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145
ECONOMIA
Unidade III
7 ATIVIDADE ECONÔMICA NACIONAL: INTRODUÇÃO À TEORIA MACROECONÔMICA
Esta unidade está dedicada a apresentar a você alguns assuntos introdutórios e relacionados à Teoria 
Macroeconômica, seus questionamentos centrais, evolução histórica e importância. Aborda assuntos 
relacionados à contabilidade social, notadamente as medidas de atividade econômica, a identidade 
entre renda e produto, bem como os conceitos de valor bruto da produção e valor agregado até chegar 
à medida maior, que é o PIB e suas variantes. Moeda e inflação também estão presentes nesta unidade.
A Teoria Macroeconômica tem por objetivo fundamental analisar como são determinadas as 
variáveis econômicas na sua forma agregada. Essa teoria, também chamada de abordagem de equilíbrio 
geral, procura analisar se o nível de atividade econômica tem crescido ou diminuído, se os preços das 
mercadorias, conjuntamente, têm apresentado elevação ou diminuição.
Diferentemente da Teoria Microeconômica, a Teoria Macroeconômica observa grandes mercados, 
como todos os de bens e serviços, o de trabalho, o mercado monetário – em decorrência da participação 
da moeda como meio de troca por mercadorias –, o mercado de títulos e, por fim, analisa também o 
mercado de divisas internacionais, pois os países mantêm relações entre si, de modo que as moedas, 
as chamadas divisas, que são reguladas pelo mercado cambial ou pelo governo, também são objeto de 
investigação dessa teoria.
Preocupa‑se, portanto, em estudar o grupo dos consumidores de uma sociedade, assim como o seu 
conjunto de empresas. O interesse é determinar os fatores que influenciam o nível total de renda e do 
produto do sistema econômico.
7.1 Questionamentos centrais da Teoria Macroeconômica
Os fatos macroeconômicos afetam a vida de todos nós. Muitos empresários planejam a elevação 
ou diminuição das quantidades produzidas de seus bens levando em conta qual será, por exemplo, o 
comportamento da renda da sociedade durante um determinado período de tempo.
 Observação
A preocupação macroeconômica reside em conhecer o nível de renda de 
todos os indivíduos de uma sociedade, diferentemente da microeconomia, 
que está preocupada com a renda do consumidor individual.
146
Unidade III
 Observação
Podemos, por uma primeira aproximação, listar alguns dos 
questionamentos levantados pela Teoria Macroeconômica:
•	 qual o comportamento do nível geral de preços;
•	 qual o comportamento do nível geral de produção de mercadorias;
•	 qual a taxa de salários dos trabalhadores;
•	 qual o nível de emprego e de desemprego;
•	 qual o comportamento da taxa de juros da economia;
•	 qual a quantidade de moeda que circula em um sistema econômico;
•	 qual a quantidade de divisas internacionais que um país mantém 
como reservas;
•	 qual a variação da taxa de câmbio entre a moeda nacional e a 
internacional;
•	 qual o tamanho do endividamento do governo;
•	 qual a taxa de investimento das empresas.
Segundo Gregory Mankiw (1995, p. 2),
[...] os macroeconomistas são cientistas que procuram explicar o funcionamento 
da economia como um todo. Reúnem dados sobre rendas, preços, desemprego 
e outras variáveis em diferentes épocas e diferentes países. Procuram, então, 
elaborar teorias gerais que ajudem a explicar esses dados.
1929 1930
60
80
100
200
300
desocupação
Desocupação e produção industrial
produção
1931 1932 1933 1934
Figura 53 – Emprego e produção industrial: preocupação macroeconômica desde a década de 1930
147
ECONOMIA
A Teoria Macroeconômica compreende, então, a análise de todos os mercados, envolvendo os 
preços e quantidades das mercadorias, admitindo que modificações em algum mercado específico ou 
modificações em qualquer de suas variáveis afetam o comportamento de outros mercados. Vamos 
exemplificar para ficar mais claro aonde queremos chegar.
Pense que, num determinado momento, uma empresa do ramo farmacêutico não esteja muito bem 
em suas finanças. A empresa é de grande porte, tem aproximadamente duzentos e cinquenta funcionários 
diretos e, para ajustar sua estrutura de custos, anuncia uma política de demissão envolvendo oitenta 
funcionários. Está bem. Oitenta pessoas perderão seus empregos e, dessa forma, deixarão de ter renda. 
Se deixarão de ter renda, como conseguirão atender às necessidades de consumo de sua cesta? Pense 
que essas oitenta pessoas sejam chefes de família e essas famílias são compostas por quatro membros: 
pai, mãe e dois filhos. Esse chefe de família, agora desempregado, não tem mais condições de pagar o 
estudo particular dos filhos, que ainda são menores de idade. Dessa forma, os filhos passarão a depender 
do ensino público. A família também possuía convênio médio (seguro saúde), que também deixará de 
ser pago em função da falta da renda. Caso algum membro desta família venha a necessitar de cuidados 
médicos, dependerá também do serviço público. Menos roupas serão adquiridas, as idas ao cinema serão 
cortadas, assim como os refrigerantes e o sorvete no final de semana. Quem foi afetado com a demissão 
efetuada pela indústria farmacêutica?
•	 os funcionários, com a perda do emprego;
•	 os membros da família dos funcionários que perderam o emprego;
•	 a escola dos filhos dos funcionários que perderam o emprego, pois deixarão de receber as 
mensalidades, e poderá vir a ter dificuldades em manter sua estrutura de custos;
•	 a empresa que administrava o convênio médico dessa família, que pode vir a ter dificuldades em 
remunerar os médicos conveniados;
•	 o governo duplamente: primeiro, pela perda de arrecadação com impostos em função da queda 
de consumo; segundo, pelo aumento das despesas tanto na rede pública de ensino quanto no 
sistema único de saúde, pois aumentarão os atendimentos;
•	 a empresa de exibição de filmes nos cinemas, já que algumas famílias cortarão esse tipo de lazer;
•	 a empresa que produz refrigerantes bem como o mercadinho da esquina que vende os refrigerantes;
•	 o sorveteiro e a indústria que produz sorvetes.
Vamos adiante. As escolas que deixarão de receber mensalidades também têm funcionários, e se o 
número de alunos diminuir, o número de professores também reduzirá, bem como o de assistentes e 
demais trabalhadores que, por sua vez, também perderão renda e já sabemos o que ocorrerá. A empresa 
que administra convênio médico incorrerá no mesmo problema: mais pessoas sem renda. Nesse ponto, 
você já é capaz de pensar o que acontecerá com os demais setores da economia.
148
Unidade III
Numa situação como a descrita, algo deve ser feito para que a atividade econômica volte a ser 
operante bem como os empregos retomados. É nesse contexto que a atuação do governo se faz presente 
na análise macroeconômica. É a partir da análise de equilíbrio geral que são formuladas as diretrizes 
da política econômica. Portanto, o conhecimento da macroeconomia ajuda as autoridades públicas a 
avaliarem políticas alternativas, por meio dos instrumentos de intervenção, sejam eles por parte fiscal, 
monetária, cambial, de rendas ou demais instrumentos de política.
Conforme Moraes (1996, p. 196):
A macroeconomia estuda o comportamento de variáveis que representam 
a soma (ou a média) de quantidades e preços em mercados numa escala 
nacional. O tipo de modelo que se associa à macroeconomia é, por essa 
razão, chamado de agregativo. Os principais problemas estudados pelo 
enfoque macroeconômico são o desemprego, a inflação, os efeitos das 
políticas econômicas sobre essas variáveis, o crescimento econômico e a 
distribuição de renda.
Podemos esquematizar a divisão do estudo da economia:
Economia
Divide‑se em
Microeconomia
Empresas Famílias Governo País
Macroeconomia
Estudo do 
comportamento econômico
Estudo do 
comportamento econômico
Figura 54 – Divisão do estudo da economia: micro e macro
7.2 Evolução da Teoria Macroeconômica a partir da história
A partir das guerras mundiais, entremeadas pela crise de 1929 e a Grande Depressão, a Teoria 
Econômica convencional passa a ser objetode investigação e passível de mudanças. A partir das catástrofes 
causadas pela Grande Depressão, há uma ruptura com a ciência clássica, pois os chamados economistas 
clássicos, dos quais é exemplo Jean Baptiste Say, acreditavam que as economias de mercado tinham a 
capacidade de, sem a interferência do governo, utilizar de maneira eficiente os recursos disponíveis, ou 
seja, produzir esses recursos com pleno emprego. A partir do momento em que as economias atingissem 
ponto de pleno emprego, o produto da economia e o emprego já estariam determinados, representando 
então a efetiva disponibilidade de recursos.
149
ECONOMIA
 Lembrete
Lembra o que significa ponto de pleno emprego de recursos? Vimos isso 
no início de nossa viagem pela economia com a apresentação da curva de 
possibilidade de produção. Vale recordar.
A macroeconomia, até então prevalecente, sugeria a existência de uma tendência automática ao 
pleno emprego de recursos e, dessa forma, a inexistência de desemprego de trabalhadores. No entanto, 
por conta principalmente da Grande Depressão dos anos de 1930, a evidência empírica mostrava pessoas 
buscando constantemente emprego sem alcançar sucesso.
Neste ambiente, em 1936 surge A Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro, em que John 
Maynard Keynes mostrava que, contrariamente aos resultados apontados pela teoria clássica, as 
economias capitalistas não tinham a capacidade de promover automaticamente o pleno emprego. Assim, 
abriria oportunidade para a ação governamental e seus clássicos instrumentos de política econômica 
para direcionar a sociedade econômica rumo à utilização total dos recursos.
Nesse sentido, para que se justificassem políticas de estímulo ao emprego e à renda dos trabalhadores, 
pensadores como Keynes e seus seguidores ganham espaço na Teoria Econômica. Após diversas leituras 
do livro de Keynes, surge a análise predominante na Teoria Macroeconômica, com o aprimoramento do 
instrumental IS‑LM, desenvolvido por Hicks e Hansen, estruturando uma nova escola no pensamento 
econômico que viria a ser chamada de síntese neoclássica.
i
i*
E
Y* Y
IS
LM
Figura 55 – Instrumento IS‑LM
Com o desenvolvimento da análise IS‑LM, a economia passa a ser estudada a partir das noções 
de equilíbrio, assim como o é na Teoria Microeconômica, mas o equilíbrio a ser estudado pela Teoria 
Macroeconômica é entre taxa de juros (i*) e renda (Y*). No instrumental IS‑LM:
150
Unidade III
i = taxa de juros.
i* = taxa de juros de equilíbrio.
Y = renda.
Y* = renda de equilíbrio.
A curva IS (investiment‑saving) representa o equilíbrio no mercado de bens, em que a 
poupança seria igual ao investimento. A curva LM (liquidit‑money) representa o equilíbrio no 
mercado monetário, em que a oferta da moeda (M) seria igual à demanda por moeda (L). A partir 
desses equilíbrios, qualquer evento econômico passa a ser analisado como impacto no equilíbrio 
proporcionado por esses dois mercados.
 Observação
Perceba que voltamos a falar do fluxo circular da renda demonstrado na 
unidade I. Agora, a curva IS representa o mercado de bens, mercado real, e 
a curva LM, o mercado monetário.
 Saiba mais
Para melhor contato com o modelo IS‑LM, consulte o livro:
VASCONCELLOS, M. A. S.; LOPES, L. M. Manual de macroeconomia: básico 
e intermediário. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
Há um capítulo específico ao assunto, bem como a descrição da evolução 
histórica da Teoria Macroeconômica.
Num sistema econômico moderno, produz‑se grande variedade de bens e serviços, desde automóveis 
até parafusos e alfinetes, como aparelhos eletroeletrônicos, produtos hortifrutigranjeiros e serviços 
médicos e bancários. Sem contar laranjas, sapatos, ventiladores e mais uma infinidade de bens 
e serviços que você possa pensar. Como medir tudo isso? Uma das maneiras de avaliar o desempenho 
da economia é por meio da medição da produção agregada de bens e serviços. Porém, como é possível 
somar a produção de pares de sapatos com quilos de maçãs e litros de leite? Como medir tudo isso em 
uma única unidade de medida para verificar qual o produto agregado de uma nação?
151
ECONOMIA
7.3 Medidas de atividade econômica e distribuição da renda nacional
Nesse momento, é pertinente perguntar como medir a produção realizada pelo sistema 
econômico, tendo em mente que ela é contínua no tempo: os bens e serviços são produzidos e 
consumidos, sendo necessário produzi‑los novamente, pois grande parte das necessidades humanas 
exige um consumo ininterrupto, como é o caso da alimentação, que precisa ser feita diariamente 
(SILVA; LUIZ, 2010).
É neste contexto que surge a contabilidade nacional: “[...] método de mensuração e interpretação 
da atividade econômica que tem como objetivo medir a produção que se realiza em um sistema 
econômico em um determinado período” (SILVA; LUIZ, 2010, p. 44). Para medir o produto de uma 
nação, temos que ter em mente as quantidades de mercadorias que são vendidas em determinado 
período de tempo e seus respectivos preços. Quando são usados os preços de mercado, pares de 
sapatos, quilos de maçãs e litros de leite podem ser somados e comparados, conforme segue:
Tabela 21 – Utilização dos preços de mercado para somar diferentes produtos
Produto Quantidade Preço Valor de mercado
Pares de sapatos 1.000 pares R$ 40,00 o par R$ 40.000,00
Maçãs 3.000 quilos R$ 3,00 o quilo R$ 9.000,00
Leite 5.000 litros R$ 1,30 o litro R$ 6.500,00
Total R$ 55.500,00
Com o exemplo apresentado, podemos chegar à medida de produto nacional, que será dado pelo 
valor monetário dos bens e serviços finais produzidos durante um determinado período de tempo, 
normalmente um ano. Nesse exemplo, o produto nacional dessa nação hipotética seria de R$ 55.500,00. 
Vamos adiante, lembrando‑nos do fluxo circular da renda para ver como isso opera.
 Observação
Veja: não é possível somar unidades com quilos mais litros, mas é 
possível somar o valor monetário que representam.
7.3.1 Identidade entre renda e produto
Já sabemos que o fluxo circular da renda mostra os fluxos reais e monetários. No fluxo real, temos 
de um lado bens e serviços sendo destinados das empresas para as famílias. Quanto ao fluxo monetário, 
as famílias geram receitas às empresas como pagamento da aquisição de bens e serviços, e as empresas 
geram rendas às famílias como remuneração à utilização dos fatores de produção. Relembrando:
152
Unidade III
Gastos ($) (=PIB) Receitas ($) (=PIB)
Bens e serviços
comprados
Terra, capital, trabalho
e empreendedorismo
Salários, aluguéis, juros e 
lucros ($) (PIB)
Renda ($) (PIB)
Insumos para 
a produção
Bens e serviços
vendidos
Fluxo de bens e serviços
Fluxo de dinheiro
Mercado de fatores de 
produção
Famílias Empresas
Mercado de produtos
Figura 56 – Fluxo circular da renda e do produto
O fluxo circular da renda mostra o desenvolvimento de outros dois mercados: o mercado de 
bens e o mercado de fatores, que fazem parte do mercado real. No mercado de bens, aquele em que 
as empresas vendem às famílias sua produção, são estabelecidos os preços das mercadorias e suas 
respectivas quantidades.
Já no mercado de fatores, aquele em que as famílias vendem às empresas fatores de produção, são 
estabelecidas as remunerações de cada um desses fatores e em quais quantidades serão utilizadas. Por 
exemplo, é no mercado de fatores que serão determinados os valores dos salários da mão de obra que 
será empregada.
 Lembrete
Lembre‑se de que na Teoria Microeconômica os mercados também são 
considerados, tanto em termos de demanda como de oferta e, portanto, de 
determinação de preços e quantidades. Lá, a discussão é individual. Aqui, 
no agregado.
Portanto, o fluxo circular da renda, na forma apresentada, é uma versão bastante simplificada da 
realidade ou do funcionamento de uma economia. No entanto, apesar de simples, podemos retirar a 
partir dele vários conceitos, como os de produto nacional e de renda nacional.
153
ECONOMIA
Já sabemos que o produto nacional (PN) é o valor monetário de todos osbens e serviços finais 
produzidos na economia em determinado período de tempo. Portanto, a renda nacional (RN) será o total 
de pagamentos efetuados aos fatores de produção que foram utilizados para a obtenção desse produto.
Então, estamos dizendo que há uma identidade entre produtos e renda: PN = RN.
Vejamos um exemplo.
Tabela 22 – Produção e renda
Produção Renda
Sapatos R$ 40.000,00 Salários R$ 25.900,00
Maças R$ 9.000,00 Juros R$ 10.480,00
Leite R$ 6.500,00 Aluguel R$ 8.430,00
Total R$ 55.500,00
Lucros R$ 10.690,00
Total R$ 55.500,00
Do exemplo, temos que o produto total da economia, o produto nacional, foi de R$ 55.500,00 e, 
para que fossem produzidos sapatos, maçãs e leite neste país, foi necessário utilizar trabalhadores, 
capital, terra e capacidade empresarial. Se esses fatores de produção foram utilizados, então eles 
foram remunerados.
 Lembrete
Lembra que o uso de fatores gera remuneração e que a soma de todas as 
remunerações resulta na renda da sociedade? Explicamos isso na unidade I 
e agora com números.
O total de produção de sapatos, maçãs e leite gerou R$ 25.900,00 em salários, R$ 10.480,00 de 
juros, R$ 8.430,00 de pagamentos pelo aluguel e, por fim, gerou R$ 10.690,00 de lucros, que foram 
reinvestidos na própria produção. No entanto, essa renda que foi gerada na produção deve retornar à 
produção na forma de consumo.
 Observação
Estamos, por simplificação, supondo que essa economia hipotética 
produza apenas três bens, mas sabemos que além destes há uma enorme 
variedade. Os valores são meramente ilustrativos.
154
Unidade III
Portanto, chegamos a outra identidade:
Produto = renda = consumo
De outra forma:
Produto nacional = renda nacional = dispêndio nacional
PN = RN = DN
Vejamos:
Tabela 23 – Produção, renda e consumo (em R$)
Produção Renda Dispêndio
Sapatos 40.000,00 Salários 25.900,00 Despesas de consumo
Maçãs 9.000,00 Juros 10.480,00 Alimentação 17.400,00
Leite 6.500,00 Aluguel 8.430,00 Vestuário 3.420,00
Lucros 10.690,00 Habitação 7.330,00
Higiene 1.480,00
Saúde 5.330,00
Transporte 2.900,00
Educação 10.280,00
Lazer 730,00
Outras despesas
Impostos 1.080,00
Despesas com acumulação
Poupança 5.550,00
Total 55.500,00 Total 55.500,00 Total 55.500,00
 Observação
Ao analisar a tabela anterior, você consegue visualizar o fluxo circular 
da renda? A produção está representando as empresas, a renda representa 
os consumidores e o dispêndio, a renda que retorna às empresas.
Além dos conceitos de produto nacional, renda nacional e de dispêndio nacional, devemos proceder 
ao conhecimento de outros conceitos, que também surgem por meio do fluxo circular da renda.
7.3.2 Valor bruto da produção e valor agregado
Vamos supor que essa economia hipotética da qual estamos tratando produza, além de sapatos, 
maçãs e leite, também pães, já que existem gastos com alimentação, conforme demonstrado pelas 
categorias de dispêndio.
155
ECONOMIA
Sabemos que os pães que nos alimentam quando tomamos nosso café pela manhã não surgem 
do nada, mas, sim, são produzidos por meio da combinação de fatores de produção. Sabemos 
ainda que um dos fatores de produção bastante importante à produção de pães é a farinha, que é 
derivada do trigo.
O trigo, por sua vez, é proveniente da atividade agrícola, setor primário da economia, e será 
transformado em farinha por meio do processo de industrialização, categorizando, então, o setor 
secundário da economia. Após o trigo ser transformado em farinha, ela será utilizada para, dentre as 
demais coisas, ser transformada em pão a ser comercializado pelo setor terciário da economia.
Vamos admitir que quem transforma o trigo em farinha não produz esse cereal, mas, sim, o adquire, 
e que o mesmo acontece com o produtor de pães. Ele não produz farinha, mas a compra para utilização. 
Então, no preço do pão estão inclusos os custos de fabricação; da mesma forma, no preço da venda final 
da farinha está incluso o gasto com a aquisição de trigo.
Vejamos um exemplo que apresenta relações entre diferentes setores de atividade econômica. Os 
setores de atividade econômica são:
•	 setor primário: atividades de extração, agricultura e pecuária;
•	 setor secundário: atividades da indústria;
•	 setor terciário: atividades do comércio e dos serviços.
Vamos então ao exemplo:
Tabela 24 – Estágios de produção de pão (em R$)
Estágios da produção Vendas do período Custos do período Valor adicionado
Trigo 30,00 – 30,00
Farinha 50,00 30,00 20,00
Pão 90,00 50,00 40,00
Total 170,00 80,00 90,00
Do exemplo, temos que o trigo foi vendido ao mercado pelo valor de R$ 30,00. Portanto, quem 
comprou o trigo teve um dispêndio total de R$ 30,00. Provavelmente, quem o adquiriu é aquela indústria 
que o transformará em farinha. Após a transformação do trigo, a farinha é vendida ao mercado ao valor 
de R$ 50,00. Como nesse preço de venda está embutido o custo de produção, ou seja, o custo com a 
aquisição de fatores de produção, o que o setor secundário agregou ao produto dessa economia foi 
somente R$ 20,00, ou seja, a diferença entre o preço de venda de sua mercadoria e os valores gastos 
com bens intermediários.
156
Unidade III
Seguindo esse raciocínio, a farinha foi vendida no mercado ao preço de R$ 50,00 e quem a adquiriu 
incorreu em um dispêndio total de mesmo valor. Porém, quem comprou a farinha vai transformá‑la 
em pão, que será o produto da venda do setor terciário da economia. O pão, de acordo com o exemplo, 
será vendido por R$ 90,00, mas, como foram gastos R$ 50,00 em custos de fatores de produção, foram 
agora agregados ao produto nacional dessa economia somente R$ 40,00. Portanto, chegamos a novos 
conceitos: valor bruto e valor agregado.
