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<p>Seção 1</p><p>SUA PETIÇÃO</p><p>DIREITO</p><p>PENAL</p><p>P</p><p>A</p><p>Trabalharemos juntos o intrigante ecossistema das Ciências Criminais! Trata-se de uma temática</p><p>que percorre desde a fase investigativa até o plenário do Tribunal do Júri, notadamente nos</p><p>chamados crimes dolosos contra a vida, em que o aparato estatal está voltado para identificar aquele</p><p>que eliminou o bem jurídico mais importante do Código Penal, qual seja, a vida. Para tanto, serão</p><p>identificados todos os pormenores processuais que pautam a persecução penal, de forma a fornecer</p><p>ao estudante uma segurança na defesa dos interesses do acusado.</p><p>Com essa visão ampla da matéria e dos momentos processuais adequados, preparei os pontos mais</p><p>cobrados em provas da OAB, valendo-me da experiência adquirida nesses 18 anos na área criminal,</p><p>seja como Defensor Público do Estado de Minas Gerais, cargo que ocupei por três anos, seja</p><p>como Promotor de Justiça do Estado de Minas Gerais, cargo que ocupo atualmente há 16 anos.</p><p>Além disso, leciono em cursos preparatórios para ingresso em cargos públicos, para os certames da</p><p>OAB e pós-graduação. No campo acadêmico, sou Mestre em Direito e publico livros pela Editora</p><p>Saraivajur, tendo sido best-seller com o Manual de Criminologia, Vade Mecum OAB e Graduação e</p><p>OAB Esquematizado. Para melhor conhecer o Professor, o meu Instagram é @chrisgonzaga.</p><p>No presente tema, Brutus, brasileiro, solteiro, carteira de identidade número xxx, residente e</p><p>domiciliado na cidade de Porto Seguro/BA, foi preso em flagrante pelo crime de homicídio doloso</p><p>consumado contra duas vítimas, bem como pelo porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas. No</p><p>local, foram encontrados os cadáveres, a arma de fogo e 40 (quarenta) papelotes de cocaína.</p><p>Os fatos se deram da seguinte forma: Brutus, conhecido traficante de drogas na comunidade onde</p><p>morava, tinha ido a um baile funk e lá começou a conversar com Cleópatra, uma garota de outra</p><p>comunidade e que estava bebendo com sua amiga, Afrodite, também da mesma comunidade que</p><p>aquela. Ambas sabiam que Brutus era o “dono” daquela comunidade e operava todo o tráfico de</p><p>Seção 1</p><p>DIREITO PENAL</p><p>Sua causa!</p><p>P</p><p>A</p><p>drogas na região, o que as instigou a beberem com ele no baile funk, em razão do “glamour” gerado</p><p>pelo seu poder no local.</p><p>Após horas bebendo, Brutus chamou as garotas para irem até sua residência para ouvir música,</p><p>beber e fazer uso de drogas, o que foi prontamente atendido por ambas. Ao chegarem à casa de</p><p>Brutus, elas viram que lá havia muitas drogas, dinheiro e armas de fogo, tudo isso típico de um</p><p>traficante de drogas que comandava a mercancia ilícita de entorpecentes no local e começaram a</p><p>perguntar sobre o trabalho de Brutus.</p><p>Brutus não queria ficar falando de trabalho naquele momento, mas, sim, ter uma noite de relação</p><p>sexual com as moças, todavia Cleópatra não aceitou e pediu para que ele solicitasse um Uber para</p><p>ela ir embora para a sua comunidade, sendo que apenas Afrodite anuiu ao convite sexual. Enfurecido</p><p>com a recusa ao seu convite sexual, Brutus pegou um fuzil e disparou, dolosamente, contra</p><p>Cleópatra, atingindo-a mortalmente, sendo que o mesmo disparo que a perfurou também acertou</p><p>Afrodite, que morreu imediatamente, mas ele não tinha a intenção de matá-la, o que ocorrera por</p><p>erro na execução, em virtude da imprudência de ter usado uma arma muito possante para eliminar</p><p>alguém que estava próximo a ela.</p><p>Destaca-se que Cleópatra e Afrodite eram moradoras de uma comunidade rival, chefiada por outro</p><p>traficante que era inimigo de Brutus, sendo que, quando a notícia do homicídio chegou até ele, foi</p><p>acionada a Polícia Militar, de forma anônima, dando o direcionamento exato da residência de Brutus</p><p>para constatar que os corpos lá estavam e ele ser preso.