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<p>O Evangelho</p><p>da Justiça de Deus</p><p>ELIENAI CABRAL</p><p>ROM ANOS</p><p>O Evangelho</p><p>da Justiça de Deus</p><p>1:1.1 ÊNAl CABRAL</p><p>SÉRIE</p><p>Comentário</p><p>Bíblico</p><p>ROMANOS</p><p>O Evangelho</p><p>da Justiça de Deus</p><p>tllt;N A ! CABRAL</p><p>CB€)</p><p>Todos os direitos reservados. Copyright © 1986 para a língua portuguesa da Casa</p><p>Publicadora das Assembléias de Deus.</p><p>225.7 Comeniário do Novo Testamento</p><p>Cabral. Elienai. 1945 -</p><p>CABc Comentário Bíblico.../Elienai Cabral</p><p>1 ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das</p><p>Assembléias de Deus. 1986.</p><p>p. 152. cm. 14x21</p><p>1. Comentário 2. Romanos</p><p>CDD</p><p>225.7 - Comentário do Novo Testamento</p><p>227.1 - Romanos</p><p>Casa Publicadora das Assem bléias de Deus</p><p>Caixa Postal 331</p><p>20001-970, R io de Janeiro. RJ, Brasil</p><p>8* Edição 2005</p><p>índice</p><p>Apresentarão........................................................................................ 9</p><p>). Introdução geral............................................................................. 11</p><p>2. Introdução à Carta (1.1-17).......................................................... 19</p><p>•'!. A Doutrina do Pecado (1.18 - 3.20)............................................. 29</p><p>4. A Doutrina da .Justificação (3.21 - 5.21).................................... 49</p><p>õ. A Doutrina da Santificação (6.1 - 8.39)..................................... 69</p><p>í>. A Doutrina da Salvação em relação a Israel (9,10 e 11)......... 101</p><p>7. A Doutrina do Serviço Cristão (12.1 - 16.27!........................... 131</p><p>Bibliografia.......................................................................................... 151</p><p>ÍNDICE DAS ABREVIATURAS</p><p>USADAS NESTE LIVRO</p><p>VELHO TESTAMENTO</p><p>Gn - Gêneais Ec - Eclesiastes</p><p>Ex - Êxodo Ct - Cantares</p><p>Lv - Levitico Is - Isaías,</p><p>Nm - Números Jr - Jeremias</p><p>Dt - Deuteronômio Lm - Lamentações de Jeremias</p><p>Js - Josué Ez - Ezequiel</p><p>Jz - Juizes Dn - Daniel</p><p>Rt - Rute Os - Oséias</p><p>1 Sm - 1 Samuel J1 - Joel</p><p>2 Sm - 2 Samuel Am - Amós</p><p>1 Rs - 1 Reis Ob - Obadias</p><p>2 Rs - 2 Reis Jn - Jonas</p><p>1 Cr - 1 Crônicas Mq - Miquéias</p><p>2 Cr - 2 Crônicas Na - Naum</p><p>Ed - Esdras Hc - Habacuque</p><p>\!e - Neemias Sf - Sofonias</p><p>Et - Ester Ag - Ageu</p><p>Jó - Jó Zc - Zacarias</p><p>SI - Salmos Ml - Malaquias</p><p>Pv - Provérbios</p><p>NOVO TESTAMENTO</p><p>Mt - Mateus</p><p>Mc - Marcos</p><p>Lc - Lucas</p><p>Jo - João</p><p>At - Atos</p><p>Rm - Romanos</p><p>1 Co - l Cormtios</p><p>2 Co - 2 Cormtios</p><p>GI - Gálatas</p><p>Ef - Efésios</p><p>Fp - Filip«nses</p><p>Cl - Colossenses</p><p>1 Ts - l Tessalonicenses</p><p>Ts - 2 Tessalonicenaes</p><p>1 Tm - 1 Timóteo</p><p>2 Tm - 2 Timóteo</p><p>Tt - Tito</p><p>Fm - Filemon</p><p>Hb - Hebreus</p><p>Tg - Tiago</p><p>1 Pe - 1 Pedro</p><p>2 Pe - 2 Pedro</p><p>1 Jo - 1 João</p><p>2 Jo - 2 João</p><p>3 Jo - 3 João</p><p>Jd - Judas</p><p>Ap - Apocalipse</p><p>No dia-a-dia de nossa vida terrena, nós, ministros de</p><p>Cristo, responsáveis pela vocação recebida, sentimos o</p><p>peso c a responsabilidade da ministração da Palavra de</p><p>Deus nesta fase de controvérsias e falsas doutrinas.</p><p>A Carta aos Romanos nos apresenta uma teologia pro­</p><p>funda e prática. Nela desvenda-se o plano divino da reden­</p><p>ção do homem através da justificação e da posterior santi­</p><p>ficação. Nessa carta, as discriminações são desfeitas, pois,</p><p>tanto judeus como gentios, são alcançados pelo Evangelho</p><p>da Graça de Deus.</p><p>O comentário da Carta aos Romanos veio preencher</p><p>um vazio na nossa literatura teológica, com uma lingua­</p><p>gem acessível aos leigos e aos estudantes da Bíblia.</p><p>O autor, mais uma vez se lança destemido, mas orto­</p><p>doxo em sua linha doutrinária.</p><p>Para mim, constitui-se uma dupla honra a apresenta­</p><p>ção deste livro. Primeiramente, pelo fato de apresentar</p><p>9</p><p>um a obra d e va lor teológico e indispensável ao estudo da</p><p>m iU i E m segundo lugar, porque o autor e meu filho.</p><p>Recomendo esta obra porque e boa semente e devemos</p><p>semeá-la em nossos corações e em nosso ministério.</p><p>Osmar Cabral</p><p>10</p><p>Introdução</p><p>Geral</p><p>A maior e mais profunda epístola do apóstolo Paulo</p><p>foi a aos romanos. Destaca-se por seu alto nível doutriná­</p><p>rio. Na esfera da teologia é a mais significativa obra já pro­</p><p>duzida. Eminentes mestres da Bíblia têm feito declarações</p><p>que valorizam ainda mais a obra de Paulo e aguçam o inte­</p><p>resse do leitor.</p><p>Emil Brunner disse: “Não há um documento na histó­</p><p>ria espiritual do homem em que estejam tâo mesclados e</p><p>combinados, como nesta carta, o sentimento apaixonado,</p><p>o pensamento vigoroso e a vontade inexorável”. 0 famoso</p><p>bispo Nygren disse: “Na Epístola aos Romanos aprende-se</p><p>a conhecer, como em nenhuma outra parte, o que é o</p><p>Evangelho, e qual é o conteúdo da fé cristã”. John Knox</p><p>opina: “Ê o principal livro de texto para o estudo do Evan­</p><p>gelho de Paulo, em conseqüência, o livro teológico que ja ­</p><p>mais foi escrito”. Lutero, em sua tradução do Novo Testa­</p><p>mento, escreveu: “A Epístola aos Romanos é o principal li­</p><p>vro do Novo Testamento e o mais puro Evangelho, tão va­</p><p>11</p><p>lioso que um cristão não só deveria saber de memória cada</p><p>palavra dela, mas tê-la consigo diariamente, como o pão</p><p>cotidiano de sua alma”. Calvino disse: “Se alguém tem al­</p><p>cançado uma verdadeira compreensão da Epístola, tem-</p><p>se-lhe aberto uma porta para aproximar-se dos tesouros</p><p>mais preciosos das Escrituras . Clifton -J. Allen, em seu</p><p>“O Evangelho Segundo Paulo”, escreveu: “Esta carta não</p><p>é um tratado seco sobre abstrações teológicas; é uma obra</p><p>clássica de teologia e um tratado primoroso que pulsa com</p><p>vida. Sente-se aqui o calor vivo da verdade redentora. E o</p><p>testemunho de um destemido pioneiro espiritual. Ouve-se</p><p>aqui o eco da certeza da experiência própria. Para aqueles</p><p>que desejam aprender, a Carta aos Romanos é persuasiva e</p><p>convincente. Para os que são espiritualmente sensíveis, ela</p><p>acusa a consciência e inspira ação. Para os perplexos e de-</p><p>sesperançosos, ela fala com certeza e consolação” . Estes</p><p>testemunhos e tantos outros qualificam a Carta aos Roma­</p><p>nos como a epístola cujo conteúdo doutrinário é o mais am­</p><p>plo sobre a salvação, sendo este seu tema central, apresen­</p><p>tando, com isto, um sentido missionário. Cinco importan­</p><p>tes doutrinas bíblicas são apresentadas na carta e obede­</p><p>cem a uma ordem cronológica especial, visto a imperiosa</p><p>necessidade da igreja em Roma. Alguns problemas de or­</p><p>dem doutrinária obrigaram Paulo a escrever à igreja, para</p><p>dirimir dúvidas existentes.</p><p>O AUTOR</p><p>A melhor maneira de compreender esta carta é conhe­</p><p>cer o seu autor. Muitos livros têm sido escritos sobre a vida</p><p>deste grande homem de Deus. Suposições históricas têm</p><p>sido levantadas para realçar a nobreza deste grande após­</p><p>tolo. Entretanto, tudo o que se conheceu acerca de Paulo</p><p>encontra-se no Novo Testamento.</p><p>Paulo era judeu de sangue, da tribo de Benjamim (Rm</p><p>11.1), e natural de Tarso, na Cilíeia. Em Jerusalém, foi fa­</p><p>riseu zeloso, tendo como mestre o respeitável Gamaliel (At</p><p>22.3; 26.4,5). Era conhecido e respeitado por seu zelo extre­</p><p>mo da religião judaica. Por essa razão, foi implacável per­</p><p>seguidor dos cristãos antes de se converter ao cristianismo</p><p>(At 7.58; 8.1; 9.1; 22.4; G1 1.18; F1 3.6; 1 Tm 1.13).</p><p>12</p><p>Paulo foi contemporâneo de Jesus em sua vida terres­</p><p>tre. e certamente conhecia a sua fama entre os judeus. Não</p><p>foi possível provar até hoje que Paulo tivesse conhecido Je­</p><p>sus pessoalmente, senão pela fama do seu ministério itine­</p><p>rante na Palestina. Na realidade, Paulo o conheceu verda­</p><p>deiramente no caminho de Damasco. O Senhor já havia</p><p>ressuscitado e subido ao Pai, quando o implacável “Saulo</p><p>de I arso preparou-se para mais uma investida cruei con­</p><p>tra os primeiros crentes. Mas foi detido pela poderosa luz</p><p>do Rei dos reis, Jesus, o Salvador. Uma transformação</p><p>imediata e regeneradora aconteceu, e ele converteu-se a</p><p>Cristo (At 9.1,29; G1 1.11; 2.1).</p><p>Acompanhando seus passos nos Atos dos Apóstolos e,</p><p>posteriormente em suas cartas, descobrimos em Paulo</p><p>uma personalidade marcante que muito influiu em seu m i­</p><p>nistério. Há algo de singular neste gigante da Igreja primi­</p><p>tiva. Características fascinantes desse grande apóstolo se</p><p>descobrem em cada uma das suas cartas. Estas caracterís­</p><p>ticas vislumbram num misto de austeridade e ternura, de</p><p>severidade e flexibilidade, de intransigência e sensibilida­</p><p>de. Km suma,</p><p>an­</p><p>dar. E o caminho da fé na Pessoa de Jesus, o qual está</p><p>aberto para todo aquele que crê em Cristo. Não há acepção</p><p>de pessoa, raça, língua, cor ou privilégio. Todos os homens</p><p>têm o direito de palmilhar essa senda, tánto judeu como</p><p>gentio. Esse caminho é a provisão divina para o mundo pe­</p><p>cador. É a provisão que corrige o relacionamento entre</p><p>Deus e o homem. O pecado afastou o homem de Deus e</p><p>cortou a comunhão entre ambos. Mas essa provisão tomou</p><p>possível uma nova comunhão com Deus, através de Jesus</p><p>Cristo. Ele obteve para o pecador a justificação fazendo-se</p><p>expiação de nossa culpa pelo seu sangue. Podemos compa­</p><p>recer diante de Deus através dos méritos de Jesus.</p><p>III - ( ) TR ÍPLIC E SENTIDO DA PALAVRA JUSTIÇA</p><p>(3.22)</p><p>O versículo 22 diz: “justiça de Deus mediante a fé em</p><p>Jesus Cristo, para todos (e sobre todos) os que crêem, por­</p><p>que não há distinção” .</p><p>Consideremos alguns aspectos deste versículo desta­</p><p>cando partes dele, para que se compreenda melhor o senti­</p><p>do de cada frase.</p><p>53</p><p>Destaca-se inicialmente a expressão “justiça de</p><p>Deus” (v 22). No versículo anterior (v 21) o texto diz: “ ...se</p><p>manifestou a justiça de Deus” . A palavra justiça é empre­</p><p>gada na Bíblia em três sentidos:</p><p>O primeiro sentido de justiça refere-se à “ justiça pró­</p><p>pria” . Esse tipo de justiça baseia-se no cumprimento dos</p><p>requisitos e exigências da Lei. Porém, qual o homem que</p><p>poderá gabar-se de ter cumprido toda a Lei? - Nenhum!</p><p>Portanto, a jactância da justiça pessoal é quebrantada,</p><p>visto que esse tipo de justiça pessoal nada consegue me­</p><p>diante a Lei das obras, mas somente pela fé na obra de</p><p>Cristo.</p><p>O segundo sentido de justiça refere-se à “justiça de</p><p>Deus". Esse tipo de justiça refere-se à justiça imputada ao</p><p>pecador. É a justiça atribuída ao pecador mediante a fé em</p><p>Cristo.</p><p>O terceiro sentido de justiça refere-se à “justiça do</p><p>crente" Essa forma de justiça diz respeito aos resultados</p><p>da manifestação da justiça de Deus na vida do pecador</p><p>apresentando Jesus como o Salvador (Rm 8.4; Fp 1.11).</p><p>Que justiça é esta? - Ê a justiça que coloca o crente acima</p><p>da lei do pecado. É a justiça que o torna capaz de andar na</p><p>presença de Deus. A justiça do crente não é a justiça pró­</p><p>pria, mas a justiça baseada no sangue de Jesus. É a justiça</p><p>que coloca o homem numa correta relação com Deus.</p><p>IV - A NECESSIDADE UNIVERSAL DA JUSTIFICA­</p><p>ÇÃO (3.22,23)</p><p>As palavras finais do v 22 dizem: “ ...não há</p><p>distinção” . - Que entendemos nestas palavras? A resposta</p><p>está no v 23 que diz: “ ...pois todos pecaram e carecem da</p><p>glória de Deus” . Não há diferença, gentio ou judeu, pois</p><p>todos pecaram. A misericórdia de Deus é para todos e in­</p><p>dependem de distinções ou privilégios.</p><p>No pego as palavras todos pecaram são “pantes hè-</p><p>marton e dão a idéia de que todos participaram da trans­</p><p>gressão de Adão, e, como indivíduos, pecaram.</p><p>A expressão “ carecem da glória de Deus” diz respeito</p><p>à necessidade de recuperação do primeiro estado de glória</p><p>do homem antes da queda. Em Isaías 43.7 está escrito:</p><p>54</p><p>"...os cnei para minha glória” . O sentido de glória aqui</p><p>nada tem a ver com ostentação, realeza. Mas tem um sen­</p><p>tido moral e espiritual. Diz respeito ao fato de o homem ter</p><p>perdido o ideal de Deus para sua vida, para o qual Deus o</p><p>criou.</p><p>“Todos pecaram” é uma expressão que nos leva a en­</p><p>tender o significado de “ pecado” . No grego, a palavra pe­</p><p>cado é “ hamartia” . que quer dizer: errar o alvo. Quando o</p><p>texto diz literalmente que “ todos pecaram” entendemos</p><p>que todos, pelo pecado, perderam a visão do alvo. A glória</p><p>de Deus foi perdida pelo homem quando pecou, por isso</p><p>que todos "carecem da glória de Deus” . Isto é, todos preci­</p><p>sam voltar ao primeiro estado espiritual de comunhão com</p><p>Deus.</p><p>V - OS TRÊS MODOS DA JUSTIFICAÇÃO (3.24-31)</p><p>Os três modos da justificação são: a graça, o sangue e</p><p>a fé. Nesses três modos está a operação das três Pessoas da</p><p>Trindade. A graça que vem da parte do Pai; o sangue re­</p><p>dentor derramado pelo Senhor Jesus Cristo; a fé, operada</p><p>pelo Espírito Santo.</p><p>1. Justificados pela graça (3.24)</p><p>“ Justificados gratuitamente por sua graça” . A graça</p><p>de Deus é o seu favor para com o pecador, independente de</p><p>merecimento. Por isso, o pecador é justificado “ gratuita­</p><p>mente” . Não que Deus tenha mudado em relação a operar</p><p>sua justiça, ou que se tenha tornado indiferente para com o</p><p>pecado. Sua justiça é imutável contra o pecado, mas ela é</p><p>aeessorada pela sua misericórdia, isto é, pela sua graça. A</p><p>justificação se tornou possível por um preço infinito, que</p><p>nenhum homem pecador podia pagar. Esse custo imenso</p><p>da dívida do homem foi pago por Jesus.</p><p>O texto diz: “ ...mediante a redenção que há em Cristo</p><p>Jesus” (v 24). O ato justificador da graça de Deus baseia-</p><p>se na redenção efetuada por Jesus no Calvário.</p><p>A palavra redenção tem várias significações na Bíblia.</p><p>Na língua grega, redenção pode ser “agorazõ” que significa</p><p>retirar do mercado, isto é, comprar e não deixar mais ex­</p><p>posto a outras vendas (G1 3.13; 4.5; E f 5.16; Cl 4,5). Outra</p><p>palavra grega é “lustroo” que significa: desamarrar on so^</p><p>tar (Lc 24.21; T t 2.14; 1 Pe 1.18). Portanto, a obra redento­</p><p>ra foi efetuada por Jesus. Sem ela, não haveria a manifes­</p><p>tação da graça de Deus. A justificação dos pecadores obe­</p><p>deceu ao método divino que exigia o cumprimento da jus­</p><p>tiça. Independente de qualquer mérito humano. Deus deu</p><p>sua graça mediante a “ redenção” em Cristo Jesus.</p><p>2. Justificados pelo sangue (3.25)</p><p>“ ...a quem Deus propôs no seu sangue, como propicia­</p><p>ção” . No sangue está a base e a causa da justificação. O</p><p>autor da Epístola aos Hebreus escreveu: “ Sem derrama­</p><p>mento de sangue, não há remissão de pecados” (Hb 9.22).</p><p>Duas palavras se destacam no v 25. São as palavras sangue</p><p>e propiciação. Essas palavras estào unidas pelo objetivo da</p><p>redenção. A tradução da palavra grega. “Hilastèrion” para</p><p>propiciação é aquilo que expia ou propicia. Esta palavra</p><p>tem referência com o lugar da propiciação, mais conhecido</p><p>como o propiciatório (Hb 9.5). - Que era o propieiatório? -</p><p>Era a cobertura, ou a tampa da Arca do Concerto do povo</p><p>de Israel. No AT, no dia da Expiação (Lv 16.14), o sumo</p><p>sacerdote, representando a si mesmo e a todo o povo de Is­</p><p>rael, entrava no Santo dos Santos (ou Lugar Santíssimo),</p><p>tendo na mão uma bacia contendo o sangue do animal</p><p>morto, para expiação. Depois de chegar ao Lugar Santíssi­</p><p>mo, de frente para esse iugar, e depois de todo o propicia­</p><p>tório ter sido coberto pela fumaça do incenso, o sumo sa­</p><p>cerdote molhava o dedo no sangue e aspergia o propiciató­</p><p>rio. Figuradamente, Cristo entrou no Lugar Santíssimo</p><p>como sumo sacerdote (Hb 7.25,26,27) e com o seu próprio</p><p>sangue cobriu (expiou) os nossos pecados da presença de</p><p>Deus (Hb 9.11,12). Com a morte de Cristo deu-se a vindita</p><p>(punição legal) exigida pela santidade e pela justiça de</p><p>Deus, conforme ensinava a Lei (Rm 3.24-26). Através do</p><p>sangue de Cristo, tornou-se possível chegar a Deus. Note­</p><p>mos que o sangue de animais apenas cobria os pecados da</p><p>presença de Deus, mas não os tirava. Mas com o Sangue de</p><p>Cristo a expiação teve um novo sentido, indicando que a</p><p>justiça de Deus foi realmente satisfeita no Calvário. Por</p><p>isso se tornou propiciação para nós (Rm 3.25; Hb 10.4). O</p><p>derramamento de sangue era a exigência da Lei para a re­</p><p>missão dos pecados. Jesus cumpriu toda a Lei derramando</p><p>56</p><p>o seu proprio sangue. Deus enviou seu Filho Jesus para</p><p>morrer como sacrifico propicatório. O termo pm p ic ia t& k</p><p>e. tarabem. entendido, como o moda de acalmar, aplacar a</p><p>ira divina, e isto so o sangue de Jesus foi capaz de realizar,</p><p>hssa propiciciçao so e possível “ mediante a fé em Cristo”</p><p>,Rm S.25» Portanto no sangue de Jesus « U d T o S d o</p><p>a Justiça de Deus. Lie. Jesus, e o nosso Propiciatório, o lu­</p><p>gar onde nossos pecados sao apagados. Porém esta ópera-</p><p>çao expiatória independe de atos humanos, visto que nada</p><p>podemos fazer para escapar à justiça de Deus. É um ato de</p><p>justiça que só o Filho de Deus podia</p><p>fazer (1 Jo 4.10). Por</p><p>Ele, a nossa propieiação se tornou possível pela misericór­</p><p>dia de Deus, produzindo a nossa justificação.</p><p>3. Justificados pela fé (3-,27-31)</p><p>No versículo 28, a Escritura declara: ' ‘Concluímos,</p><p>pois, que o hompm é justificado pela fé, independentemen­</p><p>te das obras da Lei” . Nessa declaração não há dúvida, nem</p><p>discussão. Entretanto, é preciso considerar a argumenta­</p><p>ção de Paulo nos demais versículos.</p><p>O versículo 27 anula toda a jactância, isto é, toda a</p><p>possibilidade de alguém querer basear a obra de justifica­</p><p>ção em méritos pessoais. O escritor da carta aos Romanos</p><p>então desafia, perguntando: - “ Onde está a jactância?”</p><p>Não há lugar para ela, visto que “ foi de todo excluída” ; -</p><p>Por que isto? - Porque a obra de justificação obedece a um</p><p>plano preestabelecido que anula a jactância pessoal e</p><p>apresenta o meio para a justificação, que é a fé.</p><p>Se a salvação pudesse ser alcançada pelas obras da</p><p>Lei ou por obras pessoais, os pecadores teriam de que se or­</p><p>gulhar.</p><p>Os judeus orgu!havam-se de seu zelo e tradição reli­</p><p>giosa. O próprio Paulo excedia a muitos pelo ardor religio­</p><p>so e a preocupação no cumprimento da Lei (GI 1.14; Fp</p><p>3,6). Mas a justificação diante de Deus exigia mais que is­</p><p>to. A própria justiça dos judeus a que era da Lei, não resol­</p><p>via a questão dos seus pecados. Era necessário a justiça</p><p>mediante a fé (Fp 3.9), e não a justiça das obras. Por isso, a</p><p>justificação é pela fé, e isto torna possível a jactância pes-</p><p>soa!. 67</p><p>As obras sem a fé são nulas diante de Deus. As obras,</p><p>mediante a fé são valorosas porque conduzem a Deus.</p><p>Fé significa aceitar com plena confiança o sacrifício</p><p>justifícador de Cristo. - Que significa ser justificado pela</p><p>fé? (3.28). - Significa receber o reconhecimento divino por</p><p>causa de Cristo. A palavra justificar no grego é: “ dikaioo”</p><p>e quer dizer declarar justo. - Como o pecador é declarado</p><p>justo diante de Deus? - Visto que o pecador não tem condi­</p><p>ção nem méritos para ser justificado, então Cristo, “ que</p><p>não conheceu pecado” , tomou os pecados do pecador sobre</p><p>si e os cravou na sua cruz, fazendo-se “ pecador por nós” .</p><p>Feito isto, Ele propiciou para nós a nossa justificação. Nos­</p><p>sa justificação baseia-se na fé na obra que Cristo fez por</p><p>nós (2 Co 5.21; Tt 3.4,5).</p><p>Nos versículos 29 e 30, o apóstolo coloca o judeu e o</p><p>gentio em igualdade diante de Deus. Ele interroga e res­</p><p>ponde: - “ É, portanto, Deus somente dos judeus? Não o é</p><p>também dos gentios? - Sim, também dos gentios” (3.29).</p><p>Se a justificação fosse apenas pela Lei, os judeus seriam os</p><p>privilegiados, e os gentios jamais teriam a possibilidade de</p><p>conhecer a Deus e serem justificados. Mas o apóstolo des­</p><p>faz essa pretensão dos judeus e os coloca junto com os gen­</p><p>tios. Seu argumento mais forte é que “ Deus é um só” (3.30)</p><p>e o direito de servi-lo e adorá-lo pertence a todos os ho­</p><p>mens. Não há diferença: nem raça, nem cor, nem língua.</p><p>Todos podem ser justificados mediante a fé em Cristo, pois</p><p>Ele morreu por todos e não só pelos judeus.</p><p>No versículo 31, Paulo levanta uma objeção quando</p><p>diz: - “ Anulamos, pois, a Lei, pela fé? - Não, de maneira</p><p>nenhuma, antes confirmamos a Lei” .</p><p>O fato da justificação efetuar-se mediante a fé não</p><p>anula a Lei, nem a desmerece. Pelo contrário, a fé se ba­</p><p>seia no fato de Cristo ter cumprido toda a Lei por todos os</p><p>homens.</p><p>A Lei não perde sua importância mediante a fé, ela</p><p>não se torna sem efeito; pelo contrário, a Lei é confirmada,</p><p>no sentido de que ela foi cumprida integralmente pelo au­</p><p>tor da fé, Jesus Cristo. Ele mesmo falou certa feita: “ Não</p><p>penseis que vim destruir a Lei ou os Profetas; não vim des­</p><p>truir, mas cumprir” (M t 5.17).</p><p>58</p><p>VI - D E M O N STR AÇ ÃO DA FÉ (4.1-25)</p><p>Neste capítulo o escritor procura argumentar</p><p>ilustrando a fe em personagens do AT. Ele destaca Abraão</p><p>e Davi. Esses dois elementos sao exemplos excelentes para</p><p>o povo judeu. Abraao, representa o ideal de vida e fé nara</p><p>o judeu. Ele é reverenciado como o pai da nacão e é chama</p><p>do o “ pai da fé” Paulo utiliza a ilustração de AbraãoTara</p><p>mostrar a justificação sem a Lei, visto que Abraão foi antes</p><p>da Lei. Portanto, o grande exemplo que Abraão dá é a</p><p>“justificação pela fé” .</p><p>1. “Justificação é pela fé e não pela moral humana”</p><p>(4.1-8)</p><p>Nos versículos I e 2, Paulo diz que, se Abraão, o pai dos</p><p>judeus segundo a carne, tivesse sido julgado por obras ou</p><p>justiça própria, teria de que gloriar-se diante de Deus. Pq-</p><p>rém, o que aprendemos é que Abraão foi como qualquer</p><p>outro homem, pecador e sem justiça nenhuma. Ele foi de­</p><p>clarado justo por meio da fé. Diz a Bíblia: “ Abraão creu</p><p>em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (4.3).</p><p>Os judeus vangloriavam-se em Abraão e criam que</p><p>isto lhes garantiria a justificação, apenas por serem “ filhos</p><p>de Abraão segundo a carne” . Os versículos 4 e 5, apresen­</p><p>tam dois modos de justificação: por méritos e por graça.</p><p>A justificação por méritos se baseia nas obras do ho­</p><p>mem para obter a sua salvação.</p><p>A justificação por graça baseia-se sobre o princípio da</p><p>fé. Deus justifica o pecador pela fé. Ele imputa justiça ao</p><p>que crê, isto é pela graça de Deus.</p><p>Nos versículos 6 a 8, o escritor mostra que os pecados</p><p>do crente foram colocados sobre Cristo, e , por isso, esta­</p><p>mos livres do pecado.</p><p>O exemplo de Davi (4.6) é destacado pelo Salmo 32 de</p><p>sua autoria. A expressão “ Bem-aventurado” é referente,</p><p>não a alguém que guardou a Lei; nem a alguém recompen­</p><p>sado por méritos humanos ou boas obras. Porém essa ex­</p><p>pressão “ Bem-aventurado” refere-se a alguém que trans­</p><p>grediu a Lei, mas que alcançou a graça de Deus, arrepen­</p><p>dendo-se dos pecados.</p><p>Davi era um pouco diferente de Abraão quanto às</p><p>59</p><p>obras. Abraão praticou algumas boas obras, mas Davi pe­</p><p>cou muitas vezes e não tinha boas obras. Porém Davi foi</p><p>justificado, não por obras de justiça que tivesse praticado,</p><p>mas pela fé.</p><p>2. “A justificação é pela fé, não por ritos religiosos”</p><p>(4.9-12)</p><p>Nos versículos 9 e 10, encontramos a palavra imputar</p><p>que significa colocar algo na conta de uma pessoa, para</p><p>que seja legalmente dessa pessoa. Portanto, imputar signi­</p><p>fica atribuir, contar, creditar.</p><p>Nesses dois versículos aprendemos que Abraão não</p><p>praticou nenhum rito religioso particular para sua justifi­</p><p>cação diante de Deus. Paulo mostra que o rito da circunci­</p><p>são era importante aos que estavam debaixo da Lei, mas</p><p>Abraão veio antes da Lei. Portanto, o rito da circuncisão</p><p>nada tem a ver com a obra da justificação. A circuncisão é</p><p>obra exterior e a justificação é obra interior. A grande lição</p><p>aqui é que ninguém será justificado diante de Deus pela</p><p>prática de ritos religiosos, mas pela fé na obra já realizada,</p><p>uma vez por todos, por nosso Senhor Jesus Cristo.</p><p>No versículo 11 diz: “ E recebeu o sinal da circuncisão</p><p>como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircun-</p><p>ciso” . Entende-se que a cincuncisão foi o sinal, não a causa</p><p>da justiça imputada a Abraão. O texto mostra que o sinal</p><p>inicial com Abraão era um selo de Justiça, não uma obra</p><p>meritória de Abraão.</p><p>Os judeus se ufanam de serem “ filhos de Abraão” se­</p><p>gundo a carne, e a circuncisão física é o sinal que diferen­</p><p>cia o judeu do gentio. Entretanto, Paulo argumenta que os</p><p>verdadeiros filhos de Abraão não são os nascidos segundo a</p><p>carne, isto é, os da sua semente. Porém, os verdadeiros fi­</p><p>lhos de Abraão são os “ que andam nas pisadas da fé que</p><p>teve nosso pai Abraão antes de ser circuncidado” (4.12).</p><p>Porém, Abraão creu era Deus antes da circuncisão, e isto</p><p>lhe foi imputado como justiça. Abraão foi feito pai espiri­</p><p>tual “ de todos os que crêem” (4.11).</p><p>.. j ustificação é pela fé, não pelas obras da Lei</p><p>(4.1o-25)</p><p>No versículo 13 diz que Abraão seria o “ herdeiro do</p><p>mundo conforme está nas Escrituras em Gn 12.3- 18 18•</p><p>60 ' ’</p><p>22.18. Esses textos fazem referência às promessas divinas,</p><p>através de Abraao, a todas as famílias da terra” e a “ to­</p><p>das as nações da terra” . Note-se que estas promessas têm</p><p>mais uma conotaçao espiritual</p><p>que geográfica A herança</p><p>prometida era abrangente e a visão espiritual de Abraão</p><p>mostra que ele “ aguardava a cidade que tem fundamentos</p><p>da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.10).</p><p>No versículo 14 os reais herdeiros segundo a promessa</p><p>são aqueles que dependem da fé em Cristo, não da Lei. A fé</p><p>seria anulada se a herança dependesse das obras da Lei.</p><p>Esse fato indica a incapacidade do homem de se justificar</p><p>pelas obras da Lei. Paulo não está desfazendo nem desme­</p><p>recendo o valor da Lei, mas está mostrando que a Lei im­</p><p>põe penas se ela não for cumprida. Por isso, o texto no v 15</p><p>que “ a Lei suscita a ira” , porque a incapacidade do ho­</p><p>mem em guardá-la torna-o sem possibilidade de justificar-</p><p>se.</p><p>Já no versículo 16 diz: “ Essa é a razão porque provém</p><p>da fé, para que seja segundo a graça” .</p><p>Se o efeito da Lei é condenação e torna os homens su­</p><p>jeitos “ à ira de Deus” , o efeito da graça é a justificação dos</p><p>pecados mediante a fé na obra de justiça realizada por</p><p>Cristo. Veja a diferença. O galardão pelas obras da Lei é</p><p>dado por méritos pessoais. Já o galardão pelas obras da fé é</p><p>dado “ de graça” .</p><p>O versículo 16 ainda mostra que Abraão, por sua fé em</p><p>Deus, superou todos os obstáculos por sua “ firme confian­</p><p>ça nas promessas” . Por essa razão Deus mudou seu nome</p><p>de Abrão para Abraão, para fazê-lo pai de muitas nações</p><p>(Gn 17.1-5). O primeiro nome, Abrão significava pai excel-</p><p>.sto, e Abraão, pai de uma multidão. Isto é, pai de uma mul­</p><p>tidão de povos na terra (Gn 12.3). Com esta citação, o</p><p>apóstolo Paulo argumenta que esta promessa não pertence</p><p>somente aos judeus, mas a todos os verdadeiros filhos de</p><p>Abraão segundo a fé.</p><p>4.17. “ ...perante aquele no qual creu” . Abraão foi</p><p>constituído pai no sentido espiritual. Paulo mostra a fé de</p><p>Abraão em Deus como aquele que dá a vida aos mortos</p><p>(4.18,21). Não eram Abraão e Sara já velhose não lhesera,</p><p>humanamente, impossível gerar filhos? Sim, mas Deus</p><p>lhes concedeu um filho na velhice. Por isso, e por tantas</p><p>outras experiências pessoais, Abraão não vacilou em crer</p><p>em Deus e tornou sua fé em Deus, uma força motora para</p><p>conquistar grandes bênçãos. Por isso e por sua fé, Deus</p><p>honrou a Abraão. Sua fé triunfante foi imputada como jus­</p><p>tiça diante de Deus. Finalmente nos vv 22 e 25. a demons­</p><p>tração da fé ilustrada em Abraão nos ensina que podemos</p><p>ter semelhante qualidade de fé. Abraão olhava para o futu­</p><p>ro, nós olhamos para o passado, isto é, para Jesus Cristo, a</p><p>razão da nossa fé. Ao olharmos para Jesus, nossa fé garan­</p><p>te a justificação no presente.</p><p>A nossa justificação está em crer na obra meritória de</p><p>Cristo. Há diferença no tipo de fé de Abraão e do cristão'</p><p>Abraao creu e confiou em Deus (4.3). O cristão também crê</p><p>e confia no mesmo Deus, porém, como “ aquele que ressus­</p><p>citou dentre os mortos a Jesus nosso Senhor” (4.25).</p><p>VII - OS BENEFÍCIOS DA JUSTIFICAÇÃO (5.1-11)</p><p>Nos primeiros onze (11) versículos, o apóstolo</p><p>apresenta os efeitos da justiça pela fé nos que a vivem e a</p><p>recebem (5.1-11). Já, na última parte deste capítulo, a</p><p>partir do versículo 12 até o 21, Paulo faz uma aplicação</p><p>universal, fazendo uma comparação entre o passado e o</p><p>presente vivido pelo crente no panorama da salvação. Ele</p><p>faz comparaçoes que ilustram perfeitamente o significado</p><p>da salvaçao hoje.</p><p>Nos capítulos anteriores, a necessidade da justificação</p><p>do homem e posta em destaque, inclusive apontando a</p><p>A n í r t í r T ° ^ f 6 ^ Pr° Ver eSSS Ju stificação,</p><p>t capi tul ° 5’ se ve que, depois de alcançada a jus-</p><p>tificaçao por meio de Cristo, o crente tem diante de si um</p><p>vitoriosa110 ° palmiihar’ e os meios Para uma vida</p><p>Nos versículos 1 a 5 temos resultados da justificação</p><p>^ada? 830 eSS6S reSultados ou frutos da justificação outor-</p><p>1. Paz com Deus (5.1)</p><p>“ Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com</p><p>Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” . Essa paz</p><p>produzida pela obra justificadora de Jesus, significa reco^</p><p>Rodrigo</p><p>ciliação com Deus. Mediante o ato justificador de Cristo</p><p>que nos tirou de debaixo da ira de Deus e Propiciou essa</p><p>“ paz com Deus” .</p><p>Essa “ paz com Deus” difere do tipo de paz que Ele</p><p>pode dar aos que o buscam. Não é a paz da parte de Deus,</p><p>ou a paz que Ele pode inspirar aos corações aflitos e amar­</p><p>gurados. A “ paz com Deus” expressa perdão e aceitação da</p><p>parte dele, contrastando com a “ ira e inimizade” vividas</p><p>anteriormente. Essa “ paz com Deus” significa estar de</p><p>bem com Deus e viver um novo e maravilhoso relaciona­</p><p>mento com Ele. Esse benefício só é possível mediante a fé</p><p>no Filho de Deus, que, pela sua cruz, desfez as inimizades</p><p>(E f 2.14-18).</p><p>2. Acesso d graça pela fé (5.2)</p><p>Mais uma vez é mediante Jesus Cristo que obtivemos</p><p>igualmente acesso pela fé, a esta graça, na qual estamos</p><p>firmes.</p><p>Esse segundo benefício da justificação nos introduz à</p><p>presença de Deus diante do trono da graça, para usufruir</p><p>de todas as bênçãos a que temos direito como justificados</p><p>em Cristo. Somos colocados em uma nova posição, visto</p><p>que já alcançamos a “ paz com Deus” . Temos agora uma</p><p>nova posição em Cristo e isto resulta na possibilidade de</p><p>termos acesso à graça de Deus.