Prévia do material em texto
EXECUÇÃO PENAL EXECUÇÃO PENAL Maria Luíza Carvalho Alunos, pedimos, encarecidamente, que não grifem o material na nuvem do ADOBE e nem comentem. Isso atrapalha a visualização dos demais alunos. Faça o download do PDF e, assim, vocês terão no meio eletrônico de vocês o material para que possam realizar qualquer marcação / anotação. At.te, Equipe EAA 1. Execução Penal...................................................................................... 1 a. Introdução..............................................................................................................1 b. Princípios............................................................................................................... 7 c. Partes.....................................................................................................................12 d. Direitos e Deveres............................................................................................. 17 e. Faltas Disciplinares..........................................................................................22 f. Regimes de Cumprimento de Pena........................................................... 30 g. Progressão de Regime................................................................................... 35 h. Regressão...........................................................................................................44 i. Remição................................................................................................................ 49 j. Autorização de Saída.......................................................................................56 k. Livramento Condicional.................................................................................58 l. Incidentes da Execução.................................................................................. 63 m. Agravo em Execução.....................................................................................73 1.Execução Penal a. Introdução i. Função dúplice da Execução Penal ● A finalidade do processo executivo traduz uma perspectiva retrospectiva, no sentido de fazer cumprir, dar efetividade à sentença condenatória ou à decisão de decretação de prisão cautelar, mas também prospectiva, ou seja, um olhar voltado não somente para a retribuição ao mal causado pelo apenado, visando também à sua ressocialização.1 ● Esse raciocínio se aplica às medidas de segurança? ○ Sim. A LEP (Lei de Execuções Penais - Lei nº 7.210/84) aplica-se tanto para condenações quanto para absolvições impróprias, isto é, aquelas sentenças que reconhecem a inimputabilidade do agente, mas aplicam medida de segurança, seja ela internação compulsória seja tratamento ambulatorial. ii. Funções da pena ● Caráter geral ○ O caráter geral da pena significa dizer que ele terá efeitos sobre todos, sobre toda a sociedade indistintamente, transcendendo a pessoa do condenado. Trata-se de um efeito exemplar da condenação sobre o corpo social. ● Caráter especial 1 Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. 1 Guest 1 Guest 1 Guest 1 Guest 1 Guest 1 ○ O caráter especial diz respeito ao efeito sobre o próprio indivíduo apenado, aquele que cometeu o fato. São os desdobramentos que se espera que a pena tenha sobre agente. ● Aspecto positivo ○ A perspectiva positiva atrela-se com a ideia de reforço de determinada conduta. ● Aspecto negativo ○ Por outro lado, a matriz negativa está vinculada com a intimidação, repressão e dissuasão da prática de crimes. ● A pena em abstrato, portanto, congrega as funções preventivas gerais positivas e negativas. ■ Perceba, quando o legislador cria um tipo penal, estabelece uma pena, ele está fazendo isso para todos. Qualquer um pode merecer uma potencial reprimenda. Então, as penas têm que se voltar a todos. ■ Então, traz-se esse poder de intimidação negativo, porque impõe um não fazer. Por outro lado, tem o viés positivo também. Há essa prevenção geral positiva, no sentido de afirmar a validade da norma desafiada. ● Cuida-se aqui do efeito dissuasório da pena e da reafirmação da norma validada, da reafirmação do bem jurídico de modo genérico. ○ Teoria das Janelas Quebradas 2 ■ A teoria criminológica, em apertada síntese, afirma que quando há permissividade para pequenas violações, naturalmente as violações se multiplicam. ● A teoria remonta da década de 1980 e foi testada no metrô de Nova York. ○ A ideia seria colocar um carro em um bairro nobre e um outro carro em uma localidade com índices de criminalidade maiores. ■ O carro da localidade mais criminógena foi rapidamente depredado, ao passo que o carro situado na área nobre permaneceu intacto. ■ A partir daí, os pesquisadores efetuaram pequenos danos no automóvel. Então, o carro foi depredado igual ao outro. ○ Qual foi a construção feita a partir daí? Quando você permite pequenas violações, naturalmente, a sensação de não haver 3 vigilância, até mesmo impunidade, faz com que se perpetuem, se multipliquem as outras violações. ● A pena em concreto revela a função retributiva e preventiva especial da pena. ■ A função retributiva da pena consiste em devolver ao apenado uma resposta proporcional ao mal causado por ele. ■ A função especial positiva e negativa agem sobre o sujeito pretendendo que ele seja reinserido na sociedade como um cidadão funcional, bem como não se torne reincidente na prática delitiva. iii. Natureza jurídica da execução penal ● Atividade de natureza administrativa ○ É uma corrente hoje minoritária. Superada principalmente pelo fato de que a participação do juiz no âmbito de aplicação da pena é fundamental. Tanto é assim que é extenso o rol de competências judiciais.2 Art. 66. Compete ao Juiz da execução: I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado; II - declarar extinta a punibilidade; III - decidir sobre: 2 Art. 66 4 a) soma ou unificação de penas; b) progressão ou regressão nos regimes; c) detração e remição da pena; d) suspensão condicional da pena; e) livramento condicional; f) incidentes da execução. IV - autorizar saídas temporárias; V - determinar: a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução; b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de liberdade; c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos; d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de segurança; e) a revogação da medida de segurança; f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior; 5 g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca; h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta Lei. i) (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010) VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança; VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providências para o adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apuração de responsabilidade; VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos desta Lei; IX - compor e instalar o Conselho da Comunidade. X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir. ○ Atividade jurisdicional ■ Possui muitos adeptos em razão de um dos princípios da LEP ser a jurisdicionalidade, mas desconsidera que uma parte importante da execução da pena perpassa e depende 6 da atividade administrativa do diretor da unidade prisional. ○ Natureza mista ■ É a mescla das posições anteriores. Reconhece a vasta competência judicial para as matérias elencadas no art. 66, da LEP, mas prestigia as funções do diretor do presídio. ■ Há uma intersecção muitogrande do executivo com o judiciário aqui, em sede de execução penal. Um argumento forte nesse sentido é a competência concorrente dos entes federativos em matéria de direito penitenciário. ● Exemplos de funções do diretor: ○ Permissão de saída temporária; ○ Apuração de falta grave; ○ Aplicação de sanções. b. Princípios i. Destaca-se, de antemão, que todos os princípios penais e processuais penais se aplicam indistintamente na execução penal. ■ Exemplo: Irretroatividade da norma mais gravosa. ii. Legalidade ● Significa dizer que são assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença. Isso não é mais uma reafirmação daquela máxima que se aplica não apenas ao direito penal, mas em direito 7 como um todo de que em matéria de restrição de direitos a interpretação deve ser sempre restritiva. ○ Evidentemente, a legalidade estrita não é incompatível com a discricionariedade judicial. ■ Dito de outra forma, se a lei confere mais de uma possibilidade para o juiz, ele poderá aplicar a melhor solução ao caso concreto desde que fundamente sem que isso consista em violação ao princípio da legalidade. ● Caso concreto: Condenado em livramento condicional comete crime. O cometimento de outra infração penal no curso da execução é falta grave e pode gerar como consequência a regressão de regime. É possível esse raciocínio? STJ entendeu que não por considerar bis in idem, na medida em que a lei já prevê como sanção ao cometimento de crime durante o livramento a revogação do benefício. iii. Igualdade ● Não haverá qualquer distinção racial, social, religiosa ou política. ● Concepção aristotélica -> tratar os iguais como iguais (igualdade formal) e os desiguais na medida de sua desigualdade (igualdade material). ● E quanto a sexo e idade? Isso é uma exceção ao princípio da igualdade. Há unidades prisionais destinadas a ambos os gêneros e unidades especiais para idosos. Menores de idade não cumprem pena, mas medidas protetivas ou sócio-educativas em estabelecimentos próprios. 