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Indaial – 2022 Prof. Douglas Fabiano Lourenco Prof. Renato Cividini Matthiesen Prof. Rodrigo Vinicius Sartori 1a Edição CiênCia, TeCnologia e inovação Elaboração: Prof. Douglas Fabiano Lourenco Prof. Renato Cividini Matthiesen Prof. Rodrigo Vinicius Sartori Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. LOURENCO, Douglas Fabiano. Ciência, Tecnologia e Inovação. Douglas Fabiano Lourenco; Renato Cividini Matthiesen; Rodrigo Vinicius Sartori. Indaial - SC: UNIASSELVI, 2022. 240p. ISBN 978-85-515-0606-6 ISBN Digital 978-85-515-0607-3 “Graduação - EaD”. 1. Ciência 2. Tecnologia 3. Inovação CDD 570 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Olá, acadêmico! Hoje em dia, no mundo corporativo, uma das competências profissionais mais valorizadas é a distinta capacidade de conduzir inovações bem- sucedidas. Não por acaso, gestores e executivos com esse diferencial costumam ser disputados, uma vez que seus contratantes sabem o valioso ativo humano que eles representam, em termos de criação de valor para as organizações. É reconhecendo esse fato que esta obra foi elaborada, voltada àqueles que ambicionam a construção de carreiras brilhantes. Quem aposta na ciência, tecnologia e inovação, toma uma sábia decisão, afinal, é a própria reoxigenação dos negócios e a pavimentação com êxito do caminho para o futuro que se persegue. A Unidade 1 visa a uma abrangente compreensão sobre a inovação, a começar pela introdução de seus fundamentos. É discutido como ela e o empreendedorismo andam par a par. Outra abordagem crucial é o conceito de inovação de valor, que, via de regra, mostra-se como um formidável meio de disrupção. Contrastam-se, ainda, os conceitos de inovação frente ao que, nos dias de hoje, vem sendo rotulado de Marketing 5.0 (uma forte convergência de humanismo com tecnologia). Também se explica que, para que se possa cogitar algum gerenciamento sobre a inovação, é preciso tratá-la como um processo organizacional. Por isso, discute-se sobre a cultura da inovação, algo bem diferente de cultura de criatividade. Eixo central de um processo de inovação, o funil da inovação é cuidadosamente escrutinado, estratégias da inovação são descritas, KPIs (indicadores-chave de desempenho) são ponderados e métodos ágeis são estudados. Avança-se ante o paradigma da inovação aberta, iniciando-se com a confrontação conceitual entre inovação aberta e inovação fechada. Discute-se como funcionam os chamados “ecossistemas de inovação”, analisa-se o papel dos hackathons como expedientes de inovação aberta, revela-se em que sentido a diversidade mais importa em termos de inovação e traz à luz os instigantes platform business – negócios estruturados como plataformas para que outros negócios possam inovar. Finalmente, são abordados tópicos especiais, no sentido de novos olhares ante a gestão da inovação, como a inovação frugal, a educação para a inovação, o papel do Project Management Office (PMO) frente a projetos inovadores, a discussão sobre o quanto compensa ou não manter uma área dedicada à inovação no organograma da empresa e as tendências de desenvolvimento da tecnologia de Inteligência Artificial (IA) como possível inovação da própria gestão da inovação! A Unidade 2 é voltada às mais variadas maneiras de se estimular a inovação, iniciando pela exploração de diversificadas frentes de fomento à inovação. Procura-se assimilar o racional inerente ao capital de risco. O Corporate Venture Capital (CVC) ganha uma atenção especial, dada a importância dessa iniciativa nos processos de inovação no mundo corporativo atual, assim como fusões e aquisições (o popular M&A) é tema APRESENTAÇÃO estudado para que se apreciem as diversas possibilidades de reestruturar negócios e marcas. Agências públicas de fomento à inovação no Brasil são avaliadas quanto ao que oferecem às empresas de todos os portes e ramos de atuação (principalmente a mais proeminente delas, a Financiadora de Estudos e Projetos - Finep). Além disso, uma revisão é feita acerca dos principais mecanismos de incentivo fiscal voltados a dar suporte a projetos de inovação. Na sequência, oferece-se um vislumbre sobre as práticas adotadas no exterior, o que permite reconhecer em que aspectos o Brasil se encontra avançado e em quais outros há flagrante descompasso da realidade global. Tudo isso remete, então, a uma apreciação do fenômeno das atuais Cadeias Globais de Valor (CGVs) e ao seu estreito relacionamento com o trinômio ciência, tecnologia e inovação. Finalmente, a Unidade 3 se dirige aos aspectos de desenvolvimento da inovação no contexto sociotécnico que vigora hoje no mundo. Por isso, é tão primordial o entendimento da proposta de valor das chamadas “novas tecnologias” (instâncias como Cloud Computing, Internet das Coisas (IoT), nanotecnologia, Blockchain, IA, impressão 3D, drones e Big Data, dentre outras), a compreensão dos direcionadores de novas indústrias (que levam à proposição de termos instigantes como EdTech, MedTech, LawTech, GreenTech, BuildTech, FoodTech e FinTech), a assimilação das diversas técnicas que possibilitam prospectar o futuro das tecnologias; o exame das iniciativas que conformam o Design Thinking (DT); e, ainda, o entendimento das vias de inovação organizacional mediante o aproveitamento de intraempreendedores. Bons estudos! Prof. Douglas Fabiano Lourenco Prof. Renato Cividini Matthiesen Prof. Rodrigo Vinicius Sartori Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. 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Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - COMPREENDENDO A INOVAÇÃO .......................................................1 TÓPICO 1 - FUNDAMENTOS DA INOVAÇÃO ........................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 O QUE É INOVAÇÃO? ............................................................................................ 3 3 EMPREENDEDORISMO DE ALTO IMPACTO ........................................................ 5 4 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA .................................................................................. 7 5 INOVAÇÃO DE VALOR ........................................................................................ 10 6 INOVAÇÃO EM TEMPOS DE MARKETING 5.0.................................................... 13 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE ....................................................................................................17 TÓPICO 2 - INOVAÇÃO COMO PROCESSO ORGANIZACIONAL .......................... 19 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 19 2 CULTURA DA INOVAÇÃO ................................................................................... 19 3 FUNIL DA INOVAÇÃO .........................................................................................22 4 ESTRATÉGIAS DA INOVAÇÃO ...........................................................................25 5 KPIs DA INOVAÇÃO ............................................................................................ 27 6 MÉTODOS ÁGEIS ................................................................................................30 RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................33 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................34 TÓPICO 3 - INOVAÇÃO ABERTA .......................................................................... 37 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 37 2 INOVAÇÃO ABERTA vs. INOVAÇÃO FECHADA ................................................. 37 3 ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO ....................................................................... 40 4 HACKATHONS .................................................................................................... 43 5 DIVERSIDADE IMPORTA? ..................................................................................45 6 PLATFORM BUSINESS........................................................................................47 RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................52 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................53 TÓPICO 4 - TÓPICOS ESPECIAIS EM GESTÃO DA INOVAÇÃO ............................55 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................55 2 INOVAÇÃO FRUGAL ...........................................................................................55 3 COMO (E QUANDO) EDUCAR PARA A INOVAÇÃO?...........................................58 4 PMO E INOVAÇÃO ...............................................................................................60 5 REFLEXÕES SOBRE O “DEPARTAMENTO DA INOVAÇÃO” ..............................62 6 PERSPECTIVAS EM IA .......................................................................................64 LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................68 RESUMO DO TÓPICO 4 ..........................................................................................70 AUTOATIVIDADE ....................................................................................................71 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 73 UNIDADE 2 — ESTIMULANDO A INOVAÇÃO ......................................................... 77 TÓPICO 1 — EDUCAÇÃO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO.......................... 79 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 79 2 CIÊNCIA E TECNOLOGIA ....................................................................................80 2.1 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO .............................................................................80 2.2 ELEMENTOS DA INOVAÇÃO ............................................................................................82 2.3 TRANSFORMAÇÃO DIGITAL ...........................................................................................84 3 EMPRESA INOVADORA ......................................................................................87 3.1 EXPLOITATION X EXPLORATION ....................................................................................88 3.2 ESTRATÉGIAS NO CONTEXTO DAS INOVAÇÕES .......................................................88 3.2.1 Estratégia inovativa .................................................................................................90 3.2.2 Estratégia racionalista ............................................................................................90 3.2.3 Estratégia incrementalista ....................................................................................90 3.3 APRENDIZADO TECNOLÓGICO .......................................................................................91 4 TOMADA DE DECISÃO PARA INOVAÇÃO ..........................................................92 4.1 PAPEL DA EMPRESA NA INOVAÇÃO ............................................................................ 93 4.2 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL PARA INOVAÇÃO .................................................. 93 5 PLANEJAMENTO DA INOVAÇÃO .......................................................................95 5.1 AQUISIÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA .................................................... 96 5.2 PROJETOS GLOBAIS E DE MELHORIA DE PROCESSOS ......................................... 96 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................98 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................99 TÓPICO 2 - FOMENTO À INOVAÇÃO NO BRASIL ................................................ 101 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 101 2 FORMAÇÃO DE EMPRESAS, FUSÕES E AQUISIÇÕES ...................................102 2.1 FORMATO DE EMPRESAS ............................................................................................. 102 2.1.1 Sociedade simples ..................................................................................................102 2.1.2 Sociedade empresária ........................................................................................... 102 2.1.3 Sociedade limitada ................................................................................................. 103 2.1.4 Sociedade por ações ............................................................................................. 103 2.1.5 Sociedade estrangeira .......................................................................................... 104 2.1.6 Sociedade cooperativa ......................................................................................... 104 2.1.7 Outros tipos de sociedades .................................................................................. 104 2.2 CRIAÇÃO DE VALOR PELA INOVAÇÃO ....................................................................... 105 2.2.1 Marcas ...................................................................................................................... 106 2.2.2 Patentes ....................................................................................................................107 2.3 FUSÕES E AQUISIÇÕES NO CONTEXTO DA INOVAÇÃO ........................................ 108 3 INCENTIVOS AO DESENVOLVIMENTO DE NEGÓCIOS INOVADORES ............109 3.1 ECONOMIA PESSOAL, FAMÍLIA E AMIGOS .................................................................. 110 3.2 INVESTIDOR-ANJO .......................................................................................................... 110 3.3 FORNECEDORES, PARCEIROS ESTRATÉGICOS, CLIENTES E FUNCIONÁRIOS .111 3.4 CAPITAL DE RISCO ...........................................................................................................111 3.5 PRIVATE EQUITY .................................................................................................................114 4 FOMENTO À INOVAÇÃO EM NOVOS NEGÓCIOS ............................................. 114 4.1 AGÊNCIAS DE FOMENTO À INOVAÇÃO ........................................................................ 114 4.1.1 CNPq ............................................................................................................................ 115 4.1.2 CAPES ........................................................................................................................ 115 4.1.3 Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) ............ 115 4.1.4 Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) ........................................................ 116 4.1.5 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ......... 116 4.1.6 Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) .................................................... 116 4.1.7 Operadores de ciência, tecnologia e inovação ..................................................117 4.1.8 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) ....... 118 4.1.9 Instituições de apoio à ciência, tecnologia e inovação ................................. 118 4.1.10 Outros programas .................................................................................................. 119 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 121 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 122 TÓPICO 3 - FOMENTO À INOVAÇÃO NO EXTERIOR ........................................... 125 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 125 2 PROGRAMAS DE FOMENTO À INOVAÇÃO NO EXTERIOR .............................. 125 2.1 INOVAÇÃO NA UNIÃO EUROPEIA ................................................................................. 126 2.2 INOVAÇÃO NA CHINA ......................................................................................................127 2.3 INOVAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS ............................................................................ 128 2.3.1 Endeavor e o fomento à inovação e ao empreendedorismo global ...........129 3 MODELOS DE NEGÓCIOS E EMPREENDIMENTOS ENXUTOS .......................130 3.1 VISÃO ................................................................................................................................... 131 3.2 DIREÇÃO.............................................................................................................................132 3.3 ACELERAÇÃO ................................................................................................................. 133 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 135 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 136 TÓPICO 4 - INOVAÇÃO E CADEIAS GLOBAIS DE VALOR .................................. 139 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 139 2 GLOBALIZAÇÃO E NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO ......................................140 2.1 GESTÃO INTERCULTURAL ............................................................................................... 141 3 REVOLUÇÃO DIGITAL ......................................................................................142 3.1 GLOBALIZAÇÃO PELA REVOLUÇÃO DIGITAL ........................................................... 145 3.1.1 Forças tecnológicas que contribuíram para o mundo globalizado ............ 146 3.1.2 Inovações e tecnologias que intensificaram modelos de negócios digitais ........................................................................................................................ 148 4 ORGANIZAÇÕES EXPONENCIAIS ...................................................................149 4.1 PROPÓSITO TRANSFORMADOR MASSIVO (PTM) ..................................................... 150 4.2 OPORTUNIDADES EXPONENCIAIS ..............................................................................152 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................154 RESUMO DO TÓPICO 4 ........................................................................................158 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 159 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 162 UNIDADE 3 — DESENVOLVENDO A INOVAÇÃO ................................................. 167 TÓPICO 1 — NOVAS TECNOLOGIAS PARA NOVOS MODELOS DE NEGÓCIOS .... 169 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 169 2 TECNOLOGIAS INOVADORAS .......................................................................... 169 2.1 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE INOVAÇÃO ..................................................170 3 DESENVOLVIMENTO DOS FATORES DE VANTAGENS NA INOVAÇÃO .......... 175 3.1 GESTÃO SUSTENTÁVEL DE INOVAÇÃO ......................................................................176 4 MACHINE LEARNING E INOVAÇÃO .................................................................180 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................182 AUTOATIVIDADE .................................................................................................183 TÓPICO 2 - PROSPECÇÃO E CENÁRIOS EM TECNOLOGIA ............................... 187 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 187 2 DESCOBERTAS TECNOLÓGICAS ....................................................................188 2.1 IA COMO INOVAÇÃO ....................................................................................................... 188 2.1.1 Princípio da IA .........................................................................................................188 2.1.2 IA na atualidade ...................................................................................................... 189 2.2 NANOTECNOLOGIA .......................................................................................................... 191 2.3 BIG DATA .............................................................................................................................. 193 2.4 IOT ........................................................................................................................................197 3 PROSPECÇÃO E CENÁRIO TECNOLÓGICO .................................................... 200 3.1 INOVAÇÃO FECHADA E INOVAÇÃO ABERTA ............................................................. 201 3.2 CENÁRIO TECNOLÓGICO ...............................................................................................202 3.2.1 EdTech ........................................................................................................................ 202 3.2.2 MedTech .................................................................................................................... 203 3.2.3 GreenTech ................................................................................................................. 206 3.2.4 FinTech........................................................................................................................207 3.2.5 FoodTech...................................................................................................................208 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 211 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 212 TÓPICO 3 - DESIGN THINKING ........................................................................... 215 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 215 2 DESIGN ............................................................................................................ 215 2.1 FASES DO DESIGN THINKING ....................................................................................... 216 3 PROCESSO DE DESIGN THINKING ................................................................... 217 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................... 220 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 221 TÓPICO 4 - INTRAEMPREENDEDORISMO ........................................................ 225 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 225 2 INTRAEMPREENDEDORISMO E EMPREENDEDORISMO .............................. 226 3 PROCESSO DE INTRAEMPREENDEDORISMO ................................................227 4 INOVAÇÃO ORGANIZACIONAL COM O APROVEITAMENTO DE INTRAEMPREENDEDORES ............................................................................ 229 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 231 RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................... 236 AUTOATIVIDADE .................................................................................................237 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 239 1 UNIDADE 1 - COMPREENDENDO A INOVAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: · compreender os fundamentos inerentes à inovação; · entender a perspectiva de empreendedorismo de alto impacto proporcionado pela inovação; · distinguir as várias facetas da inovação tecnológica; · ponderar sobre a importância da inovação de valor para a sustentabilidade dos negócios; · identificar os aspectos-chave da inovação na perspectiva do Marketing 5.0; · assimilar formas de desenvolver a cultura da inovação nas organizações empresariais; · entender o processo da inovação pela perspectiva do efeito funil; · assimilar as diferentes estratégias que podem ser empreendidas para fins de inovação; · apontar os mais relevantes indicadores-chave de desempenho (KPI) da inovação; · compreender a proposta da gestão ágil de empresas e de metodologias correlatas (Scrum, XP, Kanban, FDD, Design Sprint); · contrastar os paradigmas de inovação aberta e inovação fechada; · entender o conceito e o papel dos diferentes participantes de um ecossistema de inovação; · reconhecer a iniciativa dos hackathons como prática de gestão de inovação aberta; · entender a importância da diversidade humana no âmbito da gestão da inovação; · assimilar a proposta dos negócios como plataformas; · compreender a perspectiva da inovação frugal como possibilidade de empreendimento de impacto; · discutir o panorama da educação para a inovação; · conhecer as políticas adotadas pelas áreas de Project Management Office (PMO) em projetos inovadores; · refletir sobre a opção por uma área organizacional dedicada à inovação; · conhecer as tendências do desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) no contexto da gestão da inovação. PLANO DE ESTUDOS A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 - FUNDAMENTOS DA INOVAÇÃO TÓPICO 2 - INOVAÇÃO COMO PROCESSO ORGANIZACIONAL TÓPICO 3 - INOVAÇÃO ABERTA TÓPICO 4 - TÓPICOS ESPECIAIS EM GESTÃO DA INOVAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 FUNDAMENTOS DA INOVAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, voltaremos nossos estudos aos fundamentos da inovação, afinal, compreendê-los é passo essencial para que se possa avançar, posteriormente, para processos de gestão da inovação nas organizações empresariais de todos os tipos. É somente com os conceitos assimilados que a correspondente gestão pode garantir os resultados que dela se esperam. Por isso, quer o leitor já exerça alguma posição de nível gerencial, quer postule alcançar esse marco em sua carreira profissional, o estudo atento dos elementos apresentados neste tópico, por certo, contribui formidavelmente para se atingir uma formação executiva de alto nível. Assim, o presente material visa apresentar os fundamentos inerentes à inovação, examinar a perspectiva de empreendedorismo de alto impacto proporcionado pela inovação, discutir as várias facetas da inovação tecnológica, ponderar sobre a importância da inovação de valor para a sustentabilidade dos negócios e, ainda, identificar os aspectos-chave da inovação na perspectiva do Marketing 5.0. Vamos começar? 2 O QUE É INOVAÇÃO? Inovação é a invenção bem-sucedida. Muito pode ser desenvolvido e explicado sobre o tema inovação, mas essa frase — propositadamente posicionada como abertura — é de tamanha importância que merece figurar como o primeiro ensinamento a se absorver a respeito! Inventar é fazer diferente, e apenas isso. Basta que se fuja do padrão, do já estabelecido, do “normal”, o que resulta na invenção. Nesse aspecto, então, prevalece toda a questão da criatividade, da genialidade, da originalidade, de fazer aquilo que ninguém mais faz. Se uma cadeira tem, lá, seus quatro pés, conceber uma com cinco pés faz disso uma invenção. Já se um financiamento bancário passa a oferecer cashback em criptomoedas, isso é, claramente, também um feito inventivo. Os exemplos, evidentemente, são virtualmente infinitos. Contudo, um passo além: é preciso apreciar o efeito que aquela invenção traz para a sociedade. Cadeiras com cinco pés vendem? Financiamentos com cashback na forma de criptoativos despertam alguma reação do mercado consumidor a que se destinam? Parece muitoclaro, então, que nem toda invenção se traduz em um sucesso comercial, não é? TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 Por isso, sem chancela do mercado (não havendo demanda), não se alcança inovação. Simples assim! Aliás, simplicidade reside em se enunciar que inventar é, sim, muito fácil – mais uma vez, basta fugir do padrão, fazer diferente. E há inúmeras (mesmo!) maneiras de fazer diferente. Contudo, poucas dessas maneiras alternativas de apresentar um produto ou serviço são inovações — na verdade, poucas, quando não apenas uma única dessas alternativas. Isso porque é muito provável (e, de fato, é o que mais se observa) que a esmagadora maioria das tentativas de introduzir produtos e serviços criativos em algum quesito no mercado falhem miseravelmente. Portanto, são invenções — e apenas isso —, mas nunca inovações. “Falhar”, evidentemente, não se restringe a um aspecto funcional, em verdade, geralmente acaba ficando frequentemente em segundo plano. Um produto ou serviço criativo pode, até mesmo, ser melhor funcionalmente do que aquele item que é o “padrão” de mercado. A falha, em estrita análise, é de caráter mercadológico. Eis, pois, o crivo do mercado: vendeu? Se sim, é inovação. Esse é o sucesso comercial tão almejado, que tão bem caracteriza uma inovação, como cirurgicamente é explicado por Bessant e Tidd (2019). Para Bezerra (2011), as possibilidades de inovação são amplas, pois se admite: · inovação em produtos: o bem físico que é fabricado possui algo que o diferencia de seus similares; · inovação em serviço: a forma com que um serviço é prestado foge do convencional em algum aspecto; · inovação de processo: o produto ou serviço que uma empresa produz pode até ser o mesmo, mas se a forma de o fazer (processo produtivo) é “diferente”, e isso se reflete em maior aceitação, inovou-se em processo (por exemplo, tornando-o mais seguro, mais rápido, mais econômico, ambientalmente mais adequado, mais socialmente responsável etc.); · inovação em marketing: virtualmente, qualquer perturbação na ordem estabelecida dos clássicos 4 Ps do marketing (preço, praça, produto e promoção), que resulte em maior demanda, é, com toda legitimidade, uma inovação; · inovação em estrutura organizacional: não deixando de ser uma certa perspectiva de inovação de processo, mas no sentido estrutural/organizacional, o rearranjo de uma empresa que reflete em maiores resultados é uma inovação (como espaços de coworking, uma vice-presidência dedicada à inovação e novos negócios, as empreitadas em consórcio com outras empresas em contratos de inovação aberta etc.). Inovações podem ser incrementais (como a grande maioria delas, com modificações singelas frente ao que é convencional) e/ou radicais (aquelas que redefinem por completo, por exemplo, o conceito de um produto ou serviço). Disrupção, por sinal, é o tipo de inovação que muda completamente os hábitos de consumo e a cultura/ tradição de seus consumidores (como filmes e músicas por streaming). 5 Inovações podem ter, até mesmo, uma relativização geográfica: elas podem ser absolutas (ineditismo em grau global) ou mais nacionais ou regionais (como aquilo que “já existe lá fora” e é trazido por tal ou qual empresa para atender ao seu mercado local) e — no limite do conceito — empresariais (“todo mundo já faz”, mas aquela empresa ainda não, e, para ela começar a fazê-lo, é, em sua perspectiva, uma inovação, caso isso lhe traga resultados superiores, por mais modestos que eles sejam em função de pouco contraste junto ao mercado). Aliás, vale ressaltar que inovação e empreendedorismo andam lado a lado, como poderemos observar com a leitura do próximo item. 3 EMPREENDEDORISMO DE ALTO IMPACTO Inovação e empreendedorismo têm uma intensa relação, desde sempre. Para que isso possa ser mais bem compreendido, é preciso retornar há algumas décadas, a fim de escrutinar as investigações teóricas de grandes pensadores do tema, dentre os quais figura a imprescindível contribuição de Joseph Schumpeter, renomado economista e cientista político nascido na Áustria. De acordo com Schumpeter (1942), o capitalismo só pode ser entendido como um processo evolutivo de inovação contínua e destruição criativa. Essa última provocativa expressão se tornou famosa nos estudos sobre inovação econômica e ciclo de negócios visando descrever o processo de mutação industrial permanente como uma força que incessantemente revoluciona a estrutura econômica por dentro, destruindo continuamente a antiga e criando uma nova — daí seu singular nome. O resultado é apresentado na forma de economias renovadas, com sangue novo injetado por novas tecnologias inovadoras e novos negócios. De fato, a prosperidade é criada, não herdada. Eis, aí, como as relações começam a se estabelecer. Os empreendedores reconhecem o poder latente e a utilidade das invenções e desempenham um crucial papel em trazê-las ao mercado (portanto, transformá-las genuinamente em inovações). Um assunto sempre em voga: inovação e disrupção. Mas o que é, realmente, ser disruptivo? Será que bastaria inovar para ter esse tipo de sucesso? Trata-se do tema da conversa entre Paulo Silveira (do canal Hipsters Ponto Tech, no Spotify) com Denis Balaguer (diretor de inovação na Ernest Young) e Gustavo Fujimoto (executivo da Caelum Escola de Tecnologia). Para acessar na íntegra, clique no link: https://open.spotify. com/episode/04eunhulQfjag0uvZAyAss. Acesso em: 6 set. 2022. DICA 6 Esses mesmos empreendedores — os que a visão schumpeteriana reconhece como “promotores de novas combinações” — são indivíduos que podem ver novas possibilidades (onde ninguém mais enxerga) e avaliar sabiamente as reais necessidades do mercado. É a partir dessa perspectiva que se cunha a expressão empreendedorismo de alto impacto, entendido fundamentalmente como o estudo das ações dos indivíduos que respondem às oportunidades de mercado, trazendo para ele invenções que criam riqueza e crescimento (logo, inovações). Esses empreendedores, em especial, são distintos dos meros criadores de novas firmas, aqueles que, simplesmente, replicam milhares de outros estabelecimentos. Enfim, são empreendedores que fogem do “mais do mesmo”. De fato, é possível distinguir dois amplos tipos de atividades empreendedoras: 1. de um lado, aquilo que bem mereceria o rótulo de empreendedorismo de rotina, que é, de todo modo, um tipo de gestão empresarial com seu valor (embora mais modesto); 2. contudo, para o resto do espectro, o que se apresenta é o empreendedorismo schumpeteriano ou novo tipo de empreendedorismo, em que o aspecto de risco é muito maior. Afinal, de um lado, há as tradicionais atividades envolvidas na coordenação e execução de uma empresa bem estabelecida, em que as partes da função de produção em uso (e prováveis alternativas ao uso atual) sejam bem conhecidas e opere em mercados bem estabelecidos e claramente definidos. Por outro, nessa ousada perspectiva do empreendedorismo de alto impacto, é preciso lidar com atividades necessárias para criar ou conduzir uma empresa onde nem todos os mercados estão estabelecidos ou claramente definidos e/ou em que as partes relevantes da função de produção não são completamente conhecidas (ACS, 2008). Negócios de maior risco precisam, claro, conviver com os de maior segurança. Certamente, os empreendedores taxados, talvez, como mais “replicativos” podem ter sua grande importância social — que o diga o formidável volume de postos de trabalho que essas organizações mantêm; no entanto, empreendedores inovadores (o foco de atenção desta seção) garantem a utilização efetiva da invenção, contribuem para o aumento da produtividade e facilitam e contribuem magistralmente para o crescimento econômico. São as capacidades de aproveitamento de oportunidade e preenchimento de lacunas do potencial conjunto de empreendedores de uma região ou nação que determinam a resposta dos integrantes desse conjunto às mudanças nas oportunidades e nos estados motivacionais subjacentes(o que já adentra ao aspecto da mentalidade empreendedora e do tomador de risco). Com efeito, dois aspectos importantes das habilidades envolvidas é a percepção de oportunidades de negócio e a capacidade de avaliá-las corretamente. Esses são presumivelmente determinados, em partes, por fatores exógenos, como aqueles envolvidos na criação (o “berço” dos empreendedores), no treinamento informal, na experiência e na educação formal desses indivíduos. 7 O fato é que, nessas últimas décadas, os economistas passaram a reconhecer o papel crucial dos empreendedores na inovação e no crescimento, assim como a contribuição significativa da inovação e do crescimento para a prosperidade e o bem- estar econômico em geral. A inovação e o crescimento, muito mais do que esforços dirigidos pelo Estado para melhorar as “falhas de mercado” estáticas, como ocorre no caso do poder de monopólio; permitem que as economias tirem os indivíduos da pobreza e atendam às populações em progressivo crescimento e envelhecimento. Não de outra forma, diante desse cenário, somente aqueles indivíduos que possuem as habilidades necessárias para perceber oportunidades empreendedoras, realizar as atividades de preenchimento de lacunas de insumos necessários e ser completadores desses insumos, podem ser empreendedores. Inequivocamente, para os países desenvolvidos, o empreendedorismo de alto impacto se tornou a principal forma de empreendedorismo, impulsionando suas economias. A partir desse reconhecimento, vem crescendo o interesse pela análise econômica do fenômeno do empreendedorismo: o papel que se desempenha na economia, o processo de criação de negócios novos e inovadores, os atributos pessoais dos empreendedores e as políticas públicas que incentivam o sucesso empresarial. Uma oportunidade é sempre objetiva, mas o seu reconhecimento é algo bastante subjetivo. Exige-se um mínimo de competência visionária, dentre outros atributos, para conseguir detectar potenciais novos empreendimentos onde outras pessoas nada enxergam. Uma das maiores possibilidades de causar alto impacto é mediante inovações de ordem tecnológica, tema que será tratado em maiores detalhes a seguir! 4 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA A inovação tecnológica influencia profundamente as organizações empresariais ao romper os mercados, alterando, com isso, a importância relativa dos recursos, desafiando as capacidades de aprendizagem organizacional e alterando a própria base da competição. É a “puxada de tapete” no cenário industrial, importando muito, nesse caso, quem dá a puxada e quem tomba. Com base na caracterização de Schumpeter (1942) da inovação tecnológica como um processo de destruição criativa, o que se observa é que tecnologias evoluem ao longo do tempo por meio de ciclos de longos períodos de mudança incremental, que aprimoram e institucionalizam uma tecnologia existente, pontuada por descontinuidades tecnológicas nas quais as novas e radicalmente superiores tecnologias substituem as antigas, de desempenho inferior. 8 Parece consenso que grande parte dos acadêmicos e profissionais acreditem piamente que o sucesso futuro depende da inovação constante. Muito embora a inovação seja um conceito razoavelmente amplo, todo negócio tende, hoje em dia, a dar bastante ênfase a ela — para além da mera e, por vezes, superficial narrativa marketeira de transparecer ao mercado “ser” uma empresa inovadora. Para quem quer ser competitivo no mundo, a inovação é uma necessidade. Isso tanto da perspectiva de empresas quanto, também, de governos e sociedades, afinal, para o crescimento econômico e para a resolução de problemas críticos que enfrentam todos os dias, especialmente nos países em desenvolvimento, urge inovar. Por conceito, como precisamente descrito por Carstens (2019), a inovação tecnológica visa melhorar um produto ou introduzir um novo produto ou processo com novas características tecnológicas para diferenciá-lo daquilo que é tido como padrão. Uma vez introduzidas no mercado, essas ofertas são consideradas uma inovação quando beneficiam a empresa que as produziu e o público em geral. Mais uma vez, a convivência com o risco é inevitável — na realidade, desejável. Essa constante experimentação de mercado fornece informações que ajudam as empresas a tomar decisões mais bem embasadas sobre quais tecnologias e inovações adotar e quais ignorar, quais plataformas e produtos são, de fato, promissores e onde, enfim, cabe apostar. Mas, também, ajuda a estimular uma saudável mentalidade de “arte do possível” (onde e como uma novidade pode beneficiar a empresa de forma prática), reinventando os clientes e planejando proativamente. O desafio não é que a tecnologia mude rapidamente, mas que as organizações precisam entender a tecnologia melhor e mais rápido, para adotá-la com rapidez suficiente para aproveitá-la em sua totalidade. Não por acaso, os mais bem-sucedidos processos de planejamento estratégico nas organizações competitivas incluem, obrigatoriamente, um módulo de planejamento tecnológico. Frente a isso, mas por que a inovação em tecnologia é importante? Ora, razões não faltam para justificar a inovação tecnológica como imprescindível em todos os aspectos, a começar pelo fato de que ela permite que as empresas evoluam de acordo com as expectativas dos seus clientes. É notório que os hábitos dos clientes evoluíram ao longo dos anos, sendo algo sem perspectiva de parar de evoluir no porvir. Ocorre que a mudança nos hábitos e nas expectativas desses indivíduos não se restringe a nenhum grupo demográfico específico: não surpreende que todos almejam a praticidade generalizada de uma tecnologia mais recente. Basta observar, por exemplo, o crescente tempo gasto em atividades on-line no dia a dia das pessoas e que um smartphone, nos dias de hoje, seja o dispositivo mais utilizado para poder acessar a internet. A rede, enfim, tornou o planeta muito mais conectado, e os dados mais acessíveis. 9 Na atualidade, com os dispositivos móveis e a difusão de tecnologias como a da Internet das Coisas (IoT), as pessoas tendem a esperar estarem aptas para a rede em qualquer lugar do mundo, nesses “computadores de bolso”. A inovação tecnológica garante às empresas a capacidade de implementar as formas mais recentes de atender efetivamente às expectativas de seus clientes, do modo mais amplo que se possa conceber: desde as técnicas de vendas mais recentes até a aparência do site da marca, até porque essas mudanças favorecem a manutenção da relevância. Além disso, experimentar a tecnologia mais recente garante não só pleno atendimento às necessidades do mercado que se serve, mas pode, ainda, resultar em desenvolvimentos que melhorem a experiência dos funcionários. Um exemplo é o aumento da capacidade de operação remota das equipes com internet ou aplicativos móveis. Manter o negócio relevante é outro inequívoco ganho. Se a tecnologia não for capaz de atender às demandas e necessidades do consumidor, ela se torna completamente irrelevante para as empresas. Desse modo, acompanhar o ambiente ao redor e ter acesso a novas tecnologias ou novos métodos é importante para se manter relevante em um cenário dinâmico e competitivo. O que se constata é que, quem optar por não reservar algum tempo para tentar ser pioneiro em algo ou experimentar novas ideias, ficará condenado a se manter estagnado, o que não seria necessariamente um grande problema, salvo pelo fato de que os concorrentes irão, irremediavelmente, superar a empresa e aumentar a participação no mercado, conforme o negócio daquela empresa se torna cada vez mais desatualizado. Enfim, nenhuma pretensão tecnológica cabe a empresas que queiram “um fim rápido”! Não obstante, inovação tecnológica resulta em vantagem competitiva. O uso de uma tecnologia de nova geração é especialmente vantajoso diante de mercados saturados. Afinal, em um mundo em que o máximo de companhias está inovando ou se transformando digitalmente, a falha em,ao menos, procurar experimentar algum grau de inovação tecnológica coloca a organização em premente desvantagem por ela se tornar cada vez mais irrelevante para os clientes, além de avessa às mudanças e, consequentemente, incapaz de competir com os concorrentes maiores (ou, até mesmo, os mais rápidos, ainda que menores) e mais eficientes. Ao promover a inovação e novos métodos de pensamento, resulta-se na convergência de pensamentos quanto a novas técnicas para realizar negócios e aprimorar seus produtos e serviços. Diante disso, há muitas tecnologias mais recentes para experimentar — na realidade, são incontáveis opções. Desde o uso de Inteligência Artificial (IA) e machine learning (aprendizado de máquina) até IoT, drones, Blockchain, impressão 3D... São tantas 10 possibilidades que, até por uma perspectiva de probabilidade estatística, é bastante razoável esperar que, pelo menos, uma delas tenha grande adesão às particularidades de determinado modelo de negócio. Em cima dessa possibilidade, cabe, portanto, algum esforço de planejamento de inovação tecnológica que redefina o valor do negócio. A inovação tecnológica não é a única vertente de inovação, sendo que outra possibilidade muito importante de ser considerada é a inovação de valor. 5 INOVAÇÃO DE VALOR O singular poder de criar, ao mesmo tempo em que causa destruição, é fenômeno reconhecido, também, por Kim e Mauborgne (2015), em sua tese da inovação de valor. Para esses pesquisadores, tão inovadora quanto uma organização que oferece uma nova proposta de valor é aquela que é suficientemente audaz em cortar valores tradicionais sempre presentes no portfólio dos concorrentes. Normalmente, tomar a decisão arrojada de deixar de oferecer o que todos os players do setor fazem significa cortar custos, o que proporciona condições financeiras para investir em novas propostas de valor. Nesses termos, organizações inovadoras são aquelas que — melhor do que simplesmente acumular novos lançamentos, aumentando um portfólio infinito — têm a capacidade de sempre substituir produtos e serviços por novos. É uma “competição interna” (saudável, sem dúvida), pois, melhor que deixar que um concorrente destrua o valor de um portfólio de produtos e serviços, é quando a própria empresa detentora desse portfólio o faz. Isso se traduz, na prática, por uma invejável competência de conseguir se renovar de maneira permanente, estando sempre alguns passos à frente dos competidores. Afinal, enquanto estes se ocupam de tentar imitar ou desvendar a proposta de valor do produto ou serviço atual, a empresa inovadora já trabalha, à revelia desses concorrentes, na próxima geração de seus produtos e serviços. Kim e Mauborgne (2015) são autores do livro “Estratégia do Oceano Azul”, um dos grandes best-sellers na área de inovação. Na obra, é feita uma alusão comparativa entre “oceanos vermelhos” e “oceanos azuis”. No caso de oceano vermelho, a simbologia da cor é o “sangue derramado” na competição feroz entre empresas que competem em determinado setor ou ramo de atuação. É um cenário “sangrento”, no sentido metafórico de que a acirrada concorrência se dá com diferentes empresas competindo com base nos mesmos parâmetros (mesma base tecnológica, mesma proposta de valor, mesmo modelo de negócio, mesma base de clientes em disputa etc.). Se o mercado é comparado a um oceano, esses concorrentes são os “tubarões” e, diante de realidades draconianas de negócio, quem tem mais poder financeiro (os “grandes tubarões”) acaba “engolindo” os pequenos, em um cenário de embate permanente. 