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CONTEÚDOS E METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA Professora Dra. Terezinha Ferreira da Silva Colombo Reitor Márcio Mesquita Serva Vice-reitora Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva Pró-Reitor Acadêmico Prof. José Roberto Marques de Castro Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva Pró-reitor Administrativo Marco Antonio Teixeira Direção do Núcleo de Educação a Distância Paulo Pardo Coordenação Pedagógica do Curso Fabiana Aparecida Arf Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico B42 Design *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Universidade de Marília Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001 CEP 17.525–902- Marília-SP Imagens, ícones e capa: ©freepik, ©envato, ©pexels, ©pixabay, ©Twenty20 e ©wikimedia F385m sobrenome, nome nome livro / nome autor. nome /coordenador (coord.) - Marília: Unimar, 2021. PDF (00p.) : il. color. ISBN xxxxxxxxxxxxx 1. tag 2. tag 3. tag 4. tag – Graduação I. Título. CDD – 00000 BOAS-VINDAS Ao iniciar a leitura deste material, que é parte do apoio pedagógico dos nossos queridos discentes, convido o leitor a conhecer a UNIMAR – Universidade de Marília. Na UNIMAR, a educação sempre foi sinônimo de transformação, e não conseguimos enxergar um melhor caminho senão por meio de um ensino superior bem feito. A história da UNIMAR, iniciada há mais de 60 anos, foi construída com base na excelência do ensino superior para transformar vidas, com a missão de formar profissionais éticos e competentes, inseridos na comunidade, capazes de constituir o conhecimento e promover a cultura e o intercâmbio, a fim de desenvolver a consciência coletiva na busca contínua da valorização e da solidariedade humanas. A história da UNIMAR é bela e de sucesso, e já projeta para o futuro novos sonhos, conquistas e desafios. A beleza e o sucesso, porém, não vêm somente do seu campus de mais de 350 alqueires e de suas construções funcionais e conectadas; vêm também do seu corpo docente altamente qualificado e dos seus egressos: mais de 100 mil pessoas, espalhados por todo o Brasil e o mundo, que tiveram suas vidas impactadas e transformadas pelo ensino superior da UNIMAR. Assim, é com orgulho que apresentamos a Educação a Distância da UNIMAR com o mesmo propósito: promover transformação de forma democrática e acessível em todos os cantos do nosso país. Se há alguma expectativa de progresso e mudança de realidade do nosso povo, essa expectativa está ligada de forma indissociável à educação. Nós nos comprometemos com essa educação transformadora, investimos nela, trabalhamos noite e dia para que ela seja ofertada e esteja acessível a todos. Muito obrigado por confiar uma parte importante do seu futuro a nós, à UNIMAR e, tenha a certeza de que seremos parceiros neste momento e não mediremos esforços para o seu sucesso! Não vamos parar, vamos continuar com investimentos importantes na educação superior, sonhando sempre. Afinal, não é possível nunca parar de sonhar! Bons estudos! Dr. Márcio Mesquita Serva Reitor da UNIMAR Que alegria poder fazer parte deste momento tão especial da sua vida! Sempre trabalhei com jovens e sei o quanto estar matriculado em um curso de ensino superior em uma Universidade de excelência deve ser valorizado. Por isso, aproveite cada minuto do seu tempo aqui na UNIMAR, vivenciando o ensino, a pesquisa e a extensão universitária. Fique atento aos comunicados institucionais, aproveite as oportunidades, faça amizades e viva as experiências que somente um ensino superior consegue proporcionar. Acompanhe a UNIMAR pelas redes sociais, visite a sede do campus universitário localizado na cidade de Marília, navegue pelo nosso site unimar.br, comente no nosso blog e compartilhe suas experiências. Viva a UNIMAR! Muito obrigada por escolher esta Universidade para a realização do seu sonho profissional. Seguiremos, juntos, com nossa missão e com nossos valores, sempre com muita dedicação. Bem-vindo(a) à Família UNIMAR. Educar para transformar: esse é o foco da Universidade de Marília no seu projeto de Educação a Distância. Como dizia um grande educador, são as pessoas que transformam o mundo, e elas só o transformam se estiverem capacitadas para isso. Esse é o nosso propósito: contribuir para sua transformação pessoal, oferecendo um ensino de qualidade, interativo, inovador, e buscando nos superar a cada dia para que você tenha a melhor experiência educacional. E, mais do que isso, que você possa desenvolver as competências e habilidades necessárias não somente para o seu futuro, mas para o seu presente, neste momento mágico em que vivemos. A UNIMAR será sua parceira em todos os momentos de sua educação superior. Conte conosco! Estamos aqui para apoiá-lo! Sabemos que você é o principal responsável pelo seu crescimento pessoal e profissional, mas agora você tem a gente para seguir junto com você. Sucesso sempre! Profa. Fernanda Mesquita Serva Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária da UNIMAR Prof. Me. Paulo Pardo Coordenador do Núcleo EAD da UNIMAR 008 Aula 01: 015 Aula 02: 025 Aula 03: 032 Aula 04: 040 Aula 05: 051 Aula 06: 063 Aula 07: 077 Aula 08: 088 Aula 09: 096 Aula 10: 104 Aula 11: 118 Aula 12: 131 Aula 13: 140 Aula 14: 146 Aula 15: 161 Aula 16: História no Ensino Fundamental A Compreensão da Temporalidade na História Historiadores e o Tempo Histórico Diferentes Usos das Fontes Históricas Didática e Conteúdos Históricos O Povo Brasileiro e a Diversidade Cultural O Ensino de História Indígena Os Livros Didáticos e o Ensino de História Geografia na Educação Infantil e no Ensino Fundamental Geografia na Educação Infantil Geografia no Ensino Fundamental Conceitos, Princípios e Categorias Essenciais ao Ensino de Geografia Introduzindo o Estudo de Mapas Localização Geográfica e o Pensamento Espacial: a Contribuição dos Jogos para o Ensino da Geografia Conceitos e Habilidades Essenciais ao Ensino de Geografia: 1º e 2º Anos do Ensino Fundamental Conceitos e Habilidades Essenciais ao Ensino de Geografia: 3º, 4º e 5º Anos do Ensino Fundamental Olá, aluno! Seja bem-vindo a esta disciplina! Trabalhar com História e Geogra�a na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é muito prazeroso, você vai perceber isso devido ao signi�cado atribuído pela criança às atividades que lhe serão propostas, desde o desenho de sua família, o reconhecimento de si em fotos antigas e recentes, o tempo histórico revisitado por meio de jogos e brincadeiras, as mudanças nas paisagens, a compreensão de si mesmo e suas ações em relação às demais pessoas que estão em seu entorno. En�m, são algumas situações que exempli�cam como as atividades podem ser envolventes e signi�cativas para as crianças e ao mesmo tempo alcançar objetivos, como o de estimular a autonomia de pensamento e de desenvolver a compreensão de que cada pessoa age de acordo com a época e o lugar onde vive, podendo mudar ou preservar os seus hábitos. No entanto, a construção das noções de tempo e espaço, fundamental nessa área de estudos, deve se dar por meio de diferentes linguagens permitindo que os alunos se tornem produtores e leitores de mapas de lugares vividos e percebidos. Mas para que você possa compreender a sequência desta disciplina destacamos o objetivo do trabalho com a História e os conceitos que serão tratados, que perpassam pela constituição da noção de identidade, estabelecendo relações entre identidades individuais, sociais e coletivas (o reconhecimento do “Eu”, do “Outro” e do “Nós”). E, a partir do trabalho com aidentidade, compreender as noções de diferenças e semelhanças, de continuidade e permanência. Esse conhecimento histórico deverá servir de ferramenta a serviço de uma compreensão sobre as experiências humanas e as sociedades em que se vivem. É importante destacar que os conceitos de tempo e espaço são inseparáveis e devem ser pensados essencialmente como um processo. Assim, caro aluno, como o tempo é para a História, é para a Geogra�a, uma construção social associada à memória e às identidades sociais dos sujeitos, que descrevem a memória expressa nas ações e transformações provocadas pelo homem, que explicam, hoje, as condições do meio físico e natural. Portanto, o estudo da Geogra�a tem por objetivo desenvolver o pensamento espacial de forma a promover o raciocínio geográ�co. Isso signi�ca desenvolver capacidades de representar e interpretar o mundo que não é estático e, sim, se apresenta em constante transformação na relação sociedade e natureza. Para tanto, vamos desenvolver nossos estudos pautados em fontes relevantes que nos sustentarão tanto na compreensão teórica como nas bases para o trabalho com os alunos de Educação Infantil e Ensino Fundamental, Anos iniciais. Estamos falando dos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCNs (1997a); Base Nacional Comum Curricular- BNCC (2018); do conteúdo de História tratado 6 pela autora Circe Bittencourt (2008); e dos pressupostos teóricos para a educação geográ�ca apresentados por Sônia Castellar e Jerusa Vilhena (2010). Esses são apenas alguns referenciais que utilizaremos no decorrer de nossos encontros. Neste momento, eu o convido a juntos iniciarmos uma jornada de aprendizagens, leituras e re�exões na disciplina Conteúdos e Metodologia do ensino de História e Geogra�a. Tenha um ótimo estudo!!! 7 01 História no Ensino Fundamental 8 O que e Como Ensinar? Prezado aluno! Vamos iniciar nosso estudo com um questionamento: o que e como ensinar? Mas para respondermos será necessário que tenhamos muito bem-de�nido o papel do trabalho com a História desde a Educação Infantil ao Ensino Fundamental. Isso signi�ca compreendermos que o ser humano produz o espaço em que vive e dele se apropria numa determinada circunstância histórica. No entanto, é necessário interpretar e avaliar os resultados dessas ações realizadas no passado ou no presente o que torna o indivíduo responsável pelo saber produzido, assim como pelo controle dos fenômenos naturais e históricos dos quais é agente. A partir dessa re�exão inicial, todos os conceitos propostos devem estimular a formação ética que ajude o aluno a construir o senso de responsabilidade em relação aos direitos humanos, ao meio ambiente e à coletividade. Mas o que ensinar na Educação Infantil? De acordo com a Base Nacional Comum Curricular- BNCC: [...] os alunos expressam percepções simples, mas bem-de�nidas, de sua vida familiar, seus grupos e seus espaços de convivência. No cotidiano, por exemplo, desenham familiares, identi�cam relações de parentesco, reconhecem a si mesmo em fotos (classi�cando-as como antigas ou recentes), guardam datas e fatos, sabem a hora de dormir e de ir para a escola, negociam horários, fazem relatos orais e revisitam o passado por meio de jogos, cantigas e brincadeiras ensinadas pelos mais velhos (BRASIL, 2019, p. 306). O parágrafo apresentado pela BNCC é muito claro nas atividades referentes a esse nível de ensino, pois expõe experiências signi�cativas para a criança as quais promovem habilidades de levantar hipóteses e a de se posicionar frente aos fatos apresentados. Destaca-se a importância do aprendizado de História a partir das vivências pessoais, familiares e sociais dos alunos. Para �car ainda mais evidente a necessidade do trabalho com História desde a Educação Infantil, Cooper (2006) descreve em seu artigo, uma pesquisa realizada em cinco países europeus sobre o conhecimento do passado em 9 crianças de 6 a 10 anos. Apurou-se que seus conhecimentos eram fragmentados e possuíam uma compreensão incompleta demonstrando, assim, a necessidade de mediação e�caz da escola. É neste momento de nossa aula, caro aluno, que podemos clari�car de que modo o professor trabalhará conceitos de História com as crianças pequenas de maneira a se relacionarem com o passado por meio da re�exão e investigação histórica. Esse processo de investigação é composto pela compreensão de conceitos do tempo, ou seja, a mensuração do tempo, permanências e mudanças ao longo do tempo e semelhanças e diferenças entre espaços de tempo. Inclui, também, o uso de fontes que expõem os traços do passado que permanecem, sejam eles escritos, visuais ou orais (COOPER, 2006). Nesta linha de raciocínio, as propostas feitas às crianças pequenas devem perpassar pela consulta às fontes familiares, que envolvam as fases da vida, seus vínculos pessoais, em casa e na escola, as características e as diferenças desses ambientes. O envolvimento na cultura do tempo abrange a de�nição de horários e rotinas, como o brincar, ouvir histórias, dormir, acordar, comer, tomar banho, a interação e a convivência entre as pessoas. As consultas às fontes devem partir do presente, para que depois desenvolvam estudos do passado reconhecendo mudanças e permanências nas instituições familiares e educacionais. Entretanto, o grande número de informações que as crianças recebem desde pequenas, pautadas em concepções de senso comum, devem ser mediadas pela escola para que desenvolvam uma observação acurada do seu entorno, percebendo as relações sociais em suas diversas dimensões. Assim, a noção do “eu” e do “outro” vai se constituindo mediante essas atividades e o professor vai introduzindo o aluno na leitura e compreensão das diversas fontes de informação, para que aos poucos adquira autonomia intelectual (BRASIL, 1997a). A noção de diversidade, as semelhanças e as diferenças, dentre outros conceitos trabalhados com as crianças, devem ser ampliadas em relação a outros grupos sociais, como os povos indígenas que possuem características e costumes especí�cos de sua cultura, relações sociais e de trabalho diferentes das do seu cotidiano. Existem especi�cidades de costumes e línguas entre os próprios povos indígenas e até hoje mantêm formas de relações sociais diferentes das que predominam no Brasil. No próximo item abordaremos conceitos fundamentais relativos aos tempos na História. 10 Os Tempos na História No ensino de História, a compreensão da noção de tempo é fundamental devido a ser um dos conceitos mais complexos de entendimento para as crianças. Vamos partir de alguns conceitos apontados por estudiosos que nos ajudarão nessa compreensão e na melhor forma de abordagem na escola. Bittencourt (2008) elege em sua re�exão inicial o tempo vivido, ou seja, o da experiência individual: [...] o tempo psicológico - os acontecimentos agradáveis parecem “passar rápido” e os desagradáveis parecem “durar mais tempo”. O tempo vivido é também o tempo biológico, que se manifesta nas etapas de vida da infância, adolescência, idade adulta e velhice. Na nossa sociedade, o tempo biológico é marcado por anos de vida, geralmente comemorados nas festas de aniversário, e evidenciado em idades bem delimitadas, que possibilitam a entrada na escola, na vida adulta – a maioridade – [...] Em culturas indígena, as passagens do tempo biológico, embora não sejam delimitadas por idades, têm marcas ritualísticas importantes, realizadas por cerimônias que indicam as fases de crescimento e de novas responsabilidades perante a comunidade (BITTENCOURT, 2008 p. 200). O tempo vivido, caracterizado por Bittencourt (2008), é compreendido por todas as pessoas e sociedades e é marcado pelos extremos que delimitam a vida: o nascimento e a morte. Já o tempo concebido, que caminha com o tempo vivido, é aquele que existe para regular esse tempo, sendo eles, tempo cronológico, astronômico e o tempo geológico. As diferentes culturas utilizam o tempo concebido de várias formas, no entanto, o que parece ser comumnuma determinada cultura não o é para outra. Como exemplo, na sociedade capitalista, o tempo de trabalho é marcado pelo dinheiro o que causa estranheza pela cultura indígena que utiliza outras formas de organizar o tempo de trabalho e mesmo de descanso, com os rituais de chuva e da seca. 11 A preocupação em entender o tempo também é de astrônomos e físicos, pois [...] o tempo físico tem sido objeto de variadas concepções. Da newtoniana, que propugnava pela in�nitude do tempo e do espaço, à moderna física quântica, passando pelo relativismo de Einstein, concluiu-se, no início do século XX, que o tempo é relativo e o universo, por estar em expansão e sofrer mutações, possui, portanto, história. Para a Física atual, o tempo não é mais um plano físico no qual se desenrolam os fenômenos, mas é algo inerente a eles (BITTENCOURT, 2008, p. 201, 202). Para os geólogos e biólogos, a Terra estudada, historicamente, possui uma escala temporal variada ligada ao tempo da criação de espécies vegetais e demais seres vivos, o que caracteriza o tempo da natureza. As ciências humanas estudam o tempo social a �m de entender os referenciais que podem “[...] fornecer dados para se perceber o “lugar” em que o homem ocupa na história do planeta, bem como o poder e os limites de sua atuação em suas relações com o “tempo da natureza” (BITTENCOURT, 2008, p. 202). O tempo da duração também é uma dimensão importante na História, pois, nesse caso, o tempo é tido como duração a partir das análises de mudanças e de permanências no modo de vida das pessoas. São essas mudanças que marcam as periodizações, como, por exemplo, os tipos de regimes políticos representados em períodos diferentes (Colonial, Imperial e República). Essa divisão permite identi�car modos de viver e de pensar, a continuidade e a @freepik A marcação e ordenação de fatos e onde aconteceram no tempo chamamos de tempo cronológico, e são utilizados os calendários. Eles são construídos de acordo com a cultura de cada povo e servem para que se tenham as mesmas referências para se localizar os fatos no passado, presente e futuro (dia, mês e ano) (BRASIL, 1997a). 12 descontinuidade da vida coletiva proporcionando a compreensão de que os acontecimentos podem ser dimensionados em múltiplas durações, entendendo que alguns fatos podem se suceder com rapidez no tempo e outros que podem demorar uma geração (BRASIL, 1997a). Outra dimensão do tempo é aquela que descreve o ritmo que determina a organização da vida coletiva, ou seja, a ordem e sequência com que as ações individuais e sociais acontecem, diariamente, em determinada localização. Alguns exemplos ilustram essa dimensão: rotina de pessoas que trabalham no campo, com as épocas certas para plantio e colheita, que se denomina o tempo da natureza, o ritmo do trabalhador da fábrica que segue as horas de um relógio e, também, em outras organizações sociais, como as rotinas escolares organizadas, segundo as especi�cidades de cada instituição. Nesse sentido, podemos perceber que diferentes são as perspectivas de tempo e caberá à escola organizar atividades em que essas perspectivas sejam tratadas como um componente que auxilia a organização de fatos históricos no presente e no passado. Esses estudos permitem aos alunos a compreensão de diferentes modos de vida e as dinâmicas econômica e cultural existentes na atualidade, podendo assim, construir uma visão crítica a esse respeito. Nesta primeira aula, procuramos apontar conceitos importantes a serem trabalhados com as crianças e, ao mesmo tempo, uma re�exão sobre os tempos que marcam a História. Isso para que possamos elucidar junto aos alunos elementos que os permitam construir sua compreensão acerca da temporalidade histórica. 13 PARA GABARITAR Ensinar e aprender História faz parte de um movimento de ir e vir do passado ao presente. Esse exercício, realizado por meio de indagações, inicia-se num microespaço com apenas um indivíduo. Mas com a ampliação desse espaço de conhecimento histórico há a chegada do outro que, muitas vezes, se mostra semelhante ou muito diferente. Nesse processo, que podemos dizer de construção e compreensão históricas, muitos esquemas de aprendizagem são requeridos, como os de linguagem, de interação social, de dialogismo constante e, ainda, conceitos matemáticos para a compreensão de temporalidade histórica com as noções de sequência, simultaneidade e duração. A rede de relações é acrescida e ampliada ainda mais, e uma tríade se forma, o “Eu”, o “Outro” e o “Nós”, assim, a produção de saberes compõem transformações e avanços, capacitando-os a enfrentar os desa�os que se apresentam na sociedade em que vivem. 14 02 A Compreensão da Temporalidade na História 15 O Processo de Investigação Histórica Caro aluno, na aula anterior, estudamos diversas perspectivas de tempo necessárias ao entendimento e organização de fatos históricos no presente e no passado, como também a construção e a compreensão da temporalidade histórica. Aprofundando nosso conhecimento, outros conceitos, como a mensuração do tempo, a noção de continuidade e mudança, as causas e efeitos de eventos, de mudanças que ocorrem ao longo do tempo, semelhanças e diferenças entre períodos são fundamentais para se encontrar o passado. Os traços do passado que permanecem são encontrados em fontes que podem ser escritas, visuais ou orais. Cooper (2006) nos coloca que fontes históricas foram criadas com intenções diferentes, em tempos diferentes, assim, podem ser incompletas. Devido a isso, a inferência dos historiadores é válida, mas diferentes, tendo em vista que eles também são in�uenciados por valores predominantes em um determinado tempo. Compreendidas essas observações, o ensino de História perpassa pela escolha de conteúdos que levem o aluno, de acordo com sua faixa etária, a desenvolver noções necessárias ao entendimento da história dos grupos de convívio, nas suas relações com outros grupos dentro de uma sociedade, considerando vivências sociais, econômicas, políticas, culturais, artísticas e religiosas (BRASIL, 1997a). O trabalho pedagógico, nesta vertente, requer estudos de materiais, como relatos orais, imagens, objetos, danças, músicas, narrativas, que comporão o saber histórico escolar. Essas fontes são materiais em potencial para a construção de uma história local, permitindo ao aluno conhecer o entorno, capacitando-o ao mesmo tempo a estabelecer relações, comparações que envolvam a realidade presente com momentos signi�cativos do passado (BRASIL, 1997a). 16 Assim, para a criança, conteúdos que envolvem a história de seu cotidiano, no seu tempo e seu espaço, relacionam-se a um contexto histórico mais amplo, partindo do tempo presente no qual se percebem traços e materialidades de outros tempos, como formas de vidas diferentes, organização social e outros costumes, mas que ainda permanecem de alguma maneira presentes na vida das pessoas e da coletividade. Conhecendo histórias de outros tempos, a criança, em consonância ao espaço em que vive, suscita a compreensão de si mesmo e da vida coletiva de que faz parte. A Construção Histórica na Escola: Considerações Importantes Neste tópico, caro aluno, levantamos outros pontos relevantes ao nosso estudo referentes ao ensino dos conteúdos escolares que demandam o olhar cuidadoso, como também a compreensão dos professores de que os conceitos históricos que vamos ensinar nem sempre são de fácil entendimento aos alunos das séries iniciais. Miranda (2013) nos apresenta esses pontos e faz referência a três dimensões que devem ser pensadas no processo de conhecimento histórico pela criança: aspectos de uma História pública; os elementos do pensamento e da linguagem (apropriação de conceitos pela criança e jovem); e a construção de unidades de medida e grandezas (construção do pensamento matemático). A História pública citada por Miranda (2013) se refere à escolha cultural de eventos recortados do passado e que sefazem presentes na escola. Os marcadores temporais utilizados pela escola derivam de um complexo processo que se ancora em decisões sobre o que se quer trabalhar, de forma a compor um sentido à instrução pública. A autora cita Peter Burke (2000) ao exempli�car as datas escolares que os alunos cumprem ano a ano, em que são trabalhadas: 17 [...] imagens derivadas de escolhas envolvendo quais memórias selecionar, monumentos, objetos e espaços envolvidos na formação de uma memória coletiva nacional e diversos rituais. Rituais que, no caso da cultura escolar, se convertem em datas e eventos que se repetem e se transformam em nossos velhos conhecidos no espaço escolar. São rituais presentes em nossas memórias desde que somos crianças [...] (MIRANDA, 2013, p. 42). O segundo aspecto se refere ao pensamento e linguagem, porque “quando nos referimos ao tempo, pensamos como Bakhtin, em signos que demandam múltiplos processos sociais de mediação e a interveniência da linguagem em sua ampla rede de signi�cações e sentidos” (MIRANDA, 2013, p. 43). Isso quer dizer que quando falamos alguma palavra a uma criança, como caneta ou laranja, ela busca em sua imagem mental a �gura concreta desse objeto, ou seja, ela vincula o signo em questão ao seu signi�cado direto. Em contrapartida, quando falamos à criança palavras especí�cas, como calendário, permanência, modernidade, estrutura, passado, dentre outras, não há uma associação cognitiva imediata, necessitando de outras mediações para que ela compreenda, pois não há ligação a um objeto concreto e, sim, a uma construção cultural ampla. Dessa forma, temos que pensar por meio da mediação do professor, estratégias para que se crie uma rede de conceitos que envolvam noções de anterioridade, posterioridade e duração. Para Miranda (2013), é muito complexo para a criança entender e imaginar que havia um mundo preexistente, e que ela não existia quando pessoas de seu convívio já escreviam suas histórias e as registravam por meio de fotos, por exemplo. Por isso, o professor deve elaborar atividades constantes que envolvam “a relação entre tempo presente, nascimento, tempo de vida e histórias familiares, mas também estender tais noções para outros contextos sociais e históricos, de modo permanente e, sobretudo, recorrente na ação escolar” (MIRANDA, 2013, pp. 43, 44). A autora refere-se a um trabalho constante e abrangente que possua informações históricas que envolvam relações de proximidade ou distância para com o tempo presente, ou seja, o tempo real em que a criança vive. No entanto, essa não costuma ser uma construção fácil e imediata para a criança requerendo ações didáticas próprias para tal �m. Dessa forma, deve-se expor ao estudante um trabalho pedagógico que trate das categorias temporais de maneira consistente e dialógica, para que este produza atividade de pensamento, de deslocamentos no tempo, que seja capaz de evocar em seu repertório, noções de temporalidade em sua rede de compreensão (MIRANDA, 2013). 18 O terceiro aspecto refere-se ao pensamento matemático e sua relação com a compreensão da temporalidade histórica. As noções de tempo envolvem conceitos que se relacionam à construção de número na criança. Esse processo matemático exercido internamente pela criança lhe permite compreender conceitos complexos, como simultaneidade, sequência, duração, entre outros. No entanto, vale ressaltar que essa construção interna ocorre durante o percurso escolar da criança e do jovem, o que demanda um diálogo interdisciplinar entre a Matemática e a História, tendo em vista a produção de signos e signi�cados ocorrerem de forma ampla e não compartimentada em áreas isoladas (MIRANDA, 2013). Vamos entender um pouco sobre a construção da noção de número na criança, valendo-nos dos estudos de Constance Kamii (1993) sustentados na teoria de Jean Piaget (2005), isso para que possamos propor em sala de aula, atividades re�exivas e problematizadoras acerca de conceitos fundamentais na compreensão da temporalidade histórica. Kamii (1993) apresenta, de acordo com Piaget, três tipos de conhecimento: o físico, o lógico-matemático e o social (convencional). O conhecimento físico é o conhecimento dos objetos de forma geral, da realidade externa, por exemplo, o reconhecimento da cor, peso, e outras características próprias de cada objeto. No entanto, ao fazermos uma comparação entre cores, notamos uma diferença, podemos dizer que esta percepção é um pensamento lógico-matemático. Os objetos são passíveis de observação, mas a diferença entre eles não. Sendo que: A diferença é uma relação criada mentalmente pelo indivíduo que relaciona os dois objetos. A diferença não está nem em uma plaqueta nem em outra. Se a pessoa não colocasse os objetos dentro dessa relação, para ela não existiria a diferença. [...] É tão correto dizer que plaquetas azuis e vermelhas são parecidas, quanto dizer que elas são diferentes. A relação na qual uma pessoa coloca os objetos é uma decisão sua. [...] Se a pessoa desejar comparar o peso das duas plaquetas, é provável que diga que os objetos são iguais (em peso). Se, contudo, quiser analisar os objetos, numericamente, dirá que são “dois”. As duas plaquetas são observáveis, porém, sua “natureza dual” não é (KAMII, 1993, pp. 14,15). Nessa direção, “o número é a relação criada mentalmente por cada indivíduo” e, ainda, “a criança progride na construção do conhecimento lógico- matemático pela coordenação das relações simples que anteriormente ela criou entre os objetos” (KAMII, 1993, p. 15). Para a autora, a coordenação de relações entre os objetos consiste no conhecimento lógico-matemático, e exempli�ca que ao coordenar as relações de igual, diferente e mais, a criança se 19 torna capaz de deduzir que há mais �ores do que rosas, mais animais do que cavalo e que coordenando a relação entre “dois” e “dois”, deduz que a soma é quatro. Desta forma, Kamii (1993), de acordo com Piaget, relata que há fontes internas e externas do conhecimento, ou seja, “a fonte do conhecimento físico (assim como do conhecimento social) é parcialmente externa ao indivíduo. A fonte do conhecimento lógico-matemático, ao contrário, é interna” (KAMII, 1993, p.16). Outros dois conceitos importantes descritos por Kamii (1993), da teoria de Piaget, dizem respeito ao conceito de abstração empírica e abstração re�exiva. O primeiro se refere ao conhecimento e abstração das propriedades dos objetos, por exemplo, a criança evidencia uma certa propriedade do objeto (a cor) e ignora outras (é de plástico, madeira, leve, pesado etc.) e o segundo conceito, em contrapartida, diz respeito à construção de relações entre os objetos. Assim, a abstração re�exiva, [...] não tem existência na realidade externa. A diferença entre uma �cha e outra não existe em uma �cha ou outra, nem em nenhuma outra parte da realidade externa. A relação entre os objetos existe somente nas mentes daqueles que podem criá-la (KAMII, 1993, p. 17). No entanto, a criança não poderia construir o conhecimento físico sem ter um sistema de referência lógico-matemático, ou seja, ela necessita ter um esquema classi�catório que a permita distinguir um objeto dos demais que já conhece. Kamii (1993) destaca que é fundamental que se compreenda a distinção entre os dois tipos de abstração, pois enquanto a criança está aprendendo pequenos números �ca simples a abstração empírica por meio de conjuntos e objetos, no entanto, quando se prossegue em direção a números maiores �ca impossível esse recurso. Assim, “os números são aprendidos pela abstração re�exiva à medida que a criança constrói relações” (KAMII, 1993, p. 19). Isso possibilita, por meio dessas relações criadas por sua mente, que compreenda números inclusive acima da casa de milhar, o que seria impossível ocorrer concretamente. Já o conhecimento social (convencional) se refere a fatos que ocorrem em datas preestabelecidas convencionalmente, como a comemoração do Natal ser no dia 25 de dezembro;nomes de objetos; a utilização de objetos que também 20 obedecem à determinada convenção, como, por exemplo, o uso da mesa onde se colocam os pratos. Percebe-se que esses padrões foram originados pelas ações das pessoas. [...] A característica principal do conhecimento social é a de que possui uma natureza amplamente arbitrária. [...] O mesmo objeto pode ter diversos nomes em várias línguas distintas, uma vez que não existe nenhuma relação física ou lógica entre um objeto e seu nome. Portanto, para que a criança adquira o conhecimento social é indispensável a interferência de outras pessoas (KAMII, 1993, p. 24). Outra a�rmação importante da autora é a de que a interferência de outras pessoas não basta para que a criança adquira o conhecimento social. “Assim como o conhecimento físico, o conhecimento social é um conhecimento de conteúdo e requer uma estrutura lógico-matemática para sua assimilação e organização” (KAMII, 1993, p. 24). Essas a�rmações importantes corroboram à ideia de que os conceitos numéricos não devem ser ensinados às crianças por meio de transmissão social, pois é fundamental que se faça a distinção entre o conhecimento social e o lógico- matemático, tendo esse segundo como base fundamental de aprendizagem, a própria criança, não existindo nesse processo nenhuma arbitrariedade. As palavras um, dois, três, quatro são exemplos de conhecimento social. Cada idioma tem um conjunto de palavras diferente que serve para o ato de conhecer. Contudo, a ideia subjacente de número pertence ao conhecimento lógico-matemático, o qual é universal (KAMII, 1993, p. 25). Miranda (2013), interpretando as di�culdades de crianças e jovens relacionadas à construção da temporalidade histórica, assegura que [...] essa dimensão conceitual que é, talvez, a mais invisível e intangível dentre todas as marcas do humano: ninguém pega o tempo, ninguém o segura, ninguém o vê. Todavia, todos sentimos seu peso, seus efeitos, todos nós somos constrangidos, em nossas cotidianidades, pelo peso de nossos inúmeros compromissos e pela força das horas que passam e que nos dão a dimensão de uma vida acelerada, na qual, muitas vezes, não nos sentimos capazes de vencer bem tudo o que temos para fazer (MIRANDA, 2013, p. 46). 21 A exposição que realizamos nesse tópico vem ressaltar que, ao trabalharmos conceitos históricos com as crianças, uma rede de ações deve ser acionada, o diálogo entre a História e outras disciplinas; a percepção do professor de que conceitos históricos, muitas vezes, são abstratos e de difícil compreensão para a criança e o jovem, necessitando atividades recorrentes e pontuais para esse �m; a problematização e/ou re�exão escolar de experiências social e histórica partindo do tempo presente do estudante, dentre outras ações. Vamos, agora, caro aluno, no item Abordagem Prática, exempli�car uma atividade realizada num curso de formação de Professores de História, na qual está explícita a falta de um olhar acurado e sensível à percepção e compreensão da Temporalidade histórica. 22 NA PRÁTICA Reporto-me, por exemplo, à di�culdade que venho percebendo, ano a ano, de fazer com que meus alunos regulares da disciplina Didática de História, professores em formação, já em seu último ano de Faculdade, observem o detalhe singular, problematizem objetos e práticas sociais presentes no mundo, atribuindo-lhes sentido quanto à interpretação temporal que lhes é inerente. Há alguns meses, ao sair pelos bairros da cidade com uma dessas turmas de estudantes universitários, chamou-me a atenção um fato particular. Minha provocação inicial para eles, antes de sairmos de sala de aula, buscando compreender a pluralidade das cidades dentro de uma cidade, era: “onde está o tempo na cidade? [...] Ao propor tal atividade, eu apostava, didaticamente, na capacidade de evidenciar, a partir de uma situação prática, que o tempo não é só linha, que a passagem do tempo representa não acúmulo, mas descontinuidades [...]