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Fatos jurídicos
Os fatos jurídicos são eventos que, de alguma maneira, têm relevância para o direito. Ou
seja, são acontecimentos que geram, modificam, extinguem ou mantêm relações jurídicas.
Vamos destrinchar os conceitos de forma simples:
1. O que é um Fato Jurídico?
Um fato jurídico é um acontecimento que provoca algum efeito no mundo do direito. Esses
efeitos podem ser a criação, modificação, extinção ou conservação de direitos e obrigações.
● Exemplo: Se uma pessoa nasce, isso gera direitos e deveres para ela (direito à
vida, ao nome, à cidadania, etc.). Esse é um fato jurídico.
Agora, vamos separar os tipos de fatos jurídicos:
2. Fatos Jurídicos em Sentido Estrito
São eventos naturais, ou seja, fatos que ocorrem sem a intervenção humana, mas que
geram consequências jurídicas. Esses eventos podem ser:
● Ordinários: Acontecem de forma natural e comum.
○ Exemplo: O nascimento de uma pessoa. Isso faz com que ela adquira a
capacidade de ser titular de direitos e deveres.
● Extraordinários: São eventos naturais inesperados, como desastres naturais.
○ Exemplo: Um terremoto que destrói uma casa. O dono da casa poderá
acionar o seguro, caso tenha cobertura para isso. O terremoto (um fato
natural) tem consequências jurídicas (o direito ao seguro).
3. Fatos Jurídicos Humanos (ou Atos Jurídicos)
São os acontecimentos provocados pela ação humana. Dentro desse grupo, distinguimos
duas categorias:
a) Ato-fato Jurídico
Aqui, o ser humano age, mas o efeito jurídico não depende de sua intenção ou vontade.
● Exemplo: Uma pessoa, sem perceber, encontra um objeto perdido. Mesmo sem
intenção, ela tem o dever de devolver esse objeto ao dono. A ação de encontrar o
objeto gera um efeito jurídico, que é a obrigação de restituir.
b) Atos Jurídicos em Sentido Estrito
São atos praticados pelo ser humano com a intenção de produzir efeitos jurídicos, mas
esses efeitos já estão pré-determinados pela lei. A pessoa não tem liberdade de escolher os
efeitos, só de realizar o ato.
● Exemplo: O reconhecimento de um filho. Quando uma pessoa reconhece
formalmente que é pai ou mãe de uma criança, o efeito é a criação de uma relação
jurídica de filiação, com direitos e deveres.
c) Negócios Jurídicos
Aqui, a pessoa pratica um ato com a intenção de gerar efeitos jurídicos, mas,
diferentemente do ato jurídico em sentido estrito, ela pode definir quais serão esses efeitos
(dentro dos limites da lei). Em outras palavras, a pessoa tem mais liberdade para modelar
as consequências do seu ato.
● Exemplo: Um contrato de compra e venda. As partes envolvidas podem negociar os
termos do contrato, como preço, prazo de pagamento, entrega, etc. Elas têm
liberdade para decidir esses detalhes.
4. Fatos Ilícitos
Os fatos ilícitos são ações humanas que contrariam as leis e geram consequências
jurídicas negativas, como a obrigação de reparar o dano causado.
● Exemplo: Se uma pessoa bate o carro de outra por dirigir de forma imprudente, ela
deverá reparar os danos causados. O ato de dirigir imprudentemente é um fato
ilícito, que gera a obrigação de indenizar.
5. Fatos Jurídicos Lícitos
Ao contrário dos fatos ilícitos, os fatos lícitos estão de acordo com o direito e podem gerar
efeitos jurídicos favoráveis. Eles podem ser:
● Voluntários: Atos praticados por vontade da pessoa, como assinar um contrato de
aluguel.
● Involuntários: Acontecimentos naturais, como o envelhecimento ou a morte.
6. Fatos Extintivos
Os fatos extintivos são aqueles que põem fim a uma relação jurídica. Eles podem ser tanto
naturais quanto humanos.
● Exemplo natural: A morte de uma pessoa extingue suas obrigações pessoais,
como o trabalho.
● Exemplo humano: O pagamento de uma dívida extingue a obrigação do devedor.
Resumo:
1. Fato Jurídico: Qualquer evento com relevância no direito.
2. Fato Jurídico em Sentido Estrito: Acontecimentos naturais (como nascimento,
morte, catástrofes).
3. Fato Jurídico Humano: Ações humanas com efeitos jurídicos.
○ Ato-fato jurídico: A ação tem efeito jurídico, mesmo sem intenção.
○ Ato jurídico em sentido estrito: A ação gera efeitos já previstos pela lei.
○ Negócio jurídico: A pessoa pode determinar os efeitos dentro da lei (como
contratos).
4. Fato Ilícito: Ato contrário à lei, que gera consequências negativas.
5. Fato Jurídico Lícito: Ato conforme a lei, que pode gerar efeitos positivos.
6. Fato Extintivo: Fato que extingue uma relação jurídica.
Aquisição de Direitos
A aquisição de direitos ocorre quando uma pessoa se torna titular de um direito que antes
não possuía. Esse processo pode se desdobrar em várias classificações:
a) Originária x Derivada
● Aquisição originária: Ocorre quando uma pessoa adquire um direito sem depender
de um titular anterior. Ou seja, o direito nasce diretamente para essa pessoa, sem
transferência de outro indivíduo.
○ Exemplo: Quando alguém pesca um peixe em um rio público, essa pessoa
adquire originariamente o direito de propriedade sobre o peixe, pois não
houve um proprietário anterior.
● Aquisição derivada: Aqui, o direito já existia e é transferido de um titular anterior
para um novo titular.
○ Exemplo: A compra de um imóvel. O vendedor transfere o direito de
propriedade sobre o imóvel ao comprador. Essa aquisição depende do antigo
proprietário, logo, é derivada.
b) Universal x Singular
● Aquisição universal: A pessoa adquire um conjunto de direitos de uma vez, ou
seja, "o todo". Isso acontece em situações que envolvem a totalidade de um
patrimônio, por exemplo.
○ Exemplo: Na herança, se o herdeiro herda todo o patrimônio do falecido,
essa é uma aquisição universal, pois envolve a totalidade dos bens e direitos
do falecido.
● Aquisição singular: Ocorre quando a pessoa adquire um direito específico,
individualizado.
○ Exemplo: Se uma pessoa compra apenas um carro que fazia parte do
patrimônio de outra, ela está adquirindo esse bem de forma singular.
c) Atual x Futura
● Aquisição atual: A aquisição do direito ocorre de forma imediata, no momento em
que o negócio jurídico se realiza.
○ Exemplo: Quando se assina um contrato de compra e venda e ocorre a
transferência imediata do bem, a aquisição do direito é atual.
● Aquisição futura: Aqui, o direito só será adquirido em um momento futuro, mesmo
que o negócio jurídico já tenha sido realizado.
○ Exemplo: Quando se faz uma promessa de compra e venda de um imóvel, o
comprador ainda não adquire o direito de propriedade de imediato. Ele só o
adquirirá no futuro, quando forem cumpridas certas condições, como o
registro no cartório.
d) Expectativa de Direito x Direito Eventual x Direito Condicional
● Expectativa de direito: Existe uma possibilidade de que o direito seja adquirido no
futuro, mas não há garantia.
○ Exemplo: Uma pessoa que é beneficiária em um testamento tem a
expectativa de adquirir os bens após a morte do testador. Enquanto o
testador estiver vivo, o beneficiário não tem certeza de que vai adquirir os
bens, pois o testamento pode ser alterado.
● Direito eventual: A aquisição do direito já começou, mas não se completou porque
ainda faltam atos jurídicos para aperfeiçoá-lo.
○ Exemplo: No caso de uma promessa de compra e venda registrada, o
comprador tem o direito eventual de adquirir o imóvel, mas ainda não é o
proprietário porque falta o registro definitivo da transferência.
● Direito condicional: A aquisição do direito depende da ocorrência de um evento
futuro e incerto (uma condição).
○ Exemplo: Um contrato de doação com a condição de que o donatário se
forme na faculdade. A doação (aquisição do direito) só ocorrerá se essa
condição for cumprida (a pessoa se formar).
2. Modificação de Direitos
A modificação de direitos ocorre quando um direito já existente é alterado, seja nos
sujeitos envolvidos, no objeto do direito, ou em outros aspectos como quantidade ou
qualidade. Essa modificação pode ser:
a) Subjetiva
● A modificação é relativa ao sujeito da relação jurídica, ou seja, há uma mudança
nos polos da relação: quem tem o direito ou quem tem a obrigação de cumpri-lo.
○ Exemplo: Se um credorpara influenciar uma pessoa de bom senso a agir
contra a sua vontade. Pequenas ameaças, que não afetam de maneira significativa a
capacidade de decisão da pessoa, não são consideradas coação jurídica.
Estado de Perigo
O estado de perigo é um defeito do negócio jurídico que ocorre quando uma pessoa, sua
família ou seus bens estão em uma situação de risco grave ou iminente, e essa pessoa é
levada a celebrar um negócio jurídico para tentar se livrar dessa condição. Nesse caso, a
pessoa age sob pressão das circunstâncias, com a finalidade de se salvar ou proteger o
que está em perigo, e acaba realizando um negócio em condições desvantajosas.
Características do Estado de Perigo:
1. Gravidade da Situação:
○ Para configurar o estado de perigo, o risco deve ser sério e urgente, ou seja,
a pessoa ou seus bens devem estar em uma situação que exige uma
solução imediata.
○ Esse risco pode envolver a vida, saúde, segurança da pessoa ou de seus
familiares, ou mesmo o patrimônio, como a casa ou os bens essenciais.
2. Desvantagem Exagerada no Negócio Jurídico:
○ A pessoa que se encontra em estado de perigo realiza o negócio jurídico em
condições altamente desfavoráveis para si, como pagar um valor muito
acima do justo para se livrar do risco.
○ O outro contratante aproveita-se dessa situação para obter vantagens
desproporcionais.
3. Intenção de Eximir-se do Perigo:
○ O negócio jurídico é realizado com o propósito de eliminar o perigo, e não
por uma decisão livre e racional.
○ A pessoa age em função da necessidade urgente de resolver a situação de
perigo, sem ponderar de maneira adequada sobre os termos do negócio.
Consequências do Estado de Perigo:
● Anulabilidade do Negócio Jurídico: O negócio pode ser anulado se for
comprovado que uma das partes agiu em estado de perigo e que a outra parte se
aproveitou dessa situação para obter vantagem indevida.
● Indenização: A parte prejudicada pode, além da anulação, exigir indenização por
eventuais danos sofridos, caso o contrato tenha causado prejuízos materiais ou
morais.
Exemplos Práticos:
1. Tratamento Médico Urgente:
○ Uma pessoa sofre um acidente grave e precisa de um tratamento médico
emergencial para salvar sua vida. O hospital, sabendo da gravidade da
situação, cobra um valor exorbitante pelo atendimento, muito acima do preço
normalmente praticado. Nesse caso, o paciente realizou o negócio
(pagamento) em estado de perigo, e o contrato pode ser anulado, pois houve
uma vantagem indevida para o hospital.
