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<p>Unidade 4 - Dos alimentos</p><p>Introdução aos alimentos</p><p>Desde os primórdios da vida, o homem sempre necessitou do alimento para que pudesse realizar suas atividades vitais. A palavra “alimento” deriva do latim, alimentum, que significa sustento, subsistência, favorecimento. Nesse sentido, os alimentos familiares, presente no texto legal, são baseados no princípio da solidariedade das relações sociais.</p><p>Os alimentos, apesar de estarem integrados na relação familiar, interessa à sociedade como um todo, razão pela qual se trata de uma norma de ordem pública, erga omnes.</p><p>Há autores que defendam que o indivíduo que não for capaz de prover o seu sustento pela atividade laborativa, não poderá ser deixado à própria sorte. Assim, a sociedade deve garantir a sua subsistência, por meio de órgãos estatais ou entidades particulares. Todavia, a família ainda existe como base de apoio ao sustento. Dessa forma, o Direito obriga aos parentes do indivíduo que sofre de necessidade o dever de proporcionar condições mínimas de sobrevivência, de forma a tratar isso como obrigação judicial, e não como um ato de favor.</p><p>Com isso, o Direito denomina alimentando ou credor alimentar quem recebe os alimentos e alimentante ou devedor alimentar quem deve pagar os alimentos. O pagamento dos alimentos busca a pacificação social, baseado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade.</p><p>CONCEITO E PRESSUPOSTOS</p><p>É possível compreender os alimentos como sendo as necessidades básicas do ser humano, a fim de que seja mantida a sua dignidade. Logo, integra saúde, educação, alimentação, moradia, vestuário, lazer, etc. Os alimentos visam ser proporcionados dentro da ideia de “patrimônio mínimo”, conforme entendimento do Ministro do STF, Luiz Edson Fachin (2006).</p><p>Sob o mesmo ponto de vista, entende-se que, conforme o texto constitucional, art. 6º, o objetivo dos alimentos preenche os mesmos conceitos inerentes à integridade e à dignidade da pessoa humana. “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988, n.p.). Dessa forma, esses institutos devem ser trazidos pelo Estado como direitos sociais.</p><p>O Estado tem interesse direto no cumprimento das normas que impõem a obrigação legal de alimentos, pois a inobservância ao seu comando aumenta o número de pessoas carentes e desprotegidas, que devem, em consequência, ser por ele amparadas. Daí a razão por que as aludidas normas são consideradas de ordem pública, inderrogáveis por convenção entre os particulares e impostas por meio de violenta sanção, como a pena de prisão a que está sujeito o infrator (GONÇALVES, 2019, p. 504, grifo nosso).</p><p>Pode-se entender, entretanto, que, ao usar interpretação da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, os alimentos têm por base a solidariedade familiar e, em segundo plano, são pautados na relação de parentesco, casamento ou união estável (TARTUCE, 2020, p. 620).</p><p>Quanto aos seus pressupostos, o art. 1.694 do Código Civil dispõe que: “podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação” (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>A função dos alimentos é que se mantenha o status quo (anterior), ou seja, que seja proporcionado com o intuito de que o alimentante mantenha o seu estado anterior de autossustento. O referido artigo ainda prevê que a fixação dos alimentos varia de acordo com a necessidade do alimentante e os recursos do reclamado (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>CITANDO</p><p>“Alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si. Têm por finalidade fornecer a um parente, cônjuge ou companheiro o necessário à sua subsistência. [...] A aludida expressão tem, no campo do direito, uma acepção técnica de larga abrangência, compreendendo não só o indispensável ao sustento, como também o necessário à manutenção da condição social e moral do alimentando” (GONÇALVES, 2019, p. 503).</p><p>No mais, não é admitido que o valor dos alimentos seja exagerado, não devendo haver grande discrepância com o custo de vida e o sustento do reclamante. Dessa forma, “os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia” (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>O entendimento do STJ é que os alimentos à ex-cônjuge ou ex-companheira possui caráter excepcional e transitório, tendo em vista que, nos dias de hoje, o mercado de trabalho oferece lugar tanto para o homem quanto para a mulher para que exerçam atividade laborativa. Assim, quem tem condições de exercer a atividade laborativa deve prover o seu próprio sustento pelo seu esforço (STJ, 2008).</p><p>A doutrina compreende o instituto dos alimentos como de caráter assistencial, e não indenizatório. Disso, pode-se extrair do texto legal, art. 1.702 do Código Civil que, na separação, sendo um dos cônjuges desprovido de recursos, o outro lhe deverá pensão alimentícia a ser fixada pelo magistrado.