</p><p>Esse acesso a Deus nos toma filhos de Deus, e a posi­</p><p>ção de “ filhos” em adoção por Jesus Cristo é o passaporte</p><p>para entrarmos na presença do Pai Todo-poderoso. Esse</p><p>acesso significa comunhão mais perene e pessoal com</p><p>Deus. A palavra acesso no grego é “Prosagoge” que dá á</p><p>idéia de “ aproximação, acercamento, introdução” . A pala­</p><p>vra introdução dá a idéia neste texto de apresentação. Por</p><p>Jesus Cristo somos apresentados a Deus Pai, sem qualquer</p><p>outro protocolo. A fé em Jesus é o meio de entrarmos na</p><p>presença de Deus. Não é um “ acesso a Deus” semelhante a</p><p>alguém que busca entrar ou ter acesso à presença de uma</p><p>autoridade secular. Não se trata de um acesso mecânico,</p><p>seco e formal. Para com Deus, o acesso resulta de uma re­</p><p>conciliação feita anteriormente por Jesus Cristo, e que</p><p>agora, esse “ acesso à graça” é expontâneo, sem protocolo,</p><p>Rodrigo</p><p>sem impedimentos. É um acesso que significa intimidade</p><p>com Ele.</p><p>3. Esperança da glória de Deus (5.2)</p><p>“ Gloriemo-nos na esperança da glória de Deus” . A ex­</p><p>pressão “ gloriemo-nos” tem o sentido de exultar de alegria</p><p>por alguma conquista feita. O que pode levar um crente a</p><p>exultar é a conquista da justificação realizada e a esperan­</p><p>ça certa de um dia participar da “ glória de Deus”</p><p>4. O gozo das tributações (5.3-5)</p><p>No versículo 3 diz: “ nos gloriemos nas. próprias tribu-</p><p>lações” , isto é, tiremos proveito dela, ao invés de sermos</p><p>vencidos por elas. As tribulaçdes aperfeiçoam a vida cristã,</p><p>quando o crente possui a convicção firme da esperança do</p><p>porvir.</p><p>As tribulações ou sofrimentos devem ser encarados</p><p>por dois prismas. Primeiro, o sofrimento e todo o mal é</p><p>conseqüência do pecado. Portanto todo aquele que não te­</p><p>nha alcançado a graça de Deus ainda vê no sofrimento</p><p>uma razão de desgraça e terror.</p><p>Segundo o sofrimento para o crente é visto de forma</p><p>positiva. O crente pode tirar proveito das tribulações, por­</p><p>que tem esperança; Esta esperança o habilita a ser pacien­</p><p>te e perseverante. Por isso Paulo aconselha que nos “ glorie­</p><p>mos nas tribulações” .</p><p>A experiência cristã através do testemunho de tantos</p><p>cristãos ensina a usufruir da alegria tirada das tribulações.</p><p>- Que alegria ou gozo se pode tirar do sofrimento? - Sim,</p><p>podemos tirar o gozo da certeza da vida eterna que trans­</p><p>cende esta vida temporal. Sem essa certeza e esperança, a</p><p>tribulação seria razão para terror e desgraça. Mas ao con­</p><p>trário, esse gozo produz uma cadeia de resultados felizes,</p><p>como a “ paciência que .produz a experiência e a experiên­</p><p>cia a esperança” (5.3,4).</p><p>A verdade é que se o crente souber tirar proveito das</p><p>tribulações, elas poderão criar uma esperança poderosa na</p><p>“ glória que nos será revelada” .</p><p>5. O amor divino derramado em nós (5.5b)</p><p>Temos a força que energiza a nossa esperança que é “ o</p><p>amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito</p><p>Santo . Esse</p><p>amor só é derramado sobre um coração justi-</p><p>64</p><p>Rodrigo</p><p>ficado. O interessante desse versículo é o destaque ao amor</p><p>que Deus tem por nos e nao o amor que temos para com</p><p>Ele Descobrimos tambem neste versículo a participação</p><p>das res Pessoas da Trindade na nossa justificação. Clifton</p><p>J. Allen, em seu Comentário aos Romanos, escreve sobre</p><p>isto: “ As três Pessoas da Trindade têm sua parte na nossa</p><p>salvação. Deus nos justifica por causa da nossa fé. A sua</p><p>justiça se torna possível por causa da redenção dada por</p><p>Cristo. O Espírito Santo nos torna cônscios da nossa neces­</p><p>sidade, faz com que exerçamos a fé, e faz transbordar os</p><p>nossos corações com o amor de Deus. O amor de Deus sa­</p><p>tisfaz a terna afeição do coração ou corresponde ao desejo</p><p>do coração” .( !)</p><p>Portanto, recebemos o amor de Deus em nossos cora­</p><p>ções e somos transbordados de alegria, graça, poder e vida</p><p>nova.</p><p>6. O amor de Deus demonstrado a nós através da mor­</p><p>te de seu Filho (5.6-11)</p><p>"Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, mor­</p><p>reu a seu tempo pelos ímpios” (5.6). Notemos que o pecado</p><p>produziu fraqueza no homem, no sentido espiritual. Essa</p><p>expressão “ éramos fracos” é o mesmo que dizer: “ éramos</p><p>caídos” , isto é, sujeitos ao pecado. Porém “ Cristo morreu</p><p>no seu tempo” (5.6). Isto significa que, quando chegou a</p><p>plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho para morrer</p><p>pelos ímpios, “ o cordeiro de Deus que tira o pecado do</p><p>mundo” (Jo 1.29).</p><p>No versículo 7 o apóstolo argumenta que “ dificilmen­</p><p>te alguém morreria por um justo” , quanto mais pelo</p><p>ímpio, quem se atreveria a morrer pelo ímpio?</p><p>Nos versículos 8 e 9, está a resposta: “ Mas Deus prova</p><p>o seu amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido</p><p>por nós, sendo nós ainda pecadores” .</p><p>No versículo 8 está a revelação e demonstração do “ a-</p><p>mor de Deus” que é a causa da morte expiatória de Cristo</p><p>pelos pecadores. Já no v 9 temos a afirmação de que, se</p><p>Deus nos amou como pecadores, “ logo, muito mais agora,</p><p>sendo justificados pelo seu sangue, seremos por Ele salvos</p><p>da ira” , isto é, “ livres da condenação eterna” .</p><p>Outra vez o escritor destaca a expressão: “ muito m m</p><p>8©</p><p>agora” (5.9), Essa expressão vem com um forte sentido de</p><p>triunfo, de vitória alcançada. Se antes, como pecadores,</p><p>fomos salvos pela obra expiatória de Cristo no passado,</p><p>“ muito mais agora” temos garantida a salvação do Juízo</p><p>Final, isto é, “ salvos da ira vindoura” .</p><p>Pela sua morte (de Jesus) fomos salvos e nos reconci­</p><p>liamos com Deus. Agora pela sua vida depois da morte e</p><p>ressurreição somos salvos da condenação futura.</p><p>5.10. “ pela sua vida” . Isto implica na nossa santifica­</p><p>ção progressiva, porque mostra nosso estado entre o ato</p><p>justificador e a salvação conquistada. “ Pela sua vida” , so­</p><p>mos santificados para vivermos vitoriosamente contra o</p><p>pecado.</p><p>5.11. “ ...nos gloriamos em Deus” , isto é, reconhecemos</p><p>diante de Deus Pai que foi Jesus Cristo, pela sua cruz,</p><p>quem nos redimiu e nos deu o direito de reconciliação.</p><p>5.11. “ ...de quem acabamos de receber a reconcilia­</p><p>ção” . Sem Ele não seria possível o novo relacionamento</p><p>com o Criador. Por Jesus, nossa reconciliação propiciou-</p><p>nos uma nova ordem de vida e comunhão com Deus. A pa­</p><p>lavra “katalagé”, no grego, significa troca, mudança. O</p><p>sentido real da palavra “ katalagé” refere-se a pessoas ini­</p><p>migas, que querem a reconciliação. A possibilidade de re­</p><p>conciliação é oferecida pelo próprio Senhor. Foi o homem</p><p>que mudou sua atitude e se afastou de Deus. Ele é imutá­</p><p>vel, e quer nova amizade conosco. Portanto, Deus possibi­</p><p>litou essa reconciliação com o pecador. Esse ato reconeilia-</p><p>dor de Deus provocou uma grande mudança entre ambos,</p><p>isto é, entre Deus e o homem. Essa mudança foi efetuada</p><p>por Jesus, no Calvário.</p><p>VIII - A JUSTIFICAÇÃO COMPARADA E EXPLICADA</p><p>(5.12-21)</p><p>Nesta parte dos ensinos do apóstolo Paulo é feita a</p><p>comparação entre a obra salvadora de Cristo e a obra con-</p><p>denatória de Adão. Paulo compara as duas cabeças mais</p><p>importante da raça humana, Adão e Cristo (1 Co 15.21,22),</p><p>e sobre ambos discute e argumenta as razoes e finalidades</p><p>A^~UŜ X̂ Câ 0' mostra a universalidade do pecado em</p><p>Adão (5.12) e o ato restaurador e universal de Cristo a todo 66</p><p>Rodrigo</p><p>aquele que o aceita e reconhece s..9 n-i a</p><p>Adão trouxe transgressão e morte. Pela justica^Cristo</p><p>trouxe perdão e justificação. justiça, Cnsto</p><p>1. (5.12) - Por Adão o primeiro homem, veio o pecado</p><p>e a morte Essa transgressao alcançou todos os homens</p><p>visto que todos pecaram em Adão. Todos os demais se tor­</p><p>naram pecadores na base do pecado de Adão</p><p>2. Os versículos 13 e 14 falam da “ morte” e n*sta pas</p><p>sagem, a morte tem um duplo sentido. Primeiro, fala de</p><p>“ morte física” , que é a separação entre a parte material e a</p><p>parte espiritual do homem. Segundo, fala de “ morte espi­</p><p>ritual” que se refere à separação da comunhão com Deus.</p><p>No versículo 13 entendemos que até o tempo de M oi­</p><p>sés, por quem veio a Lei, a verdade sobre a situação do ho­</p><p>mem diante de Deus não havia sido apresentada, mas o</p><p>pecado foi um fato e a morte, como conseqüência do peca­</p><p>do, inevitável.</p><p>Porém, no versículo 14 Paulo argumenta que, inde­</p><p>pendentemente da Lei, com ela, ou sem ela, a pena do pe­</p><p>cado existe desde Adão.</p><p>3. Nos versículos 15 e 21 está o contraste entre Adão e</p><p>Cristo. Por um só ato de cada um, ambos decidiram o des­</p><p>tino de toda a raça humana.</p><p>ADÃO 5.15-21 CRISTO</p><p>1. Pela ofensa de um só, morre­</p><p>ram muitos (v 15)</p><p>2. Uma só ofensa e todos foram</p><p>condenados (v 16)</p><p>3. Pela ofensa de um, reinou a</p><p>morte sobre todos (v 17)</p><p>4. Por uma só ofensa veio o ju ízo</p><p>sobre todos (v 18)</p><p>õ. Pela desobediência de um ho­</p><p>mem, todos se fizeram pecado­</p><p>res (v 19)</p><p>6. Pela ofensa de um só, abundou</p><p>o pecado (v 20)</p><p>7. O pecado reinou pela morte (v</p><p>21)</p><p>1. Pelo dom da graça de um só ho­</p><p>mem, a graça fo i abundante</p><p>sobre muitos (v 15)</p><p>2. A graça de um só homem trans­</p><p>corre de muitas ofensas (v 16)</p><p>3. Pela justiça de um só reinou a</p><p>v ida (v 17)</p><p>4. Por um só ato de justiça, veio a</p><p>graça sobre todos (v 18)</p><p>5. Pela obediência de um homem,</p><p>muitos se tornaram justos (v</p><p>19)</p><p>6. Pela justiça de um só, supera-</p><p>bundou a graça (v 20)</p><p>7. A graça reinou pela justiça</p><p>(7.14)</p><p>b) O conflito entre a Lei e o pecado (7.15-23)</p><p>c) A vitória contra o pecado (7.24,25)</p><p>A VITÓRIA DA SANTIFICAÇÃO (8.1-18)</p><p>1. Uma declaração irreversível (8.1)</p><p>2. A Lei do Espírito de vida (8.2,3)</p><p>3. A justiça da Lei cumprida segundo o Espírito</p><p>(8.4,5)</p><p>4. A vitória do Espírito (8.6-13)</p><p>5. O Espírito nos assegura a posição presente de f i­</p><p>lhos (8.14-18)</p><p>a) Direção (8.14)</p><p>b) Adoção (8.15)</p><p>c) Testemunho (8.16)</p><p>d) Herança (8.17)</p><p>e) Segurança (8.18)</p><p>V II - A ARDENTE EXPECTAÇÃO PELA SANTIFICA­</p><p>ÇÃO (8.19-22)</p><p>1. A ardente expectaçâo da criatura (8.19-21)</p><p>2. 0 desejo de libertação (8.22)</p><p>3. As primícias do Espírito (8.23)</p><p>4. O gemido da Igreja (8.23)</p><p>5. A razão da nossa esperança (8.24,25)</p><p>VIII - A TRINDADE D IVINA NA OBRA DA SANTIFI­</p><p>CAÇÃO (8.26-34)</p><p>1. O Espírito intercede EM nós (8.26,27)</p><p>2. O Filho intercede POR (sobre) nós (8.33,34)</p><p>3. O Pai provê para nós as nossas necessidades</p><p>(8.28-32)</p><p>IX - O TR IUNFO DA SANTIFICAÇÃO (8.35-39)</p><p>1. O amor de Cristo é imutável e indestrutível</p><p>(8.35)</p><p>2. O amor de Cristo nos torna vencedores (8.37)</p><p>3. Gloriosa declaração de triunfo (8.38,39)</p><p>Obelisco egípcio na praça São Pedro, Roma</p><p>A Doutrina da âantificacão</p><p>Antes de começar a explicação textual, é preciso com­</p><p>preender e comparar dois aspectos da salvação, que são: o</p><p>aspecto legal e o aspecto ético e moral. No aspecto legal és-</p><p>tá a justificação, que trata da quitação da pena do pecado.</p><p>Significa que a exigência da Lei foi cumprida. Porém, no</p><p>aspecto moral, está a santificação que trata da vivência co­</p><p>tidiana após a justificação. - Como compreender então a</p><p>relação entre a' justificação e a santificação?</p><p>Em primeiro lugar, a santificação trata do nosso esta­</p><p>do, assim como a justificação trata da nossa posição em</p><p>Cristo. Observe isto: Na justificação somos declarados jus­</p><p>tos. Na santificação nos tomamos justos. A justificação é a</p><p>obra que Deus faz por nós como pecadores. A santificação</p><p>diz respeito ao que Deus faz em nós. Pela justificação so­</p><p>mos colocados numa correta e legal relação com Deus. Na</p><p>santificação aparecem os frutos dessa relação com Deus.</p><p>Pela justificação nos é outorgada a segurança. Pela santifi­</p><p>cação nos é outorgada a confiança na segurança.</p><p>Em segundo lugar, a santificação envolve, também, o</p><p>aspecto posicionai. Se na justificação o crente é visto em</p><p>posição legal por causa do cumprimento da Lei, na santifi­</p><p>cação o crente é visto em posição moral e espiritual. Posi-</p><p>cionalmente, o crente é visto nesses dois aspectos aborda­</p><p>dos que são; o legal e o moral. Legalmente, ele se torna jus­</p><p>to pela obra justificadora de Jesus Cristo. Moralmente, ele</p><p>se toma santo por obra do Espírito Santo.</p><p>Em terceiro lugar, é preciso perceber a distinção entre</p><p>justificação e santificação, A primeira distinção refere-se à</p><p>justificação como obra definida e realizada. É obra com­</p><p>pleta e perfeita porque o “ Perfeito Justo” (Jesus) realizou</p><p>esta obra. Porém a santificação é obra do Espírito Santo. É</p><p>uma obra progressiva à medida da fé de cada crente. A jus­</p><p>tificação e a santificação se completam, isto é, estão liga­</p><p>das no propósito da salvação. Não pode haver santificação</p><p>sem justificação. Mas, se fosse possível apenas a realização</p><p>da justificação, qual seria a esperança depois dela? Por is­</p><p>so, a santificação é uma obra indispensável e dinâmica na</p><p>vida do crente justificado.</p><p>Em quarto lugar, no capítulo 6.1-11, veremos o pro­</p><p>cesso espiritual e dinâmico que se efetiva na vida do peca­</p><p>dor, partindo da justificação para a santificação. Outros-</p><p>sim, a justificação trata da culpa do pecado, enquanto a</p><p>santificação se preocupa da libertação do poder do pecado.</p><p>Mais duas coisas devem chamar a nossa atenção</p><p>quanto à obra de Cristo por nós. Primeiro, a justificação foi</p><p>realizada por Cristo sem nós (3.21). Segundo, a santifica­</p><p>ção é transmitida por Cristo para nós (6.3; 8.1).</p><p>1 - 0 ASPECTO POSICIONAL DA SANTIFICAÇÃO (6.</p><p>1- 11)</p><p>Aqui aprendemos que, mediante a graça de Deus</p><p>justificando o pecador da pena da condenação, o pecador é</p><p>colocado em uma nova posição espiritual. O método divino</p><p>apresenta a libertação do pecado pela identificação pes­</p><p>soal e física de Cristo com os homens. Quando Ele encar­</p><p>nou (“ o Verbo se fez carne” Jo 1.14), estava se identifican­</p><p>do conòsco humanamente. Nasceu como homem e morreu</p><p>como homem. Mas, pelo fato de Ele ter-se identificado por</p><p>74</p><p>nascimento e morte, é que descobrimos a finalidade dessa</p><p>humamzaçao da Divindade. Cristo sp, , . > , se identificou conosco</p><p>obtendo uma posição de carne e sangue" na raça huma-</p><p>üq ,Páa,rapmOTrer ™ m0 da raça humana (Hb</p><p>2.9.14). Por seu nascimento, Jesus tomou a nossa posição</p><p>de carne e sangue para ser contado como pecador Td igno</p><p>de morte (Is 5.3.12). Pela sua morte, nós tomamos a sua po-</p><p>siçao para sermos contados como “ mortos para o nprarin p</p><p>vivos para Deus” (Rm 6.10). P P ü 6</p><p>- Porém, que se entende por santificação posicionai -</p><p>E uma posição que garante uma contínua vitória sobre o</p><p>poder do pecado.</p><p>1. Uma objeção levantada</p><p>6.1. Uma objeção levantada. Se por causa do pecado</p><p>recebemos “ a graça de Deus” , devemos continuar a pecar,</p><p>para que se manifeste ainda mais a graça de Deus? E a ar-</p><p>güíçâo continua: - Se os pecados dos crentes já foram can­</p><p>celados e a justiça perfeita já foi realizada, para que se</p><p>preocupar com o pecado? Estas argüiçòes são perigosas,</p><p>visto que elas se preocupam tão-somente com o aspecto le­</p><p>gal da obra salvadora realizada mediante a justificação em</p><p>Jesus Cristo. Entretanto, a salvação tem um sentido pre­</p><p>sente e atual; por isso. enquanto estamos neste “ corpo de</p><p>pecado” precisamos da obra santificadora. Entendemos,</p><p>então, que os justificados precisam da obra santificadora</p><p>para não continuarem pecando. E para que não pequemos,</p><p>identificamo-nos com Cristo em sua morte, e assim esta­</p><p>mos mortos para o pecado.</p><p>2. A resposta de. Paulo</p><p>6.2. Aqui está a implícita e decisiva resposta do após­</p><p>tolo Paulo, que diz: “ De modo nenhum.” E reafirma a con­</p><p>dição do novo estado de vida justificada, dizendo: - “ Co­</p><p>mo viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morre­</p><p>mos'7” A morte, portanto, é o segredo da emancipação da</p><p>vida de pecado.</p><p>3. Batizados no batismo de morte de Jesus</p><p>6.3,4. Aqui começa mostrando que todos fomos bati­</p><p>zados no batismo de morte de elesus. Paulo utiliza o símbo­</p><p>lo do batismo para ilustrar melhor o significado da morte</p><p>75</p><p>espiritual para o pecado. Esse batismo não é a justificação.</p><p>Não é o batismo com o Espírito Santo, nem é o batismo em</p><p>águas. E um símbolo de morte espiritual. Visto que batis­</p><p>mo é uma palavra que significa mergulho, imersão, enten-</p><p>de-se que “ morrer para o pecado” , significa ser imergido</p><p>ou mergulhado na morte de Cristo. Se morremos com Cris­</p><p>to, ressuscitamos com Ele em novidade de vida. É uma</p><p>identificação com Cristo em sua morte, e, com esta identi­</p><p>ficação, estamos livres da culpabilidade do pecado. Nesse</p><p>batismo, o “ velho homem” é aniquilado e mantido sob</p><p>domínio (6.6).</p><p>4. A pena do pecado é satisfeita</p><p>6.7. Neste versículo a questão legal, ou seja, a pena do</p><p>pecado é satisfeita; por isso, “ quem está morto está justifi­</p><p>cado do pecado” .</p><p>5. O justificado está morto para o pecado</p><p>6.8. Neste versículo o crente justificado do pecado</p><p>sabe que está morto para o poder do pecado e vivo para</p><p>Deus. Portanto, o viver “ morto para o pecado e vivo para</p><p>Deus” significa reconhecer que o poder do pecado opera li­</p><p>vre para levar o crente a pecar contra Deus; - mas, pelo</p><p>fato de o crente não estar sob o domínio do pecado, tem ele</p><p>condições de vencer a tentação do pecado. A santificação</p><p>é, portanto, um meio, um resultado da obra justificadora</p><p>de Cristo Jesus.</p><p>6. A morte quita a pena do pecado</p><p>6.9. Uma vez que alguém morreu, nada mais deve. A</p><p>pena do pecado está quitada.</p><p>7. Ressuscitados em Cristo</p><p>6.10. Aqui está o resultado da morte para o pecado que</p><p>é a ressurreição em Cristo. Se a morte aniquilou a pena do</p><p>pecado, a ressurreição deu início a uma nova vida em Cris­</p><p>to. A morte para o pecado indica a nova vida e o caminho</p><p>da santificação. Na justificação, Deus nos coloca em or­</p><p>dem com Ele mesmo, e na santificação Ele nos mantém</p><p>diante dele, justificados e santificados. A justificação abre</p><p>a porta da santificação, e, então, deslumbraremos nas "re­</p><p>giões celestiais ’ a nova vida de poder e graça diante do Se­</p><p>nhor que nos salvou.</p><p>76</p><p>II. 0 ASPECTO M ORAL DA SANTIFICAÇÃO (6.12-15)</p><p>1. Consagração do corpo mortal</p><p>6.12. “ Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo</p><p>mortal de maneira que obedeçais ès suas paixões”</p><p>Entendemos que o pecado opera por meio do corpo Da</p><p>mesma forma que o corpo pode ser consagrado a Deus (Rm</p><p>12.1). pode também ser dedicado-ao pecado. É claro que o</p><p>corpo, por si mesmo não pode fazer nada, pois é controlado</p><p>pela mente. Entretanto, quando o pecado domina a mente</p><p>do homem, ele controla as ações do corpo. A mente</p><p>pertence ao domínio da alma humana, e quando a</p><p>primeira alma inteligente (Adão - Rm 5.12) pecou, todo o</p><p>seu ser foi dominado pelo pecado. Quando Paulo exorta os</p><p>que já haviam experimentado a regeneração, dizendo:</p><p>“ Não reine o pecado em vosso corpo mortal” , ele estava</p><p>mostrando aos crentes romanos que, uma vez que foram</p><p>justificados, resta-lhes agora viver como tais, na</p><p>santificação do Espírito.</p><p>2. A vida exterior deve corresponder à vida interior</p><p>6.V2,1 S. As expressões “ vosso corpo mortal” e</p><p>“ membros do seu corpo” têm o mesmo sentido. Tudo o que</p><p>se refere ao corpo e seus membros em particular pode se</p><p>tornar um instrumento do pecado. O crente é convidado a</p><p>oferecer seu corpo para servir a Deus, isto é, para não ser</p><p>usado nas coisas do pecado. Da mesma forma que a nossa</p><p>vida interior foi salva, também a nossa vida exterior,</p><p>representada pelo corpo, deve corresponder à vida interior.</p><p>Alguns teólogos, como Calvino, acreditavam que a alusão</p><p>à palavra corpo se referisse à totalidade do ser humano,</p><p>isto é, corpo, alma e espirito. Entretanto, essa idéia é</p><p>inaceitável, visto que, tanto o contexto doutrinário quanto</p><p>os originais gregos, referem-se ao corpo físico. Como o</p><p>corpo nada faz por si mesmo, senão pelo comando da alma,</p><p>deve-se entender que, uma vez regenerada a alma, todas as</p><p>ações corporais serão regeneradas.</p><p>3. Confiança na graça libertadora</p><p>6.14. “ Porque o pecado não terá domínio sobre vós .</p><p>Neste versículo o apóstolo Paulo conclui toda a sua</p><p>argumentação doutrinária, mostrando que a 8raÇ*_</p><p>alcançada pelo pecador o conduz a um novo sistema de</p><p>vida. 0 sistema legal, baseado.na Lei, condena o homem,</p><p>mas a graça o liberta desse sistema. A graça de Deus é a</p><p>provisão divina oferecendo os meios de libertação do</p><p>pecado. Observe isto: a Lei não perdoa, mas condena. A</p><p>graça, não só perdoa, mas apresenta o caminho da vitória</p><p>contra o pecado.</p><p>4. Libertos do legalismo da Lei</p><p>6.14. “ Pois não estais debaixo da Lei, e sim, da gra­</p><p>ça” . - Como compreender esta declaração? Paulo estava</p><p>falando a dois grupos divergentes dentro da comunidade</p><p>cristã de Roma - judeus e gentios. Exatamente por causa</p><p>desses dois grupos e de suas divergências doutrinárias,</p><p>Paulo quis ensinar a esses crentes que não há mais diferen­</p><p>ça de judeu ou gentio, raça ou cor, para os que estão em</p><p>Cristo Jesus. Ao declarar: “ não estais debaixo da Lei” , ele</p><p>reafirmava o fato de que era impossível julgar os gentios</p><p>pela Lei, visto que, nunca estiveram “ debaixo da Lei” .</p><p>Outra razão da declaração de Paulo é que a Lei não pode</p><p>salvar ninguém. Os crentes em Cristo não estão debaixo da</p><p>Lei. Não é o legalismo que santifica o crente, mas é a lei do</p><p>Espírito. Portanto, a Lei não é o guia da vida cristã. A vitó­</p><p>ria contra o pecado está na obediência, não no sistema le­</p><p>galista, mas no sistema do Espírito. Essa vitória acontece</p><p>mediante a obra regeneradora que só o Espírito Santo é ca­</p><p>paz de produzir.</p><p>5. O novo modo de vida pela graça</p><p>6.14. “ ...e sim da graça” . Significa entrar e viver num</p><p>novo modo de vida. Antes vivíamos debaixo de um “ tétrico</p><p>código de restrições” - nas palavras de A.M . Hunter -</p><p>“ mas agora vivemos sob a luz do favor de Deus.” Estar</p><p>“ debaixo da Lei” significa estar sujeito às penalidades da</p><p>Lei. O cumprimento da Lei é o único meio de estar fora das</p><p>penalidades que a Lei impõem. “ Estar debaixo da graça”</p><p>significa colocar-se sob o manto da justiça de Cristo, por­</p><p>que Ele pagou a penalidade da Lei contra nós.</p><p>6. A lei do Espírito</p><p>6.15. - “ E daí? Havemos de pecar porque não estamos</p><p>debaixo da Lei, e sim, da graça? - De modo nenhum!” En­</p><p>tendemos que, pelo fato de o crente não estar debaixo da</p><p>78</p><p>Lei não significa que não está mais sujeito a qualquer con­</p><p>trole legal. Não “ estar debaixo da Lei” significa, primor­</p><p>dialmente que a Lei foi executada e exercida, porque Cris­</p><p>to cumpriu a Lei por nós. Porém, por outro íado, o crente</p><p>está submisso à nova lei do Espírito e, para ser vitorioso</p><p>tem de obedecer-lhe.</p><p>III - O ASPECTO E X PERIM ENTAL DA SANTIFICA­</p><p>ÇÃO (6.16-23)</p><p>Neste ponto, aprendemos que a santificação opera a</p><p>liberdade pela obediência. É experimental no sentido de</p><p>que não é uma mera teoria teológica, mas algo que conduz</p><p>à experiência e à vivência cotidiana.</p><p>1. Dois senhores lutam pela posse de nossa vida</p><p>6.16. “ Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis</p><p>como servos para obediência, desse mesmo a quem obede-</p><p>ceis sois servos” . Neste versículo dois senhores lutam pelo</p><p>direito de dominar a nossa vida - Deus e o pecado. Somos</p><p>servos de um ou do outro. É impossível estar fora do domí­</p><p>nio de um deles. Nossas obras demonstram a quem servi­</p><p>mos. Paulo usa a ilustração das leis que regiam a escrava­</p><p>tura naquela época. Um escravo podia, naqueles dias,</p><p>comprar sua liberdade, pagando o preço em dinheiro a um</p><p>deus pagão. Porém o dinheiro ia às mãos do seu dono. Des­</p><p>se modo, o escravo era redimido de seu dono, mas isso só</p><p>era reconhecido mediante a idéia de que, ao comprar sua</p><p>liberdade tornara-se escravo daquele “ deus” de quem</p><p>comprou a liberdade. Portanto, ao ficar livre de seu antigo</p><p>dono, na verdade, aquele escravo não passava a ser uma</p><p>pessoa sem dono, pois ainda pertencia a alguém. No caso,</p><p>ele pertencia àquele “ deus pagão” a quem pagara seu res­</p><p>gate. Trazendo esta ilustração para a experiência cristã,</p><p>Paulo nos mostra que todos pertencemos a alguém. Ou a</p><p>Deus, ou ao pecado.</p><p>2. De qual senhor somos servos?</p><p>6. W. A continuação desse versículo diz: “ ...seja dope-</p><p>cado para a morte, ou da obediência para a justiça. .O</p><p>apóstolo Paulo mostra os resultados do domínio de um o</p><p>dois senhores: Se formos servos do pecado, o resulta o</p><p>morte; se formos servos de Deus, o resultado é justiça.</p><p>tende-se, também, que Paulo queria fortalecer o argumen­</p><p>to de que, tendo recebido a graça de Deus, o pecador é con­</p><p>duzido a cumprir a justiça e não mais à prática do pecado</p><p>(M t 6.24). Duas palavras se destacam neste versículo que</p><p>são: obediência e pecado. São alternativas do pecador. Se</p><p>ele quiser a “ vida eterna” , sua alternativa é a obediência.</p><p>Porém, se escolher o “ pecado” , sua alternativa é a morte.</p><p>R uma antítese que Paulo faz, mostrando que o pecado</p><p>conduz à morte, e a obediência conduz à justiça (Rm 5.21).</p><p>Portanto, a justiça é caracterizada aqui pela vida, visto</p><p>que ela foi cumprida e realizada no Calvário e produziu</p><p>vida eterna aos que obedecem ao Senhor.</p><p>3. O principio da obediência</p><p>6.17. “ Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pe­</p><p>cado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que</p><p>fostes entregues” . Mais uma vez destaca-se a palavra obe­</p><p>decer no ensino de Paulo. Primeiro o apóstolo rompe em</p><p>ações de graças porque o Evangelho foi capaz de mudar a</p><p>vida daqueles que antes eram “ escravos do pecado” e ago­</p><p>ra vieram a obedecer de coração à doutrina cristã ensina­</p><p>da. O ato de obediência dos outrora “ servos do pecado” os</p><p>conduziu à santificação interior, motivada pelos ensinos</p><p>da sã doutrina. Agora, a Lei age interiormente, isto é. na</p><p>mente e no coração do crente (Hb 10.16).</p><p>4. Libertos e feitos nervos</p><p>da justiça</p><p>6.18. “ E libertados do pecado, fostes feitos servos da</p><p>justiça” . Note a diferença entre “ libertados do pecado” e</p><p>“ justificados do pecado” . A expressão “ libertados do peca­</p><p>do” denota uma ação implícita contra o poder do pecado.</p><p>O pecado aqui dá a idéia de um tirano mau e destruidor.</p><p>Entretanto, fomos libertados da sua tirania e crueldade.</p><p>5. A fraqueza da carne</p><p>6.19. “ Falo como homem por causa da fraqueza da</p><p>vossa carne” . Neste versículo Paulo parece fazer uma pa­</p><p>rada instantânea nos seus ensinos para dirigir-se direta­</p><p>mente aos seus leitores, preocupado, talvez, com que eles</p><p>não compreendessem o seu ensino. Em outras palavras,</p><p>Paulo fazia uma analogia humana, isto é, procurava con­</p><p>vencer seus leitores de que falava de um modo humano,</p><p>para que pudesse socorrer ou preencher a fraqueza do en-</p><p>80</p><p>tendimento daqueles crentes para os quais se dirigia.</p><p>Quando ele usa a expressão fraqueza da vossa carne” , re­</p><p>fere-se à suposição de que aqueles crentes ainda não ama­</p><p>durecidos na fé, não pudessem entender certos ensinos</p><p>mais profundos. A palavra carne, neste versículo refere-se</p><p>àquela incapacidade para compreender certas verdades es­</p><p>pirituais por imaturidade. Não se refere especificamente à</p><p>natureza pecaminosa entranhada ém todos nós. Os nossos</p><p>atos pessoais refletem o nosso amadurecimento espiritual.</p><p>Entendemos, então, que a santificação é progressiva, no</p><p>sentido de que, à medida que o crente vai crescendo na fé,</p><p>vai também amadurecendo em seus atos pessoais.</p><p>6. Da justiça para a santificação</p><p>6.19. Outra vez Paulo faz uma antítese quando diz:</p><p>“ ...e da maldade para a maldade” e da “ ...justiça para a</p><p>santificação” . Antes, como pecadores, os membros do nos­</p><p>so corpo eram oferecidos para “ ...servirem à imundícia” . A</p><p>palavra imundícia, no original grego “ Akarthasia” é a</p><p>mesma para impureza, e se refere a pecados sexuais come­</p><p>tidos com o corpo, e a perversões dos membros do corpo.</p><p>Porém, servir significa aqui fazer o papel de escravo. An­</p><p>tes, portanto, os membros do nosso corpo serviam ao peca­</p><p>do, à maldade para a maldade. Agora, uma vez libertos,</p><p>oferecemos os membros do nosso corpo à justiça para a</p><p>santificação. Antes, os membros do nosso corpo eram es­</p><p>cravos da imundícia e serviam às paixões infames. Agora,</p><p>eles são oferecidos para praticarem o que é justo, pois para</p><p>isso foram santificados. A palavra “ justiça” , aqui, diz res­</p><p>peito à prática do que é correto e justo. Nossos membros</p><p>físicos, como crentes, são usados de modo correto e santo.</p><p>A santificação aparece como um processo em que o crente</p><p>é conduzido para agradar a Deus e ser feliz. A justiça é o</p><p>princípio dominante da vida cristã, e a santificação é a</p><p>prática desse princípio espiritual.</p><p>7. Frutos negativos da servidão ao pecado (6.20,21)</p><p>6.20. “ Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis</p><p>livres da justiça” . Entendemos nesta argumentação de</p><p>Paulo que, quando estávamos sob o domínio do pecado,</p><p>não tínhamos obrigações para com a justiça revelada no</p><p>Evangelho. ai</p><p>6.21. “ E que fruto tínheis?” Pelo fato de termos estado</p><p>livres das obrigações da justiça,- antes de tê-la recebido,</p><p>havíamos colhido apenas frutos negativos, dos quais agora</p><p>nos envergonhamos.</p><p>8. A obediência á justiça produz frutos positivos</p><p>6.22. “ Mas agora” . Tudo mudou, e até os frutos. Os</p><p>frutos da servidão ao pecado conduzem à morte, como es­</p><p>clarece o v 21: “ Porque o fim delas é a morte” . Mas o fruto</p><p>da vida de obediência à justiça é a vida eterna. Na servi­</p><p>dão ao pecado, o fruto é para a condenação e a morte. Na</p><p>obediência à justiça, o fruto é para a santificação e o seu</p><p>fim é a vida eterna.</p><p>9. O salário do pecado</p><p>6.23. “ Porque o salário do pecado é a morte” . A pala­</p><p>vra salário significa pagamento. A idéia ilustrada para pa­</p><p>gamento ainda é tirada do feitor ou senhor de escravos que</p><p>pagava seus escravos por serviços prestados. Daí se enten­</p><p>de que o pecado escravizador paga aos seus escravos com a</p><p>morte. Terrível senhor é o pecado, que não perdoa, não</p><p>tem respeito humano, mas castiga com poder destrutivo!</p><p>Porém, o apóstolo faz o contraste entre esses dois senhores,</p><p>o pecado e Deus. Se o pecado paga com a morte. Deus paga</p><p>aos seus servos com a vida eterna.