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<p>GENÉTICA E BIOLOGIA</p><p>MOLECULAR FORENSE</p><p>Programa de Pós-Graduação EAD</p><p>UNIASSELVI-PÓS</p><p>Autoria: Profa. Dra. Marcela Stefanini Ferreira Tsuboy</p><p>CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI</p><p>Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito</p><p>Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC</p><p>Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090</p><p>Reitor: Prof. Hermínio Kloch</p><p>Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol</p><p>Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:</p><p>Carlos Fabiano Fistarol</p><p>Ilana Gunilda Gerber Cavichioli</p><p>Jóice Gadotti Consatti</p><p>Norberto Siegel</p><p>Camila Roczanski</p><p>Julia dos Santos</p><p>Ariana Monique Dalri</p><p>Marcelo Bucci</p><p>Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais</p><p>Diagramação e Capa:</p><p>Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI</p><p>Copyright © UNIASSELVI 2019</p><p>Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri</p><p>UNIASSELVI – Indaial.</p><p>T882g</p><p>Tsuboy, Marcela Stefanini Ferreira</p><p>Genética e biologia molecular forense. / Marcela Stefanini Fer-</p><p>reira Tsuboy. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.</p><p>XXX p.; il.</p><p>ISBN 978-85-7141-323-8</p><p>1. Genética forense. - Brasil.</p><p>II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.</p><p>CDD 614.1</p><p>Impresso por:</p><p>Sumário</p><p>APRESENTAÇÃO ............................................................................5</p><p>CAPÍTULO 1</p><p>Introdução À Genética E Biologia Molecular Forense ..........7</p><p>CAPÍTULO 2</p><p>Introdução À Genética E Biologia Molecular Forense ........47</p><p>CAPÍTULO 3</p><p>Introdução À Genética E Biologia Molecular Forense ........85</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Prezado aluno, este livro apresenta o conteúdo a ser estudado na disciplina</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense, do seu curso de Investigação Forense e</p><p>Perícia Criminal.</p><p>A Genética e Biologia Molecular Forense é a Ciência que usa as</p><p>ferramentas genéticas nas perícias criminais. É usada principalmente para</p><p>identificar pessoas desaparecidas, inocentar ou comprovar a autoria de um</p><p>determinado crime, mas também pode ser utilizada no combate à biopirataria.</p><p>No Capítulo 1 você terá a oportunidade de relembrar os conceitos</p><p>importantes da Genética e Biologia Molecular, para que possa entender as</p><p>técnicas envolvidas na identificação por DNA dos indivíduos.</p><p>Em seguida, você estudará sobre os vestígios biológicos. Os vestígios</p><p>biológicos são materiais de origem biológica (sangue, sêmen, pelos etc.) coletados</p><p>do local do crime para posterior análise genética dos envolvidos na investigação</p><p>do crime e, vai ajudar a estabelecer, por exemplo, quantas pessoas estavam</p><p>naquele local e quem eram elas. É importante você notar que há procedimentos</p><p>operacionais padrões para a coleta e documentação destes vestígios, para que</p><p>eles tenham sua integridade física mantida e para que seja respeitada a cadeia de</p><p>custódia.</p><p>No terceiro e último capítulo, você vai relembrar a técnica de PCR</p><p>(Polymerase Chain Reaction), utilizada para a amplificação e análise do DNA</p><p>das amostras biológicas, e estudará sobre os marcadores moleculares utilizados</p><p>para a identificação dos indivíduos. Você perceberá que quando se trabalha com</p><p>Biologia Molecular todo cuidado é pouco, começando pelo ambiente onde será</p><p>realizado o experimento de PCR. É necessário um pessoal muito bem treinado</p><p>para que a amostra não seja contaminada e para que não ocorram resultados</p><p>falsos, uma vez que estes serão determinantes na investigação criminal. Neste</p><p>capítulo você também estudará sobre os Bancos de Dados e perfis de DNA</p><p>que foram criados a partir do grande volume de informação gerado depois que</p><p>a Genética e a Biologia Molecular foram incorporadas na rotina de investigação</p><p>dos crimes. Você verá, também, que o Reino Unido e os Estados Unidos foram</p><p>pioneiros na criação destes bancos e conhecer como é a situação do Brasil. Será</p><p>que existe um banco de dados assim aqui também?</p><p>Com todas essas informações, creio que você, caro aluno, terminará</p><p>essa disciplina pronto para discutir os aspectos envolvidos na Genética Forense</p><p>e estimar sua aplicabilidade no cotidiano da investigação criminal. Com certeza a</p><p>compreensão e o uso destas ferramentas te ajudarão a estabelecer, de maneira</p><p>cada vez mais eficaz, a conexão autor-local do crime-vítima.</p><p>Bons estudos!</p><p>Profa. Dra. Marcela Stefanini Ferreira Tsuboy</p><p>CAPÍTULO 1</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA</p><p>MOLECULAR FORENSE</p><p>A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes</p><p>objetivos de aprendizagem:</p><p> Compreender conceitos-chave da Genética e Biologia Molecular para</p><p>entendimento das técnicas utilizadas na identifi cação por DNA.</p><p> Discutir os conceitos da Genética e Biologia Molecular envolvidos na</p><p>identifi cação por DNA.</p><p> Avaliar as situações onde a identifi cação genética pode ser aplicada.</p><p>8</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>9</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>1 CONTEXTUALIZAÇÃO</p><p>Imagine a seguinte situação: depois de uma semana exaustiva de trabalho</p><p>e estudo, você, caro aluno, está descansando assistindo a um seriado na sua</p><p>plataforma de streaming favorita. O ilustre personagem desta série, Dr. Hannibal</p><p>Lecter, é abordado por um agente do FBI durante um de seus famosos e elegantes</p><p>jantares. O agente, já desconfi ado de Lecter, pede ao mesmo para levar um pouco</p><p>da comida que está sendo servida no jantar, com a desculpa de que tem outro</p><p>compromisso, mas que mesmo assim gostaria de provar as delícias servidas ali.</p><p>A verdade é que, o agente do FBI está desconfi ado de que Lecter serve carne</p><p>humana em seus jantares.</p><p>Pois bem, você deve estar se perguntando, tirando o fato de que a série é um</p><p>suspense policial, o quê isso tem a ver com nosso curso? E com Genética?</p><p>A resposta, caro aluno, é que tem tudo a ver!</p><p>Você tem ideia de como o agente do FBI vai comprovar se aquelas amostras</p><p>de carne têm origem humana?</p><p>Se você respondeu: “utilizando as ferramentas da Genética”, você está certo!</p><p>Você sabe exatamente como isso é feito?</p><p>É disso que se trata nosso estudo. É claro, essa situação tirada do seriado é</p><p>só um exemplo de como a Genética Forense pode ajudar a desvendar crimes. Ao</p><p>longo dos capítulos estudaremos situações reais e entenderemos como, afi nal, a</p><p>Genética consegue esclarecer crimes e identifi car autoria.</p><p>Para começar, neste capítulo, precisamos relembrar defi nições básicas da</p><p>Genética e Biologia Molecular. Sem entender estes fundamentos, a compreensão</p><p>de como a identifi cação por DNA funciona fi cará comprometida. Por isso,</p><p>vamos estudar a estrutura do DNA e do genoma, as leis da hereditariedade, os</p><p>polimorfi smos genéticos e o DNA mitocondrial. Ainda, conheceremos o projeto</p><p>Genoma Humano e o que ele proporcionou à sociedade. A partir do entendimento</p><p>destes conceitos, poderemos avaliar o potencial das ferramentas da Genética e</p><p>Biologia Molecular na área forense.</p><p>10</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>2 FUNDAMENTOS BÁSICOS DE</p><p>GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR</p><p>Nesta seção, vamos relembrar alguns conceitos de Genética e Biologia</p><p>Molecular importantes para a compreensão da análise forense por DNA.</p><p>Abordaremos tópicos como a estrutura do DNA e do genoma e quais regiões do</p><p>DNA permitem traçar o perfi l genético que identifi ca uma pessoa.</p><p>2.1 ESTRUTURA DO DNA E DO</p><p>GENOMA</p><p>Popularmente, o DNA tem sido chamado de o “código de barras da vida”. De</p><p>fato, apesar da molécula de DNA ser construída com os mesmos componentes,</p><p>cada pessoa ou organismo vai gerar um “código de barras” ou um perfi l diferente</p><p>ao ser analisado em nível molecular.</p><p>O DNA, ou ácido desoxirribonucleico, é formado por duas longas cadeias de</p><p>nucleotídeos, retorcidas em forma de dupla hélice. Os nucleotídeos são formados</p><p>por três elementos: o grupo fosfato (-PO4), um açúcar (chamado desoxirribose)</p><p>e uma base nitrogenada. A base nitrogenada pode ser adenina (A), guanina (G),</p><p>citosina (C) ou timina (T) e consistem nas “famosas letras” do DNA (A, G, C, T)</p><p>(Figuras 1 e 2).</p><p>FIGURA 1 – OS NUCLEOTÍDEOS SÃO OS “BLOCOS DE</p><p>CONSTRUÇÃO”</p><p>biológicas tem sido analisada</p><p>geneticamente para fi ns forenses, no entanto, as amostras recolhidas nas</p><p>50</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>cenas de crime, muitas vezes, encontram-se degradadas, contêm inibidores</p><p>ou foram sujeitas a condições ambientais adversas que alteram a estrutura do</p><p>DNA, diminuindo, assim, a sua qualidade e, consequentemente, reduzindo as</p><p>chances de sucesso da análise genética. Deste modo, a capacidade de coletar</p><p>apropriadamente, acondicionar, analisar e preservar as amostras biológicas é</p><p>crucial para a manutenção da sua integridade.</p><p>Silva (2014) nos chama atenção para a correta distinção entre os termos</p><p>“vestígio”, “evidência” e “indício”, pois apesar das diferenças entre eles, é comum</p><p>a utilização destas palavras como sinônimas. De acordo com Espíndula (2006) os</p><p>termos são defi nidos assim:</p><p>• Vestígio é todo objeto ou material bruto encontrado e/ou</p><p>recolhido no local do crime para ser analisado.</p><p>• Evidência é o vestígio depois de feitas as análises, onde se</p><p>constata cientifi camente a sua relação com o crime.</p><p>• Indício é uma expressão utilizada no meio jurídico, que</p><p>signifi ca cada uma das informações (periciais ou não) relacionadas</p><p>com o crime.</p><p>No Código de Processo Penal, Artigo 239, o indício é defi nido como:</p><p>“circunstância conhecida e provada, que, tem relação com o fato, autorize, por</p><p>indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”.</p><p>Os vestígios podem ser classifi cados da seguinte maneira (SILVEIRA, 2017):</p><p>1. De acordo com a sua relação com o fato:</p><p>• Ilusórios: estão presentes desde o início das investigações, demandam</p><p>muito tempo de análise, porém, no fi m, não apresentam relação com o</p><p>fato.</p><p>• Forjados: aqueles que o autor do crime prepara para desviar a atenção</p><p>dos investigadores.</p><p>• Verdadeiros: aqueles que possuem realmente uma relação com o fato,</p><p>pois são resultados da ação ou omissão do autor e, cuja interpretação</p><p>correta ajuda a elucidar o crime.</p><p>51</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>2. De acordo com a sua relação com o autor:</p><p>• Absolutos: aqueles que permitem estabelecer uma relação direta com o</p><p>autor do crime. Ex.: impressão digital e sangue.</p><p>• Relativos: aqueles que possuem relação identifi cável com o autor do</p><p>crime.</p><p>3. De acordo com a sua origem:</p><p>• Biológicos: materiais de origem biológica como secreções corporais e</p><p>sangue, entre outros.</p><p>• Químicos: resultam de transformações na matéria, como no caso de</p><p>explosões e processamento de drogas.</p><p>• Físicos/Mecânicos: aqueles onde ocorre uma mudança na forma devido</p><p>a forças de corpos rígidos ou maleáveis.</p><p>Como sabemos, o interesse da perícia é encontrar vestígios biológicos</p><p>que permitam estabelecer a identidade do autor do crime. Estes são, portanto,</p><p>nosso objeto de estudo neste capítulo, uma vez que são estes que permitem a</p><p>realização da análise do perfi l genético, pois a partir destas amostras é possível a</p><p>extração do DNA.</p><p>Vários tipos de vestígios biológicos podem ser encontrados nos locais de</p><p>crime (Tabela 1), porém os que são encontrados com maior frequência são</p><p>manchas de sangue e sêmen.</p><p>TABELA 1 – VESTÍGIOS BIOLÓGICOS ENCONTRADOS NOS LOCAIS DE CRIME</p><p>FONTE: Adaptado de Silva (2014, p. 44)</p><p>Tipos de amostras biológicas</p><p>que podem ser encontradas</p><p>no local do crime</p><p>Exemplos de casos onde</p><p>podem ser encontradas essas</p><p>amostras</p><p>Observações</p><p>Sangue.</p><p>Manchas de sangue.</p><p>Sêmen.</p><p>Saliva.</p><p>Urina e fezes.</p><p>Pelos.</p><p>Cabelo.</p><p>Células epiteliais.</p><p>Homicídio.</p><p>Crimes violentos.</p><p>Violação.</p><p>Tráfi co de pessoas.</p><p>Exploração sexual.</p><p>Pode haver riscos associados às</p><p>amostras.</p><p>São de fácil contaminação.</p><p>São de fácil degradação.</p><p>52</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Outros tipos de vestígios biológicos analisados são: dentes, ossos, unhas e</p><p>impressões digitais. Podem ser coletados como vestígios presentes no local do</p><p>crime que está sendo investigado, como de restos mortais e de cadáveres. Em</p><p>casos extraordinários também pode ser encontrado material de placenta.</p><p>2.1.1 Sangue</p><p>O sangue é a massa líquida contida no aparelho circulatório, que a mantém</p><p>em movimento regular e unidirecional devido às contrações rítmicas do coração</p><p>(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 1999). É formado pelas células sanguíneas e pelo</p><p>plasma.</p><p>A partir do sangue podem ser retiradas informações como: o grupo</p><p>sanguíneo, o teor de álcool, a presença de drogas ilícitas, a origem (humana ou</p><p>de outra espécie), o sentido da agressão (pela forma da gota de sangue). Além</p><p>disso, é possível efetuar análises toxicológicas e obter o DNA.</p><p>Em um crime violento, o sangue geralmente é de fácil identifi cação e está</p><p>em abundância. Em casos onde ele não está tão visível, faz-se o uso de testes</p><p>presuntivos (ou testes de orientação) para apontar a presença ou ausência de</p><p>sangue em determinado local, além da dinâmica do crime. Neste caso, são</p><p>utilizados testes que têm como princípio reações de oxidação que podem detectar</p><p>a presença de sangue através de cor ou luminescência. O mais conhecido deles</p><p>faz uso de uma substância chamada luminol. O reagente luminescente reage</p><p>com o grupo heme da hemoglobina e, após ocorrer reação oxidativa, produz</p><p>luminescência que é observada por olhos desarmados em ambiente escuro</p><p>(FILHO; FRANCEZ, 2018). Também pode ser usada a reação das oxidases,</p><p>onde a água oxigenada vai produzir uma efervescência sobre a mancha quando</p><p>positivo para a presença de sangue. Nas imagens a seguir, podemos verifi car</p><p>vestígios de sangue no local no crime, na arma utilizada e na roupa. Também a</p><p>cena do crime onde foi aplicado o teste do luminol para detectar a presença de</p><p>sangue, neste caso, a banheira.</p><p>53</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>FIGURA 24 – VESTÍGIOS DE SANGUE NO LOCAL DO</p><p>CRIME, NA ARMA UTILIZADA E NA ROUPA</p><p>FONTE: Lobato (2014, p. 30 e 33)</p><p>2.1.2 SÊmen</p><p>O sêmen é a suspensão de espermatozoides contida no líquido seminal.</p><p>Antes de secar, o esperma tem odor alcalino muito característico e contém</p><p>milhões de espermatozoides. Depois de seco, a mancha perde o seu odor, os</p><p>espermatozoides morrem, adquire uma coloração branco-acinzentada e por vezes</p><p>amarelada, dando aos tecidos um efeito engomado (ABRAHÃO, 2014).</p><p>Os crimes sexuais têm uma alta incidência no Brasil. Geralmente o sêmen é</p><p>encontrado seco, aderido em roupas de cama e peças íntimas e, na forma líquida,</p><p>em preservativos e na vítima.</p><p>Na maioria dos casos, a amostra que será examinada é a secreção vaginal</p><p>da vítima, colhida após o crime ter ocorrido. Diferentes materiais podem ser</p><p>submetidos à análise: swab vaginal, anal, bucal, roupas e vários tipos de objetos</p><p>(ABRAHÃO, 2014). No entanto, também pode haver sêmen em peças de vestuário</p><p>da vítima ou do agressor ou, ainda, no local onde ocorreu a violação, tanto em</p><p>suportes porosos como não porosos.</p><p>Podem ser feitos testes de coloração (reações de Florence, Barbério, Corin-</p><p>Stockis) e dosagem de PSA (Antígeno Prostático Específi co) para indicar a</p><p>presença de esperma, porém, somente com a visualização dos espermatozoides</p><p>usando microscópio afi rmamos, com certeza, se tratar de uma amostra de sêmen.</p><p>Para visualização dos espermatozoides geralmente usa-se a técnica de coloração</p><p>denominada Christmas Tree (em referência à árvore de Natal), onde as cabeças</p><p>dos espermatozoides fi cam coradas em vermelho e as células epiteliais em verde.</p><p>54</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>A Figura 25, mostra a fotomicrografi a com amostra de sêmen, onde temos as</p><p>células epiteliais e entre elas os espermatozoides (indicados pela seta).</p><p>FIGURA 25 – FOTOMICROGRAFIA COM AMOSTRA DE SÊMEN</p><p>FONTE: Andrade (2016, p. 130)</p><p>Assim como o sangue, o sêmen também permite que outras análises</p><p>possam ser feitas: se a ejaculação foi interna ou externa, origem humana ou não</p><p>humana, análise toxicológica para detecção de drogas (SILVA, 2014). A seguir,</p><p>as fotos mostram a pesquisa de sêmen em amostra de roupa e em preservativo</p><p>encontrado no local do crime.</p><p>FIGURA 26 – PESQUISA DE SÊMEN EM AMOSTRA DE ROUPA E EM</p><p>PRESERVATIVO (a) E (b). FOTOMICROGRAFIA DE ESPERMATOZOIDE (c)</p><p>FONTE: (a) e (b) Lobato (2014, p. 64 e 67); (c) <https://www.</p><p>nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2018/02/cauda-do-espermatozoide-</p><p>tem-formato-surpreendente-visto-so-agora>. Acesso em: 1º dez. 2018.</p><p>55</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>Procure conhecer mais sobre os métodos de coloração dos</p><p>espermatozoides: Florence, Barbério e Corin-Stockis. Se o seu</p><p>interesse é prestar concursos, é comum haver uma questão sobre</p><p>isso na prova.</p><p>2.1.3 SaliVa</p><p>A saliva é um fl uido orgânico aquoso, que lubrifi ca os movimentos da língua</p><p>e lábios durante o ato de falar e umedece as túnicas mucosas e o esôfago, sendo</p><p>secretado pelas glândulas parótidas, submandibular e sublingual em menos</p><p>quantidade por pequenas glândulas na boca (GUYTON, 2008). Esse vestígio</p><p>pode ser encontrado em superfícies como selos, copos, envelopes, pontas de</p><p>cigarro, garrafas, pastilhas elásticas, talheres, lenços, e é ainda detectável no</p><p>corpo humano por meio de marcas de mordedura devido à saliva depositada</p><p>na epiderme. As amostras mais frequentes nas cenas de crime são as pontas</p><p>de cigarros. A saliva é útil para identifi cação, pois possui células epiteliais da</p><p>cavidade bucal.</p><p>A detecção das manchas de saliva pode ser feita com técnica simples de</p><p>screening, induzindo a fl uorescência através da incidência de luz de espetros</p><p>diferentes (luz branca, luz ultravioleta e laser). Esse método dá um feedback</p><p>imediato ao perito no ato da investigação do crime. A presença de saliva pode ser</p><p>confi rmada em laboratório por espectroscopia de fl uorescência ou imunoabsorção</p><p>enzimática, analisando a amilase (SILVA, 2014). O kit comercial RSID™ Saliva Kit</p><p>(Independent Forensics) é um desses testes que detectam a amilase e promete</p><p>resultado em apenas 10 minutos.</p><p>FIGURA 27 – CÉLULAS EPITELIAIS QUE PODEM SER ENCONTRADAS NA SALIVA</p><p>FONTE: Lobato (2014, p. 82)</p><p>56</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>2.1.4 Urina e FeZes</p><p>A urina é resultante da fi ltração do sangue pelos rins e é constituída de água</p><p>e solutos. Assim como a saliva, é importante como evidência, pois contém células</p><p>epiteliais; sendo estas provenientes das vias urinárias. A maior importância</p><p>da análise desse vestígio está relacionada aos crimes de agressão sexual e</p><p>infanticídio (SOUZA; QUEIROS, 2012).</p><p>As fezes são formadas por resíduos da digestão, bactérias, células do</p><p>revestimento do trato gastrintestinal e materiais que não foram absorvidos pelo</p><p>organismo. Assim como a urina, em sua composição há bactérias e outros</p><p>agentes contaminantes que tornam a extração de DNA, e a posterior análise</p><p>do perfi l genético, difícil de ser realizada. Somente em casos onde houver uma</p><p>possibilidade de resultado signifi cativo como, por exemplo, em material fecal com</p><p>sangue, este será coletado e analisado.</p><p>2.1.5 Pelos e caBelos</p><p>Os pelos e cabelos são constituídos por queratina, pequenas quantidades de</p><p>metais e melanina. O bulbo do cabelo ou do pelo é irrigado por sangue, sendo,</p><p>portanto, a região de maior probabilidade de obtenção de DNA nuclear. A partir do</p><p>cabelo sem o bulbo pode-se extrair o DNA mitocondrial. Esses vestígios podem</p><p>aparecer em peças de roupas, nas mãos da vítima, ou ainda espalhadas pela cena</p><p>do crime. Como podem ser confundidos com os das demais pessoas da equipe de</p><p>investigação, devem ser recolhidos e acondicionados com muita precaução. Além</p><p>da extração do DNA, os pelos e cabelos ajudam a levantar informações sobre a</p><p>origem (humana ou não humana), da etnia do indivíduo, da idade, do consumo de</p><p>drogas e a presença de explosivos ou substâncias tóxicas (SILVA, 2014).</p><p>Na Figura 28, à direita temos haste de cabelo mostrando o bulbo (onde</p><p>fi cam as células que foram coradas com hematoxilina e eosina); à esquerda,</p><p>comparação dos fi os de cabelo de indivíduos asiáticos, caucasianos e africanos. A</p><p>seguir, comparação de pelos entre as espécies.</p><p>57</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>FIGURA 28 – (a) HASTE DE CABELO/PELO; (b) DIFERENÇAS</p><p>ENTRE OS INDIVÍDUOS; (c) E ENTRE ESPÉCIES</p><p>FONTE: (a) Goodwin (2007, p.19); (b) Ji et al. (2013, p. 56); (c) Lobato (2014, p. 98).</p><p>2.1.6 Células EPiteliais</p><p>Uma vez que a pele é o maior órgão do corpo humano e o contato com</p><p>qualquer superfície pode causar aderência, vestígios dermopapilares podem ser</p><p>detectados e podem ajudar na resolução dos casos investigados. Estes vestígios</p><p>podem ser produzidos pelas pontas dos dedos (origem datiloscópica), palmas das</p><p>mãos (quiroscópica) ou plantas dos pés (pelmatoscópica).</p><p>58</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>2.1.7 Ossos e dentes</p><p>Tanto os ossos quanto os dentes são formados por um tecido vivo, com</p><p>células e material extracelular endurecido e são considerados importantes fontes</p><p>de DNA para análise genética. Nos ossos longos, o DNA é extraído da medula</p><p>óssea e nos dentes, principalmente os molares, o DNA pode ser obtido a partir da</p><p>polpa dentária. Em casos onde há muita degradação no material coletado, pode</p><p>ser feita análise do DNA mitocondrial a partir de pequenos fragmentos dos ossos</p><p>(SOUZA; QUEIROS, 2012).</p><p>Os dentes são importantes em investigações forenses, pois são os mais</p><p>preservados ao longo do tempo após a morte do indivíduo. Os dentes resistem ao</p><p>processo natural de putrefação, calor, traumatismos e à ação de certos agentes</p><p>químicos (SILVA, 2014). Desta maneira, são importantes vestígios em casos de</p><p>incêndio, catástrofes com vários mortos, acidentes aéreos, afogamentos, corpos</p><p>em elevado estado de putrefação, entre outros. A análise dos dentes permite</p><p>também determinar o sexo, a idade e origem étnica do indivíduo.</p><p>Os ossos, além de serem grande fonte de DNA para traçar o perfi l genético</p><p>do investigado, também permitem fazer distinção do sexo, idade, altura,</p><p>ancestralidade, doenças, alterações biológicas e marcas de estresse ocupacional</p><p>que ocorreram ao longo da vida da pessoa.</p><p>2.1.8 UnHas</p><p>As unhas são avaliadas em casos onde há desconfi ança de luta corporal</p><p>entre o autor do crime e a vítima e, portanto, existe a possibilidade de alguma</p><p>amostra biológica (geralmente pele) do agressor estar armazenada sob a unha.</p><p>2.1.9 Placenta</p><p>A análise da placenta geralmente é relacionada com o crime de aborto e</p><p>é utilizada para identifi cação materna. Entretanto, por estar normalmente</p><p>em avançado estado de degradação, a análise da amostra é prejudicada e,</p><p>consequentemente, a identifi cação da mãe. Outro fator que complica esta análise</p><p>é a falta de uma amostra de referência para que seja feita a comparação (SOUZA;</p><p>QUEIROS, 2012).</p><p>59</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>2.1.10 Restos mortais</p><p>Traçar um perfi l genético a partir de restos mortais é possível, mas depende</p><p>do estado de preservação do material a ser analisado. O tempo decorrido após a</p><p>morte, a umidade e a temperatura são fatores que interferem bastante no estado</p><p>na preservação do cadáver. Geralmente a amostra estudada é de osso, músculo,</p><p>dentes ou cabelos (SILVA, 2014).</p><p>Caro aluno, se tiver a oportunidade, consulte o livro de Albere</p><p>Espindula “Perícia Criminal e Cível”. Vale a pena também visitar o</p><p>site do autor: http://www.espindula.com.br/index.php.</p><p>Consulte também o livro texto de nossa bibliografi a Introdução</p><p>à Biologia Forense caso você precise se aprofundar em outras áreas</p><p>do estudo das ciências forenses. O foco da nossa disciplina é a</p><p>Genética aplicada à ciência forense.</p><p>3 ACONDICIONAMENTO DOS</p><p>VESTÍGIOS BIOLÓGICOS</p><p>A coleta e a conservação dos vestígios biológicos são de extrema importância</p><p>na investigação do crime ou em outra situação onde será traçado o perfi l genético</p><p>de um indivíduo. Para isso, procedimentos operacionais padrões (POPs) foram</p><p>estabelecidos e devem ser seguidos.