câmbio que o país adota. Há três categorias de regime cambial, o regime de taxa de câmbio flutuante, o regime de taxa de câmbio fixa e o de bandas cambiais. No regime de câmbio fixo o Banco Central - BACEN fixa antecipadamente a taxa de câmbio com a qual o mercado deve operar e, portanto, obriga-se a disponibilizar as reservas para o mercado, quando requisitadas. Ele apresenta como vantagem a não ocorrência de instabilidade cambial, e maior facilidade no controle da inflação, e como desvantagem a perda da política monetária como instrumento de política econômica. No regime de câmbio flutuante, a taxa de câmbio é determinada pelo mercado, por meio da oferta e da demanda de moeda estrangeira. Nesse caso, a oferta é suprida pelos exportadores (e pelos que trazem divisas ao país) e a demanda é formada pelos importadores (e todos que necessitam de divisas para enviar ao exterior). Sua principal vantagem é que não há necessidade de intervenção do BACEN, e isso possibilita que a autoridade monetária se utilize de instrumentos de 50 Introdução à Economia política monetária. E sua maior desvantagem: a taxa de câmbio pode se tornar muito volátil, e pode haver impactos sobre a inflação. Na realidade, mesmo com regime de câmbio flutuante, o BACEN interfere indiretamente na determinação da taxa de câmbio - comprando e vendendo divisas - mantendo-a num nível que julgar adequado. Este tipo de regime cambial com interferência indireta do BACEN é comumente chamado de flutuação suja ou dirty floating, e é o regime cambial adotado atualmente pela maioria dos países. Já o regime de bandas cambiais é um sistema intermediário entre os regimes de câmbio fixo e flutuante. Nesse regime, o BACEN determina um parâmetro fixo mínimo e máximo entre os quais a taxa de câmbio pode variar livremente. Nos extremos, o BACEN intervém no sentido de manter a taxa de câmbio dentro da banda cambial estabelecida. 9.2.3. Taxa de Câmbio e Inflação Existe uma relação direta entre taxa de câmbio, importações e exportações, logo, a taxa de câmbio exerce impacto sobre o comércio internacional e a inflação. Quando ocorre uma valorização da moeda nacional, o preço dos bens importados tende a cair, aumentando seu consumo, assim como a competição entre produtos importados e nacionais, isso permite que os preços internos se “ancorem”, reduzindo a taxa de câmbio. Essa prática pode ser denominada como âncora cambial, e foi um instrumento bem-sucedido aplicado no Brasil após a implementação do Plano Real e vigorou até o início de 1999. Outro efeito positivo da valorização cambial foi a elevação dos índices de produtividade, devido aos incentivos à modernização do parque produtivo nacional. Uma desvantagem da valorização cambial é que os setores nacionais que estiverem despreparados para a competição externa podem sofrer queda de vendas o que gera desemprego. Os exportadores são prejudicados, pois os produtos nacionais ficam relativamente mais caros. Com isso, gera-se uma tendência ao déficit da balança comercial, com saída de divisas do país. No caso da desvalorização cambial, temos o efeito contrário, produtos importados ficam mais caros em termos reais, diminuem-se as importações de muitos produtos, embora a importação de produtos essenciais permaneça com preço maior. Dado que isso ocorre, teremos um aumento do preço desses bens, elevando o custo de produção, que serão repassados aos preços dos produtos finais. 9.3. Políticas comerciais A atuação do governo na área externa pode ocorrer por meio da política cambial ou da política comercial. A política cambial diz respeito a alterações na taxa de câmbio. Já a política comercial compõe-se de mecanismos que interferem no fluxo de mercadorias entre residentes e não residentes de um país. Entre as políticas comerciais, destacam-se tarifas de importação, cotas de importação e subsídios às exportações. 9.4. Estrutura do Balanço de Pagamentos O Balanço de Pagamentos – BP é o registro estatístico-contábil de todas as transações econômicas realizadas entre os residentes do país com os residentes dos demais países (exportações, importações, frete, seguros, empréstimos, etc.). 51 Introdução à Economia A contabilidade dessas transações segue as normas da contabilidade geral, utilizando os métodos das partidas dobradas. Nas transações que originam entrada de recursos, realiza-se o lançamento em crédito (sinal positivo), e nas transações que originam a saída de recursos, realiza-se o lançamento em débito (com sinal negativo). Este procedimento não é utilizado na conta Caixa. A conta Caixa também é conhecida como Variação de reservas ou Haveres e obrigações no exterior. Nesta conta, destacam-se três tipos de transações: a com Divisas (moeda estrangeira), com Ouro monetário (no comércio internacional, é aceito como meio de pagamento) e através dos Direitos Especiais de Saque (DES). O Balanço de pagamentos divide-se conforme demonstrado na Figura 32. Figura 32 – Balanço de Pagamentos A Balança comercial que compreende o comércio de mercadorias; a Balança de Serviços e rendas onde registram-se todos os serviços pagos e, ou recebidos pelo Brasil, tais como fretes, seguros, lucros, etc. Registra, portanto, os serviços de fatores; e as Transferências Unilaterais Correntes: e que é conhecida como 52 Introdução à Economia conta de donativos, registrando as doações interpaíses; O Balanço de Transações Correntes: o somatório dos balanços comercial, de serviços e de transferências unilaterais. Se o saldo for negativo, há poupança externa positiva; se o saldo for positivo, há poupança externa negativa. A Conta capital e financeira: nesta conta aparecem as transações que produzem variações no ativo e no passivo externos do país e que, portanto, modificam sua posição devedora ou credora com o resto do mundo. Cabe observar que há ainda a conta erros e omissões, que é a diferença entre o saldo do balanço de pagamentos e o financiamento do resultado que surge quando se tenta compatibilizar transações físicas e financeiras e as várias fontes de informações. 9.5. Organismos internacionais Existem diversos organismos internacionais que atuam na promoção e dinamização do sistema econômico mundial, dos quais podem ser destacados o Sistema Monetário Internacional – SMI, o Fundo Monetário Internacional – FMI, Banco Mundial (BIRD) e a Organização Mundial do Comércio - OMC. O Sistema Monetário Internacional foi criado com o objetivo de viabilizar as transações entre os países, estabelecendo regras e convenções que regulassem as relações monetárias e financeiras e não gerassem entraves ao desenvolvimento mundial. Conferência de Bretton Woods (1944) - Foi onde surgiram propostas de remodelagem do sistema monetário internacional, nascendo um sistema monetário internacional que foi extremamente importante para o reflorescimento do comércio mundial e sobre o qual se baseou o crescimento econômico do pós-guerra. Foi nesse contexto que se criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. O FMI surgiu inicialmente com dois objetivos: i)o de evitar possíveis instabilidades cambiais e garantir estabilidade financeira; e ii) socorrer países associados a ele na ocorrência de desequilíbrios transitórios em seus balanços de pagamentos.Já o Banco Mundial também conhecido como Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), foi criado com o intuito de auxiliar a reconstrução dos países devastados pela guerra e promover o crescimento dos países em desenvolvimento. Alguns anos após a Conferência de Bretton Woods foi criado o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), cujo objetivo básico foi a busca da redução das restrições ao comércio internacional e a liberalização do comércio multilateral. A partir de 1994, o GATT transformou-se na Organização Mundial do Comércio (OMC). 53 Introdução à Economia EXERCÍCIOS 01- Discuta a seguinte afirmação: nem sempre há perda de bem-estar para a nação que adota uma política tarifária sobre a importação. 02- Por que as tarifas são preferíveis às barreiras quantitativas sobre importação? 03- Por que as barreiras protecionistas dos países desenvolvidos dificultam, para os países pobres, as exportações de produtos de maior valor adicionado? 04- Suponha que a oferta e demanda de um bem A sejam dadas pelas seguintes funções, considerando o livre comércio: Sa = -200 + 80 Pa Da = 1600 –100 Pa a. Se o preço internacional de A fosse US$ 6,00 por unidade. Quais seriam o consumo e a produção do país A? Qual seria a importação, caso haja? b. Determine a produção, consumo, importação e receita do governo após imposição de tarifa ad valorem de 25%. 54 Introdução à Economia Estudar a moeda é uma atividade que tem fascinado os homens desde a antiguidade. Nossa sociedade é inconcebível sem a moeda, pois seu papel informacional e eliminador de incertezas é um elemento-chave no mundo atual. Além disso, a moeda é o principal insumo e produto de bancos e demais instituições financeiras, incluindo o banco central. Assim, a tarefa deste capítulo é apresentar um quadro geral sobre a moeda, destacando sua evolução histórica, suas características, suas funções e definições no Brasil, sua oferta e demanda e seu uso na política monetária. 10.1. Evolução Histórica da Moeda A moeda acompanha o homem desde os primórdios da civilização. Sua evolução pode ser vista através de estágios, sendo que cada estágio caracteriza- se por ser mais eficiente que o anterior. O primeiro estágio, chamado de Pré-economia monetária ou escambo, onde as relações de troca eram esparsas e esporádicas, assim como a noção de propriedade individual que ainda é vaga. Porém, à medida que as trocas aumentam, surge a necessidade de uma eficiência maior, que se traduz na criação de unidades de medidas, padronização de contratos e formas de moeda mais evoluídas que a simples troca de mercadoria por mercadoria. 2º Estágio - O da moeda mercadoria Quando há o surgimento das primeiras formas de moeda fazendo com que as trocas passassem a ser indiretas. as primeiras formas de moeda surgem como mercadorias de aceitação geral, como por exemplo gado, ossos, sal, etc. 3º Estágio - O da moeda simbólica Surgem as moedas feitas com metais preciosos, que suprem muitas das propriedades que faltavam às anteriores. A moeda cunhada tem a vantagem de ser aceita sem contestação / e tem circulação forçada pela lei / isto é / a moeda de curso legal, ou seja, é uma criação institucional. 