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6 Lição 1 - História e Atuação dos Corretores Nesta aula, você conhecerá a história da corretagem imobiliária e o seu principal ator: o corretor de imóveis. Para tanto, você está convidado a re- fletir sobre algumas questões: • Você já se deparou diante de uma grande oportunidade de realizar uma compra, uma venda ou uma locação de um bem imóvel? • Você conhece o mercado imobiliário e as negociações que nele se realizam diariamente? • Você já participou do processo de negociação, seja fornecendo orientações, seja solicitando ou fornecendo os documentos necessários para o negócio? Se você encontrou uma resposta positiva para qualquer uma destas pergun- tas, certamente você já teve a oportunidade de experimentar a atividade de corretagem imobiliária. Talvez, no entanto, você não saiba ainda que a corretagem imobiliária que se conhece hoje é fruto de um processo histórico dinâmico juntamente com as mudanças sociais e as necessidades dos clientes, no qual o corretor imo- biliário se configura na parte essencial dessa relação. Nesta aula, apresentaremos o surgimento da profissão do corretor de imó- veis: o agente imobiliário mediador das negociações imobiliárias. Aliás, você verificará que a profissão do corretor de imóveis depende da pre- sença de características essenciais à pessoa que pretende exercê-la, dentre elas a apresentação visual, o relacionamento, a ética, a postura íntegra, o saber falar, o saber ouvir, a proatividade, a presteza no atendimento etc. Ao longo desta lição, você compreenderá que o corretor é o responsável por intermediar e lidar com as partes, fazendo com que todos saiam satisfeitos do negócio. O objetivo destes estudos é contribuir para que você se sinta preparado para: • Analisar como ocorreu e quais são os valores que compõem a história da corretagem imobiliária no Brasil. • Evidenciar a importância e a evolução da figura do corretor imobiliário juntamente com os valores éticos e de mercado. 7 • Estudar sobre o corretor de imóveis. • Ordenar e destacar os atores envolvidos na corretagem imobiliária, bem como a tríplice responsabilidade do profissional. • Conhecer os clientes no mercado imobiliário. • Reconhecer e identificar as possibilidades de atuação e negócios para o corretor no mercado. • Listar documentos necessários em uma venda ou permuta de imóveis. • Avaliar os problemas e perigos presentes em uma transação. • Planejar sua estratégia de trabalho. • Identificar o mercado imobiliário para efetuar com segurança as condições e variáveis na execução do seu planejamento. 1. A História da Corretagem Imobiliária no Brasil Ao longo do tempo as sociedades humanas foram se transformando de acor- do com a percepção do ser humano no atendimento de suas aspirações e ne- cessidades no processo de evolução social. Destarte, a história da corretagem imobiliária iniciada no período colonial, suas atividades e o modo de desempenhá-las, também se alteraram gradati- vamente e seguem evoluindo sempre mais. Oriunda da informalidade, a corretagem surge com a chegada da Corte Real portuguesa ao Brasil, durante o Período Colonial, em 1807, por meio dos agen- tes de negócios imobiliários, os quais se incumbiam de descobrir quem eram os proprietários dos bens imóveis que poderiam ser vendidos aos estrangei- ros que chegavam ao Brasil. Longe de ser uma profissão regular, tal atividade econômica, encontrava óbi- ces reais, como a limitação dos meios de comunicação e a dificuldade pela descoberta de novas oportunidades de negócios. O intercâmbio de informações ocorria entre os próprios agentes imobiliários que se encontravam nos pontos mais movimentados das maiores cidades, realizando negociações e atraindo novos interessados pela atividade. Em 1937 foi criado o primeiro Sindicato dos Corretores de Imóveis, o qual se tornou uma referência para a atividade de corretagem, um modelo de expe- riência repercutindo no mercado imobiliário dos demais estados do nosso país. Desde então, os corretores passaram a trabalhar em busca do reconhecimen- to legal da sua atividade, com lei própria, disciplinando-a como uma profis- são, uma vez que o seu exercício por qualquer pessoa suprimia seu grau de importância. 