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<p>APICULTURA – ABELHAS COM</p><p>E SEM FERRÃO</p><p>AULA 5</p><p>Profª Greissi Tente Giraldi</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Nesta abordagem, vamos estudar a produção de mel e outros produtos</p><p>que também são produzidos pelas abelhas, como própolis, cera, geleia real,</p><p>apitoxina e hidromel.</p><p>Também vamos aprimorar nosso conhecimento a respeito da legislação</p><p>que norteia a produção de mel e outros produtos derivados da apicultura e</p><p>meliponicultura.</p><p>Os objetivos são entender como ocorre a produção de mel, própolis,</p><p>geleia real, cera e apitoxina, e conhecer a legislação brasileira que rege a</p><p>produção dos produtos provenientes da apicultura.</p><p>TEMA 1 – PRODUÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO MEL</p><p>Como já vimos, o mel é usado como alimento pelo homem desde a pré-</p><p>história. Por vários séculos, foi retirado dos enxames de forma extrativista e</p><p>predatória, muitas vezes causando sérios prejuízos às colmeias e matando as</p><p>abelhas.</p><p>Com o passar do tempo, o ser humano foi aprendendo a proteger os</p><p>enxames naturais, fazer a captura das abelhas e alojá-las de maneira racional,</p><p>de modo que, com o manejo adequado, houvesse maior produção de mel, sem</p><p>causar prejuízo às abelhas.</p><p>A produção de mel atravessou o tempo, ganhou o mundo e se tornou uma</p><p>importante atividade econômica.</p><p>1.1 Produção do mel</p><p>Estudamos que a produção de mel está diretamente ligada ao bom</p><p>estabelecimento do apiário e ao bom manejo das colmeias. Vimos também como</p><p>é feita a captura dos enxames, a implantação das caixas de abelhas no apiário</p><p>e algumas possibilidades de manejo. No entanto, apesar de a produção de mel</p><p>ser a principal atividade das abelhas, é importante entender que isso ocorre a</p><p>partir da coleta de néctar, que é feito no campo, onde estão as flores.</p><p>A abelha, já em sua fase adulta, voa até onde estão as flores, insere seu</p><p>aparelho bucal lambedor e ingere néctar e água, que ficam armazenados em sua</p><p>vesícula melífera, localizada na porção média do aparelho digestivo do inseto.</p><p>3</p><p>A abelha campeira ou forrageadora, aquela que traz o néctar do campo</p><p>para a colmeia, tem sua vesícula melífera esgotada por outra abelha operária,</p><p>que faz a retirada do néctar que estava em contato com enzimas digestivas na</p><p>vesícula melífera e o armazena nos favos. Nesse processo, há perda de água e</p><p>o néctar, já transformado, se torna uma calda mais espessa, que após o período</p><p>de maturação se transformará no que conhecemos como mel.</p><p>1.2 Colheita do mel</p><p>O manejo para a colheita e a extração do mel é um dos pontos mais</p><p>importantes da produção apícola, para assegurar a qualidade do produto,</p><p>preservando suas características físico-químicas e sensoriais. É importante</p><p>ressaltar que essa é a primeira fase crítica para a obtenção da qualidade total,</p><p>visto que será a primeira vez que o apicultor terá contato direto com o mel, sendo</p><p>o início de um longo processo de suscetibilidade do produto, em relação a</p><p>condições de manipulação, equipamentos, instalações e condições ambientais,</p><p>até que o produto chegue ao consumidor final.</p><p>Vimos que alguns procedimentos são corriqueiros na apicultura, como a</p><p>observação de fatores climáticos e o uso de equipamento de proteção e de</p><p>fumaça, o que interfere diretamente na colheita do mel. O apicultor, no manejo</p><p>da colheita, deve usar vestimentas próprias para a prática apícola, como</p><p>macacão e luvas limpos. Inclusive, recomenda-se que as vestimentas de manejo</p><p>rotineiro e as vestimentas de colheita sejam diferenciadas, ou seja, que o</p><p>apicultor tenha dois EPIs.</p><p>Visando manter a qualidade do mel na prateleira, é importante tomar</p><p>alguns cuidados na colheita. Entre os cuidados que o apicultor deve ter,</p><p>destaque para os fatores climáticos do dia em que o mel será colhido. A colheita</p><p>do mel não deve ser realizada em dias chuvosos ou com alta umidade relativa</p><p>do ar, o que provoca aumento dos índices de umidade do mel. O apicultor deve</p><p>ainda dar preferência aos horários entre 9 e 16 horas, em dias ensolarados. Após</p><p>coletadas, as melgueiras não devem permanecer expostas ao sol por longos</p><p>períodos, pois as altas temperaturas podem levar a um aumento do teor de</p><p>hidroximetilfurfural (HMF) no mel, comprometendo a sua qualidade (Ferreira;</p><p>Assis, 2020).</p><p>O HMF é um composto orgânico derivado da desidratação de</p><p>determinados açúcares, uma molécula resultante da transformação dos</p><p>4</p><p>monossacarídeos, como glicose e frutose. Ele é um dos produtos de degradação</p><p>mais comum no mel, indicando, entre outras coisas, o seu envelhecimento</p><p>(Frübauf; Nunes, 2023).</p><p>O apicultor também deve atentar ao uso da fumaça, pois o mel é um</p><p>produto com característica aromática acentuada, por isso o material utilizado no</p><p>fumigador deve ser de origem vegetal, sem fortes odores quando queimado.</p><p>A retirada do mel dos quadros deve ocorrer de forma seletiva. Dessa</p><p>forma, ao fazer a abertura das melgueiras, o apicultor deve inspecionar cada</p><p>quadro, priorizando a retirada dos quadros que apresentarem no mínimo 90%</p><p>dos seus alvéolos operculados, pois isso é um indicativo da maturidade do mel</p><p>em relação ao percentual de umidade.</p><p>Na Figura 1, podemos observar a retirada do mel dos quadros.</p><p>Figura 1 – Exemplo de como pode ser feita a retirada de mel dos quadros.</p><p>Crédito: Darius/Adobestock.