2. Resgate de Bens em Situação de Emergência:
○ Durante uma enchente, uma pessoa precisa de um caminhão para retirar
seus móveis de casa antes que eles sejam destruídos pela água. O
proprietário do caminhão exige um valor muito alto para realizar o serviço de
transporte, aproveitando-se da urgência e do desespero da pessoa. Aqui, o
estado de perigo pode ser alegado para anular o contrato, uma vez que a
pessoa pagou um valor excessivo devido à situação de risco.
3. Compra de Alimentos em Situação de Escassez:
○ Em uma cidade isolada por causa de um desastre natural, uma pessoa, com
sua família sem alimentos, é obrigada a comprar mantimentos de um
comerciante local que cobra preços abusivos, sabendo que os moradores
não têm outra opção. A pessoa compra os produtos sob estado de perigo, e
esse contrato pode ser anulado, porque o comerciante obteve vantagem
indevida.
Diferença com outros Defeitos do Negócio Jurídico:
● Coação: No estado de perigo, o risco vem de uma circunstância externa (ex.:
doença, desastre), enquanto na coação, o risco é criado por uma das partes para
forçar o outro a celebrar o negócio (ex.: uma ameaça).
● Lesão: Na lesão, o negócio é desproporcional porque uma parte se aproveita da
inexperiência ou da necessidade da outra, mas o estado de perigo envolve um risco
imediato e grave à pessoa ou seus bens.
Considerações Finais:
O estado de perigo é uma situação em que a urgência e o risco extremo comprometem a
capacidade de uma pessoa de tomar decisões racionais, levando-a a realizar negócios em
condições desvantajosas. O ordenamento jurídico permite que essa pessoa busque a
anulação do negócio, como forma de proteção contra abusos em situações de
vulnerabilidade extrema.
Lesão
A lesão ocorre quando uma das partes, no momento de celebrar o negócio jurídico, aceita
uma prestação manifestamente desproporcional em relação à outra parte, geralmente por
inexperiência, falta de conhecimento ou por necessidade urgente. Nesse tipo de situação,
uma parte se aproveita da vulnerabilidade da outra para obter vantagens excessivas.
Características da Lesão:
1. Desproporcionalidade:
○ A lesão caracteriza-se por uma evidente desproporção entre as prestações
acordadas pelas partes no negócio jurídico.
○ A parte que sofre a lesão acaba aceitando um negócio extremamente
desfavorável, no qual ela recebe muito menos do que dá em troca. Esse
desequilíbrio deve ser evidente e relevante, ou seja, a desproporção é clara
para qualquer observador.
2. Inexperiência ou Necessidade:
○ O elemento subjetivo da lesão envolve a inexperiência ou a necessidade
de uma das partes no momento da celebração do negócio.
○ Inexperiência refere-se à falta de habilidade ou conhecimento adequado
sobre o valor justo ou sobre os termos do negócio.
○ Necessidade ocorre quando a parte, por estar em uma situação difícil
(financeira, de saúde, etc.), aceita condições desvantajosas, por não ter outra
opção viável.
3. Momento do Negócio:
○ A lesão precisa ocorrer no momento da celebração do negócio. Não basta
que as circunstâncias mudem depois da conclusão do contrato, o
desequilíbrio deve estar presente na formação do acordo.
Consequências Jurídicas:
1. Anulabilidade do Negócio Jurídico:
○ O contrato pode ser anulado se a parte prejudicada comprovar a ocorrência
de lesão, ou seja, se houver evidências de que foi levada a aceitar uma
prestação desproporcional devido à sua inexperiência ou necessidade.
○ A parte lesada tem o direito de pedir a anulação do negócio jurídico em juízo,
sendo protegida pela legislação contra a exploração de sua vulnerabilidade.
2. Manutenção do Negócio com Correção:
○ O legislador permite que a outra parte, ao perceber que o negócio pode ser
anulado, ofereça uma correção para restaurar o equilíbrio entre as
prestações.
○ Se a parte beneficiada com o negócio concordar em modificar o
contrato, ajustando os termos para que sejam justos, o negócio não será
anulado. Isso é feito, por exemplo, mediante a devolução de parte do valor
pago ou mediante uma compensação financeira.
Exemplos Práticos de Lesão:
1. Venda de um Terreno:
○ Uma pessoa, com pouca experiência no mercado imobiliário, vende um
terreno valioso a um comprador experiente por um preço muito abaixo do
mercado. Ela concorda com o preço baixo devido à falta de conhecimento
sobre o verdadeiro valor do imóvel. Aqui, a parte inexperiente sofreu lesão,
pois houve desproporção entre o valor real do bem e o preço recebido.
2. Compra de Equipamento Médico em Situação de Urgência:
○ Um hospital, em situação de necessidade urgente, compra equipamentos
médicos a um fornecedor que cobra um preço exageradamente alto,
aproveitando-se da urgência. O hospital aceita os termos do negócio porque
precisa dos equipamentos imediatamente. Esse é um exemplo clássico de
lesão, pois a necessidade da parte compradora foi explorada.
3. Empréstimo Financeiro:
○ Uma pessoa, em situação de necessidade financeira, aceita um empréstimo
com taxas de juros exorbitantes, acima do praticado pelo mercado, porque
não tem outra alternativa naquele momento. Essa pessoa sofre lesão, já que
se encontra em uma posição desvantajosa e aceitou um negócio
desfavorável por causa de sua condição de urgência.
Comparação com Outros Defeitos do Negócio Jurídico:
● Estado de Perigo: No estado de perigo, a parte celebra o negócio para se livrar de
um risco iminente à sua vida, saúde ou bens. Já na lesão, a parte aceita o negócio
por necessidade ou inexperiência, mas não necessariamente para evitar um risco
imediato.● Erro: No erro, a parte se engana sobre um aspecto fundamental do negócio jurídico.
Na lesão, a pessoa tem plena ciência das condições, mas aceita um contrato
desproporcional devido a sua vulnerabilidade.
● Dolo: O dolo envolve a má-fé de uma das partes, que engana ou manipula a outra.
Na lesão, a exploração ocorre sem engano ou fraude, mas pela disparidade entre as
partes e pela situação de necessidade ou inexperiência de uma delas.
Considerações Finais:
A lesão é um mecanismo de proteção às partes vulneráveis no momento da formação do
negócio jurídico, garantindo que ninguém seja obrigado a cumprir contratos que resultem de
uma disparidade excessiva entre as prestações. Ela oferece uma oportunidade de correção
ou anulação do negócio, evitando que abusos contratuais se perpetuem, especialmente em
situações onde uma das partes não teve condições de negociar de maneira justa.
Vícios Sociais
Os vícios sociais ocorrem quando a manifestação de vontade no negócio jurídico é
intencionalmente distorcida para prejudicar terceiros ou para obter vantagens de forma
ilícita. Diferente dos vícios da vontade, que afetam o consentimento interno do declarante,
os vícios sociais envolvem condutas fraudulentas ou abusivas que afetam a validade ou
eficácia do negócio em função de sua repercussão social.
Principais Vícios Sociais:
1. Simulação:
○ Na simulação, as partes, de comum acordo, declaram ou exteriorizam uma
vontade que não corresponde à sua verdadeira intenção. Ou seja, criam uma
aparência enganosa para terceiros, enquanto o que pretendem é algo
diferente.
2. Tipos de Simulação:
○ Simulação Absoluta: As partes criam um negócio jurídico que, de fato, não
pretendem realizar. Exemplo: Fazer um contrato de compra e venda de um
imóvel sem a intenção de transferir o bem.
○ Simulação Relativa: As partes realizam um negócio jurídico verdadeiro, mas
o fazem disfarçado por outro. Exemplo: Declaram uma venda por um preço
muito inferior ao real, para pagar menos impostos.
○ Simulação Inocente: Quando não há intenção de prejudicar terceiros.
Exemplo: Casamento de fachada apenas para regularizar a situação
migratória.
3. Consequências: A simulação pode levar à nulidade do negócio jurídico se for
provado que o negócio não corresponde à verdadeira vontade das partes. Além
disso, pode acarretar sanções civis e até penais, dependendo da natureza do ato.
4. Fraude Contra Credores:
○ A fraude contra credores ocorre quando o devedor, com intenção de lesar
seus credores, pratica atos que reduzem ou ocultam seu patrimônio, de
forma a se tornar insolvente ou menos capaz de honrar suas dívidas.
○ O objetivo do devedor é evitar que seus bens sejam utilizados para pagar os
credores, realizando negócios que aparentam ser lícitos, mas que, na
verdade, buscam prejudicar o direito de terceiros.
5. Exemplos:
○ Um devedor transfere todos os seus bens a parentes ou amigos, simulando
uma venda ou doação, com o intuito de evitar que esses bens sejam
penhorados para pagar uma dívida.
○ Realizar uma doação em valor elevado enquanto se sabe que existem
dívidas pendentes que não poderão ser pagas.
6. Consequências: Se a fraude for reconhecida, o negócio jurídico pode ser declarado
ineficaz em relação aos credores, ou seja, os credores podem desconsiderar o
negócio fraudulento para satisfazer seus créditos. Esse reconhecimento ocorre por
meio da ação pauliana (ou revocatória).
7. Fraude à Execução:
○ A fraude à execução acontece quando, durante o curso de uma execução
judicial (ou seja, quando um credor já está buscando judicialmente cobrar
uma dívida), o devedor aliena ou onera seus bens com a intenção de frustrar
o cumprimento da sentença ou da penhora.
○ Ao contrário da fraude contra credores, aqui o credor já moveu uma ação
judicial e, mesmo assim, o devedor tenta alienar bens para impedir que eles
sejam penhorados.
8. Exemplo:
○ Um devedor vende sua casa após já ter sido intimado sobre a penhora do
bem em um processo de execução. Esse ato tem o intuito de evitar que o
bem seja utilizado para pagar a dívida.
9. Consequências: O negócio jurídico de alienação do bem será considerado ineficaz
perante o credor, ou seja, a venda ou transferência será desconsiderada, e o bem
poderá ser penhorado normalmente. A eficácia do negócio jurídico é suspensa em
relação à execução.
Diferença entre Simulação e Fraude:
● Simulação: O negócio jurídico é apenas uma aparência, um ato fictício realizado
entre as partes para enganar terceiros, sem que haja a intenção de realmente
realizar aquele negócio.
● Fraude: O negócio jurídico é real, mas sua intenção é desviar patrimônio ou ocultar
bens para prejudicar credores ou frustrar a execução de dívidas.
Exemplo Prático de Vício Social:
● Simulação de Venda de Imóvel para Evitar a Penhora:
○ Um devedor, ciente de que pode ter seus bens penhorados para pagar uma
dívida, "vende" sua casa a um amigo por um valor simbólico e não real,
apenas para criar a falsa impressão de que o imóvel não faz mais parte de
seu patrimônio. Nesse caso, trata-se de uma simulação relativa, pois, na
verdade, o imóvel nunca foi vendido de fato, sendo um ato dissimulado para
enganar os credores.
● Fraude Contra Credores em Doação de Bens:
○ Um empresário, enfrentando dificuldades financeiras e com dívidas
acumuladas, doa sua frota de veículos para parentes, alegando
generosidade. Porém, a intenção é clara: evitar que esses bens sejam
utilizados para saldar as dívidas que ele deve a seus credores. Esse é um
claro exemplo de fraude contra credores, já que a intenção do empresário é
lesar seus credores ao reduzir seu patrimônio disponível.