</p><p>A Polícia Militar, sem qualquer investigação prévia, chegou logo pela manhã e arrombou a porta,</p><p>encontrando Brutus ainda dormindo e os dois corpos no chão com orifício de entrada de uma bala</p><p>de fuzil que transfixou ambas as vítimas e parou a trajetória na parede, tendo sido recolhido o projétil.</p><p>Além disso, os policiais encontraram 40 papelotes de cocaína embalados prontos para comércio,</p><p>bem como o fuzil utilizado no delito e uma pistola 9 mm que estava no armário da cozinha.</p><p>Cumpre ressaltar que, para encontrar as drogas e a pistola, os militares asfixiaram Brutus com sacola</p><p>plástica, tendo ele, após não aguentar mais ser espancado e asfixiado, apontado onde guardava a</p><p>arma e as drogas, bem como confessou ter praticado os homicídios.</p><p>Com sua prisão em flagrante, Brutus foi encaminhado para o Instituto Médico Legal para fazer exame</p><p>de corpo de delito, constatando-se que ele fora asfixiado e espancado horas antes de fazer a perícia.</p><p>Após receber o auto de prisão em flagrante, o Juiz responsável pelos fatos designa audiência de</p><p>custódia para a oitiva do acusado e ficar a par dos moldes em que se deram a sua prisão.</p><p>P</p><p>A</p><p>Na audiência de custódia, realizada dentro do prazo legal, o acusado mencionou que os policiais</p><p>militares entraram em sua residência sem o seu consentimento, tendo ainda espancado e asfixiado</p><p>ele, de forma a confessar o crime, o que fora comprovado pelo exame de corpo de delito.</p><p>Não obstante, o membro do Ministério Público, tendo visto que Brutus tinha uma extensa ficha</p><p>criminal, bem como os crimes que foram flagrados no momento de sua prisão em flagrante, requereu</p><p>a conversão em prisão preventiva, uma vez que o acusado teria praticado crime hediondo,</p><p>consistente no delito do art. 121, §2º, II (motivo fútil) e VIII (emprego de arma de fogo de uso</p><p>restrito), do Código Penal, por duas vezes (duas vítimas), combinado com o crime do art. 16,</p><p>caput (porte ilegal de arma de fogo de uso restrito), da Lei nº 10.826/03, por duas vezes (fuzil</p><p>e pistola 9 mm), e art. 33, caput (tráfico de drogas), da Lei nº 11.343/06, todos em concurso</p><p>material de crimes, na forma do art. 69 Código Penal, destacando que não era possível a</p><p>concessão de liberdade provisória com fiança, pois a Lei nº 8.072/90, art. 2º, II, veda tal benefício</p><p>legal. Além disso, o Promotor de Justiça não acreditou que os policiais teriam espancado e asfixiado</p><p>o acusado, bem como que os crimes praticados foram comprovados pela entrada em sua residência,</p><p>sendo dispensável o consentimento do morador nessas situações de permanência do delito.</p><p>Após, o Juiz determinou que você, advogado do acusado, manifestasse por escrito o que seria</p><p>requerido pelo seu cliente.</p><p>Você deverá realizar a peça processual cabível.</p><p>Para início de fundamentação, deve-se lembrar do seguinte artigo da Constituição Federal, tendo em</p><p>vista a temática das prisões, nesses termos:</p><p>Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,</p><p>garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade</p><p>do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos</p><p>seguintes:</p><p>LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; (Brasil,</p><p>1988, [s. p.])</p><p>No que diz respeito à prisão ilegal, a prática de tortura para obtenção de provas acerca de um fato</p><p>constitui ato atentatório aos princípios básicos do Direito Penal, pois, além de ser uma situação típica</p><p>de tortura prevista na Lei nº. 9.455/97, art. 1º, I, a), constitui prova ilícita e que não pode ser validada</p><p>pelo Poder Judiciário.</p><p>Fundamentando!