</p><p>Na seleção dos quadros para a colheita, o apicultor não deve colher</p><p>quadros que apresentem crias, em qualquer fase de desenvolvimento, grande</p><p>quantidade de pólen e mel “verde”, isto é, quando o mel ainda estiver com altos</p><p>índices de umidade.</p><p>A etapa final do processo de colheita do mel consiste no transporte das</p><p>melgueiras para o local onde o mel é retirado dos quadros. Nessa etapa,</p><p>5</p><p>algumas práticas devem ser evitadas. O apicultor deve evitar colocar as</p><p>melgueiras no chão, pois esse contato pode prejudicar a qualidade do mel, uma</p><p>vez que o mel pode ser contaminado por sujidades; para evitar essa</p><p>contaminação, recomenda-se o uso de um suporte para a melgueira (Ferreira;</p><p>Assis, 2020).</p><p>O veículo em que as melgueiras serão transportadas deve ser higienizado</p><p>previamente, devendo estar livre de qualquer resíduo. A superfície da área de</p><p>carga do veículo deve ser revestida com material devidamente limpo e livre de</p><p>impurezas, de forma a evitar o contato das melgueiras diretamente com o piso.</p><p>No caso de o veículo ter o compartimento de carga aberto, recomenda-se a</p><p>utilização de lonas que possam cobrir as melgueiras, evitando a contaminação</p><p>do mel por poeira ou outras sujidades.</p><p>Na Figura 2, podemos observar a retirada das melgueiras dos apiários,</p><p>revestidas com proteção plástica para evitar a contaminação do mel.</p><p>Figura 2 – Proteção das melgueiras no momento do transporte do apiário para a</p><p>“casa do mel”</p><p>Crédito: FABIAN PONCE GARCIA/Adobestock.</p><p>Durante a colocação das melgueiras no veículo, é recomendado evitar</p><p>que ele fique exposto diretamente ao sol, pois a alta temperatura pode influenciar</p><p>na qualidade do mel, como vimos anteriormente.</p><p>6</p><p>1.3 Extração e beneficiamento do mel</p><p>Após a colheita do mel, ele é transportado até a unidade de extração dos</p><p>produtos das abelhas, também conhecida como “casa do mel”, local que deve</p><p>ser construído segundo as normas sanitárias da Portaria n. 6, de 25 de julho de</p><p>1985 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Brasil, 1985).</p><p>Nesse local, é feita a extração do mel dos quadros que estavam dentro</p><p>das melgueiras. Depois de extraído, o mel passa por uma série de</p><p>procedimentos, até que seja efetivamente envazado para comercialização. É</p><p>importante enfatizar que o processo de extração e beneficiamento do mel deve</p><p>ser feito de forma higiênica, seguindo todos os princípios de higiene pessoal.</p><p>Após a recepção das melgueiras na unidade de extração e o</p><p>beneficiamento, elas devem ser depositadas em uma área específica para esse</p><p>fim. Além disso, é recomendado que os quadros dessas melgueiras sejam</p><p>transferidos para melgueiras que não são utilizadas no campo, onde os quadros</p><p>ficarão em espera até o momento da extração.</p><p>Na sala de extração, os quadros devem ser dispostos na mesa</p><p>desoperculadora, onde será realizado o processo de desoperculação, com o</p><p>auxílio de garfos ou facas desoperculadoras, ou ainda com equipamentos mais</p><p>tecnológicos, como as desoperculadoras elétricas. O processo de</p><p>desoperculação consiste, basicamente, na retirada da fina camada de cera que</p><p>recobre os alvéolos da superfície dos favos. Como resultado desse processo, é</p><p>obtido um resíduo contendo uma mistura de cera de opérculo e uma quantidade</p><p>significativa de mel.</p><p>O mel aderido aos opérculos pode ser separado por diferentes processos,</p><p>seja por meio de decantação ou prensagem, ou ainda por meio de centrífugas</p><p>especiais. No entanto, o mel obtido nesse processo não pode ter o mesmo</p><p>destino do mel centrifugado, uma vez que pode apresentar alterações nos seus</p><p>parâmetros físico-químicos, como maior teor de sólidos insolúveis. Nesse caso,</p><p>o mel de opérculo pode ser aproveitado para outros fins, como a produção de</p><p>hidromel ou a alimentação das abelhas (Ferreira; Assis, 2020).</p><p>Já a cera de opérculo apresenta maior pureza e, consequentemente,</p><p>maior valor agregado em comparação à cera bruta, que é obtida por meio do</p><p>reaproveitamento de favos velhos no apiário.</p><p>7</p><p>Então, após a etapa de desoperculação, os quadros são transferidos para</p><p>a centrífuga, onde a retirada do mel dos favos é feita justamente pela força</p><p>centrífuga. Nesse processo, a velocidade de centrifugação não pode ser</p><p>excessiva, devendo ser controlada até que ocorra a completa extração do mel,</p><p>para evitar que os favos quebrem.</p><p>A Figura 3 apresenta a disposição dos quadros dentro da centrífuga para</p><p>a extração do mel.</p><p>Figura 3 – Distribuição dos quadros retirados das melgueiras dentro da</p><p>centrífuga</p><p>Crédito: 4ndrea/Adobestock.</p><p>Os quadros que passaram pelo processo de centrifugação podem voltar</p><p>para as colmeias. Aqueles quadros que apresentarem cera com coloração</p><p>escurecida devem ser limpos e revestidos com nova cera alveolada.</p><p>Depois da centrifugação, o mel passa pelo processo de filtração, que pode</p><p>ser levado a cabo com o uso de peneiras acopladas a um filtro sob pressão,</p><p>objetivando fazer a retirada de fragmentos de cera, abelhas e outros elementos</p><p>que possam estar presentes no mel.</p><p>Na Figura 4, podemos observar a filtração feita com o auxílio de uma</p><p>peneira de malha fina, para reter as partículas maiores que estão presentes no</p><p>mel.</p><p>8</p><p>Figura 4 – Exemplo do processo de filtragem do mel</p><p>Crédito: Dzmitry/Adobestock.