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Auditoria Autoria Álvaro Pereira da Costa auditoRia SEJA BEM-VINDO! ReitoR: Prof. Cláudio ferreira Bastos Pró-reitor administrativo financeiro: Prof. rafael raBelo Bastos Pró-reitor de relações institucionais: Prof. Cláudio raBelo Bastos diretor de oPerações: Prof. José Pereira de oliveira coordenação Pedagógica: Profa. Maria aliCe duarte G. soares coordenação nead: Profa. luCiana r. raMos Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou par- cialmente, por quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotos- tática ou outros, sem a autorização escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Reitoria. expediente Ficha técnica autoria: Álvaro Pereira da Costa suPervisão de Produção nead: franCisCo Cleuson do nasCiMento alves design instrucional: antonio Carlos vieira / franCisCo erBínio alves rodriGues Projeto gráfico e caPa: franCisCo erBínio alves rodriGues diagramação e tratamento de imagens: MiGuel José de andrade Carvalho revisão textual: Maria Janyeire M. oliveira Ficha catalogRáFica catalogação na publicação biblioteca centRo univeRsitáRio ateneu COSTA, Álvaro Pereira da. Auditoria. / Álvaro Pereira da Costa. – Fortaleza: Centro Universitário Ateneu, 2019. 104 p. ISBN: 1. Auditoria. 2. Planejamento em auditoria. 3. Papéis de trabalho. 4. Relatórios de auditoria. Centro Universitário Ateneu. II. Título. SEJA BEM-VINDO! Caro estudante, temos a satisfação de apresentar o material didático da disciplina Auditoria. A palavra auditoria origina-se do latim audi ou audire, que significa ouvir/áudio. A partir do século XIV, na linguagem erudita, vários vocábulos são introduzidos ao latim tendo como raiz a expressão audi. Assim, no século XVI surge a expressão “auditor-oris”, significando a atividade de auditor, ou ouvinte. Atualmente, em nosso convívio social, o auditor também desempenha um papel importante, qual seja, “ouvir – validar – opinar” sobre diversos temas para os quais são contratados. No Brasil, os auditores necessitam de certificação específica para o exercício de sua atividade. O Conselho Federal de Contabilidade faz a gestão do processo de certificação de habilitação do profissional auditor. Logo, para que um profissional exerça a função de auditor é necessário que ele seja um bacharel em Ciências Contábeis. Ao longo do livro, falaremos mais a respeito. Estudantes e professores cada vez mais mergulham no mundo da interdisciplinaridade, ou seja, cada vez mais as disciplinas relacionando-se de forma interdependentes, e não mais independentes. Com o profissional auditor não é diferente, pois necessário se faz um amplo espectro de conhecimentos para as diversas modalidades de auditoria, que basicamente se subdivide em auditoria interna e auditoria externa, afora os auditores no funcionalismo público da União, estados e municípios. A partir da leitura deste material didático, você estará apto para corresponder às exigências solicitadas nos trabalhos acadêmicos e no exer- cício da sua vida profissional. Bons estudos! SUMÁRIO CONECTE-SE ANOTAÇÕES REFERÊNCIAS Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem e significam: SUMÁRIO 1. Fundamentos de auditoria ................................................8 1.1. Aplicação .................................................................8 1.2. Filosofia e o papel da auditoria ................................9 2. Normas de auditoria ......................................................13 2.1. Aplicação e normas ...............................................13 2.2. Resolução CFC 820/97 – Normas de Auditoria Independente das Demonstrações Contábeis ...............................................................16 Referências ........................................................................27 01 1. Controle interno ..................................................... 30 1.1. Avaliação ...................................................... 32 1.2. Tipos e princípios fundamentais do controle interno ............................................. 33 2. Planejamento, programas e procedimentos de auditoria ............................................................... 39 2.1. Objetivos e planos de auditoria..................... 39 2.2. Meios de prova e planejamento de auditoria 41 3. Programa de auditoria ........................................... 46 3.1. Técnicas de elaboração dos programas ....... 46 4. Principais procedimentos de auditoria................... 47 4.1. Contagem física ............................................ 48 4.2. Confirmação de terceiros .............................. 49 Referências ............................................................ 54 02 PLANEJAMENTO DO TRABALHO DO AUDITOR E CONTROLES INTERNOS DEFINIÇÃO E NORMAS DA ATIVIDADE PROFISSIONAL DO AUDITOR 1. Pareceres e relatórios de auditoria........................ 86 1.1. Parecer sem ressalva ................................... 89 1.2. Parecer com ressalva ................................... 90 1.3. Parecer adverso............................................ 92 1.4. Parecer com abstenção de opinião .............. 92 1.5. Carta de responsabilidade da administração da empresa ........................... 94 1.6. Conteúdo e tipos de relatório ....................... 94 1.7. Relatório circunstanciado e de recomendações ........................................... 96 Referências ............................................................. 103 04 FORMALIZAÇÃO DO TRABALHO DESENVOLVIDO PELO AUDITOR 1. Papéis de trabalho................................................. 56 1.1. Finalidades.................................................... 56 1.2. Forma e conteúdo dos papéis de trabalho ......................................................... 57 1.3. Tipos, codificação e organização dos papéis de trabalho ........................................ 60 2. Auditoria das contas patrimoniais......................... 63 2.1. Contas do ativo ............................................. 64 2.2. Contas do passivo e do patrimônio líquido ... 68 3. Auditoria das contas de resultados ...................... 74 3.1. Contas de receitas, custos e despesas ........ 76 3.2. Verificação complementar e eventos subsequentes................................................ 80 Referências ............................................................... 