4º Estágio - O da moeda escritural O surgimento da moeda escritural originou / de certa forma / os sistemas financeiros modernos. Quando o ouro e a prata passaram a ser utilizados como moeda / era comum que fossem depositados em cofres de ourives // estes / por sua vez / emitiam um certificado aos proprietários / atestando a guarda de determinada quantidade de metal precioso. Estes certificados eram transacionados como meio de troca. Com o tempo, os ourives notaram que era impossível que todos os depositantes viessem de uma vez só para retirar todo o outro depositado. Assim, começaram a emprestar o ouro que ficava ocioso, por meio de novos certificados, a uma taxa de juros suficiente para compensar os riscos. 5º Estágio - O da moeda sofisticada Atualmente, a concorrência, a tecnologia e a globalização impuseram um novo dinamismo à economia e à moeda. Hoje, a maioria das transações monetárias ocorre eletronicamente, sendo difícil definir, portanto, moeda. 10Capítulo MOEDAS E BANCOS 55 Introdução à Economia 10.2. Características da Moeda Quase todas as moedas nacionais são fiduciárias, ou seja, circulam por força da legislação de cada país. É aceito como moeda o instrumento que cumpra três funções a de meio de troca a de unidade de conta (os ativos das pessoas, firmas, ou governo são denominados em moeda, possibilitando comparações) e a de reserva de valor (possibilita que os consumidores optem pelo consumo presente ou futuro). 10.3. Definições de moeda no Brasil: os agregados monetários Papel-moeda emitido corresponde à quantidade de papel-moeda que o BACEN emite e coloca em circulação. Parte deste papel-moeda emitido vai para o caixa dos bancos e a outra parte constitui o papel-moeda em circulação. Parte do papel moeda em circulação está em poder dos bancos, constituindo seus encaixes para fazer frente às ordens de saque de seus correntistas. O restante está em poder do público. Assim: PMPP = PMC – PMPB Onde PMPP = papel-moeda em poder do público; PMC = papel-moeda em circulação; PMPB = papel-moeda em poder dos bancos. O conceito mais estrito de moeda é a base monetária, que é igual ao papel- moeda emitido mais as reservas dos bancos no banco central. A base monetária é o passivo monetário do BACEN. Assim: BM = PME + RESERVAS DOS BANCOS NO BACEN Onde: BM = base monetária e PME = papel-moeda emitido. Os conceitos menos estritos de moeda são os chamados meios de pagamento expressos pela letra m e por um número. Assim M1 é mais restrito que M2 e assim por diante. Não há uma norma rígida para distingui-los e em geral suas definições estão associadas à liquidez que é a capacidade de os diversos ativos transformarem-se em moeda no seu sentido mais comum: papel-moeda e moeda escritural. Assim: M1 = papel-moeda em poder do público + depósito à vista nos bancos (agregado de liquidez imediata). M2 = M1 + depósitos de poupança + títulos privados>>> M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações compromissadas com títulos federais >>> M4 = M3 + títulos federais, estaduais e municipais em poder do público Portanto, M2 + M3 + M4 = Quase-Moeda. 10.4. Oferta de Moeda A oferta de moeda refere-se ao modo como a moeda é criada. o banco central do Brasil tem monopólio na emissão primária de moeda, mas os bancos também participam do processo. As reservas bancárias correspondem ao papel-moeda emitido pelo BACEN e depositado em contas dos bancos no banco central. 56 Introdução à Economia A relação entre os empréstimos ofertados pelos bancos e a base monetária chama-se multiplicador monetário ou multiplicador da base monetária, e indica quanto da moeda primária criada pelo banco central é transformada em empréstimos pelo sistema bancário. 10.4.1. Criação ou Destruição de Moeda A criação de moeda refere-se ao aumento do volume de meios de pagamento. Ex.: através do aumento dos empréstimos ao setor privado. Já a destruição de moeda refere-se à diminuição do volume de meios de pagamento. Ex.: através do resgate de um empréstimo no banco ou da retirada de um depósito à vista pelo depositante e colocação em um depósito a prazo. Há operações que não criam nem destroem meios de pagamento. É o que ocorre nos casos onde houve simplesmente uma transferência de depósitos à vista (moeda escritural) para moeda em poder do público (moeda manual). Ex.: o saque de um cheque no balcão de um banco. 10.4.2 Instrumentos de política monetária O objetivo do BACEN é controlar o total de moeda na economia, sua ação busca alterar o multiplicador monetário, exigindo depósitos compulsórios dos bancos (reservas compulsórias), comprando e vendendo moeda e fazendo empréstimos aos bancos. As atividades de compra e venda de moedas são feitas com venda e compra de títulos echamam-se operações de mercado aberto (ou operações de open market). Já o empréstimo do BACEN aos bancos comerciais é chamado de redesconto. 10.5. Demanda por Moeda A demanda de moeda refere-se à quantidade de moeda que o setor privado não bancário retém. Existem duas razões básicas para se deter moeda: I. A demanda de moeda para transação, as pessoas precisam de dinheiro para suas transações do dia-a-dia. Além disso, o público e as empresas precisam ter certa reserva monetária para pagamentos imprevistos (demanda de moeda por precaução). II. A demanda de moeda por especulação, dentro de sua carteira de apli- cações, os investidores deixam uma parte em moeda, observando o comporta- mento da rentabilidade de vários títulos para fazer algum novo negócio. 10.6. A teoria quantitativa da moeda: relação entre moeda, pre- ços e renda nacional. A teoria quantitativa da moeda é a expressão que mostra de forma simples a relação entre oferta e demanda de moeda, e que também permite verificar a relação entre o lado monetário e o lado real da economia. Segundo ela MV = PT Onde: M = quantidade total de moeda, V = velocidade de transações, P = nível geral de preços e T = total de transações. O lado esquerdo da equação (MV) é explicado a partir do fato de que a quantidade de moeda na economia depende da velocidade com que ela circula. O lado direito da equação (PT) mostra que o valor total das transações será igual à quantidade de bens e serviços produzida, vezes o preço dos bens e 57 Introdução à Economia serviços transacionados no período. Na versão mais atualizada, o lado direito da equação é expresso em termos da renda ou produto nacional, ou seja: MV = PY Sendo PY o produto nacional corrente ou nominal. 10.7. Intermediários Financeiros A obtenção de recursos de terceiros é importante, já que permite transferência ou transformação de determinados riscos. O setor financeiro realiza as atividades de intermediário financeiro, emprestando recursos, em razão de sua especialização, economias de escala e vantagens regulamentárias. Dessa forma, o setor financeiro é responsável por intermediar recursos entre unidades deficitárias e superavitárias e transformar e repassar alguns riscos existentes. 10.8. Política Monetária O setor financeiro serve como um canal para a política monetária, pois o BACEN tem o monopólio da emissão de moeda e, por operações e restrições no mercado financeiro, pode alterar seu equilíbrio. O banco central, para exercer sua política monetária, usa três tipos de instrumentos. A reserva compulsória (é a obrigação de os bancos depositarem uma parte dos depósitos do público no BACEN). O redesconto (conta da qual os bancos tomam dinheiro emprestado no BACEN). O mercado aberto (compras e vendas de títulos do governo no mercado). 58 Introdução à Economia Neste capítulo estudaremos o crescimento e o desenvolvimento econômico. Trataremos basicamente de seus determinantes, suas consequências e influências na formulação de políticas públicas. 11.1. Produção e Crescimento Econômico O padrão de vida de um país depende da sua capacidade de produzir bens e serviços e dentro de um mesmo país existem grandes mudanças no padrão de vida de sua população ao longo do tempo. A capacidade produtiva está relacionada à produtividade. A produtividade refere-se a quantidade de bens e serviços que um trabalhador pode produzir a cada hora de trabalho. E o padrão de vida do país é determinado pela produtividade de seus trabalhadores. O padrão de vida, medido pelo PIB Real per capita, varia significativamente entre os países. Quadro 3 – Variedades de Experiências de Crescimento. Fonte: Vasconcelos e Pinho, 2006. Os países mais pobres, por exemplo, têm níveis de renda média que não são vistos nos EUA há muitas décadas. O Quadro 3 exemplifica a variedade de padrões de crescimento de vários países em diferentes períodos. Vemos que enquanto os EUA apresentava um produto per capita de US$ 3.347 em 1870 (menor que o da Inglaterra nessa mesma época), em 2000 esse valor salta para US$34.260 (bem superior ao inglês). Isto se deve à sua taxa anual de crescimento nesses 130 anos de 1,81% (maior que a da Inglaterra, de 1,35% a.a.). Notem que taxas de crescimento anual que parecem pequenas tornam-se grandes quando contabilizadas para muitos anos. Por outro lado, o nível de produto per capita americano, que no começo do século XX era aproximadamente cinco vezes superior ao do Paquistão aumentou para 17,5 vezes em 2000. 11Capítulo DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 59 Introdução à Economia 11.2. Produtividade: seu papel e seus determinantes As diferenças de produtividades tem um papel chave na determinação dos diferentes padrões de vida em cada país do mundo. A produtividade, como vimos, refere-se ao montante de bens e serviços que um trabalhador pode produzir em cada hora de trabalho. Para compreender as grandes diferenças nos padrões de vida entre os países devemos focar na produção de bens e serviços. 11.3. Como é determinada a produtividade Vimos que os insumos usados na produção de bens e serviços são chamados de fatores de produção. Esses fatores de produção determinam diretamente a produtividade. Pois, podemos determinar a produtividade de cada fator de produção dividindo a produção obtida pela quantidade do fator utilizada no processo produtivo. E essa produtividade difere entre países determinando diferentes taxas de crescimento. 