</p><p>Em seguida, o mel é transferido para os decantadores, com o auxílio de</p><p>baldes (os baldes podem ser de material plástico, mas é preferível que sejam de</p><p>aço inox), utilizados apenas para essa finalidade, ou então por meio de</p><p>tubulações apropriadas.</p><p>A decantação é uma etapa importante para a retirada de bolhas ou de</p><p>impurezas leves que passaram pelos filtros, cuja separação ocorre devido à</p><p>diferença de densidade entre os componentes. O período de decantação varia</p><p>em função da densidade do mel e da quantidade de bolhas e sujidades</p><p>presentes, sendo geralmente de três a cinco dias (Ferreira; Assis, 2020).</p><p>Após esse processo, o mel é envasado, o que pode ser feito em frascos,</p><p>baldes plásticos de 25 quilos ou tambores metálicos de 280 quilos, dependendo</p><p>do mercado a que se destina e do tipo de produto comercializado pela indústria.</p><p>O armazenamento deve ser realizado sobre estrados e em local específico, seco,</p><p>fresco e ao abrigo da luz.</p><p>1.4 Padrões de identidade e qualidade do mel</p><p>O mel, para ser comercializado, assim como qualquer outro produto de</p><p>origem animal, deve ser inspecionado, para que não ofereça risco à saúde dos</p><p>9</p><p>consumidores. Segundo a legislação vigente, não é permitido adicionar ao mel</p><p>açúcares e/ou outras substâncias que alterem sua composição original.</p><p>Além da adição de substâncias não permitidas, o superaquecimento do</p><p>mel também é proibido por lei. No entanto, a prática do superaquecimento é</p><p>realizada para reaproveitar méis que já apresentam início de fermentação, para</p><p>diminuir a cristalização ou para facilitar o envase. Nesse sentido, para atestar a</p><p>qualidade do mel comercializado no país, o Mapa estabeleceu, por meio da</p><p>Instrução Normativa n. 11, de 20 de outubro de 2000 (Brasil, 2000), o</p><p>Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel, que define os requisitos</p><p>mínimos de qualidade que o mel destinado ao consumo humano direto deve ter,</p><p>preconizando a realização de algumas análises físico-químicas para auxiliar na</p><p>avaliação da qualidade do mel e na identificação de fraudes no mel</p><p>comercializado no país.</p><p>A instrução normativa citada classifica o mel quanto à sua origem, quanto</p><p>ao processo de obtenção do mel e quanto à sua apresentação e/ou</p><p>processamento, considerando características sensoriais. A cor do mel pode</p><p>variar de quase incolor a pardo-escura, devendo apresentar sabor e aroma</p><p>característicos de acordo com a sua origem.</p><p>Na Figura 5, podemos observar como o mel pode ser comercializado, com</p><p>suas diferentes colorações, o que pode estar associado principalmente ao pasto</p><p>apícola.</p><p>Figura 5 – Opção de envase para comercialização de mel</p><p>Crédito: 2ragon/Adobestock.</p><p>10</p><p>Cumpridas todas as etapas de extração e beneficiamento do mel, e</p><p>atendidas as exigências da IN n. 11/2000, o produto envasado está apto à</p><p>comercialização.</p><p>TEMA 2 – PRODUÇÃO E CARACTERÍSTICAS DE PRÓPOLIS E CERA</p><p>Dentre os produtos que são produzidos na colmeia, e que também podem</p><p>ser comercializados, estão a própolis e a cera. Ambos os produtos são</p><p>produzidos pelas abelhas operárias para cumprir alguma função dentro da</p><p>colmeia; no caso da própolis, ela cumpre a função de proteger a colmeia de</p><p>insetos e microrganismos, além de ser utilizada no reparo de frestas e na</p><p>mumificação de insetos invasores.</p><p>Já a cera é a base para a construção dos favos, além de ser utilizada para</p><p>a captura de novos enxames.</p><p>Neste tópico, vamos estudar as características comerciais desses</p><p>produtos, que auxiliam no incremento da renda do apicultor.</p><p>2.1 Própolis</p><p>Própolis é um nome genérico dado a uma substância resinosa, produzida</p><p>pelas abelhas, tanto Apis mellifera, quanto pelas espécies de abelhas sem</p><p>ferrão, a partir de secreções resinosas, gomosas e balsâmicas (Brasil, 2017a).</p><p>Essas secreções são colhidas pelas abelhas, de brotos, flores e exsudatos de</p><p>plantas, às quais as abelhas acrescentam secreções salivares, cera e pólen para</p><p>elaboração do produto final, cuja coloração pode variar de marrom-escuro a</p><p>vermelho ou verde, de acordo com a espécie da planta de origem do material</p><p>coletado (Silva; Brito; Assis, 2020).</p><p>As abelhas campeiras são as responsáveis pela coleta das substâncias</p><p>resinosas que darão origem à própolis, fazendo a raspagem das substâncias de</p><p>interesse das plantas, usando a mandíbula, manipulando o que foi coletado com</p><p>auxílio das pernas e prendendo-as à corbícula.</p><p>Quando a abelha campeira retorna para a colmeia, as abelhas operárias</p><p>responsáveis pelo serviço interno auxiliam na retirada da resina das corbículas,</p><p>manipulam e transformam esse material, adicionando cera, secreções salivares</p><p>e mais pólen, além de enzimas que são produzidas nas glândulas salivares.</p><p>Após esse processo, a própolis está pronta para ser utilizada pelas abelhas.</p><p>11</p><p>A própolis é usada na defesa de frente da colmeia, além de desempenhar</p><p>funções como a higienização da colmeia, a prevenção de doenças e a vedação</p><p>de aberturas externas, o que impede a entrada de insetos e auxilia no isolamento</p><p>térmico da colmeia. Além disso, é usada para renovação da película protetora</p><p>dos favos de postura, dos favos de depósito de alimentos e das paredes internas</p><p>da colmeia, a fim de criar um revestimento limpo e suave para as superfícies</p><p>interiores (Silva; Brito; Assis, 2020).