. Eu também apostava na ideia de que tal atividade poderia ser mobilizadora da capacidade de pensar e estabelecer relações, ao nos permitir compreender, a partir de movimentos cognitivos individuais, construídos, porém, sob uma prática coletiva que, ao observar atenta e minuciosamente o tempo presente, somos capazes de nos dar conta de nossa condição histórica. Eu não contava, contudo, com aquilo que se dispôs para mim, logo no primeiro instante: aqueles jovens professores andavam pela cidade, mesmo tendo sido convocados para uma determinada atividade e para um problema, sem olhá-la, sem observá-la em suas minúcias. Eles caminhavam sem uma atenção re�etida sobre seus pontos de mirada. Não olhavam para os lados, para baixo, para cima, nem para as casas. Tampouco olhavam para as pessoas em suas dinâmicas de vida e trabalho. Apenas andavam olhando para frente. Nesse cenário, portanto, o ponto básico de um trabalho de educação da sensibilidade histórica impunha-se como um desa�o muito preliminar e, ao mesmo tempo, muito mais denso: o desa�o de provocar modos diferentes de olhar, modos diferentes de se expressar para que, acima de tudo, isso pudesse disparar modos de fazer perguntas ao mundo que nos cerca [...]. Perguntei-lhes, depois de caminhar por uns dois quarteirões nas adjacências do bairro contíguo à Universidade, o que eles tinham 23 visto até ali que nos permitisse responder à nossa pergunta inicial. A maioria daqueles jovens revelou, à primeira vista, uma reação de estranhamento. Alguns disseram que não tinham visto nada, que não havia ali naquele espaço nenhum componente histórico ou patrimônio relevante. [...] Para além das carências re�exivas em seu processo de formação universitária, �os profundos de suas percepções situavam-se, por certo, numa longa história de escolarização. Tomo, aqui, uma das narrativas de avaliação desenvolvidas a partir daquela atividade aparentemente singela: O próprio professor em formação, afetado por apenas um tipo de problematização pode passar a estabelecer um sentido de re�exividade em relação ao trivial e cotidiano. Ao caminharem pela cidade não haviam dado conta de minúcias dos subterrâneos do bairro em que vivem os efeitos acelerados da grande especulação imobiliária que vem destruindo casas centenárias. Não haviam comparado o tempo materializado nas formas construtivas das casas e edifícios, bem como as camadas temporais visíveis em diferentes casas em virtude de seus ajustes. 24 https://go.eadstock.com.br/cvN 03 Historiadores e o Tempo Histórico 25 Na aula anterior, tratamos de pontos relevantes e necessários no momento de abordarmos conceitos de História em sala de aula. Se agora entendemos melhor as necessidades dos alunos para compreensão de tais conceitos, temos nós que compreender, também, como os historiadores organizam o trabalho com o tempo histórico. O Trabalho Sobre o Tempo Os materiais básicos dos historiadores são o tempo e o espaço, pois qualquer registro da história baseia-se em uma dimensão temporal e espacial. A reconstrução dos tempos distantes, de outras épocas, e convertê-los próximos à experiência do presente facilitando nossa compreensão é um dos objetivos básicos da História (BITTENCOURT, 2008). A ida permanente, entre passado e presente, como entre os diferentes momentos do passado é característica própria da história, pois Ela modela uma temporalidade própria familiar, como se tratasse de um itinerário incessantemente percorrido, em uma �oresta, com seus pontos de referência, suas passagens mais delicadas ou fáceis. Por estar imerso no tempo, o historiador o coloca, de algum modo, à distância de seu trabalho, balizando-o com suas pesquisas, delimitando-o com seus pontos de referência e fornecendo-lhe uma estrutura (PROST, 2015, p. 104). Prost (2015) faz também uma distinção entre memória e o tempo da história. O autor ressalta que a história não é uma memória. Ela existe, no entanto, depende de registros diferentes, pois a história “emvez de ser um relato de lembranças ou uma tentativa da imaginação para atenuar a ausência de lembranças, fazer história é construir um objeto cientí�co, historicizá-lo [...]”, o que signi�ca “construir sua estrutura temporal, espaçada, manipulável, uma vez que, entre as ciências sociais, a dimensão diacrônica é o próprio da história” (PROST, 2015, p. 106). Mas vale ressaltar que o que fora apontado não signi�ca que se deva evitar a memória para fazer história, tendo em vista que o tempo dos historiadores compartilha características com a da biogra�a individual, ou seja, 26 [...] cada qual pode reconstruir sua história pessoal, objetivá-la até certo ponto, como remontar, relatando suas lembranças, do momento presente até a infância ou inverter o movimento a partir da infância até o começo da vida pro�ssional etc. A memória, a exemplo da história, serve-se de um tempo já decorrido (PROST, 2015, p. 106). Vamos conhecer a primeira tarefa do historiador sobre o tempo. Os acontecimentos devem ser classi�cados na ordem do tempo, trata-se da cronologia. Essa tarefa parece ser simples, porém, propicia comumente surpresas, porque os acontecimentos se apresentam imbricados em diversos momentos. A ordem cronológica deve se apresentar �exível, porém, detalhada e interpretada (PROST, 2015). Já a segunda tarefa se refere à periodização. Essa tarefa é considerada necessária do ponto de vista prático, pois seria impossível abranger todo o tempo histórico sem dividi-lo. Prost (2015) diz que ao recortar o tempo em períodos nem todos têm o mesmo valor, o que vai requerer do historiador encontrar aqueles que se agrupados, apresentam sentidos relativamente coerentes. O autor cita Platão que comparava o �lósofo ao bom cozinheiro que sabe cortar o frango nas devidas articulações e, seguindo essa analogia, assim é o historiador “que deve encontrar as articulações pertinentes para recortar a história em períodos, ou seja, substituir a continuidade imperceptível do tempo por uma estrutura signi�cante” (PROST, 2015, p. 107). A periodização é fundamental para a compreensão de dois aspectos importantes na história, o da continuidade e o da ruptura. A periodização nos permite pensar concomitantemente esses aspectos, quando se percebe a continuidade no interior dos períodos e a ruptura entre eles. Assim, “periodizar é, portanto, identi�car rupturas, tomar partido em relação à variável, datar a mudança e fornecer-lhe uma primeira de�nição. Entretanto, no interior de um período, a homogeneidade prevalece” (PROST, 2015, p. 107), permitindo que a história seja interpretada e pensada. Para o autor existe uma certa arbitrariedade na divisão dos períodos e que, na verdade, são considerados também, períodos de transição. O tempo dos historiadores apresenta-se como um tempo já constituído e conectado, portanto, há uma facilidade de acesso às fontes de diversas origens, pois pertencem a um recorte periódico. Em toda construção histórica, o trabalho do historiador sobre o tempo é relevante. Além de colocá-lo em ordem de forma cronológica, organizá-lo em períodos, também existe a hierarquização dos fenômenos devido ao ritmo de mudanças de cada um deles. Desta forma, 27 O tempo da história não é uma reta, nem uma linha quebrada feita por uma sucessão de períodos, nem mesmo um plano: as linhas entrecruzadas por ele compõem um relevo. Ele tem espessura e profundidade (PROST, 2015, p. 114). Bittencourt (2008) aponta que o tempo organizado pelos historiadores, em cronologias e periodizações, denomina-se tempo métrico. Dessa organização surgiram, em decorrência dos historiadores ocidentais, o tempo cronológico, de acordo com a periodização cristã: a.C. e d.C. e, ainda, os séculos e os períodos: Pré-história, Antiguidade, Idade Média, Período Moderno e Contemporâneo. O importante historiador, Marc Bloch, citado por Bittencourt (2008), enfatizou que o papel do historiador é ir além da ordem cronológica, pensando os “acontecimentos no tempo de duração, que é um tempo contínuo, mas também o de mudança constante. Continuidade e mudança constituem os atributos cuja síntese faz surgir os grandes problemas que o historiador tem que desvendar” (BITTENCOURT, 2008, p. 206). Outro historiador, citado pela autora, Fernand Braudel, detalhou os diferentes ritmos e níveis que integram o tempo de duração. Segundo ele, os fatos históricos têm durações distintas e se organizam em três ordens com ritmos diferentes: O acontecimento (fato de breve duração) que corresponde a um momento pontual: um nascimento, uma assinatura de um acordo, a de�agração de uma greve etc.; A estrutura (fato de longa duração) são marcos cronológicos que fogem à percepção dos contemporâneos, como a escravidão antiga ou moderna, o cristianismo ocidental etc.; A conjuntura (fato de duração média) são exemplos: a Revolução Industrial inglesa, a ditadura militar brasileira, a guerra fria etc., são acontecimentos mais ou menos regulares que ocorrem no núcleo de uma estrutura. Bittencourt (2008) destaca, ainda, segundo Braudel, que além dos ritmos da duração, existem os diferentes níveis culturais, econômicos e políticos. Já os níveis da duração explicam as mudanças sociais na articulação dos fatores distintos. Esses níveis se organizam em três formas: 28 O primeiro nível, correspondente ao acontecimento, geralmente se refere ao plano político acidental e individual (forma política da atualidade). O segundo nível aplica-se às conjunturas das relações de poder e das �utuações da economia. O terceiro nível, que se ocupa de movimentos lentos da ecologia humana, de comportamentos coletivos mais enraizados e de crenças ideológicas e religiosas, articula-se, por exemplo, à história cultural e das mentalidades (BITTENCOURT, 2008, p. 207). Uma re�exão importante, nesse momento, é pensarmos sobre a compreensão do tempo histórico e o quanto a noção de duração é responsável por essa compreensão. Não basta ter em mente a de�nição do termo e, sim, compreender as mudanças, as transformações e as permanências nela existentes. Sendo o tempo material básico do historiador, também o é, o espaço. Não há possibilidade de situar as ações humanas no tempo sem indicar o lugar onde essas ocorrem. Assim, os caminhos, sendo por terra ou água, o ambiente natural ou da cidade, as paisagens, os territórios e as trajetórias são indispensavelmente parte do conhecimento histórico. Também as mudanças realizadas nesses espaços pela ação do homem, como as memórias de lugares, compõem esse conhecimento. Os mapas históricos permitem a localização das sociedades e seus deslocamentos nos diferentes espaços, assim como a constatação de mudanças na sua ocupação (BITTENCOURT, 2008). O Saber Histórico Nesta aula, apresentamos o trabalho dos historiadores na organização dos conteúdos da história. Isso chamamos de saber histórico “como um campo de pesquisa e produção de conhecimento do domínio de especialistas” (BRASIL, 1997a, p. 29). Mas na escola, professores e alunos também constituem um saber histórico, como conhecimento produzido no espaço escolar. O conhecimento produzido no campo das pesquisas dos historiadores é reelaborado e selecionado, articulando-se com os objetivos escolares. E nesse processo de reelaboração, integra-se um conjunto de representações sociais do mundo e da história concebidos por professores e alunos. As representações sociais “são constituídas pela vivência dos alunos e professores, que adquirem conhecimentos dinâmicos provenientes de várias fontes de informações 29 veiculadas pela comunidade e pelos meios de comunicação” (BRASIL, 1997a, p. 29). Assim, os materiais didáticos, as diversas formas de comunicação na escola que fazem parte do processo pedagógico, integram o saber histórico escolar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – (BRASIL, 1997a) apresentam que a relação entre esses dois saberes, o escolar e o produzido pelas pesquisas, requer, de modo amplo, a delimitação de trêsconceitos importantes: o de fato histórico, de sujeito histórico e de tempo histórico. De acordo com os PCNs, a compreensão desses conceitos orienta a concepção histórica que compõe o ensino da disciplina. Alguns pontos desses conceitos que apresentaremos, brevemente, já foram citados em aulas anteriores. Os fatos históricos podem compor eventos políticos, festas cívicas, ações de heróis nacionais, que comumente se apresentam isolados do contexto histórico. Outra concepção de fatos históricos pode ser ações humanas signi�cativas, escolhidas por professores e alunos, que pertençam ao passado remoto ou próximo, a �m de promover análises que destaquem mudanças ou permanências ocorridas no coletivo. O sujeito histórico são os agentes de ação social, que se tornam importantes e signi�cativos para estudos históricos na escola. Esses sujeitos podem ser indivíduos, grupos ou classes sociais, pertencentes a contextos históricos, sendo líderes de lutas em favor de transformações ou permanências de situações, de forma ampla ou pontual (próxima do cotidiano). Podem ser sujeitos históricos, trabalhadores, patrões, escravos, reis, políticos, mulheres, religiosos etc. (BRASIL, 1997a). O tempo histórico possui uma dimensão complexa e o aluno o apreende aos poucos. Ele pode apreender o tempo a partir de suas vivências, crescimento, envelhecimento, a ideia de sucessão, de mudança (tempo psicológico). Há a necessidade de se compreender o tempo histórico também como objeto de cultura, construído pelos povos, como o tempo cronológico e astronômico (dias, noites, meses e séculos), portanto, sendo utilizado como tempo institucionalizado, o calendário, por exemplo, que possibilita pontuar o lugar dos momentos históricos na continuidade do tempo, levando em conta também a ideia de diferentes níveis e ritmos de durações temporais, como já apontado no item ‘o trabalho sobre o tempo’. Os conceitos ora apontados explanam diferentes concepções de História e de como ela é estruturada e constituída. Assim, nos indicam caminhos na de�nição dos fatos que serão investigados, os sujeitos que estarão em evidência e o tempo histórico que serão trabalhados. 30 Apresentaremos, na próxima aula, o trabalho com materiais (relatos orais, imagens, objetos, danças, músicas, narrativas, �lmes etc.) que se transformarão em instrumentos de construção do saber histórico escolar (BRASIL, 1997a). Os saberes histórico e escolar se articulam de modo a propiciar situações pedagógicas adequadas para o desenvolvimento de capacidades intelectuais autônomas do estudante. CONECTE-SE A preocupação com o tempo, a rapidez com que achamos que ele passa, as relações que são breves, a vida marcada pelo relógio que conduz a um ritmo acelerado ao dia, ilustram como o tempo possui características disciplinadoras, mas impostas por nós mesmos. Uma re�exão sociológica e muito interessante é realizada pelo alemão Norbert Elias, em seu livro ‘Sobre o Tempo’. Ele apresenta seus postulados tratando o tema associando-o à história e ao desenvolvimento da humanidade, partindo de uma abordagem crítica, histórica e processual, contribuindo para que tenhamos uma visão mais conjunta dos avanços e retrocessos de nossas construções sociais. 31 https://go.eadstock.com.br/cvO 04 Diferentes Usos das Fontes Históricas 32 O Trabalho Escolar com Fontes Históricas Caro aluno, nesta aula, vamos trabalhar de forma a concretizar o que apresentamos nas aulas anteriores. Veremos vários recursos para serem utilizados no ensino de História. Os documentos são a fonte principal do historiador, é sua matéria-prima para escrever a história. Na escola, o professor usa diferentemente as fontes históricas, introduzindo-as como material didático adequado ao nível e às condições de escolarização dos alunos. Bittencourt (2008) aponta que um documento pode ser usado apenas como uma ilustração, para reforçar uma ideia proferida pelo professor ou livro didático. Pode também ser uma fonte de informação clari�cando uma situação histórica; um disparador para uma situação-problema, na qual o aluno terá que identi�car o objeto ou tema histórico a ser pesquisado. Vale ressaltar que ao escolher os documentos, esses devem ser atrativos e adequados à faixa etária, evitando criar obstáculos ao aprendizado. Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 1997a) indicam que os procedimentos de pesquisa devem ser ensinados às crianças de forma que promovam o conhecimento e ampliem a capacidade de trocar informações, a socializar ideias, a percepção de contradições, ações de confrontamento e, também, nos domínios escritos, orais, iconográ�cos, cartográ�cos e pictóricos. É importante que os alunos adquiram capacidades para que, entre as entrevistas coletadas, possam descartar algumas e confrontar outras. E, ainda: [...] Em uma pesquisa nos arquivos, fotogra�as podem ser selecionadas, entre as muitas recolhidas, para reforçarem argumentos defendidos ou por revelarem situações não imaginadas. Textos jornalísticos, sobre episódio do passado, podem ser organizados para demonstrarem pensamentos da época, por expressarem con�itos entre grupos sociais, ou dispensados por abordarem questões especí�cas que não serão desenvolvidas (BRASIL, 1997a, p. 54). 33 O trabalho de pesquisa e a coleta de informações devem balizar a formulação de uma ou mais respostas aos questionamentos previamente disparados no início do trabalho. E as descobertas devem ser registradas de alguma forma em textos, álbum de fotogra�a, desenhos, livros, vídeos, exposição, mural, coleção de mapas etc. Para a abordagem dos conteúdos, o professor deve pensar numa perspectiva de questionamentos da realidade no presente, [...] desdobrando-se em conteúdos históricos, que envolvem explicitações e interpretações das ações de diferentes sujeitos, da seleção e organização de fatos e da localização de informações no tempo histórico. As explicações para os questionamentos implicam, por sua vez, a exposição dos con�itos, das contradições e da diversidade de possibilidades de compreensão dessa realidade (BRASIL, 1997a, p. 54). Nessa vertente, é fundamental que o professor crie situações rotineiras, nas suas aulas, de atitudes questionadoras frente aos acontecimentos e ações dos sujeitos históricos. Isso permitirá que esses sejam interpretados e compreendidos a partir das relações estabelecidas com outros acontecimentos e sujeitos, de outros tempos, de seu próprio tempo e lugares. Essas relações promovem percepções de semelhanças, diferenças, proximidades, as continuidades entre os objetos estudados. A partir dessas observações, apresentaremos diversas possibilidades de trabalho que oportunizarão aos alunos o aprendizado de como ler documentos variados, próximos à sua realidade social (construções, organização da cidade, materiais de trabalho, meios de comunicação, vestimentas etc.) e, ainda, produções escritas, imagens e �lmes (BRASIL, 1997a). Trabalho com documentos O trabalho com documentos é o recurso mais comum utilizado por historiadores e professores nas aulas de História. Os documentos são encontrados em livros didáticos ou em coletâneas que são compostos por textos escritos de diferente natureza. Como exemplo, os textos legislativos, artigos de jornal e revistas de épocas diversas, trechos literários, poemas e letras de música. 34 Imprensa escrita – são várias as possibilidades de utilizar jornais como fonte histórica. Analisar os conteúdos das notícias sobre política, economia, cultura, como são apresentadas as propagandas, os anúncios, as fotogra�as, e como esses conteúdos estão distribuídos e organizados no jornal, entre outras. Um aspecto muito importante dessa análise se refere à valoração dada ao autor da notícia, ou seja, o jornalista como agente relevante na criação de fatos históricos. No entanto, cuidados devem ser tomados, sendo o jornal um veículo de comunicação muito utilizado, mas que deve que ser considerado como objeto cultural, produtode instituição capitalista. Interessante analisar jornais diferentes, mas de uma mesma época, um mesmo assunto, lembrando que a notícia é um discurso que jamais é neutro, nem imparcial (BITTENCOURT, 2008). Literatura como documento – o uso de textos literários (romances, poemas, contos) como trabalho interdisciplinar contribui para integrar conteúdos de outras disciplinas incluindo a disciplina de História. Muitas práticas de ensino optam por apresentar lendas aos alunos das séries iniciais, como forma de introdução aos conhecimentos históricos. Para a análise desses tipos de textos é interessante que se ofereça aos alunos outros textos de apoio, como mapas, dicionários, informações complementares sobre o autor e sua obra. Bittencourt (2008, p. 341) aponta a existência de uma “relação dialógica entre o autor e o leitor da obra, e essa relação possibilita sempre um encontro entre lugares e épocas diferentes”. Essa relação fornece os princípios para que se realizem comentários sobre qualquer obra. Outro ponto a destacar é que para a História, esses princípios tornam possível a análise de textos literários como documentos de época, cujos autores são representantes de um determinado tempo histórico, possuidor de uma cultura e de uma determinada corrente artística de seu tempo (BITTENCOURT, 2008). Outra proposta de trabalho citada por Bittencourt (2008) refere-se à utilização de documentos pessoais dos alunos, sendo a Certidão de Nascimento, Carteira de Trabalho, Carteira de motorista, que propiciam discussões acerca da cidadania nas sociedades contemporâneas. Em um trabalho pedagógico, a leitura dos documentos implica conhecer informações internas e externas a eles, estamos nos referindo à história do autor e da técnica de registro, ou seja, essas informações adicionais devem ser obtidas em outras fontes, que auxiliarão os alunos a localizarem o “contexto histórico do documento e as relações entre os seus conteúdos e a época em que foi produzida” (BRASIL, 1997a, p. 56). 35 Trabalho com fontes bibliográ�cas – é importante que os alunos aprendam a realizar uma leitura crítica de conteúdos históricos, de maneira a distinguir contextos, funções, estilos, argumentos, diferentes pontos de vista, quais as possíveis intencionalidades. Assim, serão capazes de, além de obter e organizar dados das fontes primárias (construções, utensílios, depoimentos orais, fotogra�as etc.), poderão coletar dados de modo crítico em fontes secundárias (textos de historiadores, livros didáticos, documentários históricos ), reforçando que são obras que precisam ser analisadas dentro de seu contexto histórico (BRASIL, 1997a). Outra questão a ser apontada é a de que os alunos compreendam que as obras de conteúdos históricos são construções que favorecem escolhas, feitas por seus autores, desde a “seleção de fatos históricos, destaque feito a determinados sujeitos históricos, organização temporal das análises e das relações entre acontecimentos” (BRASIL, 1997a, p. 57). Alguns questionamentos que podem ser criados: [...] questionar e dialogar com os textos: em que contexto histórico foi produzido? Quais os fatos e os sujeitos históricos que foram privilegiados? Existia a possibilidade de privilegiar outros sujeitos e outros fatos? Como o tempo está organizado? Quais os argumentos defendidos pelo autor? Como está organizado o seu ponto de vista? Existem outras pessoas que defendem as mesmas ideias? Como pensam outras pessoas? Como se pode pensar de modo diferente do autor? Qual é a opinião pessoal sobre o que o autor defende? (BRASIL, 1997a, p. 57). Esses questionamentos impulsionam trabalhos de pesquisa pelos alunos e pelo professor, a seleção de materiais que complementem a pesquisa, na identi�cação de contextos e esclarecimento dos pontos de vista dos autores. Ati�dades práticas para crianças pequenas Para referendarmos os itens a seguir, caro aluno, utilizaremos o texto de Hilary Cooper (2006) apresentando suas sugestões de trabalho sobre o tempo, a partir de fontes e criação de fatos sobre o passado, às crianças pequenas. Discussão sobre o tempo com as crianças pequenas – a autora sugere uma conversa sobre o tempo pontuando mudanças na vida das próprias crianças. Estimular as crianças a contarem sobre as mudanças que ocorrem, a sequenciá-las e explicá-las, tais como uma mudança de casa e a chegada de um bebê, por exemplo. Ajudá-las a medir a passagem do tempo conversando 36 sobre a fase em que eram bebês, os aniversários, as estações do ano, meses, dias, semanas e, ainda, a linguagem do tempo deve estar presente, antes, agora, ontem, amanhã, próxima semana etc. O passado e o presente nas histórias – as histórias fazem parte da educação nos anos iniciais, e o professor pode recorrer ao uso de histórias em livros de gravuras sobre outras crianças e famílias, para relacionar com as experiências de tempo das crianças de sua sala de aula. Cooper (2006) também recomenda as biogra�as pessoais das crianças e de pessoas de seu convívio como ponto de partida para investigar o passado. Outra possibilidade citada pela autora é utilizar livros de histórias verdadeiras do passado, o que pode, inclusive, cativar as crianças. Também os livros de contos de fadas, mitos e lendas descrevem sobre pessoas do passado, que expõem sobre como elas viviam e se há semelhanças com as de hoje, pois elas também compravam e vendiam coisas, viajavam, celebravam, num contexto em que existiam chaminés, lenhadores, castelos, moinhos etc. Jogo de adivinhações sobre fontes – Cooper (2006) relata sobre a importância de envolver as crianças em atividades prazerosas, mas ao mesmo tempo habituá-las a fazer inferências sobre fontes, aspectos do passado que permaneceram. Essas fontes podem ser visuais, como fotogra�as, pinturas, anúncios. As músicas, canções, jogos do passado, músicas populares da época da infância, das avós são fontes orais, inclusive, entrevistas com pessoas mais velhas. As fontes podem ser coisas que foram feitas em tempos passados, que vão desde um brinco até um grande monumento. Já as fontes escritas, para as crianças menores, o professor poderá usar as pulseirinhas de bebê, cartões de aniversário, livros de fotos antigas, nomes escritos em estátuas etc. Cooper (2006) orienta que perguntas devem ser feitas às fontes, como, do que são feitas, quem as fez, por que, como foram usadas, e seus signi�cados para quem as fez e para quem as usou. As respostas para essas questões serão apenas hipóteses, adivinhações razoáveis, baseadas nos conhecimentos sobre a humanidade e os tempos passados. Com a maturidade das crianças e maior conhecimento, as hipóteses vão se tornando cada vez mais prováveis de serem válidas. Essa prática valoriza o aprendizado de pontos de vista variados (‘eu penso’, ‘porque’, ‘talvez’, ‘pode ser’), o desenvolvimento da argumentação e, ainda, que uma questão pode ter mais de uma resposta certa. Organizando fontes – Os historiadores colocam em sequência as fontes a �m de delinear as causas e efeitos de mudanças ao longo do tempo, como também para entender como e por que os tempos passados eram diferentes e, da mesma forma, semelhantes à atualidade. Para as crianças colocarem as fotos numa sequência, numa linha do tempo e compará-la com as de seus amigos é muito interessante, podendo analisar o que permaneceu, como as 37 roupas de bebê, brinquedos antigos etc. Ainda, é recomendado que as crianças sequenciem fotos, roupas ou casas, de um período curto ou longo, ou por épocas. Desenvolvendo vocabulário – ao discutirmos sobre mudanças no tempo, percebemos palavras diferentes que eram faladas em determinada época. Os livros nos trazem essas palavras, como, por exemplo, colchetes de gancho, castelos, lamparina a óleo, moleiro É importante que os adultos discutam os signi�cados com as crianças, apresentando-lhes diferentes contextos em que essas palavras poderiam ser usadas. Cooper (2006) assegura que aprender novos signi�cados demanda um processo, que deveser ativo e dinâmico por parte da criança. E isso pode ser feito com fotos que representem essas palavras, discutindo quais são suas características e seus signi�cados essenciais, para que possam arriscar o uso dessas palavras ao recontar histórias e em jogos. Concebendo fatos do passado – a autora elege o exercício de criar, imaginar, reconstruir e encenar num jogo, como sendo um processo importante de a criança considerar como e por que versões diferentes são construídas para um mesmo fato. De acordo com Cooper (2006), apenas em sociedades fechadas há uma ‘história verdadeira’ do passado de um país, o que representa um viés político. Outra possibilidade é a de as crianças compararem ilustrações de artistas sobre eventos do passado. A comparação pode ser feita entre dois livros, um do passado e outro contemporâneo, ou ambos os contemporâneos, mas que diferem nos estilos pelo qual os artistas expressam ideias e sentimentos. As crianças também podem discutir como os autores utilizam a cor, linha e forma e qual preferem e por quê. Cooper (2006) alerta que crianças muito novas podem necessitar de ajuda para compreender o conceito, interpretar e reconstruir histórias. Existem várias versões de contos de fadas tradicionais, mas o que é comum em quase todas elas é que personagens de animais são personi�cadas, mas o que é fato é que ratos não viram cocheiros ou lobos não se vestem como vovozinhas, no entanto, essas histórias são difundidas na forma de tradição oral. O que elas introduzem é a ideia de que o passado era distinto e que algumas coisas mudam, e outras não, é a ideia de permanência. Outras re�exões podem ser feitas mediante a diversidade de contextos, causas e efeitos, valores apresentados nessas histórias. Interpretação por meio de jogos – para que as crianças sejam engajadas em compreender o passado, de forma a ter sentido para elas, os jogos desempenham esse papel, pois a imaginação liberta as crianças da timidez do ambiente. Isso permite uma participação de forma �ctícia nos jogos, que 38 começam com situações próximas da realidade, mas aos poucos as crianças vão percebendo o objetivo do jogo. Segundo Cooper (2006), os jogos de imaginação permitem que a criança pense de maneira histórica, fazendo considerações como ‘e se’ e ‘como se’. E, ainda, os jogos devem ser planejados pela equipe, observando seus objetivos e integrados ao currículo. Nesta aula, vimos várias estratégias que os professores podem utilizar com as crianças pequenas. Desenvolver a noção de tempo através das histórias contadas, vividas, familiar e visitas a locais históricos, corroboram em muitos aspectos do desenvolvimento pessoal e social, fatores necessários para que se constitua um senso de pertencimento em relação à sua própria cultura e comunidade. Na aula seguinte, daremos continuidade com outras estratégias de trabalho com os alunos. CONECTE-SE Nesta aula, vimos a importância e o trabalho com textos históricos e com literatura, incluindo contos de fadas. No ensino o uso de recursos audiovisuais é um instrumento imprescindível para despertar o interesse do aluno e sensibilizá-lo para discussões. Um exemplo interessante é o professor trabalhar, por meio de vídeo, a cultura de um outro povo e valores morais vividos naquele contexto. Vamos ver como será essa estratégia e depois você poderá levantar outros questionamentos para seus futuros alunos em sua sala de aula. Acesse o vídeo: 39 https://go.eadstock.com.br/cvP 05 Didática e Conteúdos Históricos 40 Caro aluno, nesta aula, daremos continuidade às estratégias didáticas que podemos utilizar no trabalho sobre o tempo com as crianças. Essas atividades poderão ser adaptadas para a faixa etária com a qual o professor estiver atuando. O aprendizado e a compreensão sobre conceitos históricos necessitam que a criança desenvolva habilidades de comunicação, no entanto, Essa habilidade requer interação com os outros, gostar de ouvir a língua falada - histórias, rimas, músicas, canções de tempos passados - e, também, usar a linguagem para recriar papéis, regras e histórias num jogo ou peça, além de explorar novas palavras. Mensurar o tempo envolve contar (velas em bolos de aniversário, meses do ano, tempo longo/curto), ordenar eventos em sequência, resolver problemas numéricos (quanto a sua irmã é mais velha que você?). Descobrir sobre o passado pode requerer mensurações (quão mais pesada é a barra de ferro? Quanto há ao redor da parede do castelo?); classi�cações (velho, novo; semelhante, diferente). Isso pode envolver discussões sobre como as coisas eram feitas, explorar como elas funcionavam, como eram usadas e seus impactos nas vidas das pessoas. Descobrir sobre o passado é o contexto ideal para trabalhar com os pais e com a comunidade local (COOPER, 2006, p. 183). Estudo do Meio Os trabalhos com os alunos, que envolvem saídas de sala de aula, são muito grati�cantes e signi�cativos. Visitar um museu, uma fábrica, tratamento de água da cidade, pesquisar o bairro, cidades históricas etc., são oportunidades especiais para que os alunos se sintam motivados diante das situações didáticas diferentes e concretas. No entanto, quando o professor quer caracterizar essas atividades como estudo do meio, é preciso uma metodologia especí�ca de trabalho, ou seja, haverá um contato direto com fontes de informação documental, encontradas no contexto social ou natural, por isso, todo cuidado é necessário, pois esta prática se aproxima de uma pesquisa cientí�ca (BRASIL, 1997a). 41 É necessário preparar “questões a serem investigadas, seleção de informações, observações em campo, comparações entre os dados levantados e os conhecimentos já organizados por outros pesquisadores [...]” (BRASIL, 1997a, p. 61). É necessário também, no estudo do meio, que o aluno interprete e estabeleça relações ativas com a produção de novos conhecimentos, diretamente com os documentos que estão no contexto vivo e dinâmico dessa realidade. Isso promove o encontro do aluno com o passado e o presente, a parte e o todo, contradições etc., pois É no local, conhecendo pessoalmente casas, ruas, obras de arte, campos cultivados, aglomerações urbanas, conversando com os moradores das cidades ou do campo, que os alunos se sensibilizam, também, para as fontes de pesquisa histórica, isto é, para os “materiais” sobre os quais os especialistas se debruçam para interpretar como seria a vida em outros tempos, como se dão as relações entre os homens na sociedade de hoje ou como são organizados os espaços urbanos ou rurais (BRASIL, 1997a, p. 62). É importante que o aluno comece a compreender o mundo, conhecendo a diversidade de ambientes, modos de vida, estilos de arte, dentre outros. E, para isso, o estudo do meio é um recurso didático privilegiado, tendo em vista proporcionar ao aluno o desenvolvimento de um olhar indagador e crítico sobre o mundo e o espaço em seu entorno. Outro fato importante a destacar é o de que os documentos e as realidades não falam por si próprios, e para compreendê-los é necessário organizar perguntas, “fazer recortes temáticos, relacioná-los a outros documentos, a outras informações e a outras realidades” (BRASIL, 1997a, p. 62). Bittencourt (2008) reforça a importância de desenvolver a capacidade de o aluno observar, ou seja, a observação como procedimento de investigação em um estudo do meio, isso já a partir das séries iniciais. De acordo com a autora, essa prática favorecerá o desenvolvimento do pensamento crítico, isso porque, no estudo do meio, o aluno se defronta com problemas concretos e não com conceitos ou abstrações. O estudo do meio não é apenas para se constatar fatos, como, por exemplo, que as casas construídas no início do século possuem características do estilo neoclássico e, sim, para a construção de novos saberes. Mas isso requer uma preparação anterior à visita. 