11.4. Crescimento Econômico e Políticas Públicas O governo pode tomar muitas medidas para aumentar a produtividade e o padrão de vida. Através de políticas governamentais que aumentam a produtividade e o padrão de vida: as principais são: incentivo à poupança e investimento; incentivo ao investimento estrangeiro; incentivo à educação e treinamento; estabelecer proteção dos direitos de propriedade e manter a estabilidade política e promover pesquisa e desenvolvimento. O incentivo à poupança e ao investimento são importantes porque no longo prazo, uma taxa de poupança elevada aumenta o nível de produtividade e renda. Já ao incentivar o investimento estrangeiro os governos podem aumentar a acumulação de capital e crescimento econômico de longo prazo usando recursos que não dispõe internamente. Para um crescimento de longo prazo de um país, a educação é tão importante quanto investimento em capital físico; portanto, uma maneira pela qual o governo pode elevar o padrão de vida é fornecer escolas e incentivar a população a estudar. uma pessoa instruída pode gerar novas ideias para melhor produzir bens e serviços, que por sua vez, pode fazer parte do conhecimento da sociedade e proporcionar uma externalidade positiva para todos. O respeito da economia como um todo aos direitos de propriedade é um pré-requisito importante para o sistema de preços funcionar é necessário que os investidores sintam que seus investimentos estão seguros. Pesquisa e desenvolvimento: o governo pode incentivar o desenvolvimento de novas tecnologias através de subsídios de pesquisa, deduções tributárias e sistema de patentes. Em suma, o governo pode através de políticas públicas adequadas incentivar o processo de crescimento econômico do país. Crescimento Econômico: refere-se ao crescimento do produto da eco- nomia, em certo período de tempo. Desenvolvimento Econômico: refere-se ao crescimento do produto per capita dessa economia ao longo do tempo. 60 Introdução à Economia 11.5. Desenvolvimento Econômico A prosperidade econômica, como medida pelo PIB per capita, varia substancialmente no mundo. A renda média dos países mais ricos é mais de dez vezes a dos países mais pobres. O padrão de vida de uma economia depende da capacidade da economia para produzir bens e serviços. A produtividade, por sua vez, depende da quantidade de capital físico, capital humano, recursos naturais e conhecimento tecnológico disponível para os trabalhadores. E as políticas governamentais podem influir nataxa de crescimento de um país. 11.6. Desenvolvimento Sustentável. Atualmente, o conceito de desenvolvimento econômico passou a absorver preocupações ambientais e de equidade intra e inter gerações, evoluindo para um conceito de desenvolvimento sustentável que seria aquele capaz de satisfazer as necessidades da geração presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprirem suas próprias necessidades. 61 Introdução à Economia REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Disponível em: . Acesso em 15 fev. 2012. FONSECA, I. S.; GOMES, M. F. M. Construção e Uso de Índices de Preços. ed.2. Cadernos Didáticos, n.11. Viçosa: UFV, 2003. 39p. VASCONCELLOS, Marco Antonio S.; PINHO, Diva Benevides (Org). Manual de Introdução à Economia. São Paulo: Saraiva, 2006. 397p. VEJA. Disponível em:. Acesso em: 15 fev. 2012. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. São Paulo: Prentice Hall, 2010. 5ª ed. CARVALHO, F. J. C.; SOUZA, F. E. P.; SICSÚ, J. PAULA. L. F. R.; STUDART, R. Economia Monetária e Financeira – teoria e política. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 385p. JONES, C. I. Introdução à Teoria do Crescimento Econômico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000. 178p. LEFTWICH, R. H. O sistema de preços e a alocação de recursos. 8ª Ed. São Paulo: Pioneira: 1997. 452p. O’SULLIVAN, A.; SHEFFRIN, S. M.; NISHIJIMA, M.. Introdução à Economia -princípios e ferramentas. São Paulo: 2004. 471p. PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 6ª Ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall. 2006. VARIAN, H. Microeconomia – princípios básicos – uma abordagem moderna. 6ª Ed. Campus. 2006. VASCONCELLOS, M. A.; LOPES, L. M. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e intermediário. São Paulo: Atlas, 2000. 2ª ed. VICECONTI, P. E. V.; NEVES, S. Introdução à Economia. 4ª Ed. São Paulo: Frase, 2000. 520p. WESSELS, W. Microeconomia – teoria e aplicações. São Paulo: Saraiva. 2002.resolvidas por um órgão central de planejamento, a propriedade dos fatores ou meios de produção é pública. Já no Sistema Capitalista ou Economia De Mercado, o funcionamento da economia é regido pelas forças do mercado. A propriedade dos fatores é privada, esse sistema econômico é predominante no mundo atual. 1.3 Funcionamento de uma economia de mercado – fluxos reais e monetários Figura 3 – Fluxo Circular de Renda Numa economia simplificada, fechada e sem governo existem dois agentes econômicos: as famílias (consumidoras de bens e serviços) e as empresas (que produzem esses bens e serviços). Existem dois mercados distintos: o de bens e serviços (parte superior do fluxograma) e o de fatores de produção (representado na parte inferior). Ocorrem nesses dois mercados, dois fluxos: um real (de bens, serviços e fatores de produção) e outro monetário (dinheiro). No mercado de bens e serviços, as famílias representam os consumidores de bens e serviços, isto é representam o lado da demanda de mercado por eles. Por outro lado as empresas representam os produtores ou vendedores, isto é o lado da oferta de bens e serviços. Em outras palavras, as famílias demandam no mercado, bens e serviços 9 Introdução à Economia ofertados pelas empresas (fluxo real) pagando a essas empresas por eles (fluxo monetário). No mercado de bens e serviços, através de suas demandas, as famílias incorrem em seu custo de vida, em contrapartida as empresas obtém suas receitas através da venda desses bens e serviços. Já no mercado de fatores de produção, as famílias representam o lado da oferta, pois são as proprietárias desses recursos, enquanto as empresas representam o lado da demanda. Ou seja, as famílias ofertam às empresas os fatores de produção que estas utilizarão nos seus processos produtivos. As empresas demandam os fatores (terra, trabalho e capital – fluxo real) e remuneram as famílias por eles (fluxo monetário). Dessa forma, no mercado de fatores as famílias obtêm suas rendas, enquanto as empresas incorrem em seus custos de produção. Em cada um dos mercados, portanto, sempre haverá alguém demandando e alguém ofertando, desse encontro determinam-se os preços de cada bem, cada serviço e cada fator de produção, em seus respectivos mercados. Falta-nos agora definir o que são bens, serviços e fatores de produção: 1.3.1 Definição de Bens de Capital, Bens de Consumo, Bens Intermedi- ários e Fatores de Produção. Bens de Capital são aqueles bens que são usados na fabricação de outros bens, mas que não se desgastam totalmente no processo produtivo. Por ex.: máquinas, equipamentos e instalações. Bens de Consumo são aqueles destinados ao atendimento das necessidades humanas e podem ser classificados como duráveis (por ex.: geladeiras, TV, automóveis) e não duráveis como os alimentos, produtos de limpeza, etc. Bens Intermediários são aqueles que são transformados ou agregados na produção de outros bens e que são totalmente consumidos no processo produtivo, como as matérias-primas, os insumos e componentes de um produto. 1.4 Fatores de Produção Os fatores de produção ou insumos produtivos são os recursos usados para produzir bens e serviços como, os recursos naturais o trabalho, o capital físico, o capital humano e o capital empresarial. Os recursos naturais são os fatores criados pela ação da natureza e que são usados no processo produtivo como a terra, água, depósitos minerais, reservas de petróleo e gás. Esses recursos podem ser renováveis e não renováveis. O trabalho refere-se ao esforço humano, físico e mental, usado para produzir bens e serviços. O capital físico é composto por bens capazes de produzir ou auxiliar a produção de outros bens e serviços, (são os bens de capital aos quais nos referimos anteriormente). O capital humano consiste no conhecimento e nas habilidades adquiridas por um trabalhador por meio da educação e da experiência. E o capital empresarial refere-se ao esforço usado par coordenar a produção e a venda dos bens e serviços. Os empresários assumem riscos e comprometem seu tempo e seu dinheiro em seus negócios. 1.5. Divisão dos Estudos Econômicos Finalizando esta unidade, vamos apresentar a divisão do estudo na ciência econômica. Ele pode ser dividido em: 10 Introdução à Economia Figura 4 – Principais Ramos da Teoria Econômica Estes ramos da ciência econômica têm objetivos de estudo distintos. A microeconomia é também conhecida como teoria do preço, pois ela estuda a formação dos preços em cada mercado específico, isto é, ela examina como consumidores e vendedores se interagem no mercado determinando os preços e as quantidades a serem transacionadas. Toda atividade econômica é microeconômica. Já a macroeconomia estuda a determinação e o comportamento dos grandes agregados nacionais, como o produto interno bruto (PIB), o investimento agregado, a poupança agregada, o nível geral de preços (inflação), entre outros. Podemos também considerar a economia internacional e o desenvolvimento econômico. A economia internacional analisa as relações econômicas entre residentes e não residentes de um país, as quais envolvem transações com bem e serviços e transações financeiras, enquanto o desenvolvimento econômico preocupa-se com a melhoria do padrão de vida da sociedade ao longo do tempo. 11 Introdução à Economia Vimos anteriormente que o estudo da economia divide-se em microeconomia e macroeconomia. A partir de agora iniciaremos o estudo da microeconomia ou teoria do preço. Para isso precisaremos entender o funcionamento do mercado, que corresponde ao capítulo 4 de nosso livro texto. Atualmente muito se fala sobre o mercado, que o mercado determina isso ou aquilo, que o mercado não permite que um governo tome uma ou outra medida, etc. Nesse contexto, o que buscamos entender. 