</p><p>NATUREZA JURÍDICA E CLASSIFICAÇÃO</p><p>Quanto à natureza jurídica da obrigação alimentar, tem-se em discutido 3 vertentes, sendo abrangida como:</p><p>Compreende-se, entretanto, que a doutrina majoritária entende que a obrigação alimentar possui uma natureza jurídica mista, uma vez que se qualifica, conforme o conteúdo, como natureza patrimonial e, quanto à finalidade, como natureza pessoal.</p><p>Quanto às espécies, podem ser classificados pela doutrina como:</p><p>1. Quanto à natureza</p><p>Naturais ou necessários– Ou os chamados necessarium vitae. Eles se referem aos alimentos indispensáveis à satisfação das necessidades vitais do indivíduo. Logo, eles têm a função de sustentar a condição social do ambiente familiar, ou o status familiar. Esses alimentos abrangem a alimentação, a saúde, o vestuário e a moradia. Trata-se da primeira dimensão.</p><p>Civis– Os alimentos civis tratam da segunda dimensão. Eles estão referenciados no art. 1.694 do Código Civil e compreendem ao indivíduo “viver de modo compatível com a sua condição social” (BRASIL, 2002, n.p.). Ressalta-se que a fixação dos alimentos será proporcional à necessidade do reclamante e das condições financeiras do reclamado.</p><p>Compensatórios– Os alimentos compensatórios buscam eliminar o desequilíbrio econômico-financeiro do alimentante, não sendo possível de ser afastado com as parcelas mensais da pensão alimentícia. Isso, na maioria das vezes, acontece porque o ex-cônjuge ou ex-companheiro não adiciona nenhum bem em sua meação, isso devido a uma ausência de aquisição patrimonial durante o casamento ou união estável, ou devido à estipulação do regime de bens entre as partes. Segundo Madaleno (2019): “[...] o propósito da pensão compensatória é de indenizar por algum tempo ou não o desequilíbrio econômico causado pela repentina redução do padrão socioeconômico do cônjuge desprovido de bens e meação, sem pretender a igualdade econômica do casal que desfez sua relação, mas que procura reduzir os efeitos deletérios surgidos da súbita indigência social, causada pela ausência de recursos pessoais, quando todos os ingressos eram mantidos pelo parceiro, mas que deixaram de aportar com a separação ou com o divórcio. Entre os franceses a pensão compensatória pode ser creditada em um valor único, com a entrega em moeda ou bens, e também pelo usufruto de uma determinada propriedade ou mediante a cessão de créditos” (MADALENO, 2019, p. 724, grifo nosso).</p><p>Os alimentos compensatórios não visam apenas acobertar os gastos inerente à subsistência, mas incide no desequilíbrio econômico e financeiro ocasionado pela separação do casal. Essa categoria de alimento não terá caráter perpétuo ou ilimitado. Quando houver sido desfeita as desvantagens sociais e patrimoniais, uma vez que consertado o dano inerente à dissolução da sociedade conjugal, esses direitos se cessarão para o Tribunal de Justiça do Rio Grande</p><p>do Sul.</p><p>[...] cabe a fixação de alimentos compensatórios, em valor fixo, decorrente da administração exclusiva por um dos cônjuges das empresas do casal. Caso em que os alimentos podem ser compensados, dependendo da decisão da ação de partilha dos bens, bem como não ensejam possibilidade de execução pessoal sob o rito de prisão (PEREIRA, 2017).</p><p>Já para o Tribunal do Distrito Federal, pode-se considerar que: Produzindo o fim do casamento desequilíbrio econômico entre o casal, em comparação com o padrão de vida de que desfrutava a família, cabível a fixação de alimentos compensatórios. (...) Faz jus a tal verba o cônjuge que não perceber bens, quer por tal ser acordado entre as partes, quer em face do regime de bens adotado no casamento, que não permite comunicação dos aquestos. (...) A estipulação de pensão alimentícia pelo lapso temporal de 12 (doze) meses se mostra razoável, uma vez que a requerida é uma pessoa saudável, com apenas 29 anos de idade, que tem condição de se inserir no mercado de trabalho e conseguir uma vaga de emprego com remuneração suficiente para sua subsistência (CARVALHO, 2019).</p><p>2. Quanto à causa jurídica</p><p>Legais ou legítimos– Conforme o art. 1.694 do Código Civil, esses alimentos decorrem de uma imposição legal, por meio do:</p><p>a) Parentesco (ius sanguini);</p><p>b) Casamento; e</p><p>c) União estável.</p><p>Apenas os alimentos legais ou legítimos integram o direito de família. Logo, a prisão civil pela falta de pagamento da pensão alimentícia será permitida somente nessa modalidade de alimentos, conforme a Constituição Federal, art. 5º, LXVII. “Não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel” (BRASIL, 1988, n.p.).</p><p>As palavras de Carlos Roberto Gonçalves preceituam essa ideia sobre a prisão civil do devedor de alimentos:Somente se a admite como meio coercitivo para o adimplemento de pensão decorrente do parentesco ou matrimônio, pois o preceito constitucional que excepcionalmente permite a prisão por dívida, nas hipóteses de obrigação alimentar, é de ser restritivamente interpretado, não tendo aplicação analógica às hipóteses de prestação alimentar derivada de ato ilícito (GONÇALVES, 2019, p. 508, grifo nosso).