42 No próximo item, continuaremos com recursos didáticos, que favorecerão o trabalho em sala de aula, no incentivo à descoberta do passado.Recursos Didáticos Peças teatrais – os professores, ao longo dos anos, têm elogiado as peças teatrais como um instrumento rico e e�ciente para o aprendizado e engajamento com os tempos passados. Cooper (2006) cita Erickson, que descobriu que se as crianças são estimuladas a reconstruírem cenas emocionantes de lendas populares através da encenação de uma peça, “elas servem de metáforas para as suas vidas, (de emoções que as ligam a outros tempos e lugares” (Cooper, 2006, p. 183). A autora cita Garvey que enfatiza a importância das peças teatrais, por elas reconstruírem histórias sobre outros tempos e lugares, envolvendo diálogos e experiências que permitem às crianças explorar emoções, convivências e experiências, tempos e lugares alheios ao seu cotidiano. A consciência do passado adquirida por meio de histórias sobre o passado mais distante é fundamental para a compreensão de quem somos, como os relacionamentos acontecem e sobre as semelhanças e diferenças entre as pessoas. Dessa forma, é possível entender como elas se comportam, como agem, sentem e pensam sobre como as coisas acontecem. A imaginação se amplia na discussão de histórias, característica do desenvolvimento do pensamento infantil, que não deve ser ignorado, pois Crianças pequenas estão se tornando mais capazes de recontar e modi�car histórias tradicionais, de forma que elas integrem suas próprias experiências. Descobrir sobre o passado, então, torna-se uma contribuição importante ao desenvolvimento pessoal, social e emocional. Auxilia as crianças a respeitarem culturas, ter consciência da sua própria e a considerar as consequências das ações (COOPER, 2006, p. 184). Documentos não escritos em sala de aula (museus) – esses documentos podem ser objetos de museus que guardam a cultura material e informações sobre costumes, técnicas, condições econômicas, ritos e crenças de nossos antepassados. Uma leitura feita sobre esses objetos transforma-os em 43 documentos. Artistas que produziram imagens em diversas épocas do passado também nos informam sobre as sociedades, suas sensações, trabalhos, paisagens, caminhos, cidades, guerras etc. No entanto, a visita ao museu merece cuidados especí�cos para que se possa transformar essa visita numa situação pedagógica, pois estarão expostos à cultura material: mesas, vasos de cerâmica, roupas, tapetes, moedas, carros, locomotivas, dentre outros, além de serem objetos que mostram a vida de antigamente, representar um material didático que servirá de fonte de análise, de interpretação e de crítica por parte dos alunos (BITTENCOURT, 2008). Tudo dependerá do olhar que será dispensado a esses materiais. O olhar deverá ser de indagação, de informação, que pode aumentar o saber sobre os homens e sua história, e não apenas de curiosidade, a respeito de objetos de um museu. Bittencourt (2008, p. 356) utiliza a descrição do Estatuto do Comitê Brasileiro do Icom, artigo 6º, que de�ne Museu como: Uma instituição permanente, sem �nalidade lucrativa, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. É uma instituição aberta ao público, que adquire, conserva, pesquisa, comunica e exibe evidências materiais do homem e de seu ambiente, para �ns de pesquisa, educação e lazer. Os museus têm um potencial educativo muito positivo o que corrobora na formação de futuros educadores e alunos. No entanto, ao organizar uma visita ao museu, faz-se necessário que o professor tenha um conhecimento básico sobre esse lugar de memória e de seus objetos, fruto do trabalho humano do passado. Almeida e Vasconcellos, citados por Bittencourt (2008, p. 357), apresentam sugestões aos professores: 44 O processo para descobrir e interpretar objetos, de acordo com Bittencourt (2008), perpassa por dois critérios, sendo o primeiro estético, que se refere à aproximação do aluno com o objeto, permitindo a ele que se expresse livremente, falando suas impressões. E, o segundo, ao conhecimento da cultura material, ou seja, importa o aluno ser inserido no entendimento do objeto como integrante da vida cotidiana, dos rituais, da arte de determinado grupo social. Um objeto de museu deve sempre estar ligado a outros para que se possa comparar, perceber semelhanças, diferenças entre eles, sugerindo hipóteses sobre seu uso ou mesmo sobre sua fabricação (BITTENCOURT, 2008). Fotogra�as - Outros tipos de imagens, como as fotogra�as comuns ou quadros que registram pessoas, seus rostos e vestuários são marcas de uma história e têm sido utilizados regularmente como recurso didático no ensino de História. Bittencourt (2008) ressalta também a produção de imagens tecnológicas, ou seja, produzidas por meio de aparelhos eletrônicos, como recurso didático. Mas De�nir os objetivos da visita; Selecionar o museu mais apropriado para o tema a ser trabalhado; ou uma das exposições apresentadas, ou parte de uma exposição, ou ainda, um conjunto de museus; Visitar a instituição antecipadamente e alcançar uma familiaridade com o espaço a ser trabalhado; Veri�car as atividades educativas oferecidas pelos museus e se elas se adequam aos objetivos propostos e, neste caso, adaptá- los aos próprios interesses; Preparar os alunos para a visita através de exercícios de observação, estudo de conteúdos e conceitos; Coordenar a visita, de acordo com os objetivos propostos ou participar de visita monitorada, coordenada por educadores do museu; Elaborar formas de dar continuidade à visita quando voltar à sala de aula; Avaliar o processo educativo que envolveu a atividade, a �m de aperfeiçoar o planejamento das novas visitas, em seus objetivos e escolhas. 45 a grande questão é como os professores devem utilizar esses recursos de forma que não se limite apenas como ilustração para o desenvolvimento de um tema. Os historiadores têm mostrado muito interesse pelos diversos tipos de imagens, como também sobre cinema, fotogra�a e televisão, no entanto, uma preocupação ainda é recorrente, a de não �car apenas com a percepção da transformação do acontecimento em imagem. O que reduziria o conhecimento a apenas ver, e não mais em compreender. Assim, a abordagem das imagens deve ser crítica o que comporá a união entre a recepção e a produção. Bittencourt (2008) a�rma que o universo iconográ�co é extenso e há inúmeros tipos de imagens, e o estabelecimento de relações com outras fontes é necessário, como a escrita, por exemplo. A imagem fotográ�ca em especí�co, registra fatos, acontecimentos, vivências presentes, mas que logo se tornam passado. É um registro da memória, como o álbum de fotogra�as da família, por exemplo. A fotogra�a registra cenas verdadeiras, o que realmente aconteceu. Esse é um ponto problemático tanto para o historiador como para o professor, porque a fotogra�a é uma representação do real. Outro problema é o uso corriqueiro das fotos na sociedade contemporânea, ou seja, o seu uso intenso anula a percepção do observador. Bittencourt (2008) a�rma que a percepção da imagem da fotogra�a gera um processo de memória, o que se associa à oralidade. Assim, ao observar um álbum de fotos de família traz recordações e muitos comentários sobre elas. É fundamental escolher as fotos, datá-las, e que reproduzam cenas e personagens que possam ser reconhecidos se tornarem fonte histórica con�ável. Analisados os itens mencionados, o professor deve escolher fotos que sejam impactantes em relação ao tema que será abordado, isso para que possa motivar os alunos e que tragam informações e gerem questionamentos. Na descoberta da história de vida de crianças pequenas, história da família, história do bairro e outras, as fotogra�as são essenciais, pois favorecem o sentimento de identidade e de pertencimento. São recursos didáticos que favorecem a É necessário, então, desconstruir a fotogra�a para entender as imagens sedutoras. Logo, é sempre necessário fazer a seguinte pergunta: o que está sendo fotografado? Isso é para a compreensão do porquê e para que algumas fotogra�as foram feitas, pois sempre há uma intenção na captaçãodas imagens. 46 entrada do aluno no método de análise de documentos históricos. Bittencourt (2008) a�rma que as crianças em fase de alfabetização, a leitura do ano, nome de pessoas, proporcionam o entendimento dos conceitos de antes e depois e a assimilação do conceito de geração. Já para alunos mais velhos, o uso da fotogra�a pode favorecer a compreensão das mudanças e permanências por meio de um estudo comparativo. Uma atividade muito interessante é a de apresentar fotos de um mesmo lugar em épocas diferentes, como feito nas imagens a seguir: são duas fotos de uma mesma avenida à beira-mar, mas em épocas diferentes. Filmes - os �lmes registram a vida contemporânea e reconstroem o passado, representando guerras, batalhas e vida amorosa de outrora. Os �lmes nada mais são que imagens em movimento e com som. Bittencourt (2008) nos coloca que [...] os �lmes não são registros de uma história tal qual aconteceu ou vai acontecer, mas representações que merecem ser entendidas e percebidas não como diversão apenas, mas como um produto cultural capaz de comunicar emoções e sentimentos e transmitir informações (BITTENCOURT, 2008, p. 353). Introduzir �lmes nas aulas de História, como material didático, é um recurso que evita que os alunos apenas ouçam o professor e, sim, escutem personagens e vejam imagens (recursos audiovisuais). Tem sido cada vez mais comum o uso de �lmes, tanto na escola, quanto em casa, para posterior discussão, mas cabe uma re�exão sobre que tipo de trabalho o professor tem realizado com a linguagem cinematográ�ca. Que tipo de leitura tem sido feita na análise de um �lme, preparado para um público diverso e empregado como material de aprendizagem? Fonte: acesse o link disponível aqui 47 https://m.megacurioso.com.br/historia-e-geografia/100465-antes-e-depois-veja-a-transformacao-de-16-lugares-ao-longo-dos-anos.htm Especialistas da área apresentaram métodos de ensino sobre o uso adequado de �lmes na escola. Inicialmente, é necessário ter cuidado na escolha, levando em conta as preferências dos alunos como espectadores. De acordo com Bittencourt (2008), esses e outros questionamentos ajudam os alunos a verem e a indagarem os �lmes sob uma perspectiva diferente. A partir dessas ações pode ser apresentado o �lme desejável, e nessa mesma direção, analisar o conteúdo, personagens, acontecimentos mais importantes, cenário, lugar e tempo em que acontece a história narrada. Bittencourt (2008) sugere, ainda, o preenchimento de uma �cha técnica com todos os dados do �lme, diretor, produtor, música, ano, país etc. Algumas publicações sugerem atividades e métodos de análises para as escolas, inclusive com a própria publicação dos alunos, com os recursos que temos hoje. Música - a música, erudita ou popular, é um veículo que leva as pessoas a conhecer a cultura brasileira com seus obstáculos e especi�cidades, e compõe os documentos não escritos que podem ser transformados em instrumentos didáticos válidos e importantes na composição do conhecimento do histórico escolar. Vale ressaltar que para cada documento existem formas especí�cas de análise. O que signi�ca estar atento às características de suas linguagens, como a de produzir e propagar as informações (BITTENCOURT, 2008). A autora aponta que há uma predileção pelo trabalho com a música popular, e é ela que poderá contribuir como fonte de informações históricas e como produção cultural da nossa sociedade. Nas aulas de História, a música, principalmente a popular e a sertaneja, tem sido utilizada com muita criatividade. Os regimes políticos ditatoriais são abordados pelo samba e MPB (períodos Vargas e Militar) como forma de É preciso que os alunos estejam preparados para a leitura crítica, e esse preparo pode ser pelos próprios �lmes que eles assistem, fazendo questionamentos, por exemplo: como você escolhe um �lme para assistir? Você gosta do tipo de �lme em que você tenha um trabalho intelectual para compreendê-lo? O que você valoriza no �lme, a interpretação dos atores ou o conteúdo? Quanto custa fazer um �lme? Como ele é feito ou produzido? 48 protesto, inclusive. Bittencourt (2008) diz que, além da temática política, a música aborda temas relativos à vida cotidiana dos trabalhadores que demonstram discriminações étnicas e de gênero. A música popular, como o rap, por exemplo, tem muita adesão por parte dos alunos da periferia e grandes centros urbanos. O uso da música, situa os alunos frente aos meios de comunicação que se aproximam de sua vivência, demonstrando as preferências da nova geração. Bittencourt (2008) diz que a música, ao ser ouvida em sala de aula, várias indagações devem ser feitas sobre o tema, ritmo, interpretação, os instrumentos musicais e para as técnicas de gravação. Esse processo leva o aluno a pensar sobre a música. Após essa fase de re�exão, perguntar como seria ouvir música em uma sociedade que não utiliza técnicas eletrônicas modernas. O professor deve fornecer outros documentos que balizem ou não, as hipóteses dos alunos. Na imagem seguinte, a reprodução da gravura de Jean Debret, Marimba – O passeio de domingo à tarde (século XIX), citada por Bittencourt (2008, p. 383), é um ótimo exemplo aos alunos para responder a algumas hipóteses formuladas sobre a música em outros tempos e espaços. Fonte: acesse o link disponível aqui 49 http://artsandculture.google.com/asset/marimba-walk-on-a-sunday-afternoon-debret-jean-baptiste-1768-1848/JwEldQ_K-tHWHg?hl=pt-br FICA A DICA Livro Um livro bastante interessante é “A História vai ao cinema”, de Mariza de Carvalho Soares e Jorge Ferreira (Orgs. 2001), que apresenta vinte �lmes brasileiros comentados por historiadores. No livro, Ronaldo Vainfas analisa o �lme Carlota Joaquina, Princesa do Brasil, de 1995, dirigido por Carla Camurati. Em seu artigo intitulado “Carlota: caricatura da História”, diz que a História não é monopólio dos historiadores de pro�ssão, assim, ela está disponível também aos romancistas, cineastas ou dramaturgos. Vainfas coloca que sua função também não é a de crítico literário, assim, como historiador, analisará o �lme sob o ponto de vista histórico. O �lme é uma biogra�a, com viés satírico, de Carlota Joaquina. O �lme narra a história de vida de Carlota, desde os tempos de menina, na corte espanhola de Bourbons, até sua morte em Portugal. Vainfas aponta que o �lme é útil para se conhecer um pouco da História do Brasil, divulgá-la e pensá-la, no entanto, alerta que há erros de várias ordens, imprecisões e invenções. Assim, caro aluno, vale a pena você conhecer o �lme, se ainda não assistiu, e ler o artigo do Vainfas e suas impressões. 50 06 O Povo Brasileiro e a Diversidade Cultural 51 “Há muito se diz que o Brasil é um país rico em diversidade étnica e cultural, plural em sua identidade: é índio, afrodescendente, imigrante, é urbano, sertanejo, caiçara, caipira...” (BRASIL, 1997b, p. 15). O Ensino de História Africana e Afro-brasileira Ao longo de nossa história, muitos são os preconceitos com a existência de relações de discriminação e exclusão social que colocam à margem, muitos brasileiros, impedindo-os que vivam plenamente sua cidadania. Em 2004, foi homologada as “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações étnico-raciais e para o ensino de História e cultura Afro-brasileira e Africana, tanto pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) quanto pelo Ministério da Educação (MEC). O objetivo de se cumprir esse documento é o de se democratizar e corrigir desigualdades históricas em nossa sociedade (ABREU; MATTOS, 2008). As Diretrizes Curriculares procuram oferecer à população afrodescendente, especi�camente na área da educação, “políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade” (BRASIL, 2004, p. 10). Isto signi�ca um trabalho iniciado nas escolas, com fundamentação histórica, social, antropológica com origem na realidade brasileira, cujo foco primordial é combater o racismo e as discriminaçõesque afetam de modo particular os negros. Nesta perspectiva, propõe a divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial – descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada (BRASIL, 2004, p. 10). 52 Também cabe ao Estado e à sociedade praticarem ações de forma a ressarcir os “descendentes de africanos negros, de todos os danos psicológicos, materiais, sociais e educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da população” (BRASIL, 2004, p. 11), como também, por meio da intervenção do Estado, romper o sistema meritocrático que amplia e agrava as desigualdades e injustiças e mantêm os privilégios de muitos. As políticas de reparações, de acordo com Diretrizes Curriculares (BRASIL, 2004), devem garantir o ingresso da população negra, na educação, como sua permanência e sucesso na educação escolar, como também a valorização “do patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro, de aquisição das competências e dos conhecimentos tidos como indispensáveis para continuidade nos estudos” (BRASIL, 2004, p. 11), e a conclusão com sucesso em todos os níveis de ensino. A educação nas relações entre todas as pessoas implica mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, ações, atitudes e a forma de tratar as pessoas negras. Isso inclui o mito de que as pessoas negras não atingem sucesso como as não negras, porque não têm interesse ou porque não têm competência, desprezando as desigualdades de séculos anteriores com suas estruturas social @rawpixel.com em freepik As políticas objetivam o direito dos negros de se reconhecerem pertencentes à cultura nacional, com direitos de se expressarem livremente, com autonomia, apresentar suas visões de mundo, seus pensamentos, e de cursarem todos os níveis de ensino, como cada cidadão brasileiro e, ainda, com professores quali�cados para tratarem com situações complexas produzidas pelo racismo e discriminações. Essas situações se referem à condução de uma reeducação das relações entre descendentes de africanos, europeus, asiáticos, e povos indígenas. 53 e hierárquica, que prejudicam os negros. É necessário o reconhecimento, a valorização e o respeito às pessoas negras, como à sua descendência africana, história e cultura. Esse reconhecimento perpassa também pela compreensão de seus valores e lutas, como ao sofrimento causado por inúmeras formas de desquali�cação a eles aplicadas (BRASIL, 2004). Desta forma, sistemas de ensino e demais estabelecimentos de variados níveis transformarão as necessidades dos afro- brasileiros em políticas públicas tanto de Estado, quanto institucionais, com o intuito de constituir programas de ações positivas, sendo essas coerentes com um projeto concebido pela escola, pela educação que sejam replicados nas relações pedagógicas diárias. No entanto, nesse processo, a escola e seus professores não podem improvisar. É prioridade que seja desfeita a “mentalidade racista e discriminadora secular, superando o etnocentrismo europeu, reestruturando relações étnico-raciais e sociais, desalienando processos pedagógicos” (BRASIL, 2004, p. 15). Portanto, para se constituir novas práticas pedagógicas, alguns equívocos deverão ser desfeitos. Um deles diz respeito à preocupação de professores no sentido de designar ou não seus alunos negros como negros ou como pretos, sem ofensas. Em primeiro lugar, é importante esclarecer que ser negro no Brasil não se limita às características físicas. Trata-se, também, de uma escolha política. Por isso, o é quem assim se de�ne. Em segundo lugar, cabe lembrar que preto é um dos quesitos utilizados pelo IBGE para classi�car, ao lado dos outros – branco, pardo, indígena - a cor da população brasileira. Pesquisadores de diferentes áreas, inclusive da educação, para �ns de seus estudos, agregam dados relativos a pretos e pardos sob a categoria negros, já que ambos reúnem, conforme alerta o Movimento Negro, aqueles que reconhecem sua ascendência africana (BRASIL, 2004, p. 15). 54 Outro equívoco apontado pelo documento (BRASIL, 2004) refere-se à crença de que questão racial é discutida limitadamente pelo Movimento Negro e outros estudiosos, �cando alheia à escola. No entanto, cabe à escola assegurar o direito da educação a toda e qualquer pessoa, devendo se posicionar politicamente contra qualquer forma de discriminação, como apontado anteriormente. Todo e qualquer educador tem a tarefa de lutar contra qualquer tipo de discriminação, sendo que “o racismo, segundo o Artigo 5º da Constituição Brasileira, é crime ina�ançável e isso se aplica a todos os cidadãos e instituições, inclusive, à escola” (BRASIL, 2004, p. 16). A Diversidade Cultural e Racial do Povo Brasileiro Trabalhar temas referentes à história e cultura afro-brasileira, caro aluno, como também a respeitar as diferenças, não praticar a discriminação, não se restringe apenas às pessoas negras e, sim, refere-se a todos nós, brasileiros, no reconhecimento da nossa sociedade multicultural e pluriétnica. As Diretrizes Curriculares (BRASIL, 2004) nos alertam para que não mudemos o foco etnocêntrico europeu para um africano, mas que se ampliem os currículos das escolas para a compreensão da diversidade cultural, racial, social e econômica brasileira. Assim, as escolas terão a função de acrescentar em seus trabalhos, além dos estudos e atividades, as contribuições oferecidas pela diversidade de nosso povo. Reforça ainda o documento (BRASIL, 2004), que as escolas deverão estabelecer conteúdos de ensino, projetos e programas que abranjam componentes curriculares com os temas anteriormente expostos. E, ainda, que os responsáveis pelos sistemas de ensino proporcionem às escolas, seus professores e alunos, materiais bibliográ�cos e didáticos, como também o acompanhamento das práticas utilizadas, a �m de que esses temas tão complexos, sejam tratados de forma a evitar o despreparo do professor e erros no trato dos conteúdos. 55 Percebe-se que caberá às escolas a responsabilidade de mudar a visão estereotipada e falsa em relação ao trato da contribuição dos africanos e seus descendentes, na construção da nação brasileira, como também supervisionar atos de racismo em seu meio. Precisa, o Brasil, país multiétnico e pluricultural, de organizações escolares em que todos se vejam incluídos, em que lhes seja garantido o direito de aprender e de ampliar conhecimentos, sem ser obrigados a negar a si mesmos, ao grupo étnico/racial a que pertencem e a adotar costumes, ideias e comportamentos que lhes são adversos. E estes, certamente, serão indicadores da qualidade da educação que estará sendo oferecida pelos estabelecimentos de ensino de diferentes níveis (BRASIL, 2004, p. 18). As “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações étnico- raciais e para o ensino de História e cultura Afro-brasileira e Africana” é um referencial importante para que se cumpra cada instituição o seu papel, para tanto, apresentou princípios que embasam essas ações. Destacaremos alguns desses princípios: (BRASIL, 2004, pp. 19,20). CONSCIÊNCIA POLÍTICA E HISTÓRICA DA DIVERSIDADE Este princípio deve conduzir: à igualdade básica de pessoa humana como sujeito de direitos; à compreensão de que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, igualmente valiosas e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história; ao conhecimento e à valorização da história dos povos africanos e da cultura afro-brasileira na construção histórica e cultural brasileira; à superação da indiferença, injustiça e desquali�cação com que os negros, os povos indígenas e também as classes populares às quais os negros, no geral,pertencem, são comumente tratados; à desconstrução, por meio de questionamentos e análises críticas, objetivando eliminar conceitos, ideais, comportamentos veiculados pela ideologia do branqueamento, pelo mito da democracia racial, que tanto mal faz a negros e brancos; à busca, da parte de pessoas, em particular de professores não familiarizados com a análise das relações étnico-raciais e sociais, com o estudo de história e cultura afro-brasileira e africana, de informações e 56 subsídios que lhes permitam formular concepções não baseadas em preconceitos e construir ações respeitosas; ao diálogo, via fundamental para entendimento entre diferentes, com a �nalidade de negociações, tendo em vista objetivos comuns, visando a uma sociedade justa. FORTALECIMENTO DE IDENTIDADES E DE DIREITOS O princípio deve orientar para: o desencadeamento de processo de a�rmação de identidades, de historicidade negada ou distorcida; o rompimento com imagens negativas forjadas por diferentes meios de comunicação, contra os negros e os povos indígenas; o esclarecimento a respeito de equívocos quanto a uma identidade humana universal; o combate à privação e violação de direitos; a ampliação do acesso a informações sobre a diversidade da nação brasileira e sobre a recriação das identidades, provocada por relações étnico-raciais; as excelentes condições de formação e de instrução que precisam ser oferecidas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, em todos os estabelecimentos, inclusive os localizados nas chamadas periferias urbanas e nas zonas rurais. AÇÕES EDUCATIVAS DE COMBATE AO RACISMO E AS DISCRIMINAÇÕES O princípio encaminha para: a conexão dos objetivos, estratégias de ensino e atividades com a experiência de vida dos alunos e professores, valorizando aprendizagens vinculadas às suas relações com pessoas negras, brancas, mestiças, assim como as vinculadas às relações entre negros, indígenas e brancos no conjunto da sociedade; a crítica pelos coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais, professores, das representações dos negros e de outras minorias nos textos, materiais didáticos, bem como providências para corrigi-las; as condições para professores e alunos pensarem, decidirem, agirem, assumindo responsabilidade por relações étnico-raciais positivas, enfrentando e superando discordâncias, con�itos, contestações, valorizando os contrastes das diferenças; a valorização da oralidade, da corporeidade e da arte, por exemplo, como a dança, marcas da cultura de raiz africana, ao lado da escrita e da leitura; 57 a educação patrimonial, aprendizado a partir do patrimônio cultural afro- brasileiro, visando a preservá-lo e a difundi-lo; o cuidado para que se dê um sentido construtivo à participação dos diferentes grupos sociais, étnico-raciais na construção da nação brasileira, aos elos culturais e históricos entre diferentes grupos étnico-raciais, às alianças sociais; a participação de grupos do Movimento Negro e de grupos culturais negros, bem como da comunidade em que se insere a escola, sob a coordenação dos professores, na elaboração de projetos político- pedagógicos que contemplem a diversidade étnico-racial. De acordo com os princípios apresentados, são claras as exigências de mudança de mentalidade, ou seja, na forma de agir e de pensar das pessoas e das instituições de forma geral. Decorrentes desses princípios emergem as determinações de se trabalhar o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Estas envolvem uma articulação entre passado, presente e futuro produzidos em diferentes situações e realidades do povo negro. Este formato tem por objetivo reconhecer e valorizar a identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, garantindo seus direitos de cidadãos, assim como os indígenas, europeus e asiáticos. Envolvem atividades curriculares que promovam o diálogo com formas respeitosas de convivência, respeitando valores, visões de mundo, raciocínios e pensamentos de cada um (BRASIL, 2004). A Pluralidade Cultural Outro documento que aborda a questão racial se encontra nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, no tema transversal “Pluralidade Cultural” (BRASIL, 1997b). Este documento foi aprovado pelo Ministério da Educação (MEC), em 1996, e introduziu no ensino conteúdos de história africana. Assim, vários foram os subsídios que nortearam o trabalho pedagógico do professor, dentre eles, os fundamentos éticos, que apresentam uma proposta curricular com foco na cidadania, voltada às diversidades existentes na sociedade, sendo a ética, que sustenta e exige de todos, projetos e iniciativas que objetivam a superação do preconceito e da discriminação. De acordo com o tema transversal, Pluralidade Cultural, a 58 [...] contribuição da escola na construção da democracia é a de promover os princípios éticos de liberdade, dignidade, respeito mútuo, justiça e equidade, solidariedade, diálogo no cotidiano; é a de encontrar formas de cumprir o princípio constitucional de igualdade, o que exige sensibilidade para a questão da diversidade cultural e ações decididas em relação aos problemas gerados pela injustiça social (BRASIL, 1997b, p. 29). O tema Pluralidade Cultural abarca a conduta na atividade educativa, relativas à reciprocidade entre educador e educando e do ponto de vista psicopedagógico, se fazem presentes conhecimentos que forneçam ao professor a compreensão do fracasso e do sucesso do aluno. Isso de uma vertente que remete à escola e suas atividades didáticas uma parte maior desses resultados, e não só aos alunos, o que permite uma rede�nição de procedimentos didáticos em sala de aula. Outro documento que aborda a questão racial se encontra nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, no tema transversal “Pluralidade Cultural” (BRASIL, 1997b). Este documento foi aprovado pelo Ministério da Educação (MEC), em 1996, e introduziu no ensino conteúdos de história africana. Assim, vários foram os subsídios que nortearam o trabalho pedagógico do professor, dentre eles, os fundamentos éticos, que apresentam uma proposta curricular com foco na cidadania, voltada às diversidades existentes na sociedade, sendo a ética, que sustenta e exige de todos, projetos e iniciativas que objetivam a superação do preconceito e da discriminação. De acordo com o tema transversal, Pluralidade Cultural, a [...] contribuição da escola na construção da democracia é a de promover os princípios éticos de liberdade, dignidade, respeito mútuo, justiça e equidade, solidariedade, diálogo no cotidiano; é a de encontrar formas de cumprir o princípio constitucional de igualdade, o que exige sensibilidade para a questão da diversidade cultural e ações decididas em relação aos problemas gerados pela injustiça social (BRASIL, 1997b, p. 29). O tema Pluralidade Cultural abarca a conduta na atividade educativa, relativas à reciprocidade entre educador e educando e do ponto de vista psicopedagógico, se fazem presentes conhecimentos que forneçam ao professor a compreensão do fracasso e do sucesso do aluno. Isso de uma 59 vertente que remete à escola e suas atividades didáticas uma parte maior desses resultados, e não só aos alunos, o que permite uma rede�nição de procedimentos didáticos em sala de aula. Já em relação à discriminação, o medo aparece como um dos fundamentos psicológicos e falar sobre ele de forma explícita “permite que se possa tratar o medo como o que é de fato: manifestação de insegurança, muitas vezes, plantada em cada um de maneira arcaica, que pode ser revertida apenas quando encarada e trabalhada” (BRASIL, 1997b, p. 37). Portanto, a discriminação ocorre numa relação entre dois polos, em um deles aparece o medo como reação ao desconhecido e ameaçador, ou seja, o que tem a cor da pele diferente, ou fala de tradições étnicas, religiosas, culturais desconhecidas, comumente taxado de esquisito ou estranho. A forma mais assertiva de se trabalhar esse tipo de medo é com a informação nas diversas áreas, o que permite o conhecimentomútuo, tanto dos alunos entre si, quanto em relação às demais pessoas de diferentes origens socioculturais. O ensino e aprendizagem em uma perspectiva da pluralidade cultural demanda que se revejam e transformem práticas inaceitáveis e inconstitucionais, enraizadas em nossa sociedade. Em contrapartida, que se ampliem conhecimentos do povo brasileiro, suas histórias, trajetórias, valores e vidas. Assim, o entrelaçamento entre a escola, comunidade local e sociedade vão ampliar situações do cotidiano para aquelas gerais, e vice-versa, sendo o processo educacional um meio para tal �m. Outro ponto a destacar é que por meio do convívio escolar, conhecimentos e vivências cooperam para que o senso de justiça se torne acurado, impedindo que manifestações de preconceito e discriminação incidam sobre si mesmo ou a outras pessoas, de forma a praticar atitudes de repúdio a quaisquer práticas nesse sentido. É importante lembrar que a discriminação é revestida de conteúdos de violência, mesmo que simbólica, o que desencadeia o medo, seja da eliminação de forma extrema ou mesmo pela manifestação da exclusão, “assim, é decisivo propiciar elementos ao aluno para que repudie toda forma de exclusão social, por meio sobretudo da prática cotidiana de procedimentos voltados para o princípio da equidade” (BRASIL, 1997b, p. 37). 60 O ambiente escolar pautado na convivência em que o respeito mútuo e a justiça são praticados, corrobora para a vinculação da escola a uma sociedade democrática, e o trabalho com a temática da Pluralidade Cultural realizado por meio do exercício efetivo do diálogo sobre vivências culturais diversas, são componentes essenciais fortalecedores do convívio democrático. O diálogo nessa proposta de convivência é “aprender a posicionar-se de forma a compreender a relatividade de opiniões, preferências, gostos, escolhas, é aprender o respeito ao outro. Ensinar suas próprias práticas, histórias, gestos, tradições é fazer-se respeitar ao dar-se a conhecer” (BRASIL, 1997b, p. 40). O documento que aborda o tema transversal Pluralidade Cultural é enfático em ressaltar que se desenvolva a sensibilidade em relação ao outro. Tanto o professor como os alunos devem compreender o sofrimento daqueles que são alvos da discriminação, mantendo-se atentos no ambiente de sala de aula, discutindo e abrindo espaço ao diálogo. Assim, Poder expressar o que sentiu diante da discriminação signi�ca a chance de ser resgatado da humilhação, e de partilhar com colegas seus sentimentos. Ou seja, trata-se de ensinar a dialogar sobre o respeito mútuo, num gesto que pode transformar o signi�cado do sofrimento, ao fazer da ocorrida ocasião de aprendizagem. A sensibilidade, aqui, exige a atenção para a reação que a criança esteja apresentando, para sua maior ou menor disposição para tratar do assunto exatamente no momento ocorrido, ou em situação posterior (BRASIL, 1997b, p. 41). Abreu e Mattos (2008) apontam que muitos críticos do texto dos PCNs, no tema transversal Pluralidade Cultural, que constam também nas Diretrizes Curriculares, asseguram que este se baseia “numa perspectiva que transforma as subculturas étnicas e raciais em conjuntos fechados, homogêneos e sem con�itos, a exemplo do que antes se fazia com a noção de cultura e identidade nacional mestiça” (ABREU; MATTOS, 2008, p. 8). No entanto, segundo as autoras, os críticos dizem que o texto também permite outras interpretações e no quesito da divisão da sociedade brasileira em grupos culturalmente fechados, não se tem essa intenção e, sim, a de educar as pessoas para a convivência respeitosa entre as diversas tradições e práticas culturais existentes no Brasil, educando para a tolerância e respeito para todas as diferenças, sejam elas religiosas, étnico-raciais, linguísticas ou regionais. 