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<p>centração de proteínas séricas totais e pela determinação da relação</p><p>albumina/globulina, podendo ser avaliadas proteínas de forma indi-</p><p>vidualizada, como as globulinas.</p><p>� Perfil hepático: avaliado essencialmente pelos níveis séricos das enzi-</p><p>mas alanina aminotransferase, aspartato aminotransferase, fosfatase</p><p>alcalina e γ-glutamiltransferase e dos níveis séricos de bilirrubinas e</p><p>proteínas totais.</p><p>Os exames considerados especializados, por outro lado, envolvem analitos</p><p>menos solicitados, pois são considerados de diagnóstico personalizado e, em</p><p>geral, envolvem tecnologias diferenciadas. É o caso das dosagens hormonais</p><p>(utilizadas para avaliações endócrinas) e das dosagens de vitaminas, de</p><p>metabólicos intermediários ou de proteínas mais específicas. Habitualmente,</p><p>essas análises são realizadas em laboratórios de maior porte ou em centros</p><p>de referência (terceirizados). Além da categorização em relação à frequência</p><p>de solicitação, ainda deve ser considerada a necessidade de urgência da</p><p>liberação de um resultado de exame, visto que a avaliação de determinados</p><p>analitos é decisiva na tomada de decisões em relação a procedimentos e à</p><p>conduta terapêutica e médica. Nesses casos, o laboratório deve dispor de</p><p>estrutura e equipe compatíveis com as demandas recebidas, especialmente</p><p>em se tratando do nível hospitalar (MURPHY; SRIVASTAVA; DEANS, 2019).</p><p>Introdução à bioquímica 3</p><p>Amostras biológicas utilizadas em bioquímica</p><p>Para realizar essa diversidade de exames, as principais amostras utilizadas nas</p><p>análises bioquímicas são sangue e urina, entretanto, também é possível analisar</p><p>padrões bioquímicos em outras amostras, como saliva, líquido cefalorraquidiano</p><p>e outros líquidos corporais (MURPHY; SRIVASTAVA; DEANS, 2019). As análises de</p><p>sangue, particularmente, merecem uma atenção especial, pois, além de serem as</p><p>mais frequentes no setor de bioquímica, também apresentam uma variação em</p><p>relação à sua forma de utilização. Mais frequentemente os testes são realizados</p><p>utilizando amostras de plasma ou soro, mas sangue total com anticoagulantes</p><p>também pode ser empregado em alguns casos. Tanto o plasma quanto o soro</p><p>são denominados como porção líquida do sangue, ou seja, sem as células após</p><p>um processo de centrifugação. A diferença essencial entre eles é que o soro</p><p>é a porção líquida gerada a partir de um sangue colhido sem anticoagulantes</p><p>e que, portanto, consumiu os fatores de coagulação. Já o plasma é separado</p><p>a partir de uma amostra colhida com anticoagulante e que, por isso, mantém</p><p>intactos os fatores de coagulação e o fibrinogênio, o que possibilita, inclusive,</p><p>a sua dosagem (FLEURY, 2019; MURPHY; SRIVASTAVA; DEANS, 2019).</p><p>O Manual de coleta em laboratório clínico, elaborado pelo Programa</p><p>Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ), abrange detalhadamente</p><p>as particularidades referentes à coleta, ao transporte e ao acondicionamento</p><p>de amostras biológicas.</p><p>O tipo de amostra de urina usualmente utilizada em avaliações bioquí-</p><p>micas é a urina de 24h. Essa preferência ocorre pelo fato de que a excreção</p><p>de substâncias na urina varia bastante durante o decorrer do dia. Por essa</p><p>razão, esse tipo de amostra apresenta uma melhor representatividade em</p><p>relação às amostras isoladas, apesar de essa última ser aceita em alguns casos</p><p>específicos (RECOMENDAÇÕES..., 2017; MURPHY; SRIVASTAVA; DEANS, 2019).</p><p>Processamento laboratorial e erros</p><p>em potencial</p><p>Para que o resultado de um exame bioquímico seja representativo da real</p><p>condição do paciente, diversos critérios devem ser levados em consideração</p><p>durante a execução do exame, tais como a metodologia a ser utilizada, o tipo</p><p>Introdução à bioquímica4</p><p>de amostra clínica e os interferentes in vitro e in vivo. Uma análise apurada</p><p>desses critérios pode minimizar substancialmente a ocorrência de erros labo-</p><p>ratoriais e, por consequência, elevar a confiabilidade do exame em questão.