Considerações Finais:
Os vícios sociais afetam a validade ou eficácia do negócio jurídico porque envolvem
comportamentos maliciosos e fraudulentos que, embora partam de uma manifestação de
vontade consciente e intencional, são contrários aos princípios de boa-fé e justiça nas
relações contratuais. Esses vícios protegem a sociedade contra práticas enganosas que
podem prejudicar credores ou terceiros, buscando sempre manter o equilíbrio e a
transparência nos negócios jurídicos.
1. Requisitos de Existência
Esses são os elementos mínimos para que o negócio jurídico exista no mundo jurídico.
Sem eles, o ato nem sequer pode ser considerado um negócio jurídico.
● Agente (partes): Deve haver pelo menos duas partes envolvidas.
● Vontade/Manifestação de Vontade: É necessária a manifestação de vontade, ou
seja, uma declaração clara de intenção de realizar o negócio.
● Objeto: Deve haver um objeto que seja juridicamente possível (algo que possa ser
regulado pelo direito).
● Forma: Deve-se observar a forma mínima exigida para o negócio existir (se for um
contrato, por exemplo, precisa haver acordo; se for um testamento, deve ser escrito).
Resumo: O negócio jurídico existe quando há partes, vontade, objeto e forma mínima
necessária.
2. Requisitos de Validade
Mesmo que o negócio jurídico exista, ele só será considerado válido se cumprir certos
requisitos legais. Se faltar um desses requisitos, o negócio pode ser anulado.
● Agente capaz: As partes devem ser capazes, ou seja, aptas juridicamente para
realizar o negócio (não podem ser menores de idade, incapazes etc.).
● Vontade livre e sem vícios: A manifestação de vontade deve ser livre e
espontânea, sem coação, erro, dolo ou qualquer vício que possa invalidar o
negócio.
● Objeto lícito, possível e determinado: O objeto do negócio deve ser lícito,
possível (não pode ser algo impossível de realizar), e determinado ou determinável
(deve ser claro ou especificável).
● Forma prescrita ou não defesa em lei: O negócio deve seguir a forma exigida pela
lei ou, se não houver exigência, deve ser em uma forma permitida pela legislação.
Resumo: O negócio jurídico é válido se o agente for capaz, a vontade for livre, o objeto for
lícito e a forma seguir a lei.
3. Requisitos de Eficácia
Mesmo sendo existente e válido, o negócio jurídico só produz efeitos no mundo jurídico
quando se tornam eficazes. Esses requisitos envolvem a possibilidadede o negócio
produzir os seus efeitos.
● Condição: O negócio pode estar condicionado a um fato futuro e incerto (condição
suspensiva ou resolutiva).
● Termo: Pode haver um prazo ou data para que o negócio comece a produzir seus
efeitos (termo inicial) ou para que esses efeitos cessem (termo final).
● Modo (Encargo): O cumprimento de um encargo pode ser necessário para a
eficácia do negócio.
● Registro: Alguns negócios só se tornam eficazes quando registrados (como na
compra de imóveis, que exige registro no cartório).
Resumo: O negócio jurídico é eficaz quando pode produzir seus efeitos, o que pode
depender do cumprimento de condições, prazos ou formalidades (como o registro).
Um negócio jurídico bilateral simples é aquele em que duas partes se envolvem em
um acordo, onde apenas uma delas obtém vantagem e a outra suporta um ônuscede seu crédito a outra pessoa (cessão de crédito),
o novo titular do crédito (cedido) substitui o antigo credor, modificando
subjetivamente a relação jurídica.
b) Objetiva
● A modificação ocorre no objeto do direito, ou seja, no bem ou serviço relacionado
ao direito.
○ Exemplo: Se duas partes renegociam o valor de um contrato de prestação
de serviços, há uma modificação objetiva, pois o objeto do contrato (a
prestação e o pagamento) foi alterado.
c) Quantitativa
● Ocorre quando há uma mudança na quantidade do objeto do direito.
○ Exemplo: Em um contrato de fornecimento de produtos, as partes podem
renegociar a quantidade dos itens a serem entregues, aumentando ou
diminuindo a quantidade inicialmente acordada.
d) Qualitativa
● A modificação aqui é na qualidade do objeto do direito.
○ Exemplo: Em uma compra de bens, as partes podem alterar o tipo de bem a
ser entregue. Por exemplo, em vez de entregar produtos de uma marca
específica, decidem que outra marca será fornecida, mudando a qualidade
do objeto contratado.
3. Conservação de Direitos
A conservação de direitos é o ato de proteger ou manter um direito já existente. Pode
ocorrer de duas formas:
a) Preventiva
● A conservação preventiva envolve ações que evitam que o direito se perca,
protegendo-o antes que algum problema aconteça.
○ Exemplo: O pagamento regular de uma dívida evita a perda de um bem
hipotecado, conservando o direito de propriedade do devedor.
b) Repressiva
● A conservação repressiva atua para remediar uma situação em que o direito foi
prejudicado ou está em risco.
○ Exemplo: Entrar com uma ação judicial para reaver um imóvel que está
sendo ocupado ilegalmente é uma forma de conservação repressiva, pois
tenta recuperar um direito já afetado.
c) Extrajudicial x Judicial
● Extrajudicial: Quando a conservação de direitos ocorre fora do âmbito judicial,
como em acordos, contratos e negociações privadas.
○ Exemplo: Um acordo de mediação para resolver um conflito sobre a posse
de um imóvel, sem recorrer ao Judiciário.
● Judicial: Quando a conservação de direitos envolve o Poder Judiciário, como em
processos ou ações judiciais.
○ Exemplo: Entrar com uma ação de reintegração de posse para recuperar um
imóvel é uma medida judicial para conservar o direito de propriedade.
4. Extinção de Direitos
A extinção de direitos ocorre quando um direito é encerrado, cessado ou anulado. Isso
pode acontecer de diversas maneiras:
● Cumprimento de uma obrigação: Quando o devedor paga uma dívida, o direito do
credor de cobrar essa dívida se extingue.
● Morte do titular: Em certos casos, a morte do titular do direito pode extinguir o
próprio direito, principalmente em direitos personalíssimos, que não podem ser
transferidos para outra pessoa.
○ Exemplo: O direito de usufruto (que é o direito de usar e usufruir de um bem
alheio) se extingue com a morte do usufrutuário, pois é um direito
personalíssimo que não pode ser transferido.
● Exemplo de perda sem extinção: Uma pessoa pode perder a posse de um imóvel
(por exemplo, se for desapropriado), mas o direito de propriedade não
necessariamente se extingue, já que a pessoa pode ser compensada por uma
indenização.
Conclusão
● Aquisição de direitos: Quando uma pessoa se torna titular de um direito, seja por
meio de uma transferência ou de forma originária, atual ou futura, com expectativas
ou condições.
● Modificação de direitos: Mudanças no titular, no objeto ou na qualidade e
quantidade de um direito.
● Conservação de direitos: Ações para proteger e manter um direito, seja de forma
preventiva ou repressiva, judicial ou extrajudicial.
● Extinção de direitos: Quando um direito cessa, por morte do titular, cumprimento
de uma obrigação ou outras causas.
Negócios jurídicos
O negócio jurídico é um ato praticado por uma ou mais pessoas, de forma
consciente e voluntária, com o objetivo de produzir efeitos jurídicos, como a criação,
modificação, extinção ou conservação de direitos. A principal característica do
negócio jurídico é a manifestação de vontade, ou seja, a intenção clara e expressa
das partes de criar efeitos jurídicos. Para entender melhor, é importante saber como
os negócios jurídicos podem ser classificados com base em diferentes critérios,
como o número de manifestantes de vontade (declarantes), a necessidade de
comunicação e a equivalência das obrigações.
Classificação do Negócio Jurídico com Base no Número de
Declarantes
A primeira classificação dos negócios jurídicos é feita com base no número de
declarantes, ou seja, a quantidade de partes que manifestam a sua vontade para
que o negócio jurídico seja formado. Esse critério determina se o negócio é
unilateral, bilateral ou plurilateral.
1. Negócio Jurídico Unilateral
No negócio jurídico unilateral, basta uma única manifestação de vontade para que o
negócio se aperfeiçoe (ou seja, para que ele produza efeitos jurídicos). Nesse tipo
de negócio, uma só pessoa ou parte realiza o ato jurídico, sem a necessidade de
outra parte concordar ou manifestar sua vontade. No entanto, o negócio unilateral
pode ser subdividido em dois tipos, conforme a necessidade de comunicação ao
destinatário:
a) Receptício
● No negócio jurídico unilateral receptício, a manifestação de vontade precisa ser
conhecida pelo destinatário para que produza efeitos jurídicos. Ou seja, o ato deve
ser comunicado ou chegar ao conhecimento da pessoa a quem se destina.
○ Exemplo: Renúncia a uma herança. Quando alguém renuncia a uma
herança, essa manifestação de vontade precisa ser comunicada ao
responsável pela partilha (por exemplo, um juiz ou tabelião), para que surta
efeitos.
b) Não receptício
● No negócio jurídico unilateral não receptício, a manifestação de vontade não precisa
ser comunicada ao destinatário para produzir efeitos. Ou seja, o negócio se
aperfeiçoa independentemente do conhecimento do destinatário.
○ Exemplo: Testamento. O testamento é um negócio jurídico unilateral não
receptício, pois sua validade não depende de ser comunicado a quem será
beneficiado (o testador pode fazer o testamento sem que o beneficiário
saiba).
2. Negócio Jurídico Bilateral
O negócio jurídico bilateral envolve duas manifestações de vontade, ou seja, duas partes
que manifestam suas vontades de forma oposta, mas que convergem para um objetivo
comum. Esse tipo de negócio se caracteriza pela necessidade de acordo entre as duas
partes, já que uma só manifestação não basta para formá-lo.
No caso de negócios bilaterais, as manifestações de vontade podem ser classificadas em
dois tipos principais, de acordo com a existência ou não de reciprocidade entre as
obrigações:
a) Simples
● No negócio jurídico bilateral simples, não há reciprocidade ou equivalência entre as
prestações das partes envolvidas. Isso significa que apenas uma das partes tem
obrigações, enquanto a outra apenas recebe o benefício.
○ Exemplo: Doação. Na doação, o doador transfere um bem ou valor para o
donatário sem que este tenha a obrigação de prestar algo em troca. É uma
relação gratuita, sem equivalência.
b) Sinalagmático
● No negócio jurídico bilateral sinalagmático, há equivalência ou reciprocidade entre
as obrigações das partes. Ambas as partes assumem compromissos, e o
cumprimento de uma obrigação depende do cumprimento da outra.
○ Exemplo: Contrato de compra e venda. O vendedor se compromete a
entregar o bem, enquanto o comprador se compromete a pagar o preço.
Cada parte tem uma obrigação que depende da outra, caracterizando a
reciprocidade.
3. Negócio Jurídico Plurilateral
O negócio jurídico plurilateral envolve várias manifestações de vontade, com mais de duas
partes atuando para atingir um objetivo comum. Aqui, as várias manifestações de vontade
convergem para um mesmo propósito, e o negócio jurídico só se aperfeiçoa quando todas
as partes envolvidas manifestam sua vontade de forma coerente e em direção ao mesmo
fim.
● Exemplo: Consórcio. No consórcio, várias partes se unem com o objetivo de
adquirir um bem ou serviço, contribuindo financeiramente para um fundo comum.Esse fundo é administrado para beneficiar todos os participantes ao longo do tempo.
