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DEO HO OS
CONCEI
IlustraçãojIluminismo
Comércio interno
Liberalismo
Despotismo
esclarecido
Nem tudo que
reluz é ouro
OieSUítaAndré João Antonil (1649-1716), um dos principais
cronistas do período colonial, descreveu a chegada de milha-
res de pessoas de Portugal, de outras partes da Europa e das
cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil em busca do ouro e das
pedras preciosas que haviam sido descobertas no início do século
XVIII.Na sua descrição, chama atenção a diversidade de pessoas:
brancos, mestiços, negros, indígenas, homens, mulheres, moços,
velhos, ricos, pobres, leigos, clérigos, nobres e plebeus. Uns ocupa-
dos em catar ouro, outros em mandar catar ouro nos ribeiros e minas,
e alguns vendendo e comprando ouro e produtos que se tornavam
necessários para o desenvolvimento da mineração no Brasil.
Uma verdadeira febre, definida
por Antonil como uma "sede insa-
ciável" por ouro, que estimulava
as pessoas a se meterem por cami-
nhos ásperos e em uma vida dificul-
tosa. Uma "insaciável cobiça" pelo
brilho das riquezas que estimulava
comportamentos pecadores e fazia
os jesuítas procurarem uma razão
oculta nessa situação, concluin-
do que se tratava de um castigo de
Deus ao Brasil.
No mesmo período, entre os
séculos XVII e XVIII, um conjunto
de ideias se desenvolveu na Europa
à procura de explicações racionais
para fenômenos naturais e sociais.
Seus integrantes questionaram tra-
dições, atacaram as intolerâncias
religiosas e não pouparam explica-
ções supersticiosas, que chamavam
de obscurantistas. Em seu lugar,
defendiam as luzes da razão.
Significativamente, a maioria
dos filósofos ilustrados não ques-
tionou a escravidão com a mesma
disposição. Volta ire afirmava que a
escravidão era tão antiga quanto a
guerra. Ambas, elementos da natu-
reza humana. Montesquieu acredi-
tava que a escravidão justificava-se
nos trópicos, onde o calor tornava
os seres humanos preguiçosos.
Assim, os filósofos que trou-
xeram à luz as injustiças da época
mantiveram a escravidão na escu-
ridão. De forma semelhante, o
brilho das riquezas extraídas da
região das minas no Brasil também
encobria a manutenção do traba-
lho escravo dos negros africanos e
de indígenas, os principais respon-
sáveis pela extração de metais e
pedras preciosas.
o jantar dos filósofos, Jean Huber.
Óleo sobre tela, c. 1772. (detalhe)
1
BRASIL NO
SÉCULO XVIII
Tratado de Lisboa:
Colônia do Sacramento passa
ao Império português.
Revolta de Beckman
no Maranhão.
Fundação dos Sete
Povos das Missôes (RS).
Destruição do Quilombo
dos Palmares.
Descoberta de ouro
no rio das Velhas (MG).
Guerra dos Emboabas (MG).
Guerra dos Mascates (Fronda dos
Mazombos) em Pernambuco.
Motim do Maneta em Salvador
contra o monopólio do sal.
Tratado de Utrecht
ratifica pretensôes
de Portugal na Amazônia.
Revolta de Felipe dos Santos
em Vila Rica (MG).
Bandeira de Anhanguera
descobre ouro em Goiás.
Monopólio estatal sobre extração
de diamantes em Minas Gerais.
Tratado de Madri: Espanha recebe
a Colônia de Sacramento. Portugal.
os Sete Povos das Missôes.
Guerra Guaranítica
no Rio Grande do Sul (até 1757).
Expulsão dos jesuítas .
Reforma Pombalina em Portugal.
Rio de Janeiro: sede do governo
do Estado do Brasil.
Tratado de Santo Idelfonso
redefine fronteira platina.
Conjuração Mineira.
Tiradentes enforcado
e esquartejado.
Conjuração Baiana.
Enforcamento de líderes
da Conjuração Baiana.
VI
O
Z
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1681...
1684...
1687...
1695...
1701...
1707...
1710...
1711...
1713...
1720...
1722...
1731...
1750...
1753...
1759...
1763...
1777...
1789...
1792...
1798...
1799...
Anhanguera, Fernão Dias, Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho,
Borba Gato, Paes de Barros, Cardoso de Almeida, Cunha Gago, Amaral
Gurgel, Bandeirantes. Quem já circulou pelas rodovias, avenidas, pra-
ças e ruas do estado de São Paulo e de sua capital, com certeza está habituado
a esses nomes. Os mais conhecidos são facilmente associados a uma espécie
de imagem heroica de desbravadores do sertão brasileiro, de alargadores das
fronteiras do território nacional, de responsáveis pela grandeza de nosso país
e incansáveis líderes de expedições em busca de metais e pedras preciosas.
De fato, desde o século XVI. colonos e aventureiros dirigiam-se em expedi-
ções rumo ao interior do continente à procura de riquezas minerais. As cons-
tantes informações das minas da América espanhola alimentavam os sonhos
dos luso-brasileiros de encontrar a montanha do Eldorado e serras resplande-
centes, cobertas de ouro, prata, diamantes, rubis, esmeraldas e outras pedras
preciosas. As permanências medievais no imaginário dos conquistadores - é
só lembrar das riquezas das viagens de São Brandão e Marco Polo - eram refor-
çadas por narrativas que os conquistadores ouviam dos indígenas.
No entanto, passaram-se quase dois séculos para que as áreas minera-
doras fossem descobertas pelos conquistadores, ligados diretamente à his-
tória da vila de São Paulo. Nesse período, a ação dos bandeirantes teve sem-
pre como horizonte a busca dessas riquezas. Mas seu papel na estruturação
da Colônia foi muito mais complexo. O caráter heroico com que impreg-
naram a imagem desses aventureiros e as homenagens que se prestam a
eles ainda nos dias de hoje dificultam a compreensão do funcionamento da
sociedade colonial.
Desde o início, a gente de São Paulo - em geral mamelucos (filhos de
portugueses com índias) -lançou-se ao apresamento de indígenas em tribos
próximas ou em aldeamentos, as Missões Jesuíticas, onde religiosos reorga-
nizavam a vida nativa. Os pau listas estavam de tal maneira ligados à cultura
indígena que, durante todo o período colonial, a língua dominante entre eles
não era o português, e sim o tupi.
Os indígenas eram vendidos para outras capitanias ou utilizados como
força de trabalho nas roças, nos serviços domésticos e nos engenhos da região.
Vale lembrar que, devido à distância da Metrópole, os custos do transporte
encareciam as atividades canavieiras no Sul, limitando sua produção .
Durante a ocupação holandesa em Angola e em outros pontos do litoral
africano - quando o fornecimento de escravizados tornou-se mais irregular e
seu preço bem superior ao do açúcar -, os suprimentos de negros da terra con-
tribuíram para manter a produção canavieira luso-brasileira. Mas estes eram
também uma espécie muito particular de mercadoria. Além de trabalharem
na produção, eram empregados como carregadores de outras mercadorias e
de munição, ferramentas, cordas e mantimentos nas bandeiras. Muitos indí-
genas da vila de São Paulo tomavam parte, ao lado dos mamelucos, dos assal-
tos a tribos do sertão.
Capítulo Nem tudo que reluz é ouro
Os bandeirantes também formaram verdadeiros
grupos de mercenários contratados para atacar tribos
hostis aos portugueses e destruir quilombos. Caçadores
de gente numa sociedade escravista, eram responsáveis
pela "ordem social", ou seja, pela manutenção da escra-
vidão e por seu tráfico interno.
QUI LOMBO DE PALMARES (SÉCULO XVII)
. :.
ft Amaro
Arotirene ft Serinhae"l'!.
ft ft
Dambra~nga Zumbi
S ft Aqualteneubui'a
Macaco Porto .••.
ft Calvo I
ft ALAGOAS
Andalaquituche
OCEANO
ATLÂNTICO
ESCALA
O 65km-
'ante: Elaborado com base em CARNEIRO.E. O qui/ombo dos Po/mares. São
aula: Brasiliense. 1947.
o QUILOMBO DOS PALMARES
Palmares, tido como o maior quilombo estabelecido na
América portuguesa, era na realidade uma confedera-
ção de quilombos que reuniu milhares de habitantes
alguns autores falam em 20 mil), governados por um
rei guerreiro e por um conselho formado pelos chefes de
cada um dos quilombos confederados.
Localizado numa extensa área serrana, que abran-
gia parte de Alagoas e Pernambuco, seus primeiros
acampamentos devem ter sido criados em 1629. Seu
contingente foi ampliado com as lutas entre luso-bra-
sileiros e holandeses, que propiciaram uma constante
fuga de escravizados.
O primeiro rei foi Ganga-Zumba, assassinado em
1678 devido à sua disposição de negociar com as auto-
ridades coloniais. A partir de então, foi dirigido porZumbi, chefe guerreiro morto em 1695.
Após diversas tentativas de destruição de Palma-
res, em 1694 iniciou-se a campanha que levaria ao fim
do reduto rebelde, dirigida pelo bandeirante Domingos
Jorge Velho. Ainda assim, nos anos seguintes, a região
manteve-se como abrigo de pequenos grupos de escra-
vizados fugitivos, que promoviam incursões e ataques a
povoados e viajantes. Mesmo com a exposição pública
da cabeça de Zumbi, não se dissiparam as controvérsias
em torno de sua morte. Guerreiros negros continuaram
a ser identificados como Zumbi, denominação que pos-
sivelmente não diz respeito a um indivíduo em especial,
mas sim a uma função militar ou a uma divindade guer-
reira. É possível que o termo derive da palavra angola-
na nzumbi, que significa "defunto". De certo modo, os
negros também produziram o seu rei encoberto.
História O Atualidades» O Quilombo do
Rio dos Macacos
São Tomé de Paripe. Essa região localiza-se na Baía
de Todos os Santos, no limite entre Salvador e Simões
Filho, no estado da Bahia. Lá, há uma disputa de terras
envolvendo cerca de 50 famílias e a Marinha do Brasil.
Os moradores alegam ser descendentes de quilornbo-
las estabelecidos na região há mais de 150 anos. Para
os comandantes militares, trata-se de uma ocupação
irregular de pessoas que se "autointitulam quilornbo-
las" e que ameaçam o funcionamento das organiza-
ções militares da Base Naval de Aratu.
Em 2012, o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) reconheceu o local como área
remanescente de quilombo e delimitou 301 hectares
para seus moradores. A Marinha deseja que essa área
seja reduzida para 21 hectares (cada hectare equivale
a 10 mil rn-').
Além da disputa judicial, líderes da comunidade
denunciam violação dos direitos humanos, violências,
perseguições, ameaças e intimidações por parte de
militares. O comando da Marinha nega as acusações.
lá na rede! '9'
QUILOMBO DO RIO DOS
MACACOS
Digite o endereço abaixo na barra
do navegador de internet: http://
goo.gl/liWjsP. Você pode também
tirar uma foto com um aplicativo
de QrCode para saber mais sobre
o assunto. Acesso em: 12 abro
2016. Em português.
Denúncia de jornal
baiano Correio so-
bre agressões da
Marinha ao quitam-
bo do Rio dos Ma-
cacos.
A idade do ouro no Brasil 63
São Paulo
"Ao longo do século XVII, colonos de São Paulo e de
outras vilas circunvizinhas assaltaram centenas de
aldeias indígenas em várias regiões, trazendo milha-
res de índios de diversas sociedades para suas fazen-
das e sítios na condição de 'serviços obrigatórios'.
Estas frequentes expedições para o interior alimen-
taram uma crescente base de mão de obra indígena
no planalto paulista, que, por sua vez, possibilitou a
produção e o transporte de excedentes agrícolas, arti-
culando - ainda que de forma modesta - a região a
outras partes da colônia portuguesa e mesmo ao cir-
cuito mercantil do Atlântico meridional. Sem este
fluxo constante de novos cativos, a frágil população
indígena do planalto logo teria desaparecido, porque,
a exemplo da escravidão negra do litoral nordestino,
a reprodução física da instituição dependia, em últi-
ma instância, do abastecimento externo. Porém, ao
contrário da sua contra partida senhorial do litoral, os
paulistas deram as costas para o circuito comercial do
Atlântico e, desenvolvendo formas distintivas de orga-
nização empresarial, tomaram em suas próprias mãos
a tarefa de construir uma força de trabalho."
MONTEIRO, J. M. Negros da terro.
São Paulo: (ia. das Letras. 1994. p. 57.
Desenho por Idea da cidade de São Paulo, anônimo.
Gravura aquarelada, 1765.
CAMINHOS E FRONTEIRAS
As buscas pelo interior intensificaram-se a partir da
União Ibérica, rompendo, na prática, as imprecisas
demarcações do Tratado de Tordesilhas (1494). As fron-
teiras internas da América foram transpostas não só por
pau listas, mas também por luso-brasileiros das regiões
Norte e Nordeste, expandindo, assim, os limites das
possessões lusitanas no continente.