8 ○ Em regra, a natureza do delito não interfere na execução da pena, de modo que são todos tratados indistintamente. Contudo, se o crime for federal, poderá ser determinado o cumprimento da pena no presídio federal. ■ IMPORTANTE: Os presídios federais normalmente são destinados como estabelecimentos de segurança máxima. Nesse sentido, é possível que mesmo criminosos estaduais cumpram pena em presídio federal e criminosos federais sejam direcionados para o presídio estadual. ● O caráter hediondo do crime não interfere no local de cumprimento da pena, apenas com relação à progressão, livramento e benefícios. ● Art. 295 do CPP.3 ○ Foi declarado inconstitucional pelo STF na ADPF 334. ○ O preso provisório que detivesse diploma de curso superior não estaria no mesmo espaço que os demais. O preso definitivo, sim, mesmo com diploma, cumpriria pena com todos indistintamente. ■ STF declarou inconstitucional por se tratar de um indefensável critério de quebra de isonomia. 3 Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva: (...) VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da República; 9 iv. Individualização da execução ● Não só no momento da dosimetria da pena, tem lugar a sua individualização. Isto porque na execução penal são considerados também aspectos subjetivos do apenado. ○ É denominado mérito carcerário. ■ Quer dizer que mesmo duas pessoas, que tenham cometido crimes idênticos e recebido a mesma pena, não necessariamente sairão ao mesmo tempo. ● Pode ser que um tenha cometido faltas graves, não tenha remido pena, etc., o que faria com que sua saída demorasse mais. ○ O próprio desenrolar do processo de execução será uma forma de individualizar sua pena. v. Participação Comunitária ● Significa dizer que a previsão do Conselho da Comunidade trata da percepção de que é necessário na execução penal haver um acompanhamento social por parte do juiz, do Ministério Público, da Defensoria Pública, da comunidade, da população civil e da própria OAB para que se possa pensar em medidas, realizar fiscalizações, propor soluções de forma que sempre haja ali um processo de execução pautado nas necessidades de ressocialização. ○ Esse princípio caminha junto com o da Humanidade da penas, previsto na 10 Convenção Interamericana de Direitos Humanos e na Constituição quando há vedação expressa, por exemplo, das sanções coletivas, das sanções em celas escuras, quando há limitações, a vedação ao excesso, ao desvio de penas. ■ No informativo 854 do STF, estabeleceu-se que é possível que alguém que seja preso em condições degradantes venha entrar com uma ação de responsabilidade civil contra o Estado requerendo o dano moral. E o Estado até alegou nessa interessante discussão que a reserva do possível e o próprio STF se manifestou no sentido de que não é possível alegar a reserva do possível. E por que não? Perdão a redundância, mas por que não seria cabível essa alegação? Porque a reserva do possível se aplica principalmente para casos de direitos sociais, manifestação prestacional por parte do Estado, direitos de saúde, educação, onde o Estado demanda-se um fazer do Estado. Enquanto que na execução da pena de forma degradante não se trata de uma demanda prestacional, se trata da indenização pela violação de um direito. Responsabilidade civil do Estado de maneira pura. 11 ○ É importante destacar que tem um princípio reeducativo que caminha junto com um princípio comunitário, é todo um esforço para trazer esse sujeito de volta ao seio social, isso já conta até com previsão na Resolução 113 do CNJ, que são ações voltadas à integração do apenado e a própria LEP, a partir do artigo 11, estabelece diversas espécies de assistência ao apenado e até mesmo ao egresso. vi. Jurisdicionalidade ● O processo se desenvolverá perante uma autoridade investida de jurisdição. ○ Reforça aquela noção de que a execução penal não é uma atividade administrativa, ou pelo menos não só administrativa, os incidentes são decididos pelo magistrado. vii. Contraditório e Ampla Defesa ● O apenado tem o direito de se manifestar em todas as oportunidades em decorrência do princípio do devido processo legal. Não apenas se manifestar, mas de ter tempo hábil para se manifestar, de conhecer aquilo sobre o que vai se manifestar, de ter a possibilidade de influir na decisão do juiz, não apenas se manifestar de forma formal, mas também substancial. c. Partes i. O processo de execução penal é sempre indivisível e individual. ● Isso quer dizer que mesmo havendo várias ações penais em face de ummesmo réu, o cumprimento dessas penas, através das respectivas Cartas de 12 Execução de Sentença, serão processadas nos mesmos autos. ii. Exequente: Estado ● Ainda que exista a ação penal privada, o exequente vai ser, na execução penal, sempre o Estado. iii. Executado: Apenado ● Pode ser o preso, provisório ou definitivo, ou aquele sujeito em medida de segurança, que é a figura do internado. ○ É possível execução provisória da pena? Não, segundo o STF. ■ Então como o preso provisório estará cumprindo pena? ● Segundo o STF, o preso provisório, ainda que não tenha havido sequer condenação, pode usufruir dos benefícios da execução penal (Súmula 716).4 ● Portanto, para fins de execução penal exige-se título, ainda que não seja um título definitivo. Título pode ser provisório, mas ele precisa existir. O que é o título? É a denominada carta de execução de sentença. ○ Há quem sustente, minoritariamente, que em caso de prisão preventiva, se o réu já fizer jus à progressão, deve o juiz, de 4 S. 716/STF: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. 13 ofícioou a requerimento, decretar outra medida cautelar compatível com o regime mais brando, à luz do princípio da homogeneidade. iv. Aplica-se à LEP a decisões homologatórias de transação penal? ● Questão muito acirrada, visto que o agente não estará cumprindo uma pena determinada por sentença condenatória. Trata-se um acordo com o Ministério Público. ○ Contudo, o STF pacificou a questão com a súmula vinculante 35.5 ■ Assim, a transação e sua respectiva homologação não fazem coisa julgada material, de modo que poderá ser oferecida denúncia caso sejam descumpridas as cláusulas. ● Portanto, o cumprimento da transação é feito perante o juiz natural da causa, não perante o juiz da execução. v. Competência ● A competência do juiz da execução é sempre o local onde o réu está efetivamente preso. ○ Essa determinação é relevante para o caso de múltiplos crimes em diferentes localidades. Mesmo havendo condenações no Rio de 5 A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial. 14 Janeiro, São Paulo e no Amapá, se o réu está preso em Minas Gerais por conta de um processo anterior, é no juízo da execução mineiro onde serão concentradas todas as Cartas de Execução de Sentença. ■ Se o preso estiver em uma unidade prisional federal, a competência será da JF. (Súmula 192 do STJ6 e art. 2º da Lei nº 11.671/087) ○ E em casos de foro por prerrogativa de função? ■ O STF, na ação penal 470, firmou entendimento de que o tribunal que condenou o Tribunal do Foro, vai executar. Claro, medidas de fiscalização, de cumprimento, podem ser delegadas, como nós vamos ver em relação também ao caso da sursis e da PRB. ■ E quanto à pena de multa? Qual o juízo competente? ● A pena de multa é executada pelo MP no juízo da execução. ● Competência para execução de medidas de segurança ○ Segue o mesmo raciocínio do preso comum. Logo, a competência se firmará no local onde 7 Art. 2o A atividade jurisdicional de execução penal nos estabelecimentos penais federais será desenvolvida pelo juízo federal da seção ou subseção judiciária em que estiver localizado o estabelecimento penal federal de segurança máxima ao qual for recolhido o preso. 6 S. 192/STJ: Compete ao Juízo das Execuções Penais do estado a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual. 15 o internado está cumprindo a medida de segurança. ○ E se for tratamento ambulatorial? ■ Será no competente o juízo do local de domicílio do executado. ● Penas Restritivas de Direitos e Sursis da pena ○ Será do juízo de conhecimento. ■ Nesses casos, perceba, se o juízo da condenação substituiu por prestação de serviços à comunidade, mas esse sujeito saiu lá do Paraná e veio aqui para o Rio de Janeiro, na prática, muitas vezes há transferência dessa execução. ● E se o juiz para onde foi transferida a execução não concordar? ○ Será instaurado um conflito negativo de competência. ■ STJ se manifestou no sentido de que permanecerá com o juízo da condenação. vi. Pena de multa ● Havia entendimento de que a pena de multa era de atribuição da Fazenda Pública (Procuradoria da Fazenda). ● Contudo, o STF, na ADI 3150, firmou entendimento de que seria o MP o principal legitimado para a cobrança, em razão do caráter de sanção penal. ○ A Fazenda Pública seria legitimada extraordinária, em caso de inércia do MP. 16 ■ O Ministério Público teria 90 dias para executar perante o juízo da execução. Caso não o fizesse, a Fazenda executaria no juízo da execução fiscal. ● O pacote anticrime alterou o art. 51, CP.8 Quando entrou em vigor o pacote de crime, a execução da pena de multa passou a ser, necessariamente, perante os juízes da execução penal e com atribuição exclusiva do MP. d. Direitos e Deveres ● Art. 39, LEP: Deveres do preso Art. 39. Constituem deveres do condenado: I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença; II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se; III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados; IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina; 8 Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. 