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<p>Como citar este material:</p><p>ARRUDA, Pablo Gonçalves; MENDONÇA, Saulo Bichara. Direito societário: sociedade</p><p>anônima. Rio de Janeiro: FGV, 2024.</p><p>Todos os direitos reservados. Textos, vídeos, sons, imagens, gráficos e demais componentes</p><p>deste material são protegidos por direitos autorais e outros direitos de propriedade intelectual, de</p><p>forma que é proibida a reprodução no todo ou em parte, sem a devida autorização.</p><p>SUMÁRIO</p><p>MÓDULO I – TEORIA GERAL DA SOCIEDADE POR AÇÕES .................................................................. 5</p><p>NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ................................................................................................................ 5</p><p>CLASSIFICAÇÃO: COMPANHIAS DE CAPITAL ABERTO E DE CAPITAL FECHADO ........................ 8</p><p>CONSTITUIÇÃO DA COMPANHIA ................................................................................................... 10</p><p>Requisitos preliminares .......................................................................................................... 11</p><p>Constituição por subscrição pública ..................................................................................... 13</p><p>Constituição por subscrição privada ..................................................................................... 15</p><p>Formalidades complementares ............................................................................................. 16</p><p>COMPANHIA DE MENOR PORTE .................................................................................................... 17</p><p>CAPITAL SOCIAL................................................................................................................................ 18</p><p>Formação do capital social ..................................................................................................... 20</p><p>Aumento do capital social ...................................................................................................... 21</p><p>Redução do capital social ....................................................................................................... 24</p><p>MÓDULO II – ACIONISTAS ................................................................................................................... 25</p><p>DEVER ................................................................................................................................................ 25</p><p>DIREITOS ESSENCIAIS ...................................................................................................................... 27</p><p>VOTO .................................................................................................................................................. 29</p><p>Voto múltiplo ............................................................................................................................ 33</p><p>Voto plural ................................................................................................................................ 35</p><p>ACORDO DE ACIONISTAS ................................................................................................................ 38</p><p>REEMBOLSO ...................................................................................................................................... 41</p><p>RESGATE ............................................................................................................................................ 42</p><p>AMORTIZAÇÃO ................................................................................................................................. 43</p><p>MÓDULO III – VALORES MOBILIÁRIOS .............................................................................................. 45</p><p>AÇÕES ................................................................................................................................................ 45</p><p>Valores ....................................................................................................................................... 46</p><p>Espécies ..................................................................................................................................... 47</p><p>Forma de circulação ................................................................................................................ 49</p><p>Classes ....................................................................................................................................... 50</p><p>DEBÊNTURES .................................................................................................................................... 51</p><p>Espécies ..................................................................................................................................... 51</p><p>Garantias ................................................................................................................................... 52</p><p>Agente fiduciário debenturista .............................................................................................. 54</p><p>BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO ................................................................................................................. 54</p><p>PARTES BENEFICIÁRIAS ................................................................................................................... 55</p><p>MÓDULO IV – ÓRGÃOS SOCIETÁRIOS ............................................................................................... 57</p><p>ASSEMBLEIA GERAL ......................................................................................................................... 57</p><p>Assembleia geral ordinária ..................................................................................................... 61</p><p>Assembleia geral extraordinária ............................................................................................ 62</p><p>Assembleia especial................................................................................................................. 62</p><p>Assembleia de constituição .................................................................................................... 63</p><p>CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................... 64</p><p>DIRETORIA ......................................................................................................................................... 66</p><p>CONSELHO FISCAL ........................................................................................................................... 67</p><p>PUBLICAÇÕES EMPRESARIAIS OBRIGATÓRIAS ............................................................................. 69</p><p>MÓDULO V – OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS ........................................................................................... 74</p><p>TRANSFORMAÇÃO ........................................................................................................................... 74</p><p>GRUPO ECONÔMICO ....................................................................................................................... 76</p><p>GRUPO SOCIETÁRIO ........................................................................................................................ 80</p><p>CONSÓRCIO ...................................................................................................................................... 82</p><p>EXTINÇÃO DA COMPANHIA ............................................................................................................ 85</p><p>Dissolução da companhia ....................................................................................................... 86</p><p>Liquidação da companhia ................................................................................................. 88</p><p>Fusão ......................................................................................................................................... 90</p><p>Incorporação ............................................................................................................................</p><p>ou para requerer a exibição dos livros da</p><p>companhia. Todos os demais são atribuídos a cada acionista,</p><p>singularmente considerado, independentemente de integrar o grupo</p><p>minoritário ou o grupo controlador.42</p><p>A despeito de não ser classificado como essencial, o voto é um direito também e será exercido</p><p>de acordo com a espécie de cada ação subscrita ou adquirida.</p><p>Voto</p><p>O voto do acionista é a forma pela qual ele manifesta a sua vontade de forma plena e</p><p>autônoma, segundo Fábio Ulhoa Coelho: “voto do acionista é a manifestação de sua vontade</p><p>ou entendimento em assembleia, na fase de tomada de decisão relativa a cada ponto de pauta</p><p>da sessão”.43</p><p>Todos os acionistas têm o direito de participar – através do voto – da</p><p>direção da companhia, mas muitos não têm condições para exercer esse</p><p>direito, e a tendência é a especialização de alguns como participantes na</p><p>direção e de outros como aplicadores de capital financeiro. O Princípio do</p><p>voto majoritário na Assembleia Geral permite que um acionista (ou grupo</p><p>de acionistas) reúna ações em número suficiente para determinar as</p><p>42 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 589. v. 1.</p><p>43 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 340. v. 2.</p><p>30</p><p>deliberações da Assembleia Geral, e essa concentração do poder de voto</p><p>cria o fenômeno do controle da companhia – o exercício permanente do</p><p>poder político por um acionista ou grupo de acionista.44</p><p>Via de regra, cada ação ordinária corresponde a um voto nas deliberações em assembleias,</p><p>contudo, o estatuto social pode mitigar esse direito.</p><p>No que diz respeito às ações preferenciais, a restrição ao direito de voto decorre da vantagem na</p><p>participação sobre os dividendos auferidos pela companhia em decorrência do exercício da empresa.</p><p>Esse fato é o que justifica a regra contida no art. 111, §§ 1º, 2º e 3º, da Lei nº 6.404/76 que</p><p>excepciona o direito ao voto do preferencialista sempre que se encontrar prejudicado no seu direito</p><p>de participação privilegiada dos dividendos por três exercícios sociais seguidos. Há exceção também</p><p>no art. 161, § 2º, da mesma lei, a qual autoriza que 5% das ações sem direito a voto solicitem em</p><p>assembleia geral o funcionamento do conselho fiscal, quando este não for permanente. O acionista</p><p>preferencialista também tem direito ao voto garantido nas assembleias e constituição, nos moldes</p><p>do art. 87 da legislação em tela.</p><p>A natureza jurídica do direito de voto é objeto de grande discussão</p><p>doutrinária: ora é tido como direito próprio do acionista, a ser exercido no</p><p>seu direito individual, ora é tido como um direito social, embora exercido</p><p>individualmente pelo acionista. Se constituir um direito próprio pode ser</p><p>exercido no interesse direto de cada acionista, em seu benefício pessoal e</p><p>exclusivo. Tratando-se, por outro lado, de um direito social, deve ser</p><p>exercido para beneficiar diretamente a companhia, contribuindo para a</p><p>formação da vontade social.45</p><p>Recentemente, o exercício do voto foi dinamizado, passando-se a permitir que se dê</p><p>virtualmente e de forma remota, com auxílio de instrumentos tecnológicos, conforme redação do</p><p>art. 121, parágrafo único da Lei nº 6.404/76, alterado pela Lei nº 14.030/2020.</p><p>Desta forma, a assembleia geral, convocada e instalada nos termos da legislação e do estatuto</p><p>social, constitui órgão societário dotado de poderes para decidir todos os negócios relativos ao objeto</p><p>da companhia, instância competente para a tomada de resoluções convenientes à sua defesa e</p><p>desenvolvimento, podendo os acionistas, das companhias abertas ou fechadas, dela participar e votar</p><p>a distância, nos termos do regulamento da Comissão de Valores Mobiliários e do órgão competente</p><p>do Poder Executivo federal, respectivamente.</p><p>44 LAMY FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões. A Lei das S.A.: pressupostos, elaboração, aplicação. Rio de Janeiro:</p><p>Renovar, 1997. v. 1.</p><p>45 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 623. v. 1.</p><p>31</p><p>Sendo exercido como direito pleno ou excepcional, exige-se que o voto seja manifestado com</p><p>responsabilidade, atenção à lei e aos normativos do estatuto social, “o próprio artigo 115 deixa claro</p><p>que a abusividade (e ilicitude) do voto prescinde, para sua caracterização, de que efetivamente se</p><p>aufira vantagem indevida ou que determine prejuízo para a companhia ou para os acionistas”.46 Ou</p><p>seja, o acionista deve exercer o direito ao voto no estrito e melhor interesse da companhia, tendo</p><p>em vista que a lei societária considera como abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à</p><p>companhia ou a outros acionistas, ou com o fim de obter, para si ou para outrem, vantagem a que</p><p>não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo para a companhia ou para outros acionistas.</p><p>Eventuais infrações aos arts. 115 e 116 da Lei nº 6.404/76 podem ser objeto de ação própria</p><p>nos termos dos arts. 158, 159 e 287 da mesma lei. Nesse sentido, considera-se o precedente</p><p>jurisprudencial que segue e evidencia a responsabilidade civil dos acionistas controladores da</p><p>companhia por danos decorrentes de abuso de poder.</p><p>RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL.</p><p>JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DE</p><p>DEFESA (CPC, ART. 130). NÃO OCORRÊNCIA. SOCIEDADE</p><p>ANÔNIMA. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRA</p><p>ADMINISTRADOR (LEI 6.404/76, ART. 159) OU ACIONISTAS</p><p>CONTROLADORES (APLICAÇÃO ANALÓGICA): AÇÃO SOCIAL</p><p>UT UNIVERSI E AÇÃO SOCIAL UT SINGULI (LEI 6.404/76, ART.</p><p>159, § 4º). DANOS CAUSADOS DIRETAMENTE À SOCIEDADE.</p><p>AÇÃO INDIVIDUAL (LEI 6.404/76, ART. 159, § 7º).</p><p>ILEGITIMIDADE ATIVA DE ACIONISTA. RECURSO PROVIDO.</p><p>1. Aplica-se, por analogia, a norma do art. 159 da Lei 6.404/76 (Lei das</p><p>Sociedades Anônimas) à ação de responsabilidade civil contra os acionistas</p><p>controladores da companhia por danos decorrentes de abuso de poder.</p><p>2. Sendo os danos causados diretamente à companhia, são cabíveis as ações</p><p>sociais ut universi e ut singuli, esta obedecidos os requisitos exigidos pelos</p><p>§§ 3º e 4º do mencionado dispositivo legal da Lei das S/A.</p><p>3. Por sua vez, a ação individual, prevista no § 7º do art. 159 da Lei</p><p>6.404/76, tem como finalidade reparar o dano experimentado não pela</p><p>companhia, mas pelo próprio acionista ou terceiro prejudicado, isto é, o</p><p>dano direto causado ao titular de ações societárias ou a terceiro por ato do</p><p>administrador ou dos controladores. Não depende a ação individual de</p><p>deliberação da assembleia geral para ser proposta.</p><p>46 MAMEDE, Gladston. Direito societário: sociedades simples e empresárias. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 367. v. 2.</p><p>32</p><p>4. É parte ilegítima para ajuizar a ação individual o acionista que sofre</p><p>prejuízos apenas indiretos por atos praticados pelo administrador ou pelos</p><p>acionistas controladores da sociedade anônima.</p><p>5. Recurso especial provido.47</p><p>A Comissão de Valores Mobiliários estabelece a obrigatoriedade de comunicação imediata</p><p>por parte dos controladores e membros dos conselhos de administração e fiscal em caso de ciência</p><p>de irregularidades ou ilegalidades praticadas em prejuízo da companhia.</p><p>Caso os acionistas controladores, diretores, membros do Conselho de</p><p>Administração, do Conselho Fiscal e de quaisquer órgãos com funções</p><p>técnicas ou consultivas, criados por disposição estatutária, tenham</p><p>conhecimento pessoal de ato ou fato relevante e constatem a omissão do</p><p>DRI no cumprimento de seu dever de comunicação e divulgação, inclusive</p><p>na hipótese do parágrafo único do artigo 6º da Resolução CVM nº 44/21,</p><p>somente se eximirão de responsabilidade caso comuniquem imediatamente</p><p>o ato ou fato relevante à CVM, nos termos do artigo 3º, parágrafo 2º da</p><p>Resolução CVM nº 44/21.48</p><p>Há, contudo, a possibilidade de adoção da teoria business judgement rule, que garante,</p><p>respeitados alguns pressupostos atinentes aos deveres de conduta do administrador,</p><p>que este não</p><p>seja responsabilizado pelo julgador em decorrência de danos causados à companhia em caso de</p><p>tomada de decisões ruins para esta ou para os acionistas. Nesse sentido, tem-se o precedente</p><p>constante no processo administrativo sancionador CVM nº 19957.009118/2019-4149.</p><p>A lei ainda regulamenta o voto múltiplo, o acordo de acionistas e o voto plural.</p><p>47 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp 1207956/RJ. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/</p><p>153485205. Acesso em: maio 2024.</p><p>48 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/</p><p>export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>49 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Processo Administrativo Sancionador CVM nº 19957.009118/2019-41. Disponível em:</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/sancionadores/sancionador/anexos/2022/SEI_19957009118_2019_41.pdf. Acesso</p><p>em: maio 2024.</p><p>https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/153485205</p><p>https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/153485205</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/sancionadores/sancionador/anexos/2022/SEI_19957009118_2019_41.pdf</p><p>33</p><p>Voto múltiplo</p><p>O voto múltiplo é regulado e garantido pelo art. 141 da Lei nº 6.404/76 que teve a sua</p><p>redação alterada pela Lei nº 14.195/21, otimizando o direito previsto na lei das sociedades por ações</p><p>no sentido de proporcionar aos acionistas minoritários, titulares de ações preferenciais ou</p><p>ordinárias, uma participação mais eficiente no conselho de administração da companhia.</p><p>As principais modificações foram as seguintes: (i) permitiu-se aos titulares</p><p>de ações com direito de voto de companhia aberta representando pelo</p><p>menos 15% (quinze por cento) do capital votante eleger 1 (um) membro</p><p>do conselho de administração; (ii) permitiu-se aos titulares de ações</p><p>preferenciais da companhia aberta sem direito de voto ou com voto restrito</p><p>e sem a prerrogativa estatutária prevista no art. 18, que representem pelo</p><p>menos 10% (dez por cento) do capital, elegerem 1 (um) membro do</p><p>conselho; (iii) permitiu-se cumulação das ações para apuração do quórum</p><p>de 10% (dez por cento), caso nem as ações preferenciais nem as ações com</p><p>direito a voto atinjam o percentual necessário para eleger um conselheiro;</p><p>(iv) vedou-se a participação do acionista controlador nas votações em</p><p>separado antes mencionadas; (v) permitiu-se o exercício dos direitos acima</p><p>apenas aos minoritários que comprovarem a titularidade ininterrupta da</p><p>participação acionária durante o período de 3 (três) meses, no mínimo,</p><p>antes da assembleia geral; e (vi) em contrapartida aos maiores direitos</p><p>assegurados aos minoritários, garantiu-se ao acionista controlador o direito</p><p>de eleger sempre a maioria dos membros do conselho.50</p><p>Assim, na assembleia em que forem eleitos os conselheiros de administração, será garantido</p><p>aos acionistas que representem, no mínimo, 10% do capital social com direito a voto, a despeito de</p><p>previsão estatutária, requerer a aplicação do procedimento de voto múltiplo, considerando</p><p>atribuído a cada ação o peso equivalente à quantidade de membros a serem eleitos para o referido</p><p>conselho, reconhecendo ao acionista o direito de cumular os votos em um só candidato ou distribuí-</p><p>los entre vários, como melhor lhe aprouver.</p><p>No que tange à votação para a eleição dos membros do conselho de</p><p>administração, pode-se adotar o critério majoritário ou o critério</p><p>proporcional, cabendo ao estatuto social da companhia a escolha de um deles.</p><p>50 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 278. v. 2.</p><p>34</p><p>No critério majoritário de votação, os acionistas podem votar em chapas</p><p>(equipes previamente formadas) ou em cada órgão separadamente (isto</p><p>é, realizam-se eleições isoladas, uma para cada cargo do conselho a ser</p><p>preenchido), mas em ambas as situações cada ação com direito a voto</p><p>corresponderá a um voto, como ocorre normalmente, nos termos do art.</p><p>110 da LSA. Perceba-se que, adotando-se o critério majoritário, o</p><p>acionista controlador acaba conseguindo eleger, invariavelmente, todos</p><p>os membros do conselho de administração.</p><p>No critério proporcional de votação, por sua vez, não é possível a formação de</p><p>chapas para a disputa dos cargos. Ademais, não são feitas eleições isoladas para</p><p>cada cargo do conselho, mas apenas uma, que servirá ao preenchimento de</p><p>todo o órgão. Assim, nesse critério são eleitos para os cargos do conselho os</p><p>candidatos mais votados, conforme a quantidade de cargos a serem</p><p>preenchidos, o que acaba por produzir um órgão provavelmente de</p><p>composição heterogênea, com a participação de membros eleitos pelos</p><p>controladores e também pelos minoritários, de maneira proporcional.51</p><p>Ressalta-se, por oportuno, que, sempre que a eleição tiver sido realizada valendo-se desse</p><p>expediente, a destituição de qualquer membro do conselho de administração importará destituição</p><p>dos demais membros, sendo exigível nova eleição.</p><p>Recebido pedido de adoção do processo de voto múltiplo e verificado que</p><p>ele atende ao disposto no artigo 141 da Lei nº 6.404/76 e na Instrução CVM</p><p>nº 165/91, a companhia deve divulgar, por meio do “IPE Online” do</p><p>Sistema Empresas.NET, na categoria “Aviso aos Acionistas”, tipo “Adoção</p><p>do processo de voto múltiplo”, que a eleição do Conselho de Administração</p><p>poderá se dar por esse processo, por ser esta uma informação importante</p><p>para instruir a decisão a ser tomada pelos acionistas na assembleia.</p><p>Ademais, lembra-se que quanto à adoção do processo de voto múltiplo, as</p><p>companhias que adotarem obrigatoriamente ou facultativamente o voto a</p><p>distância devem atentar para as disposições a esse respeito trazidas pela</p><p>Instrução CVM nº 481/09 [...]52</p><p>Tal procedimento não se confunde com o voto plural, apesar da confusão que pode ser feita</p><p>em razão da semelhança da semântica das expressões.</p><p>51 CRUZ, André Santa. Manual de Direito Empresarial. Volume único. 12 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora JusPodivm,</p><p>2022, p. 499-500.</p><p>52 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/</p><p>export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>35</p><p>Voto plural</p><p>O voto plural, até então, era vedado expressamente e tipificado como atividade ilícita pelo</p><p>art. 177, § 2º do Código Penal.</p><p>O § 2º do art. 110 da Lei nº 6.404/1976 foi revogado, e a vedação à adoção do voto plural</p><p>não mais existe, muito embora a referida tipificação penal subsista.</p><p>Fato é que com a permissão de ações com voto plural, o sistema jurídico</p><p>brasileiro passa a admitir mais uma forma de concentração de poder nas</p><p>mãos de quem não é titular da maioria do capital social da companhia.</p><p>Este tipo de estrutura de capital tem especial relevância em alguns setores</p><p>como os de tecnologia, moda e mídia.</p><p>Esse movimento, contudo, merece reflexão. Além de ser possível</p><p>questionar a adoção de tal instrumento via medida provisória (sem ter</p><p>havido um amplo debate sobre suas vantagens, desvantagens e justificativas</p><p>de suas disposições), sob o ponto de vista teórico, a principal crítica ao voto</p><p>plural encontra fundamentos econômicos na teoria da agência. Seriam</p><p>altos os custos de agência para incentivar o titular das ações com voto plural</p><p>a tomar decisões no interesse da companhia e não para obter benefícios</p><p>particulares. Aqui estão em jogo as já bem conhecidas situações de conflito</p><p>de interesses e abuso do poder de controle.53</p><p>Apesar da possibilidade da adoção do voto plural pelas companhias, o legislador manteve a</p><p>vedação do seu uso em relação às empresas públicas e sociedades de economia mista, bem como em</p><p>relação às suas subsidiárias e sociedades controladas direta ou indiretamente pelo poder</p><p>público. Também não se aplica à sociedade em comandita por ações, conforme vedação expressa</p><p>contida no art. 284 da Lei nº 6.404/1976.</p><p>A alteração da lei societária exige a revisão do entendimento adotado a partir das ponderações</p><p>de Nelson Eizirik54, segundo o qual o voto plural assegurava uma influência preponderante na</p><p>direção da companhia, sendo defenestrado pelo seu então caráter antidemocrático.</p><p>53 PRADO, Viviane Muller; NANI, Ana Paula Ribeiro. Estamos preparados para o voto plural? O voto plural no contexto</p><p>brasileiro de proteção de investidores. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/disclosure/</p><p>estamos-preparados-para-o-voto-plural-12082021. Acesso em: mar. 2023.</p><p>54 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada. v. I – arts. 1º à 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011, p. 621.</p><p>https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/disclosure/estamos-preparados-para-o-voto-plural-12082021</p><p>https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/disclosure/estamos-preparados-para-o-voto-plural-12082021</p><p>36</p><p>A admissibilidade do voto plural pode ser encontrada em vários países. Entre</p><p>eles predomina a plena liberdade para cada companhia estipular eventuais</p><p>limitações por regras estatutárias. Considera-se, com toda razão, que, se o</p><p>acionista controlador abusar na configuração estatutária do voto plural, ele</p><p>irá afugentar os investidores. Confia-se que o mercado precificará para baixo</p><p>ações emitidas por companhias, em que o controlador desfruta de direitos</p><p>abusivos por meio da atribuição de voto plural às suas ações.</p><p>No direito brasileiro, contudo, optou o legislador de 2021 por estabelecer</p><p>uma série de limitações ao voto plural, certamente por não confiar</p><p>suficiente no funcionamento do mercado de capitais como balizador dos</p><p>interesses dos investidores. 55</p><p>Com a autorização da criação de classes variadas de ações ordinárias o legislador passou a</p><p>permitir que, a elas, seja atribuído o voto plural até o limite de 10 (dez) votos por ação da referida</p><p>natureza na companhia de capital fechado e na companhia de capital aberto. Neste último caso, a</p><p>criação da classe da ação deve se dar anteriormente à negociação de quaisquer ações ou valores</p><p>mobiliários conversíveis em ações da sua emissão no mercado de capitais.</p><p>Além da condição posta, a legislação exige que se observe, concomitantemente, os seguintes</p><p>pressupostos: voto favorável de acionistas que representem metade, no mínimo, do total de votos</p><p>conferidos pelas ações com direito a voto e metade, no mínimo, das ações preferenciais sem direito</p><p>a voto ou com voto restrito. Nesse caso, o estatuto social da companhia, de capital aberto ou</p><p>fechado, poderá exigir quórum maior.</p><p>Com a adoção do voto plural, deverá o estatuto social estipular:</p><p>I. o número de ações de cada espécie e classe em que se divide o capital social, indicando o</p><p>mínimo do número de votos atribuído por ação de cada classe de ações ordinárias com</p><p>direito a voto, não superior a 10 (dez) votos por ação ordinária;</p><p>II. o prazo de duração do voto plural, observado o limite de 7 (sete) anos;</p><p>III. o quórum qualificado para deliberar sobre as prorrogações, podendo-se exigir um quórum</p><p>maior do que o estipulado no § 1º do art. 110-A da Lei nº 6.404/76;</p><p>IV. se serão aplicáveis outras hipóteses para verificação do fim da vigência do voto plural</p><p>condicionadas a prazo ou eventos, além das previstas no art. 110-A da Lei nº 6.404/76.</p><p>55 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual., São Paulo: Thomson Reuters</p><p>Brasil, 2021. p. 307. v. 2.</p><p>37</p><p>É facultado a indicação no estatuto social de condição ou termo para o uso do voto plural nas</p><p>assembleias das companhias, observadas as seguintes condições legais:</p><p>I. o voto plural poderá ser atribuído às ações ordinárias no prazo inicial de vigência de até</p><p>7 (sete) anos, prorrogável por qualquer prazo, desde que respeitados os pressupostos</p><p>para a sua instituição;</p><p>II. que os titulares de ações da classe cujo voto plural se pretende prorrogar não</p><p>participem das votações e sejam assegurados aos dissidentes o direito constitucional a</p><p>retirar-se da companhia.</p><p>As ações qualificadas com voto plural perderão a qualificação automaticamente e serão</p><p>convertidas em ações ordinárias sem voto plural em caso de transferência a terceiros, a título</p><p>gratuito ou oneroso, salvo se o alienante permanecer indiretamente como único titular de tais</p><p>ações e no controle dos direitos políticos por elas conferidos, ou o no caso do terceiro ser titular</p><p>da mesma classe de ações com voto plural a ele alienadas ou a transferência venha ocorrer no</p><p>regime de titularidade fiduciária.</p><p>As ações qualificadas com voto plural também irão perder a qualificação nos casos em que o</p><p>contrato ou acordo de acionistas, entre titulares de ações com voto plural e acionistas que não sejam</p><p>titulares de ações com voto plural, disponham sobre exercício conjunto do direito de voto.</p><p>Importante observar que, apesar de o legislador ter regulado o voto plural, ele assegurou aos</p><p>acionistas dissidentes o direito de se retirarem da companhia, atentando ao direito constitucional</p><p>garantido ao acionista de forma essencial na forma do art. 109, inciso V da Lei nº 6.404/76 que</p><p>deve ser interpretado à luz do art. 5º, inciso XX da Constituição Federal de 198856.</p><p>Naturalmente, o exercício do direito de retirada se dará mediante reembolso do valor das suas</p><p>ações nos termos do art. 45 da Lei nº 6.404/76, salvo se a criação da classe de ações ordinárias com</p><p>atribuição de voto plural já estiver prevista ou autorizada pelo estatuto social da companhia.</p><p>No que tange ao cálculo dos quóruns indicados expressamente pela lei em tela, com base em</p><p>percentual de ações ou do capital social, sem menção ao número de votos conferidos pelas ações,</p><p>não se poderá considerar a pluralidade de voto.</p><p>São vedadas operações de incorporação; de incorporação de ações e de fusão de companhia</p><p>aberta que não adote voto plural e cujas ações ou valores mobiliários conversíveis em ações sejam</p><p>negociados em mercados organizados, em companhia que adote voto plural; de cisão de companhia</p><p>aberta que não adote voto plural e cujas ações ou valores mobiliários conversíveis em ações sejam</p><p>negociados em mercados organizados para constituição de nova companhia com adoção do voto</p><p>plural; e de incorporação da parcela cindida em companhia que o adote.</p><p>56 MENDONÇA, Saulo Bichara; ARRUDA, Pablo Gonçalves. Companhia trans fechada: caso da dissolução parcial da</p><p>companhia de capital aberto que atua como se de capital fechada fosse. Revista Jurídica Cesumar, v. 18, n. 1, p. 287-304,</p><p>jan./abr. 2018. Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/</p><p>bibli_servicos_produtos/bibli_informativo/bibli_inf_2006/Rev-Jur-CESUMAR_v.18_n.01.12.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_informativo/bibli_inf_2006/Rev-Jur-CESUMAR_v.18_n.01.12.pdf</p><p>http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_informativo/bibli_inf_2006/Rev-Jur-CESUMAR_v.18_n.01.12.pdf</p><p>38</p><p>Também não será adotado o voto plural nas assembleias que deliberarem sobre a remuneração</p><p>dos administradores e a celebração de transações com partes relacionadas que atendam aos critérios</p><p>de relevância a serem definidos pela CVM e em “votações da assembleia geral de acionistas que</p><p>deliberem sobre transações com partes relacionadas”57.