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<p>LP</p><p>Leitura e</p><p>Interpretação</p><p>Sequência Didática do Professor</p><p>Ensino Médio</p><p>Campo artístico-literário</p><p>Crônica e conto</p><p>Habilidades</p><p>FOCO</p><p>• EM13LP01 Relacionar o texto, tanto na</p><p>produção como na leitura/ escuta, com</p><p>suas condições de produção e seu contexto</p><p>sócio-histórico de circulação, de forma a</p><p>ampliar as possibilidades de construção de</p><p>sentidos e de análise crítica e produzir textos</p><p>adequados a diferentes situações.</p><p>• EM13LP49 Perceber as peculiaridades es-</p><p>truturais e estilísticas de diferentes gêneros</p><p>literários para experimentar os diferentes</p><p>ângulos de apreensão do indivíduo e do</p><p>mundo pela literatura.</p><p>Habilidades</p><p>RELACIONADAS</p><p>EM13LP02, EM13LP03, EM13LP06,</p><p>EM13LP10 e EM13LP46</p><p>EM.10.LP.3.34.21.P-2421</p><p>HABILIDADES RELACIONADAS/</p><p>BNCC:</p><p>• EM13LP02 Estabelecer relações</p><p>entre as partes do texto, tanto na</p><p>produção como na leitura/escuta,</p><p>considerando a construção com-</p><p>posicional e o estilo do gênero,</p><p>usando/reconhecendo adequa-</p><p>damente elementos e recursos</p><p>coesivos diversos que contribuam</p><p>para a coerência, a continuidade</p><p>do texto e sua progressão temá-</p><p>tica, e organizando informações,</p><p>tendo em vista as condições de</p><p>produção e as relações lógico-dis-</p><p>cursivas envolvidas (causa/efeito</p><p>ou consequência; tese/argumen-</p><p>tos; problema/solução; definição/</p><p>exemplos etc.).</p><p>• EM13LP03 Analisar relações de</p><p>intertextualidade e interdiscursivi-</p><p>dade que permitam a explicitação</p><p>de relações dialógicas, a identifi-</p><p>cação de posicionamentos ou de</p><p>perspectivas, a compreensão de</p><p>paráfrases, paródias e estilizações,</p><p>entre outras possibilidades.</p><p>• EM13LP06 Analisar efeitos de sen-</p><p>tido decorrentes de usos expres-</p><p>sivos da linguagem, da escolha de</p><p>determinadas palavras ou expres-</p><p>sões e da ordenação, combinação</p><p>e contraposição de palavras, dentre</p><p>outros, para ampliar as possibilida-</p><p>des de construção de sentidos e de</p><p>uso crítico da língua.</p><p>• EM13LP10 Analisar o fenôme-</p><p>no da variação linguística, em</p><p>seus diferentes níveis (variações</p><p>fonético-fonológica, lexical,</p><p>sintática, semântica e estilístico-</p><p>-pragmática) e em suas diferentes</p><p>dimensões (regional, histórica,</p><p>social, situacional, ocupacional,</p><p>etária etc.), de forma a ampliar a</p><p>compreensão sobre a natureza</p><p>viva e dinâmica da língua e sobre</p><p>o fenômeno da constituição de</p><p>variedades linguísticas de prestígio</p><p>e estigmatizadas, e a fundamentar</p><p>o respeito às variedades linguís-</p><p>ticas e o combate a preconceitos</p><p>linguísticos.</p><p>• EM13LP46 Compartilhar sentidos</p><p>construídos na leitura/escuta de</p><p>textos literários, percebendo dife-</p><p>renças e eventuais tensões entre</p><p>as formas pessoais e as coletivas</p><p>de apreensão desses textos, para</p><p>exercitar o diálogo cultural e agu-</p><p>çar a perspectiva crítica.</p><p>Sequência Didática | Língua Portuguesa | Leitura e Interpretação de Textos | Crônica e conto 3</p><p>Ponto de</p><p>PARTIDA</p><p>Você tem lembrança de cenas que viu e que chamaram sua atenção? É capaz</p><p>de descrevê-las? Que sentimentos elas despertaram em você? Por que acha que</p><p>isso aconteceu?</p><p>Observe as fotos a seguir.</p><p>PONTO DE PARTIDA</p><p>O que se propõe nesse tópico é</p><p>contextualizar o que será lido a fim</p><p>de que os alunos possam antecipar</p><p>ideias e obter informações que irão</p><p>auxiliar no desenvolvimento das Ati-</p><p>vidades 1 e 2. Certamente os alunos</p><p>já têm conhecimentos, adquiridos em</p><p>anos/séries anteriores, sobre o tema/</p><p>assunto proposto para esta SD.</p><p>LP</p><p>Leitura e</p><p>Interpretação</p><p>Ensino Médio</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>Campo artístico-literário | Crônica e conto</p><p>DE OLHO NA BNCC</p><p>CAMPO ARTÍSTICO-LITERÁRIO Neste</p><p>campo, trata-se, principalmente, de</p><p>levar os estudantes a ampliar seu</p><p>repertório de leituras e selecionar obras</p><p>significativas para si, conseguindo</p><p>apreender os níveis de leitura presentes</p><p>nos textos e os discursos subjacen-</p><p>tes de seus autores. [...] A prática da</p><p>leitura literária, assim como de outras</p><p>linguagens, deve ser capaz também</p><p>de resgatar a historicidade dos textos:</p><p>produção, circulação e recepção das</p><p>obras literárias, em um entrecruzamen-</p><p>to de diálogos (entre obras, leitores,</p><p>tempos históricos) e em seus movi-</p><p>mentos de manutenção da tradição e</p><p>de ruptura, suas tensões entre códigos</p><p>estéticos e seus modos de apreensão</p><p>da realidade. Espera-se que os leitores/</p><p>fruidores possam também reconhecer</p><p>na arte formas de crítica cultural e po-</p><p>lítica, uma vez que toda obra expressa,</p><p>inevitavelmente, uma visão de mundo e</p><p>uma forma de conhecimento, por meio</p><p>de sua construção estética. (BRASIL,</p><p>2018, p. 523)</p><p>4</p><p>Permita que, individualmente, façam</p><p>uma primeira leitura das fotos. Todas</p><p>fazem parte de notícias, reportagens,</p><p>concursos de fotojornalismo, publi-</p><p>cadas em diferentes meios.</p><p>Comente com os alunos sobre o que</p><p>pode ser a ´leitura` de uma fotogra-</p><p>fia. Para fugir à leitura superficial, é</p><p>importante que eles saibam que as</p><p>fotografias não documentam objetos</p><p>ou pessoas, mas documentam situa-</p><p>ções e representações. Sendo assim,</p><p>deve-se compreender o registro des-</p><p>se ´instante` dentro de um contexto</p><p>sócio-histórico-cultural.</p><p>Como sugestão, seguem algumas</p><p>perguntas que podem ser feitas aos</p><p>alunos a fim de leva-los a ir além do</p><p>´instante` registrado pelas fotos.</p><p>1. Onde e quando a foto pode ter</p><p>sido tirada?</p><p>2. As pessoas retratadas aparecem</p><p>em primeiro plano?</p><p>3. O lugar em que a(s) pessoa(s)</p><p>está(estão) pode ser descrito?</p><p>4. Como a(s) pessoa(s) podem ser</p><p>descritas?</p><p>As fotos ´levaram` você para um lugar, um tempo específico? Elas podem ser</p><p>consideradas atemporais? Um ´flagrante` de um acontecimento a ser eterniza-</p><p>do? Elas tocariam você de uma forma diferente? Podem fazer rir, chorar, refletir,</p><p>se revoltar, se indignar? Por quê?