</p><p>Neste sentido, em 2012, o Ministério da Justiça</p><p>lançou o programa Brasil</p><p>Mais Seguro, com a fi nalidade de, entre outros, padronizar os POPs relacionados</p><p>às principais atividades periciais necessárias ao esclarecimento de crimes. Assim,</p><p>a Secretaria Nacional de Segurança Pública lançou uma publicação descrevendo</p><p>estes procedimentos.</p><p>60</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>3.1 ISOLAMENTO DO LOCAL DO</p><p>CRIME</p><p>A preservação do local do crime deve iniciar logo após o incidente ser</p><p>descoberto e denunciado às autoridades competentes. As preocupações quanto à</p><p>proteção do local encerram somente quando o processo de exame pericial estiver</p><p>concluído e o local for liberado.</p><p>Para Mallmith (2007), o local do crime é um verdadeiro caldeirão, onde estão</p><p>os mais diversos sujeitos, com os mais diversos desejos, sentimentos, vaidades</p><p>e envoltos aos vestígios deixados pelo crime, contudo, estes são imperceptíveis</p><p>àqueles que não são treinados em desvendá-los. Podemos observar o que</p><p>Mallmith (2007) descreve diariamente nos telejornais quando são mostradas</p><p>reportagens de crimes graves. Além dos peritos e dos outros profi ssionais que</p><p>estão trabalhando no local do crime, sempre haverá os curiosos, parentes da</p><p>vítima e a imprensa, assim como mostra a Figura 29.</p><p>FIGURA 29 – EXEMPLO DE LOCAL DE CRIME</p><p>FONTE: Lobato (2014, p. 9)</p><p>Para Rabello (1996, p. 32), o local do crime é defi nido como:</p><p>A porção do espaço compreendido num raio que,</p><p>tendo por origem o ponto no qual é constatado o fato,</p><p>se estenda de modo a abranger todos os lugares em</p><p>que, aparente necessária ou presumivelmente, haja</p><p>sido praticado, pelo criminoso, ou criminosos, os atos</p><p>61</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>materiais, preliminares ou posteriores, à consumação do</p><p>delito, e com este diretamente relacionado.</p><p>O isolamento do local do crime é de suma importância para evitar que o</p><p>lugar seja violado. Para que isso seja garantido, a Lei n° 8.862 foi sancionada</p><p>em 1994 para obrigar a autoridade policial à iniciativa de resguardar os vestígios</p><p>conforme foram produzidos durante a ocorrência do crime, o que signifi ca que</p><p>cabe à autoridade policial que chegar primeiro no local a responsabilidade de</p><p>isolar e preservar o local do crime, até a chegada dos profi ssionais responsáveis</p><p>pela perícia, sendo passível de punição, caso a autoridade policial desrespeite</p><p>a lei (SOUZA; QUEIROS, 2012). A delimitação da área a ser preservada é</p><p>uma atividade complexa e os limites do local podem mudar de acordo com o</p><p>prosseguimento da análise da área.</p><p>Do começo ao fi m dos exames periciais do local de crime, é importante a</p><p>aplicação de medidas rígidas para evitar contaminações. Elas incluem (NAÇÕES</p><p>UNIDAS, 2010):</p><p>• Usar peças de vestuário protetoras. Ex.: luvas e capas para calçados.</p><p>• Empregar um único caminho ao adentrar no local. Isso também é válido</p><p>para o pessoal médico no atendimento à vítima.</p><p>• Evitar o uso de quaisquer recursos disponíveis no local. Ex.: banheiro,</p><p>água, toalhas, telefone.</p><p>• Não comer, beber ou fumar.</p><p>• Evitar mover algo ou alguém, a menos que seja absolutamente</p><p>necessário. Se algo ou alguém for movido, a localização inicial deve</p><p>estar cuidadosamente documentada.</p><p>3.2 DOCUMENTAÇÃO DO LOCAL</p><p>DO CRIME E DOS VESTÍGIOS</p><p>BIOLÓGICOS</p><p>O primeiro profi ssional a chegar ao local do crime já deve começar a</p><p>documentação. Para isso podem ser utilizados fotografi as, vídeos, anotações,</p><p>desenhos e medições. O local é, portanto, registrado como foi encontrado pela</p><p>primeira vez. É importante documentar o horário de chegada, as condições das</p><p>portas, janelas, odores, sinais de atividades. Qualquer pessoa que entre ou deixe</p><p>o local também deve ser registrada. Antes de começar a coleta dos vestígios</p><p>biológicos encontrados, ele é documentado detalhadamente e, após, etiquetado</p><p>individualmente.</p><p>62</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Na imagem a seguir podemos observar a fotodocumentação dos vestígios</p><p>no local do crime. Os vestígios são numerados e fotografados antes de serem</p><p>coletados. À direita, o vestígio em questão (1) foi fotografado a distância para</p><p>mostrar o contexto da cena do crime. À esquerda, foi fotografado em detalhe.</p><p>FIGURA 30 - FOTODOCUMENTAÇÃO DOS VESTÍGIOS NO LOCAL DO CRIME</p><p>FONTE: Lobato (2014, p. 10)</p><p>FIGURA 31 – MODELO DE ETIQUETA PARA DOCUMENTAÇÃO DOS</p><p>VESTÍGIOS UTILIZADO NO INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA DE CURITIBA</p><p>FONTE: Kobachuk (2015) apud Silveira (2017, p. 12)</p><p>A documentação tem por objetivo produzir um registro claro e</p><p>permanente da cena do crime, das evidências materiais e de quaisquer</p><p>alterações que ocorram. É também o ponto de partida para a cadeia de</p><p>custódia.</p><p>A documentação</p><p>tem por objetivo</p><p>produzir um registro</p><p>claro e permanente</p><p>da cena do crime,</p><p>das evidências</p><p>materiais e de</p><p>quaisquer alterações</p><p>que ocorram. É</p><p>também o ponto</p><p>de partida para a</p><p>cadeia de custódia.</p><p>63</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>3.3 COLETA, TRANSPORTE E</p><p>PRESERVAÇÃO DOS VESTÍGIOS</p><p>BIOLÓGICOS - CUIDADOS</p><p>PARA EVITAR DEGRADAÇÃO E</p><p>CONTAMINAÇÃO</p><p>Com base nas primeiras observações e levando em consideração o</p><p>contexto do caso, os cenários possíveis, a natureza do incidente, bem como as</p><p>características das superfícies que podem conter potenciais evidências materiais,</p><p>o perito pode traçar uma estratégia de pesquisa do local do crime. Isso inclui a</p><p>pesquisa a olho nu e com lentes de aumento e lanternas, por exemplo. Testes</p><p>preliminares também podem ser realizados para detectar elementos materiais,</p><p>como, por exemplo, o uso de pó para ressaltar impressões papilares no local de</p><p>crime ou o uso de produtos químicos para visualizar traços de sangue.</p><p>Uma vez que a evidência é reconhecida, são utilizados métodos apropriados</p><p>de coleta (por exemplo: fi tas adesivas, pinças, cotonetes) e de acondicionamento</p><p>adequado (por exemplo: sacos ou caixas de coleta, invólucros ou embalagens</p><p>para objetos cortantes etc.). Cada evidência material é etiquetada e lacrada</p><p>seguindo os POPs locais.</p><p>O transporte para o laboratório, anteriormente à análise dos vestígios</p><p>biológicos coletados, é um passo fundamental. Condições adequadas, como,</p><p>por exemplo, um local fresco e seco, munido de sistema de segurança e com</p><p>controle de acesso são características essenciais de condições de transporte</p><p>e armazenamento. Os custos, a distância percorrida, a duração e eventual</p><p>incompatibilidade entre algumas amostras biológicas e alguns meios de transporte</p><p>são aspectos a serem considerados na escolha da forma de transferência e</p><p>armazenagem das evidências.</p><p>É importante considerar o tempo entre o exame da cena do crime e a análise</p><p>laboratorial dos vestígios biológicos. De acordo com Kobachuk (2015) apud</p><p>Silveira (2017), este período pode defi nir o sucesso na positivação do autor do</p><p>crime. Segundo a autora, para amostras coletadas nas primeiras 24 horas, há</p><p>chance de 60% de positivação. Já quando a coleta ocorre entre 24 e 48 horas,</p><p>esse número cai para 11%.</p><p>Cada vestígio biológico possui uma metodologia diferenciada para que a sua</p><p>coleta seja realizada de forma efi ciente e sem contaminantes.</p><p>64</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>As amostras de material biológico devem ser minuciosamente colhidas, seja</p><p>quando dispostas na cena do crime ou quando forem de indivíduos devidamente</p><p>identifi cados. É importante que todas as pessoas que manipulam as amostras</p><p>tenham conhecimentos específi cos baseados na literatura especializada e ainda</p><p>possuam treinamento em boas práticas de manipulação em laboratórios forenses</p><p>com rígida formação em controle de qualidade (SILVA; PASSOS, 2006).</p><p>As amostras que não estiverem adequadamente identifi cadas</p><p>e documentadas podem ser questionadas; aquelas que não</p><p>forem corretamente coletadas são passíveis de não serem</p><p>analisadas; outras, se não forem devidamente acondicionadas,</p><p>pode sofrer contaminação e se, não forem criteriosamente</p><p>preservadas, pode ocorrer decomposição e deterioração</p><p>(NASCIMENTO, 2017, p. 10).</p><p>Lembre-se sempre de consultar a publicação da Secretaria Nacional de</p><p>Segurança Pública sobre os POPs que devem ser seguidos no Brasil. As coletas</p><p>dos vestígios mais encontrados nas cenas de crime serão discutidas a seguir.</p><p>3.3.1 Coleta de sangue</p><p>O sangue pode ser encontrado na forma líquida, coagulada, úmida ou seca.</p><p>A coleta dependerá de sua forma e localização. É importante sempre coletá-lo</p><p>com material estéril e descartável.</p><p>Os meios mais utilizados para a coleta do sangue são o swab, seringas e</p><p>pipetas e, o que é levado em consideração para a escolha do melhor método é a</p><p>localização e forma da amostra (SOUZA; QUEIROS, 2012).</p><p>Quando líquido, o sangue é coletado com uma seringa ou pipeta e transferido</p><p>para tubos contendo anticoagulante. Se coletado com swab, o sangue deve ser</p><p>seco antes do armazenamento para evitar proliferação de microrganismos. A</p><p>secagem é feita em temperatura ambiente, diz que é seca somente pelo fato de</p><p>o sangue não estar mais líquido. Depois que a amostra estiver seca, deve ser</p><p>armazenada em envelopes, vidros ou sacos plásticos em refrigeração.</p><p>Os cartões FTA® também são uma boa alternativa para coleta e</p><p>armazenamento de sangue, que pode ser feita em temperatura ambiente. Estes</p><p>cartões contêm produtos químicos que lisam células, desnaturam proteínas e</p><p>protegem os ácidos nucleicos da ação da enzima nuclease, da oxidação e dos</p><p>danos provocados pelos UV. Os cartões inativam rapidamente organismos,</p><p>incluindo agentes patogênicos transportados no sangue, e impedem o crescimento</p><p>de bactérias e outros microrganismos (informações dadas pelo distribuidor GE</p><p>Healthcare).</p><p>65</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>FIGURA 32 – PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE SANGUE</p><p>FONTE: (a) <https://pt.vwr.com/store/product/565085/cartoes-fta-</p><p>whatman>. Acesso em: 8 dez. 2018; (b) Lobato (2014, p. 47)</p><p>Quando a amostra de sangue estiver seca, deve ser coletada com swab</p><p>umedecido com água destilada estéril e feita a raspagem com lâmina, canivete ou</p><p>espátula.</p><p>No caso de roupas com manchas de sangue, estas devem ser transportadas</p><p>para o laboratório em sacos de papel pardo e a coleta da amostra é feita com</p><p>swab e raspagem do local.</p><p>66</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>3.3.2 Coleta do sÊmen</p><p>O sêmen geralmente é encontrado em forma seca nas peças de roupa ou</p><p>ainda, líquido nos preservativos.</p><p>No caso dos preservativos, eles devem ter a sua ponta amarrada para evitar</p><p>perda da amostra e então, colocado em recipiente que evite o vazamento até</p><p>o armazenamento em freezer. Se a amostra não estiver dentro do preservativo,</p><p>a coleta é feita com auxílio da pipeta, seringa ou swab. Geralmente, há grande</p><p>chance de se encontrar material biológico da vítima neste vestígio.</p><p>Quando o sêmen já está na forma seca em peças de roupas, estas são</p><p>encaminhadas ao laboratório ou ainda, em casos onde não é possível fazer o</p><p>transporte, usa-se swab ou gaze umedecida com água destilada estéril para</p><p>realizar a coleta.</p><p>FIGURA 33 – PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE SÊMEN</p><p>FONTE: Lobato (2014, p. 78)</p><p>3.3.3 Coleta de saliVa</p><p>A saliva quando seca deve ser coletada com swab ou gaze umedecida em</p><p>água destilada estéril e, após seco, o material deve ser armazenado em envelope</p><p>ou caixa de papel para o transporte em temperatura ambiente.</p><p>No caso onde a saliva encontra-se em objetos como pontas de cigarro,</p><p>talheres, copos, envelopes, guardanapos, este deve ser coletado com pinça ou</p><p>luvas e acondicionado em envelope de papel vegetal.</p><p>67</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>Em coletas de material para teste de paternidade, por exemplo, é utilizado o</p><p>swab para coleta das células da mucosa oral.</p><p>Além desses procedimentos, pode-se usar o tubo apropriado para coleta de</p><p>saliva, chamado comercialmente de Salivette®. Após centrifugação do tubo, a</p><p>amostra pode ser preparada para extração de DNA.</p><p>Na Figura 34 é possível observar os procedimentos para a coleta de saliva.</p><p>À direita (acima) usa-se o swab em aparente mordida na vítima e à esquerda</p><p>(acima), usa-se o swab para coleta de células da mucosa oral, onde deve-se</p><p>raspar levemente a região da bochecha. A seguir, temos um passo a passo de</p><p>como o Salivette® deve ser utilizado para coletar a saliva.</p><p>FIGURA 34 – PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE SALIVA</p><p>FONTE: (a) Lobato (2014, p. 79); (b) Brasil (2013, p. 57); (c) <http://cial-paulinia.</p><p>com.br/wp-content/uploads/2017/03/Salivette-III.jpg>. Acesso em: 8 mar. 2019.</p><p>68</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>3.3.4 Coleta de Pelos e caBelos</p><p>Com uma pinça (descartável ou estéril) ou uma luva, os pelos e/ou cabelos</p><p>devem ser transferidos para uma folha de papel, dobrando para evitar a perda</p><p>e, em seguida, coloca-se em um envelope devidamente identifi cado. Nos casos</p><p>onde o vestígio esteja aderido a tecidos orgânicos coleta-se a amostra por inteiro.</p><p>Os cabelos e pelos sem origem aparente comum devem ser coletados e</p><p>acondicionados separadamente, trocando-se a pinça ou luva a cada nova coleta.</p><p>No caso de coleta em cadáveres com suspeita de agressão sexual, onde</p><p>há evidência de pelos morfologicamente diferentes daqueles da vítima, pode-se</p><p>passar um pente fi no na região pubiana para facilitar a coleta de pelo e outros</p><p>vestígios biológicos.</p><p>Na Figura 35, podemos observar uma vestimenta coletada e armazenada</p><p>para pesquisa de pelos e/ou cabelos. Nota-se que foi acondicionado separado</p><p>dos outros e com a devida identifi cação.</p><p>FIGURA 35 – ARMAZENAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE</p><p>VESTIMENTA PARA PESQUISA DE PELOS E/OU CABELOS</p><p>FONTE: Lobato (2014, p. 101)</p><p>3.3.5 Coleta de material Presente</p><p>nas unHas (suBungueal)</p><p>Como dito anteriormente, o objetivo deste tipo de coleta é conseguir o</p><p>máximo de células do agressor, presumindo-se que houve luta entre o agressor e</p><p>a vítima durante o fato que está sendo investigado.</p><p>69</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>Caso a vítima tenha unhas curtas, a amostra do agressor fi cará acumulada</p><p>nas pontas dos dedos e em cima das unhas. Para isso, o melhor método de coleta</p><p>é utilizar um swab umedecido em água destilada estéril.</p><p>Quando a vítima possui unhas longas, a amostra do agressor pode ser</p><p>removida com objeto pontiagudo (como palito de dente) e armazenada em</p><p>envelope de papel. O uso de swab umedecido também pode ser feito (FILHO;</p><p>FRANCEZ, 2018).</p><p>FIGURA 36 – COLETA DE MATERIAL SUBUNGUEAL</p><p>FONTE: Filho e Francez (2018, p. 402)</p><p>3.3.6 ArmaZenamento dos VestÍgios</p><p>BiolÓgicos Para Posterior análise</p><p>genética</p><p>Os vestígios biológicos que foram coletados para análise de DNA devem ser</p><p>armazenados em condições que diminuam a degradação do DNA, ou seja, em</p><p>baixa temperatura e umidade. Isso limita a ação de bactérias e fungos que podem</p><p>degradar a amostra.</p><p>As condições de conservação dependem da natureza das amostras</p><p>(GOODWIN, 2007):</p><p>• Swabs bucais e aqueles usados na cena do crime para coleta de</p><p>amostras podem ser armazenados sob-refrigeração por períodos curtos;</p><p>para períodos mais longos, podem ser armazenados a -20°C.</p><p>• Amostras de sangue são estocadas em freezer a -20°C e -70°C.</p><p>• Amostras de sangue e saliva coletadas em cartão FTA® podem ser</p><p>70</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>conservadas em temperatura ambiente.</p><p>• Roupas devem ser conservadas em ambiente fresco e seco, em sacolas</p><p>ou envelopes de papel livre de ácido e não em sacolas plásticas.</p><p>• Uma vez que o DNA foi extraído do vestígio biológico de interesse, deve</p><p>ser mantido em temperatura de -20°C e -70°C por longos períodos.</p><p>3.3.7 Contaminação dos VestÍgios</p><p>BiolÓgicos Que aFetam a eXtração de</p><p>DNA</p><p>A contaminação do vestígio biológico pode ocorrer durante os procedimentos</p><p>de coleta e preservação por:</p><p>• Produtos químicos (formol, substâncias cáusticas, água oxigenada,</p><p>tinturas) que interferem na replicação da molécula de DNA, tornando os</p><p>resultados inconclusivos ou inválidos.</p><p>• Contaminações provocadas por microrganismos (bactérias e fungos) que</p><p>geralmente ocorrem na cena do crime antes mesmo da coleta, ou depois,</p><p>pois as amostras são excelentes ambientes para o desenvolvimento</p><p>de microrganismos. Este tipo de contaminação pode degradar o DNA</p><p>ou interferir no momento da amplifi cação, o que impede a obtenção do</p><p>resultado.</p><p>• Contaminação por DNA estranho: muito comum durante e após a coleta,</p><p>devido à imperícia no manuseio, acondicionamento, armazenamento</p><p>e análise de vários vestígios juntos. O resultado do perfi l obtido será</p><p>questionado e, consequentemente, invalidado.</p><p>Portanto, é de extrema importância avaliar quais protocolos devem ser</p><p>empregados em cada tipo de amostra biológica e seguir rigorosamente os POPs</p><p>e normas de conduta laboratorial evitando-se, assim, essas situações (SOUZA;</p><p>QUEIROZ, 2012; SILVEIRA, 2009).</p><p>3.3.8 Biossegurança</p><p>É importante ter em mente que todo vestígio biológico deve ser considerado</p><p>como potencialmente infectante. Portanto, o perito deve sempre usar</p><p>equipamentos de proteção individual adequado à atividade de coleta no local do</p><p>crime.</p><p>71</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>Além disso, todo o material de coleta descartável, que entrou em contato</p><p>com algum vestígio, deve ser temporariamente armazenado em embalagens</p><p>adequadas para posterior descarte de forma apropriada, de acordo com a</p><p>legislação vigente.</p><p>3.3.9 Critérios Para reJeição de</p><p>material coletado</p><p>A seguir temos uma série de características que fazem com que o material</p><p>coletado na cena do crime seja rejeitado para análise laboratorial posterior. Dados</p><p>do Instituto de Criminalística de Curitiba - PR (SILVEIRA, 2017):</p><p>• Material não identifi cado ou com problemas na identifi cação.</p><p>• Ilegível.</p><p>• Discrepante com o documento enviado.</p><p>• Material não acompanhado de documento requisitante.</p><p>• Dados incompletos no documento requisitante (exames, vítima, id</p><p>médico).</p><p>• Requisição médica ilegível ou que possa gerar alguma dúvida.</p><p>• Tubos de ensaio quebrados ou sem tampa.</p><p>• Swabs imersos em tubos com solução salina, gel ou outros materiais</p><p>inadequados.</p><p>• Sangue encaminhado em seringas.</p><p>• Amostras com hemólise acentuada ou volume insufi ciente.</p><p>• Vestes armazenadas em embalagens plásticas.</p><p>72</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 37 – MODELO DE FORMULÁRIO PARA REQUISIÇÃO</p><p>DE EXAMES LABORATORIAIS DOS VESTÍGIOS BIOLÓGICOS</p><p>UTILIZADOS PELA POLÍCIA CIENTÍFICA DO PARANÁ</p><p>FONTE: Kobachuk (2015) apud Silveira (2017, p. 13)</p><p>3.3.10 Resumo dos métodos de</p><p>coleta dos VestÍgios BiolÓgicos</p><p>Como vimos, qualquer vestígio deve ser documentado, recolhido, embalado,</p><p>etiquetado e transferido ao laboratório seguindo determinados POPs.</p><p>73</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>Silva (2014) elenca as diferentes técnicas que podem ser usadas no local do</p><p>crime para a coleta dos vestígios. Vamos relembrar?</p><p>FIGURA 38 – MÉTODOS PARA COLETA DOS VESTÍGIOS BIOLÓGICOS</p><p>FONTE: Adaptado de Silva (2014). Imagens: <https://sp.depositphotos.</p><p>com/134800080/stock-photo-scraping-of-blood-stains-for.</p><p>html>; <https://pixabay.com/>. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>74</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Caro aluno, agora terá uma tarefa prazerosa! Aproveite que</p><p>você está estudando este assunto e assista ao seriado CSI: Crime</p><p>Scene Investigation para observar os métodos de coleta dos vestígios</p><p>biológicos. Veja se os personagens estão procedendo de maneira</p><p>correta ou se há algum erro grotesco mostrado nas cenas. Se você</p><p>for um bom observador, aprenderá bastante e, de forma divertida.</p><p>Mas, lembre-se, a realidade é bem diferente dos seriados e, muitas</p><p>vezes a escassez de recursos fi nanceiros e humanos, além da falta de</p><p>equipamentos afeta as investigações, principalmente em nosso país.</p><p>3.4 CADEIA DE CUSTÓDIA</p><p>A cadeia de custódia dos vestígios é importante para a garantia da</p><p>autenticidade e para a verifi cação da cronologia e rastreabilidade das amostras</p><p>tidas como provas.</p><p>A exigência de documentação permanece durante todo o processo do exame</p><p>pericial forense de local de crime e, posteriormente, até o resultado dos exames</p><p>laboratoriais estarem disponíveis.</p><p>Chasin (2001) defi ne a cadeia de custódia como a documentação que o</p><p>laboratório possui com a intenção de rastrear todas as operações realizadas com</p><p>cada vestígio, desde a coleta no local do crime até a completa destruição.</p><p>A cadeia de custódia é importante para registrar quem teve acesso ou</p><p>realizou o manuseio de um vestígio e/ou evidência. Ela possibilita documentar</p><p>a cronologia das evidências, quem foram os responsáveis por seu manuseio,</p><p>garantir a inviolabilidade do material, lacrar as evidências, e restringir seu acesso.</p><p>Ou seja, refere-se à documentação fotográfi ca e escrita com o propósito de</p><p>rastrear todas as operações realizadas com cada amostra, desde sua coleta até o</p><p>fi nal das análises a que ela foi submetida.</p><p>Anos atrás os profi ssionais da área começaram a observar que mesmo</p><p>que tudo fosse feito adequadamente (com relação à coleta, transporte e</p><p>armazenamento das evidências), a defesa de indiciados começou a recorrer</p><p>contra a validade destas provas (que geralmente são contundentes contra</p><p>um acusado). A defesa buscava avaliar todos os passos que foram realizados</p><p>durante as etapas de obtenção das provas e tentava encontrar alguma falha</p><p>75</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>de procedimento. Caso conseguissem encontrar tais falhas, alegavam, durante</p><p>as etapas do processo penal, que havia incerteza ou falha. Tal fato trouxe uma</p><p>preocupação e impulsionou a criação dos POPs que regem a cadeia de custódia.</p><p>Todos os países possuem leis que defi nem que os vestígios devem</p><p>ser preservados nas mesmas condições em que foram encontrados na</p><p>cena de um crime. Caso as amostras não sejam totalmente coletadas</p><p>e preservadas, perderão o valor probatório para auxiliar na resolução</p><p>de um crime. A preservação da evidência demonstra na corte que ela é</p><p>autêntica.</p><p>Em todos os países há leis que determinam como os vestígios</p><p>biológicos devem ser preservados. Isso garante sua autenticidade</p><p>perante a corte. Para que isso seja garantido, um profi ssional qualifi cado,</p><p>bem treinado e com acesso à tecnologia é de extrema importância.</p><p>O modo como se encontraram os objetos na cena do crime, a</p><p>manipulação e armazenagem, são questionamentos a serem utilizados</p><p>pela defesa, no intuito de enfraquecer as provas produzidas. Com os</p><p>frequentes relatos de corrupção no serviço público, quanto maior a</p><p>transparência nas perícias, melhor a confi abilidade dos julgamentos</p><p>(JUNIOR, 2012).</p><p>Falhas no cumprimento dos POPs existentes podem resultar em uma</p><p>situação em que a evidência material não possa ser utilizada em um processo</p><p>judicial. Assim, é importante que os profi ssionais que trabalham no local de crime</p><p>estejam cientes disso e assegurem o cumprimento das normas.</p><p>A importância do procedimento adequado na cena de crime é a diferença</p><p>entre o sucesso e o fracasso de uma condenação. Por exemplo, o famoso</p><p>julgamento de O. J. Simpson, que ocorreu nos Estados Unidos, em que a defesa</p><p>do réu questionou o modo de coleta e produção da prova incriminatória e persuadiu</p><p>o júri, demonstrando que havia dúvidas sobre a autoria de O. J. Simpson, apesar</p><p>de o perfi l genético dele ter coincidido com o da prova coletada no local do crime.</p><p>Os formulários da cadeia de custódia devem ter espaço sufi ciente para várias</p><p>informações, tais como (CORTE-REAL; VIEIRA, 2015):</p><p>• Nome e assinatura da pessoa que realizou a coleta e das pessoas que</p><p>tiveram acesso aos vestígios biológicos ou outras amostras/objetos</p><p>relacionados ao crime.</p><p>• Data e hora da coleta.</p><p>• Condições de armazenamento até ao seu envio ao laboratório.</p><p>• Informação preliminar da autopsia/necropsia (se aplicável).</p><p>Em todos os</p><p>países há leis</p><p>que determinam</p><p>como os vestígios</p><p>biológicos devem</p><p>ser</p><p>preservados.</p><p>Isso garante sua</p><p>autenticidade</p><p>perante a corte.</p><p>Para que isso</p><p>seja garantido,</p><p>um profi ssional</p><p>qualifi cado, bem</p><p>treinado e com</p><p>acesso à tecnologia</p><p>é de extrema</p><p>importância.