64 Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
As ações dos bandeirantes
Após varrer as reduções próximas à vila de São Paulo, os
pau listas atacaram as missões de Itatim e Guairá, fun-
dadas por jesuítas espanhóis, levando seus habitantes
a se deslocarem para o Sul, onde organizaram as redu-
ções de Tape. Aos novos ataques, os indígenas respon-
deram com armas de fogo, derrotando os pau listas na
Batalha de M'Bororé, em 1641. Mesmo assim, as redu-
ções ficaram arrasadas e seus habitantes tiveram de se
deslocar, desta vez para além do rio Uruguai. Os reba-
nhos que eram criados em Tape espalharam-se e repro-
duziram-se livremente nas pastagens naturais, dando
origem à Vacaria del Mar, manadas de gado selvagem
que se encontram no atual estado do Rio Grande do Sul
e no Uruguai. Ao final do século, jesuítas e indígenas
atravessaram mais uma vez a região, fundando os cha-
mados Sete Povos das Missões.
No Norte, além das incursões dos temidos paulistas,
as reduções enfrentaram o assédio dos colonos da própria
região. Após uma série de conflitos entre jesuítas e colo-
nos laicos, em 1684 iniciou-se a Revolta de Beckman,
na qual senhores de engenho tomaram o poder no Mara-
nhão e expulsaram os membros da Companhia de Jesus.
Os colonos alegavam que os jesuítas impediam a escra-
vização dos nativos e a Companhia de Comércio do Esta-
do do Maranhão, criada em 1682, não supria suficiente-
mente a região com africanos escravizados. Os irmãos
Manoel e Tomás 8eckman, líderes do movimento, foram
enforcados e muitos participantes foram degredados
para outras partes do Império português.
Uma verdadeira campanha de extermínio dos indí-
genas janduís contou com a participação dos pau listas.
Aliados dos holandeses, os janduís mantiveram hosti-
lidades contra os portugueses, sendo liquidados por
sucessivas incursões que contaram com a presença de
Domingos Jorge Velho e Matias Cardoso de Almeida.
A expansão religiosa
Os jesuítas e membros de outras ordens religiosas tam-
bém participaram dessa expansão, penetrando, com
suas missões, nos vales do São Francisco e do Amazo-
nas e, em ambos os casos, entraram em conflito com os
colonos laicos. No Nordeste, a expansão para o interior
foi marca da pelo avanço da pecuária, removida do lito-
ral pela produção de açúcar. No entanto, o sertão era
controlado por tribos quase sempre hostis às investi-
das dos colonos. Expedições militares, das quais toma-
vam parte membros do clero, foram abrindo caminho
para as manadas bovinas. Os indígenas que escapavam
~ escravização pelos colonos laicos eram destinados às
reduções religiosas.
Apesar de caminhar juntos, clérigos e leigos diver-
iam sobre o papel dessas reduções. Para os primeiros,
atava-se de uma experiência missionária que precisa-
ra ser sustentada pela utilização da mão de obra indíge-
a. Para os leigos, eram instituições de fronteira e reser-
ra de mão de obra para o desenvolvimento da produção
olonial. Deviam, portanto, obedecer às estratégias de
ombate às tribos hostis e suprir as necessidades dos
olonos em suas plantações.
A corrida para a região das minas envolveu milha-
res de pessoas de todas as capitanias. Vilas e peque-
nos povoados ficaram praticamente desabitados. Cerca
de 600 mil portugueses deixaram a Metrópole para se
aventurarem no interior do Brasil. Inúmeras bandeiras
cruzavam o sertão e informações sobre novas minas cir-
culavam por toda a Colônia, alimentando ainda mais a
febre do ouro que contaminou a população colonial.
Encravado em rochas ou espalhado em grãos no
solo e no leito de rios, o ouro era facilmente extraído da
região das minas. Nas gargantas das montanhas e no
leito dos córregos e rios do Arraial do Tijuco, o brilho
dos diamantes atordoava os garimpeiros. Com alguns
séculos de atraso, os sonhos de riqueza dos conquista-
dores estavam se realizando.
JEsuíTAS E BANDEIRANTES (SÉCULOS XVI-XVII)
!
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fifi ParBop,ba
8ambuí
1684
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OCEANO
ATLÂNTICO
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1595
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Tronco linguístico
L Aruak Tucano
Caribe ~ Tupi-Guarani
Chibchano Charrua
Jê C Outros gruposPano línguas não
classificadas
Fontes: Elaborado com base em CAMPOS. F. de; DOLHNIKOFF. M. Atlas História do Brasil. São Paulo: Scipione. 1994; JOFFILY. B. (Org.). Isto t Brasil. 500 anos. Atlas
Histórico do Brasil. São Paulo: Ed. Três, 1998.
AS REGRAS DA EXPLORAÇÃO
Até 1709, a divisão das minas, o escoamento da produ-
ção, o abastecimento, enfim, todas as regras para o fun-
cionamento das muitas atividades ligadas à mineração
dependiam do poder dos envolvidos. Aqueles que con-
trolassem o maior número de homens armados impu-
nham seus interesses. Desde 1702, a Metrópole procurara
regulamentar a distribuição das áreas a serem explora-
Área de apresamento
de indígenas
Bandeiras de caça aos
indígenas
Expedições contra quilombos
~ is~n~~~~sn~~~:~~~~:tO)
• Missões portuguesas
Missões espanholas
Quilombos
Revolta de 8eckman (1684)
X Expulsão de jesuítas
Principais gU81T8S
Guerra dosTamoios
1562-1567
r
~Guerra dos AimoréA.{ 1555-1573
Levante Tupinambá
1617-1621
p
r
Guerra dos Potiguares
1586-1599
Confederação dos Cariri
1676-1692
Quechua
das pelos garimpeiros. Cada jazida era dividida em lotes,
denominados datas. O descobridor da jazida tinha direi-
to a duas datas e uma era destinada à Coroa. As outras
datas eram sorteadas entre os interessados. Aqueles que
possuíssem pelo menos 12 escravizados podiam receber
uma data inteira. Os demais tinham de se contentar com
lotes menores, proporcionais ao número de escravizados
que possuíssem. Para fazer valer as regras, impedir o con-
A idade do ouro no Brasil 65
trabando e recolher os impostos devidos, a Coroa montou
seu aparelho administrativo e fiscal, deslocando tropas de
soldados da Metrópole para a região das minas.
Em poucos anos, o ouro de aluvião, ou seja, aque-
le encontrado nos leitos do rios, esgotou-se. Para extraí
-10, mineradores com poucos recursos precisavam ape-
nas de um pouco de sorte e de rústicos instrumentos,
como as bateias, bacias feitas de madeira ou metal. Cha-
mados de faiscadores, esses garimpeiros perambula-
vam pela região, tentando suprir sua modesta sobrevi-
vência. Os poderosos dispunham de vasta mão de obra
escrava, máquinas hidráulicas para lavagem do casca-
lho e obras de represamento de rios. Com mais recursos,
suas possibilidades de extração eram muito maiores. E
os escravizados continuavam a ser "as mãos e os pés de
seus senhores".
Descobertas por paulistas, as minas foram, no iní-
cio, um empreendimento dos moradores da capitania
de São Vicente. O abastecimento dos garimpos fazia-
se pelos diversos caminhos abertos a partir das vilas
vicentinas, pelas quais passavam rústicos comercian-
tes, com suas tropas de mulas e de indígenas, levando
panos grosseiros, sal, farinha, marmelada, couro, car-
nes e aguardente. A produção paulista, anteriormente
ligada ao consumo local, ampliava-se para atender os
mineiros. Os tropeiros vindos do Sul pousavam na vila
de Sorocaba, ponto de encontro dos comerciantes de
grosso trato e local de venda de animais, de onde se diri-
giam para as minas.
Em poucos anos brotaram inúmeras vilas e cidades
na região mineradora. O ambiente urbano ali contrasta-
va com o das atividades açucareiras: os grandes mine-
radores ostentavam seu poder e riqueza nas cidades. O
luxo e as joias eram expostos como insígnias de poder.
Também os escravizados, mercadorias valiosas capazes
de extrair as preciosidades da terra e acalentar a pompa
de seus senhores, eram exibidos pelas ruas, como ador-
nos dos poderosos.
A Guerra dos Emboabas
Em 1707, as rivalidades entre os paulistas, que conside-
ravam ter direitos exclusivos sobre a região, e forastei-
ros, denominados emboabas, pessoas vindas de várias
partes da Colônia e de Portugal, atraídos pela possibi-
lidade de enriquecimento, culminaram num conflito
armado conhecido como Guerra dos Emboabas. Em dis-
puta estavam a exploração das minas e o abastecimen-
to da região. Os paulistas, que contavam com o apoio
do superintendente das minas, Manuel da Borba Gato,
66 Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
desejavam que os baianos, liderados por Manuel Nunes
Viana, fossem impedidos de entrar na região minera-
dora. Durante quase três anos, organizaram-se expedi-
ções armadas por ambas as partes, com vantagem para
Nunes Viana. Aproveitando-se do conflito, a Coroa por-
tuguesa, procurando exercer maior controle adminis-
trativo sobre a região, resolveu delimitá-Ia, criando
a capitania real de São Paulo e Minas, em 1709. Onze
anos depois, houve uma divisão e foram criadas duas
capitanias distintas: a de São Paulo e a de Minas Gerais.
Era uma tentativa de fechar as fronteiras e controlar os
caminhos que levavam às minas.
Os impostos cobrados pela Coroa provocaram des-
contentamento e revoltas. A Coroa estabeleceu um
imposto sobre a quantidade de escravizados emprega-
da pelo minerador, denominado capitação. Na maior
parte do tempo, o ouro extraído era obrigatoriamen-
te encaminhado para as Casas de Fundição, controla-
das pelo poder imperial, onde se cobrava o quinto, ou
seja, a quinta parte do ouro fundido. Em 1720, devido
à cobrança desse tributo, ocorreu um levante em Vila
Rica (hoje Ouro Preto) liderado pelo tropeiro Filipe dos
Santos. Rapidamente as forças imperiais sufocaram o
movimento e Filipe dos Santos, depois de morto, teve
seu corpo retalhado e espalhado pelos caminhos da
região. Os pau listas aliaram-se às forças repressoras e
se valeram da revolta para vingar a derrota sofrida onze
anos antes.
ÁREAS DE MINERAÇÃO NO SÉCULO XVIII
.Natal
Campina. .João Pessoa
Grande IOlinda
Recife
OCEANO
ATLÂNTICO
Guerra dos Emboabas - 1707
ESCALA
O 520 • Revolta de Filipe dos Santos - 1720
Fonte: Elaborado com base em SIMONSEN, R. C. História econômica do Brasil:
(1500·1820).8. ed. São Paulo: Nacional, 1978.
Goiás e Mato Grosso
As incursões bandeirantes em busca de nativos acabaram
resultando na descoberta de ouro na região da atual cidade
de Cuiabá, em 1718. O pequeno povoado seria eleva-
do à condição de vila em 1727 e denominado Vila Real
de Cuiabá. Poucos anos depois. eram descobertos veios
minerais numa área controlada pelos indígenas goiás,
onde surgiria o Arraial de Santana. em 1727. depois
denominado Vila Boa de Goiás (1737).
A ligação com São Paulo era realizada pelo "Caminho
de Goiás", também conhecido como "Caminho dos Guaia-
nazes". Na região noroeste da capitania paulista. forma-
ram-se pequenos povoados que permitiam o abasteci-
mento das tropas de viajantes. O declínio da mineração.
verificado na segunda metade do século XVIII. foi com-
pensado com o desenvolvimento da pecuária.
locais e. por outro lado. pretendia "redefinir os vínculos
coloniais" com a Metrópole. Esse último aspecto signifi-
cava o controle sobre as funções da administração colo-
nial e o abrandamento da carga fiscal e tributária.
Os mazombos, como eram conhecidos os aristocra-
tas do açúcar. controlavam o poder da Capitania a partir
de Olinda. Recife. uma espécie de bairro de Olinda, era
a base do poder dos comerciantes locais e reinóis. pejo-
rativamente denominados mascates. O termo mazom-
bo. possivelmente derivado do idioma bantu, designava
originalmente o indivíduo mal-humorado. mal-educa-
do e rude. Posteriormente. passou a indicar o filho de
português nascido em terras brasileiras. semelhante ao
termo crio lia da América espanhola. As oscilações do
preço do açúcar acabaram por levar ao endividamento
dos senhores de engenho.