Cada participante manifesta sua vontade ao aderir ao consórcio, e o negócio só é
válido quando várias pessoas participam.
Outro exemplo clássico seria a constituição de uma sociedade empresária. Para que a
sociedade seja formada, é necessário que todos os sócios manifestem sua vontade de
contribuir com capital, trabalho ou bens para o desenvolvimento do empreendimento
comum.
Resumo e Comparação
a) Negócio Jurídico Unilateral
● Envolve uma única manifestação de vontade.
● Receptício: A vontade deve ser conhecida pelo destinatário (ex.: renúncia de
herança).
● Não receptício: Não precisa ser comunicado ao destinatário (ex.: testamento).
b) Negócio Jurídico Bilateral
● Envolve duas manifestações de vontade.
● Simples: Não há equivalência entre as obrigações (ex.: doação).
● Sinalagmático: Existe reciprocidade, ou seja, ambas as partes têm obrigações
que dependem uma da outra (ex.: compra e venda).
c) Negócio Jurídico Plurilateral
● Envolve várias manifestações de vontade de diferentes partes.
● Todas as vontades devem convergir para um objetivo comum (ex.: consórcio,
constituição de sociedade empresária).
Aplicação Prática
Essas classificações são importantes para entender a dinâmica dos negócios
jurídicos e como eles funcionam no dia a dia. Dependendo do tipo de negócio
(unilateral, bilateral ou plurilateral), as regras jurídicas que se aplicam podem variar,
principalmente no que diz respeito a como as manifestações de vontade devem ser
expressas, se há necessidade de comunicação ao destinatário e como as
obrigações de cada parte são organizadas. Isso também impacta questões como
responsabilidade, validade e efeitos jurídicos dos negócios realizados.
Por exemplo:
● Nos negócios unilaterais, como um testamento, o testador tem total liberdade
para manifestar sua vontade sem a necessidade de que os beneficiários
saibam disso. Já em uma doação, não há reciprocidade: o donatário não
precisa retribuir.
● Nos negócios bilaterais, como o contrato de compra e venda, as partes
devem estar cientes de suas obrigações mútuas (pagar e entregar o bem),
sendo essencial a reciprocidade.
● Em negócios plurilaterais, como um consórcio, as vontades de todos os
participantes devem se alinhar para que o objetivo comum seja atingido, e
cada um tem sua parcela de contribuição e responsabilidade.
Segundo as vantagens/obrigações patrimoniais que podem
ser contraídas
a) Gratuito
● Neste tipo de negócio jurídico, somente uma das partes obtém uma
vantagem patrimonial. A outra parte não precisa prestar qualquer
contraprestação ou retribuição.
○ Exemplo: Doação. O doador transfere um bem ao donatário sem que
este precise dar algo em troca. É uma transferência unilateral de
patrimônio.
○ Testamento: O testador distribui bens após a morte, e o beneficiário
não precisa prestar nada em troca.
b) Oneroso
● No negócio jurídico oneroso, ambas as partes envolvidas obtêm vantagens
patrimoniais, ou seja, cada uma tem direitos e obrigações. Sempre haverá
uma troca patrimonial entre os participantes.
○ Exemplo: Compra e venda. O comprador paga o preço do bem,
enquanto o vendedor entrega o bem em troca do pagamento. Ambas
as partes ganham algo.
● Esse tipo de negócio jurídico oneroso pode ser classificado em duas
subcategorias:
○ Comutativo: A vantagem patrimonial para ambas as partes é
conhecida e certa desde o início do negócio. As partes sabem
exatamente o que cada uma receberá em troca.
■ Exemplo: Um contrato de compra e venda de um imóvel. O
comprador sabe que receberá a propriedade do imóvel, e o
vendedor sabe que receberá o valor acordado.
○ Aleatório ou de risco: A vantagem patrimonial depende de um
evento futuro e incerto. As partes não têm certeza, no momento da
celebração do negócio, sobre a dimensão ou a própria existência da
vantagem.
■ Exemplo: Um contrato de seguro. O segurado paga o prêmio
(custo do seguro), mas a seguradora só pagará a indenização
se o evento coberto (um acidente, por exemplo) ocorrer. Outro
exemplo clássico é o contrato de jogo ou aposta, onde as
partes só saberão quem obterá a vantagem ao final da disputa.
c) Bifronte
● O negócio jurídico bifronte pode ser realizado tanto de maneira gratuita
quanto onerosa, sem perder sua essência. Dependendo da vontade das
partes, ele pode implicar uma troca patrimonial ou não.
○ Exemplo: Mandato. O mandatário pode atuar tanto de forma gratuita
(sem remuneração) quanto de forma onerosa (recebendo uma
compensação financeira), sem que isso mude a natureza do contrato
de mandato.
d) Neutro
● Os negócios jurídicos neutros não têm um conteúdo patrimonial como
elemento central, ou seja, não visam gerar uma troca ou obtenção de
vantagens patrimoniais. Geralmente, são acessórios ou meros atos
preparatórios, com o objetivo de viabilizar ou regular negócios principais.
○ Exemplo: Aval ou fiança. Esses negócios servem como garantias,
mas não envolvem diretamente a transferência de valores ou bens
entre as partes.
2. Segundo o momento da produção do efeito do negócio jurídico
Esta classificação se refere ao momento em que os efeitos do negócio jurídico se
concretizam, ou seja, quando ele começa a produzir seus resultados.
a) Intervivos
● O negócio jurídico intervivos produz efeitos durante a vida das partes
envolvidas. É o tipo mais comum de negócio jurídico, no qual os efeitos
jurídicos ocorrem imediatamente ou durante a vida dos declarantes.
○ Exemplo: Contratos de compra e venda, locação, doação (quando
feita em vida).
b) Causa mortis
● O negócio jurídico causa mortis só produz efeitos após a morte de uma das
partes (geralmente o disponente). Esse tipo de negócio está relacionado, na
maioria dos casos, com a transferência de bens e direitos após o falecimento
do titular.
○ Exemplo: Testamento. O testador determina a distribuição de seus
bens após a sua morte. Até então, o negócio não produz efeitos
concretos.
3. Segundo o modo de existência (Negócios reciprocamente
considerados)
Aqui, o critério é a dependência ou autonomia do negócio jurídico em relação a
outro negócio principal. Ou seja, alguns negócios dependem da existência de um
negócio jurídico maior (principal) para existirem.
a) Principais
● O negócio jurídico principal é aquele que existe por si só, ou seja, ele não
depende de outro negócio para se validar ou existir. Ele tem autonomia e
seus efeitos podem ocorrer independentemente de qualquer outro negócio
jurídico.
○ Exemplo: Contrato de compra e venda. Este é um negócio jurídico
que existe de forma independente e não precisa de outro contrato para
ser válido.
b) Acessórios
● O negócio jurídico acessório depende do negócio jurídico principal para
existir. Ele segue a mesma sorte do negócio principal, ou seja, se o negócio
principal se extinguir, o acessório também deixa de existir.
○ Exemplo: Fiança. A fiança é um contrato acessório ao contrato de
locação. Se o contrato de locação for extinto, a fiança também será
extinta.
c) Derivados
● O negócio jurídico derivado nasce do negócio jurídico principal, ou seja, ele
é uma extensão ou consequência de um negócio principal.
○ Exemplo: Subcontratos. No âmbito dos contratos de prestação de
serviços, o contratante pode celebrar um subcontrato com terceiros
para executar parte das obrigações estabelecidas no contrato
principal.
4. Segundo a formalidade
Aqui, a classificação é feita com base na necessidade ou não de cumprir certas
formalidades legais para que o negócio jurídico seja válido.
a) Solene
● Os negócios jurídicos solenes são aqueles que exigem uma forma
específica, prescrita por lei, para que sejam válidos. A falta dessa forma
legal resulta na nulidade do negócio.
○ Exemplo: Compra e venda de imóvel. A lei exige que a compra e
venda de imóveis acima de um determinado valor seja formalizada por
meio de escritura pública.
b) Não solene
● Os negócios jurídicos não solenes podem ser realizados de qualquer
forma, desde que respeitem a manifestação de vontade das partes.Não há
exigência de uma forma específica para sua validade.
○ Exemplo: Contratos verbais para compra e venda de bens de baixo
valor ou acordos informais entre partes.
5. Segundo o número de atos a serem praticados na realização do
negócio
a) Simples
● O negócio jurídico simples se realiza em um único ato, ou seja, a partir de
uma única manifestação de vontade ou uma única ação, o negócio se
aperfeiçoa e começa a produzir efeitos.
○ Exemplo: Compra e venda à vista. O comprador paga e o vendedor
entrega o bem em uma única transação.
b) Complexo
● O negócio jurídico complexo exige vários atos sucessivos para sua plena
realização. Os efeitos jurídicos dependem da prática de uma série de ações.
○ Exemplo: Contratos de construção. A execução do contrato envolve
várias fases e atos (projeto, construção, entrega, pagamento) até que
o negócio seja considerado concluído.
c) Coligado
● No caso dos negócios jurídicos coligados, há uma reunião de vários
negócios jurídicos independentes que, por conveniência, são tratados de
forma conjunta. Esses negócios mantêm sua independência, mas estão
conectados entre si por um vínculo funcional.
○ Exemplo: Contrato de financiamento imobiliário. O financiamento,
a compra do imóvel e a alienação fiduciária são negócios
independentes, mas estão coligados em um único arranjo para
viabilizar a compra.
6. Segundo a natureza
a) Obrigacionais
● Nos negócios jurídicos obrigacionais, o objetivo principal é gerar
obrigações para as partes envolvidas. Ou seja, uma ou ambas as partes têm
o dever de realizar uma prestação (fazer, não fazer, entregar algo).
○ Exemplo: Contrato de prestação de serviços. O prestador de
serviços se obriga a realizar uma atividade, enquanto o contratante se
obriga a pagar pelo serviço.
b) Dispositivos
● Nos negócios jurídicos dispositivos, não há a criação de novas obrigações,
mas sim a disponibilização ou transferência de direitos já existentes. A
essência do negócio é a disposição de algo, e não a imposição de obrigações
entre as partes.
○ Exemplo: Cessão de direitos. Uma parte cede seus direitos a outra,
sem criar novas obrigações.
Requisitos de Validade do Negócio Jurídico
O Código Civil estabelece que, para ser válido, um negócio jurídico deve cumprir os
seguintes requisitos essenciais:
1. Capacidade do Agente
2. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável
3. Forma prescrita ou não defesa em lei
4. Vontade livre de vícios
Vamos explorar cada um desses pontos com mais detalhe:
1. Capacidade do Agente
O agente é a pessoa que realiza o negócio jurídico, ou seja, quem expressa a
vontade e pratica o ato. Para que o negócio seja válido, o agente deve ter
capacidade jurídica.
a) Relativamente Capaz
● A lei estabelece que o agente deve ser ao menos relativamente capaz, ou
seja, deve ter discernimento suficiente para entender o ato que está
praticando. Pessoas relativamente incapazes, como os menores de 18
anos (mas maiores de 16 anos), alcoólatras, toxicômanos ou aqueles que
não conseguem administrar plenamente seus bens, podem praticar atos
jurídicos, mas assistidos por um responsável.
b) Absolutamente Incapaz
● As pessoas absolutamente incapazes (menores de 16 anos, por exemplo)
não podem praticar negócios jurídicos sozinhas. Se um absolutamente
incapaz tentar realizar um negócio jurídico sem a intervenção de um
representante legal, o negócio será nulo.
