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MOBILIZAÇÃO 
SOCIAL
Ligia Maria Fonseca Affonso
O que são movimentos 
sociais? Principais teorias 
sobre movimentos sociais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Explicar o que é o movimento social.
 � Identificar as diferentes abordagens teóricas sobre movimentos sociais.
 � Descrever os principais movimentos sociais no Brasil.
Introdução
Os movimentos sociais são uma forma de organização da sociedade civil, 
em que as pessoas se reúnem e, de forma coletiva, lutam pela inclusão 
social e contra a exclusão. Esses movimentos também apresentam as 
demandas da sociedade, enfrentadas por determinada classe social, 
que na ação concreta adotam diferentes estratégias com a finalidade 
de realizar mudanças sociais por meio da luta política, compartilhando 
valores ideológicos e questionando determinada realidade. 
Neste capítulo, você estudará o conceito de movimento social, cons-
tituído por ações coletivas de caráter sociopolítico e por atores sociais 
pertencentes a diferentes classes e camadas sociais; as teorias sobre 
movimentos sociais como a Teoria da Mobilização de Recursos (TMR), 
a Teoria dos Processos Políticos (TPP) e a Teoria dos Novos Movimentos 
Sociais (TNMS); e os principais movimentos sociais no Brasil.
Movimentos sociais
Os movimentos sociais apresentam as demandas da sociedade, enfrentadas por 
determinada classe social, que na ação concreta adotam diferentes estratégias 
que variam de simples denúncia, passando mobilizações, marchas, concen-
trações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, até atos de desobediência 
civil, negociações etc. Essas ações são capazes de sensibilizar os participantes, 
pois, “ao realizar essas ações, projetam em seus participantes sentimentos de 
pertencimento social. Aqueles que eram excluídos passam a se sentir incluídos 
em algum tipo de ação de um grupo ativo” (GOHN, 2011, p. 336). Para Frank 
e Fuentes (1989, p. 19), os movimentos sociais se apoiam “num sentimento de 
moralidade e (in) justiça e num poder social baseado na mobilização social 
contra as privações (exclusões) e pela sobrevivência e identidade”.
Os movimentos sociais podem ser motivados por diversas razões, como a 
insatisfação da sociedade diante dos problemas de gestão dos governos, nas 
áreas de saúde, educação, meio ambiente, entre outras, que causam indignação 
na população fazendo emergir os movimentos e as manifestações populares. 
Cabe destacar que não existe uma definição única na literatura para o termo 
movimento social, mas você verá algumas definições sob o olhar de alguns 
autores.
Ferreira (2003) considera os movimentos sociais uma ação coletiva de 
grupos que se organizam com a finalidade de realizar mudanças sociais por 
meio da luta política, compartilhando valores ideológicos e questionando 
determinada realidade.
Para Gohn (1995, p. 44) os movimentos sociais são:
Ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais perten-
centes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas 
e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações 
estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em 
situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo 
social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a 
partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio 
da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais 
e políticos compartilhados pelo grupo.
O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais2
O movimento social é caracterizado pela união de pessoas em torno de 
um objetivo comum, que compartilham valores políticos e culturais, criando, 
assim, uma identidade comum ao movimento. Cabe destacar que dependendo 
do que se pretende, o movimento pode ser composto por diferentes classes e 
estratos sociais, não se baseando apenas na relação contraditória entre capital 
e trabalho como percussores de tais movimentos (GOHN, 1995).
Para Scherer-Warren (1984), o movimento social deixou de se fundamentar 
apenas no conflito, incorporando uma visão de mundo divergente, na busca 
pela liberdade social e individual. Para a autora, o movimento social é a 
reunião de pessoas que buscam superar os modos de opressão, de forma ativa 
ou passiva. Já Silva (2001) considera o movimento social como um agir por 
meio de vários procedimentos e um pensar por meio de ideias que motivam 
ou embasam a ação individual e coletiva. Dessa forma, você pode entender 
movimento social como um instrumento que possibilita o alcance de objetivos 
individuais e coletivos, permitindo a superação de condições de opressão, 
possibilitando mudanças sociais e construindo uma nova forma de sociedade 
(MIRANDA; CASTILHO; CARDOSO, 2009). Avritzer (1994) afirma que 
os movimentos sociais não são apenas um simples objeto social, mas sim um 
meio de abordar problemas mais gerais.
Na realidade, os movimentos sociais sempre existiram e, no Brasil, se 
intensificaram na década de 1970, em oposição ao regime militar, travando 
uma luta social e uma forte resistência à ditadura e ao autoritarismo estatal. 
Esse período da ditadura militar fez os movimentos sociais surgirem com maior 
efervescência por meio de movimentos estudantis, sindicatos, comunidades 
e pastorais que eram impactadas por essa forma de governo, etc. Gohn (2011, 
p. 23) afirma “que os movimentos sociais dos anos 1970/1980, no Brasil, 
contribuíram decisivamente, via demandas e pressões organizadas, para a 
conquista de vários direitos sociais, que foram inscritos em leis na nova Cons-
tituição Federal de 1988”. Assim, os movimentos sociais vêm acompanhando 
os passos da democracia não só do Brasil, mas de diversas nações nas últimas 
décadas, com presença constante nos acontecimentos históricos relevantes, 
principalmente no que diz respeito às conquistas sociais. Na verdade, esses 
movimentos são uma forma de os cidadãos reivindicarem e terem seus inte-
resses e anseios coletivos reconhecidos (GOHN, 2004).
3O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais
O movimento operário ressurge com as greves no ABC paulista, em 1978, com as 
centrais sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Central Geral dos 
Trabalhadores (CGT) e a sua articulação com partidos políticos (MIRANDA; CASTILHO; 
CARDOSO, 2009).
Nos anos de 1980 é notável a relevância dos movimentos sociais nos avan-
ços importantes referentes aos direitos dos cidadãos. Movimentos com foco 
em questões éticas e valorização da vida também surgiram, motivados pela 
violência, pelos escândalos políticos, pelo clientelismo e pela corrupção, 
levando a população a reagir.
A campanha Diretas Já, o Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) 
e os movimentos dos aposentados, negros, indígenas, entre outros, são exemplos de 
movimentos ocorridos nessa década (MIRANDA; CASTILHO; CARDOSO, 2009).
Nos anos 1990, as intensas mobilizações da sociedade civil culminam no 
impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, com destaque 
para os “cara-pintadas”, cujo objetivo era o de estabelecer a ética na política. 
Nos anos 2000, os movimentos sociais e a participação popular assumem nova 
configuração em função da globalização, inclusive por meio de organizações 
não governamentais (ONGs), que surgem como uma nova forma de resis-
tência, em substituição aos movimentos sociais (MIRANDA; CASTILHO; 
CARDOSO, 2009).
O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais4
As ONGs são entidades privadas da sociedade civil, sem fins lucrativos, criadas por 
pessoas que trabalham voluntariamente em defesa de uma causa, seja ela, proteção 
do meio ambiente, defesa dos direitos humanos, erradicação do trabalho infantil, 
defesa dos animais, etc. Têm como base os valores democráticos como liberdade, 
igualdade, diversidade, participação e solidariedade (MIRANDA;CASTILHO; CARDOSO, 
2009; GOHN, 2013).
Nos dias de hoje, a situação sociopolítica, econômica, cultural e tecnológica 
é diferente da década de 1990, o que faz os movimentos sociais serem diferen-
tes. Atualmente, vemos os movimentos sociais acontecerem sob a forma de 
manifestações, marchas e ocupações com o intuito de reagir contra a política e 
o comportamento antiético de muitos políticos. Em geral, são promovidos por 
grupos organizados que se estruturam, convocam/convidam e se organizam 
por meio das redes sociais. O perfil dos participantes também se modificou, 
passando da condição de militante para a de ativista; as “marchas” se trans-
formaram em protestos; a participação nos eventos acontece eventualmente, 
conforme a necessidade; e os simpatizantes de determinada causa podem se 
tornar participantes ativos de um novo movimento social. Dessa forma, crê-se 
que os movimentos sociais sempre existirão, uma vez que representam forças 
sociais organizadas que unem as pessoas não como força tarefa, de ordem 
numérica, mas como campo de atividades e de experimentação social, gerando 
criatividade e inovações socioculturais (GOHN, 2004).
Teorias sobre movimentos sociais
As transformações que vem acontecendo no mundo, nas últimas décadas, 
têm influenciado a motivação dos movimentos sociais, evidenciando que eles 
não se limitam mais à política, à religião ou às demandas socioeconômicas 
e trabalhistas, mas também acontecem por motivos de reconhecimento, de 
identidade e culturais, se destacando ao lado de movimentos sociais globais. 
Portanto, os movimentos sociais no novo milênio deparam-se com novas 
demandas, novos conflitos e novas formas de organização, gerados pelos 
efeitos da globalização, em suas múltiplas faces (GOHN, 2008).
5O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais
O tema movimento social é motivo de vários estudos e, por isso, existem 
muitas e amplas abordagens teóricas com eixos analíticos, como as que você 
verá a seguir (GOHN, 2008).
 � Culturais: relacionados à construção de identidades atribuídas ou 
adquiridas, em que os diferentes tipos de pertencimentos são funda-
mentais em um determinado contexto. As ações nascem de processos 
reflexivos entre os participantes que criam vínculos e constroem sentidos 
e significados para suas ações coletivas.
 � Da justiça social: com foco em questões relacionadas ao reconhe-
cimento de diferenças e desigualdades e de redistribuição de bens 
ou direitos, como recompensas às injustiças acumuladas ao longo da 
história. Abordagens sustentadas pelas teorias críticas.
 � Capacidade de resistência dos movimentos sociais: com foco em 
questões como autonomia, formas de lutas a favor da construção de um 
novo mundo, de novas relações sociais e da luta contra o neoliberalismo. 
Essa abordagem critica a luta pela emancipação e cidadania por meio 
de políticas públicas que visam à integração social, ao consenso e à 
participação.
Neoliberalismo é a doutrina que defende a não participação do estado na economia, ou 
seja, o comércio deve ser livre (livre mercado), para garantir o crescimento econômico 
e o desenvolvimento social de um país (LEME, 2010).
 � Institucionalização das ações coletivas: preocupa-se com a criação 
de vínculos e redes de sociabilidade entre as pessoas e seu desempenho 
em instituições, organizações, espaços segregados, associações, entre 
outros. É uma abordagem baseada nas teorias da privação social.
O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais6
As teorias da privação social são estudadas na área da psicologia. A privação social 
refere-se à falta de comunicação ou a sua impossibilidade, em que as consequências 
dependem da própria pessoa, da sociedade ou de determinadas circunstâncias. 
Trazendo para o contexto em que foi citada, está associada à exclusão social, que 
distancia o sujeito do lado efetivo da cultura, sem poder de voz e sem vez no grupo, 
depositário de baixas expectativas e imagens negativas (MARQUES, 2009).
São muitas as teorias que tentam explicar o fenômeno dos movimentos 
sociais. Você verá a seguir a TMR, a TPP e a TNMS.
A TMR surgiu motivada pelas transformações políticas que ocorreram 
na sociedade norte-americana nos anos de 1960. Movimentos como os dos 
direitos civis, contra a guerra do Vietnã e os do feminismo levaram à elabo-
ração da TMR. Essa teoria enfatiza que os movimentos sociais resultam da 
união de grupos que compartilham os mesmos interesses e, em ação coletiva, 
buscam estratégias para alcançar seus objetivos. Os autores mais importantes 
da primeira fase dessa teoria foram Olson, McCarthy e Zald (1965, 1973 e 
1977). McCarthy e Zald eram contra o funcionalismo e defendiam movi-
mentos, como os dos direitos civis nos Estados Unidos, por terem sentido e 
organização. Opunham-se também às versões economicistas do marxismo, 
argumentando que insatisfações e motivos para a mobilização, de qualquer 
natureza, sempre existirão, sendo insuficientes para explicar a formação de 
mobilizações coletivas. 
Dessa forma, mais importante que identificar as razões seria explicar 
o processo de mobilização. A decisão de agir seria por vontade individual, 
resultando da reflexão racional entre custos e benefícios e, a ação coletiva só 
seria viável se houvessem recursos financeiros e infraestrutura; ativistas e 
apoiadores e organização, ou seja, coordenação entre indivíduos, em forma 
de associações ou estruturas comunitárias, que seriam a base organizacional 
para os movimentos sociais (GOHN, 1997; ALONSO, 2009).
A TMR aplicou a sociologia das organizações no estudo dos movimentos 
sociais fazendo analogia com uma organização. Os movimentos sociais vão 
se burocratizando conforme a racionalização da atividade política, criando 
normas, hierarquia interna e divisão do trabalho, especializando seus parti-
cipantes como gerentes, administradores de recursos e coordenadores das 
ações (McCARTHY; ZALD, 1977). Dessa forma, quanto mais longos, mais 
7O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais
burocratizados eles vão se tornando. Além disso, essa longevidade estaria 
condicionada à capacidade de os movimentos sociais vencerem a concorrência, 
pois vários movimentos podem ser constituídos em torno de um mesmo tema, 
formando uma “indústria de movimento social”, na qual, além da cooperação, 
há também competição em torno de recursos materiais e de participantes a 
serem atraídos para um mercado de consumidores de bens políticos. Assim, sur-
giriam os conflitos internos, resultando em formação de facções, rompimento 
de movimentos grandes e formação de subunidades acerca de uma mesma 
causa, ou seja, apenas sucesso os movimentos que possuíssem características 
de uma organização formal hierárquica (GOHN, 1997; ALONSO, 2009). 
Olson (1965) tem sua teoria focada nos indivíduos, estudando os grupos 
de interesse em vez dos movimentos sociais. Para ele, é muito mais fácil 
organizar interesses coletivos em grupos compostos por muitos membros 
do que em grupos pequenos, destacando a importância do papel dos líderes 
organizadores desses interesses.
Na TMR, as ações coletivas são analisadas sob a “perspectiva da relação 
custo/benefício, excluindo valores, normas, ideologias, culturas dos movi-
mentos sociais estudados” (SILVA, 2001, p. 20). É uma teoria que compara os 
movimentos sociais a um fenômeno social com características de uma organi-
zação formal. Por esses e outros motivos, foi uma teoria que recebeu críticas 
de vários autores, entre elas o fato que excluía valores, normas, ideologias, 
projetos, cultura e identidade dos grupos sociais estudados (COHEN, 1985) e 
que possuía uma visão burocrática dos movimentos sociais (FERREE, 1992). 
Com o evento da globalização, a TMR entrou em uma nova etapa, am-
pliando seu campo explicativo, com ênfase no desenvolvimento do processo 
político no campo da cultura e na interpretação das ações coletivas. Nessa nova 
fase, podemos destacar os trabalhos teóricosde autores como Klandermas; 
Friedman; Tarrow; Taylor e Whitter; Traugott; entre outros (GOHN, 1997).
A TPP nasceu de debates marxistas sobre as possibilidades da revolu-
ção, e protestava contra explicações deterministas e economicistas da ação 
coletiva e contra a ideia de um sujeito histórico universal. É uma teoria que 
rejeita a economia como explicação chave e combina política e cultura para 
explicar os movimentos sociais, considerando a coordenação dos ativistas 
como fundamental na construção de atores coletivos que se formam durante 
o processo de contestação. Essa coordenação é condicionada à solidariedade, 
que resulta da combinação do sentimento de pertencimento a uma categoria e 
da densidade das redes interpessoais que vinculam os membros do grupo entre 
si (TILLY, 1978 apud ALONSO, 2009). No entanto, a solidariedade só gera 
ação se puder contar com estruturas de mobilização como recursos formais 
O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais8
(organizações civis) e informais (redes sociais, que favorecem a organização). 
Dessa forma, a solidariedade entre um grupo e o controle coletivo sobre os 
recursos necessários para sua ação são criados pelo processo de mobilização.
Nessa teoria a mobilização tem por base o conflito entre Estado e socie-
dade, em que é possível que as posições variem e os atores migrem entre 
elas. Por isso, é preciso superar as barreiras estabelecidas sobre a definição 
de “Estado” e “sociedade” como duas entidades coesas e monolíticas. ATPP 
considera o Estado como detentor do poder, membros da política possuem, 
portanto, controle ou acesso ao governo que rege uma população; e a sociedade 
civil como desafiante, que busca ter influência sobre o governo e acesso aos 
recursos controlados pela política. Dessa forma, na TPP, o movimento social é 
definido como uma interação contenciosa, envolvendo necessidades recíprocas 
entre sociedade (desafiantes) e Estado (detentores do poder), em nome de uma 
população sob litígio (TILLY, 1993 apud ALONSO, 2009).
A ênfase na teoria da mobilização política e o esforço para inserir aspectos 
culturais e ideológicos, mesmo que limitadamente, são características funda-
mentais da TPP, e as oportunidades políticas e os frames são suas categorias 
mais relevantes (CORRÊA; ALMEIDA, 2012).
Apesar de possuir aspectos relacionados à cultura, como a subjetividade, as emoções 
e os sentimentos, a TPP enfatiza o que é objetivo, estrutural e racional, com foco nas 
esferas econômica, política, jurídica e militar, mesmo que de forma menos absoluta 
(CORRÊA; ALMEIDA, 2012). 
As oportunidades políticas referem-se a fatores externos à sociedade civil 
que influenciam a capacidade de mobilização e recrutamento de grupos sociais, 
ou seja, são dimensões do contexto político capazes de estimular ou deses-
timular as pessoas a participarem de ações coletivas. A ideia central é muito 
simples: quando as estruturas de oportunidade política reduzem os custos da 
participação, há mobilização social (TARROW, 1994 apud RENNÓ, 2003). 
Para Goffman (1974), os frames dizem respeito à forma como os indivíduos dão 
significado a suas experiências e ações, ou seja, como eles percebem a realidade 
e, enquanto atores dos movimentos sociais, elaboram seu entendimento sobre 
9O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais
justiça/injustiça, moral/imoral, tolerável/intolerável, que influenciam em sua 
motivação para se mobilizar (CORRÊA; ALMEIDA, 2012).
Essa teoria foi amplamente criticada por Goodwin (1996), que considera 
a tese das oportunidades políticas confusa e imprecisa, com resultados re-
petitivos e sem nada novo, ambíguos e insuficientes. O autor criticou ainda 
os conceitos de frame e estruturas de mobilização destacando que aspectos 
culturais são excluídos, reduzindo a compreensão da cultura a uma perspectiva 
instrumental e trabalhando apenas com movimentos que a auxiliam na área 
da contracultura (GOHN, 1997). 
Em relação à cultura, a TPP abriu espaço para ela por meio do conceito 
de repertório. Para Tilly (1995, p. 26), repertório é um “conjunto limitado de 
rotinas que são aprendidas, compartilhadas e postas em ação por meio de um 
processo relativamente deliberado de escolha”. Assim, os atores escolhem 
quais as formas de interação mais adequadas aos seus propósitos, isto é, eles 
atribuem o sentido às formas, que podem ser tanto de contestação como de 
reiteração da ordem.
Repertório é o conjunto de formas de ação política disponíveis para os atores de dada 
sociedade (TILLY, 1978 apud ALONSO, 2009).
A TNMS possui foco nas mudanças de ordem cultural e diz respeito a 
movimentos sociais dos ambientalistas, das mulheres, pela paz e outros. Os 
novos movimentos se opõem às práticas e aos objetivos dos velhos movimen-
tos sociais organizados a partir do mundo do trabalho, ou seja, se opõem ao 
movimento operário-sindical (GOHN, 1995). Os novos movimentos sociais 
possuem foco em questões que vão além do conflito de classes, envolvendo 
questões culturais. Esses movimentos surgiram em meados do século XX e têm 
como objetivo atuar como complemento às lutas de classes dos movimentos 
clássicos, como alternativa aos movimentos de classes tradicionais e como 
alternativa aos partidos políticos de esquerda. Assim, os novos movimentos 
sociais poderão surgir como complemento ou como oposição aos partidos 
políticos de esquerda e aos movimentos de classes tradicionais. Os novos 
movimentos sociais ganharam força na década de 1970 com as lutas sindicais 
O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais10
contra a divisão hierárquica do trabalho (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010). 
É nesse mesmo período que os novos movimentos sociais surgem, como o 
movimento mundial de protesto contra a guerra dos Estados Unidos no Vietnã, 
pelos direitos civis dos negros nos no mesmo país, movimentos feministas e 
urbanos, entre outros (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p.265).
São características fundamentais dos novos movimentos sociais, as mo-
bilizações situadas fora do contexto do trabalho e da reprodução da força de 
trabalho, destacando o não envolvimento de seus protagonistas nas formas de 
organização e com a ideologia do movimento operário, de forma direta, e sua 
postura contra Estado e partidos políticos revolucionários. Assim, os novos 
movimentos sociais surgem de novas demandas da sociedade contemporânea 
que requerem respostas diferenciadas. 
Outras características dos novos movimentos sociais são seus valores anti-
modernistas; suas formas de ação não convencionais; sua formação, por grupos 
marginalizados pelo status quo vigente ou sensíveis aos resultados do capitalismo; 
as novas aspirações e a satisfação de necessidades que se colocam em risco frente 
às exigências da burocratização e o aumento da industrialização, rompendo laços 
tradicionais e estruturas de lealdade existentes. Como resultado tem-se maior 
receptividade às novas visões sobre novas utopias sociais (ALONSO, 2009).
Os novos movimentos sociais se preocupam em garantir direitos sociais 
que já existem ou que ainda deverão ser conquistados, por meio da mídia e de 
atividades de protestos visando à mobilização da opinião pública a seu favor, 
para pressionar os órgãos e as políticas estatais. Dessa forma, se valendo 
de ações diretas, buscam mudar os valores dominantes e as situações de 
discriminação, principalmente dentro de instituições da própria sociedade 
civil (PONTES, 2015).
Uma crítica a essa teoria é que ela apresenta novidades na prática histórica 
dos movimentos, no entanto, utiliza categorias que não permitem explicar 
de forma clara as novas formas de processo social, uma vez que partem dos 
resultados nos quais a identidade coletiva é sua maior expressão, é a categoria 
mais relevante na análise da TNMS. Assim, essa teoria fez uso do binômio 
causa e efeito, sem se aprofundar no conjunto de processos que formam os 
movimentos sociais. Extraiu da política a questão da ideologia,mas não 
abordou o caráter dessas representações coletivas, como parte de projetos 
políticos mais abrangentes. Dessa forma, as análises possuem lacunas em 
certos aspectos da realidade que podem não se relacionar com as formas 
empíricas em um dado momento histórico. Tanto os códigos culturais como 
a identidade coletiva são produtos do movimento social, que é um processo 
de articulação de ações coletivas (PONTES, 2015).
11O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais
Ideologia é tomada como conjunto de representações que configuraram uma visão 
de mundo (PONTES, 2015). 
Alguns dos autores dessa teoria não fazem distinção entre velhos e novos 
movimentos, portanto, essa distinção é criada com base em análises sobre 
questões culturais, ideológicas, de consciência, crença, micromobilização e 
solidariedade, com foco principalmente no papel que os processos de cons-
trução de identidades coletivas desempenham na formação dos movimentos 
(LARAÑA, 1999). São autores dessa teoria Alain Touraine, Jurgen Habermas, 
Alberto Melucci e Claus Offe.
Podemos dizer que as três teorias sobre movimentos sociais aqui apre-
sentadas possuem formas bastante particulares. A TMR focou na dimensão 
micro-organizacional e na estratégica da ação coletiva; a TPP focou o ambiente 
macropolítico, incorporando a cultura na análise e utilizando o conceito de 
repertório, mesmo que de forma limitada; e a TNMS focou em aspectos sim-
bólicos e cognitivos e nas emoções coletivas incluindo-os na própria definição 
de movimentos sociais, dando menor importância ao ambiente político em que 
ocorrem as mobilizações e aos interesses e recursos materiais envolvidos nela. 
Na dimensão histórica, o desenvolvimento da TPP reduziu o espaço da 
TMR e logo a derrubou; a TNMS continuou a existir e desenvolveu-se para 
além da Europa. Ainda assim, o debate entre a TPP e a TNMS, foi essencial 
para estabelecer consensos (ALONSO, 2009).
Para saber mais sobre o debate entre as teorias, acesse 
o link: 
https://goo.gl/fa5php 
O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais12
Principais movimentos sociais no Brasil
No Brasil, os movimentos sociais ganharam força e destaque a partir da 
década de 1960 contra o regime militar. No entanto, a sociedade brasileira é 
marcada por lutas e movimentos sociais desde os tempos do Brasil colônia, 
por movimentos contra a dominação, a exploração econômica e a exclusão 
social, como as lutas de índios, negros, brancos, mestiços pobres e brancos da 
camada média, influenciados pelas ideologias de libertação, contra a opressão 
dos colonizadores europeus.
Veja os movimentos com maior destaque no Brasil colônia e na fase do 
Império até o século XX (GOHN, 2000):
 � Zumbi dos Palmares (1630-1695);
 � Inconfidência Mineira (1789);
 � Conspiração dos Alfaiates (1798);
 � Revolução Pernambucana (1817);
 � Balaiada (Maranhão, 1830-1841);
 � Revolta dos Malés (1835);
 � Cabanagem (1835);
 � Revolução Praieira (1847-1849);
 � Revolta de lbicaba (1851);
 � Revolta de Vassouras (1858);
 � Quebra-Quilos (1873);
 � Revolta Muckers (1874);
 � Revolta do Vintém (1880);
 � Canudos (1874-1897).
Com a chegada da República, o cenário social se modifica, substituindo 
a mão de obra escrava pela mão de obra assalariada. O modo de produção 
também se altera com o início, ainda incipiente, da industrialização e com o 
proletariado urbano. Surgem, então, as organizações de luta e resistência dos 
trabalhadores por meio de ligas, uniões, associações de auxílio mútuo etc. 
Veja alguns movimentos ocorridos nas duas primeiras décadas do século 
que reivindicavam serviços urbanos ou protestavam contra políticas locais 
(GOHN, 2000):
 � Revolta da Vacina (1905);
 � Revolta da Chibata (1910);
 � Revolta do Contestado (1912);
13O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais
 � Ligas contra o analfabetismo (1915).
Entre os movimentos ocorridos na década de 1930 estão (GOHN, 2000):
 � Movimento dos Pioneiros da Educação (1931);
 � Marcha Contra a Fome (1931);
 � Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932);
 � Revolta do Caldeirão no Ceará (1935);
 � Criação da Aliança Libertadora Nacional (1935);
 � Movimento Pau de Colher (1935).
No período entre 1945 e 1964 muitas lutas e movimentos sociais acontece-
ram no cenário de redemocratização do país, aliados a um cenário internacional 
de desenvolvimento da sociedade de consumo e à política da Guerra Fria 
entre Estados Unidos e ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, as 
potências mundiais na época.
Entre os anos de 1961 a 1964 os seguintes movimentos podem ser desta-
cados (GOHN, 2000):
 � Ligas Camponesas do Nordeste;
 � Movimento dos Agricultores Sem-Terra (MASTER), no Sul do país;
 � Movimento de Educação de Base (MEB);
 � Círculos Populares de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes 
(UNE).
A partir de 1974 o país entra em crise e os movimentos sociais ressurgem. 
Entre 1978-1979 tivemos os seguintes (GOHN, 2000):
 � Associação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais (ANAMPOs);
 � Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT);
 � Central Única dos Trabalhadores (CUT);
 � Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM);
Em 1984, o movimento “Diretas Já” marca a história sociopolítica do 
Brasil. Entre os anos de 1984 e 1988, o país se mobiliza em prol de uma nova 
Constituição. Os anos de 1990 foram marcados pelo capitalismo globalizado 
que se espalhou pelo mundo, foram tempos marcados pelo desemprego, rees-
truturações no mercado de trabalho, flexibilização dos contratos, reformas, 
etc., com destaque para o movimento dos “cara-pintadas”.
O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais1414
Nos anos 2000 os movimentos sociais retornam ao cenário da política 
nacional com força total. De lá para cá, podemos citar os seguintes movimentos 
(GOHN, 2000):
 � Movimentos dos índios;
 � Via Campesina;
 � Movimento Passe Livre;
 � Movimentos Brasil Livre.
Em um sistema democrático, a sociedade está em constante construção, por 
meio da participação cidadã. Dessa forma, os movimentos sociais, no Brasil 
e no mundo, expressam esse esforço de construção social a partir da atuação 
coletiva dos indivíduos. Nesse contexto, os movimentos sociais possuem 
relevância para a sociedade civil, enquanto instrumento de manifestação e 
reivindicação. Movimentos como dos negros, feminista, ambientalistas, da 
causa operária, estudantis, LGBT e outros, centralizam-se em algumas regiões 
específicas, no entanto, outros movimentos, estimulados pelo processo de 
globalização e pela disseminação da informação e meios de comunicação, 
rompem fronteiras geográficas, em razão da natureza de suas causas, ganhando 
adeptos por todo o mundo, como é o caso do Greenpeace.
Greenpeace é uma organização não governamental com sede em Amsterdã e com 
escritórios espalhados por mais de 55 países. Atua internacionalmente em questões 
voltadas à preservação do meio ambiente e desenvolvimento sustentável, por exem-
plo, campanhas nas áreas florestais, clima, energia, oceanos, agricultura sustentável 
(transgênicos), tóxicos e desarmamento/promoção da paz (GREENPEACE, 2016).
A necessidade de os movimentos sociais contarem com uma organização 
bem desenvolvida e planejada, demanda a mobilização de recursos e pessoas 
realmente comprometidas. Assim, você pode concluir que os movimentos 
sociais não se limitam a manifestações públicas, contando também com or-
ganizações que atuam com a finalidade de alcançar seus objetivos políticos, 
o que significa que há uma luta constante e em longo prazo, de acordo com
cada causa que se quer defender.
15O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais 15
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O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre movimentos sociais18
MOBILIZAÇÃO 
SOCIAL
Ligia Maria 
Fonseca 
Affonso
 
Identidade coletiva
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar a relação entre mobilização social e comunidade.
  Explicar a identidade pessoal, social e coletiva.
  Descrever a relação entre identidade coletiva e movimentos sociais.
Introdução
A formação da identidade atravessa um longo caminho, passando por sen-
timentos e decisões racionais e irracionais na escolha para se reconhecer 
como sujeito. O eu é marcado pela subjetividade, responsável por explicar 
o porquê de se apegar a uma identidade particular. Todas as posições 
assumidas ao longo da vida e com as quais se identifica colaboram para 
a sua construção. Valores e crenças também são elementos importantes 
na constituição das identidades individual, pessoal e coletiva. 
Neste capítulo, você estudará a relação entre mobilização social e 
comunidade, importante para que os indivíduos exerçam sua autonomia 
e cidadania participando e assegurando seus direitos; a definição de 
identidade pessoal, social e coletiva que se formam ao longo da vida 
por meio da reunião de processos cognitivos e afetivos, de construção 
e atribuição de significados que os indivíduos, de forma individual ou 
coletiva, constroem sobre si próprios, outras pessoas, grupos e sociedade 
a partir de referências pessoais construídas socialmente; e a relação entre 
movimentos sociais e identidade coletiva, cujo elo é o sentimento de 
pertencimento e o compartilhamento de significados da ação.
Mobilização social e comunidade
Mobilizar signifi ca dar movimento a, convocar pessoas para atuar coletivamente 
em uma mesma direção, objetivando um mesmo fi m. Dessa forma, quando se 
fala de mobilização social, refere-se a um projeto coletivo. Já a mobilização 
social se refere ao compromisso e à participação de pessoas para alcançar de-
terminados objetivos, e sua característica peculiar é a participaçãode diferentes 
segmentos sociais nas ações e decisões envolvidas em um projeto comum. 
Os segmentos sociais incluem decisores políticos; líderes de opinião; mídias; burocratas 
e tecnocratas; grupos profissionais; associações religiosas, do comércio e da indústria; 
comunidades; e os indivíduos (UFSC, 2015).
A diversidade é bem-vinda para a construção coletiva, pois, ao convocar 
pessoas de diferentes segmentos sociais, crenças religiosas, classes sociais, áreas 
de atuação, etnias etc., se abre espaço para as diferenças e, consequentemente, 
um processo mais rico. Essa interação entre as pessoas e as organizações que 
as representam é fundamental para o processo de transformação social, o qual 
é a mudança de uma dada realidade. Dessa forma, é preciso identificar as ne-
cessidades e capacitar pessoas e grupos para a ação, uma vez que as mudanças 
são o resultado de ações contínuas. Todo processo de mobilização requer muito 
diálogo, construção de parcerias e planejamento, incluindo os seguintes aspectos:
Identificação dos problemas, necessidades e demandas sociais; reconhecimento 
das particularidades do contexto de intervenção e identificação dos diferen-
tes atores sociais; comunicação e sensibilização dos atores para promover 
o envolvimento no projeto; realinhamento das demandas e necessidades de 
acordo com as prioridades, após o processo de sensibilização e contato com a 
comunidade; capacitação e organização dos recursos disponíveis para a ação; 
implementação de ações para a consecução dos objetivos; avaliação continuada 
dos resultados; construção de redes de organizações sociais; manutenção das 
redes, fluxos e processos de intervenção (USFC, 2015, p. 37).
Dessa forma, vê-se que é necessário desenvolver um olhar estruturado 
sobre a realidade que se deseja transformar, considerando todos os aspectos 
citados anteriormente. A mobilização social requer a criação de parcerias com 
todas as pessoas e/ou organizações interessadas para, a partir daí, formar uma 
rede de organização social, definida como espaço de troca de experiências e 
informações, de articulação política entre elas. É uma estratégia que permite a 
Identidade coletiva2
otimização de esforços e potencializa as vontades e ações, fortalecendo todos 
os envolvidos para desenvolver os projetos coletivos (TORO; WERNECK, 
1996). Na Figura 1, você verá um exemplo de construção coletiva.
Figura 1. Construção coletiva.
Fonte: Nucleartist/Shutterstock.com.
A participação em um processo de mobilização social é, ao mesmo tempo, 
meta e meio, ela demanda participação das pessoas e, simultaneamente, a promove 
e amplia. No entanto, aumentar sua abrangência e profundidade, com quantidade 
e qualidade no envolvimento dos indivíduos, ainda é um desafio. Antes de tudo, 
a participação social é um princípio democrático, uma vez que a ordem social é 
resultado das ações das pessoas sobre o meio no qual estão inseridas, considerando 
que hoje se fala muito sobre democracia, cidadania e a importância de os indivíduos 
participarem ativamente das decisões que afetam sua vida. Essa participação 
ativa da comunidade contribui para o fortalecimento de uma relação apoiada 
em interesses comuns, e a forma como ela é conduzida que irá traçar o caráter 
participativo, ampliando ou limitando esse processo (TORO; WERNECK, 1996).
Ao falar sobre as práticas participativas da comunidade, faz-se necessário 
compreender o significado de comunidade e participação, bem como suas 
características. Participar pode ser visto como o ato de criar uma cultura 
de divisão de responsabilidades na construção coletiva de um determinado 
processo. Gohn (2001, p. 19) afirma que: 
3Identidade coletiva
A participação envolve também lutas pela divisão das responsabilidades dentro 
do governo. Essas lutas possuem várias frentes, tais como a constituição de 
uma linguagem democrática não-excludente nos espaços participativos criados 
ou existentes, o acesso dos cidadãos a todo tipo de informação que lhe diga 
respeito e o estimulo à criação e desenvolvimento de meios democráticos de 
comunicação.
Um fator positivo da participação é a consciência da importância do coletivo, 
pois, ao reivindicar algo, uma pessoa sozinha poderá não ter o mesmo êxito se 
estivesse representada por um grupo, uma comissão ou uma organização, que 
conseguem ser um elemento de pressão muito mais forte. Ela é construída como 
um modelo amplo e ideal, na relação entre Estado e sociedade. Outro ponto 
a ser destacado é que essa participação dos indivíduos nas decisões sociais 
refere-se ao acompanhamento, à fiscalização e à intervenção na gestão das 
ações do governo na execução dos serviços públicos, que deveriam ter maior 
qualidade e eficácia, assim como no uso do dinheiro público (GOHN, 2001). 
Em relação à comunidade, muitos pensadores se debruçaram sobre seu 
conceito, os autores clássicos Ferdinand Tönnies e Max Weber; e os mais 
recentes como Zygmunt Bauman, Manuel Castells, Marcos Palacios e Cicilia 
Peruzzo. Para Palacios (2001), seu conceito é uma invenção da moderni-
dade, que com a nova forma de organização social faz surgir teorias as quais 
contrapõem comunidade e sociedade. No entanto, não se pode negar que a 
palavra comunidade remete aos sentimentos de solidariedade e vida em co-
mum, independentemente do tempo em que se vive e do local. Dessa forma, 
comunidade seria o lugar ideal em que se pretende viver, um esconderijo dos 
perigos da sociedade moderna. 
Bauman (2003) afirma que a comunidade gera uma sensação boa em 
razão dos significados carregados na palavra, como a segurança em meio à 
hostilidade. Weber (1973) também compartilha da ideia de que o seu conceito 
tem como base a afetividade e a emoção, configurando-se como uma relação 
social inspirada em sentimentos subjetivos dos indivíduos. Para Weber (1973) 
e Tönnies (1973), essas relações sociais se dão em parte na comunidade e em 
parte na sociedade.
Segundo Tönnies (1973), as características da comunidade podem estar 
relacionadas a três aspectos. 
  Parentesco: relacionado aos laços de sangue e à vida comum em uma 
mesma casa, não se limitando à proximidade física, refere-se à apro-
ximação por laços de sangue.
Identidade coletiva4
  Vizinhança: relacionada à vida em comum entre pessoas próximas, 
entre as quais surge um sentimento mútuo de confiança, favores etc. 
que dificilmente se mantém sem a proximidade física, refere-se a uma 
aproximação espacial.
  Amizade: relacionada à criação de laços afetivos motivados por afi-
nidades, como pensamentos, religião, objetivos etc., refere-se a uma 
aproximação espiritual.
Pode-se entender comunidade como um grupo de pessoas que ocupa uma 
zona comum, interage dentro e fora de seus papéis institucionais e possui um 
sentimento de identificação resultante dessa interação. Ela refere-se ao senti-
mento de vida em comum, com base em relações de parentesco e vizinhança, 
na reciprocidade, orientado por laços afetivos os quais unem as pessoas que 
convivem em um mesmo espaço físico e nele adquirem os recursos básicos para 
a sua sobrevivência. Dessa forma, o que a caracteriza são as relações afetivas 
e funcionais que as pessoas criam entre si, compartilhando além de espaço 
físico, princípios e objetivos, reforçando o sentimento de pertencimento ao 
lugar. Na estrutura social, a comunidade se apresenta como um bem simbólico, 
formando sujeitos que são parte de um determinado grupo, em suas relações 
individuais e coletivas (SILVA, 2003; FERNANDES, 1973; LEÃO, 2007).
Buber (1987) afirma que a humanidade é originária de uma comunidade 
primitiva, a qual passou pela escravidão da sociedade e chegará a uma nova 
comunidade, cujas bases não serão os laços de sangue, e sim os laços de escolha, 
as noções de parentesco e território não serão mais condições fundamentais 
para caracterizá-la, mas, sim, a comunhão de escolhas, a vontade comum e o 
compartilhamento de objetivos e ideais comuns. 
O contexto histórico, proveniente das transformações ocorridas na mo-dernidade, modificou a visão dos indivíduos sobre o mundo e si mesmos, 
modificando também suas relações sociais. Nesse momento, a comunidade 
passou a abranger: 
Todas as formas de relacionamento caracterizadas por um grau elevado de 
intimidade pessoal, profundeza emocional, engajamento moral, coerção 
social e continuidade no tempo. A comunidade encontra seu fundamento 
no homem visto em sua totalidade, e não separadamente, nesse ou naquele 
papel que possa desempenhar na ordem social. Sua força psicológica deriva 
de uma motivação mais profunda que a da volição ou do interesse e realiza-
-se na fusão de vontades individuais, que [...] seria impossível numa “união” 
que se fundasse na mera conveniência ou em elementos de racionalidade 
(SOUZA, 1996, p. 14). 
5Identidade coletiva
Nesse novo cenário surge a necessidade de reconhecer e aprender a interagir 
com novas formas sociais, com novas e diferentes formas de relacionamento 
do indivíduo com o mundo e tudo que o envolve. Desse modo, a atuação da 
comunidade em instituições sociais e processos de mobilização social deve 
ser vista como essencial para que as pessoas exerçam sua autonomia e cida-
dania participando e assegurando seus direitos. Essa participação possibilita 
que mudanças significativas aconteçam na vida delas, à medida que elas se 
importam e se sentem responsáveis pelos seus interesses em comum. 
A participação de pessoas, grupos e instituições que compartilhem os 
mesmos interesses e responsabilidades é fundamental para o desenvolvimento 
de ações em uma comunidade. Para que uma mobilização seja efetiva, é preciso 
que haja confiança entre as pessoas envolvidas, pois ela eleva o nível de coope-
ração delas e leva a uma maior organização, que possui como resultado mais 
participação, que leva a maior a amplitude da esfera pública (SOUZA, 1996). 
Esfera pública é um espaço no qual informações e opiniões públicas são produzidas, 
por meio de debates, interações e tomada de posições, de forma consensual. Ela atua 
como mediadora de diferentes interesses que representam as vontades e opiniões 
dos diversos atores sociais (RAICHELIS, 1998).
Para que uma mobilização social aconteça, além de interesses coletivos 
em torno de objetivos comuns, é necessário que haja planejamento em médio 
e longo prazo; identificação de lideranças na comunidade, pessoas certas 
para atuar na mobilização de grupos; e presença de valores democráticos e 
transparência (TORO; WERNECK, 1996).
Identidade pessoal, social e coletiva
O conceito de identidade tem sido tema recorrente em estudos que envolvem 
múltiplos níveis de análise, relacionados aos fenômenos sociais da contempora-
neidade. No entanto, autores como Brubaker e Cooper (2000) apud NAUJORKS 
(2011) alegam que existe uma imprecisão no seu conceito, uma vez que ele 
é colocado de forma não problematizada e utilizado indiscriminadamente. 
Identidade coletiva6
Você sabia que esse conceito é utilizado para fazer referência a uma série 
de fenômenos e, por isso, assume sentidos diferentes em cada um? Grupos, 
sociedades, nações, movimentos sociais e indivíduos são analisados por meio 
da identidade. Já áreas como antropologia, sociologia, psicologia, fi losofi a, 
história etc. têm contribuído para delimitar o conceito de identidade, o que 
explica porque há imprecisão e ambiguidade em sua defi nição. Apesar da 
diversidade de signifi cados, essas teorias apresentam elementos comuns sobre 
identidade (NAUJORKS, 2011):
  é construída a partir das relações sociais;
  sua construção envolve processos cognitivos e afetivos;
  envolve indivíduos e coletividades; 
  envolve processos de reconhecimento e diferenciação social.
Dessa forma, toda identidade é uma construção social, uma vez que resulta 
das relações sociais e da participação dos indivíduos em grupos sociais. Ela 
envolve sentimentos e significados relacionados ao autorreconhecimento e 
reconhecimento dos outros, que são apreendidos de forma cognitiva e viven-
ciados emocionalmente, em uma construção individual e coletiva (JENKIS, 
1996; BREWER, 2001 apud NAUJORKS, 2011). Pode-se dizer que o processo 
identitário é uma reunião de processos cognitivos e afetivos, de construção e 
atribuição de significados que os indivíduos, de forma individual ou coletiva, 
constroem sobre si próprios, outras pessoas, grupos e sociedade a partir de 
referências pessoais construídas socialmente. 