11 Na prática, oceanos vermelhos trazem como característica, além dessa exacerbada concorrência feroz, uma demanda estacionada, a quase certa perspectiva de comoditização de produtos e serviços, regras setoriais muito bem definidas (quando não plenamente reguladas pelas instâncias governamentais) e, consequentemente, lucros cada vez mais diminutos. O porquê de boa parte (na realidade, praticamente todas as empresas) singrarem em meio a mares vermelhos é que, do ponto de vista tradicional, a estratégia é vista como uma opção a ser fazer, forçosamente, entre liderança de custos e diferenciação. Por isso, via de regra, as indústrias de todas as espécies costumam se pautar em, unicamente, dois tipos de empreendimentos: 1. aqueles que oferecem o “mais barato”; 2. aqueles que oferecem “o melhor”. Certa miopia gerencial não permite vislumbrar outra saída senão recorrer a uma dessas propostas de valor. É uma mentalidade que entende que, se é o mais barato, não tem como ser o melhor — e vice-versa. Então, os “barateiros” competem (ferozmente) entre si, ao passo que as marcas premium também o fazem entre elas. No fim, todos fazem o mesmo: brigam por preço, dentro do seu modelo “padrão” de negócios. Por outro lado, haveria de ser possível adentrar junto a um oceano azul. Simbolicamente, suas límpidas águas traduzem a baixíssima concorrência (quando não, simplesmente, a inexistência de concorrentes!). Nele, as características são as de um mercado virtualmente inexplorado, o que, consequentemente, traz uma demanda em franca ascensão, forte movimento de expansão das fronteiras setoriais e, como último resultado, alta lucratividade. Esta última diz respeito diretamente a menos concorrência, pois uma empresa pode, por assim dizer, “colocar o preço que quiser”, que não poderia ser taxada de praticar preços altos. Afinal, nesse contexto, seria alto comparado a quem? Na linha de orientação aos oceanos azuis, a chave para se aproximar cada vez mais dessa tentadora condição é o conceito de inovação de valor. Ele permite uma profunda mudança na orientação de empreendedores, que deixam de tentar jogar o jogo da competição pelas regras impostas pelo setor tradicional em que atuam, a fim de criar um mercado próprio, em que a empresa possa, na medida do possível, “ditar” as regras. Agora, uma pergunta de milhões (ou bilhões) de dólares: como transpor as barreiras dos oceanos vermelhos e criar espaços de mercados inexplorados, onde a concorrência é simplesmente irrelevante? Eis que, aí, entra a aplicação prática da inovação de valor: em vez de focar em “destruir” a concorrência, é mais inteligente torná-la irrelevante, oferecendo, para isso, um salto de valor, criando uma nova demanda de mercado. O “segredo” (ou mérito) envolvido 12 nesse contexto é que, fugindo desse trade-off valor/custo que quase todas as empresas aceitam sem maiores questionamentos, os empreendedores que buscam um oceano azul perseguem o aumento de valor oferecido e a oferta de baixos custos simultaneamente. Então, não é uma coisa ou outra. É, na verdade, uma e outra! Como isso poderia ser possível? Dentre outras medidas, pela aplicação da ferramenta que Kim e Mauborgne (2015) batizaram de modelo das quatro ações. Ela se constitui como um norteador estratégico que lança quatro contundentes questões a serem respondidas pelos gestores e empreendedores de uma empresa: · reduzir: quais atributos de valor oferecidos, hoje, pela empresa, devem ser reduzidos bem abaixo dos padrões setoriais? · eliminar: quais atributos considerados indispensáveis pelo setor de atuação da empresa devem ser sumariamente eliminados? · elevar: quais atributos de valor oferecidos, hoje, pela empresa, devem ser elevados bem acima dos padrões setoriais? · criar: quais atributos nunca oferecidos pelo setor devem ser criados? As (melhores) respostas para essas quatro ações têm o forte potencial de reposicionar uma empresa antes imersa em águas vermelhas do mercado tradicional nas praticamente translúcidas águas dos oceanos azuis. O que mais chama a atenção na proposta do modelo das quatro ações é que o foco se divide tanto em acrescentar valor, de um lado, criando ou elevando os padrões de determinados atributos; quanto retirar valor, de outro, eliminando ou, ao menos, reduzindo atributos. Uma ousadia de ambos, com o poderoso efeito prático de fazer com que os custos evitadosa partir daquilo que se cortou, muitas vezes, passarem a favorecer o investimento naquilo que tem que passar a ser ofertado. É por isso que é possível, sim, o aparente (mas falso) contrassenso entre baixo custo e alto valor agregado, simultaneamente. Isso é inovação de valor! Claro que procurar as respostas a essas quatro cruciais questões admite uma infinidade de propostas. Por certo, a maioria delas não prospera. Assim, é preciso se guiar pelos parâmetros que configuram uma boa estratégia alternativa. Nesse aspecto, residem três elementos centrais: foco, singularidade e mensagem consistente. Com efeito, um novo mercado se pauta em um foco muito bem definido, além da devida singularidade dos produtos e serviços que transmitam uma mensagem consistente ao mercado. Assim, a proposta de inovação de valor permite às organizações de hoje apresentarem maior aderência aos mercados a que pretendem servir. Aliás, a aderência aos tempos atuais é, também, algo explorado na instigante visão do Marketing 5.0. 13 6 INOVAÇÃO EM TEMPOS DE MARKETING 5.0 Já deixou de ser novidade o fato de que, de tempos em tempos, quando alguma área do conhecimento precisa de uma repaginação, é muito comum que se proponha que “agora, é a vez das pessoas!”. Isso já ocorreu com escolas de pensamento, movimentos culturais, disciplinas de gestão como Recursos Humanos, Engenharia/Design, Finanças, Administração etc. Logo, seria inevitável que abarcasse, mais tempo, menos tempo, as frentes de inovação e marketing. É a partir dessa perspectiva que se inicia a análise do tão recente movimento chamado Marketing 5.0, mas que tem méritos propositivos, os quais não são poucos. Nesse sentido, o mote de “valorizar as pessoas” tem alguma fundamentação que vai além da mera narrativa politicamente correta. Se há, então, uma quinta geração ou um quinto paradigma da área de Marketing, convém entender como se deu a evolução nesse ramo do conhecimento. O entendimento é que, frente à acelerada transformação que o mundo atravessa, já se vivenciam, na atualidade, os dias do Marketing 5.0. Ao menos, essa é a visão defendida por Kotler, Kartajaya e Setiawan (2021), que mencionam que a evolução capitaneada, principalmente, pelas novas tecnologias digitais e inovações associadas, redefine profundamente o conceito de marketing. Curiosamente (ou não), quanto mais se avança no desenvolvimento tecnológico, mais centrado no ser humano o marketing vai se mostrando. Kotler, Kartajaya e Setiawan (2021) explicam que levou em torno de 70 anos para o marketing evoluir de sua original orientação para o produto ao conceito de centralização humana, preservando, de todo modo, algumas características essenciais. Afinal, durante as décadas que se sucederam, vários conceitos de marketing resistiram ao implacável teste do tempo. Ocorre que, apesar de serem “tradicionais” por natureza, a tríade segmentação/direcionamento/ posicionamento, bem como o modelo de produto, preço, praça e promoção (os clássicos 4 Ps), tornaram-se critérios básicos universais para os mais atualizados e qualificados profissionais das indústrias de todos os segmentos (STADLER; ARANTES; CENI, 2012). Mas, nesse cenário, como se deu essa progressão do Marketing 1.0 ao Marketing 4.0, as “fases anteriores” do marketing? Em síntese, a trajetória histórica de desenvolvimento costuma rotular de 1.0 o marketing orientado ao produto — sua primeira geração, para todos os efeitos. Depois, ele evoluiu para o 2.0, do marketing orientado para o cliente; e, ainda, para o 3.0, do marketing centrado no ser humano — sim, tal ideia já havia sido evocada! Com efeito, no Marketing 3.0, os clientes buscavam não apenas satisfação funcional e emocional, mas uma realização verdadeiramente plena com as marcas que escolhem, razão pela qual Kotler, Kartajaya e Setiawan (2021) chegam a denominar esse estágio de “realização espiritual”. É a perspectiva de que as empresas constroem 14 diferenciação com seus valores: seus produtos e suas operações visam não apenas gerar lucros, mas, também, fornecer soluções para os problemas sociais e ambientais mais árduos do mundo. Não obstante, a onipresente transformação digital experimentada pela sociedade levou a novas proposições no âmbito do marketing. É quando o aspecto digital se impôs de tal modo que eclodiu o que conhecemos como Marketing 4.0. Essa quarta geração foi marcada por seu caráter de nortear o inevitável e irreversível deslocamento dos negócios do paradigma tradicional para o digital. É certo que o marketing, no mundo digital, não fica limitado apenas às novas mídias e aos canais digitais. A divisão digital ainda existe e, sendo assim, o marketing requer, essencialmente, uma abordagem omnichannel. Isso significa não uma mera convivência em paralelo entre o físico e o digital, mas, sim, uma efetiva integração entre o on-line e o off-line. IA, processamento de linguagem natural, tecnologia de sensores e IoT, dentre outras das assim chamadas tecnologias de próxima geração (que sustentam, por sinal, boa parte da proposta do metaverso quando aliadas à realidade aumentada e realidade virtual), têm grande potencial para redefinir as práticas de marketing. Seus conceitos não são tão recentes assim, mas, à época do início da profusão do Marketing 4.0, tais tecnologias habilitadoras da 4ª Revolução Industrial ainda não eram tão difundidas como se mostram nos dias atuais. Concordando-se com o diagnóstico de Kotler, Kartajaya e Setiawan (2021), os profissionais, em geral, ainda estavam no período de transição e adaptação ao mundo digital. Ocorre que a pandemia da Covid-19, inegavelmente, acelerou a ampla digitalização das empresas. Todas, de algum modo, embarcaram no digital, mesmo que muitas sequer soubessem o que realmente estava havendo. Com as políticas de lockdown e distanciamento físico que se impuseram, tanto os mercados quanto os profissionais de todas as áreas foram forçados a se adaptar às novas realidades digitais. Como exemplo, podemos mencionar um mundo “sem contato” (touchless). Um passo além, chega-se à era do Marketing 5.0. Para corretamente compreender sua proposta, inicia-se pelo reconhecimento de que a experiência do cliente (Customer Experience), em toda a extensão de seus 5 As (assimilação, atração, arguição, ação e apologia), é potencializada com as conveniências oferecidas pelas inovadoras tecnologias digitais, empregadas pelo mais avançado marketing que hoje se tem à disposição. É nesse atual contexto que se revela o marketing de quinta geração. Kotler, Kartajaya e Setiawan (2021) defendem que é mais que chegada a hora de as empresas liberarem todo o enorme poder das tecnologias avançadas em suas estratégias, táticas e operações de marketing. A ideia subjacente, aqui, é a de se criar uma sociedade sustentável, apoiada por tecnologias inteligentes, como na proposta das smart cities (cidades inteligentes). 15 Convém deixar bastante claro que o aparato tecnológico não é um fim em si mesmo. Ele deve ser aproveitado para o bem da humanidade. Em suma, o Marketing 5.0 se caracteriza pelos elementos da centralização humana do Marketing 3.0 e da capacitação tecnológica do Marketing 4.0. Enfim, nesse esforço em tentar mostrar a faceta mais humana possível, o Marketing 5.0 se define como a aplicação de tecnologias inovadoras que imitam ou mimetizam o ser humano para criar, comunicar, entregar e aumentar o valor em toda a jornada do cliente. Por exemplo, é quando se conversa em uma central de autoatendimento por telefone, quase como sem desconfiar que o interlocutor, do outro lado da linha, não é uma pessoa de carne e osso. 16 Neste tópico, você aprendeu: · O “sucesso comercial” (entendido como a chancela ou validação pelo mercado) é o critério decisivo para que se possa legitimar uma inovação, a despeito do conceito não se limitar a produtos e serviços. Mesmo que estes continuem exatamente iguais, há possibilidades de se alcançar diferenciado sucesso com elesmediante inovações em termos de processos, marketing e estrutura organizacional. · Inovação e empreendedorismo se mostram dois lados da mesma moeda de criação de valor, o que leva à proposição conceitual de empreendedorismo de alto impacto, que contrasta do empreendedorismo mais habitual de quem, simplesmente, realiza abertura de empresas de negócios totalmente usuais no mercado. · A inovação tecnológica revela uma amplitude de facetas, justificando seu protagonismo no sucesso dos empreendimentos em geral, o que permite, ainda, apreciar o quanto a dimensão tecnológica é eixo central da proposta de valor do movimento que vem sendo denominado de 4ª Revolução Industrial ou Indústria 4.0. · A inovação de valor é um dos mais indispensáveis eixos de sustentabilidade dos negócios, mostrando, de forma incontestável, que não apenas de tecnologia se faz inovação, mas, sim, de uma aderência mais profunda às reais necessidades dos mercados que as empresas se lançam a servir. · A inovação se direciona junto à perspectiva pregada pelo Marketing 5.0 de harmonização da tecnologia com o humanismo, equalizando aquilo que o Marketing 3.0 já priorizava no entendimento mais consistente das demandas e necessidades humanas e com o que o Marketing 4.0 inaugurou em termos de migração definitiva para o escopo digital. RESUMO DO TÓPICO 1 17 RESUMO DO TÓPICO 1 AUTOATIVIDADE 1 Abundam novidades para serem apreciadas do ponto de vista dos negócios. Afinal, a lista reúne aspectos como IA, processamento de linguagem natural, tecnologia de sensores, robótica, realidade aumentada, realidade virtual, IoT e Blockchain. Assim, sobre o contexto de inovação relacionado a todas essas instâncias, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Tecnologias de próxima geração, que redefinem a experiência do consumidor. b) ( ) Propósito da inovação, no sentido de diferenciá-la da invenção. c) ( ) Inovação em estrutura organizacional, redefinindo arranjos das equipes. d) ( ) Fruto da destruição criativa, que condena tais tecnologias ao ostracismo. 2 O fato é que nem toda inovação é de caráter tecnológico. Um crucial conceito que precisa ser trabalhado é o da inovação de valor, que é voltado ao instigante desafio de se driblar o trade-off custo versus diferenciação, oferecendo produtos, serviços e negócios que sejam simultaneamente de baixo custo e de distinta proposta de valor percebível pelo cliente. Com base nas características inerentes à inovação de valor, analise as sentenças a seguir: I- É muito mais inteligente procurar desenvolver mercados representados simbolicamente pelos oceanos vermelhos. II- Foco, singularidade e mensagem consistente devem ser aspectos a se evitar no tocante a oceanos azuis. III- O modelo das quatro ações lança reflexões sobre o que reduzir, o que eliminar, o que criar e o que elevar na comparação com os players do mercado. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 18 3 Se, antigamente, prevalecia o entendimento que algumas empresas eram tecnológicas (como os fabricantes de computadores e desenvolvedores de softwares) e outras não (como escritórios de advocacia e açougues), isso vem, cada vez mais, caindo por terra em função do amplo, progressivo e irreversível movimento de transformação digital que acomete o mundo. Consequentemente, toda empresa, hoje em dia, pode ser dita “de tecnologia”, em maior ou menor grau. De acordo com essa percepção da importância da tecnologia para as empresas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Uma empresa que, ao menos, tente experimentar adotar uma inovação tecnológica terá muito mais possibilidades de redefinir a proposta de valor de seu negócio. ( ) A inovação tecnológica acaba blindando uma organização de qualquer tipo de iniciativa vinda de sua concorrência, eliminando a importância estratégica de existirem competi- dores. ( ) A inovação tecnológica tem o inconveniente efeito colateral de prejudicar a produtividade das equipes de trabalho em um ambiente organizacional. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 Conforme costuma se alardear na literatura especializada e na pauta corporativa das organizações dos mais diversos portes e ramos de atuação, o empreendedorismo de impacto, valendo-se da inovação tecnológica e da inovação de valor, vem, na prática, redefinindo as bases da competição convencional. Nesse sentido, comente por qual motivo a tendência é os concorrentes mais relevantes de grandes companhias não serem outros grandes conglomerados empresariais tradicionais, mas, sim, startups. 5 Em qualquer tipo de indústria, o fato inequívoco é que se buscam novas possibilidades de atuação para o crescimento e a sustentação do negócio. Por sinal, novos mercados, recém-criados, são sempre atrativos, devido ao enorme potencial de poder se aproveitar a baixa concorrência — isso quando não há concorrência alguma. Nesse contexto, disserte sobre o que pode ser considerado a “pedra angular” da criação de novos mercados. 19 INOVAÇÃO COMO PROCESSO ORGANIZACIONAL 1 INTRODUÇÃO No âmbito empresarial, só pode ser gerido aquilo que se encontra estabelecido como um processo. Isso se dá com as áreas clássicas de competência organizacional, como finanças, marketing e produção. Assim, naturalmente, não seria diferente com a inovação. Quando as mais distintas (e, de fato, são inúmeras) atividades que conformam as ações inovadoras são devidamente orquestradas, começa-se a fazer sentido evocar uma “gestão da inovação”. Esse, pois, é o propósito no qual este tópico se debruça. Nesse contexto, o presente material visa assimilar formas de desenvolver cultura da inovação nas organizações empresariais, entender o processo da inovação pela perspectiva do efeito funil, assimilar as diferentes estratégias passíveis de serem empreendidas para fins de inovação, apontar os mais relevantes indicadores-chave de desempenho (KPI) da inovação e, ainda, compreender a proposta da gestão ágil de empresas e metodologias correlatas (como Scrum, XP, Kanban, FDD e Design Sprint). Vamos lá? 2 CULTURA DA INOVAÇÃO Pode-se entender a cultura da inovação como o comprometimento obstinado com invenção bem-sucedida. Merece toda ênfase, aliás, o oculto elemento que une essas duas frentes (inventividade de um lado e sucesso de outro): há que se harmonizar o esforço em atingir ambas simultaneamente, e não apenas uma delas. Não se pode confundir uma cultura organizacional de inovação com a cultura de criatividade: é bem verdade que inexiste inovação sem criatividade, mas, também, é líquido e certo que, sem entregas, não há como se falar em inovação. Mesclar inspiração com capacidade de entrega é, pois, o cerne da discussão quando se trata de cultura da inovação. Como se costuma perceber no mercado, o que as mais competitivas empresas e destacados executivos procuram, ao compor suas equipes de trabalho, não são profissionais que se limitem a serem “diferentes”, que apenas transpareçam uma fértil aura imaginativa, mas que, de fato, traduzam essa distinta personalidade em entregas efetivas. Por sinal, uma das mais valorizadas competências que as pessoas devem ter UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 20 hoje em dia é sua capacidade de conduzir inovações nas empresas. Como se costuma dizer, é importante ter iniciativa, mas é fundamental ter “terminativa”: isso perfaz a cultura organizacional de fomento à inovação! Por certo, a cultura da inovação é mais fácil de enunciar do que de ser praticada. Na prática, vencido o desafio inicial de desvendar conceitualmente o que realmente se deve entender por inovação, há, ainda, que se lidar com o inconteste fato da aversão à mudança e colaboração, queparece caracterizar a maior parte dos ambientes de trabalho. Fazer uma empresa funcionar no modo “convencional”, voltado ao seu atual portfólio de produtos e serviços, já é, em si, suficientemente desafiador — que os digam os inumeráveis projetos de consultoria especializada que proliferam para equalizar os processos financeiros, de marketing, RH e afins. Configurar uma empresa para o modo “inovador” é, consequentemente, tarefa muito mais árdua. Não por acaso, praticamente a totalidade dos projetos de consultoria em inovação são iniciados em torno do ajuste da cultura da inovação. As ações em prol da cultura da inovação envolvem, necessariamente, o gerenciamento de uma mudança. Sem ela em pensamentos, comportamentos e atitudes, a inovação não floresce. Mais uma vez, é trabalhar aquele tênue equilíbrio entre o “aqui, nós toleramos o erro” de um lado e o “mas uma hora tem que acertar” de outro. Provavelmente, um dos grandes “segredos” das organizações mais inovadoras (consequentemente, que mantêm culturas organizacionais orientadas a esse propósito) é sua capacidade de embutir a execução na estratégia que formulam. Não obstante, é preciso reconhecer que muitos planejamentos falham justamente nesse aspecto: são desenhados com perfeição, mas morrem na gaveta! E no âmago do necessário para se conduzir com maestria uma execução da estratégia concebida para inovar, reside o instigante conceito do processo justo. Envolvimento, explicação e expectativas claras conformam os 3 Es desse processo justo, princípios que se reforçam reciprocamente e definem o conceito em questão. O termo envolvimento implica no engajamento dos indivíduos ante as decisões estratégicas que os impactam, solicitando seu posicionamento e estimulando o questionamento recíproco das visões de mundo e dos pressupostos uns dos outros. Ele transmite o respeito dos gestores pelos indivíduos a eles subordinados e por suas ideias. O que se observa é que o estímulo à contestação aguça o raciocínio de todos, desenvolvendo a chamada “sabedoria coletiva”. O envolvimento resulta, enfim, em melhores decisões estratégicas por parte da gerência e em maior comprometimento de todos os atores na execução dessa estratégia. Por sua vez, o termo explicação tem a conotação de que todos os participantes e interessados nas decisões estratégicas devem mostrar compreensão acerca de suas razões e seus critérios. O fato é que explicar o raciocínio acaba legitimando as decisões 21 e eleva, dessa forma, a confiança das pessoas que os seus superiores hierárquicos, pelo menos, pararam para considerar suas opiniões e demonstraram ser suficientemente imparciais em respeito aos interesses gerais do empreendimento. Na prática, esses esclarecimentos proporcionam maneiras para que os funcionários confiem no intento de suas chefias, até quando suas próprias ideias são eventualmente rejeitadas. Mais do que capacidade de persuasão, isso também cria um feedback efetivo, que fomenta o aprendizado coletivo. Finalmente, quanto às expectativas claras, é preciso que, logo após a elaboração da estratégia, os gestores definam com clareza as novas regras do jogo. Mesmo que as expectativas sejam ambiciosas (e fundamentais, nesse caso, certamente) os empregados devem ficar sabendo de início com base em que padrões a avaliação é realizada e quais podem ser as consequências do fracasso. Afinal, quais são as pretensões da nova estratégia? Quais são os novos números perseguidos? Quem é responsável pelo quê? É preciso se lembrar de que, para resultar em processo justo, os objetivos, as expectativas e as atribuições não são tão importantes quanto a clareza com que eles são interpretados por todos. Disso decorre que, quando as pessoas entendem de modo cristalino o que delas se espera, previnem-se situações de politicagem e favoritismo, resultando em condições para a execução ágil da estratégia de inovação que se pleiteia. O processo justo acaba por costurar a cultura da inovação. Sob certa perspectiva, tudo se resume em reconhecimento intelectual e emocional. Emocionalmente, as pessoas precisam de reconhecimento do seu valor, não como “mão de obra” ou “recursos” humanos, mas como pessoas, em suas plenitudes, sendo tratadas com o devido respeito e hombridade, aquilatadas por seus méritos individuais, não importando o nível hierárquico. Os indivíduos buscam reconhecimento intelectual de suas ideias, em termos de que a organização solicite suas opiniões e sugestões, bem como reflita sobre elas, evidenciando a justa consideração por seu intelecto e estimulando que compartilhem seus pensamentos. A execução de uma estratégia de inovação se ampara em comprometimento, confiança e cooperação voluntária, atributos que não são meras atitudes e comportamentos. São, de fato, ativos intangíveis, de valor inestimável. Basta reconhecer que, quando existe confiança entre as pessoas, elas se sentem mais seguras quanto às intenções e ações umas das outras. Não obstante, quando as pessoas estão realmente comprometidas, elas se mostram dispostas a sacrificar seus interesses próprios em favor dos interesses da empresa. Simplesmente, para elas, faz sentido. Por fim, evidencia-se uma cultura organizacional verdadeiramente inovadora quando, por meio de empatia, respeito e clareza de ideias, os líderes nutrem um 22 ambiente de confiança em sua organização, na perspectiva de seus liderados. Isso vale desde a mais clássica atividade de metalurgia até os mais descolados bancos digitais; das mais suntuosas lojas de departamento até os mais discretos escritórios de advocacia; da mais modesta cooperativa agrícola até as mais diferenciadas instituições de ensino. Em resumo, a cultura da inovação é um quesito estritamente necessário para que se possa cogitar alguma possibilidade de conduzir a inovação como um processo organizacional. De fato, o entendimento da inovação sob a perspectiva processual fica bastante clarificado a partir da apreciação do conceito de funil da inovação. 3 FUNIL DA INOVAÇÃO Nenhuma figura gráfica representa melhor o processo de gestão da inovação do que um funil. Para compreender a razão disso, é preciso considerar uma série de aspectos. O mais básico deles é que produtos e serviços são a materialização de ideias, ou seja, eles representam o resultado do esforço empresarial em tentar atender, da melhor maneira possível, à base de clientes. Logo, tanto para aprimorar os atuais itens do portfólio quanto para renová-lo, urge encontrar oportunidades reais que apresentem alguma chance de sucesso. De tal forma, deve-se identificar, primeiramente, quais são e onde se encontram as fontes de ideias e, depois, saber como realizar triagem e escolha das ideias que se mostrarem mais adequadas. Isso é uma fundamental competência que qualquer empresa deveria perseguir, já que se traduz em quesito básico de sobrevivência em mercados tão disputados como os atuais. Não existem verdades absolutas, mas se há algo que mais se aproxima delas, é o fato de que escutar a voz do cliente sempre foi e continuará a ser a principal ferramenta de geração de ideias. Ouvir suas demandas, entender suas necessidades e compreender as circunstâncias vivenciadas é útil não só para melhor alinhar produtos e serviços já existentes à base de consumidores, mas, principalmente, para conceber novas propostas de valor em termos de inovações em produtos e serviços. Esse é mais um daqueles princípios simples, mas com execução nada trivial. Afinal, como bem explicam Vianna et al. (2012), o conhecimento explícito, na forma do que se diz (e até do que se pensa), é mais superficial. Contudo, para fins de projetos de produtos e serviços (principalmente os mais inovadores), tão ou mais importante é captar o que as pessoas fazem, usam, sabem, sentem e sonham, algo presente em camadas muito mais profundas dos indivíduos. Com vista a essa realidade, outras técnicas menos óbvias e menos imediatas do que as clássicas entrevistas e reuniões comclientes se fazem necessárias, como observações e sessões generativas. 23 Outra fonte imprescindível de ideias é interna à empresa: trata-se de escutar o próprio funcionário. Não apenas os processos, produtos e serviços atuais são muito bem conhecidos por quem os realiza — e, assim, oportunidades de melhorias e incrementos podem se revelar vastíssimos —, mas, também, pode-se aproveitar a oportuna proximidade de potenciais empreendedores dentro do mais íntimo círculo de relacionamento da empresa: quem já trabalha no local. Desse modo, os intraempreendedores podem contribuir significativamente com ideias de produtos e serviços inovadores, tanto mais próximas ao atual negócio da empresa quanto em outras totalmente distantes do que é trabalhado na organização (por isso mesmo, com alta probabilidade de disrupção). Fornecedores também são ótimas fontes de ideias para novos produtos e serviços, pois frequentemente se revelam os maiores especialistas em determinadas tecnologias que não são atividades-fim da empresa. É ele quem costuma ser um dos principais divulgadores junto às empresas de novidades quanto ao estado da arte das tecnologias direta ou indiretamente utilizadas no seu processo produtivo. Consultorias especializadas em mapeamento de tendências também são importantes supridores de informação altamente qualificada (mediante estudos realizados em âmbito global), fornecendo cenários de tendências de consumo, macroeconomia e tecnologia de especial utilidade para modelos e planos de negócios. De todo modo, no geral, o que importa é nutrir uma boa e ampla rede de relacionamentos profissionais (networking), pois é dela que se originam as melhores ideias inovadoras: isso pode envolver expedientes, como acompanhar canais inspiradores em redes sociais (com destaque ao infindável conteúdo de alta utilidade encontrado via YouTube); ou participar mais ativamente de eventos, congressos, feiras, exposições e afins, tanto em ambiente acadêmico quanto industrial. Indo além, um aspecto que não pode ser desmerecido é a literatura: não por acaso, grandes empreendedores são vorazes leitores. Em especial, há que se destacar a abrangência de suas leituras (e o tempo dedicado a elas), que não ficam restritas apenas à tecnologia e aos negócios intrinsecamente ligados à área de atuação principal e tradicional de suas empresas. Pelo contrário, esses empresários de sucesso costumam ler acerca dos mais variados temas, justamente para poder oxigenar seu potencial criativo, que, muitas vezes, é canalizado para novas frentes de atuação em suas empresas. Independentemente de quantas forem as fontes consultadas (é sempre bom que sejam as mais amplas possíveis), na sequência, é preciso realizar alguma triagem das ideias. É evidente que, quanto mais ideias reunidas, maiores são as chances de êxito da empresa em seus negócios, devido às inúmeras possibilidades que podem ser aventadas. No entanto, na prática, a realidade que se impõe é que nem toda ideia será efetivamente desenvolvida. Pelos mais diversos (e compreensíveis) motivos, é comum que, para cada opção que foi realizada, muitas outras sejam preteridas: pode ser em uma proporção de 1 para 40, 1 para 400 ou muito além disso. 24 Assim, há muito tempo prevalece no mundo corporativo a mais do que clássica alegoria de um funil no que diz respeito às escolhas que devem ser tomadas. Tal representação simbólica empregada se dá justamente pela característica marcante de se fazerem necessárias sucessivas triagens, sob diferentes critérios que lhes servem de filtros, para que se prossiga apenas com aquilo que se mostre suficientemente promissor. De forma ampla, o senso de funil se aplica às mais diversas frentes, por isso, é comum que a terminologia corporativa seja repleta de expressões como “funil de ideias”, “funil de recrutamento”, “funil de investimentos”, “funil de inovações”, dentre outras. Como admite Valeriano (2015), é bastante usual que os profissionais e executivos recorram a esse expediente para conduzirem seus processos e projetos. Para acionar os filtros (determinando, assim, que nem toda ideia gerada possa ser implementada), critérios se fazem necessários para que se consiga trabalhar com a escolha daquelas ideias que se provarem mais adequadas. Trata-se, então, do processo de escolha das ideias. O que permite que uma oportunidade avance progressivamente no funil de projetos é o êxito ante a filtros que sejam concebidos à luz do que melhor parecer sensato e condizente a cada realidade organizacional, o que ainda serve para configurar a quantidade de filtros necessários e, por consequência, o número de etapas em meio ao funil. É assim, por exemplo, que uma ideia meramente ventilada ou comentada de maneira mais descomprometida pode, eventualmente, ser assinalada como digna de registro formal para um banco de ideias, logo na primeira camada da boca do funil. Eis, aí, um primeiro filtro: a verificação da disponibilidade de um conjunto mínimo de informações coerentes e consistentes. Afinal, ou a ideia é minimamente estruturada e prossegue em próximas análises, ou já é descartada logo no primeiro filtro. Dessa forma, sucessivos filtros vão se aplicando conforme a ideia é lapidada, ganhando maturidade para que possa ser finalmente transposta em um projeto formal. Contudo, vale lembrar que um “fracasso” em algum dos filtros não precisa, necessariamente, ser tomado como definitivo: por exemplo, uma ideia pode ser descartada, de momento, por se avaliar que, a despeito de sua atratividade e do potencial de inovação, não se dispõe de recursos necessários ou abertura circunstancial de mercado para lançamento em dada época. O potencial projeto ficaria, assim, em “fila” (stand-by ou condição similar) para uma nova apreciação em outra oportunidade. Convém que os critérios para aplicação de filtros, quaisquer que forem, conforme cada empresa, sejam sempre os mais objetivos possíveis. Isso significa procurar priorizar uma avaliação quantitativa, pois a expressão de números tende a reduzir o nível de subjetividade (embora essa, de fato, nunca possa ser completamente anulada). Assim, ainda que cada organização seja soberana quanto a definir critérios segundo suas próprias razões e justificativas, costuma-se observar como boa prática de gestão o uso de elementos como grau de comprometimento de recursos, nível potencial de inovação, grau de proximidade do negócio atual e aspectos afins. 25 Com efeito, o mais fino requinte do funil de inovação se dá pelos filtros para escolha de ideias, sendo importante que a empresa possua um mecanismo justo e transparente, a fim de processá-las. Isso porque, quanto maior o contingente envolvido, maiores são as chances de sucesso, dada a diversificação de visões de mundo, experiências e contribuições das mais variadas. É por isso que se pode afirmar que, para fins de “boca” do funil da inovação (entrada), quantidade é qualidade, a qual se afere pelo valor dos projetos selecionados para desenvolvimento e, em última análise, da capacidade dos produtos e serviços finalmente lançados atenderem às expectativas criadas junto às partes interessadas. Nesses termos, empresas que usufruem da condição de poder trabalhar com uma quantidade grande de clientes, empregados, parceiros, dentre outros, podem se aproveitar do efeito conhecido como sabedoria das multidões para conduzir inovações de distinta qualidade. Ao comunicarem essa sensação de clareza e transparência junto a sua rede de inovação, as empresas conseguem motivar as pessoas a quererem sempre contribuir, sugerir e encaminhar ideias de forma contínua, mesmo que, muitas vezes, grande parte dessas ideias não seja implementada. O funil da inovação é a própria forma de expressão da inovação como um processo organizacional, que precisa ser conduzido à luz de estratégias adequadas. 4 ESTRATÉGIAS DA INOVAÇÃO Tratar de estratégia ante à inovação pressupõe, necessariamente, reconhecer riscos envolvidos e comose portar diante deles. Uma inovação é sempre uma quebra de paradigma (em maior ou menor grau) na empresa que a introduz e, invariavelmente, envolve um processo de tentativas e erros. Sim: sempre se faz presente a real possibilidade de fracasso, que pode advir de avaliações incorretas quanto aos resultados das novas trajetórias do mercado. “Fracasso”, nesses termos, não é mera figura de linguagem, mas, sim, diz respeito a prejuízos financeiros, às vezes irrecuperáveis, além de macular a reputação da marca. Ocorre que, mesmo estando conscientemente assumindo riscos ao conduzir um projeto inovador, as empresas tomam essa decisão na expectativa de obter vantagem competitiva em relação aos seus competidores, na forma de lucros diferenciados. A lógica subjacente é que esses lucros devem ser suficientes para compensar os nada modestos riscos que a organização assumiu ao decidir inovar, bem como os pesados investimentos que foram necessários. Reis (2008), ao inferir alguns perfis prováveis das empresas inovadoras frente ao risco enfrentado, categoriza, ao menos, quatro grupos. No primeiro grupo, estão as pequenas empresas inovadoras, com sua pré-disposição a fazer apostas mais 26 radicais, em situações nas quais a sua sobrevivência está ameaçada. No segundo grupo, encontram-se as grandes corporações inovadoras, com versatilidade organizacional para a tomada de decisões inerentes aos seus projetos. O terceiro grupo conforma as grandes empresas reconhecidamente inovadoras que praticam uma abordagem de “carteira” na gestão, ou seja, que se valem da combinação de projetos rotineiros (ou “medíocres”, da perspectiva de escala de inovação) com outros bastante incertos, mas com chances de grandes retornos financeiros. Por fim, no quarto grupo, há as empresas inovadoras patrocinadas pelo poder público, com maiores garantias de “êxito” pela condição de segurança de não assumirem sozinhas os riscos associados. A literatura especializada acerca da inovação (sobretudo a tecnológica), como em Carstens (2019), revela, basicamente, seis tipos distintos de estratégias, que acabam por apresentar escolhas muito diferentes entre si, a partir de objetivos mais ou menos arrojados, que norteiam certos padrões de comportamento em relação às atividades de inovação. São elas: estratégia ofensiva, estratégia defensiva, estratégia imitadora, estratégia dependente, estratégia tradicional e estratégia oportunista. A estratégia ofensiva é adotada por um diminuto número de empresas, que, aliás, não fazem uso dela de modo contínuo. Em linhas gerais, a organização procura uma posição de liderança técnica e mercado, tomando a iniciativa de inovar e disputar espaço com os seus concorrentes. O departamento de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) tem uma importância crucial, mesmo quando recorre a outras fontes técnicas e científicas, uma vez que as informações necessárias nunca estão plenamente disponíveis. O que se observa é que a pequena empresa é das que mais apresentam essa atitude de inovação ofensiva. Uma possível explicação para isso pode ser a resistência e incapacidade de as grandes empresas adotarem estratégias ofensivas. Em um ambiente de estratégia ofensiva, a empresa tem vantagens e mais facilidades para desenvolver pesquisa fundamental orientada, embora isso não seja uma regra geral. A organização, então, tende a contratar técnicos muito bem qualificados (e, até mesmo, cientistas). Compreensivelmente, trata-se de empresas que dão bastante valor ao sistema de patentes. No caso da estratégia defensiva, assinala-se como o tipo de estratégia bastante identificada nos mercados onde predominam oligopólios. As empresas, normalmente, não estão associadas aos tipos mais originais de inovação. A estratégia se prende mais ao intento de se aproveitar eventuais erros dos pioneiros, bem como ao desejo de a empresa não ficar defasada em termos das mudanças técnicas. É verdade que essas empresas também realizam atividades de P&D, mas a maior diferença frente à estratégia ofensiva é no tocante à natureza e ao ritmo da introdução das inovações. As atividades de P&D realizadas por essas empresas fazem com que elas se concentrem em capacidades de resposta e adaptação às inovações introduzidas pelas concorrentes. As empresas procuram a diferenciação de seus produtos com a 27 incorporação de aprimoramentos técnicos, mas a custos inferiores. Na prática, valem-se das patentes como meios para enfraquecer a posição e liderança técnica dos pioneiros. Não obstante, são organizações que também costumam contratar recursos humanos de elevado quilate científico e técnico. Quanto à estratégia imitadora, as empresas aderentes a essa linha de atuação não disputam posições com os líderes de mercado, mas se limitam a acompanhá- los a distância. Em alguns casos, podem até aspirar a conversão às categorias dos inovadores defensivos. Com efeito, a procura pelo mercado pode provocar mudanças substanciais no seu portfólio. Essas empresas, normalmente, adquirem patentes secundárias como subproduto de suas atividades. De modo geral, elas possuem uma forte capacidade de engenharia e desenho de produção. O mais comum é que elas se apoiem em custos mais baixos de produção ou em vantagens organizacionais. “Valendo ouro”, a informação se mostra fundamental para a decisão do que imitar e das fontes de aquisição de know-how. Por sua vez, na estratégia dependente, as empresas são, normalmente, subcontratadas e que respondem às flutuações que afetam as organizações de maior porte (seus grandes clientes corporativos). Essencialmente, pode-se afirmar que são rotineiras e conservadoras. Há, ainda, a estratégia tradicional, que se distingue da dependente apenas pela natureza do seu produto. Com efeito, nem o mercado nem a concorrência empurram as empresas para mudar o seu produto ou serviço. Por fim, no que se refere à estratégia oportunista, temos as empresas que sobrevivem em espaços de mercado bem específicos e particulares, aos quais aderem completamente. Temos, então, seis abordagens estratégicas que podem ser adotadas para um processo consistente de gestão da inovação, que sempre abarca trabalhar com ferramentas gerenciais adequadas, como é o caso dos KPIs da inovação. 5 KPIs DA INOVAÇÃO Qualquer que seja a gestão, a correspondente função gerencial só se torna possível a partir do expediente dos indicadores de desempenho (que muitos tratam por “gráficos de gestão”). A regra de ouro do campo da administração, que clama que “só o que se pode medir é que pode ser melhorado” ecoa, também, no gerenciamento de inovação. Por isso, Bessant e Tidd (2019) já destacavam a importância de examinar os KPI (Key Performance Indicators ou indicadores-chave de desempenho) da inovação. Cabe discussão pormenorizada sobre o que é merecedor de ser classificado genuinamente como key. 28 Não é uma tarefa tão óbvia quanto possa aparentar ser. O investimento em novos desenvolvimentos deve ser levado em conta, mas seu sucesso não é tão fácil de aferir. Existem muitas variáveis que medem a atividade de inovação. Aliás, Reichert (2016) chega a descrever mais de uma centena delas. Esse grande conjunto de fórmulas sugere que a entrada, a saída e os objetivos da gestão da inovação podem ser representados muito bem em números. No entanto, isso pode se mostrar enganoso, ao menos, por dois motivos. Primeiramente, quem dedica demasiada atenção a muitos valores medidos perde a visão do panorama geral. Aí, o verdadeiro valor das atividades de inovação permanece oculto. Depois, é preciso definir as variáveis que são aplicadas a essas fórmulas de forma individual e pertinente para cada negócio. Caso contrário, o provável é uma listagem de resultados que não informam absolutamente nada relevante. No episódio “Recursos Estratégicos: Indicadores de Inovação”, do canal ABGI Brasil, no Spotify, são aprofundadas as discussões entre indicadores de esforços em inovação de um lado e de resultados em inovação deoutro, para um melhor planejamento do processo gerencial. Acesse o episódio na íntegra em: https://open.spotify. com/episode/6xjzYsNLQn80xa1Je9YA8L. Acesso em: 6 set. 2022. INTERESSANTE O argumento de Putz (2018) de que nada além de quatro indicadores de inovação são dignos de serem rotulados como keys (indicadores-chave) tem seus incontestáveis méritos, dentre eles, a aplicação empírica em diversas empresas. Primeiramente, uma proposição de taxa de inovação: taxa de inovação = participação das inovações na receita | faturamento total x 100. Esse índice representa a contribuição da inovação frente às vendas. Além disso, também demonstra se os novos desenvolvimentos são ou não bem-sucedidos no mercado, pois mede as vendas já alcançadas com as inovações. Contudo, pode-se apreciar uma perspectiva alternativa de taxa de inovação: (outra) taxa de inovação = número de inovações | número de produtos x 100. Essa mensuração demonstra a importância do negócio para a inovação, pois fica relacionado o número com todo o portfólio mantido. Isoladamente, esse indicador nada diz sobre o sucesso dos novos desenvolvimentos. Porém, juntamente com a primeira taxa de inovação, já se torna possível obter uma apreciação bastante razoável da capacidade inovadora e do sucesso (ou insucesso) resultante. 29 Ainda assim, as duas métricas não respondem à pergunta sobre o que se entende por inovação. Então, pode-se complementar com a ideia subjacente a um grau de inovação: grau de inovação = novidade da combinação propósito-meios. A intenção dessa fórmula é poder especificar o quão novo é um desenvolvimento. O entendimento é de que o “frescor” de uma inovação deve, primeiramente, ser perceptível. Propósito e meios devem ser combinados de forma inédita. Esclarecendo, “propósito” está para conduzir um carro, assim como os “meios” estão para o combustível que se utiliza. Então, se ambos se mostrem distintamente diferentes do que é conhecido, reconhece-se, de fato, uma inovação revolucionária. Por outro lado, se a diferença para o padrão existente é mais reconhecível apenas na perspectiva do próprio inovador, então, atesta-se, na melhor das hipóteses, uma inovação incremental; de outro modo, fica caracterizada somente uma melhoria acessória no produto ou serviço. Finalmente, o quarto e último KPI proposto é o de portfólio de inovação. É verdade que essa não é uma medida em mais estrito sentido, mas uma análise exata da gama de produtos. O que se procura aferir são questões como: qual é a idade dos produtos? Quanto cada um deles contribui para o resultado geral da empresa? Essa avaliação já pode sinalizar exatamente quais e quantos produtos se deve desenvolver para defender ou expandir a posição da empresa no mercado em que ela atua. Resta, então, o desafio gerencial de definir as variáveis com a maior exatidão que for possível. A aplicação prática desses indicadores não é fácil, uma vez que as variáveis envolvidas requerem definição exata e conclusiva para que as fórmulas também comuniquem números que façam sentido para os gestores. De todo modo, a gestão da inovação é mais consistente quando se pauta na atenção a esses quatro indicadores-chave de desempenho de inovação. No campo da gestão em geral, os números sempre foram reconhecidos como úteis como base para decisões assertivas na gestão estratégica de um negócio, o que pode abarcar a frente da inovação. No entanto, o profissional mais inteligente precisa sempre se perguntar como esses números surgiram e o que eles medem (e o que eles não medem). Para realizar a gestão de inovação e medir o poder de inovação da empresa a partir de valores numéricos, é preciso responder a muitas perguntas de contexto. Cumpre, ainda, observar que as características de inovação de diferentes empresas não são necessariamente comparáveis, mesmo porque cada organização ainda define “inovação” em seus próprios termos. Dessa forma, haveria medidas absolutamente objetivas, como “número de patentes registradas”? Independentemente da resposta, isso nada diz sobre se as inovações de uma empresa também alcançam o mercado ou não. Enfim, números existem para serem usados e, definitivamente, não há gestão de espécie alguma sem eles. Contudo, não se pode confiar cegamente em expressões quantitativas sem a devida apreciação qualitativa. No campo da inovação, nada é mais “chave” do que isso. 30 Os bons resultados mensurados dos KPIs podem ser uma resposta para se trabalhar com métodos ágeis. Vamos, então, entendê-los melhor? 