</p><p>A utilização da própolis pelos humanos data de aproximadamente 1550</p><p>a.C., sendo relatada em papiros egípcios, que a descreviam como “cera negra”,</p><p>com poderes curativos (Silva; Brito; Assis, 2020). Desde então, a própolis vem</p><p>despertando interesse comercial por conta de suas propriedades biológicas</p><p>comprovadas, como antioxidante, citotóxica, hepatoproterora, antitumoral e</p><p>atividade de amplo espectro contra diferentes microrganismos (Pimentel et al.,</p><p>2022).</p><p>Ainda que as propriedades da própolis tenham despertado a</p><p>comercialização desse produto, a composição química da própolis tem uma</p><p>grande variação, o que interfere diretamente nas suas propriedades</p><p>terapêuticas. Essa variação está relacionada a fatores como espécie de abelha,</p><p>origem botânica da planta e características geográficas e climáticas das regiões</p><p>de produção (Marcucci; Custódio, 2002; Barba-Ostria et al., 2022).</p><p>A produção de própolis vem ganhando força e espaço. Já não é mais um</p><p>subproduto da colmeia. Por conta disso, as técnicas de produção foram sendo</p><p>aprimoradas pelos apicultores. O que inicialmente era feito por meio da</p><p>raspagem da própolis das peças da colmeia resultou em melhorias nas próprias</p><p>caixas de abelhas, com aplicação de caixilhos coletores que incrementam</p><p>substancialmente a produção, a produtividade e a qualidade do produto.</p><p>O processo de beneficiamento para obtenção da própolis bruta é feito a</p><p>partir da extração da própolis do caixilho, com obtenção de cerca de 30 gramas</p><p>de própolis. Essa extração também deve obedecer aos padrões de higienização.</p><p>Após a extração da própolis do caixilho, é feita uma etapa de seleção e limpeza</p><p>para a retirada das impurezas, como pedaços de madeira, abelha ou favo, que</p><p>eventualmente possam ter sido extraídos junto com a própolis (Silva; Brito; Assis,</p><p>2020).</p><p>A própolis pode ser comercializada de forma bruta, após a limpeza,</p><p>classificação e envase, ou pode ser direcionada para a produção do extrato, o</p><p>12</p><p>que pode ser feito em base aquosa ou alcoólica (Pereira et al., 2015). Na Figura</p><p>6, podemos observar um exemplo da própolis bruta e em extrato.</p><p>Figura 6 – Apresentação da própolis em suas diferentes formas de</p><p>comercialização: bruta e em extrato</p><p>Crédito: Monika Wisniewska/Adobestock.</p><p>Ambas as formas de comercialização são regidas pela legislação</p><p>brasileira, que define os parâmetros que devem ser atendidos. Veremos isso</p><p>com mais detalhes em outro tópico.</p><p>2.2 Cera</p><p>A cera de abelhas é um dos principais insumos da produção apícola,</p><p>apresentando um papel importante tanto para a colmeia quanto para o retorno</p><p>econômico da produção. Segundo a legislação (Brasil, 2017a), a cera de abelha</p><p>é um produto secretado pelas abelhas para formação dos favos nas colmeias,</p><p>de consistência plástica, cor amarelada e muito fusível.</p><p>A cera é secretada por glândulas cerígenas presentes na região inferior</p><p>do abdome das abelhas. Essas glândulas têm produção máxima em abelhas</p><p>com idade entre 12 e 18 dias, de modo que, passado esse período, essas</p><p>glândulas se atrofiam (Silva; Brito; Assis, 2020). Nesse momento, a cera é</p><p>13</p><p>secretada pelas abelhas na forma líquida. Quando em contato com o ar,</p><p>solidifica-se em pequenas lâminas brancas e adquire coloração amarelada</p><p>devido aos processos de biotransformação, por meio dos quais se misturam com</p><p>cera, saliva, própolis e pólen. Outro ponto de interferência é a influência da</p><p>umidade e temperatura interna da colmeia, que fornecem as características de</p><p>diferentes cores das ceras e rigidez dos favos.</p><p>A cera pura, tal como é encontrada nas lâminas recém-produzidas pelas</p><p>abelhas, apresenta mais de 300 componentes, a maioria composta por ésteres,</p><p>que são compostos lipofílicos e estáveis (Nunes et al., 2012). Entretanto, além</p><p>de utilizada e reutilizada pela própria apicultura, a cera também é explorada de</p><p>forma industrial e os processos de obtenção de cera podem variar.</p><p>Uma das formas mais comuns é por meio de opérculos que recobrem os</p><p>alvéolos dos favos retirados na colheita do mel, considerada a cera mais pura,</p><p>já que ela é renovada pelas abelhas a cada extração de mel. Outra forma é a</p><p>partir de pedaços de favo, favos velhos ou tortos, de raspas de cera que ficam</p><p>em cima dos quadros e na parte interna da colmeia. Além dessas, há diversas</p><p>técnicas de extração de cera, como banho-maria, processo do saco e derretedor</p><p>solar (Nunes et al., 2012). O emprego dessas técnicas de extração depende do</p><p>grau de profissionalismo do apicultor e da quantidade de cera a ser extraída.</p><p>Os equipamentos utilizados na etapa de beneficiamento da cera estão</p><p>previstos na Instrução Normativa n. 5 de 14 de fevereiro de 2017 do Mapa, entre</p><p>os quais podemos citar derretedor de cera, filtro, forma e mesa ou bancada</p><p>(Brasil, 2017b). Para a produção de cera de abelha alveolada, o estabelecimento</p><p>deve ainda ter laminadora e cilindro alveolador.</p><p>Na Figura 7, podemos observar a cera em um dos possíveis formatos de</p><p>comercialização. No entanto, esse aspecto pode ser variável de acordo com o</p><p>tamanho e o formato de onde a cera será solidificada. Um fator que pode afetar</p><p>o tamanho e o formato da cera é o mercado consumidor, pois há uma demanda</p><p>de mercado significativa por cera de abelha, para que seja utilizada na indústria</p><p>cosmética e em outros diversos produtos industriais.</p><p>14</p><p>Figura 7 – Diferentes tamanhos de cera de abelha para comercialização</p><p>Crédito: sashka1313/Adobestock.