Prévia do material em texto
Resenha Texto: Significados da educação científica com enfoque CTS Wildson Luiz Pereira dos Santos É notável que a sociedade não nega a importância da educação para formação da cidadania, mas ainda vemos como os conceitos tradicionais de educação seguem enraizados na nossa população até os dias de hoje. No entanto, no século XIX iniciou-se uma contestação de qual seria o real papel da educação e da ciência em relação a sociedade, e foi nesse cenário que o movimento de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) começou a se estabelecer. No contexto da CTS, a educação e ciência possuem um papel de buscar uma sociedade mais justa e igualitária, onde estão inter-relacionadas com as questões sociais e históricas da população. Essa concepção da importância da ciência passou a ser questionada quando seu uso não vinha sendo apenas para o bem da população, mas para fins bélicos e de guerra. Com os bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki lançados pelos Estados Unidos no fim da Segunda Guerra Mundial iniciou-se um questionamento sobre como a ciência poderia ser utilizada até mesmo para o genocídio. A ética na ciência não vinha sendo abordada naquela época, o que trouxe maior afastamento da população e ciência novamente. Novamente com a Guerra Fria, tivemos um investimento em massa em cientistas, mas ainda para estratégias de guerra e de poder político. No momento de uma guerra teoricamente sem ataques entre os EUA e a URSS, a disputa se dava com a formação de maior número de cientistas, estes com formação precária e sem as ideologias necessárias para as questões CTS, que foram deixadas de lado em meio a todo esse caos. Poderíamos imaginar que de fato esses momentos da história teriam sido diferentes se esses mesmos cientistas tivessem envolvimento com as questões sociocientíficas que envolviam todo contexto envolvia na época, tanto das questões políticas como no modo que essas guerras estavam afetando a população não só de seus países, mas do mundo todo. A hegemonia conquistada pelos Estados Unidos em toda essa fase, que o tornou potência mundial, trouxe para ciência um viés capitalista e distanciado cada vez mais do movimento CTS. A ciência era utilizada então como mercadoria, para desenvolvimento industrial e comercial e muitas vezes de exploração. Entretanto, com o aumento dos problemas ambientais (muito relacionados com o modo de produção estadunidense), os ideais da CTS voltaram à tona. A necessidade de educar a população para um movimento mais político, ambiental e social trouxe para a ciência maiores estudos sobre como esse movimento poderia contribuir para os problemas ambientais contemporâneos e sobre as questões de ética que envolvem a ciência. Temos nas últimas duas décadas esse retorno da pesquisa da educação com enfoque em CTS, no entanto esse movimento trazia consigo diversas vertentes e slogans quanto ao seu papel. Esse crescimento no número de pesquisas trouxe um certo desfoque dos princípios sociais que a CTS traz consigo, mas a partir mesmo dos anos 2000 já temos um declínio considerável dessas pesquisas internacionalmente. Tal redução é compreendida por fatores políticos e regionais que envolvem esses estudos, como o incentivo de cada país e seus líderes dão ao progresso que essa educação pode dar à sua população. No texto de Wildson podemos encontrar algumas visões sobre o contexto da CTS e como deveria ser aplicada. O que ocorre é que muitas vezes os estudos na área não englobam a ciência num contexto social como deveria. Roberts (1991) acredita na união da CTS com a Ciência no contexto social, de forma que englobe a compreensão da ciência, planejamento tecnológico e a solução de problemas práticos da sociedade. Este último ponto pode contribuir potencialmente para uma aproximação da ciência e da sociedade, tendo em vista que a solução de problemas traz para a população o sentimento satisfatório sobre o trabalho dos cientistas e estes cumprem seu “dever”. Notou-se que as visões da educação em Ciência, Tecnologia e Sociedade não bastava se não houvesse envolvimento político em seus estudos (Hodson, 2009). Tendo em vista que o progresso das pesquisas científicas depende de investimentos para sua execução, não podemos ignorar a importância que a ideologia dos governos tem. Enquanto tivermos os investimentos científicos nas mãos de empresas privatizadas, o avanço científico se dará apenas como mercadoria, em áreas de seu interesse. Uma ciência com enfoque em questões sociocientíficas deve ser financiada por um estado que dê a devida importância à busca de uma sociedade igualitária, financiando pesquisas nas áreas de educação, saúde, meio ambiente, por exemplo. Nesse ponto de vista, é notável que não podemos ter uma vertente de CTS que seja neutra politicamente. Visões neutras não buscam uma união das ciências da natureza com as ciências sociais, tendo então uma visão conhecida como reducionista, sendo assim, hegemônica e reprodutora dos mitos da superioridade global, centrada nas questões apenas de Ciência e Tecnologia, apoiada no determinismo tecnológico. Tal visão se dá pelos conceitos que a sociedade capitalista possui da palavra “desenvolvimento”. O desenvolvimento que é imposto para população desconsidera as diferenças históricas que os países subdesenvolvidos possuem. O desenvolvimento capitalista, industrial, urbanizado e tecnocrata que foi realizado nos países do Norte, são os principais causadores de degradações ambientais nos dias de hoje, portanto, não podemos reproduzi-lo aos países do Sul, aos países que foram colonizados. A situação de “atraso” que esses países se encontram, mostra como esse modelo de desenvolvimento que foi imposto a eles, não obteve bons resultados, além de uma constante exploração e opressão dos maiores sobre os menores, que até hoje não permitiu o crescimento dos últimos. Quando pensamos numa visão ampliada da CTS, procuramos uma problematização do modelo pedagógico dominante e uma crítica exatamente a esse modelo de desenvolvimento econômico atualmente imposto. Pensamos então num novo modelo de desenvolvimento, com vertentes semelhantes ao pensamento de Paulo Freire, que considere também como a exploração ambiental contribui para a desigualdade social e pensar em formas para uma educação para o desenvolvimento sustentável (EDS), não considerando então apenas fatores econômicos. O slogan CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente) trouxe consigo essa visão ampliada, pois, mesmo que já fosse considerado intrínseco ao CTS as questões ambientais, viu-se a necessidade de explicitar a importância do estudo do meio ambiente para educar a população. Podemos assim, trazer maiores análises sobre como reverter a crescente degradação do meio ambiente que o capitalismo trouxe e proteger as gerações futuras. Para isso, acredita-se numa educação revolucionária que utilize da Educação Ambiental (EA), podemos tratar assim da educação no campo, educação ao ar livre, uma maior aproximação das crianças e adolescentes dos centros urbanos de formas sustentáveis de viver e se alimentar, compreendo a importância tanto ambiental como social e política que estão envolvidas. Um exemplo de educação ambiental e até mesmo nutricional é a implementação de hortas urbanas e comunitárias nas cidades, que visam maior aproximação da população principalmente das periferias com a agricultura e podendo trazer à tona as questões dos agrotóxicos, associadas à problemática da questão agrária no Brasil, além de questões ambientais como poluição de rios e degradação do ecossistema. Portando, é necessário que o estudo de CTSA seja difundido no estudo de ciências, que considere a importância do envolvimento da sociedade com a sustentabilidade, meio ambiente, a economia, as questões sociais, históricas e políticas. De forma a quebrar o paradigma dominante de educação que temos, que reproduz um sistema segregacionista e opressor que não busca a ascensão dos mais pobres, mas pelocontrário, busca que estes continuem desinformados e carentes de educação, para que assim, o sistema não perca seu poder. Referências Bibliográficas SANTOS, WLP dos. Significados da educação científica com enfoque CTS. CTS e educação científica: desafios, tendências e resultados de pesquisas. Brasília: Editora Universidade de Brasília, v. 1, p. 20-47, 2011.