</p><p>76</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>• Informação clínica (se relevante).</p><p>• Informação ou dados da inspeção ocular (se relevantes).</p><p>• Documentação adicional sobre a localização dos vestígios biológicos ou</p><p>outras amostras do local do crime ou do corpo da vítima com esquemas,</p><p>desenhos, vídeos etc.</p><p>• Fotografi as dos vestígios biológicos, que devem ser tiradas antes de</p><p>serem recolhidas do local do crime ou do corpo da vítima.</p><p>FIGURA 39 – MODELO DE FORMULÁRIO DE CADEIA DE CUSTÓDIA</p><p>FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/img/2016/11/</p><p>fi gur1.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2018.</p><p>Este assunto é tão relevante que algumas Secretarias de Segurança Pública</p><p>criaram suas regras para a manutenção da cadeia de custódia na coleta, transporte</p><p>e armazenamento de material biológico, como as descritas na publicação já</p><p>mencionada da Secretaria Nacional de Segurança Pública (BRASIL, 2013) sobre</p><p>os POPs. O documento e os POPs são, portanto, uma forma de garantir que a</p><p>cadeia de custódia não seja rompida para que os processos judiciais não sejam</p><p>comprometidos. A Figura 40 resume as etapas do processo de perícia, de acordo</p><p>com Silva e Passos (2006).</p><p>77</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>FIGURA 40 – ETAPAS DO PROCESSO PERICIAL</p><p>FONTE: Adaptado de: Silva e Passos (2006, p. 32). Disponível em: <https://books.</p><p>google.com.br/books?id=YCRW7yj2pjIC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_</p><p>ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 17 mar. 2018.</p><p>4 PERÍCIA BIOLÓGICA</p><p>A perícia biológica tem como o foco principal confi rmar a autoria ou descartar</p><p>o envolvimento do(s) suspeito(s) em circunstâncias de crime. Além disso,</p><p>como já vimos, pode ser aplicada em outras situações, como a investigação de</p><p>paternidade.</p><p>Apesar do estabelecimento dos POPs, como estudamos anteriormente, é</p><p>consenso entre a comunidade científi ca forense que não há normas tão rígidas</p><p>quanto a qual procedimento de coleta do vestígio biológico deverá ser usado.</p><p>Cada situação é única e deve-se observar as particularidades para escolher a</p><p>melhor maneira de se coletar tal amostra (FILHO; FRANCEZ, 2018).</p><p>As evidências recolhidas no local do crime podem associar ou excluir</p><p>determinada pessoa da prática de um ato ilícito, nomeadamente quando há</p><p>78</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>transferência direta de material biológico entre os indivíduos ou para algum objeto</p><p>relacionado (como a arma do crime). Assim, a análise de DNA dos vestígios</p><p>biológicos criminais permite relacionar nomeadamente (CORTE-REAL; VIEIRA,</p><p>2015):</p><p>• O suspeito com a vítima e vice-versa.</p><p>• O suspeito e a vítima com o local do crime.</p><p>• Os objetos que foram utilizados no crime com o local, suspeitos e vítimas.</p><p>Para relacionar os indivíduos suspeitos ao local, crime e vítimas de uma</p><p>investigação, aplica-se o princípio da comparação. Para isso, precisamos</p><p>entender a diferença entre a amostra questionada e a amostra referência:</p><p>• Amostra questionada: todo e qualquer vestígio coletado em</p><p>local de crime e em uma pessoa vitimada contendo material biológico</p><p>humano, por exemplo: sangue, sêmen, saliva, urina, pele, pelo/</p><p>cabelo com bulbo, dentes, ossos, secreções corporais etc.</p><p>• Amostra de referência: amostra biológica coletada</p><p>exclusivamente para estabelecer o vínculo biológico ou o</p><p>confronto genético com a amostra questionada (vestígio). Dentre</p><p>os doadores de referência, os mais frequentes são: a vítima, o</p><p>suspeito e os familiares da vítima. Além da investigação criminal,</p><p>são frequentemente utilizadas também em estudo de parentesco</p><p>biológico, na investigação de pessoas desaparecidas e na</p><p>identifi cação de vítimas de desastre de massa.</p><p>A amostra de referência pode ser de exclusão ou associação. Caso ela</p><p>elimine a possibilidade de determinada pessoa ter participado do crime, ela é de</p><p>exclusão. Caso contrário, ela é de associação.</p><p>Para a coleta de amostra de referência em pessoa viva, devem-se tomar</p><p>basicamente os mesmos cuidados já citados anteriormente ao longo deste</p><p>capítulo, para as amostras questionadas: usar material descartável para a coleta,</p><p>documentar, armazenar e transportar corretamente, de acordo com os POPs</p><p>estabelecidos.</p><p>A realização da coleta de amostras de referência em pessoas vivas deve ser</p><p>79</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>efetuada com o consentimento livre e informado das mesmas, sendo necessária</p><p>a assinatura de um documento que autorize expressamente a utilização da</p><p>amostra recolhida para fi ns de identifi cação genética. Os serviços que procedem</p><p>a coleta das amostras biológicas de referência deverão assegurar a autenticidade</p><p>da identifi cação do examinado, nomeadamente, mediante apresentação do</p><p>documento de identifi cação. Se a coleta da amostra de referência tiver que</p><p>ser realizada em menores de idade, eles devem estar acompanhados dos</p><p>responsáveis e estes deverão assinar o termo de consentimento de doação</p><p>voluntária da amostra biológica. Caso os responsáveis não estiverem disponíveis,</p><p>será representado por um membro do conselho tutelar (FILHO; FRANCEZ, 2018).</p><p>A escolha de qual material será coletado da pessoa depende da rotina e dos</p><p>recursos fi nanceiros de cada laboratório.</p><p>Caso a coleta de amostra de referência tenha que ser feita em cadáver ou em</p><p>restos mortais, é considerada um ato médico e deve ser feita no Instituto Médico</p><p>Legal (IML) com supervisão de um médico legista. É sempre importante que o</p><p>profi ssional prime pela qualidade da amostra e não somente pela quantidade.</p><p>Neste caso, a qualidade da amostra pode ser medida pelo aspecto saudável</p><p>do tecido, ou seja, com coloração mais próxima de quando era vivo. Se houver</p><p>dúvida com relação à qualidade da amostra, coleta-se mais de um tipo de tecido</p><p>para garantir o sucesso das análises posteriores e evitar exumação.</p><p>Geralmente, ainda no caso de exames em cadáveres, são coletados dentes,</p><p>ossos, tecido muscular ou sangue. O sangue é o tecido de escolha sempre que</p><p>possível e deve ser coletado por punção cardíaca. Se a opção é coletar tecido</p><p>muscular, geralmente coleta-se uma parte mais interna de um músculo grande</p><p>(exemplo: quadríceps), pois há chance de este ainda não estar contaminado.</p><p>Se o cadáver estiver carbonizado, coleta-se um fragmento do tecido muscular</p><p>cardíaco. Com relação aos ossos, os mais viáveis para análise genética são o</p><p>fêmur, tíbia e úmero. E, no caso dos dentes, os molares e pré-molares (FILHO;</p><p>FRANCEZ, 2018).</p><p>Outro tipo de amostras de referência que são consideradas são as amostras</p><p>ante-mortem. Geralmente são utilizadas quando ocorrem grandes catástrofes e</p><p>desastres em massa. Quando temos essas situações, há grandes chances das</p><p>vítimas se encontrarem fragmentadas e o uso de amostras ante-mortem permitem</p><p>fazer a associação ou exclusão de restos humanos e de cadáveres. Também</p><p>nas situações em que existam dúvidas ou discrepâncias relativamente a outros</p><p>métodos de identifi cação; permite ainda identifi car outros familiares que possam</p><p>estar desaparecidos.</p><p>As amostras ante-mortem referem-se a objetos de uso pessoal do indivíduo</p><p>quando ainda era vivo, daí sua denominação latina ante-mortem, que signifi ca</p><p>80</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>antes da morte. Tais amostras devem ser recolhidas individualmente, em</p><p>recipientes adaptados ao seu tamanho e, sempre que possível, em embalagens</p><p>de papel ou cartão. Esses objetos são normalmente fáceis de obter, mas contêm,</p><p>muitas vezes, quantidades mínimas de DNA, o que difi culta a sua análise. O</p><p>laboratório de genética forense deverá, portanto, fazer uma seleção dos objetos</p><p>que a princípio permite um maior rendimento na extração de DNA. São exemplos</p><p>desses objetos (CORTE-REAL; VIEIRA, 2015):</p><p>• escova de</p><p>dentes;</p><p>• lâminas ou máquinas de barbear;</p><p>• pentes e escovas de cabelo;</p><p>• roupa íntima;</p><p>• dentes previamente extraídos (dentes de leite);</p><p>• gorros;</p><p>• copos;</p><p>• fronhas;</p><p>• relógios de pulso e joalharia;</p><p>• toalhas;</p><p>• roupa exterior;</p><p>• sapatos etc.</p><p>A utilização deste tipo de amostras como sendo de referência da vítima</p><p>deve, no entanto, prever a eventualidade de poderem conter material biológico de</p><p>outras pessoas do seu ambiente familiar. Se possível, o perfi l genético identifi cado</p><p>nos objetos pessoais deverá ser comparado com familiares para assegurar</p><p>que existem relações de parentesco. Os formulários designados a este tipo de</p><p>amostras deverão fazer referência aos familiares que eventualmente possam ter</p><p>utilizado o material.</p><p>Não há uma regra sobre quais vestígios devem ser coletados em um local de</p><p>crime. O que é importante coletar depende de como a cena do crime se encontra,</p><p>e dos recursos disponíveis aos profi ssionais que fazem a investigação. Como dito</p><p>anteriormente, cada situação é única. O perito deve estar sempre aberto a novas</p><p>situações e ser capaz de inovar, respeitando sempre os preceitos lógicos e éticos.</p><p>81</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>Agora que chegamos ao fi nal do capítulo, imagine que você</p><p>foi o perito designado para trabalhar em um local onde ocorreu um</p><p>estupro. Quais os procedimentos você deve seguir e quais amostras</p><p>você deve coletar para tentar chegar ao agressor?</p><p>5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES</p><p>Neste capítulo, conhecemos quais são os mais importantes vestígios</p><p>biológicos que permitem traçar o perfi l genético do indivíduo para que possa ser</p><p>feita a associação ou exclusão deste em uma investigação criminal ou cível.</p><p>Vimos que é importante seguir os POPs para que a coleta dos vestígios</p><p>biológicos seja feita de modo a preservar o DNA e evitar contaminação. Além</p><p>disso, os POPS são importantes para que a cadeia de custódia não seja rompida</p><p>e prejudique o processo judicial.</p><p>O conceito de cadeia de custódia pode ter várias defi nições, de acordo com</p><p>cada autor, porém, nada mais é que a documentação que mostra o que aconteceu</p><p>com determinada evidência desde que foi encontrada no local do crime, ou seja,</p><p>toda a informação de quem documentou, analisou e manipulou tal amostra tem</p><p>que estar descrita em detalhes nos formulários que compõem a investigação.</p><p>Ao fi nal do estudo deste capítulo, espero que você seja capaz de</p><p>compreender, discutir e avaliar como é feita a perícia biológica e quais os cuidados</p><p>que devem ser tomados para garantir a qualidade da amostra que vai ser avaliada</p><p>geneticamente.</p><p>No próximo capítulo, estudaremos como é feita essa análise genética, uma</p><p>vez que o vestígio biológico de interesse chega ao laboratório. Veremos quais</p><p>técnicas são utilizadas para a extração, amplifi cação e análise do DNA.</p><p>82</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABRAHÃO, P. J. A perícia do esperma no crime de estupro. Conteúdo</p><p>Jurídico, 3 dez. 2014. http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-pericia-do-</p><p>esperma-no-crime-de-estupro,51123.html. Acesso em: 3 dez. 2018.</p><p>ANDRADE, R. P. de. Violência sexual contra mulheres: aspectos médico,</p><p>psicológicos, sociais e legais do atendimento. Curitiba: Faculdade de Medicina da</p><p>Universidade Federal do Paraná, 2016.</p><p>BRASIL. Procedimento operacional padrão: perícia criminal. Brasília:</p><p>Ministério da Justiça. 2013. http://www.compromissoeatitude.org.br/wp-content/</p><p>uploads/2013/10/POPS-DE-PERICIA_MINISTERIO-DA-JUSTICA.pdf. Acesso</p><p>em: 30 nov. 2018.</p><p>BRASIL. Código de Processo Penal. 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Acesso em: 6 dez.</p><p>2018.</p><p>CAPÍTULO 3</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA</p><p>MOLECULAR FORENSE</p><p>A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes</p><p>objetivos de aprendizagem:</p><p> Entender as técnicas e os marcadores moleculares utilizados para a</p><p>identifi cação por DNA dos indivíduos.</p><p> Discutir sobre os marcadores moleculares utilizados na Ciência Forense.</p><p> Debater sobre os bancos de dados que foram</p><p>criados a partir da aplicação</p><p>desta metodologia na investigação criminal.</p><p>86</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>87</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>1 CONTEXTUALIZAÇÃO</p><p>Caro aluno, relembrando a história de Hannibal Lecter, vimos que o agente</p><p>do FBI foi até um de seus famosos jantares para tentar resolver um enigma</p><p>que estava em sua cabeça: “Será que a carne servida por Lecter é mesmo de</p><p>origem humana?” Porém, ao recolher um pouco da comida servida no jantar</p><p>para enviar à análise em seu laboratório, vimos que ele não tomou os devidos</p><p>cuidados para evitar contaminação. E foi exatamente esse o assunto abordado no</p><p>Capítulo 2: quais são os procedimentos que devem ser seguidos para a coleta de</p><p>amostras biológicas.</p><p>Ao continuar o episódio, depois de alguns minutos, podemos assistir ao tal</p><p>agente do FBI conversando com os peritos de seu laboratório sobre o resultado</p><p>da análise que ele havia pedido para ser feita. Os peritos constataram que aquela</p><p>amostra não era de origem humana. Mas, como eles chegaram a essa conclusão?</p><p>Quais as etapas foram feitas até se chegar a esse resultado?</p><p>Veremos que tudo inicia-se com a extração do DNA, seguida de sua</p><p>amplifi cação e, somente depois, teremos condições de analisar os dados obtidos.</p><p>É isso que abordaremos neste capítulo, quais procedimentos são realizados</p><p>após a chegada dos vestígios biológicos ao laboratório até o resultado da análise</p><p>genética.</p><p>2 MARCADORES E TÉCNICAS</p><p>MOLECULARES UTILIZADAS NA</p><p>ÁREA FORENSE</p><p>Uma vez que a amostra biológica chega ao laboratório para análise de DNA,</p><p>é necessário cumprir uma série de etapas até se chegar à avaliação propriamente</p><p>dita do perfi l genético. A fi gura a seguir mostra resumidamente os procedimentos</p><p>que devem ser realizados.</p><p>88</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 41 – FLUXO DE TRABALHO</p><p>FONTE: A autora</p><p>2.1 EXTRAÇÃO DO DNA</p><p>A extração de DNA é o primeiro passo em muitas análises de Genética e</p><p>Biologia Molecular. Todos que trabalham nessa área possuem duas preocupações</p><p>básicas: (1) que a extração seja a mais efi ciente possível, ou seja, isolando DNA</p><p>sufi ciente para as análises posteriores e (2) que o DNA extraído seja o mais puro</p><p>possível, sem contaminação de proteínas, RNA, ou dos reagentes utilizados na</p><p>técnica de extração.</p><p>Lembre-se que o DNA se encontra no núcleo das células eucariontes, como a</p><p>dos humanos. Portanto, precisamos de um método que destrua as células e depois</p><p>que separe o DNA dos componentes celulares. De maneira geral, independente</p><p>da técnica usada, podemos classifi car os passos da extração de DNA da seguinte</p><p>maneira: (1) lise celular, onde ocorrerá o rompimento da membrana celular; (2)</p><p>digestão dos componentes celulares/desnaturação das proteínas; (3) separação</p><p>do DNA das proteínas e dos outros restos celulares (purifi cação) (GOODWIN;</p><p>LINACRE; HADI, 2007; SCORSATO; TELLES, 2011).</p><p>A etapa de lise celular tem por objetivo a ruptura das membranas celulares</p><p>com a fi nalidade de liberar os componentes citoplasmáticos e/ou nucleares</p><p>intracelulares.</p><p>As metodologias mais comumente utilizadas para essa</p><p>fi nalidade são fervura, digestão enzimática (proteinase K,</p><p>89</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>lisozima), ruptura mecânica (homogeneização), ondas sonoras</p><p>(sonicação), detergentes (dodecilsulfato de sódio - SDS,</p><p>Triton X-100), detergentes não iônicos (Tween 20, Laureth</p><p>12), caotropicos, (isotiocianato de guanidina, iodeto de sódio)</p><p>e soluções (salina hipotônica) na dependência do tipo de</p><p>amostra ou célula (SCORSATO; TELLES, 2011, p. 545).</p><p>Para a etapa de digestão dos componentes celulares, há pesquisadores</p><p>que utilizam de fervura, acompanhada ou não de solução de lise, e/ou digestão</p><p>com proteinase K ou ainda a utilização desses métodos associados a diferentes</p><p>soluções tampão. Outros fazem uso do detergente Triton X-100 e do tiocianato de</p><p>guanidina.</p><p>A utilização do detergente SDS, combinado com a proteinase</p><p>K, que realiza a digestão enzimática, apresenta como resultado</p><p>efi ciente extração de DNA. Métodos com base na digestão</p><p>enzimática (proteinase K), independentemente do método</p><p>de extração do DNA genômico, resultam em materiais com</p><p>quantidade e pureza satisfatórias para amplifi cação do DNA</p><p>com a utilização da técnica de PCR (SCORSATO; TELLES,</p><p>2011, p. 545).</p><p>Após a obtenção do lisado, existe a necessidade de separar os ácidos</p><p>nucleicos das outras moléculas. Os protocolos apresentam algumas diferenças de</p><p>acordo a molécula que se quer isolar (DNA ou RNA). No caso do DNA, veremos</p><p>que o método mais usado é a purifi cação/extração por fenol: clorofórmio.</p><p>Geralmente as técnicas mais conhecidas são as ditas orgânicas (como a que</p><p>utiliza o fenol e o clorofórmio), porém existem técnicas inorgânicas, como a que</p><p>emprega Chelex® e a que se baseia na precipitação salina (salting out).</p><p>Existem vários métodos de extração de DNA. A escolha vai depender de</p><p>vários fatores como:</p><p>• O tipo e a quantidade de amostra.</p><p>• A velocidade e a possibilidade de automação do procedimento.</p><p>• A taxa de sucesso de determinada técnica em amostras forenses (o</p><p>profi ssional deve verifi car na literatura científi ca se a técnica que ele tem</p><p>à disposição já foi utilizada na amostra em questão e se a extração do</p><p>DNA foi efi ciente).</p><p>• Os reagentes que são usados na técnica de extração (muitos laboratórios</p><p>evitam o uso de produtos químicos tóxicos).</p><p>• O custo da técnica (com reagentes, material plástico descartável,</p><p>equipamentos específi cos).</p><p>• Experiência do profi ssional de laboratório.</p><p>90</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>2.1.1 EXtração de DNA usando</p><p>CHeleX®</p><p>Este método de extração de DNA foi um dos primeiros adotados pela</p><p>comunidade forense. O Chelex®100 é uma resina quelante com alta afi nidade</p><p>por íons de metal polivalentes. É uma resina composta por copolímeros de</p><p>estireno-divinilbenzeno contendo íons iminodiacetato emparelhados. A presença</p><p>de Chelex® durante a fervura evita a degradação de DNA por quelação de íons</p><p>metálicos que podem agir como catalisadores na quebra do DNA em temperaturas</p><p>altas ou em soluções de baixa força iônica (WALSH; METZGER; HIGUCHI, 1991).</p><p>A resina Chelex® é frequentemente usada para extração de DNA em preparação</p><p>para PCR.</p><p>O procedimento é simples (Figura 42): Em (a) O material celular é adicionado</p><p>a 1ml de solução TE (tampão bastante utilizado em Biologia Molecular, composto</p><p>de EDTA 1mM, Tris 10mM: pH 8,0) e incubado à temperatura ambiente durante 10</p><p>a 15 minutos. Em (b) O tubo é centrifugado em alta velocidade para sedimentar o</p><p>material celular e o sobrenadante é removido. Em (c) o pellet de material celular</p><p>é ressuspendido em 5% de Chelex®100, o tubo é incubado a 56ºC por 15 a 30</p><p>minutos e depois colocado em banho-maria por 8 minutos. O tubo é centrifugado</p><p>em alta velocidade durante 2 a 3 minutos para sedimentar a proteína precipitada.</p><p>Em (d) o sobrenadante contém o DNA e pode ser usado diretamente em um PCR.</p><p>FIGURA 42 - EXTRAÇÃO DE DNA USANDO CHELEX®100</p><p>FONTE: Goodwin, Linacre e Hadi (2007, p. 28)</p><p>Este método é simples e rápido e evita a troca de tubos, reduzindo a chance</p><p>de troca de amostras e a perda de DNA. Além disso, o custo é baixo, evita o uso</p><p>de reagentes tóxicos e pode ser aplicado em vários vestígios biológicos.</p><p>91</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>2.1.2 EXtração de DNA orgÂnica</p><p>usando Fenol: cloroFÓrmio</p><p>Esta técnica tem sido amplamente utilizada em Biologia Molecular desde os</p><p>anos 1990, porém, ultimamente, devido à toxicidade do fenol, alguns laboratórios</p><p>estão substituindo protocolos.</p><p>Depois que é feita a lise das células, é adicionado o fenol: clorofórmio. A</p><p>amostra é misturada e haverá desnaturação das proteínas. A solução é então</p><p>centrifugada e a proteína precipitada forma uma película na interface entre a fase</p><p>orgânica de fenol-clorofórmio e fase aquosa;</p><p>este processo é repetido de duas</p><p>a três vezes ou até que não haja película visível. O DNA é então purifi cado da</p><p>fase aquosa por precipitação com etanol ou centrifugado. O método produz DNA</p><p>limpo, mas tem algumas desvantagens: além da natureza tóxica do fenol, são</p><p>necessárias várias trocas de tubo e o processo é muito laborioso.</p><p>O princípio da técnica está relacionado com a polaridade das moléculas</p><p>(OSWALD, 2015). O DNA é uma molécula polar devido às cargas negativas no</p><p>seu esqueleto de fosfato, por isso é muito solúvel em água e menos solúvel em</p><p>fenol. Isso signifi ca que quando a água (+ DNA + proteína) e fenol são misturados</p><p>no protocolo, o DNA não se dissolve no fenol, mas permanece na fase aquosa.</p><p>Já as proteínas possuem partes de sua estrutura que são polares e partes que</p><p>não são polares. Outra maneira de pensar sobre isso é que as cadeias laterais</p><p>polares são hidrofílicas e, as não polares, são hidrofóbicas. As cadeias laterais</p><p>hidrofóbicas escondem-se no interior da proteína e, as cadeias hidrofílicas fi cam</p><p>do lado de fora.</p><p>Quando as proteínas são expostas a um solvente menos polar, como o fenol,</p><p>os resíduos menos polares, que se escondem dentro das estruturas de proteínas</p><p>na água, agora querem interagir com o fenol menos polar, sendo então forçados</p><p>para o exterior. Por outro lado, alguns dos resíduos muito polares podem virar</p><p>para o interior da proteína globular para serem protegidos do novo solvente.</p><p>Em suma, as proteínas são permanentemente desnaturadas pelo novo</p><p>ambiente solvente fornecido pelo fenol. Enquanto na água os resíduos polares</p><p>do lado de fora das proteínas os tornavam solúveis em água, as mudanças de</p><p>dobramento induzidas pelo fenol forçaram os resíduos favoráveis ao fenol para</p><p>o exterior, de modo que as proteínas agora são mais solúveis em fenol do que</p><p>na água (Figura 43, a). Nesta mesma fi gura, podemos ver um tubo de ensaio</p><p>contendo DNA precipitado após a adição do etanol (Figura 43, b).</p><p>92</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 43 – MODO DE AÇÃO DO FENOL: CLOROFÓRMIO PARA EXTRAÇÃO DO DNA</p><p>FONTE: (a) Adaptado de Oswald (2015) <https://bitesizebio.com/384/the-basics-</p><p>how-phenol-extraction-works/>; (b) Oliveira e Queiroz (p. 29) <http://www.</p><p>fcav.unesp.br/Home/departamentos/zootecnia/SANDRAAIDARDEQUEIROZ/</p><p>aula-biologia-molecular.pdf> Acesso em: 16 dez. 2018.</p><p>(a) (b)</p><p>2.1.3 EXtração de DNA de sangue/</p><p>cartÕes FTA®</p><p>No caso de amostras de sangue presentes nos cartões FTA®, as células já</p><p>estão lisadas e o DNA está imobilizado no papel, conforme vimos no Capítulo 2.</p><p>Para analisar a amostra, o primeiro passo é pegar uma pequena região do cartão,</p><p>normalmente um círculo de 2mm de diâmetro, e colocá-la em um microtubo de</p><p>1,5mL para fazer uma lavagem e para que somente o DNA permaneça no papel.</p><p>O pequeno círculo de sangue é adicionado diretamente a um PCR. As extrações</p><p>de papel FTA® são muito simples de executar e não requerem múltiplas trocas</p><p>de tubos, reduzindo assim a possibilidade de trocas de amostras (GOODWIN;</p><p>LINACRE; HADI, 2007).</p><p>No caso de amostra de sangue fresco ou de manchas, podem ser aplicadas</p><p>as técnicas de extração por fenol: clorofórmio, Chelex® ou aquela que melhor</p><p>atender ao laboratório.</p><p>93</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>2.1.4 EXtração de DNA de sÊmen</p><p>A extração de DNA dos espermatozoides é um pouco mais complicada devido</p><p>à estrutura dos espermatozoides. O DNA é encontrado dentro da cabeça dos</p><p>espermatozoides, protegido pelo acrossoma, que é uma capa protetora rica em</p><p>aminoácido cisteína, o que forma muitas pontes dissulfeto. Essas pontes dissulfeto</p><p>são ligações químicas difíceis de quebrar somente com o uso de proteinase</p><p>K. Para que isso ocorra e, consequentemente, o DNA do espermatozoide seja</p><p>liberado, deve ser adicionada uma substância chamada ditiotreitol (DTT). Outro</p><p>fator considerado complicador para a extração do DNA do espermatozoide é que</p><p>normalmente o sêmen é coletado juntamente com células epiteliais. Entretanto,</p><p>é possível realizar uma lise diferencial, onde as células epiteliais serão lisadas</p><p>primeiro e depois os espermatozoides (GOODWIN; LINACRE; HADI, 2007).