</p><p>P</p><p>A</p><p>Em razão disso, destaca-se o novo instituto processual da audiência de custódia, que foi</p><p>implementado pelo Pacote Anticrime para analisar os meandros em que se deram a prisão em</p><p>flagrante de qualquer pessoa, atentando-se para a atuação policial de forma a coibir e identificar</p><p>eventuais abusos cometidos no ato da prisão.</p><p>Na temática infraconstitucional, o Código de Processo Penal dispõe sobre a audiência de custódia e</p><p>as medidas a serem tomadas</p><p>após a sua realização, na forma do art. 310, verbis:</p><p>Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24</p><p>(vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência</p><p>de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da</p><p>Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz</p><p>deverá, fundamentadamente:</p><p>I - relaxar a prisão ilegal; ou</p><p>II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos</p><p>constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as</p><p>medidas cautelares diversas da prisão; ou</p><p>III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Brasil, 1941, [s. p.])</p><p>Acerca da audiência de custódia, tem-se o ensinamento perlustrado por mim no livro OAB</p><p>Esquematizado, voltado para os futuros advogados, nesses termos:</p><p>Tal novidade legal é fundamental para que não se alastrem de forma indeterminada</p><p>as prisões cautelares, devendo o Magistrado decidir se o acusado permanecerá</p><p>preso ou será solto, bem como aferindo se durante a realização da prisão houve</p><p>algum tipo de abuso de autoridade, o que justificaria por si só o relaxamento da prisão</p><p>considerada ilegal. (Gonzaga, 2022, p. 672)</p><p>No outro campo, as prisões realizadas pelas autoridades públicas devem ser permeadas por</p><p>requisitos legais e de acordo com a visão jurisprudencial. Na sistemática do art. 301 do CPP, as</p><p>prisões em flagrante são as seguintes:</p><p>Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:</p><p>I - está cometendo a infração penal;</p><p>II - acaba de cometê-la;</p><p>III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa,</p><p>em situação que faça presumir ser autor da infração;</p><p>IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que</p><p>façam presumir ser ele autor da infração. (Brasil, 1941, [s. p.])</p><p>No âmbito do que ocorrera na situação flagrancial, destaca-se a figura inserida no inciso IV citado</p><p>anteriormente, estando autorizada a prisão em flagrante nessa situação, classificada como sendo</p><p>um flagrante presumido ou ficto. Ocorre que a hipótese de flagrante vislumbrada foi praticada dentro</p><p>do domicílio do acusado, o que traz para a questão a análise do art. 5º, XI, da CF, nesses termos:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art312...</p><p>P</p><p>A</p><p>XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem</p><p>consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para</p><p>prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; (Brasil, 1988, [s. p.])</p><p>Ora, ainda que se trate de crime em estado flagrancial, deve ser observado o pensamento</p><p>jurisprudencial para ingresso em residência alheia, sob pena de toda e qualquer operação policial</p><p>ser possível sem autorização judicial e de forma discricionária à escolha da autoridade pública.</p><p>Foi com esse pensamento que o Superior Tribunal de Justiça cunhou a seguinte decisão acerca da</p><p>invasão de domicílio, destacando-se a necessidade de mandado judicial e investigações prévias</p><p>acerca do suposto fato, in verbis:</p><p>EMENTA</p><p>AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.</p><p>FLAGRANTE. DOMICÍLIO COMO EXPRESSÃO DO DIREITO À INTIMIDADE.</p><p>ASILO INVIOLÁVEL. EXCEÇÕES CONSTITUCIONAIS. INTERPRETAÇÃO</p><p>RESTRITIVA. AUSÊNCIA DE FUNDADAS RAZÕES. NULIDADE DAS PROVAS</p><p>OBTIDAS. TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA. PROVA NULA.</p><p>AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.