Entende‑se por valor bruto da produção o cálculo do que cada ramo de atividade recebeu com as 
vendas de bens, que no exemplo anterior representaria R$ 170,00. Entende‑se por valor agregado ou 
valor adicionado o cálculo do que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada 
etapa do processo produtivo, que nesse exemplo é de R$ 90,00.
Assim, o valor do produto agregado dessa economia é R$ 90,00, que corresponde à produção 
do último bem final dessa economia. Esse valor pode também ser encontrado somando‑se o valor 
adicionado em cada etapa do processo produtivo. Já o valor bruto da produção é a soma do valor de 
cada um dos bens na economia que, no nosso exemplo, é igual a R$ 170,00. Esse valor apresenta o 
problema da dupla contagem, já que no valor de cada produto também foram incluídos os valores dos 
insumos necessários à sua produção, ou seja, o chamado consumo intermediário. Então,
VBP – VBI = VA
Onde:
VA = valor agregado ou valor adicionado.
VBP= valor bruto da produção.
VBI = valores de bens intermediários.
A tabela que segue sumariza os valores encontrados em cada setor de atividade econômica.
Tabela 25 – Valor bruto da produção, valor de bens intermediários, valor agregado
Setor de atividade econômica Atividade VBP VBI VA
Setor primário
Trigo
(agricultura)
30,00 – 30,00
Setor secundário
Farinha
(indústria alimentícia)
50,00 30,00 20,00
Setor terciário
Pão
(comércio)
90,00 50,00 40,00
Total 170,00 80,00 90,00
157
ECONOMIA
 Saiba mais
Convidamos você a visitar a biblioteca virtual e pesquisar em livros de 
macroeconomia, ou mesmo naqueles que tenham o título de Introdução à 
Economia, o que vem a ser o problema da dupla contagem e o porquê da 
maior importância do valor agregado em comparação ao valor bruto da 
produção.
7.3.3 Demais medidas agregadas
A partir da identidade macroeconômica básica em que produto é igual à renda, que é igual ao 
dispêndio, podemos verificar então como são demonstradas as demais medidas agregativas de um 
sistema econômico. Iniciaremos pelo produto interno bruto.
O produto interno bruto, PIB, refere‑se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos 
dentro do território econômico do país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das 
unidades produtoras desses bens e serviços,excluindo as transações intermediárias. É obtido por meio 
da seguinte fórmula:
PIB = C + I + G + X + M
Onde:
PIB = produto interno bruto.
C = consumo das famílias.
I = investimento das empresas.
G = gastos do governo.
X = exportações.
M = importações.
Outra medida agregada é o produto nacional bruto. O PNB é obtido pelo valor de mercado de todos 
os bens e serviços finais produzidos na economia em um dado período de tempo. Em fórmula:
PNB = C + I+ G + (X – M)
Onde:
158
Unidade III
PIB = produto interno bruto.
C = consumo das famílias.
I = investimento das empresas.
G = gastos do governo.
(X – M) = exportações líquidas.
Exemplo de aplicaçãoExemplo de aplicação
Procure pesquisar nos mais diversos meios de informação por que motivo o Brasil anuncia PIB e os Procure pesquisar nos mais diversos meios de informação por que motivo o Brasil anuncia PIB e os 
Estados Unidos anunciam PNB. Você verá que há um motivo forte.Estados Unidos anunciam PNB. Você verá que há um motivo forte.
 Saiba mais
Acesse o site do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 
www.ibge.gov.br, e veja como esse instituto divulga os dados da produção 
dos três setores da economia, bem como a estimação do produto interno 
bruto. Temos certeza de que obterá informações muito interessantes.
Tendo sido então o PNB definido como o valor de mercado dos bens e serviços finais produzidos na 
economia, em um determinado período de tempo, e que, portanto, é avaliado em termos monetários, 
precisamos observar um aspecto bastante importante.
Se, por exemplo, anunciamos que de um ano para outro houve aumento da ordem de 25% no PNB 
de um país, resta descobrir o que levou a esse aumento: se foram as quantidades de mercadorias que 
aumentaram ou se foram os preços das mercadorias que sofreram elevação. Para tanto, precisamos 
diferenciar PNB nominal de PNB real. O PNB nominal mede o valor da produção com relação aos preços 
prevalecentes no período durante o qual o bem é produzido. Já o PNB real mede o valor da produção em 
qualquer período com relação aos preços de um ano‑base. Ele nos mostra uma estimativa real ou física 
na produção entre anos específicos.
Outra medida de atividade econômica pode ser verificada por meio do produto nacional líquido. O 
PNL é o agregado econômico que define o valor dos bens e serviços finais realmente acrescentados à 
riqueza nacional. Consiste na produção líquida total gerada pela economia de um país no período de 
um ano. Ele se diferencia do PNB por considerar apenas os investimentos líquidos, ou seja, exclui dos 
investimentos brutos a depreciação. Desconsidera o desgaste de fatores de produção fixos da economia. 
159
ECONOMIA
Desta forma,
PNL = C + I
l + G + (X‑M)
Onde:
PNL = produto nacional líquido.
C = despesas com consumo.
I = despesas com investimentos líquidos.
G = despesas do governo.
(X‑M) = exportações líquidas.
Se o assunto aqui foram as medidas de atividade econômica e, como vimos, estas são avaliadas em 
unidades monetárias, torna‑se interessante considerar questões relacionadas à moeda, outro assunto 
da Teoria Macroeconômica.
7.4 Considerações acerca da teoria monetária
Inicialmente, vamos refletir sobre o que vem a ser moeda. A moeda é um artigo utilizado para 
efetuar trocas. Dá‑se moeda em troca de algo. Trabalhamos em troca de moeda. O termo moeda designa 
moedas metálicas e papel moeda, as cédulas que utilizamos.
Vamos pensar um pouco. A moeda tem valor? Você, por acaso, já encontrou alguém nas ruas 
de sua cidade vendendo moedas, vendendo dinheiro? Possivelmente não. Por qual motivo? Antes 
da resposta, reflita mais um pouco! Qual o valor de uma cédula, nota, de R$ 20,00? Quanto vale 
uma nota de R$ 100,00? Qual o valor de uma moeda metálica de R$1,00? Parece estranho dizer, mas, 
nas economias modernas, as notas bem como as moedas não têm qualquer valor. Representam valor! 
Representar valor significa ter poder aquisitivo. Uma cédula de R$ 50,00 representa um poder de compra 
de cinquenta unidades monetárias. Uma cédula de R$ 10,00 representa um poder de compra de dez 
unidades monetárias e assim por diante. Esse deve ser o motivo pelo qual não encontramos pessoas nas 
ruas vendendo moedas, pois qualquer pessoa não aceitaria vender uma nota de R$ 100,00 por um valor 
mais baixo do que ela vale e também ninguém aceitaria pagar mais do que esse valor pela nota.
7.4.1 Funções e histórico da moeda
Podemos pensar que a moeda é uma mercadoria, mas não qualquer mercadoria. Uma mercadoria 
específica, que reúne a propriedade de ser trocada por qualquer outra mercadoria. Basta ter em mãos 
cédulas ou moedas metálicas para poder trocar por qualquer artigo que represente exatamente as unidades 
monetárias incorporadas na moeda. Se tivermos em mãos R$ 80,00, podemos adquirir qualquer mercadoria 
que tenha um preço idêntico ou menor do que esse valor e que esteja disponível para venda, obviamente.
160
Unidade III
Figura 57 – Moeda
A especial característica que a moeda reúne é a de ser aceita em qualquer situação. Veja um exemplo: 
seria muito difícil, numa economia moderna, adquirir mercadorias pagando, ou trocando, por outras 
mercadorias como à época do escambo. Caso você queira um sapato novo, você não conseguirá trocar no 
mercado pelo seu trabalho direto. Haveria a necessidade de dupla coincidência de desejos: o seu desejo em 
ter os sapatos e o do vendedor em utilizar sua força de trabalho. Agora, de posse da moeda, tudo fica mais 
fácil. Se o vendedor coloca à venda os sapatos que você deseja, basta que você tenha poder de compra, 
representado pela moeda, e os compre, pagando em moeda. Pronto. Efetuamos uma troca indireta. Moeda 
por mercadoria, no caso do comprador, e mercadoria por moeda, no caso do vendedor.
 Observação
Se a moeda, então, pode ser pensada como uma mercadoria, mas uma 
mercadoria especial, ela deve também desempenhar algumas funções.
Devido ao desenvolvimento da divisão do trabalho que especializou pessoas e empresas como 
produtores de mercadorias, nas economias modernas há um volume absurdamente grande de 
mercadorias à disposição da sociedade. Ainda mais: com a divisão do trabalho, os agentes econômicos 
tornaram‑se cada vez mais interdependentes uns dos outros, cada um depende do trabalho do outro ou 
depende, para seu bem‑estar, da produção do outro (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011). Dessa forma, 
um volume grandioso de trocas indiretas é realizado e, nesse aspecto, a moeda desempenha uma de 
suas principais funções: ser intermediária de trocas (meio de trocas).
A função de intermediária de trocas, ou, se preferir, meio de troca, ou ainda, meio de pagamento, 
permite que mercadorias sejam compradas e vendidas em diferentes períodos de tempo sem depender 
da coincidência de desejos. Além de servir como intermediário de trocas, a moeda exerce ainda outras 
duas funções básicas: servir como unidade de conta e também como reserva de valor.
161
ECONOMIA
A função unidade de conta da moeda está representada nos diversos contratos existentes na 
economia. Em um contrato de trabalho, por exemplo, a função unidade de conta aparece no valor do 
salário ali grafado: x unidades monetárias. Num contrato de prestação de serviços, também desempenha 
sua função unidade de conta no valor que será pago pelo contratante ao contratado, mediante o 
serviço prestado. Está ainda representada nos preços dos produtos. Uma camisa, por exemplo, que está 
à disposição numa vitrine de uma loja qualquer: lá está, possivelmente numa etiqueta, a indicação do 
valor daquele produto, tantas unidades monetárias. Ali está, portanto, a moeda exercendo sua função 
de unidade de conta. Outro nome que pode ser atribuído a essa função da moeda é moeda de conta. A 
moeda de conta, que aparece ou nos contratos ou nos preços dos produtos, determina qual o montante 
de moeda corrente necessário para aquela troca.
Uma última função desempenhada pela moeda é servir de reserva de valor. De posse de unidades 
monetárias, e dada a existência demercados à vista e a prazo, seu possuidor tem o direito de reservar 
tal moeda para consumo ou para pagamento futuro. Em economias com estabilidade monetária (sem 
inflação), a moeda consegue exercer tal função, de poder reservar ou preservar seu valor ao longo do 
tempo. Em períodos de inflação elevada, a erosão dos ativos monetários será uma consequência.
Para que a moeda desempenhe suas funções, algumas características, particulares devem ser 
reunidas. Dentre as características estão as econômicas, entendidas como custo de estocagem e custo de 
transação negligenciáveis ou próximos de zero. O que isso significa? Significa que para manter moeda, 
seu custo é zero e que transportar moeda também tenha um custo zero. As outras características da 
moeda, as físicas, dizem que a moeda deve ser divisível, durável, que haja dificuldade em falsificação, 
que exista manuseabilidade e que também seja favorecida sua transportabilidade. Somente reunindo 
características físicas e econômicas a moeda consegue exercer suas funções de intermediária de trocas, 
unidade de conta e reserva de valor (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
É necessário efetuar um “passeio” pela história e conhecer as diversas formas que a moeda assumiu 
ao longo dos tempos. Desde a antiguidade, os povos utilizam moeda para efetuar trocas de mercadorias. 
Inicialmente as trocas eram efetuadas de forma direta, pois o homem vivia em pequenas comunidades, 
nas mais primitivas culturas, em que a economia funcionava à base de escambo. Esse sistema exigia a 
coincidência de desejos, pois apenas produtos encontravam‑se disponíveis para trocas. Conforme Passos 
e Nogami:
[...] imaginem um indivíduo que tenha maçãs e queira castanhas. Seria 
uma coincidência fora do comum encontrar um outro indivíduo que 
tivesse gostos exatamente opostos, ansioso por vender castanhas e 
comprar maçãs. Ainda que aconteça o fora do comum, não há garantia 
de que os desejos das duas partes, no que se refere às quantidades e aos 
termos de troca exatos, coincidam. Da mesma forma, a menos que um 
alfaiate faminto encontre um fazendeiro nu que tenha alimentos e o 
desejo de ter um par de calças, nenhum dos dois pode realizar o negócio 
(PASSOS; NOGAMI, 2003, p. 446).
162
Unidade III
 Observação
Percebe‑se, então, que com o desenvolvimento da divisão do trabalho 
e a maior especialização na produção de mercadorias, a prática rudimentar 
de escambo é dificultada.
Nos primórdios, o homem vivia em pequenas comunidades de uma única família, e se utilizava 
da vegetação e da caça disponíveis na região que habitava. Esses recursos eram os únicos com os 
quais contava para a sua subsistência. Imagine um agricultor de cenouras, por exemplo. Se ele produz 
cenouras, o produto de seu trabalho são cenouras. Só que, não só de cenouras vive tal agricultor e 
sua família, eles dependem da produção alheia para sobreviver. Dependem, portanto, da troca de seu 
excedente pelo excedente de produção de outra pessoa. Suponha que tal agricultor de cenouras precise 
adquirir carne para sua alimentação. O que ele tem para trocar são cenouras e precisará encontrar no 
mercado algum produtor que venda carnes e que deseje cenouras em troca. Fácil, não? Não, não é fácil! 
E o manuseio? E o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? 
Parece realmente não ser fácil.
Assim, as sociedades se empenharam para desenvolver um sistema em que um equivalente geral 
fosse aceito como meio de trocas, iniciando, desse modo, um sistema de trocas indiretas que passa 
a ser intermediado por algum bem que represente aceitação e curso geral. Estamos tratando da Era 
Mercadoria‑Moeda ou, simplesmente, moedas‑mercadorias. Foram utilizadas como moedas‑mercadorias 
o gado, o fumo, o azeite de oliva, os escravos, o sal, dentre outros produtos.
 Lembrete
Para que uma mercadoria possa ser utilizada como moeda, ela deve 
apresentar as características de durabilidade, divisibilidade, homogeneidade, 
bem como facilidade no manuseio e transporte, características que não 
eram reunidas em alguns dos exemplos anteriormente citados, apesar de as 
moedas‑mercadorias terem facilitado um pouco a vida dos agentes.
Outra forma de moeda utilizada pelas sociedades antigas foram as moedas preciosas, representando 
a Era da Moeda Metálica ou do Metalismo, notadamente pelo uso do ouro e da prata. Também fizeram 
parte desse período o cobre, o bronze, o ferro. O ouro, em barra, tem um valor incorporado. O mesmo 
ocorre com as unidades de prata. São mercadorias que, por não apresentarem depreciação, carregam 
seu valor ao longo dos tempos, permitindo às pessoas guardá‑las para serem utilizadas em trocas de 
mercadorias no melhor momento. Apesar de mais se assemelharem com as funções e características da 
moeda, são também mercadorias que, para serem trocadas por outras, dependem da dupla coincidência 
de desejos. Novamente: e o manuseio? E o transporte? E a durabilidade, características físicas da 
moeda? E a divisibilidade? Parece que o ouro e a prata também não foram as melhores alternativas 
para a moeda, daí então que a sociedade caminha para outra forma alternativa: a Era da Moeda‑Papel 
(JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
163
ECONOMIA
Conforme Passos e Nogami,
[...] a moeda representativa ou moeda‑papel veio eliminar, portanto, as 
dificuldades que os comerciantes enfrentavam em seus deslocamentos pelas 
regiões europeias, facilitando a efetivação de suas operações comerciais e 
de crédito, especialmente entre as cidades italianas e a região de Flandres. A 
sua origem está na solução encontrada para que os comerciantes pudessem 
realizar os seus empreendimentos comerciais. Em vez de partirem carregando 
a moeda metálica, levavam apenas um pedaço de papel denominado 
certificado de depósito, que era emitido por instituições conhecidas como 
‘Casas de Custódia’, e onde os comerciantes depositavam as suas moedas 
metálicas, ou quaisquer outros valores, sob garantia (PASSOS; NOGAMI, 
2003, p. 451).
Tal modalidade de moeda, um papel, um certificado de depósito, desempenhava boa função. Tinha 
nele incorporado um valor representativo, inicialmente com lastro de 100% e garantia de aceitação, vez 
que representava ali uma determinada quantidade de valor. Dessa modalidade, a sociedade avança para 
outro tipo de moeda: a moeda fiduciária ou papel‑moeda. Moeda fiduciária, de fidúcia, garantia. Para 
Lopes e Rossetti,
[...] a experiência de custódia e da conversibilidade mostrou que o lastro 
metálico integral (de 100%) em relação aos certificados em circulação não 
era necessário para a operacionalização desse novo sistema monetário. Essa 
constatação decorreu da percepção de que a reconversão da moeda‑papel 
em metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores ao 
mesmo tempo. Além disso, enquanto uns solicitavam a reconversão, outros 
ensejavam novas emissões, levando às casas de custódia novas quantidades 
de ouro e prata para depósito (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 33).
Vamos entender melhor isso. As casas de custódia funcionavam como uma espécie de banco, onde 
alguns agentes depositavam barras de ouro, bem como suas peças de prata e, em troca, recebiam um 
papel representando aquele valor.
Quilos de ouro x preço do ouro = valor do ouro.
Valor do ouro depositado = um papel escrito o quanto vale.
De posse de tal documento, papel‑moeda, exerciam suas trocas comerciais. O recebedor de tal 
documento possuía agora o direito de ir até a casa de custódia e resgatar o valor ali identificado. 
Tal reconversão nem sempre era necessária de forma que grande quantidade de ouro permanecia 
depositada em tais casas e os “guardiões dos metais preciosos” podiam começar a emitir papéis não 
mais lastreados (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 33). Inaugura‑se, então, um período em que a emissão de 
papel‑moeda será exercida por particulares até que o governo chame para si tal responsabilidade.
164
Unidade III
Da modalidade de moeda fiduciária (papel‑moeda) até a modalidade da moeda bancária,manual ou 
escritural como conhecemos na atualidade, foi questão de tempo.
7.4.2 Da moeda aos meios de pagamento
Consideradas todas as formas que a moeda assumiu durante os tempos, podemos verificar as formas 
que assume numa economia moderna como a de nossos tempos. Assim, podemos dizer que, sobre o 
montante de moeda que temos à nossa disposição, os meios de pagamento (MP) dividem‑se em papel 
moeda em poder do público (PMPP) e os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVbc). Portanto,
MP = PMPP + DVbc
Ademais, podemos considerar ser PMPP moeda manual (cédulas e moedas metálicas) e DVbc moeda 
escritural (depósitos ou representação de saldos positivos e/ou negativos em contas correntes). Para 
que PMPP seja efetivamente utilizado pela coletividade, o Banco Central, na qualidade de autoridade 
monetária, precisa emitir moeda, PME, ou seja, papel‑moeda emitido. No entanto, nem todo PME 
converte‑se em PMPP, pois o próprio Banco Central retém parte desses recursos. Portanto,
Papel moeda em circulação = papel moeda emitido – caixa do Banco Central (retenção)
Por sua vez, os bancos comerciais também não colocam à disposição da sociedade todo o volume monetário 
de que o Banco Central injetou. Parte desses recursos, os bancos comerciais retêm em encaixe técnico. Assim,
Papel moeda em circulação = papel moeda emitido – caixa do Banco Central – encaixe técnico bancário
Vimos que a moeda manual é criada pela autoridade monetária e chega às mãos da coletividade 
via bancos comerciais. Esses últimos são responsáveis pela expansividade dos meios de pagamento por 
meio da criação de moeda escritural. A moeda escritural é criada, então, pelos bancos comerciais a partir 
do recebimento de depósitos à vista. Por meio de uma operação contábil, dá‑se a criação de meios de 
pagamento, e tal atividade aparece no balancete do banco comercial onde, a título de exemplo, no lado 
do passivo são registrados valores de depósitos recebidos e no lado do ativo são registrados todos os 
empréstimos concedidos a partir dos recursos recebidos pelos depósitos à vista.
7.5 O setor público na economia e a política econômica
Para que seja possível compreender o papel que o governo desempenha em economias capitalistas, 
bem como a importância da política econômica, começaremos com as funções do governo e seus objetivos.
É consenso entre os autores Nascimento (2014), Giacomoni (2012), Giambiagi e Além (2008), Riani 
(2012) e Matias‑Pereira (2012) que deve‑se a Richard Musgrave a definição do que são as funções do 
governo. Segundo Giacomoni (2012, p. 22), 
165
ECONOMIA
Richard Musgrave propôs uma classificação das funções econômicas do 
Estado, que se tornaram clássicas no gênero. Denominadas as “funções fiscais”, 
o autor as considera também como as próprias “funções do orçamento”, 
principal instrumento de ação estatal na economia. São três as funções: 
a) promover ajustamentos na alocação de recursos (função alocativa); b) promover 
ajustamentos na distribuição de renda (função distributiva); e c) manter a 
estabilidade econômica (função estabilizadora).
Vejamos então as três funções básicas conforme identificadas no excerto anterior.
Função alocativa
Designa a alocação de recursos pela atividade estatal quando não houver eficiência da iniciativa 
privada ou quando a natureza da prática indicar a necessidade da presença do Estado. A intervenção 
estatal na alocação de recursos justifica‑se naqueles casos que não são de interesse do setor privado. 
É o processo pelo qual o governo divide os recursos para utilização no setor público e privado, oferecendo 
bens públicos, semipúblicos e meritórios, como rodovias, segurança, educação, saúde aos cidadãos. 
Dessa forma, está associada ao fornecimento de bens e serviços não oferecidos adequadamente 
pelo sistema de mercado (NASCIMENTO, 2014). Nesse sentido, cabe ao governo decidir pelo tipo e pela 
quantidade de bens públicos que ofertará, ou seja, a quais tipos de necessidades atenderá. 