</p><p>A relação de companhias que adotam voto plural bem como a admissão de valores mobiliários</p><p>da sua emissão está sujeita às regras editadas pelas respectivas entidades administradoras, que devem</p><p>adotar critérios transparentes acerca da condição de tais companhias de capital aberto.</p><p>Observa-se que, de acordo com a nova redação do art. 284 da Lei nº 6.404/76, o disposto</p><p>sobre voto plural não se aplica à sociedade em comandita por ações.</p><p>Iniciada a negociação de ações ou valores mobiliários conversíveis em ações, fica impedida a</p><p>alteração das características da classe de ações ordinárias com atribuição de voto plural, salvo se a</p><p>proposta for reduzir os respectivos direitos ou vantagens.</p><p>Como se vê, os requisitos para adoção do voto plural exigidos pela legislação são tão</p><p>complexos e rígidos que, dificilmente, o instrumento será adotado. Nas palavras de Fábio Ulhoa</p><p>Coelho, “as travas estabelecidas pela lei ao voto plural são tão drásticas e irrazoáveis que nenhuma</p><p>sociedade anônima o adotará”58.</p><p>Acordo de acionistas</p><p>Os acordos de acionistas podem ser celebrados tendo como objeto a compra e venda das suas</p><p>ações, a preferência para adquiri-las, o exercício do direito a voto ou do poder de controle, tendo</p><p>natureza jurídica de “contrato parassocial, acessório e plurilateral”.59</p><p>O acordo de acionistas constitui um contrato celebrado entre acionistas de</p><p>determinada companhia visando à composição de seus interesses</p><p>individuais e ao estabelecimento de normas de atuação na sociedade,</p><p>harmonizando seus interesses próprios ao interesse social.</p><p>Embora disciplinado na Lei das S.A., o acordo de acionistas é um contrato,</p><p>submetido, assim, às normas comuns de validade dos negócios jurídicos de</p><p>direito privado. Como negócio jurídico, requer, para sua validade, agentes</p><p>capazes – acionistas de uma mesma companhia –, objeto lícito e forma escrita.</p><p>57 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Resolução CVM nº 168, de 20 de setembro de 2022. Disponível em:</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/resolucoes/resol168.html. Acesso em: maio 2024.</p><p>58 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual., São Paulo: Thomson Reuters</p><p>Brasil, 2021. p. 308. v. 2.</p><p>59 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 263.</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/resolucoes/resol168.html</p><p>39</p><p>A sua inclusão na disciplina societária objetivou apenas estabelecer os</p><p>pressupostos necessários a que tais contratos sejam observados pela companhia</p><p>e produzam efeitos perante terceiros. [...]</p><p>Os acionistas são inteiramente livres para convencionar ou não o acordo,</p><p>assim como para estabelecer o seu conteúdo, uma vez que a Lei das S.A. não</p><p>esgota a relação de matérias que dele podem constar, os limites são apenas a</p><p>licitude do objeto e a conformidade ao interesse social. O pactuado entre as</p><p>partes – e somente entre elas – deve ser fielmente exigido, o que justifica a</p><p>previsão legal de sua execução específica. Assim, na interpretação dos</p><p>acordos de acionistas devem ser enfatizados (i) o cumprimento das</p><p>obrigações pactuadas, já que o foram livremente; e (ii) a aplicação de seus</p><p>termos apenas às partes contratantes, exceto no caso do acordo de controle,</p><p>que pode gerar efeitos para outras companhias, “em cascata” [...].60</p><p>Tais acordos devem ser arquivados na sede da companhia e averbados nos livros de registro e</p><p>nos certificados das ações, se emitidos, para que sejam observados, exigíveis e oponíveis a terceiros.</p><p>Mesmo assim, tais acordos não poderão ser invocados com o fim de eximir o acionista da</p><p>responsabilidade pelo exercício do voto ou do poder de controle, quando exercidos abusivamente.</p><p>A fim de evitar mal-entendido de qualquer ordem, a companhia poderá solicitar aos membros do</p><p>acordo de acionistas esclarecimento sobre as suas cláusulas.</p><p>Os acionistas vinculados ao referido acordo deverão indicar, no ato formal de arquivamento,</p><p>quem será o representante a comunicar-se com a companhia, autorizado a prestar ou receber</p><p>informações, quando solicitadas.</p><p>O presidente da assembleia ou do órgão colegiado de deliberação da companhia não poderá</p><p>computar voto proferido com infração de acordo de acionistas devidamente arquivado. Da mesma</p><p>forma, o não comparecimento à assembleia ou às reuniões dos órgãos de administração da companhia,</p><p>as abstenções de voto de qualquer parte de acordo de acionistas, ou de membros do conselho de</p><p>administração eleitos nos termos de acordo de acionistas, assegurará à parte prejudicada o direito de</p><p>votar com as ações pertencentes ao acionista ausente ou omisso, e, no caso de membro do conselho</p><p>de administração, pelo conselheiro eleito com os votos da parte prejudicada.</p><p>Os formalismos legais atinentes à celebração do acordo de acionistas devem atentar às</p><p>orientações expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, a exemplo do que se extrai do Ofício</p><p>Circular/Anual-2022-CVM/SEP.</p><p>60 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 702-703. v. 1.</p><p>40</p><p>Sem prejuízo da divulgação de Fato Relevante acerca da celebração de</p><p>acordos de acionistas, nos termos do artigo 2º da Resolução CVM nº</p><p>44/21, os emissores registrados na Categoria A deverão encaminhar à</p><p>CVM, por meio do “IPE Online” no Sistema Empresas.NET:</p><p>a) Acordos de acionistas, seus aditivos e outros pactos societários</p><p>arquivados no emissor, em até 7 (sete) dias úteis contados de seu</p><p>arquivamento, na categoria “Acordo de Acionistas”;</p><p>b) Informações sobre acordos de acionistas dos quais o controlador ou</p><p>controladas e coligadas do controlador sejam parte, a respeito do</p><p>exercício de direito de voto no emissor ou da transferência dos valores</p><p>mobiliários do emissor, contendo, no mínimo, data de assinatura, prazo</p><p>de vigência, partes e descrição das disposições relativas ao emissor, em até</p><p>7 (sete) dias úteis contados da ciência, pelo emissor, de sua existência, na</p><p>categoria “Informações sobre acordo de acionistas previstos no artigo 30,</p><p>inciso XIX, da IN nº 480/09”.</p><p>Ressalta-se que a alteração de suas cláusulas, sua extinção em função de</p><p>termo ou condição resolutiva, ou a celebração de novo acordo de acionistas</p><p>implica sua atualização junto à CVM.</p><p>Acordos de acionistas que perderem a validade devem ser cancelados por</p><p>meio da funcionalidade “Cancelamento de documentos” do Sistema</p><p>Empresas.NET, informando no campo “Motivo do cancelamento” que o</p><p>referido acordo de acionistas perdeu sua validade. O documento, mesmo</p><p>cancelado, continuará disponível para consulta no site da CVM e da B3,</p><p>no caso dos emissores lá listados, na condição de documento cancelado e</p><p>constará o motivo de seu cancelamento.61</p><p>Segundo André Santa Cruz, os acordos de acionistas podem ser classificados em três</p><p>modalidades, a saber: os acordos de voto, acordos de controle e acordos de bloqueio.</p><p>Nos acordos de voto, os acionistas signatários assumem a obrigação de</p><p>exercer o seu direito de voto nos termos que acordaram, geralmente</p><p>formando um bloco para atuação conjunta (pooling agreements). Podem-se</p><p>dividir esses acordos de voto em acordos de comando (para formar uma</p><p>maioria) e acordos de defesa (para fortalecer uma minoria). São exemplos de</p><p>acordos de voto: (i) aqueles que estabelecem a necessidade de os signatários</p><p>fazerem reunião prévia a qualquer deliberação (da assembleia ou do conselho</p><p>61 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/</p><p>export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>41</p><p>de administração), a fim de combinarem o exercício do direito de voto em</p><p>bloco; (ii) aqueles que conferem direito de veto a acionista ou grupo de</p><p>acionistas em determinadas matérias específicas.</p><p>Os acordos de bloqueio são os mais comuns, referindo-se à negociação das</p><p>ações ou ao exercício do direito de preferência. Por meio desses acordos,</p><p>os acionistas signatários tentam manter suas posições acionárias, evitando,</p><p>por exemplo, a entrada de terceiros. São exemplos de acordos de bloqueio:</p><p>lock up (opção de compra), put option (opção de venda), tag along (venda</p><p>conjunta), drag along (direito de arraste) etc.</p><p>Outra espécie interessante de acordo de acionista é o shotgun (cláusula de</p><p>buy or sell). É usado para solução de impasses societários, isto é, quando</p><p>estiver havendo divergências constantes entre acionistas, um deles pode</p><p>acionar esse mecanismo e iniciar um procedimento de compra das ações</p><p>do outro ou venda de suas ações para ele. Quem inicia o procedimento faz</p><p>uma oferta de compra das ações do outro. Este, por sua vez, ou as vende</p><p>ou compra as do ofertante. O preço é definido por quem inicia o</p><p>procedimento, o que obriga a formular proposta boa.62</p><p>O acordo ainda poderá prever o meio de se promover a execução específica das obrigações</p><p>assumidas e somente poderá ser denunciado segundo as suas estipulações, caso o prazo for fixado</p><p>em função de termo ou condição resolutiva. Limitará, porém, a negociação das ações averbadas nos</p><p>termos do art. 118 da Lei nº 6.404/76, as quais não poderão ser negociadas em bolsa de valores ou</p><p>mercado de balcão.</p><p>Reembolso</p><p>O ato do reembolso, regulado pelo art. 45 da Lei nº 6.404/76, representa operação pela qual</p><p>a companhia paga aos acionistas dissidentes de deliberação da assembleia geral o valor das suas</p><p>ações, observadas as hipóteses expressamente previstas em lei (art. 136, I a IV e IX, e art. 137 da</p><p>Lei nº 6.404/76).</p><p>62 CRUZ, André Santa. Manual de Direito Empresarial. Volume único. 12 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora JusPodivm,</p><p>2022, p. 477-478.</p><p>42</p><p>Em regra, consideram-se os valores constantes no último balanço patrimonial aprovado, se</p><p>ocorrido há menos de 60 dias. Porém, se já houver ultrapassado mais de 60 dias da aprovação do</p><p>último balanço, é lícito ao acionista que requer o reembolso pedir o levantamento de um balanço</p><p>especial de verificação. Nesse caso, o citado dispositivo legal determina que a companhia pagará</p><p>imediatamente 80% do valor do reembolso calculado com base no último balanço patrimonial e</p><p>pagará o saldo remanescente no prazo de 120 dias a contar da data da deliberação da assembleia</p><p>geral. “O último balanço aprovado não é o balanço do último exercício, embora na maioria das</p><p>vezes, pela prática das sociedades, haja tal identificação”.63</p><p>Resgate</p><p>O § 1º do art. 44 da Lei nº 6.404/76 estabelece que o pagamento do valor das ações pela</p><p>companhia, para retirá-las definitivamente de circulação, com redução ou não do capital social,</p><p>define-se como resgate.</p><p>Mantido o mesmo capital, será atribuído, quando for o caso, novo valor nominal às ações</p><p>remanescentes, se este for estabelecido no estatuto social (art. 11 da Lei nº 6.404/76).</p><p>O resgate voluntário ocorre por decisão da assembleia geral extraordinária</p><p>da companhia ou por determinação estatutária que autorize a sociedade a</p><p>promovê-lo a qualquer tempo. [...]</p><p>O resgate compulsório (sempre do ponto de vista da companhia) é aquele</p><p>previsto desde a emissão da ação, que, por esta razão, é conhecida como “ação</p><p>resgatável”. No caso a companhia obriga-se a resgatar uma determinada classe</p><p>de ação criada com essa fidelidade, dentro das condições estabelecidas no</p><p>estatuto. O resgate estipulado no estatuto ao tempo da criação da ação integra</p><p>o conjunto de seus direitos e obrigações.64</p><p>A lei é omissa quanto ao valor da ação para fim de resgate, contudo, há indicativos65 de que seria</p><p>razoável a aplicação do § 1º do art. 170 da Lei nº 6.404/76 de forma análoga, visando a prevenir</p><p>prejuízos injustificados aos titulares das ações que representem objeto da presente operação.</p><p>63 MAMEDE, Gladston. Direito societário: sociedades simples e empresárias. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 379. v. 2.</p><p>64 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 282-283. v. 1.</p><p>65 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 155.</p><p>43</p><p>Amortização</p><p>Segundo se depreende da leitura dos §§ 2º e 3º do art. 44 da Lei nº 6.404/76, a distribuição,</p><p>por antecipação aos acionistas, de quantias que lhes seriam devidas em caso de liquidação da</p><p>companhia, consiste em amortização. Nesta, porém, não se fala em redução do capital social,</p><p>podendo ser integral ou parcial e abranger todas as classes de ações ou só uma delas.</p><p>As ações integralmente amortizadas poderão ser substituídas pelas chamadas ações de fruição</p><p>(art. 15 da Lei nº 6.404/76), observadas as restrições fixadas pelo estatuto social ou assembleia geral</p><p>que deliberar sobre a amortização. “Assim como ocorre no resgate, a amortização poderá, na</p><p>constituição da companhia, ser regulada no estatuto, que deverá estabelecer as condições e o modo</p><p>de proceder à operação”.66</p><p>Entretanto, ocorrendo liquidação da companhia, as ações amortizadas só concorrerão ao</p><p>acervo liquidado depois de assegurado às demais ações, não amortizadas, valor igual ao pago no ato</p><p>da amortização, com as devidas correções monetárias.</p><p>66 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 293. v. 1.</p><p>Valores mobiliários são títulos representativos de direitos disponibilizados pelas companhias</p><p>em favor dos investidores que os adquirem ou subscrevem e efetivamente os integralizam. Nesse</p><p>sentido, lê-se Wilges Bruscato.</p><p>Os valores mobiliários cumprem a função de autofinanciamento da empresa,</p><p>sendo utilizados para captar recursos em suas modalidades: capitalização,</p><p>quando a sociedade anônima emite ações e quem as adquire se torna sócio –</p><p>recurso que não precisará ser restituído, exceto na hipótese de dissolução da</p><p>companhia –, e securitização, quando se emitem outros tipos de títulos que</p><p>conferirão direitos variados contra a companhia: direito de crédito, direito de</p><p>participar dos lucros, direito a adquirir ações, entre outros.67</p><p>Apesar de a Lei nº 6.404/76 não definir os valores mobiliários especificamente, a Lei nº</p><p>6.385/76, no seu art. 2º, define-os e delimita-os.</p><p>Ações</p><p>As ações são frações do capital social, títulos de crédito propriamente dito, negociáveis com</p><p>o propósito inicial de constituir o capital social da companhia. Em outro momento, a negociação</p><p>destes títulos se desvincula das finanças da companhia e se limita à movimentação patrimonial</p><p>dos investidores.</p><p>Assim, as ações são classificadas por valores, espécies, formas de circulação e classes, que variam</p><p>de acordo com a forma como são emitidas e com o momento no qual são negociadas, como se verificará.</p><p>67 BRUSCATO, Wilges. Manual de direito empresarial brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 339-340.</p><p>MÓDULO III – VALORES MOBILIÁRIOS</p><p>46</p><p>Valores</p><p>O art. 11 da Lei nº 6.404/76 deixa a cargo do estatuto social determinar se as ações terão ou</p><p>não valor nominal, sendo este o resultado da divisão do capital social pelo número de ações emitidas.</p><p>Quando o estatuto social não determinar valor nominal para as ações, o resultado dessa divisão será</p><p>reconhecido como valor quociente.</p><p>A relevância de se definir um valor nominal para as ações no estatuto social reside na</p><p>imprescindibilidade de se evitar aos investidores acionistas a diluição da sua participação societária,</p><p>conforme os termos do art. 13 da citada lei.</p><p>Considerando os termos do aludido dispositivo legal, verifica-se que o estatuto pode</p><p>determinar um valor mínimo para a emissão das ações novas, objeto de uma relação jurídica</p><p>primária, mas, a contrario sensu, não impõe a limitação ao valor máximo, podendo o preço de emissão</p><p>ser superior ao valor nominal (ou valor quociente).</p><p>Nesse caso, quando se emite uma ação</p><p>nova por um valor superior ao resultado da divisão do</p><p>capital social pelo número de ações emitidas, a companhia arrecada um montante maior do que o</p><p>necessário para a integralização do capital social.</p><p>Esse valor excedente é reconhecido como ágio e será destinado à conta reserva de capital</p><p>que não sofre a incidência dos princípios tutelares do capital social, tratados no item Capital</p><p>social retro, podendo ser utilizados nos termos do art. 200 da Lei nº 6.404/76, conforme</p><p>igualmente tratado.</p><p>Deixando de ser nova, a ação pode ser objeto de outra relação jurídica, estabelecida entre o</p><p>acionista (titular da ação) e novo investidor que se proponha a adquiri-la em segunda mão, sendo</p><p>reconhecida como uma ação velha, objeto de uma relação jurídica secundária.</p><p>Nesse momento da revenda da ação, o alienante considerará na sua oferta o valor de negociação</p><p>alcançado pela aplicação da regra básica a partir da qual os mercados definem valores das</p><p>mercadorias, qual seja, a oferta x procura. Contudo, a liberdade das partes de pactuar o valor pelo</p><p>qual vai ocorrer a revenda da ação pode ter como base o valor patrimonial dela.</p><p>Esse valor é auferido pela análise do patrimônio líquido da companhia, ou seja, considera-se</p><p>todo o patrimônio registrado em escrituração contábil, e subtraem-se as despesas para verificar o</p><p>patrimônio líquido total da companhia. Dividindo-se este pelo total de ações em circulação, chega-</p><p>se ao valor patrimonial de cada ação, que corresponde efetivamente à parte desembaraçada de cada</p><p>uma, isto é, o quanto o acionista receberia em caso de dissolução da companhia.</p><p>O valor patrimonial pode ser alcançado pelo método histórico, considerando os dados</p><p>informados no último balanço patrimonial apresentado em assembleia geral ordinária, quando as</p><p>contas apresentadas pelo conselho de administração foram analisadas; ou pode ser alcançado pelo</p><p>método atual, segundo o qual se faz um balanço de verificação, considerando as alterações</p><p>patrimoniais sofridas pela companhia, a produtividade e os dados registrados a partir da data de</p><p>realização do último balanço patrimonial, bem como o dia exato da verificação do patrimônio líquido.</p><p>47</p><p>Ainda para fins de alcançar um valor de negociação, pode-se considerar também o valor</p><p>econômico que prescinde da análise do fluxo de caixa descontado para que se apurem as perspectivas</p><p>que se podem nutrir sobre os resultados futuros a serem apresentados pela companhia.</p><p>Assim, pode-se compreender o valor de negociação a partir da análise dos dados financeiros</p><p>e patrimoniais pretéritos e as perspectivas futuras em relação à companhia.</p><p>Espécies</p><p>As ações podem ser classificadas em espécies de acordo com os tipos de direitos que conferem</p><p>aos seus titulares. Para isso, o art. 15 da Lei nº 6.404/76 as dividiu em três espécies distintas, a saber:</p><p>“As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seus titulares, são</p><p>ordinárias, preferenciais, ou de fruição”.</p><p>As ações ordinárias, classificadas outrora (Decreto-Lei nº 2.627, 26 de setembro de 1940) como</p><p>comuns, atribuem aos seus titulares direito de voto pleno e irrestrito nas assembleias gerais realizadas nas</p><p>companhias, de forma que a sua emissão é obrigatória em todos os tipos de companhias.</p><p>As ações ordinárias concedem, sempre, ao respectivo titular o direito de</p><p>voto na assembleia geral, de modo que o acionista detentor de mais da</p><p>metade das ações dessa espécie é controlador da companhia e pode, por</p><p>essa razão, eleger os administradores, aprovar a maior parte de alterações</p><p>estatutárias, decidir os assuntos de natureza geral do interesse da sociedade</p><p>etc. Os ordinarialistas, por isso, podem ser divididos em controlador (ou</p><p>controladores), de um lado, e minoritários, de outro. As relações entre os</p><p>dois grupos são complexas e muitas vezes conflituosas, representando uma</p><p>das mais sérias preocupações do direito societário e compatibilização entre</p><p>o exercício do poder de controle e a tutela dos interesses da minoria.68</p><p>Em razão dessas características específicas, o § 2º do citado art. 15 da Lei nº 6.404/76</p><p>determina que a quantidade das ações preferenciais – logo, sem direito regular ao voto – não pode</p><p>ultrapassar 50% do total das ações emitidas pela companhia, mantendo assim o equilíbrio do poder</p><p>de gestão da companhia nas mãos de investidores de uma quantidade considerável de recursos.</p><p>As ações preferenciais caracterizam-se por proporcionarem privilégios ou prioridades na</p><p>participação dos seus titulares nos dividendos fixos ou mínimos, na prioridade de reembolso de</p><p>capital e na acumulação dessas duas preferências.</p><p>68 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual., São Paulo: Thomson Reuters</p><p>Brasil, 2021. p. 105. v. 2.</p><p>48</p><p>Ou seja, o acionista preferencialista deve perceber condição mais vantajosa em relação aos</p><p>ordinarialistas e aos detentores de ações de fruição, para privilegiar todas as espécies de ações</p><p>previstas em lei. Sejam vantagens financeiras ou políticas, na participação dos dividendos fixos ou</p><p>mínimos69, ou no exercício do direito de eleger, em votação em separado, um ou mais membros</p><p>dos órgãos de administração (art. 18 da Lei nº 6.404/76).</p><p>A ação preferencial é aquela que tem por função principal servir de</p><p>instrumento para financiar o capital próprio da companhia, mediante</p><p>captação de recursos de pessoas que se dispõem a exercer a função</p><p>empresarial apenas no que diz respeito à aplicação de capital de risco, mas</p><p>que não desejam interferir na direção da empresa.70</p><p>Consoante recente atualização legislativa decorrente da Lei nº 14.195/2021, as ações</p><p>ordinárias e preferenciais deverão ser distribuídas em uma ou mais classes, observado, no caso das</p><p>ações ordinárias, o disposto nos arts. 16, 16-A e 110-A da Lei nº 6.404/76, que tratam do voto</p><p>plural, conforme estudado, viabilizado aos titulares de ações ordinárias.</p><p>A referida atualização legislativa passou a autorizar que as ações ordinárias de companhia</p><p>fechada poderão ser de classes diversas, em função da atribuição do voto plural a uma ou mais classes</p><p>de ações. Ressalva-se que a necessária alteração do estatuto social, para atualização do texto</p><p>constitutivo da sociedade por ações, na parte em que regula a diversidade de classes, quando não for</p><p>expressamente prevista e regulada, exigirá a concordância de todos os titulares das ações atingidas.</p><p>No que tange à sociedade por ações de capital aberto, tem-se por vedada a manutenção de</p><p>mais de uma classe de ações ordinárias, salvo quando houver a adoção do voto plural nos termos e</p><p>nas condições dispostos no citado art. 110-A da Lei nº 6.404/76.</p><p>Ressalta-se, porém, que a restrição ao direito ao voto imposto aos preferencialistas não é</p><p>absoluto, podendo ser excepcionado conforme foi tratado no item Voto deste estudo.</p><p>Questão importante em relação às ações preferenciais diz respeito aos termos do art. 17, § 7º,</p><p>da Lei nº 6.404/76, que regula a chamada ação golden share, de acordo com o texto legal:</p><p>Nas companhias objeto de desestatização poderá ser criada ação preferencial</p><p>de classe especial, de propriedade exclusiva do ente desestatizante, à qual o</p><p>estatuto social poderá conferir os poderes que especificar, inclusive o poder de</p><p>veto às deliberações da assembleia-geral nas matérias que especificar.</p><p>69 As ações com direito à participação nos dividendos fixos não participam dos lucros remanescentes, são aqueles cujo valor</p><p>encontra-se devidamente quantificado no estatuto social, ao contrário das ações com direito a participação nos dividendos</p><p>mínimos, que participam nos lucros distribuídos em igualdade de condições com as ordinárias, se houver sobra nos lucros, o</p><p>montante é dividido de maneira proporcional entre os acionistas ordinarialistas e preferencialistas. Ou seja, no caso dos</p><p>dividendos fixos, todo o lucro obtido que seja igual ou menor ao determinado será dividido entre os acionistas preferencialistas.</p><p>70 EIZIRIK, Nelson.</p><p>A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 144. v. 1.</p><p>49</p><p>O referido parágrafo foi inserido na Lei nº 6.404/76 pela Lei nº 10.303/01 e, segundo Nelson</p><p>Eizirik, os direitos conferidos a partir desta ação especial ao ente desestatizante não se restringe ao</p><p>direito de veto a ser exercido em assembleias gerais.</p><p>A golden share, pode, ainda, conferir ao ente desestatizante não apenas o</p><p>direito de veto, no âmbito das deliberações da assembleia geral e do conselho</p><p>de administração, mas outros direitos que venham a ser especificados no</p><p>estatuto, em conformidade com o previsto no edital de privatização</p><p>respectivo, tais como: (i) indicar membros para órgãos de administração da</p><p>companhia; (ii) subordinar ao voto favorável do ente público, titular da</p><p>golden share: (a) a mudança da sede social; (b) a alteração do objeto social da</p><p>companhia; (c) a alteração da composição do conselho de administração; (d)</p><p>a transferência do controle acionário; (e) a realização de oferta pública; (f) a</p><p>liquidação da companhia; (g) o encerramento de atividades, etc.71</p><p>Em razão da sua especificidade, a golden share não poderá ser transferida a terceiros particulares</p><p>ou a outros entes federativos de qualquer ordem, devendo a sua propriedade permanecer sob a</p><p>titularidade do ente desestatizante para que este se imponha sempre que registrar perigo de</p><p>monopolização ou cartelização de determinado segmento das atividades econômicas empresariais.</p><p>Por fim, tem-se a ação de fruição, fruto da amortização, tratada no item Amortização, a qual</p><p>representa um título distribuído ao acionista titular de ações ordinárias e preferenciais que venham</p><p>amortizar os seus investimentos, sem que se registre a efetiva redução do capital social “ou seja, quando</p><p>a sociedade distribui aos acionistas importâncias que eles teriam direito a receber na liquidação da</p><p>sociedade, o que somente pode ocorrer à conta de lucros ou reservas disponíveis”.72</p><p>Importante frisar que os titulares de ações dessa natureza continuam ostentando a qualidade de</p><p>acionistas da companhia, detentores dos mesmos direitos que lhes eram assegurados antes da</p><p>amortização, com exceção ao direito de participar no acervo da companhia em eventual liquidação.</p><p>Forma de circulação</p><p>A forma de circulação das ações se restringe às ações nominativas e escriturais, consoante se</p><p>verifica nos arts. 31 e 34 da Lei nº 6.404/76, tendo as ações endossáveis e ao portador sido revogadas</p><p>pela Lei nº 8.021, de 12 de abril de 1990.</p><p>As ações nominativas são aquelas que têm o nome do seu titular inscrito no Livro de Registro</p><p>de Ações Nominativas, nos termos do art. 100, I, da Lei nº 6.404/76.</p><p>71 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 170. v. 1.</p><p>72 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 147. v. 1.</p><p>50</p><p>A inscrição do nome do subscritor no aludido livro é o marco que registra a aquisição da</p><p>propriedade dessa ação, sendo irrelevante a emissão de certificados e a posse “tendo em vista o</p><p>modo como se prova a propriedade da ação nominativa e opera-se a sua transferência, não é</p><p>necessária a emissão de certificado, o qual é irrelevante ao titular da ação nominativa para o</p><p>exercício de seus direitos”.73</p><p>As ações escriturais representam uma variação da ação nominativa, constituindo-se em forma</p><p>mais simples de registro de transferência da propriedade do referido título.</p><p>Essa espécie de ação foi criada com o propósito de “conciliar a segurança das ações</p><p>nominativas com a facilidade de circulação, proporcionada pela transferência mediante ordem à</p><p>instituição financeira e mero registro contábil”.74</p><p>Classes</p><p>A divisão das ações em classes proporciona a reunião de acionistas que detenham os mesmos</p><p>direitos e restrições em razão da natureza do título adquirido. Nesses termos, o art. 15, § 1º, da Lei</p><p>nº 6.404/76 determina que poderão ser de uma ou mais classes as ações ordinárias da companhia</p><p>fechada e as ações preferenciais da companhia aberta e fechada. Ou seja, as ações ordinárias de</p><p>companhias abertas serão de classe única.</p><p>Em regra, as ações ordinárias conferem iguais direitos a todos os acionistas,</p><p>no entanto, a Lei das S.A. admite que as ações ordinárias da companhia</p><p>fechada possam ser de classes diversas, conferindo direitos desiguais, em</p><p>função, exclusivamente, de (i) conversibilidade em ações preferenciais; (ii)</p><p>exigência de nacionalidade brasileira do acionista; ou (iii) direito de voto</p><p>em separado para o preenchimento de determinados cargos de órgãos</p><p>administrativos (artigo 16). Na companhia aberta, em que a divisão em</p><p>classes não é permitida, todas as ações ordinárias conferem os mesmos</p><p>direitos aos seus titulares.75</p><p>A divisão das ações em classes é o que proporciona a criação, por exemplo, das ações</p><p>preferenciais especiais golden share, tratadas no item Espécies.</p><p>73 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 221. v. 1.</p><p>74 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 228. v. 1.</p><p>75 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 143. v. 1.</p><p>51</p><p>Debêntures</p><p>Conforme se mencionou nos itens Noções introdutórias e Valores mobiliários deste estudo, a</p><p>companhia pode captar recursos junto ao mercado investidor por meio da capitalização – como se</p><p>verificou no estudo do capital social e das ações – e da securitização, que corresponde à captação de</p><p>recursos por meio da negociação de outros valores mobiliários como as debêntures, cujo estudo ora</p><p>se inicia, e os demais valores mobiliários a serem verificados nos itens Bônus de subscrição e Partes</p><p>beneficiárias, respectivamente.</p><p>Consoante se depreende da leitura do art. 52 da Lei nº 6.404/76, resta autorizada à</p><p>companhia a emissão de debêntures, títulos que conferirem aos seus titulares um direito de crédito</p><p>contra a própria companhia, atentando aos termos das condições verificadas na escritura de emissão</p><p>e do certificado, se houver.</p><p>Tanto as companhias de capital aberto quanto as de capital fechado podem emitir o título</p><p>em tela, sendo reconhecida à assembleia geral a competência para a sua emissão, conforme</p><p>entendimento do STJ76.</p><p>Frisa-se que há um projeto de lei em tramitação no Senado Federal (Projeto de Lei n° 3324,</p><p>de 2020) que pretende regulamentar a emissão de debêntures por sociedades limitadas e</p><p>cooperativas, objetivando fomentar a captação de recursos por esses tipos societários, a despeito da</p><p>sua natureza jurídica híbrida e simples, respectivamente.</p><p>A justificativa contida no projeto de lei em tela faz menção à ausência de proibição expressa</p><p>em lei para que sociedades limitadas emitam o título em questão, o que corresponderia à</p><p>possibilidade de emití-lo. Quiçá o mesmo raciocínio não se aplicaria às cooperativas, por sua naterza</p><p>simples. Contudo, a questão pode ganhar fôlego se a discussão iniciada na Medida Provisória nº</p><p>1.040/2021 for retomada.</p><p>Naquela oportunidade, o Art. 38 dessa medida provisória pretendeu revogar a distinção entre</p><p>sociedades simples e empresária, nivelando as instituições societárias às empresárias. Contudo, quando</p><p>a referida medida provisória foi convertida na Lei nº 14.195/2021, essa pretenção foi vetada.