</p><p>Voluntários– Podem ser de caráter obrigacional ou testamentário, presente no campo sucessório. Não acarreta a prisão civil do devedor no caso de inadimplemento da pensão alimentícia.</p><p>a) Caráter Obrigacional: relacionam-se a uma declaração de vontade, como uma obrigação contratual por quem não teria a obrigação da prestação de alimentos, ocorrendo inter vivios.</p><p>b) Caráter testamentário: ou, causa mortis, por meio do testamento, como forma de legado de alimentos, conforme dispõe o art. 1.920, do Código Civil. “O legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor” (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>Indenizatórios– Estes resultam de um ato ilícito, e é possível que haja a indenização ex delito. É pertencente ao direito das obrigações, conforme previsão no art. 948, II, do Código Civil, “na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima” (BRASIL, 2002, n.p.); e, no Art. 950 do Código Civil, considera-se que: Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>Ressalta-se que não acarreta a prisão civil do devedor no caso de inadimplemento da pensão alimentícia.</p><p>3. Quanto à finalidade</p><p>Definitivos ou regulares– Estes são os de cunho permanente, estabelecidos mediante sentença do magistrado, ou em acordo homologado pelo juiz, feito pelas partes. Ressalta-se que o valor deles pode ser revisto. Esses alimentos estão enraizados no art. 1.699 do Código Civil. “Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo” (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>Provisórios– Os alimentos provisórios serão determinados liminarmente pelo juiz, no despacho inicial inerente à ação de alimento, conforme rito especial estabelecido na Lei 5.478/68 (BRASIL, 1968). Estes exigem provas pré-constituídas do parentesco, casamento ou união estável. Havendo elas, o juiz fixará os alimentos provisórios.</p><p>Provisionais– Ou os chamados ad litem, são estabelecidos quando há o instituto da tutela provisória, preparatória ou incidental, inerente às ações de separação judicial ou divórcio; nulidade ou anulação do casamento; ou alimentos. O seu intuito principal é o fornecimento de alimentos no curso do processo judicial, buscando manter os suplicantes, na maioria das vezes a mulher e os filhos, e a acobertar as despesas judiciais e os honorários advocatícios.</p><p>Estes dependem da comprovação dos requisitos inerentes à tutela provisória: fumus boni juris e periculum in mora. Os alimentos provisionais mantêm a sua eficácia até que haja o julgamento da ação principal, porém, a qualquer tempo, eles poderão ser revogados ou modificados. “A tutela provisória conserva sua eficácia na pendência do processo, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou modificada” (BRASIL, 2015, n.p.), como consta no art. 296 do Código de Processo Civil.</p><p>Transitórios–Estes se destinam à prestação alimentar de maneira transitória. Será possível havê-los quando o alimentado for maior de idade, possuir condições e formação profissional, fazendo com que seja possível a sua inserção no mercado de trabalho. Por isso, esses alimentos serão momentâneos e perdurará até que o alimentante consiga manter sua autonomia financeira e prover de seu sustento. Havendo isso, a obrigação se extinguirá.</p><p>Importante ressaltar que a Lei nº 11.340, que criou medidas de evitar a violência doméstica contra a mulher, antevê que o magistrado do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher poderá, se necessário, sem danos às outras medidas protetivas de urgência, aplicar ao agressor a prestação de alimentos provisionais ou provisórios (BRASIL, 2006, n.p.).</p><p>Os alimentos transitórios, aceitos pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, [...] são obrigações prestadas, notadamente entre ex-cônjuges ou ex-companheiros, em que o credor, em regra pessoa com idade apta para o trabalho, necessita dos alimentos apenas até que se projete determinada condição ou ao final de certo tempo, circunstância em que a obrigação extinguir-se-á automaticamente (STJ, 2013).</p><p>4. Quanto ao momento em que são reclamados</p><p>Pretéritos–São os pedidos que retroagem ao momento anterior à propositura da ação.</p><p>Atuais–São aqueles pedidos no momento da propositura da ação de alimentos.</p><p>Futuros–Serão os alimentos devidos a partir da sentença definida pelo juiz.</p><p>Cumpre dizer que, no Brasil, só é admitido os alimentos atuais e futuros. Os alimentos pretéritos condizem com a ideia de que o alimentante arcou com a sua subsistência antes do próprio pedido; logo, estes são indevidos (in praeteritum non vivitur).