Exemplo de incapacidade: Se uma pessoa menor de 16 anos tenta vender um
imóvel sem a autorização de um representante, esse ato é nulo, ou seja, não tem
validade jurídica.
2. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável
O objeto do negócio jurídico é aquilo sobre o qual recai a declaração de vontade das
partes, ou seja, o conteúdo do negócio. Para que o negócio seja válido, o objeto
deve atender a três requisitos:
a) Objeto lícito
● O objeto do negócio jurídico precisa ser lícito, ou seja, deve estar de acordo
com a lei e a moral. Não é possível, por exemplo, celebrar um contrato que
tenha como objeto algo que vá contra a lei (como a venda de substâncias
ilegais) ou contra a ordem pública.
Exemplo de objeto ilícito: Um contrato que prevê a venda de drogas é nulo, pois
seu objeto é ilícito.
b) Objeto possível
● O objeto também deve ser fisicamente e juridicamente possível. O objeto
fisicamente impossível é aquele que não pode existir na realidade física
(como vender um terreno na Lua, já que ainda não existe essa possibilidade
concreta). O objeto juridicamente impossível é aquele que a lei proíbe
expressamente.
Exemplo de objeto fisicamente impossível: Vender uma área de terra que não
existe ou não pode ser localizada.
Exemplo de objeto juridicamente impossível: Alguém vender bens que
pertencem ao Estado e são considerados inalienáveis, como praças ou patrimônios
culturais tombados.
c) Objeto determinado ou determinável
● O objeto do negócio jurídico deve ser determinado (precisamente
identificado) ou determinável (capaz de ser identificado no futuro, com
critérios claros). Isso significa que, ao celebrar o negócio, as partes precisam
saber qual bem, direito ou prestação está sendo negociado.
Exemplo de objeto determinado: Contrato de compra e venda de um carro
específico com todas as suas características descritas (marca, modelo, cor, ano).
Exemplo de objeto determinável: Contrato que prevê a venda futura de toda a
produção de soja de uma safra. Ainda que a quantidade exata de soja não seja
conhecida no momento do contrato, ela é determinável com base na safra.
3. Forma Prescrita ou Não Defesa em Lei
A forma é o modo pelo qual o negócio jurídico se manifesta. Para que seja válido, o
negócio jurídico deve obedecer à forma exigida pela lei ou, quando a lei for omissa,
qualquer forma que não seja defesa (proibida).
a) Forma prescrita em lei
● Para certos negócios jurídicos, a lei exige uma forma específica, e se essa
forma não for respeitada, o negócio será nulo. Esses são os chamados
negócios jurídicos solenes.
Exemplo de forma prescrita: Para a compra e venda de imóveis com valor
superior a 30 salários mínimos, a lei exige que o contrato seja feito por
escritura pública. Se a venda for feita sem a escritura, o negócio será nulo.
b) Forma não prescrita (livre)
● Quando a lei não impõe uma forma específica, o negócio pode ser
realizado de qualquer maneira (por escrito, verbalmente, etc.), desde que a
forma escolhida não seja proibida. Negócios jurídicos sem formalidade
específica são chamados de não solenes.
Exemplo de forma livre: A venda de produtos em uma feira, em que o
acordo pode ser verbal e imediato.
c) Forma não defesa em lei
● A forma utilizada no negócio não pode ser proibida pela lei. Se as partes
escolherem uma forma que é vedada, o negócio será inválido.
4. Vontade Livre de Vícios
Para que o negócio jurídico seja válido, a manifestação de vontade das partes deve
ser livre e consciente, ou seja, não pode haver vícios que prejudiquem a
autenticidade dessa vontade. Os principais vícios de consentimento são:
a) Erro
● Ocorre quando uma das partes tem uma falsa noção sobre um elemento
essencial do negócio, e se soubesse a verdade, não teria celebrado o
negócio.
Exemplo de erro: Comprar um carro achando que é novo, quando na verdade ele é
usado.
b) Dolo
● Ocorre quando uma das partes utiliza de artifícios enganosos para induzir a
outra parte a realizar o negócio.
Exemplo de dolo: Um vendedor que omite defeitos graves de um produto para
induzir o comprador a fechar o negócio.
c) Coação
● A coação acontece quando uma das partes é obrigada a realizar o negócio
contra sua vontade, por meio de ameaças ou violência.
Exemplo de coação: Uma pessoa que é forçada a assinar um contrato sob ameaça
de sofrer dano físico ou moral.
d) Estado de Perigo
● Quando uma pessoa, em situação de extrema necessidade, realiza o negócio
jurídico para evitar um dano grave a si mesma ou à sua família,
aproveitando-se a outra parte dessa situação.
Exemplo de estado de perigo: Alguém que, em uma situação de emergência
médica, concorda em pagarum valor abusivo por um tratamento para salvar a vida
de um familiar.
e) Lesão
● Ocorre quando uma das partes, em razão de sua ignorância ou
necessidade, aceita condições desvantajosas que resultam em uma
desproporção entre o valor prestado e recebido.
Exemplo de lesão: Uma pessoa vende um imóvel de alto valor por um preço muito
baixo, por estar em grave crise financeira e sem capacidade de negociação.
Consequências da Falta de Requisitos de Validade
Se algum dos requisitos de validade do negócio jurídico não for atendido, o negócio
pode ser considerado:
● Nulo: Quando o negócio carece de um requisito essencial e sua nulidade é
reconhecida de pleno direito. Exemplos de nulidade incluem incapacidade
absoluta do agente, objeto ilícito, forma prescrita não respeitada, entre
outros.
● Anulável: Quando o defeito é relativo, ou seja, pode ser sanado ou
confirmado posteriormente, como no caso da incapacidade relativa ou de
vícios de consentimento.
Representação no Negócio Jurídico
A representação ocorre quando uma pessoa (representante) pratica atos jurídicos
em nome de outra pessoa (representado), tendo poderes para tanto. O principal
fundamento da representação é que, ao agir, o representante gera efeitos jurídicos
diretamente para o representado.
A representação pode ser classificada de três formas principais:
1. Representação Legal ou Necessária
2. Representação Convencional ou Voluntária
3. Representação Judicial
1. Representação Legal ou Necessária
Na representação legal ou necessária, a lei impõe que uma pessoa seja
representada por outra em razão da sua incapacidade de agir por si mesma. Isso
ocorre, por exemplo, no caso de incapazes, como menores de idade ou pessoas
com deficiência que não têm condições de manifestar sua vontade de maneira
autônoma.
A representação legal é obrigatória em tais situações, e o representante
(geralmente pais, tutores ou curadores) atua em nome do representado, protegendo
seus direitos e interesses.
Exemplos de Representação Legal:
● Pais representando filhos menores de idade: Pais ou responsáveis legais
atuam em nome de seus filhos menores de idade, assinando contratos,
realizando compras, e decidindo sobre questões jurídicas até que os filhos
atinjam a maioridade.
● Curador de pessoa incapaz: Quando alguém é declarado incapaz
judicialmente, um curador é nomeado para representá-lo legalmente em
todos os seus atos patrimoniais e negociais.
2. Representação Convencional ou Voluntária
Na representação convencional ou voluntária, o representado, que é capaz,
decide delegar a outra pessoa o poder de agir em seu nome. Essa delegação se dá
por meio de um mandato (contrato de representação), formalizado geralmente por
um instrumento de procuração.
A representação convencional é resultado de um acordo entre duas pessoas
capazes, e a procuração define quais atos o representante pode praticar em nome
do representado. O representante só pode agir nos limites dos poderes que lhe
foram conferidos na procuração.
Exemplos de Representação Convencional:
● Procuração para venda de imóvel: Uma pessoa pode outorgar a outra (o
procurador) poderes para vender seu imóvel, assinando a escritura de venda
em nome do proprietário.
● Mandato para representação em negócios empresariais: Um empresário
pode dar poderes a um advogado ou sócio para representá-lo em
negociações ou ações judiciais em seu nome.
Características da Representação Voluntária:
● O mandato pode ser geral (abrangendo vários atos) ou específico (limitado
a um ato específico).
● A procuração deve ser feita de acordo com as exigências legais, podendo ser
necessária a forma pública (escritura) para determinados negócios, como a
venda de imóveis.
3. Representação Judicial
A representação judicial ocorre quando o representante é nomeado pelo juiz
para atuar em nome de outra pessoa que não pode defender seus próprios
interesses. Geralmente, essa forma de representação também tem fundamento na
incapacidade ou na necessidade de proteger alguém que não está em condições de
exercer seus direitos por conta própria.
Essa situação se dá em casos que exigem a intervenção judicial, e a nomeação
de um representante pode se dar, por exemplo, para menores de idade em
situações de tutela, quando os pais são falecidos ou destituídos do poder familiar.
Exemplos de Representação Judicial:
● Tutela de menores: Se um menor de idade fica órfão ou seus pais são
destituídos do poder familiar, o juiz nomeia um tutor para representá-lo
legalmente e cuidar de seus interesses até a maioridade.
● Curatela: Quando uma pessoa adulta é declarada judicialmente incapaz, um
curador é nomeado para administrar seus bens e tomar decisões em seu
nome.
Características da Representação Judicial:
● Nomeação pelo juiz: O representante é indicado pelo poder judiciário após
um processo de avaliação e pode ser destituído se não cumprir corretamente
suas funções.
● O representante deve sempre atuar de acordo com os interesses do
representado, sendo supervisionado pela justiça em muitos casos.
Diferença Entre Representação Legal, Voluntária e Judicial
● Legal: Imposta pela lei, obrigatória em casos de incapacidade, como pais
representando filhos menores.
● Convencional/Voluntária: Decorre da vontade livre entre partes capazes,
por meio de procuração ou contrato de mandato.
● Judicial: Exige a intervenção do poder judiciário para nomear um
representante em casos de tutela ou curatela.
Limites da Representação
Independente do tipo de representação, o representante deve agir dentro dos
limites dos poderes que lhe foram conferidos. Se o representante exceder os
poderes da procuração ou agir de forma contrária aos interesses do representado,
os atos praticados podem ser anulados judicialmente.
Além disso, atos que exigem a manifestação de vontade pessoal (como
casamento ou testamento) não podem ser realizados por representação, pois são
atos personalíssimos que exigem a presença e a decisão direta do representado.
Conclusão
A representação no negócio jurídico é uma ferramenta essencial para proteger os
interesses de pessoas que não podem ou não querem agir por conta própria. Seja
por imposição legal, por convenção voluntária ou por decisão judicial, a
representação permite que negócios sejam realizados em nome de outra pessoa,
sempre respeitando os limites legais e os interesses do representado.
A compreensão de quando e como cada tipo de representação se aplica é
fundamental para a validade e eficácia dos atos jurídicos praticados nesse contexto.
Elementos Acidentais do Negócio Jurídico
Os elementos acidentais não são indispensáveis para a formação do negócio
jurídico, mas são incluídos pelas partes para regular sua eficácia de forma mais
precisa. Esses elementos influenciam a aquisição ou extinção dos direitos
envolvidos no negócio. Eles se inserem à manifestação de vontade e incluem:
● Condição
● Termo
● Encargo
Vamos focar na condição, que é uma das mais importantes.