Identidade pessoal
A identidade pessoal é a base de formação para a identidade social e coletiva, 
integra, simultaneamente, processos sociais e coletivos em sua construção e 
caracteriza-se pelo conhecimento de si próprio, que faz surgir um sentimento 
de autorreconhecimento. Esse autoconhecimento é construído a partir do 
contexto cultural em que o indivíduo está inserido, da interpretação que ele 
faz de si mesmo e dos grupos dos quais faz parte e dos processos de forma-
ção da personalidade (MUCCHIELLI, 1994 apud NAUJORKS, 2011). As 
experiências afetivas vividas por eles, ao longo de sua vida, interferem em 
sua visão de mundo e sua relação com outros indivíduos, grupos e coletivi-
dade. A identidade pessoal é um processo em construção, estabelecido pela 
intermediação constante entre as identidades assumidas (reconhecidas) e as 
7Identidade coletiva
visadas (pretendidas) (DUBAR, 1996 apud MACHADO, 2003). A distância 
entre os dois tipos se confi gura como o espaço no qual a identidade é formada, 
em que ela é construída, por meio das interações sociais que acontecem neles. 
Construir a própria identidade é um desafi o constante no que se refere ao 
encontro do equilíbrio entre aquilo que é e o que os outros esperam que seja. 
Nesse contexto, o outro é o espelho social que possibilita que o indivíduo se 
reconheça, realize uma avaliação sobre si próprio e se aprove. De acordo com 
essa perspectiva, o eu só existe se for em interação com os outros (WHET-
TEN; GODFREY, 1998 apud MACHADO, 2003). Assim, embora cada um 
tenha sua individualidade, o outro interfere na construção do autoconceito, 
e é nas experiências de socialização que se encontra o principal modelo para 
a formação das identidades, as quais são resultado de várias identificações 
(MAFFESOLI, 1998; MIRANDA, 1998). 
Os aspectos que estruturam a identidade estão em constante renovação, 
uma vez que são dinâmicos, múltiplos, construídos e reconstruídos a todo 
momento. A identidade é antes de tudo um processo de luta entre o consciente 
e o inconsciente, em que este reflete no consciente, gerando significados; se 
não houvesse essa troca, a vida seria vazia e sem sentido, pois é somente por 
meio dela que o indivíduo amadurece, organiza o inconsciente, fortalece sua 
individualidade e forma um autoconceito diferenciado (CHODOROW, 1989; 
CRAIB, 1998). Identidade é o “processo de ajuste do interior subjetivo com 
o externo social” (NOACK, 2007, p. 135). 
A memória exerce papel fundamental na construção da identidade pessoal, 
pois a representação que tem de si mesmo é inseparável do sentimento de 
continuidade ao longo do tempo. Ao falar sobre seu autoconceito, o indivíduo 
ordena os eventos que selecionou, consciente e inconscientemente, e registrou 
na memória. É a partir da classificação, ordenação e nominação dos múltiplos 
mundos na memória, de acordo com a lógica do indivíduo e de sua categori-
zação social, que diz respeito a reunir o que se parece e separar o que difere, 
que ele constrói sua própria identidade (CANDAU, 1998).
Tanto o passado como o futuro atuam na formação das identidades, por 
meio das representações que o indivíduo deseja, da idealização daquilo que 
quer ser. Dessa forma, aquilo que se deseja ser é fator de motivação para 
novas formas de identidade, a qual é um fenômeno que se processa ao longo 
da vida da pessoa, que atua regulando as interações sociais e a presença do 
outro na vida pessoal. Pode-se dizer que o conceito de si é uma construção 
mental complexa, fruto de uma relação dialógica que pensa o indivíduo igual 
a seus pares, mas único em suaexistência, experiência e vivência pessoal. 
Uma identidade bem construída é aquela que demarcou os limites entre a 
Identidade coletiva8
individualidade e os grupos aos quais ele pertence (MARKUS; NURIUS, 
1986 apud MACHADO, 2003). 
A identidade pessoal está diretamente relacionada à no-
ção de self, que seria formado por um eu que se conhece 
e possui sentimentos, sensações e lembranças, e por um 
eu cognoscível, objeto (DESCHAMPS; MOLINER, 2009). 
Para saber mais sobre a relação self e identidade, acesse 
o link ou código a seguir.
https://goo.gl/iKTJGT
Identidade social
A identidade social tem sido utilizada por várias teorias da identidade com 
três sentidos diferentes (BREWER, 2001 apud NAUJORKS, 2011): 
  toda identidade é social, inclusive a identidade pessoal;
  ela evidencia aspectos de pertencimento social presentes na identidade 
individual;
  ela enxerga a identidade social como a identidade do indivíduo em 
relação aos grupos sociais ou à coletividade, o que envolve o reconhe-
cimento dos integrantes desse grupo como seus constituintes.
Com base nas duas últimas perspectivas, pode-se considerar identidade 
social como o modo pelo qual indivíduos e coletividade são diferenciados a 
partir de suas relações sociais com os outros (JENKIS, 1994 apud NAUJORKS, 
2011). Trata-se de um processo social em constante evolução construído por 
semelhanças e diferenças, formado pela imagem que o indivíduo tem dele 
próprio, em seu ambiente social (diferentes grupos dos quais ele faz parte) e pela 
imagem que possui dos grupos aos quais ele não pertence (MACHADO, 2003).
A identidade social é a imagem que um indivíduo possui de si próprio por 
fazer parte de um grupo, já o sentimento de pertencimento e a percepção que 
tem sobre si constituem a base para a identificação social, que o orientam para 
9Identidade coletiva
https://goo.gl/iKTJGT
a ação, de acordo com a sua participação no grupo. Para aderir a um grupo, 
ele deve pensar, agir e sentir-se como seu integrante, a fim de que todos atuem 
com a mesma lógica nas posições sociais que ocupam (MACHADO, 2003). 
As crenças também são elementos importantes nesse contexto, uma vez que 
auxiliam na consolidação da unidade do grupo (SHERMAN, 1999 apud MA-
CHADO, 2003). De forma geral, as identidades sociais são fundamentadas sob 
categorias de gênero, etnia, classe social, portadores de deficiências, idade etc., 
que permitem aos indivíduos se reconhecerem a partir de seu pertencimento 
a determinados grupos sociais. Ligados pelo mesmo fundamento, as pessoas 
procuram sua contextualização no tempo e espaço, buscando fortalecer suas 
identidades. Sinteticamente, pode-se dizer que identidade social é “a estrutura 
psicológica que realiza a ligação entre o indivíduo e o grupo” (BAUGNET, 
1998, p. 66 apud MACHADO, 2003). Ela é importante, pois haverá sempre 
uma ligação entre a experiência afetiva oriunda dos relacionamentos e a ex-
periência cognitiva da descoberta de um sentido ao mundo, às coisas e à ação.
Identidade coletiva
A identidade coletiva é uma construção histórica baseada em um conjunto 
de valores que grupos e indivíduos compartilham em uma relação dialógica, 
organizando suas vidas em torno de atividades afi ns as quais se dão em um 
dado espaço geográfi co. Ela se constrói ao longo do tempo, dando às pessoas o 
sentido de continuidade, as quais adotam papéis, normas e valores, validados 
por todos os integrantes do grupo, afi rmando sua realidade objetiva e subje-
tiva. Dessa forma, ela é um processo social constituído por um conjunto de 
valores e ações que criarão sentimentos de pertencimento grupal e sentidos 
da realidade social. A identidade coletiva regula e é regulada (PRADO, 2002): 
  por sentimentos de pertencimento;
  pela definição de práticas sociais grupais, ou seja, cultura política; 
  pelo compartilhamento de crenças, valores e interesses; 
  pela formação de redes sociais; 
  por relações dentro dos grupos e entre eles. 
Identidade coletiva10
Para Melucci (2001), identidade coletiva é:
O processo de “construção” de um sistema de ação. A identidade coletiva 
é uma definição interativa e compartilhada produzida por certo número de 
indivíduos (ou grupos, em um nível mais complexo) que concerne as orienta-
ções de suas ações e o campo de oportunidades e constrangimentos no qual 
esta ação tem lugar. Por “interativa e compartilhada”, compreendo que estes 
elementos são construídos e negociados por meio de um recorrente processo 
de ativação de relações que atam os atores juntos. A identidade coletiva, como 
um processo, se refere a uma rede de relacionamentos ativos entre atores que 
interagem, se comunicam, se influenciam mutuamente, negociam e tomam 
decisões (MELUCCI, 2001, p. 52).
A identidade é coletiva porque o indivíduo compartilha a fonte de sua 
identidade com outras pessoas. Ela dá o sentido de nós a partir do sentimento 
de pertencimento do indivíduo a um dado grupo social e se refere a uma 
identidade que ele vivencia por meio do sentimento de pertencimento a um 
nós. Ela também tem a ver com o fato de as pessoas compartilharem a mesma 
identidade social, vivenciarem a mesma realidade e observarem comporta-
mentos e emoções semelhantes entre si, podendo acontecer sentimentos de 
destino comum e conexões empáticas (BREWER; GARDNER, 1996 apud 
NAUJORKS, 2011).
Relação entre identidade coletiva e 
movimentos sociais
A ideia de identidade coletiva está diretamente ligada aos estudos sobre 
movimentos sociais, sendo seu conceito utilizado para analisar os novos 
movimentos, os quais são a emergência da identidade no campo político 
(motivo de mobilização), e as políticas de identidade (MELUCCI, 2001). A 
preocupação desses novos movimentos sociais é com a ação dos atores, suas 
lutas diárias, a cultura, a ideologia, a solidariedade entre as pessoas de um 
grupo ou movimento e o processo de articulação das identidades coletivas. 
Nesse contexto, a política possui papel central na análise da ação coletiva, 
uma vez que é um fenômeno da vida social e prática política, criado nas suas 
relações com o mundo cultural (GOHN, 1997). 
11Identidade coletiva
Movimentos sociais são uma forma de organização da sociedade civil, em que as pes-
soas se reúnem e, coletivamente, se organizam com a finalidade de realizar mudanças 
sociais por meio da luta política, compartilhando valores ideológicos e questionando 
a realidade (FERREIRA, 2003).
A identidade coletiva é gerada no processo das ações coletivas e construída 
pelos atores sociais, a partir da definição que possuem de si mesmos, dos 
outros e do ambiente em que estão inseridos. Sua construção é um processo 
complexo e não linear, permeada por relações sociais amplas e contínuas. 
Para Melucci (2001):
A identidade coletiva permite que os atores sociais atuem como sujeitos unifi-
cados e demarcados e que mantenham o controle de sua própria ação; por outro 
lado, entretanto, eles podem atuar como corpos coletivos, pois completaram, 
em alguma medida, o processo construtivo da identidade coletiva. [...] Pode-se 
falar da identidade coletiva como a habilidade de um ator coletivo reconhecer 
os efeitos de suas ações e atribuir a si mesmo esses efeitos. Assim definida, 
a identidade coletiva pressupõe, primeiro, uma habilidade de auto-reflexão 
dos atores sociais. A ação coletiva não é somente uma reação aos estímulos 
sociais e do ambiente; ela produz orientações e significados simbólicos que 
podem ser reconhecidos pelos atores. Em segundo lugar, ela implica que eles 
possuam uma noção de causalidade e pertencimento; são, portanto, capazes 
de atribuir a si mesmos os efeitos de suas ações. Esse reconhecimento implica 
uma habilidade de apropriar-se dos resultados de suas próprias ações, de 
compartilhá-las com outros e de decidir como elas devem ser realizadas. Em 
terceiro lugar, a identidade implica uma habilidade de se perceber a duração, 
o que permite aos atores estabelecer uma relação entre o passado e o futuro 
e ligar a ação a seus efeitos.(MELUCCI, 2001, p. 72-73).
Os pressupostos da identidade coletiva são a autorreflexão, o sentimento de 
pertencimento e o compartilhamento de significados da ação. Sua formação 
está relacionada à possibilidade de construção de novos significados sociais que 
possam ser apresentados pelos atores sociais como projetos de transformação 
social e cultural, por meio de movimentos sociais. 
Identidade coletiva12
Atores sociais são agentes sociais e econômicos, indivíduos e instituições, que reali-
zam ou desempenham atividades ou se relacionam em determinado território. Por 
exemplo, classes sociais, sindicatos, partidos políticos, mídia, igrejas, organizações 
etc. (SOUZA, 1991).
Para Gohn (1995), os movimentos sociais são ações coletivas protagoni-
zadas por indivíduos de diferentes classes e camadas sociais, que politizam 
suas necessidades criando um campo de força social. Nesse contexto, as ações 
são pensadas a partir de situações de conflitos, litígios e disputas, envolvendo 
um processo social e político-cultural, responsável por gerar uma identidade 
coletiva ao movimento, uma vez que interesses comuns são compartilhados. 
Essa identidade resulta da forte solidariedade e é construída com base em 
valores culturais e políticos que o grupo compartilha. O movimento social é 
caracterizado pela união de pessoas que possuem o mesmo objetivo e com-
partilham valores políticos e culturais criando, assim, uma identidade comum 
ao movimento (GOHN, 1995).
Dessa forma, entende-se que a relação entre movimentos sociais e identidade 
coletiva se dá por meio das relações sociais compartilhadas, uma vez que o 
primeiro é constituído por intermédio da mobilização de atores coletivos, 
permeado por uma solidariedade específica que os permite se reconhecerem 
e serem reconhecidos, ou seja, a construção da identidade coletiva se dá em 
um complexo de relações sociais compartilhadas (MELUCCI, 2001). 
Sobre a ação coletiva, o autor destaca três elementos: o sentido da ação para 
o ator social (os fins); as possibilidades e os limites para a ação (os meios); 
e o sistema no qual a ação é realizada (ambiente), se esses elementos forem 
ajustados e dispostos de forma comum, permitem aos atores formar o nós. 
Dessa forma, entende-se que a ação coletiva é um movimento que resulta de 
objetivos, recursos e limites, o qual acontece por meio das relações sociais 
em um espaço de oportunidades e vínculos sociais, nesse contexto, chamados 
de movimentos sociais.
13Identidade coletiva
Para saber mais sobre os movimentos sociais e a identi-
dade coletiva, acesse o link ou código a seguir.
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WHETTEN, D.; GODFREY, P. Identity in organizations. London: Sage, 1998.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição,você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
MOBILIZAÇÃO 
SOCIAL 
Ligia Maria Fonseca Affonso
Movimentos sociais e 
direitos humanos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Descrever o Estado, a sociedade e os direitos humanos.
 � Reconhecer a história e a evolução dos direitos humanos no Brasil.
 � Discutir sobre o papel dos movimentos sociais em defesa dos direitos 
humanos.
Introdução
Neste capítulo, você estudará o conceito de Estado, sociedade e direitos 
humanos; a história e a evolução dos direitos humanos no Brasil; e o papel 
dos movimentos sociais em defesa dos direitos humanos.
Estado, sociedade e direitos humanos
A seguir, você verá brevemente os conceitos de Estado, sociedade e direitos 
humanos e como eles estão relacionados à questão dos direitos humanos.
Estado
O Estado é uma organização social soberana que possui poder supremo sobre 
os indivíduos em uma sociedade, tendo legitimidade para exercê-lo, inclusive 
com a força física, se necessária for. Dessa forma, entende-se que somente as 
organizações estatais são reconhecidas pelo povo para ditar regras que todos 
devem seguir e possuem autoridade e poder para regular o funcionamento 
da sociedade em um território. O exercício do poder ao qual se refere é a 
capacidade de o Estado influenciar a ação e o comportamento das pessoas, de 
forma decisiva. Apesar das características citadas, definir Estado não é fácil, 
uma vez que na ciência política sua definição ainda é imprecisa, levando as 
pessoas a confundirem Estado com governo, país, regime político ou sistema 
econômico. 
O conceito de Estado é dinâmico, porém, pode-se dizer que desde sua 
origem até os dias atuais certos aspectos prevalecem, como a existência do 
território e do povo. Alguns autores afirmam que o conceito de Estado não é 
universal, servindo apenas para indicar e descrever uma forma de ordenamento 
político. O que se pode afirmar é que “o Estado não admite concorrência e 
exerce de forma monopolista o poder político, que é o poder supremo nas 
sociedades contemporâneas” (COELHO, 2009, p. 16). Nesse contexto, Estado 
e poder são termos que não se dissociam. O Estado tem três funções funda-
mentais, das quais decorrem todas as suas ações (COELHO, 2009).
 � Legislativa: elabora as leis e o ordenamento jurídico, necessários à 
vida em sociedade.
 � Executiva: assegura que as leis sejam cumpridas.
 � Judiciária: julga a adequação ou não dos atos particulares sob as leis 
existentes.
Em qualquer sociedade humana existe uma ordem jurídica e um poder político, que 
na verdade trata-se de um poder jurídico, uma vez que sua legitimidade é reconhecida 
pela ordem jurídica, fazendo-se obedecer por meio de normas jurídicas pelas quais 
exerce a dominação estatal (COELHO, 2009). 
Sociedade
A sociedade pode ser caracterizada por um grupo de pessoas que compartilham 
a mesma cultura e as tradições e se localizam no mesmo tempo e espaço. Todo 
homem está concentrado na sociedade em que está inserido, sendo influenciado 
por ela em sua formação como indivíduo. A sociedade humana surgiu com 
a finalidade de atender as suas necessidades, pois desde os primórdios o ser 
humano precisa de ajuda para sobreviver e tem a tendência e a necessidade 
de viver em grupo para se desenvolver, o que faz a sociedade ser considerada 
uma rede de relações entre indivíduos, grupos sociais e organizações. Essas 
relações são chamadas de relações sociais, a base da existência da sociedade, 
Movimentos sociais e direitos humanos2
a qual é construída diariamente por meio da organização social e da parti-
cipação individual, que definem, de forma ativa, o seu modelo de referência 
para determinado grupo de pessoas.
Por ter a capacidade de organização e cumprimento de normas, vive-se em 
sociedade, na qual a relação estabelecida se constitui por constantes trocas, 
não apenas sob a lógica do lucro, mas também sob a forma simbólica, por 
meio da criação e manutenção de laços de solidariedade que dão significado 
à sociedade. Dessa forma, o comportamento humano é permeado por grande 
complexidade, em que os indivíduos são influenciados pelo meio em que 
vivem, formando-se e agindo conforme sua formação, influenciando tam-
bém a sociedade. O comportamento das pessoas sofre influências culturais 
e históricas, e para que possam se desenvolver, elas têm como referência o 
comportamento ditado pela sociedade.
Quando se fala em sociedade, não se pode deixar de mencionar a sociedade 
civil, que é a forma como ela se organiza politicamente para influenciar o 
Estado e suas políticas públicas. Não é fácil conceituar sociedade civil, uma 
vez que ela possui grande diversidade de significados e é produto de uma 
construção histórica, cultural, geográfica, social e política, sofrendo varia-
ções à medida que mudam os autores, as épocas, os contextos históricos e as 
perspectivas políticas que a influenciam e a enriquecem (LAVALLE, 1999; 
SCHOLTE, 2002).
A sociedade civil é uma parte importante da história, uma vez que abrange 
uma dimensão ampla da vida social. No Brasil, sua reorganização foi esti-
mulada pela rápida urbanização quando deslocou pessoas de baixa renda do 
campo para as cidades urbanas, em locais onde os serviços públicos eram 
incipientes, o que as fez se organizarem para lutar por eles (SANTOS, 1979; 
CALDEIRA, 2000); e pela modernização econômica do país, que transformou 
as políticas de planejamento urbano, saúde e educação em questões tecnocrá-
ticas, fazendo os atores de classe média (economistas, médicos, advogados, 
professores universitários) reagirem a esse projeto, organizando meios de ação 
coletiva e associação para disputar os elementos tecnocráticos (BOSCHI, 1987; 
ESCOREL, 1999; AVRITZER, 2002).
A liberdade, a justiça e a proteção do ambiente, bem como a ideia da 
divisão em classes sociais, grupos de interesse e indivíduos centrados na 
própria realização, são alguns dos objetivos universais da sociedade civil, na 
qual todos os membros correspondem ao seu capital, ao seu conhecimento e 
à sua capacidade de se organizar e se comunicar. Nesse contexto, as pessoas 
se unem de modo voluntário em torno de valores ou iniciativas com objetivos 
específicos, geralmente na forma de organizações, associações, institutos, 
3Movimentos sociais e direitos humanos
fundações etc. Pode-se entender a sociedade civil como o local em que a so-
ciedade e o Estado interagem socialmente por meio das famílias, associações, 
movimentos sociais e meios de comunicação pública (TESSMANN, 2007). 
Na sociedade civil, os conflitos acontecem e precisam ser administrados 
pelo Estado. Nesse contexto, ela atua como uma organização de interesses 
materiais e ideais; já o Estado como a organização da autoridade, sendo que 
ambos são indivisíveis e interdependentes. No entanto, o motor da história é 
a sociedade civil, que firma seu papel em lutas sociais, criação de consenso 
e ampliação do Estado, pois quanto maior for a organização popular em uma 
sociedade, maior é a chance de o Estado se ampliar, no sentido de abarcar os 
interesses da coletividade. Dessa forma, a relação entre eles pode garantir as 
condições necessárias para enfrentar, romper e construir uma nova ordem 
social, que possibilite ao Estado acolher as demandas da sociedade organizada.
Nesse contexto, a participação social é fundamental, uma vez que contribui 
para a construção do consenso em relação ao interesse público, orientando o 
Estado no atendimento às demandas da sociedade, sejam públicas ou privadas. 
O atendimento a essas demandas configura-se como forma de legitimação 
do Estado, porque quanto maior for a capacidade de resposta às demandas 
da população, mais ele se tornará legítimo como agente de regulação social, 
apesar de sua essência política (BEZERRA, 2016).
Direitos humanos
Pode-se entender os direitos humanos como aqueles inerentes ao ser humano, 
como o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e expressão, ao 
trabalhoe à educação, entre outros, independentemente de raça, sexo, nacio-
nalidade, etnia, idioma, religião, opinião política ou qualquer outra condição, 
por exemplo, origem social ou nacional, ou condição de nascimento ou riqueza. 
Todos possuem direitos, sem discriminação. Eles são garantidos por lei e 
visam proteger os indivíduos e grupos contra quaisquer ações que possam 
interferir no gozo das liberdades fundamentais e na dignidade humana. São 
características importantes dos direitos humanos (DIREITOS..., s.d.):
Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor 
de cada pessoa; os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são 
aplicados de forma igual e sem discriminação a todas as pessoas; os direi-
tos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos; 
eles podem ser limitados em situações específicas. [...]; os direitos humanos 
são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já que é insuficiente 
Movimentos sociais e direitos humanos4
respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a violação de um 
direito vai afetar o respeito por muitos outros; todos os direitos humanos 
devem, portanto, ser vistos como de igual importância, sendo igualmente 
essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa.
Um dos principais documentos da área é a Declaração Universal dos Direi-
tos Humanos (DUDH), que foi lançada em 1948 e prevê a proteção universal 
dos direitos humanos, fundando os alicerces da nova convivência humana 
e buscando sepultar o ódio e os horrores do nazismo, do holocausto e do 
grande morticínio, o qual tirou a vida de 50 milhões de pessoas em seis anos 
de guerra. São diversos os pactos, os tratados e as convenções internacionais 
que vieram depois dela, construindo a cada dia um arcabouço mundial para 
a proteção dos direitos humanos. A declaração é um marco na história, uma 
norma comum que deve ser obedecida por todos os povos e nações; já serviu 
de inspiração para a constituição de muitos Estados e democracias recentes; 
e é o documento mais traduzido no mundo, em mais de 500 idiomas (DIREI-
TOS..., s.d.; BRASIL, 2010).
Para ler a DUDH, acesse o link a seguir: 
https://goo.gl/uKU03U
A sociedade civil é um ator essencial para a efetivação dos direitos humanos, 
por ser um processo que não se dá apenas pela integração desses direitos em 
aparatos legais, no âmbito nacional ou internacional. É ela quem cria e recria as 
condições necessárias para que esses direitos sejam validados e concretizados 
por meio de ações que devem considerar alguns aspectos (VIEIRA; DUPREE, 
2004), como os que você verá a seguir.
 � Promover uma gama de ações para todos os grupos sociais: isso sig-
nifica que os discursos dos direitos humanos devem ser objetivos e 
acessíveis a uma diversidade de percepções e atrair grupos esquecidos 
5Movimentos sociais e direitos humanos
e imperceptíveis como proponentes das mudanças necessárias à justiça. 
Na sociedade civil nascem os conflitos entre os pedidos por justiça, e 
discutir sobre os direitos humanos não cria mecanismos para a resolução 
dessas questões. No entanto, enquanto se discute, cria-se um espaço de 
interação e diálogo entre todos os envolvidos em determinado problema, 
podendo, sim, se chegar à resolução de alguns deles.
 � Tornar a injustiça pública: a sociedade civil contribui para a consolidação 
dos direitos humanos quando leva a injustiça à esfera pública. Para 
que isso seja possível, é preciso que a associação e o diálogo estejam 
abertos e com o mínimo de intervenção. Dessa forma, os grupos que 
atuam em questões sobre os direitos humanos tornam pública a injustiça 
ao defender mudanças ou exercer pressão para que elas aconteçam. 
Essa pressão pode ocorrer por meio do fornecimento de informações, 
educação para o público e outros grupos, propondo políticas públicas 
e encaminhando ações legais.
 � Proteger o espaço privado: os grupos de direitos humanos protegem o 
espaço no qual os indivíduos se expressam e se desenvolvem quando 
buscam as condições necessárias para essa ação, reforçando os limites 
de atuação do Estado e do mercado.
 � Intervir e interagir diretamente nos sistemas legais e políticos: hoje 
existem muitas leis e políticas voltadas para os direitos humanos. No 
entanto, essas normas apenas se efetivam de acordo com sua prática, 
refinamento e aprovação, sendo validadas pela sociedade civil. Grupos 
de direitos humanos participam de forma ativa nesse processo quando le-
vam casos legais aos tribunais, fornecem informações e dados essenciais 
para o refinamento das políticas públicas e propõem novos mecanismos 
capazes de criar um sistema que apoie os direitos humanos. Essa deve 
ser uma intervenção estratégica focada na mudança de paradigma e na 
pressão sobre a política governamental, para que seja mais consistente 
com o seu discurso.
 � Promover a inovação social: a inovação social precisa ser factível, 
e o diálogo, o feedback e os resultados devem estar abertos e serem 
justificáveis a diversas perspectivas. A inovação social surge como 
uma resposta direta às injustiças localizadas na sociedade civil. Os 
inovadores são os que possuem profunda consciência, estão envolvidos 
com aqueles que são afetados pela injustiça e, trabalhando com eles, 
experimentam e criam outras formas de encontrar soluções.
Movimentos sociais e direitos humanos6
A sociedade civil é o principal ator para criar condições a fim de que os 
direitos humanos sejam efetivados. Ela promove o discurso que legaliza as 
normas dos direitos, voltados principalmente aos grupos esquecidos e imper-
ceptíveis, e que pode variar de acordo com as diferentes estratégias e meios, 
os quais permitem a efetivação da lógica dos direitos humanos na sociedade. 
Porém, se ela é um agente tão importante para a consolidação dos direitos 
humanos, por que isso não acontece? Para Vieira e DuPree (2004), a sociedade 
não está protegida contra o Estado e o mercado, nem possui poder sobre eles, 
pois é fragmentada, não possui recursos e necessita de financiamentos. Desse 
modo, ao mesmo tempo em que flexibilidade, diversidade e voluntariado são 
potencialidades da sociedade civil, são também sua fraqueza, uma vez que 
ainda são um desafio para os movimentos de direitos humanos.
A fragmentação, a neutralização do discurso e a dependência de recursos 
são barreiras que dificultam o avanço dos aspectos citados anteriormente. No 
entanto, estratégias como a melhoria da capacidade de comunicação e educação, 
o investimento em modelos socialmente inovadores e a construção de redes 
de direitos humanos que cessem a fragmentação e fortaleçam a utilização 
dos recursos podem possibilitar um maior impacto e melhores resultados na 
efetivação dos direitos humanos (VIEIRA; DUPREE, 2004).
História e evolução dos direitos humanos 
no Brasil 
Por se tratar de um instrumento importante, de proteção a todas as pessoas 
do mundo, os direitos humanos são assegurados por muitos tratados e do-
cumentos jurídicos em diversos países, inclusive no Brasil. Há vários meios 
existentes no país para assegurá-los a todos os cidadãos, porém, apesar disso, 
esse objetivo ainda não foi atingido em sua totalidade. A sua proteção no Brasil 
está diretamente ligada à história das Constituições brasileiras, marcada por 
avanços e retrocessos.
A Constituição Imperial de 1824, a primeira do Brasil, declarou os direitos 
fundamentais em 35 incisos do art. 179. Apesar de aprovada, apresentou-se 
como uma Constituição liberal, com direitos parecidos com os encontrados 
nos textos constitucionais dos Estados Unidos e da França, defendendo a 
imunidade dos direitos civis e políticos. No entanto, com a criação do poder 
moderador que dava ao Imperador poderes constitucionais ilimitados, inclusive 
o de interferir no exercício dos demais poderes, a efetivação desses direitos 
foi prejudicada (DIMOULIS; MARTINS, 2007).
7Movimentos sociais e direitos humanos
A Constituição Republicana de 1891 manteve os direitosfundamentais 
declarados na Constituição de 1824, e no rol de direitos e garantias funda-
mentais, instituiu o habeas corpus, antes concedido somente em nível de 
legislação ordinária; garantiu a liberdade de culto a todas as pessoas, motivada 
pela separação entre o Estado e a Igreja; e ampliou a titularidade dos direitos 
fundamentais aos estrangeiros que residiam no país, ao contrário da Cons-
tituição de 1824 que os estendia apenas a cidadãos brasileiros (DIMOULIS; 
MARTINS, 2007).
A Constituição de 1934 manteve uma série de direitos fundamentais si-
milares aos especificados na de 1981, mas inovou estabelecendo normas de 
proteção ao trabalhador, como a proibição da diferença de salário em virtude 
de sexo, idade, nacionalidade ou estado civil; a proibição de trabalho para 
menores de 14 anos; o repouso semanal remunerado; a jornada de trabalho 
limitada a 8 horas diárias; a determinação de um salário mínimo; e a criação 
dos institutos do mandado de segurança e da ação popular (DIMOULIS; 
MARTINS, 2007).
A Constituição de 1937 instituiu o Estado Novo, reduziu os direitos e as 
garantias individuais, destituiu o mandado de segurança e da ação popular, 
instituídos na Constituição de 1934, que foram novamente restaurados e 
ampliados na Constituição de 1946, assim como os direitos sociais (BULOS, 
2003). Em seguida, com a ditadura militar, a Constituição de 1946 foi derrubada 
e a de 1967 apresentou grandes retrocessos, como a supressão da liberdade 
de publicação, restringindo o direito de reunião, estabelecendo foro militar 
para os civis, mantendo todas as punições e arbitrariedades decretadas pelos 
Atos Institucionais (AI), entre outros. 
Outras modificações foram a redução da idade mínima do trabalho para 12 
anos, a restrição ao direito de greve, a eliminação da proibição de diferença de 
salário por motivos de idade e nacionalidade, e a cessão de vantagens mínimas 
ao trabalhador, como o salário-família. Em 1969, a Constituição de 1967 passa 
por reformas significativas por meio de emendas aditivas e supressivas, ficando 
em vigor até o final de 1968, quando o AI-5 foi decretado, repetindo todos os 
poderes descritos no AI-2. Além disso, ampliou a margem de arbítrio, deu poder 
ao governo para confiscar bens e suspendeu a garantia do habeas corpus para 
casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e 
social e a economia popular. Dessa forma, o AI-5 não se associa à doutrina 
dos direitos humanos e muito menos à Emenda de 1969, que incorporou em 
seu texto as medidas autoritárias dos AI (DIMOULIS; MARTINS, 2007).
Por fim, a Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, 
é promulgada, garantindo a proteção dos direitos humanos, sendo conside-
Movimentos sociais e direitos humanos8
rada uma das Constituições mais avançadas do mundo nesse sentido. Ela faz 
referência aos direitos fundamentais em várias partes de seu texto e garante 
aos cidadãos, por exemplo, os direitos civis, políticos, econômicos, sociais 
e culturais em seu art. 1 e o direito à vida, à privacidade, à igualdade, à 
liberdade e a outros direitos fundamentais, individuais ou coletivos em seu 
art. 5, entre outros.
Para garantir a cidadania e a dignidade humana, a Constituição de 1988 
defende princípios como (MARCHINI NETO, 2012):
 � igualdade de gêneros;
 � erradicação da pobreza, da marginalização e das desigualdades sociais;
 � promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, gênero, 
idade ou cor;
 � racismo como crime imprescritível;
 � direito à saúde, à previdência, à assistência social, à educação, à cultura 
e ao desporto;
 � reconhecimento de crianças e adolescentes como pessoas em 
desenvolvimento;
 � estabelecimento da política de proteção ao idoso, ao portador de defi-
ciência e aos diversos agrupamentos familiares;
 � orientação de preservação da cultura indígena.
Com os direitos humanos garantidos na Constituição de 1988, o Governo 
Federal passou a ter compromisso com eles e, hoje, estes são geridos como 
uma política pública, o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNHD), 
instituído pelo Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro de 2009, atualizado pelo 
Decreto nº 7.177, de 12 de maio de 2010.
Para conhecer o PNHD, acesse o link a seguir:
https://goo.gl/yzmb9w
9Movimentos sociais e direitos humanos
No entanto, após décadas da promulgação da Constituição de 1988, ainda 
são muitas as dificuldades existentes para tirar esses princípios do papel. Os 
direitos humanos no Brasil são uma questão marcada por contradições, pois, 
apesar de assegurar conquistas inéditas concedidas aos direitos sociais, sobre-
tudo em relação às questões sociais, apresenta grandes desigualdades sociais, 
nos âmbitos racial e regional, e precariedade quanto à segurança individual, à 
integridade física e ao acesso à justiça, que comprometem o usufruto desses 
direitos. Para Neves (1997), ainda existe um hiato significativo no Brasil em 
relação ao mundo real e legal. 
Apesar de o texto constitucional vigente estimular a cidadania ativa, o 
país está perdendo o ponto de partida para superar a distância entre o mundo 
real e o formal. Dessa forma, um país no qual a sociedade civil tenha real 
importância; e o Estado, efetiva função garantidora e implementadora de 
direitos sociais, ainda é um desafio a ser superado.
PNDH foi elaborado em conjunto à sociedade, por meio de ampla consulta, na qual 
dezenas de entidades e centenas de pessoas apresentaram sugestões e críticas, parti-
cipando de debates e seminários. A maior parte das ações contidas nesse documento 
visa cessar a banalização da morte, seja no trânsito, em filas de prontos-socorros, nos 
presídios, por armas de fogo, em chacinas de crianças e trabalhadores rurais. Ele visa 
ainda impedir a perseguição e a discriminação contra os cidadãos (BRASIL, 1996).
De acordo com o relatório estado dos direitos humanos no mundo (2017), 
o Brasil ainda apresenta falhas em direitos humanos com a ocorrência de 
problemas como (ANISTIA INTERNACIONAL BRASIL, 2017):
 � alta taxa de homicídios, principalmente entre jovens negros;
 � abusos policiais e execuções extrajudiciais, efetuados por policiais em 
operações formais ou paralelas;
 � situação do sistema prisional;
 � vulnerabilidade dos defensores de direitos humanos, sobretudo em 
áreas rurais;
 � violência sofrida pela população indígena, principalmente em decor-
rência de falhas nas políticas de demarcação de terras; 
 � várias formas de violência contra as mulheres.
Movimentos sociais e direitos humanos10
Há grande preocupação com a persistência desses problemas, e muitos 
direitos humanos ainda são violados, mesmo com o avanço em questões como 
a redução da pobreza. No entanto, apesar das falhas do governo na melhoria 
dessa situação, a sociedade tem trabalhado para mudar esse cenário, por meio 
de mobilização das periferias e favelas, principais vítimas das violações de 
direitos humanos, e de diversas manifestações de pessoas saindo às ruas ou 
lançando campanhas para reivindicar seus direitos.
Movimentos sociais em defesa dos direitos 
humanos
Na década de 1970, surgem os movimentos reivindicando a efetivação dos 
direitos sociais de igualdade e liberdade quanto à ampliação da participação 
política e à igualdade nas relações de raça, gênero, etnia e orientação sexual. 
Esses movimentos eram chamados de novos movimentos sociais, que se opu-
nham ao clássico, marxista e estrutural e davam ênfase ao reconhecimento da 
diversidade cultural (GOHN, 2007, p. 25). Para Melucci (2001, p. 95):
[...] Os movimentos juvenis, feministas, ecológicos, étnicoraciais, pacifistas 
não têm somente colocado em cena atores conflituais, formas de ação e 
problemas estranhos à tradição de lutas do capitalismo industrial; eles têm 
colocado, também, no primeiro plano, a inadequação das formas tradicionais 
de representação política para colher de maneira eficaz as questões emergentes. 
A mobilização coletiva assume formas, e em particular formas organizativas, 
que escapamàs categorias da tradição política e que sublinham a desconti-
nuidade analítica dos fenômenos contemporâneos, no que diz respeito aos 
movimentos do passado e, em particular, ao movimento operário.
A bandeira de luta dos novos movimentos sociais é o respeito aos direitos 
humanos, e as ações diretas são seu modo de atuar e contestar a política ins-
titucional e os valores morais e culturais vigentes. Reconhecer a diversidade 
de interesses e possibilitar as condições necessárias para a participação social 
dos sujeitos contribui para que esses movimentos se mobilizem para mudar a 
centralidade sociopolítica, passando de uma democracia política organizada 
a partir do Estado para uma democracia participativa e organizada a partir 
do poder da sociedade civil. 
A meta dos novos movimentos sociais é reivindicar continuamente a 
ampliação da agenda dos direitos de cidadania e a criação de mecanismos 
capazes de efetivar a promoção e a garantia desses direitos, que vão desde 
a concepção da inclusão social até a formação de sujeitos de direitos. Essas 
11Movimentos sociais e direitos humanos
reivindicações possibilitaram a concepção jurídica e a revisão da concepção 
desse sujeito, em que este passa a ser visto em sua totalidade, especificidades e 
peculiaridades. Um exemplo disso é a defesa jurídica dos direitos de mulheres, 
crianças, grupos raciais minoritários, refugiados, etc., não há um tratamento 
generalizado ao indivíduo, e sim categorizado de acordo com gênero, idade, 
etnia, raça, etc. (RAMÍREZ, 2003).
Nesse contexto, depois da publicação da Declaração Universal de 1948, 
aconteceram as convenções sobre a eliminação de todas as formas de discrimi-
nação racial, eliminação da discriminação contra a mulher, direitos da criança, 
entre outros instrumentos importantes para essa questão (PIOVESAN, 2009).
Nas convenções temáticas, foram criadas diretrizes para orientar a concepção de 
políticas públicas em áreas prioritárias, como direitos humanos, segurança pública, 
educação, saúde, igualdade racial, direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes, 
pessoas com deficiência, idosos e meio ambiente (BRASIL, 2010).
Em relação às políticas públicas, deve-se destacar o lançamento do PNDH I, 
em 1996, que trouxe diretrizes para orientar a atuação do poder público no 
âmbito dos direitos humanos, com o objetivo principal de garantir os direitos 
civis e políticos. O PNDH foi relançado em 2002, como PNDH II, que aceita 
as demandas dos movimentos sociais, contemplando os direitos econômicos, 
sociais e culturais. Em 2010, o PNDH é atualizado como PNDH III, sintetizando 
as principais reivindicações apresentadas pelos movimentos sociais, unindo 
as resoluções aprovadas nas conferências territoriais, estaduais e nacionais, 
realizadas pelo Governo Federal, desde 2003, em conjunto aos governos 
municipais, estaduais, aos movimentos sociais e à sociedade civil, nos 27 
estados da Federação (PEREIRA, 2015).
A implementação de ações que visam promover o direito à igualdade, o 
combate à discriminação e a promoção da equidade, encontram proteção em 
propostas de ações do governo relacionadas à educação, à conscientização 
e à mobilização, que estão presentes no Plano Nacional de Políticas para as 
Mulheres (2004), no Programa Brasil sem Homofobia (2004), no Plano Nacional 
de Educação em Direitos Humanos (2006) e no Plano Nacional dos Direitos 
da Pessoa com Deficiência (2011), gerados com os ativistas. Essas iniciativas 
Movimentos sociais e direitos humanos12
são uma demonstração do reconhecimento do Estado sobre as reivindicações 
dos movimentos sociais por cidadania, que são transformadas em políticas 
públicas (PEREIRA, 2015).
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15Movimentos sociais e direitos humanos
MOBILIZAÇÃO 
SOCIAL
Ligia Maria 
Fonseca 
Affonso
 
Objetivos dos movimentos 
sociais — conscientização, 
leis e políticas públicas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Explicar os principais objetivos dos movimentos sociais.
  Descrever a importância da conscientização para os movimentos 
sociais.
  Relacionar movimentos sociais e políticas públicas.
Introdução
A sociedade sofreu transformações ao longo do tempo fazendo surgir 
questões sociais que requerem respostas rápidas do Estado. Os mo-
vimentos sociais reconhecem essas demandas sociais e evidenciam a 
necessidade de intervenção sobre elas, mobilizando e pressionando o 
Estado para a concretização das mudanças necessárias. 
Neste capítulo, você estudará os objetivos dos movimentos sociais, 
definidos aqui como ações coletivas compartilhadas por grupos sociais 
e que se originam de situações que causam insatisfação, sentimento de 
pertencimento e possuem um objetivo a ser perseguido. Aprenderá, 
também, a importância da conscientização para os movimentos sociais, 
que estimula a participação e o comprometimento das pessoas nas ações 
coletivas, e a relação entre movimentos sociais, leis e políticas públicas, 
em que os movimentos sociais atuam na ligação entre demandas sociais 
e Estado, contribuindo para o fortalecimento da democracia, para a 
consecução de políticas públicas e conquistas de direitos sociais.
Objetivos dos movimentos sociais 
Os movimentos sociais envolvem grande complexidade em decorrência de 
suas características próprias e específi cas, além de seu vínculo com todo um 
conjunto de relações sociais e sua formação social em uma sociedade também 
complexa. Nesse contexto, as teorias sobre os movimentos sociais necessitam 
de amplo desenvolvimento e, cada novidade teórica que ajude a compreender 
esse fenômeno, traz consigo novas questões a serem analisadas e novos pro-
blemas que devem ser abordados e resolvidos. Dessa forma, o estudo sobre 
movimentos sociais ainda necessita de desenvolvimento em diversas questões, 
sendo um processo sem fi m (VIANA, 2016).
Uma dessas questões se refere aos objetivos dos movimentos sociais. 
Pesquisadores dos movimentos sociais já realizaram alguns estudos sobre 
o tema, mas, de forma superficial ou descritiva, com abordagens ingênuas 
e com pouca criticidade, ou seja, de maneira oposta ao que deve ser, pois, 
para que os movimentos sociais sejam compreendidos, bem como qualquer 
outro fenômeno que se queira estudar, é necessário um estudo realizado a 
partir de uma abordagem crítica e geral. Essa questão sobre objetivos dos 
movimentos sociais, talvez uma das mais importantes nesse contexto, ainda é 
pouco discutida, o que causa certo estranhamento, uma vez que sem objetivo 
não existe movimento. 
Grande parte dos estudos sobre movimentos sociais apresenta o objetivo 
sem análise ou problematização e, outras vezes, apenas o colocam de modo 
superficial ao lado de outras questões. O mais comum é a apresentação do 
objetivo como sendo a “mudança social”, de forma generalizada. Essa é uma 
visão hegemônica, que, apesar de superficial, é muito utilizada no contexto 
dos movimentos sociais. A ideia de mudança social equivale à ideia de trans-
formação social, que na verdade significa substituir uma forma de sociedade 
por outra, dando um caráter revolucionário para os movimentos, o que não 
corresponde à realidade (BOTTOMORE, 1981; TOURAINE, 1997). Alguns 
sociólogos enxergam a mudança social como uma simples alteração de algum 
aspecto da realidade social, reproduzindo uma ideologia em vez de produzi-la. 