</p><p>Dos alimentos</p><p>Os alimentos, ao incidirem no meio obrigacional, fazem parte do Direito de Família. Uma vez que a lei estipula o pagamento de pensão alimentícia, fixado o valor pelo magistrado, este deve ser cumprido sob pena de prisão civil pelo devedor.</p><p>A figura do alimentando é caracterizada pelo credor da ação de alimentos, podendo ser parentes, ex-cônjuges ou ex-companheiros. Já o devedor da obrigação alimentar é o chamado alimentante, quem tem a obrigação de ofertar alimentos.</p><p>Os alimentos, a princípio, servem para que se mantenha o mínimo existencial do reclamante, proporcionando uma vida digna e garantindo a sua subsistência. Eles podem ser comparados aos direitos sociais presentes na Constituição</p><p>Federal. Os doutrinadores entendem que, uma vez que o Estado não tenha como garantir a subsistência de todos os indivíduos, a obrigação recai sob o âmbito familiar.</p><p>Ressalta-se que o mínimo para existência deve ser garantido. Os alimentos, na maioria das vezes, não são perpétuos. Ou seja, são transitórios, com tempo específico para a sua cessação. Geralmente, é fixado pelos tribunais um tempo determinado em que devem ser pagos esses alimentos até que o alimentante consiga a sua reinserção no mercado de trabalho e, assim, possa garantir a sua própria subsistência quando isso ocorrer, haverá a efetiva cessação deles.</p><p>CARACTERÍSTICAS DO DIREITO À PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA E DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR</p><p>É sabido que os pais precisam pagar a pensão alimentícia aos filhos menores. Assim, entre pais e filhos não há de se falar em uma obrigação alimentar, mas sim em um dever, mútuo, de sustento e de assistência. “São deveres de ambos os cônjuges: (...) III - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos” (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>Conforme o art. 1.694 do Código Civil, a obrigação alimentar advém da relação de parentesco. “Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação” (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>Assim, o dever de alimentos circunda entre os ascendentes, os descendentes e os colaterais até o segundo grau, com reciprocidade, decorrente do fundamento do princípio da solidariedade familiar.</p><p>Devido à falta de amparo estatal àqueles que não conseguem prover da própria subsistência, o Estado transferiu o papel de sustento aos familiares, instituindo um dever moral e uma obrigação jurídica quanto à prestação alimentícia.</p><p>Malgrado a incumbência de amparar aqueles que não podem prover à própria subsistência incumba precipuamente ao Estado, este a transfere, como foi dito, às pessoas que pertencem ao mesmo grupo familiar, as quais, por um imperativo da própria natureza, têm o dever moral, convertido em obrigação jurídica, de prestar auxílio aos que, por enfermidade ou por outro motivo justificável, dele necessitem (GONÇALVES, 2019, p. 512).</p><p>Ressalta-se que a pensão alimentícia não tem relação com outros deveres familiares dos pais. Entre eles, há o dever de ambos os pais de sustento, guarda e educação dos filhos, respeito e consideração mútuos etc. Esses deveres devem ser cumpridos de forma incondicional, independentemente se houver a estipulação de um pagamento mensal de pensão alimentícia.</p><p>Quanto às características da obrigação alimentar, tem-se:</p><p>1. Transmissibilidade</p><p>Trata-se de uma inovação do Código Civil de 2002, diferentemente do que dispunha o Código Civil de 1916. No mais, a Lei do Divórcio trouxe uma novidade e prescreve, também, que a obrigação alimentar é passada aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1796 do Código Civil (art. 23 da Lei do Divórcio). Assim, a dívida alimentar se limitará ao valor da herança deixada pelo devedor (de cujus) ou alimentante.</p><p>Conforme o art. 1.700 do Código Civil, “a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694” (BRASIL, 2002, n.p.). Esse dispositivo perpetua acerca das relações de parentesco e do instituto do casamento e da união estável.</p><p>A doutrina entende que o dever de prestar alimentos pelos herdeiros do devedor será válido e eficaz se ele já tiver sido determinado por acordo ou sentença judicial. No mais, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça se molda neste posicionamento:</p><p>A transmissibilidade da obrigação de prestar alimentos, prevista no art. 23 da Lei n. 6.515, de 1977, é restrita às pensões devidas em razão da separação ou divórcio judicial, cujo direito já estava constituído à data do óbito do alimentante; não autoriza ação nova, em face do espólio, fora desse contexto (STJ, 1999).</p><p>Nesse sentido, o Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFam) entende que o mencionado art. 1.700 do Código Civil devesse ter outra redação, considerando que a obrigação de prestar alimentos decorrente do casamento e da união estável transmite-se aos herdeiros do devedor no limite dos frutos do quinhão de cada herdeiro.