</p><p>2.1.5 EXtração de DNA de caBelo/</p><p>Pelos</p><p>Qualquer uma das técnicas de extração de DNA pode ser utilizada para isolar</p><p>a molécula a partir das raízes dos cabelos/pelos, uma vez que esta é a região rica</p><p>em material celular. Entretanto, se o cabelo se encontra em fase de repouso no</p><p>ciclo de crescimento, pode não haver material celular para isolar o DNA. Assim</p><p>como no caso da amostra contendo espermatozoides, o protocolo para extração</p><p>de DNA dos cabelos/pelos deve ser adaptado com adição de DDT para quebrar</p><p>as pontes dissulfeto da haste do cabelo/pelo. Uma vez que o DNA foi liberado,</p><p>pode ser purifi cado usando o protocolo de fenol: clorofórmio ou precipitação salina</p><p>(salting-out).</p><p>Os cabelos/pelos são considerados uma amostra de difícil extração de</p><p>DNA e, por isso, normalmente, é feita análise do DNA mitocondrial (GOODWIN;</p><p>LINACRE; HADI, 2007).</p><p>2.1.6 EXtração de DNA de ossos e</p><p>dentes</p><p>Ossos e dentes fornecem um refúgio para o DNA quando as outras partes</p><p>do corpo não estão disponíveis, como no caso de tragédias e corpos que foram</p><p>exumados.</p><p>94</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Além das barreiras físicas, a hidroxiapatita é um componente importante</p><p>destes tecidos, que estabiliza o DNA, tornando-o estreitamente ligado ao mineral</p><p>carregado positivamente — esta interação limita a ação de enzimas que o</p><p>degradam.</p><p>Os ossos e dentes oferecem uma vantagem sobre outras formas de material</p><p>biológico, porque eles têm uma superfície que pode ser limpa para remover</p><p>qualquer DNA contaminante usando detergentes para remover qualquer tecido</p><p>mole, seguido de abrasão física com hipoclorito de sódio e exposição à luz</p><p>ultravioleta forte. Após essa limpeza, o material do osso/dente é quebrado em</p><p>um pó por perfuração ou trituração com nitrogênio líquido. O material resultante</p><p>é descalcifi cado e pode ser então feita a extração do DNA. A extração orgânica</p><p>com fenol: clorofórmio e os métodos de extração de ligação de sílica são os mais</p><p>comumente usados (GOODWIN; LINACRE; HADI, 2007).</p><p>2.1.7 Protocolos utiliZados</p><p>Além dos protocolos disponíveis na literatura científi ca ou padronizado</p><p>pelos profi ssionais de cada laboratório, podem ser utilizados kits comerciais</p><p>para a extração do DNA. Novamente, a escolha do método a ser empregado vai</p><p>depender de cada amostra e dos recursos fi nanceiros disponíveis, uma vez que</p><p>esses kits comerciais geralmente possuem custo superior aos outros protocolos.</p><p>De acordo com o levantamento de Bonaccorso (2010), os principais</p><p>protocolos usados para extração de DNA pelo Laboratório do Instituto de</p><p>Criminalística de São Paulo são:</p><p>• Extração de DNA pelo iodeto de sódio (para sangue fresco ou bem</p><p>conservado).</p><p>• Extração de DNA com fenol: clorofórmio (para ossos, dentes, manchas</p><p>de sangue ou sangue fresco, porém em estado de conservação ruim).</p><p>• Extração de DNA com kit comercial DNA-IQTM (para ossos em péssimo</p><p>estado de conservação). Esse kit utiliza uma resina paramagnética que</p><p>vai se ligar ao DNA (fornecedor Promega).</p><p>• Extração pelo método orgânico com lise diferencial (para manchas,</p><p>lâminas e swabs com esperma).</p><p>Ainda de acordo com Bonaccorso (2010), os principais protocolos utilizados</p><p>para extração de DNA pelo FBI (Federal Bureau of Investigation, EUA) são:</p><p>• Extração de DNA com fenol: clorofórmio e precipitação com álcool para</p><p>95</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>amostras de sangue líquido, manchas contendo fl uidos corpóreos,</p><p>esperma ou células vaginais. Além disso, para extrair DNA contido em</p><p>envelopes, selos, bitucas de cigarro, tecidos moles, cabelos e ossos.</p><p>• Extração de DNA com fenol: clorofórmio e uso de fi ltro que concentra o</p><p>DNA isolado para manchas de sangue, saliva, swabs vaginais e manchas</p><p>de sêmen.</p><p>• Extração de DNA com Chelex®:</p><p>para amostras de sangue total, manchas</p><p>de sangue, manchas de sêmen, saliva presente em swabs, papel de</p><p>fi ltro, envelopes, selos, bitucas de cigarro ou, no caso de cabelos, para</p><p>extração de DNA mitocondrial.</p><p>• Extração de DNA por salting-out (técnica inorgânica): para amostras de</p><p>DNA imobilizado em cartões FTA® e para sangue total.</p><p>A publicação da Secretaria Nacional de Segurança Pública com os POPs</p><p>da perícia criminal (BRASIL, 2013), mais especifi camente os POPs número</p><p>2.5 e 2.6, orientam o procedimento de extração de DNA de amostras contendo</p><p>espermatozoides, outros tipos celulares e de amostras biológicas contidas em</p><p>diferentes suportes.</p><p>2.1.9 QuantiFicação do DNA</p><p>A quantifi cação do DNA é um passo importante antes da amplifi cação e</p><p>análise dos perfi s genéticos, pois a extração do DNA pode ter sido prejudicada.</p><p>Ademais, a quantifi cação orienta a diluição que deverá ser feita nos próximos</p><p>passos da análise do perfi l genético.</p><p>Fatores como degradação por calor e radiação solar, umidade, ação</p><p>microbiana, contaminação com DNA de outro organismo, mistura de reagentes</p><p>e diluição de amostras prejudicam negativamente a qualidade dos vestígios</p><p>biológicos e, consequentemente do DNA que foi isolado dos mesmos.</p><p>A qualidade e a quantidade do DNA podem ser verifi cadas pela visualização</p><p>de bandas de DNA total em gel de agarose, por espectrofotometria de absorção</p><p>no ultravioleta ou de fl uorescência, ou ainda, utilizando-se kits comerciais de PCR</p><p>em tempo real. Quando o gel de agarose for a opção escolhida para avaliar a</p><p>qualidade do DNA, o mesmo não deve apresentar arraste, ou seja, as bandas</p><p>produzidas devem estar bem defi nidas.</p><p>A espectrofotometria absorção no ultravioleta é a maneira mais utilizada em</p><p>laboratórios para quantifi car o DNA, RNA e proteínas, por ser um método rápido e</p><p>que não utiliza muito da amostra em questão. A espectrofotometria é uma técnica</p><p>96</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>analítica que usa a luz para medir as concentrações de soluções, através da</p><p>interação da luz com a matéria. Um dos equipamentos de espectrofotometria mais</p><p>conhecidos para quantifi cação de ácidos nucleicos e proteínas é o NanoDrop</p><p>(fornecedor Thermo Fisher Scientifi c).</p><p>A tabela a seguir mostra uma estimativa da quantidade de DNA que pode ser</p><p>isolada de amostras forenses.</p><p>TABELA 2 – CONTEÚDO DE DNA NOS VESTÍGIOS BIOLÓGICOS</p><p>FONTE: Bonaccorso (2005, p. 21)</p><p>2.2 A TÉCNICA DE PCR OU</p><p>POLYMERASE CHAIN REACTION</p><p>(REAÇÃO EM CADEIA DA</p><p>POLIMERASE)</p><p>Como vimos no primeiro capítulo, a técnica que permite amplifi car o DNA</p><p>chama-se PCR ou, do Inglês, Polymerase Chain Reaction. Esta técnica é a</p><p>grande responsável por viabilizar a realização de confrontos entre perfi s genéticos</p><p>de amostras questionadas e de referência, uma vez que a grande maioria</p><p>das amostras forenses não apresentaria quantidades sufi cientes de DNA em</p><p>condições de produzir um perfi l interpretável (FILHO; FRANCEZ, 2018).</p><p>A técnica de PCR consiste na síntese in vitro de DNA. Como vimos no</p><p>primeiro capítulo, a técnica foi desenvolvida por Karry Mullis em 1983 e, desde</p><p>então, revolucionou a Genética e Biologia Molecular.</p><p>A síntese do DNA (de uma região específi ca de interesse, no nosso caso,</p><p>dos STRs ou do DNA mitocondrial) ocorre por meio do uso da enzima Taq DNA</p><p>polimerase, dos primers (ou sequencias iniciadoras) e de ciclos de variação de</p><p>97</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>temperatura. Além disso, para que a reação ocorra é necessário a adição dos</p><p>dNTPs (que são os nucleotídeos em forma livre para construção da molécula de</p><p>DNA), solução tampão e íons magnésio (que é importante para funcionamento da</p><p>Taq DNA polimerase).</p><p>Cada ciclo da PCR envolve três etapas (GOODWIN; LINACRE; HADI, 2007),</p><p>repetidas normalmente de 30 a 40 vezes, dependendo do protocolo e dos genes</p><p>que serão estudados. Observe à esquerda da Figura 44, os reagentes e material</p><p>necessário para que ocorra a reação, ou seja, o DNA que foi extraído, os primers,</p><p>os dNTPs, a enzima, o tampão e os microtubos onde ocorrerão a reação de PCR.</p><p>O equipamento utilizado chama-se termociclador. À direita, temos a representação</p><p>das etapas de um ciclo da PCR: desnaturação, anelamento e extensão do DNA.</p><p>1. Desnaturação: etapa com duração entre 30s a 1min em temperatura</p><p>entre 92ºC a 96ºC para desnaturar o DNA, ou seja, abrir as fi tas da</p><p>molécula.</p><p>2. Pareamento dos primers (anelamento): os primers funcionam</p><p>como iniciadores da reação de polimerização, ligando-se à região</p><p>complementar da fi ta de DNA alvo que sofrerá a duplicação (STR/DNA</p><p>mitocondrial de interesse). Esta etapa tem duração de 30s a 1min a</p><p>temperatura entre 58ºC e 65ºC. A temperatura depende das sequencias</p><p>dos primers escolhidos. Os primers reconhecem, por complementaridade</p><p>de bases, o local de início e término da região do DNA a ser amplifi cada</p><p>e fornece uma extremidade 3’-OH livre para a síntese da nova cadeia</p><p>pela Taq DNA polimerase.</p><p>3. Extensão ou amplifi cação: ocorre por meio da enzima Taq DNA</p><p>polimerase, da p síntese das novas fi tas de DNA a partir de cada um</p><p>dos iniciadores, utilizando os quatro dNTPs como substrato da reação de</p><p>polimerização. Etapa com duração entre 45s e 1min a 72ºC. O aumento</p><p>no número de cópias da região de interesse é exponencial e no fi nal dos</p><p>30-40 ciclos estima-se que há mais de 1 milhão de cópias da região de</p><p>DNA de interesse.</p><p>98</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 44 - A TÉCNICA DE PCR</p><p>FONTE: Adaptado de CORNELL (2016) <http://ib.bioninja.com.au/_</p><p>Media/pcr-components_med.jpeg> Acesso em: 11 mar. 2019.</p><p>Em se tratando de amostras de DNA provenientes de vestígios biológicos</p><p>forenses, precisamos ter mais atenção aos chamados fatores inibitórios da PCR.</p><p>Como o próprio nome diz, são compostos presentes nos fl uidos corporais ou</p><p>reagentes que vão inibir a reação de PCR. Estes fatores vão interagir com o</p><p>DNA ou com a enzima Taq DNA polimerase e, assim, comprometer a reação e,</p><p>consequentemente, o resultado. A inibição severa da PCR pode levar à perda dos</p><p>STRs ou à resultados falso-negativos, além de interferir na etapa de quantifi cação</p><p>do DNA (FILHO; FRANCEZ, 2018).</p><p>O ácido húmico é um dos principais inibidores presentes nas amostras</p><p>forenses. Eles são compostos estáveis, produzidos pelo processo de</p><p>decomposição da matéria orgânica dos solos, por meio da Reação de Maillard.</p><p>Essa reação é um processo de envelhecimento e refere-se ao processo de</p><p>escurecimento entre aminas e compostos como a glicose e a glicose-6-fosfato.</p><p>Como o ácido húmico possui propriedades semelhantes aos grupos fosfatos</p><p>do DNA, eles podem competir por sítios de adsorção durante o processo de</p><p>purifi cação do DNA. A tabela a seguir mostra outros tipos de inibidores da PCR.</p><p>99</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>TABELA 3 – INIBIDORES DE PCR QUE PODEM SER</p><p>ENCONTRADOS NAS AMOSTRAS FORENSES</p><p>FONTE: Filho e Francez (2018, p. 282 e 283)</p><p>Fonte do inibidor Inibidor</p><p>Fezes Sais biliares</p><p>Fezes, plantas Polissacarídeos</p><p>Tecidos Colágeno</p><p>Sangue Grupo Heme</p><p>Solo, plantas Ácido húmico</p><p>Plantas Polissacarídeos</p><p>Pele, cabelo Melanina</p><p>Músculo Mioglobina</p><p>Leite Proteinases</p><p>Leite, ossos Íons Cálcio (Ca2+)</p><p>Urina Ureia</p><p>Sangue Hemoglobina, lactoferrina</p><p>Sangue Imunoglobulina (IgG)</p><p>Índigo (corante) Calça Jeans</p><p>Uma das formas de amenizar a ação destes inibidores é a diluição da</p><p>amostra, de maneira que a concentração do inibidor não seja mais viável para</p><p>atrapalhar a reação, porém que produza quantidade de DNA sufi ciente para</p><p>análise. Outra forma de melhorar a performance e especifi cidade da PCR diante</p><p>dos inibidores é adicionar compostos adjuvantes, como o BSA (albumina sérica</p><p>bovina). O BSA é uma proteína que vai se ligar a estes inibidores e inativar sua</p><p>ação (FILHO; FRANCEZ, 2018).</p><p>2.3 FORMAS DE DETECÇÃO DO DNA</p><p>AMPLIFICADO: AVALIAÇÃO DOS STRs</p><p>Após terminar a reação de PCR, as amostras amplifi</p><p>DA MOLÉCULA DE DNA</p><p>FONTE: Griffi ths et al. (2009)</p><p>11</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>Nucleotídeos que formam a molécula de DNA. Repare os três elementos:</p><p>o grupo fosfato (-PO4), a desoxirribose e uma das bases nitrogenadas (adenina,</p><p>timina, citosina ou guanina).</p><p>FIGURA 2 – A DUPLA HÉLICE: SENTIDO 5’3’ E LIGAÇÕES QUÍMICAS</p><p>FONTE: Champe, Harvey e Ferrier (2006)</p><p>12</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Ligação fosfodiéster e sentido 5’3’ da molécula de DNA (a). Duas cadeias</p><p>de nucleotídeos ligadas por pontes de hidrogênio entre as bases nitrogenadas (b).</p><p>Agora imagine que essas cadeias têm bilhões de nucleotídeos e elas se retorcem</p><p>para formar a característica dupla hélice de DNA (c).</p><p>Na Figura 2 ainda podemos observar como é construída essa cadeia de</p><p>nucleotídeos. Cada nucleotídeo se liga entre si através das ligações fosfodiéster,</p><p>o que resulta no sentido 5’3’ da molécula de DNA: O grupo hidroxil (-OH) ligado</p><p>ao carbono 3 da desoxirribose de um nucleotídeo forma uma ligação fosfodiéster</p><p>com o fosfato do outro nucleotídeo que está ligado ao carbono 5 da desoxirribose.</p><p>Portanto, cada fi lamento do DNA está disposto de maneira antiparalela, ou seja,</p><p>um fi lamento em sentido 5’3’ e outro em sentido 3’5’.</p><p>Cada um dos fi lamentos da molécula de DNA é mantido por meio de</p><p>interações chamadas pontes de hidrogênio entre as bases nitrogenadas. As</p><p>bases nitrogenadas, por sua vez, interagem de acordo com uma regra chamada</p><p>complementariedade, ou seja, adenina se pareia com timina (A.T) e citosina se</p><p>pareia com guanina (C.G). O pareamento de adenina e timina se dá por meio de</p><p>duas pontes de hidrogênio e, o pareamento de citosina com guanina, por meio de</p><p>três. Estas propriedades do DNA são importantes para o processo de replicação</p><p>e, portanto, de transmissão dos genes.</p><p>Você sabia que a descoberta da dupla hélice de DNA rendeu</p><p>o prêmio Nobel aos pesquisadores que a publicaram? Foi em 1962</p><p>e foram reconhecidos por tal descoberta, o geneticista americano</p><p>James Watson e o físico inglês Francis Crick.</p><p>E você já ouviu falar sobre Rosalind Franklin? Os experimentos</p><p>dela foram cruciais para essa descoberta. Foi ela quem conseguiu a</p><p>imagem de difração de raios-X do DNA, que sugeria a estrutura em</p><p>hélice e que foi determinante para o modelo proposto por Watson e</p><p>Crick.</p><p>(a) (b)</p><p>13</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>Fotos de James Watson e Francis Crick com seu modelo de</p><p>DNA (a) e de Rosalind Franklin (b).</p><p>FONTE: <http://www.nature.com/scitable/content/ne0000/ne0000/</p><p>ne0000/ne0000/6537318/Rosalind_Franklin_SMALL_1.jpg>. Acesso</p><p>em: 23 out. 2018.</p><p>Se você quer saber mais sobre a história da descoberta da</p><p>estrutura do DNA, leia o livro A Dupla Hélice, escrito por James</p><p>Watson. Ele conta de maneira bem direta e às vezes irônica, como</p><p>nasceu a ideia sobre a estrutura helicoidal do DNA. No livro fi ca</p><p>claro o papel de Rosalind Franklin naquele momento revolucionário</p><p>da Ciência e, você vai ver que por trás da fama há uma verdadeira</p><p>história de rivalidade e ambição.</p><p>O DNA é a molécula que armazena e transfere a informação genética</p><p>através das gerações e, essa função torna possível o trabalho realizado</p><p>pela Genética Forense na identifi cação dos indivíduos e na determinação de</p><p>parentesco, por exemplo.</p><p>Foram os trabalhos do biólogo austríaco Gregor Mendel, com ervilhas, que</p><p>estabeleceram as bases para as leis da hereditariedade.</p><p>A Primeira Lei de Mendel pode ser enunciada da seguinte maneira: “cada</p><p>caráter é determinado por fatores que se separam na formação dos gametas, indo</p><p>um fator do par para cada gameta”. O que Mendel chamou de fator, mais tarde foi</p><p>chamado de gene.</p><p>O gene pode ser defi nido como um segmento de DNA composto por uma</p><p>região transcrita e uma sequência reguladora necessária à produção de um</p><p>produto funcional. Em outras palavras, o gene é uma sequência do DNA que</p><p>codifi ca e regula a síntese de proteínas. Podemos ver pela Figura 3 que o gene</p><p>eucarioto (como os de humanos) possui regiões denominadas íntrons e regiões</p><p>denominadas éxons, além de regiões que regulam o início e o fi m da transcrição,</p><p>ou seja, formação do RNA mensageiro que, posteriormente, será traduzido em</p><p>proteína.</p><p>14</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO DO GENE</p><p>FONTE: <https://bit.ly/2DcFjvP>. Acesso em: 21 out. 2018.</p><p>Estrutura do gene eucarioto: possui regiões que expressam RNA mensageiro,</p><p>que formarão proteínas (éxons), regiões não codifi cantes de proteínas (íntrons) e</p><p>regiões de regulação de início e fi m da expressão gênica.</p><p>Com os experimentos realizados, Mendel observou que havia um fator</p><p>(gene) que era expresso de maneira dominante e um que era latente (recessivo).</p><p>As formas desse fator (gene) foram, posteriormente, chamadas de alelos. A</p><p>primeira lei de Mendel nos diz também que um indivíduo é homozigoto quando</p><p>este possui um par de alelos idênticos ou é heterozigoto quando possui um par</p><p>de alelos diferentes (Figura 4).</p><p>FIGURA 4 – ALELOS, INDIVÍDUOS HOMOZIGOTOS E HETEROZIGOTOS</p><p>FONTE: Adaptado de Passarge (2001)</p><p>Diferença entre homozigoto e heterozigoto. O indivíduo é homozigoto</p><p>quando este possui um par de alelos idênticos (neste caso, AA ou aa) ou é</p><p>heterozigoto quando possui um par de alelos diferentes (neste caso Aa). “A”</p><p>representa um gene que possui duas formas: “A” e “a”.</p><p>A Segunda Lei de Mendel surgiu a partir dos estudos de Mendel com</p><p>as ervilhas que diferiam em duas características e é conhecida como a lei da</p><p>distribuição independente: os alelos de genes diferentes se distribuem de</p><p>15</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>maneira independente uns dos outros. Ou seja, se dois ou mais eventos são</p><p>independentes, a chance que ocorram ao mesmo tempo vai ser defi nida pelo</p><p>produto de suas probabilidades separadas. Esta regra é conhecida como “regra</p><p>do produto ou regra da multiplicação” e é importante, por exemplo, para analisar</p><p>se há vínculo genético familiar, de acordo com a estatística (NRC, 1992 apud</p><p>BONACCORSO, 2005, p. 32).</p><p>O DNA está contido no núcleo das células eucariotas, como as dos</p><p>humanos, de maneira difusa, porém quando ocorre o processo de divisão celular</p><p>(mitose ou meiose) o DNA se condensa em seu maior nível de compactação,</p><p>que conhecemos como cromossomos. É na meiose que ocorre a formação dos</p><p>gametas e que os genes vão se segregar de acordo com as leis de Mendel, ou</p><p>seja, de maneira independente. No caso dos humanos, temos 46 cromossomos,</p><p>sendo que 23 deles são de origem materna e os outros 23 de origem paterna</p><p>(Figuras 5 e 6). Durante o processo de compactação do DNA, ele se associa</p><p>a proteínas chamadas histonas e pode ser chamado de cromatina. O termo</p><p>eucromatina se refere a regiões do DNA que estão menos condensadas e o termo</p><p>heterocromatina, à regiões que estão mais compactadas.</p><p>FIGURA 5 – NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO DO ORGANISMO</p><p>FONTE: Griffi ths et al. (2009)</p><p>Do organismo ao DNA. Lembre-se que os cromossomos correspondem ao</p><p>DNA em sua forma mais compactada, presente durante a divisão celular.</p><p>16</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 6 –CARIÓTIPO HUMANO</p><p>FONTE: Goodwin, Linacre e Hadi (2007)</p><p>Cromossomos humanos. São 22 pares de cromossomos autossomos e 1</p><p>par de cromossomos sexuais (em destaque), ou seja, que determina o sexo do</p><p>indivíduo. Nos homens, como neste caso, encontramos o cromossomo X e Y. Nas</p><p>mulheres, temos dois cromossomos X.</p><p>Além do DNA nuclear, existe o DNA mitocondrial (mtDNA), contido nas</p><p>mitocôndrias e que possui forma circular (Figura 7). O DNA mitocondrial é de</p><p>origem materna e é útil na investigação forense. Além de permitir traçar a linhagem</p><p>materna e possuir várias cópias (100 a 10.000 cópias/célula), contém regiões</p><p>de polimorfi smo que identifi cam uma pessoa, e é mais resistente à degradação</p><p>que o DNA localizado no núcleo. Por isso é frequentemente</p><p>cadas serão analisadas</p><p>utilizando a eletroforese, para evidenciar os polimorfi smos presentes nas amostras</p><p>investigadas. A eletroforese consiste na migração de moléculas, de acordo com</p><p>suas cargas elétricas e pesos moleculares (tamanho) em um campo elétrico.</p><p>Moléculas com carga negativa migram para o polo positivo (ânodo) e moléculas</p><p>100</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>com carga positiva migram para o polo negativo (cátodo). Pode ser empregada a</p><p>eletroforese em gel ou a eletroforese capilar.</p><p>2.3.1 EletroForese em gel de</p><p>agarose</p><p>Quando as amostras de DNA são aplicadas no gel e, em seguida é fornecida</p><p>uma corrente elétrica, o DNA será atraído para o polo positivo, porém, em função</p><p>do seu tamanho e da resistência conferida pelo gel, quanto maior o fragmento,</p><p>mais difi culdade encontrará essa amostra para migrar pelo gel. Desta maneira, as</p><p>diferenças de tamanho do DNA em análise poderão ser visualizadas pela posição</p><p>assumida pelas amostras no fi nal da corrida eletroforética (Figura 45). Por exemplo,</p><p>na fi gura a seguir, podemos observar três amostras de tamanhos diferentes. A</p><p>Amostra 1 tem maior tamanho, pois migrou menos no gel em relação às outras</p><p>duas amostras. A Amostra 3 possui menor tamanho, pois é a que conseguiu migrar</p><p>mais no gel. Lembre-se que o DNA vai migrar do polo negativo para o positivo. Na</p><p>Figura 46 podemos ver o aparato completo utilizado para realizar a eletroforese em</p><p>gel. O gel fi ca dentro de uma cuba contendo solução tampão e, ligado a essa cuba,</p><p>deve ter uma fonte de energia para gerar a corrente elétrica.</p><p>FIGURA 45 - A TÉCNICA DE ELETROFORESE EM GEL</p><p>FONTE: Adaptado de Cornell (2016) <http://ib.bioninja.com.au/_Media/</p><p>electrophoresis-dna_med.jpeg> Acesso em: 11 mar. 2019.</p><p>101</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>FIGURA 46 - APARATO UTILIZADO PARA A ELETROFORESE EM GEL</p><p>FONTE: Adaptado de Cornell (2016) <http://ib.bioninja.com.au/_Media/</p><p>electrophoresis-dna_med.jpeg> Acesso em: 11 mar. 2019.</p><p>A comparação entre os perfi s investigados nos mostrará se a amostra</p><p>questionada é de determinado suspeito ou não (Figura 47). Conforme visto no</p><p>Capítulo 1, os indivíduos podem ser diferenciados pelo número de repetições que</p><p>possuem em cada unidade de repetição dos STRs, o que resulta em tamanhos</p><p>de alelos diferentes e, consequentemente, em tamanho diferente de fragmentos</p><p>gerados na PCR.</p><p>FIGURA 47 – COMPARAÇÃO DO PERFIL DE 2 LOCI</p><p>DE STRs ENTRE TRÊS INDIVÍDUOS</p><p>FONTE: Adaptado de Cornell (2016) <http://ib.bioninja.com.</p><p>au/_Media/str_med.jpeg> Acesso em: 11 mar. 2019.</p><p>102</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Tanto no caso do uso de eletroforese em gel, como de eletroforese capilar,</p><p>raramente os geneticistas forenses usam seus próprios painéis de STRs, optando</p><p>por fazer uso dos kits comerciais, que já foram aprovados por um rígido controle</p><p>de qualidade (FILHO; FRANCEZ, 2018). Esses kits são denominados multiplex,</p><p>pois analisam vários STRs na mesma reação, ou seja, no mesmo tubo. Depois os</p><p>alelos são diferenciados por tamanho (Figura 48) ou com corantes fl uorescentes</p><p>(após a eletroforese capilar). Os géis apresentados na fi gura a seguir foram</p><p>corados com nitrato de prata, após a realização de PCR multiplex. São sistemas</p><p>comerciais, denominados CTT, FFv e SilverSTRTMIII. Cada coluna de 1 a 4</p><p>corresponde a amostras de DNA amplifi cado e a coluna L é o marcador de peso</p><p>molecular. Neste caso o gel usado foi o de poliacrilamida 4%. Em cada um dos</p><p>sistemas, podemos ver qual o gene analisado (nome à esquerda de cada gel).</p><p>FIGURA 48 – SISTEMA DE DETECÇÃO DE STR MULTIPLEX</p><p>FONTE: LINS et al. (2000, p. 32)</p><p>2.3.2 EletroForese caPilar</p><p>O princípio da eletroforese capilar é o mesmo que o da eletroforese em</p><p>gel, porém apresenta resultados superiores em diversos aspectos: automação,</p><p>rapidez, segurança, uniformidade dos resultados, capacidade de identifi cação de</p><p>marcadores com tamanhos de fragmentos amplifi cados semelhantes devido ao</p><p>uso da fl uorescência (FILHO; FRANCEZ, 2018).</p><p>Nesta técnica, o DNA é aplicado nos poços de placas com capacidade para</p><p>até 96 amostras. Após isso, a placa é inserida no equipamento denominado</p><p>103</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>Analisador Genético ou Sequenciador. Os capilares do equipamento são</p><p>inseridos em cada poço e, por meio de corrente elétrica, promove a migração</p><p>dos fragmentos de DNA da amostra ao longo do polímero que está presente no</p><p>interior dos capilares. Como cada amostra está associada a uma fl uorescência,</p><p>ao passar por uma janela presente no capilar, um laser detecta o fragmento</p><p>e, por meio de algoritmos que usam como referência o peso molecular e a</p><p>fl uorescência emitida, possibilita que o software identifi que o fragmento de</p><p>DNA detectado. Ao fi nal da reação e de toda análise que o próprio software</p><p>faz, ele gera o que chamamos de eletroferograma (Figuras 49 e 50). Na</p><p>Figura 50 temos um eletroferograma que foi obtido após análise no Sistema</p><p>GenePrintTM Power PlexTM 1.2. Uma amostra de DNA foi amplifi cada usando</p><p>o sistema PowerPlexTM 1.2 e detectada pelo analisador automático. O painel</p><p>superior mostra os loci de STRs marcados com fl uoresceína. O painel central,</p><p>marcados com TMR e o painel inferior mostra o padrão interno CRX (Figura 50).