17 V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; VI - submissão à sanção disciplinar imposta; VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores; VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho; IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; X - conservação dos objetos de uso pessoal. Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste artigo. ○ Esse rol é taxativo, em consequência do princípio da legalidade. Como se está diante de possibilidades que, caso descumpridas, podem gerar uma sanção, essa interpretação deve ser restritiva, sendo vedada a analogia. ○ A ideia desse artigo é de que os deveres ligam-se com uma conduta retilínea no processo de execução penal. É aquele sujeito que está preso, que cumpre com o que se espera dele. ■ Embora o rol seja taxativo, os deveres do preso não se resumem a eles. 18 ● Por exemplo, o Art. 146-C da LEP9 estabelece os deveres relativos à manutenção do monitoramento eletrônico. ● Art. 41: Direitos do preso Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário; II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - Previdência Social; IV - constituição de pecúlio; V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; 9 Art. 146-C. O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá adotar com o equipamento eletrônico e dos seguintes deveres: I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder aos seus contatos e cumprir suas orientações; II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça; 19 IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena; XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente. (Incluído pela Lei nº 10.713, de 2003) Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento. ○ Esse rol é exemplificativo. Isto porque se trata de normas garantidoras de direitos, cabendo analogia. Ademais, vimos acima que todos os direitos do 20 preso não alcançados pela sentença são mantidos,de modo que todos os direitos previstos no ordenamento serão resguardados sem a necessidade de constar desse rol. ○ Importante ressaltar o direito à assistência ao preso. ■ São instrumentos de ressocialização, para que o sujeito não simplesmente cumpra a pena num viés retributivo, mas num viés que tenha o escopo de ressocializar, de trazê-lo de volta ao corpo social enquanto um sujeito cumpridor de seus deveres. ○ Um dos direitos previstos é a entrevista pessoal, reservada com seu advogado. ■ A inexistência de oportunidade dessa entrevista é causa de nulidade na instrução. ○ Alguns desses direitos podem vir a ser restritos ou suspensos. Por exemplo, o contato com o mundo exterior, a hipótese de visita, o trabalho podem ser suspensos, mas todas essas suspensões são limitadas, nenhuma delas é permanente. O próprio isolamento, quando feito, também tem um prazo limitado, porque a ideia é, acima de todas as coisas, punir quando o sujeito comete uma falta grave, mas não alijá-lo. ○ Preso tem direito a voto? ■ 1ª corrente (minoritária): seriam suspensos os direitos políticos se a execução da pena fosse incompatível com o exercício desses direitos. ■ 2ª corrente (majoritária) não haveria suspensão, ou seja, o preso poderia votar. O 21 que prevalece é que deve-se observar os próprios efeitos da condenação, devendo ser relembrado o art. 15, III da CF.10 Assim, o preso provisório tem direito a voto, ao passo que o definitivo não tem, enquanto perdurarem os efeitos da condenação, estando com seus direitos políticos suspensos. e. Faltas Disciplinares i. Disciplina: A disciplina na execução penal é trabalhada através de recompensas, em caso de bom comportamento, e sanções, para o cometimento de faltas graves. ● As recompensas previstas na LEP são o elogio e a regalia. ○ Embora soe pejorativo, regalia não é um benefício ilícito. Por exemplo, a visita conjugal é uma regalia. ii. Faltas graves: Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar. (Art. 45, LEP). Trata-se do princípio da legalidade insculpido na legislação infraconstitucional. ● Além disso, as sanções não poderão colocar em perigo a integridade física e moral do condenado, é vedado o emprego de cela escura e são vedadas as sanções coletivas. (Art. 45, §§1º, 2º e 3º). É a positivação do princípio da individualização e da humanização das penas. ○ O que é a cela escura? É aquele cubículo, que remonta até mesmo ao tempo da ditadura, onde o sujeito era colocado numa cela, às 10 Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: (...) III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; 22 vezes de um quadradinho, de 1m2, que não permitia movimentação, sem iluminação nenhuma. Isso claramente consiste em tortura. ● A LEP é uma norma geral. Portanto, não desce minúcias acerca da execução do dia a dia do direito penitenciário. O que mais importa em sede de judiciário são as faltas graves. A falta média e a falta leve são tratadas nos regulamentos. Então, isso é uma matéria extremamente pulverizada, que varia para cada ente federativo. ● Há quem defenda que a falta grave de possuir instrumento que possa afetar a integridade física, depende de perícia. ● E o porte de chip, fone ou cabo USB? ○ 1ª Corrente: Não se trata de falta grave por não constituir elemento essencial do aparelho celular. Esse já foi o entendimento dominante, mas hoje é a posição minoritária. ○ 2º Corrente: Atualmente, a corrente majoritária é no sentido de que mesmo não consistindo o objeto elemento essencial do aparelho, configura-se a falta grave. ● Procedimento Disciplinar ○ É a forma pela qual se apura o fato definido como falta grave.11 ○ Esse procedimento tramita na penitenciária, ou seja, tem caráter administrativo. Nele terá que ser ouvido o apenado, com a assistência de uma defesa técnica, não havendo lugar 11Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para sua apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa. 23 para a Súmula Vinculante nº 5.12 O diretor do estabelecimento vai instaurar, quando ficar constatada a infração e depois de terminado esse processo, haverá a remessa ao juiz que o homologará e decretará os efeitos. ■ E se não houver advogado? Há precedentes no STF de que a realização de audiência de justificação com a presença de advogado supre a nulidade. ● A presença de defesa técnica não é um fim em si mesma. Serve para garantir que o apenado conheça da imputação, possa se manifestar sobre ela e influa na decisão do magistrado, tendo prazo razoável para preparar sua manifestação. ○ Em caso de tentativa? Há redução da sanção? Embora seja intuitivo pensarmos nisso com o mesmo raciocínio do direito penal, no procedimento disciplinar a tentativa é punida com a mesma sanção da falta grave consumada. ■ Isso pode gerar discussões de proporcionalidade e individualização, mas ainda não houve uma posição jurisprudencial que acolhesse essa tese. O que prevalece é que foi uma opção expressa do legislador, que parte 12 SV 5: A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição. 24 da seguinte premissa: qualquer movimento contrário à ordem e à disciplina, independentemente da consumação, já demonstra ausência de disciplina. ○ No Procedimento Disciplinar, o interrogatório deve ser o último ato? Todos conhecemos a discussão em processo penal, que, com a reforma de 2008, tirou o interrogatório como primeiro ato da instrução e passou ao último. Isso se aplica ao PD? Sim. Seguindo essa linha, é cediço que o interrogatório não é apenas um meio de prova, mas um meio de defesa, devendo ser o último ato para permitir a maior cognição possível dos elementos de prova para o apenado. ■ Essa é a regra. No entanto, o STJ já tem relativizado esse entendimento no âmbito de processos administrativos. ● Efeitos da falta grave Art. 53. Constituem sanções disciplinares: I - advertência verbal; II - repreensão; III - suspensão ou restrição de direitos (artigo 41, parágrafo único); 25 IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que possuam alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei. V - inclusão no regime disciplinar diferenciado. ○ Atenção: Não é possível prazo de suspensão ou restrição superior a 30 dias. ○ Interrupção do prazo para a contagem da progressão de regime: Súmula 534/STJ.13 O prazo para progressão começará a contar do zero retroagindo a partir da prática da infração. ■ Não atinge indulto ou comutação de penas, tampouco o livramento condicional. Súmula 535/STJ e 441/STJ.14 ● Isto ocorre porque porque esses benefícios dizem respeito ao cumprimento da pena horizontal, não vertical da pena (ressocialização progressiva) ○ Por exemplo: é perfeitamente possível que um condenado em regime fechado preencha os requisitos para o livramento condicional. 14 A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto; A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional. 13 S. 534 STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração. 