Os mascates não tinham a tradição aristocrática
dos poderosos de Olinda, mas possuíam as hipotecas.
as dívidas dessa nobreza da terra e o direito de cobrar
os impostos em nome da Coroa. A presença holandesa
contribuíra para o fortalecimento econômico de Recife.
sede do governo holandês. A elevação de Recife à cate-
goria de vila em 1710 foi o estopim dos conflitos. que
duraram até o final de 1711 e ficaram conhecidos como
Guerra dos Mascates. Na verdade. a revolta foi lidera-
da pelos senhores de engenho endividados. que se dis-
tinguiam entre aqueles que exigiam a anistia das dívi-
das e os que postulavam a separação de Pernambucodo Império Colonial português. Após reveses de parte
a parte. as autoridades do império conseguiram restabe-
lecer a paz na região. A revolta aristocrática fracassou.
O conflito é revelador, no entanto. do enfraquecimento
social e político dos anteriormente poderosos senhores
de engenho e. de outro lado. da vinculação dos comer-
ciantes aos interesses da Coroa portuguesa.
Bahia: O Motim do Maneta
Em 1711. outra revolta foi desencadeada em Salvador.
em razão do estabelecimento de novos tributos sobre
mercadorias vindas do reino. da elevação dos impostos
sobre a compra de escravizados e do aumento de 50%
no preço do sal.
Nessa revolta. liderada por um negociante portu-
guês. João de Figueiredo Costa. conhecido como Mane-
ta. tomaram parte soldados. homens livres e pequenos
comerciantes que assaltaram as residências dos gran-
des comerciantes de sal. Diante das pressões. o gover-
nador da Bahia voltou atrás na implementação dessas
medidas impopulares.
A idade do ouro no Brasil 67
REVOLTAS NO NORDESTE
O período imediatamente posterior à expulsão dos
holandeses. ocorrida em 1654. foi marcado pela crise no
Nordeste. A concorrência do açúcar nas Antilhas ingle-
sas e holandesas provocava a baixa do preço do produto
em relação ao preço dos africanos escravizados. As lutas
com os holandeses estimularam a fuga de escravizados
e o crescimento de Palmares. As guerras de Restaura-
ção haviam sido custeadas pelas taxas coloniais que
recaíam sobre os produtores de açúcar. que manifesta-
vam o seu descontentamento crescente com a diminui-
ção de seus lucros.
A discussão sobre a tributação. o elemento mais
concreto da dominação colonial. começava a despon-
tar com mais ênfase no início do século XVIII. O rigor
das autoridades metropolitanas provocava resistên-
cia dos colonos. Essa questão estava na base das ten-
sões e revoltas que começaram a surgir no Nordeste e na
região mineradora.
Pernambuco e a Fronda dos
Mazombos (1711-1712)
Desde a vitória sobre os holandeses. as rivalidades entre
Olinda e Recife compunham o quadro político da Capi-
tania de Pernambuco.
A derrota do inimigo era compreendida pelos gran-
des senhores de engenho pernambucanos como uma
ação independente dos poderes imperiais. que teriam
vacilado frente aos holandeses. A memória da expulsão
dos holandeses servia para fundamentar um discurso
político que justificava seu poder frente a outros grupos
REVOLTAS NO NORDESTE (1710-1711)
ESCALA
O 300 600 km
• Fortaleza OCEANO
ATLÂNTICO
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~ 171/).1711
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1711
Fontes: Elaborado com base em CAMPOS, F. de; DOLHNIKOFF, M. Atlas História
da Brasil. São Paulo: Scipione, 1994; JOFFILY, B. (Org.).lsta t Brasil, 500 anos.
Atlas HistórICO do Brasil. São Paulo: Ed. Três, 1998.
(Mackenzie-SP) Duas atividades econômicas desta-
caram-se durante o período colonial brasileiro: a açu-
careira e a mineração. Com relação a essas atividades
econômicas. é correto afirmar que:
a) na atividade açucareira. prevalecia o latifúndio e a
ruralização; a mineração favorecia a urbanização
e a expansão do mercado interno,
b) o trabalho escravo era predominante na atividade
açucareira e o assalariado na mineradora.
c) o ouro do Brasil foi para a Holanda e os lucros do açú-
car serviram para a acumulação de capitais ingleses.
d) geraram movimentos nativistas como a Guerra dos
Emboabas e a Revolução Farroupilha.
e) favoreceram o abastecimento de gêneros de primei-
ra necessidade para os colonos e o desenvolvimento
de uma economia independente da Metrópole.
e Dl/SP/H9
t) conforme tabelas das páginas 8 e 9.
A SOCIEDADE DOS MINERADORES
E O COMÉRCIO T
o mundo da sociedade mineradora era marcado pela
instabilidade. A descoberta de uma região repleta de
riquezas atraía os aventureiros. mas depois de esgotada
a extração de minérios. eles se dirigiam a outras partes
em busca do enriquecimento.
68 Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
Muitos arraiais e vilas tinham sua importância econô-
mica diminuída por essa constante peregrinação ambicio-
sa. Senhores de engenho do Nordeste vendiam suas pro-
priedades e aventuravam-se à cata de ouro e diamantes.
O enriquecimento de alguns contrastava com a
miséria da maioria. A comercialização dos metais fez
os preços dos gêneros de subsistência e dos escraviza-
dos subirem vertiginosamente. A riqueza extraída da
terra atraiu mercadorias europeias de alto luxo.
O padrão social dos grupos dominantes era altíssi-
mo e tudo custava muito caro. Muitos endividavam-se
para sustentar sua posição social sem ter conseguido
obter riqueza suficiente. Jogos de azar. prostituição.
rivalidades e diversas práticas ilegais conturbavam
o ambiente dessa sociedade. marcada pela antítese
opulência/miséria.
A exploração das minas provocou o aquecimento
do comércio interno colonial. Todas as regiões sofre-
ram o impacto da extração de suas riquezas e da urba-
nização do interior. Além da corrida de colonos e escra-
vizados. de alimentos e outros artigos. estabeleceu-se
um verdadeiro sistema de transportes terrestres basea-
do nas tropas de mulas. rústico. mas adequado à econo-
mia de então. O aparecimento de uma elite com poder
de adquirir manufaturas e artigos europeus desenvol-
veu as atividades portuárias.
A pequena vila de São Sebastião do Rio de Janeiro
tornou-se porta de entrada de mercadorias estrangeiras
para a região mineradora.
Em 1763. devido ao desenvolvimento urbano e à
proximidade maior com a Capitania das Minas Gerais.
tornou-se sede do Governo do Estado do Brasil. A
Colônia. que nos primeiros séculos teve uma estrutu-
ra econômica voltada principalmente para o merca-
do externo. vivia agora uma realidade mais comple-
xa. Novos interesses surgiam e os conflitos passaram
a ser mais constantes.
No entanto. para controlar a região mineradora e
evitar o contrabando. o governo proibiu. em 1702. o
acesso de negociantes provenientes da Bahia às minas.
Exceção feita apenas aos comerciantes de gado.
A ECONOMIA DO IMPÉRIO
O
Com a entrada do ouro e dos diamantes do Brasil e a inten-
sificação dos negócios coloniais decorrente principalmen-
te da mineração. a economia portuguesa viveu algumas
décadas de prosperidade. A crise do século XVII. provo-
da pela concorrência de outros Estados europeus e pela
uerra da Restauração. era superada por uma nova arran-
cada da economia colonial brasileira. O tráfico de escravos
foi intensificado para suprir a região mineradora. Os tri-
utos e contratos feitos pela Coroa proporcionavam altos
rendimentos para o poder metropolitano.
Superada a crise. a aristocracia lusitana entre-
gou-se aos prazeres do consumo de artigos de luxo e
da ostentação. Grandes obras foram erguidas em Por-
ugal, como o Palácio-Convento de Mafra, de 1300
dependências. entre salas. quartos e celas conven-
uais, que levou mais de 30 anos para ser construído
e contou com mais de 50 mil trabalhadores para sua
conclusão. Os gastos da Coroa e da aristocracia gera-
vam um crescente déficit na balança comercial. equi-
librada graças ao ouro brasileiro.
A Metrópole passou a exercer um controle cada
vez maior sobre as suas colônias na América. Os cami-
nhos das minas eram intensamente vigiados. O acesso
ao Arraial do Tijuco, área de exploração de jazidas de
diamantes. foi vedado a negros forros. mulatos livres
e garimpeiros pobres. Apenas aqueles que obtivessem
autorização direta da Coroa podiam dedicar-se à procu-
ra de diamantes. O comércio e o deslocamento das pes-
soas eram controlados. A Coroa procurava impedir. com
práticas violentas. o escoamento ilegal das pedras e
garantir a cobrança da tributação devida.
O aperfeiçoamento do aparelho administrativo
colonial. acompanhado de uma série de medidas fis-
cais. realizava-se numa conjuntura de aumento acen-
tuado do preço dos africanos escravizados - para o qual
contribuiu a mineração - e de deslocamento de recur-
sos. mão de obra e colonos para a região das minas.
Apesar das oscilações do preço do açúcar no mercado
mundial e da concorrência antilhana.a atividade cana-
vieira ainda mantinha sua importância. ao lado do taba-
co. no Norte e Nordeste. O problema da mão de obra e
a cobrança de tributos acabaram por suscitar descon-
tentamento e revolta. o que fazia os colonos se voltarem
contra as autoridades metropolitanas.
A ECONOMIA NA AMÉRICA PORTUGUESA (SÉCULO XVIII)
-,
OCEANO
PACi'1CD
ESCALA
o 430 860km
Fonte: Elaborado com base em MEC.Atlas Histórica Escalar.
Rio de Janeiro: FAE. 1978.
Fonte: Elaborado com base em PINTO. V. N.
O ouro brasileiro e o comércio onglo-português.
São Paulo: Nacional, 1979. p. 114.
D--~
D-
Área de ocorrência
do pau-brasil
Cana-de-açúcar
Pecuária
Tabaco
Mineração
Drogas do sertão
PRODUÇÃO DE OURO NO BRASIL
SECULO XVIII (EM kg)
• Mato Grosso
Goiás
• Minas Gerais
A idade do ouro no Brasil 69
E A ECONOMIA Apesar de fortalecer um setor da burguesia lusita-
na, o tratado selou a sorte dos grupos manufatureiros
portugueses. Carentes de recursos técnicos e de capi-
tais, e vistos com desconfiança pelos representantes
da Inquisição, os comerciantes e produtores de tecidos
sofriam agora com a concorrência direta da manufatu-
ra inglesa. Assim, além de não realizar seu desenvolvi-
mento industrial, Portugal abria a fenda de escoamento
do ouro brasileiro para a economia inglesa. Com isso, os
ingleses puderam contar com maior circulação monetá-
ria e uma impressionante movimentação de sua econo-
mia mercantil, fatos que iriam oxigenar suas atividades
econômicas e promover sua industrialização.
COMÉRCIO ENTRE INGLATERRA E PORTUGAL (em milhões de libras)
• Importações da Inglaterra para Portugal
Total 819 • Exportações de Portugal para a Inglaterra
entre 1697-1715 763 1\94
732
/
625
538
365 7
333
272
242 241 252
lado, a Coroa apertava os laços do controle
o re a Colônia, de outro, abria brechas para a intensa
participação de outros Estados europeus em seu Impé-
rio Colonial. A Inglaterra foi a maior beneficiada, com
vários acordos que acabaram por vincular a economia
portuguesa aos interesses britânicos. O mais célebre de
todos foi o Tratado de Methuen, celebrado ao final de
1703, no qual a Coroa portuguesa consentia em redu-
zir as barreiras alfandegárias para os artigos de lã prove-
nientes da Inglaterra em troca do mesmo procedimento
em relação aos vinhos portugueses.
Fonte: Elaborado com base em HANSON. C. A. Economia e sociedade na Portugal barraca. Lisboa: Dom Quixote. 1986. p. 221.
~&-'Verificação de leitura 1
1 Indique as atividades desenvolvidas na vila de São
Paulo no período colonial. t> Dl/SP/Hll
2 Compare o comércio praticado em São Paulo e as
atividades econômicas desenvolvidas no Nordeste
açucareiro. e Dl/CF/SP/H9
3 Defina o papel dos bandeirantes na sociedade
escravista colonial. e Dl/SP/H9/Hll
4 Como os bandeirantes são geralmente lembrados
70 Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
t> conforme tabelas das páginas 8 e 9.
em nossa sociedade? t> Dl/SP/H2
5 Quais foram as principais mudanças na economia
interna colonial provocadas pela descoberta de
ouro e pedras preciosas? t> Dl/H7/H9/Hll/H12
6 Explique por que o Tratado de Methuen foi um obs-
táculo ao desenvolvimento econômico de Portugal.
e Dl/CF/SP/H7/Hll
te
2
Nenhuma ideia nasce de repente, nenhum movimento de ideias apare-
ce sem que algum sinal tenha se manifestado anteriormente. Com o
Iluminismo não foi diferente.