84 03 EXECUÇÃO DO TRABALHO DO AUDITOR Apresentação Nesta unidade 03, começaremos a detalhar pontos específicos da realização do trabalho do auditor. Nós abordaremos a formalização dos trabalhos em si, estudando, portanto, o instrumento essencial para isso: o papel de trabalho. Continuaremos nossos estudos explicitando sobre a auditoria das contas patrimoniais (contas do balanço patrimonial) e sobre as contas de resultados (contas da demonstração de resultados). Unidade 03 execução Do trabalho Do auDitor 56 AUDITORIA| OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Estudar o conceito e a importância dos papéis de trabalho de auditoria, a melhor forma de organizá-los e codificá-los; • Conhecer a utilização dos papéis de trabalho dentro da dinâmica dos traba- lhos de auditoria junto às empresas; • Entender os procedimentos de auditoria mais adequados aplicados nos tra- balhos de validação de saldo das contas patrimoniais e de resultados; • Conhecer a importância dos procedimentos complementares de auditoria e a responsabilidade do auditor pela adoção destes; • Conhecer a definição e importância do procedimento de eventos subse- quentes e a responsabilização do profissional auditor com relação ao pro- cedimento e a respectiva informação de seus impactos nas demonstrações contábeis. 1. papéis De trabalho Poderíamos iniciar este tópico questionando: como nos dias dehoje alguém ainda utiliza papel no trabalho? A verdade é que há poucos anos atrás, sim, os auditores independentes utilizavam-se de papéis de trabalho (folha de 7 e/ou 14 colunas), e eram muitos papéis para formalizar os trabalhos. Contudo, os tempos são outros e, atualmente, praticamente todas as evidências dos trabalhos de auditoria estão em registros digitais. 1.1. Finalidades Os papéis de trabalho do profissional auditor visam a formalizar as evidências dos trabalhos de auditoria, ou seja, a comprovação, os procedimentos de auditoria empreendidos nos trabalhos a fim de emitir a sua opinião sobre as demonstrações contábeis. O auditor deve elaborar papéis de trabalho que suportem sua opinião para emissão de parecer final. A fundamentação (evidências) dos trabalhos do auditor, previstas na orientação do Conselho Federal de Contabilidade, por meio da NBC TA 500 (R1), é que garante: AUDITORIA 57| • Comprovar que os procedimentos mínimos foram efetiva- dos – Garantir que os procedimentos efetivados no trabalho de auditoria estejam devidamente formalizados/registrados nos papéis de trabalho; • Indicar a base que justifica a opinião do auditor e base para revisão – Garantir o registro nos papéis de trabalho das conclusões dos trabalhos do auditor, a fim de formar a base de sustentação da opinião do auditor; • Facilitar planejamentos futuros – Assegurar o registro dos pontos relevantes que irão nortear o planejamento de trabalhos futuros sobre o mesmo cliente; • Assegurar ao auditor a comprovação de sua conduta técnica e ética no exercício dos trabalhos – Garantir o registro dos proce- dimentos mínimos, a fim de assegurar a conduta à técnica e ética do auditor, previstas na legislação vigente; • Ser utilizado para fins de planejamento e análise quando da chegada de nova empresa de auditoria/profissional auditor – Assim como os papéis de trabalho são utilizados para o plane- jamento dos trabalhos do ano subsequente, quando da troca de empresa de auditoria, estes papéis também são utilizados pela nova empresa de auditoria. 1.2. Forma e conteúdo dos papéis de trabalho Neste tópico, iremos conhecer os formatos para a elaboração dos papéis de trabalho e o seu respectivo conteúdo. Normas gerais: • A elaboração dos papéis deve seguir um padrão definido e claro – Os papéis de trabalho deverão estar organizados de for- ma a facilitar o entendimento da leitura dos trabalhos. Em geral, a organização dos papéis de trabalho segue a mesma estrutura das demonstrações contábeis da empresa auditada; • Todos os procedimentos efetuados nos trabalhos deverão estar evidenciados nos papéis de trabalho – Somente os pro- cedimentos de auditoria registrados em papel de trabalho poderão ser base de sustentação para opinião dos seus trabalhos. Assim, é importante que o auditor formalize todos os procedimentos dos trabalhos efetivos; 58 AUDITORIA| • As conclusões e resultados igualmente devem estar regis- trados – Em todas as áreas auditadas é necessário que o auditor formalize também uma conclusão sobre o resultado encontrado através dos procedimentos de auditoria aplicados. Normas básicas: • Que os papéis evidenciam a obediência às normas; • Procedimentos adotados evidenciados; • Conter todos os dados e informações pertinentes; • Limpos, claros e completos; • Conter todos os elementos que embasam a opinião e/ou citação no parecer; • Conter todas as Informações úteis e necessárias no futuro; • Data de realização, quem elaborou, quem revisou e trabalho realizado; • Conclusão e fechamento. É importante destacar que nos papéis de trabalho encontram-se, além das evidências dos procedimentos de auditoria efetivados, outras muitas informações sigilosas do cliente auditado. Assim, é de extrema importância o cuidado do auditor quanto à guarda dos papéis de trabalho, mantendo, assim, o sigilo sobre as informações de seu cliente. Na sequência, iremos tratar sobre a questão de guarda de documentos e confidencialidade das informações obtidas pelo auditor do exercício dos seus trabalhos. Figura 01: Cuidados especiais com os papéis de trabalho e com as informações contidas neles. Confidencialidade: Informações dos clientes(mercado, etc.). Custódia: Salvaguarda sobre procedimentos e opinião emitida. Fonte: Elaborada pelo autor. AUDITORIA 59| Quanto à questão da confidencialidade das informações dos clientes, a própria regulamentação da profissão do auditor trata da ética nos trabalhos e prevê que o auditor precisa tratar essas informações com cuidado. Geralmente, ao mesmo tempo que o auditor assina o contrato de prestação de serviços com o seu cliente, também é assinado um termo de confidencialidade quanto às informações que o auditor terá acesso no exercício dos trabalhos de auditoria. Os papéis de trabalho são de propriedade e uso exclusivo dos auditores e, logo, devem observar as seguintes regras: • Não devem ser entregues à terceiros sem autorização e acom- panhamento – A exigência de autorização para disponibilização dos papéis de trabalho está relacionada ao sigilo que o auditor se compromete em manter sobre essas informações; • Seu conteúdo não deverá ser debatido com as áreas sem o conhecimento do líder do trabalho – A conclusão sobre os tra- balhos do auditor, assim como problemas identificados ao longo de seu trabalho, não deve ser debatida ou informada a todos os mem- bros da equipe auditada. Antes de qualquer comunicação quanto ao resultado dos trabalhos, ainda que preliminares, estes deverão ser revisados pelo líder de equipe dos auditores em campo. Após a revisão dos resultados, deve ocorrer uma reunião com o líder da área auditada, a fim de alinhar e validar os resultados; • Durante a execução do trabalho, este deverá ser mantido em local seguro e com acesso restrito – Em geral, as equipes de auditoria exigem das empresas auditadas uma sala segura e espe- cífica para a execução dos trabalhos. Nesta sala, o acesso é restrito à equipe de auditoria e o controle deste acesso (chave) fica sobre os cuidados do líder de auditoria em campo; • Após a conclusão dos trabalhos, estes devem ser mantidos na sede da empresa de auditoria (período não previsto na le- gislação, ainda) – Após a conclusão dos trabalhos, digo entrega final do relatório da auditoria com o respectivo parecer, os papéis de trabalho, assim como os demais relatórios e demais base de dados tratadas na auditoria, ficarão guardados na empresa de auditoria. 