2.1. O que é o mercado? Como ele funciona? Mercado é o conjunto de pontos de contato entre vendedores de um bem ou prestadores de serviços e os potenciais compradores desse bem ou usuários de tal serviço, de modo a serem estabelecidas as condições contratais de venda e compra ou a prestação e uso do serviço, bem como concretizados os negócios resultantes do acordo. Este conceito comporta qualquer tipo de intercâmbio (troca direta ou indireta), possibilidade de descontinuidade territorial, negociações voluntárias, diferentes estágios do processo de transação (atacado e varejo) e não exigência da presença explícita das pares envolvidas no processo (globalização). O mercado funciona a partir das forças de demanda e de oferta dos bens e serviços. Iniciaremos estudando a teoria elementar da demanda. 2.2. Teoria Elementar da demanda A demanda individual representa a quantidade de determinado bem ou serviço que o consumidor deseja adquirir e um fluxo por unidade de tempo. Por ex. o consumidor deseja comprar duas unidades do bem por semana. Consumidor é o agente que demanda bens e serviços no mercado e a teoria da demanda é derivada de hipóteses sobre a escolha do consumidor entre os diversos bens e serviços que seu orçamento permite adquirir. Ou seja, dado seu nível de renda o consumidor procurará distribuir seu orçamento (renda) entre os bens e serviços de forma a alcançar a melhor combinação possível, isto é aquela que lhe trará maior nível de satisfação. Os principais determinantes da demanda individual são o preço do bem ou serviço, os preços dos outros bens, o gosto ou preferência do consumidor e sua renda. A demanda de um bem ou serviço pode ser expressa matematicamente por: Dx = f(Px, P1, P2, ..., Pn-1, R, G) Onde: Dx representa a quantidade demandada do bem x; Px o preço desse bem, Pi os preços dos outros bens 1, 2, ... n; G é o gosto do consumidor e R sua renda. Dizemos que a função demanda é a relação que descreve as interconexões entre as variáveis que influenciam a demanda do consumidor por bens e serviços. Para estudarmos a influência da cada fator sobre a demanda é necessário fazer uma simplificação,que consiste em considerar cada efeito de cada variável separadamente, fazendo a hipótese de que tudo o mais permaneça constante. Essa hipótese é também conhecida como ceteris paribus. FUNCIONAMENTO DO MERCADO PARTE I 2Capítulo 12 Introdução à Economia Assim, considerando que a quantidade demandada de um bem x depende apenas de seu preço, temos que: Com tudo o mais permanecendo constante ou ceteris paribus. Isto é, verificamos como a quantidade demandada de um bem varia quando seu preço varia, mantendo inalterados os preços dos outros bens, o gosto e a renda do consumidor. Podemos verificar que, normalmente existe uma relação inversa entre o preço de um bem e sua demanda. Isto é, se o preço de um bem x aumenta a quantidade demandada dele diminui e vice-versa. Isto acontece, pois, quando o preço do bem cai ela fica mais barato em relação a seus concorrentes e, portanto os consumidores deverão aumentar seu desejo de comprá-lo. Além disso, a redução do preço torna o consumidor mais rico em termos reais e aumenta sua demanda. O inverso é verdadeiro. A isso denominamos lei da demanda: “a quantidade que se deseja comprar de um bem, por período de tempo será tanto maior, quanto menor for seu preço, ceteris paribus”. Podemos assim representar a curva de demanda de um consumidor por um bem no mercado: Figura 5 – Curva de Demanda do Bem X A curva de demanda mostra a relação entre o preço do bem e a quantidade desse mesmo bem, que o consumidor está disposto a adquirir no mercado. Em certo período de tempo, ceteris paribus. Cada ponto na curva de demanda representa uma combinação de preço e quantidade demandada, e, portanto, a curva de demanda nos dá o conjunto de todas as combinações possíveis entre preços e quantidades. Partindo de um ponto para melhor compreender esta afirmação temos que a um preço inicial (P0) tem-se uma quantidade inicial (Q0). Caso haja aumento do preço do bem X, passando agora para P1, a quantidade demandada deste bem se deslocará de Q0 para Q1 sendo Q1Q0 e Q2>Q1. Dizemos que, quando o preço do bem X muda, ocorre uma mudança ao longo da curva de demanda, ou seja, na curva de demanda. Porém, se ocorrer uma mudança em quaisquer uma das outras variáveis que afetam a demanda, o que ocorre é um deslocamento da curva de demanda de X. 13 Introdução à Economia Por exemplo, vamos examinar as relações entre a demanda de um bem X com os preços de outros bens. Um aumento no preço de um bem Y poderá aumentar ou reduzir a demanda do bem X, a reação depende do tipo de relação existente entre os bens X e Y, essas relações podem ser de substituição ou de complementaridade. Assim, X e Y serão substitutos se o aumento do preço do bem Y aumentar a demanda do bem X ex.: sucos versus refrigerantes. Graficamente existem duas formas de representação dessa relação: Figura 6 – Gráficos de Bens Substitutos No gráfico1 temos a forma direta, onde em um eixo representamos o preço de Y (suco) e no outro a demanda de X (refrigerante). No gráfico 2 temos representado esse efeito pelo deslocamento da curva de demanda de X. Notem que nos eixos representamos Px e Qx e, portanto o efeito de um aumento em PY (não representado) desloca a curva de demanda como um todo. Dizemos então que houve um deslocamento da demanda. Quando PY aumenta a curva de demanda de X desloca-se para cima ou para a direita e quando PY diminui a curva desloca-se para baixo ou para a esquerda. Outra relação possível entre X e Y é a de complementaridade. Ela ocorre quando a redução do preço do bem Y ocasionar um aumento da demanda de X. Nesse caso os bens X e Y são chamados de complementares. Um exemplo hipotético entre café(Y) e açúcar (X) pode ser observado na Figura 7. Uma redução no preço do cafezinho faz as pessoas demandarem mais desse produto e como café e açúcar são usados juntos, quanto mais café mais açúcar. 14 Introdução à Economia Figura 7 - Gráficos de Bens Complementares Portanto bens complementares são aqueles que são consumidos conjuntamente. Graficamente também podemos representar essa relação de duas formas: a direta, que relaciona PY (preço do café) e QX (demanda de açúcar) e pelo deslocamento da curva de demanda de X (gráficos 1 e 2, respectivamente). Note que, quando o preço do café (PY) aumenta a curva de demanda de X desloca-se para baixo ou para a esquerda e vice-versa. De maneira análoga, podemos relacionar a demanda de X com todas as demais variáveis que a afetam, como a renda do consumidor por exemplo. Normalmente existe uma relação direta entre a renda e a demanda por um bem e serviço. A esses bens denominamos bens normais. Porém, se a renda do consumidor aumentar e sua demanda por um bem diminuir, dizemos que esse bem é inferior. Graficamente essas relações implicam em deslocamentos da demanda de X, por exemplo, um aumento na renda provoca um deslocamento para cima da curva de demanda de um bem normal. Figura 8 – Deslocamento da curva de demanda, dado um aumento da renda do consumidor. Vimos até aqui a demanda de um consumidor individual por um bem ou serviço. A demanda de mercado desse bem ou serviço vai depender do número de consumidores existentes nesse mercado. Pois, a curva de demanda de mercado é a soma das demandas individuais, em 15 Introdução à Economia termos rigorosos, dizemos que a curva de demanda de mercado é o somatório horizontal das curvas de demanda dos indivíduos que compõem esse mercado, na próxima aula analisaremos o outro lado do mercado, o lado da oferta. 16 Introdução à Economia 3.1 Teoria Elementar da oferta A oferta refere-se à quantidade de determinado bem ou serviço, que os produtores desejam vender, por unidade de tempo. A oferta possui dois elementos principais, o desejo de vender (pelo agente econômico chamado de produtor ou vendedor) e representa um fluxo por unidade de tempo. Por exemplo: desejo vender 200 unidades por mês. As principais variáveis que afetam a oferta de um bem são: O preço do próprio bem; Os preços dos fatores de produção (necessários para obter o bem); Os preços dos demais bens produzidos; A tecnologia de produção; E os impostos ou subsídios incidentes sobre o bem. Matematicamente podemos representar a oferta de um bem como a relação entre a quantidade ofertada desse bem por unidade de tempo (OX) e todas as variáveis que a influenciam. Onde: Ox é a quantidade ofertada do bem X; Px é seu preço; Pi representa os preços dos outros bens; πi representa os preços dos fatores de produção; T é a tecnologia; são os impostos ou subsídios. Podemos representar graficamente a curva de oferta do bem X. Onde OX depende de PX, ceteris paribus, ou seja, todas as demais variáveis estão mantidas constantes. Note que a curva é positivamente inclinada mostrando que quanto maior for o preço mais do bem o produtor desejará oferecer. Figura 9 – Curva de Oferta do Bem X De modo análogo à demanda, variações em PX causam mudanças em OX, ao longo da curva já existente, enquanto que, mudanças em qualquer outra 3 Capítulo FUNCIONAMENTO DO MERCADO – PARTE II 17 Introdução à Economia variável, ceteris paribus, provoca deslocamentos da curva de oferta como um todo. Agora que já conhecemos as duas forças do mercado (demanda e oferta) vamos analisar o equilíbrio de mercado. 3.2 Equilíbrio de Mercado O preço de mercado (ou preço de equilíbrio) é determinado conjuntamente pela demanda e pela oferta. Graficamente, o preço e a quantidade de equilíbrio correspondem ao ponto de interseção das duas curvas. Figura 10 – Relação de Equilíbrio do Bem X Nesse ponto, a quantidade que os consumidores desejam comprar é exatamente igual à quantidade que os produtores desejam vender. Para qualquer preço superior ao preço de equilíbrio, a quantidade que os produtores desejam vender é maior que a quantidade que os consumidores desejamcomprar, ou seja, ocorre excesso de oferta dobem no mercado e o preço precisa cair para acabar com esse excedente. Por outro lado, para qualquer preço inferior ao de equilíbrio, a quantidade que os ofertantes desejam vender é menor que a que os consumidores desejam comprar, ou seja, ocorre excesso de demanda do bem no mercado e o preço deve subir para acabar com essa escassez. Vimos então que qualquer movimento que afaste o equilíbrio coloca em ação as forças do mercado, que provocam um movimento de retorno ao equilíbrio. Porém, esse ponto de equilíbrio pode mudar e essa mudança será devida a deslocamentos das curvas de demanda e de oferta. Isto é, deslocamentos das curvas de demanda e/ou de oferta geram novos pontos de equilíbrio no mercado. Esse gráfico nos mostra que um aumento da demanda, ceteris paribus, provoca um aumento no preço e na quantidade de equilíbrio. 