Prévia do material em texto
PARTE KISSILA Conceito de Receita Pública: A Receita assume, na Administração Pública, fundamental importância por estar envolvida em situações singulares, como a sua distribuição e destinação entre as esferas governamentais e o estabelecimento de limites legais impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. As receitas públicas são o montante total em recursos recolhidos pelo Tesouro Nacional e que serão incorporados ao patrimônio do Estado e servem para custear as despesas públicas e as necessidades de investimentos públicos. As Receitas Públicas representam os recursos que o governo obtém por meio da atividade de tributação, mas é importante ressaltar que essa atividade não é a única forma do governo obter recursos para financiar suas atividades. O governo também possui patrimônio e pode obter receita por meio dele, quando vende, privatiza, faz concessões, alienações, etc. As receitas públicas são regulamentadas por diversas leis, incluindo a Lei Federal nº 4.320/64, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). · Lei Federal nº 4.320/64 - classifica a receita orçamentária em duas categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. · Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) - determina que os estágios da receita pública são a previsão, o lançamento, a arrecadação e o recolhimento. · Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) - uma das etapas do processo de planejamento do orçamento público, juntamente com a Lei do Plano Plurianual (PPA) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). A Lei nº 4.320/64 regulamenta os ingressos de disponibilidades de todos os entes da federação, classificando-os em dois grupos: orçamentários e extraorçamentários. Através dos Ingressos Extraorçamentários, que são as entradas compensatórias, os recursos financeiros de caráter temporário e não integram a Lei Orçamentária Anual (LOA). São aqueles pertencentes a terceiros, arrecadados pelo ente público exclusivamente para fazer face às exigências contratuais pactuadas para posterior devolução. Esses ingressos são denominados recursos de terceiros. Nesse caso, o Estado é mero depositário desses recursos. Por exemplo, depósitos em caução, fianças, operações de crédito por antecipação de receita orçamentária (ARO). Através dos Ingressos Orçamentários, são aqueles pertencentes ao ente público, arrecadados exclusivamente para aplicação em programas e ações governamentais. Esses ingressos são denominados Receita Orçamentária. Com isso, as receitas orçamentárias pertencem ao Estado, integram o patrimônio do Poder Público, aumentam-lhe o saldo financeiro e estão previstas na LOA. Classificação das Receitas Públicas: As receitas se classificam da seguinte forma: A classificação é formada por um código numérico de 8 (oito) dígitos. A Lei nº 4.320/64 define, em seu art. 11, essa estrutura de codificação que se convencionou chamar de código de natureza da receita. Esse detalhamento da estrutura da codificação da natureza de receita merece especial atenção que é o nível da categoria econômica, utilizado para medir o impacto das decisões do governo na economia. Face à necessidade de constante atualização e melhor identificação dos ingressos aos cofres públicos, o código identificador da natureza de receita é desmembrado em níveis. Assim, na elaboração do orçamento público a codificação econômica da receita orçamentária é composta dos níveis abaixo: 1º Nível – Categoria Econômica 2º Nível – Origem 3º Nível – Espécie 4º Nível – Rubrica 5º Nível – Alínea 6º Nível – Subalínea A Lei nº 4.320/64, em seu artigo 11, classifica a receita orçamentária em duas categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital: 1. Receitas correntes: são os ingressos de recursos financeiros oriundos das atividades operacionais, para aplicação em despesas correspondentes, também em atividades operacionais. São arrecadadas dentro do exercício e aumentam as disponibilidades financeiras do Estado. Essas receitas financiam os programas e ações correspondentes às políticas públicas. Alguns exemplos dessas receitas são os tributos arrecadados pelo governo federal, tais como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e Imposto de Renda (IR). As receitas Correntes podem ser classificadas em: · Receitas derivadas: são aquelas que derivam do poder de polícia do Estado em tributar a população – receita tributária. São os famosos impostos, taxas e contribuições de melhoria. O Estado através de sua soberania estatal determina que os cidadãos e empresas destinem parte de sua renda para o financiamento das atividades governamentais. Por decorrerem de norma constitucional ou legal, são arrecadadas de forma impositiva. São obtidas junto aos contribuintes sem nenhuma contraprestação específica, como no caso de impostos, ou com alguma contraprestação, mas de caráter obrigatório, independentemente do uso do serviço, como no caso das taxas. · Receitas originárias: São originadas da cobrança de serviços prestados pelo Estado, decorrentes da exploração de atividades econômicas pela Administração Pública, ou seja, decorrem do patrimônio do Estado. São os recursos com privatizações, alienações, concessões, etc. De acordo com a Lei nº 4.320/64, as receitas correntes serão classificadas nos seguintes níveis de origem: - Receita tributária: São os ingressos provenientes da arrecadação de impostos, taxas e contribuições de melhoria. Dessa forma, é uma receita privativa das entidades investidas do poder de tributar: União, Estados, Distrito Federal e os Municípios. - Receita de Contribuições: É o ingresso proveniente de contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de intervenção nas respectivas áreas. - Receita Patrimonial: É o ingresso proveniente de rendimentos sobre investimentos do ativo permanente, de aplicações de disponibilidades em operações de mercado e outros rendimentos oriundos de renda de ativos permanentes. - Receita Agropecuária: É o ingresso proveniente da atividade ou da exploração agropecuária de origem vegetal ou animal. - Receita Industrial: É o ingresso proveniente da atividade industrial de extração mineral, de transformação, de construção e outras. - Transferência Corrente: É o ingresso proveniente de outros entes ou entidades, referente a recursos pertencentes ao ente ou entidade recebedora ou ao ente ou entidade transferidora 2. Receitas de capital: São os ingressos de recursos financeiros oriundos de atividades operacionais ou não operacionais para aplicação em despesas operacionais, correntes ou de capital, visando ao alcance dos objetivos traçados nos programas e ações de governo. São denominados receita de capital porque são derivados da obtenção de recursos mediante a constituição de dívidas, amortização de empréstimos e financiamentos ou alienação de componentes do ativo permanente, constituindo-se em meios para atingir a finalidade fundamental do órgão ou