6 MÉTODOS ÁGEIS É legítimo se perguntar qual a melhor maneira para as empresas conduzirem projetos inovadores. No geral, a resposta passa pela abordagem interativa e ágil. Mas o que “agilidade” significa para o âmbito dos negócios, sobretudo diante da necessidade de inovar? Uma metodologia ágil pode ser enunciada como uma abordagem passo a passo que minimiza os riscos relacionados. Diante de uma ideia potencialmente inovadora (como o aproveitamento de tal ou qual nova tecnologia em um produto ou serviço), tudo começa com um teste de viabilidade e, em seguida, passa pela prova de valor, integração, produção, refinamento e, finalmente, termina na revisão. Dividir a jornada em partes menores é crucial, pois permite que se reavalie o valor e o propósito do projeto em cada fase, bem como fazer alterações ou parar ou tentar outra coisa. Isso permite que se gerencie custos e se obtenha resultados, mesmo em meio à complexidade e às incertezas. Um plano de negócios rígido e inflexível não é adequado para essa situação porque não leva em conta a quantidade de mudança inerente ao processo sensível a novidades tecnológicas. Um recurso como a IA, por exemplo, não se encaixa apenas no chão de fábrica, ela deve ser adaptada à tecnologia operacional que já existe e aos processos que fazem o negócio como um todo funcionar. É certo que descobrir como fazer isso leva um bom tempo e, muitas vezes, os profissionais encontram coisas que não esperavam e que exigem que se ajustem aos objetivos. Por isso, uma metodologia baseada em etapas iterativas e ágeis se mostra a melhor opção diante desse cenário. Cada etapa envolve apenas custos razoavelmente pequenos e, após cada uma delas, pode-se alinhar o projeto com o objetivo do negócio (deve-se sempre se referir a isso como um princípio orientador) ou, até mesmo, ajustá-lo, se isso se mostrar necessário. É por isso que a abordagem é “ágil”: não porque seja feita “às pressas”, mas porque permite que as coisas mudem. No fim, é o que leva ao objetivo certo e, mesmo que não haja um objetivo claro, mas, basicamente, somente um princípio orientador em primeiro lugar. Uma abordagem ágil pode tornar o processo de inovação muito mais fácil. Porém, a mera consciência ou o convencimento a respeito ainda não resolvem o grande problema para a maioria das empresas: a falta de ferramental metodológico adequado. É aqui que se torna interessante a utilização de instâncias como Scrum, XP, Kanban, FDD e Design Sprint. 31 Scrum é um modelo ágil de gerenciamento de projetos e procedimentos cuja origem remonta ao campo do desenvolvimento de software e vem sendo utilizado na gestão da inovação há muitos anos. Implica em unidades pequenas, auto-organizadas e ágeis. Como inovações, sempre têm a ver com incertezas, só se conhecendo o objetivo e o caminho parcialmente, o que acaba demandando agilidade, flexibilidade e resultados rápidos. Então, o objetivo é desenvolver inovações de alta qualidade, da forma mais rápida e eficiente possível. Dentro de um curto período, produtos intermediários tangíveis são desenvolvidos na forma de protótipos para receber feedback de clientes. Não há especificações formais de requisitos, mas uma visão que define o que deve ser alcançado com o projeto de inovação, servindo de orientação. Uma equipe Scrum, geralmente, consiste em três a dez pessoas. Para entregar o desempenho necessário, todos os membros da equipe trabalham juntos em uma sala,onde também são visualizados os requisitos, planos e status do projeto. Papéis importantes são o Product Owner (dono do produto) e o Scrum Master (mestre Scrum). O primeiro é responsável pelo conteúdo em termos de requisitos e propriedades do produto (backlog do produto) e pelo sucesso de modo mais amplo. O papel é semelhante ao de um gerente de projeto, que representa os interesses do cliente, é responsável pela qualidade, pelo tempo e pelos custos, além de interagir com as partes interessadas. Já o segundo, apesar de não pertencer ao time, tem um importante papel de apoio, servindo como uma espécie de moderador e coach para garantir o desempenho do projeto e da equipe. Isso inclui garantir o funcionamento das regras e os princípios do Scrum, mas, também, a intervenção em caso de problemas. XP, por sua vez, é a sigla para Extreme Programming ou programação extrema. Aplica-se, como o próprio nome sugere, à demanda de desenvolvimento de software, visando a entregas de maior qualidade para a equipe de desenvolvimento. O XP se mostra o mais específico dos frameworks ágeis em relação às práticas de engenharia apropriadas para o desenvolvimento de software. Como características, encontram-se requisitos de software que mudam dinamicamente, riscos causados por projetos de prazo restrito usando novas tecnologias, equipe de desenvolvimento estendida pequena e localizada, assim como tecnologia que permite testes unitários e funcionais automatizados. Seus declarados cinco valores são: comunicação, simplicidade, feedback, coragem e respeito. Já o Kanban é mais facilmente identificável por sua abordagem visual de classificar atividades de projetos em um canvas (tela) com os campos backlog (atrasados), to do (a fazer), ongoing ou in progress (em andamento), testing (em teste) e done (feito). Faz parte de uma concepção pull (puxada), o que significa que o trabalho 32 é “puxado” para o sistema quando a equipe tem capacidade para realizá-lo, em vez de as tarefas serem distribuídas manualmente por um gestor. Na prática, o Kanban pode ser usado para melhorar os processos e a eficiência do fluxo de trabalho, sem fazer alterações na estrutura da sua equipe. Ainda, temos o FDD, acrônimo de Feature-Driven Development ou desenvolvimento orientado a recursos, que é outra metodologia ágil. Seus corolários são: · um “sistema para construir sistemas” é necessário para escalar projetos maiores; · um processo simples, mas bem definido, funciona melhor; · as etapas do processo devem ser lógicas, e seu valor imediatamente óbvio para cada membro da equipe; · o “orgulho do processo” pode impedir que o trabalho necessário ocorra; · bons processos passam para segundo plano para que os membros da equipe possam se concentrar nos resultados; · ciclos de vida curtos, iterativos e orientados por recursos são os melhores. O FDD preconiza, essencialmente, desenvolver um modelo geral, criar uma lista de recursos, planejar por recurso, fazer o design por recurso e construir por recurso. Por fim, o Design Sprint ou corrida do design é um processo que propõe o arranjo de cinco dias consecutivos de trabalho para responder a perguntas críticas do negócio por meio de design, prototipagem e teste de ideias com os clientes. O argumento é que, em vez de esperar para lançar um produto minimamente viável (MVP) para entender se uma ideia é boa ou não, pode-se avançar muito mais rapidamente para ver o produto acabado e as reações do cliente, antes de firmar qualquer compromisso mais caro. Em suma, na segunda-feira, a equipe mapeia o problema e escolhe um aspecto importante para se concentrar. Na terça-feira, esboça possíveis soluções. Na quarta-feira, toma as decisões difíceis e transforma as ideias em hipóteses testáveis. Na quinta-feira, elabora um protótipo de alta fidelidade. E, na sexta-feira, testa com pessoas reais. Registra-se, enfim, que “ser ágil” é aprender a seguir os conselhos dos outros. É por isso que a parte final de uma metodologia ágil deve incluir parceria e abertura para colaboração. Sem esses princípios, mesmo as empresas mais robustas terão significativas dificuldades em inovar. 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • Cultura de inovação e cultura de criatividade são conceitos relacionados, embora não sejam sinônimos. Afinal, se a criatividade é reconhecida pelo seu caráter de “iniciativas”, a inovação se chancela pelas “terminativas”, na forma de entregas criativas bem-sucedidas. · O efeito funil praticamente desenha um processo da inovação, desde a etapa da coleta de ideias, aplicações de tantos filtros quanto se fizerem necessários até o efetivo momento dos novos lançamentos desenvolvidos. · Diferentes estratégias podem ser aplicadas no âmbito organizacional para a finalidade de inovação, sempre respeitando as particularidades e realidades de cada empresa, afinal, inexistem “estratégias universais” que poderiam se aplicar a todo e qualquer tipo de organização. · As organizações empresariais podem traçar seus KPIs (indicadores-chave de desempenho) em inovação, a partir do entendimento do que realmente importa medir, com a importante ressalva que o número, por si só, agrega valor para fins de gestão apenas quando devidamente contextualizado (via de regra, por leituras qualitativas que se agreguem). · A gestão ágil de empresas e metodologias correlatas (como Scrum, XP, Kanban, FDD e Design Sprint) contribuem formidavelmente para as atividades de inovação, revelando que, mais importante do que velocidade, é ter flexibilidade para se adaptar às circunstâncias que vão se impondo ao longo do desenvolvimento de um projeto inovador. 34 AUTOATIVIDADE 1 Nos últimos anos, parece que a expressão de ordem no ambiente organizacional das empresas mais inovadoras é “métodos ágeis”. Práticas a exemplo de Scrum, XP, Kanban, FDD e Design Sprint vêm sendo cada vez mais alardeadas em função dos bons resultados que estão proporcionando. Sobre a interpretação que melhor cabe ao emprego de metodologia ágil no contexto da gestão da inovação, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Flexibilidade. b) ( ) Afobação. c) ( ) Precipitação. d) ( ) Improviso. 2 Inexistem indicadores de desempenho de caráter universal, ou seja, aplicáveis de forma rigorosamente igual para todo e qualquer tipo de empresa, até porque cada realidade organizacional é única, além de que diferentes organizações ainda entendem e abordam a inovação de modos distintos. Ainda assim, algumas medições mais essenciais podem nortear o trabalho de personalização de indicadores-chave de desempenho (KPIs) nos processos de inovação de boa parte das empresas. Com base nas definições de KPIs da inovação, analise as sentenças a seguir: I- Medir “iniciativas” é tão ou mais importante do que medir as “terminativas” de inovação. II- O faturamento que um novo produto ou serviço traz fica excluído de apreciação em KPI. III- O KPI grau de inovação mensura a novidade da combinação propósito-meio. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 A melhor figura gráfica que simboliza o processo de gestão da inovação é um funil, justamente pelo efeito de progressiva seletividade que ocorre da coleta das ideias até o lançamento de novos produtos e serviços. De acordo com a gestão da inovação orientada ao funil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 35 ( ) Filtros são os mecanismos essenciais para a gestão do funil de projetos inovadores. ( ) Ideias devem ser coletadas para registros no funil da forma como forem propostas. ( ) Receita estimada e grau de inovação podem ser critérios para definir a atratividade de uma ideia. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V.4 É forçoso reconhecer que diversas circunstâncias validam o aforismo de que “quantidade não é qualidade”, algo que se mostra um fato inequívoco nas mais diversas situações, inclusive em âmbito empresarial. Contudo, também é preciso admitir que existem, sim, algumas notáveis exceções, como é o caso de algumas peculiaridades de gestão da inovação. Assim, por qual motivo é possível assumir que quantidade é qualidade na perspectiva do funil da inovação? 5 Alguns aspectos do mundo empresarial são independentes de modelo de negócio, ramo de atuação e porte organizacional. É o que ocorre, por sinal, com gestão e indicadores de desempenho, instâncias absolutamente indissociáveis sob todas as perspectivas de análise. Afinal, os gráficos de gestão são a expressão visual dos valores apurados nas atividades da empresa. Contudo, qual é a deficiência de um modelo de gestão da inovação pautado, exclusivamente, nas mensurações quantitativas dos indicadores de desempenho? 36 37 INOVAÇÃO ABERTA 1 INTRODUÇÃO A popularidade de negócios construídos via arranjos de inovação aberta não é uma surpresa, pois o uso de fontes externas pode expandir a capacidade inovadora de uma organização. No âmbito corporativo, os executivos recorrentemente relatam que estão adotando esse formato para gerar novas ideias e — tão ou mais importante — novos negócios. Neste tópico, entenderemos que as organizações usam essa forma de inovação para acessar fontes mais diversas de ideias e talentos com pouco investimento para criar valor que não seriam, necessariamente, capazes de produzir por si mesmas. Portanto, o objetivo de muitas é encontrar oportunidades para resolver necessidades não atendidas com a ajuda das parcerias certas e das melhores práticas em inovação aberta. Assim, o presente material visa contrastar os paradigmas de inovação aberta e inovação fechada, apresentar o conceito e o papel dos diferentes participantes de um ecossistema de inovação, apreciar a iniciativa de hackathons como prática de gestão de inovação aberta, entender a importância da diversidade humana no âmbito da gestão da inovação e assimilar a proposta dos negócios como plataformas. Vamos iniciar? 2 INOVAÇÃO ABERTA vs. INOVAÇÃO FECHADA Anedótico, mas útil: não é porque a lei da gravitação universal foi formulada por Isaac Newton que, antes dele, as coisas saiam flutuando por aí. A descrição científica de um fenômeno, no geral, o sucede, e isso não costuma ser diferente no campo da gestão e do empreendedorismo, quando se aborda, por exemplo, o tema da inovação aberta. Eis, pois, um aspecto que, embora muito mais recentemente teorizado, já se materializa na prática das organizações empresariais há várias décadas. Pesquisador vanguardista na área, Chesbrough (2003a; 2003b) descreve que o processo de inovação industrial sofreu uma mudança significativa nessas últimas quatro ou cinco décadas. Antes, o que prevalecia era o chamado modelo fechado, um entendimento que pressupõe que as corporações industriais seriam capazes de inovar apenas realizando atividades de pesquisa básica internamente e levando os resultados dessa pesquisa ao mercado. E é bem verdade que essa abordagem provou ser mais do que suficientemente válida em uma variedade de empreendimentos durante a transição UNIDADE 1 TÓPICO 3 - 38 do século XX para o século XXI. Contudo, ao longo do tempo, surgiram novas condições ambientais, incluindo a progressiva mobilidade do pessoal técnico e administrativo entre as empresas, a crescente qualidade e relevância da pesquisa universitária, a explosão de graduados em todas as áreas do conhecimento (com substancial aumento na oferta de capital humano qualificado), a elevação na qualidade e quantidade da pesquisa internacional e a contundente proliferação do capital de risco e do private equity, que permitiu que as startups atraíssem talentos de alta qualidade. Tal combinação acabou por resultar, consequentemente, no paradigma de inovação aberta. Private equity pode ser traduzido ou interpretado como “capital privado” ou “participação privada”. Trata-se de uma modalidade de investimento em empresas amadurecidas e ainda não listadas em bolsa de valores (fechadas ao mercado de capitais), visando à captação de recursos para desenvolvimento do negócio. IMPORTANTE Em termos de processos organizacionais, a grande novidade que surge, a fim de oferecer uma nova perspectiva acerca da função de afunilamento dos projetos nas empresas, é que, ante à inovação aberta, o que se resulta é a proposição de um “funil vazado” ou poroso. Em termos de gestão da inovação, o efeito-funil, à luz da inovação aberta, resulta em um sem-número de novas possibilidades, a começar pela “boca do funil”, que deixa de ficar restrita apenas às ideias geradas internamente na empresa. Assim, o processo fica apto, também, a coletar contribuições de fora da organização, originadas de terceiros. De fato, a estratégia aberta é o que melhor equilibra a criação de valor (fontes internas) com a captura de valor (fontes externas). Não obstante, a “ponta” do funil — que, na abordagem tradicional, visa apenas ao mercado atual da empresa — passa a também ser acompanhada de outras destinações, como novos mercados e mercados de outras empresas. Ainda mais significativo em termos de potencial da inovação aberta, os “poros” do funil representam que entradas e saídas não ficam limitadas à “boca” e “ponta” do funil. A qualquer momento e em qualquer etapa do ciclo de desenvolvimento, podem ser aproveitadas oportunidades de explorar economicamente os vários arranjos decorrentes. Em linhas gerais, nas composições de inovação aberta, prevalece a ideia de que terceiros podem ajudar a empresa a atingir melhores resultados (em termos financeiros, de exposição de marca, de aquisição de conhecimento etc.), da mesma forma que a organização pode ajudar outras a atingirem os melhores resultados por elas desejados. Para todos os efeitos, é uma relação “ganha-ganha”. 39 De toda forma, mesmo revisitado, o conceito de funil continua fazendo jus à denominação. É que, por mais numerosos que sejam os participantes, e mesmo que algo que não interesse como negócio finalístico de uma parte envolvida possa interessar plenamente como o foco principal de negócio de um parceiro, em última e estrita análise, nem toda ideia será, de fato, implementada. Por isso, critérios continuam sendo necessários para que se consiga trabalhar com a escolha das ideias mais adequadas às empresas envolvidas no processo de inovação aberta. Certamente, a inovação aberta não se traduz em terceirizar pesquisa e desenvolvimento junto a outra empresa. Na verdade, trata-se de alavancar e aprimorar as capacidades internas com a colaboração dos arranjos externos (na “via de mão dupla” que o modelo pressupõe). É uma tarefa que traz atrativos benefícios, embora tenha, inevitavelmente, seus riscos próprios, os quais não são poucos, a começar pelo aspecto estratégico. Os maiores riscos de inovação aberta se voltam à falta de clareza das metas e falhas na seleção de parcerias. Como consequência negativa (e não raramente), o que se percebe é a diminuição de margens, invalidando o esforço desse tipo de arranjo. Quanto aos desafios operacionais e estruturais da inovação aberta, sem dúvida, a parte mais difícil é decidir como executá-la, e não meramente iniciar o projeto. Afinal, a transformação de uma empresa habituada a inovar internamente para uma empresa que inova abertamente com terceiros exige muitas mudanças, tanto em nível operacional quanto em nível estrutural. Como a inovação aberta é um campo complexo com muitas partes móveis, quase sempre é necessário repensar as formas atuais de trabalho para poder aplicar esse modelo de gestão com sucesso. Não devemos nos esquecer, ainda, que o objetivo da inovação aberta é melhorar a qualidade e a velocidade do desenvolvimento. Pensando nisso, os resultados bem- sucedidos tendem a ser fruto de um processo executadosistematicamente. Ademais, para ser capaz de compreender a grande massa de informações a que as empresas são submetidas atualmente, não há outro caminho senão se dispor de um processo robusto, inclusive com os requintes tecnológicos que se mostrarem necessários, como Big Data e tecnologias afins. Um processo eficaz de inovação aberta integra as áreas internas de P&D, finanças, manufatura e marketing em um ecossistema de negócios com o qual a empresa está colaborando. Quando se trata de construir um processo eficaz, os desafios mais comuns são a falta de objetivos, a comunicação pouco clara, a falta de apoio das partes interessadas, a incomensurabilidade e a falta de alinhamento da estratégia. Sem segredo, para fazer um processo funcionar, ele deve estar alinhado com os objetivos e as estratégias organizacionais, sendo comunicado claramente a todos os envolvidos. Para que esse processo seja bem-sucedido, é importante que todos os seus principais interessados estejam efetivamente engajados nele. 40 Além disso, Stadler, Arantes e Ceni (2012) advertem que as empresas, muitas vezes, subestimam o quanto o gerenciamento de mudanças é realmente necessário. Tende-se a confiar demais na tecnologia, de tal forma a prejudicar a percepção de que o processo é realmente o que mantém ou o que quebra um projeto de inovação aberta — e não tal ou qual ferramenta informatizada usada para esse trabalho. Não obstante, há, ainda, os desafios legais da inovação aberta. Ignorar essa questão pode causar obstáculos desnecessários se não for equacionada já no início de um projeto dessa natureza. Por certo, esses aspectos não são “mágicos”, tampouco difíceis, mas se não forem considerados e tratados de maneira profissional no início, os riscos e possíveis impactos negativos não só afetarão o projeto de inovação aberta, mas, também, poderão prejudicar a imagem da marca e da empresa. Portanto, cabe especial atenção a elementos como a discussão de propriedade intelectual e termos e condições em geral entre os partícipes desse tipo de arranjo. Finalmente, o último — mas, provavelmente, o mais crítico desafio da inovação aberta — é a falta de cultura corporativa colaborativa e multifuncional. Frequentemente, os funcionários podem se ater a uma mentalidade fixa, do tipo “é assim que as coisas são feitas aqui”. Esse tipo de cultura pode ser problemático se as pessoas não estiverem comprometidas com a execução de ideias que vêm de fora da organização. Aliás, esse ceticismo, até mesmo em relação às grandes ideias, pode levar a uma situação em que tais ideias não tenham chance alguma de florescer, a começar pelo absoluto veto quanto a alocar qualquer recurso para o desenvolvimento delas. A inovação aberta, então, possibilita novas abordagens que seriam irrealizáveis ante um modelo de inovação fechada. Uma dessas abordagens é o trabalho em consonância com ecossistemas de inovação. 3 ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO Desde que Moore (1993) cunhou a expressão “ecossistema de negócios”, a terminologia “ecossistema de inovação” ganhou popularidade não só no ambiente corporativo, mas nas consultorias de gestão, nos white papers governamentais para desenvolvimento econômico e nas pesquisas acadêmicas sobre inovação e competitividade global. A tempo: existiria alguma substancial diferença entre os conceitos de “sistema” de inovação e “ecossistema” de inovação? Em uma análise rigorosa, não. Ocorre que o neologismo em torno de um ecossistema é uma tentativa de diferenciá-lo do arcabouço mais clássico: uma “versão 2.0” que procura expor o papel de destaque da Tecnologia da Informação (TI), que impulsiona o desempenho desse sistema e de seus participantes. 41 Assim, é admissível reconhecer esse esforço para diferenciar a pretensa “nova geração” de sistemas de inovação, chamando-a de “ecossistemas de inovação”, já que eles evoluem tão rapidamente quanto as tecnologias que constituem suas plataformas. No contexto empresarial, “ecossistema” é um termo que está em uso desde a última década do século XX. O escritor norte-americano James Frederick Moore, pesquisador nas áreas de coevolução em sistemas sociais e econômicos, é mais conhecido por ser pioneiro na abordagem de ecossistema de negócios para o estudo de redes de organizações, que, juntas, constituem um sistema de apoio mútuo e cooperação (MOORE, 1993). Desse modo, apesar do prefixo “eco”, um ecossistema empresarial nada tem a ver com o caráter biológico dos ecossistemas naturais, exceto pela valiosa metáfora: como no mundo natural, organismos (organizações) vivem (agem) juntos, em um ambiente cheio de outros atores, alguns deles favoráveis aos seus propósitos, enquanto há outros cuja simples existência implica em uma ameaça aos demais. Nesses termos, o mundo dos negócios parece imitar o mundo natural em certos aspectos. É até possível estabelecer uma analogia com o conceito de “cadeia alimentar” do mundo natural, considerando os diferentes portes, os comportamentos e o poder competitivo de seus participantes. Aliás, nesse contexto, seria possível admitir simbolicamente o “ápice da cadeia alimentar” como o grau mais avançado de vantagem competitiva? Talvez uma empresa verdadeiramente responsável pela criação e manutenção de um ecossistema de inovação (o que significa uma espécie de “microambiente de negócios” para seus próprios fins) possa, sim, ser considerada o verdadeiro “topo da cadeia alimentar” (a supremacia estratégica) nesse tipo de ambiente, de acordo com a linha de pensamento que hoje prevalece na gestão empresarial, especialmente em um mundo hipercompetitivo. De toda forma, para além de mera (e inevitável) competição, ecossistemas de inovação são fortemente embasados em cooperação. De qualquer forma, quando se estuda a literatura especializada, como em Bessant e Tidd (2019), é possível perceber que “ecossistema de inovação” é uma expressão, no mínimo, ambígua. Existem, pelo menos, dois contextos diferentes que são frequentemente rotulados como ecossistemas de inovação. O primeiro é aquele conceito que pode ser entendido como genérico ou socioeconômico. A soma de atores atuantes, em alguma região ou algum setor industrial, que desempenha papel fundamental para a inovação daquela área geográfica ou do mercado delimitado. Apenas para citar o essencial, esse ecossistema reúne players como grandes empresas, universidades, startups, institutos de pesquisa, investidores de risco, agências tradicionais de financiamento, mentores, incubadoras, aceleradoras e, em alguns casos, instâncias governamentais. Se, em um mesmo contexto geográfico, muitas indústrias diferentes são beneficiadas (como no caso do Vale do Silício, nos EUA), quando em um cenário industrial específico, é comum que o alcance geográfico seja global. Por exemplo, a indústria automotiva é um caso típico, com seus correlacionados agentes de inovação fisicamente distribuídos pelo mundo. 42 Sistemas de inovação bem-sucedidos, no contexto socioeconômico, são, normalmente, caracterizados por uma economia do conhecimento ativa, composta por atividades acadêmicas, públicas e empresariais de P&D e inovação, com comercialização efetiva, apoiadas por mecanismos flexíveis de políticas públicas. Além disso, ecossistemas de inovação de sucesso também são nutridos por uma cultura de inovação baseada na interação e abertura para oportunidades e mudanças internacionais. Um ecossistema (socioeconômico) de inovação eficaz, portanto, permite que empreendedores, empresas, universidades, organizações de pesquisa, investidores e agências governamentais interajam efetivamente para maximizar o impacto econômico e o potencial de suas pesquisas e inovações. No entanto, outra configuração, que é chamada de ecossistema de inovação, é quando uma única empresa desempenha o papel central nesse ambiente, geralmente por ser criadora ou desenvolvedora. Especificamente em termos de estratégia de inovação, o que se observa é que algumas empresas, principalmenteas de grande porte e alta tecnologia, muitas vezes, fomentam ecossistemas de empresas menores, seguindo a abordagem de inovação aberta. A Google, por exemplo, criou um ecossistema de inovação em torno de seu sistema operacional Android, no qual inúmeras empresas ao redor do mundo desenvolvem aplicativos e fabricam smartphones, smartwatches e outros dispositivos inteligentes, incluindo mercados alternativos, como indústria automotiva e outros artefatos da IoT (televisores, eletrodomésticos etc.). As grandes empresas, liderando esse movimento, obtêm os benefícios da maior criação de valor para os clientes por meio do fornecimento de produtos complementares. Os participantes do ecossistema, liderados, de alguma forma, pela grande empresa de referência, obtêm o benefício de um mercado grande e, por vezes, lucrativo. Na prática, pequenas empresas que desejam participar de tais ecossistemas precisam ser habilidosas na gestão de relacionamento com poderosos líderes tecnológicos. Todo esse cenário ilustra bem o conceito de ecossistema de inovação ativa centrado em determinada organização empresarial. Ressalte-se, entretanto, que, apesar de, por um lado, um ecossistema de inovação ser amplo o suficiente pela sua mais pura definição conceitual (dados seus inúmeros participantes institucionais e os mais variados papéis a desempenhar) e ninguém, efetivamente, comandar, de modo absoluto, o fluxo geral dos negócios que ali efervescem; por outro lado, impõem-se o fato de que algumas empresas podem, sim, conceber estratégias para aumentar o grau de importância de sua participação em ecossistemas de inovação. Sartori (2018a) menciona que, na prática, o que essas empresas podem fazer é com que, de uma forma ou de outra, as iniciativas dos demais participantes orbitem em torno de seus próprios produtos e serviços, uma forma tênue de se dispor de um ecossistema “privado” de inovação. 43 Os ecossistemas de inovação, portanto, constituem-se na própria expressão da forma de se trabalhar com a modalidade de inovação aberta, que envolve um sem- número de iniciativas interessantes, como é o caso dos hackathons. 4 HACKATHONS Um hackathon é um evento projetado para usar tecnologia (principalmente codificação), a fim de atingir determinado objetivo. Como boa prática consagrada em termos de inovação aberta, não há dúvida de que os hackathons se popularizaram mundo afora, estimulando o desenvolvimento de novos produtos e movimentando milhões de dólares. No cotidiano, com o surgimento um tanto quanto recente de hackathons para iniciantes e a disponibilidade de aulas de hacking on-line (hacking de cunho ético, evidentemente), o fato é que nunca foi tão fácil explorar os hackathons como nos dias atuais. É certo que o campo da TI pode ser entendido como o “habitat natural” dos hackathons, afinal, é o contexto em que as habilidades de programação impulsionam a inovação. Também é igualmente certo que “campo da TI” é um conceito que vai se estendendo progressiva e irreversivelmente a organizações de todos os ramos e portes, em função da atual realidade instaurada de transformação digital. Nesse sentido, pode-se conceber, pelo menos, três formatos (ou “subespécies”) de hackathons: os competitivos, os patrocinados e os internos. Hackathons competitivos costumam reunir dezenas (e, às vezes, centenas, senão milhares) de programadores debruçados sobre laptops para uma maratona de codificação. Essas pessoas trabalham sozinhas ou em equipes, no intuito de resolver um desafio definido ou criar um produto. Ao longo de sua duração típica de 24 a 48 horas, prêmios em dinheiro e empregos e estágios altamente competitivos estão em jogo, além do indelével direito de se gabar em vencer uma competição dessa natureza (sim, a ostentação faz parte desse jogo!). Há, ainda, o expediente dos hackathons patrocinados, que envolve universidades, empresas (inclusive as mais robustas corporações globais, a exemplo das listadas em rankings como a Fortune 500) e, até mesmo, organizações sem fins lucrativos costumam hospedar hackathons para recrutar os melhores talentos, resolver problemas (dos grandes aos pequenos), expandir negócios ou, simplesmente, reunir mentes semelhantes para projetos de codificação. Finalmente, em termos de hackathons internos, o fato é que um número crescente de organizações vem utilizando hackathons em suas equipes de trabalho. Preservando fidelidade conceitual às suas origens, eles, geralmente, são projetados para “dar uma sacudida” no ambiente, iterar produtos rapidamente e agilizar a resolução criativa de problemas. 44 Mais uma vez recorrendo às incontáveis analogias com o mundo biológico tão características do contexto dos ecossistemas de inovação aberta, pode-se afirmar que há muita “polinização cruzada” entre cada um desses tipos de hackathons. Um hackathon universitário, por exemplo, pode, talvez, representar o mais empolgante jogo do século XXI: uma equipe de estudantes de segurança cibernética invade o servidor de seus oponentes movida pelo sentimento de orgulho e glória, animada pela grande possibilidade de contratos de estágio de verão em corporação de grande prestígio na área de trabalho. Organizações como a AngelHack, que costumam contar com o apoio de grandes marcas como IBM e Amazon, promovem (inclusive no Brasil) hackathons competitivos para prêmios de US$ 10 mil. Esses eventos não apenas oferecem uma privilegiada rede de contatos para programadores profissionais, mas, também, ventilam um prêmio ainda mais cobiçado: a chance de desenvolver um conceito de startup de alto potencial disruptivo, dando-lhe vida no mercado. É preciso reconhecer que os hackathons estão enraizados no fato de que a tecnologia define o mundo contemporâneo. A realidade digital está decisivamente estabelecida, portanto, na linguagem global para mudança e inovação, frequentemente escrita em linhas de código. Hackathons são impulsionadores de grandes negócios. Em sua forma mais pura, um hackathon estabelece o ambiente ideal para criar e refinar grandes ideias. A competência técnica catalisada com altas doses de motivação explicam resultados como concentrar, em apenas 24 horas, processos que, pelas vias tradicionais, requisitariam meses de tentativas e erros. Nesse contexto, a indústria parece já ter aprendido que ideias obsoletas e estagnação não são páreo para a cultura hacker. Adotados os benefícios da iteração e inovação, nem mesmo uma pandemia global pode derrotar o espírito inovador e a versatilidade inerentes. Por sinal, o hack virtual, para revolucionar os “clássicos” hackathons presenciais, tem sido a tônica nos últimos anos. Não obstante, os benefícios dos hackathons vão muito além de lançamentos de produtos singulares e recursos avançados nos websites corporativos. É evidente que iniciam carreiras. Muitas das mais bem-sucedidas foram forjadas por um hackathon. Sem entrevistas de emprego, sem requintadas dinâmicas de grupos dos especialistas em RH, é a aplicação do pragmatismo da filosofia do “o que você vê é o que você obtém” tão apreciada no ramo do software. Temos, ainda, que os hackathons fomentam o trabalho em equipe. Muitos eventos são, essencialmente, um estudo ao vivo de aprendizado cooperativo e trabalho em equipe, habilidades, por sinal, cada vez mais procuradas no mercado de trabalho. É, para todos os efeitos, a inversão do estereótipo do “gênio solitário”. 45 Hackathons também incentivam a diversidade, conduzindo a mudanças positivas. Até porque esses eventos promovem mudanças não apenas no que os programadores fazem tecnicamente, mas em quem é representado na tecnologia. Maior diversificação demográfica acaba por favorecer um mundo melhor e mais justo! Enfim, um hackathon é muito mais do que um fim de semana de programação ininterrupta: a cultura hacker se mostra um estado de espírito e compromisso para concretizar ideias, inclusive tangibilizando as mais fantásticas delas, o que denota sua importância no quesitoinovação. Portanto, os hackathons são possibilidades de expressivo valor para a prática de inovação aberta, acabando por entregar uma série de conveniências, como a diversidade. 5 DIVERSIDADE IMPORTA? Evidências empíricas apontam que a diversidade importa, mas qual diversidade? Convém um exame mais profundo dessa questão do que meramente atender a um ditame politicamente correto, não é mesmo? Especificamente para fins de desempenho de inovação, a mera representatividade social é suficiente por si mesma? Ora, parece demasiadamente ingênua a ideia de que dispor, obrigatoriamente, na equipe de um negro, um judeu, uma lésbica, um japonês, um anão... Ou qualquer composição passível de atender às “cotas sociais” das mais variadas frentes, resulte, automática e miraculosamente, em maior capacidade inovadora. O cerne da análise da importância da diversidade, no contexto em questão, é o da inovação, o que pode, talvez, não espelhar exatamente as demandas de “justiça social”, peculiaridades de minorias e afins. No que diz respeito à gestão da inovação, o fato é que a ideação deve, sim, ser a mais divergente possível, ao mesmo tempo que a execução deve, sem dúvida alguma, ser a mais convergente possível. Por essa perspectiva, não há, de fato, um “funil da inovação” mais saudável de ser gerido do que esse modelo. A verdadeira diversidade não tem muito a ver com gênero, raça ou qualquer um desses fatores. Estudos científicos trazidos por Waikar (2022) revelam que as diferenças entre os indivíduos são maiores do que as diferenças entre esses grupos arbitrários. Diz respeito à diversidade de traços pessoais, como QI, consciência socioambiental, aversão ao risco e experiências pessoais, que são mais importantes. Claro que isso não significa que se deva, simplesmente, ignorar os fatores de diversidade social. Um crescente corpo de evidências, a exemplo de Ancarani et al. (2016), mostra que eles têm alguma relevância. Admite-se, também, que, quanto aos traços pessoais (que 46 poderiam ser chamados de “diversidade cognitiva”), é realmente difícil encontrar empresas que comprovadamente avaliem as pessoas de modo crível com base em seu QI, sua consciência e sua aversão ao risco. Não raramente, os processos seletivos parecem se pautar em entrevistas sem sentido, com base na triagem de currículos artificialmente redigidos para impressionar recrutadores. Quanto maior a diversidade, maior a inovação? Achados científicos procuram recomendar cautela a esse respeito. Por sinal, em sua pesquisa, Ancarani et al. (2016) demonstram uma peculiar relação entre a diversidade religiosa e o desempenho das equipes. Conforme fica evidente no gráfico a seguir, a diversidade moderada está associada a um desempenho superior, enquanto as equipes homogêneas e altamente heterogêneas apresentavam desempenho inferior. Figura 1 – Relação entre eficiência e diversidade religiosa Fonte: Adaptada de Ancarani et al. (2016, p. 12) 47 É inevitável que se questione se os efeitos dos fatores de diversidade social (a exemplo de gênero, raça e orientação sexual) no desempenho organizacional como um todo e, especificamente, na gestão da inovação, seguem ou não o mesmo padrão de “U invertido” que ficou evidenciado em matéria de diversidade religiosa. Ocorre que, para além de suas diferenças demográficas, as pessoas que trabalham em equipe certamente pensam de maneira diferente sobre uma tarefa colaborativa. Essa diversidade cognitiva pode ser útil ou não. Em uma organização empresarial, há sempre certa tensão entre pessoas que têm maneiras incongruentes de pensar sobre um problema específico para resolver. E, assim, as empresas vão tentando inovar: por um lado, acreditando piamente que brainstorming e iniciativas similares de como criar um produto melhor demandam a mais alta variedade de ideias e perspectivas; por outro, o trabalho de execução é considerado mais bem gerido com base no maior alinhamento sobre como proceder. É o teste empírico da hipótese de que a diversidade intelectual é saudável para criar novidades e soluções criativas de problemas, embora não necessariamente o seja para uma coordenação eficiente. À primeira vista, talvez possa parecer que determinada equipe será melhor em apenas uma dessas tarefas, dependendo de seu nível de diversidade intelectual, porém, isso é uma simplificação flagrante, afinal, as equipes de alto desempenho também podem modular como aplicam sua variedade ou consistência de pensamento a determinada tarefa. Para entender melhor essa dinâmica, Waikar (2022) descreve uma pesquisa científica em que foram estudadas centenas de milhares de mensagens enviadas por equipes de desenvolvimento de software trabalhando remotamente. Usando ferramentas de linguística computacional, o pesquisador mediu como as ideias dos membros da equipe divergiram e convergiram ao longo do tempo. Eles descobriram que as equipes mais bem-sucedidas modulavam sua diversidade cognitiva para se adequar à tarefa em questão. O achado foi de que o nível de diversidade não “pula” nessas equipes, mas ondula: ele muda conforme a fase do projeto. É mais uma evidência que a ciência traz de que as equipes que se tornam cognitivamente divergentes para a ideação, mas convergentes para a execução, são as mais bem-sucedidas na entrega de seus projetos quanto ao prazo e à satisfação do cliente. 6 PLATFORM BUSINESS Existem produtos e serviços realmente interessantes no mercado. Alguns deles, aliás, são a base para que outras empresas os utilizem em prol de seus próprios esforços de inovação. Basta pensar, por exemplo, nos fabricantes das máquinas de cartão de 48 crédito e no que seus produtos representam para boa parte dos negócios das demais empresas de todos os ramos e portes. Isso é o que enseja a discussão a respeito do platform business ou negócios que servem de “plataforma” para outras empresas sustentarem seus próprios negócios. Em termos de gestão da inovação, é um dos mais recentes campos de estudo, pois, a partir de 2010, observou-se com mais notoriedade os conceitos de plataformas e ecossistemas passando a ocupar o centro da discussão sobre a transformação dos negócios e da sociedade em geral. São profundas as implicações de uma pervasividade tecnológica cada vez maior e da explosão do potencial relacionado à inovação. A indústria, agora, está mais sensível a como essas tendências pressionam a sociedade para que se ressignifique o próprio conceito do que é uma organização e como ela funciona. Isso repensando instituições que abraçam a causa da “abertura” da inovação, descobrindo como cada indivíduo precisa se comportar para encontrar novas oportunidades e respondendo a desafios maiores de crescimento e transformação, em um mundo caracterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Sendo assim, as plataformas negociais fornecem uma arquitetura para combinar inovações internas e externas, de modo a criar valor em toda a cadeia de atividades, fornecendo tecnologia útil ao mercado. Uma das principais características das atuais plataformas de negócios é o fato de serem majoritariamente digitalizadas, um efeito da Indústria 4.0. Estudos da Accenture (FJORD, [c2022]) sustentam que o poder do ecossistema de inovação é uma das cinco principais tendências para moldar o futuro dos negócios. Relatam-se casos de empresas que estão cada vez mais integrando suas principais funcionalidades de negócios com terceiros e suas respectivas plataformas, indicando, também, relacionamentos que precisam ser alavancados para construir um novo papel para as empresas na interação com seus ecossistemas. Com efeito, a criação de valor é vital para a adoção da arquitetura por terceiros e clientes. Isso significa que as empresas do século XXI devem saber desenhar suas estratégias de ecossistema, que incluem expedientes como API, microsserviços e articulações de plataforma. Incubadoras de negócios alheios, como o Wayra, da Telefónica; e o Cubo,do Itaú, são alguns exemplos desse tipo de articulação. De fato, para Cicero (2017a), as experiências de plataforma levam a uma desobediência saudável do ecossistema, um exercício da crença que ninguém consegue inovar sendo estritamente obediente. Afinal, em um mercado onde o potencial esbarra em limites de crescimento, o papel de uma organização não pode mais ser definido em uma perspectiva isolada (a mentalidade do tipo “empresa produz, cliente consome”). Estratégia geral, visão e roadmap de projetos devem ser adaptativos e desenvolvidos em 49 conjunto com o ecossistema do qual se participa, em interações permanentes. Assim, para redefinir seu papel na complexa realidade de hoje em dia, as organizações devem deixar de se agarrar a ideias pré-concebidas e passar a verdadeiramente fornecer “soluções”, pensando mais sobre como podem levantar as questões certas, criar os convites certos para interagir e explorar o novo (por sinal, um paradigma de pura cocriação). Embora qualquer organização que esteja concebendo uma estratégia de plataforma deva ter como objetivo, em primeiro lugar, projetar experiências de plataforma harmonizadas e integradas, a longo prazo, as estratégias de plataforma acabarão por exigir que se deixem em aberto possibilidades de coevolução, remixagem e reinterpretação. As experiências integradas são a essência de uma estratégia de plataforma, na forma de uma combinação entre interações peer-to-peer e serviços e recursos de suporte. Essa abordagem tende a ser crucial no momento em que a estratégia é criada, principalmente quando se tenta alcançar o crescimento, gerando efeitos de rede (network effects). Essas experiências precisam ser replicáveis, escaláveis e simples. Os efeitos de rede são os orquestradores da rede: implicam em empresas que criam uma rede de relacionamento na qual os participantes interagem e compartilham o processo de criação de valor. Assim, tais participantes podem vender produtos e serviços, criar negócios, construir relacionamentos, comparar avaliações, opinar, colaborar, cocriar, dentre outras possibilidades. De todo modo, Cicero (2017a) é contundente em afirmar que, no longo prazo, uma estratégia de plataforma para um desenvolvimento verdadeiramente consistente do ecossistema vai precisar evoluir. Nesses termos, permitir que os ecossistemas expressem a desobediência — entendida como direito de divergir e recombinar elementos — é necessário para evoluir para algo novo, com maior valor, a fim de apontar um novo rumo nessa realidade em constante mudança. Não resta outra saída senão monitorar essas interações em constante mutação e listar cuidadosamente as novas maneiras pelas quais o ecossistema usa espontaneamente os elementos fornecidos para criar novo valor. É desse modo que uma organização aprende a apoiar e se adaptar às necessidades do ecossistema em evolução no qual participa. Assim, quanto mais se entende o potencial do ecossistema, mais as experiências de plataforma integrada oferecidas ajudam o participante a escalar a cadeia de valor. Especialmente para negócios digitais, quanto mais elementos remixáveis forem oferecidos (API, microsserviços etc.), mais o ecossistema poderá criar “experiências desobedientes” no topo da cadeia de valor, nas quais, no seu devido tempo, as empresas poderão integrar à experiência da plataforma principal. É bastante plausível esperar que o futuro dos negócios e das organizações passe pela abordagem de plataformas. Para destacar o impacto impressionante que a 50 adoção de modos de produção abertos e sem fronteiras pode ter nas organizações, os mais entusiastas visionários chegam a afirmar que, até 2030, a maior parte do trabalho nas organizações será realizada por equipes autogerenciadas que sabem combinar recursos internos e externos, para fornecer as habilidades certas conforme necessário (on demand), em um ambiente onde os funcionários não terão chefes permanentes, e o coaching e o feedback tendem a se dar em tempo real e de forma contínua. Esse cenário sugere que as altas habilidades serão essenciais para uma ampla gama de perfis profissionais, mas também significa que a inovação organizacional é tão crucial quanto a inovação tecnológica ou qualquer avançado aparato digital em um contexto de ecossistema de inovação. Como analisar a profundidade das oportunidades e os desafios para as organizações que querem e precisam abraçar essa nova forma de pensar? Ora, os tradicionais limites de mercado estão claramente se rompendo, o que conduz a um ambiente radicalmente diferente para gerenciar no dia a dia das empresas. Assim, sem surpresa, eclode um novo tipo de organização para um novo contexto da realidade dos negócios. Não parece difícil entender como os modelos organizacionais atuais não estão mais à altura do desafio, afinal, como alcançar todo o potencial das plataformas com organizações limitadas pela mentalidade industrial e burocrática? Isso, simplesmente, não é possível. É preciso reconhecer o fenômeno da plataforma em um ecossistema de inovação como expressão da inovação colaborativa: plataformas abertas e soluções de workflow personalizadas são as respostas para o novo paradigma sociotécnico. Concorda-se com Cícero (2017b) que as estratégias de plataforma conduzem à inovação nos negócios. Apesar do fato de que os desafios organizacionais, geralmente, são abundantes, e que a inovação da estratégia de negócios é um desafio indiscutivelmente difícil, as estratégias de plataforma costumam dispor da vantagem de serem leves em ativos, mostrando o potencial de rapidamente saturar nichos e monopolizar mercados. Essas características as tornam ferramentas poderosas para explorar e criar novos núcleos de negócios sustentáveis. Estudando como as empresas embarcam nessa forma de conduzir os negócios, Cicero (2017b) aponta dois principais contextos possíveis para isso: escalada na cadeia de valor e “tiro mirando a Lua” (moonshooting). No caso de escalar uma cadeia de valor, uma empresa, essencialmente, transforma seus próprios produtos e serviços em um componente e os otimiza para aqueles que constroem serviços de maior valor em cima deles. Isso tem o poder de transformar o relacionamento com outras organizações, tornando os concorrentes fornecedores ou, melhor, parceiros no modelo de design de plataforma. 