Conforme Riani (2012), para assegurar uma alocação mais eficiente dos recursos, o governo não 
precisa produzir ou gerar diretamente o bem ou o serviço. Ele poderá fazê‑lo ou induzir a oferta pelo 
setor privado. Nesse aspecto, existem quatro possibilidades de atuação:
• alocação por parte do governo de recursos diretos para a produção e, portanto, a oferta dos bens, 
de que são exemplos a defesa nacional e seus serviços de segurança pública;
• compras governamentais em que o governo adquire a produção efetuada por outras empresas 
e repassa os bens à sociedade, de que são exemplos medicamentos, merenda escolar ou mesmo 
campanha de vacinação;
• indução do setor privado a aumentar a produção via subsídios ou incentivos fiscais, favorecendo 
a produção e provocando queda de preços de venda, beneficiando determinada população;
• empresas estatais em que o governo chama para ele a responsabilidade da produção de algum 
bem ou serviço que não seja oferecido pela iniciativa privada. 
Função distributiva
Nem sempre toda a riqueza que é gerada em um país é distribuída de forma igualitária entre seus 
pertencentes, o que, por vezes, gera a chamada desigualdade social. Nesse sentido, Riani (2012, p. 22) 
esclarece que: 
166
Unidade III
fatores tais como oportunidade educacional, mobilidade social, habilidade 
individual, mercado de trabalho, propriedades dos fatores de produção etc. levam, 
dentro de uma economia de livre mercado, a desigualdades na apropriação da 
renda e da riqueza gerada pelo sistema econômico. [...]. O mercado funcionando 
livremente sem a interferência do governo não se preocupará com a concentração 
de renda e da riqueza, uma vez que as atividades econômicas alcancem seus 
objetivos, atingindo frações segmentadas da sociedade detentoras de recursos 
para suas compras. Assim, a possibilidade espontânea da desconcentração da 
renda torna‑se ilusória.
Diante o exposto, vê‑se que cabe ao Estado promover a melhoria na distribuição da renda por 
intermédio do gasto público como principal instrumento de política pública. Essa afirmação apoia‑se 
em Nascimento (2014, p. 80), segundo o qual a “função distributiva refere‑se à distribuição, por parte 
do governo, de rendas e riquezas”. 
Por outro lado, Rezende (2012), bem como Giambiagi e Além (2008) destacam que, além dos gastos 
governamentais a exemplo de transferências, a tributação progressiva aliada aos subsídios auxiliam 
no processo de distribuição do produto. Enquanto os programas de transferência apresentam‑se de 
forma direta quanto à redistribuição, a tributação progressiva oferece condições de o governo arrecadar 
recursos das camadas mais abastadas da sociedade e utilizá‑los como forma de financiamento de 
programas voltados para a parcela da população de mais baixa renda. Aqui, a forma de redistribuição 
seria uma melhoria dos atendimentos públicos nos sistemas de saúde ou mesmo nos utilizados para 
financiamento da construção de moradias populares.
Giacomoni (2012, p. 25) complementa que, por mais que as políticas distributivas estejam inseridas 
no ambiente de correção de falhas de mercado, acabam por vezes sendo encaradas como “problemas 
de política e de filosofia social” pois cabe à sociedade avaliar o que vem a ser justiça distributiva. 
Concordando que a distribuição de renda também seja uma questão de orçamento público, são exemplos 
de política pública com efeito distributivo: educação gratuita, capacitação profissional e programas de 
desenvolvimento comunitário.
 Saiba mais
Conheça mais sobre os programas de distribuição de renda no Brasil e 
seus efeitos na economia. Para tanto, convidamos a ler o texto:
SOUZA, A. P. Políticas de distribuição de renda no Brasil e o Bolsa‑família: 
texto para discussão n. 281. C‑Micro Working Paper Series, n. 1, maio de 2011. 
Disponível em: https://bityli.com/9iRSL. Acesso em: 19 mar. de 2020.
167
ECONOMIA
Função estabilizadora
A função estabilizadora está estreitamente ligada ao desemprego e à inflação enquanto falhas de 
mercado pois, de formaabrangente, visa assegurar um desejável nível de emprego e estabilidade nos 
preços que não são totalmente controlados pelo sistema de livre mercado. Conforme Riani (2012, p. 22), 
quando o desemprego prevalece, o governo aumenta o nível de demanda 
no mercado, elevando seus gastos ou diminuindo seus tributos, recolocando 
a produção no pleno emprego. Por outro lado, se há inflação, o governo 
pode reduzir a demanda de mercado, ajustando seus gastos e/ou a carga 
tributária, o que contribui para a diminuição e controle de preços.
Do ponto de vista da política fiscal, o governo pode corrigir o desemprego como falha de mercado 
pela elevação dos gastos públicos, aumentando a quantidade de dinheiro no sistema econômico, o 
que incentiva a sociedade a elevar o consumo, bem como as empresas a aumentarem seus níveis 
de produção. 
Dessa forma, com maior produção, as empresas passam a contratar maior quantidade de pessoas, o 
que expande a renda. O mesmo efeito será gerado se a opção for pelo uso da diminuição de tributação. 
Porém, com a expansão da demanda, os preços sobem, o que ocasiona inflação. Assim, paralelamente, o 
governo pode utilizar demais instrumentos, a exemplo da política monetária, para manter a estabilidade 
de preços.
7.5.1 Política monetária
Agora temos condições de tratar das questões relacionadas à política monetária. Entende‑se por 
política monetária toda ação tomada pelo Banco Central com relação ao padrão monetário de um país. 
O Banco Central, considerada autoridade monetária em qualquer país, além de demais atividades, tem a 
função de preservar o valor da moeda ao longo do tempo. É responsável pelo controle direto da liquidez 
no sistema econômico de determinado país. Para o Banco Central desempenhar suas funções, ele pode 
adotar alguns instrumentos de política monetária. São eles:
•	 emissão de moeda;
•	 administração da taxa de juros;
•	 coeficiente de recolhimento compulsório;
•	 operação de redesconto;
•	 operação de open market;
•	 seleção do crédito.
168
Unidade III
 Observação
Entre as principais atribuições de competência do Banco Central do 
Brasil no sistema monetário e financeiro nacional, podemos destacar:
•	 Fiscalizar as instituições financeiras, aplicando, quando necessário, 
as penalidades previstas em lei. Essas penalidades podem ir desde 
uma simples advertência aos administradores até a intervenção para 
saneamento ou liquidação extrajudicial da instituição.
•	 Conceder autorização às instituições financeiras, no que se refere 
ao funcionamento, instalação ou transferências de suas sedes, e aos 
pedidos de fusão e incorporação.
•	 Executar a emissão de moeda e controlar a liquidez do mercado, 
bem como efetuar as operações de compra e venda de títulos 
públicos e federais.
Vejamos as características de cada um dos instrumentos de política monetária.
A emissão monetária é a forma primária de controle monetário por parte do governo, pois expande 
e contrai o volume de moeda disponível na economia, de acordo com seus objetivos. Com isso, é possível 
controlar a liquidez da economia e, por consequência, o multiplicador bancário – capacidade dos bancos 
comerciais expandirem meios de pagamento – também é controlado.
Entende‑se por recolhimento compulsório a reserva legal determinada pelo Banco Central. 
Trata‑se da parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos devem manter em caixa ou junto ao 
Banco Central. Para que você entenda melhor: os bancos comerciais são obrigados por lei a repassar 
ao Banco Central certa quantidade dos depósitos à vista que a coletividade efetua. Assim, o Banco 
Central regula a liberdade de os bancos comerciais negociarem todo o volume de dinheiro que têm 
à sua disposição e exercita a sua função de banqueiro dos bancos e salvaguarda os direitos dos 
correntistas (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
Da mesma forma que os bancos comerciais estão obrigados a repassar parte de seus saldos monetários 
captados por meio dos depósitos à vista, podem, quando necessário e atendendo a certas exigências, 
solicitar auxílio ao Banco Central. Para tanto, utilizam‑se da operação de redesconto.
Com esse instrumento de política monetária, o Banco Central tem o objetivo de auxiliar instituições 
financeiras em dificuldades monetárias. Tal instrumento é acionado por bancos comerciais que já recorreram 
ao mercado interbancário na tentativa de cobrir seus saldos deficitários e não obtiveram sucesso por motivo 
justificado. Portanto, a última opção seria pedir ajuda, ou cobertura monetária, junto ao Banco Central.
Nesse aspecto, o Banco Central desempenha outro papel que é o de ser emprestador de última 
instância. Motivo: quando um banco comercial recorre a ele para cobrir possível déficit de caixa, faz 
169
ECONOMIA
com que o Banco Central intensifique sua fiscalização naquele banco. O Banco Central emprestará os 
recursos necessários, mas a taxas de juros punitivas.
Outro instrumento de política monetária é a operação de open market, ou, se preferir, operação 
de mercado aberto. É com esse instrumento que o Banco Central efetua leilões de venda e compra de 
títulos públicos para arrecadar recursos com a sociedade, para efetuar gastos ou simplesmente diminuir 
liquidez, ou para recomprar os títulos vendidos anteriormente.
Se admitirmos um open market de venda, significa que o Banco Central está vendendo títulos 
públicos, colocando‑os à disposição para a aplicação por parte da sociedade e, dessa forma, retirando 
moeda de circulação. Esse é um exemplo de política monetária contracionista. De outra forma, será 
expansionista quando for utilizado um open market de compra. Assim, o Banco Central devolve os 
recursos tomados emprestados anteriormente.
No Brasil atual, o principal instrumento de política monetária utilizado é a administração da taxa 
de juros. Podemos entender por juros o custo da moeda, do dinheiro. Agentes superavitários de moeda, 
que têm poupança ou qualquer outra aplicação financeira, recebem juros por deixar seu dinheiro à 
disposição para uso de outrem. De forma contrária, agentes deficitários de moeda pagam juros quando 
necessitam de recursos que são de outra pessoa.
O juro é uma variável muito importante na economia e, por essa razão, um dos mais importantes 
instrumentos de política monetária. São trabalhados como taxa, taxa de juros, e toda vez que essa taxa 
sobe, investimentos industriais produtivos são freados, desencorajados, pois um empresário que toma 
junto a um banco certa quantia de dinheiro para investir na produção deve levar em consideração o 
quanto pagará pela tomada de empréstimo e o quanto receberá de lucros pelo investimento produtivo 
efetuado. Assim, dada uma taxa de juros mais elevada num tempo qualquer, o custo do dinheiro 
também fica mais elevado. O mesmo ocorrerá com o custo do crédito. Diante uma taxa de juros mais 
elevada, o crédito ao consumidor também sobe, pois as sociedades de crédito cobrarão um preço mais elevado 
pelo montante de dinheiro que emprestarão. Resultado: diminuição dos investimentos na produção, 
conforme o caso do nosso empresário, e também diminuição do consumo por parte de nosso cidadão 
tomador de crédito. Quando os empresários não investem na produção e os consumidores não adquirem 
produtos, temos a queda da produção de mercadorias, do emprego e da geração de renda. A economia 
entra, então, num processo recessivo, contracionista (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
 Saiba mais
Você pode obter mais informações acerca do uso da política monetária 
no site do Banco Central do Brasil:
www.bcb.gov.br
Procure pelas Atas de Reunião do COPOM – Comitê de Política Monetária. 
Nas Atas, você poderá perceber de que forma a política monetária está 
sendo conduzida no Brasil.
170
Unidade III
7.5.2 Política fiscal
A política fiscal compreende ações do governo relacionadas ao seu orçamento, o Orçamento do 
Setor Público. Ela definirá o quanto o governo irá arrecadar e o quanto poderá gastar. O Estado adquire 
receita via impostos, tributos etaxas, pagas pelo contribuinte, no intuito de manter a ordem e os 
serviços providos pelo governo.
A arrecadação governamental, chamada de receita do governo é feita via produção, circulação e consumo 
de mercadoria, além de movimentações financeiras, renda, entre outros. Para Judensnaider e Manzalli (2011), 
entre os principais geradores de renda do governo, citamos como exemplo, e de forma genérica:
•	 Receitas provenientes da produção e circulação de mercadorias:
— Circulação de mercadorias: ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços).
— Produção industrial: IPI (imposto sobre produtos industrializados).
•	 Receitas provenientes da geração e apropriação da renda:
— Geração de renda: IR (imposto de renda).
•	 Receitas provenientes da propriedade, da acumulação de capital e das relações internacionais:
— Sobre a propriedade: IPTU (imposto predial e territorial urbano).
—― Sobre herança: IH (imposto sobre herança).
— Sobre operações financeiras: IOF (imposto sobre operações financeiras).
— Sobre relações internacionais: II (imposto sobre importações).
O governo realiza gastos no intuito de suprir as necessidades da população não preenchidas pela 
iniciativa privada. Entre esses gastos, estão:
•	 máquina do governo: manutenção dos serviços básicos e administrativos;
•	 investimentos: construção de escolas, hospitais, rodovias, entre outros;
•	 transferência de renda: programas que visam a auxiliar a população de baixa renda.
Uma política fiscal será expansionista quando o governo aumenta seus gastos ou mesmo quando 
diminui a carga tributária sobre a sociedade. Ou seja, quando repassa maior volume de recursos 
monetários para a sociedade por meio de seus gastos ou quando deixa a sociedade com maior volume 
de dinheiro, diminuindo sua arrecadação.
171
ECONOMIA
Quando o governo adota uma política fiscal expansionista, alguns efeitos na economia são gerados:
•	 descontrole das contas públicas, pois os gastos podem ser, em algum momento, superiores às 
receitas e, dessa forma, o governo não consegue formar poupança;
•	 aumento da inflação, uma vez que haverá maior volume de dinheiro em circulação, aumentado o 
consumo e os preços dos produtos;
•	 redução na credibilidade externa devido ao descontrole orçamentário;
•	 redução dos investimentos empresariais, pois o governo assume a liderança de aumentar a 
demanda agregada via gastos governamentais e produção;
•	 redução do desemprego, por ativar a atividade econômica (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
E no caso de uma política fiscal contracionista? As consequências, dentre outras, serão:
•	 equilíbrio nas contas do governo ou o que podemos chamar de superávit orçamentário;
•	 aumento da credibilidade no exterior, devido austeridade;
•	 elevação dos níveis de investimento estrangeiros, pois o país transmite maior segurança administrativa;
•	 diminuição das transferências governamentais com relação à sociedade.
O governo necessita da política fiscal para poder prover a sociedade de bens públicos. Os bens 
públicos são aqueles cujo consumo/uso é indivisível. Em outras palavras, o seu consumo por parte 
de um indivíduo ou de um grupo social não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais 
integrantes da sociedade. Ou seja, todos se beneficiam da produção de bens públicos mesmo que, 
eventualmente, alguns mais do que outros. São exemplos de bens públicos os bens tangíveis, como 
as ruas ou a iluminação pública, e os bens intangíveis, como a justiça, a segurança pública e a 
defesa nacional.
Ademais, para poder arcar com as funções alocativa, distributiva e estabilizadora, o governo 
precisa gerar recursos. Como vimos, dentre as diversas fontes de receita, a principal é a arrecadação 
tributária. A fim de aproximar um sistema tributário do “ideal” é importante que alguns aspectos 
principais sejam observados.
Um dos princípios da tributação, chamado princípio dos benefícios, diz que as pessoas deveriam 
pagar os impostos com base nos benefícios que recebem dos serviços do governo. Esse princípio tenta 
tornar os bens públicos semelhantes aos bens privados, para chegar, por aproximação, ao valor dos bens 
para o agente que o adquire.
172
Unidade III
Por sua vez, o princípio da capacidade de pagamento versa que os impostos deveriam ser cobrados 
de acordo com a possibilidade que o agente tem de suportar o imposto. Tal princípio leva a duas 
noções de equidade: a equidade horizontal, que diz que contribuintes com capacidades de pagamento 
similares devem pagar a mesma quantia; e a equidade vertical, que afirma que contribuintes com maior 
capacidade de pagar impostos devem pagar mais impostos. Certamente, a equidade vertical atenderia 
ao princípio da progressividade.
Outro princípio, o da neutralidade, requer que o sistema tributário não provoque uma distorção da 
alocação de recursos, e que, dessa forma, não prejudique a eficiência do sistema.
O sistema tributário brasileiro está longe de representar um ótimo de Pareto, ou seja, está longe 
da eficiência administrativa e da justiça social. Devido à multiplicidade de impostos e alíquotas e à 
incidência sobre insumos, o efeito final do sistema brasileiro de impostos indiretos sobre os preços 
também não é muito transparente. Com relação à tributação direta e indireta, algumas considerações 
devem ser feitas:
•	 Impostos indiretos são aqueles cobrados de produtores com relação à produção, venda, 
compra ou uso de bens e serviços. Frequentemente, impostos indiretos são arrecadados em 
vários estágios do processo de produção e venda, de forma que seus efeitos sobre os preços 
pagos pelo consumidor final na cadeia de transações não são claros. O efeito final sobre os 
preços, diante da tributação indireta, depende não apenas da medida em que os impostos são 
transferidos para a frente em cada estágio de produção, mas também da estrutura precisa 
das transações interindustriais.
•	 Impostos diretos, a exemplo do imposto sobre o patrimônio, podem ser cobrados regularmente 
em função do simples ato de posse dos ativos durante um determinado período. É o caso do IPTU 
(imposto predial territorial urbano) e do IPVA (imposto sobre propriedade de veículos automotores) 
e atendem ao princípio da equidade e da progressividade.
Os impostos diretos incidem sobre o indivíduo, mas nem sempre estão associados à capacidade de 
pagamento de cada contribuinte. O imposto de renda pessoa física é o imposto pessoal por excelência 
e, sendo assim, é aquele que se adapta aos princípios da equidade e progressividade, à medida que 
permite, de fato, uma discriminação entre os contribuintes no que diz respeito à sua capacidade de 
pagamento (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
Do lado das empresas, o imposto de renda pessoa jurídica incide sobre o lucro e apresenta um 
problema: ele pode contrariar os princípios da equidade e da progressividade, tendo em vista que não 
se pode ter certeza de que o ônus do imposto sobre o lucro recaia integralmente sobre o produtor. Em 
outras palavras, a empresa pode reagir à cobrança do imposto sobre os lucros repassando‑o, pelo menos 
em parte, para os preços finais de seus produtos, onerando, assim, os consumidores.
173
ECONOMIA
7.5.3 Política cambial
É a política responsável pelo fluxo de moeda internacional no país. O controle da quantidade de 
moeda estrangeira é feito pela taxa de câmbio. A taxa de câmbio é a relação existente entre duas 
moedas de diferentes países e ela pode ser valorizada ou desvalorizada. Quando a moeda nacional está 
mais cara que a moeda estrangeira, dizemos que a taxa de câmbio está valorizada. Por exemplo, com 
R$1,00 se adquire US$ 1,20. Veja: com uma unidade da moeda nacional é possível adquirir mais que 
uma unidade da moeda estrangeira. Já no momento em que a moeda nacional é mais barata que a 
moeda estrangeira, percebe‑se um câmbio desvalorizado. Assim, para adquirir US$ 1,00, é necessária 
uma quantidade maior de reais; no caso, R$ 1,20. A política cambial tem sido de suma importância para 
a manutenção donível de emprego no país, principalmente para os setores exportadores, que, com uma 
taxa de câmbio desvalorizada, têm maior incentivo para vender produtos ao exterior.
Figura 58 – Dólar como moeda estrangeira e divisa internacional
Portanto, a taxa de câmbio reflete as necessidades de unidades monetárias nacionais para adquirir 
uma unidade monetária de uma moeda estrangeira. É no mercado cambial que são determinadas as 
taxas de câmbio, variável nominal, sob diferentes regimes cambiais: câmbio fixo, câmbio flutuante, dirty 
floating ou ainda o currency board. Num regime cambial fixo, a taxa de câmbio é administrada pelo 
Banco Central, que determina o valor do câmbio para um período específico. Já no câmbio flutuante, ou 
flexível, a taxa de câmbio é determinada pelo mercado, ou seja, pelas interações entre demanda e oferta 
de divisas internacionais (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
Admite‑se por dirty floating câmbio com flutuação suja. O que isso significa? Significa que o 
Banco Central de um país pode, mesmo num câmbio flutuante, exercer pressão sobre a taxa de 
câmbio, ou seja, pode fazê‑la flutuar até seja fixada numa meta estabelecida. Exemplo: suponha um 
país em que o regime cambial seja flutuante, e que as interações entre demandantes e ofertantes 
de divisas internacionais tenha conduzido a taxa de câmbio para um nível que somente favorece o 
importador de mercadorias. Assim, se se aumenta o volume de importações de mercadorias de um 
país, menor será a produção interna dele e, portanto, pode ter elevada sua taxa de desemprego. 
Diante tal preocupação, o Banco Central pode interferir no mercado cambial e, por meio de compra 
e/ou venda de divisas internacionais, faz flutuar a taxa de câmbio até um ponto em que sejam 
favorecidas as exportações.
174
Unidade III
Por sua vez, o currency board é um regime cambial em que um país adota como moeda corrente 
a moeda estrangeira, na qual está ancorada, quando atravessa ou adota políticas de estabilização 
monetária, na tentativa de controlar a inflação. Há ainda que acrescentar outra diferença: a diferença 
entre a taxa de câmbio real e a taxa de câmbio nominal, que reside na diferença de inflação entre os 
países e entre uma e outra.
7.5.4 Política de rendas
A política de rendas é um tipo de política utilizada pelo governo que procura melhorar a distribuição 
da renda e a justiça social. Ela atua diretamente sobre os fatores de produção e tenta reduzir os conflitos 
entre o capital e o trabalho. Melhorias nas condições de salários e trabalho, encargos trabalhistas mais 
justos, distribuição de resultados por parte das empresas aos seus funcionários são alguns de seus 
objetivos, assim como a proposta de um sistema de preços mínimos garantidores de consumo para 
população de baixa renda.