entidade, ou mesmo, atividades não operacionais visando ao estímulo às atividades operacionais do ente. De acordo com a Lei nº 4.320/64, as receitas de capital serão classificadas nos seguintes níveis de origem: - Operações de Crédito: São os ingressos provenientes da colocação de títulos públicos ou da contratação de empréstimos e financiamentos obtidos junto a entidades estatais ou privadas. - Alienação de Bens: É o ingresso proveniente da alienação de componentes do ativo permanente. - Amortização de Empréstimos É o ingresso proveniente da amortização, ou seja, parcela referente ao recebimento de parcelas de empréstimos ou financiamentos concedidos em títulos ou contratos. - Transferências de Capital É o ingresso proveniente de outros entes ou entidades, referente a recursos pertencentes ao ente ou entidade recebedora ou ao ente ou entidade transferidora, efetivado mediante condições preestabelecidas ou mesmo sem qualquer exigência, desde que o objetivo seja a aplicação em despesas de capital. PARTEAUTILIO Despesas Públicas: Conceito e Classificações 1. Conceito de Despesas Públicas De acordo com a Escola Nacional de Administração Pública – Enap (2017, p. 12), o conceito de despesa pública está diretamente relacionado ao papel desempenhado pelo governo na alocação de recursos financeiros para a execução de suas atividades e programas. Essas despesas representam os gastos autorizados pelo Poder Legislativo, fixados na Lei Orçamentária Anual (LOA), e destinam-se à execução de políticas públicas nas mais variadas áreas, como educação, saúde, segurança, transporte, entre outras. A administração das finanças públicas pode ser comparada à gestão das finanças pessoais e familiares. Da mesma forma que as famílias organizam e acompanham suas despesas para garantir que elas estejam compatíveis com suas receitas, o governo também deve planejar e controlar seus gastos. No contexto familiar, é comum categorizar despesas em grupos como lazer, alimentação, saúde, entre outros, para melhor compreender o destino dos recursos. Esse processo de categorização permite uma visão mais clara sobre os gastos excessivos em certas áreas e possibilita ajustes mais precisos no orçamento. No âmbito governamental, essa categorização das despesas é ainda mais essencial, pois envolve a alocação de recursos públicos para atender às necessidades coletivas. O governo, ao realizar essa função alocativa, agrupa as despesas segundo critérios previamente estabelecidos, o que viabiliza o cumprimento dos objetivos das políticas públicas. Nesse sentido, as despesas públicas não apenas representam valores financeiros, mas também os bens e serviços que serão oferecidos à sociedade em contrapartida aos tributos arrecadados. As despesas públicas podem ser divididas em categorias, como gastos com pessoal, educação, saúde, infraestrutura, entre outros. Além disso, algumas despesas são classificadas como obrigatórias por força de lei, como as transferências constitucionais para Estados e Municípios, os benefícios previdenciários e as despesas de pessoal. Essas despesas possuem caráter compulsório e não podem ser suprimidas pelo governo. Harada (2021) aborda a transição no Estado moderno, que não mais requisita bens e serviços de forma compulsória dos cidadãos, devido à politização das massas e conquistas democráticas. O Estado agora respeita os direitos individuais e os limites impostos pela Constituição, exigindo, assim, a necessidade de despesas públicas para manter os serviços. Embora alguns serviços esporádicos ainda sejam prestados de forma voluntária, como membros de júris ou conselhos, a gratuidade é exceção. A despesa pública, conforme o conceito de Aliomar Baleeiro (2015), refere-se ao conjunto de gastos do Estado ou à aplicação de recursos para cumprir funções públicas, dentro dos limites do orçamento e da autorização legislativa. Tais despesas devem sempre servir ao interesse público e estar vinculadas à Lei Orçamentária Anual (LOA), que direciona a arrecadação conforme prioridades definidas pelo governo e aprovadas pelos representantes da sociedade. Despesas que não refletem o interesse público, como o fundo eleitoral, são criticadas por sua falta de legitimidade. Harada (2021) também menciona a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e suas exigências quanto ao controle orçamentário, especialmente para evitar déficits. Medidas como a PEC 241/16, que limita as despesas primárias por 20 anos, visam corrigir o descumprimento das normas orçamentárias, embora seu congelamento possa prejudicar o desenvolvimento futuro. A solução apontada é o cumprimento rigoroso das leis e a melhoria da qualidade das despesas públicas, com foco em investimentos produtivos para evitar a estagnação econômica. Em síntese, o uso de recursos públicos deve ser feito de maneira responsável, visando objetivos de interesse público e respeitando as normas orçamentárias e fiscais. 6. Classificações das Despesas Públicas Conforme a Escola Nacional de Administração Pública – Enap (2017), as despesas públicas podem ser classificadas de diversas maneiras, dependendo do critério adotado. Um dos principais critérios é a distinção entre despesas de caráter discricionário e despesas de caráter obrigatório. 6.1. Despesas Obrigatórias As despesas obrigatórias são aquelas cujo pagamento é determinado por força de dispositivos legais ou constitucionais. No orçamento público federal, aproximadamente 90% das despesas são classificadas como obrigatórias, o que significa que a maior parte dos recursos arrecadados já possui destinação fixa. Esse grupo inclui, por exemplo, os gastos com benefícios previdenciários, as transferências constitucionais e as despesas com pessoal. Como essas despesas não podem ser alteradas sem uma mudança legal ou constitucional, restam poucos recursos para a execução de outras políticas públicas que não possuem vinculação obrigatória. 6.2. Despesas Discricionárias As despesas discricionárias, por sua vez, referem-se àquelas que o governo tem liberdade para executar ou não, dependendo da disponibilidade orçamentária e das prioridades estabelecidas. Embora não sejam determinadas por lei, essas despesas ainda devem respeitar certos limites constitucionais, como o mínimo de gastos com saúde e educação. Essas despesas incluem tanto gastos correntes, como a manutenção de programas governamentais, quanto investimentos em projetos específicos, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que visa a melhoria da infraestrutura social e econômica do país. Um exemplo importante dentro do PAC é o programa "Minha Casa, Minha Vida", que busca reduzir o déficit habitacional do Brasil por meio da construção e aquisição de imóveis para famílias de baixa renda. Além disso, as despesas discricionárias podem ser subdivididas em "despesas prioritárias", aquelas que recebem maior atenção e proteção no orçamento, mesmo diante de eventuais cortes de gastos. Entre os programas prioritários