26 ■ Também não atinge a data base para fins de saída temporária ou trabalho extramuros. ○ Outras consequências: revogação da saída temporária (não confundir com a alteração da data base), regressão de regime e perda dos dias remidos. ■ A perda dos dias remidos possui a limitação de 1/3. Ou seja, independentemente da gravidade da falta, só poderá ser retirado até 1/3 dos dias remidos. ● Há quem defenda que o mínimo que pode ser retirado é de 1 dia e há quem endosse que o mínimo é de 1/6, por se tratar da fração mínima prevista na legislação.Não há posição majoritária nesse aspecto. ● Reconhecida a falta grave, a perda do tempo de remido pode alcançar dias anteriores à infração disciplinar, ainda que não declarados pelo juízo no cômputo da remição. ○ Sob nenhuma hipótese, poderão os dias ser posteriores ao cometimento da falta grave. ● Observação: Concurso de Faltas. 27 ○ 1ª Corrente: A lei de execução penal não dispõe acerca do concurso de faltas. Então, deve-se aplicar as sanções previstas isoladamente para cada uma delas e vão ser executadas de forma progressiva. ○ 2ª Corrente: Somente poderá ser aplicada uma sanção, nesse caso a mais grave, se forem diferentes as sanções, para evitar o bis in idem. ■ Esse tema não é pacífico. ● Todas essas consequências devem ser determinadas por decisão judicial devidamente fundamentada, sob pena de nulidade. iii. Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) ● Somente o juiz pode aplicar essa sanção, mas não pode fazer de ofício. É preciso requerimento do diretor do presídio, ou de outra autoridade administrativa. O MP também pode requerer. ● O RDD já existia, mas foi alterado substancialmente após o pacote anticrime. ○ Prazo: Era de 360 dias até 1/6 da pena; agora é de até 2 anos, podendo ser repetido em caso de falta grave da mesma espécie. ○ Pode haver cumprimento de pena integral no RDD? Sim, desde que, cumulativamente, preencham-se os seguintes requisitos: .alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade e fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organização criminosa, associação criminosa 28 ou milícia privada, independentemente da prática de falta grave. ■ Sem esses requisitos, deverá ser renovado a cada falta grave nova com duração de dois anos. ○ Outras restrições do RDD: cela individual, restrição de banho de sol, visita a cada 15 dias por apenas duas horas, audiências realizadas por videoconferência, proibição de transpassar objetos ○ Observação: O preso, após o 6 primeiros meses no RDD, que não tenha recebido visitas, poderá fazer um contato telefônico que será gravado com uma pessoa da família até duas vezes por mês e por dez minutos. ○ O RDD é constitucional? Sim. A lei goza de presunção legal. Além disso, não é um novo regime de cumprimento de pena, não sendo sequer desproporcional. A lei só veda celas escuras, sanções coletivas e nada disso se insere no RDD. ■ Para quem defende a inconstitucionalidade, o argumento é basicamente calcado na dignidade, afirmando que é uma pena cruel, degradante, desumana e desproporcional. iv. Prescrição ● Não existe previsão na LEP. Portanto, aplica-se o prazo de 3 anos que é o menor em matéria de prescrição penal. 29 ○ Enquanto o preso está foragido, não corre o prazo prescricional. É o caso de uma falta grave permanente. ○ A recaptura faz iniciar o prazo prescricional. ○ Se ficar o apenado mais de 3 anos foragido, haverá a prescrição mesmo assim, visto que, muito provavelmente o apenado já fará jus a nova progressão, pois a data da nova progressão é a data da falta. f. Regimes de Cumprimento de Pena i. Em primeiro lugar, importante destacar que a execução penal possui um caráter progressivo. Nesse sentido, há um caminhar natural para a pretendida ressocialização do apenado, seja pelo decurso do tempo seja pelo mérito (remição por estudo ou trabalho). Em suma, o apenado voltará aos poucos para sua aptidão ao convívio social. ii. Sistemas penitenciários ● Pensilvânico: Nesse sistema, o isolamento seria contínuo e absoluto, não havendo trabalho externo e aplicando uma política de silêncio total. Havia, portanto, um completo isolamento do apenado de qualquer convívio social. Detém uma componente religiosa de expiação da culpa do sujeito através do cumprimento da pena. ● Auburniano: Aqui o trabalho era realizado diuturnamente, com o recolhimento noturno. Contudo, embora o trabalho pudesse ser realizado em conjunto, era vedada a comunicabilidade oral entre os presos. O trabalho não visava à ressocialização, mas apenas os fins econômicos. ● Progressivo (inglês): Esse é o sistema adotado no Brasil. Há um período de isolamento que, 30 paulatinamente, é substituído por diversos graus de liberdade e autonomia, conquistadas pelo apenado. Assim, com o tempo, é possível que o apenado trabalhe externamente e até mesmo cumpra parte da pena em liberdade. iii. Regimes de cumprimento ● A primeira noção a ser trazida é que a pena de reclusão admite os regimes fechado, semiaberto e aberto, ao passo que a pena de detenção admite apenas os regimes semiaberto e aberto. ○ Regime fechado: Nesse regime, aplicado em regra para penas superiores a 8 anos, o apenado fica recluso, dentro do presídio, podendo realizar trabalhos e estudos intramuros. ■ Frise-se que nem sempre há trabalho interno. ● O preso poderá remir pena mesmo assim? Não. Mesmo tendo direito de trabalhar e sendo dever do Estado promover esse trabalho, não é possível computar tempo de remição se não houver trabalho efetivo. STJ vedou, portanto, a chamada remição ficta. ● E se houver trabalho, mas ele não puder ser remunerado pela ausência de recursos? A jurisprudência admitiu esse trabalho para permitir a remição, já que de outro modo não 31 haveria como prestigiar o preso que trabalhasse, dificultando sua reinserção social. ○ Regime semiaberto: No semiaberto, há a possibilidade de o preso transitar pela unidade prisional, retornando para a cela apenas à noite. O regime inicial semiaberto se dá nos casos em que a pena aplicada fica entre 4 e 8 anos. Caso o preso tenha direito, é possível aplicar as saídas temporárias, além do trabalho e estudo extramuros. Exige cercas, muros altos, portão de ferro, controle de saída para os que deram trabalho às sete, para retornar às 19, celos sem luz nem mordomia, onde há colônia industrial ou agrícola penal, os detentos que não têm emprego podem trabalhar dentro dos próprios presídios, quando não há colônia, os condenados de regime semiaberto compreendem no centro de progressão penitenciária, trabalham ou estudam fora durante o dia. ■ Quando o regime inicial é o semiaberto, dispensa-se a fração legal de 1/6. Isto porque, antigamente, antes da alteração do pacote anticrime, o cumprimento dessa fração automaticamente geraria a progressão de regime para o aberto, não fazendo sentido o trabalho extramuros. ● Destaque para a possibilidade de trabalho extramuros no regime 32 fechado: APENAS obras públicas e entidades particulares. ○ Regime aberto: Em regra, o sujeito que recebe uma pena inferior a 4 anos cumprirá pena nesse regime. Caso ele seja reincidente, é possível colocá-lo em regime mais gravoso, que seria legalmente o regime fechado. Contudo, a súmula 269/STJ15 veio para permitir que, mesmo reincidente, o juiz pudesse colocá-lo no regime semiaberto. Esse regime é cumprido em casas de albergado, desde que esteja trabalhando ou demonstre a impossibilidade. ● É vedada a colocação em regime mais gravoso se a pena foi aplicada no mínimo legal com base apenas na gravidade em abstrato da conduta.16 Claro que é possível a fixação de regime mais gravoso se devidamente fundamentada a decisão em elementos concretos do caso. ○ Nesse sentido, foi aprovado o texto da proposta de Súmula Vinculante nº 139: “É impositiva a fixação de regime aberto e a substituição por PRD quando se tratar de tráfico privilegiado e se circunstâncias judiciais forem favoráveis e o sujeito não for reincidente. iv. Crimes Hediondos 16 S. 440/STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito. 15 S. 269/STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais. 33 ● Os crimes hediondos possuíamregime de cumprimento integralmente fechado, ou seja, não admitiam progressão. ○ Evidentemente, o STF reputou essa disposição legal inconstitucional, por violar a individualização da pena. Veja, dois apenados por crime hediondo em concurso, que praticaram a mesma conduta e receberam a mesma pena. Um deles apresentava excelente comportamento e outro era reincidente em faltas graves. Ambos teriam de ficar em regime fechado por todo o cumprimento da pena. Claramente viola a individualização da pena. O STF, em virtude da ausência de previsão legal, determinou que a fração de cumprimento seria de 1/6. ■ Contudo, a lei de crimes hediondos foi alterada para prever as frações de 2/5 e 3/5 para progressão. Gerou-se um problema de direito intertemporal, que foi solucionado com a súmula 471/STJ. ● Súmula 471/STJ: Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei nº 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional. ○ Também é inconstitucional que o regime inicial seja sempre o fechado. Portanto, é 34 possível que o regime inicial seja aberto ou semiaberto para crimes hediondos. g. Progressão de Regime i. Tem natureza jurídica de incidente da Execução Penal. ● Há autores que defendem que incidentes da execução penal são apenas aqueles previstos a partir do art. 180 da LEP. ii. Quem pode requerer? O MP, o próprio apenado, o seu defensor, ou até mesmo o juiz pode preferir, de ofício. iii. Requisitos: ● Objetivos: São os percentuais de cumprimento mínimos. I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) 35 V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou 36 equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional. Obs: Mulher gestante ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência § 3º No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de regime são, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018) I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; (Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018) II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente; (Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018) III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior; (Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018) IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento; (Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018) V - não ter integrado organização criminosa. ● Subjetivos 37 ○ Boa conduta carcerária: ○ Exame criminológico: Antes era previsto como etapa obrigatória. Atualmente é facultativo, desde que devidamente fundamentado, como bem elucida a parte final da Súmula vinculante 2617 e a súmula 439/STJ.18 ○ O sujeito que é reincidente não específico no crime hediondo com resultado morte, ele responde como se ele fosse primário no hediondo. ■ Ou seja, se o apenado houver cometido um crime hediondo com resultado morte e depois cometer um crime hediondo sem resultado morte, ele será um reincidente não específico. Por ausência de percentual especial para essa situação, o apenado deverá progredir como se fosse primário, de acordo com o STJ. ● Especiais ○ Progressão no regime aberto exige a aceitação de seu programa e das condições impostas pelo Juiz. Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que: 18 S. 439/STJ: Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada. 17 SV 26: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico. 38 I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente; II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime. Parágrafo único. Poderão ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no artigo 117 desta Lei. Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias: I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga; II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados; III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial; IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado. 39 Art. 116. O Juiz poderá modificar as condições estabelecidas, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da autoridade administrativa ou do condenado, desde que as circunstâncias assim o recomendem. ■ É vedado ao juiz aplicar uma condição não prevista em lei que consista em uma modalidade de cumprimento de pena. ● Ex.: Para progredir ao regime aberto, o apenado deve prestar serviços à comunidade. Isso está vedado pois é uma das formas de penas restritivas de direitos.19 ○ Crimes contra a administração pública ■ Só poderá progredir de regime quem comprovar o ressarcimento ao Erário, a reparação do dano com os acréscimos legais. ○ Dispensa legal de trabalho para progressão ■ O condenado maior de 70, o condenado acometido de doença grave, o condenado com filho deficiente físico ou mental, ou a condenada gestante. ● Para fins de progressão, o trabalho pode ser feito em empresa familiar? Segundo o STJ, pode. É muito difícil conseguir emprego e impedir que o preso seja contratado por parente reduz ainda mais 19 S. 493/STJ: É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição especial ao regime aberto. 40 essa possibilidade de conseguir uma ocupação lícita. Outro ponto, o Estado deve empregar todos os esforços para ressocializar a população carcerária. Por fim, não há vedação na LEP. ● Esse raciocínio se aplica também à remição da pena. ● Progressão na prisão provisória○ Como já mencionado, o ideal é o requerimento de uma medida cautelar diversa da prisão compatível com o grau de liberdade atingida, em prestígio ao princípio da homogeneidade. ○ Contudo o STF, por meio da súmula 716, já colacionada, admite a aplicação de benefícios aos presos provisórios. Há uma grande crítica a essa posição em razão da vedação ao cumprimento antecipado de pena. ● Base de cálculo para progressão e benefícios ○ A jurisprudência é pacífica no sentido de que a progressão e os benefícios são calculados a partir das penas somadas. ■ Havia uma tese de que, como a limitação de pena privativa de liberdade é de 40 anos (antes do pacote anticrime era de 30 anos), o cálculo deveria ser em cima desses 40 anos. ● Contudo, é assente na jurisprudência que o cálculo deve ser feito em cima das penas aplicadas. 41 ○ Caso contrário, seria vantajoso cometer muitos crimes. Pense: pratiquei dois latrocínios, recebendo uma pena de 60 anos (duas penas máximas). Se fosse possível fazer a conta em cima do máximo em abstrato (40 anos), seria conveniente praticar os crimes em concurso. ● Natureza da decisão que concede a progressão ○ Natureza declaratória. ■ A decisão apenas reconhece um direito adquirido pelo preenchimento dos requisitos legais. ● A partir daí, tem-se que se o sujeito cumpriu os requisitos para progressão em 20.12.2019, mas o juiz só decidiu em 04.07.2020, é a data do preenchimento que contará para a próxima progressão. ○ É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional (S. 491/STJ). Contudo, a regressão pode ser per saltum. ■ Isso não quer dizer que a demora na declaração da 42 progressão vá prejudicar o apenado. Veja: O sujeito cumpriu dois anos de pena, em tese poderia progredir. Só que o sujeito teve uma demora de analisar esse pedido e o sujeito já está cumprindo pena há cinco anos no regime fechado. Nesse caso, ele pode ir direto para o regime aberto, até mesmo em observância da Súmula Vinculante 56.20 ● Inadimplemento da pena de multa ○ Não obsta a progressão de regime, em regra. ■ Só é possível vetar a progressão se, e somente se, o apenado dispuser dos meios para pagar a multa e não o faz porque pretende frustrar os objetivos da pena. ● Prisão domiciliar humanitária 20 SV 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS. 43 ○ A prisão albergue domiciliar é limitada para os casos previstos em lei, desde que estejam em regime aberto. ■ Porém, o STJ admite a possibilidade também de quem esteja no regime fechado ou no regime semiaberto. ● É o caso tanto do homem quanto da mulher, que tem um filho pequeno, das mulheres gestantes, a mulher que tem um filho menor de 12 anos ou deficiente e tem também a prisão albergue domiciliar humanitária por questões de saúde e etária (70 anos). h. Regressão i. Trata-se da possibilidade de sair de um regime menos severo para um mais gravoso. É por essa razão que a própria lei permite a regressão per saltum. É possível o sujeito ir do aberto para o fechado, mas nunca poderá ir do fechado para o aberto. Por que? A ideia é que o sujeito, ao longo da sua execução, vá adquirindo senso de responsabilidade. ii. Está prevista nos artigos 118 e 146 da LEP. Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado: I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave; 44 II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o regime (artigo 111). § 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta. § 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o condenado. Art. 146-C. O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá adotar com o equipamento eletrônico e dos seguintes deveres: (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010) I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder aos seus contatos e cumprir suas orientações; (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010) II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça; (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010) III - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010) Parágrafo único. A violação comprovada dos deveres previstos neste artigo poderá acarretar, a critério do juiz 45 da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa: (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010) I - a regressão do regime; (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010) iii. A falta grave interrompe o prazo para a progressão e ela também pode ensejar a regressão de regime. O crime culposo e a contravenção penal,por sua vez, não geram por si só a regressão de regime, mas podem ser levados em conta na análise de outros benefícios. ● Súmula 526/STJ.21 ○ Não viola a presunção de inocência, pois não se trata de um reconhecimento sumário da responsabilidade penal. Apenas haverá um procedimento disciplinar que bastará para a regressão, sem qualquer implicação no julgamento criminal. ○ No procedimento disciplinar, o STJ admite inclusive a regressão cautelar. iv. A unificação das penas por crime anterior pode ensejar a regressão se o quantum das penas somadas for incompatível com o regime atual. ● Art. 111, LEP.22 ○ O regime será determinado pelas penas somadas no mesmo processo ou em processos distintos ou, ainda, com a 22 Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição. Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime. 21 S. 526/STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo penal instaurado para apuração do fato. 46 condenação posterior com o remanescente da pena exequenda. ● No caso de PRD sobrevindo uma PPL, há disposição expressa de conversão da primeira também PPL. Mas no caso de PPL sobrevindo uma PRD? É uma lacuna normativa. ○ Nos termos do artigo 76 do Código Penal23, deve-se executar primeiramente a pena mais grave. ● A detração deve ser feita no momento da sentença ou só na execução penal? ○ A detração é a diminuição do tempo de pena já cumprido provisoriamente, por conta de internação no Brasil ou no estrangeiro ou por conta de prisão administrativa. ■ 1ª Corrente: Não deve ser feita no momento da sentença. Por quê? Viola os princípios da individualização da pena. Seria uma nova etapa de fixação da pena. Fixar-se-ia a pena e depois haveria a redução para fixação de regime. Além disso, viola o juiz natural, que seria o juízo da execução a aplicar a detração. Viola também a isonomia, pois na prisão provisória o juiz da condenação fica adstrito ao requisito objetivo da progressão, não podendo aferir o mérito carcerário. ■ 2ª Corrente: Quem entende que deve ser feita a detração na sentença argumenta que se consideraria a 23 Art. 76 - No concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais grave. 47 detração para fixar o regime, mas ela não teria a ver com a progressão de regime em si. Consequentemente, seria simplesmente uma operação de abatimento da pena cumprida na fixação do regime inicial. Assim, não seria uma quarta etapa de aplicação da pena,não violaria a isonomia e, consequentemente, a competência seria do próprio juízo da condenação. ● Cabe detração em PRD? ○ Sim. O código penal somente fala de atração na hipótese de pena privativa de liberdade, mas a interpretação literal do texto poderia levar à conclusão de que o benefício não caberia na PRD. Contudo, é possível analogia in bonam partem. ● É possível a detração do tempo de prisão cautelar na medida de segurança? É possível, mas não vai ser para que reduza de qualquer forma o tempo total da medida, porque a medida perdura enquanto perdurar a periculosidade do agente. ○ O que vai ser feito? Antecipação da reavaliação. v. A frustração dos fins da execução ou o não pagamento da multa. ● Imagine que o sujeito tem condições de cumprir a pena de multa, no entanto pede ao juiz para parcelar. O juiz defere e concede a progressão, com o compromisso assumido de quitar as parcelas. O 48 inadimplemento injustificado ensejará a regressão de regime. vi. É possível regredir per saltum? Ou para um regime mais gravoso que o da sentença condenatória? ● Segundo o STJ, é possível porque, na verdade, a regressão per saltum é admitida. Não há óbice na regressão para regime mais gravoso que o da sentença. Não há nenhuma violação à coisa julgada. Há apenas a aplicação de uma sanção disciplinar. i. Remição i. Direito público subjetivo que possibilita ao apenado reduzir a sua pena diante de atividades de caráter ressocializador. ii. O tempo é remido é computado como pena cumprida para todos os efeitos. ● Isso significa que, se o sujeito foi condenado a 5 anos e tem 180 dias remidos e cumpriu já 6 meses, o remanescente de pena será de 4 anos, podendo o sujeito já ter direito a progressão de regime, trabalho externo, indulto, comutação, dentre outros benefícios. ○ Em suma, não interessa a natureza da pena cumprida, se foi cumprida fisicamente ou se foi pena remida. iii. Remição pelo trabalho ● Serve para todos os tipos de trabalho. Sendo assim, não interessa se o trabalho é manual, intelectual, agrícola, industrial, braçal ou externo. ○ O preso do regime fechado, contudo, só pode trabalhar em trabalho externo se ele 49 tiver cumprido um sexto da pena e se for em obras públicas. ■ A obra só pode ter no máximo de 10% do seu pessoal sendo esses presos no trabalho extramuros. ○ O preso no regime semiaberto também pode remir pelo trabalho. Súmula 562/STJ.24 ■ O STJ, no entanto, tem o entendimento de que no caso do apenado que for condenado diretamente no regime semiaberto, ele poderia, no dia seguinte, já começar a trabalhar. Esse entendimento jurisprudencial diz que um sexto da pena seria exigido para o regime fechado. E, no mais, que o tempo de pena cumprido no regime fechado pode ser usado ali, eventualmente, já para a concessão do regime semiaberto. ■ No regime aberto não pode. Um dos requisitos estabelecidos pela LEP para o sujeito ir para o regime aberto é que ele esteja trabalhando ou que ele comprove a impossibilidade de fazer. Então perceba como a LEP na cabeça do legislador tinha todo um processo que fechado, ficaria ali na cela, na cadeia, depois ele iria para o semiaberto, ele sairia durante o dia, teria suas atividades, faria o que 24 É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa, ainda que extramuros. 50 quisesse na rua, voltaria para dormir no presídio com aquele rigor, com aquela cela fechada. E aí quando ele saísse durante o dia, ele poderia ir procurar um emprego, fazer atividades, etc. Voltaria para a prisão e aí quando ele atingisse o lápis de progressão de tempo para ir para o aberto, ele já teria muitas das vezes um emprego na cabeça do legislador. Então, seria excepcional a hipótese do sujeito não conseguir emprego. Claro, se ele estaria trabalhando já, não faria sentido ele remir pena, porque é uma obrigação, de certa forma, que foi imposta a ele. ● Como é feita a fiscalização? ○ Apresenta-se uma carta do empregador. O juiz da execução penal determina uma inspeção, tem uma equipe, um setor de fiscalização que vai lá nessa empresa, eles perguntam se tem câmera, se tem monitoração, quanto tempo fica gravado. Eles veem a atividade que o sujeito vai desempenhar. Eles entregam um relatório com base no qual será analisada a idoneidade da empresa. ● Presos políticos e provisórios: não estão obrigados ao trabalho. No caso dos provisórios, caso decidam trabalhar, será apenas admitido o trabalho interno. 51 ● Os maiores de 60 anos, doentes, deficientes: exercerão uma ocupação condizente com a sua condição. ● Horário especial de trabalho: é permitido ao preso que realiza trabalho na manutenção e conservação do estabelecimento. ○ Segundo o STJ, a recusa do apenado ao trabalho consiste em falta grave. ○ Se o preso, ainda que sem autorização, efetivamente trabalhar aos domingos, feriados, esses dias deverão ser computados. ● Prazo: 1 dia de pena a cada 3 dias de trabalho. ● Quais os direitos trabalhistas do preso? Basicamente, direito à remuneração (3/4 do salário mínimo) e à previdência social. Não está sujeito à CLT. ○ Se não cabe CLT, qual a carga horária? De 6 a 8 horas. A cada 6 horas extras (isto é, a hora que exceder as 8 horas ordinárias de trabalho) o preso terá um dia a mais de trabalho para remição. ○ Informativo 870/STF: Menos do que 6 horas não é dia de trabalho, mas as horas são computadas até se formarem um dia. ● É possível aproveitar os dias remidos em pena de outro processo? Sim, desde que a segunda condenação advenha de um fato anterior. ○ Imagine o seguinte caso: João foi preso provisoriamente e remiu pena. Contudo, foi absolvido. Em seguida, foi preso novamente, por um fato anterior ao tempo em que 52 estava preso. Nesse caso, será possível aproveitar os dias remidos, segundo o STJ. iv. Remição pelo estudo ● As atividades de estudo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia à distância. ● É possível cumular remição de trabalho com estudo? Sim. Para os presos nos regimes fechado e semiaberto. ● Cabe remição pelo estudo para o regime aberto? Sim. É possível. ● Prazo: A cada 12 horas de estudo, há remição de um dia de pena. Essas 12h devem ser distribuídas em 3 dias, sem prejuízo de horas extras. ● Informativo 677/STJ: O tempo excedido de estudo, superior a 12 horas, deve ser computado para remição. ■ A hora extra de estudo não tem previsão legal, mas seria um tanto quanto desproporcional simplesmente desconsiderar essa atividade. ● Remição pelo ENEM e pelo ENCCEJA: Tema controvertido. ○ 1ª Posição: Não é cabível a remição de pena por aprovação do Enem a quem já tinha o Enem, quem já tinha o ensino médio. Violação da proporcionalidade. ○ 2ª Posição: Caberá a remição sem o adicional de 1/3 pela conclusão do curso. v. Remição Ficta ● Como vimos, mesmo tendo direito de trabalhar e sendo dever do Estado promover esse trabalho, 53 não é possível computar tempo de remição se não houver trabalho efetivo. STJ vedou, portanto, a chamada remição ficta. ■ Portanto, só cabe para o caso de preso incapacitado por acidente de trabalho, já que sua impossibilidade de trabalhar é pessoal e não estrutural, sendo permitida a continuidade da remição. ● É a única hipótese de remição ficta. ● O tempo a remir em função das horas de estudo é acrescido de um terço, se o sujeito concluir o ensino fundamental ou superior. vi. A remição será sempre declarada pelo juiz da execução, ouvidos o MP e a Defesa. vii. Crimes hediondos não obstam a remição. viii. Medida de segurança: Não cabe remição emmedida de segurança. ix. Remição pela leitura ● É preciso ler o livro, no prazo de 21 a 30 dias, e fazer uma resenha, de acordo com o CNJ. ● Prazo: A cada livro lido são 4 dias remidos. ○ É possível remir até 48 dias por ano com base em leitura. x. Informativo 613/STJ: O apenado que participarde coral tem direito a remição por uma interpretação extensiva dos institutos, totalmente cabível por conta dos fins da pena e de se tratar de uma atividade ressocializadora. xi. Instituto Plácido de Sá Carvalho: ● Trata-se de uma unidade prisional no Complexo Penitenciário de Gericinó, no bairro de Bangu, no Rio de Janeiro. 