Prévia do material em texto
<p>SENTENÇA</p><p>Trata-se de ação revisional c/c reparação por danos materiais, ajuizada por XX em face de XX, ambas as partes devidamente qualificadas.</p><p>Aduz a autora, em síntese, que é beneficiária junto a Previdência Social – INSS (NB XXXXXX).</p><p>Salienta, em suma, a incidência de juros remuneratórios acima da taxa média de mercado. Desta forma, pretende a revisão do pacto, com a repetição dos valores indevidamente pagos.</p><p>Com a inicial, vieram documentos.</p><p>Contestação apresentada no evento X, oportunidade em que o réu aduziu acerca da legalidade do contrato pactuado entre as partes e dos encargos nele previstos. Ao final, pleiteou a improcedência dos pedidos iniciais.</p><p>Audiência realizada sem acordo (evento X).</p><p>As partes foram intimadas para manifestarem acerca das provas que pretendiam produzir, tendo a autora pugnado pela realização de perícia contábil (evento X), enquanto o réu requereu julgamento antecipado do feito (evento X).</p><p>Vieram-me conclusos.</p><p>É o relatório.</p><p>I – FUNDAMENTAÇÃO</p><p>Em análise dos autos, verifico que a parte autora manifestou pela produção de prova pericial contábil, a fim de comprovar nos autos a existência ou não de cobrança de encargos abusivos.</p><p>Pois bem.</p><p>O Código de Processo Civil concede ao julgador, como condutor do processo, a faculdade de determinar provas que considere necessárias à instrução do feito, bem como de indeferir as que sejam inúteis ou meramente protelatórias. É o caso dos autos.</p><p>Compulsando o processo com acuidade, verifico que o presente feito foi proposto para se discutir os encargos financeiros que recaem sobre a cédula de crédito bancário firmada entre os sujeitos processuais.</p><p>Na hipótese em apreço, noto que a prova técnica pretendida pela parte autora não é necessária ao deslinde da questão versada nos autos. Ora, na realidade, as questões debatidas pela requerente podem ser aferidas sem a realização de perícia contábil, bastando a simples análise dos documentos anexados aos autos, mormente o contrato firmado entre as partes para se verificar os encargos contratualmente previstos, já que são teses que envolvem matéria de direito.</p><p>Nesse sentindo, eis o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado:</p><p>AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL C/C CONSIGNATÓRIA. JULGAMENTO ANTECIPADO. INDEFERIMENTO DE PERÍCIA CONTÁBIL. I - O Juiz é o destinatário da prova, e cabe a ele exame de sua utilidade e necessidade, estando o feito devidamente instruído, não há óbice ao julgamento antecipado da lide, com o consequente indeferimento de prova pericial; II - Considerando que em sede de Ação Revisional a matéria é eminentemente de direito, e tendo em vista o aspecto fático da controvérsia, que é demonstrado através de prova documental (contrato firmado entre as partes), reputa-se desnecessária a realização de prova pericial. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Origem: 2ª Câmara Cível. Relator José Carlos de Oliveira. Acordão de 30/08/2017. Proc 5205726-64.2017.8.09.0000. DJ de 30/08/2017. (grifo)</p><p>Diante do exposto, indefiro o pedido de perícia contábil pelos motivos acima delineados.</p><p>Tenho como praticável o julgamento antecipado da lide. Com efeito, as questões debatidas, de direito e de fato, dispensam a produção de qualquer outra prova, bastando as documentais, existentes nos autos, razão pela qual conheço diretamente do pedido, nos termos do art. 355, inciso I, do CPC.</p><p>Pois bem.</p><p>A incidência do Código de Defesa do Consumidor nos contratos de mútuo bancário foi pacificada pelo Supremo Tribunal Federal quando do julgamento da ADI 2.591/DF, em 2006.</p><p>De igual forma, o Superior Tribunal de Justiça decidiu reiteradamente nesse sentido, enunciando a súmula 297 de sua jurisprudência, in verbis: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.</p><p>Dessa maneira, caracterizada a relação de consumo, é recomendável a análise da presente questão sob o prisma da Lei consumerista.</p><p>Ressalve-se, entretanto, que a simples aplicação do CDC aos contratos não garante a procedência do pedido revisional, apenas autoriza a sua revisão em caso de flagrantes abusividades.</p><p>A relativização do princípio da obrigatoriedade dos contratos com intervenção do Judiciário nas avenças firmadas entre particulares é permitida quando constatadas cláusulas ilegais e abusivas, exigindo-se para tanto, requerimento expresso da parte contratante (súmula 381, STJ).