</p><p>Os erros laboratoriais podem ocorrer em qualquer fase da realização de um</p><p>exame, seja nas fases pré-analítica, analítica ou pós-analítica. A fase pré-analítica</p><p>compreende todas as atividades desde a requisição do exame, conforme pedido</p><p>médico, até o início do procedimento analítico em si. Essa fase inclui o preparo do</p><p>paciente, a coleta, o transporte e o acondicionamento de amostras. Nessa etapa,</p><p>por exemplo, o jejum é um dos principais interferentes relacionados ao preparo</p><p>do paciente, tanto pela ocorrência de alterações nos níveis séricos de alguns me-</p><p>tabólitos, quanto pela ocorrência de lipemia (excesso de lipídios no sangue), que</p><p>prejudica diversas dosagens séricas. Para a maioria dos exames, recomenda-se</p><p>um jejum de 8h, sendo que esse tempo pode ser reduzido para 4h na maioria dos</p><p>casos. Deve-se levar em consideração que o jejum excessivamente prolongado</p><p>também pode ser prejudicial (BARCELOS; AQUINO, 2018; SOARES et al., 2012).</p><p>Em dezembro de 2016, foi publicado o Consenso Brasileiro para a</p><p>Normatização da Determinação Laboratorial do Perfil Lipídico, que</p><p>consiste em uma revisão da necessidade de jejum para a realização dos exames de</p><p>perfil lipídico: colesterol total, colesterol HDL, colesterol LDL, colesterol não HDL</p><p>e triglicerídeos. Esse documento dispensa a obrigatoriedade do jejum de 12h para</p><p>esses exames, desde que no laudo seja relatado o estado de jejum (quantas horas</p><p>decorrentes desde a última alimentação), e leva em consideração a possibilidade</p><p>de flexibilização do jejum em decorrência de solicitação médica específica.</p><p>Para a adequação a essas situações, o Consenso recomenda a interpretação dos</p><p>valores de referência e de alvo terapêutico levando em consideração o motivo do</p><p>exame, o estado metabólico do paciente e a estratificação de risco cardiovascular.</p><p>A utilização de medicamentos é um importante interferente, visto que</p><p>pode causar alterações in vivo e in vitro. Quando um medicamento, ou seus</p><p>metabólitos, gera uma alteração na fisiologia e no metabolismo do paciente,</p><p>essa interferência é considerada in vivo; quando o uso de medicamentos</p><p>causa uma alteração durante a realização do exame, seja por propriedades</p><p>físicas ou químicas de interação com a técnica, considera-se que esta é uma</p><p>interferência in vitro (BARCELOS; AQUINO, 2018).</p><p>Ainda na etapa de pré-análise, um ponto crítico é a coleta de material</p><p>biológico. Um dos principais interferentes em dosagens laboratoriais é o</p><p>desenvolvimento de hemólise da amostra, ou seja, destruição das hemácias</p><p>em uma amostra de sangue. Essa intercorrência geralmente acontece devido</p><p>Introdução à bioquímica 5</p><p>a coletas demoradas ou difíceis e à manipulação incorreta de amostras</p><p>(BARCELOS; AQUINO, 2018; FLEURY, 2019). Por esses e outros motivos, a fase</p><p>pré-analítica é considerada crítica, visto que diversos fatores podem alterar</p><p>a qualidade da amostra e, inclusive, destruir componentes, inviabilizando a</p><p>execução do exame. É nessa etapa, portanto, que se concentra a maioria dos</p><p>erros laboratoriais (SOARES et al., 2012; BARCELOS; AQUINO, 2018).