18 Introdução à Economia Figura 11 – Mudanças no ponto de equilíbrio devido a deslocamentos da curva de Demanda Por exemplo, um aumento da renda real (aumento do poder aquisitivo) eleva a demanda do bem X de DD para D’D’ (que se deslocou para a direita), mantida a oferta constante isto causa aumentos em Pe e Qe. Por outro lado, um aumento da oferta, ceteris paribus, provoca uma redução do preço e um aumento da quantidade de equilíbrio. Por exemplo, uma redução no preço das matérias-primas gera um deslocamento da curva de oferta do bem para a direita (de OO para O’O’) estabelecendo um novo preço de equilíbrio menor e uma quantidade transacionada maior, conforme demonstrado na Figura 12. Figura 12 – Mudanças no ponto de equilíbrio devido a deslocamentos da curva de Oferta. Se ambas - oferta e demanda de mercado - aumentarem, a quantidade de equilíbrio aumentará, porém o preço pode aumentar (1), diminuir (3) ou permanecer inalterado (2), dependendo das variações relativas da oferta e da demanda. 19 Introdução à Economia Figura 13 – Possíveis situações de equilíbrio Além dessas, podem ocorrer diversas situações no mercado, como por exemplo, a demanda aumentar e a oferta diminuir, ou vice-versa. A análise dessas situações fica como uma atividade para vocês. 20 Introdução à Economia EXERCÍCIOS 01- Identifique os principais agentes da economia e determine suas características. 02- Como se agrupam os agentes econômicos e quais as características destes agrupamentos. 03- Conceitue “Teoria do Consumidor”. 04- O que é Curva de Indiferença e quais são suas propriedades? 05- Quais são os principais agentes da economia e suas características? 06- A curva de oferta de determinado mercado é dada pela expressão QS = 100 + 10P, na qual QS é a quantidade ofertada e P é o preço da mercadoria. A curva de demanda desse mesmo mercado é dada pela expressão QD = 500 – 10P. Calcule o preço e a quantidade de equilíbrio. 07- Sendo a curva de oferta de um determinado produto/mercado é representada pela equação QS = 280 – 4p, onde QS é a quantidade ofertada e P é o preço da mercadoria. A curva de demanda desse mesmo produto/mercado é dada pela expressão QD = -20 + 2p. Calcule o preço e a quantidade de equilíbrio. 08- Em um mercado de concorrência perfeita, a oferta e procura de um produto são dadas respectivamente pelas seguintes equações QS = 48 + 10p e QD = 300 – 8p, sendo p o preço e Q a quantidade. Qual será o preço e a quantidade caso este mercado esteja em equilíbrio? 09- Como são divididas as estruturas básicas de mercado? 10- Tomando como referência a Teoria do consumidor, poderíamos dizer que há um interesse das empresas monopolistas em influenciar para que o nível de utilidade percebido pelos consumidores seja sempre elevado? Justifique sua resposta? 11- Um indivíduo tem um salário de 350 reais, considerando que os dois únicos bens da economia sejam vestuário (Pv = R$ 12,50) e alimentos. (Pa = R$ 7,0). a. Construa a cesta de consumo deste indivíduo b. Caso haja um aumento de no salário de 50%, qual será a nova cesta de mercadorias? c. Se o valor unitário da alimentação passar a ser de R$ 10,0. Apresente a nova cesta de mercadorias 21 Introdução à Economia A elasticidade antes de tudo é uma medida de sensibilidade. Ela mede a variação percentual na variável dependente de uma função (demanda ou oferta, por ex.) causada por uma variação percentual em uma das variáveis independentes dessas funções / tudo o mais permanecendo constante. Comecemos estudando a elasticidade-preço da demanda. 4.1. Elasticidade-preço da Demanda A elasticidade-preço da demanda é a variação percentual da quantidade demandada do bem X dividida pela variação percentual no preço desse mesmo bem, ceteris paribus. Em outras palavras, ela indica em quantos por cento vai variar a demanda de um bem para cada um por cento de variação no seu preço. Matematicamente ela é representada pela letra grega eta e é expressa por: Onde: indica a variação percentual na quantidade demandada de X; indica a variação percentual no preço de X; Sendo que podem ser definidas como em que ∆Q= (Qf – Qi) que é a quantidade demandada final (Qf) menos a inicial (Qi). Já ∆p = (Pf – Pi) sendo determinada pela diferença entre o preço final (Pf) menos preço inicial (Pi). Logo podemos reescrever a equação como: Para o cálculo da elasticidade da demanda é necessário determinar o ponto inicial (A ou B), pois ∆Q e ∆P são invariantes, mas Q e P se alteram, ao longo da curva linear, alterando o resultado da elasticidade. Figura 14 – Determinação da Elasticidade-preço da Demanda ELASTICIDADE 4Capítulo 22 Introdução à Economia Assim podemos calcular a elasticidade de demanda do ponto A para o ponto B: AB ou de B para A: BA. O mais comum, entretanto é calcular a elasticidade no ponto médio do segmento AB utilizando preços e quantidades médias, ou seja: 4.2. Elasticidade no arco e no ponto Se reduzirmos o arco ab até ele se tornar um único ponto, temos o cálculo da elasticidade-preço da demanda no ponto e a fórmula torna-se: Devemos observar que a elasticidade é um número puro, desprovido de qualquer unidade de medida / pois é uma variação % dividido por outra variação % e no caso da elasticidade da demanda esse número será sempre negativo, pois P e Q variam inversamente. Podemos classificar o coeficiente da elasticidade da demanda de acordo com o valor encontrado e para essa análise desprezamos o sinal negativo, dessa forma se: Dizemos que a demanda é elástica, pois a quantidade demandada varia mais que o preço. Por exemplo, se ηd = 4 implica que se P aumentar 1% a quantidade demandada do bem cai 4% e se P diminuir 1% a quantidade demandada do bem aumenta 4%. Se , classificamos esse coeficiente como demanda de elasticidade unitária, pois, se P aumentar 1% a quantidade demandada do bem cai 1% e se P diminuir 1% a quantidade demandada do bem aumenta 1%. Caso a demanda é dita inelástica, pois a variação na demanda é menor que a variação no preço. Por exemplo implica que se P aumentar 1% a quantidade demandada do bem cai 0,3% e se P diminuir 1% a quantidade demandada do bem aumenta 0,3%. Vimos então que, em termos absolutos os valores de ηd variam entre zero e infinito, cujos valores constituem seus casos extremos: ηd = 0 e ηd = ∞ (infinito) 4.3. Fatores que influenciam a elasticidade-preço da demanda A elasticidade da demanda é influenciada por vários fatores, tais como: I) A existência de bens substitutos, quanto mais e melhores substitutos tiver um bem, mais elástica é sua procura (maior ηd); II) O peso do bem no orçamento do consumidor, quanto menor o peso do bem no orçamento, menor será sua elasticidade; III) Essencialidade do bem, quanto mais essencial, menor sua elasticidade. 23 Introdução à Economia 4.4. Elasticidade-preço cruzada da demanda Muito parecido com o conceito de ηd é o conceito de elasticidade-preço cruzada da demanda (ηxy), onde comparamos as variações na demanda de um bem X com variações no preço de outro bem Y, tudo o mais permanecendo constante.Formalmente a ηxy é a variação percentual da quantidade demandada de X dividida pela variação percentual no preço do bem Y, ceteris paribus. O coeficiente encontrado pode ser positivo ou negativo e podemos classificar os bens X e Y a partir dele. Se ηxy>0 os bens X e Y são substitutos ou concorrentes entre si. ex. vinho x cerveja, onde um aumento no preço do vinho aumenta a demanda por cerveja no mercado. Se ηxy 1 - o bem é superior; e ηr 1 então a oferta é elástica; εo = 1 a oferta será elasticidade da oferta unitária; e εoo preço era P0 (dado pelas curvas de demanda e oferta iniciais) e após o imposto o preço sobe para P1. 27 Introdução à Economia Figura 18 - Efeitos dos Impostos sobre a Oferta e o Equilíbrio Assim, (P1 - P0) é a parte do imposto paga pelo consumidor e (P0 – P’) é a parcela do imposto absorvida pelo vendedor. Podemos notar que o valor do imposto total é (P1 – P’) por unidade. Podemos concluir, portanto, que o conhecimento do mercado é fundamental para os formuladores de políticas públicas. Porém, existem vários tipos de mercado, isto é várias estruturas de mercado. 5.4 Determinantes das estruturas de mercado Estudamos até aqui que o mercado é formado pelas forças de oferta e de procura, que juntas determinam os preços dos bens e serviços. Isso, na verdade acontece nos chamados mercados concorrenciais, onde os agentes econômicos (consumidores e vendedores) são pequenos (atomizados) em relação ao mercado total, nessa estrutura de mercado nenhum agente isoladamente (seja consumidor ou vendedor) possui poder de mercado, isto é, capacidade para sozinho influenciar no preço do bem. Eles se comportam como tomadores de preços, ou seja, aceitam o preço dado pelo mercado. Porém, muitos mercados não são atomizados, isto é constituem cenários em que poucos estão presentes, ou do lado da oferta ou da demanda ou de ambos, nessas situações, o lado que possui menos agentes, possui mais poder que o outro, influenciando mais o preço do bem. Dois elementos são fundamentais para determinar as estruturas mercadológicas. A quantidade de agentes (número de consumidores ou de produtores e a maneira como se comportam dentro do conjunto); e a natureza do produto final, serviço ou fator de produção, isto é se são homogêneos ou diferenciados ( e o grau dessa diferenciação). O Quadro 1 apresenta estas relações e identifica as consequentes estruturas de mercados. 