</p><p>2. Divisibilidade</p><p>A divisibilidade da obrigação de prestar alimentos entende que ela possa ser dividida com os outros parentes, não recaindo apenas sobre uma pessoa. Há de se falar que a divisibilidade da obrigação alimentar não se trata de solidariedade, uma vez que todas as partes são obrigadas a responder de acordo com parte proporcional.</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>Um exemplo disso é quando a mãe pede ajuda aos seus filhos para o seu sustento. Se ela tiver quatro filhos, serão todos eles que terão o dever de pagar alimentos para sua mãe. Nesse caso, não é possível que se exija a pensão alimentícia apenas dos filhos escolhidos arbitrariamente pela mãe e pelos irmãos. Porém, se isso ocorrer, poderá ser exigido daquele apenas ¼ do que foi determinado judicialmente ou por acordo. Ou seja, a sua quota-parte.</p><p>O art. 1.698 do Código Civil de 2002 dispõe que “[...] sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide” (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>Desse modo, o demandado poderá chamar ao processo os outros corresponsáveis, se este estiver sido chamado sozinho, para que se integre o polo passivo da ação, caso ele não consiga arcar com todos os custos sozinho ou queira. Ressalta-se que, se isso correr, caberá a cada corresponsável contribuir em detrimento de suas possibilidades econômico-financeiras.</p><p>Em sentido contrário, a Lei do idoso (Lei n. 10.741, de 01/10/2003) estipula que ele possa escolher quais serão os seus prestadores. Nesse sentido, a prestação alimentícia é vista à luz dos princípios da solidariedade. O que o legislador buscou foi que seja assegurada a celeridade processual, garantindo de imediato a prestação alimentícia e impedindo a intervenção de outros devedores de alimentos no processo.</p><p>No mais, temos que “se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o seu sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência social” (BRASIL, 2003, n.p.). Assim, a lei se situa na possibilidade de que, uma pessoa de mais de 60 anos de idade, poderá, se quiser, chamar para que integre na prestação alimentar qualquer parente, sejam os netos, os filhos, os irmãos, sem que haja uma ordem de preferência, ou até todos eles simultaneamente. Todavia, não é possível que seja acionado o devedor de classe subsequente sem que antes haja a prova da falta dos que lhe antecedem.</p><p>3. Condicionalidade</p><p>A prestação de alimentos está atrelada a uma condição. Não havendo mais ela, se extingue o dever de prestá-los. Assim, pode-se dizer que a sua eficácia é subordinada a uma condição resolutiva. É de se afirmar que, apenas quando perduram os pressupostos, se pode exigir essa obrigação. O binômio necessidade x possibilidade é o pressuposto objetivo da existência do dever de prestação alimentícia.</p><p>O Código Civil, art. 1.694, §1º, estipula que os alimentos serão fixados proporcionalmente de acordo com as necessidades do alimentando e com os recursos da pessoa do alimentante. Assim, havendo condições do alimentante prover de sua própria subsistência, sendo inserido no mercado de trabalho e garantindo a sua dignidade, extingue-se a obrigação. A mesma situação acontece quando o alimentante não puder mais fornecer os alimentos.</p><p>4. Reciprocidade</p><p>Conforme o art. 1.696 do Código Civil, “o direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros” (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>A obrigação da prestação alimentícia é recíproca, entendendo-se em linha reta, até o infinito, entre ascendentes e descendentes e, na linha colateral, entre os irmãos. Assim, haverá a reciprocidade entre os parentes, cônjuges</p><p>e companheiros quanto ao direito de receber alimentos e, também, terão a obrigação de prestá-los, ou seja, o direito de exigir alimentos corresponde ao dever de prestá-los.</p><p>“E é razoável que assim seja. Se o pai, o avô, o bisavô, têm o dever de sustentar aquele a quem deram vida, injusto seria que o filho, neto ou bisneto, abastado, não fosse obrigado a alimentar o seu ascendente incapaz de manter-se” (GONÇALVES, 2019, p. 524).</p><p>Em suma, o direito de exigir e de prestar alimentos coexistem. A reciprocidade incide que o devedor alimentar de hoje possa ser credor alimentar no futuro. Assim, não se trata de direitos e obrigações simultâneas ou ao mesmo tempo.</p><p>5. Mutabilidade</p><p>A mutualidade da obrigação alimentar consiste no fato de que possa sofrer alterações futuras, sendo modificados os seus pressupostos objetivos, que é a necessidade do alimentando e a possibilidade do alimentante. O binômio possibilidade x necessidade é um pressuposto indispensável para que haja a prestação de alimentos.</p><p>Logo, o binômio possibilidade x necessidade se trata de um elemento variável em razão de vários fatores. A lei, nesses casos, estabelece que a alteração no valor da pensão alimentícia seja cabível por meio de ação de alimentos ou de exoneração de alimentos.