60 AUDITORIA| 1.3. Tipos, codificação e organização dos papéis de trabalho Os papéis de trabalho de auditoria são utilizados para embasar (dar suporte – comprovar) a opinião do auditor, e para planejamento de trabalhos futuros de auditoria, seja pelo mesmo auditor ou por outra empresa de auditoria. Logo, os papéis de trabalho precisam estar organizados de forma a serem utilizados a qualquer tempo por profissionais que não os elaboraram. Ou seja, a ordem dos papéis de trabalho deve ser de entendimento claro e lógico para qualquer profissional de auditoria. Os profissionais auditores, assim como as empresas de auditoria, utilizam-se de um padrão de codificação dos papéis de trabalho similar (parecido/semelhante). A referida codificação acompanha a lógica da estruturação das demonstrações contábeis auditadas, qual seja: ativo, passivo, patrimônio líquido, demonstração dos resultados, e demais demonstrações contábeis. É importante destacar que o trabalho de auditoria de uma determinada conta e/ou área normalmente relaciona-se com os trabalhos de auditoria efetivado em outras contas e/ou áreas. Assim, as codificações utilizadas nos papéis de trabalho auxiliam no entendimento (rastreamento) dos procedimentos efetivados dentro da própria área, assim como no rastreamento cruzado com procedimentos efetivados em outras áreas. Como exemplo, vamos observar a auditoria da conta de estoques: a. O objetivo da auditoria na conta de estoques é validar/confirmar se o saldo de estoque apresentado nobalanço patrimonial auditado está adequado à realidade econômica financeira da empresa; b. Ao longo dos trabalhos de validação do saldo de estoque, o auditor se depara com as transferências de custos para a conta de re- sultado (DRE), sendo esta outra conta objeto de auditoria; c. Assim, os valores de custos transferidos da conta de estoque para a conta de resultado deverão estar referenciados tanto nos papéis de validação da conta de estoque (balanço patrimonial), como nos papéis de validação da conta de custos no resultado (demons- tração do resultado do exercício). AIAssistant Note O procedimento de auditoria para examinar a existência dos bens e direitos da organização auditada é validar se o bem realmente existe. AUDITORIA 61| Na figura a seguir, observa-se o padrão de estruturação de codificação dos trabalhos do auditor de uma determinada conta. Percebe-se que a estrutura se apresenta do formato mais sintético para o formato mais analítico. Figura 02: Modelo de organização dos papéis de trabalho do profissional auditor. Célula mestra Programa de trabalho Índice Conclusão Pontos para atenção (relatório) Explicação das flutuações Falhas de controles internos Papéis suportes de trabalho 1 2 3 Ordem de importância dos papéis de trabalho. 1 2 3 Quando necessário Conclusão Fonte: CREPALDI; CREPALDI (2017). Assim, em cada conta contábil auditada, temos a estruturação dos respectivos papéis de trabalho de auditoria, a saber: • Cédula mestra – Representa o ponto de partida, início dos tra- balhos de auditoria de uma determinada conta e/ou área. A partir deste papel de trabalho, originam-se outros papéis de trabalho, os quais deverão estar mútua e devidamente referenciados entre eles; • Programa de trabalho – Formalização detalhada dos procedimen- tos de auditoria que serão adotados para validação desta respectiva conta contábil e/ou área; 62 AUDITORIA| • Índice – Encontra-se a organização de todos os demais papéis de trabalho, ou seja, o sumário completo do trabalho da respectiva conta contábil e/ou área; • Conclusão – Encontra-se a conclusão global referente aos traba- lhos de auditoria efetuados na respectiva conta contábil e/ou área, base de tomada de decisão para a emissão de opinião do auditor; • Pontos para atenção – Registra todos os pontos de atenção a serem observados na emissão de opinião no trabalho de auditoria, assim como para planejamento de trabalhos futuros; • Explicação das flutuações – Apresenta os resultados do trabalho de revisão analítica, no qual analisa-se a flutuação de determinados números (receitas, custos, despesas etc.), em períodos diferentes; • Falhas dos controles internos – Registra os problemas encon- trados nos controles internos ao longo do trabalho da auditoria. Os registros encontrados neste papel de trabalho, em geral, são reportados para administração da empresa auditada por meio do relatório de recomendações para melhoria dos controles internos; • Papéis suporte dos trabalhos executados – A sequência de papéis de trabalho denominada “papéis suporte dos trabalhos executados” apresenta a formalização de todos os procedimentos aplicados no exercício dos trabalhos de auditoria. Importante des- tacar que em cada papel de suporte de trabalho executado deverá existir uma conclusão da análise específica que este apresenta quanto aos resultados dos testes/procedimentos. FIQUE ATENTO A norma de auditoria independente das demonstrações contábeis NBC TA 500 (R1), emitida pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC, traz mais detalhes quanto aos papéis de trabalho do profissional auditor. No link, encontra- -se a citada norma do CFC. Acesse: <http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/ NBCTA500(R1).pdf>. AUDITORIA 63| 2. auDitoria Das contas patrimoniais Os procedimentos de auditoria, conforme visto, referem-se às técnicas e ações empreendidas a fim de analisar uma determinada conta, área ou evento econômico-financeiro em específico. Assim, a depender do foco da análise, o profissional auditor aplicará um determinado procedimento que melhor se adeque à necessidade apresentada. Neste tópico, abordaremos os procedimentos mais usuais para a auditoria das contas patrimoniais. Primeiramente, cabe uma revisão sobre as demonstrações contábeis - DCs e, posteriormente, as suas partes em específico. As DCs propõem-se: • As demonstrações contábeis são relatórios extraídos da conta- bilidade após o registro de todos os documentos que fizeram parte do sistema contábil de qualquer entidade (empresa) em um determinado período; • As demonstrações servirão para expressar a situação patrimonial da empresa, auxiliando, assim, os diversos usuários no processo de tomada de decisão; • As demonstrações contábeis deverão obedecer aos critérios e formas expostos nas legislações e orientações emitidas pelos órgãos reguladores do tema. As DCs, nas empresas que estejam enquadradas na obrigatoriedade de publicação, são: • Balanço Patrimonial – BP; • Demonstração dos Resultados – DRE; • Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados – DLPA ou Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido – DMPL; • Demonstração do Fluxo de Caixa – DFC (modelos direto e indireto); • Demonstração do Valor Adicionado – DVA; • Notas Explicativas – NEs (complemento às DCs). 