está o PAC, que, desde 2007, tem sido uma peça central na execução de grandes obras de infraestrutura, contribuindo diretamente para o desenvolvimento econômico do país. 6.3. Despesas Primárias e Financeiras Outra importante classificação das despesas públicas é entre despesas primárias e despesas financeiras. As despesas primárias referem-se aos gastos que impactam diretamente a oferta de bens e serviços à sociedade, como os investimentos em saúde, educação e infraestrutura. Já as despesas financeiras, também chamadas de despesas não primárias, incluem os gastos relacionados ao pagamento de juros e encargos da dívida pública. Essa distinção é fundamental para compreender a dinâmica orçamentária, uma vez que as despesas primárias estão diretamente associadas ao atendimento das necessidades sociais, enquanto as despesas financeiras estão vinculadas à gestão das obrigações financeiras do governo. Execução das Despesas Públicas Harada (2021) aborda a importância da previsão orçamentária para a realização de despesas públicas, conforme disposto no art. 167 da Constituição Federal. Nenhuma despesa pode ser executada sem autorização legislativa ou além dos créditos orçamentários, com exceção de situações como a abertura de créditos suplementares. Há também a proibição da transposição ou transferência de recursos entre categorias ou órgãos sem prévia autorização legislativa. O autor critica a crescente disparidade entre receitas e despesas no Brasil, principalmente devido aos gastos com pessoal e serviço da dívida. Embora existam tentativas de contenção de despesas, como o contingenciamento, o desequilíbrio permanece. A execução de despesas deve observar os princípios constitucionais e o princípio da legalidade, sob pena de configurar crime de responsabilidade ou ato de improbidade administrativa. O processo de realização de despesas envolve três etapas: empenho, liquidação e pagamento. O empenho é a garantia de que há verba para a despesa; a liquidação verifica o direito adquirido pelo credor, e o pagamento extingue a obrigação do Estado. Além disso, o autor ainda menciona a necessidadede controle sobre o pagamento de precatórios, que são débitos judiciais devidos pelo Estado. O pagamento deve seguir uma ordem cronológica, mas créditos de natureza alimentar têm preferência. A Emenda Constitucional 30/2000 introduziu um parcelamento de débitos, permitindo o pagamento em até 10 anos, visando evitar pedidos de intervenção federal ou estadual devido ao não pagamento de precatórios. O princípio do equilíbrio orçamentário, embora não esteja expresso na Constituição de 1988, é crucial para a gestão das finanças públicas. Contudo, o descumprimento de normas orçamentárias é uma prática comum, demonstrando a necessidade de mudanças na cultura de gestão fiscal no país. Existem diferentes classificações de despesas públicas, destacando que nenhuma delas tem caráter científico, sendo "flutuantes e arbitrárias", conforme Einaudi (1949). As classificações mais comuns incluem: 1. Periodicidade: Despesas ordinárias (rotineiras, renovadas anualmente) e extraordinárias (esporádicas e derivadas de circunstâncias excepcionais). 2. Produtividade: Despesas produtivas (serviços como segurança), reprodutivas (aumento da capacidade produtiva, como construção de escolas), e improdutivas (inúteis). 3. Competência constitucional: Despesas federais, estaduais e municipais, conforme a repartição de atribuições entre os entes federativos. Esse critério é criticado pela superposição de serviços e duplicidade de funções. 4. Classificação econômica: Despesas-compra (aquisição de bens e serviços) e despesas-transferência (pagamentos sem contraprestação, como pensões e juros da dívida). 5. Critério legal: Classificação pela Lei nº 4.320/64 em despesas correntes (manutenção de serviços) e de capital (investimentos e amortização da dívida pública). Essas classificações permitem uma melhor compreensão e análise das despesas públicas, embora cada uma apresente limitações e sobreposições. PARTE CAROL Conceito de Receita Pública: A Receita assume, na Administração Pública, fundamental importância por estar envolvida em situações singulares, como a sua distribuição e destinação entre as esferas governamentais e o estabelecimento de limites legais impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. As receitas públicas são o montante total em recursos recolhidos pelo Tesouro Nacional e que serão incorporados ao patrimônio do Estado e servem para custear as despesas públicas e as necessidades de investimentos públicos. As Receitas Públicas representam os recursos que o governo obtém por meio da atividade de tributação, mas é importante ressaltar que essa atividade não é a única forma do governo obter recursos para financiar suas atividades. O governo também possui patrimônio e pode obter receita por meio dele, quando vende, privatiza, faz concessões, alienações, etc. As receitas públicas são regulamentadas por diversas leis, incluindo a Lei Federal nº 4.320/64, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). · Lei Federal nº 4.320/64 - classifica a receita orçamentária em duas categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. · Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) - determina que os estágios da receita pública são a previsão, o lançamento, a arrecadação e o recolhimento. · Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) - uma das etapas do processo de planejamento do orçamento público, juntamente com a Lei do Plano Plurianual (PPA) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). A Lei nº 4.320/64 regulamenta os ingressos de disponibilidades de todos os entes da federação, classificando-os em dois grupos: orçamentários e extraorçamentários. Através dos Ingressos Extraorçamentários, que são as entradas compensatórias, os recursos financeiros de caráter temporário e não integram a Lei Orçamentária Anual (LOA). São aqueles pertencentes a terceiros, arrecadados pelo ente público exclusivamente para fazer face às exigências contratuais pactuadas para posterior devolução. Esses ingressos são denominados recursos de terceiros. Nesse caso, o Estado é mero depositário desses recursos. Por exemplo, depósitos em caução, fianças, operações de crédito por antecipação de receita orçamentária (ARO). Através dos Ingressos Orçamentários, são aqueles pertencentes ao ente público, arrecadados exclusivamente para aplicação em programas e ações governamentais. Esses ingressos são denominados Receita Orçamentária. Com isso, as receitas orçamentárias pertencem ao Estado, integram o patrimônio do Poder Público, aumentam-lhe o saldo financeiro e estão previstas na LOA. Classificação das Receitas Públicas: As receitas se classificam da seguinte forma: A classificação é formada por um código numérico de 8 (oito) dígitos. A Lei nº 4.320/64 define, em seu art. 11, essa estrutura de codificação que se convencionou chamar de código de natureza