</p><p>Atividade 1</p><p>Depois de fazer a leitura das fotos, você fará a leitura de um texto que tem re-</p><p>lação com o Ponto de Partida. Para a leitura/compreensão do texto, há questões</p><p>para orientar estratégias de leitura necessárias ao processo.</p><p>“A crônica é algo para ser lido enquanto se toma o café da manhã,</p><p>pois ela busca o pitoresco ou o irrisório no cotidiano de cada um. É</p><p>o fato miúdo: a notícia em que ninguém prestou atenção, o aconte-</p><p>cimento insignificante, a cena corriqueira. Eu pretendia apenas reco-</p><p>lher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano. Visava ao</p><p>circunstancial, ao episódico. Nessa perseguição do acidental, quer</p><p>num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança, ou num</p><p>incidente doméstico, torno-me simples espectador”.</p><p>Fernando Sabino. Trecho presente em COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte:</p><p>Autêntica: 2008.</p><p>1. No contexto em que elas se apresentam, como você definiria as palavras</p><p>´pitoresco` e ´irrisório`?</p><p>2. Como o autor explica a expressão ´fato miúdo`?</p><p>3. O uso do pronome ´eu`, na terceira linha do texto, remete a quem?</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>Imagens disponíveis em</p><p>www.iqe.org.br/surl/?004ee2</p><p>www.iqe.org.br/surl/?1e9a69</p><p>www.iqe.org.br/surl/?aaf5fe</p><p>www.iqe.org.br/surl/?f1bac7</p><p>Acesso em 10/03/2019.</p><p>Sequência Didática | Língua Portuguesa | Leitura e Interpretação de Textos | Crônica e conto 5</p><p>4. No contexto em que ela se apresenta, como você definiria a frase ´Visava ao</p><p>circunstancial, ao episódico`?</p><p>5. Assinale as alternativas que representam fatos inusitados do cotidiano:</p><p>a) Jovem tinha biblioteca de livros roubados em casa</p><p>b) Galinha de 1 metro é vendida por R$ 74 mil em leilão</p><p>c) Menino telefona para a polícia e pede ajuda com dever de Matemática</p><p>d) Urubu Casemiro é enterrado com pompa em MG</p><p>6. O texto apresenta</p><p>a) um ponto de vista do cronista sobre incidentes domésticos.</p><p>b) uma sucessão de fatos corriqueiros do ponto de vista do leitor.</p><p>c) uma definição de crônica do ponto de vista do cronista.</p><p>d) um ponto de vista do cronista sobre a insignificância das pessoas.</p><p>7. De acordo com a definição de crônica exposta pelo autor, marque as alterna-</p><p>tivas que representam fatos do cotidiano:</p><p>a) a perda de um animal de estimação.</p><p>b) o encontro entre um fã e seu ídolo.</p><p>c) a final de um campeonato de futebol.</p><p>d) a perda de um ente querido.</p><p>e) o nascimento de uma criança.</p><p>Atividade 2</p><p>Como você já sabe, a crônica é um gênero textual que explora fatos do dia</p><p>a dia, acontecimentos que propiciam momentos de nostalgia, enternecimento,</p><p>indignação, diversão etc. Agora, você lerá uma crônica escrita por Ivan Ângelo,</p><p>publicada na revista Veja.</p><p>5. O cenário em que essas</p><p>pessoas estão e a forma como</p><p>estão vestidas dá indícios de</p><p>sua condição social?</p><p>6. Que título vocês dariam para</p><p>cada uma das fotos?</p><p>Para finalizar, é importante ressaltar</p><p>que a leitura das fotos não é uma</p><p>atividade aleatória, seu sentido se</p><p>completará com a realização da</p><p>Atividade 1, quando os alunos com-</p><p>preenderem que a crônica “busca o</p><p>pitoresco ou o irrisório no cotidia-</p><p>no de cada um”.</p><p>Atividade 1</p><p>Professor, o processo de leitura do</p><p>texto será feito a partir das ques-</p><p>tões propostas, que vão do léxico</p><p>aos exemplos.</p><p>Em 1, ´Pitoresco`: excêntrico, inusi-</p><p>tado, diferente, divertido. ´Irrisório`:</p><p>Que, por sua insignificância, provoca</p><p>riso ou escárnio.</p><p>Em 2, o autor define a expressão</p><p>´fato miúdo` como a notícia em que</p><p>ninguém prestou atenção, o acon-</p><p>tecimento insignificante, a cena</p><p>corriqueira.</p><p>Em 3, o uso do pronome ´eu`, na</p><p>terceira linha do texto, remete ao</p><p>cronista Fernando Sabino. Ver refe-</p><p>rência no final do texto.</p><p>Em 4, ´Visava ao circunstancial, ao</p><p>episódico`, o trecho pode ser subs-</p><p>tituído, sem prejuízo de sentido, por</p><p>“visava ao ocasional, ao casual”.</p><p>Em 5, além dos títulos sugeridos,</p><p>pode-se acrescentar outros à lista,</p><p>o importante é que o aluno perceba</p><p>que as situações mais insólitas,</p><p>aparentemente insignificantes, co-</p><p>muns no dia a dia das pessoas, são</p><p>as que mais atraem os cronistas.</p><p>Em 6, o texto apresenta uma defini-</p><p>ção de crônica do ponto de vista do</p><p>cronista.</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>TROPEÇOS</p><p>O compenetrado pintor de paredes olhou as grandes manchas</p><p>que se expandiam por todo o teto do banheiro do nosso apartamento,</p><p>as mais antigas já negras, umas amarronzadas, outras esverdeadas,</p><p>pediu uma escada, subiu, desceu, subiu, apalpou em vários pontos e</p><p>deu seu diagnóstico:</p><p>— Não adianta pintar. Aqui tem muita "humildade".</p><p>Levei segundos para compreender que ele queria dizer "umidade". E</p><p>consegui não rir. Durante a conversa, a expressão surgiu outras vezes,</p><p>não escapara em falha momentânea.</p><p>6</p><p>Em 7, todos os itens da lista podem</p><p>ser considerados fatos do cotidiano</p><p>das pessoas. É possível acrescentar</p><p>os títulos dados às fotos no Ponto</p><p>de Partida.</p><p>A opção por apresentar um con-</p><p>ceito/definição de crônica, antes</p><p>de realizar a leitura de uma, visa a</p><p>oferecer ao aluno elementos que</p><p>possam auxiliá-lo no processo de</p><p>leitura, a fim de que a dificuldade</p><p>com o gênero não seja empecilho à</p><p>compreensão do texto.</p><p>Atividade 2</p><p>Professor, sugere-se que a ativida-</p><p>de seja desenvolvida em dupla e/</p><p>ou grupo (de no máximo quatro</p><p>pessoas), a fim de que os alunos</p><p>possam trocar impressões/infor-</p><p>mações relativas à mobilização de</p><p>conhecimentos prévios de mundo,</p><p>de gênero textual e de língua.</p><p>Nas questões propostas para o pro-</p><p>cesso de leitura da crônica são tra-</p><p>balhadas as habilidades EM13LP01,</p><p>EM13LP49, EM13LP10,</p><p>EM13LP06, EM13LP02.</p><p>As respostas às questões, como já</p><p>é de conhecimento, são sugestões,</p><p>que podem receber nova ´roupa-</p><p>gem`, o que vai depender do ritmo e</p><p>conhecimento da turma.</p><p>1. Espera-se que o aluno saiba que</p><p>tropeço pode ser uma mancada,</p><p>uma ação impensada em que há</p><p>erro; ou uma ação ou efeito de</p><p>tropeçar, de esbarrar com o pé em</p><p>alguma coisa. O texto pode tratar</p><p>de um ou outro. E também não</p><p>ser único, pois são ´tropeços`.