</p><p>Espécies</p><p>As debêntures podem ser classificadas em três espécies. A primeira delas pode ser chamada de</p><p>debênture ordinária, representativa de empréstimos feitos à companhia em troca de um título de</p><p>crédito que assegura ao credor direito de participação em dividendos, juros fixos ou variáveis e</p><p>prêmio de reembolso, conforme ajustado na escritura de emissão e do certificado, se houver.</p><p>76 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial. nº 784.881. Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito.</p><p>Brasília, 4 de maio de 2006. In: DJU, de 18 de dezembro de 2006. Disponível em:</p><p>https://www.jusbrasil.com.br/</p><p>jurisprudencia/stj/9018740/inteiro-teor-14192148. Acesso em: maio 2024.</p><p>https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/9018740/inteiro-teor-14192148</p><p>https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/9018740/inteiro-teor-14192148</p><p>52</p><p>A segunda espécie é a debênture perpétua, cujo vencimento só ocorrerá em casos de</p><p>inadimplência da obrigação contratual de honrar os valores evidenciados no art. 58 da Lei</p><p>nº 6.404/76, em caso da dissolução da companhia, ou de outras condições eventualmente previstas</p><p>no título, consoante se lê no § 4º do art. 55 da mesma lei.</p><p>Esta (a emissora) poderá, na escritura de emissão, reservar-se o direito de resgatar</p><p>parcialmente ou totalmente debêntures, se for de seu interesse e, nestes casos, é</p><p>comum estabelecer um prêmio de reembolso para o debenturista. A</p><p>consequência lógica é que o subscritor de debêntures perpétuas só pode realizar</p><p>seu crédito vendendo os títulos no mercado, para outros interessados, sem</p><p>envolver a emissora nesse tipo de transação. Na perspectiva da emissora, os</p><p>recursos captados via debêntures perpétuas se assemelham muito aos oriundos</p><p>da venda de ações preferenciais: são inexigíveis, têm uma previsão de</p><p>rendimento e não interferem na gestão da empresa.77</p><p>A derradeira espécie é a debênture conversível em ações, na forma do art. 57 da Lei nº 6.404/76,</p><p>que pode representar forma de aumento do capital social sem o ingresso de novos recursos,</p><p>combinando os arts. 166 com 169, bem como pode servir de instrumento para a concretização do</p><p>aumento do capital social autorizado, nos termos do art. 168, todos da mesma lei.</p><p>Ressalta-se que a emissão dessa espécie de debênture exige “previsão no estatuto social. A</p><p>omissão torna-se suprível pela deliberação da assembleia. Do contrário, ou na falta de cláusula a</p><p>respeito, não é admitida a transformação”.78</p><p>Garantias</p><p>As garantias asseguradas no art. 58 da Lei nº 6.404/76 guardam relação direta com o art. 83</p><p>da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falência e Recuperação de Empresas – LFRE),</p><p>sobretudo após a alteração pela Lei nº 14.112/202079.</p><p>77 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Tratado de direito empresarial brasileiro. São Paulo: LZN, 2004. p. 589.</p><p>78 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 371.</p><p>79 “Art. 83</p><p>I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles</p><p>decorrentes de acidentes de trabalho;</p><p>II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do bem gravado;</p><p>III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do tempo de constituição, exceto os créditos</p><p>extraconcursais e as multas tributárias;</p><p>IV - (revogado);</p><p>a) (revogada);</p><p>b) (revogada);</p><p>53</p><p>Considerando que as garantias creditícias são exigíveis e oponíveis especificamente nos</p><p>momentos em que os compromissos financeiros deixam de ser honrados por parte dos devedores</p><p>a recente alteração da lei falimentar acabou por aproximá-la do conteúdo da lei societária que em</p><p>seu Art. 58.</p><p>Os termos do referido dispositivo da lei societária que determina que a debênture poderá ter</p><p>garantia real, garantia flutuante, não gozar de garantias ou ser subordinada aos demais credores da</p><p>companhia ficou formalmente melhor amoldado aos termos do dispositivo da lei falimentar.</p><p>Desta forma, o credor de debênture emitida por companhia que tenha falência decretada será</p><p>alocado no concurso de credores na falência nos termos do Art. 83 da Lei nº 11.101/2005, nos</p><p>incisos II, VI ou VIII, respectivamente, tendo em vista que os créditos com privilégio geral (que</p><p>eram previstos no agora revogado inciso IV do Art. 83 da Lei 11.101/05) passaram a ser equiparados</p><p>aos créditos quirografários.</p><p>Importante considerar que a garantia flutuante concedida ao credor debenturista lhe garante</p><p>um privilégio geral sobre o ativo da companhia, a despeito de não impedir a negociação dos bens</p><p>que compõem esse ativo.</p><p>Tais garantias não excluem a possibilidade da constituição de outras legalmente</p><p>regulamentadas, como a fidejussória ou a constituição do fundo de reserva80, podendo as garantias</p><p>serem constituídas cumulativamente.</p><p>c) (revogada);</p><p>d) (revogada);</p><p>V - (revogado);</p><p>a) (revogada);</p><p>b) (revogada);</p><p>c) (revogada);</p><p>VI - os créditos quirografários, a saber:</p><p>...</p><p>b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; e</p><p>c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste</p><p>artigo;</p><p>VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, incluídas as multas</p><p>tributárias;</p><p>VIII - os créditos subordinados, a saber:</p><p>a) os previstos em lei ou em contrato; e</p><p>b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício cuja contratação não tenha observado as</p><p>condições estritamente comutativas e as práticas de mercado; e</p><p>IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no art. 124 desta Lei.</p><p>...</p><p>§ 5º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos cedidos a qualquer título manterão sua natureza e classificação.</p><p>§ 6º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos que disponham de privilégio especial ou geral em outras normas</p><p>integrarão a classe dos créditos quirografários.” (NR)</p><p>80 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 373.</p><p>54</p><p>Agente fiduciário debenturista</p><p>Debêntures emitidas por meio da escritura de emissão, seja por instrumento público ou</p><p>instrumento particular, distribuídas ou admitidas à negociação no mercado de capitais, terão</p><p>obrigatoriamente a intervenção de agente fiduciário dos debenturistas, consoante se depreende da</p><p>leitura do § 1º do art. 61 da Lei nº 6.404/76.</p><p>Se pessoa física, exercerá o encargo desde que atenda aos requisitos impostos para exercer</p><p>cargo ou órgão de administração de companhias; se pessoa jurídica (instituição financeira), deve ser</p><p>especialmente autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.</p><p>A sua função se reconhece na necessidade de promover a comunhão do investidor</p><p>debenturista para com a companhia emissora, devendo exercer os seus deveres estipulados no art.</p><p>68 da Lei nº 6.404/76, sendo-lhe, porém, proibido modificar as cláusulas e condições da emissão</p><p>do título em tela, muito embora a substituição de bens dados em garantia do investidor dependerá</p><p>da concordância do agente fiduciário, se houver autorização na escritura de emissão, conforme se</p><p>verifica no art. 70 do mesmo diploma legal.81</p><p>Bônus de subscrição</p><p>O art. 75 da Lei nº 6.404/76 regulamenta os bônus de subscrição, título que confere ao seu</p><p>titular direito de subscrever com preferência ações novas, emitidas pela companhia em</p><p>cumprimento dos preceitos necessários para instrumentalização do aumento do capital social</p><p>autorizado, conforme regulamenta o art. 168 do mesmo diploma legal.</p><p>O grande atrativo desse título, do ponto de vista do investidor, está no fato de</p><p>ele conferir o direito de subscrever ações a um preço previamente estabelecido.</p><p>Assim, ao subscrever o bônus, o investidor tem a expectativa de que, no</p><p>momento do seu exercício, as ações de emissão da companhia estarão sendo</p><p>negociadas por valor superior ao preço de exercício fixado no ato de missão</p><p>do bônus. Caso tal expectativa não se confirme, o direito conferido pelo bônus</p><p>não será exercido, pois o investidor poderá adquirir, no mercado, ações de</p><p>emissão da companhia a preços inferiores. É da natureza do título que a</p><p>subscrição de ações a que ele dá direito seja feita por preço inferior ao valor de</p><p>mercado da ação no momento do exercício.82</p><p>81 MAMEDE, Gladston. Direito societário: sociedades simples e empresárias. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 347. v. 2.</p><p>82 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada:</p><p>arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 455. v. 1.</p><p>55</p><p>Observe que a aquisição do bônus de subscrição não concede direito de abatimento no valor</p><p>da subscrição das ações, apenas garante o direito de subscrever ações novas com preferência, mas</p><p>pelo preço de emissão indicado pela companhia no momento em que estas forem disponibilizadas.</p><p>Registra-se, por oportuno, que a nova redação do art. 284 da Lei nº 6.404/76 prevê a</p><p>inaplicabilidade às sociedades em comandita por ações do disposto sobre emissão de bônus de</p><p>subscrição.</p><p>Partes beneficiárias</p><p>As partes beneficiárias são títulos emitidos exclusivamente pelas companhias de capital</p><p>fechado. Em razão da vedação contida no parágrafo único do art. 47 da Lei nº 6.404/76, o presente</p><p>título conferirá aos seus beneficiários direito de crédito eventual contra a companhia, consistente</p><p>na participação nos lucros anuais em valor não superior a 10% do lucro eventualmente apurado no</p><p>exercício social.</p><p>Os seus titulares podem ser fundadores, acionistas ou terceiros, que receberam as referidas</p><p>partes beneficiárias como compensação por serviços que tenham sido prestados à companhia.</p><p>Observe-se que, apesar de a lei fazer menção à expressão remuneração, entende-se que esta não é</p><p>a mais adequada para conceituar o direito que se confere ao seu titular, visto que remuneração é uma</p><p>expressão que representa a soma do salário com as verbas remuneratórias, devida aos empregados em</p><p>razão da relação jurídica de emprego, que não se verifica no caso em tela.</p><p>As atividades desenvolvidas pelas companhias exigem a sua divisão em órgãos aos quais são</p><p>delegadas funções destinadas a atender às demandas administrativas e jurídicas. As primeiras atraem</p><p>a atenção dos estudiosos da Administração, sendo correlatas à forma de divisão dos trabalhos,</p><p>racionalidade e fluxo de dados que permitem a gestão do negócio; as outras são foco dos estudiosos</p><p>do Direito, preocupados com as formalidades burocráticas destinadas a assegurar a validade e</p><p>eficácia dos negócios jurídicos praticados com a participação dos agentes societários. Eis a razão pela</p><p>qual a lei regulamenta a estrutura administrativa da parte superior da escala hierárquica das</p><p>companhias: órgãos deliberativos, executivos e fiscais, como se verificará.</p><p>Assembleia geral</p><p>As assembleias são órgãos deliberativos de onde emana a vontade da companhia de forma</p><p>autônoma, respeitadas as funções privativas e as competências de cada uma das assembleias a</p><p>serem verificadas.</p><p>Órgãos da sociedade, ou seja, de pessoa jurídica. Sua função é, se não a de</p><p>falar em nome dela ou de lhe dizer a vontade, a de traçar o roteiro de seu</p><p>destino. Para a consecução desse alvo, ela é soberana: livremente toma as</p><p>decisões condizentes com o interesse social; e sua decisão se impõe,</p><p>definitivamente, a quantos por qualquer título, se dediquem ao seu serviço.</p><p>Merece, por isso, o qualificado de órgão supremo da sociedade, como tal</p><p>soberano, título com que a têm honrado algumas leis.83</p><p>83 FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 1961. p. 364. v. 4.</p><p>MÓDULO IV – ÓRGÃOS SOCIETÁRIOS</p><p>58</p><p>A convocação e a instalação das assembleias, bem como a deliberação sobre os pontos da sua</p><p>pauta, têm na lei e no estatuto social das companhias as suas regras funcionais, focadas na garantia</p><p>da manifestação da vontade dos acionistas de forma autônoma, respeitadas as exigências no sentido</p><p>de que as decisões sejam tomadas em atenção aos melhores interesses da companhia, sobrepondo-</p><p>se, inclusive, sobre as pretensões pessoais dos acionistas.</p><p>Importante observar que o art. 124 da Lei nº 6.404/76, que regulamenta a forma de</p><p>convocação das assembleias, foi alterado pela Lei nº 14.030/2020, passando a permitir que as</p><p>companhias, abertas e fechadas, realizem assembleia de forma virtual.</p><p>Além disso, nos editais de convocação deve constar, obrigatoriamente:</p><p>a) nas assembleias destinadas à eleição de membros do Conselho de</p><p>Administração, o percentual mínimo de participação no capital votante</p><p>necessário à requisição da adoção de voto múltiplo;</p><p>b) caso, por motivo de força maior, a assembleia não seja realizada no</p><p>edifício onde a companhia tem sede, o local em que a assembleia será</p><p>realizada, que deverá ser no mesmo Município da sede;</p><p>c) caso seja admitida a participação a distância por meio de sistema</p><p>eletrônico, nos termos do artigo 21-C, parágrafo 2º, inciso II, da Instrução</p><p>CVM nº 481/09, informações detalhando as regras e os procedimentos</p><p>sobre como os acionistas podem participar e votar a distância na</p><p>assembleia, incluindo informações necessárias e suficientes para acesso e</p><p>utilização do sistema pelos acionistas, e se a assembleia será realizada parcial</p><p>ou exclusivamente de modo digital.84</p><p>Pode-se dizer que a assembleia digital tem, como marco, o Processo CVM nº</p><p>RJ2008/179485 que, desde 2008, registra a ausência de impedimento legal à transmissão ao vivo</p><p>dos trabalhos da assembleia geral; com a condição de que o seu acesso seja restrito aos titulares</p><p>de ações nominativas, aos titulares de ações escriturais ou em custódia, aos titulares de ações ao</p><p>portador, que devem exibir os respectivos certificados ou documento de depósito, e aos titulares</p><p>de ações escriturais ou em custódia.</p><p>Em 2011, a Lei das Sociedades por Ações foi alterada, passando a permitir, expressamente,</p><p>que, nas companhias de capital aberto, os acionistas pudessem participar das assembleias, exercendo</p><p>voz e voto à distância.</p><p>84 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/</p><p>export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>85 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Processo CVM nº RJ2008/1794. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/</p><p>export/sites/cvm/decisoes/anexos/0004/5973-1.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/decisoes/anexos/0004/5973-1.pdf</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/decisoes/anexos/0004/5973-1.pdf</p><p>59</p><p>Além disso, recentemente, em 2020, a Lei nº 14.030 alterou mais uma vez o parágrafo único</p><p>do art. 121 da Lei nº 6.404/76, ampliando o direito já concedido às companhias de capital aberto</p><p>às de capital fechado, permitindo que todos os acionistas possam participar e votar a distância em</p><p>assembleia geral.</p><p>O órgão competente para proceder a convocação é que irá definir, ao</p><p>realizá-la, se a assembleia geral será presencial, semipresencial ou remota.</p><p>Em situações excepcionais, como a de uma epidemia no local da sede da</p><p>companhia, optar pela assembleia geral presencial pode configurar abuso</p><p>de poder econômico. Mas, em situações normais, quem tem competência</p><p>para convocar a assembleia tem também para livremente estabelecer se ela</p><p>será presencial, semipresencial ou remota.</p><p>Mas, em qualquer uma das hipóteses, é direito do acionista antecipar o seu</p><p>voto por meio de um boletim eletrônico. Se a companhia negligenciou em</p><p>disponibilizar, a tempo, um sistema eletrônico para o preenchimento do</p><p>boletim de voto, o acionista pode enviá-lo por escrito (mensagem de e-</p><p>mail, notificação extrajudicial, etc.).86</p><p>A assembleia digital deve atentar aos termos da Instrução CVM nº 622 e Instrução DREI</p><p>nº 81, de 10 de junho de 2020, que passaram a autorizar que os instrumentos constitutivos,</p><p>modificativos e extintivos sejam assinados digitalmente pelos seus signatários, devendo observar</p><p>que as atas de assembleia e outros documentos sujeitos à arquivamento também possam ser</p><p>assinados eletronicamente pelos seus signatários, com qualquer certificado digital emitido por</p><p>entidade credenciada pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), ou utilizar</p><p>qualquer outro meio de comprovação da autoria e integridade de documentos em forma</p><p>eletrônica, nos termos da Lei nº 14.063, de 2020.</p><p>Ainda no que tange à visão geral da assembleia geral, é importante observar que os incisos VIII,</p><p>IX e X, e o parágrafo único do art. 122 da Lei nº 6.404/76 foram alterados pela Lei nº 14.195/21.</p><p>Entre esses dispositivos, observa-se a determinação no sentido de que o pedido de autofalência ou de</p><p>recuperação judicial deve ser previamente autorizado pelos administradores, podendo,</p><p>excepcionalmente, ser formulado pelos administradores, com anuência do acionista controlador,</p><p>desde que a assembleia geral seja convocada imediatamente para deliberar sobre a questão.</p><p>86 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual., São Paulo: Thomson Reuters</p><p>Brasil, 2021. p. 201. v. 2.</p><p>60</p><p>Verifica-se que a lei buscou assento junto aos precedentes jurisprudenciais, segundo os quais:</p><p>Com efeito, informam os dados do Registro Público de Empresas que a</p><p>Autora é constituída sob a forma de sociedade anônima e, neste caso, exige</p><p>a Lei 6.404/76, autorização, em assembleia geral, convocada e instalada de</p><p>acordo com a lei e o estatuto, para autorizar os administradores a confessar</p><p>falência ou a pedir concordata (art. 122, IX).</p><p>Sintetizando, não conta o requerimento inicial com autorização regular de</p><p>acionistas para o pleito colimado, agindo os seus administradores de forma</p><p>contrária ao disposto na legislação vigente.</p><p>O vício é insanável, faltando condição indispensável ao regular</p><p>prosseguimento da ação, matéria que pode e deve ser conhecida de ofício,</p><p>em qualquer tempo e grau de jurisdição.87</p><p>Agravo. Recuperação judicial. Recurso interposto por acionistas</p><p>minoritários de companhia que integra o 'Grupo Daslu', inconformados</p><p>com a concessão da recuperação judicial. Alegação de violação ao direito</p><p>de veto à transferência da 'Marca Daslu', direito previsto em acordo de</p><p>acionistas, violando o art. 53, III, da LRF, artigos 104, 106 e 187 do CC.</p><p>Os acionistas, minoritários ou majoritários, não podem impedir a</p><p>concessão de recuperação judicial derivada da aprovação do plano pela</p><p>assembleia-geral de credores. As querelas intrassocietárias deverão ser</p><p>dirimidas no palco judicial adequado e não nos lindes do processo de</p><p>recuperação judicial. Os interesses dos acionistas não se sobrepõem ao</p><p>princípio da preservação da empresa e de sua função social, nem aos</p><p>interesses da comunidade de credores. Ausência de interesse e legitimidade</p><p>recursal. Recurso não conhecido (fls. 582-583 e-STJ).88</p><p>Como se verifica, a jurisprudência posta tem encontrado o asseio do legislador na pacificação</p><p>dos requisitos formais.</p><p>87 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp 691.912, 1ª Turma, Min. Teori Zawaski, j. 7.4.2005. D.J.U. 9.5.05, p. 311. Disponível em:</p><p>https://www.mpam.mp.br/centros-de-apoio-sp-947110907/civel/artigos/fundacoes-e-massas-falidas/</p><p>2693-necessidade-de-deliberacao-social-acerca-do-pedido-de-recuperacao-judicial-ou-de-autofalencia. Acesso em: maio 2024.</p><p>88 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. RECURSO ESPECIAL Nº 1.539.445-SP (2015/0045669-6). Disponível em:</p><p>https://www.conjur.com.br/dl/acionistas-nao-impedir-recuperacao.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>https://www.mpam.mp.br/centros-de-apoio-sp-947110907/civel/artigos/fundacoes-e-massas-falidas/2693-necessidade-de-deliberacao-social-acerca-do-pedido-de-recuperacao-judicial-ou-de-autofalencia</p><p>https://www.mpam.mp.br/centros-de-apoio-sp-947110907/civel/artigos/fundacoes-e-massas-falidas/2693-necessidade-de-deliberacao-social-acerca-do-pedido-de-recuperacao-judicial-ou-de-autofalencia</p><p>https://www.conjur.com.br/dl/acionistas-nao-impedir-recuperacao.pdf</p><p>61</p><p>Assembleia geral ordinária</p><p>A assembleia geral ordinária (AGO) deve ser realizada, em regra, anualmente, sempre até o fim</p><p>do quarto mês seguinte ao término do exercício social, tendo como pauta: (i) a tomada de contas dos</p><p>administradores, momento em que estas devem ser examinadas, discutidas e votadas, considerando as</p><p>demonstrações financeiras; (ii) a deliberação sobre a destinação da aplicabilidade do lucro líquido do</p><p>exercício e a distribuição de dividendos auferidos; (iii) a eleição dos administradores e dos membros do</p><p>conselho fiscal, observadas as regras legais; e (iv) a aprovação da correção da expressão monetária do</p><p>capital social, considerando os termos do art. 167 da Lei nº 6.404/76.</p><p>A competência para a convocação recai sobre o conselho de administração, se houver, ou à</p><p>diretoria, na inexistência do primeiro (art. 138, § 2º, Lei nº 6.404/76).</p><p>A AGO poderá, porém, ser convocada pelo conselho fiscal se os órgãos da administração</p><p>retardarem por mais de um mês a convocação no prazo estipulado pelo art. 132 da Lei nº 6.404/76. A</p><p>lei ainda assegura o direito de qualquer acionista a convocar, se os administradores forem omissos na</p><p>sua responsabilidade legal e retardarem por mais de 60 dias a sua convocação. Nesses termos, a lei</p><p>protege acionistas minoritários que representem 5%, no mínimo, do capital social (votante ou não</p><p>votante), sempre que os administradores, no prazo de oito dias, não atenderem ao pedido de convocação</p><p>da AGO apresentado de forma fundamentado e nos termos da lei.</p><p>Em decorrência da recente atualização da Lei nº 6.404/76, a convocação da AGO será</p><p>feita mediante anúncio publicado por três vezes, no mínimo, informando o local, a data e a</p><p>hora da assembleia, além da ordem do dia e, no caso de reforma do estatuto, da indicação da</p><p>matéria a ser revisitada.</p><p>A primeira convocação da AGO deverá ser feita com vinte e um dias de antecedência, e a segunda</p><p>convocação, com oito dias de antecedência, em se tratando de companhia aberta. Na companhia</p><p>fechada, a convocação deverá ser realizada com oito dias de antecedência, no mínimo; não se realizando</p><p>a assembleia, deve ser publicado novo anúncio com antecedência mínima de cinco dias.</p><p>A Comissão de Valores Mobiliários tem legitimidade para determinar, fundamentadamente,</p><p>o adiamento de assembleia geral por até 30 (trinta) dias, verificada a insuficiência de informações</p><p>necessárias para a deliberação. A decisão será tomada a critério da CVM por decisão fundamentada</p><p>do seu colegiado, atendendo a pedido de qualquer acionista, realizando oitiva da companhia.</p><p>A assembleia geral deverá ser instalada, em primeira convocação, com a presença de acionistas</p><p>que representem, no mínimo, 1/4 (um quarto) do total de votos conferidos pelas ações com direito</p><p>a voto e, em segunda convocação, com qualquer número. É lícito aos acionistas sem direito de voto</p><p>comparecerem à assembleia geral e discutir a matéria submetida à deliberação, devendo eximirem-</p><p>se de votar, salvo nas exceções legais.</p><p>As deliberações serão tomadas por maioria absoluta de votos, desconsiderando-se os votos</p><p>em branco.</p><p>É lícito que o estatuto da companhia de capital fechado estipule o aumento do quórum a ser</p><p>exigido para determinadas deliberações, devendo nesses casos especificar as matérias.</p><p>62</p><p>Em casos de empate, caso o estatuto não estabeleça procedimento de arbitragem e não</p><p>contenha norma diversa, convocar-se-á nova assembleia com intervalo mínimo de dois meses, para</p><p>deliberação sobre o ponto em controverso. Mantendo-se o empate, pode-se relegar a decisão a um</p><p>terceiro ou submeter a questão ao crivo do Poder Judiciário.</p><p>Assembleia geral extraordinária</p><p>A pauta da assembleia geral extraordinária (AGE) é definida por lei e por exclusão, ou seja, o</p><p>que não for de competência da AGO, em regra, será da AGE, salvo o que for de competência da</p><p>assembleia de constituição e da assembleia especial que têm propósitos específicos. Por exemplo,</p><p>será objeto da AGE a reforma do estatuto.</p><p>A lei não define objetivamente a competência para a convocação da AGE, de forma que a</p><p>competência precípua será do conselho de administração, cabendo essa competência ao conselho</p><p>fiscal sempre que ocorrerem motivos graves ou urgentes, conforme se verifica na parte</p><p>91</p><p>Cisão .......................................................................................................................................... 94</p><p>BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 97</p><p>PROFESSORES-AUTORES ................................................................................................................... 102</p><p>PABLO GONÇALVES E ARRUDA ................................................................................................... 102</p><p>Formação acadêmica ........................................................................................................... 102</p><p>Experiências profissionais ................................................................................................... 102</p><p>Publicações ............................................................................................................................ 102</p><p>SAULO BICHARA MENDONÇA ..................................................................................................... 104</p><p>Formação acadêmica ........................................................................................................... 104</p><p>Experiências profissionais ................................................................................................... 104</p><p>Publicações ............................................................................................................................ 104</p><p>Caracterizamos as sociedades por ações como instrumentos societários eficientes no sentido</p><p>de viabilizar a concentração de recursos financeiros necessários para a concretização de grandes</p><p>empreendimentos, sendo esse arrimo do poder na grande empresa que tem na persecução do lucro</p><p>a efetiva função social da empresa,1 assertiva confirmada a partir da leitura de Nelson Eizirik,</p><p>segundo o qual: “No direito brasileiro, a sociedade anônima pressupõe sempre a intenção de lucro”.2</p><p>A Lei das Sociedades por Ações (LSA), Lei nº 6.404/76, sofreu diversas atualizações nos</p><p>últimos anos, reforçando o objetivo de proteger os acionistas minoritários bem como viabilizar uma</p><p>efetiva governança corporativa, a implementação de tecnologias que contribuam para a realização</p><p>de assembleias e reuniões de sociedades anônimas, e outras inovações.</p><p>Noções introdutórias</p><p>O cerne das sociedades por ações remete à participação da Casa di San Giorgio na República</p><p>Gênova na guerra travada contra Veneza, em que a primeira cedia valores à referida instituição que</p><p>os convertia em títulos de renda registrados no Banco di San Giorgio.</p><p>1 MENDONÇA, Saulo Bichara. Função social da empresa: análise pragmática. Revista de Estudos Jurídicos, a.16, n.23, 2012. Disponível</p><p>em: https://ojs.franca.unesp.br/index.php/estudosjuridicosunesp/article/view/479/643. Acesso em: maio 2024.</p><p>2 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 34. v. 1.</p><p>MÓDULO I – TEORIA GERAL DA SOCIEDADE</p><p>POR AÇÕES</p><p>https://ojs.franca.unesp.br/index.php/estudosjuridicosunesp/article/view/479/643</p><p>6</p><p>A Casa di San Giorgio (1407 - 1805), empresa bancária criada no século</p><p>XV para o financiamento público do principado de Gênova, viria a se</p><p>tornar um agente central na capitalização de empreendimentos comerciais</p><p>que caracterizaram uma parte final da primeira fase sistêmica do</p><p>desenvolvimento do Capitalismo Mercantil [...].3</p><p>A despeito de se verificar a defesa de proposituras doutrinárias4 no sentido de que a origem das</p><p>sociedades por ações remonta ao Direito Romano – quando associações mercantis eram instituídas</p><p>com objetivos de praticar o comércio por via terrestre e marítima bem como a compra de terras para</p><p>a edificação e o guarnecimento de exércitos, vindo a se aprimorar na Idade Média – boa parte dos</p><p>autores5 adota a premissa de “estudiosos que apontam, como a experiência mais antiga no domínio</p><p>das sociedades anônimas, o Banco de S. Jorge, em Gênova, que operou entre 1407 e 1805”.6</p><p>Em solo pátrio, o início do Império registra também o início do desenvolvimento de</p><p>atividades comerciais por meio das sociedades de capitais, por exemplo, o Banco do Brasil,</p><p>constituído em 1808 mediante alvará subscrito pelo Príncipe Regente D. João VI, segundo consta:</p><p>“O capital da instituição seria constituído de 1.200 ações de um conto de réis cada uma. O</p><p>lançamento público destinava-se à subscrição por grandes negociantes ou pessoas abastadas”.7</p><p>Posteriormente, um decreto do Imperador instituiu o sistema autorizativo para a instituição</p><p>de sociedades por ações, o que foi reproduzido pelo Código Comercial de 1850, mas “em 1882, a</p><p>autorização governamental foi abolida, e o direito brasileiro, acompanhando a tendência dos países</p><p>centrais do capitalismo, incorporou o sistema de regulamentação”.8</p><p>3 SOUZA, Luiz Eduardo Simões de; MACHADO, Beatriz Lima. A Casa di San Giorgio: notas sobre as instituições e finanças da</p><p>fase genovesa do ciclo sistêmico mercantil, a partir do Statuto de 1568. Disponível em: http://www.abphe.org.br/</p><p>uploads/ABPHE%202017/1%20A%20Casa%20di%20San%20Giorgio%20notas%20sobre%20as%20institui%C3%A7%C3%B5</p><p>es%20e%20finan%C3%A7as%20da%20fase%20genovesa%20do%20ciclo%20sist%C3%AAmico%20mercantil,%20a%20part</p><p>ir%20do%20Statuto%20de%201568.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>4 MENDONÇA, José Xavier Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1954. p.</p><p>270. v. 3.</p><p>5 VALVERDE, Trajano de Miranda. Sociedade por ações. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1953. p. 10. v. 1.</p><p>REQUIÃO, Rubens Edmundo. Curso de direito comercial. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 25. v. 2.</p><p>BORGES, Eunápio. Curso de direito comercial terrestre. 5. ed. Rio de Janeiro; Forense, 1991. p. 360-361.</p><p>6 CORDEIRO, António Menezes. Manual de direito das sociedades. Coimbra: Almedina, 2004, p. 38. v. 1.</p><p>7 BANCO DO BRASIL. Relatório Anual Banco do Brasil. 2004.. Disponível em: https://www.bb.com.br/docs/pub/siteEsp/</p><p>ri/pt/dce/dwn/RA2004.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>8 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 87. v. 2.</p><p>http://www.abphe.org.br/uploads/ABPHE%202017/1%20A%20Casa%20di%20San%20Giorgio%20notas%20sobre%20as%20institui%C3%A7%C3%B5es%20e%20finan%C3%A7as%20da%20fase%20genovesa%20do%20ciclo%20sist%C3%AAmico%20mercantil,%20a%20partir%20do%20Statuto%20de%201568.pdf</p><p>http://www.abphe.org.br/uploads/ABPHE%202017/1%20A%20Casa%20di%20San%20Giorgio%20notas%20sobre%20as%20institui%C3%A7%C3%B5es%20e%20finan%C3%A7as%20da%20fase%20genovesa%20do%20ciclo%20sist%C3%AAmico%20mercantil,%20a%20partir%20do%20Statuto%20de%201568.pdf</p><p>http://www.abphe.org.br/uploads/ABPHE%202017/1%20A%20Casa%20di%20San%20Giorgio%20notas%20sobre%20as%20institui%C3%A7%C3%B5es%20e%20finan%C3%A7as%20da%20fase%20genovesa%20do%20ciclo%20sist%C3%AAmico%20mercantil,%20a%20partir%20do%20Statuto%20de%201568.pdf</p><p>http://www.abphe.org.br/uploads/ABPHE%202017/1%20A%20Casa%20di%20San%20Giorgio%20notas%20sobre%20as%20institui%C3%A7%C3%B5es%20e%20finan%C3%A7as%20da%20fase%20genovesa%20do%20ciclo%20sist%C3%AAmico%20mercantil,%20a%20partir%20do%20Statuto%20de%201568.pdf</p><p>https://www.bb.com.br/docs/pub/siteEsp/ri/pt/dce/dwn/RA2004.pdf</p><p>https://www.bb.com.br/docs/pub/siteEsp/ri/pt/dce/dwn/RA2004.pdf</p><p>7</p><p>Em 1965, uma reforma governamental alterou o procedimento do mercado de capitais e</p><p>passou a exigir o registro prévio no Banco Central de títulos emitidos por sociedades anônimas,</p><p>negociáveis em bolsa de valores. Porém, no início da década de 1970, verificou-se fragilidade desse</p><p>sistema de monitoramento governamental, os efeitos do boom de 1971, decorrente da especulação</p><p>realizada nas bolsas de valores de São Paulo e Rio de Janeiro.