</p><p>1. O art. 5º, XI, da Constituição Federal consagrou o direito fundamental à</p><p>inviolabilidade do domicílio, ao dispor que a casa é asilo inviolável do indivíduo,</p><p>ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de</p><p>flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por</p><p>determinação judicial.</p><p>2. O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão geral (Tema 280), que o</p><p>ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial apenas se revela legítimo - a</p><p>qualquer hora do dia, inclusive durante o período noturno - quando amparado em</p><p>fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto,</p><p>que indiquem estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito.</p><p>3. No julgamento do HC n. 697.057/SP (Rel. Ministro Rogerio Schietti, 6ª T., DJe</p><p>3/3/2022), a Sexta Turma deste Superior Tribunal reconheceu que, embora, ao</p><p>menos em tese, fosse legítimo o ingresso em domicílio com amparo no cheiro de</p><p>entorpecentes, era necessário submeter o depoimento dos policiais a "especial</p><p>escrutínio", a fim de aferir, com base nas circunstâncias objetivas do caso, se era</p><p>crível o relato de que foi possível sentir o odor de drogas ainda do lado de fora do</p><p>imóvel.</p><p>4. No precedente acima mencionado, a Turma entendeu que o contexto fático tornava</p><p>completamente inverossímil a versão apresentada pelos agentes de segurança, uma</p><p>vez que a quantidade de drogas, embora relevante, não era excessivamente elevada</p><p>e estava armazenada em embalagem plástica, dentro de uma mochila, no interior de</p><p>um guarda-roupas situado em um cômodo da casa, a evidenciar a completa</p><p>impossibilidade de que os militares percebessem o odor exalado fora da residência.</p><p>5. Na hipótese dos autos, policiais militares receberam informação anônima de que</p><p>o réu armazenava entorpecentes em uma residência e para lá se dirigiram. Afirmaram</p><p>que, do lado de fora, foi possível sentir forte odor de cocaína, razão pela qual</p><p>entraram na residência e, em buscas, encontraram certa quantidade dessa espécie</p><p>de droga.</p><p>6. Não houve, entretanto, referência a prévia investigação, monitoramento ou</p><p>campanas no local, a afastar a hipótese de que se tratava de averiguação de</p><p>denúncia robusta e atual acerca da ocorrência de tráfico naquele local. Da mesma</p><p>forma, não se fez menção a qualquer atitude suspeita, externalizada em atos</p><p>concretos, tampouco movimentação de pessoas típica de comercialização de drogas.</p><p>Destaco, ainda, que, ao que tudo indica, não foi realizada nenhuma diligência</p><p>preliminar para apurar a veracidade e a plausibilidade dessas informações recebidas</p><p>anonimamente.</p><p>P</p><p>A</p><p>7. omissis</p><p>8. omissis</p><p>9. omissis</p><p>10. Diante de tais ponderações, a simples menção a uma denúncia anônima, aliada</p><p>ao relato inverossímil dos policiais de que sentiram forte cheiro de cocaína vindo do</p><p>interior da residência, desprovido de qualquer outra justificativa mais elaborada, não</p><p>configurou, especificamente na hipótese sub examine - em que o contexto fático retira</p><p>a verossimilhança da narrativa dos militares -, o elemento "fundadas razões"</p><p>necessário para o ingresso no domicílio do réu.</p><p>11. Como decorrência da proibição das provas ilícitas por derivação (art. 5º, LVI, da</p><p>Constituição da República), é nula a prova derivada de conduta ilícita, pois evidente</p><p>o nexo causal entre uma e outra conduta, ou seja, entre a invasão de domicílio</p><p>(permeada de ilicitude) e a apreensão das referidas substâncias.</p><p>12. Agravo regimental não provido (AgRg no HC 789014 / SP, STJ).</p><p>Pelo que se constata da colacionada decisão, imperioso que exista uma investigação prévia que</p><p>comprove cabalmente a ocorrência de um crime, sendo necessário, ainda, que exista o</p><p>consentimento do morador para validar a entrada dos policiais, de forma registrada, não sendo</p><p>suficiente uma mera denúncia anônima para autorizar que a residência de alguém seja vasculhada.