Condição no Negócio Jurídico
A condição é um evento futuro e incerto que pode influenciar a aquisição ou
extinção de direitos relacionados ao negócio jurídico. O cumprimento ou não da
condição modula a eficácia do negócio.
Elementos fundamentais de uma condição:
● Futuridade: O evento está no futuro, ainda não aconteceu.
● Incerteza: Não se sabe com certeza se o evento vai ocorrer.
● Voluntariedade: A condição geralmente é fruto de acordo entre as partes.
A condição pode ser de vários tipos, dependendo de como ela interfere nos direitos:
a) Condição Suspensiva
Na condição suspensiva, o negócio jurídico só produzirá seus efeitos quando a
condição for cumprida. Ou seja, a aquisição do direito fica suspensa até que o
evento incerto aconteça.
Exemplo:
● Imagine que uma pessoa compra uma casa, mas a transferência do imóvel
depende da obtenção de um empréstimo bancário. Enquanto o empréstimo
não for aprovado, a compra da casa não é efetivada. O empréstimo é a
condição suspensiva.
Se a condição for cumprida (empréstimo aprovado), o comprador adquire oimóvel.
Se o empréstimo não for aprovado, a condição frustra-se, e o direito de aquisição
do imóvel não ocorre.
b) Condição Resolutiva
Na condição resolutiva, o negócio jurídico produz seus efeitos desde o início, mas
esses efeitos serão extintos quando a condição for cumprida. Ou seja, o direito é
extinto ao acontecer o evento futuro e incerto.
Exemplo:
● Imagine uma bolsa de pesquisa concedida a uma pesquisadora, válida até a
entrega de um relatório final. A bolsa continua válida até a entrega do
relatório, que é a condição resolutiva. Uma vez que o relatório for entregue,
o direito à bolsa se extingue.
Se a pesquisadora entregar o relatório, a condição resolutiva ocorre, e o pagamento
da bolsa é extinto.
Classificações das Condições
As condições podem ser classificadas de acordo com a relação entre a ocorrência
do evento e as partes envolvidas no negócio jurídico:
1. Condição Casual
É uma condição que não depende da atuação de nenhuma das partes, mas sim
de um evento aleatório ou natural, como um fenômeno da natureza ou uma decisão
de terceiros.
Exemplo: A compra de uma propriedade rural pode depender de uma condição
casual como a aprovação de um plano diretor municipal que autorize o uso do solo.
2. Condição Potestativa ATUALIZEI ESSA PARTE
Os elementos acidentais do negócio jurídico são características que não são
essenciais para a existência do negócio, mas que as partes podem incluir para
modular seus efeitos. Entre esses elementos, há a condição potestativa, que
depende da vontade de uma das partes envolvidas no negócio jurídico. Vamos
entender de forma simples as três variações relacionadas à condição potestativa:
Potestativa ( válida )
A condição potestativa é aquela que depende da atuação de uma das partes
envolvidas no negócio jurídico. Ou seja, a realização ou não do negócio está
condicionada a um comportamento ou ação que a parte interessada deve tomar.
● Exemplo: João promete doar um carro para Maria se ela passar no exame
de direção. A realização da doação está ligada à ação de Maria (passar no
exame), ou seja, depende de sua atuação.
Meramente Potestativa ( inválida)
A condição meramente potestativa é aquela que depende exclusivamente da
vontade do interessado, ou seja, do comportamento ou escolha de apenas uma
das partes. Essa condição é inválida no direito brasileiro, conforme o artigo 122 do
Código Civil, pois pode criar uma situação injusta, já que o cumprimento da
condição pode ser arbitrário e controlado totalmente por uma das partes.
Exemplo (inválido): João promete doar um carro para Maria "se ele quiser". Aqui, o
cumprimento da condição depende exclusivamente da vontade de João. Como não
há garantia de que a condição será cumprida, o negócio pode não gerar efeitos,
tornando-o inválido.
Puramente Potestativa ( Inválida)
A condição puramente potestativa é similar à meramente potestativa. A diferença
é que, em alguns contextos, o termo é usado para enfatizar que a condição está
completamente sujeita ao desejo de uma das partes, sem qualquer interferência
externa ou necessidade de ação específica.
● Exemplo (inválido): Ana diz a Pedro que lhe dará um empréstimo se ela
sentir vontade. Aqui, a concessão do empréstimo depende unicamente do
desejo de Ana, sem qualquer compromisso concreto, tornando a condição
puramente potestativa é inválida.
3. Condição Mista
É aquela que depende tanto de um fator externo quanto de um esforço do
interessado. Ou seja, é uma mistura de evento alheio e de ação pessoal.
Exemplo: A compra de uma casa pode estar condicionada tanto ao esforço do
comprador em reunir a documentação necessária quanto à aprovação de
financiamento por parte do banco.
4. Condição Promíscua
É quando uma condição inicialmente parecia estar sob o controle do interessado,
mas um fato externo, fora de seu controle, impede a realização da condição.
Exemplo: Uma pessoa pretende comprar um imóvel condicionado à venda de seu
carro. Se o comprador do carro desiste no último momento, a condição promíscua
frustra a concretização do negócio.
5. Condições Perplexas, Contraditórias ou Incompreensíveis
Essas condições são consideradas ilícitas e, por isso, invalidam o negócio jurídico.
Elas envolvem contradições internas ou são incompreensíveis de forma que o
cumprimento delas não pode ser realizado.
Exemplo: Uma pessoa vende um imóvel com a condição de que "se eu vender o
imóvel, não venderei o imóvel". Isso é uma contradição e torna o negócio nulo.
Efeitos das Condições
Os efeitos das condições são analisados conforme o momento de sua ocorrência:
1. Pendência da Condição (Condição ainda não cumprida): Enquanto a
condição não for cumprida, o negócio jurídico permanece em estado de
pendência. No caso da condição suspensiva, por exemplo, o direito ainda
não foi adquirido. No caso da condição resolutiva, o negócio continua
produzindo seus efeitos até que a condição seja implementada.
2. Implemento da Condição (Condição cumprida): Quando a condição se
realiza, o negócio jurídico passa a produzir seus efeitos (condição
suspensiva) ou os extingue (condição resolutiva).
3. Frustração da Condição (Condição não cumprida): Quando a condição
não se realiza, ou seja, não se cumpre, o direito pretendido não é adquirido
(no caso de condição suspensiva) ou não é extinto (no caso de condição
resolutiva).
Exemplos Práticos
1. Exemplo de Compra de Casa com Empréstimo
● Condição Suspensiva: Uma pessoa quer comprar uma casa, mas a compra
está condicionada à aprovação de um financiamento bancário. Enquanto o
financiamento não for aprovado, o negócio está em pendência. Se o
financiamento for aprovado, a condição é implementada, e o comprador
adquire o direito sobre o imóvel. Se o financiamento for negado, a condição é
frustrada, e o negócio não se concretiza.
2. Exemplo de Bolsa de Pesquisa e Relatório
● Condição Resolutiva: Uma bolsa de pesquisa é concedida a uma
pesquisadora, mas será extinta quando a mesma entregar seu relatório final.
O negócio jurídico (concessão da bolsa) produz efeitos enquanto a condição
(entrega do relatório) não for cumprida. Após o implemento da condição
(entrega do relatório), a bolsa é extinta.
Tentativa de Burlar a Condição Suspensiva
Se alguém tenta burlar maliciosamente uma condição suspensiva, por exemplo,
tentando impedir que o evento incerto se realize (ou se frustre), o ordenamento
jurídico prevê que essa má-fé não será admitida. O negócio continuará sem
produzir os efeitos pretendidos se houver dolo na tentativa de manipular a condição.
Ou seja, o cumprimento fraudulento da condição não legitima o negócio.
Em resumo, as condições no negócio jurídico são ferramentas poderosas que as
partes podem utilizar para modular a eficácia do negócio, interferindo diretamente
na aquisição ou extinção de direitos. Ao compreender as diferentes classificações e
efeitos das condições, é possível estruturar negócios mais flexíveis e adaptáveis a
eventos futuros.
Esse quadro explica como a condição afeta os direitos no negócio jurídico
dependendo de sua realização ou não, e qual o impacto disso nas situações de
pendência, implemento ou frustração.
Pendência
Na fase de pendência, a condição ainda não foi cumprida, ou seja, o evento futuro
e incerto que foi colocado como condição ainda não ocorreu. Aqui, os direitos não
foram adquiridos ou extintos, pois o negócio jurídico está "em espera".
● Condição Suspensiva:
Enquanto a condição suspensiva está em pendência, ainda não se adquiriu
o direito pretendido. Ou seja, o negócio jurídico só produzirá seus efeitos se
a condição for cumprida no futuro. Exemplo: Se alguém compra um imóvel
condicionado à aprovação de um financiamento, durante a fase de pendência
(antes da aprovação), a pessoa ainda não adquiriu o imóvel.
● Condição Resolutiva:
No caso de condição resolutiva, o negócio jurídico continua a produzir seus
efeitos normalmente. Em outras palavras, o negócio continua a produzir
efeitos enquanto a condição resolutiva não se cumpre. Exemplo: Uma bolsa
de estudo que vai até a entrega deum relatório final continua vigente durante
a fase de pendência, ou seja, antes da entrega do relatório.
Implemento
Pendência Implemento Frustração
Suspensiva Ainda não se
adquiriu o direito
pretendido
Adquire-se o direito
pretendido
Não ocorre a
aquisição do direito
pretendido
Resolutiva O Negócio continua
a produzir efeitos
Há a extinção do
Negócio
O Negócio continua
a produzir efeitos,
havendo a aquisição
de direitos
Quando a condição é implementada, ou seja, ocorre o evento futuro e incerto, o
negócio jurídico passa a ter seus efeitos de acordo com o tipo de condição
(suspensiva ou resolutiva).
● Condição Suspensiva:
Quando a condição suspensiva é cumprida, adquire-se o direito
pretendido. Exemplo: Se o financiamento bancário for aprovado, o
comprador finalmente adquire o imóvel, e o negócio jurídico (a compra) se
concretiza.
● Condição Resolutiva:
Quando a condição resolutiva se implementa, há a extinção do negócio
jurídico. Exemplo: Após a entrega do relatório final, a bolsa de estudo é
encerrada, ou seja, o direito à bolsa é extinto, e o negócio jurídico (concessão
da bolsa) deixa de produzir efeitos.
Frustração
A frustração ocorre quando a condição não se cumpre. Nesse caso, o evento
futuro e incerto não ocorre, o que tem efeitos diferentes conforme o tipo de
condição:
● Condição Suspensiva:
Se a condição suspensiva não se cumpre, não ocorre a aquisição do
direito pretendido. Exemplo: Se o financiamento bancário for negado, a
pessoa não adquire o imóvel, e o negócio jurídico não produz efeitos.
● Condição Resolutiva:
Se a condição resolutiva não se cumpre, o negócio jurídico continua a
produzir efeitos. Ou seja, o direito continua vigente, já que o evento que
poderia extingui-lo (a condição resolutiva) não aconteceu. Exemplo: Se a
pesquisadora não entregar o relatório final, a bolsa continua sendo
concedida, pois o evento que extinguiria o direito à bolsa não ocorreu.
Termo no Negócio Jurídico
O termo refere-se ao momento específico em que os efeitos de um negócio
jurídico se iniciam ou se encerram. Ele pode ser pensado como um marco temporal
que define quando as obrigações e direitos passam a existir ou deixam de existir.