</p><p>FIGURA 49 – SISTEMA DE ELETROFORESE CAPILAR</p><p>FONTE: Goodwin, Linacre e Hadi (2007, p. 55)</p><p>104</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 50 – EXEMPLO DE ELETROFEROGRAMA</p><p>FONTE: LINS et al. (2000, p. 35)</p><p>Já na Figura 51, temos eletroferogramas obtidos para investigação da</p><p>paternidade. As setas mostram claramente os alelos de STRs recebido pela mãe</p><p>e pelo pai da criança. Podemos ver que a criança é do sexo masculino, pela</p><p>presença do pico referente ao cromossomo Y. Na mãe, só temos o pico relativo ao</p><p>cromossomo X.</p><p>FIGURA 51 – ANÁLISE DOS ELETROFEROGRAMAS OBTIDOS</p><p>PARA INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE</p><p>FONTE: Dias (2015, p. 9) <http://pncq.org.br/uploads/2015/workshops_aulas/</p><p>Gen%C3%A9tica%20Forense%20e%20Paternidade.pdf>. Acesso em: 27 dez 2018.</p><p>105</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>Somente após todas essas etapas, desde a extração do DNA até a</p><p>eletroforese, os dados podem ser analisados e inseridos nos bancos de dados</p><p>para procurar por perfi s genéticos compatíveis. Os próprios softwares analisam</p><p>estatisticamente e, de acordo com a frequência alélica na população, a</p><p>probabilidade de um determinado perfi l genético pertencer a algum outro que já</p><p>consta no banco de dados. Mais à frente, ainda neste capítulo, veremos quais</p><p>os STRs analisados pelos laboratórios forenses e os critérios utilizados para a</p><p>inserção dos perfi s genéticos nos bancos de dados.</p><p>Além dos marcadores chamados de biparentais, também podem ser</p><p>analisados nas investigações forenses marcadores de linhagens uniparentais.</p><p>Dentre estes, os haplótipos de STR do cromossomo Y são os mais utilizados. São</p><p>úteis quando é preciso fazer análise de misturas de DNA de duas ou mais pessoas,</p><p>sendo que pelo menos uma delas é do sexo masculino (FILHO; FRANCEZ,</p><p>2018). São úteis, principalmente em casos de estupro e em casos de investigação</p><p>de paternidade envolvendo fi lhos homens, uma vez que o cromossomo Y tem</p><p>características únicas da linhagem paterna. Para tentar padronizar as informações</p><p>e permitir comparações entre diferentes populações, a Sociedade Internacional</p><p>de Genética Forense (ISFG) tem sugerido um conjunto de 9 Y-STRs: DYS19,</p><p>DYS389I, DYS389II, DYS390, DYS393, DYS391, DYS392, DYS385 I/II (FILHO;</p><p>FRANCEZ, 2018).</p><p>Outro marcador considerado uniparental é o DNA mitocondrial (apesar das</p><p>novas evidências mostrando que ele pode ser herdado tanto da mãe como do</p><p>pai, em alguns casos — relembre no Capítulo 1). Além de estabelecer relações</p><p>familiares da linhagem materna, o DNA mitocondrial, como já vimos, é útil também</p><p>por suportar a degradação de amostras para análise</p><p>forense.</p><p>Os marcadores informativos de ancestralidade (AIMs) referem-se às</p><p>regiões do DNA humano que contém informações acerca da origem biogeográfi ca</p><p>do indivíduo e, representam somente 0,01% do genoma (FILHO; FRANCEZ,</p><p>2018). A característica mais importante dos AIMs é a variação na frequência</p><p>alélica em diferentes populações, decorrentes do processo de dispersão dos seres</p><p>humanos modernos a partir da África. São considerados AIMs, os polimorfi smos</p><p>do tipo SNPs e os INDELs. Os SNPs são polimorfi smos derivados de mutações</p><p>de ponto, onde somente um nucleotídeo é substituído (ver Capítulo 1). Os INDELs</p><p>(o nome vem das palavras inserção e deleção) são trechos de dois ou mais</p><p>nucleotídeos que podem estar presentes (inserção) ou ausentes (deleção) nas</p><p>fi tas de DNA de um indivíduo. Ambos os tipos de polimorfi smos têm sido alvo</p><p>de vários estudos, e já está constatada a distribuição alélica diferenciada entre</p><p>populações geografi camente diferentes (FILHO; FRANCEZ, 2018).</p><p>106</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 52 – RESUMO DA ANÁLISE GENÉTICA APLICADA À CIÊNCIA FORENSE</p><p>FONTE: <https://ogimg.infoglobo.com.br/in/17197976-9f1-916/FT1086A/652/</p><p>xpasso-a-passo.jpg.pagespeed.ic.E7RcDSk_hX.jpg>. Acesso em: 11 mar. 2019.</p><p>Em abril de 2019 foi veiculada a seguinte notícia pelo canal G1</p><p>de notícias:</p><p>A Justiça de Cachoeira Alta, a 358 quilômetros de Goiânia,</p><p>condenou dois irmãos gêmeos a registrar e pagar pensão a uma</p><p>mesma fi lha. Segundo consta no processo, os réus não quiseram</p><p>assumir a paternidade e foram submetidos a exames laboratoriais de</p><p>DNA. No entanto, como são univitelinos, com o código genético igual,</p><p>os exames revelaram a compatibilidade da criança com os dois.</p><p>121</p><p>Um mês antes, foi feita uma matéria pelo portal UOL que dizia o</p><p>seguinte:</p><p>Numa noite de novembro de 1999, uma mulher de 26 anos foi</p><p>estuprada num estacionamento em Grand Rapids, Michigan. A polícia</p><p>chegou ao DNA do estuprador a partir de uma amostra de sêmen,</p><p>mas não achou sua identidade no banco de dados. Os detetives não</p><p>encontraram impressões digitais na cena do crime nem localizaram</p><p>testemunhas. A mulher, que fora atacada por trás, não conseguiu</p><p>descrever o criminoso. Tudo indicava que o estuprador jamais</p><p>seria pego. Cinco anos depois, uma reviravolta. Um presidiário que</p><p>107</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>cumpria pena por outro crime sexual forneceu uma amostra de seu</p><p>DNA junto ao pedido de livramento condicional. A amostra bateu com</p><p>o DNA coletado no estupro. Só havia um problema: o presidiário tinha</p><p>um irmão gêmeo, e o exame convencional de DNA não distingue</p><p>entre gêmeos idênticos. Os promotores não tinham outras provas</p><p>que permitissem descartar um ou outro, e, como não podiam indiciar</p><p>nenhum dos dois, o caso permanece aberto até hoje, quase 20 anos</p><p>depois.</p><p>FONTE: <https://vivabem.uol.com.br/noticias/redacao/2019/03/12/exame-</p><p>de-dna-pode-apontar-qual-irmao-gemeo-e-culpado-de-um-crime.htm>.</p><p>Caro aluno, sabemos que os gêmeos univitelinos (ou</p><p>monozigóticos) são aqueles formados quando um único zigoto</p><p>desenvolve-se irregularmente e dá origem a dois indivíduos, que são</p><p>considerados idênticos do ponto de vista genético (BEIGUELMAN,</p><p>2008).</p><p>Tendo em vista do exposto acima, pesquise sobre meios de</p><p>diferenciação genética de gêmeos univitelinos. Será que não existe</p><p>mesmo como diferenciá-los?</p><p>Dica: Use como referência para sua pesquisa o artigo de</p><p>Antonio, Pereira e Ferraz (2017), intitulado Diferenciação Genética</p><p>de Gêmeos Monozigóticos: Uma Importante Evidência para Área</p><p>Forense. Brazilian Journal of Forensic Sciences, Medical Law and</p><p>Bioethics, v. 6(4), p. 485-499 (2017). Sugiro que você leia e faça</p><p>um resumo, além de buscar novos trabalhos sobre o tema. Bons</p><p>estudos!</p><p>2.4 PROCEDIMENTOS</p><p>OPERACIONAIS PADRÕES NO</p><p>LABORATÓRIO DE BIOLOGIA</p><p>MOLECULAR / GENÉTICA FORENSE</p><p>Além de entender como funciona a geração e avaliação dos perfi s genéticos,</p><p>é importante saber que muitos cuidados devem ser tomados ao se trabalhar</p><p>108</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>em um laboratório de Biologia Molecular. Esse cuidado vai desde a</p><p>construção e manutenção do espaço físico, até o descarte de amostras</p><p>feito de maneira correta. Sem as devidas precauções e normas, o risco</p><p>de prejuízo aos resultados é maior. A garantia de padrões de excelência</p><p>da análise de DNA vai depender da padronização de práticas e métodos</p><p>aceitos para garantir a qualidade.</p><p>Segundo Bonaccorso (2010), para que os padrões do laboratório</p><p>sejam mantidos, devem existir rígidos e idôneos controles de qualidade</p><p>e garantia de qualidade.</p><p>O controle de qualidade diz respeito às medidas tomadas para</p><p>que os resultados satisfaçam os padrões específi cos de qualidade. Já</p><p>a garantia de qualidade refere-se ao monitoramento e documentação</p><p>do desempenho do laboratório, por meio de testes de qualidade e</p><p>auditorias regulares.</p><p>O relatório do NRC de 1992 propõe algumas medidas para atingir a</p><p>excelência nos resultados das análises forenses:</p><p>• Cada profi ssional deve ter instrução, treinamento e experiência</p><p>compatíveis com a análise que deve realizar, além de compreender os</p><p>princípios, usos e limitações de cada técnica.</p><p>• Os profi ssionais devem submeter-se periodicamente a testes de</p><p>qualidade e, seu equipamento e procedimentos devem satisfazer</p><p>critérios específi cos.</p><p>• Os reagentes e os equipamentos devem ser adequadamente mantidos e</p><p>monitorados (geralmente recomenda-se manutenção junto ao fabricante</p><p>uma vez ao ano, dependendo do aparelho).</p><p>• Os procedimentos usados devem ter embasamento na literatura</p><p>científi ca e devem ser revisados periodicamente.</p><p>• Devem ser usadas amostras controle adequadas nos procedimentos.</p><p>• Novos protocolos devem ser exaustivamente testados para demonstrar</p><p>sua efi cácia e confi abilidade antes de serem implantados no laboratório.</p><p>• Deve haver procedimentos claramente redigidos e compreensíveis</p><p>para a manipulação e preservação da integridade da prova, para sua</p><p>segurança e defesa do laboratório.</p><p>• Cada laboratório deve participar de um programa externo de testes</p><p>de qualidade, para avaliar a capacidade de seus profi ssionais e a</p><p>confi abilidade dos resultados.</p><p>• Os registros do caso (observações, anotações, dados, entre outros) que</p><p>apoiam as conclusões dos examinadores devem ser arquivados pelo</p><p>laboratório, fi cando à disposição para inspeção do tribunal.</p><p>O controle de</p><p>qualidade diz</p><p>respeito às medidas</p><p>tomadas para</p><p>que os resultados</p><p>satisfaçam os</p><p>padrões específi cos</p><p>de qualidade.</p><p>Já a garantia de</p><p>qualidade refere-se</p><p>ao monitoramento</p><p>e documentação</p><p>do desempenho</p><p>do laboratório, por</p><p>meio de testes</p><p>de qualidade e</p><p>auditorias regulares.</p><p>109</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>2.4.1 EsPaço FÍsico e organiZação</p><p>Organizar o espaço físico e os equipamentos minimizam os riscos de</p><p>contaminação nos laboratórios de Biologia Molecular/Genética Forense.</p><p>Deve-se delimitar espaços seguros e apropriados para a manipulação de</p><p>amostras e de reagentes tóxicos, funcionamento correto dos aparelhos, estoque</p><p>de reagentes e de amostras. Além disso, é importante fazer pequenas alíquotas</p><p>dos reagentes que são utilizados para a extração do DNA e posterior PCR. Isso</p><p>evita contaminação e garante que o reagente não está degradado, principalmente</p><p>aqueles que precisam de refrigeração.</p><p>A Figura 53 é uma sugestão de planta para laboratório onde se realiza</p><p>muitos procedimentos de PCR, como os laboratórios forenses. Podemos notar</p><p>que há uma sala pré-PCR e uma pós-PCR e somente um fl uxo que as amostras</p><p>devem seguir. Isso tem como objetivo evitar a contaminação do tipo carryover (ou</p><p>contaminação por transporte do produto da PCR). Podemos observar também os</p><p>equipamentos fundamentais: freezer -80ºC; termociclador, centrifuga, geladeira,</p><p>computador, analisador de imagens, entre outros.</p><p>Além do uso de diferentes locais para manipulação pré</p><p>e pós-PCR, o</p><p>operador deve estar paramentado com luvas, touca e jaleco para que nenhum</p><p>produto da PCR entre em contato com as amostras que vão ser analisadas. Aliás,</p><p>o uso das luvas, touca e jaleco é essencial para qualquer tarefa realizada dentro</p><p>do laboratório.</p><p>110</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 53 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA</p><p>PLANTA DE UM LABORATÓRIO DE PCR</p><p>FONTE: Bonaccorso (2005, p. 107)</p><p>2.4.2 EsteriliZação e LimPeZa</p><p>Para evitar a contaminação das amostras de DNA é importante que todo</p><p>o material utilizado para manipular esteja estéril. Vidrarias, soluções, água,</p><p>microtubos, ponteiras, entre outros devem passar pelo processo de esterilização.</p><p>O termo esterilização é defi nido como a remoção ou destruição de todas as formas</p><p>de vida microbiana (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012, p. 185).</p><p>Entretanto, tal termo é geralmente empregado de forma a não considerar a</p><p>destruição dos príons, que são formas de vida microbiana altamente resistente.</p><p>Portanto, de maneira geral, o processo de esterilização pode ser ainda aquele</p><p>que:</p><p>os microrganismos são mortos a tal ponto que não seja</p><p>mais possível detectá-los no meio de cultura padrão no qual</p><p>previamente estava proliferado. Convencionalmente considera-</p><p>se um artigo estéril quando a probabilidade de sobrevivência</p><p>dos microrganismos é menor do que 1:1.000.000 (ANVISA,</p><p>2000, p. 17).</p><p>Normalmente a autoclave é o equipamento utilizado para esterilização dos</p><p>reagentes e vidrarias. A autoclave esteriliza os materiais devido à ação combinada</p><p>111</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>da temperatura, pressão e umidade promovem a desnaturação de proteínas</p><p>enzimáticas e estruturais dos microrganismos, causando sua morte.</p><p>Outros métodos de esterilização também são utilizados rotineiramente no</p><p>laboratório: esterilização do fl uxo laminar por luz ultravioleta, uso de álcool 70%</p><p>na bancada de trabalho e nas mãos quando da manipulação dos experimentos, e</p><p>hipoclorito 1% para desinfecção de materiais antes da lavagem.</p><p>Uma fonte comum de contaminação é o aparelho chamado banho-maria, que</p><p>nada mais é que um aparelho para ajuste e controle da temperatura da água.</p><p>Serve de apoio para preparo de amostras para a extração de DNA e para fazer</p><p>reações enzimáticas que precisam de temperatura constante. O banho-maria deve</p><p>ser totalmente limpo conforme o volume de trabalho do laboratório, geralmente de</p><p>uma vez por semana a uma vez por mês.</p><p>As micropipetas utilizadas para manipular as amostras e preparar as reações</p><p>também merecem especial atenção e devem sempre ser limpas antes e após</p><p>o seu uso. Pode-se usar álcool 70% e também esterilizar no fl uxo laminar com</p><p>o uso da luz UV. Algumas marcas de micropipetas permitem que elas sejam</p><p>autoclavadas.</p><p>112</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 54 – PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS E MATERIAIS ENCONTRADOS</p><p>NO LABORATÓRIO DE BIOLOGIA MOLECULAR / GENÉTICA FORENSE</p><p>FONTE: O autor. Imagens da Internet. Disponíveis em: fl uxo laminar para PCR:</p><p><https://www.ciencor.com.br/catalogo/images/Cabine%20fl uxo%20PCR%20AC632DB.</p><p>jpg>; micropipeta: <https://www.pipette.com/GetContent.ashx?ctn=BrandImages/</p><p>Eppendorf-Research-Plus-adjustable-pipette.jpg>; autoclave: <http://www.quimis.com.br/</p><p>equipamentos-laboratorio/imagens/informacoes/autoclave-vertical-01.jpg>; banho-maria:</p><p><https://w1.ezcdn.com.br/cirurgicaestilo/fotos/grande/15718fg1/banho-maria-100-6-6-litros-</p><p>220v-alb-800-s.jpg>; microtubos: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/81/</p><p>PCR_tubes.png>; termociclador: arquivo pessoal. Acesso em: 17 mar. 2019.</p><p>3 BASE DE DADOS E PERFIS DE DNA</p><p>Como vimos no primeiro capítulo, o desenvolvimento das tecnologias</p><p>de DNA trouxe grande avanço para as Ciências Forenses, porém, também</p><p>criou um montante enorme de informações que precisaram ser organizadas e</p><p>armazenadas. Com isso, foram criados em muitos países os bancos de dados de</p><p>perfi s genéticos. De modo geral, o banco de dados de perfi s genéticos pode ser</p><p>defi nido como o armazenamento de perfi s de DNA e amostras biológicas (perfi s</p><p>genéticos de referência) que permitem o confronto com amostras coletadas</p><p>em locais de crime (SILVA; BINSFELD, 2012). Bonaccorso (2010) faz uma</p><p>representação sobre os bancos de dados de DNA e os confrontos que podem</p><p>ser feitos, ou seja: (a) com perfi s de amostras de dois indivíduos; (b) com perfi s</p><p>de amostras de vestígios e de um indivíduo e (c) com perfi s de duas amostras de</p><p>vestígios (Figura 55).</p><p>113</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>FIGURA 55 – REPRESENTAÇÃO DE UM BANCO DE</p><p>DADOS E OS PROCESSOS DE CONFRONTO</p><p>FONTE: Bonaccorso (2010, p. 80)</p><p>A Figura 56 mostra a atual situação dos bancos de dados de DNA no mundo.</p><p>Em mais de sessenta países, os bancos já foram criados e já estão em operação</p><p>(representados em cor mais escura), porém em outros, ainda estão em fase de</p><p>planejamento ou instalação. Estes dados são os mais recentes, porém sugiro que</p><p>você visite o site indicado na fi gura para buscar por atualizações no número de</p><p>países que implementaram o banco de dados de DNA.</p><p>FIGURA 56 – PAÍSES QUE JÁ POSSUEM BANCO DE DADOS EM OPERAÇÃO</p><p>FONTE: <http://dnapolicyinitiative.org/wiki/images/4/43/</p><p>Map.png>. Acesso em: 11 mar. 2019.</p><p>114</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Salta aos nossos olhos, a China ainda não possuir um banco de dados de</p><p>DNA operando, não é mesmo? Algumas notícias de 2017 nos mostram uma</p><p>preocupação de autoridades, principalmente no que se refere aos Direitos</p><p>Humanos, pois o governo chinês quer incluir toda a população neste banco de</p><p>dados, não somente os criminosos ou suspeitos de alguma investigação (rede</p><p>BBC e The Guardian). Vale a pena acompanhar essa situação nos próximos anos.</p><p>A primeira legislação que permitiu coletar e armazenar amostras de DNA</p><p>de condenados foi aprovada em 1989, na Virgínia, Estados Unidos. Em 1994, o</p><p>Reino Unido criou o UK National DNA Database (NDNAD) e os Estados Unidos,</p><p>o Federal DNA Identifi cation Act (NDIS), sendo, portanto, as primeiras nações</p><p>a criarem um banco de dados de perfi s genéticos. Em 1998, o software CODIS</p><p>(Combined DNA Index System) foi lançado e permitiu comparar perfi s genéticos</p><p>de amostras questionadas com outros já existentes no NDIS (WALLACE et al.,</p><p>2006; GARRIDO; RODRIGUES, 2015).</p><p>No Brasil, o banco de dados de DNA foi regulamentado em 2012, por meio da</p><p>Lei 12.564. Até essa data o uso da identifi cação genética estava limitado a casos</p><p>fechados em que vítima e autor já haviam sido colocados na cena do crime, e o</p><p>trabalho pericial e laboratorial que seguiria tinha por objetivo corroborar a prova</p><p>ou garantir a autoria do delito.</p><p>O primeiro caso de utilização da genética forense só chegou aos nossos</p><p>tribunais em 1994, quando dois peritos criminais da Polícia Científi ca do Distrito</p><p>Federal foram encaminhados aos Estados Unidos com a fi nalidade de realizarem</p><p>a análise de DNA em um material biológico relacionado a dois crimes praticados</p><p>em Brasília (ALVES, 2009).</p><p>O Decreto n.º 7.950, de 12 de março de 2013, instituiu o Banco Nacional</p><p>de Perfi s Genéticos (BNPG) e a Rede Integrada de Bancos de Perfi s Genéticos</p><p>(RIBPG). A partir deste decreto também foi constituído um comitê gestor da</p><p>RIBPG, composto por representantes do Ministério da Justiça, da Secretaria</p><p>de Direitos Humanos da Presidência da República, e dos Estados e do Distrito</p><p>Federal (BRASIL, 2013). Trata-se de uma ação conjunta entre Secretarias de</p><p>Segurança Pública (ou instituição equivalente), Secretaria Nacional de Segurança</p><p>Pública (SENASP) e Polícia Federal (PF). O objetivo da RIBPG é possibilitar o</p><p>compartilhamento e a comparação de perfi s genéticos em todo o país, por meio</p><p>de um banco central em que todos os laboratórios forenses estaduais estejam</p><p>conectados.</p><p>Apesar deste compartilhamento de informações, é importante ressaltar que</p><p>o BNPG tem caráter sigiloso, sendo o acesso restrito e</p><p>controlado, respondendo</p><p>civil, penal e administrativamente aquele que permitir ou promover sua utilização</p><p>115</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>para fi ns diversos dos previstos em lei ou em decisão judicial. Garante também</p><p>que os marcadores genéticos utilizados para estabelecimento destes perfi s não</p><p>poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto</p><p>determinação genética de gênero (BRASIL, 2012).</p><p>Apesar de a Lei ter sido regulamentada somente em 2012, esforços</p><p>anteriores já estavam sendo realizados para a criação do bando de dados de DNA</p><p>brasileiro. Entre 2007 e 2008, o Ministério da Justiça aceitou a oferta do governo</p><p>americano para adotar o CODIS como software padrão de armazenamento dos</p><p>perfi s genéticos. Em 2010 houve o primeiro curso de capacitação para uso do</p><p>CODIS 5.0 e 6.0 em Brasília. Já entre 2010 e 2012, foi possível inserir no CODIS</p><p>perfi s de vestígios de amostras questionadas, bem como perfi s genéticos de</p><p>cadáveres desconhecidos e de familiares de pessoas desaparecidas (FILHO;</p><p>FRANCES, 2018).</p><p>Os bancos de dados de DNA são formas de armazenar perfi s</p><p>genéticos de amostras biológicas para que se possa confrontar com os</p><p>dados da investigação. O software CODIS foi criado nos Estados Unidos</p><p>em 1998 e é utilizado pelo banco de dados brasileiro, que foi criado em</p><p>2012.</p><p>Os perfi s genéticos são regularmente armazenados nos bancos de</p><p>dados onde são confrontados em busca de coincidências que permitam</p><p>relacionar suspeitos a locais de crime ou diferentes locais de crime entre</p><p>si. Os perfi s genéticos gerados pelos laboratórios RIBPG são enviados</p><p>rotineiramente ao BNPG, onde são feitos os confrontos de forma</p><p>nacional com perfi s gerados pelos 20 laboratórios de genética forense</p><p>que compõe a rede, bem como perfi s encaminhados de outros países</p><p>por meio da Interpol (BRASIL, 2018).</p><p>Até maio de 2018, temos 18 laboratórios estaduais, um laboratório distrital e</p><p>um laboratório da Polícia Federal participando efetivamente da RIBPG (Quadro 1).</p><p>Os bancos de dados</p><p>de DNA são formas</p><p>de armazenar</p><p>perfi s genéticos</p><p>de amostras</p><p>biológicas para que</p><p>se possa confrontar</p><p>com os dados da</p><p>investigação. O</p><p>software CODIS foi</p><p>criado nos Estados</p><p>Unidos em 1998 e é</p><p>utilizado pelo banco</p><p>de dados brasileiro,</p><p>que foi criado em</p><p>2012.</p><p>116</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>QUADRO 1 – LABORATÓRIOS QUE FAZEM PARTE DA RIBPG: ESTADO</p><p>ONDE SE LOCALIZAM E A QUAL ÓRGÃO ESTÃO VINCULADOS</p><p>FONTE: Brasil (2018)</p><p>Já no gráfi co que se segue, podemos observar as contribuições de cada</p><p>laboratório com relação às diferentes categorias de perfi s genéticos inseridos no</p><p>banco de dados. Podemos observar que os perfi s genéticos são provenientes de</p><p>vestígios de crime (verde); condenados (azul); suspeitos e legal (amarelo); restos</p><p>mortais não identifi cados e identidade desconhecida (verde escuro); referência</p><p>direta e indireta de pessoa desaparecida (azul marinho).</p><p>117</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>FIGURA 57 - PADRÃO DE CONTRIBUIÇÃO DE CADA LABORATÓRIO AO BNPG</p><p>DE ACORDO COM AS PRINCIPAIS CATEGORIAS DE PERFIS GENÉTICOS</p><p>FONTE: Brasil (2018)</p><p>Apesar de todos os esforços e do crescimento do número de perfi s</p><p>genéticos inseridos na rede, até o momento, a RIBPG apresenta um potencial</p><p>subaproveitado para a segurança pública (BRASIL, 2018). Segundo relatório da</p><p>Procuradoria Geral da União, a reincidência de crimes graves contra a pessoa e</p><p>hediondos é superior a 50% (BRASIL, 2017). Além disto, o índice de homicídios</p><p>que são esclarecidos no Brasil não ultrapassa 5% dos casos, sugerindo a</p><p>necessidade urgente de implementar outros meios para a investigação, como a</p><p>utilização dos bancos de perfi s genéticos.</p><p>Com o objetivo de reduzir homicídios dolosos, feminicídios e a violência</p><p>contra a mulher, foi implementado o projeto estratégico de fortalecimento da</p><p>RIBPG, sendo uma das metas cadastrar nos bancos de perfi s genéticos 50% do</p><p>número de condenados até o fi nal de 2019. Por meio do projeto de coleta de</p><p>amostra biológica de condenados, espera-se nos próximos dois anos aumentar</p><p>a contribuição de perfi s genéticos de cada laboratório da RIBPG para o Banco</p><p>Nacional de Perfi s Genéticos a fi m de auxiliar a resolução de crimes, evitar novos</p><p>delitos, além de proteger inocentes injustamente acusados.</p><p>118</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 58 – CASOS DE SUCESSO PROPORCIONADOS</p><p>PELOS BANCOS DE DADOS DE DNA</p><p>FONTE: O autor</p><p>119</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>Como mencionado anteriormente, o BNPG adotou o sistema CODIS</p><p>para cadastro e armazenamento de dados genéticos. Até o ano de 2016 eram</p><p>considerados 13 STRs para identifi cação e comparação genética. Porém, este</p><p>número foi revisto pelo FBI e, atualmente, são considerados 20 STRs (Quadro 2).</p><p>QUADRO 2 – LOCI DE STR ANALISADOS PELO CODIS</p><p>FONTE: <https://www.fbi.gov/services/laboratory/biometric-analysis/</p><p>codis/codis-and-ndis-fact-sheet> Acesso em: 12 mar. 2019.