51 Por sua vez, no que tange ao moonshooting, as organizações ficam atentas ao contexto de negócios em que julguem que seria possível construir algo em alto nível de cadeia de valor até então mal atendida ou mal servida. Isso pode ocorrer em contextos mais próximos ou afastados do core business atual (como quando bancos digitais passam a oferecer serviço de e-commerce como se fossem lojas de departamento). Para que a empreitada possa ser bem-sucedida, é preciso que as empresas dirijam seu olhar não apenas para seus próprios ativos (que, não obstante, irão revelar uma carga psicológica e de design inibidoras de inovação), mas, principalmente, para os ativos e as capacidades que estão disponíveis no ecossistema da cadeia de valor-alvo. Uma vez que uma empresa identifique um novo contexto de inovação que pareça valer a pena explorar, a mentalidade de plataforma se torna uma ferramenta das mais poderosas. Até porque o design da plataforma permite às empresas prototipar novas estratégias menos onerosas. A razão é que é possível evitar investimentos intensivos em capital (como máquinas, equipamentos e instalações industriais) e, em vez disso, alavancar ativos e competências distribuídas no ecossistema. Isso implica uma capacidade muito mais rápida de atingir o mercado: os efeitos de rede podem crescer rápida e exponencialmente, uma vez que uma série de determinadas condições sejam atendidas. Por fim, o modelo de inovação pautado em plataforma tende a descentralizar os ecossistemas clássicos de inovação geográfica, semeando uma série de novos “pontos de inovação” ao redor do globo. É o que explica Saxenian (2007),comparando esse movimento com os antigos gregos que navegaram com Jasão em busca do Velocino de Ouro: os “novos Argonautas”, aqueles empreendedores nascidos no exterior, tecnicamente preparados, que viajam entre o Vale do Silício e seus países de origem, buscam sua fortuna em terras distantes e acabam lançando empreendimentos longe dos tradicionais centros de mão de obra qualificada e tecnologia. Suas trajetórias empreendedoras proporcionam profundas transformações na economia global. Isso envolve um paradoxo interessante: o antigo fenômeno de “fuga de cérebros” tende a se tornar “circulação de cérebros” nos atuais ecossistemas de inovação, o que representa uma poderosa força econômica para o desenvolvimento de regiões anteriormente periféricas. Assim, os “novos Argonautas”, empreendedores de alto impacto, munidos de experiência e relacionamentos obtidos no Vale do Silício e similares, com invejável capacidade de operar em, pelo menos, dois países simultaneamente, são capazes de identificar rapidamente oportunidades de mercado, encontrar os melhores parceiros estrangeiros e gerenciar operações comerciais transfronteiriças. 52 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: · As abordagens de inovação aberta e inovação fechada se distinguem, ainda que isso não signifique, necessariamente, que só o modelo aberto é a melhor alternativa sob todas as circunstâncias. · Os participantes de um ecossistema de inovação (arranjo que tão bem caracteriza as atividades de inovação aberta) apresentam papéis distintos para permitir a forte interação nesse meio. · Diversas iniciativas de hackathons apresentam potencial para alavancar os resultados de inovação aberta em uma organização empresarial, por meio de “maratonas hacker” que recorrem às competências em codificação e linguagens de programação para criar soluções digitais de alto valor agregado. · Diversidade é, sim, um elemento muito importante para a inovação nas organizações empresariais, principalmente quando ela proporciona ideação divergente, execução convergente e capacidade de modulação das equipes envolvidas. · A organização de negócios como plataformas (que é a ideia subjacente ao conceito de platform business) pode resultar no fato de que produtos e serviços de uma organização sirvam de recursos para que outras empresas consigam inovar. Consequentemente, eleva-se, de forma substancial, o protagonismo da empresa- plataforma no ecossistema de inovação do qual ela seja partícipe. 53 AUTOATIVIDADE 1 O crescimento dos negócios, a partir dos chamados “efeitos de rede” (network effects), demanda experiências replicáveis, escaláveis e simples. Isso incorre em empreendimentos que criam uma rede de relacionamento na qual os seus participantes passam a interagir e compartilhar o processo de criação de valor. Sobre a descrição corresponde a esse conceito em inovação aberta, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Platform business. b) ( ) Indústria 4.0. c) ( ) White paper. d) ( ) Big Data. 2 Hoje em dia, as empresas procuram formas para praticar a inovação aberta, a fim de acelerar seus resultados em inovação. Aliás, dentre as tantas possibilidades de exercer inovação aberta, uma das mais produtivas, além de altamente empolgante, é a promoção dos eventos conhecidos como hackathons. Com base no direcionamento que se dá aos hackatons, analise as sentenças a seguir: I- A duração típica de um evento de hackathon vai de semanas a meses. II- Hackathons são eventos clandestinos frequentados por hackers. III- Hackathons são meios de direcionar a criatividade para atender a demandas concretas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 54 3 O mundo corporativo costuma se notabilizar por suas “buzzwords”, palavras que caem um tanto quanto automaticamente no discurso organizacional, às vezes se tornando chavões, às vezes conduzindo a algum significado mais substancial. Nesse sentido, convém observar que a palavra “ecossistema”, que se emprega na expressão “ecossistema de inovação”, remete a uma clara analogia ao mundo natural (biológico). De acordo com os conceitos que se assumem em ecossistemas de inovação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O “topo da cadeia alimentar” remete ao caráter de poder de competitividade. ( ) A ameaça que uma empresa enfrenta vem mais do concorrente maior do que do mais rápido. ( ) Embora não “tome posse” de um ecossistema de inovação, a empresa pode influenciá-lo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 Um ecossistema de negócios, via de regra, reúne participantes dos mais variados portes e graus de influência, o que acaba levando, naturalmente, ao estabelecimento de relações de dependência assimétricas. De toda forma, explique qual é a vantagem de uma pequena organização atuar em um ecossistema de negócios liderado por uma grande corporação. 5 Há empresas que trabalham com produtos e serviços realmente interessantes, enquanto outras organizações empresariais dependem, de algum modo, desses produtos e serviços para que consigam inovar. Nesse sentido, qual é o motivo do moonshooting em platform business ser atraente do ponto de vista financeiro? 55 TÓPICOS ESPECIAIS EM GESTÃO DA INOVAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Em função das responsabilidades que lhe são atribuídas, é inevitável que um gestor da inovação precise ter uma visão de mundo bem mais ampla do que a média dos demais profissionais, usualmente circunscritos a seus afazeres rotineiros para fazer com que produtos, serviços e negócios convencionais se mantenham. De fato, um inovador não vive em “outro mundo”, mas, pelo contrário, está imerso na mesma realidade das outras pessoas. Mesmo assim, algo o distingue: sua capacidade de ver as mesmas coisas que os outros estão vendo, porém com “outros olhos”, o que significa que conseguem fazer leituras de oportunidades e riscos de uma maneira peculiar. Este tópico, então, é dedicado a temas especialmente selecionados para oferecer um maior tino inovador para gestores da inovação, tanto os já experientes quanto aqueles em processo de formação. Assim, o presente material visa apresentar a perspectiva da inovação frugal como possibilidade de empreendimento de impacto, discutir o panorama da educação para a inovação, debater as políticas adotadas pelas áreas de Project Management Office (PMO) frente aos projetos inovadores, ponderar sobre a opção por uma área organizacional dedicada à inovação e contemplar as tendências do desenvolvimento da IA frente à gestão da inovação. Vamos lá? 2 INOVAÇÃO FRUGAL Quem se pauta pela ideia do “menos é mais” ou, então, segue o aforismo que costuma ser creditado a Leonardo da Vinci de que “a simplicidade é o mais alto grau de sofisticação”, não chega à definição cabal de inovação frugal, mas já se aproxima bastante dela. Enquanto grande parte dos inovadores almeja lançamentos luxuosos, rebuscados, premium e afins, muitos conseguem inovar indo justamente para o lado diametralmente oposto. A mentalidade frugal de projetar produtos e serviços surgiu em mercados emergentes, notadamente na Índia e na China, o que pode ser explicado pelas adversidades e necessidades extremas das condições experimentadas por esses mercados. UNIDADE 1 TÓPICO 4 - 56 Discutir o elemento da frugalidade nos negócios é algo que se faz presente há um bom tempo. A novidade é que a expressão “inovação frugal” é muito mais recente, sendo objeto de pesquisa científica consistente apenas a partir dos anos 2000, como bem explicam Koerich e Cancellier (2019). O contexto a considerar é que o frugal diz respeito à economia na utilização de recursos, sendo essencialmente caracterizado pela simplicidadee clareza. Essa concepção engloba organizações que estão cada vez mais conscientes da necessidade de inovar com recursos limitados, garantindo o atendimento às demandas dos consumidores de baixa renda, que se localizam na base da pirâmide de consumo. Por isso, o frugal é, frequentemente, considerado um tipo de abordagem ou mentalidade, e não uma tipologia específica de inovação, a despeito de sua costumeira associação com modelos de negócios bem definidos. Não é novo o entendimento de que a inovação é realizada de forma diferente na realidade dos países emergentes, em contraste aos países desenvolvidos. Por sinal — e com clara influência da Índia —, a inovação frugal também pode ser associada à inovação jugaad, termo em hindu que se traduz como improvisação criativa, exigindo adaptação rápida e inteligente a circunstâncias incertas. É a qualidade de “inteligente” que precisa ser lembrada para afastar qualquer possibilidade de confusão com a famigerada “gambiarra”, tão culturalmente incorporada no Brasil. De fato, é importante blindar o conceito de inovação frugal de qualquer interpretação depreciativa. Afinal, trata-se de um legítimo processo de engenharia frugal (cuja inovação é o resultado), o que denota a capacidade de absorção, adaptação e construção a partir de tecnologias oriundas do exterior, em vez da produção de tecnologias completamente inéditas, almejando, com isso, baixar o custo total, acelerar o desenvolvimento de novos produtos e serviços e, em última análise, entregar valor. A engenharia frugal pode ser interpretada como a inovação que se ampara em restrições, que se volta, consequentemente, à conscientização e abordagem cognitiva para poder desenvolver produtos, serviços e negócios em mordazes condições de constrição. Segundo Boeira (2020), isso requer a aplicação de princípios básicos que possibilitam o alcance da inovação frugal: · atendimento à necessidade sem desperdício; · desenvolvimento simples, rápido e fácil; · geração de poder de compra; · gestão de recursos a baixo custo. Para Christensen et al. (2006), uma definição similar que se aplica às inovações com recursos limitados é a inovação catalítica. A ideia é que empreendedores sociais comprometidos com esse tipo de propósito de inovação desejem expandir a riqueza social de clientes de baixo poder aquisitivo, criando soluções escaláveis, sustentáveis 57 e com mudança de sistema. Isso está longe de ser um cenário exclusivo de países mais pobres, afinal, mesmo nos países desenvolvidos, o fornecimento sustentável de serviços básicos a todos os cidadãos se mostra cada vez mais desafiador, posicionando a escassez na agenda empresarial, direcionando executivos a encontrar maneiras frugais de crescer com menos. Com efeito, as empresas recorrem à frugalidade em tempos de receitas diminutas e lucros magérrimos oriundos da alta competitividade. São características típicas dos inovadores catalíticos: · capacidade de viabilizar mudanças sociais de forma sistemática, empregando economias de escala e replicação; · disposição para atender a necessidades mal supridas ou superestimadas, seja porque a solução existente é mais complexa do que os consumidores exigem, seja porque o mercado simplesmente não disponibiliza solução alguma; · aptidão para disponibilizar soluções de baixo custo com desempenho reduzido frente a um referencial de mercado (como uma marca líder), mas plenamente suficiente para a satisfação do cliente; · competência para explorar recursos alternativos subjugados pela concorrência (mão de obra voluntária, doações e capital intelectual, dentre outros); · perfil “underground”, o que significa que são frequentemente subestimados ou ignorados pelos competidores atuais. Bhatti (2018) adverte que não se deve confundir frugal com “barato”. Como existem produtos e serviços convencionais de baixo custo e baixo desempenho de um lado e de alto custo e alto desempenho de outro, o frugal se distingue precisamente por oferecer baixo custo com alto desempenho. A inovação frugal possibilita refletir acerca da natureza da inovação, em termos da capacidade de fazer mais com menos e, assim, criar valor comercial e social, minimizando o uso de recursos como energia, capital e tempo. Há até quem a entenda como uma filosofia alternativa de gestão, que incorpora necessidades específicas dos mercados da base da pirâmide social como seu ponto de partida, trabalhando no sentido reverso para desenvolver soluções adequadas que podem ser expressivamente diferentes das soluções “padrões” existentes, o que vale tanto para mercados B2C (business-to-consumer) quanto para o B2B (business-to-business). O fato é que tal conceito pode orientar negócios direcionados a clientes em qualquer segmento da pirâmide econômica, independentemente de eles serem muito sensíveis ao preço ou, simplesmente, terem um estilo de vida mais minimalista. Abrir a mente para possibilidades talvez menos óbvias de inovação é, por sinal, uma função que se pode esperar de um processo adequado de educação para a inovação. Mas, afinal, como e quando educar para a inovação? 58 3 COMO (E QUANDO) EDUCAR PARA A INOVAÇÃO? Certamente, a inovação não pode ser um alvo isolado no processo de formação educacional dos profissionais da atualidade, relegada, por exemplo, a uma possível pós- graduação dedicada ao tema ou, talvez, a uma única disciplina isolada em meio a uma grade curricular de cursos de qualquer área de formação. As razões são elementares: empresas de todos os ramos e portes são pressionadas a inovar e, para isso, dependem das pessoas em sua força de trabalho para fazê-lo — e não raramente, os programas corporativos de gestão da inovação promovem treinamentos que se concentram no “bê-á-bá” sobre inovação, muitas vezes não avançando muito além da “sensibilização” para esse tema, com carga de motivação (aquilo de “mexer nos brios” da equipe), porém sem tanta oportunidade (por evidente limitação) para técnicas e ferramentas a serem empregadas. Afinal, o cenário que usualmente se encontra é o de profissionais de todas as áreas e níveis hierárquicos se aproximando pela primeira vez do tema. Mesmo os mais experimentados profissionais no mercado costumam ser referência apenas naquilo que é o convencional nos negócios: ante a demanda por inovar, podem se mostrar tão desorientados quanto qualquer novato na equipe. Por isso, várias empresas interpretam que, quando conseguem criar uma “cultura para a inovação”, os programas de treinamento envolvidos já cumpriram suficientemente bem sua missão. Mas não confunda os fins com os meios: por melhor que seja o “clima organizacional” para a inovação, ali, naquela empresa, de fato, inova-se? O quadro parece ser suficiente para que se conclua que muito mais adequado seria se esses profissionais já chegassem um tanto quanto “prontos” (em maior ou menor grau) na empresa para poder assumir projetos inovadores. Claro que isso jamais eximiria a organização de manter seu programa de capacitação e treinamento de pessoal (inclusive no que diz respeito a aspectos de qualificar para inovação), porém já poderiam conceber programas corporativos de qualificação de pessoal muito mais avançados (focando em estratégias, técnicas e ferramentas, por exemplo), uma vez que os profissionais já chegam minimamente “alfabetizados” em inovação. É diante desse contexto que se discute forma e momento para a educação para a inovação. A analogia com os demais conhecimentos centrais de um profissional (sua qualificação técnica essencial) é, por sinal, bastante pertinente: não é na empresa que um mecânico, um contador, um dentista ou um desenvolvedor de software irá aprender “do zero” o seu ofício. O ciclo natural é que haja uma fase de preparo na escola (aspecto da educação) para, depois, aprimorar ou dirigir esse conhecimento na prática (algo do escopo dos programas de treinamento de pessoal nas empresas), ainda que não seja um processo perfeitamente linear e sequencial,pois dosar no dia a dia trabalho com estudo é parte inevitável da rotina de muitas pessoas. 59 No que diz respeito à inovação como conhecimento de distinção de um profissional, a perspectiva é (ou deveria ser) a mesma. Diante do imperativo de incorporar inovação no processo de formação dos profissionais, fica evidente que as instituições de ensino precisam repensar o conteúdo programático de seus cursos, distribuindo, da forma mais ampla possível, esse conhecimento. De fato, trata-se de exercer a própria essência da capacidade inovadora, combinar criativamente diferentes conhecimentos para compor soluções inéditas para demandas reais identificadas. Uma das críticas mais recorrentes que os programas educacionais convencionais costumam receber é a de que suas disciplinas poderiam “conversar” melhor entre si. Se isso é fato perceptível na formação tradicional, quando se adiciona inovação como competência a ser desenvolvida, a necessidade desse tipo de integração fica muito maior. No debate sobre o “momento ideal” para fomentar nos estudantes a capacidade inovadora, cogita-se: quando? Só na pós-graduação, no mestrado ou no doutorado? Absolutamente, não! Então, na graduação? Arriscar iniciar já no Ensino Médio? Há motivos para acreditar que é pertinente a amplitude total, o que implica, então, começar pela Educação Básica, ou seja, desde o ensino infantil mais elementar. À primeira vista, uma proposta como essa poderia suscitar alguma polêmica: afinal, “roubar” a sagrada infância das crianças em tenra idade, “corrompendo” sua inocência com atribulações adultas? Nada disso! Ninguém em sã consciência vai esperar de uma criança um comportamento mimético de um executivo do mercado. O ponto, aqui, é trabalhar aquele componente da inovação que, quanto mais cedo estimulado, melhores resultados produz a criatividade. Nesse aspecto, todas as abordagens pedagógicas que estimulam as crianças a serem criativas podem contribuir formidavelmente para melhores cenários em inovação. São mentes fecundas e inventivas a serem trabalhadas! Empreendedorismo infantil não é uma criança trabalhando para acumular dinheiro. Empreender, ainda que de brincadeira, é mais uma das formas de estimular a criatividade e iniciativa. Incentivada a experimentar novas situações, a criança aprende a criar soluções e a não ter medo de encarar desafios. Isso é explicado no podcast “Empreendedorismo Infantil”, do canal Arita Treinamentos, disponível no Spotify, no link: https://open. spotify.com/episode/4oVXcQABoxiND34nwrpdWh. Acesso em: 8 set. 2022. INTERESSANTE 60 Aspectos como fantasia e ludicidade são essenciais na infância e devem ser preservados, uma vez que possibilitam que a sociedade tenha pessoas cada vez mais equilibradas e saudáveis. Muito da criatividade infantil é embebido do fantástico e lúdico, e tudo a seu devido tempo, mas, na medida do possível, aquela criatividade orientada a resolver problemas reais (por mais simplórios e simbólicos que sejam, como “o que servir em uma festinha de aniversário?” ou “como acudir os animaizinhos de rua?”) deve ser estimulada. Bessant e Tidd (2019) têm toda razão: inovação e empreendedorismo andam par a par, e no que diz respeito ao debate sobre educação para a inovação, empreender é algo que, nas suas devidas proporções, precisa ser aprendido tão cedo quanto possível, acabando, definitivamente, com o estigma de que, na escola, só se ensina a ser um bom empregado, e nada além disso. Diante disso, fica evidente que até as rotinas de um PMO empresarial ficariam mais facilitadas caso os profissionais já pudessem ser trazidos para as equipes de trabalho minimamente versados em inovação. 4 PMO E INOVAÇÃO É expediente comum que as organizações empresariais, a partir de determinado porte e complexidade de seu modelo de negócios, mantenham estruturas conhecidas como PMO (Project Management Office ou escritório de gerenciamento de projetos). O PMO cumpre uma importante função. Como descreve Valeriano (2015), cada projeto é único em relação a seus propósitos, sequenciamento de tarefas e uso de recursos. Por mais parecidos ou similares que alguns projetos possam ser, em última análise, eles são estritamente distintos em algum quesito. Dada essa diversidade e a necessidade de, apesar das diferenças e peculiaridades, ser preciso manter uma forma organizada e eficiente de conduzi-los, o PMO acaba oferecendo uma grande conveniência, a começar pelo tratamento da documentação dos projetos. Essa área ajuda, também, a difundir as boas práticas inerentes aos projetos na empresa, além de garantir que se empreguem métodos, modelos e ferramentas adequados, zelando pelo cumprimento das diretrizes e políticas de governança. Tipicamente, o PMO capitaneia a definição e o monitoramento de indicadores de desempenho ligados à gestão de projetos. Em alguns casos, pode, até mesmo, assumir a gestão direta de parte dos projetos. Assim, via de regra, o PMO atua como importante assessoria organizacional para o gerente de projeto e sua equipe, consolidando e armazenando todo o histórico de projetos que já foram realizados antes, com destaque ao aprendizado proporcionado por cada um deles, ou seja, uma função de “memória organizacional”. 61 Com todo um registro do que costuma funcionar e do que costuma não funcionar, o PMO induz que boas práticas sejam repetidas em novos projetos, com vista a entregas bem-sucedidas e otimização de recursos. Contudo, parece ser a partir daí que as funções do PMO acabam se mostrando uma “faca de dois gumes” no que diz respeito aos projetos mais inovadores. Em algumas organizações, costuma haver um forte questionamento a respeito do PMO frente à gestão da inovação: será que a estrutura mais ajuda ou mais atrapalha? Embora todo projeto, de modo geral, implique, necessariamente, em assumir riscos, é fato que projetos mais inovadores carregam níveis muito mais elevados de risco, dadas as grandes incertezas de toda ordem que costuma se impor. Algumas áreas corporativas são, por natureza, avessas ao risco, a exemplo dos profissionais da área jurídica, cuja missão essencial é justamente evitar e mitigar o risco nos negócios. Ocorre, então, que o fator risco acaba sendo decisivo para o comportamento do PMO nas organizações, frente a projetos inovadores. Uma mentalidade do tipo “arrisquem, mas não tanto assim” pode minar a capacidade de inovações mais radicais na empresa, restringindo a organização a voos mais seguros em torno de inovações incrementais. Essa é, precisamente, a razão pela qual equipes de inovação e PMO corporativo não tenham os laços mais amigáveis dentro da empresa: em toda organização, os recursos (costumeiramente escassos) são disputados entre várias frentes concorrentes: · de um lado, um portfólio de projetos de viés mais conservador; · de outro, o portfólio mais radical de projetos inovadores. O PMO acaba tendo papel decisivo, junto aos executivos, no sentido de recomendar a autorização de alguns projetos em detrimento de outros. Frequentemente, o “choque” entre dois projetos disputando recursos não chega nem a se tornar um dilema: entre decidir aumentar as receitas em curto prazo, de forma mais segura, com um projeto voltado aos produtos e serviços convencionais, ou “apostar” em uma possível (porém incerta) nova fonte de receita, em longo prazo, com novos produtos, serviços e negócios, há uma tendência praticamente irremediável de se ater ao líquido e certo. Em última instância, diversos profissionais zelam pela própria manutenção de seus empregos, que é mais provável em caso de “estabilidade” dos negócios da empresa, a despeito da potencial miopia de se ignorar que, em médio ou longo prazo, é a falta de inovação que pode levar a empresa à sua derradeira derrocada no mercado. A procura por maneiras de melhor harmonizar o PMO e a gestão da inovação é desafio de diversas organizações atualmente. Não existem soluções universais para isso, evidentemente: como cada empresaé única no que diz respeito ao mercado em que atua, modelo de negócios, apetite ao risco e diversos outros fatores, o que funciona em uma pode não funcionar em outra. De todo modo, há quem defenda medidas como 62 revisão de políticas de PMO frente a projetos inovadores, métricas diferenciadas e a criação de um “PMO da inovação”, uma espécie de “PMO paralelo” dentro da empresa, exclusivamente destinado ao tratamento dos projetos inovadores. A convivência entre uma área de PMO e uma área de inovação corporativa não é exatamente a mais fluida por inúmeras razões analisadas. Isso conduz a ponderar sobre o que um “departamento da inovação” deveria fazer em uma empresa. 5 REFLEXÕES SOBRE O “DEPARTAMENTO DA INOVAÇÃO” Se é para a empresa inovar, faz sentido, então, estruturar um “departamento da inovação” na organização? Em linhas gerais, sim, embora seja pertinente ponderar algumas importantes considerações a respeito de uma área dedicada ao tema e ao que se esperar dela. Tradicionalmente, quando novas disciplinas organizacionais eclodem na realidade dos negócios, uma concentração no organograma de profissionais dedicados a essa “novidade” costuma produzir bons frutos. Foi assim, por exemplo, com as funções de qualidade, meio ambiente, saúde ocupacional, segurança do trabalho e, até mesmo, responsabilidade social. O que se pode facilmente observar é que, ao longo dos anos, tão logo os correspondentes processos começaram a se mostrar decisivos para a viabilidade dos negócios, as respectivas áreas começaram a ser delineadas nas empresas. É assim até hoje, e a tendência parece ser a de continuar desse jeito. É claro que essas “estruturas dedicadas” são proporcionais a cada ambiente organizacional: pode ser de profissionais com suas atribuições normais (comercial, produção, financeiro etc.) “acumulando funções” para comportar essas responsabilidades adicionais (típico caso de organizações mais enxutas e simples) ou verdadeiros “braços” no organograma, com profissionais altamente especializados, cujas demandas tratadas são integral e exclusivamente para tais funções, inclusive com extensão ao nível executivo (com coordenadores, gerentes, diretores e até vice-presidências dedicadas a essas áreas). Portanto, foi inevitável que o mesmo se desse com a inovação: algumas empresas apostam que a edificação dessa área pode ajudar substancialmente em termos de resultados proporcionados. Hoje, não é nada incomum encontrar, dentre grandes conglomerados empresariais, empresas multinacionais e líderes de mercado, instâncias como uma vice-presidência de inovação e novos negócios, o que demonstra a importância estratégica que isso tem para a empresa. Uma área dedicada à inovação não significa que é nesse departamento que ocorrem as inovações na empresa — e todo o restante do negócio convencional, com seus tradicionais produtos e serviços, fica a cargo dos demais setores da organização. Isso tem 63 a mais elementar das explicações: nas empresas, qualquer projeto em desenvolvimento, produto ou serviço mantido, requer um intenso fluxo interdepartamental para que o trabalho, de fato, possa ser desenvolvido. Podemos citar nesse contexto as finanças cuidando do fluxo de dinheiro, o RH contratando e desenvolvendo pessoas, a produção tangibilizando efetivamente os produtos e serviços etc. Portanto, um departamento da inovação não teria como ser um “ente” à parte na empresa, pois, para conduzir projetos e gerir produtos e serviços, teria que, igualmente, contar com tal disponibilidade proporcionada pelas demais áreas. Qual é, então, o papel que cumpre uma área de inovação? Ela, primordialmente, faz a curadoria da função inovação junto a toda a estrutura da empresa. É perfeita a analogia a um departamento da qualidade: não é ali que a “qualidade ocorre”, mas é mediante o trabalho dessa estrutura que os processos organizacionais, em geral, podem ser executados com mais qualidade. Não é a área de Saúde Ocupacional, Meio Ambiente e Segurança do Trabalho (SMS) que “remedia” as correspondentes falhas da empresa como um todo, justamente é por se dispor dessa área que os demais departamentos podem apresentar um desempenho melhor em SMS em função do trabalho de sensibilização, orientação, monitoramento e policiamento da correspondente área de suporte. Provavelmente, o que mais fica em evidência nas atividades desempenhadas por uma área de inovação é sua extensão de interface junto a partes externas, afinal, vivem-se dias cada vez mais intensos em termos de arranjos de inovação aberta, o que faz com que a área de inovação seja interlocutora da empresa junto às mais diversas instituições, para os mais diversificados propósitos. Dado o profundo caráter de experimentação que cabe a essa área, inúmeras empresas costumam até nomeá-la como uma divisão “Labs”, “X” ou qualquer denominação que transmita esse caráter de fomentar o novo, o incomum e o futuro. Uma área de inovação e novos negócios pode, inclusive, dispor de um contingente expressivo de profissionais, principalmente no caso de se adotar a prática da “incubação interna” de novos negócios. Nesse caso, os lançamentos recentes, na forma de novos produtos, serviços e negócios, são “protegidos” temporariamente da aplicação das regras de negócio convencional. Para isso, pode-se dispor de equipes integralmente acomodadas dentro da área para gerir esses produtos, serviços e negócios inovadores. É preciso que ganhem “tração” antes de serem liberados no portfólio convencional da empresa, e isso significa que, enquanto ganham maturidade no mercado (aumentando a base de clientes, melhor difundindo a marca etc.), não podem ser prematuramente “queimados”, taxados como inviáveis por executivos mais pautados no curto prazo e nos resultados imediatos. Assim, enquanto perdura esse período de “proteção especial”, técnicos, analistas, vendedores, gerentes de produto e quem mais estiver envolvido, podem ficar exclusivamente alocados na área de inovação, usufruindo das benesses desse reporte 64 organizacional (incluindo a aceleração de novos negócios), o que lhes dá fôlego até que essas inovações se mostrem suficientemente maduras, até para proporcionar spin- offs, que é a situação em que uma nova empresa se torna independente daquela que a acomodava, passando a “andar com as próprias pernas” no mercado. Portanto, o “departamento de inovação” de uma organização age mais na função de curadoria da capacidade de inovação de todas as demais áreas, ocupando-se de uma série de responsabilidades, dentre as quais, podemos mencionar o possibilitar uma transição mais suave do empreendimento para as tecnologias de próxima geração. 6 PERSPECTIVAS EM IA Nos anos porvir, como será que a tecnologia da IA poderá contribuir em termos de tomada de decisão estratégica dos processos de gestão da inovação? Ao que tudo indica, da forma mais ampla, geral e irrestrita que se possa conceber. A quem se aproxima pela primeira vez da temática dessa tecnologia em específico, convém esclarecer o que se concebe por IA: em uma visão deliberadamente abrangente, representa o uso de várias tecnologias que permitem aos computadores sentir, compreender, agir e aprender, incluindo técnicas como aprendizado de máquina, processamento de linguagem natural, representação de conhecimento e inteligência computacional. Na gestão da inovação, no marketing ou em qualquer outro processo organizacional, é inequívoco que a fronteira entre humanos e computadores, na tomada de decisões, está mudando a olhos vistos. Hoje, mesmo que de modo incipiente, a ainda embrionária IA que se tem à disposição é cada vez mais difundida, por exemplo, no que se refere à identificação de riscos, ao gerenciamento de respostas de contact center, à análise e ao direcionamento de clientes, ao design e à seleção de texto publicitário para corresponder aos clientes-alvo e preços para maximizar a receita junto a clientes individuais. Assim, é um tanto quanto naturalesperar que, a seu devido tempo, a IA mais avançada passe a ser empregada na tomada de decisões estratégicas, como por exemplo, quais modelos de negócios utilizar, quais estratégias seguir, quais mercados atingir, quais produtos comercializar, quais canais de comunicação e distribuição desenvolver, quais preços e preços competitivos, quais estratégias de posicionamento seguir etc. Não se trata (ao menos em curto prazo) de especular a substituição da tomada de decisão humana nas decisões estratégicas, mas na concentração de esforços quanto à criação de um mecanismo de tomada de decisão de maior qualidade, valendo- se, para isso, da IA, que representa maior velocidade, produtividade e assertividade aos gestores de uma empresa. Sim, essa fronteira entre humanos e computadores no campo da gestão está progressivamente mudando da esfera operacional para a estratégica! 65 Reconhece-se que, hoje, a IA é vista, principalmente, como um suporte para as principais decisões de negócios, em vez de um tomador de decisão propriamente dito, mas isso se explica pelo fato de que a IA, como atualmente constituída, é relativamente rudimentar em comparação com a expectativa do que será essa tecnologia no futuro. Assim, conforme a capacidade computacional e a velocidade aumentam, bem como os conjuntos de dados disponíveis para apoiar as decisões igualmente se elevam, a fronteira de substitutibilidade da IA para a tomada de decisão humana fatalmente é reposicionada. Diante dessa perspectiva, como sugere Shrestha et al. (2019), diversas possibilidades se tornam plausíveis, dentre as alternativas de delegação total de humano para IA (por exemplo, sistemas de recomendação, publicidade digital, detecção de fraudes on-line e precificação dinâmica), um modelo híbrido com IA para tomada de decisão sequencial humana (por exemplo, avaliação de ideias e contratação) ou, ainda, com tomada de decisão sequencial humana para IA (por exemplo, análises esportivas e monitoramento de saúde), além da integração de tomada de decisão humana com IA (por exemplo, no que tange a executivos da alta gestão e conselhos administrativos). De fato, é esta última alternativa que mais instiga a apropriação dessa tecnologia em termos de gestão da inovação. Há, sem dúvida, um elemento de hype nas discussões sobre IA, particularmente nos negócios, em que a fronteira entre análises avançadas e IA é definitivamente imprecisa. Ocorre que a análise vem evoluindo para lidar com problemas que são relativamente não estruturados e, assim, apresentar sugestões de uma forma que, antes, seria considerada especializada e, até mesmo, definida como IA. Por certo, a “IA do passado” é, hoje, mero algoritmo sofisticado diante dos padrões atuais. Uma característica essencial da IA que a distingue da “análise avançada” clássica é a automação de loops de feedback e melhoria, ou seja, aprender pelo sistema (aprendizado de máquina ou machine learning) sobre como fazer melhor as coisas. Isso, por sua vez, implica que as conclusões vão sendo testadas e avaliadas contra determinados critérios, em vez de serem revisadas por humanos com responsabilidade pelas decisões sobre o que fazer a seguir. De fato, onde a ação sendo “gerenciada” pela IA é precisa e contida, implementada rapidamente e com os resultados sendo mensuráveis e avaliáveis rapidamente, a IA, no geral, tem se mostrado muito produtiva. No entanto, onde as decisões são mais abrangentes, leva tempo para implementar e o tempo decorre antes que os resultados das decisões fiquem evidentes, quanto mais mensuráveis e avaliáveis, a implantação de IA pode ser mais complicada. Pode ser tomado um viés híbrido, com parte do ciclo sendo realizada pela IA, parte por tomadores de decisão humanos. 66 Uma das principais vantagens da implantação da IA na concepção da estratégia de negócios é a extensão em que ela pode ser usada para remover o viés cognitivo, que resulta da tomada de decisão individual e em grupo. Afinal, é incontestável a existência de preconceitos individuais e sociais na tomada de decisões, embora alguém de carne e osso, conduzindo negócios, possa transparecer alívio por um empreendimento “humanizado”; é preciso lembrar que essa “sensibilidade” é algo que serve tanto para o bem (prestar um serviço com cordialidade) quanto para o mal (discriminar injustamente pessoas por razões até inconscientes). É plenamente possível estimar benefícios e exemplos da IA nas tomadas de decisões empresariais. No entendimento de Stone et al. (2020), a natural expectativa é que, dentre os ganhos da aplicação de IA para a tomada de decisões nos negócios, figurem uma maior velocidade dessa tomada de decisão — especialmente em resposta à disponibilidade de novos dados ou ao surgimento de ameaças competitivas, permitindo que as empresas capturem os benefícios de posições de mercado mais fortes mais cedo —, uma identificação de dados faltantes, um aumento da racionalidade (principalmente por meio da remoção ou redução do viés cognitivo por parte dos tomadores de decisão), uma criação de uma base comum para a tomada de decisões, uma incorporação do aprendizado com a experiência e, de uma forma geral, maior qualidade na gestão de projetos como um todo. Stone et al. (2020) defendem que os usuários de IA, no âmbito corporativo, estão todos enquadrados em três grupos. O primeiro é daqueles que se encontram no estágio de prova de conceito (cerca de 80% a 85% das empresas), com uma baixa taxa de sucesso de escalonamento e um baixo retorno sobre seus investimentos em IA. Seus esforços, geralmente, estão isolados dentro de um departamento ou uma equipe, muitas vezes liderados por TI, sem conexão com um imperativo de negócios e com dificuldade de escalar. Depois, há os engajados no escalonamento estratégico (algo em torno de 15% a 20% das empresas). Eles já foram além da prova de conceito, com uma maior taxa de sucesso para IA, com uma estratégia de IA clara e um modelo operacional vinculado aos objetivos de negócio da empresa, com uma mentalidade experimental, com seus esforços apoiados por uma equipe multidimensional maior, patrocinada por executivos como Chief AI, Data ou Analytics Officer, mas com a IA dimensionada e, geralmente, aplicada a aplicações individuais, como personalização, automação inteligente e relatórios preditivos. Finalmente, aqueles (no máximo 5%) que industrializaram seu uso de IA já criaram uma cultura desta, uma visão empresarial clara baseada em estratégia e vantagem competitiva que resiste a aplicações isoladas, com forte responsabilidade, métricas e governança, com milhares de modelos para usar dentro de uma estrutura de IA, usando-o para promover a inovação de produtos e serviços, a partir da análise “what if?” (“e se?”), que permite aquisição, serviço e satisfação aprimorados e reutilização de ativos digitais. 67 Esse último grupo reconhece a importância dos dados críticos para os negócios, identificando dados financeiros, de marketing, de consumo e estratégicos como uma prioridade, investindo na estruturação e no gerenciamento de dados, na qualidade de dados, no gerenciamento de dados e nas estruturas de governança de dados na nuvem, com modelos operacionais claros para geração versus consumo de dados. Isso integrando conjuntos de dados internos e externos como uma prática padrão e entendendo a importância de usar conjuntos de dados mais diversos para apoiar as mais diversificadas iniciativas. Enfim, quem se qualifica como gestor de inovação e se emaranha nas mais diversificadas possibilidades de aproveitar IA nos negócios parece ter um futuro bastante promissor nas organizações do século XXI, ao longo desses próximos anos, qualquer que seja seu setor de atuação e mesmo independente de porte organizacional. 68 INTRODUÇÃO A NOVAS TECNOLOGIAS Rodrigo Sartori Ciência, tecnologia e inovação são três termos muito próximos, embora de significados fundamentalmente distintos. Convém um rápido embasamento conceitual,pois isso proporciona um efeito prático bastante apreciável: expande a visão das coisas. Quem tem a definição desses conceitos de forma muito clara acaba por melhor transitar em meio aos processos tecnológicos, entende melhor, interage melhor, produz melhor. E isso é válido tanto para o perfil acadêmico quanto industrial. Entende-se por ciência o conhecimento, tão puro quanto possa ser concebido. É o saber teórico fundamental, ainda despreocupado com aplicações práticas ou uso imediato. Aqui residem as fórmulas, teoremas e teorias. Na ciência, estão estabelecidas as relações de causa e efeito, procurando, essencialmente, explicar os mecanismos atuantes sobre o mundo. Portanto, ciência é conhecimento, mas não exatamente qualquer tipo de conhecimento: se é científico, é porque se trata de conhecimento formal. Essa formalização, um verdadeiro rigor que se aplica para garantir a veracidade do saber, é o que diferencia, enfim, aquilo que se sabe daquilo que se acredita – por mais convicção que se tenha nessa crença. Portanto, a fé e a ciência, que de forma alguma precisam ser elementos antagônicos, distinguem-se precisamente neste aspecto: a ciência não é para acreditar. É para conhecer. O rigor em questão diz respeito à forma como o conhecimento é produzido, para que possa ser atestado como científico. Não é por qualquer meio que se propõe que determinado efeito advém de uma tal causa, mas apenas por aquilo que se denomina como método científico de produzir conhecimento. Na ciência, não se aceita o “ouvi dizer” ou “li em algum lugar”: é preciso provar. Pesquisadores (logo, cientistas, por definição) devem compreender como determinado conhecimento foi produzido, conhecer as etapas que foram percorridas, sendo que eles mesmos podem seguir esses passos, para confirmar – ou refutar – aquelas conclusões. Portanto, há embasamento quando se produz ciência, e é por isso que ela é o conhecimento verdadeiro devidamente justificado. Tecnologia também é conhecimento, contudo, diferente de ciência, trata-se de conhecimento aplicado. A aplicação é o uso daquele conhecimento para resolver algum problema do mundo real. O mundo carece de soluções para um sem-número de questões. Uma vez que se saiba que tal conhecimento serve para a consecução LEITURA COMPLEMENTAR 69 de determinado objetivo, e, conhecendo, ainda, como aplicar da melhor forma possível tal conhecimento na prática, é dito que se domina uma tecnologia. Usualmente, no mundo das organizações empresariais, a tecnologia é direcionada à produção: como fazer para que determinada empresa consiga fabricar aquele produto, ou prestar um serviço em específico? Como se organizar? Quais técnicas aplicar? Como selecionar e empregar um conjunto de conhecimentos que servem para fazer uma empresa cumprir sua função? É importante frisar que o conceito de tecnologia é muito mais amplo do que normalmente se consegue supor. Um exercício simples que comprova a limitação que costuma imperar a respeito desse entendimento é utilizar uma dessas ferramentas de buscas on-line de imagens, como , por exemplo, o Google Imagens. Ao se digitar o termo tecnologia ou technology no buscador, as respostas, invariavelmente, são imagens que remetem à informática, à internet, à microeletrônica, redes sociais digitais e afins. Isso também é tecnologia, mas tecnologia ela não se limita a esse aspecto. Do ponto de vista de conceito, é como se tratasse da ponta do iceberg. Dominar conhecimentos úteis para resolver um problema prático pode envolver, conceber e produzir um poderoso computador de última geração – mas também é tecnologia o que se emprega para produzir um bolo de fubá. Levar o homem a explorar a Lua envolve um alto grau de sofisticação tecnológica – contudo, fazer um suco de laranja também envolve determinado domínio da técnica, que é pensado e sistematizado pela tecnologia. Os saberes orientados à prática são, por certo, das mais variadas naturezas e níveis de complexidade. Tecnologia da informação (TI) é uma dimensão de tecnologia dentre tantas outras tecnologias. Ao mesmo tempo, é interessante reconhecer que Gestão (Administração) também é tecnologia: Tecnologia de Gestão – que não pode ser confundida com Gestão de Tecnologia. FONTE: SARTORI, R. Tópicos especiais em TI. Curitiba: Iesde, 2018. p. 10. 70 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu: • A perspectiva da inovação frugal é uma interessantíssima possibilidade para o sucesso de organizações de todos os tipos e portes, além de algo que, especialmente as empresas sediadas no Brasil, deveria estar no radar. · A educação para a inovação é algo a ser trabalhado da forma mais ampla e precoce possível, para que os profissionais possam realmente exercê-la na plenitude junto às organizações em que trabalham. · Uma área corporativa como o PMO pode melhor lidar com demandas de projetos inovadores, não excluindo a possibilidade de se cogitar um PMO específico para inovação, dadas as particularidades que projetos de cunho inovador apresentam e que, por isso mesmo, devem ser avaliados de maneira mais apropriada. · Existem diferentes (mas, de toda forma, convergentes) razões para avaliar a implementação e manutenção de uma área organizacional inteiramente dedicada à inovação em uma empresa, independentemente de seu porte organizacional e ramo de atuação. · As tendências de desenvolvimento da IA (revolucionária tecnologia de próxima geração) prometem redefinir amplamente a gestão da inovação em um futuro talvez de não tão longo prazo (poucas décadas, quem sabe), a partir de vários graus de envolvimento humano no processo. 