</p><p>10. O dom de Deus</p><p>6.23. “ Mas o dom gratuito de Deus...” Aqui mostra</p><p>que esse dom é dado ao pecador, não por mérito, mas por­</p><p>que Jesus Cristo pagou a conta contraída com Deus e liber­</p><p>tou o pecador. Hoje, o pecador baseia sua libertação na</p><p>obra paga por Jesus no Calvário. Portanto, “ a vida eterna”</p><p>não é exatamente um salário de Deus, mas é um dom gra­</p><p>tuito de Deus. ”</p><p>IV - A SANTIFICAÇÃO ILUSTRADA (7.1-6)</p><p>Enquanto o capítulo 6 tratou da libertação do poder</p><p>do pecado, o capítulo 7 trata da libertação do poder da Lei.</p><p>Neste estudo Paulo faz uma ilustração do matrimônio,</p><p>para mostrar até que ponto um cônjuge está ligado ao ou­</p><p>tro mediante a Lei do matrimônio.</p><p>1. Ilustração sobre a lei do matrimônio</p><p>7.1-3. Nestes versículos Paulo alude ao conhecimento</p><p>82</p><p>que ele tinha como qualquer outro judeu, acerca da Lei</p><p>sobre o matrimônio. Ele ilustra uma mulher casada e liga­</p><p>da ao marido pela lei. enquanto ele viver. Vindo ele a mor­</p><p>rer, ela fica desobrigada daquela lei conjugal. Agora, es­</p><p>tando livre do poder da lei, pode casar-se outra vez, fican­</p><p>do submissa então ao seu segundo marido. E por isso não</p><p>poderá ser chamada adúltera, porque, morrendo o primei­</p><p>ro marido, ficou livre dos laços que a prendiam a ele, po­</p><p>dendo casar-se outra vez.</p><p>2. A aplicação da ilustração feita</p><p>7.4-6. “ Assim, meus irmãos, também vós” (v4 ). Paulo</p><p>faz a aplicação da ilustração do matrimônio aos crentes em</p><p>Cristo. Num sentido espiritual, o crente está morto para a</p><p>lei do pecado, estando livre para pertencer a outro. - A</p><p>quem pertence o crente, uma vez que está livre do poder da</p><p>Lei? - Pertence a Cristo! Aprendemos aqui, conforme a</p><p>ilustração, que a nr iher casada está sob o domínio da lei</p><p>do matrimônio enquanto o marido estiver vivo. Porém, a</p><p>morte encerra esse domínio e a mulher fica livre para ca-</p><p>sar-se outra vez. Entende-se, então, que a mulher casada</p><p>está sujeita à lei do matrimônio durante o curso da exis­</p><p>tência do marido, “ mas se morrer o marido, está livre da</p><p>lei” (7.3). Paulo fala especialmente a aiguns judeus cris­</p><p>tãos que tinham dificuldades de se desvencilharem das “ a-</p><p>marras da Lei” . Imaginavam*se presos a ela, porque nas­</p><p>ceram sob a tutela da Lei. Paulo ensina que, uma vez que</p><p>Cristo morreu por todos, sua morte os libertou do poder da</p><p>Lei, ficando livres para um novo modo de vida.</p><p>3. Livres do domínio da Lei para servir a Cristo</p><p>7.6. “ Agora, libertados da Lei, estamos mortos para</p><p>aquilo a que estávamos sujeitos” . Se a mulher viúva fica li­</p><p>vre da lei que a prendia ao marido morto, então ela está li­</p><p>vre para escolher com quem queira casar-se, sem nenhuma</p><p>implicação com o passado. Assim, também os crentes esta-</p><p>vam debaixo do poder da Lei, mas uma vez que a Lei foi</p><p>cumprida mediante a morte de Jesus, estão livres do poder</p><p>da Lei e livres para escolherem a quem servir. Estávamos</p><p>presos pela Lei e por isso era difícil nossa reconciliação</p><p>com Deus. Mas, nós nos ligamos a Cristo, como a mulher</p><p>viúva, que podia ligar-se ou casar-se outra vez. O primeiro</p><p>83</p><p>marido representa a Lei. Morto o primeiro marido, o cris­</p><p>tão fica livre das exigências da Lei. O segundo marido re­</p><p>presenta Cristo. Estamos ligados a Ele em novo relaciona­</p><p>mento. Em nossa vida sob o domínio da Lei, as paixões nos</p><p>faziam produzir frutos para a morte (7.5), mas agora, li­</p><p>bertos dessas paixões e do poder da Lei, podemos servir a</p><p>Deus na liberdade que Cristo nos conquistou, e viver sob o</p><p>domínio do Espírito.</p><p>V - A SANTIFICAÇÃO DO NOSSO EGO (7.7-25)</p><p>O ego representa o eu pessoal. A partir desses</p><p>versículos, o apóstolo Paulo faz uma análise retrospectiva</p><p>e a expõe publicamente para poder ensinar com convicção</p><p>e segurança algo que era mais que uma teoria teológica, era</p><p>uma experiência pessoal. Nesses versículos</p><p>em estudo,</p><p>uma pergunta entra em cena, - Pode o E U viver plena­</p><p>mente a vida cristã? Então descobrimos que o nosso EU</p><p>deseja e pensa que pode viver a vida cristã. Entretanto, ele</p><p>está condenado à derrota. Ele não pode fazer nada. Vere­</p><p>mos ainda nesses versículos (7 a 25) que o pronome E U</p><p>aparece 12 vezes. Mesmo assim, o E U nada pode fazer e, se</p><p>quiser fazer alguma coisa, ele tem de ser submetido ao</p><p>Espírito Santo para a sua santificação, e então, haverá vi­</p><p>tória. O capítulo 7 nos conduz a um campo de batalha es­</p><p>piritual interior. Ê uma batalha renhida que o crente tem</p><p>pela frente. Se vivermos na carne, nossa nova natureza em</p><p>Cristo será vencida. Porém, se o Espírito nos santificou e</p><p>aceitamos o seu domínio, a carne será vencida. Aprendere­</p><p>mos que a santificação é progressiva. À medida que vamos</p><p>crescendo na fé, também vamos aperfeiçoando nossa vida</p><p>espiritual.</p><p>1. Apologia da lei de Deus (7.7-13)</p><p>a) Ê a Lei pecado?</p><p>7.7. “ É a Lei pecado? De modo nenhum!” Paulo não</p><p>desmerece o valor da Lei de Deus, visto que ela é boa e per­</p><p>feita. Entretanto, o problema não está na Lei, mas no ho­</p><p>mem que não pode cumpri-la. Paulo não aceita a idéia de</p><p>que a Lei seja pecado, porque ele entende que a Lei veio</p><p>para apontar e mostrar o pecado. Porém a Lei não foi feita</p><p>para salvar. Ela é impotente para a salvação do pecador. Ê</p><p>84</p><p>Rodrigo</p><p>um fato indiscutível que a Lei excita o pecado, visto que é</p><p>por meio dela que o homem tem consciência do pecado,</p><p>b) A Lei receia o pecado</p><p>7.8. “ Mas o pecado tomando ocasião pelo mandamen­</p><p>to...” Esta expressão nos mostra que a Lei revela o pecado.</p><p>Se ela não existisse, não teríamos consciência do pecado e</p><p>de sua força. Notemos que, quando a expressão diz: “ Mas</p><p>o pecado tomando ocasião pelo mandamento...” dá a idéia</p><p>de que o pecado é um poder, como um estrategista militar</p><p>que faz da sua lei uma espécie de “ base de operações” .</p><p>Quando alguém, ignorantemente, desconhece a Lei e co­</p><p>mete uma falta contra ela, está livre de condenação impos­</p><p>ta por essa Lei. Porém, quando o pecado é cometido, cons­</p><p>cientemente, contra a Lei, não há desculpas.</p><p>7.9-11. Nestes versículos Paulo declara sem rodeios</p><p>que sua morte espiritual aconteceu quando conheceu a</p><p>Lei, isto é, antes de conhecer a Jesus Cristo.</p><p>2. A Lei é, em si mesma, santa, boa e justa (7.12,13)</p><p>Nos versículos 12 e 13 aprendemos que a Lei não exis­</p><p>te para matar e não foi a causadora da morte espiritual de</p><p>Paulo, conforme ele se ilustra. Foi o pecado a causa de sua</p><p>morte. A Lei apenas revelou o pecado. Ele apologiza a Lei,</p><p>porque, antes de tudo ela provém de Deus. Sua finalidade</p><p>é promover a vida, não a morte. Visto que a Lei revelou o</p><p>pecado, o caminho da morte, Deus deixou o homem livre</p><p>para escolher o caminho da vida. Mas o pecado “ tomando</p><p>ocasião” , isto é, aproveitando o conhecimento dado pela</p><p>Lei, criou atrativos para iludir e seduzir o homem contra a</p><p>Lei.</p><p>3. O conflito entre a Lei e o pecado (7.14-25)</p><p>Esse conflito é inevitável. Duas leis se chocam - a lei</p><p>do pecado e a lei de Deus. Podemos chamá-las de lei carnal</p><p>e lei espiritual. Entretanto, esse conflito pode ser facilmen­</p><p>te dominado pelo crente, se ele dominar o pecado pela lei</p><p>espiritual. O campo de batalha entre essas duas forças é</p><p>interior no homem. Paulo ilustra o coração como o interior</p><p>de nossas vidas para mostrar esse conflito,</p><p>a) A lei é espiritual</p><p>7.14. “ Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas</p><p>eu sou carnal, vendido sob o pecado” . Mais uma vez ©</p><p>Rodrigo</p><p>grande apóstolo declara que o problema não está na lei de</p><p>Deus, mas na natureza pecaminosa do homem. Quando</p><p>ele declara “ sou carnal” está, na verdade, dizendo que ele</p><p>é feito de carne, isto é, sujeito à lei do pecado que opera na</p><p>carne. Ele diz, também, que é “ vendido sob o pecado” , ou,</p><p>à escravidão do pecado. Significa que, queira ou não, está</p><p>na sua carne, a tendência pecaminosa que o escraviza e faz</p><p>de sua natureza pecaminosa a sede de operações para o pe­</p><p>cado. Essa escravidão envolve toda a personalidade do ho­</p><p>mem. Porém esse envolvimento encontra uma barreira</p><p>para o domínio total do pecado, que é a lei espiritual,</p><p>b) O conflito entre a lei e o pecado</p><p>7.15. “ Porque o que faço não o aprovo” . Nestas pala­</p><p>vras o apóstolo se sente no centro do conflito no seu inte­</p><p>rior, e não consegue entender porque pratica certos atos</p><p>que contrariam sua real vontade. Ele vê o conflito entre o</p><p>bem e o mal, e, às vezes, esse conflito é tão intenso que ele</p><p>não consegue descobrir o “ porquê” desse conflito que o</p><p>leva a fazer certos atos.</p><p>7.15,16. “ ...pois o que quero isso não faço, mas o que</p><p>aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com</p><p>a Lei, que é boa” . Aqui está travada a luta entre o velho e o</p><p>novo homem. Note isto. 0 que o velho homém faz, não o</p><p>aprova o novo homem, e vice-versa. Paulo diz que o seu eu</p><p>quer e sabe fazer o bem, com isto está provado que a Lei é</p><p>boa. Entretanto, o poder do pecado procura oportunidade</p><p>contra a vida redimida por Cristo. Paulo destaca dois</p><p>princípios dentro desse conflito, que sâo o conflito carnal e</p><p>o conflito espiritual. O princípio carnal é destacado no</p><p>capítulo 7, nos versículos 14,15,16,18,19,20,21,23,24 e 25. O</p><p>p r in c íp io e s p i r i tu a l apa rec e nos v e r s ícu lo s</p><p>15,16,18,19,20,21,22,23,25. Em síntese, aprendemos que</p><p>temos de lutar contra o pecado que está em nossa nature­</p><p>za, chamada carne. João, em sua primeira epístola diz:</p><p>“ Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mes­</p><p>mos nos enganamos” (1 Jo 1.8). Paulo mostra o poder do</p><p>pecado como uma força fora do seu alcance; e por isso, não</p><p>podemos compreender por que pecamos, mesmo não que­</p><p>rendo pecar. Porém podemos vencer e nos libertar do peca­</p><p>do que mora em nossa carne, através de Jesus Cristo. Pau-86</p><p>Rodrigo</p><p>Io diz: “ Quem me livrará do corpo desta morte’ ” (7 24) A</p><p>resposta está no versículo 25, quando o apóstolo declara:</p><p>uraças a Deus por nosso Senhor Jesus Cristo”</p><p>c) A vitória contra o pecado</p><p>7.24,25. Nestes versículos está implícita a vitória con­</p><p>tra o pecado. O segredo da vitória está em manter sob</p><p>domínio a força da carne pela lei do Espírito. E a vitória</p><p>total se concretizará mediante a libertação do “ corpo do</p><p>pecado” na morte física, quando então nunca mais haverá</p><p>possibilidade de tentação e pecado.</p><p>A expressão “ corpo desta morte” (7.24) diz respeito ao</p><p>“ corpo do pecado” que representa a morte espiritual e a</p><p>morte física. A palavra corpo deve ser interpretada literal­</p><p>mente, porque se refere ao corpo como o instrumento usa­</p><p>do pelo pecado para destruir a alma. Bem, o pecado tem</p><p>força sobre o corpo, mas a lei espiritual vem para deter a</p><p>força do pecado.</p><p>No versículo 25, Paulo diz: “ De maneira que eu, de</p><p>mim mesmo...” No original grego a expressão “ eu, de mim</p><p>mesmo” é “ autos ego” e diz respeito ao eu carnal. 0 eu car­</p><p>nal é escravo do pecado e usa os membros do corpo (7.22)</p><p>para satisfazer o pecado. O eu espiritual obedece ao princí­</p><p>pio espiritual. Note isto: o eu carnal é entregue à força do</p><p>pecado; o eu espiritual recebe o domínio do Espírito Santo</p><p>que veio morar no interior do crente para conduzi-lo à vitó­</p><p>ria. Paulo aconselhou aos Gálatas: “ Andai em Espírito, e</p><p>não cumprireis os desejos da carne” (G! 5.16).</p><p>Ainda no versículo 25 Paulo diz: “ ...com o entendi­</p><p>mento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do peca­</p><p>do” . Nas palavras iniciais desse mesmo versículo, Paulo</p><p>começa dando “ graças a Deus por Jesus Cristo” , porque</p><p>Paulo sabia que a luta interior não pararia. Com o seu en­</p><p>tendimento, ele serviria a Deus e obedeceria à lei Divina,</p><p>mas era inevitável que estaria sujeito às fraquezas da car­</p><p>ne. Porém, estava certo da vitória contra o poder do peca­</p><p>do, com a ajuda do Espírito Santo.</p><p>VI - A VITÓRIA DA SANTIFICAÇÃO (8.1-13)</p><p>O capítulo 8 é o ponto alto, o clímax, a conquista da</p><p>87</p><p>Rodrigo</p><p>Rodrigo</p><p>vitória pelo Espírito Santo. O ápice espiritual deste capí­</p><p>tulo, portanto, está na vida vitoriosa no Espírito.</p><p>1. Uma declaração irreversível (8.1)</p><p>“ Portanto, nenhuma condenação há para os que estão</p><p>em Cristo Jesus” . A palavra portanto no início da declara­</p><p>ção vitoriosa refere-se ao capítulo 7, na qual, Paulo argu­</p><p>mentou a batalha entre a carne e o espírito. Uma luta que</p><p>parece infindável, se depara com a conquista da vitória no</p><p>Espírito. A palavra portanto levanta a bandeira do Espíri­</p><p>to para o início da nova vida. A declaração de que “ nenhu­</p><p>ma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” in­</p><p>dica que a Lei (toda ela), que condenava os pecadores, foi</p><p>cumprida por Jesus. Ele tomou sobre si essa condenação,</p><p>justificando-nos perante Deus Pai (Em õ .l) e nos colocan­</p><p>do sob a lei do Espírito. Portanto, o pecador justificado es­</p><p>tá debaixo de uma nova lei espiritual que domina e rege a</p><p>nova vida em Cristo.</p><p>2. A lei do Espírito de vida (8.2,3)</p><p>“Porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me</p><p>livrou da lei do pecado e da morte” (8.2). Paulo fala nesta</p><p>Carta de várias leis e as trata como: “ lei do pecado” , “ lei</p><p>do entendimento” , “ lei de Moisés” , “ lei de Deus” . Porém,</p><p>no capitulo 8, ele fala da “ lei do espírito de vida” que opera</p><p>no interior do crente e o liberta do domínio da lei do peca­</p><p>do, da carne e da morte. Há uma ligação profunda entre o</p><p>Espírito Santo e Jesus, pois a nova lei é chamada “ lei do</p><p>espírito de vida em Cristo Jesus” . É a lei da vida de Jesus</p><p>que opera no íntimo do crente e o habilita a ter comunhão</p><p>com Ele. Essa “ lei de vida” opera pelo poder da ressurrei­</p><p>ção de Jesus. Ele está vivo e por isso temos a sua vida den­</p><p>tro de nós pelo Espirito Santo. Outrossim, notaremos nos</p><p>versículos 3 e 4 que a libertação do domínio do pecado é</p><p>conquistada por Jesus. Não é produzida por meio de códi­</p><p>go de leis humanas, nem pela consciência, nem pela vonta­</p><p>de de quem quer que seja, mas pelo Espírito Santo.</p><p>“ Porquanto o que era impossível à Lei...” (8.3). diz</p><p>respeito ao fato de que essa lei nada podia fazer pelo ho­</p><p>mem, senão condená-lo. Diz ainda o versículo; “ ...visto</p><p>como estava enferma pela carne” , ou como expressa outra</p><p>versão: “ visto que se achava fraca [a Lei] pela carne” . En-</p><p>88</p><p>tende-se entao, que a Lei nao podia operar a libertação do</p><p>pecado Por isso Deus, envia«d o o seu Filho em seme­</p><p>lhança de carne (v 3). isto e, tomando a forma frágil do</p><p>homem pecador, recebeu em seu corpo, na sua carne o</p><p>nosso pecado, e o cravou na cruz do Calvário</p><p>3. A justiça da lei cumprida segundo o Espírito (8.4 5)</p><p>“ Para que a justiça da Lei se cumprisse em nós” {8 4)</p><p>Quando Cristo se fez o representante do homem pecador ô</p><p>poder condenatório do pecado foi desfeito, e, então, a justi­</p><p>ça foi cumprida por Cristo. Agora, uma vez libertos da lei</p><p>do pecado, e vivendo segundo o Espírito, a carne não tem</p><p>mais direitos sobre nós. Ainda que a inclinação da came é</p><p>para as coisas da carne, se vivermos em Espírito, a came</p><p>estará sob domínio.</p><p>No versículo 4, temos a descrição daqueles que vivem</p><p>segundo a came ou segundo o Espírito. No versículo 5,</p><p>Paulo mostra os que são conforme a came e conforme o</p><p>Espirito. De um lado temos aqueles que se ocupam na prá­</p><p>tica do pecado. Por outro lado, temos aqueles que se ocu­</p><p>pam em fazer a vontade do Espirito e estar sob sua dire­</p><p>ção.</p><p>4. A vitória do Espírito (8.6-13)</p><p>Nestes versículos é destacada a operação do Espírito</p><p>Santo na vida do crente. É a obra santificadora do Espírito</p><p>Santo na mente, no espirito e no corpo do crente (1 Ts</p><p>5.23,24). O crente anda e vive no Espírito, pois não está</p><p>mais sob o domínio da carne. Sua vida agora é regida e re­</p><p>gulada pelo Espírito Santo, que mora nele e governa o seu</p><p>interior.</p><p>5. 0 Espírito nos assegura a posição presente de filhos</p><p>(8.14-18)</p><p>a) 8.14. Direção - “ Todos os que são guiados pelo</p><p>Espírito de Deus esses são filhos de Deus” . Ser guiado pelo</p><p>Espírito significa tê-lo na vida diária, regendo, governando</p><p>e orientando sobretudo. Significa estar sob o seu total</p><p>domínio: por isso, somente os guiados pelo Espírito se tor­</p><p>nam filhos de Deus.</p><p>b) 8.15. Adoção - Uma vez vencida a came e morfci-</p><p>ficadas as obras do corpo pelo Espírito (8.13), o pecador é</p><p>restaurado da escravidão “ porque não recebestes o espírito</p><p>89</p><p>da escravidão” , e é conduzido ao direito adotivo de ser</p><p>chamado “ filho de Deus” (Jo 1.12). O versicuío 15 apresen­</p><p>ta duas expressões singulares: “ o espírito de escravidão” e</p><p>“ espírito de adoção” . Os que estão sob o domínio do “ espí­</p><p>rito de escravidão” vivem em temor, medo, dúvida e pri­</p><p>são. Porém, os que estão sob o domínio do “ espírito de ado­</p><p>ção” estão capacitados a orarem e dizerem a Deus: “ Abba,</p><p>Pai” (8.15).</p><p>c) 8.16. Testemunho - “ O mesmo Espírito” identifi­</p><p>ca e reafirma que é o Espírito Santo quem restaura o direi­</p><p>to legal de filhos de Deus por adoção em Jesus Cristo. O</p><p>testemunho do Espírito reafirma no nosso espírito interior</p><p>a graça de Deus recebida. Portanto, quando a expressão</p><p>diz: “ testifica com o nosso espírito” , não se refere a um</p><p>mero assentimento de nossa consciência, mas sim, a que o</p><p>Espírito Santo sustenta e confirma dentro de nós a con­</p><p>fiança da adoção em Cristo Jesus. Pergunta-se então: - O</p><p>que é que o Espírito Santo testifica em nós? De que Ele dá</p><p>testemunho? - 0 Espírito dá testemunho no nosso ser inte­</p><p>rior de que estamos perdoados de nossos pecados, da certe­</p><p>za da reconciliação com Deus e do acesso a Ele pela fé em</p><p>Jesus (Rm 5,1,2), e ainda, do glorioso direito de sermos f i­</p><p>lhos de Deus.</p><p>d) 8.17. Herança - “ E se nós somos filhos, somos</p><p>herdeiros” . Esta expressão confirma o direito legal conce­</p><p>dido aos filhos de Deus, a herança do Pai Celestial. No tex­</p><p>to de 8.15 vemos que temos direito de orar a Deus como</p><p>Pai. A esperança cristã se baseia num fato e numa promes­</p><p>sa. Quanto ao fato da esperança, está na obra expiatória de</p><p>Cristo e na vinda do Espírito Santo ao coração do crente.</p><p>Quanto à promessa da esperança, refere-se à glória futura</p><p>expressa e revelada nas Escrituras. Ora, “ se somos filhos” ,</p><p>logo “ somos herdeiros” do Pai Celestial. Esta filiação pro­</p><p>vida pela reconciliação (2 Co 5.17,18) dá a idéia de uma</p><p>reintegração do homem em caráter original de governador</p><p>e rei da criação, visto que, pelo pecado ele foi privado dessa</p><p>honra (Gn 3.17,19). Porém, por Jesus Cristo, o homem é</p><p>restaurado diante de Deus e passa a ser, então, co-herdeiro</p><p>com Cristo (8.17), O texto diz que “ somos herdeiros de</p><p>Deus” e isto refere-se ao direito de posse de uma herança</p><p>90</p><p>pertencente a Cristo. Por isso mesmo “ somos co-herdeiros</p><p>com Cristo” , isto é, participamos da mesma glória. Ê inte­</p><p>ressante notar que a palavra filhos, no versículo 17, confor­</p><p>me o original grego é “ tekna” , e se refere a filhos por gera­</p><p>ção real, contrastando com a idéia de um filho por adoção.</p><p>Não há nenhuma contradição nas expressões “ filhos gera­</p><p>dos” e “ filhos adotados” . Na verdade, o que Paulo quer fa­</p><p>zer valer é a importância de que,- em Cristo, somos filhos</p><p>gerados espiritualmente (implícito no vocábulo “ tekna” ).</p><p>Como filhos, nascidos ou adotados, nos tomamos partici­</p><p>pantes da natureza divina (2 Pe 1.4). Outrossim, a herança</p><p>prometida aos filhos de Deus nada tem a ver com o ponto</p><p>de vista materialista, que interpreta essa herança em ter­</p><p>mos materiais, como palacetes, riquezas temporais, etc. O</p><p>texto do versículo 17 ainda continua: “ ...se com Ele sofrer-</p><p>m o s . e diz respeito aos sofrimentos que temos nesta vida</p><p>temporal contra o pecado, contra o Diabo e contra todas as</p><p>seqüelas do pecado. O sentido real dessa expressão refere-</p><p>se à nossa luta contra o mal, assim como Ele (Jesus) sofreu</p><p>em seu corpo os mesmos sofrimentos humanos, e foi depois</p><p>glorificado, também nós o seremos. Observe que a Bíblia</p><p>diz que “ a carne e o sangue não podem herdar o reino de</p><p>Deus” , porém, todas as provas e penas que passamos nesta</p><p>vida terrena, tornam-se o trampolim para a vida eterna, a</p><p>glorificação.</p><p>e) 8.18 - Segurança - Nestes versículos, o Espírito</p><p>Santo nos assegura a glória</p><p>futura de filhos de Deus. Em</p><p>primeiro lugar, o apóstolo Paulo faz uma declaração acerca</p><p>da segurança expressa no versículo 18, quando diz: “ Por­</p><p>que para mim” , o que expressa uma convicção própria e</p><p>muito forte. Depois ele continua, dizendo: “ tenho por cer­</p><p>to” , isto é, não resta qualquer dúvida, mas está baseado</p><p>numa certeza indiscutível. Ainda continua o versículo 18:</p><p>“ ...as aflições deste tempo presente não são para comparar</p><p>com a glória que em nós há de ser revelada” . Uma vez con­</p><p>sumada a redenção do pecador na libertação total do “ cor­</p><p>po de pecado” , que coisa mais pode aguardar o crente? -</p><p>Aguarda com esperança segura a eterna glória prometida.</p><p>Porém, contesta-se com a pergunta: - Por que sofrem*»</p><p>tantas aflições? A grande verdade é que as lutas precedem</p><p>as vitórias; as tristezas precedem as grandes alegrias e “ as</p><p>aflições deste tempo presente” precedem as glórias futuras</p><p>preparadas para os vencedores.</p><p>VII - A ARDENTE EXPECTAÇÃO PELA SANTIF ICA­</p><p>ÇÃO (8.19-22)</p><p>S. 19 - “ Porque a ardente expectação da criatura... A</p><p>palavra expectação é interpretada por várias formas a ela</p><p>relacionadas, como desejo ardente e anelo ardente, etc.</p><p>Porém entendo que o sentido real é o de aguardar ou espe­</p><p>rar vigilante e ansioso alguma coisa espetacular. Mas as</p><p>palavras ardente expectação relacionam-se com o sujeito</p><p>de expectação que é a criatura, ou criação. - Que se enten­</p><p>de por criatura neste versículo? - A palavra criatura pode</p><p>referir-se à inclusão de todos os seres criados, animados ou</p><p>inaminados, os quais aguardam com ansiedade a revelação</p><p>dos remidos na vinda gloriosa de Jesus à Terra. A ardente</p><p>expectação de toda a criação é quanto à sua própria reden­</p><p>ção e à redenção da Igreja remida. A redenção desejada</p><p>pela criação está no versículo 21, quando diz: “ Na esperan­</p><p>ça de que também a mesma criatura será libertada da ser­</p><p>vidão da corrupção” . Paulo dá a entender que, na culmi­</p><p>nação da redenção dos remidos, ou seja, na “ liberdade da</p><p>glória dos filhos de Deus” (v 21), também, a criatura, “ su­</p><p>jeita à vaidade” (v 20) será libertada.</p><p>1. O desejo de libertação</p><p>8.22. Aqui neste versículo o desejo de libertação da</p><p>criação é figurado pelas “ dores de parto” de uma mulher</p><p>grávida, que, à chegada do nascimento da criança, seu</p><p>ventre se contrai para expulsar para fora a criança. Assim</p><p>como uma mãe, quando chega o momento de dar à luz, de­</p><p>seja ardentemente esse nascimento, assim está a criação</p><p>desejosa pela libertação da corrupção deste mundo.</p><p>2. As primícias do Espírito (8.23)</p><p>“ E não só ela” - (Quem? - a criação!) - “ Mas nós</p><p>mesmos” - (Quem? - Paulo e todos os crentes.) - “Temos</p><p>as primícias do Espírito” - expressão referente à vinda do</p><p>Espírito Santo no Dia de Pentecoste e à sua habitação na</p><p>vida dos crentes. F.F. Bruce, em seu Comentário aos Ro­</p><p>manos, pg 141 (Ed. Mundo Cristão) escreveu: “ A habita-</p><p>92</p><p>ção do Espirito em nós aqui e agora constitui as primícias</p><p>isto é, a primeira prestação ou a entrada na entrega da he­</p><p>rança eterna da glória que aguarda os crentes em Cristo” .</p><p>Outrossim, a palavra primícias no grego aparece como “ a-</p><p>parchê” e tem o sentido de alguma coisa que dá garantia da</p><p>herança esperada. Tem o significado de um bilhete de en­</p><p>trada que se recebe para poder entrar em algum lugar es­</p><p>pecial, e nós temos essa entrada que nos garante a heran­</p><p>ça. É o penhor do Espírito conforme Paulo fala aos efésios</p><p>e aos coríntios (E f 1.14; 2 Co 1.22; 5.5).</p><p>3. O gemido da Igreja (8.23)</p><p>“ ...também gememos em nós mesmos...” A referência</p><p>a “ nós mesmos” diz respeito ao nosso íntimo, ou como diz</p><p>ainda aos coríntios: “ ao nosso tabernáculo” (2 Co 5.2). A</p><p>figura do tabernáculo é usada para falar do nosso corpo</p><p>que geme com o desejo de ser revestido da habitação celes­</p><p>tial. Subentende-se que há dois gemidos distintos apresen­</p><p>tados por Paulo, que são: o gemido de toda a criação (Rm</p><p>8.19-21) e o gemido da Igreja (Rm 8.23,24). Já abordamos</p><p>sobre o gemido da criação. Agora estamos falando do gemi­</p><p>do da Igreja. - Por que coisa geme a Igreja? A resposta está</p><p>na seqüência do versículo 23, que diz: “ ...esperando a ado­</p><p>ção, a saber, a redenção do nosso corpo” . Notemos que a</p><p>adoção de filhos tem sua culminação na “ redenção do nos­</p><p>so corpo” . Essa redenção diz respeito à gloriosa transfor­</p><p>mação de nosso corpo mortal para um corpo imortal e glo­</p><p>rioso. Nesse corpo terrenal estamos sujeitos a todas as li­</p><p>mitações naturais, e, por isso, padecemos, mas quando</p><p>deixarmos esse corpo temporal, ele será remido das limita­</p><p>ções naturais para ser um corpo espiritual e incorruptível</p><p>(1 Co 15.49-54).</p><p>4. A razão da nossa esperança (8.24,25)</p><p>No versículo 24 Paulo levanta uma contestação dizen­</p><p>do: “ ...porque o que alguém vê como o esperará?” A con­</p><p>testação é respondida no versículo 25. “ Mas se esperamos</p><p>o que não vemos com paciência o esperamos” . A esperança</p><p>se baseia na fé e, “ sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb</p><p>11.6). A fé é a certeza, a convicção, a evidência daquilo qu^</p><p>se espera . A esperança é a expectação das coisas que se na®</p><p>vêem. A fé é a progenitora da esperança. Portanto, nossa</p><p>esperança tem fundamento nas promessas da glória futu­</p><p>ra.</p><p>VII - A TRINDADE DIVINA NA OBRA DA SANTIFICA­</p><p>ÇÃO (8.26-34)</p><p>Nestes versículos, Paulo apresenta a Trindade divina</p><p>empenhada em ajudar o crente na sua esperança. O capí­</p><p>tulo 8 conduz o crente no caminho da santificação pela</p><p>operação do Espírito Santo. Apresenta todos os obstáculos</p><p>que se deparam com o crente. Coloca o crente no campo de</p><p>luta espiritual e dá-lhe as armas espirituais para lutar, e,</p><p>finalmente, apresenta-lhe a razão dessa luta, aconselhan­</p><p>do e orientando-o em toda a sua jornada cristã.</p><p>1) O Espirito intercede em nós (8.26,27). Esses dois</p><p>versículos mostram a missão do Espírito dentro do crente,</p><p>trabalhando a seu favor. Ele “ ajuda as nossas fraquezas”</p><p>(v 26). A que se referem as “ nossas fraquezas” ? - Referem-</p><p>se às nossas limitações temporais neste corpo mortal, su­</p><p>jeito à natureza pecaminossa. Enquanto estivermos enclau­</p><p>surados dentro deste “ tabernáculo” (corpo) terrenal, so­</p><p>mos sujeitos às fraquezas da carne. Por isso, o Espírito</p><p>Santo habita dentro do crente para ajudá-lo nas suas fra­</p><p>quezas. A ajuda do Espírito dentro de nós é representada</p><p>pela sua intercessão. A quem Ele intercede? A Deus Pai, e</p><p>a seu Filho Jesus Cristo.</p><p>2) O Filho intercede por (ou sobre) nós (8.33,34)</p><p>Nestes versículos está a defesa e também a proteção</p><p>aos servos de Jesus Cristo. Paulo começa mostrando-se</p><p>contra qualquer possibilidade de acusação ou condenação</p><p>aos crentes, dizendo: - “ quem intentará acusação contra</p><p>os escolhidos de Deus” ? (8.33). A resposta vem segura e ta­</p><p>xativa: - “ É Deus quem os justifica” (8.33). Nos dias da</p><p>igreja primitiva, muitos inimigos se levantaram contra ela,</p><p>principalmente contra o ensino cristão. Os judeus legalis­</p><p>tas e muitas religiões pagãs negavam a possibilidade da</p><p>justificação pela fé. Porém Paulo os contesta, dizendo: “ È</p><p>Deus quem os justifica” . No versículo 34, o apóstolo argu­</p><p>menta a razão da obra expiatória de Cristo, respondendo â</p><p>indagação:‘‘Quem os condenará?” e reafirma ainda mais,</p><p>dizendo: - E Cristo quem morreu, ou antes quem ressus-</p><p>94</p><p>citou dentre os mortos, o qual está a direita de Deus, e</p><p>também intercede por nós” . O apóstolo das gentes apre­</p><p>senta todos os aspectos da nossa redenção por Cristo des­</p><p>de sua morte até a sua glorificação à direita de Deus. Áo</p><p>falar da morte de Cristo, ele destaca a redenção relaciona­</p><p>da com culpa do pecado, pois Cristo tomou sobre si essa</p><p>culpa. Ao ressuscitar “ dentre os mortos” , garantiu a re­</p><p>denção na vida presente, do poder do pecado. Pela sua res­</p><p>surreição, somos salvos do poder do pecado. Ao assentar-se</p><p>à direita de Deus, estava investido da autoridade e da ca­</p><p>pacidade de ajudar o fcrente, recebendo a intercessão do</p><p>Espírito Santo que habita dentro do crente. Ele mesmo “à</p><p>direita de Deus” , intercede por nós, como Sumo Sacerdo­</p><p>observamos na alma de Paulo, a lógica e o</p><p>sentimento. Os seus ensinos são profundos porque encer­</p><p>ram verdades profundas. Os seus escritos são cristocêntri-</p><p>cos e não divagam em superficialidades. Cristo foi seu as­</p><p>sunto centrai nos ensinos e pregações. Sua teologia, pro­</p><p>funda e racional, destaca um cristianismo moralista e põe</p><p>como ponto alto a pessoa de Cristo.</p><p>Às vezes, o estilo de Paulo parece torná-lo duro e in­</p><p>tratável no que tange à sua intransigência em assuntos</p><p>doutrinários. Entretanto, ele cultivava a simpatia pessoal</p><p>ao lembrar nomes, enviando saudações aos amigos con­</p><p>quistados no campo missionário.</p><p>Na verdade, temos muito que aprender da vida deste</p><p>grande apóstolo. Com indiscutível segurança e sem qual­</p><p>quer resquício de vaidade, ele nos convida a sermos seus</p><p>imitadores (1 Co 4.16) ediz: “o que também aprendestes, e</p><p>recebestes, e ouvistes. é vistes em mim, isso praticai” (F1</p><p>4.9).</p><p>DATA E LUGAR</p><p>Não é difícil estabelecer o lugar e a ocasião em que foi</p><p>escrita a carta. Paulo fazia a terceira viagem missionária e,</p><p>quando escreveu a carta, estava na próspera cidade de Co-</p><p>rinto, capital da província romana de Aeaia, no território</p><p>da Grécia. Depois de ter passado em Éfeso algum tempo,</p><p>doutrinando e estabelecendo a igreja ali, Paulo foi a Corin-</p><p>to. Por três meses ficou hospedado na casa do fiel amigo</p><p>Gaio, possivelmente na primavera de 57 ou 58 d.C. Dese­</p><p>jando voltar a Jerusalém, por considerar ter terminado seu</p><p>trabalho no Oriente, levantou ofertas das igrejas gentíli-</p><p>cas, para ajudar os crentes perseguidos que passavam pri­</p><p>vações em Jerusalém (Rm 15.25; 1 Co 16.1-14; 2 Co 8.1 e</p><p>9.15).</p><p>Com o ardor missionário queimando o seu interior,</p><p>sua visão evangelística ia mais além - à Espanha. No ca­</p><p>minho para a Espanha, Roma era escala obrigatória, por</p><p>isso Paulo aproveitou a oportunidade para escrever esta</p><p>carta aos crentes em Roma, visto que desejava expor a fé</p><p>cristã, para dirimir as dificuldades doutrinárias existentes</p><p>na igreja em Roma, das quais Paulo era sabedor.