</p><p>Além disso, toda prova ilícita é inválida e deve ser desentranhada do processo, maculando o próprio</p><p>ato prisional, eis que o Estado não pode praticar crime para combater outro crime, como ocorre nos</p><p>crimes de tortura para obter algum tipo de informação. A par de gerar a ilicitude da prova, bem como</p><p>a ilegalidade da prisão, o Código de Processo Penal regulamenta a matéria, na forma transcrita a</p><p>seguir: “Art. 157, caput. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas</p><p>ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou</p><p>legais” (Brasil, 1941,</p><p>[s. p.]).</p><p>No que diz respeito aos elementos da prisão preventiva, o membro do Ministério Público</p><p>fundamentou o seu pedido na hediondez dos delitos, destacando-se que não cabe liberdade</p><p>provisória com fiança.</p><p>Ora, isso por si só não autoriza a aplicação do art. 312 do CPP, com base na garantia da ordem</p><p>pública, devendo existir elementos concretos de que o acusado solto poderá voltar a delinquir, fugir</p><p>do país ou ameaçar testemunhas e vítimas. O simples fato narrado pelo Promotor de Justiça não</p><p>tem o condão de lançar um decreto prisional.</p><p>O art. 312 do CPP possui a seguinte redação:</p><p>Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública,</p><p>da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a</p><p>aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício</p><p>suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. (Brasil,</p><p>1941, [s. p.])</p><p>P</p><p>A</p><p>Quanto aos requisitos da prisão preventiva, menciona-se que a sua decretação deve ser feita com</p><p>base em elementos concretos e hábeis, não sendo suficiente a gravidade abstrata do delito, no</p><p>pensamento do Superior Tribunal de Justiça:</p><p>EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.</p><p>PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA QUANTO AO</p><p>PERICULUM LIBERTATIS. QUANTIDADE REDUZIDA DE DROGAS. MEDIDAS</p><p>CAUTELARES ALTERNATIVAS. SUFICIÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL</p><p>CONFIGURADO. RECURSO MINISTERIAL DESPROVIDO.</p><p>1. Para a decretação da prisão preventiva é indispensável a demonstração da</p><p>existência da prova da materialidade do crime e a presença de indícios suficientes</p><p>da autoria. Exige-se, ainda, que a decisão esteja pautada em lastro probatório que</p><p>se ajuste às hipóteses excepcionais da norma em abstrato (art. 312 do Código de</p><p>Processo Penal), demonstrada, ainda, a imprescindibilidade da medida. Precedentes</p><p>do STF e STJ.</p><p>2. É cediço que a gravidade abstrata do delito, por si só, não justifica a decretação</p><p>da prisão preventiva. Precedentes.</p><p>3. No caso, embora indicado o risco de reiteração delitiva, não há registro de</p><p>excepcionalidades para justificar a medida extrema. A quantidade de droga</p><p>apreendida não se mostra expressiva (2,9g de crack em 29 pedras) e não há qualquer</p><p>dado indicativo de que o acusado integre organização criminosa, contexto que</p><p>evidencia a possibilidade de aplicação de outras medidas cautelares mais brandas.</p><p>Constrangimento ilegal configurado. Precedentes.</p><p>4. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg no AgRg no HC 798389 / SP).</p><p>Além disso, o fato de a Lei nº 8.072/90 vedar a liberdade provisória com fiança não autoriza a prisão</p><p>preventiva por si só, pois o já citado art. 310 do CPP autoriza a liberdade provisória sem fiança, não</p><p>sendo essa vedada pela Lei dos Crimes Hediondos.</p><p>Dentro dessa análise legal e jurisprudencial que deve ser feita a prisão em flagrante, eis que o tema</p><p>demanda um profundo conhecimento acerca da matéria.