8 Pertencer ao sindicado era uma possibilidade que vinha dando robustez ao movimento sindical, com o surgimento de empresas imobiliárias que exi- giam atenção especial do Poder Público. Em resposta ao movimento, criou-se a Lei 4.116, de 27 de agosto de 1962, dis- pondo sobre a regulamentação do exercício da profissão de corretor de imó- veis. Posteriormente, em 1978, a Lei 6.530, vigente desde então, regulamentada pelo Decreto 81.871/78, revogou a anterior (Lei 4.116/62). Os direitos dos corretores já inscritos sob a proteção da Lei 4.116, de 27 de agosto de 1962, se mantiveram, mas o exercício da profissão com relação às pessoas não inscritas até então se sujeitaram ao atendimento de novos requi- sitos – exigências criadas para o ingresso na profissão. O Título de Técnico em Transações Imobiliárias e a necessidade de inscrição nos Conselhos de Corretagem como Corretor passaram a ser exigidos para o exercício da profissão de corretor imobiliário, o qual, desempenha a interme- diação entre as partes para a realização de negócios imobiliários. Em 26 de outubro de 1962, a primeira reunião do Conselho Federal de Cor- retores de Imóveis do Brasil (COFECI) deu origem ao Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI). 1.1 Reconhecimento da Profissão A chegada da Corte Real portuguesa ao Brasil é o marco inaugural da ativi- dade de corretagem no Brasil, uma vez que sua chegada desalojou, sem qual- quer tipo de indenização, diversos moradores de suas residências para que passassem a abrigar a Corte e seus empregados. O motim popular fez com que alguns portugueses indenizassem os proprie- tários das residências desocupadas, o que foi intermediado por negociadores contratados, sendo eles considerados os primeiros corretores de imóveis no Brasil. No período colonial, as intermediações na compra e venda de imóveis eram raras. Os próprios comerciantes locais faziam a divulgação de imóveis para negociação em seus estabelecimentos a pedido do proprietário. A Corte Por- tuguesa no Brasil implicou na estruturação de diversas instituições de Estado, como tribunais, repartições, conselhos, dentre outros, de tal forma que as ci- dades ganharam a melhoria de sua infraestrutura, impactando diretamente no mercado imobiliário. A cidade do Rio de Janeiro, capital, se destacou, expandiu e cresceu, fazendo com que diversas pessoas (comerciantes locais, leiloeiros e agentes imobiliá- rios) se dedicassem a partir de então ao ramo imobiliário. 9 A urbanização da população contribuiu com o aumento dos negócios imo- biliários, já que nas cidades as propriedades tendem a ser bem menores, e o trabalho diversificado é numeroso. A urbanização em São Paulo em 1890 foi crescendo exponencialmente e, assim, também uma grande demanda por habitações fez surgirem os primeiros corretores de imóveis. Em 1938, surgiu a Associação Profissional dos Corretores de Imóveis em São Paulo, que em 1942 se tornou sindicato. Os primitivos sindicatos perderam a sua função de fiscalização sobre a profissão para os Conselhos Regionais e o Federal. O Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (SCIESP) se destacou ao apoiar a regulamentação da profissão, a fim de ga- rantir segurança e boa fama nas transações imobiliárias. Mas, ainda assim, no que diz respeito à regulamentação da profissão, os sindicatos perderam a sua força ideológica e foram substituídos no desempenho deste papel pelos conselhos, passando a desempenhar eminentemente o papel de defesa dos interesses da categoria. O aumento gradativo do crédito pela criação de programas governamen- tais e incentivos ao crédito privado proporcionou um aumento dos negócios imobiliários por meio de uma política pública de garantia de moradia à po- pulação. Como bem sesabe, o mercado imobiliário em constante alteração utiliza na corretagem novas ferramentas e meios de intermediação de negócios. O cor- retor imobiliário se reinventa ao longo do tempo pelas alterações na regula- mentação do setor e pela forma de sua atuação. Algo curioso são anúncios de imóveis, lá nos primórdios, durante o período colonial, que registravam como intermediários nos negócios “comerciantes e leiloeiros”, os quais acabavam se ocupando da corretagem imobiliária e mais tarde se especializavam no ramo, aprendendo suas