Você já se perguntou qual é ou quais são os objetivos dos movimentos 
sociais? A importância do objetivo dos movimentos sociais fica evidente no 
conceito desse fenômeno, considerado por Viana (2016) como ações coletivas 
compartilhadas por grupos sociais que se originam de situações que causam 
insatisfação, sentimento de pertencimento e possuem um objetivo a ser per-
seguido, sendo este um dos elementos que definem um movimento e que não 
pode ser deixado em segundo plano. Portanto, um movimento social surge 
Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas2
motivado pela insatisfação gerada por determinada situação, que é sentida pelo 
grupo atingido, gerando um sentimento de pertença e o objetivo que provoca 
a mobilização. Dessa forma, o objetivo é a meta a ser alcançada e a razão de 
ser do movimento social, justificando a mobilização. O objetivo então existe 
para que ações sejam implementadas, visando transformar uma situação 
problemática. Nesse contexto, o objetivo visa a uma transformação situacional. 
Viana (2016) considera que a transformação situacional pode assumir 
um estado defensivo, que busca manter a situação impedindo que ocorram 
mudanças prejudiciais, ou a volta da situação social anterior, sem que as mu-
danças tenham ocorrido; já o estado ofensivo, busca modificar determinada 
situação social que causa insatisfação em seu grupo social de base. Você pode 
entender o primeiro caso como uma conservação e não uma transformação da 
situação. No entanto, o autor considera que, ainda assim, existe um elemento 
de transformação que é a ação contra tendências, atos, posições, etc., de outros 
grupos, do Estado, etc., que pode gerar a mudança que se quer evitar e que 
se considera prejudicial. Dessa forma, a transformação situacional defensiva 
só terá sentido se houver alguma mobilização na sociedade que ameace a 
continuidade daquilo que se quer manter. 
Transformação situacional e transformação social são ações distintas. A 
transformação situacional diz respeito à situação do grupo social ou situação 
relacionada a outros grupos. No entanto, se o grupo social que gera o movi-
mento considerar que sua transformação situacional só é possível com uma 
transformação social, o que na maioria dos casos é verdadeiro, então se tem 
um objetivo de transformação situacional e social. 
A transformação situacional pode ser conservadora, o que significa reto-
mar uma situação existente anteriormente ou impedir que as reivindicações 
do grupo social oposto se mantenham. É reformista e visa à mudança da 
situação do grupo social e revolucionária,pois acontece simultaneamente a 
uma transformação social, uma vez que somente com uma mudança radical 
da situação é que pode surgir uma nova sociedade em substituição da atual, 
sendo um processo que efetiva a resolução do problema do grupo social. A 
transformação social, por sua vez, significa uma revolução que atinge a toda 
a sociedade, caracterizando-se como uma mudança radical, por exemplo, a 
passagem do feudalismo para o capitalismo (VIANA, 2016). Observe um 
exemplo dos tipos de transformações na Figura 1.
3Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas
Figura 1. Transformações social e situacional.
Transformação social 
muda toda a sociedade
Transformação 
situacional diz respeito à 
mudança na situação de um 
grupo social ou de outros 
grupos
Agora que você já viu alguns elementos que podem ajudá-lo a compreender 
os objetivos dos movimentos sociais, reflita: como os objetivos são formados? 
De que forma eles podem ser identificados? Como se materializam?
Os objetivos se formam motivados pela insatisfação em relação a alguma 
situação indesejada, que gera um objetivo individual em determinados indivíduos 
de um grupo que, tomados pelo sentimento de pertencimento, compartilham 
com seu grupo social, por considerar que se trata de um problema coletivo, do 
grupo todo. Sendo um problema de todos, gera um objetivo coletivo que irá gerar 
uma mobilização. Dessa forma, temos um movimento social (VIANA, 2016). 
Um aspecto fundamental para que os objetivos se concretizem é que todos 
possuam interesses comuns. Nos movimentos sociais estão presentes interesses 
pessoais e grupais, sendo estes últimos os que movem o grupo na mesma 
direção. Cabe destacar que interesses divergentes dentro do grupo social ou 
a predominância de interesses pessoais sobre os interesses coletivos podem 
causar situações constrangedoras dentro dos movimentos sociais, como a 
formação de um subgrupo com a finalidade de lutar por benefícios pessoais 
em vez de lutar pela solução do problema do grupo social. O interesse pessoal 
pode fazer com que o indivíduo resolva seu problema de forma individual, 
Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas4
usando o movimento para essa finalidade ou abandonando a luta do grupo, 
entre outros. 
Viana (2016) alerta que nos movimentos sociais conservadores o interesse 
pessoal coincide com o interesse do grupo, não havendo contradição. No caso 
das tendências conservadoras e reformistas dos movimentos sociais refor-
mistas, existem contradições, mas são encobertas por ideologias, doutrinas, 
etc. No caso de movimentos sociais com tendências revolucionárias, os inte-
resses pessoais podem ser incompatíveis com o interesse grupal, motivando 
o abandono da luta ou sua substituição por formas oportunistas. Há de se ter 
cuidado, pois muitos indivíduos focados em interesses pessoais tendem a gerar 
o oportunismo nos movimentos sociais. No entanto, indivíduos voltados aos 
interesses fundamentais tendem a reforçar os interesses do grupo. 
Interesses fundamentais são aqueles que visam à resolução de problemas específicos e 
dos problemas sociais em geral, sendo universais, ou seja, voltados para a transformação 
social (VIANA, 2016).
Para identificar o objetivo de um movimento social é importante distinguir 
objetivos reais e objetivos declarados, que possibilitam verificar se há diferença 
entre os objetivos que constam nos discursos e os que são efetivos, chamando 
a atenção para uma possível dicotomia entre eles. Se uma organização mobi-
lizadora tem como objetivo a defesa do meio ambiente e busca garantir sua 
preservação, temos o seu objetivo declarado. No entanto, é preciso verificar se 
esse objetivo é real, ou seja, é o objetivo verdadeiro e efetivo de tal organização. 
Etzioni (1976) recomenda que os gastos sejam analisados, bem como as 
despesas com recursos e energia da organização, pois se há um gasto maior 
para sua manutenção do que com a mobilização em defesa do meio ambiente, 
então há uma dicotomia entre objetivo real e declarado. Caso a situação seja 
inversa, ou seja, se os gastos forem inferiores e as energias e recursos forem 
voltados para a preservação ambiental, então objetivos reais e declarados estão 
em equilíbrio. Claro que existem outros aspectos a serem considerados, mas a 
partir dessa comparação já é possível verificar se há ou não compatibilidade 
entre discurso e ação efetiva (ETZIONE, 1976).
5Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas
Outra forma de identificar os objetivos é por meio da análise do desen-
volvimento histórico do movimento social e suas ramificações. Entender as 
ramificações é fundamental para compreender qual é o objetivo que predomina 
no interior do movimento, lembrando que uma organização mobilizadora 
pode inicialmente apresentar um objetivo e, posteriormente, alterá-lo devido 
a mudanças de hegemonia na sociedade civil, nos integrantes da organização, 
etc. Esta ação a chamada substituição de objetivos que para Etzioni (1976) é 
mais comum ocorrer entre meios e fins. A organização para ação é o meio para 
se atingir o fim, que é o objetivo do movimento social do qual se faz parte.
Outra forma de identificar os objetivos de um movimento social é por meio 
das reivindicações, que são a forma concreta de explicitação dos objetivos dos 
movimentos sociais. Sem as reivindicações, qualquer objetivo declarado em 
documentos, manifestos, e outras formas, não possuem valor e estarão em 
oposição aos objetivos reais. Nesse contexto se encontram as reivindicações 
específicas, ligadas aos interesses imediatos e específicos; e as reinvindica-
ções gerais, ligadas aos interesses gerais ou universais/fundamentais. Dessa 
forma, as reivindicações dos movimentos sociais ou de suas ramificações 
são as fontes de revelação dos seus reais objetivos, ou seja, os objetivos dos 
movimentos sociais são a verdadeira expressão dos interesses de seus grupos 
sociais de base, que estão ligados ao contexto social e histórico mais amplo 
(ETZIONI, 1976; VIANA, 2016). 
O interesse por habitação, por exemplo, pode motivar ideias, valores, discursos e 
concepções, como o direito à habitação, ocupação, reforma urbana, financiamento 
estatal (público) de habitação popular, revolução urbana, revolução social, entre outras 
possíveis soluções.
Em um movimento feminino, por exemplo, o objetivo pode ser “igualdade entre os 
sexos”, “reformas legais”, “espaços institucionais”, “mudanças culturais”, “revolução social”, 
entre outros. Partindo da insatisfação social e da consciência sobre ela, que se trata 
de uma questão de caráter coletivo (gerando senso de pertencimento), os objetivos 
para concretizar a solução do problema são formados (VIANA, 2016).
Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas6
Portanto, você pode entender que os objetivos dos movimentos sociais são 
formados a partir da consciência e geração de valores, concepções, sentimentos, 
etc. e com uma gama de opções. No entanto, isso não é suficiente para explicar 
o motivo de escolha de um objetivo, pois, como é possível notar nos exemplos 
apresentados, os movimentos podem ter objetivos distintos, dependendo da 
causa que se quer defender ou da situação a ser transformada, etc. 
Conscientização para os movimentos sociais 
Vamos iniciar este tema fazendo uma refl exão sobre o que é um problema 
no contexto dos movimentos sociais. Você já parou para pensar que um pro-
blema é o elemento principal dos movimentos sociais? Assim, é fundamental 
compreendê-lo para fornecer aos integrantes dos movimentos, uma base sólida 
de conhecimento e uma capacidade consistente de análise, que permitam a 
elaboração do/dos objetivos que devem ser alcançados por meio dos movimentos 
sociais. Podemos pensar em problema social como uma situação que causa 
mal-estar, insatisfação e consequências negativas a alguém, uma comunidade, 
sociedade, instituições, etc. Entendero problema/a situação que se deseja 
mudar é fundamental para que as pessoas se comprometam com a causa.
É preciso avaliar corretamente as situações-problema para identificar se realmente é 
um problema ou apenas uma necessidade sem demanda política (DAGNINO, 2009).
Um passo importante é diagnosticar a situação que causa insatisfação, 
listando suas consequências e avaliando-as sob a ótica dos integrantes dos 
movimentos, situando os problemas no tempo e no espaço, verificando a relação 
ou contradição entre esses problemas, identificando os fatores que evidenciam 
sua existência, realizando um levantamento de suas causas e consequências 
e destacando entre elas as mais críticas e que podem sofrer intervenção. São 
três os tipos de problemas existentes (DAGNINO, 2009): 
7Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas
  os que representam uma ameaça, ou seja, o perigo de agravar uma 
situação ou a possibilidade de perda de algo conquistado; 
  os que representam uma oportunidade, ou seja, podem ser aproveitados 
ou descartados pelos atores sociais; 
  os que representam um obstáculo, dificultando uma conquista ou 
benefício.
É importante compreender corretamente o problema porque será ele o 
motivo da ação com o intuito de reduzi-lo ou soluciona-lo. Do contrário, há 
risco de se chegar a uma visão distorcida da situação e, consequentemente, 
tomada de decisões equivocadas. Perceba que um problema pode ser, por 
exemplo, uma situação ou um estado negativo que influencia a vida de várias 
pessoas, a utilização de recursos de forma indevida que impacta na qualidade 
de vida dessas pessoas, uma ameaça ou uma intenção de provocar algo que 
já foi conquistado, etc. Daí a importância de identificar problemas atuais ou 
realmente potenciais, evitando “achismos” e imaginação, pois um problema 
não significa ausência de uma solução. 
Os problemas devem ser detalhados em sua reivindicação e não de forma 
generalista como saúde, meio ambiente, direitos humanos, etc., pois, dessa 
forma, indicam um sentido amplo sem necessariamente indicar qual é a situação 
que se busca resolver/transformar. Portanto, você pode concluir que compre-
ender a origem do problema é fundamental para a formulação dos objetivos 
dos movimentos sociais, ou seja, conhecer as causas do problema permite 
identificar quais opções têm chance de funcionar (DAGNINO, 2009). 
Nesse contexto, outro elemento fundamental para o movimento social é a 
conscientização. Para Freire (1980), a conscientização é um processo que se 
constrói quando o indivíduo se aproxima da realidade. 
A conscientização não pode existir fora da “práxis”, ou melhor, sem o ato 
ação-reflexão. [...] Por isso mesmo, a conscientização é um compromisso his-
tórico. É também consciência histórica: é inserção crítica na história, implica 
que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. 
[...] A conscientização não está baseada sobre a consciência, de um lado, e o 
mundo, de outro; por outra parte, não pretende uma separação. Ao contrário, 
está baseada na relação consciência-mundo. [...] (FREIRE, 1980, p. 26 e 90).
Para Sandoval (1994) a consciência está ligada aos significados que os 
indivíduos dão às interações e aos acontecimentos em sua vida. Para o autor, 
consciência, antes de tudo, refere-se à atribuição dada pelos indivíduos ao am-
biente social em que estão inseridos, significados esses que guiam sua conduta 
Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas8
e que apenas são compreendidos dentro do contexto no qual se inserem. Tal 
afirmação corrobora com o pensamento de Marx (1845) de que o ser social é 
que determina a consciência do homem. 
Existem dois momentos em um processo de mobilização: o momento do 
despertar do desejo e da consciência sobre a necessidade de mudanças e de 
atitudes; e o momento da transformação desse desejo e dessa consciência em 
disposição para agir e na própria ação (TORO; WERNECK, 2004).
No contexto dos movimentos sociais, a conscientização é fundamental 
para o surgimento do sentimento de pertencimento social, pois, aqueles que 
se sentem excluídos passam a se sentir incluídos em um grupo de ação ativo, 
acolhidos e iguais (GOHN, 2011). A compreensão do problema motiva o 
processo de conscientização, principalmente quando é entendido como um 
problema coletivo e não somente individual. Despertar a consciência sobre os 
problemas vividos estimula a participação e o comprometimento das pessoas 
nos movimentos sociais que, para consolidação e ampliação dos direitos 
sociais e a manutenção dos direitos já conquistados, deve ser um processo 
constante e contínuo.
Para que as mudanças sociais ou políticas ocorram, as pessoas devem ter 
consciência de sua capacidade de desempenhar papéis importantes para a 
construção dessas mudanças; ter conhecimento sobre a realidade, descobrir a 
si próprio e refletir sobre as relações com os outros e com o meio em que estão 
inseridas. Isso faz com que valores como respeito, solidariedade, empatia e 
outros sejam repensados e orientem a nova forma de agir. Apenas quando o 
valor individual é despertado que se pode acreditar no potencial transformador. 
Assim, a conscientização é capaz de promover a interiorização e apreensão 
da realidade, levando à reflexão sobre o papel do indivíduo enquanto cidadão, 
sua relação com os outros e suas atitudes em relação à realidade (TORO; 
WERNECK, 2004).
Relação entre movimentos sociais, leis e 
políticas públicas 
A política pública refere-se à ação cuja fi nalidade é atender às necessidades 
sociais que não conseguem ser resolvidas na esfera privada, individual ou 
espontânea, necessitando ser resolvida por decisão coletiva sob os princípios de 
justiça social, protegidos por leis que efetivam direitos. É denominada política 
pública porque contempla todas as forças e sujeitos sociais. Nesse contexto, 
a palavra política refere-se às medidas que são formuladas e executadas para 
9Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas
o atendimento de demandas e necessidades sociais, caracterizando-se como 
uma estratégia de ação planejada e avaliada, na qual o Estado e a sociedade 
civil desempenham papéis específi cos, em uma relação recíproca e antagônica.
Desse modo, a política pública envolve a intervenção do Estado com a 
participação de diferentes atores sociais, públicos e privados, contemplando 
demandas da sociedade e resultados da ação política dos governos. Portanto, 
a política pública assume o significado de ação e não de ação intencional de 
autoridade pública diante de um problema ou necessidade. Sob essa ótica, a 
função da política pública é efetivar os direitos conquistados pela sociedade, 
incluindo-os nas leis, o que caracteriza o caráter universal dos bens públicos 
(PEREIRA, 2008).
Os atores sociais são todas as pessoas que fazem parte do sistema político, apresen-
tando demandas ou executando ações a serem transformadas em políticas públicas, 
chamados de atores públicos ou atores políticos, como políticos eleitos e servidores 
públicos; e atores privados, como a sociedade civil (imprensa, grupos de pressão, em-
presários, associações, organizações não governamentais [ONGs], etc.) (SEBRAE, 2008).
As políticas públicas são classificadas por tipo em decorrência de sua 
complexidade e, também, para facilitar sua análise. Cabe ressaltar que elas 
podem variar dependendo do contexto histórico e geográfico, sendo formuladas 
em uma arena de conflito associada à forma de regulação. 
Arena é o padrão de interação entre os atores envolvidos em uma política que resultam 
da combinação de suas preferências e expectativas, em relação a ganho e perdas, no 
processo de formulação de uma política (RUA, 1998).
Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas10
Entre os vários tipos de arena, você verá a seguir os quatro principais 
(PEREIRA, 2008). 
  Arena regulamentadora: na qual normase regras são estabelecidas 
pelo Estado de forma coercitiva. 
  Arena redistributiva: refere-se ao acesso de vantagens a determinados 
sujeitos em detrimento de outros, estabelecidas pelo poder público, 
utilizando recursos obtidos em outros grupos específicos.
  Arena distributiva: quando as necessidades sociais de determinado 
grupo são atendidas com recursos obtidos por meio da arrecadação 
de impostos, contribuições sociais e econômicas e taxas (tributos), 
mantendo um caráter compensatório. 
  Arena constitutiva: em que decorrem ações públicas cuja coerção afeta 
indiretamente o cidadão, ou seja, define regras e procedimentos sobre 
a formulação e implementação de políticas públicas nas demais arenas. 
Mesmo sendo classificadas por tipo, as políticas públicas não se encaixam exclusiva-
mente em um único modelo, pois nenhum deles é capaz de dar conta de todos os 
aspectos que a envolvem (RUA; ROMANINI, 2013).
A interação entre Estado e sociedade civil, no contexto das políticas públi-
cas, está inserida em um processo histórico complexo, no qual os dois possuem 
particularidades e interesses próprios, apesar de sua interdependência e au-
tonomia, ou seja, ambos se influenciam mutuamente. Montaño e Duriguetto 
(2010) contam que os movimentos sociais são representações do processo 
de organização da classe trabalhadora, da luta de classes e das lutas sociais 
existentes no Brasil desde o início do século XX. No entanto, foi na década 
de 1970 que eles se intensificaram, quando se opunham ao regime militar, 
por meio de uma luta social que resistia à ditadura e ao autoritarismo estatal. 
Esse foi um período que propiciou o surgimento de vários movimentos sociais, 
como os movimentos estudantis, os da classe operária e os das comunidades 
que sofriam os impactos causados por essa forma de governo. 
11Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas
Os movimentos sociais dos anos de 1970 e 1980 foram decisivos para a 
conquista de vários direitos sociais, instituídos por lei na Constituição Fede-
ral de 1988 (CF/88) (GOHN, 2011). Esses movimentos contribuíram para a 
redemocratização do Brasil, que teve como característica a inclusão de novos 
atores sociais na esfera política, fazendo surgir, ao longo dos anos de 1980 e 
1990, os espaços públicos destinados à participação da sociedade civil, por 
exemplo, os conselhos, os fóruns e os comitês. 
Para saber mais sobre a participação da sociedade civil na 
esfera política, conheça a Política Nacional de Participação 
Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social 
(SNPS), acessando o link ou código a seguir.
https://goo.gl/IW8OQ8
Nesse período houve também uma mudança no perfil dos movimentos 
sociais, que passaram da atuação por meio de manifestações e reivindicações 
para uma atuação mais focada em ações propositivas, por meio de ONGs. 
Para Gohn (2007), com uma atuação mais participativa e de parceria com o 
Estado, os movimentos sociais ajudaram a construir os vários canais de partici-
pação e a institucionalização de espaços públicos relevantes, como os fóruns e 
os conselhos, nas esferas municipais, estaduais e federais. Também assumiram 
posturas menos reivindicatórias e mais construtivistas e produtivas, tendo 
como principais características a participação cidadã e a dimensão estratégica. 
Dessa maneira, os novos associativismos, sob a ótica da participação cidadã, 
atuam na prestação de serviços à comunidade e à população, distanciando-se 
do campo das reivindicações e atuando em parceria com o Estado. 
Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas12
https://goo.gl/IW8OQ8
Conselhos de políticas públicas: é o espaço público que permite a participação da 
sociedade na formulação, fiscalização e controle das políticas públicas em diversas áreas 
e em escala nacional, estadual e municipal (AVRITZER; PEREIRA, 2005 apud AVRITZER; 
SOUZA, 2013).
Fóruns: espaço que possibilita o diálogo entre representantes de conselhos e comis-
sões de políticas públicas, visando ao acompanhamento das políticas públicas e dos 
programas do governo, sugerindo ações de aprimoramento de sua intersetorialidade 
e transversalidade (BRASIL, 2014).
Apesar de ainda existir certa dificuldade de esses movimentos se inserirem 
na sociedade civil, em razão de valores tradicionais da política brasileira, 
eles vêm ao longo do tempo contribuindo para levar ao espaço público, a 
discussão e a construção coletiva e pública sobre temas e questões que antes 
eram considerados problemas privados e individuais, constituindo-os como 
objetos de políticas públicas. Nesse sentido, para efetivar a democracia em 
nosso país, é preciso fortalecer as esferas públicas não estatais como espaço 
de condução das ações coletivas organizadas, em que as prioridades para a 
formulação e a implementação de políticas públicas possam ser definidas, 
bem como sua fiscalização e execução, efetivadas. 
Dessa forma, os movimentos sociais enquanto expressões dos movimentos 
de luta de classes e lutas sociais atuam como atores políticos do processo de 
formação das políticas sociais, em que as necessidades dos indivíduos se 
transformam em demandas a serem reivindicadas por meio de mobilizações, 
pressões e lutas sociais, levando-as a uma instância de negociação, consen-
timento e, dentro do possível, devido às diversas condições necessárias e 
escassas, chegando ao patamar de políticas públicas (GOHN, 2007). 
13Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas
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15Objetivos dos movimentos sociais — conscientização, leis e políticas públicas
http://redelp.net/revistas/index.php/rms/article/view/453
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://periodicos.unb.br/index.php/
http://polis.org.br/publicacoes/construcao-das-politicas-
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
 
Conteúdo:
MOBILIZAÇÃO 
SOCIAL
Ligia Maria Fonseca Affonso
Trajetória dos movimentos 
sociais no Brasil 
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Definir os movimentos sociais populares.
  Estabelecer a relação entre participação social, educação popular e 
movimentos sociais.
  Contextualizar a trajetória dos movimentos sociais no Brasil.
Introdução
Os movimentos sociais existem desde os tempos de colônia no Brasil, o 
qual é marcado por lutas e movimentos contra a dominação, a exploração 
econômica, a exclusão social e, atualmente, a política, a corrupção, a falta 
de ética dos políticos, entre outros problemas que o país vem enfrentando. 
Eles contribuíram e vêm contribuindo para a conquista e a manutenção 
de direitos e espaços de participação social, fortalecendo a cidadania e 
a democracia brasileira. 
Neste capítulo, você estudará sobre o conceito de movimentos 
sociais populares, compostos na maioria das vezes de classes sociais 
desprivilegiadas; a relação entre participação social, educação popular 
e movimentos sociais fundamentais para a construção e o exercício do 
poder popular; e a trajetória dos movimentos sociais no Brasil, desde a 
colônia até os dias atuais.
Movimentos sociais e populares
Apesar de haver muitos estudos sobre os movimentos sociais, as teorias exis-
tentes ainda não apresentam defi nições precisas devido à multiplicidade de 
interpretações e enfoques. Veja um conceito de movimento social sob o olhar 
de Gohn (2000, p. 13):
Movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas 
por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles 
politizam suas demandas e criam um campo político de força social na so-
ciedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre 
temas e problemas em situações de conflitos, litígios e disputas. As ações 
desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade 
coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade 
decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da 
base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo. 
Dessa forma, os movimentos sociais se estruturam com base em um grupo 
social que compartilha uma dada situação social a qual gera insatisfação, cau-
sando neles um sentimento de pertencimento e objetivos específicos a serem 
alcançados por meio de reivindicações, projetos etc. (VIANA, 2016) (Figura 1). 
Figura 1. Movimentos sociais.
Fonte: Nosyrevy/Shutterstock.com.
O termo movimentos sociais populares ou movimentos populares é bastante 
utilizado, mas também não possui um conceito claro e, em alguns casos, é 
confundido com os movimentos sociais urbanos. Poucos autores tentaram 
defini-lo, sendo Camacho (1987) um deles, quando tentou diferenciar os 
movimentos sociais e os populares, mas ao final acabou definindo-os como 
uma manifestação dos sociais, o que é uma contradição. Para o autor, esses 
movimentos sociais possuem dois tipos de atuação distintos: eles podem ex-
pressar os interesses dos grupos hegemônicos e podem expressar os interesses 
dos grupos populares, os chamados movimentos populares, que se diferem 
dos demais por sua formação social, elemento chave para entender o que o 
diferencia dos outros movimentos sociais (VIANA, 2016). 
Trajetória dos movimentos sociais no Brasil2
Os movimentos sociais populares são compostos, na maioria das vezes, de 
classes sociais desprivilegiadas e, geralmente, sofrem processos de dominação, 
exploração, subordinação e marginalização. Nesse contexto, estão incluídos 
trabalhadores, camponeses, trabalhadores domésticos e manuais, moradores 
de periferia, desempregados, desabrigados e lumpemproletariado. Como a 
situação social dos grupos de base desses movimentos é distinta das classes 
mais privilegiadas, sua insatisfação, sua luta e seus objetivos também são 
diferentes. 
Lumpemproletariado é um termo criado e utilizado por Marx para denominar as 
camadas mais baixas da velha sociedade, possíveis de serem arrastadas aos movimentos 
por uma revolução proletária e levando-as a vender-se, devido a suas condições 
precárias de existência (MARX, 1932).
Os movimentos sociais possuem inúmeras diferenças que decorrem de 
suas orientações políticas e ramificações, em que as orientações políticas são 
determinadas pela formação social do grupo social de base e pela hegemonia 
no seu interior. Nesse contexto, os movimentos sociais podem ser classificados 
em três tipos (VIANA, 2016).
  Conservadores: visam retomar uma situação que existia anterior-
mente ou impedir que reivindicações de grupos sociais opostos se 
mantenham. São monoclassistas ou policlassistas, com predomínio 
das classes privilegiadas.
  Progressistas ou reformistas: visam mudar a situação do grupo social. 
São policlassistas, com grande presença de burocracia e intelectualidade.
  Revolucionários: visam a uma mudança radical da situação que so-
mente é possível se uma nova sociedade surgir para substituir a atual. 
Constitui-se como um processo que resolve o problema do grupo social. 
Podem ser monoclassistas ou policlassistas. 
3Trajetória dos movimentos sociais no Brasil
Os grupos de base podem ser nomoclassistas, cujos componentes pertencem às 
classes sociais desprivilegiadas; e/ou policlassistas, cujos componentes são jovens, 
intelectuais e de diversas classes sociais, este é o que predomina nos movimentos 
sociais (VIANA, 2016).
Entender a composição social de um movimento é fundamental paramostrar 
as possibilidades e as posições políticas, sendo que estas são definidas pela 
hegemonia existente em seu interior. Os movimentos sociais conservadores, 
por exemplo, possuem uma hegemonia burguesa, assim como a maioria dos 
movimentos sociais progressistas. Porém, algumas de suas ramificações po-
dem apresentar uma hegemonia burocrática ou proletária. Já nos movimentos 
sociais revolucionários, a hegemonia surge como uma radicalização das lutas 
sociais ou tempos de revolução proletária (VIANA, 2016).
Os movimentos sociais revolucionários praticamente não existem em tempos de 
estabilidade social e política (VIANA, 2016). 
Os movimentos populares são uma parte dos sociais progressistas, cuja 
hegemonia em seu interior pode ser burguesa, burocrática ou proletária, o que 
depende de múltiplas determinações. Para Viana (2016), os grupos sociais de 
base possuem tendência a gerar uma hegemonia semiproletária e, em casos 
raros, uma proletária, acarretada por sua situação de classe. 
A hegemonia na sociedade como um todo é burguesa por isso tende a in-
fluenciar os movimentos populares no sentido da hegemonia burguesa ou, 
secundariamente, burocrática. Assim, há uma contradição entre os interesses 
de classe e tudo que é derivado da situação de classe (desprivilegiada) e a 
hegemonia na sociedade civil, além do aparato estatal, meios oligopolistas 
de comunicação, necessidades imediatas, etc. É por isso que há uma forte 
contradição no interior dos movimentos populares no plano da consciência e 
Trajetória dos movimentos sociais no Brasil4
da hegemonia. Tal contradição se manifesta sob várias formas, entre os quais 
através da submissão a valores atrelados ao consumismo convivendo com 
a incapacidade de consumo, o que provoca uma contradição valorativa ou, 
então, a percepção do caráter conservador da política institucional ao lado da 
dificuldade de romper totalmente com ela (VIANA, 2016, p. 76).
As reivindicações dos movimentos populares são voltadas às questões de 
educação, saúde, estrutura urbana, moradia e terra; as dos sociais urbanos, 
voltadas às questões urbanas como moradia, transporte, estrutura urbana 
etc.; já as dos movimentos sociais rurais possuem foco sobre as questões 
ambientais ou contra as políticas estatais ou sobre o desenvolvimento capi-
talista que atinge setores da população rural. Todas essas reivindicações são 
direcionadas ao aparato estatal, direta ou indiretamente, o que muitas vezes 
gera confronto entre eles. 
A forma mais comum de o Estado responder aos movimentos é com a 
repressão seletiva, que acontece sobretudo quando os movimentos populares 
realizam manifestações e ocupações por meio de discursos como agressão a 
policiais, reintegração de posse, entre outros. Quando eles não interferem de 
forma direta nos interesses do Estado, é dito que há omissão e, geralmente, a 
cooptação é em menor grau, tendo maior incidência nos demais movimentos 
sociais (CASTELLS, 1988; VIANA, 2016). 
O aparato estatal é o alvo direto ou indireto dos movimentos populares. Quando a 
luta é por bens coletivos, o alvo é direto. Já quando ela é por bens materiais, o alvo é 
indireto (VIANA, 2016).
Os movimentos sociais têm dificuldades para se organizar, uma vez que 
as condições de vida desses grupos são precárias, bem como suas condições 
financeiras, culturais etc. No entanto, isso não os impede de lutar por suas 
questões, avançando ou recuando em suas lutas, que dependem de fatores 
como estabilidade dos governos, crises financeiras, aumento do desemprego, 
inflação, deterioração dos bens coletivos, entre outros. Sua dinâmica depende 
do desenvolvimento capitalista e da intensidade com que este impacta na vida 
de seus grupos sociais de base. Porém, essa relação será sempre marcada 
5Trajetória dos movimentos sociais no Brasil
pelo conflito mais ou menos intenso, de acordo com os períodos de relativa 
estabilidade ou não. 
Para Gohn (2011), os movimentos sociais populares ficaram famosos no 
Brasil e em outros países da América Latina no final da década de 1970 e em 
parte dos anos de 1980, planejados por grupos que se opunham aos regimes 
militares, principalmente aqueles com base cristã, inspirados pela teologia da 
libertação. No entanto, o cenário sociopolítico mudou radicalmente no fim dos 
anos de 1980 e ao longo dos anos de 1990, fazendo as manifestações de rua, 
que davam visibilidade aos movimentos populares nas cidades, declinarem, 
segundo alguns analistas, por terem perdido seu principal alvo e inimigo, 
os regimes militares. Na verdade, as causas desse declínio foram as mais 
diversas, e não se pode negar que esses movimentos, no Brasil, contribuíram 
significativamente para a conquista de vários direitos sociais, instituídos por 
leis na Constituição Federal de 1988 (CF/88).
Exemplos de movimentos populares: Custo de Vida (Carestia), Movimento dos Traba-
lhadores Sem Terra (MST), Via Campesina, Grito dos Excluídos etc. (MUTZENBERG, 2011). 
Participação social, educação popular e 
movimentos sociais
Os movimentos sociais dos anos de 1980 contribuíram para a institucionali-
zação de espaços públicos para a participação social, garantindo aos cidadãos 
identidades e novas formas de organização. Como resultado desse processo de 
lutas sociais acerca da democratização, tem-se a consolidação de valores como 
igualdade, solidariedade e liberdade, constituindo a democracia social (CAR-
VALHO, 1998; BENEVIDES, 2002). No entanto, a democracia participativa 
somente será plena se tiver a participação ativa dos indivíduos nos espaços 
públicos, ação que sinaliza a existência de um processo educativo o qual tem 
a participação como um meio, e a construção e o exercício do poder popular 
como o fi m (HURTADO, 2000). Dessa forma, praticar ações democráticas 
contribui para a reconfi guração do contexto sociopolítico das lutas no Brasil 
e para a construção da cidadania.
Trajetória dos movimentos sociais no Brasil6
A democracia, assim, não é um sistema político entre tantos, mas é a prática 
específica pela qual o povo se institui como sujeito. Nela, os indivíduos se 
tornam sujeitos públicos enquanto seres políticos ativos, se transformam em 
seres socializados porque desenvolvem relações sociais e responsabilidades 
coletivas (SEMERARO, 2002, p. 222).
A participação contribui para a construção da cidadania, pois possibilita 
aos indivíduos adquirir maior consciência sobre seus interesses individuais e 
coletivos, gerando benefícios para toda a sociedade. Essa participação política 
pode ser vista como uma escola na qual o cidadão adquire conhecimentos 
sobre o funcionamento institucional da democracia e os valores democráticos, 
como o da solidariedade social (DIAS, 2002). Enquanto participa, o indivíduo 
adquire o sentido de pertencimento e o significado de sua atuação em um 
grupo ou movimento social, assumindo uma condição de protagonista de 
sua própria história. Ao participar, ele desenvolve uma consciência crítica, 
agrega uma força sociopolítica ao grupo ou à ação coletiva, novos valores e 
nova cultura política (GOHN, 2005). 
A participação social configura-se como um processo que estimula o 
compartilhamento de poder por meio do fortalecimento da sociedade civil e 
da construção de caminhos que permitam alcançar uma nova realidade social 
pela cultura cidadã. Dessa forma, esse processo deve ser considerado de “baixo 
para cima”, tendo os cidadãos comuns como os principais protagonistas da ação 
transformadora das relações de poder da sociedade, o que mostra a importância 
de se implantar e manter práticas participativas no contexto sociopolítico, 
promovendo a sua autonomia, reconstruindo a história das lutas populares 
no Brasil, fortalecendo e renovando cada vez mais os princípios democráticos 
de igualdade, cidadania e justiça social (DIAS, 2002). Nesse contexto, a edu-
cação popular tem favorecido a participação da população na esfera pública, 
empoderando os indivíduos e democratizando os espaços públicos. 
A educação popular privilegiaa dimensão ética do diálogo, uma vez que 
considera os aspectos da realidade do indivíduo, como cultura, trabalho, liber-
dade e igualdade, que geram experiências e reflexões no processo de superação 
da exclusão e da desigualdade (MELO NETO, 2004). O caráter político da 
educação popular está na busca pela transformação da realidade na qual os 
indivíduos estão inseridos, pois, com a consciência sobre sua realidade, estes 
conseguem perceber as práticas opressoras e desiguais a que estão sujeitos e 
interferir nessa situação (PATROCÍNIO, 2007). 
7Trajetória dos movimentos sociais no Brasil
Desse modo, a educação popular possui caráter transformador e libertador, 
tendo como princípios de sua existência justiça social e igualdade de direitos, 
uma vez que permite a emancipação e autonomia dos indivíduos, que assumem 
o papel de sujeitos de sua própria história. O caráter político na proposta da 
educação popular constituiu-se como elemento transformador da educação, 
já que buscou integrar a conscientização sobre a realidade dos indivíduos 
às melhorias de suas condições de vida, proporcionando resultados como 
a instituição de uma cultura cidadã que prega princípios de solidariedade, 
reciprocidade e sociabilidade (HURTADO, 2000). 
Educação popular é um modo de educação que considera os saberes prévios das 
pessoas e suas realidades na construção de novos saberes. Ela visa ao desenvolvi-
mento da reflexão e do olhar crítico, por meio de diálogo e participação comunitária, 
permitindo uma leitura melhor da realidade social, política e econômica na qual os 
educandos estão inseridos (BRANDÃO, 2017).
O conjunto das práticas educativas populares ganhou espaço junto aos 
movimentos sociais quando possibilitou o estabelecimento de uma dimensão 
educativa em suas ações, reforçando seu caráter político e transformador. Os 
movimentos sociais valorizam essa concepção e estimulam ações reflexivas 
nos indivíduos para que compreendam conceitos como cidadania e demo-
cracia, transformando suas visões de mundo, renovando seus ideais sociais e 
construindo realidades a partir de relações mais justas e solidárias. Assim, eles 
formam indivíduos enquanto estes participam de suas ações, contribuindo para 
a elevação de sua autoestima e o surgimento do sentimento de pertencimento, 
permitindo sua atuação política, social e cultural, transformando-os em sujeitos. 
Nesse processo, os sujeitos constroem saberes, valores, cultura e ensaiam 
a vivência de novas relações sociais. Enquanto realizam a luta social, os mo-
vimentos buscam materializar as relações econômicas, políticas e culturais, 
além de um projeto de futuro. É este vínculo entre formação, organização e 
luta que faz dos movimentos um espaço de construção de indivíduos renovados 
e um meio renovado de promoção da educação popular por intermédio das 
ações e práticas educativas que desenvolvem (GOHN, 1992).
Trajetória dos movimentos sociais no Brasil8
As práticas educativas populares, de modo geral, buscam adequar seus conteúdos a 
partir da realidade e das necessidades dos grupos populares, valorizando e recuperando 
as experiências, o saber e a cultura popular por meio de reflexão, diálogo e participação 
de todos os envolvidos (TORRES, 1988).
O caráter político e sociocultural dessas práticas tem por base a concepção 
de que os indivíduos podem querer para si um mundo mais justo e diferente, 
determinando o estado das coisas e das relações sociais. Além de (re)educar 
quem participa dele, os movimentos (re)educam a sociedade, porque eviden-
ciam as contradições sociais. Nesse contexto, pode-se dizer que coletividade, 
sentimento de pertencimento, movimento, identidade de projeto, organização, 
luta e transformação são expressões fortes que, interconectadas, permitem 
compreender o caráter educativo dos movimentos sociais (CALDART, 2000). 
A visão popular de educação trouxe a discussão sobre cidadania, direitos 
humanos e participação popular como uma causa de luta, reestruturando-se 
no campo da educação cidadã. No Brasil, permitiu o desenvolvimento de 
uma prática cidadã, trazendo para o centro das discussões a compreensão dos 
sujeitos sobre democracia participativa. Assim, as organizações populares e 
os movimentos sociais passaram a participar e intervir nas discussões sobre 
políticas públicas com maior frequência e responsabilidade, tomando para si 
os processos e estabelecendo um poder popular (GOHN, 1992).
Histórico dos movimentos sociais no Brasil 
A sociedade brasileira é marcada por lutas e movimentos sociais desde a época 
do Brasil Colônia, contra a dominação, a exploração econômica e a exclusão 
social. Há registros históricos sobre lutas de índios, negros, brancos e mestiços 
que eram pobres e viviam nos vilarejos, bem como de brancos que perten-
ciam às camadas médias da sociedade e eram infl uenciados pelas ideologias 
libertárias e contra a opressão dos colonizadores europeus (GOHN, 1995). 
No Brasil, a maioria das lutas e movimentos sociais no período colonial 
foi realizada pelos negros escravos e pela plebe, indivíduos pobres e livres. 
Os indivíduos que se incluíam na categoria povo eram comerciantes e ar-
tesãos; já senhores de engenho, militares, funcionários graduados e clero 
9Trajetória dos movimentos sociais no Brasil
encontravam-se no topo da camada social e eram seguidos pelos lavradores, 
grandes mercadores e artesãos. 
Alguns movimentos e lutas no Brasil Colônia e na fase do Império até o século XX: 
Zumbi dos Palmares, Inconfidência Mineira, Conspiração dos Alfaiates, Revolução 
Pernambucana, Balaiada, Revolta dos Malês, Cabanagem, Revolução Praieira, Revolta 
de lbicaba, Revolta de Vassouras, Quebra-Quilos, Revolta Muckers, Revolta do Vintém, 
Canudos (GOHN, 2000).
No início do século XX, com a chegada da República e a substituição da 
mão de obra escrava pela assalariada, composta em sua maioria de imigrantes, 
a questão social mudou. Nesse período, o modo de produção se altera com 
a industrialização ainda incipiente e a formação de um proletariado urbano, 
fazendo surgir organizações de luta e resistência dos trabalhadores por meio 
de associações de auxílio mútuo, ligas e uniões, que reivindicavam serviços 
urbanos ou protestavam contra a política local. Dessa forma, o movimento 
operário foi influenciado pelas ideias anarquistas trazidas pelos imigrantes 
europeus (GOHN, 2000; LEMOS; FACEIRA, 2015).
Exemplos de revoltas e lutas do século XX: Revolta da Vacina, Revolta da Chibata, Revolta 
do Contestado, ligas contra o analfabetismo, ligas nacionalistas pelo voto secreto e 
expansão da educação, revoltas contra o preço do pão, inspeção de bagagens nas 
estações de trens e colocação de trilhos para os bondes (GOHN, 2000).
Na primeira metade da década de 1920, houve um retrocesso do movimento 
operário, ocasionado pelas repressões e limitações das conquistas alcançadas 
pela classe trabalhadora. Já na segunda metade dessa década, o movimento 
operário cresce influenciado por ideias comunistas, passando a exercer sua 
hegemonia. Surgem também várias lutas e movimentos das camadas médias 
Trajetória dos movimentos sociais no Brasil10
da população urbana e as revoltas de militares (GOHN, 2000; LEMOS; FA-
CEIRA, 2015).
Movimentos messiânicos e de cangaceiros no sertão nordestino do país, como o 
liderado pelo padre Cícero no Ceará e por Lampião na Bahia, Revolução dos Tenentes, 
Coluna Prestes, lutas pela educação lideradas por Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo 
etc. (GOHN, 2000).
Na década de 1930, a economia sofre uma mudança. O movimento estru-
turado pelas elites, chamado de Revolução de 30, marca um novo tempo no 
país, que além de produtor agrícola, passa a produtor de industrializados na 
área têxtil, mobiliária e de gêneros alimentícios de primeira necessidade. A 
classe operária sofre uma mudança em sua composição, passando a ter imi-
grantes nacionais, vindos do campo para a cidade; já o movimento operário 
teve sua atuação limitada pelas reformas e pela institucionalização depolíticas 
sociais, que visavam atender a suas reivindicações e abrem-se oportunidades 
para a formação de uma classe burguesa industrial (GOHN, 2000; LEMOS; 
FACEIRA, 2015).
Movimento dos Pioneiros da Educação, Marcha Contra a Fome, Revolução Constitu-
cionalista de São Paulo, Revolta do Caldeirão, criação da Aliança Libertadora Nacional 
e o Movimento Pau de Colher (GOHN, 2000).
O período entre 1945 e 1964 ficou marcado na história como regime político 
populista, sendo propício para o surgimento de lutas e movimentos sociais. 