</p><p>A IGREJA EM ROMA</p><p>1. Sua origem</p><p>Não existem dados históricos que provem como e por</p><p>quera foi fundada a igreja em Roma. Uma antiga tradição</p><p>da Igreja Romana apresenta o apóstolo Pedro como sendo</p><p>o seu fundador. Esta suposição é refutada pela mais clara</p><p>evidência histórica. Quando Paulo escreveu a Carta, Pedro</p><p>não se achava em Roma. Se Pedro estivesse lá, Paulo não</p><p>teria escrito essa carta, por respeito ao apostolado de Pe­</p><p>dro, bem como ao pastorado de qualquer outro cristão emi­</p><p>nente na época.</p><p>2. Suposições históricas</p><p>Estas suposições podem oferecer uma idéia possível</p><p>da origem da igreja em Roma, mas não provam nada:</p><p>, ,a,* estiveram em Jerusalém no dia de Pentecos-</p><p>e (At 2.10) e fizeram parte dos três mil convertidos, ao</p><p>14</p><p>voltarem para Roma, formariam o primeiro grupo de cren-</p><p>tes em Cristo ah r ■</p><p>b) Pode se ter originado a igreja em Roma do testemu­</p><p>nho e do trabalho de crentes, eidadâos do Império que via­</p><p>javam livremente entre Jerusalém e Roma</p><p>Outra suposição é a de que havia em Roma uma colô­</p><p>nia judaica com cerca de quarenta m il pessoas, descenden­</p><p>tes dos chamados “Libertos”. Estes “Libertos” haviam</p><p>sido conduzidos como escravos a Roma, vindos da Palesti­</p><p>na, trazidos por Pompeu. Mais tarde, foram libertos e or­</p><p>ganizaram sinagogas em Roma, mas muitos voltaram a</p><p>Palestina em 49 d.C. Destes judeus, muitos se tomaram</p><p>seguidores de Cristo.</p><p>3. Suas características</p><p>A igreja em Roma se constituía de duas classes de pes­</p><p>soas - judeus e gentios. Notemos que Paulo não se dirige a</p><p>nenhum líder espiritual em Roma pois não se conhecia ne­</p><p>nhum nome. Sabia-se que alguns crentes se reuniam em</p><p>algum lugar, mas havia certas divergências doutrinárias,</p><p>que precisavam ser dirimidas. “Crê-se que a igreja se com­</p><p>punha de, pelo menos, quatro diferentes congregações, a</p><p>saber, a da casa de Áqüila e Priscila, no Aventino; a do Pa­</p><p>lácio Imperial; a da casa de Hermes, e a da casa de Filólo-</p><p>go (Rm 16.3-15)” . (N. Com. pg 1151).</p><p>Podemos observar que Paulo não se dirigiu a nenhum</p><p>grupo em particular, mas à igreja.</p><p>OBJETIVOS DA CARTA</p><p>Notam-se dois objetivos principais na Carta aos Ro­</p><p>manos: objetivo missionário e objetivo doutrinário.</p><p>1. OBJETIVO MISSIONÁRIO</p><p>Paulo tinha a intenção de levar avante seu ardor evan-</p><p>gelístieo às terras que ainda não conheciam o Evangelho</p><p>de Cristo.</p><p>Sentindo que seu trabalho na Ásia e na Grécia (Rm</p><p>15.23) estava completo, podia agora voltar sua atenção ao</p><p>sonho de pregar na Europa, principalmente na Itália e de­</p><p>pois na Espanha.</p><p>15</p><p>Paulo identifica-se nesta carta com um autêntico mis­</p><p>sionário gentílico. Ele desbrava outras terras, longe de Je­</p><p>rusalém, além da terra dos judeus e abre as portas do</p><p>Evangelho para o mundo inteiro.</p><p>Diferentes opiniões sobre os objetivos de Paulo são</p><p>apresentados por algumas autoridades bíblicas sobre a</p><p>Carta aos Romanos. O doutor Scott escreveu que “Pauio</p><p>queria apresentar-se à igreja para remover toda a sorte de</p><p>suspeitas a respeito de sua pessoa, que o Partido Judaico</p><p>de Jerusalém havia espalhado.” Já o doutor C.H. Dodd,</p><p>afirma que “não havia uma condição interna na igreja em</p><p>Roma que provocasse esta carta, porém, o desenvolvimen­</p><p>to dos próprios planos de Paulo” (0 Evangelho Segundo</p><p>Paulo - Clifton J. Allen, pg 16,17).</p><p>Mas Paulo era sabedor dos problemas doutrinários</p><p>existentes no seio da igreja em Roma. Seu sentimento mis­</p><p>sionário não colocou à margem o desejo de ajudar a escla­</p><p>recer as dúvidas doutrinárias existentes. A igreja do pri­</p><p>meiro século não possuía livros doutrinários, senão as car­</p><p>tas dos apóstolos, mas tinha o ensino direto dos pastores.</p><p>2. OBJETIVO DOUTRINÁRIO</p><p>Sabedor das dificuldades doutrinárias existentes em</p><p>Roma, Paulo apresenta duas razões por que foi escrita a</p><p>carta. A primeira era preparar a igreja para o seu intento</p><p>missionário. A segunda razão era fazer uma exposição lógi­</p><p>ca e compreensiva das verdades centrais do Evangelho.</p><p>O problema principal consistia sobre os direitos e pri­</p><p>vilégios da salvação, tanto de judeus como de gentios. Pau­</p><p>lo apresenta a doutrina da salvação expondo seu conteúdo</p><p>em três aspectos essenciais: a necessidade da salvação, o</p><p>caminho da salvação e os frutos da salvação.</p><p>A exposição sobre a doutrina da salvação não se ba­</p><p>seia numa teoria de particular interpretação, mas é inspi­</p><p>rada pelo Espírito Santo. A cultura geral do apóstolo Pau­</p><p>lo, principalmente sobre o judaísmo, e a sua experiência</p><p>cristã, contribuíram fortemente para a exposição doutri­</p><p>nária da Carta aos Romanos, a qual é indubitavelmente,</p><p>um explêndido tratado teológico.</p><p>16</p><p>0 PLANO DA CARTA</p><p>Numa seqüência espetacular, o escritor destaca al­</p><p>guns aspectos principais dentro da sua carta, A doutrina</p><p>da salvação é apresentada dentro de 4 itens essenciais: o</p><p>teológico (1.18-5.11), o antropológico (5.12-8.39); o históri­</p><p>co (9.1-11.36); e o ético (12.1-15.33). Esse plano alcança</p><p>toda a Carta, e contém verdades incontestáveis e irremoví-</p><p>veis.</p><p>1. Na esfera teológica (1.18-5.11), Paulo apresenta a</p><p>condição perdida dos homens, sem a mínima possibilidade</p><p>de salvação por méritos próprios, tanto para judeus como</p><p>para gentios. Logo depois, Cristo é a solução, visto que, por</p><p>sua morte, todos os pecadores podem ser justificados da</p><p>pena de condenação. O pecador é justificado mediante a</p><p>obra expiatória de Cristo Jesus. Esta justificação é efetua­</p><p>da através da fé confessada em Jesus. E a fé sem as obras</p><p>da Lei. Esta fé introduz o pecador a uma nova vida de san­</p><p>tificação e poder.</p><p>2. Na esfera Antropológica (5.12-8.39), a vida toma</p><p>outra perspectiva. A ilustração do primeiro Adão e do se­</p><p>gundo Adão, coloca o crente de frente à realidade espiri­</p><p>tual. O primeiro Adão foi vencido pelo pecado, mas o se­</p><p>gundo Adão venceu o pecado, e venceu por todos os ho­</p><p>mens. Um novo regime de vida, orientado pelo Espírito</p><p>Santo.</p><p>3. Na esfera Histórica (9.1-11.36), Paulo destaca a</p><p>questão da rejeição de Israel ao plano divino. A doutrina</p><p>da salvação é apresentada de maneira</p><p>te, feito segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 5.8-10-</p><p>7.11-17; 7.22-27).</p><p>3) O Pai provê para nós nas nossas necessidades (8.28-</p><p>32)</p><p>Há uma perfeita harmonia no Deus Trino. Cada Pes­</p><p>soa da Trindade exerce a sua função, e agora temos o Pai</p><p>que responde às intercessões do Filho (no Céu) e do Espíri­</p><p>to Santo (no coração do crente). O versículo 28 apresenta</p><p>outra base para a confiança no futuro. Podemos contar</p><p>com a ajuda, também do Pai, para as nossas necessidades.</p><p>Analisemos ainda um pouco mais o versículo 28: “ Sabe­</p><p>mos que todas as coisas contribuem juntamente para o</p><p>bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chama­</p><p>dos por seu decreto” . Com a palavra sabemos, o apóstolo</p><p>Paulo reafirma a convicção e a certeza total no resto da de­</p><p>claração. A expressão “ todas as coisas” diz respeito a tudo</p><p>aquilo de que Deus é Senhor e Criador. A palavra contri­</p><p>buem é traduzida em outras versões por cooperam para o</p><p>bem daqueles que amam a Deus. No grego “ synergei” sig­</p><p>nifica cooperar. Voltando ainda ao mesmo versículo com a</p><p>expressão “ todas as coisas” , entendemos que se pode refe­</p><p>rir a “ todas as coisas” que Deus pode manipular ou permi­</p><p>tir. Paulo crê piamente no cuidado divino para com aque­</p><p>les que amam a Deus. Portanto, “ todas as coisas” podem</p><p>incluir também aqueles sofrimentos e angústias que passa­</p><p>mos nesta vida temporal, mas Deus tem o controle de tu­</p><p>do. Os “ chamados por seu decreto” (v 28) são todos quan­</p><p>tos aceitaram a obra salvadora em Jesus Cristo. 0 propósi­</p><p>to de Deus para com aqueles que amam a Deus é prover</p><p>“ todas as coisas” para o bem deles. A eleição e a chamada</p><p>são termos eorrelatos aqui nestes versículos. 0 versículo 29</p><p>começa declarando que os “ chamados por seu decreto” do</p><p>versículo 28, são os “ que dantes conheceu” , por isso, foram</p><p>predestinados (separados) para serem conforme à imagem</p><p>do seu Filho” . - Que imagem é esta que o Senhor quer que</p><p>tenhamos? - É claro que não se trata de imagem física,</p><p>mas da sua imagem moral e espiritual. Cada crente tem</p><p>sido chamado pelo Espírito Santo, e tem sido justificado</p><p>pela fé, e, por isso, pode ter a segurança de que Deus o tem</p><p>amado “ antes da fundação do mundo” . Portanto, ser cha­</p><p>mado e justificado é o resultado de haver sido predestinado</p><p>para a salvação.</p><p>8.29. “ para serem conforme à imagem de seu Filho” ,</p><p>isto é, para serem iguais a Ele, Jesus. Depois continua: “ a</p><p>fim de que Ele*seja o primogênito entre muitos irmãos” .</p><p>Paulo ensina aqui que os remidos em Cristo formam uma</p><p>família, e se nós somos feitos conforme à imagem de Jesus</p><p>Cristo, Ele se toma o primogênito no meio de sua família.</p><p>8.30. “ E aos que predestinou” . A predestinação diz</p><p>respeito a todos quantos aceitaram a Cristo, e se refere a</p><p>uma seleção da presciência divina (1 Pe 1.2). Deus é sobe­</p><p>rano em sua vontade, mas não é injusto e parcial. Ele trata</p><p>“ aos que predestinou” como aqueles que foram “ chama­</p><p>dos” , justificados e glorificados. Por Jesus Cristo, todos os</p><p>homens têm a oportunidade igualmente de se salvarem.</p><p>Mas a maioria rejeita obstinadamente a salvação oferecida</p><p>por Deus. Mas, os que foram chamados (convidados) e</p><p>aceitaram a chamada o Senhor Jesus concedeu-lhes a jus­</p><p>tificação, porque creram nele (Rm 3.24,28). Agora, a pala­</p><p>vra glorificou refere-se à nova vida recebida em Cristo Je­</p><p>sus (2 Co 5,17). Uma vez justificados, resta tão-somente</p><p>viver uma vida transformada que representa um estado de</p><p>glória, na vida presente e na vinda do Senhor.</p><p>8.31,32. O versículo 31 oferece segurança tranqüila</p><p>quando pergunta: - “ Que diremos pois a estas coisas?” A</p><p>que coisas está se referindo o apóstolo? - A toda a argu­</p><p>mentação analisada e provada pelos fatos da obra de Deus,</p><p>realizados em nosso favor. - Quem poderá contestar? -</p><p>Ninguém! Já no versículo 32 está a dádiva maior do amor</p><p>de Deus aos homens. “ Aquele que nem mesmo a seu pró­</p><p>prio Filho poupou” prova o seu grande amor para conosco,</p><p>capaz de nos proteger contra toda a possibilidade de des-</p><p>viar-nos desse propósito. A base de tudo quanto Deus faz</p><p>por nós está na Pessoa de Jesus Cristo. Este versículo</p><p>lembra o sacrifício de Isaque feito por Abraão (Gn 22.16).</p><p>Da mesma maneira que Deus teve disposição de prover a</p><p>nossa salvação, dando seu Filho, também, nos “ dará com</p><p>Ele todas as coisas” . A colocação das palavras “ com Ele”</p><p>significa que através dele é que receberemos “ todas as coi­</p><p>sas . Ele, Jesus, é o Agente pelo qual podemos receber as</p><p>bênçãos de Deus.</p><p>X I - O TR IUNFO DA SANTIFICAÇÃO (8.35-39)</p><p>O sentido primário da santificação é a separação e a</p><p>consagração. Depois de termos palmilhado o caminho da</p><p>santificação, aprendido a vencer todos os obstáculos, so­</p><p>mos conduzidos pelo Espírito Santo ao triunfo total.’</p><p>1. O amor de Cristo é imutável e indestrutível</p><p>8.35. “ Quem nos separará do amor de Cristo?” O</p><p>apóstolo Paulo não se referia ao amor do crente por Cristo.</p><p>Não queria dizer sobre quem nos separaria de amar a Cris­</p><p>to, mas sim, do amor de Cristo por nós, conforme fica claro</p><p>no versículo 39, que diz: “ o amor de Deus, que está em</p><p>Cristo Jesus nosso Senhor.” Portanto, não há obstáculo</p><p>para o amor de Cristo por nós, nem “ a tribulação, ou a an­</p><p>gústia ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo,</p><p>ou a espada” . A base da confiança do crente está no fato de</p><p>que o amor de Cristo não sofre detrimento por nada,</p><p>8.36. Temos neste versículo a citação de um salmo que</p><p>fala da oração de socorro num momento difícil para o povo</p><p>de Israel. Paulo utiliza a palavra do salmista para mostrar</p><p>que o crente sempre enfrenta dificuldade (SI 44.22).</p><p>2. O amor de Cristo nos toma vencedores</p><p>8.37. O texto dá a idéia de que a vitória espiritual pode</p><p>ser conseguida em meio às dificuldades enfrentadas. O</p><p>triunfo glorioso está no fato de que somos vitoriosos por</p><p>aquele que nos amou. “ Somos mais que vencedores” por-</p><p>97</p><p>que todas as dificuldades que enfrentamos no dia-a-dia</p><p>nâo surgem por acaso, mas por causa do amor de Cristo.</p><p>Esse amor divino dentro de nós nos habilita a ser vencedo­</p><p>res e a confiar plenamente no seu amor.</p><p>3. Gloriosa declaração de triunfo</p><p>8.38,39. Nestes dois versículos está uma gloriosa de­</p><p>claração de triunfo feita pelo grande apóstolo. Ele começa</p><p>dizendo: “ Estou certo” (v 38) e significa que não havia dú­</p><p>vida alguma para eie. Sua convicção estava acima de tudo</p><p>em relação ao amor de Deus na Pessoa de Jesus. Essa con­</p><p>vicção de Paulo expressa com as palavras “ estou certo”</p><p>baseia-se nas profundas experiências vividas por ele. Ago­</p><p>ra ele podia reafirmar essa convicção ao referir-se à morte,</p><p>a anjos, a poderes, etc. Portanto, a morte, inimiga impla­</p><p>cável do homem, não poderia separar, nem destruir o amor</p><p>de Cristo pelos seus remidos. Aliás, a morte, para o crente,</p><p>separa tão-somente o corpo, mas, na verdade, ela é eondu-</p><p>tora para a vida eterna. Ela, a morte, não consegue afas­</p><p>tar, nem esfriar o amor de Cristo. Ao contrário, a morte do</p><p>crente aproxima-o ainda mais de Cristo.</p><p>8.38. “ ...nem a vida, nem os anjos” . Quando se refere</p><p>à vida, entende-se que as coisas próprias da vida terrena,</p><p>por mais negativas e desagradáveis que sejam, não podem</p><p>afetar em nada o amor de Cristo. Quando se refere “ aos an­</p><p>jos” , Paulo alude aos poderes angelicais existentes, bons e</p><p>maus, que exercem atividades em toda a criação. Os anjos</p><p>da parte de Deus não interferem em nada fora dos desíg­</p><p>nios de Deus. Porém, os anjos caídos tudo fazem para per­</p><p>turbarem as relações entre Deus e o homem. O apóstolo</p><p>Paulo diz que “ nem os anjos” , ou “principados” . É preciso</p><p>notar que “ anjos, principados e poderes” estão intima­</p><p>mente relacionados.</p><p>8.38. “ ...nem o presente, nem o porvir” . Quanto aos</p><p>obstáculos do presente século não podem afetar esse amor</p><p>divino. O presente refere-se à vida atual, com suas atra­</p><p>ções e laços. Porém, quando fala do porvir ele está apon­</p><p>tando para o futuro, para a vida além-túmulo. Nada, por­</p><p>tanto, diminui ou aumenta o amor de Cristo. É um amor</p><p>que mantém-se</p><p>inalterável como expressão do caráter</p><p>imutável de Cristo.</p><p>98</p><p>8.39. “ ...nem a altura, nem a profundidade” . Diz F.F.</p><p>Bruee (Romanos Introdução e Comentário pg. 147): “ Nada</p><p>do que existe nas expansões do espaço, ou no transcurso do</p><p>tempo; nada do que existe em todo o Universo de Deus,</p><p>pode separar os filhos de Deus do amor do Pai que lhes foi</p><p>assegurado em Cristo” . Notemos que as palavras deste</p><p>versículo são indeterminadas propositadamente, pelas</p><p>quais podemos entender, que nem a altiva e presunçosa sa­</p><p>bedoria humana, nem os mais profundos abismos do peca­</p><p>do, podem afetar, diminuindo ou aumentando, o amor de</p><p>Deus para conosco. Por isso, nada mesmo colocará em ris­</p><p>co o amor de Jesus Cristo por todos quantos lhe pertencem.</p><p>Al</p><p>ta</p><p>r</p><p>da</p><p>Pa</p><p>z</p><p>de</p><p>Cé</p><p>sa</p><p>r</p><p>A</p><p>ug</p><p>us</p><p>to</p><p>,</p><p>co</p><p>ns</p><p>tr</p><p>uí</p><p>do</p><p>no</p><p>s</p><p>an</p><p>os</p><p>19</p><p>-1</p><p>6</p><p>a.</p><p>C</p><p>.</p><p>A Doutrina da Salvação em</p><p>Relação a Israel</p><p>de glória todas as ge­</p><p>rações dos judeus até o presente (Rx 3.6,13; Lc</p><p>20.37). Nestas referências a identificação patriarcal</p><p>é com Abraão, Isaque e Jacó.</p><p>8. Pertence a eles a descendência de Cristo (9.5). “ E</p><p>dos quais é Cristo segundo a carne” . Note-se que</p><p>Paulo deixou por último “ a Cristo” por ser o mais</p><p>eminente dos privilégios dos judeus. Os que negam</p><p>a divindade de Cristo, utilizam a expressão “ segun­</p><p>do a carne” para rejeitar o testemunho que a Escri­</p><p>tura dá a respeito da divindade de Cristo. Na se­</p><p>qüência do texto está escrito: “ ...o qual é sobre to­</p><p>dos. Deus bendito eternamente” (9.5). É indiscutí­</p><p>vel o fato de que o Cristo, o Ungido, é o “ Verbo divi­</p><p>no que se fez carne” (Jo 1.1.14) e “ habitou entre</p><p>nós". Como Deus bendito. Cristo nasceu como ho­</p><p>mem, “ segundo a carne” , descendendo dos judeus.</p><p>Sua humanização não afetou em nada a sua divin­</p><p>dade. Paulo faz um tributo à divindade de Cristo,</p><p>quando diz que Ele é “ sobre todos", isto é, exalta-o</p><p>e o coloca em sua real posição de supremacia. Ainda</p><p>mais, Paulo o trata como “ Deus bendito eterna­</p><p>mente” (9.5). Esse tratamento é identificado no</p><p>AT. quando o salmista precede o nome de Deus com</p><p>a palavra “ bendito” (SI 68.35: 72.18). Pode-se en­</p><p>contrar esse mesmo tratamento paulino em 2 Co</p><p>11.31; Rm 1.25, etc. Finalmente, entende-se que</p><p>Cristo descendeu dos judeus “ segundo a carne”</p><p>para revelar-se ao mundo todo como o Redentor de</p><p>todos os homens (M t 1.1; Jo 1.14; Hb 2.16).</p><p>106</p><p>III - A ELEIÇÃO DE ISRAEL SEGUNDO A SOBERA­</p><p>NIA DE DEUS (9.6-13)</p><p>Inicialmente, precisamos considerar as razões que</p><p>levaram Paulo a escrever esta Carta aos crentes romanos.</p><p>Havia na igreja, na comunidade de crentes existentes em</p><p>Roma, dois grupos distintos, um formado por judeus, e ou­</p><p>tro por gentios. Essa diferença racial e religiosa promoveu</p><p>um litígio doutrinário quanto aos privilégios espirituais. O</p><p>problema foi levantado pelo grupo de judeus que não acei­</p><p>tava o ensino de Paulo quanto à salvação, pelo fato de Pau­</p><p>lo apresentar o novo pacto (a graça), como capaz e superior</p><p>ao velho pacto (a Lei) para salvar o homem.</p><p>Daí, então, a preocupação de Paulo em explicar de</p><p>modo claro e especial nos capítulos 9, 10 e 11, a posição dos</p><p>judeus no plano divino da salvação.</p><p>Aquele grupo de judeus entendia que, pelo fato de seu</p><p>povo ser chamado “ povo escolhido de Deus” não se consi­</p><p>derava necessitado de salvação. O judeu cria que Deus ha­</p><p>via eleito seu povo e por isso a sua salvação estava pré-</p><p>ordenada e determinada. Entendia o judeu que tinha di­</p><p>reito à salvação. Pelo fato de Jesus ter nascido judeu, e por</p><p>direito de sangue, a salvação lhes pertencia. E chegavam</p><p>ao absurdo de achar que os gentios não tinham direito à</p><p>salvação e à eleição. Foi aí que Paulo resolveu mostrar e es­</p><p>clarecer a verdade. O apóstolo focalizou com destaque que</p><p>a eleição para a salvação, na Nova Aliança, é feita segundo</p><p>a graça de Deus para todos os homens. Mostrou ainda que</p><p>a eleição pela graça é feita mediante a fé, e não pelas</p><p>obras, para que ninguém se glorie.</p><p>1. Deus é fie l (v 6)</p><p>,9.6. “ Não que a Palavra de Deus haja falhado” . Paulo</p><p>declara que Deus não é infiel às suas promessas, conforme</p><p>os versículos 4 e 5 do mesmo capítulo nos mostram. O esta­</p><p>do atual dos judeus não significa que as promessas divinas</p><p>tenham se desviado ou deixado de se cumprir. Paulo le­</p><p>vanta uma questão muito forte para os judeus quando diz:</p><p>“ ...porque nem todos os que são de Israel são israelitas” (v</p><p>6). A eleição divina é soberana e Deus tem o direito de fa­</p><p>zer e estabelecer o seú modo de escolha, mas Deus jamais</p><p>107</p><p>escolhe com parcialidade. Subentende-se, então, que há o</p><p>Israel segundo a carne e o Israel segundo o Espírito. Este</p><p>versículo faz a distinção entre a filiação carnal e a espiri­</p><p>tual. Só pelo fato de ter nascido da semente de Abraão não</p><p>dá direito à promessa de Deus. Por exemplo: os filhos de</p><p>Abraão nascidos de Hagar e Quetura são filhos segundo a</p><p>carne (Gn 16.1-16; 25.14), mas Isaque, filho de Sara, foi</p><p>nascido segundo a promessa.</p><p>O que Paulo destaca aqui é que não basta ser judeu</p><p>para ser chamado filho de Deus, pois essa escolha não é se­</p><p>gundo a carne, mas segundo o Espírito.</p><p>2. A verdadeira reivindicação (v 7)</p><p>.9.7. “ Nem por serem descendência de Abraão são to­</p><p>dos filhos” . Abraão teve 7 filhos, mas só Isaque foi contado</p><p>segundo a promessa de Deus. Os judeus não podiam, se­</p><p>gundo Paulo, basear sua reivindicação à “ eleição” no pa­</p><p>rentesco carnal com Abraão. Os filhos de Deus não são fi­</p><p>lhos da carne, mas filhos da promessa. Note que Paulo</p><p>ilustra Abraão, Isaque e Jacó para ensinar que as promes­</p><p>sas foram feitas segundo a fé desses homens. Isaque foi es­</p><p>colhido em lugar dos outros filhos, porque nasceu da pro­</p><p>messa divina.</p><p>3. Os filhos da promessa (vv 8-10)</p><p>9.8. “ Mas os filhos da promessa são contados como</p><p>descendência” . Que entendemos neste versículo? Paulo</p><p>menciona a palavra promessa referindo-se historicamente</p><p>à promessa de um filho a Abraão na sua velhice. Sara, hu­</p><p>manamente falando, não tinha mais condições de ter fiT</p><p>lhos, porque além de estar velha, era estéril. Mas o Senhor</p><p>daria essa alegria a Sara intervindo milagrosamente pelo</p><p>seu poder divino para fazer cumprir a promessa. Por isso,</p><p>esse filho, Isaque, é o eleito segundo a promessa. Portanto,</p><p>quando Paulo diz que são os filhos da promessa que são</p><p>contados como descendência, queria dizer que, os que nas­</p><p>cem segundo o Espírito é que podem ser chamados filhos</p><p>de Deus com direito às promessas.</p><p>9.9,10. Estes versículos estão implícitos no comentário</p><p>do versículo 8.</p><p>4. Porque Jacó e não Esaú (vv 10-13)</p><p>.9.10-13. Deus escolheu Jacó em lugar de Esaú. Os ju­</p><p>108</p><p>deus poderiam replicar a argumentação de Paulo dizendo</p><p>serem filhos de Isaque. por isso Deus não os rejeitaria. Pau­</p><p>lo mostra que Deus faz sua escolha dentro de um propósito</p><p>espiritual. A história que mostra que Esaú era displicente</p><p>quanto ao direito de primogenitura. Esse direito implicava</p><p>em ter a liderança espiritual da família, quando o pai mor­</p><p>resse. Era um direito seu por ser o mais velho. - Por que,</p><p>então, Deus preferiu .Jacó? Exatamente porque .Jacó sabia</p><p>avaliar melhor aquela responsabilidade, com a qual seu ir­</p><p>mão Esaú não se importava (Rm 9.11,12).</p><p>No versículo 11 podemos conhecer o propósito divino</p><p>na eleição. Em Romanos 8.29 Paulo apresenta esse propó­</p><p>sito, nestas palavras: “Porque os que dantes conheceu</p><p>também os predestinou para serem conformes à imagem</p><p>de seu Filho afim de que ele seja o primogênito entre mui­</p><p>tos irmãos” . A ênfase está em “ ...os que dantes conhe­</p><p>ceu...” - Portanto, qual é o propósito divino? É constituir</p><p>uma família de filhos espirituais segundo a fé. Paulo mos­</p><p>tra que a eleição segundo a Lei tem alguns privilégios, mas</p><p>a eleição segundo a promessa é a que dá direito de ser filho</p><p>de Deus.</p><p>A eleição divina elegeu “os que crêem” em Cristo. A fé</p><p>é o requisito essencial para todos os homens, sem acepção</p><p>de raça, cor. cultura ou língua, na eleição divina. A sobera­</p><p>nia de Deus está implícita no fato de que Ele elegeu os que</p><p>crêem como Abraão, e endureceu os que rejeitam crer,</p><p>como fez com Faraó (vv 15-17).</p><p>IV - A MISERICÓRDIA DE DEUS E 0 ENDURECI­</p><p>M ENTO DE FARAÓ (9.14-18)</p><p>No versículo 14 é levantada uma questão: “ Que</p><p>diremos pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo ne­</p><p>nhum” . Seria Deus injusto condenando aqueles que o re­</p><p>jeitam? Seria injustiça a eleição de Isaque e não Ismael? É</p><p>preciso lembrar que a eleição divina não depende de obras</p><p>humanas, porque Deus é soberano, livre e justo nas suas</p><p>obras. Sua presciência o capacita a estar acima das lim ita­</p><p>ções naturais e intelectuais dos homens (1 Pe 1.2). Ele</p><p>pode ver muito mais além. Esses atributos qualitativos de</p><p>Deus são demonstrados nos versículos 15 a 17. Primeiro,</p><p>109</p><p>Paulo lembra as palavras de Deus a Moisés: “ Compade-</p><p>eer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de</p><p>quem eu tiver misericórdia” (v 15). Duas das característi­</p><p>cas da soberania são a justiça e a misericórdia. Entende-se</p><p>que, as decisões e ações divinas são baseadas nestas carac­</p><p>terísticas, porque Deus sabe com quem pode usar de mise­</p><p>ricórdia ou de juízo. Foi o caso de.Faraó. Deus conhecia o</p><p>coração de Faraó, e por conhecê-lo completamente, é que</p><p>podia rejeitá-lo.</p><p>V - RESPOSTA A OBJEÇÃO LEVANTAD A CONTRA A</p><p>LIVRE ESCOLHA DE DEUS (9.19-29)</p><p>,9.19. “ Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda?</p><p>Portanto, quem resiste à sua vontade?” Neste versículo</p><p>Paulo levanta a possível objeção do homem à soberania di­</p><p>vina de fazer ou não fazer qualquer coisa que lhe convier.</p><p>Essa objeção séria feita ao fato do endurecimento do cora­</p><p>ção de Faraó. Na verdade, o coração de Faraó foi endureci­</p><p>do pela sua própria ação. No hebraico a palavra “ endure­</p><p>cer” é “ hazaqpiel” e significa: “ tornou duro. rígido” . Fa­</p><p>raó havia contribuído para esse endurecimento, por isso,</p><p>Deus endureceu o coração de Faraó baseado na sua perfei­</p><p>ta justiça. Tal objeção, torna-se imprópria quando o ho­</p><p>mem conhece realmente a Deus. Ele pode realizar sua von­</p><p>tade independentemente do homem.</p><p>1. Que é o homem para replicar a Deus (v 20)</p><p>9.20. “ Mas, ó homem quem és tu. que a Deus répli­</p><p>cas?” Em outras palavras, se o homem quer discutir as</p><p>ações de Deus deveria colocar-se na perspectiva de Deus.</p><p>Nossa ótica é limitada e parcial, mas Deus vê através de</p><p>todos os séculos sem fim. O versículo 20 continua: “Por­</p><p>ventura a coisa formada dirá ao que a formou: por que me</p><p>fizeste assim ? " Entende-se que Deus, como soberano Cria­</p><p>dor. tem todo o direito sobre as coisas criadas. É uma prer­</p><p>rogativa de Deus proceder de acordo com a sua vontade,</p><p>mas Ele só procede com justiça.</p><p>2. O homem é a argila nas m{ios do oleiro ív 21)</p><p>9.21. “Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para</p><p>da mesma massa fazer um vaso de honra e outro para de­</p><p>sonra</p><p>2.6,8). O sen­</p><p>tido da expressão “ pedra de tropeço” é o de barreira, impe­</p><p>dimento, ou escândalo. Cristo se tornou para o pensamen­</p><p>to judeu um tropeço, pois imaginavam eles que seu cami­</p><p>nho era claro e certo. Entretanto, para os que o aceitaram e</p><p>o reconheceram Ele é a pedra de esquina, ou a pedra angu­</p><p>lar da sua Igreja (1 P e ’2.4,6,7).</p><p>113</p><p>V I I - A REJEIÇÃO DE ISRAEL (10.1-21)</p><p>No estudo do capítulo 9, o apóstolo Paulo, usando</p><p>uma linguagem objetiva põe em relevo a vontade divina e</p><p>a vontade humana no que diz respeito à salvação. Ele des­</p><p>taca a soberania divina para eleger ou reprovar, indepen­</p><p>dentemente do homem. Entretanto, esse mesmo Deus so­</p><p>berano, livre para fazer e desfazer, eleger ou rejeitar, criou</p><p>o homem à sua imagem e semelhança, dando-lhe o livre-</p><p>arbítrio, isto é, a liberdade de escolha. Pela obra expiatória</p><p>de Cristo, todos os seres humanos, sem acepção de pessoas,</p><p>de credo ou raça, têm direito à salvação em Cristo. Porém</p><p>o ser humano deve ser responsável por sua própria escolha,</p><p>por isso o Evangelho deve ser pregado a todas as gentes. Já</p><p>aprendemos que a salvação está condicionada à fé, e cada</p><p>pessoa é responsável pela sua própria escolha. Nesta parte</p><p>do estudo o apóstolo Paulo põe o judeu frente ao gentio e</p><p>mostra o seu Evangelho contrastando o pensamento judeu.</p><p>A essência da pregação de Paulo era fé-justiça e a essência</p><p>doutrinária judaica é lei-justiça. Em outras palavras, a</p><p>salvação do judeu está implícita á submissão ao novo pac­</p><p>to fé-justiça (Rm 5.1).</p><p>1. O anelo de Paulo pela salvação de Israel (10.1-5)</p><p>10. í. Paulo expressa mais uma vez o sentimento pá­</p><p>trio desejando a salvação de sua gente. Ainda que era co­</p><p>nhecido como o apóstolo dos gentios, Paulo orava inces­</p><p>santemente pela salvação de seu povo de sangue. Acima de</p><p>tudo, ele compreendia o plano divino para com Israel.</p><p>Como nação e povo, Israel perdia a primazia por um pouco</p><p>de tempo, mas o tratamento seria individual. Cada judeu,</p><p>tanto quanto cada gentio, tem direito à salvação. Pela Lei</p><p>ninguém se podia salvar, por isso Jesus cumpriu toda a Lei</p><p>por nós, abrindo um “ novo e vivo caminho” , o caminho da</p><p>fé em Cristo.</p><p>10.2-5. Nestes versículos vemos os judeus buscando a</p><p>justificação pela Lei, mas falharam nisso, e perderam, pela</p><p>sua rejeição, a justiça revelada na Pessoa de Jesus Cristo.</p><p>No versículo 4 vemos que “ o fim da lei é Cristo” . Isto</p><p>significa dizer que “ Cristo pôs fim à Lei como método de</p><p>114</p><p>salvação” (-). - For que Cristo é o fim da Lei? - Porque a</p><p>Lei testifica da fé como o caminho da justiça.</p><p>10.5. Paulo cita Moisés: “ Ora, Moisés descreve a justi­</p><p>ça que é pela Lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas</p><p>viverá por elas.” Nesta escritura Paulo não só cita um tex­</p><p>to do AT, como reafirma o fato de que o cumprimento total</p><p>da Lei absolve da pena da Lei e conduz à vida. Entende-se,</p><p>entretanto, que se o homem pudesse cumprir todas as exi­</p><p>gências da Lei, a justiça legalista resolveria o problema.</p><p>Porém a Bíblia diz: “ Não há um justo, nem um sequer”</p><p>{Rm 3.10).</p><p>2. A justiça revelada no novo pacto (ou novo concerto)</p><p>tem sua base na fé (10.6-13)</p><p>10.6,7. Nestes dois versículos Paulo mostra que a jus­</p><p>tiça pela fé exclui todo o esforço humano. O caminho da fé</p><p>em Cristo se torna plenamente acessível, visto que é im­</p><p>possível chegar ao Céu ou à vida eterna através do legalis­</p><p>mo. Paulo, quando diz: “ Não digas em teu coração: Quem</p><p>subirá ao Céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo)” , está, na</p><p>verdade, citando uma passagem de Dt 30.11-14, para mos­</p><p>trar que a salvação é acessível a todos, não precisará al­</p><p>guém subir ao Céu, nem descer ao mais profundo abismo</p><p>para receber a justiça pela fé. Na realidade, o que Paulo</p><p>queria que os romanos entendessem é que “ a justiça que</p><p>vem da fé” é mais plausível que o velho método de justifi­</p><p>cação (a Lei), que jamais justificou alguém.</p><p>10.8-13. Nestes versículos, a questão da fé é colocada</p><p>em evidência, pois a justiça de Cristo (não a da Lei) só é</p><p>possível e realizável através da fé. Os versículos 8 e 9 mos­</p><p>tram o segredo com duas palavras: crer e confessar.</p><p>O versículo 11 é uma citação do profeta Isaías que</p><p>Paulo utiliza para fortalecer o novo método de salvação</p><p>pela fé, que diz: “ Porque a escritura diz: Todo aquele que</p><p>nele crer não será confundido” .