atividades na prática, passando a viver exclusivamente da intermediação imobiliária. Foi assim que nasceram os agentes imobiliários. Já o corretor imobiliário, na acepção do termo, se consolida e se difunde a partir do processo de urbanização, quando o mercado imobiliário cresce com novos investidores. Aliás, os sindicatos trouxeram consigo a utilização do termo “corretor de imó- veis” para caracterização do profissional da área, bem como a possibilidade de fazer parte do fundo de aposentadoria e pensões, descontos em jornais para a publicação de anúncios, entre outros. Nos anos 1980 e 1990, a profissão se consolidou com a criação de 24 conselhos regionais para a efetiva fiscalização da profissão. A profissão está bem regu- lamentada não apenas por meio da própria lei do corretor de imóveis, como também do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor. 10 A revolução digital trouxe a facilitação na pesquisa de preços e informações para a realização dos negócios imobiliários alterando a forma de atuação dos corretores imobiliários. O corretor além de apresentar as melhores opções deve apoiar o comprador na realização de seu negócio. A corretagem de imóveis começou há muito tempo no Brasil, trata-se e desig- na, basicamente, a tarefa de intermediar a negociação imobiliária entre ao menos duas partes. Essa atividade tem uma evolução histórica, que é acom- panhada pela evolução da figura do corretor de imóveis. Veja, a seguir, os principais eventos que moldaram a corretagem de imóveis no Brasil e a própria profissão de corretor de imóveis. Período Colonial Primeiro registro da a�vidade de corretagem imobiliária Com a chegada da família real portuguesa, o primeiro corretor do Brasil passou a intermediar a indenização dada por famílias portuguesas aos residentes desalojados de suas residéncias para abrigá-los. Período Colonial Crescimento e desenvolvimento de cidades brasileiras Em poucos anos, as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro mais do que dobraram de tamanho em relação ao número de habitantes. Período Colonial Surgimento da figura do agente imobiliário Profissionais de outras áreas começaram a se especializar na a�vidade de corretagem imobiliária. Surge, então, a figura do agente imobiliário: o profissional que passa a se dedicar exclusivamente a essa a�vidade. Anos 1930-1940 Primeiras ins�tuições Fundação do Sindicato de Corretores de Imóveis do Rio de Janeiro, em 1936, e da Associação Profissional dos Corretores de Imóveis, em São Paulo, em 1938, e formalizado como sindicato em 1942. 11 Anos 1940 Reconhecimento e organização da profissão O trabalho dos sindicatos e a relação entre eles favoreceu a organização da profissão de corretor de imóveis e o seu reconhecimento na sociedade. Anos 1950 Primeiros Projetos de Lei Nos anos 1950, inicia-se a apresentação dos primeiros projetos de lei no Congresso que tratavam da regulamentação da profissão de corretor de imóveis. Anos 1960 Aprovação da primeira legislação Aprovação e publicação da primeira legislação de regulamentação da profissão de corretor de imóveis, a Lei nº 4.116, de 27 de agosto de 1962. Anos 1960 Estruturação do Cofeci e do Creci No dia 26 de outubro de 1962, ocorreu a primeira reunião do Cofeci (Conselho Federal de Corretores de Imóveis do Brasil), dando origem aos Crecis. A regulamentação da profissão deixa de ser exercida pelos sindicatos e passa a ser tarefa do Cofeci e dos Crecis, por força da recente legislação aprovada. Período marcado por grande urbanização do país, deixando o Brasil de ter a população majoritariamente rural para se tornar um país com a população predominantemente urbana. Uma das consequências disso foi o aumento das cidades, a necessidade de novos imóveis des�nados à moradia, o desenvolvimento do comércio e dos serviços para atender a essa nova população urbana. Anos 1970 Aprovação da nova legislação especial Aprovação da Lei nº 6530/1978, que deu nova regulamentação à profissão de corretor de imóveis e é vigente até a atualidade. Entre outros aspectos, a lei prevê a obrigatoriedade do �tulo de técnico emtransações imobiliárias e a inscrição no órgão competente para o exercício da profissão. Anos 1980 e 1990 Consolidação da profissão e dos órgãos regulatórios Criação de 24 Conselhos Regionais de Corretores de Imóveis, um em cada capital do país, consolidando seu papel fiscalizatório. Anos 2000 - Atualidade Novos caminhos A profissão é dinâmica, o uso de novas ferramentas e meios de fazer negócio se modificam. Nos úl�mos anos, destacam-se a grande especialização da a�vidade, o surgimento de novos cursos e estratégias e o uso de plataformas digitais. 