</p><p>Ressalta-se que a obrigação alimentar é orientada pela cláusula rebus sic stantibus, ou seja, instrumentaliza a teoria da imprevisão, salvaguardando as mudanças imprevisíveis e inesperadas. Essa cláusula também é muito utilizada no direito contratual.</p><p>Sob o mesmo aspecto, o art. 1.699 do Código Civil dispõe que: “se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo” (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>Logo, a mudança de vida do alimentado, possibilitando arcar com os seus custos, acarretará a extinção do dever de prestar alimentos.</p><p>Um exemplo disso é quando a ex-cônjuge, que antes se dedicava à casa e aos filhos, é reinserida no mercado de trabalho, garantindo, assim, a sua subsistência. Nesse caso, poderá o ex-marido pedir a exoneração de alimentos até que perdure devida situação.</p><p>PESSOAS OBRIGADAS A PRESTAR ALIMENTOS E SUA IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO</p><p>São sujeitos da prestação alimentar aqueles elencados no art. 1.694 do Código Civil, sendo eles os parentes, cônjuges ou companheiros. Quanto aos filhos menores, o dever de sustentá-los recairá sobre os pais, apenas. Isso é devido a constituição do poder familiar, não se valendo para os outros ascendentes. Dessa forma, é dever dos pais prover o sustento de seus filhos, conforme dispõe o art. 1.566 do Código Civil.</p><p>Esses alimentos prestados aos filhos menores não são recíprocos, o que diverge da ideia contemplada no art. 1.694 do Código Civil, que se trata da prestação de alimentos entre todos os ascendentes e descendentes em linha reta, em linha colateral até o segundo grau, ou derivado do casamento ou da união estável.</p><p>A obrigação de prestar alimentos aos filhos menores é indeclinável, sejam eles incapazes, interditados ou impossibilitados de exercer atividade laborativa devido a alguma doença, deficiência física ou mental. Nesses casos, a necessidade dos alimentos pelo alimentando é presumida.</p><p>Deve-se levar em conta que, se o menor prover de seu sustento de forma ampla e integral, é possível que ele não necessite mais dos alimentos, podendo renunciá-los, uma vez que a necessidade do alimentando se desconfigurou. Destaca-se que, como pressupostos objetivos, deverá estar presente o binômio necessidade x possibilidade.</p><p>O parágrafo 2º do art. 1.694 do Código Civil, “os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia” (BRASIL, 2002, n.p.), não será aplicado nos casos de alimentos devido aos filhos menores, isso porque “não se pode cogitar, em relação àqueles, de conduta culposa geradora de causa minorativa ou extintiva da obrigação. A incapacidade não permite tal tratamento” (GONÇALVEZ, 2019, p. 544).</p><p>O art. 1.701 do Código Civil dispõe que:</p><p>A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o alimentando, ou dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à sua educação, quando menor (BRASIL, 2002, n.p.).</p><p>A obrigação, nesse sentido, torna-se alternativa quanto ao seu cumprimento. Assim, é possível que se cumpra a obrigação mediante:</p><p>1-Prestação em dinheiro: pensão mensal ou em espécie (a chamada pensão alimentícia imprópria);</p><p>2-Recebimento do alimentando em casa, fornecendo moradia e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à educação (a chamada pensão alimentícia própria).</p><p>O direito de escolha não é absoluto, mas é cabível, por direito, ao devedor. Nos casos de discordância, o juiz será competente para fixar qual seja o melhor meio de cumprimento da prestação alimentar, conforme parágrafo único do art. 1.701 do Código Civil. Esse modo de cumprimento poderá ser revisto, assim como a fixação de residência, poderá ser dada à outra parte ou poderá ser estipulado outro valor para a pensão alimentícia.</p><p>Poderá ser dado como pagamento da pensão alimentícia o pagamento da escola, convênio médico, aluguel da residência do alimentando, remédios, roupas, cesta básica etc., na forma que foi convencionado pelas partes e pelo juiz. Não se pode, arbitrariamente, estipular o devedor como deseja pagar.</p><p>Quanto aos alimentos ao nascituro ou alimentos gravídicos, este será cabível antes mesmo que haja uma prova preexistente, como o exame de DNA. É de se reconhecer que a grávida, no período de gestação, precisará de cuidados especiais e atendimento médico.</p><p>Será dever do pai promover meios que possibilitem arcar com os gastos decorrentes da gravidez, assim como a mãe. No futuro, a ação de alimentos gravídicos se converterá em ação de alimentos.</p><p>Importante mencionar que os pais, em decorrência do divórcio ou dissolução da sociedade conjugal, têm o dever de prestar alimentos aos seus filhos, não o podendo deixá-los desamparados. Ainda, poderá ser cabível, a depender das circunstâncias, a fixação de alimentos à ex-cônjuge ou ex-companheiro(a). Cada caso concreto apresenta peculiaridades distintas que deverão ser analisadas e julgadas pelo magistrado.