</p><p>Painel de STR analisado pelo CODIS</p><p>Amelogenina (defi ne sexo) D3S1358</p><p>D18S51 D5S818</p><p>FGA CSF1PO</p><p>D21S11 D2S1338</p><p>D8S1179 D19S433</p><p>vWA D1S1656</p><p>D13S317 D12S391</p><p>D7S820 D2S441</p><p>TH01 D10S1248</p><p>D16S539 DYS391</p><p>A ampliação no número de STRs analisados aumenta o poder de</p><p>discriminação e há pesquisadores que sugerem o uso de marcadores que</p><p>não fazem parte do CODIS (seriam os STRs non-CODIS) para complementar</p><p>as análises e obter resultados mais conclusivos. Para obtenção de maior</p><p>padronização e compartilhamento de dados entre os países, grupos de trabalho</p><p>são constantemente montados pelo FBI para estudar, rever e recomendar novos</p><p>STRs. Para validação e confi abilidade dos resultados, é necessário considerar</p><p>a frequência dos alelos de STRs pesquisados, uma vez que há variações entre</p><p>grupos de populações distintas. Por isso, nossa população é ideal para esse tipo</p><p>de estudo, uma vez que existe uma alta taxa de miscigenação, com etnias de</p><p>diferentes partes do mundo (RODOVALHO et al., 2015).</p><p>120</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Caro aluno, caso você tenha facilidade com Inglês, leia o artigo</p><p>de Rodovalho e colaboradores (2015) como exemplo deste tipo de</p><p>estudo, disponível através do link: http://www.funpecrp.com.br/gmr/</p><p>year2015/vol14-3/pdf/gmr5050.pdf. Se quiser se aprofundar mais</p><p>nesse tema, pesquise nas bases de dados Scielo, Google Scholar</p><p>e Pubmed Central, por exemplo. Outras ótimas fontes de textos com</p><p>informações confi áveis são os sites das bibliotecas das universidades</p><p>brasileiras, onde você pode ter acesso a dissertações e teses dos</p><p>mais variados programas de pós-graduação.</p><p>Os perfi s genéticos inseridos no CODIS devem estar relacionados a um dos</p><p>índices a seguir (GARRIDO; RODRIGUES, 2014):</p><p>• Forense: perfi l originado de evidência obtida em cena de crime, como</p><p>manchas de sangue e esperma, entre outros.</p><p>• Condenados: perfi l de condenados.</p><p>• Detidos: perfi l de pessoas detidas, se a lei permitir.</p><p>• Desaparecidos: perfi l de pessoas desaparecidas.</p><p>• Corpos e restos humanos não identifi cados: perfi s de cadáveres e</p><p>despojos não identifi cados.</p><p>• Parentes de desaparecidos: perfi s de voluntários parentes de pessoas</p><p>desparecidas.</p><p>Não sendo possível a obtenção do perfi l genético completo de</p><p>vestígios, de restos mortais não identifi cados e de referências</p><p>diretas de pessoas desaparecidas, poderá ser inserido na</p><p>RIBPG um perfi l genético com pelo menos nove marcadores</p><p>genéticos dentre os treze marcadores CODIS (CSF1PO, FGA,</p><p>TH01, TPOX, vWA, D3S1358, D5S818, D7S820, D8S1179,</p><p>D13S317, D16S539, D18S51 e D21S11) (BRASIL, 2013, p 10).</p><p>Os vestígios incompletos devem ser cadastrados na categoria de vestígio</p><p>parcial.</p><p>Para que as buscas realizadas na RIBPG forneçam resultados</p><p>conclusivos, exige-se a genotipagem de um número mínimo</p><p>de marcadores genéticos padronizados. Os treze marcadores</p><p>CODIS (CSF1PO,</p><p>FGA, TH01, TPOX, vWA, D3S1358, D5S818,</p><p>D7S820, D8S1179, D13S317, D16S539, D18S51 e D21S11)</p><p>são considerados marcadores genéticos requeridos. Além dos</p><p>marcadores genéticos requeridos, também serão aceitos os</p><p>seguintes: D2S1338, D19S433, Penta D, Penta E, D10S1248,</p><p>121</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>D22S1045, D1S1656, D12S391 e D2S441 (BRASIL, 2013,</p><p>p.10).</p><p>Na Figura 59, temos um guia elaborado pela RIBPG para a inserção de perfi s</p><p>genéticos de vestígios no CODIS.</p><p>FIGURA 59 – GUIA PARA INSERÇÃO DE PERFIS</p><p>GENÉTICOS DE VESTÍGIOS NO CODIS</p><p>FONTE: BRASIL (2013, p. 14)</p><p>A legislação acerca da inserção dos perfi s genéticos e das comparações</p><p>nos bancos de dados apresentam diferenças de acordo com a legislação de</p><p>cada nação. Em alguns países, por exemplo, apenas criminosos condenados</p><p>são incluídos no banco de dados e em outros, apenas os condenados por</p><p>alguns crimes específi cos vão para o banco (INTERPOL, 2008). Apesar de tais</p><p>Rede integrada de Bancos de perfi s Genéticos</p><p>Guia para determinar se um perfi l genético de vestígio de criminoso pode entrar no CODIS</p><p>I. Há documentação indicando</p><p>que um crime foi cometido?</p><p>II. O vestígio foi coletado no</p><p>local de crime*?</p><p>III. O material biológico pode</p><p>ser atribuído ao criminoso?</p><p>IV. Há um suspeito para o</p><p>caso em questão?</p><p>V. O material foi apreendido</p><p>com suspeito?</p><p>O perfi l genético não poderá</p><p>entrar no banco de dados.</p><p>O perfi l genético não poderá</p><p>entrar no banco de dados.</p><p>O perfi l genético não poderá</p><p>entrar no banco de dados.</p><p>O perfi l genético não poderá</p><p>entrar no banco de dados.</p><p>O perfi l genético poderá ser</p><p>inserido no banco de dados.</p><p>O perfi l genético poderá ser</p><p>inserido no banco de dados.</p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>Não</p><p>Não</p><p>Não</p><p>Não</p><p>Não</p><p></p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>Sim</p><p>Sim</p><p>Sim</p><p>Sim</p><p>Sim</p><p>(*) Um vestígio coletado no corpo da vítima também cumpe este requisito.</p><p>122</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>diferenças, em 2005, o Tratado de Prüm foi assinado, visando o compartilhamento</p><p>de informações entre as agências de segurança europeias, incluindo os dados</p><p>de perfi s genéticos. Primeiramente, o tratado contava com Bélgica, Alemanha,</p><p>Espanha, França, Luxemburgo, Holanda e Áustria, posteriormente, mais 20</p><p>países europeus se tornaram signatários.</p><p>Quando da implantação dos bancos de dados na comunidade europeia, a</p><p>European Network of Forensic Science Institutes (ENFSI) decidiu por um painel de</p><p>7 STRs para análise, constituindo assim o chamado European Standard Set (ESS).</p><p>Atualmente, esse painel conta com 12 STRs, sendo que a maioria se sobrepõe</p><p>aos utilizados pelo CODIS. São eles: FGA, TH01, VWA, D1S1656, D2S441,</p><p>D3S1358, D8S1179, D10S1248, D12S391, D18S51, D21S11, D22S1045</p><p>(STRbase, 2018).</p><p>Caro aluno, recomendo visitar o site STRbase https://strbase.nist.</p><p>gov/index.htm, sobre banco de dados de STRs. Ele foi desenvolvido</p><p>por John M. Butler, referência importante na Genética Forense. No</p><p>site, além de observar as últimas atualizações com relação aos STRs</p><p>utilizados para análise genética, você pode conferir alguns materiais</p><p>informativos, como palestras e artigos.</p><p>Para fi nalizar gostaria de chamar atenção para um assunto que está sendo</p><p>debatido entre os especialistas da área e que, provavelmente, vamos ouvir falar</p><p>muito no futuro. Trata-se do banco de dados de DNA universal. Este banco</p><p>de dados seria construído de maneira similar às bases de dados de DNA já</p><p>existentes, porém algumas mudanças seriam necessárias: (a) incluir todos os</p><p>indivíduos (e não só os investigados criminalmente), (b) não eliminar os perfi s</p><p>genéticos das bases de dados (para isso, novas leis deveriam ser feitas) e (c)</p><p>melhorar a integração e compartilhamento de dados com as bases já existentes</p><p>(DEDRICKSON, 2018).</p><p>Assim como os bancos de DNA já existentes, o banco universal também</p><p>levanta muito debate com relação à privacidade das informações. Todavia, como</p><p>vimos anteriormente, o acesso aos dados é totalmente sigiloso e feito somente</p><p>por pessoal autorizado. O mesmo autor defende que:</p><p>Um banco de dados de DNA universal adequadamente</p><p>construído representaria apenas uma invasão mínima de</p><p>123</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>privacidade. Em troca, diminuiria o crime, reverteria e impediria</p><p>falsas convicções, tornaria as investigações mais efi cazes e</p><p>efi cientes e protegeria contra técnicas investigativas muito</p><p>mais invasivas. Um banco de dados de DNA universal deve ser</p><p>visto como uma forma de proteger a nós mesmos e aos outros,</p><p>não como uma invasão de privacidade do tipo Big Brother</p><p>(DEDRICKSON, 2018, p. 647, tradução nossa).</p><p>Apesar dos pontos a favor levantados por Dedrickson e outros especialistas,</p><p>os críticos defendem que a retenção do perfi l genético em um banco de dados</p><p>fere o Artigo 8 dos Direitos Humanos, constituindo assim “uma interferência sem</p><p>proporção no direito ao respeito da vida privada e não pode ser considerada</p><p>necessária numa sociedade democrática" (WALLACE et al., 2014, p. 58,</p><p>tradução nossa). Outras questões levantadas e discutidas pelos mesmos autores</p><p>são: o grande volume de recurso fi nanceiro utilizado para construir um banco</p><p>universal; o uso indevido de informações pela Polícia, pelo Estado ou por quem</p><p>conseguir invadir o sistema e o aumento de erros e resultados não confi áveis nas</p><p>investigações.</p><p>É certo que há uma necessidade de maior debate público e político à medida</p><p>que os bancos de dados de DNA se expandem ao redor do mundo. Algumas</p><p>salvaguardas são implantadas em nível nacional ou regional, mas há uma falta</p><p>de padrões globais e uma necessidade de mais engajamento e debate social</p><p>(WALLACE et al., 2014).</p><p>FIGURA 60 – GRUPOS DE GENÉTICA FORENSE</p><p>FONTE: O autor</p><p>124</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES</p><p>Neste capítulo conhecemos os procedimentos laboratoriais necessários</p><p>para a construção de um perfi l genético. Após a chegada da amostra biológica</p><p>no laboratório, o DNA deve ser extraído, amplifi cado, quantifi cado e, só após da</p><p>corrida eletroforética é que os STRs podem ser analisados e comparados com</p><p>perfi s genéticos existentes nos bancos de dados de DNA. Além disso, vimos que</p><p>não são todos os perfi s genéticos gerados que podem ser inseridos nos bancos,</p><p>eles devem seguir critérios para sua inclusão.</p><p>Os bancos de dados de DNA já são uma realidade em muitos países e é um</p><p>instrumento imprescindível para a investigação criminal e identifi cação civil hoje</p><p>em dia. O crescimento de bancos de dados de DNA forense em todo o mundo</p><p>é frequentemente associado à resposta natural às demandas públicas por um</p><p>melhor policiamento. Mas a taxa alarmante de criação e expansão de tais bancos</p><p>de dados, com pouca participação pública e discussão, tem sido digna de debate.</p><p>Acompanhando o avanço científi co e tecnológico característico do fi nal do</p><p>Século XX, a Genética Forense sofreu um desenvolvimento muito signifi cativo</p><p>somente nestas duas últimas décadas. Esse desenvolvimento permitiu não</p><p>apenas uma maior sensibilidade nos resultados analíticos como também uma</p><p>diversifi cação do tipo de marcadores genéticos à disposição da investigação.</p><p>Ao fi nal de nossa disciplina, espero que tenha fi cado claro, para você, caro</p><p>aluno, que a identifi cação humana por DNA é, atualmente, considerada crucial</p><p>para a resolução de situações envolvendo matéria penal, bem como aquelas</p><p>relacionadas à paternidade e continua revolucionando as áreas jurídicas e penais.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALVES, E. G. Direitos fundamentais e limitações necessárias: aplicação do</p><p>exame pericial do DNA para a identifi cação de pessoas. 2009. 53f. Trabalho de</p><p>Conclusão de Curso (Pós-graduação lato sensu em Ordem Jurídica e Ministério</p><p>Público) – Fundação Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal</p><p>e Territórios, Brasília, 2009. https://slidex.tips/download/direitos-fundamentais-</p><p>limitaoes-necessarias-aplicaao-do-exame-pericial-do-dna-pa. Acesso em: 19 dez.</p><p>2018.</p><p>BONACCORSO, N. S. Aplicação do exame de DNA na elucidação de crimes.</p><p>2005, 193f. Dissertação (Mestrado em Medicina Forense) – Faculdade de Direito</p><p>da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.</p><p>125</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>BONACCORSO, N. S. Aspectos técnicos, éticos e jurídicos relacionados</p><p>com a criação de banco de dados criminais de DNA no Brasil. 2010. 262f.</p><p>Tese (Doutorado em Direito Penal) - Universidade de São Paulo. São Paulo,</p><p>2010.</p><p>BRASIL. VIII Relatório da rede integrada de bancos de perfi s genéticos</p><p>(RIBPG). Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2018. http://www.</p><p>seguranca.gov.br/sua-seguranca/ribpg/relatorio/viii-relatorio-da-rede-integrada-</p><p>de-bancos-de-perfi s-geneticos-ribpg-fi nal.pdf/view. Acesso em: 19 dez. 2018.</p><p>BRASIL. Rede integrada de bancos de perfi s genéticos: manual de</p><p>procedimentos operacionais. Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública,</p><p>2013. http://www.justica.gov.br/central-de-conteudo/seguranca-publica/manuais/</p><p>manual-de-procedimentos-operacionais-ribpg-v1-0-versao-fi nal-2013.pdf. Acesso</p><p>em: 19 dez. 2018.</p><p>BRASIL. Decreto nº 7.950, de 12 de março de 2013. Institui o Banco Nacional</p><p>de Perfi s Genéticos e a Rede Integrada de Bancos de Perfi s Genéticos. Brasília,</p><p>2013. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d7950.</p><p>htm. Acesso em: 19 dez. 2018.</p><p>BRASIL. Lei nº 12.654, de 28 de maio de 2012. Altera as Leis nº 12.037, de 1º</p><p>de outubro de 2009, e 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal,</p><p>para prever a coleta de perfi l genético como forma de identifi cação criminal, e dá</p><p>outras providências. Brasília, 2012. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-</p><p>2014/2012/Lei/L12654.htm. Acesso em: 19 dez. 2018.</p><p>BRASIL. Curso básico de controle de infecção hospitalar. Caderno C.</p><p>Métodos de proteção anti-infecciosa. Brasília: Agencia Nacional de Vigilância</p><p>Sanitária – ANVISA, 2000. http://www.cvs.saude.sp.gov.br/pdf/CIHCadernoC.pdf.</p><p>Acesso em: 17 mar. 2019.</p><p>BRASIL. PARECER Nº 07/2017 – AJCR/SGJ/PGR - Parecer pelo não</p><p>provimento do recurso nº 973837/MG ao STF. 2017. Brasília: Procuradoria</p><p>Geral da República. http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.</p><p>asp?id=313604115&ext=.pdf. Acesso em: 17 mar. 2019.</p><p>CORTE-REAL, F.; VIEIRA, D.N. Princípios de Genética Forense. Coimbra:</p><p>Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015. https://digitalis.uc.pt/pt-pt/livro/</p><p>princ%C3%ADpios_de_gen%C3%A9tica_forense. Acesso em: 19 dez. 2018.</p><p>DEDRICKSON, K. Universal DNA databases: a way to improve privacy? Journal</p><p>of Law and the Biosciences, v. 22; n.4, p. 637-647, jan. 2018.</p><p>126</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>DIAS, A. Genética Forense e Paternidade. 2015. http://pncq.org.br/uploads/2015/</p><p>workshops_aulas/Gen%C3%A9tica%20Forense%20e%20Paternidade.pdf.</p><p>Acesso em: 27 dez. 2018.</p><p>FILHO, C. R.; FRANCEZ, P.A. Introdução à Biologia Forense. 2. ed. Campinas:</p><p>Millenium, 2018.</p><p>GARRIDO, R. G.; RODRIGUES, E. L. Ciência Forense. Da cena do crime ao</p><p>laboratório de DNA. Rio de Janeiro: Ed. Projeto Cultural. 2014.</p><p>GOODWIN, W.; LINACRE, A.; HADI, A. An introduction to Forensic Genetics.</p><p>West Sussex: John Wiley & Sons Inc., 2007.</p><p>INTERPOL. Global DNA profi ling survey results. Lyon-</p><p>FR: ICPO-INTERPOL, 2008. http://www.dnaresource.com/</p><p>documents/2008INTERPOLGLOBALDNASURVEYREPORTV2.pdf. Acesso em:</p><p>22 dez. 2018.</p><p>HAAS, B. Chinese authorities collecting DNA from all residents of Xinjiang. The</p><p>Guardian, Hong Kong, 13 dez. 2017. https://www.theguardian.com/world/2017/</p><p>dec/13/chinese-authorities-collecting-dna-residents-xinjiang. Acesso em: 20 dez.</p><p>2018.</p><p>LINS et al. The Evolution of Short Tandem Repeat (STR) Multiplex Systems.</p><p>Madison-WI: 2000. https://www.promega.com/~/media/fi les/resources/</p><p>conference%20proceedings/ishi%2002/oral%20presentations/07.pdf. Acesso em:</p><p>27 dez. 2018.</p><p>NRC. DNA technology in forensic science. Washington D.C., 1992. https://</p><p>www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK234542/pdf/Bookshelf_NBK234542.pdf. Acesso</p><p>em: 15 dez. 2018.</p><p>PRIVACY concerns as China expands DNA database. BBC News, Londres, 17</p><p>mai. 2017. https://www.bbc.com/news/world-asia-china-39945220. Acesso em: 20</p><p>dez. 2018.</p><p>RODOVALHO, R. G. et al. Allele frequencies of combined DNA index system</p><p>(CODIS) and non-CODIS short tandem repeat loci in Goiás, Central Brazil.</p><p>Genetics and Molecular Research, v. 14, n. 3, p. 7310-7314, jul. 2015. http://</p><p>www.funpecrp.com.br/gmr/year2015/vol14-3/pdf/gmr5050.pdf. Acesso em: 18</p><p>dez. 2018.</p><p>127</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 3</p><p>SCORSATO, A. P.; TELLES, J. E. Fatores que interferem na qualidade do DNA</p><p>extraído de amostras biológicas armazenadas em blocos de parafi na. Jornal</p><p>Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 47, n. 5, p. 541-548, out.</p><p>2011. http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v47n5/v47n5a08.pdf. Acesso em: 20 dez.</p><p>2018.</p><p>SILVA, L. L. R.; BINSFELD, P. Evolução histórica da genética</p><p>forense no judiciário brasileiro, Goiás: PUC, 2012. http://www.cpgls.</p><p>pucgoias.edu.br/7mostra/Artigos/SAUDE%20E%20BIOLOGICAS/</p><p>EVOLU%C3%87%C3%83O%20HIST%C3%93RICA%20DA%20</p><p>GEN%C3%89TICA%20FORENSE%20NO%20JUDICI%C3%81RIO%20</p><p>BRASILEIRO.pdf. Acesso em: 18 dez. 2018.</p><p>TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. Rio de Janeiro:</p><p>Guanabara Koogan, 2012.</p><p>WALLACE, H. M.; et al. Forensic DNA databases–Ethical and legal standards: A</p><p>global review. Egyptian Journal of Forensic Sciences, v. 4, p. 57–63, 2014. http://</p><p>www.scielo.br/pdf/jbpml/v47n5/v47n5a08.pdf. Acesso em: 18 dez. 2018.</p><p>WALSH, P. S.; METZGER, D. A.; HIGUCHI, R. Chelex 100 as a Medium</p><p>for Simple Extraction of DNA for PCR-Based Typing from Forensic Material.</p><p>BioTechniques, v. 10,n. 3, p. 506-513, abr. 1991.</p><p>usado em grandes</p><p>desastres, como queda de aviões, explosões e incêndios.</p><p>Pode ser usado o termo haplótipo para se referir ao mtDNA, porque ele possui</p><p>somente a herança materna, ou seja, é haploide. Em 2016, cientistas descobriram</p><p>que o mtDNA paterno é degradado por uma enzima chamada endonuclease</p><p>G, que é liberada quando as mitocôndrias paternas perdem a integridade da</p><p>sua membrana durante a fertilização. Além disso, também ocorrem autofagia e</p><p>destruição de proteínas mitocondriais paternas por parte materna (ZHOU et al.,</p><p>2016).</p><p>17</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>É importante lembrar que sempre houve um debate a cerca da origem</p><p>exclusivamente materna do mtDNA. Um artigo recém-publicado mostrou que,</p><p>nos indivíduos analisados, houve transmissão biparental do mtDNA, ou seja,</p><p>receberam o mtDNA tanto da mãe quanto do pai. Os autores salientam que o</p><p>dogma central da herança mitocondrial materna permanece válida, entretanto,</p><p>deve-se ter em mente que, em casos excepcionais, o mtDNA paterno também</p><p>pode ser passado aos fi lhos (LUO et al., 2018).</p><p>Nos humanos, o mtDNA possui 16.569 pb e 37 genes. Apresenta-se como</p><p>uma dupla fi ta circular, sendo que uma das fi tas é rica em guanina (fi ta pesada ou</p><p>H-strand) e a outra fi ta é rica em citosina (fi ta leve ou L-strand). Dos 37 genes, 28</p><p>encontram-se na fi ta pesada e os outros 9 na fi ta leve. Os genes estão envolvidos</p><p>na produção de energia, estoque de ATP e produção de RNA transportador e RNA</p><p>ribossômico.</p><p>A região chamada de D-loop é a que possui interesse para a identifi cação</p><p>humana, pois é uma região de extrema variação que acumula muitas mutações.</p><p>Trata-se de uma sequência de nucleotídeos que não codifi ca proteínas, porém</p><p>controla a síntese de RNA e DNA.</p><p>FIGURA 7 – O DNA MITOCONDRIAL</p><p>FONTE: Chinery e Hudson (2013)</p><p>18</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Esquema representando o DNA mitocondrial. O mtDNA é uma molécula</p><p>dupla e circular de DNA. O círculo de fora representa a cadeia pesada e o círculo</p><p>de dentro a cadeia leve.</p><p>O termo genoma pode ser defi nido de maneira bem simples, como “a</p><p>coleção de todos os genes de um organismo” (GRIFFTHIS, 2009, p. 27). Outros</p><p>dizem que o termo representa o total de genes presente no genoma haploide (ou</p><p>seja, em uma das cópias do total de DNA).</p><p>Cada espécie possui seu genoma único e a quantidade total do genoma</p><p>haploide (valor C) também é espécie-específi ca. Era de se esperar que à medida</p><p>que aumenta a complexidade dos seres vivos, o valor de C aumentaria. Isso é</p><p>verifi cado em grande parte da natureza, entretanto, há espécies relacionadas que</p><p>possuem genoma muitas vezes maior que a outra. Ainda, sabemos que existem</p><p>espécies com valor C maior que o de humanos. Este fato é conhecido como o</p><p>paradoxo do valor C, ou seja, é a impossibilidade de correlacionar diretamente o</p><p>tamanho do genoma com a complexidade dos organismos. Isto, como veremos,</p><p>é consequência da presença de sequências de DNA repetitivo no genoma dos</p><p>eucariotos. Tais sequências repetitivas foram observadas em experimentos</p><p>clássicos de cinética de renaturação do DNA, porém, comprovadas e melhores</p><p>entendidas após o sequenciamento realizado pelo Projeto Genoma Humano,</p><p>divulgado no início dos anos 2000.</p><p>Hoje sabemos que o genoma humano possui um número muito menor</p><p>de genes do que o esperado pelos cientistas. Estima-se que sejam de 20.000 a</p><p>25.000 genes, isto é, menos de 1,5%, do total de pares de bases do DNA, codifi ca</p><p>alguma proteína, e somente 5% contém elementos que regulam e infl uenciam a</p><p>expressão dos genes nos diferentes tecidos do corpo. As sequências de DNA de</p><p>cópia única (ou seja, sequência de nucleotídeos que é representada somente</p><p>uma vez) correspondem a cerca de 20% do genoma total.</p><p>A maior parte do nosso DNA (mais de 50%) consiste do DNA repetitivo.</p><p>As sequências repetitivas ajudam a manter a estrutura do cromossomo e são</p><p>variáveis entre os indivíduos. Estas geram polimorfi smos que são extremamente</p><p>úteis para a Genética Forense. Dentre as sequências de DNA repetitivo, existem</p><p>as que estão dispersas pelo genoma e podem ser classifi cadas como:</p><p>• Short Interspersed Elements (SINEs): a sequência Alu SINE (300 pb), por</p><p>exemplo, contém mais de 1 milhão de cópias espalhadas pelo genoma e</p><p>corresponde à aproximadamente 10% do mesmo.</p><p>• Long Interspersed Elements (LINEs): a sequência LINE1 é a mais comum</p><p>e está presente pelo genoma mais de 900.000 vezes. O seu tamanho</p><p>varia entre 6000 a 8000 pb.</p><p>19</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>• Long Terminal Repeats (LTRs).</p><p>• Transposons.</p><p>Essas sequências repetitivas dispersas são originadas por transposição, ou</p><p>seja, elas se movem de um lugar ao outro do genoma e, portanto, teriam papel</p><p>importante na evolução dos genomas eucariotos e em sua regulação gênica. Em</p><p>publicações mais antigas, alguns autores referem-se ao DNA repetitivo como o</p><p>“DNA lixo”, porém hoje sabemos que tal defi nição é errônea.</p><p>Outra classe de DNA repetitivo é o DNA repetitivo in tandem, isto é adjacente</p><p>um ao outro. Tais sequências podem ser classifi cadas em:</p><p>• DNA satélite: receberam essa denominação pelo fato de formarem</p><p>bandas satélite durante a centrifugação por gradiente em cloreto de</p><p>césio (Figura 8). São regiões repetitivas normalmente encontradas perto</p><p>dos centrômeros dos cromossomos.</p><p>• Minissatélites ou Variable Number Tandem Repeats (VNTRs): são</p><p>unidades repetidas de DNA com 10-100 pb (em média 30pb), que</p><p>resultam de inserção in tandem (Figura 9).</p><p>• Microssatélites ou Short Tandem Repeats (STRs): correspondem a</p><p>sequências curtas (2 a 6 bases) repetidas in tandem, sendo que a</p><p>maioria das unidades de repetições é de dinucleotídeos (Figura 10).</p><p>FIGURA 8 – DNA SATÉLITE</p><p>FONTE: Adaptado de Passarge (2001)</p><p>Centrifugação em gradiente de cloreto de césio mostrando a formação da</p><p>banda principal de DNA e das bandas de DNA satélite.</p><p>20</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 9 – DNA MINISSATÉLITES</p><p>FONTE: Adaptado de Passarge (2001)</p><p>Minissatélites (VNTRs): a fi gura apresenta os dois alelos de determinada</p><p>região de minissatélite. Cada bloco representa uma unidade de repetição que</p><p>pode possuir de 10 a 100pb. O primeiro alelo possui 3 unidades de repetição e o</p><p>segundo alelo possui 6 unidades de repetição.</p><p>FIGURA 10 – DNA MICROSSATÉLITES</p><p>FONTE: Adaptado de Passarge (2001)</p><p>Microssatélites (STRs): a fi gura apresenta os dois alelos de determinada</p><p>região de microssatélite composta por unidade de repetição do tipo (CA) (citosina</p><p>e adenina). O primeiro alelo possui 3 unidades de repetição e o segundo alelo</p><p>possui 5 unidades de repetição.</p><p>As sequências de minissatélites (VNTRs) e microssatélites (STRs) são as</p><p>mais utilizadas na Genética Forense. Os indivíduos podem ser diferenciados</p><p>pelo número de repetições que possuem em cada unidade de repetição destes</p><p>marcadores, o que resulta em tamanhos de alelos diferentes (Figuras 11 e</p><p>12). A herança do número de repetições obedece às Leis da hereditariedade</p><p>estabelecidas por Mendel, tal como a de qualquer outro polimorfi smo usado com</p><p>fi ns forenses (CORTE-REAL; VIEIRA, 2015).</p><p>É importante salientar que, mesmo que duas amostras tenham o</p><p>mesmo perfi l para um determinado tipo de marcador molecular, não signifi ca,</p><p>obrigatoriamente, que elas possuam a mesma origem. Os resultados obtidos são</p><p>analisados estatisticamente e leva-se em conta a frequência populacional de cada</p><p>polimorfi smo que foi testado.