da receita. Esse detalhamento da estrutura da codificação da natureza de receita merece especial atenção que é o nível da categoria econômica, utilizado para medir o impacto das decisões do governo na economia. Face à necessidade de constante atualização e melhor identificação dos ingressos aos cofres públicos, o código identificador da natureza de receita é desmembrado em níveis. Assim, na elaboração do orçamento público a codificação econômica da receita orçamentária é composta dos níveis abaixo: 1º Nível – Categoria Econômica 2º Nível – Origem 3º Nível – Espécie 4º Nível – Rubrica 5º Nível – Alínea 6º Nível – Subalínea A Lei nº 4.320/64, em seu artigo 11, classifica a receita orçamentária em duas categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital: 1. Receitas correntes: são os ingressos de recursos financeiros oriundos das atividades operacionais, para aplicação em despesas correspondentes, também em atividades operacionais. São arrecadadas dentro do exercício e aumentam as disponibilidades financeiras do Estado. Essas receitas financiam os programas e ações correspondentes às políticas públicas. Alguns exemplos dessas receitas são os tributos arrecadados pelo governo federal, tais como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e Imposto de Renda (IR). As receitas Correntes podem ser classificadas em: · Receitas derivadas: são aquelas que derivam do poder de polícia do Estado em tributar a população – receita tributária. São os famosos impostos, taxas e contribuições de melhoria. O Estado através de sua soberania estatal determina que os cidadãos e empresas destinem parte de sua renda para o financiamento das atividades governamentais. Por decorrerem de norma constitucional ou legal, são arrecadadas de forma impositiva. São obtidas junto aos contribuintes sem nenhuma contraprestação específica, como no caso de impostos, ou com alguma contraprestação, mas de caráter obrigatório, independentemente do uso do serviço, como no caso das taxas. · Receitas originárias: São originadas da cobrança de serviços prestados pelo Estado, decorrentes da exploração de atividades econômicas pela Administração Pública, ou seja, decorrem do patrimônio do Estado. São os recursos com privatizações, alienações, concessões, etc. De acordo com a Lei nº 4.320/64, as receitas correntes serão classificadas nos seguintes níveis de origem: - Receita tributária: São os ingressos provenientes da arrecadação de impostos, taxas e contribuições de melhoria. Dessa forma, é uma receita privativa das entidades investidas do poder de tributar: União, Estados, Distrito Federal e os Municípios. - Receita de Contribuições: É o ingresso proveniente de contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de intervenção nas respectivas áreas. - Receita Patrimonial: É o ingresso proveniente de rendimentos sobre investimentos do ativo permanente, de aplicações de disponibilidades em operações de mercado e outros rendimentos oriundos de renda de ativos permanentes. - Receita Agropecuária: É o ingresso proveniente da atividade ou da exploração agropecuária de origem vegetalou animal. - Receita Industrial: É o ingresso proveniente da atividade industrial de extração mineral, de transformação, de construção e outras. - Transferência Corrente: É o ingresso proveniente de outros entes ou entidades, referente a recursos pertencentes ao ente ou entidade recebedora ou ao ente ou entidade transferidora 2. Receitas de capital: São os ingressos de recursos financeiros oriundos de atividades operacionais ou não operacionais para aplicação em despesas operacionais, correntes ou de capital, visando ao alcance dos objetivos traçados nos programas e ações de governo. São denominados receita de capital porque são derivados da obtenção de recursos mediante a constituição de dívidas, amortização de empréstimos e financiamentos ou alienação de componentes do ativo permanente, constituindo-se em meios para atingir a finalidade fundamental do órgão ou entidade, ou mesmo, atividades não operacionais visando ao estímulo às atividades operacionais do ente. De acordo com a Lei nº 4.320/64, as receitas de capital serão classificadas nos seguintes níveis de origem: - Operações de Crédito: São os ingressos provenientes da colocação de títulos públicos ou da contratação de empréstimos e financiamentos obtidos junto a entidades estatais ou privadas. - Alienação de Bens: É o ingresso proveniente da alienação de componentes do ativo permanente. - Amortização de Empréstimos É o ingresso proveniente da amortização, ou seja, parcela referente ao recebimento de parcelas de empréstimos ou financiamentos concedidos em títulos ou contratos. - Transferências de Capital É o ingresso proveniente de outros entes ou entidades, referente a recursos pertencentes ao ente ou entidade recebedora ou ao ente ou entidade transferidora, efetivado mediante condições preestabelecidas ou mesmo sem qualquer exigência, desde que o objetivo seja a aplicação em despesas de capital. ESTÁGIOS DA RECEITA PÚBLICA No mesmo molde que ocorre com a despesa, a realização da receita também possui fases, sendo elas previsão, lançamento, arrecadação e recolhimento. Previsão O processo orçamentário é fundamental para a gestão financeira do governo. O primeiro passo é que haja uma estimativa da receita, pois sem saber quanto há disponível para gastar, não é possível planejar uma aplicação. As receitas passam por uma previsão inicial, que é atualizada ao longo do ano para se ajustar às mudanças que ocorrem durante o período, evitando que o governo gaste mais do que recebe, por meio da LOA (Lei Orçamentária Anual). A previsão anual das diferentes formas de receita ajuda a criar uma base sólida para o orçamento. Uma receita não prevista não pode ser executada. De acordo com o Art.12 da Lei de Responsabilidade Fiscal, as previsões de receita devem observar normas técnicas e legais, a fim de evitar a superestimação ou subestimação. Nessa estimativa, é necessário considerar os parâmetros e efeitos da legislação tributária, por conta da variação de índices em contratos, obras, compras, entre outros. Lançamento Após a estimativa, acontece a segunda etapa, que é o lançamento, em que o governo formaliza suas expectativas de arrecadação, identificando os contribuintes e os valores a serem pagos. Essa fase é crucial para garantir que o Estado tenha um controle mais próximo sobre o que espera receber, embora ainda não signifique que os recursos estejam disponíveis. Conforme o Código Tributário Nacional, o lançamento é o “procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e sendo o caso, propor a aplicação da penalidade cabível”. Em conceitos tributários, nenhum imposto pode ser pago antes de seu lançamento. Ainda de acordo com o CTN, os lançamentos dividem-se em: a) De Ofício ou Direto: efetuado e revisto pela própria autoridade administrativa; b) Declaração ou Misto: realizado com base na declaração de terceiro ou do