</p><p>A cera utilizada como insumo no apiário é a cera alveolada, utilizada no</p><p>processo de substituição de quadros velhos e na captura e divisão de enxames.</p><p>Além disso, é comum encontrar a cera alveolada em artesanatos, como</p><p>podemos observar na Figura 8.</p><p>Figura 8 – Cera de abelha alveolada</p><p>Crédito: Claude Calcagno/Adobestock; Studio Empreinte/Adobestock.</p><p>Para atender a essas finalidades, a produção de cera de abelha é uma</p><p>alternativa para os apicultores, uma vez que a versatilidade do produto possibilita</p><p>15</p><p>o aumento da renda do produtor em períodos principalmente de entressafra do</p><p>mel.</p><p>TEMA 3 – PRODUÇÃO DE GELEIA REAL E HIDROMEL</p><p>Neste tópico, vamos estudar dois produtos apícolas distintos que</p><p>ganharam proporções gastronômicas semelhantes: a geleia real e o hidromel.</p><p>A geleia real é produzida naturalmente na colmeia pelas operárias de</p><p>abelhas com ferrão, com a finalidade de alimentar a abelha rainha. As abelhas</p><p>sem ferrão não produzem geleia real.</p><p>Já o hidromel, também chamado de vinho de mel, é um produto feito a</p><p>partir da fermentação de uma mistura de mel e água, sendo uma das bebidas</p><p>mais antigas de que se tem notícia.</p><p>Vejamos, a seguir, mais detalhes sobre a produção e a comercialização</p><p>de geleia real e hidromel.</p><p>3.1 Geleia real</p><p>A geleia real é um dos produtos apícolas mais valorizados</p><p>comercialmente, apresentando alto valor agregado. Ela pode ser utilizada na</p><p>alimentação humana, como suplemento alimentar, e nas indústrias farmacêutica</p><p>e cosmética (Oliveira; Vidigal; Assis, 2020).</p><p>A geleia real é uma substância cremosa, produzida pelo sistema glandular</p><p>cefálico presente nas abelhas Apis mellifera, a partir das secreções das</p><p>glândulas hipofaringeanas e mandibulares de operárias jovens, denominadas</p><p>abelhas nutrizes.</p><p>A geleia real é essencial na alimentação das larvas das abelhas operárias</p><p>e machos até o terceiro dia de vida e na alimentação da rainha durante toda a</p><p>sua fase larval e adulta. Essa diferenciação ocorre pelaapresença do hormônio</p><p>juvenil, responsável por regular o crescimento, o desenvolvimento, a</p><p>metamorfose e muitos aspectos do comportamento desses insetos (Oliveira;</p><p>Vidigal; Assis, 2020).</p><p>As abelhas nutrizes secretam a geleia real entre o quinto e o décimo</p><p>quinto dia de vida. A composição química dessa substância pode variar de</p><p>acordo com a época do ano, o clima, a florada disponível e o modo de</p><p>produção,</p><p>embora seus constituintes se mantenham relativamente constantes. Entre os</p><p>16</p><p>principais constituintes da geleia real, segundo Liu et al. (2008) são: água (60%</p><p>a 70%), açúcares (7% a 18%), proteínas (12% a 15%), lipídios (3% a 8%) e</p><p>pequenas quantidades de minerais e vitaminas, como as do complexo B.</p><p>Na Figura 9, podemos observar as características visuais da geleia real.</p><p>Figura 9 – Geleia real produzida por abelhas operárias nutrizes para alimentação</p><p>dos integrantes da colmeia</p><p>Crédito: FreeProd/Adobestock.</p><p>Os sistemas de produção da geleia real mais utilizados são baseados no</p><p>método de produção de rainhas descrito por Doolittle (1889), utilizando, para</p><p>isso, colmeias especiais, chamadas de recrias ou minirrecrias.</p><p>A diferença básica entre os dois métodos consiste na utilização de um</p><p>ninho, no caso de recrias, ou de um núcleo, no caso das minirrecrias (Oliveira;</p><p>Vidigal; Assis, 2020), porém o objetivo é o mesmo: reproduzir as condições</p><p>necessárias para o desenvolvimento de uma nova rainha. Assim, as abelhas</p><p>operárias são estimuladas a produzir uma quantidade maior de geleia real.</p><p>É importante salientar que as abelhas operárias utilizam como principais</p><p>matérias-primas para a produção de geleia real dois produtos importantes da</p><p>colmeia: mel e pólen. Devido a isso, e por ser produzida em pequenas</p><p>quantidades, a produção de geleia real representar um custo relativamente alto</p><p>para as abelhas. Nesse sentido, há uma sensibilidade do produto, deixando-o</p><p>17</p><p>mais suscetível à ocorrência de fraudes para substituição de seus constituintes</p><p>nobres por produtos de menor valor agregado.</p><p>No entanto, a Instrução Normativa n. 3, de 19 de janeiro de 2001 do Mapa,</p><p>aponta os requisitos físico-químicos que o produto deve atender, sendo eles: 1.</p><p>Umidade: 60% a-70 %; 2. Cinzas: máximo de 1,5 % (mim); 3. Proteínas: mínimo</p><p>de 10% (mhn); 4. Açúcares redutores, em glicose: mínimo 10 % (mim); 5.</p><p>Lipídeos totais: mínimo 3,0%; 6. pH 3.4 a 4.5; 7. Índice de acidez: 23,0 a.53,0</p><p>mgKOH/g; 8. Sacarose: máximo 5,0%; 9. HDA: mínimo 2% (m/m) na base seca.</p><p>O HDA é um indicador de qualidade e autenticidade utilizado para indicar</p><p>atividades antibióticas da geleia.</p><p>Além disso, a IN n. 3/2001 prevê uma classificação segundo o</p><p>procedimento de obtenção, classificando em geleia real fresca o produto</p><p>coletado por processo mecânico a partir da célula real, retirada a larva e filtrada;</p><p>e geleia real in natura o produto mantido e comercializado diretamente na célula</p><p>real após a remoção da larva (Brasil, 2001).</p><p>A IN n. 3/2001 também entende que a geleia real é o produto da secreção</p><p>do sistema glandular cefálico das abelhas operárias, como vimos anteriormente,</p><p>porém coletado no período de até 72 horas. A estocagem desse material deve</p><p>ser feita ao abrigo da luz e a uma temperatura inferior a 16 ºC (Brasil, 2001). No</p><p>entanto, o transporte e comercialização da geleia real pode ter variação na</p><p>temperatura entre -16 ºC e -5 ºC, permanecendo igualmente ao abrigo da luz.