No caso da economia brasileira, podemos utilizar como exemplo de política de rendas os 
seguintes programas:
•	 política de preços mínimos;
•	 política salarial;
•	 programas de renda mínima;
•	 Bolsa Família.
 Saiba mais
Saiba mais sobre o programa Bolsa Família acessando o link a seguir:
https://www.caixa.gov.br/programas‑sociais/bolsa‑familia/Paginas/
default.aspx
7.6 Inflação
Mas, o que vem a ser inflação? Caracteriza‑se pelo generalizado e persistente crescimento nos 
níveis de preços, ou seja, ocorre inflação num período em que um elevado volume de mercadorias tem 
seus preços majorados e sequencialmente, de forma que, dia a dia, mês a mês, os preços sobem sem 
que, necessariamente, seus custos de produção tenham apresentado também elevação. Assim, quando 
há inflação, torna‑se necessária maior quantidade de moeda para adquirir as mesmas mercadorias. 
Resultado: perda do poder aquisitivo da moeda, que pode, com isso, causar sérios distúrbios à economia 
e à sociedade de forma geral (SILVA; LUIZ, 2010).
175
ECONOMIA
Em períodos de inflação elevada, a moeda deixa de desempenhar uma de suas principais funções, 
que é a de preservar valor ao longo do tempo. Em período de inflação elevada, como viveu a sociedade 
brasileira boa parte dos anos 1970 e dos oitenta, a moeda perde seu valor na medida em que é 
recebida! Suponha uma pessoa que receba hoje seu salário, digamos de R$ 1.500,00, e que o índice 
de inflação no mês corrente, medido pelos mais diversos índices disponíveis, esteja em torno de 
40% ao mês. Se tal pessoa deixar guardado, digamos num bolso de algum paletó no armário, e for 
usar tal recurso daqui a trinta dias, os R$ 1.500,00 representarão poder de compra de exatamente 
R$ 900,00. Mas, como assim? É que receber um valor hoje dentro de um período inflacionário e 
não utilizar esse recurso o mais rápido possível faz com que haja a perda de seu valor. Em nosso 
exemplo hipotético, perda de R$ 600,00. Significa que os preços das mercadorias ficaram 40% mais 
elevados e a quantidade de moeda disponível não mais será capaz de adquirir a mesma quantidade de 
mercadoria que era adquirida anteriormente. Quem sofre? Na maior parte das vezes, e como salienta 
Mankiw (2008), a população de baixa renda.
Precisamos, então, entender como é produzida a inflação, ou seja, por que existe e quais suas causas. 
Basicamente, são três os tipos de inflação, sendo um deles o de demanda. Vejamos o que diz Mankiw:
Vamos supor que observamos, ao longo de um determinado período de 
tempo, o preço de um sorvete de casquinha aumentar de 5 cents para um 
dólar. Que conclusão poderíamos tirar do fato de que as pessoas estão 
dispostas a dar muito mais dinheiro em troca de um sorvete? É possível que 
as pessoas estejam gostando mais de sorvete (talvez porque algum químico 
tenha desenvolvido um novo e maravilhoso sabor). Mas, provavelmente, não 
é esse o caso. O mais provável é que as pessoas continuem apreciando o 
sorvete da mesma forma e que, com o passar do tempo, a moeda usada para 
comprá‑lo tenha se tornado menos valiosa. De fato, o primeiro entendimento 
sobre a inflação é de que ela tem mais a ver com o valor da moeda do que 
com o valor dos bens (MANKIW, 2010, p. 636).
Portanto, o que determina o valor da moeda é a relação entre sua demanda e sua oferta, assim como 
é determinado o preço do tomate nos mais variados mercados. Se há mais tomate sendo ofertado, o 
preço do tomate será relativamente baixo e caso exista pequena quantidade de tomate sendo ofertado, 
ou seja, disponível à sociedade, seu preço tende a ser relativamente mais elevado.
Voltando à inflação, conforme Samuelson (1979), a inflação de demanda, ou de consumo, é causada 
pelo crescimento do volume de moeda disponível ao público, não necessariamente acompanhado pelo 
crescimento da produção. Como para a demanda poder concretizar‑se é necessária a existência de 
moeda, a inflação de demanda pode ser entendida como excesso de moeda em circulação, ou seja, 
quando há expansão de liquidez. Nesse caso, os preços tendem a aumentar devido à grande quantidade 
de dinheiro em circulação influenciando consumo por parte da população. Por seu turno, os empresários, 
diante elevado consumo e percebendo que há grande quantidade de moeda em poder do público, 
elevam preços no afã de que a venda será certa.
Ribeiro (1990) explica que uma das características da inflação de demanda é que ela ocorre 
em períodos de expansão da economia a exemplo do experimentado pelo milagre econômico 
176
Unidade III
brasileiro, no qual o governo investiu fortemente na industrialização do país, elevando os níveis 
de produção e superando períodos anteriores. Tais medidas diminuíram o desemprego, expandindo 
renda e consumo.
Outro tipo de inflação é o de oferta, ou seja, explicado ou pelas condições de oferta de produtos 
ou pelo comportamento de seus custos de produção, ou mesmo pela disponibilidade de fatores de 
produção que são utilizados como bens intermediários. A inflação de oferta ocorre quando os custos 
de produção aumentam, ou seja, quando se paga mais para produzir determinados bens ou ofertar 
determinados serviços. Assim, pode ocorrer inflação de oferta diante de:
•	 diminuição da ofertade um fator de produção;
•	 elevação nos preços dos fatores de produção;
•	 elevação nos custos da produção derivado de elevação de tributação;
•	 elevação nos salários pagos pelas empresas, caso sejam reajustados acima da correção monetária 
do período ou por convenção coletiva e sindical;
•	 monopolização de determinado setor, diminuindo as possibilidades de concorrência;
•	 demais ocorrências que representem estreita relação entre custos de produção de um bem e 
seu preço.
Resumindo, para Silva e Luiz,
[...] a inflação de custos tem origem na oferta de bens e serviços. É causada 
pela elevação dos custos de produção, repassados para o consumidor pelo 
aumento do preço do produto. Um fator agravante é o controle do mercado 
(monopólio ou oligopólio), que permite aos empresários obterem lucros 
extraordinários pelo aumento dos preços dos seus produtos, pois não há 
perigo de concorrência (SILVA; LUIZ, 2010, p. 116).
O outro tipo de inflação, a inercial, difere das outras, pois nesta há tendência à perpetuidade. Significa 
que a inflação de um período é automaticamente repassada para o período que se segue. De que forma? 
Pela indexação, que consiste em reajustar pagamentos ou valores futuros, pela inflação do presente. 
Observe o exemplo muito bem desenvolvido por Silva e Luiz:
Imaginemos que o Sr. Alberto tome emprestado R$ 100.000,00 de seu amigo, 
Sr. Carlos, e prometa pagar‑lhe em dois meses. Nesse período, supondo 
uma economia inflacionária com taxas mensais de 10%, teremos uma 
inflação acumulada de 21% nos dois meses que correspondem ao prazo 
do empréstimo. Pontualmente, no final do período, o Sr. Alberto entrega 
ao amigo os R$ 100.000,00 que havia tomado emprestado. Resultado, o Sr. 
Carlos foi prejudicado, pois os R$ 100.000,00 que recebeu do amigo valem 
177
ECONOMIA
menos do que os R$ 100.000,00 que ele havia emprestado dois meses antes. 
Por sua vez, o Sr. Alberto saiu ganhando, pois pagou apenas R$ 100.000,00, 
quando deveria ter pago, pelo menos R$ 121.000,00. [...]. Se o Sr. Alberto e o 
Sr. Carlos tivessem combinado, na ocasião do empréstimo, que o montante 
emprestado seria corrigido pela inflação, o Sr. Carlos receberia R$ 121.000,00 
e não se sentiria lesado pelo favor que prestou ao amigo (SILVA; LUIZ, 2010, 
p. 116‑117).
Em função disso, ou seja, para não haver distorções entre ganhadores e perdedores, contratos de 
trabalho, contratos de aluguel, preços de mercadorias e valores de outras transações são protegidas, 
pelo uso da indexação, de correção monetária.
Uma observação a ser feita acerca da inflação inercial é que ela tende a se manter em determinado 
patamar por um determinado período, depois volta a crescer e, finalmente, estabiliza‑se em um 
novo patamar por algum tempo. Esse processo ocorre porque as correções dos preços satisfazem os agentes 
por um determinado tempo, ou seja, essas correções elevam a participação dos agentes na renda.
 Saiba mais
Para que você possa compreender melhor o processo inflacionário no 
Brasil, sugerimos a leitura de alguns textos complementares.
Sobre o Plano Cruzado, leia:
BRESSER‑PEREIRA, L. C. Inflação inercial e plano cruzado. Revista de 
Economia e Política, São Paulo, v. 6, n. 3, jul./set. 1986. Disponível em: 
http://www.rep.org.br/pdf/23‑2.pdf. Acesso em: 23 mar. 2011.
Sobre o Plano Collor, leia:
BRESSER‑PEREIRA, L. C.; NAKANO, Y. Hiperinflação e estabilização no 
Brasil: o primeiro Plano Collor. Revista de Economia e Política, São Paulo, v. 
11, n. 4 (44), out./dez. 1991. Disponível em: http://www.rep.org.br/pdf/44‑6.
pdf. Acesso em: 23 mar. 2011.
Sobre o Plano Real, sugerimos a leitura de:
BRESSER‑PEREIRA, L. C. A economia e a política do Plano Real. 
Revista de Economia e Política, São Paulo, v. 14, n. 4 (56), out./dez. 
1994. Disponível em: http://www.rep.org.br/pdf/56‑10.pdf. Acesso em: 
23 mar. 2011.
178
Unidade III
8 O DESENVOLVIMENTO E O CRESCIMENTO ECONÔMICO
É com os cálculos agregativos que podemos ter noção da forma como uma economia gera sua 
renda e como é distribuída entre os agentes econômicos. Portanto, com as medidas agregativas, 
notadamente o PIB (que é uma medida meramente quantitativa), é que podemos medir o crescimento 
de uma economia. Outra de igual importância é o desenvolvimento, uma medida qualitativa. 
Nesse aspecto, expressões como desenvolvimento, desenvolvimentismo, subdesenvolvimentismo e 
economias em desenvolvimento devem ser consideradas.
8.1 Características de uma economia subdesenvolvida
Dois olhares podem ser empregados para falar do assunto subdesenvolvimento. Um deles trata 
a questão de maneira ideológica, como uma mera classificação no tempo das condições sociais e 
econômicas de um país comparado a outros, mesmo que de estruturas diferentes. Por esse olhar, a 
caracterização se daria por análises conjunturais, sem que uma raiz econômica fosse, de fato, concreta. 
O outro olhar reside na escolha de fatos mais concretos ligados à estrutura econômica e social de 
uma nação e que permitam sua classificação como subdesenvolvida. Aos fatos concretos são atribuídos 
fatores históricos, territoriais e regionalização, acesso aos meios de produção e geração de renda, para 
citar apenas alguns.
Conforme destaca Souza (2009), a definição de subdesenvolvimento passa pela noção de que o 
crescimento demográfico ocorre de forma mais rápida do que o crescimento econômico e, diante de tal 
irregularidade, não tarda para que a renda e a riqueza se concentrem nas mãos de poucos, o que gera, 
por consequência, pobreza e miséria para as classes menos favorecidas. Ainda como decorrência disso, 
indicadores sociais e ambientais apresentam menor qualidade em relação aos de países considerados 
desenvolvidos e as estruturas econômicas, no que diz respeito à inovação tecnológica, não se apresentam 
totalmente adequadas para que sejam superados os entraves colocados aos países nessa situação. 
Para Sandroni (1996, p. 580), subdesenvolvimento é uma 
[...] situação inferior do sistema econômico‑social de um país em relação aos 
padrões econômicos das nações industrializadas. Evidencia‑se por indicadores 
como exportação baseada em produtos primários, forte participação de 
produtos industrializados na pauta de importação, importação acentuada 
de tecnologia e capitais estrangeiros, persistência de elevadas taxas de 
desemprego, baixa produtividade, baixa renda per capita, mercado interno 
bastante limitado, baixo nível de poupança e subconsumo acentuado. 
[...] O subdesenvolvimento está ligado ao problema da dependência, que 
atinge desde países extremamente pobres, como Bangladesh, até países de 
considerável nível de industrialização e diversificação do aparelho produtivo, 
como Brasil, México e mesmo os ricos Estados árabes produtores de petróleo.
179
ECONOMIA
Outra característica marcante do subdesenvolvimento é que os países classificados dessa forma 
apresentam instabilidade política e econômica, além de serem altamente dependentes de acesso à 
tecnologia e capitais de países ditos “desenvolvidos”. Mesmo que exista produção industrial, a maior parte 
do que é produzido tem como destino o consumo interno, a base exportadora trabalha principalmente 
com produtos de baixo valor agregado, notadamente aqueles provenientes do setor primário. 
Na medida em que uma maior quantidade de países entra no comércio internacional, a questão 
da produtividade e da competitividade impera, desfavorecendo aqueles cuja pauta exportadora não 
é diversificada ou tão competitiva com relação aos demais. Nesse aspecto, o que dita a regra da 
competitividade são custos de produção, preços internos e para exportação, bem como custos logísticos, 
determinados pela questão territorial. 
Junto com as questões de produtividade e competitividade, elevadas taxas de inflação e as dificuldades 
orçamentárias de governos de países subdesenvolvidos colocam‑se como entraves à capacidade do setor 
público para financiar projetos em áreas chamadas estratégicas – ou infraestruturais – a exemplo de 
transportes,educação, saúde, comunicações e área social na tentativa de diminuir suas desigualdades.
No mundo contemporâneo, uma questão que gera controversa quanto à classificação de países 
como subdesenvolvidos e desenvolvidos é que, uma vez classificados como tal, o seriam para todo o 
sempre. Assim, uma vez que um país seja caracterizado como subdesenvolvido, isso lhe dá uma marca, 
independentemente se por determinação ideológica ou por condições reais de classificação. 
Da mesma forma como em alguns períodos a classificação dos países atendia à denominação de 
centro‑periferia, a literatura econômica passou a adotar uma nova denominação: desenvolvidos e 
emergentes, em que aos primeiros dá‑se uma conotação permanente e, aos segundos, uma condição 
não permanente, mas de possibilidades de conquista ao desenvolvimento.
 Observação
Muitas vezes faz‑se referência a um país como emergente com o 
emprego do termo big emerging markets (BEM).
A denominação centro‑periferia é um conceito cunhado pela Comissão Econômica para a América 
Latina (Cepal) e empregado para descrever um processo de multiplicação do avanço tecnológico na 
economia mundial que seja passível de explicar a distribuição de seus ganhos entre os participantes. 
Ocorre que, com o avanço do capitalismo industrial e a chamada nova divisão internacional do trabalho, 
os ganhos derivados das relações entre diferentes regiões não foram distribuídos uniformemente. 
Para Bielschowsky (2000, p. 16), 
[...] a tese parte da ideia de que o progresso técnico se desenvolveu de forma 
desigual nos dois polos. Foi mais rápido no centro, em seus setores industriais, 
e, ainda mais importante, elevou simultaneamente a produtividade de 
todos os setores das economias centrais, provendo um nível técnico mais 
180
Unidade III
ou menos homogêneo em toda a extensão dos seus sistemas produtivos. 
Na periferia, que teve a função de suprir o centro com alimentos e 
matérias‑primas a baixo preço, o progresso técnico só foi introduzido nos 
setores de exportação, que eram verdadeiras ilhas de alta produtividade, 
em forte contraste com o atraso do restante do sistema produtivo.
É, portanto, com base em tal ideia que reside a tese, também desenvolvida pela Cepal, da deterioração 
dos termos de troca, pois, enquanto o progresso técnico ocorre nos países ditos já industrializados, as 
economias em processo de industrialização estão produzindo bens primários e seus preços relativos de 
troca são bastante díspares: a economia da periferia exporta bens de baixo valor agregado para importar 
bens de elevado valor agregado, fazendo com que ocorra transferência de excedente e de ganhos de 
produtividade para o centro. Assim, a divisão internacional do trabalho somente acirraria a disparidade 
entre os polos, visto que o centro apresenta tendência a reduzir sua taxa de expansão das importações 
de bens primários conforme seu progresso técnico avança para a forma poupadora de bens primários.
8.1.1 Fundamentos teóricos da economia subdesenvolvida
Conforme destaca Souza (2009), na economia subdesenvolvida, considerada em sua forma mais 
simples, na assim chamada forma primitiva, estão alguns setores entendidos como os de subsistência, 
de mercado interno e de mercado externo, e há relações entre eles. 
O setor de subsistência é composto de pequenos latifúndios de baixa produtividade e dedicados 
à produção agrícola. Nele está concentrada a produção das atividades relacionadas à agricultura de 
subsistência, pois a monetização é quase inexistente. O consumo exercido pelo setor é de sua própria 
produção, restando apenas uma pequena parte do que foi produzido para abastecimento do mercado 
de setor externo que, de acordo com seu desempenho, pode beneficiar ou prejudicar o dinamismo do 
mercado rural, assim como o urbano e industrial.
 Observação
É recorrente, quanto às características indicadas do setor de 
subsistência, encontrar alusão ao setor terciário da economia, composto 
de desempregados das áreas rurais ou mesmo aqueles que exercem 
trabalho ocasional.
Quanto ao setor de mercado interno, Souza (2009, p. 18‑19) diz que, 
[...] em seu estágio inicial de desenvolvimento, é formado por atividades 
ligadas ao atendimento da população residente e ao fornecimento de 
insumos e serviços às empresas e pessoas vinculadas ao comércio externo, 
como alimentos, matérias‑primas beneficiadas, embalagens, transportes. 
No processo de desenvolvimento, o setor industrial urbano leva vantagens em 
seu relacionamento com o setor agrícola, através da extração do excedente 
181
ECONOMIA
gerado neste último setor. O setor agrícola apresenta superávits em balança 
comercial, porque suas exportações excedem o volume de importações, uma 
vez que suas necessidades de consumo são supridas pelo setor de mercado 
interno. Esse superávit em moeda estrangeira é utilizado no financiamento 
de importações e máquinas, equipamentos e insumos industriais utilizados 
no setor industrial urbano. 
Figura 59 – Colheita de café no estado de São Paulo em 1902, caracterizando a economia agroexportadora
A figura a seguir mostra a estrutura de uma economia subdesenvolvida. Porém, para que se possa 
compreendê‑la, Souza (2009, p. 19) adverte que algumas considerações devem ser efetuadas:
(a) A balança comercial da economia nacional mantém‑se equilibrada; 
(b) o valor das exportações do meio rural (XR) apresenta‑se significativamente 
superior ao valor das exportações do meio urbano industrial (XU), pelo 
menos nas fases iniciais do processo de desenvolvimento; (c) o meio rural 
mantém superávit na balança comercial (XR > MR); (d) o meio urbano e 
industrial apresenta déficit em sua balança comercial com o exterior 
(XU < MU), pela necessidade de importar bens de capital e insumos 
industriais; e (e) o meio urbano e industrial possui um superávit com o meio 
rural, ou seja, o valor da produção do meio urbano e industrial destinado 
ao meio rural (YUR) supera o valor da parcela da produção do meio rural 
endereçada ao meio urbano e industrial (YRU).
182
Unidade III
Meio rural
Setor externo
Meio urbano 
e industrial
YRU
YRR
YUR
XU MU
YUU
XR
MR
Figura 60 – Estrutura de uma economia subdesenvolvida 
O que é possível depreender da análise da estrutura anteriormente apresentada? 
Podemos notar que a produção exercida pelo setor denominado de meio rural (YR) tem três vias de 
destino: a primeira é seu próprio consumo, aquele considerado de subsistência devido a atividades pouco 
monetizadas (YRR); a segunda é a exportação (XR); a terceira é o consumo no meio urbano e industrial 
(YRU), sendo que a produção destinada a esses mercados (YRU + XR) é majoritariamente composta de 
alimentos e matérias‑primas com baixo valor agregado. 
O equilíbrio do meio rural será conquistado quando as exportações do setor rural forem maiores do 
que suas importações e a renda do setor urbano for maior do que a renda do setor rural. A identidade a 
seguir ilustra o que acabamos de afirmar:
(XR > MR) = (YUR > YRU)
Para Souza (2009, p. 20), a equação
[...] diz que, no equilíbrio, o déficit do meio rural com o meio urbano e industrial 
(YUR > YRU) fica financiado por seu superávit com o exterior (XR > MR). Por seu 
turno, a produção do meio urbano e industrial (YU) destina‑se ao próprio 
meio urbano (YUU), à exportação (XU) e ao meio rural (YUR). A produção 
destinada ao mercado externo e ao meio urbano e industrial (XU + YUR) 
compõe‑se de produtos industrializados e serviços. O equilíbrio do meio 
urbano industrial é dado por (XU < MU) = (YUR > YRU), ou seja, o déficit 
do meio urbano e industrial com o exterior (XU < MU), no equilíbrio, fica 
integralmente financiado por seu superávit com o meio rural (YUR > YRU). 
Como o segundo membro das duas equações anteriores é o mesmo, temos 
que (XR > MR) = (XU < MU).
Da tautologia (XR > MR) = (XU < MU) pode‑se concluir que, em condição de equilíbrio, em termos de 
balança comercial, sendo X = M, um superávit produzido pelo meio rural com relação ao exteriorserá 
183
ECONOMIA
igualado ao déficit externo provocado pelas importações do meio urbano e industrial. Considerando 
uma economia em que impere o modelo de substituição de importações, vê‑se que a produção e a 
exportação daquilo que é exercido pelo meio rural deve financiar as importações exercidas tanto pelos 
meios urbanos quanto pelos industriais. Mais: deve, ainda, financiar o desenvolvimento desses meios.
 Observação
Perceba que estamos tratando da extração de excedente por um setor do 
que foi produzido por outro: no caso, o excedente é extraído do setor rural 
em favorecimento do desenvolvimento daqueles ditos mais avançados.