</p><p>A fase analítica compreende a etapa instrumental da realização de um exame:</p><p>o processamento realmente dito. É nesse momento que ocorre a centrifugação</p><p>e o preparo de amostras, a execução do exame (de forma automatizada ou</p><p>semiautomatizada) e a leitura dos resultados. Essa etapa se relaciona com o</p><p>desempenho do analista clínico e dos equipamentos e com a qualidade dos</p><p>reagentes utilizados. A partir desses processos, podem ocorrer tanto erros</p><p>sistemáticos, considerados previsíveis, quanto erros aleatórios e imprevisíveis</p><p>(Quadro 1). Considera-se que os erros sistemáticos estão mais relacionados ao</p><p>operador (analista), aos instrumentos e às suas calibrações, de modo a causar</p><p>resultados sem exatidão. Já os erros aleatórios são associados à variabilidade</p><p>analítica e geram resultados imprecisos. Para evitar, ou ao menos minimizar a</p><p>ocorrência desses erros, o laboratório de análises clínicas deve contar com a uti-</p><p>lização de sistemas de verificação e de controle interno e externo da qualidade.</p><p>Quadro 1. Erros laboratoriais</p><p>na fase analítica</p><p>Erros sistemáticos Erros aleatórios</p><p>Origem Previsível Imprevisível</p><p>Fontes Instrumento, calibração, operador Variabilidade analítica</p><p>Quantificáveis Sim Não</p><p>Resultado Inexato (não há concordância</p><p>entre o valor real e o valor obtido</p><p>na análise)</p><p>Impreciso (não há</p><p>reprodutibilidade entre os</p><p>resultados)</p><p>Exemplos Preparo incorreto de reagentes,</p><p>diluição inadequada de</p><p>reagentes, mudança de lotes de</p><p>reagentes ou calibradores</p><p>Bolhas de ar na tubulação,</p><p>microcoágulos na</p><p>amostra ou no pipetador,</p><p>temperatura instável do</p><p>equipamento</p><p>Fonte: Adaptado de Xavier, Dora e Barros (2016) e Barcelos e Aquino (2018).</p><p>Introdução à bioquímica6</p><p>Embora haja consenso quanto à necessidade de minimização de erros</p><p>em todas as etapas laboratoriais, é impossível evitar completamente a</p><p>sua ocorrência, dessa forma, torna-se necessário saber identificar correta</p><p>e rapidamente a possibilidade de comprometimento da amostra bioló-</p><p>gica em decorrência de possíveis falhas no processo. Como abordado</p><p>anteriormente, o ponto crítico nesse seguimento é a fase pré-analítica,</p><p>sendo que as amostras bioquímicas são especialmente afetadas por erros</p><p>nas etapas de preparação do paciente e de coleta das amostras (MUPHY;</p><p>SRIVASTAVA; DEANS, 2019). Muitas vezes, o erro pré-analítico se inicia</p><p>muito antes da colheita da amostra, como acontece nos casos em que</p><p>há descumprimento das recomendações ao paciente. Tanto a diminuição</p><p>quanto o aumento do tempo de jejum, por exemplo, podem causar alte-</p><p>rações significativas nos exames. Além disso, hábitos não alimentares,</p><p>mas relacionados ao estresse, ao consumo de álcool e cigarro e à prática</p><p>de exercício físico podem alterar os resultados desses exames. Analitos</p><p>como a bilirrubina, a aldosterona, o glicerol, o ácido úrico, a ureia e os</p><p>triglicerídeos são particularmente afetados por tempos excessivos de</p><p>jejum. Já a glicose é afetada por situações diversas, como estresse, ciclo</p><p>circadiano, tabagismo e consumo de álcool (BARCELOS; AQUINO, 2018;</p><p>MUPHY; SRIVASTAVA; DEANS, 2019).</p><p>A etapa de coleta de amostras é outro ponto de atenção crítico em relação</p><p>a erros laboratoriais. Uma coleta de amostra de sangue demorada ou de</p><p>difícil punção pode levar à destruição de hemácias (hemólise) e, conse-</p><p>quentemente, à liberação de potássio e outros constituintes intracelulares,</p><p>causando, por consequência, uma falsa elevação desses analitos. A demora</p><p>na punção após o garroteamento também pode gerar um extravazamento</p><p>de água do vaso sanguíneo para o espaço intersticial, com isso, eleva-se a</p><p>concentração de componentes sanguíneos, especialmente de proteínas. Por</p><p>outro lado, a utilização incorreta de anticoagulantes também pode gerar</p><p>inaptidão e rejeição de amostras, pois cada análise tem suas particulari-</p><p>dades e requer a utilização de tubos de coleta específicos. A utilização de</p><p>tubos contendo fluoreto de sódio, por exemplo, é fortemente recomendada</p><p>na avaliação de perfil glicêmico, pois o fluoreto inibe a via da glicólise, o</p><p>que impede o consumo da glicose na amostra. Algumas propriedades refe-</p><p>rentes aos principais anticoagulantes usados em bioquímica clínica estão</p><p>demonstradas no Quadro 2 (BARCELOS; AQUINO, 2018; MUPHY; SRIVASTAVA;</p><p>DEANS, 2019).