</p><p>Os versículos 12 e 13 mostram o sentido universal do</p><p>Evangelho. “ Ele satisfaz às necessidades universais. Pe­</p><p>rante Deus não há distinção entre os homens, seja qual for</p><p>a sua nação, raça ou classe. Todos os homens têm pecado,</p><p>e, fora de Cristo, todos são perdidos” ( :l). No versículo 13</p><p>Paulo cita o profeta Joel: “ Porque todo aquele que invocar</p><p>o nome do Senhor será salvo" (*Joel 2.32), Essa citação for­</p><p>talece a argumentação de Paulo de que o Evangelho é para</p><p>todos e com direitos iguais no que tange à salvação. Tanto</p><p>judeus como gentios têm direito à salvação, mas só é salvo</p><p>e escolhido o que aceita o plano de Deus. Assim, a eleição</p><p>ou rejeição da parte de Deus dependerá do próprio homem.</p><p>Ele não rejeitará simplesmente porque pode valer-se de</p><p>sua soberania para tal, uma vez que alguém invoque o seu</p><p>nome. É aqui que está a falha da doutrina calvinista que</p><p>ensina que Deus salvará os que Ele quiser, independente­</p><p>mente de o pecador querer ou não. Isso seria um contra-</p><p>senso da perfeita justiça de Deus. Admitir que os escolhi­</p><p>dos (eleitos) para a salvação, independentemente de já te­</p><p>rem ou não aceito o Evangelho, serão salvos de qualquer</p><p>forma; e que os não-eleitos estão perdidos para sempre,</p><p>sem nenhuma possibilidade de serem salvos, seria tornar a</p><p>salvação um modo elitista e parcial. Porém não é isto o que</p><p>ensina a Biblia. Deus não elegerá ou rejeitará ninguém</p><p>sem o prévio juízo de sua perfeita justiça.</p><p>3. As responsabilidades dos crentes em Cristo</p><p>(10.14,15)</p><p>Paulo diz: “ Como pois invocarão aquele em quem não</p><p>creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E</p><p>como ouvirão se não há quem pregue? E como pregarão se</p><p>não forem enviados?” (vv 14,15).</p><p>Os comentaristas sobre esses dois versículos, se divi­</p><p>dem em dois pontos de vista, pontos que, no seu modo de</p><p>entender, merecem ambos a nossa atenção. O primeiro</p><p>ponto de vista-refere-se à idéia de que esses versículos (vv</p><p>14,15) se relacionam com o versículo que os precede e com</p><p>o que os segue. Paulo enfatiza a incredulidade dos judeus</p><p>pelo fato de Cristo lhes ter sido enviado como Salvador, e</p><p>eles o terem sujeitado. Foram-lhes dadas as boas-novas</p><p>mas eles não quiseram ouvi-las. Que lhes resta então? O</p><p>segundo ponto de vista .apresenta a idéia de que Paulo es­</p><p>tava preocupado em despertar os cristãos para a proclama­</p><p>ção do Evangelho universal a todos os homens.</p><p>Ambas essas opiniões têm sentido, mas não podem ser</p><p>admitidas isoladamente. Paulo mostra a responsabilidade</p><p>116</p><p>da rejeição dos judeus e a responsabilidade dos crentes em</p><p>Cristo na proclamação do Evangelho.</p><p>4. A incredulidade e a rejeição são indesculpáveis</p><p>diante de Deus (10.16-21)</p><p>10.16. “ Mas nem todos obedecem ao Evangelho” . Isso</p><p>indica que a aceitação ou rejeição diante de Deus depende</p><p>da aceitação ou rejeição do homem, não importa se judeu</p><p>ou gentio. Ao citar o profeta Isaías: “ Senhor, quem deu</p><p>crédito à nossa pregação?” , Paulo enfatiza o fato de que o</p><p>próprio Israel é responsável por sua rejeição e indiferença à</p><p>pregação do Evangelho. Paulo destaca que não há descul­</p><p>pa, pois a rejeição de Israel como povo se deve à sua delibe­</p><p>rada e obstinada incredulidade.</p><p>As “ coisas boas” (v 16) foram anunciadas, mas “ nem</p><p>todos obedecem” ou aceitam esse Evangelho. Por isso, o</p><p>Evangelho do Filho de Deus deixa inexcusável tanto o ju­</p><p>deu como o grego, a todos quantos o rejeitamC).</p><p>10.17. “ De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir peia pa­</p><p>lavra de Deus” . Está aqui o novo método para a salvação -</p><p>a fé. Diz Charles R. Erdman, que “ o evangelho não é ques­</p><p>tão de intuição, ou imaginação, ou conjectura, ou desvario,</p><p>mas de revelação. É uma mensagem outorgada por Deus</p><p>aos homens; sua síntese</p><p>e substância são a pessoa e a obra</p><p>de Cristo; e a fé consiste na humilde e grata aceitação des­</p><p>sa mensagem ” (')•</p><p>10.18-21. Nestes versículos, percebemos que Paulo</p><p>cita os profetas do AT, os quais predisseram a extensão</p><p>universal do Evangelho de Cristo e a inclusão dos gentios</p><p>como povo de Deus, mesmo não os conhecendo. Pois não</p><p>sendo povo de Deus, o aceitaram e se tomaram o povo de</p><p>Deus em Cristo Jesus. A revelação de Cristo, inicialmente</p><p>a Israel, teve por objetivo despertar esse povo para a sua</p><p>triste realidade espiritual e fazer com que voltasse à comu­</p><p>nhão com o seu Deus. Mas Israel rejeitou essa providência.</p><p>Mas como o amor divino, é, antes de tudo, universal, tor­</p><p>naram-se objeto desse amor, os gentios. Por isso, hoje,</p><p>Deus tem um plano duplo com Israel. Primeiramente,</p><p>como nação, por causa de suas promessas passadas. Em</p><p>segundo lugar, como indivíduos. Hoje, na Dispensação da</p><p>Graca. Israel tem direito à salvação no plano individual,</p><p>117</p><p>porque Deus trata pessoalmente acerca da salvação em</p><p>Cristo Jesus.</p><p>v m - A RESTAURAÇÃO E 0 FUTURO DE ISRAEL</p><p>(11.1-36)</p><p>Tem sido difícil para o orgulho religioso de Israel</p><p>aceitar o fato de que os gentios fazem parte do plano salví-</p><p>fico de Deus, no sentido de que “ todo aquele que invocar o</p><p>nome do Senhor será salvo” (Rm 10.13), e “ para que todo</p><p>aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”</p><p>(Jo 3.16).</p><p>Paulo procura argumentar e, ao mesmo tempo, refu­</p><p>tar conceitos errados acerca do futuro de Israel. Um dos</p><p>mais atrevidos e extremos conceitos é o de que Deus rejei­</p><p>tou o seu povo (Israel) por causa de sua incredulidade no</p><p>passado. Paulo começa refutando esse conceito, dizendo:</p><p>“ De modo nenhum!” (11.1). Ele procura mostrar que há</p><p>possibilidade de restauração e que “ nem tudo está perdi­</p><p>do” . Deus, em sua perfeita justiça, criou alternativas ou</p><p>saídas para o problema da rejeição de Israel.</p><p>Paulo mostra nos capítulos 9 e 10 que o quadro te­</p><p>nebroso e sombrio da rejeição de Israel à providência divi­</p><p>na da salvação pode ser mudado. Notemos o desenvolvi­</p><p>mento da argumentação teológica de Paulo. No capítulo 9.</p><p>ele mostra que Deus, em sua eterna soberania, por seus di­</p><p>reitos de Senhor e Criador tinha total liberdade de rejeitar</p><p>Israel, mas só o fez porque Israel rejeitou o plano divino.</p><p>No capítulo 10, Paulo mostra que, uma vez que os judeus</p><p>rejeitaram o novo plano divino, não tinham condições de</p><p>questionarem a rejeição da parte de Deus. Já no capítulo</p><p>11. a rejeição tem um sentido parcial e temporal, visto que</p><p>os propósitos divinos não se limitam a um mero julgamen­</p><p>to exterior, mas são propósitos mais profundos e espiri­</p><p>tuais.</p><p>1. Possibilidade de restauração (1.1)</p><p>Inicialmente, temos de entender que o propósito de</p><p>Deus na história tem de ser cumprido. Não houve quebra</p><p>desse propósito com o aparecimento do “ novo pacto da</p><p>graça” alcançando os gentios.</p><p>I !. l. - “ Porventura rejeitou Deus o seu povo?” . A res­</p><p>118</p><p>posta é imediata: - “ De modo nenhum!” Em outras pala­</p><p>vras, o capítulo 11 mostra que Deus não rejeitou o seu povo</p><p>(Israel) pelo fato de que há possibilidade de restauração de</p><p>parte de Israel. Nesse aspecto, entendemos que o trata­</p><p>mento divino com Israel é individual, cada judeu, especifi­</p><p>camente, tem os mesmos direitos de salvação em Cristo</p><p>que os gentios. Deus não os trata “ como um todo” , ou</p><p>como nação. Entretanto, esse método divino de tratamen­</p><p>to com Israel não significa que Deus o tenha abandonado</p><p>como povo ou nação. Porém, dentro desse novo método di­</p><p>vino, por causa da indesculpável rejeição a Cristo, Israel,</p><p>como {povo ou nação) está num plano secundário e separa­</p><p>do. Não esquecido como um objeto velho e sem uso, mas</p><p>para que seja manifesta a nova ordem, que é a Igreja, que</p><p>se constitui de judeus e gentios. Nesta dispensação da gra­</p><p>ça, o judeu convertido a Cristo deixa de ser judeu para ser</p><p>Igreja. A Igreja é o novo povo de Deus, povo especial, zelo­</p><p>so e de boas obras, chamado “ povo adquirido, nação san­</p><p>ta” (1 Pe 2.9,10).</p><p>2. O remanescente fiel de Israel (11.2-6)</p><p>Esse remanescente diz respeito a um grupo em espe­</p><p>cial. que mantém-se fiel a Deus. acima de todas as mudan­</p><p>ças e circunstâncias.</p><p>11.2. “ Deus não rejeitou o seu povo, que antes conhe­</p><p>ceu” . Em primeiro lugar, o texto confirma que Deus não</p><p>rejeitou a Israel como seu povo. - Por quê? A resposta está</p><p>no texto: “ que antes conheceu” (v 2). Ele conheceu esse</p><p>povo antes da vinda do novo pacto. Esse ato de conhecer</p><p>Israel indica que Deus sabia o que estava fazendo, e que</p><p>seus atos soberanos não infringiam a sua justiça perfeita.</p><p>Ele tinha conhecimento prévio de Israel e de sua rejeição,</p><p>por isso, podia firmemente decidir o que fazer, como o fez.</p><p>Deus sabia que, entre os do povo, havia alguns que não re­</p><p>jeitariam o seu plano, que acatariam esse plano e se sub­</p><p>meteriam a ele. Como exemplo, Paulo ilustra a si mesmo,</p><p>identificando-se como “ israelita, da descendência de</p><p>Abraão, da tribo de Benjamim” (11.1). Sua conversão pes­</p><p>soal a Cristo era uma prova de que Deus não “ rejeitou o</p><p>seu povo” . .</p><p>I I 2 a 4. Nestes versículos Paulo lembra o proieta</p><p>119</p><p>Elias que se sentiu só e abandonado, por ter lutado contra</p><p>a idolatria do povo de Israel no reinado de Acabe e Jezabel</p><p>(1 Rs 19.10,14,18). Entretanto, Deus assegurou a Elias que</p><p>ele não estava sozinho, mas que havia reservado do meio</p><p>do povo de Israel, “ sete mil varões que não haviam dobra­</p><p>do os seus joelhos diante de Baal” . Da mesma maneira</p><p>Deus tem reservado um número de fiéis, chamado aqui de</p><p>“ remanescente fiel” , do meio do povo, que aceitou seu pla­</p><p>no por Jesus Cristo.</p><p>11.5. “ ...neste tempo ficou um resto, segundo a eleição</p><p>da graça” . A expressão “ ficou um resto” refere-se exata­</p><p>mente a esse “ remanescente fiel” , o qual foi eleito confor­</p><p>me os requisitos da “ graça” , que envolvem arrependimen­</p><p>to e regeneração. A “ eleição segundo a graça” não significa</p><p>que qualquer judeu sem o exercício da fé em Cristo tenha</p><p>sido eleito. Não, mas aqueles judeus, individualmente,</p><p>que reconheceram em Cristo o Salvador de todos os ho­</p><p>mens e o receberam em suas vidas.</p><p>11.6. “ Mas se é por graça, já não é pelas obras” . Isso</p><p>fortalece o fato da salvação individual mediante a fé em</p><p>Cristo. - Que é a graça? A graça é a manifestação do novo</p><p>pacto de salvação oferecido a todos os homens. A graça é o</p><p>favor de Deus independente dos esforços do homem. O al­</p><p>cance da graça na vida pecadora não depende de obras a</p><p>favor da salvação. Não depende de méritos pessoais, más</p><p>depende da aceitação ou não de Cristo. A graça é para to­</p><p>dos. É dom de Deus (E f 2.8,9). A graça é manifesta aos que</p><p>a aceitarem. É inadmissível o pensamento calvinista da</p><p>“ graça irresistível” que alcança e salva a quem Deus esco­</p><p>lheu para ser sálvo, mesmo que não queira. Entendemos</p><p>que ela é irresistível à medida que nós, voluntariamente</p><p>nos quebrantamos â sua eficácia (T t 2.11).</p><p>Observemos ainda este fato. Como nação, Israel havia</p><p>falhado em querer alcançar a justificação, mas o “ rema­</p><p>nescente fiel” alcançou-a pela lei da graça. A verdade é</p><p>que os judeus permitiram que suas leis e seus privilégios</p><p>como nação lhes endurecessem os corações, rejeitando a</p><p>manifestação da graça de Deus.</p><p>S. A cegueira de Israel como nação (11.7-15)</p><p>Ao desenvolver esse ponto de nosso estudo, entende-</p><p>120</p><p>mos que esta cegueira de Israel, numa perspectiva global,</p><p>obedece a um plano individual.</p><p>11.7. Pois quê? 0 que Israel buscava não alcan­</p><p>çou...” . Pois bem, Israel buscava o quê? e por quê? Israel</p><p>buscava como nação a justificação pelas obras baseadas</p><p>nos ritos e privilégios religiosos até então. A razão dessa</p><p>busca contrária aos requisitos do “ novo pacto” está ex­</p><p>pressa no “ endurecimento” . Esse endurecimento resultou</p><p>do orgulho próprio da nação israelita em não querer sub­</p><p>meter-se às exigências do “ pacto da graça” . O texto conti­</p><p>nua: “ ...mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram en­</p><p>durecidos” (v 7). - Quais são os eleitos? - São aqueles</p><p>que</p><p>de boa mente receberam a graça revelada. E os que foram</p><p>“ endurecidos” , o foram por sua própria cerviz, não porque</p><p>Deus os quisesse endurecer.</p><p>11.8-10. Esses versículos são citações do AT, que Pau­</p><p>lo utiliza para fortalecer o seu ensino e o argumento de que</p><p>“ o endurecimento de Israel” é atribuído a um juízo de</p><p>Deus contra esse povo, por causa de sua incredulidade e re­</p><p>belião {D t 29.4; Is 6.9,10; 29.10). Outrossim, os judeus da­</p><p>queles dias da Igreja primitiva não podiam acusar nem</p><p>justificar sua dureza a um ato injusto da parte de Deus,</p><p>pois o juízo divino estava baseado na perfeita justiça de</p><p>Deus contra a infidelidade de Israel.</p><p>Os versículos 8 e 10 nos dão uma compreensão mais</p><p>objetiva do estado espiritual de Israel. Entende-se que esta</p><p>cegueira de Israel não é total, mas parcial, porque o versí­</p><p>culo 7 apresenta dois grupos: os eleitos e os endurecidos.</p><p>11.11,12. “ Porventura tropeçaram para que caíssem?</p><p>De modo nenhum” (v 11). Franz J. Leenhardt comenta:</p><p>“ A graça jamais se converte em maldição, ainda que por</p><p>vezes assuma a feição de castigo. Israel tropeçou, Israel es­</p><p>corregou, mas Deus não tinha a intenção de fazê-lo</p><p>cair” (6). A verdade é que Deus sempre manifestou a sua</p><p>graça a Israel perdoando-lhe e por que agora o endureceria</p><p>para destruí-lo? - Não! O endurecimento de Israel é resul­</p><p>tado da sua própria infidelidade e rebelião, não de Deus. O</p><p>texto continua: “ Mas pela sua queda veio a salvação aos</p><p>gentios” (v 11). “ Não presume Paulo se fizesse necessária</p><p>a rebelião de Israel, a fim de que fosse a salvação levada</p><p>121</p><p>aos povos. O fato histórico é que Israel caiu” (H). Ora, a ex­</p><p>pressão afirmando que “ pela sua queda [de Israel] veio a</p><p>salvação aos gentios” indica que a chamada dos gentios es­</p><p>tava no plano original de Deus, e que a apostasia parcial de</p><p>Israel contribuiu para a salvação dos gentios. Porém, o tex­</p><p>to ainda diz: “ ...para os incitar à emulação” (v 11). - Que</p><p>podemos entender por emulação? Que significa “ incitar ã</p><p>emulação” ? A palavra emulação significa “ o sentimento</p><p>que nos incita a igualar ou superar outrem” (s). Entende-se</p><p>então que pelo fato de os gentios assumirem a primazia no</p><p>pacto da graça, os judeus fossem levados a ter ciúmes, e</p><p>através desse ciúme, fossem despertados a buscar a verda­</p><p>de e aceitar a graça de Deus. Em outras versões, a expres­</p><p>são aparece assim: “ ...para levá-los a ciúmes” . Isto signifi­</p><p>ca dizer que a “ queda dos judeus” não foi, especificamente</p><p>a razão do favor divino para com os gentios. Tivessem ou</p><p>não rejeitado o novo pacto, a razão real e espiritual estava</p><p>escondida no propósito divino de salvação também dos</p><p>gentios. A Igreja era o “ mistério escondido” antes de todos</p><p>os tempos. Comprova-se esse fato pela palavra que diz:</p><p>“ ...nos elegeu antes da fundação do mundo...” “ e nos pre­</p><p>destinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si</p><p>mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (E f 1.4,5).</p><p>11.12. “ E, se a sua queda é a riqueza do mundo...” A</p><p>palavra queda, no original grego é “ parastoma” . A expres­</p><p>são: “ para que caíssem” (v 11), no grego é “ hina pesobi” .</p><p>Porém, a palavra cair é “ pipto” , que se emprega com o</p><p>sentido enfático de ser morto. Numa batalha, cair eqüivale</p><p>a ser morto. É nesse sentido que Paulo utiliza a palavra</p><p>cair, isto é, sair de campo, perder a primazia. Agora note-</p><p>se que o texto diz que “ a sua queda é a riqueza do mundo” .</p><p>Talvez a palavra mundo tenha um sentido humano, por­</p><p>que se refere ao mundo das pessoas, ou seja, os gentios.</p><p>Portanto, a queda dos judeus pela sua rejeição a Cristo</p><p>permitiu aos gentios conhecerem as “ riquezas da graça de</p><p>Deus” na salvação em Cristo Jesus.</p><p>11.12 “ ...e a sua diminuição.” - Que diminuição é es­</p><p>ta? - Tem o sentido de perda, de derrota. É a perda da pri­</p><p>mazia como o povo de Deus para que entrasse outro povo,</p><p>a Igreja, constituída de judeus e gentios. Finalmente, en-</p><p>122</p><p>tende-se que a cegueira de Israel não é fatal, porque por ela</p><p>o mundo conheceu a graça de Deus.</p><p>11.13,14. Nota-se nestes versículos o cuidado de Pau­</p><p>lo, fazendo parênteses na sua argumentação, para cons­</p><p>cientizar os gentios de sua posição quanto a essa interpre­</p><p>tação doutrinária. Ele reafirma seu apostolado entre os</p><p>gentios (v 13) (A t 9.15; 22.21; G1 2.7). Paulo diz honrar seu</p><p>trabalho entre os gentios e se sente recompensado por isso</p><p>mas quer que, os gentios entendam que ele não é indiferen­</p><p>te à sua gente de sangue, nem insensível à necessidade de</p><p>pregar-lhes a Cristo. Queria, na verdade, é incitar sua gen­</p><p>te (os judeus) à emulação para “ salvar alguns deles” (v 4).</p><p>Essa provocação de ciúme objetivava despertar as cons­</p><p>ciências judias para a realidade espiritual de Israel, e a</p><p>perceberem que o orgulho religioso judaico não resolvia</p><p>problemas de ordem espiritual, que só se resolviam no cris­</p><p>tianismo autêntico.</p><p>11.15. - “ Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do</p><p>mundo, qual será a sua admissão?” Na verdade, Paulo,</p><p>mais uma vez, fortalece a doutrina da salvação para toda a</p><p>humanidade. Entendia ele que “ a reconciliação do ho­</p><p>mem, independentemente de credo, raça ou cultura, era a</p><p>concretização do plano universal de salvação (Em 5.10). A</p><p>parte central do versículo 15: “ ...qual será a sua admis­</p><p>são?” é o mesmo que perguntar: Que lhe resta então? A pa­</p><p>lavra admissão é traduzida em outras versões como resta­</p><p>belecimento. Que restabelecimento é esse? - É o restabele­</p><p>cimento de sua comunhão com Deus e de sua posição de</p><p>primazia no futuro, quando Cristo se revelar a eles (os ju­</p><p>deus) como Messias esperado, porém, que antes havia sido</p><p>rejeitado. Esse restabelecimento será semelhante à ressur­</p><p>reição dentre os mortos. Essa alusão refere-se à restaura­</p><p>ção futura de Israel, ilustrada nos versículos 17 a 24.</p><p>4. A admissão futura de Israel ilustrada pela oliveira</p><p>(11.16-24)</p><p>Para ilustrar a restauração nacional de Israel, Paulo</p><p>utiliza uma linguagem figurada. Ele fala da raiz e dos ra­</p><p>mos. Fala das primícias (sementes escolhidas), e da mas­</p><p>sa.</p><p>11.16. - “ E, se as primícias são santas, também a</p><p>123</p><p>massa o é” . No grego a palavra primícia é “ aparchê.” Pau­</p><p>lo escreveu, mui especialmente aos judeus de Roma, por</p><p>isso ele apelou para figuras conhecidas por qualquer judeu,</p><p>como primícias (Nm 15.19-21). Oferecer a Deus uma torta</p><p>ou bolo de farinha de trigo, como primícias, santificava</p><p>toda a massa. As primícias oferecidas representam a pro­</p><p>dução de todo o cultivo de trigo. Na figura da raiz e dos ra­</p><p>mos, a idéia é a mesma. É o princípio da parte pelo todo.</p><p>As primícias oferecidas, uma vez santificadas pela massa,</p><p>significavam que toda a colheita era santificada. Ora, se</p><p>Deus escolheu Israel inicialmente, como uma árvore frutí­</p><p>fera, a santidade das raízes é compartilhada pelas rama­</p><p>gens da árvore. Interpreta-se aqui, subjetivamente que as</p><p>primícias e a raiz (v 16), representam os patriarcas judai­</p><p>cos. Se eles eram santos, essa santidade pertence malea-</p><p>velmente a Israel até hoje.</p><p>11.17-24. - O enxerto do zambujeiro na oliveira - “ E,</p><p>se alguns dos ramos foram quebrados...” (v 17). Refere-se à</p><p>oliveira que aqui representa Israel. Os ramos quebrados</p><p>são os judeus rebeldes e incrédulos, que perderam, no pla­</p><p>no salvífico universal o direito à graça de Deus. No lugar</p><p>desses ramos quebrados foram enxertados os gentios. Esses</p><p>gentios enxertados são identificados como brotos silvestres</p><p>ou zambujeiro.</p><p>Nos versículos que se seguem (vv 18-24), Paulo exorta</p><p>os gentios a que não se gloriem contra os judeus, pois os</p><p>gentios não são nada mais que ramos enxertados, mas a</p><p>raiz está em Israel. O que se entende é que Paulo quer cha­</p><p>mar a atenção tanto dos judeus como dos gentios para o</p><p>que está no versículo 22, que diz: “ Considera pois a bonda­</p><p>de e a severidade de Deus” . É um misto de duas qualida­</p><p>des divinas, que mostram o equilíbrio do tratamento de</p><p>Deus com os homens. A severidade de Deus quanto aos</p><p>propósitos da graça é para os judeus que sendo quebrados</p><p>na oliveira por sua rebeldia, deram lugar aos gentios que</p><p>não pertenciam à mesma árvore. Porém, a bondade de</p><p>Deus aparece em resposta à sua própria severidade. Sua</p><p>bondade enxerta no tronco da bênção salvadora, os gen­</p><p>tios, que eram ramos estranhos. O tronco (a oliveira), nes­</p><p>te caso aparece como o meio pelo qual todos, judeus e</p><p>124</p><p>gentios, podem nutrir e receber vigor espiritual da mesma</p><p>raiz e tronco. Os ramos originais são os judeus, mas desde</p><p>que “ alguns foram podados por causa da incredulidade”</p><p>Deus enxertou os gentios, para terem parte nas mesmas</p><p>bênçãos.</p><p>Paulo argumenta que, se Deus pode trazer à partici­</p><p>pação da bênção salvadora de Israel os gentios, muito mais</p><p>fácil será reenxertar os ramos naturais na própria oliveira.</p><p>Por isso, nós, os cristãos, devemos orar e evangelizar os ju­</p><p>deus, e não abandoná-los! A oportunidade dos gentios se­</p><p>rem enxertados veio porque os judeus (ramos) foram</p><p>quebrados. Por isso não devem eles gloriar-se contra os ju­</p><p>deus. Dentro desta argumentação de Paulo, está aberta a</p><p>discussão do apóstolo para a questão do propósito univer­</p><p>sal da misericórdia divina nos versículos 25 a 36.</p><p>5. A salvação de Israel (11.25-32)</p><p>Esses versículos têm um sentido histórico e futuro.</p><p>Eles mostram o resultado do propósito divino na história o</p><p>qual é a salvação dos judeus. Aprendemos que nestes versí­</p><p>culos Deus estabeleceu um tempo para a concretização de</p><p>seu plano divino com Israel.</p><p>11.25. - “ Porque não quero, irmãos, que ignoreis este</p><p>segredo” . Paulo denomina esse plano de segredo, ou misté­</p><p>rio, porque vai de encontro à razão humana; o único funda­</p><p>mento desse mistério está na Palavra de Deus. Só é possí­</p><p>vel entender esse segredo analisando o contexto histórico</p><p>de Israel. - Que segredo é esse? A resposta é objetiva e não</p><p>tem nenhum tom especulativo, mas é uma afirmação de</p><p>fé. como está escrito: “ ...o endurecimento veio em parte</p><p>sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado”</p><p>(v 25). Entende-se que o endurecimento de Israel quanto a</p><p>Cristo é parcial e temporal, a fim de que os gentios tenham</p><p>o conhecimento da verdade. Ora, se a graça salvadora é ca­</p><p>paz de alcançar os gentios pagãos, por que não alcançaria</p><p>também os judeus? Franz J. Leenhardt diz: “ O enxerto</p><p>não se pode bastar a si mesmo, Israel continua sendo a</p><p>raiz” (''). Pois bem, se o “ endurecimento de Israel” é tem­</p><p>poral e parcial, pergunta-se: “ Por quanto tempo? - A res­</p><p>posta está na própria escritura de Paulo que diz: ...ate</p><p>que a plenitude dos gentios haja entrado” . Significa dizer</p><p>1ZO</p><p>que até que se cumpra o tempo de Deus para a salvação</p><p>dos gentios, o endurecimento de Israel perdurará.</p><p>- Que é a “ plenitude dos gentios” ? - Diz respeito à</p><p>complementação total da medida de Deus. Esta expressão</p><p>tem sentido espiritual, pois quando se complementar essa</p><p>medida de Deus na vida dos gentios, então Deus se voltará</p><p>para Israel para concluir seu pacto (A t 15.14-17)</p><p>Não se pode confundir a “ plenitude dos gentios” com</p><p>o “ tempo dos gentios” de Lc 21.24, que se refere a um tem­</p><p>po específico no período da Grande Tribulação, quando o</p><p>Anticristo governará a terra. Entretanto, a “ plenitude dos</p><p>gentios” refere-se à Dispensação da Graça, quando os gen­</p><p>tios estão tendo a oportunidade de obterem a graça salva­</p><p>dora em Cristo Jesus,</p><p>11.26. “ E assim todo o Israel será salvo” . Aqui a salva­</p><p>ção dos judeus relaciona-se com o Israel histórico, isto é, o</p><p>Israel como nação, o qual será salvo.</p><p>Alguns comentaristas interpretam a expressão “ ...to­</p><p>do o Israel será salvo” como se referindo ao Israel espiri­</p><p>tual, que não é segundo a came, mas segundo o espírito.</p><p>Entretanto, não podemos concordar com essa teoria, visto</p><p>que toda a profecia relativa ao Israel futuro diz respeito à</p><p>restauração nacional e religiosa de Israel como povo, sobre</p><p>o qual Jesus governará no seu reino milenar. Israel espera o</p><p>seu libertador, o glorioso Messias que não foi reconhecido</p><p>na sua primeira vinda. Essa vinda futura do Messias signi­</p><p>fica a salvação de todo o Israel (Zc 12.2,3,8-10; 13.8,9; 14.2-</p><p>4).</p><p>11.28. “ ...quanto ao Evangelho, são inimigos por cau­</p><p>sa de vós...” A maioria dos judeus, baseada em seu orgulho</p><p>religioso, rejeitou o Evangelho, tornando-se hostil aos cris­</p><p>tãos primitivos, e inimigos da Igreja. Porém, essa inimiza­</p><p>de abriu caminho para a salvação dos gentios. O texto con­</p><p>tinua no versículo 28: “ ...mas quanto a eleição...” , Paulo</p><p>refere-se ao fato de que, dentro do “ propósito da eleição di­</p><p>vina” . os judeus foram separados e escolhidos de todas as</p><p>nações da terra para serem o povo peculiar de Deus. Por is­</p><p>so, a despeito de sua rejeição, os judeus são amados de</p><p>Deus, não porque mereçam esse amor, mas por causa dos</p><p>“ pais de Israel” , os patriarcas. Em outras palavras, Deus</p><p>126</p><p>cumprirá suas promessas, apesar da rejeição e infidelidade</p><p>dos judeus.</p><p>í í . 29,30. Temos nestes versículos a manifestação da</p><p>misericórdia de Deus, a despeito da incredulidade dos ju­</p><p>deus. Essa misericórdia se apresenta de modo duplo. Pri­</p><p>meiro ela se manifestou aos gentios através da rejeição dos</p><p>judeus {v 30). Segundo, manifestou-se aos judeus, a fim de</p><p>poder mostrar a todos a sua misericórdia (vv 31,32).</p><p>Há um outro aspecto a considerar neste texto do versí­</p><p>culo 31 quando diz: “ Assim também estes...” - Quem? -</p><p>Os judeus! Paulo falava em especial aos gentios converti­</p><p>dos para que entendessem esse fato. A expressão “ assim</p><p>também” incluiu a todos, tanto judeus como gentios. Da</p><p>mesma forma que os gentios foram desobedientes e inca­</p><p>pazes de alcançarem a graça de Deus por méritos próprios,</p><p>visto que “ Deus encerrou a todos debaixo da desobediên­</p><p>cia” (v 32), também os judeus. Mas como os gentios alcan­</p><p>çaram a “ misericórdia pela desobediência dos judeus” ,</p><p>também estes (os judeus) alcançarão a misericórdia de</p><p>Deus.</p><p>11.32. Paulo diz que “ Deus encerrou a todos debaixo</p><p>da desobediência, para com todos usar de misericórdia” .</p><p>Isto revela a alegria de Paulo e a sua adoração ao Senhor.</p><p>Veja as razões: Os judeus rejeitaram a salvação oferecida a</p><p>todos por não compreenderem o significado do Evangelho</p><p>pregado, por isso continuaram encerrados debaixo da de­</p><p>sobediência, mas não para sempre. Por outro lado, os gen­</p><p>tios receberam a mensagem do Evangelho e foram justifi­</p><p>cados em Cristo Jesus. Porém, a revelação do amor per-</p><p>doador e salvador de Deus foi feita para ambos (judeus e</p><p>gentios). Por agora, os judeus (como povo) continuam “ en­</p><p>cerrados debaixo do pecado” , mas chegará o tempo quan­</p><p>do se completar a “ plenitude dos gentios” com o desapare­</p><p>cimento da igreja arrebatada, então os judeus serão des­</p><p>pertados e alcançados pela misericórdia de Deus.</p><p>6. Doxologia de Paulo (11.33-36)</p><p>11.33. “ Ó profundidade das riquezas, tanto da sabe­</p><p>doria. como da ciência de Deus!” Neste versículo o apósto­</p><p>lo Paulo se extasia ante a revelação divina da salvação dos</p><p>homens. “ Tanto da sabedoria” , isto é, a manifestação dos</p><p>127</p><p>eternos propósitos de Deus; “ como da ciência de Deus” , a</p><p>qual se refere aos meios empregados pelo Todo-poderoso</p><p>pára manifestar sua misericórdia. Note que Paulo desen­</p><p>volveu sua argumentação reivindicando a justiça e a mise­</p><p>ricórdia de Deus em relação à rejeição dos judeus e à cha­</p><p>mada dos gentios para a salvação, cumprindo, assim, o seu</p><p>propósito salvador. Paulo colocou em relevo a incredulida­</p><p>de e o pecado e a capacidade divina para fazer justiça.</p><p>11.34. “ Por que quem compreendeu o intento do Se­</p><p>nhor? ou quem foi seu conselheiro?” Entende-se aqui que</p><p>Deus é soberano e que sua soberania é total, perfeita, ina­</p><p>tacável, insondávei, e inexcrutável; por isso, nenhuma</p><p>criatura está capacitada a ajudá-lo ou a aconselhá-lo. Se</p><p>Deus condena ou salva a quem quer que seja, ninguém po­</p><p>derá questionar sua ação, pois que Ele procede com abso­</p><p>luta justiça... A obra redentora do Calvário é inquestioná­</p><p>vel, pois ninguém poderia fazer igual. A Bíblia diz que “ to­</p><p>das as coisas se originam nele, continuam através dele e</p><p>encontram sua consumação nele” .</p><p>11.35.36. Paulo rende tributo àquele, cuja sabedoria e</p><p>conhecimento estão acima da mente humana.</p><p>No versículo 35, Paulo mostra a independência de</p><p>Deus em relação ao homem. Como diz o texto: “ Ou quem</p><p>lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?”</p><p>Ora, poderiam os judeus ou os gentios criarem demandas</p><p>com Deus? Poderiam acusar a Deus de injustiça? Na ver­</p><p>dade, todos foram encerrados debaixo do pecado, para re­</p><p>ceberem a mesma misericórdia.</p><p>11.36. “ Porque dele” (o Criador e Autor) “ e por Ele” e</p><p>“ para Ele” (como a finalidade das suas obras) “ são todas</p><p>as coisas” , o que garante que ele está por detrás de tudo,</p><p>pois tudo pertence a Ele para a sua glória em toda a eterni­</p><p>dade, Ele tem todo o direito de fazer o que bem lhe con­</p><p>vier. E por último o texto diz: “ glória pois a Ele eterna­</p><p>mente. Amém” . É o louvor espontâneo que Paulo oferece a</p><p>Deus, como a fonte e o sustentador de todas as coisas.</p><p>( ' ) Epístola aos Romanos - Franz J. Leenkardt, pág. 2f>7</p><p>transformai-vos” . Esse é um verbo grego</p><p>“ metamorphoõ” cuja tradução é transfigurar-se. A palavra</p><p>“ metamorfose” é o sentido literal dessa palavra grega.</p><p>12.2. “ ...pela renovação do vosso entendimento . bssa</p><p>transformação diz respeito ao interior e implica numa mu-</p><p>135</p><p>Rodrigo</p><p>Rodrigo</p><p>dança radical em toda a maneira de ser da pessoa transfor­</p><p>mada. Não conformar-se “ com o mundo” e, além de não</p><p>entrar na forma do mundo, ter uma transformação espiri­</p><p>tual que modifique toda a nossa vida. A renovação da</p><p>mente significa a renovação dos seus motivos e fins.</p><p>12.2. “ ...para que experimenteis” . Uma vez que nos</p><p>apresentamos a Deus em sacrifício vivo, e nossa mente é</p><p>renovada pela Palavra de Deus, passaremos então a pensar</p><p>corretamente e nas coisas certas. O propósito da “ transfor­</p><p>mação moral e espiritual” é que o crente possa “ experi­</p><p>mentar” a vontade gloriosa de Deus. Quando nos “ apre­</p><p>sentamos” , automaticamente “ experimentamos a boa,</p><p>agradável e perfeita vontade de Deus” . Pergunta-se, en­</p><p>tão: - Qual é a vontade de Deus? - A vontade de Deus é a</p><p>expressão do seu caráter na nossa vida diária.