Várias são as formas de extração do excedente produzido pelo setor rural em favorecimento dos 
setores urbano e industrial. Dentre elas estão:
• Elevação da tributação sobre produtos que devem ser importados pelo setor rural e que tenham 
como origem de produção os setores urbanos e industriais, ou mesmo produtos oriundos do setor 
exportador, para o caso de importação pelo setor urbano.
• Confisco cambial representado pela quantidade de dólares que é apropriada pelo governo diante 
daqueles obtidos pelos exportadores de produtos específicos, a exemplo do que fez o Brasil em 
1953 com as exportações de café (SANDRONI, 1999).
• Deterioração dos termos de troca entre setor urbano e industrial em que o volume de dólares 
necessários para importação de bens pelo setor rural é maior do que o necessário para que o setor 
urbano importe os bens produzidos por aquele setor.
 Saiba mais
Entenda mais sobre a deterioração dos termos de troca lendo a definição 
que Paulo Sandroni oferece à expressão “relações de troca” em sua obra:
SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 1999.
Considerando então que a economia consiga se industrializar via modelo de substituição de 
importações, as importações do setor urbano (MU) tendem a apresentar elevação devido a esse tipo 
de indústria ser dependente de alguns meios de produção manufaturados, bem como bens de capital 
que lhe oferecerão condições de produzir bens de consumo na economia doméstica interna. 
Para o caso de as exportações exercidas pelo meio rural (XR) não apresentarem crescimento ao 
mesmo tempo em que cresce o potencial importador do setor urbano e industrial, o que se verificará 
na economia serão déficits comerciais (X < M) que serão considerados entraves ao processo de 
crescimento econômico. 
184
Unidade III
Desse modo, a expansão das exportações agrícolas e mesmo de produtos 
manufaturados, desde as fases iniciais da industrialização, torna‑se 
indispensável para evitar estrangulamentos no processo de desenvolvimento 
(SOUZA, 2009, p. 21). 
Para o mesmo autor: 
Com a expansão da economia de mercado, cai a participação da produção 
destinada à subsistência na produção rural (YRR/Y). Em muitas regiões 
subdesenvolvidas, isso ocorre principalmente em função da elevação dos 
preços de exportações. Tal participação aumenta no caso de reduções 
dos preços dos bens agrícolas exportados, quando cresce YRR e diminui XR. 
Nas crises do setor de mercado externo no Brasil, no passado, as populações 
voltavam às atividades de subsistência e esse setor expandia‑se. Ele funciona 
como elemento de estabilidade da economia, amortecendo as crises do 
setor de mercado externo e mantendo o nível de emprego do meio rural, 
embora com baixa produtividade. [...] A economia estaciona nas crises e 
evolui nos surtos exportadores, pelos encadeamentos das exportações sobre 
as atividades urbanas e os investimentos que afetam o nível da produção 
do setor de mercado interno. A produção destinada ao consumo próprio do 
meio rural se reduz, enquanto aumenta a demanda urbana por produtos 
agropecuários. O desenvolvimento econômico tende ao setor de mercado 
interno e às exportações. Entretanto, essa transformação de estrutura 
depende do dinamismo das exportações e de suas ligações com o setor de 
mercado interno. Assim, torna‑se importante aumentar sua competitividade 
pela redução de custos e melhoria da qualidade dos produtos exportados 
(SOUZA, 2009, p. 21).
O que se faz necessário entender é que o setor externo representa a agricultura comercial voltada 
para a exportação, bem como para as atividades comerciais ligadas ao comércio de importação e de 
exportação da economia urbana. 
 Observação
Pode‑se entender o setor externo como aquele caracterizado por 
atividades atravessadoras, de prestação de serviços de importação e 
de exportação a outros setores, sem que dele provenha produção física. 
Trata‑se, assim, somente de um sistema que facilita o escoamento da 
produção e o aprovisionamento de bens que as economias não produzem, 
mas necessitam importar.
185
ECONOMIA
Por sua vez, como o setor externo não é produtor, seu dinamismo está completamente dependente 
da demanda do mercado internacional no que diz respeito à necessidade de bens primários, de que é 
majoritariamente exportador. Como o bom desempenho do setor externo depende dos “bons ventos” da 
economia internacional, os preços de exportação são influenciados por dois fatores: 
• demanda externa que impulsiona para cima em época de aquecimento e para baixo em período 
de recessão;
• potencial produtivo quanto à oferta de bens pelos setores de subsistência nos países 
subdesenvolvidos (excesso de oferta influencia os preços negativamente enquanto os eleva em 
períodos de escassez).
Para países cuja pauta de exportações é bastante restrita, ou seja, concentrada em poucos produtos, 
há baixa oportunidade de manipulação dos preços internacionais, o que dificulta o desenvolvimento do 
setor de mercado interno. Porém, se a economia diversifica sua pauta de exportações, a situação pode 
vir a ser diferente. 
8.2 Características do desenvolvimento
O que irá, de certa forma, diferenciar um do outro – subdesenvolvimento do desenvolvimento – é o 
grau de industrialização, que necessita de elevados níveis de investimento e, portanto, de capital, muitas 
vezes é produzido no âmbito das exportações de bens primários. Nesse aspecto, conforme ressalta Souza 
(2009), como os investimentos são constituídos, em grande parte, por bens de capital importados, são as 
exportações que representam a contrapartida da poupança para seu financiamento. Assim, 
[...] há uma mudança no caráter da base exportadora, e foi isso que ocorreu 
no Brasil após 1950: as exportações, de fator determinante do nível de 
renda, passaram a ser o elemento estratégico no processo de formação 
de capital (SOUZA, 2009, p. 23).
Para a economia que já se encontra industrializada, a importância do que se chama de base 
exportadora tem efeitos sobre o multiplicador do setor de mercado interno, bem como sobre 
a necessidade de financiamento de importação de bens de capital, se assim necessário. O que é 
importante perceber é que somente haverá exportação de bens em duas condições: a primeira é a 
demanda externa, e a segunda, a produção interna com excedente. 
O aumento das exportações de bens produzidos internamente injeta recursos na economia 
doméstica, os quais tanto podem ser utilizados para ampliar o consumo interno por bens internos como 
para ampliar as condições de aquisição de bens de capital que são importados. Dessa forma, saldos 
comerciais positivos impulsionam o acesso à tecnologia, gerando economias de escala e elevação da 
produtividade da economia doméstica. 
186
Unidade III
Para Souza (2009, p. 23), 
[...] a base exportadora aparece como a causa do crescimento econômico 
das regiões subdesenvolvidas, principalmente nos seus primeiros estágios, e 
como elemento dinâmico de aumento de eficiência e competitividade em 
economias industrializadas. A industrialização surge em uma etapa posterior 
e como consequência do desenvolvimento inicial da base exportadora. 
Em outras palavras, uma agricultura em expansão e uma base econômica 
diversificada representam maiores níveis de renda, que se traduzem em 
maior grau de consumo, de poupança e de investimento.Até que não sejam superados os entraves do subdesenvolvimentismo, a base exportadora estará 
restrita a poucos bens agrícolas e, por consequência, seus efeitos multiplicadores serão instáveis. 
Assim, a decolagem da economia em desenvolvimento estará na dependência:
• do crescimento de suas exportações, o que é determinado pelo nível de produtividade e 
competitividade da economia doméstica;
• do grau de integração das cadeias produtivas internas;
• da estrutura interna de distribuição de renda;
• da eliminação dos estrangulamentos do desenvolvimento econômico. 
Antes de caracterizar o que vem a ser desenvolvimento, é necessário conceituar crescimento 
econômico: há tempos economistas percebem que são imensas as diferenças entre crescimento e 
desenvolvimento. Se crescimento significa apenas o aumento da renda per capita, desenvolvimento 
implica conhecer os beneficiários do aumento da renda. 
Em outras palavras, desenvolvimento requer distribuição de renda, para que o crescimento não seja 
concentrador ou excludente. Além disso, desenvolvimento requer respeito ambiental, já que isso está 
intrinsecamente ligado às condições de sustentabilidade da atividade econômica.
O debate entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento nasceu da percepção de que, apesar 
das elevadas taxas de desempenho econômico, vários países apresentavam baixos níveis de qualidade 
de vida aos seus habitantes. Essa análise fez com que os economistas elaborassem outras medidas de 
mensuração que não as meramente quantitativas de produção, ou de “crescimento”. 
Quer dizer, buscou‑se entender o que poderia determinar o padrão de qualidade de vida, estabelecendo 
que esse padrão seria mensurador do desenvolvimento humano (incluído aí o desenvolvimento 
econômico); a partir daí, foram criados indicadores para que o padrão pudesse ser determinado. 
De uma forma extremamente simplificada, procurou‑se entender não apenas o tamanho do “bolo” 
(representativo da produção de bens e serviços), mas o quanto ele poderia saciar a fome das pessoas. 
187
ECONOMIA
O raciocínio é simples: o fato de um bolo ser grande ou pequeno não significa que ele tem condições 
de saciar a fome das pessoas. Se forem poucas pessoas, é possível que todas fiquem satisfeitas, contudo, 
se o bolo for pequeno e uma das pessoas ficar com a metade, ainda que sejam poucas pessoas, a 
satisfação será menor. O mesmo raciocínio vale para um bolo grande e um contingente enorme de 
pessoas. Ainda que o bolo cresça, se o número de pessoas aumentar mais do que o crescimento do bolo, 
é bem provável que a insatisfação persista. 
Dessa forma, o crescimento seria dado pelo tamanho do bolo; em contrapartida, o desenvolvimento 
seria dado pela saciedade das pessoas ao se alimentarem dele. Além disso, não seria suficiente o tamanho 
médio de cada fatia do bolo para que se pudesse concluir pela saciedade ou não das pessoas; seria 
necessário saber o quanto de justiça teria sido utilizada para a divisão do bolo. 
8.2.1 Características do desenvolvimentismo enquanto prática e política
As discussões acerca do desenvolvimentismo nas economias capitalistas surgiram por volta dos anos 
1930, em função da Grande Depressão, em que as políticas de desenvolvimento passam a enfatizar a 
industrialização via substituição de importações, com incentivos eventuais às exportações. Trata‑se, além 
disso, de se pensar o desenvolvimento econômico das nações liderado por políticas governamentais 
que impulsionam a demanda agregada, bem como a produção. 
Do ponto de vista da teoria econômica, haverá uma mudança de eixo em termos de análise 
econômica. As economias capitalistas antes da Grande Depressão eram analisadas do ponto de vista da 
oferta. As ideias em voga eram a máxima de Jean‑Baptiste Say de que a oferta cria sua própria procura, 
e a noção de magic hands smithiana. Com a Depressão e seus efeitos, e diante do surgimento das teorias 
keynesianas, a análise econômica voltou‑se, então, para o ponto de vista da demanda – a demanda efetiva.
Algumas medidas governamentais fazem‑se necessárias para haver desenvolvimentismo em 
ambiente de substituição de importações (SOUZA, 2009), por exemplo:
• adoção de barreiras alfandegárias e intervenções no mercado cambial, com a manipulação da 
taxa de câmbio e confisco de divisas;
• controle quantitativo de importações, a fim de evitar a fuga de divisas com gastos supérfluos e 
proporcionar mercado para a indústria nacional nascente;
• incentivos a indústrias específicas através de créditos subsidiados e renúncias fiscais, com a 
participação de empresas estatais e de empresas estrangeiras;
• aumento do poder de compra das populações rurais por meio de políticas agrícolas envolvendo 
crédito, seguro, preços mínimos, estoques reguladores, investimentos em estradas rurais, 
comercialização da produção e reforma agrária;
• implantação de infraestrutura de transportes, energia e comunicações. 
188
Unidade III
Para que a economia consiga atravessar o estágio do subdesenvolvimento para o desenvolvimento, 
a política desenvolvimentista deverá estar centrada em alguns pontos chamados de estrangulamento, 
cuja solução no curto prazo não é tão simples. Vejamos alguns desses entraves.
Um deles está relacionado à dificuldade da economia doméstica em conseguir diversificar a 
produção interna e, por consequência, melhorar sua pauta de exportações para que sejam conquistados 
saldos superavitários em transações correntes no balanço de pagamentos. Por que é difícil diversificar 
a produção interna?
Para que haja diversificação da produção, o empresário deve entrar em ação no sentido de buscar novas 
alternativas em produzir aquilo que o mercado deseja. Mais do que isso: é necessário o tino empreendedor, 
criativo, arrojado e visionário para verificar e acompanhar o que a demanda está esperando de sua produção 
– e não somente a demanda interna, mas, principalmente, a internacional. Em um ambiente de economia 
em que as relações internacionais não são tão fortes, o acesso a novos meios de produção e novas formas de 
invenção se apresenta como entrave ao empreendedorismo e à criação.
Outros fatores que prejudicam bastante o dinamismo da indústria, em termos de modernização, 
residem nos baixos índices de escolaridade da população, causando escassez de qualificação profissional, 
o que gera custos empresariais de desenvolvimento profissional. Como a taxa de poupança da economia 
também não é tão elevada, a capacidade creditícia fica reduzida, influenciando para cima as taxas de 
juros, o que inibe o empresariado na tomada de crédito. Resultado: poucos recursos para investimentos 
produtivos, tanto de qualificação técnica quanto de força de trabalho.
Geralmente, é o Estado quem exerce uma ação coordenada do desenvolvimento 
e quem procura vencer esses estrangulamentos. Em fases mais avançadas do 
processo de desenvolvimento, os principais estrangulamentos decorrem 
do esgotamento do modelo de substituição de importações, em razão da 
pequena dimensão do mercado interno para algumas substituições, como 
bens de capital, da insuficiência de capital e da concentração da renda 
(SOUZA, 2009, p. 24). 
Souza (2009, p. 24) continua: 
A transição de uma economia de subsistência para uma economia industrializada, 
com amplo setor de mercado interno, pressupõe a transição de inúmeros 
obstáculos criados pelo próprio crescimento econômico. Nesse processo, 
o desenvolvimento ocorreria por etapas, começando pela economia de 
subsistência, passando pelas exportações e pelas inovações tecnológicas, e 
terminando pela era do consumo de massa com altos níveis de bem‑estar 
para o conjunto da população nacional, a exemplo do welfare state. 
Deve‑se a Rostow (1974) a noção de que o desenvolvimento ocorre por etapas em que a economia 
apresenta dinâmica como característica. Para ele, o desenvolvimento pode ser visto como um processo 
de evolução de economia de subsistência, primitiva, a uma forma mais avançada, com tecnologia 
189
ECONOMIA
avançadae de consumo de massa. O pensamento rostowiano está enraizado em considerações de que 
nações insuficientemente desenvolvidas conseguem superar seus entraves até conseguir alcançar 
o desenvolvimento econômico dito satisfatório. O modelo de desenvolvimento estaria dividido em 
cinco etapas:
• Primeira etapa: economia predominantemente agrícola em que a maior parcela da população 
está empregada nesse setor. Devido à baixa tecnologia de produção e a processos rudimentares, 
a produtividade é baixa e o quantum produzido é suficiente para atender à demanda com certa 
folga. A posse da terra é símbolo de poder e riqueza, e se dá grande importância aos clãs, famílias 
e castas.
• Segunda etapa: etapa chamada de criação das pré‑condições para o arranco ou para a decolagem 
rumo ao crescimento. Aqui, já se verifica avanço tecnológico na produção do setor primário e 
alguns insights na indústria ainda modesta e leve expansão da demanda em mercados mundiais. 
Há uma demanda social por melhores níveis educacionais devido à ascensão da classe média e 
a classe dominante tradicional passa a sofrer com a concorrência de grupos industriais urbanos. 
O Estado é induzido a efetuar gastos em benefício do bem‑estar da população e se verificam 
aumentos nos investimentos em infraestrutura de transporte, comunicações e energia, bem 
como na produção de matérias‑primas estratégicas para a indústria, favorecidas pelo crédito 
bancário devido ao surgimento dessa atividade. Pelas palavras de Souza (2009, p. 247), 
“criam‑se, desse modo, forças endógenas e autônomas para o crescimento econômico 
autossustentado” em que prevalece a ideia da valorização da expertise individual do ser humano 
quanto ao seu potencial criativo.
• Terceira etapa: fase do arranco ou decolagem propriamente dita, em que foram superados os 
entraves até então vigentes. É uma fase em que o desenvolvimento surge com normalidade 
e tem‑se o surgimento de novas indústrias, tecnologicamente interligadas, cujos lucros são 
reinvestidos na criação de novas condições de produção. Verifica‑se a criação de novos grupos 
empresariais, o que favorece o crescimento do emprego inclusive no setor de serviços, apoiando 
o bom desenvolvimento do comércio e da indústria do setor produtor de bens de consumo. 
Não tardam a aparecer as inovações tecnológicas e a produção de novos itens, bem como o acesso 
a novas fontes de insumos de produção, inclusive no campo agrícola, que agora também consome 
bens industrializados.
• Quarta etapa: denominada etapa da marcha para a maturidade, com:
[...] um longo intervalo de crescimento econômico continuado, no qual a 
economia assimila a tecnologia moderna. Implanta‑se a indústria de bens de 
capital e a economia aumenta suas exportações de produtos manufaturados, 
com tecnologia intensiva. A sociedade passa a gerar internamente grande 
parte da tecnologia que adota em seu processo produtivo. Na fase da 
maturidade econômica, a economia desenvolve indústrias diferentes 
daquelas que geraram a decolagem. É uma etapa em que a economia 
demonstra que possui as aptidões técnicas e organizacionais para produzir 
não tudo, mas qualquer coisa que decida produzir (SOUZA, 2009, p. 247).
190
Unidade III
• Quinta etapa: é chamada etapa do consumo em massa, em que a economia é liderada pelos 
setores produtores de bens de consumo duráveis e setor de serviços que facilitam a vida da 
população. Há ligeira queda de preços da economia devido a melhores condições de oferta e 
maior competitividade entre as empresas, o que faz com que o salário real se eleve, permitindo, 
assim, o consumo em massa. “Nesta fase, o Estado investe mais na assistência social. É o chamado 
estado de bem‑estar social característico dos anos 1950‑1970, nos países desenvolvidos” (SOUZA, 
2009, p. 247). 
8.2.2 Desenvolvimentismo no pensamento econômico brasileiro
O desenvolvimentismo no Brasil marca uma ideologia econômica que sustenta um projeto de 
industrialização como forma de superar entraves até então colocados pela economia agroexportadora 
(ou primária) e pelo próprio modelo de substituição de importações: economia fechada e baixa 
produtividade, para citar alguns.
Bielschowsky (2000) indica haver, para o Brasil, duas linhas de interpretação acerca do 
desenvolvimentismo: uma ligada ao setor privado e outra ao setor público. No que diz respeito ao 
setor privado, a ideia prevalecente era a da proteção aos interesses da classe empresarial, propondo 
uma visão nacionalista, enquanto economistas que trabalhavam no setor público apresentavam certa 
dualidade: enquanto uns, os não nacionalistas, propunham que as ações desenvolvimentistas deveriam 
ser tomadas pelo mercado, a partir dos interesses empresariais, outros, chamados de nacionalistas, 
preconizavam a estatização de setores estratégicos, a exemplo de energia, mineração e transporte, além 
do favorecimento à indústria de base.
Assim, durante o período de 1930‑1945 percebem‑se as origens do desenvolvimentismo, que 
se consolidaria na década de 1950, sob dois pilares distintos, mas interligados. O primeiro, ligado 
ao setor privado, propunha um projeto de industrialização de forma planejada e que atendesse aos 
interesses do capital industrial dominante na época. Aqui forte papel foi desempenhado por dois 
núcleos de reflexão sobre o tema: Conselho Econômico (CNI) e Departamento Econômico. Bielschowsky 
(2000, p. 79) destaca que
Essa pequena elite empresarial vivenciava o que se pode denominar, sem 
risco, de experiência pioneira em planejamento econômico. No esquema 
corporativo do Estado Novo, os líderes empresariais tiveram participação 
em várias das muitas agências econômicas governamentais que se criaram. 
Estabeleceu‑se, dessa forma, um fértil cruzamento ideológico entre sua visão 
de mundo e as ideias e conceitos desenvolvimentistas que se formavam nos 
novos órgãos federais, nos quais se discutia a respeito de comércio exterior, 
energia, transportes, indústria siderúrgica e tantos outros temas de âmbito 
nacional. O ponto culminante desse momento pioneiro de concepção 
desenvolvimentista foi a apresentação, por Roberto Simonsen, em 1944, 
do projeto de criação de uma Junta Nacional de Planificação no Conselho 
Nacional de Política Industrial e Comercial.
191
ECONOMIA
O desenvolvimentismo interpretado pelas ideias de Simonsen (BIELSCHOWSKY, 2000), representando 
a classe do setor privado baseava‑se nos seguintes aspectos:
• uma das formas de dizimar a pobreza seria a industrialização integrada;
• a industrialização brasileira acompanharia um processo de reestruturação que vinha acontecendo 
nas economias da América Latina;
• a industrialização somente avançaria com apoio das correções pelo Estado, das falhas de mercado: 
para tanto, protecionismo e intervenção estatal seriam indispensáveis;
• a intervenção estatal deveria ir além dos instrumentos triviais de políticas públicas: teria de incluir 
investimentos em setores estratégicos.
Pelo lado do setor público, havia duas correntes: a dos não nacionalistas e a dos nacionalistas. 
Como bem afirma Bielschowsky (2000, p. 103), 
Desde suas origens, nas décadas de 1930 e 1940, o desenvolvimentismo 
foi uma ideologia econômica com fortes vínculos com o nacionalismo. 
Havia então toda uma inclinação ideológica, por parte da maioria dos adeptos 
do projeto de superação do atraso brasileiro pela via da industrialização, no 
sentido de desconfiar das possibilidades de se obter um concurso positivo do 
capital estrangeiro nesse projeto. Os mais radicais viam o capital estrangeiro 
como um bloco monolítico de interesses imperialistas, antagônicos ao 
projeto. E, mesmo entre os moderados, predominava a visão de que, pelo 
menos nos setores fundamentais para a industrialização (energia, transporte, 
mineração etc.), o Estado deveria garantir o controle decisório, deslocando o 
capital estrangeiro ou impedindo sua entrada.