</p><p>Introdução à bioquímica 7</p><p>Quadro 2. Principais tubos de coleta utilizados em bioquímica clínica</p><p>Tubos de coleta</p><p>Cor da tampa</p><p>do tubo Uso indicado</p><p>Sem anticoagulante Vermelha Testes bioquímicos em</p><p>geral</p><p>Ativador de</p><p>coagulação e gel</p><p>separador</p><p>Amarela</p><p>Heparina de sódio</p><p>ou lítio</p><p>Verde Testes bioquímicos e</p><p>enzimáticos</p><p>Fluoreto de sódio +</p><p>EDTA</p><p>Cinza Testes de avaliação do</p><p>metabolismo da glicose</p><p>Fonte: Adaptado de Fleury (2019).</p><p>Na fase analítica, há a confecção do laudo a partir da transcrição</p><p>dos resultados e da avaliação dos resultados pelo médico. Nessa etapa,</p><p>é de fundamental importância que os resultados sejam relatados de</p><p>forma nítida, completa e correta para que a interpretação seja efetiva e</p><p>resulte uma conduta clínica condizente com a situação do paciente. Para</p><p>minimizar erros, como transcrição incorreta de resultados, informações</p><p>mal expressas ou cálculos incorretos, a automatização dos equipa-</p><p>mentos com interfaceamento direto dos resultados para um sistema</p><p>de gerenciamento laboratorial se apresenta como uma excelente — e</p><p>acessível — alternativa, aliada a bons processos de controle de qualidade</p><p>(BARCELOS; AQUINO, 2018). Para a avaliação das informações geradas</p><p>pelos resultados laboratoriais, ao receber o laudo de um exame, o médico</p><p>assistente do paciente irá utilizar os critérios de intervalo ou os valores</p><p>de referência para a sua tomada de decisão frente ao caso (MUPHY;</p><p>SRIVASTAVA; DEANS, 2019).</p><p>Introdução à bioquímica8</p><p>Avaliação de resultados e métodos</p><p>diagnósticos em bioquímica</p><p>Os valores de referência são norteadores da interpretação de um exame</p><p>laboratorial. Teoricamente, a determinação desses parâmetros leva em</p><p>consideração a média dos valores de um analito encontrada em 95% de</p><p>indivíduos considerados saudáveis. A recomendação é que cada labora-</p><p>tório produza seus próprios valores de referência por meio de estudos na</p><p>população atendida, porém, esses estudos são onerosos, demorados e nem</p><p>sempre adequados, devido a isso, esses padrões podem ser obtidos a partir</p><p>da recomendação de sociedades especializadas, como a Sociedade Brasi-</p><p>leira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e a Sociedade</p><p>Brasileira de Análises Clínicas, além das recomendações do fabricante do</p><p>teste ou de bibliografias prévias, cujos resultados são obtidos em estudos</p><p>e pesquisas que visam à padronização desses valores (SOARES et al., 2012;</p><p>MURPHY; SRIVASTAVA; DEANS, 2019).</p><p>É importante ter em mente que, por ser uma avaliação que leva em con-</p><p>sideração os resultados de 95% de uma população saudável, e não a sua</p><p>totalidade, é natural que se espere que os 5% restantes da população apre-</p><p>sentem resultados fora dos limites de referência, os quais estarão abaixo ou</p><p>acima desses valores preestabelecidos, mesmo que sejam considerados cida-</p><p>dãos saudáveis (Figura 1). Ou seja, uma pequena porcentagem de indivíduos</p><p>considerados saudáveis para um determinado parâmetro pode apresentar</p><p>valores que serão considerados fora dos padrões de referência, mesmo sem</p><p>apresentar qualquer distúrbio nesse quesito (SOARES et al., 2012; MURPHY;</p><p>SRIVASTAVA; DEANS, 2019).</p><p>Além desse viés, também deve ser levado em consideração o fato de que</p><p>as definições de normal e anormal para um resultado laboratorial precisam</p><p>avaliar a condição fisiológica do paciente, haja vista que fatores como sexo e</p><p>idade geralmente causam diferenças significativas nos resultados esperados</p><p>para cada grupo. Da mesma forma, diferentes dietas, ocorrência de gravidez,</p><p>histórico médico, uso de medicamentos e até mesmo o ciclo biológico de um</p><p>indivíduo podem influenciar a resposta a um teste sem necessariamente</p><p>indicarem alguma patologia. Por essa razão, os valores de referência devem</p><p>ser considerados uma indicação de interpretação dos resultados e não um</p><p>guia restrito (Figura 1).