</p><p>2. O fato é o compenetrado pintor</p><p>ter falado ´humildade`, em lugar</p><p>de ´umidade`, o que fez o autor</p><p>discorrer sobre linguagem.</p><p>3. O fato ocorreu no apartamento</p><p>do autor, que pretendia uma</p><p>reforma.</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR Há palavras que são armadilhas para os ouvidos, mesmo de</p><p>pessoas menos humildes. São captadas de uma forma, instalam-se</p><p>no cérebro com seu aparato de sons e sentidos – sons parecidos</p><p>e sentidos inadequados – e saltam frescas e absurdas no meio de</p><p>uma conversa. São enganos do ouvido, mais do que da fala. Como</p><p>o tropeção de uma pessoa de boas pernas não é um erro do cami-</p><p>nhar, mas do ver.</p><p>Resultam muitas vezes formas hilárias. O zelador do nosso prédio</p><p>deu esta explicação por não estar o elevador automático parando em</p><p>determinados andares:</p><p>— O computador entrou em "pânico".</p><p>Não sei se ele conhece a palavra "pane". Deve ter sido daquela</p><p>forma que a ouviu e gravou. Sabemos que é "pane", ele assimilou "pâ-</p><p>nico" — a coisa que nomeamos é a mesma, a comunicação foi feita.</p><p>Tropeço também é linguagem.</p><p>O cheque bancário é frequentemente vítima de um tropicão</p><p>desses. Muita gente diz, no final de uma história de esperteza ou de</p><p>desacordo comercial, que mandou "assustar" um cheque. Pois outro</p><p>dia encontrei alguém que mandou "desbronquear" o cheque. Lingua-</p><p>gens... Imagino a viagem que a palavra "desbloquear" fez na cabeça</p><p>da pessoa: a troca comum do "l" pelo "r", a estranheza que se seguiu,</p><p>o acréscimo de um "n" e aí, sim, a coisa ficou parecida com alguma</p><p>coisa, bronca, desbronquear, sem bronca. Muita palavra com status de</p><p>dicionário nasceu assim.</p><p>Já ouvi de um mecânico que o motor do carro estava "rastrean-</p><p>do", em vez de "rateando". Talvez a palavra correta lhe lembrasse</p><p>rato e a descartara como improvável. "Rastrear" pareceria melhor</p><p>raiz, traz aquela ideia de vai e volta e vacila, como quem segue um</p><p>rastro... Sabe-se lá. Há algum tempo, quando eu procurava um lugar</p><p>pequeno para morar, o zelador mostrou-me um quarto-e-sala "con-</p><p>jugal". Tem lógica, não? Muitos erros são elaborações. Não teriam</p><p>graça se não tivessem lógica.</p><p>A personagem Magda, da televisão, nasceu deles. Muito antes, nos</p><p>anos 70, um grupo de jornalistas, escritores e atores criou o Pônzio,</p><p>personagem de mesa de bar que misturava os sentidos das palavras</p><p>pela semelhança dos sons. Há celebridades da televisão que fazem</p><p>isso a sério. Na Casa dos Artistas, uma famosa queria pôr um "cálcio"</p><p>no pé da mesa. Uma estrela da Rede TV! falou em "instintores" de</p><p>incêndio. A mesma disse que certo xampu tinha "Ph.D." neutro.</p><p>Estudantes candidatos à universidade também tropeçam nos ouvi-</p><p>dos. E não apenas falam, mas registram seus equívocos. Nas provas</p><p>de avaliação do ensino médio apareceram coisas como "a gravidez do</p><p>problema", "micro-leão-dourado" e, esta é ótima, "raios ultraviolentos".</p><p>Crianças cometem coisas tais, para a delícia dos pais. O processo</p><p>é o mesmo: ouvir, reelaborar, inserir em uma lógica própria e falar. Mi-</p><p>nha filha pequena dizia "água solitária", em vez de "sanitária". A sobri-</p><p>nha de uma amiga, que estranhava a irritação mensal da tia habitual-</p><p>Sequência Didática | Língua Portuguesa | Leitura e Interpretação de Textos | Crônica e conto 7</p><p>Ivan Ângelo. Revista Veja. Disponível em: http://veja.abril.com.br/vejasp/230403/cronica.html</p><p>1. O que é possível antecipar sobre o texto apenas pelo título? O fato de estar no</p><p>plural tem algum significado?</p><p>2. Qual é o fato do dia a dia que serve de tema para a crônica lida e desenca-</p><p>deou o relato de outros fatos?</p><p>3. Onde aconteceu o fato que desencadeou o relato de outros fatos, similares</p><p>ao do ocorrido com o pintor?</p><p>4. O pintor ter trocado “umidade” por “humildade” permitiu o cronista concluir</p><p>que a falha não era momentânea. O que isso significa?</p><p>Releia o trecho do 3º§ para responder às questões 5 e 6.</p><p>Há palavras que são armadilhas para os ouvidos, mesmo de pes-</p><p>soas menos humildes. São captadas de uma forma, instalam-se no cé-</p><p>rebro com seu aparato de sons e sentidos — sons parecidos e sentidos</p><p>inadequados — e saltam frescas e absurdas no meio de uma conversa.</p><p>São enganos do ouvido, mais do que da fala. Como o tropeção de uma</p><p>pessoa de boas pernas não é um erro do caminhar, mas do ver.</p><p>5.</p><p>a. Qual o sentido de ´armadilhas` no texto?</p><p>mente encantadora, ouviu desta uma explicação que era quase uma</p><p>desculpa e depois a repassou para a irmã menorzinha:</p><p>— A tia Pat está "misturada". 4. Que a falha cometida</p><p>pelo pintor</p><p>não era de momento, pois ele</p><p>repetiu a palavra outras vezes.</p><p>5. a) Espera-se que o aluno se</p><p>valha de uma das acepções</p><p>presentes no dicionário: armadi-</p><p>lha. s.f. 1. qualquer artifício ou</p><p>engenho para capturar animais.</p><p>2. estratagema para fazer</p><p>alguém cair em logro; artifício</p><p>enganador; cilada, esparrela,</p><p>ardil, armação. b) Em geral, a</p><p>tendência é considerar que as</p><p>pessoas mais humildes podem</p><p>cometer mais erros, mas o</p><p>autor afirma que os tropeços de</p><p>linguagem atingem a todos, in-</p><p>discriminadamente. c) “E saltam</p><p>novas, acabam de ´nascer`”.</p><p>6. Os enganos são fonéticos (sons),</p><p>ouve-se de uma forma, mas as-</p><p>simila-se de outra, num processo</p><p>de reelaboração que parece mais</p><p>lógico para o falante. A analogia</p><p>aparece como um exemplo para</p><p>explicar o que foi dito.</p><p>7. a) Se linguagem é um ato de</p><p>comunicação, a falha, o erro,</p><p>desde que atinja o objetivo de se</p><p>comunicar, ser compreendido,</p><p>também é linguagem. b) ´Tam-</p><p>bém` é um elemento de coesão</p><p>que acrescenta mais um fator ao</p><p>conceito de linguagem.</p><p>8. a) Esta é uma questão de mera</p><p>localização de informação, basta</p><p>o aluno voltar ao texto para re-</p><p>conhecê-la. b) De acordo com o</p><p>dicionário, bronca. (s.f) pode ser</p><p>uma repreensão, descompostura;</p><p>sermão. bronca. (adj.) pode ser</p><p>pessoa rude, grosseira, ignoran-</p><p>te. No primeiro uso, o autor se re-</p><p>fere ao adjetivo; no segundo, ao</p><p>substantivo, por isso acrescenta</p><p>a preposição ´sem`, para indicar</p><p>ausência, falta. c) O advérbio</p><p>´assim` significa deste, desse ou</p><p>daquele modo; logo, retoma a</p><p>ideia de a palavra ouvida passar</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>8</p><p>b. Por que a observação de que isso ocorre, inclusive, com pessoas</p><p>menos humildes?