</p><p>A ação revisional de contrato bancário tem o objetivo de anular disposições contratuais abusivas e decotar da dívida os encargos que porventura sejam ilegais, via de consequência, sua procedência (total ou parcial) tem o condão somente de ajustar o valor das parcelas contratuais ao que realmente é devido, e não o de afastar a própria dívida.</p><p>Ademais, o tema em discussão refere-se à possibilidade da modificação ou revisão das cláusulas contratuais quando há prestações desproporcionais ou hajam fatos supervenientes que tornem excessivamente onerosas as prestações, consoante previsão do art. 6º, inc. III e art. 46, ambos do CDC, normas de ordem pública e interesse social, nos termos do art. 5º, inc. XXXII, e art. 170, inc. V, da CF/88, e art. 48 de suas Disposições Transitórias, sem que isso implique insegurança jurídica.</p><p>Desse modo, descabe falar em força obrigatória do contrato ou em boa fé contratual, se há nele obrigações ilícitas e abusivas para a parte hipossuficiente da relação negocial, tornando-se possível a revisão das cláusulas do contrato objeto da lide, isto é, a teoria revisionista.</p><p>A autora não nega a contratação, apenas insurge em relação ao valor cobrado, no seu entender onerado com a cobrança de encargos considerados abusivos ou ilegais.</p><p>Nada obstante, certo é que da leitura da inicial, verifico que pretensão se restringe a Cédula de Crédito Bancário (com pagamento por consignação em folha de pagamento) nº XXX, em 72 vezes de R$ 236,30.</p><p>No entanto, em análise do instrumento contratual, conclui-se que o pedido não encontra amparo.</p><p>No que diz respeito à legalidade da taxa de juros remuneratórios, é importante ressaltar que a mesma deve ser interpretada na perspectiva de se consagrar a juridicidade dos juros no percentual avençado, desde que não caracterizada a exorbitância do encargo.</p><p>A jurisprudência já fixou entendimento no sentido de que deve ser utilizada a taxa média de mercado informada pelo Banco Central. Destarte, ao utilizar como referência a taxa média de mercado, não se pode exigir que todos os empréstimos sejam a ela inferiores, pois se assim fosse, a taxa deixaria de ser uma média aritmética, passando a ser um número limitador.</p><p>Nesse sentido, a orientação do STJ, no julgamento do RESP 1.061.530/RS, em sede de Recurso Repetitivo, de relatoria da Ministra Nancy Andrighi, especificando o que é considerado destoante e proclamando que não basta a taxa de juros remuneratórios sobejar a da média de mercado divulgada pelo Banco Central do Brasil:</p><p>“(...) Logo, diante desse panorama sobre o posicionamento atual da 2ª Seção, conclui-se que é admitida a revisão das taxas de juros em situações excepcionais, desde que haja relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada – art. 51, §1º, do CDC) esteja cabalmente demonstrada. Necessário tecer, ainda, algumas considerações sobre parâmetros que podem ser utilizados pelo julgador para, diante do caso concreto, perquirir a existência ou não de flagrante abusividade. (…) Assim, a análise da abusividade ganhou muito quando o Banco Central do Brasil passou, em outubro de 1999, a divulgar as taxas médias, ponderadas segundo o volume de crédito concedido, para os juros praticados pelas instituições financeiras nas operações de crédito realizadas com recursos livres (conf. Circular nº 2957, de 30.12.1999). As informações divulgadas por aquela autarquia, acessíveis a qualquer pessoa através da rede mundial de computadores (conforme http://www.bcb.gov.br/?ecoimpom - no quadro XLVIII da nota anexa; ou http://www.bcb.gov.br/?TXCREDMES, acesso em 06.10.2008), são segregadas de acordo com o tipo de encargo (prefixado, pós-fixado, taxas flutuantes</p><p>e índices de preços), com a categoria do tomador (pessoas físicas e jurídicas) e com a modalidade de empréstimo realizada ('hot money', desconto de duplicatas, desconto de notas promissórias, capital de giro, conta garantida, financiamento imobiliário, aquisição de bens, 'vendedor', cheque especial, crédito pessoal, entre outros). A taxa média apresenta vantagens porque é calculada segundo as informações prestadas por diversas instituições financeiras e, por isso, representa as forças do mercado. Ademais, traz embutida em si o custo médio das instituições financeiras e seu lucro médio, ou seja, um 'spread' médio. É certo, ainda, que o cálculo da taxa média não é completo, na medida em que não abrange todas as modalidades de concessão