A redemocratização do país, o desenvolvimento de um cenário internacional 
da sociedade de consumo e a política da guerra abrem espaços propícios a 
projetos que visavam ao desenvolvimento nacional, nos quais criam-se condi-
ções para a instalação de indústrias multinacionais no país; são desenvolvidas 
11Trajetória dos movimentos sociais no Brasil
políticas para o setor de energia, em que a Petrobrás é criada e estradas, silos, 
armazéns, portos e usinas hidrelétricas são patrocinados pelo Estado; e são 
inauguradas Brasília e as primeiras fábricas de automóveis. Surge também 
um novo setor da classe operária no ABCD paulista, os metalúrgicos, e há 
um crescimento do movimento operário com certa autonomia e liberdade, 
possibilitada pela Constituição Liberal em vigor até 1964 (GOHN, 2000; 
LEMOS; FACEIRA, 2015). 
Ligas Camponesas do Nordeste, Movimento dos Agricultores Sem Terra, Movimento 
de Educação de Base e Círculos Populares de Cultura (GOHN, 2000).
Nesse período, os movimentos sociais avançaram com participação cres-
cente da população nas discussões sobre os problemas nacionais, processo 
interrompido com o golpe militar de 1964. Entre 1964 e 1969, foram poucos 
os movimentos de resistência, nos quais duas greves ficaram conhecidas, as 
de Contagem (MG) e de Osasco (SP); os estudantes entram em cena, influen-
ciados pela situação nacional e internacional; novas leis são instituídas; e 
novos aparelhos burocráticos de controle são criados. O Ato Institucional nº 5 
(1968) atua na cassação e punição de pessoas e estabelece duras restrições 
aos direitos sociopolíticos dos cidadãos. Trata-se de uma época de medo, 
repressão e violação dos direitos humanos, comandada por regimes militares 
(GOHN, 2000). 
No início dos anos de 1970, os movimentos sociais renascem, motivados 
pela Teoria da Libertação, como o Custo de Vida (depois Carestia), movimen-
tos por transportes, direito a terra, saúde nos centros, postos de saúde, vagas 
nas escolas etc., o que desencadeou greves por todo o país e possibilitou a 
recriação e a articulação das centrais sindicais aos partidos políticos (GOHN, 
2000; MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010). Na segunda metade da década de 
1970, com a redemocratização brasileira, novos atores sociais são inseridos 
na esfera política, cujos resultados seriam sentidos mais adiante. 
Trajetória dos movimentos sociais no Brasil12
Associação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais, Central Única dos Traba-
lhadores (CUT) e Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Confederação Nacional das 
Associações de Moradores (CONAM) (GOHN, 2000).
Nos anos de 1980, os movimentos sociais contribuíram para o avanço e 
a conquista de vários direitos sociais e da elaboração da CF/88, que garantiu 
os direitos fundamentais dos cidadãos, declarando a morte do regime mili-
tar. Foram conquistas sociais de trabalhadores, mulheres, índios, menores e 
cidadãos que até então eram considerados de segunda classe. A inserção de 
novos atores sociais na esfera política, na década de 1970, refletiu ao longo 
dos anos, de 1980 a 1990, na proliferação de espaços públicos de participação 
da sociedade civil, como fóruns, conselhos e comitês. 
Movimento Diretas Já, Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), 
Movimento dos Aposentados, do Negro, do Indígena, (GOHN, 2000; MIRANDA; CAS-
TILHO; CARDOSO, 2009).
Os anos de 1990 são marcados por desemprego, reformas, reestrutura-
ções no mercado de trabalho, entre outros. Os sindicatos dos trabalhadores 
se enfraqueceram e passaram a lutar contra políticas de exclusão social do 
governo, aumentando significativamente o número de pessoas que atuam de 
modo informal na economia; as reivindicações dos trabalhadores passam a ter 
foco na luta para a manutenção do emprego, e não por melhores salários ou 
condições de trabalho; os movimentos sociais populares urbanos se desarti-
culam; a luta social no campo cresce; e o MST, criado nos anos de 1980, volta 
à cena, transformando-se no principal agente de conflito social no país. Um 
movimento que ficou marcado nessa década foi o dos “caras-pintadas”, com o 
intuito de estabelecer a ética na política brasileira (GOHN, 2000; MIRANDA; 
CASTILHO; CARDOSO, 2009; LEMOS; FACEIRA, 2015). 
13Trajetória dos movimentos sociais no Brasil
Fóruns são espaços públicos de participação social, caracterizados por encontros 
periódicos para diagnosticar problemas sociais e definir metas e objetivos (GOHN, 2000).
Os movimentos sociais passaram a adotar uma postura mais propositiva 
do que de manifestações e reivindicações, em que as contestações ficaram de 
lado e a ênfase recaiu para um nível mais operacional e propositivo; já os novos 
atores entraram em cena para lutar por inclusão e integração dos excluídos 
gerados pelo sistema, chamado de terceiro setor. Na década de 1990, esses 
movimentos se constituíram em redes, dentro do próprio movimento social e de 
redes com outros sujeitos sociais. Dessa forma, o seu perfil se alterou em razão 
da mudança da conjuntura política (GOHN, 2000; LEMOS; FACEIRA, 2015). 
O terceiro setor é composto de organizações, movimentos sociais, organizações não 
governamentais (ONG), associações comunitárias, fundações, entidades filantrópicas, 
empresas cidadãs etc. (GOHN, 2000).
O ano 2000 é marcado pela volta dos movimentos sociais à cena política. Os 
movimentos sociais urbanos retomam lentamente em outras bases, integrando 
a experiência assimilada nos processos de participação em conselhos, fóruns 
e outros meios institucionalizados de participação; o MST retorna com novo 
fôlego, se espalhando por todo o país; os estudantes voltam às ruas, mais poli-
tizados e lutando contra o desemprego e a corrupção; os professores entram em 
greve; e outras categorias também passam a se organizar e protestar. Surgem 
também as ONG, como uma nova forma de resistência em substituição aos 
movimentos sociais, que se organizam para defender os direitos e reconstruir 
a vida social. 
Desse período até os dias atuais, muitos eventos aconteceram e ainda 
acontecem por meio de manifestações, marchas e ocupações contra a política, a 
corrupção, a falta de ética dos políticos etc. O perfil dos participantes também 
se modificou e hoje são chamados de ativistas. Um fato interessante que deve 
Trajetória dos movimentos sociais no Brasil14
ser destacado é a convocação e organização dos movimentos sociais pelas redes 
sociais, que ganha mais força a cada dia (GOHN, 2004). Você pode perceber 
que os movimentos sociais sempre existiram e continuarão existindo para 
dar voz à sociedade civil na conquista e manutenção de direitos e espaços 
de participação social, contribuindo para o fortalecimento da cidadania e da 
democracia brasileira.
Movimentos dos índios, movimento dos caminhoneiros das estradas, dos perueiros, 
entre outros (GOHN, 2000).
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17Trajetória dos movimentos sociais no Brasil
HISTÓRIA DAS 
RELIGIÕES
Mayara Joice Dionizio
Religião e movimentos 
sociais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Caracterizar a teologia como movimento libertador.
  Identificar os principais movimentos teológicos do século XX.
  Descrever os movimentos teológico evangélicos.
Introdução
Desde o surgimento do cristianismo como religião e doutrina, a teologia 
desempenha um papel fundamental tanto na consolidação da religião quanto 
nos desafios apresentados em cada contexto cultural, histórico e temporal. Com 
o passar dos séculos, podemos observar como a religião caminhou entre uma 
posição mais impositiva e, em outros momentos, uma postura mais solidária 
com as causas sociais. Isto é, a alteração do entendimento social se dá pelos 
movimentos teológicos, sejam eles de caráter mais teórico ou aliados, efetivados 
em movimentos sociais que têm em vista a práxis como ação ética-cristã.
Neste capítulo, você vai conhecer os momentos da teologia na Amé-
rica Latina, desde a colonização até a abertura da Igreja para se pensar 
uma ressignificação da instituição frente aos dilemas sociais. Além disso, 
vai ver o que foi a teologia da libertação, bem como outros movimentos 
teológicos que ilustraram e contextualizaram o século XX. Por fim, vai 
conferir como a teologia evangélica tem se modificado desde sua difusão 
no Brasil, a partir dos anos 1960 e 1970.
1 A teologia como movimento libertador
Quando falamos sobre a teologia associada ao termo libertador, no contexto 
da América Latina, rapidamente pensamos no contexto das lutas sociais e da 
reforma da Igreja em nosso continente. O movimento da teologia da libertação 
marcou a nossa história, nossa busca por uma dignifi cação decolonial mesmo 
em relação à instituição católica; ou seja, ressignifi car a religião católica a 
partir dos costumes próprios de cada região, de cada país, de cada cultura. 
Assim, a religião passaria a ser um importante elemento formador de caráter 
crítico, refl exivo e prático em relação às mudanças estruturais sociais, econô-
micas e políticas de que as sociedades latinas tanto precisam. Outro aspecto 
introdutório, que também será explicitado ao longo deste capítulo, é a ligação 
entre a teologia da libertação e os movimentos em busca da reforma agrária, 
tais como movimento dos trabalhadores sem-terra (MST).
A teologia da libertação surgiu oficialmente em 1971, com a publicação 
do livro de um padre peruano, Gustavo Gutiérrez, A teologia da libertação. 
Contudo, a teologia da libertação é um movimento que já vinha acontecendo 
antes de sua oficialização, principalmente após o Concilio do Vaticano (1962) e 
da Conferência de Medellín (1968), que consistiram em encontros oficiais para 
discutir colaboração que as ciências humanas e sociais poderiam dar à Igreja em 
relação à teologia e ao acesso dos mais pobres (SANT’ANNA, 2004). Apesar 
da corrente mais conhecida ser a de viés marxista, outras correntes também 
se constituíram, mas com outras interpretações: antropológicas, relativistas, 
materialistas, entre outras. Todas se debruçaram sobre os mesmos problemas 
e sobre os ensinamentos de Jesus Cristo, mas com interpretações diferentes. 
Faz-se necessário, nesse contexto, retomar a história da religião enquanto 
instituição na América Latina, ainda que brevemente. Autores como Sant’anna 
(2004) resgatam a história do cristianismo na América Latina a partir de três 
marcos: (1492–1808) o cristianismo colonial; (1808–1960) o cristianismo novo; 
(1970–1978) a crise do cristianismo. O primeiro momento de nossa história se 
refere ao período da colonização. Com a chegada dos portugueses e espanhóis 
em nosso continente, suas crenças passaram a ser impostas. No século XIV, 
Portugal e Espanha eram países hegemonicamente católicos; não obstante, a 
Igreja Católica era uma força predominante em toda a Europa. Nesse sentido, 
não se submetia às coroasde ambos os países nem de qualquer país europeu. 
Tal como se destacam as guerras que foram travadas por questões puramente 
institucionais e religiosas, nesse contexto, a Igreja tinha acesso às sociedades, 
a estratos sociais que nem mesmo a Coroa conseguia ter. A colonização se 
deu como uma difusão impositiva da exploração e do modo de vida europeu 
e, a partir de então, a Igreja empreendeu formas de legitimar a si enquanto 
instituição e religião e também os interesses monárquicos. 
Missões religiosas foram estabelecidas com vistas à catequização dos 
povos “selvagens” (os povos indígenas), em que muitos eram castigados por 
se recusarem a aderir às crenças cristãs, por demorarem para aprender as 
Religião e movimentos sociais2
línguas portuguesa ou espanhola, entre outros motivos. Contudo, a Igreja foi 
se fragmentando enquanto instituição na América Latina. No ano de 1534, 
surge a chamada Companhia de Jesus, de origem francesa — seu fundador foi 
Iñigo López de Loyola, de origem basca (entre França e a Espanha) e aluno da 
Universidade de Paris —, que tinha como fundamento o trabalho missionário 
em defesa dos povos oprimidos. A Companhia de Jesus passa a representar 
um risco aos interesses das Coroas portuguesa e espanhola, o que culmina, 
no século XVII, com a expulsão dos jesuítas, uma vez que representavam 
uma denúncia contra a união entre Estado e Igreja no processo de exploração.
Já o segundo momento de nossa história latina (1808–1960) é caracteri-
zado pela disputa imperialista entre a França e a Inglaterra a nível mundial 
(SANT’ANNA, 2004). O continente latino-americano passa a estar cada dia 
mais presente em meio às disputas territoriais, econômicas e aos movimentos 
emancipacionistas. Trata-se do período em que várias transformações acon-
teciam no mundo e que acabaram por afetar o poder monárquico. 
Em 1789, aconteceu a Revolução Francesa e, após esse acontecimento, Na-
poleão Bonaparte iniciou guerras contra diversos países em alianças. Portugal 
e Espanha, nesse contexto, encontravam-se enfraquecidos em seus regimes 
políticos, em suas monarquias. É nesse período que a América Latina passa a 
adquirir maior independência e apoio dos ingleses, e a Inglaterra passa a impor 
diversas mudanças estruturais nos países latinos, como fim do regime escra-
vagista, imposições econômicas e um modelo industrial, visto que, há pouco, a 
Revolução Industrial vinha acontecendo no país — tudo isso acaba contribuindo 
para o enfraquecimento da narrativa católica. Em 1870, surgem, na América 
Latina, os Estados oligárquicos (SANT’ANNA, 2004), já que, nesse período, 
não havia um conceito de país estável latino. Como exemplo dessas oligarquias, 
temos o governo mexicano, com José de la Cruz Porfirio Día Mory à frente; 
o governo peruano chefiado pelo partido civilista, e o governo argentino, que 
tinha Julio Argentino Roca como seu presidente. Tal momento ficou marcado 
por uma concentração de capital sob o domínio de uma restrita elite. Porém, é 
também em meio a tamanha desigualdade que os movimentos sociais e religiosos 
aparecem, assim como a Guerra de Canudos (1896–1897). 
De 1930 a 1960, vários acontecimentos influenciam o cenário latino. Em 1929, 
ocorre a queda da bolsa de Nova York e, com isso, o processo de industrialização 
se acelera, levando a fenômenos sociais negativos, tais como o êxodo rural. Nesse 
contexto, surgem movimentos com apelo populista, de caráter nacionalista e com 
pautas desenvolvimentistas. A Igreja se coloca em um entrelugar: por um lado, 
vê nesses novos movimentos uma oportunidade de romper com o oligarquismo e, 
de outro, a possibilidade de esses movimentos sufocarem os anseios da oposição, 
3Religião e movimentos sociais
dos movimentos sociais de caráter mais socialista na América Latina. É assim 
que, em 1960, inicia-se a crise do cristianismo. No Brasil, especificamente, 
ocorre em 1964 o golpe militar e a implementação de uma ditadura. Com isso, 
a aliança entre Igreja e Estado foi rompida, pois a ideologia militar, e de parte 
da sociedade que apoiava ao golpe, era incompatível com os ideais religiosos, 
principalmente com práticas como as de tortura. 
Contudo, diversos setores da Igreja passaram a se unir e instituíram como 
pauta de luta uma aliança que colocasse em prática movimentos de libertação pela 
América Latina (SANT’ANNA, 2004). Assim, setores mais conservadores da Igreja 
e que apoiavam os movimentos desenvolvimentistas e nacionalistas passaram a 
serem ineficazes socialmente, visto que a igreja passou a simbolizar a resistência 
aos governos opressores da América Latina. No Brasil, a adesão estudantil a esses 
movimentos foi grande. A Ação Popular (AP) de 1962 surgiu, em grande parte, da 
juventude cristã progressista. Tal ação conseguiu estabelecer um diálogo com os 
trabalhadores rurais e com a população mais distante dos grandes centros. Depois 
de ser perseguida pelo regime militar, em 1964, a AP, em 1965, assumiu um viés 
mais radical de caráter marxista. Para tanto, por mais que tivessem sido feitas 
tentativas de unir a ideologia política com a religião católica, a AP acabou por se 
desvincular da Igreja e por declarar-se mais próxima à revolução cultural chinesa 
de Mao Tse-Tung. Em 1972, a AP se incorporou ao Partido PC do B, e os que 
discordaram dessa associação acabaram por se organizarem como a AP–Socialista. 
Você sabia que uma das pautas de luta representada pela teologia da libertação se relaciona, 
na América Latina, à agricultura familiar? Sim, uma vez que teologia da libertação tem 
forte relação com o MST e uma das fontes de renda do movimento vem da agricultura, o 
movimento teológico da libertação representa também essa causa. Contudo, os desdobra-
mentos contemporâneos acerca da agricultura não estavam também previstos na teoria 
marxista. Vale lembrar que Karl Marx é o teórico por excelência do movimento teológico 
em questão. Segundo Marx, a ampliação do sistema capitalista transformaria o camponês 
no proletário agrário dependente de renda fundiária. Nesse contexto, Marx defende que a 
junção entre o campo e a cidade, passando pelo mesmo processo de produção e divisão 
do trabalho em setores, seria a súmula da ampliação e da unificação do sistema capitalista, 
na medida em que a agricultura era o último setor a garantir um laço ainda com o trabalho 
mais primitivo. Desse modo, ocorreria a cisão na relação entre o humano e a natureza, 
pois o capitalismo industrial a recriaria, então, por meio da fabricação do mundo. Ou seja, 
eu não planto mais os alimentos que consumo, eu compro os que foram produzidos por 
outrem (BOFF; BOFF, 1986).
Religião e movimentos sociais4
Em 1955, ocorreu a Primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-Ame-
ricano. Tal conferência se deu em grande parte porque a Igreja Católica não tinha 
atuação significativa na América Latina, apesar de seu grande número de fiéis. 
Nessa conferência, criou-se a Comissão para a América Latina, que, mesmo sediada 
em Roma, tratava dos problemas da Igreja no continente. Foi esse o marco para 
uma ruptura mais radical, a Conferência de Mendellín, em 1968, a partir da qual 
a Igreja assumiu um discurso anti-imperialista, decolonial e o papel de se tornar 
libertadora por meio de sua teologia. Surge, então, a telogia da libertação, que tinha 
como ideal unir a fé à conscientização dos povos oprimidos desde as colonizações. 
O teólogo Leonardo Boff se torna um dos protagonistas no movimento de liber-
tação. Ao lado de Gutiérrez, Boff se engaja nas lutas sociais dos movimentos e os 
dois, buscam, juntos, pensar em uma forma de reestruturar a Igreja na América 
Latina, respeitando as características das sociedades e culturas que se formaram 
ao longo dos séculos em nosso continente. Para Boff e Boff (1986, p. 13–14): “[...] 
por detrás da Teologia da Libertação existe a opção profética e solidária com a 
vida, a causa e as lutas destes milhões de humilhados e ofendidos em vista da 
superação desta iniqüidade histórico-social”.
2 Os principaismovimentos teológicos 
do século XX
Podemos dizer que, sendo a religião uma das dimensões mais signifi cativas 
de uma sociedade e, em grande parte, da maioria doa indivíduos, a teologia é 
um estudo, como disciplina, que nos acompanha desde a instituição do cristia-
nismo como prática religiosa. Se em relação ao cristianismo primitivo vemos a 
ideia de uma igreja por vir, por se consolidar, atualmente, após muito séculos, 
vemos a consolidação da Igreja, contudo, com tantos desafi os quanto em seu 
início, salvaguardadas as distinções. Nesse sentido, a teologia foi atravessada 
por mudanças sociais e, em decorrência delas, por mudanças culturais; por 
outro lado, intercâmbios culturais também trouxeram mudanças culturais que 
levaram a avanços sociais. A teologia, sob esses aspectos, viu-se convidada, 
ou mesmo obrigada, a se atualizar para continuar a guiar o humano dentro da 
doutrina religiosa cristã mesmo com as mudanças temporais e contextuais. 
Em um breve panorama contextual do século XX, podemos observar que 
a teologia cristã foi fonte de distintas interpretações. Rompendo com o caráter 
medievo da teologia, a religião, já na Idade Moderna, deixa de ser protegida 
pelo status do sagrado. Ou seja, a religião cristã perde seu caráter imutável, 
eterno e indiscutível e começa a abrir espaço para as ciências humanas e 
5Religião e movimentos sociais
sociais, que, em seus estudos, voltam a teologia para uma dimensão episte-
mológica. Assim, surgem movimentos teológicos em praticamente todos os 
continentes, ressaltando-se os movimentos europeus, que deram as bases para 
diversos outros: a teologia política de Karl Rahner (1968); a teologia dialética 
de Karl Barth (1919); a teologia existencial de Rudolf Bultmann (1941); até os 
movimentos da teologia da libertação latinos de viés marxista. 
Nesse contexto, tal como ressalta Rosino Gibellini (1998), a união entre a 
teologia e a libertação ressignificou a força do cristianismo aliado à história na 
América Latina. Nos Estados Unidos, em meados dos anos 1950, a influência dos 
avanços tecnológicos e científicos ressoam sobre a população, que, em grande parte, 
acreditava que, após a ciência, dificilmente as religiões cresceriam; ao contrário, 
perderiam força. Porém, nos anos 1970, o fundamentalismo religioso começa a 
crescer e, inesperadamente, as religiões passam a retomar muito de sua força. Muito 
disso é atribuído às ameaças que a ciência simbolizava à conservação da vida tal 
como ela era. Outro aspecto foram os movimentos de liberação sexual que acon-
teceram e que reivindicavam uma aceitação maior do sexo para além das formas 
instituídas socialmente; outrossim, as revoluções farmacêuticas desse período 
também causaram um choque social para os mais conservadores com a difusão 
de medicamentos contraceptivos e a administração de hormônios. A indústria 
pornográfica também se encontrava em seu auge e muitos países lidavam com a 
problematização acerca de se criar uma legislação para esses profissionais ou não. 
Todo esse cenário fez a teologia repensar sobre como a Igreja poderia lidar 
com essas questões culturais e sociais para além da postura intransigente que 
defendeu até aquele momento da história. Para tanto, a teologia deixou o seu 
caráter mais hegemônico, ou seja, de uma visão mais restrita ao que dizia 
o papado, e passou a se dividir ainda mais em vertentes teológicas. Várias 
dessas vertentes se ligavam a movimentos sociais, outras buscavam adotar 
uma postura mais contida, ao passo que outras assumiam abertamente uma 
postura mais liberal. Rosino Gibellini (1998) defende que os movimentos 
teológicos e o pensamento cristão se constituíram a partir de quatro modos 
de pensar a religião, a sociedade e a cultura.
Um dos grandes domínios da teologia, desde o período renascentista, é, sem 
dúvida, o trabalho interpretativo-filológico. Quando os europeus decidiram 
sair em busca de novos territórios, o trabalho dos teólogos, em grande parte, 
consistia em fazer traduções e anotações. Porém, um dos grandes marcos se 
deu quando Lutero traduziu a bíblia para o alemão. No século XX, tal ideia 
permanece relacionada à teologia, e, nesse sentido, a teologia hermenêutica 
se mantém. A capacidade de traduzir, interpretar e compreender as Escritu-
ras continua a fundamentar a teologia de acordo com o argumento de que a 
Religião e movimentos sociais6
hermenêutica é uma forma de Deus se revelar pela palavra. Segundo Gibellini 
(1998), o trabalho do teólogo só se efetiva quando pode ele compreender e 
falar sobre o que compreendeu no Evangelho, assim, a relação com Deus se 
dá pela fé que só pode ser exercida depois que a sua palavra é compreendida. 
Outro movimento significativo na teologia do século XX se deu com 
base em uma possível teologia da cultura. Nesse contexto, um dos prin-
cipais exponentes dessa vertente foi o teólogo alemão-estadunidense Paul 
Tillich (1886-1965), que argumentava que a religião e a cultura poderiam ser 
movimentos, conceitos e esferas distintas a partir do conceito de teonomia: 
theos (Deus) e nomos (lei) (GIBELLINI, 1998). Mais do que um conceito, a 
teonomia também se caracterizava como uma ética e um regime político. Ou 
seja, segundo Tillich (apud GIBELLINI, 1998) o humano deve, em quaisquer 
tempos, submeter-se à lei superior. Isto é, sendo a lei divina uma lei trans-
cendental, atemporal, trata-se da lei mais profunda; assim, para o teólogo, 
o humano que não é capaz de se submeter a essa lei, independentemente de 
sua cultura, não consegue se desenvolver eticamente. Do ponto de vista da 
legitimação teórica, Tillich (apud GIBELLINI, 1998) defendia que a história 
de Deus e do mundo transcendem a história do ser humano, portanto, não há 
como se refutar o que não se conhece. 
Contudo, apesar da grande crise que se iniciou na modernidade acerca 
da compreensão da realidade não mais pelo Evangelho, mas, sim, pela 
verdade científica, a teologia conseguiu ter um ganho teórico. Teólogos 
como Bultmann, Bonhoeffer e Moltmann teorizam a revelação de Deus 
como saída para a secularização da sociedade. Nesse sentido, a teologia 
recuperaria o sentido da explicação sobre a realidade ao propor o desafio na 
modernidade de compreender a revelação por meio dos atos contemporâneos 
àquele momento. Assim, os atos de Deus sempre reverberam em qualquer 
realidade, em qualquer tempo, e a tarefa do teólogo é a de reconciliação. 
Decorrente dessa ética reconciliadora, a teologia da secularização surge 
com o propósito de pensar tanto a continuidade quanto a descontinuidade: 
enquanto a descontinuidade se configura como o avanço histórico e, desse 
modo, a reivindicação do individuo por sua autonomia frente à tutela da 
Igreja; a continuidade se constitui como a história do cristianismo em sua 
contribuição para a formação do mundo e da sociedade. Segundo teólogos 
como Gogarten (apud GIBELLINI, 1998), há como conciliar os dois proces-
sos, uma vez que a obra de Deus aceita o comportamento humano, e cabe 
ao humano se responsabilizar pelo mundo em que vive e pelas atitudes que 
escolhe. Assim, a ética teológica da secularização se colocaria em relação 
a promover a autonomia do individuo sem que isso o afaste de Deus. 
7Religião e movimentos sociais
Há, ainda, o movimento relacionado à história, chamado de teologia da 
história. Cabe ressaltar que o argumento histórico sempre se manteve como 
uma preocupação teológica. Nos primórdios do cristianismo, Paulo se mostrava 
demasiado preocupado com que a fé cristã fosse combatida com as verdades 
históricas e filosóficas. No século XX, a preocupação se mantém entre os 
teólogos, uma vez que esse embate entre realidade e verdade epistemológica 
ainda se coloca em contraposição à religião. A saída teológica se constrói sobre 
a narrativa interpretativa de que “Deus se mostra nos fatos”. Seria, portanto, 
uma negação da verdade cristã não compreender a ação de Deus pela língua 
dos fatos em distintos períodos históricos, do mesmo modo, na realidade. 
Ressaltam-setambém movimentos de caráter político (GIBELLINI, 
1998). Nesse sentido, a teologia política surge com a função de fazer 
as instituições pensarem em si como importantes esferas da sociedade. 
À Igreja é reclamada a reflexão sobre o seu lugar no mundo atual. Para 
tanto, repensar os erros cometidos em nome da fé e o apoio institucional 
da instituição a diversos movimentos, por vezes massacres, é colocado 
em questão por essa vertente. A tarefa de voltar aos valores cristãos de 
fraternidade passa a ser pensada como motivação para a denúncia contra 
atos errôneos nas sociedades. Desse modo, muitos representantes da Igreja 
buscam repensar a missão pública do cristianismo de acordo com equívocos 
cometidos, como, por exemplo, o apoio da instituição à ditadura na Argen-
tina, entre outros. É por meio dessa problematização acerca da conduta 
ética da instituição católica que também se dá a teologia da libertação, 
que se coloca em oposição aos movimentos conservadores da sociedade 
e dos poderes desiguais instituídos. 
Tal movimento acaba por contribuir para a emancipação do indivíduo 
e, portanto, da mulher dentro do estudo teológico. Ou seja, teologizar em 
decorrência da práxis passa a ser uma importante ferramenta no processo 
de emancipação feminina. Vale ressaltar que, no contexto da agricultura 
familiar — assim como uma das bandeiras pela reforma agrária — a mu-
lher, em grande parte das famílias, mantém a todos e lidera o trabalho da 
agricultura. Contudo, um dos maiores desafios para as teólogas feministas é 
repensar os dogmas doutrinários e demonstrar o caráter sexista e patriarcal 
do cristianismo. Conclui-se, desse modo, que a teologia cristã e os contextos 
sociais são correlativos. Assim, cabe à teologia não somente acompanhar as 
mudanças para manter os fiéis, mas, antes, compreender a hermenêutica de 
determinado contexto de acordo com a obra de Deus. Para tanto, o diálogo e 
o debate entre distintas vertentes demonstram formas de pensar em Deus e 
em sua relação com a sociedade. 
Religião e movimentos sociais8
3 Os movimentos teológicos evangélicos
Corriqueiramente, quando tratamos de assuntos relacionados à teologia, de-
dutivamente, os associamos à Igreja Católica. Contudo, desde o século XIX, 
a teologia protestante vem se intensifi cando e se relacionando estruturalmente 
aos modos de vida da sociedade. Já no contexto da Revolução Industrial, com 
o aumento da secularização, o protestantismo teve uma grande aderência, 
pois suas doutrinas, em grande parte, concordavam com o desenvolvimento 
econômico capitalista da sociedade. Nesse sentido, é importante ressaltar que, 
desde a Reforma Protestante, os protestantes vinham conquistando cada vez 
mais espaço nas sociedades europeias. Com a colonização da América do 
Norte, o continente se tornou hegemonicamente protestante, e isso guiou os 
valores sociais e culturais estadunidenses. 
Em relação ao Brasil, desde os anos 1980, as missões protestantes advindas 
dos Estados Unidos e da Inglaterra, chamadas de protestantismo de missão, 
não tiveram grande aderência social. Isso porque a missão evangélica era 
pensada apenas como pregação, para conversão dos indivíduos e para livrá-los 
dos pecados. Assim, os grupos evangélicos dessas correntes acabavam por 
se fechar em guetos culturais por rejeitarem tudo aquilo que era tido como 
mundano. Tais missionários acreditavam que a mudança do mudo se daria pela 
transformação das mentes e dos corações e, para tanto, a pregação da palavra, 
o estudo bíblico e a oração seriam capazes de transformar os indivíduos. Assim 
como Durkheim elucida em As formas elementares da vida religiosa (2005), a 
religião surge, antes de tudo, de uma forma elementar identitária. Tal reflexão 
durkheimiana se aplica ao corpo social evangélico formado durante as últimas 
décadas do século XX: os evangélicos, em sua grande maioria, não se identi-
ficavam com a cultura, com o consumo de qualquer substancia entorpecente, 
mesmo as legalizadas, e não podiam praticar jogos de azar; além disso, não se 
posicionavam politicamente ou acreditavam em argumentos científicos. De 
acordo com Cavalcante (2010), todas essas práticas eram consideradas pelos 
grupos evangélicos como mundanas. 
Porém, à mesma época, alguns setores do movimento evangélico começaram 
a se envolver com questões públicas e culturais, o que, desde o censo realizado 
em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), vem de-
monstrando uma forte presença evangélica em nossa sociedade que, sem dúvidas, 
intensificou-se nos últimos anos, respectivamente no século XXI. Autores 
como Giumbelli (2013) caracterizam a participação dos evangélicos no tecido 
social pelo termo “cultura pública”. Tal expressão se refere à produção cultural 
evangélica, que se intensificou com o surgimento de canais evangélicos, com 
9Religião e movimentos sociais
a participação de evangélicos em programas de TV e outras mídias. Quando 
não assumem programas próprios como apresentadores, ou mesmo pastores, 
assumem também locais de pregações que vão desde praças públicas a presídios 
e hospitais, entre outros lugares nos quais as pessoas se encontram fragilizadas 
e descrentes de melhora; há também intervenção urbana, que se dá com a cons-
trução de templos grandiosos. Desse modo, Giumbelli (2013) caracteriza essa 
cultura pública como uma cultura guiada por uma ética de domínio. 
Nesse sentido, observamos uma grande alteração no modo de interação evan-
gélica com a sociedade. Se antes o corpo evangélico considerava o tecido social 
e as suas produções como mundanas, atualmente, esse mesmo corpo deixou de 
se setorizar em guetos para disputar o espaço social e cultural e ocupá-lo com 
a pregação de sua crença. Assim, o espaço público passa a ser entendido como 
um lugar de batalha espiritual, e o evangélico, como discípulo de sua igreja e do 
senhor, deve engajar-se. A ética do domínio, nesse contexto, atua em relação a 
uma prática de moralização dos costumes por meio dos princípios evangélicos e, 
assim, exerce significativo impacto sobre a esfera pública. Contudo, tal inserção 
também causou um impacto em grupos evangélicos que ressignificaram a religião. 
Esse grupo que opta por outra ética que não a do domínio é chamado de so-
ciorreligioso. Ou seja, seu posicionamento ético é integrativo, pois almeja mudar 
a sociedade de acordo com os princípios democráticos, de direitos humanos e de 
justiça social. Tal grupo busca aproximar-se mais do que as Escrituras pregam 
no contexto dos valores cristãos. Portanto, os evangélicos sociorreligiosos são 
entendidos como progressistas, já que entendem a fé cristã como um canal de 
respostas aos anseios sociais, que envolvem, segundo Alencar (2019, p. 178): 
[...] desigualdade, violência urbana, pobreza, desemprego, corrupção, anal-
fabetismo, mortalidade infantil, entre outros, e Alencar: Grupos protestantes 
e engajamento social ter como missão a concretização do Reino de Deus 
entendido como uma realidade de paz e justiça para todos – temas econômi-
cos, políticos e sociais. 
Podemos dizer, então, que os evangélicos progressistas não atuam no sentido 
de converter os indivíduos à sua religião, mas, sim, de alterar a consciência dos 
evangélicos mais intolerantes. Para tanto, seu exercício ético consiste muito 
mais na conciliação entre consciência religiosa, questões sociais e políticas 
nas quais a fé pode agir. 
Desde 1950, surgiram grupos e instituições de cunho progressista que 
buscam problematizar a relação entre fé, igreja e o contexto social, tais como 
a Visão Mundial, a Associação Evangélica Brasileira (AEVB) e a Rede Evan-
Religião e movimentos sociais10
gélica Nacional de Ação Social (RENAS), que tomam para si a missão de 
ressignificar a cultura e religião evangélica. Outrossim, de acordo com Conrado 
(2006), desde 1988, com o período de redemocratização brasileira, as redes 
evangélicas que prestam serviços de assistência à sociedade empreenderam 
fortes campanhas entre os fiéis,esclarecendo-os acerca das demandas sociais 
e solicitando que participassem das ações de ONGs, movimentos sociais, entre 
outras entidades que atuam auxiliando quem se encontra em qualquer situação 
de vulnerabilidade social, educacional, de saúde, etc. Assim, entre os anos 
1990 e 2000, uma das maneiras de os grupos sociorreligiosos se integrarem 
à sociedade foi mediante ações sociais e filantrópicas. 
Existem alguns grupos que se destacam no cenário progressista, a começar 
pelo grupo surgido durante o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. A Frente 
Evangélica Pelo Estado de Direito (FEED) é formada por líderes cristãos e coor-
denada pelo pastor Ariovaldo Ramos, que se destacou por suas pregações adeptas 
da teologia da missão integral (TMI). Vale ressaltar que esse grupo se formou 
enquanto oposição ao impeachment e denunciando-o como um golpe de Estado. 
Já em relação à TMI, trata-se de uma teologia surgida nos anos 1970 que buscava 
modificar o ideal de missão protestante, tornando-o mais ligado aos problemas 
sociais e tendo como contexto originário a oposição entre dois grupos evangélicos: 
os fundamentalistas e os liberais. Enquanto os liberais defendiam agendas como os 
aspectos individuais da religião e os aspectos sociais que a instituição religiosa deve 
ter, os fundamentalistas defendiam o não envolvimento da religião com a questões 
da sociedade. Assim, a TMI surgiu para resolver esse antagonismo: “[...] eram 
pessoas comprometidas com a tradição protestante-evangélica, mas também com 
a realidade sócio-histórica e cultural da América Latina” (SANCHES, 2009, p. 55). 
Outro grupo a se destacar dentro dos movimentos evangélicos é o Entre.nós, 
liderado pelo pastor Henrique Vieira, que é conhecido no Rio de Janeiro, onde 
iniciou sua carreira, como um pastor progressista por tratar temas polêmicos entre 
os evangélicos como de forma contemporânea. Atualmente, Vieira atua como pastor 
na Igreja Batista do Caminho, que se tornou independente em 2012, justamente por 
lidar com questões tabus de forma distinta. O pastor Henrique também é conhecido 
por seu cunho político e é filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (Psol), pelo 
qual foi vereador do RJ entre os anos de 2013 e 2016. Em 2017, foi assessor do 
vereador Marcelo Freixo e é também colunista do jornal Mídia Ninja. Já o Entre.
nós surgiu em 2015 com a missão de ressignificar a imagem dos evangélicos no 
Brasil e, também, criar uma rede entre cristãos que apoiam a luta progressista. 
Por fim, podemos elencar o grupo Esperançar, que se fundamenta nos movi-
mentos teológicos: a teologia da libertação e as teologias contextuais. Enquanto 
a primeira se associa às causas sociais ligadas à população de baixa-renda, a 
11Religião e movimentos sociais
segunda se refere a um desdobramento da primeira, ou seja, a teologia contextual, 
como seu próprio nome anseia, busca pensar o contexto em seu amplo aspecto 
e no qual os fiéis vivem. Assim, ao trazer o contexto para a reflexão teológica, 
a teologia contextual é matriz de outras correntes teológicas que interagem 
com ela: teologia negra, teologia queer, teologia feminista, teologia LGBTQ+. 
Ou seja, as pautas por uma teologia progressista também se difundem por meio de 
pautas identitárias, contudo, em oposição à agenda conservadora fundamentalista.
Conclui-se que a presença evangélica no Brasil, desde os anos 1980, vem 
interagindo e movimentando peças na esfera social. Vemos que, assim como 
no catolicismo, a religião evangélica teve de se debruçar teologicamente sobre 
a realidade e os seus avanços para melhor compreendê-los. Nesse sentido, 
podemos observar que a mudança temporal e contextual sempre apresenta 
grandes desafios à sociedade. De acordo com as correntes mais progressistas, 
se a teologia não buscar compreender a obra divina por meio da realidade posta, 
não há como se manter como lugar de acolhimento e fraternidade entre fiéis. 
ALENCAR, G. Grupos protestantes e engajamento social. Religião e Sociedade, 
v. 39, n. 3, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-
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BOFF, L.; BOFF, C. Como fazer teologia da libertação. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1986. 
CAVALCANTE, R. A cidade e o gueto: introdução a uma teologia pública protestante e o 
desafio do neofundamentalismo evangélico no Brasil. São Paulo: Fonte Editorial, 2010.
CONRADO, F. Religião e cultura cívica: um estudo sobre modalidades, oposições e com-
plementariedades presentes nas ações sociais evangélicas no Brasil. Tese (Doutorado) 
-Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do 
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
DURKHEIM, É. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
GIBELLINI, R. A teologia do século XX. São Paulo: Loyola, 1998.
GIUMBELLI, E. Cultura pública: evangélicos y su presencia en la sociedad brasileña. 
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Acesso em: 13 ago. 2020.
Religião e movimentos sociais12
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
SANCHES, R. Teologia da missão integral: história e método da teologia evangélica latino 
americana. São Paulo: Reflexão, 2009. 
SANT’ANNA, S. Santo dos nossos dias: um testemunho libertador. São Paulo: Líber 
edições, 2004.
Leituras recomendadas
BOFF, L. América Latina: da conquista à nova evangelização. 3 ed. São Paulo: Ática, 1992.
BRASIL: nunca mais. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 1989. 
MONDIN, B. Os teólogos da libertação. São Paulo: Paulinas, 1980. 
PIERUCCI, A. F. Secularização em Max Weber: da contemporânea serventia de vol-
tarmos a acessar aquele velho sentido. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 13, n. 
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RUETHER, R. R. Sexismo e religião: rumo a uma teologia feminista. São Leopoldo: Si-
nodal, 1993.
13Religião e movimentos sociais
SEMINÁRIOS DE 
POLÍTICAS URBANAS, 
RURAIS E DE 
HABITAÇÃO E 
MOVIMENTOS SOCIAIS
Flaviana Aparecida de Mello
Movimentos sociais e suas 
bandeiras na atualidade 
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar o conceito e o contexto dos “novos” movimentos sociais.
  Explicar os movimentos de resistência durante a ditadura militar no 
Brasil.
  Descrever os movimentos sociais específicos e suas lutas.
Introdução
As mobilizações de trabalhadores, que se constituíram a partir da Revo-
lução Industrial no mundo, se assentam enquanto gênese dos grupos 
que se formaram para reivindicar melhores condições de vida e trabalho. 
Esses coletivos que vão se organizando formam os movimentos sociais. 
Durante alguns anos, os movimentos sociais eram sinônimo de luta por 
melhores condições sociais, econômicas e trabalhistas e assentavam-se 
na esteira das conclamações por melhores salários, regulação de horas 
de trabalho, entre outros. 
No entanto, em meados do século XX, as pessoas passaram a se 
mobilizar em torno de pautas que iam além das questões econômicas 
e dos direitos trabalhistas. Esses indivíduos formaram coletivos com 
pautas em comum, constituindo os novos movimentos sociais, cujas 
lutas reivindicam direitos individuais, identidade cultural, de gênero, de 
orientação sexual, bem como os direitos à terra, a ensino de qualidade, 
à democracia, entre outros, somados a uma pauta de uma sociedade 
anticapitalismo.Neste capítulo, você estudará sobre os movimentos sociais, com 
ênfase na diferença entre os movimentos sociais originários e os novos 
movimentos sociais. Além disso, conhecerá os movimentos sociais mais 
representativos do período do regime militar, bem como os movimen-
tos sociais na contemporaneidade, com suas pautas específicas e seus 
objetivos. Por fim, verá a importância dos movimentos sociais para o 
Serviço Social. 
1 Conceito e contexto dos novos 
movimentos sociais
A gênese do termo movimento social tem a sua fundamentação na contraditória 
analogia entre o sistema capitalista e as condições de trabalho. As abordagens 
preponderantes a respeito dos movimentos sociais, empregadas no século 
XIX até aproximadamente a primeira metade do século XX, faziam uma 
correlação direta entre o conceito de movimentos sociais e a luta de classes, 
que havia nascido com os movimentos de trabalhadores operários das fábricas 
(CRAVEIRO; HANDAM, 2015). 
Ao analisar o contexto histórico do desenvolvimento das sociedades, so-
bretudo daquelas que tem por sistema econômico o capitalismo, observa-se 
que, para além das demandas que nascem dessa contraditória relação entre 
as classes burguesa e trabalhadora, há outras necessidades a serem debatidas 
e reivindicadas. De acordo com Silva (2001), em meados da década de 70, 
originou-se, nos Estados Unidos, uma teoria denominada mobilização de 
recursos, que buscava alcançar objetivos em comum na coletividade. Essa 
teoria dizia respeito tanto aos movimentos sociais quanto a possíveis condi-
ções políticas em favor de seus interesses. Nesse mesmo contexto histórico, 
originou-se a teoria dos novos movimentos sociais, formada para representar 
as disputas simbólicas de identidades, estilo de vida, reconhecimento de 
liberdades, entre outros (CRAVEIRO; HANDAM, 2015). 
Estudiosos dessa temática afirmam que existem algumas variações concei-
tuais, porém a definição mais geral e global aponta que os novos movimentos 
sociais nascem enquanto uma tática aos movimentos sociais iniciais e/ou 
tradicionais, visto que suas bandeiras de luta não são exclusivamente pautadas 
na desigualdade de classe que o sistema capitalista provoca, mas sim buscam 
lutar por direitos que vão além dos direitos por trabalho e melhores condições 
de labor (CRAVEIRO; HANDAM, 2015). 
Outro fator sobre os novos movimentos sociais se refere ao fato de eles 
serem compreendidos como uma rede de grupos que partilha uma cultura 
de movimento e uma identidade grupal. Além disso, eles configuram uma 
Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade2
rede de coletivos na vida cotidiana e solicitam um envolvimento pessoal 
na experiência e no exercício da inovação cultural (MELUCCI, 1989). A 
Figura 1, a seguir, apresenta a diferença entre os dois tipos de movimentos 
sociais.