De visão não nacionalista, destaca‑se Roberto Campos, considerado o economista de maior 
expressão em um período emque a economia brasileira passava de sua estrutura agroexportadora para 
a economia industrial, então internacionalizada. O projeto não nacionalista de desenvolvimento deveria 
incluir a questão do planejamento da industrialização. Propunha que
[...] se deveria procurar contornar a arcaica máquina administrativa brasileira, 
incapaz de executar as tarefas do desenvolvimentismo através da formação de 
equipes de planejamento e administração voltadas para a formulação e execução 
de uma política de investimentos básicos (BIELSCHOWSKY, 2000, p. 109).
Quanto à visão nacionalista do desenvolvimentismo, a defesa era da constituição de um capitalismo 
industrial moderno no País. Para os defensores desse ponto de vista, o desenvolvimento seria alcançado 
pela intervenção por investimentos estatais em setores estratégicos, admitindo que o setor privado não 
teria fôlego para tanto. Conforme destaca Bielschowsky (2000, p. 129),
192
Unidade III
O grande encontro dos desenvolvimentistas nacionalistas deu‑se em meados 
dos anos 1950, quando Furtado e Barbosa Oliveira fundaram o Clube dos 
Economistas, órgão que reuniu algumas dezenas de técnicos nacionalistas 
do governo federal e alguns desenvolvimentistas do setor privado. 
Vale destacar alguns pontos importantes do pensamento desenvolvimentista nacionalista:
• defesa de intervenção estatal na economia;
• políticas econômicas orientadas ao planejamento;
• subordinação da política monetária à política de desenvolvimento;
• adoção, por parte do Estado, de medidas econômicas de cunho social.
 Saiba mais
O principal expoente do pensamento nacionalista é Celso Furtado. 
Leia mais em:
BIELSCHOWSKY, R. Pensamento econômico brasileiro: o ciclo ideológico 
do desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.
Concentre‑se no capítulo cinco: “O pensamento desenvolvimentista”.
8.3 Economia internacional
A chamada teoria “pura” do comércio internacional, ao adotar uma perspectiva de longo prazo, 
concentra‑se na explicação de fatores reais como determinantes do fluxo comercial entre países. Para tanto, 
conforme Baumann (2004) ressalta, essa teoria apoia‑se em algumas hipóteses simplificadoras:
• todas as variáveis do sistema econômico são determinadas de forma independente dos fluxos monetários;
• todos os preços da economia são flexíveis e os mercados de produtos e de fatores de produção 
funcionam sob a lógica da concorrência perfeita;
• para cada país considerado, o estoque de fatores de produção deve ser encarado como uma variável 
exógena, independentemente de sua remuneração;
• como a utilização dos fatores de produção independe de sua remuneração, os fatores são móveis 
entre setores, mas imóveis entre países.
193
ECONOMIA
Dadas as restrições, a preocupação central desse tipo de teoria está em descobrir a existência ou não 
de ganhos com o comércio internacional, bem como qual será o padrão do fluxo comercial, ou seja, que 
produtos uma economia deveria exportar e importar e a que nível de preços. Em outras palavras, a teoria 
“pura” procura identificar o que determina o comércio internacional.
8.4 O mercantilismo
Durante o período em que se desenvolve a Revolução Comercial e consolida‑se o pensamento 
mercantilista, as teorias explicativas das relações comerciais prescreviam que cada nação deveria exportar o 
máximo e importar o mínimo para que fosse mantido saldo positivo em sua balança comercial. Nesse contexto, 
o comércio longínquo era visto como fonte de riqueza para os países e a prosperidade de uma economia era 
medida pelo seu estoque de metais preciosos.
A visão dominante entre os séculos XVI e XVIII foi essencialmente uma postura mercantilista, em que o 
comércio era admitido como uma fonte de riqueza, mas sob uma ótica bastante peculiar: a de acumulação 
sem limites de poder de compra, possibilitada por crescentes ganhos derivados de superávits comerciais.
Para Dowbor (1990) e Singer (1989), a exacerbação do comércio produziu dois efeitos sobre a 
estrutura econômica europeia. O primeiro corresponde ao fluxo de metais preciosos para a Europa, 
pois a quantidade de ouro chegou a dobrar em meados do século XVI. Como a produção de bens pouco se 
alterou, houve elevação de preços e redução dos rendimentos dos senhores feudais. Sobre o tema, Dowbor 
(1990, p. 13) ressalta que:
nessa época, os senhores feudais recebiam as contribuições anuais dos servos 
ainda em trabalho e em produtos, mas a forma dominante já era de simples 
pagamento, em moeda, de uma taxa fixa por pessoa. Ao dobrar a quantidade 
de ouro, enquanto a produção de bens permanecia pouco alterada, os preços 
duplicaram [...], reduzindo pela metade os rendimentos dos senhores feudais. 
O segundo desses efeitos foi o reforço da produção, pois conforme Dowbor (1990, p. 14) explica:
a rápida acumulação de capital nas mãos dos comerciantes e a abertura dos 
mercados internos criam uma atuação em que há ao mesmo tempo a procura 
pela produção e a procura pelos meios para desenvolver essa produção. 
Dessa maneira, o comércio internacional promovido pelo maior relacionamento entre países passava a 
ser encarado como uma disputa por uma quantidade limitada de metal precioso. Cada país, assim, poderia 
obter vantagens às custas dos demais, por intermédio da acumulação de metal.
A visão mercantilista, além de ser altamente nacionalista e priorizar o bem‑estar do próprio país, implicava 
uma percepção estática da disponibilidade de recursos. A atividade econômica era, portanto, reduzida a um 
jogo de soma zero no qual os ganhos de um país têm lugar em detrimento dos resultados obtidos pelos 
demais. Sobre isso, vejamos uma passagem de Araújo (1989, p. 22):
194
Unidade III
Os mercantilistas, por seu lado, preocupavam‑se sobretudo com a política 
econômica, com saldos favoráveis na balança comercial, com o estoque de 
metais preciosos e com o poder do Estado. Este seria tão mais forte quanto 
maior fosse seu estoque de metais preciosos. Para alcançar isso, ele deveria 
restringir as importações e estimular as exportações. Mas essa é uma política 
inconsequente. Se todos os países restringirem suas importações, quem 
conseguirá exportar? As importações de um são as exportações do outro. 
Não podia dar outra coisa. A política mercantilista exacerbou o nacionalismo, 
estimulou as guerras e promoveu uma maior presença do Estado nos 
assuntos econômicos. 
Diante desse quadro, as proposições mercantilistas passam a ser objeto de críticas. Um dos primeiros 
pensadores a opor‑se veementemente a essa lógica foi David Hume, ao questionar o argumento básico de 
uma economia poder acumular indefinidamente divisas sem com isso afetar sua posição competitiva no 
mercado internacional.
8.5 Visão de David Hume 
Conforme Kuntz (1983), há três traços principais na explanação de Hume que explicitam o que viria a ser 
o comércio internacional: a concepção de um mecanismo de ajuste automático nas contas externas, 
que inutilizaria qualquer intervenção governamental; a aplicação da teoria quantitativa da moeda 
quanto aos efeitos econômicos de superávits ou déficits na balança comercial de cada país e a alegação 
de que vantagens comparativas são variáveis determinantes na mobilidade de recursos em um sistema 
sem intervenção.
O argumento é o de que a acumulação de divisas na forma prescrita pelos mercantilistas, ou seja, via 
superávits comerciais, acabaria por afetar a oferta interna de moeda e, assim, elevar o nível de preços e salários 
internos. Em sua obra, Escritos sobre economia, de 1777, David Hume dedica um capítulo à análise da moeda. 
Dentre outras considerações, efetua a que se segue:
O dinheiro não é, propriamente falando, um dos objetos do comércio, mas 
apenas o instrumento sobre o qual concordaram os homens para facilitar 
a troca de uma mercadoria por outra. Não é uma das rodas do comércio: 
é o óleo que torna mais suave e fácil o movimento das rodas. A grande 
abundância de dinheiro tem uso bastante limitado, e pode às vezes até 
mesmo constituir uma perdapara o comércio de uma nação com os 
estrangeiros (HUME, 1983, p. 201‑202).
Ainda sobre a moeda, David Hume (1983, p. 203) esclarece que:
em qualquer reino onde o dinheiro comece a afluir com maior abundância 
que anteriormente, tudo assume novo aspecto: o trabalho e a indústria 
ganham vida; o comerciante torna‑se mais empreendedor; o fabricante 
mais hábil e diligente e até mesmo o agricultor empurra o arado com 
maior alegria e atenção. Não é fácil explicar isto, se considerarmos apenas a 
195
ECONOMIA
influência que a maior abundância de moeda exerce sobre o próprio reino, 
elevando o preço das mercadorias e obrigando todos a pagarem um número 
maior dessas cédulas amarelas ou brancas por tudo que compram. Quanto ao 
comércio exterior, parece que uma grande quantidade de dinheiro é bastante 
desvantajosa, porque eleva o custo de todo tipo de mão de obra. 
Se admitirmos que o excesso de dinheiro pode comprometer a competitividade das exportações 
do país superavitário, admitiremos também que se reduz a possibilidade de que se continue a geração de 
excedente comercial, ou seja, de que sejam aumentados indefinidamente os superávits comerciais. 
Acerca disso, Baumann (2004, p. 11) resume que:
o movimento de divisas entre dois países opera como um mecanismo 
automático, que leva à igualdade entre os valores de exportações e importações. 
Esse raciocínio é conhecido como o mecanismo preço‑fluxo‑espécie, de Hume. 
Sobre tal mecanismo, vejamos a contribuição de Williamson (1988: p. 131):
David Hume havia desacreditado a base macroeconômica da posição 
mercantilista. Em 1752 mostrou que um superávit permanente nos 
pagamentos não era viável e que, portanto, não tinha sentido algum como 
objetivo de política, enquanto um déficit seria solucionado por si mesmo, de 
modo que não era preciso preocupar‑se com a possibilidade de um país perder 
toda a sua oferta monetária e ter de, por isso, deixar de produzir. A alegação 
básica era que o padrão ouro tinha um mecanismo de ajuste automático. 
Pelos argumentos de David Hume, o mecanismo de ajuste automático funcionaria da seguinte forma: 
um déficit em balanço de pagamentos ensejaria uma saída de ouro do país, ocasionando uma queda na 
oferta monetária. Esta contrai a demanda interna por mercadorias, diminuindo seus preços e diminui a 
demanda interna por produtos estrangeiros, o que, em outras, palavras, reduz as importações. A queda 
nos preços das mercadorias produzidas internamente eleva a competitividade internacional, ampliando, 
portanto, as exportações. Por fim, reduz‑se o déficit no balanço de pagamentos.
Williamson (1988) ressalta que há algumas premissas necessárias a serem atendidas para se garantir 
que o mecanismo de fluxo‑espécie‑preço funcione da forma descrita por Hume. São elas: 
• que a taxa de câmbio seja fixa; 
• que se evite a esterilização completa, ou seja, que não seja compensada uma queda nas reservas 
com elevação do crédito interno; 
• que se aceite a Teoria Quantitativa da Moeda; 
• que os preços externos permaneçam constantes ou que se elevem; 
196
Unidade III
• que seja satisfeita a condição Marshall‑Lerner; 
• que não exista mobilidade de capital.
8.6 Produtividade do trabalho e vantagens comerciais
Enquanto no século XVI os mercantilistas ainda viam a aquisição de ouro e da prata como forma 
mais importante de enriquecer o país, a própria necessidade de dispor de cada vez mais produtos para 
exportar e adquirir o ouro gera uma outra visão de fonte de riqueza: a capacidade de produzir, que se 
desenvolve com a Revolução Industrial. Na Inglaterra, esta teve seu auge por volta das três últimas 
décadas do século XVIII e começo do século XIX.
Nesse período, a Inglaterra tinha um mercado interno bem desenvolvido, comparativamente aos 
demais países da Europa, no qual se procurava a produção em maior quantidade para vender a preços 
mais baixos, o que significava lucros crescentes. 
Além disso, a busca por maiores lucros conjugada ao aumento das vendas foi estimulada pela 
demanda externa por bens produzidos na Inglaterra, dando motivos para a explosão de inovações 
tecnológicas então ocorridas. Segundo Dowbor (1990, p. 36‑37), a Revolução Industrial promoveu 
efeitos positivos para países desenvolvidos, como a Inglaterra do século XIX. Vejamos sua explanação:
(a) com a progressão da divisão do trabalho e da mecanização, a produtividade 
do trabalho dá um salto imenso, reduzindo, pela primeira vez na história, 
o custo unitário dos produtos manufaturados, permitindo assim realizar 
grandes economias de escala; (b) a industrialização leva a custos decrescentes, 
à medida que exige um processo permanente de inovações tecnológicas; 
(c) a industrialização acarreta a multiplicação de economias externas: abrem‑se 
estradas, formam‑se trabalhadores, estende‑se a rede de comercialização, 
desenvolvem‑se transportes e comunicação, constituindo um conjunto de 
infraestrutura que torna mais barato o funcionamento de cada empresa nova 
que se instala.
Em outras palavras, ainda para Dowbor (1990), a Revolução Industrial generalizou a utilização 
da tecnologia ao desenvolver a produção de ferramentas, especializou e modernizou a produção 
manufaturada, promoveu, nos países desenvolvidos, o processo de enriquecimento cumulativo através 
da conquista de novos mercados a cada progresso técnico da sua indústria, invadiu diversas partes do 
mundo com produtos manufaturados, e por fim, estimulou a industrialização.
8.6.1 Adam Smith e suas vantagens absolutas
Em 1776 com A riqueza das nações, de Adam Smith, e em 1817, com Princípios de economia política 
e tributação de David Ricardo, ocorre uma evolução no pensamento econômico. Incorporando os fatos e 
os valores da Revolução Industrial, forma‑se a teoria clássica do liberalismo. Segundo ela, dentre outros 
197
ECONOMIA
aspectos, o sistema econômico livre do Estado permite a cada capitalista e a cada trabalhador buscar o 
seu próprio interesse no mercado. Trata‑se da recomendação do laissez‑faire, laissez‑passer, que podemos 
identificar como a recomendação da irrestrita abertura dos portos, ou dos mercados, na promoção de 
maior relacionamento entre as nações, fato que na época favorecia o poder industrial inglês.
A abertura dos mercados seria importante, pois como enfatiza Smith (1996, p. 77):
quando o mercado é muito reduzido, ninguém pode sentir‑se estimulado a 
dedicar‑se inteiramente a uma ocupação, porque não pode permutar toda 
a parcela excedente de sua produção que ultrapassa seu consumo pessoal, 
pela parcela de produção do trabalho alheio, da qual tem necessidade. 
Ainda para Smith (1996, p. 420):
com plena segurança, achamos que a liberdade do comércio, sem que seja 
necessária nenhuma atenção especial por parte do governo, sempre nos 
garantirá o vinho de que temos necessidade; com a mesma segurança 
podemos estar certos de que o livre comércio sempre nos assegurará o ouro 
e a prata que tivermos condições de comprar ou empregar, seja para fazer 
circular as nossas mercadorias, seja para outras finalidades.
Com esse argumento, percebe‑se que o comércio externo beneficiaria todos os países participantes, 
já que em primeiro lugar, daria escoamento à produção excedente de manufaturados, caso não existisse 
demanda interna. Em segundo lugar, valorizaria, no mercado externo, mercadorias que poderiam tornar‑se 
supérfluas no mercado interno, e em terceiro lugar, o comércio externo provocaria a elevação da produção, 
“aumentando assim a renda e a riqueza reais da sociedade” (SMITH, 1996, p. 430).
Com isso, Adam Smith defende a teoria das vantagens absolutas, entendidas em custos de produção – na 
sua época, notadamente custos de mão de obra. Seu argumento difere daquele postulado pelas teorias 
“puras”, pois parte do pressuposto de que as trocas comerciais beneficiam todas as nações que delas 
participam, e que cada país obtém vantagens maiores ou menores na produção de cada mercadoria. 
Mais claramente, se o mercado internacional fosse encaradocomo forma de competição e sem qualquer 
interferência governamental, cada país procuraria especializar‑se na produção de mercadorias, que lhe daria 
maior vantagem absoluta, tanto natural quanto adquirida.
Dessa forma, se cada nação participante do comércio internacional procurasse sua produção mais 
vantajosa, ou seja, aquela vantagem absoluta, todas as mercadorias seriam trocadas ou vendidas pelo seu 
valor mais baixo, e daí surgiria a riqueza de todas as nações, pois para Smith (apud SINGER, 1989, p. l47):
riqueza significa obter bens de uso necessários ao consumo da população 
com o menor gasto de tempo de trabalho humano. Nesse sentido, o comércio 
internacional, livre de interferências não econômicas promoveria a riqueza de 
todas as nações. 
198
Unidade III
Smith (1996) assegura então que toda pessoa procura empregar seu capital da forma mais vantajosa 
possível, visando à manutenção de sua própria vantagem. Com efeito, se todas as pessoas o aplicarem no 
fomento da atividade nacional, a sociedade como um todo atingirá o emprego mais vantajoso de seu capital, 
e cada indivíduo se esforçará para aumentar ao máximo possível a renda anual da sociedade, já que
os produtores individuais consideram de seu interesse empregar toda sua 
atividade de forma que obtenham alguma vantagem sobre seus vizinhos, 
comprando, com uma parcela de sua produção, tudo o mais de que tiverem 
necessidade (SMITH, 1996, p. 435‑438).
Sendo assim, se algum país puder fornecer uma mercadoria a um custo mais baixo do que aquele de 
sua produção interna, para Smith seria melhor comprá‑la do que produzi‑la, ou seja, seria melhor importá‑la. 
Dessa forma, deixando de produzir tal mercadoria, encaminha‑se o capital e o emprego necessário para 
outra produção, que poderá fornecer maior vantagem. Ao produzir internamente aquela mercadoria, que é 
mais barata quando se importa, há um desperdício de recursos produtivos, provocando, então, uma queda 
no valor da produção anual da atividade do país, e não é isso que um país deseja.
Smith acrescenta ainda que as vantagens naturais que um país pode deter frente a outro na produção de 
determinadas mercadorias tornam‑se, às vezes, tão grandes que não ensejariam provocar um processo 
de concorrência com relação a essa mercadoria:
não interessa se as vantagens que um país leva sobre o outro são naturais 
ou adquiridas. Enquanto um dos países tiver suas vantagens, e outro desejar 
partilhar delas, sempre será mais vantajoso para este último comprar que 
fabricar ele mesmo (SMITH, 1996, p. 44).
8.6.2 David Ricardo e suas vantagens comparativas
David Ricardo dá forma definitiva a essa concepção, argumentando que cada país não precisaria ter 
uma vantagem absoluta na produção de todas as mercadorias, mas deveria especializar‑se na produção 
de mercadorias em que tivesse maiores vantagens relativas ou comparativas, também em custos.
Nesse sentido, Ricardo sustenta, assim como Smith que, em uma economia de livre mercado, cada 
nação procurará aplicar todo o seu capital, bem como todo o seu trabalho, em atividades que lhe tragam 
o máximo benefício, como se cada país buscasse sua “vantagem individual”. Obter vantagem significaria 
ter eficiência na produção derivada da utilização de uma quantidade menor de trabalho na produção. 
Assim, para Ricardo (1996, p. 97‑98):
um país dotado de grandes vantagens em maquinaria e em capacidade 
técnica, e que consiga produzir certas mercadorias com muito menos trabalho 
do que seus vizinhos, poderá importar em troca dessas mercadorias parte 
dos cereais necessários ao consumo. 
199
ECONOMIA
Dessa forma, dois países poderiam tirar proveito do comércio, se cada um tivesse uma vantagem 
relativa na produção. 
Vantagem relativa ou comparativa significa que a quantidade de trabalho incorporado em duas 
mercadorias seria diferente entre dois países, de modo que cada um poderia ter pelo menos uma mercadoria 
cuja quantidade relativa de trabalho incorporado seria menor do que a de outro país (HUNT, 1989, p. 137). 
Assim, o comércio internacional seria importante para uma nação, pois ampliaria a quantidade de 
mercadorias transacionadas, elevaria a diversidade dos produtos nos quais os salários poderiam ser 
gastos a um custo menor e, por fim, aumentaria o grau de satisfação da sociedade (RICARDO, 1996, 
p. 93‑97). Por suas palavras:
se Portugal não tivesse nenhuma ligação comercial com outros países, em 
vez de empregar grande parte de seu capital e de seu esforço na produção de 
vinhos, com os quais importa, para seu uso, tecidos e ferramentas de outros 
países, seria obrigado a empregar parte daquele capital na fabricação de 
tais mercadorias, com resultados provavelmente inferiores em qualidade 
e quantidade.
Para Singer (1989, p. 147), Ricardo (1996) demonstra então, que mesmo que um país tivesse grandes 
vantagens naturais ou adquiridas em todas as esferas de produção, conforme explicava Smith, a 
especialização de sua produção apenas nos ramos em que suas vantagens comparativas fossem maiores, 
trar‑lhe‑ia mais vantagens que a autossuficiência econômica.
Ainda que essa teoria não explicite que os ganhos de especialização se deem no consumo ou na 
acumulação de capital, não se repartem homogeneamente entre as nações participantes do intercâmbio 
comercial (SINGER, 1989). Durante boa parte do século XIX, as políticas comerciais das nações capitalistas 
mais avançadas e das menos desenvolvidas observaram suas recomendações de política econômica, 
notadamente a política de “portos abertos”, em que se entende ampliação das relações comerciais internacionais. 
As poucas exceções a essa visão e a essa política derivam do argumento da indústria infante, cujo 
conteúdo, em última instância, sugere um fechamento temporário do país ao livre comércio, contrariando 
as relações de comércio até então apresentadas.