28 Introdução à Economia Quadro 1 – Estruturas de Mercado A primeira coluna desse quadro apresenta o número de agentes participantes do mercado (de cima para baixo), muitos (mercado atomizado), poucos ou apenas um. A segunda e a terceira colunas apresentam a natureza do bem, que pode ser respectivamente, homogênea ou diferenciada. Desse modo, se um mercado possui muitos agentes e o bem transacionado é homogêneo, classificamos esse mercado como sendo de concorrência pura ou perfeita. Porém se o produto for diferenciado dizemos que essa estrutura é de concorrência monopolística. Se o mercado apresentar poucos agentes no lado dos vendedores teremos um oligopólio (oligo=poucos e pólio=vendedores). Ele será um oligopólio puro se o bem for homogêneo ou oligopólio diferenciado caso contrário, no caso de existirem poucos agentes do lado da demanda classificamos essa estrutura de oligopsônio, que da mesma forma pode ser puro ou diferenciado. O termo oligo significa poucos e psônio, comprador. um caso extremo nas estruturas de mercado é quando, existe apenas um único agente no lado da oferta ou no lado da demanda no primeiro caso teremos um monopólio (mono=um e pólio=vendedor), e no segundo caso, um monopsônio (psônio= comprador). Todos os mercados que não satisfazem o princípio da atomização e da homogeneidade serão mercados imperfeitos. Assim, exceto no caso da concorrência pura ou perfeita, todas as estruturas de mercado existentes são imperfeitas, o que justifica a interferência governamental nesses mercados, através das políticas públicas, que regulamentam os mercados impedindo abusos de poder pelo lado mais forte. Atualmente, a estrutura de mercado prevalecente no mundo real é a oligopólica. 29 Introdução à Economia 6.1. Introdução O assunto referente aos agregados macroeconômicos e a introdução à contabilidade social corresponde ao conteúdo do capítulo 10 de nosso livro texto. Vimos anteriormente que a economia divide-se em micro e macroeconomia e que, enquanto a primeira analisa o comportamento econômico das unidades econômicas como os consumidores e os produtores, a segunda representa o ramo da teoria econômica que estuda a determinação e o comportamento dos agregados nacionais. A parte relativa à medição desses agregados é chamada de contabilidade social e que consiste em efetuar o registro contábil da atividade produtiva de um país ao longo de dado período de tempo através dela podemos medir o produto, a renda e a despesa nacional ou de um país como um todo. Essas medidas são importantes para o país, pois é a partir delas que várias decisões e políticas econômicas são planejadas e adotadas. Pela medição do produto nacional, por exemplo, tenta-se avaliar o desempenho da economia no sentido de satisfazer as necessidades da sociedade. Ao optar por medir o desempenho econômico pelo produto nacional, estamos decidindo fazê-lo por meio do valor total das transações com bens finais, durante certo período de tempo. Para isso, vamos retornar ao fluxo circular da renda já apresentado no capítulo 1. 6.2. Medição do produto, renda e despesa nacional: o fluxo circu- lar da renda. Supondo uma economia fechada e sem governo, podemos representar os fluxos monetário e de bens e serviços de tal economia através do fluxo circular da renda. Como podemos observar, temos dois mercados básicos nessa economia: o mercado de fatores de produção, em que os indivíduos (ou famílias) são os proprietários da força de trabalho, da terra, dos recursos naturais, etc. E os fornecem às firmas que compram o uso desses fatores. Na representação gráfica do fluxo circular da renda, estas transações estão representadas nas linhas na cor laranja. AGREGADOS MACROECONÔMICOS: INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL. 6Capítulo 30 Introdução à Economia Figura 18 – Fluxo Circular em uma Economia fechada e sem Governo O segundo mercado é o mercados de bens e serviços, onde os indivíduos adquirem bens e serviços, que são de propriedade das firmas, e pagam por isso. Na representação gráfica do fluxo circular da renda, estas transações estão representadas pelas linhas verdes. 6.3. Renda, Produto e Valor Adicionado Nessa economia simplificada o produto nacional que representa o valor monetário de todos os bens finais produzidos na economia no período de um ano. É representado pelo fluxo monetário do mercado de bens e serviços, enquanto a renda nacional, que representa o total de pagamentos feitos aos fatores de produção utilizados para a obtenção desse produto é representada pelo fluxo monetário do mercado de fatores. Devemos observar que não são consideramos nesses cálculos o uso de insumos intermediários. Podemos também obter o valor adicionado da economia que é o cálculo do que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada etapa do processo produtivo. Sendo que, bens finais são bens que são vendidos para consumo ou utilização final. Um exemplo de como é feito o cálculo do valor adicionado (V.A.) pode ser observado a partir do Quadro 2, abaixo. Quadro 2 – Demonstrativo Valor Adicionado Do cálculo do valor adicionado de um setor ode ser visto à partir dos estágios da produção de uma economia que produz madeira, papel, corante, tintas e livros. Ao observarmos a linha correspondente à madeira vemos que as vendas 31 Introdução à Economia desse produto no período (coluna 1) corresponderam a 60 mil unidades monetárias (u.m.), e que não houve custos com matérias-primas para a obtenção do produto (coluna 2). Logo o valor adicionado à economia para a produção de madeira foi de 60 mil u.m., isto é a diferença entre o valor das vendas do produto e o custo das matérias-primas necessárias para obtê-lo. Já a produção de papel gerou para a economia, no período, vendas de 80 mil u.m., mas um custo de matérias-primas de 60 mil u.m. (pois o papel vem da madeira). Assim, o valor adicionado do setor de papel foi de 20 mil u.m., de maneira análoga para os demais ramos da economia, calculamos seu valor adicionado pela diferença entre as colunas 1 e 2 e obtemos ovalor adicionado total nessa economia. Nesse período pelo somatório da coluna 3, obtendo assim 200 mil u.m.. 6.4. Despesa Nacional Outro conceito importante é do de Despesa Nacional e que se refere ao gasto dos agentes econômicos com o produto nacional. Assim como o produto nacional, a despesa nacional refere-se apenas às despesas com bens e serviços finais, excluindo as transações intermediárias. Como obtivemos os conceitos a partir do fluxo circular temos uma identidade básica das contas nacionais, qual seja: Produto Nacional = Renda Nacional = Despesa Nacional Se adicionarmos as despesas com bens de capital, os gastos do setor público e as despesas líquidas do setor externo terão que: Para que um país possa investir na produção de bens e serviços ele deve anteriormente poupar uma parcela de seu produto (ou renda) para formar seu capital. 6.5. Formação de Capital: Poupança e Investimento A Poupança Agregada (representada pela letra S), refere-se a parcela da renda nacional (RN) que não é consumida no período, e que é obtida pela diferença entre a renda nacional (RN) e o consumo agregado da economia (C), e representa o montante de recursos que essa economia possui para investir. Devemos lembrar que poupança é o ato de não consumir no período presente, deixando parte da renda para consumo futuro. Dessa forma, o Investimento agregado é o gasto com bens que foram produzidos, mas não consumidos no período, e que aumentam a capacidade produtiva da economia para os períodos seguintes. Esse investimento é composto pelo investimento em bens de capital (máquinas e imóveis) e pela variação dos estoques que não foram consumidos. Devemos observar que os Bens de Capital são aqueles utilizados na fabricação de outros bens, mas que não se desgastam totalmente no processo produtivo. 32 Introdução à Economia E também que: investimento agregado é um conceito que envolve produtos físicos e, assim sendo, investir em ações não é investimento no sentido econômico; da mesma forma que investimentos em ativos de segunda mão (usados) não são contabilizados como investimento agregado. 6.6. Outras medidas agregadas Existem outras importantes medidas agregadas que são muito utilizadas no nosso dia-a-dia, tais como PNB e PIB, por exemplo. O Produto Nacional Bruto – PNB refere-se à renda que pertence efetivamente aos nacionais, ou seja, corresponde ao PIB adicionado da renda líquida ao exterior. Já o Produto Interno Bruto – PIB refere-se à renda devida à produção, dentro dos limites territoriais do país. Se desejarmos os produtos líquidos, devemos descontar do produto bruto a depreciação, ou seja, o Produto Nacional Líquido – PNL corresponde ao produto nacional bruto (PNB) subtraído da depreciação. A Depreciação representa o consumo do estoque de capital físico em determinado período. As fórmulas a seguir sintetizam esses conceitos: Sendo que a renda líquida do exterior corresponde à diferença entre as rendas recebidas pelo país do exterior e as enviadas pelo país ao exterior Existem ainda outras medidas de atividade econômica que precisam ser consideradas por sua importância na aferição do desempenho de setores particulares da economia. Podemos, por exemplo, medir o produto nacional (PN) a preços de mercado ou a custo dos fatores de produção. E a renda nacional é igual ao produto nacional líquido a custo dos fatores. Outra medida de larga utilização em economia é a da renda disponível. Ela mostra quanto o setor privado da economia teve a seu dispor como resultado da atividade econômica em determinado período. 6.7. Problemas conceituais na mensuração da Renda e Produto Nacionais Como todos esses indicadores econômicos são medidos em valores, isto é preços vezes quantidades, podem ocorrer problemas conceituais em suas mensurações. Quando se mede o desempenho de uma economia relativamente à renda e ao produto, o que se quer fazer é avaliar o bem-estar atingido pela sociedade por meio da atividade econômica. Por isso, é comum a associação de taxas de crescimento do PIB ao crescimento do bem-estar, por exemplo. Para isso, é necessário que os preços utilizados na avaliação de todos os bens finais sejam, de alguma forma, indicadores da contribuição de um produto para o bem-estar. Se essa condição se verifica, o produto nacional pode ser considerado uma medida de bem-estar. Mas, podem existir distorções nos mercados de fatores de produção que 33 Introdução à Economia levem os preços dos produtos a não refletirem sua contribuição para o bem- estar gerando problemas que podem fazer o produto nacional não ser um bom indicador de bem-estar. 