Figura 1. Diferença entre os dois tipos de movimentos sociais. 
A teoria dos novos movimentos sociais demonstra que não basta apenas 
fazer revolução com base na luta de classes, pois existem outras lutas a serem 
debatidas e confrontadas, que se configuram enquanto bandeira de reconheci-
mento de identidade cultural, étnica, religiosa, ambiental, entre outros. Segundo 
Gohn (1995a, p. 44), a teoria dos novos movimentos sociais: 
[…] diz respeito aos movimentos sociais ecológicos, das mulheres, pela paz 
e etc. Os novos movimentos se contrapõem aos velhos movimentos sociais, 
em suas práticas e objetivos, ou seja, se contrapõem ao movimento operário-
-sindical, organizado a partir do mundo do trabalho.
Para Montaño e Duriguetto (2011), além de se apresentarem enquanto uma 
opção para lutar por direitos que vão além daqueles reivindicados pelos movi-
mentos sociais tradicionais, os novos movimentos sociais buscam equilibrar 
os direitos inerentes à vida humana. Contudo, em algumas ocasiões, eles se 
alinham, em pensamento e atitude, às demandas expressas pelos movimentos 
sociais tradicionais de trabalhadores. 
Além dessas características basais, os novos movimentos sociais têm suas 
reivindicações completamente fora da arena de debate sobre questões trabalhis-
3Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade
tas, além de que alguns deles possuem um desapreço pelas determinações do 
Estado e pelos partidos políticos. A Figura 2, a seguir, apresenta um exemplo 
de novo movimento social: o movimento feminista.
Figura 2. Protesto do movimento feminista no dia 08 de março — dia 
internacional da mulher. 
Fonte: Gouvêa (2018, documento on-line).
Outro ponto a ser analisado em relação ao contexto de formação e concei-
tuação dos novos movimentos sociais são os predicados analítico e teórico. 
Conforme Montaño e Duriguetto (2011), esses predicados são constituídos por: 
grupos considerados de esquerda, porém pós-modernos, que negam a corrente 
teórica marxista e possuem a premissa de que a luta está na mudança de cultura 
e hábitos; grupos que se identificam com as ideias de revolucionários que se 
pautaram/pautam nas bases teóricas do marxismo; e grupos de nacionalistas 
que pautam suas reivindicações em demandas de ordens pontuais. 
No contexto das novas bandeiras reivindicatórias, emergem estudos que 
dão origem a novas teorias, as quais se dedicam a pesquisar sobre as novas 
configurações de movimentos sociais. Cada um dos novos movimentos sociais 
possui suas premissas, mas todos procuram garantir de alguma forma os 
direitos inerentes ao coletivo a que pertencem. 
Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade4
Scherer-Warnen (2007) classifica os novos movimentos sociais que fazem suas reivin-
dicações em rede da seguinte forma:
  Entre a territorialidade local e as articulações no âmbito global: inclui os 
movimentos sociais de associações de bairro, organizações da sociedade civil e 
trabalho das pastorais sociais ligadas à Igreja Católica.
  Em termos de sistematização de demandas políticas: inclui os movimentos 
sociais de entidades da sociedade civil, que têm por desígnio informar e formar 
cidadãos para que estes saibam seus papéis dentro da sociedade, aprendam a 
reivindicar seus direitos e pressionem o Estado a fazer seu papel de provedor e 
executor de políticas sociais.
  Protestos feitos por meio de marchas, caminhadas pelas ruas e avenidas das 
cidades: esses movimentos sociais visam a chamar a atenção da sociedade para 
pautas como exclusão de minorias, marcha da maconha, marcha dos indígenas, 
dos trabalhadores do campo, entre outras. 
A partir do entendimento dos novos movimentos sociais, é possível perceber 
que, com a evolução da sociedade, outras demandas vão surgindo enquanto 
necessidades de determinados grupos. Portanto, observa-se que os movimentos 
sociais tradicionais não conseguem representar as demandas mais específicas 
desses outros segmentos, fazendo-se necessário a mobilização para a articu-
lação de movimentos em prol de que suas demandas sejam reconhecidas e 
atendidas em forma de direitos. 
Os novos movimentos sociais na sociedade contemporânea têm se siste-
matizado cada vez mais em busca de tornar os seus componentes cidadãos 
críticos, a fim de que estes compreendam seu real papel na sociedade e a 
importância dos movimentos sociais em prol da democracia e da legitimação 
dos espaços de debate diante das políticas sociais empreendidas pelo Estado. 
Contudo, os novos movimentos sociais não se articulam somente em torno 
de sindicatos, como a configuração dos movimentos tradicionais, pois eles 
formam redes, articulando instâncias, como fóruns, assembleias, reuniões 
sistematizadas, pastorais. Além disso, eles constituem organizações sem fins 
lucrativos, hoje denominadas OSC (organizações da sociedade civil). 
Portanto, essas articulações se desenham para além do território local, 
pois conseguem ampliar suas conexões com organizações de outros estados, 
e para além do território nacional (daí o sentido de redes), pois conseguem se 
5Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade
conectar com vários outros segmentos que lutam pelos mesmos ideaisou por 
similares às suas. Desse modo, esses movimentos se encontram em várias 
partes do país e do mundo, configurando-se em lutas amplas e diversas, as 
quais precisam ser notadas e reconhecidas nos planos territorial, nacional e 
internacional. 
2 Movimentos sociais de resistência durante 
o período da ditatura militar no Brasil
Com a destituição das eleições diretas para presidente e parte da sociedade 
temendo o avanço dos ideais de uma sociedade mais justa, pautada nos pre-
ceitos socialistas, João Goulart, então presidente do Brasil, eleito pelo voto 
popular e democrático, tem seu cargo confi scado pelos militares, que instauram 
um golpe militar na democracia nacional no ano de 1964. O regime militar 
ocasionou vários problemas na sociedade, os quais incidiam diametralmente 
nas liberdades democrática e de imprensa, ocasionando a censura na arte e 
na cultura por meio de músicas que foram proibidas de serem cantadas, peças 
de teatro que foram impedidas de serem apresentadas, perseguição e ameaças 
aos artistas, entre outros. Além disso, o governo ditatorial militar retirou o 
direito de as pessoas manifestarem suas ideias e criticarem o governo; as que 
o faziam eram duramente perseguidas pelos militares, presas, exiliadas e até 
mesmo assassinadas. 
Assim, os novos movimentos sociais que estavam se configurando no 
mundo passaram a se organizar também no Brasil, juntamente aos movi-
mentos sociais tradicionais, aos sindicatos, entre outros. No entanto, esses 
movimentos passaram a ser perseguidos pelo regime militar, pois suas lutas 
foram classificadas como subversivas à ordem do governo. 
Não obstante, mesmo com esse cenário conjuntural desfavorável para as 
práticas democráticas (p. ex., manifestações, organização de eventos, con-
gressos, encontros, fóruns), alguns movimentos sociais foram resilientes e 
se colocaram na linha de enfrentamento ao regime militar para lutar pelos 
direitos civis, políticos e sociais da sociedade, a fim de pôr um fim nesse 
regime autocrático (Figura 3). 
Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade6
Figura 3. Passeatas populares empunhando faixas pedindo o fim das torturas e 
dos assassinatos que ocorriam no contexto do governo militar.
Fonte: Abrantes (2016, documento on-line).
Scherer-Warren (2007) destaca alguns movimentos sociais que foram 
imprescindíveis e marcaram a história do País na luta pelo fim da autocracia 
e o retorno da democracia e das liberdades, são eles: o movimento estudantil 
e os movimentos de base política da Igreja Católica, ligados à teologia da 
libertação. Esses movimentos sociais tiveram participação crucial na luta em 
prol do retorno da democracia, pois faziam manifestações nas ruas, mesmo sob 
forte repressão pelo braço armado do Estado, e reuniam-se clandestinamente 
para deliberar suas formas de tentar sobrepor a ordem ditatorial vigente. 
No entanto, diante dos vários acontecimentos de manifestações que de-
monstravam a insatisfação por uma ampla parte da sociedade diante do regime, 
os militares desenvolviam práticas de tortura, prisões, entre outros. No ano 
de 1968, foi lançado pelos militares o Ato Institucional nº. 5, o AI-5 (Figura 
4) (SCHERER-WARREN, 2007).
7Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade
Figura 4. Tanques de guerra na região central de São Paulo (SP) durante o 
período do AI-5.
Fonte: Souza (2019, documento on-line).
Diante desse ato institucional, que promoveu ainda mais perseguições, 
desaparecimento de pessoas, prisões, repressões a qualquer forma de mani-
festação, entre outros, foram lançadas alternativas para enfrentar o regime 
militar. Para tanto, foi organizada a luta armada pela população, além do 
trabalho educativo e da formação política dos segmentos populacionais que 
viviam à margem da sociedade nos guetos das periferias dos centros urbanos, 
pois eles muitas vezes desconheciam os seus direitos e não compreendiam o 
quão devastador estava sendo o regime militar. Assim, acreditava-se que seria 
possível alcançar possíveis alternâncias para a quebra e pôr fim à ditatura 
militar, garantindo o retorno as liberdades e da democracia (SCHERER-
-WARREN, 2007).
O Ato Institucional nº. 5, mais conhecido como AI-5, foi decretado no governo do Marechal 
Costa e Silva, em dezembro de 1968. Ele foi considerado o pior ato da ditadura, visto que 
determinou o fechamento do Congresso Nacional, bem como do Supremo Tribunal 
Federal (STF). Esse decreto deu plenos poderes para que os militares assumissem o 
Governo Federal. Desse modo, ocorreram ainda mais perseguições, prisões, destituição 
e cassação de cargos de deputados, senadores, prefeitos e governadores, além de 
continuar a onda de assassinatos e torturas a todos aqueles que eram opositores a esse 
Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade8
Segundo Scherer-Warren (2007), outros movimentos sociais se referiam à luta 
pelo retorno da democracia, da liberdade de voto, das liberdades individuais, de 
expressão, entre outras. Assim, outros movimentos sociais foram surgindo e/ou 
ganhando expressão tanto na luta contra o governo militar quanto pela luta em prol 
de suas necessidades e particularidades, como, por exemplo, movimento feminista 
brasileiro, movimentos de trabalhadores do campo, movimento ambientalista, movi-
mento de identidades (p. ex., étnicas, raciais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, etc.). 
Por conseguinte, os movimentos sociais foram ganhando mais força, ao 
passo que o governo militar foi perdendo forças. Com isso, no início da década 
de 80, iniciou-se, aos poucos, a reabertura do Estado e alguns presos políticos 
foram libertados, bem como os exilados retornavam ao Brasil. Assim, os 
movimentos sociais continuaram a lutar para que se concretizasse o fim do 
regime militar e o restabelecimento da democracia.
Nessa época, várias mobilizações ocorram no Brasil, e uma delas, e talvez a 
mais importante naquela conjuntura, ficou conhecida como Diretas Já! (Figura 
5). Diversos atores políticos, artistas, intelectuais, juntamente à massa popular 
organizada nos movimentos sociais, pressionaram o Congresso Nacional a 
fim de estabelecer uma nova Constituição.
Figura 5. Manifestações Diretas Já! 
Fonte: Isto é (2016, documento on-line).
governo. No entanto, a oposição continuava a se manifestar por meio dos movimentos 
no campo de batalha, bem como nos espaços de formação e consciência de cidadania 
da população. Além disso, muitos políticos, artistas e intelectuais foram exilados, bem 
como teatros, filmes, músicas e shows passavam pelo crivo ainda mais restrito de censura. 
Fonte: Souza (2019) e Sudré (2019).
9Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade
As reivindicações eram para que a nova Constituição estabelecesse e 
garantisse os direitos sociais inerentes à população, bem como desenvolvesse 
mecanismos para defender a democracia e fortalecer as liberdades individuais 
e os respeitos às diferenças. Assim, com o encerramento da ditatura, em 1985, 
o povo voltou a participar das eleições, tendo o direito ao voto direto. Em 
outubro de 1988, o Brasil conclama a Constituição Federal, conhecida como 
Constituição Cidadã.
Portanto, pode-se observar que, sem as forças dos movimentos sociais, 
sejam eles tradicionais ou novos, articulados com a mobilização de políticos 
comprometidos com a democracia, a classe de intelectuais e os artistas, o 
Brasil não teria tido êxito no enfrentamento do regime militar, tampouco teria 
forças para formar uma nova Constituinte. Desse modo, lembre-se de que 
todo e qualquer direito usufruído na atualidade foi conquistado por meio de 
muitas lutas, resistência e enfrentamento por parte das pessoas que viveram 
esse período, algumas das quais até pagaram com a própria vida, para que, 
hoje, a nação pudesse viver com liberdade e democracia. 
3 Movimentos sociais e suas lutas 
Os movimentos sociais se iniciaram a partir de pessoas que se mobilizaram 
para reivindicar direitos que até então não eram regulamentados. Para tanto, 
elas precisaramorganizar sindicatos e movimentos sociais para que, assim, 
pudessem ter condições de lutar em prol de suas necessidades reais e con-
cretas. Assim, com a evolução das sociedades, outros movimentos foram 
despontando e trazendo pautas que vão além da luta de classes com base na 
relação contraditória entre o capitalismo e a classe trabalhadora. 
É importante ressaltar que toda luta que envolve um determinado segmento 
populacional que se articula e mobiliza em torno de uma agenda e funda 
um movimento social busca a transformação de suas necessidades por meio 
de pressão no Estado. Para tanto, é preciso chamar a atenção da sociedade 
para uma possível alteração em costumes, a fim de alcançar as mudanças 
necessárias. Desse modo, além dos movimentos sociais tradicionais, os novos 
movimentos sociais vão se organizando e ganhando evidência nos cenários 
internacional e nacional. 
Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade10
Os movimentos sociais, tanto os tradicionais como os novos, se desenvolvem 
a partir de mobilizações coletivas, as quais se sistematizam e ganham consti-
tuição de movimento social para manifestar suas reivindicações e lutar pelos 
seus direitos. Em relação aos novos movimentos sociais, suas reivindicações 
dizem respeito ao reconhecimento de manifestações religiosas, identidade de 
gênero e sexual, igualdade entre gêneros, direito ao campo para que todos os 
trabalhadores rurais possam ter terra para trabalhar, direito à moradia, direito 
à educação pública e plural, direito à saúde universal e com equidade, direito 
à preservação de mananciais, florestas, fauna e flora (Figura 6), entre várias 
outras formas de reivindicações. 
Figura 6. Marcha pelo meio ambiente.
Fonte: Outras palavras (2019, documento on-line).
Cada uma dessas bandeiras de luta mencionadas diz respeito às reivin-
dicações dos novos movimentos sociais. O Quadro 1, a seguir, apresenta os 
movimentos sociais correspondentes a cada uma dessas lutas. 
11Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade
Movimentos 
sociais Lutas específicas 
Movimento 
feminista 
Luta pela igualdade de gênero em termos de salário, 
empregabilidade, profissionalização, respeito a seus cor-
pos e à sua sexualidade. Esse movimento se organizou 
a partir de estudos nas universidades sobre a questão 
de sexo e gênero. Nas periferias, as mulheres lutavam 
para ter acesso a vaga de creche, atendimento de saúde, 
entre outros. Atualmente, há vários movimentos femi-
nistas, e suas reivindicações aglutinam o que desde o 
início já era reivindicado tanto nas academias quanto nas 
periferias. Somado a essas bandeiras históricas, hoje, o 
movimento feminista debate sobre a liberdade de amar 
qualquer gênero, de amamentar em locais públicos, pela 
não erotização e vulgarismo do corpo feminino, bem 
como sobre questões que o setor religioso mais con-
servador não aceita, como a legalização do aborto. Os 
movimentos feministas se fazem presentes nas periferias, 
nas academias e até mesmo em algumas igrejas, como a 
católica, que tem o movimento chamado Católicas pelo 
direito de decidir. 
Movimento 
Sem-Terra (MST) 
Nos países capitalistas, os movimentos de trabalhadores 
sem-terra lutam por igualdade de acesso à terra e são 
contrários aos grandes latifúndios, que tornam muitas 
dessas terras improdutivas, com concentração destas nas 
mãos de poucos e uma maioria de pessoas sem ter nada 
de terra para produzir e gerar alimentos, não só para a 
sua subsistência, como também para toda a sociedade. 
Existem vários movimentos desse segmento social, no 
entanto, o MST é considerado um dos movimentos mais 
expressivos, pois possui uma longa história de luta, não 
só por igualdade de terra, mas também para garantir a 
produção de alimentos com qualidade. Além disso, cabe 
destacar que o MST é considerado um dos maiores pro-
dutores de alimentos orgânicos da América Latina. O MST 
se alia às lutas por trabalho digno, por uma distribuição 
de renda adequada, por moradia digna, educação de qua-
lidade, entre várias outras lutas que abarcam a sociedade 
como um todo. 
Quadro 1. Determinados movimentos sociais e suas lutas históricas
(Continua)
Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade12
Movimentos 
sociais Lutas específicas 
Movimento 
LGBTQIA+
No Brasil, ainda na época do período da ditadura militar, o movi-
mento LGBTQIA+ surgiu para discutir questões relacionadas, na 
época, com o público gay. O movimento desenvolveu o jornal 
chamado Lampião como uma forma de tentar driblar a censura, 
que perseguia esse público, algo ainda muito tímido devido a 
toda moral conservadora e ao regime que se estabelecera no 
Brasil. No entanto, a partir da reabertura do País à democracia, o 
movimento, antes chamado de gay e, depois, GLS, vai tendo ex-
pressão na sociedade. A princípio, os participantes do movimento 
lutavam pelo direito de assumirem sua sexualidade, pois sofriam 
várias formas de preconceito pelo fato de a sua forma de amar 
não ser aquela convencionada pela moral social e religiosa. Além 
disso, eles sofreram preconceitos em virtude do HIV, pois muitas 
das pessoas ligadas a setores conservadores atribuíram a eles 
essa doença, tanto que foram, durante muitos anos, classificados 
enquanto grupo de risco de disseminação. No fim dos anos 80 e 
início dos anos 90, várias associações e organizações da sociedade 
civil se estabeleceram em prol dos direitos sexuais, bem como dos 
direitos sociais e civis. Assim, a cada novo tempo da sociedade, au-
menta a sigla do movimento, que antes era de apenas três letras. 
Hoje, esse movimento é considerado um dos mais plurais, pois, 
além de gays e lésbicas, considera as pessoas que são transgêne-
ros, travestis, queers, transexuais, e, a cada nova evolução, podem 
ser agregados outros segmentos dentro dessa diversidade sexual. 
Movimento 
negro
No Brasil, ainda de forma clandestina e precária, o movimento 
negro surgiu quando os negros passaram a se rebelar no 
período de escravização. Todavia, é no século XX que esse 
movimento ganha forma e contorno de movimento social 
formal, entrando no cenário das sociedades em várias partes 
de mundo na luta pela não criminalização pela condição 
de pele, ou etnia. Alguns nomes no cenário nacional, como 
Abdias Nascimento, e no internacional, como o ex-presidente 
da África do Sul, Nelson Mandela, bem como Mart Luther King, 
nos Estados Unidos, são exemplos de personalidades que são 
respeitadas dentro do movimento negro. No Brasil, as pes-
soas negras conquistaram o direito a cotas para ingressar em 
universidades públicas, bem como a legislação do Estatuto da 
Igualdade Racial, e continuam suas lutas, sobretudo pelo fim 
do preconceito atribuído a sua cor de pele, etnia e fenótipo. 
Quadro 1. Determinados movimentos sociais e suas lutas históricas
(Continuação)
(Continua)
13Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade
Cabe ressalvar que os movimentos sociais não possuem uma única li-
derança, tampouco uma única forma de se apresentarem para a sociedade, 
uma vez que eles desenvolvem variadas formas de fazer suas reivindicações, 
como: manifestações em vias públicas, notas de repúdio, marchas, seminários 
Fonte: Adaptado de Santos (2015) e Tomazi (2000).
Movimentos 
sociais Lutas específicas 
Movimento 
de luta pelo 
direito à 
moradia 
O movimento mais conhecido do segmento de luta por 
moradia foi o Movimento dos trabalhadores sem-teto (MTST), 
fundado em 1997. Além de ser um movimento de trabalha-
dores que encapam as bandeiras de luta dos movimentos 
clássicos de trabalhadores, ele aglutina a pauta do direito à 
moradia digna. O principal ato desse movimento é chamar 
a atenção do Estado por meio de ocupações a prédios que 
estão abandonados nas diversas cidades brasileiras, para que, 
assim, possam conseguir forçar o Estado a promover uma 
política pública habitacional de interesse social que alcance a 
todas as pessoas que necessitam ter uma moradia própria. 
Movimento 
das pessoas 
em situação 
de rua 
Esse movimentoabrange as pessoas que lutam para ter 
dignidade de acesso às ruas e aos seus direitos de ir e vir sem 
sofrem qualquer tipo de atentados às suas vidas, bem como à 
sua dignidade. Essas pessoas lutam para ter atendimento com 
qualidade e respeito nas diversas políticas públicas sociais, 
bem como para ter o direito de poder conviver, se assim 
quiserem, nas ruas. 
Movimento 
ambientalista 
O movimento ambientalista se contrapõe ao uso de novas 
tecnologias que prejudicam a fauna e a flora e que não 
preservam a água doce (rios, lagos), os mares, entre outros. 
Além disso, na contemporaneidade, esse movimento se dá por 
meio de diversas organizações da sociedade civil, tanto em 
nível nacional quanto internacional. Atualmente, os variados 
movimentos ambientalistas são contra o aquecimento global, 
que pode trazer consequências drásticas para a vida humana 
tanto na contemporaneidade como no futuro. 
Quadro 1. Determinados movimentos sociais e suas lutas históricas
(Continuação)
Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade14
temáticos, fóruns de debate acerca de um determinado assunto, participação 
em conselhos de direitos, associações, partidos políticos, centros acadêmicos, 
entidade de classes, sindicatos, entre outras. 
Os movimentos sociais primários foram aqueles que se originaram nas relações de 
trabalho, considerados enquanto movimentos tradicionais. Já os novos movimentos 
sociais são aqueles que surgiram no século XX, cujas reivindicações vão além das 
demandas sociais e econômicas, que eram pautas dos movimentos sociais tradicionais. 
Para saber mais sobre esse assunto, assista ao vídeo Sociologia – Novos Movimentos 
Sociais, do canal Videoteca Café com Sociologia no YouTube, um curto vídeo desenhado 
que apresenta as várias características destinadas aos dois tipos de movimentos sociais: 
tradicionais e novos. 
Na contemporaneidade, para se somar força às diversas lutas, as múltiplas 
entidades que se aproximam das bandeiras erguidas pelos movimentos sociais 
vão se articulando em redes (CASTELLS, 2013) para fortalecer os movimentos 
e conseguir alcançar mais adeptos. Desse modo, é possível contrapor uma 
ordem que, por vezes, pode prejudicar um ou vários segmentos da sociedade, 
ou então conservar um direito que historicamente foi conquistado e com o 
qual a população precisa continuar sendo beneficiada.
Portanto, os movimentos sociais, tanto os tradicionais como os contem-
porâneos, são imprescindíveis para a manutenção da democracia, visto que 
suas formas de luta e reivindicação corroboram para melhorias na condição 
de vida dos indivíduos, buscando assegurar direitos humanos, civis e sociais 
indispensáveis a toda a população. 
Diante do exposto, percebe-se que os movimentos sociais não lutam por 
interesses que dizem respeito apenas ao segmento ao qual pertencem, visto que 
suas ações reivindicatórias geram conquistas que se conformam em benefícios 
e direitos sociais para todas as pessoas que compõem a sociedade atual e lutam 
pela manutenção dos direitos conquistados, a fim de que as novas gerações 
também possam usufruir deles. 
15Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade
ABRANTES, B. Especial regime militar: tudo sobre a ditadura no Brasil. 2016. Disponível 
em: https://www.stoodi.com.br/blog/2016/03/31/especial-regime-militar-tudo-sobre-
-ditadura-no-brasil/. Acesso em: 17 jun. 2020.
CASTELLS, M. Rede de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet: 
Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
CRAVEIRO, A. V.; HAMDAN, K. O. Os novos movimentos sociais: uma análise crítica em 
torno desta temática. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE POLÍTICA SOCIAL E SERVIÇO 
SOCIAL: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS, 1., 2015, Londrina. Anais [...]. Londrina: [s. n.], 2015.
GOHN, M. G. Movimentos e lutas sociais na história do Brasil. São Paulo: Loyola, 1995a. 
GOHN, M. G. História dos movimentos sociais e lutas sociais: a construção da cidadania 
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GOUVÊA, R. O movimento feminista: as lutas e as conquistas. 2018. Disponível em: http://
jundiagora.com.br/movimento-feminista/. Acesso em: 17 jun. 2020.
ISTO É. Diretas já: o clamor das ruas. Isto É, São Paulo, n. 2451, 25 nov. 2016. Disponível 
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OUTRAS PALAVRAS. Prepara-se a greve mundial pelo clima. 2019. Disponível em: https://
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SANTOS, W. S. O movimento LGBT no Brasil (1978-1981): um estudo sobre o jornal 
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TOMAZI, N. D. Iniciação a sociologia. 2. ed. São Paulo: Atual, 2000.
Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade16
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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
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sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Leituras recomendadas
CANABARRO, R. História e direitos sexuais no Brasil: o movimento LGBT e a discussão 
sobre cidadania. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA REGIONAL, 2., 2013, 
Passo Fundo. Anais [...]. Passo Fundo: UPF, 2013.
DOMINGUES, P. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. Tempo, 
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Acesso em: 17 jun. 2020.
OLIVEIRA, T. A. Movimentos Sociais e suas marcas no mundo globalizado: do sindicalismo 
aos atuais movimentos na seara brasileira e sua importância na luta pela democracia. 
Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 164, 2017. Disponível em: https://ambitojuridico.com.
br/edicoes/revista-164/movimentos-sociais-e-suas-marcas-no-mundo-globalizado-
-do-sindicalismo-aos-atuais-movimentos-na-seara-brasileira-e-sua-importancia-na-
-luta-pela-democracia/. Acesso em: 17 jun. 2020.
SCHERER-WARREN, I. Movimentos sociais. Florianópolis: EDUFSC, 1987.
17Movimentos sociais e suas bandeiras na atualidade
MOVIMENTOS 
SOCIAIS E 
MOBILIZAÇÃO 
SOCIAL 
Ana Paula Fliegner dos 
Santos
Tecnologia e 
movimentossociais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer as características e a importância dos movimentos sociais.
  Analisar de que forma as tecnologias atuais contribuem para a orga-
nização e popularização dos movimentos sociais nos dias de hoje.
  Construir uma visão crítica sobre o papel da tecnologia nos movi-
mentos e mudanças sociais.
Introdução
Os movimentos sociais são a representação da voz do povo: trazem, 
em suas lutas, as insatisfações com as políticas, com os governantes 
e buscam ampliar direitos. Como aliada dos movimentos sociais, hoje, 
temos a tecnologia, que auxilia na divulgação, nas decisões de pautas e 
no agendamento de encontros/manifestações desses grupos. 
Neste capítulo, você vai estudar sobre as características dos movi-
mentos sociais e sobre a sua importância para a garantia de conquistas 
para a sociedade. Para além das contribuições das tecnologias para a 
popularização dos movimentos sociais, você também vai estudar sobre 
o papel das tecnologias na participação social e verá que elas causaram 
mudanças na forma de participação das questões sociais.
As características e a importância 
dos movimentos sociais
Os movimentos sociais – coletivo de pessoas organizado em prol de causas 
identitárias e sociais – são uma forma de reivindicar o contexto político. Suas 
pautas vão além de interesses individuais/particulares, já que transformam 
a vida de muitas pessoas quando as frentes de luta são conquistadas. Essas 
características são típicas aos movimentos sociais, pois as pautas devem ser 
voltadas para a transformação social e política, e a força para essa transfor-
mação encontra-se no coletivo. 
Esses movimentos sociais têm características voltadas ao plural e são muito 
importantes para a organização e mobilização dos cidadãos. As ações coletivas 
têm grande força e visam a melhoria na qualidade de vida dos indivíduos 
e transformação da sociedade em um local mais justo, no qual o respeito 
prevaleça, seja ele individual ou coletivo (GOHN, 2014).
As pautas e frentes de luta não buscam apenas mudanças, podem também 
lutar por permanência ou manutenção de algum direito. Geralmente, envolvem 
confronto, que pode ser de oposição ou de parceria do Estado. Compreender a 
importância dos movimentos sociais na construção da justiça e da cidadania 
permite identificar os problemas e obstáculos que devem ser ultrapassados 
para a construção da verdadeira democracia (GOHN, 2010).
Além de conseguir identificar os problemas ou as contradições nas questões 
sociais, é ainda mais importante que a sociedade constate a causa desses pro-
blemas, a raiz deles. Uma sociedade com consciência crítica é uma sociedade 
madura e capaz de lutar pelo coletivo. Segundo Lewis (1982), o conflito é 
sempre uma trans(ação), desperta e aumenta a identidade dos coletivos/grupos, 
implicando uma ação social recíproca e, consequentemente, a determinação 
de um opositor ou problema. Essa ação recíproca permite organizar grupos 
coesos e com identidades próprias.
O conflito social é, de fato, algo inerente à própria vida das sociedades e a sua existência 
aparece, corriqueiramente, como sinal de vitalidade da atividade coletiva. Quase sempre 
abre à transformação/mudança social. Apenas as sociedades estagnadas não possuem, 
em sua história e caminhada diária, as lutas sociais (FERNANDES, 1993).
Os movimentos sociais são fundamentais na política, pois fortalecem a 
democracia, garantem que haja inclusão social e direitos. São importantes na 
luta contra a corrupção na gestão pública, pois é a população que é prejudicada 
por essa prática, deixando de ter investimentos em políticas públicas que 
melhorariam a saúde, a educação, a segurança pública, etc.
Para isso, é necessário que os movimentos sociais marquem presença nos 
espaços que permitem que a população participe do controle social. Devem 
Tecnologia e movimentos sociais2
buscar debater, defender e levantar questionamentos sobre política, economia, 
cultura e sociedade sobre as políticas públicas direcionadas à população em 
vulnerabilidade. Não se envolver nesses espaços de decisões é deixar que 
as decisões sejam tomadas por outrem, é deixar de ser ouvido ou deixar de 
fortalecer os movimentos (BARROS et al., 2010). 
Para Marx (1975), “[...] as mudanças na sociedade ocorrem a partir da 
ebulição dos movimentos sociais: contra o capital e o Estado”. Ou seja, os 
movimentos sociais são importantes pois são responsáveis por exigir mudanças, 
cobrar respostas para as questões sociais e reivindicar transformações. São 
a voz do povo quando os indivíduos da sociedade não estão satisfeitos com 
posições e medidas do governo, dos governantes e gestores e se fazem neces-
sários para cobrar medidas para as demandas sociais (BARROS et al., 2010). 
As organizações dos coletivos visam mobilizar a sociedade e suas pautas 
geralmente abordam: desemprego, corrupção, valorização dos professores, 
greve de operários por melhores condições de trabalho, problemas ambientais, 
como lixo doméstico, acidentes com navios petroleiros, produtos químicos, 
lixo tóxico, etc. Podem realizar-se por meio de passeatas, manifestações em 
locais públicos, difusão de mensagens pelas redes sociais, ocupação de espaços 
públicos, marchas, greves, entre outros. 
Confrontos e parcerias
Os movimentos sociais são sempre de confronto político e podem trabalhar para 
transformar ou manter determinada situação. Na maioria dos casos, eles têm relação 
com o Estado, seja de oposição, seja de parceria, de acordo com seus interesses e 
necessidades. Observam-se várias formas de atuação dos movimentos: 
  Contra ações do poder público consideradas lesivas aos interesses da população 
ou de um setor dela, como determinada política econômica ou uma legislação 
que prejudique os trabalhadores ou os outros setores da sociedade.
  Para pressionar o poder público a resolver problemas relacionados à segurança, 
à educação, à saúde, etc. (por exemplo, as ações que exigem do Estado medidas 
contra a exploração sexual e o trabalho infantil).
  Em parceria com o poder público para fazer frente às ações de outros grupos ou 
empresas privadas (é o caso dos movimentos de proteção ambiental).
  Para resolver problemas da comunidade, independentemente do poder público, 
muitas vezes tomando iniciativas que caberiam ao Estado (por exemplo, as várias 
ações realizadas por Organizações Não Governamentais (ONGs) e associações de 
moradores de bairros).
Fonte: Tomazi (2010).
3Tecnologia e movimentos sociais
As ações coletivas vem sendo ressignificadas ao longo dos tempos e evo-
luindo junto às comunidades. Nesse sentido Gohn (2010, p. 16), acredita que 
[...] as ações coletivas atuais são expressões que se espelham nas lutas ocorridas 
em séculos passados que visavam igualdade, fraternidade e liberdade. Hoje, a 
igualdade é resinificada com a tematização da justiça social; a fraternidade se 
retraduz em solidariedade; e a liberdade associa-se ao princípio da autonomia 
– da constituição do sujeito, não individual, mas coletivo.
Hoje, não temos como pensar em movimento social sem remeter-nos às ações 
coletivas de grupos organizados que visam lutar por mudanças na sociedade. 
Com a facilidade das tecnologias e o acesso a informações, cresceu o interesse 
dos jovens e adultos em fazer parte de momentos de embate, discussão e rei-
vindicação. Nesse sentido, a tecnologia faz com que os indivíduos participem 
de alguma maneira, posicionem-se e sintam-se pertencentes e representados.
O dever da participação política
A participação política é um dever de todos e é importante que exista, porque, por meio 
dela, todos podem exercer a sua vontade e tomar consciência do que está sendo feito. 
Em outras palavras, deve agir como um poder fiscalizador das políticas públicas, que 
não podem ficar restritas a um pequeno número de indivíduos que ditam as normas, 
sem conhecer o que os outros pensam a respeito. São tipos departicipação política: 
  Individual – o indivíduo, em certas situações, toma suas próprias conclusões e 
escolhe seu caminho.
  Coletiva – ocorre por meio da integração em qualquer grupo social e a força do 
grupo compensa a fraqueza do indivíduo.
  Eventual – está ligada a circunstâncias momentâneas, assegurando que dos dois mo-
dos há equivalente eficácia, desde que exercidos com consciência e responsabilidade.
  Organizada – assegura a continuidade dos trabalhos e, assim, maior eficiência.
  Conscientização – consiste em dar uma contribuição para que as pessoas percebam 
que nenhum ser humano vale mais ou menos que os demais, e que todos podem 
e devem lutar constantemente pela conquista ou preservação da liberdade de 
pensar e de agir e pela igualdade de oportunidades e responsabilidades.
  Organização – consiste em colaborar concretamente, fornecendo ideias ou meios ma-
teriais, para que grupos humanos conjuguem seus esforços visando objetivos comuns.
  Participação eleitoral – cada indivíduo pode participar de modo diferente no 
processo militante partidário. A participação por meio do voto é o mínimo que se 
deve exigir para cada cidadão numa democracia representativa.
Fonte: Dallari (2004).
Tecnologia e movimentos sociais4
Tecnologias e popularização 
dos movimentos sociais
Falar o que se pensa, não concordar com o posicionamento do governo e dei-
xar isso explícito nem sempre foram questões simples: em séculos passados, 
posicionar-se e falar o que se pensava era considerado um ato transgressivo 
que devia ser combatido pelos sistemas políticos. Ainda não temos muitas 
mudanças nesse sentido e a repressão ainda existe por parte do Estado.
Os movimentos sociais foram adequando-se ao longo dos séculos e encon-
trando formas de se manifestar e se organizar, as quais foram aprimorando-se 
com a chegada da tecnologia. Para Castells (2013), os movimentos sociais 
foram, ao longo da história, e continuam sendo, alavancas de mudanças sociais. 
Surgem a partir de crises nas condições de vida dos indivíduos, crises que 
causam desconfortos as comunidades e também a partir de uma desconfiança 
na gestão das instituições políticas. 
As tecnologias surgem como elemento novo aos movimentos sociais, 
pois oferecem o potencial dos espaços da internet, um espaço de coerção de 
interesses individuais, mas também um espaço para se exigir cada vez mais 
respostas dos cidadãos, grupos e do próprio Estado, trazendo novas formas 
de disputa por esse novo campo do espaço público (MINUCELLI, 2015).
As tecnologias não produzem equipamentos neutros de comunicação, elas 
são instrumentos ideológicos de dimensão política que podem gerar entusiasmo, 
tristeza, incentivar, gerar apatia, etc. Diante disso, pode-se compreender as inú-
meras possibilidades com as quais que a ideologia pode ser evidenciada na era 
tecnológica sem nenhuma neutralidade política definida (MINUCELLI, 2015). 
Castells (2013) defende que, ainda que as forças do Estado contenham 
a indignação no cotidiano, um sistema político atua também na criação de 
significados no imaginário dos indivíduos, o que facilita a dominação e a 
prática dos projetos de poder. Esse paradigma segue a lógica da moderniza-
ção, substituindo as ações em torno do social e do coletivo pela ação sobre o 
indivíduo ou sobre os atores sociais.
Instalar significados para a prática coletiva não significa apenas incentivar/
fomentar a criação de redes políticas no imaginário social, mas agir sobre o 
comportamento humano, modificando as concepções de estrutura e formatação 
das atitudes dos cidadãos, concepção que evidencia que: 
Ao longo da história, os movimentos sociais são produtores de novos valores 
e objetivos em torno dos quais as instituições da sociedade se transformaram 
a fim de representar esses valores criando novas formas para organizar a vida 
5Tecnologia e movimentos sociais
social. Os movimentos sociais exercem o contrapoder construindo-se, em 
primeiro lugar, mediante um processo de comunicação autônoma, livre do 
controle dos que detêm o poder institucional. Como os meios de comunicação 
de massa são amplamente controlados por governos e empresas de mídia, na 
sociedade em rede a autonomia de comunicação é basicamente construída nas 
redes da Internet e nas plataformas de comunicação sem fio. As redes sociais 
digitais oferecem a possibilidade de deliberar sobre e coordenar as ações de 
forma amplamente desimpedida (CASTELLS, 2013, p. 18).
Além da internet, os espaços da cidade também são ocupados e são fun-
damentais para a existência dos movimentos sociais a partir de sua mate-
rialização, ou seja, sua manifestação real nas ruas e nos espaços públicos. 
Assim, os espaços da cidade ocupados pelos movimentos desempenham um 
importante papel na história da mudança social, ajustando à prática moderna 
dos movimentos sociais possibilidades como: 1) a criação de comunidades de 
proximidade; 2) maior poder simbólico ao movimento social e 3) a construção 
de espaços políticos híbridos entre as redes sociais da internet e o espaço 
urbano ocupado (CASTELLS, 2013).
Tais características contribuem como dados essenciais para a vida e a manu-
tenção dos movimentos sociais, uma vez que as comunidades de proximidade 
são mecanismos fundamentais para a superação do medo da ação coletiva, ao 
passo que, ao se juntar a uma área ocupada pelo movimento social, outros e mais 
cidadãos podem participar do movimento sem que estejam ligados a alguma 
ideologia política ou organização burocrática, mas por seus próprios motivos. 
Ainda assim, quando ocupam áreas em que o poder do Estado domina, 
os movimentos sociais geralmente conseguem demonstrar que a ocupação 
simboliza a reivindicação do uso do espaço público e o querer por uma de-
mocracia real, ou apenas por democracia. Esse controle coletivo do espaço, 
acima de tudo, também representa o controle das vidas das pessoas, podendo, 
com a construção de espaços híbridos de atuação política, transformar-se em 
comunidades momentâneas de prática transformadora, livres dos interesses 
dominantes (MINUCELLI, 2017). Para Castells (2013, p. 139-140):
[...] o verdadeiro objetivo desses movimentos é aumentar a consciência dos 
cidadãos em geral, qualificá-los pela participação nos próprios movimentos e 
num amplo processo de deliberação sobre suas vidas e seu país, e confiar em 
sua capacidade de tomar suas próprias decisões em relação a classe política. 
Dessa forma, é possível observar, a partir das palavras de Castells (2013), 
o objetivo e a origem dos movimentos sociais. Com o passar do tempo, a 
Tecnologia e movimentos sociais6
sociedade passou por questões que geraram transformações, e um fator de 
grande importância para o mundo moderno foi a internet e as redes sociais. 
Esses elementos têm a capacidade de aproximar indivíduos e modificar es-
paços, comunidades e sociedades, pois podem mobilizar pessoas em favor 
de um ideal. Seja por crise, seja por indignações comuns a uma sociedade, 
seu objetivo maior é modificar pensamentos e construir uma consciência de 
mundo geradora de melhorias, de atitudes transformadoras.
Com a globalização, tudo se tornou mais próximo, inclusive os continen-
tes. Por meio das mídias de comunicação em massa, é possível observar o 
crescimento dos movimentos sociais, nas ruas e nos espaços da rede, e ficou 
mais fácil fazer parte de algum movimento, mais seguro no sentido físico, 
e manifestar sua opinião, seus interesses. Assim, unir-se a movimentos com 
pensamentos alinhados às causas individuais está a um clique. A popularização 
dos movimentos sociais amplia as frentes de luta, basta que os movimentos 
utilizem-se da linguagem correta para atrair mais indivíduos para suas pautas. 
O papel da tecnologia nos movimentos 
e mudanças sociais
Campo privilegiado de manifestações e posições políticas, as redes sociais e 
os protestos físicos passaram a replicar informações, textos, imagens, poesias 
e opiniões que davam a certeza de que a mudança viria com aadesão de um 
contingente maior de indivíduos dispostos a trazerem as suas reivindicações 
locais e pessoais. Desse modo, a mistura de ideologias e a diversidade das pautas 
geradas levaram a uma dualidade de informações e pensamentos sobre aqueles 
que seriam, inicialmente, os objetivos das manifestações, sem, no entanto, 
retirar delas a legitimidade que os próprios movimentos conquistaram junto 
à sociedade brasileira. Assim, os movimentos em rede passaram a ser parte 
integrante do complexo e amplo conceito de tecnologia, que toma dimensões 
de importância elevada no cenário político, social e econômico e que, dota-
dos da disputa ideológica de posições sobre visões de mundo e de política, 
demonstraram que não são politicamente neutros (MINUCELLI, 2015). 
Como uma nova forma de arranjo dos significados e práticas culturais, 
a manifestação nas redes também se consolidou como um momento inédito 
na história dos movimentos sociais reivindicatórios por meio de um desejo 
coletivo expresso de maneira rápida e impactante e de um programa virtual 
de interconexão entre os indivíduos, aprimorando a inteligência coletiva e 
cristalizando as comunidades virtuais como canais de participação relevantes 
para os sistemas políticos (MINUCELLI, 2015).
7Tecnologia e movimentos sociais
Para ampliar os estudos sobre tecnologias e movimentos sociais, leia, no link a seguir, 
o artigo sobre tecnologias de informação e o ativismo em rede, no qual você irá 
encontrar as características dos movimentos sociais diante das novas tecnologias de 
informação e comunicação.
https://goo.gl/eDAqNt
Assim, além das mudanças de padrões conquistados pela globalização com 
relação à maior democratização das relações políticas, à internet, às cidades e 
à democracia eletrônica compõem, gradualmente, novos padrões na mediação 
entre os indivíduos e a política. Esses elementos são, assim como as redes 
sociais, as formas pelas quais a globalização procura articular-se/organizar-se 
com a participação política e o controle social (MINUCELLI, 2015). 