próprio sujeito passivo; c) Homologação ou Autolançamento: o sujeito passivo tem o dever de antecipar o pagamento sem prévio juízo de admissibilidade da autoridade administrativa credora. Arrecadação É o processo de quitação de obrigações tributárias e débitos dos contribuintes ou devedores junto ao Estado. Essa fase é fundamental para a arrecadação de receitas que sustentam os serviços públicos e o funcionamento do governo. Os devedores, ao liquidarem suas dívidas, contribuem para a manutenção da ordem fiscal e a realização de investimentos públicos. Os agentes arrecadadores desempenham um papel crucial nesse processo, garantindo que os pagamentos sejam corretamente coletados e transferidos ao Tesouro, podendo ser agentes privados (bancos) ou públicos (tesouraria e postos fiscais) Recolhimento Finalmente, o recolhimento da receita marca a entrada efetiva dos recursos na conta do Tesouro Nacional. Essa é a etapa em que os fundos se tornam disponíveis para serem utilizados em políticas públicas, permitindo que o governo execute suas ações e programas destinados ao bem-estar da sociedade. PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS E FINANCEIROS Princípio da Legalidade: O princípio da legalidade é comum em outros ramos do Direito. Ele estabelece que tanto os cidadãos quanto o próprio Estado estão sujeitos às normas legais, assegurando que a atuação do poder público ocorra dentro dos limites estabelecidos em lei Nas finanças públicas, esse princípio ganha especial importância, pois garante que a arrecadação de tributos e a realização de despesas pelo Estado sejam realizadas com a devida autorização legal. A lei orçamentária, portanto, não é apenas um instrumento de planejamento, mas um mecanismo essencial que legitima todas as ações financeiras do Estado. Sem essa previsão, qualquer gasto seria considerado irregular. Assim, o orçamento é o ponto de partida e de chegada das atividades estatais. Ele não apenas planeja a aplicação dos recursos públicos, mas também assegura a transparência e a responsabilidade na gestão financeira, evitando abusos e garantindo que a utilização dos recursos atenda às necessidades da sociedade de forma legal e ordenada. Princípio da Exclusividade: Esse princípio determina que a lei orçamentária deve tratar exclusivamente de matérias relacionadas ao orçamento, ou seja, a arrecadação e a aplicação de recursos públicos. A relevância desse princípio se torna ainda mais evidente considerando a complexidade e a extensão das leis orçamentárias, que frequentemente incluem múltiplos anexos. A inclusão de matérias estranhas, como a criação de cargos, promoções de servidores ou perdão de dívidas, não só comprometeria a clareza e a finalidade da lei, mas também poderia abrir brechas para manobras políticas indesejadas, as chamadas "caudas orçamentárias". Essas caudas referem-se a itens que, embora não tenham relação direta com a execução orçamentária, acabam sendo inseridos no orçamento, podendo gerar confusão e dificultar o controle social e a transparência na gestão financeira. Portanto, a exclusividade na lei orçamentária é essencial para garantir que os recursos públicos sejam alocados de maneira clara e eficiente. Princípio da Anualidade: O princípio da anualidade do orçamento é um dos pilares da legislação orçamentária. Esse princípio determina que o orçamento deve ser elaborado para o período de um ano, coincidindo com o exercício civil. Isso permite uma avaliação constante das receitas e despesas do governo, além de facilitar o planejamento e a execução das políticas públicas. É oriundo da necessidade de acompanhar e ajustar os planos de governo a cada exercício financeiro, garantindo que as metas e prioridades sejam realistas e alcançáveis dentro do contexto temporal definido. Embora existam instrumentos como o Plano Plurianual (PPA) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que têm vigência superior a um ano, eles não invalidam o princípio da anualidade. Esses instrumentos servem para orientar a elaboração do orçamento anual, alinhando os programas e ações delongo prazo com a execução financeira de cada exercício. Princípio da Unidade: O princípio da unidade no orçamento estabelece que deve haver um único orçamento para cada ente federativo a cada exercício financeiro. Isso implica que todos os recursos e despesas, incluindo os de autarquias, fundações e entidades estaduais dependentes, devem estar consolidados em uma única lei orçamentária. Esse princípio é crucial para garantir a transparência e a eficiência na gestão dos recursos públicos. A consolidação das previsões orçamentárias em um único documento permite uma visão integrada das finanças do ente federativo, facilitando o planejamento e o controle da execução orçamentária. Além disso, a unidade orçamentária evita fragmentações que poderiam dificultar a fiscalização e o acompanhamento das contas públicas. As previsões orçamentárias não podem ser tratadas de forma apartada, como por meio de decretos, pois isso comprometeria a clareza da gestão financeira. Princípio da Universalidade: O princípio da universalidade do orçamento estabelece que todas as receitas e despesas governamentais devem ser incluídas na lei orçamentária, sem qualquer exclusão. Isso significa que o orçamento deve refletir a totalidade das operações financeiras do ente federativo, garantindo que não haja receitas ou despesas omitidas. Esse princípio é fundamental para assegurar a transparência e a responsabilização na gestão pública. Ao incluir todas as fontes de receita — como transferências, convênios, subvenções, e auxílios — no orçamento, possibilita-se uma visão abrangente da situação financeira do governo. Isso facilita tanto o planejamento quanto o controle e a avaliação da execução orçamentária. É importante não confundir o princípio da universalidade com o princípio da unidade. Enquanto a unidade se refere à coerência e à necessidade de um único orçamento para o ente federativo, a universalidade enfatiza a abrangência, assegurando que todas as receitas e despesas sejam registradas e reconhecidas no orçamento. Princípio do Orçamento Bruto: Estabelece que as receitas e despesas devem ser registradas na lei orçamentária em seus totais, sem quaisquer deduções. Isso significa que, ao contabilizar receitas como o IPVA, que deve ser repartido entre o Estado e os Municípios, o Estado deve lançar a receita total arrecadada, sem abater o valor que será repassado aos Municípios. Dessa forma, a totalidade do tributo deve constar como receita na parte de receitas do orçamento, enquanto o valor que será transferido aos Municípios deve ser registrado como despesa. Essa abordagem assegura a transparência e a clareza na gestão orçamentária, permitindo que os cidadãos e os órgãos de controle tenham uma visão completa das finanças públicas. Esse princípio evita confusões e garante que todos os entes federativos reconheçam integralmente suas receitas, o que é