Em geral, associa-se o pensamento ilustrado ao século XVIII, à ascensão
da burguesia e à construção de um novo mundo. Alguns autores, porém, já
insinuavam uma nova visão e concepção do mundo e das relações físicas, polí-
ticas e sociais muito antes dos filósofos franceses que, nesse período, assumi-
ram a frente do pensamento ocidental europeu e passaram a criticar sistema-
ticamente o universo de privilégios que cercava a aristocracia. Desenhava-se,
aos poucos, a chamada Ilustração, ou Iluminismo. Por trás dos dois termos, a
mesma metáfora: a luz, associada à razão e em combate contra as trevas do
absolutismo e da intolerância religiosa.
A CIÊNCIA E A ILUSTRAÇÃO
Várias teorias sociais e políticas que os ilustrados difundiram no decorrer do
século XVIII e que tiveram importância central nas transformações ocorridas
nesse período foram influenciadas por estudos da física e da natureza.
Mais de um século antes do Iluminismo, Francis Bacon (1561-1626) pro-
pôs uma ampla reforma do conhecimento por meio da valorização da prática
e da experimentação científica, que ele considerava o caminho adequado para
que o homem alcançasse a conquista e o controle da natureza. René Descartes
(1596-1650) enfatizou, pouco tempo depois, a centralidade da dúvida como
meio de encontrar a verdade. Para ele, as certezas prévias ou naturais deviam
ser descartadas e tudo precisava ser submetido a experimentações. A própria
existência do homem derivava de sua capacidade racional.
Locke, ao formular a teoria política em que defendia o respeito de todo
governante aos direitos naturais e o limite do
poder dos reis, comparava os humanos aos áto-
mos, para compreender a relação de cada indi-
víduo com o conjunto da sociedade.
Isaac Newton (1643-1727) formulou, no
final do século XVII, a lei da gravidade. A partir
da observação de que os corpos eram atraídos
para o solo, Newton desenvolveu pesquisas
que identificaram leis gerais do Universo. Ele
conseguiu desenvolver cálculos matemáticos
relativos aos movimentos celestes e atestou a
existência de forças a que estavam submetidos
tanto os astros quanto os seres que viviam na
Terra. O Universo deixava de ser um mistério
só acessível às leis e ao pensamento e místicos
ou religiosos.
Experimento com pássaro em bomba de ar, Joseph Wright. Óleo sobre
tela, 1768.
o Iluminismo 71
Immanuel Kant (1724-1804) deu um dos últimos
passos para que uma nova filosofia se afirmasse. Ele
sustentou que todos trazemos repertórios informativos
e conceituais, historicamente construídos, que orien-
tam nossa percepção da natureza e dos homens. Reco-
nhecia, assim, o caráter relativo de toda proposição e
compreensão. Na abertura do ensaio O que é o llumi-
nismo? (1784), ele comparou o movimento iluminista
História Matemática Leibniz e os computadores
Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) nasceu em
Leipzig (atual Alemanha) e foi contemporâneo de Isaac
Newton. Os dois desenvolveram métodos de cálculo
matemático e chegaram a trocar cartas. A correspon-
dência, no entanto, podia demorar meses para ir de
um a outro e um desses atrasos levou Newton a acre-
ditar que Leibniz estava se apropriando dos resultados
de seus estudos para desenvolver novas teorias. Era um
equívoco. O germânico trilhara caminhos diferentes dos
do britânico para estabelecer as bases do cálculo inte-
gral e diferencial.
Os dois pensadores também desenvolveram, parale-
lamente, experiências sobre estática e dinâmica e desem·
bocaram em resultados divergentes: Newton considerava
o espaço como absoluto e Leibniz especulava sobre sua
relatividade. Os textos teóricos de Leibniz incompreendi-
dos na época, só puderam ser melhor avaliados no sécu-
lo XX,depois da formulação da teoria da relatividade por
Albert Einstein. Einstein, inclusive, confirmou vários dos
princípios que ele enunciara três séculos antes.
Leibniz foi o primeiro matemático a utilizar o termo
"função" para designar a dependência de algumas curvas
geométricas. Só depois de sua morte, porém, é que a pala-
vra passou a ser empregada para definir a relação entre
uma certa variável e algumas constantes. Suas pesquisas
Máquina de calcular, G. W. leibniz. Hanover, Alemanha,
1695.
72 Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
à chegada dos homens à vida adulta: "Iluminismo é a
saída do homem da sua menoridade de que ele próprio
é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir
do entendimento sem a orientação de outrem". Enfati-
zava, desse maneira, a importância da consciência e da
autonomia do pensamento e a necessidade de rejeitar
qualquer submissão passiva a ideias políticas, estéticas
ou religiosas.
matemáticas o levaram, ainda, a aperfeiçoar a máquina de
calcular inventadapor Blaise Pascal (1623-1662), acres-
centando as operações de divisão e multiplicação.
Além das experimentações com máquinas de calcu-
lar e do avanço na aritmética, Leibniz formulou a teoria
da arte combinatória, que sustentava que todo raciocí-
nio poderia ser simplificado numa combinação ordenada
de números, palavras, sons ou cores. Ele buscava "uma
espécie de linguagem ou escrita universal, mas infinita-
mente diversa de todas as outras concebidas até agora,
isso porque os símbolos e até mesmo as palavras nela
envolvidas dirigir-se-iam à razão, e os erros, exceto os
factuais, seriam meros erros de cálculo. Seria muito difí-
cil formar ou inventar essa linguagem, mas também seria
muito fácil compreendê-Ia sem quaisquer dicionários".
Nenhum de seus contemporâneos levou muito a sério
a proposta de uma linguagem universal de Leibniz e nem
ele mesmo encontrou utilidade prática para sua teoria, que
permitia o aprimoramento do sistema binário de aritméti-
ca. Três séculos depois, uma aplicação de suas ideias foi
encontrada: o desenvolvimento de computadores.
[mago creationis - imagem da criação como
adição e multiplicação de números binários,
G. W. leibniz. Medalhão, Alemanha, 1697.
UMA REVOLUÇÃO CULTURAL
J movimento intelectual denominado Ilustração ins-
reve-se no processo de transformações determinado
ela emergência da sociedade capitalista. Foi levado a
rabo por filósofos que se consideravam a vanguarda da
cultura e das ciências, capazes de apontar o caminho
para uma nova era e construir uma nova humanidade.
A felicidade, vista ao mesmo tempo como um direi-
o e um dever dos homens, era o grande objetivo a ser
atingido pelo aprimoramento da vida coletiva, pelo pro-
gresso social garantido pela educação. A tirania, a tor-
tura, a desigualdade jurídica e os limites à liberdade de
expressão desrespeitariam os direitos mais elementares
e fundamentais do ser humano, próprios da sua nature-
za: o direito à vida, à liberdade individual, à igualdade
jurídica, à propriedade e à busca da felicidade.
Religião privada, razão pública
Na Antiguidade, as crenças religiosas contribuíam para
construir os vínculos internos de uma comunidade, para
definir quem pertencia a ela. Já na Idade Média, o cristia-
nismo havia se tornado um dos traços centrais da men-
talidade coletiva e ajudado a criar a própria ideia de
Europa. Camponeses, artesãos, comerciantes e aristocra-
cias deviam pertencer à cristandade, seguir as orienta-
ções da Igreja e participar de seus rituais. Não era pos-
sível escolher a religião que se desejava seguir e não
existia a noção de liberdade religiosa. Judeus e islâmicos
que viviam no continente europeu continuaram a sofrer
segregações ou perseguições e, muitas vezes, precisa-
vam esconder sua origem ou crença.
A Reforma Protestante provocou o surgimento de
novas religiões, mas dentro da tradição cristã. No cená-
rio do Renascimento, artistas e pesquisadores, como Leo-
nardo da Vinci e Galileu Galilei, desrespeitaram regras
da Igreja, ao desenvolverem pesquisas sobre anatomia
humana ou sobre o movimento dos corpos celestes. Eles
conheciam, no entanto, os riscos que corriam e mais de
uma vez foram obrigados a abdicar de suas teorias.
A Ilustração contestou a hegemonia do cristianismo
e rompeu o sentido coletivo da religiosidade. Os pensado-
res ilustrados distanciavam-se dos conhecimentos de base
religiosa, temiam os dogmas e as superstições que eles
incluíam e defendiam a superação dos limites que o cristia-
nismo impunha a seus seguidores. Criticavam, também, os
juramentos de fidelidade que os governantes deviam pres-
tar à Igreja e sua submissão formal ou real a ela.
Alguns nomes ligados ao Iluminismo chegaram a pre-
gar a rejeição a todas as igrejas, como Kant, que defendia
o deísmo: a possibilidade de acreditar em Deus sem seguir
qualquer tipo de instituição ou regra religiosa coletiva.
Pierre Bayle (1647-1706) publicou, em 1697, seu Dicioná-
rio histórico e crítico, no qual fazia um amplo balanço da filo-
sofia desde a Antiguidade e defendia os grupos religiosos
ou políticos que eram alvo de perseguições e preconceitos.
De formação calvinista, Bayle recusava todo tipo de
condenação prévia e irrefletida, celebrava a razão, concla-
mava as pessoas de espírito independente a não respeitar
as autoridades régias ou eclesiásticas e pregava a tolerân-
cia. Seu livro teve grande circulação na Europa ocidental e
contribuiu para afirmar um conceito central da Ilustração:
a religião era um assunto privado, pertencia ao universo
do indivíduo e não deveria ser imposta ou transformada
em motivo de perseguição.
o jantar dos filósofos, [ean Huber. Óleo sobre tela, c. 1772.
o Estado, segundo a Ilustração
Para os iluministas, o Estado não podia ser a expressão
de um direito divino ou do poder de um monarca isola-
do. O Estado devia representar a vontade coletiva. Sua
legitimidade derivava da capacidade de exigir de todos
os indivíduos os mesmos deveres e de assegurar a eles
os mesmos direitos. O comando desse Estado poderia
ser exercido por um conjunto de pessoas ou mesmo por
uma só pessoa: muitos pensadores consideravam acei-
tável o poder absoluto dos reis, desde que ele não fosse
fundado em princípios religiosos e que os monarcas se
guiassem pelo uso da razão. Em outras palavras, o regi-
me político era secundário em relação à preocupação
racionalista dos pensadores ilustrados.
Alguns teóricos conceberam formas políticas e sociais
ideais. Charles de Montesquieu (1689-1755) elaborou a
doutrina dos três poderes: executivo,legislativo e judi-
ciário. Cada um desses poderes teria funções específicas,
deveria dispor de autonomia e, ao mesmo tempo, seria
vigiado pelos outros dois. Ao legislativo, composto por
assembleias representativas, cabia a confecção das leis.
Ao executivo, a aplicação dessas leis. Ao judiciário, a ava-
liação e eventual punição àqueles que desrespeitassem as
regras. Dessa forma, segundo Montesquieu, o poder não
o Iluminismo 73
seria exercido de forma isolada e a vida e a liberdade dos
indivíduos estariam garantidas. O pensador, no entanto,
mantinha uma concepção aristocrática de governo. Para
ele, o acesso aos postos, nos três poderes, devia ser reser-
vado aos nobres e àqueles que tivessem propriedades.
Iean-Iacques Rousseau (1712-1778), leitor de Daniel
Defoe, foi mais longe e sugeriu um sistema que se apro-
ximava da democracia. Ele acreditava que a liberdade
estava na origem dos homens: estes nasciam livres, mas
eram corrompidos pela sociedade e submetidos ao jugo
alheio. Deviam, portanto, lutar pela reconquista da liber-
dade, sendo a educação um dos principais caminhos para
isso. Para Rousseau, a liberdade era o supremo bem dos
homens, superior até à razão, e renunciar a ela equivalia a
abdicar da própria humanidade.
A obra Do contrato social (1757) traz sua concepção de
soberania. Para Rousseau, as sociedades deveriam esco-
lher seus governantes que, durante um determinado
período de tempo, teriam a incumbência de representar
o povo e de garantir que a vontade coletiva se impusesse
sobre a individual. Para ele, o prevalecimento dos direi-
tos coletivos sobre os desejos de cada individuo era, inclu-
sive, o que garantiria a liberdade individual. Em nenhum
momento e sob nenhuma condição, o governo poderia se
considerar soberano. A soberania estava no povo, reunido
como um corpo político de cidadãos.