de crédito, mas, sem dúvida, presta-se como parâmetro de tendência das taxas de juros. Assim, dentro do universo regulatório atual, a taxa média constitui o melhor parâmetro para a elaboração de um juízo sobre abusividade. Como média, não se pode exigir que todos os empréstimos sejam feitos segundo essa taxa. Se isto ocorresse, a taxa média deixaria de ser o que é, para ser um valor fixo. Há, portanto, que se admitir uma faixa razoável para a variação dos juros. A jurisprudência, conforme registrado anteriormente, tem considerado abusivas taxas superiores a uma vez e meia (voto proferido pelo Min. Ari Pargendler no REsp 271.214/RS, Rel. p. Acórdão Min. Menezes Direito, DJ de 04.08.2003), ao dobro (Resp 1.036.818, Terceira Turma, minha relatoria, DJe de 20.06.2008) ou ao triplo (REsp 971.853/RS, Quarta Turma, Min. Pádua Ribeiro, DJ de 24.09.2007) da média. Todavia, esta perquirição acerca da abusividade não é estanque, o que impossibilita a adoção de critérios genéricos e universais. A taxa média de mercado, divulgada pelo Banco Central, constitui um valioso referencial, mas cabe somente ao juiz, no exame das peculiaridades do caso concreto, avaliar se os juros contratados foram ou não abusivos (...)</p><p>Assim, o fato de a taxa de juros remuneratórios praticada pela instituição financeira exceder a taxa média do mercado não induz, por si só, a conclusão de cobrança abusiva, consistindo a referida taxa em um mero referencial a ser considerado e não em um limite que deva ser necessariamente observado pelas instituições financeiras.</p><p>Como média, não se pode exigir que todos os empréstimos sejam feitos segundo essa taxa. Se isto ocorresse, a taxa média deixaria de ser o que é para ser um valor fixo. Há, portanto, que se admitir uma faixa razoável para a variação dos juros.</p><p>Aliás, a revisão do percentual de juros remuneratórios contratado é medida excepcionalíssima, admissível somente quando cabalmente demonstrada a sua abusividade em relação à taxa média do mercado. A propósito:</p><p>Segundo orientação do STJ, inclusive, em julgamento submetido à sistemática do art. 543-C do CPC, a contratação de juros remuneratórios em taxa superior a 12% ao ano, por si só, não implica em abusividade, impondo-se a redução somente quando comprovada a discrepância em relação à taxa média de mercado da época da contratação, o que não é o caso, tal como decidido. (TJGO, APELACAO 0058577-20.2014.8.09.0174, Rel. LEOBINO VALENTE CHAVES, 3ª Câmara Cível, DJe de 08/06/2018).</p><p>No caso em comento, o contrato objeto de revisão (evento x) foi celebrado em 15/05/2017, no qual há previsão de juros remuneratórios de XX% ao mês e XX% ao ano. De acordo com o índice divulgado pelo Banco Central a época da pactuação, a taxa média de juros das operações de crédito pessoal consignado (INSS) era de XX% ao mês.</p><p>Logo, denoto que a pactuação entre as partes não se mostra abusiva, pois próxima da taxa média divulgada pelo BACEN para essa espécie de operação financeira, no período de contratação.</p><p>O entendimento do Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso repetitivo, tem considerado abusivas taxas superiores ao dobro ou ao triplo da média do mercado, o que não ocorreu no caso dos autos.</p><p>Dessarte, considerando que a taxa firmada no instrumento não está eivada de abusividade, a manutenção dos juros remuneratórios consoante pactuado no contrato discutido é medida que se impõe. Inclusive, esse é o entendimento que vem sendo aplicado pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. BUSCA E APREENSÃO. REVISIONAL EM CONTESTAÇÃO. DISCUSSÃO SOBRE TARIFA DE CADASTRO, REGISTRO, AVALIAÇÃO, TAC E TEC. INOVAÇÃO RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO DE PARTE DO APELO. JUROS REMUNERATÓRIOS DEVIDOS. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. PREVISÃO EXPRESSA. LEGALIDADE. TABELA PRICE MANTIDA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA NÃO VERIFICADA. ENCARGOS MORATÓRIOS REDUZIDOS. CONVERSÃO EM AÇÃO DE DEPÓSITO. DEVOLUÇÃO DO BEM OU O EQUIVALENTE EM DINHEIRO 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já decidiu ser possível examinar, no âmbito de defesa da ação de busca e apreensão, excesso no valor da dívida decorrente de possíveis ilegalidades das cláusulas contratuais. 2. As alegações do Apelante relativas à tarifa de cadastro, de registro, de avaliação, TAC e TEC, não foram suscitadas na primeira instância, configurando assim, inovação recursal, não devendo serem conhecidas. 