</p><p>Os prejuízos financeiros e o descrédito do sistema de investimento foram os pressupostos</p><p>materiais para a formalização de um sistema autorizativo mais complexo, instituído com a criação</p><p>da Comissão</p><p>final do inc.</p><p>V do art. 163, da Lei nº 6.404/76.</p><p>A AGE se instalará, em primeira convocação, com a presença de acionistas que representem,</p><p>no mínimo, 2/3 (dois terços) dos acionistas ordinarialistas e, em segunda convocação, com</p><p>qualquer número.</p><p>É imprescindível a aprovação de acionistas que representem metade, no mínimo, do total dos</p><p>votos dos acionistas ordinarialistas, salvo se maior quórum for exigido pelo estatuto social da</p><p>companhia de capital aberto.</p><p>A Comissão de Valores Mobiliários tem legitimidade para autorizar a redução do quórum</p><p>previsto no art. 136 da Lei nº 6.404/76, atentando aos termos do § 2º do referido dispositivo legal.</p><p>Nesse caso, a autorização da Comissão de Valores Mobiliários deverá constar nos avisos de</p><p>convocação e a deliberação com quórum reduzido somente poderá ser adotada em terceira</p><p>convocação. Essa exceção é aplicável também às assembleias especiais de acionistas preferenciais de</p><p>que trata o § 1º do referido art. 136.</p><p>A lei ainda garante ao acionista o direito de recessão (art. 109, V, da Lei nº 6.404/76)</p><p>mediante reembolso das suas ações, conforme estudado no item Reembolso deste estudo, quando se</p><p>verificar a aprovação das matérias previstas nos incs. I a VI e IX do art. 136 da Lei nº 6.404/76.</p><p>Assembleia especial</p><p>As assembleias especiais são destinadas ao atendimento de demandas de acionistas que sejam</p><p>titulares de determinada classe ou espécie de ação, bem como as demandas de investidores que sejam</p><p>detentores de títulos emitidos pela companhia, como debêntures ou partes beneficiárias.</p><p>63</p><p>Este tipo de assembleia será instituída com pauta específica sempre que tais agentes</p><p>econômicos precisem deliberar sobre assuntos do seu interesse, a saber:</p><p>(i) assembleia especial de acionistas titulares de ações em circulação no</p><p>mercado (artigo 4º-A); (ii) assembleia especial de acionistas titulares de</p><p>ações de classe atingida por resgate (artigo 44, § 6º); (iii) assembleia</p><p>especial dos titulares de partes beneficiárias (artigos 51 e 57, § 2º); (iv)</p><p>assembleia especial de debenturistas (artigos 71 e 174, § 3º; e (v)</p><p>assembleia especial de preferencialistas (artigos 18 e 136, §§ 1º e 4º).89</p><p>No que tange à convocação destas assembleias, está representa, igualmente um dever do</p><p>conselho de administração ou de quaisquer legitimados para exercer o ato convocatório, restando</p><p>pacífico que a sua configuração se dá pelo ato formal da reunião de acionistas, debenturistas ou</p><p>portadores de partes beneficiárias, conforme o teor da pauta, com o propósito específico de deliberar</p><p>sobre matérias determinadas atinentes ao interesse societário.</p><p>Assembleia de constituição</p><p>A assembleia de constituição, definida no art. 87 da Lei nº 6.404/76, instalar-se-á, em</p><p>primeira convocação, com a presença de acionistas subscritores que representem, no mínimo,</p><p>metade do capital social, independentemente da espécie ou classe das ações, e, em segunda</p><p>convocação, com qualquer número.</p><p>Cada ação, nesta assembleia especificamente, independentemente da sua espécie ou classe, dá</p><p>direito a um voto, sendo que a maioria não tem poder para alterar o projeto de estatuto.</p><p>Esta assembleia será presidida por um dos fundadores e secretariada por um acionista</p><p>subscritor, quando será lido o recibo de depósito de que trata o inc. III do art. 80, bem como</p><p>discutido e votado o projeto de estatuto que passará a vigorar.</p><p>Assim, ao término desta assembleia, ter-se-ão eleitos os primeiros administradores e</p><p>registrados os atos constitutivos em ata a ser encaminhada para o RPEM a cargo das juntas</p><p>comerciais para conclusão dos procedimentos de constituição da companhia, consoante se verificou</p><p>no item Constituição da companhia deste estudo.</p><p>89 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 29. v. 2.</p><p>64</p><p>Conselho de administração</p><p>O conselho de administração é o órgão executivo da companhia, juntamente com a diretoria,</p><p>que poderá atuar em conjunto ou fará dela as funções deste quando se verificarem condições que</p><p>autorizem a sua não composição, conforme se verifica no § 2º do art. 138 da Lei nº 6.404/76.</p><p>Assim, o conselho de administração representa um órgão de deliberação colegiada, cabendo</p><p>privativamente à diretoria a apresentação90 da companhia.</p><p>Destarte, atentando aos termos do estatuto social, a administração da companhia será</p><p>desenvolvida pelo conselho de administração e pela diretoria, ou somente pela diretoria, sendo</p><p>vedada, às companhias de capital aberto, a acumulação do cargo de presidente do conselho de</p><p>administração e do cargo de diretor-presidente ou de principal executivo da companhia.</p><p>A presente vedação pode ser excepcionada pela Comissão de Valores Mobiliários, por meio</p><p>de ato normativo expedido em favor das companhias de menor porte, assim definidas pelo art. 294-</p><p>B da Lei nº 6.404/76.</p><p>O conselho de administração deve ser constituído por, no mínimo, 3 (três) membros, eleitos</p><p>pela assembleia geral para um mandado de três anos, permitida a reeleição. Observa-se, contudo,</p><p>que os conselheiros de administração podem ser destituíveis a qualquer tempo, de forma motivada</p><p>ou não, pela assembleia geral.</p><p>A Lei nº 14.195/21 alterou a Lei nº 6.404/76 e passou a permitir que o estatuto social</p><p>autorize a participação no referido conselho de representantes dos empregados. Nesse caso, estes</p><p>devem ser escolhidos por meio de voto dos próprios empregados, em uma eleição direta, organizada</p><p>pela empresa, em conjunto com as entidades sindicais que os representam.</p><p>A alteração legal também passou a determinar, como obrigatório que, na composição do conselho</p><p>de administração das companhias de capital aberto, haja participação de conselheiros independentes,</p><p>atentando aos termos e prazos a serem definidos pela Comissão de Valores Mobiliários.</p><p>Caberá ao estatuto devendo o estatuto estabelecer: (i) a quantidade de conselheiros, indicando</p><p>o número máximo e mínimo, bem como o processo de escolha e substituição do presidente do</p><p>conselho, se se dará pela assembleia ou pelo próprio conselho; (ii) a forma de substituição dos</p><p>conselheiros; (iii) o prazo do mandato de gestão, limitado a três anos, sendo válida a reeleição; e (iv)</p><p>as normas sobre convocação, instalação e funcionamento do conselho, registrando que este deliberará</p><p>sempre por maioria de votos, sendo permitido ao estatuto social estipular quórum qualificado para</p><p>determinados pontos de deliberação, sendo imprescindível que sejam especificadas as matérias.</p><p>90 Neste momento, vale uma ressalva, considerando que, comumente, verificam-se assertivas no sentido de que à diretoria</p><p>cabe a representação da companhia, mas entende-se que mais técnico seria falar em presentação, considerando que: (i) a</p><p>representação é função desenvolvida em atenção aos interesses dos incapazes na forma do art. 3º do CC, tão somente; e</p><p>(ii) a companhia, tão logo seja constituída de forma regular, adquire capacidade jurídica, autonomia patrimonial e</p><p>legitimidade processual. Portanto, não seria correto atribuir-lhe um representante, visto que, como se disse, essa função é</p><p>desenvolvida em atenção aos interesses dos incapazes, o que não é o caso. Logo, os que emprestam a sua voz às</p><p>companhias (pessoas jurídicas regulamente constituídas, de forma geral) são em verdade os seus presentantes, pois</p><p>apenas a tornam presentes, devendo, inclusive responder quando agirem como dolo em desrespeito à lei ou ao estatuto</p><p>social, ignorando, mesmo que de boa-fé os melhores interesses da companhia.</p><p>65</p><p>O estatuto social poderá prever a participação de representantes dos empregados no</p><p>conselho de administração. Neste caso, serão escolhidos pelo voto dos empregados, em eleição</p><p>direta, organizada pela empresa, em conjunto com as entidades sindicais que os representem. Esta</p><p>pode ser uma das formas de se promover a recuperação da empresa, por exemplo, considerando</p><p>os termos do art. 50, V, X e XIV da Lei nº 11.101/05 (que também sofreu</p><p>pequena alteração pela</p><p>Lei nº 14.112/202091).</p><p>Na composição do conselho de administração, a lei autoriza a eleição de pessoas naturais e</p><p>exige que os diretores sejam residentes no País (considerando alteração pela Lei nº 12.431, de 24</p><p>de junho de 2011).</p><p>Apenas pessoas naturais podem ser eleitas como membros dos órgãos de administração das</p><p>sociedades por ações. É vedada, contudo, a acumulação do cargo de presidente do conselho de</p><p>administração e do cargo de diretor-presidente ou principal executivo da companhia, salvo se a</p><p>companhia tiver auferido receita bruta consolidada inferior a R$ 500.000.000,00 (quinhentos</p><p>milhões de reais), nos termos do art. 294-B da Lei 6.404/76 (art. 4º, Resolução CVM nº 168, de</p><p>20 de setembro de 2022).</p><p>Recentes alterações realizadas pela Lei nº 14.195/21 ainda determinam que a posse de</p><p>administrador residente ou domiciliado no exterior deve ser condicionada à constituição de</p><p>representante residente no País. Tal representante deve ter mandato com poderes para até três anos</p><p>após o término do prazo de gestão do administrador, no mínimo, devendo poder receber citações</p><p>em processos movidos contra ele e propostos com base na legislação societária e citações e</p><p>intimações em processos administrativos, instaurados pela Comissão de Valores Mobiliários, no</p><p>caso de exercício de cargo de administração em companhia aberta.</p><p>91 “Art. 50. ...</p><p>XVII - conversão de dívida em capital social;</p><p>XVIII - venda integral da devedora, desde que garantidas aos credores não submetidos ou não aderentes condições, no</p><p>mínimo, equivalentes àquelas que teriam na falência, hipótese em que será, para todos os fins, considerada unidade</p><p>produtiva isolada.</p><p>...</p><p>§ 3º Não haverá sucessão ou responsabilidade por dívidas de qualquer natureza a terceiro credor, investidor ou novo</p><p>administrador em decorrência, respectivamente, da mera conversão de dívida em capital, de aporte de novos recursos na</p><p>devedora ou de substituição dos administradores desta.</p><p>§ 4º O imposto sobre a renda e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) incidentes sobre o ganho de capital</p><p>resultante da alienação de bens ou direitos pela pessoa jurídica em recuperação judicial poderão ser parcelados, com</p><p>atualização monetária das parcelas, observado o seguinte:</p><p>I - o disposto na Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002; e</p><p>II - a utilização, como limite, da mediana de alongamento no plano de recuperação judicial em relação aos créditos a ele</p><p>sujeitos.</p><p>§ 5º O limite de alongamento de prazo a que se refere o inciso II do § 4º deste artigo será readequado na hipótese de</p><p>alteração superveniente do plano de recuperação judicial.” (NR)</p><p>66</p><p>Como se verificou no item Voto múltiplo, a eleição dos membros do conselho de administração</p><p>pode ocorrer pelo expediente do voto múltiplo, otimizando o voto dos acionistas minoritários.</p><p>Depois da eleição, a ata da AGO ou da reunião do conselho de administração onde for</p><p>registrada a eleição dos administradores deverá ainda indicar a qualificação destes e o prazo de</p><p>duração do período de gestão pelo qual ficaram empossados no cargo, devendo, assim, ser arquivada</p><p>na junta comercial à margem da inscrição da companhia e publicada, tornando-se oponível a</p><p>terceiros de boa-fé.</p><p>Ressalta-se que a responsabilidade dos administradores são orientadas, inicialmnete, pelos</p><p>arts. 158 e 159, da Lei nº 6.404/1976. A despeito disso, há quem ressalte dúvidas acerca da</p><p>operacionalização da ação de responsabilização movida pelos acionistas minoritários. “De forma</p><p>concreta, discute-se sobre a necessidade ou não de prévia aprovação da assembleia geral da</p><p>companhia para que os acionistas minoritários [...] possam deflagrar a ação [...]” (DEFANTI;</p><p>NABUCO; SEIXO, 2023).</p><p>Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça se deparou com essas questões</p><p>ao analisar conflito entre dois procedimentos arbitrais - o primeiro</p><p>instaurado por acionistas minoritários da Companhia em face de seus</p><p>controladores, atuando em nome da S.A. com fulcro no art. 246 da LSA; o</p><p>segundo deflagrado anos mais tarde pela própria Companhia, também em</p><p>face de seus controladores ex-administradores, com fulcro no art. 246 e 159</p><p>da LSA, respectivamente. (DEFANTI; NABUCO; SEIXO, 2023).</p><p>Ressalta-se, por oportuno, que em razão da nova redação atribuída ao art. 284 da Lei nº</p><p>6.404/76 pela Lei nº 14.195/21, não se aplica à sociedade em comandita por ações o disposto sobre</p><p>conselho de administração.</p><p>Diretoria</p><p>À diretoria, como dito no item Conselho de administração, cabe apresentação da companhia.</p><p>Assim, sendo silente o estatuto social e inexistindo deliberação do conselho de administração na forma</p><p>do art. 142, II e parágrafo único da Lei nº 6.404/76, qualquer diretor poderá presentar a companhia</p><p>praticando os atos imprescindíveis e necessários ao desenvolvimento regular da atividade empresária.</p><p>Dessa forma, verifica-se que a legislação societária brasileira adota o modelo dualista de</p><p>administração para sociedades por ações.</p><p>A diretoria deve ser composta por um ou mais membros eleitos e destituíveis a qualquer</p><p>tempo pelo conselho de administração ou pela assembleia geral, se inexistente o conselho de</p><p>administração, atentando às diretrizes do estatuto social.</p><p>67</p><p>Os diretores, para tanto, poderão constituir mandatários, especificando no instrumento</p><p>próprio os atos ou as operações que lhes serão autorizados praticar e o tempo de duração do</p><p>mandato, podendo o mandato judicial perdurar por prazo indeterminado, consoante se depreende</p><p>da leitura do art. 144 e do parágrafo único da Lei nº 6.404/76.</p><p>A diretoria será composta de, no mínimo, dois diretores, que devem ser eleitos e podem ser</p><p>destituíveis a qualquer tempo pelo conselho de administração; ou, se inexistente, como permite o</p><p>§ 2º do art. 138 da Lei nº 6.404/76, pela assembleia.</p><p>“Os diretores compõem órgão da companhia, decorrendo suas atribuições das normas legais</p><p>e estatutárias, não de mandato, contrato de trabalho ou de prestação de serviços”.92 Considerando</p><p>esse fato, o estatuto social deverá estabelecer: (i) o número mínimo e máximo de diretores</p><p>permitidos; (ii) a forma da sua substituição; (iii) o prazo de duração do seu mandato de gestão, não</p><p>superior a três anos, sendo lícita a sua reeleição; e (iv) as atribuições e os poderes de cada diretor</p><p>especificamente, conforme se verifica na leitura do art. 143 da Lei nº 6.404/76.</p><p>As companhias de capital aberto e as de capital autorizado, que terão conselho de</p><p>administração, obrigatoriamente, poderão ter, até o máximo de 1/3 (um terço) dos seus membros</p><p>eleitos para cargos de diretores.</p><p>Conselho fiscal</p><p>O conselho fiscal é um órgão de existência obrigatória, mas de funcionamento permanente</p><p>ou facultativo, devendo o estatuto social dispor sobre a forma da sua atuação nos exercícios sociais</p><p>em que for instalado a pedido de acionistas.</p><p>Quando o seu funcionamento for eventual, deverá ser instalado pela assembleia, atendendo</p><p>ao pedido de acionistas que representem, no mínimo, 10 % do total das ações com direito ao voto,</p><p>ou 5% das ações sem direito ao voto.</p><p>Chama-se a atenção para a possibilidade de acionistas minoritários</p><p>alcançarem o quórum para a instalação do Conselho Fiscal, e, no entanto,</p><p>não atingirem o percentual exigido, nos termos do artigo 161, parágrafo 4º,</p><p>Lei nº 6.404/76, para a eleição de um candidato. Nesses casos, conforme</p><p>decisão do Colegiado da CVM, se o quórum previsto no dispositivo</p><p>mencionado não for atingido, o acionista controlador não é obrigado a</p><p>participar da eleição dos membros do Conselho Fiscal, estando tal eleição a</p><p>cargo dos acionistas presentes, qualquer que seja a sua participação</p><p>(Processos RJ2007/3246 e RJ2006/5701, Reg. 5489/07, Rel. Presidente</p><p>Marcelo Fernandes Trindade, j. 10.7.200749).93</p><p>92 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada. arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 297. v. 2.</p><p>93 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em:</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/</p><p>export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>68</p><p>Na composição do conselho fiscal, serão observadas as seguintes normas: (i) os titulares de</p><p>ações sem direito a voto terão direito de eleger um membro e o respectivo suplente, por votação em</p><p>separado; o mesmo direito alcança os acionistas minoritários que representem, mesmo que em</p><p>conjunto, 10% ou mais das ações com direito ao voto; (ii) os demais acionistas com direito a voto</p><p>poderão eleger membros efetivos e suplentes em quantidade igual à dos eleitos na primeira</p><p>condição, acrescida de um membro efetivo e um suplente.</p><p>Acionado, o conselho fiscal permanecerá em funcionamento até a primeira AGO depois</p><p>da sua instalação.</p><p>O conselho fiscal pode ser qualificado como órgão, dada a forma de</p><p>eleição, substituição e destituição de seus integrantes, bem como por suas</p><p>deliberações serem tomadas mediante voto; ademais, nele vige o princípio</p><p>majoritário, o qual é temperado pela possibilidade de atuação individual</p><p>dos conselheiros, nos casos previstos na Lei das S.A.94</p><p>A assembleia elegerá o mínimo de três e o máximo de cinco membros, acionistas ou não, para</p><p>compor o conselho fiscal, com o mesmo número de suplentes, sendo essa função indelegável.</p><p>Trata-se o conselho fiscal de um órgão colegiado, a deliberação segundo</p><p>princípios majoritários, o qual é “temperado” mediante previsão da</p><p>atuação individual de seus membros. Com efeito, a existência de poderes</p><p>individuais dos conselheiros visa a impedir que algum acionista</p><p>controlador, que pode eleger a maioria dos membros do conselho fiscal,</p><p>eventualmente frustre a atuação fiscalizadora do conselho fiscal para</p><p>acobertar a atuação dos administradores.</p><p>A composição heterogênea do conselho fiscal, que se manifesta na origem</p><p>de seus membros, apenas faz sentido se for conferida a cada um deles a</p><p>possibilidade de atuar individualmente. Se o órgão apresentasse uma feição</p><p>puramente colegiada, decidindo sempre pela maioria e sem a possibilidade</p><p>de atuação singular de seus membros, os conselheiros não poderiam, em</p><p>alguns casos, exercer as funções para as quais foram eleitos, já que sempre</p><p>prevaleceria a vontade dos controladores.95</p><p>94 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 427. v. 2.</p><p>95 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 445. v. 2.</p><p>69</p><p>A competência do conselho fiscal alcança atos de: (i) fiscalização dos atos dos administradores;</p><p>(ii) emissão de parecer sobre o relatório anual da administração a ser considerado pela AGO na</p><p>tomada das contas; (iii) opinião sobre propostas apresentadas por órgãos da administração</p><p>submetidas à assembleia, que versem sobre modificação do capital social, emissão de debêntures ou</p><p>bônus de subscrição, planos de investimento ou orçamentos de capital, distribuição de dividendos,</p><p>transformação, incorporação, fusão ou cisão; (iv) denúncia aos órgãos de administração e à</p><p>assembleia, em caso de omissão dos primeiros, erros, fraudes ou crimes, bem como sugestão de</p><p>providências; (v) convocação da AGO em caso de omissão dos órgãos da administração que sejam</p><p>flagrantemente omissos mediante determinação do art. 123 da Lei nº 6.404/76; (vi) convocação da</p><p>AGE quando verificarem motivos graves ou urgentes; (vii) análise de demonstrações financeiras</p><p>elaboradas periodicamente pela companhia; (viii) emissão de parecer opinativo sobre demonstrações</p><p>financeiras do exercício social examinadas; (ix) exercício de todas essas atribuições durante o</p><p>procedimento de liquidação.</p><p>Publicações empresariais obrigatórias</p><p>As publicações dos atos e dos resultados proporcionados pela companhia tem os seus prazos</p><p>e formas regulamentados pela Lei nº 6.404/76, que determina que as publicações sejam feitas no</p><p>órgão oficial do lugar em que esteja situada a sede da companhia e em outro jornal de grande</p><p>circulação editado na localidade em que está situada a sede da companhia.</p><p>A despeito de não caber ao DREI definir quais jornais são considerados de grande circulação,</p><p>cabe observar que a Instrução Normativa DREI nº 81, de 10 de junho de 2020 (Art. 10-B),</p><p>autoriza, sem prejuízo da obrigação de manter e autenticar os livros contábeis, conforme previsão</p><p>da Instrução Normativa DREI nº 82, de 19 de fevereiro de 2022, que o balanço patrimonial, com</p><p>natureza de documento de interesse, possa ser arquivado.</p><p>Frisa-se que a divulgação de informações pelas companhias abertas, seja com base em dados</p><p>contábeis, seja em dados não contábeis, demanda cuidados que devem ser observados pelos seus</p><p>administradores, visando à preservação da qualidade das informações que são dirigidas aos</p><p>investidores no mercado de capitais.</p><p>70</p><p>A relevância desse tema está atrelada ao fato de que as informações atinentes à gestão da</p><p>companhia influenciam as decisões econômicas dos investidores.</p><p>As medições e informações não contábeis compreendem todas as informações</p><p>que não sejam uma representação estruturada da informação contábil prevista</p><p>nos Pronunciamentos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis</p><p>– CPC e aprovados pela Comissão de Valores Mobiliários, mas que</p><p>competem com os mesmos propósitos das chamadas demonstrações contábeis</p><p>de propósito geral, nos termos do item 9 do Pronunciamento Técnico CPC</p><p>26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis. [...]</p><p>Um exemplo dessas informações é a relativa ao lucro antes dos juros,</p><p>imposto de renda, depreciação e amortização – LAJIDA (EBITDA –</p><p>earnings before interest, taxes, depreciation and amortization) e ao lucro antes</p><p>dos juros e imposto de renda – LAJIR (EBIT – earnings before interest and</p><p>tax). A menção a esses conceitos pode ocorrer nos comentários dos</p><p>diretores no formulário de referência (Resolução CVM nº 80/22), no</p><p>relatório da administração, em prospectos, press releases, comunicados ou</p><p>outros documentos públicos.</p><p>A divulgação dessas informações não contábeis, para que seja preservada a</p><p>qualidade da informação dirigida ao público, deve merecer o mesmo</p><p>tratamento e cuidado despendidos às informações contábeis. Nesse</p><p>sentido, observou-se à época da emissão da Instrução CVM nº 527/12 que</p><p>a informação do LAJIDA e do LAJIR estava sendo elaborada e divulgada</p><p>de forma muito particular pelas companhias abertas e divergente entre elas.</p><p>Essa situação pode tornar difícil a compreensão tanto da formação do</p><p>número apresentado quanto da sua integração ou conciliação com os</p><p>outros números da demonstração do resultado. Em muitos casos, é</p><p>relevante observar que os números informados não são comparáveis com</p><p>as informações prestadas por outras companhias abertas.</p><p>Dessa forma, a preocupação da CVM à época, que motivou a emissão da</p><p>Instrução CVM nº 527, hoje Resolução CVM nº 156/22, pautou-se na</p><p>compreensibilidade e comparabilidade do indicador divulgado ao</p><p>mercado, cujos principais comandos pretende-se esmiuçar nesta Nota</p><p>Explicativa, para a sua melhor compreensão e aplicação.96</p><p>96 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Nota Explicativa à Resolução CVM nº 156, de 23 de junho de 2022. Disponível em:</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/notas-explicativas/nota_resol156.html. Acesso em: maio 2024.</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/notas-explicativas/nota_resol156.html</p><p>71</p><p>A Medida Provisória nº 892, de 5 de agosto de 2019, alterou a redação do art. 289 da lei</p><p>em tela, passando a determinar que as publicações necessárias nos termos da Lei das Sociedades</p><p>por Ações passassem a ser feitas nos sítios eletrônicos da Comissão de Valores Mobiliários e da</p><p>entidade administradora do mercado em que os valores mobiliários da companhia estiverem</p><p>admitidos</p><p>à negociação.</p><p>Entende-se que a MPV em tela possuía respaldo no princípio da instrumentalidade das formas</p><p>e da economicidade, visto que tornava desnecessária que as publicações ordenadas pela Lei em tela</p><p>fossem feitas no órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito Federal e em outro jornal de</p><p>grande circulação editado onde for sediada a companhia. Neste sentido, verifica-se a exposição de</p><p>motivos apresentada como fundamento a alteração pretendida pela referida MPV nº 892/2019.</p><p>A necessidade de publicação em jornais exigida pelo art. 289 da Lei nº</p><p>6.404/1976 representa um custo de observância imposto às companhias</p><p>que não mais se justifica nos dias de hoje, dado o avanço tecnológico</p><p>ocorrido desde a publicação da Lei. Na verdade, a obrigação contida na</p><p>Lei para que todas as companhias publiquem seus atos societários em</p><p>jornais representa uma barreira de entrada ao mercado de capitais e,</p><p>adicionalmente, a maior adoção do tipo S/A por empresas de menor porte,</p><p>dado o elevado custo dessas publicações. 97</p><p>Um embate jurídico se desenrolou, como se verifica na Ação Direta de Inconstitucionalidade</p><p>(ADI) 6215, proposta pelo partido Rede Sustentabilidade, onde questionou-se a eficácia da referida</p><p>MPV em juízo alegando, dentre outros pontos, que a sua edição deu-se como mera forma de</p><p>represália a setores da imprensa, o que poderia caracterizar desvio de finalidade da MPV e que, de</p><p>acordo com a Lei nº 13.818/2019, a partir de janeiro de 2022 as empresas passariam a publicar os</p><p>seus balanços de modo resumido em veículos impressos e na integralidade nas versões digitais dos</p><p>jornais, fato que, segundo consta, não permitiria que se verificasse a urgência que deve justificar a</p><p>edição de uma MPV sobre o tema.</p><p>A proposta da MPV nº 892/2019 não subsistiu, não se dando a sua conversão em lei. A redação</p><p>do Art. 289 da Lei nº 6.404/76 permaneceu nos termos determinados pela Lei nº 13.818/19.</p><p>Contudo, posteriormente, a Lei nº 14.195/21 promoveu alterações nos arts. 289 e 294 da</p><p>Lei nº 6.404/76, viabilizando que as publicações ordenadas pela lei societária sejam efetuadas em</p><p>jornal de grande circulação, editado na localidade em que esteja situada a sede da companhia, de</p><p>forma resumida e com divulgação simultânea da íntegra dos documentos na página do mesmo</p><p>jornal na internet, que deverá providenciar certificação digital da autenticidade dos documentos</p><p>mantidos na página própria, emitida por autoridade certificadora credenciada no âmbito da</p><p>Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras (ICP-Brasil).</p><p>97 BRASIL, MEDIDA PROVISÓRIA Nº 892, DE 5 DE AGOSTO DE 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>_Ato2019-2022/2019/Mpv/mpv892.htm. Acesso em: maio 2024.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Mpv/mpv892.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Mpv/mpv892.htm</p><p>72</p><p>Resta lícito à companhia de capital fechado, com receita bruta anual de até R$ 78.000.000,00</p><p>(setenta e oito milhões de reais) realizar as publicações ordenadas pela lei societária de forma</p><p>eletrônica, substituindo os livros de que trata o art. 100 da Lei nº 6.404/76 por registros</p><p>mecanizados ou eletrônicos.</p><p>Visando à desburocratização do procedimento, o Ministério da Economia publicou a Portaria</p><p>ME nº 10.031, de 22 de novembro de 2022, que retira a obrigatoriedade de que empresas de capital</p><p>fechado com receita bruta anual de até R$ 78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais) realizem</p><p>as suas publicações e divulgações no seu próprio sítio eletrônico. As publicações obrigatórias</p><p>continuarão a ser feitas na Central de Balanços do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped).</p><p>O SPED é um sistema público, gratuito, que fornece ampla publicidade e</p><p>transparência, por meio de acesso rápido e fácil via internet.</p><p>...</p><p>A consulta no sistema pode ser feita de forma simples através de parâmetros</p><p>como o número do CNPJ ou o nome empresarial, ano e tipo de publicação,</p><p>em uma base de dados unificada nacional, disponível a qualquer cidadão.98</p><p>Destarte, a alteração tutela a transparência das informações e, ao mesmo tempo, reduz custos</p><p>operacionais das companhias que não possuem interesse na manutenção de sítios eletrônicos próprios.</p><p>98 MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Companhias menores não precisam fazer publicações obrigatórias em site próprio. Disponível em:</p><p>https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/noticias/2022/novembro/companhias-menores-nao-precisam-fazer-publicacoes-</p><p>obrigatorias-em-site-proprio. Acesso em: mar. 2023.</p><p>https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/noticias/2022/novembro/companhias-menores-nao-precisam-fazer-publicacoes-obrigatorias-em-site-proprio</p><p>https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/noticias/2022/novembro/companhias-menores-nao-precisam-fazer-publicacoes-obrigatorias-em-site-proprio</p><p>Nesta última unidade deste material didático, vamos nos dedicar às operações societárias</p><p>destinadas à composição de interesses voltados à transformação e extinção das companhias, bem</p><p>como outras destinadas à composição de interesses econômicos empresariais que demandem uma</p><p>constituição de consórcios ou grupos econômicos ou societários que viabilizem a consolidação de</p><p>negócios jurídicos de cunho empresarial.</p><p>Ressaltamos que o objetivo deste estudo é direcionar o estudante aos critérios jurídicos</p><p>formais próprios da realização eficiente dessas operações societárias.</p><p>Transformação</p><p>A transformação da companhia é regulada pelos arts. 220 a 222 da Lei nº 6.404/76 e</p><p>representa uma operação pela qual a companhia passa de um tipo societário para outro,</p><p>independentemente de dissolução e liquidação, observando os preceitos legais que regulam a</p><p>constituição e o registro do tipo societário a ser adotado.</p><p>A transformação é um negócio jurídico unilateral, pois para sua realização</p><p>exige-se apenas a declaração unilateral de vontade da sociedade, que migrará</p><p>para outro sistema normativo de organização societária. Mas a vontade social</p><p>deve ser, em princípio, unanimemente declarada pelos acionistas.99</p><p>99 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 408.</p><p>MÓDULO V – OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS</p><p>75</p><p>Nesse sentido, a companhia pode passar de capital fechado para capital aberto, bastando</p><p>atentar, no que for preciso, aos termos legais que regulamentam a constituição das companhias por</p><p>subscrição pública, conforme estudado no item Constituição por subscrição pública deste estudo.