Reação e resistência
Embora a Ilustração seja geralmente associada à Fran-
ça, as novas ideias circularam por diversas partes da
Europa e atravessaram o Oceano Atlântico, chegan-
do à América. Nos reinos germânicos, marcados pelo
reformismo, a questão religiosa raramente apare-
cia nos escritos ilustrados. O filósofo e teatrólogo Got-
thold Lessing (1729-1781) defendia o livre pensamento
e denunciava o antissemitismo. O escocês David Hume
(1711-1776) contestava a metafisica e contribuía para o
desenvolvimento do empirismo. Em Portugal, Sebastião
José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal (1699-
-1782), endossou o pensamento iluminista e agiu con-
tra a Companhiade Jesus. Os principais teóricos e líderes
da independência dos Estados Unidos - Thomas Paine,
Thomas Iefferson, Benjamin Franklin, por exemplo -
eram leitores dos iluministas europeus e construíram
seus projetos políticos a partir dos princípios das Luzes.
Evidentemente, a ampla divulgação das ideias ilus-
tradas provocou reação rápida e forte dos reis absolutis-
tas e do clero. Livros foram censurados, autores foram
presos, perseguidos e, em diversos casos, tiveram de
fugir de seus países de origem e buscar abrigo em Esta-
dos mais tolerantes. Mesmo em Paris, considerada o
centro do pensamento ilustrado, muitos pensadores
Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
ou artistas eram forçados a se esconder e a expor suas
ideias em pequenos círculos literários ou salões reserva-
dos. Panfletos e pasquins contribuíam para a difusão das
novas ideias, mas raramente se conseguia distribui-los
livremente. Censurados e recolhidos, eles acabavam por
circular clandestinamente, misturados com relatos eróti-
cos e espessos livros que criticavam o absolutismo.
A trajetória de François-Marie Arouet (1694-1778),
conhecido como Voltaire, é exemplar desse embate con-
tínuo entre censura e resistência. Seus contos, peças e
textos filosóficos atraíam e escandalizavam o público.
Mais de uma vez ele foi recolhido à prisão da Bastilha
ou forçado a se exilar. Durante uma temporada de exí-
lio em Londres, conheceu a obra de Shakespeare e che-
gou a encená-Ia. Também passou a admirar a tolerân-
cia religiosa e de expressão que havia na Inglaterra.
Após a década de 1750 e, de volta à França, desenvolveu
uma espécie de cruzada anticristã: criticava duramente a
Igreja católica, que ele chamava de "A Infame".
A árvore da Enciclopédia
Denis Diderot (1713-1784) e Jean D'Alernbert (1717-
-1783) levaram ao extremo o sonho iluminista de acu-
mular conhecimentos e celebrar o triunfo da razão.
Durante quase vinte anos, organizaram e editaram 35
volumes, que reuniam mais de 70 mil artigos e quase
três mil imagens. Era a Enciclopédia ou Dicionário racio-
nal das ciências, das artes e dos ofícios. Entre os colabora-
dores estavam Montesquieu, Rousseau e Voltaire.
Diderot e D'Alembert dividiram os conhecimentos
em categorias, hierarquizando-os. Eles partiam de três
grandes eixos, intitulados "Memória", "Razão" e "Imagi-
nação". Cada um desses grupos continha divisões e sub-
divisões, compondo uma espécie de árvore do conheci-
mento. O primeiro associava-se à história; o segundo, à
filosofia; o terceiro, à poesia. Respeitavam, dessa forma,
algumas distinções propostas por Aristóteles, na Anti-
guidade clássica, e retomavam sua disposição de alcan-
çar a totalidade do conhecimento.
A Enciclopédia teve grande divulgação: calcula-se
que 4225 exemplares foram impressos na primeira edi-
ção (quase o triplo das tiragens da época, que dificilmen-
te ultrapassavam 1500 exemplares) e que, até o final do
século XVIII, outros 20 mil tenham saído das gráficas. A
obra também provocou polêmica: o "Conhecimento de
Deus", por exemplo, é subordinado à filosofia e, entre
suas subdivisões, inclui "Adivinhação" e "Magia negra".
Diderot e D'Alembert pretendiam ordenar o mundo.
É interessante notar que, independentemente das reações
que ocorreram na época (a Igreja rejeitou e baniu a obra),
os princípios da Enciclopédia persistiram e até hoje seguem
vivos. Nas escolas e nas obras didáticas, os conhecimentos
são divididos em disciplinas. Os jornais e livros separam
as informações em cadernos e as hierarquizam por meio
do uso de manchetes e tipos diferentes de letra. A própria
ideia de reunião de conhecimentos continuou viva em
outras coleções, publicadas nos séculos XIX e XX e, mais
recentemente, nas enciclopédias disponíveis na internet.
As mulheres e o Iluminismo
Muitas mulheres participavam das conversas nos cafés
e salões em que as ideias iluministas eram debatidas.
Nem todos os homens que compareciam a esses even-
tos, porém, concordavam com a presença feminina. Para
alguns, elas não alcançavam a complexidade das refle-
xões. O próprio Rousseau defendia a estrutura patriar-
cal das famílias, que ele considerava natural, e equipara-
va as mulheres às crianças, concluindo que deviam viver
sob a proteção e as ordens dos homens. Kant associava as
mulheres às atividades fúteis e prosaicas e as considerava
capazes de sentir, mais do que pensar.
Já os filósofos David Hume (1711-1776) e Jeremy Ben-
tham (1748-1832) encaravam de outra maneira a condição
da mulher. Hume afirmou que a Igreja e os homens incu-
tiam nas mulheres valores como a castidade, a abstinência
sexual e a mortificação da carne. Esses princípios busca-
vam garantir a manutenção da ordem patriarcal, mas não
eram naturais, nem contribuíam para a melhoria da socie-
dade ou para a felicidade. Para ele, a submissão da mulher
ao homem e a repressão sexual eram formas sociais e his-
tóricas de preservação do poder e patrimônio masculinos.
Bentham rejeitava a adoção de regras e padrões
morais distintos para homens e mulheres e defendia a
igualdade de direitos entre os sexos. Para ele, as mulheres
deveriam ter direito à plena participação política, exercida
tanto através do voto quanto no exercício de cargos públi-
cos e governamentais.
Os direitos da mulher
Em 1792 saiu um livro extraordinário: Uma reivindica-
ção dos direitos da mulher. Sua autora era a inglesa Mary
Wollstonecraft (1759-1797). Ela reagia aos educadores
do século XVIII, que recomendavam uma educação sim-
plificada e limitada para as mulheres. Wollstonecraft
criticava a ideia de que as mulheres devessem preparar-
-se apenas para o casamento e a vida conjugal, conside-
rava o patriarcado corruptor e defendia o amplo acesso
das mulheres ao ensino e ao mundo do trabalho. Racio-
nalista e precursora do feminismo, ela pregava a isono-
mia entre os sexos nas questões morais.
Marie Gouze, mais conhecida como Olympe de Gou-
ges (1748-1793), foi escritora, jornalista e dramaturga.
Em 1785, escreveu uma peça de teatro antiescravista
intitulada A escravidão dos negros. A obra somente foi
publicada em 1789, no início da Revolução Francesa.
Em 1791, ingressou numa associação pela luta e igual-
dade de direitos políticos e legais para as mulheres,
cujas reuniões ocorriam na casa de Sophie Condorcet,
esposa do filósofo ilustrado Nicholas Condorcet.
Decepcionada com os caminhos que a revolução
propunha para as mulheres, publicou, ainda em 1791,
a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. O
texto era uma versão feminista da Declaração dos Direi-
tos do Homem e do Cidadão.
Defendia a participação da mulher na vida política
e civil em condição de igualdade com os homens. Por
seus escritos foi condenada pelo tribunal revolucioná-
rio e guilhotinada em 3 de dezembro de 1793. Dois anos
depois de sua morte, em 1795, a Assembleia Nacio-
nal francesa promulgou um decreto, confinando as
mulheres no espaço doméstico e proibindo-as de redi-
gir manifestos, protestar e participar de clubes políti-
cos. O decreto impedia formalmente a participação das
mulheres francesas na vida pública.
O/ympe de Gouges, anônimo. Aquarela
e lápis, 28 x 21,3 em, s/d.
ADAM SMITH E O LIBERALISMO
ECONÔMICO
A política mercantilista começou a ser criticada na meta-
de do século XVII. quando William Petty (1623-1687)
afirmou que a verdadeira riqueza não era o comércio, e
sim o trabalho. Um século depois, Adam Smith (1732-
-1790) aprofundou a discussão, diferenciando as noções
de valor de uso e valor de troca. O valor de uso equiva-
leria à riqueza de uma nação, que poderia ser expres-
sa no produto per capita. O valor de troca, por sua vez,
dependeria do trabalho empregado na produção da mer-
cadoria. Uma nação enriqueceria proporcionalmente ao
o Iluminismo 75
aumento da produtividade no trabalho e o crescimento
dependeria da capacidade de estruturar adequadamente
a produção e de obter. dos trabalhadores. o máximo pos-
sível de resultados.
Justamente por isso. Smith afirmou. em seu livro mais
importante. A riqueza das nações (1776). que a lógica e a
racionalidadedeviam guiar o funcionamento do aparato
produtivo e todas as etapas precisavam ser minuciosamen-
te calculadas e executadas. Ocapitalista ideal combinaria
características de Robinson Crusoe e Gulliver: capacidade
de planejamento e cálculo. lucidez. individualismo. dispo-
sição para o trabalho. agilidade. uso contínuo da razão. crí-
tica aos gastos desnecessários. A ficção antecipara o perfil
do empreendedor com que Smith sonhava.
O Estado. por sua vez. devia assegurar ao empreen-
dedor uma total liberdade de ação. eliminando os meca-
nismos protecionistas defendidos pelos governos me r-
cantilistas. Todo tipo de restrição à livre circulação de
mercadorias precisava ser eliminado. desde as tributa-
ções sobre importação e exportação até o pacto colonial.
As bases hegemônicas da economia desde o século
XV. quando se iniciaram as Grandes Navegações. come-
çavam a ruir. No seu lugar. erigia-se uma nova lógica.
que privilegiava as forças do mercado. que os pensa-
dores liberais consideravam naturais. Elas representa-
vam a "mão invisível" que guiaria os rumos financeiros
e sustentaria a economia internacional.
Smith acompanhava a Revolução Industrial e tudo
que o mundo das fábricas implicava de aumento de pro-
dutividade. redução de preços e mudança nas relações
de trabalho. Para ele. o mundo avançava e o progresso
traduzia-se nessa nova organização da produção.
o DESPOTISMO ESCLARECIDO
Rousseau chegou a lastimar. em alguns escritos. que pen-
sadores ilustrados ficassem fascinados diante da osten-
tação e do fulgor das cortes. Ele temia que os filósofos se
corrompessem e. no lugar de lutar pela liberdade. se pres-
tassem a assessorar tiranos. A preocupação era correta.
Muitos iluministas acreditavam que um governante forte.
sem as limitações ou o controle de um Parlamento. pode-
ria realizar as reformas econômicas e educacionais de
forma ágil e rápida. Do outro lado. monarcas percebiam
que as alterações sugeridas pelos defensores das Luzes
poderiam ampliar a capacidade econômica de seus paí-
ses. reduzir as interferências do clero nos assuntos políti-
cos e as tensões e disputas entre aristocratas e burgueses.
O rei sueco Gustavo III (1771-1792) adotou medi-
das liberais na organização da economia. assegurou a
tolerância religiosa a judeus e católicos e estimulou a
produção cultural. Na Prússia. Frederico 11, o Grande
Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
(1740-1786). transformou Berlim num centro de deba-
tes culturais e acolheu intelectuais e protestantes que
eram perseguidos em seus países de origem - princi-
palmente franceses. Ele afirmava que o principal obje-
tivo do governante devia ser a garantia da liberdade e
da felicidade dos cidadãos. Frederico promoveu ampla
reforma educacional. suprimiu tributos que incidiam
sobre o trabalho nos campos. extinguindo a corveia. e
unificou o sistema jurídico.
A combinação de governos fortes com reformas
ilustradas ganhou o nome de despotismo esclarecido.
Nesses tempos de transição. a metáfora da luz ("esclare-
cido" vem de claridade). marca da razão. passava a adje-
tivar um termo. despotismo. que denunciava a ausência
de liberdade política.
Frederico 11 da Prússia e Voltaire
Frederico II chegou a receber Voltaire em sua corte. Os dois
já se correspondiam há alguns anos e a transferência do
francês para a Prússia. em 1750. deveria reforçar a imagem
do prussiano como um rei preocupado com a filosofia e as
artes. Durante o período em que viveu na futura Alemanha.
Voltaire ensinou francês para seu anfitrião e frequentou
os eventos culturais realizados no Palácio de Sanssouci,
em Potsdam. Em 1753. no entanto. Voltaire envolveu-se
numa polêmica com Malpertuis. presidente da Academia
de 8erlim. desferiu um violento ataque satírico contra ele
e foi preso por algumas semanas. Libertado. tentou reto r-
nar à França. mas foi impedido de entrar no país. Deslocou-
se então para Genebra. onde fixou residência. Seis anos
depois. Voltaire publicou Cândido. que não menciona direta-
mente Frederico Il, mas satiriza duramente os governantes.