3- A pactuação dos juros remuneratórios acima de 12% ao ano, por si só, não é indicativo de abusividade contratual. A abusividade e onerosidade contratuais devem ser demonstradas para que haja a revisão contratual. 3. A capitalização mensal de juros é legal quando a taxa mensal, multiplicada por doze, for inferior à taxa anual. 4. É autorizada a capitalização mensal dos juros, quando pactuada expressamente no contrato, consoante entendimento do colendo STJ, no julgamento do REsp 973.827/RS sob a sistemática dos recursos repetitivos e Súmula 93 daquele sodalício. 5. A aplicação da Tabela Price no contrato entabulado é consectário lógico da cobrança de capitalização mensal de juros, portanto, uma vez reconhecida a legalidade desta, reconhece-se também a legalidade da aplicação daquela. 6. Ausência de previsão contratual de Comissão de permanência. 7. Os encargos moratórios não deverão exceder a juros de mora 1% a.m e a multa de mora 2%. 8. Em se tratando de ação de busca e apreensão, oriunda de contrato de alienação fiduciária, em sendo ela julgada procedente, caberá ao devedor entregar o bem ou depositar o seu valor equivalente em dinheiro, expressão essa correspondente ao valor de mercado do bem, salvo na hipótese de ser maior que o saldo devedor. APELO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJGO, APELACAO 0008370- 50.2011.8.09.0100, Rel. Ronnie Paes Sandre, 3ª Câmara Cível, julgado em 13/11/2019, DJe de 13/11/2019) (negritei).</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. BUSCA E APREENSÃO. PEDIDO CONTRAPOSTO. REVISIONAL. II. DANO MORAL E MÁ-FÉ. INOVAÇÃO RECURSAL. III. INSURGÊNCIA QUANTO À TAXA DE JUROS. ONEROSIDADE NÃO COMPROVADA. ALEGAÇÃO DE VENDA CASADA IGUALMENTE NÃO PROVADA. IV. TARIFA DE DE REGISTRO DO CONTRATO. LEGALIDADE. PARTE QUE NÃO DE DESINCUMBIU DO ÔNUS DA PROVA. ATO SENTENCIAL MANTIDO. I. Em sede de apelação, não se admite discussão de questões que não foram suscitadas e discutidas na instância a quo, por se tratar de inovação recursal. II. No que pertine à alegação de onerosidade dos juros, o contrato questionado consiste em cédula de crédito bancário, na modalidade crédito pessoal para financiamento de veículo a pessoa física, com taxa de juros mensais pré-fixada em 1,44%, conforme divulgado pelo site do Banco Central do Brasil, sendo que a taxa média do mercado financeiro ao tempo da contratação era de 1.72% ao mês e, portanto, não configurada diferença para ensejar a ilegalidade do percentual contratado. In omissis. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Recursos -> Apelação Cível 5450278-06.2019.8.09.0051, Rel. Des(a). FAUSTO MOREIRA DINIZ, 6ª Câmara Cível, julgado em 26/04/2021, DJe de 26/04/2021) (negritei).</p><p>Desta forma, deve ser mantida a taxa de juros na forma pactuada.</p><p>No que tange ao pedido de exclusão da capitalização de juros, verifico que também não merece guarida.</p><p>O Superior Tribunal de Justiça sumulou os entendimentos de que a incidência</p><p>da capitalização mensal de juros é permitida em contratos celebrados após 31/03/2000, data da publicação da Medida Provisória nº 1.963-17, reeditada sob o nº 2.170-36/2001, desde que a cláusula esteja pactuada no instrumento contratual, e que a previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal seja suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada, não sendo necessário que as instituições financeiras incluam nos contratos cláusula com redação que expresse o termo “capitalização de juros” para cobrar a taxa efetiva contratada, bastando explicitar com clareza aquelas cobradas.</p><p>Nesse sentido:</p><p>Súmula 539. É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.</p><p>Súmula 541. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.</p><p>Esse também é o entendimento da jurisprudência dominante no TJGO:</p><p>AGRAVO INTERNO. DUPLO RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO C/C CONSIGNATÓRIA. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. TAXA ANUAL SUPERIOR AO DUODÉCUPLO DA TAXA MENSAL. EXPRESSA PACTUAÇÃO. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. NÃO CUMULAÇÃO COM ENCARGOS DA MORA. TARIFA DE ABERTURA DE CRÉDITO. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA DE DEPÓSITOS. CONSIGNATÓRIA EXTINTA. 