71 AUTOATIVIDADE 1 Aplicar IA na tomada de decisões nos negócios pode se mostrar uma aposta acertada, afinal, as vantagens potenciais são significativas, dentre as quais, podemos citar a maior velocidade da tomada de decisão, a identificação instantânea de dados faltantes, a criação de base comum para o processo, a incorporação do aprendizado com a experiência e a maior qualidade na gestão de projetos. Sobre outra vantagem que precisa ser considerada, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Aumento da racionalidade. b) ( ) Elevação da subjetividade. c) ( ) Conformidade para certificações. d) ( ) Potencialização da descartabilidade. 2 Inovação frugal é um conceito que, de modo algum, deve ser confundido com produto “barato”, uma vez que importantes características lhe são pertinentes para o devido enquadramento, simultaneamente, como algo inovador e essencialmente frugal. Com base na aplicação de critérios de custo e desempenho, analise as sentenças a seguir: I- Produto premium é, necessariamente, mais acessível que produto barato. II- Produto barato costuma ter melhor desempenho que produto premium. III- Inovação frugal reúne, simultaneamente, baixo custo e alto desempenho. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. b) ( ) Somente a afirmativa II está correta. c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. d) ( ) Somente a afirmativa III está correta. 3 Sendo a inovação uma necessidade estratégica de ordem maior para organizações de todas as espécies (setor público, iniciativa privada e até no Terceiro Setor), há algum tempo, a educação para a inovação é tema de debate prioritário, tanto na agenda das instituições de ensino quanto no âmbito corporativo. A respeito da educação para a inovação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 72 ( ) A educação para a inovação pode começar desde o nível escolar mais básico das pessoas. ( ) O escopo da educação para a inovação é sensibilizar as pessoas para a importância do tema. ( ) Inovação e empreendedorismo são temas passíveis de serem desenvolvidos em conjunto. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 Alguns embates corporativos são um tanto quantoclássicos na perspectiva da administração empresarial, fenômeno que se vê não só em empresas brasileiras, mas em quaisquer outras mundo afora. Por exemplo, a esse respeito, há quem diga que as estruturas de escritório de gestão de projetos (PMO) vivem uma relação de “amor e ódio” com as equipes de inovação. Assim, disserte sobre o potencial benefício de se dispor de um PMO específico para a inovação corporativa. 5 De todas as novidades tecnológicas que estão progressivamente se materializando e difundindo em nível global, provavelmente a mais revolucionária de todas seja o campo da IA. Trata-se de uma tecnologia com enorme potencial de redefinir processos organizacionais em qualquer tipo de empresa. Assim, descreva as quatro possibilidades de trabalho conjunto de pessoas com sistemas de IA na gestão de negócios. 73 REFERÊNCIAS #11 - EMPREENDEDORISMO infantil. Locução de: Atira Treinamentos. [S. l.]: Spotify, mar. 2020. Podcast. Disponível em: https://open.spotify.com/ episode/4oVXcQABoxiND34nwrpdWh. Acesso em: 9 ago. 2022. ACS, Z. J. Foundations of high impact entrepreneurship. Jena Economic Research Papers, [s. l.], v. 60, n. 1, mar. 2008. Disponível em: https://www.researchgate.net/ publication/5142702_Foundations_of_High_Impact_Entrepreneurship. Acesso em: 9 ago. 2022. ANCARANI, A. et al. Does religious diversity in health team composition affect efficiency? Evidence from Dubai. British Journal of Management, v. 27, n. 4, p. 740-759, 2016. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/1467- 8551.12184. Acesso em: 9 ago. 2022. BESSANT, J.; TIDD, J. Inovação e empreendedorismo: administração. Porto Alegre: Bookman, 2019. BEZERRA, C. 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TÓPICO 1 - EDUCAÇÃO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO TÓPICO 2 - FOMENTO À INOVAÇÃO NO BRASIL TÓPICO 3 - FOMENTO À INOVAÇÃO NO EXTERIOR TÓPICO 4 - INOVAÇÃO E CADEIAS GLOBAIS DE VALOR Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 76 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesseo QR Code abaixo: 77 TÓPICO 1 — EDUCAÇÃO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO “Ciência”, “tecnologia” e “inovação” são termos inseparáveis, afinal, a ciência faz uso da tecnologia e é, ao mesmo tempo, o caminho para desenvolvê-la; ao passo que a tecnologia representa um meio, instrumento ou conjunto de instrumentos utilizado para promover a inovação. Frente a isso, de acordo com Vasconcelos (2017, p. 214), temos que: O século XX apresentou uma importante transformação entre capital e trabalho, e, a partir dos anos 1980, o desenvolvimento científico e tecnológico, sobretudo a utilização da informática nos processos de produção, as mudanças conjunturais na economia mundial e a crescente interdependência dos mercados, levou ao processo de globalização. O empreendedorismo se mostra como uma das principais ferramentas para o desenvolvimento econômico e se tornou indispensável para o desenvolvimento das empresas ao se observar que os ciclos de vida dos negócios (produtos e serviços), no novo século XXI, é curto se comparado aos modelos do passado. A inovação se formaliza com novos empreendimentos independentes e também se apresenta dentro dos departamentos de inovação das grandes corporações. Seja no empreendedorismo de startup, seja no empreendedorismo corporativo (intraempreendedorismo), o pensamento de desenvolver novos produtos e novas soluções para a sociedade está presente em todas as organizações e se tornou a base fundamental para o desenvolvimento econômico. Corroborando com a reflexão apresentada, Dornelas (2020, p. 4) nos lembra que “[…] o velho modelo econômico era regido por grandes empresas, caracterizadas pelos seus ativos físicos, número expressivo de funcionários, várias fábricas, imóveis, maquinários etc., prevalecendo o poder dos músculos e o tamanho físico”. No passado, essas grandes empresas detinham o poder de criar barreiras de entrada para empresas menores, o que vem sendo substituído pelo chamado novo modelo, conforme relata o autor. 78 Esse pensamento se alinha às reflexões de Ismail, Malone e Geest (2019), na concepção de organizações exponenciais. Assim, nesse novo modelo, as empresas são mais ágeis, flexíveis e com respostas rápidas às demandas do mercado, sobrevivendo e prosperando de maneira rápida. Utilizam, para isso, plataformas digitais, comunidades, marketing digital e pensamento disruptivo, o que é suportado pela inovação. Considerando esse cenário, neste tópico, abordaremos a ciência e tecnologia como ferramentas de desenvolvimento de empreendedorismo e econômico, a fim de conhecer os elementos da inovação e os preceitos da transformação digital. Seguiremos nossos estudos caracterizando a empresa inovadora e suas estratégias no contexto das inovações, para termos base na tomada de decisões para inovação. Além disso, teremos a oportunidade de conhecer o papel da empresa e sua estrutura para a inovação. Conheceremos, ainda, o planejamento da inovação, observando a aquisição e transferência de tecnologia, assim como os projetos globais de melhoria de processos. 2 CIÊNCIA E TECNOLOGIA Ciência e tecnologia caminham juntas com a humanidade, mesmo quando consideramos épocas remotas. Afinal, o termo “tecnologia” pode ser associado a qualquer método ou dispositivo que auxilie o ser humano a desenvolver melhor suas atividades. A ciência nos auxilia na produção e gestão do conhecimento, enquanto as tecnologias são criadas pelo desenvolvimento científico e, ao mesmo tempo, abrem novos caminhos e estruturam novas plataformas para que os cientistas pesquisadores acelerem esse processo de inovação, em busca por um mundo mais sustentável. 2.1 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Os domínios das áreas abrangentes de conhecimento das ciências exatas e da terra, biológicas, da saúde, agrárias, sociais aplicadas, das engenharias e da linguística, bem como outras tão importantes para o desenvolvimento da humanidade, vêm sendo impactados com maior intensidade e velocidade por novas descobertas, sobretudo no que diz respeito ao avanço tecnológico oportunizado pela criação de dispositivos microprocessados na segunda metade do século XXI. Essas descobertas deram origem a equipamentos eletrônicos, os quais levaram à criação de uma maior possibilidade de interação e troca de conhecimento, importantes atividades para o desenvolvimento da ciência moderna. 79 Vicente (2020, p. 62) também reflete sobre o assunto ao mencionar que “[…] a relação entre ciência e tecnologia provocou, a partir do século XX, mudanças radicais nas instituições e nas suas relações com as pessoas envolvidas nos processos”. Os computadores pessoais passaram a ser objetos de trabalho para a pesquisa científica, levando os estudos e experimentos a uma maior amplitude. Perceba, nesse contexto, que a internet, originária dos anos de 1960, dentro de um centro de pesquisas militares, tornou-se a grande locomotiva do século XXI (SIQUEIRA, 2007). Após sua disponibilização para o meio acadêmico, de forma aberta, nos anos de 1980, ela cresceu em conexões, construindo um mundo virtual e paralelo após os anos de 1990, quando provedores de serviços de conexão e conteúdo oportunizaram que empresas e residências também pudessem fazer uso dessa incrível infraestrutura de comunicação criada pelo ser humano. Kurose e Ross (2013, p. 1) consideram a internet como a “[…] o maior sistema de engenharia já criado pela humanidade”, pensamento pretensioso, mas muito leal quando pensamos na importância que essa rede revolucionária proporcionou para o próprio desenvolvimento da ciência, das tecnologias e da inovação. Uma forma respeitosa de definir a ciência e a tecnologia dentre as múltiplas existentes é relatada por Reis (2008, p. 31): “[…] a ciência é o conjunto de conhecimentos organizados sobre os mecanismos de casualidade dos fatores observáveis, obtidos por meio do estudo objetivo dos fenômenos empíricos”. Assim, a ciência tem íntima relação com fenômenos, comprovação de teorias e desenvolvimento humano; ao passo que a tecnologia se associa aos impactos socioeconômicos no que diz respeito à determinada sociedade, resultante da aplicação de novas técnicas, novos materiais, novos processos de fabricação e novos métodos. Pode-se reconhecer que o desenvolvimento científico foi marcado pelo seu próprio sucesso ao longo do século XX, depois que foi deixado de lado o mito de neutralidade da ciência. Reis (2008, p. 33) ainda define a tecnologia “[…] como um acerto de conhecimentos de uma sociedade (como ciência); entretanto, relaciona esse acerto de conhecimento com artes industriais onde a tecnologia tem por fundamento métodos e conhecimentos científicos empregados em processos de fabricação e produção”. Perceba, então, que a tecnologia pode ser classificada em três categorias: materializada, documentada ou imaterial. Vejamos cada uma delas: 1. tecnologia materializada: equipamentos utilizados em processos produtivos, artefatos de produtos finais (funcionalidade, durabilidade, preço, qualidade, confiança e design); 80 2. tecnologia documentada: surge sob a forma de documentação, que explica a solução de problemas (manuais, plantas, layouts, memórias descritivas, livros, revistas e websites); 3. tecnologia imaterial: relaciona-se a um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos (conhecimento tácito acumulado na resolução de problemas), necessários para conceber, fabricar e utilizar bens e serviços, adquirida pela deformação inerente da aplicação do conhecimento. Ciência e tecnologia são conceitualmente diferentes, porém inseparáveis. Isso porque, conforme Reis (2008) reforça, as nações investem em ciência, objetivando a expansão do conhecimento humano. Os dois termos, juntos, são abrangentes e sugerem, de maneira geral, áreas do conhecimento, sem identificar limites exatos, uma vez que se referem a uma entidade que existe na prática, na civilização, porém é impossível de ser dividida em duas partes.2.2 ELEMENTOS DA INOVAÇÃO Com o objetivo de organizar o processo de inovação, Mendes (2020) nos apresenta oito elementos essenciais para as empresas inovarem, respaldados em fatores estratégicos e organizacionais que separam as organizações inovadoras de sucesso daquelas que não conseguem vantagem competitiva e acabam fracassando: 1. aspirar: visão ampliada e ousada, realista e aliada a estimativas concretas de quanto valor uma inovação pode contribuir para alavancar ações de inovação em uma organização; 2. escolher: buscar a determinação das ideias que devem apoiar e dimensionar a inovação, superando barreiras de gerenciamento de riscos para eliminá-los ou mitigá-los de forma gerencial; 3. descobrir: contar com ideias diferenciadas para descobrir inovação a partir de uma busca metódica em três áreas: um problema de valor a ser resolvido, uma tecnologia que possibilite uma solução para esse problema e um modelo de negócios rentável; 4. evoluir: necessidade de inovar no modelo de negócios da empresa para que tenha positiva interferência na cadeia de valor da organização, na manutenção de processos de inovação e na competitividade; 5. acelerar: a concorrência deve ser enfrentada a partir de desenvolvimento rápido e com eficácia no lançamento de inovações; 6. escala: considerar a magnitude e o alcance apropriados de determinada inovação para garantir que a empresa disponibilize os recursos necessários e evite riscos; 7. ampliar: busca pela colaboração externa inteligente, já que talento e conhecimento transcendem cada vez mais as fronteiras geográficas; 8. mobilizar: relaciona-se à forma como a empresa estimula, incentiva, apoia e repensa as pessoas envolvidas nos processos de inovação. 81 Nas palavras de Mendes (2020, p. 12), “[…] as grandes empresas têm dificuldade em se reinventar”, principalmente considerando contextos de cultura e estrutura organizacional. O mindset digital, a Revolução Digital e a já considerada pós-transformação digital são áreas que precisam ser investigadas de maneira mais profunda, para se compreender como inovar com a ciência e a tecnologia, mantendo ou suportando a sustentabilidade de negócios da atualidade. Para desenvolver uma reflexão sobre a cultura digital nas empresas, sugerimos a leitura das páginas 25 a 27 do artigo disponível em: https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=23786. Acesso em: 9 set. 2022. DICA Dornelas (2020) defende que o momento atual é propício para o surgimento de um número crescente de empreendedores, dentro e fora das organizações, especificamente chamados de “empreendedores de startups” e “empreendedores corporativos”. Um bom empreendedor deve possuir características extras para além das competências e habilidades de um administrador. Vejamos algumas delas: · visionários: conseguem visualizar o futuro para um negócio e seu impacto junto à sociedade; · sabem tomar decisões: não são inseguros, sabem tomar as melhores decisões na hora certa e implementá-las com rapidez; · fazem a diferença: transformam algo de difícil definição em algo concreto e com funcionalidade; · exploram as oportunidades em seu máximo: exploram e operacionalizam as boas ideias de forma incansável, buscando alternativas para maximizar o sucesso do empreendimento; · determinados e dinâmicos: implementam ações com total comprometimento e se mantêm sempre dinâmicos; · otimistas e apaixonados: adoram o trabalho e se mantém animados e autodeterminados, independentemente das ocorrências; · dedicados: buscam o trabalho o dia todo, não pensam em férias e descanso, mas, sim, em fazer o que precisa ser feito; · independentes: buscam estar à frente de seu tempo e não desejam pertencer a outras organizações; · líderes: têm senso de liderança incomum, sendo respeitados e admirados pelos colegas; 82 · bem relacionados: criam comunidades, fazem networking, costumam ser proativos e bem relacionados com a sociedade; · organizados: sabem obter e alocar os recursos de forma racional, procurando aplicar o melhor recurso para o negócio; · planejadores: bons empreendedores planejam, planejam e planejam; · conhecedores: bons empreendedores conhecem profundamente o mercado que desejam desenvolver, estudam, aprendem e ensinam; · assumem riscos calculados: assumem riscos calculados e sabem gerenciá-los; · criam valor para a sociedade: utilizam capital intelectual para criar valor para a sociedade com a geração de empregos, aquecendo a economia e oferecendo oportunidades de trabalho. Seguimos nossa reflexão sobre educação, ciência e tecnologia observando que o desenvolvimento científico e tecnológico experimentado nos últimos anos trouxe diversas questões importantes relacionados às práticas sociais, retratando um poder capaz de produzir mudanças radicais na natureza dos negócios e do próprio ser humano. Estamos em pleno momento de transformação digital, reflexo de um conjunto de inovações científicas e tecnológicas que forjaram um novo mundo e um novo estilo de vida. 2.3 TRANSFORMAÇÃO DIGITAL A internet e a globalização são eventos criados mutuamente, impactados um pelo outro. “A internet tem mudado diversos aspectos de nossas vidas. À medida que as pessoas têm acesso ao mundo on-line — e cada vez mais por meio de seus smartphones —, o ritmo de mudança é mais acelerado” (CLARK, 2019, p. 7). A chamada Revolução Digital já vem sendo observada nos últimos dez anos, quando o comércio eletrônico se intensificou e a computação móvel energizou um novo contexto de modelo de negócio e a socialização das pessoas. Essa mudança ou transformação nos modelos de comunicação e geração de negócios resultou em alterações de toda a sociedade, dentro e fora das empresas. O futurólogo Leonhard (2018) nos lembra que tudo que puder ser digitalizado, será. De acordo com Laudon e Laudon (2014), a transformação digital levou empresas a buscarem novos modelos de negócio, chamados de “negócios digitais”. Tal expressão remete a outro conceito importante na atualidade, que é o e-business, relacionado a negócios eletrônicos realizados a partir de sistemas de informação, distribuídos e suportados pela internet. 83 A transformação digital levou as organizações a integrarem seus modelos de negócios a ambientes digitais. Essa estratégia vem sendo importante para a sustentabilidade de organizações e representa um crescimento rápido quando as soluções propostas conseguem atingir comunidades por meio de plataformas digitais e formação de comunidades. São exemplos as grandes empresas de Tecnologia da Informação (TI), como Microsoft, Google, Amazon, Facebook e Apple, todas com um crescimento de valor de mercado muito grande, algumas já acima de um trilhão de dólares. A construção desse novo mundo digital é diferente daquela que o cérebro humano foi institucionalizado com o passar dos anos que precederam o final do século XX e início do século XXI. Diamandis e Kotler (2018) afirmam que as pessoas devem resistir às ideias revolucionárias até o momento em que elas forem aceitas como a nova norma. Essas ideias revolucionárias podem ser provenientes de um absurdo, na maioria das vezes, mas, vale mencionar que um absurdo pode se tornar um produto ou serviço inovador e elevar pequenas empresas a grandes corporações em um período curto. Ismail, Malone e Geest (2019) relatam um conjunto de informações e orientações de como as tecnologias exponenciais estão reeditando as melhores práticas de negócios dentro das organizações. O termo “exponencial”, utilizado pelos autores, faz referência ao ritmo de crescimento de negócios inovadores e digitais. No vídeo a seguir, você poderá se aprofundar sobre os conceitos e as tecnologias associados às mudanças tecnológicas, bem como seus impactos em modelos de negócio da atualidade. Assista ao vídeo na íntegra em: https://www.youtube.com/watch?v=3MCvYyB6fA0. Acesso em 9 set. 2022. INTERESSANTE 84 As empresas digitais que buscaram usar mais intensamente a TIe um empreendedorismo voltado à inovação para se estabelecerem como novos paradigmas de negócio, experimentaram um crescimento rápido, o que pode ser medido como exponencial. Nos últimos dez anos, por exemplo, o volume de empresas com alto valor de mercado aumentou. Morais (2020) nos ensina que a transformação digital traz os dados como o novo elemento central de negócios e do contexto social. Enquanto, de um lado, existem as empresas produzindo e vendendo seus produtos e serviços por meio de sistemas e plataformas digitais; por outro lado, há consumidores que realizam pesquisas e consomem esses produtos e serviços dentro dessas plataformas digitais. Assim, a internet trouxe a oportunidade de uma vida profissional, acadêmica e social integrada por um mundo físico e real para um mundo digital, que permite vivenciar experiências que, antes, nunca seriam possíveis. Uma pessoa simples, com um pequeno smartphone, por exemplo, pode conhecer cidades antigas, regiões remotas e culturas diferentes. Os algoritmos de busca em sistemas da internet utilizam diversas técnicas modernas para, rapidamente, trazer informações a um usuário de sistema digital com a mineração de dados e a mineração de texto na web, bem como uso dos chamados “robôs de software” em sites de busca, como o Google, em que há possibilidade de conversar com um dispositivo eletrônico e solicitar informações sobre determinado assunto. Galloway (2017, p. 7) ainda apresenta o fato de que “[…] a Google se tornou o deus para o homem moderno” quando conseguiu suplementar a necessidade humana de obter informações na atualidade. As tecnologias e os sistemas de informação levaram organizações a repensar seus negócios desde os anos 1980. Rogers (2021) nos lembra que as regras de negócio mudaram. Nesse novo século XXI, todos os setores de atividades são impactados pelo uso de Tis, sendo que as inovações são necessárias e constantes. O autor nos traz uma importante classificação de cinco domínios da transformação digital: clientes, competição, dados, inovação e valor (ROGERS, 2021). Vejamos um pouco mais sobre esses cinco domínios a seguir: 1. clientes: domínio representado por redes de clientes conectados e que interagem dinamicamente por dispositivos e sistemas digitais, construindo a reputação das empresas a partir de suas relações em comunidades e redes sociais; 2. competição: domínio que considera o mundo atual como um lugar de fronteiras geográficas setoriais fluídas, com os maiores desafios sendo concorrentes, mas que oferecem maior valor aos clientes de uma empresa. A concorrência em negócios, nesse novo modelo digital, é mais intensa se considerarmos que a globalização é um momento histórico em que tudo é conhecido por meio da internet; 85 3. dados: domínio que considera a informação originária do tratamento e da gestão de dados, refletindo um valor maior para empresas e pessoas em uma nova época, em que tudo está digitalizado. Consideremos, aqui, o conceito de Big Data, visto por Sharda, Delen e Turban (2019, p. 435) como “[…] um termo que significa muitas coisas para diferentes pessoas”. Os autores relatam que o Big Data se tornou uma prioridade nos negócios, com potencial para alterar, de forma profunda, o cenário competitivo da economia global e integrada; 4. inovação: nesse domínio, há um processo por meio do qual as novas ideias são desenvolvidas, testadas e lançadas como produtos e serviços no mercado. A inovação se faz presente, e sua gestão é necessária, pois há um intenso e complexo uso de tecnologias aliadas ao pensamento disruptivo e empreendedor para a geração de novos negócios; 5. valor: domínio relacionado ao que, de fato, um negócio agrega aos clientes como proposta de valor. Para se obter valor em um negócio, busca-se adaptar a proposta de valor ao mercado e às reais necessidades dos clientes, mesmo que eles ainda não saibam o que desejam. 3 EMPRESA INOVADORA A gestão da tecnologia e da inovação compreende uma liderança estratégica e corajosa, a percepção sobre a dificuldade de inovar, o entendimento sobre o emprego das inovações tecnológicas como valor ao negócio, a utilização de diferentes formas de conhecimentos, a criação de uma cultura organizacional que incentiva ações empreendedoras, a mudança do modelo de negócios, a aceitação de riscos e sua gestão, além da busca por vantagem competitiva. Segundo Carstens (2019, p. 18), “[…] gerir processos de inovação tecnológica é administrar conhecimentos com vistas a reduzir as incertezas que fazem parte do jogo”. De acordo com Dornelas (2020), a inovação se relaciona à criação de um produto ou um serviço diferente que passa a ser oferecido para determinado mercado ou, até mesmo, da modificação de processos internos de uma organização. Frente a isso, a inovação está intrinsecamente relacionada à mudança, ao fazer as coisas de forma diferente, criar algo e transformar o ambiente em que está inserido. Ela tem forte relação com pessoas e comportamentos, e não apenas com o uso de tecnologias ou processos estabelecidos. No entanto, é necessário ter atenção, estudo, conhecimento de mercado e, sobretudo, estratégia para poder inovar de forma sustentável. Baxter (2011) nos ensina que a inovação não ocorre de forma repentina em uma organização qualquer. É necessário investimento a médio e longo prazos, para que a criação de um ambiente favorável à inovação realmente seja construído. Já Carstens (2019, p. 26) menciona que “[…] inovar é importante, mas saber gerir processos integrados de produção, além de desafiador, é vital para o êxito de uma organização”. 86 3.1 EXPLOITATION X EXPLORATION Dois termos surgem no contexto da inovação e de processos de empreendimentos em negócios, resultantes da inovação, de percursos e dos rumos que as empresas podem seguir, de acordo com a lógica das inovações incrementais ou descontínuas, seja no contexto de inovações abertas, seja no contexto de inovações fechadas. O primeiro termo é “exploitation”, ligado à proposta de inovação incremental ou contínua (CARSTENS, 2019). Ele se relaciona ao refinamento de bens produzidos e aos processos e às rotinas das organizações praticados e aperfeiçoados continuamente. A inovação incremental é um pressuposto da continuidade. Investimentos contínuos em desenvolvimento de tecnologias, com vista a manter a posição de mercado já conquistada, são cada vez mais necessários, observando que produtos e serviços, nesse momento tecnológico e globalizado, tendem a ter ciclos de vida muito mais curtos (CARSTENS, 2019). O segundo termo é “exploration”, que traz reflexões a respeito de caminhar estrategicamente em direção a inovações descontínuas, radicais ou disruptivas. Estas dizem respeito às inovações que afetam o mercado de forma intensa ou, ainda, que criam novos mercados. É o caso das grandes empresas de TIs, como Google e Amazon, que, além de redirecionarem toda uma nova modalidade de atividades voltada para sistemas distribuídos em redes, levou o planeta a não apenas desenvolver as atividades profissionais em ambientes digitais, mas, também, as atividades acadêmicas e sociais (CARSTENS, 2019). Carstens (2019) nos explica que a trajetória de inovação baseada em exploração para desenvolvimento de inovações descontínuas é profundamente desafiadora. Para finalizar essa breve reflexão sobre esses dois modelos de desenvolvimento de inovação, considere que a gestão potencialmente ideal é aquela que traz certa harmonia com as perspectivas de exploitation e exploration, de forma equilibrada. 3.2 ESTRATÉGIAS NO CONTEXTO DAS INOVAÇÕES A estratégia é um conceito que representa um posicionamento da organização, uma mudança de direção, o que pode vir a ser. Significa reinventar a organização nos médio e longo prazos. Conforme Lemos et al. (2012), o objetivo da estratégia é construir o futuro da organização, de modo que o presente seja alterado para além de fazer negócios de maneira diferente dos concorrentes locaise globais, utilizando as melhores escolhas de quando, onde e como competir. 87 A grande diferença entre a utilização de estratégias na antiguidade e nos tempos contemporâneos se refere ao acesso a informações. A empresa atual tem acesso a mais dados do que antigamente, o que, conforme relata Kuazaqui (2016), leva a uma maior responsabilidade em identificar suas necessidades de informações, captação, interpretação, análise e aplicação de estratégias que visem ao crescimento da empresa e ao desenvolvimento da sociedade em geral. Uma estratégia de inovação eficaz precisa levar em consideração uma grande diversidade de cenários que abarcam os desenvolvimentos tecnológicos mais recentes dentro de um novo contexto de mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo. A complexidade desse mercado é composta por fatores sugeridos por Carstens (2019): concorrência, consumidores, reguladores, mudanças técnicas, econômicas, sociais e políticas. Assim, dois pressupostos básicos e imprescindíveis da estratégica podem ser explorados: 1. a estratégia deve representar os direcionamentos e objetivos da organização, possibilitando análises e adequações em resposta ao ambiente de atuação da empresa e mercado-alvo; 2. a estratégia deve representar o propósito das organizações e ter colaboradores cujos propósitos estejam a eles alinhados. Veja que a palavra “estratégia” tem origem militar, pois se relacionava ao direcionamento dos fatores de guerra, já abordada pelo General Sun Tzu em 496 a.C., para a gestão de estratégias militares, preconizada em seu livro “A arte da guerra”, o qual é utilizado nos dias atuais para reflexões sobre estratégias corporativas (TZU, 2014). A figura a seguir nos mostra uma relação da palavra “estratégia” com o seu termo original, “strategós”, que significa “exército”. Figura 1 – Estratégia definida por strategós Fonte: o autor A harmonização dessas variáveis, em um contexto de mundo que se modifica com grande intensidade para poder definir uma ou algumas estratégias de negócios para a inovação, significa equilibrar tomadas de decisão e práticas convencionais ou formais que abarcam estratégias racionais e decisões com práticas modernas, dentro de uma perspectiva de aprendizado e experimentação, refletida pelas estratégias incrementalistas. 88 3.2.1 Estratégia inovativa Carstens (2019) menciona que uma estratégia inovativa reflete um processo contínuo, que utiliza uma tática, um plano, envolve metas, objetivos e se trata de um conjunto de medidas pré-determinadas e planejadas para o desenvolvimento e a gestão de um negócio. Pode-se perceber, assim, que o sentido a uma estratégia é dado pela tomada de decisão consciente e deliberada, que antecede ações desejadas, fazendo com que sua eficácia esteja associada a sua capacidade de regar competitividade e ser diferenciada no mercado, alinhada com a lógica da gestão de inovações. 3.2.2 Estratégia racionalista A estratégia racionalista, considerada uma estratégia formal ou um planejamento estratégico formal por Carstens (2019), é caracterizada por um interesse lógico, uma tomada de decisão racional e de acordo com preceitos bem definidos na organização, buscando traçar caminhos seguros ao máximo para o desenvolvimento de um projeto. Trata-se de um modelo analítico e descritivo quanto às possibilidades consideradas e não inteiramente alinhadas à inovação. Esta surge no contexto de apresentar oportunidades de novos produtos, novos serviços, novos negócios ou, ainda, o desenvolvimento de novos mercados. Diante disso, precisa ser analisada para contemplar o alinhamento às diretrizes estratégicas de uma organização empresarial, como sua missão, sua visão de futuro, seus valores ou o Propósito Transformador Massivo (PTM). 3.2.3 Estratégia incrementalista A estratégia incrementalista carrega uma ligação com a proposta de inovação incremental, mas avança para além do contexto de incremento simples, uma vez que busca considerar situações que implicam aprendizado conforme os projetos de pesquisa caminham para a fase de desenvolvimento e têm a necessidade de se ligar com situações indeterminadas. Essa abordagem pode fazer uso dos chamados “modelos ágeis de desenvolvimento de produtos”, focados em desenvolvimento incremental. As metodologias ágeis têm como ponto de partida o chamado “Manifesto Ágil”, documento desenvolvido no ano de 2001 como saída de uma reunião entre 17 profissionais de desenvolvimento de sistemas, que culminou em uma reflexão sobre uma nova forma de desenvolvimento de sistemas e gestão de projetos de software. As metodologias ágeis se baseiam em quatro princípios definidos no Manifesto Ágil: 89 1. indivíduos e iterações são mais importantes do que processos e ferramentas; 2. software funcionando é mais importante do que documentação completa; 3. colaboração com o cliente é mais importante do que negociação de contratos; 4. adaptação a mudanças é mais importante do que seguir o plano inicial. 3.3 APRENDIZADO TECNOLÓGICO Um aprendizado tecnológico é considerado fundamental para o sucesso de um produto, principalmente no contexto de inovação. O sucesso é decorrente de tentativas e erros, até que os acertos sejam alcançados. No contexto atual de desenvolvimento de produtos baseados em tecnologias e sistemas de informação, Ries (2019) defende o contexto de Minimum Viable Product (MVP) ou produto minimamente viável, como a versão de um sistema ou produto que pode ser desenvolvido em nível de entrega ao usuário, para utilização e feedback constantes, de modo que novas versões são implementadas de forma participativa com o cliente, disponibilizadas como mais adequadas aos requisitos completos desejados em uma versão final. Esse conceito é amplamente utilizado na indústria de software e preconizado no conceito de desenvolvimento e gestão ágil de projetos. O objetivo é fazer entregas que agreguem valor ao cliente e, ao mesmo tempo, sejam inseridas no processo de desenvolvimento do produto. As TIs e a nova gestão se apresentam, atualmente, como conceitos indissociáveis para as organizações. O pensamento estratégico e a inovação são os grandes diferenciais competitivos das empresas, especialmente na era em que estamos vivendo. As ações estratégicas de empresas de inovação, considerando as startups de alta tecnologia mais expressivas da atualidade, são direcionadas pelo desenvolvimento tecnológico e/ou desenvolvimento do produto (BURGELMAN, 2012). Para essas empresas há três condutores: 1. estratégia de negócios; 2. desenvolvimento de produtos; 3. desenvolvimento tecnológico. Nesses ambientes de alta tecnologia, o ritmo da mudança é grande, sendo que o empreendedorismo com inovação é necessário. Com isso, o sucesso de um negócio depende da forma como se trata a diversidade de atores envolvidos direta ou indiretamente em um empreendimento, no processo de desenvolvimento de um produto. Chiavenato (2021) nos ensina que todo negócio está integrado a uma extensa cadeia de valor, que faz parte integrante de uma sequência de elementos intermediários, com fornecedores, clientes e consumidores intermediados por atacadistas e varejistas. Os produtos são continuamente repassados dos vendedores para 90 compradores em uma sequência de transações, chamada pelo autor de “interminável”. Essa cadeia de valor é percebida pelo consumidor final como parte de um produto ou serviço oferecido, devendo ser estrategicamente pensada e planejada para que a visão sobre a inovação, ofertada em forma de produto ou serviço, seja positiva. 4 TOMADA DE DECISÃO PARA INOVAÇÃO Quando uma organização tem o desejo de inovar, o momento da tomada de decisões é delicado, considerando o fato de que sempre haverá riscos em buscar novos modelos de negócio. O interessante nessa abordagem é que a mensuração dos riscos, quando no movimento de renovação e inovação de produtos e serviços, necessariamente, não é maior do que a inércia em manter os mesmos produtos e serviçoscomo sustentáculos do negócio, mediante a um mercado globalizado e altamente competitivo, mutante e que se reinventa rapidamente. Conforme Dornelas (2021, p. 47), “Nada é mais perigoso que uma ideia quando é a única que temos”. Um empreendedor pode ser considerado uma pessoa com características especiais, que busca desenvolver uma ideia, prever um futuro próximo e encontrar meios para desenvolvê-la e criar negócios. Esse perfil é fortemente direcionado à inovação, conforme já pudemos verificar, e estará sempre direcionado a identificar, avaliar e implementar novas oportunidades de negócios, dentro ou fora das empresas. Dornelas (2021) menciona que um dos maiores mitos a respeito dessas novas ideias de negócios é que elas sejam únicas, inéditas. Um novo negócio não precisa ser único, mas, sim, levar uma solução a alguém, seja pessoa física, seja pessoa jurídica (empresa). O planejamento estratégico de uma organização empresarial e a elaboração de um plano de negócios devem levar em consideração a informação como um ativo. Hoelz (2015) nos ensina que as TIs contribuem para o crescimento de negócios em alguns pontos, como relacionamento, customização, inovação, distribuição, promoção, novos negócios, competitividade, economia direta e infraestrutura pública. Vamos, então, entender um pouco mais sobre esses pontos: · relacionamento: utilização da cadeia de relacionamento (networking) para a expansão de relações em toda a cadeia de negócios; · customização: desenvolver produtos e serviços de forma enxuta e direcionada para soluções individualizadas; · inovação: é o centro de atenção das empresas de tecnologia e que buscam novas soluções tecnológicas, com visão globalizada de negócios, comunicação interativa, prototipação e feedbacks rápidos, novos produtos e serviços; · distribuição: as tecnologias permitem maior abrangência de distribuição de produtos por múltiplos canais; 91 · promoção: o marketing digital precisa e pode ser bem explorado junto aos meios digitais, que permitem uma promoção rápida e positiva de produtos, bem como a distribuição de informações em níveis mundiais; · novos negócios: a possibilidade de inovar e desenvolver negócios globalizados é uma tendência na atualidade; · competitividade: estratégias competitivas são mais fáceis com o uso de tecnologias, visando a melhorias em custos, diferenciação de produtos e melhor relacionamento, pois os canais digitais permitem maior rapidez e abrangência de um produto; · economia direta: com TIs e ambientes digitais, há customização de custos na comercialização e distribuição de produtos e serviços; · infraestrutura pública: redes globais de informação, como a internet, permitem acessos mais fáceis e livres ao conhecimento e à terceirização de atividades. 4.1 PAPEL DA EMPRESA NA INOVAÇÃO O processo de inovação envolve o gerenciamento de equipes criativas e proativas, capazes de assimilar o propósito da organização e inovar. Os objetivos dessa gestão devem prezar por um desempenho alto e agregar valor com novas soluções para o mercado. Cabe, também, identificar sinais externos de novas tecnologias e novos processos, compreendê-los e trazê-los para dentro da empresa. Carstens (2019) nos ensina que o êxito de uma inovação pode ser determinado com o alinhamento de múltiplas ações, na própria organização, o que implica alinhamento de novos projetos e processos compatibilizados, além da definição do que será prioritário para a empresa. 4.2 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL PARA INOVAÇÃO A estrutura organizacional necessária para sustentar a inovação tecnológica transcorre em função da escolha das pessoas certas, capazes de mobilizar e realizar inovações, bem como estabelecer conexões entre a imaginação e a realidade. De acordo com Carstens (2019, p. 113), “[…] o desafio é ter ideias inovadoras e viáveis que possam gerar valor para a empresa”. Assim, a composição que proporciona condições adequadas de estruturação para inovações conta com recursos pessoais e materiais, além de criatividade e geração de valor. Vejamos, a seguir, algumas informações que completam esse pensamento: · estrutura para criatividade e geração de valor: busca interna pelo desenvolvimento de um ambiente favorável para a inovação com a difusão de práticas de incentivo a ideias inovadoras; 92 · reestruturação por meio de parcerias: atualmente, negócios podem e são desenvolvidos de forma colaborativa, de maneira ampla. No contexto do mundo digital, soluções e plataformas de tecnologia permitem que se trabalhe sem fronteiras e de modo colaborativo, seja no contexto de trabalho colaborativo, seja no contexto de financiamento de projetos colaborativos. Aqui, podem ser mencionados o crowdsourcing e o crowdfunding como formas de desenvolvimento de projetos colaborativos. Segundo Diamandis e Kotler (2018), crowdfunding ou financiamento coletivo é a ferramenta de multidão exponencial que permite explorar um novo recurso de criação de comunidades, garimpando o mundo em busca de indivíduos ou organizações com as mesmas ideias e projetos rápidos e apaixonantes, com o financiamento coletivo de empreendimentos. Os autores também definem o crowdsourcing como uma forma de criar negócios, desenvolver projetos de produtos e serviços por meio de comunidades com interesses em comum, utilizando plataformas colaborativas computacionais, concursos, tarefas colaborativas e descobertas interativas. NOTA Uma organização que desenvolve boas parcerias, dentro ou fora de suas fronteiras organizacionais, pode migrar para o desenvolvimento de bens e serviços diferenciados, fazendo novas escolhas, repensando estratégias, inovando mediante experiências e aprendizado. De acordo com Carstens (2019) as parcerias podem ocorrer de diferentes maneiras: · testes com clientes e fornecedores; · desenvolvimento colaborativo com softwares de código aberto; · terceirização (outsourcing); · criação de diretoria de inovação; · intermédio de incubadoras. Ainda no contexto contemporâneo da inovação, há o estabelecimento de plataformas e redes de inovação, que podem se dar mesmo entre empresas, com o objetivo de obter valor a custo menor de produção. Isso significa manter unidades de negócios que comuniquem seus processos, utilizando a inovação por meio de comunidades com interesses comuns. 93 Por fim, ao se pensar em parcerias e trabalhos colaborativos, faz-se necessário estabelecer acordos, regras e contratos bem redigidos, para que os direitos sobre os produtos e serviços produzidos sejam respeitados por todas as partes envolvidas no planejamento e no desenvolvimento da inovação. 5 PLANEJAMENTO DA INOVAÇÃO Um adequado planejamento estratégico leva a empresa a uma maior compreensão da análise ambiental, identificação de oportunidades de mercados e aproveitamento de oportunidades. Isso se desdobra em objetivos estratégicos e alimenta a gestão de todo o planejamento estratégico, de forma gerencial, a partir de um balanced scorecard (BSC), exemplo de ferramenta de gestão que abarca a estratégia, a gestão e as operações. De acordo com Carstens (2019), a inovação entra nesse processo e emerge por meio de um trabalhoso processo, desenvolvido, na maioria das vezes, com a contribuição de equipes multidisciplinares internas da empresa. Considere que a inovação tem origem no contexto do planejamento estético, a partir da análise ambiental e pela identificação de novas oportunidades de negócios. Ideias surgem por meio de aplicações diferenciadas e novas propostas de negócios que agreguem valor para o cliente. Nesse cenário, Carstens (2019, p. 191) nos ensina que “[…] um processo de planejamento estratégico envolve o estabelecimento das diretrizes e dos objetivos organizacionais em um horizonte e tempo determinado”. Esse plano estratégico de tecnologia e inovação, normalmente, envolve uma análise completa dos ambientes da empresa e do macroambiente (pense em empresas com operações globais), incluindo a análisede tecnologias existentes em setores diversos de mercado, que podem ser aproveitadas para produtos e serviços em desenvolvimento. No processo de inovação que segue a análise dos aspectos ambientais, a empresa deve focar suas atividades em desenvolver o plano de inovação, detalhando as melhores ideias para novos produtos e serviços. Carstens (2019) relembra Scholtissek (2012), que divide esse processo de inovação em seis fases distintas. A fase de geração de ideias é uma das mais importantes no processo de inovação, pois abarca a seleção das melhores ideias que o projeto de inovação desenvolve. Diversas técnicas podem ser utilizadas nessa fase para a ideação do negócio, como brainstorms, Design Thinking, seis chapéus, mapa mental, cocriação e Business Model Canvas. Tais ferramentas são utilizadas em muitas áreas do conhecimento, sendo que o Canvas e o Design Thinking vêm se destacando no contexto de ideação e mapeamento de todo o negócio, de forma alinhada ao desenvolvimento colaborativo e ágil. 94 5.1 AQUISIÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA A capacidade de inovação e geração de tecnologias relevantes, na percepção dos consumidores, é um elemento essencial para que uma organização tenha sucesso ao inovar, considerando uma sustentabilidade econômica. Carstens (2019) nos lembra que a tecnologia de ponta envolve tecnologias recentes e aplicadas no que se conhece como “avançado”. A transferência de tecnologia pode ocorrer por meio de parcerias entre governos e empresas, buscando disseminar o conhecimento de forma técnica ou científica, com potencial de mercado. As inovações precisam ser averbadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), no Brasil, vinculado ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, a partir de contratos de licença de uso de marca, cessão de marca, licença para exploração de patentes, cessão de patente, licença para exploração de desenho industrial, cessão de desenho industrial, fornecimento de tecnologias, dentre outras categorias. O desenvolvimento de tecnologias pode ter origem com o estabelecimento de redes de empresas, institutos de pesquisas, comunidades de desenvolvimento (crowdsourcing) e, naturalmente, com centros de pesquisas e universidades. Apesar de o Brasil ainda não ser referência e precisar de maior incentivo para que empresas e universidades estreitem relações e desenvolvam maiores programas parceiros, já existem mais de 200 Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) no país, realizando pesquisas com aproveitamento da chamada Lei de Inovação, por meio de agências nacionais de fomento, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). 5.2 PROJETOS GLOBAIS E DE MELHORIA DE PROCESSOS De acordo com Galloway (2017, p. 6), a “Tecnologia deixou de ser uma vertical. Deixou de ser uma indústria, um segmento. Como sabemos hoje, a tecnologia está impactando todas as indústrias e todos os segmentos, direta e indiretamente”. Giddens (2006) nos lembra que a nossa época evoluiu sob o impacto da ciência, da tecnologia e do pensamento racionalista, originários da Europa. Nosso momento histórico evoluiu com as ideias do Iluminismo e se modernizou com as disrupções tecnológicas, com pensamentos de gestão suportados pelas abordagens administrativas criadas e complementadas nos últimos 120 anos. A Revolução Tecnológica do século XX levou à globalização, a qual, por sua vez, levou ao desenvolvimento da tecnologia. Essa é uma clássica reflexão sobre o desenvolvimento concomitante de tecnologias e sociedade complementares. 