64 AUDITORIA| Nos tópicos 2.1 e 2.2, a seguir, observaremos os procedimentos de auditoria sobre as contas do Balanço Patrimonial – BP. Assim, analisemos a estrutura do Balanço Patrimonial primeiramente: Quadro 01: Modelo de estrutura de Balanço Patrimonial – BP. BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE Disponibilidades Fornecedores Contas a receber Empréstimos e financiamentos Estoques Tributos sobre resultados Ativos especiais Provisões Despesas antecipadas Outros Instrumentos financeiros Outros ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE Créditos Empréstimos e financiamentos Ativos especiais Provisões Despesas antecipadas Outros Instrumentos financeiros PATRIMÔNIO LÍQUIDO Investimentos Capital social Imobilizado Reservas de capital Intangíveis Reservas de lucros Ativo biológico Lucros ou prejuízos acumulados Ativo diferido Outros Outros Fonte: ELISEU et al., 2018 (adaptado). 2.1. Contas do ativo A aplicação do programa de auditoria nas contas do ativo, para uma melhor validação e identificação de problemas, deve observar os seguintes procedimentos: AUDITORIA 65| Figura 03: Procedimentos para auditoria para as contas do ativo. Autorização Existência Avaliação Propriedade Restrições Exatidão dos valores Utilidade Fonte: Elaborada pelo autor. Lembramos que no ativo da empresa encontramos os bens e direitos dela. Assim, os procedimentos que veremos a seguir objetiva a validação dos bens e direitos da organização auditada. • Existência – O bem verdadeiramente existe? Verificação in loco. – Neste exame, o auditor responsável pela aplicação dos procedi- mentos verifica pessoalmente (in loco) a existência do bem; • Avaliação – O valor de registro está adequado de acordo com os princípios contábeis? Custo ou mercado, dos dois o menor. – Neste exame, o auditor responsável avalia o valor do bem ou direito em relação ao mercado, assim como o registro original do mesmo por meio de documentação hábil (nota fiscal); • Autorização – Os bens de ativo foram adquiridos com a expressa autorização dos seus administradores? Aprovação das compras, por exemplo. – Neste exame, o auditor certifica-se de que o ato econômico decorreu de uma autorização legalmente representada na empresa; • Propriedade – O bem já está na propriedade da empresa? Ou ape- nas posse? – Neste exame, o auditor certifica-se quanto à existência formal da propriedade do bem, ou seja, o registro do bem em nome da empresa. Citamos aqui o exemplo da escritura de imóvel ou certificado de propriedade de veículos automotores, dentre outros; 66 AUDITORIA| • Restrições – Os bens estão livres de quaisquer gravames? Ou existemrestrições que podem impedir a sua realização parcial ou total? – Neste exame, o auditor se certifica se o bem ou direito registrado em ativo não estejam alienados de alguma forma, ou seja, se não foram dados em garantia em alguma negociação ou operação financeira; • Exatidão dos valores – Cálculos corretos de representação dos ativos (depreciação). – Neste exame, o auditor procede aos cálculos relacionados ao registro do ativo, certificando-se, assim, a exatidão dos números registrados contabilmente; • Utilidade – Os bens ainda serão úteis? Estoques obsoletos ou inservíveis. – Neste exame, o auditor certifica-se se o bem de fato está sendo utilizado na operação da empresa, ou seja, se o bem está colocado a serviço da geração de riqueza na execução dos trabalhos no dia a dia da empresa. Caso o bem esteja na operação, deverá estar registrado no imobilizado e sendo submetido ao registro da depreciação. Caso não esteja na operação, o bem deverá ser reclassificado para fora do ativo imobilizado. Neste procedimento, o auditor ainda observa se os bens estão obsoletos ou sem utilização, recomendando, assim, os tratamentos adequados ao contador da empresa, caso encontrem-se nessa situação. Algumas análises apresentam-se como essenciais para validação de contas de ativo, e são geralmente aplicadas na maioria das empresas, a saber: • Análise controles internos e validação dos saldos – Como vimos, a validação dos sistemas de controles internos da empresa é de extrema importância para o trabalho de auditoria. Ou seja, no exame de validação dos saldos, o auditor não irá apreciar 100% dos eventos econômicos da empresa, e sim através de amostra- gem. Logo, a soma dos procedimentos de validação dos controles internos e exame por amostragem garante ao auditor emitir uma opinião sobre a validação do saldo; • Dos estoques, com inventário e correlacionando movimentos com as compras e fornecedores – A avaliação do saldo da conta de estoques apresenta-se como uma das mais complexas análises para auditoria. O auditor precisa validar o registro histórico com base na documentação hábil (NF), as movimentações ocorridas AUDITORIA 67| dentro do estoque, o cálculo de custeio que ocorrem dentro da própria conta de estoque, e os ajustes ao valor de mercado (custo ou mercado, dos dois o menor). Adicionalmente, o auditor utiliza-se do procedimento de inventário, conhecido também como contagem física dos estoques; • Do imobilizado, confrontando com cálculos de depreciação – Como já vimos, o auditor precisa certificar-se de que o bem é de propriedade da empresa, que esteja registrado de acordo com o valor de nota fiscal de compra, assim como certificar-se que ele está na operação da empresa. O auditor necessita, ainda, certificar-se de que os cálculos da depreciação dos bens (registro contábil do desgaste do bem) estão calculados corretamente e registrados de forma adequada (custos ou despesas), cuja contrapartida está registrada em contas de resultado; • Dos investimentos, operações relevantes, equivalência pa- trimonial e outros – O auditor necessita certificar-se de que os valores registrados nas contas de investimento estão adequados, devidamente representados pelo registro original (documentação hábil – contratos de compra e venda), e os posteriores registros da equivalência patrimonial. Lembrando que a equivalência patrimonial é o registro contábil da variação de valor do respectivo investimento, cuja contrapartida está registrada em contas de resultado; • Do contas a receber, correlacionando com vendas e recebi- mentos de caixa – A validação do contas a receber ocorre na confrontação com o faturamento da empresa, com o recebimento financeiro dos títulos, com as baixas para perdas referente aos títulos não recebidos, assim como o cálculo e registro da Perda Estimada para Crédito de Liquidação Duvidosa – PECLD, cuja contrapartida está registrada em contas de resultado; • No caixa, relação com o negócio e validação das liquida- ções – Importante aspecto que o auditor deve validar na análise da conta caixa é a observância ao princípio da entidade, ou seja, transitando no caixa da empresa apenas os recursos da empresa, e em nenhuma hipótese, recursos do dono (acionista/quotista) da empresa. Outro exame relevante na validação do caixa é a análise de grandes movimentações, e revisão analítica das saídas de caixa por natureza de gasto. 