Classificação do Termo
Os termos podem ser classificados em diferentes categorias:
1. Termo Inicial (A Quo):
○ É o momento em que os efeitos do negócio jurídico começam a ser
produzidos.
○ Exemplo: Em um contrato de locação, o termo inicial pode ser a data
em que o inquilino começa a ocupar o imóvel.
2. Termo Final (Ad Quem):
○ É o momento em que os efeitos do negócio jurídico cessam.
○ Exemplo: A mesma locação pode ter um termo final definido, que é a
data em que o contrato expira e o inquilino deve desocupar o imóvel.
Prazo e Exclusão de Dias
Entre o termo inicial e o termo final, existe um prazo, que é o período que vai de um
ponto a outro. Importante notar que:
● O dia do começo (termo inicial) é excluído.
● O dia do vencimento (termo final) é incluído.
Por exemplo, se um contrato tem um prazo de 30 dias, e o termo inicial é 1º de
outubro, o termo final será 30 de outubro, excluindo o dia 1º.
Tipos de Termo
Os termos podem ser:
● Legal: Fixado por disposição legal. Exemplo: O prazo de prescrição para um
direito.
● Convencional: Estabelecido pelas partes contratantes. Exemplo: As partes
definem que um contrato de prestação de serviços terá validade de um ano.
● De Graça: Quando há uma concessão do credor ao devedor, ampliando o
prazo para cumprimento de obrigações. Essa concessão pode ocorrer
também por decisão judicial.
Interação entre Termo e Condições
A relação entre termo e condição é crucial na dinâmica dos negócios jurídicos.
Vamos ver como isso funciona:
● Condição Suspensiva:
○ Se um negócio jurídico está sujeito a uma condição suspensiva, os
efeitos do negócio são prorrogados até que a condição seja
cumprida.
○ Exemplo: Se a compra de um imóvel está condicionada à aprovação
de um financiamento, a partir do momento que a condição suspensiva
é cumprida, o termo inicial é considerado como o momento em que os
efeitos da compra começam a valer.
● Condição Resolutiva:
○ Se o negócio jurídico é afetado por uma condição resolutiva, ele é
extinto com a realização dessa condição. Isso significa que os efeitos
do negócio cessarão quando a condição for atendida.
○ Exemplo: Se um contrato de prestação de serviços termina
automaticamente ao final de um período, e esse término é
condicionado à entrega de um relatório, o termo final coincide com a
data em que o relatório deve ser entregue. Se a condição se cumprir
(relatório entregue), os efeitos do contrato são extintos.
Diagrama Resumido da Relação
Para resumir visualmente a relação entre os termos e as condições, podemos
pensar da seguinte forma:
Condição Suspensiva:
Aquisição -> Prorroga -> Termo Inicial
(Termo inicial não começa até a condição ser cumprida)
Condição Resolutiva:
Aquisição -> Extingue -> Termo Final
(Termo final extingue os efeitos assim que a condição é cumprida)
Considerações Finais
O conceito de termo é essencial na regulamentação do tempo em que um negócio
jurídico é válido e eficaz. Juntamente com as condições, ele permite que as partes
ajustem e definam claramente quando suas obrigações começam e terminam. Isso
proporciona segurança jurídica e clareza nas relações contratuais.
Encargo
O que é Encargo?
O encargo é um tipo de obrigação ou dever que é imposto a alguém (o beneficiário)
como condição para que ele possa receber uma liberalidade (um benefício gratuito)
de outra pessoa (o liberador).
Características do Encargo:
1. Inserido em Liberalidades:
○ O encargo só pode ser aplicado em negócios jurídicos gratuitos, como
doações ou testamentos. Isso significa que, em situações onde uma
parte dá algo à outra sem esperar um retorno, pode haver um encargo
associado.
○ Exemplo: Se uma pessoa doa um imóvel a um amigo, ela pode colocar
como encargo que o amigo deve cuidar do imóvel e não vendê-lo por
um período determinado.
2. “Dever” Imposto:
○ O encargo representa um “dever” que o liberador impõe ao
beneficiário. Esse dever deve ser aceito pelo beneficiário para que a
liberalidade se concretize.
○ Exemplo: A doação de um carro com o encargo de que o beneficiário
deve usar o carro apenas para fins pessoais, sem alugá-lo ou usá-lo
comercialmente.
3. Prazo que Não Suspende a Aquisição de Direito:
○ O encargo pode ser estabelecido com um prazo, mas isso não impede
que o beneficiário adquira o direito sobre a liberalidade imediatamente.
O que ocorre é que a condição (o dever) deve ser cumprida dentro
desse prazo.
○ Exemplo: Um pai doa um valor em dinheiro ao filho, com o encargo de
que ele deve usar o dinheiro para investir em sua educação. O filho
adquire o direito ao valor assim que a doação é feita, mas ele tem um
prazo para cumprir o encargo.
4. Objeto da Condição:
○ O encargo se torna o objeto da condição que deve ser cumprida para
que a liberalidade continue a produzir efeitos. Se o beneficiário não
cumprir o encargo, pode haver consequências, como a revogação da
liberalidade.
○ Exemplo: Se a doação do imóvel incluía o encargo de cuidar do bem e
o beneficiário não o faz, o doador pode reverter a doação e exigir que
o imóvel seja devolvido.
Exemplos Práticos de Encargo:
1. Doação com Encargo:
○ João doa um terreno a sua sobrinha Ana, mas com a condição de que
ela deve construir uma casa nele dentro de dois anos. Se Ana não
cumprir esse encargo, João pode pedir a devolução do terreno.
2. Testamento com Encargo:
○ Maria deixa em testamento sua coleção de arte para seu irmão, mas
impõe o encargo de que ele deve doá-la a um museu após sua morte.
Se o irmão não cumprir esse encargo, os bens podem ser
redistribuídos conforme as disposições do testamento.
Considerações Finais sobre o Encargo:
O encargo é um mecanismo que permite ao liberador estabelecer condições sobre
como a liberalidade deve ser utilizada. Isso proporciona uma forma de controle
sobre o benefício concedido, assegurando que ele seja utilizado de maneira que
atendaàs expectativas do doador.
Entender os encargos é importante para quem deseja fazer doações ou legados,
pois isso pode influenciar a validade e a eficácia do negócio jurídico, assim como os
direitos e deveres das partes envolvidas.
Diferença entre Encargo e Condição
No direito civil, a “condição” é um evento futuro e incerto que determina a criação ou
extinção de um direito. Por exemplo, em um contrato, pode-se estabelecer que uma
pessoa só receberá um pagamento se determinada condição for cumprida, como a
entrega de um produto.
O “encargo”, por outro lado, é uma obrigação imposta a quem recebe um benefício
ou uma doação. Por exemplo, alguém pode doar um imóvel a outra pessoa, mas
com o encargo de que ela construa uma escola no local.
A principal diferença entre os dois é que a condição é algo que deve acontecer para
que um direito seja efetivado, enquanto o encargo é uma obrigação imposta a quem
já recebeu um benefício.
Defeitos do Negócio Jurídico: Vícios da Vontade
Os vícios da vontade são problemas que ocorrem durante o processo de formação de um
negócio jurídico, afetando o consentimento ou a manifestação de vontade de uma ou
ambas as partes envolvidas no negócio jurídico. Esses vícios, embora não sejam
intencionais, podem comprometer a validade do negócio, pois afetam o modo como a
vontade foi declarada, e eles podem ser ANULADOS.
Entre os vícios da vontade, um dos mais comuns é o erro.
Erro no Negócio Jurídico
O erro é uma falsa percepção da realidade, que faz com que a pessoa se engane sobre
algum aspecto importante ao realizar o negócio jurídico. Esse erro não é provocado por
má-fé ou intenção de enganar, mas resulta de uma compreensão equivocada da situação.
Para que um erro possa anular um negócio jurídico, ele precisa ser substancial ou
essencial, ou seja, grave o suficiente para influenciar diretamente a decisão de uma das
partes de participar do negócio. Além disso, deve ser escusável, o que significa que é um
erro que qualquer pessoa razoável poderia cometer.
Tipos de Erro no Negócio Jurídico
Existem diferentes tipos de erro que podem afetar o negócio jurídico. Vamos explicar cada
um deles de forma mais clara:
1. Erro Substancial (ou Error in Negotio):
○ Esse erro ocorre quando a pessoa se engana sobre a natureza do negócio.
Por exemplo, ela pensa que está assinando um contrato de empréstimo, mas
na verdade está assinando um contrato de venda. Esse tipo de erro pode
anular o negócio, já que a pessoa não entendeu a verdadeira natureza do
que estava fazendo.
2. Erro sobre o Objeto Principal da Declaração (ou Error in Confere):
○ Aqui, o erro incide sobre o objeto do negócio, ou seja, sobre aquilo que está
sendo negociado. Por exemplo, uma pessoa pode acreditar que está
comprando uma joia de ouro, mas o objeto negociado é, na verdade, de
prata. Esse erro também pode anular o negócio, pois afeta diretamente o
entendimento sobre o objeto.
3. Erro sobre a Qualidade Essencial do Objeto (ou Error in Qualitate / in
Substantiam):
○ Esse erro está relacionado a uma característica essencial do objeto que é
importante para o negócio. Por exemplo, se alguém compra um vinho
pensando que é uma safra especial e cara, mas depois descobre que é um
vinho comum, houve um erro sobre a qualidade essencial do objeto. Esse
erro pode ser motivo de anulação do negócio.
4. Erro sobre a Qualidade Essencial da Pessoa (ou Error in Persona):
○ Ocorre quando o erro se refere à identidade ou à qualidade da pessoa com
quem o negócio é realizado. Por exemplo, se uma pessoa assina um
contrato pensando que está negociando com um especialista em reformas,
mas depois descobre que essa pessoa não tem as qualificações
necessárias, esse erro pode ser relevante para anular o contrato.
5. Erro de Direito (ou Error Iuris):
○ Aqui, o erro ocorre em relação à compreensão da lei. A pessoa comete um
erro ao acreditar que determinada lei se aplica de forma diferente ao negócio
jurídico. Apesar disso, o erro de direito não impede a aplicação da lei ao
caso, mas pode ser considerado se foi o motivo principal para a realização
do negócio.
6. Falso Motivo:
○ O falso motivo é um erro sobre uma expectativa pessoal ou subjetiva que
levou uma pessoa a realizar o negócio. No entanto, se esse motivo não se
materializa, o negócio não é anulado por causa disso. Exemplo: Alguém
compra um carro acreditando que será promovido no trabalho e precisará do
veículo. Se a promoção não acontece, isso não anula a compra do carro.
7. Erro de Transmissão em Meios Interpostos:
○ Se a comunicação entre as partes for feita por meio de outra pessoa ou por
algum meio de comunicação e ocorrer um erro nesse processo, o negócio
pode ser anulado.
8. Erro de Indicação da Pessoa ou da Coisa:
○ Esse erro ocorre quando há uma má identificação da pessoa ou da coisa,
mas, se for possível identificar corretamente, o negócio não será anulado.
9. Erro de Cálculo:
○ Um erro de cálculo é considerado um erro acidental, ou seja, um erro
secundário que pode ser corrigido sem anular o negócio. Por exemplo, se
houve um erro no cálculo do valor de um contrato, ele pode ser corrigido sem
invalidar o contrato em si.