95 Além disso, vale a pena refletir sobre o pensamento de Ismail, Malone e Geest (2019, p. 31), os quais mencionam que “[…] estamos mudando rapidamente o filtro por meio do qual lidamos com o mundo a partir de uma perspectiva física com base material para uma perspectiva baseada na informação e no conhecimento”. O contexto atual em ciência, tecnologia e inovação é impactado por uma globalização já madura e modelos de negócios que se estendem para um mercado internacional. Nesse cenário, é importante considerar as reflexões de Carstens (2019) sobre o fato de cada país ter um contexto diferente em termos de tecnologia e cultura para a aceitação de inovações. Assim, aspectos culturais precisam ser observados antes do lançamento de inovação no mercado, a fim de evitar problemas junto às comunidades em que serão implementados os novos negócios. 96 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • Ciência e tecnologia são termos indissociáveis, e o empreendedorismo se apresenta como uma das principais ferramentas para o desenvolvimento econômico, tornando- se, também, indispensável para o desenvolvimento das empresas. · A ciência é o conjunto de conhecimentos organizados sobre os mecanismos de casualidade dos fatores observáveis, obtidos por meio do estudo objetivo dos fenômenos empíricos. Já a tecnologia é um acerto de conhecimentos de uma sociedade e o relaciona às artes industriais, sendo que a tecnologia tem por fundamento métodos científicos empregados em processos de fabricação e produção. · Os elementos da inovação, no contexto de desenvolvimento de ciência e tecnologia, para incremento dos negócios corporativos ou a criação de empreendimentos, são aspirar, escolher, descobrir, evoluir, acelerar, escalar, estender e mobilizar. · A transformação digital é um momento em que o uso intenso de TIs impactaram as organizações empresariais e a sociedade em geral, para o uso intenso de recursos digitais e reformatação de modelos de negócios que transitam entre o mundo real e o virtual. · A inovação pode estar relacionada à criação de um novo produto, um serviço diferente que passa a ser oferecido a determinado mercado ou, até mesmo, de modificação de processos internos de uma organização. · Estratégias da inovação podem ser divididas em diferentes categorias: inovação inovativa, ainda que o termo possa parecer redundante; inovação racionalista com forte alinhamento às diretrizes estratégicas; e inovação incrementalista, que adiciona complementos às inovações e aos projetos em desenvolvimento. · O principal agente de mudança do mundo atual é a inovação tecnológica. Esta vem sendo amplamente desenvolvida nos últimos 50 anos, com o advento da microeletrônica e dos dispositivos de computação e mobilidade (smartphones). 97 AUTOATIVIDADE 1 Com objetivo de organizar o processo de inovação, Mendes (2020) definiu oito elementos essenciais, a fim de apresentar às empresas a possibilidade de inovação suportada por fatores estratégicos e organizacionais, que separam as organizações inovadoras de sucesso daquelas que não conseguem obter vantagem competitiva e acabam fracassando. Fonte: MENDES, D. Gestão da inovação e tecnologia. Curitiba: Contentus, 2020. Quanto ao elemento da inovação que busca determinar as ideias que deve apoiar e dimensionar a inovação, superando barreiras de gerenciamento de riscos, a fim de eliminá-los ou mitigá-los de forma gerencial, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Aspirar. b) ( ) Escolher. c) ( ) Descobrir. d) ( ) Evoluir. 2 As tecnologias e os sistemas de informação levaram organizações a repensarem seus negócios desde os anos de 1980. Rogers (2021) nos lembra que as regras de negócio mudaram. Neste novo século XXI, todos os setores de atividade são impactados pelo uso de tecnologias da informação e as inovações são necessárias e constantes. O autor nos traz uma importante classificação de cinco domínios da transformação digital: clientes, competição, dados, inovação e valor. Com base nas definições sobre os domínios da transformação digital, analise as sentenças a seguir: I- Redes de clientes conectados e que realizam interações por dispositivos e sistemas digitais, que constroem a reputação das empresas a partir de suas relações em comunidades e redes sociais. II-O mundo atual é visto como um lugar de fronteiras setoriais fluídas, com os maiores desafios junto à concorrência de produção e venda de bens e serviços, mas que oferecem maior valor aos clientes de uma empresa. III- A informação se origina do tratamento e da gestão de dados, que reflete um maior valor percebido para empresas e pessoas. IV- Um negócio agrega a inovação aos clientes como proposta de valor. V- O valor é o processo pelo qual as novas ideias são desenvolvidas, testadas e lançadas como produtos e serviços no mercado. 98 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, II e V estão corretas. b) ( ) As sentenças IV e V estão corretas. c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Uma diferença significativa entre a utilização de estratégias do passado e presente se refere ao acesso às informações. A empresa atual tem acesso a mais dados do que no passado, o que representa uma maior responsabilidade em identificar suas necessidades de análise e aplicação de estratégias, que visem ao crescimento da empresa e ao desenvolvimento da sociedade em geral. Considerando as estratégias inovativa, racionalista e incrementalista, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Uma estratégia inovativa reflete um processo contínuo, que utiliza uma tática, um plano, envolve metas, objetivos e trata um conjunto de medidas pré-determinadas e planejadas para o desenvolvimento e a gestão de um negócio. ( ) A estratégia racionalista é caracterizada por um interesse lógico, uma tomada de decisão racional e segundo preceitos bem definidos na organização, que busca traçar caminhos seguros ao máximo para o desenvolvimento de um projeto. ( ) Na estratégia incrementalista, há uma ligação com a proposta de inovação incremental, mas que considera, também, a busca por situações que implicam aprendizado conforme os projetos de pesquisas caminham para a fase de desenvolvimento e tenham a necessidade de ligar com situações indeterminadas. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - V - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 Quando uma organização busca inovar, o momento da tomada de decisões é delicado, pois há riscos associados ao desenvolvimento de novos modelos de negócios. A mensuração dos riscos em cenários de inovação não é maior do que a inércia em manter os mesmos produtos e serviços como sustentáculos do negócio. Frente a isso, disserte sobre o papel da empresa na inovação. 5 “Tecnologia deixou de ser uma vertical. Deixou de ser uma indústria, um segmento. Como sabemos hoje, a tecnologia está impactando todas as indústrias e todos os segmentos, direta e indiretamente” (GALLOWAY, 2017, p. 6). Nesse contexto, disserte sobre a ideação e o desenvolvimento de projetos globais baseados em negócios e empreendedorismo com inovação. 99 FOMENTO À INOVAÇÃO NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento da sociedade está vinculado ao desenvolvimento científico, tecnológico e, sobretudo, à inovação. Desde os primórdios da humanidade, é possível verificar que as nações que possuem maior incentivo às inovações vêm se destacando como sociedades mais evoluídas e desenvolvidas. O desenvolvimento tecnológico proporcionado por inovações permite o surgimento de novos negócios ou postos de trabalho, com isso, permite que novos empreendedores estabeleçam negócios onde antes nada existia, proporcionando crescimento econômico e novas oportunidades ao mercado de trabalho (RAZZOLINI FILHO, 2012, p. 20). A inovação leva ao desenvolvimento de ideias em negócios e tecnologias. Dentro de um mundo já maduramente globalizado, os países que apostam em desenvolvimento científico e tecnológico detêm as grandes organizações, as quais, por sua vez, detém a ideação, produção e oferta de negócios para o mundo todo, exportando conhecimento, tecnologias e sistemas que fazem o mundo moderno funcionar. Faz-se necessário, então, que o fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico seja enaltecido e ampliado em todo o mundo, para que nações menos privilegiadas nesse contexto possam se desenvolver com suas indústrias e levar a uma maior sustentabilidade e à qualidade de vida a seus cidadãos. Em linha com o pensamento de Valeriano (2015, p. 22), “[…] os últimos anos nos mostraram que as fronteiras políticas e econômicas estão cada vez mais diluídas, mais difusas e indiscerníveis”. Essa caracterização do autor retrata que, apensar de ainda haver fomento e iniciativas de desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação maiores em países desenvolvidos, as possibilidades de ampliar esse cenário em países em desenvolvimento também podem ser mais exploradas. Henriques (2018) nos ensina que é importante que tenhamos a chamada difusão da inovação, de forma a compreender indivíduos, grupos informais, organizações e/ou subsistemas interagindo e trabalhando em prol de um objetivo em comum. Nesse contexto, ao longo deste tópico, conheceremos as questões relacionadas à formação de empresas, fusões e aquisições, assim como à criação de valor pela inovação e aos incentivos ao desenvolvimento de negócios inovadores por meio de fontes de financiamento e fomento à inovação. Ademais, conheceremos instituições de apoio à ciência, à tecnologia, à inovação e ao empreendedorismo. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 100 2 FORMAÇÃO DE EMPRESAS, FUSÕES E AQUISIÇÕES A formação de uma nova empresa, no Brasil, deve seguir alguns critérios e uma legislação específica, seja quando se cria uma organização empresarial a partir de um novo empreendimento, seja quando há uma reformulação em estruturas empresariais já consistidas, mediante operações de fusões e aquisições corporativas. A formação de empresas deve, ainda, seguir rigidamente os preceitos definidos pelo novo Código Civil Brasileiro, assim como as leis complementares e os registros nos devidos órgãos governamentais, para estruturação, formalização e homologação de qualquer empresa. 2.1 FORMATO DE EMPRESAS O novo Código Civil Brasileiro traz definições para os diferentes tipos de sociedades no que diz respeito à constituição de empresas brasileiras em território nacional. É importante entender, assim, qual é o melhor enquadramento para cada tipo de empresa que se deseja criar e fazer a escolha adequada pelo seu modelo jurídico empresarial. A seguir, será apresentada uma descrição sucinta dos tipos de sociedades empresariais existentes e identificadas por Dornelas (2021). Vamos conhecer cada uma delas? 2.1.1 Sociedade simples Uma sociedade simples é caracterizada por uma sociedade formada por pessoas que se obrigam, de forma recíproca, a contribuir com bens ou serviços para o exercício de atividade econômica e a partilha de resultados entre si, não tendo por objeto o exercício de atividade própria de empresário (DORNELAS, 2021). Considere como exemplo de uma sociedade simples dois advogados que constituem um escritório jurídico. Essa sociedade, em específico, pode ter diferentes tipos societários: sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples ou sociedade limitada. 2.1.2 Sociedade empresária Uma sociedade empresária é definida por Anan Jr. e Marion (2015, p. 22) como uma “[…] sociedade para explorar atividades de empresas”. Esse tipo de sociedade possui como objetivo o exercício de atividade própria de empresário, sujeito a registro, incluindo a sociedade por ações, com necessidade de estar inscrita na Junta Comercial do Estado onde se estabeleceu. 101 Pode ser constituída de acordo com os Arts. 1.039 a 1.092 do Código Civil em: sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade limitada, sociedade anônima e sociedade em comandita por ações (BRASIL, 2002). 2.1.3 Sociedade limitada Uma sociedade limitada é uma sociedade empresária, em que a responsabilidade dosseus sócios proprietários é restrita ao valor de suas quotas, sendo que todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. Anan Jr. e Marion (2015) informam que mais de 90% das organizações empresariais no Brasil estão no formato de sociedade limitada. As características principais desse tipo de sociedade, segundo Dornelas (2021), são: · os sócios se responsabilizam pela exata estimação de bens conferidos ao capital social; · o capital social é dividido em quotas entre os sócios; · a sociedade limitada é regida pelo Código Civil e, nas omissões, pelas normas da sociedade simples ou da sociedade anônima, de acordo com seu contrato social; · os sócios não podem distribuir lucros ou realizar retiradas, se distribuídos com prejuízos de capital. 2.1.4 Sociedade por ações Uma sociedade por ações ou sociedade anônima, normalmente, é chamada de “companhia” e tem seu formato utilizado por grandes empreendimentos, por conferir segurança aos acionistas. O capital social é dividido em ações, sendo que cada acionista (sócio) responde somente pelo preço de emissão das ações que adquiriu. Esse modelo de sociedade é regido pela Lei n. 6.404/1976, atualizada pela Lei n. 11.638/2007, nos casos omissos, pelas disposições do novo Código Civil. Além disso, nesse tipo de sociedade, podemos ter: companhia aberta, companhia fechada, sociedade de capital autorizada e sociedade de economia mista (BRASIL, 2002). As sociedades fechadas não possuem ações comercializadas e contam apenas com acionistas em um grupo restrito. Já sociedade aberta é quando o capital é aberto na bolsa de valores ou Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com oferta pública de ações ao mercado. 102 2.1.5 Sociedade estrangeira Uma sociedade estrangeira é um modelo de sociedade empresarial formatada para grandes empreendimentos, que traz maior segurança aos acionistas com o uso de regras rígidas (DORNELAS, 2021). Esse tipo de sociedade é constituído e organizado em conformidade com a legislação de seu país de origem, que também a administra. 2.1.6 Sociedade cooperativa Uma sociedade cooperativa é uma sociedade empresarial com um número de sócios que compõem sua administração. Nesse tipo de sociedade, não há limitação de número máximo de sócios, em que as quotas de capital são intransferíveis a terceiros, sendo que cada sócio tem o direito a um voto nas assembleias. Esse tipo de sociedade empresarial também é considerado sociedade simples. 2.1.7 Outros tipos de sociedades Outros tipos de organizações ainda são definidos no contexto de desenvolvimento de negócios em conformidade com Dornelas (2021). São elas: fundações, associações, micro e pequenas empresas, microempreendedor individual. Vejamos cada uma delas: 1. fundações: organizações criadas a partir da doação de bens livres, por escritura pública ou testamento, especificando o fim a que se destinam e declarando a maneira de administrar; 2. associações: referem-se a entidades de direito privado, dotadas de personalidade jurídica, e se caracterizam pelo agrupamento de pessoas para a realização e consecução de objetivos e ideais comuns, sem finalidade econômica. 3. micro e pequenas empresas: organizações empresariais definidas pela Lei Complementar n. 127/1994, que ratifica o Estatuto Nacional das microempresas e empresas de pequeno porte para criar condições simplificadas, para que estas sejam formalizadas de maneira mais simples (menos burocrática). 4. empreendedor individual: organização empresarial definida na Lei Complementar n. 128/2008, com condições especiais para que o empreendedor informal se torne um empreendedor legalizado. Dornelas (2021, p. 233) cita a definição do Portal do Empreendedor, em que o empreendedor individual é “[…] a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno empresário”. Para ser um empreendedor individual, o faturamento do negócio está limitado a R$ 81.000,00 por ano (considerando informações de 22/03/2022). Como vantagem, podemos mencionar as isenções de impostos, como o Imposto de Renda, o PIS, o Cofins, o IPI e o CSLL. 103 2.2 CRIAÇÃO DE VALOR PELA INOVAÇÃO A criação de valor na inovação está associada à capacidade de uma organização identificar uma nova oportunidade de mercado e traduzi-la em uma vantagem competitiva, por meio da chamada diferenciação (KOTLER; KELLER, 2012). Trata-se da forma como uma empresa oferta um produto ou serviço com base na satisfação ou experiência do usuário, assim como na forma como o valor é percebido por essa relação de consumo, tornando-se vantajosa na ótica do cliente. O fato de uma empresa ter um papel de destaque em termos de inovação dentro de um setor não significa necessariamente que terá melhores resultados em termos econômicos e financeiros, por isso depende muito de como a empresa consegue criar valor (CARSTENS, 2019, p. 154-155). Se desejar se aprofundar sobre o modelo de negócio baseado na estratégia de oceano azul, procure conhecer o modelo de negócio do Cirque du Soleil. Informações interessantes sobre o modelo estão presente no livro “A estratégia do oceano azul”, de Kim e Mauborgne (2005), que inicia com o exemplo de negócio disruptivo e que criou um mercado circense. A obra leva o leitor a refletir sobre a necessidade de deixar um mercado muito concorrido e criar um com ideias inovadoras e, sobretudo, a partir do empreendedorismo. A estratégia do oceano azul apresenta ferramentas eficazes que permitem avaliar a consistência e robustez da inovação, além do valor, uma vez que ela já tenha sido criada. DICA O desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação necessita de proteção para que o produto, o serviço, a tecnologia ou a metodologia desenvolvida sejam registrados como propriedade, junto ao seu criador, mantendo-se protegida contra o uso ilegal da propriedade intelectual produzida. Para tanto, existe a necessidade de registro de marcas e patentes. Carstens (2019, p. 158) nos explica que “[…] o desenvolvimento de novos mercados envolve a criação de propostas de produtos e serviços que, caso não estejam protegidos por uma patente, correm o risco de ser facilmente copiados pelos concorrentes”. Note, assim, que há necessidade de inovar e empreender considerando esses riscos e buscando providências para a proteção de propriedade intelectual e patente de inovação. 104 Marcas e patentes são instrumentos de proteção a negócios, principalmente no contexto da inovação. Realizar o registro de uma marca ou patente é uma maneira de fazer com que um produto ou serviço inovador tenha seu direito assegurado pela lei de propriedade e possibilite fazer uso de receitas financeiras devidas à invenção, de forma protegida contra cópia, pirataria ou uso indevido de informações. Nesse sentido, Carstens (2019, p. 159, grifo nosso) nos lembra que “[…] a chamada propriedade intelectual de uma inovação pode ser considerada uma das maiores vantagens no que se refere à criação de valor para a empresa”. Os valores de marcas, na atualidade, elevam o próprio valor das empresas, estando vinculadas a sua propriedade intelectual. Para exemplificar, lembremos dos casos da Google, do Facebook e do YouTube, que possuem sistemas de informação altamente valorizados, os quais as transformaram nas marcas mais valiosas do mundo. A propriedade intelectual se relaciona a todas as criações de natureza industrial, científica, artística ou literária, bem como os respectivos direitos de seus autores. No Brasil, a organização responsável por registro de patentes e marcas é o INPI. Trata-se de uma autarquia do governo federal criada na década de 1970 e vinculada, atualmente, ao Ministério da Economia. O INPI é responsável, também, pela averbação de contratos de transferência de tecnologia, pelo registro de programas e computador, pelos contratos de franquia empresarial, pelo registro de desenho industrial e pelas indicações geográficas. 2.2.1 Marcas Uma marca é vista como uma identificaçãovisual e perceptível de um produto ou serviço. Dornelas (2021, p. 234) nos ensina que o INPI define uma marca da seguinte forma: “[…] segundo a lei brasileira, é todo sinal distintivo, visualmente perceptível, que identifica, distingue produtos e serviços de outros análogos, de procedência diversa, bem como certifica a conformidade dos mesmos com determinadas normas ou especificações técnicas”. Quanto à classificação no que diz respeito à origem, a marca pode ser: · brasileira: marca depositada em território nacional por pessoa domiciliada no Brasil; · estrangeira: marca depositada no Brasil por pessoa não domiciliada no país ou que é depositada em país vinculado a um acordo ou tratado ao qual o Brasil tenha participação. Já quanto à classificação no que diz respeito ao uso, a marca pode ser: · de produtos ou serviços: utilizada para distingui-los de outros idênticos, semelhantes ou afins, de origem diversa; 105 · de certificação: destinam-se a atestar a conformidade de produtos ou serviços a partir de normas; · coletiva: utilizada para identificar produtos ou serviços provindos de membros de determinada entidade. Quanto à apresentação, a marca pode ser: · nominativa: constituída por uma ou mais palavras no sentido amplo do alfabeto romano; · figurativa: constituída por desenho, imagem, figura ou qualquer forma estilizada de letra e número; · tridimensional: constituída pela forma plástica de produto ou embalagem; · mista: constituída pela combinação de elementos nominativos e figurativos. 2.2.2 Patentes Uma patente é considerada um instrumento de proteção e propriedade temporária. Dornelas (2021) apresenta a patente como um título de propriedade (temporária) sobre uma invenção ou um modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos seus inventores, a seus autores ou, ainda, a outras pessoas (físicas ou jurídicas) que detêm os direitos sobre a criação. De forma complementar, Carstens (2019, p. 159) define patente como “[…] uma concessão para o autor de uma invenção de direito de exclusividade de exploração comercial por determinado período de tempo”. Após o período de tempo ser expirado, a inovação fica à disposição de outras empresas, que podem explorar a ideia e o modelo comercialmente. Para registrar uma patente, é necessário o depósito de um pedido de patente no INPI e sua tramitação no órgão. De forma simples, o processo é realizado conforme as seguintes fases: 1. busca prévia: busca de informações para avaliação sobre a intenção de registro; 2. depósito e conteúdo do pedido de patente: depósito de pedido de patente no INPI no Rio de Janeiro, nas delegacias ou nas representações regionais; 3. sigilo de pedido depositado: pedido de sigilo por 18 meses, até a finalização do processo; 4. exame do pedido: análise de um examinador de patentes; 5. carta-patente: com o pedido deferido pelo INPI, haverá publicação da expedição da patente; 6. recurso/nulidade: processo para recorrer de decisões do INPI sobre o processo. 106 2.3 FUSÕES E AQUISIÇÕES NO CONTEXTO DA INOVAÇÃO Um processo de inovação, normalmente, exige da empresa um planejamento que envolve investimentos, riscos e mobilização de recursos. Essas necessidades podem ser supridas com o desenvolvimento de alianças, parcerias, operações de transformação, incorporação, fusão e cisão empresarial, como as joint ventures, que trazem alternativas para minimizar os riscos financeiros da inovação e possibilitar maior eficácia ao reduzir tempo e custos no momento de necessidade de desenvolvimento de novos projetos e lançamentos de inovação ao mercado (CARSTENS, 2019). Uma transformação empresarial é considerada por Anan Jr. e Marion (2015, p. 37) como “[…] a operação pela qual uma sociedade, independentemente de dissolução e liquidação, passa de um tipo estrutural e gestão para outro, no estado atual”. Anan Jr e Marion (2015) ainda mencionam que o conhecimento e a troca de informações podem ser apontados como as principais contribuições dos processos de parcerias entre organizações em um mundo tecnológico e dinâmico. Quanto a uma das estratégias de transformações empresariais para compor nossos estudos sobre as parcerias em inovação, podemos citar a fusão, uma operação de união entre empresas, por meio da qual se unem duas ou mais sociedades para formar uma sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e todas as obrigações. É a operação na qual duas ou mais empresas se extinguem, com o objetivo de criar uma sociedade com personalidade jurídica distinta, resultando em uma nova sociedade que adquire os ativos e passivos das demais. Temos, também, a incorporação, que é a união de empresas retratada como a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede nos direitos e nas obrigações, de forma totalitária. A empresa que foi incorporada deixa de existir, porém a incorporadora continua com sua personalidade jurídica. Nos grupos de sociedade, temos um grupo que terá designação na qual constatarão o grupo de sociedades ou grupo, que deverá ter o exercício de controle de um grupo de sociedades (sociedade-comando), exercida por uma sociedade holding, que pode ser pura ou mista. Outra estratégia diz respeito às sociedades coligadas e controladas, quando uma delas participa com 10% ou mais do capital da outra, mas sem o controle acionário. Esse tipo de movimentação empresarial também é protegido pela Lei das Sociedades por Ações. Já a subsidiária integral é uma espécie de companhia que pode ser constituída mediante escritura pública, tendo como único acionista a sociedade brasileira. Pode ser resultado de uma incorporação de todas as ações de uma companhia por outra, exigindo que exista prévia aprovação da assembleia geral das duas sociedades. 107 Por fim, o consórcio se relaciona ao caso de sociedades que desejam se unir em projeto de um empreendimento, sem perder sua personalidade jurídica, sem abdicar de sua autonomia de gestão e sem participação acionária (opcionalmente). Nesse modelo, um contrato temporário ou não é realizado, sem personalidade jurídica, e duas ou mais sociedades se unem com o objetivo de executar um empreendimento. Esse modelo caracteriza o que se chama de joint venture. No contexto de inovação, uma joint venture é apresentada por Carstens (2019, p. 164) como “[…] uma parceria temporária entre duas empresas com algum objetivo (interesse) em comum e que podem combinar seus recursos para potencializar resultados”. No contexto da inovação e do movimento tecnológico acelerado em que vivemos, podemos perceber grandes e importantes operações de joint ventures entre empresas, até porque muitas tecnologias já estão em desenvolvimento no mundo todo e podem ser unificadas para suplementar novos produtos. Por exemplo, temos o caso de montadoras de automóveis robustas e bem estabelecidas, com fábricas distribuídas em vários lugares do planeta e que estão buscando parcerias com empresas de energia para a criação de um proeminente mercado de automóveis movidos à eletricidade. 3 INCENTIVOS AO DESENVOLVIMENTO DE NEGÓCIOS INOVADORES O desenvolvimento de tecnologias e inovação, por meio de práticas do empreendedorismo, exige dos empreendedores a necessidade primária de identificar uma oportunidade singular e saber elaborar um plano de negócios para estruturar o empreendimento e, também, reconhecer as alternativas de financiamento, além de estabelecer as redes de contatos que oportunizem escalar o novo negócio. Dornelas (2021, p. 186) nos ensina que “[…] o plano de negócios é o cartão de visitas do empreendedor em busca de financiamento”. Com um plano de negócios desenvolvido, o empreendedor tem uma primeira perspectiva do que deseja desenvolver, as análises dos ambientes interno e externo da organização, assim como os planejamentos de marketing, vendas, operacional e financeiro. O segredo relatado por Baxter (2011) para uma inovação bem-sucedida é uma gestão muito bem executada do risco do projeto.A gestão ou gerência de risco deve ser especialmente aberta para algumas situações importantes, sendo elas: · estabelecimento de metas: ao lançar um novo produto no mercado, devem ser estabelecidas metas que verifiquem o alinhamento à satisfação dos objetivos propostos e sua aceitação com os clientes; · eliminação do produto: tomar a decisão de eliminar um produto quando este não se mostrar capaz de atingir metas estabelecidas em sua concepção. 108 Para colocar um plano de negócios em execução, naturalmente, é necessário haver capital para investir no empreendimento. A busca por esse capital é uma atividade complexa, que necessita de algum engajamento e estratégia para conquistar parcerias que tenham interesse em financiar parte do projeto, principalmente quando o contexto da inovação traz incertezas e altos riscos aos investidores. É importante, também, dizer que projetos de maior risco são aqueles que estão direcionados a maiores rentabilidades (DORNELAS, 2021). Algumas alternativas para levantar capital como investimento no novo empreendimento são: · economia pessoal, família e amigos; · fornecedores, parceiros estratégicos, clientes e funcionários; · capital de risco (venture capital) e programas do governo brasileiro. Vamos, então, a partir de agora, conhecer algumas opções de capitalização para colocar o plano de negócios na prática? Acompanhe a seguir! 3.1 ECONOMIA PESSOAL, FAMÍLIA E AMIGOS O financiamento por meio de uso de recursos econômicos pessoais, da família ou de amigos é muito comum e, geralmente, possível devido a fatores pessoais e patrimoniais familiares. Inclusive, recorrer a investidores familiares pode parecer uma boa opção para uma parte da sociedade que possui essa condição econômica. Nesse modelo de investimento, há uma maior tranquilidade em desenvolver o negócio, pois, normalmente, os juros ou as condições de empréstimo são mais aprazíveis para o investidor, já que está fazendo uso de erário próprio ou familiar. Nessa categoria de busca por investimentos, pode-se utilizar o dinheiro economizado na família, o dinheiro de patrimônio herdado, a venda de imóveis ou bens pessoais (automóveis) ou, ainda, optar por usar o cartão de crédito. Além de recorrer ao uso de capital próprio ou familiar, para pequenos e médios empreendimentos, também há possibilidades de uso de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). 3.2 INVESTIDOR-ANJO Conhecido como angel investor, de acordo com Dornelas (2021), o investidor- anjo é um investidor como pessoa física, capitalista de risco que possui dinheiro e busca alternativas para obter rentabilidade a partir de projetos empreendedores alheios. Esse investidor oferece o dinheiro inicial para a criação de um negócio, chamado de seed money (investimento inicial), e, mais uma vez, utiliza-se do plano de negócios para tomar a decisão de investir ou não no empreendimento. 109 3.3 FORNECEDORES, PARCEIROS ESTRATÉGICOS, CLIENTES E FUNCIONÁRIOS Fornecedores, parceiros estratégicos, clientes e funcionários também podem adentrar no mundo dos investidores em tecnologia e inovação com programas de empreendimento em negócios. Parceiros estratégicos, por exemplo, podem ajudar a empresa se tiverem informação sobre recompensas, ou seja, se conhecerem bem o plano de negócio e se motivarem com ele para entrar no negócio a partir de parceiras investindo dinheiro para a criação do empreendimento. Essa parceria pode, também, ser estendida a fornecedores, clientes e funcionários, que podem se tornar investidores parceiros. Uma estratégia interessante adotada por empresas, já há algum tempo, é a distribuição das chamadas stock options. A estratégia busca fomentar o engajamento de colaboradores, principalmente em níveis de gerência e direção para com os resultados financeiros de empresas com capital aberto na bolsa de valores. Essa estratégia de remuneração de colaboradores permite que funcionários recebam lotes de opções de compra de ações a valores abaixo daqueles praticados nos corretores em bolsa de valores, mantenham-nas como propriedades e investimentos após sua compra ou, ainda, façam operações de compra e venda, permanecendo com o lucro obtido pela valorização dos papéis. 3.4 CAPITAL DE RISCO “Corporate venture” é uma expressão utilizada para definir esforços de uma corporação para a criação de iniciativas via empreendimento corporativo e, também, empreendimentos externos, baseado no fomento a startups. Essa iniciativa pode ser realizada para incentivos a empreendimentos internos ou externos à organização. Conheça quem são os 30 investidores-anjo brasileiros mais bem ranqueados no LinkedIn com o artigo a seguir. Procure ampliar sua pesquisa em sistemas de busca na internet sobre os investidores-anjo com destaque no país. Lembre-se de utilizar sites de referência, como revistas especializadas, universidades, redes sociais especializadas e portais corporativos. Acompanhe o artigo na íntegra em: https://www.linkedin.com/pulse/quem-s%C3%A3o-os- 30-investidores-anjo-brasileiros-melhor-linkedin-braga- /?originalSubdomain=pt. Acesso em: 9 set. 2022. INTERESSANTE 110 Quando temos um corporate venture interno, a relação se dá no contexto do empreendedorismo corporativo ou intraempreendedorismo, com a empresa investindo em projetos de colaboradores que desenvolvem produtos e serviços ardentes à estratégia da organização. Por sua vez, no corporate venture externo, a relação ocorre quando uma empresa busca criar iniciativas empreendedoras com recursos internos e parcerias ou investimentos com startups. O chamado corporate venture capital ou capital de risco é um modelo de financiamento de projetos, normalmente focados em inovação, utilizado quando organizações investem o seu capital próprio em novas empresas, em formato de startups, destacando o conhecimento das regras de mercado de capitais, com o objetivo de agregar benefícios ao negócio, complementando as estratégias de governança e o desenvolvimento da inovação das organizações empresariais. O corporate venture capital atua como um complemento aos esforços de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das organizações e desenvolvimento corporativo. Busato (2020) nos ensina que o venture capital também é chamado de “capital empreendedor” e tem origem no mercado financeiro, concebido como uma alternativa para a viabilização de um negócio. Aqui, o empreendedorismo corporativo (intraempreendedorismo) faz uso desse investimento interno para poder desenvolver ciência, tecnologia e inovação. Os principais objetivos de um corporate venture capital podem ser identificados como: · promover inovação para as empresas; · acessar novas tecnologias, modelos de negócios e tendências; · buscar por parcerias com novas startups que desenvolvem produtos e serviços alinhados ao core business da organização; · oferecer retorno financeiro dos investimentos para aumentar lucros. O corporate venture capital pode ocorrer de diferentes formas. Uma delas é por meio da aquisição de participação em pequenas empresas ou novos empreendimentos externos, em formato de startup, ou, ainda, com a aquisição e o controle parcial ou total de uma empresa que desenvolve algum tipo de produto, serviço ou tecnologia que seja interessante para seu core business. Busato (2020, p. 68) defende que, “[…] diferente de um financiamento convencional, no venture capital, além da entrada de recursos financeiros, existe participação do investidor na gestão da empresa”. Busato (2020) sustenta que o investimento em venture capital pode ser realizado por companhias de participações, gestores, fundos de investimentos e 111 investidores individuais que disponham de capital de investimento, normalmente reunidos em fundos, sendo chamados de “cotistas”. Tais investidores compram cotas quando o fundo de investimento está no início das suas operações e resgatam quando o investimento for retirado. Já Dornelas (2021) nos ensina que o capital de risco vem apresentandoimportante crescimento no Brasil, atraindo a atenção de grandes bancos de investimento para a oferta desse dinheiro ao empreendedor. Essas empresas financiadoras (bancos) investem em capital de risco, com o objetivo de encontrar empresas e negócios de alto potencial de desenvolvimento de novos negócios, na expectativa de obter rentabilidades acima das taxas de juros praticadas no país, como uma estratégia de investimentos mais interessantes. Ainda segundo Dornelas (2021), para que um empreendedor tenha sucesso em conseguir um investimento perante um investidor de risco, ele precisa demonstrar que o negócio tem: 1. ideia realmente inovadora; 2. plano de negócios bem elaborado; 3. mercado-alvo expressivo e em crescimento; 4. equipe de gestão considerada excelente. O investimento por meio do uso de venture capital se dá, normalmente, a partir de uma avaliação mais complexa do plano de negócios e em diferentes fases. Vamos conhecer essas fases. 1. Fase pré-inicial ou fase da ideia: o montante inicial de capital é investido para validar a ideia, fazendo uso de capital próprio, capital de amigos e/ou investidores- anjo, na maioria dos casos. 2. Fase inicial (startup): com a empresa já constituída e com alguma maturidade, o produto se encontra em processo de melhoria e, também, em processo de aceitação do público. O capital de risco, então, é investido na empresa, mas ainda há alto risco no negócio. Nessa fase, normalmente se faz uso do capital originário de investidores-anjo. 3. Expansão: com a empresa em desenvolvimento ainda haverá necessidade de financiar seu crescimento (escalabilidade) através de uma primeira rodada de investimento de capital de risco. Esta rodada é chamada de first round. 4. Consolidação e saída dos investidores-anjo e do capitalista de risco: a empresa busca expansão maior e utiliza negociação com aquisição, parcerias e outras rodadas de investimentos para buscar a geração de resultados propostos em seu planejamento financeiro do plano de negócios. Aqui, existe a possibilidade de abertura de capital em bolsa de valores. 112 3.5 PRIVATE EQUITY O private equity é “[…] um modelo de fomento e financiamento de inovações ligado a empresas maduras, ou em fase de reestruturação, consolidação e/ou expansão de seus negócios” (BUSATO, 2020, p. 69). Esse modelo de financiamento de novos negócios ou inovações busca empresas com faturamentos maiores do que aquelas iniciantes, pequenas. Seu foco diz respeito às empresas com faturamento acima de R$ 100 milhões. Segundo Busato (2020, p. 69), “[…] enquanto o venture capital está relacionado a empreendimentos em fase inicial, o private equity está ligado a empresas maduras ou em fase de reestruturação, consolidação e/ou expansão de seus negócios”. NOTA Vale ressaltar que os investimentos em private equity são voltados a empresas estabelecidas e com necessidade de capital para expansão. Assim, essa modalidade busca impulsionar financeiramente a empresa. 4 FOMENTO À INOVAÇÃO EM NOVOS NEGÓCIOS O fomento à inovação, no Brasil, é um assunto que ainda requer muita atenção por parte de órgãos governamentais e empresas privadas. A promoção da inovação tecnológica das empresas em nosso país reflete uma situação não confortável. Conforme sustenta Busato (2020), para o Brasil atingir um patamar adequado de desenvolvimento socioeconômico e, consequentemente, conseguir diminuir o atraso científico tecnológico diante de outros países desenvolvidos, é necessário um maior investimento em programas de apoio ao desenvolvimento científico, tecnológico e em inovação junto às empresas. 4.1 AGÊNCIAS DE FOMENTO À INOVAÇÃO As “agências”, nome definido pelo departamento de Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia (ENCTI), são organizações que alocam recursos públicos por meio de diversos instrumentos de apoio às atividades relacionadas à ciência, à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação no Brasil. Essas organizações materializam as diretrizes acordadas em nível político com a execução de programas e projetos implementados pelas operadoras de ciência tecnologia e inovação no país. 113 Vejamos, a seguir, alguns exemplos dessas agências e programas que promovem fomento e incentivo à inovação 4.1.1 CNPq O CNPq “[…] é uma agência que tem como principais atribuições fomentar a pesquisa científica e tecnológica e incentivar a formação de pesquisadores brasileiros” (BUSATO, 2020, p. 42). A missão dessa organização é fomentar a ciência, a tecnologia e a inovação, bem como atuar na formulação de suas pesquisas, contribuindo para o avanço das fronteiras do conhecimento, o desenvolvimento sustentável e a soberania nacional. Seu vínculo estatal é com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC). 4.1.2 CAPES A CAPES é uma fundação do Ministério da Educação. De acordo com Busato (2020, p. 43), ela “[…] desempenha papel fundamental na expansão e consolidação de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os Estados da Federação”. Suas atividades podem ser agrupadas em duas linhas de ação, a saber: 1. iniciativas institucionais: por meio de Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG), Plano de Integração ao Portal de Serviços à Plataforma de Cidadania Digital, Plano de Dados Abertos (PDA) e Plano Diretor de Tecnologia da Informação (PDTI); 2. iniciativas por áreas finalísticas: por meio de avaliação da pós-graduação stricto sensu, investimentos na formação de recursos de alto nível no país e no exterior, acesso e divulgação de produção científica, indução e fomento à formação de professores e promoção da cooperação científica internacional. 4.1.3 Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) A EMBRAPII representa uma organização social vinculada ao Ministério da Educação, mas tem financiamento também gerenciado pelo MCTIC. A missão da EMBRAPII, segundo a própria instituição, apresentada por Busato (2020, p. 44), é “[…] apoiar instituições de pesquisa tecnológica, em áreas de competência de algo grau de conhecimento, para que executem projetos de desenvolvimento de pesquisa tecnológica para inovação, em cooperação com empresas do setor industrial”. 114 4.1.4 Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) As FAPs se destacam como agências de fomento à ciência e inovação no Brasil. Por exemplo, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) foi instituída em 1960 e possui um orçamento anual de 1% do total da receita tributária do Estado para apoiar a pesquisa e financiar a investigação, o intercâmbio e a divulgação da ciência e da tecnologia produzida no Estado de São Paulo. 4.1.5 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) O BNDES representa a principal estatal para o financiamento de longo prazo e investimentos em todos os segmentos da economia brasileira. Tem como missão, conforme apresentado por Busato (2020, p. 46), “[…] viabilizar soluções financeiras que adicionam investimentos para o desenvolvimento sustentável da nação brasileira”. Diversos são os seus programas de fomento à inovação e, também, ao empreendedorismo, como o Programa Criatec. 4.1.6 Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) A FINEP tem como missão, conforme apresentada por Busato (2020), promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil, por meio público, da ciência, tecnologia e inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições, públicas ou privadas. A FINEP oferece um programa chamado Incubadora de fundos da FINEP e Programa Inovar, que busca financiar estudos e projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia, bem como apoiar o mercado de investimento de riscos (venture capital) no Brasil. A ideia, então, desse programa, é buscar estimular e financiar rodadas de negócios, seminários e campanhas de divulgação do empreendedorismo. O Programa Criatec, do BNDES, visa investir recursos de capital de risco em empresas inovadoras. É possível descobrir maioresinformações sobre o programa acessando o link: https://www.bndes.gov.br/wps/ portal/site/home/mercado-de-capitais/fundos-de-investimentos/ criatec/criatec-i. Acesso em: 9 set. 2022. INTERESSANTE 115 4.1.7 Operadores de ciência, tecnologia e inovação Outro importante grupo de fomento e incentivo à ciência, pesquisa e inovação, no Brasil, é representado pelos operadores de ciência, tecnologia e inovação. Essas instituições são responsáveis pela viabilização dos processos de desenvolvimento tecnológico e de inovação empresarial. Podem ser gerenciadas por: · universidades, que têm o papel de protagonista no processo de desenvolvimento econômico e social, tendo a inovação e os ambientes de inovação como fundamentos; · institutos de pesquisa do MCTIC, que facilitam o relacionamento com empresas e universidades; · Institutos Nacionais de C&T (INCT), que mobilizam e agregam, de forma articulada, os grupos de excelência em áreas de fronteira da ciência para o desenvolvimento sustentável no país. O Programa da Fundação Estadual de Amparo à Pesquisa visa apoiar os projetos de pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos, a elaboração de planos de negócios e o estudo de mercado em empresas de base tecnológica. Tenha mais informações acessando: http://www.finep.gov.br/. Acesso em: 9 set. 2022. O Programa de Apoio Tecnológico à Exportação (Progex) presta assistência tecnológica às micro e pequenas empresas, para se tornarem melhores em atividades de exportação de produtos e serviços. Acesse o link e saiba mais sobre esse programa: http://www.finep.gov.br. Acesso em: 9 set. 2022. DICA DICA 116 4.1.8 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) O Sebrae vem se apresentando com a principal entidade de apoio aos empreendimentos brasileiros na visão de Dornelas (2021). Ele foi criado pelo Poder Executivo e é administrado, na atualidade, pela iniciativa privada. Trata-se de uma organização com representações e operações em todo o território nacional, que suporta e orienta empresários experientes a desenvolverem o chamado “empreendedorismo corporativo”, assim como novos empreendedores, sendo este segundo caso com maior intensidade. Informações completas sobre o Sebrae e seus programas de incentivo à inovação no formato de empreendedorismo podem ser consultadas com facilidade, com o acesso ao link: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae. Residente é um modelo em que a empresa incubada ocupa um espaço dentro do prédio físico da incubadora. No modelo não residente, a empresa recebe suporte da incubadora em sua sede. DICA NOTA 4.1.9 Instituições de apoio à ciência, tecnologia e inovação As instituições de apoio à ciência, tecnologia e inovação podem ser classificadas em: incubadoras de empresas, parques tecnológicos e aceleradores de startups. 1. Incubadoras de empresas: apresentam-se como instituições de apoio à ciência, tecnologia e inovação no Brasil. Busato (2020) apresenta que, atualmente, existem 369 incubadoras de empresas, que oferecem suporte a empreendedores para que possam desenvolver ideias inovadoras e transformá-las em empreendimentos. Essas incubadoras podem ser desenvolvidas de forma residente ou não. 117 2. Parques tecnológicos: constituem um complexo produtivo industrial e de serviços de base científico-tecnológica, planejados de maneira formal, concentrada e cooperativa, agregando empresas que desenvolvem P&D. São exemplos o Parque Tecnológico de San Pedro Valley, em Belo Horizonte; o Parque Tecnológico do Rio de Janeiro; o Parque tecnológico Sapiens, em Florianópolis; e o Parque Tecnológico Itaipu, em Foz do Iguaçu. 