</p><p>21</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>FIGURA 11 –DETECÇÃO DE POLIMORFISMO DO TIPO STR</p><p>FONTE: Adaptado de Passarge (2001)</p><p>Detecção de polimorfi smo de STRs (microssatélites). O primeiro alelo possui</p><p>menos unidades de repetição do tipo (CA) e o segundo possui mais unidades de</p><p>repetição. Após realização da PCR e eletroforese, o alelo 1 é observado mais abaixo</p><p>no gel e o alelo dois mais acima, devido à diferença</p><p>de tamanho entre os dois.</p><p>22</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 12 – COMPARAÇÃO DE PERFIS GENÉTICOS PARA</p><p>RESOLUÇÃO DE CRIME E INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE</p><p>FONTE: (a) <https://evolution.berkeley.edu/evolibrary/images/news/</p><p>dnafi ngerprints.gif>; (b) Snustad, 2013. Acesso em: 21 out. 2018.</p><p>(a) (b)</p><p>À esquerda temos o perfi l de DNA de três suspeitos e da amostra da cena</p><p>do crime (a). À direita, temos o perfi l de DNA para a resolução de um caso de</p><p>paternidade, com amostras da mãe, da criança e dos dois possíveis pais (b). Ao</p><p>comparar as bandas de DNA, concluímos que o suspeito 2 é o culpado pelo crime</p><p>e o homem 2 é o pai da criança.</p><p>Já sabemos que, nós humanos, compartilhamos 99.9% do nosso DNA uns</p><p>com os outros. O que causa a variação entre os indivíduos é produto de inserção,</p><p>deleção, duplicação e polimorfi smos, de tamanho e do tipo SNPs (polimorfi smo de</p><p>nucleotídeo único), em nosso genoma. A análise genética forense busca produzir</p><p>um perfi l de DNA que seja o mais discriminatório possível e, portanto, quanto</p><p>23</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>maior o grau de polimorfi smo, menor a chance de existir dois indivíduos com a</p><p>mesma sequência.</p><p>Goodwin (2007) elenca algumas propriedades importantes das sequências</p><p>de DNA que considera ideal para a análise genética forense:</p><p>• Alto grau de polimorfi smo.</p><p>• Caracterização fácil e barata.</p><p>• Produz perfi l que seja simples de interpretar e fácil de</p><p>comparar entre laboratórios.</p><p>• Não deve sofrer pressão seletiva (em termos evolutivos, a</p><p>pressão seletiva é um conjunto de condições ambientais que</p><p>favorece determinados genes em relação a outros).</p><p>• Ter taxa de mutação baixa (GOODWIN, 2007, p. 11, tradução</p><p>nossa).</p><p>A frequência populacional de um gene ou de um polimorfi smo é usada em</p><p>análises estatísticas realizadas nas técnicas de determinação do perfi l genético</p><p>para fi ns forenses. Por exemplo, se o polimorfi smo analisado for muito frequente,</p><p>signifi ca que vários indivíduos poderiam ter cometido o crime que está sendo</p><p>investigado. Se, no entanto, for um polimorfi smo pouco encontrado, serão maiores</p><p>as chances de que as duas amostras (do local do crime e do investigado) tenham</p><p>se originado na mesma pessoa. Por isso que as regiões de DNA analisadas para</p><p>fi ns forenses não devem sofrer pressão seletiva e ter taxa de mutação baixa.</p><p>Esses eventos alteram a frequência de polimorfi smos de um gene.</p><p>Como estamos vendo neste capítulo, as sequências analisadas nas</p><p>investigações forenses são aquelas de DNA não codifi cador, uma vez que as</p><p>regiões de DNA codifi cadoras de proteínas são praticamente idênticas entre</p><p>os indivíduos, pois foram conservadas ao longo do processo evolutivo. Tal fato</p><p>desmistifi ca o argumento, muitas vezes apresentado, de que se pode inferir a</p><p>predisposição de um determinado indivíduo para desenvolver certa doença a partir</p><p>da análise de amostras biológicas, circunstância que poderia ser aproveitada por</p><p>seguradoras ou por empregadores para rejeitar contratos, por exemplo.</p><p>Para fi car claro, o termo “polimorfi smo” (do grego, poli “muitas”, morfos</p><p>“formas”) refere-se à ocorrência de variação genética em uma população para</p><p>um ou mais lócus cujo alelo mais raro apresenta frequência de pelo menos 1% na</p><p>população.</p><p>Os polimorfi smos das regiões repetitivas do DNA, ou também chamadas</p><p>regiões hipervariáveis, podem ser agrupados em dois tipos: polimorfi smos de</p><p>sequência e polimorfi smos de tamanho.</p><p>24</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Os polimorfi smos de sequência são aqueles onde os nucleotídeos são</p><p>diferentes em determinada região de DNA, devido à substituição, deleção ou adição</p><p>de bases nitrogenadas, porém a maioria deles ocorre por mutações pontuais, como</p><p>no caso dos SNPs (polimorfi smo de nucleotídeo único) (Figura 13).</p><p>FIGURA 13 – POLIMORFISMO DE NUCLEOTÍDEO ÚNICO OU SNP</p><p>FONTE: Adaptado de Passarge (2001)</p><p>SNP ou polimorfi smo de nucleotídeo único (Single Nucleotide Polymorphism).</p><p>A fi gura apresenta os dois alelos de determinada região de SNP onde temos a</p><p>substituição de uma Adenina do alelo 1 por uma Guanina no alelo 2.</p><p>Os polimorfi smos de tamanho referem-se aos gerados pelas regiões de</p><p>minissatélites (VNTRs) ou microssatélites (STRs) e acabam possuindo tamanho</p><p>diferente quando analisados devido ao número de unidades de repetição que</p><p>cada indivíduo possui.</p><p>No Capítulo 3 estudaremos mais profundamente como estas sequências</p><p>repetitivas, especialmente VNTRs e STRs, são detectadas e analisadas para</p><p>identifi cação dos indivíduos nas situações mais comuns da investigação criminal.</p><p>1 Relembre os conceitos e complete o quadro:</p><p>Gene:</p><p>Alelo:</p><p>Homozigoto:</p><p>Heterozigoto:</p><p>Cromossomos:</p><p>Genoma:</p><p>Polimorfi smo:</p><p>Microssatélites:</p><p>Minissatélites:</p><p>25</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>3 O PROJETO GENOMA HUMANO</p><p>O Projeto Genoma Humano (PGH) contribuiu bastante para o entendimento</p><p>da organização do genoma. Foram as tecnologias recém-desenvolvidas (DNA</p><p>recombinante, clonagem, sequenciamento, PCR etc.) nas décadas de 1970-1980</p><p>que impulsionaram o avanço do conhecimento genético. Foi nessa época que os</p><p>cientistas começaram a discutir sobre a possibilidade de sequenciar todo o DNA</p><p>humano e, em 1990, foi lançado o Projeto Genoma Humano. Foi estabelecido o</p><p>ano de 2005 para se atingir os objetivos iniciais do projeto: mapear todos os genes,</p><p>determinar a sequência de nucleotídeos de todos os cromossomos, construir</p><p>um mapa físico detalhado de todo o genoma, além de desenvolver ferramentas</p><p>de análise dos dados e estabelecer medidas sobre os possíveis problemas</p><p>éticos, legais e sociais. Para alcançar tão ambiciosos objetivos, foi criada uma</p><p>organização entre cientistas de todo o mundo. Conhecida como HUGO (Human</p><p>Genome Organization), contava com cientistas de diversos países, porém com</p><p>liderança dos Estados Unidos. James Watson foi um dos primeiros coordenadores</p><p>do projeto.</p><p>Já no ano de 1992 foram publicados os primeiros resultados do projeto: o</p><p>mapa físico dos cromossomos Y e 21, e um mapa de RFLP do cromossomo X</p><p>e dos outros 22 cromossomos autossomos. Enquanto o trabalho de mapear os</p><p>genes avançava, o trabalho de sequenciá-los estava atrasado.</p><p>Em 1998, John Craig Venter, geneticista-bioquímico e empresário americano,</p><p>anunciou que havia formado sua própria companhia (Celera Genomics) para</p><p>sequenciar o genoma em apenas três anos. Isso trouxe preocupação aos</p><p>coordenadores do consórcio internacional e acabou por acelerar o término do</p><p>sequenciamento do genoma humano. A criação da empresa de Venter também</p><p>motivou o ex-presidente americano Bill Clinton e o ex-primeiro ministro da</p><p>Inglaterra Tony Blair a fazerem uma declaração conjunta, em maio de 2000, de</p><p>que toda a informação sobre o genoma humano deveria ser pública. Tal fato levou</p><p>à cooperação entre Venter e Francis Collins (coordenador do PGH naquela época)</p><p>e os dois apresentaram, em conjunto, um rascunho do genoma em uma cerimônia</p><p>na Casa Branca ainda no ano 2000.</p><p>26</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 14 – CERIMÔNIA DE ANÚNCIO DO RASCUNHO DO GENOMA HUMANO</p><p>FONTE: <http://images.the-scientist.com/content/fi gures/images/</p><p>yr2000/jul24/ap_clinton.jpg>. Acesso em: 23 out. 2018.</p><p>Da esquerda para a Direita: J. Craig Venter, Bill Clinton e Francis Collins.</p><p>No ano seguinte, nos dias 15 e 16 de fevereiro, as revistas Nature e Science</p><p>publicaram os resultados do sequenciamento do genoma humano. Dentre os</p><p>dados publicados naquela ocasião, podemos destacar:</p><p>• Genoma humano é 25 vezes maior que o genoma da Drosophila (mosca</p><p>da fruta) e da Arabidopsis (herbácea) (organismos-modelo usados em</p><p>muitos estudos de Genética).</p><p>• Genoma humano é 8 vezes maior que a soma de todos os genomas que</p><p>haviam sido sequenciados até aquele momento.</p><p>• Existem apenas de 25.000 a 30.000 genes (o número estimado</p><p>previamente era de 50.000 a 120.000). A empresa Celera encontrou</p><p>26.383 genes.</p><p>• Cerca de 60% de todas as proteínas previstas possuem similaridades</p><p>com proteínas das outras espécies que haviam tido seu genoma</p><p>sequenciado; sendo que 40% das proteínas compartilham similaridades</p><p>com a Drosophila e o Caenorhabditis elegans (outro organismo-modelo;</p><p>verme da família Nematoide).</p><p>• Das 1278 famílias de proteínas previstas, apenas 94 são específi cas</p><p>dos vertebrados. O restante evoluiu a partir de domínios de proteínas</p><p>de ancestrais distantes na evolução como os procariotos e os eucariotos</p><p>unicelulares.</p><p>• Os éxons (sequências que codifi cam proteínas). Os íntrons representam</p><p>24%, sendo que 75% destes estão em regiões de DNA intergênicas</p><p>(entre os genes) e 44% são derivados de transposons.</p><p>27</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>O projeto Genoma Humano foi ofi cialmente concluído no ano de 2003,</p><p>juntamente com as comemorações dos 50 anos da descoberta da estrutura do DNA.</p><p>Depois disso, os dados publicados pelas revistas Nature e Science ainda</p><p>foram complementados e, em 2004, 99% do DNA de eucromatina estava</p><p>sequenciado. O número estimado de genes que codifi ca proteínas diminuiu para</p><p>22.287. Além dos genes que codifi cam as proteínas, precisamos lembrar que</p><p>existem aqueles que codifi cam RNAs (tRNA, rRNA, snRNA, microRNA).</p><p>Em 2007 e 2008, respectivamente, J. Craig Venter e James Watson</p><p>(Figura 15) se tornaram as primeiras pessoas no mundo a terem seu genoma</p><p>sequenciado.</p><p>FIGURA 15 - J. CRAIG VENTER E JAMES WATSON,</p><p>CIENTISTAS QUE MUDARAM A GENÉTICA</p><p>FONTE: <http://blogs.nature.com/indigenus/fi les/2012/07/</p><p>DSC_43511.jpg>. Acesso em: 23 out. 2018.</p><p>Após a fi nalização do PGH, Francis Collins e colaboradores organizaram</p><p>novos projetos. Um deles, chamado de ENCODE (Encyclopedia of DNA</p><p>Elements), que tem por objetivo identifi car os elementos funcionais do genoma,</p><p>ou seja, aqueles que regulam a expressão gênica. Este projeto ainda está em</p><p>andamento e informações podem ser obtidas no endereço eletrônico: https://www.</p><p>encodeproject.org/. Graças ao projeto, a maior parte dos genes já possui pelo</p><p>menos uma função bioquímica associada. Hoje o ENCODE está em sua quarta</p><p>fase, e não só os elementos do genoma humano estão sendo estudados, como</p><p>também os de outros organismos modelo. Outro consórcio derivado do PGH,</p><p>que ainda está em andamento é o HUPO (Human Proteome Organization). Este</p><p>também conta com a colaboração de cientistas de diversos países e o objetivo é o</p><p>28</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>de determinar a estrutura e função de todas as proteínas que são codifi cadas pelo</p><p>genoma humano. Projetos como o HapMap (Haplotype Map) e o 1000 Genomes</p><p>foram desenvolvidos para estudar a variação do genoma entre os indivíduos. O</p><p>HapMap mapeou os polimorfi smos do tipo SNPs, e o 1000 Genomes estudou o</p><p>DNA de pessoas de várias partes do mundo, entre 2008 e 2015, para catalogar a</p><p>variação genética entre a população humana.</p><p>Faça uma busca sobre o Projeto Genoma Humano na internet e</p><p>veja as notícias e os artigos científi cos da época de sua publicação.</p><p>Você também pode pesquisar quais outros organismos tiveram</p><p>seu genoma sequenciado e qual a implicação disto para a sociedade.</p><p>Será que o Brasil já participou de algum projeto Genoma?</p><p>FONTE: <http://science.sciencemag.org/content/331/6017/</p><p>546.2.full>.Acesso em: 15 jan. 2019.</p><p>Capas da revista Nature e Science com a publicação do</p><p>sequenciamento do genoma humano (fevereiro de 2001).</p><p>Diante de tantos dados que foram gerados e que ainda continuam sendo</p><p>obtidos, quais foram e quais serão os benefícios para a sociedade? Qual a</p><p>importância de se conhecer a estrutura e funcionamento dos genomas?</p><p>29</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>Primeiramente, quando determinamos a sequência do DNA de um indivíduo</p><p>e comparamos com outros da mesma espécie, podemos conhecer regiões que</p><p>são variáveis e regiões que defi nem características que são essenciais a esses</p><p>sujeitos e que normalmente não sofrem tanta variação. A partir dessa informação,</p><p>podemos tirar conclusões a respeito do processo de evolução dessa espécie</p><p>e gerar meios de diferenciação entre os indivíduos, o que, como sabemos, é o</p><p>pilar da Genética Forense. No caso dos humanos, ainda, ajuda no entendimento</p><p>dos processos migratórios que ocorreram no planeta e na determinação da</p><p>ancestralidade. Um estudo publicado no fi nal de 2018 mostra como a análise</p><p>genética reconstruiu a história do povoamento das Américas. Todos já ouviram</p><p>falar sobre o fóssil Luzia, que foi encontrado em Lagoa Santa (Minas Gerais). A</p><p>teoria dizia que o continente americano foi povoado por dois grupos que migraram</p><p>do nordeste da Ásia. Um dos grupos (supostamente como o de Luzia) tinha traços</p><p>africanos e australianos, e o outro tinha traços ameríndios. Com a análise de</p><p>DNA extraída dos fósseis descobriu-se que, na verdade, todas as populações</p><p>americanas descendem de um único grupo que chegou ao continente pelo estreito</p><p>de Bering há 20 mil anos. Além disso, os resultados mostraram que o povo de</p><p>Lagoa Santa não possui nenhuma conexão genética com os grupos da África e</p><p>da Austrália e sim com um grupo denominado “cultura Clóvis”, que se estabeleceu</p><p>na América do Norte e depois migrou para o sul do continente. Portanto, o povo</p><p>de Luzia era ameríndio e uma nova reconstrução facial foi feita para representar</p><p>Luzia, desta vez com traços que lembram os primeiros habitantes brasileiros.</p><p>FIGURA 16 – A ANÁLISE DE DNA PODE MUDAR A HISTÓRIA</p><p>DO INÍCIO DAS CIVILIZAÇÕES NO BRASIL</p><p>FONTE: <https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/11/20181108_00_</p><p>cranio_luzia2.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2018.</p><p>30</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>Reconstruções do rosto de Luzia, fóssil achado em Lagoa Santa. À esquerda,</p><p>nova reconstrução e à direita, reconstrução antiga, com fortes traços africanos.</p><p>O conhecimento gerado pelo sequenciamento dos genomas pode ser</p><p>aplicado nas mais diversas áreas da sociedade. Percebe-se que é mais notado</p><p>pela população em geral, em situações de teste de paternidade e resolução de</p><p>crimes.</p><p>Na Medicina, conhecer o genoma e sua regulação ajuda a buscar mais</p><p>profundamente as causas das doenças, traz diagnóstico mais preciso e terapias</p><p>mais efi cazes. Aliado à farmacogenômica possibilita ao paciente um tratamento</p><p>personalizado. Há também a possibilidade de entender a infl uência de fatores</p><p>ambientais aos quais estamos expostos, e de prevenir doenças ao saber se existe</p><p>predisposição à determinada enfermidade. Um dos exemplos mais conhecidos</p><p>pelos leigos é o caso do câncer de mama. Em 2013, a atriz Angelina Jolie decidiu</p><p>se submeter à dupla mastectomia preventiva após descobrir que possui o gene</p><p>BRCA1 com mutação que predispõe ao desenvolvimento do câncer de mama.</p><p>As empresas de biotecnologia dos mais diferentes setores se benefi ciaram,</p><p>e se benefi ciam, com o sequenciamento do genoma de várias espécies, além</p><p>da humana. Isso possibilitou, por exemplo, avanços no desenvolvimento de</p><p>novos fármacos e vacinas, desenvolvimento de novas variedades de plantas de</p><p>interesse comercial, criação de animais mais produtivos e resistentes às doenças,</p><p>entre outros. O conhecimento gerado pelo estudo do genoma de microrganismos,</p><p>por exemplo, é útil para o desenvolvimento de técnicas para controle de resíduos,</p><p>biorremediação, produção de energia e processos industriais.</p><p>O sequenciamento dos genomas também foi importante para o nascimento</p><p>da chamada Era das Ciências Ômicas. São áreas de estudo onde são aplicadas</p><p>as tecnologias mais modernas. O termo “ômica” é derivado do sufi xo “oma” e</p><p>signifi ca “conjunto de”. A partir disto, podemos defi nir as seguintes áreas de</p><p>estudo:</p><p>• Epigenômica: estuda as modifi cações epigenéticas, isto é, qualquer</p><p>atividade reguladora de genes que não envolvem mudanças na</p><p>sequência do DNA, e que pode persistir por uma ou mais gerações.</p><p>• Transcriptômica: estuda conjunto dos RNA mensageiros</p><p>transcritos</p><p>pelos genes por determinada célula em determinado momento.</p><p>• Proteômica: estuda o conjunto de proteínas que foi produzida por</p><p>determinada célula em determinado momento.</p><p>• Metabolômica: estuda o conjunto de metabólitos que foi produzido</p><p>por determinada célula em determinado momento.</p><p>31</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>FIGURA 17 – VISÃO GERAL DAS CIÊNCIAS “ÔMICAS”</p><p>FONTE: A autora</p><p>Anteriormente foi citado a farmacogenômica, ela estuda a relação dos</p><p>fármacos com o nosso DNA, ou seja, você tem a possibilidade de administrar</p><p>o fármaco que melhor se encaixa com o perfi l de genes de uma determinada</p><p>pessoa. Você já se perguntou por que determinado remédio funciona para uma</p><p>pessoa, mas para a outra não? Isso ocorre devido aos polimorfi smos dos genes</p><p>de metabolização e excreção de drogas do nosso organismo. Um exemplo de</p><p>prática clínica da farmacogenômica é a sua aplicação na escolha do medicamento</p><p>a ser utilizado para tratar o câncer de mama. Dependendo do tipo do receptor</p><p>encontrado nas células mamárias, determinada droga é indicada ou não. No</p><p>artigo de Westbrook e Stearnes (2013) conseguimos entender com clareza</p><p>essa relação entre o perfi l genético e a prescrição de determinada droga para o</p><p>tratamento de câncer de mama. Por exemplo, o trastuzumabe é um medicamento</p><p>para tratamento deste tipo de câncer, porém é indicado em casos onde existe o</p><p>receptor HER2 nas membranas das células. Isso ocorre porque este medicamento</p><p>é um anticorpo e, portanto, precisa se ligar no receptor celular para que ocorra o</p><p>efeito desejado (diminuir a proliferação das células tumorais).</p><p>A nutrigenômica é outra área de estudo que surgiu na era das ciências</p><p>“ômicas”. Ela explora como os nutrientes modulam a expressão dos genes, afetando</p><p>assim as rotas metabólicas e a homeostasia do organismo. Busca a prevenção de</p><p>doenças através de uma dieta personalizada. Além da nutrigenômica, temos a</p><p>nutrigenética, que tem como objetivo elucidar o efeito da variação genética no</p><p>que se refere ao papel da dieta na prevenção e desenvolvimento de doenças nas</p><p>diversas populações, ou seja, estuda como os alimentos são aproveitados pelo</p><p>32</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>organismo e já foi demonstrado que existem diferenças étnicas em como isso</p><p>acontece.</p><p>É importante ter em mente que: hoje não importa só sequenciar o genoma</p><p>de um determinado organismo, devemos buscar ferramentas para entender as</p><p>interações que resultam no fenótipo fi nal.</p><p>Como vimos, são infi nitas as possibilidades de benefícios gerados à</p><p>sociedade devido ao sequenciamento dos genomas. Entretanto, devemos</p><p>prestar atenção também aos dilemas éticos, legais e sociais já levantados e</p><p>que possam surgir. O PGH tinha uma comissão somente para discutir esses</p><p>aspectos (tradução nossa da página Human Genome Project Archive - https://</p><p>web.ornl.gov/sci/techresources/Human_Genome/elsi/index.shtml. (tradução</p><p>nossa da página Human Genome Project Archive - https://web.ornl.gov/</p><p>sci/techresources/Human_Genome/elsi/index.shtml).</p><p>• Sobre a privacidade e confi dencialidade da informação genética de um</p><p>indivíduo: Quem vai possuir e controlar a minha informação genética? O</p><p>princípio da confi dencialidade médica também seria aplicada?</p><p>• Acesso à informação genética por instituições comerciais, empregadores,</p><p>escolas, entre outros: Quem deve ter acesso aos meus dados genéticos?</p><p>Posso ser prejudicado por possuir algum gene que predispõe a alguma</p><p>doença?</p><p>• Impacto psicológico e discriminatório devido à constituição genética:</p><p>Como a informação genética pode afetar nossas percepções de nós</p><p>mesmos e da sociedade?</p><p>• A correta integração com a prática clínica por meio de pessoal bem</p><p>treinado: é importante que os profi ssionais da saúde sejam preparados</p><p>para orientar os pacientes sobre testes genéticos, temas sobre</p><p>reprodução etc.</p><p>• Incertezas relacionadas a testes genéticos: Será que devo mesmo fazer</p><p>o teste e descobrir se tenho maior suscetibilidade para desenvolver</p><p>alguma doença? E se essa doença ainda não possui tratamento?</p><p>• Comercialização de novas tecnologias com direito de propriedade: É</p><p>correto patentear o DNA de um organismo e tirar proveito comercial?</p><p>• Aspectos ambientais e de saúde relacionados aos organismos</p><p>geneticamente modifi cados (OGM): Será que os OGM são realmente</p><p>ruins para a saúde humana e para o ambiente?</p><p>33</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>4 APLICAÇÕES DA IDENTIFICAÇÃO</p><p>POR DNA</p><p>A revolução da Genética e Biologia Molecular na área forense teve seu início</p><p>na década de 1980, época em que as principais técnicas moleculares foram</p><p>desenvolvidas. Tempos depois, tais técnicas se revelaram de grande importância</p><p>e acabaram por deixar os muros acadêmicos e mudaram as histórias de pessoas</p><p>nas mais diferentes situações civis e criminais.</p><p>O perfi l de DNA (DNA fi ngerprint) foi utilizado pela primeira vez em 1985</p><p>em um caso de disputa imigratória no Reino Unido e salvou um jovem garoto de</p><p>ser deportado (JEFFREYS et al., 1985). Já em 1988, também no Reino Unido,</p><p>o primeiro criminoso foi condenado em um caso de homicídio e estupro a duas</p><p>garotas utilizando o DNA como evidência (GOODWIN et al., 2007). Além de</p><p>encontrar o culpado pelo crime, o resultado da análise de DNA excluiu outro que</p><p>era tido como suspeito.</p><p>Entre os avanços que culminaram na incorporação das técnicas</p><p>moleculares, na área forense, destacam-se: a análise de polimorfi smos de mini e</p><p>microssatélites, o aprimoramento da técnica de PCR e o sequenciamento de DNA.</p><p>A técnica de PCR foi desenvolvida em 1983 por Kary Mullis e revolucionou</p><p>a Genética Molecular e todas as áreas de estudo derivadas dela. Tamanha</p><p>importância foi reconhecida em 1993 quando Mullis foi laureado com o Prêmio</p><p>Nobel de Química. Em poucas palavras, o método consiste em sintetizar DNA</p><p>in vitro. É importante, pois consegue aumentar a quantidade de DNA de uma</p><p>amostra para posterior análise. Isso é extremamente importante, por exemplo,</p><p>nos casos forenses. Kary Mullis introduziu ao protocolo o uso da enzima Taq</p><p>DNA polimerase, das sequências de nucleotídeos iniciadoras (primers) e das</p><p>variações de temperatura controladas. A enzima Taq DNA polimerase foi isolada</p><p>de um microrganismo (Thermus aquaticus) que vive em fontes termais e, portanto,</p><p>resistente a altas temperaturas (isso foi essencial para a padronização da técnica</p><p>de PCR). Os primers são sequências curtas de nucleotídeos que direcionam qual</p><p>região do DNA vai ser amplifi cada. Já as variações de temperatura são importantes</p><p>para desnaturar o DNA, para o anelamento dos primers e a extensão da molécula</p><p>de DNA (mais detalhes sobre a técnica serão abordados no capítulo 3).</p><p>34</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 18 – KARY MULLIS, O “PAI DA PCR”</p><p>FONTE: <https://www.karymullis.com/img/pcr3.jpg>. Acesso em: 22 out. 2018.</p><p>Kary Mullis recebendo o prêmio Nobel de Química em 1993. É outra</p><p>personalidade que mudou a história da Genética.</p><p>Anteriormente ao uso das técnicas moleculares, a análise de marcadores</p><p>sanguíneos (incluindo o sistema ABO) era o procedimento padrão nos</p><p>laboratórios e a Genética estava presente de maneira indireta nessas análises.</p><p>Karl Landsteiner, em 1900, observou que os indivíduos poderiam ser separados</p><p>em diferentes grupos de acordo com o tipo sanguíneo. Em 1915, Leone Lattes</p><p>publicou um livro onde descreveu o uso da tipagem do sistema ABO para resolver</p><p>um caso de paternidade. Associado à investigação do sistema ABO, também foram</p><p>incorporados a análise do sistema MN, Rh e do sistema de histocompatibilidade</p><p>(HLA), que trouxe grande contribuição para a Medicina Forense, por possuir</p><p>grande poder de discriminação dos indivíduos.