12 Por meio dessa linha do tempo, você pôde visualizar os principais eventos re- lacionados à corretagem imobiliária no Brasil e a as influências na evolução da profissão de corretor. Com isso, é possível concluir e observar que a história da corretagem imobi- liária é, também, a história da própria profissão de corretor e sua evolução. 2. O Corretor Imobiliário O corretor de imóveis é o profissional ético, honesto e disposto que realiza todos os atos necessários para a intermediação de negócios imobiliários, promovendo através do seu trabalho a realização de transações comerciais imobiliárias. 2.1 Conceito de Corretagem Etimologicamente oriunda do espanhol “corretaje”, a palavra corretagem é compreendida na língua portuguesa como a atividade ou função de corre- tor, ou como a comissão recebida pelo trabalho do corretor, ou ainda como o acordo realizado entre pessoas no sentido de negócio. Sendo assim, nesta aula, a corretagem realizada pelo corretor imobiliário deve ser compreendida como o acordo entre pessoas naturais ou jurídicas para a compra e venda de bens imóveis. Todavia, nada obsta a sua utilização no sentido de ofício do corretor ou, ainda, pode significar o próprio salário, honorários, comissão a que o corretor faz jus ao aproximar as partes interes- sadas ao final de uma transação imobiliária. O Código Civil Brasileiro vigente, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, em seu Capítulo XIII disciplina o Instituto ‘Corretagem’ nos artigos 722 a 729. 2.2 Características Profissionais do Corretor HABILITAÇÃO LEGAL: para o exercício da profissão, o corretor de imóveis precisa estar legalmente habilitado, para tanto, deve possuir diploma de téc- nico ou de nível superior na área de transação imobiliária e, posteriormente, inscrever-se no CRECI. INTERMEDIAÇÃO DE NEGÓCIOS PARA TERCEIROS: após o atendimento das exigências para habilitação legal, o corretor se encontra apto para agenciar ne- gócios para terceiros, aproximando os interessados na transação imobiliária. AUTONOMIA: trata-se de um profissional dono de sua própria atividade, que pode trabalhar individualmente, ou ainda em conjunto com outras pessoas em casa, escritório, empresa imobiliária, construtora, trabalhando em siste- ma de parceria. Em regra, o corretor de imóveis é um profissional liberal au- tônomo, todavia nada impede que excepcionalmente um corretor de imóveis trabalhe com carteira assinada pelo regime celetista sob a proteção da Con- solidação das Leis Trabalhistas. 13 Confira, a seguir, uma situação fática relacionada às fases da negociação, na qual é possível visualizar a discussão sobre a comissão devida ao corretor imobiliário. Essa decisão foi proferida no âmbito do processo de nº 1015769-21.2016.8.-26.0309, julgado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. A Ação Judicial Na ação judicial, os autores pediam a condenação das reclamadas ao pa- gamento de comissões em razão da intermediação de negócio imobiliá- rio. Alegaram que apresentaram o comprador às reclamadas. Em um pri- meiro negócio, o comprador adquiriu dois imóveis das reclamadas e es- tas, por sua vez, pagaram aos requerentes. Então, as partes autoras buscavam, com a ação de cobrança, receber as comissões pela compra dos dois outros imóveis vendidos, alegando que haviam sido oferecidos ao comprador por eles, bem como que a aproxi- mação do comprador e dos requeridos aconteceu por seus atos. A Defesa Na defesa, os requeridos alegaram, em suma, que os requerentes não participaram da segunda negociação, não exercendo um papel de inter- mediação no negócio. Sustentaram que houve uma mera aproximação inicial que resultou na venda dos dois primeiros imóveis, com o paga- mento das comissões. Entretanto, quanto aos dois últimos imóveis, não teria havido efetiva intermediação dos requeridos. Sentença e Recurso Em primeira instância, o