61 PARA GABARITAR O tema abordado nesta aula é historicamente tenso e delicado. Isto porque envolve mudanças de mentalidades do povo brasileiro. Além de primordial, o trabalho que cabe às escolas é desa�ador, como o é para nossa sociedade. É necessário colocar em debate conceitos de raça, identidade negra, cultura negra e afro-brasileira, pluralidade cultural e cultura brasileira, aprofundando-os e contextualizando-os no processo histórico. A política educacional proposta nas Diretrizes Curriculares e no tema transversal, Pluralidade Cultural, visa romper com as desigualdades raciais, com uma pedagogia de combate ao racismo e às discriminações. Concomitante a esse processo, há a reivindicação do reconhecimento, da valorização e a�rmação da identidade e direitos dos afro-brasileiros. Mas falar em reconhecimento demanda-se justiça e igualdade de direitos sociais, civis, culturais e econômicos, além da valorização e respeito à história da resistência negra e da cultura dos africanos e seus descendentes. 62 07 O Ensino de História Indígena 63 Caro aluno, na aula anterior, tratamos do assunto ligado à pluralidade cultural, as diferentes etnias, em especí�co a afro-brasileira, que formam o povo brasileiro e, principalmente, sobre o respeito em relação às diferenças, reconhecendo e valorizando a constituição de cada povo, sua cultura, história e seus direitos. Nesta aula, daremos enfoque, na mesma perspectiva da anterior, ao povo indígena. Povo Indígena A nação brasileira é composta por diferentes etnias e grupos sociais, cada qual com suas especi�cidades e modos de vida e histórias distintos. Isto inclui expressões culturais, formas de habitação, vestimenta e a variedade de itens da vida cotidiana, como também diferentes formas de organização político-social e econômica (BRASIL, 1997b). Nas séries iniciais, o ensino de História parte do presente, de maneira que os alunos reconheçam semelhanças e diferenças existentes entre eles, suas famílias e pessoas de seu convívio escolar. O reconhecimento do presente permite estudos e a compreensão do passado, identi�cando mudanças e permanências nas formas de vida e de educação vividos em determinada época. Nesta perspectiva, os estudos devem ser ampliados a outros modos de vida, cultura e organização social, introduzindo estudos sobre comunidades indígenas que vivem ou viveram na região próxima aos alunos. Estudar as características dos povos indígenas é de extrema relevância, tendo em vista terem sido os primeiros habitantes das terras brasileiras e até hoje, terem conseguido manter suas tradições e formas de relações sociais diferentes das que são predominantes no Brasil. No entanto, existem diferenças de costumes e formas de viver, línguas diferentes, entre os próprios grupos indígenas, e o estudo e a compreensão dessas especi�cidades, evita que se crie uma “imagem do índio como povo único e sem história” (BRASIL, 1997a, p.41). Para as crianças, o estudo das tradições, costumes, as formas de viver dos povos indígenas permitirá a elas que dimensionem no decorrer do tempo, as mudanças que ocorreram naquele espaço, como também reconhecerem as diferenças de seu modo de viver e a dos índios. 64 O trabalho intenso e recorrente que deve ocorrer nas escolas, vem ao encontro a um dos objetivos gerais, apontado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997a) o de História e Geogra�a, para o ensino fundamental: Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais (BRASIL, 1997a, p. 9). Os conteúdos de História Indígena se tornaram relevantes nas escolas, quando foi decretada e sancionada a Lei 11.645/08, pelo então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Indígena, em todas as escolas de ensino básico. A referida lei é decorrente de muitas reivindicações de movimentos indígenas, ONGs, dentre outros, que lutam para que sejam reconhecidas as contribuiçõesdos povos indígenas à formação do povo brasileiro. Vamos conhecer um pouco da história dos povos indígenas. Outro ponto importante mencionado nos Temas Transversais: “Pluralidade Cultural” (BRASIL, 1997b) é o de oferecer nas escolas, informações necessárias para que favoreçam a superação do preconceito e da rotulação, de forma a trabalhar a valorização da história de povos, como índios e negros, que �zeram parte da construção do Brasil, e que foram tão injustiçados. Vale destacar que todos os grupos sociais e étnicos têm histórias, assim, dizer ‘história do Brasil’ no singular, parece não levar em conta a contribuição dos índios e negros nessa história. 65 Um Pouco de sua História Almeida (2003) descreve um panorama da vida dos índios quando da chegada dos europeus às terras brasileiras, de acordo com nossa historiogra�a. A participação inexpressiva dos índios foi veri�cada em momentos em que apareciam como coadjuvantes, agindo mediante as ordens e interesses dos europeus. Os colonizadores tinham os índios como aqueles que serviam aos seus objetivos, descartando-os quando se tornavam inúteis em determinadas atividades. A presença indígena na história era marcada, em geral, quando havia confrontos com os brancos e pegando em armas lutavam e perdiam, perdendo também, “junto com a guerra, suas culturas, identidades étnicas e todas as possibilidades de resistência, passando a constituir massa amorfa e inerte à disposição de missionários, colonos” [...] (ALMEIDA, 2003, p. 27), ambos ambiciosos que somando-se às autoridades corruptas usufruíam deles naturalmente. A relação entre a sociedade ocidental e os índios se caracterizava por uma relação de poder e de dominação, portanto, restava aos índios a submissão passiva com diversas perdas, culturais, inclusive, que os levaria à descaracterização e à extinção étnica. Assim, os índios do Brasil já ambientados à colonização, ora como escravos, ora como aldeados, faziam parte do sistema colonial, aculturando-se. No entanto, com novas propostas teóricas da antropologia e da história, como disciplinas que se aproximaram, desenvolveram e ampliaram a noção de cultura, outra compreensão das relações entre índios e europeus no interior dos aldeamentos, foi apresentada, caracterizando, segundo Almeida (2003), outra visão da própria história indígena do Brasil. Isto porque, [...] estudos etno-históricos têm revelado a extraordinária capacidade dos povos indígenas de reformularem suas culturas, mitos e compreensões do mundo para dar conta de pensar e interpretar coletivamente a nova realidade que lhes é apresentada (ALMEIDA, 2003, pp. 27, 28). 66 De acordo com a nova concepção apresentada, os povos indígenas do passado, por mais difícil que tenham sido a escravidão e a violência sofrida, os documentos históricos apontam que os índios integrados à colônia se transformaram e se misturaram sem perderem suas características. No entanto, com a possibilidade de nova criação de suas “[...] identidades, culturas e histórias no interior das aldeias coloniais, a partir das novas necessidades vivenciadas na experiência cotidiana das relações com vários outros grupos étnicos e sociais” (ALMEIDA, 2003, p. 28), é fato que a violência da colonização provocou prejuízos, altíssima mortalidade e a extinção de várias etnias. Ainda assim, os índios foram capazes de se reintegrar, articulando-se social e culturalmente entre si e com demais grupos. Ademais, essas aldeias coloniais passaram a ser para os índios um espaço de sobrevivência e não somente de perdas e prejuízos. Almeida (2003) nos coloca que os povos indígenas não estavam à disposição dos europeus colonizadores, e nem colaboraram de forma ingênua nas lutas. Isto porque os índios tinham alianças com intenções próprias e buscavam seus próprios ganhos, mesmo quando vencidos (século XVI), e a escolha como aliados ou inimigos se dava de acordo com as circunstâncias e interesses, alterando-se com regularidade. As lutas podiam ocorrer com europeus e indígenas do mesmo lado, mas com objetivos diferentes, como no exemplo da conquista da Guanabara, que para os portugueses teve o signi�cado de ganhar mais terras, para os índios foi a oportunidade de voltar às terras de origem e combater antigos inimigos (ALMEIDA, 2003). No entanto, Comportamentos, concepções e atitudes eram criados e recriados constantemente tanto por parte dos índios quanto dos colonizadores, conforme motivações e circunstâncias. O trabalho e a escravização indígena foram sempre utilizados pelos europeus, mas se por algum tempo foi possível obtê-los principalmente a partir das trocas com os aliados, também interessados nas relações de amizade e em algumas mercadorias, sobretudo, nos instrumentos de ferro, tal situação não poderia se manter. Nas primeiras décadas, os escravos eram principalmente os prisioneiros de guerra trocados com aliados, porém, a ocupação efetiva da terra e a consequente voracidade dos colonos em obter cada vez mais trabalho e escravos dos índios - muito além do que eles estavam dispostos a dar - só poderia intensi�car os con�itos [...] (ALMEIDA, 2003, p. 30). 67 Havia uma pressão muito grande por conta dos massacres, escravizações e doenças, mas os índios agiam por motivações próprias com interesses em algumas mudanças e aprendizados, assim, transformaram-se mais do que foram transformados (ALMEIDA, 2003). Algumas aldeias passaram pelos séculos XVI ao XIX, abrigando índios de diferentes gerações, demonstrando que reconheciam como seu o espaço de segurança na colônia. Ainda hoje, no Nordeste brasileiro, há grupos indígenas que dizem ter suas origens nos aldeamentos missionários do século XVIII, o que revela que as múltiplas etnias são hoje índios aldeados, que assumiram a identidade genérica dada pelos colonizadores e acrescidas das imensas perdas e prejuízos, lhes possibilitava sobreviver e defender-se na colônia (ALMEIDA, 2003). As lutas coletivas dos índios, descritas em diversos documentos, de acordo com Almeida (2003), retratam a busca pelos direitos que a legislação colonial lhes garantia e que, de certa forma, os uni�cavam e identi�cavam assumindo a identidade recebida quando se aldearam. Essa ação coletiva e política permitia- lhes viver o sentimento de uniformidade étnica, amplamente utilizada no seio das aldeias. Deste modo, decorre da documentação pesquisada (ALMEIDA, 2003), a descrição dos índios como um grupo único, coeso, diferente dos demais, unidos por objetivos, sejam políticos e/ou econômicos muito bem de�nidos em suas reivindicações, mas não se pode dizer muito acerca de suas características culturais e o grau de parentesco no interior das aldeias. Essas limitações, hoje, Algumas curiosidades também se apresentaram, como índios aldeados que requisitaram ao rei um nome português de batismo e a identi�cação da aldeia que habitava. Isso lhe garantia prestígio perante as autoridades coloniais. Outra curiosidade foi que em 1796, o índio Manoel de Jesus e Souza solicitou ao rei salário para manter-se no posto de capitão-mor em sua aldeia. Os argumentos foram que outros já haviam recebido tal benefício, que prestara serviços à Coroa, e que se encontrava em situação de pobreza, precisando de ajuda para manter com dignidade o seu posto e cumprir com suas obrigações. Havia também índios que possuíam uma certa linhagem, ou seja, descendentes de outros índios merecedores dos serviços da Coroa (ALMEIDA, 2003). 68 não são “obstáculos para se pensar a possibilidade de considerá-los como grupos étnicos, uma vez que os estudos recentes sobre etnicidade e cultura tendem a priorizar cada vez mais as dimensões políticas e históricas vividas pelos grupos indígenas” (ALMEIDA, 2003, p. 33). As Rei�ndicações e as Conquistas Um período bastante violento praticado pela Ditadura Civil-Militar, desencadeou, a partir da década de 1970, diversas manifestações dos povos indígenas, reivindicando seus direitos por meio de organizações e movimentos regionais e nacionais queganharam visibilidade no Brasil. Essas ações garantiram na Constituição de 1988, uma série de direitos incluindo o reconhecimento das línguas indígenas, de terem seus próprios processos de educação com a prática do bilinguismo intercultural. Valentini (2016) assegura que foram necessários quase cinco séculos para que a população indígena fosse reconhecida e que tivesse seus direitos reconhecidos. No entanto, os direitos assegurados pela Constituição de 1988, muitas vezes, não se efetivaram e, ainda, com a possibilidade de retrocessos nas leis. No percurso de lutas incessantes os indígenas passaram a se reunir em assembleias, o que promoveu maior visibilidade, pois essas possuíam líderes de diversas etnias, demonstrando união em prol da defesa de seus direitos e valores, sendo que a primeira assembleia ocorreu em 1974, no Mato Grosso. A partir dessa organização, a presença dos indígenas no Congresso Nacional durante a Constituinte de 1988, demarcou importante representatividade de si próprios. 69 A década de 1990 foi o momento em que mais o movimento indígena se mostrou organizado e articulado, no entanto, na comemoração dos 500 anos do Brasil houve desentendimentos entre os indígenas e o Exército, o que provocou uma divisão e as comunidades passaram a reivindicar separadamente o que era de seu interesse especí�co (VALENTINI, 2016). Mario Juruna, da aldeia xavante Namakura, foi eleito para o cargo de deputado federal pelo Rio de Janeiro em 1982. Ficou famoso por andar com um gravador e registrar as promessas de opositores políticos principalmente quanto a ações a favor dos povos indígenas Fonte: acesse o link disponível aqui 70 http://memorialdademocracia.com.br/card/juruna-1-deputado-indio-toma-posse Essa situação foi revertida a partir de 2002, quando os movimentos se articularam novamente no que se chamou Articulação do Povos Indígenas do Brasil (APIB). “Essa organização existe para discutir ideias, executar propostas, sugerir políticas públicas e realizar projetos alternativos de sobrevivência e produção econômica nas comunidades” (VALENTINI, 2016, p. 72). Assim, respondendo às pressões desses movimentos surge a Lei 11.645/08, [...] Ela é fruto da luta dos povos indígenas no Brasil, que desde a década de 1970, criaram organizações de alcance nacional com pautas de reivindicação, entre elas, a valorização das culturas indígenas nas escolas que, portanto, contribuíram para a difusão da imagem de um “índio genérico” e estereotipado (VALENTINI, 2016, p. 72). Aliadas às reivindicações indígenas estão as universidades, ONGs e pessoas que lutam pelas causas dos indígenas, que apontam que tanto a historiogra�a quanto a escola não retratam os indígenas como deveriam, mas sim de forma genérica e simpli�cada. A inversão dessa situação poderá contribuir para que preconceitos, estereótipos e a negação de pluralidade étnico-racial de nossa formação sejam desfeitos. Há pouco tempo a historiogra�a tem nos mostrado mudanças signi�cativas teórico-metodológicas que apontaram uma nova história indígena, pautada no diálogo com a antropologia e outras áreas do conhecimento que descrevem outra perspectiva sobre as populações nativas. A partir dessas concepções é possível situar os indígenas como sujeitos históricos que resistiram à colonização do século XVI, como também aos enfrentamentos do contexto atual (VALENTINI, 2016, p. 81). Desta forma, Os indígenas passam a ser vistos então como atores históricos, sendo capazes de interagir e in�uenciar seu destino, diferentemente do apresentado em estudos anteriores que desconsideravam os indígenas por considerá-los como povos a-históricos. Cada vez mais, diferentes pesquisadores revelam a imensa capacidade dos povos indígenas de agir com movimentos próprios, diante das mais adversas situações, criando múltiplas estratégias de sobrevivência que incluem negociações, con�itos, rearticulações culturais e identitárias (VALENTINI, 2016, p. 82). 71 Os temas relacionados às questões indígenas têm tido cada vez mais espaço em todas as regiões do país, principalmente nos cursos de pós-graduação das universidades, por meio dos pesquisadores vinculados à produção historiográ�ca, o que tem colaborado, sobremaneira, à reversão do quadro hoje prevalecente. O Contexto Histórico e a Lei n.º 11.645/2008 A Lei n.º 11.645/2008 alterou o artigo 26-A da Lei 9.394/1996, que agora passa a a�rmar a obrigatoriedade nos estabelecimentos públicos e privados, que trabalham com Ensino Fundamental e Médio, o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. E aponta em seus parágrafos: § 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos Africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à História do Brasil. § 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras (BRASIL, 2008). A necessidade dessa lei se justi�ca pelo silenciamento da História em relação ao reconhecimento das diferenças na vida das pessoas e dos grupos, deixando uma ideia de que uns possam ser mais iguais que os outros. O que se vê na escola é um emudecimento, “[...] uma sistemática de entulhamento que, de antemão, justi�ca uma lei que institui a obrigatoriedade do estudo na perspectiva de mostrar esses povos que resistem a investidas de colonização que perduram por mais de cinco séculos” (BERGAMASCHI, 2010, p. 154). De 72 acordo com a autora, para um não existir ou mesmo a sistemática de silenciamento dos povos indígenas, pode ter havido a contribuição das narrativas históricas e as próprias situações de ensino de História. Bergamaschi (2010) exempli�ca com um trecho publicado no Atlas Geográ�co Curso Elementar, um manual de ensino para uso nas escolas, datado do ano de 1923, e já se apresentava na 8ª edição: Todos os povos da Terra oferecem o mesmo aspecto físico? Não; por isso, dividem-se em quatro raças principais que são: 1º a raça branca [...]; 2º a raça amarela [...]; 3º a raça negra [...]; 4º a raça americana ou vermelha [...]. Como se dividem os povos no que diz respeito à civilização? Dividem-se em três classes: civilizados, bárbaros e selvagens. Quem são os povos civilizados? Povos civilizados são os que possuem leis, cultivam as ciências e as artes, praticam o comércio e procuram, por meios louváveis, satisfazer às suas facul- dades intelectuais e Morais. [...] Como vivem os povos selvagens? Os povos selvagens vivem em deplorável estado de degradação; possuem só ideias confusas de religião, desconhecem os vínculos sociais e, às vezes, devoram os prisioneiros que fazem nas suas incessantes guerras (BERGAMASCHI, 2010, p. 155). O excerto apresentado nos deixa claro como a mentalidade das pessoas foi sendo construída nas escolas em relação à história dos povos indígenas, estimulando relações étnicas preconceituosas e discriminatórias. Podemos imaginar a quantidade de estudantes de diversas gerações que cresceram com a concepção de que a raça branca possui maior inteligência, que é mais desenvolvida que todos os outros povos. Na descrição citada, o termo “povo civilizado” aparece como um modelo de superioridade diante das outras sociedades, assim, não cabem ao índio, ao negro, nem ao mestiço. Portanto, tentou-se apagar da história e, também, das escolas, um modelo de civilização diferente do modelo da modernidade europeia (BERGAMASCHI, 2010). Os povos indígenas aparecem no currículo escolar poucas vezes, no Dia do Índio, em que se comemora de forma super�cial os seus costumes, como povo do passado,sem historicidade; na História do Brasil e do Rio Grande do Sul, que abordam o período colonial e as missões jesuíticas. 73 A implementação da Lei 11.645/2008 assenta-se na discussão e re�exão acerca da diversidade etnocultural, posta nas ações do Ministério da Educação em decorrência da Constituição Federal, de 1988. Esse dispositivo legal regulamenta a obrigatoriedade do estudo da história e da cultura indígenas na escola, o que permite acompanhar e, ainda, revelar as conquistas dos povos indígenas. Nessa perspectiva, esses estudos prescrevem a construção de um patrimônio de interculturalidade com as sociedades não indígenas. Caracteriza-se um bom exemplo para esse diálogo intercultural, as escolas indígenas, isso se deve também ao ensino da língua portuguesa, de muitos conhecimentos e dos modos de vida dos brancos. E, ainda, a educação escolar desses povos têm permitido que alcancem uma participação mais ativa na política nacional, de forma a intervir na legislação, o que tem garantido a valorização das identidades etnoculturais (BERGAMASCHI, 2010). Entretanto, Bergamaschi (2010) nos aponta a preocupação dos povos indígenas em relação à aplicação da Lei 11.645/2008 e suas possibilidades de mudanças nas abordagens nas escolas não indígenas, e nos apresenta a descrição de um professor guarani: Hoje, podemos observar que as vozes das mais de duzentas etnias existentes no Brasil estão “[...] ressigni�cando a expressão “índios”. [...] Defendem a ideia de “povos indígenas”, contraposição à sociedade nacional” (BERGAMASCHI, 2010, p. 158). No entanto, ainda se encontra cristalizada no Brasil a ideia de não se reconhecer e se levar em conta a pluralidade étnica, como também a diversidade linguística e cultural dos povos que formam o Brasil. 74 O professor guarani Vherá Poty, ao ser perguntado sobre as possibilidades de implantação da lei 11.645/2008, falou que “primeiro, os professores não indígenas precisam ser sensibili zados pelo tema”. Contudo, relatando experiências vividas em escolas não indígenas sensíveis à temática, testemunham que só isso não basta. Então, Vherá diz que “em segundo lugar, os professores precisam conhecer de fato e profundamente a história e a cultura indígena”. Mas, qual História ensi nar? A história dos povos indígenas escrita por historiadores não indígenas? Vherá então explica que, para ensinar a “verdadeira história” dos povos ori ginários, os professores não indígenas têm que deixar o próprio indígena contar a sua história, ou seja, reconhecer que os diferentes povos indígenas precisam elaborar e ensinar a sua história (BERGAMASCHI, 2010, p. 163). É pertinente a fala do professor guarani e é urgente que precisamos apreender a história dos povos indígenas, escrevendo-a e contando-a com respeito e dignidade. Isso nos remete considerar o passado dos povos indígenas, sua real contribuição na formação da sociedade brasileira; considerar que são nossos contemporâneos e que fazem parte de vários setores da sociedade, sendo capaz de se adaptar a novas maneiras de viver, mas mantendo suas tradições. Ainda, nesse contexto de reconhecimento, Bergamaschi (2010) coloca sobre a importância de tratar nas escolas a diversidade etnocultural, a população atual, território, entre outros. E, por �m, ouvir a voz dos próprios indígenas relatando sua história e como vivem. Esse caminho poderá levar à mudança da imagem dos povos indígenas, até então geradora de discriminação e preconceito. 75 CONECTE-SE Nesta aula, caro aluno, pudemos perceber a necessidade premente de superação de preconceitos e silêncios que marcaram a história dos povos indígenas em nossa sociedade. O início da superação perpassa pelo conhecimento aprofundado da história desses povos, o respeito e o diálogo, tão necessários para conviver com as diferenças e, ainda, abordar a temática indígena com outra perspectiva dentro das escolas. Só assim podemos pensar em irmos além do texto da Lei 11.645/2008, que nos impõe uma obrigatoriedade, e fazermos dela a oportunidade de agirmos com justiça e dignidade para com os povos indígenas. Vamos acompanhar o índio Daniel Munduruku, que é professor e escritor, narrando um pouco de sua história de vida: 76 https://go.eadstock.com.br/cvQ 08 Os Livros Didáticos e o Ensino de História 77 Ao iniciarmos esta aula, utilizaremos a frase de Alain Choppin, que Bittencourt (1998, p. 68) usou na abertura de seu texto sobre os livros didáticos: Os livros didáticos não são apenas instrumentos pedagógicos: são também produtos de grupos sociais que procuram, por intermédio deles, perpetuar suas identidades, seus valores, suas tradições, suas culturas. Bittencourt (1998) complementa as colocações em referência, assegurando que o livro didático é uma mercadoria, pois pertence ao mundo do mercado editorial, sujeito às mudanças e variações no processo de fabricação e comercialização. Mas não seria apenas isso, de acordo com a autora, também em sua construção há a interferência de várias pessoas, como o editor, autor, técnicos em processos grá�cos, programadores e ilustradores. Livro Didático como Instrumento Pedagógico Como instrumento pedagógico o livro didático apresenta estruturas e condições ao professor para o ensino junto aos alunos, pois traz, além dos textos, exercícios, questionários, sugestões de atividades, todos com a intenção de que o aluno apreenda e retenha os conteúdos trabalhados. Já os manuais escolares auxiliam os professores com estratégias para o ensino dos conteúdos. Bittencourt (1998, p. 72) ressalta, ainda, que o livro didático é portador de uma cultura, ideologia e valores que “transmitem estereótipos e valores dos grupos dominantes, generalizando temas, como família, criança, etnia, de acordo com os preceitos da sociedade branca burguesa”. No entanto, o autor nos aponta importantes re�exões para compreendermos o papel que o livro didático desempenha na vida escolar. 78 Ele é portador de textos que auxiliam, ou podem auxiliar, o domínio da leitura escrita em todos os níveis de escolarização, serve para ampliar informações, veiculando e divulgando, com uma linguagem mais acessível, o saber cientí�co. [...] Por seu intermédio, o conteúdo programático da disciplina torna-se explícito e, dessa forma, tem condições de auxiliar a aquisição de conceitos básicos do saber acumulado pelos métodos e pelo rigor cientí�co (BITTENCOURT, 1998, p. 73). Apesar dos benefícios do livro didático há limitações por razões econômicas, ideológicas e técnicas. Isso se deve, muitas vezes, pela simpli�cação de questões mais complexas, de forma que se torne acessível ao público infantil ou juvenil, impedindo que os textos dos livros provoquem re�exões e até mesmo possíveis discordâncias por parte daqueles que os leem. Assim, Sua tendência é de ser um objeto padronizado, com pouco espaço para textos originais, condicionando formatos e linguagens, com interferências múltiplas em seu processo de elaboração associadas à lógica de mercantilização e das formas de consumo (BITTENCOURT, 1998, p. 73). É necessário analisar que o papel que o livro didático ocupa na escola pode ir além de um instrumento de reprodução de ideologias e de conteúdos preestabelecidos por determinados setores do poder. Isso signi�ca que professores e alunos ao fazerem uso desses livros, podem transformá-los de veículo ideológico e fonte de lucro para o mercado, em instrumento de trabalho e�ciente e condizente com as necessidades de um ensino autônomo. A atuação do professor é fundamental, desde a escolha do livro e sua forma de utilização em sala de aula. Não obstante, Bittencourt (2008) aponta a necessidade de análise dos discursos nos textos didáticos, a �m de identi�car a preservação de preconceitos sobre grupos étnicos. Isto porque educadores e antropólogos destacam a existência de visões distorcidas e incompletas acerca da história das populações indígenas. As populações indígenas surgem noslivros didáticos nos capítulos iniciais, quando da chegada dos europeus e para justi�car a importação de mão de obra escrava africana, embora em alguns mais recentes apareçam alguns dados sobre as condições atuais desses povos (BITTENCOURT, 2008, p. 305). 79 Outra preocupação descrita pelos pesquisadores refere-se às ilustrações que permeiam as páginas dos livros didáticos. @freepik Livros Didáticos e as Ilustrações As ilustrações que, muitas vezes, acompanham os textos reproduzem quadros históricos in�uenciadores do imaginário histórico. Como recurso pedagógico as ilustrações são essenciais aos alunos, pois despertam o imaginário e podem facilitar a memória. As ilustrações que expõem cenas históricas [...] “concretizam a noção altamente abstrata de tempo histórico” (BITTENCOURT, 1998, p. 75). Já a história das populações negras também é analisada pelos pesquisadores, acerca de temáticas racistas nos livros didáticos, assim como o enfoque maior dispensado ao período da escravidão e pouco à época posterior, pós-abolição, com lutas e conquistas que marcaram a história do século XX no Brasil (BITTENCOURT, 2008). Os movimentos sociais têm mobilizado debates sobre o problema étnico-racial no ensino de história, incluindo o tema de análise dos livros didáticos de História, que antes da lei n.º 11.645/2008 já procurava desvendar nas obras escolares o momento em que os afrodescendentes foram introduzidos. 80 Os autores dos textos possuem limitações em relação às ilustrações de seus livros, pois existem especialistas em pesquisa iconográ�ca, geralmente, funcionários das editoras, responsáveis por desenvolver esse trabalho especí�co. No entanto, mesmo para os especialistas existem situações especí�cas, pois para a composição do livro de História Geral há facilidade em recorrer às ilustrações estrangeiras, mas isso não se aplica em relação à produção do livro de História do Brasil. Nesse caso, os autores e editores recorreram à montagem de um acervo próprio de ilustrações e gravuras. Bittencourt (1998, p. 77) relata que os quadros produzidos no �nal do século XIX, dois foram os mais reproduzidos: “o 7 de setembro de 1822, de Pedro Américo, e a A Primeira Missa no Brasil, de Vítor Meirelles de Lima”. Essas pinturas, constantes nos livros didáticos, têm desempenhado um papel na formação de uma memória histórica dos estudantes há muitas gerações. Imagens de personagens da História Política também fazem parte do livro didático, como, por exemplo, de Pedro Álvares Cabral e de Tomé de Souza, ambos os personagens importantes da história por representarem, o primeiro, a descoberta da nova terra e, o segundo, por ser o primeiro chefe político ou governador geral do Brasil. A imagem a seguir retrata a chegada de Tomé de Souza à Bahia, em 1549. 81 Em relação às imagens de presidentes a que predominantemente é retratada é a de Getúlio Vargas. Isso é constatado especialmente nos capítulos referentes à Revolução de 1930, o que ocasionou um reconhecimento dos estudantes desse presidente e desconhecimento dos presidentes posteriores. Os chefes políticos eram retratados em atos públicos, não mais em preto e branco e em alguns manuais surgem também as charges (BITTENCOURT, 1998). As ilustrações de índios tiveram destaques nos livros didáticos da História do Brasil, a partir de 1860. E o que se observou, ao longo da história escolar, foi uma variedade apresentada por autores diferentes em relação às mudanças e permanências da ação histórica desses grupos. As imagens representadas nas primeiras obras didáticas, apresentavam os grupos indígenas como selvagens sendo catequizados pelos religiosos católicos. Eles, muitas vezes, eram vistos como heróis ou mesmo mártires, sendo atacados e mortos pelos índios. Fonte: acesse o link disponível aqui 82 https://br.pinterest.com/pin/838584393085125789/ Bittencourt (1998) sugere também a análise e um estudo de ilustrações de diferentes épocas, produzidas em diferentes períodos caracterizando, assim, um material de apoio muito importante e o livro como um documento histórico. As comparações de ilustrações reproduzidas em momentos diferentes são necessárias para que os alunos possam estabelecer relações históricas entre as permanências e mudanças e para relativizar o papel que determinados personagens tendem a desempenhar na História (BITTENCOURT, 1998, p. 88). A leitura de imagens pode ajudar o professor em sua missão de tornar o aluno um leitor crítico, tornando didáticos o processo de ensino e aprendizagem. Caro aluno, é importante lembrar a importância de estimular os estudantes a observarem as ilustrações contidas nos livros. Isto porque você despertará neles a curiosidade sobre outros aspectos que não aparecem no texto escrito. Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) O livro didático é, sem dúvida, um suporte de ensino para os professores e alunos, mas é também motivo de apreensão com os conteúdos que nele são apresentados. Isto porque a preocupação de instituições internacionais com os conteúdos tratados nesses livros, já datava com o término da 2ª Guerra Mundial, tendo em vista que esses conteúdos demonstravam, muitas vezes, preconceitos e visões estereotipadas de grupos e populações, prejudicando, assim, exemplos de paz e soluções de con�itos por meio de acordos e negociações (BITTENCOURT, 2011). 83 Pesquisas apontam (INSAURRIAGA e JARDIM, 2015; BITTENCOURT, 2011) que no Brasil, desde a década de 1980, as pesquisas acadêmicas sobre os livros didáticos cresceram muito nos programas de pós-graduação, com análises desses materiais, em diversas áreas e disciplinas. As pesquisas contribuem muito, pois indagam [...] “sobre os avanços e permanências de abordagens, com destaque às concepções de livro didático e os fundamentos teóricos e metodológicos que embasam o conjunto dessas pesquisas” (BITTENCOURT, 2011, p. 491). No Brasil, a partir de 1985, por meio de políticas públicas, houve o acesso aos materiais didáticos com maior abrangência e surge o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), em 1985, com o Decreto n.