54 ○ Era uma unidade prisional com péssimas condições, de modo que foi fiscalizada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, que determinou uma série de medidas para a redução das mazelas, dentre elas o cômputo em dobro da pena. ■ É possível que a fração de redução seja menor, caso o exame criminológico recomende. ■ O STJ já entendeu que mesmo após as reformas na unidade o cômputo ainda será em dobro. ■ Não se aplica para condenados por crimes contra a vida, contra a dignidade sexual e contra a integridade física. xii. Perda dos dias remidos ● Como vimos, em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 dos dias remidos, recomeçando a contagem a partir da data da infração. ○ Excepciona-se a fuga, que se conta da recaptura, por se tratar de falta grave permanente. ○ 1/3 é o limite máximo de revogação. Como vimos anteriormente no estudo das faltas graves, é preciso que o juiz fundamente, havendo corrente no sentido de que o mínimo seria 1 dia e corrente que defende que o mínimo seria 1/6 por ser a menor fração prevista em lei. ○ Informativo 559/STJ: Magistrado tem o poder-dever de revogar os dias remidos. Ou 55 seja, não é lícito ao juiz não aplicar nenhuma perda. ○ É possível alcançar os dias remidos antes da infração não homologados, mas os posteriores não podem ser perdidos.. j. Autorização de Saída i. Trata-se de um gênero de benefícios penais do qual a permissão de saída e a saída temporária são espécies. ii. Permissão de saída ● Cabível nos regimes fechado e semiaberto, bem como para presos provisórios. ● Possui finalidades específicas, todas de caráter humanitário. São elas a necessidade de tratamento médico e o falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão. ● Pode ser conferido pelo próprio Diretor do presídio, sem prejuízo de eventual decisão judicial, não demandando prova robusta, até mesmo porque esse ônus é do Estado e não pode ser transferido ao apenado, tampouco podendo ser razão para o indeferimento o comportamento do requerente. ● Haverá sempre escolta, já que não se trata de um benefício destinado à ressocialização, senão para o atendimento de uma finalidade específica, sendo sua duração limitada estritamente à consecução dessa finalidade. ○ Daí porque também não cabe a monitoração eletrônica. A auto responsabilidade do apenado é incompatível com o regime fechado e semiaberto. iii. Saída temporária 56 ● Cabível apenas no semiaberto, pois se trata de um instrumento de ressocialização, diferentemente da permissão de saída. ● Requisito objetivo: 1/6 da pena para primário e 1/4 da pena para reincidente. ○ A jurisprudência admite que essa fração seja cumprida no regime fechado. Até mesmo porque, se o apenado fosse cumprir no regime semiaberto, ele provavelmente já teria direito à progressão, de modo que a saída se tornaria inócua. É a mesma lógica do trabalho extramuros. ● Requisitos subjetivos: comportamento adequado e compatibilidade do benefício com os objetivos da pena. ● Finalidades: Visita à família (Visitação Periódica ao Lar - VPL), realização de cursos ou prática de atividades que concorram para a ressocialização. ● É possível, diferentemente da permissão de saída, a determinação de monitoramento eletrônico, visto que se trata de benefício que visa à ressocialização, além do fornecimento do endereço e da proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres. ○ É possível também que o magistrado determine condições especiais não previstas em lei a depender do caso concreto. ■ Exemplo: Condenado por estupro de vulnerável pode ser proibido de frequentar lugares com maior circulação de crianças. 57 ● Hipóteses de revogação: praticar fato definido como crime doloso, for punido por falta grave, desatender as condições impostas na autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento do curso. ○ Essa revogação é automática. Ou seja, o juiz apenas declarará a revogação, não sendo lícito ponderar sobre a manutenção do benefício. ■ Para readquirir o direito, será preciso a absolvição no processo penal, o cancelamento da punição disciplinar ou a demonstração do merecimento do condenado. ■ Embora a falta grave revogue o benefício, não será possível utilizá-la para interromper o prazo para nova saída temporária. Ela terá de ser avaliada como requisito subjetivo negativo. ● Duração: É possível até 35 dias por ano, com intervalo mínimo de 45 dias entre cada saída. ○ Essa é a razão do calendário de saídas temporárias. 5 saídas de uma semana em datas comemorativas como natal, páscoa, dia das mães, dia dos pais, etc. ○ Os tribunais superiores já estabeleceram que o prazo do benefício é contado em dias, não em horas. k. Livramento Condicional i. Direito subjetivo do apenado. Trata-se de uma liberdade precária e condicional. 58 ii. Importante frisar que, como já explicado em tópico acima, o livramento condicional não é um benefício verticalizado, ou seja, que compõe a progressão. É possível, por exemplo, que o apenado saia do regime fechado para o livramento condicional sem que isso incorra em progressão per saltum, que inclusive é vedada pela súmula 491 do STJ, como já vimos. ● Trata-se, portanto, de um benefício lateralizado. iii. Não se aplica a quem cumpre PRD ou pena de multa. É apenas para presos. iv. Requisitos ● Objetivo: A pena total deve ser superior a dois anos, devendo ter sido cumpridos 1/3 para primários e com bons antecedentes, 1/2 para reincidentes em crime doloso (independentemente dos antecedentes) ou 2/3 para condenados por crime hediondo, primários ou reincidentes. ○ É vedado o livramento para reincidentes específicos em crimes hediondos e para crimes hediondos com resultado morte (Novatio Legis in Pejus do pacote anticrime) ■ A reincidência específica em crime de hediondo significa que ele cometeu um crime de hediondo ou equiparado e depois ele cometeu um novo delito hediondo ou equiparado. ○ Tráfico de drogas: Dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico. Se for reincidente específico em crime de tráfico, não vai ter 59 livramento condicional, assim como atualmente não tem livramento condicional aquele que comete crime hediondo com resultado morte. ● Subjetivo: Bom comportamento, bom desempenho no trabalho, aptidão para subsistência, não cometimento de falta grave nos últimos 12 meses e a perspectiva de que o apenado não voltará a delinquir. ○ Informativo 776 do STJ: A falta grave nos últimos 12 meses é diferente do bom comportamento, que pode ser anterior a esses 12 meses. ● Formal: Reparação do dano, salvo a impossibilidade de fazê-lo. v. Condições a serem cumpridas no livramento: Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica subordinado o livramento. § 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes: a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho; b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação; c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização deste. 60 § 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações, as seguintes: a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção; b) recolher-se à habitação em hora fixada; c) não frequentar determinados lugares. ● A condições facultativas são exemplificativas, sendo lícito que o juiz determine quaisquer outras. vi. Existe interesse do réu em recorrerpara aumentar a pena? Em tese, sim. Imagine que o sujeito foi condenado a uma pena de 1 ano e 11 meses. Por apenas ummês, não será possível a ele ser concedido o livramento condicional. Se a ele não for cabível o benefício do sursis da pena ou a conversão em PRD, ele terá de cumprir pena em razão de apenas 1 mês. vii. Revogação ● Obrigatória ○ A revogação decorrerá de uma sentença condenatória irrecorrível por crime doloso cometido na vigência do benefício ou por crime anterior, se a soma das penas inviabilizar o livramento. ■ Uma consequência prática relevante é que, nessas hipóteses, o tempo cumprido de livramento condicional não é descontado da pena, ou seja, se ele cumpriu 1 ano e 6 meses de 61 livramento, mas foi condenado nesses moldes, esse tempo será perdido. ■ Não poderá ser concedido novo livramento para aquele montante de pena em que houve a revogação. Ou seja, o apenado terá de cumprir a pena restante e depois, para a nova condenação, é que serão calculados os benefícios de outro livramento. ● Exemplo: Restavam dois anos de pena. O livramento condicional foi concedido e após 1 ano, houve condenação transitada em julgado por crime doloso praticado no curso do livramento a 6 anos. Esse ano de livramento será perdido. Então o apenado cumprirá 2 anos e, depois, haverá o cálculo em cima dos 6 anos pelos quais foi condenado. ■ E se não houver suspensão do período de prova a tempo de nova condenação, de modo que o apenado termine o período de prova antes do trânsito em julgado da condenação? S. 617/STJ: A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena. ■ E há falta grave no livramento? Segundo o STJ, não configura falta 62 grave o cometimento de um novo crime no curso do livramento. O benefício vai ser revogado, o tempo que o reeducando esteve solto não será descontado da pena, e ele também, obviamente, não vai poder obter um novo benefício em relação àquela mesma pena. ● Facultativa ○ Nesse caso, caberá ao juiz analisar com base na conveniência para a consecução dos objetivos do cumprimento da pena quando o apenado descumprir quaisquer das condições impostas no livramento ou for condenado com trânsito em julgado a pena não privativa de liberdade por crime ou por contravenção. l. Incidentes da Execução i. Incidentes são questões controversas secundárias e acessórias que surgem no curso de um processo