Diante da possibilidade da comunicação independente utilizada na rede/inter-
net, configurou-se uma cultura de autonomia em relação à institucionalidade e às 
formas tradicionais de se fazer política. Esses novos movimentos sociais trouxeram 
ao campo dos movimentos sociais um aparente padrão emergente de ação coletiva 
que, sustentado na grande crise de representatividade política, imprimiu e imprime 
novos horizontes ao questionamento dos sistemas políticos, procurando aprimorar 
e aprofundar a participação democrática, mas, principalmente, redimensionando 
a noção de controle sobre os direitos sociais (MINUCELLI, 2015).
Ou seja, a tecnologia está sendo essencial para a participação dos cidadãos no 
controle social: utilizar-se de ferramentas capazes de unir pessoas, independente-
mente da localidade, fortalece os movimentos, e amplia as pautas de discussões, 
pois pode-se começar a pensar não apenas na transformação local, na comunidades, 
mas na transformação social a partir de um projeto societário global. 
A internet e a mobilização eletrônica
Segundo Ribeiro (1998, p. 470), “[...] a internet, a rede das redes, atualmente 
interconecta muitos milhões de pessoas em todo o mundo e tornou-se o mais 
poderoso meio simbólico, transnacional, de comunicação interativa”.
Os ativistas on-line utilizam a internet para se organizar em duas frentes: 
na primeira, utilizam a internet como apoio, fortalecendo as lutas e causas 
sociais que já ocorriam fora da internet e utilizando, para isso, e-mails e redes 
Tecnologia e movimentos sociais8
sociais para organizar e avisar os participantes/manifestantes, favorecendo 
a mobilização. Na segunda, utilizam a internet como única ferramenta de 
mobilização: por exemplo, invadem sites e páginas para deixar mensagens 
ou derrubam sistemas para chamar atenção para alguma causa (VEGH, 2003; 
SALTER, 2003). Para Van De Donk et al. (2004, p. 06), “[...] a internet provoca 
a inovação, mas esta deve ser organizada e disseminada”, ou seja, a internet 
deve ser usada como ferramenta para fortalecer os movimentos sociais, mas 
de forma organizada e pensada. Para Rocha (2009, documento on-line):
Os movimentos sociais contemporâneos surgem junto com a internet. A ques-
tão da internet não é de ela ser utilizada, ela é constitutiva das novas redes 
dos movimentos populares. […] As mídias sindicais poderiam contar com a 
participação da categoria. Fazer com que seus trabalhadores e filiados sejam os 
primeiros que alimentem aquela página, não um grupo de profissionais apenas. 
Os movimentos sociais vêm aprimorando o uso da internet como ferramenta, 
como meio de publicização de informações, como novas formas de comu-
nicação e de organização/coordenação de mobilizações que são combinadas 
com outras tecnologias, como telefones, celulares, mídia impressa e ainda 
as manifestações presenciais. Essa articulação entre indivíduos e tecnologia 
fortalece as organizações e amplia a participação dos sujeitos, pois, em sua 
maioria, os ativistas/manifestantes organizam-se em lugares isolados, faci-
litando ações de violência entre grupos contrários e nem sempre chegando a 
quem interessa: o Estado (PEREIRA, 2011). 
Assim, a internet e as cyber ações são utilizadas para pressionar o Estado 
e garantem que não haja violência física por grupos contrários. A participação 
individual ou por grupos organizados pela internet permite uma conexão segura 
entre as pessoas e os movimentos sociais, que conseguem organizar-se em escala 
maior e, da mesma forma, chamar a atenção do Estado e da opinião civil. Esse 
processo de mobilização pela internet pode ocorrer por e-mails, blogs, sites, 
boletins, listas de discussão, redes sociais. Esse imediatismo e a capacidade de 
chegar a diversas pessoas ao mesmo tempo e em pouco tempo faz da tecnologia 
uma ferramenta extremamente útil na organização e no processo de mobilização 
dos movimentos sociais para as ações coletivas (PEREIRA, 2011).
A militância realizada na internet permite que os indivíduos sejam mais 
ativos, pois não exige presença física em determinado local, data e horário para 
a manifestação de suas reinvindicações, permitindo que dediquem mais tempo 
para o ativismo. Dessa forma, podemos concluir que a internet permite uma 
interação mais descentralizada e a mais baixo custo. Os atores que são mais 
9Tecnologia e movimentos sociais
ativos virtualmente são aqueles que já possuem um interesse pelo ativismo 
político e aqueles que ficam mais conectados realizando ações políticas virtuais 
são também os mais ativos nas ações presenciais (GRANJON, 2001, p. 150).
A internet passou a ocupar um papel fundamental na mobilização dos 
indivíduos, pois seus inúmeros meios de chegar à sociedade civil transforma-
ram a comunicação, tornaram-na imediata, permitindo que os objetivos sejam 
alcançados com maior facilidade e agilidade e levando a uma “aceleração da 
política”. Ainda com essa aceleração, é importante que os meios virtuais sejam 
utilizados como fortalecedores dos meios tradicionais de comunicação. Um 
ponto que ainda é negativo em nosso país com relação à mobilização eletrônica 
é que ainda temos comunidades sem acesso à tecnologia e que, por isso, ficam 
fora dessas discussões/mobilizações. 
Movimentos sociais que iniciaram na internet – exemplos de 2014: 
Somos todos macacos: durante um jogo da equipe Barcelona, em 2014, o jogador 
brasileiro Daniel Alves foi alvo de ofensas racistas por parte dos torcedores. Um deles 
jogou uma banana no campo e, como forma de protesto, o jogador comeu a fruta 
e cobrou o escanteio. O jogador Neymar saiu em defesa nas redes sociais com a 
hashtag #somostodosmacacos. Milhares de famosos e anônimos entraram na onda. 
Algumas pessoas não aceitaram, considerando a ação ainda mais ofensiva.
Somos todos Maju: Maria Julia Coutinho, jornalista que apresenta a previsão do 
tempo no Jornal Nacional, da TV Globo, foi ofendida por uma minoria em relação à 
cor da sua pele.Os comentários racistas geraram revolta de milhares de brasileiros, 
inclusive do âncora William Bonner, que criou a hashtag #somostodosmaju em um 
vídeo gravado no celular na sala da redação do programa para defendê-la das ofensas 
raciais. A hashtag em pouco tempo se espalhou pelas redes sociais com mensagens 
de apoio e carinho à jornalista Maju.
Aprovação casamento gay nos EUA: após a aprovação do casamento gay nos EUA, o 
Facebook liberou um filtro para adicionar nas fotos de perfil de quem apoiasse a causa e 
como forma de comemoração pela conquista. Mais uma hashtag viralizou: #lovewins (o 
amor venceu) em português. Muitas timelines, com certeza, ficaram cheias de fotos 
coloridas. Muitos não aceitaram e zombaram da iniciativa, alegando que existem causas 
mais importantes, como alimentar crianças famintas na África.
Luta pela igualdade das mulheres (Esmalte Risqué, Mimimi): o ano de 2014 foi cheio 
de polêmicas na internet, principalmente em relação à luta das mulheres pela igualdade. 
Marcas falharam ao transmitir suas mensagens. A Risqué, por exemplo, colocou frases de 
simples atitudes de homens como grandes feitos (“Pedro me ligou”, “André fez o jantar”). 
As mulheres se manifestaram nas redes para defender que essas atitudes não merecem 
Tecnologia e movimentos sociais10
homenagem, são ações mínimas e as mulheres fazem isso e muito mais todos os dias.
A última foi da Novalfem: a marca associou cólica a “mimimi” (frescuras) na propaganda 
do remédio Buscofem. A maioria das mulheres sofre com fortes cólicas e dores de 
cabeça por conta do ciclo menstrual. A mensagem do analgésico gerou indignação 
por parte de muitas mulheres, que saíram em defesa de seus direitos, alegando que 
cólica não é “mimimi”, mas um assunto a ser tratado com mais seriedade.
O Boticário no dia dos namorados: a marca fez um comercial para o dia dos na-
morados que mostrava uma troca de presentes entre heterossexuais e gays com um 
abraço que acontecia no momento da entrega. A marca foi alvo de muitos que são 
contra a união entre pessoas do mesmo sexo e que alegaram que isso seria uma afronta 
à família brasileira. A propaganda foi veiculada na TV e, logo, algumas reclamações 
surgiram no site Reclame Aqui. Houve até mesmo tentativas de boicote à marca, com 
“dislikes” no vídeo do YouTube. Centenas de memes surgiram na internet com piadas 
sobre o preconceito, fazendo chacota sobre o "risco" de que consumidores da marca 
pudessem tornar-se homossexuais, e como se isso fosse um defeito.
Fonte: Azevedo (2014). 
1. Os movimentos sociais, na sua 
maioria, têm como objetivo as 
mudanças sociais. Entende-se por 
mudança social uma alteração 
significativa nos padrões de 
comportamento e cultura, 
incluindo normas e valores. Os 
cientistas sociais se baseiam em 
duas explicações de como e por 
que as pessoas se mobilizam 
para causar mudanças:
a) indignação em relação 
aos governantes e 
corrupção na política.
b) privação relativa e 
mobilização de recursos.
c) mobilização de esforços 
e injustiça social.
d) privação relativa e 
pobreza relativa.
e) mobilização de recursos 
e organização.
2. Sabemos que as invenções 
tecnológicas estão a serviço da 
humanidade e cabe a nós decidir 
de que maneira elas serão utilizadas, 
de acordo com as intenções e com 
algumas questões éticas. No entanto, 
no decorrer da história, pudemos 
observar que, apesar de grandes 
invenções sendo utilizadas a favor de 
mudanças sociais positivas, algumas 
tiveram um propósito voltado para a 
destruição em massa e o genocídio. 
Qual das alternativas a seguir 
contém uma invenção desse tipo?
a) A invenção do computador.
b) O advento da internet.
c) A invenção da bomba atômica.
d) A invenção do telefone celular.
e) A invenção da imprensa.
3. As atividades e os esforços coletivos 
organizados em movimentos 
sociais têm por objetivo as 
11Tecnologia e movimentos sociais
mudanças sociais. Para que uma 
mudança seja considerada em nível 
social, é preciso que modifique 
significativamente os padrões 
de comportamento e cultura no 
decorrer do tempo. Marque a 
alternativa que apresenta uma 
significativa mudança social:
a) Greve de operários.
b) Campanha do agasalho 
de um município.
c) A invenção do telefone.
d) Manifestações contra o aumento 
da tarifa do transporte coletivo.
e) O direito das mulheres 
ao voto no Brasil.
4. No final da década de 1960, 
os cientistas sociais europeus 
identificaram mudanças na 
composição e nas metas dos 
movimentos sociais que emergiam. 
O foco das manifestações passou de 
questões econômicas para questões 
de ordem social. A expressão "novos 
movimentos sociais" se refere 
aos movimentos que abordam 
valores, identidades sociais e 
melhorias na qualidade de vida. 
I. São exemplos de movimentos 
contemporâneos: movimento 
pelos direitos dos LGBT, 
e Revolução Francesa e a 
Revolução Industrial.
II. São exemplos de movimentos 
contemporâneos: MST, 
movimento contra o tratamento 
antiético em animais e 
movimento pela preservação 
do meio ambiente.
III. Os novos movimentos sociais 
surgiram no final do século 
XX e se articulam, muitas 
vezes, por meio da internet. 
São corretas:
a) Apenas I.
b) Todas as alternativas 
estão corretas.
c) Apenas I e III.
d) I e II.
e) Apenas II e III.
5. Na maioria dos casos, os 
movimentos sociais se originam 
de um sentimento de insatisfação 
quando os indivíduos têm 
consciência do seu direito sobre 
aquilo que estão reivindicando; 
quando as mudanças ocorrem, 
trazem um saldo positivo. 
Apesar disso, existem também 
os movimentos baseados em 
ideologias que, muitas vezes, 
opõem-se à legislação vigente 
no país ou, até mesmo, aos 
direitos humanos, sendo contra 
as mudanças emancipatórias e 
impondo regras segundo os seus 
interesses particularistas, que podem 
estar fundamentados em xenofobias 
nacionalistas, religiosas, raciais e 
outras. Marque a alternativa que 
apresenta um desses movimentos:
a) Greenpeace.
b) Movimentos neonazistas.
c) Revolução francesa.
d) Movimento pela legalização 
do aborto no Brasil.
e) MST.
Tecnologia e movimentos sociais12
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Tecnologia e movimentos sociais14
Conteúdo:
GEOGRAFIA 
AGRÁRIA
Jhonatan dos Santos Dantas
Movimentos sociais 
no campo 
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Explicar a história dos movimentos sociais rurais no Brasil. 
 � Reconhecer os problemas sociais no campo brasileiro.
 � Relacionar a educação no campo e os movimentos sociais no século 
XXI.
Introdução
O escravismo, a concentração fundiária e a ampla divisão social do trabalho 
culminaram em uma enorme desigualdade de renda e, consequente-
mente, social no Brasil. O processo de ocupação territorial (muitas vezes 
de modo ilegal) ocasionou enormes conflitos fundiários, que persistem até 
hoje, envolvendo povos indígenas, camponeses, latifundiários, posseiros, 
grileiros, entre outros.
A questão fundiária e a ampla desigualdade social fizeram surgir no 
Brasil movimentos sociais que passaram a lutar por direitos, por acesso 
a políticas públicas e pelo acesso à terra. No campo, vários foram os 
movimentos que deixaram na história uma marca de luta e resistência, 
na busca pela reforma agrária, pelo acesso à terra, pelo direito à vida e 
à (re)produção da cultura camponesa, indígena, quilombola, etc., que, 
sem dúvida, legitimou a identidade de muitos grupos. Esse processo 
fez emergir movimentos políticos e sindicais, que começaram a atuar 
de maneira organizada na conquista e na luta política por esses direitos.
Desse modo, este capítulo trata brevemente da história dos mo-
vimentos sociais rurais no Brasil, destacando as principais entidades, 
grupos e movimentos do campo; posteriormente, faz uma análise acerca 
dos problemas sociais no campo brasileiro, que atravessaram a história 
(e o território) e permanecem até a atualidade; e, por fim, destaca a im-
portância da educação no campo — e como ela ocorre na atualidade, 
enaltecendo as propostas curriculares e levantando os principais desafios 
da educação do campo atual.
1 Movimentos sociais rurais no Brasil 
O Brasil é marcado por uma profunda desigualdade social, resultado de 
processos históricos complexos que envolvem renda, distribuição de terras, 
o perfil de ocupação fundiária implementado, o processo de expropriação ter-
ritorial de alguns grupos diante do domínio territorial de outros, leis e direitos 
fundamentais conquistados tardiamente (alguns apenas na Constituição de 
1988), entre outros fatores que provocaram gargalos até hoje não superados.
A tentativa de explanação das desigualdades inerentes ao território bra-
sileiro foi (e ainda é) um grande desafio explicativo nos variados ramos das 
ciências sociais, justamente pela complexidade dos fatos sociais, históricos 
e geográficos em que se deu a construção do Brasil, na qual há uma questão 
central: a questão agrária.
Trata-se de um elemento fundamental para a compreensão dos movimentos 
sociais no Brasil, visto estar no cerne dos variados ditames e desafios en-
frentados historicamente pelas diversas populações que habitam e habitaram 
o espaço rural, a partir da qual se colocam outros desafios da realidade do 
rural brasileiro, como a exploração do trabalho, a concentração fundiária e 
os conflitos agrários.
Longe das generalizações, a questão agrária leva a uma leitura interpre-
tativa que integra os demais gargalos, além de não esgotá-los, já que permite 
partir de um pressuposto básico e, ao mesmo tempo, complexo que orientou 
(e orienta) uma pauta importante dos movimentos sociais — a superação do 
problema agrário depende de uma reforma agrária, que, sem dúvida, representa 
uma das principais (se não a principal) bandeiras da história dos movimentos 
sociais no Brasil.
Medeiros (1989) aponta que os movimentos sociais surgiram a partir das 
Ligas Camponesas em meados da década de 1940 no Brasil, as quais passaram 
a lutar pela reforma agrária e tiveram papel central na organização dos movi-
mentos sociais camponeses. Inicialmente organizadas pelo Partido Comunista 
do Brasil (PCB), em virtude da ilegalidade política do partido pós-governo 
Vargas, as Ligas perderam expressão em um primeiro momento, voltando a 
se fortalecer apenas em 1954.
Movimentos sociais no campo2
[…] no início dos anos 50, esse partido pregava o confisco da terra aos la-
tifundiários, seguido de distribuição gratuita aos camponeses sem terra ou 
com pouca terra. Em meados da década, no entanto, passando a desfrutar, 
desde o início do governo Kubitschek, de uma situação de semilegalidade e 
sofrendo os impactos de uma mudança a nível internacional das políticas dos 
partidos comunistas, fruto da desestalinização, o PCB revisou suas posições 
anteriores. A partir da chamada Resolução de 1958, do Comitê Central do 
PCB, a reforma agrária, entendida como a transformação radical da estrutura 
agrária, com a liquidação do monopólio da terra e das relações pré-capitalistas 
de trabalho, mantém-se como uma bandeira central do partido. Porém, pas-
sa a ser condicionada à formação de uma frente única, que reunisse todas 
as forças interessadas no combate ao imperialismo norte-americano. Isso 
porque, de acordo com a análise do PCB, a contradição fundamental da so-
ciedade brasileira era com os setores capitalistas vinculados com essa forma 
de imperialismo. Ao lado dela figurava ainda a contradição entre as forças 
produtivasem desenvolvimento e as relações de produção semifeudais na 
agricultura que, por sua vez, tinham por base setores latifundiários também 
com interesses ligados ao imperialismo. Essa frente abrangeria o proletariado, 
os camponeses, a pequena burguesia urbana, a burguesia, os latifundiários 
que tinham contradições com o imperialismo norte-americano e os capita-
listas ligados a grupos imperialistas rivais dos monopólios norte-americanos 
(MEDEIROS, 1989, p. 53).
O contexto histórico da época implicava grandes dificuldades para o forta-
lecimento dos movimentos, principalmente pelos ideais socialistas vinculados 
às Ligas. O ideal reformista era combatido politicamente por diversos grupos 
que se opunham às drásticas transformações sociais e territoriais idealizadas 
por esse movimento (e pelo PCB). Assim, embates ideológicos marcarão o 
período, inclusive com o início do debate sobre modernizar o campo e torná-
-lo mais produtivo. 
Na década de 1950, inúmeros foram os conflitos envolvendo posseiros 
paralelamente à disseminação das Ligas Camponesas para outros estados, 
procurando organizar os trabalhadores rurais em busca da reforma agrária e 
do acesso à terra. Contudo, o PCB, que travou as lutas nos campos político 
e jurídico, começou a se distanciar dos ideais das Ligas, o que levou ao rom-
pimento entre as duas forças (MEDEIROS, 1989).
Em 1954, surgiu a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas no 
Brasil (Ultab), fundada em São Paulo por militantes do PCB, que passou a 
organizar os trabalhadores e promover reuniões e debates, criando associações 
de organização camponesa, que, mais tarde, passaram a se tornar sindicali-
zadas, dando origem, em 1963, à Confederação Nacional dos Trabalhadores 
na Agricultura (Contag) (MEDEIROS, 1989).
3Movimentos sociais no campo
A Contag surgiu em um momento no qual as Ligas Camponesas começa-
ram a sofrer uma série de crises, cenário em que a Igreja Católica passou a 
desempenhar um papel fundamental, fato que culminou no surgimento, em 
1975, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade vinculada à igreja que 
passou a fortalecer a organização dos trabalhadores rurais (MEDEIROS, 1989).
Em 1964, com a ditadura civil-militar no Brasil, os movimentos sociais 
em geral foram retraídos e a opressão que sofriam do governo tornou a ideia 
de reforma agrária, que estava se consolidando no meio rural e nos debates 
políticos, muito distante. O processo de intervenção militar provocou um 
enorme retrocesso em várias áreas que vinham sendo debatidas publicamente 
sobre interesses sociais.
Medeiros (1989) salienta que, durante a primeira década da ditadura civil-
-militar no país, vários líderes foram presos, associações fechadas e houve 
um controle rígido sobre os sindicatos, especialmente na Contag. Contudo, 
as organizações atuavam na esfera jurídica, de forma cautelosa, buscando 
(re)afirmar os direitos dos trabalhadores, sobretudo ao cobrar a legalidade 
no trabalho e questões previdenciárias.
[…] deve ser lembrado que uma atuação mais combativa do sindicato imedia-
tamente se traduzia em uma possibilidade de intervenção, prisões, e mesmo 
repressão policial aberta. E dentro desse quadro que se gera um determinado 
tipo de dirigente sindical, caracterizado pela ação prudente, que não desafiava 
o Estado. Seu princípio era: “É preferível fazer pouco do que não fazer nada” 
(MEDEIROS, 1989, p. 94).
Na década de 1970, houve o II Congresso da Contag, em que se procurou 
o fortalecimento das associações sindicais, primando pela união de lideranças 
em prol dos trabalhadores rurais. Porém, apesar da afirmação da necessidade 
de uma educação do campo e do reconhecimento dos direitos conquistados, os 
conflitos estavam longe de acabar, e, em alguns locais, como em São Paulo e 
no Paraná, a modernização da agricultura se efetivava e o processo de expul-
são dos trabalhadores rurais promovia um intenso êxodo rural (MEDEIROS, 
1989; FAJARDO, 2008).
Movimentos sociais no campo4
Na mesma década, os conflitos se expandiram em várias regiões do Brasil, 
conforme Medeiros (1989, p. 106–107):
[…] foi na intensidade dos conflitos pela terra, envolvendo principalmente 
posseiros, que os anos 70 encontraram a face mais conhecida da violência 
no campo. Já mencionamos o fato de que, com a repressão que se seguiu ao 
golpe, as ações de despejo se sucederam: muitos proprietários aproveitaram-
-se da conjuntura de desmobilização para “limpar” suas terras, e fazer valer 
seu poder. Ao mesmo tempo, especialmente a partir do final dos anos 60, a 
política modernizante começou a tomar corpo. Os anos 70 trouxeram consigo 
os grandes projetos agropecuários incentivados para promover a ocupação da 
Amazônia pelo grande capital. Nas áreas onde esses projetos se estabeleceram 
muitas vezes havia posseiros, que de há muito haviam migrado de diversos 
estados do Nordeste e mesmo do Sul em busca de terras. Com isso, fenômenos 
semelhantes aos que ocorreram na ocupação do Paraná ou de Goiás, nos anos 
50, agora se repetiam com mais intensidade. Foram inúmeros os conflitos que 
então eclodiram no enfrentamento entre os jagunços das grandes empresas e 
os posseiros. Alguns poucos foram divulgados pela imprensa 107 da época, 
rigidamente censurada.
Vale destacar, como já mencionado, que na década de 1970 a igreja de-
sempenhou papel fundamental no fortalecimento da luta dos trabalhadores 
rurais, com enfoque nos anseios dos assalariados do campo, além de outros 
grupos marginalizados a partir da presença do latifúndio e dos grupos que 
dominavam as terras. A CPT ganhou expressão e passou ser um movimento 
de apoio e fortalecimento sindical importante. 
Para mais informações a respeito da Comissão Pastoral da Terra, acesse o site dessa 
entidade.
No final da década de 1970 e início da década de 1980, a crise do regime 
militar ficou mais evidente, em razão das graves crises econômicas, da au-
sência de apoio popular, do amplo processo de questionamento de variados 
grupos sociais, rurais e urbanos, além do fato de o regime não responder mais 
a demandas sociais importantes. Nesse contexto, abriu-se espaço novamente 
para o fortalecimento dos movimentos sociais, dando início à formação de duas 
5Movimentos sociais no campo
entidades significativas nos anos de 1980: a Central Única dos Trabalhadores 
(CUT), criada em 1983, e a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), 
em 1986 (MEDEIROS, 1989).
A eclosão de várias greves no Nordeste, a resistência dos seringueiros na 
região Norte e vários outros conflitos isolados demonstraram que o fim do 
problema fundiário no Brasil estava longe de acabar, o que ofereceu consis-
tência aos movimentos que foram se unificando ao longo dos anos, integrando 
demandas como reforma agrária, legalização fundiária, cumprimento dos 
direitos trabalhistas, previdência, melhores salários, etc. 
Outro movimento importante surgido nesse momento foi o da organização 
política dos agricultores, comerciantes, posseiros e outros contra os projetos de 
barragens para a construção de usinas hidrelétricas no Brasil entre as décadas 
de 1970 e 1980, fato que os atingiam diretamente. A CPT passou defender essa 
bandeira e a organizar esses trabalhadores, recebendo apoio, em um segundo 
momento, do movimento sindical (MEDEIROS, 1989, p. 145):
No conjunto, as reivindicações e as formas de luta desenvolvidas nesses movi-
mentos indicavam que o que estava em jogo era mais do que o pagamento de 
um determinado montante de dinheiro a título de indenização de uma terra. Os 
projetos de barragens feriam todo um modo de vida. A defesa do espaço social 
e cultural desses trabalhadores vai progressivamente tornando-se importante 
no desenvolvimento das lutas e acúmulo de experiências delas decorrentes.
Em 1984, surgiu oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem 
Terra (MST), considerado por muitos o principal movimento social na luta pela 
reforma agrária. Resultado de uma série de conflitos que iniciaram na década 
de 1970, o MST envolvia posseiros,grileiros, grandes latifundiários, ocupações 
de terras irregulares e outros processos fundiários, também como resultado 
do Movimento dos Atingidos por Barragens, organizado pela CPT, além de 
conflitos no Paraná, em Santa Catarina e em outros estados na década de 1980:
Em 1982, deu-se um primeiro encontro de lideranças em Medianeira, no 
Paraná, com participação de representantes do Rio Grande do Sul, Santa 
Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. No ano seguinte, novo 
encontro foi realizado em Chapecó e em 1984, num encontro em Cascavel, entre 
a liderança dos cinco estados mencionados e de mais seis outros, formalizou-
-se a criação do Movimento dos Sem Terra, entendido como movimento de 
massa. Sua bandeira de luta era: “Terra não se ganha, se conquista”, o que 
implica numa valorização de formas mais incisivas de luta como as ocupações 
e os acampamentos e, ao mesmo tempo, num esforço enorme de organização 
(MEDEIROS, 1989, p. 149).
Movimentos sociais no campo6
Esse movimento organizado desempenhou (e ainda desempenha) papel central 
na luta pela reforma agrária, e, apesar de certo alinhamento com o sindicalismo, 
por vezes agiu de modo independente e distanciado do modelo administrador 
e burocrático de negociação das demandas, agindo com ocupações, criação de 
assentamentos e resistência para obter o direito e o acesso à terra.
Após o período de redemocratização, houve uma derrota dos movimentos 
sociais rurais na constituinte, já que ela não tratou, do modo como gostariam 
os movimentos, da questão agrária: direitos civis e trabalhistas foram con-
quistados, além de o capítulo da política urbana ter sido promulgado, mas, 
no que se refere à reforma agrária, o gargalo permaneceu, dando a continui-
dade aos movimentos sociais rurais — com destaque para o MST, que, após 
os anos de 1990, foi hegemônico no processo de luta pela reforma agrária e 
pelo acesso à terra.
Já a década de 1990 foi marcada pelo avanço do capitalismo no campo, 
com o processo de modernização agrícola, a formação e o fortalecimento dos 
complexos agroindustriais, a expansão das fronteiras agropecuárias e o capital 
externo na agricultura nacional, e, ao mesmo tempo, pela desregulamentação 
de uma série de setores produtivos, fato que impulsionou tanto crises econô-
micas quanto o avanço do setor industrial sobre o campo (GERMER, 2013).
Assim, o MST passou a exercer um papel expressivo para a regulariza-
ção fundiária no campo e na luta pelo acesso à terra dos milhares de sem-
-terra em todo Brasil, tendo ultrapassado, a partir dos anos 2000, a marca de 
1,5 milhão de pessoas com mais de 350 mil famílias assentadas (MOVIMENTO 
DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA, 2020).
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da Repú-
blica em 2003, o Movimento voltou a ter esperança em relação aos projetos 
e às políticas que viabilizariam a reforma agrária; contudo, o modelo ado-
tado pela via das políticas de crédito promoveu dois perfis de agricultura a 
grosso modo: de um lado, o agronegócio, expressão criada para representar 
o grande capital atuante na agricultura de mercado global, que despontou 
no Brasil pós-2003 depois da criação do Sistema Nacional de Crédito Rural, 
que passou articular o sistema financeiro ao capital agrícola e elevou o país 
a patamares de produtividade jamais vistos (DELGADO, 2012; MELLO; 
GUALDA, 2013). De outro, o país passou a fomentar políticas públicas para 
agricultores familiares, oferecendo condições de integração para os pequenos 
produtores rurais familiares ao mercado, possibilitando sua permanência no 
campo e disponibilizando crédito para a modernização das propriedades rurais. 
Ao mesmo tempo, passou a articular e expandir algumas políticas públicas, 
7Movimentos sociais no campo
como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que criou uma 
demanda governamental em relação aos pequenos produtores familiares.
 Fato é que, apesar dos dois governos Lula e do governo Dilma, a reforma 
agrária não ocorreu, e os conflitos fundiários permanecem até a atualidade, 
dando sentido cada vez maior aos movimentos sociais rurais.
Nesse contexto, a agricultura empresarial brasileira tem tornado a pos-
sibilidade de reforma agrária cada vez mais distante, pois se, na década de 
1950, grande parte da população rural não tinha acesso a propriedades e o 
perfil agrário improdutivo favorecia o debate acerca da questão, na atualidade 
cerca de 15% apenas da população brasileira vive no campo, com um perfil de 
elevada concentração fundiária em várias regiões do Brasil, uma agricultura 
voltada à elevada produção de commodities e uma intensa produtividade de 
algumas regiões, promovendo um debate daquele promovido no século passado. 
O próprio saldo positivo na balança comercial brasileira, resultado, entre outras 
coisas, das exportações de grãos, dificulta a atuação dos movimentos sociais, 
que, apesar de permanecerem ávidos na luta, agem de forma localizada, inclu-
sive pelo distanciamento de parte dos grandes partidos políticos de esquerda 
em dar ênfase às demandas (na atual conjuntura) do MST.
Ainda, os problemas sociais no campo na atualidade são maiores que em 
outros momentos históricos, pois se soma a grave questão ambiental promovida 
pela agricultura moderna empresarial, como destacaremos adiante.
Para compreender mais a respeito do MST, acesse o site do Movimento.
2 Problemas sociais no campo brasileiro 
Para retratar as questões que envolvem o campo brasileiro, é interessante 
retomar os estudos de Oliveira (2013), Abramovay (2013), Silva (2013), Delgado 
(2012) e Ribeiro e Cleps Junior (2008), que, entre tantos outros, dedicaram 
obras a compreender alguns dos problemas sociais, que não são poucos, nesse 
cenário. 
Movimentos sociais no campo8
Os problemas sociais do campo brasileiro decorrem, entre outros, do próprio 
processo de colonização exploratória efetuado pelos europeus, essencial-
mente pelos portugueses que expropriaram a terra (e o território) dos povos 
tradicionais, ao mesmo tempo que promoveram a divisão social do trabalho 
moldada pelo escravismo e pela supremacia do homem branco. Vale ressaltar 
que o processo (projeto) de territorialização portuguesa e espanhola resultou 
da estruturação do sistema capitalista, da busca pela expansão de riquezas, 
fato que levou os colonizadores a verem na terra — no território e na natu-
reza — uma fonte de recursos econômicos, de exploração e de acumulação 
(PORTO-GONÇALVES, 2018).
Os povos explorados e marginalizados sustentaram a metrópole portuguesa 
por séculos, e, mesmo com o processo de independência e as ideologias liber-
tárias surgidas nas Revoluções Francesa e Inglesa, somado aos movimentos 
de abolição da escravidão no mundo, essas populações não obtiveram direito 
à terra e à propriedade por séculos no Brasil. O próprio avanço do capitalismo 
moderno no país se deu por meio de uma economia dependente forjada sobre-
tudo na exportação de açúcar e café, e, internamente, a partir de ampla divisão 
social do trabalho e da exploração da mão de obra rural, com ausência de leis 
trabalhistas e forte concentração fundiária (GUIMARÃES, 1982).
Sem dúvida, houve grandes mudanças no século XX em relação às con-
junturas, econômicas e políticas, mas também quanto à história dos próprios 
movimentos sociais, destacando-se a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) 
no governo Vargas, o surgimento dos movimentos sociais rurais de modo 
mais expressivo pós-1950 e a Constituição de 1988, além da diversificação 
econômica atrelada à expansão populacional, a intensa migração externa e 
interna, o êxodo rural e a urbanização e mudanças do próprio território em 
termos de tecnificação, como algumas das alterações drásticas vividas no país 
(SANTOS; SILVEIRA, 2001; BECKER; EGLER, 1994).
Apesar disso, os problemas do campo atravessaram a história do Brasil 
colonial, do Brasil republicano, do período de transformações econômicas do 
século XX, do período do regime militar, da redemocratizaçãoe se estende 
até a atualidade no século XXI — trata-se de anseios jamais superados e que, 
hoje, parecem cada vez mais distantes de ser solucionados.
Entre os principais problemas do campo, podemos destacar a questão 
fundiária envolvendo a legalidade do acesso à terra, motivo pelo qual inúmeras 
disputas pela terra acirraram a violência no campo, ampliando conflitos, mortes, 
vítimas e catástrofes. A incorporação das terras a partir da colonização e da 
9Movimentos sociais no campo
herança (sesmarias e capitanias hereditárias) promoveu enormes concentrações 
fundiárias; posteriormente, a incorporação de terras por meio de grilagem, 
posse ilegal e propriedades não documentadas levou a conflitos entre povos 
indígenas, camponeses, posseiros, grileiros, seringueiros, mineradores, bem 
como entre o próprio Estado em algumas ocasiões. Aqui, evidenciam-se dois 
problemas: a ilegalidade na ocupação das terras e a clandestinidade na aqui-
sição das propriedades e os conflitos surgidos como resultado dos primeiros.
Desse processo, decorre a necessidade da reforma agrária, principal ban-
deira das Ligas Camponesas e, depois, do MST, representando tanto uma 
solução para os problemas descritos quanto para questões de caráter econômico 
e social, como promover o direito à propriedade, a reprodução da vida digna 
a partir do trabalho e a diminuição da exploração a partir da divisão social 
entre assalariado e proprietário.
A reforma agrária também ganhou expressão a partir da combinação 
dos fatores destacados e da necessidade de garantir o direito à reprodução 
da própria cultura camponesa, que não vincula a terra à renda, mas sim à 
reprodução de um modo de vida, na qual se torna parte inerente da cultura do 
grupo camponês; assim, os grupos indígenas passaram a assumir essa postura 
pela reivindicação territorial, já que natureza, água, solo, clima e floresta 
compõem naturalmente parte de sua cultura e reprodução como grupo social.
Além do processo de apropriação e incorporação da terra e os problemas 
delas resultados, o avanço do capitalismo no campo provocou outros impasses, 
como o desmatamento, a continuidade do avanço da fronteira agrícola (muitas 
vezes, em áreas ilegais), a subordinação da agricultura ao capital industrial 
e financeiro e ao mercado global, colocando em destaque o problema da 
soberania alimentar.
O uso intensivo de agroquímicos nas lavouras, as sementes transgênicas 
e a atuação massiva de multinacionais no território brasileiro colocaram em 
xeque a soberania alimentar, a saúde da população consumidora e a própria 
soberania do território, haja vista uma tremenda articulação entre o espaço 
territorial físico e a dependência dos atores globais quanto ao controle do 
uso e da organização territorial, tendo se adaptado às exigências capitalistas 
globais (RIBEIRO; CLEPS JUNIOR, 2011).
Problemas ambientais, como erosão, perda da biodiversidade, poluição das 
águas e do solo, além do desmatamento, também surgiram como resultado do 
avanço do capitalismo agrário moderno, momento em que as bandeiras dos 
movimentos sociais ambientais se somaram às dos movimentos sociais rurais.
Movimentos sociais no campo10
No bojo desse processo, os movimentos sociais — ora mais expressivos, 
ora menos — travaram embates políticos, ideológicos e legítimas reivindica-
ções, e, ao mesmo tempo, têm assumido um papel de resistência, absorvendo 
diversas demandas que surgiram no decorrer da história quanto ao processo 
de ocupação do campo, aos conflitos, à modernização agrícola e à atuação de 
multinacionais no controle territorial, lutando contra os problemas do campo 
brasileiro, que parecem estar longe de se exaurir. Para isso, tendo em vista 
a complexidade histórica, geográfica, econômica, política e cultural dessas 
questões, exigem-se cada vez mais leituras que dialoguem com diferentes 
saberes, mas que vocalizem os anseios populares da atualidade.
3 Educação no campo e movimentos sociais 
Enquanto na história do Brasil verificou-se uma grande negligência educacional 
em relação à população trabalhadora, até a metade do século XX predominante-
mente rural, os movimentos sociais passaram a atuar de modo significativo em 
um modelo de educação que, para além da alfabetização, inserisse princípios 
como cidadania e identidade de classe a partir do processo de constituição da 
luta camponesa paralelamente à formação educacional do indivíduo.
Desse modo, conforme salienta Queiroz (2011, p. 39):
Se por um lado a história da educação rural no Brasil foi de negação deste 
direito aos agricultores, por parte das ações e das políticas governamentais, 
constata-se, sobretudo nas três últimas décadas do século XX, toda uma 
movimentação e organização por parte das organizações e entidades dos 
agricultores, não apenas por uma educação rural, mas por uma educação do 
campo. Estas lutas fazem parte do conjunto de iniciativas e ações contra a 
concentração da terra, do poder e do saber. A década de 1970 no Brasil foi 
marcada pelas “lutas e resistências coletivas, em busca do resgate de direi-
tos da cidadania cassada e contra o autoritarismo vigente” (GOHN, 2001, 
p. 53–54). É um período de organização dos movimentos sociais, bem como 
da luta pela democracia. 
Podemos perceber que as organizações começaram a se comprometer com 
a educação possibilitando uma formação complexa de indivíduos que reco-
nhecessem a importância das pautas levantadas pelos movimentos sociais do 
campo e, ainda, que se politizassem a partir do espírito de classe, efetivando 
um papel de formação cidadã aos indivíduos que passaram a construir e 
constituir uma educação transformadora.
11Movimentos sociais no campo
Ainda conforme Queiroz (2011, p. 39):
No campo educacional, sobressaem as iniciativas de educação popular através 
da educação política, da alfabetização de jovens e adultos, da formação de 
lideranças sindicais, comunitárias e populares. Por parte de alguns setores de 
algumas igrejas, houve um comprometimento com os movimentos sociais e 
com as lutas e organizações dos trabalhadores tanto no meio urbano, quanto 
rural. É nessa década, por exemplo, que surge a Comissão Pastoral da Terra 
(CPT), organização da Igreja Católica, mas com participação de outras igrejas, 
em defesa dos posseiros, na luta pela reforma agrária e pela permanência na 
terra. Neste período surgiram as Escolas Famílias Agrícolas (EFA) no Estado 
do Espírito Santo, trabalhando com a Pedagogia da Alternância, no Ensino 
Fundamental. Apesar de terem surgido no final dos anos 60, na década de 
1970 vão se expandindo e, mais especificamente, em 1976, inicia-se a primei-
ra experiência de Escola Família Agrícola de Ensino Médio (EFA de EM). 
Desse modo, a educação, de modo geral, passou ser um direito a partir da 
constituição de 1988, um ganho para toda a sociedade, essencialmente as classes 
trabalhadoras, rurais e urbanas. No que tange às escolas rurais, discute-se a 
questão do currículo e do próprio processo de formação do alunado, tendo 
em vista que a constituição dessas escolas se dá em um contexto de luta e 
politização no seio dos movimentos sociais. 
E, embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação promulgada em 1996 
tenha instituído as diretrizes educacionais e definido os pressupostos que 
norteiam e regulamentam a educação do campo, e, ainda, da instituição dos 
Parâmetros Curriculares Nacionais nos anos posteriores (de 1997 a 1999), 
as discussões acerca desse currículo permaneceram, levando as escolas a criar 
seus projetos políticos pedagógicos e instaurar seus planos norteadores dentro 
de uma proposta convergente com a realidade local.
Nesse contexto, as escolas do campo começaram a atuar com uma pedagogia 
crítica e valorizar a identidade camponesa, inserindo temáticas fundamentais 
no contexto pedagógico, como princípios sustentáveis e projetos voltados à 
produção de alimentos, sendo guiada por uma filosofia crítica e, ao mesmo 
tempo, solidária.
As escolas envolvidas com movimentos sociais, principalmenteMST ou as 
Pastorais da Terra, mantiveram o currículo com tais vieses, porém aquelas que 
se distanciaram dos movimentos sociais passaram a incorporar um currículo 
educacional da escola urbana, tema que tem sido alvo de inúmeras pesquisas 
críticas no campo da educação, da sociologia, entre outros.
Movimentos sociais no campo12
Em uma pesquisa, Souza (2007, p. 1109) afirmou que:
A construção da educação do campo vem sendo marcada por uma prática social 
que indaga a educação pública estatal e que demanda/fortalece a educação 
pública proveniente das reflexões dos povos do campo. Analisar a articulação 
que tem havido entre a sociedade civil organizada e o Estado contribuirá na 
compreensão da trajetória da educação do campo, como uma nova concepção 
de educação e de campo no Brasil, fundada nas relações de classe.
Dessa forma, é necessária uma educação do campo não como extensão da 
educação pública que chega a esse território, mas que (re)afirme a identidade do 
campo e o problematize, em sua diversidade de sujeitos e processos, formando, 
assim, uma identidade coletiva de classe, que reconheça a complexidade de 
temas que abranjam esse cenário. Para isso, torna-se necessária a discussão 
acerca do currículo e da adoção de novas práticas pedagógicas na educação 
do campo na construção de um projeto articulado à demanda local dos sujeitos 
ensinantes e aprendentes no contexto territorial.
Ainda, fica evidente que as escolas do campo formadas a partir e no bojo 
dos movimentos sociais acabaram incorporando aos seus projetos político-
-pedagógicos instrumentos ideológicos instrumentalizados por essas orga-
nizações, contribuindo para a reprodução de ideias que vão de encontro à 
comunidade. Assim, a luta e a resistência do grupo social combinam-se ao papel 
da escola do campo, que se afirma não apenas no sentido da formação cognitiva 
e do letramento de indivíduos, mas também de uma formação sociopolítica 
cidadã, que permite a construção social das classes e a (re)produção cultural 
do camponês como indivíduo ávido no debate público e sujeito pertencente à 
coletividade de forma solidária.
Assim, a educação do campo sofre na atualidade alguns embates, como 
a implementação de uma Base Nacional Comum Curricular, que tem, entre 
outros, o objetivo de padronizar nacionalmente o currículo escolar, além de 
problemas de custeio, principalmente no caso de instituições dependentes 
diretamente do Estado, com o fechamento de inúmeras escolas. Também 
carecem de um debate mais intenso sobre o currículo da educação do campo, 
haja vista que grande parte das escolas rurais segue o currículo alinhado à 
escola urbana, descontextualizado da realidade local da comunidade.
13Movimentos sociais no campo
Em paralelo, a própria educação crítica, de modo geral, sofre vários embates, 
na tentativa de diminuir conteúdos de formação política, o que se estende a 
todas as escolas, inclusive urbanas. Desse modo, as escolas do campo firmadas 
com base nos ideais dos movimentos sociais mais uma vez assumem um papel 
de resistência e de exemplo, a partir de uma educação comprometida com a 
transformação social da realidade, que prima pela identidade das classes e 
preserva ideais de cidadania e solidariedade.