essencial para um planejamento fiscal adequado e para a avaliação do desempenho financeiro do governo. Assim, a apresentação detalhada das receitas e despesas contribui para a responsabilidade fiscal e o controle social, permitindo que os gestores públicos sejam responsabilizados pela totalidade dos recursos que gerenciam. Princípio da Transparência Orçamentária: Esse princípio está ligado à transparência, que é essencial para a legitimidade e a responsabilidade na gestão pública. A publicidade permite que os cidadãos tenham acesso às informações sobre receitas e despesas, o que é crucial para que possam exercer sua função de fiscalização. Um orçamento transparente possibilita que a sociedade conheça como os recursos públicos estão sendo arrecadados e utilizados, promovendo o controle social e a participação cidadã. Em resumo, a publicidade é uma ferramenta indispensável para garantir que a gestão pública atue de forma clara e acessível, permitindo que os cidadãos exerçam seu direito de fiscalização e participação na vida pública. PARTE LAYS Temas controversos relacionados à Despesas Públicas A eficiência e eficácia do gasto público no Brasil são temas centrais no debate sobre a administração e o uso dos recursos públicos. Em um país com grandes desigualdades sociais e desafios econômicos, é fundamental que os recursos arrecadados sejam utilizados de maneira a gerar o maior benefício possível para a população. Eficiência: Refere-se à capacidade do governo de alocar e utilizar os recursos públicos de forma a maximizar os resultados com o menor custo possível. No Brasil, a eficiência do gasto público é muitas vezes questionada devido a problemas como: · Burocracia excessiva; · Desperdício de recursos; · Falta de planejamento a longo prazo; · Projetos mal executados ou inacabados. Estudos indicam que a gestão ineficiente dos recursos em áreas como saúde, educação e infraestrutura compromete o alcance de melhores resultados, mesmo com volumes elevados de gastos. Eficácia: Diz respeito ao grau em que os gastos públicos atingem os objetivos propostos, ou seja, se os recursos estão efetivamente sendo empregados para resolver os problemas da sociedade. No Brasil, os desafios incluem: · Deficiência em políticas públicas que não conseguem atingir as metas estabelecidas; · Falta de avaliação contínua e adequada de programas governamentais; · Desalinhamento entre o planejamento orçamentário e as reais necessidades sociais. Os principais obstáculos à eficácia do gasto público no Brasil estão ligados a uma falta de coordenação entre diferentes esferas de governo, corrupção, e uma inadequada alocação de recursos para setores prioritários. Ao longo dos anos, diversas iniciativas de reforma, como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), buscaram melhorar essa situação, mas desafios significativos permanecem. Assim, melhorar a eficiência e a eficácia do gasto público no Brasil depende de maior transparência, accountability (responsabilidade), e investimentos em mecanismos de controle e avaliação de políticas públicas, garantindo que os recursos sejam aplicados de forma mais inteligente e benéfica para a sociedade. O teto de gastos no Brasil é uma regra fiscal criada pela Emenda Constitucional 95/2016, que limita o crescimento das despesas primárias do governo à inflação do ano anterior, com o objetivo de controlar o aumento do endividamento público e garantir a sustentabilidade fiscal. Desde sua implementação, a medida tem sido alvo de intenso debate, tanto no aspecto econômico quanto no jurídico, especialmente no que se refere à sua constitucionalidade. Contexto Econômico: O teto de gastos foi concebido como uma resposta à crise fiscal e ao aumento expressivo da dívida pública, buscando impor disciplina na gestão orçamentária. Seus defensores argumentam que ele é fundamental para garantir a confiança dos mercados, manter o controle sobre a inflação e estimular um ambiente de previsibilidade econômica, o que seria essencial para o crescimento sustentável do país. Críticas ao Teto de Gastos: · Social: Um dos principais pontos de crítica é que o teto limita o crescimento de despesas sociais essenciais, como saúde, educação e segurança, independentemente das necessidades da população. Em um contexto de aumento da desigualdade e pobreza, críticos afirmam que o teto prejudica políticas públicas voltadas para a proteção social. · Flexibilidade: Outra crítica diz respeito à rigidez da regra, que impede o governo de aumentar investimentos em áreas prioritárias ou responder adequadamente a crises econômicas ou sociais. Constitucionalidade: No debate jurídico, a constitucionalidade do teto de gastos é frequentemente questionada sob a alegação de que ele viola direitos fundamentais previstos na Constituição de 1988, como o direito à saúde e à educação, uma vez que impõe limitações ao crescimento de despesas essenciais. Para os críticos, a EC 95 compromete a realização de políticas públicas essenciais, violando o princípio da proibição do retrocesso social. Por outro lado, seus defensores argumentam que o teto de gastos é compatível com a Constituição, pois visa garantir a responsabilidade fiscal, que também éum princípio constitucional. Para eles, a limitação é necessária para evitar o colapso das contas públicas e garantir que os direitos sociais possam ser financiados de forma sustentável a longo prazo. Reformas e Propostas de Alteração: Nos últimos anos, há uma crescente pressão para revisar ou flexibilizar o teto de gastos, especialmente após a pandemia de COVID-19, que expôs a necessidade de maiores investimentos públicos em saúde e proteção social. Em 2023, com a criação do novo arcabouço fiscal, o debate foi atualizado, propondo maior flexibilidade nas regras fiscais para permitir investimentos sociais e em infraestrutura, enquanto mantém algum controle sobre o crescimento das despesas públicas. O debate sobre o teto de gastos e sua constitucionalidade reflete a tensão entre a necessidade de responsabilidade fiscal e a obrigação de garantir os direitos sociais e promover o desenvolvimento econômico. A desigualdade regional e setorial no uso das despesas públicas no Brasil é um desafio histórico, caracterizado por uma distribuição desigual de recursos entre as diferentes regiões e setores da economia. Essa disparidade acentua as desigualdades socioeconômicas entre estados e municípios, refletindo-se em áreas como saúde, educação, infraestrutura e segurança. Desigualdade Regional O Brasil é um país de grande extensão territorial e com disparidades significativas entre suas regiões (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul). As regiões mais desenvolvidas, como o Sudeste e o Sul, concentram maior parte dos investimentos públicos e têm maior acesso a serviços públicos de qualidade, em contraste com o Norte e o Nordeste, que apresentam: · Baixo acesso a recursos públicos: Historicamente, essas regiões recebem menos