</p><p>Conforme os arts. 1.967 e 1.696 do Código Civil, será cabível a obrigação da prestação de alimentos, na ausência dos pais, a exigência aos ascendentes na ordem da sucessão, recaindo sobre os mais próximos em graus, de maneira sucessiva. Inexistindo ascendentes, o dever se recairá sobre os irmãos.</p><p>O rol dos artigos supracitados é taxativo, não incluído os parentes por afinidade, isto é, sogros, cunhados, padrastos, enteados. A doutrina tem tido um entendimento uniforme quanto à inadmissibilidade da obrigação de prestar alimentos entre pessoas ligadas pela afinidade, perante o nosso direito (como derivada do casamento ou da união estável).</p><p>Porém, ainda que não encarregue aos parentes por afinidade o dever de prestar alimentos, quem o faz em cumprimento de uma obrigação natural do dever de solidariedade familiar não tem direito à repetição. Ou seja, não será uma via de mão dupla, não será recíproco. Caso a sogra venha pedir alimentos ao genro, por já ter prestado a ele, este não será obrigado a prestá-los.</p><p>Conforme entende Maria Helena Diniz (2019, p. 469):[...] quem necessitar de alimentos deverá pedi-los, primeiramente, ao pai ou à mãe (RT, 490:108). Na falta destes, aos avós paternos ou maternos (AASP, 1.877:145; ESTJ, 19:49; RSTJ, 100:195, Adcoas, 1980, n. 74.442, TJRJ); na ausência destes, aos bisavós e assim sucessivamente. Não havendo ascendentes, compete a prestação de alimentos aos descendentes, ou seja, aos filhos maiores, independentemente da qualidade de filiação (DINIZ, 2019, p. 469).</p><p>Ainda, há de se falar do dever da prestação de alimentos em decorrência do parentesco civil. Assim, aquele que assumir a paternidade, mesmo não sendo mãe ou/e pai biológico, terá o dever de prestar alimentos ao filho</p><p>menor de idade. O que deve ser levado em conta são os laços afetivos e a própria paternidade socioafetiva.</p><p>Como visto anteriormente, na ausência da prestação alimentar pelos pais, os primeiros na linha sucessória que serão responsáveis serão os avós. A Súmula 596 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que: “a obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais” (STJ, 2017).</p><p>Logo, deve-se seguir a seguinte ordem conforme art. 1.696 do novo Código Civil:</p><p>I) Pais e filhos.</p><p>II) Ascendentes.</p><p>III) Descendentes.</p><p>IV) Irmãos germanos (da mesma mãe e do mesmo pai, simultaneamente).</p><p>V) Irmãos unilaterais (da mesma mãe ou do mesmo pai).</p><p>Quanto à impossibilidade de restituição da pensão alimentícia, vem sendo entendido pela jurisprudência que, não sendo “comprovada má-fé por parte do alimentando, é incabível a devolução dos valores recebidos a maior, de boa-fé, a título de pensão alimentícia, em decorrência de interpretação errônea, má aplicação da lei ou erro da Administração Pública” (BRASIL, 2017).</p><p>MODOS DE SATISFAÇÃO, PROVIDÊNCIAS E DISPOSIÇÕES COERCITIVAS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR</p><p>O legislador entendeu ser melhor dar um tratamento especial ao modo de execução da obrigação alimentar, uma vez que não seria viável impor ao alimentando ter que esperar por um processo moroso caso o igualasse aos demais procedimentos obrigacionais.</p><p>Uma vez que os alimentos necessitam ser pagos rapidamente ao alimentando, por garantir a sua subsistência e necessidades vitais, se faz necessário ter respostas rápidas quanto à garantia e o recebimento do saldo alimentar. Ressalva-se, sem prejuízo, o contraditório e a ampla defesa do alimentando, sendo essas garantias constitucionais.</p><p>Para que se possa garantir o direito à pensão alimentícia e o adimplemento da obrigação, o alimentando dispõe dos seguintes meios, conforme Gonçalves (2019, p. 558):</p><p>A propositura da ação de alimentos, para reclamá-los, conforme a Lei nº 5.478/68;</p><p>A execução por quantia certa, no caso de não pagamento da dívida alimentar fixada na ação de alimentos, seja ela por acordo das partes ou determinada pelo juiz;</p><p>A penhora em vencimento de magistrados, professores e funcionários públicos, soldo de militares e salários em geral, inclusive subsídios de parlamentares; ou,</p><p>O desconto em folha de pagamento do alimentante;</p><p>A entrega ao cônjuge, mensalmente, para assegurar o pagamento de alimentos provisórios, de parte da renda líquida dos bens comuns, administrados pelo devedor, se o regime de casamento for o da comunhão universal de bens;</p><p>A constituição de garantia real ou fidejussória e de usufruto;</p><p>A prisão do alimentando insolvente;</p><p>O protesto do pronunciamento judicial, tornando pública a inadimplência do devedor.</p><p>Ressalta-se que, quanto à prisão, esta deverá ser cumprida em regime fechado, necessitando o devedor ficar separado dos outros presos, já que se trata de uma prisão civil e não criminal, conforme art. 528, § 4º do Código de Processo Civil.