</p><p>Poderá também proceder ao inverso, convertendo as companhias de capital aberto em capital</p><p>fechado, atentando ao determinado no § 4º do art. 4º da Lei nº 6.404/76, acrescido pela Lei</p><p>nº 10.303/01, segundo o qual o registro de companhia aberta poderá ser cancelado se a companhia,</p><p>o acionista controlador ou a sociedade controladora, direta ou indiretamente, proceder à oferta</p><p>pública para aquisição da totalidade das ações em circulação no mercado de capitais, por um valor</p><p>plausível, apurado com base nos critérios que considerem o patrimônio líquido contábil, o</p><p>patrimônio líquido avaliado e o fluxo de caixa descontado, ou ainda com base em outro critério,</p><p>desde que aceito previamente pela CVM.</p><p>Na mesma linha de raciocínio, outro tipo societário pode converter-se em companhia e vice-</p><p>versa, em atenção ao art. 1.113 do CC.</p><p>Do ponto de vista formal, importa a transformação em novo ato</p><p>constitutivo, extinguindo-se os anteriores, dada a alteração do tipo</p><p>societário. Assim, devem ser obedecidas as regras reguladoras da constituição</p><p>e do registro da nova forma societária a ser adotada: a Lei das S.A. para as</p><p>companhias e sociedades em comandita por ações e o Código Civil para</p><p>todos os demais tipos societários.100</p><p>Exige-se, porém, o consentimento unânime de todos os sócios ou acionistas, se não houver</p><p>previsão estatutária ou contratual prévia, situação na qual eventual acionista ou sócio dissidente poderá</p><p>exercer o seu direito de retirar-se da sociedade,</p><p>sendo reembolsado pelo valor líquido das suas ações.</p><p>No que tange aos credores, frisa-se que a transformação não prejudicará os direitos adquiridos</p><p>dos credores; estes continuarão, até o pagamento total dos seus créditos, de posse das mesmas</p><p>garantias constituídas no ato de celebração dos negócios jurídicos com a companhia,</p><p>independentemente de qual seja o tipo anterior pelo qual a sociedade se apresentava.</p><p>Tanto assim que, em caso de falência da companhia depois da sua transformação, os efeitos</p><p>desta só se estenderão aos sócios se, no tipo anterior à transformação, eles ostentavam a condição</p><p>de sócios com responsabilidade ilimitada, solidária ou subsidiária à sociedade. Além disso, só</p><p>beneficiará os credores que possuíam direitos de exigir-lhes satisfação dos direitos em razão de uma</p><p>dessas responsabilidades, devido ao momento de celebração do negócio jurídico, respeitando a</p><p>integridade do art. 81 da Lei nº 11.101/05 (sem alteração pela Lei nº 14.112/2020).</p><p>100 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 201. v. 3.</p><p>76</p><p>Observe que, a despeito de não haver óbice para a transformação de um tipo societário em</p><p>outro, a transformação de sociedade limitada em sociedade anônima, que possua como única sócia</p><p>uma pessoa jurídica brasileira, sem o ingresso de um segundo acionista, deverá ser instrumentada</p><p>por meio de escritura pública e observar as disposições atinentes à subsidiária integral, consoante</p><p>exige a Instrução Normativa DREI nº 81, de 10 de junho de 2020, recentemente alterada pela</p><p>Instrução Normativa DREI nº 01 de 24 de janeiro de 2024.</p><p>A normativa em tela ainda determina que a formalização da transformação de sociedades</p><p>contratuais em qualquer outro tipo societário se dará por reunião ou assembleia geral extraordinária</p><p>ou, ainda, por alteração contratual, na qual deve ser aprovado o estatuto social ou contrato social,</p><p>podendo este ser transcrito no próprio instrumento ou em ato separado.</p><p>O ato do arquivamento do instrumento que deliberou pela transformação deve ser instruído</p><p>com o requerimento (dispensado no caso de registro digital); com a procuração, se for o caso; com a</p><p>consulta de viabilidade deferida ou Pesquisa de Nome Empresarial; com o Documento Básico de</p><p>Entrada; com o comprovante de pagamento; com a Ficha de Cadastro Nacional; com o instrumento</p><p>que aprovou a operação de transformação; com o contrato social ou estatuto social, quando não</p><p>transcrito no instrumento que aprovou a operação de transformação, e com a relação completa dos</p><p>acionistas, incluindo a indicação da quantidade de ações ou quotas resultantes da transformação.</p><p>Quando transcrito no instrumento de transformação, o estatuto social ou o contrato social poderá</p><p>servir para registro da nova instituição resultante da operação societária em tela; sendo imprescindível a</p><p>realização da publicação prevista no art. 98 da Lei nº 6.404/1976, quando se tratar de transformação de</p><p>uma sociedade qualquer para sociedade anônima, devendo o exemplar da publicação ser arquivado na</p><p>Junta Comercial, observada a regra contida no art. 36 da Lei nº 8.934/1994.</p><p>Assim, a deliberação assemblear pela transformação deverá ser seguida do respectivo</p><p>instrumento de constituição societária.</p><p>Grupo econômico</p><p>Os grupos econômicos são compostos de sociedades coligadas, controladoras e controladas.</p><p>Constituem-se em razão da necessidade naturalmente constata nas economias de escala de aprimorar</p><p>os processos produtivos. O seu foco encontra-se na otimização e eficiência dos processos produtivos</p><p>e operacionais tecnológicos.</p><p>Conforme destacado na Exposição de Motivos nº 196, de 24.06.1976, as</p><p>grandes empresas, em seus processos de expansão, têm levado à criação de</p><p>verdadeiras constelações de sociedades, coligadas, controladoras e controladas,</p><p>o que demanda a existência de normas específicas que redefinam, no interior</p><p>do grupo, os direitos das minorias, as responsabilidades dos administradores,</p><p>as garantias dos credores, assim como as suas demonstrações contábeis.101</p><p>101 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 327. v. 3.</p><p>77</p><p>Esse fenômeno não se confunde com as operações societárias de fusão e incorporação, pois</p><p>nos grupos econômicos e societários – este será mais bem estudado no item 5.3 – as sociedades</p><p>coligadas, controladoras e controladas mantêm intactas a personalidade jurídica, a capacidade</p><p>negocial, a autonomia patrimonial e a legitimidade processual. Com isso, elas representam, nas</p><p>palavras de Rubens Requião, um “arranjo da administração comum”,102 mas não se confundem</p><p>com uma espécie de supersociedade. Nesse sentido, lê-se Fábio Konder Comparato:</p><p>Não há negar entretanto que os grupos econômicos foram criados,</p><p>exatamente, para racionalizar a exploração empresarial, harmonizando e</p><p>mesmo unificando as atividades das várias empresas que os compõem. É</p><p>graças a essa racionalização administrativa que o lucro marginal é elevado, com</p><p>a baixa do custo unitário de produção. Eles propiciam a criação de “economias</p><p>internas de escala”, já assinaladas pelos economistas desde o fim do século</p><p>XIX. Todos os sistemas econômicos, qualquer que seja o regime político que</p><p>os acompanha, tendem a esse mesmo objetivo de argumentos e coordenação</p><p>empresarial. A empresa isolada é, atualmente, uma realidade condenada, em</p><p>todos os setores, máxime naqueles em que o progresso está intimamente</p><p>ligado à pesquisa tecnológica. A chamada empresa multinacional nada mais é</p><p>do que uma constelação de empresas, operando em vários países, sob</p><p>legislações diversas, mas perseguindo, sempre, uma única política global.103</p><p>Contudo, a despeito da manutenção da integridade da autonomia de cada sociedade</p><p>participante do grupo em tela, o entendimento jurisprudencial é no sentido de que os componentes</p><p>do grupo detêm, entre si, responsabilidade solidária em obrigações assumidas perante terceiros, em</p><p>especial no que tange às obrigações trabalhistas, como se vê:</p><p>RECURSO DE REVISTA – GRUPO ECONÔMICO.</p><p>RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. A decisão foi proferida nos termos</p><p>do artigo 2°, § 2°, da CLT, reconhecendo o Regional a responsabilidade</p><p>solidária entre as demandadas, uma vez que restou comprovada a</p><p>hipótese de grupo econômico. Recurso de Revista não conhecido. AJUDA</p><p>DE CUSTO. INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO. NATUREZA</p><p>SALARIAL. Incólume o artigo 457, § 2º, da CLT, na medida em que a</p><p>concessão de ajuda de custo, segundo o Tribunal Regional, era salário</p><p>102 REQUIÃO, Rubens Edmundo. Curso de direito comercial. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 234. v. 1.</p><p>103 COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983. p. 355-356.</p><p>78</p><p>dissimulado, visando, na verdade, ao pagamento de serviço. Recurso de</p><p>Revista não conhecido. DIREITO DE IMAGEM. INTEGRAÇÃO AO</p><p>SALÁRIO. NATUREZA SALARIAL. O Tribunal Regional, apesar de</p><p>consignar a existência de norma coletiva que estabelece a natureza</p><p>indenizatória da verba "direito de imagem", considerou o caráter salarial</p><p>da parcela, pois demonstrado que ela se destinava à contraprestação dos</p><p>serviços. Portanto, não há falar em violação do artigo 7º, XXVI, da</p><p>Constituição da República. Recurso de Revista não conhecido.104</p><p>Nesse sentido, nos termos do art. 243 da Lei nº 6.404/76, temos sociedades coligadas em</p><p>situações nas quais uma, investidora, detém influência significativa sobre outra; a controlada é a</p><p>sociedade sobre a qual a controladora, diretamente ou valendo-se de outras sociedades controladas,</p><p>detém a titularidade de direitos comuns aos sócios, sendo-lhe assegurado, permanentemente,</p><p>preponderância nas deliberações societárias bem como o poder de eleger a maioria dos administradores.</p><p>São reconhecidas tradicionalmente as seguintes modalidades de grupos, do</p><p>ponto de vista econômico: (i) horizontal, quando as sociedades integrantes</p><p>atual no mesmo setor ou mercado; e (ii)</p><p>vertical, quando as sociedades</p><p>desempenham atividades complementares, mas em setores diversos, uma</p><p>fornecendo a matéria-prima, por exemplo, e outra a industrializando.105</p><p>A legislação pátria só admite coligação direta, como ressalva Sérgio Campinho, sendo esta a</p><p>modalidade de coligação que estipula uma relação direta de investimento de uma sociedade em</p><p>outra. O citado autor exemplifica:</p><p>Se uma companhia X investe no capital da companhia Y, tendo sobre ela</p><p>influência significativa, e a companhia Y investe no capital da companhia</p><p>Z, também tendo sobre a investida influência significativa, haverá</p><p>coligação, pois no nosso Direito não se admite a coligação indireta.106</p><p>Embora haja grandes números de grupos de sociedades, não se verificam no Brasil muitos</p><p>registros, país onde há pouco uso da disciplina legal atinente ao tema, sendo raros os casos de</p><p>empresas que estabelecem grupos mediante convenções regulamentares.</p><p>104 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. RR 11345920105040201. Relator Márcio Eurico Vitral Amaro. 8ª Turma. Julgamento</p><p>em 16 de março de 2016. In: DEJT, 22 de março de 2016. Disponível em: https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/</p><p>322767571/recurso-de-revista-rr-11345920105040201. Acesso em: maio 2024.</p><p>105 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 328. v. 3.</p><p>106 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 425.</p><p>https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/322767571/recurso-de-revista-rr-11345920105040201</p><p>https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/322767571/recurso-de-revista-rr-11345920105040201</p><p>79</p><p>A Lei nº 14.195/21 alterou a redação do § 5º do art. 243 da Lei nº 6.404/76, reconhecendo</p><p>como presumida a influência significativa quando a companhia investidora for titular de 20%</p><p>(vinte por cento) ou mais dos votos conferidos pelo capital social da companhia investida, sem,</p><p>contudo, controlá-la.</p><p>A Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019, que instituiu a declaração de direitos de</p><p>liberdade econômica, regulamenta o funcionamento de um importante instrumento de garantia à</p><p>livre iniciativa. Nos termos da norma em tela, constitui dever da Administração Pública e de outras</p><p>entidades vinculadas a regulamentação de norma pública pertencente a leis correlatas, salvo se</p><p>instituídas em estrito cumprimento a previsão explícita em lei, visando a evitar o abuso do poder</p><p>regulatório, de maneira a, indevidamente, proporcionar reserva de mercado que favoreça grupo</p><p>econômico ou profissional em prejuízo de concorrentes.</p><p>Essa recente legislação corrobora as alterações introduzidas na CLT pela Lei nº 13.467, de</p><p>13 de julho de 2017, que colaboraram para a padronização do conceito de grupo econômico,</p><p>superando a antiga dicotomia sobre o tema, verificada a partir das interpretações das normas de</p><p>Direito Societário e de Direito Trabalhista.</p><p>Inobstante outras críticas que se possam tecer em relação à chamada Lei da Liberdade</p><p>Econômica, sobretudo no que tange a eventuais e hipotéticas possibilidades de burla aos direitos</p><p>trabalhistas, é importante ressaltar que a interpretação das normas vigentes deve sempre ser</p><p>direcionada ao rumo do que os contratantes efetivamente acordaram na celebração do negócio</p><p>jurídico, haja vista que a forma como os signatários de contratos se comportam depois da sua</p><p>celebração denota um rumo. A interpretação do negócio jurídico em si, em caso de conflitos</p><p>comportamentais, eventualmente poderá ensejar um litígio.</p><p>Outro ponto em defesa da integridade dos grupos econômicos, instituído pela chamada</p><p>Declaração de Direitos de Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/19), verifica-se no § 4º, acrescido</p><p>ao art. 50 do Código Civil, que determina que a simples existência de um grupo dessa natureza,</p><p>sem a presença dos requisitos exigidos no caput do referido artigo, não autoriza a incidência da</p><p>desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.</p><p>O dispositivo legal em tela encontrou respaldo nos primeiros a se pronunciarem sobre a</p><p>norma, no sentido de que</p><p>[...] foi positivada, portanto, a viabilidade jurídica do uso da</p><p>desconsideração da personalidade jurídica para atingir outra pessoa</p><p>jurídica, o que se denomina como desconsideração econômica, indireta ou</p><p>sucessão entre empresas107</p><p>107 TARTUCE, Flávio. A “lei da liberdade econômica” (lei 13.874/19) e os seus principais impactos para o Direito Civil. Primeira</p><p>parte. Disponível em: https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/760633426/a-lei-da-liberdade-economica-lei-13874-</p><p>2019-e-os-seus-principais-impactos-para-o-direito-civil-parte-i. Acesso em: maio 2024.</p><p>https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/760633426/a-lei-da-liberdade-economica-lei-13874-2019-e-os-seus-principais-impactos-para-o-direito-civil-parte-i</p><p>https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/760633426/a-lei-da-liberdade-economica-lei-13874-2019-e-os-seus-principais-impactos-para-o-direito-civil-parte-i</p><p>80</p><p>Dessa forma, a tutela aos grupos econômicos vem consolidando-se no sistema jurídico por</p><p>meio de normas pragmáticas instituídas sob fundamentos econômicos e voltadas ao fomento da</p><p>livre iniciativa.</p><p>Grupo societário</p><p>No que tange aos grupos societários, insta observar que as relações entre as sociedades, a sua</p><p>estrutura administrativa gerencial enquanto grupo, a coordenação dos trabalhos e as relações de</p><p>subordinação dos administradores das sociedades envolvidas devem ser estabelecidas no ato em que</p><p>for registrada a convenção do grupo societário, ressalvando que cada sociedade deve conservar a</p><p>integridade da sua personalidade jurídica e da sua autonomia patrimonial.</p><p>Nesse sentido, verifica-se a leitura do art. 265 da Lei nº 6.404/76, que regulamenta a</p><p>constituição dos grupos societários por meio de instrumentos que vinculem as sociedades na</p><p>combinação de recursos ou esforços voltados para a execução de determinados objetos, como a</p><p>participação em atividades ou empreendimentos em comum.</p><p>Exige-se, porém, que a sociedade controladora do grupo seja brasileira, ou seja, tenha no Brasil a</p><p>sua sede, consoante determina o art. 1.126 do CC, e exerçam, direta ou indiretamente, de forma</p><p>permanente, o controle das sociedades controladas, seja como titular de valores mobiliários que lhes</p><p>confira direitos de sócios ou acionistas seja mediante acordo celebrado com outros sócios ou acionistas.</p><p>Essa relação de controle exercida por uma sociedade de comando representa a configuração</p><p>exigida tanto aos grupos de fato quanto aos grupos de direito.</p><p>O grupo de fato é aquele integrado por sociedades relacionadas tão</p><p>somente por meio de participação acionária, sem que haja entre elas uma</p><p>organização formal ou obrigacional. As relações jurídicas mantidas entre as</p><p>sociedades que integram o grupo devem ser fundamentadas nos princípios</p><p>e nas regras que regem as relações entre companhias isoladas.</p><p>Isso significa que os atos praticados pelos administradores da sociedade</p><p>participante do grupo de fato, bem como todas as decisões tomadas pelos</p><p>acionistas ou sociedades controladoras, devem ter por objeto, exclusivamente,</p><p>a consecução do interesse específico de tal companhia. [...]</p><p>81</p><p>A configuração de um grupo de direito pressupõe, assim como ocorre nos</p><p>grupos de fato, a existência de relações de controle entre uma das sociedades,</p><p>denominada “sociedade de comando”, e as demais participantes do grupo,</p><p>que são as “filiadas” (as sociedades controladas). Com efeito, consta do caput</p><p>que a sociedade controladora e suas controladas podem constituir grupo de</p><p>sociedades; e do § 1º que a sociedade controladora ou de comando do</p><p>grupo, a que tem que ser necessariamente brasileira, deve exercer, direta ou</p><p>indiretamente, e de modo permanente, o controle das sociedades filiadas.</p><p>Nos grupos de direito, a influência exercida pela sociedade de comando</p><p>sobre as atividades de suas controladas não se limita ao fato de ela eleger a</p><p>maioria dos administradores</p><p>e tomar as decisões nas assembleias gerais,</p><p>sendo forçada pela existência de uma relação de natureza contratual,</p><p>consubstanciada na convenção de grupo, que vincula a atuação das</p><p>controladas a um fim comum.108</p><p>O grupo de direito será constituído na forma da lei e se apresentará mediante designação da</p><p>expressão grupo de sociedades ou apenas grupo. Sendo composto de companhias que prescindam de</p><p>autorização para funcionar, só poderão participar do grupo se obtiverem aprovação da respectiva</p><p>convenção autoridade competente que tenha legitimidade para aprovar as suas alterações estatutárias.</p><p>Assim, constituído o grupo de sociedades por convenção, esta deverá apresentar: (i) a designação</p><p>do grupo; (ii) a indicação da sociedade de comando e das controladas; (iii) as condições impostas à</p><p>participação das diversas sociedades; (iv) o prazo de duração do grupo, se houver, e as respectivas</p><p>condições da sua extinção; (v) as condições para a admissão e retirada de sociedades; (vi) os órgãos e</p><p>cargos da administração do grupo com as respectivas atribuições e as formas pelas quais as relações</p><p>entre a estrutura administrativa do grupo e as das sociedades que o componham se darão; (vii) a</p><p>declaração da nacionalidade do controle do grupo; e (viii) as condições para a alteração da convenção.</p><p>No grupo de sociedades, é possível que exista a controladora, ou a</p><p>sociedade que é a holding relativamente às demais, das quais participa como</p><p>acionista. Todavia apenas admite-se a existência de uma holding, centrada</p><p>na companhia que controla as outras, e que alguns equivocadamente a</p><p>tipificam como sociedade simples, por não apresentar atividade econômica</p><p>organizada de produção ou circulação de bens ou serviços no mercado.</p><p>Acontece que, controlando sociedades empresárias, naturalmente sua</p><p>função é econômica, e daí decorrendo a natureza econômica da atividade.</p><p>108 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 515-516 e 521. v. 3.</p><p>82</p><p>No entanto, pode o grupo organizar-se também para uma atividade sem</p><p>que se crie uma sociedade de controle às demais, ou que dirija o conjunto</p><p>delas, realidade que afasta a equivalência de uma holding.</p><p>Decorrem, pois, dois tipos de grupo: um no sentido de haver uma holding,</p><p>com o controle sobre as demais; e outro sem essa característica, mas</p><p>formado pela mera união de sociedades.109</p><p>O grupo de sociedades considerar-se-á sob controle pátrio se a sua sociedade de controle</p><p>estiver sob o comando de pessoas naturais residentes ou domiciliadas no Brasil ou pessoas jurídicas</p><p>de direito público interno ou sociedade ou sociedades brasileiras que, direta ou indiretamente,</p><p>estejam sob o controle de pessoas naturais residentes ou domiciliadas no Brasil ou pessoas jurídicas</p><p>de direito público interno.</p><p>É vedada a participação recíproca entre a companhia e as suas coligadas ou controladas,</p><p>observado o disposto no art. 244 da Lei nº 6.404/76.</p><p>Consórcio</p><p>O consórcio é um tipo de operação intersocietária distinta dos grupos. Neste caso, as</p><p>relações se dão entre as sociedades, podendo ou não estar subordinadas umas às outras, em uma</p><p>relação de cooperação, colaboração, atuando as consorciadas de forma coordenada, visando à</p><p>consecução de um fim comum pretendido por todas, constituindo essa reunião de interesses uma</p><p>forma especial de concentração.</p><p>Quanto à joint venture, há a coligação de duas ou mais empresas (empresas</p><p>sociedades ou empresários individuais), visando à consecução de uma</p><p>tarefa, ou de um empreendimento, ou do projeto comum, que exige um</p><p>volumoso investimento, ou a conjugação de recursos. Forma-se uma</p><p>convenção com a finalidade de realizar uma obra, ou atuar em um setor da</p><p>atividade humana. Cria-se uma associação de empresas para conseguir</p><p>maior capacidade na exploração de um setor da construção civil, ou da</p><p>fabricação de certos produtos, ou da prestação de serviços. Celebra-se um</p><p>acordo entre empresas visando um melhor, mais rápido e eficiente</p><p>resultado no empreendimento.110</p><p>109 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 712.</p><p>110 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 712.</p><p>83</p><p>Conforme se depreende dos arts. 278 e 279 da Lei nº 6.404/76, o consórcio se constitui</p><p>por contrato que deve ser aprovado pelo órgão da sociedade que tenha legitimidade para autorizar</p><p>a alienação de bens do ativo não circulante. Desse instrumento de ajuste de vontades deve constar:</p><p>(i) a designação do consórcio, se houver; (ii) o empreendimento representativo do objeto do</p><p>consórcio; (iii) o tempo de duração, o endereço e o foro competente eleito pelos signatários; (iv)</p><p>a definição das obrigações e responsabilidade de cada instituição consorciada e as respectivas</p><p>prestações; (v) as regras determinadas pelos signatários acerca do recebimento de receitas e a</p><p>consequente partilha dos resultados auferidos; (vi) as regras que os signatários entenderem</p><p>eficientes sobre administração do consórcio, contabilidade das finanças e custos, se houver; (vii)</p><p>a forma pela qual deliberarão sobre pontos de interesse comum, estipulando o peso dos votos de</p><p>cada consorciado; e (viii) o quantum com que cada consorciado contribuirá para o custeio das</p><p>despesas comuns, se houver.</p><p>O consórcio apresenta a natureza de um contrato plurilateral, visto que as</p><p>consorciadas, embora independentes, conjugam esforços e recursos,</p><p>temporariamente, com o objetivo de alcançar um fim comum. Os interesses</p><p>das partes, no contrato plurilateral, são unificados por meio de uma finalidade</p><p>comum; cada consorciada obriga-se para com todas as outras e diante de todas</p><p>elas adquire direitos, coordenados em torno do escopo comum.111</p><p>O presente contrato bem como as suas alterações, se houver, devem ser arquivados no RPEM,</p><p>a cargo das juntas comerciais, nos termos da Lei nº 8.934/94, procedendo-se à publicação da</p><p>certidão de arquivamento, em tributo ao princípio da publicidade.</p><p>O consórcio caracteriza-se, à luz de sua moldura legal, como um contrato</p><p>entre sociedades, de tipos iguais ou diferentes, sob o mesmo controle ou</p><p>não, visando à conjugação de esforços e recursos para a execução de</p><p>determinado empreendimento, mantendo cada consorciada a sua</p><p>autonomia jurídica e empresarial.</p><p>O consórcio não tem personalidade jurídica sendo, portanto, desprovido</p><p>de patrimônio. As consorciadas – que, enfatiza-se, podem ser companhias</p><p>ou quaisquer outras sociedades e que não necessitam estar ligadas por</p><p>relações de participação – somente se obrigam nas condições previstas no</p><p>respectivo contrato, respondendo, assim, cada um por suas obrigações, sem</p><p>presunção de solidariedade. Nada impede, entretanto, que o contrato</p><p>111 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 555. v. 3.</p><p>84</p><p>disponha sobre a solidariedade. Nada impede, entretanto, que o contrato</p><p>disponha sobre a solidariedade entre as consorciadas ou apenas algumas</p><p>delas, seja assim para todas as obrigações ou apenas para algumas</p><p>expressamente determinadas.112</p><p>Como se verifica, é lícito às companhias bem como a quaisquer outras sociedades, sob o</p><p>mesmo controle ou não, constituir consórcio para executar empreendimentos determinados,</p><p>mesmo não tendo o consórcio personalidade própria ou solidariedade presumida entre as</p><p>sociedades, cabendo a cada instituição responder pelos atos que praticar, obrigando-se somente nas</p><p>condições previstas no contrato celebrado.</p><p>Embora o consórcio se assemelhe à sociedade empresária em diversos aspectos,</p><p>com ela não se confunde: na sociedade, a causa de sua constituição é o</p><p>exercício de determinada atividade por ente distinto do sócio, dotado de</p><p>personalidade jurídica e capaz de direitos e obrigações; já no consórcio, a</p><p>atividade é exercida diretamente pelas partes consorciadas, as quais assumem</p><p>direitos e obrigações em nome próprio,</p><p>nos termos do contrato. Ademais, o</p><p>consórcio constitui uma alternativa mais flexível do que a sociedade; quando</p><p>2 (duas) ou mais empresas desejam levar adiante, em conjunto, determinado</p><p>empreendimento, o consórcio pode ser mais adequado do que a constituição</p><p>de uma nova sociedade.113</p><p>Tanto assim que eventual falência de uma consorciada não gera, via de regra, efeitos</p><p>patrimoniais sobre as demais, salvo situações excepcionais decorrentes de contratos específicos</p><p>distintos do consórcio, de forma que subsistirá o consórcio com os demais contratantes, e os créditos</p><p>que porventura tiver a falida serão apurados e pagos na forma prevista no contrato de consórcio.</p><p>Frisa-se que as sociedades, sob o mesmo controle ou não, podem constituir consórcio para</p><p>executar determinado empreendimento, em respeito aos arts. 278 e 279 da Lei nº 6.404/1976.</p><p>Neste sentido, lê-se o art. 90 da Instrução Normativa DREI nº 81, de 10 de junho de 2020.</p><p>112 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 447.</p><p>113 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 557-558. v. 3.</p><p>85</p><p>Extinção da companhia</p><p>Segundo o art. 219 da Lei nº 6.404/76, a extinção da companhia pode ocorrer por duas</p><p>formas, a saber: pela liquidação, nos termos do art. 207, ou pela incorporação, fusão ou cisão, nas</p><p>formas respectivamente dos arts. 227, 228 e 229, todos da mesma lei.</p><p>A companhia se extingue pelo encerramento da liquidação, preceitua o</p><p>art. 219, em seu inciso I. Mas essa extinção não prescinde do</p><p>“cancelamento” do registro da companhia no Registro Público de</p><p>Empresas Mercantis. Assim é que se mostra, na liquidação extrajudicial,</p><p>como providência indispensável para a regularidade material e formal da</p><p>extinção de um último ato: o arquivamento e a publicação da ata da</p><p>assembleia geral que houver encerrado a liquidação, providência essa que,</p><p>em princípio, cabe ao liquidante (art. 210, IX), mas pode ter sua eventual</p><p>falta suprida por qualquer interessado. Na liquidação judicial, esse ato se</p><p>materializa por ofício do juízo dirigido à Junta Comercial, incumbida do</p><p>prefalado registro. A partir de sua realização, o processo de extinção da</p><p>companhia estará aperfeiçoado e dotado de eficácia plena, desaparecendo</p><p>a personalidade jurídica da sociedade.114</p><p>No que tange ao citado art. 207, registra-se que a responsabilidade pelas demandas em</p><p>andamento deve seguir em face dos então acionistas e liquidantes, tidos como sucessores da</p><p>companhia extinta.</p><p>A existência de ações judiciais em curso não impede a extinção da companhia</p><p>nem o arquivamento da ata da assembleia que aprovou o encerramento da</p><p>liquidação, não se podendo pretender que persista a personalidade jurídica</p><p>enquanto houver lide, cabendo aos credores prosseguir contra os acionistas,</p><p>sucessores da pessoa jurídica e o liquidante.115</p><p>A partir dessas noções introdutórias acerca da extinção da companhia, passa-se ao estudo dos</p><p>atos dissolutivos e liquidatários que antecedem a sua extinção de pleno direito.</p><p>114 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 404.</p><p>115 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 198. v. 3.</p><p>86</p><p>Dissolução da companhia</p><p>A circulação de capitais que caracteriza a economia de mercado exige que haja meios, como</p><p>os determinados no art. 206 da Lei nº 6.404/76, de permitir que os patrimônios se desvinculem de</p><p>empreendimentos improdutivos, esterilizando a força que busca a geração de lucros.</p><p>A Lei das S.A., no presente dispositivo, divide as hipóteses de dissolução</p><p>em duas categorias: (i) de pleno direito; e (ii) dependente de decisão</p><p>judicial ou administrativa. A dissolução de pleno direito, que não carece</p><p>de qualquer manifestação de autoridade administrativa, sendo, portanto,</p><p>seu resultado automático, verifica-se quando: (i) termina o prazo de</p><p>duração da companhia; (ii) ocorre um dos casos previstos no estatuto, (iii)</p><p>há deliberação da assembleia geral; (iv) ocorre a unipessoalidade por prazo</p><p>superior ao legal; e (v) extingue-se a autorização para funcionamento. É</p><p>necessária a decisão judicial nos casos de: (i) anulação da constituição da</p><p>companhia; (ii) impossibilidade de atingir a companhia o seu o fim; e (iii)</p><p>falência. Também pode ser dissolvida a companhia por decisão da</p><p>autoridade administrativa, nas hipóteses expressamente previstas em lei</p><p>especial. O Código Civil também distingue as causas de dissolução de</p><p>pleno direito daquelas que dependem de decisão judicial.116</p><p>Nas companhias de capital aberto, o investidor insatisfeito com os rumos da gestão dos</p><p>negócios pode, a qualquer momento, vender os seus títulos no mercado pelo valor que melhor lhe</p><p>aprouver; mas, nos casos das companhias de capital fechado, essa alternativa, em regra, é mais difícil,</p><p>restando-lhe a alternativa da dissolução em exercício do seu direito de recesso.</p><p>Não é, contudo, proibido às companhias de capital aberto dissolver-se, mesmo que</p><p>parcialmente, sendo esta alternativa empregada para a correção de erros estruturais que engessam</p><p>investimentos alheios. Nesse sentido, tem-se um precedente jurisprudencial o qual reconhece que</p><p>a companhia foi constituída por subscrição pública dos seus valores mobiliários, mas se porta como</p><p>sendo uma companhia de capital fechado.</p><p>Analogamente, poderia ser reconhecida como uma companhia trans fechada, constituída</p><p>por subscrição pública de valores. Assim se apresenta, mas interage no mercado como sendo uma</p><p>companhia de capital fechado com a qual se identifica em verdade, conforme se verifica na</p><p>jurisprudência que segue.