</p><p>II. - O SERVIÇO CRISTÃO EM RELAÇÃO À IGREJA</p><p>(12.3-8)</p><p>Na primeira parte, Paulo destaca a consagração do</p><p>seu “ eu” para o serviço de Deus. Nesta parte do estudo o</p><p>que importa é saber que todos os crentes podem ser úteis à</p><p>obra de Deus, mas cada qual deve estar cônscio de suas li­</p><p>mitações e, quando fizer alguma coisa, faça-a com humil­</p><p>dade e sem ostentação.</p><p>12.3. “ Porque pela graça que me foi dada...” A pala­</p><p>vra “ graça” aqui tem o sentido de dom, o dom apostólico</p><p>de Paulo (Rm 1.5; 15.15); porém, Paulo, apresenta neste</p><p>texto que cada crente recebeu “ uma graça diferente” , a</p><p>qua! deve ser exercida para o bem de todos.</p><p>12.3. “ ...que não saiba mais do que convém” . Esta fra­</p><p>se é um apelo à humildade que é um estado da mente, e</p><p>cada crente deve fazer o serviço de que está incumbido,</p><p>com humildade e moderação. Ao realizar o “ serviço de</p><p>Deus” , façamo-lo, não por nossa própria sabedoria, mas</p><p>conforme a medida da fé que é dada por Deus.</p><p>12.4,5. Nestes versículos somos tratados como partes</p><p>de UM CORPO. Somos di versos membros com distintas</p><p>funções. Por causa de Cristo, os dons são conferidos aos</p><p>crentes, e cada qual deve exercer seu serviço visando ao</p><p>louvor e à glória de Cristo, que é a cabeça desse corpo. Nin-</p><p>136</p><p>Rodrigo</p><p>guém tem o direito de pensar que é mais importante que os</p><p>demais membros do corpo, mas todos os membros são im­</p><p>portantes e trabalham em unidade pela cabeça.</p><p>}2.6-8. Nestes versículos estão alguns dons também,</p><p>tratados como ministérios, os quais são necessários para à</p><p>unidade do corpo, a Igreja. São dons dados segundo a gra­</p><p>ça de Deus outorgada. Normalmente, esses dons do capí­</p><p>tulo 12 são relegados a um plano secundário, mas pode-se</p><p>notar que Paulo os destaca entre os dons do Espírito de 1</p><p>Co 12. Dão a idéia de serem dons especiais da parte de</p><p>Cristo e aparecem como: ministério, ensino, exortação,</p><p>contribuição, governo e misericórdia (Rm 12.7,8). O</p><p>exercício desses dons deve ser feito visando à edificação do</p><p>Corpo de Cristo (E f 4.12,13). Esses dons são dados segundo</p><p>a “ graça” que cada um recebeu, isto é, segundo a capaci­</p><p>dade individual de exercitá-los para a glória de Jesus.</p><p>III - 0 SERVIÇO CRISTÃO EM RELAÇÃO AOS NOS­</p><p>SOS IRMÃOS N A FÊ (12.9-21)</p><p>Nestes versículos está a base do serviço cristão que é o</p><p>amor. Os deveres mencionados e todas as exortações de­</p><p>vem estar debaixo do princípio do amor.</p><p>12.9. “ 0 amor seja não fingido” . A palavra “ fingimen­</p><p>to” fica melhor traduzida por hipocrisia, que no grego é</p><p>“ anupokritos” . Na Versão Inglesa do Rei Tiago a expres­</p><p>são é: “ sem dissimulação” . Portanto, o sentido real é que,</p><p>a demonstração de qualquer sentimento para com as pes­</p><p>soas seja puro e “ com toda a sinceridade” .</p><p>12.9. “ Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem” . Aborre­</p><p>cer o mal é negar tudo que possa prejudicar a outrem.</p><p>Podemos servir aos nossos irmãos na fé tendo uma ati­</p><p>tude, não só de amor (v 9), mas pelo espírito fraterno de­</p><p>senvolvido entre todos ív 10), pelo fervor do espírito e ser­</p><p>viço a Deus (v 11), pela esperança e paciência (v 12), pela</p><p>hospitalidade e a generosidade entre os domésticos da fé (v</p><p>13), pela participação sincera dos sentimentos dos outros</p><p>(v 15), pelo perdão aos inimigos (v 16), pela retribuição do</p><p>mal com o bem (v 17) e por viver em paz com todos (v 18).</p><p>12.19. “ Não vos vingueis a vós mesmos” . Em outras</p><p>palavras, a vingança pertence a Deus, por isso, devemos</p><p>137</p><p>Rodrigo</p><p>deixar com Deus a vingança para com aqueles que nos</p><p>maltratam. Somos frágeis e incapazes de fazer vingança</p><p>com justiça. A expressão “ dai lugar à ira” não deve ser en­</p><p>tendida como o dar razão à manifestação da ira, mas sim</p><p>com o sentido de dar tempo à ira para que ela se extinga,</p><p>isto é, deixá-la passar. Também tem o sentido de “ dar lu­</p><p>gar â ira de Deus” , à vingança divina, uma vez que a “ vin­</p><p>gança pertence a Deus” .</p><p>12.20, O modo de tratar o inimigo é dado neste versí­</p><p>culo: “ Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de co­</p><p>mer; se tiver sede, dá-lhe de beber” . A filosofia bíblica do</p><p>relacionamento entre o crente e os seus inimigos é o da re­</p><p>compensa do Senhor. A expressão que dá continuidade ao</p><p>versículo 20 diz: “ fazendo isto, amontoarás brasas de fogo</p><p>sobre a sua cabeça” . - Que significa isto? - Significa que o</p><p>ato de bondade em lugar da vingança fará com que a pes­</p><p>soa sinta vergonha e remorso pelo mal praticado.</p><p>12.21. “ Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal</p><p>com o bem” . Não deixar-se vencer pelo mal significa não</p><p>se deixar dominar pelos ímpetos do ma! que conduzem á</p><p>vingança.</p><p>IV - O SERVIÇO CRISTÃO EM RELAÇÃO ÀS AU TO ­</p><p>RIDADES (13.1-7)</p><p>Esse texto tem servido para polêmica sobre a relação</p><p>entre Igreja e Estado. Porém, não vejo nenhuma dificulda­</p><p>de para fazer distinção entre ambos. Cada qual tem a sua</p><p>missão distinta, mas são interligados pelos objetivos,</p><p>O serviço cristão nesta esfera alcança toda a socieda­</p><p>de, e o crente deve ter um comportamento à altura dos ver­</p><p>dadeiros ideais do cristianismo.</p><p>13.1. “ Toda alma esteja sujeita às potestades superio­</p><p>res” . O apóstolo recomenda a submissão à autoridade</p><p>constituída. A seguir, o texto declara a razão por que deve­</p><p>mos nos submeter às autoridades: “ Porque não há potesta-</p><p>de que não venha de Deus; e as potestades que há foram</p><p>ordenadas por Deus” . A palavra “ potestade” refere-se a</p><p>“ autoridade, ou poder delegado” . Nesta parte do versícu­</p><p>lo, Paulo declara que toda a autoridade vem de Deus.</p><p>13.2. Neste versículo, o resistir às autoridades signifi­</p><p>138</p><p>Rodrigo</p><p>Rodrigo</p><p>ca resistir a Deus, por isso estamos legalmente obrigados a</p><p>reconhecer e a obedecer às autoridades constituídas. Resis­</p><p>tir à autoridade é opôr-se à lei divina, pois Deus mesmo re­</p><p>conhece a lei civil. Quebrar a lei ou transgredi-la implica</p><p>em conseqüências negativas, isto é, em condenação, nâo só</p><p>da parte das autoridades civis, mas também da parte de</p><p>Deus.</p><p>13.3,5. “ Porque os magistrados não são terror para as</p><p>boas obras” . Quando alguém pratica o bem não tem o que</p><p>temer. Note que Paulo declara que a autoridade civil é mi­</p><p>nistro de Deus {v 4), por isso, o crente deve orar a Deus pe­</p><p>las autoridades constituídas e submeter-se a elas (v 5). De­</p><p>vemos nos submeter às autoridades por dever de consciên­</p><p>cia. O crente obedece, não por medo de ser punido, mas</p><p>porque sua consciência lhe mostra o que deve fazer.</p><p>13.6,7. Nossa responsabilidade para com as autorida­</p><p>des. Não só devemos acatá-las e obedecer-lhes na “ letra da</p><p>lei” , mas devemos cumprir os seus regulamentos. Paulo</p><p>declara que, por razão de consciência, devemos também</p><p>“ pagar tributos” . Esses tributos são os impostos que sus­</p><p>tentam os governos. No versículo 7 diz: “ Dai a cada um o</p><p>que deveis” . Esse é um dever de todo o crente. Se for tri­</p><p>buto, dê-se a quem se deve dar tributo. Se o temor, dê-se a</p><p>quem se deve temor, isto é, respeito</p><p>explícita. Havia um</p><p>grupo de judeus cristãos que, amarrado ainda às exigên­</p><p>cias da religião judaica, queria impor sobre os gentios con­</p><p>vertidos os mesmos requisitos da lei mosaica. Entretanto,</p><p>Paulo apresentou a obra salvadora de Cristo com sentido</p><p>universal, extensiva a todos os homens.</p><p>4. Na esfera Ética (12.1-15.33), Paulo mostra algumas</p><p>implicações do Evangelho para a vida diária. Responsabi­</p><p>lidades éticas para com a igreja, a família e a vida material</p><p>são colocadas em destaque. Não pertencemos ao mundo,</p><p>mas estamos no mundo (Jo 17.11,16). Paulo procura mobi­</p><p>lizar os crentes para uma vida de santidade total, para um</p><p>17</p><p>rendimento incondicional a Cristo. As doutrinas da santi­</p><p>ficação e do serviço cristão são postas em destaque. Aspec­</p><p>tos morais da vida cristã são tratados com muita proprie­</p><p>dade por Paulo, tornando imperativa uma maneira de vi­</p><p>ver santa e piamente.</p><p>Fachada da Cúria, sede do Senado Romano, reconstruída por</p><p>18 Diocleciano</p><p>Introdução à Carta</p><p>(1.1- 17)</p><p>I - SUA APRESENTAÇÃO PESSOAL (1.1)</p><p>1. Primeira credencial - “servo de Jesus Cristo” (v 1)</p><p>2. Segunda credencial - “chamado para ser apóstolo”</p><p>(v 1)</p><p>3. Terceira credencial - “separado para o Evangelho</p><p>de Deus” (v 1)</p><p>II -APRESENTAÇÃO DO EVANGELHO QUE PRE-GAVA</p><p>(1.2-5)</p><p>1. Primeira fase - “segundo a carne” (v 3)</p><p>2. Segunda fase - “segundo o Espírito” (v 4)</p><p>III - SEU DESTINATÁRIO (1.6,7)</p><p>1. Primeira prerrogativa - “chamados para serdes de</p><p>Jesus Cristo” (v 6)</p><p>2. Segunda prerrogativa - “amados de Deus” (v 7)</p><p>3. Terceira prerrogativa - “chamados santos” {v 7)</p><p>IV - SUA SAUDAÇÃO PESSOAL (1.7-15)</p><p>1. Graça e paz (v 7)</p><p>2. Ação de graças (w 8-10)</p><p>19</p><p>3. Paulo deseja compartilhar sua fé com os cristãos de</p><p>Roma (w 11-15)</p><p>- O TEMA DA CARTA (1.16,17)</p><p>1. Que é o Evangelho (v 16)</p><p>2. O Evangelho é a revelação da justiça de Deus (v 17)</p><p>Três colunas ainda existentes do antigo Foro Romano</p><p>Introdução</p><p>à Carta</p><p>I - SUA APRESENTAÇÃO PESSOAL (1.1)</p><p>E extensa a saudação de Paulo no início de sua carta.</p><p>Ele usa o costume da época, em que o começo de uma car­</p><p>ta se divide em três partes: o nome do remetente, o do des­</p><p>tinatário, e uma saudação. Paulo aproveita esse costume e</p><p>resume no eneabeçamento da carta as suas credenciais e</p><p>sua mensagem. Três credenciais são apresentadas à igreja</p><p>destinatária em Roma, conforme estão abaixo:</p><p>1. Primeira credencial: “servo de Jesus Cristo” (1.1).</p><p>A palavra servo, traduzida literalmente do grego “doulos”,</p><p>significa escravo. Significa pertencer a alguém, a um se­</p><p>nhor. Assim como o escravo pertence por inteiro ao seu se­</p><p>nhor, Paulo se diz pertencer a Cristo, seu Senhor. Vive</p><p>para Ele e por Ele. O escravo não se pertence, pois tem</p><p>dono e só faz a vontade do seu senhor, isto é, do seu dono.</p><p>2. Segunda credencial: “chamado para ser apósto­</p><p>lo” (1.1). Esta chamada está comprovada no seu encontro</p><p>com Cristo no caminho de Damasco (At 9.15,16; 22.14,15;</p><p>21</p><p>26.16-18). No grego “apostolos” e no hebraico “shaliach”,</p><p>denota alguém especialmente comissionado com plenos</p><p>poderes de seu superior. Paulo não era um dos doze, mas</p><p>em termos ministeriais não foi em nada inferior a qualquer</p><p>dos doze. Paulo tinha consciência de sua vocação e estava</p><p>convicto de seu ministério apostólico para realizar a obra</p><p>do Evangelho entre os gentios. Por isso foi chamado de</p><p>Apóstolo dos Gentios.</p><p>3. Terceira credencial: “separado para o Evangelho de</p><p>Deus” (1.1). Sua missão principal era a de proclamar o</p><p>Evangelho de Cristo. O termo separado indica o propósito</p><p>para o qual foi dedicado. Esta separação denota que ele era</p><p>um homem especial para uma tarefa especial. Na pres-</p><p>ciência divina, Paulo foi escolhido e separado para este</p><p>propósito definido. Pregar o Evangelho a todas as gentes</p><p>definia claramente sua vocação. A expressão “separado</p><p>para o Evangelho” foi empregada pelo próprio Paulo. Ele</p><p>reconhecia o plano de Deus para a sua vida. Sentia-se</p><p>como entregue à obra de Cristo. Nada podia interceptar</p><p>sua missão de pregar o Evangelho (G1 1.15,16). Paulo dá a</p><p>impressão de que desejava que os romanos pensassem de­</p><p>le, não como pleiteando autoridade para si, mas como al­</p><p>guém que fora nomeado por Deus para aquela missão.</p><p>II - APRESENTAÇÃO DO EVANGELHO QUE PREGA­</p><p>VA (1.2-5)</p><p>A palavra evangelho ganha sentido poderoso no versí­</p><p>culo 1. Sua significação alcança uma dimensão histórica e</p><p>sempre atual. Anunciado e profetizado no Antigo Testa­</p><p>mento, foi depois revelado na pessoa de Jesus Cristo. E o</p><p>Evangelho de Boas-novas. A plataforma para a sua revela­</p><p>ção foi feita através dos profetas (1.2). Nos versículos 3 e 4,</p><p>Paulo fala de Jesus Cristo de modo especial, esclarecendo</p><p>a revelação de sua pessoa em duas fases. Essas duas fases</p><p>mostram a filiação de Jesus:</p><p>1. Primeira fase: “segundo a carne” (1.3). Esta expres­</p><p>são indica sua encarnação e humilhação como homem (Fp</p><p>2.5-8). Fala, também, de sua natureza humana (Jo 1.14;</p><p>Rm 9.5). Fica entendido, então, que Jesus tinha duas na­</p><p>turezas, a humana e a divina. A seguir o texto diz: “decla-</p><p>22</p><p>rado Filho de Deus em poder” (1.4). A palavra declarado,</p><p>literalmente quer dizer, definido, determinado, ou de­</p><p>monstrado, provado. J á a palavra poder, nesta declaração,</p><p>tem um sentido mais forte. A frase pode ser compreendida</p><p>como “declarado Filho de Deus poderosamente”, porque</p><p>sua revelação no meio dos homens foi de modo singular e</p><p>milagroso. Ele, sendo Deus, fez-se homem, nascido de mu­</p><p>lher, mas gerado pelo Espírito Santo.</p><p>2. Segunda fase: “segundo o Espírito” (1.4). A expres­</p><p>são lembra o fato da ressurreição e exaltação de Cristo. In­</p><p>dica também a sua natureza divina. Visto que, “segundo a</p><p>carne”, Cristo era o “Filho do homem”, (Lc 19.10); então,</p><p>“segundo o Espírito”, Cristo é o “Filho de Deus”. A conti­</p><p>nuação do versículo 4 elucida ainda mais o texto que diz:</p><p>“pela ressurreição dos mortos” (1.4) que se refere à própria</p><p>ressurreição de Cristo e à sua vitória sobre a morte e a se­</p><p>pultura. Sua ressurreição foi proclamada e testemunhada</p><p>pelos discípulos, mas a declaração de Jesus Cristo como</p><p>“Filho de Deus” foi obra do Espírito Santo. Esta declara­</p><p>ção fortalece o fato de que Jesus não perdeu sua filiação ao</p><p>Pai Celestial quando se fez homem, mas, ao contrário, foi</p><p>ainda confirmado em natureza divina. Antes de sua morte,</p><p>o “Filho do homem” manifestou-se com todas as prerroga­</p><p>tivas humanas, e na vitória sobre a morte, Ele manifestou-</p><p>se como o “Filho de Deus” (Ef 4.8,9; Ap 1.17,18). Pela sua</p><p>ressurreição dentre os mortos, deu a conhecer sua natureza</p><p>divina (SI 2.7; At 13.33; Fp 2.8-11). O poder pelo qual Je­</p><p>sus foi declarado “Filho de Deus” (1.4) é o mesmo poder do</p><p>Evangelho (1.16), pelo qual nos tornamos filhos de Deus</p><p>(Jo 1.12). Outrossim, a expressão “Jesus Cristo, nosso Se­</p><p>nhor” (1.4) declara o senhorio absoluto de Cristo conquis­</p><p>tado na cruz do Calvário. Pelo seu sangue, fomos compra­</p><p>dos por “bom preço” (1 Co 7.23). Pertencemos a Ele agora,</p><p>por isso Ele é o “nosso Senhor”. No versículo 5, Paulo de­</p><p>clara ter recebido seu apostolado por ato oficial do Filho de</p><p>Deus.</p><p>III - SEU DESTINATÁRIO (1.6,7)</p><p>Os destinatários da Carta são os cristãos residentes</p><p>em Roma. Paulo declara que, como ele próprio, todos são</p><p>23</p><p>objetos do amor de Deus. Assim como ele havia sido cha­</p><p>mado, também eles foram chamados com uma santa voca­</p><p>ção. Quer judeus, quer gentios, todos participam do mes­</p><p>mo plano divino da salvação por Jesus Cristo. Paulo dá</p><p>três prerrogativas especiais daqueles crentes e as coloca em.</p><p>destaque em sua saudação à igreja em Roma.</p><p>1. Primeira prerrogativa - “chamados para serdes de</p><p>Jesus Cristo” (1.6). Esta chamada implica no primeiro</p><p>passo da salvação pessoal que corresponde à conversão. A</p><p>forma substantiva de chamados e a omissão da preposição</p><p>por, requer uma busca no original grego, que dá ao termo</p><p>chamados o sentido de pertencentes a Ele. Isto é, os cha­</p><p>mados pertencem a Ele e são seus. A chamada é trabalho</p><p>do Espírito Santo que convence acerca de Jesus e da neces­</p><p>sidade da sua obra (Jo 16.8).</p><p>2. Segunda</p><p>e reverência. Se é hon­</p><p>ra, dê-se honra a quem se deve honra.</p><p>V - O SERVIÇO CRISTÃO EM RELAÇÃO AOS DEVE-</p><p>RES SOCIAIS (13.8-10)</p><p>13.8. “ A ninguém devais coisa alguma” . Hoje em dia é</p><p>quase inevitável alguém nâo ter alguma dívida. Entretan­</p><p>to, a preocupação de Paulo não está no caso daquelas pes­</p><p>soas que devem e pagam fielmente seus débitos. Ele se re­</p><p>fere aos devedores nâo cumpridores de seus débitos. No</p><p>mesmo versículo, Paulo estimula o amor como a dívida</p><p>que todo cristão deve ter para com o próximo. Nada deve</p><p>ser feito em detrimento do próximo, mas tudo deve ser fei­</p><p>to para o completo cumprimento da lei exigida.</p><p>O ato de dever a alguém não se restringe a finanças e</p><p>coisas materiais, mas também aos aspectos morais e espi­</p><p>rituais. Quando ele destaca a lei de Deus no v 9, dizendo:</p><p>139</p><p>“ Com efeito, não adulterarás, não matarás, não furtarás,</p><p>não darás falso testemunho, não cobiçarás” , está se refe­</p><p>rindo aos pecados contra o próximo, que podem ser dívidas</p><p>difíceis de pagar. Porém, “ o amor não pratica o mal contra</p><p>o próximo” (v 10), e esse amor é um amor real, literal, não</p><p>abstrato que se manifesta no tratamento com o próximo. O</p><p>amor não tem barreiras nem acepções, e deve ser estreita­</p><p>do nas relações entre os cristãos. Note: O amor cumpre a</p><p>lei e respeita o próximo.</p><p>VI - O SERVIÇO CRISTÃO EM RELAÇÃO À CONDU­</p><p>T A M ORAL (13.11-14)</p><p>Neste texto, encontramos um imperativo moral para</p><p>um viver cristão autêntico. É um apelo à vigilância cristã e</p><p>à conscientização da urgência do tempo.</p><p>13.11. “ E isto digo, conhecendo o tempo". - Que há</p><p>dentro desse tempo? - São os sinais predeterminados da</p><p>vinda de Cristo. Por isso, a continuação do versículo 11 é</p><p>uma exortação ao despertamento espiritual contra toda a</p><p>indiferença e frieza. Estar despertados implica em estar de</p><p>prontidão espiritual.</p><p>13.12. “ As obras das trevas” se contrapõem às obras</p><p>da luz, pois são originadas pelo príncipe das trevas, e suas</p><p>obras são más e traiçoeiras. Entretanto, o Senhor nos ofe­</p><p>rece as “ armas da luz” que são a graça, a bondade e a ver­</p><p>dade do reino de Cristo.</p><p>13.13,14. “ Andemos honestamente” (v 13). Diz respei­</p><p>to ao comportamento moral do crente, “ não em glutonaria,</p><p>nem bebedeiras, nem em desonestidade, nem em dissolu­</p><p>ções, nem em contendas e inveja” . Ora, o padrão neotesta-</p><p>mentário rejeita as obras da came. Deus abomina a licen-</p><p>ciosidade e a intemperança. Porém, no versículo 14, Paulo</p><p>convida: “ Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” . Signi­</p><p>fica recebê-lo no coração e deixá-lo dominar inteiramente</p><p>a nossa vida. Não há vitória moral fora de Cristo. Estar re­</p><p>vestido de Cristo é ter a presença pessoal do Espírito Santo</p><p>dentro de nós, limpando e purificando o nosso interior.</p><p>140</p><p>VII - 0 SERVIÇO CRISTÃO EM RELAÇÃO AOS FRA­</p><p>COS NA FÉ (14.1-2.3)</p><p>O dever do crente sadio para com o “ enfermo na fé” , é</p><p>o que trata o apóstolo Paulo. Da mesma forma que hoje nos</p><p>deparamos com os crentes fracos na fé, que facilmente se</p><p>ofendem e se escandalizam, também, havia isso entre os</p><p>crentes em Roma. Era um grupo de crentes, nâo muito</p><p>grande, mas que merecia a atenção do grande apóstolo. Ele</p><p>dá três importantes lições quanto ao que se refere ao trata­</p><p>mento com esses “ irmãos fracos” .</p><p>1. Em primeiro lugar, Paulo apela para que se respeite</p><p>os escrúpulos de consciência daqueles irmãos (14.1-12).</p><p>14.1. Esses crentes são tratados como “ enfermos” na</p><p>fé, por isso, devem merecer o nosso amor complacente para</p><p>com as suas fraquezas. Há coisas em que a consciência dos</p><p>homens diverge e não convém discutir, nem querer provar</p><p>o contrário. Pelo fato de serem “ enfermos na fé” nâo de­</p><p>vem ser rejeitados no meio da igreja, mas Paulo diz: “ Re­</p><p>cebei-os” . Disputar com eles seus preconceitos não vale a</p><p>pena, não traz benefício a ninguém. A verdade é que den­</p><p>tro da igreja existiam dois grupos bem distintos: os mais</p><p>abertos e liberais e os extremistas, ou excessivamente es­</p><p>crupulosos.</p><p>14.2,3.4. Neste texto o fraco deve ser recebido com</p><p>amor porque Deus o recebeu (v 3), e é “ servo do Senhor” e</p><p>não servo dos nossos preconceitos e interesses. Diz Paulo:</p><p>“ Para seu próprio Senhor está em pé ou cai” (v 4), isto sig­</p><p>nifica que não temos o direito de julgar os outros, não im­</p><p>porta o estado da pessoa, se está em pé ou caído, o julga­</p><p>mento é do Senhor.</p><p>14.5,6. A divergência de consciência quanto aos hábi­</p><p>tos e costumes existe. Essas questões devem ser tratadas</p><p>de acordo com a relação com Deus. A questão de certo e er­</p><p>rado tem sido uma barreira para muitos, mas isto não nos</p><p>compete julgar, antes devemos nos basear, para esse julga­</p><p>mento, na responsabilidade pessoal de cada um.</p><p>14.7-9. Nestes versículos está a solução apontada, To­</p><p>dos são do Senhor e vivem para o Senhor. Portanto, fracos</p><p>ou fortes, todos estamos “ em Cristo .</p><p>141</p><p>14.10. Mais uma vez o apóstolo Paulo exorta e critica</p><p>os que querem julgar o próximo, e aponta para o Tribunal</p><p>de Cristo, onde todos os salvos comparecerão para presta­</p><p>rem conta de suas obras feitas através do corpo, “ bem ou</p><p>mal” (2 Co 5.10).</p><p>2. Em segundo lugar, devemos conhecer os limites da</p><p>nossa liberdade (14.13-21).</p><p>14.13. “ Assim não nos julguemos mais uns aos ou­</p><p>tros” . Essa exortação já foi dada pelo apóstolo, porém, nes­</p><p>te texto ela tem um sentido especial em relação à liberdade</p><p>de fazer ou deixar de fazer por causa do meu irmão que é</p><p>débil na fé. - Até onde vai a minha liberdade de fazer qual­</p><p>quer coisa? Como crente consciente da minha fé, minha li­</p><p>berdade deve ser controlada por atitudes coerentes e te­</p><p>mentes a Deus, que não firam os fracos. Se minha liberda­</p><p>de de consciência prejudica a vida espiritual de algum fra­</p><p>co, ela se torna negativa.</p><p>14.13. “ Antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou</p><p>escândalo ao irmão” . O andar cristão tem a ver com a pers­</p><p>pectiva espiritual de cada um. Alguns se escandalizam fa­</p><p>cilmente por coisas que a sua consciência não condena.</p><p>Mas nem por isso menosprezamos esses irmãos em Cristo,</p><p>porque o amor deve estar acima das dificuldades e diver­</p><p>gências de pensamento. Jamais o crente forte deve usar de</p><p>sua liberdade para prejudicar o seu irmão (M t 18.6).</p><p>14.14. “ Nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não</p><p>ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imun­</p><p>da” . No início do versículo 14, Paulo afirma com seguran­</p><p>ça: “ Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus” , e esta forma de</p><p>dizer do apóstolo é para diferençar entre o seu próprio</p><p>pensamento e o pensamento de Cristo. Quando diz: “ Eu</p><p>sei” é o mesmo que dizer: “ É assim que Jesus quer e pen­</p><p>sa” (1 Co 2.16). - O que seria imundo naqueles dias? - O</p><p>contexto mostra que muitos judeus se escandalizavam por­</p><p>que os gentios comiam certos tipos de carne, não guarda­</p><p>vam o sábado e outros rituais do judaísmo. Aquelas coisas</p><p>da vida religiosa judaica não eram tidas como importantes</p><p>na nova vida em Cristo, mas alguns “ enfermos na fé” não</p><p>aceitavam isso.</p><p>14.15. “ Mas se por causa da comida se contrista teu ir­</p><p>142</p><p>mão, já não andas conforme o amor” . Paulo fala aqui para</p><p>os “ fortes” , isto é, com aqueles cuja consciência não é acu­</p><p>sada porque comem carne; porém, caso o irmão se escan­</p><p>dalize porque se come carne, não se deve comer came, para</p><p>que a fé daquele irmão não desfaleça.</p><p>14.15. “ Não destruas por causa da tua comida aquele</p><p>por quem Cristo morreu” . Só uma coisa aceitável e supre­</p><p>ma anima o forte a suportar o “ fraco na fé” é o fato de que</p><p>Cristo morreu por ele. O nosso amor e o fato da morte de</p><p>Cristo por todos deve ser mais forte em nosso coração.</p><p>14.16-21. Nestes versículos aprendemos que, se algu­</p><p>ma coisa em nossa consciência não nos condena, mas pode</p><p>escandalizar o nosso irmão devemos evitá-la. É a prática</p><p>da negação dos nossos interesses em prol dos outros, para</p><p>evitarmos o prejuízo da obra de Deus (14.20). A filosofia</p><p>cristã põe em primeiro lugar a Deus, depois o nosso próxi­</p><p>mo. É o bem do nosso irmão que nos leva à negação da sa­</p><p>tisfação própria, a fim de que, o que fazemos</p><p>ou pensamos</p><p>nâo “ ofenda” o nosso irmão, nem venha a enfraquecê-lo. O</p><p>crente maduro na fé nâo deve ostentar diante dos mais fra­</p><p>cos que ele pode fazer isto ou aquilo, sem ser prejudicado.</p><p>3. Em terceiro lugar, tudo que fizermos devemos fazê-</p><p>lo para a glória de Deus (14.22,23).</p><p>14.22. “ Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de</p><p>Deus” . Paulo fala ainda aos crentes fortes. Quando per­</p><p>gunta: “ Tens tu fé?” , ele está se referindo ao fato de que,</p><p>se comermos uma comida com a consciência limpa, não há</p><p>nenhuma dificuldade; mas o fazendo, devemos fazê-lo</p><p>“ diante de Deus” . O comer aqui é o símbolo do que minha</p><p>consciência permite ou não permite fazer. Se minha cons­</p><p>ciência permite e não me acusa fazer certa coisa, mas isso</p><p>prejudica o meu irmão, neste caso minha atitude se toma</p><p>em “ pedra de tropeço” para o meu irmão.</p><p>O fato de estar convicto da liberdade em Cristo Jesus</p><p>não me dá direito de fazer alarde dessa liberdade a ponto</p><p>de escandalizar meu irmão mais fraco.</p><p>14.23. “ Mas aquele que tem dúvidas” . Isso se refere á</p><p>insegurança naquilo que se quer fa z e r . Porque se alguem</p><p>faz alguma coisa segundo a consciência cristã recebida,</p><p>deve fazê-lo por fé. Ora, se alguém tem dúvida quanto ao</p><p>143</p><p>Rodrigo</p><p>Rodrigo</p><p>que se deve fazer, mas por fraqueza acompanha os outros,</p><p>então essa pessoa incorre em condenação. Não devemos</p><p>trazer condenação sobre nós naquilo que temos dúvida. Se</p><p>o comer lhe acusa a consciência é porque não o faz por fé, e</p><p>tudo o que não provém da fé é pecado (1 Co 10.31).</p><p>V I I I - O SERVIÇO CRISTÃO EXEM PLIFICADO (15.1-</p><p>33)</p><p>1. No exemplo de Cristo (15.1-13)</p><p>De certo modo, Paulo dá continuidade ao assunto do</p><p>capítulo 14, porém, com uma visão especial.</p><p>15.1,2. Nestes dois versículos a exortação continua</p><p>quanto às relações entre os crentes denominados “ fortes” e</p><p>os “ fracos” . Os fortes devem suportar os “ fracos” nas suas</p><p>fraquezas. Não apenas suportá-los mas ajudá-los. O pro­</p><p>pósito do crente forte não deve ser o de agradar a si mesmo,</p><p>mas o de ajudar os que necessitam do seu auxílio (15.2).</p><p>Paulò exemplifica com Jesus, dizendo: “ Porque também</p><p>Cristo não agradou a si mesmo” (15.3). Vários textos com­</p><p>provam o que foi dito de Jesus nas profecias (SI 69.9; M t</p><p>26.39; Jo 5.30; 6.38.)</p><p>15.4. “ As Escrituras” citadas por Paulo indicam que</p><p>elas foram escritas para a nossa instrução e para que te­</p><p>nhamos esperança.</p><p>15.5-7. Nestes versículos aprendemos que as relações</p><p>entre “ fortes e fracos” devem promover a glória de Deus.</p><p>15.8-12. Aqui Paulo destaca a importância da unidade</p><p>espiritual entre todos os crentes. Essa unidade deve trans­</p><p>cender as diferenças existentes na comunhão cristã.</p><p>No versículo 8, o apóstolo começa: “ Digo pois que Je­</p><p>sus Cristo foi ministro da circuncisão” . O grande problema</p><p>estava no fato das diferenças de costumes entres os judeus</p><p>e os gentios. Paulo não desmerece a importância dos per­</p><p>tencentes à “ circuncisão” , mas reafirma que Cristo é Se­</p><p>nhor e Salvador, tanto dos judeus como dos gentios. Para</p><p>que os crentes gentios não se orgulhassem sobre os crentes</p><p>vindos do judaísmo, Paulo mostra que o Evangelho é supe­</p><p>rior aos sistemas de vida. Gentios e judeus, fortes e fracos,</p><p>todos são um só povo em Cristo, pois este foi feito ministro</p><p>para confirmar as promessas (15.8).</p><p>144</p><p>Quando Paulo se refere a “ as promessas feitas aos</p><p>pais” (15.8), está, na verdade, falando dos “ pais da nação</p><p>israelita” , isto é, dos patriarcas. Porém, o fato de Jesus ter</p><p>vindo da semente de Abraão serviu de testemunho para</p><p>que os gentios giorifíquem a Deus pela sua misericórdia</p><p>(15.9). Nos versículos 9 a 12 Paulo faz algumas citações do</p><p>A T para demonstrar, tanto a judeus como a gentios, que o</p><p>plano salvador de Deus por Jesus lhes estava reservado</p><p>desde o princípio do mundo.</p><p>15.13. “ E o Deus de esperança” é uma oração conclu­</p><p>siva que o apóstolo faz, destacando a importância de que</p><p>todos os crentes em Cristo são um só povo com uma espe­</p><p>rança imorredoura dada pelo Espírito Santo.</p><p>2. N o exemplo de Paulo (15.14-21)</p><p>Nestes versículos Paulo procurou se identificar mais</p><p>pessoalmente com os crentes era Homa, explicando as ra­</p><p>zões de sua carta e o propósito de seu ministério.</p><p>15.14,15. Paulo dá um exemplo de modéstia, cortesia e</p><p>tato. Destaca as qualidades dos crentes romanos, mas a ra­</p><p>zão que o levou a escrever foi a forte responsabilidade pas­</p><p>toral que ele tinha para com os gentios. Apesar de reconhe­</p><p>cer que os romanos eram “ cheios de todo o conhecimento”</p><p>(v 14), Paulo foi ousado e franco quanto ás verdades do</p><p>Evangelho. Desejava ajudá-los na elucidação de algumas</p><p>verdades desconhecidas que estavam servindo de polêmica</p><p>e divisão no seio da igreja.</p><p>15.16. “ Que seja ministro de Jesus Cristo entre os gen­</p><p>tios” . Era uma confirmação do seu ministério recebido di­</p><p>retamente de Jesus. Dizem alguns estudiosos do texto de</p><p>Romanos, que Paulo estava tentando convencer os crentes</p><p>de Roma acerca de seu ministério, visto que muitos não o</p><p>reconheciam.</p><p>15.17-21. Nestes versículos, Paulo gloria-se em Cristo.</p><p>Ele não se gloriava de que havia feito alguma coisa, mas</p><p>sim porque Cristo fez tudo através de sua vida. Nos versí­</p><p>culos 20 e 21, Paulo deixa transparecer que a sua ambição</p><p>maior na vida era pregar a Cristo em todos os lugares onde</p><p>Cristo não era conhecido.</p><p>3. Os planos missionários de Paulo (15.22-33)</p><p>15.22,23. Nestes versículos Paulo fala do seu grande</p><p>145</p><p>desejo de ir a Roma, e diz que tem sido impedido por cir­</p><p>cunstâncias várias. Entretanto, ele sente que suas ativida­</p><p>des missionárias nas regiões da Grécia, Macedônia e Ásia</p><p>Menor, já foram completadas. Ele dera início à tarefa</p><p>evangelística e já podia confiar a obra a outros obreiros, a</p><p>fim de cumprir o desígnio de seu ministério apostólico.</p><p>15.24. “ Quando partir para a Espanha” . Está expres­</p><p>sa aqui a visão expansionista missionária do grande após­</p><p>tolo. A Espanha agora era a sua meta, e, para tal, passaria</p><p>antes por Roma.</p><p>15.25,26. Nestes versículos Paulo diz à igreja em</p><p>Roma que antes terá de ir a Jerusalém, acompanhado por</p><p>vários irmãos na fé, das igrejas gentílicas. A viagem tinha</p><p>um cunho filantrópico, pois levariam as ofertas das igrejas</p><p>da Macedônia e Acaia para os crentes que passavam priva­</p><p>ções em Jerusalém.