</p><p>Introdução à bioquímica 9</p><p>Por outro lado, os valores críticos são, sim, resultados que devem ser</p><p>avaliados de forma rígida e reportados de acordo com as recomendações.</p><p>Chamam-se valores críticos os resultados de exames laboratoriais que re-</p><p>presentam risco grave à saúde do paciente. Por isso, os laboratórios têm o</p><p>dever de comunicá-los imediatamente ao médico assistente do paciente.</p><p>Diversos exames bioquímicos têm valores críticos (BARCELOS; AQUINO, 2018):</p><p>� ácido úrico > 13,0mg/dL;</p><p>� amilase > 200UI/L;</p><p>� bilirrubina total > 15,0mg/dL;</p><p>� lactato > 45mg/dL.</p><p>Os valores aqui citados podem ser consultados em documentos ofi-</p><p>ciais, como na tabela publicada pelo PNCQ: Valores críticos de exames</p><p>laboratoriais que necessitam de imediata tomada de decisão, em atendimento</p><p>à RDC 302:2005 da Anvisa.</p><p>Além dos parâmetros utilizados para avaliar os resultados laboratoriais,</p><p>alguns importantes índices são empregados no julgamento da</p><p>eficiência dos</p><p>métodos e testes escolhidos. Nesse sentido, a sensibilidade e a especificidade</p><p>Figura 1. Representação da definição dos valores de referência.</p><p>Fonte: Murphy, Srivastava e Deans (2019, p. 1026).</p><p>Introdução à bioquímica10</p><p>dos testes são peças-chave na escolha de uma metodologia a ser utilizada</p><p>(BARCELOS; AQUINO, 2018; MURPHY; SRIVASTAVA; DEANS, 2019).</p><p>Sensibilidade diagnóstica é como é designada a capacidade de um teste</p><p>obter um resultado positivo mediante a presença da doença (ou do marcador</p><p>da doença) no paciente, ou seja, trata-se de um resultado verdadeiro-positivo</p><p>(VP), ao passo que a especificidade diagnóstica é a capacidade de um teste</p><p>obter um resultado negativo na ausência da doença (ou do marcador da</p><p>doença) no paciente (verdadeiro-negativo [VN]). Dessa forma, a proporção</p><p>entre os VPs e os VNs, em relação ao total de testes, define a acurácia do</p><p>método (BARCELOS; AQUINO, 2018; SOARES et al., 2012).</p><p>Esses índices são importantes para a elaboração dos valores preditivos. O</p><p>valor preditivo positivo (VPP) é a probabilidade de o paciente ter a doença (ou</p><p>o marcador da doença) e apresentar o teste positivo. Esse índice é importante</p><p>na escolha de testes confirmatórios, ou seja, nos quais é necessário que os</p><p>pacientes doentes/positivos sejam corretamente identificados. Isso quer</p><p>dizer que os testes com alto VPP serão os testes com alta especificidade</p><p>(BARCELOS; AQUINO, 2018; MURPHY; SRIVASTAVA; DEANS, 2019). Já os testes</p><p>com alto valor preditivo negativo serão aqueles com alta probabilidade de o</p><p>paciente que não está com a doença (ou o marcador da doença) apresentar</p><p>o resultado negativo. Esse tipo de desempenho exige uma alta sensibilidade</p><p>e é bastante útil em testes de triagem, nos quais é mais importante que os</p><p>pacientes sadios/negativos sejam corretamente identificados (Quadro 3)</p><p>(BARCELOS; AQUINO, 2018; MURPHY; SRIVASTAVA; DEANS, 2019).</p><p>Quadro 3. Avaliação de testes diagnósticos</p><p>Doente/Com marcador Sadio/Sem marcador</p><p>Teste positivo VP Falso-positivo (FP)</p><p>Teste negativo Falso-negativo (FN) VN</p><p>Sensibilidade = VP / VP + FN e Especificidade = VN / VN + FP</p><p>Fonte: Adaptado de Barcelos e Aquino (2018) e Murphy, Srivastava e Deans (2019).</p><p>Para que a escolha entre a sensibilidade e a especificidade seja mais</p><p>balanceada durante a elaboração de uma técnica analítica, utiliza-se uma</p><p>curva ROC (Figura 2). Essa curva consiste na demonstração gráfica da relação</p><p>entre a proporção de FPs e VPs para diferentes pontos de corte de um teste.