68 AUDITORIA| Assim, o programa de auditoria de contas do ativo cumpre o seu papel, tendo como principal objetivo garantir se os bens registrados em ativo existem, se de propriedade da empresa, e se apresentados em contas contábeis corretas e a valores adequados. E mais: • Se adequadamente observados princípios contábeis e demais regulamentações – Se todos os princípios e convenções contábeis estão observados nos registros dos atos e fatos nas contas do ativo; • Se as classificações contábeis estão corretas – Se as classifica- ções contábeis estão corretas no que diz respeito à conta contábil em observância ao método das partidas dobradas; • Validar se os bens registrados são realizáveis e quanto ao prazo – Se os registros contábeis estão devidamente segregados entre circulante (curto prazo) e não circulante (longo prazo); • Adequada contabilização de custos – Se os custos contábeis estão adequadamente registrados, sejam nas contas de estoques ou nas contas de resultado, quanto aos custos referentes às mer- cadorias vendidas; • Efetiva gestão dos estoques observando perdas e respectivos registros – Se os estoques estão adequadamente registrados no que diz respeito às perdas e respectivo valor de custo ou mercado, dos dois o menor; • Evidências externas, confirmação com terceiros – Exames de evidências externas, tais como confirmação com terceiros, também conhecida como circularização, seja junto às instituições financeiras ou mesmo advogados terceirizados. 2.2. Contas do passivo e do patrimônio líquido Neste tópico, iremos observar os procedimentos de auditoria para a análise das demonstrações contábeis da empresa auditada, em especial, as contas contábeis do balanço patrimonial no passivo e do patrimônio líquido. AUDITORIA 69| ¾ Contas do passivo A aplicação dos procedimentos nas contas do passivo, para uma melhor validação e identificação de problemas, deve observar os seguintes procedimentos: Figura 04: Procedimentos para auditoria das contas do passivo. Autorização Existência Avaliação Obrigato- riedade Integridade Exatidão dos valores Fonte: <http://bit.ly/2nhNHF8>. Lembramos que, no passivo da empresa, encontramos as obrigações. Assim, os procedimentos que veremos a seguir objetiva a validação dessas obrigações da organização auditada. • Existência – A obrigação registrada no passivo existe de fato e de direito? Existem outras obrigações que não estejam registra- das no passivo? – Nesse exame, o profissional auditor utiliza-se de procedimento de verificação de documentação, assim como a confirmação com terceiros. Como vimos anteriormente, é de suma importância o auditor validar as obrigações que deveriam estar registradas no passivo, mas que por algum motivo a empresa não as tenham registrado; • Avaliação – O valor de registro do passivo está adequado, ou seja, de acordo com os princípios contábeis? Obrigação principal e agregados (juros, multa etc.)? – Neste exame, o auditor certifica-se de que o registro original das obrigações esteja adequado, assim como a atualização das respectivas obrigações, tais como juros, multas etc. Importante destacar que neste exame o auditor procura certificar-se sobre os cálculos e registros dos encargos financeiros sobre as obrigações contraídas com os bancos; 70 AUDITORIA| • Autorização – As obrigações foram contraídas com a expressa autorização dos seus administradores? – Assim como vimos no procedimento de ativo, para que a empresa contraia obrigações é necessário que um responsável legal pela empresa contratea citada obrigação. Citamos, como exemplo, a contratação de um empréstimo com a instituição financeira, na qual o contratante negocia em nome da empresa o encargo financeiro que será pago futuramente por ela; • Obrigatoriedade – A obrigação registrada e/ou não registrada é de fato de responsabilidade da empresa auditada? – Este exame de auditoria, que é complementar ao exame da existência, valida a responsabilidade da empresa pela obrigação, assim como o prazo para a sua exigibilidade, verificando a segregação no registro con- tábil (segregação circulante ou não circulante); • Exatidão dos valores – Cálculos corretos de representação dos passivos (atualização dos empréstimos e financiamentos, dentre outros). – Este exame valida os cálculos e respectivos registros das obrigações assumidas pela organização. Citamos, como exemplo, a atualização dos tributos a recolher (com base na taxa Selic), as- sim como o cálculo dos encargos financeiros sobre empréstimos e financiamentos. Algumas análises apresentam-se como essenciais para validação de contas de passivo, e são geralmente aplicadas na maioria das empresas, a saber: • Análise de controles internos e validação dos saldos – Sobre as contas do passivo se aplica a mesma preocupação vista na análise de controles internos como procedimento de auditoria das contas do ativo. Ou seja, o auditor não irá verificar todos os atos e fatos registrados no período auditado, e sim por amostragem. Logo, a validação dos saldos de passivo se dará pela soma dos procedi- mentos de validação dos controles internos complementados pela validação dos saldos; • Subavaliação das obrigações – Como vimos, é de extrema im- portância no exame das contas de passivo garantir que a obrigação esteja adequadamente registrada. Assim, um cuidado especial do auditor é para que nenhuma obrigação esteja subavaliada ou mesmo sem o seu registro adequado; AUDITORIA 71| • Superavaliação das obrigações – Da mesma forma, o cuidado especial para que as obrigações não estejam superavaliadas em seu registro contábil; • Valores fictícios – Não raro, algumas empresas, com o objetivo de melhorar as suas demonstrações contábeis, acabam gerando registros/lançamentos inexistentes no balanço patrimonial. Assim, o auditor procura identificar eventual existência de valores fictícios para a providência das respectivas correções ou ressalva em opinião; • Valores ocultos – Este cuidado diz respeito à identificação de even- tual obrigação que deveria estar registrada no passivo, mas que, por algum motivo, a empresa preferiu ocultá-la, ou seja, não registrar a respectiva obrigação. Assim, o auditor procura identificar eventual existência de valores ocultos para a providência das respectivas correções ou ressalva em opinião; • Simulação – Outro evento relativamente comum é a identificação de obrigações que deveriam estar registradas no passivo circulante, mas que por motivos de situação de liquidez financeira, a empresa deixou a obrigação registrada no passivo não circulante. Este evento também é conhecido como simulação do índice de liquidez. Assim, o programa de auditoria de contas do passivo cumpre o seu papel, tendo como principal objetivo garantir se as obrigações existem, se de responsabilidade da empresa, se apresentadas em contas contábeis corretas e a valores adequados e, acima de tudo, se existem obrigações ocultas que deveriam estar registradas. E mais: • Se adequadamente observados os princípios contábeis e demais regulamentações; • Se as classificações contábeis estão corretas; • Validar se as obrigações registradas são exigíveis e quanto ao prazo; • Cálculos adequados de atualização das obrigações; • Evidências externas, confirmação (bancos, advogados etc.). 