e que precisam ser julgadas antes da decisão do mérito da causa principal. Sob a perspectiva legal, são aqueles previstos no art. 180 e seguintes da LEP. ● Entretanto, importante salientar que há diversos incidentes não previstos expressamente como tais, a exemplo da progressão, da remição, homologação de faltas graves, etc. ii. Conversões ● Trata-se de uma conversão de umamodalidade de pena em outra. Ou seja, de pena privativa de liberdade em restritiva de direitos ou vice-versa, 63 sendo classificadas como positiva ou negativa, respectivamente. ● Conversão em PRD: Pena privativa de liberdade não superior a 2 anos, regime aberto, cumprimento de 1/4 da pena e antecedentes e personalidade favoráveis. ○ Há divergência doutrinária sobre se esses dois anos de cumprimento de pena seriam dois anos totais ou seriam dois anos no momento da conversão. ■ Nucci defende que os 2 anos são verificados no momento da conversão, abrangendo penas superiores com regime inicial aberto. ● Em que pese se tratar de hipótese interessante, na prática é difícil de ser verificada. É que o Código Penal e as legislações posteriores trouxeram diversos benefícios executórios mais benéficos. Então, por exemplo, o sujeito que chegue nesse patamar de pena, provavelmente ele já terá atingido os requisitos para um livramento condicional. Ou mesmo, ele, de acordo com a pena, às vezes sequer terá uma pena aplicada. A pena já será convertida em restritiva de direitos pelo próprio juízo da condenação. Talvez o juízo da condenação já tenha, inclusive, 64 suspendido a pena, uma suspensão condicional da pena, no extremo do artigo 77 do Código Penal. ● Conversão em PPL: O descumprimento de qualquer restrição imposta na sentença condenatória, o cometimento de falta grave ou a prática de um novo crime doloso acarretam a conversão da PRD em PPL. ○ A pena restritiva pecuniária, isto é, pena de multa ou pagamento de prestação à vítima, estão excluídas da conversão. ■ Já que se aplica o mesmo critério do inadimplemento da multa, serão inscritas, ou serão as dívidas de valor inscritas para fins de execução penal, de execução fiscal. Serão executadas pelo Ministério Público, como nós vimos no tópico específico, mas essas penas não serão convertidas para privativa de liberdade. iii. Excesso e desvio da execução ● Haverá excesso ou desvio de execução sempre que algum ato for praticado além dos limites fixados na sentença, em normas legais ou regulamentares. ● O excesso diz respeito ao quantitativo de pena, enquanto o desvio se liga ao não atingimento de sua finalidade. O desvio pode ser favorável, por exemplo, o cumprimento em regime semiaberto quando a condenação determinava regime fechado. O excesso, por sua vez, será sempre desfavorável. 65 ○ Outro exemplo de desvio favorável, é a saída temporária superior a 35 dias. ● O cumprimento de pena em situação degradante é um desvio de finalidade. Para corrigir isso, cabe ao apenado ingressar com ação de responsabilidade civil em face do Estado, não cabendo a este se valer da tese da reserva do possível, visto que é dever do Estado prover condições dignas de cumprimento de pena. ● Se o sujeito é acometido de doença mental superveniente e não é posto em internação no hospital de custódia (que seria uma forma especial de conversão), haverá desvio de execução. ○ Detalhe: A superveniência de inimputabilidade por doença mental não implica necessariamente na conversão em medida de segurança. Essa é uma consequência facultativa. A única consequência obrigatória é a internação em hospital de custódia. Logo, é possível que o apenado cumpra pena em hospital de custódia sem cumprir medida de segurança. ■ Se o apenado recuperar sua sanidade? Deverá ser posto em liberdade, pois não há previsão legal para a conversão de medida de segurança e internação em PPL. iv. Anistia e Indulto ● A anistia é o esquecimento jurídico e tem por objeto fatos e não pessoas. Só pode ser concedida mediante lei, de caráter irrevogável, oriunda do Congresso Nacional, possuindo efeitos ex tunc. É 66 uma causa de extinção da punibilidade que afeta todos os efeitos penais, primários e secundários (a graça, por exemplo, como se verá, extingue apenas os efeitos primários da condenação, ou seja, a pena propriamente dita).25 ○ Porém, não afeta os efeitos extrapenais (arts. 91 e 92, CP). Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. § 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem 25 Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais. 67 encontrados ou quando se localizarem no exterior. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) § 2º Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislaçãoprocessual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado todos os bens: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 68 II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens cuja perda for decretada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 69 Art. 92 - São também efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública quando a pena aplicada for superior a quatro anos; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular 70 do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado; (Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018 ) III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) ○ Não há empecilho para que a anistia seja condicionada, de modo que não se tornará geral, mas parcial, excluindo aqueles que não preencherem as condições legais. ○ A anistia própria ocorre antes do trânsito em julgado da sentença, ao passo que a imprópria ocorre após. ● O indulto é feito por meio de decreto do presidente da república, que inclusive pode ser delegado aos ministros, à AGU e à própria PGR, atingindo apenas a pretensão executória e por isso que ele não afeta os efeitos penais secundários, ele afeta só o efeito penal primário, que é a pena. ○ Na verdade, no indulto, não se apaga o fato, apaga-se somente a pretensão executória, os efeitos secundários continuarão a existir. 71 ○ Iniciativa pode ser do MP, do conselho penitenciário, do próprio apenado, ou de ofício (tradição do indulto natalino). ○ Qual a diferença entre o indulto e a graça? A graça é individual, enquanto o indulto é coletivo. ○ A comutação da pena é uma espécie de indulto? Para alguns seria um indulto parcial, para outros não. Enquanto o indulto diz respeito à extinção da pena, a comutação diz respeito somente a uma diminuição da pena. Então, a comutação não necessariamente extingue a punibilidade. ○ O indulto se aplica até mesmo para penas decorrentes de acordo de colaboração premiada. ● Constituição veda anistia e graça para crimes hediondos. ○ E o indulto? Existe grande controvérsia. ■ É interessante levantar a tese de que, na verdade, o indulto não estaria impedido, mas prevalece, em sede jurisprudencial, que é constitucional você impedir também aos crimes hediondos o indulto. ● Como se trata de regra constitucional e a graça é espécie do indulto, não há porque permitir indulto para crimes hediondos. 72 ● O mesmo raciocínio se aplica para a comutação da pena (indulto parcial). ● É possível indultar antes do trânsito em julgado? ○ Apenas se houver trânsito em julgado para a acusação, momento em que a pena não poderá mais ser majorada. ■ Caso contrário, o sujeito poderia ser indultado pendente apelação do MP e o tribunal aumentaria a pena, deixando o réu sem direito ao indulto, por exemplo. ● Na ADI 5874, entendeu o STF que a concessão do indulto não está vinculada à política criminal estabelecida pelo Legislativo, tampouco adstrita à jurisprudência, muito menos a qualquer espécie de prévia consulta ao Conselho Nacional de Política Criminal. Em resumo, é da discricionariedade do Presidente da República. m. Agravo em Execução i. Único recurso cabível em sede de Execução Penal. E o HC? HC não é recurso, é ação autônoma de impugnação. E os embargos de declaração? São cabíveis, mas não discutem omérito da decisão propriamente dito. ii. Não possui efeito suspensivo. ● Exceção: art. 179 da LEP.26 iii. Qual o rito? ● Quando a LEP era um projeto de lei, tramitava paralelamente o projeto de CPP que mencionava o agravo de instrumento. Por isso que a LEP não 26 Art. 179. Transitada em julgado a sentença, o Juiz expedirá ordem para a desinternação ou a liberação. 73 mencionou o rito deste agravo, uma vez que seria o rito do agravo previsto no CPP. Porém, apenas a LEP entrou em vigor, razão pela qual deveríamos usar o rito do agravo de instrumento do CPC, em tese. ○ Contudo, não é isso que prevalece. ■ Segundo jurisprudência e a doutrina, é justamente a aplicação do rito do recurso em sentido estrito. ■ Ou seja, prazo de cinco dias para interposição, dois dias para razões e juízo de retratação após as contrarrazões. ● Ensejou a súmula 700/STF: É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal. iv. Efeitos: ● Suspensivo: Não possui. Apenas no caso do art. 179 e quando requerido e deferido pela parte. ● Devolutivo: A matéria recorrida será devolvida para apreciação do Judiciário, dessa vez perante o tribunal. ● Regressivo ou iterativo: Diz respeito à possibilidade do juízo de retratação pelo magistrado. ● Extensivo: Estende-se sobre os capítulos da decisão, mesmo que não impugnados especificamente, e aos demais sujeitos processuais que estejam em situação similar. 74 ○ S. 604/STJ: "Não cabe mandado de segurança em matéria criminal para atribuir efeitos extensivos". 75