pedido dos autores foi julgado improcedente, tendo o juízo de primeira instância reconhecido que não houve efetiva intermediação que ocasionasse o resultado útil do processo. A reclamante recorreu, reiterando seus argumentos da petição inicial e apontando as provas e argumentos para a reforma da decisão. Resultado do julgamento Ao analisar o recurso, a Turma do Tribunal de Justiça manteve a sentença de origem. O TJ, ao analisar o caso, ressaltou que as provas presentes nos autos demonstraram que, apesar da aproxi- mação inicial entre as partes contratantes do negócio de compra e ven- da, os requerentes efetivamente não intermediaram o negócio. Segundo entendimento do TJ, o resultado útil da venda não ocorreu por intermediação e convencimento das condições do negócio pelos re- 14 querentes, que dele não participaram a não ser pela mera aproximação inicial das partes. Desse modo, o recurso de apelação apresentado pelo requerente foi julgado improcedente. Veja a seguir a ementa desta decisão. Neste caso, foi possível reconhecer que a atividade da intermediação de imóvel é composta por várias fases, iniciando na aproximação das partes, passando pelo fechamento do negócio, isto é, pela negociação e pela intermediação da negociação para que o negócio se concretize. Levado em conta essas fases, foi possível reconhecer que, muitas vezes, a mera aproximação não é considerada suficiente para o pagamento de comissões. 2.3 Espécies de Corretores CORRETORES OFICIAIS: são profissionais investidos de fé pública próprias do seu ofício, dentre eles: os corretores de fundos públicos, nos termos da lei n.º 4.728/65; os corretores de mercadorias, conforme regulamenta o de- creto-lei n.º 806 de 1.851; os corretores de câmbio, disciplinados pela lei n.º 5.601/70; e os corretores de seguro, nos termos da lei n.º 5.594/64. CORRETORES LIVRES: são profissionais que atuam em negócios próprios, promovendo a aproximação das partes e fazendo jus à remuneração pelo trabalho prestado, dentre eles: os corretores de automóveis, os agentes literá- rios, os agentes de espetáculos públicos e os corretores de imóveis. 2.4 Legitimidade para o Exercício da Profissão A profissão de corretor de imóveis só pode ser exercida por quem estiver le- gitimado após habilitação e inscrição, sujeitando-se às normas dos Conselhos Regionais e do Conselho Federal, de tal forma que, quem não atende às exi- gências do Conselho, ou nele não está inscrito, não poderá desenvolver as atividades privativas da profissão, respondendo civil e criminalmente, quer pelos ilícitos no desempenho profissional, quer pelo exercício profissional sem a devida inscrição. 15 Quando flagradas ou denunciadas as pessoas sem legitimidade para o exer- cício da profissão, sofrem contra si a instauração de uma ação penal pública, pela prática de contravenção, nos termos do Capítulo VI ‘Das Contravenções Relativas à Organização do Trabalho’ da Lei das Contravenções Penais, que em seu artigo 47 estabelece in verbis: Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis. 2.5 O Exercício da Profissão • FORMAS DE EXERCER 1º Individualmente, de forma autônoma, em casa ou escritório; 2º Conjuntamente, de forma autônoma, com rateio das despesas e participação nos negócios de outras pessoas físicas; 3º Em parceria com uma pessoa jurídica; 4º Como empregado, com carteira assinada, pelo regime celetista sob a proteção da Consolidação das Leis Trabalhistas. A avaliação do melhor método para seu estilo de trabalho é subjetiva e vai depender dos interesses e conveniências do professional. • A REMUNERAÇÃO A remuneração ocorre como resultado do trabalho satisfatório de interme- diação de uma transação imobiliária realizada pelo corretor de imóveis. Essa remuneração é chamada de comissão, honorários, taxa de administração ou até salário, a depender da forma de exercício da profissão e da transação imo- biliária realizada. 1º COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS USADOS: em regra, quem paga os honorários do corretor é o proprietário do imóvel, salvo acordo diverso. 2º VENDAS DE IMÓVEIS NOVOS PERTENCENTES ÀS CONSTRUTORAS: em regra, a remuneração está incluída no preço de tabela. 