Aprovada no ano de 2017, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) modificou várias 
questões sobre o currículo escolar brasileiro, desde o ensino infantil até o ensino 
fundamental II, com o objetivo de ser implementada pelos colégios até 2020, embora 
a base para o ensino médio ainda não tenha sido aprovada. Esse processo tem provo-
cado inúmeras incertezas acerca da permanência de certas disciplinas e conteúdos 
curriculares no ensino médio. Ao mesmo tempo, a base já aprovada promoveu drásticas 
alterações no ensino, elogiada por alguns e criticada por outros, com a finalidade de 
primar o ensino de competências, com a educação orientada pelas definições de 
habilidades e competências predefinidas em caráter geral e específico.
Para ler sobre a nova BNCC, acesse o site oficial do governo.
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15Movimentos sociais no campo
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SOUZA, M. A. Educação do campo: políticas, práticas pedagógicas e produção 
científica. Educação & Sociedade, Campinas, v. 29, n. 105, p. 1089–1111, set./dez. 2008. 
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0101-
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Leituras recomendadas
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Movimentos sociais no campo16
PSICOLOGIA
SOCIAL
Daiane Duarte Lopes 
Revisão técnica:
Marcia Paul Waquil
Assistente Social (PUCRS)
Mestre em Educação (PUCRS)
Doutora em Educação (UFRGS)
Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052
L864p Lopes, Daiane Duarte
Psicologia social [recurso eletrônico] / Daiane Duarte 
Lopes ; [revisão técnica: Marcia Paul Waquil]. – Porto Alegre : 
SAGAH, 2017.
ISBN 978-85-9502-161-7
1. Psicologia social. I. Título.
CDU 316.6
Ações coletivas e 
movimentos sociais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Diferenciar ações coletivas e movimentos sociais.
 � Compreender as ações coletivas como processos de interação de 
construção social.
 � Analisar os movimentos sociais como articuladores de discursos.
Introdução
No decorrer da história, as ações coletivas marcaram a condução da 
construção da sociedade e impulsionaram os movimentos sociais em 
busca por mudanças e realizações. 
Neste capítulo, você vai estudar como as ações coletivas e os mo-
vimentos sociais se diferenciam e de que maneira contribuem para a 
promoção do desenvolvimento social.
Ações coletivas e movimentos sociais
Ações coletivas implicam atos coletivos que cultivam desígnios comuns, indis-
sociam preferências e desígnios do grupo como uma unidade e se diferenciam 
de ações individuais ainda que a união de sujeitos compartilhem predileções.
A inserção em uma ação coletiva exige dos sujeitos envolvidos uma con-
trapartida, seja em tempo, envolvimento, dedicação entre outros. Os sujeitos 
contribuem individualmente, da maneira que é possível a cada um, objetivando 
a movimentação da ação coletiva.
Nesse sentido, a coesão grupal é indispensável, pois só é possível a ação coletiva 
se houver a soma dos esforços de cada uma das partes do grupo, de cada sujeito 
proporcionalmente e igualitariamente, como podemos ver representado na Figura 1 
a seguir. No entanto, enquanto a coesão obrigatoriamente se faz presente nos 
pequenos grupos, como em grupos escolares, onde o contato entre os membros é 
mais direto, nos grandes grupos, como nos grupos de eleitores, a coesão pode ser 
fragmentada devido a um distanciamento empático entre os membros, fazendo 
com que, desta forma, a ação coletiva perca sua força e sua unidade. 
Figura 1. A ação coletiva só é possível quando há soma de esforços.
Fonte: comics/Shutterstock.com
Já os movimentos sociais surgem como resistência, buscando encontrar 
eco na batalha por uma inclusão social. Representam a busca por mudanças, 
chamando a atenção para discussões sobre as formas de viver nos setores 
menos visíveis da sociedade.
Os movimentos sociais questionam a organização da sociedade civil, 
mobilizando-se por meio de passeatas, ocupações e, por vezes, paralisações. 
Buscando sensibilizar os sujeitos para a ampliação da escuta quando as ações 
coletivas se manifestam através de lutas por direitos, mobilizando-se politi-
camente em torno de uma determinada realidade, o que acaba por despertar 
uma sensação de pertencimento a um grupo. 
Ações coletivas e movimentos sociais2
Dessa maneira, os movimentos sociais dizem respeito não a um grupo 
específico, mas a uma diversidade de grupos que possuem características 
e demandas semelhantes. Como exemplo, temos os sindicatos, dentro dos 
quais os movimentos se direcionam na luta por direitos e justiça. Assim, os 
movimentos sociais são movidos pelo descontentamento, pela insatisfação, pela 
negação ou minimização de direitos, pela exclusão e pela invisibilidade dos 
sofrimentos, manifestados pelas falhas de atendimento em saúde, educação, 
saneamento básico, entre outros. Além disso, buscam dar voz às minorias, 
criando espaço para a luta pelos seus direitos, como nos movimentos dos 
grupos LGBTQI (Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais, Queer e Intersex) e 
também nos grupos de pessoas com deficiências ou portadores de necessidades 
especiais, entre outros.
As ações coletivas e os movimentos sociais se diferenciam pela impulsão e 
no traçar dos propósitos que carregam consigo. No entanto, estão vinculados 
pela união dos membros e ainda podemos observar que não é possível um mo-
vimento social sem a força de uma ação coletiva, ou seja, se uma ação coletiva 
se estrutura na direção da mudança, esta desencadeará um movimento social.
Podemos entender o enfoque na mudança promovido pelos movimentos sociais, bem 
como a contribuição das ações coletivas para o impulsionamento de movimentos 
transformadores no documentário A Partir de Agora, com direção de Carlos Pronzato. 
Por meio da união de entrevistas com ativistas em cinco capitais brasileiras, o filme 
promove um panorama do que foi um dos maiores movimentos sociais desencadeado 
por ações coletivas nas chamadas “Jornadas de Junho de 2013”, nas quais se buscava 
a garantia dos direitos ao transporte público com qualidade e preço justo.
Ações coletivas e construção social
Como vimos, em essência as ações coletivas são caracterizadas pela união 
de sujeitos que se organizam visando um objetivo comum. Para a promo-
ção das ações coletivas em meio aos pequenos ou grandes grupos um dos 
requisitos indispensáveis é a motivação dos membros para a adesão à tarefa 
implicada na ação.
Características dos membros dos grupos tendem a unir e promover a ma-
nutenção das ações coletivas. Isso acaba por implicar as ações coletivas no 
3Ações coletivas e movimentos sociais
desenvolvimento de mudanças e, dessa maneira, estas se disponibilizam como 
ferramentas que promovem movimentos sociais.
Ainda que nem toda ação coletiva compreenda um movimento social 
– como, por exemplo, o carnaval, que, embora expresse modos de viver de 
acordo com a cultura local, não possui como objetivo uma mudança –, tais 
ações só podem promover esses movimentos quando se posicionam de maneira 
a contribuir para a construção social.
Uma construção social é estimulada pelo questionamento de organizações 
sociais engessadas que tendem a priorizar o silenciamento e a invisibilidade 
de direitos. Nesse sentido, quando as ações coletivas se manifestam através 
de lutas por direitos, ocorre uma mobilização política no sentido etiológico 
da palavra – com sua origem grega politiké, onde as decisões sobre o rumo da 
sociedade ocorriam através da promoção de discussões ocupando os espaços 
públicos da cidade de maneira igualitária e naturalista por seus cidadãos – e 
acabam por desencadear os movimentos sociais.
Atualmente as ações coletivas que objetivam construções sociais contam com auxílio 
tecnológico por meio de campanhas públicas caracterizadas pela redução da distância 
através do ciberespaço. Como exemplo, temos as hashtags, como a #acordabrasil ou a 
#vemprarua, que mobilizaram milhões de pessoas a frequentarem protestos em todas 
as cidades do Brasil no ano de 2013. Temos também as comunidades de mobilização, 
como o portal Avaaz, por meio do qual os usuários podem promover campanhas ou 
solicitar petições públicas.
Conheça o site do Avaaz e veja quais tipos de mobilizações 
públicas podem ser realizadas.
https://goo.gl/CsWjSg 
Ações coletivas e movimentos sociais4
Movimentos sociais como articuladores 
Movimentos comunitários através de associações de moradores ou asso-
ciações de agricultores são exemplos de movimentos sociais que articulam 
interesses dos sujeitos, conforme a força da união do grupo em busca por 
melhores condições de vida e desejam atingir uma garantia de direitos para 
as gerações futuras.
Os movimentos sociais possuem uma potência articuladora de intenções 
e interesses, visando um equilíbriopor meio da sintonia entre buscas indivi-
duais e grupais de conveniências. Eles eclodem na contradição imposta pela 
sociedade, na qual o acesso aos direitos acaba por se distanciar das periferias, 
lugares em que coincidentemente estão situados os grupos mais necessitados. 
As Figuras 2 e 3 mostram exemplos da atuação dos movimentos sociais como 
abertura de espaço e visibilidade.
Figura 2. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) é um exemplo de mo-
vimento social, que busca por meio da reforma agrária uma distribuição justa da terra 
para cultivo, respeitando a sustentabilidade e buscando melhores condições em saúde 
e em educação.
Fonte: estudio Maia/Shutterstock.com
5Ações coletivas e movimentos sociais
Figura 3. O movimento feminista também é 
um exemplo de movimento social; ele surgiu 
da necessidade de abertura de espaço para 
atuação feminina na política, além de bus-
car equidade de gênero, caracterizando-se, 
a partir disso, como um movimento social, 
político e filosófico. 
Fonte: durantelallera/Shutterstock.com
Além desses, existem os movimentos pelos direitos dos negros, o mo-
vimento dos trabalhadores sem teto, o movimento pelos direitos dos povos 
originários (índios), a União Nacional dos Estudantes (UNE), entre outros 
movimentos. 
A partir deste cenário, os movimentos sociais se articulam funcionalmente, 
por meio de um posicionamento estratégico eficientemente comunicacional, 
ou seja, preservando sua subjetividade e respeitando a horizontalidade das 
ações. Dessa forma, a condução da conduta grupal preserva a subjetividade 
Ações coletivas e movimentos sociais6
e os aspectos identitários dos membros do grupo, possibilitando um fluxo 
equilibrado entre os desejos individuais e grupais.
A articulação promovida pelos movimentos sociais possibilita uma aber-
tura na forma de exercer e conduzir a democracia, orientando na direção da 
participação e desenvolvendo, dessa maneira, uma validação da contribuição 
que cada membro pode acrescentar ao movimento.
Podemos observar o ambiente escolar como promotor de movimentos sociais 
que são articuladores quando atua como um ambiente aberto à diversidade e à 
subjetividade dos membros, estimulando a problematização e o questionamento 
dos modos de ser, viver e conhecer. Dessa maneira, a partir da identificação 
da necessidade de mudanças a escola pode promover a busca por soluções 
educando ao diálogo com os setores de gestão pública. 
Para você visualizar como os movimentos sociais podem se articular de maneira a 
contribuir para a transformação do que está enrijecido promovendo mudanças, leia 
o livro Pedagogia do oprimido (FREIRE, 1988) onde o autor instiga a tornar o cenário 
escolar um espaço para o questionamento e para a mobilização por mudanças.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
Referência
7Ações coletivas e movimentos sociais
Conteúdo:
SOCIOLOGIA
RICHARD T. SCHAEFER
6a EDIÇÃO
6a 
EDIÇÃO
As aulas de Sociologia, consideradas pelo autor deste livro “o laboratório ideal onde pode-
mos estudar nossa própria sociedade e as dos nossos vizinhos globais”, permitem ao aluno 
desenvolver o pensamento crítico, tornando-o capaz de aplicar as teorias e os conceitos 
sociológicos para avaliar as interações e as instituições humanas e, assim, encontrar expli-
cações sociológicas para os diversos fenômenos que permeiam as relações sociais. 
O aluno inicia estudando o que é Sociologia e o seu objeto de pesquisa para depois entrar em 
contato com temas de interesse imediato e, em sua maior parte, com temas mais abrangentes, que 
lhe permitirão desenvolver o pensamento crítico e a imaginação sociológica. As seções “Use a 
Sua Imaginação Sociológica” e “Pense Nisto”, por exemplo, dão suporte à proposta do autor.
Sociologia aborda temas que vão da educação bilíngüe à existência da escravidão em pleno 
século XXI, incluindo o estudo da imigração, da situação dos moradores de rua, da superpo-
pulação, do processo do envelhecimento das pessoas nas diferentes culturas, até problemas 
mais recentes como os ataques de 11 de setembro de 2001 e suas conseqüências sociais 
– como as pessoas passaram a lidar com a situação depois desse acontecimento e, em espe-
cial, como elas reagem diante das minorias.
Aplicações
Livro-texto para a disciplina Introdução à Sociologia dos cursos de graduação em Socio-
logia, Filosofia, Psicologia, Pedagogia, Administração de Empresas, Economia, História, 
Engenharia, entre outros, bem como dos cursos de pós-graduação (MBA e lato sensu) destas 
mesmas áreas, especialmente de Administração de Empresas.
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Sociologia
www.grupoa.com.br
Sociologia Schaefer.indd 1 24/10/13 09:53
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
S294s Schaefer, Richard T.
 Sociologia [recurso eletrônico] / Richard T. Schaefer ;
 tradução: Eliane Kanner, Maria Helena Ramos Bononi ;
 revisão técnica: Noêmia Lazzareschi, Sérgio José Schirato. –
 6. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014.
 Publicado também como livro impresso em 2006.
 ISBN 978-85-8055-316-1
 1. Sociologia. I. Título. 
CDU 316
Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052
Índice para catálogo sistemático:
1. Sociologia 301
Iniciais_eletronica.indd 2 23/10/13 15:15
Movimentos Sociais, Mudanças Sociais e Tecnologia 429
movimentos sociais
Embora fatores como meio ambiente físico, população, 
tecnologia e desigualdade social sirvam como fontes de 
mudança, é o esforço coletivo das pessoas, organizado em 
movimentos sociais, que leva definitivamente a transfor-
mações. Os sociólogos utilizam a expressão movimento so-
cial para se referir às atividades coletivas organizadas para 
efetuar ou enfrentar as mudanças básicas em um grupo ou 
uma sociedade existente (Benford, 1992). Herbert Blumer 
(1955, p. 19) reconheceu a importância especial dos movi-
mentos sociais quando os definiu como “empreendimen-
tos coletivos para definir uma nova ordem de vida”.
Em muitos países, incluindo os Estados Unidos, os 
movimentos sociais tiveram um impacto crucial sobre o 
curso da história e a evolução da estrutura social. Consi-
dere os atos dos abolicionistas, sufragistas, trabalhadores 
dos direitos civis e ativistas contra a guerra no Vietnã. Os 
membros de cada um desses movimentos sociais saíram 
dos canais tradicionais para provocar mudanças sociais, 
mas tiveram uma influência notável sobre a política pú-
blica. Esforços coletivos igualmente drásticos ajudaram 
a derrubar regimes comunistas de maneira, em grande 
parte, pacífica, em países que muitos observadores con-
sideravam “imunes” a essas mudanças sociais (Ramet, 
1991).
esse excerto de texto de Smart mobs, Ho-
ward Rheingold (2003) descreve um novo 
fenômeno no qual estranhos ligados por 
aparelhos de comunicação móvel conver-
gem espontaneamente para atingir determinada meta. 
Rheingold, uma autoridade reconhecida no tocante às 
implicações sociais das novas tecnologias, identificou 
um comportamento social que está surgindo. Pode-se 
esperar esses efeitos não-previstos. Geralmente, as novas 
tecnologias não podem evitar a mudança da maneira 
como as pessoas vivem as suas vidas e, por extensão, a 
evolução da sua cultura e sociedade. A invenção do com-
putador pessoal e a sua integração na vida cotidiana das 
pessoas são um outro exemplo da mudança social que 
em geral se segue à introdução de uma nova tecnologia.
A mudança social foi definida como uma alteração 
significativa nos padrões de comportamento e cultura, 
incluindo normas e valores (W. Moore, 1967). Mas o 
que é uma alteração “significativa”? Certamente, o au-
mento drástico na educação formal, documentado no 
Capítulo 13, representa uma mudança que teve conse-
qüências sociais profundas. Entre as outras mudanças 
sociais que provocaram conseqüências de longo prazo 
e importantes estão o surgimento da escravidão como 
um sistema de estratificação(Capítulo 9), a Revolução 
Industrial (Capítulos 5 e 14), a participação cada vez 
maior das mulheres no mercado de trabalho norte-
americano e europeu (Capítulo 11) e a explosão da po-
pulação mundial (Capítulo 15). Como veremos neste 
capítulo, os movimentos sociais desempenharam um 
papel importante na realização de mudanças sociais.
Como ocorre uma mudança social? O processo 
é imprevisível ou podemos fazer determinadas ge-
neralizações a seu respeito? Por que algumas pes-
soas resistem às mudanças sociais? Que mudanças 
poderão advir das tecnologias do futuro? E quais 
foram os efeitos negativos das mudanças tecnoló-
gicas radicais do século passado? Neste capítulo, 
examinaremos o processo de mudança social, com 
ênfase especial no impacto dos avanços tecnológicos. 
Começaremos com os movimentos sociais – esforços 
coletivos para efetuar mudanças sociais propositais. 
Depois, discutiremos a mudança social imprevista 
que ocorre quando inovações, como novas tecnolo-
gias, englobam a sociedade. Os esforços para explicar 
essas mudanças sociais de longo prazo levaram à 
elaboração de teorias sobre a mudança. Analisaremos 
as abordagens evolucionária, funcionalista e do con-
flito da mudança. Veremos como grupos interessados 
em manter o seu poder tentam bloquear mudanças 
que consideram ameaçadoras. Os vários aspectos do 
nosso futuro tecnológico, como a Internet e a biotec-
nologia, também serão analizados. Examinaremos os 
efeitos dos avanços tecnológicos sobre a cultura e a 
interação social, o controle social e a estratificação e 
a desigualdade social. Juntos, os impactos dessas mu-
danças tecnológicas podem estar aproximando-se de 
um grau de magnitude comparável ao da Revolução 
Industrial. Por fim, na seção de política social discuti-
remos as formas pelas quais as mudanças tecnológicas 
intensificaram as preocupações com a privacidade e a 
censura. 
N
Capitulo 16.indd 429 23/10/13 15:07
430 Capítulo 16
Embora os movimentos sociais pressuponham a 
existência de conflito, podemos analisar suas atividades 
do ponto de vista funcionalista. Mesmo quando não 
são bem-sucedidos, eles contribuem para a formação da 
opinião pública. Primeiro, as pessoas achavam que as 
idéias de Margaret Sanger e outras pioneiras defensoras 
do controle de natalidade eram radicais. Porém, hoje os 
contraceptivos estão amplamente disponíveis nos Esta-
dos Unidos. Além disso, os funcionalistas encaram os 
movimentos sociais como treinamento para os líderes da 
classe dirigente política. Chefes de Estado, como Fidel 
Castro, de Cuba, e Nelson Mandela, que presidiu a África 
do Sul, chegaram ao poder depois de atuarem como 
líderes de movimentos revolucionários. O polonês Lech 
Walesa, o russo Boris Yeltsin e o autor de teatro tcheco 
Vaclav Havel lideraram movimentos de protesto contra 
o domínio comunista e depois se tornaram líderes dos 
governos de seus países.
Como e por que surgem os movimentos sociais? 
Obviamente, as pessoas, muitas vezes, estão desconten-
tes com a maneira como as coisas estão. Mas o que as 
faz se organizarem em determinado momento em um 
esforço coletivo de provocar mudanças? Os sociólogos se 
baseiam em duas explicações do motivo pelo qual as pes-
soas se mobilizam: as abordagens da 
relativa privação e da mobilização 
de recursos.
Privação Relativa
Os membros de uma sociedade que 
se sentem frustrados e descontentes 
com as condições sociais e econô-
micas não estão necessariamente, 
do ponto de vista objetivo, em uma 
situação ruim. Os cientistas sociais 
há tempos reconhecem que o mais 
importante é como as pessoas perce-
bem a sua situação. Como assinalou 
Karl Marx, a miséria dos trabalha-
dores foi importante para que per-
cebessem a opressão que sofriam, 
tendo em vista a sua posição em re-
lação à classe capitalista dominante 
(Marx e Engels [1847] 1955).
A expressão privação relativa 
é definida como a sensação cons-
ciente de uma discrepância nega-
tiva entre as expectativas legítimas 
e a realidade presente (John Wilson, 
1973). Em outras palavras, as coi-
sas não vão tão bem quanto você 
esperava que fossem. Esse tipo de 
situação pode ser caracterizado por 
escassez e não por uma ausência 
completa das necessidades (como vimos na distinção 
entre pobreza absoluta e pobreza relativa no Capítulo 9). 
Uma pessoa relativamente carente está insatisfeita porque 
se sente oprimida em relação a algum grupo de referência 
adequado. Conseqüentemente, os operários que vivem 
em casas bifamiliares (geminadas) em pequenos pedaços 
de terra – embora não estejam na parte mais baixa da 
escala social – podem sentir-se privados em relação aos 
gerentes de empresas e aos profissionais que moram em 
casas suntuosas em subúrbios de elite.
Além da sensação de relativa privação, dois outros 
elementos têm de estar presentes antes de o descontenta-
mento ser canalizado para um movimento social. As pes-
soas precisam sentir que têm direito a seus objetivos, que 
merecem coisa melhor do que aquilo que 
possuem. Por exemplo, a luta contra o colonialismo eu-
ropeu na África se intensificou quando uma quantidade 
cada vez maior de africanos decidiu que era legítimo ter 
independência política e econômica. Ao mesmo tempo, 
o grupo menos favorecido tem de sentir que não pode 
atingir suas metas por meios convencionais. Essa crença 
pode ser ou não correta. Em ambos os casos, o grupo não 
irá mobilizar-se em um movimento social se não houver 
uma percepção compartilhada de que os seus membros 
“Ei, Bush/ Quem luta as suas guerras?/ Só as minorias e os pobres!” Os 
alunos do ensino médio de Los Angeles protestam contra a guerra no 
Iraque fazendo uma demonstração de apoio aos trabalhadores em greve de 
um supermercado em Eagle Rock, Califórnia. Na sua demonstração contra 
a guerra e a favor de práticas trabalhistas justas, o grupo, denominado “As 
Animadoras de Torcida Adolescentes Radicais”, ilustra a teoria da privação 
relativa dos movimentos sociais.
p. 223
Capitulo 16.indd 430 23/10/13 15:07
Movimentos Sociais, Mudanças Sociais e Tecnologia 431
só podem acabar com a sua privação por intermédio de 
uma ação coletiva (Morrison, 1971).
Os críticos dessa abordagem observaram que as pes-
soas não têm de se sentir privadas de algo para serem im-
pelidas a agir. Além disso, essa abordagem não explica por 
que determinadas sensações de privações se transformam 
em movimentos sociais enquanto em outras sensações 
semelhantes não se faz um esforço coletivo para remo-
delar a sociedade. Como decorrência, nos últimos anos, 
os sociólogos vêm dando cada vez mais atenção às forças 
necessárias para provocar o surgimento de movimentos 
sociais (Alain, 1985; Finkel e Rule, 1987; Orum, 1989).
Mobilização de Recursos
É preciso mais do que desejo para dar início a um mo-
vimento social. Ter dinheiro, influência política, acesso 
aos meios de comunicação e pessoal ajuda. A expressão 
mobilização de recursos se refere às maneiras como um 
movimento social utiliza esses recursos. O êxito de um 
movimento por mudanças depende em grande parte de 
seus recursos e de quão eficazmente ele os utiliza (ver 
também Gamson, 1989; Staggenborg, 1989a, 1989b).
O sociólogo Anthony Oberschall (1973, p. 199) 
argumenta que, para sustentar um protesto ou uma resis-
tência social, é preciso que haja “uma base organizada e 
continuidade de liderança”. Quando as pessoas decidem 
participar de um movimento social, surgem regras que 
orientam o seu comportamento. Pode-se esperar que os 
membros do movimento participem de reuniões regula-
res de organizações, paguem taxas, recrutem novos parti-
cipantes e boicotem produtos ou locutores do “inimigo”. 
Um movimento social emergente pode fazer surgir uma 
linguagem especial ou novas palavras para termos/ex-
pressões familiares. Nos últimos anos, os movimentos 
sociais vêm sendo responsáveis por novos termos/expres-
sões de auto-referência, como negros e afro-americanos 
(para substituir crioulos), cidadãos seniores (para substi-
tuir idosos), gays (para substituirhomossexuais) e pessoas 
portadoras de deficiências (para substituir deficientes).
A liderança é o fator central na mobilização dos 
descontentes em movimentos sociais. Geralmente, um 
movimento é liderado por uma figura carismática, como 
o Dr. Martin Luther King Jr. Como descreveu Max Weber 
em 1904, carisma é aquela qualidade de al-
guém que o destaca das pessoas comuns. Evidentemente, 
o carisma pode desvanecer abruptamente, o que ajuda a 
explicar a fragilidade de determinados movimentos so-
ciais (A. Morris, 2000).
Porém, muitos movimentos sociais persistem por 
longos períodos de tempo porque a sua liderança é bem 
organizada e contínua. Ironicamente, como observou 
Robert Michels (1915), os movimentos sociais que lutam 
por mudanças sociais acabam assumindo alguns dos as-
pectos da burocracia contra a qual se organizaram para 
protestar. Os líderes tendem a dominar o processo de 
tomada de decisões sem consultar seus seguidores. No 
entanto, a burocratização dos movimentos sociais não 
é inevitável. Movimentos mais radicais, que defendem 
importantes mudanças estruturais em uma sociedade e 
adotam ações de massa, tendem a não ser hierárquicos ou 
burocráticos (Fitzgerald e Rodgers, 2000).
Atualmente, o Movimento dos Sem-Terra (MST) é 
o movimento social mais radical no Brasil ao reivindicar 
uma ampla distribuição de terras em todo o território na-
cional. Seus métodos de ação são também radicais, pois 
os membros entram em conflito direto com fazendeiros, 
invadem propriedades, queimam e destroem benfeitorias 
e destroem as plantações, desrespeitando a instituição da 
propriedade privada e exigindo desapropriações mesmo 
de terras produtivas. A reforma agrária está em processo 
no País e seus resultados até agora não têm sido pro-
missores, já que as famílias assentadas produzem muito 
pouco por falta de instrumentos de trabalho, insumos 
básicos e, muitas vezes, por falta de conhecimento porque 
o recrutamento dos membros do MST admite desempre-
gados das cidades e não apenas aqueles com tradição no 
– ou originalmente do – trabalho rural.
Por que determinadas pessoas se associam a um mo-
vimento social e outras que estão em situação semelhante 
não o fazem? Algumas delas são recrutadas para fazer 
parte. Karl Marx reconheceu a importância 
do recrutamento quando convocou os trabalhadores a 
se conscientizarem do seu status de oprimidos e criarem 
uma consciência de classe. Como os teóricos da abor-
dagem da mobilização de recursos, Marx argumentava 
que um movimento social (especificamente, a revolta 
do proletariado) iria requerer que os líderes aguçassem 
a consciência dos oprimidos. Eles teriam de ajudar os 
trabalhadores a superar a sensação de falsa consciência, 
ou atitudes que não refletem a sua posição objetiva, para 
organizar um movimento revolucionário. Da mesma 
maneira, um dos desafios enfrentados pelas atividades 
do movimento de liberação feminina do final da década 
de 1960 e início da de 1970 era convencer as mulheres de 
que estavam sendo privadas de seus direitos e de recursos 
sociais valorizados socialmente.
Mesmo em movimentos que surgem praticamente 
de um dia para o outro em resposta a eventos como uma 
guerra impopular, os recrutadores têm um papel impor-
tante. Durante a Guerra do Iraque em 2003, organizado-
res externos ajudaram a inflamar os protestos estudantis 
(ver Quadro 16-1).
O Sexo e os Movimentos Sociais 
Os sociólogos destacam que o sexo é um elemento im-
portante na compreensão dos movimentos sociais. Na 
nossa sociedade dominada pelos homens, as mulheres 
têm mais dificuldade do que eles de assumirem cargos 
p. 370
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432 Capítulo 16
Sociologia no Campus
16-1 PRotestos antigueRRa
de liderança em organizações de movimentos sociais. 
Embora, muitas vezes, as mulheres trabalhem despropor-
cionalmente como voluntárias nesses movimentos, o seu 
trabalho não é sempre reconhecido nem suas vozes são 
ouvidas com tanta facilidade quanto a dos homens. Além 
disso, a tendência sexual faz que a extensão real da influ-
ência das mulheres seja ignorada. A análise tradicional do 
sistema sociopolítico tende a se concentrar em corredores 
do poder dominados pelos homens, como as legislaturas 
e diretorias de empresas, em detrimento de domínios 
mais femininos, como casas, grupos comunitários e re-
des baseadas na fé. Porém, os esforços para influenciar 
valores familiares, a criação de filhos, a relação entre pais 
e escolas e os valores espirituais são claramente importan-
tes para uma cultura e para a sociedade (Ferree e Merrill, 
2000; Noonan, 1995).
Os estudiosos dos movimentos sociais hoje se dão 
conta de que o sexo pode afetar até a maneira como ve-
mos os esforços organizados para provocar ou enfrentar 
as mudanças. Por exemplo, a ênfase na utilização da 
432
A fixados nas calçadas e nas paredes fora das salas de aula, panfletos in-citavam os alunos a participar do 
protesto. Logo grandes grupos se junta-
ram no local designado, externando a sua 
raiva contra o governo enquanto a polícia 
do campus os observava nervosamente. 
“Anos 60”? Poderia ter sido, mas era 
2004. Em centenas de campi nos Estados 
Unidos, os alunos externavam a sua opo-
sição à Guerra do Iraque.
Na maioria dos campi, esse ativismo 
estudantil era um acontecimento relati-
vamente recente. Na década de 1990, ob-
servadores notaram a apatia política dos 
estudantes, exceto por questões locais, 
como a política de moradia no campus ou 
os requisitos para ajuda financeira. Gra-
dativamente, no entanto, os alunos mani-
festaram seus sentimentos em protestos 
contra a exploração de mão-de-obra para 
fazer as camisas e os bonés que tinham 
o logotipo da escola. Quando os diplo-
matas norte-americanos começaram a 
criar uma coalizão de países dispostos a 
invadir o Iraque, os estudantes se organi-
zaram com o intuito de questionar a base 
para essa ação.
Os protestos estudantis não eram tão 
numerosos nem tão duradouros como 
os que ocorreram durante a Guerra do 
Vietnã. E, ao contrário do que aconte-
cera na década de 1960, não se origi-
naram necessariamente com os alunos. 
Em vez disso, as convocações para fazer 
demonstrações e falar vieram primeiro 
de ativistas pacifistas de fora do campus. 
Para os ativistas da década de 1960 que 
estão ficando mais velhos, a velocidade 
com a qual as demonstrações foram 
organizadas é surpreendente. Utilizando 
e-mail, os estudantes tanto pró quanto 
contra a guerra puderam reunir-se em 
questão de horas – não de dias ou de 
semanas que os seus antecessores pre-
cisaram. E, independentemente de suas 
opiniões, conseguiram localizar on-line 
e rapidamente alunos que pensavam da 
mesma maneira.
Mais importante, os recentes protes-
tos apresentaram algumas inversões de 
papéis sem precedentes. Muitos profes-
ter as demonstrações políticas e impedir 
que elas interrompessem as aulas. Na 
verdade, essas zonas tinham limitado 
o direito constitucional à liberdade de 
expressão a algumas pequenas áreas no 
campus, proibindo os alunos de falar 
em qualquer outro lugar. Mas, à medida 
que a quantidade de alunos manifestantes 
começou a se multiplicar em 2003, muitas 
faculdades aboliram as odiadas restrições, 
permitindo que os manifestantes prosse-
guissem sem ser incomodados pela polí-
cia. Aparentemente, os administradores 
também aprenderam algumas lições da 
Guerra do Vietnã.
Vamos Discutir
1. Você alguma vez testemunhou um 
protesto liderado por estudantes 
na sua escola de ensino médio ou 
faculdade? Em caso afirmativo, que 
questões desencadearam o protesto 
e como reagiram os administrado-
res da escola? 
2. Suponha que em 2004 os adminis-
tradores de faculdade tinham ten-
tado proibir os alunos de se orga-
nizarem e se manifestarem contra a 
guerra. Como uma questão prática 
(não legal), poderia uma questão 
desse tipo ser implantada facil-
mente? Que circunstâncias podem 
tornar os movimentos de protestos 
atuais mais difíceis de ser contidos 
do que os movimentosde protesto 
do passado?
sores que haviam sido moldados quando 
eram estudantes pelo movimento contra 
a Guerra do Vietnã assumiram uma po-
sição firme contra a Guerra do Iraque. Os 
seus alunos, ainda traumatizados pelos 
ataques terroristas de 11 de setembro de 
2001, e não submetidos à convocação 
como a geração anterior havia sido, esta-
vam menos aptos a protestar. Assim, nos 
campi, como Brandeis e Yale, algumas 
demonstrações eram pró-guerra.
Outra diferença em relação aos pro-
testos da década de 1960 foi a reação dos 
policiais do campus. Na década de 1980, 
muitas universidades haviam criado “zo-
nas de liberdade de expressão” para con-
Utilizando e-mail, os estudantes 
tanto pró quanto contra a 
guerra puderam reunir-se em 
questão de horas.
Fontes: Blandy, 2004; Colapinto, 2003; Frost, 2003; Sharp, 2002; Zernike, 2003.
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Movimentos Sociais, Mudanças Sociais e Tecnologia 433
racionalidade e da lógica fria para atingir metas ajuda a 
obscurecer a importância da paixão e da emoção nos mo-
vimentos sociais bem-sucedidos. Seria difícil encontrar 
algum movimento – das lutas dos trabalhadores pelos 
direitos de votar aos embates pelos direitos dos animais 
– no qual a paixão não tenha sido parte da força criadora 
do consenso. Mas as convocações para um estudo mais 
sério do papel da emoção freqüentemente são vistas 
como aplicáveis apenas aos movimentos das mulheres, 
pois a emoção é tradicionalmente considerada algo femi-
nino (Ferree e Merrill, 2000; Taylor, 1995).
Novos Movimentos Sociais
No final da década de 1960, os cientistas sociais europeus 
observaram uma mudança tanto na composição quanto 
nas metas dos movimentos sociais que estavam surgindo. 
Anteriormente, os movimentos sociais tradicionais se 
concentravam nas questões econômicas, e eram lidera-
dos por sindicatos ou por pessoas que tinham a mesma 
profissão. No entanto, muitos movimentos sociais que se 
tornaram ativos nas últimas décadas – incluindo o movi-
mento contemporâneo das mulheres – não têm as raízes 
de classe social típicas dos protestos de trabalhadores nos 
Estados Unidos e na Europa no século passado (Tilly, 
1993).
A expressão novos movimentos sociais se refere a 
atividades coletivas organizadas que abordam valores e 
identidades sociais, bem como melhorias na qualidade 
de vida. Esses movimentos podem estar envolvidos na 
criação de identidades coletivas. Muitos deles têm agen-
das complexas que vão além de uma única questão e às 
vezes até ultrapassam as fronteiras nacionais. Pessoas 
educadas de classe média são representadas de maneira 
significativa em alguns desses novos movimentos sociais, 
como o das mulheres e o movimento pelos direitos dos 
gays e lésbicas.
Os novos movimentos sociais geralmente não vêem 
o governo com um aliado na luta por uma sociedade 
melhor. Embora eles via de regra não tentem derrubar 
o governo, podem criticar, protestar ou importunar seus 
representantes. Os pesquisadores descobriram que os 
membros dos novos movimentos sociais apresentam 
pouca inclinação para aceitar a autoridade estabelecida, 
até mesmo a autoridade científica ou técnica. Essa carac-
terística está mais evidente nos movimentos ambientais 
e antienergia nuclear, cujos ativistas apresentam os seus 
próprios peritos para se oporem aos do governo ou das 
grandes empresas (Garner, 1996; Polletta e Jasper, 2001; 
A. Scott, 1990).
O movimento ambiental é um dos novos movimen-
tos com um foco mundial. Em seus esforços para reduzir 
a poluição do ar e da água, reduzir o aquecimento global 
e proteger espécies animais em perigo de extinção, os 
ativistas ambientais perceberam que medidas regulamen-
tadoras rígidas em um único país não são suficientes. 
Da mesma maneira, os líderes sindicais e defensores dos 
direitos humanos não podem abordar as condições de 
exploração das oficinas em um país em desenvolvimento 
se uma empresa multinacional é capaz de simplesmente 
transferir a fábrica para um outro país onde os trabalha-
dores ganham menos ainda. Enquanto as teorias tradi-
cionais sobre os movimentos sociais tendiam a enfatizar 
a mobilização de recursos em âmbito local, a teoria do 
novo movimento social oferece uma perspectiva mais 
ampla e global sobre o ativismo social e político.
A Tabela 16-1 resume as abordagens sociológicas que 
contribuíram para a teoria do movimento social. Cada 
abordagem acrescentou algo ao nosso conhecimento do 
desenvolvimento dos movimentos sociais.
teorias de mudanças sociais
O novo milênio nos dá a chance de apresentar explica-
ções para as mudanças sociais, que definimos como uma 
mudança significativa com o decorrer do tempo nos pa-
drões de comportamento e na cultura. Essas explicações 
evidentemente são um desafio no mundo diversificado 
e complexo no qual vivemos. Mesmo assim, os teóricos 
de várias disciplinas vêm tentando analisar as mudanças 
sociais. Em alguns casos, analisaram acontecimentos 
históricos para entender melhor as mudanças contem-
porâneas. Vamos revisar três teorias sobre a mudança – a 
Abordagem da privação relativa Os movimentos sociais têm grande probabilidade de surgir quando as expectativas 
 crescentes são frustradas.
Abordagem da mobilização O êxito dos movimentos sociais depende de quais recursos estão disponíveis e de quão 
de recursos eficazmente são utilizados.
Teoria do novo Os movimentos sociais surgem quando as pessoas estão motivadas por questões de 
movimento social valor e identidade social.
Abordagem Ênfase
r
es
u
m
in
d
o
tabela 16-1 contribuições para a teoria do movimento social
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434 Capítulo 16
evolucionista, a funcionalista e a do conflito – e depois 
examinaremos as mudanças mundiais.
Teoria Evolucionista
O trabalho pioneiro de Charles Darwin (1809-1882) a 
respeito da evolução biológica contribuiu para as teorias 
sobre mudanças sociais do século XIX. A abordagem de 
Darwin enfatiza uma progressão contínua de formas de 
vida sucessivas. Por exemplo, os seres humanos aparece-
ram depois dos répteis na evolução e representam uma 
forma de vida mais complexa. Na busca de uma analogia 
com esse modelo biológico, os teóricos sociais deram 
origem à teoria evolucionista, na qual a sociedade é 
vista como caminhando em uma direção definida. Os 
primeiros teóricos evolucionistas concordavam que 
a sociedade estava progredindo inevitavelmente para 
um estado mais elevado. Como era de se esperar, con-
cluíram, à moda etnocêntrica, que seus próprios com-
portamento e cultura eram mais avançados do que das 
civilizações anteriores.
Augusto Comte (1798-1857), um dos funda-
dores da sociologia, foi um teórico evolucionista das mu-
danças. Ele via as sociedades humanas como avançando 
da mitologia para o método científico na sua maneira 
de pensar. Da mesma maneira, Émile Durkheim ([1893] 
1933) argumentou que a sociedade evoluía de formas 
simples para formas mais complexas de organização 
social.
As obras de Comte e Durkheim são exemplos da teo-
ria evolucionista unilinear. Esta abordagem afirma que 
todas as sociedades passam pelas mesmas fases sucessivas 
de evolução e inevitavelmente atingem o mesmo fim. O 
sociólogo inglês Herbert Spencer (1820-1903) utilizou 
uma abordagem semelhante: igualou a so-
ciedade a um corpo vivo cujas partes interligadas cami-
nhavam para um destino comum. No entanto, os teóricos 
evolucionistas contemporâneos, como Gerhard Lenski, 
têm mais probabilidade de considerar as mudanças 
sociais como multilineares do que se basearem na pers-
pectiva unilinear mais limitada. A teoria evolucionista 
multilinear defende que as mudanças podem ocorrer de 
várias maneiras e não levam inevitavelmente à mesma 
direção (Haines, 1988; J. Turner, 1985).
Os adeptos da teoria multilinear reconhecem que a 
cultura humana evoluiu ao longo de várias linhas. Por 
exemplo, a teoria da transição demográfica demonstra 
graficamente que a mudança na população nos países 
em desenvolvimento não seguiu necessaria-
menteo modelo evidente nos países industrializados. Os 
sociólogos hoje argumentam que os acontecimentos não 
seguem uma ou mesmo várias linhas retas, em vez disso, 
estão sujeitos a rupturas – um tópico que analisaremos 
mais adiante na nossa discussão das mudanças sociais 
mundiais.
Teoria Funcionalista
Como os sociólogos funcionalistas se concentram na-
quilo que mantém um sistema e não no que o muda, 
aparentemente contribuem pouco para o estudo das mu-
danças sociais. Entretanto, como demonstra o trabalho 
do sociólogo Talcott Parsons, os funcionalistas fizeram 
uma contribuição singular para essa área da investigação 
sociológica.
Parsons (1902-1979), um dos principais proponentes 
da teoria funcionalista, via a sociedade como estando em 
um estado natural de equilíbrio. Com “equi-
líbrio” ele queria dizer que a sociedade tende para um 
estado de estabilidade. Parsons via até as greves prolon-
gadas de trabalhadores ou motins civis como transtornos 
temporários no status quo e não como alterações signifi-
cativas na estrutura social. Conseqüentemente, de acordo 
com o seu modelo de equilíbrio, à medida que ocorrem 
mudanças em uma parte da sociedade, é preciso fazer 
ajustes em outras partes. Se isso não acontecer, o equilí-
brio da sociedade estará ameaçado e ocorrerão tensões.
Refletindo sobre a abordagem evolucionista, Parsons 
(1966) defendia que quatro processos de mudanças so-
ciais são inevitáveis. O primeiro, a diferenciação, refere-se 
à complexidade cada vez maior da organização social. A 
transição do “homem de medicina” para médico, enfer-
meira e farmacêutico ilustra a diferenciação na área de 
saúde. Esse processo é acompanhado pelo de atualização 
adaptativa, no qual as instituições sociais se tornam mais 
especializadas em seus fins. A divisão dos médicos em 
obstetras, residentes, cirurgiões etc. é um exemplo de 
atualização adaptativa.
O terceiro processo que Parsons identificou é da 
inclusão de grupos excluídos anteriormente por causa de 
seu sexo, sua raça, etnia e seu histórico de classe social. 
As escolas de medicina praticaram a inclusão admitindo 
uma quantidade cada vez maior de mulheres e negros. 
Por fim, Parsons argumenta que as sociedades passam 
por uma generalização de valores, ou seja, a criação de 
novos valores que toleram e legitimam uma gama maior 
de atividades. A aceitação das medicinas preventivas e 
alternativas é um exemplo de generalização de valores: 
a sociedade ampliou a sua visão da área de saúde. Todos 
os quatro processos identificados por Parsons enfatizam 
o consenso – a concordância da sociedade quanto à na-
tureza da organização social e dos valores (B. Johnson, 
1975; Wallace e Wolf, 1980).
Embora a abordagem de Parsons incorpore explici-
tamente o conceito evolucionista do progresso contínuo, 
o tema dominante em seu modelo é o equilíbrio e a esta-
bilidade. A sociedade pode mudar, mas continua estável 
mediante novas formas de integração. Por exemplo, no 
lugar dos elos de parentesco que propiciavam a coesão 
social no passado, as pessoas criaram leis, processos judi-
ciais e novos sistemas de valores e de crenças.
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Movimentos Sociais, Mudanças Sociais e Tecnologia 435
sociedade. Opostamente, os teóricos do conflito argumen-
tam que as instituições e práticas sociais persistem porque 
grupos poderosos têm a capacidade de manter o status 
quo. A mudança tem uma importância crucial, já que é 
necessária para corrigir injustiças e desigualdades sociais.