</p><p>Introdução à bioquímica 11</p><p>Por meio dela, diferentes métodos podem ser comparados, o que facilita,</p><p>por consequência, a análise e a escolha de testes mais acurados (XAVIER;</p><p>DORA; BARROS, 2016).</p><p>Esses índices são de extrema importância na avaliação de um teste</p><p>diagnóstico, pois, quanto maior a sensibilidade, menor será a ocorrência</p><p>de FNs, e quanto maior a especificidade, menor será o índice de FPs. Em um</p><p>mundo ideal, um teste deveria ser considerado ótimo quando apresentasse</p><p>especificidade e sensibilidade de 100%, ou seja, uma acurácia perfeita,</p><p>apesar disso, esse perfil dificilmente é atingido devido a limitações próprias</p><p>Figura 2. Exemplificação da curva de ROC. O eixo das ordenadas apresenta a sensibilidade</p><p>(taxa de VPs) de um teste em diferentes pontos de corte. No eixo das abscissas, está repre-</p><p>sentada a taxa de FPs (100% - especificidade). Para a avaliação dos testes, mede-se a área</p><p>sob a curva, da curva ROC, que é representativa do poder de discriminação do teste, ou seja,</p><p>sua capacidade preditiva. Nesse exemplo, o exame A apresenta uma maior área sob a curva</p><p>e, portanto, é um melhor teste.</p><p>Fonte: Xavier, Dora e Barros (2016, p. 76).</p><p>Introdução à bioquímica12</p><p>das técnicas (BARCELOS; AQUINO, 2018). Por essa razão, a associação de</p><p>diferentes marcadores em um perfil bioquímico se torna tão importante. Na</p><p>avaliação do perfil enzimático hepático, por exemplo, os níveis de alanina</p><p>aminotransferase e γ-glutamiltransferase não devem ser avaliados isola-</p><p>damente, visto que essas enzimas são consideradas bastante sensíveis,</p><p>mas inespecíficas na avaliação de dano hepático. Por isso, a integração de</p><p>uma variedade de marcadores fornece resultados mais fidedignos e seguros</p><p>(BARCELOS; AQUINO, 2018).</p><p>Por fim, deve-se estar atento ao fato de que a sensibilidade analítica é</p><p>um parâmetro diferente da sensibilidade diagnóstica. A analítica, também</p><p>conhecida como limiar de detecção, refere-se ao menor nível de um analito</p><p>que um determinado método consegue detectar com precisão e que também</p><p>deve ser considerado com ponderação durante a escolha de uma metodologia</p><p>(BARCELOS; AQUINO, 2018). Para esse fim, na bioquímica clínica, uma ampla</p><p>variedade de metodologias pode ser utilizada para a execução dos exames,</p><p>dependendo da necessidade e da capacidade de cada laboratório. Em geral,</p><p>as técnicas são divididas em fotométricas, potenciométricas, eletroforéticas,</p><p>cromatográficas, imunoensaios ou as que se baseiam em espectrofotometria</p><p>de massa. De certa forma, a maioria desses métodos expressa os valores</p><p>de forma quantitativa, em unidades numéricas, e consiste na utilização de</p><p>diferentes técnicas de medida das reações bioquímicas, ou seja, interações</p><p>entre substratos consumidos e produtos gerados.</p><p>Referências</p><p>BARCELOS, L. F.; AQUINO, J. L. (ed.). Tratado de análises clínicas. Rio de Janeiro: Atheneu,</p><p>2018.</p><p>FLEURY, M. K. Manual de coleta em laboratório clínico. 3. ed. [Rio de Janeiro]: Programa</p><p>Nacional de Controle de Qualidade, 2019.</p><p>MURPHY, M.; SRIVASTAVA, R.; DEANS, K. Bioquímica clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Gua-</p><p>nabara Koogan, 2019.</p><p>NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre:</p><p>Artmed, 2014.</p><p>RECOMENDAÇÕES da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial</p><p>(SBPC/ML): realização de exames em urina. Barueri: Manole, 2017.</p><p>SOARES, J. L. M. et al. (org.). Métodos diagnósticos. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.</p><p>(Consulta Rápida).</p><p>XAVIER, R. M.; DORA, J. M.; BARROS, E. Laboratório na prática clínica. 3. ed. Porto Alegre:</p><p>Artmed, 2016. (Consulta Rápida).