Frederico II, o Grande, e Voltaire em Sanssouci,
Georg Schõbel. Litografia colorida, 1900.
História Literatura Cândido, ou a ingenuidade
Em 1759, Voltaire publicou Cândido, lançado simulta-
neamente em Paris, Londres, Amsterdã e Genebra e, no
mesmo ano, traduzido para o inglês e o italiano. Em Paris e
Genebra, a obra foi proibida e acusada de blasfêmia, trai-
ção política e "hostilidade a comportamentos ingênuos".
Numa época em que as histórias de aventuras em ter-
ras desconhecidas eram muito populares, Cândido as paro-
diava e as combinava com a picaresca e o romance de for-
mação. O livro mostrava a trajetória do personagem-título,
ao longo de suas viagens por lugares distantes e exóticos,
como Europa ocidental. América e Turquia, mexendo com
os sonhos e as utopias dos europeus que ainda viviam sob
o impacto das conquistas da América e de parte da África
e da Ásia. A disposição iluminista manifestava-se também
na exposição de culturas e pessoas diferentes, no reconhe-
cimento da diversidade e da alteridade.
O principal compromisso do livro, no entanto, era
com a celebração da razão e com a crítica à inconsciên-
cia e à percepção ingênua e simplista do mundo. O mes-
tre de Cândido é Pangloss, que o orienta a partir das ideias
filosóficas e religiosas de Leibniz. Inicialmente ingênuo e
crédulo, Cândido transforma-se no decorrer da aventura,
e os leitores percebem o efeito cômico gerado pelo con-
traste entre as convicções otimistas de Cândido e as duras
experiências que enfrenta, as tragédias humanas que tes-
temunha. Ao acompanhar o itinerário do personagem em
direção à desilusão, ao ceticismo, ao total individualismo
e à não-reflexão, esses leitores reconhecem a armadilha da
inocência e o perigo das crenças fixas e rígidas. Por meio
da sátira, Voltaire expunha, assim, o ridículo dos teólogos,
governantes, militares e até dos filósofos, com sua preten-
são de explicar e salvar o mundo. Para o autor, os ingênuos
eram incapazes de compreender o horror e as desgraças.
Voltaire usou um procedimento comum na época:
destacar e deslocar um personagem para concentrar,
numa figura pequena e simbólica, grandes questões do
seu tempo. Na obra, o narrador se opõe ao protagonista:
enquanto Cândido tem certezas, o narrador tem dúvidas;
se Cândido é ingênuo demais e age sem pensar, o narrador
reflete e é irônico. Assim, o narrador permitie diferenciar
o plano da trama narrada (concentrada no personagem)
do plano do discurso do narrador, que é crítico e racional.
A fantasia de um combina-se com a razão do outro. A ágil
aventura do enredo presta-se ao desenvolvimento de um
conjunto renovador de ideias e a um diagnóstico do mundo.
Robinson Cru soe e Gulliver
Se o recolhimento de Cândido ao individualismo exacer-
bado é uma caricatura, outros personagens populares no
princípio do século XVIII representavam um individualis-
mo heroico.
Robinson Crusoe, protagonista do mais conhecido
romance do inglês Daniel Defoe (1660-1731), publicado
em 1719, consegue agir sozinho e com extrema lucidez,
quando seu navio naufraga e ele acaba numa ilha deser-
ta. Robinson rapidamente identifica suas necessidades e
planeja suas ações. Constrói abrigo, para obter proteção.
Aprende a caçar, a pescar, a colher e a plantar, para adqui-
rir alimentos. Desenvolve diversos apetrechos que facili-
tam sua vida no isolamento. Crusoe sente prazer no que
faz e enxerga os progressos que obtém como contribuição
divina. O livro conta que o personagem é anglicano e sua
ética do trabalho alude a pressupostos do protestantismo.
Em suma, Robinson é um homem comum que, numa
situação de emergência, consegue controlar a natureza e
extrair dela os recursos econômicos de que precisa. Seu
trabalho e sua racionalidade, segundo os iluministas, mos-
travam uma qualidade moral. Também seu empenho como
educador do nativo que encontrou após muitos anos de iso-
lamento na ilha parte do princípio ilustrado de que a educa-
ção transforma. Por meio da instrução recebida de um euro-
peue baseada em valores europeus, Sexta-Feira - nome
que Crusoe deu ao indígena - passa do estado de "selva-
geria" em que se encontrava à condição de "civilizado". A
Europa iluminista reconhecia, assim, a diversidade, mas
não abdicava de seu papel de liderança e comando.
As viagens de Gulliver, publicado em 1726, traz elemen-
tos semelhantes aos do livro de Defoe. Escrito pelo irlan-
dês Jonathan Swift (1667-1745), o livro conta a aventura
de um náufrago que desemboca numa ilha, Lilliput. A ilha
não é deserta: ela é ocupada por habitantes minúsculos, de
cerca de quinze centímetros. Eles arrastam Gulliver para
terra firme e pretendem usá-lo como arma na ininterrup-
ta guerra que mantêm com um povo vizinho. Gulliver con-
segue fugir, viaja por outras terras e conhece outros povos:
um povo de gigantes, uma ilha flutuante, uma raça de cava-
los inteligentes. A cada passo das aventuras de Gulliver, os
leitores europeus do livro reconheciam traços de seu passa-
do e de seu presente. Por trás da irracionalidade e da futili-
dade da guerra dos liliputianos, havia a menção aos confli-
tos por que a Europa passava, especialmente os que envol-
viam França e Inglaterra. A terra dos gigantes ridiculariza a
pretensa grandeza que os ingleses atribuíam a si mesmos.
O episódio da ilha flutuante é uma crítica violenta ao domí-
nio inglês sobre a Irlanda e ao pensamento científico des-
vinculado de preocupações e fins sociais. Os cavalos repre-
sentam a valorização iluminista da razão.
Em Voltaire, Defoe ou Swift, a ficção mistura-se com
o pensamento filosófico. Num mundo em turbulência,
como a Europa do século XVIII, escrever e ler eram gestos
políticos fundamentais.
O Iluminismo 77
AS REFORMAS POMBALINAS
Com amplos poderes, o Marquês de Pombal empreendeu
em Protugal uma série de reformas, combinando os princí-
pios mercantilistas com orientações de caráter iluminista.
Pombal procurou estimular e fortalecer as ativida-
des econômicas de setores da burguesia manufatureira
e mercantil portuguesa e limitar ao máximo o volume de
importações da Inglaterra. Novas companhias de comér-
cio foram criadas na América: Grão-Pará e Maranhão, em
1755, e Pernambuco e Paraíba, em 1759. No Norte, a cultu-
ra do algodão foi estimulada para atender às manufaturas
têxteis inglesas que começavam a se desenvolver.
No Brasil, os mineradores da capitania de Minas
tinham de pagar uma cota mínima de 100 arrobas de
ouro anualmente para a Coroa portuguesa. Se a quinta
parte da produção não atingisse tal volume, os demais
moradores deveriam arcar com a derrama, ou seja, uma
outra taxação que deveria completar as 100 arrobas
fixadas pelo poder metropolitano e que seria cobrada de
acordo com as posses de cada habitante.
Impopulares na Colônia, as novas orientações polí-
tico-econômicas provocaram reações também na Metró-
pole. Tratava-se de uma luta política que se desenrola-
va no interior do absolutismo português. Para enfrentar
a ideologia aristocrática, apegada a seus privilégios e
parasitária em relação às atividades mercantis e indus-
triais, Pombal realizou reformas no ensino e, principal-
mente, combateu a influência dos jesuítas na sociedade
portuguesa. Novos letrados, denominados pejorativa-
mente pelos grupos conservadores de "estrangeirados",
porque estariam influenciados pelas ideias francesas,
cercaram a nova administração. Eram, sem dúvida,
indícios de novos tempos em Portugal.
............................................................................................................................................................................................................................................................................................................. ········1
ANÁLISE DE IMAGEM PINTURA
o marquês de Pombal
Material: Óleo sobre tela
Datação: 1766
Autoria: l.ouis-Michel van Loo
Atualmente exposto no Museu da Cidade, Palácio
Pimenta, Lisboa (Portugal).
Primeiro olhar: Em 1755. ocorreu um terremoto em Lisboa que destruiu grande parte da cidade.
O quadro retrata o marquês de Pombal como o responsável pela reconstrução da cidade. A ima-
gem reforça Portugal como uma monarquia ilustrada. administrada com planejamento científico.
Estátua do rei d. José I.
O marquês.
O marquês aponta para o
fundo. apresentando uma
Lisboa completamente
reconstruída.
Em primeiro plano. os projetos da reconstrução.
78 Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
divisão política da América
Portuguesa
sde a União Ibérica, a linha de Tordesilhas já não cor-
respondia aos domínios luso-espanhóis e, com a mine-
ação brasileira, diversos núcleos populacionais situa-
rarn-se para além de sua demarcação. Na prática, as
issões religiosas serviam como referências fronteiri-
as para as autoridades coloniais de ambas as Coroas.
Desde o início do século XVIII, representantes das
uas monarquias negociavam a delimitação das frontei-
as coloniais, levando em consideração a posse efetiva
os territórios e os limites naturais dessas áreas.
Em disputa estavam as regiões amazônica e platina
e a presença das missões. Internamente, a administra-
ão pombalina também alterou o mapa do Brasil. Extin-
guiu as capitanias hereditárias em 1759, transferiu a
capital para o Rio de Janeiro em 1763 e elevou toda a
área colonial à categoria de Vice-Reino em 1774.
A divisão da América criava fronteiras políticas des-
considerando as áreas ocupadas pelos diversos povos
indígenas. Desde o século XV, a conquista colonial euro-
peia promoveu o extermínio, a escravização e a fuga de
povos nativos para o coração do continente americano.
Dos cerca de 5 milhões de nativos, que viviam no terri-
tório que corresponde hoje ao Brasil, restaram menos de
300 mil, e estes ainda lutam pela demarcação de suas
terras. Em nome da civilização e do progresso, perspec-
tivas tão características do pensamento ocidental a par-
tir do século XVIII, promoveu-se uma brutal destruição
dos povos indígenas. Até os dias atuais.
OS TRATADOS DE LIMITES
AMÉRICA
ESPANHOLA J
P:,,•,,
•
Casti 51
Gran
_ _ Mo tevidéu
Buenos Aires
Principais conflitos (séc. XVIII)
..4 Rebelião de Mandu LadinoJ\f 1723·1728
~ Guerra dos Manau
J\( 1723-1728
Ataques dos Guaikuru
1725-1744
~ Guerrilha fluvial dos Mura
J\f 1701-1789
...4 Guerra Guaranhica
J\f 1753-1756
- Tratado de Utrecht (1713)
-- Tratado de Madri (1750)
---- Tratado de Santo IIdefonso (1777)
-- Tratado de Badajós (1801)
Fonte: Elaborado com base em CAMPOS. F. de; DOLHNIKOFF. M. Atlas História do Brasil. 3. ed. São Paulo: Scipione. 1994;
RESENDE. M. E. Lage; MORAES, A. M. Atlas Histórico do Brasil. Belo Horizonte: Vigília, 1987.
São Lufs- -Fortalezar -Natal
-Recife
<I)
CQ
§
<I)
<Il
"E -.!2 AMÉRICA
São Salvador
~ PORTUGUESA
o OCE.ANO
c: ATLANTlCO
~
'-=:
~ ~
ão Paulo- -Rio de Janeiro
ESCALA
O 405 810 km
Troneo-linguístk:o
DAnJ8k UJê Tucano
Ceribe Pano CTupi-Guarani
Chitx:hano r:JQuechua
DOutros grupos
~língu8snão
classificadas
O Iluminismo 79
DIVISÃO POLíTICA DO VICE-REINO DO BRASil (1774-1815)
OCEANO
PAcíFICO
OCEANO
ATLÂNTICO
ESCALA
0 46c5==~930 km ~ , ~ Capitanias
!LL subordinadas
Fonte: Elaborado com base em CAMPOS, F. de; DOLHNIKOFF,M.Atlas Histôrio do Brasil. São Paulo: Scipione,
1994; JOFFILY,B. (Org.), Isto É Brasil, 500 anos. Atlas histórico do Brasil. São Paulo: Ed. Três, 1998.
,
TERRAS INDíGENAS NO BRASil
OCEANO
PAcíFICO
N
O*L
ESCALA
O 405 810 km
• Terras indígenas
• Áreas não representáveis nesta escala
~ Principais conflitos nos últimos anos
(Problemas com garimpeiros, fazendeiros,
políticos locais. madeireiros, posseiros e
sem terra)
RAPOSA/SERRA DO SOL - Terras indígenas
A superfície total das terras indígenas hoje equivale
a 12.7% da área do Brasil
Fonte: Elaborado com base em dados do Instituto Socioambiental, 2009.