º 91542, de 19 de agosto, apenas para o Ensino Fundamental. E, em 2007, o programa abarcou os alunos do Ensino Médio, se expandindo também para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) (INSAURRIAGA; JARDIM, 2015). Análise do PNLD Com a instituição do PNLD, em 1985, veio também o processo avaliativo dos livros didáticos que temos até hoje. Na década de 1990, criaram-se critérios gerais utilizados por comissões de especialistas nas cinco áreas do conhecimento: Português, Matemática, História, Geogra�a e Ciências (CAIMI, 2010). Cerri; Ferreira (2007); Cassiano (2003); Carie (2008) apontam que em análises mais recentes sobre o PNLD (apud BITTENCOURT, 2011 p. 505), as críticas perpassam pela necessidade de aperfeiçoamento do formato de avaliação e as intervenções das editoras no processo de fabricação e até mesmo no momento de escolha dos livros por parte dos professores. Além dos apontamentos anteriores, a análise dos livros didáticos requer a atenção a três outros aspectos citados por Bittencourt (2008): a forma, o conteúdo histórico e o conteúdo pedagógico. Sobre os aspectos formais é importante saber que o livro didático é produto da indústria cultural e como mercadoria envolve preço e destinatário. O público é especí�co, o professor que o escolhe e que vai determinar a maneira de como usá-lo. Já o aluno é o consumidor em potencial. O Estado interfere indiretamente na produção, haja vista que dá as diretrizes para a sua confecção, de acordo com as normas de um sistema de avaliação, e é responsável pela compra desse material. Cada editora tenta seduzir o comprador ilustrando a capa, com dizeres que apresentam as características de seus conteúdos; com cursos e materiais extras que acompanham as obras, além das gravuras e a qualidade do papel. 84 Já os conteúdos históricos escolares têm suas raízes nas propostas curriculares e na produçãohistoriográ�ca, cabendo às editoras e autores criarem essa ligação na confecção dos livros didáticos. O conhecimento histórico depositado nos livros é uma fonte rica de conhecimento e um importante instrumento de trabalho para os professores. No entanto, é relevante analisar na escolha do livro a bibliogra�a utilizada pelo autor e as leituras complementares indicadas. Outro ponto considerado crítico e que merece nossa atenção, refere-se à forma como os conteúdos históricos são apresentados. O conhecimento produzido por ele é categórico, característica perceptível pelo discurso unitário e simpli�cado que reproduz, sem possibilidade de ser contestado [...] Trata-se de textos que di�cilmente são passíveis de contestação ou confronto, pois expressam uma “verdade” de maneira bastante impositiva (BITTENCOURT, 2008, p. 313). Isso acontece porque “o livro didático caracteriza-se por textos que reproduzem as informações históricas, a�rmam seus críticos, as quais serão repetidas pelo professor e pelo aluno” (BITTENCOURT, 2008, p. 314). Existem especi�cidades na escrita dos livros didáticos em relação ao estilo das explicações, que não podem ser extensas; a terminologia deve ser adequada à faixa etária; o número de páginas e a quantidade de conceitos a serem apresentados. E que o professor analise a forma como os conteúdos e as atividades são apresentadas pelo autor, pois existem neles uma coerência fundamental para que se evite uma aprendizagem baseada apenas em memorização de acontecimentos e fatos históricos. Assim, “o conjunto de atividades contidas em cada parte ou capítulo fornece as pistas para avaliar a qualidade do texto no que se refere às possibilidades de apreensão do conteúdo pelos estudantes” (BITTENCOURT, 2008, p. 315). Os conteúdos pedagógicos também merecem análise no quesito combinação entre informação e aprendizagem. Isso signi�ca que o professor deve analisar o discurso disseminado pelo livro didático que deve alinhar conteúdos pedagógicos e tendências historiográ�cas. Esse aspecto é determinante para que se identi�que a concepção de conhecimento expressa no livro e, também, como esse deve ser apreendido pelo estudante. 85 Levadas em conta as questões apontadas é oportuno que se analise também, se as atividades propostas no livro didático possibilitam aos estudantes fazer comparações, identi�car as semelhanças e diferenças entre os acontecimentos, se possui indicação de leituras complementares e favorece pesquisas. Os professores, no momento da escolha dos livros, também contam com o Guia de Livros Didáticos. Este documento foi produzido pelos avaliadores das diferentes áreas do conhecimento, sendo disponibilizados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e distribuídos pelo Ministério da Educação (MEC) às escolas cadastradas no censo escolar (CAIMI, 2010). Não obstante, o livro didático de História continua tendo diversas interpretações, o que abre espaço para debates e pesquisas com base em fundamentação teórica abrangente, suscitando diálogos entre autores de áreas relacionadas, visando [...] “estabelecer as diferenças de linguagens, das formas de apresentação das informações, dentre outros aspectos relacionados às especi�cidades das obras escolares” (BITTENCOURT, 2011, p. 509). Caro aluno, �nalizamos a primeira parte de nossa disciplina com os Fundamentos e Metodologias do Ensino de História. Esperamos que você tenha apreciado e compreendido a importância do trabalho com os conceitos históricos, de forma a embasar a prática em sala de aula, permitindo aos estudantes atuarem como protagonistas de seu aprendizado histórico. Vamos retomar o que dissemos na Introdução de nossa disciplina, que os conceitos de tempo e espaço são inseparáveis e devem ser pensados essencialmente como um processo. A partir dessa premissa, os estudos que apresentaremos nas próximas aulas dizem respeito aos Fundamentos e Metodologias do Ensino de Geogra�a, e têm por objetivo desenvolver o pensamento espacial de forma a promover o raciocínio geográ�co. Isso signi�ca desenvolver capacidades de representar e interpretar o mundo que não é estático e, sim, se apresenta em constante transformação na relação sociedade e natureza. 86 PARA GABARITAR Nos anos de 1990 e 2000 se intensi�caram as pesquisas sobre os livros didáticos com grupos de pesquisa e discussões sobre o tema, tanto no Brasil como no exterior. Isso se estendeu aos programas de pós- graduação o que ampliou muito as publicações de trabalhos que envolviam temas além da ideologia implícita, outros com o livro didático como política pública educacional, o suporte de disciplinas escolares, e sua importância como recurso do saber e da cultura escolar. Não obstante, entre a diversidade temática estudou-se o processo de materialidade que envolve a produção/execução do livro didático, até a chegada ao leitor. Reconhecer esse processo é compreender a materialidade das relações sociais nas quais os livros didáticos estão imbricados, desde os trabalhos de editores, revisores, encadernadores etc., até à complexa logística de entrega aos milhões de estudantes no início do ano letivo, por meio do PNLD. Nessa visão, compreende-se também a relação do livro como produto, produzido para ao mercado (em especí�co a escola) numa sociedade capitalista. Realizado esse percurso, cabe ressaltar o importante papel do professor tanto na escolha do livro didático quanto na prática didática junto aos seus alunos. 87 09 Geografia na Educação Infantil e no Ensino Fundamental 88 O que e Como Ensinar Olá, caro aluno! Encontramo-nos novamente para, agora, aprofundarmos nossos estudos sobre Geogra�a. Enquanto professores, nossa primeira responsabilidade é a re�exão sobre aquilo que pretendemos ensinar. Como aprendemos esse assunto, se acreditamos ou não que este foi o melhor caminho e se essa ainda é a melhor ferramenta para ensinar as crianças de hoje. Antes de ensinar alguém, é fundamental que você compreenda que cada conteúdo não consiste apenas em conceitos a serem memorizados, mas em instrumentos que fundamentarão a forma como as crianças, seus futuros alunos, se relacionarão com o mundo e com os conhecimentos adquiridos hoje e ao longo de sua vida. Sabe, caro aluno, não tenha medo de ser inventivo, de se reinventar sempre que possível, essa é uma das principais maravilhas em ser professor. Aproveito, ainda, para resgatar algo que já falamos no início de nossos encontros: em História, dizemos que o ser humano produz o espaço em que vive e dele se apropria numa determinada circunstância histórica. Na Geogra�a, constatamos que, dentro destas circunstâncias históricas, o homem transforma o ambiente para poder se apropriar dele, perceba, pois, o porquê de estudarmos História e Geogra�a em uma relação tão próxima e como não precisamos fragmentar tanto esses conhecimentos quando os transmitimos e experienciamos com as crianças. Aproveito para convidá-lo a re�etir sobre o que é oferecido às crianças na Educação Infantil e Ensino Fundamental dentro desta disciplina: por que se ensina geogra�a para crianças? O que elas aprendem? Por que se ensina o que se ensina a elas? Quais são os métodos mais utilizados? E, principalmente, aonde queremos que as crianças cheguem com esses conhecimentos? 89 Você verá ao longo de nossa jornada que muitos pontos abordados nas aulas anteriores serão aqui retomados a partir de uma outra perspectiva, porém, não com objetivo de contrapô-los, mas sim evidenciando como são conhecimentos complementares e que podem ser tangenciados em nossa prática educacional. Tenha sempre em mente que o objeto máximo da Geogra�a é o estudo da forma como o processo histórico de formação das sociedades humanas interage com o espaço natural e o transforma, mediante a observação da paisagem e do espaço geográ�co e buscando sempre identi�car e relacionar as heranças deixadas através do tempo pela relação entre homem e natureza. A Geogra�a em Perspectiva: Métodos de AbordagemVocê já deve ter percebido que a área da educação está em constante transformação, estamos sempre buscando formas mais adequadas de transmitir conhecimento e preparar as futuras gerações com uma formação que será fundamental para suas experiências além da escola. Neste sentido, não apenas em Geogra�a ou História, temos a contraposição entre conceitos Tradicionais e Contemporâneos que nos revelam não apenas métodos diferenciados em lecionar essas disciplinas, mas principalmente formas diferentes de perceber o que é Geogra�a ou História ou qualquer outra disciplina que se ensine nas escolas. Em particular, vamos entender um pouco melhor esse contraponto de perspectivas em relação à Geogra�a. A metodologia tradicional possui uma abordagem da Geogra�a enquanto ciência que parte de pressupostos Iluministas, em um momento em que as Humanidades passam �nalmente a ser consideradas enquanto campo cientí�co, mas que, para isso, deveriam se encaixar estritamente ao modo como se entendem as “Ciências Duras” (exatas/biológicas), em que são permitidas apenas verdades de�nitivas e comprovadas por métodos positivistas, empiricamente comprovados, rejeitando veementemente uma característica essencial das Ciências Humanas, um certo grau de subjetividade inerente a elas e do qual futuramente irão derivar diferentes teorias e formas de se perceber o mundo, mas esta é uma discussão para outro momento. 90 Perceba que, no entanto, este foi, sem dúvida, um momento de muita importância para que pudéssemos estar aqui, hoje, conversando sobre Ciências Humanas e a forma como o olhar sobre elas foi se transformando ao longo dos anos (CARDOSO, 1997; MATTA, S/D). Tendo isto em mente, caro aluno, permita-me discorrer um pouco sobre a forma como a Geogra�a Tradicional percebe os elementos que compreendem este campo do conhecimento. Lembra-se do que acabo de mencionar a respeito das Humanidades enquanto Ciência e de suas características para que pudesse assim ser considerada? Pois bem, a Geogra�a Tradicional traz em seu cerne os aspectos centrais deste cienti�cismo baseado em elementos que possam ser meticulosamente concretos e experimentados empiricamente, assim, neste contexto, a Geogra�a estuda a relação entre homem e natureza de forma objetiva, buscando formular leis gerais de interpretação, com uma característica de estudo assumidamente descritiva das paisagens naturais e modi�cadas pelo homem (algo que você ainda pode notar nos dias contemporâneos), de forma a dissociar as relações de produção e organização dos espaços enquanto locais de vivência de uma sociedade. Em sala de aula, a Geogra�a Tradicional basicamente era trabalhada de modo a estimular a descrição e memorização dos elementos que integram as paisagens, de forma neutra. Nesta perspectiva, não cabe estimular que os alunos estabeleçam relações, generalizações ou analogias entre esses elementos, as atividades de re�exão e crítica �cam à margem do processo de ensino-aprendizagem e reforça o papel do professor enquanto detentor do conhecimento e o aluno enquanto sujeito que irá receber e reproduzi-lo (BRASIL, 1997). Como você já deve imaginar e deduzir por sua experiência até aqui, caro aluno, este olhar meramente descritivo sobre Geogra�a, com o tempo passou a ser insu�ciente para atender e explicar as mudanças físicas e sociais pelas quais o mundo se transforma através do tempo. Foi no pós-Guerra e com o advento do capitalismo concorrencial, a acentuação do processo de urbanização e a conformação das primeiras metrópoles, com as profundas mudanças também no espaço agrário mediante a mecanização do trabalho e a industrialização cada vez mais intensa que as teorias e métodos da Geogra�a Tradicional começaram a ser questionados, pois apenas os estudos empíricos agora eram insu�cientes para explicar as mudanças pelas quais as relações mundiais se transformavam não apenas em sua ordem física, mas também e, principalmente, em sua ordem social, política, ideológica e econômica (BRASIL, 1997). 91 Eis então a abertura para que novos métodos pudessem surgir, e foi a partir dos anos 1960, que uma das principais correntes críticas à Geogra�a Tradicional surgiu, trazendo à luz discussões acerca das relações entre sociedade, trabalho e natureza na criação dos espaços geográ�cos, com o surgimento da Geogra�a Marxista. Esta passou a ser não mais uma disciplina meramente descritiva, mas ganhou um viés notadamente interdisciplinar, que abrange não apenas as mudanças aparentes nos espaços físicos, mas as relações sociais que levaram a essas transformações e suas consequências, passou a buscar compreensão sobre o modo como sociedades globalizadas interagem entre si e com a economia e suas mudanças. Apesar de suas contribuições para modi�car a forma de se pensar a Geogra�a e seus objetivos, e de ter proposto importantes mudanças curriculares a partir dos anos 1980, muitas destas metodologias acabaram não sendo aplicadas com êxito nas escola, pois sua proposta em abordar um viés econômico, político e social a ser trabalhado com crianças até o Ensino Fundamental II acabou se provando um conteúdo muito complexo para ser trabalhado nesta faixa etária, cargocollective.com A Geogra�a passa a ter, então, uma proposta de analisar a relação entre o homem em sociedade e como esses aspectos afetam e determinam as transformações do ambiente, seja por sua ação direta ou indireta (BRASIL, 1997). A perspectiva que aborda a Geogra�a Marxista, caro aluno, em seu propósito, tem intenção de compreender o mundo a �m de poder transformá-lo, passando assim a ter uma função social, de re�exão que também passa a ocupar o espaço das discussões políticas signi�cativas à formação do cidadão. 92 uma vez que nestes primeiros intentos ainda não se tinha uma medida de adequação ao nível de ensino desses conteúdos recém- incluídos aos alunos (BRASIL, 1997). No entanto, destaco também que ambas as vertentes apresentam recursos valiosos, mas também falhas a serem solucionadas, e que precisam ser adequadas no dia a dia escolar. Recentemente, as discussões que se constroem acerca do tema visam de�nir uma abordagem que busque considerar as dimensões subjetivas dentro da relação entre o homem social e a natureza. Como evidenciam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a Geogra�a consiste em um campo de estudos plural e interdisciplinar e, apesar das contribuições da Geogra�a Marxista para romper com os paradigmas da Geogra�a Tradicional, nenhuma das duas teorias trouxe para o ambiente escolar “a relação do homem e da sociedade com a natureza em sua dimensão sensível de percepção do mundo” (BRASIL, 1997, p. 72), assim, hodiernamente, busca-se chegar o mais próximo possível de trazer para a prática pedagógica a experimentação dos conteúdos trabalhados e a valorização das experiências prévias das crianças, destaco, então, um trecho muito relevante dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que contribui para esclarecer essa proposta que você deverá valorizar ao ensinar Geogra�a a seus alunos. Outro ponto que ressalto aqui é que, apesar das mudanças importantes provocadas pela Geogra�a Marxista no modo de pensar e produzir ciência na Geogra�a, dentro das escolas, ainda hoje, observamos a aplicação de práticas de ensino que conservam a linha de pensamento tradicional, descritiva e descontextualizada, algo que consiste em uma das principais críticas à Geogra�a Tradicional. 93 Essas dimensões são socialmente elaboradas — fruto das experiências individuais marcadas pela cultura na qual se encontram inseridas — e resultam em diferentes percepções do espaço geográ�co e sua construção. É, essencialmente, a busca de explicações mais plurais, que promovam a interseção da Geogra�a com outros campos do saber, como a Antropologia, a Sociologia, a Biologia, as Ciências Políticas, por exemplo. Uma Geogra�a que não seja apenas centrada na descrição empírica das paisagens, tampouco pautada exclusivamente na interpretação política e econômica domundo; que trabalhe tanto as relações socioculturais da paisagem como os elementos físicos e biológicos que dela fazem parte, investigando as múltiplas interações entre eles estabelecidas na constituição de um espaço: o espaço geográ�co (BRASIL, 1997, p. 72). É com essa re�exão, caro aluno, que encerramos mais esta aula, na esperança de que você tenha compreendido que no ensino de Geogra�a, apesar de, muitas vezes, apresentarmos conteúdos de forma fragmentada a nossos alunos devido a um recurso metodológico, é de suma importância que você tenha em mente que esses temas estão profundamente interligados e correspondem a uma parte do todo e, acima de tudo, é muito importante que você tenha a clareza de conduzir seus alunos a compreenderem que, apesar de estudarmos determinados temas, separadamente, para que possamos compreender melhor suas características e especi�cidades, em algum momento esses conhecimentos serão relacionados, através de discussões, explorando a cidade nos seus mais diversos aspectos e levando as crianças a perceber na prática, que tudo aquilo que você abordou com elas em sala de aula faz parte de sua vida cotidiana e de sua comunidade. No próximo encontro iremos re�etir um pouco sobre os aspectos apontados pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em relação ao que deve ser ensinado às crianças na Educação Infantil e Ensino Fundamental e como essas competências também estão ligadas ao desenvolvimento de habilidades fundamentais para o pensar geográ�co das crianças. Nos vemos lá! Até logo! 94 PARA GABARITAR Caso tenha interesse em saber um pouco mais sobre como foi o processo pelo qual as Humanidades foram incluídas enquanto ciência, deixo aqui a indicação de duas leituras: “Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia” de Ciro Flamarion Cardoso e Ronaldo Vainfas, deste livro recomendo que se atenha à introdução, mas reforço que toda obra é extremamente interessante; e o artigo “A pós-modernidade e o iluminismo: encontros e desencontros” de Alfredo Matta. Apesar destes trechos trazerem um enfoque maior para o pensamento histórico, destaco que essas são re�exões para podermos compreender as mudanças de paradigmas do pensamento cientí�co em relação às humanidades como um todo, estes textos poderão complementar suas percepções não apenas em relação ao ensino de História e Geogra�a, mas, principalmente, em relação a todo conjunto de disciplinas que envolvem as Ciências Humanas. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia A pós-modernidade e o iluminismo: encontros e desencontros 95 https://go.eadstock.com.br/cvR https://go.eadstock.com.br/cvS 10 Geografia na Educação Infantil 96 Como Trabalhar Aspectos Essenciais da Geogra�a na Educação Infantil Antes de iniciarmos essa discussão, caro aluno, vamos entender um pouco o que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe como competências e experiências essenciais a serem desenvolvidas em cada uma dessas faixas etárias. Assim, será possível notarmos como a Geogra�a e seus conceitos essenciais podem ser desenvolvidos com crianças desde pequenas e como a elaboração desses conceitos, nessa fase, implicará na evolução dessas competências nas séries posteriores. Na Educação Infantil, a BNCC de�ne os seguintes campos de experiências a serem trabalhados com as crianças: “Traços, sons, cores e formas”; “O eu, o outro e o nós”; “Corpo, gestos e movimentos”; “Escuta, fala, pensamento e imaginação”; e “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações” (BRASIL, 2018). Com base em tudo que já discutimos, anteriormente, você consegue pensar de que forma o pensamento geográ�co está presente nesta fase da formação de seus futuros alunos? Vejamos! 97 Quando abordamos experiências de “traços, sons, cores e formas” levamos em consideração o fato de que as crianças estão inseridas em uma comunidade na qual se relacionam com pessoas, espaços, objetos e materiais os quais busca perceber e se apropriar fazendo uso das mais diversas formas de linguagem (oral, sensorial, corporal, afetiva, observação de seus pares e adultos) sempre com a �nalidade de compreender e se relacionar com o ambiente material em que estão inseridas. Ao trabalharmos estes aspectos devemos valorizar o recurso a atividades que possibilitem com que as crianças percebam o ambiente muito além da aparência super�cial, mas captando as diferentes nuances que o compõem, os sons, os traços, as cores e as formas, no intuito de despertar nelas a percepção das diferentes camadas que compõem o espaço em que habitam (BRASIL, 2018). Você deve, então, oferecer condições para que seus alunos possam desfrutar de um espaço rico e acolhedor, onde possam criar misturas, sentir a textura da terra, da areia, de diferentes tipos de solo, colecionar coisas, modelar com argila, criar tintas, explorar formas coloridas, texturas, sabores, sons e, por que não, silêncios. Proporcionar essas experiências possibilitará com que seus alunos possam explorar o ambiente e se apropriar dele, favorecendo sua percepção de pertencimento e de agente transformador dos espaços (BRASIL, 2018). Fonte: acesse o link disponível aqui 98 https://omunicipio.com.br/alunos-da-educacao-infantil-desenvolvem-projeto-horta-alimentacao-saudavel/ Como vimos, o pensar geográ�co (mesmo que as crianças ainda não tenham consciência deste conceito) também requer que reconheçamos aspectos que vão além dos espaços físicos. É por isso que a BNCC também traz a necessidade de desenvolvermos a consciência do “eu”, do “outro” e do “nós” com os pequenos, pois esta percepção é construída ao longo de toda a vida e é essencial para sua formação enquanto ser social, ao desenvolver esses aspectos na educação infantil, você vai preparar seus alunos não apenas para desenvolver suas competências no campo da geogra�a, mas também em relação à história (como pudemos observar nas aulas anteriores), pois consiste em uma habilidade indispensável para compreender não apenas o presente, mas o passado e a perspectiva de futuro. São essas primeiras relações que estabelecerão o primeiro contato das crianças com o pensamento global, no sentido de que não existe o “eu” sem o “outro” e que, portanto, também não existe sem o “nós”, há uma relação orgânica entre os sujeitos sociais que interagem entre si, enquanto agentes históricos, e com o meio (espaço geográ�co modi�cado), e é esse conjunto de interações que resulta a realidade em que vivemos o tempo presente. Este é um conceito chave para que seus alunos elaborem a natural percepção de seu espaço na comunidade e no mundo em que vivemos (BRASIL, 2018). Com esta �nalidade, você deve buscar favorecer atividades que proporcionem, aos pequenos, vivenciarem situações de práticas sociais e de atenção pessoal, através da interação com seus pares e adultos, para que possam aprender e se perceberem como um “eu” que é capaz de executar atividades tanto por si mesmo quanto em favor do grupo, podendo perceber suas próprias características, aptidões, desejos, motivações, com isso, podendo também identi�car essas características em seus parceiros, permitindo identi�cá-los como um “outro”, com suas próprias características, desejos, interesses e, por �m, partindo da consciência do “eu” e do “outro”, você os conduzirá a perceber a consciência do “nós”, um grupo humano diversi�cado e diverso. Essas atividades devem ser exploradas ao longo de toda a permanência de seus alunos na Educação Infantil, pois possibilitará com que a criança desenvolva percepções de si e do grupo que serão essenciais para que possa desenvolver suas competências na Geogra�a e em tantos outros campos do conhecimento (BRASIL, 2018). 99 Trabalhando com o Corpo Conforme sabemos, e reforça a BNCC, na primeira infância o trabalho com o corpo é essencial para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, pois é por meio dele que elas se relacionam e se comunicam com o mundo, assim, é trabalhando com o corpo que você levará seusalunos a alcançarem o desenvolvimento emocional e mental, mas lembre-se sempre, nesta fase do desenvolvimento dos pequenos, as relações afetivas construídas através de interações entre eles e o mundo são fundamentais para que os conhecimentos e percepções desejados se consolidem em sua formação (BRASIL, 2018). Caro aluno, quando a BNCC nos traz a importância das experiências envolvendo o corpo, os gestos e os movimentos, também podemos enxergar como as competências objetivadas são importantes na Geogra�a, pois, inicialmente, correspondem à forma primeira de relação da criança com o mundo que a cerca e que será objeto de nossa disciplina. Na Educação Infantil, pode ser difícil pensarmos em como vamos trabalhar com as crianças os conceitos que envolvem a expressão geográ�ca do espaço e da sociedade, como a representação e a função dos mapas, por exemplo. No entanto, é importante que você tenha em mente, caro aluno, que esses recursos da Geogra�a consistem primeiramente em formas de comunicação entre quem elaborou e coletou as informações representadas nos mapas e Aqui, você pode recorrer a atividades que proporcionem experiências diversi�cadas, valorizando o recurso de gestos, posturas e movimentos expressivos que possibilitem com que seus alunos reconheçam sensações, interajam entre si, ocupem espaços e se localizem neles. Além do conhecimento de si e do mundo, você também deverá estimular as habilidades de nomear, identi�car a consciência corporal, consequentemente, você oferecerá às crianças a oportunidade de estarem em contato ativamente com a cultura corporal característica da sociedade em que vivem. 100 tabelas, assim como seu objetivo em registrá-las e o leitor que as receberá e interpretará de modo a também as relacionar à sua percepção do mundo (BRASIL, 2018). Neste sentido, somos lembrados pela BNCC que todos estamos expostos a diferentes formas de linguagens em nosso cotidiano, e isso não é diferente para as crianças. Quando proporcionamos a elas momentos de escuta (produzir e compreender mensagens orais), fala (expressar e interpretar não apenas a língua oral, como também sinais e comunicação escrita convencional ou não), pensamento (sobre si, sobre o mundo e sobre as diferentes formas de se comunicar) e imaginação, estamos também favorecendo o desenvolvimento de capacidades que lhes serão essenciais para interpretar e elaborar recursos metodológicos característicos da Geogra�a nas séries seguintes, isso porque ao trabalharmos com o desenvolvimento dessas habilidades, estamos também trabalhando com o desenvolvimento do pensamento humano como um todo desde a infância (BRASIL, 2018). Fonte: acesse o link disponível aqui 101 https://colegiosionrj.com.br/trabalho-em-equipe-e-uniao-na-educacao-infantil/ Por �m, mas nem por isso menos importante, a BNCC também traz à luz a importância de desenvolvermos com as crianças noções de espaço, tempo, quantidade, relações e transformações, sendo estas, sem sombra de dúvidas, as percepções que trabalharão de forma ainda mais evidente experiências essenciais no ensino da Geogra�a. Então, caro aluno, lembre-se sempre de que quando estiver trabalhando temas relacionados ao meio ambiente, sustentabilidade, vida cotidiana, sua cidade, conceitos de economia, organizações sociais, busque sempre trazer para suas atividades ações que tenham como objetivo estimular essas noções com seus alunos a �m de que desenvolvam um olhar mais crítico e criativo do mundo. Para essa �nalidade, busque trazer atividades para a sala de aula que estimulem as crianças a falar, descrever, narrar, explicar e fazer relações, assim, você estimulará a construção e ampliação de seus saberes (BRASIL, 2018). Explorar esse tipo de atividade é fundamental não apenas para fortalecer a autonomia dos seus alunos, mas também são essenciais para desenvolver o raciocínio lógico, classi�cações, seriações, percepção de relações e de transformações em situações ou ambiente, além de alimentar sua capacidade imaginativa. Desta forma, caro aluno, perceba que enquanto professores educadores você tem um vasto leque de possibilidades que lhe permitirá desenvolver com as crianças na Educação Infantil habilidades essenciais que servirão de passe para os conteúdos e experiências que desenvolverá ao longo de sua jornada de aprendizado. A BNCC, como vimos, aborda aspectos gerais que, olhando mais de perto, contribuem para o aprendizado de competências, assim como a Geogra�a, são interdisciplinares e indispensáveis na formação escolar. Todos esses aspectos podem ser facilmente trabalhados mediante algumas re�exões simples que você pode propor às crianças no contexto das mais diferentes atividades práticas, como "Quanto tempo falta para o meu aniversário?", "Por que quando minha avó era criança não havia televisão?", "Por que alguns objetos afundam e outros não?", "Por que existem alguns animais com penas e outros com pelos?", "Quantas vezes um elefante é maior do que um cavalo?" (BRASIL, 2018). 102 CONECTE-SE “A brincadeira é a atividade principal da infância. Esta a�rmativa se dá não apenas pela frequência de uso que as crianças fazem do brincar, mas, principalmente, pela in�uência que esta exerce no desenvolvimento infantil. Vygotsky (1991) ressalta que a brincadeira cria as zonas de desenvolvimento proximal e que estas proporcionam saltos qualitativos no desenvolvimento e na aprendizagem infantil. Elkonin (1998) e Leontiev (1994) ampliam esta teoria a�rmando que durante a brincadeira ocorrem as mais importantes mudanças no desenvolvimento psíquico infantil. Para estes autores, a brincadeira é o caminho de transição para níveis mais elevados de desenvolvimento” (CORDAZZO; VIEIRA, 2007, p. 93). Para aprofundar um pouco mais seu conhecimento sobre como os estímulos adequados podem favorecer o desenvolvimento de competências e habilidades que serão essenciais para as crianças, não apenas em sua trajetória escolar, mas para toda a vida, recomendo que você invista alguns minutos à leitura deste artigo intitulado “A brincadeira e suas implicações nos processos de aprendizagem e de desenvolvimento”, dos autores Scheila Tatiana Duarte Cordazzo e Mauro Luís Vieira. 103 https://go.eadstock.com.br/cvZ 11 Geografia no Ensino Fundamental 104 Na aula anterior, pudemos compreender um pouco mais de perto qual é a proposta de formação para as crianças da Educação Infantil, segundo a BNCC, e pudemos re�etir um pouco sobre como podemos nortear nossas práticas educacionais e proporcionar uma formação integral aos pequenos. Perceba, caro aluno, que nesta fase do aprendizado recorremos ao lúdico, ao trabalho com o corpo, com experimentações, visando fomentar o desenvolvimento de habilidades que serão fundamentais ao desenvolvimento da criança, bem como estimular sua interação com o mundo e a sociedade que a cerca. É possível dizer que, na Educação Infantil a interdisciplinaridade é uma regra, pois através de diferentes vivências e estímulos você provocará a percepção e a compreensão de fenômenos e relações que serão base para que seus alunos aprendam os mais diversos conteúdos no futuro. Em especial, estamos falando sobre o ensino de Geogra�a, mas é nítida a forma como a História está presente na construção do espaço geográ�co e nas relações interpessoais que caracterizam o meio social. Sim, essas percepções da relação ensino-aprendizagem têm passado por um processo de transformação nos últimos anos. E é nessa perspectiva de transformação que trataremos o ensino de Geogra�a no Ensino Fundamental. É por esse motivo que o convido a re�etir: por que insistir em colocar para as crianças desde muito pequenas a ideia de um conhecimento segmentado? Por que ainda se insiste na ideia de que o professor é um transmissor de conhecimento e a criança apenas deve recebê-lo e memorizá-lo? 105 O Aluno no Centro do Processo de Aprendizagem O primeiro paradigma que trataremos, nesta aula, é a posição do professor: o que justi�caa posição deste pro�ssional como central para o processo de aprendizagem? Durante muitos anos, de fato, o professor por, muitas vezes, era o detentor do conhecimento, aquele que havia estudado e se preparado para, no futuro, transmitir conhecimento para outras pessoas (crianças, jovens e até adultos). Essa metodologia colocava o professor como protagonista e o aluno como mero espectador, que deveria absorver essas informações e reproduzi-las, mesmo que não compreendesse sua relevância ou aplicabilidade na vida cotidiana. No entanto, com o passar dos anos, pesquisadores começaram a perceber que as crianças respondiam melhor a estratégias de ensino- aprendizagem que traziam signi�cado àquilo que estavam aprendendo, como é o caso da metodologia construtivista de Emilia Ferrero, ou que valorizam a relação histórico-cultural e a interação da criança com o meio, como é o caso da metodologia desenvolvida por Freinet, por exemplo. Esses princípios descentralizadores não devem �car restritos apenas aos primeiros passos na Educação Infantil, mas podem, e devem ser adaptados para acompanhar toda a jornada de aprendizado ao longo da vida escolar. O professor passa, então, a caracterizar-se como um mediador entre a criança e as experiências que favorecerão seu aprendizado, seu papel nesta relação é essencial como sujeito consciente dos seus saberes e ações, porém, não mais como único detentor do conhecimento. Segundo Castellar e Vilhena (2010, p. 09), o propósito da educação, hoje, e principalmente no que tange ao ensino de Geogra�a, consiste em “construir ideias em outra perspectiva, o que signi�ca ressaltar um processo de aprendizagem que seja construído com base no conhecimento prévio, nos conceitos cientí�cos e na realidade, proporcionando um novo olhar sobre a geogra�a escolar”. Em sua prática em sala de aula, você deve levar em consideração, em primeiro lugar, a faixa etária e o nível cognitivo das crianças para então traçar estratégias de aprendizagem que sejam �exíveis e que atendam tanto a seus alunos com maiores capacidades de aprendizagem quanto aqueles que apresentam 106 maiores di�culdades. Desse modo, você evitará criar obstáculos ao objetivo �nal de ensino e aprendizagem. Caro aluno, perceba que, para pensar em como você ensinará geogra�a para as crianças, você também precisará re�etir frequentemente a respeito de como elas aprendem! Você deverá privilegiar ações que promovam o diálogo entre teoria e prática, como o estímulo à pesquisa na escola, em situações-problema que favoreçam a busca de seus alunos por informações que respondam a seus questionamentos individuais e do grupo (falaremos sobre essa proposta mais adiante). Ressaltamos que [...] a didática da educação geográ�ca é fundamental para que se leve em conta o processo de aprendizagem do aluno, o que é muito diferente da memorização de fatos e informações, dos resultados pelos resultados, dando ênfase a conteúdos sem signi�cados (CASTELLAR; VILHENA, 2010, p. 10). Para dar início à sua prática no ensino de Geogra�a, é importante que você tenha clareza do que e como pretende ensinar a seus alunos, compreenda o conteúdo a ser trabalhado, sua função social e os princípios epistemológicos da geogra�a. É primordial que você compreenda os aportes didáticos da geogra�a e os conceitos centrais a serem desenvolvidos com seus alunos. Apenas dessa forma será possível que você elabore uma organização curricular mais articulada didaticamente (CASTELLAR; VILHENA, 2010). Conforme González (apud. CASTELLAR; VILHENA, 2010, p. 04), ao organizar sua prática no ensino de Geogra�a na escola, caro aluno, você deve considerar, impreterivelmente: as �nalidades educativas gerais do sistema escolar nas quais se inserem os conteúdos geográ�cos; as metas educativas da etapa e da área de conhecimento nas quais se inserem os conteúdos geográ�cos; as metas educativas da escola em que estamos trabalhando, o que poderá ajudar na escolha dos conteúdos; a escolha da metodologia que seja coerente com a concepção que se está desenvolvendo em geogra�a, de�nindo, assim, a sequência de conteúdo e a coerência em ordem crescente de di�culdade que será trabalhada; o interesse de cada atividade didática por meio da explicação dos objetivos dessas atividades em relação ao �o condutor da unidade didática. 