3. Aceleradores de startups: representam um ambiente propício para o desenvolvimento de empresas em formato de startups. São pessoas jurídicas que podem ter ou não fins lucrativos e que se dedicam ao apoio de negócios inovadores iniciais. São exemplos de aceleradores e startups: ACE, Artemisia, Startup Farm, InNova, Cesar Labs e Techmall. O artigo a seguir traz as dez aceleradoras que podem ajudar a dar um gás no negócio. Acesse o artigo na íntegra em: https://exame.com/pme/10-aceleradoras- que-te-ajudam-a-dar-um-gas-no-seu-negocio/. Acesso em: 9 set. 2022. INTERESSANTE 4.1.10 Outros programas O Programa de Subvenção Econômica busca promover a aplicação de recursos públicos não reembolsáveis para empresas, a fim de compartilhar com elas os cursos e riscos de atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. Já a Finep Startup busca apoiar a inovação em empresas de conhecimento por meio do aporte de recursos financeiros e da promoção do crescimento do negócio com programas de aceleração, investidores-anjo e ferramentas de financiamento coletivo (crowdfunding). Temos, também, o Programa RHAE Inovação, um programa de capacitação de recursos humanos para atividades estratégicas, criado para apoiar projetos de inovação a partir da inserção de recursos humanos em atividades de desenvolvimento de empresas. Trata-se de uma concessão de bolsas a empresas para diversas atividades, busca empregar especialistas para treinamento no desenvolvimento tecnológico, além de enviar especialistas para treinamento no país e no exterior. Por fim, objetiva possibilitar a participação de especialistas nacionais e estrangeiros em projetos de pesquisa. 118 O Programa Microcrédito, por sua vez, é um sistema de poio a pequenos empreendimentos com empréstimos menores e juros acessíveis, aberto, também, a negócios informais e Organizações Não Governamentais (ONGs). Já o Sebrae Mais oferece soluções para ajudar pequenas empresas a implantar modelos avançados de gestão empresarial, ampliar a rede de contatos e implantar estratégias para estimular a inovação na empresa. Há informações completas disponíveis em: http://www.cnpq.br ou em https://www.gov.br/cnpq/pt-br/acesso-a-informacao/ acoes-e-programas/programas/rhae. Acesso em: 9 set. 2022. Informações disponíveis em: https://sebraetec.sebraemg.com.br/ sobre/. Acesso em: 9 set. 2022. Informações completas podem ser encontradas em: https:// www.gov.br/economia/pt-br. Acesso em: 9 set. 2022. DICA DICA DICA Por fim, o Programa Sebraetec e o Programa Sebrae Mais foram desenvolvidos pelo Sebrae. É um mecanismo coordenado pela instituição para permitir que as micro e pequenas empresas e os empreendedores possam acessar os conhecimentos existentes no país, a partir de consultorias, visando à elevação do patamar tecnológico da empresa. O Programa Sebraetec auxilia empreendedores, micro e pequenas empresas do setor da indústria, com o auxílio em consultoria de diagnóstico tecnológico, oficinas, suporte tecnológico, apoio tecnológico à exportação, atendimento tecnológico, aperfeiçoamento tecnológico, inovação tecnológica e clínicas tecnológicas com apoio de 80% a 100% dos custos do projeto. 119 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • O desenvolvimento tecnológico proporcionado por inovações permite o surgimento de novos negócios ou postos de trabalho. É um modelo utilizado para o desenvolvimento econômico em grande parte do planeta, considerando que o empreendedorismo tem importante posição na economia de um país. · A inovação leva ao desenvolvimento de ideias em negócios e tecnologias. A inovação é a base fundamental para o desenvolvimento de empreendedorismo, seja de natureza corporativa, seja de natureza de startup, no contexto de novos negócios. · O novo Código Civil Brasileiro traz definições para os diferentes tipos de sociedades quando na constituição de empresas brasileiras no território nacional. Existem sociedades simples, sociedades empresárias, sociedades limitadas, sociedades por ações (anônimas), sociedades estrangeiras e sociedades cooperativas. Há, também, micro e pequenas empresas, empreendedor individual, fundações e associações. · A criação de valor na inovação está associada à capacidade de uma organização identificar uma nova oportunidade de mercado e traduzi-laem uma vantagem competitiva por meio da chamada “diferenciação”. · No contexto de inovação, uma joint venture é apresentada como uma parceria temporária entre duas empresas com algum objetivo (interesse) em comum e que podem combinar seus recursos para potencializar resultados. · Os incentivos para desenvolver inovação e empreendedorismo podem ser originários de economia pessoal, família e amigos, investidor-anjo, parcerias com fornecedores, clientes, funcionários e capital de risco (venture capital). · Há diversas instituições que oferecem fomento e incentivo à ciência, à tecnologia, à inovação e ao empreendedorismo, como: CNPq, Capes, Embrapii, FAP, BNDES, Finep, operadores de ciência, tecnologia e inovação, Sebrae e instituições de apoio, como as incubadoras de empresas, os parques tecnológicos e os aceleradores de startups. 120 AUTOATIVIDADE 1 O desenvolvimento da sociedade atual é ligado ao desenvolvimento científico e tecnológico, bem como à inovação de forma mais intensa, quando comparamos os negócios e a sociedade de um passado recente. Os países e grupos empresariais que mais se destacaram foram aqueles que incentivaram ciência, tecnologia e inovação, assim como aqueles que buscaram diversificar mercados mediante a uma globalização mais intensa, desenvolvida nos últimos 30 anos, junto com o próprio desenvolvimento tecnológico. Sobre a formação de empresas, as fusões e as aquisições, quanto às características de uma sociedade limitada, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Sociedade empresarial formada por pessoas que se obrigam, de forma recíproca, a contribuir com bens ou serviços para o exercício de atividade econômica e a partilha de resultados entre si, não tendo por objeto o exercício de atividade própria de empresário. b) ( ) Sociedade empresária em que a responsabilidade dos seus sócios proprietários é restrita ao valor de suas quotas, sendo que todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. c) ( ) Sociedade empresária formada por grandes empreendimentos para a segurança aos acionistas, em que o capital social é dividido em ações, sendo que cada acionista ou sócio responde somente pelo preço de emissão das ações que adquiriu. d) ( ) Profissional autônomo que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno empresário. Para ser um empreendedor individual, o faturamento do negócio está limitado a R$ 250.000,00 por ano. 2 Um processo de desenvolvimento de negócios por meio da inovação exige da empresa um planejamento estratégico que envolve investimentos, riscos e mobilização de recursos, que pode ocorrer pelo desenvolvimento de alianças, parcerias, operações de transformação, incorporação, fusão e cisão empresarial, como as joint ventures. Essa estratégia traz alternativas para minimizar os riscos financeiros da inovação e possibilitar maior eficácia ao reduzir tempo e custos no momento de necessidade de desenvolvimento de novos projetos e lançamentos de inovação ao mercado. Assim, com base nas fusões e aquisições, quanto ao formato de organizações empresariais, analise as sentenças a seguir: I- Fusão é a união de empresas amparada pela Lei n. 11.638/2022, retratada como a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede nos direitos e nas obrigações, de forma totalitária. II- Incorporação é uma operação de união entre empresas amparada pela Lei n 11.638/2022, pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar uma nova sociedade, que lhes sucederá em todos os direitos e as obrigações. 121 III- Joint venture é um tipo de consórcio e representa uma parceria temporária entre duas empresas com algum objetivo (interesse) em comum, que podem combinar seus recursos para potencializar resultados. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e III estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) Somente a sentença III está correta. d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. 3 Uma corporate venture remete ao capital de risco, utilizada para definir esforços de uma corporação para a criação de iniciativas via empreendimento corporativo e, também, empreendimentos externos, baseados no fomento a startups. Esse modelo de fomento à inovação pode ser utilizado para promover incentivos a empreendimentos internos ou externos à organização. Sobre o corporate venture capital, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Refere-se a um modelo de financiamento de projetos que podem estar focados em inovação, utilizado quando organizações empresariais investem o seu capital próprio em novas empresas, em formato de startups, seguindo regras de mercado de capitais. ( ) Venture capital também pode ser chamado de “capital de acionistas” ou “capital de garantia de retorno” sobre o investimento. Tem origem no mercado financeiro, via captação de recursos em bolsa de valores, exclusivamente, concebido como alternativa para a viabilização de um negócio. ( ) De forma contrária ao financiamento convencional, no venture capital, além da entrada de recursos financeiros, existe participação do investidor na gestão da empresa. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) F - V - F. c) ( ) V - F - V. d) ( ) F - F - V. 122 4 O incentivo à inovação brasileira é um assunto que ainda requer muita atenção por parte de órgãos governamentais e empresas privadas. A inovação tecnológica é resultado de incentivos à produção de ciência, tecnologias e inovação, refletindo uma situação não confortável ao se observar o cenário brasileiro. Conforme sustenta Busato (2020), para o Brasil atingir um patamar adequado de desenvolvimento socioeconômico e diminuir o atraso científico tecnológico diante de outros países desenvolvidos, é necessário um maior investimento em programas de apoio ao desenvolvimento científico, tecnológico e em inovação, junto às empresas. Fonte: BUSATO, L. H. Atores, políticas e fomento à inovação-SNI, lei da inovação, incentivos, venture, capital, anjos, incubadoras, aceleradoras, startups. Curitiba: Contentus, 2020. Nesse sentido, apresente e caracterize, pelo menos, três agências de fomento à inovação no Brasil. 5 A criação de valor na inovação é associada à capacidade de uma organização identificar oportunidades de mercado e ter a capacidade de convertê-las em uma vantagem competitiva por meio de diferenciação em negócios. Frente a isso, apresente uma argumentação sobre o desenvolvimento científico e tecnológico, assim como seu vínculo com marcas e patentes, como instrumentos de proteção aos negócios de uma organização. 123 FOMENTO À INOVAÇÃO NO EXTERIOR 1 INTRODUÇÃO O incentivo e o fomento à inovação têm uma importância ímpar para que as nações no mundo todo possam incrementar suas economias com o desenvolvimento de novos produtos e ofertas destes a empresas nacionais ou internacionais. Perceba que vivenciamos a era da globalização, em que as empresas desenvolvem seus produtos não mais para mercados locais, mas, sim, observando necessidades e oportunidades espalhadas por todos os países estrangeiros também. Países desenvolvidos, como Estados Unidos, Inglaterra e França, possuem uma história marcada pelos incentivos ao desenvolvimento de ciências e tecnologia, que os colocam sempre na vanguarda do empreendedorismo e da inovação. No mundo todo, esses países se destacam pelas suas universidades, que atraem estudantes e pesquisadores que buscam lugares e espaços nos quais possam desenvolver seus projetos com algum tipo de fomento e financiamento para torná-los possíveis. Frente a isso, neste tópico, teremos a oportunidade de investigar instituições e programas de fomento à ciência, ao desenvolvimento de tecnologias e à promoção da inovação no mundo, observando programas voltados à inovação praticadosem outros países. Além disso, conheceremos a filosofia de lean startup ou empreendimentos enxutos, voltados para o mercado contemporâneo de empresas digitalmente locadas e impulsionadas pelas Tis. 2 PROGRAMAS DE FOMENTO À INOVAÇÃO NO EXTERIOR Diversas são as modalidades de investimento e fomento à inovação praticados pelo mundo. Instrumentos indiretos podem ser exemplificados com bolsas, auxílios à pesquisa e à infraestrutura, bem como cláusulas de pesquisa, desenvolvimento e inovação de agências reguladoras. Na categoria de instrumentos diretos de fomento, temos a subvenção econômica, os empréstimos, a renda variável, a compra do Estado com margem de preferência local, a economia tecnológica, os incentivos fiscais e o bônus tecnológico. Com isso em mente, a partir de agora, vamos nos aprofundar um pouco mais nesses instrumentos de fomento à ciência, tecnologia e inovação, observando alguns UNIDADE 2 TÓPICO 3 - 124 mercados de destaque no mundo. Iniciaremos com uma análise das iniciativas de fomento à inovação da União Europeia, passaremos pelos incentivos chineses e finalizaremos nossa análise observando os incentivos norte-americanos. Vamos lá?! 2.1 INOVAÇÃO NA UNIÃO EUROPEIA O desenvolvimento da inovação pode ser considerado preponderante para impactar positivamente a competitividade das nações (BUSATO, 2020). A União Europeia tem um organograma institucional com prioridades definidas pelo Conselho Europeu, que define políticas gerais para a região, com responsabilidades distribuídas pelo Parlamento Europeu, pelo Conselho da União Europeia e pela Comissão Europeia. No contexto do fomento à inovação, há diversos atores institucionalizados pelas agências de promoção e operação de ciência, tecnologia e inovação. Algumas das principais agências da União Europeia são entidades especializadas e descentralizadas com tarefas técnicas, científicas e de gestão. Podemos mencionar como exemplos: European Research Council (ERC), Innovation and Networks Executive Agency (Inea), Research Executive Agency (REA), Executive Agency for Small and Medium-sized Enterprises (Easme) e Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT). Conforme nos ensina Busato (2020, p. 57), “[…] a inovação está no centro da estratégia da União Europeia para criar crescimento e emprego”. A estratégia de pesquisa e inovação utilizada por ela está baseada nos conceitos de open innovation, open science e financiamentos e subvenção econômica. O open innovation, inclusive, é uma abordagem do processo científico que se concentra na disseminação do conhecimento, usando tecnologia digital e colaborativa. Como prioridades políticas da União Europeia, algumas atividades de fomento ligadas à inovação são apresentados por Busato (2020): · emprego, crescimento e investimento; · mercado único digital; · união da energia e clima; · investigação e inovação; · outros objetivos importantes. Nesse contexto, dois programas de incentivo à inovação se destacam na União Europeia: o Programa Horizon 2020 e os Fundos Europeus de Investimento. O Programa Horizon 2020 é o maior programa de pesquisa e inovação da União Europeia, com disponibilização até 2020 de 80 bilhões de euros em fundos da região. O programa centraliza todas as iniciativas de fomento voltadas à pesquisa e ao desenvolvimento, tendo como metas: 125 1. assegurar que os processos tecnológicos se traduzam em produtos viáveis; 2. intensificar a cooperação internacional na investigação e inovação; 3. prosseguir o desenvolvimento do espaço europeu da investigação. Por sua vez, os Fundos Europeus de Investimento são responsáveis por considerável parcela do fomento à inovação no continente europeu, em que os fundos são geridos pelos próprios países da União Europeia por meio de parcerias. Seus principais representantes são: European Structural and Investment Funds, Research Fund for Coal and Steel, European Innovation Council pilot, SME Instrument, Fast Track to Innovation (FTI) e Future and Emerging Technologies (FET) Open. 2.2 INOVAÇÃO NA CHINA Como fruto de uma bem-sucedida política industrial, a China vem experimentando um crescimento econômico significativo. Considerando que ela mantém a maior população em um país no mundo e que a sua capacidade de organização e planejamento é um diferencial no mercado da atualidade, a estratégia de desenvolvimento econômico ainda se apresenta como um dos principais elementos a sustentar o crescimento da economia chinesa, tendo impacto como importadora e exportadora de produtos e serviços para o mundo todo. Os atores de desenvolvimento de ciência e inovação na China são compostos pelo Conselho Nacional Popular, com boa autonomia em atividades de desenvolvimento de programas de ciência e tecnologia no país; a Conferência Consultiva Popular da China; e o Ministério da Ciência e Tecnologia Chinesa, principal agente do sistema nacional de inovação. Os principais órgãos de política e inovação na China são: Programa Nacional de P&D high-tech, Programa Nacional de Infraestrutura de Ciência e Tecnologia, ambiente para as indústrias de base tecnológica e megaprojetos de pesquisa científica para o décimo plano quinquenal. Como políticas de inovação da China, destacam-se o 11º Plano Quinquenal MPL 2006/2020, que sustenta algumas atividades, como: inovação ativa, saltos tecnológicos, promoção do desenvolvimento e liderança no futuro. Há, também, o programa de pesquisa básica em áreas-chave, o programa de fronteiras tecnológicas, os megaprojetos de ciência e tecnologia, assim como a reforma institucional no sistema nacional de ciência e tecnologia. O fomento à inovação na China é suportado pelo Estado, que é o grande responsável pelo fomento à inovação. Nos últimos 40 anos, as políticas de inovação na China apresentaram grande evolução. O país entrou em desenvolvimento diante de 126 uma intensa corrida com o Ocidente para se tornar o maior produtor de patentes no mundo, formando mais de 400 mil engenheiros todos os anos, desde o ano de 2015 (BUSATO, 2020). 2.3 INOVAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS Há muito tempo, os Estados Unidos da América (EUA) vêm liderando o mundo em termos de inovação tecnológica. Basta analisarmos as empresas que possuem marcas de maior valor no mercado atual, como Apple, Google, Amazon, Facebook, Microsoft, dente outras. Estas são apenas alguns exemplos de empresas americanas que fomentaram e desbravaram o novo mundo tecnológico que vivenciamos na atualidade. O próprio governo federal e os governos estaduais, juntos com os departamentos de fomento à inovação, são os principais representantes das agências financiadoras de ciência, pesquisa tecnologia e inovação nos EUA. Nos dias atuais, vivemos dentro de um sistema complexo de tecnologias e sistemas de informação que são oriundos do financiamento e desenvolvimento de empresas norte- americanas. Pensando nisso, vamos conhecer algumas agências norte-americanas responsáveis pelo desenvolvimento científico e tecnológico de nosso mundo moderno. · Departament of Defense (DoD): uma das 15 agências governamentais dos EUA, com 1,4 milhões de milhares e mais de 700 civis empregados ligados a laboratórios de desenvolvimento de pesquisas nos EUA. · Defense Advanced Research Projects Agency (Darpa): busca realizar investimentos no desenvolvimento de tecnologias que criam ou previnem surpresas para a defesa nacional americana. Vale lembrar que esse departamento é responsável por nada mais do que a criação da chamada Advanced Research Project Agency Network (Arpanet), rede originária da internet que conhecemos na atualidade. · Departamento de saúde e seus institutos nacionais: com um orçamento de 29 bilhões de investimento, mantém 27 institutos de pesquisas voltados para a criação de tratamento e soluções para doenças. · Department of Energy (DoE): administra 17 laboratórios que buscam lidar com os desafios científicos críticos ligados à energia, desde o combate a questões climáticas até a descobertase as origens do universo. O departamento fomenta projetos de autossuficiência energética e liderança tecnológica em energias limpas e confiáveis. · National Aeronautics and Space Administration (Nasa): criada em 1958 durante a corrida especial, tem como objetivo “[…] dar suporte a pesquisar sobre os problemas da aviação dentro e for a da atmosfera terrestre” (BUSATO, 2020, p. 118). A Nasa possui cerca de 18 mil funcionários que atuam, em sua grande maioria, nas áreas científica e de engenharia. · National Science Fundation (NSF): agência federal independente, criada para promover o progresso da ciência e inovação e da saúde nacional. 127 2.3.1 Endeavor e o fomento à inovação e ao empreendedorismo global O Instituto Empreendedor Endeavor é uma entidade internacional, sem fins lucrativos, que mantém forte atuação no suporte e fomento ao empreendedorismo em países em desenvolvimento. No Brasil, a organização tem operações desde o ano de 2000 e busca eliminar limitações ao desenvolvimento de negócios com empreendedorismo. O Endeavor está sediado em Nova Iorque, nos EUA, e foi criado em 1997 por um grupo de ex-alunos da Universidade de Harvard, a fim de diminuir carências de programas de apoio ao empreendedorismo. Os EUA têm como um dos principais órgãos fomentadores de inovação e política de inovação o programa SBIR, que sustenta a produção de patentes para ajudar as pequenas empresas a aumentar suas atividades de pesquisa, inclusive de alto risco, inovando no desenvolvimento de novos produtos e processos. De acordo com Razzolini Filho (2012, p. 19-20), “O fenômeno da globalização permite o estabelecimento de relações mais competitivas entre empresas, fazendo com que o empreendedor estabeleça novos padrões de satisfação para as necessidades dos clientes, uma vez que a oferta de produtos ou serviços passa a ser global”. INTERESSANTE INTERESSANTE 128 3 MODELOS DE NEGÓCIOS E EMPREENDIMENTOS ENXUTOS As tecnologias e os sistema de informação, juntos a uma nova modalidade de gestão, apresentam-se, atualmente, como conceitos indissociáveis para as organizações. O pensamento estratégico e a inovação representam, por sua vez, os grandes diferenciais competitivos das empresas, especialmente na era em que estamos vivendo. Empreendedores podem ser considerados profissionais diferenciados quando observamos os bons administradores de carreira, que atuam dentro de grandes organizações. Isso porque eles buscam sempre algo a mais onde vivem, a fim de se destacar, trazer algo novo para problemas, muitas vezes, antigos. Assim, de acordo com Ries (2019), pessoas voltadas à inovação e ao empreendedorismo possuem algumas características peculiares: são rápidas, aceitam novas maneiras de pensar e são orientadas para a ruptura e a inovação por meio da incerteza. Diante desse cenário, as startups enxutas ou lean startup retratam um conceito de organização que parte das ideias prévias de gestão e desenvolvimento de produtos, utilizando os preceitos do modelo lean da Toyota, dos anos de 1940. A ideia é utilizar uma manufatura enxuta, o Design Thinking, a centralização do cliente no negócio e o desenvolvimento de clientes e da gestão ágil como uma nova abordagem para criar inovação contínua. Ries (2019) nos lembra que essas organizações focam em um estilo de negócio com produtos e serviços com tempos de ciclo extremamente curtos, foco no desejo dos clientes e uso do método científico para a tomada de decisões. O autor ainda menciona que, nesse modelo, há cinco princípios definidos, a saber: 1. empreender é gerenciar: utiliza um novo conceito de gestão, direcionado para a inovação e a incerteza; 2. aprendizagem validada: aprende de forma multidisciplinar como criar e manter um negócio sustentável; 3. construir-medir-aprender: transforma ideias em produtos, avalia a relação dos clientes e decide se deve pivotar (mudar a direção, adaptar) ou perseverar (manter a estratégia); 4. contabilidade para inovação: mede o progresso, estabelece marcos e prioriza o trabalho; 5. os empreendedores estão por toda parte: o conceito de empreendedorismo se expande para qualquer posto de trabalho ou função organizacional. 129 Ries (2019) ainda nos explica que o modelo startup enxuta é baseado em três elementos fundamentais: visão, direção e aceleração. Vamos conhecer cada um deles? 3.1 VISÃO Para começar, a criação de uma startup pode ser realizada interna ou externamente a uma empresa. É um exercício de formar uma instituição. Conforme Ries (2019, p. 23), “[…] há décadas, os empreendedores tentam encaixar o pino quadrado de seus problemas específicos no buraco redondo da administração geral”. A fim de iniciar um negócio em um formato enxuto, é importante ter uma visão do produto desejado, empregar estratégia com um modelo de negócio, um roteiro de produto, uma panorâmica dos parceiros e concorrentes, bem como ter ideias sobre quem serão seus clientes. O produto é o resultado final desta estratégia. A definição de novos produtos, serviços ou um novo negócio é complexa. Na visão de Ries (2019), uma startup é uma instituição humana projetada para criar um produto ou serviço sob condições de incerteza. O livro “A menina do vale: como o empreendedorismo pode mudar sua vida” fala sobre inovação e empreendedorismo, trazendo algumas orientações sobre atitude empreendedora. Na obra, Bel Pesce (2012) apresenta 18 dicas para pensar de forma inovadora e empreender: 1. não se preocupe com a sua idade; 2. descubra quem te inspira e o porquê; 3. faça leituras que valem a pena; 4. compartilhe as suas dificuldades; 5. seja sempre humilde; 6. foco em equipe, equipe, equipe; 7. entenda o verdadeiro valor de um plano de negócios; 8. ache pessoas que estavam na sua posição alguns anos atrás; 9. seja acelerado, mas tenha paciência; 10. acostume-se a aprender com seus erros; 11. encontre as suas paixões; 12. conheça o poder do networking; 13. esqueça o glamour; 14. entenda que pequenas coisas fazem a diferença; 15. perceba o maior de todos os erros; 16. saia da sua zona de conforto; 17. impressione o mundo com a sua iniciativa; 18. surpreenda-se com o talento que existe no mundo. INTERESSANTE 130 Na startup enxuta, a aprendizagem de projeto e gestão deve transcender a universidade e se tornar constante nas organizações. Aprender a aprender, a desaprender e a reaprender são importantes para a atitude empreendedora e deverão acompanhar o inovador por toda a vida. A aprendizagem é praticada e retroalimentada com: · definição de uma estratégia brilhante; · amadurecimento da ideia e do produto por seis meses até o lançamento; · realização do lançamento; · conversa com clientes; · ações de pivotar ou perseverar. Além disso, a startup enxuta tem como premissa superar o modelo administrativo que depende de planejamentos complexos e detalhados. Experimentar é o caminho de testar o produto, de forma controlada e com avaliação para melhoria, sempre. Ries (2019, p. 61) inicia esse assunto com a seguinte frase: “[…] se você não fracassa, não aprende”. 3.2 DIREÇÃO E como a visão leva a direção? Uma startup é um catalisador de transformação de novas ideias em novos produtos/serviços. Aqui, o planejamento estratégico é realizado de forma invertida: primeiro, identifica-se o que é necessário aprender, utiliza- se a contabilidade para a inovação para descobrir o que medir e validar o aprendizado e, por fim, define-se o produto a ser construído. Temos assim, o colocar em prática o empreendimento. A manufatura enxuta se apresenta com a expressão japonesa “genchi genbutsu”, que significa “vá por si mesmo”, a qual delimita a necessidade de saltar para a solução com menos planejamentos e mais iteração. Veja os modelos de negócios das empresas de tecnologia exemplificadas por Apple, Microsoft, Google, Amazon e Facebook. Todas projetam e apresentam seus produtos para teste e utilização mínima, sendo que, se for o caso, aprendem com o usuário e implementam atualizaçõesrapidamente. O teste se faz mediante um produto que pode ser apresentado e utilizado de forma mínima, em seu primeiro momento, pelo cliente. A esse produto, Ries (2019) dá o nome de produto minimamente viável ou Minimum Viable Product (MVP). Com o MVP, busca-se a construção de produtos e uma forma iterativa e evolutiva, em que a primeira versão já pode ser utilizada pelo cliente, que interage rapidamente para a sua atualização. Para medir um produto, também se utiliza o MVP, a fim de extrair informações do cliente, buscando calibrar as estratégias e características do produto, de forma a definir uma estrutura de contabilidade para a inovação, estabelecer um patamar desejável, calibrar o motor, pivotar ou perseverar. Inclusive, Ries (2019) nos ensina 131 que a decisão de pivotar ou perseverar exige mensalidade clara e objetiva. São conceitos importantes, em que pivotar significa manter a ideia original, mas fazer ajustes para o direcionamento do produto para com as necessidades do cliente; ao passo que perseverar diz respeito a manter as características originais e implementar novas funcionalidades, de forma iterativa e evolutiva. 3.3 ACELERAÇÃO Uma startup é um empreendimento que, normalmente, não tem uma decisão assertiva de seu negócio como um todo. Ries (2019) apresenta algumas diretrizes para um empreendimento nesse modelo, em que temos: 1. o valor em uma startup não é a criação de objetos, mas, sim, de aprendizagem validada sobre o desenvolvimento sustentável do negócio; 2. as startups enxutas aproveitam o poder contraintuitivo das pequenas demandas; 3. as métricas que as startups utilizam para entender seu crescimento são importantes; 4. a organização precisa ser adaptativa. Para implementar essas ideias, precisamos do terceiro elemento da startup enxuta e de seus subelementos, que é a aceleração, com desagrupar, crescer, adaptar-se e inovar. Desagrupar é transformar um problema grande em vários problemas menores, o que pode ser interessante. Também pode significar dividir para conquistar, que era uma estratégia relatada por Tzu (2014) na Antiguidade e se apresenta como uma estratégia para dividir uma solução grande em pequenas soluções mais simples. A competitividade nos ambientes de negócios da atualidade está fortemente ligada ao desenvolvimento de tecnologias e inovação. Novas startups independentes estão pesquisando e desenvolvendo soluções para produtos e serviços de forma constante, para garantir a sustentabilidade de marcas e grandes corporações. O crescimento dos empreendimentos é originário de quatro modos principais, que sustentam o pensamento de Ries (2019) de que novos clientes surgem das ações de antigos clientes. Esses modos são: 1. boca a boca: formato de divulgação pessoal sobre produtos e serviços; 2. efeito colateral do uso: formato de ação por meio da influência em comprar roupas e acessórios para a combinação de complementação, por exemplo; 3. publicidade financiada: divulgação por financiamento de campanhas de marketing; 4. compra ou uso repetitivo: divulgação por produtos que são projetados para serem comprados repetidamente (exemplo: TV a cabo). 132 Ries (2019) ainda menciona que há três tipos de motores como tecnologias de software utilizados para alavancar o crescimento de negócios. São eles: 1. motor de crescimento recorrente: utilizado de forma repetitiva pelos serviços oferecidos; 2. motor de crescimento viral: utilizado via marketing em redes sociais e mecanismos de distribuições de informações com networking; 3. motor de crescimento pago: utilizado com investimentos para o financiamento de publicidade. Com isso, a adaptação a modelos de negócios já foi inspirada nas teorias revolucionárias e aplicadas às organizações. Farrell (2019) defende a mudança como parte da atitude empreendedora necessária. Uma organização precisa ser adaptativa e considerar o modelo do MVP, em que um produto é desenvolvido de forma iterativa e evolucionária. Por fim, independentemente de a inovação ser interna ou externa à organização, as equipes das startups necessitam de três atributos estruturais para implementá-la: 1. recursos limitados, mas garantidos; 2. autoridade para o desenvolvimento independente; 3. interesse pessoal no resultado. Esses atributos também se relacionam com as características que constituem um empreendedor de atitude e voltado para a inovação corporativa. Ries (2019, p. 257) relembra que, em 1911, Taylor escreveu: “[…] no passado, o homem estava em primeiro lugar; no futuro, os sistemas devem estar em primeiro lugar”. 133 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • Diversos são os programas e departamentos de incentivo ao desenvolvimento científico e à inovação no exterior, baseados em pesquisa, desenvolvimento e inovação, que sustentam a tecnologia e a economia, colocando alguns países em destaque no mercado internacional. · A China vem experimentando um crescimento econômico significativo. Os atores de desenvolvimento de ciência e inovação na China são compostos pelo Conselho Nacional Popular, com boa autonomia em atividades de desenvolvimento de programas de ciência e tecnologia no país; a Conferência Consultiva Popular da China; e o Ministério da Ciência e Tecnologia Chinesa, principal agente do sistema nacional de inovação. Os principais órgãos de política e inovação são: Programa Nacional de P&D high-tech, Programa Nacional de Infraestrutura de Ciência e Tecnologia e Megaprojetos de pesquisa científica par ao décimo plano quinquenal. · Há muito tempo, os Estados Unidos da América (EUA) vêm liderando o mundo em termos de inovação tecnológica. Basta analisar as empresas que possuem marcas de maior valor no mercado atual como a Apple, Google, Amazon, Facebook, Microsoft, dentre outras, como exemplo de empresas americanas que fomentaram e desbravaram o novo mundo tecnológico que vivenciamos na atualidade. · O governo americano e os governos estaduais, juntamente com os departamentos de fomento à inovação, são os principais representantes de agências financiadoras de ciência, pesquisa tecnologia e inovação nos EUA. Exemplos de agências de fomento à inovação: Departament of Defense (DoD), Defense Advanced Research Projects Agency (Darpa), Departamento de saúde e seus institutos nacionais, Department of Energy (DoE), National Aeronautics and Space Administration (Nasa), e a National Science Fundation (NSF). · Há novos modelos de negócios e empreendimentos enxutos, baseados no modelo de startup enxuta, que possuem cinco princípios definidos: empreender é gerenciar, aprendizagem validada, construir-medir-aprender, contabilidade para a inovação e entender que os empreendedores estão por toda parte. 134 AUTOATIVIDADE 1 O desenvolvimento de inovação pode ser visto como um grande incentivador do desenvolvimento econômico mundial. Principalmente em países desenvolvidos, ele é fomentado e se traduz em avanços tecnológicos que alavancam a valorização e a economia de seus países incentivadores. Sobre o fomento de inovação na União Europeia e seus envolvidos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) European Research Council (ERC), Innovation and Networks Executive Agency (INEA) e Research Executive Agency (REA). b) ( ) Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento high-tech, Programa Nacional de Infraestrutura de Ciência e Tecnologia e ambiente para as indústrias de base tecnológica. c) ( ) Departament of Defense (DoD) é uma das 15 agências governamentais, com 1,4 milhões de milhares e mais de 700 civis empregados ligados a laboratórios de desenvolvimento de pesquisas. d) ( ) Defense Advanced Research Projects Agency (Darpa) busca realizar investimentos no desenvolvimento de tecnologias que criam ou previnem surpresas para a defesa nacional americana. 2 Os Estados Unidos da América se posicionam, há muito tempo, como um dos principais países que investem em ciência, tecnologia e inovação no mundo. Sobre os principaisdepartamentos e as agências de fomento à inovação dos EUA, analise as sentenças a seguir: I- Departament of Defense (DoD) é uma das 15 agências governamentais dos EUA, com 1,4 milhões de milhares e mais de 700 civis empregados ligados a laboratórios de desenvolvimento de pesquisas nos EUA. II- Defense Advanced Research Projects Agency (Darpa) busca realizar investimentos no desenvolvimento de tecnologias que criam ou previnem surpresas para a defesa nacional americana. Vale lembrar que esse departamento é responsável por nada mais do que a criação da Advanced Research Project Agency Network (Arpanet), rede originária da internet que conhecemos na atualidade. III- Departamento de saúde e seus institutos nacionais, com orçamento de 29 bilhões de investimento, mantém 27 institutos de pesquisa voltados para a criação de tratamento e soluções para doenças. IV- Department of Energy (DoE) administra 17 laboratórios que buscam lidar com os desafios científicos críticos ligados à energia, desde o combate a questões climáticas até as descobertas e as origens do universo. O departamento fomenta projetos de autossuficiência energética e liderança tecnológica em energias limpas e confiáveis. 135 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a sentença IV está correta. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) Somente a sentença I está correta. d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas. 3 As startups enxutas ou lean startup retratam um conceito de organização que parte das ideias prévias de gestão e desenvolvimento de produtos utilizando os preceitos do modelo Lean da Toyota dos anos 1940. Utiliza-se da manufatura enxuta, do design thinking, da centralização do cliente no negócio e do desenvolvimento de clientes e da gestão ágil como uma nova abordagem de criar inovação contínua. Sobre o modelo de startup enxuta, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O modelo startup enxuta é baseado em três elementos fundamentais: visão, direção e aceleração. ( ) Há cinco princípios definidos: empreender é gerenciar, aprendizagem validada, construir-medir-aprender, contabilidade para inovação e entender que os empreendedores estão por toda parte. ( ) Essas organizações focam em um estilo de negócio com produtos e serviços com tempos de ciclo extremamente longos, foco no desejo dos empresários e uso do método científico para a tomada de decisão. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) F - V - F. c) ( ) V - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 As startups enxutas ou lean startups retratam um conceito de organização que parte das ideias prévias de gestão e desenvolvimento de produtos utilizando os preceitos do modelo Lean da Toyota dos anos 1940. Utiliza-se da manufatura enxuta, do design thinking, da centralização do cliente no negócio e do desenvolvimento de clientes e da gestão ágil como uma nova abordagem de criar inovação contínua. O modelo startup enxuta é baseado em três elementos fundamentais, segundo Ries (2019): visão, direção e aceleração. Nesse sentido, apresente e caracterize os elementos considerados na visão de uma startup enxuta. 136 5 O desenvolvimento tecnológico pode ser considerado um condutor que impacta e, ao mesmo tempo, é impactado pelas ações estratégicas de empresas de inovação, considerando as startups de tecnologia da atualidade. Três condutores são identificados por Burgelman (2012) para a criação de valor mediante a inovação e tecnologia na atualidade: estratégia de negócios, desenvolvimento de produtos e desenvolvimento tecnológico. Nesses ambientes de alta tecnologia, o ritmo da mudança é intenso e o empreendedorismo via inovação são necessários para a sustentabilidade de novos ou antigos negócios. Fonte: BURGELMAN, R. A. Gestão estratégica da tecnologia e da inovação. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Nesse contexto, disserte sobre os cinco princípios norteadores das startups enxutas (lean startup). 137 TÓPICO 4 - INOVAÇÃO E CADEIAS GLOBAIS DE VALOR 1 INTRODUÇÃO O empreendedorismo é um modelo de negócio profundamente impactado pelo desenvolvimento de novos negócios, preferencialmente por novos modelos de negócios. A inovação disruptiva, praticada nos últimos 30 ou 50 anos, trouxe a tecnologia digital para dentro das empresas, suportadas, primariamente, pela computação e, depois, pela computação pessoal, seguindo evolutivamente por uma computação pessoal reestruturada pela comunicação via sistemas distribuídos pela internet, o que criou o Big Data. Tem na evolução da mobilidade e dos algoritmos baseados em Inteligência Artificial (IA) os elementos que vêm ensaiando uma nova e profunda Revolução Industrial. Nesse contexto, Ries (2019) sustenta que estamos vivendo um renascimento sem precedentes do empreendedorismo e que o movimento da startup enxuta é prevenir que os empreendimentos fracassem. A ciência, o desenvolvimento tecnológico, a inovação e o empreendedorismo se fazem cada vez mais presentes, agora com maior suporte às informações que estão distribuídas em um incomensurável volume de dados pelo planeta. O Big Data se tornou uma prioridade nos negócios com o potencial de alterar, de forma profunda, o cenário competitivo da economia global e integrada. Ele proporciona soluções inovadoras para problemas empresariais, estando fortemente aliado à análise de dados para buscar, tratar e disponibilizar informações sobre produtos e serviços que estão globalmente distribuídos. Frente a isso, as organizações que conseguirem, no novo século, desenvolverem inovações mediante a esse novo cenário contribuirão sobremaneira para o desenvolvimento da própria humanidade. Neste tópico, então, estudaremos sobre inovação e as cadeias globais de valor suportados pela globalização, assim como os novos modelos de negócios. Faremos uma breve reflexão sobre a Revolução Digital e as chamadas “forças tecnológicas”, que contribuem para a reformatação dos ambientes de negócio, principalmente resultantes das inovações disruptivas dos últimos 50 anos. Seguiremos observando como as organizações exponenciais tomaram posições de liderança em valor de mercado e, principalmente, de marca, nesse novo mundo contemporâneo. UNIDADE 2 138 2 GLOBALIZAÇÃO E NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO A vida moderna acabou por ser suportada por um conjunto de tecnologias e sistemas de informação que levam as atividades exercidas dentro das empresas, das universidades, das escolas e até no âmbito social a uma integração de ambientes físicos com ambientes digitais. Com a globalização, as decisões de produção e comércio internacional ficaram intimamente interligadas: a internacionalização de empresas espalhou-se pelo mundo, e a maior parte dos novos produtos que chegam ao mercado é transacionável internacionalmente (traded goods) ou depende pesadamente de componentes transacionáveis (VASCONCELOS, 2017, p. 1-2). A globalização desse mundo moderno faz com que a diversidade seja imperativa para a condução de negócios. Conforme sustenta Nyegray (2020, p. 6), “[…] acredita-se que vivamos em um mundo plenamente globalizado”. A interconexão recente entre diferentes povos pôde ser suportada de forma eletrônica ao considerar a criação das redes de computadores e da internet nos anos de 1960, bem como sua disseminação por todo o planeta com acessos em empresas e residências a partir dos anos de 1990. Na interessante visão de Kurose e Ross (2013, p. 1), “[…] a internet de hoje é, provavelmente, o maior sistema de engenharia já criado pela humanidade”. Essa rede de computadores tornou a globalização mais intensa, a interconexão cultural entre povos uma realidade, a disseminação da informação constante e, de forma mais concretizada, uma democratização da informação. A internet também oportunizou a criação de diversos modelos de negócios, todos baseados em novas ideias, empreendedorismo e inovaçõesque não se findam. Com isso, a globalização pode ser entendida como a integração com maior intensidade de relações (culturais, econômicas, sociais, políticas, dentre outras) em escala global. “Globalização” é um termo antigo, experimentado desde o período de expansão de impérios ou, ainda, das navegações dos séculos XV e XVI. NOTA 139 No momento em que se utiliza essa retenção para o campo de operações e gestão de negócios, tecnologias e sistemas de informação são utilizados para unificar a bases de dados das organizações e permitir uma gestão central que abrange a maioria das operações da empresa. Percebe-se, assim, que grande parte das organizações dos dias atuais executa suas atividades observando o macroambiente dimensionado pela globalização, que, ao mesmo tempo, facilita a pesquisa e o desenvolvimento científico e tecnológico, mas nos apresenta, também, um mundo repleto de perigos, preocupações e novas necessidades. A definição da globalização, nessa época moderna em que vivemos, considera uma revolução nos negócios e na sociedade, pois a internet acabou sendo utilizada como um novo direcionador de comportamento humano e uma nova estrutura para o trabalho desenvolvido em empresas. Assim, Hoelz (2015, p. 73) afirma que “[…] a internet se tornou uma ferramenta indispensável para uma grande quantidade de pessoas”. Praticamente todas as pessoas economicamente ativas no planeta fazem uso da internet, o que elevou sobremaneira as oportunidades de criar mercados internacionais e globalizados. Essa globalização impacta e é impactada pelas TIs, resultado de intensos e constantes avanços em ciência e inovação. Ela trouxe uma preocupação latente para a entrega de valor a negócios no ambiente global. Giddens (2006, p. 11) nos ensina que “[…] o século XXI será o campo de batalha em que o fundamentalismo vai se defrontar com a tolerância cosmopolita”. 2.1 GESTÃO INTERCULTURAL O termo “cultura” pode ser uma acepção ampla e estar relacionado à pessoa culta, como resultado de desenvolvimento de conhecimento (NYEGRAY, 2020). A cultura, normalmente, influencia trocas pessoais, sendo que os administradores de negócios devem criar produtos e serviços que aumentem a satisfação por meio da experiência do usuário, agregando valor aos negócios. Giddens (2006) nos explica que a nossa época cronológica evoluiu sob o impacto da ciência, da tecnologia e do pensamento racionalista, originários da Europa. Esse momento se desenvolveu com as ideias do Iluminismo e se modernizou com as disrupções tecnológicas. Veja que a Revolução Tecnológica experimentada durante a segunda metade do século XX, principalmente, levou à globalização atual. Mendes (2020) nos chama a atenção em sua consideração de que a necessidade de se obter vantagem competitiva em relação aos concorrentes faz com que as organizações busquem pela inovação, objetivando levar seu negócio a uma diferenciação positiva no mercado. 140 Ismail, Malone e Geest (2019, p. 31) complementam que “[…] estamos mudando rapidamente o filtro por meio do qual lidamos com o mundo a partir de uma perspectiva física, com base material para uma perspectiva baseada na informação e no conhecimento”. Logo, é imprescindível que tenhamos a sabedoria para revitalizar esse novo mundo, fazendo uso de tecnologias e socialização adequados para a construção de um mundo melhor. 