80 Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
A EXTINÇÃO DA COMPANHIA
DE JESUS
Pombal voltou-se contra a Companhia de Jesus, cuja
influência na sociedade portuguesa era imensa na
segunda metade do século XVIII. Na América, os jesuí-
as controlavam vastas áreas e as atividadeseconômicas
de milhares de índios em suas missões religiosas. Se, de
um lado, eles eram importantes para impedir o massa-
cre dos ameríndios, de outro, impediam sua plena inte-
gração na economia colonial.
Além disso, após o Tratado de Madri, em 1750, a
região dos Sete Povos das Missões passara a integrar
os domínios lusitanos. Nos anos seguintes, tropas por-
tuguesas e espanholas enfrentaram os indígenas, que
foram auxiliados por jesuítas descontentes com os ter-
mos do tratado. O conflito, conhecido como Guerras
Guaraníticas, terminou em 1757, com a destruição das
missões da região. Os jesuítas foram, então, acusados
de terem interesses particulares na América, contrários
aos da Coroa portuguesa. Ainda em 1757, Pombal decre-
ou o fim da escravidão dos indígenas no Maranhão e no
Grão-Pará, estendendo a medida para o Estado do Bra-
sil no ano seguinte. A administração das aldeias passou
às autoridades civis. Em 1759, por alvará régio, a Com-
panhia de Jesus foi extinta em Portugal, teve seus bens
confiscados e seus membros expulsos de todos os domí-
nios lusitanos. O Império português deixou, assim, ape-
nas de ser justificado por suas atribuições divinas. Não
era mais o Império de Deus pelos portugueses.
Apesar de todas essas iniciativas, a modernização
pombalina não foi capaz de alterar profundamente a
sorte de seu Império. Além das dificuldades internas,
o sistema econômico mundial apresentava mudanças
& Verificação de leitura 2
1 Qual foi a importância de Bacon, Descartes, Locke e
Newton para o Iluminismo?
e DL/SP/CA/H4/Hll/H14/H24/H27
2 Caracterize a proposta de tripartição do poder for-
mulada por Montesquieu. DL/SP/Hll/H13
3 Por que é possível afirmar que os personagens
Cândido, Robinson Crusoe e Gulliver representam
alguns dos debates centrais do Iluminismo?
e DL/CF/SP/CA/Hl/HS/Hll/H14/H23
4 Identifique os objetivos da Enciclopédia e associe-
-os ao pensamento iluminista. t> DL/SP/CA/Hl0/H12
5 Qual era, para Adam Smith. a importância do traba-
lho e do mercado? e DL/SP/CA/H8/Hll/H18
consideráveis na segunda metade do século XVIII. A
longa transição do feudalismo para o capitalismo esta-
va se encerrando em algumas partes da Europa, sobre-
tudo na Inglaterra, onde a sociedade industrial já come-
çava a despontar. Por isso, mesmo tentando diminuir a
participação dos britânicos no Império luso, as ações de
Pombal não tinham como deter o avanço do Estado que
possuía a economia mais dinâmica da época, liderada
por um poderoso setor têxtil, capaz de lhe assegurar a
hegemonia internacional por mais de cem anos.
Em Portugal, o poder pombalino não resistiu à
morte do rei d. José L em 1777. Com o reinado de d.
Maria I, conhecida anos mais tarde como Maria, a
Louca, setores conservadores promoveram a viradeira,
movimento político que destituiu o primeiro-ministro
e alterou várias de suas medidas político-econômicas.
Inácio de Loyola recebe do Papa Paulo III a aprovação dos
estatutos da Companhia de Jesus, [ohann Christoph Handke.
Afresco, 1743. (detalhe)
6 O monarca d. José I, que teve Pombal como seu
ministro. pode ser enquadrado como um déspota
esclarecido? Por quê? e DL/SP/CA/H8
7 Explique três medidas econômicas adota das por
Pombal para controlar a economia colonial.
e DL/SP/H7/H8/H12
8 Os ataques de Pombal aos jesuítas eram motivados
por uma certa lógica política. Explique tal afirmação.
e DL/SP/H7/H8/H9/Hll
9 Entre os vários impostos instituídos por Pombal,
estava a derrama. Como funcionava esse imposto?
e DL/SP/H7/H8/H12
O Iluminismo 81
Um Outro Olhar 8iala
QUE MEDICINA É ESTA?
"Pode-se dizer - como dizem alguns. em uma perspectiva
que pensam ser política. mas que não é por não ser históri-
ca - que a medicina moderna é individual porque penetrou
no interior das relações de mercado? Que a medicina moder-
na. na medida em que é ligada a uma economia capitalista. é
uma medicina individual. individualista. conhecendo unica-
mente a relação de mercado do médico com o doente. igno-
rando a dimensão global. coletiva. da sociedade? [...]
Minha hipótese é que com o capitalismo não se deu
a passagem de uma medicina coletiva para uma medici-
na privada. mas justamente o contrário: que o capitalis-
mo. desenvolvendo-se em fins dos século XVIII e início do
século XIX. socializou um primeiro objeto que foi o corpo
enquanto força de produção. força de trabalho. O controle
da sociedade sobre os indivíduos não se opera simplesmen-
te pela ideologia. mas começa no corpo. com o corpo. Foi
no biológico. no sornático, no corporal que. antes de tudo.
investiu a sociedade capitalista. O corpo é uma realidade
biopolítica. A medicina é uma estratégia biopolítica. [...]
[No século XVIII] Tanto na Prússia quanto nos outros
Estados alemães. ao nível do Ministério ou da administra-
ção central. um departamento especializado é encarregado
de acumular as informações que os médicos transmitem. ver
como é realizado o esquadrinhamento médico da população.
verificar que tratamentos são dispensados. como se reage ao
~ conforme tabelas das páginas 8 e 9.
1 "[...]um departamento especializado é encarregado de
acumular as informações que os médicos transmitem.
ver como é realizado o esquadrinhamento médico da
população. verificar que tratamentos são dispensados.
como se reage ao aparecimento de uma doença epidê-
mica. etc., e. finalmente. emitir ordens em função des-
sas informações centralizadas". Como é possível rela-
cionar o funcionamento da medicina social nos reinos
germânicos com a lógica do Iluminismo?
e DL/CF/SP/CA/H8/Hll/H14/H17 /H19/H22
2 "Na medida em que a cidade se torna um importante
lugar de mercado que unifica as relações comerciais.
não simplesmente no nível de uma região. mas no nível
de uma nação e mesmo internacional. a multiplicidade
de jurisdição e de poder torna-se intolerável. A indústria
nascente. o fato de que a cidade não é somente um lugar
de mercado. mas um lugar de produção. faz com que se
recorra a mecanismos de regulação homogêneos e coe-
rentes". Relacione a medicina social francesa com as
preocupações do liberalismo.
e DL/CF/SP/CA/H8/Hll/H14/H17/H19/H22
3 "O controle da sociedade sobre os indivíduos não se
opera simplesmente pela ideologia. mas começa no
corpo. com o corpo. Foi no biológico. no somôtico, no
corporal que. antes de tudo. investiu a sociedade copi-
82 Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
•la
aparecimento de uma doença epidêmica etc., e. finalmente.
emitir ordens em função dessas informações centralizadas.
Subordinação. portanto. da prática médica a um poder admi-
nistrativo superior. [...]
A segunda direção no desenvolvimento de uma medi-
cina social é representada pelo exemplo da França. onde.
em fins do século XVIII. aparece uma medicina social que
não parece ter por suporte a estrutura do Estado. como na
Alemanha. mas um fenômeno inteiramente diferente: a
urbanização. É com o desenvolvimento das estruturas urba-
nas que se desenvolve. na França. a medicina social. [...].
E isso por várias razões. Em primeiro lugar. certamente.
por razões econômicas. Na medida em que a cidade se torna
um importante lugar de mercado que unifica as relações
comerciais. não simplesmente no nível de uma região. mas
no nível de uma nação e mesmo internacional. a multiplicida-
de de jurisdição e de poder torna-se intolerável. A indústria
nascente. o fato de que a cidade não é somente um lugar de
mercado. mas um lugar de produção. faz com que se recorra
a mecanismos de regulação homogêneos e coerentes."
Michel Foucault. Microfísica do poder.
Rio de janeiro: Graal. 1988. p. 79·80. 84-86.
Michel Foucault (1926-1984), filósofo, historiador. crítico
literário. desenvolveu trabalhos sobre o surgimento dos
hospitais. a história da loucura e da sexualidade.
talista. O corpo é uma realidade biopo/ítico. A medici-
na é uma estratégia biopolitica". A afirmação do autor.
relativa ao século XVIII. pode ser aplicada aos dias de
hoje? Justifique. ~ DL/CF/SP/EP/H3/H8/Hl0/Hll/H23/H24
4 "Febre. hemoptise. dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse.tosse. tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três ... trinta e três ... trinta e três ...
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e
o pulmão direito infiltrado.
- Então. doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A único coisa a fazer é tocar um tanga argentino."
Manuel Bandeira. "Pneumotórax". In: Estrela da vida inteiro.
Poesias reunidas. Rio de janeiro: josé Olympio, 1982. p. 97.
Identifique e classifique. com seu(sua) professor(a)
de Biologia. a doença citada no poema e discuta com
ele o irônico diálogo final entre médico e paciente.
e DL/SP/EP/H3
Explique. com a ajuda do(a) professor(a) de Biologia.
a diferenciação. proposta pelo autor. entre "medicina
individual" e "medicina social". ~ DL/CF/SP/CA/H14
....................................................................................... \
o texto a seguir, o autor estabelece uma articulação
:: re o sentimento decorrente da luta dos pernambucanos
: ntra os holandeses e a posição de um dos grupos envol-
vi dos na Guerra dos Mascates, ocorrida em Pernambuco
entre 1711 e 1712. Leia-o com atenção e depois responda
às questões propostas.
PERNAMBUCO E A REVOl A DOS MASCATES]
uitos anos há - dizia um 'Manifesto a favor dos
ascates', enviado à Coroa por ocasião da crise de 1710
- [ ...] que anda introduzida em Pernambuco uma propo-
s ção temerária mas abusória: que os naturais daquela
conquista são vassalos desta Coroa mais políticos do que
'1aturais, por haverem restaurado seus pais e avós aque-
e Estado da tirânica potência de Holanda no tempo da
sempre felicíssima aclamação do Sereníssimo Senhor Rei
d. João IV'. [ ... ] [Existia] a vigência no Nordeste da ideia
de um pacto político entre os seus moradores e a Coroa
portuguesa, a cuja sujeição eles haviam retornado volun-
'ariamente [ ... ]. Mesmo sem ter explicitada durante a
Guerra de Restauração (1645-1654), a ideia de pacto esta-
va contida em germe na afirmação de que a restauração
de Pernambuco fora o resultado exclusivo do esforço dos
seus habitantes [...]."
MELLO,E. C. de. O/indo restaurada.
Rio de Janeiro: Topbooks, 1998. p. 11, 73·82.
Evaldo Cabral de Mello (1936·) foi embaixador do Brasil e é
um dos mais renomados historiadores brasileiros. Especialista
em história do Nordeste e de Pernambuco, é autor de uma
série de importantes estudos como O Norte agrário e o Império
(1871-1889), de 1984, e A Fronda dos Mazombos, de 1995.
Faça
em seu t> conforme tabelas das páginas 8 e 9.cadl'rro _
Aponte os grupos sociais envolvidos nesse conflito do
século XVIII. e DL/SP
2 Identifique as disputas político-econômicas envolvi-
das entre esses grupos. t> DL/SP/H7/Hll
3 O manifesto classifica como abusiva uma proposição
corrente em Pernambuco àquela época, a respeito da
......
expulsão dos holandeses. Que proposição é essa? Ela
é realmente abusiva com relação à história das lutas
contra os holandeses? Por quê? t> DL/CF/SP/H7/Hll/H13
4 A Guerra dos Mascates evidencia as tensões e os meca-
nismos do Antigo Sistema Colonial? Justifique.
e DL/SP/H7/H9/Hll
alguns efeitos na mesma Capitania, como são os panos
de algodão e açúcar e vão vender as minas, labutando
nesta forma todos naquilo a que se aplicam."
ABREU, C. de. "Divertimento admirável". Apud ZEMELLA,M. P.
O abastecimento da capitania das Minas Gerais
no século XVIII. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1990. p. 6l.
a) Qual é a principal atividade dos paulistas descrita
nesse documento? e DL/CF/SP/Hl/Hll
b) Pode-se afirmar que a integração de várias áreas
coloniais deveu-se à iniciativa dos paulistas e
tinha como principal motivação a busca de gló-
rias e uma disposição heroica desses homens?
Justifique sua resposta. t> DL/CF/SP/CA/Hl/Hll
Engenho e Arte 83
Mãos à Obra .-
.....