</p><p>No mais, quanto ao tema prisão do devedor, havendo ele cumprido a sua pena, não se eximirá dos pagamentos das futuras parcelas da pensão alimentícia, bem como as já vencidas. “O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das prestações vencidas e vincendas” (BRASIL, 2015, n.p.).</p><p>Outra mudança do Código de Processo Civil de 2015 foi o entendimento que o alimentante só poderá ser preso inadimplente de, pelo menos, três prestações e estas serão anteriores ao ajuizamento da ação de execução de alimentos. Esse também é o entendimento previsto na Súmula 309 do STJ: “o débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo” (BRASIL, 2006).</p><p>CAUSAS DE EXTINÇÃO E PRESCRIÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR</p><p>O Direito consagra o princípio da proporcionalidade ao determinar que a fixação da pensão alimentícia seja em detrimento das necessidades do alimentando e do alimentante ao prestá-la, conforme o art. 1.694, §1º, Código Civil.</p><p>É a partir do princípio da proporcionalidade que será possível haver uma revisão desses alimentos ou a exoneração da obrigação. Possuindo adulteração em um dos lados do binômio (necessidade X possibilidade), é aceitável, em qualquer momento, que se reveja o valor da prestação alimentícia. É o que preceitua o art. 1.699 do Código Civil.</p><p>Já que a obrigação alimentar se contemporiza com o percurso temporal, é muito comum que haja ações revisionais, a partir da argumentação de existir o acréscimo ou a diminuição do nível de vida que o alimentante leva, ou, ainda, do alimentando. Essas adulterações, ao irem contra o princípio da proporcionalidade, aprovam e determinam um meio de nova “equalização” do valor da pensão alimentícia.</p><p>Assim como há a argumentação pelo fim da necessidade pelos alimentos ao alimentando, dá pretexto ao ajuizamento de ação exoneratória. Ressalta-se que apenas a maioridade do alimentando não serve como justificativa à extinção automática da obrigação alimentar. O Superior Tribunal de Justiça considerou necessária a decisão judicial para que haja a exoneração da prestação alimentar, ainda que atingida a maioridade do alimentando. “O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos” (BRASIL, 2021). A corte tem entendido que, se o filho tiver mais de 18 anos e estiver fazendo faculdade ou algum curso técnico, o alimentante deverá continuar a pagar a pensão pelo seu filho, até 24 anos.</p><p>A propositura da ação revisional ou de execução não leva à suspensão do processo de execução de alimentos. Determinado o novo valor ou extinta a obrigação, a sentença não sofrerá de efeito retroativo, não atingindo as parcelas vencidas e não pagas, o que não se aplica quando forem reduzidas ou exoneradas. Vale-se do princípio da irrepetibilidade dos alimentos. Dessa forma, havendo revisional ou exoneração da obrigação, o princípio atinge as parcelas vencidas e não pagas.</p><p>Apenas quando o valor dos alimentos sofrerem aumento por sentença transitada em julgado, é possível que haja a retroatividade à data da citação. Porém, havendo a fixação dos alimentos em um valor menor ao se comparar com os provisórios, o STJ impossibilita com um habeas corpus a execução da diferença dos valores não pagos pelo rito da prisão. Assim:</p><p>1.- A prisão civil de devedor de alimentos, no caso de fixação, pela sentença, de alimentos definitivos em valor inferior aos provisórios, somente será admitida diante do não pagamento com base no novo valor, estabelecido pela sentença.</p><p>2.- Cumprida a obrigação alimentar limitada ao valor das prestações vencidas no importe de 3 (três) salários mínimos mensais, correspondentes aos alimentos definitivamente fixados, a diferença entre eles e os provisoriamente arbitrados deve ser buscada nos termos do artigo 732 do Código de Processo Civil, afastando-se a medida coercitiva de privação da liberdade.</p><p>3.- Ordem concedida. (STJ, 2013).</p><p>A doutrina entende que, havendo falhas na fixação liminar dos alimentos, tanto que forem reduzidos, o alimentante não pode arcar com o custo disso, perdendo seu patrimônio e até sua liberdade em nome da preservação do prestígio pelas decisões judiciais (nesses casos, errôneas, diga-se de passagem).</p><p>Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça aprovou em 2018 uma nova súmula sobre o tema, dispondo que “os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera o alimentante do pagamento retroagem à data da citação, vedadas a compensação e a repetibilidade”.</p><p>Quanto à prescrição do pagamento dos alimentos, esta ocorrerá em dois anos, conforme dispõe o art. 206, § 2º, do Código Civil. Essa prescrição não diz respeito ao direito aos alimentos, mas sobre o direito de cobrança das parcelas vencidas e não pagas.</p><p>image7.png</p><p>image8.png</p><p>image1.png</p><p>image2.png</p><p>image3.png</p><p>image4.png</p><p>image5.png</p><p>image6.png</p>