</p><p>116 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 143-144. v. 3.</p><p>87</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE.</p><p>COMPANHIA DE SOCIEDADE ANÔNIMA DE CAPITAL</p><p>ABERTO, QUE ATUA NO MERCADO, ENTRETANTO, COMO</p><p>SE FOSSE DE CAPITAL FECHADO. Há a possibilidade de dissolução</p><p>parcial da Companhia ré, pois ela não se caracteriza de fato como uma</p><p>sociedade anônima aberta, pois embora esteja apta a negociar ações no</p><p>balcão de mercado não organizado, tal não ocorreu, tirando assim a</p><p>liquidez das ações, tal como uma sociedade anônima fechada. Na verdade</p><p>se trata de sociedade formada em caráter familiar e pessoal, na qual o</p><p>intuitu personae prevalece sobre o intuitu pecuniae, sendo possível a sua</p><p>dissolução parcial e a apuração de haveres com base no seu balanço</p><p>especial, como determina o art. 1.031 do CC e a súmula 265 do STF. Por</p><p>isso correta a sentença ao permitir a dissolução parcial da sociedade, pois,</p><p>na verdade, ela opera como se de capital fechado fosse, uma vez que suas</p><p>ações se mantém eternamente ilíquidas e, na saída de sócio, congeladas</p><p>quanto ao seu valor.117</p><p>Em sentido próximo, conhecem-se estudos que consideram as inovações no procedimento</p><p>liquidatário impostas pelo CPC de 2015.</p><p>Inicialmente, destaca-se que o CPC/15 traz a expressão “dissolução parcial</p><p>de sociedade”, colocando em xeque o argumento esposado no sentido de</p><p>que tal dicção seria a técnica após a entrada em vigor do Código Civil de</p><p>2002, que nominou o instituto de “resolução da sociedade em relação a</p><p>um sócio” [...].118</p><p>Dessa forma, sugere-se a leitura do art. 206 da Lei nº 6.404/76 com ressalva ao entendimento,</p><p>até então consolidado, no sentido de que companhias de capital aberto não sofreriam dissolução</p><p>parcial, tendo na jurisprudência reproduzida um precedente a ser respeitável.</p><p>117 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Apelação Cível nº 70071296446, CNJ: 0339838-08.2016.8.21.7000.</p><p>Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/ac/acordao-tj-rs-confirma-sentenca-acolheu.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>118 ARRUDA, Pablo Gonçalves; MENDONÇA, Saulo Bichara. Dissolução societária à luz do novo código de processo civil</p><p>brasileiro: hermenêutica</p><p>pragmática da norma protetiva do investimento privado. IV Congresso Internacional de Direito do</p><p>UBM. Direito, Desenvolvimento e Cidadania. Barra Mansa, RJ, Brasil. 24, 25 e 26 de agosto de 2016. Anais... Barra Mansa,</p><p>2016. GT II: Direito ao Desenvolvimento Socioeconômico, Integração Econômica e Direito Empresarial.</p><p>https://www.conjur.com.br/dl/ac/acordao-tj-rs-confirma-sentenca-acolheu.pdf</p><p>88</p><p>A enumeração das causas de dissolução é taxativa, não exemplificativa. Assim,</p><p>as causas são aquelas previstas em lei ou no estatuto, não se admitindo</p><p>interpretação análoga ou extensiva. As hipóteses de dissolução de pleno direito</p><p>são apenas aquelas especificadas nas alíneas do inciso I, não cabendo ao</p><p>intérprete adicionar outras. A dissolução por decisão judicial deve fundar-se</p><p>em alguma das situações previstas no inciso II, não podendo o juiz decretá-las</p><p>com base em causa diversa. Da mesma forma, a dissolução por decisão da</p><p>autoridade administrativa é vinculada à situação prevista em lei, que constitui</p><p>o pressuposto da legitimidade do ato.119</p><p>Decidida ou determinada a forma de dissolução, passa-se aos procedimentos liquidatários, a saber.</p><p>Liquidação da companhia</p><p>O procedimento de liquidação sucede à dissolução e antecede a extinção da companhia,</p><p>compreende uma série de atos interligados atinentes à apuração de haveres que corresponde ao</p><p>levantamento do patrimônio, ao saneamento das obrigações financeiras e à partilha do patrimônio</p><p>líquido remanescente, se houver, proporcionalmente à participação de cada acionista no capital social.</p><p>Não sendo uma liquidação judicial, os acionistas podem deliberar sobre a forma pela qual</p><p>os procedimentos liquidatários serão realizados, bem como nomear o agente liquidante que</p><p>deve proceder de forma diligente, eficaz, visando à redução de custos e ao atendimento dos</p><p>interesses envolvidos.</p><p>O liquidante constitui órgão de gestão e de representação da companhia, em</p><p>substituição aos diretores, que deve exercer suas funções durante todo o</p><p>período de liquidação. Trata-se de função remunerada; cabe à assembleia</p><p>geral estabelecer o valor de seus honorários e a forma de pagamento, anual</p><p>ou mensal, tendo em conta suas responsabilidades, o tempo dedicado às</p><p>funções, sua competência e o valor de seus serviços no mercado (artigo 152,</p><p>caput). Nada impede que se atribua ao liquidante, além da remuneração fixa,</p><p>um prêmio, caso logre êxito em suas atribuições, calculado sobre o saldo a</p><p>ser pago aos acionistas.120</p><p>A liquidação se dará em decorrência da dissolução de pleno direito, por decisão judicial ou</p><p>por decisão da autoridade administrativa.</p><p>119 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 144. v. 3.</p><p>120 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 167. v. 3.</p><p>89</p><p>Na liquidação de pleno direito, observa-se o art. 208 da Lei nº 6.404/76, que atribui à assembleia</p><p>ou ao estatuto a legitimidade para determinar o procedimento liquidatário e a nomeação do liquidante,</p><p>determinado ainda que o conselho fiscal funcione durante o período de liquidação.</p><p>A liquidação judicial decorrerá dos casos de dissolução judicial, observado os arts. 206, II, e</p><p>209 da Lei nº 6.404/76, podendo ocorrer em atenção a pedido de qualquer acionista ou a</p><p>requerimento do Ministério Público, respeitados os pressupostos legais, sendo o liquidante</p><p>nomeado pelo juiz.</p><p>O parágrafo único do art. 209 retro aludido determina que, nesse tipo de liquidação, observe-</p><p>se o disposto na lei processual civil.</p><p>Destarte, a dissolução total de sociedade, quando judicializada, passará a</p><p>observar o procedimento comum previsto na Lei nº 13.105/15, não mais</p><p>se aplicando o procedimento especial previsto no CPC/39. Soma-se, ainda,</p><p>o fato de que o artigo 1.049 da referida Nova Lei Processual afirma que</p><p>“sempre que a lei remeter a procedimento previsto na lei processual sem</p><p>especificá-lo, será observado o procedimento comum previsto neste</p><p>Código”, e o artigo 1.111 do Código Civil e artigo 209, parágrafo único</p><p>da Lei nº 6.404/76 fazem essa exata referência. Por outro lado, a resolução</p><p>judicial da sociedade em relação a um sócio passa a ter procedimento</p><p>especial na Nova Lei Processual que disponibiliza onze dispositivos legais</p><p>para tratar a matéria (artigos 599 a 609).121</p><p>No caso da liquidação decorrente da dissolução prevista no art. 206, II, c, da Lei nº 6.404/76,</p><p>observar-se-ão os procedimentos próprios da Lei nº 11.101/05, que reconhece ao administrador</p><p>judicial a responsabilidade pelos procedimentos liquidatários, consoante se verifica na leitura do</p><p>art. 22, I e III, da LFRE.</p><p>Uma vez que a assembleia geral delibere pelo rateio, entre os acionistas, da proporção que for</p><p>apurando nos haveres sociais, estes devem ser verificados antes do encerramento da liquidação e</p><p>pagos aos acionistas depois que todos os credores forem pagos.</p><p>Entre as alterações promovidas pela Lei nº 14.195/21, tem-se a faculdade constante no § 1º</p><p>do art. 215 da Lei nº 6.404/76, que autoriza à assembleia geral aprovar, pelo voto de acionistas que</p><p>representem, no mínimo, 90% (noventa por cento) dos ordinarialistas, condições especiais para a</p><p>partilha do ativo remanescente, com a atribuição de bens aos sócios, pelo valor contábil ou outro</p><p>por ela fixado. Tal partilha deve ser realizada depois de pagos ou caucionados os credores da</p><p>sociedade em liquidação.</p><p>121ARRUDA, Pablo Gonçalves; MENDONÇA, Saulo Bichara. Dissolução societária à luz do novo código de processo civil</p><p>brasileiro: hermenêutica pragmática da norma protetiva do investimento privado. IV Congresso Internacional de Direito do</p><p>UBM. Direito, Desenvolvimento e Cidadania. Barra Mansa, RJ, Brasil. 24, 25 e 26 de agosto de 2016. Anais... Barra Mansa,</p><p>2016. GT II: Direito ao Desenvolvimento Socioeconômico, Integração Econômica e Direito Empresarial.</p><p>90</p><p>Encerrada a liquidação, tem-se a extinção da companhia, conforme determina o art. 219,</p><p>I, da Lei nº 6.404/76, “mas essa extinção não prescinde do ‘cancelamento’ do registro da</p><p>companhia no Registro Público de Empresas Mercantis”.122 Cabe ainda ao liquidante arquivar e</p><p>publicar a ata da assembleia geral na qual se registrou o encerramento da liquidação,</p><p>comprovando assim que se deu de forma regular a sua prestação de contas com a consequente</p><p>aprovação, bem como indicando aquele que tenha ficado com a posse e a guarda dos livros</p><p>contábeis e dos memoriais da companhia agora extinta.</p><p>O citado art. 219 ainda determina que a companhia pode ser extinta em decorrência da sua</p><p>participação em outras operações societárias, a saber.</p><p>Fusão</p><p>A fusão representa operação societária que acarreta a extinção das companhias envolvidas, “a</p><p>fusão leva à formação de uma personalidade jurídica nova, a qual resulta da combinação de</p><p>personalidades jurídicas distintas”.123</p><p>Na prática, a fusão é muito pouco utilizada, uma vez que, mediante a</p><p>incorporação, obtém-se a unificação de 2 (duas) ou mais sociedades, com</p><p>o aproveitamento de vantagens fiscais e sem a necessidade de formar uma</p><p>nova sociedade, como todos os ônus decorrentes de tal procedimento. De</p><p>fato, não há qualquer argumento racional para se preferir a fusão à</p><p>incorporação. Eventualmente, em sociedades de pessoas, nas quais não</p><p>existam prejuízos fiscais a serem aproveitados, podem seus sócios escolher</p><p>a fusão, ao invés da incorporação, por razões de ordem puramente</p><p>psicológicas, para que uns não se sintam “engolidos” pelos outros.124</p><p>Consoante prescreve o art. 228 da Lei nº 6.404/76, a nova companhia, formada pela união</p><p>das personalidades jurídicas fundidas, sucederá todos os direitos e as obrigações daquelas extintas.</p><p>Ainda nos termos da lei, caberá a cada companhia deliberar em assembleia sobre o modelo</p><p>de protocolo e a nomeação de peritos que deverão avaliar os bens componentes dos patrimônios</p><p>líquidos de titularidades das companhias fundidas.</p><p>122 CAMPINHO, Sérgio.</p><p>Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 404.</p><p>123 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 1006.</p><p>124 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 252-253. v. 3.</p><p>91</p><p>Os laudos apresentados aos administradores prescindirão da convocação dos acionistas das</p><p>sociedades a serem extintas para a assembleia em que lhes será dada a ciência dos valores envolvidos,</p><p>permitindo-lhes decidir sobre a fusão e a consequente constituição definitiva da nova personalidade</p><p>jurídica. Ser-lhes-á, porém, vedado votar sobre o conteúdo do laudo de avaliação do patrimônio</p><p>líquido da sociedade de que fazem parte.</p><p>Aprovados os procedimentos e constituída a nova personalidade jurídica na forma de</p><p>companhia, caberá aos primeiros administradores nomeados promover o arquivamento e a</p><p>publicação dos atos da fusão, semelhante aos procedimentos complementares decorrente da</p><p>constituição de companhia.</p><p>De acordo com a Instrução Normativa DREI nº 81, de 10 de junho de 2020, a operação de</p><p>fusão deverá ser deliberada em assembleia, sendo vedado aos acionistas votar o laudo de avaliação</p><p>do patrimônio líquido da sociedade de que fazem parte, consoante determina o art. 228, § 2º, da</p><p>Lei nº 6.404/1976.</p><p>Aprovada a operação de fusão, os primeiros administradores promoverão o arquivamento dos</p><p>atos da fusão e a sua publicação, lembrando que, para o arquivamento do instrumento de</p><p>deliberação da fusionada, deverão ser observadas as formalidades legais.</p><p>Após o arquivamento dos instrumentos das fusionadas, a nova sociedade constituída deverá</p><p>apresentar o requerimento (dispensado no caso de registro digital); a procuração, se for o caso; a</p><p>consulta de viabilidade deferida ou Pesquisa de Nome Empresarial, se for o caso; o Documento Básico</p><p>de Entrada; o comprovante de pagamento; a Ficha de Cadastro Nacional, se for o caso, e o ato</p><p>constitutivo, conforme o tipo societário, no qual deverá constar a formação do capital social conforme</p><p>definido na operação de fusão, bem como todas as formalidades necessárias ao estatuto social.</p><p>Ao final, os atos de fusão devem ser publicados, conforme art. 228, § 3º da Lei nº</p><p>6.404/1976, localidade da sede da nova sociedade.</p><p>Incorporação</p><p>A incorporação representa operação societária na qual uma vai absorver o patrimônio de</p><p>outra(s) integralmente, representando um “negócio jurídico plurilateral pelo qual se integram</p><p>patrimônios societários de duas ou mais sociedades”.125</p><p>A grande vantagem da incorporação sobre a fusão é que na primeira a</p><p>incorporadora sobrevive, enquanto na segunda todas as sociedades</p><p>envolvidas desaparecem, sendo criada uma nova sociedade, com todas as</p><p>dificuldades inerentes ao processo, como novo registro no Cadastro</p><p>Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ/MF, alvará de localização, inscrição</p><p>125 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 991.</p><p>92</p><p>estadual, municipal e etc. Ademais, a legislação tributária permite um</p><p>melhor aproveitamento de prejuízos fiscais na incorporação, enquanto na</p><p>fusão há perda total dos prejuízos.126</p><p>A companhia incorporadora não precisa ser nova, mas o ato da incorporação acarretará</p><p>extinção das incorporadas, conforme se depreende da leitura do art. 227 da Lei nº 6.404/76.</p><p>A incorporação apresenta necessariamente 3 (três) características: (i) a</p><p>passagem forçada dos acionistas da sociedade incorporada para a</p><p>incorporadora, exceto daqueles que exercerem o direito de recesso; (ii) a</p><p>transmissão total do patrimônio da incorporada para a incorporadora, que</p><p>a sucede em todos os seus direitos e obrigações; e (iii) a extinção, não a</p><p>dissolução, da sociedade incorporada.127</p><p>A lei ainda exige que o protocolo da operação seja objeto de deliberação em assembleia e, se</p><p>aprovado, o mesmo órgão deliberativo deverá autorizar o aumento do capital social que será</p><p>subscrito e integralizado pelo patrimônio advindo da sociedade incorporada que converterá todo o</p><p>seu patrimônio líquido para a incorporadora.</p><p>Para tanto, deverão ser nomeados peritos que procederão à avaliação dos bens e apresentarão</p><p>laudos fundamentados à assembleia.</p><p>A incorporação é tida como “horizontal” quando os acionistas de uma</p><p>sociedade são diferentes dos acionistas ou sócios de outra, caso em que</p><p>todo o patrimônio da incorporada é transferido à incorporadora a título</p><p>de aumento do capital. Já a incorporação “vertical” é aquela que todas as</p><p>ações de uma companhia, a subsidiária integral, são detidas por outra, a</p><p>controladora total, hipótese em que as ações da incorporada serão extintas</p><p>ou substituídas por ações em tesouraria da incorporadora. A incorporação</p><p>pode ainda apresentar uma feição híbrida, quando a incorporadora detém</p><p>apenas parte das ações da incorporada.128</p><p>126 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 242. v. 3.</p><p>127 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 242. v. 3.</p><p>128 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 242-243. v. 3.</p><p>93</p><p>No que tange à incorporação vertical, citada pelo autor, cumpre observar que o art. 253 da Lei</p><p>nº 6.404/76 determina que, na proporção das ações que possuírem no capital da companhia, os</p><p>acionistas terão direito de preferência na aquisição das ações do capital da subsidiária integral, conforme</p><p>decisão da companhia em aliená-las no todo ou em parte, podendo ainda subscrever no aumento de</p><p>capital social da subsidiária integral, se a companhia decidir admitir outros acionistas.</p><p>O Colegiado da CVM, nas reuniões realizadas em 29.03.2011 e</p><p>16.08.2016 (Processo CVM nº RJ2010/13425 e Processo CVM nº</p><p>19957.003452/2016-48)72, entendeu que o disposto neste artigo apenas</p><p>se aplica às companhias convertidas em subsidiárias integrais em razão de</p><p>operação de incorporação de ações (artigo 252 da Lei nº 6.404/76).</p><p>Adicionalmente, na referida reunião de 29.03.2011, o Colegiado da CVM</p><p>concluiu que, nos casos em que o capital social da subsidiária é distribuído</p><p>entre dois ou mais acionistas, o regime próprio das subsidiárias integrais,</p><p>previsto no artigo 253, somente seria aplicável caso ficasse evidenciado que</p><p>a estrutura acionária foi constituída para fraudar a lei.129</p><p>A companhia a ser incorporada, ao aprovar o protocolo da operação em tela, e registrará na</p><p>mesma ata de assembleia a autorização para que os seus administradores pratiquem os atos necessários</p><p>à incorporação, inclusive a subscrição do aumento de capital da companhia incorporadora.</p><p>Os acionistas da incorporadora, salvo os que exercerem o direito de recesso,</p><p>têm passagem forçada para a incorporadora, recebendo as novas ações de</p><p>emissão da incorporadora, correspondentes ao aumento do capital</p><p>verificado pela absorção do patrimônio líquido da incorporada.</p><p>O direito de recesso acima aduzido, entretanto, não tocará aos titulares de</p><p>ações da incorporada de espécie ou classe que tenham liquidez e dispersão</p><p>no mercado (art. 137, II). Os acionistas da incorporadora, por falta de</p><p>previsão legal, não fazem jus à retirada.130</p><p>Quando o laudo de avaliação e a incorporação forem aprovados em assembleia realizada pelos</p><p>acionistas da companhia incorporadora, extinguir-se-á a incorporada, cabendo à primeira proceder ao</p><p>arquivamento e à publicação dos atos da incorporação, em tributo ao princípio da publicidade.</p><p>129 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/</p><p>export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>130 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 412.</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>de Valores Mobiliários (CVM), entidade autárquica em regime especial, vinculada ao</p><p>Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de autoridade</p><p>administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade</p><p>dos seus dirigentes, além de autonomia financeira e orçamentária, consoante determina o art. 5º da</p><p>Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976.</p><p>O modelo legal de sociedade anônima foi desenvolvido para conciliar 2</p><p>(dois) problemas essenciais na prática dos negócios: o financiamento de</p><p>empreendimentos de maior monta; e a participação de um grande número</p><p>de investidores cuja responsabilidade é limitada ao preço de emissão das</p><p>ações subscritas ou adquiridas.9</p><p>Dessa forma, a Lei nº 6.404/76 regulamenta um tipo societário próprio para grandes</p><p>investimentos, detentor de uma estrutura funcional, operacional, apta para desenvolver o objeto social</p><p>concomitantemente com um objetivo natural da sua essencial, qual seja, a arrecadação de recursos</p><p>financeiros por capitalização e securitização, como se verifica com a leitura do art. 1º da citada lei.</p><p>A sociedade anônima pode ser definida como a pessoa jurídica de direito</p><p>privado, de natureza empresarial, cujo capital divide-se em ações, em princípio</p><p>livremente negociáveis, ficando limitada a responsabilidade de cada um dos</p><p>acionistas ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.</p><p>O dispositivo menciona as 2 (duas) características essenciais das sociedades</p><p>anônimas: (i) o seu capital é dividido em ações; e (ii) a responsabilidade dos</p><p>acionistas é limitada ao preço de emissão das ações.10</p><p>9 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 586. v. 1.</p><p>10 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 26. v. 1.</p><p>8</p><p>Assim, como se verá ainda nesta unidade, as companhias de capital aberto se instituem</p><p>mediante ato administrativo de autorização proferido pela CVM, nos termos determinados pela Lei</p><p>nº 6.404/76 e pela Lei nº 6.385/76; e as companhias de capital fechado, mediante registro realizado</p><p>no Registro Público de Empresas Mercantis (RPEM) a cargo das Juntas Comerciais, nos termos da</p><p>Lei nº 8.934, 18 de novembro de 1994.</p><p>Classificação: companhias de capital aberto e de capital</p><p>fechado</p><p>Até o presente momento, utilizamos a expressão sociedade por ações porque as companhias</p><p>podem proceder à captação de recursos para a composição do seu capital social por meio de emissão</p><p>pública ou privada de valores mobiliários, especificamente as ações, daí a companhia poder ser</p><p>classificada como de capital aberto ou de capital fechado, consoante o art. 4º da Lei nº 6.404/76.</p><p>Assim, tem-se por aberta a companhia que capta recursos financeiros junto ao público,</p><p>emitindo publicamente valores mobiliários a serem negociados no mercado de capitais,11 em bolsa</p><p>de valores ou no mercado de balcão, conforme o art. 22 da Lei nº 6.385/76.</p><p>A contrario sensu, as companhias de capital fechado negociam os seus valores mobiliários</p><p>privativamente, sem utilizar-se de expedientes de publicização das ofertas, deve(m), o(s)</p><p>fundador(es) buscar, entre os seus contatos, pretensos investidores ou mesmo ver o capital social</p><p>integralmente subscrito pelo grupo que fundou a companhia de capital fechado.</p><p>Isso permite constatar uma aproximação sistêmica entre a companhia de capital fechado e as</p><p>sociedades limitadas. Por ser pacífico o reconhecimento da affectio societatis nas companhias de</p><p>capital fechado, nesse sentido, lê-se Rubens Edmundo Requião12 e os REsp. nº 111.294/PR13 e</p><p>REsp. nº 507.490/RJ14, ambos do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ou seja, as sociedades</p><p>anônimas de capital aberto são caracterizadas pelo seu intuitu pecuniae, inexistindo o intuitu</p><p>personae característico das sociedades de pessoas e presente também nas sociedades híbridas, como</p><p>as sociedades limitadas.</p><p>11 Ressalva-se que mercado de capitais consiste em temática não tratada neste material em razão da extensão e</p><p>especificidade do tema que consiste em objeto de disciplina própria. Dessa forma, as menções pontuais realizadas têm</p><p>por escopo apenas consolidar raciocínios atinentes à temática das sociedades por ações.</p><p>12 REQUIÃO, Rubens Edmundo. Sociedade anônima de capital fechado: dissolução parcial ou mais uma hipótese de direito</p><p>retirada. Disponível em: http://www.requiao.adv.br/artigo10.htm. Acesso em: mar. 2023.</p><p>13 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 111.294. Relator: Ministro Castro Filho. Paraná, 15 de junho de</p><p>2005. In: DJ, 24 de junho de 2005.</p><p>14 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 507.490. Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros. Rio de</p><p>Janeiro: 19 de setembro de 2006. In: DJ, 13 de novembro de 2006.</p><p>http://www.requiao.adv.br/artigo10.htm</p><p>9</p><p>É o intuitu pecuniae que assegura a livre negociabilidade e circulação dos valores mobiliários,</p><p>notadamente das ações, sendo tal característica típica das companhias de capital aberto, podendo</p><p>as companhias de capital fechado limitar a livre negociabilidade e circulação das ações, como se</p><p>depreende da leitura do art. 36 da Lei nº 6.404/76.</p><p>Além disso, tal aproximação se nota pela interpretação das recentes alterações determinadas</p><p>pela Instrução Normativa DREI nº 81, de 10 de junho de 20201515, que recentemente sofreu</p><p>consideráveis alterações pela Instrução Normativa DREI nº 1, de 24 de janeiro de 2024, no tocante</p><p>às normas e diretrizes gerais do Registro Público de Empresas.</p><p>Esse fator diferencial é responsável pela distinção da forma de instituição das companhias</p><p>de capital aberto e das de capital fechado, como se fará constatar, bem como justifica a maior</p><p>complexidade burocrática imposta às companhias de capital aberto, na sua constituição e no</p><p>seu funcionamento.</p><p>A oferta pública de distribuição de valores mobiliários constitui a operação</p><p>por meio da qual a companhia ou os titulares de valores mobiliários de sua</p><p>emissão realizam, mediante apelo ao público, a colocação de ações ou</p><p>outros valores mobiliários no mercado de capitais. Essas ofertas são</p><p>usualmente designadas, na prática do mercado, pela sigla IPO – Initial</p><p>Public Offer, a qual se refere às ofertas mediante as quais uma companhia</p><p>fechada acessa o mercado pela primeira vez, promovendo a distribuição</p><p>pública de valores mobiliários de sua emissão; as regras a ela aplicáveis</p><p>estendem-se, também, às ofertas realizadas por companhias que já tenham</p><p>os valores mobiliários de sua emissão atingidos à negociação no mercado.16</p><p>Na referida oferta de valores mobiliários, notadamente no que tange às ações, verifica-se uma</p><p>divisão em dois momentos, o que permite a distinção do referido título por duas perspectivas, a</p><p>saber: ações primárias, ou seja, ações novas, recém-emitidas pela companhia com o propósito de</p><p>compor ou ampliar o seu capital social; e ações secundárias, ações velhas que consistem em objeto</p><p>de revenda que o acionista subscritor desenvolve com novos investidores.</p><p>No caso das ações primárias, a relação jurídica se desenvolve entre a companhia emissora do</p><p>valor mobiliário e o acionista que será o seu primeiro titular. Já no caso das ações secundárias, a</p><p>relação jurídica se desenvolve entre o titular da ação e o novo investidor interessado em adquirir o</p><p>valor mobiliário objeto de uma revenda.</p><p>15 Departamento de Registro Empresarial e Integração. Instrução Normativa DREI nº 81, de 10 de junho de 2020. Disponível em:</p><p>https://www.normasbrasil.com.br/norma/instrucao-normativa-38-2017_338241.html. Acesso em: maio 2024.</p><p>16 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 55. v. 1.</p><p>https://www.normasbrasil.com.br/norma/instrucao-normativa-38-2017_338241.html</p><p>10</p><p>As ofertas primárias atendem à principal função econômica do mercado de</p><p>valores mobiliários, qual seja, a de permitir o financiamento de médio e longo</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>94</p><p>Observe que a Instrução Normativa DREI nº 81, de 10 de junho de 2020, não impede a</p><p>incorporação de sociedade com o patrimônio líquido negativo, garantindo a autonomia da vontade</p><p>dos acionistas para deliberar neste sentido conforme melhor lhes aprouver.</p><p>Os procedimentos inerentes à incorporação, previstos na Instrução Normativa em tela,</p><p>aplicam-se, naquilo que couber, também às operações de incorporação reversa, à incorporação de</p><p>subsidiária integral e à incorporação de ações.</p><p>Como se sabe, para a aprovação da operação de incorporação, tanto a sociedade</p><p>incorporadora quanto a incorporada deverão: (i) deliberar pela aprovação da operação, aprovando</p><p>o protocolo e a justificação da operação, consoante determinam os arts. 224 e 225 da Lei nº</p><p>6.404/1976; (ii) aprovar o projeto de reforma do contrato social ou estatuto social, conforme o</p><p>caso; (iii) nomear os peritos ou empresas especializadas para avaliarem o patrimônio líquido da</p><p>instituição que venha a ser incorporada; (iv) aprovar o laudo de avaliação e (v) autorizar, quando</p><p>for o caso, o aumento do capital social a ser subscrito e realizado pela incorporada mediante versão</p><p>do seu patrimônio líquido, declarando extinta a incorporada.</p><p>No caso da sociedade incorporada, a deliberação deverá conter aprovação do protocolo e a</p><p>justificação da operação, bem como o projeto de reforma do contrato social ou estatuto social e</p><p>autorização para os administradores praticarem os atos necessários à incorporação.</p><p>Uma vez aprovados os atos da incorporação, deverá a sociedade incorporada ser extinta e a</p><p>incorporadora deverá providenciar o arquivamento da ata de assembleia e da alteração do ato</p><p>constitutivo, quando houver reforma do estatuto social.</p><p>Deve-se assim observar as formalidades legais para o regular arquivamento dos instrumentos</p><p>de deliberação da incorporadora, razão pela qual, para fins de uniformização dos procedimentos</p><p>administrativos praticados pela juntas comerciais, primeiro deve ser registrado o processo da</p><p>sociedade incorporadora e em seguida o processo da sociedade incorporada.</p><p>Cisão</p><p>A cisão é a operação societária pela qual uma companhia transfere total ou parcialmente o</p><p>seu patrimônio para uma ou mais companhias constituídas para esse fim ou pré-existentes.</p><p>Extinguir-se-á a companhia cindida se houver transferência total do seu patrimônio; sendo parcial,</p><p>dividir-se-á o seu capital social.</p><p>Não obstante essa feição de desconcentração que lhe é marcante, pode a</p><p>cisão ser usada como instrumento de concentração, através da combinação</p><p>de operações em que o patrimônio da sociedade é cindido como etapa</p><p>preparatória à incorporação da sucessora de parte desse patrimônio para</p><p>outra sociedade.131</p><p>131 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 414.</p><p>95</p><p>De acordo com os termos do art. 229 da Lei nº 6.404/76, a sociedade que absorver</p><p>parcialmente o patrimônio da companhia cindida lhe sucederá em direitos e obrigações,</p><p>especificamente relacionados no ato formal da cisão.</p><p>Em caso de cisão com conversão total de patrimônio, aquelas sociedades que absorverem</p><p>parcelas do patrimônio da companhia cindida lhes sucederão proporcionalmente ao montante do</p><p>patrimônio líquido transferido a cada uma, mantendo a integridade dos direitos e das obrigações</p><p>relacionados e pré-constituídos, respeitando a natureza desta operação societária.</p><p>A cisão tem raízes na prática empresarial, obedecendo, na maioria dos casos,</p><p>aos objetivos da racionalização e reorganização de estruturas empresariais</p><p>existentes, permitindo que a finalidade lucrativa do empreendimento seja</p><p>alcançada de forma diversa da original, mediante a realocação de seu</p><p>patrimônio. Daí a sua caracterização como uma “modificação estrutural da</p><p>sociedade”; trata-se de instrumento jurídico que possibilita à empresa,</p><p>organizada sob a forma de sociedade, adequar a sua estrutura às exigências</p><p>do desenvolvimento de negócios.132</p><p>Igualmente, as demais operações societárias que podem acarretar extinção de personalidade</p><p>jurídica. Na cisão, os bens que compõem o patrimônio das companhias envolvidas deverão ser</p><p>avaliados por peritos nomeados que deverão apresentar os seus pareceres e laudos à assembleia para</p><p>aprovação. O mesmo órgão deliberativo deverá registrar as considerações sobre o protocolo,</p><p>conforme os arts. 224 e 225, respectivamente, ambos da Lei nº 6.404/76.</p><p>Observe que a cisão com versão parcial de patrimônio em sociedade já existente muito se</p><p>assemelha à incorporação, tanto que o § 3º do art. 229 da lei em tela determina que, neste caso,</p><p>observar-se-ão as disposições atinentes à incorporação, nos termos tratados no item Incorporação</p><p>deste estudo.</p><p>A cisão total exigirá dos administradores da(s) companhia(s) que absorverem o patrimônio</p><p>que procedam ao arquivamento e à publicação dos atos pertinentes à operação societária em tela.</p><p>Em caso de cisão parcial, essa obrigação recairá sobre os ambos os administradores, os da companhia</p><p>cindida e os da companhia que absorver parcialmente o patrimônio.</p><p>Ainda como consequência do procedimento de cisão, a substituição dos valores mobiliários</p><p>de titularidade dos acionistas será imprescindível para atualizar a participação societária de cada um.