</p><p>15.27. “ Isto lhes pareceu bem, como devedores que são</p><p>para com eles” . Paulo enfatiza que as igrejas gentílicas são</p><p>devedoras para com a igreja em Jerusalém, visto que a</p><p>bênção do Evangelho de Cristo partiu de Jerusalém. Era</p><p>justo que, nesses momentos de perseguições e privações</p><p>aqueles crentes judeus fossem ajudados. Conforme declara</p><p>o apóstolo: “ Se os gentios foram participantes dos seus</p><p>bens espirituais, devem também ministrar-lhes os tempo­</p><p>rais” (v 27).</p><p>15.28. Terminada a sua missão em Jerusalém, não lhe</p><p>resta outro plano, senão ir a Roma e depois à Espanha.</p><p>15.29-33. Paulo sabia que havia grande perseguição</p><p>contra a igreja de Jerusalém, e que seu trabalho missioná­</p><p>rio entre os gentios ainda sofria resistência de alguns ju­</p><p>deus. Mas ele esperava que na sua ida a Jerusalém, junta­</p><p>mente com irmãos representantes das igrejas gentílicas, le­</p><p>vando as ofertas para os santos de Jerusalém, fossem bem</p><p>recebidos. Paulo sabia que havia perigo de vida, pois os ju­</p><p>deus mais fanáticos queriam a sua morte (v 31). Por isso,</p><p>solicita à igreja em Roma que ore por esta missão em Jeru­</p><p>salém. Entende Paulo que acima de tudo está a soberana</p><p>vontade de Deus (v 32).</p><p>Paulo espera que seu plano de visitar Roma aconteça,</p><p>a fim de poder comunicar as bênçãos do Evangelho aos</p><p>146</p><p>Rodrigo</p><p>santos da grande metrópole. Para tal, ele invoca a bênção</p><p>de Deus àquela igreja, dizendo: “ E o Deus de paz seja com</p><p>todos vós. Amém” (v 33).</p><p>IX - O SERVIÇO CRISTÃO EM RELAÇÃO AOS AM I­</p><p>GOS E IRMÃOS N A FÉ (16.1-27)</p><p>Tem sido levantada uma tese através dos anos pelos</p><p>estudiosos de que este último capítulo não pertence à Car­</p><p>ta aos Romanos, mas sim a aos Efésios. O argumento é fra­</p><p>co e destituído de provas, pois coloca</p><p>dúvidas sobre as pes­</p><p>soas citadas por Paulo, visto que ele nâo havia visitado</p><p>Roma até a data da carta. Ele cita 26 pessoas e 5 famílias,</p><p>as quais conhecia perfeitamente. Entretanto, não há o que</p><p>duvidar do endereçamento deste último capítulo, pois</p><p>Paulo podia perfeitamente conhecer aquelas pessoas cita­</p><p>das em suas viagens missionárias em outras regiões. Algu­</p><p>mas das pessoas mencionadas eram conhecidas de Paulo</p><p>em Corinto e Éfeso, e que, certamente, mudaram-se poste­</p><p>riormente para Roma, a capital do Império.</p><p>1. Paulo recomenda Febe (16.1,2)</p><p>Febe era uma senhora cristã que servia ao Senhor na</p><p>igreja de Cencréia, um porto marítimo de Corinto. A ex­</p><p>pressão “ a qual serve na igreja que está em Cencréia” des­</p><p>taca o termo “ servir” e denota uma função desta mulher</p><p>nessa igreja. Em outras versões mais atualizadas e aproxi­</p><p>madas do original grego, o termo “ servir” é traduzido por</p><p>diácono, que deixa transparecer ser Febe uma diaconisa</p><p>naquela igreja.</p><p>Paulo recomenda que a igreja recebesse fraternalmen­</p><p>te a Febe, pois ela era portadora da carta do apóstolo. Re­</p><p>comenda que a ajudem, pois poderia dar testemunho a seu</p><p>favor, pois ela “ tem hospedado a muitos, como também a</p><p>mim mesmo” (v 2).</p><p>Paulo destaca uma qualidade ímpar na vida cristã de</p><p>Febe, que é a hospitalidade. Na versão atualizada, a ex­</p><p>pressão “ tem hospedado a muitos” dá o sentido de alguém</p><p>que patrocina financeiramente alguma coisa na obra do</p><p>Senhor. A recomendação de Paulo a Febe deixa um marco</p><p>na história do cristianismo.</p><p>147</p><p>2. Paulo saúda individualmente alguns amigos cris­</p><p>tãos conhecidos (16.3-6)</p><p>Paulo faz uma verdadeira lista de nomes obscuros, os</p><p>quais denotam que o cristianismo verdadeiro se manifesta</p><p>no profundo interesse humano de uns para com os outros.</p><p>O coração de Paulo é exposto de maneira especial,</p><p>pois ele demonstra grande afeição e apreciação a esses</p><p>amigos.</p><p>Destacam-se entre todos os nomes citados por Paulo,</p><p>o casal Áqüila e Priscila, com os quais Paulo havia convivi­</p><p>do algum tempo em Corinto. Esse casal era fabricante de</p><p>“ tendas” e agora habitava em Roma e formava, com os de­</p><p>mais crentes na capital do Império, a igreja de Cristo. Ha­</p><p>via uma profunda amizade entre Paulo e esse casal, pois já</p><p>uma vez, tinham “ exposto as suas cabeças” pelo grande</p><p>apóstolo (vv 3,4). Da mesma forma que a igreja em Éfeso</p><p>reunia-se na casa de Áqüila e Priscila, “ também há um</p><p>grupo que se reúne na casa deste casal em Roma, e Paulo</p><p>saúda a igreja que está em sua casa” (v 5a).</p><p>16.5-15. Nestes versículos, Paulo saúda pessoalmente</p><p>a Epenêto, Maria, Andrômico e Júnia, Amplias, Urbano,</p><p>Estáquis, Apeles, Herodião, a família de Narciso, Trifena</p><p>e Trifosa, Pérsida, Rufo, a mãe de Rufo, Asíncrito, FJegon-</p><p>te, Hermas, Patrosas, Hermes, Filólogo e Júlia, Nereu e</p><p>sua irmã, Olímpia, etc. São pessoas conhecidas do apósto­</p><p>lo, as quais resultaram de seu ministério apostólico na Ásia</p><p>Menor, na Grécia e na Macedônia.</p><p>16.16. “ Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo” .</p><p>O “ ósculo” é um costume oriental, mui especialmente en­</p><p>tre os judeus. O ósculo é uma saudação com beijo. Essa</p><p>saudação fala de cordialidade e amizade. Paulo queria que</p><p>essa saudação com ósculo fosse mais que simples gesto de</p><p>amizade, mas que tivesse um sentido espiritual e fraternal</p><p>entre os remidos. Esse tipo de saudação não é comum no</p><p>Ocidente, e Paulo não o transforma numa doutrina ou re­</p><p>gra espiritual. Ele se utilizou de um costume próprio da re­</p><p>gião, para dar-lhe um sentido mais profundo e espiritual.</p><p>3.Paulo exorta os crentes em Roma contra os falsos</p><p>mestres (16.17-20)</p><p>16.17. “ Rogo-vos que noteis os que promovem dissen-</p><p>148</p><p>sões e escândalos contra a doutrina que aprendestes” .</p><p>Como em todo o lugar, também em Roma, surgiram entre</p><p>os crentes elementos carnais, disfarçados de cristãos, que</p><p>ensinavam heresias contra a fé recebida. Contra os tais,</p><p>Paulo adverte e diz: “ ...que noteis os que promovem dis-</p><p>sensões e escândalos contra a doutrina” . São elementos</p><p>perniciosos que torcem o sentido original da doutrina</p><p>bíblica a favor de sutis e enganadoras heresias.</p><p>16.18. Neste versículo, Paulo afirma que tais elemen­</p><p>tos “ não servem ao Senhor Jesus Cristo” , mas gostam de</p><p>iludir os símplices na fé.</p><p>16.19. Paulo regozija-se por causa da obediência e da</p><p>devoção dos crentes romanos, mas sente-se na obrigação</p><p>de chamar-lhes a atenção para tais perigos.</p><p>16.20. Está declarada a derrota final e total de Sata­</p><p>nás, mediante a fidelidade a Cristo. Paulo procura desper­</p><p>tar a fé e a confiança dos romanos para perseverarem e re­</p><p>sistirem aos falsos ensinos enviados por Satanás.</p><p>4. Paulo lembra seus companheiros de fé na saudação</p><p>(16.21-27)</p><p>Ao lembrar seus companheiros de luta em prol do</p><p>Evangelho, Paulo revela-se como um obreiro que respeita</p><p>seus companheiros. Ele não é um personalista, nem egoís­</p><p>ta, mas declara que todos os companheiros, tais como T i­</p><p>móteo, Lúcio, Jason, Sosípatro, Tércio, Gaio, Erasto e</p><p>Quarto, participam do mesmo cuidado, do mesmo senti­</p><p>mento em Cristo Jesus.</p><p>Destacam-se nesta saudação os nomes conhecidos de</p><p>Timóteo, Tércio e Gaio.</p><p>16.21. “ Saúdam-vos Timóteo” . Era cooperador direto</p><p>de Paulo em Éfeso, e foi participante de muitos sofrimen­</p><p>tos juntamente com o apóstolo.</p><p>16.22. “ Eu, Tércio” . Era o amanuense de Paulo. Ele</p><p>escreveu esta carta ditada por Paulo. É interessante que</p><p>nesta saudação final “ Tércio” mesmo se identifica sau­</p><p>dando a igreja em Roma.</p><p>16.23. “ Saúda-vos Gaio” . O grande amigo e hospedei­</p><p>ro de Paulo. Em sua casa havia reuniões de ensino cristão</p><p>em Corinto (A t 20.4). -</p><p>5. A Doxologia final de Paulo (16.24-27)</p><p>149</p><p>Nesta doxologia Paulo deixa extravasar seu coração</p><p>numa harmonia perfeita com o ensino dado na Carta.</p><p>16.24. Neste versículo está a saudação oficial das car­</p><p>tas paulinas.</p><p>16.25. “ Aquele que é poderoso para vos confirmar se­</p><p>gundo o meu Evangelho” . Paulo aqui procura fortalecer</p><p>seus leitores com a idéia de que “ o seu Evangelho” não é</p><p>outro, senão o Evangelho apostólico deixado por Jesus</p><p>Cristo, o qual seria confirmado na experiência pessoal de</p><p>cada crente. Ele ainda diz: “ ...conforme a revelação do</p><p>mistério” . - Que mistério é este? - Ê o mistério que já ha­</p><p>via sido revelado na revelação do Verbo Encarnado (Jo 1.1-</p><p>3) que é Jesus. Observe três coisas importantes acerca des­</p><p>se mistério: 1) Estava oculto; 2) “ mas se manifestou agora</p><p>e se notificou pelas Escrituras dos profetas” (v 26) ;(3) e foi</p><p>revelado “ a todas as nações para obediência da fé” (v 26).</p><p>sem dúvida, esse mistério foi revelado a judeus e gentios</p><p>através da obra redentora de Cristo Jesus (Rm 9.11; E f 3.1-</p><p>7; Cl 1.26,27; 2.2,3; 4.3).</p><p>16.27. “ Ao único Deus sábio” . A glorificação do gran­</p><p>de apóstolo alude ao plano perfeito de Deus na revelação</p><p>de Jesus Cristo. A glorificação pronuncia a crença no Üni-</p><p>co Deus, e quando o denomina de “ sábio” , refere-se ao seu</p><p>plano arquitetado e oculto desde a eternidade.</p><p>Clifton J. Allen, comenta este versículo assim: “ O</p><p>Deus eterno é a fonte da sabedoria e a essência de toda a</p><p>glória e o fim de todo o louvor” .</p><p>Depois de oferecer toda a glória a Deus por Jesus Cris­</p><p>to, Paulo finda sua carta com um “ AM É M ” .</p><p>150</p><p>Bibliografia</p><p>ALLEN, Clifton J. 0 Evangelho Segundo Paulo. CPB,</p><p>1961.</p><p>BRUCE, F.F. Romanos, Introdução e Comentário. Mundo</p><p>Cristão, 1979.</p><p>CABRAL, Elienai. Estudos na Carta aos Romanos. Apos­</p><p>tila.</p><p>ERDMAN, Charles R. Comentário de Romanos. Casa Ed.</p><p>Presbiteriana.</p><p>HARRISON, Norman B. Romanos, o Evangelho da Salva­</p><p>ção. Ed. Livros Evangélicos O.S. Boyer, 1963,</p><p>HUNTER, A.M. La Epistola a los Romanos. Ed. La Auro­</p><p>ra, Argentina, 1959.</p><p>JAMIELSON, Roberto; FAUSSET, A.R; BROWN, Davi.</p><p>Comentário de La Biblia. TO M O II, CBP, 1975.</p><p>LEENHARDT, F.J. Epístola aos Romanos. ASTE, ED.</p><p>1969.</p><p>STEELE, David N. e THOM AS, Curtis, C. Romanos.</p><p>Editorial Tell, 1967.</p><p>WILLIAMS, Morris. A Justiça de Deus. Ed. Vida, 1979.</p><p>151</p><p>SÉRIE</p><p>Comentário</p><p>Bíblico</p><p>ROMANOS</p><p>O Evangelho</p><p>da Justiça de</p><p>Deus</p><p>ELIENAI CABRAL</p><p>Lutero costumava afirmar que se tivéssemos de preservar somente</p><p>o Evangelho de João e a Epístola aos Romanos, ainda assim o Cristi­</p><p>anismo estaria a salvo. Acima de todos os outros livros neotestamen-</p><p>tários, a Epístola aos Romanos expressa a teologia paulina, a qual</p><p>tem determinado o rumo do pensamento teológico da Igreja cristã.</p><p>Neste comentário, encontramos amplamente discutidos os temas</p><p>abordados por Paulo nesta epístola:</p><p>• A justiça de Deus</p><p>• A fé</p><p>• A identificação espiritual com Cristo</p><p>• A antiga e a nova natureza</p><p>Além disso, os mais profundos temas do Cristianismo são encon­</p><p>trados também na Epístola aos Romanos - as doutrinas da chamada,</p><p>da eleição, da predestinação, da justificação, da glorificação e da he­</p><p>rança eterna. Nesta obra, Elienai Cabral demonstra a importância e</p><p>prerrogativa: “amados de Deus” (1.7). To­</p><p>dos os homens, independentemente de raça, credo, língua</p><p>ou outro aspecto qualquer, são objetos do amor de Deus</p><p>manifesto por seu Filho Jesus Cristo (Jo 3.16; Cl 3.12).</p><p>3. Terceira prerrogativa: “chamados santos” (1.7). A</p><p>palavra santo neste texto tem o sentido de algo consagrado</p><p>a Deus. Designa aqueles que são dedicados ou consagrados</p><p>a Deus. Implica em pertencer a Deus e viver em consonân­</p><p>cia com o propósito da chamada que Ele fez. O termo san­</p><p>tos expressa um ideal. Podemos viver santamente. Não é</p><p>necessário morrer fisicamente para que o crente seja cha­</p><p>mado santo. Paulo fortifica a expressão quando denomina</p><p>os crentes de Roma de “santos”. Pois, para resistir às per­</p><p>seguições e privações naqueles dias em Roma, os crentes</p><p>eram realmente santos em Cristo, procurando viver de</p><p>modo digno da chamada feita por Cristo para a salvação.</p><p>IV - SUA SAUDAÇÃO PESSOAL (1.7-15)</p><p>1. “Graça e Paz” (1.7). Essas palavras são uma forma</p><p>especial de saudação do apóstolo Paulo em todas as suas</p><p>cartas (1 Co 1.3; 2 Co 1.2; G1 1.3; Fp 1.2; Cl 1.2; 1 Ts 1.1; 2</p><p>Ts 1.2; Tt 1.4). Graça, no grego “charis”. se usa no lugar de</p><p>outra palavra grega “charein” que significa saudação. A</p><p>outra palavra: PAZ, paralela, no hebraico “Shalom”, dá a</p><p>idéia de desejar prosperidade, saúde e êxito. Entretanto, a</p><p>24</p><p>expressão “Graça e paz de Deus nosso Pai” é uma sauda­</p><p>ção revolucionária, visto que entre os judeus saudava-se</p><p>apenas com “Paz!” Paulo juntou “graça e paz” para dar</p><p>um sentido cristão. - Que tipo de paz desejava Paulo para</p><p>com os cristãos de Roma? - a Paz que Cristo conquistou</p><p>pelo seu sangue na cruz (Cl 1.20). E a paz que sobrepuja a</p><p>todo o entendimento (Fp 4.7).</p><p>2. Ação de graças (1.8-10). Nestes versículos Paulo faz</p><p>uma oração de gratidão na forma de “ação de graças” pela</p><p>fé dos cristãos romanos. “Porém, para que entendamos</p><p>melhor a “ação de graças” temos duas expressões no grego,</p><p>que mostram o sentido real da gratidão. A primeira é “eu-</p><p>charisteo” que significa dar graças (Rm 1.8; 1 Co 1.4; Ef</p><p>1.16; Cl 1.3; 1 Ts 1.2; 2 Ts 1.3). A segunda é “charim echo”</p><p>que significa estar agradecido (1 Tm 1.12; 2 Tm 1.3). Note­</p><p>mos ainda que o objeto da ação de graças é Jesus Cristo.</p><p>Paulo se alegra com o testemunho da fé dos cristãos de Ro­</p><p>ma. Eles enfrentavam as mais cruéis acusações dos inimi­</p><p>gos de Cristo. Paulo afirma que a fé daqueles crentes roma­</p><p>nos era conhecida em todo o mundo. Não era fácil teste­</p><p>munhar de Cristo na capital do Império, onde o culto ao</p><p>imperador era obrigatório e a idolatria pagã dominava. A</p><p>sobrevivência dos cristãos dependia exclusivamente da fé</p><p>no Senhor Jesus Cristo.</p><p>3. Paulo demonstra o desejo de compartilhar sua fé</p><p>com os cristãos de Roma (1.11-15). Ele anela visitar aquela</p><p>igreja vitoriosa. Um ardor espiritual e profundo consumia</p><p>o coração deste grande apóstolo para compartilhar a fé de­</p><p>les em Cristo e ajudá-los na elucidação de pontos impor­</p><p>tantes do Evangelho (1.13). Esse ardor o movia intima­</p><p>mente e o fazia desprender-se de todo e qualquer interesse</p><p>material. Paulo sentia-se devedor para com o Evangelho,</p><p>tanto a sábios como a ignorantes (1.14). Cria que o Evan­</p><p>gelho devia alcançar a todos os homens na face da terra.</p><p>Era um apaixonado pela salvação das almas perdidas. Em</p><p>sua saudação, Paulo procura reforçar os laços de amizade</p><p>com os crentes de Roma e apresenta sua doutrina para</p><p>aclarar pontos doutrinários divergentes que existiam no</p><p>seio da igreja.</p><p>25</p><p>V - 0 TEMA DA CARTA (1.16,17)</p><p>1. Que é o Evangelho? (1.16) Paulo começa afirmando</p><p>que não se envergonha de pregar o Evangelho de Cristo. As</p><p>dificuldades financeiras ou a falta de recursos necessários,</p><p>não o envergonhavam de pregar o Evangelho. Para o após­</p><p>tolo das gentes, o Evangelho tem um sentido vivo: não é</p><p>opaco como certas filosofias religiosas da época. O Evange­</p><p>lho é realmente algo diferente, uma “boa-nova” para o</p><p>mundo. Ele estava seguro da mensagem nova que pregava.</p><p>Na verdade, só podemos sentir vergonha de alguma coisa</p><p>que fazemos se não estivermos seguros do mister que temos</p><p>a desempenhar. Porém, o poder real do Evangelho habili­</p><p>tava o pregador a um testemunho corajoso e franco. O</p><p>Evangelho aqui se apresenta como o ato decisivo de Deus</p><p>que interveio na história da humanidade e mudou o curso</p><p>que ela seguia. Sem o Evangelho, todo o mundo estaria</p><p>inevitavelmente corrompido, porque este Evangelho foi</p><p>lançado como o sal da terra (Mt 5.13), levitando uma dete­</p><p>rioração total. O Evangelho é vida, é dinâmico. Ele é boas-</p><p>novas, não apenas no sentido de dar uma boa notícia, mas</p><p>porque é algo totalmente novo e diferente. O Evangelho</p><p>inaugurou no mundo uma nova ordem de coisas. Uma</p><p>nova civilização. E um evento decisivo na vida dos ho­</p><p>mens. Ele muda a história, transforma vidas humanas e</p><p>lança uma nova perspectiva de vida.</p><p>a) O Evangelho é poder de Deus (1.16). No grego, a</p><p>palavra poder é “dunamis” cujo sentido é dinamite. O</p><p>Evangelho é dinâmico, não apenas atraente como uma</p><p>idéia ou alguma filosofia. A palavra poder, em relação ao</p><p>Evangelho, significa a intervenção imediata e instantânea</p><p>de Deus na vida do pecador. O Evangelho tem um poder</p><p>miraculoso que pode transformar o mais vil pecador numa</p><p>nova criatura.</p><p>b) O Evangelho é poder de Deus para salvação (1.16).</p><p>Destaca-se na continuação do versículo 16 a razão da ma­</p><p>nifestação do poder do Evangelho que é a salvação. A pala­</p><p>vra salvação neste texto tem um sentido individual e tam­</p><p>bém universal, pois é para todo aquele que crer. Seu alcan­</p><p>ce tem uma dimensão real, pois não se trata de um poder</p><p>abstrato ou inconcebível. E um poder divino que pode ser</p><p>26</p><p>experimentado e sentido. A palavra crer, no grego é “pis-</p><p>teuo”, que também significa fé, como um ato de confiar</p><p>em alguém. Em relação ao Evangelho, crer significa con­</p><p>fiança ou a entrega pessoal de modo pleno a ponto de colo-</p><p>car-se o que crê, completamente à disposição de outra pes­</p><p>soa. Crer no Evangelho não implica num mero assenti­</p><p>mento intelectual a uma verdade apresentada, mas requer</p><p>uma entrega voluntária e sem reservas à verdade recebida.</p><p>Crer em Cristo é entregar-se a Ele sem reservas. Quando</p><p>Paulo usou a expressão, “primeiro do judeu” (1.16) não</p><p>quis dizer que é necessário tornar-se judeu para conhecer</p><p>os benefícios do poder do Evangelho. Basta crer no Evan­</p><p>gelho.</p><p>2. O Evangelho é a revelação da justiça de Deus</p><p>(1.17). Em outras palavras, o texto está afirmando que a</p><p>justiça de Deus se revela no Evangelho. - Que justiça é es­</p><p>ta? - E a justiça outorgada, concedida, produzida e impu­</p><p>tada por Deus ao pecador arrependido. A expressão se re­</p><p>vela, no grego é “apokalyptay” e denota ação em progres­</p><p>so. A justiça de Deus se revela “de fé em fé” (v 17). Signifi­</p><p>ca dizer que esta justiça é alcançada pela fé. Não é produ­</p><p>zida pela mente humana. Ela é inerente a Deus. E própria</p><p>de sua natureza. Ela se revela na pessoa de Jesus Cristo, e</p><p>quem o aceita, recebe a justiça de Deus imputada. Certo</p><p>escritor assim se manifestou sobre a justiça de Deus: “A</p><p>justiça de Deus é a soma total de tudo quanto Deus orde­</p><p>na, exige, aprova e provê através de Jesus Cristo”. Enten­</p><p>demos, então, que ela é provida em Cristo. O pecador é</p><p>justificado em Cristo, mediante a justiça de Deus manifes­</p><p>tada na cruz do Calvário em favor do pecador.</p><p>“O justo viverá da fé” (1.17). Significa que, nada sem</p><p>a fé faz o pecador obter a aceitação diante de Deus. Israel</p><p>apresentava seus privilégios religiosos, e os gentios apre­</p><p>sentavam suas obras. Nem as obras, nem cultura, nem ra­</p><p>ça, nem herança têm aceitação diante de Deus. Somente</p><p>pela fé em Cristo Jesus. A fé é o meio pelo qual a justiça de</p><p>Deus tornou possível uma nova relação com Ele. Notemos,</p><p>ainda, que a fé, no versículo 17, está aliada à obediência,</p><p>como forte elemento para conquistar a salvação em Cristo.</p><p>Um tipo de fé que envolve uma atitude (G1 2.20).</p><p>27</p><p>P</p><p>al</p><p>ác</p><p>io</p><p>Im</p><p>p</p><p>e</p><p>ri</p><p>a</p><p>l</p><p>so</p><p>br</p><p>e</p><p>o</p><p>m</p><p>on</p><p>te</p><p>P</p><p>a</p><p>la</p><p>ti</p><p>n</p><p>o</p><p>,</p><p>R</p><p>o</p><p>m</p><p>a</p><p>A Doutrina do Pecado</p><p>( 1.18-3 .20)</p><p>I - A IRA DE DEUS (1.18)</p><p>1. A santidade de Deus é a manifestação de sua ira</p><p>2. A manifestação da ira de Deus</p><p>II - A RECUSA DO HOMEM À VERDADE (1.19-21)</p><p>1. O conhecimento de Deus revelado na vida do ho­</p><p>mem (v 19)</p><p>2. O pecador não gloriflca a Deus, mesmo tendo-o co­</p><p>nhecido (v 21)</p><p>3. O pecador não lhe dá graças (v 21)</p><p>III - DESORDENS FÍSICAS, MORAIS E ESPIRITUAIS</p><p>(1.22-24)</p><p>1. A primeira desordem acontece nas relações do ho­</p><p>mem para com Deus (v 23)</p><p>2. A segunda desordem acontece na vida física do pi'ó-</p><p>prio homem (v 24)</p><p>3. A terceira desordem acontece nas relações do ho­</p><p>mem como seu próximo (v 24)</p><p>29</p><p>4. Conseqüências da rejeição a Deus (vv 24-28)</p><p>a) Primeira conseqüência: “Deus os entregou à</p><p>imundícia” (v 24)</p><p>b) Segunda conseqüência: “Deus os entregou às</p><p>paixões infames (v 26)</p><p>c) Terceira conseqüência: “Deus os entregou a um</p><p>sentimento perverso” (v 28)</p><p>IV - O JULGAMENTO DIVINO (2.1-3.8)</p><p>1. E inútil ao homem desculpar-se (2.1)</p><p>2. Três meios pelos quais Deus julga os homens (2.2-</p><p>16)</p><p>a) Deus julga através da Verdade (2.2-5)</p><p>b) Deus julga conforme as obras de cada um (2.6-</p><p>11)</p><p>c) Deus julga conforme a Lei (2.12-16)</p><p>3. Os judeus são acusados (2.17-24)</p><p>4. A verdadeira circuncisão (2.25-29)</p><p>5. Objeções judaicas respondidas (3.1-8)</p><p>V - A SENTENÇA UNIVERSAL (3.9-20)</p><p>1. O fato incontestável - “Todos estão debaixo do pe­</p><p>cado” (v 9)</p><p>2. A universalidade do pecado (3.10-12)</p><p>3. A totalidade do pecado (3.13-18)</p><p>4. O veredito final de Deus contra o pecado (3.19,20)</p><p>30</p><p>A Doutrina do</p><p>Pecado</p><p>A doutrina do pecado é apresentada na Carta aos Ro­</p><p>manos de modo muito realista e numa perspectiva de sua</p><p>prática. O pensamento moderno tenta salvar o homem pe­</p><p>cador oferecendo-lhe educação, religião e filosofia, visando</p><p>com estes intentos moralistas tornar bom o homem mergu­</p><p>lhado na lama do pecado. Entretanto, a realidade do peca­</p><p>do é outra. O homem é pecador e indesculpável diante de</p><p>Deus. Nesta primeira parte do estudo da Carta aos Roma­</p><p>nos, Paulo, sob a unção do Espírito Santo, como um médi­</p><p>co capaz, diagnostica o mal que condena o homem peca­</p><p>dor, mas apresenta, também, o remédio divino contra esse</p><p>mal chamado pecado.</p><p>Para que tenhamos uma visão mais ampla sobre esta</p><p>doutrina precisamos conhecer a essência do pecado confor­</p><p>me a Bíblia a apresenta. Existem palavras no Antigo e no</p><p>Novo Testamento que mostram as várias facetas do peca-</p><p>31</p><p>do. As línguas originais da Bíblia, o hebraico e o grego,</p><p>dão-nos vários significados acerca do pecado. Fundamen­</p><p>talmente, pecado no hebraico é “chatta’th” e no grego é</p><p>“ham artia” - palavras que dão a idéia do pecado como</p><p>“um mal moral”, mas que, essencialmente, significam an­</p><p>tes “errar o alvo”. Entende-se, então, que o homem foi</p><p>criado com um alvo específico, mas ao pecar, perdeu esse</p><p>alvo.</p><p>Portanto, nesta carta, a doutrina do pecado é apresen­</p><p>tada numa teologia realista em que os aspectos negativos e</p><p>positivos da Justiça de Deus são colocados de modo prático</p><p>na vida do pecador.</p><p>I - A IRA DE DEUS (1.18)</p><p>- Que é a ira de Deus? - É a reação natural, e automá­</p><p>tica da santidade de Deus contra o pecado. Não significa</p><p>que Deus se torna raivoso e furioso, nem tampouco signifi­</p><p>ca alguma paixão que o provoque, à semelhança dos ho­</p><p>mens. Na verdade, Deus odeia o pecado, mas ama o peca­</p><p>dor. Vários textos comprovam essa declaração: “Porque</p><p>Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Uni-</p><p>gênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas</p><p>tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Outro texto diz: “Mas Deus</p><p>provou o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por</p><p>nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Esses dois tex­</p><p>tos declaram que Deus ama o pecador.</p><p>1. A santidade de Deus é a expressão de sua ira</p><p>Portanto, quando a ira de Deus se manifesta, é na</p><p>verdade a sua Santidade que se levanta como uma barreira</p><p>contra o pecado. Não que corra o risco de Deus ser alcança­</p><p>do ou afetado pelo pecado, mas porque sua natureza eter­</p><p>na e santa tem autodefesa. Deus é santo! Ele não precisa</p><p>ser santo. A santidade nEle é um estado eterno, imutável e</p><p>inconfundível. Na história da libertação do povo judeu do</p><p>Egito destaca-se o seu líder Moisés. Quando Deus o convo­</p><p>cou no monte Horebe e mostrou-lhe sua glória, Moisés te­</p><p>meu voltar ao Egito. Temia não ser acreditado nem aceito</p><p>pelo seu povo. Por isso fez uma prova de Deus perguntan­</p><p>do-lhe: “Eis que quando vier aos filhos de Israel, e lhes dis-</p><p>32</p><p>ser: - ‘O Deus de vossos pais me enviou a vós’, e eles me</p><p>disseram: - ‘Qual é o seu nome?’ que lhes direi? E disse</p><p>Deus a Moisés: ‘Eu sou o que sou’. Disse mais: ‘Assim di-</p><p>rás aos filhos de Israel: Eu sou me enviou a vós’” (£x</p><p>3.13,14). Nesta identificação do “EU SOU” conhecemos</p><p>aquele que não foi, nem pretendia ser, mas que é para sem­</p><p>pre. Ele é santo, três vezes santo, e nunca deixará de ser</p><p>santo.</p><p>Portanto, sua ira é a barreira contra o pecado. É a mu­</p><p>ralha que impede a manifestação do pecado na sua presen­</p><p>ça.</p><p>2. A manifestação da ira de Deus</p><p>“Porque do Céu se manifesta a ira de Deus” (1.18). A</p><p>manifestação da ira procede do Céu. - Que Céu é esse? -</p><p>Não se trata do espaço entre o homem e o infinito. A proce­</p><p>dência da manifestação da ira aponta para um lugar não-</p><p>físico, mas um lugar onde Deus habita. “Do Céu” (1.18)</p><p>para fortalecer o fato de que essa ira divina vem de cima.</p><p>“ ...se manifesta” (1.18) - A palavra manifestar signi­</p><p>fica neste texto revelar; ou resplandecer. Trata-se de uma</p><p>manifestação literal. Não é fictícia nem simbólica. Sua</p><p>realidade é conhecida na experiência humana.</p><p>“Sobre toda a impiedade e injustiça” (1.18) - A ira de</p><p>Deus “se manifesta” para quê? ou por quê? O texto é obje­</p><p>tivo e aponta para duas razões específicas: a “impiedade”</p><p>e a “injustiça”. Quando a ira de Deus se manifesta contra</p><p>ou “sobre toda a impiedade”, refere-se à irreligiosidade do</p><p>homem pecador. Significa a negação daquilo que é ineren­</p><p>te ao homem, isto é, sua crença em Deus. Esse fato é indis­</p><p>cutível e inevitável dentro do ser humano. É natural que a</p><p>ira divina reaja quando o homem nega o fato de Deus em</p><p>sua vida, e muito mais, quando o homem deixa a piedade,</p><p>isto é, sua religiosidade e se lança contra o seu próprio</p><p>Criador. Negar a Deus é querer torná-lo mentiroso e viver</p><p>como se Ele não existisse.</p><p>O texto acrescenta outra palavra, que é a injustiça, a</p><p>qual significa deixar de fazer o que é reto. É o desvio pre­</p><p>meditado para o pecado. É sair da rota divina e tomar o</p><p>caminho da injustiça. Então aprendemos que a ira de Deus</p><p>33</p><p>manifesta-se pela pertinaz rejeição a Deus. É a rejeição da</p><p>luz reveladora da verdade.</p><p>O texto continua e acusa os homens que cometem a</p><p>iniustiça e a impiedade, de “que detêm a verdade em in­</p><p>justiça” (1 18). A verdade e a injustiça são detidas por</p><p>aqueles que recusam a verdade. “Deter a justiça” sigmíica</p><p>reter, estorvar, aprisionar ou impedir que a verdade venha</p><p>á luz’. “Deter a verdade” significa impedir que ela tenha li­</p><p>vre acesso para desenvolver-se. Significa estorvar pelo</p><p>espírito do erro. A verdade deve encontrar caminho aberto</p><p>e espaço livre para desenvolver-se na vida dos homens.</p><p>Portanto, a ira de Deus manifesta-se contra aqueles que</p><p>estorvam ou obstruem o caminho da verdade.</p><p>II - A RECUSA DO HOMEM À VERDADE (1.19-21)</p><p>Nestes três versículos nos deparamos com o homem</p><p>evitando a verdade e rejeitando-a.</p><p>1. O conhecimento de Deus revelado na vida do ho­</p><p>mem (vv 19,20)</p><p>“Portanto o que de Deus se pode conhecer” (1.19).</p><p>Indica que o conhecimento acerca de Deus é revelado na</p><p>própria vida do homem, na natureza e em toda a criação.</p><p>Diz mais o texto: “neles se manifesta” (1.19). É um fato</p><p>inevitável no homem. Está manifesto na sua vida esse co­</p><p>nhecimento. Confirma ainda mais o texto: “Porque Deus</p><p>lho manifestou” (1.19). Isto prova que o homem pode ne­</p><p>gar ou rejeitar esse conhecimento, mas não evitá-lo. No</p><p>versículo 20, o apóstolo Paulo apresenta o tipo de conheci­</p><p>mento que o homem não deve evitar mas, se o faz, é porque</p><p>prefere viver dissolutamente.</p><p>Se o homem disser que não</p><p>conhece a Deus porque não o pode ver, por isso não existe,</p><p>ele se depara com as obras manifestas de Deus: “Porque as</p><p>suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto seu</p><p>eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e clara­</p><p>mente se vêem pelas coisas que estão criadas” (3.20).</p><p>Como negar o fato da criação diante dos nossos olhos? To­</p><p>das as formas de ateísmos se diluem diante das obras do</p><p>eus invisível. O mesmo versículo 20 termina com esta ex­</p><p>pressão: ...para que eles fiquem inexcusáveis”. - Que ar-</p><p>34</p><p>gumento levantará o homem no Juízo Final? - Nenhum!</p><p>Pois todos os homens são inexcusáveis diante de Deus. A</p><p>negação da verdade toma-se um pecado irremediável</p><p>diante de Deus.</p><p>2. 0 pecador, não glorifica a Deus, mesmo tendo-o</p><p>conhecido (v 21)</p><p>“Porque tendo conhecido a Deus, não o glorificamos</p><p>como Deus” (1.21). Este versículo não deixa dúvida. Ele</p><p>afirma que o homem conhece a Deus e não pode fugir desse</p><p>fato, mas o acusa por não conhecê-lo, mesmo sabendo que</p><p>Ele é o Deus verdadeiro. O ato de dar glória neste texto re­</p><p>fere-se a reconhecer as obras de Deus.</p><p>3. 0 pecador não lhe dá graças (v 21)</p><p>“ ...nem lhe deram graças” (1.21) - A gratidão resulta</p><p>de um coração sincero, que não detêm a verdade, nem a</p><p>rejeita. Dar graças significa oferecer ao Criador o pleito de</p><p>reconhecimento, pelo que Ele é e faz.</p><p>“ ...antes em seus discursos se desvaneceram” (1.21) -</p><p>Isto é, Deus acusa os homens, não só por negá-lo, mas por</p><p>lutarem contra Ele “em seus discursos” inflamados pelo</p><p>pecado.</p><p>4. O pecador é insensato (v 21)</p><p>“ ...e o seu coração insensato” (1.21) - Diz respeito à</p><p>falta de senso. A sensatez toma o homem prudente; ele</p><p>mede as conseqüências de qualquer ação. Porém, quando o</p><p>homem permite que “seu coração” se toma insensato, está</p><p>tomando o caminho da destruição e do juízo. A insensatez</p><p>cega o homem no sentido espiritual. Por isso, o texto diz:</p><p>“o seu coração insensato se obscureceu”. Quando a loucu­</p><p>ra domina os sentimentos do homem, ele se torna cego,</p><p>obscuro. Não pode ver, nem sentir e nem agir inteligente­</p><p>mente. O pecado obscurece a mente e o espírito do homem</p><p>quando ele rejeita a verdade e a luz de Deus. A verdade</p><p>traz à tona o que está escondido. A verdade é luz que reve­</p><p>la o escondido no obscurecimento espiritual. A verdade li­</p><p>berta o homem. O pecado escraviza e prende. A verdade</p><p>capacita o homem a reconhecer a Deus como Senhor e</p><p>Criador.</p><p>35</p><p>III - DESORDENS FÍSICAS, MORAIS E ESPIRITUAIS</p><p>(1.22-24)</p><p>Trágicas desordens na vida do homem foram provoca­</p><p>das pelo seu pecado de rejeição a Deus. A experiência hu­</p><p>mana testemunha esse fato. Quando o homem rejeita toda</p><p>possibilidade de reconciliação com Deus, fica entregue à</p><p>mercê da própria sorte!