A abordagem clássica dos custos comparativos desempenhou importante papel no quadro da teoria 
das vantagens resultantes da especialização e das trocas internacionais. Suas conclusões tiveram grande 
utilidade e, nesse sentido, as bases teóricas do enfoque ricardiano puderam ser aplicadas a situações reais, 
principalmente em sua época, quando o trabalho era considerado o fator básico determinante dos custos 
de oferta da maior parte dos bens e serviços produzidos pelas nações.
Se o trabalho fosse o único fator de produção, as vantagens comparativas poderiam surgir apenas por 
causa de diferenças internacionais da produtividade da mão de obra, mas no mundo real elas também 
refletem diferenças entre os recursos dos países, por exemplo: terra, capital, recursos minerais, entre 
outros. Dessa forma, diante de novos recursos teóricos e em decorrência das consideráveis modificações 
200
Unidade III
na estrutura de produção das nações, a teoria clássica das vantagens comparativas passa a ser objeto 
de diversas reformulações.
8.6.3 Recursos e comércio: o modelo Heckscher-Ohlin
O teorema desenvolvido pelos suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin enfatiza as razões e os ganhos com o 
comércio internacional, pois fatores diferentes de produção estão disponíveis nos mais diversos países 
e mostram que as vantagens comparativas de cada nação são influenciadas pela interação entre a 
abundância relativa dos fatores de produção e a tecnologia da produção – ou seja, a quantidade e 
a intensidade relativa com que os fatores de produção são usados na geração de bens diferentes.
Tomando por base Krugman e Obstfeld (1999), Gonçalves (1998) e Williamson (1988), passamos a 
exemplificar o teorema. Esse modelo considera que cada economia pode produzir dois bens, tecidos e 
alimentos, e que a produção de cada um deles requer o uso de dois fatores de produção específicos 
e com oferta limitada: mão de obra e terra. Nesse caso simples de dois itens, dois produtos e duas regiões, 
ou seja, modelo 2x2x2, o comércio praticado entre os países seria baseado na troca dos produtos mais 
baratos de cada região, portanto, aqueles cuja produção utilize relativamentemaior quantidade do fator 
abundante em termos domésticos.
Assume também que os consumidores dos diferentes países têm preferências idênticas e que a 
sociedade pode maximizar seu bem‑estar como se fosse um indivíduo e que um maior nível de bem‑estar 
para a sociedade implica maior nível de produto para cada indivíduo.
Sendo assim, o modelo de Heckscher‑Ohlin diz respeito ao comércio em equilíbrio entre duas 
economias, passando a ideia de que o país, por exemplo, onde o trabalho for relativamente abundante será 
capaz de produzir o bem intensivo em trabalho a um custo relativamente baixo, obtendo uma vantagem 
comparativa em sua produção. Para Williamson (1988, p. 37), o modelo pode ser enunciado da seguinte 
maneira: “cada país exportará o bem intensivo em seu fator abundante”.
Sabemos que o custo de produção de um bem depende dos preços dos fatores de produção. Se o 
aluguel da terra, por exemplo, for mais elevado, então o bem cuja produção seja intensiva terá preços 
mais altos. Nesse caso, a importância do preço de fator particular no custo de produção de um bem 
depende, entretanto, da quantidade do fator que a geração do bem envolve. Se a produção de tecido 
utiliza pouca terra, então um aumento no preço da terra não terá muito efeito sobre o do tecido.
A partir da determinação do preço dos tecidos e dos alimentos, bem como do estabelecimento do padrão 
de oferta limitado de terra e mão de obra, podemos identificar quanto de cada recurso será direcionado 
na economia à produção de cada bem – e, portanto, a quantidade produzida de qualquer mercadoria na 
economia, de acordo com a curva de possibilidade de produção.
Se a oferta de terra na economia aumenta, isso favorecerá a produção intensiva e será desfavorável 
à produção dos bens de trabalho intensivo. A terra e a mão de obra não mais utilizadas na produção 
de tecidos serão transferidas para o setor de alimentos, cuja produção aumentará mais do que 
201
ECONOMIA
proporcionalmente ao incremento na oferta de terra, ocasionando um deslocamento para fora na curva 
de possibilidade de produção. Agora, a economia pode produzir mais alimentos do que antes. Para Krugman 
e Obstfeld (1999, p. 75‑76):
o efeito enviesado dos incrementos dos recursos nas possibilidades 
de produção é a chave para entender como as diferenças em recursos 
aumentam o comércio internacional. 
Uma vez que a economia doméstica tem uma proporção maior de mão de obra do que de terra do 
que a economia estrangeira, a doméstica é abundante em mão de obra e a estrangeira, em terra. 
Se o tecido for um bem intensivo em mão de obra, a fronteira de possibilidade de produção da economia 
doméstica relativa à estrangeira é deslocada para fora, mais na direção dos tecidos do que na dos 
alimentos. Assim, coeteris paribus, a economia doméstica tende a produzir uma proporção mais elevada 
de tecidos do que de alimentos.
Nas palavras de Krugman e Obstfeld (1999, p. 77):
sinteticamente, eis o que aprendemos sobre os padrões de comércio: a 
economia doméstica tem uma proporção maior de mão de obra em relação 
à terra do que a economia estrangeira; isto é, a economia doméstica é 
abundante em mão de obra e a economia estrangeira é abundante em 
terra. A produção de tecidos utiliza uma proporção maior de mão de obra 
em relação à terra que a produção de alimentos: ou seja, tecidos são 
intensivos em mão de obra e alimentos em terra. A economia doméstica, 
país abundante em mão de obra, exporta tecidos, o bem intensivo em 
mão de obra; a economia estrangeira, país abundante em terra, exporta 
alimentos, o bem intensivo em terra. A regra geral dessa teoria é: os países 
tendem a exportar bens cuja produção é intensiva em fatores com os 
quais eles são favorecidos em abundância. 
Diante das considerações anteriores, ao ser confrontado com os fluxos de comércio internacional, 
o modelo Heckscher‑Ohlin parece ser o que mais se aproxima da realidade. Em sua mais simples 
manifestação, as causas fundamentais das redes de trocas entre as nações parecem encontrar‑se nas 
diferenças estruturais quanto à disponibilidade de recursos. Estes não se encontram distribuídos na 
mesma proporção entre as nações e, diante das dificuldades para a sua mobilização de uma para outra, 
cada uma tende a se especializar na produção dos bens e serviços mais apropriados à sua tipologia 
de recursos. Os excedentes resultantes tendem a ser trocados no exterior por produtos cuja obtenção 
não se ajuste à estrutura interna de recursos. Assim, poderíamos dizer que, do ponto de vista da teoria 
neoclássica das relações internacionais, o comércio internacional é, na realidade, uma espécie de troca 
de recursos abundantes por recursos escassos.
202
Unidade III
8.7 Balanço de pagamentos
O balanço de pagamentos é o registro sistemático de todas as transações econômicas efetuadas entre 
residentes e não residentes de um país durante determinado período. Esse registro atende à subdivisão 
de transações correntes (TC), movimentos do mercado real de bens e serviços e movimentos de capitais 
(CF) representados por fluxos de moeda, renda, crédito e investimentos. Portanto, o registro do balanço 
de pagamentos considera o lado real e o lado monetário das relações internacionais.
O saldo de TC é o resultado das contas do lado real da economia: balança comercial, balança 
de serviços e a balança de rendas, essa última dividida em duas subcontas: renda primária e renda 
secundária. A conta balança comercial (BC) apresenta o saldo free on board (FOB) de exportações e 
importações de bens realizadas durante determinado período. A conta balança de serviços (BS) registra 
os saldos das operações de serviços realizadas entre o país e os outros, a exemplo de transportes, seguros 
e aluguéis de equipamentos. Já a conta de rendas, em sua primeira e maior subconta, a renda primária, 
registra o envio e recebimento de lucros obtidos por empresas domiciliadas no Brasil ou no exterior; os 
lucros obtidos através da posse de ativos financeiros; a remuneração de empregados e reinvestimentos. 
Na conta de renda secundária ficam registradas as transferências pessoais que, na versão anterior 
do balanço de pagamentos, eram chamadas simplesmente de transferências unilaterais. Elas se referem 
ao saldo das transações que não envolvem contrapartida, a exemplo de donativos (na forma monetária 
ou em produtos) que um país envia a outro sem que o país recebedor ofereça algo em troca. Em geral, 
apresentam‑se na forma de ajuda humanitária, remessa de alimentos e medicamentos. Assim, 
TC = BC + BS + BR (Primária + Secundária)
Os saldos das contas capital e financeira representam os fluxos monetários realizados entre 
diferentes países durante determinado período, subdivididos em conta capital, que representam os 
envios e recebimentos de recursos para pagamentos de bens não financeiros não produzidos como, 
por exemplo, o pagamento de royalties ou de passes de atletas, e em conta financeira, na qual ficam 
registrados os saldos de investimento direto no país (IDP), que se constituem em investimento 
em ativos fixos e investimentos financeiros (investimento em carteira) por exemplo: ações, títulos 
públicos, debêntures etc.
No balanço de pagamentos, o registro sistemático das transações atende ao princípio contábil 
das partidas dobradas, a partir do qual um lançamento a débito em uma conta corresponderá a um 
lançamento a crédito em outra conta, sendo o contrário verdadeiro. Assim, pela lógica contábil, o saldo 
das contas deve ser zero. Sistematizando:
BP = TC + CC + CF = 0
Conforme Silva e Carvalho (2003): “no balanço de pagamento, o que garante essa igualdade são 
os capitais compensatórios, compostos de reservas, empréstimos de regularização do FMI e atrasados”. 
203
ECONOMIA
O balanço de pagamentos apresenta a seguinte estrutura:
Quadro 5 – Estrutura do balanço de pagamentos
Balanço de pagamentos
A Balança comercial (mercadorias)
 
Importações FOB (débito)
Exportações FOB (crédito)
B
Balança de serviços (saldos decontas: podem apresentar tanto débitos como créditos)
Viagens internacionais (turismo, negócios), transportes (fretes), seguros, rendas de capitais (juros, 
dividendos e lucros), serviços diversos (royalties, assistência técnica, aluguéis de equipamentos), serviços 
governamentais (embaixadas, consulados, representações no exterior) 
C
Balança de rendas (remuneração de fatores)
Renda primária (emolumentos obtidos através de investimento e trabalho): salário, lucros, dividendos e juros
Renda secundária: transferência de recursos sem a exigência de contrapartida, por exemplo, o envio de 
donativos para outro país
D
Conta capital: (recursos para pagamentos de bens não financeiros não produzidos)
Royalties, passes de atletas, direitos autorais
E
Conta financeira
Investimento direto estrangeiro (IDE) e investimento direto no país (IDP)
Reinvestimentos (reinvestimentos de empresas já instaladas no país)
Empréstimos e financiamentos (financiamentos de bancos estrangeiros de curto e longo prazo)
Investimentos em ativos financeiros (ações, títulos e debêntures, por exemplo)
F 
Erros e omissões
Saldo da conta financeira (‑) saldo de transações correntes (‑) saldo da conta capital = erros e omissões
Adaptado de: Vasconcellos (2001).
 Saiba mais
Desde 2015, o Banco central sistematiza as informações do balanço 
de pagamentos de acordo com a mais nova edição do Manual de Balanço de 
Pagamentos e Posição Internacional do Fundo Monetário Internacional (FMI), 
o BPM 6. Para ter mais informações sobre isso, acesse: 
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Perguntas frequentes (FAQs) sobre a 
conversão de BPM5 para BPM6. [s.d.]c. Disponível em: https://www.bcb.gov.
br/ftp/infecon/faqbpm6p.pdf. Acesso em: 9 jul. 2020.
204
Unidade III
Na tabela a seguir é possível acompanhar os últimos resultados do balanço de pagamento do Brasil:
Tabela 26 
Data Transações 
correntes
Conta 
capital
Conta 
financeira
Erros e 
omissões
2010 ‑79.014 242 ‑69.950 8.823
2011 ‑76.288 256 ‑80.512 ‑4.480
2012 ‑83.800 208 ‑83.040 552
2013 ‑79.792 322 ‑78.626 844
2014 ‑101.431 232 ‑96.587 4.613
2015 ‑54.472 461 ‑56.152 ‑2.141
2016 ‑24.230 274 ‑15.713 8.243
2017 ‑15.015 379 ‑9.926 4.709
2018 ‑41.540 440 ‑42.422 ‑1.322
2019 ‑49.452 369 ‑51.511 ‑2.428
8.8 O papel das instituições multilaterais
Entre 1942 e 1944, em Bretton Woods, foi realizada uma conferência que reuniu os países aliados 
contra o eixo fascista. Seu objetivo era a estabilização econômica e o alcance do pleno emprego. Várias 
propostas foram apresentadas, porém, as únicas levadas realmente em consideração foram as britânicas, 
desenvolvidas por John Maynard Keynes, e as dos Estados Unidos, apresentadas por Harry Dexter White. 
Era necessário que se criasse um sistema que superasse as deficiências do padrão‑ouro e do câmbio 
livre, sendo que a crítica mais acirrada quanto ao padrão‑ouro vinha da Inglaterra e de Keynes 
(MODESTO, 2013).
8.9 A Conferência de Bretton Woods e suas instituições
Para Keynes, o padrão‑ouro criava problemas fundamentais. Ele acreditava que uma economia em 
crescimento necessitava de expansão monetária, a fim de que se pudesse fazer frente a esse maior 
volume de produtos, não pressionando os juros para cima e/ou os preços para baixo. No padrão‑ouro, 
a disponibilidade de moeda dependia de um fator exógeno que, no caso, era a disponibilidade de ouro. 
Caso o ouro fosse escasso, poderia não haver moeda suficiente para que se realizassem as transações 
normais dessa economia. Uma forma de se combater esse problema era o aumento na taxa de juros, de 
modo a atrair ouro de outros países; essa política, entretanto, não era prejudicial apenas para os outros 
países (que, de certa forma, agem da mesma forma), mas também para o próprio país que havia adotado 
tal medida, dado que um aumento na taxa de juros prejudicava o consumo e o investimento interno.
O outro problema era o “ajuste assimétrico”. Para Keynes, quando uma economia crescia mais do 
que as outras, ela incorria em problemas de déficit comercial. Afinal, quando cresce a renda de um país, 
também cresce a necessidade de se importar bens, enquanto as exportações dependem da renda de 
outros países. Sendo assim, segundo Keynes, se um país crescesse mais do que os outros, a demanda por 
importação cresceria mais depressa que a possibilidade de exportar; logo, haveria o problema de como 
205
ECONOMIA
se pagar pela diferença. Havia duas soluções nesse caso: ou o país se endividava (o que não podia ser 
feito infinitamente) para cobrir os déficits, ou restringia as importações, o que era prejudicial para todos 
os envolvidos. Por exemplo: o país A importava do país B; quando o país A criava impedimentos aos 
produtos importados do país B, ele reduzia a renda do país B; com uma menor renda, o país B importaria 
menos produtos, que poderiam ser, no caso, os produtos do país A.
Já o câmbio livre (que foi adotado por praticamente todos os países no início da década de 1930) 
consistia na estratégia de que cada país determinasse a taxa de câmbio que julgasse a correta para cada 
momento. O problema é que em momentos de depressão e desemprego, os países desvalorizavam a 
sua moeda com o intuito de elevar as suas exportações líquidas, transferindo assim os seus problemas 
para os seus vizinhos. Com o tempo, esse tipo de política foi perdendo a eficácia, pois quando um país 
desvalorizava a sua moeda, o outro reagia da mesma forma a fim de se proteger de tal medida.
Por outro lado, a proposta americana era muito mais modesta, pois a grande preocupação dos 
EUA no pós‑guerra era a adoção de práticas restritivas quanto ao comércio internacional. O Plano 
White previa a criação de uma instituição com um papel duplo. O primeiro seria o de funcionar como 
um fórum: esse fórum avaliaria se poderiam ou não ser feitos os ajustes nas taxas de câmbio entre 
os países‑membros, sendo esses ajustes permitidos quando o país provasse que a sua economia 
havia passado por mudanças fundamentais, tornando necessários ajustes na taxa. Esse mecanismo 
eliminaria as desvalorizações oportunistas, cujo objetivo era o de transferir problemas para os seus 
vizinhos. A segunda função era a de financiar o ajuste de curto prazo do balanço de pagamentos, 
de modo que esse desajuste não causasse pressão sobre a taxa de câmbio. O tesouro seria composto 
pelas moedas dos países‑membros, em quantidades proporcionais à importância dessas moedas no 
comércio e na economia internacional. Assim, um país poderia recorrer à instituição comprando a 
moeda que precisasse para ajustar a sua economia.
Segundo Modesto (2013), é importante notar que o Plano Keynes estava preocupado com as crises de 
balanço de pagamentos causadas por fugas de capitais, pois ele tinha convicção de que algumas classes 
de capitais desestabilizavam a economia internacional e doméstica, sem trazer nenhum beneficio. O 
Plano White, em contrapartida, se preocupava com o funcionamento do comércio internacional. A 
instituição prevista pelo Plano White não tinha condições de criar liquidez internacional; esta dependia 
de um estoque definido de moedas nacionais e, sendo assim, a liquidez internacional dependeria da 
política monetária dos países que emitissem essas moedas internacionalmente aceitas. Logo, haveria um 
limite para a ajuda financeira dessa instituição, a qual, alías, não poderia promover o ajuste expansivo 
proposto pelo Plano Keynes, pois não teria controle sobre as reservas dos países‑membros e nem a 
autoridade para coagir países superavitários a expandir a sua demanda.
Como não podia deixar de ser, o Plano White foi o vencedor e, então, foram criados o FMI (Fundo 
Monetário Internacional) e o Banco Mundial (CARVALHO, 2004). Temos então que as medidas adotadas 
foram as do Plano White, e não as do Plano Keynes. Ainda como parte do efeito dominó ocasionado pela 
crise de 1929 e envoltos na comoção causada pela Segunda Guerra Mundial, os países industrializados 
estabeleceram um conjunto de normas para a paridade cambial, tornandoas moedas indexadas ao 
dólar, sendo este ancorado na conversibilidade ao ouro. Data dessa época o surgimento do Banco 
Internacional de Reconstrução de Desenvolvimento (Bird), constituinte do Banco Mundial e do Fundo 
Monetário Internacional (FMI), como mais um resultado de Bretton Woods.
206
Unidade III
Conforme Manzalli e Gomes (2006, p. 89‑90),
[...] o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional são dois importantes 
organismos criados para promover a coordenação de políticas entre países, 
notadamente na área financeira, mas muitas vezes tal coordenação ocorre em 
detrimento de interesses de sociedades. Com o avanço do comércio de longa 
distância na Europa, surge certa tendência de que as coordenações financeiras, 
predominantemente administradas por famílias dos comerciantes locais, passem 
a desempenhar um papel primordial na definição dos interesses políticos e 
econômicos de diversos grupos no continente. Com o tempo, o desenvolvimento 
do comércio privado de moedas e instrumentos financeiros.
De acordo com Sandroni (1996), a criação do FMI em 1944 foi impulsionada pela tentativa de 
promover a cooperação monetária entre todos os países do mundo. Essa iniciativa partiu da necessidade de 
equilibrar paridades monetárias justas entre diferentes moedas, evitando desvalorizações concorrenciais 
e formando um grande fundo com recursos dos países‑membros. Esses recursos seriam utilizados em 
favor de países que encontrassem dificuldades nos pagamentos internacionais, principalmente aqueles 
que apresentavam recorrentes déficits em sua conta de transações correntes.
Uma das principais funções do Fundo era regular as paridades das moedas. 
Tinha o objetivo essencial de presidir um regime internacional de câmbio 
praticamente fixo, promovendo a cooperação monetária internacional mediante 
uma instituição permanente que servisse de mecanismo para consulta e 
colaboração sobre problemas monetários. Em seu instrumento constitutivo 
estabeleceu‑se, ainda, que recursos financeiros do Fundo seriam oferecidos 
temporariamente aos países‑membros para proporcionar‑lhes oportunidades 
de corrigir desequilíbrios no seu balanço de pagamentos, sem recorrer a 
desvalorizações cambiais, consideradas destrutivas da prosperidade internacional 
(MANZALLI; GOMES, 2006, p. 96).
Já o Banco Mundial, instituição financeira internacional ligada à Organização das Nações Unidas 
(ONU) e também criada em 1944, tinha como propósito o financiamento de projetos de recuperação e 
de promoção de desenvolvimento econômico dos países atingidos pela guerra (SANDRONI, 1996).
Figura 61 – Edifício sede da ONU, em Nova York
207
ECONOMIA
Na prática, esse papel ficou a cargo do chamado Plano Marshall, e o banco passou a lidar de modo 
crescente com o tema do desenvolvimento econômico e a atuar, sobretudo, nos países subdesenvolvidos 
(BAUMANN, 2004). Formalmente, seu intuito era canalizar capital para investimentos que permitissem 
elevar a produtividade das empresas, o padrão de vida das pessoas e as condições de trabalho nos 
países‑membros. Assim, a preocupação primordial do Banco Mundial seria aquela ligada à melhoria 
das condições de vida da população, quer dizer, às questões de cunho qualitativo (e não quantitativo‑
financeiro, a exemplo do FMI).
Conforme salientam Manzalli e Gomes (2006), o objetivo básico do Banco Mundial era o de auxiliar 
a reconstrução e o desenvolvimento de territórios dos países‑membros atingidos pela destruição da 
guerra. Esse objetivo deveria ser atendido por meio de atividades dedicadas a:
• Prover capital para fins produtivos.
• Promover o investimento externo privado.
• Complementar o investimento privado mediante o fornecimento de capital para fins produtivos.
• Promover o crescimento equilibrado de longo prazo do comércio internacional.
• Manter o equilíbrio nos balanços de pagamento mediante o incentivo internacional a investimentos 
para o desenvolvimento de recursos produtivos.
Os resultados das políticas keynesianas logo se fariam sentir e a economia americana viveria o seu 
período de maior riqueza e crescimento.
8.10 A globalização como fenômeno multidimensional
Já na segunda metade do século XIX, a economia dos países então desenvolvidos atinge a maturidade 
e, nos tempos e nos padrões de um capitalismo industrial ainda caracterizado por mercados dominados 
por empresas de porte relativamente pequeno, alcança também um grau elevado de evolução tecnológica. 