</p><p>c) Em “e saltam frescas”, qual a intenção do autor com o uso do adjetivo ´frescas`?</p><p>6. No final do 3º§ parágrafo, o autor faz uma comparação entre os “enganos do</p><p>ouvido” e um “tropeção”. O que essas duas coisas têm em comum? Explique</p><p>a analogia feita.</p><p>por uma reelaboração e ganhar</p><p>novos contornos.</p><p>9. Solicite aos alunos que marquem</p><p>os exemplos no próprio texto.</p><p>10. Penúltimo parágrafo: “O</p><p>processo é o mesmo: ouvir, ree-</p><p>laborar, inserir em uma lógica</p><p>própria e falar”.</p><p>11. Os exemplos possíveis são</p><p>muitos, como: “Levei segundos</p><p>para...”, “E consegui não rir”, “Não</p><p>sei se ele conhece a palavra</p><p>pane”, e por aí vai.</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>7. Releia os dois trechos.</p><p>I. Não sei se ele conhece a palavra "pane". Deve ter sido daquela</p><p>forma que a ouviu e gravou. Sabemos que é "pane", ele assimilou</p><p>"pânico" — a coisa que nomeamos é a mesma, a comunicação foi</p><p>feita. Tropeço também é linguagem.</p><p>II. Linguagem é a capacidade que possuímos de expressar nossos</p><p>pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos. Ela está relacionada</p><p>a fenômenos comunicativos; onde há comunicação, há linguagem.</p><p>Podemos usar inúmeros tipos de linguagens para estabelecermos</p><p>atos de comunicação, como: sinais, símbolos, sons, gestos e regras</p><p>com sinais convencionais (linguagem escrita e linguagem mímica,</p><p>por exemplo).</p><p>a. Depois de ler os textos é possível explicar por que o autor da crônica definiu ´tropeço` como um tipo de linguagem?</p><p>b. Na frase “Tropeço também é linguagem”, qual a função da palavra ´também` na frase?</p><p>8. A partir do incidente vivenciado, o autor da crônica desencadeou a apresentação de uma sucessão de ´tropeços` de</p><p>linguagem, como ´assustar` e ´desbronquear` um cheque.</p><p>a. Qual explicação o autor dá para ´desbronquear`, em lugar de ´desbloquear`?</p><p>Sequência Didática | Língua Portuguesa | Leitura e Interpretação de Textos | Crônica e conto 9</p><p>b. Em “a coisa ficou parecida com alguma coisa, bronca, desbronquear, sem bronca”, qual sentido podemos atribuir à</p><p>expressão ´sem bronca`?</p><p>c. Segundo o autor, “Muita palavra com status de dicionário nasceu assim”. A palavra ´assim` retoma uma ideia apre-</p><p>sentada anteriormente. Qual?</p><p>9. Para ratificar sua ideia de que ´tropeço também é linguagem`, o autor apresenta outros exemplos. Destaque-os no pró-</p><p>prio texto.</p><p>10. Segundo o autor da crônica, o ´tropeção` passa por um processo. Qual?</p><p>11. Como expressão do ponto de vista do cronista sobre temas do cotidiano, as crônicas são, em geral, escritas em 1ª pes-</p><p>soa. Transcreva do texto lido palavras ou expressões que mostram esse recurso.</p><p>A palavra “crônica” vem do grego chronos e significa</p><p>“tempo”. A partir disso, nota-se uma das principais caracte-</p><p>rísticas desse gênero de texto: seu caráter contemporâneo.</p><p>Trata-se de um gênero textual que oscila entre a literatura e o jornalismo.</p><p>Geralmente, é publicada em jornais ou revistas e registra fatos do nosso</p><p>cotidiano de forma simples, com doses de humor, ironia, crítica e poesia.</p><p>Sua temática aborda em geral</p><p>• fatos circunstanciais;</p><p>• situações corriqueiras;</p><p>• episódios dispersos e acidentais.</p><p>Quanto à linguagem</p><p>• pode variar entre o registo formal e informal, prevalecendo este último;</p><p>• prima pela clareza e concisão.</p><p>Já a finalidade/o objetivo da crônica é</p><p>• mostrar o que não se percebe;</p><p>• levar o leitor à reflexão;</p><p>• satirizar costumes.</p><p>?</p><p>Você</p><p>SABIA?</p><p>10</p><p>Atividade 3</p><p>Professor, para o processo de</p><p>leitura de leitura do título e do 1º e</p><p>2º parágrafos do conto, sugere-se</p><p>leitura compartilhada, realizada por</p><p>você a fim de que os alunos tenham</p><p>um ´modelo` de leitor, que possa</p><p>introduzi-los ...</p><p>As questões propostas nesta</p><p>atividade pressupõem o desenvolvi-</p><p>mento das habilidades EM13LP01,</p><p>EM13LP49, EM13LP46, EM13LP06</p><p>E EM13LP02.</p><p>As perguntas e as sugestões de</p><p>respostas são orientadoras para o</p><p>processo de leitura do conto, pensa-</p><p>das para o aluno-leitor em processo</p><p>de formação. Mais que responder</p><p>às perguntas, é importante que ele</p><p>perceba tratar-se do gênero textual</p><p>conto, e consequentemente, dos</p><p>elementos constituintes desse</p><p>gênero. Também, reconhecer e</p><p>mobilizar, no texto lido, as ´pistas`</p><p>deixadas pelo autor a fim de atribuir</p><p>sentido ao texto. Ao leitor eficiente,</p><p>não basta conhecer o conteúdo de</p><p>um escrito; é necessário refletir so-</p><p>bre o modo como ele foi organiza-</p><p>do e como se relacionam as ideias</p><p>que o texto expõe.</p><p>1. a) Como título é sempre uma</p><p>síntese do texto, espera-se que o</p><p>aluno perceba que a chuva será</p><p>um dos elementos centrais do</p><p>conto, ou seja, a condutora dos</p><p>fatos. b) Abensonhada é formada</p><p>pelo adjetivo abençoada e pelo</p><p>particípio sonhada. c) tem a</p><p>função de anunciar um conceito,</p><p>envolvendo avaliação pessoal do</p><p>narrador-personagem.</p><p>2. a) “(Eu) estou junto da janela...”,</p><p>“Que saudade me fazia...”. b) A</p><p>palavra é ´saudade`, cujo signifi-</p><p>cado de afastamento, ausência,</p><p>permite inferir que não acontecia</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>Atividade 3</p><p>O autor se apresenta Mia Couto www.iqe.org.br/surl/?7693bd</p><p>“Invento palavras para fazer com que digam coisas que nenhuma outra diz”.</p><p>Daí saíram “abensonhada”, “tintinar”, “perfumegante”, palavras inventadas</p><p>pelo escritor nascido na Beira, em Moçambique, país lusófono colonizado</p><p>por portugueses. “Tive muita influência do escritor angolano Luandino Vieira,</p><p>que dizia que Guimarães Rosa foi sua grande inspiração. Quando descobri</p><p>isso, saí desesperado atrás de alguma obra de Guimarães Rosa e encontrei</p><p>uma fotocópia de A Terceira Margem do Rio (conto presente em Primeiras</p><p>Estórias). Abriu-se um mundo novo, me senti autorizado a usar as palavras</p><p>como quisesse”</p><p>?</p><p>Você</p><p>SABIA?</p><p>Há mais de 20 anos (a primeira edição é de 1994), Mia Couto publicou o livro</p><p>“Estórias abensonhadas”, uma coletânea de 26 contos. As estórias vão dos</p><p>temas de fins da guerra, de tradições moçambicanas e de sonhos de felicidade e</p><p>harmonia entre os indivíduos.