Karl Marx aceitou o argumento evolucionista de 
que as sociedades se desenvolvem ao longo de uma de-
terminada trilha. Mas, ao contrário de Comte e Spencer, 
não via cada uma das etapas sucessivas como uma me-
lhoria inevitável da anterior. A história, segundo Marx, 
segue em frente por uma série de etapas, cada uma 
delas explorando uma classe de pessoas. A sociedade an-
tiga explorava os escravos; o sistema feudal explorava os 
servos, e a sociedade capitalista moderna explora a classe 
trabalhadora. No fim, com a revolução socialista liderada 
pelo proletariado, a sociedade humana irá caminhar para 
a etapa final de desenvolvimento: uma sociedade comu-
nista sem classe ou “comunidade de indivíduos livres”, 
como Marx a descrevia em Das Kapital (O capital) em 
1867 (ver Bottomore e Rubel, 1956, p. 250).
Como vimos, Marx teve uma influência impor-
tante no desenvolvimento da sociologia. A 
sua maneira de pensar nos proporcionou insights sobre 
instituições, como economia, família, religião e governo. 
A visão marxista das mudanças sociais é atraente porque 
não restringe as pessoas ao papel passivo na reação aos 
ciclos inevitáveis ou às mudanças na cultura material. Em 
vez disso, a teoria marxista oferece uma ferramenta para 
aqueles que querem apoderar-se do controle do processo 
histórico e libertar-se da injustiça. Ao contrário da ênfase 
dos funcionalistas na estabilidade, Marx argumenta que o 
conflito é um aspecto normal e desejável da mudança so-
cial. Na verdade, a mudança precisa ser incentivada como 
um meio de eliminar a desigualdade social (Lauer, 1982).
Um teórico do conflito, Ralf Dahrendorf (1958), ob-
servou que o contraste entre a perspectiva funcionalista 
na estabilidade e o foco da teoria do conflito na mudança 
reflete a natureza contraditória da sociedade. As socieda-
des humanas são estáveis e duradouras, porém vivenciam 
graves conflitos. Dahrendorf descobriu que a abordagem 
funcionalista e a teoria do conflito no final eram compa-
tíveis, apesar dos seus vários pontos de discordância. Na 
verdade, Parsons falou de novas funções que resultam 
das mudanças sociais e Marx reconheceu a necessidade 
de mudanças para que as sociedades pudessem atuar de 
uma maneira mais igualitária.
Mudanças Sociais Mundiais
Estamos em um momento realmente crucial da história 
para analisar as mudanças sociais. Maureen Hallinan 
(1997), em seu discurso presidencial para a American So-
ciological Association, pediu aos presentes que pensassem 
apenas em alguns poucos acontecimentos políticos recen-
tes: o colapso do comunismo; o terrorismo em várias par-
Desde 1990, golfistas negros, como Tiger Woods, 
vêm sendo bem recebidos nos campos de golfe 
particulares mais exclusivos. A sua aceitação em 
enclaves antes exclusivamente de brancos, como 
o Augusta National Golf Club, sede do Torneio de 
Veteranos, ilustra o processo de inclusão descrito 
por Talcott Parsons. No entanto, esse processo 
está longe da conclusão. As mulheres ainda são 
impedidas de fazer parte do Augusta National e 
outros clubes de elite, independentemente de quão 
ricas ou bem-sucedidas sejam.
Os funcionalistas pressupõem que as instituições 
sociais só persistirão se continuarem a contribuir para 
a sociedade. Essa hipótese os leva a concluir que alterar 
drasticamente as instituições irá ameaçar o equilíbrio da 
sociedade. Os críticos observam que a abordagem fun-
cionalista quase ignora o uso da coerção pelos poderosos 
para manter a ilusão de uma sociedade estável e bem 
integrada (Gouldner, 1960).
Teoria do Conflito
A perspectiva funcionalista minimiza a importância da 
mudança, enfatiza a persistência da vida social e vê a mu-
dança como uma forma de manter o equilíbrio de uma 
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436 Capítulo 16
tes do mundo, incluindo os Estados Unidos; as mudanças 
importantes de regimes e os problemas econômicos graves 
na África, no Oriente Médio e na Europa Oriental; a difu-
são da Aids; e a revolução do computador. Apenas alguns 
meses após suas observações, ocorreu a primeira clonagem 
de um animal complexo: a ovelha Dolly.
Nessa era de grandes transformações sociais, polí-
ticas e econômicas em escala mundial, é possível prever 
mudanças? Algumas mudanças tecnológicas parecem 
evidentes, mas a queda de governos comunistas na antiga 
União Soviética e na Europa Oriental no início da década 
de 1990 pegou todo mundo de surpresa. Contudo, antes 
da queda da União Soviética, o sociólogoRandall Collins 
(1986, 1995), um teórico do conflito, observou uma 
seqüência crucial de eventos que havia passado desperce-
bida da maioria dos observadores.
Em seminários de 1980 e em um livro publicado em 
1986, Collins havia argumentado que o expansionismo 
soviético resultara em uma superextensão de recursos, 
incluindo gastos desproporcionais com forças militares. 
Essa superextensão pressiona a estabilidade de um re-
gime. Além disso, a teoria geopolítica sugere que os países 
no meio de uma região geográfica, como a União Sovié-
tica, tendem a se fragmentar em unidades menores com o 
decorrer do tempo. Collins previu que a coincidência das 
crises sociais em várias fronteiras iria precipitar o colapso 
da União Soviética.
E foi exatamente isso o que aconteceu. Em 1979, 
o êxito da revolução iraniana levou à explosão do fun-
damentalismo islâmico no vizinho 
Afeganistão, bem como nas repú-
blicas soviéticas com grandes po-
pulações muçulmanas. Ao mesmo 
tempo, a resistência ao domínio 
comunista aumentava em toda a 
Europa Oriental e dentro da própria 
União Soviética. Collins havia pre-
visto que a ascensão de uma forma 
dissidente de comunismo dentro da 
União Soviética poderia facilitar o 
colapso do regime. No final dos 
anos 80, o líder soviético Mikhail 
Gorbachev optou por não utilizar 
forças militares e outros tipos de 
repressão para conter dissidentes 
na Europa Oriental. Em vez disso, 
apresentou planos para a democra-
tização e reforma social da socie-
dade soviética e parecia disposto 
a remodelar a União Soviética em 
uma federação de estados mais ou 
menos independentes. Porém, em 
1991, seis repúblicas da periferia 
ocidental declararam a sua indepen-
dência e alguns meses depois toda 
a União Soviética havia formalmente se desintegrado na 
Rússia e em uma série de outros países independentes.
No seu discurso, Hallinan (1997) alertou que temos 
de ir além dos modelos restritivos da mudança social – a 
visão linear da teoria evolucionista e as hipóteses sobre o 
equilíbrio na teoria funcionalista. Ela e outros sociólogos 
recorreram à “teoria do caos” apresentada pelos mate-
máticos para entender os acontecimentos erráticos como 
parte da mudança. Hallinan observou que as grandes mu-
danças caóticas e revoluções ocorrem de fato e que os so-
ciólogos precisam aprender a prever esses eventos, assim 
como Collins fez com a União Soviética. Por exemplo, 
imagine a impressionante mudança social não-linear que 
resultaria de inovações nas comunicações e na biotecno-
logia – tópicos que serão abordados neste capítulo.
resistÊncia Às mudanças 
sociais
Os esforços para realizar mudanças sociais provavelmente 
irão encontrar resistência. No meio de rápidas inovações 
científicas e tecnológicas, muitas pessoas se assustam 
com as demandas de uma sociedade em constante trans-
formação. Além disso, determinados indivíduos e grupos 
têm interesse em manter o status quo.
O economista Thorstein Veblen (1857-1929) cunhou a 
expressão interesses investidos para se referir àquelas pessoas 
ou grupos que irão sofrer no caso de uma mudança social. 
A queda do regime totalitário de Saddam Hussein no Iraque, em 2003, foi 
uma das várias mudanças de regime que ocorreram no início do século 
XXI. Em uma sociedade global, essas mudanças afetam as pessoas no 
mundo todo e não em apenas um país.
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Movimentos Sociais, Mudanças Sociais e Tecnologia 437
Por exemplo, a American Medical 
Association (AMA) assumiu posições 
firmes contra o seguro-saúde nacional 
e a profissionalização da 
obstetrícia. O seguro-saúde nacional 
poderia levar a limites nas rendas dos 
médicos e a elevação do status das 
parteiras poderia ameaçar a posição 
preeminente dos médicos como reali-
zadores de partos. No geral, com uma 
parcela desproporcional da riqueza, 
do status e do poder da sociedade, 
esses membros da Associação Médica 
Norte-Americana têm interesse em 
preservar o status quo (Starr, 1982; 
Veblen, 1919).
Fatores Econômicos e 
Culturais
Os fatores econômicos têm um pa-
pel importante na resistência às mu-
danças sociais. Para exemplificar, 
pode ser caro, para os fabricantes, 
atender altos padrões de segurança 
para os produtos, os trabalhadores e para a proteção do 
meio ambiente. Os teóricos do conflito argumentam que, 
em um sistema econômico capitalista, muitas empresas 
não estão dispostas a pagar o preço para atender a pa-
drões rígidos de segurança e ambientais. E podem resistir 
às mudanças sociais economizando ou pressionando o 
governo para amenizar as regulamentações.
As comunidades também defendem os seus inte-
resses, muitas vezes em nome de “proteger valores de 
propriedade”. A abreviação NIMBY significa “não no 
meu quintal”, um grito ouvido muitas vezes quando as 
pessoas protestam contra aterros, prisões, instalações de 
usinas nucleares e até trilhas para bicicleta e casarios para 
pessoas portadoras de deficiências. A comunidade visada 
pode não questionar a necessidade das instalações, mas 
simplesmente insiste que sejam colocadas em outro lugar. 
A atitude do tipo “não no meu quintal” tornou-se tão 
comum que é quase impossível, para os elaboradores de 
política, encontrar locais para instalações como lixões de 
materiais perigosos (Jasper, 1997).
Como os fatores econômicos, os fatores culturais fre-
qüentemente moldam a resistência às mudanças. William 
F. Ogburn (1922) fez uma diferenciação entre os aspectos 
materiais e imateriais da cultura. A cultura material in-
clui invenções, artefatos e tecnologia. A cultura imaterial 
engloba idéias, regras, comunicações e orga-
nização social. Ogburn assinalou que não é possível criar 
métodos para controlar e utilizar nova tecnologia antes 
da introdução de uma técnica. Desse modo, a cultura 
imaterial normalmente tem de reagir a mudanças na 
cultura material. Ogburn introduziu a expressão hiato, 
atraso ou defasagem cultural para se referir ao período 
de inadaptação, quando a cultura imaterial ainda está 
lutando para se ajustar a novas condições materiais. Um 
exemplo disso é a Internet. O seu rápido crescimento des-
controlado levanta questões quanto a regulamentá-la ou 
não e, em caso positivo, a extensão dessa regulamentação 
(ver seção sobre política social no final deste capítulo).
Em certos casos, as mudanças na cultura material po-
dem tensionar as relações entre as instituições sociais. Por 
exemplo, nas últimas décadas, foram criados novos meios 
de controle de natalidade. Famílias grandes não são mais 
economicamente necessárias nem comumente aprovadas 
pelas regras sociais. Determinadas crenças religiosas, 
porém – entre elas o catolicismo apostólico romano –, 
continuam incentivando grandes famílias e desaprovando 
métodos de controle da natalidade, como a contracepção e 
o aborto. Essa questão representa um hiato entre os aspec-
tos da cultura material (tecnologia) e a cultura imaterial 
(crenças religiosas). Também podem surgir conflitos entre 
a religião e outra instituição social, como o governo e o 
sistema educacional, quanto à disseminação do controle 
de natalidade e de informações sobre o planejamento fa-
miliar (M. Riley et al., 1994a, 1994b).
Resistência à Tecnologia
Inovações tecnológicas são exemplos de mudanças na 
cultura material que provocam resistência. 
A Revolução Industrial, que ocorreu em grande parte 
“Não no meu quintal” NIMBY, dizem esses manifestantes, opondo-se 
à colocação de um novo incinerador em uma região de Highland Park, 
Michigan. O fenômeno NIMBY tornou-se tão comum que é quase impossível 
os elaboradores de políticas encontrarem localidades aceitáveis para 
incineradores, aterros e lixões de materiais perigosos.
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438 Capítulo 16
na Inglaterra durante o período de 1760 a 1830, foi uma 
revolução científica que se concentrou na aplicação de 
fontes não-animais de energia em tarefas operárias. À 
medida que essa revolução foi evoluindo, as sociedades 
começaram adepender de novas invenções que facilitas-
sem a produção agrícola e industrial e de novas fontes de 
energia, como o vapor. Em algumas indústrias, a intro-
dução de máquinas movidas a energia elétrica reduziu a 
necessidade de trabalhadores nas fábricas e tornou mais 
fácil, para os patrões, cortar salários.
Surgiu uma forte resistência à Revolução Industrial 
em alguns países. Na Inglaterra, começando em 1811, arte-
sãos mascarados tomaram medidas extremas: organizaram 
ataques noturnos às fábricas e destruíram alguns dos novos 
equipamentos. O governo caçou esses rebeldes, conhecidos 
como luditas, e os submeteu a expulsão ou enforcamento. 
Em um esforço semelhante na França, trabalhadores irados 
jogaram os seus tamancos (sabots) nas máquinas da fábrica 
para destruí-las, o que deu origem ao termo sabotagem. E, 
embora a resistência dos ludistas e dos trabalhadores fran-
ceses tenha tido curta duração e sido malsucedida, acabou 
simbolizando resistência à tecnologia.
Estamos agora em uma segunda Revolução Industrial 
com um grupo contemporâneo de ludistas empenhados 
em resistir? Muitos sociólogos acreditam que vivemos 
em uma sociedade pós-industrial. É difícil 
apontar exatamente quando essa era começou. Em geral, 
ela é considerada como tendo início na década de 1950, 
quando pela primeira vez a maioria dos trabalhadores de 
sociedades industriais passou a se envolver também com 
serviços em vez de apenas na efetiva produção de bens 
(D. Bell, 1999; Fiala, 1992).
Assim como os ludistas re-
sistiram à revolução industrial, as 
pessoas em vários países resistiram 
às mudanças tecnológicas pós-in-
dustriais. O termo neoludistas se 
refere àqueles que desconfiam das 
inovações tecnológicas e que ques-
tionam a expansão incessante da 
industrialização, a destruição cada 
vez maior do mundo natural e agrá-
rio e a mentalidade de “jogar fora” 
do capitalismo moderno, com a sua 
resultante poluição do meio am-
biente. Os neoludistas insistem que 
quaisquer que sejam os supostos 
benefícios da tecnologia industrial e 
pós-industrial, essa tecnologia tem 
custos sociais próprios e pode re-
presentar um perigo para o futuro 
da espécie humana e para o nosso 
planeta (Bauerlein, 1996; Rifkin, 
1995b; Sale, 1996; Snyder, 1996).
Vale a pena lembrar dessas preo-
cupações quando nos voltarmos para o nosso futuro tecno-
lógico e o seu possível impacto sobre as mudanças sociais.
a tecnologia e o futuro
Tecnologia é um conjunto de informações culturais so-
bre como utilizar os recursos materiais do 
meio ambiente para satisfazer as necessidades e os desejos 
humanos. Os avanços tecnológicos – o avião, o carro, a 
televisão, a bomba atômica e, mais recentemente, o com-
putador, o fax e o telefone celular – provocaram mudanças 
extraordinárias em nossa cultura, nossos padrões de so-
cialização, nossas instituições sociais e nossas interações 
sociais cotidianas. As inovações tecnológicas, na verdade, 
estão surgindo e sendo aceitas a uma velocidade incrível.
Nas seções a seguir, examinaremos os vários aspectos 
do nosso futuro tecnológico e analisaremos o seu impacto 
sobre as mudanças sociais, incluindo a pressão social que 
provocarão. Focaremos particularmente os desenvolvi-
mentos recentes em informática e biotecnologia.
Informática
A década passada foi testemunha de uma explosão de 
informática nos Estados Unidos e em todo o mundo. 
Os seus efeitos são particularmente dignos de nota no 
tocante à Internet, a maior rede de computadores do 
mundo. Estimou-se que em 2005 a Internet atingiria 1,1 
bilhão de usuários de computador, contra apenas 50 mi-
lhões em 1996 (Global Reach, 2004).
Em Londres, uma mulher de telefone celular caminha por uma linha de 
cabines telefônicas obsoletas recicladas como arte ambiental. No mundo 
todo, as mudanças tecnológicas derrubaram os canais de comunicação 
estabelecidos, alterando as interações sociais cotidianas das pessoas no 
processo.
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 SOCIOLOGIA DA 
EDUCAÇÃO
Aline Michele 
Nascimento 
Augustinho
Educação, cidade e 
movimentos sociais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Analisar o lugar da escola na cidade.
  Questionar a segregação urbana e as desigualdades educacionais.
  Identificar os temas e dimensões dos movimentos sociais voltados 
à educação.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar as dinâmicas e relações existentes entre 
as escolas e os contextos urbanos a partir das leituras da sociologia da 
educação e da sociologia dos movimentos sociais. As cidades envolvem 
práticas sociais que impactam não apenas a vida estudantil, mas também 
outras esferas da vida social e das trajetórias biográficas dos alunos. Por 
isso, as relações entre as cidades e as escolas oferecem desafios e pos-
sibilidades de crescimento. Além disso, as escolas, nesse contexto, são 
determinantes para a organização social, a mobilidade e a transformação 
de cenários de desigualdade.
Ao longo deste texto, você vai ver como identificar a presença da 
escola no contexto urbano. Também vai conhecer a importância his-
tórica, social e política dessa instituição. Além disso, vai verificar que o 
espaço físico e a localização geográfica têm profunda importância em 
um contexto urbano dividido entre periferias e centros. Por fim, você vai 
conhecer as reflexões e os diálogos empreendidos pelos movimentos 
sociais voltados à educação.
A escola no contexto urbano
As responsabilidades da escola como ferramenta civilizatória têm sido dis-
cutidas incessantemente desde o início do século XX, em especial após a 
Segunda Guerra Mundial. Foi nesse momento que teóricos se deram conta 
de que a relação da escola com os contextos sociais e políticos era muito mais 
profunda do que sugeria a leitura tradicional, que a encarava apenas como 
um espaço que reproduzia conhecimento. A partir daí, esse ambiente passou 
a ser visto como produtor de saberes e de comportamentos políticos e, por 
isso, como responsável por situações benéfi cas e por situações de tensão no 
tecido social no qual se insere.
Na Alemanha das décadas de 1930 e 1940, as escolas foram utilizadas como 
instrumentos de propagação dos ideais ultranacionalistas e das perspectivas 
nazistas, privilegiando conhecimentos e comportamentos alinhados às pro-
postas de Hitler. Assim, anulava-se qualquer possibilidade de conhecimento 
diverso, ocorrendo o fechamento de cursos, a expulsão de professores e a 
queima de livros considerados “inapropriados”. Com o término da Segunda 
Guerra Mundial, teóricos entenderam que a aceitação, por cidadãos alemães, 
de propostas xenofóbicas, racistas e desumanas de Hitler derivou também, 
embora não apenas, daquilo que era introduzido pelas escolas.
Nas décadas subsequentes, governos autoritários e totalitaristas ao redor 
do mundo passaram a utilizar as escolas para a reprodução ideológica e o 
controle de informações. As premissas democráticas que se estabeleceram após 
a década de 1940, portanto, passaram a identificar na educação abrangente 
e livre uma forma de oferecer aos sujeitos ferramentas que fomentassem sua 
capacidade analítica e argumentativa. Além disso, essa premissa se alia à 
promoção do conceito de aceitação e harmonia com a diversidade, seja ela 
cultural, religiosa ou política.
Theodor Adorno (2006) indica que, conhecendo os horrores do nazismo e das guerras, 
cidadãos do mundo poderiam evitar que eles acontecessem novamente. Afinal, o 
conhecimento histórico dos processos civilizatórios é essencial para que os indivíduos 
possam escolher os melhores caminhos para a sociedade e para que não permitam 
controles externos.
Educação, cidade e movimentos sociais2
O pós-guerra foi pautado pela expansão dos modelos de produção em 
massa, fator que aumenta a população urbana e altera as dinâmicas sociais 
nas cidades. A relação entre a liberdade de pensamento, as possibilidades 
políticas e o contexto urbano se torna central, pois nas cidades passoua se 
concentrar maior contingente populacional.
A grande industrialização, mesmo nas economias periféricas, reorganiza 
as relações sociais, de modo que o espaço físico onde os laços sociais são 
construídos tem grande importância, pois direciona as práticas sociais. Assim, 
o modelo de produção e consumo foi transplantado aos países periféricos da 
forma como se construiu nos países centrais, sem qualquer observação das 
especificidades culturais, políticas ou geográficas. Contudo, como você pode 
notar, a adaptação era necessária, pois a economia e as trocas mundiais se 
consolidavam a partir do prisma capitalista industrial e não faziam parte de 
um contexto que poderia gerar exclusão e dificuldades econômicas extremas.
Segundo os parâmetros das democracias contemporâneas, as escolas preci-
sam oferecer aos estudantes todas as possibilidades para construir sua própria 
leitura de mundo, bem como o conhecimento necessário para isso. Esse é, 
inclusive, um dos parâmetros para a elaboração e a solidificação das garantias 
dos direitos humanos numa nação. A ausência dessa possibilidade geraria um 
processo de “desumanização”, em que o sujeito, despido dos conhecimentos 
necessários, não estaria apto a defender a si mesmo e aos seus interesses e 
necessidades.
De acordo com a ONU Habitat, a taxa de urbanização do Brasil e dos países 
do Cone Sul chegará a 90% da população total até 2020 (ONU BRASIL, 2012). 
Por isso, as dinâmicas e práticas sociais desenvolvidas nos contextos urbanos 
são direcionadoras para todo o País. De fato, levando em conta a informação 
da Organização das Nações Unidas (ONU), essas dinâmicas e práticas são 
relevantes para todo o continente sul-americano. Caribe e América Central 
têm taxas mais baixas e atingirão a marca de 80% e 75% apenas em 2050, 
respectivamente (ONU BRASIL, 2012).
Diante da importância da escola para a emancipação dos sujeitos no processo 
civilizatório e para a solidificação dos direitos humanos em meio à explosão 
demográfica nos centros urbanos, não é difícil perceber que as escolas têm 
um papel central no delineamento da vida social nas cidades. Nas escolas, 
podem ser construídas as práticas necessárias para a vida em cada região, 
bem como desenvolvidas ações específicas para contextos e problemas locais.
A escola é local da reprodução do conhecimento formal, mas não apenas 
isso. Ela produz saberes e aprendizagens, vivências e construções simbólicas 
que fazem parte da memória social da comunidade local e talvez até mesmo 
3Educação, cidade e movimentos sociais
do país. Assim, como você pode notar, as escolas se configuram como espaços 
estratégicos fundamentais para a sociabilidade e para a difusão ou cristalização 
de elementos culturais nas cidades.
Por isso é tão importante que a escola seja acessível a todos os cidadãos, 
independentemente de origem, classe social ou gênero. Quando ela não é 
acessível, ou quando há diferenças na qualidade dos conteúdos ofertados 
pelas escolas, o resultado é o desequilíbrio social, cultural e econômico. Isso 
causa impactos na mobilidade e na ocupação dos espaços sociais por todos 
os grupos, além de desigualdades e até mesmo tensões sociais.
A relação entre a escola, a cidade e os movimentos sociais se constrói também por 
meio de políticas públicas. Além das políticas que já existem, outras podem surgir 
a partir da mobilização social. É fundamental que haja dispositivos para melhorar o 
contexto social e para que direitos humanos fundamentais sejam respeitados e estejam 
presentes nas dinâmicas escolares, como conteúdo didático e como embasamento 
para as relações estabelecidas nas escolas. Para aprender mais sobre esse assunto, leia 
o artigo disponível no link a seguir.
https://goo.gl/PyZ4MM
Desigualdades sociais causam desigualdades 
educacionais?
As escolas são meios produtores do saber e difusores da educação, mas não são 
os únicos. As chamadas “práticas educativas não escolares” (FERNANDES, 
2009) acontecem nos espaços em que ações são derivadas de laços e conexões 
sociais. Essas ações podem ter maior ou menor profundidade, mas impactam 
as formações socioculturais individuais e coletivas.
Os ritos e celebrações religiosas, por exemplo, afetam e formam cultural-
mente determinados grupos, aqueles que partilham a religião. Normalmente, 
atuam de maneira intensa, moldando valores e formas de comportamento. 
Trata-se de um espaço em que existem também práticas educativas não es-
colares: quando se aprende sobre os ritos, quando se aprende sobre a história 
por meio de livros sagrados ou orações antigas.
Educação, cidade e movimentos sociais4
Um parquinho infantil numa praça pública também pode ser reconhecido 
como um espaço de práticas educativas não escolares. Ele afeta mais pessoas, 
porém de forma menos intensa do que um rito religioso. Crianças e adultos 
aprendem as regras do parquinho, como o descarte de lixo em cestas que o 
separam para reciclagem. Também aprendem regras de convivência e a divisão 
do espaço. Provavelmente, ao crescer, tanto as crianças como seus tutores 
e familiares se afastarão desse espaço, até que outras crianças cheguem ao 
convívio familiar, mas algumas das regras de condutas ali aprendidas, ou 
algumas brincadeiras, cantigas e histórias, permanecerão nas suas memórias.
A cidade está repleta desses espaços onde há conexões sociais promovidas 
pela religião, pelo trabalho, pelo lazer. E, onde há conexões sociais, há socia-
lização, aprendizado e troca cultural, fomentados pelas diversidades sociais. 
Essas diversidades podem ser de nacionalidades, gerações, classes sociais. Ou 
seja, por mais homogênea que se possa imaginar uma comunidade, sempre 
há diversidade.
A diversidade pode ser muito benéfica e enriquecedora culturalmente, mas 
pode trazer prejuízos e impedimentos ao desenvolvimento e à mobilidade 
social de alguns grupos. Isso ocorre quando ela é utilizada para promover ou 
manter segregação econômica, racial, cultural ou religiosa, ou seja, quando 
há o impedimento do acesso de algum grupo social a bens que deveriam ser 
coletivos.
Nas cidades, a segregação socioespacial é um dos componentes que apro-
fundam as desigualdades sociais, reproduzindo ciclos e dificultando a ascenção 
social da população mais pobre. O acesso à educação pode ser dificultado 
pela configuração urbana, que pretere e isola periferias em detrimento dos 
bairros e espaços nobres.
A segregação socioespacial não se configura apenas pela existência de 
um bairro pobre ou de uma favela, mas pelas dificuldades que a população 
moradora desses espaços tem de chegar aos espaços e bens sociais públicos 
que lhes possibilitariam a mobilidade social ascendente. Em periferias, a 
presença do Estado como instituição escolar deve ocorrer de forma efetiva 
e com qualidade, mas fatores como a insegurança e a falta de infraestrutura 
dificultam o processo. Há ainda o isolamento causado pela segregação socio-
espacial, refletido nos problemas do transporte coletivo, como superlotação, 
custo alto, pouca infraestrutura, atrasos, além da distância entre as moradias 
periféricas e as escolas e espaços culturais de ponta.
Num país como o Brasil, com passado escravocrata recente e reconhecida 
marginalização dos escravizados e seus descentes após a abolição, a segrega-
5Educação, cidade e movimentos sociais
ção socioespacial reflete também uma divisão racial. A população negra se 
concentra nas periferias, e a branca, nas áreas nobres ou centrais.
A centralização das responsabilidades educacionais não garante que todas 
as escolas de uma cidade, unidade federativa ou nação ofereçam o mesmo 
desempenho escolar a seus alunos. Um exemplo pode ser observado no estudo 
Educação e Segregação Social, que indica que a porcentagem de conclusão do 
ensino médio entre estudantes de escolas públicas periféricas é menor do que 
para estudantes de escolas públicas das áreas centrais. O estudo não analisou 
a infraestrutura, como a presença de laboratórios ou materiais didáticos, mas 
salientaque a localização geoespacial é um dos fatores determinantes para 
essa diferença (IGUAIS..., 2011).
O estudo formula duas hipóteses para explicar esse cenário. Uma delas é 
a diversidade socioeconômica dos estudantes das áreas centrais. A outra, o 
engajamento de professores e da comunidade nos dois ambientes. A presença 
de estudantes de classe média nas escolas mais centrais faria com que o foco na 
qualidade de ensino fosse maior, já que esses estudantes teriam apoio financeiro 
da família por mais tempo, com condições para focar-se nos estudos durante 
a infância, a adolescência e as fases iniciais da vida adulta, cobrando esse 
direcionamento da instituição escolar. Por outro lado, as condições econômicas 
dos estudantes da periferia os impulsionariam a buscar emprego para ajudar 
os familiares a complementar a renda, procurando meios de sobrevivência 
mais cedo, sendo forçados a deixar a escola em segundo plano.
O estudo aponta ainda um componente geracional de reprodução de de-
sigualdades e de pobreza: os pais de estudantes da periferia teriam menor 
escolaridade, e os de classe média, maior escolaridade. Isso impactaria as redes 
de apoio que poderiam oferecer aos estudantes e os níveis de engajamento e 
contato das comunidades locais com suas escolas.
As escolas periféricas, com maiores taxas de evasão escolar e baixa 
interação com pais e comunidade, fomentariam a segunda hipótese: o baixo 
engajamento de professores. De acordo com o estudo, professores da rede 
pública mais experientes se direcionariam às escolas centrais, tanto pela 
infraestrutura urbana associada quanto pelo contexto de interação entre 
sociedade, alunos e práticas educativas. Professores iniciantes seriam deses-
timulados pela impossibilidade de escolas centrais, pela baixa infraestrutura 
urbana associada e pelo baixo envolvimento entre instituição, alunos e 
comunidade.
Educação, cidade e movimentos sociais6
As relações entre a escola e a cidade sempre foram objeto de reflexão para especia-
listas em educação. O acesso, a permanência, as instalações e o entorno das escolas, 
no contexto urbano, oferecem um panorama dos projetos e da importância que a 
educação possui na sociedade. A escola está conectada com a vida urbana, com 
os contextos culturais, com suas particularidades geográficas? Ou é apenas uma 
instituição centralizada, reproduzida sem qualquer atenção aos outros aspectos da 
vida social? As reflexões sobre essas dinâmicas tendem a causar impactos tanto nas 
políticas educacionais quanto nas decisões sobre os acessos e a mobilidade nos 
projetos urbanísticos.
No link a seguir, você pode conferir um texto em que Paulo Freire discorre sobre as 
possibilidades, dificuldades e conquistas da educação na cidade de São Paulo, a partir 
das especificidades de uma metrópole.
https://goo.gl/6CXooS
Os movimentos sociais e a educação
Como elemento socializador e produtor do conhecimento, a escola foi palco para 
a formação de inúmeros movimentos sociais, especialmente a partir de meados 
do século XX. O histórico de mobilização estudantil por pautas políticas e 
sociais é antigo, e há registros de organizações estudantis universitárias que 
se mobilizaram já no século XIX, nos movimentos pela transição do Império 
para a República e especialmente no movimento abolicionista. Até a década 
de 1950, porém, o acesso mais restrito às universidades limitava a extensão 
dos movimentos estudantis. No entanto, a associação entre a condição de ser 
estudante e a mobilização social e política é constante e objeto de leituras da 
sociologia da juventude e da sociologia dos movimentos sociais.
As mobilizações estudantis são formas de diálogo entre as instituições 
e parte do tecido social. Entre as décadas de 1950 e 1970, os movimentos 
estudantis secundaristas e universitários eram fortemente orientados para as 
reivindicações e os diálogos políticos, ainda que abarcassem também temá-
ticas culturais e sociais. Os estudantes, nesse período, tomavam para a si a 
responsabilidade de serem agentes de transformação social via contestação 
política, especialmente durante os governos militares, entre 1964 e 1985, com 
ápices nas mobilizações de 1968 e 1973.
7Educação, cidade e movimentos sociais
As mobilizações estudantis reapareceram no movimento Diretas Já, em 
1989, e na busca do impeachment de Fernando Collor, em 1992, passando 
posteriormente por um período de adaptação aos chamados “novos movimentos 
sociais”. A partir da década de 1990, os movimentos sociais que afirmavam 
as identidades tomaram grande proporção. Por identidade, pode-se entender 
a variada gama de elementos sociais, culturais e de gênero que compõem os 
sujeitos sociais. Por isso, as mobilizações estudantis passaram a se organizar em 
torno de lutas pela aceitação da diversidade identitária. É o caso do movimento 
feminista, do movimento negro e do movimento LGBTQi+. É importante você 
observar que tais mobilizações se dão em dois níveis: em direção à sociedade 
civil e ao Estado, colocando a reivindicação como pauta política, e em direção 
às escolas e aos ambientes educacionais, quando a reivindicação se torna mais 
local, com aporte sociocultural.
Veja um exemplo: um grupo de estudantes pode se mobilizar contra o 
racismo. Suas ações podem ser direcionadas em busca de políticas públicas, 
como leis que punam ações racistas, ou ser mais locais, reivindicando ações 
específicas numa escola onde ocorreu um ato racista, por exemplo, ou então 
promovendo a conscientização da comunidade local e da comunidade escolar 
sobre o tema.
A temática da sustentabilidade, presente nos movimentos estudantis desde 
a década de 1970, tomou fortes contornos identitários a partir da década de 
2000, na medida em que passou a representar saberes e práticas tradicionais de 
grupos sociais que mantinham uma relação de menor impacto negativo com o 
meio ambiente. Nas grandes cidades, esse passa a ser também um movimento 
que repensa as formas de produção, consumo e transporte.
O direito à cidade é uma temática que abrange todas as formas de presença 
e trânsito dignos de sujeitos sociais nos espaços urbanos. Essa temática está 
presente de modo bastante intenso nos movimentos estudantis contemporâneos, 
ao lado das temáticas raciais e de gênero. As lutas pelo direito à cidade envolvem 
a denúncia da segregação socioespacial e racial, que reproduz pobreza. Elas 
estimulam estudantes a “ocupar” espaços socialmente lidos como pertencentes 
às classes mais abastadas, como os centros e espaços culturais e de lazer em 
áreas nobres e, especialmente, as universidades. Uma das pautas mais im-
portantes da luta pelo direito à cidade é a busca por justiça social e moradia. 
Nesse aspecto, os movimentos estudantis tendem a se associar a movimentos 
Educação, cidade e movimentos sociais8
sociais específicos, como o Movimento dos Sem Teto e o Movimento dos Sem 
Terra. Nesse caso, a articulação se dá por meio de apoio, e não de apropriação 
da pauta pelo movimento estudantil.
No link a seguir, você pode ver uma entrevista com a coordenadora do Instituto 
Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU) da região Nordeste. Ela analisa as condições 
de moradia, acesso e segurança das cidades diante do conceito de direto à cidade 
para todos os cidadãos.
https://bit.ly/2QH5izk
Um dos movimentos sociais contemporâneos de grande expressão com 
ampla participação estudantil é o Movimento Passe Livre, que luta pela gra-
tuidade para estudantes no transporte público. Esse movimento foi um dos 
precursores das chamadas “jornadas de junho”, mobilização social nacional 
de repúdio às práticas políticas que teve como estopim o aumento da tarifa 
de transporte público na cidade de São Paulo.
Como você vê, as mobilizações estudantis podem ter caráter político, 
mesclar-se com outros movimentos sociais, ou direcionar-se à comunidade 
estudantil, com pautas mais específicas. Neste último caso, os estudantes 
podem se mobilizar por causas e pautas locais, pertinentes à suas vivências 
escolarese na comunidade.
No link a seguir, veja a reportagem sobre uma mobilização social que ocorreu a partir 
de uma pauta estudantil. 
https://goo.gl/zwhWRi
9Educação, cidade e movimentos sociais
ADORNO, T. W. Educação e emancipação. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
FERNANDES, R. S. A cidade educativa como espaço de educação não formal, as crianças 
e os jovens. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, v. 3, n. 1, p. 58-74, maio 2009. 
Disponível em: <http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/30>. 
Acesso em: 14 nov. 2018.
IGUAIS, mas desiguais. Educação, 10 set. 2011. Disponível em: <www.revistaeducacao.
com.br/iguais-mas-desiguais/>. Acesso em: 14 nov. 2018.
ONU BRASIL. ONU lança relatório sobre cidades latino-americanas. 2012. Disponível em: 
<https://nacoesunidas.org/cidades-al-caribe-2012/amp/>. Acesso em: 14 nov. 2018.
Leituras recomendadas
FREIRE, P. A educação na cidade: manifesto à maneira de quem, saindo, fica. São Paulo: 
Cortez, 1991. Disponível em: <http://www.acervo.paulofreire.org:8080/jspui/han-
dle/7891/4394>. Acesso em: 14 nov. 2018.
G1 ZONA DA MATA. Estudantes da UFJF se mobilizam para pedir intérpretes de Libras. 
2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2018/08/20/
estudantes-da-ufjf-se-mobilizam-para-pedir-interpretes-de-libras.ghtml>. Acesso 
em: 14 nov. 2018.
RIBEIRO, L. C. Q.; KATZMAN, R. A cidade contra a escola? Segregação urbana e desi-
gualdades educacionais em grandes cidades da América Latina. Rio de Janeiro: Letra 
Capital, 2008.
PEREIRA, A. C. R. Os novos movimentos sociais e a educação em direitos humanos 
nas ações e políticas públicas do brasil contemporâneo. Revista Entreideias: Educação, 
Cultura e Sociedade, Salvador, v. 4, n. 2, p. 90-105, jan./jun. 2015. Disponível: <https://
portalseer.ufba.br/index.php/entreideias/article/view/8145&ved=2ahUKEwjF_vX93Zj
eAhUhvFkKHWBWANoQFjADegQIBxAB&usg=AOvVaw2uhVpf0JA20WoZzTGD-uVu>. 
Acesso em: 14 nov. 2018.
SPÓSITO, M. P. A ilusão fecunda. São Paulo: Hucitec, 1993.
Educação, cidade e movimentos sociais10
Conteúdo:
HISTÓRIA DA 
AMÉRICA: DAS 
INDEPENDÊNCIAS 
AOS DESAFIOS 
CONTEMPORÂNEOS
Eduardo Pacheco Freitas
Globalização e movimentos 
sociais na América Latina
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever o processo de globalização e seus impactos na América 
Latina.
  Caracterizar os principais movimentos revolucionários na América 
Latina.
  Discutir os principais movimentos sociais na América Latina do século 
XX. 
Introdução
Globalização é uma palavra que, já há algumas décadas, entrou para o 
cotidiano. Mas do que se trata realmente essa tal de globalização? Ela pode 
ser entendida como um processo de interligação econômica, cultural e 
política entre as mais distantes nações do globo. Porém, envolve muitas 
outras características, em especial as relacionadas com a comunicação 
e o desenvolvimento tecnológico. Como processo de escala mundial, 
a globalização também afeta a América Latina, tendo impacto sobre 
sua economia, seu pensamento econômico a suas políticas nas mais 
variadas áreas. 
No contexto de um mundo globalizado, em que doutrinas de países 
mais poderosos são adotadas pelos países da periferia do capitalismo, 
como os latino-americanos, é natural que surjam respostas a esse pro-
cesso. Os movimentos revolucionários e sociais que despontaram ao 
longo de todo o século XX são os exemplos mais expressivos dessa reação 
a valores globalizados que desconsideram as realidades locais. Dessa 
forma, é impossível analisar a história contemporânea da América Latina 
sem se levar em consideração as alternativas políticas, econômicas, sociais 
e culturais defendidas por revolucionários e movimentos populares.
Neste capítulo, você vai encontrar uma discussão a respeito do conceito 
de globalização e os impactos desse processo na América Latina. Além 
disso, conhecerá os principais movimentos revolucionários latino-ame-
ricanos do século XX. Por fim, encontrará também uma discussão sobre 
os movimentos sociais mais relevantes na região nesse mesmo período. 
1 Globalização e América Latina
O termo globalização foi cunhado na década de 1980 como forma de repro-
duzir no campo teórico um processo real que, embora antigo, passava a se 
tornar cada vez mais evidente naquele momento. A globalização pode ser 
caracterizada como um fenômeno típico do capitalismo, tendo suas origens 
ainda no século XVI, por ocasião das grandes navegações que promoveram 
uma inédita interligação entre os continentes (CARDOZO; GOMES, 2012).
A partir da Revolução Industrial, no século XVIII, a globalização expe-
rimentou um desenvolvimento cada vez mais acelerado. Contudo, se ainda 
era pouco percebida naquela época, com o passar do tempo a globalização 
passou a ser objeto de estudo de economistas, historiadores, sociólogos, etc. 
No século XX, no pós-guerra, a globalização assumiu novas formas, que têm 
a ver com a expansão do mercado mundial.
Desde o seu início, ela esteve conectada à evolução dos transportes e dos 
meios de comunicação, bem como das forças produtivas, em suma, ligada ao 
progresso técnico da humanidade. No presente, porém, a globalização pode 
ser entendida como o incremento da integração das economias mundiais, 
consequentemente favorecendo também a integração política, mas gerando 
forte desigualdade econômica entre os países. De acordo com Cardozo e 
Gomes (2012), o que é importante para compreender a globalização é que 
ela não se trata de um evento estático, muito pelo contrário, é um processo 
dinâmico que atravessa vários séculos e afeta de maneira importante também 
a América Latina.
Globalização: David Harvey e Milton Santos
Dois autores de referência nos estudos sobre este processo são o inglês David 
Harvey (1935–) e o brasileiro Milton Santos (1926–2001), ambos nos fornecendo 
subsídios para que possamos estabelecer as relações entre a globalização 
e a América Latina. Para isso, devemos nos deter por alguns instantes no 
pensamento dos dois autores sobre a globalização.
Globalização e movimentos sociais na América Latina2
A globalização, de acordo com Harvey, é um fenômeno indissociável da acu-
mulação de capital iniciada na época dos grandes descobrimentos. Para o autor, 
ela sempre apresentou uma “[...] importante dimensão geográfica e espacial” 
(HARVEY, 2012, documento on-line), sendo parte fundamental do processo 
de desenvolvimento capitalista. Harvey (2012) aponta para o fato de que, se não 
houvesse acontecido a expansão mundial dos europeus a partir do século XVI, 
ocorrida simultaneamente à transformação das formas geográficas regionais, 
não se apresentariam as possibilidades para que o capitalismo se conformasse 
como sistema hegemônico. Portando, para Harvey, esses são aspectos elemen-
tares da globalização. A desigualdade no desenvolvimento entre a Europa e as 
colônias (especialmente as latino-americanas) também foi fundamental para 
que o capitalismo sobrevivesse e se espalhasse por todo o mundo. 
Harvey (2012) destaca ainda o papel da burguesia nesse processo, a qual, 
buscando sobreviver, percebeu que não era possível manter seus negócios em 
escala regional. Pelo contrário, era essencial que a indústria e o comércio fossem 
realizados em escala mundial, sempre com a deterioração dos termos de troca 
entre potências coloniais e regiões colonizadas. Trata-se de desenvolvimento 
desigual que faz o colonizador acumular capital enquanto o colonizado situa-
-se apenas como produtor dessa riqueza, que é apropriada pela burguesia dos 
países centrais do capitalismo.
Para sustentar seu ponto de vista, Harvey evoca Marx e Engels, que, em 
sua análise do desenvolvimento do mercado global, explicavam como era 
formada uma “[...] geografia histórica de acumulação de capital” (HARVEY, 
2012, documento on-line). De acordo com Marx e Engels (2010, p. 43):
A burguesia invade todo o globo [para] estabelecer-se em toda parte, explorar em 
toda parte,

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