Importantes mudanças se verificam nos setores de siderurgia, metalurgia, mecânica pesada e ferrovias, 
e com a capacidade produtiva crescente nessas indústrias, aumenta a necessidade de mercados para 
o escoamento da produção e a necessidade de matérias‑primas baratas, fazendo com que os países 
desenvolvidos fornecessem aos países subdesenvolvidos estradas de ferro e pequeno equipamento industrial. 
Portanto, as economias capitalistas mais avançadas conseguiam exportar os processos que haviam sido 
o eixo principal de sua expansão e modernizavam a extração de matéria‑prima via exploração intensiva 
(DOWBOR, 1990).
Retomando um pouco das teorias das vantagens comparativas de Smith e Ricardo, de que cada 
país deveria se especializar na produção de mercadorias com maiores vantagens naturais ou adquiridas 
na produção, e ainda as ideias dos mercantilistas, de que o comércio exterior era visto como uma 
maneira de obter mais metais preciosos, conjugadas com as reformulações de Heckscher‑Ohlin quanto à 
dotação de fatores, estas posições já davam base para um processo de internacionalização da atividade 
econômica, como se têm discutido desde a década de 1990, porque quebravam barreiras e abriam 
208
Unidade III
novos mercados em busca de maior lucratividade. Além disso, Marx identificava no comércio exterior 
uma influência compensatória contra a tendência à queda da taxa de lucro, Sweezy dava importância 
à exportação de capitais e Luxemburg dizia que as economias capitalistas necessitavam de economias 
não capitalistas para sua expansão.
Nesse sentido, a tendência à internacionalização da economia é uma ideia e um fato antigo, e 
conforme as economias se especializam em determinados produtos e trocam estes produtos entre si, 
conseguem atingir um nível mais elevado de produtividade, de consumo e de acumulação de capital, 
ainda que com distribuição não homogênea entre os países envolvidos no processo. Deste modo, o 
conceito de internacionalização está ligado à possibilidade de comércio entre países facilitado pelo 
desenvolvimento dos meios de transporte (BAUMANN, 1996), resultando na interdependência de uma 
economia com relação a outras, no que toca a mercados.
Já o conceito de globalização é mais abrangente, e em certo sentido mais próximo da visão 
marxista, pois em vez de enfocar o relacionamento comercial entre países através de trocas de 
produtos, se refere a fluxos, entre as nações, de fatores de produção, processos produtivos e produtos, 
acompanhados de fluxos de informação (FIGUEIREDO, 1993).
Para Baumann (1996), o aspecto que diferencia o processo de globalização do de internacionalização 
é a intensidade dos acontecimentos, bem como seus efeitos, que têm caráter de constante ampliação e 
afetam todos os agentes econômicos dos mais diversos países.
8.11 Diferentes conceitos de globalização
De acordo com os ensinamentos de Chesnais (1996) e de Mattei (1997), o termo globalização surgiu 
no início dos anos 1980 nas escolas americanas de administração de empresas, dando significado a uma 
Nova Ordem Mundial Única, representando um processo de interdependência e interação entre países e 
povos no que diz respeito às relações produtivas, comerciais, financeiras, tecnológicas e culturais e ainda 
interligando o mundo através da participação dos meios de comunicação.
Para Batista Jr. (1997b, p. 159), trata‑se de um termo carregado de ideologia e que invadiu o discurso 
político e cotidiano com muita facilidade e conveniência por sugerir um “processo de unificação do 
mundo, de formatação deuma única sociedade mundial, sem conflitos ou fronteiras”. Para Regina 
Gadelha (1997, p. 256), “globalização é uma velha palavra, com a qual se procura dar nova roupagem 
a velhos processos estruturais da expansão do capitalismo em escala mundial”, pois transportando‑nos 
ao passado, esse processo já ocorre sob o nome de imperialismo, conforme considerado anteriormente 
por Rosa Luxemburg.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Batista Jr. (1997a, p. 85; 1997b, p. 162) afirma que globalização 
é a palavra da moda para designar um fenômeno muito antigo, como as grandes navegações do final 
do século XV impulsionadas por Portugal e Espanha. Para ele, esse fato já dá indícios de um mercado 
mundial. Desta forma, sendo uma palavra da moda, deveria estar sempre acompanhada de aspas, dada 
a “carga de fantasia e mitologia” que transforma o termo em algo enganoso e numa “falsa novidade”. 
209
ECONOMIA
Assim, a palavra globalização tem sido utilizada pelos governantes de países subdesenvolvidos como 
uma “cortina de fumaça”, uma espécie de desculpa para tudo o que acontece de bom ou de ruim em 
um país, no intuito de paralisar o pensamento crítico dos países periféricos, porque “governos fracos e 
omissos servem‑se desta retórica para isentar‑se da responsabilidade, transferindo‑a para um fenômeno 
impessoal e vago, fora do controle nacional”.
Para Aldaiza Sposati (1997, p. 43‑4), o processo de globalização não é um processo uniforme, pois 
não atinge todos os cidadãos da mesma forma e com a mesma intensidade, já que o processo procura 
“universalizar a diferenciação”. Quando o processo avança no sentido de horizontalizar valores, 
trata‑se de um processo positivo, mas tem‑se mostrado um processo de verticalização de valores, “numa 
forma de hierarquização de cidadãos e dominação da elite”.
Dowbor (1995, p. 4) tem posição assemelhada à de Sposati por também acreditar que a globalização 
é um processo hierarquizado, pois aproveitam‑se disso cerca de 500 a 600 empresas transnacionais que 
comandam 25% da atividade econômica mundial, controlando 80‑90% das inovações tecnológicas, 
principalmente na chamada tríade. Sendo assim, o processo de globalização também não é geral, pois 
“se olharmos nosso cotidiano, desde a casa onde moramos, a escola de nossos filhos, o médico da família, 
o local de trabalho, até os hortifrutigranjeiros da nossa alimentação cotidiana, trata‑se de atividades do 
espaço local e não global”. Diante disso, seria necessário então mudar a ideia de que tudo se globalizou.
Para Franco (1996), o processo de globalização nada mais é do que a representação do maior 
crescimento dos fluxos comerciais de produtos e do avanço dos investimentos externos diretos, em 
comparação ao crescimento produtivo. Para ele, a capacidade produtiva não avança com a mesma 
intensidade que avança o comércio internacional de produtos e finanças e, portanto, o processo de 
globalização resume‑se num crescimento da propensão a exportar e a importar.
 Observação
A chamada tríade, ou mundo triádico, é composta por Estados Unidos, 
Japão e Alemanha.
Dando outras conotações para o conceito de globalização, Otavio Ianni (1997, p. 15‑6) traz para discussão 
conceitos inovadores e nos remete a diferentes pontos de vista sob os aspectos sociais, econômicos, políticos, 
culturais e até religiosos. Para ele, na época da globalização, “o mundo começou a ser taquigrafado como 
‘aldeia global’, ‘fábrica global’, ‘terra pátria’, ‘nave espacial’, ‘nova babel’, entre outras expressões que ele chama 
de ‘metáforas da globalização’ que correspondem às conquistas e dilemas da modernidade e ‘expressam 
inquietações sobre o presente e ilusões sobre o futuro’”. Segundo Ianni (1997, p. 13),
A descoberta de que a Terra se tornou mundo, de que o globo não é mais 
apenas uma figura astronômica, e sim o território no qual todos encontram‑
se relacionados e atrelados, diferenciados e antagônicos – essa descoberta 
surpreende, encanta e atemoriza. Trata‑se de uma ruptura drástica nos 
210
Unidade III
modos de ser, sentir, agir, pensar e fabular. Um evento heurístico de amplas 
proporções, abalando não só as convicções, mas também as visões de mundo.
Ao mesmo tempo em que a inexistência de barreiras geográficas ou políticas entre os países reverbera 
na mente das pessoas, outros significados são também atribuídos à “globalização”, e isso de tal forma 
ocorre que podemos encontrar o termo sendo utilizado tanto para descrever a hegemonia do hambúrguer 
no cardápio alimentar quanto para representar a comunicação via internet, rápida, simultânea e 
integradora. Na verdade, globalização significa que o termo acabou por resultar quase vazio de sentido, 
e para traçar (ao menos) algumas fronteiras demarcadoras, é necessário que um esforço especial seja 
feito para compreendermos seus conceitos, contextualizados no tempo e na história, entendidos a partir 
das diferentes correntes ideológicas daqueles que vêm estudando o fenômeno. Afinal,
Desde que o capitalismo desenvolveu‑se na Europa, apresentou sempre 
conotações internacionais, multinacionais, transnacionais e mundiais, 
desenvolvidas no interior da acumulação originária, do mercantilismo, 
do colonialismo, do imperialismo, da dependência e da interdependência 
(IANNI, 1997, p. 14).
De maneira simplificada, o termo, que passou a ser utilizado na década de 1980, comparece no 
vocabulário acadêmico ou popular sob duas principais formas: ou no sentido positivo, relacionado ao 
processo de integração da economia mundial, ou normativo, prescrevendo e sugerindo estratégias de 
desenvolvimento baseadas na hegemonia política do capital internacional. Segundo Prado (2003, p. 2),
Como todo conceito imperfeitamente definido, globalização significa coisas 
distintas para diferentes pessoas. Pode‑se, no entanto, perceber quatro linhas 
básicas de interpretação do fenômeno: (I) globalização como uma época 
histórica; (II) globalização como um fenômeno sociológico de compressão 
do espaço e tempo; (III) globalização como hegemonia dos valores liberais; 
(IV) globalização como fenômeno socioeconômico.
Vejamos, portanto, como cada um desses pontos de vista contribui para a compreensão do fenômeno 
da globalização.
8.11.1 A perspectiva histórica
Do ponto de vista histórico, o termo faz referência a vários e diferentes eventos. Para alguns 
historiadores, globalização se refere ao período iniciado com o término da Guerra Fria, sendo seu ato 
fundador a queda do muro de Berlim e a capitulação final do socialismo à superioridade do capitalismo 
ocidental. Outros preferem situá‑la na década de 1950, quando, após o término da Segunda Guerra, 
os Estados Unidos iniciaram sucessivas intervenções militares na Ásia, na América Central e no Oriente 
Médio, todas elas com o objetivo de defender os interesses do capital ocidental.
211
ECONOMIA
 Lembrete
Lembre‑se de que a Guerra Fria marcou um estado de beligerância e 
de confrontos políticos entre Estados Unidos e União Soviética que teve 
início após o final da Segunda Guerra Mundial, quando acordos assinados 
entre os países envolvidos no conflito armado dividiram o mundo em duas 
grandes áreas de influência.
 Observação
Observe que, quanto à discussão do fim do socialismo e à prosperidade 
do capitalismo ocidental, alguns autores fazem questão de enfatizar que 
tal socialismo do período nada mais era do que um outro formato do 
capitalismo, daquela vez sob forma estatal.
Outros datam o processo como tendo início no século XVI, com as grandes navegações e a ação 
colonizadora da Europa na América, na África e na Ásia. A razão pela qual se defende a descoberta 
do Novo Mundo como o primeiro patamar do que seria a globalização é que, a partir daí, ter‑se‑ia 
criado um sistema econômico de interferência mundial, com importação e exportação de escravos 
e produtos primários, e transformador da vida tanto das colônias como dos países compradores e 
portadores de tecnologia.
Essa transformação seria impulsionada depois pela Revolução Industrial,que, mecanizando 
os meios de produção e barateando os produtos finais, teria obrigado os países proprietários dos 
meios de produção a procurar mercados consumidores além dos que já haviam conquistado em 
seus próprios países.
Na época, o desenvolvimento da economia dependia muito da expansão geográfica dos fluxos 
de transporte, criando‑se através do comércio marítimo uma rede que permitia transformar 
em consumidor qualquer habitante, mesmo que de uma região isolada. A dicotomia entre os 
países que detinham novas tecnologias em mãos e aqueles que só consumiam o produto final 
da modernização foi se reforçando, ao passo que a onda de internacionalização motivada pela 
Revolução Industrial foi se alastrando pelo mundo.
8.11.2 A perspectiva da compressão do espaço e do tempo
No que diz respeito à interpretação relativa à compressão do espaço e do tempo, há também 
diferentes leituras: tanto o fenômeno pode ser explicado a partir da dissolução das fronteiras geográficas 
(evidenciada pela formação de grandes blocos tais como a União Europeia) como pela criação de um 
espaço global, comum e virtual. A velocidade da informação, disseminada via web, teria finalmente 
possibilitado o surgimento da grande aldeia global, nave espacial em que todos a bordo caminhariam 
212
Unidade III
rumo a um espaço sem fronteiras, verdadeira Torre de Babel redimida dos pecados, romântica e utópica. 
Essa leitura de mundo (imersa na crença do progresso representado pelos avanços tecnológicos da 
informática) teria, em 2001, sua mais completa tradução e receberia também o seu maior golpe: perto 
das oito horas da manhã do dia 11 de setembro, em Nova York, os ataques às Torres Gêmeas reuniriam 
todos em frente à televisão, acompanhando os trágicos eventos que finalmente marcariam o início do 
século XXI.
8.11.3 A perspectiva da ideologia
Do ponto de vista ideológico, globalização também pode significar a hegemonia dos valores liberais. 
Essa interpretação consideraria o colapso de Bretton Woods e as dificuldades do capital internacional 
após os choques do petróleo em 1973 e 1979 como demarcadores da formalização de uma forma de 
pensar o mundo distante do keynesianismo e do monetarismo, uma forma alternativa que garantiria o 
crescimento, o desenvolvimento e a distribuição da riqueza.
Dignos representantes dessa maneira de interpretar a realidade, Ronald Reagan (nos Estados 
Unidos) e Margaret Thatcher (na Inglaterra) se encarregariam de propagar o advento do neoliberalismo 
triunfante, continuação e reinterpretação do liberalismo clássico: se antes as forças de mercado 
deveriam se libertar das garras da Igreja e dos resquícios do sistema feudal, agora deveriam se colocar 
contra qualquer coisa que se opusesse à mão invisível dos agentes econômicos. Enfim, a vitória final da 
revolução burguesa, como resultado de um acordo das elites econômicas globais libertas de quaisquer 
entraves para consolidação hegemônica dos interesses do capital, foi simbolizada pelo Consenso de 
Washington. Em resumo, era o fim da história, se a considerarmos como a sucessão de embates entre o 
capital e o trabalho.
8.11.4 A perspectiva econômica
No que se refere à interpretação socioeconômica, o termo “globalização” está relacionado à atuação 
das empresas multinacionais e à internacionalização da economia mundial. Dessa forma, processos 
de produção cada vez mais rápidos e dinâmicos, bem como a repartição internacional das etapas da 
produção entre diferentes países, dariam ao mundo uma nova face: o pós‑fordismo seria o responsável 
pela consolidação de uma economia baseada em processos integrados, um único e pulsante mercado 
global em que o capital, as mercadorias, os recursos e as pessoas circulariam livremente. Para Prado 
(2003, p. 4), a globalização então poderia ser definida como
A interação de três processos distintos, que têm ocorrido ao longo dos últimos 
20 anos, e que afetam as dimensões financeira, produtiva‑real, comercial 
e tecnológica das relações econômicas internacionais. Estes processos são: 
a expansão extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e 
capitais; o acirramento da concorrência nos mercados internacionais; e a 
maior integração entre os sistemas econômicos nacionais.
Para efeito desta disciplina, vamos considerar a globalização um processo que se dá a partir 
da aceleração de intercâmbios e fluxos entre os países do mundo, nos planos econômico, político 
213
ECONOMIA
e social. Mais: dentre todos os planos sob os quais se apresenta, o econômico é o que nos 
interessa, especialmente no que reverbera em outros campos. Assim, a produção de mercadorias 
em determinados países significaria mais do que apenas a produção local, uma vez que os 
locais de produção escolhidos pelas empresas poderiam ser (e costumam ser) países diferentes 
daqueles nos quais está instalada sua sede principal, acarretando o que ficou denominado de 
mundialização da produção.
Também é econômico o plano gerador da abertura nos países subdesenvolvidos que precisam do 
capital estrangeiro para se desenvolver e da maior participação do capital internacional, advinda de 
estratégias financeiras (em especial dos países desenvolvidos). É o plano que põe em xeque estruturas e 
costumes construídos e mantidos há muito, sobrepondo‑se a eles e, algumas vezes, comprometendo a 
identidade cultural de muitos povos.
Assim, a globalização não significa apenas um processo de expansão 
dos mercados e de aceleração dos fluxos econômicos entre as fronteiras 
nacionais. Junto consigo, como um de seus efeitos, surge uma consciência 
de que valores morais e sociais fundamentais devem ser estendidos para 
todos os povos (BARBOSA, 2006, p. 12).
Utilizando‑se da contribuição de Fiori (apud MATTEI, 1997, p. 66), o conceito de globalização é 
algo que ainda está em construção, pois procura refletir uma nova formatação do desenvolvimento do 
sistema capitalista, dado o avanço do processo de acumulação de capital, tanto no âmbito produtivo 
quanto no financeiro e de sua internacionalização.
Para efeito deste estudo, e após análise das contribuições anteriormente apresentadas, temos que 
o processo de internacionalização diz respeito à capacidade de os países manterem relações comerciais 
entre si, seja no âmbito da produção, no das informações ou no financeiro, à medida que se dá o 
desenvolvimento do capitalismo e, portanto, da concorrência, tornando‑se necessária a manutenção 
de boas relações internacionais.
Já o processo de globalização é aqui entendido como um aprofundamento do processo de 
internacionalização. Dizemos isso pois as relações internacionais são um processo extremamente 
antigo, mas agora, com o desenvolvimento de um maior padrão tecnológico e concorrencial, bem como 
da facilidade advinda dos meios de comunicação e transportes, o processo de globalização trata‑se, 
portanto, de uma maior intensidade na interdependência entre economias. Sendo assim, não encaramos 
a chamada globalização como processo novo e nem como fenômeno, em se tratando de produtos, 
processos produtivos e informações. Tratar‑se‑ia por fenômeno, ou por processo novo, a capacidade e 
intensidade nos fluxos de capital em sua forma monetária, a chamada indústria das finanças, com sua 
valorização autônoma, mas nesse aspecto aplicaríamos o conceito de mundialização.
Reforçando nosso argumento, dentro do conceito de internacionalização, estaria a capacidade 
adquirida pelos países de manterem trocas de bens de capital e de consumo, de processos produtivos, 
de informações e de capitais no sentido financeiro. No conceito de globalização, estaria apenas a noção 
da maior intensidade, nos dias de hoje, de tais trocas, com exceção da última, quais sejam, as trocas 
214
Unidade III
monetárias, que se inserem no conceito de mundialização, ligado aos investimentos externos diretos e 
à valorização autônoma do capital, em sua forma especulativa.
Dentro desse contexto, a realidade alheia nunca esteve tão próxima da realidade de qualquer 
cidadãodo mundo, se ele tiver acesso aos meios de comunicação através dos quais se dá a disseminação 
dos acontecimentos mundiais. De fato, as interligações das empresas, das aplicações financeiras, das 
exposições da mídia e do fluxo de pessoas nunca afetaram tanto as pessoas, e os reflexos dos resultados 
da globalização podem ser observados em quaisquer países. A questão é a desigualdade com que isso 
se dá, podendo‑se fazer uma divisão nítida entre países cuja política interna afeta com mais peso as 
políticas de outros países e aqueles que são geralmente mais afetados, fazendo desses últimos dignos da 
colocação de marginalizados da produção intelectual, política e financeira internacional.
Barbosa (2006) ainda lembra: é importante ressaltar que o processo de globalização nunca foi 
inevitável; por mais que o isolamento de qualquer nação seja impossível, também é improvável a 
aplicação de uma nova ordem global, feito que a globalização não foi ou é um processo homogêneo e 
de igual acesso para todos. Para Stiglitz (2007, p. 62),
A grande esperança da globalização é que ela elevará os padrões de vida em 
todo o mundo: dará aos países pobres acesso aos mercados externos para 
que possam vender seus produtos, permitirá a entrada de investimentos 
estrangeiros que fabricarão novos produtos a preços menores e abrirá as 
fronteiras, de tal modo que as pessoas possam viajar para o exterior a fim de 
estudar, trabalhar e mandar para a casa dinheiro para ajudar suas famílias e 
financiar novos negócios.
Esse seria o projeto de globalização, e o mal‑estar presente no imaginário dos políticos, jornalistas e 
da população em geral encontraria explicação não na globalização em si, mas no seu mau gerenciamento. 
Em resumo, a onda neoliberal – hoje caracterizada pelo maior alcance do capital estrangeiro, pela política 
de liberalismo econômico e incentivo à privatização e pelo crescente surgimento de novas tecnologias 
– apresentaria variações em termos de aplicabilidade nos países inseridos no contexto de globalização, 
tornando‑os suscetíveis a crises, à elevação dos juros, ao desemprego e a outros efeitos negativos das 
políticas da conjuntura mundial. Isso explicaria as críticas que cercam as práticas globalizadoras e as 
tentativas de controle da economia por parte dos governos não tão adeptos do excesso de liberdade 
atribuído ao capital do mercado financeiro.
Internacionalização, mundialização, universalização, ocidentalização. São vários os significados, ora 
complementares, ora opostos. “Faz tempo que a reflexão e a imaginação sentem‑se desafiadas para 
taquigrafar o que poderia ser a globalização do mundo. Essa é uma busca antiga, iniciada há muito 
tempo, continuando no presente, seguindo pelo futuro. Não termina nunca” (IANNI, 1997, p. 23).
Baumann (1996, p. 34) sustenta que a dificuldade em conceituar o que realmente designa o processo 
de globalização está na variedade de significados que têm sido atribuídos às transformações, já que 
trata‑se de um processo que impacta diversas áreas da economia. Para ele, o start para a globalização 
ocorreu através de alguns acontecimentos e condições favoráveis ao crescimento do comércio 
internacional pós‑Segunda Guerra Mundial.

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