6.8. Valores Reais e Valores Nominais - Deflator O valor do produto pode crescer de um período para outro porque os preços cresceram e não porque a produção cresceu. Para isso é necessário separar crescimentos de preços de crescimentos reais, isto é, é necessário que tenhamos alguma forma de separar, dentro das variações de valor, as variações de quantidade das variações de preços. Dentre as muitas alternativas, a mais comum é avaliar a mesma cesta de mercadorias em dois períodos diferentes, como fazem os índices de Laspeyres e Paasche Esses índices de preços são usados para deflacionar o produto. O índice de Laspeyres corresponde à razão entre o somatório dos preços no período atual (ano corrente) e o somatório dos preços no período base (ano inicial), ambos ponderados pelas quantidades do período base. Onde: é o preço no período atual, é o preço no período base e é a quantidade no período base. Enquanto que o índice de Paashe utiliza como ponderação as quantidades do período corrente. Vale lembrar que tanto o índice de Laspeyres quanto o índice de preços de Paasche são considerados como deflatores. Para utilizar a técnica que chamamos de deflacionar, e encontrarmos o produto real em um período, devemos dividir o produto nominal no período a preços do ano-base pelo índice de preços (que poderá ser Índice de Laspeyres ou Paasche, dependendo de qual ano-base for escolhido). 34 Introdução à Economia EXERCÍCIOS 1. Com base na tabela abaixo calcule os Índices de Preço de Paasche e Las- peyres tomando como período base o mês de janeiro de 1995. Custo da Cesta básica do salário mínimo em janeiro e maio de 1995. Produto Quantidade Q0 Preços (Jan/1995) P0Q0 Preços (Maio/1995) P1Q0 Arroz (kg) 3,0 0,596 0,55 Feijão (kg) 4,5 1,105 1,19 Carne de boi de 2ª (kg) 6,0 2,730 2,48 Leite (L) 7,5 0,530 0,55 Farinha de Trigo (kg) 1,5 0,390 0,39 Batata (kg) 6,0 0,790 0,96 Tomate (kg) 9,0 0,300 0,87 Pão (kg) 6,0 2,000 2,00 Pó de café (kg) 0,6 4,960 5,16 Banana (kg) 7,5 1,260 1,24 Açúcar (kg) 3,0 0,426 0,46 Óleo (L) 0,75 0,900 1,00 Margarina (kg) 0,75 2,060 2,28 Total Fonte: FONSECA e GOMES, 2003. p.16 35 Introdução à Economia 7.1. Introdução Neste item estudaremos a determinação da renda e do produto nacionais (correspondente ao capítulo 11 de nosso livro texto e que tem por objetivo analisar as variáveis que determinam o nível de produção e da renda nacional da economia) O desempenho econômico mundial como um todo, e de países em particular, tem mostrado períodos em que a produção cresce rapidamente (com baixo nível de desemprego), outros com estagnação da produção ou mesmo recessão (quando o desemprego assume lugar de destaque), como visto anteriormente. 7.2. Conceitos preliminares A medida de riqueza de um país pode ser efetuada sob três óticas, a da produção, a da renda ou a da despesa. A da produção é aquela que corresponde à soma de todos os bens e serviços finais na economia em determinado período de tempo (e que corresponde à própria oferta agregada dessa economia). A ótica da renda: corresponde à soma da remuneração de todos os fatores que participaram da produção (esta é a renda nacional e engloba os salários, os juros, os aluguéis e os lucros). Já a ótica da despesa, corresponde à soma dos gastos dos ‘compradores’ da produção, isto é, as despesascom bens de consumo e de investimentos (que corresponde à demanda agregada dessa economia). Na análise ex post (isto é, a posteriori), os três valores serão necessariamente iguais, já na análise ex ante (que significa antes de ocorrer, ou a priori), e que corresponde à macroeconomia em si, o objetivo é, a partir de relações funcionais ou de comportamento, analisar as condições em que se dará o equilíbrio, mostrando as alternativas de política econômica para levar a produção ao nível de pleno emprego. Na análise de equilíbrio geralmente é feita a partir da igualdade entre oferta e demanda agregada. Para procedermos a essa análise, então vamos examinar a oferta agregada, a demanda agregada e o equilíbrio. 7.3. Oferta agregada, demanda agregada e equilíbrio. A oferta agregada (AO) corresponde à quantidade que os produtores desejam vender no mercado. As empresas respondem ao crescimento da demanda com o aumento da produção física, dos preços ou de ambos. Considerando as duas primeiras alternativas. A oferta agregada tem o formato que segue na Figura 19. DETERMINAÇÃO DA RENDA E PRODUTOS NACIONAIS 7Capítulo 36 Introdução à Economia Figura 19 – Oferta Agregada Nesse gráfico Ype representa o nível de pleno emprego da economia, ou seja, essa economia com os recursos que ela possui e dado o estágio de sua tecnologia não é possível ultrapassar esse ponto. Portanto, nesse caso, qualquer crescimento da demanda implicará em aumentos de preços. Porém, para qualquer nível de produção menor que o de pleno emprego, e, portanto, onde existe algum tipo de desemprego a produção pode crescer /sem que os preços precisem crescer. Já a Demanda Agregada (DA) refere-se à ótica de quem deseja “comprar a produção”. Ela é composta por quatro macro-agentes econômicos (as famílias, as empresas, o governo e o resto do mundo) e corresponde ao somatório do consumo das famílias e do governo, dos investimentos das empresas e do resultado da balança comercial do país (suas exportações menos suas importações), ou seja: Onde: C = demanda de bens de consumo pelas famílias; I = demanda de investimentos pelas empresas; G = demanda do governo e (X – M) = demanda líquida do setor externo, isto é exportações – importações, também denominada Exportações Líquidas. Graficamente, temos: Figura 20 – Demanda Agregada Ela é representada por uma curva negativamente inclinada, porque um aumento de preços reduz a renda real e, portanto, a capacidade de compra. Podemos então, determinar o equilíbrio macroeconômico de curto prazo, que ocorre onde a OA é igual a DA. 37 Introdução à Economia Figura 21 – Equilíbrio Levando em conta que a oferta agregada é fixa no curto prazo, variações na produção de equilíbrio dar-se-ão apenas por variações da demanda agregada, ou seja, é o nível de demanda quem determina o produto de equilíbrio dessa economia. Vamos agora, analisar separadamente cada uma das funções que determinam a renda nacional de equilíbrio, começaremos com a função consumo. 7.4. Renda Nacional de Equilíbrio. Os componentes da Função Consumo são o consumo autônomo que é aquele que independe da renda (representado pela letra “a”) e a propensão marginal a consumir (PMgC), que corresponde ao acréscimo de consumo(∆C), derivado de um acréscimo da renda nacional(∆Y) (representado por “b”). Graficamente, Figura 22 – Função Consumo A função consumo é positivamente inclinada, pois quanto maior a renda (Y) maior será o consumo (C). A parcela da renda que não é consumida em determinado período é poupada. Temos assim que a Função Poupança é determinada por poupança ( S ) é igual a renda (Y) menos o consumo (C). Como C = a + bY, segue que: 38 Introdução à Economia Onde: - a representa uma despoupança devido ao consumo autônomo e (1 – b) corresponde à propensão marginal a poupar (PMgS), que corresponde ao acréscimo da poupança agregada, dado um acréscimo da renda nacional. Graficamente temos, Figura 23 – Função Pupança A função poupança também é positivamente inclinada, ou seja, é uma função direta da renda. Já o Investimento desempenha duplo papel na teoria macroeconômico de um lado é um dos componentes da demanda (despesas com equipamentos, máquinas, etc.) e de outro é elemento da oferta agregada (já que eleva a capacidade de produção da economia). No Modelo Keynesiano Básico de Curto Prazo, o investimento afeta apenas a demanda agregada e é considerado independente da renda nacional, por isso, graficamente ele é representado por uma reta paralela ao eixo horizontal. Figura 24 – Função Investimento Da mesma forma supõe-se que os Gastos do Governo (G) são autônomos em relação à renda nacional. Na teoria macroeconômica, os gastos públicos (bem como oferta de moeda) são considerados uma variável determinada institucionalmente, ou seja, dependem dos objetivos de política econômica escolhidas pelas autoridades. No modelo simplificado, a Tributação (T) ou Função Impostos também é considerada autônoma, isto é, não induzida pela renda nacional. A introdução do governo e, particularmente, da tributação altera as funções consumo e poupança, que passam a serem funções da renda disponível do setor privado Yd (Renda – Tributos = Y – T). Logo: 39 Introdução à Economia No modelo simplificado as exportações também são autônomas em relação à renda nacional. A hipótese aqui adotada é de que as exportações não são afetadas pela renda nacional, mas sim pela renda dos outros países (renda mundial) e pela taxa de câmbio (que não estão consideradas no modelo). Do mesmo modo, no modelo simplificado, as importações também são autônomas em relação à renda nacional. Estabelecidas as hipóteses sobre as variáveis C, S, I, G, T, X e M, sabe-se que a demanda agregada comporta-se no modelo keynesiano básico de curto prazo da seguinte forma. Figura 25 – Demanda Agregada Completa Como apenas C é função crescente da renda nacional e as demais são consideradas constantes em relação à renda nacional Y, segue-se que a função da é crescente em relação à renda nacional Y, como mostra o gráfico que segue. Onde vemos que I, G, e X-M representam acréscimos que provocam deslocamentos paralelos em C, a curva mais elevada representa a demanda agregada da economia. Podemos agora determinar o equilíbrio de curto prazo. Entende-se por equilíbrio um ponto em que a Demanda Agregada é igual à Renda Nacional, não existindo pressões para sair desse ponto. A determinação do equilíbrio é obtida igualando renda e demanda agregada. Algebricamente: Resolvendo a equação encontramos um valor para Y e com este valor, podemos retornar às funções consumo e poupança para achar seus valores. Graficamente, 40 Introdução à Economia Figura 26 – Equilíbrio do Mercado no Curto Prazo Temos que o equilibro de curto prazo ocorre onde da corta a linha pontilhada de 45º que sai da origem (e que iguala Y e da representados nos dois eixos cartesianos). Ao compararmos esse ponto com a renda de pleno emprego (Ype) podemos definir os hiatos deflacionário e inflacionário. Estes pontos serão tratados no próximo item. 7.5. Outros instrumentos de análise macroeconômica O Hiato Deflacionário refere-se à insuficiência de demanda agregada em relação à renda de pleno emprego/ revela qual deve ser o aumento da demanda agregada para que a economia atinja o equilíbrio de pleno emprego//>>> Figura 27 – Hiato Deflacionário O hiato inflacionário é dado pelo excesso de demanda agregada em relação à oferta agregada de pleno emprego. 