</p><p>Introdução à bioquímica 13</p><p>Leituras recomendadas</p><p>CONSENSO brasileiro para a normatização da determinação laboratorial do perfil</p><p>lipídico. [2016]. Disponível em: http://www.sbpc.org.br/upload/conteudo/consenso_je-</p><p>jum_dez2016_final.pdf. Acesso em: 26 ago. 2020.</p><p>PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DE QUALIDADE. Valores críticos de exames la-</p><p>boratoriais que necessitam de imediata tomada de decisão, em atendimento à RDC</p><p>302:2005 da Anvisa. 2017. Disponível em: https://www.pncq.org.br/uploads/pdfs/2015/</p><p>Valores%20cr%C3%ADticos%20no%20laborat%C3%B3rio%20cl%C3%ADnico%20.pdf.</p><p>Aceso em: 26 ago. 2020.</p><p>Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos</p><p>testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da</p><p>publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas</p><p>páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores</p><p>declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou</p><p>integralidade das informações referidas em tais links.</p><p>Introdução à bioquímica14</p><p>Dica do professor</p><p>O vídeo apresenta a importância dos testes bioquímicos no laboratório de Análises Clínicas na</p><p>detecção e tratamento de patologias.</p><p>Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.</p><p>https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/4b4b58b15ee9e4996bdca69d8e9fd0da</p><p>Exercícios</p><p>1) Assinale a alternativa correta em relação ao conceito dos valores de referência.</p><p>A) É sempre expresso em unidades do SI (Sistema Internacional de nomenclatura).</p><p>B) É um valor fixo representado em mg/dL.</p><p>C) O valor de referência é obtido através da média ± desvio-padrão (DP).</p><p>D) Não sofre interferência, segundo a idade, gênero do paciente e horário da coleta.</p><p>E) Os valores de referência serão iguais em todos os laboratórios de Análises Clínicas.</p><p>2) Os eletrólitos desempenham muitas funções</p><p>no organismo, entre eles o equilíbrio ácido-</p><p>básico e o volume sanguíneo. Assinale o eletrólito menos abundante no plasma e menos</p><p>requisitado com a rotina no setor de Bioquímica Clínica.</p><p>A) Sódio.</p><p>B) Magnésio.</p><p>C) Potássio.</p><p>D) Cloreto.</p><p>E) Bicarbonato.</p><p>3) O ferro é essencial para a síntese da hemoglobina e consequentemente no transporte de</p><p>oxigênio para os tecidos. Assinale a alternativa associada à condição clínica que se associa a</p><p>elevação da concentração sérica de ferro:</p><p>A) Anemia ferropriva</p><p>B) Doença hemolítica</p><p>C) Hemorragias</p><p>D) Anorexia.</p><p>E) Má absorção intestinal.</p><p>4) O fígado é um órgão central no nosso organismo exercendo inúmeras funções. Cite cinco</p><p>enzimas mais utilizadas para determinação da função hepática.</p><p>A) Creatina quinase (CK), fosfatase ácida (ACP), lactato desidrogenase (LDH), aspartato</p><p>aminotransferase (AST) e hormônio estimulante da tireoide (TSH).</p><p>B) Fosfatase ácida (ACP), alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (ALP), creatina</p><p>quinase (CK) e ácido úrico.</p><p>C) Fosfatase alcalina (ALP), lactato desidrogenase (LDH), alanina aminotransferase (ALT),</p><p>aspartato aminotransferase (AST) e gama glutamil transferase (GGT).</p><p>D) Lactato desidrogenase (LDH), fosfatase alcalina (ALP), creatina quinase (CK), hormônio</p><p>estimulante da tireoide (TSH) e fosfatase ácida (ACP).</p><p>E) Alanina aminotransferase (ALT), gama glutamil transferase (GGT), colesterol de alta densidade</p><p>(HDL), aspartato aminotransferase (AST) e hormônio estimulante da tireoide (TSH).</p><p>5) Qual dos seguintes testes bioquímicos não é útil para diagnóstico de doenças renais?</p><p>A) Creatinina.</p><p>B) Ácido úrico.</p><p>C) Ureia.</p><p>D) Glicose.</p><p>E) Bilirrubina.</p><p>Na prática</p><p>Acompanhe uma doença que o hormônio do crescimento em excesso pode causar.</p><p>A causa mais comum dessa doença é um tumor benigno na glândula hipófise, no qual é chamado de</p><p>adenoma. O excesso de GH produzido na hipófise estimula o fígado a produzir IGF-1 e os efeitos</p><p>são o crescimento de ossos e cartilagens. Particularmente ocorre um alongamento da mandíbula,</p><p>feições grosseiras no rosto e crescimento das mãos e pés.