</p><p>O apóstolo Paulo destaca três principais desordens na</p><p>vida do pecador que rejeita a graça de Deus:</p><p>1. (1.23) - A primeira desordem acontece nas relações</p><p>do homem para com Deus. Essa desordem conduz o ho­</p><p>mem à idolatria, e esta é o maior pecado de rebelião contra</p><p>Deus. Essa desordem está expressa no versiculo 23, que</p><p>diz: “E mudaram a glória do Deus incorruptível em seme­</p><p>lhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de</p><p>quadrúpedes, e de répteis”. Essa desordem provoca a ma­</p><p>nifestação da ira de Deus, isto é, a santidade divina abomi­</p><p>na toda a idolatria. Esse pecado de idolatria ofende, tam­</p><p>bém, a autoridade e o poder de Deus. Sua autoridade é in­</p><p>contestável e imutável. Quando o homem, conhecendo a</p><p>verdade, se utiliza da idolatria, quer ferir a autoridade di­</p><p>vina e anulá-la na sua vida. - E como subsistirá o homem</p><p>sem Deus? - Não poderá!</p><p>2. (1.24) - A segunda desordem acontece na vida fisica</p><p>do próprio homem. É a perversão de sua própria natureza.</p><p>O homem se torna escravo de seus próprios desejos, os</p><p>quais estão sob o domínio da força do pecado. Essa desor­</p><p>dem está no versículo 24. A primeira parte do texto diz:</p><p>“Deus os entregou às concupiscências de seus corações”. A</p><p>palavra “corações” refere-se aos sentimentos dos homens.</p><p>Quando os sentimentos estão sob a tutela do pecado, eles</p><p>pecam contra o espírito e são capazes de escravizar o ho­</p><p>mem com correntes carnais, conforme está exposto nos</p><p>versículos 28 a 32.</p><p>, , d-24) - A terceira desordem acontece nas relações</p><p>do homem com o seu próximo. Diz o texto do versículo 24</p><p>no seu iinaf “...a imundícia, para desonrarem seus corpos</p><p>en re sî . bssa desordem para com o próximo mostra a</p><p>perversão do coração do homem. Nos dias atuais, essa de-</p><p>36</p><p>sordem. que acontece mu.to especialmente no aspecto se­</p><p>xual. esta se tornando comum e aceitável no seio da socie­</p><p>dade. Adn.ite.se hoje, com facilidade o que chamam de 3*</p><p>sexo. Mestres de pornografia lançam o que está em seus co­</p><p>rações. toda a imundicia e a perversão da criaçào divina</p><p>Deus criou o sexo como bênção e para a perpetuação das</p><p>especies. Porem, o pecado é o desvio do alvo divino e ele</p><p>penetra no coração do homem, escravizando-o ao mais bai­</p><p>xo grau. Essa desordem resulta da rejeição do homem a</p><p>Deus. É escolha dele e jamais poderá culpar alguém pela</p><p>sua rejeição. No Juízo Final não escaparão, pois serão con­</p><p>denados, conforme já está predito: “Ficarão de fora os</p><p>cães, e os feiticeiros, e os que se prostituem e os homicidas,</p><p>e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira”</p><p>(Ap 22.15).</p><p>4. Conseqüências da rejeição a Deus (1.24-28) - Esses</p><p>versículos indicam as conseqüências do pecado do homem,</p><p>e se expressam com as palavras textuais: “Deus os entre­</p><p>gou".</p><p>a) Primeira conseqüência: “Deus os entregou à</p><p>imundícia” (1.24). Significa que, dada a rejeição conscien­</p><p>te dos pecadores. Deus os entregou às garras dos sentimen­</p><p>tos pervertidos, para que fossem, lavados e varridos por</p><p>seus impulsos pecaminosos. A palavra imundícia relacio-</p><p>na-se com toda sorte de pecados impuros, antinaturais. A</p><p>expressão “Deus os entregou” deve ser entendida como:</p><p>Deus desistiu de lutar por eles; não que não pudesse, mas</p><p>porque preferiram o pecado a Deus. Distorções morais re­</p><p>sultam desse estado, e o homem fica entregue aos poderes</p><p>destrutivos de sua natureza pecaminosa. É nesse estádio</p><p>que o homossexualismo, a pederastia, o lesbianismo e ou­</p><p>tras formas pervertidas da natureza agem livremente.</p><p>Quantos milhões de pessoas são escravas da imundícia!</p><p>b) Segunda conseqüência - “Deus os entregou às pai­</p><p>xões infames” (1.26). O texto diz: “Deus os entregou às</p><p>paixões infames”. O homem sem Deus toma-se vítima dos</p><p>mais degradantes apetites e paixões. O Novo Testamento</p><p>mostra, nas Epístolas Gerais e mesmo nos Evangelhos, que</p><p>o ceder aos desejos impuros resulta em escravidão, e con­</p><p>duz a paixões ainda mais pervertidas. Quando o homem</p><p>“ " "e i T erceira c o n s e q ü ê n c i a - "D eus os entregou a um</p><p>sentimento perverso" (1.28). S ign ific a ^ue Deus os deixou</p><p>frmercê de seus próprios sentimentos. 0 texto aponta a ra-</p><p>7ão aue levou Deus a deixá-los entregues a um sentimento</p><p>nerverso- “E por haverem desprezado o conhecimento de</p><p>Deus” - eis a razão. Numa tradução do Espanhol, o mes­</p><p>mo texto aclara melhor a razão que diz: “E como eles não</p><p>aprovaram ter em conta a Deus, Deus os entregou a uma</p><p>mente depravada”. Ter uma “mente depravada” significa</p><p>a perda da capacidade para discernir as diferenças entre</p><p>“bem e mal”.</p><p>IV - O JULGAMENTO DIVINO (2.1 - 3,8)</p><p>1. É inútil ao homem desculpar-se (2.1)</p><p>“Portanto és desculpável quando julgas, ó homem,</p><p>quem quer que sejas” .</p><p>Quando o apóstolo Paulo fez esta declaração, estava,</p><p>na verdade, acusando os judeus que se consideravam in-</p><p>culpáveis. Paulo coloca o judeu e o gentio na mesma condi­</p><p>ção espiritual diante de Deus: Culpados! O escritor con­</p><p>dena os moralistas que julgavam os erros dos gentios, pois</p><p>julgavam erros que eram cometidos por eles mesmos. Os</p><p>judeus julgavam que pelo fato de Deus ter mostrado graça</p><p>e favor especial à sua raça, os livraria da condenação. Ima­</p><p>ginavam que, pelo simples fato de serem israelitas de san­</p><p>gue, estariam salvos. Entretanto, era um conceito como­</p><p>dista</p><p>e falso. Lucas escreveu a mensagem de Joào Batista</p><p>que colocava cada judeu na mesma condição dos demais</p><p>seres humanos. Se não se arrependessem, de nada valeria</p><p>serem filhos de Abraão, pois dizia: “Porque eu vos afirmo</p><p>que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a</p><p>Abraão” (Lc 3.3-9) (Compare João 8.31-47; Romanos 9.1-</p><p>13.)</p><p>Entendemos então que, diante de Deus, tanto judeus</p><p>como gentios são pecadores e estão debaixo da ira divina.</p><p>São dois tipos de pecadores, que se protegem atrás de sua</p><p>“própria moralidade” para se justificarem diante de Deus.</p><p>O judeu justificava-se na sua “religião” e o gentio na sua</p><p>38</p><p>tem Deus na vida. ele pode dominar sobre os desejos da</p><p>moralidade. Porem a Bíblia responde a ambos e diz: “O</p><p>q ^ e ^ o b re as suas iraHsgressões, jamais prosperará” (Pv</p><p>28 13). Es indesculpável quando julgas, ó homem” (2.1).</p><p>Esta expressão anula a pretenção do pecador de querer jul­</p><p>gar. Na verdade, ele não está em condições de julgar por­</p><p>que Deus é quem julga. Ele é o Supremo Juiz! Quando Ele</p><p>sentencia não há apelação, pois seu julgamento é justo e</p><p>nele nao ha possibilidade de erro.</p><p>2. Três meios pelos quais Deus julga os homens</p><p>Essa tríplice forma do juízo divino baseia-se no</p><p>princípio da justiça universal, que alcança todos os ho­</p><p>mens: judeus e gentios.</p><p>Os judeus condenavam a pecaminosidade e a idolatria</p><p>dos gentios, e por isso consideravam ter “prerrogativa mo­</p><p>ral” para julgar os gentios, mas Paulo os coloca na mesma</p><p>balança divina. Sabem fazer avaliações e distinções mo­</p><p>rais, mas não sabem apíicá-las à sua própria experiência.</p><p>Portanto, o apóstolo dos gentios, distingue o procedimento</p><p>da justiça divina.</p><p>a) Deus julga através da verdade (2.2-5)</p><p>Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a</p><p>verdade (2.2) - Que podemos entender nessa declaração?</p><p>O julgamento de Deus é instituído aqui em razão dos peca­</p><p>dos do paganismo gentio e do falho moralismo dos judeus</p><p>em condenar os gentios. A questão da condenação do peca­</p><p>do é uma só para todos. Uma vez que tenha pecado, qual­</p><p>quer um incorre na condenação de Deus. Paulo declara que</p><p>os gentios pecaram (1.18-32) e os judeus também pecaram</p><p>(2.17-3.8). Portanto, uma vez que, tanto judeus como gen­</p><p>tios pecaram, todos carecem da justiça de Deus (3.9-20).</p><p>2.2,3. O “judeu cria que possuía um privilégio espe­</p><p>cial”, e por isso poderia escapar ao juízo já conhecido para</p><p>os gentios, mas a realidade era que o juízo seria “segundo a</p><p>verdade”. Esta expressão “segundo a verdade” significa</p><p>que o julgamento divino seria conforme a culpa de cada</p><p>um, baseada nos pecados cometidos por cada um. O judeu</p><p>interpretava erradamente a misericórdia, pois a imaginava</p><p>como um ato de tolerância divina para com o pecado. Ob-</p><p>39</p><p>serve o que declara o versículo 4: - “Ou desprezas a riqueza</p><p>da sua bondade, e tolerância e longanimidade, ignorando</p><p>que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimen­</p><p>to?” Em outras palavras, o judeu esperava que Deus o tra­</p><p>tasse de modo mais suave e leve e ao gentio de modo severo</p><p>e imperdoável. Mas, o juízo de Deus se baseia sobre sua</p><p>própria justiça. Ele é justo em confronto com o fato de que</p><p>“não há um justo, nenhum sequer” (3.10).</p><p>Notemos a seguinte observação nos vv 4 e 5: Deus de­</p><p>monstrou aos judeus sua “bondade, tolerância e longani­</p><p>midade”, a fim de que eles deixassem o pecado e se arre­</p><p>pendessem. Mas não fizeram caso dessa “riqueza” (2.4) e,</p><p>por isso, por sua “dureza e impenitência” (falta de arre­</p><p>pendimento), e por julgarem negativamente o propósito</p><p>divino, entesouraram para si “ira para o dia da ira” (2.5).</p><p>- Qual é o dia da ira? - É o dia do ajuste de contas. Ê o</p><p>dia quando a balança julgadora de Deus vai pesar nossos</p><p>atos e, mediante seu peso, serão julgados. É o dia da retri­</p><p>buição ao pecado e da sua inevitável punição.</p><p>b)Deus julga conforme as obras de cada um (2.6-11)</p><p>O versículo 6 diz: “que retribuirá a cada um segundo o</p><p>seu procedimento”. Esse princípio não é novo, pois o Anti­</p><p>go Testamento está repleto de referências a esse princípio,</p><p>citadas por Paulo (comparar Jó 34.11; SI 62.12; Pv 24.12;</p><p>Jr 10.10; 32.19.) No Novo Testamento, encontramos tam­</p><p>bém a citação desse princípio da justiça de Deus (Conferir</p><p>Mt 16.27; 1 Co 3.8; Ap 2.23; 20.12; 22.12 etc...)</p><p>Os judeus buscavam imunidade numa forma de “de­</p><p>fesa especial”, baseada no privilégio racial. Porém, essa</p><p>pretensão é rejeitada pela perfeita justiça divina que de­</p><p>clara a sua culpabilidade. Deus é imparcial em seu juízo</p><p>sobre o pecador, e independe de privilégios ou outra razão</p><p>qualquer, pois cada homem será julgado por seus próprios</p><p>atos.</p><p>O homem é moralmente responsável, por isso deve ser</p><p>julgado conforme suas obras pessoais.</p><p>Essa forma de julgamento não significa que o homem</p><p>é salvo ou condenado por suas obras. Se fosse assim, es-</p><p>tariamos contrariando á doutrina de salvação cuja base é a</p><p>40</p><p>fé. Paulo não está ensinando em 2.6 que a salvação vem</p><p>pelo fato de fazermos boas obras, ou por méritos pessoais.</p><p>Não é o cumprimento da Lei que salva o pecador, mas a fé</p><p>acompanhada da obediência aos preceitos divinos.</p><p>No versículo 7 está implícito o fato de que aqueles que</p><p>diligentemente buscam o bem e o praticam, visando pela</p><p>fé a “glória, honra e incorruptibilidade” espiritual, Deus</p><p>lhes dará a vida eterna. Significa dizer que isto representa</p><p>uma recompensa à fidelidade desta vida presente para a</p><p>vida futura. ‘‘Vida eterna é vida em plenitude, bem-</p><p>aventurada, gloriosa e incorruptível” . Representa uma</p><p>vida de glória.</p><p>Já nos versículos 8 e 9 está o contraste com os diligen­</p><p>tes. Pois aos contenciosos e desobedientes resta-lhes a jus­</p><p>ta retribuição do seu pecado que é a “ira divina” manifes­</p><p>tada.</p><p>A retribuição divina é conforme os atos pessoais do ho­</p><p>mem. Aos que praticam as boas obras, sua retribuição é</p><p>dádiva de Deus (2.7,10). Aos que praticam más obras, sua</p><p>recompensa é a indignação da ira divina (2.8,9).(‘)</p><p>“Porque para com Deus não há acepção de pessoas”</p><p>(2.11). A palavra acepção, no grego “prosopolêmpsia”, sig­</p><p>nifica favoritismo ou parcialidade. Porém, o sentido da ex­</p><p>pressão “acepção de pessoas” significa literalmente “le­</p><p>vantar o rosto”. Em toda a Bíblia essa atitude é condenada</p><p>diante de Deus. Ele mesmo não admite e não permite que</p><p>os seus servos o façam (Conferir Dt 10.17; 2 Cr 19.7; Jó</p><p>34.19; At 10.34; G12.6; Ef 6.9; C1 3.25; 1 Pe 1.17.) Entende­</p><p>mos então que, diante de Deus o direito à salvação é de to­</p><p>dos quantos se chegam a Ele pelos méritos expiatórios de</p><p>Jesus Cristo.</p><p>c) Deus julga conforme a Lei (2.12-16)</p><p>Há dois tipos de leis que regem o julgamento dos</p><p>homens segundo o contexto sugere. Notemos que a argu­</p><p>mentação doutrinária de Paulo alcança o judeu e o gentio.</p><p>Diante do Santissimo Deus, ambos são pecadores, e cada</p><p>qual terá a pena pelo seu pecado.</p><p>“ ...todos os que pecaram sem lei” (2.12). D>z respeito</p><p>41</p><p>aos gentios que desconheciam a lei de Deus dada aos ju ­</p><p>deus.</p><p>“ ...todos os que com lei pecaram” (2.12). Refere-se aos</p><p>judeus, os quais receberam a lei divina através de Moisés.</p><p>Consideremos ainda outra expressão dentro do versí­</p><p>culo 12 que diz: “os que pecaram sem lei. também sem lei</p><p>perecerão”. A frase é taxativa quanto ao resultado do pe­</p><p>cado. Significa que “os que pecaram sem lei” , não serão</p><p>julgados pela Lei, mas serão julgados segundo a luz que ti­</p><p>veram da justiça.</p><p>O julgamento para esses dois tipos de pecadores, “os</p><p>que pecaram sem lei” e “os que pecaram com lei” é conhe­</p><p>cido como “a lei de Moisés” e a “ lei da consciência”.</p><p>Entendemos então que os versículos 12 e 16 nos mos­</p><p>tram que Deus julgará conforme a lei sob a qual têm vivi­</p><p>do. Os gentios serão julgados pela lei da consciência, isto é,</p><p>conforme a lei escrita em seus corações (2.15).(-)</p><p>Essa lei existe desde a criação do homem e foi escrita</p><p>no seu interior de forma clara e legivef. Porém, o homem</p><p>pecou c obscureceu essa lei. Seu entendimento fechou-se</p><p>para a “ luz da Verdade”. Sua consciência perdeu a sensi­</p><p>bilidade, e, portanto, o homem perdeu a visão clara</p><p>da lei</p><p>divina contra o pecado. Visto que os gentios, não tiveram</p><p>outro conhecimento da vontade de Deus, porque a lei da</p><p>consciência foi obscurecida em seu interior, eles serão ju l­</p><p>gados e porque pecaram, perecerão (2.12).</p><p>Os judeus serão julgados pela lei escrita de Moisés,</p><p>porque através dessa lei foi revelada a vontade de Deus</p><p>para esse povo. “Todos os que com a lei pecaram, median­</p><p>te a lei serão julgados” (2.12). A posse da lei escrita de</p><p>Moisés não implica na salvação do judeu.</p><p>Visto que os judeus receberam o conhecimento da lei</p><p>de Deus de maneira mais clara e incisiva lhes será exigido</p><p>o seu cumprimento, isto é, serão julgados conforme a Lei</p><p>(2.12b e 13).</p><p>3. Os judeus são acusados (2.17-24)</p><p>Apesar de os judeus se gloriarem no fato de que a Lei</p><p>havia sido dada a eles, são acusados de desonrarem a Deus</p><p>42</p><p>quando pecam contra a Lei. Por isso, semelhantemente</p><p>aos gentios, eles também pecaram.</p><p>0 problema principal dos judeus quanto à Lei é que</p><p>eles se esconderam atras da Lei ao invés de demonstrá-la.</p><p>Gloriam-se pela posse da lei, mas não se sentem obrigados</p><p>a cumpri-la. Gabavam-se de serem adoradores do verda­</p><p>deiro Deus e, por isso, se consideravam superiores aos gen­</p><p>tios. Porém, esse orgulho religioso os tomou insensíveis</p><p>quanto à prática da Lei (2.21-24).</p><p>Hoje ocorre, de certa forma, a mesma tentação à se­</p><p>melhança dos judeus. 0 orgulho denominaeional tem tor­</p><p>nado cegos muitos crentes acerca da prática do Evangelho.</p><p>Os judeus se consideravam mestres dos gentios, mas</p><p>não se ensinavam a si próprios as mesmas lições'ensinadas</p><p>aos outros (2.21).</p><p>4. A Verdadeira circuncisão (2.25-29)</p><p>“Porque a circuncisão tem valor se praticares a Lei”</p><p>(v 25). É declaração do apóstolo Paulo. Os judeus se escu­</p><p>davam na prática da circuncisão. Era, na verdade, assunto</p><p>e regra mal compreendida, porque não entendiam o espíri­</p><p>to da lei da circuncisão.</p><p>Era um rito religioso judaico permitido por Deus, po­</p><p>rém, era um rito envolvendo uma ação exterior, na carne.</p><p>Era uma exigência legal da Lei que, observada, colocava a</p><p>responsabilidade sobre o circuncidado de guardar toda a</p><p>Lei. Entretanto, Paulo diz em Gálatas 5.3: “Todo homem</p><p>que se deixar circuncidar... está obrigado a guardara Lei”.</p><p>Escudar-se na prática da circuncisão e não praticr o resto</p><p>da Lei, de nada valia. Os gentios não precisavam dessa</p><p>prática da circuncisão, pois esse rito dizia respeito apenas</p><p>aos judeus. Paulo, recebendo a insinuação dos judeus cris­</p><p>tãos contra os gentios cristãos, desfaz a pretensão judaica e</p><p>mostra que a verdadeira circuncisão é feita espiritualmen­</p><p>te no coração. É operação do Espírito, não na carne, mas</p><p>no espírito do crente.</p><p>O ideal da circuncisão aos judeus é louvável. Tinha o</p><p>propósito de diferençar o judeu do gentio. Já a circuncisão</p><p>espiritual diferencia o crente do incrédulo, o salvo do per-</p><p>5. Objeções judaicas respondidas (3.1-8)</p><p>“Qual é, pois, a vantagem do judeu? ou qual a utilida­</p><p>de da circuncisão?” (3.1). A argumentação de Paulo no</p><p>capítulo anterior desarmou as pretensões judaicas, Ele res­</p><p>ponde à primeira objeção: - “Qual é a vantagem do ju­</p><p>deu?” É o mesmo que dizer: Se o que vale é ser judeu inte­</p><p>riormente e a circuncisão verdadeira é a do coração, qual a</p><p>vantagem do judeu em ser judeu e ser eircuncidado fisica­</p><p>mente?</p><p>Entretanto, o apóstolo responde de uma maneira que</p><p>não fere frontalmente a mordomia desses privilégios, como</p><p>o de serem depositários da Lei e escolhidos para que a ver­</p><p>dade viesse à luz ao mundo gentio.</p><p>Paulo poderia responder aos judeus, mediante a argu­</p><p>mentação feita anteriormente, como não tendo nenhuma</p><p>vantagem “o ser judeu” e o ser circuncidado fisicamente.</p><p>Mas ele soube mostrar a importância dos privilégios judai­</p><p>cos e mostrar-lhes suas vantagens.</p><p>É privilégio ser judeu, porque ele mesmo o era. Era</p><p>privilégio ter o judeu a circuncisão física, porque ele tam­</p><p>bém fora circuncidado.</p><p>Paulo destaca o fato de que “aos judeus foram confia­</p><p>dos os oráculos de Deus” (v 2). Porém, são acusados de não</p><p>terem cumprido a Lei, e de não terem levado em conta a</p><p>revelação mais excelente que era a Pessoa de Jesus Cristo,</p><p>o Filho de Deus. Se os judeus fossem fiéis (3.3), Deus conti­</p><p>nuaria fiel. Se a justiça de Deus revelada aos judeus não foi</p><p>exercida pelos judeus, resta então, reconhecer que, por sua</p><p>incredulidade e injustiça, a plena luz viria a lume.</p><p>A segunda objeção dos judeus está nos vv 3 e 4. “Se al­</p><p>guns não creram, a incredulidade deles virá desfazer a fi­</p><p>delidade de Deus?” (3.3). Entretanto, Paulo declara cate­</p><p>goricamente que jamais a fidelidade de Deus se alteraria</p><p>por causa da infidelidade dos seus servos. Porém, aos ju ­</p><p>deus fora confiada a mordomia da revelação divina, da sua</p><p>vontade, e se eles não foram fiéis na guarda dessa revela-</p><p>çao, a justiça de Deus viria sobre eles pior do que aos gen­</p><p>tios aos quais Deus não se tinha revelado.</p><p>A objeção judaica era que, se o erro e o pecado do ju ­</p><p>deu põem em relevo a justiça de Deus, então eles não deve-</p><p>44</p><p>riam ser julgados agora. Mas Paulo desfaz essa tentativa</p><p>de justificar o judeu, e argumenta que a manifestação da</p><p>justiça de Deus, por causa do pecado do judeu, é exercida</p><p>com eficácia, condenando o pecado e não o absolvendo.</p><p>Deus é o Regente Moral do Universo, e a manifestação da</p><p>sua justiça é a retribuição e punição ao pecado cometido.</p><p>A terceira objeção está nos vv 5 a 8. A interrogação do</p><p>judeu é: “Não seria Deus injusto ao castigar os judeus pelo</p><p>seu pecado, visto que é pelo pecado dos judeus que a justi­</p><p>ça de Deus foi manifestada?” Paulo responde com muita</p><p>propriedade doutrinária e diz-lhes que se esse princípio</p><p>fosse real, ninguém seria julgado e o pecado jamais recebe­</p><p>ria a sua retribuição.</p><p>Aceitar essa idéia seria o mesmo que afirmar que é ne­</p><p>cessário pecar para se conhecer a justiça, ou que é correto</p><p>praticar o mal para que o bem seja manifesto.</p><p>Deus é justo e a condenação dos que pecam contra a</p><p>sua Palavra tarfibém é justa.</p><p>V - A SENTENÇA UNIVERSAL (3.9-20)</p><p>Nesses versículos, toda a tentativa da justificação dos</p><p>judeus e gentios diante de Deus é frustrada. Paulo coloca</p><p>ambos na mesma condição e posição, quando diz: “todos</p><p>estão debaixo do pecado” (3.9). Outrossim, toda a acusa­</p><p>ção feita contra os judeus e gentios tem provas convicen-</p><p>tes. Os judeus não são melhores que os gentios. Possuem a</p><p>Lei, mas a violaram. Portanto, são culpados. O judeu pe­</p><p>cou contra a lei divina revelada por Moisés e os Profetas. O</p><p>gentio pecou contra a lei da consciência.</p><p>Podemos dividir o texto em 4 pontos:</p><p>1. O fato incontestável - “Todos estão debaixo do pe­</p><p>cado” (3.9). Todos os fatos e argumentos desse estudo são</p><p>suficientes para a declaração de que “todos estão debaixo</p><p>do pecado". É claro que a declaração e genérica, porque</p><p>engloba todos os seres hum anos. O apóstolo Pau lo começa</p><p>com um a pergunta: - "P or quê?” Essa pergunta tem por</p><p>objetivo fortalecer o argum ento pau lm o de que 06 ju f e w</p><p>não tin ham de que gabar-se. Por '</p><p>rogação. - "Som os nós m ais excelentes. Hle mesmo rea</p><p>ponde categoricamente: - “De m aneira nenhum a . A in-</p><p>45</p><p>terrogaçâo levanta o seguinte pensamento, parafraseando</p><p>a palavra de Paulo: “Teríamos nós algo próprio com que</p><p>nos proteger da ira divina?” A resposta então é: “De ma­</p><p>neira nenhuma!” Outrossim, a expressão: “estão debaixo</p><p>do pecado” significa, estar sob o domínio e o poder do pe­</p><p>cado. Para sair fora desse domínio é preciso algo de fora,</p><p>visto que os meios próprios são incapazes de libertar os ho­</p><p>mens do poder do pecado.</p><p>2. A universalidade do pecado (3.10-12)</p><p>Aqui sabemos que Deus não isenta ninguém. O alcan­</p><p>ce do pecado foi universal, porque alcança a todo o homem</p><p>nascido de mulher.</p><p>3.10. “Não há um justo, nenhum sequer”, eqüivale d i­</p><p>zer que é a total falta de senso da justiça e de retidão (SI</p><p>14.1,2,3; 53.1-3).</p><p>3.11. “Não há quem entenda”. Vemos aqui a ignorân­</p><p>cia ao conhecimento de Deus e dos requisitos a serem obe­</p><p>decidos.</p><p>3.11. “Não há quem busque a Deus”. Diz respeito</p><p>à</p><p>falta de adoração e do desejo de servi-lo em reconhecimen­</p><p>to à sua soberania.</p><p>3.12. “Todos se extraviaram” . Significa que todos</p><p>apostataram da fé no verdadeiro Deus e se perderam em</p><p>seus próprios caminhos.</p><p>3.12. “ ...a uma se fizeram inúteis”, isto é, se tornaram</p><p>corruptos, sem valor e sem dignidade.</p><p>3.12. “ ...não há quem faça o bem, nenhum sequer”.</p><p>Indica que não há exceção á regra, mas todos são incluídos</p><p>entre os que não fazem “o bem”.</p><p>3. A totalidade do pecado (3.13-18)</p><p>Paulo faz uma adaptação do VT para confirmar seu</p><p>ensino e ilustrar as diferentes manifestações do pecado,</p><p>Com essas citações Paulo ilustra as várias características</p><p>do pecado. Os versículos 13 a 17 são mencionados numa</p><p>linguagem que determina a conduta moral dos pecadores.</p><p>São termos como garganta, língua, lábios, boca, mãos e</p><p>pes, que representam malícia, maldição, destruição e mor-</p><p>. Envolvendo ainda engano, calúnia, falsidade, amargu-</p><p>4o</p><p>ra, miséria. Esses males todos estão no caminho dos que</p><p>praticam o pecado, e a sentença de Deus vem contra os</p><p>tais.</p><p>No versículo 18 temos a razão e a causa do pecado,</p><p>quando o texto diz: Não há temor de Deus diante dos seus</p><p>olhos” . Destaquemos alguns versículos para melhor eluci­</p><p>dação:</p><p>4. O ver edito final de Deus contra o pecado (3.19,20)</p><p>Aqui entendemos que é impossível escapar à sentença</p><p>divina, pois não há desculpas. Nada poderá deter a mani­</p><p>festação da justiça divina, porque é a força da lei e a sua</p><p>exigência que conduzem o pecador à condenação. O escri­</p><p>tor não deixa alternativa no v 19 para desculpas, e não ad­</p><p>mite desculpas esfarrapadas e mentirosas, mas diz: “que</p><p>toda a boca esteja fechada”. Subentende-se que ninguém</p><p>pode defender-se ante as provas apresentadas. Depois diz:</p><p>“ ...e todo o mundo seja condenável diante de Deus”. Uma</p><p>outra tradução parece aclarar melhor essa sentença: “e</p><p>que todo o mundo (das criaturas humanas) deve prestar</p><p>contas a Deus” . Dá a idéia de que todos os homens são de­</p><p>vedores para com Deus e precisam pagar essa conta.</p><p>3.20. “Por isso nenhuma carne será justificada diante</p><p>dele pelas obras da Lei” . Mas uma vez Paulo responde aos</p><p>judeus, visto que eles conheciam a lei de Deus manifestada</p><p>por Moisés. A continuação do versículo 20 diz: “Porque</p><p>pela Lei vem o conhecimento do pecado”. Notemos que a</p><p>palavra pecado está no singular, porque engloba todas as</p><p>más ações próprias do pecado. Porém, é a Lei que cons­</p><p>cientiza o homem acerca do pecado, por isso, ninguém</p><p>pode fugir ao veredito final de Deus.</p><p>Notas do editor</p><p>(') £ preciso entender que boas obras, aos olhos de Deus, só se praticam em Cristo, ou,</p><p>na Dispensação queprecede à da Graça,na fé no Messiais oindouro.pois, fora de Cris­</p><p>to. ".. todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23). Também,</p><p>"... todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão". “E é evidente que pela</p><p>lei (quer a lei de Moisés, quer a lei da Consciência), ninguém será justificado diante</p><p>de Deus (d l 3. II).</p><p>(') Julgados, mas não justificados.</p><p>47</p><p>C</p><p>as</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>s</p><p>V</p><p>es</p><p>ta</p><p>is</p><p>no</p><p>an</p><p>tig</p><p>o</p><p>Fo</p><p>rt</p><p>)</p><p>R</p><p>o</p><p>m</p><p>a</p><p>n</p><p>a</p><p>A Doutrina da Justificação</p><p>(3.21 a 5.21)</p><p>I - A DECLARAÇÃO DOUTRINÁRIA DA JUSTIFI­</p><p>CAÇÃO (3.21)</p><p>II - A JUSTIÇA DE DEUS SATISFEITA (3.21)</p><p>III - O TRÍPLICE SENTIDO DA PALAVRA JUSTIÇA</p><p>(3.22)</p><p>1. Justiça própria</p><p>2. Justiça de Deus</p><p>3. Justiça do crente</p><p>IV - A NECESSIDADE UNIVERSAL DA JUSTIFICA­</p><p>ÇÃO (3.22,23)</p><p>V - OS TRÊS MODOS DA JUSTIFICAÇÃO (3.24-31)</p><p>1. Justificados pela graça (3.24)</p><p>2. Justificados pelo sangue (3.25)</p><p>3. Justificados pela fé (3.27-31)</p><p>VI - DEMONSTRAÇÃO DA FÉ (4.1-25)</p><p>1. A justificação é pela fé, não pela moral humana</p><p>2. A justificação é pela fé, não por ritos religiosos</p><p>(4.9-12)</p><p>3. A justificação é pela fé, não pelas obras da Lei</p><p>(4.13-25)</p><p>V II-OS BENEFÍCIOS DA JUSTIFICAÇÃO (5.1-21)</p><p>1. Paz com Deus (5.1)</p><p>2. Acesso à graça, pela fé (5.2)</p><p>3. Esperança da glória de Deus (5.2)</p><p>4. O gozo das tribulações (5.3-5)</p><p>5. O amor divino derramado em nós (5.5b)</p><p>6. O amor de Deus demonstrado a nós através da</p><p>morte de seu Filho (5.6-11)</p><p>VIII - A JUSTIFICAÇÃO COMPARADA E EXPLICADA</p><p>(f, 19. 91*</p><p>50</p><p>A Doutrina da Justificação</p><p>Ao estudarmos a Doutrina do Pecado (1.18-3.20) des­</p><p>cobrimos que ninguém pode ser justificado pela justiça hu­</p><p>mana. Entretanto, é na doutrina da justificação, no texto</p><p>de 3.21 a 5.21. que o pecador encontra o caminho da justifi­</p><p>cação, através da obra expiatória de Cristo. No primeiro</p><p>estado, o pecador está perdido e sem possibilidade alguma</p><p>de se justificar diante de Deus. No segundo estado, o peca­</p><p>dor encontra Cristo que o justifica.</p><p>É a partir do capítulo 3.21 que o pecador, judeu ou</p><p>gentio, encontra um novo caminho através dos méritos de</p><p>Cristo .Jesus. É aqui que ele pode ser perdoado e declarado</p><p>livre da pena do seu pecado, perante Deus.</p><p>■Justificação significa absolvição da culpa, cuja pena</p><p>foi satisfeita. Significa ser declarado livre de toda culpa,</p><p>tendo cumprido todos os requisitos da lei.</p><p>Justificação é um termo forense que denota um ato ju­</p><p>dicial da administração da lei. Esse ato judicial legaliza a</p><p>51</p><p>situação do transgressor perante a lei e o toma justo, isto é,</p><p>livre de toda a condenação.</p><p>Cristo assumiu a pena do pecador e foi sentenciado</p><p>em lugar do pecador. Ele sofreu a pena contra o pecador.</p><p>Cumprida a pena, o veredito final da justiça divina é a jus­</p><p>tificação do pecador. Entende-se então que ser justificado</p><p>não significa que a justiça tenha sido adiada, ou que ela</p><p>não tenha sido cumprida. Na verdade, Cristo cumpriu</p><p>toda a justiça exigida contra o pecador, visto que o pecador</p><p>não podia pagá-la.</p><p>I - A DECLARAÇÃO DOUTRINÁRIA DA JUSTIFICA­</p><p>ÇÃO (3.21)</p><p>O cenário da vida do pecador é mudado a partir de</p><p>duas palavras cujo sentido reveste-se do mais alto signifi­</p><p>cado espiritual e doutrinário. Essas duas palavras são:</p><p>“Mas agora" (3.21). Nestas duas palavrinhas termina uma</p><p>senda de pecado e condenação e começa outro caminho</p><p>completamente novo. 0 quadro sombrio de culpa é muda­</p><p>do para um luminoso quadro da graça de Deus.</p><p>No primeiro quadro ficamos sabendo que “ninguém”</p><p>pode ser justificado pela justiça própria. No segundo qua­</p><p>dro descobrimos que “todos” podem ser justificados pela</p><p>justiça de Cristo.</p><p>“Mas agora (3.21) sem lei se manifesta a justiça de</p><p>Deus” . Na Bíblia de Scofield lemos: “ A justiça de Deus é</p><p>tudo o que Deus exige e aprova, e encontra-se, em última</p><p>análise, no próprio Cristo, que cumpriu totalmente, em</p><p>nosso lugar, todas as exigências da Lei” (1 Co 1.30: 2 Co</p><p>5.2Í; Tg 2.23).</p><p>“ Mas agora, sem le i” indica que a justiça de Deus em</p><p>Cristo independe da lei mosaica ou a lei da consciência.</p><p>Cristo cumpriu a Lei, portanto, não precisa da lei con-</p><p>denadora para que sejamos justificados. Agora, “ sem lei” ,</p><p>mediante a fé na obra da justiça de Cristo, o passado do</p><p>pecador é apagado para que a nova vida justificada seja vi­</p><p>vida livremente.</p><p>Notemos que no A T a justiça de Deus se manifestaria</p><p>no cumprimento da Lei, como se manifestou na morte de</p><p>Cristo. Porém, no N T tem-se manifestado uma nova ma-</p><p>52</p><p>neira de Deus demonstrar a sua justiça que é através da</p><p>. W i Í U£ n ova5 ualí ade/ modalidade na revelação da</p><p>S n L Í Deus Esse tipo de manifestação da justiça está</p><p>completamente livre da Lei Não no sentido de que a Lei</p><p>tenha perdido seu valor ou importância, mas visto que o</p><p>pecador e incapaz de just»f»car-se diante de Deus com as</p><p>obras da Lei, Deus mesmo providenciou para o pecador o</p><p>meio de ser justificado sem a Lei.</p><p>Há u ma verdade fantástica acerca da justificação, que</p><p>e a substituição. Sem a substituição não seria possível a</p><p>justificação. Jesus se tomou o substituto do pecador para</p><p>cumprir a exigência da Lei: pena do pecado. Ele passou</p><p>pela pena e a cumpriu cabalmente. Tornou-se o sacrifício</p><p>supremo pelos pecadores, como o “ Cordeiro Divino” (Is</p><p>53.5; Jo 1.29; 2 Co 5.21).</p><p>II A JUSTIÇA DE DEUS SATISFEITA (3.21)</p><p>Com .as duas palavras iniciais do versículo 21 “ MAS</p><p>AGORA” , abriu-se um novo caminho para o pecador</p>

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