1) A previsão contratual de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da taxa mensal, como ocorre na espécie, caracteriza expressa contratação e permite a cobrança de juros com capitalização em periodicidade inferior à anual, conforme decidido pela Corte Superior, no REsp nº 973.827-RS, sob o rito do art. 543-C do CPC. 2) Omissis. AGRAVO INTERNO CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJGO, APELACAO CIVEL 151096-34.2010.8.09.0051, Rel. DES. KISLEU DIAS MACIEL FILHO, 4A CAMARA CIVEL, julgado em 26/06/2014, DJe 1583 de 14/07/2014) (negritei).</p><p>Também é permitida a capitalização diária de juros desde que expressamente pactuada, a teor da jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Nesse sentido:</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE. PRELIMINARES. FORO COMPETENTE. DOMICÍLIO DO RÉU. DEMONSTRATIVO DE DÉBITO. CARÊNCIA DE AÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. FACULDADE DO MAGISTRADO. PROVA PERICIAL. DESNECESSIDADE. JUROS REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE NÃO DEMONSTRADA. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. EXPRESSA PACTUAÇÃO. MORA CARACTERIZADA. INSCRIÇÃO DO NOME DOS DEVEDORES NOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO CREDITÍCIA. POSSIBILIDADE. I- (…) VI- Em cédula de crédito bancário, é permitida a capitalização de juros, inclusive, a diária, nos termos do art. 28, § 1º, I, da Lei nº 10.931/2004, desde que expressamente pactuada, como no caso dos autos. Ademais, a previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança de capitalização de juros. VII- Não restando comprovada a cobrança de encargos contratuais considerados abusivos no período da normalidade, não há falar em descaracterização da mora, razão pela qual possível a inscrição do nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, APELACAO CIVEL 329773-87.2013.8.09.0146, Rel. DES. NELMA BRANCO FERREIRA PERILO, 4A CAMARA CIVEL, julgado em 02/06/2016, DJe 2046 de 14/06/2016)</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL C/C CONSIGNATÓRIA. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. PACTUAÇÃO EXPRESSA DE CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE JUROS. POSSIBILIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ENCARGO DA APELADA, OBSERVADAS AS REGRAS DA LEI Nº 1.060/50. I - No que respeita à capitalização diária de juros, vejo que sua pactuação foi expressada na cédula de crédito bancário, especificamente na cláusula 2ª (fl. 131), o que a torna admissível, à luz do que proclama julgado externado em sede de recurso repetitivo (REsp nº 1251331/RS-Recurso Repetitivo). II - Conclui-se que a apelada sucumbe na totalidade. Logo, os ônus devem por ela suportados, observados os critérios da lei nº 1.060/50, já que se trata de beneficiária da assistência judiciária. APELO CONHECIDO E PROVIDO. (TJGO, APELACAO CIVEL 438681-38.2013.8.09.0051, Rel. DES. AMARAL WILSON DE OLIVEIRA, 2A CAMARA CIVEL, julgado em 12/04/2016, DJe 2013 de 25/04/2016)</p><p>No caso dos autos, analisando detidamente o contrato firmado entre as partes, observa-se que a cláusula X prevê expressamente que haverá capitalização mensal dos juros.</p><p>Conforme já mencionado, os juros mensais foram acordados à taxa XX% ao mês, ao passo que a taxa anual é de XX%, superior, portanto, ao duodécuplo da taxa mensal.</p><p>Assim, não há falar em ilegalidade da incidência de juros capitalizados.</p><p>Por consequência, não há que se falar em repetição de indébito e compensação por danos morais.</p><p>Por fim, não tendo havido questionamento expresso de outros encargos previstos no contrato, descabe a esta magistrada promover a revisão de ofício, o que ofenderia o princípio dispositivo (art. 2º, CPC), além de contrariar o preceito legal que veda a formulação de pedidos genéricos (art. 322, CPC). A propósito, a Súmula 381 do STJ diz que “nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas”.</p><p>II – DISPOSITIVO</p><p>Ante o exposto, com base no art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos iniciais, nos termos da fundamentação supra.</p><p>Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento), sobre o valor atualizado da causa, nos termos do artigo 85, § 2º, do CPC. Suspensa a exigibilidade, face o benefício da justiça gratuita.</p><p>Publicada e registrada nesta data. Intimem-se.</p><p>Na hipótese de interposição de recurso apelação, intime-se a parte contrária para que ofereça contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias (CPC, art.1.010, § 1º).</p><p>Havendo recurso adesivo, intime-se a parte contrária para resposta ao recurso (CPC, art.1.010, § 2º).</p><p>Transitada em julgado arquivem-se os autos com as cautelas de estilo.</p><p>Local, datado e assinado digitalmente.</p>