</p><p>Assim, as ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida deverão ser</p><p>atribuídas aos seus titulares, em substituição às ações emitidas pela(s) companhia(s) extinta(s),</p><p>respeitadas as proporções que cada investidor possuir, evitando diluição da participação societária,</p><p>enriquecimento sem causa ou empobrecimento injustificado.</p><p>132 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 256. v. 3.</p><p>96</p><p>A legislação não nega, porém, o direito de se proceder à atribuição desproporcional. Porém,</p><p>neste caso, dever-se-á registrar em ata de assembleia a aprovação de todos os titulares, inclusive os</p><p>titulares de ações sem direito a voto (preferenciais).</p><p>A Instrução Normtaiva DREI nº 81, de 10 de junho de 2020, no seu art. 83-A, passou a</p><p>determinar que os atos de cisão devem ser publicados na localidade da sede das sociedades</p><p>envolvidas, em atenção ao disposto no art. 229, §§ 3º e 4º da Lei nº 6.404/1976.</p><p>97</p><p>BIBLIOGRAFIA</p><p>ARAGÃO, Paulo Cézar. Opções de compra de ações e bônus de subscrição. Revista dos Tribunais. v.</p><p>631, p. 63, maio 1988. Doutrinas Essenciais de Direito Empresarial. v. 8, p. 281, dez 2010. 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Disponível em http://www.planalto.gov.br/</p><p>ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13874.htm. Acesso em: maio 2024.</p><p>BORGES, Eunápio. Curso de direito comercial terrestre. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991.</p><p>BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 111.294. Relator: Ministro Castro</p><p>Filho. Paraná, 15 de junho de 2005. In: DJ, 24 de junho de 2005.</p><p>______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 507.490. Relator: Ministro Humberto</p><p>Gomes de Barros. Rio de Janeiro,</p><p>19 de setembro de 2006. In: DJ, 13 de novembro de 2006.</p><p>______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 784.881. Relator: Ministro Carlos</p><p>Alberto Menezes Direito. Brasília, 4 de maio de 2006. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/</p><p>jurisprudencia/9018740/recurso-especial-resp-784881-ce-2005-0161178-0/inteiro-teor-</p><p>14192148?ref=juris-tabs. Acesso em: maio 2024.</p><p>______. Ministério da Economia. 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Ministério da Economia. Portaria ME nº 10.031, de 22 de novembro de 2022. Disponível</p><p>em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-me-n-10.031-de-22-de-novembro-de-2022-</p><p>445740108. Acesso em: maio 2024.</p><p>BRUSCATO, Wilges. Manual de direito empresarial brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011.</p><p>CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo, Saraiva, 2017.</p><p>COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva,</p><p>2015. v. 2.</p><p>COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual., São</p><p>Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021. v. 2.</p><p>CORDEIRO, António Menezes. Manual de direito das sociedades. Coimbra: Almedina, 2004. v. 1.</p><p>COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Processo CVM nº RJ2008/1794. Disponível em:</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/decisoes/anexos/0004/5973-1.pdf. 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O poder de controle na sociedade anônima. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983.</p><p>CRUZ, André Santa. Manual de Direito Empresarial. Volume único. 12 ed. rev. atual. e ampl. São</p><p>Paulo: Editora JusPodivm, 2022.</p><p>DEFANTI, Francisco; NABUCO, Joana; SEIXO, Filipe. Boas práticas de governança corporativa e</p><p>a legitimidade ativa dos acionistas minoritários. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/</p><p>depeso/385419/boas-praticas-de-governanca-corporativa. Acesso em: maio 2024.</p><p>DEPARTAMENTO DE REGISTRO EMPRESARIAL E INTEGRAÇÃO. Instrução Normativa</p><p>DREI nº 81, de 10 de junho de 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-</p><p>normativa-n-81-de-10-de-junho-de-2020-261499054. Acesso em: maio 2024.</p><p>EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. v. 1.</p><p>______. A Lei das S/A Comentada: arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. v. 2.</p><p>______. 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REsp 691.912, 1ª Turma, Min. Teori Zawaski, j.</p><p>7.4.2005. D.J.U. 9.5.05, p. 311. Disponível em: https://www.mpam.mp.br/centros-de-apoio-sp-</p><p>947110907/civel/artigos/fundacoes-e-massas-falidas/2693-necessidade-de-deliberacao-social-</p><p>acerca-do-pedido-de-recuperacao-judicial-ou-de-autofalencia. Acesso em: maio 2024.</p><p>SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. RECURSO ESPECIAL Nº 1.539.445-SP</p><p>(2015/0045669-6). Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/acionistas-nao-impedir-</p><p>recuperacao.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp 1207956/RJ. Disponível em:</p><p>https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/153485205. Acesso em: maio 2024.</p><p>TARTUCE, Flávio. A “lei da liberdade econômica” (lei 13.874/19) e os seus principais impactos para</p><p>o Direito Civil. Primeira parte. Disponível em https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/</p><p>760633426/a-lei-da-liberdade-economica-lei-13874-2019-e-os-seus-principais-impactos-para-o-</p><p>direito-civil-parte-i. Acesso em: maio 2024.</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Apelação Cível</p><p>nº 70071296446, CNJ: 0339838-08.2016.8.21.7000. Disponível em: http://s.conjur.com.br/dl/</p><p>acordao-tj-rs-confirma-sentenca-acolheu.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. RR 11345920105040201. Relator Márcio Eurico</p><p>Vitral Amaro. 8ª Turma. Julgamento em 16 de março de 2016. In: DEJT, 22 de março de 2016.</p><p>Disponível em: https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/322767571/recurso-de-revista-rr-113</p><p>45920105040201. Acesso em: maio 2024.</p><p>VALVERDE, Trajano de Miranda. Sociedade por ações. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1953. v. 1.</p><p>https://www.mpam.mp.br/centros-de-apoio-sp-947110907/civel/artigos/fundacoes-e-massas-falidas/2693-necessidade-de-deliberacao-social-acerca-do-pedido-de-recuperacao-judicial-ou-de-autofalencia</p><p>https://www.mpam.mp.br/centros-de-apoio-sp-947110907/civel/artigos/fundacoes-e-massas-falidas/2693-necessidade-de-deliberacao-social-acerca-do-pedido-de-recuperacao-judicial-ou-de-autofalencia</p><p>https://www.mpam.mp.br/centros-de-apoio-sp-947110907/civel/artigos/fundacoes-e-massas-falidas/2693-necessidade-de-deliberacao-social-acerca-do-pedido-de-recuperacao-judicial-ou-de-autofalencia</p><p>https://www.conjur.com.br/dl/acionistas-nao-impedir-recuperacao.pdf</p><p>https://www.conjur.com.br/dl/acionistas-nao-impedir-recuperacao.pdf</p><p>https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/153485205</p><p>https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/760633426/a-lei-da-liberdade-economica-lei-13874-2019-e-os-seus-principais-impactos-para-o-direito-civil-parte-i</p><p>https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/760633426/a-lei-da-liberdade-economica-lei-13874-2019-e-os-seus-principais-impactos-para-o-direito-civil-parte-i</p><p>https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/760633426/a-lei-da-liberdade-economica-lei-13874-2019-e-os-seus-principais-impactos-para-o-direito-civil-parte-i</p><p>http://s.conjur.com.br/dl/</p><p>http://s.conjur.com.br/dl/</p><p>https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/322767571/recurso-de-revista-rr-113</p><p>https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/322767571/recurso-de-revista-rr-113</p><p>102</p><p>PROFESSORES-AUTORES</p><p>Pablo Gonçalves e Arruda</p><p>Formação acadêmica</p><p> Advogado.</p><p> Pós-graduado em Direito do Consumidor pela PUC-RJ.</p><p> Mestrando em Direito pela Universidade Veiga de Almeida.</p><p>Experiências profissionais</p><p> Coordenador do Núcleo de Direito Empresarial do Instituto Brasileiro de Direito dos</p><p>Negócios.</p><p> Expositor da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, Escola de Magistratura</p><p>Federal do Paraná, Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro,</p><p>Fundação Escola do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e Fundação Escola</p><p>Superior da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.</p><p> Pesquisador do Grupo de Pesquisa Direito e Sustentabilidade Econômica.</p><p>Publicações</p><p>Autor de diversas publicações, entre elas:</p><p> ARRUDA, Pablo G.; MENDONCA, S. B. A inobservância</p><p>dos termos fundamentais da</p><p>teoria da empresa por normas positivadas: estudo de caso da Eireli constituída para fins</p><p>não empresariais. Revista Jurídica (FIC), v. 4, p. 586-608, 2016.</p><p> MENDONCA, S. B.; ARRUDA, Pablo G. O microempreendedor individual à luz da teoria</p><p>poliédrica de Alberto Asquini. Revista Brasileira de Direito Empresarial, v. 2, n. 1, 2016.</p><p> MENDONCA, S. B.; ARRUDA, Pablo G. O microempreendedor individual à luz da</p><p>teoria poliédrica de Alberto Asquini. In: TOMAZ, Carlos Alberto Simões de; RIBEIRO,</p><p>Maria de Fatima; SOUZA, Roney José Lemos Rodrigues (Orgs.). Direito Empresarial. 1.</p><p>ed. v. 1. Florianópolis: Conpedi, 2016. p. 428-444.</p><p> ARRUDA, Pablo G.; MADURO, M. O novo investidor anjo nas startups a partir da LC</p><p>155/16 (parte 1). Migalhas, 24 jul. 2017. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/</p><p>depeso/262391/o-novo-investidor-anjo-nas-startups-a-partir-da-lc-155-16-parte-1.</p><p>Acesso em: mar. 2023.</p><p>https://www.migalhas.com.br/depeso/262391/o-novo-investidor-anjo-nas-startups-a-partir-da-lc-155-16-parte-1</p><p>https://www.migalhas.com.br/depeso/262391/o-novo-investidor-anjo-nas-startups-a-partir-da-lc-155-16-parte-1</p><p>103</p><p> ARRUDA, Pablo G.; SOARES, N. M. A natureza jurídica da incorporação de ações segundo</p><p>a doutrina. Migalhas, 26 jun. 2017. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/</p><p>depeso/260875/a-natureza-juridica-da-incorporacao-de-acoes-segundo-a-doutrina.</p><p>Acesso em: mar. 2023.</p><p> ARRUDA, Pablo G.; SOARES, N. M. As novas instruções normativas DREI. Migalhas,,</p><p>3 abr. 2017. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/256660/as-novas-</p><p>instrucoes-normativas-drei. Acesso em: mar. 2023.</p><p> ARRUDA, Pablo G. A dissolução (total e parcial) de sociedade no novo CPC. Migalhas,</p><p>1 mar. 2016. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/234881/a-dissolucao-</p><p>total-e-parcial-de-sociedade-no-novo-cpc . Acesso em: mar. 2023.</p><p>https://www.migalhas.com.br/depeso/260875/a-natureza-juridica-da-incorporacao-de-acoes-segundo-a-doutrina</p><p>https://www.migalhas.com.br/depeso/260875/a-natureza-juridica-da-incorporacao-de-acoes-segundo-a-doutrina</p><p>https://www.migalhas.com.br/depeso/256660/as-novas-instrucoes-normativas-drei</p><p>https://www.migalhas.com.br/depeso/256660/as-novas-instrucoes-normativas-drei</p><p>https://www.migalhas.com.br/depeso/234881/a-dissolucao-total-e-parcial-de-sociedade-no-novo-cpc</p><p>https://www.migalhas.com.br/depeso/234881/a-dissolucao-total-e-parcial-de-sociedade-no-novo-cpc</p><p>104</p><p>Saulo Bichara Mendonça</p><p>Formação acadêmica</p><p> Pós-doutorado em Direito pela Universidade do Estado do Rio</p><p>de Janeiro.</p><p> Doutor em Direito pela Universidade Veiga de Almeida.</p><p> Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho.</p><p> Especialista em Direito Público e Relações Privadas e especialista</p><p>em Direito do Trabalho pela Faculdade de Direito de Campos.</p><p>Experiências profissionais</p><p> Coordenador do Grupo de Pesquisa Direito e Sustentabilidade Econômica.</p><p>Publicações</p><p>Autor de diversas publicações, entre elas:</p><p> MENDONÇA, S. B. Empresa: atividade econômica organizada. 1. ed. v. 1. Rio de</p><p>Janeiro: Multifoco, 2017. 219 p.</p><p> MENDONÇA, S. B. Empresário individual de responsabilidade limitada: limites e</p><p>possibilidades como fomento à microempresa. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2014. 226 p.</p><p> MENDONÇA, S. B. Recuperação judicial das microempresas e empresas de</p><p>pequeno porte: visão constitucionalizada do plano especial de recuperação. 1. ed. Rio de</p><p>Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2011. 191 p.</p><p> MENDONÇA, S. B.; SOUZA, H. A. Isonomia nas contratações de microempresas. In:</p><p>ASENSI, Felipei; SOUZA JÚNIOR, Arthur Bezerra de (Orgs.). Microempresa: gestão</p><p>inovadora e direito. 1 ed. Rio de Janeiro: Multifoco Ágora, 2015. p. 1-10.</p><p> MENDONÇA, S. B.; BARRETO, A. C. C. A integralidade do capital social com bens</p><p>imóveis e inexigibilidade de escritura pública. In: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira</p><p>da; OLIVEIRA, Carla Fernandes de (Orgs.). Direito Imobiliário, Notarial e Registral:</p><p>perspectivas contemporâneas. 1. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017. p. 1-270.</p><p> MENDONÇA, S. B. Justiça e gestão na área de petróleo e gás. In: TAVEIRA, Izabela</p><p>Maria Rezende; MACIEL, Fabianne Manhães; SOARES JÚNIOR, Roberto Pires;</p><p>SOUZA, Heron Abdon (Orgs.). Eficiência dos contratos a partir da boa-fé. 1.</p><p>ed.Curitiba: CRV, 2015. p. 1-342.</p><p> MENDONÇA, S. B.; ARRUDA, P. G. E. A inobservância dos termos fundamentais da</p><p>teoria da empresa por normas positivadas: estudo de caso da Eireli constituída para fins</p><p>não empresariais. Revista Jurídica (FIC) , v. 4, p. 586-608, 2017.</p><p> MENDONÇA, S. B. ; ARRUDA, P. G. E. O microempreendedor individual à luz da teoria</p><p>poliédrica de Alberto Asquini. Revista Brasileira de Direito Empresarial, v. 2, n. 1, 2016.</p><p>https://www.instagram.com/fgv.educacaoexecutiva/</p><p>https://www.linkedin.com/school/fgv-educacaoexecutiva/</p><p>SUMÁRIO</p><p>MÓDULO I – TEORIA GERAL DA SOCIEDADE POR AÇÕES</p><p>Noções introdutórias</p><p>Classificação: companhias de capital aberto e de capital fechado</p><p>Constituição da companhia</p><p>Requisitos preliminares</p><p>Constituição por subscrição pública</p><p>Constituição por subscrição privada</p><p>Formalidades complementares</p><p>Companhia de menor porte</p><p>Capital social</p><p>Formação do capital social</p><p>Aumento do capital social</p><p>Redução do capital social</p><p>MÓDULO II – ACIONISTAS</p><p>Dever</p><p>Direitos essenciais</p><p>Voto</p><p>Voto múltiplo</p><p>Voto plural</p><p>Acordo de acionistas</p><p>Reembolso</p><p>Resgate</p><p>Amortização</p><p>MÓDULO III – VALORES MOBILIÁRIOS</p><p>Ações</p><p>Valores</p><p>Espécies</p><p>Forma de circulação</p><p>Classes</p><p>Debêntures</p><p>Espécies</p><p>Garantias</p><p>Agente fiduciário debenturista</p><p>Bônus de subscrição</p><p>Partes beneficiárias</p><p>MÓDULO IV – ÓRGÃOS SOCIETÁRIOS</p><p>Assembleia geral</p><p>Assembleia geral ordinária</p><p>Assembleia geral extraordinária</p><p>Assembleia especial</p><p>Assembleia de constituição</p><p>Conselho de administração</p><p>Diretoria</p><p>Conselho fiscal</p><p>Publicações empresariais obrigatórias</p><p>MÓDULO V – OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS</p><p>Transformação</p><p>Grupo econômico</p><p>Grupo societário</p><p>Consórcio</p><p>Extinção da companhia</p><p>Dissolução da companhia</p><p>Liquidação da companhia</p><p>Fusão</p><p>Incorporação</p><p>Cisão</p><p>BIBLIOGRAFIA</p><p>PROFESSORES-AUTORES</p><p>Pablo Gonçalves e Arruda</p><p>Formação acadêmica</p><p>Experiências profissionais</p><p>Publicações</p><p>Saulo Bichara Mendonça</p><p>Formação acadêmica</p><p>Experiências profissionais</p><p>Publicações</p><p>prazos das empresas, que poderão direcionar os recursos obtidos, entre outras</p><p>aplicações, para a execução de projetos e/ou adequação de seu passivo.</p><p>As ofertas secundárias, por sua vez, são aquelas em que os acionistas da</p><p>companhia ou os titulares de outros valores mobiliários de sua emissão</p><p>vendem no mercado os títulos de sua propriedade já emitidos pela companhia.</p><p>Neste caso, os recursos pagos pelos investidores para adquirir as ações ou</p><p>outros valores mobiliários ofertados não são destinados à companhia emissora,</p><p>mas aos proprietários ofertantes. As ofertas secundárias constituem,</p><p>normalmente, a forma utilizada pelos acionistas controladores ou outros</p><p>investidores estratégicos para obter retorno financeiro de seus investimentos</p><p>e/ou dar liquidez aos títulos de sua propriedade.17</p><p>Compreendida a distinção formal e material entre as espécies de companhias privadas</p><p>regulamentadas pela Lei nº 6.404/76, passa-se à análise da sua estruturação jurídica.</p><p>Constituição da companhia</p><p>A constituição da companhia, seja de capital aberto ou de capital fechado, demanda atenção</p><p>a requisitos burocráticos distintos dos exigíveis às sociedades limitadas e aos demais tipos societários</p><p>regulados em lei, considerando a natureza das sociedades por ações (sociedade de capitais) e a maior</p><p>quantidade e diferente qualidade de interesses inerentes à sua existência e ao seu funcionamento.</p><p>Para a sua constituição, deve-se atentar para os requisitos preliminares determinados pelo art.</p><p>80 da Lei nº 6.404/76.</p><p>Esses requisitos podem ser atendidos simultaneamente, permitindo a pronta</p><p>e imediata constituição da companhia, o que é mais comum quando o</p><p>número de sócios é restrito, ou sucessivamente, elemento a elemento o que</p><p>é mais comum quando a companhia se constitui pela adesão de investidores</p><p>diversos, sem prévio reconhecimento ou ajuste, segundo, aliás, a ideia geral</p><p>que norteia o instituto.18</p><p>17 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 55-56. v. 1.</p><p>18 MAMEDE, Gladston. Direito societário: sociedades simples e empresárias. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 311. v. 2.</p><p>11</p><p>Depois do atendimento dos requisitos complementares, atentar-se-á às distinções naturais da</p><p>constituição por subscrição pública e por subscrição privada de valores mobiliários.</p><p>Requisitos preliminares</p><p>Independentemente do tipo de companhia, os requisitos preliminares aos atos constitutivos</p><p>são os mesmos, consoante se verifica no art. 80 da Lei nº 6.404/76, a saber:</p><p>Art. 80. A constituição da companhia depende do cumprimento dos</p><p>seguintes requisitos preliminares:</p><p>I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações em que</p><p>se divide o capital social fixado no estatuto;</p><p>II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do</p><p>preço de emissão das ações subscritas em dinheiro;</p><p>III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento</p><p>bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do</p><p>capital realizado em dinheiro.</p><p>Parágrafo único. O disposto no número II não se aplica às companhias</p><p>para as quais a lei exige realização inicial de parte maior do capital social.</p><p>Atente-se que, em relação ao primeiro requisito, a determinação legal é no sentido de que</p><p>todo o valor do capital social proposto pelos fundadores na minuta do estatuto social seja subscrito</p><p>por, pelo menos, duas pessoas.</p><p>A exigência é feita nesse sentido em respeito ao princípio da pluralidade societária sobre o</p><p>qual se fundamentam as regras societárias pátrias que preveem a unipessoalidade apenas em caráter</p><p>excepcional, seja a unipessoalidade incidental, na forma do art. 206, I, d, da Lei nº 6.404/76, ou a</p><p>subsidiária incidental, na forma do art. 251 da mesma lei.</p><p>Outra razão que justifica a exigência do inc. I do art. 80 citado funda-se na necessidade de</p><p>ver o comprometimento de investidores com a integralização do capital social. A integralização</p><p>pode ocorrer de forma parcelada, mas a subscrição deve ser imediata, pois o compromisso assumido</p><p>com a integralização do capital social representa para o mercado uma espécie de garantia informal</p><p>de que o empreendimento será, efetivamente, instituído.</p><p>“A insuficiência da subscrição não vincula os subscritores, porquanto a proposição dos</p><p>fundadores encontra-se subordinada à condição suspensiva, consiste na subscrição completa do</p><p>capital projetado”.19 Isso porque a sociedade anônima tem prazo para ser regulamente instituída a</p><p>partir do depósito realizado nos termos do art. 81 da Lei nº 6.404/76. Caso isso não seja respeitado,</p><p>os valores devem ser restituídos aos investidores iniciais.</p><p>19 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 98.</p><p>12</p><p>A exigência constante no inc. II do art. 80 da Lei nº 6.404/76, no sentido de que o capital</p><p>social seja realizado com pelo menos 10% em dinheiro, justifica-se pela necessidade de liquidez</p><p>mínima da companhia quando do início das suas atividades. Observe que a lei não determina de</p><p>que forma os 90% restantes devem ser integralizados, podendo ser em bens ou direitos, conforme</p><p>determina o art. 7º da mesma lei. Assim, se os bens destinados à integralização das ações subscritas</p><p>forem avaliados em valor menor do que o montante devido, a diferença deverá ser integralizada em</p><p>dinheiro e à vista.</p><p>Ainda sobre o inc. II, verifica-se a relevância de considerar que, em se tratando de instituições</p><p>financeiras privadas, deve-se observar o parágrafo único do mesmo art. 80 da Lei nº 6.404/76.</p><p>Neste caso, o capital social precisa ser integralizado na ordem de 50% em dinheiro, em atenção ao</p><p>que determina a Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, em cujo art. 27 se lê: “na subscrição do</p><p>capital inicial e na de seus aumentos em moeda corrente, será exigida no ato a realização de, pelo</p><p>menos 50% (cinquenta por cento) do montante subscrito”.</p><p>O inc. III do citado art. 80 da Lei nº 6.404/76 exige que a quantia apurada no inc. II seja</p><p>depositada em conta bancária. Observa-se que essa exigência só se justifica nos casos de</p><p>integralização de ações primárias emitidas quando da constituição da companhia, sendo</p><p>desnecessário o depósito quando a integralização de ações novas se der por ocasião do aumento do</p><p>capital social, quando a companhia poderá levantar a importância em seu favor de imediato.</p><p>A realização do depósito nos termos do inc. III se deve em razão de a companhia, neste</p><p>momento, ainda estar em organização, consoante prescreve o art. 81 do mesmo diploma legal.</p><p>Art. 81. O depósito referido no número III do artigo 80 deverá ser feito</p><p>pelo fundador, no prazo de 5 (cinco) dias contados do recebimento das</p><p>quantias, em nome do subscritor e a favor da sociedade em organização,</p><p>que só poderá levantá-lo após haver adquirido personalidade jurídica.</p><p>Parágrafo único. Caso a companhia não se constitua dentro de 6 (seis)</p><p>meses da data do depósito, o banco restituirá as quantias depositadas</p><p>diretamente aos subscritores.</p><p>Observe, por oportuno, que o citado dispositivo legal representa exceção flagrante à regra</p><p>geral atinente à aquisição da personalidade jurídica pela sociedade descrita no art. 985 do Código</p><p>Civil (CC), o qual determina que: “a sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no</p><p>registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150)”.</p><p>Não se questiona ou critica a presente exceção em razão do critério da especificidade</p><p>decorrente da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei nº 4.657,</p><p>de 4 de setembro de 1942), segundo a qual, em caso de eventual conflito entre lei geral e lei especial,</p><p>devem prevalecer as determinações da lei especial (lex specialis derogat legi generali).</p><p>Observados e respeitados os requisitos preliminares, passa-se à observação dos requisitos</p><p>específicos impostos a cada caso, seja subscrição pública ou subscrição privada de valores mobiliários.</p><p>13</p><p>Constituição por subscrição pública</p><p>A constituição da companhia por subscrição pública de valores mobiliários depende da</p><p>atuação da figura do fundador, que deve contar com o apoio e a responsabilidade solidária de ao</p><p>menos uma instituição financeira.</p><p>Art. 92. Os fundadores e as instituições financeiras que participarem da</p><p>constituição por subscrição pública responderão, no âmbito das respectivas</p><p>atribuições, pelos prejuízos resultantes da inobservância de preceitos legais.</p><p>Parágrafo único. Os fundadores responderão, solidariamente, pelo prejuízo</p><p>decorrente de culpa ou dolo em atos ou operações anteriores à constituição.</p><p>A presente exigência legal representa garantia de certeza jurídica no aporte de capital realizado</p><p>pelos investidores. Considerando que a figura do fundador é caracteristicamente volátil, a</p><p>participação de forma solidária da instituição financeira assegura ao investidor o mínimo de certeza</p><p>de reaver o montante investido caso a companhia não se constitua dentro de seis meses da data do</p><p>depósito, conforme preceitua o parágrafo único do citado art. 81 da Lei nº 6.404/76.</p><p>Os fundadores, portanto, promovem a constituição da companhia em seu</p><p>nome e risco. Suportam a incerteza do êxito do projeto, sendo de se mencionar</p><p>que a assembleia geral dos subscritores pode deliberar pela não criação da</p><p>sociedade. Assim sendo, atuam como verdadeiros empreendedores de um</p><p>negócio e, com a sua instalação, encontra-se ultimado o seu mister, não tendo</p><p>que aderir, como se viu, necessariamente ao projeto criado como acionista.</p><p>Em face dos serviços profissionais que realizam, de caráter eminentemente</p><p>técnico, por conta e risco, fazem jus, mormente na constituição sucessiva,</p><p>a uma correspondente remuneração, sem prejuízo de serem reembolsados,</p><p>pela sociedade criada, das despesas suportadas em prol da constituição.20</p><p>A ação conjunta do fundador com a instituição financeira proporcionará a disponibilização</p><p>das ações no mercado de capitais, viabilizando a subscrição de títulos que vinculem os investidores</p><p>ao capital social a ser integralizado.</p><p>20 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 102.</p><p>14</p><p>A Lei das S.A. determina que os fundadores e as instituições financeiras</p><p>intermediárias são responsáveis, de acordo com as respectivas</p><p>atribuições, pelos prejuízos resultantes da inobservância dos preceitos</p><p>legais (art. 92). A instituição financeira intermediária deverá tomar todas</p><p>as cautelas, respondendo pela falta de diligência ou omissão, para</p><p>assegurar que as informações constante no estudo de viabilidade</p><p>econômico-financeira do empreendimento são corretas, suficientes,</p><p>verdadeiras e consistentes, permitindo aos investidores a tomada de</p><p>decisão fundamentada a respeito da oferta.21</p><p>O ato de disponibilizar ações junto ao mercado investidor prescinde não apenas de uma ação</p><p>conjunta do fundador com uma instituição financeira, mas também do registro prévio dos títulos</p><p>em tela na CVM, por força do art. 19 da Lei nº 6.385/76.</p><p>Assim, a Lei nº 6.385/76 estabelece normas a serem observadas no momento da negociação</p><p>dos referidos valores mobiliários, e a Lei nº 6.404/76 estabelece normas programáticas atinentes à</p><p>organização e à constituição da companhia, como se depreende da leitura do art. 82 desta lei.</p><p>Art. 82. A constituição de companhia por subscrição pública depende do</p><p>prévio registro da emissão na Comissão de Valores Mobiliários, e a</p><p>subscrição somente poderá ser efetuada com a intermediação de</p><p>instituição financeira.</p><p>§ 1º O pedido de registro de emissão obedecerá às normas expedidas pela</p><p>Comissão de Valores Mobiliários e será instruído com:</p><p>a) o estudo de viabilidade econômica e financeira do empreendimento;</p><p>b) o projeto do estatuto social;</p><p>c) o prospecto, organizado e assinado pelos fundadores e pela instituição</p><p>financeira intermediária.</p><p>§ 2º A Comissão de Valores Mobiliários poderá condicionar o registro a</p><p>modificações no estatuto ou no prospecto e denegá-lo por inviabilidade ou</p><p>temeridade do empreendimento, ou inidoneidade dos fundadores.</p><p>Vale ressaltar que a negligência ou a má-fé propriamente dita, por parte do fundador ou dos</p><p>representantes legais da instituição financeira, acarreta não apenas responsabilidade civil e</p><p>administrativa, mas também responsabilidade criminal, nos termos do art. 177 do Código Penal (CP).</p><p>21 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 489. v. 1.</p><p>15</p><p>A disponibilização das ações junto ao mercado de capitais realizada pela instituição financeira</p><p>que assumir o encargo junto ao fundador de responder solidariamente pelos procedimentos de</p><p>constituição da companhia de capital aberto deve ocorrer a partir de um contrato que contenha</p><p>cláusulas assecuratórias de um resultado eficiente. Nestes termos assevera Nelson Eizirik:</p><p>Os fundadores celebrarão com a instituição financeira intermediária</p><p>contrato de distribuição de valores mobiliários, que deverá conter, entre</p><p>outras (i) regras sobre as condições de revenda dos valores mobiliários, (ii) a</p><p>descrição do procedimento adotado para distribuição; e (iii) menção a</p><p>contratos de estabilização de preços e de garantia de liquidez, se houver.</p><p>Assim, deverá constar do contrato se a obrigação assumida pela instituição</p><p>financeira intermediária é: (i) firme ou com garantia de subscrição total, em</p><p>que a instituição financeira compromete-se a subscrever todos os valores</p><p>mobiliários emitidos pela companhia para, posteriormente, vendê-los ao</p><p>público; (ii) com garantia de sobras, na qual a instituição financeira assume</p><p>a obrigação de subscrever as sobras, após a colocação dos títulos no mercado;</p><p>ou (iii) de melhor esforço, em que a instituição financeira não garante a</p><p>subscrição dos títulos emitidos pela companhia, comprometendo-se apenas</p><p>a realizar seus melhores esforços para vender os papéis junto ao público, não</p><p>sendo obrigada a adquiri-los no caso de insucesso da colocação.22</p><p>Assim, negociados os termos do contrato firmado entre o fundador e a instituição financeira, e</p><p>registrados os valores mobiliários na CVM – a qual deve autorizar a sua disponibilização junto ao</p><p>mercado de capitais – as subscrições podem ser realizadas, seguidas pelas integralizações equivalentes,</p><p>permitindo a vinculação dos investidores, agora acionistas, com a companhia de capital aberto,</p><p>tornando-os aptos a comporem a assembleia de constituição a ser estudada.</p><p>Constituição por subscrição privada</p><p>Na constituição de companhia de capital fechado, não se faz oferta pública de valores mobiliários,</p><p>o que torna desnecessário o registro e a autorização da CVM, sendo tais valores subscritos individual e</p><p>diretamente pelas pessoas procuradas pelos fundadores, pretensos subscritores.</p><p>22 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 488-489. v. 1.</p><p>16</p><p>Assim, o art. 88 da Lei nº 6.404/76 regulamenta a constituição de uma “sociedade anônima</p><p>de poucos acionistas, constituída discretamente, sem muita publicidade por não necessitar do</p><p>concurso de outro capital a mais que o de seus organizadores”.23</p><p>Art. 88. A constituição da companhia por subscrição particular do capital</p><p>pode fazer-se por deliberação dos subscritores em assembleia-geral ou por</p><p>escritura pública, considerando-se fundadores todos os subscritores.</p><p>§ 1º Se a forma escolhida for a de assembleia-geral, observar-se-á o disposto</p><p>nos artigos 86 e 87, devendo ser entregues à assembleia o projeto do</p><p>estatuto, assinado em duplicata por todos os subscritores do capital, e as</p><p>listas ou boletins de subscrição de todas as ações.</p><p>§ 2º Preferida a escritura pública, será ela assinada por todos os</p><p>subscritores, e conterá:</p><p>a) a qualificação dos subscritores, nos termos do artigo 85;</p><p>b) o estatuto da companhia;</p><p>c) a relação das ações tomadas pelos subscritores e a importância das</p><p>entradas pagas;</p><p>d) a transcrição do recibo do depósito referido no número III do artigo 80;</p><p>e) a transcrição do laudo de avaliação dos peritos, caso tenha havido</p><p>subscrição do capital social em bens (artigo 8°);</p><p>f) a nomeação dos primeiros administradores e, quando for o caso, dos fiscais.