</p><p>Em 1987, nos Estados Unidos, o caso People vs. Castro levantou o</p><p>questionamento sobre a qualidade das análises de DNA. A partir disto, foram</p><p>tomadas medidas para garantir o maior grau possível de uniformização</p><p>e</p><p>qualidade das análises nos laboratórios forenses. Tal padronização, aliado aos</p><p>avanços tecnológicos destas décadas, fi zeram da análise de DNA uma ferramenta</p><p>confi ável e robusta nas Ciências Forenses. De fato, a identifi cação de indivíduos</p><p>pelo DNA tornou-se uma ferramenta indispensável na investigação de crimes e</p><p>é aceita em tribunais do mundo todo. A análise molecular estabelece um vínculo</p><p>irrefutável entre determinada pessoa e a sua presença na cena do crime.</p><p>Roewer (2013, p. 1, tradução nossa) defi ne o DNA fi ngerprint como “a</p><p>comparação do DNA nuclear da célula de uma pessoa com aquele identifi cado de</p><p>maneira biológica na cena de um crime ou com o DNA de outra pessoa, nos casos</p><p>onde o propósito é de identifi cação ou exclusão”.</p><p>35</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>São vantagens do uso da identifi cação por DNA na investigação forense:</p><p>• Possibilidade de extração do DNA de qualquer amostra biológica,</p><p>mesmo que em pequena quantidade (sangue, saliva, cabelo, sêmen,</p><p>urina, qualquer tecido ou fl uido corporal).</p><p>• Alto poder discriminatório.</p><p>• Alta sensibilidade da técnica.</p><p>• Estabilidade química da molécula de DNA, resistente aos fatores</p><p>externos ambientais.</p><p>• Possibilidade de separar o DNA das células espermáticas de qualquer</p><p>outro DNA celular (extremamente importante em casos de crime sexual).</p><p>Neste caso é utilizado um protocolo de lise diferencial para separar o DNA</p><p>do esperma daquele que não é proveniente dele. Primeiramente usa-se</p><p>uma solução que vai lisar somente as células epiteliais e em seguida, um</p><p>segundo tampão, capaz de lisar as membranas dos espermatozoides.</p><p>Apesar das vantagens listadas, devemos lembrar que toda amostra biológica</p><p>retirada do local do crime deve ser coletada, transportada, armazenada e</p><p>analisada por pessoal especializado para que não sejam produzidos resultados</p><p>falso-positivos ou falso-negativos.</p><p>Como estamos vendo, a identifi cação por DNA é extremamente útil e já faz</p><p>parte do cotidiano das investigações criminais, pois tem aplicação em quaisquer</p><p>que seja o crime:</p><p>• Identifi cação de pessoas desaparecidas ou cadáveres carbonizados,</p><p>mutilados, em estado de decomposição e abandonados.</p><p>• Homicídios.</p><p>• Crimes sexuais (estupro, atentado violento ao pudor).</p><p>• Roubos e furtos.</p><p>• Casos de aborto provocado.</p><p>• Sequestros e tráfi co de pessoas.</p><p>• Estabelecer relação entre o instrumento que causou alguma lesão e a</p><p>vítima.</p><p>Um jornal da região de Brasília reportou que até o mês de junho do ano de</p><p>2016, 38% das amostras, que a equipe de peritos havia analisado geneticamente,</p><p>eram provenientes de estupro, seguido por homicídio (34% dos casos). Os outros</p><p>casos eram de roubo e identifi cação de cadáveres. Na área cível, os testes</p><p>genéticos são realizados para reconhecimento de paternidade.</p><p>36</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 19 – PRINCIPAIS CASOS ONDE A ANÁLISE DE DNA É APLICADA</p><p>FONTE: A autora</p><p>Casos mais comuns onde a identifi cação de DNA (DNA fi ngerprint) é</p><p>realizada: crimes de homicídio, crimes sexuais e testes de paternidade.</p><p>A identifi cação por DNA é uma ferramenta extremamente importante em</p><p>situações com vítimas de desastres em massa, de causas naturais ou intervenção</p><p>humana, tais como quedas de aeronave, atentados, incêndios, explosões,</p><p>naufrágios, terremotos, maremotos, entre outros.</p><p>Quando ocorreu o atentado terrorista ao World Trade Center, nos Estados</p><p>Unidos em 11 de setembro de 2001, nem os melhores centros forenses do país</p><p>estavam preparados para a enorme demanda de identifi cação genética de pessoas</p><p>que teriam que fazer. Antes deste ataque, “o uso do DNA para identifi cação de</p><p>vítimas não passava de 500 pessoas” em casos de quedas de avião (Biesecker et</p><p>al., 2005, p. 1122, tradução nossa).</p><p>No caso do ataque ao World Trade Center, o número de vítimas era</p><p>desconhecido e as amostras de DNA eram provenientes de fragmentos totalmente</p><p>contaminados com material inorgânico (restos dos prédios) e bactérias, o que</p><p>comprometeu e atrasou o trabalho de isolamento do DNA. Anos depois, as</p><p>vítimas ainda estão sendo identifi cadas, como o relatado pelo jornal Telegraph em</p><p>2017. Até o momento desta notícia, haviam sido identifi cadas 1641 vítimas, o que</p><p>signifi ca que 40% das pessoas que morreram neste ataque ainda permanecem</p><p>sem identifi cação. Ao longo desses anos, novos métodos foram desenvolvidos e</p><p>incorporados pela análise de DNA forense e, o mesmo fragmento de osso está</p><p>sendo analisado mais de uma vez, conta o repórter.</p><p>37</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>Na época do ataque terrorista, formou-se um grande grupo colaborativo</p><p>para identifi cação das vítimas e contava com o Gabinete do chefe de Medicina</p><p>de Nova York (OCME), o Departamento de Polícia do Estado de Nova York</p><p>(NYSP), laboratórios privados de análise genética, empresas desenvolvedoras de</p><p>software de análise, além de um grupo com especialistas forenses: bioinformatas,</p><p>estatísticos, doutores em biologia molecular e genética populacional.</p><p>Para a análise do DNA dos fragmentos, inicialmente foi selecionado o</p><p>painel de 13 STRs (microssatélites) já previamente estabelecido para casos</p><p>forenses. Entretanto, novas estratégias foram incorporadas devido ao alto grau</p><p>de degradação do DNA das amostras: uso do DNA mitocondrial; uso de mini-STR,</p><p>que correspondem às mesmas sequências STRs analisadas, porém com regiões</p><p>de amplifi cação menores; uso de marcadores do tipo SNPs. Todos esses se</p><p>mostraram úteis e ajudaram na identifi cação das vítimas (Biesecker et al., 2005).</p><p>FIGURA 20 – ATENTADO AO WORLD TRADE CENTER: PARA</p><p>IDENTIFICAR AS VÍTIMAS UTILIZOU-SE ANÁLISE DE DNA</p><p>FONTE: <https://static01.nyt.com/images/2010/02/11/nyregion/11worldtrade_337-</p><p>span/11worldtrade_337-span-articleLarge.jpg>. Acesso em: 24 out. 2018.</p><p>Foto aérea tirada após o atentado ao World Trade Center, em 2001. Milhares</p><p>de vítimas foram identifi cadas pelo DNA fi ngerprint.</p><p>Vítimas de desastres antigos também podem ser identifi cadas pela análise de</p><p>DNA. Em 2002, cientistas do Canadá identifi caram os restos mortais de um bebê</p><p>que estava no navio Titanic. Ele era conhecido como “a criança desconhecida” e o</p><p>seu DNA foi relacionado ao de parentes vivos que moram na Finlândia.</p><p>No Brasil, a identifi cação de pessoas por análise de DNA também é</p><p>realizada e o trabalho fi ca sob-responsabilidade da Polícia Técnico-Científi ca.</p><p>São noticiados quase que diariamente casos de crimes ou desastres que foram</p><p>38</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>solucionados com a ajuda do DNA fi ngerprint. Inclusive, quando o avião do ex-</p><p>candidato à Presidência Eduardo Campos sofreu um acidente, em 2014, a análise</p><p>de DNA precisou ser realizada.</p><p>A Genética Forense no Brasil iniciou-se na área acadêmica no fi nal da</p><p>década de 1980, onde, a partir de pesquisas realizadas nas universidades, os</p><p>testes genéticos começaram a ser oferecidos para fi ns de reconhecimento de</p><p>paternidade e, em alguns casos, para resolução de crimes.</p><p>Em 1994, foi criado o primeiro laboratório de Genética Forense no Brasil,</p><p>localizado no Instituto de Criminalística do Distrito Federal. Após, foram criados os</p><p>laboratórios das Polícias Científi cas de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do</p><p>Sul, Paraíba e Rio Grande do Sul.</p><p>Foi também em 1994, que o primeiro caso utilizando Genética Forense foi</p><p>apresentado em tribunais do nosso país, porém a análise do DNA foi realizada</p><p>nos Estados Unidos quando dois peritos de Brasília foram enviados para lá com</p><p>objetivo de analisar amostras de dois crimes (ALVES, 2009).</p><p>A Rede Integrada de Genética Forense (RIGF) foi criada em 2009 e é</p><p>coordenada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, e tem por objetivo</p><p>propiciar o intercâmbio de perfi s genéticos de interesse da Justiça, obtidos em</p><p>laboratórios de perícia ofi cial. Para isso, a RIGF também estabeleceu protocolos e</p><p>procedimentos operacionais padrões entre os</p><p>seus integrantes.</p><p>4.1 GENÉTICA FORENSE E ANÁLISE</p><p>DE AMOSTRAS NÃO HUMANAS</p><p>A “Genética Forense está incorporando a análise de amostras não humanas,</p><p>ou seja, provenientes de animais, plantas ou microrganismos” (ARENAS et al.,</p><p>2017, p. 1). Em 2007, o periódico Forensic Science International: Genetics já</p><p>demonstrou a importância das amostras não humanas à área, ao reconhecê-la</p><p>como parte importante da Genética Forense, que por sua vez foi defi nida como:</p><p>“a aplicação da genética a materiais humanos e não humanos (estudando-</p><p>se características herdadas e variações inter e intraespecífi cas de variação na</p><p>população) para resolução de confl itos legais” (LAUNCHING, 2007, p.1).</p><p>As análises de DNA, no caso de amostras provenientes de animais,</p><p>geralmente são para resolver crimes e casos cíveis como: ataque de cachorros e</p><p>ursos; identifi cação de cavalos de corrida; determinação do sexo de aves; casos</p><p>onde o animal é testemunha de crimes (chamado de testemunha silenciosa) e,</p><p>39</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>principalmente, em crimes contra a vida selvagem, onde são vítimas os grandes</p><p>felinos, javalis, elefantes, entre outros. A resolução de casos como estes também</p><p>mostra a importância da genética forense na aplicação de leis de proteção da vida</p><p>selvagem. No Brasil, tem grande importância no combate à biopirataria. Visto que</p><p>o tráfi co de animais é o terceiro mais rentável em nosso país, a inclusão de novas</p><p>metodologias no combate desse tipo de crime é de extrema importância. Carvalho</p><p>(2013) publicou um relato de caso onde utilizou as ferramentas moleculares para</p><p>identifi cação das aves, cujos ovos e indivíduos imaturos haviam sido apreendidos.</p><p>Ele descobriu que se tratava de 17 espécies, incluindo o papagaio-galego, a arara</p><p>vermelha grande e o periquito rei.</p><p>FIGURA 21 – ANIMAL COM DOENÇA DA VACA LOUCA: A ANÁLISE GENÉTICA</p><p>TAMBÉM É ÚTIL PARA IDENTIFICAR A ORIGEM DE DOENÇAS</p><p>FONTE: <http://www.revistaveterinaria.com.br/2016/08/16/o-mal-</p><p>da-vaca-louca-no-brasil/>. Acesso em: 15 jan. 2019.</p><p>A doença da vaca louca, quando atingiu os Estados Unidos e Canadá, teve</p><p>sua origem descoberta por meio da análise genética.</p><p>As amostras provenientes de plantas podem ser analisadas geneticamente</p><p>para ajudar a elucidar casos de apreensão de drogas (como maconha e ópio) para</p><p>identifi cação de sua origem; importação e comercialização de espécies exóticas</p><p>e ameaçadas de extinção; detecção de extração ilegal de madeira; bioterrorismo</p><p>(por exemplo, ataques com ricina) e para estabelecer a ligação entre a vítima e o</p><p>suspeito em uma cena de crime.</p><p>Já as análises forenses de amostras microbiológicas geralmente são</p><p>para identifi cação do microrganismo em questão e de sua origem. As aplicações</p><p>incluem: biocrimes e bioterrorismos; surtos e transmissão de patógenos; liberação</p><p>de agente biológico ou toxina; geolocalização; estimativa de tempo pós-morte;</p><p>40</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>investigação epidemiológica para acompanhar a dinâmica de surtos de doenças,</p><p>sua origem e rotas de transmissão.</p><p>Na área de alimentos, a análise genética ajuda a detectar substituições</p><p>fraudulentas e a garantir as escolhas do consumidor com relação à sua saúde</p><p>(no caso de pessoas alérgicas, por exemplo), suas preferências alimentares e</p><p>crenças religiosas. Os marcadores genéticos são aplicados para identifi cação dos</p><p>alimentos e adulterações, confi rmação de origem, presença de alérgenos, toxinas</p><p>ou organismos geneticamente modifi cados (OGM).</p><p>Como no caso dos humanos, são utilizadas sequências de STRs, mtDNA</p><p>e SNPs para comparação e identifi cação dessas amostras. Porém, o acesso à</p><p>informação genética é mais limitado, uma vez que geralmente não possuem uma</p><p>“coleção de amostras representativas da espécie [...], o acesso a amostras de</p><p>alta qualidade não está disponível para várias espécies e é mais difícil de obter</p><p>fi nanciamento para esses tipos de estudo” (ARENAS et al., 2017, p. 9).</p><p>4.2 GENÉTICA FORENSE E NOVAS</p><p>TECNOLOGIAS</p><p>Como podemos perceber, a cada ano, novas tecnologias vêm sendo</p><p>desenvolvidas e incorporadas na área forense.</p><p>A técnica de sequenciamento de nova geração (NGS) é uma plataforma que</p><p>permite analisar simultaneamente múltiplas sequências de interesse forense em</p><p>milhões de fragmentos de DNA. Com isso gera resultados em menor prazo de</p><p>tempo e possibilita maior sensibilidade para a análise genética dos indivíduos.</p><p>Com esta técnica, até mesmo marcadores epigenéticos podem ser utilizados para</p><p>investigação forense e podem ajudar a distinguir gêmeos monozigóticos, predizer</p><p>o tipo de tecido de determinada amostra biológica e determinar a idade do doador</p><p>de DNA (YANG et al., 2014, p. 193).</p><p>Empresas de biotecnologia já estão trabalhando no desenvolvimento e</p><p>aprimoramento de equipamentos capazes de fazer o exame de DNA no local do</p><p>crime. Estas máquinas acompanham kits que diminuem as etapas tradicionais</p><p>do processamento do DNA, desde o seu isolamento, até a PCR e a eletroforese.</p><p>Uma destas plataformas é a RapidHit (Figura 22 – fabricante Thermo Scientifi c).</p><p>41</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>GURA 22 – RAPIDHIT: EQUIPAMENTO PORTÁTIL PARA ANÁLISE DE DNA</p><p>FONTE: <https://www.thermofi sher.com/br/en/home/industrial/forensics/</p><p>human-identifi cation/forensic-dna-analysis/dna-analysis/rapidhit-id-</p><p>system-human-identifi cation.html>. Acesso em: 12 dez. 2018.</p><p>RapidHit: este equipamento possui um cartucho (a) onde deve ser inserido o</p><p>Swab com o esfregaço bucal. Posteriormente, o cartucho é inserido na máquina</p><p>(b), onde é feita a lise das células, a extração, amplifi cação e eletrofores do DNA</p><p>para gerar o perfi l genético do indivíduo. No link, pode ser visto um vídeo com o</p><p>seu funcionamento.</p><p>Quando testadas, essas máquinas foram capazes de gerar perfi s de STRs</p><p>a partir de amostras de sangue e esfregaço bucal, porém não apresentaram</p><p>resultados satisfatórios com amostras de DNA degradadas ou pouco concentradas,</p><p>como as que frequentemente são encontradas nos locais de crimes.</p><p>Outra tecnologia bastante interessante é o Retrato Falado Molecular. Como</p><p>o próprio nome diz, seria feito um retrato falado da pessoa a partir do seu DNA.</p><p>Para isso são usados os polimorfi smos do tipo SNPs, pois são apontados como</p><p>marcadores de ancestralidade biogeográfi ca e, portanto, poderiam indicar</p><p>possíveis traços físicos com potencial aplicação nas investigações forenses,</p><p>auxiliando a reduzir a lista de suspeitos e na identifi cação de restos mortais (Figura</p><p>23). No site da empresa, existem dados de resolução de crimes reais utilizando</p><p>essa tecnologia.</p><p>42</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>FIGURA 23 – RETRATO FALADO MOLECULAR GERADO POR ANÁLISE DE SNPS</p><p>FONTE: <https://snapshot.parabon-nanolabs.com>. Acesso em: 12 dez. 2018.</p><p>Imagem mostrando o painel gerado com predição fenotípica de um voluntário</p><p>usando o kit Parabon® SnapshotTM DNA Phenotyping, Ancestry & Kinship Analysis</p><p>(a) e sua fotografi a (b).</p><p>5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES</p><p>Nesta primeira parte da disciplina Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>relembramos conceitos básicos de Genética que são importantes para entender</p><p>as técnicas e as aplicações da identifi cação por DNA na área forense.</p><p>Vimos como as tecnologias, descobertas na década de 1970 e 1980,</p><p>foram importantes para impulsionar o lançamento e desenvolvimento do Projeto</p><p>Genoma Humano. Este, por sua vez, revolucionou a Ciência e trouxe aplicações</p><p>nas mais diversas áreas de estudo, benefi ciando a sociedade em diversos</p><p>aspectos. Os cientistas que participaram de tais conquistas são hoje reconhecidos</p><p>mundialmente e, pelo menos três deles, foram laureados com o Prêmio Nobel.</p><p>Apesar da maior parte das aplicações da tecnologia de DNA fi ngerprint</p><p>ser voltada para o uso em amostras provenientes de humanos, devemos ter em</p><p>mente que há outras situações que o DNA fi ngerprint pode ser usado, inclusive</p><p>com amostras de outras</p><p>espécies (animais, plantas, microorganismos). Além</p><p>disso, caro aluno, não se esqueça da origem dos marcadores moleculares</p><p>43</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>mais utilizados nessas investigações, ou seja, as regiões de DNA repetitivo,</p><p>principalmente as denominadas microssatélites ou STRs.</p><p>Ao fi nal do seu estudo, espero que você tenha relembrado os principais</p><p>conceitos da Genética, principalmente os marcadores moleculares, para que você</p><p>seja capaz de compreender, discutir e avaliar como é feita a identifi cação genética</p><p>e em quais situações ela pode ser aplicada.</p><p>No próximo capítulo estudaremos quais são os vestígios biológicos</p><p>importantes para a Genética Forense. Veremos que eles não podem ser</p><p>coletados de qualquer maneira, por pessoal não treinado, para que não ocorra</p><p>comprometimento da análise genética que será realizada. Após este capítulo,</p><p>veremos, em detalhes, os procedimentos laboratoriais usados na prática da</p><p>investigação forense.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALVES, E. G. Direitos fundamentais e limitações necessárias: aplicação do</p><p>exame pericial do DNA para a identifi cação de pessoas. 2009. 53f. Dissertação</p><p>(Especialização em Ordem Jurídica e Ministério Público) - Fundação Escola Superior</p><p>do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Brasília, 2009.</p><p>ARENAS, M. et al. Forensic genetics and genomics: Much more than just a</p><p>human affair. Plos Genetics, California, v. 13, set. 2017. https://doi.org/10.1371/</p><p>journal.pgen.1006960. Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>BIESECKER, L. G. et al. DNA identifi cations after the 9/11 World Trade Center</p><p>attack. Science, Nova York, v. 310, p.1122-1123, nov. 2005. https://www.</p><p>unboundmedicine.com/medline/citation/16293742/Epidemiology__DNA_</p><p>identifi cations_after_the_9/11_World_Trade_Center_attack_. Acesso em: 14 jan.</p><p>2019.</p><p>BONACCORSO, N. S. Aplicação do exame de DNA na elucidação de crimes.</p><p>2005, 193f. Dissertação (Mestrado em Medicina Forense) – Faculdade de Direito</p><p>da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.</p><p>CARVALHO, C. B. The use of DNA barcoding to identify feathers from illegaly</p><p>tradead birds. Brazilian Journal of Forensics Sciences, Medical Law and</p><p>Bioethics, São José do Rio Preto, v.2, p.326-332, dez. 2013. http://www.ipebj.</p><p>com.br/forensicjournal/download.php?arquivo=97. Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>44</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. 3. ed.</p><p>Porto Alegre: Artmed, 2006.</p><p>CHINERY, P. F.; HUDSON, G. Mitochondrial genetics. British Medical</p><p>Bulletin, Oxford, v. 106, p. 135–159, jun. 2013. https://academic.oup.com/bmb/</p><p>article/106/1/135/323715. Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>CORTE-REAL, F.; VIEIRA, D. N. Princípios de Genética Forense. Coimbra:</p><p>Universidade de Coimbra, 2015. http://dx.doi.org/10.14195/978-989-26-0957-7.</p><p>Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>GOODWIN, W.; LINACRE, A.; HADI, A. An introduction to Forensic Genetics.</p><p>West Sussex: John Wiley & Sons Ltd, 2007.</p><p>GRIFFITHS, A. J. et al. Introdução à genética. 9. ed, Rio de Janeiro:</p><p>Guanabara Koogan, 2009.</p><p>JEFFREYS, A. J.; BROOKFIELD, J. F.; SEMEONOFF, R. Positive identifi cation</p><p>of an immigration test-case using human DNA fi ngerprints. Nature, [s.l.], v. 317,</p><p>p. 818–819, out. 1985. https://www.nature.com/articles/317818a0. Acesso em: 14</p><p>jan. 2019.</p><p>LAUNCHING forensic science international daughter journal in 2007: forensic</p><p>science international: genetics. Forensic Science International: Genetics, San</p><p>Diego, v. 1, n.1, p. 1-2, mar. 2007. https://www.fsigenetics.com/article/S1872-</p><p>4973(06)00002-0/pdf. Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>LUO, S. et al. Biparental inheritance of mitochondrial DNA in humans.</p><p>Proceedings of the National Academic Science of USA (PNAS), v. 115, p. 13039-</p><p>13044, nov. 2018. https://www.pnas.org/content/115/51/13039/tab-article-info.</p><p>Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>PASSARGE, E. Color Atlas of Genetics. 2. ed. New York: Georg Thieme Verlag,</p><p>2001.</p><p>ROEWER, L. DNA. Fingerprinting in forensics: past, present, future.</p><p>Investigative Genetics, v. 4, p. 22, nov. 2013. https://investigativegenetics.</p><p>biomedcentral.com/articles/10.1186/2041-2223-4-22. Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>SNUSTAD, P. D.; SIMMONS, M.J. Fundamentos de Genética. 6. ed. Rio de</p><p>Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.</p><p>45</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 1</p><p>U.S. DEPARTMENT OF ENERGY. Human Genome Project. Washington DC, nov.</p><p>2017.http://www.ornl.gov/hgmis> Acesso em: 19 jan. 2019.</p><p>WESTBROOK, K.; STEARNES, V. Pharmacogenomics of breast cancer therapy:</p><p>an update. Pharmacology Therapy, v. 139, p.1-11, jul. 2013. https://www.ncbi.</p><p>nlm.nih.gov/pubmed/23500718. Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>YANG, Y.; XIE, B.; YAN, J. Application of Next-Generation Sequencing technology</p><p>in forensic science. Genomics Proteomics Bioinformatics, v. 12, p. 190-197,</p><p>out. 2014. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1672022914001053.</p><p>Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>ZHAO, X. C. et al. Isolating sperm from cell mixtures using magnetic beads</p><p>coupled with an anti-ph-20 antibody for forensic DNA analysis. Plos One, v.11,</p><p>p. 7, jul. 2016. https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.</p><p>pone.0159401. Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>ZHOU, Q. et al. Mitochondrial endonuclease G mediates breakdown of paternal</p><p>mitochondria upon fertilization. Science, v. 353, p. 394-399, jul. 2016. http://</p><p>science.sciencemag.org/content/353/6297/394. Acesso em: 14 jan. 2019.</p><p>46</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>CAPÍTULO 2</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA</p><p>MOLECULAR FORENSE</p><p>A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes</p><p>objetivos de aprendizagem:</p><p> Descrever os principais tipos de vestígios biológicos utilizados na identifi cação</p><p>por DNA dos indivíduos.</p><p> Identifi car quais são os vestígios biológicos que permitem a análise por DNA.</p><p> Avaliar e empregar os procedimentos operacionais padrões com a amostra</p><p>biológica para que sua integridade física seja mantida durante a coleta e</p><p>conservação.</p><p>48</p><p>Genética e Biologia Molecular Forense</p><p>49</p><p>INTRODUÇÃO À GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR FORENSE Capítulo 2</p><p>1 CONTEXTUALIZAÇÃO</p><p>Caro aluno, você está lembrado da situação que discutimos no início</p><p>do Capítulo 1? Comentamos sobre um episódio da série Hannibal, mais</p><p>especifi camente sobre a cena onde um agente do FBI visita Hannibal Lecter em</p><p>um dos seus famosos jantares e lhe pede uma amostra da comida que foi servida.</p><p>O intuito do agente era obter provas de que a carne que Lecter servia era de</p><p>origem humana. Entretanto, vimos que o agente não tomou os devidos cuidados</p><p>para não contaminar a amostra que ele coletou.</p><p>Na vida real, portanto, os peritos devem seguir procedimentos operacionais</p><p>padrão (POPs) para que se evite contaminação, degradação e falta de</p><p>documentação adequada com as amostras encontradas em um local de crime ou,</p><p>ainda, aquelas que foram coletadas para testes de paternidade e outras situações.</p><p>Neste capítulo veremos justamente como fazer isto, quais são os principais</p><p>vestígios biológicos analisados para fi ns forenses e, o que é e qual a importância</p><p>da cadeia de custódia.</p><p>2 VESTÍGIOS BIOLÓGICOS</p><p>O estudo dos vestígios constitui um dos pilares da criminalística, uma vez</p><p>que todo o processo começa a partir dele.</p><p>Os vestígios biológicos são materiais de origem biológica (sangue, sêmen,</p><p>pelos etc.) coletados do local do crime para posterior análise genética dos</p><p>envolvidos na investigação do crime e, vai ajudar a estabelecer, por exemplo,</p><p>quantas pessoas estavam naquele local e quem eram elas. São fundamentais</p><p>para a elucidação do crime, com a identifi cação do autor e provas científi cas</p><p>irrefutáveis frente ao tribunal, na fase processual do inquérito policial, trazendo</p><p>para a sociedade a sensação de segurança e devida imputabilidade dos autores</p><p>do fato criminoso (SILVEIRA, 2017).</p><p>2.1 FONTES E PRINCIPAIS</p><p>VESTÍGIOS</p><p>Uma grande diversidade de amostras</p>

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