investimentos per capita, o que afeta áreas como saneamento básico, educação e saúde. · Infraestrutura deficiente: O déficit em transporte, energia e telecomunicações é mais pronunciado nas regiões Norte e Nordeste, limitando o desenvolvimento econômico e social. · Desigualdade de acesso: A falta de investimentos adequados em áreas críticas, como educação e saúde, agrava as disparidades, refletindo-se em indicadores sociais mais baixos (pobreza, mortalidade infantil, e analfabetismo). Desigualdade Setorial Além das diferenças regionais, há também uma desigualdade setorial no uso das despesas públicas, que se manifesta pela priorização de determinados setores em detrimento de outros: · Investimentos desiguais: Setores como infraestrutura urbana e transporte, predominantemente em grandes centros urbanos, frequentemente recebem mais investimentos do que setores rurais, saúde básica e educação fundamental, que são vitais para o desenvolvimento a longo prazo. · Incentivos fiscais e subsídios: Certos setores produtivos, como a indústria e o agronegócio, são mais beneficiados por políticas de incentivos fiscais e subsídios, enquanto setores sociais, como assistência social e educação, enfrentam maior escassez de recursos. Essa desigualdade setorial também reflete escolhas políticas, onde setores com maior influência política e econômica tendem a atrair mais recursos, em contraste com áreas mais carentes que têm menos representação. Consequências · Manutenção das desigualdades sociais: A alocação desigual de recursos perpetua o ciclo de pobreza e desigualdade, especialmente nas regiões mais carentes. · Desenvolvimento desigual: Regiões e setores com maior concentração de investimentos continuam a crescer mais rapidamente, enquanto áreas e setores com menores investimentos ficam estagnados ou se desenvolvem em ritmo mais lento. Políticas para Redução da Desigualdade Diversas iniciativas tentam mitigar essas disparidades, como o Fundo de Participação dos Estados (FPE) e o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que visam redistribuir receitas para regiões menos desenvolvidas. No entanto, especialistas apontam que essas políticas não têm sido suficientes para reduzir significativamente a desigualdade regional e setorial. A desigualdade no uso das despesas públicas no Brasil é um fator que agrava o desequilíbrio socioeconômico e impede o desenvolvimento harmonioso do país. Soluções que promovam uma distribuição mais equitativa dos recursos são essenciais para o crescimento sustentável e inclusivo de todas as regiões e setores. Referências BALEEIRO, Aliomar. Uma Introdução à Ciência das Finanças. Rio de Janeiro. Forense. 2015. ISBN: 9788530961145 EINAUDI, Luigi. Principi di scienza della finanza. 4. ed. Giulio Einaudi, 1949. p. 9. Apud BALEEIRO, Aliomar. Op. cit. p. 106. GADELHA, S. R. DE B. Receita e Despesa Públicas. http://www.enap.gov.br/, 2017. Disponível em: http://repositorio.enap.gov.br/handle/1/3168. Acesso em: 10 set. 2024. HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. E-book. ISBN 9786559770038. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559770038/. Acesso em: 10 set. 2024. LEITE, Harrison. Manual de Direito Financeiro- 9ª edição, 2020 https://portaldatransparencia.gov.br/entenda-a-gestao-publica/execucao-receita-publica PARTE GALVÃO EXECUÇÃO DA DESPESA PÚBLICA O QUE É DESPESA PÚBLICA? Despesa pública é a aplicação do dinheiro arrecadado por meio de impostos ou outras fontes para custear os serviços públicos prestados à sociedade ou para a realização de investimentos. I - PROCESSO DE EXECUÇÃO DAS DESPESAS PÚBLICAS (ETAPAS DE EMPENHO, LIQUIDAÇÃO E PAGAMENTO). As despesas previstas no orçamento público, seguindo os três estágios presentes na Lei nº 4.320/64: empenho, liquidação e pagamento. O empenho é a etapa em que o governo reserva o dinheiro que será pago quando o bem for entregue ou o serviço concluído. Isso ajuda o governo a organizar os gastos pelas diferentes áreas do governo, evitando que se gaste mais do que foi planejado. Já a liquidação é quando se verifica que o governo recebeu aquilo que comprou. Ou seja, quando se confere que o bem foi entregue corretamente ou que a etapa da obra foi concluída como acordado. Por fim, se estiver tudo certo com as fases anteriores, o governo pode fazer o pagamento, repassando o valor ao vendedor ou prestador de serviço contratado. A execução orçamentária é o processo de arrecadação das receitas e realização das despesas autorizadas nos instrumentos de planejamento e orçamento do Estado. Ela se divide em execução orçamentária da receita, que se refere à obtenção de recursos pelos governos, e execução orçamentária da despesa, que envolve a efetivação dos gastos. Cabe destacar que essa etapa ocorre após o planejamento e a elaboração do orçamento, nos quais são previsões as receitas e definidos os critérios para sua alocação. Após a aprovação do orçamento pelo Poder Legislativo e a sanção pelo chefe do Poder Executivo, o documento entra em vigor para o exercício financeiro correspondente, iniciando-se a fase de execução das receitas e Para garantir a continuidade dos serviços públicos, caso o orçamento não seja aprovado no prazo constitucional, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) poderá autorizar a execução de 1/12 (um doze avos) da despesa prevista na lei orçamentária do exercício anterior, a cada mês, para manutenção das atividades dos órgãos Uma vez aprovar a lei orçamentária, o Poder Executivo, dentro de até 30 dias da publicação do orçamento e em conformidade com as disposições da LDO, deverá estabelecer a programação financeira e o cronograma de execução mensal dos desembolsos. II- CONTROLE E FISCALIZAÇÃO DAS DESPESAS. A função de controle desempenha um papel fundamental no aperfeiçoamento da administração pública. Trata-se de um instrumento democrático que busca limitar o poder e promover a eficiência por meio da fiscalização, avaliação e monitoramento das ações governamentais. Além disso, o exercício dos controles institucionais e sociais é essencial no combate às práticas ilícitas, como fraudes e Mas o que exatamente é corrupção? Inicialmente, tendemos a associar o termo exclusivamente ao campo político, mas essa visão é limitada. A corrupção pode ocorrer emdiversas situações cotidianas, como subornar um guarda de trânsito, fornecer informações falsas para obter benefícios, ou até mesmo no ambiente familiar, quando mentimos para obter alguma coisa Entretanto, é importante fazer distinções adequadas, pois nem todas as ações imorais são crimes de corrupção. Por exemplo, furar a fila de um supermercado não é considerado crime, embora seja uma conduta reprovável. Em contrapartida, desviar palavras da merenda escolar, prejudicando milhares de crianças, é crime e o responsável está sujeito às previsões da lei. Diante dos Balanços apresentados, é responsabilidade do cidadão utilizar o instrumento democrático de participação na gestão