Erro Acidental x Substancial
● Erro Acidental: Incide sobre aspectos secundários do negócio, como pequenos
erros de cálculo ou detalhes não essenciais. Esses erros não afetam a validade do
negócio, sendo apenas corrigidos.
● Erro Substancial: Incide sobre aspectos essenciais do negócio, como a natureza
do negócio, o objeto ou a pessoa envolvida. Esses erros podem anular o negócio
jurídico, pois afetam diretamente o consentimento das partes.
Corrigibilidade do Erro
● Se um erro for identificado, e ambas as partes estiverem de acordo, o negócio
jurídico pode ser corrigido ou ajustado sem precisar ser anulado.
● No entanto, se o erro for substancial e uma das partes não aceitar a correção, o
negócio pode ser anulado judicialmente.
Resumo Final
Os vícios da vontade são defeitos que afetam o consentimento no negócio jurídico. O erro,
sendo uma falsa percepção da realidade, pode ser substancial (grave) ou acidental
(secundário), afetando a validade do negócio. Quando o erro é substancial, ele pode anular
o negócio jurídico; quando é acidental, pode ser corrigido sem maiores complicações.
Dolo
O dolo é um vício do consentimento que ocorre quando uma pessoa induz a outra ao erro
de forma intencional. Ou seja, o dolo implica em uma ação ou omissão maliciosa, com o
objetivo de levar a outra parte a fazer algo que, sem essa interferência, não faria.
Tipos de Dolo:
1. Dolus Malus:
○ O que é: É o dolo malicioso, considerado um vício de consentimento. Nesse
caso, a intenção de enganar é clara, e seu objetivo é prejudicar a outra parte
ou obter uma vantagem indevida.
○ Exemplo: Um vendedor esconde que o carro vendido tem defeitos graves
para convencer o comprador a fechar o negócio.
2. Dolus Bonus:
○ O que é: É uma espécie de "dolo" considerado inofensivo, porque não tem
a intenção de causar dano nem de obter uma vantagem injusta. É mais uma
forma de exagero ou enfeite nas palavras ou ações.
○ Exemplo: Um vendedor de roupas diz que uma peça "fica bem em qualquer
pessoa". Esse tipo de declaração não é uma tentativa de enganar seriamente
o comprador, mas apenas uma técnica de venda.
Classificação do Dolo:
1. Dolo Substancial ou Essencial:
○ O que é: O dolo substancial é tão grave que foi o principal motivo pelo qual
a outra parte concordou em realizar o negócio jurídico. Sem esse dolo, o
negócio não teria sido feito. Por isso, ele pode ser utilizado como
justificativa para anulação do negócio.
○ Exemplo: João vende uma casa dizendo que o terreno é legalizado, mas na
realidade o imóvel está em área irregular e não pode ser utilizado para
construir nada. Esse dolo foi o motivo principal para que o comprador
concordasse com o negócio.
2. Dolo Acidental:
○ O que é: O dolo acidental não afeta a essência do negócio, mas diz respeito
a aspectos secundários. Nesse caso, o negócio não é anulado, mas a parte
prejudicada pode pedir indenizaçãopor perdas e danos.
○ Exemplo: Maria vende um carro e diz que o rádio é novo, quando na
verdade ele está quebrado. O rádio é um aspecto secundário, então o
negócio não é anulado, mas Maria pode ter que pagar pelo conserto.
Formas de Dolo:
1. Dolo Comissivo (por ação):
○ O que é: Nesse tipo de dolo, uma das partes mente ou distorce
intencionalmente algum fato relevante sobre o negócio.
○ Exemplo: Um vendedor falsifica documentos para fazer parecer que um
carro foi revisado, quando na verdade não foi.
2. Dolo Omissivo (por omissão):
○ O que é: Aqui, a pessoa omitiu ou deixou de informar algo relevante sobre
o negócio jurídico, agindo de forma maliciosa para prejudicar ou induzir ao
erro.
○ Exemplo: O proprietário de uma casa não menciona que a construção está
condenada e o comprador só descobre depois.
3. Dolo de Terceiro:
○ O que é: Um terceiro, que não faz parte do negócio jurídico diretamente, age
com dolo para beneficiar uma das partes envolvidas no negócio. Se a parte
beneficiada sabia do dolo, o negócio pode ser anulado. Mesmo que não seja
anulável, o terceiro sempre responderá por perdas e danos.
○ Exemplo: Um corretor de imóveis, sem conhecimento do vendedor, mente
para o comprador dizendo que o imóvel será valorizado em breve, levando o
comprador a fechar o negócio. Se o vendedor sabia da mentira, o negócio
pode ser anulado.
4. Dolo do Representante:
Dolo do Representante Legal
O representante legal é alguém que, por imposição da lei, cuida dos interesses de uma
pessoa que não pode agir por si mesma, como um menor de idade ou alguém considerado
incapaz.
● Exemplo: Um tutor (representante legal) decide vender uma propriedade de um
menor de idade que ele tutela. O tutor mente sobre a real condição do imóvel para
conseguir vender por um preço mais alto do que o bem vale. Nesse caso:
○ O representado (menor) só responderá até o limite dos benefícios que
obteve com a venda, ou seja, o valor que recebeu da transação.
○ O representante (tutor) será responsabilizado pela fraude, respondendo
pelos excessos praticados (enganar o comprador sobre o estado real do
imóvel).
Neste caso, o tutor (representante) agiu de má-fé, induzindo o comprador ao erro. O menor
(representado) será protegido, limitando sua responsabilidade apenas ao valor que obteve
com a venda. Já o tutor responderá integralmente pelo dolo, devendo indenizar o
comprador pelos danos.
2. Dolo do Representante Convencional
O representante convencional é aquele que age em nome de outra pessoa por meio de
um contrato ou procuração, ou seja, com o consentimento do representado.
● Exemplo: Um empresário (representado) dá uma procuração para seu advogado
(representante) negociar a venda de uma fábrica. O advogado, com a intenção de
fechar rapidamente o negócio e receber sua comissão, omite informações
importantes sobre problemas ambientais graves na fábrica, enganando o comprador.
Nesse caso:
○ Ambos (representante e representado) serão responsabilizados pelas
perdas e danos causados ao comprador.
○ O advogado (representante) responderá por agir de má-fé, escondendo
informações vitais.
○ O empresário (representado) será responsabilizado porque escolheu e deu
poderes ao advogado, mesmo que não tenha participado diretamente da
fraude.
Aqui, como o representante convencional foi autorizado pelo representado a agir em seu
nome, a responsabilidade é compartilhada entre os dois. O representado é responsável
porque escolheu o representante, e o representante responde por ter agido de forma
dolosa.
5. Dolo Recíproco:
○ O que é: Quando ambas as partes agem com dolo, ou seja, ambas tentam
enganar uma à outra. Nesse caso, como há malícia dos dois lados, o
negócio não pode ser anulado.
○ Exemplo: Tanto o vendedor quanto o comprador omitem informações sobre
o produto e suas intenções, tentando enganar um ao outro. Como ambos
agiram de má-fé, não é possível anular o negócio com base no dolo.
Efeitos do Dolo:
● Dolo Substancial: Pode levar à anulação do negócio, já que foi o motivo principal
que levou uma das partes a consentir.
● Dolo Acidental: Não anula o negócio, mas a parte prejudicada pode exigir
indenização por perdas e danos.
● Dolo de Terceiro: Se o terceiro praticar o dolo e a parte favorecida souber, o
negócio pode ser anulado, e o terceiro responderá por perdas e danos.
Conclusão:
O dolo é um defeito do negócio jurídico que compromete a validade do consentimento, já
que envolve uma intenção deliberada de enganar ou omitir informações. Dependendo de
sua gravidade, o dolo pode anular o negócio ou, se for acidental, gerar a obrigação de
indenizar a parte prejudicada. O dolo pode ser tanto por ação (mentira) quanto por omissão
(esconder a verdade), e pode até envolver terceiros ou representantes.
Coação
A coação é um defeito do negócio jurídico que ocorre quando alguém é forçado a
manifestar sua vontade sob ameaça, provocando fundado temor em relação a si próprio, à
sua família ou aos seus bens. Isso leva a pessoa coagida a realizar um ato jurídico contra
sua vontade, favorecendo outra parte. A coação interfere na liberdade de consentimento
e pode anular o negócio.
Tipos de Coação:
1. Coação Moral ou Relativa (Vis compulsiva)
A coação moral ou relativa é aquela que usa ameaças para forçar a pessoa a praticar um
ato. Embora a vítima tenha tecnicamente liberdade para decidir, o medo gerado pela
ameaça tira sua verdadeira autonomia.
● Exemplo: Um credor ameaça revelar um segredo pessoal do devedor se ele não
assinar um contrato desfavorável. Embora o devedor possa recusar a proposta, ele
age sob o temor de que o segredo seja revelado.
2. Coação Física ou Absoluta (Vis absoluta)
A coação física ou absoluta envolve o uso de força física para obrigar alguém a praticar um
ato contra sua vontade. Nesse caso, o consentimento é completamente eliminado, pois a
pessoa não tem controle sobre suas ações.
● Exemplo: Uma pessoa é fisicamente forçada a assinar um contrato. Ela não
manifesta sua vontade de forma livre, pois sua assinatura foi obtida por força física.
Quando há coação física, o negócio jurídico é considerado inexistente, porque não há
qualquer manifestação válida de vontade. A pessoa não teve liberdade para consentir.
Consequências da Coação no Negócio Jurídico
1. Se a coação for moral/relativa:
○ O negócio jurídico é considerado anulável, já que a manifestação de vontade
foi obtida sob pressão.
○ A parte coagida pode pedir a anulação do negócio e, se for o caso, solicitar
indenização por perdas e danos.
2. Se a coação for física/absoluta:
○ O negócio jurídico é considerado inexistente, pois não houve qualquer
manifestação de vontade da parte coagida.
Responsabilidade de Terceiros
● Se um terceiro pratica a coação para beneficiar uma das partes no negócio jurídico,
a responsabilidade depende de o beneficiário ter ou não conhecimento da coação:
○ Se o beneficiário souber da coação, o negócio é anulável e o beneficiário
responderá por perdas e danos à parte coagida.
○ Se o beneficiário não souber da coação, o negócio subsistirá, mas
apenas o terceiro que praticou a coação responderá por perdas e danos.
Exemplos:
● Coação moral/relativa (vis compulsiva): Um empresário é ameaçado por um
concorrente que diz que, se ele não vender sua empresa por um valor abaixo do
mercado, irá divulgar informações prejudiciais à sua reputação. O empresário, com
medo, aceita a venda, mas pode pedir a anulação do negócio depois.
● Coação física/absoluta (vis absoluta): Um credor amarra fisicamente o devedor e
força sua mão para assinar um contrato. Nesse caso, o contrato é juridicamente
inexistente, pois o devedor não teve qualquer oportunidade de manifestar sua
vontade.
Efeitos da Coação no Negócio Jurídico
● Anulação: Se a coação for provada, o negócio pode ser anulado, devolvendo as
partes ao estado anterior ao ato.
● Indenização por perdas e danos: A parte coagida pode exigir reparação por
eventuais prejuízos sofridos em decorrência do ato coagido.
Considerações Finais:
A coação precisa ser grave o suficiente

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