</p><p>Agora, você lerá um desses contos, intitulado “Chuva: a abensonhada”. Boa</p><p>viagem!</p><p>1. Leia o título do texto.</p><p>CHUVA: A ABENSONHADA</p><p>a. O que é possível antecipar sobre o conteúdo do texto lendo apenas do título?</p><p>b. A palavra abensonhada é resultado do processo de formação das palavras,</p><p>cuja fusão de duas palavras gera uma terceira. Abensonhada é formada por</p><p>quais palavras?</p><p>c. Qual a função dos dois pontos no título do conto?</p><p>Sequência</p><p>Didática | Língua Portuguesa | Leitura e Interpretação de Textos | Crônica e conto 11</p><p>Agora, vamos ler o 1º parágrafo do conto. Depois, vamos discutir e responder</p><p>a algumas questões.</p><p>Chuva: a abensonhada</p><p>1º§ Estou sentado junto da janela olhando a chuva que cai há três</p><p>dias. Que saudade me fazia o molhado tintinar do chuvisco. A terra per-</p><p>fumegante se assemelha a mulher em véspera de carícia. Há quantos</p><p>anos não chovia assim? De tanto durar, a seca foi emudecendo a nossa</p><p>miséria. O céu olhava o sucessivo falecimento da terra, e em espelho,</p><p>se via morrer. A gente se indagava: será que ainda podemos recomeçar,</p><p>será que a alegria ainda tem cabimento?</p><p>2. Neste parágrafo, já é possível identificar elementos do gênero textual conto,</p><p>como narrador, tempo, lugar/espaço, personagem e enredo.</p><p>a. Quais marcas no texto permitem afirmar ser o narrador um personagem da</p><p>história?</p><p>b. A chuva, embora caia há três dias, é um elemento novo. Que palavra pode</p><p>comprovar essa afirmação?</p><p>c. Há ´pistas` no texto sobre o lugar/espaço onde se passa a história?</p><p>d. Onde se encontra o personagem dentro desse lugar/espaço? Justifique com</p><p>elementos do parágrafo lido.</p><p>Algumas das principais figuras de linguagem que podemos</p><p>encontrar em textos literários e não-literários são:</p><p>Antítese: trata-se da aproximação de termos contrários, de</p><p>palavras que se opõem pelo sentido.</p><p>Ironia: apresenta um termo em sentido oposto ao usual, provocando efeito</p><p>crítico ou humorístico.</p><p>Sinestesia: fusão de impressões sensoriais diferentes.</p><p>Metáfora: emprego de uma palavra ou expressão com o significado de</p><p>outra, por haver alguma relação de similaridade entre elas.</p><p>Comparação: atribuição de características de um ser a outro, em virtude</p><p>de uma determinada semelhança.</p><p>Personificação: é utilizada para atribuir sensações, sentimentos, compor-</p><p>tamentos, características e/ou qualidades essencialmente humanas (seres</p><p>animados) aos objetos inanimados ou seres irracionais.</p><p>!</p><p>Você já</p><p>SABE</p><p>há tempos. c) “Estou sentado jun-</p><p>to da janela olhando a chuva...”, A</p><p>terra perfumegante...”. d) Prova-</p><p>velmente, o narrador-personagem</p><p>está dentro da casa, à janela,</p><p>admirando a chuva que cai lá fora.</p><p>Isso poderá ser confirmado com</p><p>outras passagens do texto.</p><p>3. “De tanto durar, a seca foi emu-</p><p>decendo a nossa miséria” e “O</p><p>céu olhava o sucessivo faleci-</p><p>mento da terra”.</p><p>4. Tintinar (tilintar) remete a fazer</p><p>sons, como uma campainha,</p><p>sino, moeda, que o autor apro-</p><p>xima dos sons característicos</p><p>da chuva; portanto, desperta</p><p>no leitor o sentido da audição.</p><p>Como esse som é “molhado” para</p><p>o autor, ele une tato e audição,</p><p>construindo uma sinestesia.</p><p>5. Apenas pela leitura do 1º pará-</p><p>grafo, não é possível precisar</p><p>qual é a miséria, tão somente</p><p>levantar hipóteses, consideran-</p><p>do-se outro trecho do parágrafo:</p><p>“será que ainda podemos reco-</p><p>meçar”; ou ainda, os conheci-</p><p>mentos prévios de mundo sobre</p><p>o autor, o país em que se passa a</p><p>história.</p><p>6. Em “A gente se indagava: será</p><p>que ainda (nós) podemos reco-</p><p>meçar...”, o leitor pode inferir que</p><p>o narrador remete ao povo, no</p><p>qual ele se inclui. Em outra pas-</p><p>sagem do conto, isso se confir-</p><p>ma, como em “Estou espreitando</p><p>a rua como se estivesse à janela</p><p>do meu inteiro país”.</p><p>7. a) Como na questão 5, os</p><p>conhecimentos prévios de</p><p>mundo podem auxiliar, por isso</p><p>é importante que o aluno saiba,</p><p>antecipadamente, um pouco</p><p>sobre o país onde se passa a</p><p>história. b) Neste trecho, os dois</p><p>pontos indicam fala em discurso</p><p>direto, com função diferente da</p><p>apresentada no título do conto.</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>12</p><p>3. Depois de ler e comentar o texto do quadro Você já sabe, identifique, no 1º</p><p>parágrafo, dois exemplos de personificação.</p><p>4. Dificilmente o leitor usa seus sentidos (audição, visão, tato, olfato e paladar)</p><p>na leitura de um texto. Nos contos de Mia Couto, eles devem ser explorados.</p><p>Que efeito de sentido causa no leitor, por exemplo, o verbo no trecho “o mo-</p><p>lhado tintinar do chuvisco”? De qual figura de linguagem se trata? Justifique.</p><p>5. Na frase “De tanto durar, a seca foi emudecendo a nossa miséria”, é possível</p><p>antecipar de qual miséria se fala?</p><p>6. Que marcas do texto mostram que o narrador passa de 1ª pessoa do singu-</p><p>lar para a 1ª pessoa do plural? O que isso permite supor?</p><p>7. Leia novamente um trecho do texto.</p><p>“A gente se indagava: será que ainda podemos recomeçar, será que</p><p>a alegria ainda tem cabimento?”</p><p>a. O trecho permite uma reflexão. Levante hipóteses sobre o que pode ter</p><p>acontecido.</p><p>b. Qual a função dos dois pontos nesse trecho do texto? É a mesma fun-</p><p>ção presente no título do conto?</p><p>c. O trecho é uma pergunta. Quem deve respondê-la? Quais expectativas</p><p>ela cria no leitor?</p><p>E o conto continua...</p><p>Lá, há o anúncio de um concei-</p><p>to, uma definição, envolvendo</p><p>avaliação pessoal do narrador-</p><p>-personagem. c) Finalizando o</p><p>parágrafo com uma pergunta, o</p><p>narrador-personagem permite</p><p>a observação da progressão</p><p>temática do texto; por isso, ele</p><p>e o leitor podem responder à</p><p>pergunta.</p><p>8. Na primeira linha, o narrador-per-</p><p>sonagem diz que ´a chuva cai</p><p>cantarosa`. Aqui o narrador-per-</p><p>sonagem desperta no leitor duas</p><p>possibilidades de leitura: uma é o</p><p>sentido da audição, ao transformar</p><p>o verbo cantar em adjetivo; a outra,</p><p>é o adjetivo cantarosa ser outra</p><p>forma da expressão “chover a</p><p>cântaros”, para dizer que chovia de</p><p>mais. Professor, com a leitura do</p><p>restante do conto, é possível con-</p><p>firmar essa segunda hipótese.