107 O principal objetivo que nos leva a propor uma prática em sala de aula mais dinâmica e que coloque o aluno no centro, enquanto protagonista do processo de ensino-aprendizagem, consiste em promover uma formação signi�cativa, que parte do conhecimento de mundo prévio da criança e a estimula a buscar novas informações, dessa forma, o conteúdo aprendido tem um propósito pedagógico comprometido com a realidade social. Quando a criança aprende pela interação com o meio, motivada por discussões e situações-problema produzidas democraticamente em sala de aula, ela experiencia um aprendizado signi�cativo e duradouro, ou seja, não esquecerá o que aprendeu após aplicar essas informações em uma prova, por exemplo, mas carregará esse conhecimento ao longo da vida (CASTELLAR; VILHENA, 2010). O ensino de Geogra�a na escola consiste em um campo muito rico, pois há um leque de possibilidades quase in�nitos do que se pode explorar dentro e fora dos muros escolares. Você pode, por exemplo, propor uma atividade fora de sala de aula, um ambiente muito rico para fomentar discussões e impasses em relação a alguns conceitos que, teoricamente, seriam “universais”, como aqueles ligados a questões ambientais, modos de produção, desenvolvimento e subdesenvolvimento, fontes de energia e recursos naturais. Ao trabalhar esses temas, por que não propor atividades que estimulem com que a criança observe seu bairro, as estruturas sociais de sua comunidade, como sua cidade está organizada, quais recursos naturais podemos encontrar nelas e como o homem interage com esses recursos. 108 O ensino de Geogra�a permite, ainda, que você vá além, que utilize a seu favor conhecimentos de diferentes áreas! Na situação exempli�cada anteriormente, você pode, por exemplo, trazer a história da cidade, dos monumentos que encontramos nas praças e ruas, do tipo de produção que move a economia local; pode trazer a arte na representação da realidade pelo desenho ou pela fotogra�a; a matemática ao projetar uma maquete ou ao calcular a quantidade de energia elétrica consumida pelas famílias de todos os alunos da sala juntas... Caro aluno, perceba que há um leque de possibilidades que não deve ser descartado por você ao planejar seu cronograma de atividades no estudo da Geogra�a! Aproveito, ainda, para destacar alguns objetivos centrais no ensino de Geogra�a: Capacidade de aplicação dos saberes geográ�cos nos trabalhos relativos a outras competências e, em particular, capacidade de utilização de mapas e métodos de trabalho de campo. Ampliação dos conhecimentos e compreensão dos espaços nos contextos locais, regionais, nacionais e globais. Nesse caso, destaque para o reconhecimento do território e a compreensão das características culturais dos lugares em estudo. Seus alunos, ao retratarem suas observações em diferentes modalidades (discussão, escrita, desenhos, maquete, fotos etc.) estarão também desenvolvendo seu senso crítico, ao analisarem sua realidade e comparar com a de seus colegas, ao re�etir sobre os impactos da ação humana na natureza e ao pensar em possibilidades (ainda que imaturas) de reverter danos ambientais ou de solucionar problemas que cercam a realidade de seus pares (CASTELLAR; VILHENA, 2010; CALLAI, 2003). 109 Compreensão das semelhanças e das diferenças entre os lugares, garantindo o domínio sobre os conhecimentos relativos ao tempo e clima; à geomorfologia; aos recursos hídricos; ao solo e à cobertura vegetal; à população; à comunicação e aos �uxos; às redes e às atividades econômicas; espaços rurais e urbanos. Compreender os conceitos geográ�cos a partir do uso da linguagem cartográ�ca e grá�ca; reconhecer e fazer usodessas linguagens e outras com diferentes gêneros textuais, imagens, audiovisuais, documentais para explicar, analisar e propor soluções que utilizem os conceitos geográ�cos em situações do cotidiano (CASTELLAR; VILHENA, 2010, pp. 07-08). Em suma, ao ensinar Geogra�a a partir de uma abordagem multidisciplinar e signi�cativa, você vai contribuir para que seus alunos reconheçam ao outro e a si mesmos, enquanto sujeitos sociais, pertencentes a um grupo com suas próprias características culturais, históricas, que tem sua própria dinâmica com a natureza em diferentes tempos. Nessa abordagem e perspectiva, você vai trabalhar também os temas centrais trazidos pela BNCC a serem desenvolvidos ao longo do Ensino Fundamental I, quais sejam “O sujeito e seu lugar no mundo”, “Conexões e escalas”, “Mundo do trabalho”, “Formas de representação e pensamento espacial”, “Natureza, ambientes e qualidade de vida”, como teremos a oportunidade de discutir um pouco mais ao longo das aulas. Sendo a sociedade dinâmica e, por consequência, também os aspectos físicos da geogra�a, ao tomar consciência de seu papel enquanto agente transformador, a criança passa a se reconhecer enquanto parte dessas transformações. 110 A Pesquisa na Escola e o Ensino de Geogra�a Uma metodologia muito e�ciente que você poderá aplicar em sala de aula não apenas no ensino de Geogra�a, mas para todas as áreas, é o recurso da pesquisa, a �m de estimular seus alunos a aprender a fazer uma leitura da realidade e compreendê-la. Segundo Callai (2003), a Geogra�a propõe a leitura da realidade através do espaço constituído, com base em seus três conceitos básicos: o lugar, a paisagem e o território. Conforme citado de forma geral, anteriormente, a BNCC seleciona alguns temas centrais que devem perpassar a experiência das crianças ao longo de todo o Ensino Fundamental e, tendo em vista essas temáticas, tomemos nota das competências especí�cas do ensino de Geogra�a para essa faixa etária: 111 Utilizar os conhecimentos geográ�cos para entender a interação sociedade/natureza e exercitar o interesse e o espírito de investigação e de resolução de problemas. Estabelecer conexões entre diferentes temas do conhecimento geográ�co, reconhecendo a importância dos objetos técnicos para a compreensão das formas, como os seres humanos fazem uso dos recursos da natureza ao longo da história. Desenvolver autonomia e senso crítico para compreensão e aplicação do raciocínio geográ�co na análise da ocupação humana e produção do espaço, envolvendo os princípios de analogia, conexão, diferenciação, distribuição, extensão, localização e ordem. Desenvolver o pensamento espacial, fazendo uso das linguagens cartográ�cas e iconográ�cas, de diferentes gêneros textuais e das geotecnologias para a resolução de problemas que envolvam informações geográ�cas. Desenvolver e utilizar processos, práticas e procedimentos de investigação para compreender o mundo natural, social, econômico, político e o meio técnico-cientí�co e informacional, avaliar ações e propor perguntas e soluções (inclusive tecnológicas) para questões que requerem conhecimentos cientí�cos da Geogra�a. Construir argumentos com base em informações geográ�cas, debater e defender ideias e pontos de vista que respeitem e promovam a consciência socioambiental e o respeito à biodiversidade e ao outro, sem preconceitos de qualquer natureza. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade, �exibilidade, resiliência e determinação, propondo ações sobre as questões socioambientais, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários (BRASIL, 2018). 112 Neste sentido, ao trabalhar com pesquisa em sala de aula, você contribuirá para que todas essas competências sejam desenvolvidas, uma vez que possibilita a busca e a produção de conhecimento pelo próprio aluno. Segundo Callai (2003), ao recorrer à pesquisa como método, proporciona-se a oportunidade de que o aluno desenvolva um conhecimento que tenha sentido não apenas na vida, possibilitando reconhecimento de si enquanto sujeito de identidade própria e pertencente àquele espaço, a pesquisa lhe permite desenvolver habilidades cognitivas que permitem ler o mundo tal como ele se apresenta, tendo as condições necessárias para trabalhar e viver bem. Segundo Callai (2003), o trabalho com pesquisa possibilitará com que você atenda a todos os seus alunos, independentemente das capacidades individuais de cada um em avançar em determinados conhecimentos, isso porque cada criança avançará em sua pesquisa, de acordo com sua própria Fonte: acesse o link disponível aqui Mas atenção! É importante destacar que a pesquisa não consiste em um conteúdo a ser aprendido, mas sim como uma metodologia de trabalho. 113 https://www.mobilize.org.br/noticias/11278/criancas-do-5o-ano-estudam-mobilidade-urbana-em-sp.html demanda e, claro, respondendo ao estímulo do(a) professor(a) e podendo aprender ainda mais mediante ao compartilhamento de informações com os colegas. Seus alunos estarão aprendendo muito além de conteúdo, pois aprenderão a ter autonomia ao buscar as informações de que precisam, assim como procurar bases que lhes permitam compreender essas informações encontradas, podendo envolver pais, familiares, bem como toda a comunidade, use e abuse das possibilidades de interdisciplinaridade que a Geogra�a possibilita, assim, você vai viabilizar com que as crianças aprendam a pensar e a estabelecer relações e conexões através de conteúdos especí�cos. Para isso, seguem algumas possibilidades de exercícios que você poderá aplicar em suas aulas: 11 Com o mapa da cidade: traçar itinerários, percorrendo-os, representando-os, fazendo maquetes. 22 Com documentos: da história da cidade, da história das pessoas, da sua própria história, construindo linhas de tempo, histórias em quadrinhos, álbuns, quadros. 33 Com levantamentos com as pessoas, com os grupos organizados, sobre como eles percebem a cidade. 44 Com o processo de fragmentação do solo urbano, através de interesses imobiliários, do poder público, do econômico, do político. 114 Veja as imagens a seguir: a primeira consiste na representação aérea da cidade de Marília, SP, representando as áreas urbana e rural da cidade. A segunda imagem representa o mapa da mesma cidade e a referência de alguns lugares de destaque mostrando construções urbanas. 55 Com a organização dos bairros, com o estudo da história das ruas, com os monumentos, praças etc. 66 Com a rede de transportes urbanos veri�cando as suas características, os �uxos, a acessibilidade, as ligações importantes. 77 Com a veri�cação de casos em que os aspectos naturais condicionaram os aspectos sociais, e aquele em que as condições naturais são alteradas em função do uso urbano. 88 Com a identi�cação dos lugares simbólicos da cidade, veri�cando o que eles representam para a cultura local (CALLAI, 2003, p. 14). 115 Callai (2003) ainda enfatiza que ao aplicar esses exercícios de investigação, é essencial veri�car as paisagens que, como veremos à frente, são materializações das relações humanas com o meio; você deve também estimular a análise dos discursos das pessoas; bem como buscar reconhecer a cultura do lugar, procurando identi�car a cultura hegemônica e as outras tantas culturas que perpassam o dia a dia das pessoas da comunidade. Caro aluno, trabalhar com a pesquisa em sala de aula pode ser um desa�o, pois foge aos moldes tradicionais de ensino. No entanto, essas atividades proporcionam um aprendizado plural, prático e desperta o interesse das crianças para que queiram explorar ainda mais seus conhecimentos. A Fontes: Google Earth; Google Maps. 116 Geogra�a, por suas características sociais favorece com que essa prática seja ricamente explorada e podendo ser aproveitada também para aplicar conhecimentos de outras áreas que a tangenciam. CONECTE-SE Para que você possa complementar seus estudos, recomendo que você leia este artigo que apresentare�exões de uma pesquisa de Mestrado, que investigou a compreensão de educadores de uma escola pública sobre autonomia e em que medida se vê ou não como autônomo in�uencia a atuação docente. O artigo intitula-se “As relações na escola e a construção da autonomia: um estudo da perspectiva da psicologia”, das autoras Ana Paula Petroni e Vera Lucia Trevisan de Souza. 117 https://go.eadstock.com.br/cv0 12 Conceitos, Princípios e Categorias Essenciais ao Ensino de Geografia 118 Caro aluno, agora que compreendemos um pouco melhor aquilo que constitui a base do nosso trabalho no ensino de Geogra�a na Educação Infantil e Ensino Fundamental, podemos partir para a discussão dos principais conteúdos e conceitos a serem desenvolvidos nessa fase, sempre, é claro, buscando compreender esses conceitos e re�etindo sobre a metodologia que você poderá empregar em suas aulas, oferecendo não apenas o conhecimento teórico, mas também o desenvolvimento de capacidades e habilidades essenciais à formação da criança, segundo a BNCC e os PCNs. Para iniciar essa discussão, é preciso que você compreenda que a Geogra�a, mais do que uma disciplina ou uma subárea das ciências humanas e sociais, consiste em uma forma de ler o mundo, portanto, os conhecimentos e habilidades envolvidos neste campo consistem em recursos essenciais para a vida. Segundo Moreira, A educação escolar é um processo pelo qual o professor e seu aluno se relacionam com o mundo através das relações que travam entre si na escola e das ideias. A geogra�a e a educação formal concorrem para o mesmo �m de compreender e construir o mundo a partir das ideias que formam dele (MOREIRA, 2013, p.105). Partindo desse princípio, somos convidados a re�etir a respeito de como a ideia de mundo é concebida e, principalmente, como lidamos e organizamos essas ideias na geogra�a e na escola. Segundo o autor, existem os objetos reais que constituem aquilo que chamamos de mundo e as ideias que formamos em relação a esses objetos, de modo que, para compreendermos o mundo enquanto um conceito geral que possamos compreender, costumamos compreender o objeto real a partir das ideias que constituímos sobre ele, sendo assim, explicamos o mundo com base em representações daquilo que é real. Neste sentido, em Geogra�a, utilizamo-nos dessas representações/ideias como se fossem os próprios objetos que compõem a realidade, pois a assim chamada compreensão de “mundo” nada mais é do que uma composição de ideias concebidas pelo homem e que, por assim ser, orientam também nossas práticas enquanto seres sociais (MOREIRA, 20013). Portanto, é importante destacar que a ideia e o real não devem ser dissociados ou priorizados em detrimento da outra, uma vez que a articulação entre tais concepções sobre o objeto permite uma re�exão crítica do conhecimento. 119 [...] A ideia é o que resulta da nossa relação intelectual com a realidade sensível, o real sensível traduzido como construção do intelecto através do conceito. Dizemos que é uma representação. Chamamos de mundo ao modo como estruturamos nossa relação com as coisas que nos rodeiam a partir da ideia que formamos delas. O modo como a partir desse entendimento as trazemos para nosso campo de signi�cações. Daí dizemos que o mundo são as nossas representações. Porque vemos e vivemos segundo a ideia e o sentido que temos dele. A questão é como da ideia chegamos à representação e ao mundo (MOREIRA, 2013, p. 106-107). Moreira, neste sentido, faz uma colocação essencial para que possamos compreender como a Geogra�a concebe o mundo e suas representações: A geogra�a é uma forma particular de ciência que tira sua especi�cidade de relacionar imagem e fala por meio da categoria da paisagem. E essa especi�cidade vem do fato de que para produzir a sua forma de representação de mundo a geogra�a tem que conceber o mundo como espaço. Essas duas categorias necessitam para isso mobilizar a categoria intermediária do território. Paisagem, território e espaço formam [...] a tríade das categorias da representação e construção da ideia de mundo da geogra�a [...] (MOREIRA, 2013, p. 108-109). Caro aluno, abordamos até aqui, brevemente, as bases conceituais e metodológicas que fundamentam a concepção geográ�ca de mundo, e você verá, a seguir, a contextualização dos conceitos centrais que fundamentarão seu trabalho no ensino desta disciplina. No entanto, é muito importante que você não perca de vista o fato de que o eixo epistêmico da Geogra�a consiste na relação entre o homem e o meio, e é a partir desta relação estruturada ao se combinar os conceitos de paisagem, território e espaço que obtemos a concepção geográ�ca da ideia de mundo. 120 Paisagem e Espaço Segundo Milton Santos, o espaço consiste no objeto concreto mais interdisciplinar, pois, segundo ele, todos os espaços são geográ�cos, uma vez que não são determinados apenas pelo movimento da produção, mas da sociedade como um todo. Em suas palavras, “tanto a paisagem quanto o espaço resultam de movimentos super�ciais e de fundo da sociedade, uma realidade de funcionamento unitário, um mosaico de relações, de formas, funções e sentidos” (SANTOS, 1988/1998, p. 21). No entanto, justamente por esse motivo, apesar da realidade ser apenas uma, a forma como cada sujeito percebe seus elementos pode divergir, pois trata-se de uma percepção individual, neste caso, se entendemos a realidade como única, pode-se considerar a visão do homem das coisas materiais como sumariamente deformada. O trabalho da geogra�a é, portanto, superar a paisagem enquanto aspecto para buscar seu signi�cado em si. “A percepção não é ainda o conhecimento, que depende de sua interpretação e esta será tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de tomar por verdadeiro o que é só aparência” (SANTOS, 1988/1998, p. 22). Na imagem a seguir, vemos um rio que corre entre formações rochosas, mas no canto inferior esquerdo, há uma pequena construção em tijolos. Mas o que é, a�nal, a paisagem? Segundo Santos (1988/1998), a paisagem consiste em tudo o que está ao alcance de nossa visão e percepção, formada por cores, volume, movimento, odores, sons etc., em outras palavras, paisagem é composta por tudo aquilo que percebemos através de nossos sentidos no ambiente em que estamos inseridos. 121 Quando falamos em paisagem, costumamos classi�cá-la em dois tipos distintos: paisagem natural e paisagem arti�cial. Isso porque, segundo Carl Sauer (apud. SANTOS, 1988/1998, p. 22), há uma interação cultural, política e técnica inevitável entre homem e natureza à medida que esta relação se aprofunda, há um processo de socialização da natureza em meio ao qual, segundo Marx (idem), o homem deixa sua marca. É nesta relação que o espaço é produzido! A produção do espaço consiste no resultado da ação humana sobre o próprio espaço mediante recurso de objetos arti�ciais ou naturais. Segundo Santos (1988/1998), essa distinção entre os tipos de paisagens corresponde aos diferentes níveis de forças produtivas, materiais e imateriais (o conhecimento também consiste em força produtiva) empregadas pelo homem em determinado espaço. Segundo o autor, paisagem pode ser de�nida como conjunto heterogêneo de formas naturais e arti�ciais, composta por ambas em diferentes proporções. Fonte: acesse o link disponível aqui 122 https://www.egali.com.br/blog/paisagens-naturais-mais-amadas/ A paisagem arti�cial é a paisagem transformada pelo homem, enquanto grosseiramente podemos dizer que a paisagem natural é aquela ainda não mudada pelo esforço humano. Se no passado havia a paisagem natural, hoje essa modalidade de paisagem praticamente não existe mais. Se um lugar não é �sicamente tocado pela força do homem, ele, todavia, é objeto de preocupações e de intenções econômicas ou políticas. Tudo hoje se situa no campo de interesse da história, sendo, desse modo, social (SANTOS, 1988/1998, p. 23). Caro aluno, ao analisarmos as de�nições de paisagem e sua relação com o espaço, �ca evidente e praticamente impossível desvencilhara Geogra�a da História, uma vez que é a partir da relação histórica entre homem, bem como seus modos de produção, e natureza, que a paisagem se transforma e ganha novas con�gurações e características através do tempo, podemos perceber neste paralelo, algo que para Santos (1988/1998) é muito evidente: ao longo dos anos, a ação humana na natureza tem sido cada vez mais expressiva, de modo que a ação cultural tem se tornado frequentemente mais signi�cativa, tornando-se cada vez mais difícil distinguir, principalmente em áreas urbanas, aquilo que é natural ou arti�cial. Isso porque, apesar de corresponderem a recursos naturais, a grande maioria dos rios já passou por alguma modi�cação humana, seja pela instalação de represas que modi�cam seus cursos, seja por ações de desmatamento ou mesmo de re�orestamento promovidos pela ação humana, ou mesmo que sofram com os impactos de interesses econômicos, por exemplo, através da exploração do ecoturismo. É neste sentido que a a�rmação de Milton Santos se fortalece, o curso deste processo é que cada vez mais tenhamos fortalecido o processo de transformação do natural em arti�cial, mediante o recurso a instrumentos de trabalho �xos. A exemplo disso, pense nos rios que cercam sua cidade, ou aqueles que são de maior extensão em sua região, será que podemos considerá-los como paisagens naturais? Se seguirmos a de�nição de que a paisagem natural é aquela ainda não modi�cada pelo homem, será difícil classi�car qualquer um deles como tal. 123 Veja as imagens a seguir: temos o comparativo de duas imagens da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. À esquerda temos a paisagem atual, urbanizada com o entorno da costa repleta de prédios e embarcações na água. À direita, temos a Baía na forma que seria sua representação natural, antes da ação do homem, costa cercada por vegetação natural, pássaros voando e sem sinal de interferência humana. Há uma relação entre os instrumentos de trabalho (objetos dos mais diversos tamanhos, que o homem cria para poder produzir) e a paisagem. Há uma grande quantidade desses instrumentos que não são materiais, mas que se elaboram como elementos necessários à produção. Em eras bastante remotas, os instrumentos de trabalho eram um prolongamento do homem, mas, à medida que o tempo passa, vão transformando-se em prolongamentos da terra, próteses ou acréscimos à própria natureza, duráveis ou não. Os instrumentos de trabalho imóveis tendem a predominar sobre os móveis e a serem a condição de uso destes. Estradas, edifícios, pontes, portos, depósitos etc. são acréscimos à natureza sem os quais a produção é impossível. A cidade é o melhor exemplo dessas adições ao natural (SANTOS, 1988/1998, p. 23). Ao longo de sua história, a humanidade estabelece suas relações sociais baseadas fundamentalmente, em relações de produção em constante processo de transformação, que também determina as necessidades em relação a novos instrumentos de trabalho que, por sua vez, também estão ligados aos modos de distribuição, circulação e consumo desta produção. Fonte: acesse o link disponível aqui 124 https://www.historiailustrada.com.br/2014/06/rio-de-janeiro-antes-e-depois.html Conforme essas estruturas sociais se transformam, a paisagem também é transformada para atender às demandas de cada novo modelo de produção e ao seu nível tecnológico, organizacional e nível de capital correspondentes. É nesse sentido que podemos observar, com clareza, a heterogeneidade da paisagem urbana, uma vez que nela coexistem diferentes níveis e tipos de produção (SANTOS, 1988/1998). Esses elementos de diferentes épocas que compõem a paisagem terão uma interação única e diferenciada com as demandas sociais atuais, enfatizando sua característica heterogênea. É nessa singularidade que você deve incentivar a re�exão de seus alunos, favorecendo com que ele busque identi�car esses elementos e discutirem como eles se relacionam entre si e se subordinam a um movimento global (respeitando, é claro, a idade e as experiências de seus alunos) e como esses instrumentos se relacionam também com a história. Essa relação é indispensável, uma vez que a paisagem é um elemento vivo, em constante transformação na geogra�a, justamente porque re�ete as relações sociais e de produção de um determinado momento histórico, re�etindo a complexidade cada vez maior do trabalho humano que, por sua vez, também exige maiores inovações tecnológicas e de infraestrutura, neste processo, notamos as sucessivas substituições de modos de trabalho e importantes mudanças na con�guração territorial (SANTOS, 1988/1998). Destaco aqui algo que você deve ter bem claro ao trabalhar com esses conceitos em sala de aula e que é um dos vínculos mais importantes que podemos fazer com o estudo da História: “A paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos, substituições; a lógica pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção daquele momento” (SANTOS, 1988/1998, p. 23). E, principalmente, “uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que tem idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos” (SANTOS, 1988/1998, p. 23). 125 A paisagem tem, pois, um movimento que pode ser mais ou menos rápido. As formas não nascem apenas das possibilidades técnicas de uma época, mas dependem, também, das condições econômicas, políticas, culturais etc. A técnica tem um papel importante, mas não tem existência histórica fora das relações sociais. A paisagem deve ser pensada paralelamente às condições políticas, econômicas e, também, culturais. Desvendar essa dinâmica social é fundamental, as paisagens nos restituem todo um cabedal histórico de técnicas, cuja era revela; mas ela não mostra todos os dados, que nem sempre são visíveis (SANTOS, 1988/1998, p. 24). Ainda, falando das transformações pelas quais passam as paisagens, estas podem ser de dois tipos: estruturais ou funcionais. A sociedade urbana é una, mas se dá segundo formas-lugares diferentes. É o princípio da diferenciação funcional dos subespaços. A sociedade não mudou, permaneceu a mesma, mas se dá de acordo com ritmos distintos, segundo os lugares, cada ritmo correspondendo a uma aparência, uma forma de parecer. É o princípio da variação funcional do mesmo subespaço (SANTOS, 1988/1998, p. 24). Em contrapartida, a mudança estrutural se manifesta pela transformação na forma física dessa paisagem, neste caso, há relação entre estrutura socioeconômica e política. Pode haver adequação de estruturas antigas para serem utilizadas em outras funções, como antigos casarões históricos que passam a ser sede de órgãos públicos ou museus, esta também corresponde a uma mudança estrutural (SANTOS, 1988/1998). 126 Sobre diferenciação funcional dos subespaços, essa construção inicialmente correspondeu ao território da Colônia Juliano Moreira e originou-se a partir de um dos mais antigos engenhos de cana de açúcar de Jacarepaguá, integrando, inicialmente, as terras do Engenho da Taquara. Foi então desmembrado em 1664, e denominado Fazenda Nossa Senhora dos Remédios. [...] A partir de 1920, foram construídas as edi�cações do Núcleo Psiquiátrico da Colônia Juliano Moreira (até então denominada Colônia de Psicopatas de Jacarepaguá). Atualmente, esse espaço corresponde às dependências do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea. “Em 2002, com as questões da reforma psiquiátrica já consolidadas, o então Museu Bispo do Rosário agrega “Arte Contemporânea” à sua denominação, voltando-se para os debates em torno da arte atual criando, assim, um diálogo entre os mundos da arte e da loucura”. Mais informações no site. Colônia Juliano Moreira, construção em forma de arcos e com um extenso jardim e montanhas ao fundo Fonte: acesse o link disponível aqui 127 https://museubispodorosario.com/colonia-juliano-moreira/ Retomemos, como já vimos, segundo Milton Santos, paisagem é tudo aquilo que está ao alcance da nossa percepção (visão, audição, olfato etc.). Enquanto isso, segundo o mesmo autor, “oespaço seria um conjunto de objetos e de relações que se realizam sobre estes objetos; não entre estes, especi�camente, mas para as quais eles servem de intermediários” (SANTOS, 1988/1998, p. 25). Em outras palavras, os objetos servem como instrumentos para a consolidação de relações, sendo ele próprio, resultado da ação humana sobre o próprio espaço por meio de objetos arti�ciais e naturais (SANTOS, 1988/1998). Sumariamente, a diferença entre paisagem e espaço consiste no fato de que a primeira corresponde à materialização de um momento da sociedade, uma espécie de “retrato” de um determinado contexto, enquanto o espaço pressupõe movimento, pois resulta da interação entre as relações sociais e a paisagem (SANTOS, 1988/1998). Em relação ao conceito de território, segundo Claude Raffestin (1993 apud BORDO et al., s/d), o território consiste em uma delimitação do espaço com base em princípios político-administrativos, consiste, portanto, em um espaço delimitado pela proteção do trabalho humano através de linhas, limites e fronteiras e regido por determinada ordem política e jurídica. É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente [...] o ator “territorializa” o espaço (RAFFESTIN, 1993, p. 143, apud BORDO et al., s/d, p. 02). Neste momento, você pode estar se perguntando: todas essas mudanças acontecem em determinado espaço em um certo período, então, paisagem pode também ser denominada como espaço? A resposta, caro aluno, é não. Paisagem e espaço são conceitos diferentes, que você deve tomar cuidado para não confundir! 128 Além disso, consiste em [...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território se apoia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder [...] (RAFFESTIN, 1993, p. 143, apud BORDO et al., s/d, p. 02). De modo geral, Moreira resume os conceitos centrais da geogra�a em quatro pontos-chave: 1) os princípios são a base lógica da construção da representação geográ�ca de mundo; 2) a paisagem é o ponto de partida metodológico, o plano da percepção sensível dos objetos e seu arranjo, que serão lidos e descritos com a ajuda dos princípios; 3) o território vem em seguida, a partir da identi�cação dos recortes de domínios mapeados no arranjo da localização e distribuição e assim dos sujeitos da paisagem; 4) o espaço é o resultado �nal, aparecendo na classi�cação do conjunto como uma estrutura quali�cada de relações, em cuja base está o caráter histórico da relação homem-meio, a sociedade geogra�camente organizada (MOREIRA, 2013, p. 118). Os conceitos de espaço, paisagem e território consistem as bases do conhecimento geográ�co, desta forma, é importante que você tenha clareza das diferenças entre eles e a forma com a qual se relacionam na construção da ideia de mundo. Essa consciência contribuirá para que você oriente seus alunos, proporcionando-lhes atividades signi�cativas e que lhes permitam enxergar na prática a diferença entre esses conceitos. Lembre-se, as atividades de pesquisa, discussão e representação por meio de fotos, desenhos e maquetes também podem ser empregados na tomada de consciência prática deste conteúdo, as atividades de pesquisa e observação são um ótimo recurso, seguidas de um debate crítico que favoreça a contraposição de ideias. 129 NA PRÁTICA Desta vez, trago a você uma possibilidade de prática que pode ser aplicada em sala de aula ao trabalharmos com os conceitos de paisagem, espaço e território. Caso a exploração de campo não seja possível e você tenha que ilustrar esses conceitos sem sair do interior da escola, um ótimo recurso é a utilização de documentários e, a partir deles, propor que as crianças identi�quem e re�itam sobre os conceitos abordados na aula teórica. Músicas e clipes são também uma fonte muito interessante para essas aplicações. Como sugestão, trago o documentário “Ilha das Flores” de 1989, produzido pela Casa da Cinema de Porto Alegre e, também, a música “Cidadão” de Zé Ramalho. Ambas possibilitam a aplicação dos conceitos abordados nesta aula, ilustrando-a e promovendo a re�exão crítica destes. Ilha das Flores Cidadão 130 https://go.eadstock.com.br/cv2 https://go.eadstock.com.br/cv3 13 Introduzindo o Estudo de Mapas 131 Caro aluno, veremos, nas próximas aulas, as competências e habilidades essenciais a serem desenvolvidas no ensino de Geogra�a segundo a BNCC, bem como a importância dessa área de conhecimento para a formação do indivíduo enquanto ser social. Desta forma, assim como nas aulas anteriores, bem como nesta que se inicia, podemos constatar que a Geogra�a vai muito além de conceitos teóricos e da mera representação do espaço. Os mapas nos revelam desde a história das relações políticas que determinaram as fronteiras nacionais e internas de cada país, tais como as conhecemos hoje, podem também revelar contrastes em relação ao poder econômico entre regiões de um mesmo país ou entre países ao redor do mundo, trazem informações sobre con�itos políticos, sobre distribuição de alimentos e riquezas, tipos de solo, vegetação, clima, produção econômica na economia mundial, podem trazer informações culturais e contam histórias de civilizações antigas que permitiram a formação das civilizações hodiernas... En�m, o estudo dos mapas consiste em um dos pilares centrais da Geogra�a, mas é importante que você tenha consciência de que por trás das representações dos limites políticos, eles podem revelar muito sobre as características e história do mundo e das sociedades que o povoam. Os alunos precisam compreender a função dos mapas para que consigam interpretar e produzir suas próprias representações do espaço (MOÇO, 2011). Por este motivo, veremos, nesta aula, alguns elementos centrais da alfabetização cartográ�ca, sua relevância e como iniciar as crianças a este novo formato de comunicação. Além disso, ao estudar cartogra�a, seu aluno será capaz de se localizar no tempo e espaço, em um mundo onde a globalização é cada vez maior e a possibilidade de contato com pessoas que vivem em diferentes cidades, estados e países, se torna cada vez mais essencial, que as crianças possam se orientar e localizar a si mesmas a amigos que vivem em outras regiões e que possam satisfazer também às necessidades inerentes ao cotidiano, como escolher o melhor caminho para casa ou estudar o ambiente em que vive. No entanto, isso não signi�ca que os mapas não tenham seu valor, muito pelo contrário, ao percebermos a importância do estudo da Geogra�a damos também um novo signi�cado aos mapas. Estes não consistem apenas em mera representação do espaço em escala reduzida, mas em traduções de informações importantes sobre determinado grupo social, país ou continente. 