72 AUDITORIA| ¾ Contas do patrimônio líquido A aplicação dos procedimentos nas contas do patrimônio líquido, para uma melhor validação e identificação de problemas, deve observar os seguintes procedimentos: Figura 05: Procedimentos para auditoria das contas do Patrimônio Líquido – PL. Autorização Existência Avaliação Obrigação (estatuto ou contrato social) Integridade Exatidão dos valores Fonte: Elaborada pelo autor. Lembramos que no Patrimônio Líquido - PL da empresa encontramos o capital próprio, cuja origem se deu basicamente por integralização de capital e geração de resultados transferidos para a conta de lucros ou prejuízos acumulados. Assim, os procedimentos que veremos a seguir objetiva a validação dessas contas de PL da organização auditada. • Existência – O evento registrado no Patrimônio Líquido - PL exis- te de fato e de direito? Existem outros eventos que não estejam registrados no PL? – Neste exame, o auditor certifica-se quanto à formalização legal do evento registrado no patrimônio líquido, seja in- tegralização de capital, ou mesmo destinações de lucro deliberadas através dos instrumentos legais (atas de reuniões e/ou assembleias); • Avaliação – O valor de registro do evento de patrimônio líquido está adequado aos princípios contábeis? – O auditor certifica-se de que os registros contábeis estejam adequados quanto ao registro con- tábil, seja nas integralizações, resultados e seus desdobramentos (destinações ou absorções de reservas, dividendos ou retiradas de lucros e outros); AUDITORIA 73| • Autorização – As destinações de lucros foram procedidas com a expressa autorização dos seus quotistas ou acionistas? – Se os registros contábeis se encontram amparados (suportados) por docu- mentação legal devidamente aprovada (aprovação das destinações do lucro, por exemplo); • Obrigatoriedade – A obrigação registrada e/ou não registrada é de fato de responsabilidade da empresa auditada? Estão adequa- damente autorizadas e previstas em estatuto ou contrato social? – Certifique-se se os lançamentos contábeis do patrimônio líquido estão amparados (suportados) por obrigação legal prevista nos instrumentos societários, tais como constituição de reserva estatu- tária, absorção de prejuízos por reservas de capital, dentre outras mutações possíveis; • Exatidão dos valores – Cálculos corretos de representação dos eventos/mutações do PL (constituição de reservas legal, estatutária, destinação de resultados para dividendos ou retirada de lucros, dentre outros). Algumas análises apresentam-se como essenciais para a validação de contas de patrimônio líquido. Elas relacionam-se aos formalismos legais e estatutários (contrato social), a saber: • Análise de controles internos e validação dos saldos – Assim como na análise das contas de balanço patrimonial de ativo e de passivo, nas contas do Patrimônio Líquido - PL também se faz ne- cessária a validação dos controles internos, além da validação dos saldos e mutações do PL; • Se as ações ou títulos de propriedade do capital social foram adequadamente emitidos e autorizados – Validar o rito proces- sual e os valores envolvidos sobre eventuais emissões de títulos no período auditado. Nessa análise, também se avalia as alterações da sociedade numa empresa limitada, como transferência de quotas, dentre outras; • Se as normas de estatuto e contrato social são observadas e cumpridas – Nesta análise, o auditor tem como objetivo se certificar se as normas previstas no estatuto social (aplicável às sociedades anônimas S/As) ou no contrato social (aplicável às empresas limi- tadas) foram adequadamente observadas e cumpridas; 74 AUDITORIA| • Organização e atualização dos livros da sociedade e respec- tivas atas de reuniões e/ou assembleias – Avalia os ritos de registro dos eventos na empresa, seja ela sociedade anônima ou limitada; se foram adequadamente efetivados nos livros e demais procedimentos de registros; • Registros contábeis adequados, LPA, destinações, dividendos e demais mutações do PL – O profissional auditor avalia se as movimentações/mutações no patrimônio líquido estão devidamente previstas, autorizadas/deliberadas, assim como se os cálculos e registros contábeisestão adequadamente representados. Assim, o programa de auditoria de contas do patrimônio líquido cumpre o seu papel, tendo como principal objetivo garantir a existência e propriedade de capital, se apresentados em contas contábeis corretas e a valores adequados e, acima de tudo, se observado regulamentação e atos da sociedade (estatuto ou contrato social). E mais: • Se adequadamente observados princípios contábeis e demais regulamentações; • Se as classificações contábeis estão corretas; • Observar as orientações de estatuto ou contrato social, sobretudo quando das alterações de sócios; • Observar regulamentação e disponibilidade de recursos quando da distribuição de resultados aos proprietários (dividendos e outros); 3. auDitoria Das contas De resultaDos Os procedimentos de auditoria, conforme visto, referem-se às técnicas e ações empreendidas a fim de analisar uma determinada conta, área ou evento econômico financeiro em específico. Assim, a depender do foco da análise, o profissional auditor aplicará um determinado procedimento que melhor se adequa à necessidade apresentada. Neste tópico, abordaremos os procedimentos mais usuais para a auditoria das contas de resultados. AUDITORIA 75| Primeiramente, cabe uma revisão sobre a Demonstração dos Resultados do Exercício – DRE: • O formato de apresentação da DRE deve ser claro na definição de lucro líquido, regime de competência e de classificação; • O formato e conteúdo da DRE, que deve ser apresentado de forma dedutiva, encontra-se na lei 6.404/76; • As contas devem ser agrupadas de forma a facilitar o conhecimento e análise da situação econômica e financeira da empresa; • Instruções complementares, encontramos nos pronunciamentos: a) CPC 26; b) deliberação CVM no. 676/11; c) resolução do CFC nº 1.376/11. No quadro a seguir, observamos a estrutura para apresentação da DRE até 2007, quando, a partir de então, deixa de existir a segregação de resultados operacionais e não operacionais. Quadro 02: Procedimentos para auditoria das contas do passivo. DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS - DRE Rubrica Função (+) Receita de vendas Alocação (-) Tributos sobre vendas Alocação (-) Devoluções de vendas Alocação (=) Receita de vendas líquidas Totalização (-) Custo dos produtos ou mercadorias vendidos Alocação (=) Lucro bruto Totalização (-) Despesas com vendas Alocação (-) Despesas administrativas Alocação (+) Outras receitas operacionais Alocação (-) Outras despesas operacionais Alocação (=) Lucro ou prejuízo operacional Totalização 76 AUDITORIA| (-) Despesas financeiras Alocação (+) Receitas financeiras Alocação (+) Outras receitas não operacionais Alocação (-) Outras despesas não operacionais Alocação (=) Lucro ou prejuízo antes dos tributos sobre resultados Totalização (-) Tributos sobre lucro Alocação (=) Lucro ou prejuízo líquido do período Totalização Obs.: A partir da Lei 11.638/07, deixa de existir contabilmente a segregação de operacional/não operacional, passando a ser tratadas como operacional; Apenas para fins tributários ainda apuramos os resultados operacional/não operacional. Fonte: ELISEU et al., 2018 (adaptado). 