</p><p>9. Nesse momento da narrativa, a</p><p>palavra ´sonhada` não está mais</p><p>presente porque a chuva não é</p><p>mais um sonho, ela cai de verda-</p><p>de e essa ação é abençoada.</p><p>10. A palavra é ´agora`. Um ad-</p><p>vérbio que introduz a ideia de:</p><p>neste instante, neste momen-</p><p>to; atualmente.</p><p>11. O advérbio ´lá` permite o reco-</p><p>nhecimento de que o narrador-</p><p>-personagem está do lado de</p><p>dentro da casa, à janela.</p><p>O texto do quadro Você sabia? é</p><p>mais um subsídio à leitura do conto,</p><p>pois nele o autor declara que os</p><p>contos em “Estórias abensonhadas”</p><p>foram escritos depois da guerra.</p><p>Depois do processo de colonização</p><p>ao qual Moçambique foi submeti-</p><p>do, também por uma guerra civil,</p><p>que durou dezesseis anos e matou</p><p>um milhão de pessoas. Os contos</p><p>presentes na obra não têm como</p><p>foco representar esses fatos, mas</p><p>remetem a eles.</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>Sequência Didática | Língua Portuguesa | Leitura e Interpretação de Textos | Crônica e conto 13</p><p>2º§ Agora, a chuva cai, cantarosa, abençoada. Estou es-</p><p>preitando a rua como se estivesse à janela do meu inteiro país.</p><p>Enquanto, lá fora, se repletam os charcos, a velha Tristereza vai</p><p>arrumando o quarto. Para tia Tristereza a chuva não é assunto</p><p>de clima, mas recado dos espíritos. E a velha se atribui amplos</p><p>sorrisos: desta vez é que eu envergarei o fato que ela tanto me</p><p>insiste. Indumentária tão exibível e eu envergando mangas e gan-</p><p>gas. Tristereza sacode em sua cabeça a minha teimosia: haverá</p><p>razoável argumento para eu me apresentar assim tão descortina-</p><p>do, sem me sujeitar às devidas aparências? Ela não entende.</p><p>8. O substantivo cântaro, no dicionário, significa vaso grande, bojudo e com asas para transportar líquidos, por sua descri-</p><p>ção é costume se utilizar a expressão ´chove(u) a cântaros` para dizer que chove(u) muito. Na primeira linha, o narrador-</p><p>-personagem diz que ´a chuva cai cantarosa`. Qual a relação de sentido entre chover a cântaros e cai cantarosa?</p><p>9. No título do conto, o narrador-personagem diz que a chuva é “abensonhada”. Aqui ele diz que ela é “abençoada”. Por que,</p><p>nesse momento da narrativa, a palavra ´sonhada` não está mais presente?</p><p>10. No início do parágrafo, o narrador-personagem usa uma palavra que permite observar a continuidade e progressão da</p><p>narrativa, indicadora de tempo. Qual é a palavra?</p><p>11. Na frase “Enquanto, lá fora, se repletam os charcos, a velha Tristereza vai arrumando o quarto”, o uso de um advérbio</p><p>permite ao leitor saber o lugar onde estão as personagens, que é o mesmo descrito no 1º parágrafo. Qual é o advérbio?</p><p>Antes de continuar a leitura do conto,</p><p>você terá um breve intervalo para ler um trecho da nota de abertura da</p><p>obra “Estórias abensonhadas”, da qual foi retirado o conto “Chuva: abensonhada”.</p><p>Por incontáveis anos as armas tinham vertido luto no chão de Moçambique. Estes textos me surgiram entre</p><p>as margens da mágoa e da esperança. Depois da guerra, pensava eu, restavam apenas cinzas, destroços sem íntimo. Tudo</p><p>pesando, definitivo e sem reparo.</p><p>Hoje sei que não é verdade. Onde restou o homem sobreviveu semente, sonho a engravidar o tempo. Esse sonho se</p><p>ocultou no mais inacessível de nós, lá onde a violência não podia golpear, lá onde a barbárie não tinha acesso. Em todo</p><p>este tempo, a terra guardou, inteiras, as suas vozes. Quando se lhes impôs o silêncio elas mudaram de mundo. No escuro</p><p>permaneceram lunares.</p><p>Estas estórias falam desse território onde nos vamos refazendo e vamos molhando de esperança o rosto da chuva, água</p><p>abensonhada. Desse território onde todo homem é igual, assim: fingindo que está, sonhando que vai, inventando que volta.</p><p>?</p><p>Você</p><p>SABIA?</p><p>COUTO, Mia. Estórias abensonhadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012</p><p>O contexto de produção é essencial</p><p>à compreensão da obra de Mia</p><p>Couto. O escritor abusa, no bom</p><p>sentido, da linguagem conotativa,</p><p>apresentando inúmeras situações</p><p>de forma figurada, com referências</p><p>aos mitos, às lendas e ao folclore</p><p>moçambicano.</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>14</p><p>Atividade 4</p><p>Participando de uma leitura compartilhada, você já leu o título, o 1º e 2º pa-</p><p>rágrafos do conto “Chuva: a abensonhada”. Agora, você lerá o restante do conto,</p><p>individualmente.</p><p>Antes, no entanto, lembre-se dos procedimentos de leitura que você pode (e</p><p>deve) utilizar, como:</p><p>1. marcar palavras-chave: termos que sintetizam as ideias importantes do texto;</p><p>2. grifar/sublinhar passagens do texto: acontecem quando o leitor tem a</p><p>intenção de deixar marcadas ideias que considera importantes ou que revelam</p><p>como o texto foi organizado;</p><p>3. fazer paráfrase: ampliar ou reduzir uma passagem, traduzi-la em uma</p><p>linguagem mais simples ou interpretá-la;</p><p>4. fazer comentários: escrever uma dúvida, relacionar uma passagem com</p><p>uma vivência de leitura anterior, por exemplo; elaborar perguntas para buscar</p><p>respostas na continuidade da leitura do texto etc.</p><p>Agora, você já está pronto para continuar a leitura do conto a partir do 3º</p><p>parágrafo. Boa leitura!</p><p>CHUVA: A ABENSONHADA</p><p>3º§ Enquanto alisa os lençóis, vai puxando outros assuntos. A idosa senhora não tem dúvida: a chuva está</p><p>a acontecer devido às rezas, cerimônias oferecidas aos antepassados. Em todo o Moçambique, a guerra está a</p><p>parar. Sim, agora já as chuvas podem recomeçar. Todos estes anos, os deuses nos castigaram com a seca. Os</p><p>mortos, mesmo os mais veteranos, já se ressequiam lá nas profundezas. Tristereza vai escovando o casaco que</p><p>eu nunca hei de usar e profere suas certezas:</p><p>4º§ —Nossa terra estava cheia do sangue. Hoje, está a ser limpa, faz conta essa roupa que lavei. Mas nem</p><p>agora, desculpe o favor, nem agora o senhor dá vez a este fato?</p><p>5º§—Mas, tia Tristereza: não será que está a chover de mais?</p><p>6º§ De mais? Não, a chuva não esqueceu os modos de tombar, diz a velha. E me explica: a água sabe quan-</p><p>tos grãos tem a areia. Para cada grão, ela faz uma gota. Tal igual a mãe que tricota o agasalho de um ausente</p><p>filho. Para Tristereza, a natureza tem seus serviços, decorridos em simples modos como os dela. As chuvadas</p><p>foram no justo tempo encomendadas: os deslocados que regressam a seus lugares já encontrarão o chão mo-</p><p>lhado, conforme gosto das sementes. A paz tem outros governos que não passam pela vontade dos políticos.