3 REVOLUÇÃO DIGITAL Maximiano (2018) nos ensina que 200 anos depois do início da Revolução Industrial começou a Revolução Digital. Olhando um pouco mais para o passado, é possível observar que a tecnologia sempre fez parte da vida do ser humano. Hoje, as corporações fazem uso intenso de tecnologia e sistemas de informações para suas atividades. Em negócios, os sistemas computacionais evoluíram nos últimos 30 anos, passando de programas isolados em microcomputadores de escritórios para sistemas corporativos distribuídos mundialmente. Assim, de acordo com Galloway (2017, p. 6), a “Tecnologia deixou de ser uma vertical. Deixou de ser uma indústria, um segmento. Como sabemos hoje, a tecnologia está impactando todas as indústrias e todos os segmentos, direta e indiretamente”. Estruturada na TI, a década de 1990 experimentou a evolução dos softwares e desenvolveu os primeiros sistemas de informação gerenciais, junto à integração dos diversos sistemas industriais de gestão administrativa, representada pelos sistemas integrados de gestão empresarial ou Enterprise Resource Planning (ERP). O e-business global, defendido por Laudon e Laudon (2014), deu início, a partir do novo milênio, a uma sequência de modelos de negócios baseados em tecnologias, as quais evoluíram até os melhores sistemas integrados de planejamento de recursos empresariais. Para Maximiano (2018, p. 55), “[…] a sociedade pós-industrial tem como característica o conhecimento como parte importante do trabalho, da geração de riqueza e da cultura”. Trata-se de uma sociedade em que a ciência e os valores cognitivos são reconhecidos como necessidades sociais, e a tomada de decisão tem conteúdo técnico, colocando os cientistas e economistas como atores privilegiados dos processos político e empresarial. Os grandes desafios da atualidade abarcam não o uso da tecnologia como diferencial de mercado, mas uma intensidade constante de inovar com o desenvolvimento em pesquisa e a reformatação de modelos de negócio. O uso estratégico da inovação e da TI é o que vem proporcionando posições de destaque a empresas em nosso mundo. No entanto, vale alertar que experimentaremos, 141 ainda, um crescimento mais rápido da ciência e da tecnologia. Imagine que, em 20 anos, um smartphone terá sua capacidade de processamento 524.288 vezes maior do que os aparelhos atuais (ISMAIL; MALONE; GEEST, 2019). Além disso, a Internet of Things ou Internet das Coisas (IoT) já representa mais de 50 bilhões de dispositivos conectados em sistemas computacionais no ano de 2020 e potencializa a previsão de Diamandis e Kotler (2018), que entendem que a IoT terá mais de 10 trilhões desses dispositivos em operação em 2030. A Lei de Moore retrata uma reflexão equacionada por Gordon Moore, presidente da Intel, nos anos de 1960 e 1970, em que a tendência história de desenvolvimento de processadores de computadores indica que, a cada 18 meses, um novo processador (circuito integrado) é produzido com o dobro de capacidade de transístores e processamento, ainda que os dispositivos tenham custos similares. Aproveite e se aprofunde nesse assunto visitando o site da Intel e assistindo a um vídeo: https://www.intel.com.br/content/www/br/pt/silicon- innovations/moores-law-technology.html. Acesso em: 9 set. 2022. INTERESSANTE Se, por um lado, o hardware dos computadores e a infraestrutura de redes de computadores já suportavam velocidades e abrangência suficientes para a computação ubíqua, os bancos de dados e softwares estão cada vez mais integrados e fazendo uso de IA com a implementação de robôs de software e, sobretudo, a integração dos sistemas. Novos termos e sistemas passaram a ser utilizados no contexto de TI e inovação. Sistemas Datawarehouse, Analytics, Business Intelligence (BI) e o emergente Big Data deverão contribuir com a digitalização de grande parte das informações e atividades na vida dos seres humanos. Nos últimos 20 anos, experimentamos o surgimento e o forte crescimento do comércio eletrônico (reformatando, inclusive, a natureza da internet), a disseminação dos aparelhos de smartphones (cada vez mais completos e com capacidades iguais ou adicionais ao computador pessoal), assim como o crescimento da relevância do tratamento de dados. Essas tecnologias vêm agregando valor aos negócios das corporações que não conseguem, nem podem mais ficar alheias a esse novo mundo digital. Além disso, as empresas de tecnologia começam a se posicionar junto às maiores empresas no mundo em valor de mercado, algumas sem ativos físicos, apenas valor baseado nas conexões das redes ecomunidades de seus negócios e, sobretudo, à informação. 142 Siqueira (2007), em seu livro “Revolução Digital: história e tecnologia do século 20”, considera a internet como a grande locomotiva do século XXI, pois é por meio dela que a computação se tornou ubíqua, fazendo-se presente em todos os lugares e em todos os momentos, seja na vida profissional, seja na vida social. O futuro reserva tecnologias de processamento de dados via computação quântica em um modelo ainda novo, mas já experimentado de multiplicação da capacidade de processamento de dados. Os negócios, as empresas e a sociedade mudaram rapidamente nesse último século, em que seus costumes, suas profissões e seu convívio social estão em constante transformação devido à imersão de todas suas atividades em ambientes tecnológicos. Ismail, Malone e Geest (2019) nos ensinam que, no ano de 2012, 93% das transações norte-americanas já eram digitais. Estamos falando de um passado de mais de uma década. O futuro dependerá, então, cada vez mais, das organizações que se apoiarem em seus departamentos de tecnologia e inovação para desbravarem novos mercados. As inovações tecnológicas deverão ser mais frequentes nos cenários de negócios. De acordo com Ries (2019) estamos vivendo um renascimento sem precedentes do empreendedorismo em todo o planeta, sendo que o pensamento empreendedor acompanha as inovações e fomentam as mudanças nas estratégias e nos negócios. Laudon e Laudon (2014) também corroboram com o chamado “escopo mutável das empresas”, que traz uma profunda aplicação das abordagens matemática e tecnológica e contingencial da administração, dando ênfase em adaptação ao ambiente via inovação. A era dos negócios baseados no conhecimento vem apresentando surpresas aos grandes grupos empresariais no mundo todo. As organizações mais ágeis (normalmente as de pequeno porte) conseguem se estruturar de forma mais dinâmica, inovar mais rápido e modificar o seu modelo de negócios, sempre que necessário. Isso traz vantagens competitivas para os novos players de mercado, que conseguem intensificar e aperfeiçoar o processo de criação de produtos, otimizar seus processos produtivos, integrar os processos organizacionais e, sobretudo, ser mais rápidas nas respostas para as necessidades de seus clientes. No site Interbrand podemos conhecer mais detalhes sobre marcas e valor das empresas por todo o mundo. O portal traz gráficos, tabelas e informações relevantes para se conhecer empresas e marcas globais, assim como suas ações baseadas em inovação. Além disso, oferece vídeos e relatórios sobre as atividades das empresas mais importantes no cenário mundial. Acesse em: https:// interbrand.com/best-global-brands/?filter-brand-country. Acesso em: 9 set. 2022. DICA 143 A globalização trouxe uma profunda interligação das decisões de produção e comércio internacional. Com a internacionalização de empresas pelo mundo, a maior parte dos novos produtos chegam ao mercado como transacionáveis internacionalmente (traded goods) ou dependentes pesadamente de componentes transacionáveis (VASCONCELOS, 2017). O ritmo de crescimento e o alcance global de negócios, em alguns casos, são muito rápidos. Conforme Galloway (2017), podemos pensar no Facebook, que surgiu apenas em 2004, e na Amazon, que vendia livros sob catálogo poucos anos antes. Em menos de uma década, constituíram-se de um imenso conglomerado de empresas ramificadas em diversas áreas, com investimentos de US$ 4,5 bilhões apenas para a criação de filmes e séries. Outro exemplo é o crescimento ainda maior e mais diversificado para mercados distantes da Apple, após o lançamento do iPhone, em 2007. Realmente, essas empresas se tornaram globais por consequência da melhoria dos meios de transporte, bem como pelo uso intenso de tecnologias e sistemas de informação com sistemas computacionais e internet. 3.1 GLOBALIZAÇÃO PELA REVOLUÇÃO DIGITAL Pode-se considerar, de forma geral, que o mundo se tornou um ambiente tecnologicamente conectado. Diversas empresas criadas a partir da segunda metade do século XX contribuíram para a digitalização e interconexão dos negócios por todo o planeta. Alguns marcos foram importantes para essa revolução, como: · a criação da International Business Machines (IBM); · a criação e evolução da Microsoft e da Apple nos EUA, nos anos de 1970; · o desenvolvimento dos aparelhos de telefonia celular; · o desenvolvimento da interface gráfica para microcomputadores e chips miniaturizados; · a disseminação da internet por meio dos provedores de acesso. O comércio eletrônico surgiu, efetivamente, em 1999, representado pela Amazon; e, em 2004, Lary Page e Sergey Brin criam a Google, empresa que, na atualidade, representa um oráculo para os negócios. Como nos lembra Vicente (2020), a inovação tecnológica diz respeito ao uso de produtos, processos e serviços baseados em novas tecnologias, considerando que a inovação é o resultado da integração do conhecimento junto à boa gestão, com a utilização de novos métodos e tecnologias associadas. Atualmente, corporações e sociedade em geral fazem uso amplo de tecnologia e sistemas de informações para suas atividades. 144 No cenário dos negócios, os sistemas computacionais, mais especificamente os sistemas de softwares, evoluíram nos últimos anos, passando de programas isolados em microcomputadores de escritórios para sistemas corporativos distribuídos pela internet, com acesso em quaisquer locais geográficos e em diversas plataformas (desktops, notebooks, tablets, netbooks, smartphones). Os grandes desafios do novo século XXI não estão mais no contexto de adaptar a tecnologia aos negócios, mas adaptar os negócios à tecnologia. 3.1.1 Forças tecnológicas que contribuíram para o mundo globalizado A expansão e a evolução das formas de comunicação na sociedade moderna, a valorização da informação e a velocidade com que a informação se propaga nos dias de hoje geram algumas consequências positivas e negativas no contexto social e para os negócios, principalmente aqueles mais conservadores. Vicente (2020) cita que, a nível mundial, a Revolução Tecnológica, resultado do uso de diversos instrumentos de comunicação, promove mudanças importantes na sociedade por conta da interdependência entre os países e o seu desenvolvimento. As distâncias geográficas do passado não existem mais, pelo menos no contexto de um mundo virtualizado, provido pela informação distribuída em redes digitais. Diante disso, o mundo se tornou “pequeno” no contexto de possibilidades de acesso. Para alguns, vale até mencionar que o mundo se tornou virtualmente “plano”. O contexto de “mundo plano”, apresentado por Friedman (2007), está ligado a um modelo globalizado de comunicação e novos modelos de negócios, desenvolvidos a partir do final do século XX, como consequência do desenvolvimento dos computadores pessoais, da internet, de dispositivos de comunicação móvel e dos sistemas disponibilizados por eles. O autor nos relata que o mundo foi “achatado”, no contexto de ser horizontalizado por tecnologias e sistemas de informação, deixando os negócios globalizados e digitais. Outras tecnologias surgiram nos últimos 20 anos e oportunizaram maior achatamento (FRIEDMAN, 2007). As forças tecnológicas que oportunizaram essa modificação do comportamento humano para com a vida e, sobretudo, nos negócios, estão descritas a seguir. Acompanhe! · Free market – 9 de Novembro de 1989: uma nova era baseada na criatividade humana, idealizada após a eliminação do Muro de Berlin, que foi derrubado na Alemanha, representando a liberdade de expressão e as chamadas “janelas” dos novos sistemas operacionais da Apple e Microsoft, que levaram o ambiente gráfico 145 e interativo aos computadores pessoais. Essa estratégia oportunizou às pessoas não especializadas o uso de computadores pessoais, o que realmente impactou na disseminação dos computadores pessoais no mundo. · Downloading – 9 de agostode 1995: a nova era da conectividade teve início quando a internet, como rede mundial de computadores, passou a estruturar novas formas de trazer conteúdos para os computadores locais. Ela evoluiu de um ambiente estático para visitas e observação de informação, começando a permitir a interatividade com o download de conteúdo. Nessa época, a Netscape abriu seu capital na bolsa de valores e ampliou suas operações. · Uploading – O poder das comunidades: mais uma Revolução Digital se apresenta com os novos conceitos de criação de comunidades virtuais e a construção de conteúdos de forma comunitária e colaborativa. Surgiram, assim, empresas como o YouTube, o Orkut e as comunidades, como a Wikipedia, construídos com a colaboração de conteúdos originários de toda parte do mundo. O open office foi criado pela Sun Microsystems, em 2000, e deu uma nova oportunidade de utilização de sistemas open source, para usuários de aplicações, para trabalhos administrativos. · Outsourcing – Terceirização: representou grande abertura de um mercado mundial, em que empresas de todo planeta passaram a fazer parte de soluções terceirizadas, rompendo barreiras continentais. As organizações necessitaram remodelar estruturas organizacionais para ganhar competitividade com o conceito de alugar equipamentos e soluções em vez de comprá-las. Impressoras, computadores, sistemas e serviços passaram a ser contratados mediante novas formas de negócio, que não exigem maiores estruturas proprietárias. · Offshoring – Deslocalização: empresas passaram a ter a oportunidade de deslocar parte de suas operações (ou todas elas) para locais fisicamente ou virtualmente diferentes. Esse modelo possibilitou a instalação de fábricas em locais diversos no mundo, levando tecnologias e inovação para todos. · Workgroup – Softwares de fluxo de trabalho: o mundo começou a conhecer os conceitos de trabalho colaborativo mediado por TI, e o home working, o trabalho em ambiente digital, ganhou força com a construção de sistemas de software que permitem a realização de trabalho colaborativo, mediante o uso de ferramentas de tecnologia e sistemas distribuídos. · Supply Chain Management – Cadeia de abastecimento: o mundo começou a experimentar uma gestão automatizada e mais eficiente da cadeia de abastecimento de produtos e serviços após o surgimento do outsourcing e do offshoring. A tecnologia Supply Chain Management começou a oportunizar às empresas uma gestão de sua produção dentro de suas fábricas e junto aos seus fornecedores primários. · Internalização – Empresas de logística se uniram à distribuição da cadeia produtiva, incentivadas pelo Supply Chain Management, formadas pela produção de bens e serviços realizados globalmente. Assim, passaram a levar e trazer os produtos de um continente a outro, abrindo os mercados internacionais e promovendo maior integração de negócios em níveis mundiais. · Informações – Google, Yahoo, MSN: com o surgimento de grandes empresas de tecnologia e sistemas de informação baseados na busca, indexação e provisão de 146 informações e produtos de TI (como Google, o MSN, Amazon, dentre outras), o mundo começou a ter a informação no terminal de seus computadores no início dos anos 2000. Produtos e serviços passaram a ser disponíveis a comunidades mais remotas. · Gadgets – Esteroides: dispositivos de informática, como Personal Digital Assistant (PDA), Global Positioning Systems (GPS), tocadores de músicas MP3 e telefones celulares, passaram a ser desenvolvidos de forma mais intensa no início dos anos 2000, fundindo-se em um novo dispositivo, chamado smartphone, criado pela Apple, de forma disruptiva, com o iPhone, em 2007. Mais tarde, o conceito de gadgets passou a ser chamado de IoT. 3.1.2 Inovações e tecnologias que intensificaram modelos de negócios digitais Após o início dos anos 2000, grandes avanços no desenvolvimento de inovações e tecnologias se expandiram, considerando a disseminação da computação e dos processadores cada vez mais rápidos, fazendo uso da rápida e fantástica disseminação das redes de computadores e da internet. · Internet – Como estrutura de comunicação, é vista por grandes pesquisadores e autores especializados em tecnologias de redes de computadores como uma invenção disruptiva para a humanidade. Ela oportunizou levar e trazer informações sobre tudo e para todos, dentro de nosso planeta ou fora dele. · Cloud Computing – Computação em nuvem: a computação pessoal passou a fazer uso de recursos computacionais distantes fisicamente de estações de trabalho para prover maior poder e liberdade quanto ao processamento de informações e armazenagem de dados. A tecnologia responsável por essa evolução é chamada de cloud computing ou computação em nuvem. Mais do que ter armazenamento e processamento fisicamente separado do dispositivo operacional, o acesso à informação passou a ser possível em todo lugar do planeta. A mobilidade ganhou uma posição especial no cenário de negócios. · IA – algoritmos passaram a realizar atividades mais complexas devido a uma programação idealizada com técnicas de aprendizado de máquina e tomada de decisões. Alguns sistemas autônomos passaram a fazer atendimentos e comunicação em sistemas comerciais, além de serem utilizados para o auxílio à resolução de problemas completos nos campos da ciência e da tecnologia. · Virtual and Augmented Reality – Realidade x virtualidade: a Realidade Virtual (RV) e a Realidade Aumentada (RA) passam a ser utilizadas com mais intensidade em pesquisas e a fazer parte de sistemas de software no desenvolvimento de interfaces que suplementam a realidade, trazendo soluções mais baratas para problemas que exigiam grandes investimentos. · IoT – o novo conceito de dispositivos tecnológicos, formatos e tamanhos diversos, que podem ser interconectados a outros dispositivos e à internet, podendo ter presença em múltiplos lugares e ambientes, passou a ser mais explorado nos anos de 147 2010, com os conceitos de sensores e dispositivos presentes em eletrodomésticos, carros, além das linhas de produção nas indústrias. Esses dispositivos fazem uso da microeletrônica, da evolução da tecnologia com fio e wireless, para estarem presentes mesmo no corpo das pessoas. 4 ORGANIZAÇÕES EXPONENCIAIS As organizações exponenciais (também chamadas com frequência de ExO) são representadas por organizações voltadas aos negócios no cenário da tecnologia e da inovação. Elas sustentam um pensamento de grandiosidade, baseado em um Propósito Transformador Massivo (PTM) (ISMAIL; MALONE; GEEST, 2019). Trata-se de empresas que pensam grande, buscam realizar negócios de grande impacto para a humanidade e em nível global. Para Ismail, Malone e Geest (2019, p. 19), organizações exponenciais “[…] são aquelas cujo impacto é, pelo menos, dez vezes maior se comparado aos de seus pares, devido ao uso de novas técnicas organizacionais que alavancam as tecnologias aceleradas”. O contexto de haver inovação não pode ser exclusivo de startups. Empresas como Facebook, Amazon, Google e Apple, apresentadas por Galloway (2017) como “as quatro”, em alusão às quatro grandes corporações de atuação global, são empresas baseadas em sistemas de tecnologia e sistemas de informação da atualidade. Elas já estão há algumas décadas no mercado e crescem cada dia mais, superando o valor na casa do trilhão de dólares. Assim, são alguns exemplos de organizações exponenciais. Ao avaliarmos o perfil das empresas que tiveram um desenvolvimento de negócios nos últimos 30 anos, quatro da área de TI geraram mais alegria, conexões, prosperidade e descobertas do que qualquer outra entidade da história humana (GALLOWAY, 2017). A Apple, a Amazon, o Facebook e o Google, assim como outras, a exemplo de Uber, Airbnb, Tesla e Ted, tiveram um papel de mudança disruptiva mediante a inovação de pensamento e operação de suas atividades. Essas empresas conseguiram visualizar novos mercados para soluções e anseios antigos.Chiavenato (2021) relata uma pesquisa da McKinsey que apresentou empresas que conseguiram se transformar em organizações digitais expressivas e de alto empenho como as que são capazes de orquestrar seis abordagens importantes: estratégia e inovação, visão sobre a decisão do cliente, automação de processos, organização, tecnologia e dados com analytics. 148 4.1 PROPÓSITO TRANSFORMADOR MASSIVO (PTM) As organizações exponenciais são representadas por empresas voltadas aos negócios e que mantêm um pensamento baseado em PTM. Esse pode ser considerado o ponto focal de desenvolvimento de negócios. Trata-se de um modelo de inovação e pensamento disruptivo que faz uso da neurociência. Ele é baseado no acrônimo IDEAS, para representar interfaces, dashboards, experimentação, autonomia e tecnologias sociais, gerenciados pelo lado esquerdo do cérebro humano, responsável pela ordem, pelo controle e pela estabilidade. · Interfaces: relacionam-se a processos de filtragem e comparação pelos quais as organizações conectam as externalidades às estruturas de controle interno. · Dashboards: representam os painéis informativos com dados extraídos de sistemas de BI ou outro sistema mais simples, que coleta e apresenta dados de modo que se tornem informações com significados para o crescimento do negócio. · Experimentação: implementação da filosofia lean startup com testes e experimentos constantes e riscos controlados. Tem como resultados processos alinhados às externalidades, com mudanças mais rápidas, maximização da captura de valor e utilização do MVP. · Autonomia: relaciona-se ao trabalho de equipes autogerenciadas (defendidas pelas metodologias ágeis) e multidisciplinares, que operam com uma autoridade descentralizada. · Tecnologias sociais: elementos da transformação digital que buscam transformar os ambientes tradicionais de negócio em ambientes digitais. Do outro lado, há o acrônimo SCALE, que serve para representar staff sob demanda, comunidade e multidão, algoritmos, ativos alavancados e engajamento, comandados pela criatividade, pelo crescimento e pela incerteza, gerenciados pelo lado direito do cérebro. · Staff sob demanda: faz alusão à equipe dimensionada conforme as necessidades do negócio. Resulta em aprendizagem, agilidade e cria laços fortes dentro da equipe principal. · Comunidade e multidão: busca suportar um desenvolvimento de comunidade para o negócio, para a promoção de aumento da fidelidade, promoção do crescimento, aprovação de novas ideias e novos aprendizados, agilidade e rápida implementação. Amplifica a ideação. · Algoritmos: algoritmos com aprendizado de máquina para gerar inteligência no negócio. Resulta em produtos e serviços escaláveis, potencialização de dispositivos conectados, menor incidência de erros e facilidade de atualização. · Ativos alavancados: prática de outsourcing como ferramenta para alugar e compartilhar ativos no lugar da compra. Resulta em produtos escaláveis, redução de 149 custo, remoção de necessidades de gerenciamento dos ativos e aumenta a agilidade do negócio. · Engajamento: comportamento humano colaborativo como comportamento social em busca de resultados e influenciando pessoas. Resulta em aumentar a fidelidade, amplificar a ideação, converter multidões em comunidades, alavancar o marketing, permite jogar e aprender, assim como oferece um ciclo de feedback digital com usuários. Esses componentes podem ser observados na figura a seguir. Figura 2 – Propósito transformador massivo Fonte: adaptada de Ismail, Malone e Geest (2019) Diamandis e Kotler (2019) refletem que o mundo global e exponencial é diferente daquele que nosso cérebro evoluiu para entender. A adaptação de um profissional de uma organização empresarial para o pensamento inovador é possível. Um conjunto de oito princípios de inovação, criados e praticados pela Google na governança de suas estratégias corporativas, baseados em tecnologia, podem ser adaptados a quaisquer corporações que desejam desenvolver e praticar um modelo de gestão baseada na inovação: 1. foco no usuário; 2. compartilhamento; 3. busca por ideias em toda parte; 4. pensamento grande, mas com atividades iniciais pequenas; 5. fracasso como aprendizado; 6. imaginação para desencadear ideias alimentadas com dados; 7. negócios baseados em plataformas digitais; 8. missão significativa. 150 Revisitando Dornelas (2020), uma nova plataforma junto a ideias derivadas e empreendimentos avançados e são sua classificação para as oportunidades inovadoras. Ademais, as organizações exponenciais pertencem a ambientes dinâmicos que possuem características particulares. Essas organizações possuem, de acordo com Ismail, Malone e Geest (2019), seis dinâmicas que as diferenciam de outras, a saber: 1. consideram que a informação acelera tudo; 2. percorrem uma forte corrida para a desmonetização (desmaterializando o que pode ser digitalizado); 3. para elas, a disrupção é a nova norma; 4. o menor vence o maior; 5. alugam dispositivos e equipamentos, mas não os compram; 6. colocam a confiança no lugar de controle e o aberto no lugar do fechado. 4.2 OPORTUNIDADES EXPONENCIAIS Em um cenário de Revolução Digital ou pós-Revolução Digital, com modelos de negócios inovadores, tecnológicos e globalizados, existe uma preocupação em utilizar estratégias administrativas que ofereçam uma gestão alinhada ao mindset digital para a realização de negócios na era contemporânea. Diamandis e Kotler (2018) trazem alguns pensamentos que devem contribuir com a administração moderna: · digitalização: refere-se a levar para o ambiente computacional informações, serviços e relacionamentos que podem ser disseminados e disponibilizados muito rapidamente; · decepção: relaciona-se a uma visão de futuro para entender que negócios inovações aguardam o crescimento do negócio projetado globalmente distribuídos e podem se tornar reais; · disrupção: relaciona-se à inovação, que cria um mercado e abala outros mercados existentes com produtos diferenciados; · desmonetização: retirada do dinheiro do negócio no início de suas operações e promoção da rentabilidade futura após o negócio ter rentabilidade; · desmaterialização: representa novos produtos e serviços via oferta de soluções não materiais, utilizando da internet como um ambiente para a oferta de produtos intangíveis, baseada em relacionamentos virtuais; · democratização: reflete o fato de desenvolver soluções distribuídas de forma democrática para comunidades carentes. No contexto de organizações que pretendem ser exponenciais e aproveitar as oportunidades apresentadas, Diamandis e Kotler (2018) apresentam atitudes mentais que auxiliam nesse empreendimento, as quais podem ser divididas em: 151 1. a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo; 2. quando não tiver nenhum desafio a frente, crie um; 3. “não” simplesmente significa começar de novo, um nível acima; 4. se algo pode dar errado, conserte; 5. quando houver duas opções, escolha ambas; 6. a relação entre algo e nada é infinita; 7. um expert é alguém capaz de lhe informar exatamente como algo não pode ser feito. Para finalizar, Diamandis e Kotler (2018, p. 5) citam que “[…] os maiores problemas do mundo são exatamente as maiores oportunidades de negócio”. 152 INTERDISCIPLINARIDADE NO ÂMBITO EDUCACIONAL DESAFIOS DE UMA ERA PÓS-MODERNA Bruno Gomes Pereira Marina Ariente Angelocci Maria José Rebecca Busnardo A Tecnologia da Informação representou uma nova Revolução Industrial e social nas duas últimas décadas do século XX com a popularização do computador pessoal e da internet, com maiores reflexos nos modelos de negócios nas duas primeiras décadas do século XXI, mediante a criação e desenvolvimento do comércio eletrônico, das redes sociais e relacionamentos digitais, e, sobretudo, com uma nova visão de negócios onde o valor se concentra nos dados. Estamos presenciando uma nova revolução industrial permeada pela análise de dados, que poderá ser chamada deera dos dados. Neste novo século XXI, a internet já está integrada à infraestrutura das empresas, conforme relatam Kurose e Ross (2013), e a WWW (World Wide Web) se tornou o ambiente de distribuição em nível global de informações, sejam de negócios ou pessoais. A natureza da WWW enalteceu os recursos gráficos e visuais junto a disseminação de dados em sistemas informatizados e distribuídos, utilizando-se intensamente de novos formatos de leitura e apreciação de dados apresentados de forma acessível e de fácil interpretação. Este contexto levou um público não especializado em tecnologia a adentrarem-se ao mundo da tecnológico rapidamente, mesmo porque não houve (e não deverá haver) espaço para pessoas economicamente ativa dentro das empresas que não fazem uso intenso de tecnologias da informação. Como relatam Kurose e Ross (2013, p. 1), a Internet de hoje é provavelmente o maior sistema de engenharia já criado pela humanidade. Siqueira (2007, p. 277) em sua fantástica obra sobre a revolução digital que ocorreu no século XX, apresenta a WWW criada por Tim Berners-Lee em 1989 como uma dádiva para a humanidade. Este mesmo autor ainda sustenta que a Internet continuará atuando como a grande locomotiva da informação neste novo século XXI. Empresas de diversas áreas estão alterando seus planejamentos estratégicos e suas missões, visões de futuro e até valores institucionais, adentrando ao cenário de empresas de tecnologia. Por exemplo, empresas de educação que se transformaram em empresas de tecnologia pois seus sistemas pedagógicos utilizam-se da computação e do universo de dados digitalizados para compor parte do conhecimento disseminado nas salas de aula. Outros casos de transformação de core business são representados por empresas originárias do varejo que se transformaram em marketplaces e LEITURA COMPLEMENTAR 153 posteriormente se em empresas de tecnologia. Estas transformações estão baseadas em novos modelos de negócio que colocam a tecnologia da informação como centro estratégico pois a necessidade de desenvolver tecnologias de inteligência de negócios atualmente transcende a simples qualidade de produtos e serviços. Neste cenário, não basta mais vender produtos, se torna necessário desenvolver tecnologias de informação que o façam pelos canais digitais e distribuídos em nível mundial observando a experiência do usuário. Duas décadas passadas do início dos anos 2000, as empresas de tecnologia, como a Microsoft, Google, Apple, Amazon, Facebook acabaram por integrar o seleto grupo de empresas líderes em valor (de marca e capital), conforme relata Galloway (2017). O poder da informação está sobressaindo-se ao poder de grandes ativos industriais e levando o valor das marcas das empresas de tecnologia à liderança no mercado, mesmo competindo com empresas de imensos ativos financeiros e naturais conforme relata Murphy (2020). E ainda para confirmar esta realidade, Barbieri (2020) defende que qualquer empresa que tenha intenções de sustentabilidade neste cenário de competição empresarial atual deverá ter um foco nos dados [...]. Neste novo contexto pós-moderno, de pós-transformação digital, novas empresas específicas de tecnologia, ou grandes e antigas empresas de diversificados negócios necessitam buscar a valorização da informação para direcionamento de negócios. Os dados, elementos brutos na constituição da informação, passam a ser direcionadores de negócio por meio de uma nova cultura organizacional. Pereira et al. (2019) sustentam que a sociedade contemporânea se baseia cada vez mais no uso de dados e que, com a manipulação de grandes volumes de dados, surgem desafios diferentes daqueles enfrentados para análise de dados dos sistemas focados apenas em bancos de dados locais, ou mesmo distribuídos dentro de matrizes e filiais de empresas. A cultura de orientação por dados para tomada de decisão e gestão de novos modelos de negócio é intitulada Data driven ou Data Driven Decision Management (DDDM). Conforme definido por Olhar Digital (2018), ela objetiva a tomada de decisão empresarial baseada em análise de dados considerando a ótica da relevância da informação acessível dentro dos sistemas de informação. Esta cultura busca colocar os dados, originários dos sistemas de banco dados locais, sistemas privados distribuídos e também do Big Data no centro de decisões gerenciais e estratégicas nas empresas. Barbieri (2020, p. 256) relata que as empresas que desenvolvem a cultura Data driven percebem o crescimento da importância dos dados como um ativo e desenvolvem gradativamente um planejamento empresarial onde os dados estão presentes para análise antes de qualquer tomada de decisão. Conforme reflexão em andamento, a utilização de tecnologias da informação, junto a modelos de negócio suplementados por inovações contínuas e uma cultura de análise de dados para tomada de decisão deverão ser os direcionadores de sucesso para o mundo pós-transformação digital que vivemos a partir desta segunda 154 década do século XXI. Este mundo já está experimentando a utilização de sistemas distribuídos mundialmente através da infraestrutura da Internet por mais de 40 anos, o que levou a construção de um imenso repositório de dados, presentem em um volume também imenso de dispositivos e sistemas computacionais. Na atualidade, consumimos e produzimos dados o tempo todo, dentro de nossos computadores pessoais, de nossos smartphones, e mesmo dentro de novos dispositivos distribuídos fora destes dois componentes tecnológicos básicos. Além da informatização realizada via desktops, notebooks e smartphones, novos sensores e pequenos gadgets estão adentrando ao mundo digital. Estes novos dispositivos com sensores estão ampliando a conectividade à Internet através do conceito de IoT (Internet of Things) ou Internet das Coisas conforme sustenta Sharda, Delen e Turban (2019). A constatação de Diamandis e Kotler (2018) para o ano de 2020 já era de haver mais de 50 bilhões de dispositivos, ou “coisas”, conectadas à Internet e em uma previsão matemática e exponencialmente evolucionaria, é que tenhamos mais de 10 trilhões de sensores no ano de 2030 conectados à sistemas de informação. E quando a referência for “coisas”, consideramos que qualquer tipo de ambiente pode receber estes componentes computadorizados conectados. Esta tecnologia acabou por dar origem a um novo conceito, a computação infinita, que transcende o conceito já instituído de computação ubíqua. E se você tem dúvidas ou desconhece o conceito de computação ubíqua, perfeito! Pois isto é retórico mesmo. O conceito de computação ubíqua é a não percepção da presença da tecnologia computacional em todos os lugares. Notamos na atualidade, a sua ausência. Diamandis e Kotler (2019, p. 51) refletem que o mundo global e exponencial é diferente daquele que nosso cérebro evoluiu para entender, porém a adaptação para o pensamento inovador é ainda assim possível. Isto pode explicar a dificuldade em adaptação a novos modelos e tecnologias. Precisamos então descontruir os nossos modelos mentais de emprego, profissão, área de conhecimento e mesmo de tecnologia. Já devemos estar acostumados a conviver em um mundo tecnologicamente conectado e suportado por dispositivos microprocessados, mas será que já assimilamos que os negócios que criamos e as atividades que desenvolvemos profissionalmente estão a um passo (5 a 10 anos) de sofrer uma mudanças disruptiva, onde as tecnologias da informação como a inteligência artificial, por exemplo, passará também a automatizar processos e trabalhos além das áreas produtivas (mecanizadas ou robotizadas) como já vivenciamos nos últimos 30 anos? Ismail, Malone e Van Geest (2019) nos lembram que a informação é o grande trampolim para que produtos e serviços possam ser oferecido aos clientes, de forma que eles desejam. Sharda, Delen e Turban (2019) apresentam suas reflexões sobre a automação de processos decisórios em nível de gerência considerandoos sistemas de Business Intelligence e suas abordagens preditiva e prescritiva farão parte do trabalho de forma automatizada de tomada de decisões. Estas ferramentas de software deverão assim automatizar o trabalho de gerentes e executivos na tomada de decisão, 155 construindo dashboards informativos com insights sem a necessidade convencional de analistas de negócio. Veja, caro leitor, que este tipo de revolução industrial transcende a substituição de trabalho operário, de manufatura para mecânica, eletrônica e robotização para a substituição parcial também do trabalho intelectual de análise e decisões em níveis mais elevados da organização empresarial. Aqui, a inteligência artificial volta a ser fortemente utilizada para produção de análises mediante a dados coletados, seja em sistemas de bancos de dados privados, analisando vendas, processos e rentabilidade de produtos e serviços, mas também faz uso de um volume muito grande de informações coletadas do Big data, constituído por um imenso repositório de dados distribuídos em sistemas pela Internet que abarca dados em diferentes formatos e disponíveis em Web sites, e-mails, blogs, redes sociais e mídias sociais com vídeos e áudios além de textos. Leonhard (2018) ainda nos diz que devido ao maior impacto da evolução tecnológica exponencial e combinatória, é muito pouco provável que o futuro seja uma extensão do presente. O autor ainda afirma que o futuro não apenas acontece, ele é criado por nós todos os dias. Neste futuro, termos o que se chama de Megamudanças, que já vem acontecendo há algumas décadas, porém, sua velocidade está aumentando e trazendo um novo mundo. Por exemplo, algumas mudanças de grandes proporções consideram fatores como a digitalização, a mobilidade, a automação, a virtualização e a robotização, definidas, dentre outras mudanças que impactam a vida atual. Estas questões não são mais novidade, porém deverão chegar a um ponto em que a velocidade exponencial de sua disseminação e evolução será mais intensa. Estamos adentrando a uma nova era da humanidade onde a tecnologia não apenas estará presente, mas suplementará o ser humano para desenvolvimento de atividades físicas e intelectuais, com empresas buscando inteligência em negócios (chamada de Business Intelligence) apoiadas por novos recursos de software com a inteligência artificial e maior interatividade com as realidades virtual e aumentada distribuídas em nível mundial na imensa teia da WWW chamada de Big data. Fonte: PEREIRA, B. G.; ANGELOCCI, M. A.; BUSNARDO, M. J. R. (orgs.). Interdisciplinaridade no âmbito educacional: desafios de uma era pós-moderna. Pará de Minas: Virtual Books, 2020. 156 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu: • A vida moderna acabou por ser suportada por um conjunto de tecnologias e sistemas de informação que levaram as atividades exercidas dentro das empresas, das universidades, das escolas e até no âmbito social, a uma integração de ambientes físicos com ambientes digitais. · O século XXI é o campo de batalha em que o fundamentalismo vai se defrontar com a tolerância cosmopolita. As inovações tecnológicas deverão ser cada vez mais frequentes nos cenários de negócios. · A inovação tecnológica diz respeito ao uso de produtos, processos e serviços baseados em novas tecnologias, considerando que é o resultado da integração do conhecimento junto à boa gestão, com a utilização de novos métodos e tecnologias associadas. Atualmente, corporações e sociedade em geral fazem uso amplo de tecnologia e sistemas de informações para suas atividades. · Algumas forças contribuíram para a globalização, como free market, downloading, uploading, outsourcing, offshoring, workgroup, Supply Chain Management, internalização, informações e gadgets. · As tecnologias que impactam e agregam valor em inovações e negócios são internet, cloud computing, IA, RV, RA e IoT. · Organizações exponenciais são aquelas cujo impacto é, pelo menos, dez vezes maior comparado aos de seus pares, devido ao uso de novas técnicas organizacionais que alavancam as tecnologias aceleradas. · Os 6 Ds da transformação digital que fomentam as oportunidades exponenciais são: digitalização, decepção, desmonetização, desmaterialização e democratização. 157 AUTOATIVIDADE 1 A sociedade moderna, conhecida como sociedade do conhecimento, faz uso intenso de tecnologias e inovação para a modelagem de seus negócios. Para Maximiano (2018, p. 55), “[…] a sociedade pós-industrial tem como característica o conhecimento como parte importante do trabalho, da geração de riqueza e da cultura”. Neste ambiente moderno, a ciência e os valores cognitivos são reconhecidos como necessidade social e a tomada de decisão tem conteúdo técnico, colocando os cientistas e economistas como atores privilegiados do processo político e empresarial. Sobre a Lei de Moore, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, promulgada em 2018, com dispositivos para a proteção de dados pessoais armazenados em sistemas eletrônicos de empresas e em formato digital. b) ( ) Lei de Incentivo à Ciência, Tecnologia e Inovação, desenvolvida e mantida pelo Ministério da Educação para a promoção do empreendedorismo. c) ( ) Regulação de atividades de fomento a programas de ciência, tecnologia e inovação que buscam levar a universidades e centros de pesquisas subsídios para o financiamento de projetos e desenvolvimento de sistemas e TIs para sustentabilidade social. d) ( ) Retrata uma reflexão equacionada por Gordon Moore, presidente da Intel, nos anos 1960 e 1970, em que a tendência história de desenvolvimento de processadores de computadores indica que, a cada 18 meses, um novo processador (circuito integrado) é produzido com o dobro de capacidade de transístores e processamento, ainda que os dispositivos tenham custos similares. 2 O novo século XXI vem vivenciando um volume significativo de avanços no desenvolvimento de inovações e tecnologias, mesmo que ainda tenha como base três tecnologias importantes desenvolvidas na segunda metade do século anterior: microeletrônica, computação pessoal e Internet. Estas se expandiram, considerando a disseminação da computação e da mobilidade, graças ao desenvolvimento de processadores cada vez mais rápidos, fazendo uso da rápida e fantástica disseminação das redes de computadores e da internet na constituição de sistemas distribuídos de informação e redes globais de comunicação. Com base nas definições sobre inovações e tecnologias que intensificaram modelos de negócios digital, analise as sentenças a seguir: I- Cloud Computing é a computação pessoal que passou a fazer uso de recursos com- putacionais distantes fisicamente de estações de trabalho, para prover maior poder e liberdade quanto ao processamento de informações e à armazenagem de dados. RESUMO DO TÓPICO 4 158 II- IA diz respeito a algoritmos que passaram a realizar atividades mais complexas devido a uma programação idealizada, com técnicas de aprendizado de máquina e tomada de decisões. III- Virtual and Augmented Reality são tecnologias utilizadas com mais intensidade em pesquisas e passaram a fazer parte de sistemas de software no desenvolvimento de interfaces que suplementam a realidade e trazem soluções mais baratas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a sentença I está correta. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) Somente a sentença III está correta. d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. 3 As organizações exponenciais são instituições focadas em desenvolvimento de negócios disruptivos, representadas por organizações que desenvolvem um pensamento baseado em PTM. O PTM é considerado como o ponto focal de desenvolvimento de negócios, e relaciona-se a um modelo de inovação e pensamento disruptivo que faz uso da neurociência. É um modelo baseado nos acrônimos Ideas e Scale. Assim, considere os preceitos dos elementos dosacrônimos que identificam um PTM e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Interface está associada ao acrônimo Scale e representa os painéis informativos com dados extraídos de sistemas de BI ou outro sistema mais simples, que coleta e apresenta dados de forma que se tornem informações com significados para o crescimento do negócio. ( ) Experimentação se refere à implementação da filosofia lean startup com testes e experimentos constantes e riscos controlados. Tem como resultados processos alinhados às externalidades com mudanças mais rápidas, maximização da captura de valor e a utilização de MVP. ( ) Ativos alavancados representa uma prática de outsourcing, como ferramenta para alugar e compartilhar ativos no lugar da compra. Resultam em produtos escaláveis, redução de custo, remoção de necessidades de gerenciamento dos ativos e aumen- to da agilidade do negócio. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) F - V - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 159 4 O mundo globalizado e tecnologicamente interconectado da atualidade é muito diferente do mundo que foi desenvolvido e explicado pela administração no século passado. Diamandis e Kotler (2019) refletem que o mundo global e exponencial é diferente daquele que nosso cérebro evoluiu para entender. A formação de um profissional e sua atuação em uma organização empresarial atual precisa estar aberta para o pensamento inovador. Para desenvolver essas competências, um conjunto de oito princípios de inovação criados e praticados pela Google na governança de suas estratégias corporativas baseadas em tecnologia podem ser adaptados a quaisquer corporações que desejam desenvolver e praticar um modelo de gestão baseado na inovação. Fonte: DIAMANDIS, P. H.; KOTLER, S. Oportunidades exponenciais: um manual prático para transformar os maiores problemas do mundo nas maiores oportunidades de negócio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018. Apresente, pelo menos, quatro princípios utilizados pela Google e sustentados como práticas para o desenvolvimento de inovações que exploram oportunidades exponenciais. 5 Dentro do atual cenário de evolução tecnológica e Revolução Digital, imerso em novos modelos de negócios inovadores, tecnológicos e globalizados, existe uma preocupação em fazer uso de estratégias administrativas que ofereçam um alinhamento ao chamado mindset digital. Diamandis e Kotler (2018) trazem alguns pensamentos que devem contribuir com a administração moderna. Fonte: DIAMANDIS, P. H.; KOTLER, S. Oportunidades exponenciais: um manual prático para transformar os maiores problemas do mundo nas maiores oportunidades de negócio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018. Nesse contexto, apresente e reflita sobre quatro estratégias da administração moderna no cenário de desenvolvimento de negócios inovadores, dentro do contexto de oportunidades exponenciais. 160 REFERÊNCIAS ALIMENTANDO a inovação que tanto apreciamos e da qual dependemos. Intel, [s. l.], [s. d.]. Disponível em: https://www.intel.com.br/content/www/br/pt/silicon- innovations/moores-law-technology.html. Acesso em: 7 set. 2022. ANAN JR., P.; MARION, J. C. Direito empresarial e tributário: para cursos de administração contabilidade e economia. Campinas: Alínea, 2015. BARBIERI, C. Governança de dados. Rio de Janeiro: Alta Books, 2020. BAXTER, M. Projeto de produto: guia prático para design de novos produtos. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2011. BEST global brands. Interbrand, [s. l.], [c2022]. Disponível em: https://interbrand.com/ best-global-brands/?filter-brand-country. Acesso em: 7 set. 2022. BRAGA, J. K. Quem são os 30 investidores-anjo brasileiros melhores ranqueados no LinkedIn?. 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