</p><p>Um detalhe relevante é que, nos crimes dolosos contra a vida, como ocorre com o homicídio, a</p><p>competência para julgar todos os delitos conexos é do Tribunal do Júri, daí sendo relevante direcionar</p><p>a peça processual para esse juízo específico, na forma do art. 78, I, do CPP.</p><p>Toda e qualquer prisão deve ser feita com base nos princípios</p><p>constitucionais básicos, devendo, ainda, ser observados os</p><p>regramentos infraconstitucionais acerca da matéria.</p><p>PONTO DE ATENÇÃO</p><p>P</p><p>A</p><p>Para elaborarmos uma peça prático-profissional que visa à liberdade da pessoa, precisamos</p><p>responder às seguintes indagações:</p><p>1. Após a audiência de custódia, qual tipo de peça caberia?</p><p>2. A prisão é legal ou ilegal?</p><p>3. Os requisitos da prisão preventiva estão presentes?</p><p>Respondidas essas perguntas, poderemos começar a desenvolver a nossa peça.</p><p>• Sempre importante fundamentar, inicialmente, com algum artigo da Constituição Federal,</p><p>notadamente o art. 5º.</p><p>• Após a utilização de um artigo da Constituição Federal, é interessante que se utilize um ou</p><p>mais artigos da legislação infraconstitucional e evidentemente explique o motivo da citação</p><p>legal.</p><p>• Precisamos utilizar também a doutrina, se possível, mais de um doutrinador com o mesmo</p><p>entendimento. A utilização de uma doutrina atual enriquece qualquer peça.</p><p>• Não podemos deixar de utilizar uma jurisprudência atual acerca do assunto debatido. Deve-</p><p>se preferir jurisprudência de Tribunais superiores, como Superior Tribunal de Justiça e</p><p>Supremo Tribunal Federal. Atenção: jurisprudência são decisões reiteradas dos Tribunais,</p><p>decisões isoladas devem ser evitadas.</p><p>• Se possível, utilizar súmulas, vinculantes e/ou não vinculantes.</p><p>A primeira coisa a se fazer em uma peça processual é o endereçamento, ou seja, precisamos saber</p><p>de quem é a competência para analisar aquele fato. Por esse motivo, antes de ajuizar uma ação ou</p><p>apresentar qualquer peça processual, é necessário que o estudante conheça as regras de</p><p>competência. As questões da OAB sempre demonstram onde se deu o fato, o que fica claro de</p><p>atestar a competência.</p><p>Após o endereçamento, precisamos realizar um preâmbulo, no qual colocaremos todos os dados das</p><p>partes. Nunca se deve inventar dados nas peças práticas da OAB, pois isso identifica a sua prova, o</p><p>que o desclassificará.</p><p>Em seguida ao preâmbulo, iniciaremos os fatos, que nada mais são que a história contada pelo</p><p>examinador.</p><p>Vamos peticionar!</p><p>P</p><p>A</p><p>Depois da narrativa dos fatos, iniciaremos os fundamentos jurídicos. É nesse ponto que você</p><p>demonstra seu conhecimento. Portanto, faça com muita atenção e demonstre para o seu examinador</p><p>que você conhece o assunto.</p><p>Após a fundamentação, é hora de fazer os pedidos. Cuidado! Você só pode pedir o que fundamentou.</p><p>Essas são as chamadas “dicas de ouro”. Tenho certeza de que com esse roteiro mental será fácil</p><p>compreender e colocar em prática todos os seus poderes para uma escorreita peça prático-</p><p>profissional. Vamos peticionar?</p><p>Referências</p><p>BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília:</p><p>Congresso Nacional, [2023]. Disponível em:</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 26 set. 2023.</p><p>BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Brasília:</p><p>Presidência da República, [2023]. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-</p><p>Lei/Del3689.htm. Acesso em: 26 set. 2023.</p><p>GONZAGA, C. OAB Esquematizado - Primeira Fase. 9. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022.</p><p>LIMA, R. B. de. Manual de Processo Penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodium, 2020.</p><p>TÁVORA, N.; ALENCAR, R. R. Curso de Direito Processual Penal. 14. ed. Salvador: JusPodium,</p><p>2019.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm</p>