</p><p>3.2 Hidromel</p><p>O hidromel, chamado também de vinho de mel, é uma bebida alcóolica</p><p>que, apesar de pouco conhecida, pode ser a mais antiga do mundo, tendo sido</p><p>criada antes mesmo do vinho, sendo a precursora da cerveja.</p><p>Apesar de não ter se fixado como bebida popular, a tradição da produção</p><p>de hidromel se manteve, principalmente de forma artesanal, tendo sobrevivido</p><p>ao longo do tempo, estando presente desde a antiguidade em diversas culturas.</p><p>O hidromel é feito a partir da mistura de mel e água, passando por um</p><p>processo de fermentação. Ao longo da história, foi comum a adição de frutas e</p><p>especiarias durante o processo de fermentação, com o intuito de obter um</p><p>produto com características sensoriais diversificadas.</p><p>No entanto, ainda que existam com diversas possibilidades de fabricar</p><p>hidromel, a legislação vigente no Brasil permite apenas o uso de mel de abelha,</p><p>18</p><p>sais nutrientes e água potável (Brasil, 2009; Brasil, 2012), estabelecendo ainda</p><p>que a água utilizada como ingrediente deve obedecer às normas e aos padrões</p><p>aprovados pela legislação específica para potabilidade da água, estando</p><p>condicionada exclusivamente à padronização do grau brix do mosto a ser</p><p>fermentado e da graduação alcoólica do produto final (Brito; Assis, 2020).</p><p>A legislação brasileira, além dos ingredientes, exige ainda o atendimento</p><p>de determinadas características físico-químicas, entre as quais destacamos: 1.</p><p>graduação alcoólica entre 4 e 14%, a 20 ºC; 2. acidez total entre 50 e 130 mEq/L;</p><p>3. acidez fixa mínima de 30 mEq/L; 4. acidez volátil máxima de 20 mEq/L</p><p>(expressa em ácido acético); 5. extrato seco reduzido mínimo de 7 g/L; 6.</p><p>anidrido sulfuroso total ao máximo de 0,35 g/L; 7. cinzas ao mínimo de 1,5 g/L;</p><p>8. cloretos totais ao máximo de 0,5 g/L (Brasil, 2012). Na Figura 10, podemos</p><p>observar um exemplo do hidromel pronto para consumo.</p><p>Figura 10 – Hidromel</p><p>Crédito: Brent Hofacker/Adobestock.</p><p>Dada a restrição dos ingredientes prevista por lei, como vimos</p><p>anteriormente, a saborização do hidromel pode ser feita por meio da alteração</p><p>da proporção de mel e água, com utilização de leveduras diferentes para a</p><p>fermentação, sais nutrientes com composições diferentes e, principalmente, a</p><p>19</p><p>qualidade do mel utilizado, que varia de acordo com a florada e a estação do ano</p><p>(Brito. Assis, 2020).</p><p>Todas essas variações, aliadas ao processo tecnológico empregado,</p><p>contribuem para a liberação de uma gama de substâncias em quantidades</p><p>diferentes durante o processo de fermentação, trazendo notas específicas para</p><p>cada hidromel, além de variação do teor alcoólico, o que está diretamente ligado</p><p>ao teor de açúcares, fator que permite classificar o hidromel como seco ou suave,</p><p>garantindo sabores variados.</p><p>TEMA 4 – PRODUÇÃO DE APITOXINA</p><p>Neste tópico, vamos estudar a produção e a aplicação de apitoxina, que</p><p>é justamente o “veneno” produzido pelas abelhas com ferrão. Vimos</p><p>anteriormente a importância dessa substância, principalmente, para a proteção</p><p>da colmeia contra predadores em geral.</p><p>A apitoxina é conhecida e utilizada há muito tempo na medicina tradicional</p><p>chinesa para o tratamento de diversas doenças, devido a suas inúmeras</p><p>atividades biológicas, como ação analgésica, anti-inflamatória e antitumoral,</p><p>além de notória melhora no sistema imunológico.</p><p>Por conta dessa série de atributos benéficos, a apitoxina vem sendo</p><p>amplamente estudada. Veremos a seguir quais são as formas de obtenção</p><p>dessa substância, preservando a integridade das abelhas e considerando as</p><p>suas características gerais e sua composição química.</p><p>4.1 Apitoxina</p><p>A apitoxina é produzida pela glândula ácida, ou glândula de veneno, das</p><p>abelhas operárias, localizada na região posterior do abdome, entre o reto e os</p><p>ovários, sendo armazenada na bolsa ou reservatório de veneno.</p><p>O aparelho do ferrão, como vimos anteriormente, é o órgão responsável</p><p>pela defesa individual da operária ou da colmeia. Ele se localiza na parte final do</p><p>abdome, estando presente exclusivamente em abelhas fêmeas. Relembremos</p><p>que o ferrão é ligado fortemente às glândulas que produzem e armazenam o</p><p>veneno. Por conta dessa conformação, quando as operárias ferroam o predador,</p><p>ocorre uma ruptura abdominal, favorecendo o desprendimento de estruturas</p><p>internas, o que culmina na morte da abelha operária.</p><p>20</p><p>Estudos apontam que, em média, cada picada de uma operária produz</p><p>0,3 mg de veneno. Essa quantidade reduz à medida que elas envelhecem. Há</p><p>um período na vida da abelha em que há uma produção máxima de veneno</p><p>(Pereira; Silva; Assis, 2020). Além disso, a quantidade e a composição da</p><p>apitoxina podem variar de acordo com outros fatores, como o método de coleta</p><p>e as estações do ano (inverno e verão).</p><p>Segundo a legislação (Brasil, 2001), a apitoxina é composta por água e</p><p>substâncias ativas, como apamina, melitina,</p><p>fosfolipase, hialuronidase,</p><p>aminoácidos e outros componentes presentes em menor concentração. Em um</p><p>trabalho desenvolvido por Eze et al. (2016), foram identificadas cerca de 18</p><p>substâncias com atividade farmacológica no veneno das abelhas.