3º VENDAS EM LOTEAMENTOS: existem formas diferenciadas, por exemplo, a comissão equivalente ao valor da entrada repassada para a imobiliária responsável pelo lançamento que deverá pagar o corretor, entre outras. 4º LOCAÇÕES DE IMÓVEIS: a taxa de administração é paga pelo proprietário locador. A Lei do Inquilinato n.º 8.245, de 18 de outubro de 1991 no artigo 22 estabelece tal obrigação expressamente ao locador: 16 Art. 22. – O locador é obrigado a: (...) VII – pagar as taxas de administração imobiliária, se houver, e de intermedia- ções, nestas compreendidas as despesas necessárias à aferição da idoneidade do pretendente ou de seu fiador. Os demais serviços que o corretor faz jus à remuneração estão disciplinados nas tabelas do sindicato da classe e homologadas pelos Conselhos Regionais. Direito do Corretor Imobiliário ao Recebimento da Comissão pelo Traba- lho Prestado Felipe é um jovem que resolveu se tornar corretor imobiliário, seguindo os passos de seu avô Mauro, respeitado em sua cidade natal, Cabo Frio (RJ), por sempre ter prezado pela honestidade e boa-fé diante dos negôcios celebrados em sua imobiliária. Em 2011 , Felipe abriu sua primeira imobiliária também em Cabo Frio, região turística do estado. Todavia, em 2015, deparou-se com uma situação que ja- mais imaginou vivenciar, sentindo-se desrespeitado e desvalorizado no exer- cício de sua atividade profissional. Acerto Em 26 de setembro de 2015, Felipe foi procurado por Luciana, que tinha a intenção de vender sua casa de praia. O corretor se disponibilizou a captar interessados em adquirir o imóvel e comunicar a proprietária. Aproveitando, solicitou os documentos inerentes à casa. Em 2 de outubro do mesmo ano, Antônio esteve na imobiliária, interessado na casa de Luciana. Felipe forneceu todas as informações sobre o imóvel e documentação regularizada (escritura, registro). não apresentando ônus. Antônio, então, ficou de entrar em contato novamente assim que t ivesse uma definição. Desse modo, o corretor entrou em contato com Luciana, infor- mando que surgira um interessado. 17 Problema Em 1 O de outubro, Antônio se dirigiu à propriedade para mostrá-la à esposa, quando encontrou, por acaso, Luciana. Ambos trocaram contatos e fecharam negócio dez dias depois sem comunicar o corretor. Felipe tomou ciência da venda do imóvel e, in- dignado, procurou Luciana a fim de receber a sua comissão, tendo em vista que colaborou para o êxito da negociação. Contudo, não ob-teve sucesso, pois ela alegou que a venda foi realizada diretamente por ela. Assim, Felipe, ciente de seus direitos, moveu uma ação exi- gindo o pagamento da comissão. Resultado: Verificou -se que a cliente Luciana agiu de má- fé, tendo em vista ser direito do corretor receber a sua comissão, já que, por mais que não tenha vendido a propriedade diretamente a Antônio, contribuiu possibilitando que o negócio fosse concluído com êxito. Conclusão É importante o corretor imobiliário estar ciente dos seus direitos e deveres, de modo a saber quando pode exigir da outra parte determinada postura, evi- tando conflitos e prejuízos desnecessários. O corretor deve estar preparado para enfrentar diversas situações, pois ven- der e locar imóveis não é uma tarefa simples, que apresenta, no decorrer da relação negocial, inúmeras dificuldades. Por isso, um profissional capacitado e conhecedor de seus direitos e deveres desempenha suas funções da forma mais harmônica e bem-sucedida. • O OVER-PRICE A terminologia Over-Price literalmente traduzida significa “Acima do Preço”, todavia, ao se aplicar tal conceito na área imobiliária, a terminologia deve ser entendida como um ganho adicional além da comissão, o qual é recebido pelo corretor de imóveis de forma camuflada sem que as partes saibam que estão pagando a mais. Destarte, qualquer ganho acima do combinado, sem o conhecimento do cliente, configura-se como over-price, o que é refutado pelo Conselho Federal dos Corretores de Imóveis e expressamente proibido pelo Código de Ética Profissional no seu Art. 6º, inciso III. 18 • ENCARGOS DO CORRETOR O Corretor de Imóveis tem obrigações fiscais, tributárias e previdenciárias, pagando: 1º PARA A PREFEITURA MUNICIPAL: o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) feito por estimativa de uma só vez ou, parceladamente, em pagamentos mensais; 2º PARA RECEITA FEDERAL: a. QUANDO O CORRETOR PRESTA SEUS SERVIÇOS A UMA PESSOA JURÍDICA: a empresa pagadora deverá fazer o pagamento mediante a emissão do RPA – Recibo de Pagamento a Autônomo, recolhendo o imposto pela rede bancária a favor da Receita Federal; b. QUANDO O CORRETOR PRESTA SEUS SERVIÇOS A UMA PESSOA FÍSICA OU NÃO HAVENDO A RETENÇÃO DO IMPOSTO: cabe ao corretor declarar os rendimentos na sua declaração anual de imposto de renda. Na declaração anual de imposto de renda, é obrigatória a indicação da fonte pagadora da remuneração pela intermediação imobiliária, devendo constar da declaração, o nome e o CPF de quem efetuou o pagamento, bem como o valor recebido. 3º PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL: o corretor de imóveis inscrito no INSS deve pagar o recolhimento mensal da sua contribuição por meio de carnê. 3. Atores Envolvidos na Corretagem Imobiliária A corretagem é um contrato de prestação de serviços em que participam ne- cessariamente pelo menos três figuras: o corretor, o contratante e o terceiro. O art. 722 do Código Civil Brasileiro estipula que: “Pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-se a obter para a segunda um ou mais negócios, conforme as instru- ções recebidas”. A definição geral do contrato de corretagem fixada pelo legislador civilista se aplica perfeitamente aos corretores de imóveis, ressalvadas as especificida- des previstas na legislação especial e em outras normas regulatórias emitidas pelos órgãos competentes. Trata-se de um contrato que se caracteriza pela prestação de serviços fixan- do-se a seguinte relação de dependência: o corretor de imóveis intermedia o negócio de tal forma a viabilizá-lo aproximando as partes de acordo os inte- resses mútuos; do contratante (comprador, vendedor, locador, locatário etc.) e do terceiro (interessado em realizar o negócio). Assim, identificamos como o primeiro agente envolvido na corretagem imobiliária o próprio corretor 19 de imóveis, sendo os demais propriamente as partes que efetuam o contrato principal que foi intermediado, de compra, venda, permuta ou locação. A formação do contrato de corretagem envolve três etapas: 1º A APROXIMAÇÃO DAS PARTES: é o momento inaugural em que ao corretor de imóveis cumpre a função de identificar e reunir as partes numa relação que viabilize a realização do negócio. A atividade se inicia com a oferta do imóvel através de qualquer meio de publicização, visando alcançar, se houverem, as especificações dadas pelo terceiro interessado. A aproximação das partes se dá pela intermediação das tratativas iniciais. Ha- bitualmente, neste momento, as partes fazem o levantamento da documen- tação imobiliária e pessoal dos agentes envolvidos, sendo possível a exigência do pagamento de arras ou sinal, a fim de assegurar a realização do negócio imobiliário. O FECHAMENTO DO NEGÓCIO: é o momento da criação do vínculo jurídico por meio da proposta e de sua aceitação com a sua assinatura pelos principais atores envolvidos. A EXECUÇÃO DO CONTRATO: neste último momento é que o negócio será considerado efetivado e adimplido por meio da assinatura do contrato final ou escritura pelos principais atores envolvidos. Assim compreende-se a exe- cução do contrato através da sua efetiva assinatura. Em seguida à assinatu- ra é realizado o pagamento da comissão de corretagem remunerando-se o corretor, independentemente da possibilidade de arrependimento futuro de qualquer das partes. 3.1 Responsabilidade do Profissional O profissional corretor de imóveis pode ser responsabilizado civilmente, cri- minalmente e administrativamente através da aplicação de sanções discipli- nares em razão do cometimento de faltas no desempenho de suas condutas. A determinação da sanção aplicável orientar-se-á pelas circunstâncias de cada caso concreto. Atenção! No exercício da profissão, o corretor de imóveis deve intermediar a transação de forma a viabilizar a realização do negócio imobiliário. Numa negociação há o risco de transformá- la numa disputa. Mas, quando se pergunta algo, além de se obter mais informações, pode- se dirigir o pensamento do outro. Modelar o comportamento é fundamental para provocar no outro as reações que desejamos ou que precisamos para dar seguimento às negociações. Pense nisso!