3.1. Contas de receitas, custos e despesas Aqui, iremos observar os procedimentos de auditoria para a análise das demonstrações contábeis da empresa auditada, em especial, as contas contábeis da demonstração dos resultados. Na elaboração do programa de auditoria com vistas a analisar as contas de resultado, alguns cuidados devem ser observados. São eles: • A DRE ou área de resultados (análise das contas de resultados), requer muita atenção; • Os eventos registrados na DRE, basicamente, são compostos por reflexos das demais contas patrimoniais. Podemos citar como exemplos: a) receitas x contas a receber; b) custos x estoques; c) despesas x diversos. Logo, o seu volume de lançamentos (eventos contábeis) é expressivo, aumentando o desafio do auditor no pro- cesso de validação destes saldos; • Não por acaso, a época mais indicada para a análise desse grupo de contas é na visita anterior ao fechamento do exercício (pré-fe- chamento). A aplicação dos procedimentos nas contas de resultados, para uma melhor validação e identificação de problemas, deve observar os seguintes procedimentos: AUDITORIA 77| Figura 06: Procedimentos para auditoria das contas de resultados. Autorização Existência Avaliação Consistência (Compara- bilidade) Integridade Exatidão dos valores Fonte: <http://bit.ly/2p7950h>. Lembramos que nas contas de resultados da empresa, encontramos eventos de receitas, redutoras de receitas, custos (CMV ou CPV), despesas, ganhos, perdas e outras receitas e despesas operacionais, cuja origem se deu basicamente por contrapartida de eventos patrimoniais ao longo do período auditado. Destacamos, ainda, que o procedimento mais utilizado para validação 'das contas de resultado é a revisão analítica, que iremos tratar a seguir. • Existência – Os eventos registrados nas contas de resultados exis- tem de fato e de direito? Existem outros eventos que não estejam registrados nas contas de resultados? – Neste exame, o auditor certifica-se quanto à existência do fato econômico que tenha gerado o registro em conta de resultado. Como exemplo, podemos citar a receita originada de um faturamento (venda real), ou mesmo uma despesa referente à premiação da equipe de vendas por determi- nada meta atingida; • Avaliação – O valor de registro do evento de contas de resultados está de acordo com os princípios contábeis? – O auditor certifica-se que os registros contábeis estejam adequados quanto à obser- vância aos princípios contábeis, destacando-se, dentre estes, os princípios de: a) competência; b) confrontação das receitas com custos e despesas; • Autorização – Os eventos econômicos registrados em contas de resultados foram originados em atos com a expressa autorização dos seus quotistas ou acionistas? – Se os registros contábeis se encontram amparados (suportados) por documentação legal devi- 78 AUDITORIA| damente aprovada. Como exemplo, podemos citar os “encargos financeiros” decorrentes da tomada de empréstimos, financiamentos com instituição financeira, registrados como despesas financeiras nas contas de resultados; • Consistência (comparabilidade) – Os procedimentos de regis- tros dos custos do período analisado apresentam-se de forma consistente ao período imediatamente anterior? – Nesta análise, o auditor certifica-se de que os procedimentos adotados para o registro das contas de resultado encontram-se consistentes (iguais) aos procedimentos utilizados no período imediatamente anterior. Importante lembrar que todas as Demonstrações Contábeis – DCs são apresentadas de forma comparativa, ou seja, os resultados do período analisado comparados ao resultado do período imediata- mente anterior; • Integridade – Os números apresentados nas contas de resultados representam a integridade dos atos e fatos econômicos por eles representados? – Nesta análise, o auditor certifica-se de que os números apresentados nas contas e resultados representam a totalidade dos atos e fatos que elas mostram. Como exemplo, po- demos citar a conta de receitas (o valor apresentado como receitas do período deverá representar 100% das vendas reais efetivadas pela empresa no período auditado); • Exatidão dos valores – Os cálculos de representação dos eventos de contas de resultados apresentam-se corretos? – Nesta análise, o auditor valida se os cálculos base de registro dos atos econômicos estão corretamente efetivados. Como exemplo, podemos citar os cálculos da depreciação de bens imobilizados, lançados no período em contas de resultados, sejam como depreciação lançada a custos (bens alocados na indústria – operação) ou depreciação lançada a despesas (bens da área administrativa). Algumas análises apresentam-se como essenciais para validação de contas da DRE e são geralmente aplicadas na maioria das empresas, a saber: • Análise decontroles internos e validação dos saldos – Para validação das contas de resultado, a análise dos controles internos se apresenta ainda mais relevante, uma vez que temos um número de lançamentos muito expressivos nas contas e resultados; AUDITORIA 79| • Se todos os eventos do período estão devidamente compro- vados e contabilizados – Nesta análise, o auditor certifica-se quanto à existência de documentação hábil (exemplo: nota fiscal) para o registro do evento em conta de resultado, assim como a sua classificação adequada; • Se todos os eventos do período estão observando o princípio da confrontação das receitas com as despesas e custos e demais princípios – Cuidado especial é dedicado ao princípio da confrontação de receitas custos e despesas, uma vez que a de- monstração de resultados nada mais é do que a demonstração do resultado obtido pela empresa por meio da venda do seu produto deduzido dos custos e despesas respectivas. Assim, no mesmo pe- ríodo auditado, todos os custos e/ou despesas de uma determinada venda precisam estar ali alocados; • Se a observância da uniformidade de critérios está observada, e quando não, se devidamente informada em nota explicativa – A uniformidade de critérios utilizados nos dois períodos apresentados em conta de resultado é outro ponto de atenção especial do profis- sional auditor. Como exemplo, podemos citar uma eventual mudança de critério de custeio de um período para o outro. Quando o analista financeiro de um banco, por exemplo, analisa essa demonstração de resultados, tende a concluir que a variação de custo apresentada esteja relacionada à perda ou ganho de produtividade de um período em relação ao outro, enquanto na verdade, a variação deu-se em função da mudança de critérios de custeio. Assim, o programa de auditoria de contas da DRE cumpre o seu papel, tendo como principal objetivo garantir que os eventos de resultados da empresa representem, de fato, a geração ou não de riqueza com as suas atividades no período de apuração. E mais: • Se classificadas e divulgadas de acordo com as regulamentações pertinentes; • Se referem de fato à geração de valor da empresa (entidade); • Se suportadas por documentação hábil legalmente aceita (fisco e IRPJ); 80 AUDITORIA| Por fim, destacamos que o procedimento de revisão analítica, que basicamente é a colocação dos valores de uma mesma conta de resultado lado a lado (mês a mês), com o objetivo de analisar a sua respectiva flutuação, apresenta-se como um instrumento eficaz para análise das contas e resultado. 