</p><p>Assim, caberá ao(s) fundador(es) optar pela deliberação dos subscritores em assembleia-geral</p><p>ou por escritura pública para a constituição da companhia de capital fechado e tomar as</p><p>providencias registrais no RPEM, a cargo das Juntas Comerciais, consoante determinam o art. 32,</p><p>II, a, e o art. 41, I, a, ambos da Lei nº 8.934/94.</p><p>Formalidades complementares</p><p>As formalidades complementares à constituição das companhias são atinentes ao</p><p>arquivamento e à publicação dos atos constitutivos, em respeito aos termos do art. 94 da Lei nº</p><p>6.404/76, o qual proíbe o funcionamento de companhias que não tenham arquivado e publicado</p><p>os seus atos constitutivos, em respeito aos termos do inc. I do art. 1º da Lei nº 8.934/94.</p><p>As formalidades complementares à constituição têm por fim atribuir</p><p>personalidade jurídica à companhia, dar publicidade dos atos constitutivos a</p><p>terceiros, bem como conferir autenticidade, segurança e eficácia a esses atos.24</p><p>23 FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 1961. p. 115. v. 4.</p><p>24 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 534. v. 1.</p><p>17</p><p>Uma vez registrados e arquivados, os atos constitutivos se toram públicos, logo, acessíveis a</p><p>quaisquer interessados.</p><p>O arquivamento dos instrumentos de constituição, bem como a alteração e extinção de sociedade</p><p>empresária, que contenham atividades reguladas por órgãos públicos, não depende de autorização</p><p>governamental prévia para o funcionamento, . Contudo, as Juntas Comerciais deverão realizar</p><p>comunicação aos órgãos públicos que demonstrarem interesse, nos termos do § 1º do art. 35 da Lei nº</p><p>8.934, de 1994. Neste Nesse sentido, lê-se o Artart. 9º, §2º da Instrução Normativa DREI nº 81, de</p><p>10 de junho de 2020, alterada pela Instrução Normativa DREI nº 1, de 24 de janeiro de 2024.</p><p>Em situações nas quais o arquivamento de atos de constituição, alteração e extinção de</p><p>sociedade empresária, empresário individual e cooperativa, caracterizados por assuntos sujeitos à</p><p>aprovação governamental, o órgão federal regulador da atividade, poderá requerer o bloqueio à</p><p>Junta Comercial, em razão de irregularidades identificadas no ato arquivado.</p><p>A referida IN reformadora inovou ao autorizar que, nos instrumentos submetidos a</p><p>arquivamento, sejam utilizados utilizadas técnicas de visual law, desde que não interfiram na nitidez,</p><p>reprografia e confiabilidade dos documentos perante terceiros. A IN em tela reconhece o visual law</p><p>como uma ferramenta, “cujo objetivo não é deixar apenas o documento visualmente mais agradável,</p><p>e sim transmitir a mensagem de forma compreensível, didática e objetiva para o receptor”25 .</p><p>Concluídos os atos constitutivos, os fundadores entregaram devem entregar aos primeiros</p><p>administradores, componentes do conselho de administração, se houver, ou diretoria, os</p><p>documentos, livros e todos os papéis atinentes à constituição da companhia ou a ela pertencentes,</p><p>para que façam, no prazo de 30 dias, o aludido registro e arquivamento, consoante determina o art.</p><p>98 da Lei nº 6.404/76, prazo igual ao determinado pelo art. 36 da Lei nº 8.934/94, observadas as</p><p>nomras normas instruídas pelo DREI.</p><p>Companhia de menor porte</p><p>A Lei Complementar nº 182/2021, conhecida como marco legal das startups, estabeleceu o</p><p>conceito de companhia de menor porte no art. 294-B da Lei nº 6.404/76, como aquela que aufira</p><p>receita bruta anual inferior a R$ 500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais).</p><p>25 NACARATO, Gabriela Ferreira; CHARAF, Gabriel Bdine. Visual law e a nova forma de se enxergar o direito. In: MENDONÇA,</p><p>Saulo Bichara; ARRUDA, Pablo Gonçalves e; RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Temas essenciais à advocacia empresarial.</p><p>Rio Bonito/RJ: Hipótese, 2022, p. 176.</p><p>18</p><p>O presente dispositivo legal não deve ser confundido com a definição de pequena empresa26</p><p>que se extrai da Lei Complementar nº 123/06, haja vista que o próprio Estatuto da Pequena</p><p>Empresa proíbe as companhias de se beneficiarem do tratamento favorecido e diferenciado</p><p>destinado às pequenas empresas (art. 3º, § 4º, X, Lei Complementar nº 123/06).</p><p>A regulamentação contida no art. 294-B da Lei nº 6.404/76 viabiliza o estabelecimento de</p><p>procedimentos simplificados aplicáveis pela Comissão de Valores Mobiliários às companhias de</p><p>menor porte, notadamente quanto à obtenção de registro de emissor; às distribuições públicas de</p><p>valores mobiliários da sua emissão e à elaboração e prestação de informações periódicas e eventuais.</p><p>É lícito à Comissão de Valores Mobiliários estabelecer a forma de atualização do valor previsto</p><p>no referido dispositivo legal bem como os critérios adicionais para a manutenção da condição de</p><p>companhia de menor porte após o seu acesso ao mercado de capitais, disciplinando o tratamento a ser</p><p>dispensado às companhias abertas que se caracterizem como de menor porte nos termos da lei societária.</p><p>A nova redação atribuída pela Lei Complementar nº 182/21 ao art. 294-A da Lei nº 6.404/76</p><p>permite também à Comissão de Valores Mobiliários regulamentar as condições facilitadas para o</p><p>acesso de companhias de menor porte ao mercado de capitais, permitindo dispensar ou modular a</p><p>observância ao disposto acerca da obrigatoriedade de instalação do conselho fiscal a pedido de</p><p>acionistas; a intermediação obrigatória de instituições financeiras nas distribuições públicas de</p><p>valores mobiliários; a distribuição e recebimento de dividendos obrigatórios e a forma de realização</p><p>das publicações ordenadas pela lei societária.</p><p>Capital social</p><p>O capital social representa o núcleo do patrimônio da sociedade. Constituído pela soma da</p><p>contribuição dos acionistas, o seu valor total é fracionado em ações, títulos conferidos aos sócios,</p><p>investidores. O estatuto social deve fixar o número das ações em que se divide o capital social e</p><p>estabelecer se as terão, ou não, valor nominal, conforme prescreve o art. 11 da Lei nº 6.404/76.</p><p>O estatuto preverá se as ações em que o capital esteja fracionado terão ou</p><p>não um número nominal, que é correspondência exata entre o valor total</p><p>do capital e o valor total das ações emitidas, mencionado de modo</p><p>expresso no estatuto.27</p><p>26 A pequena empresa representa o núcleo de um regime de tutela especial instituído para diferenciar, em iguais condições,</p><p>os empresários que possuem menor poder econômico, um regime de tratamento que instrumentaliza a isonomia. Por esta</p><p>razão, não se pode ler o inciso IX do art. 170 e o art. 179 da Constituição Federal de 1988 sem considerar a necessidade de</p><p>um efetivo tratamento favorecido e diferenciado apenas às instituições enquadradas no gênero pequena empresa. O que</p><p>se pretende com o referido princípio constitucional é a efetiva tutela de todas as espécies que compõem esse gênero, ou</p><p>seja, microempreendedor individual, microempresa e empresa de pequeno porte.</p><p>27 BRUSCATO, Wilges. Manual de direito empresarial brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 317. v. 1.</p><p>19</p><p>A despeito de o capital social ser composto da soma da contribuição dos acionistas, pode ser</p><p>que essa se dê em um valor maior do que o montante necessário para compor o capital social, valor</p><p>representativo do ágio, montante com o qual se constitui a reserva de capital que, segundo o art.</p><p>200 da Lei nº 6.404/76, somente poderá ser utilizada para a absorção de prejuízos que</p><p>ultrapassarem os lucros acumulados e as reservas de lucros; resgate, reembolso ou compra de ações;</p><p>resgate de partes beneficiárias (valor mobiliários emitido apenas por companhias de capital</p><p>fechado); incorporação ao capital social (situação na qual o capital social será aumentado sem a</p><p>entrada de novos recursos, nos termos do art. 169</p><p>da Lei nº 6.404/76); e pagamento de dividendo</p><p>a ações preferenciais, quando essa vantagem lhes for assegurada (art. 17, § 5º).</p><p>Os princípios que norteiam o capital social são: (i) o da unidade, que</p><p>significa que o capital social é único, ainda que a companhia tenha diversas</p><p>filiais; (ii) o da fixidez, pelo qual, uma vez definido o capital social no</p><p>estatuto social, só pode ser alterado nos casos taxativamente previstos na Lei</p><p>das S.A. (arts. 166, 168, 169, 170 e 173); (iii) o da realidade, pelo qual o</p><p>capital estipulado no estatuto deve ser real, ou seja, efetivamente formado</p><p>no ativo da companhia mediante contribuição dos acionistas subscritores</p><p>das ações e (iv) o da intangibilidade, segundo o qual os acionistas e</p><p>administradores não podem transferir bens do ativo social para o patrimônio</p><p>dos sócios caso o montante do capital social aplicado no ativo fique reduzido</p><p>a valor inferior ao fixado no estatuto.</p><p>No plano econômico, o capital pode ser considerado como o conjunto de</p><p>recursos com que conta a companhia para o desenvolvimento de suas</p><p>atividades. Sob o aspecto contábil, o capital social é uma conta integrante</p><p>do patrimônio líquido; nesse sentido, determina o art. 182 que a conta do</p><p>capital social discriminará o montante subscrito e, por dedução, a parcela</p><p>ainda não realizada.28</p><p>A lei não fixa valor mínimo para o capital social, devendo o fundador proceder ao estudo de</p><p>viabilidade econômica do negócio e apurar o quanto de investimento se fará necessário para</p><p>constituir a companhia de forma eficiente. Ressalta-se que, mesmo não havendo previsão legal sobre</p><p>valor mínimo do capital social, sendo a companhia de capital aberto, a CVM poderá impor-lhe</p><p>exigências para autorizar o seu registro e funcionamento, nos termos do art. 19, § 6º, da Lei nº</p><p>6.385/76, o qual encontra fundamento no interesse público que envolve a atividade empresarial</p><p>desenvolvida por companhias.</p><p>28 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 89-90. v. 1.</p><p>20</p><p>Formação do capital social</p><p>O estatuto social da companhia deve fixar o valor do capital social, expresso em moeda</p><p>nacional. A sua formação se dá com contribuições em dinheiro ou em qualquer outra espécie de</p><p>bens suscetíveis de avaliação pecuniária, ou seja, bens e direitos, não sendo permitida a constituição</p><p>do capital social com serviços.</p><p>A sua composição pode ser em espécie, não há maiores detalhes a compreender, basta que o</p><p>acionista investidor faça um aporte de capital em favor da companhia, recebendo em troca as ações,</p><p>para que a relação jurídica se concretize.</p><p>Em relação à sua composição por direitos, exige-se que os créditos sejam atuais e efetivamente</p><p>existentes no momento da sua incorporação ao capital social, ficando o acionista subscritor</p><p>solidariamente responsável pela solvência desse crédito, respondendo inclusive por vícios</p><p>redibitórios. O crédito ao qual se refere o parágrafo único do art. 10 da Lei nº 6.404/76 pode ser</p><p>real, pessoal ou um título de crédito propriamente dito.</p><p>Entretanto, no que se refere à integralização com bens, o procedimento é mais detalhista e</p><p>exige maior atenção por parte do acionista investidor e da companhia em si.</p><p>Os bens que servirão à formação e integralização do capital devem</p><p>obrigatoriamente ser avaliados a fim de que os credores da companhia e</p><p>aqueles que subscreveram ações em dinheiro recebam garantia adicional</p><p>contra eventuais fraudes, evitando a apresentação de bens inúteis ou que</p><p>sejam incorporados ao capital por valor superior ao real. A</p><p>supervalorização dos bens pode lesar os acionistas ou subscritores que</p><p>contribuíram em dinheiro, os investidores e os credores, assim como</p><p>prejudicar a continuidade normal da empresa.29</p><p>Neste momento, a leitura do art. 8º da Lei nº 6.404/76 deve considerar os termos do art. 89</p><p>da mesma lei (art. 108, CC), o que permite compreender a excepcional forma pela qual a</p><p>propriedade é transferida de forma oficial.</p><p>Sendo o valor aprovado pelo subscritor e pelos demais sócios em</p><p>assembleia, os bens incorporar-se-ão ao patrimônio da sociedade,</p><p>competindo aos seus administradores cumprir as formalidades necessárias</p><p>à respectiva transmissão, em observância ao que determina os artigos 89 e</p><p>98, § 2º da Lei nº 6.404/76 combinado com art. 64 da Lei nº 8.934/94</p><p>que atribuem à ata da assembleia societária devidamente registrada na</p><p>29 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p.104-105. v. 1.</p><p>21</p><p>Junta Comercial a força necessária para comprovar a transferência da</p><p>propriedade do bem imóvel, isentando o sócio investidor e a sociedade da</p><p>realização da escritura pública de transferência patrimonial.30</p><p>Ainda no que tange à transferência de bens para a composição do capital social, observa-se o</p><p>art. 156, § 2º, I, da Constituição Federal de 1988 no que alude à imunidade fiscal em relação ao</p><p>Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), que, naturalmente, encontra no ato de</p><p>transmissão de bens o seu fato gerador.</p><p>A imunidade que recai sobre o recolhimento de imposto derivado de</p><p>transmissão de bens imóveis por ato oneroso inter vivos, de natureza ou</p><p>acessão física, por meio de quaisquer títulos se aplica à transmissão de bens</p><p>ou direitos incorporados ao patrimônio de sociedade (pessoas jurídicas, de</p><p>forma geral), quando da integralidade do seu capital social.</p><p>A imunidade se estende a atos de transmissão de bens ou direitos decorrente</p><p>de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica. Verifica-se</p><p>exceção nos casos em que a atividade preponderante do adquirente for a</p><p>compra e venda de bens ou direitos sobre imóveis, como locação ou</p><p>arrendamento mercantil e cessão de direitos relativos à sua aquisição.31</p><p>Uma vez constituído, o capital social poderá ser modificado somente com observância dos</p><p>preceitos determinado pela Lei nº 6.404/76, arts. 166 a 174, e do estatuto social.</p><p>Aumento do capital social</p><p>O aumento do capital social pode ocorrer por meio de subscrição de novas ações,</p><p>incorporação de lucros ou reservas (art. 169, Lei nº 6.404/76) ou pela conversão de debêntures e</p><p>partes beneficiárias em ações ou pelo exercício do direito decorrente de bônus de subscrição ou</p><p>opção de compra de ações.</p><p>30 MENDONÇA, Saulo Bichara; BARRETO, Ana Carolina Carvalho. A integralidade de capital social com bens imóveis e</p><p>inexigibilidade de escritura pública. In: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; OLIVEIRA, Carla Fernandes (Orgs.). Direito</p><p>imobiliário, notarial e registral: perspectivas contemporâneas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017. p. 217.</p><p>31 MENDONÇA, Saulo Bichara; BARRETO, Ana Carolina Carvalho. A integralidade de capital social com bens imóveis e</p><p>inexigibilidade de escritura pública. In: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; OLIVEIRA, Carla Fernandes (Orgs.). Direito</p><p>imobiliário, notarial e registral: perspectivas contemporâneas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017. p. 225-226. v. 1.</p><p>22</p><p>O aumento do capital social pela capitalização dos lucros ou reservas é classificado por alguns</p><p>doutrinadores como aumento gratuito, porque não acarreta aumento direto do patrimônio líquido da</p><p>companhia, apenas incorre em uma transferência entre contas do seu ativo, proporcionando o aumento</p><p>do capital social a partir de recursos gerados pela própria companhia.32</p><p>Quando a opção para o aumento do capital social for pela subscrição de novas ações, há de</p><p>se respeitar o direito de preferência garantido pelos arts. 109, IV, e 171 da Lei nº 6.404/76, quando</p><p>o referido direito não for mitigado ou suprimido nos termos do art. 172 do mesmo diploma legal.</p><p>O aumento do capital vai se realizar, embora em muitos casos na</p><p>subscrição particular se manifestem concomitantemente, em três fases</p><p>distintas: deliberação sobre aumento, subscrição integral das ações</p><p>emitidas e homologação. Somente após este último ato é que o capital</p><p>social estará elevado. Essa homologação, entretanto,</p><p>é um ato</p><p>vinculado, impondo-se sua efetivação quando atendidos os requisitos</p><p>legais e estatutários para o aumento.33</p><p>Ressalta-se, por oportuno que, para que se dê o efetivo aumento do capital social não se</p><p>exige que este esteja totalmente integralizado, bastando que 3/4 (três quartos) estejam, conforme</p><p>se verifica nos termos do art. 170 da Lei nº 6.404/76.</p><p>Via de regra, o aumento do capital social exige reforma estatutária aprovada em AGE.</p><p>Contudo, o art. 168 da Lei nº 6.404/76 viabiliza a autorização prévia do aumento do capital social,</p><p>permitindo que o estatuto social contenha cláusula que autorize o aumento do capital social</p><p>independentemente de reforma estatutária, especificando o limite do aumento, em valor do capital</p><p>ou em número de ações, conforme o caso, definindo as espécies e classes das ações que poderão ser</p><p>emitidas; o órgão competente para deliberar sobre as novas emissões (assembleia geral ou conselho</p><p>de administração); eventuais condições ao qual estejam sujeitas as emissões e os casos ou as</p><p>condições em que acionistas terão direito de preferência para subscrição, observada a faculdade</p><p>proporcionada pelo art. 172 da Lei nº 6.404/76.</p><p>O estatuto social ainda poderá prever que a companhia, respeitado o limite de aumento do</p><p>capital social autorizado e de acordo com a aprovação de plano de aumento aprovado pela</p><p>assembleia geral, outorgue opção de compra de ações aos seus administradores ou empregados, ou</p><p>a pessoas naturais que prestem serviços à companhia ou a sociedade sob o seu controle.</p><p>32 GALGANO, Francesco. Trattato di diritto commerciale e di diritto pubblico dell’economia. 2. ed. Padova: CEDAN, 1988. p. 368.</p><p>33 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 82.</p><p>23</p><p>A CVM considera abuso de poder de controle a outorga, em companhias</p><p>abertas, de Opção de Compra de Ações que não represente um meio de</p><p>efetivo comprometimento dos beneficiários com a obtenção de resultados</p><p>da empresa, se houver prejuízo à companhia ou aos minoritários (Inst. 323,</p><p>art. 1º, XII).34</p><p>Note-se que a aquisição de ações por administradores ou empregados ou pessoas naturais que</p><p>prestem serviços à companhia, por meio da opção de compra, não lhes proporciona ganhos em</p><p>decorrência do contrato de trabalho ou prestação de serviços. Eventuais dividendos pagos a esses</p><p>acionistas, quando devidos, decorre da valorização dos ativos adquiridos.</p><p>51. A opção de compra, porém, tem índole distinta: a companhia não</p><p>está efetuando nenhum pagamento ao empregado de natureza</p><p>retributiva, nem muito menos atribuindo-lhe direito à participação nos</p><p>lucros (que até pode ser simultaneamente outorgado, mas não se</p><p>confunde com a opção de compra).</p><p>52. Ao contrário, a companhia está permitindo, por deliberação</p><p>assemblear, que o empregado possa subscrever ações a um preço</p><p>preestabelecido, conservando-as ou não em seu patrimônio.</p><p>53. Se, eventualmente, decidir aliená-las, o ganho de capital decorrerá de</p><p>fato alheio à companhia, sendo pago por terceiros e totalmente desvinculado</p><p>do contrato de trabalho.</p><p>54. O administrador ou empregador beneficiário do plano de opção de</p><p>compra de ações não está, enfim, participando dos lucros da companhia,</p><p>como ocorreria se lhe fosse paga uma gratificação.</p><p>Está – isto, sim – beneficiando-se da valorização de seu patrimônio</p><p>decorrente de elementos alheios à companhia.</p><p>55. Entendemos, por tudo isto, que a opção de compra ou, mais</p><p>exatamente, os dividendos recebidos e/ou o eventual ganho de capital</p><p>decorrente de seu exercício e da venda das ações não têm qualquer</p><p>vinculação com o contrato de trabalho.35</p><p>34 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,</p><p>2021. p. 171. v. 2.</p><p>35 ARAGÃO, Paulo Cézar. Opções de compra de ações e bônus de subscrição. Revista dos Tribunais. v. 631, p. 63, maio 1988.</p><p>Doutrinas Essenciais de Direito Empresarial. v. 8, p. 281, dez. 2010. Disponível em https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/</p><p>3259942/mod_resource/content/0/ARAG%C3%83O.%20Op%C3%A7%C3%B5es%20de%20Compra%20de%20A%C3%A7%C</p><p>3%B5es%20%281%29%20-%20Aula%204.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3259942/mod_resource/content/0/ARAG%C3%83O.%20Op%C3%A7%C3%B5es%20de%20Compra%20de%20A%C3%A7%C3%B5es%20%281%29%20-%20Aula%204.pdf</p><p>https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3259942/mod_resource/content/0/ARAG%C3%83O.%20Op%C3%A7%C3%B5es%20de%20Compra%20de%20A%C3%A7%C3%B5es%20%281%29%20-%20Aula%204.pdf</p><p>https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3259942/mod_resource/content/0/ARAG%C3%83O.%20Op%C3%A7%C3%B5es%20de%20Compra%20de%20A%C3%A7%C3%B5es%20%281%29%20-%20Aula%204.pdf</p><p>24</p><p>Registra-se, por oportuno, que a nova redação do art. 284 da Lei nº 6.404/76, prevê a</p><p>inaplicabilidade às sociedades em comandita por ações do disposto sobre autorização estatutária de</p><p>aumento de capital.</p><p>Redução do capital social</p><p>O capital social pode ser reduzido de forma voluntária ou compulsória. A primeira necessita</p><p>de assembleia geral extraordinária e, sendo essa redução uma proposta dos administradores, o ponto</p><p>será deliberado em plenária a partir de um parecer do conselho fiscal, se em funcionamento.</p><p>Se compulsória, deve-se verificar se a causa decorre do exercício do direito de recesso pelo</p><p>acionista, que deverá ser reembolsado nos termos do art. 45, § 6º, da Lei nº 6.404/76, ou se decorre da</p><p>extinção de ações de acionista remisso, consoante prescreve o art. 107, § 4º, da mesma lei.</p><p>Acionistas são os sócios da companhia, os titulares do investimento feito na integralização</p><p>de ações, frações do capital social. A responsabilidade patrimonial desses investidores é limitada</p><p>ao valor das ações subscritas ou adquiridas, consoante determina o art. 1º da Lei nº 6.404/76.</p><p>Em razão do aporte de capital feito pelo acionista, a lei lhe estabelece um dever e direitos</p><p>correspondentes, essenciais e não essenciais, como se verá.</p><p>Dever</p><p>O dever do acionista consiste na integralização das ações que subscreveu. Neste termo, lê-se</p><p>o art. 106 da Lei nº 6.404/76.</p><p>Sendo o estatuto social e o boletim de subscrição das ações omissos quanto ao valor da</p><p>prestação e do prazo para o seu pagamento, exigirá dos órgãos da administração efetuar chamada</p><p>de capital por avisos publicados na imprensa por três vezes, no mínimo, estabelecendo prazo, não</p><p>inferior a 30 dias, para o acionista adimplir a sua obrigação.</p><p>Não realizando o pagamento nas condições estabelecidas no estatuto social, no boletim de</p><p>subscrição ou na chamada de capital, o acionista ficará de pleno direito constituído em mora,</p><p>sujeitando-se a juros, correção monetária e multa determinada pelo estatuto social, em valor que</p><p>não pode ser superior a 10% do valor da prestação devida.</p><p>MÓDULO II – ACIONISTAS</p><p>26</p><p>Constatando do contrato ou do boletim discriminados o montante da</p><p>obrigação e a data do cumprimento, desde o momento da inadimplência</p><p>opera-se a constituição em mora, com a incidência de juros à taxa de doze</p><p>por cento ao ano (por aplicação dos arts. 591 e 406 do Código Civil), de</p><p>multa de dez por cento e da correção monetária, ficando a sociedade</p><p>habilitada para a cobrança ou as providências. Já não aparecendo os</p><p>referidos elementos, inicia a mora com o decurso do prazo de trinta dias</p><p>das chamadas publicações [...].36</p><p>Assim, uma vez subscrevendo ações, o acionista deve honrar o compromisso financeiro</p><p>assumido; caso contrário, a companhia poderá proceder à chamada de capital. Não sendo esta</p><p>eficiente ao fim de ver a obrigação quitada, a companhia poderá valer-se do boletim de subscrição</p><p>ou dos termos da chamada de capital como títulos executivos extrajudiciais, permitindo a</p><p>fundamentação de ação de execução, uma vez que o crédito fundar-se em título de obrigação certa,</p><p>líquida e exigível, conforme exige o art. 783 do Código de Processo Civil (CPC).</p><p>Sendo infrutífera a ação de</p><p>execução, a companhia poderá resgatar as ações subscritas, declará-</p><p>las caducas, fazer suas as entradas eventualmente realizadas pelo então investidor e mandar vender</p><p>as ações em bolsa de valores por sua conta e risco, integralizando-as com lucros ou reservas, exceto</p><p>a legal, se não houver lucros e reservas suficientes.</p><p>A companhia terá o prazo de um ano para colocar as ações caídas em comisso, período no</p><p>qual as ações ficaram depositadas na tesouraria da companhia. Findo o prazo legal, não tendo sido</p><p>encontrado comprador, a assembleia geral deliberará sobre a redução do capital social em</p><p>importância correspondente.</p><p>A Lei das S.A. não regulou a questão do subscritor que integraliza o valor</p><p>de suas ações com bens móveis e não os entrega à sociedade, hipótese em</p><p>que não se trata de cobrança do preço das ações – pois o título constitutivo</p><p>da propriedade da companhia já se acha formado –, mas de reivindicação</p><p>dos bens que já passaram a pertencer à companhia emissora.37</p><p>Verifica-se que as alternativas previstas em lei pretendem evitar a redução do capital social,</p><p>considerando que a redução deste pode corresponder a uma mensagem negativa aos investidores no</p><p>mercado, haja vista que o capital social representa a solidez do patrimônio societário, muito embora</p><p>apenas uma parte dele represente a sua parte nuclear.</p><p>36 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 468.</p><p>37 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 579. v. 1.</p><p>27</p><p>Direitos essenciais</p><p>Atendida a obrigação perante a companhia, a lei estende ao acionista direitos essenciais nos</p><p>termos dos cinco incisos do art. 109 da Lei nº 6.404/76, segundo o qual:</p><p>Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembleia-geral poderão privar o</p><p>acionista dos direitos de:</p><p>I - participar dos lucros sociais;</p><p>II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação;</p><p>III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais;</p><p>IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis</p><p>em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição,</p><p>observado o disposto nos artigos 171 e 172;</p><p>V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.</p><p>No que tange ao inc. I, do artigo em tela, observa-se que a assembleia geral pode reter</p><p>parcialmente valores classificados como lucro, para fins de reinvestimento na estrutura operacional</p><p>da companhia, mas não pode reter todo o valor, como se verifica na leitura do art. 202, § 2º, da Lei</p><p>nº 6.404/76. Segundo Rizzardo: “se não resultarem lucros, não há de impor a distribuição de</p><p>dividendos por impossibilidade material”.38</p><p>Em relação ao inc. II do mesmo dispositivo legal, verifica-se que, no momento da constituição</p><p>da companhia, o investidor converte parte do seu patrimônio pessoal em ações, proporcionando à</p><p>companhia liquidez necessária para o desenvolvimento do objeto social. Em contrapartida, sendo</p><p>liquidada a companhia, eventual saldo positivo remanescente deverá ser reembolsado aos</p><p>investidores de forma proporcional ao investimento realizado.</p><p>Em relação ao inc. III, registra-se que a fiscalização, embora direito garantido, não se dá</p><p>pessoalmente, mas sim por meio do seu conselho fiscal, objeto do item Conselho fiscal deste estudo.</p><p>O exame das contas é garantido pelo art. 122, inc. III, da Lei nº 6.404/76,</p><p>pelo qual a administração deve, anualmente, prestar contas e apresentar as</p><p>demonstrações financeiras. Nas assembleias-gerais ou extraordinárias</p><p>faculta-se o pedido de explicações, assegurado pelo art. 157, § 1º. A</p><p>exibição dos livros também está garantida pelo art. 105.39</p><p>38 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 458.</p><p>39 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 460.</p><p>28</p><p>O inc. IV do art. 109 da Lei nº 6.404/76 assegura o direito de preferência na subscrição de</p><p>novos valores mobiliários. Contudo, esse direito decai em 30 dias, consoante se verifica pela leitura</p><p>do § 4º do art. 171, e pode ser mitigado ou mesmo suprimido, na forma do art. 172, ambos do</p><p>mesmo diploma legal.</p><p>O direito de retirada apresenta natureza excepcional, uma vez que, (i)</p><p>como é a própria companhia que deve arcar com o pagamento do</p><p>reembolso devido ao acionista dissidente, o seu exercício pode colocar em</p><p>risco a saúde financeira da sociedade, além de impedir ou dificultar</p><p>mudanças estruturais necessárias ao desenvolvimento da empresa; (ii)</p><p>constitui medida que privilegia o interesse individual do acionista</p><p>dissidente em detrimento do interesse social.40</p><p>O exercício do direito de retirada, previsto no inc. V do art. 109 da Lei nº 6.404/76, está</p><p>vinculado ao direito ao reembolso das ações integralizadas (art. 45 da mesma lei), despesa esta que deve</p><p>ser custeada pela companhia e as situações que autorizam legalmente o exercício desse direito essencial</p><p>estão previstos no art. 136, I a IV e IX, no prazo do inc. V do art. 137, ambos da citada lei.</p><p>A Lei nº 6.404/76 prevê a possibilidade do exercício do direito de recesso em</p><p>hipóteses específicas, tais como aquelas previstas nos artigos 137; 221; 223,</p><p>parágrafo 4º; 252; 256 e 264. Caso a matéria deliberada em assembleia geral</p><p>dê ensejo a direito de recesso, a companhia deve informar, no mínimo, as</p><p>ações e classes às quais se aplica o recesso, a data que será utilizada para</p><p>identificar os acionistas que poderão exercer o direito de recesso, o valor do</p><p>reembolso por ação e sua forma de cálculo, os prazos e procedimentos que os</p><p>acionistas dessa companhia, dissidentes da deliberação da referida Assembleia,</p><p>deverão adotar para exercício do direito de recesso, bem como (i) se o exercício</p><p>do direito de retirada será, exclusivamente, sobre a totalidade das ações ou se</p><p>será permitido, inclusive, o exercício sobre parte das ações possuídas e (ii) se</p><p>para o exercício do direito de recesso será necessária a titularidade ininterrupta,</p><p>desde a data de identificação dos acionistas com direito a manifestarem sua</p><p>dissidência até o dia do exercício de tal direito.</p><p>O objetivo da orientação acima é que sejam prestadas todas as informações</p><p>necessárias para tomada refletida e informada de decisão pelos investidores,</p><p>sem prejuízo da possibilidade de a CVM vir a analisar a regularidade dos</p><p>procedimentos adotados pela companhia.41</p><p>40 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 606. v. 1.</p><p>41 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/</p><p>export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: maio 2024.</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf</p><p>29</p><p>Observe-se, por fim, que os direitos essenciais são, por natureza, irrenunciáveis. É lícito ao</p><p>acionista não o exercer, mas não o renunciar em situação determinada sob pena de proporcionar</p><p>repercussão negativa sobre patrimônio de futuro investidor, o que resultaria em uma injustificável</p><p>diluição patrimonial de terceiro.</p><p>Tais direitos também asseguram proteção ao pequeno investidor, considerando que as</p><p>decisões nas assembleias societárias são tomadas pela maioria detentora do capital social.</p><p>Os direitos essenciais não se confundem com a tutela dos acionistas</p><p>minoritários. Os direitos previstos no dispositivo legal são individuais,</p><p>ou seja, de cada um dos acionistas, e não de um grupo minoritário de</p><p>acionistas. Dentre os direitos tidos como essenciais, apenas o de fiscalizar</p><p>a gestão dos negócios sociais pode, em certas circunstâncias, demandar</p><p>um percentual determinado de ações, como ocorre para a eleição de</p><p>membro do conselho fiscal</p>