132 Assim, é essencial que o domínio da representação tempo-espacial se consolide até o �m do Ensino Fundamental, seus alunos devem então ser capazes de interpretar e produzir mapas desde cedo. “Por meio da alfabetização cartográ�ca, a turma entende conceitos básicos para conseguir interpretar e produzir representações com pro�ciência crescente” (MOÇO, 2011, p. 01). São três elementos básicos necessários à compreensão do alfabeto cartográ�co: a Linha, que marca os limites de cidades ou estados, rios etc.; o Ponto, que retrata os estados, capitais, cidades etc.; e, por �m, a Área, que abarca as áreas dos estados, indústria, vegetação etc. Analisando o Espaço com Fotos Aéreas e de Satélites Como mencionado anteriormente, os mapas podem trazer os mais diversos tipos de informações a respeito de determinado espaço geográ�co, como população, divisão política, ocupação de solo, tipos de relevo e vegetação.No entanto, os mapas não são autoexplicativos, sendo assim, para que possa ser compreendido é preciso conhecer os conceitos que fundamentam sua elaboração, como símbolos, perspectiva, proporção etc. Segundo Moço (2011), para compreender a linguagem cartográ�ca é fundamental que seus alunos aprendam os conceitos de lateralidade e proporção, de modo a facilitar sua compreensão do posicionamento do espaço ali representado. Além disso, seus alunos também devem compreender os sinais grá�cos que comumente são utilizados, bem como os signi�cados que podem vir a ter em diferentes situações, como, por exemplo, o conceito de escala e as diferentes formas em que pode ser apresentada nos mapas. 133 Fonte: acesse o link disponível aqui Em relação aos tipos de escala, é importante que você trabalhe todas as formas e aplicações em sala de aula, uma vez que se trata de um elemento fundamental presente nos mapas, cuja função é representar a relação de proporcionalidade entre a área real e a sua representação no mapa. Em outras palavras, a escala indica quanto tivemos que reduzir o tamanho da área real para que ela “coubesse” no espaço em que o mapa foi confeccionado de forma grá�ca. Isso se deve ao fato de que os mapas consistem em uma reprodução reduzida de uma área, porém, sempre deve respeitar as devidas proporções em relação à realidade. Neste sentido, você deve trabalhar com seus alunos os diferentes tipos de escalas: a. Escala Grá�ca – utiliza-se de uma esquematização representando diretamente o espaço relacional e suas medidas. Como podemos notar, no exemplo apresentado, cada intervalo entre dois números representa uma determinada distância que é devidamente referenciada pela escala, este tipo de escala aumenta ou diminui juntamente ao mapa, sendo assim, ao expandirmos um mesmo mapa que estava em uma folha de papel para um pôster de tamanho expressivamente maior, a escala ainda permanecerá correta e coerente com o seu propósito de representar a realidade. b. Escala Numérica – é utilizada basicamente por números e é representada na forma de fração ou de uma divisão (como notamos no exemplo) tendo, portanto, um numerador e um denominador. Neste caso, o numerador representa a área do mapa e o denominador representa a área real à que a primeira se refere. Além de trabalhar com as escalas, você deverá também ensinar seus alunos a analisar e compreender os signi�cados das legendas para que possam, assim, compreender a relação entre as formas e cores que preenchem o mapa e seus 134 https://brasilescola.uol.com.br/geografia/escalas.htm signi�cados, de modo a extrair corretamente as informações que este pretende transmitir (MOÇO, 2011). Para este tipo de trabalho, como mencionado em aula anterior, o recurso de ferramentas digitais é muito rico, pois permite com que as crianças consigam relacionar a importância de se compreender os recursos grá�cos a partir de sua própria realidade, portanto, use e abuse de recursos como o Google Maps, Google Earth e quaisquer outros recursos a fontes de imagens de satélites que estejam disponíveis (como imagens obtidas através de estações meteorológicas de centros de pesquisa). Essas ferramentas mostram a forma como as fotogra�as aéreas são produzidas: pela sobreposição de um mapa a uma imagem de satélite. Com isso, os alunos conseguem perceber a perspectiva utilizada para representar o espaço e as diferenças entre a imagem aérea e sua representação cartográ�ca. Os mapas virtuais permitem ainda uma mobilidade de observação: o aluno pode ir para cima e para baixo, para a direita e para a esquerda, rotacionar as imagens e alterar a escala, a localização, a perspectiva (podendo até passear pelas ruas) e os símbolos necessários para a sua compreensão (MOÇO, 2011, p. 02). Vejamos agora, caro aluno, algumas estratégias interessantes para que você possa trabalhar ainda mais o domínio das crianças em relação aos espaços geográ�cos que as cercam. Como Levar as Crianças a Dominarem as Formas de Representação, seus Códigos e Funções? Segundo Jorn Seemann, professor do Departamento de Geociências da Universidade Regional do Cariri (Urca), 135 É preciso ensinar a cartogra�a como uma ciência crítica e não como o mero cálculo de escalas e coordenadas. É possível, por exemplo, incluir histórias para contextualizar fatos cartográ�cos importantes, como a criação do Primeiro Meridiano de Greenwich. Os alunos precisam pensar na utilidade dessa linguagem e no impacto histórico desses recursos (apud. MOÇO, 2011, p. 04). Neste sentido, além de analisar fotogra�as de satélites e explorar todos os recursos das ferramentas, como Google Maps e Google Earth, você pode recorrer também ao desenho e a maquetes desenvolvidos pelo próprio aluno. Isso permitirá que, após analisar todas as possibilidades de representação grá�ca dos mapas, a criança possa se apropriar por si mesma dessas informações e consolidá-las de forma autônoma, protagonizando seu próprio desenvolvimento ao elaborar mapas e maquetes de seu bairro ou escola. As crianças devem ter contato com diferentes tipos de representações espaciais, o que possibilita com que re�itam a respeito das diferentes funções e formas de produção de mapas (MOÇO, 2011). Ao produzir maquetes, você tem a oportunidade de ensinar conceitos de proporção, projeção e escalas grá�cas e numéricas, mostrando todas as estratégias que podem ser utilizadas quando se quer recriar uma paisagem. Elas permitem uma discussão sobre como mostrar toda a área sobre um só ponto de vista e de que forma manter a proporcionalidade entre os elementos representados. "Com base em problemas desse tipo, o aluno poderá se dar conta de relações espaciais complexas", diz Rosângela (MOÇO, 2011, p. 03). Outra atividade inicial importante, a produção de desenhos que representem a sala de aula ou o trajeto da criança até a escola, pode ser trabalhada, simultaneamente. Essas representações trazem informações que ajudam muito o trabalho docente. É possível perceber, por exemplo, conceitos que as crianças já conhecem e as maneiras que elas encontram para localizar e descrever o espaço. "Esses desenhos não são só a cópia de objetos, mas a interpretação do real. O mapa também é o recorte de uma realidade" (MOÇO, 2011, p. 03). Ao desenvolver este tipo de atividade com seus alunos, você possibilitará que eles desenvolvam habilidades de referência e orientação espacial, as quais são fundamentais para a compreensão de mapas. Além disso, após a atividade inicial de desenho, você pode também orientá-los a criar símbolos para 136 representar em seus mapas seus correspondentes no mundo real, tais como lagos, áreas verdes, rios, montanhas etc. Desta forma, você estará trabalhando não apenas com a percepção de mundo de seus alunos e dando recursos para que eles possam se comunicar utilizando outras formas de linguagem, mas também possibilitará com que se apropriem da “gramática” necessária para que possam compreender e produzir mapas (MOÇO, 2011). 137 NA PRÁTICA Caro aluno, vejamos um exemplo de aplicação prática em sala de aula sugerida por Moço (2011, p. 03), e que você poderá aplicar com seus alunos utilizando os recursos grá�cos disponíveis. Escalas reduzidas são facilmente reconhecidas pelas crianças, pois têm uma forte ligação com o que é observado. No Colégio Universitário Geraldo Reis, ligado à Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o professor Luiz Miguel Pereira analisou fotos áreas da escola e de seus arredores com as turmas de 4º ano. Várias imagens da região, com diferentes escalas, mas todas com a mesma perspectiva, foram usadas. "Assim, a turma conseguiu identi�car pontos diferentes a cada observação e foi expandindo o olhar", diz o professor. Usando essas imagens, é possível explorar o que os alunos já sabem sobre a região e acrescentar novos elementos - vale frisar que você deve conhecer bem a área representada para poder fazer intervenções durante a leitura. Sea turma tiver di�culdade para identi�car os elementos da paisagem, indique alguns destaques da foto, questionando: o que predomina do lado direito? São casas? Áreas industriais? O que não aparece? Elementos da infraestrutura urbana também podem ser apontados: é possível ver o posto de saúde? Ele está fora da foto? Ou não temos um em nossa região? Lançando essas perguntas, você introduzirá também a questão da ocupação do solo, que já pode começar a ser trabalhada com turmas dessa faixa etária. A seguir, vejamos o exemplo de uma das imagens utilizadas para essa atividade. 138 Para essa atividade, é importante que você utilize o mapa da região de sua escola, contendo seus arredores e pontos de referência. É importante que você conheça muito bem a região a ser estudada, para que possa conduzir as crianças a observarem cada vez mais lugares conhecidos nos arredores escolares enquanto a escala vai sendo reduzida e passamos a ter uma visão cada vez mais ampla da região. 139 14 Localização Geográfica e o Pensamento Espacial: a Contribuição dos Jogos para o Ensino da Geografia140 Como vimos na aula anterior, é muito importante que seus alunos exercitem a confecção de mapas e que sejam estimulados a pensar espacialmente. Isso é possível por meio do desenvolvimento do raciocínio geográ�co. “O pensamento espacial está associado ao desenvolvimento intelectual que integra conhecimentos não somente da Geogra�a, mas também de outras áreas (como Matemática, Ciência, Arte e Literatura)” (BRASIL, 2018, p. 311). O raciocínio geográ�co é uma maneira de exercitar o pensamento espacial, no entanto, aplicam-se determinados princípios necessários a essa ação: Analogia (comparar semelhanças); Conexão (interação com outros fenômenos); Diferenciação (diferenças entre áreas); Distribuição (como os objetos se repartem pelo espaço); Extensão (Espaço �nito e contínuo); Localização (posição de um objeto na superfície terrestre) e Ordem (Ordem ou arranjo espacial) (BRASIL, 2018). Assim, quando a criança exercita o raciocínio geográ�co levando em conta os princípios descritos, desenvolve seu pensamento espacial, o que facilita a representação e interpretação do mundo que está em constante transformação. O trabalho com pesquisa no ensino de Geogra�a é fundamental e este pode ser diversi�cado com a aplicação de jogos, que favorecem a aprendizagem ativa, resolução de problemas, desenvolve o pensamento espacial, o raciocínio geográ�co, entre outras habilidades. Como elucidado na aula anterior, esses conceitos são cruciais para a compreensão e leitura de mapas e grá�cos, assim, quanto mais diversi�cado o trabalho com diferentes linguagens (fotogra�as, mapas, esquemas, desenhos, imagens de satélites, entre outras) maior o repertório que o aluno construirá acerca da produção de sentidos na leitura de mundo. 141 O Ensino de Geogra�a por Meio de Jogos Em muitos lugares, nos deparamos com mapas para ajudar a localização, como estações, metrôs, agendas escolares e tantos outros, mas nem sempre as crianças estão aptas a se direcionarem com um mapa. Assim, é importante que desde o início da escolarização haja o desenvolvimento do raciocínio geográ�co, e os jogos são uma forma prazerosa de desenvolver essa e outras habilidades. Os jogos poderão ser criados, de acordo com os conteúdos curriculares da Geogra�a e a faixa etária dos alunos. As situações propostas poderão ser reais ou simuladas levando em conta o desenvolvimento do raciocínio geográ�co. Breda (2018a) destaca a diferença entre os jogos recreativos e os jogos pedagógicos, sendo que o primeiro objetiva o entretenimento e os pedagógicos objetivam o aprendizado, de acordo com temas curriculares estudados. Os próprios professores poderão criar e confeccionar os jogos, de acordo com seus objetivos pedagógicos, o que potencializa os seus resultados. Os jogos que apresentaremos foram preparados com imagens e mapas com a intenção de familiarizar esse tipo de leitura. As estratégias dos jogos poderão ir desde a identi�cação de lugares até as mais complexas, porém, a faixa etária dos alunos tratados em nosso curso permite o trabalho mais voltado para identi�cação e localização de lugares e imagens (BREDA, 2018a). 142 techtudo.com.br Conhecendo Alguns Jogos Geográ�cos Caro aluno, ao planejar um jogo, o seu objetivo deve ser comunicado antes para o aluno, isso porque, vai deixá-lo mais entusiasmado e com clareza de que o importante não é apenas a vitória, mas sim vivenciar conteúdos escolares. Desta forma, é crucial pensar em jogos que estimulem o raciocínio geográ�co e trabalhem ao mesmo tempo os conteúdos geográ�cos, respeitando a faixa etária dos estudantes com os quais você trabalha. O professor propõe atividades, como aulas, trabalhos de campo, pesquisas, leituras e os jogos como complemento pedagógico. Os jogos como estratégia didática permitem o desenvolvimento da curiosidade do gosto pela aprendizagem prazerosa e, ainda, [...] possibilita ao aluno, por meio de regras e métodos, construir por si mesmo a descoberta, o conhecimento e dinamizar a aula, já que o jogo é uma atividade “pelo prazer” (BREDA, 2018a, p. 56). Outro ponto importante que a atividade com os jogos proporciona refere-se à socialização (trabalho em equipe) e o trabalho com valores, como moral, respeito às regras e ao outro (BREDA, 2018a). 143 Vamos conhecer alguns exemplos retirados do livro “Jogos geográ�cos na sala de aula” (BREDA, 2018b): Jogos de Caça ao Tesouro As crianças são incentivadas a encontrar um tesouro com a ajuda de um mapa e/ou de pistas e o grau de di�culdade do jogo é determinado pelo professor. No mapa pode conter um caminho a ser percorrido, como ser composto por pistas que anunciam os passos a serem seguidos até o tesouro. No processo de busca, os alunos necessitam estabelecer referências de localização, tanto no espaço como no mapa onde está referenciado o tesouro. Assim, “para deslocarem-se no espaço real, os alunos precisam experienciar elementos de proporção entre os objetos de referência no real e no mapa, incentivando a descentralização dos referenciais corporais” (BREDA, 2018a, p. 59). Jogos de Dominós Os jogos de dominós são uma boa opção, tanto pela facilidade na sua confecção, quanto pelo custo dos materiais, que são baixos. A quantidade de conteúdos que podem ser explorados é bem diversi�cada. A peça possui uma divisão, ou pontas e devem ser encaixadas de acordo com os temas geográ�cos. Breda (2018a) exempli�ca que na ponta direita da peça pode conter uma representação de curva de nível e do lado esquerdo uma silhueta de relevo e, assim por diante, com outras peças com curvas de nível especí�cas. Outro exemplo citado pela autora (2018a) demonstra um mesmo lugar visto de perspectivas diferentes que deverão se encaixar, induzindo a comparação entre as perspectivas na visão vertical e frontal. O trabalho com as duas perspectivas permite ao aluno que observe imagens por vários ângulos, porém, de um mesmo lugar compreendendo, dessa forma, como se dá o processo de construção dos mapas. Jogos de Tabuleiros Os jogos de tabuleiros são variados e os temáticos são os preferidos das crianças nas escolas. Eles podem ser criados com mapas corroborando no aprendizado e nas habilidades geográ�cas. Isso ocorre porque nesse tipo de jogo, para que os jogadores cheguem ao �nal terão que responder a perguntas, resolver muitos desa�os e elaborar estratégias diversi�cadas. 144 Quebra-Cabeças Esses tipos de jogos com imagens de satélite e fotogra�as aéreas promovem o exercício de percepção visual, pois ao terem que buscar as peças corretas para os encaixes, os alunos terão que fazer uma análise bem detalhada da imagem, favorecendo a compreensão e familiarização com esse tipo de imagem. Esse tipo de jogo deve ser adaptado à faixa etária do aluno, tendo em vista que para as crianças pequenas o nível de abstração ainda é baixo. A apresentação desses jogos são possibilidadesde criação para o trabalho com os estudantes, lembrando que esses e outros jogos poderão ser preparados por você e com baixo custo. Há in�nitas possibilidades de uso de jogos em sala de aula, com ampla variedade de abordagens, no entanto, a maioria das dinâmicas necessita da intervenção do docente para que se trabalhe de forma efetiva o pensamento espacial e o raciocínio geográ�co. De acordo com a intenção pedagógica do docente, os jogos podem ser adaptados a situações locais e lugares, com mapas e imagens de cidades especí�cas (BREDA, 2018a). NA PRÁTICA Como abordagem prática, caro aluno, sugiro que você acesse o link a seguir, e conheça a apostila “Construindo jogos geográ�cos: passo a passo”, produzida por Breda (2016) e construa alguns materiais que vão enriquecer suas aulas e auxiliar seus futuros alunos a aprenderem de forma prazerosa. 145 https://go.eadstock.com.br/cv4 15 Conceitos e Habilidades Essenciais ao Ensino de Geografia: 1º e 2º Anos do Ensino Fundamental146 Como vimos até aqui, o ensino de Geogra�a na Educação Infantil e Ensino Fundamental deve estar diretamente ligado às experiências do aluno, sua realidade de vida e, principalmente, ao desenvolvimento de sua capacidade em reconhecer o espaço que o cerca enquanto espaço geográ�co e a si mesmo enquanto agente de transformação deste. Neste sentido, a BNCC (BRASIL, 2018, p. 366) estabelece enquanto Competências Especí�cas de Geogra�a os seguintes elementos: Competências especí�cas de Geogra�a Utilizar os conhecimentos geográ�cos para entender a interação sociedade/natureza e exercitar o interesse e o espírito de investigação e de resolução de problemas. Estabelecer conexões entre diferentes temas do conhecimento geográ�co, reconhecendo a importância dos objetos técnicos para a compreensão das formas como os seres humanos fazem uso dos recursos da natureza ao longo da história. Desenvolver autonomia e senso crítico para compreensão e aplicação do raciocínio geográ�co na análise da ocupação humana e produção do espaço, envolvendo os princípios de analogia, conexão, diferenciação, distribuição, extensão, localização e ordem. Desenvolver o pensamento espacial, fazendo uso das linguagens cartográ�cas e iconográ�cas, de diferentes gêneros textuais e das geotecnologias para a resolução de problemas que envolvam informações geográ�cas. Desenvolver e utilizar processos, práticas e procedimentos de investigação para compreender o mundo natural, social, econômico, político e o meio técnico-cientí�co e informacional, avaliar ações e propor perguntas e soluções (inclusive tecnológicas) para questões que requerem conhecimentos cientí�cos da Geogra�a. Construir argumentos com base em informações geográ�cas, debater e defender ideias e pontos de vista que respeitem e promovam a consciência socioambiental e o respeito à biodiversidade e ao outro, sem preconceitos de qualquer natureza. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade, �exibilidade, resiliência e determinação, propondo ações sobre as questões socioambientais, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários. Fonte: (BRASIL, 2018). 147 Tendo estes princípios em vista, vejamos o que a BNCC (BRASIL, 2018) prevê como eixo central para o Ensino de Geogra�a do 1º a 5º ano do Ensino Fundamental. Aproveito para esclarecer os símbolos descritos na BNCC, de acordo com o que será apresentado nos eixos a seguir. EF01GE01: EF - Ensino Fundamental 01 – Primeiro ano GE – Geogra�a 01 – Habilidade 1 E, assim, sucessivamente. Habilidades a Serem Desenvol�das e Possibilidades para o Currículo: 1º Ano Caro aluno, vejamos o que a versão comentada da BNCC (BRASIL, 2018) diz a respeito dos objetos de conhecimento e habilidades que você deverá desenvolver com seus alunos, bem como algumas sugestões de possibilidades para que você possa adaptar em seu currículo ao planejar as atividades que serão trabalhadas com as crianças. O modo de �da das crianças em diferentes lugares (EF01GE01) Descrever características observadas de seus lugares de vivência (moradia, escola etc.) e identi�car semelhanças e diferenças entre esses lugares (BRASIL, 2018, p. 371). 148 A habilidade proposta se refere ao desenvolvimento da compreensão dos lugares de vivência da criança de forma a relacioná-lo com seu cotidiano. O importante é que ela inicie com a proximidade de sua vida com a família, escola, rua, bairro, cidade etc. Assim, o professor, ao elaborar o currículo, deverá propor os temas de Geogra�a com o que é muito próximo da criança para depois incluir os mais distantes. Também, explorar os diversos tipos de moradias, como casas de áreas urbanas e rurais, pala�tas, apartamentos, sempre levando a criança a observar e comparar semelhanças, diferenças e funções entre casa e escola (BRASIL, 2018). (EF01GE02) Identi�car semelhanças e diferenças entre jogos e brincadeiras de diferentes épocas e lugares (BRASIL, 2018, p. 371). Na educação infantil, as cantigas de rodas, jogos coletivos e brincadeiras individuais são muito importantes. Os jogos, o brinquedo como também as brincadeiras são base para a aprendizagem cartográ�ca, pois desenvolvem a lateralidade e espacialidade, componentes essenciais da Geogra�a (BRASIL, 2018). Situações de conví�o em diferentes lugares (EF01GE03) Identi�car e relatar semelhanças e diferenças de usos do espaço público (praças, parques) para o lazer e diferentes manifestações (BRASIL, 2018, p. 371). No momento da elaboração do currículo, o trabalho com regras para o convívio nos diferentes locais, como escola, praças etc., o cuidado com espaços públicos, podem ser explicitados no entorno da escola, no bairro e nas relações com a vizinhança (BRASIL, 2018). (EF01GE04) Discutir e elaborar, coletivamente, regras de convívio em diferentes espaços (sala de aula, escola etc.) (BRASIL, 2018, p. 371). 149 Essa habilidade se refere à construção coletiva de regras, normas e combinados tão essenciais à convivência respeitosa na escola e outros ambientes coletivos. Incluir as regras de trânsito que garantam a organização e a convivência no espaço vivido (BRASIL, 2018). (EF01GE05) Observar e descrever ritmos naturais (dia e noite, variação de temperatura e umidade etc.) em diferentes escalas espaciais e temporais, comparando a sua realidade com outras (BRASIL, 2018, p. 371). Ciclos naturais e a �da cotidiana No desenvolvimento dessa habilidade é importante a compreensão do princípio da conexão existente entre o meio físico-natural com a sociedade. Isso permite entender os arranjos das paisagens a partir de sua localização, como se distribuem os fenômenos e objetos. Portanto, ao elaborar a proposta curricular é necessário considerar o estudo do tempo relacionando-o com o antes, o agora e o depois, a partir da história da família, do cotidiano, da escola e da dinâmica local. Os ciclos da natureza devem ser considerados com a vida cotidiana do aluno, como, por exemplo, o uso das vestimentas, de acordo com o clima, como também as atividades que podem ser feitas em diferentes tempos e lugares (BRASIL, 2018). Diferentes tipos de trabalho existentes no seu dia a dia (EF01GE06) Descrever e comparar diferentes tipos de moradia ou objetos de uso cotidiano (brinquedos, roupas, mobiliários), considerando técnicas e materiais utilizados em sua produção (BRASIL, 2018, p. 371). Desenvolver essa habilidade nos alunos requer, na elaboração do currículo, que se estabeleça uma relação entre as diferentes moradias, do que são feitas (barracos, pala�tas, sobrados, alvenaria etc.) e os diferentes povos que nelas 150 habitaram em diferentes espaços e tempos. Ampliando um pouco mais, é importante destacar, ainda, como vivem as pessoas aos arredores da cidade e na região do aluno, como também a discussão sobre o direito de cada um à moradia digna (BRASIL, 2018). (EF01GE07) Descrever atividades de trabalho relacionadas com o dia a dia da sua comunidade (BRASIL, 2018, p. 371).Pontos de referência (EF01GE08) Criar mapas mentais e desenhos com base em itinerários, contos literários, histórias inventadas e brincadeiras (BRASIL, 2018, p. 371). A habilidade de elaborar mapas não é muito simples para as crianças. Uma boa estratégia ao elaborar o currículo é utilizar livros literários, lendas etc., para construir mapas mentais e desenhos. Essas atividades permitem que os alunos expressem relação espacial e elementos que permitam localizar no espaço. E, ainda, no seu desenvolvimento as habilidades espaciais vão sendo construídas (características essenciais à alfabetização cartográ�ca). Isso pode ocorrer por meio de jogos, brincadeiras, quebra-cabeças, como já descrito em aulas anteriores (BRASIL, 2018). Nos anos iniciais, é importante abordar no currículo a relação entre o homem e o trabalho que desenvolve em um espaço. Isso porque o homem se situa nele, ocupa lugares e, geralmente, esse espaço é visto como algo estático, pronto e acabado, no entanto, ele é resultado de uma dinâmica e constituído de historicidade. 151 (EF01GE09) Elaborar e utilizar mapas simples para localizar elementos do local de vivência, considerando referenciais espaciais (frente e atrás, esquerda e direita, em cima e embaixo, dentro e fora) e tendo o corpo como referência (BRASIL, 2018, p. 371). A expressão corporal é fundamental no desenvolvimento da lateralidade. O pensamento espacial ao ser desenvolvido é responsável pela orientação do próprio corpo em relação a objetos, lugares e pessoas. Assim, no preparo do currículo, é necessário planejar o uso de croquis no trabalho inicial de cartogra�a, para que o aluno represente a escola e todos os elementos mais usados, desde o portão da escola aos banheiros e estacionamento. As noções espaciais, como frente e atrás, esquerda e direita, em cima e embaixo, dentro e fora, podem ser ampliadas tendo sempre o corpo, a sala e a escola como primeiras referências (BRASIL, 2018). Fonte: acesse o link disponível aqui 152 https://www.youtube.com/watch?v=ABVYxePiQ8Q Condições de �da nos lugares de �vência (EF01GE10) Descrever características de seus lugares de vivência relacionadas aos ritmos da natureza (chuva, vento, calor) (BRASIL, 2018, p. 371). Essa habilidade se refere às noções relativas à percepção do meio físico e natural em consonância aos ritmos da natureza, o que envolve as mudanças de vestuário e hábitos alimentares, nos lugares de vivência, em relação à variação de temperatura (EF01GE11) no decorrer do ano. Outras re�exões podem ser abordadas sobre problemas que acontecem na própria localidade ou em outras, como o caso de ruas que �cam alagadas quando chove (BRASIL, 2018). (EF01GE11) Associar mudanças de vestuário e hábitos alimentares em sua comunidade ao longo do ano, decorrentes da variação de temperatura e umidade no ambiente (BRASIL, 2018, p. 371). Ao observar a forma de se vestir e os hábitos alimentares das pessoas é possível identi�car a forma de vida, as características ambientais e a organização social de um povo. Ao elaborar o currículo, diversas habilidades podem ser exploradas, como analisar semelhanças e diferenças entre as formas de se vestir e os hábitos alimentares do passado e do presente, como também os alimentos industrializados que temos hoje e que não existiam no passado (BRASIL, 2018). 153 Habilidades a Serem Desenvol�das e Possibilidades para o Currículo: 2º Ano Caro aluno, vejamos, a seguir, o que a versão comentada da BNCC (BRASIL, 2018) diz a respeito dos objetos de conhecimento e habilidades que você deverá desenvolver com seus alunos, bem como algumas sugestões de possibilidades para que você possa adaptar em seu currículo ao planejar as atividades que serão trabalhadas com as crianças do 2º ano do Ensino Fundamental. Con�vência e interações entre pessoas na comunidade (EF02GE01) Descrever a história das migrações no bairro ou comunidade em que vive (BRASIL, 2018, p. 373). Essa habilidade se refere ao estudo das migrações e traz a possibilidade para trabalhar com grupos diferentes de lugares diferentes, assim como seus modos de vida, a relação cultural que se cria entre grupos de pessoas distintas. Nessa perspectiva, deve-se considerar as mudanças dos hábitos de vida de um mesmo lugar e as possíveis transformações do local. Outro aspecto que pode ser abordado no estudo da migração é o estudo das histórias familiares, trazendo à tona a identidade do aluno, sob o ponto de vista da diversidade geográ�ca, étnica e cultural da população (BRASIL, 2018). (EF02GE02) Comparar costumes e tradições de diferentes populações inseridas no bairro ou comunidade em que vive, reconhecendo a importância do respeito às diferenças (BRASIL, 2018, p. 373). 154 Ao elaborar o currículo, é importante que se abordem temas, como, por exemplo, a escola, o bairro, a cidade e/ou região, com questões que tragam respostas sobre a formação desses lugares, os primeiros moradores, de onde vieram, quais tradições e costumes os moradores preservam até os dias atuais, quais tradições dos moradores respeitam as diferenças (BRASIL, 2018). Riscos e cuidados nos meios de transporte e de comunicação (EF02GE03) Comparar diferentes meios de transporte e de comunicação, indicando o seu papel na conexão entre lugares, e discutir os riscos para a vida e para o ambiente e seu uso responsável (BRASIL, 2018, p. 373). Desenvolver essa habilidade aproxima o meio local do global. A discussão da história dos meios de comunicação e de transporte proporcionará ao aluno a compreensão das mudanças ocorridas que são inerentes à globalização. Pode- se abordar, ainda, os transportes característicos de regiões diferentes e sua relação com a produção e consumo da cidade e do campo. E, ainda, fazer a relação do uso dos transportes, nas cidades grandes, coletivos e individuais (muitos carros nas cidades) e os prejuízos ao meio ambiente e na qualidade de vida (BRASIL, 2018). Experiências da comunidade no tempo e no espaço (EF02GE04) Reconhecer semelhanças e diferenças nos hábitos, nas relações com a natureza e no modo de viver de pessoas em diferentes lugares (BRASIL, 2018, p. 373). Os modos de vida dos grupos sociais, a diferença entre cidade e campo, a relação cultural existente nas diferentes formas de vida é importante para serem considerados no momento da construção do currículo (BRASIL, 2018). 155 Mudanças e permanências (EF02GE05) Analisar mudanças e permanências, comparando imagens de um mesmo lugar em diferentes tempos (BRASIL, 2018, p. 373). O aluno deverá observar características do lugar onde está inserido, como também, as mudanças e permanências da paisagem ao longo do tempo. O modo de vida, hábitos e costumes, tradições expressam a identidade cultural das pessoas de um local. Essa busca histórica pode ser feita por meio de fotogra�as, entrevistas com moradores, registros históricos e contadas por moradores antigos do bairro (BRASIL, 2018). Imagem comparativa da Praça Ramos de Azevedo, na cidade de São Paulo, nos anos 1916 e 2013 Fonte: acesse o link disponível aqui 156 https://www.facebook.com/616485048413958/photos/a.616493771746419/1028641317198327/ Tipos de trabalho em lugares e tempos diferentes (EF02GE06) Relacionar o dia e a noite a diferentes tipos de atividades sociais (horário escolar, comercial, sono etc.) (BRASIL, 2018, p. 373). Essa habilidade mencionada está de acordo com as competências especí�cas das Ciências Humanas, que propõem a compreensão dos alunos em relação aos eventos cotidianos e às variações no tempo e espaço (BRASIL, 2018). (EF02GE07) Descrever as atividades extrativas (minerais, agropecuárias e industriais) de diferentes lugares, identi�cando os impactos ambientais (BRASIL, 2018, p. 373). No desenvolvimento dessa habilidade, é possível apresentar aos alunos a origem de alguns produtos que são extraídos da natureza (arroz, feijão, trigo, frutas e vegetais, a utilização da água), como também os impactos ambientais oriundos da produção e extração da natureza(BRASIL, 2018). Localização, orientação e representação espacial (EF02GE08) Identi�car e elaborar diferentes formas de representação (desenhos, mapas mentais, maquetes) para representar componentes da paisagem dos lugares de vivência (BRASIL, 2018, p. 373). Essa habilidade pode ser desenvolvida por meio de fotogra�as, croquis, mapas, maquetes, imagens aéreas, fazendo a identi�cação do entorno da escola. Nesse tipo de atividade, é possível exercitar a lateralidade, a orientação e a localização. 157 A alfabetização geográ�ca perpassa pela aquisição das noções espaciais, como entender um trajeto, o curso dos mananciais, limites, fronteiras. Esses dados são fundamentais para a compreensão da linguagem cartográ�ca (BRASIL, 2018). (EF02GE09) Identi�car objetos e lugares de vivência (escola e moradia) em imagens aéreas e mapas (visão vertical) e fotogra�as (visão oblíqua) (BRASIL, 2018, p. 373). Essa habilidade proporciona a possibilidade de, por meio da elaboração de maquete da sala de aula, trabalhar as relações topológicas e projetivas, possibilitando exercitar a visão oblíqua e vertical. As imagens, como cartas e mapas que se apresentam em diferentes escalas, desenvolvem no aluno a alfabetização cartográ�ca (BRASIL, 2018). (EF02GE10) Aplicar princípios de localização e posição de objetos (referenciais espaciais, como frente e atrás, esquerda e direita, em cima e embaixo, dentro e fora) por meio de representações espaciais da sala de aula e da escola (BRASIL, 2018, p. 373). De acordo com essa habilidade, o professor pode trabalhar com as situações diárias dos alunos na escola. Esse trabalho pode ser iniciado com o desenvolvimento do princípio da lateralidade com jogos e brincadeiras de localização de objetos, como também no pátio da escola ou na sala de aula com um plano de coordenadas, nos quais o aluno deverá encontrar objetos tendo referências espaciais (BRASIL, 2018). Os usos dos recursos naturais: solo e água no campo e na cidade (EF02GE11) Reconhecer a importância do solo e da água para a vida, identi�cando seus diferentes usos (plantação e extração de materiais, entre outras possibilidades) e os impactos desses usos no cotidiano da cidade e do campo (BRASIL, 2018 p. 373). 