</p><p>O setor de Bioquímica Clínica é extremamente útil porque painéis endócrinos permitem a dosagem</p><p>do GH. Além disso, os resultados laboratoriais do GH associados com sintomas clínicos e exames</p><p>de imagem permitem ao médico o diagnóstico da acromegalia.</p><p>*Sinônimos do GH: HGH, GH, hormônio somatotrófico ou somatotrofina.</p><p>Saiba +</p><p>Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:</p><p>Bioquímica Ilustrada de Harper</p><p>Rodwell, Victor; Bender, David; Botham, Kathleen; Kennelly, Peter; Weil, Anthony</p><p>Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!</p><p>Introdução à Bioquímica Celular</p><p>Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.</p><p>Diagnóstico e Tratamento da Acromegalia no Brasil</p><p>Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.</p><p>http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/18497/material/02.%20Introdu%C3%A7%C3%A3o%20a%20Bioqu%C3%ADmica%20Celular.pdf</p><p>scielo.br/pdf/abem/v47n4/a06v47n4.pdf</p>no organismo, entre eles o equilíbrio ácido- básico e o volume sanguíneo. Assinale o eletrólito menos abundante no plasma e menos requisitado com a rotina no setor de Bioquímica Clínica. A) Sódio. B) Magnésio. C) Potássio. D) Cloreto. E) Bicarbonato. 3) O ferro é essencial para a síntese da hemoglobina e consequentemente no transporte de oxigênio para os tecidos. Assinale a alternativa associada à condição clínica que se associa a elevação da concentração sérica de ferro: A) Anemia ferropriva B) Doença hemolítica C) Hemorragias D) Anorexia. E) Má absorção intestinal. 4) O fígado é um órgão central no nosso organismo exercendo inúmeras funções. Cite cinco enzimas mais utilizadas para determinação da função hepática. A) Creatina quinase (CK), fosfatase ácida (ACP), lactato desidrogenase (LDH), aspartato aminotransferase (AST) e hormônio estimulante da tireoide (TSH). B) Fosfatase ácida (ACP), alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (ALP), creatina quinase (CK) e ácido úrico. C) Fosfatase alcalina (ALP), lactato desidrogenase (LDH), alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e gama glutamil transferase (GGT). D) Lactato desidrogenase (LDH), fosfatase alcalina (ALP), creatina quinase (CK), hormônio estimulante da tireoide (TSH) e fosfatase ácida (ACP). E) Alanina aminotransferase (ALT), gama glutamil transferase (GGT), colesterol de alta densidade (HDL), aspartato aminotransferase (AST) e hormônio estimulante da tireoide (TSH). 5) Qual dos seguintes testes bioquímicos não é útil para diagnóstico de doenças renais? A) Creatinina. B) Ácido úrico. C) Ureia. D) Glicose. E) Bilirrubina. Na prática Acompanhe uma doença que o hormônio do crescimento em excesso pode causar. A causa mais comum dessa doença é um tumor benigno na glândula hipófise, no qual é chamado de adenoma. O excesso de GH produzido na hipófise estimula o fígado a produzir IGF-1 e os efeitos são o crescimento de ossos e cartilagens. Particularmente ocorre um alongamento da mandíbula, feições grosseiras no rosto e crescimento das mãos e pés. O setor de Bioquímica Clínica é extremamente útil porque painéis endócrinos permitem a dosagem do GH. Além disso, os resultados laboratoriais do GH associados com sintomas clínicos e exames de imagem permitem ao médico o diagnóstico da acromegalia. *Sinônimos do GH: HGH, GH, hormônio somatotrófico ou somatotrofina. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Bioquímica Ilustrada de Harper Rodwell, Victor; Bender, David; Botham, Kathleen; Kennelly, Peter; Weil, Anthony Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Introdução à Bioquímica Celular Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Diagnóstico e Tratamento da Acromegalia no Brasil Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/18497/material/02.%20Introdu%C3%A7%C3%A3o%20a%20Bioqu%C3%ADmica%20Celular.pdf scielo.br/pdf/abem/v47n4/a06v47n4.pdf