41 Introdução à Economia Figura 28 – Hiato Inflacionário Nessa situação, ocorre uma inflação de demanda, em que a procura global de bens supera a capacidade produtiva da economia. 42 Introdução à Economia EXERCÍCIO 01- Considerando um país α que possua relação comercial com diversos outros países do mundo, e que seus agregados macroeconômicos são representados pelas seguintes equações: C = 50 + 0,75Yd; I = 40 + 0,05Y; G = 160; T = 20 + 0,2Y; X = 80; M = 15 + 0,15Y,pede-se: a. Calcule o nível de renda de equilíbrio deste país (Y); b. Calcule o consumo desta economia, bem como o nível de investimento e o valor das importações; c. Qual é o valor das exportações líquidas (NX) d. Caso haja um aumento de 20% nos impostos, qual será a nova renda de equilíbrio, o novo consumo e o novo valor de NX. 02- A elevação da taxa de juros básica (Selic), por parte do Governo Federal pode impactar diretamente nos agregados macroeconômicos. Quais agregados são afetados e como isso impacta na produção do país (PIB). 03- Em uma situação onde a economia de um país apresente um déficit em sua balança comercial, de quais políticas o governo pode lançar mão para reduzir este déficit e como ele faria isto? 04- 1 – Considere o seguinte modelo para uma economia fechada e calcule a renda de equilíbrio, onde: C = 200 + 0,8Yd I = 75 – 0,25i + 0,11Y T = 0,20Y G = 200 i = 5% Considere uma economia fechada onde, que se comporta de acordo com as seguintes equações responda: Y = 5.000 G = 1.000 T = 1.000 C = 250 + 0,75Yd I = 1.000 – 50i a. Calcule a poupança nacional (S) desta economia b. Ache a taxa de juros de equilíbrio c. Suponha agora que G passe para 1.250, calcule a nova poupança nacio- nal (S) d. Encontre a nova taxa de juros 05- Considere uma economia descrita pelas seguintes equações: Y = C + I + G +X –M G = 1.000; T = 1.000; C= 250+0,45(Y-T); I = 1.000 – 50i; X = 250; M = 130; i = 2,5% Calcule : a. A renda de equilíbrio b. Caso a propensão marginal a consumir (PMgC) passe para 0,5 qual a nova renda de equilíbrio. c. Se os impostos aumentarem em 20% qual será a nova renda de equilí- brio 06- Considerando que a função de consumo é dada por C = a = bYd, poupança como sendo S = Yd - C e tributação como T = t0 + t1Y e que os valores de a = 20, b = 0,5, t0 = 15 e t1 = 0,1 calcule então: a. O valor do consumo em equilíbrio, a poupança nacional e determine a 43 Introdução à Economia carga tributária da economia, considerando que Y = 1.000 b. Calcule novamente as três variáveis para uma renda de 1.500 c. Descreva o efeito do aumento da renda sobre o consumo d. Caso a PMgT aumentasse para 0,2 qual o reflexo disto na poupança na- cional e no consumo 07- Calcule o produto de equilíbrio (Y) de uma economia aberta com os seguintes agregados macroeconômicos: a. C = 10; I = 8, G = 15, X = 12 e M = 15 b. C = 8, I = 12, G = 9 e NX = 7 c. C = 3+ 0,4Yd, I = 12, G = 10, X = 9, M = 6 e T = 3 08- Calcule o produto de equilíbrio (Y) de uma economia fechada com os seguintes agregados macroeconômicos: a. C = 4 + 0,25Yd, I = 6 e G = 6 b. C = 14, I = 9 e G 11 c. C = 100 0,2 + 0,5Yd, I = 7 e G = 9 44 Introdução à Economia Nesta parte de nossas Notas de Aula abordaremos o problema da inflação, que corresponde ao capítulo 14 de nosso livro texto. 8.1. Conceito de Inflação Inflação é o aumento contínuo e generalizado no nível de preços da economia. Devemos fazer duas observações quanto a essa definição: a primeira diz respeito à generalização, isto é, o aumento de preços deve ser observado na totalidade dos bens e serviços e não se restringir apenas a algum ou um grupo de preços. a segunda refere-se ao fato de que deve haver uma continuidade do aumento de preços, o processo inflacionário caracteriza-se pelo movimento contínuo dos preços, indicando que os agentes econômicos têm a percepção de que os preços tendem a aumentar e levam isso em conta quanto tomam suas decisões. 8.2. Distorções provocadas por altas taxas de inflação Altas taxas de inflação provocam distorções importantes na economia, gerando vários efeitos indesejáveis. Ela gera efeitos sobre: I. A distribuição de renda - a distorção mais séria provocada pela inflação diz respeito à redução relativa do poder aquisitivo de quem depende de ren- dimentos fixos, os quais possuem prazos de ajustes legais. Neste caso estão os assalariados, que ficam com o orçamento cada vez mais reduzido com o passar do tempo, até a chegada de novo ajuste. A classe trabalhadora é, sem dúvidas, a que mais perde com o aumento das taxas de inflação; II. O balanço de pagamentos - elevadas taxas de inflação, em níveis su- periores ao aumento dos preços internacionais, encarecem o produto nacional relativamente ao produzido no exterior, o que tende a estimular importações e desestimular exportações. Isso diminui o saldo da balança comercial. Esse fato pode provocar um círculo vicioso, se o país estiver enfrentando déficit cambial. III. O mercado de capitais - tendo em vista que em um processo inflacioná- rio intenso o valor da moeda deteriora-se rapidamente, ocorre um desestímulo à aplicação de recursos no mercado financeiro, especialmente nas aplicações cuja remuneração seja definida ex ante. No Brasil, as distorções causadas pelos per- sistentes e elevados processos inflacionários foram bastante minimizadas pela instituição do mecanismo de correção monetária, por meio do qual títulos pú- blicos, privados e cadernetas de poupança passaram a ser reajustados por índi- ces que refletem aproximadamente o crescimento da inflação; IV. As expectativas empresariais - o setor empresarial é bastante sensível a situações de inflação elevada, dada à relativa instabilidade e imprevisibilida-à relativa instabilidade e imprevisibilida- relativa instabilidade e imprevisibilida- de de seus lucros. O empresário, portanto, fica em um compasso de espera, en- quanto a conjuntura inflacionária perdurar, e dificilmente tomará iniciativas no sentido de aumentar seus investimentos na expansão da capacidade produtiva. Há ainda outros efeitos provocados por altas taxas de inflação, nas etapas iniciais do processo inflacionário, todos que contraíram dívidas líquidas ganham com a inflação, justamente porque não incorporam nenhuma expectativa 8 Capítulo O PROBLEMA DA INFLAÇÃO 45 Introdução à Economia inflacionária. Assim, quem perde é o credor, recebendo a quantia emprestada reduzida pela inflação. No longo prazo, entretanto, poucos ou quase ninguém vai ganhar com a inflação, pois seu processo funciona como um rolo compressor, desarticulando todo o sistema econômico. Mas, quais são as causas da inflação? Isto é o que veremos no próximo item. 8.3. Causas clássicas da Inflação As principais são a inflação de demanda e a de custos. A Inflação de Demanda, considerada o tipo mais clássico de inflação, diz respeito ao excesso de demanda agregada em relação à produção disponível de bens e serviços. A probabilidade de surgir inflação de demanda é maior quanto mais próxima estiver à economia do pleno emprego. A política preconizada para combater esse tipo de inflação assenta-se em instrumentos que reduzam a demanda agregada (diretamente, com redução dos gastos públicos, ou indiretamente, com políticas que desestimulem o consumo e o investimento privado). A Inflação de Custos pode ser associada a uma inflação tipicamente de oferta, já que o nível da demanda permanece o mesmo e os custos de alguns insumos se elevam, sendo repassados para o consumidor. Aumentos salariais são frequente razão para elevação dos custos. A inflação de custos também está associada ao fato de algumas firmas, com elevado poder de monopólio ou oligopólio, terem condições de elevar seus lucros acima do aumento dos custos de produção (também conhecida como inflação de lucros, está associada à estagflação). A palavra estagflação associa estagnação econômica e inflação. Outra fonte de inflação impulsionada pelos custos surgiu com a crise de energia de 1973 (o chamado 1º choque do petróleo), com a elevação de preços de matérias-primas e insumos básicos. Logo, popularizou-se o termo choque de oferta para caracterizar a inflação de custos. É relativamente difícil combater uma inflação tipicamente de custos. Normalmente, a política recomenda, nesse caso, o controle direto de preços, tanto via política salarial mais rígida, quanto pela maior fiscalização sobre os lucros auferidos pelos grupos oligopolistas. Temos aindataxa de crescimento de um país. 11.6. Desenvolvimento Sustentável. Atualmente, o conceito de desenvolvimento econômico passou a absorver preocupações ambientais e de equidade intra e inter gerações, evoluindo para um conceito de desenvolvimento sustentável que seria aquele capaz de satisfazer as necessidades da geração presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprirem suas próprias necessidades. 61 Introdução à Economia REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/seculoxx/default.shtm>. Acesso em 15 fev. 2012. FONSECA, I. S.; GOMES, M. F. M. Construção e Uso de Índices de Preços. ed.2. Cadernos Didáticos, n.11. Viçosa: UFV, 2003. 39p. VASCONCELLOS, Marco Antonio S.; PINHO, Diva Benevides (Org). Manual de Introdução à Economia. São Paulo: Saraiva, 2006. 397p. VEJA. Disponível em:<http://veja.abril.com.br/infograficos/economia_ brasileira/>. Acesso em: 15 fev. 2012. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 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