</p><p>O processo de obtenção ou extração de apitoxina pode ser realizado de</p><p>diferentes formas, sendo um dos métodos o de esvaziar, de forma manual, a</p><p>bolsa de veneno pelo ferrão, fazendo pressão no abdome da abelha e coletando</p><p>seu líquido em microcápsulas. Contudo, a apitoxina extraída por estimulação</p><p>manual pode apresentar fragmentos de tecidos danificados e conteúdo intestinal,</p><p>estando, portanto, mais propensa a contaminações (Pereira; Silva; Assis, 2020).</p><p>Além disso, do ponto de vista prático, essa técnica não é adequada para atender</p><p>à demanda comercial, devido à dificuldade de manipular as operárias uma a</p><p>uma, ao longo de um período de tempo necessário para a coleta de uma</p><p>quantidade razoável.</p><p>Nos apiários, a técnica usualmente empregada consiste no uso de</p><p>coletores elétricos, uma vez que a quantidade de veneno obtida é maior e mais</p><p>pura, pois não há contaminação com conteúdo do trato gastrointestinal. Esse</p><p>método diminui significativamente a mortalidade das abelhas no momento da</p><p>extração do veneno.</p><p>Há uma diversidade de opções de coletores que emitem impulsos</p><p>elétricos para a extração de apitoxina, mas os mais utilizados são os coletores</p><p>instalados no alvado, isto é, na entrada da colmeia. Esse coletor é composto por</p><p>uma placa de vidro contendo um eletroestimulador, composto por pulsador,</p><p>bateria e carregador da bateria. Assim, quando as abelhas pousam na placa</p><p>coletora elétrica e recebem o choque, a apitoxina é liberada na superfície da</p><p>placa devido à contração do músculo que se liga à glândula do veneno.</p><p>Depois de coletada, a apitoxina passa por um processo de secagem.</p><p>Apenas depois da secagem a apitoxina é raspada da superfície da placa coletora</p><p>21</p><p>e transferida para recipientes próprios, sendo acondicionada para ser destinada</p><p>à venda e para fixação de identidade e qualidade da apitoxina. Foi publicada pelo</p><p>Mapa a Instrução Normativa n. 3/2001, que estabelece os padrões de identidade</p><p>e os requisitos mínimos de qualidade que a apitoxina destinada ao comércio</p><p>nacional ou internacional deve atender.</p><p>Segundo a legislação, a apitoxina pode ser classificada, de acordo com a</p><p>apresentação do produto, em apitoxina na forma de pó amorfo ou na forma</p><p>cristalizada. A legislação ainda indica os requisitos físico-químicos como segue:</p><p>1. Umidade: máximo 3%; 2. Teor proteico: 50% a 85%; 3. Fosfolipase A: 17 a</p><p>1911/mg proteína, o atendimento desses parâmetros é importante para a</p><p>caracterização da substância (Brasil, 2001).</p><p>Além disso, a legislação indica que a apitoxina apresenta características</p><p>sensoriais próprias ao produto. Seu acondicionamento deve ser feito com</p><p>materiais adequados para as condições de armazenamento, que lhe confiram a</p><p>proteção apropriada contra contaminação. Fica vedada a utilização de qualquer</p><p>aditivo no produto.</p><p>TEMA 5 – PRODUÇÃO DE PÓLEN APÍCOLA</p><p>As abelhas prestam um serviço essencial de polinização, pois</p><p>representam o grupo mais importante de polinizadores. O pólen, por sua vez, é</p><p>um dos principais insumos da colmeia, pois faz parte da alimentação das</p><p>abelhas, compondo diversos produtos, como a própolis, a geleia real e a cera.</p><p>Devido ao seu alto valor nutricional e a outras propriedades nutracêuticas,</p><p>o pólen apícola despertou o interesse dos consumidores de produtos apícolas,</p><p>sendo mais uma possível fonte de renda para o apicultor. Vejamos como o pólen</p><p>apícola ganhou espaço comercial e quais são os benefícios do seu uso para</p><p>diversas finalidades.</p><p>5.1 Pólen apícola</p><p>Ao visitarem as flores para coletar néctar e pólen, indispensáveis para a</p><p>sobrevivência da colônia, as abelhas adicionam secreções salivares e aglutinam</p><p>os grãos de pólen, formando bolotas que são transportadas nas corbículas e</p><p>recolhidas no ingresso à colmeia, dando origem ao pólen apícola (Ferreira; Assis,</p><p>2020).</p><p>22</p><p>Na Figura 11, podemos observar como ocorre a coleta de pólen, no</p><p>campo, pelas abelhas campeiras. A abelha campeira visita as flores para a coleta</p><p>de néctar e pólen, formando as bolotas de pólen que serão levadas até a</p><p>colmeia.</p><p>Figura 11 – Coleta de pólen</p><p>Crédito: Krzysztof/Adobestock; Dave Massey/Adobestock.</p><p>Devido às suas propriedades nutracêuticas, o pólen apícola tem sido</p><p>utilizado tanto na alimentação humana como na alimentação animal, como fonte</p><p>suplementar de energia e nutrientes. Além da utilização como suplemento</p><p>alimentar, o pólen apícola também tem sido usado como ingrediente em produtos</p><p>aromáticos, como tinturas e óleos essenciais, e em cosméticos, como cremes,</p><p>sabonetes e xampus (Lopes et al., 2022).</p><p>Os grãos de pólen podem variar em termos de forma, tamanho,</p><p>características morfológicas e coloração. As variações, principalmente das</p><p>características morfológicas e de coloração, estão intrinsicamente ligadas à sua</p><p>origem botânica e composição química. Além desses fatores, as práticas</p><p>utilizadas na coleta, beneficiamento e armazenamento também podem interferir</p><p>na coloração do pólen apícola (Lopes et al., 2022).</p><p>Para a produção do pólen apícola, o apicultor pode coletar parte das</p><p>bolotas de pólen, quando as abelhas operárias retornam para a colmeia,</p><p>utilizando para isso coletores específicos, que podem ser do tipo externo ou</p><p>interno. Esses coletores devem reter, no máximo, 70% do pólen, permitindo a</p><p>passagem de 30% para suprir as necessidades da colônia.