</p><p>7º§ Mas dentro de mim persiste uma desconfiança: esta chuva, minha tia, não será prolongadamente dema-</p><p>siada? Não será que à calamidade do estio se seguirá a punição das cheias?</p><p>8º§ Tristereza olha a encharcada paisagem e me mostra outros entendimentos meteorológicos que minha</p><p>sabedoria não pode tocar. Um pano sempre se reconhece pelo avesso, ela costuma me dizer. Deus fez os bran-</p><p>cos e os pretos para, nas costas de uns e outros, poder decifrar o Homem. e apontando as nuvens gordas me</p><p>confessa:</p><p>9º§ —Lá em cima, senhor, há peixes e caranguejos. Sim, bichos que sempre acompanham a água.</p><p>10º§ E adianta: tais bichezas sempre caem durante as tempestades.</p><p>11º§ —Não adianta, senhor? Mesmo em minha casa já caíram.</p><p>12º§ —Sim, finjo acreditar. E quais tipos de peixes?</p><p>13º§ Negativo: tais peixes não podem receber nenhum nome. Seriam precisas sagradas palavras e essas</p><p>Atividade 4</p><p>Durante a leitura compartilhada, é</p><p>possível que o aluno se desconcen-</p><p>tre em função da extensão do texto</p><p>e o número de questões; nesse</p><p>sentido, as questões devem apenas</p><p>auxiliar e orientar o processo leitura;</p><p>você pode explorá-las de diferen-</p><p>tes formas. Sugira que os alunos</p><p>façam anotações no texto (circular,</p><p>grifar, fazer comentários, paráfrases</p><p>etc.). É sempre bom lembrar que o</p><p>processo de leitura deve partir do</p><p>texto e não das questões.</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>Sequência Didática | Língua Portuguesa | Leitura e Interpretação de Textos | Crônica e conto 15</p><p>não cabem em nossas humanas vozes. De novo, ela lonjeia seus olhos pela janela. Lá fora continua chovendo.</p><p>O céu devolve o mar que nele se havia alojado em lentas migrações de azul. Mas parece que, desta feita, o céu</p><p>entende invadir a inteira terra, juntar os rios, ombro a ombro. E volto a interrogar: não serão demasiadas águas,</p><p>tombando em maligna bondade? A voz de Tristereza se repete em monotonia de chuva. E ela vai murmurrindo: o</p><p>senhor, desculpe a minha boca, mas parece um bicho à procura da floresta. E acrescenta:</p><p>14º§ —A chuva está a limpar a areia. Os falecidos vão ficar satisfeitos. Agora, era bom respeito o senhor usar</p><p>este fato. Para condizer com a festa de Moçambique.</p><p>15º§ Tristereza ainda me olha, em dúvida. Depois, resignada, pendura o casaco. A roupa parece suspirar. Mi-</p><p>nha teimosia ficou suspensa num cabide. Espreito a rua, riscos molhados de tristeza vão descendo pelos vidros.</p><p>Por que motivo ao tanto procuro a evasão? E por que razão a velha tia se aceita interior, toda ela vestida de casa?</p><p>Talvez por pertencer mais ao mundo, Tristereza não sinta, como eu, a atração de sair. Ela acredita que acabou o</p><p>tempo de sofrer, nossa terra se está lavando do passado. Eu tenho dúvidas, preciso olhar a rua. A janela: não é</p><p>onde a casa sonha ser o mundo?</p><p>16º§ A velha acabou o serviço, se despede enquanto vai fechando as portas, com lentos vagares. Entrou</p><p>uma tristeza na sua alma e eu sou o culpado. Reparo como as plantas despontam lá fora. O verde fala a língua</p><p>de todas as cores. A Tia já dobrou as despedidas e está a sair quando a chamo:</p><p>17º§ —Tristereza, tira o meu casaco.</p><p>18º§ Ela se ilumina de espanto. Enquanto despe o cabide, a chuva vai parando. Apenas uns restantes pingos</p><p>vão tombando sobre o meu casaco. Tristereza me pede: não sacuda, essa aguinha dá sorte. E de braço dado, saí-</p><p>mos os dois pisando charcos, em descuido de meninos que sabem do mundo a alegria de um infinito brinquedo.</p><p>COUTO, Mia. Estórias abensonhadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012</p><p>1. Atendo-se à palavra em destaque na frase “A paz tem outros governos que não passam pela vontade dos políticos”, 6º§,</p><p>como você explica essa afirmação?</p><p>2. Do 3º ao 8º parágrafos, o texto permite ao leitor observar o conflito de pensamentos entre o narrador-personagem e a</p><p>velha Tristereza. Aquele vê a chuva como um mero acontecimento climático; esta, como uma manifestação dos espíri-</p><p>tos. Preencha o quadro com passagens do texto que possam exemplificar a afirmação.</p><p>Narrador-personagem Velha Tristereza</p><p>(manifestação dos espíritos)</p><p>3. Novamente, o autor usa o recurso da personificação para dar vida a um elemento presente no texto, como em trecho do</p><p>15º§, quando diz</p><p>A. “Tristereza ainda me olha, em dúvida”.</p><p>B. “A roupa parece suspirar”.</p><p>C. “Ela acredita que acabou o tempo de sofrer”.</p><p>D. “Eu tenho dúvidas, preciso olhar a rua”.</p><p>E. “Depois, resignada, pendura o casaco”.</p><p>16</p><p>Você deve ter percebido</p><p>que as questões buscam o reconhecimento dos elementos de composição da narrativa, fazendo o aluno</p><p>se ater às personagens, ao lugar, tempo; reconhecer o tipo de narrador (ponto de vista narrativo). Além disso, as questões também</p><p>permitem observar as escolhas do autor, a hierarquização das ideias e a progressão temática do texto.</p><p>1. Espera-se que o aluno seja capaz de entender que para as tradições moçambicanas a paz não é apenas resultado de acordos,</p><p>mas se realiza na vontade dos deuses.</p><p>2. Do 3º ao 8º parágrafos, o texto permite ao leitor observar o conflito de pensamentos/ideias entre o narrador-personagem e a</p><p>4. O diálogo entre o narrador-personagem e a velha Tristereza se dá enquanto esta está em serviço. O que se confirma com</p><p>a passagem</p><p>A. “Enquanto alisa os lençóis”.</p><p>B. “Tristereza, não sinta, como eu, a atração de sair”.</p><p>C. “Entrou uma tristeza na sua alma, e eu sou o culpado”.</p><p>D. “Enquanto despe o cabide, a chuva vai parando”.</p><p>E. “A chuva está a limpar a areia. Os falecidos vão ficar satisfeitos”.</p><p>5. Depois de concluída a leitura do conto, é possível afirmar que</p><p>A. a chuva exerce papel singular na narrativa, pois lava as mazelas deixadas pela guerra, limpa a terra, representa</p><p>uma benção dos deuses, atribuindo beleza e vida àquele lugar.</p><p>B. o conflito de visões sobre o significado da chuva destaca a ignorância de Tristereza que atribui aos deuses a ben-</p><p>ção das águas que encharcam a terra antes ressequida.</p><p>C. a chuva em abundância é tão somente um fenômeno meteorológico, sem relação com os acontecimentos do</p><p>passado, como a guerra.</p><p>D. a chuva, tão importante na narrativa, aproxima o narrador-personagem de sua tia, embora sejam eles tão diferen-</p><p>tes.</p><p>E. o conflito vivido pelo narrador-personagem é resultado da incapacidade de Tristereza aceitar a chuva apenas como</p><p>um fenômeno climático.