pública, conhecido com Por meio desse Controle, o cidadão pode verificar, nas prestações de contas divulgadas por entidades públicas, se o dinheiro público está sendo aplicado de maneira adequada e regular, com o apoio dos Portais de Transparência. Para tanto, é crucial que as informações disponibilizadas sejam apresentadas em uma linguagem acessível e que demonstrem de forma clara a execução das receitas e despesas realizadas pela Com isso, o cidadão tem a possibilidade de acompanhar e monitorar as políticas públicas definidas nos instrumentos de planejamento, bem como verificar sua execução nas projeções contábeis ao final do exercício financeiro. Caso identifique qualquer irregularidade, o cidadão poderá reportar os fatos aos órgãos de controle externo, como os Tribunais de Contas, e ao Ministério Público para que sejam aplicados de forma eficiente, transparente e em conformidade com as normas legais e orçamentárias. Esses processos envolvem ações coordenadas de acompanhamento, supervisão, auditoria e prestação de contas sobre os gastos realizados pelos governos em suas diversas esferas, federal, estadual e municipal. Controle das Despesas Públicas O controle das despesas públicas envolve uma série de medidas impostas tanto por órgãos internos quanto externos para garantir que o dinheiro público seja utilizado de acordo com os princípios da legalidade, moralidade, eficiência e transparência. Realizado pelos próprios órgãos públicos, por meio de sistemas de gestão e controle que garante o uso adequado dos recursos. Órgãos como a Controladoria-Geral da União (CGU) no âmbito federal, e as controladorias estaduais e municipais, desempenham esse papel. Esses mecanismos permitem aos gestores públicos monitorarem a execução do orçamento em tempo real, prevenindo fraudes, erros ou desvios. III- PAPEL DOS TRIBUNAIS DE CONTAS. Os Tribunais de Contas são responsáveis pela fiscalização da aplicação dos recursos públicos por parte dos governantes. O uso de todo o dinheiro do contribuinte aplicado em impostos é verificado por esse setor da Administração Pública, que tem sua missão e atribuição definidas pela Constituição. Funções dos Tribunais de Contas Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária Os Tribunais de Contas são responsáveis por fiscalizar a arrecadação de receitas e a execução das despesas, verificando se essas operações estão em conformidade com as leis orçamentárias e fiscais. Eles auditam os balanços contábeis, financeiros e patrimoniais das entidades para garantir a transparência e a precisão das informações prestadas. Controle de Legalidade e Conformidade O papel dos Tribunais de Contas inclui examinar a legalidade dos atos administrativos, especialmente aqueles que envolvem a gestão de recursos públicos, como licitações, contratos, convênios e pagamentos. Os tribunais verificam essas ações respeitando as leis e regulamentações vigentes, garantindo que os gestores públicos atuem dentro dos limites da legalidade. Auditorias Operacionais Além de fiscalizar a conformidade legal, os Tribunais de Contas realizam auditorias operacionais para avaliar a eficiência e a eficácia dos programas e políticas públicas. O objetivo é verificar se os recursos estão sendo aplicados corretamente e se as ações governamentais estão alcançando os resultados esperados, promovendo uma boa governança e o uso racional dos recursos públicos. Aprovação ou Rejeição de Contas Anualmente, os Tribunais de Contas emitem pareceres técnicos sobre as contas dos chefes do Poder Executivo (presidente, governadores e prefeitos). Esses pareceres são essenciais para orientar o julgamento do Poder Legislativo, que pode aprovar ou rejeitar as contas do governo. Em caso de exclusão, os gestores públicos podem ser responsabilizados e até impedidos de exercer novas cargas públicas. Tomada de Contas Especiais (TCE) Quando há declarações de irregularidades ou danos ao erário, os Tribunais de Contas podem instaurar uma Tomada de Contas Especial (TCE) para apurar responsabilidades e determinar o ressarcimento dos cofres públicos. Esse processo visa identificar os responsáveis por prejuízos ao patrimônio público e garantir a peças do dano. Fiscalização de Licitações e Contratos Os Tribunais de Contas também fiscalizam os processos licitatórios e os contratos firmados pela administração pública, garantindo que sejam realizados de forma transparente, competitiva e em conformidade com a legislação. Isso inclui verificar se os contratos estão executados corretamente, sem superfaturamento ou desvios. Sanções e Responsabilidades Quando constatam irregularidades, os Tribunais de Contas podem aplicar avaliações aos gestores públicos, como multas e determinações de ressarcimento ao erário. Em casos mais graves, podemos recomendar ao Ministério Público a instauração de ações judiciais por improbidade administrativa ou outros crimes. Orientação e Educação Além de fiscalizar, os Tribunais de Contas têm o papel de orientar os gestores públicos sobre a correta aplicação dos recursos e a observância das normas legais. Promova atividades educativas, como cursos e seminários, para difundir boas práticas de gestão pública. Estrutura dos Tribunais de Contas Tribunal de Contas da União (TCU): Responsável pela fiscalização dos recursos públicos federais, o TCU fiscaliza órgãos da administração direta e indireta da União, além de empresas estatais e fundos governamentais. Tribunais de Contas Estaduais (TCEs): Fiscalizam os recursos públicos estaduais, analisando as contas dos governadores e secretários, além de auditar prefeituras municipais que não possuem Tribunais de Contas Municipais. Tribunais de Contas dos Municípios (TCMs): Apresentados em alguns estados, os TCMs são responsáveis por fiscalizar as contas dos municípios, avaliando as administrações das prefeituras e câmaras municipais. Importância dos Tribunais de Contas Os Tribunais de Contas são essenciais para promover a responsabilização dos gestores públicos e garantir a correta aplicação dos recursos destinados às políticas públicas. Eles reforçam a transparência e a prestação de contas no setor público, contribuindo para a confiança da sociedade nas instituições governamentais. Além disso, o trabalho desses tribunais é um instrumento importante no combate à corrupção e à má gestão, uma vez que identificam e apuram desvios, fraudes e outras irregularidades, gerando relatórios e recomendações que podem levar a avaliações ou ações corretivas. Referências: https://portaldatransparencia.gov.br/entenda-a-gestao-publica/execucao-despesa-publica https://politicaspublicas.almg.gov.br/temas/execucao_orcamentaria/entenda/informacoes_gerais.html?tagNivel1=257&tagAtual=10250 https://www.camara.leg.br/noticias/537153-fiscalizacao-e-controle-quer-garantir-transparencia-dos-gastos-publicos/ https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/20/edicao-1/tribunais-de-contas-no-brasil image1.png image2.png image3.png