158 Destacar na elaboração do currículo, a importância do solo para os seres vivos e sua relação com a água como meio de sobrevivência. As transformações do solo sofridas pela ação do sol, chuva e calor. Inserir o reconhecimento dos diferentes tipos de solo e o plantio de diferentes culturas existentes no campo (BRASIL, 2018). Na próxima aula, daremos continuidade à nossa exposição sobre os conceitos e habilidades essenciais ao ensino de Geogra�a para os alunos dos 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental I. É importante destacar que nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o ensino de Geogra�a está intrinsecamente vinculado à vivência do aluno, sendo as habilidades destacadas pela BNCC (BRASIL, 2018) um meio para preparar seus alunos não apenas para avançar em sua formação acadêmica, mas principalmente para a vida em sociedade, percebendo todos os seus aspectos (físicos, sociais e espaciais). 159 CONECTE-SE Para �nalizar os conteúdos abordados nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental e darmos início às temáticas sociais e ambientais que serão o centro de abordagem para os 3º, 4º e 5º anos deste ciclo, recomendo que assista ao vídeo Esgotamento de Recursos Naturais e suas Consequências. A partir desta apreciação, re�ita sobre os conteúdos e debates que você poderá propor a seus alunos relacionando com os conteúdos que serão abordados em aula, bem como com a realidade experienciada por eles e sua comunidade. É um conteúdo de animação que você poderá utilizar com seus alunos. Esgotamento de Recursos Naturais e suas Consequências 160 https://go.eadstock.com.br/cv5 16 Conceitos e Habilidades Essenciais ao Ensino de Geografia: 3º, 4º e 5º Anos do Ensino Fundamental161 Seja bem-vindo, novamente, caro aluno! Nesta aula, daremos continuidade à exposição das habilidades propostas pela BNCC a serem desenvolvidas no Ensino Fundamental. Vejamos, então, o que é proposto e quais as possibilidades de currículo sugeridas pela Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018) para os 3º, 4º e 5º anos. Habilidades a Serem Desenvol�das e Possibilidades para o Currículo: 3º Ano Caro aluno, vejamos, então, o que a versão comentada da BNCC (BRASIL, 2018) diz a respeito dos objetos de conhecimento e habilidades que você deverá desenvolver com seus alunos, bem como algumas sugestões de possibilidades para que você possa adaptar em seu currículo ao planejar as atividades que serão trabalhadas com as crianças do 3º ano do Ensino Fundamental, tendo em vista o arcabouço teórico desenvolvido até o momento. A cidade e o campo: aproximações e diferenças (EF03GE01) Identi�car e comparar aspectos culturais dos grupos sociais de seus lugares de vivência, seja na cidade, seja no campo (BRASIL, 2018, p. 375). No trabalho com grupos sociais devem-se considerar os lugares de vivência, identi�cando sua contribuição social, cultural e econômica. É importante também reconhecer povos e comunidades que habitavam anteriormente a região, identi�cando suas contribuições culturais para o local. Outro aspecto a ser pensado, é o trabalho interdisciplinar envolvendo as disciplinas de Matemática (trabalho com dados representados por tabelas e grá�cos), Língua 162 Portuguesa, História e Ciências no que se trata ao reconhecimento de características das regiões urbanas e rurais da fala, e variedades linguísticas (BRASIL, 2018). (EF03GE02) Identi�car, em seus lugares de vivência, marcas de contribuição cultural e econômica de grupos de diferentes origens (BRASIL, 2018, p. 375). Estudar o lugar de vivência do aluno incluindo as origens dos grupos sociais, os quais contribuíram cultural e economicamente, promovendo a compreensão e o reconhecimento dos diferentes modos de vida dos povos e sua herança cultural. É interessante trabalhar, também, a história de vida das famílias e do município, o que corrobora na compreensão da dimensão da identidade e diversidade cultural (BRASIL, 2018). (EF03GE03) Reconhecer os diferentes modos de vida de povos e comunidades tradicionais em distintos lugares (BRASIL, 2018, p. 375). A indicação de trabalho com essa habilidade, além de estudar os modos de vida dos povos antigos em lugares distintos, é importante considerar o estudo das comunidades extrativistas, ribeirinhas e as de agricultura familiar, que são tão importantes ao desenvolvimento do nosso país. Nesse estudo, é possível diferenciar desde os hábitos alimentares, tipos de moradias das comunidades até os grupos étnicos que compõem o Brasil (BRASIL, 2018). Paisagens naturais e antrópicas em transformação (EF03GE04) Explicar como os processos naturais e históricos atuam na produção e na mudança das paisagens naturais e antrópicas nos seus lugares de vivência, comparando-os a outros lugares (BRASIL, 2018, p. 375). 163 O desenvolvimento dessa habilidade propõe discussões sobre temas socioambientais que podem contribuir na constituição de sujeitos capazes de argumentar, agir com criticidade, interpretar fatos e ser atuante na realidade ao seu entorno. O aluno, ao promover o estudo da paisagem do lugar onde vive, por meio de fotogra�as, sugere-se a observação e a problematização a �m de perceber os elementos naturais e culturais existentes na paisagem, de forma que compreenda a presença da ação humana (BRASIL, 2018). Matéria-prima e indústria (EF03GE05) Identi�car alimentos, minerais e outros produtos cultivados e extraídos da natureza, comparando as atividades de trabalho em diferentes lugares (BRASIL, 2018, p. 375). Ao preparar as atividades com os alunos dessa habilidade, é importante destacar que o trabalho e a extração dos alimentos e dos minerais, transforma a paisagem. No entanto, o aluno deve perceber que existem diferenças entre lugares, cidades ou regiões com a extração da matéria-prima(identi�car os alimentos e produtos especí�cos de cada localidade) e as diferenças no solo, assim como os impactos resultantes das culturas. Dando continuidade a esse tema, é interessante que se abordem as indústrias localizadas nas regiões estudadas a �m de que o aluno compreenda a dinâmica industrial e o mundo do trabalho (BRASIL, 2018). Representações cartográ�cas (EF03GE06) Identi�car e interpretar imagens bidimensionais e tridimensionais em diferentes tipos de representação cartográ�ca (BRASIL, 2018, p. 375). Como vimos na aula 13, o estudo dos mapas é um dos pilares da Geogra�a, pois sua compreensão permite aos alunos interpretarem e produzirem suas próprias representações do espaço (MOÇO, 2011). Com esse trabalho, o aluno desenvolverá noções, como a visão oblíqua e vertical para compreender as imagens tridimensionais, como a maquete e as bidimensionais, como mapas, cartas e croquis. A alfabetização cartográ�ca vai se constituindo de forma 164 problematizadora e signi�cativa ao aluno. Há também a possibilidade de um trabalho interdisciplinar com a Matemática (instrumentos de medidas, metro, centímetro e milímetro), Ciências (formas de representação do planeta, mapas, globo etc.) e História (mapear os espaços públicos do lugar onde vive etc.) (BRASIL, 2018). (EF03GE07) Reconhecer e elaborar legendas com símbolos de diversos tipos de representações em diferentes escalas cartográ�cas (BRASIL, 2018, p. 375). Para o trabalho com essa habilidade é necessário relembrar o alfabeto cartográ�co (linha, ponto e área), legenda, escala e proporção. Como há uma aproximação com a habilidade anterior, o trabalho deverá se estender para a identi�cação e interpretação de imagens bidimensionais (legendas em mapas, plantas etc.) e tridimensionais (legendas de maquetes). Produção, circulação e consumo (EF03GE08) Relacionar a produção de lixo doméstico ou da escola aos problemas causados pelo consumo excessivo e construir propostas para o consumo consciente, considerando a ampliação de hábitos de redução, reuso e reciclagem/ descarte de materiais consumidos em casa, na escola e/ou no entorno (BRASIL, 2018, p. 375). De acordo com a habilidade proposta, sugere-se analisar o consumo excessivo de lixo doméstico e o produzido na escola, a �m de que se possam construir propostas para um consumo consciente, de forma a considerar hábitos de redução, reuso e reciclagem/descarte de materiais usados em casa, na escola e/ou entorno. É aconselhável que essas atividades sejam feitas primeiro com representações cartográ�cas do que está bem próximo do estudante (sala de aula), para depois o que estiver mais distante. 165 O tema poluição também sugerido nessa situação e a abordagem pode ser feita utilizando outras linguagens, como a musical, artística, reportagens etc. (BRASIL, 2018). Impactos das ati�dades humanas (EF03GE09) Investigar os usos dos recursos naturais, com destaque para os usos da água em atividades cotidianas (alimentação, higiene, cultivo de plantas etc.), e discutir os problemas ambientais provocados por esses usos (BRASIL, 2018, p. 375). O lixo e a água aparecem com destaque no terceiro ano. Isso porque é necessário que se reconheça a importância da água para a vida (consumo e indústria). Nesse contexto, podem-se abordar os problemas ambientais oriundos do uso dos recursos naturais, em especial da água na agricultura, indústria e no dia a dia. Faz-se importante ampliar a discussão quanto ao destino da água descartada pela indústria, como também, a disponibilidade e utilização da água no espaço próximo, na cidade e no planeta. Esse tema é muito relevante, pois desenvolve habilidades relativas à responsabilidade com o ambiente, de forma a reconhecer e ponderar as consequências das ações do homem sobre o meio (BRASIL, 2018). (EF03GE10) Identi�car os cuidados necessários para utilização da água na agricultura e na geração de energia, de modo a garantir a manutenção do provimento de água potável (BRASIL, 2018, p. 375). As habilidades 9 e 10 tratam da temática da água, isso porque é primordial o trabalho com o aluno, de forma que compreenda sua importância, desde a alimentação, o cultivo na agricultura até geração de energia. Outro debate importante se refere ao impacto das atividades econômicas das cidades e do campo sobre o ambiente físico natural (BRASIL, 2018). (EF03GE11) Comparar impactos das atividades econômicas urbanas e rurais sobre o ambiente físico natural, assim como os riscos provenientes do uso de ferramentas e máquinas (BRASIL, 2018, p. 375). 166 Ao elaborar o currículo, é fundamental que se proponham situações aos alunos que assegurem o reconhecimento de problemas ambientais, sempre das proximidades do espaço vivido para, posteriormente, pensar na região, país e problemas que afetam o mundo. O destaque dos temas nessa habilidade se refere a impactos ambientais rurais e urbanos. Assim, é importante que se compreenda que pequenos municípios como as grandes cidades abrigam um contingente populacional, capaz de provocar muitas mudanças ambientais (BRASIL, 2018). Habilidades a Serem Desenvol�das e Possibilidades para o Currículo: 4º Ano Caro aluno, para o ensino de Geogra�a no 4º ano do Ensino Fundamental a BNCC (BRASIL, 2018) estabelece as seguintes habilidades a serem desenvolvidas e, também, faz algumas sugestões para as adaptações dos currículos. Território e diversidade cultural (EF04GE01) Selecionar, em seus lugares de vivência e em suas histórias familiares e/ou da comunidade, elementos de distintas culturas (indígenas, afro-brasileiras, de outras regiões do país, latino- americanas, europeias, asiáticas etc.), valorizando o que é próprio em cada uma delas e sua contribuição para a formação da cultura local, regional e brasileira (BRASIL 2018, p. 377). Nessa habilidade, ao levantar a história das famílias, será possível reconhecer a diversidade cultural que permeia o cotidiano dos alunos, como comidas típicas ou hábitos, por exemplo, de várias regiões do país, indígenas, afro-brasileiras, europeias, entre outras. 167 Já no currículo um trabalho interdisciplinar é indicado, com as habilidades de Arte, da História, no reconhecimento e valorização de in�uências na cultura brasileira (BRASIL, 2018). Processos migratórios no Brasil (EF04GE02) Descrever processos migratórios e suas contribuições para a formação da sociedade brasileira (BRASIL, 2018, p. 377). As histórias familiares dos alunos descrevem os processos migratórios no Brasil, isso porque, por meio de perguntas, pode-se reconhecer os hábitos e os traços da imigração, como: de onde vieram os avós; traços de familiares oriundos de outros países, como os portugueses, italianos. A migração é responsável pela formação do povo e da cultura brasileira, mas também com in�uências na música, hábitos, palavras, comidas, festas e moradias. Essas abordagens podem ser feitas por meio de jogos, brincadeiras e atividades que relembrem a origem desses grupos (BRASIL, 2018). Instâncias do poder público e canais de participação social (EF04GE03) Distinguir funções e papéis dos órgãos do poder público municipal e canais de participação social na gestão do Município, incluindo a Câmara de Vereadores e Conselhos Municipais (BRASIL, 2018, p. 377). Essa habilidade se refere ao reconhecimento da organização político- administrativa do município. O aluno poderá conhecer o trabalho dos vereadores, prefeitos e juízes. No currículo é importante promover o conhecimento de como são organizados o território brasileiro, os estados e o Distrito Federal. O estudo desses temas permite ao aluno exercer cidadania, o que corrobora com as competências gerais da BNCC de Responsabilidades e cidadania, desenvolvendo autonomia e responsabilidade (BRASIL, 2018). 168 Relação campo e cidade (EF04GE04) Reconhecer especi�cidades e analisar a interdependência do campo e da cidade, considerando �uxos econômicos, de informações, de ideias e de pessoas (BRASIL, 2018, p. 377). Essa habilidade é fundamental,pois trata-se do reconhecimento da interdependência entre campo e cidade, ou seja, a produção de alimentos e a indústria, por exemplo, em que há a relação de consumo, �uxos econômicos, de produção, circulação e dinâmica de informações, de ideias e pessoas. Destacar também, as características do trabalho no campo e na cidade, o processo de transformação de matérias-primas e o consumo de diferentes produtos (BRASIL, 2018). Fonte: acesse o link disponível aqui 169 https://www.pmbraganey.pr.gov.br/images/media/17968769965f43fd06eca12.pdf Unidades político-administrativas do Brasil (EF04GE05) Distinguir unidades político-administrativas o�ciais nacionais (Distrito, Município, Unidade da Federação e grande região), suas fronteiras e sua hierarquia, localizando seus lugares de vivência. O trabalho com essa habilidade amplia o conhecimento do aluno de forma a distinguir as unidades político-administrativas e os poderes, executivo, legislativo e judiciário. Já no currículo pode-se prever o trabalho com o Atlas de Geogra�a do Brasil, com destaque ao Brasil político, a divisão regional e municipal. Também pode-se reforçar como ocorre a formação administrativa do município, funcionários, cargos, funções, papéis e órgãos do poder público municipal (BRASIL, 2018). Territórios étnico-culturais (EF04GE06) Identi�car e descrever territórios étnico-culturais existentes no Brasil, tais como terras indígenas e de comunidades remanescentes de quilombos, reconhecendo a legitimidade da demarcação desses territórios (BRASIL, 2018, p. 377). Na preparação do currículo, em relação a essa habilidade, o aluno poderá conhecer a localização e a formação dos territórios indígenas e quilombolas existentes no Brasil, identi�cando características e distinguindo territórios. Conhecer a história dos povos, as diferentes etnias, grupos e troncos indígenas no Brasil (BRASIL, 2018). Trabalho no campo e na cidade (EF04GE07) Comparar as características do trabalho no campo e na cidade (BRASIL, 2018, p. 377). 170 Ao elaborar o currículo, pode-se propor ao aluno conhecer e comparar quais são as características do trabalho no campo e na cidade de forma a reconhecer a interdependência entre ambos. Essa análise deve partir da escala local e regional para que se possa entender o processo de produção e transformação de matérias-primas, como a comercialização e consumo de produtos (BRASIL, 2018). Produção, circulação e consumo (EF04GE08) Descrever e discutir o processo de produção (transformação de matérias-primas), circulação e consumo de diferentes produtos (BRASIL, 2018, p. 377). Para o desenvolvimento dessa habilidade, espera-se que o aluno reconheça a presença da produção agropecuária, extrativa e industrial nos produtos usados no cotidiano (alimentos, vestuários, casas etc.). Outro ponto importante é observar as mudanças na paisagem, referentes à produção agrícola e extrativa da região. @vectorjuice em freepik Na organização do currículo é fundamental, como já citado em habilidades anteriores (04 e 07), que se compare as especi�cidades do trabalho no campo e na cidade, desde a escala local e regional de forma a promover a compreensão do processo de produção, circulação, como o consumo de diferentes produtos. 171 Sistema de orientação (EF04GE09) Utilizar as direções cardeais na localização de componentes físicos e humanos nas paisagens rurais e urbanas (BRASIL, 2018, p. 377). Essa habilidade permite conhecer e aplicar os pontos cardeais em espaços de vivência, estendendo às áreas urbanas e rurais. Isso pode ser feito por meio de desenhos e representações cartográ�cas, localizando a casa e a escola a partir de um mapa simples do bairro e de outras áreas. É fundamental a compreensão de que os pontos cardeais servem como meios de orientação e aparecem nas bússolas e mapas. Elementos constitutivos dos mapas (EF04GE10) Comparar tipos variados de mapas, identi�cando suas características, elaboradores, �nalidades, diferenças e semelhanças (BRASIL, 2018, p. 377). @storyset em freepik Há também a possibilidade de se trabalhar os pontos colaterais e os subcolaterais. Outra maneira de desenvolver essa habilidade é a problematização de situações, como: onde �ca a sua escola, o mercado, a prefeitura e o hospital de sua cidade? Ainda, é possível o trabalho interdisciplinar com Matemática e Ciências, com relevância para a compreensão dos pontos cardeais (BRASIL, 2018). 172 Com o desenvolvimento dessa habilidade, surge o momento de retomar as noções de visão frontal, oblíqua e vertical, que são fundamentais para o trabalho de alfabetização cartográ�ca. Comparar tipos variados de mapas, como os temáticos, econômicos, políticos, entre outros, identi�cando diferenças e semelhanças entre o que cada um representa. Nessa oportunidade, também é importante identi�car elementos em outros materiais, como plantas de bairros, locais onde o aluno tem conhecimento, reconhecendo os pontos cardeais. Vale lembrar que o aprendizado pode ocorrer por meio de situações-problema, jogos e brincadeiras, como apresentados na aula 14, que auxiliarão no entendimento da orientação, localização e lateralidade. O trabalho com essa habilidade e com situações cada vez mais complexas na leitura de mapas, permitirá que o aluno se torne re�exivo e crítico (BRASIL, 2018). Conservação e degradação da natureza (EF04GE11) Identi�car as características das paisagens naturais e antrópicas (relevo, cobertura vegetal, rios etc.) no ambiente em que vive, bem como a ação humana na conservação ou degradação dessas áreas (BRASIL, 2018, p. 377). Essa habilidade propõe que o aluno observe e distinga, no entorno, as diversas paisagens e os efeitos da ação humana sobre elas (elementos naturais e antrópicos). É interessante também que se reconheçam os diferentes tipos de vegetação em relação aos tipos de relevo. A preservação e a degradação são temas para serem debatidos nesse momento, assim como, re�etir sobre os moradores daquela localização, como vivem, o que produzem e quais impactos podem causar no ambiente (BRASIL, 2018). 173 Habilidades a Serem Desenvol�das e Possibilidades para o Currículo: 5º Ano Por �m, vejamos quais as habilidades centrais a serem desenvolvidas para o ensino de Geogra�a no 5º ano do Ensino Fundamental, segundo a BNCC (BRASIL, 2018). Vejamos também algumas sugestões que esta nos apresenta para as adaptações dos currículos. Dinâmica populacional (EF05GE01) Descrever e analisar dinâmicas populacionais na Unidade da Federação em que vive, estabelecendo relações entre migrações e condições de infraestrutura (BRASIL, 2018, p. 379). Ao elaborar o currículo, de acordo com essa habilidade, é indicado que o aluno seja estimulado a identi�car as características da nossa população, levando em conta os �uxos migratórios, movimentos de migração interna e no país. Isso vai permitir que o aluno compreenda as desigualdades socioeconômicas de nosso país. Nessa habilidade, pode-se incluir a leitura de grá�cos, tabelas e mapas (BRASIL, 2018). Diferenças étnico-raciais e étnico-culturais e desigualdades sociais EF05GE02) Identi�car diferenças étnico-raciais e étnico-culturais e desigualdades sociais entre grupos em diferentes territórios (BRASIL, 2018, p. 379). 174 Ao desenvolver essa habilidade, juntamente com a anterior, será possível o aprofundamento dos estudos sobre a população (grupos étnico-raciais e culturais, migração) e o uso do território nas unidades da Federação, como também a relação entre migração e condições de infraestrutura. Essa observação pode ser feita também para se compreender as desigualdades sociais entre grupos em territórios diferentes, regiões e municípios. O uso do mapa do Brasil político e regional corroborará com essa compreensão (BRASIL, 2018). Território, redes e urbanização (EF05GE03) Identi�car as formas e funções das cidades e analisar as mudanças sociais, econômicas e ambientais provocadas pelo seu crescimento (BRASIL, 2018, p. 379). Ponto de encontro dafavela de Paraisópolis com o bairro do Morumbi, em São Paulo Fonte: acesse o link disponível aqui 175 https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Comunidade-de-Paraisopolis-localizada-em-um-dos-bairros-mais-ricos-de-Sao_fig1_322831405 Nessa habilidade, deve-se estimular a identi�cação das mudanças provocadas pelo crescimento, relativas à estrutura urbana, saúde, educação e produção. Assim, é possível acompanhar as mudanças econômicas e sociais decorrentes desse processo de crescimento. Pode-se incluir, também, uma análise entre atividades econômicas e o ambiente rural e urbano, a �m de descrever e diferenciar o uso do território (BRASIL, 2018). (EF05GE04) Reconhecer as características da cidade e analisar as interações entre a cidade e o campo e entre cidades na rede urbana (BRASIL, 2018, p. 379). Trabalho e inovação tecnológica (EF05GE05) Identi�car e comparar as mudanças dos tipos de trabalho e desenvolvimento tecnológico na agropecuária, na indústria, no comércio e nos serviços (BRASIL, 2018, p. 379). Essa habilidade permite reconhecer as mudanças no trabalho do dia a dia e na interação entre campo e cidade, como também observar as semelhanças e diferenças que ocorreram antes e depois do desenvolvimento da tecnologia na economia. Esse tema é muito importante e interessante aos alunos quando se levanta a questão sobre a tecnologia (televisão, internet, satélite etc.) e a forma como essa ferramenta atua na interação entre cidade e campo. No desenvolvimento dessa habilidade, é importante analisar os diferentes tipos de cidades e como se diferenciam em termos de crescimento linear, radial e planejado. Outro aspecto interessante é acompanhar o sistema de transportes no Brasil (rodoviário, aéreo e aquático) e como se interligam nas cidades. Outra possibilidade é estimular a criatividade por meio de desenho, onde se represente o crescimento das cidades, a produção, comércio e circulação. 176 Sugere-se para o acompanhamento da transformação da paisagem o uso de mapas da rede urbana, que represente as mudanças espaciais ocorridas num determinado espaço de tempo (BRASIL, 2018). (EF05GE06) Identi�car e comparar transformações dos meios de transporte e de comunicação (BRASIL, 2018, p. 379). Nessa habilidade, é possível identi�car a função e a importância das redes de transporte e comunicação entre a cidade e campo com outras partes do mundo. É interessante também estudar as transformações ocorridas ao longo do tempo em relação aos diferentes tipos de energia e as tecnologias utilizadas. Na agropecuária, na indústria, no comércio e nos serviços em geral, a tecnologia promoveu mudanças nas relações de trabalho. No entanto, há a necessidade de apresentar as desigualdades de acesso à tecnologia, à produção e ao consumo existentes no Brasil (BRASIL, 2018). (EF05GE07) Identi�car os diferentes tipos de energia utilizados na produção industrial, agrícola e extrativa e no cotidiano das populações (BRASIL, 2018, p. 379). As habilidades 5 e 6 apresentadas fazem parte da temática “Mundo do Trabalho” e com elas o debate sobre as inovações tecnológicas características do mundo contemporâneo. Como parte do currículo, pode-se discutir a relação do trabalho com transporte, energia e todos os outros tipos de serviços. Um estudo dos dados das regiões brasileiras em relação à produção de energia e consumo, por meio de grá�cos e tabelas, pode seguramente aumentar o repertório e a compreensão na leitura de imagens (BRASIL, 2018). Mapas e imagens de satélite (EF05GE08) Analisar transformações de paisagens nas cidades, comparando sequência de fotogra�as, fotogra�as aéreas e imagens de satélite de épocas diferentes (BRASIL, 2018, p. 379). 177 Nessa habilidade, espera-se que o estudante observe as transformações ocorridas nas paisagens das cidades e do campo em épocas diferentes. É importante que se observem semelhanças e diferenças e o ritmo das mudanças, utilizando mapas temáticos e representações grá�cas (BRASIL, 2018). Representação das cidades e do espaço urbano (EF05GE09) Estabelecer conexões e hierarquias entre diferentes cidades, utilizando mapas temáticos e representações grá�cas (BRASIL, 2018, p. 379). Essa habilidade trata de estabelecer conexões, e uma forma adequada para isso acontecer é trabalhar com os recursos cartográ�cos de representações de cidades (mapas, imagens de satélite, fotogra�as etc.). Também é possível essa Imagens de satélite comparando as mudanças sofridas pela região da Usina Hidrelétrica de Jirau (Rondônia), entre os anos de 1984 e 2016 Fonte: acesse o link disponível aqui 178 https://www.youtube.com/watch?v=ZvnPUlsTcJw conexão entre as cidades pela estrutura de transportes e meios de comunicação, como também pela cidade que produz e onde se consome. É o momento também de incluir as habilidades 4, 5, 6 e 7 já trabalhadas anteriormente, assim como utilizar ferramentas digitais que irão contribuir para o desenvolvimento das competências gerais da BNCC (BRASIL, 2018). Qualidade ambiental (EF05GE10) Reconhecer e comparar atributos da qualidade ambiental e algumas formas de poluição dos cursos de água e dos oceanos (esgotos, e�uentes industriais, marés negras etc.) (BRASIL, 2018, p. 379). A dinâmica ambiental deve ser compreendida e debatida pelos alunos. Ela se inicia pelo uso da natureza e pelo apoderamento dos recursos. Os temas da poluição da água e dos oceanos, assim como os problemas ambientais existentes ao redor da escola e das casas dos estudantes (lixões, poluição causada pelas indústrias etc.). No currículo sugere-se abordar o caminho da água ou ciclo hidrológico para o acompanhamento do aluno e, nesse percurso, reconhecer as formas de poluição das águas (lixo doméstico, esgoto irregular, produtos químicos etc.), desde as super�ciais até as subterrâneas (BRASIL, 2018). Diferentes tipos de poluição (EF05GE11) Identi�car e descrever problemas ambientais que ocorrem no entorno da escola e da residência (lixões, indústrias poluentes, destruição do patrimônio histórico etc.), propondo soluções (inclusive tecnológicas) para esses problemas (BRASIL, 2018, p. 379). Na habilidade anterior, o aluno debateu os problemas de poluição das águas, e já, nesse momento, ele deve ser capaz de listar, relacionar e avaliar os problemas ambientais ocorridos no entorno da escola, no bairro e em sua cidade, assim como propor ações para mitigar esses problemas. 179 Gestão pública da qualidade de �da (EF05GE12) Identi�car órgãos do poder público e canais de participação social responsáveis por buscar soluções para a melhoria da qualidade de vida (em áreas como meio ambiente, mobilidade, moradia e direito à cidade) e discutir as propostas implementadas por esses órgãos que afetam a comunidade em que vive (BRASIL, 2018, p. 379). Essa habilidade se refere ao conhecimento dos órgãos públicos que são responsáveis pela preservação e conservação dos recursos naturais. É importante que se conheça também os canais de comunicação que favoreçam a participação da comunidade em busca de soluções, sobre moradia e os problemas que possam afetar a qualidade de vida dos moradores. A participação ativa do aluno desenvolve a argumentação, a capacidade crítica e o exercício da cidadania (BRASIL, 2018). Na Abordagem Prática vamos colocar em uso uma ferramenta muito importante para o ensino e aprendizagem da Geogra�a. @brgfx em freepik A consciência ambiental, o agir com senso crítico, como exercitar a ética e a cidadania, perpassa pelo trabalho de análise, re�exão para essa construção. Assim, é possível um trabalho interdisciplinar com Ciências, ligada à criação e busca de soluções para os problemas ambientais próximos à vivência do aluno (BRASIL, 2018). 180 NA PRÁTICA Caro aluno, tendo em vista tudo o que foi apresentado e na forma como a BNCC vem estimulando com que utilizemos cada vez mais recursos interdisciplinares, somado a cada vez maior disponibilidade de recursos tecnológicos (inclusive sendo este um dos pontos de estudo da geogra�a),uma possibilidade muito rica e extremamente interessante para que você trabalhe com seus alunos é o recurso ao Google Earth. Esta é uma ferramenta gratuita do Google que lhe permite explorar o globo terrestre de forma digital, viajar de um continente a outro em segundos, bem como possibilita uma rica interação entre a Geogra�a e a História, uma vez que através desta ferramenta você poderá levar seus alunos a conhecerem lugares que estão sendo abordados ao longo das aulas de história, ou mesmo propor comparações entre as condições das paisagens ao longo do tempo e mediante a interferência do homem. Seguem os links para que você explore essa ferramenta, bem como um link do YouTube com uma coletânea de imagens coletadas via satélite que mostram o processo de transformação de regiões estratégicas ao longo dos anos devido à ação humana. Esses serão recursos muito ricos para que você possa ilustrar suas aulas ao longo de todo o Ensino Fundamental, tornando-as mais atrativas e signi�cativas a seus alunos. GOOGLE EARTH 181 https://go.eadstock.com.br/cv7 IMAGENS DE SATÉLITE 1984-2016: 32 Anos de Mudanças na Terra 182 https://go.eadstock.com.br/cv9 Conclusão Caro aluno, perceba que ao longo da Educação Infantil e Ensino Fundamental, os teóricos e a BNCC (BRASIL, 2018) que utilizamos durante os estudos em nossa disciplina, preveem o desenvolvimento de habilidades que coexistem com as vivências e experiências dos alunos, de acordo com sua faixa etária. Esse processo permite que o aprendizado do aluno esteja muito além daquilo que pretendiam a Geogra�a e História no ensino tradicional, com foco apenas em memorização de conceitos e reprodução de conhecimento. A Geogra�a tem hoje uma função fundamental na formação escolar, pois favorece os alunos para que sejam provocados a perceber que, mais do que conceitos, a geogra�a é viva e está presente em todos os aspectos de seu cotidiano, desde o local onde vive com seus familiares, até suas relações interpessoais e sociais. Ensinar Geogra�a é, portanto, compartilhar conhecimento, promover experiências e correlacionar constantemente transformações sofridas pelo ambiente e pela sociedade em que vivemos. É por esse motivo, caro aluno, que Geogra�a e História nunca deixam de caminhar juntas. O trabalho proposto até o �nal de nossos estudos primou por atividades ativas de forma a promover o protagonismo do aluno. Isto é percebido devido ao signi�cado atribuído por ele às atividades que lhe são propostas. O trabalho com atividades lúdicas, tanto em História como em Geogra�a, por serem envolventes e signi�cativas para as crianças podem, ao mesmo tempo, alcançar objetivos como o de estimular a autonomia de pensamento e desenvolver a compreensão de que cada pessoa age de acordo com a época e o lugar nos quais vivem, podendo mudar ou preservar os seus hábitos. A indissociabilidade entre a História e a Geogra�a perpassa pela compreensão de conceitos cruciais da História, como a constituição da noção de identidades individuais, sociais e coletivas; as noções de semelhanças e diferenças, de continuidade e permanência; imprescindíveis à compreensão das experiências humanas e das sociedades em que vive. Assim, os conceitos de tempo e espaço compõem memórias, identidades dos sujeitos, suas ações e transformações reconhecidas hoje no meio físico e natural. Corroborando nesse contexto, o desenvolvimento do pensamento espacial e do raciocínio geográ�co são essenciais na representação e interpretação do mundo em permanente transformação, relacionando componentes da sociedade e da natureza. 183 Assim, caro aluno, encerramos nossos estudos! Esperamos que você tenha tido um ótimo aproveitamento e esteja se sentindo preparado para trabalhar com seus alunos, de forma a lhes despertar o interesse, a compreender e a apreciar os estudos de forma a agir como protagonista na transformação da atual realidade, com respeito à natureza e ao trabalho humano. Até breve!!! Livro 184 185 186 187 188 História no Ensino Fundamental A Compreensão da Temporalidade na História Historiadores e o Tempo Histórico Diferentes Usos das Fontes Históricas Didática e Conteúdos Históricos O Povo Brasileiro e a Diversidade Cultural O Ensino de História Indígena Os Livros Didáticos e o Ensino de História Geografia na Educação Infantil e no Ensino Fundamental Geografia na Educação Infantil Geografia no Ensino Fundamental Conceitos, Princípios e Categorias Essenciais ao Ensino de Geografia Introduzindo o Estudo de Mapas Localização Geográfica e o Pensamento Espacial: a Contribuição dos Jogos para o Ensino da Geografia Conceitos e Habilidades Essenciais ao Ensino de Geografia: 1º e 2º Anos do Ensino Fundamental Conceitos e Habilidades Essenciais ao Ensino de Geografia: 3º, 4º e 5º Anos do Ensino Fundamental