A ação dos paulistas na região mineradora foi extre-
mamente importante. Um documento de 1783 retrata
suas atividades nessa região:
''[...] vivem de várias negociações: uns se limitam a
negócios mercantis, indo à cidade do Ria de janeiro
buscar as fazendas para nela venderem; outros da
extravagância de seus ofícios; outros vão a Viamão bus-
car tropas de animais cavalares ou vacuns para vende-
rem não só aos moradores da mesma cidade, como tam-
bém aos andantes de Minas Gerais e exercitam o mesmo
negócio vindo comprar os animais em São Paulo para
ir vender a Minas Gerais e outros, finalmente, compram
2 Quando se cultua a atuação dos bandeirantes, há
uma série de preconceitos culturais e raciais que são
difundidos e acabam formando muitos dos valores de
nossa sociedade.
a) A partir da imagem abaixo, descreva as caracte-
rísticas raciais, culturais e comporta mentais que
o pintor exaltou em Domingos Jorge Velho, fazen-
do um paralelo com os elementos do quadro que
justifiquem sua observação. ~ DL/SP/Hl
Domingos Jorge Velho, Benedito Calixto.
Óleo sobre tela, 1923.
elementos do quadro
elementos do quadro
características raciais
características
cu ltu rais
características
comporta mentais elementos do quadro
b) Compare agora o tipo racial apresentado na ima-
gem com o que dominava entre os pau listas do
período colonial. Que tipo de preconceito acaba
sendo difundido na representação de Calixto?
e DL/CF/SP/CA/Hl/Hll
c) A imagem heroica com que os pau listas são repre-
sentados em nossos monumentos e pinturas é
uma forma de minimizar suas ações escravistas?
justifique sua resposta. ~ DL/CF/SP/CA/Hl/Hll/H21
3 "Este homem é um dos maio-
res selvagens com que tenho
topado: quando se avis-
tou comigo trouxe consigo
língua, porque nem falar
sabe, nem se diferencia do
mais bárbaro tapuia mais
Língua: intérprete que
auxiliava na comunica-
ção entre mdígenas e
portugueses.
Granjeio: trabalho rea-
lizado com o objetivo
de receber vantagens e
comodidades.
84 Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro
que em dizer que é cristão, e não obstante o haver-
-se casado de pouco, lhe assistem sete índias concu-
binas, e daqui se pode inferir como procede no mais;
tendo sido a sua vida, desde que teve uso da razão -
se é que a teve, porque, se assim foi, de sorte a per-
deu que entendo a não achará com facilidade -, até o
presente, andar metido pelos matos à caça de índios,
e de índias, estas para o exercício das suas torpeças,
e aqueles para os granjeias dos seus interesses."
Apud CARNEIRO,E. O qui/ombo dos Po/mores.
São Paulo: Brasiliense. 1947. p. 134-135.
Este trecho de uma carta do bispo de Pernambuco ao
rei descreve, em 1697, Domingos Jorge Velho, mestre
de campo das operações contra Palmares.
a) Que aspectos do paulista são criticados pelo
bispo? e DL/SP/Hl/Hll
b) Monte um quadro, como o do modelo abaixo, e
faça uma lista desses aspectos, ordenando-os em
colunas. e DL/SP/Hl/Hll
I morais culturais econômicos/sociais I
c) É possível perceber a posição do bispo dian-
te da questão da escravidão nesse documento?
justifique sua resposta. ~ DL/SP/Hl/Hll
d) Que tipo de tensão social existia entre parte do
clero colonial e os pau listas? ~ DL/SP/H9/Hll
e) Em que aspectos a visão do bispo sobre Domingos
Jorge Velho diferencia-se da visão do pintor
Benedito Calixto? e DL/SP/Hl/H4/H14
f) A exaltação da memória dos bandeirantes tem
implicações no comportamento social e cultu-
ral da sociedade brasileira nos dias de hoje?
justifique. e DL/CF/SP!CA/H2/H3/Hll
4 (Unicamp-SP) Em 1770, um
advogado chamado Séguier
comentava, a propósito de
um movimento do século
XVIII: "Os filósofos se eri-
giram como preceptores do
gênero humano. Liberdade
de pensar, eis seu brado, e esse brado se propagou
de uma extremidade à outra do mundo. Com uma das
mãos tentaram abalar o trono; com a outra, quiseram
derrubar os altares."
Erigir: instituir, con-
siderar.
Preceptores: mestres.
mentores.
a) Identifique o movimento ao qual Séguier se refere.
e DL/CF/Hl/H2/Hll
b) Que características desse movimento podem ser
retiradas do texto acima? e DL/CF/Hl/H2/Hll/H13
5 (UERJ) "[...] Minuciosas até o exagero são as descrições
das operações manuais de Robinson: como ele escava a
casa na rocha, cerca-a com uma paliçada, constrói um
barco [...] aprendea modelar e a cozer vasos e tijolos.
(
Por esse empenho e prazer em descrever as técnicos
de Robinson, Deioe chegou até nós como o poeta da
paciente luta do homem com a matéria, da humildade
e grandeza do fazer, da alegria de ver nascer as coisas
de nossas mãos. [...] A conduta de Deioe é, em Crusoé
[...I. bastante similar à do homem de negócios respei-
tador das normas que na hora do culto vai à igreja e
bate no peito, e logo se apressa em sair para não per-
der tempo no trabalho."
CALVINO.í.Por que ler os clássicos.
São Paulo: Companhia das Letras. 1998.
Daniel Defoe, no romance Robinson Crusoé, deixa
transparecer a influência que as ideias liberais pas-
saram a exercer sobre o comportamento de parcela
da sociedade europeia ainda no século XVIII.
Com base no fragmento citado. identifique um
ideal liberal expresso nas ações do personagem
Robinson Crusoé. Em seguida, explicite como esse
ideal se opunha à organização da sociedade do
Antigo Regime. e DL/SP/CA/Hl/Hll/H13
6 (Fuvest-SP) Examinando as mudanças que marca-
ram a passagem do século XVII para o XVIII, o histo-
riador francês Paul Hazard disse que os novos filó-
sofos tentaram substituir uma civilização baseada
na "ideia de dever" por uma civilização baseada na
"ideia de direito".
Com base nas afirmações acima. e utilizando seus
conhecimentos de História. explique o que o autor
quer dizer com
a) "ideia de dever"? e DL/CF/SP/CA/Hl/H2/Hll
b) civilização baseada na "ideia de direito"?
e DL/CF/SP/CA/Hl/H2/Hll
7 A arte de escrever cartas era uma das imposições
da vida da corte na Idade Moderna. Os letrados e
funcionários dos diversos impérios coloniais tinham
obrigação de prestar contas de sua administração e
informar os principais acontecimentos às autorida-
des superiores e, às vezes, aos monarcas. Mas, pelos
oceanos, em viagens que poderiam demorar meses,
também circulavam cartas entre amigos e até mesmo
cartas de amor.
Imagine que você é um jesuíta sobrevivente dos Sete
Povos das Missões e está absolutamente indignado
com as medidas tomadas pela Coroa portuguesa
(Tratado de Madri, ofensivas de tropas luso-espa-
nholas contra os indígenas, administração pom-
balina, expulsão dos jesuítas). Você foi expulso do
Brasil e escreve, de algum lugar não pertencente
ao Império português. a um outro padre em Roma.
Nessa carta você deve:
a) designar o lugar de onde você está escrevendo e
colocar a data;
b) citar o destinatário da carta e discriminar suas
qualidades pessoais e espirituais;
c) fazer todas as críticas que um jesuíta deveria ter
contra Pombal, contando tudo o que presenciou
e ainda aquilo que lhe chegou por testemunhos
indiretos;
d) explicar por que Portugal foi considerado o reino
escolhido por Deus para ser seu império na Terra
e por que, com as mudanças implementadas por
Pombal no século XVIII, o país deixou de ser esse
reino escolhido;
e) responder às críticas que se faziam aos jesuítas e
salientar o papel destes no estabelecimento desse
império cristão;
f) referir-se aos castigos que Deus poderia aplicar
aos portugueses como já o fizera com os judeus.
e DL/CF/SP/H7/H8/Hll/H21
8 (Unicamp-SP) "Todo o poder vem de Deus. Os qover-
nantes, pois, agem como ministros de Deus e seus
representantes na terra. Consequentemente, o trono
real não é o trono de um homem, mas o trono do pró-
prio Deus."
BOSSUET. }acques. Político tirada
das palavras da Sagrada Escritura. 1709.
"[...] que seja prefixada à Constituição uma declaração
de que todo o poder é originalmente concedido ao povo
e, consequentemente, emanou do povo."
Emenda Constitucional proposta por Madison
em 8 de junho de 1789.
a) Explique a concepção de Estado em cada um dos
textos. e DL/SP/H1/H2/H4/H9
b) Qual a relação entre indivíduo e Estado em cada
um dos textos? e DL/SP/Hl/H2/H4/H9
9 (Unesp) Ao final da Época Moderna, a civilização
europeia expandia e se transformava. A ação coleti-
va da salvação começou a ser suplantada pela busca
da felicidade individual. Nova concepção acerca do
mundo repercutia em vários setores do conhecimen-
to. A partir deste contexto, demonstre que a burguesia
já podia encontrar a expressão de suas necessidades
e aspirações nas páginas do livro Investigações sobre
a natureza e as causas da riqueza das nações (1776),
escrito pelo escocês Adam Smith.
e DL/CF/SP/CA/Hl/H13
85Engenho e Arte
10 (Fuvest-SP) "Quando na mesma pessoa. ou no mesmo
corpo de magistrados. o poder legislativo se junta ao
executivo. desaparece a liberdade [00.] Não há liberda-
de se o poder judiciário não está separado do ieqislati-
vo e do executivo [...}
Se o judiciário se unisse com o executivo. o juiz pode-
ria ter a força de um opressor. E tudo estaria perdido
se a mesma pessoa ou o mesmo corpo de nobres. de
notáveis. ou de populares. exercesse os três poderes:
.......................................................
o de fazer as leis. o de ordenar a execução das reso-
luções públicas e o de julgar os crimes e os conflitos
dos cidadãos."
MONTESQUIEU. Do espírito das leis. 1748.
a) Qual o tema do texto? @ DL/SP/Hl
b) Explique o contexto histórico em que foi produzido.
e DL/CF/SP/Hl/H9
• Releia os itens As mulheres e o Iluminismo (p, 75)
e Os direitos da mulher (p. 75). Identifique como
os iluministas encaravam o papel e a posição das
mulheres na sociedade e na política.
• Releia o item O despotismo esclarecido (p, 76) e
defina o conceito de despotismo esclarecido.
Câmera
Faça anotações durante a exibição do filme. concentran-
do-se nos seguintes temas e questões:
· Os três principais personagens (Cristiano VII.
Carolina Matilde e johann Struensee) passam por
transformações ao longo do filme? Compare a
maneira como eles são representados no início e
identifique as mutações que sofrem.
· Que princípios do Iluminismo são mencionados no
filme? Compare as ideias de johann Struensee com
as dos pensadores que estudou.
Ação
1 Analise a relação entre o monarca e o médico. Qual
deles demonstra maior força e poder? justifique.
2 Existem resistências às reformas propostas pelo
médico? Que setores da sociedade dinamarquesa as
apoiam e quais as rejeitam?
3 De que maneira a educação recebida pela rainha
Carolina Matilde contribuiu para que ela valorizasse
os princípios do iluminismo?
e DL/CF/Hl/H15
• FORTES.Luiz Roberto Salinas. O I1uminismo e os reis filósofos. São Paulo: Brasiliense. 1985.
Em Cartaz
.......................................................
o amante da rainha
Diretor: Nicolaj Arcel
País: Dinamarca, Suécia,
República Tcheca
Ano: 2012
Filme de época, que narra um escândalo sexual ocor-
rido na corte dinamarquesa, na segunda metade do sécu-
lo XVII, durante o reinado de Cristiano VII. A rainha
Carolina Matilde inicia um romance com o médico da
corte johann Struensee. As turbulências afetivas que
envolvem o trio são acompanhadas por debates e pro-
postas políticas e sociais. Struensee é leitor e defensor
das ideias iluministas e aproveita a proximidade com o
monarca, torna-se seu conselheiro e. aliado à rainha e
amante. estimula a realização de um conjunto de refor-
mas liberais.
Luzes
Retome as instruções para análise de filmes, apresenta-
das nos Procedimentos metodológicos (página 10).
Antes de analisar o filme. é necessário retomar infor-
mações e conceitos contidos no capítulo.
. Releia os itens A ciência e a Ilustração (p. 71) e
Uma revolução cultural (p. 73). Estabeleça as rela-
ções entre o desenvolvimento científico e as ideias
i lustradas.
Estante
86 Capítulo 2 Nem tudo que reluz é ouro