3.2. Verificação complementar e eventos subsequentes Neste tópico, iremos observar os procedimentos complementares aos vistos até agora, assim como os procedimentos de auditoria para análise dos eventos subsequentes ao término do exercício (período), objeto de análise na auditoria. • Verificação complementar Os programas de auditoria complementar buscam estender as análises sobre as contas patrimoniais e de resultados que, por ventura, não tenham sido alcançadas pelos demais programas; assim como ampliar exames de algumas contas que se apresentem como necessários. Observa-se, neste contexto, a análise de validação dos saldos das contas de encerramento do período auditado, assim como as contas que tiveram o seu encerrado firmado durante o exercício. Assim, com as análises complementares, busca-se a eficácia nos trabalhos dos auditores e em sua opinião final. Por fim, o programa de auditoria complementar cumpre o seu papel, tendo como principal objetivo estender os exames de auditoria para além dos programas anteriormente vistos. E mais: ¾ Exame das flutuações e comparabilidade entre períodos; ¾ Observação de lançamentos inusitados, contrapartidas incomuns, e outros fatores anormais; ¾ Extensão amostral de resultados que se apresentem como insatis- fatório na amostra inicial. • Eventos subsequentes AUDITORIA 81| Em geral, os trabalhos de auditoria sobre as Demonstrações Contábeis – DCs encerram-se entre os meses de janeiro e abril do ano subsequente ao ano auditado. No sentido de melhor esclarecer a importância da análise dos eventos subsequentes, como exemplo, podemos citar a auditoria de uma demonstração contábil referente aos anos de 2017/2016, cuja emissão de opinião do profissional auditor tenha ocorrido em 31 março de 2018. Percebam que entre o período de 31/dez/2017 e a data de emissão da opinião (31/ mar/2018) decorreram-se três meses de operações na empresa auditada. Ao longo destes três meses, ocasional evento relevante de impacto nos resultados, estrutura patrimonial e/ou composição de propriedade (acionistas/ quotistas), o auditor será responsabilizado caso a informação não esteja nas DCs de 2017/2016, ou mesmo em sua opinião. Assim, eventos subsequentes dizem respeito à responsabilidade do auditor em relação a eventos (favoráveis ou não) que, por ventura, surjam após a emissão do parecer e que não tenham sido observados. As regulamentações que tratam do tema são: • NBC TA 560 – Eventos subsequentes às DCs auditadas; • NBC TG 24 – Lapso temporal de análise, data base das DCs até a emissão do parecer de auditoria; • NBC TA 700 – Tratamento dos eventos subsequentes na emissão do parecer. PRATIQUE 1. Qual é a importância dos controles internos para a auditoria de validação de saldos das contas patrimoniais e de resultados? 82 AUDITORIA| 2. Qual a importância do registro dos papéis de trabalho do profissional audi- tor, para: a) organização do seu trabalho; b) para a responsabilização sobre a emissão de opinião emitida; c) para organização dos trabalhos futuros; d) base de trabalho para outras auditorias? 3. Quais as contribuições da adoção do procedimento de “validação da existên- cia” nos programas de auditoria para análise das contas patrimoniais e de resultados? Explique. 4. Quais as contribuições da adoção do procedimento de “validação da autori- zação” nos programas de auditoria para análise das contas patrimoniais e de resultados? Explique. 5. Quais as contribuições da adoção do procedimento de “validação da avalia- ção” nos programas de auditoria para análise das contas patrimoniais e de resultados? Explique. AUDITORIA 83| 6. Quais as contribuições da adoção do procedimento de “revisão analítica” nos programas de auditoria para análise das contas de resultados? Explique. 7. Qual a importância e aplicabilidade da adoção dos procedimentos de auditoria complementares nos programas de auditoria para análise das contas patrimo- niais e de resultados? Explique. 8. Qual a importância e aplicabilidade da adoção do procedimento de auditoria dos eventos subsequentes nos programas de auditoria para análise das con- tas patrimoniais e de resultados? Explique. RELEMBRE Chegamos, assim, ao final da terceira unidade, na qual vimos em detalhes o tema execução do trabalho do profissional auditor. A execução do trabalho do profissional auditor passa por colocar em prá- tica o planejamento do trabalho outrora elaborado com cuidado e precisão, apli- cando os procedimentos previstos. 84 AUDITORIA| Vimos a importância dos papéis de trabalho como instrumento de registro de todos os procedimentos de auditoria aplicados na execução do trabalho do profissional auditor. O destaque especial com relação à formalização dos traba- lhos do profissional auditor diz respeito ao embasamento de suas conclusões sobre o trabalho, assim como a ser utilizado como prova a eventuais questiona- mentos quanto às consequências de seu trabalho. Estudamos, ainda, na terceira unidade, os diversos procedimentos de au- ditoria aplicados no trabalho de análise das demonstrações contábeis, detalhan- do as distinções dos procedimentos a serem aplicados sobre as contas contá- beis patrimoniais e contas contábeis de resultados. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Marcelo Cavalcante. Auditoria: um curso moderno e completo. São Paulo: Saraiva, 1988. ATTIE, Willian. Auditoria: conceitos e aplicações. São Paulo: Atlas,2006. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TA 500 (R1) – Evidência de auditoria. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/ NBCTA500(R1).pdf. Acesso em: 02 out. 2019. CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria contábil: teoria e prática. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2010. CREPALDI, Silvio Aparecido; CREPALDI, Guilherme Simões. Auditoria contábil: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2017. ELISEU, Martins et al. Manual de contabilidade societária. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2018. Rua Coletor Antônio Gadelha, Nº 621 Messejana, Fortaleza – CE CEP: 60871-170, Brasil Telefone (85) 3033.5199 w w w .U ni AT EN EU .e du .b r