</p><p>6. Leia novamente duas passagens do conto.</p><p>I - 1º§ “Será que ainda podemos recomeçar, será que a alegria ainda</p><p>tem cabimento?”</p><p>II - 18º§ “E de braço dado, saímos os dois pisando charcos, em descuido</p><p>de meninos que sabem do mundo a alegria de um infinito brinquedo.”</p><p>a. É possível inferir que o trecho II responde I? Justifique.</p><p>b. Qual imagem, em II, explica o uso da palavra ´alegria`, em I?</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p><p>Sequência Didática | Língua Portuguesa | Leitura e Interpretação de Textos | Crônica e conto 17</p><p>velha Tristereza. Aquele vê a chuva como um mero acontecimento climático; esta, como uma manifestação dos espíritos. Preen-</p><p>cha o quadro com passagens do texto que possam exemplificar a afirmação.</p><p>Narrador-personagem Velha Tristereza</p><p>(manifestação dos espíritos)</p><p>“E lá fora os charcos se abarrotam” “A chuva está a acontecer devido às rezas, cerimô-</p><p>nias oferecidas aos antepassados”</p><p>“Esta chuva, minha tia, não será prolongadamente</p><p>demasiada?</p><p>“Todos esses anos os deuses nos castigam com a seca”</p><p>“E volto a interrogar: não serão demasiadas águas,</p><p>tombando em maligna bondade?”</p><p>“Tristereza olha a encharcada paisagem e me mostra</p><p>outros entendimentos metereológicos”</p><p>3. Letra ´b`. Professor, é importante não se ater apenas à marcação da letra correta, mas leva-los a interpretar a passagem. Parta</p><p>do significado da palavra ´suspirar` (inspirar profunda e longamente; exprimir por meio de suspiro o que vai na alma). Essa frase</p><p>transmite o sentimento de Tristereza, que é quem cuida da roupa.</p><p>4. Letra ´a`. Novamente o aluno não deve se ater apenas à marcação da alternativa correta, mas também ao seu significado. Há</p><p>várias passagens no conto que permitem afirmar que a senhora estava trabalhando.</p><p>5. Letra ´a`. Mais uma vez, é importante ler e comentar as alternativas, não apenas a correta.</p><p>6. Espera-se que o aluno perceba que a dúvida (ou falta de perspectiva) presente na pergunta (1º§) é desfeita com a imagem que</p><p>encerra o conto. “De braço dado” pode significar união, força, resistência, enquanto “descuidos de menino que sabem do mundo</p><p>a alegria de um infinito brincar” permite interpretar que, liricamente, há a busca da inocência/ternura perdida com a crueza da</p><p>guerra, que gera sofrimento, dor, feridas, aparentemente, sem possibilidade de cicatrização.</p><p>Além das questões propostas que, evidentemente, não esgotam as possibilidades de leitura do conto, outras poderão (e devem)</p><p>surgir durante o processo de leitura, como a compreensão de alguns trechos/parágrafos:</p><p>2º§ Agora, a chuva cai, cantarosa, abençoada. Estou espreitando a rua como se estivesse à janela do meu inteiro país.</p><p>Enquanto, lá fora, se repletam os charcos, a velha Tristereza vai arrumando o quarto. Para tia Tristereza a chuva não é assunto de</p><p>clima, mas recado dos espíritos. E a velha se atribui amplos sorrisos: desta vez é que eu envergarei o fato que ela tanto me insiste.</p><p>Indumentária tão exibível e eu envergando mangas e gangas. Tristereza sacode em sua cabeça a minha teimosia: haverá razoável</p><p>argumento para eu me apresentar assim tão descortinado, sem me sujeitar às devidas aparências? Ela não entende.</p><p>Tristereza mostra seu desejo de fazer o narrador-personagem compreender os sentidos que emanam da chuva, segundo</p><p>a tradição, fazendo-o vestir a indumentária para comemorar o fim da guerra. Para ela, ´as mangas e gangas` são um vestuário</p><p>´descortinado`, ou seja, informal. Usar o casaco parece mais adequado para uma comemoração.</p><p>ganga. s.f. 1. tecido de algodão, muito resistente e bastante usado em vestuário informal, geralmente em tons de azul</p><p>13º§ Negativo: tais peixes não podem receber nenhum nome. Seriam precisas sagradas palavras e essas não cabem</p><p>em nossas humanas vozes. De novo, ela lonjeia seus olhos pela janela. Lá fora continua chovendo. O céu devolve o mar que nele</p><p>se havia alojado em lentas migrações de azul. Mas parece que, desta feita, o céu entende invadir a inteira terra, juntar os rios,</p><p>ombro a ombro. E volto a interrogar: não serão demasiadas águas, tombando em maligna bondade? A voz de Tristereza se repete</p><p>em monotonia de chuva. E ela vai murmurrindo: o senhor, desculpe a minha boca, mas parece um bicho à procura da floresta. E</p><p>acrescenta:</p><p>Neste parágrafo, vale ressaltar que Tristereza representa/simboliza as tradições, que não se explicam por vozes humanas, mas</p><p>pelas ações/desejos dos deuses. Vale explorar também a metáfora do céu alojar o mar, além da formação de outra palavra: mur-</p><p>murrindo (murmúrio + rir), mesclando ambos os sentidos; note-se ainda que o verbo ´rir` está no gerúndio, significando uma ação</p><p>continuada. Além disso, cabe explorar o sentido do neologismo em “ela lonjeia seus olhos pela janela”.</p><p>18</p><p>SINTETIZANDO APRENDIZAGENS</p><p>Professor, chegando ao final da</p><p>Sequência Didática, propomos uma</p><p>conversa com os alunos, para eles</p><p>mesmos avaliarem seu desempe-</p><p>nho durante os estudos, levando-</p><p>-os, ainda, a formular a definição</p><p>dos dois gêneros estudados ao</p><p>longo da SD. Isso permite que</p><p>enxerguem, no processo, o desen-</p><p>volvimento, ou crescimento, entre o</p><p>que já sabiam e o que aprenderam</p><p>de novo sobre o tema abordado. A</p><p>partir da definição que os alunos</p><p>formularem, você pode elaborar,</p><p>juntamente com a turma, um qua-</p><p>dro na lousa final propondo uma</p><p>síntese do contexto de produção,</p><p>da construção composicional e do</p><p>estilo que tipificam tanto a crônica</p><p>como o conto, de modo a comparar</p><p>as semelhanças e diferenças entre</p><p>ambos os gêneros.</p><p>Sistematizando</p><p>APRENDIZAGENS</p><p>Afinal, como foi para você estudar os gêneros conto e crônica? O que mais</p><p>chamou sua atenção? O que você desenvolveu até aqui será importante na conti-</p><p>nuação dos seus estudos? Por quê? Você sente que precisa retomar ou aprofun-</p><p>dar algum aspecto? Qual?</p><p>Em linhas gerais, como você avalia seu desempenho nesta Sequência Didática?</p><p>Pensando nos conhecimentos que você construiu ao longo desta Sequência</p><p>Didática, responda, suscintamente:</p><p>O que é uma crônica?</p><p>O que é um conto?</p><p>Agora, vamos discutir e responder oralmente:</p><p>• O que o conto e a crônica têm em comum?</p><p>• E quais diferenças apresentam?</p><p>Orientação ao</p><p>PROFESSOR</p>