</p><p>Além disso, as colmeias destinadas à produção de pólen apícola devem</p><p>apresentar uma população média (cerca de 50 a 60 mil abelhas) e em</p><p>crescimento, pois a presença de crias estimula a coleta de pólen. Para isso, é</p><p>23</p><p>importante que as rainhas sejam novas (menos de 1 ano de idade) e com boa</p><p>produção de crias. Além disso, deve-se realizar manejo criterioso, com</p><p>substituição de quadros velhos e danificados por quadros com cera nova, para</p><p>que exista sempre espaço disponível para a postura da rainha. É importante que</p><p>exista alimento na colmeia, pelo menos dois quadros com mel. Sempre que</p><p>necessário, deve ser fornecida alimentação suplementar (Lopes et al., 2022).</p><p>No que diz respeito à escolha dos coletores de pólen apícola, o apicultor</p><p>deve levar em consideração os fatores climáticos, devido à alta capacidade</p><p>higroscópica do pólen, e o tipo de manejo adotado no apiário.</p><p>Os coletores externos são fixados no alvado, isto é, na entrada da</p><p>colmeia, o que acarreta a coleta diária do pólen, para que não fique exposto à</p><p>umidade. Já os coletores internos, por serem colocados acima do ninho, fazem</p><p>com que o pólen fique menos exposto à umidade, sendo recomendados para</p><p>regiões que apresentam maior umidade relativa do ar, ou elevadas precipitações</p><p>pluviométricas (Ferreira; Assis, 2020).</p><p>Para garantir a qualidade do pólen apícola, o Mapa instituiu, por meio da</p><p>Instrução Normativa n. 3/2001, o Regulamento Técnico de Identidade e</p><p>Qualidade do Pólen Apícola, que determina critérios para sua classificação, além</p><p>de requisitos sensoriais, de composição e físico-químicos (Brasil, 2001).</p><p>Além desses critérios, a legislação brasileira não autoriza o uso de aditivos</p><p>no pólen apícola, determinando que os contaminantes orgânicos e inorgânicos</p><p>não podem estar presente em quantidade superior aos limites estabelecidos no</p><p>regulamento específico.</p><p>Para a comercialização, o pólen apícola deve passar pelo processo de</p><p>desidratação. Depois, pode ser envasado em embalagens diversas, como</p><p>recipientes de vidro ou de plástico atóxico (potes, sacos ou baldes) próprios para</p><p>acondicionar alimentos.</p><p>O envase deve ser realizado de forma rápida e em ambiente seco, de</p><p>preferência com desumidificadores, para evitar a absorção de umidade pelo</p><p>produto, que é altamente higroscópico, como já</p><p>vimos. O armazenamento do</p><p>pólen apícola beneficiado e envasado deve ser feito em local seco, arejado e ao</p><p>abrigo da luz, com o objetivo de preservar as características do produto e manter</p><p>suas propriedades nutricionais (Lopes et al., 2022).</p><p>24</p><p>FINALIZANDO</p><p>Ao longo desta abordagem, tivemos a oportunidade de conhecer os</p><p>principais aspectos das produções de mel, própolis, cera, geleia real, hidromel,</p><p>apitoxinas e pólen apícola. Com essa nova perspectiva, pudemos entender que</p><p>o apicultor pode diversificar sua fonte de renda, por meio da criação e do manejo</p><p>racional das abelhas.</p><p>Também estudamos os critérios legais que norteiam as características</p><p>que cada produto deve atender para a comercialização, visando principalmente</p><p>a segurança alimentar do consumidor.</p><p>25</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BARBA-OSTRIA, C. et al. Evaluation of Biological Activity of Natural Compounds:</p><p>Current Trends and Methods. Molecules. v. 27, n. 14, p. 4490, 2022.</p><p>BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Decreto n. 6.871,</p><p>de 04 de junho de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 05 jun. 2009.</p><p>BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Decreto n. 9.013,</p><p>de 29 de março de 2017. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 mar. 2017a.</p><p>BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução</p><p>Normativa n. 3, de 19 de janeiro de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF,</p><p>20 jan. 2001.</p><p>BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução</p><p>Normativa n. 11, de 20 de outubro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília,</p><p>DF, 21 out. 2000.</p><p>BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução</p><p>Normativa n. 34, de 29 de novembro de 2012. Diário Oficial da União, Brasília,</p><p>DF, 30 nov. 2012.</p><p>BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução</p><p>Normativa n. 5, de 14 fevereiro de 2017. Diário Oficial da União, Brasília, DF,</p><p>15 fev. 2017b.</p><p>BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria n. 6, de</p><p>25 de julho de 1985. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jul. 1985.</p><p>BRITO, R. F.; ASSIS, D. C. S. Hidromel. Cadernos Técnicos de Veterinária e</p><p>Zootecnia, n. 96, Belo Horizonte, 2020.</p><p>DOOLITTLE, G.M. Scientific queen-rearing. Chicago: Newman, 1889.</p><p>EZE, O. L. B. et al. Therapeutic Effect of Honey Bee Venom. Journal of</p><p>Pharmaceutical, Chemical and Biological Sciences, v. 4, n. 1, p. 48-53, 2016.</p><p>FERREIRA, T. S.; ASSIS, D. C. S. Os produtos apícolas: produção e</p><p>características de identidade e qualidade do mel. Cadernos Técnicos de</p><p>Veterinária e Zootecnia, n. 96, Belo Horizonte, 2020.</p><p>FRÜBAUF, M.; NUNES, E. Um indicador de qualidade do mel: o HMF –</p><p>Hidroximetilfurfural. Disponível em:</p><p>26</p><p><https://ciram.epagri.sc.gov.br/ciram_arquivos/apicultura/acervo/outra_3_indica</p><p>dor_qualidade.pdf>. Acesso em: 3 jan. 2023</p><p>LIU, J. R. et al. Antioxidant properties of royal jelly associated with larval age and</p><p>time of harvest. Journal of Agricultural and Food Chemistry, Washington, v.</p><p>56, n. 23, p. 11447-11452, 2008.</p><p>LOPES, M. T. R. et al. Pólen apícola: características da produção e da</p><p>qualidade. 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